O Milagre do Maranhão
Transcript of O Milagre do Maranhão
O MILAGRE DO MARANHÃO: Uma análise do Maranhão Novo registrado pela lente de Isaac Rosenberg
Guilherme CERQUEIRA e Pâmela PINTO (graduandos do curso de Comunicação Social da
Universidade Federal do Maranhão).
Palavras-chaves: Sarney, política, Maranhão.
Muito se fala no Maranhão da Oligarquia Sarney, do poder de mando e de
controle exercido pela família de José Sarney há exatos quarenta anos. Mas como se deu o
início deste poder? Quais os cenários políticos que permitiram a formação desta oligarquia?
Para esclarecer algumas dessas dúvidas e tentar compreender as cenas políticas do
nosso cotidiano maranhense, é que nos propusemos desenvolver esta pesquisa. O trabalho faz
uma análise sobre o filme “O Milagre do Maranhão”, que foi criado para legitimar o poder de
Sarney na época do seu mandato de governador no Estado Maranhão (1966 a 1970) e
pavimentar sua candidatura ao senado em 1970.
O Milagre do Maranhão, um fragmento cinematográfico feito pelo cineasta
romeno Isaac Rozenberg, cria um Maranhão diferente, pois expõe uma grandeza e opulência
que só existiam nos discursos de José Sarney e dos militares. O filme traça um perfil do
governo do Maranhão, o sucesso das obras e de um governo que está de acordo com as ordens
dos militares. Uma campanha de exaltação do poder político do regime.
Para compreendermos a dimensão de O Milagre do Maranhão, precisamos
contextualizá-lo aos anos de sua produção (1967 a 1970) e ao seu criador Isaac Rozenberg.
Buscamos alguns dados biográficos e referências do trabalho do cineasta para
dimensionarmos a relevância do diretor nesta pesquisa. De origem romena Rozenberg nasceu
na extinta aldeia de Secureni, próxima a Nabucovina na Região da Moldávia, parte da antiga
Bessarábia, em 21 de abril de 1913. Seus pais, Leib Arieh Rozenberg e Brani Rozenberg,
trabalhavam com o comércio de água gaseificada e vinho.
Em 1929, Isaac viaja para o Brasil fugindo do alistamento militar. Começou a
trabalhar como fotografo do IML, onde fotografava cadáveres para estudantes de medicina de
Salvador. Anos depois viaja para o Rio de Janeiro, inicia sua carreira como assistente de
produção e filmagem em estúdios e logo depois ganha espaço como ator, e com isso sua
participação no Filme “Bonequinha de Seda” da Cinédia. Isaac participou como ator no
primeiro filme de propaganda realizado no Brasil, tratava-se de um anúncio da Nestlé. Ele
1
tinha uma vantagem em relação a outros produtores cinematográficos, possuía excelente
domínio técnico de fotografia e iluminação, o que garantiu penetração nos principais estúdios
brasileiros e ainda dominava vários idiomas, além do inglês, francês, romeno, português, o
russo e o idiche1.Com o trabalho em comerciais, pontas em filmes na Cinédia, e trabalhos
técnicos aos poucos Isaac garante uma boa estrutura e monta a sua pequena produtora, a partir
daí começa a produzir pequenos documentários. Isaac vai para a América do Norte fazer
cursos para aprender a filmar à cores nos Laboratórios Eastmancolor2. Nesse período ingressa
nos Estúdios de Hollywood.
De volta ao Brasil, em 1953, foi o primeiro no Brasil a filmar em cores. Inicia-se
uma fase de grande prestígio e de explosão produtiva de seu trabalho, que vai do Governo
Juscelino (1956) a Figueiredo (1984). A relação de Trabalho com Juscelino Kubitschek
(1956-1961) teve início quando ele era prefeito de Belo Horizonte, durante a filmagem da
inauguração da Igreja da Pampulha. Na gestão de Getúlio Vargas (1951-1954) filmou as
caldeiras e os fornos de Volta Redonda - o inicio da formação da Companhia Siderúrgica
Nacional.
Antes de produzir “O Milagre do Maranhão” Rozenberg fez, em 1963, o filme
Maranhão Sempre Belo, encomendado pelo governador Newton Bello, para registrar a
sociedade Maranhense da época. Isaac trabalhava na contramão do Cinema Novo, enquanto
este buscava inovar e descobrir novas técnicas à baixo custo, Rozenberg abusava da qualidade
técnica e de tecnologias bancadas pela exigência de seus clientes: os militares. Esta “aliança”
profissional com os militares renderam ao cineasta certo preconceito na história do nosso
cinema. Isaac faleceu de leucemia aos 72 anos em 1983, deixando viúva e cinco filhos.
O filme faz parte da série “Coisas do Brasil” - documentários produzidos no
período de 1964 a 1985, para exaltar a competência dos militares diante da administração do
país. Isaac fez mais de cinqüenta produções em todo o Brasil. O Milagre do Maranhão traz
uma grande inovação técnica para o Estado. Um filme político com cenas aparentemente reais
e com um trabalho de montagem e edição mais dinâmico - com um ritmo mais rápido para dar
o dinamismo às obras. Isaac buscou enquadramentos novos, aspectos iconográficos dos
representantes públicos. Planos seqüências em vários ângulos, imagens aéreas, planos e
contra-planos, o que deu uma leveza no filme, mesmo sendo “chapa branca”, o que garantiu
uma aceitação e consumo mais suave e rápido. O expectador assiste como um grande álbum
de fotografia, sempre atento aos detalhes e ao ambiente exposto pelo cineasta. A sonoplastia
1 Língua falada por judeus do norte da Europa e Alemanha2 Empresa da Kodak Ltda. Que em 1950 iniciou os testes com a película 35mm, a cores
2
permite uma inserção mais interativa, o som permite ao expectador se inserir no contexto e
presenciar as ações do filme, de fato o som permitiu uma linguagem mais forte e atrativa.
