DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE … · 2014. 4. 22. · 1 paranÁ governo...

20

Transcript of DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE … · 2014. 4. 22. · 1 paranÁ governo...

  • 1

    PARANÁ

    GOVERNO DO ESTADO

    SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED

    DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

    Ficha para Catálogo Produção Didático-Pedagógica

    Professor PDE/2009

    Título (In)Visibilidade em práticas discursivas: a leitura do texto publicitário em sala de aula

    Autor Maria Judite dos Santos

    Escola de Atuação Colégio Estadual Almirante Tamandaré – Ensino Fundamental e Médio

    Município da Escola Tuneiras do Oeste – PR

    Núcleo Regional de Educação Cianorte – PR

    Orientador Drª Roselene de Fátima Coito

    Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Maringá – UEM

    Área do Conhecimento/Disciplina Língua Portuguesa

    Relação Interdisciplinar Não

    Público Alvo Professor

    Localização Colégio Estadual Almirante Tamandaré – Ensino Fundamental e Médio

    Rua: Nossa Senhora Aparecida, S/N

    Resumo O presente caderno temático é uma produção didático-pedagógica direcionado aos professores do Ensino Médio e tem como objeto de estudo o quadro conceitual básico da teoria da análise do discurso de orientação francesa, destacando as propagandas publicitárias como meios de construção e legitimação de dizeres. Acreditamos que a teoria eleita articula o linguístico com o social e o histórico, onde a linguagem passa a ser estudada não apenas enquanto forma

  • 2

    linguística, mas como forma material, ou seja, essa teoria trata das questões relativas aos efeitos de sentido. No entanto, este material não deve visto como um manual, mas como um passo para o aprofundamento teórico do objeto de estudo.

    Palavras-chave Análise do Discurso; Discurso; Propagandas Publicitárias; Sentido.

  • 3

    ((IINN))VVIISSIIBBIILLIIDDAADDEE EEMM PPRRÁÁTTIICCAASS

    DDIISSCCUURRSSIIVVAASS:: AA LLEEIITTUURRAA DDOO TTEEXXTTOO

    PPUUBBLLIICCIITTÁÁRRIIOO EEMM SSAALLAA DDEE AAUULLAA

    CCaaddeerrnnoo TTeemmááttiiccoo

    TUNEIRAS DO OESTE

    2011

  • 4

    SSuummáárriioo

    AAPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO//PPLLAANNOO NNOORRTTEEAADDOORR ......................................................................................................................

    PPRROOCCEEDDIIMMEENNTTOO ..................................................................................................................................................................................................

    TTEEXXTTOO 11 –– OO SSUURRGGIIMMEENNTTOO DDAA TTEEOORRIIAA DDAA AANNÁÁLLIISSEE DDOO DDIISSCCUURRSSOO ..........

    TTEEXXTTOO 22 –– AA TTEEOORRIIAA DDAA AANNÁÁLLIISSEE DDOO DDIISSCCUURRSSOO ..........................................

    TTEEXXTTOO 33 –– PPRRÁÁTTIICCAASS DDIISSCCUURRSSIIVVAASS EEMM PPRROOPPAAGGAANNDDAASS PPUUBBLLIICCIITTÁÁRRIIAASS ..

    TTEEXXTTOO 44 –– PPRROOPPAAGGAANNDDAASS PPUUBBLLIICCIITTÁÁRRIIAASS NNAA SSAALLAA DDEE AAUULLAA SSOOBB AA

    ÓÓTTIICCAA DDAA AANNÁÁLLIISSEE DDOO DDIISSCCUURRSSOO ......................................................................................................................................

    OORRIIEENNTTAAÇÇÕÕEESS//RREECCOOMMEENNDDAAÇÇÕÕEESS ....................................................................................................................................

    PPRROOPPOOSSTTAA DDEE AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO ..............................................................................................................................................................

    RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS ..........................................................................................................................................................................................................

    CCOONNTTRRAATTOO DDEE SSEESSSSÃÃOO ........................................................................................................................................................................

    TTEERRMMOO DDEE SSEESSSSÃÃOO ........................................................................................................................................................................................

