Integração de Geração Eólica no Sistema Elétrico: Impactos e … · 2014-03-19 ·...
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INTEGRACAO DE GERACAO EOLICA NO SISTEMA ELETRICO:
IMPACTOS E DESAFIOS NO PLANEJAMENTO DA OPERACAO
Leandro Nunes Mota
Projeto de Graduacao apresentado ao Corpo
Docente do Departamento de Engenharia
Eletrica da Escola Politecnica da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, como parte dos
requisitos necessarios a obtencao do tıtulo de
Engenheiro Eletricista.
Orientadores: Carmen Lucia Tancredo Borges
Luiz Augusto Barroso
Rio de Janeiro
Marco de 2014
INTEGRACAO DE GERACAO EOLICA NO SISTEMA ELETRICO:
IMPACTOS E DESAFIOS NO PLANEJAMENTO DA OPERACAO
Leandro Nunes Mota
PROJETO DE GRADUACAO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE
DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELETRICA DA ESCOLA
POLITECNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSARIOS PARA A OBTENCAO DO
GRAU DE ENGENHEIRO ELETRICISTA.
Examinado por:
Prof. Amaro Olimpio Pereira Junior, D.Sc.
Prof. Carmen Lucia Tancredo Borges, D.Sc.
Prof. Sergio Sami Hazan, Ph.D
RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL
MARCO DE 2014
Nunes Mota, Leandro
Integracao de Geracao Eolica no Sistema Eletrico:
Impactos e Desafios no Planejamento da Operacao /
Leandro Nunes Mota. – Rio de Janeiro: UFRJ/Escola
Politecnica, 2014.
XV, 76 p.: il.; 29, 7cm.
Orientadores: Carmen Lucia Tancredo Borges
Luiz Augusto Barroso
Projeto de Graduacao – UFRJ/Escola Politecnica/
Departamento de Engenharia Eletrica, 2014.
Referencias Bibliograficas: p. 73 – 76.
1. Energia Eolica. 2. Energia Intermitente.
3. Operacao de Sistemas Eletricos. I. Tancredo
Borges, Carmen Lucia et al. II. Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Escola Politecnica, Departamento de
Engenharia Eletrica. III. Integracao de Geracao Eolica no
Sistema Eletrico: Impactos e Desafios no Planejamento da
Operacao.
iii
A minha famılia, que me apoiou
a vida inteira. A Marcela, minha
namorada e companheira durante
toda essa jornada. A todos
amigos e professores que me
ensinaram e ajudaram a chegar
ao fim dessa jornada.
iv
Agradecimentos
Quero agradecer em primeiro lugar a minha famılia.
Ao meu pai pelo grande exemplo profissional e orientacao. A minha mae, por
todos os sacrifıcios, preocupacoes e amor incondicional. A minha irma pelo apoio e
por dividir seu conhecimento para a conclusao desse trabalho.
A Marcela, minha namorada e companheira. Por entender todos os sacrifıcios
necessarios, nao so para a conclusao desse trabalho como para a conclusao do curso
de engenharia eletrica.
A Carmen Lucia, pelo apoio e orientacao nesse trabalho. Pelas aulas ministradas,
que contribuıram para o meu enorme interesse pelo setor eletrico brasileiro.
Em especial, para meu coorientador, Luiz Augusto Barroso, pelas horas e preo-
cupacoes dedicadas a esse trabalho.
A todos os amigos aqui encontrados, em especial meus companheiros na re-
presentacao discente do Departamento de Engenharia Eletrica, Eduardo, Nıcolas e
Mario.
Por fim, a todas as pessoas que ja passaram ou ainda fazem parte da minha vida,
e contribuiram para ser a pessoa que sou hoje.
v
Resumo do Projeto de Graduacao apresentado a Escola Politecnica/UFRJ como
parte dos requisitos necessarios para a obtencao do grau de Engenheiro Eletricista
INTEGRACAO DE GERACAO EOLICA NO SISTEMA ELETRICO:
IMPACTOS E DESAFIOS NO PLANEJAMENTO DA OPERACAO
Leandro Nunes Mota
Marco/2014
Orientadores: Carmen Lucia Tancredo Borges
Luiz Augusto Barroso
Departamento: Engenharia Eletrica
Apresenta-se, neste trabalho, um diagnostico juntamente com uma analise qua-
litativa dos impactos da insercao de Energias Renovaveis Nao-Convencionais na
operacao de um sistema eletroenergetico, com foco principal na energia eolica. Apos
uma breve apresentacao da energia eolica e suas caracterıstica e feito uma tipolo-
gia dos impactos, e em seguida uma analise voltada especificamente para o sistema
brasileiro. O objetivo principal desse trabalho e fornecer um material de qualidade
para auxiliar os planejadores e operadores do sistema brasileiro a melhor entender
esses impactos, permitindo uma penetracao suave da energia eolica no Brasil.
vi
Abstract of Graduation Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Electrical Engineer
WIND POWER INTEGRATION TO THE ELECTRIC SYSTEM: IMPACTS
AND CHALLENGES IN THE OPPERATION PLANNING
Leandro Nunes Mota
March/2014
Advisors: Carmen Lucia Tancredo Borges
Luiz Augusto Barroso
Department: Electrical Engineering
In this work, we present a qualitative diagnosis and analysis of the impact of
the penetration of Non-Conventional Renewable Energies on an electric-energetic
system, with focus on wind power. After a brief presentation of the main charac-
teristics of its technologies, it was made a typology of the impacts, followed by the
analysis specifically on the Brazilian power system. The main objective of this work
is to provide a quality material that helps planners and operators of the Brazilian
system to have a better understanding of these impacts, allowing a soft penetration
of wind power in Brazil.
vii
Sumario
Lista de Figuras xi
Lista de Tabelas xiii
Lista de Abreviaturas xiv
1 Introducao 1
2 Impacto da Geracao Eolica na Operacao do Sistema 3
2.1 A Energia Eolica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.1.1 Configuracoes Basicas de Turbinas Eolicas . . . . . . . . . . . 6
2.1.1.1 Turbinas Eolicas de Velocidade Fixa . . . . . . . . . 6
2.1.1.2 Turbinas Eolicas de Velocidade Variavel . . . . . . . 7
2.2 Caracterısticas da Geracao Eolica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.1 Despachabilidade Eolica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.2 Variabilidade na Geracao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3 Taxonomia dos Impactos na Operacao . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3.1 Estabilidade do Sistema Eletrico . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.3.1.1 Estabilidade Transitoria e Dinamica . . . . . . . . . 12
2.3.1.2 Controle de Tensao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3.1.3 Controle de Frequencia . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3.2 Custos de Unit Commitment, Ciclagem e Aspectos de Mercado 13
2.3.2.1 O Efeito da “Ordem de Merito” . . . . . . . . . . . . 14
2.3.2.2 Precos Nulos e Negativos . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.3.2.3 Aumento da Ciclagem das Turbinas Termicas . . . . 16
2.3.2.4 Nıvel de Flexibilidade Operativa do Sistema . . . . . 18
2.3.3 Capacidade de Transmissao e Eficiencia . . . . . . . . . . . . . 19
2.3.4 Reservas Operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.3.4.1 Requsitos Adicionais de Rerservas Operacionais . . . 22
2.3.5 Modelos Computacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.4 Experiencias Internacionais no Dimensionamento dos Impactos . . . . 25
2.4.1 Alemanha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
viii
2.4.1.1 Reservas Operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4.1.2 Impactos na Rede de Transmissao . . . . . . . . . . 27
2.4.2 Espanha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.4.3 Reino Unido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.4.4 Noroeste Pacıfico Norte-Americano . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.5 Resumo dos Principais Impactos na Operacao do Sistema . . . . . . . 36
3 Recursos para Melhorar a Integracao Eolica 39
3.1 Sinergia entre Fontes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1.1 Complementariedade entre as ERNC . . . . . . . . . . . . . . 39
3.1.2 Complementariedade com as Hidreletricas Convencionais . . . 40
3.1.3 As Vantagens da Sinergia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2 O Efeito da Complementariedade Geografica . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3 Desenvolvimento das Tecnologias de Previsao . . . . . . . . . . . . . 43
3.3.1 Erros de Previsao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.4 Gerenciamento de Carga pelo Lado da Demanda . . . . . . . . . . . . 44
3.5 Reestruturacao dos Procedimentos da Operacao . . . . . . . . . . . . 46
3.6 Integracao com Tecnologias de Armazenamento . . . . . . . . . . . . 47
3.6.1 Armazenamento Fısico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.6.2 Armazenamento Virtual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4 O Caso do Brasil 50
4.1 O Sistema Interligado Nacional - SIN . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.2 O Papel das Eolicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2.1 O Papel Energetico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4.2.2 O Papel Social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.3 Principais Desafios Atuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3.1 Fatores de Friccao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
4.3.2 Atrasos na Entrada em Operacao . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.3.3 O Indice de Severidade do SIN . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.3.4 As Eolicas no Mercado Livre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.3.4.1 Risco de Exposicao ao PLD . . . . . . . . . . . . . . 63
4.3.4.2 Risco de Exposicao a Diferenca de PLD nos Submer-
cados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
4.4 Os Possıveis Impactos na Operacao do SIN . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.4.1 Estabilidade do Sistema Eletrico . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
4.4.2 Custo de Unit-Commitment e Mercado . . . . . . . . . . . . . 67
4.4.3 Capacidade de Transmissao e Eficiencia . . . . . . . . . . . . . 68
4.4.4 Reservas Operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
4.4.5 Modelos Computacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
ix
4.5 Os Benefıcios da Energia Eolica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
5 Conclusoes 72
Referencias Bibliograficas 73
x
Lista de Figuras
2.1 Turbina eolica generica com alguns componentes importantes. Fonte:
Centro Brasileiro de Energia Eolica - CBEE / UFPE. 2000. Dis-
ponıvel em: www.eolica.com.br. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.2 Curva Cp X λ. Fonte: Notas de aula da Professora Tatiana Machado,
DEE, UFRJ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.3 Producao tıpica de uma turbina eolica com ventos constantes. . . . . 5
2.4 Esquema de montagem de um Aerogerador com um Gerador de
Inducao Diretamente Conectado (GIDC) . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.5 Esquema de montagem de um Aerogerador com um Gerador de
Inducao de Dupla Alimentacao (GIDA) . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.6 Esquema de montagem de um Aerogerador com um Gerador Sıncrono
Eletronico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.7 Variacao horaria de geracao eolica no Nordeste brasileiro em 1 ano.
Geracao normalizada pela media do perıodo analisado. . . . . . . . . 9
2.8 Variacao mensal de geracao eolica no Nordeste brasileiro em 4 anos.
Gerqcao normalizada pela media do perıodo analisado. . . . . . . . . 10
2.9 Variacao anual de geracao eolica no Nordeste brasileiro em 4 anos.
Geracao normalizada pela media do perıodo analisado. . . . . . . . . 10
2.10 Capacidade de Fault-Ride-Through exigida no Brasil para a conexao
de uma unidade eolica na rede de transmissao. Figura retirada do
Submodulo 3.6 dos Procedimentos de Rede do ONS. . . . . . . . . . . 11
2.11 Distribuicoes probabilısticas do preco marginal da energia com e sem
eolicas no ano de 2004 e 2010, respectivamente, na Espanha. Figura
retirada de [33] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.12 Intervalos de manutencao de uma CCGT com regime de ciclagem de
pico e uma de base. Fonte: [35] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.13 Efeitos do aumento do numero de partida nos custos de O&M. Fonte:
[35] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.14 Experiencias internacionais de aumento dos requisitos de reservas de-
vido a penetracao de geracao eolica. Fonte: [? ] . . . . . . . . . . . . 23
xi
2.15 Distribuicao de frequencia da variacao da geracao eolica no perıodo
de 30 minutos e de 4 horas. Retirado do relatorio IEA Task25[20] . . 31
2.16 Custo de Balanceamento Anual total por componente. A eolica re-
presenta a maior parte das renovaveis na maioria dos casos. Figura
retirada do relatorio da IEA Task25 [20] . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.17 Informacao de demanda e geracao de energia da BPA para a semana
do dia 07 de Janeiro de 2014. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.18 Comparacao da demanda total e da geracao eolica na primeira metade
de Janeiro de 2014 para o sistema controlado pela BPA. . . . . . . . . 36
3.1 Complementariedade horaria entre geracao solar e eolica no Brasil. . . 40
3.2 Complementariedade mensal entre geracao eolica do Nordeste brasi-
leiro e PCHs do Sudeste brasileiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.3 Complementariedade mensal entre geracao eolica do Nordeste brasi-
leiro e PCHs do Sudeste brasileiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.4 Coeficiente de correlacao entre geradores eolicos em funcao da
distancia entre eles, para as janelas de tempo de 1-s, 1-min, 10-min e
1-h. Fonte: [5] . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
3.5 Aumento do erro de previsao de acordo com o horizonte de tempo ana-
lisado. Resultados de geracao eolica regional da Alemanha (Krauss
et al., 2006). Figura retirada do relatorio IEA Task 25. . . . . . . . . 45
4.1 Mapa de transmissao do SIN. Fonte: [3] . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.2 Capacidade instalada por tipo de fonte em 31/12/2012. Fonte: [16] . 51
4.3 Geracao de energia por tipo de fonte em 2012. Fonte: [3] . . . . . . . 52
4.4 Mapa do potencial eolico brasileiro. Fonte: [1] . . . . . . . . . . . . . 54
4.5 Evolucao da capacidade instalada por fonte de geracao. Fonte: [16] . 54
4.6 Evolucao da energia armazenada do SIN em 2012: resultados reais x
simulados com dados observados. Fonte: PSR Energy Report. . . . . 57
4.7 Indice de interrupcao ISS (em minutos-demanda de ponta). Fonte:
PSR Energy Report . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
4.8 Funcionamento do Mercado Brasileiro, ACR e ACL. . . . . . . . . . . 62
4.9 Funcionamento do MRE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.10 Curva de geracao e garantia fısica de uma usina eolica generica. Fonte:
CCEE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
4.11 Curva dos PLDs dos diferentes submercados. . . . . . . . . . . . . . . 65
4.12 Evolucao da capacidade de armazenamento do SIN. Fonte: EPE . . . 70
xii
Lista de Tabelas
2.1 Tipos de Reservas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.2 Erros de previsao adotados no estudo do DENA . . . . . . . . . . . . 26
2.3 Requisitos adicionais de reserva para o aumento da geracao eolica no
RU. Maximo e mınimo referentes aos cenarios apresentados. Con-
versao feita de 1£ = 1,3e. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.4 Resumo da tipologia dos principais impactos da eolica na operacao
do sistema. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.1 Mudancas de geracao em grupamentos de turbinas localizadas no es-
tado de Minnesota, EUA. Fonte: [39] . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
xiii
Lista de Abreviaturas
ACL Ambiente de Contratacao Livre, p. 61
ACR Ambiente de Contratacao Regulado, p. 61
ANEEL Agencia Nacional de Energia Eletrica, p. 52
BPA Bonneville Pacific Administration, p. 34
CAES Compressed Air Energy Storage, p. 48
CAG Controle Automatico de Geracao, p. 19
CCEAL Contrato de Compra de Energia no Ambiente Livre, p. 62
CCEAR Contrato de Compra de Energia no Ambiente Regulado, p. 62
CCEE Camara de Comercio de Energia Eletrica, p. 59
CCEI Contrato de Compra de Energia Incentivada, p. 62
CCGT Combined Cycle Gas Turbine, p. 14
CMSE Comite de Monitoramento do Setor Eletrico, p. 58
DENA Agencia Energetica Alema, p. 25
EPE Empresa de Pesquisa Energetica, p. 52
ERNC Energia Renovavel Nao-Convencional, p. 1
FIM Funcao de Intervalo de Manutencao, p. 17
GIDA Gerador de Inducao de Dupla Alimentacao, p. 7
GIDC Gerador de Inducao Diretamente Conectado, p. 6
GLD Gerenciamento pelo Lado da Demanda, p. 19
GSE Gerador Sıncrono Eletronico, p. 7
xiv
HIRLAM High Resolution Limited Area Model, p. 43
HVDC High Voltage Direct Current, p. 52
LEN Leilao de Energia Nova, p. 62
LFA Leilao de Fontes Alternativas, p. 62
LTSA Long-Term Service Agreement, p. 17
MAE Mean Absolut Error, p. 43
MAPE Mean Absolute Percentage Error, p. 43
MM5 Mesoscale Model Version 5, p. 43
MRE Mecanismo de Realocacap de Energia, p. 63
NWP Numeric Weather Prediction, p. 43
OCGT Open Cycle Gas Turbine, p. 22
ONS Operador Nacional do Sistema, p. 11
O&M Operacao e Manutencao, p. 17
PCH Pequena Central Hidreletrica, p. 49
PLD Preco de Liquidacao das Diferencas, p. 59
PROCEL Programa Nacional de Conservacao de Energia Eletrica, p. 46
PROINFA Programa de Incentivo as Fontes Alternativas de Energia, p.
50
RMSE Root Mean Square Error, p. 43
SIN Sistema Interligado Nacional, p. 50
UHE Usina Hidreletrica, p. 9
UTE Usina Termeletrica, p. 9
WRF Weather Research and Forecasting, p. 43
xv
Capıtulo 1
Introducao
A participacao de novas fontes de energia renovaveis (eolica, solar, biomassa entre
outras) na matriz energetica mundial apresenta um crescimento muito rapido nos
ultimos anos. Em 2000, a capacidade instalada mundial de energia eolica era de
18 GW, ja em 2011 esse valor passou para algo em torno de 238 GW [4]. Essas
fontes, tambem conhecidas como fontes de energia renovaveis nao convencionais
(adiante referidas como ERNC) tem um grande papel estrategico para os paıses.
Alem de se apresentarem como fontes de energia mais limpas e levarem a menores
impactos ambientais, sao muito importantes para a diversificacao do mix de energia
dos paıses, pois, pode representar uma maior seguranca energetica, bem como uma
maior independencia energetica de terceiros (visto que muitos paıses importam os
combustıveis fosseis - como gas natural e carvao - e ate mesmo energia). Alem
disso, para uma demanda de energia cada vez maior, as ERNC apresentam outros
atributos muito atrativos, como o menor tempo de construcao. Uma usina eolica
pode ser construıda em um perıodo maximo de 2 anos, enquanto as tradicionais
usinas hidreletricas apresentam tempo de construcao mınimo de 5 anos, alem de
algumas apresentarem precos bem competitivos com as fontes convencionais.
Para incentivar e manter essas novas fontes competitivas em seus mercados,
muitos paıses comecaram a utilizar mecanismos de suporte regulatorios e comerciais
para promocao dessas fontes, como Feed-in Tariffs (ou tarifas premio) e os leiloes de
energia, como pode ser observado na America Latina. Nestes paıses, os leiloes foram
uma forma de descoberta de precos encontrada, atraves do controle da quantidade
de energia que se quer contratar e a reducao da aversao a risco pela contratacao de
longo prazo.
Este e o caso do Brasil e do Peru, onde os leiloes especıficos para as ERNC
completam um esquema de leiloes regulares para atracao de energias convencionais.
Na Argentina, Uruguai e alguns outros paıses da America Central tambem sao
utilizados leiloes especıficos para atrair ERNC.
A maioria dos paıses, mesmo que nao apresentem mecanismos explıcitos como os
1
supracitados, apresentam outros incentivos como financiamentos especiais e creditos
fiscais. Esses mecanismos sao muito especıficos e dependem do ambiente nao so
regulatorio, como tambem polıtico e economico de cada paıs.
O sucesso dos mecanismos de suporte as renovaveis foi imediato. Na Europa,
as Feed-in Tariffs incentivaram a entrada de mais de 50.000 MW de ERNC, com
grande destaque para as eolicas, responsaveis por mais de 90% deste volume. Na
America Latina, os leiloes de energia tambem permitiram uma forte penetracao de
eolicas. O Brasil e lider absoluto no desenvolvimento desta tecnologia na regiao,
com mais de 10.000 MW de eolicas contratadas atraves de leiloes de energia desde
2009 e com data de entrada em operacao prevista para os proximos 5 anos[16].
Porem, apesar de todos as vantagens que esse novo tipo de energia pode trazer
para um paıs, tambem trazem novos desafios. Alguns tipos de ERNC como as
eolicas e solares possuem uma forte variabilidade na producao de eletricidade (pois
seus recursos primarios alem da difıcil previsao, sao altamente dependentes das
caracterısticas geoclimaticas dos locais onde estao instaladas). Essas caracterısticas
trazem importantes desafios tecnicos e comerciais para os agentes dos sistemas,
planejadores e operadores.
