Doenças do Trabalho e Síndrome de Burnout

download Doenças do Trabalho e Síndrome de Burnout

of 88

Transcript of Doenças do Trabalho e Síndrome de Burnout

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paran CECE Centro de Engenharias e Cincias Exatas Curso de ENGENHARIA QUMICA

Doenas do Trabalho e Sndrome de Burnout

TOLEDO - 2011

6

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paran CECE Centro de Engenharias e Cincias ExatasCurso de ENGENHARIA QUMICA

Doenas do Trabalho e Sndrome de Burnout

Acadmicos: Aline R. de Pauli Alison C. Braga Hlida M. Fagnani Maryana S. Gongoleski

Trabalho apresentado disciplina de Controle de Qualidade, ministrada pelo Professo Marcos Moreira, do 5 ano de Engenharia Qumica.

TOLEDO- 2011

ndice

1. O campo da sade do trabalhado51.2. Bases legais para as aes de sade do trabalhador51.3. Situao de sade dos trabalhadores no Brasil62. Doenas no trabalho72.1. Doenas infecciosas e parasitrias relacionadas ao trabalho72.2. Neoplasias (tumores) relacionadas ao trabalho92.3. Doenas do sangue e dos rgos hematopoticos relacionadas ao trabalho102.4. Doenas endcrinas, nutricionais e metablicas relacionadas ao trabalho112.5. Doenas do sistema nervoso relacionadas ao trabalho132.6. Doenas do olho e anexos relacionadas ao trabalho152.7. Doenas do ouvido relacionadas ao trabalho172.8. Doenas do sistema circulatrio relacionadas ao trabalho192.9. Doenas do sistema respiratrio relacionadas ao trabalho212.10. Doenas do sistema digestivo relacionadas ao trabalho232.11. Doenas da pele e do tecido subcutneo relacionadas ao trabalho262.12. Doenas do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo relacionadas ao trabalho292.13. Doenas do sistema gnito-urinrio relacionadas ao trabalho302.14. Doenas psicolgicas no trabalho322.14.1. Aspectos histricos372.14.2. Transtornos mentais e do comportamento382.14.2.1. Demncia392.14.2.2. Delirium, no sobreposto a demncia402.14.2.3. Transtorno cognitivo leve422.14.2.4. Transtorno orgnico de personalidade432.14.2.5. Transtorno mental orgnico ou sintomtico no-especificado452.14.2.6. Alcoolismo crnico relacionado ao trabalho472.14.2.7. Episdios depressivos502.14.2.8. Estado de estresse ps-traumtico522.14.2.9. Neurastemia (Inclui a Sndrome de Fadiga)552.14.2.10. Transtorno do ciclo sono-viglia573. Sndrome de Burnout583.1. Concepes tericas: perspectivas de estudo da sndrome de burnout613.2. Estresse e sndrome de burnout623.3 Sintomas633.4. Causas653.5 Instrumentos de avaliao713.6 Instrumentos jurdicos disponveis733.7 Formas de preveno ou interveno743.8. Estudo de Caso773.8.1. 1 Sndrome de Burnout em Professores: Estudo com Professores da rede Pblica da Cidade de Canoas773.8.1.1. Estudo773.8.1.2. Resultados do estudo793.8.1.3. Anlise dos Resultados824. Referncias84ANEXO I86

1. O campo da sade do trabalhador

Entre os determinantes da sade do trabalhador esto compreendidos os condicionantes sociais, econmicos, tecnolgicos e organizacionais responsveis pelas condies de vida e os fatores de risco ocupacionais fsicos, qumicos, biolgicos, mecnicos e aqueles decorrentes da organizao laboral presentes nos processos de trabalho. Assim, as aes de sade do trabalhador tm como foco as mudanas nos processos de trabalho que contemplem as relaes sade-trabalho em toda a sua complexidade, por meio de uma atuao multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial.Os trabalhadores, individual e coletivamente nas organizaes, so considerados sujeitos e partcipes das aes de sade, que incluem: o estudo das condies de trabalho, a identificao de mecanismos de interveno tcnica para sua melhoria e adequao e o controle dos servios de sade prestados.Na condio de prtica social, as aes de sade do trabalhador apresentam dimenses sociais, polticas e tcnicas indissociveis. Como conseqncia, esse campo de atuao tem interfaces com o sistema produtivo e a gerao da riqueza nacional, a formao e preparo da fora de trabalho, as questes ambientais e a seguridade social. De modo particular, as aes de sade do trabalhador devem estar integradas com as de sade ambiental, uma vez que os riscos gerados nos processos produtivos podem afetar, tambm, o meio ambiente e a populao em geral.

1.2. Bases legais para as aes de sade do trabalhadorA execuo das aes voltadas para a sade do trabalhador atribuio do SUS, prescritas na Constituio Federal de 1988 e regulamentadas pela LOS. O artigo 6. dessa lei confere direo nacional do Sistema a responsabilidade de coordenar a poltica de sade do trabalhador.A execuo das aes voltadas para a sade do trabalhador atribuio do SUS, prescritas na Constituio Federal de 1988 e regulamentadas pela LOS. Segundo o pargrafo 3. do artigo 6. da LOS, a sade do trabalhador definida como um conjunto de atividades que se destina, por meio das aes de vigilncia epidemiolgica e vigilncia sanitria, promoo e proteo da sade do trabalhador, assim como visa recuperao e reabilitao dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condies de trabalho. Esse conjunto de atividades abrange: A assistncia ao trabalhador vtima de acidente de trabalho ou portador de doena profissional e do trabalho; A participao em estudos, pesquisas, avaliao e controle dos riscos e agravos potenciais sade existentes no processo de trabalho; A participao na normatizao, fiscalizao e controle das condies de produo, extrao, armazenamento, transporte, distribuio e manuseio de substncias, de produtos, de mquinas e de equipamentos que apresentam riscos sade do trabalhador; A avaliao do impacto que as tecnologias provocam sade; A informao ao trabalhador, sua respectiva entidade sindical e s empresas sobre os riscos de acidente de trabalho, doena profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizaes, avaliaes ambientais e exames de sade, de admisso, peridicos e de demisso, respeitados os preceitos da tica profissional; A participao na normatizao, fiscalizao e controle dos servios de sade do trabalhador nas instituies e empresas pblicas e privadas; A reviso peridica da listagem oficial de doenas originadas no processo de trabalho; A garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao rgo competente a interdio de mquina, do setor, do servio ou de todo o ambiente de trabalho, quando houver exposio a risco iminente para a vida ou sade do trabalhador.

1.3. Situao de sade dos trabalhadores no BrasilNo Brasil, as relaes entre trabalho e sade do trabalhador conformam um mosaico, coexistindo mltiplas situaes de trabalho caracterizadas por diferentes estgios de incorporao tecnolgica, diferentes formas de organizao e gesto, relaes e formas de contrato de trabalho, que se refletem sobre o viver, o adoecer e o morrer dos trabalhadores.Essa diversidade de situaes de trabalho, padres de vida e de adoecimento tem se acentuado em decorrncia das conjunturas poltica e econmica. O processo de reestruturao produtiva, em curso acelerado no pas a partir da dcada de 90, tem conseqncias, ainda pouco conhecidas, sobre a sade do trabalhador, decorrentes da adoo de novas tecnologias, de mtodos gerenciais e da precarizao das relaes de trabalho.A adoo de novas tecnologias e mtodos gerenciais facilita a intensificao do trabalho que, aliada instabilidade no emprego, modifica o perfil de adoecimento e sofrimento dos trabalhadores, expressando-se, entre outros, pelo aumento da prevalncia de doenas relacionadas ao trabalho, como as Leses por Esforos Repetitivos (LER), tambm denominadas de Distrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT); o surgimento de novas formas de adoecimento mal caracterizadas, como o estresse e a fadiga fsica e mental e outras manifestaes de sofrimento relacionadas ao trabalho.

2. Doenas no trabalho2.1. Doenas infecciosas e parasitrias relacionadas ao trabalhoLista de doenas infecciosas e parasitrias relacionadas ao trabalho de acordo com a portaria /MS n. 1.339/1999: Tuberculose; Carbnculo (Antraz); Brucelose; Leptospirose; Ttano; Psitacose, ornitose, doena dos tratadores de aves; Dengue (dengue clssico); Febre amarela; Hepatites virais; Doena pelo vrus da imunodeficincia humana (HIV); Dermatofitose e outras micoses superficiais; Candidase; Paracoccidioidomicose (blastomicose sul americana, blastomicose brasileira, Doena de Lutz); Malria; Leishmaniose cutnea ou leishmaniose cutneo-mucosa;As doenas infecciosas e parasitrias relacionadas ao trabalho apresentam algumas caractersticas que as distinguem dos demais grupos: Os agentes etiolgicos no so de natureza ocupacional; A ocorrncia da doena depende das condies ou circunstncias em que o trabalho executado e da exposio ocupacional, que favorece o contato, o contgio ou a transmisso.So comuns s doenas infecciosas e parasitrias no relacionadas ao trabalho. Os agentes etiolgicos esto disseminados no meio ambiente, dependentes de condies ambientais e de saneamento e da prevalncia dos agravos na populao geral, vulnerveis s polticas gerais de vigilncia e da qualidade dos servios de sade. A delimitao entre o ambiente de trabalho e o ambiente externo freqentemente pouco precisa.Diversas plantas e animais produzem substncias alergnicas, irritativas e txicas com as quais os trabalhadores entram em contato, diretamente, por poeiras contendo plos, plen, esporos, fungos ou picadas e mordeduras. Muitas dessas doenas so originalmente zoonoses, que podem estar relacionadas ao trabalho. Entre os grupos mais expostos esto os trabalhadores da agricultura, da sade (em contato com pacientes ou materiais contaminados) em centros de sade, hospitais, laboratrios, necrotrios, em atividades de investigaes de campo e vigilncia em sade, controle de vetores e aqueles que lidam com animais. Tambm podem ser afetadas as pessoas que trabalham em habitat silvestre, como na silvicultura, em atividades de pesca, produo e manipulao de produtos animais, como abatedouros, curtumes, frigorficos, indstria alimentcia (carnes e pescados) e trabalhadores em servios de saneamento e de coleta de lixo.A preveno das doenas infecciosas e parasitrias relacionadas ao trabalho baseia-se nos procedimentos de vigilncia em sade do trabalhador: vigilncia epidemiolgica de agravos e vigilncia sanitria de ambientes e condies de trabalho, utilizando conhecimentos mdico-clnicos, de epidemiologia, higiene ocupacional, ergonomia, toxicologia, entre outras disciplinas, a percepo dos trabalhadores sobre seu trabalho e sade e as normas e regulamentos vigentes.As medidas preventivas especficas variam com a doena. O crescimento da incidncia de algumas doenas em trabalhadores da sade tem aumentado a conscincia da necessidade da preveno.

