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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA AS DIFERENTES VIAS DE ENTRADA DE NFORMAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL, ATRAVÉS DOS CANAIS SENSORIAIS. Por: Flávia Rodrigues Lopes Souto Maior Orientador Prof. Solange Monteiro Niterói 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

AS DIFERENTES VIAS DE ENTRADA DE NFORMAÇÕES NA

EDUCAÇÃO INFANTIL, ATRAVÉS DOS CANAIS SENSORIAIS.

Por: Flávia Rodrigues Lopes Souto Maior

Orientador

Prof. Solange Monteiro

Niterói

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

AS DIFERENTES VIAS DE ENTRADA DE NFORMAÇÕES NA

EDUCAÇÃO INFANTIL, ATRAVÉS DOS CANAIS SENSORIAIS.

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Psicopedagogia

Por Flávia Rodrigues Lopes Souto Maior

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos familiares que me

mantiveram na jornada e

especialmente ao meu marido Wagner

que foi pai, mãe e amigo sempre.

4

DEDICATÓRIA

Como andar sem plena autorização para

o andar. Dedico esse trabalho ao meu

marido e filhos que me dão asas para

voar.

5

RESUMO

O presente trabalho procurar abordar como objetivo uma compilação

de informações na busca de trazer a tona a importância e o conhecimento dos

canais sensoriais, como forma de instrumentalizar o profissional que atua na

educação infantil, buscando uma transformação no olhar de sua prática

pedagógica como forma de ir além do aluno/corpo, buscando compreender

dentro de uma abordagem da ciência, esse aluno que chega a educação

infantil, cheio de potenciais a serem explorados e como o processo de ensino-

aprendizagem pode favorecer esse processo de construção de representação

do mundo que o cerca.

Detalhes, cheiros, cores, texturas, sons, gostos, somos rodeados de

sensações e possibilidades de um imenso trabalho com diversidades a serem

realizadas com a educação infantil que chega com um sistema curioso e ávido

por informações.

Conhecendo o sistema nervoso e os canais sensoriais, cria-se uma via

para que os profissionais possam aprofundar seu embasamento teórico e

subsidiar a sua prática.

6

METODOLOGIA

Este trabalho trata-se de uma pesquisa de material bibliográfico para

uma compilação de informações em artigos científicos, livros de neurociência,

revistas e sites que abordem sobre os canais sensoriais, baseado no aporte

teórico das áreas de neurociência e educação, com o intuito de arregimentar

os conceitos do tema.

A proposta é que ao final de desse trabalho, a leitura possa viabilizar um

novo olhar dos profissionais sobre as informações sensoriais que são

apresentadas dentro de uma proposta pedagógica.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

A ESTRUTURA CEREBRAL 11

CAPÍTULO II

CANAIS SENSORIAIS 29

CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DOS ESTÍMULOS

SENSORIAIS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 41

CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA 48

WEBGRAFIA 49

INDICE 50

8

INTRODUÇÃO

Demanda tempo desconstruir uma infância arraigada nos moldes no

século XVII, voltada para a formação de trabalhadores, num controle de

impulsos, submissão ao adulto, dificuldade de dizer o que pensa... Demanda

tempo desconstruir os modelos tradicionais centrados na transmissão dos

conhecimentos em detrimento a participação do aluno no processo. A

pedagogia moderna busca uma melhor relação no processo ensino-

aprendizagem tornando o aluno, centro da aprendizagem, porém, chegam a

escola invadidos por estímulos diversos, evidenciando esse período de

transição contemporânea com a tecnologia que influencia e invade diretamente

o dia- a – dia e consequentemente o comportamento desde cedo,

acompanhados de pais que flutuam sem saber o que fazer com seus filhos.

O modelo de educação, a formação muitas vezes deficitária do

educador, o mundo virtual, o pouco tempo para aprofundamento através de

cursos, palestras e até mesmo tempo livre para outras experiências que levem

ao profissional ao exercício a criatividade, criam modelo desajustado onde a

escola não sabe o que fazer com o aluno que chega a escola parecendo ter mil

anos à frente. Percebe-se uma inquietação, voltada para a investigação se a

proposta de trabalho pensada está de acordo com o grupo.

Os professores abraçam seus alunos do século XIX nesse momento

de transição e busca ferramentas para compreendê-lo. Nesse campo, a ciência

busca fomentá-lo e inseri-lo no contexto das áreas científicas para que se

apropriem do conhecimento que é produzido para eles. Compreende-se que a

produção científica e uma infinidade de distratores muita vezes não se

integram, não se interconectam. A ciência precisa dos professores, tanto

quanto os professores precisam da ciência. É preciso aliar a ciência e prática e

a prática precisa levantar suas inquietações.

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A neurociência apresenta inúmeros estudos acerca do

desenvolvimento cerebral e suas conquistas, pautado na integração de

diversas áreas do conhecimento, cujo objetivo busca aprofundar os estudos do

desenvolvimento infantil partindo do objeto principal de estudo, o cérebro.

Com diversas contribuições científicas, o repensar a prática entra na

escola com força total, propiciando um aporte de conhecimento maior dos

alunos.

A educação infantil, teor da fundamentação desse trabalho, sob

referência a psicanálise, encontra-se num processo catársico onde os

profissionais procuram uma solução para esse momento transicional, onde o

mundo direciona para uma alfabetização aos três anos, desmerecendo a

construção criativa do processo e a importância da percepção dos fatos

apresentados e partindo dessa percepção é que inicia-se nesse trabalho a

busca de como essa percepção do mundo é constituída.

Sim, somos seres sociais, mas fundamentalmente somos seres

sensoriais, e pouco explora-se as inúmeras possibilidades nos alunos através

da abordagem de diferentes formas de apropriamento do mesmo contexto,

talvez por uma falta de fundamentação teórica ou por ações de aplicabilidade

de conteúdo já conhecido.

Nos estudos neurocientíficos, a percepção é a sensação processada.

Dessa forma, obtém-se a importância das informações sensoriais para a

construção do arcabouço de percepções que vão constituir o mundo interno e

externo do sujeito.

No capítulo I, parte-se do conhecimento da estrutura cerebral, numa

busca de ambientação e apropriação inicial de seus componentes e de como o

cérebro se constitui, partindo para o segundo capítulo onde aprofunda-se

sobre os canais sensoriais, ou seja, as vias de entradas de informações no

sistema, fechando o capítulo III com a importância dos estímulos sensoriais na

educação infantil e assim, criando m canal para que o profissional possa

10

repensar a sua prática educacional tendo como pressuposto um embasamento

teórico e científico para a apropriação do conhecimento que poderá subsidiar

sua práxis, partindo para a compreensão de como essas informações que são

apresentadas as crianças, se processam e se consolidam como aprendizagem

e assim, acrescer novas possibilidades no agir pedagógico contribuindo para

diferentes associações e dinamizações sobre determinado assunto no

processo de ensino – aprendizagem. Cada experiência integra sensações.

11

CAPÍTULO I

A ESTRUTURA CEREBRAL

1.1 – Breve História do cérebro

Avaliar a personalidade de um indivíduo através do formato de sua

cabeça pode parecer estranho, mas assim foi feito a muitos anos atrás.

A necessidade de sobrevivência nos levou a uma busca de

informações, exigindo do homem uma adaptação ao longo de muitos anos,

onde estruturas ósseas se modificaram conforme a evolução e o seu uso,

levando a questionamentos sobre o funcionamento e capacidade cerebral.

Hoje em dia, muitos recursos como a ressonância magnética,

eletroencefalografia ou a tomografia por emissão de pósitrons, possibilitam o

aprofundamento nos estudos da neurociência moderna sobre as divisões do

todo em partes e o funcionamento cerebral das partes em um todo, verificando

áreas de maior atividade do que outras em determinada integração, mas por

séculos, os estudiosos, fascinados pelos segredos de suas possibilidades,

levantaram diferentes hipóteses para desvendá-lo e compreendê-lo.

A 5000 anos atrás, no Egito antigo, o coração era o componente mais

importante do ser humano como mantenedora da alma e das memórias, sendo

mantido ao corpo e descartando o cérebro no processo de preservação do

corpo após a morte.