O objetivo deste trabalho sera realizar um diagnostico e analise qualitativos dos
impactos da insercao das ERNC na operacao de um sistema eletrico, com foco na
energia eolica. O trabalho esta centrado em definir uma tipologia de impactos na
operacao desta tecnologia, analisar a experiecia internacional em lidar com tais im-
pactos e analisar possıveis impactos e licoes para o Brasil. Esperamos, com esse
trabalho, contribuir para o melhor entendimento destes impactos e apoiar as entida-
des de planejamento e operacao na mitigacao dos mesmos de forma a permitir uma
pentracao suave da energia eolica no Brasil.
O trabalho esta organizado da seguinte forma: no capıtulo 2 serao apresentadas
as principais caracterısticas da geracao eolica e sera feita uma analise e categorizacao
dos impactos mais importantes identificados, de forma a criar uma tipologia dos
mesmos. Neste mesmo capıtulo sera discutida a experiencia internacional de alguns
paıses selecionados na integracao de eolicas na operacao. No capıtulo 3 sera feita
uma analise das principais ferramentas e procedimentos disponıveis aos operadores
a fim de mitigar o efeito dessa insercao. No capıtulo 4, apos uma breve apresentacao
do sistema brasileiro, o chamado Sistema Interligado Nacional (SIN), sera feita uma
analise de como os impactos apresentados podem afeta-lo especificamente. Por fim,
o capıtulo 5 apresenta uma conclusao de todo o trabalho realizado e sugere trabalhos
futuros.
2
Capıtulo 2
Impacto da Geracao Eolica na
Operacao do Sistema
Figura 2.1: Turbina eolica generica com alguns componentes importantes. Fonte:Centro Brasileiro de Energia Eolica - CBEE / UFPE. 2000. Disponıvel em:www.eolica.com.br.
3
A insercao de geracao eolica apresenta um aumento na variabilidade da producao
e nas incertezas de um sistema eletrico. Dessa forma, gera-se um impacto na confia-
bilidade e eficiencia, dois conceitos que norteiam todas as etapas de planejamento e
operacao de um sistema. Para que se possa entender e dimensiona-los, e preciso co-
nhecer as caracterısticas dessa fonte e das capacidades e restricoes dos equipamentos
utilizados.
2.1 A Energia Eolica
Um gerador eolico transforma a velocidade do vento em potencia mecanica. A
grosso modo, o vento gira as helices acopladas mecanicamente ao rotor do gerador,
produzindo eletricidade, como mostra a figura 2.1
A equacao matematica que governa a transformacao da velocidade dos ventos
em potencia mecanica para o gerador e a seguinte[22]:
Pm =1
2· π ·R2 · ρ · v3 · Cp(λ, β) (2.1)
λ =ωpas ·R
v(2.2)
Onde:
Pm e a potencia mecamica em Watts;
ρ e a densidade do ar em kgm3 ;
R e o raio de varredura das pas;
v e a velocidade do vento em ms;
Cp e o coeficiente aerodinamico de potencia do rotor;
β e o angulo de inclinacao das pas;
λ e a relacao entre a velocidade linear das pas e a velocidade do vento;
ωpas e a velocidade angular das pas da turbina.
Portanto, a potencia extraıda pelas helices varia com o cubo da velocidade dos
ventos. Outra consequencia e que, para uma determinada velocidade do vento existe
uma velocidade para a helice que maximiza a potencia extraıda. Esse fenomeno e
explicitado na figura 2.2.
Nela podemos ver diversas curvas mostrando a relacao entre o Coeficiente Aero-
dinamico de Potencia do Rotor e o λ da turbina, para diferentes angulos de inclicao
das pas. Vemos que para cada λ temos uma potencia otima representada pelo
maximo Cp.
Algumas turbinas permitem um controle do λ conseguindo manter um Cp otimo
e constante. Na secao 2.1.1 serao apresentadas as configuracoes basicas das turbinas
eolicas e suas principais caracterısticas.
4
Figura 2.2: Curva Cp X λ. Fonte: Notas de aula da Professora Tatiana Machado,DEE, UFRJ.
Apesar da proporcionalidade cubica da potencia extraıda com a velocidade dos
ventos, velocidades muito elevadas podem trazer prejuızos para as maquinas, bem
como a perda de eficiencia. O chamado stall, e a perda aerodinamica nas pas do
gerador, limitando a potencia extraıda. Alem disso, ha manobras de controle para
essas situacoes, como o controle do angulo β das pas (pitch-β) e a frenagem mecanica,
que limitam a potencia extraıda a fim de evitar danos severos as maquinas. A figura
2.3 mostra um perfil generico da relacao entre a velocidade do vento e a potencia
em kW.
Figura 2.3: Producao tıpica de uma turbina eolica com ventos constantes.
No grafico, vemos que para que essa turbina comece a gerar e preciso uma ve-
locidade de pelo menos 3,5 m/s. E quando os ventos chegam a altas velocidades,
nesse caso 25 m/s, a turbina deve parar de produzir.
5
2.1.1 Configuracoes Basicas de Turbinas Eolicas
2.1.1.1 Turbinas Eolicas de Velocidade Fixa
Sua montagem tıpica esta representada na figura 2.4. Nela estao presentes um rotor
aerodinamico, um eixo de baixa velocidade, uma caixa de engrenagens conectando-o
a um eixo de alta velocidade, e um gerador de inducao. Esse gerador costuma ser
um simples gerador de inducao gaiola de esquilo. O escorregamento do rotor varia
de acordo com a energia gerada, porem sua variacao e muito pequena (1%-2%). Por
isso, esse tipo de turbina e chamada de Velocidade Fixa.
Essas turbinas nao permitem o controle de λ (relacao entre a velocidade linear das
pas e a velocidade do vento), o que nao permite a otimizacao da potencia extraıda
dos ventos. Esta, entao, fica dependente exclusivamente das condicoes climaticas.
Por nao conter nenhum tipo de inversor e, estar de fato diretamente conectado
a rede por um transformador, esse tipo de gerador e conhecido como gerador de
inducao diretamente conectado (GIDC). Dessa forma, a frequencia do rotor esta
diretamente ligada a frequencia da rede. Como geradores de inducao consomem
potencia reativa, e necessario compensadores de reativos, o mais simples, banco de
capacitores.
Esse tipo de turbina nao permite o controle de tensao, controle de reativo, Fault-
Ride-Through exigidos por alguns Codigos de Rede1. Portanto, conforme aumenta a
penetracao da geracao eolica em um sistema, e portanto aumentam-se as exigencias
dos Codigos de Rede, menos se tem empregado esse tipo de turbina. Sao turbinas
mais antigas e mais simples, muito encontradas em usinas mais antigas e de pequeno
porte.
Figura 2.4: Esquema de montagem de um Aerogerador com um Gerador de InducaoDiretamente Conectado (GIDC)
1Codigos de Rede sao o conjunto de especificacoes tecnicas que definem os parametros ne-cessarios para uma instalacao eletrica conectada a rede de transmissao precisa atender para garantirum funcionamento seguro, eficiente e economico do sistema eletrico.
6
2.1.1.2 Turbinas Eolicas de Velocidade Variavel
Com a expansao da geracao eolica, bem como o foco da populacao nas energias
“limpas”, muito se investiu na evolucao da tecnologia de turbinas. Dessa forma,
desenvolveu-se as turbinas eolicas de velocidade variavel. Existem duas confi-
guracoes principais, uma com gerador de inducao de dupla alimentacao (GIDA)
e uma com geradores sıncronos (GSE).
Esses tipos de turbina permitem um maior controle devido aos conversores Back-
to-Back empregados, o que permite as usinas cumprirem com os Codigos de Rede
cada vez mais severos, controle esse importante para a operacao segura e eficiente
do sistema.
Gerador de Inducao de Dupla Alimentacao (GIDA)
Esse tipo de configuracao utiliza um gerador de inducao de rotor bobinado. As bo-
binas do rotor sao alimentadas atraves de um conversor Back-to-Back de frequencia
variavel, o que permite o controle do escorregamento da maquina de inducao. O
conversor desacopla a frequencia do gerador com a frequencia da rede, permitindo
uma operacao com velocidade variavel.
Este modelo ja permite um controle de λ. Atraves do controle da tensao no
rotor, e possıvel manter um λ constante, maximizando assim a geracao de potencia.
Como apenas parte da potencia gerada passa pelo conversor, isso permite o
emprego de equipamentos menores e menos robustos. O esquema de montagem
tıpico dessa configuracao se encontra na Figura 2.5.
Figura 2.5: Esquema de montagem de um Aerogerador com um Gerador de Inducaode Dupla Alimentacao (GIDA)
Gerador Sıncrono Eletronico (GSE)
Esse tipo de turbina e conectada diretamente a rede atraves de um conversor
7
Back-to-Back, portanto, a operacao dinamica do gerador fica independente da rede
eletrica. Isso permite que se tenha uma variacao de frequencia na helice, consequen-
temente do gerador, sem que a frequencia da rede se altere. Portanto, dizemos que
essa configuracao e operada com velocidade variavel. Essa configuracao permite o
emprego de diversos tipos de geradores, tanto sıncronos de rotor bobinado ou ıma
permanente, quanto de inducao. Essa configuracao tambem permite a nao utilizacao
da caixa de engrenagem. Como toda a potencia gerada passa pelos conversores
eletronicos, e necessario o emprego de componentes maiores e mais robustos.
O esquema tıpico dessa configuracao se encontra na Figura 2.6.
Figura 2.6: Esquema de montagem de um Aerogerador com um Gerador SıncronoEletronico
2.2 Caracterısticas da Geracao Eolica
2.2.1 Despachabilidade Eolica
Como mostrado na equacao 2.1, a producao eolica varia com a velocidade do vento
(v3) e, portanto, nao permite controlabilidade de geracao. Por esse motivo, a energia
eolica e chamada de fonte nao-despachavel. Por nao ser despachavel2, a usina eolica
deve injetar potencia na rede sempre que estiver produzindo, apresentando, em
alguns paıses, prioridade no despacho, alem de apresentarem custo de operacao
nulo, deslocando demais fontes mais caras. Por isso, a energia eolica nao pode ser
usada como “energia de base” de um sistema eletrico, ou seja, nao se pode projetar
um sistema baseado em energia eolica, tal como acontece com unidades termicas.
Por nao ser despachavel, o aumento da participacao da energia eolica na matriz
energetica de um paıs introduz uma grande variabilidade no sistema, como sera visto
a seguir.
2Atualmente, algumas turbinas permitem um certo controle da geracao, porem sao medidas demuito curto prazo (de segundos a minutos).
8
2.2.2 Variabilidade na Geracao
Uma das principais caracterısticas da geracao eolica e a variabilidade da geracao. O
porque dessa variabilidade e de facil entendimento: nao se pode controlar os ventos
e, portanto, a producao da usina eolica.
Diferente do que ocorre em uma UTE (Usina Termoeletrica) onde o combustıvel
primario de geracao pode ser comprado e estar disponıvel sempre que a unidade
precisar gerar, ou em UHE, onde os reservatorios permitem regulacao ate plurianual,
usinas eolicas sao dependentes exclusivamente das condicoes climaticas instantaneas.
As variacoes de geracao de uma turbina eolica sao observadas em diversas janelas
de tempo, desde minuto a minuto, ate dia a dia. A seguir, as figuras 2.7, 2.8 e 2.9,
mostram alguns dados de variacao horaria, mensal e anual, para um parque eolico
brasileiro.
Figura 2.7: Variacao horaria de geracao eolica no Nordeste brasileiro em 1 ano.Geracao normalizada pela media do perıodo analisado.
O que se percebe e que as variacoes em uma base horaria se apresentam muito
mais frequentes e severas, enquanto em base anual sao muito menores. Portanto, a
variabilidade da geracao eolica se mostra um desafio muito maior para a operacao em
tempo real, onde os horizontes de tempo sao menores, do que para um planejamento
a longo prazo.
Nas turbinas eolicas com geradores de inducao diretamente conectados (GIDC),
a falta de controle deixava as usinas eolicas ainda mais a merce das variacoes nao so
dos ventos como das tensoes da rede. Nao era possıvel o controle da velocidade da
maquina, o que deixava ela sujeita a inercia do equipamento. Com o aprimoramento
dos equipamentos utilizados, como geradores e inversores, ja e possıvel um maior
controle da geracao, reduzindo a amplitude dessas variacoes.
Possibilita tambem uma maior robustez do sistema eolico a falhas. Alem da
9
Figura 2.8: Variacao mensal de geracao eolica no Nordeste brasileiro em 4 anos.Gerqcao normalizada pela media do perıodo analisado.
Figura 2.9: Variacao anual de geracao eolica no Nordeste brasileiro em 4 anos.Geracao normalizada pela media do perıodo analisado.
falta de ventos, outro motivo que fazia a geracao eolica chegar ate a producao nula
durante operacoes diarias era a falta de robustez a afundamentos de tensao na
rede. Para evitar essa perda repentina de geracao eolica, os novos procedimentos de
rede, inclusive o brasileiro, exigem a capacidade de Fault-Ride-Through das turbinas
empregadas. Dessa forma, as usinas eolicas devem permanecer conectadas a rede
mesmo depois de uma falha e consequente afundamento repentino de tensao. Os
valores permitidos e as caracterısticas dessa curva dependem de cada paıs. A figura
2.10 mostra os valores para o Brasil.
O que esse grafico da figura 2.10 nos mostra e que, para um afundamento de
10
Figura 2.10: Capacidade de Fault-Ride-Through exigida no Brasil para a conexaode uma unidade eolica na rede de transmissao. Figura retirada do Submodulo 3.6dos Procedimentos de Rede do ONS.
tensao mais severo de 80% da tensao nominal, o gerador deve se manter conectado
por 0,5s, sem perder o sincronismo com a rede.
Por tudo isso, ao aumentarmos a participacao de energias com essa caracterıstica,
aumentamos tambem a variabilidade do sistema. Dessa maneira, e como sera visto
adiante, e necessario aumentarmos as reservas operativas do sistema, de forma a
contornar possıveis problemas de balanco energetico. Existem diversos tipos de
reservas, assunto que sera abordado com mais detalhe na secao 2.3.4.
2.3 Taxonomia dos Impactos na Operacao
Os efeitos da penetracao das energias intermitentes em sistemas eletricos afeta de-
cisoes em todas as janelas de tempo, uma vez que uma energia variavel e apenas par-
cialmente previsıvel e inserida em um sistema eletrico que deve ajustar sua geracao
a uma demanda variavel em tempo real.
Essas mudancas devem ser levadas em conta e acomodadas no planejamento e
operacao de sistemas que nao foram desenhados para incorporar grandes volumes
de geracao intermitente. Diversos novos enfoques devem ser direcionados, como o
aumento da flexibilidade de geracao do sistema, gestao pelo lado da demanda e
otimizacao do uso dos reservatorios (em caso de sistemas hidreletricos) e ate mesmo
mudancas na regulacao dos mercados de energia para assimilar e contornar a insercao
de um grande volume de geracao a custo de operacao nulo.
Apesar de algumas dessas mudancas trazerem impactos indesejados para o sis-
tema, como desafios tecnologicos e custos adicionais, ainda existem benefıcios claros
11
e muitas oportunidades para a rede e a criacao de novos procedimentos de operacao
visando aperfeicoar os procedimentos atuais.
Esses impactos foram divididos em grupos, que serao apresentados e analisados
a seguir.
2.3.1 Estabilidade do Sistema Eletrico
Um sistema eletrico deve ser capaz de manter-se estavel e operando mesmo apos a
ocorrencia de diversos tipos de contingencias como curto-circuitos, perdas repentinas
de carga ou geracao, entre outros. Entende-se por manter-se estavel, o sistema ser
capaz de, dado um estado inicial de operacao, apos a ocorrencia de uma perturbacao,
conseguir alcancar um novo estado operativo em equilıbrio, onde todas as variaveis
estejam definidas, de maneira que o sistema inteiro permaneca praticamente intacto.
Ao se analisar a estabilidade de um sistema deve-se ter 3 focos principais: esta-
bilidade transitoria e dinamica, controle de tensao e controle de frequencia.
2.3.1.1 Estabilidade Transitoria e Dinamica
Um dos fatores cruciais para a estabilidade de um sistema e sua inercia mecanica
e sua capacidade de amortecer e reduzir o impacto de perturbacoes na rede. A
princıpio, a inercia das turbinas eolicas para o sistema e insignificante, o que faz
com que sistemas com grande penetracao de eolicas tenham sua inercia bastante
reduzida. Outra causa dessa perda de inercia e o fato de que geradores eolicos
normalmente fazem uso de maquinas de inducao, o que reduz o numero de maquinas
sıncronas acopladas a rede.
A consequencia da perda de inercia para um sistema eletrico e uma maior fragili-
dade a contingencias como afundamentos de tensao. A inercia mecanica do sistema
permite que os efeitos de perturbacoes leves e rapidas possam ser amortecidos para
o sistema, pois as maquinas conseguem manter sua frequencia na rede. A partir do
momento que essa inercia diminui, o sistema fica mais suscetıvel a essas perturbacoes
causando grandes variacoes de frequencia.
Por conta dessa caracterıstica, a fim de aumentar a inercia do sistema quando
necessario, a protecao das turbinas eolicas era projetada para desconecta-las e para-
las assim que uma falha na rede fosse detectada. Com o aumento da penetracao
das geracoes intermitentes nos sistemas eletricos, tornou-se cada vez mais comum
exigir das turbinas eolicas capacidade de Fault-Ride-Through alem da necessidade
de prover outros servicos importantes para o sistema como controle de tensao.
Com os avancos tecnologicos observados nessa area, hoje em dia a geracao eolica
ja e capaz de participar ativamente na manutencao da confiabilidade do sistema da
mesma forma que as unidade geradoras convencionais. Hoje em dia ja e possıvel
12
projetar geradores eolicos com desempenho comparavel e ate melhor que os geradores
sıncronos convencionais (controle de potencia ativa e reativa, capacidade de Fault-
Ride-Through, controle primario de frequencia, inercia, etc.), porem, encarecendo a
tecnologia.
2.3.1.2 Controle de Tensao
Como apresentado na secao 2.2, a variabilidade da geracao eolica traz grandes de-
safios para o controle de tensao. O maior desafio e manter a tensao constante
e em valores aceitaveis, mantendo um perfil otimo de tensao na rede, em todos as
condicoes operativas, desde um cenario de carga mınima com maxima geracao eolica
ate um cenario de carga maxima com mınima geracao eolica.
As turbinas eolicas modernas ja apresentam uma tecnologia de eletronica de
potencia que as permite controlar a geracao de potencia reativa e as tensoes terminais
em certa escala. Alem disso, podem-se empregar metodos mais comuns de controle
de tensao como bancos de capacitores e transformadores de taps variaveis (TCAT).
Outros equipamentos como compensadores estaticos (SVC) e STATCOMs podem
ser conectados tanto a rede quanto as usinas eolicas e abrem possibilidades para que
ambas tirem o melhor proveito dessa conexao.
2.3.1.3 Controle de Frequencia
Muitas turbinas eolicas modernas permitem o controle de abertura das pas. Isso,
juntamente com um sistema de controle e elementos de eletronica de potencia permi-
tem ao operador da usina a modificacao da potencia gerada pela turbina em tempo
real de operacao. Alem de proporcionar a capacidade de limitacao de rampas de
tomada de carga e de geracao, esse controle ainda contribui para o adequamento
de frequencia do sistema. Alem disso, turbinas eolicas respondem rapidamente a
controles de despacho dos operadores, diferente de unidades termicas tradicionais,
levando segundos ao inves de minutos. Entender essas caracterısticas e importante
para os operadores na hora da operacao em tempo real, quando e necessario definir
reducoes de geracao para estabelecer o balanco energetico.
2.3.2 Custos de Unit Commitment, Ciclagem e Aspectos de
Mercado
A primeira vista, a geracao eolica e uma fonte que apresenta um custo de operacao
de producao nulo. Portanto, o que se espera e que, com o aumento da penetracao
dessa fonte na matriz energetica, o custo total da producao reduza, uma vez que ela
deslocaria outras unidades convencionais de custos mais elevados.
13
Porem, ainda existem alguns efeitos colaterais que devem ser avaliados. Em um
sistema predominantemente termico, a insercao de energias intermitentes como a
eolica implica em uma grande mudanca do perfil na ordem de merito economica de
despacho. Pelo lado dos custos de operacao, a energia eolica apresenta tanto uma
reducao de preco por conta da diminuicao de utilizacao de custos variaveis, como
os combustıveis, e um aumento devido a custos extras de operacao de maquinas
termicas, como o aumento de ciclos de partida. Esses temas serao abordados a
seguir.
2.3.2.1 O Efeito da “Ordem de Merito”
A “ordem de merito” das fontes de energia na maioria dos paıses e decidida pelo
custo marginal de cada uma. Dessa forma, como o custo de operacao de ERNC
como as eolicas e zero, elas teriam prioridade no despacho que outras unidades mais
caras como as termicas em geral.