2.2. Neoplasias (tumores) relacionadas ao trabalhoO termo tumores ou neoplasias designa um grupo de doenas caracterizadas pela perda de controle do processo de diviso celular, por meio do qual os tecidos normalmente crescem e/ou se renovam, levando multiplicao celular desordenada. A inoperncia dos mecanismos de regulao e controle da proliferao celular, alm do crescimento incontrolvel, pode levar, no caso do cncer, invaso dos tecidos vizinhos e propagao para outras regies do corpo, produzindo metstase.O cncer pode surgir como conseqncia da exposio a agentes carcinognicos presentes no ambiente onde se vive e trabalha, decorrentes do estilo de vida e de fatores ambientais produzidos ou alterados pela atividade humana. Segundo dados do Instituto Nacional de Cncer (INCA, 1995), estima-se que 60 a 90% dos cnceres sejam devidos exposio a fatores ambientais. Em cerca de 30% dos casos, no tem sido possvel identificar a causa do cncer, sendo atribuda a fatores genticos e mutaes espontneas.A respeito dos agentes causadores de cncer, de modo geral, as informaes baseiam-se em estudos epidemiolgicos em animais e in vitro. Existem vrias classificaes dos produtos e ocupaes considerados cancergenos.Os cnceres relacionados ao trabalho diferem de outras doenas ocupacionais, entre outros, pelos seguintes aspectos: A despeito da legislao brasileira e de outros pases estabelecerem limites de tolerncia para diversas substncias carcinognicas, segundo o preconizado internacionalmente, no existem nveis seguros de exposio; Existem muitos tipos de cnceres; Os cnceres, em geral, desenvolvem-se muitos anos aps o incio da exposio, mesmo aps a cessao da exposio; Os cnceres ocupacionais no diferem, em suas caractersticas morfolgicas e histolgicas, dos demais cnceres; Em geral, existem exposies combinadas e/ou concomitantes. Por outro lado, tm em comum com outras doenas ocupacionais a dificuldade de relacionar as exposies doena e o fato de que so, em sua grande maioria, prevenveis.

2.3. Doenas do sangue e dos rgos hematopoticos relacionadas ao trabalhoLista de doenas do sangue e dos rgos hematopoticos relacionadas ao trabalho, com acordo com a portaria/MS n. 1.339/1999 Sndromes mielodisplsicas; Outras anemias devidas a transtornos enzimticos; Anemia hemoltica adquirida; Anemia aplstica devida a outros agentes externos e anemia aplstica no-especificada; Prpura e outras manifestaes hemorrgicas; Agranulocitose (neutropenia txica); Outros transtornos especificados dos glbulos brancos: leucocitose, reao leucemide; Metahemoglobinemia;O sistema hematopotico constitui um complexo formado pela medula ssea e outros rgos hemoformadores e pelo sangue. Na medula ssea so produzidas, continuamente, as clulas sangneas. Para que cumpram sua funo fisiolgica, os elementos celulares do sangue devem circular em nmero e estrutura adequados.Agresses ao sistema hematopotico podem ocorrer na medula ssea, afetando a clula primitiva multipotente ou qualquer das clulas dela derivadas, e na corrente sangnea, destruindo ou alterando a funo de clulas j formadas.O funcionamento do sistema hematopotico pode ser avaliado por meio da histria clnica e dos resultados dos exames fsico-laboratoriais. Uma histria ocupacional detalhada permite que se estabelea o nexo de uma possvel disfuno e/ou doena com o trabalho.A preveno das doenas do sangue e dos rgos hematopoticos relacionadas ao trabalho baseia-se nos procedimentos da vigilncia em sade do trabalhador: vigilncia dos ambientes e condies de trabalho e vigilncia dos agravos sade. Utilizam conhecimentos da clnica, da epidemiologia, da higiene do trabalho, da toxicologia, daergonomia e da psicologia, entre outras disciplinas, bem como da percepo dos trabalhadores sobre seu trabalho e a sade e das normas tcnicas e regulamentos vigentes. Esses procedimentos podem ser resumidos em: Reconhecimento prvio das atividades e locais de trabalho onde existam substncias qumicas, agentes fsicos e/ou biolgicos e fatores de risco, decorrentes da organizao do trabalho, potencialmente causadores de doena; Identificao dos problemas ou danos para a sade, potenciais ou presentes, decorrentes da exposio aos fatores de risco identificados; Identificao e proposio de medidas de controle que devem ser adotadas para a eliminao ou controle da exposio aos fatores de risco e para a proteo dos trabalhadores; Educao e informao aos trabalhadores e empregadores.

2.4. Doenas endcrinas, nutricionais e metablicas relacionadas ao trabalhoLista de doenas endcrinas, nutricionais e metablicas relacionadas ao trabalho, de acordo com a portaria n. 1.339/1999 Hipotireoidismo devido a substncias exgenas; Outras porfirias.Os efeitos ou danos sobre os sistemas endcrino, nutricional e metablico, decorrentes da exposio ambiental e ocupacional a substncias e agentes txicos so, ainda, pouco conhecidos. Porm, ainda que necessitando de estudos mais aprofundados, as seguintes situaes de trabalho so reconhecidas como capazes de produzir doenas: Utilizao de ferramentas vibratrias, como os marteletes pneumticos. Associado sndrome de Raynaudg, uma doena vascular perifrica, tem sido observado o comprometimento dos sistemas endcrino e nervoso central expresso por disfuno dos centros cerebrais autnomos, que necessita ser melhor avaliado; Extrao e manuseio de pedra-pome, provocando deficincia adrenal; Produo e uso de derivados do cido carbmico (carbamatos), utilizados como pesticidas, herbicidas e nematocidas. Os tiocarbamatos so utilizados, tambm, como aceleradores da vulcanizao e seus derivados empregados no tratamento de tumores malignos, hipxia, neuropatias e doenas provocadas pela radiao. Por mecanismo endcrino, so mutagnicos e embriotxicos; Em expostos ao chumbo tem sido observada forte correlao inversa entre a plumbemia e os nveis de vitamina D, alterando a homeostase extra e intracelular do clcio e interferindo no crescimento e maturao de dentes e ossos. Tambm tem sido descrita a ocorrncia de hipotireoidismo decorrente de um acometimento da hipfise; A exposio ao dissulfeto de carbono (CS2) reconhecida por seus efeitos sobre o metabolismo lipdico, acelerando o processo de aterosclerose (tambm conhecida como arteriosclerose). importante lembrar que um contaminante pode interferir na homeostase de mais de uma maneira e que, em certos casos, a toxicidade depende mais do tempo de exposio do que da dose.A preveno das doenas endcrinas, nutricionais e metablicas relacionadas ao trabalho baseia-se nos procedimentos de vigilncia dos agravos sade, dos ambientes e das condies de trabalho. Baseiam-se em conhecimentos mdico-clnicos, epidemiolgicos, de higiene ocupacional, toxicologia, ergonomia, psicologia, entre outras disciplinas, na percepo dos trabalhadores sobre o trabalho e a sade e nas normas tcnicas e regulamentos existentes.

2.5. Doenas do sistema nervoso relacionadas ao trabalhoQuanto avaliao de deficincias ou disfunes provocadas pelas doenas do sistema nervoso, os critrios propostos pela Associao Mdica Americana (AMA), em seus Guides to the Evaluation of Permanent Impairment (4. edio, 1995), podem ser teis se adaptados realidade brasileira. Os indicadores e parmetros utilizados pela AMA definem nove categorias de disfuno ou deficincia resultantes de distrbios neurolgicos: Distrbios da conscincia e da ateno; Afasia ou distrbios da comunicao; Estado mental e anormalidades das funes de integrao; Distrbios emocionais ou comportamentais; Tipos especiais de preocupao ou obsesso; Anormalidades sensoriais ou motoras importantes; Distrbios dos movimentos; Distrbios neurolgicos episdicos; Distrbios do sono.A vulnerabilidade do sistema nervoso aos efeitos da exposio ocupacional e ambiental a uma gama de substncias qumicas, agentes fsicos e fatores causais de adoecimento, decorrentes da organizao do trabalho, tem ficado cada vez mais evidente, traduzindo-se em episdios isolados ou epidmicos de doena nos trabalhadores.As manifestaes neurolgicas das intoxicaes decorrentes da exposio ocupacional a metais pesados, aos agrotxicos ou a solventes orgnicos, e de outras doenas do sistema nervoso relacionadas s condies de trabalho, costumam receber o primeiro atendimento na rede bsica de servios de sade. Quando isso ocorre, necessrio que os profissionais que atendem a esses trabalhadores estejam familiarizados com os principais agentes qumicos, fsicos, biolgicos e os fatores decorrentes da organizao do trabalho, potencialmente causadores de doena, para que possam caracterizar a relao da doena com o trabalho, possibilitando o diagnstico correto e o estabelecimento das condutas adequadas.Entre as formas de comprometimento neurolgico que podem estar relacionadas ao trabalho esto, por exemplo, ataxia e tremores semelhantes aos observados em doenas degenerativas do cerebelo (ataxia de Friedreich), que podem resultar de exposies ao tolueno, mercrio e acrilamida. Leses medulares, semelhantes s que ocorrem na neurossfilis, na deficincia de vitamina B12 e na esclerose mltipla, podem ser causadas pela intoxicao pelo tri-orto-cresilfosfato. Manifestaes de espasticidade, impotncia e reteno urinria, associadas esclerose mltipla, podem decorrer da intoxicao pela dietilaminoproprionitrila. A doena de Parkinson secundria, um distrbio de postura, com rigidez e tremor, pode resultar de efeitos txicos sobre os ncleos da base do crebro, decorrentes da exposio ao monxido de carbono, ao dissulfeto de carbono e ao dixido de mangans. Manifestaes de compresso nervosa, como na sndrome do tnel do carpo, podem estar relacionadas ao uso de determinadas ferramentas e posturas adotadas pelo trabalhador no desempenho de suas atividades. Para o diagnstico diferencial, a histria ocupacional e um exame neurolgico acurado so fundamentais.Semelhante ao que ocorre em outras doenas ocupacionais, na maioria dos casos, as neurolgicas relacionadas ao trabalho no tm tratamento especfico. Porm, alguns procedimentos devem ser adotados pelos profissionais dos servios de sade diante da suspeita ou da confirmao de uma doena, dos quais se destacam: Afastamento da exposio, nos casos em que a permanncia na atividade possa contribuir para o agravamento do quadro; Suporte de ordem geral para alvio da sintomatologia e melhoria da qualidade de vida do paciente.Lista de doenas do sistema nervoso relacionadas ao trabalho, de acordo com a portaria/MS n. 1.339/1999 Ataxia cerebelosa; Parkinsonismo secundrio devido a outros agentes externos; Outras formas especificadas de tremor; Transtorno extrapiramidal do movimento no-especificado; Distrbios do ciclo viglia-sono; Transtornos do nervo trigmeo; Transtornos do nervo olfatrio (inclui anosmia); Transtornos do plexo braquial (sndrome da sada do trax, sndrome do desfiladeiro torcico); Mononeuropatias dos membros superiores: sndrome do tnel do carpo; outras leses do nervo mediano: sndrome do pronador redondo; sndrome do canal de Guyon; leso do nervo cubital (ulnar): sndrome do tnel cubital; outras mononeuropatias dos membros superiores: compresso do nervo supra-escapular; Mononeuropatias do membro inferior: leso do nervo poplteo lateral; Outras polineuropatias: polineuropatia devida a outros agentes txicos e polineuropatia induzida pela radiao; Encefalopatia txica aguda.