Na Grécia antiga, Hipócrates, considerado pai da medicina, levantou a

ideia de que corpo e mente não poderiam ser considerados em separado, pois

algo na mente influenciaria o corpo. Os gregos chegaram a conclusão que o

cérebro era o órgão que abrangeria as sensações e a inteligência, abrindo um

canal para um levantamento de diversas hipóteses. Muitas foram as

12

especulações não científicas, pois a principal fonte de conhecimento do

cérebro acontecia em dissecações de cadáveres de animais ou seres

humanos e através desse método não era possível a percepção da função

cerebral, somente a visualização de suas estruturas diferentes que levava ao

levantamento de diversas hipóteses.

A forma mais antiga de cirurgia cerebral era conhecida como

trepanação, realizada através de uma perfuração na cabeça, sem qualquer tipo

de assepsia ou anestesia no homem vivo. Arqueólogos em suas escavações

conseguiram verificar que o indivíduo mesmo em condições precárias,

mantinha-se vivo após as cirurgias devido ao tipo de calcificação encontrada

no crânio.

Após Hipócrates, no Império Romano, Galeno descobriu as cavidades

evidenciando o cérebro maior e macio como compartimento das sensações e o

cerebelo mais duro que comandaria os músculos e haveria os ventrículos por

onde passaria o fluído vital.

Flourens no século XVIII, através de suas experiências com animais,

conseguiu perceber que várias funções e não somente uma, ficava mais fracas

ao ser retirado pequenas partes do cérebro, concluindo a ideia de trabalho em

conjunto de áreas distintas.

No século XIX, na Áustria, Franz Joseph Gall, levantou a questão do

todo em partes, onde diferentes partes do cérebro teriam diferentes funções.

Na sua teoria, realizou um mapa topológico através da análise da forma do

crânio em suas saliências com elevações e depressões, correlacionando a

particularidades mentais do indivíduo, por exemplo, a inteligência era de

acordo com o tamanho da cabeça e seu desenho. Nessa época, forma e

função caminhavam juntas. O homem muitas vezes era rotulado de acordo

com o formato de seu crânio. Na época, Napoleão Bonaparte discordou

veementemente dos pressupostos de Gall por achar que a análise de seu

crânio não havia sido bem feita, pois algumas características que ele achava

13

importante não foram mencionadas. Apesar de muitos adeptos, sua teoria não

foi bem aceita, sendo inclusive atacada pela ciência oficial e muito utilizada por

charlatãs que utilizavam essas informações para tirar algum proveito de outra

pessoa. De qualquer forma, suas proposições abriram um canal para estudos

de divisão, localização e função do cérebro.

Muitos estudos depois em 1863, Pierre Paul Broca estudando vários

pacientes, percebeu que possuíam quadros semelhantes, que entendiam o

que lhes era dito, porém apresentavam patologias da linguagem, como

ausência ou desconexão da fala através da emissão de palavras isoladas.

Após a morte de um de seus pacientes, pode determinar uma região específica

no cérebro lesionado, determinada de área 44 ou área de Broca. Paul Broca

relatou ao mundo que falamos com o hemisfério esquerdo, surgindo então um

aporte para estudos de linguagem e laterização cerebral.

Mais ou menos na mesma época, o alemão Carl Wernicke descobriu

uma área que quando lesada o paciente não reconhecia as palavras ditas, um

distúrbio de compreensão, ou seja, podiam falar, mas não compreendiam a

fala. Em seus estudos na denominada área 22 ou área de Wernicke, verificou-

se um sistema de fibras nervosas que se ligavam a área de Broca, refinando a

informação de que precisamos dos dois hemisférios para trabalhar, mas

existindo uma interligação entre os hemisférios, com uma locação diferenciada

em termos de características funcionais para produzir a função da linguagem.

Numa busca de conhecer a essência do cérebro, Camilo Golgi em

1872, conseguiu acidentalmente após um pedaço de cérebro ter caído em

nitratro de prata e por lá ter ficado alguns dias, uma reação química que

permitiu a visualização do neurônio. Golgi achava que todos os neurônios

estavam unidos e em oposição, e em contrapartida o cientista Ramon y Cajal,

estava convencido de que havia um espaço entre os neurônios e por anos, até

a invenção do microscópio eletrônico, onde só assim foi possível um aumento

espantoso do tamanho da célula para observação, houve então a confirmação

do espaçamento entre neurônios, uma sinapse.

14

No século XX, o anatomista alemão Broadmann distinguiu 52 áreas

corticais cerebrais com características funcionais distintas através de padrões

de conexões diferentes de uma determinada região do córtex para outra, ou

seja, um estímulo específico que determinaria um padrão de resposta

específico para tal área, dessa forma, a organização dos neurônios delimitam

determinada região como uma área, mas não quer dizer que todas as áreas

tenham um único papel funcional, pois algumas áreas associam diferentes

informações. Posteriormente, neurologistas realizaram estimulações elétricas

diretamente nos giros e sulcos e assim, realizam um mapeamento

citoarquitetônico numerando as áreas, sendo amplamente utilizada para

futuras pesquisas.

http://www.sistemanervoso.com/pagina.php?secao=12&materia_id=233&materiaver=1. Acesso 07/01/2015

Em 1950, Wilder Penfield, médico e cirurgião que tratava de pacientes

com epilepsia (que é de um modo muito grosseiro, uma desorganização dos

circuitos), com o consentimento dos pacientes, mapeou todo o cérebro em

duas grandes áreas, a motora e a sensorial, estabelecendo suas funções

através de fracas estimulações elétricas que promoviam o movimento ou

formigamento de alguma parte corporal durante as cirurgias e assim,

investigou-se as partes do cérebro com função motora e as partes do cérebro

com função sensorial.

Em seus estudos, Penfield verificou que para face e mãos que

caracteriza nossa evolução, havia grande parte do córtex sensorial em ênfase.

15

Entretanto para a função motora, mãos, pés e boca, obtiveram maior campo

de resposta no córtex, podendo progredir com a idade e ser diferente de um

indivíduo para outro de acordo com as suas experiências. No homúnculo de

Penfield (representação do homem pequeno) é representado o corpo com

suas áreas mais inervadas, pois são regiões que mobilizam um número maior

de células nervosas, como no caso das mãos, que possuem uma alta

representatividade no córtex. Um bebê toca e leva a boca um objeto para

conhecê-lo, assim como, adultos tocam nos objetos na tentativa de melhor

conhecê-lo. Na nossa evolução, como necessidade de sobrevivência, o uso

das mãos foi intenso para criar, conhecer e ir além, fazendo com que cada vez

mais, os movimentos se tornassem mais precisos e quanto mais preciso um

movimento, maior será a área destinada do córtex.

http://workinghandsproject.com/agents.php. Acesso dia 09/01/2015

Partindo-se de um mapeamento, a neurociência desbrava suas

potencialidades e a neuroeducação cria um diálogo entre múltiplas

perspectivas como forma de otimizar a aprendizagem através de

instrumentalização teórica dos profissionais sobre as possibilidades de

intervenção e melhor compreensão desse aluno. Segundo Relvas (2012, p.

18), “o educador tem a possibilidade de compreender melhor como ensinar,

pois existem diferentes maneiras de se aprender”.

1.2- Organização do Sistema Nervoso

16

O Sistema nervoso controla nossas atividades, captando, codificando e

transformando. É dividido em Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema

Nervoso Periférico (SNP).

O SNP está localizado fora da caixa craniana e abrange nervos e

gânglios envolvidos nos tecidos. Compreende nervos espinhais que se

originam da medula espinhal e nervos cranianos que se originam no encéfalo,

possuindo suas vias aferentes de recebimento de informações e vias eferentes

de saída de informações, unindo o SNC aos órgãos periféricos.

