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CONTRATOS PEDAGÓGICOS Alternativas pedagógicas para o enfrentamento da indisciplina na escola

Elaine Schramm Volpe 1

Tânia Maria Rechia Schroeder 2

RESUMO: A produção deste artigo é fruto de estudos desenvolvidos no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE e dos resultados colhidos na Intervenção Pedagógica realizada no Colégio Estadual Rui Barbosa. A experiência foi profícua porque, além dos estudos e debates realizados na UNIOESTE – Campus de Cascavel, foram construídos os “Contratos Pedagógicos” como uma alternativa didática para o enfrentamento da indisciplina e administração das tensões cotidianas em sala de aula. As ações enfatizaram a necessidade de construir e discutir continuamente questões relacionadas à disciplina e à indisciplina no âmbito escolar, haja vista que os profissionais da educação da rede estadual de Formosa do Oeste – PR vêm apontando essa temática como um problema que dificulta o desempenho docente e discente em sala de aula. O público alvo foram os alunos da 1ª série do Ensino Médio (EM) – noturno, professores, pedagogo e direção. Chegou-se à conclusão de que, embora a indisciplina não esteja relacionada somente à escola, pois envolvem também outros espaços sociais, os estudos e debates sobre esta temática devem fazer parte do planejamento escolar para um aprofundamento dos entendimentos sobre os episódios de indisciplina engendrados na escola e que podem ser minimizados por meio de uma melhora da qualidade na relação professor-aluno. Considerou-se também que o Contrato Pedagógico pode ser uma alternativa à indisciplina, não de forma definitiva, mas como um instrumento que deve ser construído e discutido contínua e coletivamente. PALAVRAS-CHAVE: Contrato Pedagógico; Indisciplina; Escola; Relação Professor-Aluno.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como objetivo apresentar o resultado da trajetória

no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE cujo objetivo inicial foi o de

1 Professora Pedagoga da Rede Estadual de Educação, Colégio Estadual Rui Barbosa - Ensino e Médio e Profissional, no município de Formosa do Oeste – NRE: Assis Chateaubriand, PDE, 2011/2012. 2 Professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE; doutora em Educação pela UNICAMP e pesquisadora integrante dos grupos VIOLAR (Laboratório de Estudos sobre Violência, Imaginário, Práticas Socioculturais e Formação de Professores) - UNICAMP e PECLA (Pesquisas em Educação, Cultura, Linguagem e Arte) - UNIOESTE.

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enfatizar a necessidade de se construir e discutir continuamente questões

relacionadas à disciplina e à indisciplina no âmbito escolar, haja vista que os

educadores da rede estadual de Formosa do Oeste – PR vêm apontando a

indisciplina como um problema que tem interferindo no desempenho do trabalho

docente e discente.

A indisciplina, na forma em que vem se apresentando em sala de aula,

tem se constituído no inimigo número um dos educadores que se dizem acuados

e, muitas vezes, sem alternativas para a solução dos conflitos e tensões que

aparecem em sala de aula, principalmente sob a forma de desinteresse dos

alunos em relação às atividades que lhes são propostas, culminando em

ambientes cujas relações interpessoais são comprometidas pela falta de respeito

e responsabilidade.

Tendo em vista que a escola é um espaço onde os alunos devem

vivenciar situações diversificadas de organização, de sistematização e de

desenvolvimento científico, ético, tecnológico e cultural, torna-se necessário

encontrar alternativas didático-pedagógicas que considerem as características e

anseios dos jovens que frequentam a Educação Básica, pois nesse trabalho

entende-se que a organização do trabalho pedagógico dos professores pode

produzir indisciplina.

Sendo o processo de escolarização um momento específico para as

crianças e os jovens apropriarem-se dos conhecimentos científicos, é preciso

buscar respostas para os problemas vividos pelos professores e alunos em sala

de aula em relação à indisciplina.

Este artigo está dividido em duas sessões. Na primeira sessão

apresentaremos a revisão bibliográfica sobre disciplina e indisciplina, destacando

a importância do Contrato Pedagógico. Na segunda sessão vamos expor o

percurso para a compreensão de disciplina e indisciplina no Colégio Estadual Rui

Barbosa enfatizando, nas ações e análises empreendidas na Intervenção

Pedagógica, as percepções dos alunos do Colégio Estadual Rui Barbosa – EMP

de Formosa do Oeste – PR, sobre os problemas vivenciados em sala de aula

considerados por eles como indisciplina e também a ótica dos professores a

respeito dos comportamentos considerados indisciplinados. Por fim, será

apresentada as Considerações Finais.

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2. INDISCIPLINA: É POSSÍVEL EXTINGUÍ-LA?

A temática da indisciplina na escola tem sido amplamente debatida tanto

no interior da escola como nos meios de comunicação televisivos, jornalísticos, na

rede mundial de computadores (RMC) dentre outros. Nesses debates é recorrente

ouvirmos os chamados “especialistas” emitirem suas opiniões e suas orientações

para dissipar a indisciplina de uma vez por todas da escola. Mas afinal, é possível

extinguí-la?