Portanto, o efeito da “ordem de merito” apresenta dois principais impactos.
Primeiro, o simples impacto na ordem dos despachos, e e mais grave em sistemas
com predominancia de unidades termicas. Esse deslocamento pode mudar a forma
de operacao das unidades termicas, por exemplo, transformando unidades que antes
eram “energia de base” de um sistema passe a funcionar de maneira como unidades
para atendimento de pico de demanda.
Outro impacto e no custo marginal dos sistemas. O deslocamento de unidades
termicas tende a reduzir o custo marginal total de um sistema eletrico, pois pode
fazer com que unidades mais caras deixem de fazer parte no calculo do custo marginal
por nao estarem produzindo. Porem, quando a ordem de merito e muito flat, pois o
sistema possui muitas unidades termicas com o mesmo custo variavel, como ocorre
na Espanha com as CCGTs (Combined Cycle Gas Turbine), esse impacto nos precos
e bastante reduzido. A figura 2.11 ilustra bem esse fenomeno que ocorre na Espanha.
Nessas duas figuras e possıvel perceber o que foi dito anteriormente. Em um
primeiro momento (2004) a matriz energetica espanhola era mais diversificada e
foi possıvel observar uma maior discrepancia entre o custo marginal ($/MWh) sem
eolicas e com eolicas. Ja no segundo momento (2010) essa discrepancia cai para um
nıvel muito discreto, devido ao grande aumento das CCGTs na matriz energetica.
Essa reducao dos precos a princıpio e benefica para o sistema, pois torna a
energia mais barata. Mas, o que vem acontecendo em alguns paıses e que as eolicas
tem aumentado sua participacao muito rapidamente, reduzindo excessivamente os
precos de mercado, chegando a zero e ate precos negativos, fato que sera analisado
em seguida.
14
Figura 2.11: Distribuicoes probabilısticas do preco marginal da energia com e semeolicas no ano de 2004 e 2010, respectivamente, na Espanha. Figura retirada de [33]
2.3.2.2 Precos Nulos e Negativos
Em alguns paıses, a geracao das fontes renovaveis recebem prioridade de despacho
independente dos custos do sistema. De maneira geral, o unico limitador para o
despacho das renovaveis seria a seguranca do sistema. Na pratica, o que acontece
e que, nesses lugares, quando os precos de mercado chegam a zero ou ate negativo,
mesmo que a solucao otima para a operacao do sistema seja cortar geracao eolica
ao inves de desligar unidades termicas por um curto perıodo de tempo, o operador
e obrigado a continuar despachando as fontes renovaveis.
O maior impacto negativo dessas medidas e uma operacao ineficiente do sistema.
Alem disso, muitos geradores termicos estao dispostos a pagar para nao serem des-
ligados, ou seja, definindo precos negativos. Da mesma forma, os geradores eolicos
tambem estao dispostos a pagar para nao serem cortados, principalmente para man-
ter os suportes financeiros ligados a producao.
O maior exemplo desse problema e a Alemanha, onde em 2013, o preco do
15
mercado day-ahead3 foi negativo durante 48 horas, zero durante 23 horas e menor
que 10 e/MWh durante 326 horas. Ja para o mercado intraday4 os valores foram
negativos durante 79 horas, zero durante 2 horas e menor que 10 e/MWh durante
355 horas.
Uma reducao tao drastica dos precos de mercado pode acabar tornando o setor
pouco atrativo para investidores. Portanto, esse aspecto deve ser levado em conta
na hora de avaliar e projetar o crescimento das ERNC em um sistema eletrico.
2.3.2.3 Aumento da Ciclagem das Turbinas Termicas
Toda usina termica funciona em ciclos. Por conta das ordens de despacho e por
terem, na maioria dos paıses, menor prioridade em relacao a outras fontes de energia,
como por exemplo as renovaveis, e serem frequentemente utilizadas como geracao de
ponta, as usinas termicas possuem modos de operacao. Ligada/desligada, operacao
com carga baixa ou tomada de carga. A ciclagem refere-se a mudanca dos modos
de operacao que ocorrem durante a operacao normal das usinas.
O aumento da ciclagem se da pela falta de correlacao entre a producao eolica e
a demanda. Ou seja, a geracao eolica costuma se apresentar alta em momentos de
baixa demanda e baixa em momentos de pico de consumo e, dessa forma, ela altera o
regime de despacho das outras fontes tradicionais. Em sistemas predominantemente
termicos, isso se apresenta como um grande problema para os operadores das usinas.
Os principais impactos da mudanca do regime de despacho para unidades ge-
radoras termicas sao o aumento do EFOR (Equivalent Forced Outage Rate), que
indica o grau de confiabilidade de uma unidade termica, gastos adicionais com ma-
nutencao, aumento do desgaste devido a fatiga e atrito das maquinas. Isso ocorre
por causa das caracterısticas de operacao especıficas das turbinas termicas.
Em usinas a carvao ou CCGT, e necessario uma quantidade consideravel de
combustıvel para que a caldeira chegue a temperaturas mınimas antes da producao
de vapor. Os processos de aquecimento e resfriamento do sistema tambem intensifi-
cam o desgaste dos equipamentos o que reduz o perıodo dos ciclos de manutencao.
Portanto, o aumento dos ciclos da turbina, mais especificamente a partida, acelera
falhas de componentes, o que por conseguinte aumenta o tempo de manutencao e
inspecao e o consumo de componentes extras. Isso tudo gera um grande custo para
as operadoras, alem de reduzir a disponibilidade das unidades o que, como no caso
do Brasil, pode reduzir a sua remuneracao. Outro fator que pode aumentar os cus-
tos de manutencao e operacao de unidades termicas e a operacao abaixo da geracao
mınima otima. Em momentos de grande producao eolica, unidades termicas de base
podem ser obrigadas a operar em valores abaixo dos recomendados pelos fabrican-
3Mercado day-ahead: mercado de energia no dia anterior ao da operacao.4Mercado Intraday: mercado de energia durante o dia da operacao.
16
tes dos equipamentos. Essas falhas implicam diretamente no custo de operacao e
manutencao (O&M) das maquinas.
Custos de O&M e os LTSAs
Os contratos de servicos de operacao e manutencao (O&M) de longo prazo (LTSAs
- Long-Term Service Agreements) sao estabelecidos entre o fabricante da maquina
e o comprador, formando uma base de preco relativamente fixa para os servicos de
manutencao dos equipamentos fornecidos. Dessa forma, os operadores conseguem
controlar melhor seus custos de manutencao, maximizando a confiabilidade da uni-
dade. Os precos dos LTSAs sao calculados de diversas formas, tanto pelas horas de
operacao, pelos numeros de partidas, por servico planejado ou pelo calendario. A
forma mais comum de se definir os intervalos maximos de manutencoes e a criacao
de uma funcao que relaciona o maximo de horas de operacao e numero de parti-
das antes da necessidade de manutencao e sera chamada de Funcao do Intervalo de
Manutencao (FIM). Sua forma varia de acordo com o fabricante.
Existem 3 grandes inspecoes que sao a inspecao de combustao, inspecao das
camaras de gas quente e uma inspecao principal. Devido as caracterısticas da geracao
das turbinas a gas, a inspecao das camaras de gas quente e considerada a mais
importante e a que requer mais atencao e mao de obra, portanto sera definida como
revisao principal e por isso a seguir, o custo desse servico sera considerado como o
custo de O&M das unidades.
A figura 2.12 mostra um caso generico que ira ajudar a entender esse impacto.
Nela estao representadas duas CCGTs operando em regimes distintos. Uma opera
em regime de pico, com grande numero de partidas e baixo numero de horas de
operacao. A outra apresenta um regime de geracao de base, com baixo numero de
partidas e alto numero de horas de operacao. A linha pontilhada representa a FIM
dessas CCGTs e e a condicao limite para a revisao principal.
Figura 2.12: Intervalos de manutencao de uma CCGT com regime de ciclagem depico e uma de base. Fonte: [35]
17
As duas unidades apresentam um intervalo de manutencao de 2 anos, uma vez
que atingem a condicao de contorno nesse perıodo. Como ja visto, o aumento da
penetracao das eolicas implicara em um aumento do numero de partidas tanto das
usinas de base quanto as de pico. Deriva-se entao a figura 2.13. Nela observamos
que para a unidade em regime de base nao ha grandes efeitos em relacao ao custo
de O&M, uma vez que manteve o intervalo de 2 anos e os custos nos LTSAs sao
relativamente fixos. Para as unidades de pico, esse impacto ja e consideravel. A
modificacao no perfil de ciclagem da usina de pico fez com que o intervalo para a
revisao principal fosse menor do que os 2 anos anteriores.
Figura 2.13: Efeitos do aumento do numero de partida nos custos de O&M. Fonte:[35]
O que pode ser concluido ainda e que alem do aumento do numero de ciclagem,
o tipo de perfil adotado pelas unidades e muito importante para poder avaliar os
impactos da insercao das eolicas nos custos de O&M.
2.3.2.4 Nıvel de Flexibilidade Operativa do Sistema
Outro fator importante para quantificar o impacto da mudanca no regime de despa-
cho nos custos de operacao e manutencao de uma unidade e seu nıvel de flexibilidade.
Unidades mais antigas de carvao e unidades nucleares apresentam tipicamente um
baixıssimo grau de flexibilidade. Em contrapartida, unidades hidreletricas apresen-
tam um alto grau de flexibilidade.
Quanto menos flexıvel, maior vai ser o custo de ciclagem das unidades. Em alguns
casos, como na maioria das nucleares, elas nao podem operar em regime de ciclos
e devem operar sempre na base do sistema. Isso se mostra um desafio em paıses
como a Franca onde cerca de 80% da geracao e nuclear. Nesses paıses, a penetracao
de energias renovaveis intermitentes deve ser compatıvel com a demanda de pico a
18
ser atendida reduzida da geracao nuclear de base. Dessa forma, garante-se que nao
sera necessario desligar as usinas nucleares em horario de grande geracao eolica, e
reduz o curtailment das unidades eolicas, que assim como o vertimento de agua nas
hidreletricas representa um desperdıcio de energia.
Portanto, quanto maior a inflexibilidade de um sistema, maior sera o custo com
a ciclagem de unidades termicas. Dessa forma, conclui-se que, para se aumentar a
penetracao eolica deve-se diminuir a participacao desses tipos de unidades geradoras.
2.3.3 Capacidade de Transmissao e Eficiencia
O impacto das eolicas no sistema de transmissao depende da localizacao geografica
das mesmas em relacao a carga e a correlacao entre a geracao eolica e as curvas
de carga. Como qualquer outra geracao, as eolicas afetam o fluxo de potencia nas
linhas podendo, em algumas horas, ate alterar a direcao em algumas partes da rede.
Portanto, o incremento da participacao das eolicas pode em alguns lugares aumentar
os problemas de congestionamento de linhas e em outros lugares reduzir a frequencia
desses congestionamentos.
Os problemas causados na capacidade de transmissao nao ocorrem durante todo o
tempo de operacao e os investimentos em reforco de rede podem ser postergados com
algumas medidas paleativas como sistemas de controle para limitar a geracao eolica
em horas crıticas, utilizacao de CAG (Controle Automatico de Geracao) em conexao
com outras unidades geradoras e gerenciamento pelo lado da demanda (GLD).
A utilizacao de CAG e GLD sao mais recomendadas por serem mais eficientes,
uma vez que nao ha o desperdıcio da energia gerada. Porem, mesmo com a aplicacao
dessas tecnicas, reforcos na rede podem ser necessarios nao so pela penetracao de
eolica, mas para que se possa instalar unidades em lugares mais distantes e que
possuam um grande potencial eolico.
2.3.4 Reservas Operacionais
Em [28], define-se reserva operacional a capacidade real de energia que pode ser adi-
cionada ou retirada da rede no tempo de operacao para ajudar o balanco de geracao
e carga e o controle de frequencia. Ou seja, como as previsoes de carga nao sao
exatas, nıveis de reservatorios tambem nao sao 100% previsıveis, falhas em equipa-
mentos podem ocorrer a qualquer momento durante a operacao de um sistema, entre
outros problemas que aparecem durante a operacao e geram desbalanco energetico,
as reservas operacionais se apresentam como uma ferramenta rapida para correcoes
no sistema.
Existem varias formas de categorizar os tipos de reservas operativas. Podemos
categorizar a reserva por tempo de atuacao, levando em conta o tempo necessario
19
para resposta a um comando e sua capacidade fısica. Nessa classificacao entram
as reservas girantes, quando a unidade permanece em sincronismo com a rede, a
fim de uma rapida resposta a comandos de despacho, e nao girantes. Tambem as
comandadas por CAG, onde o controlador e capaz de mandar um sinal de comando
a fim de que a unidade mude sua geracao se adequando ao sinal recebido e as
responsaveis por controle automatico de frequencia, que sao unidades cuja geracao
se ajusta automaticamente quando ha variacoes de frequencia na rede.
Na classificacao quanto ao tipo de evento ao qual as unidades respondem, po-
demos dizer que existem aquelas que ficam em operacao contınua, ou seja, nao
respondem a eventos, outras sao utilizadas em caso de contingencias, como perda
de unidades geradoras, quedas de linhas e curto-circuitos, e as que sao usadas para
eventos de ocorrencias mais longas como erros de previsao de carga, que nao exigem
mudancas imediatas.
Ha tambem a categorizacao quanto a direcao da potencia. Quando ha um des-
balanco positivo entre a geracao e a carga, ou seja, ha mais energia gerada do que
consumida, dizemos que e uma reserva de resposta descendente(Downward Reserve).
Esta pode ser obtida reduzindo-se a geracao ou aumentando-se a carga, por exem-
plo, com a operacao inversa de Centrais Hidreletricas Reversıveis. Quando ha um
desbalanco negativo de geracao e de carga, dizemos que a reserva e de resposta
ascendente (Upward Reserve), obtida atraves do aumento de geracao ou corte de
cargas.
Utilizando-se essas caracterısticas apresentadas, em [28], define-se 5 diferentes
tipos de reservas: Reserva de Resposta em Frequencia, Reserva de Regulacao, Re-
serva de Rampa, Reserva de Acompanhamento de Carga e Reserva Suplementar. A
tabela 2.1 apresenta as principais caracterısticas de cada tipo de reserva.
20
Tabela 2.1: Tipos de Reservas
Tipos Resposta em
Frequencia
Regulacao Rampa Acompanhamento
de Carga
Suplementar
Proposito da
Reserva:
Apresenta
uma resposta
de frequencia
inicial a gran-
des variacoes
Mantem o
erro da area
de controle
devido a
movimentos
aleatorios em
um perıodo de
tempo menor
que o mercado
de energia
consegue
cobrir
Responde
a falhas e
eventos du-
rante longos
perıodos de
tempo (e.g.
erros de
previsao de
vento, rampa
de vento)
Mantem o
erro da area
de controle
e frequencia
devido a mo-
vimentos nao
aleatorios em
um perıodo de
tempo mais
lento que as
reservas de
regulacao.
Substitui re-
servas mais
rapidas a fim
de restaura-
las a seu nıvel
pre-falha.
Outros No-
mes:
Governor
Response, pri-
mary controll,
FRR
Frequency
Control
Variable
generation
event reserve,
forecast er-
ror reserve,
balancing
reserves
Dispatch, ter-
tiary reserves
Replacement
reserve, sup-
plemental
reserve, ter-
tiary reserve,
substitute
reserve
Tipo de Evento:
Eventos de
Contingencia
Rapido (se-
gundos)
Mais lento
(minutos)
Nao-evento
(aleatoriedade
inerente)
Rapido (se-
gundos)
Mais lento
(minutos)
Eventos de
longa duracao
Rapido
(minutos-
horas)
Mais lento
(horas)
Perıodo de Atuacao:
Reserva Gi-
rante
X X X X X
Reserva Nao-
Girante
X X X
Tipo de Servico:
CAG X X
Regulacao As-
cendente
X X X X X
Regulacao
Descendente
X X X X
21
2.3.4.1 Requsitos Adicionais de Rerservas Operacionais
E necessario estudar a quantidade de reserva operacional necessaria em um sistema
com grande penetracao de energia intermitente, a fim de garantir uma operacao
segura e eficiente.
Uma revisao geral de alguns estudos referentes a relacao entre a penetracao das
fontes variaveis e a necessidade de reservas operacionais levou a algumas conclusoes
apresentadas em [? ]. Essas conclusoes devem ser adaptadas as caracterısticas de
cada sistema, uma vez que nao existem sistemas eletricos identicos no mundo. Sao
elas:
• Atraves da observacao e analise dos dados reais de geracao de parques
eolicos, ficou claro que as variacoes de producao nao sao rapidas o suficiente
para serem consideradas contingencias. Isso implica que a lista de con-
tingencias a ser considerada para estudos de reservas nao deve ser alterada.
• As incertezas das previsoes e a variacao da geracao eolica podem ate afe-
tar a quantidade necessaria de reservas secundarias, o que na maioria dos
casos nao ocorre de maneira significativa, ja que as reservas mais rapidas
(primarias e de regulacao) devem estar preparadas para responder a essas
rapidas flutuacoes. Como os sistemas eletricos ja possuem esse tipo de re-
serva para casos de variacoes de demanda e contingencias inesperadas, o
impacto tanto no custo quanto na capacidade de reserva devem ser bastante
limitados.
• Mais importante do que a variacao da geracao em si e o impacto dos
erros de previsao da geracao eolica. Em muitos paıses, a definicao das re-
servas operacionais e feita no dia anterior, conhecido tambem como mer-
cado day-ahead, portanto, deve-se programar uma quantidade suficiente de
geracao flexıvel e com tempos de partida rapidos, que permitam uma va-
riacao rapida de geracao, como CCGTs, OCGTs (Open Cycle Gas Turbine)
e hidreletricas, a fim de manter o balanco energetico bem como o forneci-
mento de reserva terciaria (ou de acompanhamento de carga). Como dito
anteriormente, apesar de as tecnologias de previsao estarem em constante
evolucao, os erros para o dia seguinte ainda sao altos.
Em paıses onde a geracao de ponta e predominantemente termica, essa mudanca
no perfil de agendamento de geracao faz com que uma quantidade maior de geradores
termicos fiquem programados obrigatoriamente, ocupando parte da sua geracao.
Dessa maneira, reduz-se a quantidade de energia que as empresas poderiam ofertar
no mercado, podendo gerar um consequente aumento do preco da energia, ou uma
necessidade de modificacao na remuneracao dessas unidades.
A figura 2.14 mostra algumas experiencias internacionais de estudos do aumento
22
dos requisitos de reservas de acordo com a penetracao de energia eolica em seus
respectivos sistemas.
Figura 2.14: Experiencias internacionais de aumento dos requisitos de reservas de-vido a penetracao de geracao eolica. Fonte: [? ]
O que e apresentado em [? ] e que, normalmente, as necessidades de reserva
associadas a energia eolica ocorrem quando sua producao e alta, o que faz com que
as demais unidades convencionais disponham de bastante energia ociosa para suprir
as necessidades do sistema. O que deve ser avaliado e, na verdade, a flexibilidade
das unidades termeletricas convencionais, ou seja, sua capacidade de seguir grandes
e longas rampas de geracao no caso de erros graves de previsao de ventos. Em paıses
como o Brasil, onde a geracao predominante e a hidreletrica, devido a sua grande
flexibilidade operativa, esse problema nao deve ser muito relevante.
2.3.5 Modelos Computacionais
O planejamento da operacao eletro-energetica de um sistema e feito a partir de
modelos computacionais que conseguem representar o sistema gerador com um certo
nıvel de detalhe e suas incertezas e, a partir disso, decide o cronograma de geracao
que atende a demanda a um mınimo custo (Despacho Economico Otimo).
Em sistemas termicos, estes modelos sao historicamente bem detalhados na re-
presentacao dos aspectos de curto prazo. Isso vem da necessidade de representar
bem as usinas termicas para a definicao de unit-commitment, rampas, custo de par-
tidas, e, uma vez que a flexibilidade do sistema nao e alta, deve-se minimizar os
erros de programacao (mismatch). Em compensacao, a representacao das incerte-
zas do sistema e menor, uma vez que estao associadas basicamente a quebra de
equipamentos e contingencias.
23
Em sistemas hıdricos, houve um maior detalhamento na representacao da varia-
bilidade da producao, em virtude das incertezas ligadas a geracao hidreletrica. Em
consequencia, as metodologias de planejamento e operacao desses sistemas ja pos-
suem muitos dos conceitos fundamentais para a integracao das ERNC, como a repre-
sentacao da variabilidade da geracao (apesar de ocorrem em magnitude e frequencia
menor do que nas ERNC) e seu impacto na confiabilidade de fornecimento e requi-
sitos de reservas operacionais. Porem, os modelos simplificam a representacao dos
aspectos de curto prazo, uma vez que a flexibilidade do sistema hidreletrico consegue
absorver os erros da programacao com maior facilidade.