    55

    66

    77

    99

    1122

    1133

    1155

    1166

    1177

    1199

    2222

  • 5

    AAPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO//PPLLAANNOO

    NNOORRTTEEAADDOORR

    11 TTEEMMAA

    Prática pedagógica de leitura midiática.

    22 JJUUSSTTIIFFIICCAATTIIVVAA

    Os estudos da linguagem, conforme Sousa e Santos (2008) sempre estiveram presentes em nossa sociedade e, de uma maneira geral, sempre se preocuparam mais com a linguagem como produto acabado, isento das condições de produção. À medida que tais estudos foram evoluindo, surgiu a necessidade de desviar o enfoque do produto final para enfatizar as condições do processo de produção.

    Em meio a essa realidade, surge, na década de 1960, a teoria da análise do discurso de linha francesa. Essa teoria designada de análise do discurso de linha francesa ou “derivada de Pêcheux” foi introduzida no Brasil, em fins da década de 1970, por Eni Puccinelli Orlandi.

    Ao surgir, essa teoria procura sobretudo combater uma tendência interpretativista/conteudista que lida com o texto como se ele fosse uma superfície transparente, onde, naturalmente, os indivíduos mergulham para buscar os sentidos. A análise do discurso trata das questões relativas ao sentido e não do conteúdo do texto; por isso, o sentido é concebido como o que não é traduzido, mas produzido. Assim sendo, a análise do discurso articula o linguístico à história e a memória, colocando a linguagem na relação com os modos de produção social.

    Neste sentido, para Orlandi (1987) a análise do discurso busca a compreensão do processo discursivo,

    ou seja, ela problematiza a atribuição de sentido(s) ao texto. Então, a tarefa do analista de discurso não é interpretar, mas compreender como um texto funciona, ou seja, como ele produz sentidos.

    De modo geral, a referida teoria procura articular o linguístico com o social e o histórico, onde a linguagem é estudada não apenas enquanto forma linguística, mas como forma material. Por isso, este caderno pedagógico elegeu essa teoria para refletir sobre as práticas discursivas em propagandas publicitárias veiculadas na mídia, com o intuito de demonstrar as ideologias que as engendram.

    33 PPÚÚBBLLIICCOO--AALLVVOO

    O caderno temático será direcionado ao professor de Língua Portuguesa para que ele possa utilizá-lo no 2º ano do Ensino Médio.

    44 OOBBJJEETTIIVVOOSS

    Estudar os princípios teóricos da análise do discurso, em especial os erigidos por Michel Pêcheux;

    Determinar as categorias teórico-metodológicos, para o exercício da prática pedagógica de leitura, de múltiplas linguagens;

    Desenvolver a prática analítica com propagandas publicitárias no Ensino Médio;

    Avaliar o processo de ensino e da aprendizagem da leitura pelos dispositivos empregados.

  • 6

    PPRROOCCEEDDIIMMEENNTTOO

    Este caderno temático refere-se à produção didático-pedagógica, direcionada para a implementação do projeto na escola, composto de quatro textos que objetivam o aprofundamento teórico/metodológico do tema em questão.

    O caderno temático é direcionado aos professores do Ensino Médio e tem como objeto de estudo o quadro conceitual básico da teoria da análise do discurso de orientação francesa, destacando as propagandas publicitárias como meios de construção e legitimação de dizeres. Além do mais, a propaganda pode criar por meio dos processos de comunicação uma ideologia que interpela sujeitos com possibilidades de modulação na conduta.

    Para tanto, primeiramente, discute-se a teoria de análise do discurso de linha francesa, dando destaque ao seu surgimento e analisando-a como uma disciplina de entremeio, onde são discutidos seus pressupostos continuamente.

    Em seguida, trata da teoria da análise do discurso, enfatizando que o estudo da língua deve estar aliado ao aspecto social e histórico, ou seja, trata especificamente sobre a teoria de análise do discurso de linha francesa.

    Logo após, são feitas reflexões acerca das práticas discursivas em propagandas publicitárias veiculadas na mídia, com o intuito de demonstrar as ideologias que as engendram.

    Por fim, é dado ênfase nas propagandas publicitárias trabalhadas em sala de aula no Ensino Médio, tomando como referência Pêcheux, uma vez que este teórico trata do discurso não como mera transmissão de informação, mas como efeitos de sentido.