Mostrou ao Maranhão uma outra forma de se fazer política, uma nova estratégia de conquistar
mentes.
A seguir temos a decoupage do áudio e das cenas do filme, para compreendermos
melhor a montagem e o roteiro da produção. Ficha técnica de “O Milagre do Maranhão”:
Imagens - Roland Hent; montagem - Floriano Peixoto; sonoplastia - Jorge Napoleão; efeitos
sonoros - Geraldo José; coordenação - Vantoir Machado; apresentação - Noel Santana;
narração - Aluísio Pimentel; laboratórios - Rex Líder; direção geral - Isaac. Rozenberg.
Áudio Vídeo00:00:05s - OS PRIMEIROS DIAS DA CRIAÇÃO E O HOMEM A ESPERA DE UM MILAGRE...I. ROSEMBERG APRESENTA DA SÉRIE COISAS DO BRASIL...O MILAGRE DO MARANHÃOIMAGENS ROLAND HENT, MONTAGEM FLORIANO PEIXOTO, SONOPLASTIA JORGE NAPOLEÃO, EFEITOS SONOROS GERALDO JOSÉ, COORDENAÇÃO VANTOIR MACHADO, APRESENTAÇÃO DE NOEL SANTANA, NARRAÇÃO ALUÍSIO PIMENTEL, LABORATÓRIOS REX LÍDER, DIREÇÃO GERAL I. ROSEMBERG.E O MILAGRE ACONTECEU, MÁQUINAS CHEGARAM PARA ACELERAR O PROGRESSO, PARA INSTALAR REDES DE ESGOTOS.
Detalhe do visor “No AR”
Sala de controle da TVE Sala de Aula da TVE Casarão com o seu pátio, imagens de
janelas do Palacete Gentil Braga Plano aberto da Praça D. Pedro II, e do Palácio dos Leões ao fundo Detalhe do leão do palácio Detalhe do candelabro do salão principal
do palácio
Maquinário, asfaltando a cidade de São Luís – (ruas identificadas: Rio Branco, Praça Gonçalves Dias e Av. Beira-mar)
00:01:19s - A BARRAGEM DE BATATÃ VEIO GARANTIR O ABASTECIMENTO DÁGUA À CIDADE. UMA EQUIPE JOVEM LIDERADA POR JOVENS, VEIO PROPORCIONAR MELHORES DIAS AOS MARANHENSES.
Plano aberto da barragem de batata, fachada, imagem de homens trabalhando)
Interna de uma das salas de controle dos tanques
Caixa dágua do outeiro da cruz)
00:01:32s - EM RITMO NOVO TUDO FOI CRESCIDO E ACRESCIDO.NÃO SÓ PARA OS DE MAIOR RENDIMENTO COMO TAMBÉM PARA OS QUE SAEM DOS ALAGADOS.NA CERTEZA DE QUE O GOVERNO É TAMBÉM NOS FRUTOS E NO TRABALHO.
Detalhe da mão de criança abrindo uma torneira d´agua
Plano aberto de uma mulher trabalhando na lavoura)
Plano aberto de um posto de vacinação (Posto DR. Sabin)
00:01:59s - PEQUENOS POSTOS DE VACINAÇÃO E DE ATENDIMENTO FORAM IMPLANTADOS. 02:07:00 - A SECRETARIA DE SAÚDE ALÉM DA CRIAÇÃO DE UMA PATRULHA VOLANTE DE MÉDICOS E DOUTORANDOS
Pan (D-E) da Cohab
Interna do Posto de saúde Marly Sarney (em construção)
Fachada do Hospital Carlos Macieira
3
QUE PERCORREM COM REGULARIDADE O INTERIOR DO ESTADO, AMPLIOU CONSIDERAVELMENTE A REDE HOSPITALAR.
( Hospital Geral)
(Sobe Som)00:02:35s - A CADA ANO FUNDA-SE MAIS UMA FACULDADE...(Sobe Som)
Fachada e detalhe Faculdade de Ciências Médicas
00:02:41s - UMA DAS MAIS OUSADAS OBRAS DA MODERNA ENGENHARIA BRASILEIRA FOI A BARRAGEM DO BACANGA.(Sobe Som)
Imagem em Pan(E-D) da beira mar, dos bairros Fonte do Bispo e Madre Deus
00:02:49s - PARA A SUA CONSTRUÇÃO FOI NECESSÁRIO FECHAR O RIO EM SUA FOZ, PARA SANEAR 8 MIL CASAS CONSTRUÍDAS NO ALAGADO, PARA EXECUTAR A DISTÂNCIA DO PORTO, PARA DAR UM LAGO Á CIDADE.
