II — ORIENTAÇÃO PLÁSTICA NO TRATAMENTO DAS FERIDAS ...

15
— 215 — II — ORIENTAÇÃO PLÁSTICA NO TRATAMENTO DAS FERIDAS DAS MÃOS O tratamento de uma ferida deve visar a profilaxia da infecção e a restauração funcional e plástica, no mais curto prazo de tempo. No caso especial das feridas das mãos êstes objetivos se revestem da mais alta importância. As cicatrizes retráteis, as rigidezes articulares, as tenosinovites adesivas são seqüelas que na medida do possível devem ser evitadas, pois se a sua reparação é por vêzes possível, com frequência constituem problema de solução complexíssima. A orientação ideal a seguir no tratamento das feridas das mãos, deve visar portanto a limitação das complicações tróficas e inflamatórias e na medida do possível a profilaxia das cicatrizes viciosas, respeitando ao máximo os processos naturais que se de- sencadeiam rios tecidos lesados com o fim de restaurá-lo. O "primum movens" da reconstrução dos tecidos é uma néo- formação vascular de origem mecânica. Por efeito da pressão sanguí- nea, nascem brôtos nas paredes dos antigos vasos, cuja expansão é favorecida pela solução de continuidade dos tecidos (Farani-4), preenchida, pelo sangue e linfa coagulados. Esses vasos néoformados vão penetrando na zona das células libertadas pelo traumatismo, que se acha em liquefação pela ação dos fermentos proteolíticos, tomando ponto de apoio nos coágulos de fibrina, que constituem o que se chama tampão biológico. Aí se criam arbore:cências vasculares, cercadas por células conjuntivas em proliferação ativa. A êste conjunto de expansões vasculares envolvidas por células conjuntivas, dá-se o nome de tecido de granulação. O tecido de granulação progride, preenchendo os espaços vasios e formando uma camada única de granulação, que se superpondo com outras formarão a futura cicatriz. Atingindo o nível da ferida a camada de granulação é revestida pelo epitélio, que é dotado de grande capacidade de regeneração. Contemporâneamente a granulação se esclerosa, constituindo a cicatriz no seu estádio terminal de evolução. Por essa recapitulação sumaríssima da evolução de uma feri- da, podemos chegar a uma primeira e fundamental conclusão: to- do método de tratamento das feridas não deve em absoluto inter- ferir com êsse delicado processo de reconstrução promovido pela natureza. O papel do cirurgião será o de amparar a evolução da

Transcript of II — ORIENTAÇÃO PLÁSTICA NO TRATAMENTO DAS FERIDAS ...

— 215 —

II — ORIENTAÇÃO PLÁSTICA NO TRATAMENTO DAS

FERIDAS DAS MÃOS

O tratamento de uma ferida deve visar a profilaxia da infecção ea restauração funcional e plástica, no mais curto prazo de tempo. Nocaso especial das feridas das mãos êstes objetivos se revestem damais alta importância.

As cicatrizes retráteis, as rigidezes articulares, as tenosinovitesadesivas são seqüelas que na medida do possível devem ser evitadas,pois se a sua reparação é por vêzes possível, com frequênciaconstituem problema de solução complexíssima.

A orientação ideal a seguir no tratamento das feridas das mãos,deve visar portanto a limitação das complicações tróficas einflamatórias e na medida do possível a profilaxia das cicatrizesviciosas, respeitando ao máximo os processos naturais que se de-sencadeiam rios tecidos lesados com o fim de restaurá-lo.

O "primum movens" da reconstrução dos tecidos é uma néo-formação vascular de origem mecânica. Por efeito da pressão sanguí-nea, nascem brôtos nas paredes dos antigos vasos, cuja expansão éfavorecida pela solução de continuidade dos tecidos (Farani-4),preenchida, pelo sangue e linfa coagulados. Esses vasos néoformadosvão penetrando na zona das células libertadas pelo traumatismo, quese acha em liquefação pela ação dos fermentos proteolíticos, tomandoponto de apoio nos coágulos de fibrina, que constituem o que sechama tampão biológico. Aí se criam arbore:cências vasculares,cercadas por células conjuntivas em proliferação ativa.