Com a penetracao das ERNC, sera necessario uma adequacao dos modelos ja
existentes as caracterısticas dessas fontes. No caso dos sistemas termicos, devera ser
feito um grande esforco para representar os aspectos estocasticos, ja que historica-
mente fazem uso de metodos determinısticos em seus planejamentos. Alem disso,
devem tambem melhorar a representacao das proprias ERNC. Muito ja se estuda
sobre isso, como pode ser visto em [27], [29] e [34].
Para os sistemas hıdreletricos como e o caso do Brasil as necessidades sao ou-
tras. Como dito anteriormente, a experiencia atual com modelos estocasticos que
ja representam a variabilidade hidreletrica facilita na hora dos ajustes. Dentre os
novos desafios nas modelagens, pode-se destacar:
• Modelagem mais detalhada das variacoes horarias da ERNC intermitentes
(eolica e solar) e a sinergia entre todas as fontes;
• Representacao, a nıvel de planejamento, dos aspectos operativos de curto
prazo, como restricoes de reserva, de transmissao, unit-commitment e das
plantas termicas bem como sua flexibilidade;
• Modelagem da geracao distribuıda junto com a geracao centralizada, o
que exigiria uma representacao mais detalhada das redes de baixa tensao da
distribuicao;
• Representacao de sistemas de transmissao flexıveis e smart grid, o que pode
aumentar a eficiencia por conta da inversao da transmissao;
• Definicao adequada dos benefıcios trazidos pelas novas fontes (devido a
sinergia entre fontes, custos operativos fixos, independentes de fatores ex-
ternos como preco de combustıvel, etc.);
• Definicao adequada dos custos das novas ERNC (pelas inversoes de trans-
missao, construcao de reservas de resposta rapida, maior variabilidade, etc.)
Alem disso, nao ha duvidas de que em ambos os casos ainda ha o grande desa-
fio do esforco computacional, uma vez que as modelagens atuais ja exigem muita
capacidade.
24
2.4 Experiencias Internacionais no Dimensiona-
mento dos Impactos
Em todo o mundo, estudos estao sendo realizados a fim de definir o real impacto
das eolicas tanto nas reservas ja existentes quanto na operacao do sistema. Como
cada paıs possui caracterısticas unicas, e impossıvel definir uma unica metodologia.
Porem, a partir da experiencia de cada paıs e o conhecimento do sistema brasileiro,
e possıvel definir os melhores caminhos a serem seguidos.
Nesta secao serao apresentadas as experiencias internacionais de alguns paıses,
mostrando algumas metodologias, resultados e as expectativas.
2.4.1 Alemanha
O principal estudo realizado na Alemanha foi comissionado pela Agencia Energetica
Alema DENA e foi chamado de “Planning of the Grid Integration of Wind Energy
in Germany Onshore and Offshore up to the Year 2020”[7]. O governo alemao tem
como meta uma participacao de 20% de energias renovaveis no fornecimento de
energia ate o ano 2020, e esse estudo foi fundamental o planejamento de longo prazo
tanto economico quanto energetico.
Esse estudo analisou o impacto da integracao das eolicas tanto nas reservas ope-
racionais quanto na rede e operacao do sistema. Os resultados foram apresentados
em [20].
2.4.1.1 Reservas Operacionais
Apesar de o estudo concluir que a penetracao projetada de 20% de energias re-
novaveis na matriz energetica e viavel, foram encontradas algumas mudancas e ini-
vestimentos necessarios para tal. Os erros de previsao das eolicas, por serem maiores
que em unidades tradicionais, aumenta a necessidade de capacidade energetica re-
gulatoria e de reserva, a fim de manter o balanco energetico nulo durante toda a
operacao. Isto ocorre pois, apesar da melhoria de previsibilidade assumida no estudo,
a capacidade de reserva e de regulacao crescem em rıtmo muito desproporcional ao
assumido para o crescimento da capacidade eolica instalada.
O estudo concluiu que para um planejamento de operacao no dia anterior, e
possıvel calcular as capacidades de reserva e de regulacao baseadas nas previsoes
de geracao eolica para o dia seguinte. Na operacao em tempo real, as capacidades
adicionais necessarias podem ser supridas pelos geradores tradicionais existentes,
porem, para tanto, se faz necessaria uma integracao e uma operacao coletiva, a fim
de manter o balanco energetico nulo durante a operacao.
25
Alem disso, para o ano de 2015, foram definidas necessidades de expansao dessas
capacidade de regulacao e reserva energetica. Foi calculado um maximo adicional de
7.064 MW de capacidade positiva de regulacao, sendo que desses, 3.227 MW devem
ser contratados no dia anterior da operacao. Esse numero apresenta um aumento de
aproximadamente 240% em relacao a 2003, ano de inıcio do estudo. Em relacao a
capacidade negativa de regulacao e reserva, foi calculado um maximo de 5.840 MW,
sendo 2.822 a serem contratados no dia anterior a operacao. Um crescimento de
aproximadamente 212%.
Para se chegar a essas conclusoes, o DENA utilizou muitos dados de velocidade e
direcao de ventos de 220 pontos de medicao, dos anos de 1992 ate 2003. As medicoes
tinham uma frequencia de aquisicao de 10Hz para alturas de 10m, 30m e 50m, e
entao, modelou-se uma serie temporal de geracao eolica com intervalos de 5 minutos
e duracao de 7 anos.
Entao, a partir da distribuicao probabilıstica dos erros de previsao da geracao
eolica, dos erros de previsao da demanda e a dos cortes de geracao por falhas es-
tocasticas em unidades geradores, foi derivada uma nova distribuicao probabilıstica
das faltas e excessos de energia no sistema. Em cima dela foram calculadas as
necessidades de controle e reserva do fornecimento.
Para os calculos considerou-se que as previsoes eram feitas no day-ahead e sem
atualizacao no tempo de operacao, e os erros de previsao assumidos estao na tabela
2.2.
Tabela 2.2: Erros de previsao adotados no estudo do DENAPrevisao de ventos day-ahead Previsao de ventos 4-horas
Media Desvio Padrao Mınimo Maximo Media Desvio Padrao Mınimo Maximo
2003 -0.28% 7.29% -27.50% 41.50% 1.26% 4.92% -17.00% 33.00%
2015 -0.32% 5.91% -23.50% 29.50% 0.97% 3.89% -14.00% 24.30%
O resultado desse estudo foi muito bem aceito pelos diversos agentes da industria
eolica, governo e operadores. Um exemplo disso foi a incorporacao de alguns resulta-
dos no Ato Alemao para Energia Renovavel (Erneuerbare-Energien-Gesetz, EEG),
onde agora os pagamentos pela geracao eolica seriam dependentes das concordancias
tecnicas das turbinas com os requisitos para a integracao com a rede eletrica de
transmissao e de acordo com o comportamento das turbinas nos casos de falhas no
sistema. O estudo tambem serviu de ponto de partida para diversos outros estudos.
Um deles realizado pelo Ministerio Federal Alemao para o Ambiente, Conservacao
Natural e Seguranca Nuclear (BMU). Esse estudo pretendia investigar as medidas
para otimizar a integracao da energia eolica na Rede Eletrica Alema. Nesse caso,
nao interessava quantificar o efeito das diferentes medidas, apenas identificar as mais
promissoras, levando em conta o cenario definido no estudo do DENA para 2020.
26
Uma das medidas analisadas foi a criacao de um mercado intra-day. Dessa forma,
se teria erros de previsao menores para a geracao eolica, o que reduziria a necessidade
de reservas rapidas. Esse conceito esta diretamente relacionado com a liquidez do
mercado intra-day para assegurar a capacidade de balanceamento. Chegou-se entao
a conclusao de que nao se obteria grandes vantagens com o estabelecimento desse
novo mercado. Outra abordagem foi o pooling da capacidade de balanceamento
causado pelas eolicas e os erros de previsao de carga e o pooling do erro das 4 zonas
de controle no sistema alemao. Chegou-se a um valor teorico de 20% de reducao
na necessidade de reserva e balanceamento do sistema. Porem, foi mostrado que o
pooling exigiria um grande esforco organizacional e introduziria uma carga adicional
ao sistema.
Outro ponto investigado no estudo foi a participacao de consumidores residenciais
como reservas energeticas. Assim como grandes industrias ja participam do mercado
de balanco energetico, com o desenvolvimento de um sistema de comunicacao que
permitisse controlar os eletrodomesticos, seria possıvel incluir tambem os pequenos
consumidores residenciais. Um dos numeros apresentados foi a capacidade de 3GW
para balanco positivo e negativo proveniente do controle de geladeiras e congeladores.
O problema encontrado para essa alternativa foi a necessidade de mudanca dos
habitos energeticos desses consumidores.
2.4.1.2 Impactos na Rede de Transmissao
Assim como do ponto de vista das reservas operacionais, o estudo concluiu que as
metas do governo para pentracao de energias renovaveis do ponto de vista tecnico da
rede de transmissao do sistema tambem era possıvel com algumas medidas a serem
tomadas para o desenvolvimento do sistema de fornecimento.
Entre as medidas identificadas esta a necessidade de investimento em novas redes
de transmissao e reforcos para o sistema. Em perıodos de muito vento, foram identi-
ficados congestionamentos de linhas a partir do ano de 2007. Ate 2015, determinou-
se necessario uma expansao de 5% do total de linhas de extra alta tensao existente
no paıs a epoca do estudo. Alem disso, muitas instalacoes de 380 kV deveriam se
equipar com componentes para controle de fluxo de potencia. Avaliou-se em apro-
ximadamente 1,1 bilhao de euros o valor do investimento necessario ate o ano de
2015.
Identificou-se ainda um problema com a estabilidade dinamica do sistema. A
analise dinamica mostrou alguns problemas crıticos causados por quedas de tensao
locais. Verificou-se que as turbinas colocadas em operacao antes de 2004 nao resis-
tiam a quedas de tensao e entao se desconectavam do sistema, piorando ainda mais
a situacao do sistema em casos de falhas. Portanto, colocando em risco a confiabi-
lidade de fornecimento nao so da rede alema como tambem da rede interconectada
27
europeia.
Para combater esse problema, modificou-se a regulamentacao das novas turbinas
para que elas suportem quedas de tensao de ate 80%. Porem, as turbinas antigas
ainda obedecem ao regularmento antigo. Portanto, para contornar tudo isso o estudo
sugeriu algumas medidas tecnicas para adaptar a rede e as unidades geradoras. Entre
elas:
• Modificacao tecnica das turbinas construidas antes de 2004 para atender
aos padroes do novo Codigo de Rede;
• Instalacao de equipamentos para controle de tensao, como compensadores
estaticos de reativo;
• Repotencializacao das usinas mais antigas;
• Outras modificacoes nos Codigos de Rede.
Para os calculos quasi-static foi utilizado o software INTEGRAL, desenvolvido
pelo instituto Forschungsgemeinschaft fur Elektrische Anlagen und Stromwirtschaft
e. V. (FGH e.V.). Os calculos dinamicos e simulacoes foram feitos no software
NETOMAC.
Foram definidos alguns cenarios para analise. Na investigacao estatica foram 4
casos: o de pico de carga com e sem eolicas e vale de carga com e sem eolicas. Alem
disso, foi assumido que nos cenarios de ventos fortes, no maximo 90% da capacidade
instalada de eolicas sao alimentadas na rede simultaneamente pela Alemanha.
Os resultados e analises foram limitados a extensao da rede e aos efeitos nas
transmissoes de 380 kV.
2.4.2 Espanha
Em 2009, o Conselho Europeu definiu metas de 20% de participacao de energias
renovaveis no consumo de energia da Uniao Europeia ate 2020. A Espanha pretende
chegar a um nıvel de 40% de energias renovaveis, sendo ate 2020 40 GW de geracao
eolica onshore e 5 GW de geracao eolica offshore.[28]
Assim como em muitos outros paıses no mundo, o operador do sistema espanhol
REE (Red Electrica de Espana) vem estudando como sera a operacao do sistema
com todos os impactos positivos e negativos da geracao eolica de grande porte no
sistema.
O Sistema Espanhol trabalha com 4 tipos de reserva. A reserva de controle
primaria e um servico nao-pago e e operado por todas as unidades geradores em um
regime regular. Os geradores operando com essa regulacao primaria mantem uma
margem de reserva de 1,5%.
Ja a reserva de controle secundaria e uma reserva regulada no mercado, provi-
denciada por unidades que possuem um controle automatico de geracao (CAG). Na
28
Espanha, isso inclui unidades hidroeletricas de resposta rapida. A REE consegue
±1.500 MW de reserva secundaria para balancear o sistema em tempo real.
A reserva terciaria espanhola e despachada 15 minutos antes do inıcio da hora
de operacao ou, se necessario, dentro da propria hora, e serve como ajuste manual
de geracao para eliminar discrepancias entre geracao e carga. Portanto, devem ser
unidades de rapida tomada de carga como CCGTs ou hidroeletricas. Apesar de
serem um servico complementar opcional, e regulado e remunerado por mecanismos
do mercado. Devido a esse carater complementar, pode-se perceber que aumento
da geracao eolica tende a aumentar tambem a participacao das reservas terciarias.
O quarto tipo de reserva e denominada Reserva de Divergencia (Deviation Re-
serve) e ela e utilizada para balancear grandes diferencas entre a geracao programada
e a demanda prevista. Normalmente essas grandes variacoes sao valores acima de
300 MWh. Essa reserva e provida por geradores e unidades reversıveis e, assim como
ocorre com as terciarias, com a insercao de eolicas e o aumento dos erros de previsao,
ha uma expectativa de aumento do custo das operacoes desse tipo de reserva.
Em seus estudos, a REE chegou a conclusao de que o uso de metodos deter-
minısticos e metodologias classicas de probabilidade sao insuficientes para a cober-
tura da demanda. Ao inves disso, analisa-se uma simulacao com passos de tempo
(time-stepping) para assimilar a cobertura da demanda bem como as estrategias de
utilizacao das reservas operativas.
Foram estudados diversos cenarios, cada um com caracterısticas eletricas e
energeticas diferentes. Para a geracao eolica foram utilizados dados de previsoes
horarias, e para as unidades hidreletricas de rapida resposta utilizou-se series
historicas mensais. Alem disso, para uma real representacao do sistema, considerou-
se perıodos de manutencao programada, alem de perıodos de falhas e reparos repen-
tinos, seguindo distribuicoes estatısticas e parametros especıficos.
O estudo mostrou que em sistemas com grande participacao de eolicas, a flu-
tuacao de geracao tem um grande impacto na seguranca do fornecimento e na
operacao. O unit commitment deve ser definido mais rapidamente a fim de respon-
der a rapidas mudancas na saıda dos geradores eolicos, principalmente em horarios
de pico.
O que se pode concluir e que a regulacao do sistema (aumento e reducao da
geracao ou carga) e os valores atribuıdos a ela devem ser estudados em sistemas com
grande penetracao eolica. As reservas operacionais, para eles definidas como aquelas
que sao mobilizadas em menos de 1 hora, devem ser suficientes para absorver as
mudancas repentinas de geracao ou demanda que podem acontecer no sistema, como
falhas de unidades geradoras, mudancas na demanda ou variacoes inesperadas da
geracao eolica. Definiu-se como prioridade de implantacao para as futuras unidades
geradoras para 2015 (400 MW) usinas dos tipos Reversıveis, CCGT e OCGT. Sao
29
unidades que permitem uma rapida tomada de carga como tambem, no caso das
reversıveis, um controle de demanda.
2.4.3 Reino Unido
As polıticas de governo do Reino Unido tem como objetivo alcancar um forneci-
mento de 15% da energia consumida a partir de fontes renovaveis, principalmente
eolicas, ate o ano de 2015. A fim de quantificar o impacto dessa mudanca na matriz
energetica, foram conduzidos diversos estudos.
Em 2002, Ilex/Strbac[36] tinha como foco quantificar os custos adicionais para
balancemento do sistema advindos do aumento de renovaveis na Gra-Bretanha a
valores como 20% ou 30% da demanda total. Ele analisa diversos cenarios, com
diferentes misturas de renovaveis, sendo a eolica sempre predominante, mas nem
sempre tendo o mesmo nıvel de penetracao.
Ilex/Strbac, 2002: Nesse estudo, os custos de balanceamento compreendem:
• Custos de Resposta e Reserva girantes, que representam o balanceamento
entre demanda e geracao no horizonte de segundos e minutos;
• Custos de Reserva Nao-Girante, que representam o balanceamento no ho-
rizonte de horas;
• Custo de partida de unidades geradoras;
• Custo do corte de geracao eolica (wind curtailment).
Os dados de geracao eolica utilizados foram adquiridos de 39 projetos espalha-
dos pelo RU com perıodos de amostragem de 30 minutos durante um ano. Para
modelar series de grandes penetracoes de geracao eolica, com uma representacao
mais fiel da diversidade das geracoes em larga escala, foram utilizadas tecnicas de
deslocamento no tempo de perfis de geracao de 30 minutos para criar novos perfis,
ou seja, sobrepoe-se os perfis de geracao dos 39 empreendimentos, mas defasando em
30 minutos cada conjunto de informacao em relacao ao anterior. A soma desses no-
vos perfis e uma representacao de um grande sistema eolico. O nıvel de diversidade
inserida foi escolhido arbitrariamente, tendo como meta um ponto medio entre a
diversidade observada nos dados de projetos para os quais haviam dados disponıveis
e um maximo teorico se toda a geracao de um numero muito maior de projetos nao
fossem correlacionados.
A distribuicao da frequencia de variacao dos outputs de geracao em meia hora,
que sao importantes para determinar os requisitos de respostas rapidas, e em 4 horas,
importantes para determinar os requisitos de reservas, estao apresentados na Figura
2.15.
A metodologia aplicada para avaliar os recursos adicionais para gerenciar o ba-
lanceamento entre geracao e demanda foi combinar estatisticamente o desvio padrao
30
Figura 2.15: Distribuicao de frequencia da variacao da geracao eolica no perıodo de30 minutos e de 4 horas. Retirado do relatorio IEA Task25[20]
das flutuacoes das fontes renovaveis com as variacoes de demanda e da geracao con-
vencional, a fim de determinar a quantidade de reserva operativa necessaria para
cobrir cerca de 99% dos erros entre demanda e fornecimento em um determinado
horizonte de tempo.
Para definir os custos adicionais de balanceamento do sistema foram utilizados
dois metodos, um de simulacao e um analıtico. Estes custos adicionais incluem,
entre outros, a reducao de carga, partida de unidades geradoras, operacao e o custo
de wind curtailment.
Utilizando o metodo de simulacao, o sistema operado e simulado atraves de
series temporais e levando em conta um numero de contingencias dinamicas como
partidas de unidades, tempo mınimo de operacao e de pausa, nıveis de rampa,
mınimo de geracao estavel entre outras. Em cima dessas caracterısticas, criou-se
uma programacao energetica, de resposta e de reserva. O custo de balanceamento do
sistema foi estimado atraves de diversas simulacoes estudando 6 dias caracterısticos,
tanto dias uteis quanto dias nao uteis e em todas as estacoes. Para definir custos
anuais, extrapolou-se os dias de amostra existentes, em uma base ponderada pelo
tempo, a fim de representar um ano. Ja o metodo analıtico utiliza metodos de analise
estatıstica. Uma gama de estudos analisados mostrou que tanto o metodo simulado
quanto o analıtico apresentavam resultados muito consistentes. Como o metodo
analıtico e mais simples e computacionalmente menos exigente que o simulado, este
primeiro e principalmente utilizado junto ao metodo simulado a fim de se criar um
modelo analıtico para rodar a sensibilidade e avaliacao de custos.
Para a realizacao do estudo supos-se que todos os geradores em operacao con-
tribuiram para a inercia do sistema, o nıvel de resposta dinamica dos geradores
convencionais foi considerada sendo pelo menos 10% da sua capacidade instalada e
as perdas de eficiencia consideradas entre 10% e 20%. A reserva girante foi provida
por usinas a carvao operando parcialmente e unidades com turbinas a gas de ciclo
31
combinado (CCGT) enquanto a reserva nao-girante foi provida por unidades a tur-
binas a gas de ciclo unico (OCGT) e usinas reversıveis. Para definir a alocacao das
reservas girantes e nao-girantes analisou-se o trade-off entre a perda de eficiencia ao
se manter uma unidade parcialmente girando (a um custo marginal mais baixo) e o
custo de manter gerando uma unidade base com um custo marginal alto.
