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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL e a prática pedagógica na escola. CADERNO PEDAGÓGICO ANO 1 – Nº. 1 – FEVEREIRO DE 2008 DISCIPLINA – ÁREA: PEDAGOGIA PROFESSORA: PDE = ROSELI MARIA PIECKOCH PROFESSORA ORIENTADORA DA UFPR: REGINA CELY DE CAMPOS HAGEMEYER

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FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES

COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL

e a prática pedagógica na escola.

CADERNO PEDAGÓGICO

ANO 1 – Nº. 1 – FEVEREIRO DE 2008

DISCIPLINA – ÁREA: PEDAGOGIA

PROFESSORA: PDE = ROSELI MARIA PIECKOCH

PROFESSORA ORIENTADORA DA UFPR: REGINA CELY DE CAMP OS HAGEMEYER

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ....................................... ........................................................................................................................................ 4

UM CONVITE A TODOS OS PROFESSORES ................................................................................................................................... 5

1 – ENSINO E FORMAÇÃO: PARA AS QUESTÕES DA CONTEMP ORANEIDADE AMBIENTAIS E MUNDIAIS................... ....... 7

2 - AS QUESTÕES URGENTES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE: O MEIO AMBIENTE E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS.......... 9

2.1 - Definindo Sustentabilidade................ ............................................................................................................................... 11

2.2 – O Que Importa no Trabalho da Educação Ambien tal ................................................ ...................................................... 12

3 - A EMERGÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO FORMAL: UM POUCO DE HISTÓRIA....................... ........ 13

3.1 - Influências no Brasil: ...................... .................................................................................................................................... 14

4. UMA CONVERSA SOBRE A FORMAÇÃO DO PROFESSOR: e O ENSINO A PARTIR DAS QUESTÕES DO CONTEXTO

ATUAL .............................................. ................................................................................................................................................. 16

4.1 - Universo de Complexidades: Professores e o Pr eparo para Decodificar e Transmitir a Expressão dos Significados

Sobre o Meio ....................................... .......................................................................................................................................... 18

4.2 . Construir a Prática e a Teoria na Profissão D ocente Visando a Educação Ambiental; Documentação e Pesquisa ... 20

5 – OS PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A ESCOLA BÁSICA.............................. ..................... 21

5.1 Complementando as Estratégias Metodológicas........ .................................................................................................... 28

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6 - O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENT AL ................................................. .......................................... 30

6.1 – Finalidades da Educação Ambiental –Lei 9394/9 6............................................................................................................ 30

6.2 – A Educação Ambiental no Currículo da Escola: O que Diz a Legislação ............................. .......................................... 32

6. 3 – Conhecendo Princípios e Objetivos para Análi se e Planejamento da Educação Ambiental ............ ........................... 33

6.4 Princípios que Regem a Educação Ambiental :Art . 4º ....................................................................................................... 33

6.5. Objetivos da Educação Ambiental no Brasil : Ar t. 5º ......................................................................................................... 34

7 - A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA INSERÇÃO CONCRETA NA ESCOLA: DESAFIOS DE UMA TRANSIÇÃO PARA A

CIDADANIA MUNDIAL.................................. .................................................................................................................................... 36

7.1 Equívocos e Alternativas: ..................... ................................................................................................................................ 37

8 - A BUSCA DE NOVOS PARADIGMAS AO DESENVOLVER A PR OPOSTA PEDAGÓGICA: ENVOLVENDO OS

PROFESSORES ................................................................................................................................................................................ 39

8.1 - A Organização e a Gestão do Trabalho Pedagóg ico para a Educação Ambiental: ..................... .................................. 41

8. 2 – As Metodologias para a Educação Ambiental... ............................................................................................................... 44

8.3 O Trabalho Curricular na Educação Ambiental: .. ............................................................................................................... 46

8.4 - As Contribuições de Vygotsky na Reflexão de M etodologias para a Educação Ambiental: ............. ............................ 48

PARA CONCLUIR , RECOMEÇANDO...................... ...................................................................................................................... 53

REFERÊNCIAS.................................................................................................................................................................................. 56

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APRESENTAÇÃO

O presente trabalho é resultado parcial do processo

vivido durante o Programa de Desenvolvimento Educacional –

PDE: Formação docente com ênfase em Educação

Ambiental, em 2007. O projeto conta com os professores da

Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná, e no tema

que desenvolvemos, especialmente com os professores do

Colégio Estadual São Pedro Apóstolo, participantes da

pesquisa para o trabalho de Extensão proposto.

A idéia principal consiste em chamar a atenção aos

profissionais interessados na necessidade da formação

continuada de professores no que se refere à Educação

Ambiental em nossas escolas públicas. Para o

desenvolvimento desta proposta de estudo e trabalho, leva-se

em conta a construção da história da Educação Ambiental, a

partir de pesquisa bibliográfica, na qual elegemos autores que

vêm se debruçando sobre esse tema, a partir de uma visão

sócio-histórica, cultural, política e crítica..

Durante a construção do projeto, buscamos o auxílio

de profissionais da área, cursos e disciplinas sobre a

organização do trabalho pedagógico, gestão escolar e

Educação Ambiental para ampliação e aprofundamento das

problematizações levantadas, compondo um processo

significativo de formação, que buscamos compartilhar com os

colegas professores. A partir da história da Educação

Ambiental e das propostas ligadas às formas de proteger a

natureza e o meio ambiente, busca-se olhar com interesse e

de forma crítica os pedidos de socorro do planeta.

O Caderno Pedagógico Nº 1, é uma compilação de

textos e estudos com o objetivo de propor às escolas um

material de fácil leitura sobre a abordagem teórico-

metodológica e tem o objetivo de impulsionar a formação

continuada de professores. Ao oportunizar uma reflexão

conjunta sobre as questões cruciais enfrentadas no campo da

Educação Ambiental, você promove sua própria formação

continuada e em serviço, que agora deve se dar de forma

compartilhada, em esforço conjunto. Buscamos assim,

contribuir para a busca de novos e urgentes parâmetros de

ensino e formação de alunos preocupados com a qualidade

de vida e a degradação ambiental que estamos assistindo a

passos largos em todos os recantos do país e do planeta.

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UM CONVITE A TODOS OS PROFESSORES DA ESCOLA PÚBLICA:

Colegas professores :

São muitas as dificuldades e desafios postos aos

professores para desenvolver o trabalho da Educação

Ambiental hoje. A experiência que a área requer é urgente,

pela necessidade de conhecimentos necessários aos

professores para ensinar e formar os alunos como cidadãos e

cidadãs críticos e conhecedores do seu ambiente, como

afirmamos na apresentação do presente trabalho.

Convidamos você, colega professor, a desenvolver

esse trabalho, que implica em conhecer os “porquês” das

questões ambientais, impondo a urgência de um trabalho

pedagógico que se torne também para os alunos, postura de

vida, de construção e de solidariedade para com os seres

vivos e o homem.

Os professores são responsáveis também pelas

leituras do meio ambiente a partir das mediações que possam

empreender, para, a partir de uma visão de totalidade sócio-

ambiental, promover através da atitude de pesquisa, textos,

uso crítico das tecnologias da informação, a implementação

de atividades e projetos significativos sobre a Educação

Ambiental.

O maior desafio desta proposta de trabalho é sem

dúvida, a utilização dos temas da área, fazendo leituras da

realidade, a partir dos elementos obtidos no processo de

formação proposto, que motive a refletir e atuar de forma

crítica e construtiva sobre as questões ambientais. O ponto

principal desse processo, é a aposta nas possibilidades do

professor de levar seus alunos a apreender também esses

conhecimentos e posturas de vida..

O convite que fazemos por tanto é de que você

professor, conheça a proposta, os temas e as abordagens

dos autores que desenvolvemos neste Caderno Pedagógico

Nº. 1, que cremos, o auxiliará a agregar conhecimentos,

informações e construir novos conhecimentos na área da

Educação Ambiental. Na seqüência deste trabalho, estaremos

promovendo a divulgação dos artigos e produções dos

professores participantes, no Caderno Pedagógico 2, que

publicaremos após o desenvolvimento deste primeiro

trabalho .

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Você professor da Rede Estadual tem todo nosso

crédito para a construção de uma formação docente v oltada

para a Educação Ambiental, pelo que propomos que ve nham

somar-se a esse empreendimento no sentido de que po ssa

redundar em propostas político pedagógicas sérias e

compromissadas.

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1 – ENSINO E FORMAÇÃO: PARA AS QUESTÕES DA CONTEMPORANEIDADE AMBIENTAIS E MUNDIAIS

A escola e seus professores têm um grande trabalho a

realizar com as crianças e os jovens, que é proceder à

mediação entre a sociedade da informação e os alunos, para

possibilitar-lhes, pelo desenvolvimento da reflexão os

conhecimentos que lhe são acessados, as formas de

trabalhar valores ético-sociais para com o ambiente local e

mundial.

Ao entendermos que conhecer não se reduz apenas a se

informar, e que não basta expor-se aos meios de informação

para adquirir conhecimento, pode-se afirmar que conhecer

impõe utilizar as informações para, a partir delas, chegar ao

conhecimento. Nesse sentido, Pimenta (1994) entende que

a educação é um processo de humanização que ocorre na

sociedade humana com a finalidade explícita de tornar os

indivíduos participantes do processo civilizatório e

responsáveis por levá-lo adiante. Enquanto prática social,é

realizada por todas as instituições da sociedade. Enquanto

processo sistemático e intencional, destaca-se o trabalho

pedagógico da escola.

A educação escolar, por sua vez, está assentada

fundamentalmente no trabalho dos professores e dos alunos,

e sua finalidade é contribuir com o processo de humanização

de ambos. Para Pimenta( 1994), na sociedade civilizada, fruto

e obra do trabalho humano, cujo elevado progresso evidencia

as riquezas que a condição humana pode desfrutar, revela-se

também uma sociedade contraditória, desigual, em que

grande parte dos seres humanos está à margem dessas

conquistas, dos benefícios do processo civilizatório.

