Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

13
Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

Transcript of Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Page 1: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

Page 2: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

AGROFLoRESTA:na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

Riacho do Navio Corre pro Pajeú O rio Pajeú vai despejar No São Francisco O rio São Francisco Vai bater no “mei” do mar...

(Riacho do Navio, Luiz Gonzaga)

Page 3: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

1.Agrofloresta: um caminho que revitaliza

A Agrofloresta é uma forma de fazer agricultura onde se cultiva, numa mesma área de terra, uma grande variedade de espécies. Plantas nativas, frutíferas, adubadeiras, medicinais e lavouras de ciclos médios e curtos. Esse processo, deixa o solo sempre coberto pela matéria orgânica, cultivando muitos tipos de plantas juntas, não uti-lizando agrotóxicos ou fertilizantes químicos, o que faz com que seja mais difícil acontecer problemas de pragas ou doenças nas plantas cultivadas. Além disso, nesse tipo de sistema não é necessário queimar nem desmatar, assim a agricultora, e o ag-ricultor, deixam a terra mais forte, e conservam a água e a biodiversidade. Essa forma de trabalhar a terra procura imitar como a natureza se organiza. A Agrofloresta, ao ser praticada, aumenta a variedade da produção de alimentos para as famílias agricultoras. É importante também na produção de forragem para os animais.

A prática da Agrofloresta vem sendo feita por muitas famílias em seus quintais. Essa forma de trabalhar é inovadora e traz muitas mudanças nas estruturas das proprie-dades, assim como, na forma como os agricultores e agricultoras veem a agricultura. Também traz mudanças significativas ao meio ambiente, pois o torna mais protegido em vez de degradado. Para se conservar esse ambiente em sua forma natural, a água passa a ser um fator fundamental da vida de várias espécies nativas da fauna e da flora, bem como imprescindível para a permanência das famílias, especialmente em regiões secas, como é o caso do Semiárido brasileiro.

1.1. Agrofloresta

1.2. Agrofloresta e convivência com o Semiárido

A água é um bem essencial para as nossas vidas e o acesso a ela é um Direito Humano básico. Sem água é impossível viver, especialmente no Semiárido, onde longas estia-gens são cada vez mais frequentes e intensas. A água é fundamental para a produção na agricultura familiar. Entretanto, sua escassez e má distribuição continuam sendo um grande obstáculo para a maioria da população que vive na região semiárida. Para superar essa realidade, agricultores e agricultoras buscam diferentes caminhos. Con-viver com o Semiárido é aprender a lidar com o clima aproveitando o que de bom e de abundante a região oferece. E é no contexto de convivência com o Semiárido onde a Agrofloresta se faz importante, com todas as suas qualidades e benefícios, tanto para a natureza, quanto para a vida concreta dos agricultores e agricultoras familiares.

Uma Agrofloresta “atrai” e limpa a água, pois ela reproduz um ambiente natural, em biomas como os da Caatinga ou Mata Atlântica. Se os desmatamentos deixam o clima mais seco, por conta da falta de vegetação, o reflorestamento atrai umidade e vida à paisagem. Nas Agroflorestas, o solo é coberto e estruturado, permitindo a infiltração de água que abastece o lençol freático. Contribuindo, assim, para a disponibilidade de água nos poços, fontes, rios e riachos, com cobertura vegetal permanente nas margens e nascentes. Essa cobertura é responsável pela proteção da água, reduzindo a perda pelo processo de evaporação e garantindo mais umidade ao solo.

“Água é vida. Sem a água o sertanejo não vive no Sertão”.

Ana Maria Martins Amaral, agricultora da comunidade Sítio Souto,

Triunfo, Pernambuco.

03 04

Page 4: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

Os efeitos negativos da agricultura convencional

Na agricultura convencional, o ser humano tem se utilizado de meios que não estão em sintonia com a natureza. Os desmatamentos, a broca, o plantio morro abaixo, o aterramento das margens dos rios e riachos, as queimadas, a escolha pela monocultura, o uso de adubos químicos e agrotóxicos são práticas muito comuns e que provocam a erosão do solo. Além disso, estragam a terra e diminuem a produção de alimentos ano a ano. Também provoca, em algumas áreas, o processo de desertificação, que é o enfraquecimento e degradação do solo até que ele se torne improdutivo.

Sua experiência de agricultura aumenta ou enfraquece a vida do solo?

Você conhece as principais fontes de água de sua comunidade e o atual estado delas em sua vazão?

De que fontes principais de água dispõem e qual a capacidade delas no período de forte estiagem?

