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Caruma é um milagre, destes que acontecem nas nossas mãos” Tem o carácter lúdico e participativo de sempre. Tem de novo o cruzamen- to sinestésico entre a coreografia de corpos jovens e disponíveis e as sono- ridades quentes, crepitantes, dos instrumentos de cordas. Madalena Vic- torino volta a coreografar com pessoas e para pessoas, e desafiou Carlos Bica a musicar a convivência – entre a festa de aldeia e o encontro social – que acontece em Caruma. Entrevista com a coreógrafa e o compositor, por Mónica Guerreiro. Mónica Guerreiro O seu aguardado regresso à coreografia – após dez anos de interregno – acontece num espectáculo de cariz comunitário, que conta com intérpretes profissionais e voluntários e é ainda permeável à interven- ção dos espectadores. Afirmou que Caruma começa por ter sete intérpretes, mas pode ter 27 ou 57. Somos todos convidados a dançar? Madalena Victorino A ideia é que todos participem, de uma maneira ou de outra. Há vários planos de envolvimento, de participação e de fruição do objec- to. Há a plataforma de criação mais profunda e as centenas de horas de ensaios. Depois houve um embate com o método de trabalho do Carlos Bica e foi muito interessante perceber como podemos confluir para o mesmo objecto com manei- ras de criar muito diferentes. No fim, aquilo dá um nó e sobe. Para mim, é um milagre, destes que acontecem nas nossas mãos. Depois, os intérpretes são co- criadores e têm um papel importantíssimo, porque dão voz às ideias, aos pensa- mentos, às rotinas de pesquisa. Nessa co-criação há ainda outro plano, com pes- soas de profissões, idades e origens sociais diversas, a que eu chamo “pessoas da rua”, que se juntam a nós para participar como intérpretes. No fim, aparece o público, que sabe também que vai fazer parte do espectáculo de uma forma dife- rente da habitual. O público está todo em roda – é o próprio público que constrói o auditório – e é participante na medida em que se vê a dançar quase sem perce- ber… Uma pessoa ou duas, em 120, respondem a estímulos muito subtis que os intérpretes lhes lançam. Isso foi outro milagre: experimentar como se toca ao de leve em alguém e ele só por isso se levanta. E levantou! Essas coisas, de uma subtileza que acontece na penumbra, de forma mais ou menos visível, estão lá, mas sempre na lateralidade da própria dança. Porque o espectáculo não é para se ver todo: está organizado de forma que há partes que não se vêem totalmen- te. Umas pessoas vêem outras reagir, sorrir, rir à gargalhada, ou em expectativa, a observar. Vemo-nos uns aos outros, uns melhor que outros, de várias perspec- tivas. Isso pode levar a alguma frustração, mas eu gosto dessa convivência, de ficar contente com aquilo que podemos ver. Gosto de pensar que é sempre pela linha desviada que vemos melhor – e não pela linha da frente, do absoluto con- trolo. O espectáculo propõe essas perspectivas diferentes: não ver tudo, estar sentado num teatro que é uma casa, trazer a arte para dentro da casa, que é ao ar livre mas é feita de cadeiras que estão nas salas... É um jogo entre o dentro e o fora, o centro e a margem. Há a acção central e muitas acções secundárias, uma acção central vazia que é preenchida pela música, de grande beleza, enquanto o público vê em conluio cinco pequenas danças, que também são lindas [risos].

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“Caruma é um milagre, destes que acontecem nas nossas mãos”

Tem o carácter lúdico e participativo de sempre. Tem de novo o cruzamen-to sinestésico entre a coreografia de corpos jovens e disponíveis e as sono-ridades quentes, crepitantes, dos instrumentos de cordas. Madalena Vic-torino volta a coreografar com pessoas e para pessoas, e desafiou Carlos Bica a musicar a convivência – entre a festa de aldeia e o encontro social – que acontece em Caruma. Entrevista com a coreógrafa e o compositor, por Mónica Guerreiro.