Nesta perspectiva, o trabalho pedagógico coletivo e

interdisciplinar do professor com o conhecimento, precisa

caminhar numa perspectiva de inserção social crítica e

transformadora. Assim, educar na escola significa ao mesmo

tempo preparar as crianças e os jovens para se elevarem ao

nível da civilização atual – da sua riqueza e dos seus

problemas – para aí atuarem. Isso requer preparação

científica, técnica e social. Por isso, a finalidade da educação

escolar na sociedade tecnológica, multimídia e globalizada, é

possibilitar que os alunos trabalhem os conhecimentos

científicos e tecnológicos, desenvolvendo habilidades para

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operá-los, revê-los, confrontá-los, contextualizá-los. Para isso,

há que os articular em totalidades que permitam aos alunos ir

construindo a noção de “cidadania mundial” propalada por

Morin (PIMENTA, 1994).

Essa é uma tarefa complexa, e por isso, discutir a

questão dos conhecimentos nos quais os professores são

especialistas (história, física, matemática, das línguas, das

ciências sociais, das artes...) no contexto da

contemporaneidade, se constitui um segundo passo no

processo de construção da identidade dos professores. Essa

é um processo que começa nos cursos de formação inicial e

nas licenciaturas.

Essa formação, no entanto não se resume a um diploma

ou titulação. A sociedade é dinâmica, as mudanças sempre

permeiam o processo educacional e por isso outras

necessidades de formação se colocam aos professores. Na

escola, a busca de um espaço de formação em serviço, para

discussões sobre as questões da realidade social da escola,

da cidade, do estado e do país, e as novas necessidades do

aluno podem ir reorientando a formação do professor. O

campo da Educação Ambiental abre à reconstrução

sistemática dessa formação um campo de conhecimentos que

não pode mais ter a conotação de modismo, porque mobiliza

as necessidades urgentes da formação humano social nas

escolas.

Vejamos a seguir o que nos parece significativo no

campo de conhecimento da Educação Ambiental.

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2 - AS QUESTÕES URGENTES PARA A FORMAÇÃO DOCENTE: O MEIO AMBIENTE E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS.

A reflexão sobre as práticas sociais, em um contexto marcado

pela degradação permanente do meio ambiente e do seu

ecossistema, requer uma necessária articulação com a

produção de sentidos sobre a Educação Ambiental. A

dimensão ambiental se configura como uma questão que

envolve um conjunto de atores do universo educativo,

potencializando o engajamento dos diversos sistemas de

conhecimento, a capacitação de profissionais e a comunidade

universitária numa perspectiva interdisciplinar.

Nesse sentido, a produção do conhecimento deve

necessariamente contemplar as inter-relações do meio natural

com o social, incluindo a análise dos determinantes desse

processo, o papel dos diversos atores envolvidos e as formas

de organização social que aumentam o poder das ações

alternativas, numa perspectiva que priorize um novo perfil de

desenvolvimento, com ênfase na sustentabilidade sócio

ambiental. A noção de sustentabilidade implica em uma inter-

relação necessária entre justiça social, qualidade de vida,

equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de

desenvolvimento. (Jacobi, 1999).

Tomando como referência o fato de que a maior parte da

população brasileira vive em cidades, observa-se uma

crescente degradação das condições de vida, refletindo uma

crise ambiental. Isto nos remete a uma necessária reflexão

sobre os desafios que estão colocados para mudar as formas

de pensar e agir em torno da questão ambiental numa

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perspectiva contemporânea. Leff (2000) Jacobi fala sobre a

impossibilidade de resolver os crescentes e complexos

problemas ambientais e reverter suas causas sem que ocorra

uma mudança radical nos sistemas de conhecimento, dos

valores e dos comportamentos gerados pela dinâmica de

racionalidade existente, fundada no aspecto econômico do

desenvolvimento.

O desafio que se coloca é de formar uma nova

consciência sobre a natureza, para reorientar a produção de

conhecimento na área da Educação Ambiental, considerando

os métodos da interdisciplinaridade e os princípios da

complexidade. Este campo educativo tem sido fertilizado

transversalmente, e isto tem possibilitado a realização de

experiências concretas no seu âmbito de forma criativa e

inovadora junto a diversos segmentos da população e em

diversos níveis de formação.

A realidade atual exige uma reflexão cada vez menos

linear, e isto se produz na inter-relação entre saberes e

práticas coletivas que criam identidades e valores comuns e

ações solidárias, numa perspectiva que privilegia o diálogo

entre saberes. Cabe agora definir o que estamos entendendo

como sustentabilidade .

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2.1 - Definindo Sustentabilidade

O conceito de desenvolvimento sustentável surge

a princípio para enfrentar a crise ecológica, sendo que pelo

menos duas correntes alimentaram o processo. Uma primeira,

centrada no trabalho do Clube de Roma, reúne suas idéias,

publicadas sob o título de Limites do crescimento em 1972,

segundo as quais, para alcançar a estabilidade econômica e

ecológica propõe-se o congelamento do crescimento da

população global e do capital industrial, mostrando a realidade

dos recursos limitados e indicando um forte viés para o

controle demográfico (ver Meadows et al., 1972).

Uma segunda corrente de pensamento, está relacionada

com a crítica ambientalista ao modo de vida contemporâneo, e

se difundiu a partir da Conferência de Estocolmo em 1972.

Tem como pressuposto a existência de sustentabilidade

social, econômica e ecológica. Estas dimensões explicitam a

necessidade de tornar compatível a melhoria nos níveis e

qualidade de vida, com a preservação ambiental. Surge para

dar uma resposta à necessidade de harmonizar os processos

ambientais com os socioeconômicos, maximizando a

produção dos ecossistemas para favorecer as necessidades

humanas presentes e futuras. A maior virtude dessa

abordagem é que, além da incorporação definitiva dos

aspectos ecológicos no plano teórico, ela enfatiza a

necessidade de inverter a tendência auto destrutiva dos

processos de desenvolvimento no seu abuso contra a

natureza (Jacobi, 1997).

O tema da sustentabilidade confronta-se com o

paradigma da sociedade de riscos. Isto implica na

necessidade de se multiplicarem as práticas sociais baseadas

no fortalecimento do direito ao acesso à informação e à

educação ambiental em uma perspectiva integradora.

Demanda ainda em aumentar o poder das iniciativas,

baseadas na premissa de que um maior acesso à informação

e à transparência na administração dos problemas ambientais

urbanos que pode implicar na reorganização do poder e da

autoridade.

A preocupação com o desenvolvimento sustentável

representa a possibilidade de garantir mudanças sócio-

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políticas que não comprometam os sistemas ecológicos e

sociais que sustentam as comunidades. Como enfrentar todos

estes problemas? A possibilidade de maior acesso à

informação potencializa mudanças de atitude e

comportamento necessárias para um agir mais orientado para

a defesa do interesse geral.

2.2 – O Que Importa no Trabalho da Educação Ambien tal

A necessidade de abordar o tema da complexidade

ambiental decorre da percepção quanto ao incipiente

processo de reflexão sobre as práticas existentes e as

múltiplas possibilidades presentes. Ao pensar a realidade de

modo complexo, faz-se necessário defini-la como uma nova

racionalidade e um espaço onde se articulam natureza,

técnica e cultura. Refletir sobre a complexidade ambiental

abre um estimulante espaço para compreender a gestação de

novos atores sociais que se mobilizam para a apropriação dos

conhecimentos sobre a natureza, buscando um processo

educativo articulado e compromissado com a sustentabilidade

e a participação, apoiado numa lógica que privilegia o diálogo

e a interdependência de diferentes áreas de saber.

Questiona também valores e premissas que norteiam as

práticas sociais prevalecentes, o que implica numa mudança

na forma de pensar e em uma transformação no

conhecimento e práticas educativas.

O principal eixo de atuação da Educação Ambiental

deve buscar, acima de tudo, a solidariedade, a igualdade e o

respeito à diferença através de formas democráticas de

atuação baseadas em práticas interativas e dialógicas. Isto se

consubstancia no objetivo de criar novas atitudes e

comportamentos diante do consumo na nossa sociedade e de

estimular a mudança de valores individuais e coletivos

(Jacobi, 1997).

A educação ambiental é atravessada por vários campos

de conhecimento, o que a situa como uma abordagem multi-

referencial, e a complexidade ambiental (Leff, 2001) refletem

um tecido conceitual heterogêneo, "onde os campos de

conhecimento, as noções e os conceitos podem ser

originários de várias áreas do saber" (TRISTÃO, 2002).

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3 - A EMERGÊNCIA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA EDUCAÇÃO FORMAL: UM POUCO DE HISTÓRIA

Há três décadas, aproximadamente, discute-se com

regularidade a Educação Ambiental – EA – na escola. No

âmbito internacional, grandes encontros se sucederam a

partir da histórica Conferência inter-governamental realizada

em Tbilisi, capital da Geórgia (ex-URSS), em 1977, sob o

patrocínio da UNESCO. A partir das recomendações dessa

primeira mobilização mundial que a prática e a difusão da

Educação Ambiental se firmaram em todos os cantos do

planeta.

È oportuno lembrar que a expressão “Educação

Ambiental” surgiu em 1948, introduzida por Thomas Pritchard,

no seu estudo “Enviromental Education” divulgado em Paris,

por ocasião da Conferência da União Internacional para a

Conservação da Natureza e seus Recursos. Pretendia o

propositor, representar um enfoque educativo como síntese

entre as ciências naturais e as ciências sociais de acordo com

DISINGER (apud SUREDA y COLOM, 1989, p. 59).

Ainda em 1968, instala-se no Reino Unido, o Conselho

de Educação Ambiental. Nesse mesmo ano, é formado o

Clube de Roma, que se propõe estudar ações que levem o

mundo ao equilíbrio ambiental. Em conseqüência, publica-se

em 1972, um relatório intitulado “Os limites do crescimento

econômico”. Não obstante essas iniciativas, reconhece-se

que a temática da Educação Ambiental apenas figurou no

discurso oficial após a sua inserção no texto da Declaração

da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente

Humano, celebrada em 1972, em Estocolmo, constituindo-se

como a primeira moldura de uma nova responsabilidade

solidária sobre estratégias ambientais. Como conseqüência

dessa conferência, neste mesmo ano a ONU criou o PNMA –

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

Em 1975, em Belgrado, a UNESCO promoveu um

Encontro Internacional em Educação Ambiental, que instituiu

o Programa Internacional de Educação Ambiental – PIEA.

Este programa estabelece que a Educação Ambiental deve

ser desenvolvida de forma contínua, em uma perspectiva

multidisciplinar, integrada a questões macro-regionais embora

voltada para interesses nacionais.