2.6. Doenas do olho e anexos relacionadas ao trabalhoO aparelho visual vulnervel ao de inmeros fatores de risco para a sade presentes no trabalho, como, por exemplo, agentes mecnicos (corpos estranhos, ferimentos contusos e cortantes), agentes fsicos (temperaturas extremas, eletricidade, radiaes ionizantes e no-ionizantes), agentes qumicos, agentes biolgicos (picadas de marimbondo e plo de lagarta) e ao sobreesforo que leva astenopia induzida por algumas atividades de monitoramento visual.Os efeitos de substncias txicas sobre o aparelho visual tm sido reconhecidos como um importante problema de sade ocupacional. Segundo dados disponveis, mais da metade das substncias que constam da lista preparada pela ACGIH tm um efeito potencialmente lesivo sobre o olho e seus anexos. E, na medida em que so introduzidas novas substncias nos processos produtivos, esse nmero tende a aumentar.Os acidentes oculares so muito comuns, representando cerca de 12% de todos os acidentes ocupacionais na Finlndia, 4% na Frana e 3% das ocorrncias nos Estados Unidos da Amrica. Na Inglaterra, em estudo multicntrico recente, foram analisados 5.671 casos de acidentes oculares, dos quais 70% ocorreram no local de trabalho, atingindo homens adultos jovens na fase produtiva da vida. As manifestaes variam da sensao de dor, desconforto e alteraes na esttica at os transtornos graves da funo visual, temporrios ou permanentes.As principais medidas de proteo da sade e preveno da exposio aos fatores de risco so: Substituio de tecnologias de produo por outras menos arriscadas para a sade; Isolamento do agente/substncia ou enclausuramento do processo; Medidas rigorosas de higiene e segurana do trabalho, como adoo de sistemas de ventilao local exaustora e geral adequados e eficientes; utilizao de capelas de exausto; controle de vazamentos e incidentes, mediante manuteno preventiva e corretiva de mquinas e equipamentos, e acompanhamento de seu cumprimento; Monitoramento ambiental sistemtico; adoo de sistemas seguros de trabalho, operacionais, de transporte, de classificao e de rotulagem das substncias qumicas segundo propriedades toxicolgicas e toxicidade; Manuteno de adequadas condies ambientais gerais e de conforto para os trabalhadores e facilidades para higiene pessoal, como instalaes sanitrias adequadas, banheiros, chuveiros, pias com gua limpa corrente e em abundncia; vesturio adequado e limpo diariamente; Garantia de recursos adequados para o atendimento de situaes de emergncia, uma vez que o contato ou respingos de substncias qumicas nos olhos podem ameaar a viso, como chuveiros ou duchas lava-olhos em locais rapidamente acessveis. Os trabalhadores devem estar treinados para proceder imediatamente lavagem dos olhos, com gua corrente, por no mnimo cinco minutos, sendo em seguida encaminhados para avaliao especializada por oftalmologista; Diminuio do tempo de exposio e do nmero de trabalhadores expostos; Fornecimento de equipamentos de proteo individual adequados, com manuteno indicada, de modo complementar s medidas de proteo coletiva.Lista de doenas do olho e anexos relacionadas ao trabalho, de acordo com a portaria/MS n. 1.339/1999: Blefarite; Conjuntivite; Queratite e queratoconjuntivite; Catarata; Inflamao coriorretiniana; Neurite ptica; Distrbios visuais subjetivos.

2.7. Doenas do ouvido relacionadas ao trabalhoAs doenas otorrinolaringolgicas relacionadas ao trabalho so causadas por agentes ou mecanismos irritativos, alrgicos e/ou txicos. No ouvido interno, os danos decorrem da exposio a substncias neurotxicas e fatores de risco de natureza fsica, como rudo, presso atmosfrica, vibraes e radiaes ionizantes. Os agentes biolgicos esto, freqentemente, associados s otites externas, aos eventos de natureza traumtica e leso do pavilho auricular. A exposio ao rudo, pela freqncia e por suas mltiplas conseqncias sobre o organismo humano, constitui um dos principais problemas de sade ocupacional e ambiental na atualidade. A perda auditiva induzida pelo rudo um dos problemas de sade relacionados ao trabalho mais freqentes em todo mundo. Com base nas mdias de limiares auditivos medidos para as freqncias de 100, 2.000 e 3.000 Hz em trabalhadores, nos Estados Unidos, a OSHA estimou que 17% dos trabalhadores de produo no setor industrial daquele pas apresentam, no mnimo, algum dano auditivo leve. Na Itlia, h cerca de 10 anos, a perda auditiva induzida pelo rudo a doena ocupacional mais registrada, representando 53,7% das doenas relacionadas ao trabalho. Por outro lado, estudos tm demonstrado que os efeitos extra-auditivos da exposio ao rudo devem merecer uma ateno especial dos profissionais de sade, em decorrncia do amplo espectro das repercusses observadas.A proteo da sade e a preveno da exposio aos fatores de risco envolvem medidas de engenharia e higiene industrial, mudanas na organizao, gesto do trabalho e de controle mdico dos trabalhadores expostos, entre elas: Substituio do agente, substncia, ferramenta ou tecnologia de trabalho por outros mais seguros, menos txicos ou lesivos; Isolamento da mquina, agente ou substncia potencialmente lesivos, por meio de enclausuramento dos processos, suprimindo ou reduzindo a exposio; Medidas de higiene e segurana ocupacional, como a implantao e manuteno de sistemas de ventilao local exaustora adequados e eficientes, capelas de exausto, controle de vazamentos e incidentes por meio de manuteno preventiva e corretiva de mquinas e equipamentos, no caso dos agentes qumicos, e controle da emisso e propagao, nos casos de rudo; Monitoramento sistemtico dos agentes agressores; Adoo de sistemas de trabalho e operacionais seguros, por meio da classificao e rotulagem das substncias qumicas segundo propriedades toxicolgicas e toxicidade; Diminuio do tempo de exposio e do nmero de trabalhadores expostos; Facilidades para a higiene pessoal (instalaes sanitrias adequadas, banheiros, chuveiros, pias com gua limpa corrente e em abundncia; vesturio adequado e limpo diariamente); Informao e comunicao dos riscos aos trabalhadores; Utilizao de equipamentos de proteo individual, especialmente culos e mscaras adequadas a cada tipo de exposio, de modo complementar s medidas de proteo coletiva; Medidas de controle mdico e monitoramento biolgico dos trabalhadores expostos.As aes de controle mdico visam a identificar a doena em seu estado latente ou inicial, quando algum tipo de interveno pode reverter ou diminuir a velocidade de instalao e progresso dos processos patolgicos. Devem ser realizados exames admissional e peridico dos trabalhadores expostos, com utilizao de questionrios padronizados e exames fsicos e complementares direcionados para a avaliao do ouvido e da audio.Lista de doenas do ouvido relacionadas ao trabalho, de acordo com a portaria/MS n. 1.339/1999: Otite mdia no-supurativa (barotrauma do ouvido mdio); Perfurao da membrana do tmpano; Outras vertigens perifricas; Labirintite; Perda da audio provocada pelo rudo e trauma acstico; Hipoacusia ototxica; Otalgia e secreo auditiva; Outras percepes auditivas anormais: alterao temporria do limiar auditivo, comprometimento da discriminao auditiva e hiperacusia; Otite barotraumtica; Sinusite barotraumtica; Sndrome devida ao deslocamento de ar de uma exploso.

2.8. Doenas do sistema circulatrio relacionadas ao trabalhoApesar da crescente valorizao dos fatores pessoais, como sedentarismo, tabagismo e dieta, na determinao das doenas cardiovasculares, pouca ateno tem sido dada aos fatores de risco presentes na atividade ocupacional atual ou anterior dos pacientes. O aumento dramtico da ocorrncia de transtornos agudos e crnicos do sistema cardiocirculatrio na populao faz com que as relaes das doenas com o trabalho meream maior ateno. Observa-se, por exemplo, que a literatura mdica e a mdia tm dado destaque s relaes entre a ocorrncia de infarto agudo do miocrdio, doena coronariana crnica e hipertenso arterial, com situaes de estresse e a condio de desemprego, entre outras.Nos Estados Unidos, estima-se que de 1 a 3% das mortes por doena cardiovascular estejam relacionadas ao trabalho. Tem sido registrada a associao entre baixos nveis socioeconmicos e educacionais e o aumento da incidncia de doenas isqumicas coronarianas atribudas aos fatores psicossociais de estresse e aos fatores de risco pessoal, mas tambm a uma maior exposio a agentes qumicos, como solventes e fumos metlicos.No Brasil, as doenas cardiovasculares representam a primeira causa de bito, correspondendo a cerca de um tero de todas as mortes. A participao das doenas cardiovasculares na mortalidade do pas vem crescendo desde meados do sculo XX. Em 1950, apenas 14,2% das mortes ocorridas nas capitais dos estados brasileiros eram atribudas a molstias circulatrias. Passaram a 21,5% em 1960, 24,8% em 1970 e 30,8% em 1980. Em 1990, as doenas cardiovasculares contriburam com cerca de 32% de todos os bitos nas capitais dos estados brasileiros. Alm de contriburem de modo destacado para a mortalidade, as molstias do aparelho circulatrio so causas freqentes de morbidade, implicando 10,74 milhes de dias de internao pelo Sistema nico de Sade (SUS) e representando a principal causa de gastos em assistncia mdica, 16,2% do total (Lotufo & Lolio, 1995).Entre as causas de aposentadoria por invalidez, os estudos disponveis mostram que a hipertenso arterial destaca-se em primeiro lugar, com 20,4% das aposentadorias, seguida dos transtornos mentais (15%), das doenas osteoarticulares (12%) e de outras doenas do aparelho cardiocirculatrio, com 10,7%. Assim, as doenas cardiovasculares ocupam o primeiro e o quarto lugar de todas as causas de aposentadoria por invalidez e, juntas, representam quase um tero de todas as doenas que provocam incapacidade laborativa total e permanente (Medina, 1986).As medidas de promoo, proteo da sade e preveno das doenas do sistema circulatrio relacionadas ao trabalho esto baseadas, alm da mudana para um estilo de vida mais saudvel, em: Adoo de prticas de uso seguro de substncias qumicas e de outros agentes agressores presentes no ambiente de trabalho; Controle dos fatores relacionados organizao e gesto do trabalho geradores de estresse e de sobrecarga psicofisiolgica.Lista de doenas do sistema circulatrio relacionadas ao trabalho, de acordo com a portaria/MS n. 1.339/1999: Hipertenso arterial e doena renal hipertensiva ou nefrosclerose; Angina pectoris; Infarto agudo do miocrdio; Cor pulmonale SOE ou doena cardiopulmonar crnica; Placas epicrdicas ou pericrdicas; Parada cardaca; Arritmias cardacas; Aterosclerose e doena aterosclertica do corao; Sndrome de Raynaud; Acrocianose e acroparestesia.

