LATEC - UFF. INTERAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADE E EMPRESAS AINDA É DESAFIO NO BRASIL

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Interação entre universidade e empresas ainda é desafio no Brasil Escrito por Vicente Melo Ter, 30 de Junho de 2015 00:19 A universidade é um ambiente que permite ao aluno conhecer a área do conhecimento estudada durante os anos de graduação. Porém, a preparação para encarar o mundo depois deste ciclo ainda é reduzida. Um exemplo disso é que falta apoio para que as empresas desenvolvidas dentro do ambiente acadêmico possam florescer, de fato. As causas são diversas: vão desde impeditivos legais até à própria falta de uma cultura empreendedora dentro do ambiente acadêmico.  Entretanto, há quem consiga fugir destes percalços. É o caso da Movile, empresa que desenvolve aplicativos para celulares, smartphones e tablets, com faturamento anual de R$ 600 milhões. Fabrício Bloisi , CEO da companhia, criou um jogo quando ainda era estudante do instituto de Computação da Universidade de Campinas (Unicamp) e lá fez a companhia nascer e crescer para 20 países. Para o diretor-executivo da Inova/Unicamp, Milton Mori, exemplos como esse são comuns 1 / 5

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Escrito por Vicente MeloTer, 30 de Junho de 2015 00:19

A universidade é um ambiente que permite ao aluno conhecer a área do conhecimentoestudada durante os anos de graduação. Porém, a preparação para encarar o mundo depoisdeste ciclo ainda é reduzida. Um exemplo disso é que falta apoio para que as empresasdesenvolvidas dentro do ambiente acadêmico possam florescer, de fato. As causas sãodiversas: vão desde impeditivos legais até à própria falta de uma cultura empreendedora dentrodo ambiente acadêmico.

 

Entretanto, há quem consiga fugir destes percalços. É o caso da Movile, empresa quedesenvolve aplicativos para celulares, smartphones e tablets, com faturamento anual de R$600 milhões. Fabrício Bloisi , CEO da companhia, criou um jogo quando ainda era estudante doinstituto de Computação da Universidade de Campinas (Unicamp) e lá fez a companhia nascere crescer para 20 países.

Para o diretor-executivo da Inova/Unicamp, Milton Mori, exemplos como esse são comuns

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dentro da instituição. Ela abarca companhias de ex-alunos e ex-professores que nasceramdentro da universidade. São as chamadas empresas filhas, que atualmente somam empresasativas.

“Elas também licenciam patente da Unicamp e a usam como atividade principal. Com a nossapesquisa, em novembro do ano passado, estamos chegando a 17 mil empregos atravésdessas nossas empresas filhas. Um levantamento que vamos lançar em setembro mostra queo faturamento está em mais de R$ 3 bilhões”, destacou Mori, em audiência pública naComissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) do SenadoFederal.

Entretanto, para os casos bem-sucedidos, há também os problemas. Muitos deles relacionadosà rigidez e às dificuldades impostas pelo marco regulatório. A burocracia impede, por exemplo,que os pesquisadores das universidades que recebam fomento de agências estatais tenhamacesso à propriedade da patente, que fica toda para a instituição de ensino. E nem mesmopodem participar de uma companhia que tenha direito a essa patente. Isto, segundo Mori,desestimula o empreendedorismo dentro da academia.

“É muito difícil para um pesquisador que recebe recurso do CNPq e da Fapesp, ou da Capesou da Finep. Essa propriedade fica 100% na universidade. Ele não consegue fazer mais nada,só pode licenciar, mas fica impedido de ser diretor ou acionista. Quer ser dono da essaempresa, mas não é possível nem com o tempo parcial, nem aposentado”, reclamou.

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Problema semelhante é encontrado em Recife (PE). O Porto Digital é um dosempreendimentos inovadores de maior sucesso no Brasil e base para muitas iniciativassimilares pelo País afora. Porém, o sucesso no desenvolvimento de inovações vemacompanhado de problemas quando o assunto é legislação. Não a relacionada à atividadeinovativa, mas trabalhista.

O ambiente do Porto Digital segue a tendência do Vale do Silício, com ampla liberdade para ospesquisadores utilizarem o tempo como bem entenderem. Porém, a legislação trabalhista temsido um percalço para uma das principais companhias do local, como o Centro de Estudos deSistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R), que recebeu mais de cinco mil autuações porconta de falhas no registro de ponto dos funcionários, segundo o especialista Cláudio JoséMarinho Lúcio.

O custo de R$ 900 por cada autuação, de acordo com Marinho Lúcio, minaria completamente acapacidade de investimentos do C.E.S.A.R em novas soluções inovadoras, uma vez que olucro da companhia seria utilizado para pagar as multas.

“Lucro, numa atividade como essa de pesquisa e inovação, significa a única forma de utilizarrecursos livres para investimento em inovação. Porque a maior parte dos recursos que vãopara esses institutos, pesquisas e empresas, para inovoção, para pesquisa e desenvolvimento,estão absolutamente vinculados a uma legislação que nós criamos. A legislação éabsolutamente amarrada”, diagnosticou.

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Saída

 

O problema do estímulo à inovação na academia também passa por criar um ambiente propícioa essa atividade e por estimular os alunos a buscarem novidades. Só assim, avalia o decanode Administração da Universidade de Brasília (UnB), Luís Afonso Bermúdez, é possível criar ascondições para o desenvolvimento da inovação.

“Para que a gente tenha inovação e empreendedorismo, temos que ter transgressão e umambiente que permita isso, com curiosidade e criatividade. Hoje, quem vai produzir nãorecebeu bagagem para pensar diferente. Nós não estamos ensinando nossa juventude apensar na coisa nova”, resumiu.

Gaveta cheia

 

Outro empecilho é a questão do backlog. Nos últimos anos, o número de pedidos de patentecresceu bastante no Brasil. O ritmo de análise pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial(INPI), por outro lado, não acompanhou a demanda. Se em 2003 o prazo para a concessão erade sete anos, em 2013 ele saltou para 11 anos. As estimativas são de que cada examinadortem 980 processos por ano, enquanto nos Estados Unidos esta proporção é de 77 patentes porprofissional.

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Para Milton Mori, do Inova/Unicamp, é fundamental uma reestruturação completa no instituto.“O sistema de registro do INPI é demorado e não sei como resolver. Tanto é que não temninguém que está querendo pegar o INPI. Porque tem que arrumar a casa. Tem que terautonomia, uma reestruturação forte para avançarmos na inovação. Sem isso, o País não vai”,disparou.

(Vicente Melo, da Agência Gestão CT&I)

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