A escola, instituição a qual crianças e os jovens têm que frequentar

obrigatoriamente, tem como finalidade a formação integral do educando em

conformidade com os princípios de liberdade e os ideais de solidariedade

humana, no seu preparo para a cidadania, na sua qualificação para o trabalho. O

fato de as crianças e de os jovens serem obrigados a frequentar as instituições

escolares pode ser um dos fatores geradores de indisciplina em sala de aula.

Além disso, atualmente o conhecimento é produzido em diversos espaços e

relações sociais. A primazia da educação não é mais da escola: a escola é um

desses espaços e, portanto, deve buscar soluções ousadas e criativas para o

enfrentamento cotidiano em relação aos acontecimentos de indisciplina em sala

de aula.

É de fundamental importância que a escola tenha um planejamento com

metas claras e exequíveis para cumprir com a sua finalidade, e que seja capaz de

detectar os problemas, caso os objetivos não sejam alcançados. Sabe-se que

muitos fatores interferem no processo ensino-aprendizagem, portanto é

necessária uma articulação de todos os que estão com ele envolvidos para que

encontrem meios e intensifiquem as ações para a resolução de tais problemas.

Dentre os fatores citados, encontra-se a indisciplina, apontada por muitos como a

grande causa do insucesso escolar.

2.1 Disciplina e indisciplina: apontamentos

Disciplina segundo Leif (1970) apresenta dois sentidos, sendo o primeiro

em relação ao ensino e o segundo em relação ao indivíduo, este apresentado

como uma regra de conduta ou um conjunto de normas de comportamento

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aceitos pelos indivíduos e que regulam o seu comportamento.

No dicionário de língua portuguesa a disciplina é definida como “as

relações de subordinação do aluno ao mestre ou ao instrutor; a ordem que

convém ao funcionamento regular de uma organização ‘escola’; a observância de

preceitos ou normas; ou ainda, como ensino, instrução, educação” (FERREIRA,

2000, p. 206).

Para Fram apud Haidt (2003, p.65) a disciplina “é a formação interior do

comportamento inteligente, que sabe-se dirigir, que sabe definir os seus objetivos

e que sabe encontrar os melhores meios para atingir esses objetivos”. Esta

autora, segundo Haidt (2003), apresenta uma concepção ampla de disciplina, pois

equivale ao conjunto das condições nas quais a aprendizagem global se realiza, e

a insere na perspectiva de uma autodisciplina.

Na literatura das décadas de 50 e 60, a temática da indisciplina é

abordada na perspectiva individual do problema, mas que envolvem as relações

com outros indivíduos. Sheviakov e Redl apud Haidt (2003, p.65), tratam de

disciplina na ótica do comportamento, definindo-a como “[...] organização de

nossos impulsos para a obtenção de um objetivo. Do ponto de vista do grupo, a

disciplina é a subordinação dos impulsos dos indivíduos que o integram, com o

fim de se alcançar um objetivo comum”.

Como já mencionamos anteriormente, a indisciplina na escola apresenta-

se como um dos desafios mais críticos, com os quais se encontram as instituições

escolares, levando as mesmas a não atingirem seu objetivo maior: a formação

integral de seus alunos. Nesse sentido, é preciso que a escola encontre soluções

para resolver esta problemática, buscando as causas e os motivos.

A questão da indisciplina é também abordada apenas sob o ponto de vista

de que ela é uma ação/reação de um aluno-problema, mas raramente se busca

saber quais os motivos que o levaram a ser um aluno-problema. Para Aquino

(1998, p. 2), o aluno-problema geralmente é apontado por alguns profissionais da

educação como

[...] aquele que padece de certos supostos ‘distúrbios psico/pedagógicos’; distúrbios estes que podem ser de natureza cognitiva (os tais ‘distúrbios de aprendizagem’) ou de natureza comportamental, e nessa última categoria enquadra-se um grande conjunto de ações que chamamos usualmente de ‘indisciplinadas’. Dessa forma, a indisciplina e o baixo aproveitamento dos alunos seriam

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como duas faces de uma mesma moeda, representando os dois grandes males da escola contemporânea, geradores do fracasso escolar, e os dois principais obstáculos para o trabalho docente.

Não é pertinente imputarmos a culpa de maus comportamentos

exclusivamente aos alunos, é preciso compreender os motivos que os levam aos

comportamentos tidos como indisciplinados. Os educadores devem refletir sobre

sua prática docente continuamente, uma vez que esta pode ser o motivo do

aparecimento de comportamentos indisciplinados. As causas da indisciplina são

várias, desde questões individuais, como a educação familiar e até a cultura do

grupo social em que o indivíduo está inserido, e dentre elas devemos incluir as

práticas pedagógicas da escola.