2.9. Doenas do sistema respiratrio relacionadas ao trabalhoO sistema respiratrio constitui uma interface importante do organismo humano com o meio ambiente, particularmente com o ar e seus constituintes, gases e aerossis, sob a forma lquida ou slida. A poluio do ar nos ambientes de trabalho associa-se a uma extensa gama de doenas do trato respiratrio que acometem desde o nariz at o espao pleural. Entre os fatores que influenciam os efeitos da exposio a esses agentes esto as propriedades qumicas e fsicas dos gases e aerossis e as caractersticas prprias do indivduo, como herana gentica, doenas preexistentes e hbitos de vida, como tabagismo.As principais medidas de proteo da sade e preveno da exposio aos fatores de risco so: Substituio de tecnologias de produo por outras menos arriscadas para a sade; Isolamento do agente/substncia ou enclausuramento do processo; Medidas rigorosas de higiene e segurana do trabalho, como adoo de sistemas de ventilao local exaustora e geral adequados e eficientes; utilizao de capelas de exausto; controle de vazamentos e incidentes mediante manuteno preventiva e corretiva de mquinas e equipamentos e acompanhamento de seu cumprimento; Monitoramento ambiental sistemtico; adoo de sistemas seguros de trabalho, operacionais e de transporte; classificao e rotulagem das substncias qumicas segundo propriedades toxicolgicas e toxicidade; Manuteno de condies ambientais gerais e de conforto adequadas para os trabalhadores e facilidades para higiene pessoal, como instalaes sanitrias adequadas, banheiros, chuveiros, pias com gua limpa corrente e em abundncia; vesturio adequado e limpo diariamente; Diminuio do tempo de exposio e do nmero de trabalhadores expostos; Fornecimento de EPI adequados, com manuteno indicada, de modo complementar s medidas de proteo coletiva.As mscaras protetoras respiratrias devem ser utilizadas como medida temporria, em emergncias. Quando as medidas de proteo coletiva forem insuficientes, as mscaras devero ser criteriosamente indicadas para alguns setores ou funes. Os trabalhadores devem ser treinados apropriadamente para a sua utilizao. As mscaras devem ser de qualidade e adequadas s exposies, com filtros especficos para cada substncia manipulada ou para grupos de substncias passveis de serem retidas pelo mesmo filtro. Os filtros devem ser rigorosamente trocados conforme as recomendaes do fabricante.Lista de doenas do sistema respiratrio relacionadas ao trabalho, de acordo com a portaria/MS n. 1.339/1999: Faringite aguda no-especificada (angina aguda, dor de garganta); Laringotraquete aguda e laringotraquete crnica; Outras rinites alrgicas; Rinite crnica; Sinusite crnica; Ulcerao ou necrose do septo nasal e perfurao do septo nasal; Outras doenas pulmonares obstrutivas crnicas (inclui asma obstrutiva, bronquite crnica, bronquite smtica, bronquite obstrutiva crnica); Asma; Pneumoconiose dos trabalhadores do carvo; Pneumoconiose devida ao asbesto (asbestose) e a outras fibras mineirais; Pneumoconiose devida poeira de slica (silicose); Pneumoconiose devida a outras poeiras inorgnicas: beriliose, siderose e estanhose; Doenas das vias areas devidas a poeiras orgnicas: bissinose; Pneumonite por hipersensibilidade poeira orgnica: pulmo do granjeiro (ou pulmo do fazendeiro); bagaose; pulmo dos criadores de pssaros; suberose; pulmo dos trabalhadores de malte; pulmo dos que trabalham com cogumelos; doena pulmonar devida a sistemas de ar condicionado e de umidificao do ar; pneumonite de hipersensibilidade devida a outras poeiras orgnicas; pneumonites de hipersensibilidade devidas poeira orgnica no-especificada (alveolite alrgica extrnseca SOE; e pneumonite de hipersensibilidade SOE); Afeces respiratrias devidas inalao de produtos qumicos, gases, fumaas e vapores: bronquite e pneumonite (bronquite qumica aguda); edema pulmonar agudo (edema pulmonar qumico); sndrome da disfuno reativa das vias areas e afeces respiratrias crnicas; Derrame pleural e placas pleurais; Enfisema intersticial; Transtornos respiratrios em outras doenas sistmicas do tecido conjuntivo classificadas em outra parte: sndrome de Caplan.

2.10. Doenas do sistema digestivo relacionadas ao trabalhoA abordagem das doenas do sistema digestivo relacionadas ao trabalho tem se restringido, nos textos clssicos de patologia do trabalho, s doenas do fgado e vias biliares. Entretanto, apesar da indiscutvel importncia dessas doenas, outros transtornos tambm devem ser considerados.As doenas do aparelho digestivo relacionadas, ou no, ao trabalho esto entre as causas mais freqentes de absentesmo e de limitao para as atividades sociais e ocupacionais. Isso exige dos profissionais que prestam assistncia ao trabalhador o preparo para identificar a contribuio do trabalho na sua determinao e/ou agravamento de condies preexistentes. Entre os fatores importantes para a ocorrncia das doenas digestivas relacionadas ao trabalho esto agentes fsicos, substncias txicas, fatores da organizao do trabalho, como estresse, situaes de conflito, tenso, trabalho em turnos, fadiga, posturas foradas, horrios e condies inadequadas para alimentao.O sistema digestivo uma das portas de entrada dos agentes txicos no organismo e, apesar de menos vulnervel do que o trato respiratrio, tem papel essencial no metabolismo e excreo da substncia txica, independentemente de sua via de penetrao. Algumas substncias qumicas utilizadas no trabalho podem causar leso no local de penetrao, afetando diretamente boca, dentes e/ou regies contguas, como faringe, estmago, intestino e fgado. Substncias como os solventes podem causar leso heptica por meio de metablitos citotxicos.Substncias neurotrpicas, como o sulfeto de carbono, agem sobre o plexo nervoso intramural do intestino. O fgado, juntamente com os rins, tem um papel primordial nos processos de desintoxicao. Sndromes gastrintestinais graves podem decorrer da intoxicao por fsforo, arsnio e mercrio, manifestando-se por vmito, clica e evacuaes mucosanguinolentas, podendo ser acompanhadas por danos hepticos irreversveis. As hepatites infecciosas relacionadas ao trabalho merecem ateno especial pela freqncia das situaes de exposio ocupacional a agentes infecciosos, a calor e frio intensos, e pela possibilidade de evolurem para cirrose.Entre os fatores de risco fsico presentes no trabalho que podem lesar o sistema digestivo, esto radiaes ionizantes, vibrao, rudo, temperaturas extremas (calor e frio) e exposio a mudanas rpidas e radicais de temperatura ambiente. Queimaduras, se extensas, podem causar lcera gstrica e leso heptica. Posies foradas no trabalho podem causar alteraes digestivas, particularmente na presena de condies predisponentes, como hrnia paraesofageana e visceroptose.Os fatores relacionados organizao do trabalho so responsveis pela crescente ocorrncia de problemas e queixas gastrintestinais entre os trabalhadores. Condies de fadiga fsica patolgica, trabalho muito pesado, trabalho em turnos, situaes de conflito e de estresse, exigncias de produtividade, controle excessivo e relaes de trabalho despticas podem desencadear quadros de dor epigstrica, regurgitao e aerofagia, diarria e, mesmo, lcera pptica.A proteo da sade e a preveno da exposio aos fatores de risco envolvem medidas de engenharia e higiene industrial, mudanas na organizao e gesto do trabalho e medidas de controle mdico dos trabalhadores expostos, entre elas: Substituio do agente, substncia, ferramenta ou tecnologia de trabalho por outros mais seguros, menos txicos ou lesivos; Isolamento da mquina, agente e substncia potencialmente lesiva, por meio de enclausuramento do processo, suprimindo ou reduzindo a exposio; Medidas de higiene e segurana ocupacional, como implantao e manuteno de sistemas de ventilao local exaustora adequados e eficientes, capelas de exausto, controle de vazamentos e incidentes, por meio de manuteno preventiva e corretiva de mquinas e equipamentos, monitoramento sistemtico dos agentes agressores; Adoo de sistemas de trabalho e operacionais seguros, por meio da classificao e rotulagem das substncias qumicas, segundo propriedades toxicolgicas e toxicidade; Diminuio do tempo de exposio e do nmero de trabalhadores expostos; Facilidades para a higiene pessoal (instalaes sanitrias adequadas, banheiros, chuveiros, pias com gua limpa corrente e em abundncia; vesturio adequado e limpo diariamente); Informao e comunicao dos riscos aos trabalhadores; Utilizao de equipamentos de proteo individual, especialmente culos e mscaras adequadas a cada tipo de exposio, de modo complementar s medidas de proteo coletiva; Medidas de controle mdico e monitoramento biolgico dos trabalhadores expostos.Lista de doenas do sistema digestivo relacionadas ao trabalho, de acordo com a portaria/MS n. 1.339/1999: Eroso dentria; Alteraes ps-eruptivas da cor dos tecidos duros dos dentes; Gengivite crnica; Estomatite ulcerativa crnica; Gastroenterite e colite txicas; Clica do chumbo; Doena txica do fgado: com Necrose Heptica; com Hepatite Aguda; com Hepatite Crnica Persistente; com outros Transtornos Hepticos; Hipertenso portal.

2.11. Doenas da pele e do tecido subcutneo relacionadas ao trabalhoAs dermatoses ocupacionais compreendem as alteraes da pele, mucosas e anexos, direta ou indiretamente causadas, mantidas ou agravadas pelo trabalho. So determinadas pela interao de dois grupos de fatores: Predisponentes ou causas indiretas, como idade, sexo, etnia, antecedentes mrbidos e doenas concomitantes, fatores ambientais, como o clima (temperatura, umidade), hbitos e facilidades de higiene; Causas diretas constitudas pelos agentes biolgicos, fsicos, qumicos ou mecnicos presentes no trabalho que atuariam diretamente sobre o tegumento, produzindo ou agravando uma dermatose preexistente.Cerca de 80% das dermatoses ocupacionais so produzidas por agentes qumicos, substncias orgnicas e inorgnicas, irritantes e sensibilizantes. A maioria de tipo irritativo e um menor nmero de tipo sensibilizante (Ali, 1994). As dermatites de contato so as dermatoses ocupacionais mais freqentes. Estima-se que, juntas, as dermatites alrgicas de contato e as dermatites de contato por irritantes representem cerca de 90% dos casos das dermatoses ocupacionais. Apesar de, na maioria dos casos, no produzirem quadros considerados graves, so, com freqncia, responsveis por desconforto, prurido, ferimentos, traumas, alteraes estticas e funcionais que interferem na vida social e no trabalho.O tratamento das dermatoses ocupacionais varia de acordo com a gravidade das leses e com as causas que as determinam e deve ser orientado por especialista. Muitas vezes, medicamentos tpicos, como pomadas e cremes contendo corticides, picrato de butesin, antimicticos, prometazina, entre outros, se mal utilizados, podem determinar iatrogenia, causando sensibilizao ou agravando o quadro preexistente. O mesmo se aplica medicao sistmica, como, por exemplo, anti-histamnicos, antibiticos e corticides por via oral e parenteral. fundamental aos trabalhadores a garantia de condies para limpeza e higiene pessoal nos locais de trabalho, entre elas: Existncia e acesso fcil a gua corrente, quente e fria, em abundncia, com chuveiros, torneiras, toalhas e agentes de limpeza apropriados. Chuveiros de emergncia devem estar disponveis em ambientes onde so utilizadas substncias qumicas corrosivas. Podem ser necessrios banhos por mais de uma vez por turno e troca do vesturio em caso de respingos e contato direto com essas substncias; Utilizao de sabes ou sabonetes neutros ou os mais leves possveis; Disponibilidade de limpadores e toalhas de mo para limpeza sem gua para leos, graxas e sujeiras aderentes. Nunca deve ser usado solventes, como querosene, gasolina, thinner, para limpeza da pele; eles dissolvem a barreira cutnea (camada protetora de gordura da pele), induzem dermatite irritativa e predispem dermatite de contato; Creme hidratante para ser usado nas mos, especialmente se for necessrio lav-las com freqncia; Roupas protetoras com a finalidade de bloquear o contato da substncia com a pele. Os uniformes e aventais devem estar limpos e ser lavados e trocados diariamente. A roupa deve ser escolhida de acordo com o local da pele que necessita de proteo e com o tipo de substncia qumica envolvida, incluindo luvas de diferentes comprimentos, sapatos e botas, aventais e macaces, de materiais diversos: plstico, borracha natural ou sinttica, fibra de vidro, metal ou combinao de materiais. Capacetes, bons, gorros, culos de segurana e proteo respiratria tambm podem ser necessrios; O vesturio contaminado deve ser lavado na prpria empresa, com os cuidados apropriados. Em caso de contratao de empresa especializada para esta lavagem, devem ser tomadas medidas de proteo adequadas ao tipo de substncia tambm para esses trabalhadores.Lista de doenas da pela e do tecido subcutneo relacionadas ao trabalho, de acordo com a portaria/MS n. 1.339/1999: Dermatoses ppulo-pustulosas e suas complicaes infecciosas; Dermatite alrgica de contato; Dermatites de contato por irritantes; Urticria de Contato; Queimadura solar; Outras alteraes agudas da pele devidas radiao ultravioleta: dermatite por fotocontato (dermatite de berloque); urticria solar; outras alteraes agudas especificadas e outras alteraes sem outra especificao; Alteraes da pele devidas exposio crnica radiao no-ionizante: ceratose actnica; dermatite solar, pele de fazendeiro, pele de marinheiro; Radiodermatites (aguda, crnica e no-especificada); Outras formas de acne: cloracne; Outras formas de cistos foliculares da pele e do tecido subcutneo: elaioconiose ou dermatite folicular; Outras formas de hiperpigmentao pela melanina: melanodermia; Leucodermia, no classificada em outra parte (inclui vitiligo ocupacional); Porfiria cutnea tardia; Ceratose palmar e plantar adquirida; lcera crnica da pele no classificada em outra parte; Geladura (frostbite).