Tratores aterrando o canal, Caminhões carregando pedra e areia, detalhes e abertas
Aberta da carroceria do caminhão, mostrando o comboio de máquinas com pedra e areia
00:03:04s - O ESTRANGULAMENTO DO RIO FOI IGUAL AO DO SÃO FRANCISCO EM PAULO AFONSO E 5 VEZES O VOLUME DO RIO PARNAÍBA PARA A CONSTRUÇÃO DA “BOA ESPERANÇA”.(Sobe Som)
Tratores e escavadeira em detalhe movendo terra e pedra
Aberta da barragem construída
00:03:16s - O MARANHÃO TINHA CONTRA SI AS LIMITAÇÕES DE SEU PORTO. ATUALMENTE O DE ITAQUI ESTÁ PRONTO PARA ATENDER O CRESCENTE MOVIMENTO PORTUÁRIO.(Sobe Som)
Ampliação do cais do porto plano aberto Plano aberto do cais do porto
Detalhe de embarcação sendo carregada
00:03:37s - AQUI E ALI AO LONGO DAS EVOCAÇÕES DO PASSADO REPONTA EM SUGESTIVO CONTRASTE AS LINHAS ARQUITETÔNICAS DAS MODERNAS PONTES.(Sobe Som)
Plano Aberto ponte Benedito Leite e em pan (D-E) a Marcelino Machado
Imagem da Ponte Marcelino Machado Construída
00:03:37s - AGORA COM A OBRA DA SÃO FRANCISCO OS MARANHENSES SE ORGULHAM DE POSUUIR A MAIOR PONTE DO NORDESTE.(Sobe Som)
Plano aberto cabeceira da ponte de São Francisco
Plano aberto da Av. Beira-Mar e ponte São Francisco
00:04:09s - A TERRA ESTAVA A ESPERA DO HOMEM, O GOVERNO ESTADUAL COMPREENDENDO OS ANSEIOS DOS LAVRADORES DEU-LHES ASSISTENCIA TÉCNICA E DISTRIBUIU MAIS DE MIL TÍTULOS DE PROPRIEDADE, POIS COMO AFIRMOU O PRESIDENTE MÉDICE, A META É O HOMEM E ESTE É O CENTRO DA CRIAÇÃO.COMO NÃO FICAR EMOCIONADO NUM MOMENTO COMO ESTE?
Pan (E-D) da faixa “Terra para Plantar” Travel pela bandeira do Brasil, e depois
aparece um comício em grande praça(município de Imperatriz-povoado não identificado)
Detalhe de rostos de trabalhadores Dona Marly no palanque entrega títulos
de terra em plano aberto, no fundo a multidão
Trabalhadores Close Sorrisos
4
00:04:40s - A COLHEITA DARÁ OS RECURSOS COM QUE RESPEITARÁ SEUS COMPROMISSOS. E OS FRUTOS DO SEU TRABALHO REVERTERÃO EM BENEFÍCIOS.(Sobe Som)
Plano aberto de uma campo de arroz e trabalhadores recolhendo manualmente o arroz
Imagens de vários Frutos, (côco, carambola,manga)
00:04:55s - PRECIOSO SETOR ECONÔMICO A PECUÁRIA MERECEU MELHOR INCENTIVO.(Efeito Sonoro- Bois)
Plano aberto de um curral e um trator cruzando o pequeno curral
00:05:02s - DAS FAZENDAS EXPERIMENTAIS, APRIMORAVAM OS REBANHOS POR MODERNOS MÉTODOS DE CRIAÇÃO.(Sobe Som)
Imagem de um bufalo em plano aberto
00:05:11s - NÃO EXISTIAM ESTRADAS MAS FORAM CONSTRUÍDAS. EM PLENA SELVA AMAZÔNICA ONDE O HOMEM NUNCA ANTES PENETRARA O BARULHOS DAS MÁQUINAS SILENCIOU O CANTO SUAVE DOS PÁSSAROS.(Sobe Som)
Imagem aberta de estrada sendo rasgada e arvores caídas
Imagem em detalhe de máquinas e tratores cruzando e abrindo estrada
Plano aberto de Tratores cruzando as estradas
00:05:26s - DIA E NOITE O MARANHÃO EXECUTARA ENTÃO VIGOROSA PLÍTICA RODOVIÁRIA INTERLIGANDO REGIÕES.(Sobe Som)
Tratores em detalhe cruzando as estradas Detalhe de caldeiras derretendo o breu em
plano aberto
00:05:40s - O ESTADO NÃO TINA SEQUER 1 KM DE ESTRADA ASFALTADA.(Sobe Som)
Plano aberto e em detalhe o caminhao derramando o piche na estrada de terra
00:05:48s - HOJE AS RODOVIAS LIGAM OS MUNICÍPIOS DE NORTE A SUL, PROMOVENDO A SUA INTEGRAÇÃO ECONÔMICA E ACELERANDO O DESENVOLVIMENTO.(Sobe Som)
Plano aberto José Sarney inaugura a BR 135 ao lado de várias autoridades inclusive o Cel Andreazza Ministro dos transportes
Plano Aberto da BR 135 Concluída
00:06:18s - NÃO HAVIA LUZ....(Sobe Som)
Detalhe de uma vela em um castiçal velho, em seqüência a vela se apaga
00:06:23s - AS PRINCIPAIS CIDADES DO INTERIOR, E OS CENTROS RURAIS DE MAIOR PRODUÇÃO, PASSAVAM A RECBER ENERGIA DA GRANDE HIDRELÉTRICA DA BOA ESPERANÇA.
Aberta da inauguração da Hidrelétrica de Boa Esperança.
Sarney em detalhe rodeado de Militares no palanque
Imagem em close do Presidente Cel. Médici
00:06:35s - O ESTADO É HOJE UMA POTÊNCIA, EM TERMOS DE PROGRESSO E APRESENTA EXCEPCIONAL PERSPECTIVA PARA O FUTURO.(Sobe Som)
Pan (E-D) de uma das turbinas em plano aberto, da hidrelétrica de Boa Esperança
Plano aberto da sala de controle onde autoridades simbolizaram o início das operações
5
00:06:48s - O TRABALHO SE FAZ PRESENTE EM TODA PARTE. UM TRABALHO CONJUNTO DA REVOLUÇÃO DE MÃOS DADAS COM O GOVERNO DE ESTADO, ENTIDADES DE CRÉDITO NACIONAIS E INTERNACIONAIS.É O MARANHÃO NOVO(Sobe Som)
Plano ultra aberto do campo de Perizes e as linhas de energia
Pan (E-D) do parque de resistores e isoladores
Plano aberto do aeroporto e ao fundo um avião pousando
00:07:12s - MAS NÃO PARA POR AI, DEVIDAMENTE ASSISTIDO E ORIENTADO, O MENOR ABANDONADO RECEBEU DO ESTADO O CARINHO E O CONFORTO DE QUE TANTO PRECISAVA.