É importante ressaltar que de nada adianta procurar um culpado para os

problemas vivenciados em sala de aula, pois o problema não pode ser

concentrado na figura do educando e tampouco na do educador. É preciso

construir formas de atuação de modo a envolver tanto os educadores como os

alunos uma vez que estes são os protagonistas do processo ensino-

aprendizagem.

Gramsci também contribui para a compreensão de disciplina ao

conceituá-la como a

[...] capacidade de comandar a si mesmo, de se impor aos caprichos individuais, às leviandades desordenadas; significa enfim, uma regra de vida. Além disso, significa a consciência da necessidade livremente aceita, na medida em que é reconhecida como necessária para que um organismo social qualquer atinja o fim proposto (GRAMSCI, 1978, p. 62).

Isto posto, a autodisciplina não é o oposto da liberdade e tampouco algo

que pode ser imposto de fora, do exterior. Ao contrário, disciplinar-se é tornar-se

independente e livre, e ao mesmo tempo indica a necessidade de evitar a coação

e o arbítrio. “Colocar o acento na disciplina, na sociabilidade, é pretender, todavia,

sinceridade, espontaneidade, originalidade, personalidade, eis o que é

verdadeiramente difícil e árduo” (GRAMSCI, 1978, p. 64).

De acordo com Mello (1983), o aluno transforma seu professor em

mestre, quando este transmite o limite de conhecimentos e cativa o aluno. Então,

o aluno passa a se interessar pelos conhecimentos transmitidos na escola porque

vê sentido para a sua vida e o professor como modelo. Neste sentido, há também

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pais que se tornam mestres e modelos para seus filhos.

Os problemas de indisciplina nas escolas podem ser relacionados a uma

crise em relação à segurança e respeito no ambiente escolar. Já a autoridade do

professor em sala de aula diz respeito ao “estatuto intelectual e competência

profissional para ensinar” (GARCIA, 2009, p. 3). É essa competência que dá ao

professor uma distinção e uma posição superior em relação aos seus alunos.

2.2 Contrato Pedagógico: entre a autoridade docente e a liberdade discente

Francisco (1999, p. 105), se fundamenta na teoria do contrato social de

Rousseau para dissertar sobre a importância da preservação da liberdade da

criança, sem sacrificar a autoridade do mestre, ou, de como conciliar a autoridade

docente e liberdade discente.

Para utilizar este recurso, deve-se pensar o tipo de instituição no qual esta

representando, ou seja, quando for à escola poderá ser chamado de “Contrato

Pedagógico firmado entre duas pontas dessa relação professor e aluno ou, de

modo mais geral, educador/educando” (FRANCISCO, 1999, p. 103).

Para Francisco (1999) ao trabalharmos com o conceito de contrato

pedagógico devemos entender que,

Está fundado na diferença básica que existe entre as duas partes contratantes. Uma, o mestre, sendo superior em forças, conhecimentos e experiências, e outra, o aluno, sendo inferior naqueles mesmos aspectos. Está fundado também no fato de que esse último, em diferentes graus segundo a faixa etária, precisa da condução pelo primeiro em seu processo de desenvolvimento, isto é, de aquisição de forças, conhecimentos e experiências (FRANCISCO, 1999, p.104).

Portanto, a ideia central do contrato pedagógico está fundada na relação

pedagógica onde um deve conduzir e o outro deve ser conduzido. O cuidado com

a relação de poder não deverá tomar proporções de negatividade, tirania e

destruição e sim a construção de uma relação de reciprocidade, definida por

Francisco (1999, p. 106) como aquela que tem obrigações e vantagens em ambos

os lados, de modo que, no computo final, as duas partes estejam em igualdade de

condições, nenhuma contendo mais vantagens ou obrigações que a outra. Se a

autoridade do educador for justificada sob o argumento de que ele possui mais

conhecimentos e experiências e, consequentemente, mais forças que o seu

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professor estará propondo um falso contrato.

Outro aspecto ressaltado pela autora é o de que, para conduzir o aluno ao

desenvolvimento e à construção de autonomia, o professor deve inovar na prática

pedagógica de modo a reduzir o seu poder excessivo de condução para que o

aluno desenvolva uma futura autocondução, ou seja, a uma futura autonomia,

razão pela qual deve-se ter clareza dos objetivos traçados para que o aluno possa

entender e aceitar os comandos (FRANCISCO, 1999).

Ao propor o contrato pedagógico, alguns professores poderão ter a

sensação de estar perdendo sua autoridade. Entretanto, seguindo a linha de

pensamento de Rousseau, na essência da relação pedagógica e da autoridade

docente, “[...] o mestre não fará aquilo que quiser com o aluno, ele não tem a

liberdade de fazer o que bem entender com o aluno” (FRANCISCO, 1999, p. 108).