A êste conjunto de expansões vasculares envolvidas por célulasconjuntivas, dá-se o nome de tecido de granulação. O tecido degranulação progride, preenchendo os espaços vasios e formando umacamada única de granulação, que se superpondo com outrasformarão a futura cicatriz.

Atingindo o nível da ferida a camada de granulação é revestidapelo epitélio, que é dotado de grande capacidade de regeneração.Contemporâneamente a granulação se esclerosa, constituindo acicatriz no seu estádio terminal de evolução.

Por essa recapitulação sumaríssima da evolução de uma feri-da, podemos chegar a uma primeira e fundamental conclusão: to-do método de tratamento das feridas não deve em absoluto inter-ferir com êsse delicado processo de reconstrução promovido pelanatureza. O papel do cirurgião será o de amparar a evolução da

— 216 —

cicatrização, criando condições ótimas para que os tecidos realizemsua função reparadora sem complicações e da maneira a mais per-feita possível.

Atingindo êsses objetivos, ter-se-á reconstrução rápida das zonaslesadas, sem necessidade de quimioterapia interna ou externa, quevise a esterilização das feridas ou o aceleramento de sua evolução.

A observação tem demonstrado que o repouso e a imobiliza-ção os elementos mais eficazes que o médico dispõe para colaborarcom o processo natural de reparação das lesões dos tecidos, quer setrate de uma simples ferida, uma fratura ou uma queimadura.

Böhler (28) fez fixar na sua sala um cartaz cujos dizeres assimpodem ser resumidos:

O que cura uma ferida?

O tempo,

o repouso,

a irrigação sanguínea.Böhler reafirma assim, com sua autoridade e vasta experiência o

conceito hipocrático de tratamento das feridas. No prólogo do livre deEhalt (29) sôbre o tratamento das fraturas expostas Böhler diz que"todas as feridas recentes infectadas ou não, devem ser imobilizadas emantidas ininterruptamente imobilizadas, pois com êsses cuidados, otempo curará as feridas e os ossos fraturados".

Afirma também que no tratamento das feridas os medicamentosquímicos e a maior parte dos soros não só são supérfluos, masainda, prejudiciais muitas vezes.

Leriche (30) , não obstante se mostrar confiante nas possibi-lidades da quimioterapia antisética intra-arterial e das sulfamidas,afirma que a 'imobilização é o mais precioso dos meios de terapêuticaanti-infecciosa".

O fenômeno de síntese textural é obra da natureza e não demanobras cirúrgicas ou de antiséticos e muito menos de estimulantesde ação local ou geral. Prudente (31) afirma muito razoàvelmente "queas substâncias que incentivam a regeneração das feridas são osprodutos da própria ferida" e que os estimulantes gerais só devem serdados de acordo com as deficiências dos diferentes indivíduos, sendoperfeitamente dispensáveis nas pessoas. normais.

Podemos abreviar a evolução de uma ferida, fazendo a profilaxiade suas complicações. E para isso é apenas necessário que seampare o trabalho da natureza que promove a reparação segundo aspossibilidades peculiares a cada tecido.

A contaminação de uma ferida acidental podemos conside-rar como um fenômeno constante. Segundo as investigações de Fried-

F

A f o t o g r a f i a

a l omento em

a p a r e l h o d e

p e r mi t i r ráp id

profundas fer id

e anular . Sup

ção , as fer ida

indolores, cicra

qualquer secre

o trr umatismo.

— 217 —

rich a contaminação é inicialmente superficial sendo que a propa-gação dos germens para os planos profundos se dá depois de 6 horas.Porém a infecção pode não progredir, pois feridas nas quais éconstatada a presença de germens de poder patogênico acentuado,têm evolução silenciosa se tratadas convenientemente.

Com base nas investigações de Friedrich propôs-se o método deexcisão dos tecidos lesados seguido de sutura da ferida, se houvercerteza de que as superfícies resultantes são formadas por tecidossãos. Essa concepção de valor inestimável, foi também responsávelpor inúmeros insucessos e Ehalt (29) procurando explicá-los, diz queà excisão bem feita é necessário acrescentar repouso absoluto eininterrupto da ferida.

