CNA, CEPEA - Ativos da Pec. de Corte - jul/12

5
Ano 4 - Edição 20 Julho 2012 INTENSIFICAÇÃO DE PASTAGEM PODE MELHORAR EM 62% RECEITA BRUTA DO PECUARISTA Com o novo Código Florestal em vigor, o produtor rural precisa se adequar às regras da legislação ambiental. Entre as exigências, está a formação da reserva legal, que signi- fica retirar do sistema produtivo parcela de terra e recompor a área com espécies nativas, de acordo com o bioma em que a proprie- dade está inserida, como previsto na lei. A necessidade de o produtor destinar parte da área para formação da reserva legal o obriga a manter seus rebanhos numa área menor. Desta forma, resta ao pecuarista intensificar o uso das pastagens com o objetivo de, num primeiro momento, evitar a diminuição do rebanho. Posteriormente, a propriedade pode ser manejada de modo que a margem de ga- nho seja, ao menos, mantida. Levantamentos do Centro de Estudos Avan- çados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Quei- roz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) mostram que a intensificação de pastagem, além de gerar um melhor aproveitamento da área da propriedade, pode elevar em 42% a taxa de lotação e em 62% a receita bruta do pecuarista. Os cálculos foram feitos a partir de dados de uma propriedade típica de pecuária de corte do Mato Grosso. O custo do reflores- tamento para ade- quação de reserva nativa é alto, sendo que mais de 41% deste valor corresponde ao custo para cercar a área. Neste boletim, será analisado o impacto, em termos de custos, do reflorestamento e da intensifi- cação da pastagem, para que o produtor consiga manter seu rebanho e também, num momento posterior, sua margem de ganho.

Transcript of CNA, CEPEA - Ativos da Pec. de Corte - jul/12

Page 1: CNA, CEPEA - Ativos da Pec. de Corte - jul/12

Ano 4 - Edição 20Julho 2012

INTENSIFICAÇÃO DE PASTAGEM PODE MELHORAR EM 62% RECEITA BRUTA DO PECUARISTACom o novo Código Florestal em vigor, o produtor rural precisa se adequar às regras da legislação ambiental. Entre as exigências, está a formação da reserva legal, que signi-fica retirar do sistema produtivo parcela de terra e recompor a área com espécies nativas, de acordo com o bioma em que a proprie-dade está inserida, como previsto na lei. A necessidade de o produtor destinar parte da área para formação da reserva legal o obriga a manter seus rebanhos numa área menor. Desta forma, resta ao pecuarista intensificar o uso das pastagens com o objetivo de, num primeiro momento, evitar a diminuição do

rebanho. Posteriormente, a propriedade pode ser manejada de modo que a margem de ga-nho seja, ao menos, mantida.Levantamentos do Centro de Estudos Avan-çados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Quei-roz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) mostram que a intensificação de pastagem, além de gerar um melhor aproveitamento da área da propriedade, pode elevar em 42% a taxa de lotação e em 62% a receita bruta do pecuarista. Os cálculos foram feitos a partir de dados de uma propriedade típica de pecuária de corte

do Mato Grosso. O custo do reflores-tamento para ade-quação de reserva nativa é alto, sendo que mais de 41% deste valor corresponde ao custo para cercar a área. Neste boletim, será analisado o impacto, em termos de custos, do reflorestamento e da intensifi-cação da pastagem, para que o produtor consiga manter seu rebanho e também, num momento posterior, sua margem de ganho.

Page 2: CNA, CEPEA - Ativos da Pec. de Corte - jul/12

CUSTO PARA RECUPERAÇÃO DE FLORESTA NATIVAPara avaliar o custo para recuperação de florestas nativas, a equipe do Ce-pea levantou os custos de reflores-tamento no bioma Cerrado, conside-rando uma propriedade do sudoeste do Mato Grosso. O estudo considera as características de uma proprieda-de típica da região do município de Pontes e Lacerda, com área total de 2.000 hectares (ha), sendo 300 ha de reserva florestal (15% do total).De acordo com o Código Florestal, por se encontrar no bioma Cerrado, localizado na Amazônia Legal, essa propriedade deveria possuir 35% de sua área na forma de reserva legal, o que totalizaria 700 ha. Portanto, é necessário reduzir a área de pas-tagem para que sejam recompostos 400 ha de floresta. Isso implica em