Mónica Guerreiro O seu aguardado regresso à coreografia – após dez anos de interregno – acontece num espectáculo de cariz comunitário, que conta com intérpretes profissionais e voluntários e é ainda permeável à interven-ção dos espectadores. Afirmou que Caruma começa por ter sete intérpretes, mas pode ter 27 ou 57. Somos todos convidados a dançar?Madalena Victorino A ideia é que todos participem, de uma maneira ou de outra. Há vários planos de envolvimento, de participação e de fruição do objec-to. Há a plataforma de criação mais profunda e as centenas de horas de ensaios. Depois houve um embate com o método de trabalho do Carlos Bica e foi muito interessante perceber como podemos confluir para o mesmo objecto com manei-ras de criar muito diferentes. No fim, aquilo dá um nó e sobe. Para mim, é um milagre, destes que acontecem nas nossas mãos. Depois, os intérpretes são co-criadores e têm um papel importantíssimo, porque dão voz às ideias, aos pensa-mentos, às rotinas de pesquisa. Nessa co-criação há ainda outro plano, com pes-soas de profissões, idades e origens sociais diversas, a que eu chamo “pessoas da rua”, que se juntam a nós para participar como intérpretes. No fim, aparece o público, que sabe também que vai fazer parte do espectáculo de uma forma dife-rente da habitual. O público está todo em roda – é o próprio público que constrói o auditório – e é participante na medida em que se vê a dançar quase sem perce-ber… Uma pessoa ou duas, em 120, respondem a estímulos muito subtis que os intérpretes lhes lançam. Isso foi outro milagre: experimentar como se toca ao de leve em alguém e ele só por isso se levanta. E levantou! Essas coisas, de uma subtileza que acontece na penumbra, de forma mais ou menos visível, estão lá, mas sempre na lateralidade da própria dança. Porque o espectáculo não é para se ver todo: está organizado de forma que há partes que não se vêem totalmen-te. Umas pessoas vêem outras reagir, sorrir, rir à gargalhada, ou em expectativa, a observar. Vemo-nos uns aos outros, uns melhor que outros, de várias perspec-tivas. Isso pode levar a alguma frustração, mas eu gosto dessa convivência, de ficar contente com aquilo que podemos ver. Gosto de pensar que é sempre pela linha desviada que vemos melhor – e não pela linha da frente, do absoluto con-trolo. O espectáculo propõe essas perspectivas diferentes: não ver tudo, estar sentado num teatro que é uma casa, trazer a arte para dentro da casa, que é ao ar livre mas é feita de cadeiras que estão nas salas... É um jogo entre o dentro e o fora, o centro e a margem. Há a acção central e muitas acções secundárias, uma acção central vazia que é preenchida pela música, de grande beleza, enquanto o público vê em conluio cinco pequenas danças, que também são lindas [risos].

Creio que se pressente uma contaminação do movimento dos bailarinos na construção musical, na medida em que os sons produzidos pelo Carlos Bica e pelo Mário Delgado sugerem a tranquilidade que associamos ao investi-mento emotivo da peça e, por outro lado, também emanam uma energia festiva que relacionamos com o seu lado lúdico. Estes diferentes ritmos sucedem-se como evocações de uma grande riqueza semântica. Como foi o processo de composição?Carlos Bica A maneira de me envolver com um espectáculo é sempre mui-to intuitiva. Seguindo a intuição, consigo abrir a porta para outro mundo, para outros mundos. E foi esta a atitude que tive aqui: fazer despertar em mim esse lado de fantasia para encontrar musicalmente aquilo que ajuda o espectácu-lo. Tenho de me deixar ir, deixar que algo me toque, que depois me há-de ser-vir de inspiração para que as coisas aconteçam. Depois segue-se o trabalho de casa... Mas em Caruma quase tudo surgiu de improvisações que fizemos jun-tos. A maior parte das ideias musicais do espectáculo surgiu dessas improvisa-ções. Tenho o hábito de compor usando um gravador enquanto estou a impro-visar, porque para mim isso é que é compor. Quando pego no instrumento, há músicas que ficam feitas do início ao fim. Outras vezes não, ficam só quatro com-passos, mas onde acredito que há potencial, e depois vou trabalhar para casa. As composições surgiram assim, mas mantêm uma grande margem de improvi-sação. Existem coisas estabelecidas e outras que nascem durante o espectácu-lo, de uma relação e de uma reacção: isso faz toda a diferença. Eu poderia gravar a música, mas a entrega dos participantes seria diferente – haveria a consciên-cia de que aquela coisa está congelada. Tocar ao vivo faz uma grande diferen-ça, porque estamos a sentir aquele momento, que é único. Se aceitarmos esse momento e nos entregarmos a ele, gera-se uma energia entre os músicos, os bai-larinos, o público… Cria-se um todo.