Observações recentes têm demonstrado, que o repouso, por si sóé capaz de promover em muitas circudstâncias a cura de uma ferida,mesmo que seja parcimoniosa a excisão dos tecidos supostamentemortificada ou ainda que se abstenha dela. (Figs. 28 à 31)

E' claro que é imprescindível a remoção de tecidos emacerados, mecânicamente destruidos. Mas nas feridmãos a excisão radical pode agravar as lesões existebainhas tendinosas não atingidas, lesando tendões, nque haviam sido poupados pelo traumatismo. As observlevadas a efeito em nosso serviço de aciden-

FIG

A fotografia a

momento em qu

aparelho de gêso, d

rápida cicratizaçã

feridas dos dedos

Suprimida a imobil

apresentavam indo

e livres de qualquer

após o traumatismo

IG. 28

a c i m a t i r a d a n o

que se removeu o.

g ê s o , d e s t i n a d o a

a c i c ra t i za çã o d e

as dos dedos médio

r imida a imob i l i za -

s se apresentavam

trizadas e livres de

ção , doze d ias após .

. 28

cima tirada no

e se removeu o

estinado a permitir

o de profundas

médio e anular.

ização, as feridas se

lores, cicratrizadas

videntementeas graves dasntes, abrindoervos e vasosações clínicas

secreção, doze dias

— 218 —

FIGS. 29 a 31.

tados no trabalho do parque industrial dtrado de maneira convincente, que nosmovidos os corpos extranhos que possabilização, que deve ser mantida pelo temferida, sem que se use qualquer antisétficamente bem, sem dôr, edema, rubor oumortificados se eliminam, podendo-se aide zonas de pele que a princípio se supôsainda verificar por vezes, a formaimperceptíveis, Plácidas e sem grandes re

Forte contusão do polegar,

processada no sentido ântero-posrior,

provocando estalido do dedo, que se

abriu nos seus dois bordos. As partes

moles da face palmar se deslocaram

quasi que totalmente do esqueleto;

houve fratura intra-articular da

falangeta. A mão foi imobilizada em

posição intermédia, sem que se fizesse

excisão dos tecidos traumatizados, não

se usando também qualquer espécie

de antisético. A tala de Cramer

adatada ao gêsso permitia que se

protegesse o polegar com uma atadura

de gaze, que, no entanto, não tomava

contato com a ferida.

e Votorantim, têm demons-feridos graves da mão, re-conter e feita rigorosa imo-po que durar a evolução daico tudo evoluciona magni-febre. Os tecidos realmente

nda apreciar a revitalizaçãofadadas à necrose. Podemosção de cicatrizes quasi

trações.

— 219 —

As cicatrizes grandemente retraidas, rígidas e espêssas,acarretando graves deformidades são as que se formam emregiões muito móveis ( axila, pescoço, cotovelo, mãos, etc.. ) ,que não se protege com imobilização conveniente (Figs. 32 à 34).

FIGS. 32 a 34.

Ferida grave da mão com

destruição de grande parte da pele

palmar. Em profundidade a lesão atingia

os tendões superficiais, que com suas

bainhas ficaram bastante lesados. A

excisão dos tecidos traumatizados

agravaria muito o estado da ferida, pois

bainhas que não tivessem sido aber-

tas, tendões, vasos e nervos poupados

pelo traumatismo, seriamprovavelmente lelesados por essa

manobra cirúrgica. A imobilização rigorosa por meios de um gesso, da mão em posição defunção, garantiu evolução silenciosa da ferida, sem dôr, edema ou febre. Formou-se cicatrizflácida, depressível que não acarretou graves retrações a não ser na região tenor, onde umdefeito no aparelho imobilizador permitia discreto movimento de adução do primeirometacarpiano, o que ocasionou a formação de uma brida da qual resultou limitação da flexãodo indicador por fixação de seu tendão.

— 220 —

Evidentemente temos de concordar, que a excisão de tecidoslesados, visivelmente mortificados, se impõe em certas circunstân-cias, mormente quando há grandes massas musculares maceradas.

Em regiões em que a excisão não acarrete graves distúrbiosfuncionais ou plásticos ela abrevia o tempo da evolução da ferida,promovendo em muitos casos, cicatrização por primeira intenção,quando seguida de sutura e imobilização. A excisão dos tecidos comopreconiza Böheler (28) deve ser feita sob bôa anestesia, deve serminuciosa e radical, considerando êle grave erro a realização desutura sem excisão feita nessas condições.