2.12. Doenas do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo relacionadas ao trabalhoAs doenas do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo relacionadas ao trabalho inclui entidades representativas de dois extremos da patologia ocupacional: de um lado, doenas antigas, praticamente inexistentes na atualidade, como a gota induzida pelo chumbo, a fluorose do esqueleto, a osteomalacia e, de outro, o grupo DORT, tambm conhecidas por LER ou Cumulative Trauma Disorders (CTD), Repetitive Strain Injury (RSI), Occupational Overuse Syndrome (OOS) e Occupational Cervicobrachial Diseases (OCD), nos pases anglofnicos, de crescente importncia mdico-social, em todo mundo.Os sinais e sintomas de LER/DORT so mltiplos e diversificados, destacando-se: Dor espontnea ou movimentao passiva, ativa ou contra-resistncia; Alteraes sensitivas de fraqueza, cansao, peso, dormncia, formigamento, sensao de diminuio, perda ou aumento de sensibilidade, agulhadas, choques; Dificuldades para o uso dos membros, particularmente das mos, e, mais raramente, sinais flogsticos e reas de hipotrofia ou atrofia.Para o diagnstico, importante a descrio cuidadosa desses sinais e sintomas quanto localizao, forma e momento de instalao, durao e caracterizao da evoluo temporal, intensidade, bem como aos fatores que contribuem para a melhora ou agravamento do quadro.No Brasil, o aumento na incidncia de LER/DORT pode ser observado nas estatsticas do INSS de concesso de benefcios por doenas profissionais. Segundo os dados disponveis, respondem por mais de 80% dos diagnsticos que resultaram em concesso de auxlio-acidente e aposentadoria por invalidez pela Previdncia Social em 1998. O mesmo fenmeno pode ser observado na casustica atendida nos CRST na rede pblica de servios de sade (Ncleo de Referncia em Doenas Ocupacionais da Previdncia Social Nusat, 1998).A preveno das LER/DORT baseia-se na capacitao tcnica e definio poltica para: Avaliao dos fatores de risco para a sade dos trabalhadores, a partir da inspeo aos locais de trabalho e entrevistas com trabalhadores, reconhecendo situaes que podem demandar avaliao ergonmica; Identificao dos problemas ou danos potenciais para a sade, decorrentes da exposio aos fatores de risco; Proposio das medidas a serem adotadas para eliminao ou controle da exposio aos fatores de risco e proteo dos trabalhadores; Utilizao dos recursos de vigilncia em sade e de fiscalizao do trabalho, para verificar a obedincia, pelo empregador, de suas obrigaes em relao identificao, avaliao e documentao dos fatores de risco existentes no processo de trabalho e adoo de medidas corretivas de controle ambiental e de sade do trabalhador.

2.13. Doenas do sistema gnito-urinrio relacionadas ao trabalhoA exposio ambiental e/ou ocupacional a agentes biolgicos, qumicos e farmacolgicos pode lesar, de forma aguda ou crnica, os rins e o trato urinrio. O diagnstico diferencial nos casos decorrentes de intoxicao medicamentosa facilitado pelo relato do paciente ou de seus familiares e pela evoluo, geralmente, aguda e reversvel. Porm, os demais agentes desencadeiam quadros insidiosos crnicos, dificultando sua identificao e aumentando a possibilidade de dano.O sofrimento, o comprometimento da qualidade de vida, a morte do trabalhador vtima de uma doena renal ou do trato urinrio, o custo social decorrente de sua incapacidade para o trabalho, os tratamentos dispendiosos a que dever ser submetido, como os procedimentos de dilise ou transplante renal, entre outros, aumentam a importncia do controle e monitoramento dos ambientes e condies de trabalho em que esto presentes fatores de risco de leso para o sistema gnito-urinrio. Reforam, tambm, a necessidade de acompanhamento, de controle mdico e indicao de afastamento da exposio ao primeiro sinal de alterao, evitando comprometimentos mais graves.A proteo sade e a preveno da exposio aos fatores de risco envolvem medidas de engenharia e higiene industrial, mudanas na organizao e gesto do trabalho e de controle mdico dos trabalhadores expostos, dentre as quais esto: Substituio do agente, da substncia, da ferramenta ou da tecnologia de trabalho por outros mais seguros, menos txicos ou lesivos; Isolamento da mquina, agente, ou substncia potencialmente lesivos, por meio de enclausuramento do processo, suprimindo ou reduzindo a exposio; Adoo de medidas de higiene e segurana ocupacional, como implantao e manuteno de sistemas de ventilao local exaustora adequadas e eficientes, capelas de exausto, controle de vazamentos e incidentes por meio de manuteno preventiva e corretiva de mquinas e equipamentos; Monitoramento sistemtico dos agentes agressores; Adoo de sistemas de trabalho e operacionais seguros, por meio da classificao e rotulagem das substncias qumicas segundo propriedades toxicolgicas e toxicidade; Diminuio do tempo de exposio e do nmero de trabalhadores expostos; Facilidades para a higiene pessoal (instalaes sanitrias adequadas, banheiros, chuveiros, pias com gua limpa corrente e em abundncia; vesturio adequado e limpo diariamente); Informao e comunicao dos riscos aos trabalhadores; Utilizao de EPI, especialmente culos e mscaras adequadas a cada tipo de exposio, de modo complementar s medidas de proteo coletiva; Controle mdico e monitoramento biolgico dos trabalhadores expostos.Lista de doenas do sistema gnito-urinrio relacionadas ao trabalho, de acordo com a portaria/MS n. 1.339/1999: Sndrome nefrtica aguda; Doena glomerular crnica; Nefropatia tbulo-intersticial induzida por metais pesados; Insuficincia renal aguda; Insuficincia renal crnica; Cistite aguda; Infertilidade masculina.