  • 7

    TTEEXXTTOO 11

    SSUURRGGIIMMEENNTTOO DDAA TTEEOORRIIAA DDAA

    AANNÁÁLLIISSEE DDOO DDIISSCCUURRSSOO

    A análise do discurso, segundo Sousa e Santos (2008) teve origem na década de 1960, em função das contribuições do lexicólogo Jean Dubois e do filósofo Michel Pêcheux.

    Os anos 60 são os anos do estruturalismo triunfante. A linguística, promovida a ciência piloto, está no centro do dispositivo das ciências [...]. O projeto da AD nasce neste contexto [...] o liame entre a expansão da linguística e a possibilidade de uma disciplina (nova) como a análise de discurso é explícita (MALDIDIER, 1994, p. 175 apud PEREIRA; ATIK, 2003, p. 5).

    A análise do discurso, conforme Garcia (2003) surgiu reagindo às

    concepções de ideologia nas teorias sociais e de linguagem na Linguística.

    No entanto, Orsatto (2009) enfatiza que, as raízes da análise do discurso são bem mais profundas. Sem negar a validade desta afirmação, a autora destaca que, é neste período, que a análise do discurso é delineada de maneira mais próxima ao que se conhece hoje.

    Para Brandão (2003) atualmente, a análise do discurso atingiu sua maturidade teórica e metodológica e se consolidou como disciplina no cenário dos estudos da linguagem, deslocando-se, por assim dizer, segundo ela, da periferia para o centro.

    A teoria da análise do discurso tem como suporte o método da análise estruturalista, o conceito de ideologia marxista e o conceito advindo da teoria psicanalítica (MUSSALIM; BENTES, 2001).

    Esses conceitos podem ser assim entendidos:

    [...] 1. o materialismo histórico, como teoria das formações sociais e de suas transformações, compreendida aí a teoria das ideologias; 2. a linguística, como teoria dos mecanismos sintáticos e dos processos de enunciação ao mesmo tempo; 3. a teoria do discurso, como teoria da determinação histórica dos processos semânticos (PÊCHEUX; FUCHS, 1975 apud GARCIA, 2003, p. 123).

    Pilha e Quadros (2009) reforçam informando que foram os estudos de Pêcheux que efetivamente forneceram uma base teórico-metodológica para o desenvolvimento da análise do discurso que, tanto para Orlandi (2003) quanto para Mutti (2003 apud PILHA; QUADROS, 2009) não é uma metodologia, mas uma disciplina de interpretação fundada pela intersecção de epistemologias distintas, pertencentes a áreas da linguística (releitura de Saussure por Pêcheux), do marxismo histórico (releitura de Marx, por Althusser) e a psicanálise (releitura de Freud, por Lacan).

    Diante disso e na visão de Orlandi (1998) percebe-se que a análise do discurso é uma disciplina de entremeio que não acumula conhecimentos meramente, pois

  • 8

    discute seus pressupostos continuamente. Ou seja, ela articula o linguístico com o social e o histórico, ocupando-se da determinação histórica dos processos de significação.

    Diante dessas constatações pergunta-se: o que é a teoria da análise do discurso?

    Assunto a ser tratado no próximo texto deste caderno temático.

  • 9

    TTEEXXTTOO 22

    TTEEOORRIIAA DDAA AANNÁÁLLIISSEE DDOO

    DDIISSCCUURRSSOO

    De acordo com Orlandi (2002) a

    análise do discurso, como seu próprio nome diz, não trata da língua, não trata da gramática, embora todas essas coisas lhe interessem.

    Neste sentido, destaca-se que, a teoria da análise do discurso trata do discurso.

    A palavra discurso, conforme Orlandi (2002, p. 15):

    “[...] etimologicamente, tem em si a ideia de curso, percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com o estudo do discurso observa-se o homem falando”.

    Atualmente, conforme Brandão

    (2011) o estudo da língua sob a perspectiva discursiva está bastante difundida, havendo várias correntes teóricas, dentre elas, a escola francesa de análise do discurso.