Os resultados do estudo estao representados na figura 2.16. Primeiramente vemos
os custos antes da insercao dos cenarios estudados. Pode-se observar que, apesar de
os custos de resposta representarem a maior parcela no custo total, eles sao menos
significativos nos custos adicionais. Sua variacao nos diversos cenarios e muito menor
do que de outros custos como os de reserva.
Figura 2.16: Custo de Balanceamento Anual total por componente. A eolica repre-senta a maior parte das renovaveis na maioria dos casos. Figura retirada do relatorioda IEA Task25 [20]
Pegando-se os valores originais e dividindo-se pela geracao eolica, teve-se como
resultado £2,38/MWh de eolica para 10% de penetracao, chegando a £2,65/MWh
para 15% e £2,85/MWh para 20%. Como os custos apresentados sao adicionais,
estao referentes ao caso de 10% de renovaveis.
As tecnicas aplicadas nesse estudo para determinar a necessidade de reservas
operacionais e seus custos associados nao abrange uma variedade de impactos cau-
sados pela variabilidade e incerteza da geracao eolica para a operacao do sistema, o
que representa algumas limitacoes do estudo.
Em 2007 um novo estudo foi conduzido com o objetivo de analisar o impacto
da geracao eolica na operacao e no desenvolvimento dos sistemas eletricos do Reino
32
Unido,[37].
A epoca do estudo, o operador do sistema do Reino Unido designava em media
600MW de controle dinamico de frequencia e 2400MW de diversos tipos de reservas
para lidar com as incertezas em um horizonte de tempo de 3-4 horas. Com o aumento
da penetracao eolica esses valores tendem a aumentar, uma vez que este tipo de
geracao e tanto variavel quanto imprevisıvel.
A modelagem dos dados de geracao utilizada foi uma versao atualizada do que
foi feito em Ilex/Strbac, 2002. Porem, foi aplicada uma metodologia diferente. A
resposta e a reserva adicional foram estimadas utilizando 3 sigmas da distribuicao de
carga e das variacoes vento+carga. Uma tecnica baseada em persistencia determi-
nou os erros de previsao das eolicas no horizonte de tempo analisado e combinou-se o
desvio padrao desses erros com os desvios padrao dos erros de previsao de demanda
e geracao, a fim de se determinar o mismatch total que deveria ser administrado.
Esse mismatch e calculado utilizando-se o metodo estatıstico padrao que consiste
em combinar os erros independentes, dessa forma, o erro medio quadratico da com-
binacao e a soma dos outros erros medios quadraticos.
Ja para a avaliacao dos custos de reserva analisou-se dois cenarios, um com o
combustıvel a £10/MWh e outro a £20/MWh. O custo e obtido assumindo que
o custo de manter uma reserva girante (sincronizada a rede) seria em media entre
£2/MWh para o primeiro cenario e £4/MWh para o segundo cenario. Assumiu-
se ainda que as perdas de eficiencia foram de 20% e que toda a geracao eolica e
absorvida pelo sistema. Em alguns sistemas com baixa flexibilidade de geracao
(i.e. com geracao convencional predominantemente nuclear) pode nao ser possıvel
absorver grandes penetracoes de eolicas, porem, o aumento da reserva provida por
unidades nao-girantes aumenta essa capacidade dos sistemas.
Os resustados do estudo estao apresentados na tabela 2.3. Nela estao os requisitos
de reserva e resposta, e os custos associados para diversos nıveis de penetracao.
Concluiu-se que a quantidade extra de reserva poderia ser fornecida pelas unida-
des geradoras convencionais ja existentes, por isso, so se explicitou o custo adicional
das reservas operacionais.
Quando a variabilidade foi contornada apenas atraves de reservas, girante ou
nao, o valor captalizado da reducao dos precos de combustıvel chegou a valores da
ordem de 970£/kW em sistemas com baixa flexibilidade e 252£/kW em sistemas
com alta flexibilidade.
Do ponto de vista da capacidade de suportar falhas (Fault-Ride-Through) dos
geradores eolicos, se estudou a magnitude dos impactos no sistema ao ter que acomo-
dar geracao eolica com diferentes tipos de capacidades de FRT. Os custos adicionais
ocorrem pelo custo adicional de resposta, uma vez que se opera unidades convencio-
nais de forma menos eficiente e o custo adicional dos combustıveis. Outro problema
33
Tabela 2.3: Requisitos adicionais de reserva para o aumento da geracao eolica noRU. Maximo e mınimo referentes aos cenarios apresentados. Conversao feita de 1£= 1,3e.CapacidadeEolicaInstalada
Requisitosadicionaisde res-posta emfrequencia(MW)
Custos adi-cionais deresposta emfrequencia(e/MWh)
Requisitosadicionaisde reserva(MW)
Custosadicionaisde reservas(e/MWh)
Custo adi-cional dereserva total(e/MWh)
Min Max Min Max Min Max Min Max Min Max5 34 54 0.1 0.3 340 526 0.7 1.7 0.8 210 126 192 0.3 0.6 1172 1716 1.4 2.5 1.6 3.115 257 382 0.4 0.8 2241 3163 1.7 3.1 2.1 3.820 413 596 0.5 0.9 3414 4706 1.9 3.5 2.3 4.425 585 827 0.5 1 4640 6300 2 3.7 2.6 4.7
e o fato de se aumentar o numero de geradores sincronizados com a rede gerando
parcialmente e o curtailment da geracao eolica aumentam as emissoes de CO2.
O trabalho entao demonstrou que aumentar a partipacao de geradores eolicos
com baixa robustez levaria a um aumento dos custos do sistema no caso do Reino
Unido. Como os custos adicionais sao significativamente mais altos que os cus-
tos da engenharia para que as usinas provejam essa capacidade, exigir uma maior
capacidade de FRT para grandes usinas eolicas seria economicamente mais eficiente.
2.4.4 Noroeste Pacıfico Norte-Americano
A regiao do Noroeste Pacıfico dos Estados Unidos compreende os estados de
Washington, Oregon, Idaho e Montana. Essa regiao e considerada a regiao me-
nos emissora de gases de efeito estufa do paıs, pois dois tercos de sua producao
energetica vem de usinas hidreletricas. O Bonneville Pacific Administration (BPA)
e o orgao que administra a maior parte da geracao dessa regiao.
Bem como no resto do mundo, essa regiao vem experimentando uma rapida
expansao da participacao das eolicas em seu mix energetico, chegando a 7% de toda
a producao. O resto da geracao vem de usinas termicas nucleares, a carvao e a gas.
Em um artigo para a revista Forbes[13], o autor Dr. James Conca apresentou
um movimento contraditorio do Estado na regiao, declarando hidreletricas como
energias nao renovaveis, a fim de usar os mandatos e creditos de renovaveis para
forcar um maior desenvolvimento das eolicas na regiao.
Na figura 2.17, podemos observar que na regiao administrada pela BPA, a geracao
eolica deslocou apenas a geracao hidreletrica, enquanto a termica se manteve rela-
tivamente constante. Como a eolica compete apenas com a hidreletrica, duas re-
34
novaveis, nao ha nenhum ganho real, seja com reducao de emissao de gases de efeito
estufa ou com ganho de reserva ou seguranca da rede.
Figura 2.17: Informacao de demanda e geracao de energia da BPA para a semanado dia 07 de Janeiro de 2014.
O que se tem na figura 2.18 e um grafico que compara a demanda total do sistema
e a geracao eolica, para a primeira metade do mes de Janeiro de 2014. Nele podemos
ver que a geracao eolica aparece principalmente em momentos de baixa demanda,
quando nao e necessaria. Essa correlacao negativa explica a necessidade de ciclagem
constantes das hidreletricas mostrado na figura 2.17.
Isso representa um problema de ma localizacao geografica, onde a geracao eolica
foi introduzida apenas para tirar vantagens dos incentivos financeiros existentes no
paıs para desenvolvimento de fontes renovaveis. Alem disso, essa ciclagem constante
das turbinas hidreletricas gera um grande desgaste.
O autor do artigo verificou que a regiao fez investimentos da ordem de $5 bilhoes
e impactou 50 mil acres de terras publicas para que 9 bilhoes de kWh de energia
renovavel sejam desperdicadas por ano. Isso tudo a fim de se regular com mandatos
estatais, para que a regiao seja considerada “verde” e gerar capital para alguns
enquanto os custos adicionais sao repassados para os contribuintes.
Ou seja, apesar de a BPA ter feito estudos e investimentos para melhor absorver
a insercao das ERNC na regiao, decisoes apenas polıticas ou baseadas apenas em
interesses financeiros podem prejudicar e muito a integracao dessas fontes com as
outras fontes ja existentes na regiao.
Para que a integracao seja feita da melhor forma possıvel, de modo que os opera-
35
Figura 2.18: Comparacao da demanda total e da geracao eolica na primeira metadede Janeiro de 2014 para o sistema controlado pela BPA.
dores possam tirar o melhor proveito das caracterısticas das ERNC, a quantidade e
a localizacao geografica delas devem ser definidas atraves de estudos de viabilidade
e eficiencia, para que nao ocorram desperdıcios como no caso do Noroeste Pacıfico
dos Estados Unidos. Esses desperdıcios representam grandes prejuızos nao so para
o meio ambiente, como tambem para os consumidores de energia.
2.5 Resumo dos Principais Impactos na Operacao
do Sistema
A tabela 2.4 apresenta um resumo dos principais impactos apresentados neste
capıtulo.
Tabela 2.4: Resumo da tipologia dos principais impactos
da eolica na operacao do sistema.
Fatores de Impacto Possıvel Impacto
Est
abilid
ade
do
Sis
tem
a
Menor inercia no sistemaMenor resistencia a
disturbios na rede.
Continua na pagina seguinte.
36
Tabela 2.4 – Continuacao da pagina anterior.
Fatores de Impacto Possıvel Impacto
Variacao de injecao de
potencia na rede
Perda da capacidade de con-
trole da tensao nos pontos
de conexao
Rapida resposta a controles
do Operador5
Rapida mudanca na
geracao, ajudando na
rapida adequacao da
frequencia da rede.
Deslocamento do despacho
de usinas mais caras
Reducao no custo marginal
da energia, com impactos
comerciais
Cust
osde
Un
it-
Com
mit
men
te
Mer
cado
Maior taxa de ciclagem de
usinas termicas, principal-
mente as de ponta
Maiores custo de O&M
e menor disponibilidade
de unidades geradoras,
podendo acarretar em mai-
ores custos de operacao do
sistema
Necessidade de flexibilidade
do sistema eletrico
Necessidade da ciclagem de
unidades projetadas para
operar na base (e.g. nucle-
ares), aumentando riscos de
indisponibilidade e de mai-
ores custos de operacao
Cap
acid
ade
de
Tra
nsm
issa
oe
Efici
enci
a
Padrao de injecao de
potencia na rede variavel
Aumento de congestiona-
mentos na rede durante al-
gumas horas da operacao
Mudanca da direcao dos
fluxos de potencia, exindo
mais das redes de trans-
missao
Continua na pagina seguinte.
37
Tabela 2.4 – Continuacao da pagina anterior.
Fatores de Impacto Possıvel Impacto
Res
erva
Op
erac
ional
Aumento da necessidade de
reserva de resposta rapida
aos erros de previsao
Necessidade de investimen-
tos em novas capacida-
des de reserva (tecnologias
flexıveis) e possıvel elevacao
dos custos marginais de
operacao do sistema
Model
os
Com
puta
cio-
nai
s
Incapacidade de repre-
sentacao satisfatorias das
ERNC
Subestimativa dos reais im-
pactos e custos ao sistema
e sobre-estimativa de seus
benefıcios, com importantes
consequencias no despacho
das demais tecnologias
5Em alguns tipos de turbinas que permitem esse controle.
38
Capıtulo 3
Recursos para Melhorar a
Integracao Eolica
Como apresentado anteriormente, a insercao de novas fontes de energia renovaveis
com caracterısticas intermitentes traz consigo diversos novos desafios operacionais.
Para contornar tais desafios os operadores devem aperfeicoar seus procedimentos
de operacao. Neste capıtulo serao apresentados algums desses aperfeicoamentos ne-
cessarios, entre eles o aproveitamento da sinergia entre as fontes, o desenvolvimento
das tecnologias de previsao de ventos entre outros.
3.1 Sinergia entre Fontes
A simples analise dos historicos de bacias hidrograficas, dos ventos e ate das radiacoes
solares mostram que existe uma complementariedade entre essas fontes e em diversas
janelas de tempo. Nesta secao sera discutida principalmente a complementariedade
das eolicas com outras fontes, foco desse trabalho.
3.1.1 Complementariedade entre as ERNC
A figura 3.1 mostra a complementariedade temporal no perıodo de um dia que existe
entre geracao solar e eolica em um estado brasileiro.
Ja na figura 3.2, apresenta-se a complementariedade mensal entre usinas eolicas
do Nordeste brasileiro e pequenas centrais hidreletricas do Sudeste brasileiro. As
linhas pontilhadas representam o intervalo de confianca de cada perfil.
Nas duas figuras e possıvel observar uma grande complementariedade entre as
geracoes. Esses perfis devem ser explorados pelos operadores na hora de planejar a
operacao, a fim de tirar o maior proveito de cada fonte.
39
Figura 3.1: Complementariedade horaria entre geracao solar e eolica no Brasil.
Figura 3.2: Complementariedade mensal entre geracao eolica do Nordeste brasileiroe PCHs do Sudeste brasileiro.
3.1.2 Complementariedade com as Hidreletricas Convenci-
onais
Apresentado em [31], a figura 3.3 mostra o perfil de geracao hidreletrica do rio Sao
Francisco, principal fonte da regiao Nordeste do Brasil e os perfis de geracao eolica de
diversos estados brasileiros. Nele podemos observar que o rio Sao Francisco apresenta
uma baixa em sua geracao durante os meses do verao, que coincide exatamente com
a alta dos ventos nas regioes geradoras eolicas.
As hidreletricas se apresentam como as melhores fontes, tanto economicamente
quanto operacionalmente, para apoiar as energias intermitentes como a eolica.
40
Figura 3.3: Complementariedade mensal entre geracao eolica do Nordeste brasileiroe PCHs do Sudeste brasileiro.
Porem, devido as pressoes ambientais, esta cada vez mais difıcil construir tais empre-
endimentos, principalmente se tratando de hidreletricas com reservatorio. As usinas
termosolares ainda apresentam algum tipo de capacidade de armazenamento, bem
como baterias e carros eletricos. Porem, o panorama atual e de que as tecnologias
que poderiam aumentar as capacidades de armazenamento atuais nao devem estar
disponıveis a precos competitivos em curto prazo.
3.1.3 As Vantagens da Sinergia
Como mostrado, a complementariedade entre as fontes renovaveis nao e desprezıvel
e apresenta diversos benefıcios. Ela permite a reducao do impacto da intermitencia
inerente a algumas fontes como a eolica, aumentando a seguranca do fornecimento,
alem de contribuir para a otimizacao do aproveitamento hıdrico do sistema. Com
uma maior integracao da operacao de um sistema, se torna possıvel fazer com que
areas distantes que apresentem uma complementariedade possam se comunicar, per-
mitindo que o sistema tire proveito dessa caracterıstica.
3.2 O Efeito da Complementariedade Geografica
A analise dos dados de geracao mostra que, quanto maior o numero de turbinas
eolicas analisadas, menor a variacao de producao observada. Com o aumento do
numero das turbinas e a distancia entre elas, diminui a correlacao entre a geracao
de cada. A tabela 3.1 mostra o efeito dessa diversidade.
Na tabela 3.1, as 138 turbinas sao de uma mesma usina geradora, a partir das
250 ja entram turbinas de lugares proximos. Como pode ser observado, quanto
maior o numero de turbinas e maior a distancia entre elas, maior a magnitude dos
41
Tabela 3.1: Mudancas de geracao em grupamentos de turbinas localizadas no estadode Minnesota, EUA. Fonte: [39]
14 turbinas 61 turbinas 138 turbinas +250 turbinaskW % kW % kW % kW %
1 segundoMedia 41 0.4 172 0.2 148 0.1 189 0.1Desvio Padrao 56 0.5 203 0.3 203 0.2 257 0.1
1 minutoMedia 130 1.2 612 0.8 494 0.5 730 0.3Desvio Padrao 225 2.1 1038 1.3 849 0.8 1486 0.6
10 minutosMedia 329 3.1 1658 2.1 2243 2.2 3713 1.5Desvio Padrao 548 5.2 2750 3.5 3810 3.7 6418 2.7
1 horaMedia 736 7.0 3732 4.7 6582 6.4 12755 5.3Desvio Padrao 1124 10.7 5932 7.5 10032 9.7 19213 7.9
valores de potencia media e desvio padrao, porem, menor a porcentagem em relacao
a capacidade total instalada.
A figura 3.4 ilustra bem a relacao entre o coeficiente de correlacao de geracao
de turbinas eolicas e a distancia entre elas. O que se conclui e que, quanto maior
a distancia analisada, menor a probabilidade de ocorrer falta de vento em lugares
diferentes e maior a chance de a falta de vento em um lugar ser compensado pelo
excesso em outro.
Portanto, integrar geracoes eolicas para uma operacao conjunta pode se mostrar
uma grande forma de contornar o problema da variabilidade de producao.
Figura 3.4: Coeficiente de correlacao entre geradores eolicos em funcao da distanciaentre eles, para as janelas de tempo de 1-s, 1-min, 10-min e 1-h. Fonte: [5]
42
3.3 Desenvolvimento das Tecnologias de Previsao
Como explicado no capıtulo anterior, a geracao eolica apresenta uma intermitencia
que desafia a operacao do sistema, principalmente em horizontes de menor prazo. A
chave para uma boa operacao nessas condicoes e a capacidade de prever a geracao
eolica. Dessa forma, o operador e capaz de definir e preparar as reservas de energia
a ponto de contornar potenciais variacoes entre a carga esperada e a carga real
atendida pela geracao eolica, minimizando os impactos e o custo dessas variacoes.
Em termos de previsao, existem tres tipos basicos de abordagens: modelos com
base em Numerical Weather Prediction (NWP), modelos estatısticos ou a com-
binacao dos dois. Os modelos com base em NWP resolvem as complexas equacoes
de movimento que regem os fluxos atmosfericos para calcular variaveis climaticas
como velocidade dos ventos, direcao, temperatura, pressao, entre outras, que podem
ser convertidas na desejada previsao da geracao eolica. Alguns modelos existentes
sao Mesoscale Model Version 5 (MM5), Weather Research and Forecasting Model
(WRF) e o High Resolution Limited Area Model (HIRLAM). Atualmente os mais
utilizados sao o WRF e o HIRLAM. A abordagem probabilıstica toma como base
uma serie historica dos fluxos de vento e de producao de energia a fim de determinar,
estatisticamente, a producao de energia em um determinado momento.
Dependendo do perıodo de tempo estudado, recomenda-se a utilizacao de uma
ou outra abordagem, por exemplo: para um perıodo curto de analise, minutos ate
uma hora, predomina a utilizacao de metodos estatısticos de previsao, baseados
em dados recentes de velocidade de vento e de geracao de energia; no longo prazo,
predomina a utilizacao de um modelo NWP corrigido estatisticamente para melhor
se adequar a producao de um determinado empreendimento. Esses modelos podem
ser aplicados a fim de obter uma resposta determinıstica, como um unico valor a ser
considerado, ou uma resposta probabilıstica, que nao determina apenas o valor mas
tambem um intervalo de confianca.
Para o operador do sistema, tao importante quanto as incertezas da previsao e
o grau de precisao delas, medidos principalmente pelo erro de previsao.
3.3.1 Erros de Previsao
As principais formas de apresentar os erros de previsao sao: Erro Medio Absoluto
(Mean Absolut Error – MAE) e o Erro Quadratico Medio (Root Mean Square Error
– RMSE), ambos calculados em relacao a capacidade instalada e o MAPE (Mean
43
Absolute Percentage Error), calculado em relacao a geracao media.
MAE =1
N
N∑i=1
|ε(h)|Pinstalada
(3.1)
RMSE =1
N
N∑i=1
√ε(h)2
Pinstalada
(3.2)
MAPE =N∑i=1
|ε(h)|Pgeracao(h)
(3.3)
Esses erros de previsao sao utilizados tanto no planejamento do sistema, na hora
de definir a energia de balanco necessaria para a integracao da energia eolica com o
resto da matriz energetica, baseada no erro medio de previsao, quanto para a reserva
energetica para uma operacao segura do sistema, onde se leva em consideracao o
pior erro de previsao encontrado, uma vez que o sistema deve suportar e se manter
estavel no pior dos cenarios, normalmente apresentado pelo RMSE. A principal
fonte de erros na previsao da geracao eolica e proveniente dos erros na previsao da
velocidade dos ventos, portanto, deve-se procurar melhorias em especial nessa area.