Este projecto convoca para palco – para múltiplos palcos, por todo o país – a experiência do Outono num pinhal habitado por vizinhos e amigos, criando uma ligação com projectos coreográficos anteriores, que ocorriam em con-textos como fábricas, parques de estacionamento, ruas e… florestas. É assi-nalável a coerência com que, dedicada que tem estado à programação e à pedagogia, propõe nesta nova criação uma experiência que retoma a ances-tralidade, a ruralidade e as relações simbólicas que eram tão determinan-tes no seu trabalho anterior.MV Eu sou sempre a mesma, é o meu universo. É verdade que às vezes as pesso-as fazem rupturas nas suas vidas que as levam para mundos contrários, ou mun-dos expandidos, diferentes daquele que habitavam inicialmente. No meu caso, para dizer com toda a franqueza, tinha expectativas sobre mim própria para ver o que era capaz de fazer. Passou muito tempo. Uma coisa é saber como se cons-trói um espectáculo de dança, e isso eu acho que sei – pelas centenas de espec-táculos que vi, os artistas com quem trabalhei e pelas peças que compus. Mas uma coisa é saber intelectualmente, saber apreciar e saber criar um discurso: tenho alguma facilidade em fazê-lo, porque sou professora. Mas fazer, isso é diferente [risos]. Eu não sabia se era capaz de fazer um bom espectáculo. Hou-ve um tempo em que me arredei do lugar de artista. Achei a dada altura que já estava a fazer a mesma coisa demasiadas vezes, estava a repetir-me, precisava de abrir portas para outro lado. Apareceram oportunidades de trabalho noutras direcções e fui por aí. Mas gosto de experimentar, não tenho medo de apresen-tar a minha ignorância face às coisas e estar sempre a aprender, coisa que tem acontecido em Caruma, ao lado do Carlos, de forma muito intensa e perturba-dora. Perturbadora num sentido muito positivo, porque se consegui fazer um espectáculo tão bonito foi porque tive coragem de perguntar ao Carlos, que eu admirava à distância, se queria trabalhar comigo. Essa coragem leva-me a ter experiências de aprendizagem nas quais percebo porque é que sou artista, ou porque é que sou programadora. O facto de as pessoas terem gostado, dizerem

que se sentem bem no espectáculo, dá-me uma alegria enorme. As incógnitas eram imensas. Uma composição é um conjunto de problemas na minha cabeça, que eu quero resolver de forma luminosa. Só no dia da estreia, ou perto disso, é que essas incógnitas se iluminam. Uma grande zona de incógnita foi a relação da minha dança com a música do Carlos: queria que a música penetrasse todas as coisas, como um pente, e que o todo mantivesse a força das diversas partes. Também não sabia se iria pelos mesmos caminhos estéticos que fui anterior-mente. Tinha essa expectativa: será que vou caminhar pelos mesmos trilhos ou vou inventar outra coisa? Penso que fiz as duas coisas.