2.3 Contrato pedagógico: dimensão ética e afetiva

Outro aspecto do contrato pedagógico é a dimensão afetiva que, por sua

vez, abarca a dimensão ética e a ligação afetiva entre as partes. Isto não significa

que o professor deva ser amoroso com seus alunos ou que estes devam ser,

obrigatoriamente, afetuosos com seus professores. No contrato pedagógico a

presença de uma relação de estima e respeito pelo outro, implica em:

Entender que o respeito pelo outro, o plano afetivo e ético do contrato, já está na verdade implícito na própria concepção do contrato, que traz implícita a igualdade entre as partes. Quando se pensa a relação pedagógica como um contrato tácito entre mestre e aluno, este último deixa de ser apenas aquele que é inferior, que está meramente destinado a obedecer e deve se resignar a esse estreito papel. Ele passa a assumir a estatura, por um lado, de sujeito de direitos, de pessoa jurídica, de pessoa, enfim (FRANCISCO, 1999, p. 111).

Sob este aspecto, parafraseando Francisco (1999), o aluno não é

obrigado a nada, todos os afetos oferecidos pelo professor ao aluno deve ocorrer

de forma espontânea, deve entender que pode ter ganhos com o que foi proposto

e poderá operar através da igualdade e do respeito.

Outro aspecto importante é a noção de compromisso, ou seja, “é uma

promessa de continuar participando do pacto, de manter suas obrigações para

com o outro, de não abandoná-lo a qualquer instante e por qualquer razão que

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por ventura apareça” (FRANCISCO, 1999, p. 113). Para que haja o

comprometimento de todos, cabe ao professor ter ciência da necessidade de

possuir um bom domínio de conhecimento da área em que atua, dominar a

metodologia e o preparo das aulas e ainda tratar o aluno com respeito. Na

contrapartida cabe ao aluno participar e comprometer-se com o trabalho a ser

desenvolvido através de uma prática efetiva e contínua por parte de ambos.

O Contrato Pedagógico é uma alternativa pedagógica que pode ser

incluída no planejamento dos professores para o enfrentamento cotidiano dos

episódios de indisciplina. No entanto, é importante ressaltar que tais episódios

estarão sempre presentes na sala de aula, é impossível extinguir completamente

comportamentos indisciplinados e administrá-los faz parte do trabalho docente.

3. DISCIPLINA E INDISCIPLINA: UM PERCURSO PARA A COMPREENSÃO

O percurso para a compreensão e a intervenção do fenômeno da

indisciplina no Colégio estadual Rui Barbosa envolveu professores e alunos da 1ª

série do Ensino Médio noturno, gestores e professores pedagogos do Colégio

Estadual Rui Barbosa – EMP de Formosa do Oeste, do Núcleo Regional de

Educação de Assis Chateaubriand, no Paraná. Para o levantamento dos dados

necessários ao desenvolvimento do trabalho, aplicaram-se questionários à equipe

de direção, equipe pedagógica, educadores e educandos da série mencionada.

O instrumento utilizado foi o questionário com perguntas abertas, dando a

oportunidade para que os entrevistados pudessem expressar o seu ponto de vista

sobre a questão da indisciplina. Como resultado, houve a ampliação do

conhecimento sobre a indisciplina e a construção conjunta de alternativas

didático-pedagógicas para que possa ser amenizado tal problema.

No primeiro momento, realizou-se uma pesquisa com os vários

segmentos da instituição de ensino. No entanto, após a realização dos estudos,

abriram-se novos horizontes e foi possível entender que o ponto central da

discussão está na relação entre professor e aluno.

3.1 A indisciplina na visão dos(as) alunos(as)

Pesquisar a visão que os alunos possuem acerca da indisciplina foi de

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fundamental importância para a compreensão deste fenômeno. Num primeiro

momento, partimos para uma apreensão mais formal de dados por meio de um

questionário semiestruturado. Perguntamos aos alunos quais seriam os

problemas de indisciplina mais comuns em sua turma. Solicitamos o relato de

comportamentos seus ou de seus colegas que foram considerados

indisciplinados. Questionamos quais seriam os comportamentos que eles

consideravam manifestações de indisciplina em sala de aula. Solicitamos também

que apontassem quais as medidas que um educador deveria tomar diante de

comportamentos indisciplinados e quais seriam as causas da indisciplina em sua

turma. Por fim, indagamos se consideravam as normas e as regras de seu

Colégio claras e pertinentes.

Os participantes do trabalho de pesquisa e ação foram os alunos da 1ª

série do período noturno do Colégio Estadual Rui Barbosa. A pesquisa

exploratória envolveu 13 alunos. Para indicar as respostas dos alunos, foi

utilizada a letra A e numeração de 1 a 13.

O primeiro questionamento indagou sobre: o que é um aluno

indisciplinado? AS respostas que obtivemos foram:

Um aluno sem educação que não tem respeito com o próximo (A - 1, 3, 5). Vagabundo, sem vergonha e sem educação (A - 2). Que não respeita os educadores e colegas (A - 4, 10). É um aluno mal educado (A- 6). É um aluno que foge das regras, desrespeita os educadores e os outros (A - 7, 9, 11, 13). É um aluno que atrapalha as aulas, conversando (A8). É um aluno com mau humor (A - 12).