O SNC utiliza uma linguagem elétrica que vem sensorialmente como

estímulo do meio, através de um fluxo de corrente na célula, pelos canais

aferentes e eferentes. Segundo Relvas (2012, p.138), “Quando o estímulo já é

conhecido do sistema nervoso central, desencadeia uma lembrança; quando o

estímulo é novo, desencadeia uma mudança”. O neurônio é o componente

funcional principal dessa mudança no sistema nervoso, pois com cem bilhões

de neurônios criam uma rede complexa de circuitos que se formam a partir de

uma célula neuronal, conectada a outra célula e assim, formando uma grande

circuitaria com as conexões.

Compreendendo o Encéfalo e a medula espinhal (que está contida

dentro do canal vertebral) e estão recobertos por três capas chamadas de

meninges que possuem a função de proteger junto com a caixa craniana, os

seus componentes: dura-máter que é a camada mais espessa e resistente,

aracnóide e pia- máter que adere a superfície do encéfalo e medula.

17

http://pt.wikipedia.org/wiki/Meninge#mediaviewer/File:Meninges-pt.svg. Acesso em 08/01/2015.

O encéfalo se origina ainda na fase embrionária em torno de duas

semanas após a concepção, através da formação do tubo neural, dando

origem aos elementos do sistema nervoso central: Cerebelo, cérebro (que

compreende o telencéfalo e diencéfalo) e o tronco encefálico (que compreende

mesencéfalo, ponte e bulbo) que possuem texturas e cores diferentes, o que

possibilita visualmente a percepção de cada componente. Nossas sensações,

memória, tomadas de decisão, emoções, cognição, nosso agir e muitos outros

processos neurais estão sendo arquitetados por áreas com funções muito bem

especializadas que trabalham em conjunto para determinado fim.

O Cerebelo situa-se atrás do tronco cerebral e compreende funções

relacionadas ao equilíbrio e a coordenação.

O cérebro compreende o telencéfalo que engloba os dois hemisférios

cerebrais e o diencéfalo, uma região situada entre os dois hemisférios

englobando o Epitálamo, Tálamo e Hipotálamo.

O Tronco cerebral se estende do cérebro a medula. Dividida em

Mesencéfalo, porção superior do tronco; a Ponte, na porção média do Tronco

cerebral e o Bulbo, que compreende a porção inferior do tronco.

18

http://www.auladeanatomia.com/neurologia/snervoso.htm. Acesso dia 08/01/2015

1.3 – Hemisférios cerebrais

O cérebro divide-se em dois hemisférios direito e esquerdo e

compreendem uma divisão em cinco Lobos, sendo eles: Lobo Frontal que

compreende funções como análise e planejamento, raciocínio, movimento,

comportamento, memória e expressão da linguagem; Lobo Parietal que

compreende funções como processamento sensorial, leitura, localização

espacial, lógico- matemática; Lobo Occipital que compreende funções de visão

e equilíbrio; Lobo temporal que compreende as funções de memória, audição,

compreensão da linguagem, audição e o Lobo da Insula, que é uma dobra

interna e compreende funções relacionadas a emoção e percepção corporal.

Apesar dessa divisão e suas especificidades, o cérebro possui uma

refinada organização e um trabalho coeso, onde todo o conjunto trabalha como

uma unidade, uma orquestra liderada por seu maestro liberando informações

para um extenso grupo de músicos com seus inúmeros instrumentos que

precisam estar juntos para processarem essa informação recebida do maestro

e tocarem uma bela sinfonia e quanto mais ensaios, mais perfeita e fortalecida

será a apresentação. Segundo Relvas (2009, p. 42) “todo ele está sempre

mais ou menos ativado, dependendo da atividade que o cérebro desempenha,

visto que há interdependência e a necessidade de integração constante”.

Sendo assim, não é uma área e uma função, temos todo um sistema

trabalhando.

19

https://www.facebook.com/meucerebrocom/photos/a.487385378057637.1073741828.487372091392299/5

55773197885521/?type=1&theater. Acesso 08/01/2015

Um corte sagital no cérebro permite perceber seu núcleo com a massa

branca e a massa cinzenta composta de milhares de neurônios que são as

estruturas funcionais do SNC. Uma fina camada cria circunvoluções,

denominada córtex cerebral, que recobre a massa branca com seus sulcos e

giros, formando pregas nos hemisférios e criando uma expansão dentro da

caixa craniana que possibilita o aumentando da área total do cérebro, sem

aumentar o número de células e sem aumentar o seu volume. Uma fissura

separa os dois lados, que são conectados pelo corpo caloso, como uma ponte

levando informações de um lado para o outro e estabelecendo conexão com o

tronco encefálico e medula espinhal.

Pesquisadores brasileiros recentemente identificaram em indivíduos

que nasceram sem a presença do corpo caloso, feixes que formaram uma rota

alternativa de conexão possibilitando a continuidade de comunicação entre

hemisférios. Ainda há muitas pesquisas a serem realizadas acerca da

funcionalidade cerebral na ausência do corpo caloso, mas de antemão nos

demonstra a grandiosidade da capacidade de plasticidade do cérebro, ou seja,

sua capacidade de continuidade através de adaptação.

Uma das características cerebrais consiste de que cada hemisfério

está relacionado a processos no lado oposto do corpo, uma contra

lateralidade, dessa forma sentimos de um lado e processamos essa

20

informação do outro. A área que detecta sensorialmente a informação cruza

até o hemisfério oposto para ser processada, assim, se o seu braço esquerdo

é tocado, a informação será recebida no córtex direito. Essa unidade funcional,

apesar de áreas, não funcionam sozinhas e sim transitam numa comunicação

constante.

O córtex cerebral compreendendo a parte mais externa do cérebro, é

dividido em dois hemisférios no telencéfalo, o hemisfério direito e esquerdo,

onde compreende características funcionais de dominância mais presentes de

um lado do que do outro, mas não obstante da participação de ambos.

O córtex compreende áreas primária, secundária e terciária, como uma

hierarquia cerebral da medula até o córtex, como uma ordem de grandeza. Na

área primária, chega ou sai primeira a informação, como por exemplo, a área

17 de Broadmann que é a área primária visual, aonde a primeira informação

visual chega. Por possuírem o mesmo padrão de circuito de células,

determinou-se a região 17 como uma área, assim como a área 4 corresponde

a área motora primária, pois compreende um conjunto de células com o

mesmo padrão de circuitos. Essas áreas primárias são muito restritas. Nas

áreas secundária e terciária as informações já mais elaboradas são

processadas e integradas de uma forma inter-hemisférica, com troca de

informações, tendo o córtex cerebral como o ápice, como o local de

processamento mais elaborado de informações. Outras áreas são

consideradas associativas, como as 5 e 7 de Broadmann, que fazem

associação de várias informações que chegam, sendo um córtex multimodal.

Determinados estímulos ativam um determinado padrão de circuito

neuronal assim, percebe-se abaixo a predominância das funções os lobos.

21

http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2013/12/funcoes-do-cerebro.html. Acesso em

17/01/2015

1.4 – Células neuronais

Para manter o sistema, o cérebro trabalha de forma muito articulada

através centenas de pequenos circuitos que vão ser responsáveis a integrar

papéis funcionais através de células especializadas, denominadas células

neuronais. São células excitáveis, pois fazem uso de corrente elétrica para o

tráfego de informações que chegam pelos canais sensoriais, sendo assim,

recebem informações do organismo e do ambiente, processam e enviam

informações criando uma comunicação em milésimos de segundos, que são

capazes de moldar nossos circuitos neuronais. Dessa forma, os circuitos são

células interligadas trabalhando juntas em prol de alguma função.

Neurônios são células com diferentes formatos e diferentes papéis

funcionais dentro do sistema, podendo ser sensoriais, motores ou de

associação; composto de um corpo celular que segundo Greenfield (2000,

p.69) “pelo menos algumas de suas funções sejam as de assegurar que todas

as células permaneçam vivas e produzam as substâncias químicas

22

apropriadas”, e de prolongamentos chamados neuritos, que podem se

subdividir em dendritos que são espículas também conhecidas como

arborizações ou ramificações que partem do corpo celular e, o axônio que

apresenta uma estrutura fina e longa que parte do corpo celular e é

responsável pela condução dos sinais. Apesar de ambos partirem do corpo

celular, dendritos e axônios possuem diferentes funcionamentos. O sistema

nervoso também apresenta importantes células denominadas de células gliais,

que aderem ao axônio e são substratos para a organização do nosso sistema,

sendo eles, astrócitos e oligodentrócitos, este último o responsável em produzir

a mielina que favorece a velocidade do impulso elétrico pelo condutor axônio

até seus terminais.