2.14. Doenas psicolgicas no trabalho Segundo estimativa da Organizao Mundial da Sade (OMS), os transtornos mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores ocupados, e os transtornos mentais graves, cerca de 5 a 10%. No Brasil, dados do INSS sobre a concesso de benefcios previdencirios de auxlio-doena, por incapacidade para o trabalho superior a 15 dias e de aposentadoria por invalidez, por incapacidade definitiva para o trabalho, mostram que os transtornos mentais, com destaque para o alcoolismo crnico, ocupam o terceiro lugar entre as causas dessas ocorrncias (Medina, 1986).O trabalho responsvel pela integrao social, seja por seu valor econmico, seja pelo aspecto cultural, assim, possui importncia fundamental na constituio da subjetividade, no modo de vida e, portanto, na sade fsica e mental das pessoas. A contribuio do trabalho para as alteraes da sade mental das pessoas d-se a partir de ampla gama de aspectos: desde fatores pontuais, como a exposio a determinado agente txico, at a complexa articulao de fatores relativos organizao do trabalho, como a diviso e parcelamento das tarefas, as polticas de gerenciamento das pessoas e a estrutura hierrquica organizacional. Os transtornos mentais e os comportamentos relacionados ao trabalho resultam, assim, no de fatores isolados, mas de contextos de trabalho que interagem o corpo e a mente dos trabalhadores. As aes no ato de trabalhar podem atingir o corpo dos trabalhadores, produzindo disfunes e leses biolgicas, mas tambm reaes psquicas s situaes de trabalho patognicas, alm de poderem desencadear processos psicopatolgicos especificamente relacionados s condies do trabalho desempenhado pelo trabalhador.Em decorrncia do lugar de destaque que o trabalho ocupa na vida das pessoas, sendo fonte de garantia de subsistncia e de posio social, a falta de trabalho ou mesmo a ameaa de perda do emprego geram sofrimento psquico, pois ameaam a subsistncia e a vida material do trabalhador e de sua famlia. Ao mesmo tempo abala o valor subjetivo que a pessoa se atribui, gerando sentimentos de menos-valia, angstia, insegurana, desnimo e desespero, caracterizando quadros ansiosos e depressivos. (Dias, 2001)A constante reestruturao da produo, diminuio do quadro de funcionrios, incorporao tecnolgica existente no atual quadro econmico mundial, que gera as condies de insegurana no emprego repercutindo sobre a sade mental dos trabalhadores. O trabalho ocupa, tambm, um lugar fundamental na dinmica do investimento afetivo das pessoas. Condies favorveis livre utilizao das habilidades dos trabalhadores e ao controle do trabalho pelos trabalhadores tm sido identificadas como importantes requisitos para que o trabalho possa proporcionar prazer, bem-estar e sade, deixando de provocar doenas. Por outro lado, o trabalho desprovido de significao, sem suporte social, no-reconhecido ou que se constitua em fonte de ameaa integridade fsica e/ou psquica, pode desencadear sofrimento psquico.Situaes variadas como um fracasso, um acidente de trabalho, uma mudana de posio (ascenso ou queda) na hierarquia freqentemente determinam quadros psicopatolgicos diversos, desde os chamados transtornos de ajustamento ou reaes ao estresse at depresses graves e incapacitantes, variando segundo caractersticas do contexto da situao e do modo do indivduo responder a elas.O processo de comunicao dentro do ambiente de trabalho, moldado pela cultura organizacional, tambm considerado fator importante na determinao da sade mental. Ambientes que impossibilitam a comunicao espontnea, a manifestao de insatisfaes, as sugestes dos trabalhadores em relao organizao ou ao trabalho desempenhado provocaro tenso e, por conseguinte, sofrimento e distrbios mentais. Freqentemente, o sofrimento e a insatisfao do trabalhador manifestam-se no apenas pela doena, mas nos ndices de absentesmo, conflitos interpessoais e trabalho extra. Os fatores relacionados ao tempo e ao ritmo de trabalho so muito importantes na determinao do sofrimento psquico relacionado ao trabalho. Jornadas de trabalho longas, com poucas pausas destinadas ao descanso e/ou refeies de curta durao, em lugares desconfortveis, turnos de trabalho noturnos, turnos alternados ou turnos iniciando muito cedo pela manh; ritmos intensos ou montonos; submisso do trabalhador ao ritmo das mquinas, sob as quais no tem controle; presso de supervisores ou chefias por mais velocidade e produtividade causam, com freqncia, quadros ansiosos, fadiga crnica e distrbios do sono. Estudos tm demonstrado que alguns metais pesados e solventes podem ter ao txica direta sobre o sistema nervoso, determinando distrbios mentais e alteraes do comportamento, que se manifestam por irritabilidade, nervosismo, inquietao, distrbios da memria e da cognio, inicialmente pouco especficos e, por fim, com evoluo crnica, muitas vezes irreversvel e incapacitante.Os acidentes de trabalho podem ter conseqncias mentais quando, por exemplo, afetam o sistema nervoso central, como nos traumatismos crnio-enceflicos com contuso. A vivncia de acidentes de trabalho que envolvem risco de vida ou que ameaam a integridade fsica dos trabalhadores determinam, por vezes, quadros psicopatolgicos tpicos, caracterizados como sndromes psquicas ps-traumticas. Podem surgir ainda sndromes relacionadas disfuno ou leso cerebral, sobrepostas a sintomas psquicos, combinando-se ainda deteriorao da rede social em funo de mudanas no panorama econmico do trabalho, agravando os quadros psiquitricos.A preveno dos transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho baseia-se nos procedimentos de vigilncia dos agravos sade e dos ambientes e condies de trabalho. Utiliza conhecimentos mdico-clnicos, epidemiolgicos, de higiene ocupacional, toxicologia, ergonomia, psicologia, entre outras disciplinas, valoriza a percepo dos trabalhadores sobre seu trabalho e a sade e baseia-se nas normas tcnicas e regulamentos vigentes, envolvendo: Reconhecimento prvio das atividades e locais de trabalho onde existam substncias qumicas, agentes fsicos e/ou biolgicos e os fatores de risco decorrentes da organizao do trabalho potencialmente causadores de doena; Identificao dos problemas ou danos potenciais para a sade, decorrentes da exposio aos fatores de risco identificados; Identificao e proposio de medidas que devem ser adotadas para a eliminao ou controle da exposio aos fatores de risco e para proteo dos trabalhadores; Educao e informao aos trabalhadores e empregadores.O monitoramento da sade do trabalhador deve considerar a multiplicidade de fatores envolvidos na determinao das doenas mentais que alguns casos, so de natureza qumica e em outros intrinsecamente relacionados s formas de organizao e gesto do trabalho ou mesmo da ausncia de trabalho e em muitos casos decorrem de uma ao sinrgica desses fatores.A partir da confirmao do diagnstico da doena e do estabelecimento de sua relao com o trabalho os servios de sade responsveis pela ateno sade do trabalhador devem implementar as seguintes aes: Avaliao da necessidade de afastamento (temporrio ou permanente) do trabalhador da exposio, do setor de trabalho ou do trabalho como um todo; Se o trabalhador segurado pelo SAT da Previdncia Social, solicitar a emisso da CAT empresa, preencher o LEM e encaminhar ao INSS. Em caso de recusa de emisso da CAT pela empresa, o mdico assistente (ou servio mdico) deve faz-lo; Acompanhamento da evoluo do caso, registro de pioras e agravamento da situao clnica e sua relao com o retorno ao trabalho; Notificao do agravo ao sistema de informao de morbidade do SUS, Delegacia Regional do Trabalho e ao sindicato ao qual pertence o trabalhador; Vigilncia epidemiolgica, por meio da busca ativa de outros casos na mesma empresa ou ambiente de trabalho ou em outras empresas do mesmo ramo de atividade na rea geogrfica; Inspeo na empresa ou ambiente de trabalho de origem do paciente ou em outras empresas do mesmo ramo de atividade na rea geogrfica, procurando identificar os fatores de risco para a sade e as medidas de proteo coletiva e equipamentos de proteo individual utilizados: se necessrio, Complementar a identificao do agente (qumico, fsico ou biolgico), das condies de trabalho determinantes do agravo e de outros fatores de risco que podem estar contribuindo para a ocorrncia; Recomendao ao empregador sobre as medidas de proteo e controle a serem adotadas, informando-as aos trabalhadores.A definio de disfuno e incapacidade causada pelos transtornos mentais e do comportamento relacionados com o trabalho, difcil. Os indicadores e parmetros propostos pela AMA (Associao Mdica Americana) organizam a disfuno ou deficincia causadas pelos transtornos mentais e do comportamento em quatro reas:Limitaes em atividades da vida diria: que incluem atividades como autocuidado, higiene pessoal, comunicao, viagens, repouso, sono, atividades sexuais, exerccio de atividades sociais e recreacionais. O que avaliado no simplesmente o nmero de atividades que esto restritas ou prejudicadas, mas conjunto de restries ou limitaes que, eventualmente, afetam o indivduo como um todo;Exerccio de funes sociais: refere-se capacidade do indivduo de interagir apropriadamente e comunicar-se eficientemente com outras pessoas. Inclui a capacidade de conviver com outros, tais como membros de sua famlia, amigos, vizinhos, atendentes e balconistas no comrcio, zeladores de prdios, motoristas de txi ou nibus, colegas de trabalho, supervisores ou supervisionados, sem alteraes, agresses ou sem o isolamento do indivduo em relao ao mundo que o cerca;Concentrao, persistncia e ritmo: tambm denominados capacidade de completar ou levar a cabo tarefas. Estes indicadores ou parmetros referem-se capacidade de manter a ateno focalizada o tempo suficiente para permitir a realizao cabal, em tempo adequado, de tarefas comumente encontradas no lar, na escola, ou nos locais de trabalho. Essas capacidades ou habilidades podem ser avaliadas por qualquer pessoa, principalmente se for familiarizada com o desempenho anterior, basal ou histrico do indivduo. Eventualmente, a opinio de profissionais psiclogos ou psiquiatras, com bases mais objetivas, poder ajudar a avaliao;Deteriorao ou descompensao no trabalho: refere-se a falhas repetidas na adaptao a circunstncias estressantes. Frente a situaes ou circunstncias mais estressantes ou de demanda mais elevada, os indivduos saem, desaparecem ou manifestam exacerbaes dos sinais e sintomas de seu transtorno mental ou comportamental. Em outras palavras, descompensam e tm dificuldade de manter as atividades da vida diria, o exerccio de funes sociais e a capacidade de completar ou levar a cabo tarefas. Aqui, situaes de estresse, comuns em ambientes de trabalho, podem incluir o atendimento de clientes, a tomada de decises, a programao de tarefas, a interao com supervisores e colegas.

2.14.1. Aspectos histricos Historicamente a insalubridade e a periculosidade sempre estiveram presentes na maioria dos locais de trabalho. Basta lembrar, dentre inmeros exemplos, das intoxicaes por metais pesados (chumbo, mercrio, mangans, etc.) e das longas e exaustivas jornadas de trabalho, comum nas primeiras dcadas do sculo passa, que provocaram graves sofrimentos e minimizavam a sade fsica e mental do trabalhador. O desenvolvimento do trabalho est relacionado evoluo da medicina e da psiquiatria. Nos povos da antiguidade, como mesopotmicos (cerca de 2500 a.C.), as doenas mentais eram atribudas possesso demonaca, sendo tratadas por mtodos mgico-religiosos atravs da figura dos mdicos-sacerdotes. Papiros egpcios j mostravam por volta de 1550 a.C. a descrio do crebro, como a sede das funes mentais e os hebreus (1000 a.C.) acreditavam em um nico Deus, causador da sade e da doena. Os primeiros relatos surgem a partir da civilizao grega antiga com Hipcrates (460 a 375 a.C.) que constatou as conseqncias danosas do meio ambiente no trabalhador ao descrever a intoxicao saturnina em um manuscrito clssico denominado Ares, guas e Lugares. Outros filsofos e poetas daquela era tambm relatavam a insanidade mental de trabalhadores.Com a evoluo do pensamento e do conhecimento, foi reconhecido pelos filsofos as funes da mente, e em 1700 Ramazzini conhecido como o pai da Medicina do Trabalho descreveu em seu livro, De Morbis Artificum Diatriba mais de 50 ocupaes e as respectivas enfermidades provocadas por elas. O autor comenta que os vinhateiros, cervejeiros e destiladores, que trabalhavam nestas funes durante todo o inverno, ficavam: dementes e sofriam de vertigens, mostrando-se fracos, macilentos, tristes e com pouco apetite. A partir da Primeira Guerra Mundial, surgiram leis especificas para os trabalhadores e com o passar do tempo comearam a ser feitas inspees mdicas nos locais de trabalho, exames regulares nos trabalhadores e cada vez mais foi sendo valorizadas as boas condies de trabalho. Hoje, muitas empresas prezam por um trabalho saudvel oferecendo aos seus empregados uma melhor qualidade de vida no trabalho, porm algumas deixam a desejar nesse aspecto, prejudicando a sade dos trabalhadores. 2.14.2. Transtornos mentais e do comportamento

De acordo com a Portaria/MS n. 1.339/1999, os principais transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho so: Demncia; Delirium, no-sobreposto demncia; Transtorno cognitivo leve; Transtorno orgnico de personalidade; Transtorno mental orgnico ou sintomtico no especificado; Alcoolismo crnico (relacionado ao trabalho); Episdios depressives; Estado de estresse ps-traumtico; Neurastenia (inclui sndrome de fadiga); Outros transtornos neurticos especificados (inclui neurose profissional); Transtorno do ciclo viglia-sono devido a fatores no-orgnicos; Sensao de estar acabado (Sndrome de Burnout, Sndrome do Esgotamento Profissional);