manejar as pastagens de forma a su-portar o rebanho já presente.A partir dos custos por hectare para reflorestamento no Cerrado, consi-dera-se essa prática da seguinte for-ma: regeneração natural em 30% da área e o reflorestamento com plantio de mudas nas outras áreas de reserva legal. O custo médio do refloresta-mento foi de R$ 6.106,0/ha, o que totaliza R$ 2,4 milhões. Este valor considera o primeiro ano de implan-tação do projeto e o respectivo ma-nejo nos dois anos seguintes. Mais de 40% desse custo é de cercas.Quando se avalia o processo de re-abilitação de áreas degradadas, é preciso ter em mente que a ativi-dade está condicionada, também, à oferta de agentes propagadores, em

função da distância dos remanescen-tes florestais das áreas em processo de reabilitação, o que influenciará na melhor regeneração. Por essa razão, neste estudo, foi suposto os 30% com regeneração natural e que o res-tante seria recuperado com mudas.O reflorestamento exige grande vo-lume de investimentos, que podem ser diluídos em três anos: no primei-ro ano de implantação e dois anos para manutenção, no caso de rege-neração com mudas. O pecuarista pode utilizar 100% de recursos pró-prios ou, de acordo com a equipe de Custos Pecuários do Cepea, procurar Organizações Não Governamentais (ONGs) que trabalhem em parceria no Estado de Mato Grosso, ajudando a reduzir esse investimento.

CUSTOS DE REFLORESTAMENTO/HECTARE

Fonte: Cepea, Repams, ISA

Possibilidades analisadas no estudo:

• reflorestar a área que falta para completar a porcentagem de reserva legal exigida na legislação;

• manejar as pastagens de forma que a propriedade man-tenha seu rebanho, apesar de parte da área ser destinada à reserva legal;

• manejar as pastagens e o rebanho de maneira que a pro-priedade continue com a mesma margem bruta anterior a esse reflorestamento.

Page 3: CNA, CEPEA - Ativos da Pec. de Corte - jul/12

INTENSIFICAÇÃO DE PASTAGEM COM OMESMO REBANHO

MANEJO DAS PASTAGENS MANTENDOA MARGEM BRUTA

A propriedade analisada tem 2.135 cabe-ças, totalizando 1.558 unidades animais (UAs) e taxa de lotação de 0,94 UA/ha. Para a manutenção do rebanho, será ne-cessário manejar a área de pasto remanes-cente para que ela receba as 372 UAs, que era a capacidade de suporte da pastagem destinada à regularização da reserva legal.Para o cálculo da área a ser intensificada,

Esta segunda análise teve o objetivo de manter a margem bruta do produtor com o manejo do rebanho e da pastagem, já que no cenário anterior houve uma re-dução dessa margem em 38%, quando comparada com o período inicial.Nesse sentido, foi constatado que seria necessário intensificar, além dos 272 ha considerados no cenário anterior, outros 468 ha (23% do total), totalizando 740 ha de pasto intensificados.Esta área foi obtida através da ferramenta

considerou-se uma nova lotação, de 2,3 UAs/ha, o que significou 272 ha (14% da área de pasto). O processo foi composto pelo pastejo rotacionado, no qual o ani-mal permanece no piquete, em média, 1,5 dia, com período de descanso de 30 dias, totalizando 21 piquetes com 12,9 ha, pela correção e adubação do solo, além da ma-nutenção anual de 1/3 da área. O custo

“atingir meta”, do Excel, que busca atin-gir a margem bruta inicial alterando a compra dos bezerros. Neste novo cenário, verificou-se um Custo Operacional Efetivo (COE) da propriedade em análise de R$ 1.491.626,86 e uma receita bruta de R$ 1.807.390,28, aumento de 62% em rela-ção ao cenário anterior.Com o aumento dos animais, a proprieda-de passou de 1.043,8 UAs para 1.688,2 UAs, o que, consequentemente, elevou a taxa de lotação de 0,83 UA/ha para 1,34

para isso foi de R$ 1.685,67/ha e de R$ 457.714,37 na área remanejada. Esse processo de melhoramento da qualidade da pastagem implica em um aumento de 20% no ganho de peso, reduzindo o tempo de permanência e permitindo o abate mais cedo. Dessa for-ma a taxa de desfrute aumenta de 35% para 54%.

UAs/ha. Neste novo cenário, não hou-ve necessidade de aumento do uso de mão-de-obra, mantida em cinco funcio-nários.No segundo cenário, a margem bruta foi mantida comparada a situação origi-nal do painel, e a propriedade tornou-se mais produtiva, com a taxa de remunera-ção do capital – relação da margem líqui-da com o estoque de capital – passando de 1,76% para 1,84%.