A mielina remodela o axônio formando uma bainha de gordura,

aumentando o diâmetro e facilitando a velocidade de condução de impulsos

nervosos e assim, a transmissão de informações de um neurônio a outro ou

para outro tecido. A mielinização é uma característica do processo evolutivo do

indivíduo. Nascemos com um sistema imaturo, não todo no mesmo grau, mas

ávido por trabalho, por conexões. Os neurônios que formam a circuitaria,

proliferam, migram para suas áreas e mielinizam no processo de maturação.

http://www.infoescola.com/sistema-nervoso/neuronios/. Acesso dia 16/01/2015.

23

Do SNC, onde se encontram os corpos celulares, saem

prolongamentos dos neurônios que formam nervos, como potentes cabos

elétricos e com calibres diferentes que propiciam diferentes velocidades de

respostas e integração de informações, podendo fazer comunicação com mais

de um neurônio através de seus prolongamentos, podendo assim conectar

áreas distintas e constituir o SNP.

Os dendritos agem como área receptora para os sinais elétricos, como se fossem uma grande zona portuária que recebe mercadorias trazidas por uma grande quantidade de navios. Exatamente como as mercadorias podem ser descarregadas nas docas e despachadas por rotas que convergem para alguma indústria central, esses sinais dessemelhantes são conduzidos ao longo dos dendritos convergindo para o corpo celular onde, se os sinais forem suficientemente fortes, um novo sinal elétrico, será produzido. É aí que os axônios entram em ação: eles conduzem este novo sinal elétrico para longe do corpo celular, dirigindo-o para o próximo neurônio-alvo do circuito. (GREENFIELD, 2000, p.69).

Além dos neurônios sensitivos, motores e associativos, uma

descoberta recente (1994) por um grupo de pesquisadores em Parma na Itália,

descobriu que o ato de visualizar, já era suficiente para ativar áreas motoras no

cérebro como se estivesse realizando o ato e essa ativação não dependeria da

memória. Denominados neurônios- espelho, esse grupo de neurônios que

formam um sistema que identifica a área no córtex responsável, provoca um

espelhamento. Estudos relacionam a empatia também como uma

característica desse grupo de neurônios, por exemplo, com a capacidade de

gerar sentimentos recíprocos. O espelhamento chega a capacidade de nos

fazer imitar sem consciência, como mexer no cabelo quando o outro mexe, ou

se coçar, cruzar os braços, rir e o bocejo que é um exemplo clássico e que

muitos reconhecem no mesmo instante, pois a vontade de bocejar ao ver o

outro bocejando é irresistível, como um mecanismo sócio- emocional. Outro

fato interessante refere-se a música, pois o cérebro é ativado como se ele

mesmo tocasse o instrumento. Para a educação infantil, esse sistema imitador

favorece um mapeamento do mundo de sons, visões e leitura.

24

Para que uma informação seja passada de uma célula neuronal a

outra do sistema nervoso, é necessário que haja uma habilidade específica no

neurônio que é o potencial de ação. Esse potencial de ação é um impulso

elétrico e a velocidade desse impulso depende da capacidade de condução. A

condução neural poderá então ser otimizada havendo a presença da bainha de

mielina, para que isole, aumente o seu calibre e uma vez recebido o estímulo,

essa informação possa ser conduzida de uma forma muito mais rápida até

outra célula.

Dois tipos de fenômenos estão envolvidos no processamento do impulso nervoso: elétrico e químico. Eventos elétricos propagam um sinal dentro do neurônio e processos químicos transmitem o sinal de um neurônio a outro ou a uma célula muscular. Processos químicos sobre interações de neurônios ocorrem no final do axônio, chamando sinapse. Tocando intimamente com o dendrito de outra célula (mas sem continuidade material entre ambas as células), o axônio libera substâncias químicas chamadas neurotransmissores, ao quais se unem a receptores químicos na membrana do neurônio seguinte. (RELVAS, 2009, p.28).

Após a descoberta de Ramon y Cajal sobre o espaçamento entre

neurônios, pesquisadores descobriram substâncias químicas nas sinapses que

favoreciam essa propagação, no qual se denominou neurotransmissores. Não

havendo contato entre as terminações axoniais do neurônio pré – sináptico que

carrega as informações e os dendritos da célula pós- sináptica que recebem as

informações através de um potencial de ação ou impulso elétrico, é necessário

ir além, mas existe então uma barreira física de continuidade e essas

substâncias químicas propiciam um elo de propagação desse impulso. Quando

conduzido pelo axônio, o potencial atinge seus terminais axoniais e inicia um

processo químico de liberação dos neurotransmissores de pequenas vesículas

para a sinapse, que é um espaço existente entre neurônios chamado de fenda

sináptica. Liberados na fenda, se fundem ao líquido extracelular existente

nesse meio, conseguindo então abarcar na célula pós –sináptica, porém para

que haja recepção dessas substâncias os receptores da células pós-sinápticas

precisam ser específicos, ou seja, precisam ter a mesma correspondência para

que o ajuste seja perfeito. Ao se conectarem, formam uma nova substância

25

química que ativam novos potenciais de ação que seguirão então pelos ramos

do dendrito da célula – alvo, indo para o corpo celular, partindo então um novo

impulso elétrico se a quantidade de impulsos que chegarem for suficiente para

liberar um novo impulso. Dessa forma, acontece uma transformação do sinal

elétrico em sinal químico e depois sinal químico em sinal elétrico novamente, já

em nova célula neural ou órgão efetor.

Os neurotransmissores, como mediadores químicos, podem ser

inibidores, (onde diminuem o estímulo para o próximo neurônio) ou excitadores

(onde aumentam o estímulo recebido para o neurônio pós-sináptico). A

quantidade de liberação dessas substâncias químicas vai depender da

frequência desses impulsos elétricos que chegam. Sendo assim, de acordo

com Greenfield (2000, p.80) “substâncias químicas diferentes, tem efeitos

diferentes, de extensões diferentes, em instantes diferentes”.

http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/sistemanervoso3.php. Acesso em 17/01/15.

Os neurônios sensoriais vão formar os canais de entrada da

informação no nosso sistema através de vias aferentes, sendo assim, todo

estímulo ou entrada de informações é sensorial e a saída do sistema acontece

através dos neurônios motores por vias eferentes. A exposição aos estímulos

despertam áreas e provocam conexões sinápticas. Dessa forma, as

26

experiências de vida que nos chegam através de estímulos, despertam áreas

rumo ao amadurecimento e de acordo com Relvas (2009, p. 57), “capacidade

de processamento de informações do sistema nervoso provem da integração

entre milhares de sinapses existentes em cada neurônio”.

Nascemos com um potencial para ser explorado, daí a importância da

entrada de informações, pois como não somamos muito mais células ao

nascer, temos a possibilidade de aumentar o tamanho das células e o número

de arborizações que favorecem mais conexões e assim possibilitam uma maior

formação de circuitos. A experimentação sensorial e motora propicia recrutar

circuitos que já haviam sido estabelecidos, fortalecendo-os moldando-os ou,

recrutando novos circuitos.

http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=740 acesso 17/01/2015

Observamos na imagem acima, três lâminas de idades distintas que

seriam os períodos críticos, ou seja, períodos em que há grande capacidade

de plasticidade no SNC, sendo a primeira ao nascer, com a formação de

circuitos e início das ramificações, a segunda aos seis anos com muito mais

potencial de formação de circuitos, devido a grande arborização e a terceira

27

aos quatorze anos, com menos potencial de formação de circuitos, pois no

sistema precisa prevalecer o que terá relevância para a idade, excluindo o que

não se faz necessário, como uma poda sináptica. Percebe-se que não há um

aumento na quantidade de neurônios muito significativa nas três lâminas, mas

percebemos uma arborização crescente da segunda para a terceira. A imagem

ratifica a importância da diversidade de estímulos para a idade de até 6/7 anos,

que compreende a educação infantil e alfabetização, pois o sistema está

preparado e ávido para estabelecer através de suas ramificações, novas

conexões.