A sutura não deve ser realizada, se não se tiver certeza sôbre ascondições dos tecidos lesados, sendo então preferível manter a fe-rida aberta. Também a sutura quando realizável não deve ne-cessariamente compreender todos os planos, pois fios de sutura

Gravesdedos mínimdireita, produA pele achavas bainhas econtundidos.foram dadoscicatrização,bordos dosmão foi imobque se vê nresultado ccedimento foflexionou-sececrose de grmar. Essa semente.

FIGS. 35 a 37.

feridas lácero-contusas doso, anular e médio da mãozidas pela máquina de cardar.

a-se completamente descolada,ndinosas abertas e os tendões

Alguns pontos separadospara orientar os planos deapós sumária excisão dos

retalhos cutâneos. A seguir alilizada na aparelho de gêssoa fotografia 36, sendo que oonseguido com esse pro-i ótimo. Apenas o dedo mínimoposteriormente por ter havidoande extensão de sua pele pal-qüela será corrigida oportuna-

— 221 —

são corpos extranhos nada aconselháveis para serem interpostos naszonas de cicatrização . O simples afrontamento da pele será suficientepara orientar a cicatrização, caso não resulte dessa conduta, apersistência de grandes espaços mortos. (Figs. 35 à 37). Verificar-se-áentão a união de aponevrose com aponevrose, de músculo commúsculo, pois os tecidos da mesma categoria se atraem não havendounião de elementos de categorias diversas. (Prudente - 31).

Outras vêzes alguns pontos de sutura separados ou simplesafrontamento com esparadrapo são suficientes para manter a co-aptação e a imobilização desejadas.

O problema de sutura das feridas recentes tem sido a causa deum sem número de investigações.

Friedrich estabeleceu o prazo de seis horas, para que a suturaprimitiva de uma ferida possa ser realizada. Esse prazo de tempopode ser alargado conforme as circunstâncias, e é indiscutível, quecertos tipos de ferida como as da asa do nariz, do pavilhão da orelha,devem ser suturadas em qualquer tempo, afim de orientar os planosde cicatrização. Se assim não se fizer podem resultar deformidadesgraves, por vêzes de reparação dificílima.

Generalizou-se ultimamente a indicação da sulfamida em pó,como terapêutica profilática e curativa das infecções das feridas.

A nossa experiência com a sulfamida de uso local é mínima, e emse tratando de traumatismos recentes, é nula. Isso porque no nossoserviço de acidentes no trabalho, onde os feridos têm assistênciamédica-cirúrgica imediata, temos conseguido ótimos resultados coma imobilização, com ou sem excisão dos tecidos conforme os casos,não se tornando portanto necessário o emprego de outras medidasterapêuticas accessórias. Caso as circunstâncias não permitam umtratamento conveniente (excisão, imobilização, etc.. ,) parece-nos queo curativo local com sulfamida é o único que se impõe comfundamentos sérios. Porém Whipple (15) referindo-se ao emprêgo dassulfas como meio profilático das infecções diz que "nada nêste sentidodeve constituir uma excusa para que não se faça o debridamento daferida tão prontamente e amplamente quanto possível, desde que otempo e as circunstâncias o permitam".

E é o mesmo Whipple (15) que faz restrições ao emprego dassulfas, como meio curativo das infecções, baseado nas mais re-centes observações da presente guerra: "o valor das sulfamidas éperdido quando ela é espalhada sôbre pús ou sôbre tecidos emnecroses porque nessas condições surgem substâncias antagônicas àsua atividade terapêutica".

— 222 —

Podemos portanto concluir depois das consi or-mente feitas que é na imobilização das feridas que tara nossa confiança no que diz respeito à proteção osdar, para que a cicatrização se desenvolva em tod emsofrer interferências de qualquer espécie. (Fig. 38) .

Na mão, orgão dotado de excessiva mobilida ãoreveste-se de uma importância facilmente compreen

E sem dúvida é com os aparelhos gessadas q aisperfeitamente êsse objetivo.

Como diz Zeno (2) , a compressa gessada ainsôbre a ferida pode ser perfeitamente modelada, e aanfratuosidades, anula os espaços mortos, quedúvida, ambiente dos mais propícios para deinfecção O gêsso é uma substância quimicamentritante e que tem a vantagem de ser permeável pque impede de certo modo a retenção de exudatomaceração.