    A análise do discurso, com Pêcheux ganhou traços que a aproxima mais de uma disciplina de interpretação, assumindo o objetivo de explicitar e descrever montagens, arranjos sócio-históricos de constelações de enunciados (PILHA; QUADROS, 2009).

    No conceito de discurso, segundo Pilha e Quadros (2009) Pêcheux faz intervir as noções de estrutura (entendida como sistema) e acontecimento (visto sob a ótica da historicidade) como materialidades constitutivas, numa aproximação com o pensamento de Foucault (2004) que

    apresenta a hipótese de que em toda a sociedade a produção do discurso é ao mesmo tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo número de procedimentos, que tem por função conjurar seus poderes e perigos, dominar seu acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e temível materialidade.

    Pilha e Quadros (2009) destacam ainda que, ao abordar a relação entre as práticas discursivas e os poderes que as controlam e delimitam, Foucault (2004) defende que o discurso é aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar. Por isso, ele considera elementos exteriores que exercem pressão e condicionam a produção e a distribuição de discursos, referindo-se também a procedimentos internos.

    Vê-se com isso, que a concepção foucaultiana de discurso é entendida como prática, relacionando tal conceito à questão da ideologia e definindo a formação discursiva como aquilo que, numa conjuntura dada, determinada pelo estado de luta de classes, determina o que pode e deve ser dito (PILHA; QUADROS, 2009).

    Barreto (1994) também contribui para a discussão ao destacar que, ao partir da constituição simbólica do homem, da busca (inevitável) de sentidos, a análise do discurso situa as práticas de linguagem no eixo tempo-espaço. Assim sendo, pode-se dizer que, horizontalmente, estas práticas se referem a lugares sociais e verticalmente, ao processo histórico-discursivo.

    Segundo Pêcheux, a análise do discurso consiste em uma teoria não-subjetiva da linguagem que concebe o

  • 10

    sujeito não como o centro do discurso, mas como sujeito cindido pelo inconsciente e interpelado pela ideologia. Na produção do discurso, o sujeito sofre uma tripla determinação: a da língua, a da ideologia e a do inconsciente. O imanentismo constitutivo da Linguística saussuriana dá lugar à exterioridade. Essa é entendida não como mera adição, que vem de fora se sobrepor ao que está dentro, num contexto, mas como constitutiva de todo dizer (BARONAS; KOMESU, 2008, p. 11).

    Para a análise do discurso, a

    linguagem deve ser estudada não só em relação ao seu aspecto gramatical, exigindo de seus usuários um saber linguístico, mas também em relação aos aspectos ideológicos, sociais que se manifestam através de um saber sócio-ideológico. Assim sendo, para a análise do discurso, o estudo da língua está sempre aliado ao aspecto social e histórico (BRANDÃO, 2011).

    Orlandi (2001) reforça destacando que, a análise de discurso a linguagem é a mediação necessária entre o homem e a realidade natural e social. Essa mediação, que é o discurso, torna possível tanto a permanência e a continuidade quanto o deslocamento e a transformação do homem e da realidade em que ele vive.

    Neste contexto, pode-se dizer que, a análise do discurso concebe o discurso como o mediador e busca verificar as condições que permitiram o seu aparecimento, pois, ela não trabalha com a língua enquanto um sistema abstrato, mas com a língua no mundo, com maneiras de

    significar, com homens falando, considerando a produção de sentido enquanto parte de suas vidas, seja enquanto sujeitos, seja enquanto membros de uma determinada forma de sociedade.

    Ainda sobre a análise de discurso, Menegassi e Angelo (2005) enfatizam que ela parte dos princípios elencados a seguir:

    Não há um sujeito fonte de sentido, senhor da língua;

    O discurso é, ao mesmo tempo, estrutura e acontecimento (PÊCHEUX, 1997). Estrutura é a condição de base sobre a qual se desenvolvem os processos discursivos e não funciona como uma proposição estabilizada, mas encontra-se suscetível ao movimento histórico, social e ideológico;

    Texto e discurso não se confundem. O discurso apresenta-se como efeito de sentidos entre os locutores (PÊCHEUX, 1990) ou um processo de significação em que estão presentes a língua, a história e o sujeito, interpelado pela ideologia da sociedade. O texto organiza a discursividade. Por isso, deve ser visto na relação com outros textos, com os sujeitos, com as circunstâncias de enunciação, com a exterioridade, com a memória do dizer (ORLANDI, 2001). O texto é materialização do discurso.