As regiões de informações primárias amadurecem mais rápido,

enquanto regiões de processamentos mais elaborados precisam de estímulos

para serem processados e amadurecerem. Então áreas primárias precisam

estar maduras para que as áreas secundárias e terciárias amadureçam. A

região do córtex pré-frontal que compreende funções como raciocínio, tomada

de decisões e planejamento, amadurecendo mais tardiamente, por exemplo,

uma criança de 2 ou 4 anos não tem condições de processar e trabalhar

determinadas informações mais elaboradas, para isso é necessário criar uma

gama de informações para que ela possa amadurecer e mais adiante dê um

passo a frente. Se o propósito for explorar o potencial nato, devemos criar

condições de estímulos para que aquele sistema básico possa ser ampliado,

impregnando o sistema para ativar circuitos.

http://neuroenfermagem.blogspot.com.br/. Acesso em 17/01/2015.

28

Em resposta a experiência, a plasticidade neuronal é uma capacidade

de fazer, desfazer e refazer as sinapses, seja enfraquecendo, fortalecendo ou

moldando os circuitos.

Plasticidade, denominada segundo Relvas (2012, p. 119), como

“capacidades adaptativas do sistema nervoso cerebral, ou seja, é a sua

habilidade para modificar sua organização estrutural própria e funcionamento”,

sendo uma constante evolução e mudança do SNC em decorrência da

adaptação as experiências vividas ou por uma necessidade de continuidade

nos casos de lesão que atinja o SNC, podendo remodelar circuitos e áreas

para que assumam funções de outras áreas, mas que nesse caso dependem

de alguns fatores como menciona Relvas (2012, p. 120), “a idade do indivíduo,

a área da lesão, o tempo de exposição aos danos, a natureza da lesão, a

quantidade de tecidos afetados, os mecanismos de reorganização cerebral

envolvidos, assim como outros fatores”. Desde o nascimento muitas

habilidades vão sendo adquiridas e o conhecimento vai sendo construído a

cada investida da criança, nessa forma adaptativa, o cérebro com todo

potencial de plasticidade, remodela-se em suas conexões.

Partindo do princípio de que o cérebro é uma grande engrenagem,

com interconexões muito complexas e coesas que desempenham inúmeras

funções em milésimos de segundos e com grande potencial de plasticidade,

não se pode ainda acreditar no antigo mito de que o indivíduo usa 10% do

cérebro, pois estaríamos no mínimo subjulgando um potencial pautado na

ciência.

29

CAPÍTULO II

CANAIS SENSORIAIS

2.1 Pego, falo, como, cheiro e escuto, logo existo!

Imagine a seguinte história: Fim do dia... Passeando pelas ruas ao final

desse dia intenso de trabalho na loja de perfumes do shopping, me permito

uma escapadinha na loja de doces, escolho uma bala linda, vermelha brilhante

em formato de morango, mas o seu sabor não é nada de morango, confesso

era até meio azeda. Trânsito bem engarrafado, atravesso a rua, mas acabo

esbarrando no retrovisor de um dos carros, que buzina desesperadamente me

assustando. Na calçada uma criança chora por sua boneca novinha que caiu

no chão e me abaixo para ajudar, nesse momento me invade uma sensação

muito boa, pois a boneca tinha um cheirinho que me lembrou da infância...

Que cheiro bom de borracha de boneca! A minha tinha roupinhas vermelhas e

me lembrei inclusive do momento em que a ganhei, pois era dia de Natal, a

casa estava cheia e a família toda reunida! Minha boneca chegou numa linda

caixa de presente e juntas ficamos por anos...

Essa pequena história, exemplifica a infinidade dos momentos que o

indivíduo passa durante o dia a dia que o leva a uma excursão por cheiros,

gostos, sons, imagens e texturas, num movimento dialógico que vai

permeando e impregnando o nosso sistema com informações que podem se

tornar nossas lembranças futuras e, a forma de percepção será diferente

mesmo que os indivíduos tenham a mesma experiência.

Um bebê quando é exposto a um novo sabor pela primeira vez, muitas

vezes realiza uma careta, parecendo uma tentativa de reconhecimento do

sabor ou então, numa busca de relacionar com algo que já tenha

experimentado tentando estabelecer uma relação, uma semelhança com

30

algum conhecimento prévio. Nesse momento explora sua textura, temperatura,

seu gosto e melhor ainda, se puder tocar.

As informações chegam pelos nossos órgãos sensoriais que são os

nossos canais sensorialmente preparados para o recebimento do mundo e

fazendo um paralelo em termos de continuidade, assemelha-se com os

números naturais da matemática, em uma infinita perspectiva de conhecimento

de mundo, porém, para que seja possível compô-lo faz necessário que se

tenha acesso a eles, afinal, os adultos diferenciam o doce, do salgado e do

azedo, pois foram apresentados aos mesmos durante a vida através das

experiências e já possuem representação mental do que é.

No período da escola, aprende-se sobre os sentidos clássicos: tato,

paladar, audição, olfato e visão e como são utilizados no dia a dia e assim,

nossas crianças agregam uma contextualização a esses componentes de

conhecimento da vida, que antes passavam despercebidos, agora são

apresentados com nome e função específica. Esses cinco sentidos tradicionais

seriam de senso comum, mas segundo o neurocientista Lent (2010, p. 186)

considera como modalidades a “visão, audição, somestesia (que o senso

comum chama impropriamente de tato), gustação ou paladar e olfação ou

olfato” e seguindo essas modalidades de canais sensoriais será arregimentado

o trabalho.

Sensação é a forma primária no qual se recebe a informação do

ambiente iniciando as transformações dos sinais elétricos para ativas áreas

sensoriais no córtex; a percepção é a seleção, interpretação e organização das

sensações e a cognição, processo e objetivo final seria a manipulação dessas

percepções, ou seja, como se trabalha com essas percepções.

Os canais sensoriais visam integrar meio interno e externo do

indivíduo, afinal, o organismo primariamente busca a sobrevivência do sistema

e assim, precisa perceber o ambiente interno e externo, consciente ou

inconscientemente. Esse ambiente pode ser percebido através de três vias de

31

informações: exterocepções, que vem de fora do corpo e engloba a maioria

dos nossos canais sensoriais clássicos; interocepções que são informações

que vem de dentro do corpo; e propriocepção que é a noção do próprio corpo

no espaço, como o indivíduo se percebe nesse espaço e essa noção acontece

desde sempre, quando tocamos o corpo do bebê, ou na educação infantil em

que o profissional realiza atividades de reconhecimento corporal onde cada

movimento é uma descoberta sensorial. Por vias aferentes a entrada sensorial

é captada via medula espinhal que incluem informações do tato ou que

venham pelo nervo craniano onde incluem todos os outros sensoriais e mais o

tato, para serem no SNC, integradas e processadas desencadeando respostas

específicas por vias eferentes que são descendem do córtex. No SNC o

Tálamo, que possui fibras direcionadas ao córtex e fibras que retornam do

córtex para o tálamo são destinadas as áreas sensitivas. Segundo Machado

(2000, p. 246), “todos os impulsos sensitivos, antes de chegar ao córtex, param

em um núcleo talâmico, fazendo exceção apenas os impulsos olfatórios”.

Nesse centro talâmico as informações começam a ser modificadas facilitando

a interpretação cortical e para poder armazenar como memoria de longa

duração ou não.

Machado (2000, p. 257) ratifica que “no córtex cerebral chegam

impulsos provenientes de todas as vias da sensibilidade que aí se tornam

conscientes e são interpretadas”.