2. Revitalização de Áreas de Preservação Permanente (APPs) com Agrofloresta

A água é um bem essencial para as nossas vidas e o acesso a ela é um Direito Humano básico. Sem água é impossível viver, especialmente no Semiárido, onde longas estia-gens são cada vez mais frequentes e intensas. A água é fundamental para a produção na agricultura familiar. Entretanto, sua escassez e má distribuição continuam sendo um grande obstáculo para a maioria da população que vive na região semiárida. Para superar essa realidade, agricultores e agricultoras buscam diferentes caminhos. Con-viver com o Semiárido é aprender a lidar com o clima aproveitando o que de bom e de abundante a região oferece. E é no contexto de convivência com o Semiárido onde a Agrofloresta se faz importante, com todas as suas qualidades e benefícios, tanto para a natureza, quanto para a vida concreta dos agricultores e agricultoras familiares.

Uma Agrofloresta “atrai” e limpa a água, pois ela reproduz um ambiente natural, em biomas como os da Caatinga ou Mata Atlântica. Se os desmatamentos deixam o clima

Vamos refletir

com a comuni-

dade?

2.1. Recuperação de cursos d’água e Agrofloresta: um início de conversa

05 06

Page 5: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

Uma Agrofloresta “atrai” e limpa a água, pois ela reproduz um ambiente natural, em biomas como os da Caatinga ou Mata Atlântica. Se os desmatamentos deixam o clima mais seco, por conta da falta de vegetação, o reflorestamento atrai umidade e vida à paisagem. Nas Agroflorestas, o solo é coberto e estruturado, permitindo a infiltração de água que abastece o lençol freático. Contribuindo, assim, para a disponibilidade de água nos poços, fontes, rios e riachos, com cobertura vegetal permanente nas margens e nascentes. Essa cobertura é responsável pela proteção da água, reduzindo a perda pelo processo de evaporação e garantindo mais umidade ao solo.

2.1.1.A importância de revitalizar e preservar as Matas Ciliares

A situação atual de Mata Ciliar, em rios e riachos, no Semiárido é caracterizada por boa parte da vegetação nativa destruída, dando lugar à produção de lavouras e capim para a criação de animais, ou simplesmente ao abandono, pela ocupação da área por vegetação nativa herbácea que, dificilmente, faz a recuperação desse ecossistema.

Quando se recuperam as áreas de Mata Ciliar degradadas, evitam-se os efeitos da erosão e do ressecamento dos barrancos, inibindo o estreitamento de leitos dos rios e facilitando a infiltração da água da chuva, que chega com maior facilidade ao lençol freático. Além disso, as Matas Ciliares ajudam a estabilizar a temperatura das águas e são ricas em variedade de plantas e animais silvestres. Por esse motivo, as Matas Ciliares são consideradas Áreas de Preservação Permanente (APPs), instituídas pelo Código Florestal Brasileiro, a partir da Lei n.° 4.771/65, e pelas legislações estaduais, como uma forma de proteger um ecossistema tão importante.

2.1.2.E como proteger as Matas Ciliares?

O Código Florestal Brasileiro é um conjunto de leis que regulamenta a forma como se usa a terra, respeitando sua vegetação. É o caminho legal para a garantia de proteção das Matas Ciliares, reconhecidas como Áreas de Preservação Permanente (APPs), que deveriam se manter intocadas, e caso estejam degradadas, deve-se prever a imediata recuperação. Segundo o Código Florestal, as APPs estão localizadas em topos de serras e morros com elevada declividade; margens das nascentes dos rios e riachos e margens de lagos, barragens e açudes. Assim, podemos proteger as Matas Ciliares quando não desmatamos, não fazemos fogo ou utilizamos essas áreas para o sistema de agricultura convencional.

2.1.3.Como recuperar uma área de Mata Ciliar?

A água é um bem fundamental na Agroflo-resta, isto porque ela é necessária desde o momento de preparar os viveiros de mudas até o cuidado com os animais. E, espe-cialmente, no Semiárido, os cuidados com a água são ainda maiores para os agricul-tores e agricultoras. Pois precisam guardar a água da chuva e preservar os riachos, cór-regos, cacimbas e açudes para o período da estiagem. Neste ambiente, a água tem uma importância fundamental para a garantia da sobrevivência da família.