    Ainda para Menegassi e Angelo (2005) para a análise do discurso, os sentidos não estão só nas palavras, mas na relação com o que está fora do texto, nas condições em que eles são produzidos. Segundo os autores, as condições de produção

  • 11

    compreendem, essencialmente, os sujeitos e a situação, ou seja, o contexto imediato e o contexto sócio-histórico-ideológico de ocorrência dos enunciados.

    Com isso, percebe-se que ao abordar o texto, o leitor precisa considerar as circunstâncias de produção, pois estas, conforme Menegassi e Angelo (2005) são constitutivas dos sentidos.

    Por isso, para Orlandi (2002) a análise do discurso deve se preocupar em compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, ou seja, ela deve fazer parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua história.

    Em Pêcheux, a análise de discurso é pensada como uma ruptura epistemológica em relação ao que se fazia nas ciências humanas, articulando a questão do discurso com as do sujeito e da ideologia (BRANDÃO, 2003).

    Diante disso, segundo Pêcheux (1990) a linguagem não pode ser compreendida como um sistema significativo fechado, sem relação com o exterior, mas sim a partir do contexto histórico-ideológico dos sujeitos que a produzem e que a interpretam.

    Neste sentido, compreender o processo de leitura pela perspectiva discursiva consiste em não considerar um texto como um sistema significativo fechado, sem relação com o exterior, mas sim a partir da descontinuidade da história, da dispersão do sujeito.

    Orlandi (1987) reforça que a análise do discurso busca a compreensão do processo discursivo, ou seja, ela problematiza a atribuição de sentido(s) ao texto. Com isso, a tarefa do analista de discurso passa a ser compreender como um texto

    funciona, isto é, como ele produz sentidos.

    Diante do que foi tratado até aqui, percebe-se a análise do discurso como um constructo teórico interdisciplinar que agrega conhecimentos de várias áreas, por isso, constitui-se numa disciplina apropriada para analisar textos e seus efeitos de sentido, nas diversas situações de interação social (JESUS, 2010).

    Assim sendo, adotaremos a teoria da análise do discurso para conduzir reflexões acerca das práticas discursivas em propagandas publicitárias veiculadas na mídia, com o intuito de demonstrar as ideologias que as engendram, uma vez que essa concepção procura articular o linguístico com o social e o histórico, onde a linguagem é estudada não apenas enquanto forma linguística, mas como forma material.

  • 12

    TTEEXXTTOO 33

    PPRRÁÁTTIICCAASS DDIISSCCUURRSSIIVVAASS EEMM

    PPRROOPPAAGGAANNDDAASS PPUUBBLLIICCIITTÁÁRRIIAASS

    Para tratar sobre as práticas discursivas em propagandas publicitárias tomaremos como base, as propagandas veiculadas na mídia, uma vez que, atualmente diferentes tipos de propagandas são veiculados nos mais diferentes tipos de mídia.

    Pode-se dizer que, a publicidade, neste caso, as propagandas publicitárias é considerada um dos gêneros mais acessíveis à população.

    No entanto, o texto publicitário, tem aspectos diferenciados de acordo com o produto, com o público-alvo, com o meio onde será veiculado. Essas diferenciações servem para atrair e motivar o consumidor final, fazendo com que ele sinta o desejo de adquirir o produto anunciado.

    Hoff (2007) diz que, as pessoas convivem com tanta familiaridade com as ideias e imagens veiculadas na publicidade que as aceitam como verdade e as utilizam para guiar as decisões e suas escolhas de vida.

    Como atinge um contingente numeroso e variado de pessoas, a mídia tende a ser uma fonte hegemônica e homogeneizadora de informação. Daí ser considerada uma espécie de opinião pública: “o que” divulga e “como” divulga torna-se conhecido e aceito por grande parte de sua audiência (HOFF, 2007).