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Desde os anos setenta, portanto, é que os

compromissos nacionais atinentes a uma educação

ambiental, foram se tornando cada vez mais densos, mais

importantes e mais envolventes. Hoje, inevitavelmente

pressionados pelas catástrofes ambientais promovidas pela

ação transformadora do homem, a qual, não só vitima o

presente, mas, sobretudo, vem colocando o futuro do planeta

em risco, os governos formalizam e incentivam uma educação

voltada à complexidade do relacionamento humano com o

ambiente.

3.1 - Influências no Brasil:

Na década de 80, no Brasil, firma-se o compromisso

educacional nacional definitivo com a questão ambiental. No

campo da educação formal, o MEC, por meio de dois

instrumentos – o Parecer nº 0819/85 que determinava a

inclusão de conteúdos ecológicos nos Currículos de 1º e 2º

graus e a criação de Centros de Educação Ambiental –

explicita a preocupação das autoridades educacionais com as

questões ambientais e com a “formação da consciência

ecológica do futuro cidadão”.

Em 1988, a Constituição da República do Brasil em seu

artigo 225, Inciso VI, consolida a expressão de anseio de

“promover a educação ambiental em todos os níveis de

ensino e conscientização pública para a preservação do meio

ambiente”. No ano de 1991, a Portaria 678/91, do MEC,

ratifica a orientação anterior, determinando que a Educação

Ambiental deva constar em todos os currículos das diversas

modalidades de ensino e destaca a necessidade de formação

de professores. Ainda neste ano a Portaria 2421/91, instituiu

um Grupo de Trabalho de Educação Ambiental, visando

prioritariamente à elaboração de uma proposta de atuação do

MEC nos ensinos formal e não-formal para ser apresentado

na Conferência do Meio Ambiente e Desenvolvimento da

ONU – RIO / 92

Na Conferência da ONU para o Meio Ambiente e

Desenvolvimento – Rio/92 - ocorreu um Workshop promovido

pelo MEC, do qual resultou a Carta Brasileira para Educação

Ambiental. Em 1993, o MEC, por meio da Portaria 773/93,

instituiu um grupo de trabalho, a fim de coordenar as ações

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necessárias para a concretização das recomendações

aprovadas na Rio-92.

Em 1996, quando da publicação da Lei nº 9276/96

Plano Plurianual do Governo 1996/1999), declara-se como

um dos principais objetivos para a área de meio ambiente a

promoção da Educação Ambiental.

Em 1999, é estabelecida a Política Nacional de

Educação Ambiental no Brasil com a promulgação da Lei

9795/99. Entre os aspectos que vêm sendo regulamentados,

cabe ressaltar a determinação expressa com dotação

orçamentária específica, junto aos Ministérios do Meio

Ambiente e Educação para Educação Ambiental.

É necessário lembrar que a discussão sobre a

Educação Ambiental tomou rumos conceituais diversos. A sua

interpretação se dispersou, depois destes anos todos, que é

possível identificar inúmeras posições firmadas e estáveis que

se caracterizam como correntes. MAZZOTTI (1997) reúne as

diversas correntes que disputam o controle da Educação

Ambiental em dois grandes pólos: de um lado, encontram-se

os cientistas que prescrevem práticas de acordo com

verdades dos seus campos e, de outro, estão os

ambientalistas, cuja bandeira é agitada pelos ventos radicais

de preceitos éticos emergidos de determinadas instâncias

sociais.

A maior dificuldade, entretanto, está no passo a ser

dado para que todos os indivíduos e todas as sociedades

partilhem da discussão e das tarefas que implicam numa

desejada saúde do ambiente e sua permanência. Neste

sentido, a tarefa não é das mais fáceis. É preciso considerar

que, antes de qualquer significado formal ecossistêmico, o

problema ambiental permite que as pessoas o tratem de

formas diversas, isto é, que o interpretem dentro de

racionalidades próprias, particulares. Se perguntarmos para

nossos colegas como vêem a questão do meio ambiente,

vários assuntos e interpretações serão realçados. A variedade

de respostas se amplia à medida que se estende o número de

nossos interlocutores. O tema ambiental, em seu estado

“bruto”, comporta uma dispersão infinita de opiniões que, no

momento formativo, deve ser re-articulada e, principalmente,

refletida, o que nos propomos a partir da presente

abordagem.

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4. UMA CONVERSA SOBRE A FORMAÇÃO DO PROFESSOR: e O ENSINO A PARTIR DAS QUESTÕES DO CONTEXTO ATUAL Falar sobre a atuação necessária ao professor hoje,

leva a retomar o problema da fragmentação de

conhecimentos e saberes nessa formação. Estamos

considerando que a formação docente tem como base os

conhecimentos sobre a pedagogia ou ciência pedagógica. A

pedagogia enquanto ciência restringe-se ao campo das

demais ciências da educação na formação do professor e

assim perde seu significado de ciência prática da prática

educaciona, Houssaye,(Apud Pimenta,1994 )-se é o citado no

texto de Pimenta... aponta como caminhos de superação,

que nos empenhemos em construir os saberes pedagógicos a

partir das necessidades pedagógicas postas pela realidade,

para além dos esquemas apriorísticos das ciências da

educação. O retorno autêntico à pedagogia ocorrerá se as

ciências da educação deixarem de partir de diferentes

saberes constituídos e começarem a tomar a prática dos

formandos, ou a atuação pedagógica e suas necessidades,

como o ponto de partida (e de chegada). Trata-se, portanto,

de reinventar os saberes pedagógicos a partir da prática

social da educação, isto é, no caso da formação do professor,

a partir de sua prática social de ensinar.

Ainda alerta Pimenta(1994) que a última ilusão (a dos

práticos) não é a dominante entre os cientistas da educação.

Coloca a questão :- para que serve seu saber, se não

instrumentaliza a prática? Qual o interesse das ciências da

educação para as práticas? Os saberes sobre a educação e

sobre a pedagogia não geram os saberes pedagógicos.

Housseye(Apud. Pimenta, 1994) afirma que estes saberes só

se constituem a partir da prática, que os confronta e os

reelabora. Mas os práticos não geram só com o saber da

prática. As práticas pedagógicas se apresentam nas ciências

da educação como estatuto frágil: reduzem-se a objeto de

análise das diversas perspectivas (história, psicologia etc.). É

preciso conferir-lhes estatuto epistemológico, o que não pode

se construir de forma ingênua e partindo somente do saber da

prática.

No momento da terceira revolução industrial, quando

novos desafios estão colocados, à didática contemporânea

compete proceder a uma leitura crítica da prática social de

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ensinar, partindo da realidade existente, realizando um

balanço das iniciativas de se fazer frente ao fracasso escolar.

Essa disposição exige considerar os aspectos

epistemológicos característicos das áreas de conhecimento

que denotam avanços intrínsecos e que colocam novas

questões ao ensino, pois dizem respeito a novos

entendimentos e necessidades do conhecimento no mundo

contemporâneo. Vale ressaltar a importância de um balanço

crítico tanto das novas colaborações da psicologia e da

sociologia educacionais, como das iniciativas institucionais

que têm procurado fazer frente ao fracasso escolar, apoiadas

na renovação de métodos e de sistemáticas de organização

curricular, tais como ciclos de aprendizagem,

interdisciplinaridade, currículos articulados às escolas-campo

de trabalho dos professores e ao estágio (Pimenta, 1994).

A formação inicial de professores está articulada à

realidade das escolas e à formação contínua. Por essa razão

não se pode falar em prática docente sem lembrar que é uma

construção de teoria e de prática . O professor na sua

formação e trajetória na prática escolar constrói a sua função.

Os conhecimentos científicos de sua área de ensino,

permeados pela sua visão histórica e da natureza própria de

sua função de ensinar e formar, são transpostos para sua

prática. Essa prática nunca prescinde no entanto dos

conhecimentos teóricos que hoje requerem uma nova

qualidade. Para Hagemeyer (2006), o conhecimento científico

é adquirido pelo trabalho pedagógico, o qual dá acesso aos

elementos necessários às análises e à ação prática

(sistematização, atitude de pesquisa, estudo de temas,

construção de metodologias, adequação ao desenvolvimento

do aluno,etc.). Esse trabalho assim, leva às possibilidades

abertas a um trabalho teórico metodológico que tende a

crescer porque empreendido pelo intelectual professor.

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4.1 - Universo de Complexidades: Professores e o

Preparo para Decodificar e Transmitir a Expressão d os

Significados Sobre o Meio

Nas práticas docentes estão contidas elementos

extremamente importantes, como a problematização, a

intencionalidade para encontrar soluções, a experimentação

metodológica, o enfrentamento de situações de ensino

complexas, as tentativas mais radicais , mais ricas e mais

sugestivas de uma didática inovadora, que ainda não está

configurada teoricamente. A prática de documentação, no

entanto, requer que se estabeleçam critérios. Documentar o

que? Não tudo. Documentar as escolhas feitas pelos

docentes (o saber que os professores vão produzindo nas

suas práticas), o processo e os resultados. Não se trata de

registrar apenas para a escola, individualmente tomada, mas

de forma a possibilitar os nexos mais amplos a partir das

necessidades do ensino. Documentar não apenas as práticas

tomadas na sua concreticidade imediata, mas buscar a

explicitação das teorias que se praticam, a reflexão sobre os

encaminhamentos realizados em termos de resultados

conseguidos.

Admitindo que a prática dos professores é rica

em possibilidades para a constituição da teoria, Laneve

(1993), preocupa-se em como o professor pode construir

teoria a partir da prática docente. Esse autor aponta, entre

outros fatores, o registro sistemático das experiências, a fim

de que se constitua a memória da escola. Essa memória,

analisada e refletida, contribuirá tanto à elaboração teórica

quanto ao revigoramento e o engendra mento de novas

práticas.

A importância da memória/estudo da

experiência, segundo Laneve (1993), constitui potencial para

melhorar a qualidade da prática escolar, assim como para

eleva a qualidade da teoria. Esse entendimento implica uma

reorientação da pesquisa em didática – tomar o ensino

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escolar enquanto uma prática social, e nas demais ciências

da educação, tomar a educação enquanto prática social para,

então, se construir novos saberes pedagógicos: da prática e

para a prática (Libâneo, 1996),colaborando com a produção

da teoria e da prática.