Assim como a água na Agrofloresta, a veg-etação é fundamental para que as águas dos rios possam fluir com regularidade. Os

07 08

Page 6: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

2.2.Implantando uma Agrofloresta

Agricultores e agricultoras são observadores natos da natureza. E é assim que eles planejam fazer suas Agroflorestas ou Sistemas Agroflorestais (SAFs). As experiências de planejamento dos SAFs, ao longo dos tempos, reconhecem a importância desse conhecimento construído pelos agricultores e agricultoras na observação do compor-tamento das espécies e sua adaptação ao meio em que vivem. É a partir dessa troca de saberes, fruto da observação diária das espécies, que eles e elas decidem o que plantar no ano seguinte, ou seja, planejam a produção.

Na área de uma Agrofloresta é fundamental ter vários tipos de espécies de plantas. O agricultor agroflorestal, José Milton Souza Leão, mais conhecido como Seu Milt-inho, da comunidade do Carro Quebrado, município de Triunfo, em Pernambuco, dá a seguinte explicação: “Com a Agrofloresta temos um pouquinho continuado de cada coisa, em diferentes épocas. Além de nossas culturas anuais com o milho e feijão. E ainda fazemos a comercialização direta na feira agroecológica, eliminando assim os atravessadores”.

“À medida que ia trabalhando com SAFs eu me motivava mais, porque eu acreditava

e os resultados são positivos. Além da gente contribuir com um ambiente mais saudável”.

Antônio Sabino, agricultor agroflorestal, da comunidade São Bento, em

Santa Cruz da Baixa Verde, Pernambuco.

agricultores e agricultoras familiares sabem a importância desse tipo de vegetação para o cultivo agroflorestal. E por esta razão eles são protagonistas do processo de preservação e recuperação das Matas Ciliares.

A Agrofloresta é uma estratégia importante para a revitalização de áreas de Mata Ciliar. Pois, além de produzir alimentos para as famílias, e forragem para os animais, é uma agricultura que cuida e preserva o meio ambiente recuperando a Mata Ciliar e prote-gendo os rios. Assim, melhora também a qualidade de vida da população urbana e rural, que desenvolve sua prática agrícola em torno das Áreas de Preservação Permanente.

Com essa prática é possível encontrar na Agrofloresta as lavouras que garantem a alimentação e a renda da família durante todo o ano, como também as espécies nativas que servem de lenha, remédio para as famílias e alimento para as abelhas e animais. Quanto mais diversificado, mais sustentável será o sítio, com beneficia-mento das frutas para polpas e produção de doces, etc. Gerando, assim, uma alter-nativa de renda para as famílias e protegendo a biodiversidade.

Nas Agroflorestas se produz para atender às necessidades do mercado, na medida em que os agricultores e agricultoras organizados apresentam e vendem seus produ-tos de forma diversificada ao longo de todo o ano. Seja na própria comunidade, nas feiras tradicionais e agroecológicas, ou em mercados institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), assim como mercados internacionais.

Especialmente no Semiárido, é muito importante observar que a fertilização do solo acontece de forma diferente, de acordo com cada período do ano. Na Caat-inga, por exemplo, as folhas, os galhos, as flores e os diversos outros elementos da mata caem e viram adubo com mais rapidez no período chuvoso, devido à maior umidade e vida no solo. Essa é a adubação natural. O processo de decomposição das folhas gera um composto orgânico que ajuda no crescimento das sementes e plantas e, assim, ajuda na renovação das espécies próprias da Caatinga. Já no período de estiagem, esse processo é mais vagaroso pela pouca presença de água e insetos no solo, por isso, recomenda-se plantar espécies como o feijão-de-porco, mucuna, guandu, gliricídia e leucena, porque as folhas, flores e frutos dessas espé-cies ajudam na cobertura do solo e na produção de adubo para a terra, além de suas

09 10

Page 7: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

raízes contribuírem para a presença de microrganismos no solo. A sombra fornecida por essas plantas e a cobertura morta ajudam a conservar a umidade no solo, favorecendo um melhor desenvolvimento dessas plantas durante o período de estiagem.

O calendário agrícola de determinada região é muito importante no planejamento da produção agroflorestal. Saber quando começam as chuvas, a época mais chuvosa, e quando elas terminam é muito importante para as famílias decidirem o momento a-propriado para fazer as mudas, o plantio, a capina, a poda e a colheita. Além disso, o calendário agrícola ajuda a conhecer a época para colher e separar as sementes boas para os próximos plantios e como guardá-las devidamente. Bem como guardar a for-ragem para os animais, organizando e fazendo o silo e o feno. Qual o momento das floradas para saber quando terá mel e quando poderá fazer o manejo das colmeias e cortiços.