No questionamento sobre as situações de sala de aula em que os alunos

apresentam comportamentos considerados indisciplinados, foram obtidas as

seguintes respostas:

Os alunos não sabem esperar ninguém falar, principalmente os professores (A - 1, 5, 6, 7, 8, 9, 10,11, 13). Falam palavrões e respondem aos professores (A2, 4). Desrespeito ao professor (A - 3, 12).

Ao enfatizarem as dificuldades vivenciadas em sala de aula verifica-se

que deve haver um investimento maior na prática pedagógica do educador e

também na relação professor e aluno. Para viabilizar a construção de um contrato

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pedagógico deve-se entender que a escola é um lugar de trabalho árduo e

complexo onde deve haver um trabalho de respeito mútuo porque o professor não

é um difusor de informações, e muito menos um animador de plateia, da mesma

forma que o aluno não é um espectador ou ouvinte, por isso, “ele é o sujeito

atuante, corresponsável pela cena educativa, parceiro imprescindível do contrato

pedagógico” (AQUINO, 1998, p. 10).

No questionamento se o professor estimula o desenvolvimento de uma

aprendizagem significativa, respeitando as diferenças, os alunos manifestaram as

seguintes opiniões:

Sim, os professores procuram mudar seu jeito de ensinar para respeitar (A - 1, 2, 3, 6, 8, 11, 12). Não, porque eles não deixam a gente colar (A - 4). Mais ou menos, porque os educando não tem responsabilidades para aprender (A5). Não, porque alguns professores só utilizam o livro, sem nada novo (A - 6, 7). Sim, os professores tratam todos iguais, só não os que são indisciplinados (A - 9). Alguns professores têm preconceitos sobre sexo, mas também diferencia os pobres dos ricos, dão razão aos poderosos, privilegiando (A - 10, 13).

Ao questionar sobre as diferentes metodologias e recursos utilizados

pelos professores nas aulas para motivar os alunos, estes relataram que,

Sim, às vezes utiliza alguma coisa diferente (A - 1, 2, 3, 4, 8, 9, 12). Não, só utilizam os livros (A - 3). Não, as coisas são rotineiras, faz todo dia a mesma coisa (A - 10, 13). Sim, o educando um dia explica e outro passa a aula no quadro, televisão (A - 5, 6, 7).

Pode-se verificar nas respostas dos alunos que o professor também pode

apresentar um comportamento desmotivado, ministrando suas aulas sem planejar

ou nem mesmo sabendo quais as atividades que deverão ser desenvolvidas. A

metodologia de solicitar ao aluno que estude em sua carteira, contagia a turma e

desmotiva a todos. Aquino (1998) diz que a indisciplina parece ser uma resposta

clara ao abandono das funções docentes em sala de aula.

Vasconcellos (2001) contribui afirmando que o professor deve entender

que o ato pedagógico é um momento em que o professor e o aluno devem

descobrir e construir juntos intervenções pedagógicas em que possam oportunizar

a construção do conhecimento para a formação de sujeitos mais autônomos.

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Sobre o domínio dos conteúdos por parte dos professores, os alunos

afirmaram:

Sim, fazem com que os alunos entendam as matérias (A - 1). Sim, tem conhecimento (A - 2, 3, 5, 6, 7, 9, 12). Mais ou menos, uns sabem muito e outros parecem nem saber o que falam (A - 4, 8). Tem professor que não explica nada, manda fazer exercícios e cobra na prova, ou muda de conteúdo (A - 10, 11, 13).

Garcia (2009, p. 12-13) argumenta que o educador tem nas mãos a

direção da ação docente, ou seja, “deve entender que não é transmitir ou difundir

determinados produtos, tais como dados, fórmulas ou fatos, mas

fundamentalmente reconstruir o caminho percorrido antes que se chegasse a tais

produtos”. Por isso, o educador deve saber que em sala de aula, o nosso ponto

de partida é a informação, mas o ponto de chegada é o conhecimento e a máxima

da intervenção pedagógica é trabalhar com os dados de realidade do aluno.

Segundo Trevisol (2004) o fenômeno da indisciplina escolar não tem

causa única, mas sim resulta de uma combinação de causas tidas como

‘complexas’. As diversas causas da indisciplina escolar podem ser reunidas em

dois grupos, sendo elas causas externas à escola e causas internas. As causas

externas sofrem a influência exercida pelos meios de comunicação na violência

social e no ambiente escolar. Já as causas da indisciplina no interior da escola,

estas tem influência do ambiente escolar, das condições de ensino e

aprendizagem, do relacionamento humano, do perfil dos alunos, da capacidade

de se adaptar às normas da escola e, principalmente, da relação entre professor e

aluno.