Este projecto surge de um convite da Companhia Instável, cuja formação importa a efemeridade do projecto coreográfico que constrói a cada ano, sempre com um criador diferente. Como é que classifica a sua relação com estes jovens bailarinos?MV Desempenho, desde sempre, um papel despoletador na minha vida pro-fissional. Acredito que tenho a capacidade de mobilizar, de uma forma inten-sa, jovens artistas para coisas que eles apreendem, vivem e que depois lançam em caminhos seus. Interessa-me ser esse lugar de facilitação. Há coreógrafos e companhias que fecham o sítio da criação a um núcleo rígido. Nunca quis ser nada disso, sempre gostei de ser uma pessoa sozinha, com uma força que se expande num determinado momento e sítio, e depois desorganiza-se novamen-te para o movimento seguinte. A minha vida é um pouco como a da Companhia Instável, feita de milhões de projectos, sempre novos, com novas pessoas que me levam para universos diferentes. Se houve alguma qualidade com que con-tribuí para o trabalho artístico foi a de mobilizar intensamente um determinado grupo, que se apaixona por aquilo que está a fazer, e depois, com essa paixão, encontra a capacidade de realizar. Em Portugal há sempre dificuldades enormes de realização: é sempre tudo megalómano e muito caro. Como sou muito prática e simples, ensino algumas coisas sobre isso. Dou um exemplo de realização pos-sível, com aquilo que se tem e não com aquilo que se sonha. Nesse sentido, sou uma facilitadora de energias para a gente mais nova, que vai depois fazer coisas diferentes – é isso que se pretende. Roubar estes princípios e avançar. Esse é o meu lugar. Nesta peça, são todos novíssimos e acredito que levam daqui a ideia de como se pode fazer um trabalho deste género, que é ambicioso, mas bem ancorado numa simplicidade terrena. Fizemos tudo juntos, apanhámos tudo, em horas de trabalho que são também horas de vida, em que nos conhecemos e tecemos o trabalho peça a peça, movimento a movimento. Os intérpretes inte-gram tudo de uma maneira que não fica no registo da memorização superficial – é uma coisa que se constrói e que pode ficar.

Fazer as peças “com aquilo que se tem” significa que o material de traba-lho mais valioso são as pessoas. A plasticidade dos corpos, a sua presen-ça em interacção constante com músicos, bailarinos, voluntários e públi-co, condicionou de alguma forma a composição musical? De que forma é que a improvisação potencia a energia específica dos corpos que habitam este projecto?CB A participação das pessoas e de elementos do público acabou por formar o todo que faz o espectáculo. Procurei uma música que servisse esse todo, que estabelecesse essa relação. Mesmo quando não temos proximidade com a pla-teia, o espectáculo nunca acontece dentro do palco, acontece nessa comunhão com o público. Tem de se sentir isso, mesmo que eu não veja as pessoas todas. Há músicos que se fecham em cima do palco, o que me parece terrível; músico é tanto aquele que está em cima do palco como o outro que está na plateia. O público é músico, ouve, reage, e o músico, se estiver aberto, sente isso. E a músi-ca por sua vez transforma-se, como resultado dessa química. Neste caso foi dife-rente, porque essa química está presente de forma particular. Para mim foi uma nova experiência, porque este meu namoro com a dança é uma coisa recente,

que ainda estou a descobrir. Como músicos, temos muitas vezes tendência para fechar os olhos enquanto tocamos. E este tipo de trabalho com os bailarinos, por exemplo, obriga-nos a abrir os olhos [risos].

Acredita que estes projectos participativos têm a capacidade de aproximar as pessoas da arte?MV Acredito que tenho trabalhado sempre nessa relação entre a arte, o objecto artístico, os artistas, o que eles desenham e inventam, e a comunidade, as pes-soas que potencialmente irão viver, usufruir, entrar nesses objectos. Tenho tra-balhado extensamente sobre isso como programadora, levando os artistas até junto das minhas preocupações, que – sendo também as suas – ficam à margem, pois encontram-se ocupados e absorvidos pelo seu objecto. Os programadores podem servir para isso. O meu trabalho de programação tem-se sempre regido por essa filosofia, e o meu trabalho como artista também. Mesmo quando era muito jovem e aprendi a ver espectáculos, sempre considerei que era um desper-dício ir ao teatro ver um espectáculo e ficar alheia àquilo que ele continha. As chaves de entrada para esse objecto eram muitas vezes vedadas às pessoas, por-que elas não estavam ainda disponíveis. É uma pena quando o público sente o palco como qualquer coisa distante, que não comunica. Quando aquele espaço de separação entre a acção e o público não é trabalhado com mestria, com trans-fusão de energias, é inútil. Penso que é importante que, quando se vai ver um espectáculo, isso seja um ganho. Um espectáculo pode mudar a visão que temos sobre determinada coisa, pode mudar a nossa vida, pode abrir-nos caminhos de pensamento. Um espectáculo serve com certeza para entreter, para a pessoa se divertir, mas também serve para pensar, para sentir. E isto quer dizer: sen-tir arrepios, sentir coisas no coração, nadar ou navegar para outro lugar, estan-do ali. As artes têm essa potência de nos abrir a inteligência sensitiva e a inteli-gência cognitiva para outros campos. O meu trabalho tem sido sempre a procura desses lugares de encontro. Esses sentidos de que o público precisa eu também preciso. É sobre esta mistura de coisas e questões que trabalho, e que tento pôr em equação em Caruma. •