    Sendo assim, pode-se destacar que, a função do texto publicitário é criar um mundo ideologicamente favorável e perfeito com a contribuição do produto a ser vendido. Por causa disto, segundo Moraes (2011) esta mensagem trata a base informativa de forma manipulada

    objetivando transformar a consciência do possível comprador.

    Além disso, a publicidade reflete e refrata as relações sociais e econômicas de uma determinada sociedade (REZENDE, 2006).

    Neste sentido, Landowsky (1997 apud REZENDE, 2006) enfatiza que, o discurso publicitário nada mais é que um discurso social entre outros e que, como os outros, contribui para definir a representação que damos do mundo social que nos rodeia. Mas, ao mesmo tempo, combinando texto e imagem, esse discurso social é talvez um dos lugares privilegiados para a figuração no sentido mais concreto do termo, de certas relações sociais.

    Por isso, Monagatti e Prados (2009) dizem que, o discurso é o ponto de articulação dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos. Partindo desse pressuposto, a análise do discurso apresenta-se como uma reflexão, em constante mudança, em que o linguístico é o lugar, o espaço que dá materialidade, espessura às ideias temáticas de que o homem se faz sujeito, um sujeito concreto, histórico de um amplo discurso social.

    Diante desse fato, a seguir será dada ênfase nas propagandas publicitárias trabalhadas em sala de aula do Ensino Médio

    Para tanto, o discurso será embasado em Pêcheux (1997a) uma vez que ele trata do discurso não como mera transmissão de informações, mas como efeitos de sentido.

  • 13

    TTEEXXTTOO 44

    PPRROOPPAAGGAANNDDAASS PPUUBBLLIICCIITTÁÁRRIIAASS

    EEMM SSAALLAA DDEE AAUULLAA SSOOBB AA ÓÓTTIICCAA

    DDAA AANNÁÁLLIISSEE DDOO DDIISSCCUURRSSOO

    Segundo Silva Filho (2011) ao trazer o gênero discursivo propagandístico para sala de aula pode-se ao ler e analisar o seu discurso, perceber os delineamentos sociais que levam à construção dos sentidos discursivos, ou seja, verificar como as práticas discursivas se processam numa dinâmica interacional, na qual os sentidos se constroem pela negociação entre os sujeitos e como esses têm suas ações motivadas ideologicamente.

    Por isso, ao estudar esse gênero faz-se necessário que, a propaganda, ou seja, o discurso publicitário seja encarado como uma construção social, não individual, que deve ser lido e analisado considerando seu contexto histórico-social, suas condições de produção, além de perceber que esse discurso reflete uma visão de mundo determinada, vinculada à do(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m) (SILVA FILHO, 2011).

    Uma vez que, o termo propaganda, segundo Sant’Anna (1998) compreende a ideia de implantar, de incluir uma ideia, uma crença na mente alheia. Com isso, percebe-se que, é papel da propaganda é influenciar os consumidores no sentido da aquisição de um produto, seja para atender ou satisfazer tanto nossas necessidades materiais quanto sociais.

    Diante disso, Silva Filho (2011) informa que é dessa forma, que a propaganda trabalha, isto é, ela explora as necessidades, identifica o ego e, por meio de estratégias

    específicas seduz, despertando nas pessoas o desejo do ato da compra.

    Para o mesmo autor, dentre as várias características manipulatórias próprias da propaganda publicitária, segundo ele que, vão desde o conjunto de características linguísticas específicas, até seu projeto argumentativo, ele destaca dois importantes elementos constitutivos desse gênero: a persuasão e a ideologia.

    Silva Filho (2011) deixa claro que, o estudo da argumentação do texto publicitário permite que se verifique como os elementos linguísticos e icônicos são manipulados objetivando a persuasão. Fica claro, portanto, que a estratégia publicitária é de natureza persuasiva e que a argumentação, de acordo com Kock (1987 apud SILVA FILHO, 2011) é uma atividade estruturante do discurso, pois é essa estratégia que marca as possibilidades de sua construção e lhe assegura continuidade.

    Os recursos que o texto publicitário utiliza para convencer ou persuadir, recorrendo aos apelos verbais e visuais, objetivam levar o leitor a acreditar naquilo que está sendo anunciado. Dessa forma, conforme Silva Filho (2011) vem carregado de ideologia que, muitas vezes (ou sempre) ilude o interlocutor.