3.2 A indisciplina na perspectiva dos (das) professores(as)

Conhecer o ponto de vista dos professores do Colégio Rui Barbosa sobre

a indisciplina em sala de aula foi o nosso primeiro objetivo no desenvolvimento do

projeto inicial, pois o pressuposto básico deste o trabalho é que o enfrentamento

dos episódios de indisciplina em sala de aula está carregado de elementos

advindos do imaginário que os professores têm em relação ao que é um bom ou

um mau comportamento em sala de aula.

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Os questionamentos levantados aos professores foram: quais problemas

de indisciplina são mais comuns nas turmas em que trabalha atualmente? Em que

situações de seu trabalho surgem os comportamentos indisciplinados? Quais

comportamentos que você considera manifestações de indisciplina? Quais as

medidas que você costuma tomar diante de comportamentos indisciplinados? Em

sua opinião, quais são as causas da indisciplina na escola? Há na escola

orientações sobre como trabalhar com os episódios de indisciplina?

Os participantes do trabalho de pesquisa e ação foram os professores da

1ª série do período noturno do Colégio Estadual Rui. A pesquisa exploratória

envolveu 11 professores. Para indicar as respostas dos professores, utilizamos a

letra P e numeração de 1 a 11.

O primeiro questionamento foi sobre o que ele, o professor, considera

como sendo um aluno indisciplinado, tendo sido obtidas as seguintes respostas:

É o aluno desinteressado e desmotivado em aprender, ele conversa, bagunça e atrapalha aos demais alunos que querem aprender (P1, 2, 3, 4, 7, 11). É um aluno que não interage no andamento da aula, falta responsabilidade e desvia a atenção para outras coisas e outros assuntos (P 6, 8, 9, 10).

Em relação à disciplina na sala de aula, o aluno(a) apresenta

comportamentos considerados inadequados:

Quando o aluno falta com respeito ao professor e os colegas, conversa com os colegas, atitudes de rebeldia (P1, 3, 5). Quando o aluno não apresenta compromisso com as atividades apresentadas pelo professor (P4, 11). Quando a escola se torna ‘penosa’ sem atração para o aluno, a aula ao agrada não presta atenção na exposição das atividades e não as realiza, quando apresenta problemas emocionais e familiares e apresenta defasagem (P2, 6, 10). Quanto tem aparelhos eletrônicos a mão, sendo o celular um dos grandes problemas da atualidade (P7, 8, 9).

Ao questionar os professores sobre os recursos utilizados para a

exposição dos conteúdos, os professores responderam que utilizam:

Não houve resposta para a pergunta (P1). Quadro de giz, televisão, livros, filmes, TV multimídia, mapas, laboratório de informática (P2, 3, 4, 6, 7, 8, 9, 10, 11). Aula expositiva e dialogada, leitura e análise de textos, seminários, vídeos, documentários e música (P4)

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Ao questionar sobre a metodologia utilizada para expor o conteúdo, os

professores responderam:

Aulas práticas e inovadoras (P1, 9). Articular teoria e prática (P4, 6, 10). Exposição dialogada, resumos e síntese, seminários e debates, resolução de exercícios no quadro de giz e pesquisa em livros e internet (P2, 3, 5, 7, 8, 11).

Ao pedir aos professores sobre o que torna-se necessário para despertar

no aluno o interesse para a aprendizagem, os professores apontaram as

seguintes respostas:

Não ministrar aulas cansativas e utilizar metodologias inovadoras (P1, 6,7). Trazer a família a participar do processo de ensino e aprendizagem e estabelecer objetivos para os alunos e entender-se como cidadãos (P2, 3, 8, 9). Levar os alunos a entender os valores que estão inseridos em sua educação (P4). Adequar os conteúdos a realidade dos alunos (P5, 6, 10, 11).

Ao questionarmos os professores sobre como estimular o

desenvolvimento da aprendizagem significativa, obtivemos as seguintes

respostas:

Desenvolver uma aprendizagem relacionada com a realidade do aluno (P1, 2,10, 11). Estabelecer diálogo sobre a importância da educação, formar conceitos a partir do trabalho em grupo (P2, 5). Utilizar vários recursos didáticos (P4, 6, 7, 8, 9).

3.3 (In)disciplina: formulando ações conjuntas

No trabalho realizado no momento da Intervenção Pedagógica foram

realizadas seis ações que constituiram o debate sobre o tema com alunos e

professores, e com a equipe pedagógica e a direção, estimulando o entendimento

da temática de forma contextualizada bem como a formulação de ações de

maneira conjunta para confrontar os problemas de comportamentos nomeados

como indisciplina em sala de aula e que interferem e dificultam o trabalho docente

e o processo ensino-aprendizagem.

a) Primeira Ação: apresentação do projeto “Contrato Pedagógico”

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A primeira ação consistiu em apresentar na Semana Pedagógica o projeto

“Contrato Pedagógico: alternativas pedagógicas para o enfrentamento da

indisciplina na escola” para Educadores, para a Equipe Pedagógica, Funcionários

e Direção. A apresentação foi realizada de forma reduzida com o objetivo de

instigar a curiosidade quanto aos resultados, mas ressaltando-se que:

a indisciplina pode ser explicada por razões sociais, sócio familiares, problemas cognitivos e fatores situacionais. A causa da indisciplina não está só no aluno, mas no fato de que as relações na sala de aula devem mudar que a relação professor e aluno deve ser reavaliada (PARRAT-DAYAN, 2009, p. 67).

