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REFLEXÃO CRÍTICA: A ERA DA PROSPERIDADE Universidade do Algarve - Escola Superior de Educação e Comunicação (ESEC) Curso Superior de Educação Social Ano letivo de 2014/2015 3.º Ano 1º Semestre Unidade Curricular: Desenvolvimento e Participação Docente: António Fragoso Discente: Cláudia Brito Número: 47027

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REFLEXÃO CRÍTICA: A ERA DA PROSPERIDADE

Universidade do Algarve - Escola Superior de

Educação e Comunicação (ESEC)

Curso Superior de Educação Social

Ano letivo de 2014/2015

3.º Ano – 1º Semestre

Unidade Curricular: Desenvolvimento e Participação

Docente: António Fragoso

Discente: Cláudia Brito

Número: 47027

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Todo desenvolvimento verdadeiramente humano significa o desenvolvimento conjunto

das autonomias individuais, das participações comunitárias e do sentimento de pertencer

à espécie humana

Edgar Morin

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A Segunda Guerra Mundial, ocorrida entre os anos 1939 e 1945, considerada o conflito

armado de maior dimensão na história da Humanidade até aos nossos dias, apresentou

consequências desastrosas não só a nível humano mas também económico e social.

Na Europa pós-guerra, o cenário é trágico e desesperante. As cidades destruídas, as vias

de comunicação cortadas, os campos abandonados, a escassez de combustíveis e de

alimentos, foram razões que levaram as economias à decadência e deixaram as

populações completamente desmoralizadas.

Durante esse período, duas superpotências, os Estados Unidos da América e a União

Soviética, com ideais políticos, militares, económicos e sociais divergentes, disputavam

a hegemonia política, económica e militar no mundo, após a 2ª Guerra Mundial (Guerra

Fria).

A expressão Guerra Fria, deve de ser entendida, como um conflito, entre os E.U.A e a

URSS, apenas no campo ideológico, pois nunca se registou um conflito militar direto

entre os dois países. Curiosamente, soube-se a determinada altura, que as duas

superpotências, detinham armamento nuclear, que utilizado em confronto direto resultaria

na destruição dos dois países e, provavelmente, num desastre global.

Assim, temos, duas ideologias divergentes: por um lado, a dos Estados Unidos da

América a defender a expansão do sistema capitalista, baseado na economia de mercado,

a propriedade privada e a democracia, e por outro lado, a da União Soviética, a defender

um sistema Socialista, baseado na economia planificada, partido único (partido

comunista), o fim da propriedade privada, a igualdade social e a “ausência” de

democracia.

Perante o clima de desânimo do pós-guerra, muitos europeus consideraram o comunismo

soviético uma alternativa para alterar as condições dos trabalhadores e tirá-los da crise, o

que justificou o crescimento do partido comunista em países como a França e a Itália.

Bastante perspicaz, Winston Churchill (primeiro-ministro britânico), percebendo a

influência da União Soviética (Cortina de Ferro), pressiona os EUA para que encontrem

uma estratégia para impedir que o Comunismo Soviético se expanda pela Europa. Em

Março de 1946, proferiu em Fulton, Missouri (Estados Unidos) um discurso em que

alertava para o facto da União Soviética ser inimiga dos valores ocidentais (democracia

e liberdade) e para a possibilidade do seu domínio europeu. Um ano mais tarde, sob

influência do primeiro-ministro britânico, Harry Truman, presidente dos E.U.A, anunciou

no Congresso Nacional a sua intenção de ajudar financeiramente os países devastados

pela guerra, para afastá-los do comunismo soviético e mante-los na esfera capitalista.

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Assim, em 1947, com os objetivos de evitar que a Europa Ocidental sucumbisse ao

domínio da União Soviética (comunismo) e de expandir os seus mercados, os Estados

Unidos da América, executam um plano de ajuda económica (Plano Marshall), concebido

a partir da doutrina de Truman, que visa a recuperação dos países europeus afetados pela

2ª guerra mundial. Dois anos mais tarde, em 1949, surge o COMECON (Council for

Mutual Economic Assistance), plano, criado pela URSS, que visava a unificação e o

desenvolvimento económico dos países do Leste Europeu.

Além dos planos económicos, foram ainda formados dois blocos militares pelas duas

superpotências rivais: OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte, pelos E.U.A,

em 1949, que tinha bases militares nos países membros (principalmente na Europa

Ocidental) e o Pacto de Varsóvia, em 1955, pela URSS, que defendia militarmente os

países socialistas.

Como nos mostrou o vídeo, a reação de pessoas, e mesmo de países, em relação ao Plano

Marshall, numa fase inicial, foi de desconfiança, pois temiam ser colonizados pelos

E.U.A (Imperialismo Americano). Mas, dadas as condições adversas em que se

encontravam os países devastados pela guerra, com o passar do tempo, a ajuda americana,

que chegava por mar e terra, sob a forma de géneros alimentícios (comboio da amizade,

em Itália, por exemplo), maquinaria, empréstimos, doações, etc., foi, inevitável e,

progressivamente, aceite por toda a Europa Ocidental. Mesmo na Itália e na França, onde

o partido Comunista obteve um crescimento considerável, a ajuda americana acabou por

ser acolhida.

No total, calcula-se que os E.U.A tenham injetado cerca de treze biliões de dólares para

ajudar ao crescimento e desenvolvimento de dezasseis países europeus, sendo que as

maiores fatias couberam à França, à Inglaterra, à Itália e à Alemanha. Será importante

salientar que esta ajuda se estendeu à União Soviética e aos países da Europa Oriental,

mas nenhum dos países sob domínio soviético o aceitou, porque Stalin a considerava uma

ameaça.