Pode-se aumentar o grau de precisao das previsoes de diversas maneiras. Em
[20] e apresentado o dado que o RMSE da previsao day-ahead de uma unica unidade
geradora fica entre 10% a 20%. Ja para um unica area de controle, esse erro cai
para menos de 10%. Outra forma de reduzir erros e a combinacao de metodos de
previsao. Em [19], o primeiro resultado mostra que o melhor desempenho de um
modelo de previsao sozinho apresentou 5,1% de RMSE. Ja uma simples combinacao
de metodos reduziu esse erro para 4,2% e uma combinacao inteligente para 3,9%.
Outro fator que reduz o erro e aumenta a precisao das previsoes e a janela de
tempo analisada. Quanto menor for essa janela, mais precisa sao as previsoes. A
figura 3.5 ilustra bem esse fenomeno.
Como analisado na secao sobre reservas operacionais, as previsoes, e principal-
mente os erros associados sao muito importantes na hora da alocacao de reserva,
principalmente para o horizonte de tempo day-ahead, onde e verificado um maior
valor de erro. Portanto, o desenvolvimento de novos modelos ou aperfeicoamento
dos ja existentes e uma ferramenta importante para operadores de sistemas eletricos.
3.4 Gerenciamento de Carga pelo Lado da De-
manda
O gerenciamento pelo lado da demanda (GLD) consiste em atuar no sistema pela
ponta do consumo, alterando a demanda por eletricidade ao promover um consumo
44
Figura 3.5: Aumento do erro de previsao de acordo com o horizonte de tempoanalisado. Resultados de geracao eolica regional da Alemanha (Krauss et al., 2006).Figura retirada do relatorio IEA Task 25.
mais eficiente de energia eletrica. Dessa forma, e possıvel alterar os padroes de
demanda para atender aos padroes de carga. O GLD pode ser implementado de
diversas formas, nesse trabalho ele foi dividido em GLD direto e indireto.
GLD Direto: consiste na atuacao direta no sistema, como cortes de carga,
polıticas tarifarias e, mais recentemente, tecnologias de smartgrid.
Os novos investimentos nas tecnologias de smartgrid e avancos nas tradicionais
tecnologias de comunicacao tornam cada vez mais simples o controle da demanda.
A transformacao de uma rede de distribuicao em uma smartgrid tornaria possıvel
aos operadores da distribuicao nao so a leitura em tempo real do consumo em seus
medidores, como poderia permitir o controle remoto de equipamentos e maquinas
conectadas.
Alem disso, com um acompanhamento em tempo real, seria possıvel a aplicacao
de um regime, por exemplo, de precificacao em tempo real ou RTP (Real Time
Pricing). Ou seja, em momentos crıticos da operacao de um sistema seriam defi-
nidos precos mais caros para a energia, a fim de diminuir a demanda. Em caso de
folga de geracao ou quando as geracoes intermitentes estivessem em alta, definiria-
se um preco menor a fim de aumentar a demanda. Dessa forma, seria possıvel nao
apenas diminuir a frequencia de fenomenos como spillage e shortage de energia,
como tambem o controle de rampas de demanda. No Brasil ja existem projetos de
bandeiras tarifarias.
GLD Indireto: e aquele que nao atua diretamente nas atividades de gerencia-
mento pelo lado da demanda, mas abrange acoes dirigidas a conservacao de energia
eletrica, atraves de uso racional e de incentivos ao desenvolvimento de produtos e
servicos mais eficientes e com menor consumo.
45
Um exemplo de GLD indireto no Brasil e o PROCEL1. O PROCEL e um pro-
grama do governo federal gerenciado pela Eletrobras e nao atua diretamente no ramo
residencial, mas sim no industrial e comercial e ate mesmo educacional. No setor
industrial se destaca o selo PROCEL, que consiste em uma classificacao de equipa-
mentos eletricos, desde eletrodmesticos a motores industriais, de acordo com a sua
eficiencia energetica. Desta forma, ha um incentivo tanto a procura por aparelhos
mais eficientes por parte dos consumidores, como tambem incentivo as industrias na
busca por produtos mais eficientes, uma vez que isso se torna mais um fator de com-
peticao no mercado. Ha tambem programas de treinamento e capacitacao. Alem
disso, busca atuar na educacao, capacitando professores dos ensinos fundamental e
medio, para que juntos com seus alunos se tornem multiplicadores dos conceitos de
uso racional e eficiente da energia eletrica.
O PROCEL ainda atua na area de emprestimos e financiamento para empre-
sas de consutoria na area de eficientizacao energetica. Conhecidas como ESCO
(Energy Service Company), sao empresas que atuam na eficientizacao de empresas
e comercios principalmente com mudancas em processos de producao para ganhar
eficiencia, troca de equipamentos menos eficientes, aproveitamento eficiente de re-
cursos naturais como ventilacao e claridade em predios residenciais e comerciais,
entre outras.
Portanto, as acoes de gerenciamento pelo lado da demanda sao uma eficiente
alternativa para o controle do balanceamento de carga e demanda de um sistema
eletrico, principalmente com a penetracao das ERNCs. Com elas e possıvel pos-
tergar e reduzir custos de grandes investimentos estruturais como construcao de
linhas de transmissao e ate novas capacidades de geracao. Porem, alem do grande
esforco tecnologico e organizacional, necessario para a implantacao de um GLD di-
reto, ainda ha o esforco social na conscientizacao e mobilizacao necessarios no GLD
indireto. Portanto, a implementacao de um gerenciamento pelo lado da demanda
exige uma visao de longo prazo, juntamente com estudos de custo benefıcio, con-
siderando as perdas de receita (quando ocorrem) e a economia proporcionada pela
citada postergacao dos grandes investimentos estruturais.
3.5 Reestruturacao dos Procedimentos da
Operacao
Algumas medidas de cunho institucional e organizacional podem ajudar os opera-
dores na hora de lidar com os desafios das novas energias intermitentes. Em [9] sao
apresentadas duas tecnicas interessantes.
1Programa Nacional de Conservacao de Energia Eletrica.
46
Integracao e coordenacao entre as areas de regulacao. Cada zona de
regulacao energetica deve compensar seus proprios desbalancos de geracao e de-
manda. Zonas maiores e com uma capacidade de transmissao suficiente requerem
proporcionalmente menos capacidade de reserva do que zonas menores para alcancar
esse balanco [32]. Portanto, com uma capacidade suficiente de transmissao e acor-
dos entre as diferentes zonas, e possıvel que o excesso de capacidade de uma zona
sirva para compensar a falta de outra, aumentando a confiabilidade e alcancando
benefıcios economicos com a integracao de geracoes intermitentes. Isso permite uma
maior penetracao de energias intermitentes como a eolica, sem a necessidade de
investimento em novas tecnologias de aumento de flexibilidade do sistema.
A outra tecnica e a reducao dos intervalos da programacao dos despachos.
Normalmente, a programacao das reservas operacionais ocorrem no horizonte de
tempo day-ahead, e os ajustes para a operacao em tempo real no horizonte de 1 hora.
Tornar essa programacao mais curta e frequente, e criar mercados intradiarios para
o ajuste dos programas day-ahead, poderia reduzir os efeitos dos erros de previsao
da geracao eolica, ja que estes diminuem quanto menor for o horizonte de previsao.
As duas ideias devem ser realizadas de forma conjunta e coordenada. Alem
disso, deve-se criar regras bem definidas e justas quanto a responsabilidade de ba-
lanceamento de geracao e demanda, a serem aplicadas a todos os geradores, com o
objetivo de incentivar uma cooperacao de todos os agentes do sistema, para se ter
programacoes e previsoes de qualidade.
3.6 Integracao com Tecnologias de Armazena-
mento
Como apresentado no capıtulo anterior, algumas ERNCs possuem uma caracterıstica
de variabilidade em sua producao. A melhor forma de amenizar a magnitude das
variacoes e evitar a falta de energia durante a operacao de um sistema eletrico e pos-
suir energia reserva para introduzir no sistema em curtıssimo e/ou curto prazo. Para
reduzir a utilizacao de reservas termicas, cujas complicacoes ja foram apresentadas,
existe a alternativa do armazenamento de energia.
Esse armazenamento pode ser feito de forma fısica, onde se consegue armazenar
energia em recipientes, seja atraves da utilizacao de baterias, na forma de energia
quımica ou atraves do armazenamento de energia em ar comprimido (CAES - Com-
pressed Air Energy Storage), ou de forma virtual, com a utilizacao mais eficiente de
recursos ja existentes como o caso dos reservatorios hidreletricos.
47
3.6.1 Armazenamento Fısico
As principais formas de armazenamento fısico de energia sao as baterias e o CAES,
que serao explicados a seguir.
Baterias
Baterias sao celulas eletroquımicas que conseguem converter energia quımica em
energia eletrica. Os eletrolitos permitem que ıons se movimentem entre os polos e
os eletrodos, produzindo corrente eletrica para a realizacao de trabalho. As baterias
recarregaveis permitem que, atraves da aplicacao de uma corrente reversa, os eletrons
se rearrangem, e os eletrodos voltem ao estado original.
A tecnologia de baterias pode ser aplicada de diversas formas para auxiliar a
insercao de ERNCs nos sistemas eletricos. Em plantas fotovoltaicas, e possıvel
conectar um banco de baterias a fim de que, durante o horario de sol elas sejam
carregadas e, em perıodos sem sol, elas fornecam energia. Nas eolicas, os bancos
de baterias tambem podem ser usados de forma simples. Quando a geracao eolica
atinge seus limites de injecao de potencia na rede, seja por qualquer motivo (balanco
de geracao e demanda, limite de transmissao, etc.), utiliza-se a energia produzida
para carregar as baterias. Entao, quando a variabilidade do vento reduzir a geracao,
e possıvel rapidamente injetar energia na rede, compensando total ou parcialmente
(em curto prazo) a queda.
Esse controle de geracao traz inumeros benefıcios para o operador do sistema,
como ja explicitado durante o trabalho.
Porem, apesar de uteis, as baterias possuem uma baixa densidade de energia
(muito menor do que combustıveis fosseis como oleo e outros derivados do petroleo),
o que faz com que, para que possa armazenar uma quantidade util de energia para
o sistema, seja necessario quantidades enormes de baterias, o que implica nao so em
um custo muito elevado como em muito espaco fısico consumido. Por isso, muito
se investe no desenvolvimento de tecnologias de baterias cada vez mais eficientes ao
mesmo tempo reduzindo custos e aera ocupada2.
Armazenamento de Energia com Ar Comprimido
O armazenamento de energia com ar comprimido (CAES) e uma tecnologia que
2A empresa americana GE recentemente lancou uma nova tecnologia de baterias inteligentespara serem acopladas a turbinas eolicas. A nova tecnologia permite a utilizacao de 3 aplicativosdiferentes: um para controle de geracao, um para regulacao de frequencia e um para aumentar aprevisibilidade da geracao, que podem ser utilizados junto ou separadamente. Alem do controleinteligente, a nova tecnolgia apresenta uma area util muito menor que as ocupadas por tecnologiasconvencionais de baterias.
48
consiste em utilizar o excesso de energia produzidos pelas ERNCs durante horarios
de vale de demanda para comprimir ar e entao injetar essa ar comprimido em re-
servatorios. Em momentos de pico de energia, onde se precisa de mais energia e a
variabilidade pode causar falta, esse ar comprimido e utilizado para girar geradores
de gas comprimido.
Porem, os compartimentos para armazenagem do ar comprimido sao normal-
mente cavernas subterraneas ou minas abandonadas, limitando sua localizacao ge-
ografica, ou podem ser ainda recipientes menores como os feitos de fibra de carbono
resistente, porem com o custo adicional da tecnologia e a reducao da quantidade de
gas armazendo. Ha ainda a necessidade de um reservatorio de calor, uma vez que
para poder ter um bom aproveitamento energetico do ar comprimido armazenado
ele precisa ser aquecido antes de ser utilizado para gerar energia. Tudo isso demanda
espaco e investimento.
3.6.2 Armazenamento Virtual
Como dito, a principal forma de armazenamento virtual esta na forma dos reser-
vatorios das hidreletricas. Sao os reservatorios das usinas que fazem dos sistemas
hıdricos flexıveis, facilitando assim a insercao das novas energias renovaveis.
As usinas hidreletricas apresentam uma capacidade de rapida e controlada va-
riacao de geracao, e seus reservatorios sao uma abundante fonte de combustıvel. E
essa abundancia de combustıvel que as torna parcialmente previsıveis e controladas
e importante fonte de reserva para os sistemas hidreletricos. Com a crescente difi-
culdade de construcao de novas hidreletricas, aumentando o numero de PCHs com
pouco ou nenhum reservatorio, bem como a penetracao de termicas e ERNCs, tem
reduzido a capacidade de regulacao dos reservatorios nos paıses de base hıdrica como
o Brasil. Isso aumenta muito a complexidade operativa desses sistemas, deman-
dando mudancas nos procedimentos de planejamento e operacao, como abordado
no capıtulo anterior.
49
Capıtulo 4
O Caso do Brasil
Seguindo a tendencia mundial de investimento no aumento da penetracao das
ERNCs, o Brasil tambem desenvolveu diversos programas de incentivo para a in-
sercao e desenvolvimento de novas tecnologias sustentaveis de ERNC, como por
exemplo o PROINFA (Programa de Incentivo as Fontes Alternativas de Energia
Eletrica), que ajudou a instalar aproximadamente 1.300 MW de eolicas no paıs, e
leiloes especıficos ERNC.
Neste capıtulo sera feita uma breve apresentacao do Sistema Interligado Nacional
e do papel esperado para as eolicas na matriz energetica do paıs. Em seguida sera
feita uma analise dos impactos apresentados no capıtulo 2 aplicadas diretamente as
caracterısticas do sistema brasileiro.
4.1 O Sistema Interligado Nacional - SIN
O SIN apresenta caracterısticas unicas no mundo. Devido a grande extensao territo-
rial do Brasil e a operacao conjunta de praticamente todos os geradores do sistema
(a excecao do Sistema Isolado na regiao Norte do paıs), sua malha de transmissao e
muito grande e sua operacao muito complexa.
Atualmente o sistema brasileiro tem uma capacidade instalada de 118.303 MW,
onde 66% (78.305 MW) e proveniente de hidreletricas e 13% (15.322 MW) de ERNC
(Biomassa, eolicas e PCHs). Em termos de producao de energia, no ano de 2012
foram 513.184,5 GWh produzidos, sendo 86% de energia hidreletrica. Isso faz da
matriz energetica brasileira uma das mais limpas e renovavel do mundo. A mai-
oria das usinas termicas operam no Brasil como energia de reserva, portanto sua
participacao na geracao e reduzida.
Devido a essa grande extensao territorial, as bacias hidrograficas apresentam
diversos padroes de clima e vazao. Essa variedade faz surgir complementariedades
climaticas entre elas, e a interligacao total do sistema facilita o transporte de energia
50
Figura 4.1: Mapa de transmissao do SIN. Fonte: [3]
Figura 4.2: Capacidade instalada por tipo de fonte em 31/12/2012. Fonte: [16]
de lugares com reservatorios cheios e em perıodos chuvosos, para lugares em epoca
de seca, permitindo uma utilizacao coordenada dos recursos hıdricos.
Para que se consiga um despacho otimo em um sistema de proporcoes continen-
tais como o brasileiro, e necessario uma malha de transmissao integrada e robusta,
capaz de acomodar os diferentes padroes de importacao e exportacao de energia
entre as diversas regioes. A rede de transmissao interligada brasileira possui mais de
100 mil quilometros de linhas, com tensoes que vao de 230 kV a 765 kV em corrente
51
Figura 4.3: Geracao de energia por tipo de fonte em 2012. Fonte: [3]
alternada. Ha ainda algumas conexoes em corrente contınua HVDC (High Voltage
Direct Current).
O sistema brasileiro foi dividido em 4 subsistemas: Norte, Nordeste,
Sudeste/Centro-Oeste e Sul. A divisao foi feita levando em consideracao as res-
tricoes estruturais de transmissao entre as regioes.
O planejamento da expansao do SIN e realizado pela EPE (Empresa de Pesquisa
Energetica). Ou seja, a EPE realiza estudos de longo prazo para o setor eletro-
energetico brasileiro. Para o SIN, esses estudos representam uma visao a longo
prazo da expansao da rede de transmissao e integracoes, nacionais e internacionais,
bem como as necessidades e mudancas no mix energetico brasileiro1.
A operacao do SIN e feita pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), um agente
privado autorizado e regulado pela ANEEL2 (Agencia Nacional de Energia Eletrica).
O ONS tem como funcao (1) o planejamento operacinal, a programacao e o despa-
cho do sistema de geracao com o objetido de otimizar o sistema eletro-energetico
brasileiro; (2) supervisionar e coordenar os centros de controle do sistema eletrico;
(3) supervisao e controle da operacao do sistema eletro-energetico interconectado e
das conexoes internacionais; (4) contrato e gerenciamento de servicos de transmissao
e as respectivas condicoes de acesso, incluindo servicos auxiliares; (5) propor novas
adesoes ao sistema eletrico interligado, bem como os reforcos ao sistema existente, a
serem considerados na expansao do sistema de transmissao; (6) definicao das regras
de operacao para as instalacoes da rede basica de transmissao, a serem aprovadas
pela ANEEL.
No Brasil, o planejamento da operacao eletroenergetica e realizado com o apoio
1A EPE possui diversas outras funcoes, mas que nao serao apresentadas nesse estudo.2A ANEEL e o agente regulador e supervisora do setor eletrico brasileiro. Entre outras funcoes,
media, regula e monitora o bom funcionamento do setor energetico.
52
de modelos computacionais desenvolvidos pelo Cepel (Centro de Pesquisa de Ener-
gia Eletrica) e com otimizacao estocastica, devido ao perfil hidreletrico da matriz
energetica brasileira.
4.2 O Papel das Eolicas
A energia eolica desempenha um importante papel no sistema eletrico e na matriz
energetica de um paıs. Como dito anteriormente, alem de ser uma fonte renovavel
de energia, ainda e importante para a diversificacao do mix energetico. Porem,
alem disso, as eolicas ainda podem representar um importante papel social, pois
estao localizadas principalmente em regioes mais pobres do paıs, como o interior do
Nordeste.
Nesta secao, serao abordados tanto o papel energetico das eolicas no sistema
brasileiro como o papel social que elas podem desempenhar nas regioes em que
estao instaladas.
4.2.1 O Papel Energetico
Desde o lancamento do PROINFA, e com o lancamento em 2009 do Plano Nacional
sobre Mudancas Climaticas, as ERNCs tem crescido em rıtmo acelerado dentro da
matriz energetica brasileira. Desde 2009, a energia eolica foi a fonte que mais cresceu
em participacao nos leiloes.
O potencial eolico brasileiro se concentra principalmente em duas regioes: Nor-
deste e Sul, unicas regioes onde ja se tem usinas em operacao. A figura 4.4 mostra
claramente a distribuicao do potencial eolico no Brasil.
Esse rapido crescimento se deve nao so aos incentivos polıticos e economicos
aplicados no paıs, mas tambem por que a energia eolica atingiu precos bastante
competitivos nos ultimos anos, o que acabou impulsionando a criacao de uma nova
industria no paıs para atender esse novo mercado, amadurecendo a tecnologia no
paıs.
Em seu Plano Decenal de Expansao de Energia 2022, a EPE projeta uma ex-
pansao da capacidade instalada que vai dos 118 mil MW de 2012 para 138 mil MW
em Dezembro de 2022, como mostra a figura 4.5. Nessa figura, podemos ver que o
tipo de energia que mais cresce sao as outras fontes renovaveis, aqui chamadas de
ERNCs, sendo a eolica a mais importante entre elas.
O grafico mostra que a energia eolica parte de uma participacao relativamente
baixa em 2012 de 1,5% para um valor projetado proximo de 10% no final de 2022.
Essa rapida expansao e essa nova participacao significativa na matriz energetica
brasileira e o que torna necessario o estudo e analise de todos os desafios apresentados
53
Figura 4.4: Mapa do potencial eolico brasileiro. Fonte: [1]
Figura 4.5: Evolucao da capacidade instalada por fonte de geracao. Fonte: [16]
no capıtulo 2 desse trabalho.
No decorrer desse capıtulo, sera feita uma correlacao dos desafios apresentados
com a situacao e caracaterısticas do sistema brasileiro, destacando os principais
pontos de preocupacao e tambem as vantagens e facilidades do Brasil para absorver
essas novas tecnologias de geracao.
4.2.2 O Papel Social
Como todo empreendimento, a instalacao de parques eolicos implica em um grande
impacto na regiao onde e instalado. Como no Brasil os empreendimentos estao
localizados em areas rurais e mais pobres como o interior do Nordeste, as eolicas
54
podem representar uma grande mudanca na renda e no modo de vida da populacao
local.