Essas informações são detectadas pelos neurônios sensoriais

primários que convertem energia específica em atividade elétrica, denominada

essa conversão de transdução de energia, ou seja, é uma forma de

transformar essa informação recebida em uma linguagem que o cérebro

entenda, sendo então os neurônios sensoriais os primeiros conversores de

códigos do sistema. Como os neurônios se especializam para determinado

neurotransmissor, o estímulo específico será detectado por um neurônio

específico que excitarão células específicas nas estruturas sensoriais, pele,

bulbo olfatório, papila gustativa, cóclea e retina para gerarem os primeiros

códigos elétricos para o sistema, levando então a sensação inicial ao nível de

32

tálamo iniciando as percepções, e de tálamo para córtex. A percepção vai

traduzir essas informações codificadas e o conjunto de códigos gerados,

passam por múltiplos circuitos para serem processados, analisados,

comparados e integrados, gerando uma representação daquela informação

inicial, que é a percepção, primeiro processo de cognição. Então, se

identificamos uma sensação, já podemos considera-la percepção, pois houve

análise e análise é um componente cortical.

Então nesse processo apresenta-se: captação da sensação,

transdução de energia, geração de códigos, codificação dos códigos

corticalmente e percepção com formação de representações.

Estando o sistema exposto a vários processos experimentais

(estímulos), trazem informações que criam um repertório de conexões, onde

cria-se as nuances de análise e interpretação das representações, que

favorece para que seja criada uma gama de possibilidades, de referências

para que novas aprendizagens possam se estabelecer. A experiência então é

o substrato para o trabalho do cérebro, que com potencial de plasticidade, vai

aprendendo e mudando, fazendo nosso cérebro trabalhar. Dessa forma,

nossas necessidades, nossas demandas vão mudando nossas conexões

conforme crescemos.

O nosso sistema sensorial é mais interpretativo e associativo do que

somente detecção das informações pura e simples, realizam a junção dessas

informações, a construção da percepção, a formação da memória, a integração

sensório-motora, trabalho mental e a regulação de nossos órgãos.

O modelo de circuitos existentes será diferente de um indivíduo para

outro, pois depende do que cada um já tem de circuitos, dessa forma cada

indivíduo tem um padrão de circuitos conforme suas vivências interesses e

demandas que são diferentes.

33

2.2 Visão

Teremos o globo ocular, a retina e uma área central com alta

densidade de receptores denominada fóvea que proporciona uma ótima

acuidade visual e alta resolução espacial. Na região periférica da retina,

existem menos receptores e então há baixa acuidade visual, por isso, quando

foca-se ou presta-se atenção em algo, deslocam-se as fóveas para o que se

quer e assim busca-se uma melhor acuidade visual. Somos seres visuais,

nossos olhos são atraídos por tudo e por todos. Grande parte do nosso córtex

foi sendo especializado ao longo da evolução para processamento das

informações visuais.

Sistemas Sensoriais

Visão Retina

Receptores específicos:

Fotoceptores

Audição Cóclea auditiva

Receptores específicos:

Mecanoceptores

Olfato Bulbo olfatório

Receptores específicos:

Quimioceptores

Paladar Papilas gustativas

Receptores específicos:

Quimioceptores

Somestesia Pele

Receptores específicos: Mecanoceptores, Termoceptores e nociceptores

34

http://saludoalsol.blogspot.com.br/2013_09_01_archive.html Acesso dia 05/02/2015.

A luz traz todas as informações para o cérebro. A retina possui

receptores especializados da visão denominados fotorreceptpres que captam a

sensação, para gerar os códigos que irão se direcionar ao tálamo iniciando o

processamento e de tálamo para córtex realizando associações das

informações recebidas. Os sinais visuais são transmitidos para células que dão

origem aos nervos ópticos que levarão a informação para o cérebro.

A visão realiza um processamento muito grande ainda no olho, para

depois liberar para o córtex alguma informação para que seja feita uma

representação, a nível secundário e terciário. O nível primário o córtex vê

bordas e contrastes.

A visão nos oferta a possibilidade de localização espacial, de perceber

movimentos, de discriminar formas e cores, padroniza nossos ritmos biológicos

no claro e escuro. Como o cérebro “vê” cores e contrastes, procura interpretar

e comparar com o que já conhece do seu banco de imagens e por isso,

quando olha-se somente uma parte de determinada imagem, já identifica-se a

imagem se ela constar no seu banco de dados, pois o cérebro procura refazer

o desenho e interpretar sempre da melhor forma e de acordo com alguma

referência que já tenha.

35

Nosso sistema enxerga pela combinação das cores vermelho, verde e

azul através dos fotorreceptores denominados cones e envergamos o preto e

branco através dos receptores denominados bastonetes.

A dominância ocular ocorre nos primeiros meses de vida.

2.3 Audição

Divide-se em orelha externa que capta as ondas sonoras que

produzem vibrações no tímpano, a orelha média que acelera a transmissão do

som e a orelha interna que emite os impulsos elétricos até a cóclea. A audição

é coclear onde tem receptores auditivos, que são os receptores sensoriais.

Dessa forma, o estímulo elétrico que é convertido pelos receptores que ativam

as membranas da cóclea para que vibrem para o nervo acústico até o córtex.

http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Corpo/sentido4.php acesso dia 05/02/2015

Na educação infantil, as aulas de música tem papel fundamenta na

fomentação dos sentidos, não somente para a percepção auditiva, mas como

para coordenação motora, tato, desenvolvimento da linguagem e várias áreas

que se envolvem com a estimulação musical entre elas áreas ligadas a

36

matemática e o cálculo. Estudos indicam a iniciação musical para trabalhos

com indivíduos que apresentem discalculia.

2.4 Olfato

Para Platão os odores ou eram agradáveis ou desagradáveis, mais

existem tantos odores diferentes, que tornam-se muito difícil as discriminações.

O olfato é o mais primitivo dos sensoriais, pois tem uma via direta com

o córtex, dessa forma, nomeamos e classificamos muito mais do que

detalhamos sobre como é o cheiro de algum perfume ou comida por exemplo..

O nariz possui quimiorreceptores na mucosa nasal que dissolvem as

moléculas. Os sensoriais tem um mapa cortical, mas o olfato não o tem e por

isso essa dificuldade de discriminá-lo primariamente, pois atua em associação

com várias áreas e sentidos. Apesar de diversos estudos tentando buscar os

cheiros primários, foi percebido que seria inútil essa busca, dessa forma os

neurônios olfatórios respondem a vários odores com diferentes frequências

(códigos elétricos) e como não há poder discriminativo, responde-se como um

cheiro bom, ruim, fedorento e etc, mas sempre nomeando como cheiro de

maçã, bife, gelatina e muitos outros.

O bulbo olfatório é o responsável pelo primeiro estágio de

processamento das informações, onde acontece a identificação de cada

cheiro, seguindo depois direto para o córtex sem passar pelo tálamo.

37

http://www.ictusyalzheimer.com/alzheimer-y-otras-demencias/tiene-el-alzheimer-un-origen-infeccioso/

Acesso 05/02/2015.

Segundo Lent (2010, p. 340) “a função do sistema olfatório é traduzir a

estimulação dos odorantes em padrões de impulsos que sejam reconhecidos

pelas regiões corticais apropriadas”. Substâncias voláteis que estão no ar e

que chegam as células olfativas mandando então sinais para o córtex para que

sejam criadas representações. As informações que recebemos pelo sistema

olfatório são associadas a outros sentidos para que possamos realizar

comparações e registros. Os referenciais olfatórios são muito fortes.

Aos comermos ou manipularmos alimentos, os mesmos liberam

substâncias no ar que são inaladas pelos indivíduos e assim cria-se referência

daquele cheiro ao alimento. Paladar e olfato trabalham em conjunto criando

essas representações e a submissão de um prejudica a identificação, assim

como tato e visão complementa essa representação.

2.5 Paladar

Para falar de paladar é preciso entender que trata-se de uma mistura

sensorial. Inicialmente usa-se a gustação para detecção de moléculas

38

químicas nas papilas gustativas que serão responsáveis em fornecer os

sabores primários, o gosto. A língua tem alta intensidade de inervação e

grande representação cortical. Por essa mistura sensorial torna-se muito difícil

definir qual é o gosto primário de determinado alimento. Por exemplo, como

definir o gosto do strogonoff? Quais os gostos presentes?