    A questão da ideologia pode-se ser compreendida como uma visão de mundo e segundo Fiorin (2005 apud SILVA FILHO, 2011) existem tantas visões de mundo quantas forem as classes sociais. A esta afirmativa, Sandmann (1997 apud SILVA FILHO, 2011) acrescenta que, a linguagem da propaganda é, até certo ponto, reflexo e expressão da ideologia dominante.

    Tomando essas constatações como base, ao ser trabalhado com as propagandas publicitárias no Ensino

  • 14

    Médio, pode-se deixar claro para o aluno que, o processo tomado pela palavra na propaganda e seu projeto argumentativo, enquanto jogo de signos que o interlocutor emprega é utilizado para ideologicamente, dissimular a sua intenção e manipular o destinatário (SILVA FILHO, 2011).

    Diante desse fato, a análise do discurso de linha francesa, enquanto teoria vem contribuir para que o aluno compreenda o processo da interlocução em que a propaganda publicitária é produzida, ou seja, no contexto sócio-histórico em que ela se deu.

    Percebe-se com isso, que análise do discurso é uma teoria que procura investigar o funcionamento ideológico na língua, neste caso específico, texto publicitário.

    A escolha da teoria da análise do discurso de linha francesa para lidar com as propagandas publicitárias se deve a sua ênfase principalmente no materialismo histórico.

    De maneira geral, a análise do discurso por meio da propaganda publicitária permite ao aluno analisar suas formas de funcionamento para poder possibilitar um determinado sentido.

    Assim sendo, a análise do discurso torna-se de extrema importância para o estudo da ideologia engendrada na propaganda publicitária.

  • 15

    OORRIIEENNTTAAÇÇÕÕEESS//RREECCOOMMEENNDDAAÇÇÕÕEESS

    O caderno pedagógico “(in)visibilidades em práticas discursivas: a leitura do texto publicitários em sala de aula” é direcionado ao professor para que, o mesmo possa utilizá-lo em sua ação docente com alunos do 2º ano do Ensino Médio.

    Neste caderno, o texto vai além de a tendência interpretativa/conteudista para ir em busca da compreensão de como o texto funciona, ou sejam, como ele produz sentidos.

    Para tanto, recomenda-se que se leve em conta ao ser analisado as práticas discursivas em propagandas publicitárias a teoria de análise do discurso de linha francesa.

    Sendo assim, ao produzir esse caderno temático esperamos colaborar para uma análise do discurso que privilegie o estudo da linguagem em relação aos aspectos ideológicos, sociais que se manifestam por meio do saber sócio-ideológico de modo a contribuir para o estudo da língua aliada ao aspecto social e histórico.

    No entanto, este caderno temático não deve visto como um manual, mas como um passo para o aprofundamento teórico do objeto de estudo.

  • 16

    PPRROOPPOOSSTTAA DDEE AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO

    As discussões sobre a teoria da análise do discurso são de importância fundamental para à Língua Portuguesa, uma vez que essa teoria tem como objeto de estudo, o discurso que, por sua vez trata dos efeitos de sentidos produzidos.

    Diante disso, apresentamos esse caderno pedagógico sob o título “(in)visibilidades em práticas discursivas: a leitura do texto publicitários em sala de aula”.

    Ao trabalhar com as propagandas publicitárias veiculadas na mídia na sala de aula do Ensino Médio se deve contrastar com o quadro conceitual básico da teoria de análise do discurso da linha francesa posta neste caderno temático para possível avaliação do mesmo.

    Além disso, recomendamos trabalhos complementares a fim de efetivar essa teoria enquanto teoria capaz de demonstrar as ideologias que engendram as propagandas publicitárias que veiculam atualmente na mídia impressa, ou seja, em revistas.