2.2.1.A prática agroflorestal

Para fazer uma Agrofloresta, como estratégia de recuperação da Mata Ciliar, deve-se estar atento às seguintes práticas:

Prática 1: Preparação da área

A preparação do terreno é o primeiro passo na atividade prática para se fazer uma Agrofloresta de recuperação da Mata Ciliar. Devendo-se considerar as seguintes su-gestões dos agricultores, agricultoras e técnicos/as:

“A gente cria um carinho muito grande pelas plantas, as vendo crescerem nos viveiros.

É uma verdadeira terapia”. Gilvânia (falta sobrenome),

agricultora da comunidade do Jacaré, em Parnamirim, Pernambuco.

11 12

Page 8: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

Observar bem o local onde será feita a Agrofloresta, ou a área de Mata Ciliar a ser re-cuperada, reconhecendo bem suas necessidades específicas;

Saber que tipo de planta que cresce na área, especialmente para a Mata Ciliar, que tipo de espécies nativas são típicas às encostas dos rios;

Fazer o planejamento da área para garantir o plantio das espécies nativas típicas das margens dos rios, assim como garantir as culturas de interesse da família.

Prática 2: Coleta de Sementes e Preparação das MudasUma família de agricultores deverá escolher bem as sementes para se criar um viveiro de mudas, de acordo com o planejamento pensado para a área de Agrofloresta. No caso da recuperação da Mata Ciliar, é fundamental conhecer o tipo de vegetação nativa das encostas dos rios, como já lembramos no texto acima, para se fazer a devida seleção. Este processo é conduzido em três etapas:

Coleta de SementesNa etapa de coleta de sementes, dá-se início a um processo de resgate do conheci-mento sobre as plantas nativas das margens dos rios. Depois que se reconhecem quais os tipos de plantas típicas dessa localidade, é o momento de buscar as árvores que ainda existem na comunidade e fazer a coleta nas árvores mais vigorosas e saudáveis. Depois de realizar a coleta, é recomendado retirar as sementes de má qualidade, as sementes nativas, depois de coletadas, devem ser armazenadas em recipientes bem fechados para sua conservação. De acordo com a especificidade de cada espécie, elas são depositadas em bancos de sementes, sendo devidamente identificadas, e ficam aguardando o momento para serem utilizadas na produção de mudas.

Bancos de SementesOs Bancos de Sementes Comunitários ou Familiares são formas de armazenar devida-mente as sementes nativas e agrícolas, garantindo plantio a cada ano no momento de necessidade das famílias. Na comunidade do sítio Carnaubinha, no Sertão do Pajeú de Pernambuco, o jovem multiplicador, Pedro Isidório, decidiu por um sistema de coleta de sementes individual, concentrando esforços num Banco de Sementes em que sua família estivesse envolvida. O jovem coletou sementes de espécies nativas e frutíferas e, também, recebeu sementes de outros agricultores e agricultoras da viz-inhança para semear em seu viveiro. A troca de sementes e plantas entre agricultores e agricultoras é uma característica muito importante na reprodução da agricultura familiar e camponesa, principalmente porque junto das sementes e plantas também se trocam conhecimentos.

13 14

Page 9: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

Produção das Mudas Os viveiros são os locais onde as sementes crescem e se desenvolvem. Lá elas estão arrumadas de modo a serem identificadas por espécie e protegidas do sol e dos ventos, tendo as condições ideais antes de serem plantadas definitivamente. O domínio sobre as formas de produzir mudas também faz parte da soberania das famílias agricultoras, pois são elas que definem o que e como produzir e em que quantidade.

O substrato utilizado pode ser um composto orgânico, elaborado nas próprias comu-nidades, utilizando esterco, restos de culturas, serrapilha e terra. Esse substrato pode ser feito numa proporção de 30% do composto e 70% de terra fresca em cada sacola de 10 x 20 cm e 20 x 30 cm (de acordo com as necessidades de cada espécie). Di-versas sementes são colocadas nas sacolas a 1 cm de profundidade ou mesmo apenas cobertas com uma fina camada de terra peneirada, facilitando a emissão dos brotos na superfície do substrato.

Para abrigar bem as sementes, o tamanho e local dos viveiros variam de acordo com o acesso à água e sombreamento. Para diminuir a incidência direta do sol, pode ser utilizada uma tela fina, conhecida como sombrite, com filtro de 70%. E para proteger as mudas dos pequenos animais domésticos como aves, caprinos e ovinos, é importante cercar a área do viveiro com telas de arame ou outro material que esteja disponível na comunidade.