Primeiramente, atraves do arrendamento das terras onde sao intaladas as torres,
pequenos proprietarios de terra tem chance de aumentar sua renda. Como as turbi-
nas eolicas ocupam 4% ou menos das areas requeridas para um projeto de energia
eolica, uma vez que apenas uma fracao do terreno e utilizada por estruturas fısicas,
o proprietario consegue manter o uso anterior da terra. Ha tambem um aumento na
captacao de impostos pagos pelos empreendimentos eolicos. Para pequenas comuni-
dades, esses impostos podem representar um grande impulso para investimentos nas
areas de saude, educacao, seguranca, ou seja, pode impulsionar o desenvolvimento
da comunidade em geral.
Ha ainda benefıcios para a industria. A maioria das turbinas eolicas sao mon-
tadas na Europa ou nos Estados Unidos. Embora muitos dos fabricantes produzam
grande parte de seus componentes, muitos outros sao produzidos em diversos ou-
tros paıses. Por conta disso, cada vez mais os paıses estao encorajando as grandes
fabricantes de turbinas a criarem unidades montadoras nos paıses em que elas serao
utilizadas. Dessa forma, ha um grande incentivo para a utilizacao de componentes
locais, pela qualidade e pela comodidade. Por exemplo, as torres das usinas eolicas
sao enormes o que torna seu transporte extremamente difıcil e caro. Como nao exige
uma tecnologia inovadora, mas sim bastante proxima a tecnologia de fabricacao de
grandes tanques de aco para armazenamento ou torres para outros propositos, estes
sao os primeiros componentes a serem fabricados localmente, e permite que empre-
sas crescam seus negocios expandindo seu portifolio com mınimo investimento em
planta, equipamentos e treinamento. Alem disso componentes como cabeamento,
transformadores, concreto e outros sao tambem facilmente encontrados localmente.
Portanto, alem de gerar emprego, estimula o crescimento industrial do paıs.
Alem disso, um empreendimento eolico tem o potencial de movimentar a econo-
mia da regiao em que e instalado. Um estudo conduzido pelo Escritorio de Energia
do Estado de Nova York concluiu que 10 milhoes de KWh produzidos por eolicas
geram 27% mais emprego do que a mesma quantidade de energia produzida por
uma usina termica a carvao mineral e 66% mais empregos que uma usina movida a
gas natural de ciclo combinado. Os empregos sao gerados em diversas partes do em-
preendimento, na construcao civil, montagem de turbinas, operacao e manutencao.
Esses empregros costumam ser preenchidos em maior parte pela populacao local, o
que exige uma capacitacao de mao-de-obra. Ha entao, um aumento pela demanda
por produtos e servicos basicos na regiao, desenvolvento as pequenas comunidades
vizinhas aos empreendimentos.
Porem, apesar de a maior parte da mao-de-obra empregada ser local, ainda ha um
grande movimento migratorio para essas regioes. Alem de alguns conflitos culturais
55
que podem se desenvolver, ainda ha a necessidade de criacao de muitas moradias
fixas e temporarias. Portanto, tudo isso deve ser levantado e lavado em conta na
hora da realizacao dos estudos de viabilidade de uma usina eolica.
4.3 Principais Desafios Atuais
O Sistema Interligado Nacional, apesar de robusto apresenta atualmente alguns
problemas serios e que, mesmo que alguns nao estejam diretamente ligados a energia
eolica, ainda podem afetar a integracao e operacao da energia eolica no sistema.
Nesta secao serao apresentados alguns dos problemas considerados mais importantes
e relevantes para uma operacao eficiente e segura do sistema.
4.3.1 Fatores de Friccao
Em 2012, a evolucao dos reservatorios se mostrou muito intrigante. Apos um inıcio
de ano com o maior nıvel de armazenamento da historia recente, o ano terminou
com o pior desta historia, mesmo sem a ocorrencia de uma seca severa.
Para tentar explicar melhor esse acontecimento, a empresa de consultoria
energetica PSR desenvolveu um estudo que simulava a operacao do sistema de
Janeiro a Novembro de 2012, replicando exatamente todos os valores observados
no ano, isso inclui demandas, afluencias, producao de pequenas usinas e a geracao
termica (incluindo os procedimentos de seguranca). Dessa forma, a geracao hi-
dreletrica total tambem foi a mesma, uma vez que esta e dada pela diferenca da
demanda e da geracao de pequenas usinas e a geracao termica, deixando como unico
“grau de liberdade” o esvaziamento dos reservatorios, o que permitiria ao modelo da
PSR escolher um padrao de utilizacao das hidreletricas diferente do escolhido pelo
ONS.
O resultado esperado era que o modelo simulado chegasse a um nıvel de arma-
zenamento um pouco menor ou ate mesmo igual aqueles observados em Novembro.
Porem, o que a figura 4.6 mostra e exatamente o contrario. Para explicar essa di-
ferenca, a PSR definiu o que chamou de “Fatores de Friccao”. Esses “fatores
de friccao” nao sao levados em consideracao pelos modelos atuais, o que reduz a
eficiencia da producao hidreletrica atual em relacao a simulada. Dessa maneira,
e necessario mais agua para gerar 1 MWh na operacao real do que na operacao
simulada.
Ha diversas razoes para se justificar a existencia desses fatores. A primeira
delas sao os proprios coeficientes de producao das hidreletricas. Com o passar do
tempo e o consequente desgaste do equipamento utilizado nas hidreletricas, as usinas
podem ter seus coeficientes de producao reduzidos em relacao aos valores nominais de
56
Figura 4.6: Evolucao da energia armazenada do SIN em 2012: resultados reais xsimulados com dados observados. Fonte: PSR Energy Report.
fabrica. Portanto, e importante manter sempre um levantamento real e atualizado
de cada usina hidreletrica no paıs, o que nao e observado. Como uma reducao
no coeficiente de producao resultaria em uma reducao na garantia fısica da usina,
impactando assim a remuneracao da mesma, nao ha nenhum incentivo no paıs para
que os proprietarios facam essa correcao periodica. Para resolver esse problema, a
correcao deveria ser feita ou ordenada pelo ONS ou pela ANEEL.
Outro fenomeno que pode afetar os fatores de friccao e a existencia de restricoes
de transmissao reais e que nao sao consideradas pelos modelos. Isso poderia impedir
uma utilizacao mais eficiente da geracao hidreletrica. Um exemplo pode ser obser-
vado em 2010, quando houve um esvaziamento abrupto dos reservatorios por conta
de vertimentos excepcionais de usinas a montante de Itaipu por causa das restricoes
muito severas no sistema de transmissao da usina (criterio N-3).
Outro possıvel e importante fator e a falta de manutencao dos dados de bati-
metria3 dos reservatorios. Os dados de tipografia do fundo dos reservatorios tem
influencia direta na capacidade de armazenamento dos mesmos. Como o relevo
submario sofre constantes alteracoes devido a fenomenos como assoreamentos, sao
calculos que devem ser atualizados e refeitos a cada cinco anos. Porem, o que acon-
tece no Brasil e uma defasagem de quase 30 anos entre esses calculos, que ainda nao
foram refeitos.
A falta de confianca em relacao a capacidade de armazenamento hıdrico do paıs
3Batimetria: e a medicao da profundidade dos oceanos, lagos e rios.
57
causada pelos fatores de friccao podem representar um grande empecilho para uma
integracao eficiente da energia eolica no Brasil. A energia eolica ja insere incertezas
no sistema, alem disso, e uma fonte que necessita de uma capacidade de reserva
para compensar sua variabilidade. Portanto, a falta de confianca na capacidade de
reserva do paıs pode obrigar o operador a tomar decisoes menos eficientes, podendo
ate impactar o preco da energia, tornando-a mais cara.
4.3.2 Atrasos na Entrada em Operacao
Um fenomeno que se observa constantemente no Brasil e o atraso na entrada em
operacao dos empreendimentos de geracao de energia eletrica. Na reuniao de Dezem-
bro de 2013 do Comite de Monitoramento do Setor Eletrico (CMSE) foi informado
que 64% desses empreendimentos estao atrasados, com um atraso medio de 8 meses
e meio. Esses atrasos sao observados em todos os tipos de empreendimentos, desde
grandes hidreletricas a usinas eolicas, e tem entre as principais causas modificacoes
estruturais, problemas sociais e uma grande e demorada burocracia.
Muitos investidores no decorrer das obras resolver modificar o projeto original.
Isso costuma ocorrer para aumentar o numero de geradores, aumentando assim a
garantia fısica do empreendimento. Apesar de nao ser proibido, sao alteracoes que
costumam atrasar a entrada em operacao da usina.
Em alguns empreendimentos, como hidreletricas, que envolvem a utilizacao de
grandes areas de alagamento, ou mudancas na regiao onde se encontram, ha conflitos
com a populacao local, principalmente quando envolve a populacao indıgena nativa
das regioes. Ou tambem alguns problemas de greve, principalmente contra condicoes
de trabalho, por estarem localizados em regioes isoladas e perigosas. Sao protestos e
paralizacoes que atrasam as obras e consequentemente a entrada em operacao. Um
caso exemplar desses problemas sociais e o da Usina Hidreletrica de Jirau. Durante
a construcao desta usina houve dois grandes conflitos que destruiram as moradias
dos operarios da obra.
Outro problema que afeta todos os tipos de empreendimentos de geracao de
energia eletrica e a burocracia brasileira. Para que um empreendimento esteja apto
a entrar em um leilao de energia nova e preciso uma variedade de documentos de
diversas agencias do setor. Porem, o documento de maior dificuldade para conseguir
sao os licenciamentos ambientais.
Quando os atrasos se devem a fatores que nao sejam de responsabilidade unica
dos investidores, ou seja, atrasos para conseguir documentacao e revoltas da po-
pulacao nativa, por exemplo, a ANEEL permite que os geradores adiem a entrada
em vigor dos contratos firmados nos leiloes de energia nova. A ANEEL entao,
permite as distribuidoras ficarem temporariamente expostas ao Mercado de Curto
58
Prazo da CCEE4 sem penalizacoes. Em anos de hidrologia normal, onde o PLD
se encontra em valores baixos, isso nao causa grandes problemas financeiros para o
setor. Ja em anos mais secos, isso pode vir a implicar em custos mais altos para
os consumidores de energia, uma vez que as distribuidoras podem ser obrigadas a
comprar energia no mercado spot, onde a energia estaria mais cara por conta do alto
valor do PLD.
Porem, quando o atraso e de responsabilidade exclusiva do gerador, o empre-
endedor e obrigado a comprar energia para honrar os contratos firmados (sendo
remunerado pelos criterios definidos na Resolucao Normativa 165/2005) e ainda fica
sujeito a penalizacoes admnistrativas (segundo a Resolucao Normativa 63/2004).
Caso o gerador ainda nao for capaz de celebrar os contratos de energia de substi-
tuicao, ele fica exposto ao PLD no Mercado de Curto Prazo e, entao, e penalizado
novamente (agora na CCEE), por insuficiencia de lastro. E se, mesmo assim, o em-
preendedor nao for capaz de honrar seus compromissos, ele pode ser desligado do
mercado.
Alem de consequencias financeiras aos consumidores e aos geradores, os atrasos
ainda causam grande problema energetico para o sistema brasileiro. O atraso na
entrada em operacao dos empreendimentos de geracao pode comprometer o supri-
mento de energia ao sistema, principalmente quando expressivos e coincidentes com
um perıodo de hidrologia nao favoravel, ou seja, seco.
Como a reserva operacional do Brasil e hıdrica, devido a sua forte matriz re-
novavel, uma falta de abastecimento ou um esvaziamento excessivo de reservatorios
causados pelos atrasos e a consequente falta de capacidade de abastecimento podem
prejudicar e muito a integracao das eolicas ao sistema eletrico brasileiro.
4.3.3 O Indice de Severidade do SIN
Outro desafio estrutural observado no Sistema Eletrico Brasileiro e o desempenho
do sistema de transmimssao. Um ındice amplamente adotado no mundo para a
avaliacao desse desempenho e o Tempo Medio de Interrupcao, ou TMI. O TMI
e obtido somando todo o consumo interrompido durante o ano e dividindo-o pela
demanda media do ano. Para obter a dimensao de minutos, multiplica-se o resultado
por 60. Ou seja, um paıs que verificou um TMI de 10 minutos entende que o consumo
interrompido durante todas as 8.760 horas do ano e equivalente a interromper toda
a demanda media do ano durante 10 minutos, como se fosse um grande corte de
carga.
No Brasil, o ONS adota o chamado ISS, ındice de severidade do SIN, que e
ligeiramente diferente do TMI. O ISS divide a soma do consumo interrompido pela
4Camara de Comercio de Energia Eletrica
59
demanda maxima do ano. O ISS nao e um indicador publicado pelo ONS, mas
pode ser calculado facilmente, pois o operador fornece tanto o valor da energia nao
suprida quanto a demanda maxima do ano. Em seu Energy Report de janeiro de
2014, a PSR publicou o resultado da figura 4.7.
Figura 4.7: Indice de interrupcao ISS (em minutos-demanda de ponta). Fonte: PSREnergy Report
Os Procedimentos de Rede do ONS indica que o sistema de transmissao proje-
tado para da Rede Basica nao deve apresentar ISS maior do que 10 minutos, mas
admitindo um ISS ate 21 minutos. O que se pode observar no grafico e que, desde
2007 esse ındice extrapola o limite de 10 minutos, e nos anos de 2009, 2011 e 2012
passou do limite de 21 minutos. Apesar de 2009 ter sido um ano muito atıpico por
conta da queda das linhas de Itaipu que gerou uma interrupcao em diversas regioes
do Brasil, o que se pode ver e que ha uma tendencia de aumento desse indice.
Muito dessa piora de desempenho da Rede Basica de transmissao se deve a
atrasos nas obras de transmissao. Na reuniao de Dezembro de 2013 do Comite
de Monitoramento do Setor Eletrico (CMSE), foi informado que 71% das obras de
transmissao contratadas se encontram fora das datas previstas, com atraso medio de
13 meses e meio. Em relacao as subestacoes os numeros sao ainda mais alarmantes,
74% dos empreendimentos estao fora das datas previstas, com atraso medio de 8
meses.
Como apresentado anteriormente, a energia eolica e uma fonte nao-despachavel,
e necessaria uma rede suficiente para absorver a energia produzida, a fim de evitar
60
o chamado curtailment do vento e o consequente desperdıcio de energia.
4.3.4 As Eolicas no Mercado Livre
O modelo de comercializacao de energia eletrica brasileiro tem como diretrizes a segu-
ranca no suprimento de energia eletrica e a modicidade tarifaria, buscando tambem,
de certa forma, a estabilidade regulatoria e a continuidade da universalizacao do
atendimento a todos os consumidores brasileiros.
Esse modelo, em relacao a comercializacao de energia, regulamentou a existencia
de dois ambientes de contratacao no setor, o Ambiente de Contratacao Regulada
(ACR) do qual participam Agentes de Geracao e de Distribuicao de energia eletrica e
consumidores cativos5 e o Ambiente de Contratacao Livre (ACL) do qual participam
Agentes de Geracao, Comercializacao, Importadores e Exportadores de energia e
Consumidores Livres6
No Ambiente de Contratacao Regulada (ACR), os leiloes executados pela
Camara de Comercializacao de Energia Eletrica (CCEE) sob supervisao da Agencia
Nacional de Energia Eletrica (ANEEL), desenhados para garantir tanto a seguranca
de suprimento quanto a concorrencia entre os potenciais investidores de contratos
de longo prazo. Sao contratos de compra de energia de longo prazo (15, 20 ou 30
anos) entre distribuidoras e os Agentes Geradores para garantir o suprimento dos
consumidores cativos.
Ja o Ambiente de Contratacao Livre (ACL), e onde ocorrem as transacoes e
negociacoes de energia feitas diretamente entre geradores ou comercializadoras (que
atuam como intermediarios) e os consumidores livres. Neste ambiente os contratos
bilaterais sao livremente negociados entre os envolvidos.
Devido a caracterıstica hıdrica do sistema de geracao brasileiro, e necessario,
alem do ACR e ACL, um local onde as diferencas entre a energia fisicamente produ-
zida/consumida e a energia contratada sejam contabilizadas e liquidadas. Esse local
e o chamado “mercado de curto prazo”, do qual todos os geradores, distribuidores,
importadores e exportadores, comercializadoras e consumidores livres participam
compulsoriamente. Apos cada perıodo de contabilizacao (atualmente e semanal)
a CCEE mede a energia gerada (ou consumida) e a energia contratada por cada
agente. A partir daı, as diferencas existentes sao liquidadas financeiramente uti-
5Aqueles que compram energia obrigatoriamente da distribuidora que possui a concessao daarea em que se localiza.
6Consumidores cuja demanda e superior a 3 MW. Em sua grande maioria industrias, estes con-sumidores podem escolher seu fornecedor de energia eletrica. Outra classe de consumidores livres,chamados consumidores “especiais”, sao aqueles consumidores regulados com demanda acima de0,5MW e podem comprar energia diretamente de geradores renovaveis com descontos aplicadosem suas tarifas de distribuicao.
61
lizando o preco spot da CCEE, denominado Preco de Liquidacao de Diferencas7
(PLD), para valorar essa diferenca de energia.
Figura 4.8: Funcionamento do Mercado Brasileiro, ACR e ACL.
A figura 4.8 ilustra bem o funcionamento dos dois ambientes de mercado. Nela
pode-se observar o papel dos distribuidores, que atuam apenas no ambiente regulado
diretamente com os geradores, chamados de Vendedores, atraves de Contratos de
Compra de Energia no Ambiente Regulado (CCEAR) ou Contratos de Ajuste8. Ja
no ACL, pode-se observar o papel dos geradores e comercializadoras em negociacoes
de Coontratos de Compra de Energia no Ambiente Livre (CCEAL) e Contratos de
Compra de Energia Incentivada (CCEI) com os consumidores livres. Nota-se que,
por enquanto, os consumidores livres nao podem negociar entre si e nem com as
distribuidoras.
Por muito tempo a energia eolica obteve resultados bastante atrativos no am-
biente regulado. Porem, com um numero cada vez maior de projetos eolicos sendo
cadastrados nos leiloes, o que se observa e um aumento na competicao entre esses
empreendimentos, fazendo com que os precos sejam cada vez mais baixos. Nesse am-
biente mais competitivo muitos empreendimentos sao ofertados por precos tao agres-
sivos, o que posteriormente torna a execucao do projeto economicamente inviavel.
Contudo, por terem participado dos leiloes, eles contaminam o preco, aumentando
o desagio dessa fonte. Em 2010, no 2oLeilao de Fontes Alternativas (LFA), a ener-
gia eolica foi vendida a um valor de 167,00 R$/MWh. Em 2012, no 15oLeilao de
Energias Novas (LEN), esse valor caiu para 112,00 R$/MWh, o que ilustra o desagio
7O PLD e obtido a partir do custo marginal de operacao dos modelos computacionais, gerenci-ados pelo ONS, utilizados para a operacao energetica do sistema.
8Contratos de prazos mais curtos que os convencionais no ACR, da ordem de meses.
62
dessa fonte no ACR.[2]
Dessa forma, o Ambiente Livre se torna cada vez mais atraente para essa fonte,
uma vez que ha a possibilidade de vender energia a valores mais altos. Porem, dentro
do ACL os geradores eolicos ficam muito vulneraveis a variacao nos valores de PLD,
o que torna sua entrada no ACL um negocio de alto risco
4.3.4.1 Risco de Exposicao ao PLD
Para os empreendimentos de geracao hidreletricos existe um mecanismo de protecao
a variacao de PLD dentro do ACL, o chamado Mecanismo de Realocacao de Energia.
O MRE e um mecanismo financeiro criado para compartilhar o risco hidrologico,
uma vez que o despacho e feito de forma centralizada e nao e exatamento o gerador
que define quando e como gerar. Todos as UHEs estao dentro do MRE, e as PCHs
escolhem a cada ano se participarao ou nao do MRE. Usinas eolicas nao podem fazer
parte do MRE e, portanto, estao sempre expostas ao PLD no ACL caso sua curva
de geracao nao acompanha a curva de consumo de seus clientes.
Todo empreendimento de geracao recebe um certificado quantificando a sua ga-
rantia fısica (GF), que e a maxima demanda que um sistema pode fornecer a partir
de um criterio definido. Cada tipo de gerador tem um criterio diferente. Para as
eolicas, a garantia fısica e calculada sendo a energia que o gerador deve produzir
anualmente em, pelo menos, 90% do tempo (P90), descontando indisponibilidades
programadas e perdas previstas entre a usina e o ponto de conexao com a rede.