[…] A coreógrafa dos espaços, reais ou ficciona-dos, regressou, feliz e finalmente, àquilo que faz melhor: um projecto feito de pessoas, de muitas pessoas. Umas velhas e outras novas, umas sen-tadas e outras que dançam, umas para contar e outras para ouvir. Todos juntos compondo um cír-culo de afectos e cumplicidades, porque a dança de Madalena Victorino não existe de outro modo, não existe sem partilha.

[…] Chamaram-lhe “um projecto de dança comunitária coreografado por Madalena Victori-no”, como se ela fosse como o pintor, ou o maes-tro, que abre as portas do seu mundo privado às imagens criadas pelos outros. Reconhecemos no lirismo desta coreógrafa rara o seu discurso de uma arte acessível a todos, que mais do que democrática é disponível. António Pinto Ribei-ro definiu-a como “utopia social: a de que todo o trabalho deve conduzir, num futuro, a um estado de ludicidade” (Dança Temporariamente Contem-porânea, 1994). E é exactamente na surpresa de se encontrar a coerência dramatúrgica e coreo-gráfica, quer nos corpos, quer na organização das diversas sequências, que se estrutura esta Caru-ma, peça pagã na qual se “testemunha a transfor-mação dos seus pares que nessa noite são outros”. São, talvez, “anjos nascidos na terra e humanos caídos do céu”, porque, mais do que “arte comu-nitária”, Caruma responde ao primado essencial da dança: a liberdade do corpo na sua relação – e em reacção – com o que o rodeia. •

* “Quando a dança surge do interior da terra”. Público:

P2. (1 Abr. 2007). p. 13.

“O primado essencial da dança”

Tiago Bartolomeu Costa*

Companhia Instável

Ana Figueira*

Ficha técnica Companhia Instáveldirecção Ana Figueiradirecção técnica Ricardo Alvesconsultores artísticos Marta Silva, Pedro Carvalhoprodução executiva Joana Martins

Ficha técnica TNSJprodução executiva Eunice Bastocoordenação técnica Emanuel Pinamaquinaria de cena António Quaresma, Carlos Barbosa, Joel Santosoperação de luz António Pedra, José Rodriguesoperação de som Miguel Ângelo Silvadirecção de cena Pedro Guimarãeselectricistas de cena Júlio Cunha, José Carlos Cunha

agradecimentos Companhia Instável

Alice RibeiroAmélia PereiraAna RibeiroEquipa do Teatro AveirenseIsabel SilvaJúlio Geraldes/Colégio dos ÓrfãosLar do Monte dos BurgosOSMOPPaula Lobo Rui Homem RibeiroZeferino Mota

apoios TNSJ

apoios à divulgação

agradecimentos TNSJ

Câmara Municipal do PortoPolícia de Segurança Pública

Edição Centro de Edições do TNSJCoordenação Pedro SobradoDesign gráfico João Faria, João GuedesFotografia Georges Dussaud (“La fille au chien”), Susana NevesImpressão

Teatro Nacional São JoãoPraça da Batalha

4000-102 Porto

T 22 340 19 00 F 22 208 83 03

Teatro Carlos AlbertoRua das Oliveiras, 43

4050-449 Porto

T 22 340 19 00 F 22 339 50 69

www.tnsj.pt

[email protected]

Companhia InstávelRua São Roque da Lameira, 2129

4350-317 Porto

T 22 510 42 94

[email protected]

Não é permitido filmar, gravar ou fotografar

durante o espectáculo. O uso de telemóveis, pagers

ou relógios com sinal sonoro é incómodo, tanto para

os intérpretes como para os espectadores.