Afim de se evitar a aderência do gêsso aospode-se lubrificá-los com vaselina ou interpôr entreuma gaze untada com bálsamo do Perú ou efisiológico, o que é mais cômodo.

Sempre que as circunstâncias o permitam o cua ferida deve ser evitado.

F

Sob a prot

mesmo as

mão epiteliza

derações anteridevemos deposique lhe devem

a plenitude e s

de, a imobilizaçsível.

ue atingimos m

IG. 38.

eção da imobilização,

feridas extensas da

m rapidamente.

da úmida, deitadadatando-se ao das

constituem semsenvolvimento dae simples, não ir-or capilaridade, os superficiais e a

pontos de sutura,o gêsso e a ferida

mbebida em sôro

rativo direto sôbre

— 223 —

Nos membros e principalmente nas mãos, os aparelhos de imo-bilização permitem o emprego de dispositivos, que protegem toda azona lesada, sem que a gaze tome contacto com a ferida.

Quando, porém, o curativo oclusivo se impõe, deve-se empregargaze simplese, noção importante. a troca de curativos não deve serfreqüente. O método de tratamento com aparelhos de gesso fechadoofereceu vantagens incontestáveis em alguns milhares de casostratados por Trueta (32) na guerra da Espanha, porque se atendiacom ele a vários objetivos: imobilização rigorosa e ininterrupta,colocação do membro em posição elevada favoráveis a circulação deretorno e finalmente desnecessidade de troca freqüente de curativo.

Compreende-se que a troca freqüente de curativo interfere com odelicado processo de cicatrização, além de facilitar a infecção. Leriche(30) observou que no tratamento com o gesso fechado das afecçõesósseas ou articulares graves, ao levantar-se o curativo ao fim devárias semanas, encontra-se a ferida coberta de brotos degranulação, de magnífico aspecto.

Verificou-se também que os micróbios pululam em quantidadena pele eritematosa da visinhança e nas peças de curativo. Aocontrário a ferida mesma estava quase livre dos germens, sendo quesuas camadas mais profundas eram absolutamente estéreis.

O problema de profilaxia do tétano está condicionado ao tra-tamento da própria ferida e à soterapia ani-tetânica profilática. Umaferida bem tratada deve estar resguardada não só das infecçõespiogênicas como também da tetânica. Isso pelos seguintes motivos:1.°) a medicação sérica não é completamente destituída de perigo; 2.°)a literatura médica tem registrado o aparecimento de tétano em casostratados profilàticamente pelo sôro; 3.°) — há numerosas estatísticasrelativas ao tratamento das feridas e fraturas expostas sem oemprego de soroterapia profilática com uma incidência mínima oumesmo nula de casos de tétano. Contudo em certos centros cirúrgicoscomo medida de segurança, ou mesmo para se abrigarem de críticas,por parte daqueles que consideram a omissão do sôro um defeito detécnica, o usam com bastante freqüência ou mesmosistemàticamente.

Parece-nos que é da análise de cada caso que devevrá resultar anossa conduta sôbre o emprego ou não da soroterâpia antitetânicaprofilática. A soroterapia sistemática é desarrazoada, mas pensamostambém ser imprudente omiti-la em certos tipos de ferida,cujo tratameno local não possa ter sido perfeito ou naquelas quepor sua natureza (pequenas feridas perfuro-contusas pro-duzidas por prego) não exijam muitas vezes tratamento radical, não

— 224 —

nos deixando porém absolutamente tranqüilos quanto ao gráu de suacontaminação.

Nas feridas de guerra a soroterapia antitetânica se impõe siste-maticamente dada à sua maior gravidade e às condições quasisempre precárias de tratamento local. Ultimamente tem sidorecomendado (15) a administração do toxoide tetânico profilàtica-mente, aos soldados convocados para o serviço de guerra. Essamedida, se mostrou mais eficiente do que a prevenção pelo sôro notratamento dos feridos.

A soroterapia anti-gangrenosa profilática não correspondeu aoque se esperava dela. A profilaxia da gangrena gasosa "é assuntooperatório e não químico ou serológico", afirma Ehalt (29) . E'tratando bem as feridas e amputando precocemente os membros

FIGS. 39 a 41.