Quando os saberes pedagógicos forem mobilizados a

partir dos problemas que a prática coloca, fica melhor

entendida a dependência da teoria em relação à prática, pois

esta lhe é anterior. Essa anterioridade, no entanto, longe de

implicar uma contraposição absoluta em relação à teoria,

pressupõe íntima vinculação com ela. Daí decorre um

primeiro aspecto da prática escolar: o estudo e a investigação

sistemática por parte dos educadores sobre sua própria

prática, com a contribuição da teoria pedagógica ( Pimenta,

1996ª).

“Refletir na ação, sobre a ação e sobre a reflexão na

ação – uma proposta metodológica para uma identidad e

necessária de professor”.

Essa perspectiva apresenta um novo paradigma sobre

formação de professores e suas implicações sobre a

profissão docente. A formação de professores se configura

como uma política de valorização do desenvolvimento

pessoal/ profissional dos professores e das instituições

escolares, uma vez que supõe condições de trabalho

propiciadoras da formação contínua e em serviço, no local de

trabalho, em redes de auto-formação e em parcerias com

outras instituições de formação.

Este processo inclui trabalhar o conhecimento na

dinâmica da sociedade multimídia, da globalização, das

transformações nos mercados produtivos. Na formação dos

alunos, crianças e jovens, há que se considerar as diferenças

e a multiculturalidade, já que estão em constante processo de

transformação cultural, de valores, de interesses e

necessidades. Essa permanente formação, requerida pelo

novo quadro contextual, pode ser também entendida como

uma ressignificação identitária dos professores. Nesse

processo situamos as preocupações urgentes do mundo

atual, nas quais se situa a Educação Ambiental. Propomos

verificar as questões que se colocam concretamente para a

atuação dos professores nesse âmbito.

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4.2 . Construir a Prática e a Teoria na Profissão D ocente

Visando a Educação Ambiental; Documentação e

Pesquisa

O desafio de fortalecer uma educação ambiental

convergente e multi-referencial é prioritário para viabilizar

uma prática educativa que articule de forma incisiva a

necessidade de se enfrentar concomitantemente a

degradação ambiental e os problemas sociais. Assim, o

entendimento sobre os problemas ambientais se dão por uma

visão do meio ambiente como um campo de conhecimento e

significados socialmente construídos, subentende-se que é

perpassado pela diversidade cultural, ideológica e pelos

conflitos de interesse. Nesse universo de complexidades

precisa ser situado o aluno, cujos repertórios pedagógicos

devem ser amplos e interdependentes, visto que a questão

ambiental é um problema híbrido , associado às diversas

dimensões humanas.

Os professores(as) devem estar cada vez mais

preparados para reelaborar as informações que recebem

sobre o ambiente, a fim de poderem transmitir e decodificar a

ecologia nas suas múltiplas determinações e intersecções e

para transmitir aos alunos a expressão dos seus reais

significados. Nesse contexto, a necessidade de administrar os

riscos sócio-ambientais coloca cada vez mais a necessidade

de ampliar o envolvimento de todos por meio de iniciativas

que possibilitem um aumento do nível de consciência

ambiental.

Ao empreender o trabalho pedagógico na Educação

Ambiental, os problemas ambientais que decorrem da

desordem e degradação da qualidade de vida nas cidades e

regiões, devem estar em pauta. Assim moradores,

profissionais e educadores, podem como cidadãos garantir a

informação e a consolidação institucional de canais abertos

para a participação deste processo numa perspectiva

pluralista e que considere as contribuições de cada um.

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5 – OS PRINCÍPIOS E OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A ESCOLA BÁSICA A intenção de apresentarmos os objetivos expressos nos Parâmetros Curriculares Nacionais, é de que possam ser analisados de forma atenta e crítica , buscando confrontá-los com as necessidades que até agora pudemos perceber nas reflexões das abordagens elaboradas anteriormente.

Os Objetivos da Educação Ambiental em questão são:

� Conhecer e compreender de modo integrado e sistêmico

as noções básicas relacionadas ao meio ambiente.

� Adotar posturas na escola, em casa e na sua

comunidade que os levem a interações , justas e

ambientalmente sustentáveis.

� Observar e analisar fatos e situações do ponto de vista

ambiental, de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as

oportunidades de atuar de modo reativo e prepositivo para

garantir um meio ambiente saudável e de boa qualidade de

vida.

� Perceber, em diversos fenômenos naturais, os

encadeamentos e relações de causa-efeito que condicionam

a vida no espaço (geográfico) e no tempo (histórico),

utilizando essa percepção para posicionar-se criticamente

diante das condições ambientais de seu meio.

� Compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos

de conservação e manejo dos recursos naturais com os quais

interagem, aplicando-os no dia-a-dia.

� Perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e

sócio-cultural, adotando posturas de respeito aos diferentes

aspectos e formas do patrimônio natural, étnico e cultural.

� Identificar-se como parte integrante da natureza, percebendo

os processos pessoais como elementos fundamentais

para uma atuação criativa, responsável e respeitosa em

relação ao meio ambiente.

Ao prescrever a delimitação dos conteúdos da

Educação Ambiental, o documento classificou as abordagens

segundo três grandes blocos temáticos: ciclos da natureza,

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sociedade e meio ambiente e manejo e conservação

ambiental.

BLOCO 1

CONTEÚDO ESPECÍFICO

CICLOS DA NATUREZA

Os ciclos da água, seus

múltiplos uso e sua importância

ara a vida, para a historia dos

povos;

Os ciclos da matéria orgânica e

sua importância para o

saneamento;

As teias e cadeias alimentares,

sua importância e o risco de

transmissão de substâncias

tóxicas que possam estar

presentes na água, no solo e

no ar;

CICLOS DA NATUREZA

O estabelecimento de relações

e correlações entre elementos

de um mesmo sistema;

A observação de elementos

que evidenciem ciclos e fluxos

na natureza, no espaço e no

tempo.

CICICICICCCCLOS DA NATUREZALOS DA NATUREZALOS DA NATUREZALOS DA NATUREZA

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BLOCO 2

CONTEÚDO ESPECÍFICO

SOCIEDADE E MEIO

AMBIENTE

A diversidade cultural e a

diversidade ambiental;

Os limites da ação humana

em termos quantitativos;

As principais características

do ambiente e/ou paisagem

da região em que se vive; as

relações pessoais e culturais

dos alunos e de sua

comunidade com os

elementos dessa paisagem;

As diferenças entre

ambientes preservados e

degradados, causas e

conseqüências para a

qualidade de vida das

comunidades, desde o

entorno imediato até de

outros povos que habitam a

região e o planeta, bem

como das gerações futuras;

A interdependência

ambiental entre as áreas

urbana e rural.

SOCIEDADE E MEIO AMBIENTESOCIEDADE E MEIO AMBIENTESOCIEDADE E MEIO AMBIENTESOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

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MANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

BLOCO 3

CONTEÚDO ESPECÍFICO

MANEJO E CONSERVAÇÃO

AMBIENTAL

O manejo e a conservação

da água; noções sobre

captação, tratamento e

distribuição para o consumo;

os hábitos de utilização da

água em casa e na escola

adequados às condições

MANEJO E CONSERVAÇÃO

AMBIENTAL

locais;

A necessidade e formas de

tratamento dos detritos

humanos: coleta, destino e

tratamento do esgoto:

procedimentos possíveis

adequados às condições

locais (sistema de esgoto,

fossa e outros).

A necessidade e as formas

de coleta e destino do lixo;

reciclagem; os

comportamentos

responsáveis de “produção”

e “destino” do lixo em casa,

na escola e nos espaços de

uso comum.

As formas perceptíveis e

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MANEJO E CONSERVAÇÃO

AMBIENTAL

imperceptíveis de poluição

do ar, da água, do solo e

poluição sonora; principais

atividades locais que

promovem a poluição

(indústrias, mineração,

postos de gasolina,

curtumes, matadouros,

criações, atividades

agropecuárias, em especial

as de uso intensivo de

adubos químicos e

agrotóxicos, etc.).

Noções de manejo e

conservação do solo: erosão

e suas causas nas áreas

rurais e urbanas;

necessidade e formas de

uso de insumos agrícolas,

cuidado com a saúde.

MANEJO E CONSERVAÇÃO

AMBIENTAL

Noções sobre

procedimentos adequados

com plantas e animais;

cuidado com a saúde.

Necessidade e principais

formas de preservação,

conservação, recuperação e

reabilitação ambientais de

acordo com a realidade

local.

Processos simples de

reciclagem e

reaproveitamento de

materiais.

Cuidados necessários para

o desenvolvimento das

plantas e dos animais.

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26

MANEJO E CONSERVAÇÃO

AMBIENTAL

Procedimentos corretos com

dejetos humanos nos

banheiros e em lugares

onde não haja instalações

sanitárias.

Práticas que evitam

desperdícios no uso

cotidiano de recursos como

água, energia e alimentos.

Valorização de formas

conservativas de extração,

transformação e uso dos

recursos naturais.

MANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTALMANEJO E CONSERVAÇÃO AMBIENTAL

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Além dos conteúdos específicos sugeridos, há uma

projeção de conteúdos comuns aos três blocos.

CONSUMISMO AMBIENTALCONSUMISMO AMBIENTALCONSUMISMO AMBIENTALCONSUMISMO AMBIENTAL

CONTEÚDOS COMUNS

� Formas de estar atento e crítico com relação ao

consumismo.

� Valorização da proteção das diferentes formas de vida.

� Valorização e cultivo de atitudes de proteção e conservação

dos ambientes e da diversidade biológica e sociocultural.

� O zelo pelos direitos próprios e alheios a um ambiente

cuidado, limpo e saudável na escola, em casa e na

comunidade.

� O cumprimento das responsabilidades de cidadão, com

relação ao meio ambiente.

� O repúdio ao desperdício em suas diferentes formas.

� A apreciação dos aspectos estéticos da natureza, incluindo

os produtos da cultura humana.

� A participação em atividades relacionadas à melhoria das

condições ambientais da escola e da comunidade local.

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Mediante uma leitura atenta, observa-se que os

conteúdos expressados enfatizam a intenção de formar

mentalidades capazes de reverter o quadro de degradação

ambiental que representa o mundo atual. Serve, esta pauta

de Educação Ambiental, para garantir a sobrevivência de

algumas gerações pela conservação da natureza.