A Companhia Instável é um projecto que tem como principal objectivo criar oportunidades profissionais a intérpretes de Dança Contemporânea. Com um projecto anual desde 1998, pretende associar o desequilíbrio e a incerteza inerentes à arte contemporânea à estabilidade e solidez necessárias a uma companhia.A Companhia Instável é um conceito de companhia que surgiu de algumas dificuldades com que se debatem várias companhias portuguesas: a ausência de espaço de ensaio, a dificuldade de encontrar bailarinos profissionais e disponíveis, a falta de verbas para manter uma companhia com nível profissional de uma forma minimamente digna e, finalmente, a dificuldade de realizar digressões com uma duração que justifique todo o empenho.É uma companhia que trabalha por projecto. Cada ano é convidado um coreógrafo de renome internacional, que selecciona os intérpretes por audição, cria um trabalho para aquele grupo, a peça é estreada, circula tanto quanto possível e a companhia desfaz-se, até se constituir uma nova.Procurando tirar partido deste conceito, reforçámos alguns aspectos do seu carácter efémero e, paralelamente, verificámos que estes factores, muitas vezes, se tornaram uma mais-valia para o próprio projecto, principalmente para o nosso objectivo de oferecer uma experiência profissional, intensa e inesquecível, a intérpretes de Dança Contemporânea. O carácter de rotatividade permite-nos abranger um grande número de intérpretes, proporcionando uma experiência única com vários criadores da actualidade. É um conceito de plataforma em que o bailarino é responsável pela sua própria direcção ao poder concorrer, ou não, para determinado projecto.Os coreógrafos convidados para as edições anteriores da Companhia Instável foram: Amélia Bentes (Portugal), Nigel Charnock (Inglaterra), Jamie Watton (Inglaterra), Bruno Listopad (Portugal), Ronit Ziv (Israel), Javier de Frutos (Venezuela/Inglaterra), Wim Vandekeybus (Bélgica) e Rui Horta (Portugal).O percurso da Companhia Instável tem-se desenvolvido de uma forma oscilante, mas sustentada. As digressões têm-se estendido, passando de uma única apresentação para 63 espectáculos em 2004/2005. A internacionalização, quer através do número de espectáculos apresentados no estrangeiro, quer através do estabelecimento de parcerias, é um factor de grande importância neste projecto.As expectativas quanto ao crescimento da Companhia Instável são grandes. Esperamos conseguir manter a oferta de experiências únicas e profissionais. Continuar a tirar partido e desenvolver um conceito que, apesar de ter sido criado como reacção às adversidades, se tornou um bem cada vez mais visível.O convite a Madalena Victorino oferece ao percurso da Companhia Instável uma componente de grande valor: a associação entre músicos e bailarinos profissionais e elementos da comunidade, num espectáculo que se renova em cada cidade em que se apresenta. É, também, uma honra poder contar com a energia, dedicação e grande criatividade desta coreógrafa. •

* Directora da Companhia Instável

Pela Companhia Instável

Um projecto de arte comunitáriacoreografia Madalena Victorinomúsica Carlos Bica

em co-criação cominterpretação Ainhoa Vidal, Pedro Ramos, Sophie Leso, Susana Gaspar, Tânia Matosinterpretação musical Carlos Bica contrabaixo Mário Delgado guitarraassistência artística Marta Silvadesenho de luz Horácio Fernandesassistência dramatúrgica Inês Barahonaprofessora de voz Lúcia Lemosparticipação especial Giacomo Scalisi