Outro aspecto enfatizado nesta primeira ação foi o de que o confronto

com o problema da indisciplina no âmbito escolar está relacionado à qualidade

das relações entre os professores e alunos uma vez que estas relações se

constituem no “núcleo do trabalho pedagógico, uma vez que o aluno é nosso

parceiro, corresponsável pelo sucesso escolar; não esquecendo que o professor

tem o dever de ensinar e o aluno o direito de aprender” (AQUINO, 1998, p.14).

Para esta fase da intervenção pedagógica foi aplicado um questionário a

ser respondido em duplas. Posteriormente, as respostas foram tabuladas e

socializadas em uma plenária e que deram uma diretriz para a continuidade da

intervenção pedagógica.

b) Segunda Ação: problematizando o saudosismo pedagógico

A segunda ação consistiu em apresentar situações em que ocorrem

indisciplina na sala de aula, uma vez que grande parte dos educadores e demais

funcionários afirmam que “a indisciplina é um problema real, tanto dentro da sala

de aula como na escola” (PARRAT-DAYAN, 2009, p. 17).

Para iniciar a reflexão, foram apresentados slides demonstrando

situações de indisciplina na sala de aula. Após a apresentação, houve debates e

questionamentos no que se refere aos aspectos da escola atual e a de

antigamente, cujo objetivo era o de problematizar o saudosismo de determinados

profissionais da educação em relação a um passado mitificado.

Bellia (2007) considera que deve haver o cuidado de se pensar a

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disciplina de antigamente, onde a autoridade se estabelecia pelo silenciamento,

pela obediência e resignação e que hoje deve-se saber caracterizar a disciplina

como aquela que congrega o movimento, vontades e esforços para a realização

de determinadas tarefas. Sob este aspecto, os educadores passaram a analisar

as seguintes dimensões do contrato didático: Dimensão ética – para que se

ensina; Dimensão de método – como se ensina; Dimensão de conteúdo - o que

se ensina.

Estas dimensões fizeram refletir a necessidade de ensinar não só o

conteúdo, mas também estabelecer valores numa dimensão propriamente

atitudinal, inerente ao trabalho educativo. Daí a importância, segundo Aquino

(1998), de celebrar o contrato pedagógico em comum acordo com os alunos, pois

este é um dos meios eficazes de se manter a necessária e vital harmonia no

desenvolvimento do trabalho pedagógico e do processo de ensino e

aprendizagem.

c) Terceira Ação: análise de situações de (in)disciplina em narrativa fílmica

A exibição do filme “Nenhum a menos”, provocou debates sobre a

indisciplina, esta entendida como um sinal, um indício de que a intervenção

docente não está se processando a contento, que seus resultados não se

aproximam do esperado. Os episódios de indisciplina sinalizam, portanto, que “[...]

algo, do ponto de vista pedagógico, e mais especificamente da sala de aula não

está atendendo as expectativas dos envolvidos” (AQUINO, 1998, p. 13).

Acerca desta análise, que ocorreu juntamente com os professores e os

alunos, pode-se refletir que quando se provoca debates, novos indicativos

aparecem. É muito comum o professor, ao debater sobre os problemas de

indisciplina na escola e na sala de aula, só se referir aos alunos. No entanto, a

(in)disciplina diz respeito a todos os envolvidos no processo de ensino e

aprendizagem: direção, professores, alunos, pedagogos, funcionários e famílias. A

construção da disciplina, bem como o enfrentamento dos episódios de

indisciplina, envolve todos os membros da escola, no entanto, quando tratamos

de problemas de indisciplina no âmbito da sala de aula, o trabalho é do professor

uma vez que o exercício dessa profissão exige não somente o domínio do

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conhecimento científico da disciplina que ministra, mas também que saiba

administrar as relações interpessoais. Daí a necessidade da construção de

contratos pedagógicos que ancorem a “observância de certas ordens, de certa

sistematização, de certas normas de conduta, de certa organização. [...] o

trabalho pedagógico não é um processo natural, espontâneo e tampouco

ocasional” (FRANCO, 1986, p. 62-63).