Mas é possível, ainda, expandir a temática da

Educação Ambiental a problemáticas mais abrangentes e

complexas. Em outros países, a Educação Ambiental dá

espaço à compreensão da formação do universo, à história do

homem e da humanidade, oferecendo respaldo para a criança

refletir sobre o sentido maior da vida e enquadrar, aí, as suas

opções de conduta.

Objetivos e conteúdos, por si sós, podem, entretanto,

significar pouco para a efetividade da Educação Ambiental. A

forma de articular estes componentes, é a forma de articular

as abordagens que fazem, do currículo, uma experiência de

maior validade.

5.1 Complementando as Estratégias Metodológicas

Verificamos as necessidades para o trabalho curricular

na Educação Ambiental no sentido de contemplar a visão da

totalidade da situação real e as projeções possíveis de todas

as descobertas daí decorrentes que servem de estratégias

metodológicas capazes de reconciliar as disciplinas. Vimos

também que esse tratamento exige um trabalho

multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar.

Na abordagem multidisciplinar, as disciplinas se

acoplam para dar visibilidade à polissemia de um fenômeno.

Por exemplo, ao conhecer uma cidade, posso descrever e

analisar a sua topografia, posso descrever e analisar a sua

população, posso identificar os seus marcos históricos, o

estilo de vida, as características da ocupação do solo, o

caráter e os padrões de atividade econômica, etc. cada

dimensão ou percepção que acrescente deverá enriquecer

meu conhecimento sobre uma determinada situação. Ao

mesmo tempo que enriquecem a visão de um fenômeno, as

disciplinas se servem da temática da Educação Ambiental

para exercitarem suas estruturas.

Na abordagem interdisciplinar, ocorre uma

transferência, um empréstimo de lógicas originárias de

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diferentes áreas de conhecimento. O diálogo entre as

disciplinas promove a criação conjunta de uma outra visão

dos fenômenos. Ou, resumindo, duas ou mais disciplinas

interconectam suas estruturas conceituais e metodológicas

para desvendar, juntas, uma dada realidade. Nesta

abordagem, a Educação Ambiental tem uma identidade

problemática própria, que incorpora, no seu tratamento,

explicações oriundas de diversas disciplinas. Por exemplo, ao

estudar a contaminação atmosférica, servimo-nos

necessariamente, de contribuições da Biologia (interação

seres vivos-biosfera, conseqüências da contaminação em

processos como a respiração, fotossínteses, bioacumulação

de elementos contaminadores que passam através das

cadeias alimentares, processos biológicos de autodepuração

das águas etc); da Geologia (composição da atmosfera e

hidrosfera, contaminação devida a catástrofes naturais); da

Química (natureza química dos contaminantes, capa de

ozônio, chuva ácida, etc...); da Tecnologia (relação entre a

contaminação e a utilização de determinadas tecnologias nos

processos de produção e cadeias industriais, etc); das

Ciências Sociais (desenvolvimento e ecologismo em distintas

culturas...); da Medicina e Ciências da Saúde (doenças

próprias dos países industrializados, efeitos da contaminação

auditiva sobre a saúde física e mental...); da Ética (vida

cotidiana e atitudes contaminantes, acumulação de resíduos

em zonas rurais...) (GUTIERREZ, 1995: 177-8).

A transposição metodológica representada pela

transdisciplinaridade, só pode acontecer pela reconciliação

plena das disciplinas, levando a uma leitura simultânea das

diferentes manifestações de um mesmo fenômeno recorrendo

aos conhecimentos das disciplinas que se fazem necessárias

a cada conceito ou assunto. Os conceitos das disciplinas se

complementam ao invés de se justaporem como detalhes

analíticos. O método de problemas abre as portas para uma

estrutura transdisciplinar, mas sua concretização curricular é

uma possibilidade distante.

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6 - O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO SOBRE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Pode-se afirmar que, na formação de um pensamento

sobre a questão ambiental, a escola tem, sem dúvida, um

papel privilegiado. Mas, cabe perguntar, quanto sabemos,

nós, professores e professoras, sobre a grandeza de nossa

responsabilidade? Quando estamos preparados para fazer da

Educação Ambiental, uma interface constante de nossa

intervenção com o trabalho curricular, das áreas de ensino,

por exemplo?

Nossas respostas precisam situar-se dentro de uma

perspectiva filosófica da Educação Ambiental. Neste sentido,

é a Conferência de Tblisi, citada no princípio deste texto, que

fornece as primeiras delimitações normativas concernentes à

Educação Ambiental, especialmente aquelas que projetam as

suas finalidades.

6.1 – Finalidades da Educação Ambiental –Lei 9394/9 6

A motivação normativa para a revitalização curricular

da escola fundamental deriva da reforma educacional

instituída pela Lei 9394/96, que fixou as diretrizes e bases

para a educação nacional. Em seu Artigo 12, a Lei determina

que cabe aos estabelecimentos de ensino elaborar e executar

a sua proposta pedagógica. Ainda que esta autonomia seja

relativa, pois que a União estabelece, em colaboração com os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e

diretrizes para a educação básica, de modo a nortear os

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currículos e os conteúdos mínimos que lhe correspondem,

pode, a escola, singularizar a sua organização pedagógica.

De modo coerente, as bases do entendimento sobre as

finalidades e a organização da escola são amplas e

submetem os sistemas ao compromisso, entre outros, de

desenvolver o educando para a cidadania. Além disso, a

legislação dispõe sobre a flexibilidade da organização dos

estudos em função do interesse que o processo de

aprendizagem suscitar e enfatiza a afirmação de orientações

que privilegiem a difusão de valores fundamentais ao

interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de

respeito ao bem comum e à ordem democrática (Art. 27,

inciso I). O texto legal é, portanto, um bom esteio para o

aconchego da Educação Ambiental em cada escola.

As finalidades expressas desde a primeira Conferência

em TBLISI (1977), sugerem que nos estruturemos, seja para

agir, seja para ensinar buscando:

� Promover a compreensão da existência e da importância da

interdependência econômica, social, política e ecológicano

mundo atual;

As finalidades expressas desde a primeira Conferência

em TBLISI (1977), sugerem que nos estruturemos, seja para

agir, seja para ensinar buscando:

� Promover a compreensão da existência e da importância da

interdependência econômica, social, política e ecológicano

mundo atual;

� Proporcionar a todas as pessoas a possibilidade de adquirir

os conhecimentos, sentido dos valores, interesse ativo e

atitudes necessárias para protegerem e melhorarem o meio

ambiente em que se inserem;

� Induzir novas formas de condutas e valores a respeito do

meio ambiente, a partir de conhecimentos, estudos e

pesquisas envolvendo os sujeitos e a sociedade .

Deste modo, passaremos todos (professores e alunos)

por processos de compreensão, de conhecimento, de

sensibilização, de desenvolvimento de habilidades, atitudes,

valores de conscientização e participação. Tais aquisições,

entrosadas à nossa atuação teórico metodológica, é que

poderão garantir a implementação, estrutura e construção de

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um domínio coletivo no campo da formação e sua relação

com a melhoria da qualidade ambiental.

6.2 – A Educação Ambiental no Currículo da Escola: O

que Diz a Legislação

A política nacional de Educação Ambiental, em nosso

país, parte ainda de marcos estabelecidos em âmbito

internacional. Todavia, ela abre espaço para definições

próprias, de caráter nacional, regional e local.

Ao ratificar as premissas acordadas mundialmente,

nossos legisladores vêm emitindo normas que orientam de

modo particular a prática da Educação Ambiental no Brasil.

Em razão de emanarem de distintas esferas administrativas,

estas normas se apresentam de forma difusa, ainda que

possam ser convergentes.

Na esfera federal, existe uma Câmara Técnica de

Educação Ambiental que integra o Conselho Nacional do

Meio Ambiente – CONAMA, o qual faz parte do Sistema do

Meio Ambiente – SISNAMA, como seu órgão consultivo e

deliberativo.

A Câmara Técnica de Educação Ambiental é presidida,

por sua vez, pela Coordenação geral de Educação Ambiental

– COEA, que integra a Secretaria do Ensino Fundamental do

Ministério de Educação. Com tal estrutura, articulam-se as

definições políticas e as ações estratégicas oficiais da

Educação Ambiental na esfera federal, sob a égide da Lei

9795/99.

Segundo essa Lei, que institui a Política Nacional de

Educação Ambiental, a educação ambiental deve integrar os

processos por meio dos quais o individuo e a sociedade

constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades,

atitudes e competência voltadas para a conservação do meio

ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia

qualidade de vida e sua sustentabilidade.

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Com este sentido, a legislação específica justificou a

presença da Educação Ambiental em todos os níveis e

modalidades do processo educativo, seja em sua condição

formal ou não formal.

6. 3 – Conhecendo Princípios e Objetivos para Análi se e

Planejamento da Educação Ambiental

Com referência à educação ambiental a ser trabalhada

na escola fundamental, devem ser ressaltados os princípios

proclamados na legislação, aplicáveis a todas as situações

formativas.

A seguir, serão apresentados os princípios e objetivos

para a Educação Ambiental no Brasil a partir da Lei 9795/99,

buscando fornecer orientações para a composição de

planejamentos de trabalho pedagógico aos envolvidos na

presente proposta:

6.4 Princípios que Regem a Educação Ambiental :Art . 4º

� Enfoque humanista, holístico, democrático e

participativo;

� Concepção do meio ambiente em sua totalidade,

considerando a sua interdependência entre o meio natural, o

meio sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da

sustentabilidade;

� Pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na

perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade;

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� Vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as

práticas sociais;

� Garantia de continuidade e permanência do processo

educativo;

� Permanente avaliação crítica do processo educativo;

� Abordagem articulada das questões ambientais locais,

regionais, nacionais e globais;

� Reconhecimento e respeito à pluralidade e à

diversidade individual e cultural.

Respeitada a complexidade da formação na Educação

Ambiental no âmbito da escola fundamental, a legislação

aprofunda orientações, tornando explícitos seus objetivos,

firmando a exigência do desenvolvimento de uma

compreensão integrada e uma consciência crítica da questão

ambiental. Este processo deve ser dinamizado pela

democratização da vivência ambiental forjada às custas de

um amplo acesso às informações ambientais e de uma

participação individual, coletiva, cooperativa e solidária.