  • 17

    RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS BARRETO, R. G. A análise do discurso do/no ensino: por novas práticas de linguagem na escola. Em Aberto, Brasília, ano 14, n. 61, jan./mar. 1994. BARONAS, L. R.; KOMESU, F. (Orgs). Homenagem a Michel Pêcheux: 25 anos de presença na análise do discurso. Campinas, SP: Marcado das Letras, 2008. BRANDÃO, H. H. N. Análise do discurso: um itinerário histórico. In: PEREIRA, H. B. C.; ATIK, M. L. G. (Orgs.). Língua, literatura e cultura em diálogo. São Paulo: Mackenzie, 2003. ______. Analisando o discurso. Disponível em: . Acesso em: 30 jun. 2011. FOUCAULT, M. A ordem do discurso. 11.ed. São Paulo: Loyola, 2004. GARCIA, T. M. A análise do discurso francesa: uma introdução nada irônica. Working Papers em Linguística, UFSC, n.7, 2003. HOFF, T. M. C. O texto publicitário como suporte pedagógico para a construção de um sujeito crítico. Comunicação & Educação, ano XII, nº 2, maio/ago, 2007, p. 29-38. JESUS, W. M. de. As funções dos tipos textuais no interior do gênero discurso de propaganda. RBLA, Belo Horizonte, v. 10, n. 3, 2010, p. 539-553.

    MENEGASSI, R. J.; ANGELO, C. M. P. Conceitos de leitura. In: MENEGASSI, R. J. (Org.). Leitura e ensino. Maringá: EDUEM, 2005, p. 15-42. MONAGATTI, C. S; PRADOS, R. M. N. Análise do discurso: publicidade em propagandas de beleza. Revista Interfaces: ensino, pesquisa e extensão, ano 1, n. 1, 2009, p. 28-29. MORAES, L. Q. Recursos auxiliares do discurso na linguagem da propaganda. Disponível em: . Acesso em: 30 jun. 2011. MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (orgs.). Introdução à linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. ORLANDI, E. P. A análise de discurso em suas diferentes tradições intelectuais: o Brasil. In: SEMINÁRIO DE ESTUDOS EM ANÁLISE DE DISCURSO, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: UFRGS, p. 10-13, nov., 2003. ______. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. 2.ed. Campinas, SP: Pontes, 1987. ______. Análise de discurso: princípios e procedimentos. 4.ed. Campinas: Pontes, 2002. ______. Discurso e texto: formulação e circulação dos sentidos. Campinas, SP: Pontes, 2001. ______. Discurso e leitura. São Paulo: Cortez, 2008.

  • 18

    ORLANDI, E. P. Interpretação: autoria, leitura, efeitos sobre o trabalho simbólico. Rio de Janeiro: Vozes, 1998. ORSATTO, F. L. de O. Da aparência de crítica ao silenciamento: veja e o discurso sobre o fracasso educacional. (Mestrado em Letras). Programa de Pós-Graduação em Letras, Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Cascavel, 2009, 163p. PÊCHEUX, M. Análise automática do discurso (AAD-69). In: GACET, F.; HAK, T. (Org.). Por uma análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. 3.ed. Campinas, SP: Unicamp, 1990, p. 61-105. ______. O discurso: estrutura ou acontecimento. Campinas, SP: Pontes, 1997. ______. Semântica e discurso: uma crítica à afirmação do óbvio. 2.ed. Campinas: Unicamp, 1997a. PEREIRA, H. B. C.; ATIK, M. L. G. (Orgs.). Língua, literatura e cultura em diálogo. São Paulo: Mackenzie, 2003. PILHA, A.; QUADROS, C. B. de. Charge: uma leitura orientada pela análise do discurso de linha francesa. Linguagens – Revista de Letras, Artes e Comunicação. Blumenau, v. 3, n. 3, p. 226-239, set./dez. 2009. REZENDE, G. S. Estratégias discursivas em publicidades brasileiras de cerveja. (Dissertação de Mestrado). Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2006, 134p.

    SANT’ANNA, A. Propaganda: teoria, técnica e prática. 7.ed. São Paulo: Pioneira, 1998. SILVA FILHO, U. C. O texto publicitário em sala de aula: uma proposta de leitura e análise do seu discurso. Disponível em: . Acesso em: 30 jun. 2011. SOUSA, A. C. J.; SANTOS, A. G. dos. Análise do discurso aplicada em charges e cartuns políticos. Crátilo: Revista de Estudos Linguísticos e Literários. Patos de Minas: UNIPAM, (1): 39-48, ano 1, 2008.

  • 19

    Página em branco