d) Quarta Ação: grupo de estudos

O estudo e debate do texto “A indisciplina e a escola atual” de Julio

Groppa Aquino (1998) contribuiu para a conclusão das discussões, ressaltando-se

que a indisciplina não se refere apenas ao mau comportamento de alunos. É

importante compreender que as práticas escolares estão inseridas numa

sociedade em constante transformação e com uma determinada cultura, pois “a

educação é a forma como a sociedade educa seus membros para viverem nela

mesma, então, para compreender a educação é preciso compreender a

sociedade” (ORSO, 2008, p. 54).

e) Quinta Ação: troca de experiências entre professores e alunos

Sob o enfoque do trabalho coletivo, a quinta ação consistiu na troca de

experiências entre professores e alunos. Nesta ambos puderam realizar reflexões

no sentido de que “o bom profissional da educação, ao esmerar-se na realização

de seu trabalho, também perceberá os limites dele e de sua ação no interior da

sala de aula” (ORSO, 2008, p. 55).

Para o desenvolvimento desta ação foi desenvolvido o estudo do texto

‘Técnicas de Estudo3’, levando os participantes a construir o entendimento sobre

disciplina e a organização nos estudos para aquisição do conhecimento científico

e melhoria do desempenho escolar. Ao final da reflexão os alunos elaboraram um

Plano Individual de Estudo, com ajuda dos professores.

A partir do enfoque dado pelos professores, observou-se que os alunos

não estudam por não ter organização e entender a necessidade de dispensar um

3 Disponível em: <www.dcc.unicamp.br/~hans/mc111/textos/tecest.html>. Acesso em 20 de abr. de 2012.

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tempo para o aprimoramento e aquisição do conhecimento científico.

Os aspectos mencionados por Bragagnolo (2010, p. 13) diz que as

atitudes que podem contribuir são: “diálogo, respeito, atenção, silêncio,

solidariedade, interesse e paciência”, enquanto que as atitudes que atrapalham o

andamento das atividades na escola são a falta de educação e atenção ao andar

na sala de aula, conversar durante a explicação do conteúdo, sendo detectados

também na intervenção realizada nesta ação e que conclui as colocações dos

professores pesquisados durante o processo.

Diante dos apontamentos realizados, observou-se que os alunos tem

plena consciência do que está sendo discutido mas que, devido aos vários fatores

que interferem na aprendizagem eles tornam-se indisciplinados, causando, desta

forma, o não aprendizado. Tudo isso foi apresentado a partir da dramatização,

sendo esta uma forma de diálogo entre os alunos.

f) Sexta Ação: avaliação dos trabalhos

A sexta ação constituiu-se pelo desenvolvimento de um seminário, no qual

foi feita uma retrospectiva de todas as atividades desenvolvidas, avaliando os

objetivos propostos. Os alunos da 1ª série participaram dando opiniões e

colaborando com a professora. Ao final houve uma confraternização com todos.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho, oportunizado pelo Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE, realizado no Colégio Estadual Rui Barbosa – EMP de

Formosa do Oeste, foi possível refletir e intervir em problemas relacionados à

disciplina/indisciplina no Colégio, compreendendo que os bons ou maus

comportamentos, considerados disciplinados e/ou indisciplinados, tanto podem

originar-se de questões advindas do entorno da escola (sociedade, grupo social,

família) como também podem ser consequência de uma frágil organização

pedagógica dos professores, por vezes anacrônica, com as características e

necessidades dos jovens da atualidade.

As leituras proporcionaram uma visão de que a questão da

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disciplina/indisciplina faz parte do trabalho dos professores e demanda

aprofundamentos teóricos para que sejam consideradas as peculiaridades dos

alunos nos encaminhamentos metodológicos propostos pelos professores.

Diante dos debates e sugestões, pode-se entender que a indisciplina na

escola é um problema de todos e que deve ser enfrentado a partir da coletividade

da escola. Os estudos e as trocas de ideias mostraram que o processo coletivo é

algo a ser conquistado, principalmente quando se propôs a construir

continuamente os “Contratos Pedagógicos”. No entanto, há questões específicas

de sala de aula que devem ser administradas pelos professores cotidianamente

como, por exemplo, aulas monótonas e repetitivas, dentre outros problemas

assinalados pelos alunos.

Para os professores, a culpa é dos alunos, dos pais, da sociedade, pois

boa parte dos profissionais da educação parece guardar certos valores da

Educação Tradicional que preservam, de certa forma, a imagem de uma escola

na qual o professor ensina e cabe ao aluno aprender passivamente.

Todavia esses profissionais reconhecem, identificam e até justificam os

problemas, mas infelizmente não conseguem avançar rumo a novos

encaminhamentos percebendo, desta forma, a fragilidade do conhecimento sobre

como o encaminhamento pedagógico pode desencadear atos tidos como

indisciplinados.

A partir de estudos e debates sobre os relatos de alunos e de professores

é possível desmistificar algumas concepções baseadas em atitudes

preconceituosas que podem impedir a formação de cidadãos críticos, solidários,

responsáveis e criativos, preparados para a vida e para o mundo do trabalho.

REFERÊNCIAS

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