2.14.2.1. Demncia

Demncia conceituada como sndrome, geralmente crnica e progressiva, devida a uma patologia enceflica, de carter adquirido, na qual se verificam diversas deficincias das funes corticais superiores, incluindo: memria, pensamento, orientao, compreenso, clculo, capacidade de aprender, linguagem e julgamento. A conscincia no afetada e as deficincias cognitivas so acompanhadas e, ocasionalmente, precedidas por deteriorao do controle emocional, da conduta social ou da motivao (Bertolote, 1997). Pode estar associada a inmeras doenas que atingem primria ou secundariamente o crebro, entre elas, epilepsia, alcoolismo, degenerao hepatolenticular, hipotireoidismo adquirido, lpus eritematoso sistmico, tripanossomase, intoxicaes, doenas pelo HIV, doena de Huntington, doena de Parkinson, ocorrncia de infartos mltiplos, outras doenas vasculares cerebrais isqumicas e contuses cerebrais repetidas, como as sofridas pelos boxeadores.As demncias devidas s drogas e toxinas (incluindo a demncia devida ao alcoolismo crnico) correspondem de 10 a 20% dos casos de demncia em geral. Os traumatismos cranianos respondem por 1 a 5% dos casos. No esto disponveis dados que indiquem as porcentagens referentes contribuio do trabalho ou da ocupao, porm indicam relao com efeitos da exposio ocupacional s seguintes substncias qumicas txicas: Substncias asfixiantes: monxido de carbono (CO), sulfeto de hidrognio (HS); Sulfeto de carbono; Metais pesados (mangans, mercrio, chumbo e arsnio); Derivados organometlicos (chumbo tetraetila e organoestanhosos).Um declnio nas capacidades cognitivas, como capacidade de aprendizagem, memria, ateno, concentrao, linguagem, nvel de inteligncia, capacidade de resolver problemas e etc. essencial para o diagnstico de demncia. As interferncias no desempenho de papis sociais dentro da famlia, no trabalho e em outras esferas da vida no devem ser utilizadas como nica diretriz ou critrio diagnstico. Entretanto, essas podem servir como indicadores da investigao do diagnstico de demncia e, uma vez feito o diagnstico, como indicador til da gravidade do quadro.A abordagem dos pacientes demenciados caracteriza-se por cuidados mdicos de suporte: Indicao mdica de afastamento do trabalhador da exposio ao agente txico; Suporte emocional para o paciente e sua famlia; Tratamento farmacolgico sintomtico: benzodiazepnicos para ansiedade e insnia, antidepressivos, antipsicticos para delrios, alucinaes e comportamento disruptivo; Manejo da situao de trabalho: orientao das chefias e colegas de trabalho sobre a relao do problema de sade mental do paciente com o trabalho, buscando a colaborao e o suporte para a investigao de outros casos no ambiente de trabalho de onde o paciente/trabalhador provm.A preveno da demncia relacionada ao trabalho consiste, basicamente, na vigilncia dos ambientes, das condies de trabalho e dos efeitos ou danos sade. Requer uma ao integrada, articulada entre os setores assistenciais e da vigilncia, sendo desejvel que o atendimento seja feito por uma equipe multiprofissional, com abordagem interdisciplinar, capacitada a lidar e a dar suporte ao sofrimento psquico do trabalhador, aos aspectos sociais e de interveno nos ambientes de trabalho.A participao dos trabalhadores e dos nveis gerenciais essencial para a implementao das medidas corretivas e de promoo da sade que envolva modificaes na organizao do trabalho. Prticas de promoo da sade e de ambientes de trabalho saudveis devem incluir aes de educao e preveno do abuso de drogas, especialmente lcool. A preveno de acidentes graves com potencial para causar traumatismos crnio-enceflicos deve ser sistemtica, por meio de prticas gerenciais e medidas de segurana adequadas, com a participao dos trabalhadores.

2.14.2.2. Delirium, no sobreposto a demnciaDelirium uma sndrome caracterizada por rebaixamento do nvel de conscincia, com distrbio da orientao (no tempo e no espao) e da ateno (hipovigilncia e hipotenacidade), associada ao comprometimento global das funes cognitivas. Podem ocorrer alteraes do humor (irritabilidade), da percepo (iluses e/ou alucinaes especialmente visuais), do pensamento (ideao delirante) e do comportamento (reaes de medo e agitao psicomotora). Geralmente, o paciente apresenta uma inverso caracterstica do ritmo viglia-sono com sonolncia diurna e agitao noturna. Pode vir acompanhada de sintomas neurolgicos como tremor, asterixis, nistagmo, incoordenao motora e incontinncia urinria. Geralmente, o delirium tem um incio sbito (em horas ou dias), um curso breve e flutuante e uma melhora rpida assim que o fator causador identificado e corrigido. O delirium pode ocorrer no curso de uma demncia, pode evoluir para demncia, para recuperao completa ou para a morte. Apresenta distintos nveis de gravidade, de formas leves a muito graves.Quadros de delirium tm sido encontrados entre os efeitos da exposio ocupacional s seguintes substncias qumicas txicas, ou condies: Substncias asfixiantes: monxido de carbono (CO), dissulfeto de hidrognio (H2S); Sulfeto de carbono; Metais pesados (mangans, mercrio, chumbo e arsnio); Derivados organometlicos (chumbo tetraetila e organoestanhosos); Trauma crnio-enceflico (TCE).No que se refere aos quadros relacionados ao trabalho, devem ser observados os seguintes critrios diagnsticos: Rebaixamento do nvel da conscincia traduzido pela reduo da clareza da conscincia em relao ao ambiente, com diminuio da capacidade de direcionar, focalizar, manter ou deslocar a ateno. o aspecto fundamental entre os critrios diagnsticos para o delirium; Alteraes na cognio, tais como dficit de memria, desorientao, perturbao de linguagem ou desenvolvimento de uma perturbao da percepo que no explicada por uma demncia preexistente, estabelecida ou em evoluo; Perturbao que se desenvolve ao longo de um curto perodo de tempo (horas a dias), com tendncia a flutuaes no decorrer do dia; Existncia de evidncias a partir da histria, exame fsico ou achados laboratoriais de que a perturbao conseqncia direta ou indireta, associada a uma situao de trabalho.O delirium, enquanto quadro agudo ou subagudo, caracteriza-se como uma emergncia mdica, e o primeiro objetivo do tratamento controlar a condio ou o fator que o est causando. No caso da exposio ocupacional aagentes txicos para o sistema nervoso central, o afastamento do paciente/trabalhador do ambiente de trabalho a primeira conduta a ser tomada. Prover suporte fsico (evitar acidentes: os pacientes podem se machucar devido desorientao e alteraes psicomotoras), sensorial e ambiental (controle do nvel de estmulos do ambiente: nem pouco nem muito, manter referncias conhecidas pelo paciente e pessoas calmas e familiares por perto). O tratamento farmacolgico sintomtico necessrio nos casos em que h insnia e sintomas psicticos como alucinaes, delrios e agitao psicomotora.

2.14.2.3. Transtorno cognitivo leve

Transtorno cognitivo leve caracteriza-se por alteraes da memria, da orientao, da capacidade de aprendizado e reduo da capacidade de concentrao em tarefas prolongadas. O paciente se queixa de intensa sensao de fadiga mental ao executar tarefas mentais e um aprendizado novo percebido subjetivamente como difcil, ainda que objetivamente consiga realiz-lo bem. Esses sintomas podem manifestar-se precedendo ou sucedendo quadros variados de infeces (inclusive por HIV) ou de distrbiosQuadros de transtorno cognitivo leve tm sido encontrados entre os efeitos da exposio ocupacional s seguintes substncias qumicas txicas e agentes fsicos: Brometo de metila; Chumbo e seus compostos txicos; Mangans e seus compostos txicos; Mercrio e seus compostos txicos; Sulfeto de carbono; Tolueno e outros solventes aromticos neurotxicos; Tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orgnicos halogenados neurotxicos; Nveis elevados de rudo.A principal manifestao um declnio no desempenho cognitivo, que inclui queixas de comprometimento da memria, dificuldades de aprendizado ou de concentrao. Testes psicolgicos objetivos podem ser teis, mas devem ser interpretados com cuidado, dada sua inespecificidade e a confuso com outras causas ligadas s condies de vida.A avaliao criteriosa do estgio de comprometimento das funes cognitivas deve ser feita por especialista. As condues mdica, psicolgica e social do caso incluem o tratamento farmacolgico e sintomtico para insnia, ansiedade e depresso. Sintomas psicticos nos casos de transtorno cognitivo leve so raros. Dependendo do grau de disfuno e/ou leso, pode-se avaliar a utilidade da reabilitao neuropsicolgica do paciente e da reabilitao profissional.As medidas de controle ambiental para preveno visam eliminao ou reduo dos nveis de exposio s substncias qumicas.

2.14.2.4. Transtorno orgnico de personalidade

conceituado como a alterao da personalidade e do comportamento que aparece como um transtorno concomitante ou residual de uma doena, leso ou disfuno cerebral. Caracteriza-se por uma alterao significativa dos padres habituais de comportamento pr-mrbido, particularmente no que se refere expresso das emoes, necessidades e impulsos. As funes cognitivas podem estar comprometidas de modo particular ou mesmo exclusivo nas reas de planejamento e antecipao das provveis conseqncias pessoais e sociais, como na chamada sndrome do lobo frontal, que pode ocorrer no apenas associada leso no lobo frontal, mas tambm a leses de outras reas cerebrais circunscritas.Quadros de transtorno orgnico de personalidade tm sido encontrados entre os efeitos da exposio ocupacional s seguintes substncias qumicas txicas: Brometo de metila; Chumbo ou seus compostos txicos; Mangans e seus compostos txicos; Mercrio e seus compostos txicos; Sulfeto de carbono; Tolueno e outros solventes aromticos neurotxicos ; Tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orgnicos halogenados neurotxicos.Alm de uma histria bem definida ou outra evidncia de doena ou ainda disfuno cerebral, um diagnstico definitivo requer a presena de dois ou mais dos seguintes aspectos: Capacidade consistentemente reduzida de perseverar em atividades com fins determinados, especialmente aquelas envolvendo perodos de tempo mais prolongados e gratificao postergada; Comportamento emocional alterado, caracterizado por labilidade emocional, alegria superficial e imotivada (euforia, jocosidade inadequada) e mudana fcil para irritabilidade, exploses rpidas de raiva e agressividade ou apatia; Expresso de necessidades e impulsos sem considerar as conseqncias ou convenes sociais (roubo, propostas sexuais inadequadas, comer vorazmente ou mostrar descaso pela higiene pessoal); Perturbaes cognitivas na forma de desconfiana, ideao paranide e/ou preocupao excessiva Com um tema nico, usualmente abstrato (por exemplo: religio, certo e errado); Alterao marcante da velocidade e fluxo da produo de linguagem com aspectos, tais como circunstancialidade, prolixidade, viscosidade e hipergrafia; Comportamento sexual alterado.Sendo o transtorno orgnico de personalidade relacionado ao trabalho uma seqela de disfuno ou leso cerebral, o tratamento objetiva a reabilitao social, ou seja, diminuir os prejuzos advindos do comportamento pessoal e social alterado.Geralmente h a indicao de aposentadoria por invalidez e de medidas de reabilitao dirigidas para a socializao do paciente na famlia e na comunidade.A interveno sobre as condies de trabalho uma forma de preveno e se baseia na anlise ergonmica do trabalho real ou da atividade, buscando conhecer fatores que podem contribuir para o adoecimento, como, por exemplo: Contedo das tarefas, dos modos operatrios e dos postos de trabalho; Ritmo e intensidade do trabalho; Fatores mecnicos e condies fsicas dos postos de trabalho e das normas de produo; Sistemas de turnos; Sistemas de premiao e incentivos; Fatores psicossociais e individuais; Relaes de trabalho entre colegas e chefias; Medidas de proteo coletiva e individual implementadas pelas empresas; Estratgias de defesa, individuais e coletivas, adotadas pelos trabalhadores.Como forma de preveno deve-se tambm adotar medidas de controle ambiental visam eliminao ou reduo dos nveis de exposio a substncias qumicas envolvidas, j citadas acima.