6.5. Objetivos da Educação Ambiental no Brasil : Ar t. 5º

Na operacionalização da Educação Ambiental, a

legislação estabelece que, na escola fundamental,

implante-se uma prática educativa integrada, contínua e

permanente. Deste entendimento, afasta-se a idéia da

configuração de uma disciplina específica e independente.

� Desenvolvimento de uma compreensão integrada do

meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações,

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envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais,

políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;

� Garantia de democratização das informações

ambientais;

� Estimulo e fortalecimento de uma consciência crítica

sobre a problemática ambiental e social;

� Incentivo à participação individual e coletiva,

permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do

meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade

ambiental como um valor inseparável do exercício da

cidadania;

� Estímulo à cooperação entre as diversas regiões

do País, em níveis micro e macro-regionais com vistas à

construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada,

fundada nos princípios da liberdade, da igualdade,

solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e

sustentabilidade;

� Fomento e fortalecimento da integração com a ciência e

a tecnologia;

� Fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos

povos e solidariedade como fundamento do futuro da

humanidade.

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7 - A EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUA INSERÇÃO CONCRETA NA ESCOLA: DESAFIOS DE UMA TRANSIÇÃO PARA A CIDADANIA MUNDIAL

Caracterizamos o papel da escola na Educação

Ambiental, no início de nossa abordagem. Vimos que a partir

do papel do professor de ensino e e formação, cabe situá-la

em contexto mais amplo, que considere a educação para a

cidadania, configurando-a como elemento determinante para a

consolidação de sujeitos que terão um papel preponderante

para a construção de nova consciência, atitudes e ações no

que se refere ao meio ambiente. O fortalecimento da

cidadania para a população como um todo - e não para um

grupo restrito - concretiza-se pela possibilidade de cada

pessoa ser não somente como portadora de direitos e

deveres, mas de se converter em ator co-responsável na

defesa da qualidade de vida.

A formação para a cidadania está intrinsecamente ligada

à educação ambiental e à forma como estará concebida na

proposta pedagógica escolar. Que questões têm

preponderância ao formarmos para a cidadania? Cidadania

tem a ver com a identidade e o pertencimento a uma

coletividade. A Educação Ambiental como formação e

exercício de cidadania refere-se a uma nova forma de encarar

a relação do homem com a natureza, baseada numa nova

ética, que pressupõe outros valores morais e uma forma

diferente de ver o mundo e os homens. Deve ser vista como

um processo de permanente aprendizagem que valoriza as

diversas formas de conhecimento e forma cidadãos com

consciência crítica local e planetária.

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7.1 Equívocos e Alternativas:

O que tem sido feito nesta perspectiva? Observa-se

que na escola a grande maioria das atividades são feitas

dentro de uma modalidade formal. Os temas predominantes

são lixo, proteção do verde, uso e degradação dos

mananciais, ações para conscientizar a população em relação

à poluição do ar entre outras. A educação ambiental que tem

sido desenvolvida no país é pulverizada em ações

diversificadas e a presença dos órgãos governamentais como

articuladores, coordenadores e promotores de ações é ainda

muito restrita.

No caso das grandes metrópoles, existe a

necessidade de enfrentar os problemas da poluição do ar e o

poder público deve assumir um papel indutor do processo. A

redução do uso do automóvel estimula a co-responsabilidade

social na preservação do meio ambiente, chama a atenção

das pessoas e as informa sobre os perigos gerados pela

poluição do ar. Isso no entanto implica na necessidade de

romper com o estereótipo de que as responsabilidades

urbanas dependem em tudo da ação governamental e os

habitantes mantêm-se passivos e aceitam a tutela.

O grande salto de qualidade tem sido feito pelas ONGs

e organizações comunitárias, as quais desenvolvem ações

não formais centradas principalmente na população infantil e

juvenil. A lista de ações é interminável e essas referências são

indicativas de práticas inovadoras preocupadas em

incrementar a co-responsabilidade das pessoas em todas as

faixas etárias e grupos sociais quanto à importância de formar

cidadãos cada vez mais comprometidos com a defesa da vida.

A educação para a cidadania representa a possibilidade

de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as

diversas formas de participação em potenciais caminhos de

dinamização da sociedade e de concretização de uma

proposta de sociabilidade baseada na educação para a

participação.

O complexo processo de construção da cidadania no

Brasil, num contexto de agudização das desigualdades, é

perpassado por um conjunto de questões que

necessariamente implica a superação das bases constitutivas

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das formas de dominação e de uma cultura política calcada na

tutela. A construção de uma cidadania ativa configura-se

como elemento determinante para constituição e

fortalecimento de sujeitos cidadãos que, portadores de direitos

e deveres, assumam a importância da abertura de novos

espaços de participação e interferência crítica e solidária dos

sujeitos sociais em função de atitudes e futuras ações

conjuntas pela melhoria da vida ambiental .

A educação ambiental, como componente da

cidadania abrangente, que buscamos também ao

estabelecer os objetivos da escola hoje, está ligada a uma

nova forma de relação ser humano/natureza . A sua

dimensão cotidiana leva a pensá-la como somatório de

práticas e entendê-la na dimensão de sua potencialidade de

generalização para o conjunto da sociedade. Assim,

pressupõe entendê-la como necessidade concreta de ações

na educação formal, o que inclui sua entrada como um dos

objetivos do trabalho pedagógico escolar, no qual os

professores são os profissionais diretamente envolvidos.

À medida que se observa cada vez mais dificuldade de

manter-se a qualidade de vida nas cidades e regiões, é

preciso fortalecer a importância de garantir padrões

ambientais adequados e estimular uma crescente

consciência ambiental, centrada no exercício da cidadania e

na reformulação de valores éticos e morais, individuais e

coletivos, numa perspectiva orientada para o

desenvolvimento sustentável. A escola tem um papel

preponderante na construção desses objetivos e a

generalização de práticas ambientais só será possível se

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estiver inserida no contexto de valores sociais, mesmo que

se refira a mudanças de hábitos cotidianos próximos aos

alunos inicialmente.

O trabalho da Educação Ambiental como um dos

pressupostos da proposta pedagógica de uma escola, ao

questionar ideologias teóricas e práticas, propõe a

participação democrática da sociedade na gestão dos seus

recursos atuais e potenciais, assim como no processo de

tomada de decisões para a escolha de novos estilos de vida

e a construção de futuros possíveis, sob a ótica da

sustentabilidade ecológica e a eqüidade social. Estas são

posições que impõem novas posições teórico-metodológicas

e a busca de novos paradigmas.

8 - A BUSCA DE NOVOS PARADIGMAS AO DESENVOLVER A PROPOSTA PEDAGÓGICA: ENVOLVENDO OS PROFESSORES

As oportunidades oferecidas ao sistema escolar

brasileiro para se apropriar da temática da Educação

Ambiental têm ocorrido com freqüência e intensidade

testemunha-se uma resposta docente incontestavelmente

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positiva neste sentido. No entanto, a despeito da visível

adesão ideológica, dificuldades concretas se interpõem no

cotidiano da vivência escolar que quer se comprometer com a

transposição metodológica que o tema exige.

Ora, esta transição metodológica, e de sua correlata e

implícita reorganização curricular, encontra dificuldades em

todos os sistemas que lidam, na atualidade, com a

implantação. Gavidia (1996), ao analisar a realidade

espanhola, destacou sete ordens de dificuldades para o

desenvolvimento da Educação Ambiental que devem ser

superadas, as quais merecem nossa reflexão:

1 – A forte inércia da escola para modificar formas de

comportamento e escalas de valores. Este fator se reflete

também na atitude defensiva e restrita que o docente assume

quanto ao seu repertório, a qual impede a rearticulação

disciplinar pleiteada pela nova abordagem .

2 – A incorporação dos temas sobre Educação Ambiental no

currículo escolar dentro da organização disciplinar existente.

Abrir espaço para o tema em uma estrutura consolidada não

é uma tarefa fácil. Encontrar os pontos de união entre as

disciplinas, o grau de participação de cada uma delas, a

sincronização das abordagens... Que modelo de estratégia

adotar? Linhas, áreas, espaços...

3 – A concretização dos conteúdos. É preciso materializar as

idéias possíveis sobre os conteúdos. Isto impõe provimento

e/ou atualização de conhecimentos.

4 – A formação necessária do corpo docente nestes temas. A

colocação em prática da educação ambiental entre outros

temas, supõe a sensibilização e a preparação de professores

e professoras. O conhecimento e representações adequadas

sobre a questão ambiental, por exemplo, constituem

condições básicas para que possam projetar caminhos

didáticos, estratégias de aprendizagens e interações sociais

pertinentes.

5 – A pouca tradição de trabalho em grupo, especialmente

com pais e com outras instituições. Os cenários da Educação

Ambiental implicam em ações não só interdisciplinares mas

também interinstitucionais. A escola precisa se deslocar.

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6 – A escassez de materiais curriculares. A discussão gira em

torno da propriedade de uma bibliografia específica. O mundo

editorial ainda não se convenceu de oferecer textos

sistemáticos. Há manuais orientados aos professores mas

não há textos para os alunos.

7 – No que se refere ao trabalho curricular e à avaliação, os

conteúdos da Educação Ambiental precisam ser

selecionados, priorizados, articulados, seqüenciados, e,

sobretudo, avaliados, especialmente em suas dimensões

atitudinais e comportamentais. A tarefa docente fica enorme!

Torna-se cada vez mais necessário consolidar portanto

novos paradigmas educativos, centrados na preocupação de

iluminar a realidade desde outros ângulos, e isto supõe a

formulação de novos objetos de referência conceituais e de

transformação de atitudes.