De maneira simplificada, um gerador pode negociar a sua garantia fısica durante
o ano. Como a geracao nao e uma funcao constante, ha perıodos onde a geracao e
maior que a sua garantia fısica negociada, permitindo que ele venda a energia extra,
e perıodos em que a geracao e menor que a garantia fısica, fazendo com que ele
compre a energia que falta. A figura 4.9 exemplifica o mecanismo do MRE.
Na figura 4.9 estao representados 4 unidades geradoras hidreletricas dentro do
MRE, e que negociaram a mesma garantia fısica, 100MWmed. As unidades U2 e U4
geraram mais do que foi negociado e as unidades U1 e U3 geraram menos. Portanto,
U1 comprou 10MW da U4 e 40MW de U2. Ja U3 comprou 10MW de U4. Fora
do MRE as unidades U1 e U3 teriam que comprar a energia pelo preco do PLD,
que hoje varia de 15,62 R$/MWh a 822,83 R$/MWh. O que o MRE permite, e que
essa energia seja negociada entre seus integrantes por valores muito abaixo desses,
da ordem de 11 R$/MWh.
Os geradores eolicos nao podem participar do MRE. Em um simples exemplo, e
possıvel demonstrar a exposicao dos geradores eolicos ao participarem do ACL.
Levando-se em consideracao uma usina eolica generica de 30MW e com fator de
capacidade de 36%, sua garantia fısica e calculada em aproximadamente 10,8MW.
A figura 4.10 mostra a curva de geracao da usina durante um ano e sua garantia
63
Figura 4.9: Funcionamento do MRE.
fısica.
Figura 4.10: Curva de geracao e garantia fısica de uma usina eolica generica. Fonte:CCEE.
Analisando-se a figura 4.10 observa-se que a usina teve uma geracao abaixo de
sua garantia fısica nos meses de janeiro a maio, enquanto, nos demais meses do ano,
gerou acima desse patamar. Importante ressaltar que o perıodo de janeiro a maio
e conhecido como perıodo umido, onde costumam ser registradas grandes vazoes
hıdricas, fazendo com que o PLD normalmente apresente valores baixos, enquanto
o perıodo de junho a dezembro e conhecido como seco, quando o PLD costuma
64
apresenta valores maiores.
Portanto em anos tıpicos essa usina estaria comprando energia em epoca de
PLD baixo e vendendo em epoca de PLD alto, o que representa uma potencial fonte
de lucro para o gerador. Porem, em perıodos atıpicos como os de 2013 e inıcio
de 2014, quando o PLD do perıodo umido foi mais alto do que o esperado, esses
empreendimentos podem ficar muito vulneraveis. O estudo de analise desse risco
para os geradores e muito importante para uma possıvel migracao do ACR para o
ACL, porem foge ao escopo desse trabalho.
4.3.4.2 Risco de Exposicao a Diferenca de PLD nos Submercados
Como apresentado anteriormente, o sistema brasileiro e dividido em 4 subsistemas.
O mercado de energia brasileiro segue essa mesma divisao e, para cada submercado,
sao calculados e definidos PLDs particulares. Quando se trata de intercambio entre
submercados, todos os empreendimentos geradores estao expostos a essa diferenca
de PLD.
De maneira simplificada, pode-se explicar essa exposicao da seguinte forma: um
gerador no submercado Nordeste contratado no submercado Sudeste, ao injetar a
potencia na rede vende essa energia ao preco do PLD do submercado do ponto de
injecao, o Nordeste. Porem, ao retirar essa eneriga no submercado Sudeste ele ne-
cessita comprar esse energia e, entao, pagar o valor do PLD desse submercado. Na
figura 4.11 pode-se observar que os PLDs dos diferentes submercados sao normal-
mente iguais, porem em outros momentos pode-se ter diferencas muito grandes, o
que deixa os geradores expostos a grandes prejuızos ou lucros. E isso que torna essa
exposicao tao arriscada. Essa e tambem uma analise de risco importante, mas que
foge ao escopo desse trabalho.
Figura 4.11: Curva dos PLDs dos diferentes submercados.
65
Os empreendimentos eolicos brasileiros estao concentrados em dois submercados,
o Nordeste e o Sul. Sao dois submercados de demanda pequena, de modo que
o grande centro de carga brasileiro e o Sudeste/Centro-Oeste. Por esse motivo,
as usinas eolicas estao mais sujeitas a necessidade de intercambio de energia para
outros subsistemas. Em anos tıpicos pode-se observar que essa diferenca de PLD
e inexpressiva. Porem, em anos atıpicos como 2014, a diferenca entre o PLD do
Nordeste e do Sudeste/Centro-Oeste foi de aproximadamente 97R$/MWh no mes
de fevereiro, uma exposicao que pode chegar a valores maiores que o proprio preco
da energia dos Contratos de Compra e Venda de Energia (CCVE).
4.4 Os Possıveis Impactos na Operacao do SIN
Nesta secao serao discutidos cada impacto apresentado no capıtulo 2, aplicados dire-
tamente ao SIN, destacando vantagens e desvantagens do sistema para a acomodacao
da maior participacao ERNCs, principalmente das eolicas, projetadas para o Brasil.
4.4.1 Estabilidade do Sistema Eletrico
No Brasil, a energia eolica ainda representa uma parcela muito pequena da energia
produzida, apenas 0,6% no ano de 2012. Para os atuais nıveis de penetracao, o fato
de a maioria das turbinas brasileiras serem antigas e de pequeno porte nao afeta de
maneira significativa a operacao do sistema. Por serem antigas, a maioria nao possui
os equipamentos nem a tecnologia necessaria para um nıvel aceitavel de controle.
O pequeno porte faz com que a inercia do gerador seja muito pequena, o que nao
contribui para a inercia do sistema.
Porem, com o aumento esperado da penetracao eolica na matriz brasileira,
deve-se garantir que as novas maquinas sejam capazes de participar ativamente
da operacao do sistema, e nao sejam apenas passivas, gerando quando a operacao
esta normal e desconectando durante perıodos de contingencia. Para isso, o Pro-
cedimento de Rede brasileiro deve exigir isso dos novos empreendimentos a serem
conectados na rede basica de transmissao.
O Procedimento de Rede em vigor ja definiu algumas exigencias para conexao
das eolicas na rede de transmissao, a fim de garantir a manutencao da estabilidade do
sistema frente a contingencias. Para controle de tensao, exige uma operacao nominal
com tensoes em 1,1 p.u. a 0,9 p.u. alem de nao poderem produzir uma variacao
maior que 5% no ponto de conexao. Exige tambem um fator de potencia, variavel
pelo operador, entre 0,95 capacitivo e 0,95 indutivo. Para evitar instabilidade de
tensao, exige que as usinas disponham de equipamentos de controle permitindo uma
capacidade de Fault-Ride-Through apresentada na figura 2.10. Para controle de
66
frequencia, exige uma operacao nominal (1) na faixa de 56,5 a 63 Hz, (2) abaixo
de 58,5 Hz durante 10 segundos, (3) entre 58,5 e 61,5 Hz sem atuacao de reles de
subfrequencia e (4) acima de 61,5 Hz por ate 10 segundos. Alem disso, exige a
participacao no SEP9 com a possibilidade de desconexao automatica ou reducao da
geracao pelo controle de passo e/ou de stall.
Apesar de o Procedimento de Rede brasileiro ja cobrir alguns dos problemas para
a conexao das usinas eolicas, ainda sao muito poucas comparadas as outras fontes
e aos desafios que esta ERNC representa. Outra acao importante e a reavaliacao e
readequacao das tecnologias ja conectadas no sistema, a fim de que estas possam
contribuir ativamente para a operacao do sistema com o aumento do papel da energia
eolica no sistema brasileiro.
4.4.2 Custo de Unit-Commitment e Mercado
Na secao de 2.3.2, foram definidos 3 importantes impactos nos custos de Unit-
Commitment e Mercado. O primeiro fala do efeito da “ordem de merito”.
O Brasil, por ter um sistema hidrotermico, mas com grande predominancia de
hidreletricas apresenta um dos custos marginais de energia mais baratos do mundo.
A hidroeletricidade tem um papel predominante na ordem de merito do despacho
brasileiro, que e formada tipicamente por termicas inflexıveis na base e hidreletricas.
A geracao termica flexıvel e despachada apenas em momentos de hidrologia ruim.
Com a tendencia observada de aumento da penetracao de termicas e UHE sem re-
servatorios, a geracao termica tende a se tornar mais presente, porem a geracao hi-
dreletrica continuara a ter predominancia no despacho economico. Em consequencia
dessa caracterıstica e que o “valor da agua” (custo de oportunidade da geracao hi-
dreletrica) define o custo marginal de operacao (CMO) em praticamente 100% do
tempo, mas tambem levando em conta a perspectiva de despacho termico futuro.
A primeira vista, o aumento da geracao eolica tem o papel de reduzir a geracao
termica e, com isso, causar um impacto positivo de reducao dos CMOs. Porem,
como os modelos computacionais oficiais utilizados nao representam de maneira
detalhada a variabilidade desta geracao (tema discutido a seguir), esse impacto nao
necessariamente sera real.
Do ponto de vista da ciclagem das unidades termicas, o impacto no Brasil nao e
muito diferente do que no resto do mundo, e as consequencis comerciais podem ser
bastante severas. Isto se explica porque no Brasil a geracao termica e remunerada
atraves de contratos, onde os fatores principais na definicao dos valores remunerados
sao a disponibilidade da usina e sua garantia fısica. A partir do momento que se
aumenta o numero de ciclagem e consequentemente, aumenta o EFOR, reduz-se o
9Sistema Especial de Protecao
67
fator de disponibilidade das unidades, o que afeta tambem sua garantia fısica e, alem
de causar impactos comerciais importantes, como citado anteriormente, ainda pode
gerar penalizacoes existentes na regulamentacao do setor.
Alem do impacto na remuneracao dos geradores, o aumento dos gastos de O&M
causado pelo aumento da ciclagem de usinas que nao foram projetadas para isso,
ou cujos contratos com fabricantes nao foram firmados para esse perfil de operacao
tambem pode impactar economicamente as UTEs brasileiras.
Porem, quando se olha pelo ponto de vista da flexibilidade do sistema, o Brasil
leva vantagem em relacao a maioria dos paıses no mundo. Por ser um sistema predo-
minantemente hıdrico e ter uma operacao centralizada de todo o sistema interligado,
o sistema brasileiro apresenta uma grande flexibilidade.
4.4.3 Capacidade de Transmissao e Eficiencia
Para se ter uma boa operacao de um sistema eletrico com grande penetracao eolica,
e necessario uma malha de transmissao robusta, a fim de evitar congestionamentos
durante a operacao. Alem da rede de transmissao, e importante tambem saber ope-
rar o sistema de forma otima mesmo com a variacao constante de fluxo de potencia
introduzida pelas eolicas.
O sistema interligado brasileiro possui dimensoes continentais e e operado de
forma centralizada pelo operador nacional, o ONS. Para conseguir operar um sis-
tema tao grande e complexo, e necessario que se tenha uma rede de transmissao ex-
tensa e robusta. O SIN apresenta condicoes favoraveis para a integracao das eolicas
pelo ponto de vista da transmissao, porem existem ainda muitos pontos frageis na
transmissao, principalmente no Nordeste brasileiro, onde ha o maior potencial eolico
do Brasil. Portanto, investimentos em transmissao ainda serao necessarios.
A operacao centralizada do SIN tambem faz com que o ONS tenha vasta ex-
periencia na operacao com variacao de fluxos de potencia, devido aos intercambios
constantes entre os subsistemas, alem de falhas mais constantes devido a grande
extensao.
A rede de transmissao brasileira ainda traz outra grande vantagem para a in-
tegracao das eolicas. O fato de ter um vasta extensao territorial e ser um sistema
integrado faz com que seja possıvel a instalacao das usinas eolicas nas regioes onde
ha de fato um bom potencial eolico, sem grandes custos de novas transmissoes, alem
de contribuir com o efeito da complementariedade geografica, explicado na secao
3.2.
68
4.4.4 Reservas Operacionais
A caracterıstica hıdrica do sistema brasileiro e uma grande vantagem quando se
trata de Reservas Operacionais. Reservas operacionais hıdricas, alem de serem mais
baratas, possuem um tempo de resposta muito menor do que as termicas. Por-
tanto, olhando cruamente para o Brasil, este parece nao ser um impacto de grande
relevancia.
Porem, o que se nota no Brasil e um movimento contrario entre insercao de
eolicas e capacidade de armazenamento. Enquanto a EPE projeta um crescimento
de 8% da geracao eolica ate 2022, para a capacidade de armazenamento do sistema,
o crescimente projetado e de apenas 2%.
Esse movimento e causado principalmente pela enorme dificuldade de obter li-
cencas ambientais para a construcao de hidreletricas com reservatorio de acumulacao
no paıs. Portanto, unido ao crescimento da participacao das eolicas vem o cres-
cimento da participacao de usinas hidreletricas a “fio d’agua”, que nao possuem
capacidade de armazenamento. Entre as diversas consequencias desse novo cenario
energetico estao a maior exigencia das atuais usinas com reservatorios, o que gera
grandes alteracoes nos nıveis de reservatorios ao longo de curtos ciclos hidrologicos
e um maior despacho termico para atender a exigencias de reserva, quando nao ha
armazenamento hidraulico para tal, fato que tende a aumentar cada vez mais.
Portanto, se faz necessario estudos mais especıficos para dimensionar a real si-
tuacao das reservas operacionais do paıs e detectar as alteracoes necessarias. O
paıs possui uma grande vantagem que e o potencial hıdrico e, portanto, nao deve
desperdica-la.
4.4.5 Modelos Computacionais
Os impactos das ERNCs nos atuais modelos computacionais ja estao sendo investi-
gados a nıvel mundial, como apresentado na secao 2.3.5. Como consequencia, nao
ha um consenso sobre os requisitos necessarios as novas geracoes de ferramentas de
operacao e planejamento, para a melhor representacao das novas ERNCs, principal-
mente as variaveis como solar e eolica.
O principal modelo utilizado para definir as diretrizes do planejamento de longo
e medio prazo no Brasil e o NEWAVE. O NEWAVE representa o sistema hi-
dreletrico de forma estocastica, atraves de sistemas equivalentes (simplificacao da
representacao ideal, a individualizada), e representa as ERNC atraves de perfis de
producao determinısticos pre-definidos, nao levando em consideracao as incertezas
associadas e a possıvel correlacao com a producao hidreletrica.
Essas simplificacoes criam um vies otimista, porem nao realista, do impacto das
eolicas no planejamento do sistema brasileiro, pois ao considerar a producao eolica
69
Figura 4.12: Evolucao da capacidade de armazenamento do SIN. Fonte: EPE
“certa”, cria-se uma impressao de que quanto mais eolica no sistema, menor o custo
total de operacao. Para os nıveis de penetracao eolica que o Brasil pretende atingir,
esta abordagem nao consegue capturar os reais custos e benefıcios destas tecnologias
no sistema e pode vir a subestimar seus impactos, consequentemente subestimando
o valor das outras tecnologias despachaveis, como as termicas. Portanto, para o
caso do Brasil e possıvel identificar algumas diretrizes importantes para as novas
ferramentas.
Primeiramente, recomenda-se o aperfeicoamento dos modelos computacionais na
representacao das hidreletricas e ERNC. Para as hidreletricas e importante focar na
representacao mais individualizada do sistema, pois isto permite uma melhor cap-
tura das correlacoes e sinergias existentes entre esta tecnologia e as ERNC, apresen-
tada na secao 3.1. Para as ERNC e muito importante representar as incertezas da
producao. Portanto, sao duas importantes diretrizes a serem buscadas pelos mode-
los NEWAVE e DECOMP, utilizados para o planejamento da operacao e formacao
de precos a curto prazo na Camara de Comercio de Energia Eletrica (CCEE).
Outro ponto importante e a representacao de curto prazo. E necessario valorizar
cada vez mais o papel de modelos com enfoque no curto prazo, onde se tenha as
restricoes de unit-commitment precisamente representadas e em conjunto com as
incertezas das producoes das ERNC e hidreletricas sem reservatorio. Isto permitiria
um melhor dimensionamento de reservas operacionais e uma otimizacao do despacho
do sistema.
Ainda existem outros fatores importantes a serem considerados em termos de
70
modelagem. Existem muitos pesquisadores, em varias partes do mundo, realizando
grandes esforcos para aperfeicoamento de suas ferramentas computacionais. Alguns
desses estudos podem ser verificados nos trabalhos de [27], [29] e [34], ja citados na
secao 2.3.5.
Porem, deve-se ter muito cuidado na hora de transferir diretamente para o sis-
tema brasileiro ferramentas adaptadas de sistemas termeletricos, onde nao se tem
uma boa representacao dos processos de tomada de decisoes com incertezas (modelos
estocasticos) e multi-etapa (cronologico).
4.5 Os Benefıcios da Energia Eolica
Apesar de todos os impactos e desafios aqui apresentados, a tecnologia eolica ainda
traz diversos benefıcios para o sistema brasileiro. A primeira delas ja foi explicada
anteriormente. Devido a caracterıstica fortemente hidreletrica da matriz energetica
brasileira, a variabilidade da producao eolica, principal desafio dessa tecnologia,
pode ser mitigada com reservas operacionais hidraulicas, de resposta mais rapida
que as termicas, o que facilita sua penetracao no paıs.
Outro grande benefıcio das eolicas vem da complementariedade entre os perıodos
secos e os perıodos de ventos no paıs. O trabalho de [31] mostra que existe uma
complementariedade dos perıodos de alta producao eolica no Nordeste e perıodos de
grandes fluxos hıdricos no Rio Sao Francisco, principal rio gerador do paıs. A figura
3.3 apresentado na secao 3.1 representa bem essa complementariedade entre fluxos
de agua e ventos existente no Brasil.
Alem disso, as ERNC ajudam a reduzir os custos de transmissao, uma vez que
elas se complementam geograficamente. Enquanto o grande potencial eolico se con-
centra nas regioes Nordeste e Sul do paıs, o potencial hıdrico nao explorado se
concentra na regiao Norte. A regiao Sudeste ainda apresenta um grande potencial
para biomassa devido aos subprodutos da cultura de cana-de-acucar.
Finalmente, as usinas eolicas apresentam uma vantagem muito grande em relacao
as unidades hidreletricas de grande porte quanto ao seu tempo de construcao. As usi-
nas eolicas possuem um tempo maximo de construcao de 2 anos, contrastando com
o tempo mınimo de 5 anos de grandes empreendimentos hidreletricos. Isso se mostra
como uma boa oportunidade para lidar com as incertezas da crescente demanda do
paıs e os atrasos na obtencao das licencas ambientais de grandes hidreletricas.
71
Capıtulo 5
Conclusoes
A analise das caracterısticas da geracao eolica e de seus impactos na operacao do
sistema sao suficientes para mostrar os diversos desafios que a maioria dos sistemas
eletricos do mundo enfrentam, ou enfrentarao em um futuro proximo. Muitos paıses,
principalmente os europeus que ja tem uma experiencia maior com esses tipos de
energias renovaveis ja realizam diversos estudos a fim de melhorar o aproveitamento
e a diversificacao de suas matrizes energeticas.
Sao diversos impactos e em diversos setores, afetando todos os agentes dos siste-
mas eletricos. Foram apresentadas evidencias incontestaveis de que os paıses terao
que adotar novas praticas a fim de viabilizar e ainda por cima tirar proveito dessa
nova tendencia mundial. O mais importante para que isso aconteca, e o principal
objetivo desse trabalho e chamar a atencao dos operadores e tomadores de decisao,
especialmente do Brasil, para que ajam rapidamente a fim de que as modificacoes
necessarias no setor sejam feitas antes que os nıveis de penetracao comecem a pre-
judicar o sistema, levando a uma operacao ineficiente e menos confiavel.
O Brasil, apesar de possuir algumas vantagens para a integracao de um grande
numero de ERNCs, como na questao da flexibilidade e das reservas operacionais,
nao esta livre de desafios. A regulacao ainda esta muito embrionaria e a reducao
da expansao dos reservatorios pode vir a dificultar essa integracao em um futuro
proximo. Porem, o desafio mais importante para uma boa operacao do sistema
ainda sao os modelos computacionais utilizados atualmente, que necessitarao de um
forte aperfeicoamento.
Alem dos pontos aqui abordados, focados principalmente na operacao de um sis-
tema eletrico, as novas fontes de energia renovavel, principalmente as intermitentes
representam impactos e desafios em outros nıveis do sistema. Outros temas impor-
tantes, porem nao analisados nesse estudo e que ficam como sugestao para trabalhos
futuros sao os impactos das eolicas no planejamento da expansao e os impactos co-
merciais, alem da extensao desta analise para outras ERNC, como por exemplo a
solar.
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