Arrancamento dos dedos indicador e médioda mão direita, com perda de grande extensãoda pele do dorso. Do dedo indicador restouextenso retalho da pele palmar, que apesar deaparentemente desvitalizada, foi rebatida para odorso do mão afim de revestir a perda desubstância que ai existia e a cabeça do 2.ºmetacarpiano que ficara sem proteção. No fim depoucos dias constatou-se a necrose daextremidade do retalho, sendo que a partemortificada foi removida com facilidade. A basedo retalho porém apresentava otimo aspectotendo sido suficiente para revestir a cabeça do2.º metacarpiano, que pôde ser conservado,mantendo-se assim, toda extensão da superfícieda mão, que continuou dotado de apreciavelforça, por não se ter destruido sua estruturatransversa.

— 225 —

quando destituidos de circulação, que se consegue os melhores re-suldatos na profilaxia da gangrena gasosa.

O problema das amputações dos dedos da mão.

Nos grandes esmagamentos dos dedos, quando os tegumentosda palma e dorso da mão estão comprometidos, antes de efetuar-mos uma amputação formalmente indicada, devemos fazer um ba-lanço sobre as possibilidades de aproveitamento de retalhos pedi-culados da pele dos dedos condenados.

Muitas vezes conseguimos com êsses retalhos proteger zonasdescobertas do dorso ou da palma da mão, recobrindo tendões,nervosos e vasos eventualmente expostos. (Figs. 39 à 41) .

Devemos, sempre que possível, condicionar nossa conduta ci-rúrgica a uma orientação o mais conservadora possível em face doproblema das amputações dos dedos das mãos.

Os níveis de eleição para amputações dos dedos e das mãosestabelecido por Krömer (I) para o trabalho manual se mostram naprática superiores aos apresentados no clássico esquema de Zur Verth.

Um bom retalho de recobrimento de côto de amputação dosdedos é imprescindível para que se tenha resultado funcional fa-vorável.

Em muitas circunstâncias, como acontece na amputaçãosimultânea de vários dedos o cirurgião deve se esforçar emconservar o máximo comprimento possível dos segmentos digitaisaproveitáveis. ( Fig. 42) .

Com freqüência temos deixado as superfícies de secção dosdedos amputados por traumatismos granular sob a proteção de umaparelho imobilizador. Em poucos dias a granulação reveste todasuperfície cruenta, vindo a seguir a epitelização completar otrabalho de reconstrução promovido pela natureza. Obtem-se emgeral côtos com bôa forma e raramente dolorosos. Se necessáriosecundàriamente promovemos sua regularização.

Zadik (33) não considera os resultados assim obtidos comoideais e aconselha enxêrtos pediculados ou livres para reparar es-sas lesões. Julga os resultados obtidos com os enxêrtos pedicula-dos como melhores, porém sua execução técnica é bastante difícilalém de desconfortável para o paciente. Acha bons os resultadosproporcionados pelos enxêrtos livres de pele, seguidos de imobi-

— 226 —

lização em aparelhos de gêsso. Considera ainda que no caso defracasso do enxêrto livre o resultado obtido é ainda melhor do que oconseguido sem a proteção do enxerto, pois êste durante o tempo quesobreviveu exerceu ação protetora benéfica. Tratando-se do polegar,ou quando há tendões expostos impõe-se, segundo Zadik, o enxêrtopediculado.

Nas amputações nítidas dos dedos, causadas portantes, o retalho palmar de Fuld (Cutler-6) ofereapreciáveis. Um pequeno retalho da face palmar da ededo seccionado é rebatido afim de revestir a superftraumática. A ferida resultante do levantamento do rcicatrizar por segunda intenção ou ser recobertoenxêrtos de pele.

Krömer (1) diz ser de grande importância a consegmentos proximáis dos dedos amputados. Pois cadconservada favorece a função das visinhas, em virtudcomuns constituirem uma unidade funcional. A consegmentos proximáis dos dedos cresce de importânciaamputações múltiplas. Mesmo na eventualidadeextensos esmagamentos dos dedos e metacarpianconservador deve orientar o cirurgião, ao se realicirúrgica dos tecidos traumatizados. Com freqüêelementos que permitem ao cirurgião plástico confeccionde dois ramos.

Nas amputações típicas os retalhos palmares ccritos por Lecene (34) , colocam as cicatrizes operató

Nas amputa

deve-se conse

porção de cada

FIG. 42.