Detalhe do rosto de uma funcionária da FEBEM simulando uma palestra ao ar livre a um grupo de jovens
Uma pan (D-E) em detalhe dos rostos dos” menores abandonado”
00:07:26s - A CADA DIA QUE PASSA, NAS ESCOLAS OU NOS PARQUES, A FUTURA GERAÇÃO MARANHENSE APRENDE AS REGRAS ELEMENTARES DO BEM VIVER.(Sobe Som)
Plano aberto do parque da cidade Crianças e adolescente fazendo atividades físicas
Pan (E-D) do parque
00:07:41s - O MARANHÃO DEU SALTOS, DA PEQUENA ESCOLA SE SAPÊ, SIMPLES CONSTRUÍDA COM AJUDA DE TODOS. A MODERNA TV EDUCATIVA.(Sobe Som)
Plano aberto de uma escola de taipa onde ao fundo aprece uma Rural e crianças passando pela porta
Placa da TV educativa, e outras placas de escolas
00:07:43s - A CADA MÊS MAIS UM GINÁSIO ABERTO TELE-ESCOLAS E POSTOS PÚBLICOS CRIADOS.(Sobe Som)
Planos abertos de fachadas de escolas com placas do Maranhão Novo, Governo José Sarney
00:08:11s - A ERA DA ELETRÔNICA CHEGOU AO ESTADO MODRNO PROCESSAMNETO DE DADOS FOI INTRODUZIDO.(Sobe Som)
Detalhe de componentes internos de um computador
Detalhe de papel contínuo saindo de uma impressora
00:08:24s - AS PROVAS RECEBIDAS DAS TELE-ESCOLAS PASSAVAM A SER CORRIGIDAS PELOO COMPUTADOR O PRIMEIRO A SER INSTALADO NO MEIO NORTE.(Sobe Som)
Detalhes de impressoras imprimindo Plano aberto de uma sala onde
funcionários e técnicos trabalham
00:08:36s - A JUVENTUDE MARANHESE PASSOU A ACREDITAR QUE ESTAVA ACONTECENDO UM MILAGRE. MILAGRE QUE SE DEVE AO TRABALHO DA REVOLUÇÃO.(Sobe Som)
Plano aberto da praça João Lisboa onde estudantes desfilam pela Rua do Egito
Pan do estúdio da TVE
Voz Feminina:00:08:48s - CONFORME VIRAM O DOCUMENTÁRIO FOCALIZOU O MARANHÃO, ANTESE DEPOIS DE UM GOVERNO. AGORA VERÃO A FESTA EM HOMENAGEM A DESPEDIDA DO GOVERNADOR.
Plano aberto do estúdio mostrando uma mulher que está gravando uma aula
Plano médio da mesma mulher Plano ultra aberto aéreo da Cohab
6
(Sobe Som)
00:08:57s – CONJUNTOS HABITACIONAIS(Sobe Som)
Aérea da Cohab, plano ultra aberto
00:09:03s - A DISTRIBUIÇÃO DAS TERRAS(Sobe Som)
Lavrador em plano aberto apertando a mão de autoridades ao lado de D. Marly Sarney
00:09:09s – ASSISTÊNCIA AGROPÉCUÁRIA(Sobe Som)
Aberta de um gado em uma pastagem
00:09:13s - ABASTECIMENTO DÁGUA(Sobe Som)
Plano aberto da barragem do Bacanga
00:09:19s - ENERGIA PARA O SURTO INDUSTRIALAS NOVAS RODOVIASO PORTO DO ITAQUIA MAIOR PONTE DO NORDESTEO MAIS AVANÇADO SISTEMA DE ENSINO PELA TELEVISÃO(Sobe Som)
Plano aberto BR 135
Plano aberto do Porto do Itaqui Aérea da ponte de São Francisco Plano aberto da sala de controle da TVE Detalhe de uma câmera de TV
00:09:36s - SÃO RESULTADOS DE UM PLANEJAMENTO TÉCNICO E HUMANOÉ UM BRASIL GRANDE, QUE TEM AGORA TAMBÉM O SEU RITMO DE PROGRESSO, PASSO-A-PASSO PARA O DESENVOLVIMENTO E QUE TODOS CHAMAM O MILAGRE DO MARANHÃO.(Sobe Som)(efeito Sonoro Aplausos)
Plano aberto uma grande pan(E-D) da praça D. Pedro II tomada por uma multidão com cartaze, de diversas localidades do Estado
00:10:06s - POR ISSO NA MESMA PRAÇA EM QUE RECEBEU A FAIXA DE GOVERNADOR, O SR. JOSÉ SARNEY DEIXA O GOVERNO, LEVADOS PELO POVO.