8.1 - A Organização e a Gestão do Trabalho Pedagóg ico

para a Educação Ambiental:

Vários autores têm se referido à inércia da escola e uma

resistência a avaliar suas novas incumbências como fruto das

transformações em todos os campos da vida humana, seja na

evolução da ciência, no campo do trabalho ou na

transformação de valores sociais. Por um lado, há algo de

positivo em avaliar essas transformações passo a passo

implementá-las nos objetivos da formação humana, evitando

a adaptação sem críticas às novas exigências tanto dessas

transformações como no que encerrem de busca de

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adaptações ao panorama neoliberal. Por outro lado, as

necessidades trazidas pelos alunos e frequentemente

divulgadas na mídia, mesmo aquelas extremamente próximas

a nós, como a degradação dos rios e mananciais, o gasto

inconseqüente da água, a falta de cuidado com o saneamento

pelas autoridades e da população com o lixo, afora as notícias

de catástrofes ambientais provocadas pela negligência do

homem para com o aquecimento global e o desmatamento,

nos obrigam a perceber a urgência de ultrapassar os

conteúdos antes tratados pela Educação Ambiental. Impõe-se

a busca de conhecimentos, informações, um trabalho de

pesquisa e assimilação crítica para um processo qualificado

de ensino que se volta à formação de valores e atitudes para

com o ambiente local e mundial em nossos alunos.

A necessidade passo a passo percebida pelos

educadores, professores e alunos sobre os temas ambientais,

nos apontam a necessidade de um trabalho curricular voltado

à atualização dos conhecimentos, e como uma tarefa mais

complexa, impõe novos tratamentos para com as disciplinas,

de forma inter e transdisciplinar, além da busca de

sincronização e visão mais ampla e aprofundada dos

processos e fenômenos ambientais. Estas necessidades

exigem do professor a busca de novos conhecimentos e a

organização da escola para um formação em serviço sobre o

trabalho que se pretende implementar.

Propõe-se um trabalho de sensibilização e preparação

dos professores , com materiais como discussão de filmes,

debates sobre a formação da criança e do jovem hoje levando

em conta os problemas ambientais, pesquisa sobre os

problemas cruciais ambientais para que os professores

possam se organizar para desenvolver atividades, visitas,

projetos para conhecer e levantar alternativas de ação e

interferência no meio ambiente a curto, médio e longo prazo.

Nesse processo o pedagogo tem um papel preponderante

como gestor e articulador de uma proposta que possa

envolver todos os participantes de forma democrática e

motivante. Há que se considerar a trajetória dos professores,

seus conhecimentos e criatividade que podem construir um

processo sólido e possível de ser aplicado.

A dificuldade ao envolver os pais, talvez nesse

momento possa ser revertida ao tratarmos de um assunto que

diz respeito a todos e no qual os pais também são

diretamente responsáveis. Também a resistência ao trabalho

coletivo no processo de construção da proposta de Educação

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Ambiental, deve levar a uma possibilidade de encontros,

ações conjuntas e busca de respostas sempre em reuniões

pedagógicas de avaliação de todo o processo ou em

momentos pontuais como o Conselho de Classe por exemplo.

No trabalho curricular, no qual os conteúdos da

Educação Ambiental precisam ser selecionados, a

participação do pedagogo junto aos professores é

imprescindível na priorização e articulação dos temas nas

áreas de ensino. A avaliação das dimensões atitudinais e

comportamentais, são um ensejo para que o professor avalie

o aluno em processo, por entrevistas, auto-avaliação,

observação da participação e descrição de progressos

previstos na forma de uma avaliação processual.

As dificuldades que se apresentarem, pela

complexidade da tarefa do professor, poderão ser partilhadas

também em momentos de avaliação em reuniões por série e

áreas, em que a solidariedade entre o grupo envolvido

precisa ser a tônica principal e a compreensão de que um

trabalho inovador vem sendo construído e por isso terá

dilemas, incertezas, mas também acertos, possibilidades

novas e construção de novos conhecimentos e metodologias

no que se refere ao processo .

O desenvolvimento da Educação Ambiental vai implicar

em uma mobilização de recursos didáticos além daqueles que

integram a rotina tradicional da escola. Apela a cenários,

pessoas, meios, serviços, ambientes, literatura e materiais

variados. Estes recursos são definidos em função de

itinerários investigatórios e de solução de problemas,

implantados, preferencialmente, a partir de projetos

elaborados pela classe ou por grupos de trabalho, e dos

processos de registro, comunicação e divulgação dos estudos

realizados.

O que se busca, é que a Educação Ambiental se

concretize mediante construções singulares de

aprendizagem, garantindo o significado e a qualidade das

experiências proporcionadas. A própria avaliação pedagógica

deve acompanhar, controlar e regular, as interações

realizadas durante esse processo, tanto na sua seqüência

quanto no impacto traduzido pela ressonância da “lição

aprendida”. Mais do que nunca, a Educação Ambiental pode e

deve proporcionar vivências inesquecíveis e fortemente

impregnadas de uma ética necessária. Trata-se de prover,

pela Educação Ambiental, o aprender a viver, e,

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principalmente, o cultivar nos professores e alunos o

sentimento da mais elevada esperança na humanidade.

As oportunidades oferecidas ao sistema escolar

brasileiro para se apropriar da temática da Educação

Ambiental têm ocorrido com freqüência e intensidade e

testemunha-se uma resposta docente incontestavelmente

positiva neste sentido. No entanto, a despeito da visível

adesão ideológica, dificuldades concretas se interpõem no

cotidiano da vivência escolar que quer se comprometer com a

transição metodológica que o tema exige.

-Regina Cely de Campos Hagemeyer

8. 2 – As Metodologias para a Educação Ambiental

O manejo do conhecimento, na experiência escolar,

delimitado pelas fronteiras das disciplinas tal como nós

conhecemos, tem gerado lacunas significativas na

compreensão dos problemas e práticas sociais, inclusive pelo

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reducionismo e mecanicismo que imprime ao processo de

ensinar/aprender.. Em função dessa forma e exercício

disciplinar tradicional, muitos conceitos se reproduziram de

maneira distanciada, conquistando uma aparente autonomia,

mas formando um número cada vez maior de campos de

conhecimento e repertórios às vezes estéreis.

De certa forma, pode-se afirmar que a existência de

inúmeros campos de estudo contribui para a desintegração da

própria formação, especialmente no seu estagio básico.

Nesse quadro de estudos justapostos, as disciplinas se

comportam como túneis separados e estreitos, que não se

comunicam a não ser acidentalmente e eventualmente. Daí

imaginar a necessidade e a possibilidade de superar a

fragmentação dos territórios mais ou menos estáveis que elas

(as disciplinas) representam nos currículos das escolas em

prol de uma compreensão inteira do mundo e de seus

fenômenos.

Diferentemente dessa perspectiva, pois, dá-se a

oportunidade, nessa abordagem, à compreensão e vivência

de problemas sociais e culturais apreendidos em toda a

plenitude e complexidade com que acontecem e se revelam,

em oposição à desgastada prática de transmissão de

informações, conhecimentos, valores e atitudes dissociados

da realidade vivida pelo educando.

A Educação Ambiental assim se beneficia de uma

transposição metodológica que trabalha a aquisição e a

produção de conhecimento como um processo aberto, flexível

e comprometido eticamente. Sem negar de vez a estrutura

dos currículos escolares, o tratamento do tema flexibiliza o

processo de aquisição e produção do conhecimento e

neutraliza o artificialismo inerente à prática tradicional do

ensino na escola mediante uma sensibilização das disciplinas.

Isto quer dizer que, sensibilizados os professores das

áreas de ensino, e, por conseqüência, neutralizado o

artificialismo da rotina escolar, há maior significado na

aprendizagem. O tratamento dos conteúdos escolares dá

sustentação para a interpretação da totalidade da situação

real. Constitui, portanto, um recurso metodológico para

contextualizar o conhecimento recriado na experiência

pedagógica.

Contextualizar o conhecimento, além do mais, implica

em partir da vivência dos alunos e do seu projeto de vida.

Porque, quando o aluno chega à escola, alguma coisa das

suas experiências anteriores é conservada sob a forma de

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interesses e necessidades. (...). A observação das condições

externas, como a presença de problemas ecológicos, isto é,

do macro-problema, leva-os a elaborar cenários com a ajuda

de um processo de pensamento refletido, de um saber-

pensar... (BERTRAND, VALOIS e JUTRAS, 1998:148-9).

A Educação Ambiental, quando tratada como tema

essencial, circula pelo currículo, abre portas e janelas das

disciplinas, proporcionando espaço e ângulo para uma visão

da realidade tomada em toda a sua espontaneidade

(totalidade), em todo o seu potencial de decodificação

(análise integral) além de melhor corresponder em termos de

relevância social.

Que disciplinas podem ser estas que se abrem aos

temas da Educação Ambiental? BERTRAND, VALOIS e

JUTRAS (p.151), oferecem algumas precisas menções

quando observam que certas dimensões do macro-problema

ecológico comportam um caráter regional e uma historia

particular, motivo pelo qual a história e a geografia constituem

instrumentos indispensáveis de compreensão. E acrescentar,

procurar compreender um problema ecológico local necessita

da sua contextualização histórica, cultural, social, assim como

da sua morfologia regional.

Todavia, para quem imagina que o efeito pedagógico

da contextualização tem aqui seu limite, deve-se alertar sobre

o seu rendimento mais profundo. A contextualização de um

problema ecológico abre a reflexão sobre as meta

necessidades do educando, descobrindo o sentido profundo

da Vida e a solidariedade fundamental entre todos os seres. A

contextualização, nesta perspectiva, alarga à sua maneira o

debate sobre o sentido das experiências vividas pelos alunos

e sobre a direção que deve tomar uma nova cultura ecológica

(BERTRAND, VALOIS e JUTRAS, p.151-2). A partir daqui se

desemaranha o conceito de meio ambiente, sustentabilidade

e suas implicações intergeracionais, que passamos a traduzir

nas metodologias de trabalho pedagógico .

8.3 O Trabalho Curricular na Educação Ambiental:

O trabalho com a Educação Ambiental no campo

curricular aponta para novas práticas através de inter-relações

com as áreas de ensino. As disciplinas de história, geografia e

as ciências em geral, passam a ser permeadas pelas

questões valorativas e éticas voltadas aos parâmetros de

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47

direitos e de justiça social de todos os seres do planeta

animais e vegetais à qualidade de vida. As áreas, pelos novos

conhecimentos que requisitam se entrelaçam com

conhecimentos emergentes e necessitam de abordagens inter

e transdisciplinares. A ênfase na capacitação do professor

para perceber as relações entre as áreas e como um todo,

enfatiza uma formação local e global, que busca marcar a

necessidade de enfrentar a lógica da exclusão e das

desigualdades sociais.