2.14.2.5. Transtorno mental orgnico ou sintomtico no-especificadoEste termo compreende uma srie de transtornos mentais agrupados por terem em comum uma doena cerebral de etiologia demonstrvel, uma leso cerebral ou outro dano que leva a uma disfuno que pode ser primria,como nas doenas, leses ou danos que afetam direta e seletivamente o crebro, ou secundria, como nas doenas sistmicas nas quais o crebro um dos mltiplos rgos envolvidos.Fazem parte desse grupo a demncia na doena de Alzheimer, a demncia vascular, a sndrome amnsica orgnica (no-induzida por lcool ou psicotrpicos) e vrios outros transtornos orgnicos (alucinose, estado catatnico, delirante, do humor, da ansiedade), a sndrome ps-encefalite e ps-traumtica, incluindo, tambm, a psicose orgnica e a psicose sintomtica.Quadros de transtorno mental orgnico ou sintomtico tm sido encontrados entre os efeitos da exposio ocupacional s seguintes substncias qumicas txicas: Brometo de metila; Chumbo e seus compostos txicos; Mangans e seus compostos txicos; Mercrio e seus compostos txicos; Sulfeto de carbono; Tolueno e outros solventes aromticos neurotxicos; Tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orgnicos halogenados neurotxicos; Outros solventes orgnicos neurotxicos.O quadro clnico caracteriza-se pela evidncia de doena, leso ou disfuno cerebral ou de uma doena fsica sistmica, sabidamente associada a uma das sndromes relacionadas: Uma relao temporal (semanas ou poucos meses) entre o desenvolvimento da doena subjacente e o incio da sndrome mental; Recuperao do transtorno mental aps a remoo ou melhora da causa presumida subjacente; Ausncia de evidncia que sugira uma causa alternativa da sndrome mental, como, por exemplo, uma forte histria familiar ou estresse precipitante.A preveno do transtorno mental orgnico ou sintomtico no especificado relacionado ao trabalho consiste na vigilncia dos ambientes, das condies de trabalho e dos efeitos ou danos sade, conforme j citado.

2.14.2.6. Alcoolismo crnico relacionado ao trabalhoAlcoolismo refere-se a um modo crnico e continuado de usar bebidas alcolicas, caracterizado pelo descontrole peridico da ingesto ou por um padro de consumo de lcool com episdios freqentes de intoxicao e preocupao com o lcool e o seu uso, apesar das conseqncias adversas desse comportamento para a vida e a sade do usurio. Segundo a OMS, a sndrome de dependncia do lcool um dos problemas relacionados ao trabalho. A Sociedade Americana das Dependncias, em 1990, considerou o alcoolismo como uma doena crnica primria que tem seu desenvolvimento e manifestaes influenciados por fatores genticos, psicossociais e ambientais,freqentemente progressiva e fatal. A perturbao do controle de ingesto de lcool caracteriza-se por ser contnua ou peridica e por distores do pensamento, caracteristicamente a negao, isto , o bebedor alcolico tende a no reconhecer que faz uso abusivo do lcool.O trabalho considerado um dos fatores psicossociais de risco para o alcoolismo crnico. O consumo coletivo de bebidas alcolicas associado a situaes de trabalho pode ser decorrente de prtica defensiva, como meio de garantir incluso no grupo. Tambm pode ser uma forma de viabilizar o prprio trabalho, em decorrncia dos efeitos farmacolgicos prprios do lcool: calmante, euforizante, estimulante, relaxante, indutor do sono, anestsico e antissptico. Entretanto, essas situaes no so suficientes para caracterizar o uso patolgico de bebidas alcolicas.Uma freqncia maior de casos (individuais) de alcoolismo tem sido observada em determinadas ocupaes, especialmente aquelas que se caracterizam por ser socialmente desprestigiadas e mesmo determinantes de certa rejeio, como as que implicam contato com cadveres, lixo ou dejetos em geral, apreenso e sacrifcio de ces; atividades em que a tenso constante e elevada, como nas situaes de trabalho perigoso (transportes coletivos, estabelecimentos bancrios, construo civil), de grande densidade de atividade mental (reparties pblicas, estabelecimentos bancrios e comerciais), de trabalho montono, que gera tdio, trabalhos em que a pessoa trabalha em isolamento do convvio humano (vigias); situaes de trabalho que envolvem afastamento prolongado do lar (viagens freqentes, plataformas martimas, zonas de minerao).Os critrios diagnsticos podem ser adaptados daqueles previstos para a caracterizao das demais sndromes de dependncia, segundo os quais trs ou mais manifestaes devem ter ocorrido, conjuntamente, por pelo menos um ms ou, se persistentes, por perodos menores do que um ms. As manifestaes devem ocorrer juntas, de forma repetida durante um perodo de 12 meses, devendo ser explicitada a relao da ocorrncia com a situao detrabalho: Um forte desejo ou compulso de consumir lcool em situaes de forte tenso presente ou gerada pelo trabalho; Comprometimento da capacidade de controlar o comportamento de uso da substncia em termos de incio, trmino ou nveis evidenciado pelo uso da substncia em quantidades maiores ou por um perodo mais longo que o pretendido ou por um desejo persistente ou por esforos infrutferos para reduzir ou controlar o seu uso; Um estado fisiolgico de abstinncia quando o uso do lcool reduzido ou interrompido; Evidncia de tolerncia aos efeitos da substncia de forma que haja uma necessidade de quantidades crescentes da substncia para obter o efeito desejado; Preocupao com o uso da substncia, manifestada pela reduo ou abandono de importantes prazeres ou interesses alternativos por causa de seu uso ou pelo gasto de uma grande quantidade de tempo em atividades necessrias para obter, consumir ou recuperar-se dos efeitos da ingesto da substncia; Uso persistente da substncia, a despeito das evidncias das suas conseqncias nocivas e da conscincia do indivduo a respeito do problema.O alcoolismo crnico, caracterizado acima como sndrome de dependncia do lcool, est associado ao desenvolvimento de outros transtornos mentais, a saber: Delirium (delirium tremens); Demncia induzida pelo lcool; Transtorno amnsico induzido pelo lcool; Transtorno psictico induzido pelo lcool; Outros transtornos relacionados ao lcool*: transtorno do humor induzido pelo lcool, transtorno de ansiedade induzido pelo lcool, disfuno sexual induzida pelo lcool, transtorno do sono induzido pelo lcool.O tratamento do alcoolismo crnico envolve mltiplas estratgias teraputicas que implicam, muitas vezes, em mudanas na situao de trabalho. O prognstico difcil pode desanimar as equipes de sade com relao ao tratamento dos alcolatras. Apesar de alguns clnicos e grupos proporem a opo de beber controlado, a maioria dos especialistas e dos estudos indicam que a abstinncia completa de lcool a pedra angular do tratamento. A maioria das pessoas com transtornos relacionados ao lcool busca tratamento pressionada por algum da famlia (a esposa, geralmente) ou por um empregador, chefe ou amigo. Os pacientes que so persuadidos, encorajados ou mesmo coagidos ao tratamento por pessoas significativas para eles esto mais aptos a permanecer em tratamento e tm um prognstico melhor do que os no-pressionados. O melhor prognstico est associado busca voluntria de um profissional de sade mental em virtude de a pessoa ter concludo que alcolatra e que necessita de ajuda. Assim, a disponibilidade dos profissionais e dos servios de sade para atender aos trabalhadores alcolatras uma das primeiras estratgias do tratamento.Aes de preveno do alcoolismo que se limitam a realizar cursos e palestras com a finalidade de procurar transmitir conhecimentos cientficos e aconselhamento sobre as aes prejudiciais do lcool no organismo so freqentemente incuos. De modo geral, s alcanam resultados positivos os programas que identificam, nas situaes de trabalho e do cotidiano da vida, os aspectos organizacionais e ambientais relacionados ao risco alcolico, procurando implementar aes para transform-los, como, por exemplo: Prticas de superviso e chefia direta em que a dignidade e a valorizao do trabalhador so consideradas com especial ateno nas situaes de trabalho socialmente desprestigiadas; Fornecimento de equipamentos adequados, disponibilidade de chuveiros e material para a higiene pessoal (inclusive trocas suficientes de roupa); Desenvolvimento de estratgias de reduo das situaes de exposio s ameaas, como agresso armada e ira popular, com a participao dos prprios trabalhadores no desenvolvimento de tais estratgias; Disponibilidade de pausas em ambientes agradveis e confortveis, visando ao alvio da tenso; Disponibilidade de meios de comunicao e de interao com outras pessoas durante a jornada de trabalho nas situaes de trabalho em isolamento; Reduo e controle dos nveis de rudo e de vibrao nos ambientes de trabalho (muitas vezes os trabalhadores usam o lcool como hipntico aps trabalharem em ambientes ruidosos e com vibrao). O exemplo clssico o dos motoristas de nibus.

2.14.2.7. Episdios depressivos Os episdios depressivos caracterizam-se por humor triste, perda do interesse e prazer nas atividades cotidianas, sendo comum uma sensao de fadiga aumentada. O paciente pode se queixar de dificuldade de concentrao, pode apresentar baixa auto-estima e autoconfiana, desesperana, idias de culpa e inutilidade; vises desoladas e pessimistas do futuro, idias ou atos suicidas. O sono encontra-se freqentemente perturbado, geralmente por insnia terminal. O paciente se queixa de diminuio do apetite, geralmente com perda de peso sensvel. Sintomas de ansiedade so muito freqentes. A angstia tende a ser tipicamente mais intensa pela manh. As alteraes da psicomotricidade podem variar da lentificao agitao. Pode haver lentificao do pensamento. Os episdios depressivos devem ser classificados nas modalidades: leve, moderada, grave sem sintomas psicticos, grave comsintomas psicticos.A relao dos episdios depressivos com o trabalho pode ser sutil. As decepes sucessivas em situaes de trabalho frustrantes, as perdas acumuladas ao longo dos anos de trabalho, as exigncias excessivas de desempenho cada vez maior, no trabalho, geradas pelo excesso de competio, implicando ameaa permanente de perda do lugar que o trabalhador ocupa na hierarquia da empresa, perda efetiva, perda do posto de trabalho e demisso podem determinar depresses mais ou menos graves ou protradas. A situao de desemprego prolongado tem estado associada ao desenvolvimento de episdios depressivos em vrios estudos em diferentes pases. Alguns estudos comparativos controlados tm mostrado prevalncias maiores de depresso em digitadores, operadores de computadores, datilgrafas, advogados, educadores especiais e consultores.Episdios depressivos tambm esto associados exposio ocupacional s seguintes substncias qumicas txicas: Brometo de metila; Chumbo e seus compostos txicos; Mangans e seus compostos txicos; Mercrio e seus compostos txicos; Sulfeto de carbono; Tolueno e outros solventes aromticos neurotxicos; Tricloroetileno, tetracloroetileno, tricloroetano e outros solventes orgnicos halogenados neurotxicos.A prescrio dos recursos teraputicos disponveis depende da gravidade e da especificidade de cada caso, entretanto consenso em psiquiatria que o tratamento de episdios depressivos envolva: Psicoterapia: est indicada mesmo quando so prescritos psicofrmacos, pois o tratamento de episdio depressivo tende a se estender por um perodo de pelo menos seis meses, em que o paciente se encontra fragilizado e necessitando de suporte emocional; Tratamento farmacolgico: a prescrio de antidepressivos est indicada dependendo da gravidade do quadro depressivo. Atualmente, existe uma grande variedade de drogas antidepressivas e de esquemasposolgicos possveis. A prescrio deve ser acompanhada por especialista, elo menos em sistema de interconsulta. Intervenes psicossociais: uma das caractersticas centrais do episdio depressivo o desnimo para as atividades cotidianas em que o trabalho est includo: a vida perde o colorido e mais nada tem valor. Portanto, muitas vezes a capacidade de trabalhar fica muito comprometida, impedindo o sujeito de cumprir seus compromissos ocupacionais. Muitas vezes, faltas ao trabalho no-justificadas so a primeira manisfestao percebida pelos familiares ou pelos colegas, chefes ou empregadores. Quando o episdio depressivo relacionado ao trabalho, esse comprometimento pode ser mais precoce e mais evidente, uma vez que os fatores a