Detalhe da Multidão aplaudindoDetalhe de Jose Sarney e Dona Marly no palanque acenando ao povo
Close do povo sorrindo e aplaudindo Plano aberto da multidão em volta do
carro que José Sarney sai da praça
00:10:23s - I ROSEMBREG APRESENTOU O MILAGRE DO MARANHÃO
Plano ultra aberto aéreo da praça D. Pedro II
Os militares transformaram o Brasil em um grande canteiro de obras. Em diversos
Estados foram construídas pontes, estradas e outras inúmeras obras de grande porte. O
Maranhão não ficou alijado deste roteiro, e com a experiente persuasão do chefe do Executivo
junto ao Palácio do Planalto. Estado foi beneficiado com a Hidrelétrica de Boa Esperança, o
Porto do Itaqui, estradas, a Ponte do São Francisco, dentre outras realizações que são tratadas
ao longo do filme. O filme enaltece em cada cena a figura do governador, sua vanguarda,
como exemplo temos o caso da implantação da TVE ( Televisão Educativa), da criação da
Cohab e de outros projetos. Finaliza com a despedida de Sarney, em praça pública, no dia 14
de maio de 1970, para disputar uma vaga no Senado. Chega ao fim a prestação de contas do
7
governador José Sarney, que se propôs a desenvolver o Maranhão e exterminar o modus
operandi oligárquico de governo. No final de sua gestão como governador o que fica
perceptível, através da forma como o vídeo foi concebido e da própria estratégia política de
Sarney,é que ele inicia (se estabelece) uma nova força política no Estado, com ressonância em
todo o território brasileiro – ele demarca o Maranhão como sua propriedade logo após trazer o
“progresso” com as obras faraônicas. Torna-se um novo líder e funda sua oligarquia que se
pretenderá herdeira dos frutos plantados no “Maranhão Novo.”
Para complementar este trabalho trazemos um breve resumo da trajetória da
carreira de José Sarney, que começou no PSD3, partido liderado pelo senador Vitorino Freire,
no Maranhão, desde o fim da II Guerra Mundial. Seu primeiro posto no governo foi em 1950,
como assessor do governador Eugênio Barros; em 1954, assumiu o cargo de deputado federal
(eleito como suplente pelo PSD).
Em meados da década de 1940, o PSD e Vitorino tiveram seus poderes ampliados
para todo o nordeste, já que o senador é afilhado político do presidente Dutra (1946/1950) e
tornou-se aliado do presidente Vargas, de quem recebia constante apoio. Em 1955, Sarney
inicia outra etapa na sua carreira política, aliando-se às Oposições Coligadas, mais
precisamente à UDN4, sendo eleito em 1958, para a Câmara Federal por este partido. Sarney
passou a compor a ala “Bossa Nova”5 da UDN, integrada por jovens políticos progressistas.
Mas vale ressaltar que em 1960, a UDN deixa a oposição e passa a ser aliada do PSD - os
partidos se coligaram para eleger Newton Bello governador do Estado, em troca de cargos no
governo para a UDN como é enfatizado por Wagner Cabral.
Esta mudança beneficiou a trajetória de Sarney, porque ele passou a ser o porta-
voz oficial do Maranhão no Palácio do Planalto. Esta colaboração só foi possível porque o
partido de Sarney era o mesmo do presidente Jânio Quadros, a UDN. Como podemos
perceber, José Sarney mostrou sua habilidade na performance política, usou a UDN na esfera
federal para colaborar com o governo de Newton Bello, PSD, e conseguir projeção no
Maranhão e em Brasília. Porém, com a renúncia de Jânio Quadros da presidência, a sigla se
afastasse do governo de Newton Bello e volta à oposição em março de 1962.
Em 1962, Sarney é reeleito deputado federal com 21.294 votos (líder regional e
vice-líder nacional). Em 03 de outubro de 1965, José Sarney foi eleito com 112.062 votos. Os
3 PSD – Partido Social Democrata4 União Democrática Nacional5 Um grupo de 23 deputados da UND que se mostrou a favor das reformas agrárias, tributárias e urbana; do monopólio estatal do petróleo; da política externa independente, dentre outros tópicos, numa convenção nacional do partido através do Manifesto Bossa Nova.
8
militares promoveram ampla revisão eleitoral, através do TRE6, para por fim à “Universidade
da Fraude” – as intervenções de Vitorino nos resultados dos pleitos - e garantiram a segurança
nas eleições com policiamento.
Sarney foi recebido como um “libertador” no dia 31 de janeiro de 1966, na Praça
Dom Pedro II, para ser empossado com Antônio Dino. Ao assumir o Estado, Sarney utilizou o
programa de governo “Maranhão Novo” para delimitar sua gestão e diferenciá-la das
administrações anteriores. Vitorino Freire foi o parâmetro para uma inevitável comparação.
Segundo GONÇALVES (2000), Sarney adotou em seus discursos referências de um
Maranhão, no passado distante, de glórias e riquezas, comparado, obstinadamente, a um
Maranhão estagnado, decadente, o que a autora classifica como passado recente. Este passado
remete à figura de Vitorino Freire, cunhado pelo próprio Sarney, como chefe de uma
“oligarquia de vinte anos”.
Sarney se compromete a romper com a “decadência e a inércia” na qual o Estado
se encontrava. Neste contexto, inicia o seu projeto de governo denominado “Maranhão Novo”
- uma estratégia política da administração de Sarney, que pretendia modernizar o Estado, a
começar pela parte administrativa, e se estender por todos os setores.
Um dos recursos utilizados para realização deste projeto foi a criação de um
campo burocrático eficiente, com uma mão de obra qualificada. Para tanto, José Sarney compôs
seu governo com membros da chamada “Geração de 50”7. Estes homens responderiam ao que
Sarney classificou como “técnicos maranhenses de elevado gabarito”. Eles representavam a
somatória de um conjunto de valores como o da formação acadêmica, a intelectualidade, a
juventude e a perspectiva de um Maranhão renovado, o que sintonizava com os propósitos do
planejamento ‘revolucionário’ que José Sarney estava publicizando aos maranhenses. Para dar
suporte aos projetos “inovadores” de sua administração, Sarney criou a SUDEMA, que foi uma
agência de legitimação do “Maranhão Novo.