Hagemeyer (2006), afirma que um grupo significativo de

professores vem caminhando para formas mais conscientes e

não mais fragmentadas de tratar os conhecimentos

curriculares, e esse é um movimento ditado pelas

necessidades do aluno, evidenciadas na prática cotidiana,

influenciada pelas questões cruciais do contexto

contemporâneo. Esse é um processo não impositivo, isto é,

não emana somente das propostas pedagógicas oficiais. Isto

é importante na medida em que boa parte dos professores, a

partir de sua trajetória, envolvimento, assimilação crítica, e

conhecimentos pedagógicos construídos, constroem em boa

medida, o caminho teórico metodológico de ensino e formação

hoje.

Para essa forma transdisciplinar, Hagemeyer (2005)

cita o referencial do rizoma, utilizado por Guattari (1987). A

dimensão ambiental representa a possibilidade de lidar com

conexões entre diferentes dimensões humanas, propiciando,

entrelaçamentos e múltiplos trânsitos entre múltiplos saberes.

A escola participa então dessa rede "como uma instituição

dinâmica com capacidade de compreender e articular os

processos cognitivos com os contextos da vida" (Tristão,

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2002). A educação insere-se na própria teia da aprendizagem

e assume um papel estratégico nesse processo, e,

parafraseando , podemos dizer que:

“...a educação ambiental na escola ou fora dela continuará a

ser uma concepção radical de educação, não porque prefere

ser a tendência rebelde do pensamento educacional

contemporâneo, mas sim porque nossa época e nossa

herança histórica e ecológica exigem alternativas radicais,

justas e pacíficas (1998, p.43 )”.

8.4 - As Contribuições de Vygotsky na Reflexão de

Metodologias para a Educação Ambiental:

c

Ao trabalharmos os conceitos de Educação Ambiental,

encontramos em Vygotsky, algumas idéias para os

procedimentos metodológicos no que se refere às relações

entre os homens e as influências recíprocas que favorecem

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aprendizagens e a formação de valores. Vygotsky não tratou

desta questão evidentemente em seus escritos, mas ao trazer

noções sobre a necessidade de mediações para as

apreensões dos alunos, contribui para as internalizações de

novos conceitos e atitudes. Considerando as novas e cruciais

questões do meio ambiente, há que se empreender um

trabalho que propicie mediações e internalizações de

aprendizagens, a partir informações, conhecimentos e

atividades que provoquem necessárias revisões e formação

de valores e atitudes nos alunos.

Vigotsky (Apud Tamaio, 2000) afirma que um processo

de reconstrução interna dos indivíduos ocorre a partir da

interação com uma ação externa. No trabalho com os alunos

sobre os processos da natureza antes desconhecidos como:

efeito estufa, ecossistema, recursos hídricos, desmatamento,

reciclagem devem levá-los a se constituir como sujeitos, pela

internalização de significações que construídas e

reelaboradas a partir das metodologias aplicadas pelo

professor (pesquisas, projetos, campanhas, etc.), o levem a

assumir uma postura de reflexão crítica e ação em favor da

natureza.

A Educação Ambiental, como as outras áreas de

conhecimento, pode assumir, assim, "uma parte ativa de um

processo intelectual, constantemente a serviço da

comunicação, do entendimento e da solução dos problemas"

como propõe Vigotsky (1991). Trata-se de um aprendizado

social, baseado no diálogo e na interação, em constante

processo de recriação e reinterpretação de informações,

conceitos e significados, que podem se originar do

aprendizado em sala de aula ou da experiência pessoal do

aluno. Assim, a escola pode transformar-se no espaço em que

o aluno terá condições de analisar a natureza em um contexto

entrelaçado de práticas sociais e conhecimentos emergentes,

parte componente de uma realidade mais complexa e

multifacetada.

O maior desafio consiste em evitar cair na simplificação

de que a educação ambiental poderá superar uma relação

pouco harmoniosa entre os indivíduos e o meio ambiente

mediante práticas localizadas e pontuais, muitas vezes

distantes da realidade social de cada aluno.

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Cabe sempre enfatizar a historicidade da concepção de

natureza (Carvalho, 2001), o que possibilita a construção de

uma visão mais abrangente (geralmente complexa, como é o

caso das questões ambientais) e que abra possibilidades para

o aluno de busca de mais conhecimentos que também levem

ao envolvimento para a busca de alternativas e soluções que

visem a qualidade de vida ambiental, a médio e longo prazo.

Ora, esta transição metodológica e sua correlata e implícita

reorganização curricular, encontra dificuldades em todos os

sistemas que lidam, na atualidade, com a implantação de

novas formas de lidar com as também novas necessidades do

conhecimento e formação humanas .

Reafirma-se a relação entre meio ambiente e educação

para a cidadania, que assume um papel cada vez mais

desafiador, demandando portanto a emergência de novos

saberes para apreender processos sociais que se

complexificam e riscos ambientais que se intensificam. No

tempo presente, a informação assume um papel cada vez

mais relevante, em que o ciberespaço, a multimídia, a Internet

interferem na educação para a cidadania e representam

também a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas

para transformar as diversas formas de participação na

defesa da qualidade de vida.

Propõe-se a aplicação do planejamento proposto

estimulando a idealização e o desenvolvimento de atividades

e um (ou mais) projeto(s) na temática ambiental pelos

professores da escola de acordo com suas necessidades e

anseios.

Sugere-se que as questões cruciais da questão

ambiental sejam consideradas no sentido de implementação

de projeto de pesquisa ou programações de atividades

atendendo a temas como:

a) A Floresta Amazônica;

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b) A Poluição;

c) A Água

d) O Lixo;

e) O Aquecimento Global:

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f) A Mata Atlântica;

g) A Extinção dos Animais;

h) Outros, à escolha dos professores e dos alunos;

De forma concomitante à leitura e discussão de textos,

propõe a aplicação do planejamento.

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PARA CONCLUIR , RECOMEÇANDO....

A partir dos estudos, pesquisa e construções

possibilitadas por esse trabalho, conclui-se que a inserção da

Educação Ambiental supõe uma ruptura que não se restringe

à substituição de “conteúdos duros” de programas

disciplinares, nem à superação de uma suposta

desintegração, de um suposto artificialismo e de uma

inevitável sensação de esterilidade de conteúdos formais

tradicionalmente objetivados pelo processo de escolarização.

A ruptura aqui imaginada é mais ampla, atinge nossos

hábitos, nossos vícios, nossa visão de possibilidade de uma

situação mais perfeita. Daí defender a idéia de que a

potencialização de uma educação ambiental bem

representada na escola depende, sobretudo, do talento

pedagógico e da coragem burocrática que professores e

professoras estiverem dispostos a demonstrar em favor de

uma consciência universal e de um engajamento com o

melhor futuro do planeta.

O projeto busca assim alternativas para a atuação

docente em uma das questões mais urgentes da

contemporaneidade a ser tomada pela escola, a Educação

Ambiental, levantando indicadores para sua formação nesta

área.

Em nossa realidade, e, em cada circunstância particular

de nossas escolas, com certeza, cabem graus e detalhes

mais característicos de barreiras já encontradas nos ensaios

e exercícios que os professores empreendem. Aliás, é a partir

da discussão objetiva de tais dificuldades singulares que cada

escola deve encontrar suas estratégias. O que se pode

sugerir, é que se faça tudo em caráter experimental. Que se

permita uma liderança móvel e dinâmica flexíveis, de curto,

médio e longo prazo. Que se instaure na escola uma

“memória ambiental” de largo acesso que sirva de fonte de

inspiração docente.

Afirmando que o desafio político da sustentabilidade,

vista sob a ótica sob pela qual optamos, apóia-se no

potencial transformador das relações sociais que

representam o processo da Agenda 21, encontra-se

estreitamente vinculado ao processo de fortalecimento da

democracia e da construção da cidadania em nosso país.

Essa visão de sustentabilidade traz uma visão de

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desenvolvimento que busca superar o reducionismo da

adaptação a crítica e estimula um pensar e fazer sobre o

meio ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre

saberes, à participação, aos valores éticos como valores

fundamentais para fortalecer a complexa interação entre

sociedade e natureza. Nesse sentido, o papel dos

professores(as) é essencial para impulsionar as

transformações de uma educação que assume um

compromisso com a formação de valores de

sustentabilidade, como parte de um processo coletivo.

A necessidade de uma crescente internalização da

problemática ambiental, um saber ainda em construção,

demanda empenho para fortalecer visões integradoras que,

centradas no desenvolvimento, estimulem uma reflexão

sobre a diversidade e a construção de sentidos em torno das

relações indivíduos-natureza, dos riscos ambientais globais e

locais e das relações ambiente-desenvolvimento. A

educação ambiental, nas suas diversas possibilidades, abre

um estimulante espaço para repensar práticas sociais e o

papel dos professores como mediadores e transmissores de

um conhecimento necessário para que os alunos adquiram

uma base adequada de compreensão essencial do meio

ambiente global e local, da interdependência dos problemas

e soluções e da importância da responsabilidade de cada um

para construir uma sociedade planetária mais eqüitativa e

ambientalmente sustentável , no sentido que defendemos.

É importante lembrar que a instalação de temas sobre

a Educação Ambiental promove conflitos, pois as escolas

atuam sobre estruturas sociais cristalizadas, que apontam

para a impotência frente às exigências de inovação. Mas os

conflitos, acredita-se, resolvem-se pela participação,

transparência, adesão cooperativa e solidária dos

professores. Daí esperar que professores e professoras, em

clima de real solidariedade, criem as soluções mais

responsáveis no sentido de valorizar o seu trabalho de

educadores.

O caminho das possíveis soluções, repetimos, é

privativo de cada comunidade escolar. Todos são

importantes no desenvolvimento desse trabalho que visa

reorientar e construção conhecimentos para uma formação

crítica que leve à melhoria das condições de vida no planeta.

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Tudo o que os professores envolvidos possam elaborar e

construir, comporá o Caderno Pedagógico nº 2, que temos

certeza será resultado do processo de formação docente

empreendido e impulsionará o trabalho da Educação

Ambiental em nossas escolas.

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REFERÊNCIAS ANDRÉ et al. Estado da arte na formação de professores no Brasil. Revista Educação & Sociedade, ano XX, nº 68, dez/1999.

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