ções múltiplas

rvar a máxima

dedo.

lâminas cor-ce vantagensxtremidade doície de secçãoetalho poderápor pequenos

servação dosa articulaçãoe dos flexoresservação dosnos casos dede existirem

os o espíritozar a excisãoncia sobramar uma pinça

lássicos, des-rias ao abri-

— 227 —

conseefetugrand

cô-t

falatacasup

sãodas

impprej

empindiemtemEsse

FIGS. 43 e 4

Nos traumatismos graves do polegar todo o ervar o máximo de extensão possível dêsse dedo

ar uma intervenção mutiladora. l"ma. pequena pe valor para a função de preensão como podemos

go dos traumatismos mais freqüenos bastante sólidos.Ao desarticularmos um dedo ao nív

ngeana conservamos sempre querpiano correspondente. Conservamerficie da mão o que é de um valor fu

TRATAMENTO CONSECUTIVMÃOS.

A limitação dos movimentos e a dicom freqüência as seqüelas dos traumãos.O edema post-traumático é um d

edem a livre movimentação dos dedoudicial à recuperação funcional da mA remoção dêsse edema é conseguidrêgo de luvas de cola de zincocações de Schneck (35) da escolapoucos dias desaparece o edem

ente a mobilidade dos dedos,s resultados não são atingidos nos ca

4.

mpenho deve ser feito no sentido de, diante da necessidade de termos de

orção do polegar que reste é sempre dever nos dois casos acima.

tes, além de proporcionarem

el da articulação metacarpo-possível a cabeça do me-os assim toda a área dancional apreciável.

O DAS FERIDAS DAS

minuição da força muscularmatismos graves dos dedos e

os fatores que comumentes, acarretando retardamentoão lesada.a com relativa rapidez com ousadas de acôrdo com asde Böhler. Colocada a luvaa melhorando conseqüen-antes bastante limitada.

sos com rigidez articular, ade-

— 228 —

rências tendinosas ou bridas cicatriciais que deverão ser tratadasadequadamente. Mesmo nêsses casos, a luva de cola de zincomelhora consideravelmente as condições locais, podendo-se entãoapreciar que as incapacidades existentes se reduzem favorecendo oato cirúrgico que eventualmente tenha de se realizar.

Aliás é com freqüência que empregamos as luvas de cola dezinco corno recurso pré operatório com o que se consegue removeros edemas o que torna as cicatrizes e a pele menos friáveis e maisobedientes às manipulações cirúrgicas. (Fig. 45) .

A cola de zinco foi proposta pela primeira vez por Una para otratamento das úlceras varicosas dos membros inferiores, comresultados surpreendentes.

As luvas ou as botas com a cola de Una, funcionam como umcoração periférico estimulando a circulação venosa de retôrno.

Os edemas bloqueiam parcialmente a circulação de retôrno, oque concorre para agravar o próprio edema. Forma-se então umcírculo vicioso que a luva de cola de zinco suprime ao normalizar ascondições circulatórias.

As faixas elásticas de crepe ou borracha não produzem osmesmos efeitos da cola de zinco.

Colocadativamente s

Removiainda existacada caso.

Além dcar dôr na

As luvas de

lhoram os res

uma vez que re

permitem mais

das articulaçõe

mostra o recor

se fazer uma ve

a a luva, o pacieeus dedos.

do o edema as restm devem ser tratad

a mobilização ativsua execução, pod

FIG. 45

cola de zinco me-

ultados funcionais,

movendo os edemas

ampla mobilização

s. O traço negro

te que é necessário

z seca a luva.

nte deve se empenhar em mobilizar

rições aos movimentos articulares queas conforme as exigências próprias a

a e passiva que não devem provo-emos lançar mão de outros recursos,

— 229 —

que variarão conforme se queira estimular a flexão ou a extensão dosdedos.

Quando a flexão é incompleta, conseguimos melhorá-la forçando-a progressivamente sem provocar dor, por meio de ataduras elásticasque mantemos envolvendo a mão fechada, pelo espaço de meia horadiáriamente.

Para melhorarmos a extensão, a tração elástica nos tem pro-porcionado excelentes resultados.

Esta não deverá ser contínua e pelo contrário deve com fre-qüência ser interrompida para que o paciente possa realizar exer-cícios de mobilização ativa.