participantes Alexandra Baltazar e Clara, Ana Gomes e João, Bernardete Carocho e Saúl, Cármen Figueira e Inês, Cláudia Regado e Matilde, Cristiana Rocha e Gil, Cristina Dordio e Afonso, Gabriela Pinheiro e Matilde, Joana Sá e Benedita, Maria Casal e Paulo, Maria Sereno e Melissa, Patrícia Almeida e Beatriz, Paula Fernandes e Carlota; Afonso Ferreira Alves, Alexandra Fonseca, Alexandra Ribeiro da Silva, Ana Laranja, Ana Lúcia, Angelina Oliveira, Bruno Santos, Carminda Moura, Cláudia Marisa, Diogo Feijó, Diogo Henriques, Duarte Gonçalves, Guilherme Costa, Hélia Figueira, Hugo Mendes, Idaulina Mairos, Joana Lobo, Joana Providência, Joana Sá, João Beleza, Joaquim Martins, Joaquim Ribeiro, José Camarês, Laura Costa, Laurent Scanga, Manuel Alves Rosa, Maria Ana, Maria Antónia Bacelar, Maria Antónia Lapo, Maria Antonieta Vidal, Maria da Luz Bastos, Maria Fátima Costa, Maria Júlia Nóbrega, Maria Lurdes Pereira, Maria Olímpia, Maria Teresa, Mário Marques, Miguel Santos, Natália Alves, Odete Nogueira, Rosa Alves, Rosa Coutada, Rute Arnóbio, Sandra Nunes, Sheila Pinto, Sónia Rodrigues, Susete Rebelo, Vasco Cação, Virgílio Borges

co-produção Companhia Instável, Culturgest, TNSJapoio INATEL/Teatro da Trindade

estreia [29Mar07] Culturgest (Lisboa)

Teatro Carlos Alberto15 — 17 Junho 2007sex 21:30 sáb 16:00 + 21:30 dom 16:00classificação etária M/3 anosduração aproximada [1:30]

Encontro com Madalena Victorino sobre o interior de Caruma+Exibição do documentário Carumarealização Cláudia Varejãoprodução Companhia Instável

duração [50’]

Encontro especialmente dirigido à comunidade artística, a estudantes e profissionais de artes performativas, cinema e audiovisual, a professores, sociólogos e psicólogos da área social.

Teatro Carlos Alberto17 Junho 2007dom 18:30

Caruma

“Unir o centro da cidade às margens da arte”

Madalena Victorino

Caruma são folhas secas em forma de flecha que descem dos pinheiros, vestem o chão e picam. Caruma é um espectáculo com uma dimensão privada e outra pública, em que ambos os espaços se misturam numa paisagem que mexe. É sobre o que há na margem e no centro. É sobre o que respira debaixo do chão, e sobre o céu como terra.Pessoas da rua, bailarinos e músicos põem o público em contacto com uma comunidade que é a sua, confundindo-o e iluminando-o nessa ideia de unir o centro da sua cidade às margens da arte.O público, uma parcela dessa comunidade, revê-se e descobre-se, adiciona algo de seu ao espectáculo sem o saber previamente. Testemunha a transformação dos seus pares que nessa noite são outros.Pequenos ninhos de público envolvem acções feitas em formato de conluios, conversas de saleta, solos dançados e contados, onde a intimidade da relação espectáculo/público se acende.Caruma poderá ter sete, 27 ou 57 intérpretes, dependendo de quem se alistar na aventura de participar neste espectáculo de arte comunitária. Haverá sempre sete intérpretes fixos vindos dos universos do teatro, da dança e da música que, na ausência de voluntários, asseguram o espectáculo fazendo tudo, preenchendo o vazio com o sonho que tivemos de ter ali alguém da população local. Neste espectáculo, teremos crianças pequenas que, pela mão dos seus pais, aprendem a pisar a caruma… Mães jovens transformam-se em Sereias. As crianças transformam-se em rapazes que fogem dos braços dos pais e experimentam ser construtores de navios… Os mais velhos guardam o público, sugerindo com a sua presença calma o que está para vir, com palavras e gestos seus…Caruma é um espaço para anjos nascidos da terra e humanos caídos do céu. Bailarinos, música, acções em catadupa saem de um tapete de caruma. Emergindo do centro da vida, recontam-se no fluxo de um tempo musical. •