DESCRIÇÃO DOS CUSTOS PARA A INTENSIFICAÇÃO DO PASTO (valores por hectare)

Fonte: Cepea

Fonte: Cepea

Page 4: CNA, CEPEA - Ativos da Pec. de Corte - jul/12

O tímido desempenho da economia bra-sileira, impactada pela crise internacional, obrigou o mercado da construção civil a rever suas previsões para o setor. Dessa forma, a expectativa que era mais otimis-ta no início do ano, reflexo de programas governamentais como o “Minha Casa, Minha Vida” e dos eventos esportivos de

PREÇOS RECORDES DA SOJA IMPACTAM NO CUSTO

CONSTRUÇÃO CIVIL SENTE OS EFEITOS DA CRISE MUNDIAL EM 2012

Entre os insumos usados na pecuária de corte, os preços dos adubos e dos corre-tivos foram os que mais subiram nos úl-timos meses. No acumulado até junho, a alta do grupo adubos e corretivos para pastagens foi de 5,13%. Vários fatores têm impactado no preço dos adubos, entre eles a demanda aquecida para a cultura da soja, a valorização do dólar e a recente compra de grandes quanti-dades de uréia pelos norte-americanos. O estímulo para se ampliar a produção de soja decorre das quebras de safra na América do Sul e nos Estados Unidos, si-tuação que impulsionou os preços para níveis recordes.O Brasil importa mais de 2/3 dos adu-bos consumidos na agropecuária, fato que, em uma situação de desvalorização cambial (de R$ 1,79/US$ em janeiro para R$ 2,04/US$ em junho), leva a um acrés-cimo direto no preço desses insumos no mercado interno. Outro fator pontual, mas que deve ser destacado, foi a en-trada dos Estados Unidos no mercado no início de 2012. Os norte-americanos

compraram grandes quantidades de nitrogenados devido à ameaça de que grande área semeada com milho não te-ria adubo suficiente para a manutenção da fertilidade.Além do impacto dos adubos, o aumen-to de 2,94% do Custo Operacional Total (COT) e de 2,28% do COE no acumu-lado no semestre também está relacio-nado ao reajuste do salário mínimo no início do ano e à alta dos preços dos suplementos minerais, ainda que pouco expressiva, em cerca de 1% de janeiro a junho. Em junho, as altas de 1,37% do COT e de 1,61% do COE foram influenciadas por insumos de grande representativida-de no custo. O bezerro, responsável por 40% do COE, teve aumento de 1,52% na média Brasil e, ainda que esta varia-ção seja pouco expressiva, ela impacta significantemente no custo do invernis-ta. Os preços dos suplementos minerais, adubos e corretivos e produtos da cons-trução tiveram altas de 0,36%, 2,69% e 0,48%, respectivamente.

2014 e 2016, sofreu alteração.Segundo matéria publicada no dia 06 de junho de 2012 pela Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), a estimativa de recorde no fa-turamento anual do setor de construção civil se mantém, porém a expectativa de crescimento do faturamento real no setor

de construção civil, em 2012, foi revisada de 4,5% para 3,4%. A importância deste setor para o pecuarista está relacionada ao custo, que para ma-nutenção e depreciação de benfeitorias no COT pode chegar a 20,5%, como é o caso do Rio Grande do Sul. Em 2012, os preços da construção civil pesquisados pelo Ce-pea iniciaram com ligeira estabilidade, com queda de 0,03% em janeiro. Já em fevereiro, do mesmo modo que a pesquisa da Confederação Nacional da In-dústria (CNI), onde o indicador de evolução da atividade do setor teve recuperação em relação a janeiro, e o aumento foi de 1,3%, os preços dos insumos do grupo constru-ção civil nos 10 estados pesquisados pelo Cepea apresentou o mesmo comporta-mento.Portanto, a indústria de materiais de cons-trução é prejudicada pelo fraco desempe-nho da economia, freando o movimento de recuperação aliado a previsões negativas quanto ao rumo da atividade nos próximos meses.

EVOLUÇÃO DOS PREÇOS DOS INSUMOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL, NOS 10 MAIORES ESTADOS

PRODUTORES DE PECUÁRIA DE CORTE – VARIAÇÃO MENSAL E ACUMULADA ANUAL

Fonte: Cepea- Esalq/USP

O Estado do Pará foi o que teve as al-tas mais expressivas do COT e do COE, de 1,36% e de 1,61%, respectivamente. Estes aumentos estão relacionados prin-cipalmente aos aumentos dos preços do bezerro e dos adubos e corretivos, de 7,84% e 4,00%, respectivamente. Quanto à receita da atividade, em junho, houve pouca oscilação no preço do boi gordo. O Indicador ESALQ/BM&FBovespa se manteve na casa dos R$ 92,00 por arroba. Com o fim da época das águas, dada a dificuldade em manter o ganho de peso do boi, os pecuaristas que ain-da tinham animais engordados a pasto tiveram que vender alguns lotes, ocasio-nando um aumento pontual de oferta e certa redução dos preços da arroba. Pelo lado da demanda, frigoríficos consulta-dos pelo Cepea alegaram dificuldades do mercado interno para absorver o volume de carne disponibilizado pela indústria. Assim, com a demanda desaquecida e certo aumento de oferta, houve retração em 0,39% da média mensal do Indicador ESALQ/BM&F.