O sistema trabalha com receptores de cinco sabores sendo, doce,

salgado, azedo, amargo e o umami (este último já com início de inclusão nos

livros escolares) que vem de um receptor específico para o glutamato. Dessa

forma, nosso sistema trabalha com neurotransmissores específicos para esses

cinco sabores.

http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25720 Acesso em 06/02/2015

Essa mistura torna quase impossível definir quanto percentualmente

cada alimento compõe de azedo ou doce por exemplo, e além disso, o paladar

39

está associado a outras áreas sensórias como a visão, o tato e o olfato,

envolvendo uma interação sensorial de vários estímulos.

Quando estamos resfriados, os alimentos parecem perder o sabor,

porém não é bem oque acontece, pois a papila gustativa continua mandando

sinais elétricos, porém como detectamos também o odor do alimento

realizando uma associação para identificá-lo, estando o nariz entupido, exclui-

se um componente importante que é o olfato, mas o gosto continua o mesmo.

Entende-se então que o paladar não seria somente os sinais que as

papilas gustativas recebem, mas um conjunto de interações não só olfativas,

mas visuais do alimento e táteis ao percebendo a textura do alimento.

Paladar é mais do que gustação, pois é também um canal

interpretativo podendo até mesmo enganar os indivíduos. Se ao olharem uma

maçã, fecharem os olhos e lhe derem uma pêra para comer, inicialmente seu

sistema interpretará e comerá como uma maçã, somente depois de algum

tempo identificará que está incoerente, já que também terá o olfato para ajudar

nessa representação. Para conhecermos o gosto, a forma ou o cheiro da

maçã, necessitamos que o nosso sistema tenha sido apresentado tanto a

maça, quanto a pêra para que seja possível o processo de codificação e

comparação.

Como temos um sistema ávido por informações notamos crianças

pequenas levando objetos a boca e dessa forma cria representações do

objeto.

2.6 Somestesia

Comumentemente conhecida como tato, percebe e detecta

informações sobre o corpo. A pele tem inúmeros receptores sendo para toque,

através de estímulos mecânicos nos mecanoceptores; dor, através de

40

estímulos mecânicos, térmicos e químicos intensos nos nociceptores;

temperatura, através de calor e frio nos termoceptores; e propriocepção,

através de movimentos e posição estática do corpo nos mecanoceptores.

Se apertarem seu braço haverá uma deformação na pele e os

receptores específicos, os mecanoreceptores detectam essa deformação e

criam códigos elétricos que refletem a intensidade do estímulo. Se a

deformação for maior ou maior mudará a frequência de impulsos.

Quanto maior a aglomeração de neurônios em determinada área,

maior será a representação cortical, possibilitando maior poder de

discriminação.

No capítulo I o homúnculo de Penfield demonstra lábios e mãos

enormes justamente porque os dedos, por exemplo, possuem muitos terminais

de neurônios chegando e ficam muito próximos um do outro tendo no córtex

uma representação maior. Quanto maior aglomeração de terminais de

neurônios, mais receptores, ou seja, maior inervação e maior a capacidade de

complexidade de movimentos, de controle e eficiência de movimentos. A bixa

inervação leva a um baixo refinamento de controle motor e por isso tem-se

muito mais habilidades nos dedos do que no ombro.

O lábio e a língua tem uma representação tátil muito forte e consegue

discriminar objetos de uma forma muito mais eficiente.

Nossos receptores táteis, possibilitam o auxílio na formação de

representações mentais ao unir-se a outros sentidos criando relações e por

esse motivo e pela avidez com que o sistema quer suprir uma demanda, a

criança não se contenta em somente ver um objeto, afinal, somente ver não

suprirá suas necessidades, é preciso também tocá-lo, levá-lo a boca e

consequentemente cheirá-lo pela proximidade dos órgãos.

41

CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DOS ESTÍMULOS SENSORIAIS

NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Envolto, o feto ouve ruídos deformados dos batimentos cardíacos do abdome e da respiração, com suas acelerações e desacelerações. Ouve a voz de sua mãe, com sua tonalidade própria e suas variações, bem como os ruídos de objetos e as vozes exteriores; são diversos os estímulos internos e externos que atingem os receptores do feto após serem filtrados e atenuados pelos tecidos maternos. O feto se adaptará a eles escutando e até mesmo respondendo, pelo movimento que já possui, o sentido de uma adaptação ao mundo externo. Por outro lado, o feto em movimento busca contatos; ele toca com as mãos a placenta e, com os pés, as costas e a cabeça, toca e empurra a parede uterina. (Aucouturier, 2007, p.25).

Até os três meses de vida pré-natal ocorrem grande proliferação e

migração e as vias precisam desbravar caminhos para fazer conexões, ou

seja, o axônio precisa atingir o seu alvo. A aprendizagem começa na vida pré-

natal.

Ao nascer, um conjunto de conectividades basal nasce com o

indivíduo, um cérebro imaturo mas com potenciais para serem usados. Essa

conectividades serão alteradas conforme a exposição aos estímulos e a

experiência irá trabalhar os circuitos inicialmente estabelecidos.

A informação é o substrato para o sistema trabalhar e na educação

infantil onde as crianças parecem ter muito mais do que dois olhos,

compreende uma fase importante dos períodos críticos como mencionado no

capítulo I, fase de importante formação, migração e mielinização. As muitas

ramificações dendríticas permitem uma capacidade de conectividade maior,

pois o sistema está apto para estabelecer e gerar padrões. A criança nessa

idade olha, observa, escuta, experimenta, imita e explora, favorecendo sua

aquisição de conhecimento de mundo. A curiosidade e a exploração são da

natureza humana. Ao mesmo tempo, nesse período escolar, o profissional

42

observa as reações da criança ao estímulo apresentado durante uma música,

a luz, a reação ao toque, aos padrões de movimento esperados para essa

idade, e as reações poderão se diferentes de uma criança para outra.

Nesse diálogo professor e aluno, traça-se caminho de propostas

através das pistas do que seu sistema necessita e que a própria criança muitas

vezes nos oferta essa mensagem. Por isso, a escuta e observação precisam

ser fundamentais no processo de acolhimento do que a criança nos informa

seja de forma declarativa ou não, seja gestualmente ou com todo o corpo..

Quanto maior as experiências nesse período em que o sistema está

ávido por trabalho e informações, melhor será a capacidade das crianças

ampliarem suas conexões, aumentando seus padrões de circuitos que serão

posteriormente refinados através das experiências e da demanda do indivíduo.

O fluxo de informações estabelecem e reforçam padrões de circuitos,

propiciando que o estímulo faça o córtex ampliar até os 6 anos, desenvolvendo

a integração sensório- motora que criará um banco de dados de informações

que serão utilizadas pelo sistema para produzir conhecimento, já que o sistema

é comparativo e irá comparar o que já se tem de reserva no banco de dados

com o que se percebe de novo, o trabalho descritivo é de suma importância

nessa idade para que o cérebro possa esmiuçar e perceber melhor cada objeto

do mundo, esse estímulo na escola propicia construções mentais,

vocabulários, percepção visual e tátil e auditiva dos objetos.

Uma aprendizagem relacional cria muito mais links para as conexões e

integração dessas informações assim, o sistema é exposto a informações que

vão ser armazenadas ou não, dependendo da demanda do indivíduo durante a

vida e cada vez que vãos introduzindo novos componentes que tem ligação

com outros, reforçamos os circuitos e iniciamos um processo de consolidação

da informação. As experiências criam contexto linguístico, criam relações

sensoriais para que se possa processar, comparar, associar, analisar

informações. As associações auditivas, visuais, táteis, olfativas, gustativas,

43

realizadas de diferentes formas, cria-se conexões neurais fortalecidas e quanto

mais fortalecidas, mais fácil criar links de associações, sendo então mais fácil

resgatar a informação seja pelo cheiro, pelo gosto, pelo som...