A conjuntura política nacional também privilegiou o desenvolvimento e a
concretização do “Maranhão Novo”, pois o governo de Castelo Branco tinha um interesse
comum com o governador do Estado: eliminar o PSD no Maranhão. Esta ação foi reflexo da
reorganização do poder ocorrida no país depois do golpe de 1º de abril de 1964. Os partidos
políticos que tiveram seu tempo áureo no populismo de Getúlio Vargas, PTB8 e PSD, passaram
6 Tribunal Regional Eleitoral7 Geração de 50 , grupo literário intelectual maranhense, surgido no período da II Guerra Mundial, que era inspirado nos propósitos da Semana de 22 e era composto por nomes como José Sarney, Bandeira Tribuzzi, Domingos Vieira Filho, que tentaram promover o resgate dos tempos áureos da historia do Maranhão. 8 PTB – Partido Trabalhista Brasileiro
9
a ser perseguidos em todo o território nacional. A ação foi consolidada em 1965, através do Ato
Institucional nº 2, que instituía o bipartidarismo. Foram criadas somente duas siglas para
compor a cena política nacional: ARENA9 e MDB10.
Não podemos desconsiderar a importância de outro alicerce da política de Sarney:
os meios de comunicação de massa do Maranhão. Foi o uso (e o abuso) desses instrumentos que
garantiu ao político o apoio popular e dos grupos intelectuais do Estado. Por meio dos jornais O
Imparcial (do grupo dos “Diários Associados”), Jornal do Dia, Jornal de Bolso, da rádio
Timbira o governo implantou uma verdadeira e eficiente assessoria de comunicação, uma
vanguarda para a época, que difundia notícias para todo o Maranhão e às vezes para o nordeste.
Os meios de comunicação penetraram nos diferentes campos sociais e depositaram
as informações necessárias para a construção no imaginário maranhenses da imagem ideal do
político José Sarney. A imagem da dupla tradição maranhense: da Atenas culta e da Ilha
politizada e rebelde das Oposições Coligadas aliada a imagem da modernização desejada
como retorno à época de glórias do Maranhão. FERREIRA, (1996; p 25): “É a comunicação
midiática, o campo dos media, que de forma avassaladora cada vez mais assegura para si a
característica de introjetar na esfera publica o debate e, conseqüentemente, a formação de
consenso/legitimidade da tomada de decisões de determinados assuntos.”
O espectador-eleitor encanta-se com a proximidade com que o governo
apresenta-se, sem saber da ficção a qual está submetido. Habermas (1997), classifica o meio
de comunicação não mais como o meio de debate, do qual se espera emergir uma opinião,
mas o local onde circulam opiniões estabelecidas, às quais se espera uma adesão de um
público reduzido a uma massa chamada, às vezes, por meio de plebiscitos. Dessa necessidade
de publicização dos discursos dos campos sociais no espaço público se constituiu o campo
dos média: “ O campo dos média, que emerge de modo mais contundente na modernidade (tardia), estrutura, articula e dá visibilidade a entes sociais, instituições, valores e práticas encarregadas de mediar socialmente a publicização dos inúmeros campos sociais diferenciados e autonomizados na/pela modernidade, tornando-os visíveis para o restante da sociedade.” (RUBIM, 1995, p. 112 apud FERREIRA, p. 27)
O campo dos media se intitula como mediador dos outros campos sociais no
espaço público porque se legitima através de sua transparência e de sua natureza vicária ( a
delegação por parte dos outros campos para sua publicização no campo dos média). Neste
campo o dizer prevalece sobre o fazer.
9 ARENA – Aliança Renovadora Nacional10 MDB – Movimento Democrático Brasileiro
10
Para compreendermos a relação do campo dos media, o campo de publicização das
ações das demais esferas sociais, com a política e seus produtos mediáticos, precisamos
também conhecer o conceito de campo político, que segundo Bourdieu (2002, p. 164), é "o
lugar em que se geram, na concorrência entre os agentes que nele se acham envolvidos,
produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos,
entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de 'consumidores', devem escolher".
Após o golpe de 1964, o político tratou de associar a sua imagem à “revolução”,
buscou a força coercitiva dos militares para garantir imponência, e tomou a frente para se
mostrar mediador deste governo federal. A função de mediador é crucial numa estrutura
oligárquica de poder, pois através da mediação há apropriação particular dos benefícios desta
articulação para o grupo do mediador; outro aspecto inerente à postura do mediador é o
indicativo de força que se consolida nos imaginários sociais.
Cabe aqui fazer um esclarecimento de como se deu a instalação do golpe de 1964
no Maranhão. Segundo BUZAR (1998), houve mais um clima de expectativa do que de
agitação. Ele afirma também que não foram registradas manifestações populares que
alertassem o sistema de segurança local nos primeiros dias. No dia 1º de abril de 1964, o
governador Newton Bello não se encontrava em São Luís, estava no casamento do filho no
Rio de Janeiro, e teve que mandar orientações, via Gabinete Civil, como afirma BUZAR,
(1998, p. 442) :“ Diante da crise político-militar deflagrada no sul do país, este Gabinete, (...) dirijo empenhado apelo à população no sentido de que se mantenha em calma e serenidade, confiante nas medidas preventivas já adotadas pelo Governo, na preservação da ordem e da tranqüilidade pública (...) Reina em todo Estado a mais completa legalidade normal (...) Está certo o Governo de que a crise ora em evolução será contida pelo bom senso e patriotismos dos homens públicos responsáveis (...).”
Mas esta tranqüilidade durou pouco, a começar pela portaria baixada em conjunto
pelo Estado e Federação que proibia passeatas, comícios e reuniões. Logo depois, alguns
setores da sociedade manifestaram-se contra os eventos ocorridos, dentre eles estão os
estudantes secundaristas, através de reuniões e panfletagem. Não demorou muito para que
pessoas como o jornalista Bandeira Tribuzzi, a médica Maria Aragão, o jornalista Neiva
Moreira fossem presos. O Jornal do Povo, sob a coordenação dos jornalistas supracitados,
marco de resistência da oposição, foi fechado. Isto sem falar nas ocorrências do interior, que
não foram publicadas na capital.