Page 5: CNA, CEPEA - Ativos da Pec. de Corte - jul/12

ATIVOS DA PECUÁRIA DECORTE é um boletim mensal elaborado pela Superintendência Técnica da CNA e Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - Cepea/Esalq - da Universidade de São Paulo.Reprodução permitida desde que citada a fonte.

SGAN - Quadra 601 - Módulo K70.830-903 Brasília - DFFone (61) 2109-1458 Fax (61) 2109-1490E-mail: [email protected]: www.canaldoprodutor.com.br

VARIAÇÃO DOS PRINCIPAIS INDICADORES ECONÔMICOS

Indicadores junho-12

IGP-M 0,66%

Acumulado_Janeiro IGP-M 3,19%

Fonte: Cepea

VARIAÇÃO MENSAL E ACUMULADACOE (1) COT (2) Boi Gordo R$/@ Ponderações

Estados junho/12 jan/12 - junho/12 junho/12 jan/12 - junho/12 junho/12 jan/12 - junho/12

Goiás 0,17% -1,47% 1,06% 1,07% 2,24% -5,69% 15,0%

Minas Gerais 0,07% 6,35% -0,07% 5,48% 0,04% -5,08% 14,6%

Mato Grosso 2,84% 2,93% 2,11% 3,36% -0,15% -11,69% 14,6%

Mato Grosso do Sul -0,50% -1,86% -0,53% 0,41% 0,16% -5,98% 12,7%

Pará 3,25% 4,44% 3,04% 4,86% -1,17% -5,80% 9,8%

Paraná 0,29% 3,25% 0,11% 2,89% -0,25% -5,19% 8,2%

Rio Grande do Sul 0,39% 7,50% 0,32% 6,16% 1,66% 3,82% 7,7%

Rondônia 1,61% 2,26% 1,36% 2,66% -0,68% -2,21% 6,7%

São Paulo 0,17% 0,57% -0,12% 1,55% -0,50% -6,97% 6,2%

Tocantins 0,74% 3,89% 0,35% 3,27% -0,54% -6,70% 4,5%

Brasil* 1,61% 2,28% 1,37% 2,94% -0,39% -8,88% 100,0%

VARIAÇÕES DOS PREÇOS DOS PRINCIPAIS INSUMOS DA PECUÁRIA DE CORTEMédia Ponderada para GO, MT, MS, PA, RO, RS, MG, PR, TO e SP

Ponderação COT Variação acumulada

Estados junho/12 jan/12 - junho/12 junho/12

Bezerro e outros animais de reprodução 32,09% -2,09% 1,52%

Suplementação Mineral 15,73% 0,96% 0,36%

Dieta 0,54% 1,95% 1,74%

Adubos e Corretivos 4,02% 5,13% 2,69%

Sementes Forrageiras 2,75% 4,87% -1,67%

Máquinas Agrícolas 7,20% 0,01% 0,52%

Implementos Agrícolas 2,38% 32,34% 0,00%

Defensivos Agrícolas 0,90% -0,85% 0,13%

Medicamentos - Vacinas 1,76% 7,78% 0,32%

Medicamentos - Controle Parasitário 0,59% 1,57% 0,36%

Medicamentos- Antibióticos 0,29% 2,67% 0,32%

Medicamentos em geral 0,15% 4,91% 2,76%

Insumos para reprodução animal 0,06% 5,01% 0,61%

Mão de Obra 15,66% 14,13% 0,00%

Construções Civil 7,74% 3,81% 0,48%

Brinco de Identificação 0,01% -1,83% -0,78%

Outros (Energia, Administrativos, Utilitário) 8,12%

*Referente a 79,22% do rebanho nacional segundo o Rebanho Efetivo Bovino PPM / IBGE 2008.

*Referente a 79,22% do rebanho nacional segundo o Rebanho Efetivo Bovino PPM / IBGE 2008.

Fonte: Cepea/USP-CNA

Fonte: Cepea/USP-CNA

1 - Custo Operacional Efetivo (COE)

2 - Custo Operacional Total (COT)