Se dermos ferramentas para o cérebro ele trabalha. O fazer através

das atividades é a base para o fortalecimento dos circuitos.

A aprendizagem acontece então com uma entrada sensorial, um

registro sensorial, que o aspecto atencional vai lhe conferir importância para

que haja um armazenamento de curta duração ou armazenamento de longa

duração no sistema, para que assim ocorra aprendizagem.

Se uma criança não é estimulada adequadamente dentro de seu

período crítico que muito se assemelha aos períodos de Piaget ou Vigotsky,

não terá base para chegar ao perceptivo-simbólico, sem explorar os objetos e

o ambiente com seu corpo e seus sentidos, não desenvolverá a lógica. Dessa

forma, é preciso desenvolver os sentidos para desenvolver habilidades que

serão fundamentais como uma base de pressupostos para outras ações.

Conforma as informações vão entrando e sendo percebido pelo sistema, maior

a capacidade de perceber e entender como funciona o mundo e como se

inserir nesse mundo será justamente o que o indivíduo, e não somente as

crianças, irão trabalhar e fazer com as informações que já tem.

Todo ato é uma integração sensório- motora, afinal até para decidir

qual o braço vamos mexer se faz necessário, por exemplo, que nossa visão e

audição nos auxiliem. Porém, para tanto é preciso ter registros prévios, ou seja

circuitos já formados e fortalecidos. Conforme Houzel (2002, p. 25) “quando a

eficiência aumenta, a conexão entre dois neurônios fica “fortalecida”; quando

diminui, a conexão fica “enfraquecida”. Dessa forma, se fortalecermos as

conexões possibilitamos novas associações. Todo esse sistema de atitudes e

possibilidades de associações irão refletir adiante quando os alunos estiverem

no fundamental.

44

O método tradicional tende a explorar aulas expositivas, tendo o aluno

como um recipiente de informações direcionadas, com exercícios que

provoquem memorizar e não relacionar. O método construtivista trabalha com

o uso, com a construção e a experimentação, ou seja, construir

representações através das informações, dessa forma propicia uma interação

com o meio e com seus pares, desperta o interesse, cria vínculos e como essa

informação foi apresentada e adquirida é que irá determinar uma

aprendizagem mais significativa. Nesse processo se o componente afetivo

estiver envolvido, as mesmas informações serão carreadas para muitas

associações, coordenando e facilitando seu armazenamento na memória.

A cognição será o trabalho realizado com essas informações que a

percepção oferta e com base nessas impregnação no sistema através de

diferentes formas, a ancoragem estará pronta para novas aprendizagens.

45

CONCLUSÃO

A industrialização, a formação para o trabalho, a priorização de

matérias como português e matemática em idades muito iniciais e com

elementos muito pré-determinados, em detrimento da dança, música, artes,

psicomotricidade, parece andar na contramão das necessidades do sistema

sensorial.

Não há o que verificar o que cada estímulo vai gerar minuciosamente

no SNC da criança, pois somos muito particulares e não existe como

verificamos em todo o trabalho um sistema único e sim um complexo circuito

de conexões que podem se formar de acordo com a apresentação aos

estímulos.

O que muda de um indivíduo para o outro ou de um indivíduo para um

rato é justamente a complexidade do sistema de circuitos e o banco de dados

que se formou e que poderão ser utilizados pelo sistema para criar, recriar,

inventar e produzir conhecimento. Nessa produção, não só a família precisa

ser constante no processo, mas o profissional educador que antemão de

fundamentação teórica, possui mais possibilidades de intervenção no

favorecimento desse processo.

A habilidade está disponível para todos, mas a impregnação do

sistema vai depender dos estímulos apresentados e o aspecto afetivo

envolvido.

A linguagem envolve ver, ouvir, pegar para que haja compreensão,

interpretação.

O estudo nos leva a um repensar do processo de construção da

aprendizagem, muito além de quanto o aluno aprende, mas como o aluno

aprende, como pode ser feito na práxis momentos em que se possam integrar

46

sensações e favorecer mudanças. Não é jogar mais conhecimento puro e

simplesmente, que irá nos garantir conhecimento, mas a inovação, ou seja o

processo criativo do profissional em desenvolver estratégias lúdicas e assim

também estimular a manutenção da criatividade de suas crianças. Explorar e

permitir essa exploração faz parte do processo de aquisição de representações

do mundo que cerca a criança e privá-las dessa descoberta é não apresentar o

que acerca, é não permitir a criação de vínculos, é não favorecer o

desenvolvimento.

Como esperar que uma criança tenha uma imaginação fértil, no

sentido criativo, se não subsidiarmos através de estímulos básicos? Torna-se

impossível que uma criança no escuro possa imaginar que viu ou escutou o

latido do cachorro, se não foi apresentada antes ao animal. A informação do

cachorro precisa parti de alguma informação básica.

Relvas (2012, p.120) faz um colocação interessante que exemplifica

bem essa mudança onde “uma aprendizagem que exercitamos no dia a dia,

um milissegundo atrás é diferente do momento atual.”

Seria de muito agrado que as formações de professores tivessem

maior acesso e ênfase em como seu aluno aprende, em como o fazer pode

mudar um comportamento de forma tanto positiva como negativamente. A

aplicabilidade do saber teórico no conjunto de intersecções de vários saberes,

buscando o todo e assim criando um envolvimento maior com a busca de

potencializar não somente seus alunos, mas a sua prática, intercruzando os

saberes.

O processo ensino-aprendizagem exige planejamento, interação,

organização, recursos diferenciados e principalmente motivação de quem

ensina como forma de contagiar quem aprende. Quais experiências levam- se

para a escola e como pode-se levantar o mesmo assunto sobre formas

diferentes?

47

Claro que não se pretende nesse trabalho, guiar um fazer profissional,

mas primariamente, fomentar a busca dessa intersecção teórica como

proposta de potencializar as intervenções pedagógicas, saindo de uma visão

singular, para a possibilidade do todo, partindo do conhecimento de como o

cérebro das crianças funcionam e de que nada é definitivo, pois a plasticidade

traz ao educador a visão do caminho a prosseguir a partir do que o aluno tem

de conhecimento, através das artes, a música, o corpo, as histórias, os

desenhos, as possibilidades do brincar livre e quaisquer meios que visem as

diferentes formas de abordar o mesmo assunto.

Na sala de aula da educação infantil, está um sujeito, em pleno

período de transição, onde tudo está mudando na velocidade de um clique e

que só faz acentuar a distância do que se tem acesso, com o que se ensina na

escola. Os relatos dos profissionais sobre suas dúvidas acerca de seus

sistemas de atitudes perante esse aluno que chega, aborda ano após anos as

mesmas atitudes não acompanhando essa mudanças, vivendo num modelo de

saudosismo como se antigamente fosse muito melhor e descartando qualquer

possibilidade de que o antigamente não se adequa mais as necessidades, as

demandas do aluno atual.

Não há como fechar a porta e ser imutável nessa transição perante

os inúmeros artigos acadêmicos ou informações relacionadas na mídia sobre a

importância de se conhecer o cérebro das crianças. A plasticidade também

está presente nos adultos e nos propicia novas aprendizagens.

48

BIBLIOGRAFIA

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Atheneu, 2010.

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49

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http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25720

Acesso em 06/02/2015

50

ÍNDICE

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - A ESTRUTURA CEREBRAL

1.1 – Breve história do cérebro 11

1.2 – Organização do sistema nervoso 15

1.3 - Hemisférios cerebrais 18

1.4 – Células Neuronais 21

CAPÍTULO II - CANAIS SENSORIAIS

2.1 – Pego, falo, como, cheiro e escuto, logo existo! 28 2.2 – Visão 33 2.3 – Audição 35 2.4 – Olfato 36 2.5 – Paladar 37 2.6 – Somestesia 39

CAPÍTULO III – A IMPORTÂNCIA DOS

ESTÍMULOS SENSORIAIS NA EDUCAÇÃO

INFANTIL 41

CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA 48

WEBGRAFIA 49 ÍNDICE 50