Poucos anos após a implementação do Plano Marshall, o crescimento económico dos

países europeus que recebiam ajuda americana, com a exceção da Alemanha, já tinham

alcançado níveis superiores aos registados no período pré-guerra. Nas décadas seguintes,

esta ajuda americana, que serviu como uma alavanca para as economias, permitiu que as

populações e países gozassem, nos trinta anos seguintes, de grande crescimento e

prosperidade económica – “30 Gloriosos Anos”.

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Mas, o Plano Marshall, não foi, a meu ver, como alguns defendem, um “ato” de

solidariedade, ele encerrou em si interesses económicos bem delineados. Certamente, os

E.U.A, perceberam que com a reconstrução económica da Europa, com a reestruturação

rápida das indústrias, as altas taxas de emprego, o nível de consumo das populações dos

países afetados pela guerra dispararia. Um grande crescimento económico estava

previsto, pelos E.U.A, através da exportação dos seus produtos e capitais para outros

mercados. Logicamente, também terão entendido que, da mesma forma que o

alargamento dos mercados traria prosperidade à América, o não escoamento dos seus

produtos os arrastaria para uma crise.

Ainda no que se refere à exportação de bens, os E.U.A, começaram a poder escoar os seus

produtos para a maior parte dos países europeus ocidentais, (alimentos, combustíveis,

produtos industrializados e outros), logo a partir da implementação do plano, uma vez

que estes ganharam poder de compra com os créditos oriundos do Plano Marshall).

Agora que percebemos as vantagens do Plano Marshall para os EUA, outras questões

tornam-se pertinentes: Qual a importância do Plano Marshall para a Europa? Que impacto

teve, a nível de crescimento e desenvolvimento, a não-aceitação do Plano Marshall para

os países da URSS? E, para Portugal?

O Plano Marshall foi importantíssimo para a Europa porque permitiu que esta saísse da

profunda crise em que se encontrava no pós 2º Guerra Mundial. Se compararmos os níveis

de crescimento e desenvolvimento dos países não aderentes ao Plano Marshall com os

aderentes, percebemos claramente a importância do mesmo para o crescimento e

desenvolvimento dos países que o integraram. A falta de democracia, o atraso económico,

e a crise das repúblicas soviéticas, que anteciparam a crise do socialismo, e vieram nos

finais de oitenta (1989) provocar a queda do Muro de Berlim, são factos que nos permitem

tirar essas conclusões.

No que se refere a Portugal, sabe-se que, numa fase inicial, Salazar recusou o Plano

Marshall, contra os interesses nacionais, por o considerar um plano económico com fins

hegemónicos e por temer a perda das colónias portuguesas. Podemos também supor que

a recusa de Salazar à ajuda americana teve a ver com o facto de Portugal ter sofrido apenas

os efeitos indiretos da Guerra. Apesar desta recusa inicial, em 1948 aceitou ser membro

da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), e, um ano

mais tarde (1949), da Nato (Organização do Tratado do Atlântico Norte), após ter

recebido ajuda financeira sobretudo no plano militar.

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Certo é que o facto de Salazar ter recusado o Plano Marshall, colocou Portugal em

desvantagem quando comparado com os países aderentes. Por outras palavras, a

abundância e prosperidade – 30 anos dourados – vivenciada pelas populações no período

pós-guerra dos países aderentes (ainda que variável de país para país), nunca existiram

em Portugal.

Obviamente que isto não significa que Portugal, e/ou a população portuguesa, se privou

só de uma vida de abundancia material - casas, carros, eletrodomésticos, turismo, bons

ordenados, etc.- ao estilo de vida americano, mas de obter outros proveitos advindos do

desenvolvimento proporcionados pela ajuda americana. Um bom exemplo disso, são por

exemplo, as baixas taxas de desemprego. Na Grã-Bretanha a taxa de desemprego era de

apenas 1% e a Alemanha carecia de trabalhadores. Da mesma forma que altas taxas de

desemprego têm repercussões na vida individual e coletiva das sociedades: a nível

individual, traduz-se em afetações ao bem-estar psicológico e físico do individuo, ao

suicídio, à desagregação social, que se se refletem na sociedade sob a forma de violência,

desigualdade social, aumento da criminalidade, etc.; as baixas taxas de desemprego

eliminam ou minimizam estes efeitos.

Se, tal como referido anteriormente, a ajuda americana permitiu que a Europa saísse da

crise em que encontrava no pós guerra, por outro lado, ela permitiu também criar a ilusão

de que a abundância seria eterna. Na década de 70 (crise petrolífera), assiste-se a um volte

face, com o aumento do preço do petróleo, que deixa europeus e americanos numa

posição de dependência face aos árabes, culminando aí os 30 anos gloriosos.

Se recuarmos no tempo, percebemos que a partir do século XIX, mas sobretudo com a

queda da Bolsa de NY (1929) e a subsequente Grande Depressão, o Liberalismo Clássico

caí em descrédito, abrindo portas para que teorias de intervenção do Estado na Economia

(Keynes) sejam implementadas. Contudo, a partir da crise petrolífera de 1973, seguida

pela onda inflacionária que surpreendeu os Estados Providência e pelo fim do padrão

dólar-ouro, o liberalismo, surge ferozmente, com uma nova roupagem “neoliberalismo”,

não cessando de criar, até aos nossos dias, grandes desigualdades sociais.

Para terminar esta reflexão critica, recorro ao filósofo Edgar Morin, que nos alerta, para

o facto de, a partir da década de 70, 80 e 90, os motores do progresso serem cada vez mais

ambivalentes. Quer isto dizer que, se por um lado, a ciência traz o progresso nos

conhecimentos (progresso humano), ela traz também as armas de destruição massiva.