O projeto “Maranhão Novo” foi fruto de uma aliança entre o executivo nacional e
o estadual. O primeiro, precisava garantir a continuidade do poder dos militares e o segundo,
11
aproveitara a situação para garantir o controle do Estado e projetar-se na política do país.
Neste sentido o “Maranhão Novo” constitui-se numa vitrine da potencialidade e do alcance da
rede de relações do político José Sarney.
A relação entre José Sarney e os militares foi divulgada nos jornais da capital.
Porém, de forma sutilmente maquiada, pois as matérias sempre mostravam o “empenho” do
governador junto à cúpula militar para trazer o progresso do Estado, mas evitavam
transparecer a submissão de Sarney nesse processo. Na edição de 20 de agosto de 1969, o
jornal O Imparcial publicara na página 2 a seguinte matéria, intitulada “Administração de
Sarney exaltada pelos Generais”:(...)São Luís recebeu a visita da ilustre caravana militar tendo a frente um
general brasileiro e outro argentino. Na foto o general Samuel Corrêa aparece ao lado do governador Sarney, na entrada do Centro Educacional, vendo-se também o cel. Alberto Braga, comandante da guarnição de São Luís. No segundo plano, aquele oficial superior e seu colega da Argentina são recebidos no aeroporto pelo vice-governador Antônio Dino. (...)
Esta foi uma das estratégias de José Sarney para garantir e instituir seu poder.
Usaremos os princípios de legitimidade de poder de Max Weber para justificar a atuação de
Sarney: O tradicional, que busca nas raízes históricas e na tradição, inclusive familiar, a
justificativa de poder; o racional que de uma forma “positivista” (vontade popular) e legal
(através das leis), justa e organizada, chega ao poder; por último o messiânico, estritamente
ligado ao carinho e à admiração produzida pelo representante do poder, a identidade
personificada e idolatrada que chega às vias do poder pela admiração e carisma. Com base
nestes princípios, analisaremos a seguir a trajetória de construção do poder de José Sarney.
Nos seus discursos, Sarney busca enfatizar sua imagem de filho da terra,
maranhense, filho de Dona Kiola, nascido em Pinheiro – interior do Estado - e através dessa
regionalidade, do sentimento de patriotismo e de exaltação da cultura local, utiliza a tradição.
Para complementar este quadro ele tenta traçar uma ascensão de sua vida justa (e
batalhadora), neto de agricultores, filho de um desembargador, que veio a capital buscar
conhecimento.
Estudou no Liceu Maranhense, morou na Casa dos Estudantes, foi líder do grêmio
Liceísta (segundo a versão do próprio Sarney), tudo isso para causar uma empatia nos seus
conterrâneos – aqui verificamos a presença do poder tradicional ( filho da Terra) com o poder
messiânico (admiração popular). O José escritor, poeta romancista, regionalista, membro da
Academia Maranhense de Letras, traz a lembrança do tempo áureo de São Luís, um resgate às
“glórias do passado”, tenta conquistar o público pelo poder tradicional, pois se intitula como
herdeiro de uma tradição cultural de grandes escritores e intelectuais maranhenses e se auto
12
denomina líder de uma nova geração de pensadores, a “Geração de 50”; ele trás para este
grupo a responsabilidade de resgate das glórias do nosso Estado, das letras e das lutas
políticas. O José político que, por “clamor popular” e “vontade de Deus,” foi levado ao
governo do Maranhão, como conseqüência de um filho sofrido, que depois de lutas na busca
de um Estado melhor se consagra por Deus e pelo povo seu representante, usa o poder
racional; e Sarney messiânico, o “libertador” do Maranhão, depois da “campanha de
libertação” contra a “ocupação” de Vitorino. José Sarney tenta criar um caminho de lutas e
glórias para compor uma herança política mais “emocionante”. Uma vida mais atraente e
espetacular que dê mais emoção em suas campanhas, no seu discurso como o do
documentário exibido na TV Mirante em 26 de Maio de 2004, no qual ele conta sua saga.
Um dos recursos de José Sarney para consolidar seu discurso e ideologia foi
diferenciar-se do chamado Vitorinismo, mais especificamente de Vitorino Freire. Mas a
própria história faz questão de ilustrar algumas semelhanças entre os dois. O professor
Wagner Cabral traçou um quadro comparativo das semelhanças encontradas entre os políticos
e nós selecionamos algumas delas para reforçar algumas idéias desenvolvidas neste trabalho:
Vitorino Freire José Sarney
Assume após Estado Novo Assume após Golpe Militar de 1964
Intermediou projetos durante o período do pós-
guerra até o Governo de Newton Bello
Em um período do governo Newton Bello (PSD)
foi o porta-voz do Maranhão no Palácio do
Planalto, pois o presidente Jânio Quadros pertencia
à UDN.
Internamente fez alianças com coronéis do interior
do Estado
Fez acordos e alianças para consolidar seu
mandato no interior do Estado.
Outro fator ostentado por Sarney foi à oligarquia de Vitorino, mas Sarney fez o
mesmo, sua oligarquia já perdura há quarenta anos. Ele perpetuou seu poder com os aliados
políticos e, posteriormente, com a sua filha, Roseana Sarney, governou o Maranhão por oito
anos (1995 a 2001), sem falar na rede de prefeitos e deputados controlada pelo cacique ao
longo dos anos. Sarney catequizou a filha para conduzir o governo do Estado, fizemos
algumas comparações abaixo:
José Sarney – “Maranhão Novo” Roseana Sarney - “Maranhão um Novo Tempo”
O governador mais jovem do Brasil, com 36 anos; A primeira governadora mulher do Brasil;
Criou a TVE para utilizar o sistema de ensino pela
televisão, para atender alunos de 5ª a 8ª série
durante o governo;
Utilizou o Tele-ensino, baseado no Telecurso
2000, um método de ensino da Fundação Roberto
Marinho, para acelerar a educação do Ensino
Médio em todo o Maranhão;
Acordos políticos com coronéis e políticos do Laços com prefeitura e deputados estaduais e
13
interior; federais para implementar projetos no Estado;
Uso dos meios de comunicações locais para
divulgar ações do governo;
Na época de Roseana a família já detinha um
afiliada da TV Globo, um jornal, uma rádio AM,
uma rádio FM, um portal de internet, usados
amplamente para difundir as idéias do grupo.
Uma das pretensões deste trabalho foi explicitar que o político, escritor e
intelectual José Sarney usou e continua a utilizar o poder simbólico de seu nome, sua figura,
para remodelar, recontar a História do Maranhão. Para a produção de uma história oficial,
segundo o ponto de vista da oligarquia dominante, a qual é marcada pelo signo do novo, do
moderno. Trata-se de uma “batalha de memória”, ou de história, para fazer valer e inscrever
essa versão na história do Maranhão.
Uma das formas de ação para executar este projeto é o espaço cedido pelos meios
de comunicação, principalmente os do Sistema Mirante de Comunicação, de sua propriedade;
Nos mais diversos veículos Sarney, e toda a família proferem discursos tomados como
verdade absoluta. Uma das primeiras articulações para este sentido foi o filme “O Milagre do
Maranhão”, que ilustra um Estado perfeito, ressurgindo da desordem e do atraso para o
progresso. O conteúdo ficcional é um registro histórico e, como tal, se não for analisado e
comparado criticamente com indicadores sociais, por exemplo, pode ser tomado como real. E
outro fator importante deste processo é protagonizado por personagens que conviveram
naquele período com o governador do “Maranhão Novo”, e que foram oposição; Ao longo de
todo o trabalho usamos fragmentos da maior o oposição de Sarney, o Jornal Pequeno, mais
precisamente retirados da “Coluna de Oposição”, assinada pelo ex-presidente do Tribunal de
Justiça do Maranhão (2003 - 2005) e desembargador Milson Coutinho, que nos idos de 1966,
atuava como jornalista.
“O Milagre do Maranhão” pode ser considerado como um produto de vanguarda,
pois inovava na questão de instrumento de mídia política, era uma forma de registro histórico
que permitia imortalizar uma versão, um recorte particular do político; inovou na técnica, na
produção, na qualidade do que circulava em nosso Estado. Inaugurou uma nova fase do uso
dos meios de comunicação de massa do Maranhão.
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Trad. Roberto Raposo. 10. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária. 2005.
14
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Lisboa: Difel; Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.BUZAR, Benedito. O Vitorinismo: Lutas políticas no Maranhão. São Luís:Lithograf,1998,528 p.______. Encarte comemorativo dos 40 anos do “Maranhão Novo”. Jornal O Estado do Maranhão. 29 de janeiro de 2006. 8 p. BOBBIO, Norberto. Estado, governo e sociedade: para uma teoria geral da política. Tradução: Marco Aurélio Nogueira. 4ª ed. Rio de Janeiro. Paz e Terra. P. 86-93CINEMATECA NACIONAL. Disponível em http://www.cinemateca.com.br. Acesso em 10 de janeiro de 2006.COSTA,Wagner Cabral da. Sob o signo da Morte: decadência, violência e tradição em terras do Maranhão. Dissertação de Mestrado, Campinas, mimeo, 2001.FERREIRA, Franklin Douglas. A (Re) construção da Legitimidade da oligarquia Sarney no Segundo Turno das Eleições de 1994. Monografia Conclusão de Curso de Graduação em Comunicação Social – Jornalismo . São Luís, UFMA, 1996.p.54.GONÇALVES, Maria de Fátima da Costa. A Reinvenção do Maranhão Dinástico. São Luís, Edições UFMA-Proin(CS),2000,p.194.HABERMAS, Jurgen. Direito e Democracia: entre facticidade e validade.Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro , 1997. ______. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.PACHECO FILHO, Alan Kardec Gomes. A Construção Midiática do Político José Sarney (1962-1970). Monografia Conclusão de Curso de Pós-Graduação em História do Brasil. Recife, UFPE, mimeo, 2001 p.101.PISSARA, João. Espaço Público e Democracia. Lisboa: Edições Colibri, 2003.RODRIGUES, Adriano Duarte. Estratégias da Comunicação: questão comunicacional e formas de sociabilidade. Lisboa.Editora Presença.1990.207 p.WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília : Editora da Universidade de Brasília,1994. vol 1. p.139-146.JORNAIS
Jornal do Dia – ANOS (1966, 1967, 1968, 1969 e 1970)Jornal do Povo - ANOS (1963, 1964)Jornal Pequeno - ANOS (1966, 1967, 1968, 1969 e 1970)Jornal O Estado do Maranhão – ANOS (1998 e 2006)Jornal O Imparcial - ANOS (1964,1965,1966, 1967, 1968, 1969 e 1970)
DOCUMENTÁRIOS
“O Milagre do Maranhão”: direção geral - Isaac. Rozenberg. Laboratório:Rex Líder. Rio de Janeiro: 1970.Programa Eleitoral Gratuito do PMDB/lei 9.504/97. direção geral – Tânia Fusco. Studio V. São Luís: 2004
15