O Plantio Definitivo das MudasDepois de cultivadas devidamente nos viveiros, as mudas atingem uma “idade” para serem replantadas definitivamente na área escolhida para implantação da Agrofloresta na margem do riacho. Com o plantio das mudas, abrem-se os cami-

15 16

Page 10: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

nhos para a recuperação da área degradada. A Mata Ciliar desaparecida é recomposta, agora como uma Agrofloresta, protegendo e dando vida e espaço às espécies nativas, típicas daquela mata, e às agrícolas de utilidade para as famílias. A introdução das espécies frutíferas gera uma fonte de renda para os agricultores e agricultoras que vivem na região de rios e riachos recuperados. E, dos frutos e flores existentes, fazem o beneficiamento com polpa de frutas, doces, passas, assim como produção de mel, entre outros.

Quais são as plantas típicas de sua região?

Quais são aquelas mais adaptáveis à seca?

Quais as plantas típicas das margens dos rios e riachos que passam por sua comunidade?

Quais são as utilidades dessas plantas nativas no seu sítio?

Vamos refletir

com a comuni-

dade?

3.Projeto Riachos do Velho Chico: a experiência de revitalização e preservação de Matas Ciliares, no Sertão de Pernambuco, com Agro-floresta

“Meu Velho, meu Velho Chico,Quem te viu e quem te vê!...Não dá mais para acreditar!

Quem quiser te conhecer,Pois esqueceram de ti,

Tão magro como um faquirDe ti querem esquecer”.

(“A Morte do Velho Chico”, cordel do poeta Zé de Patrício)

No Sertão do Pajeú e Araripe de Pernambuco diversos agricultores e agricultoras vêm implementando experiências exitosas com Agrofloresta. São nesses territórios, localiza-dos no Semiárido brasileiro, que a Agrofloresta, enquanto experiência inovadora e tec-nologia social, tem contribuído para recuperação e preservação de Áreas de Preservação Permanente (APPs).

17 18

Page 11: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

O que é Tecnologia Social? Tecnologia Social é uma forma de juntar o conhecimento científico e o saber popular na construção de respostas técnicas eficientes para a melhoria de vida das populações. As cisternas de placa, o soro caseiro, entre outros, são exemplos desse casamento en-tre o conhecimento técnico e o conhecimento do povo. É, também, no Semiárido que está localizado o rio São Francisco ou Velho Chico, como é conhecido carinhosamente.

O rio São Francisco é composto por uma grande Bacia Hidrográfica, que é o seu ter-ritório natural, onde o volume de água do rio é abastecido por veias, que são os seus afluentes ao longo de seu caminho. No entanto, com o passar dos anos, o Rio São Francisco vem sofrendo com o assoreamento das suas margens. O assoreamento acontece quando o fluxo de água de um rio é obstruído pelo acúmulo de lixo, e ou-tros detritos, no seu interior, ao longo do seu curso; diminuindo o volume de água e sua perenidade o que provoca enchentes, alagamentos, assim como erosão em suas margens.

A partir da ação do Projeto Riachos do Velho Chico, desenvolvido por agricultores e agricultoras, junto com as organizações Centro Sabiá e Caatinga, e com o Patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Ambiental, estão sendo revitalizadas e preservadas as matas dos riachos Frazão, no município de Triunfo, no Sertão do Pajeú; e em Queimadas, no município de Parnamirim, no Sertão do Araripe, numa experiência inédita. Esses territórios compõem as Bacias Hidrográficas dos Rios Pajeú e Brígida, que deságuam no Rio São Francisco. E para isso, o Projeto Riachos do Velho Chico se utiliza das experiências de Agrofloresta, como a construção de uma metodologia para contribuir de forma participativa e sustentável na revitalização das Matas Ciliares dos riachos. Para se compreender essa experiência, é necessário entendermos o ambiente no qual o projeto atua juntamente com agricultores e agricultoras familiares, jovens e lideranças comunitárias.

Essa experiência inovadora de revitalização vem sendo implementada a partir dos princípios da Agroecologia, que tem sido uma estratégia bem-sucedida para recuperar os solos e a biodiversidade de ambientes degradados, ao conter os processos de deser-tificação e erosão, recompondo, assim, as áreas de nascentes, olhos d’água e margens dos rios. A participação e gestão coletiva do conhecimento são princípios de imple-mentação das atividades e, assim, juntam-se a agricultores e agricultoras familiares, lideranças comunitárias, professores da rede municipal de ensino e, sobretudo, jovens dos municípios de Triunfo e Parnamirim. A execução desse projeto se dá em dois grandes grupos de ação: a sensibilização e educação ambiental com as comunidades ribeirinhas e a revitalização dos Riachos Frazão e Queimadas.

3.1. Encontros comunitários de preparação das atividades

“Tem sido muito importante participar das reuniões. Muitas coisas sobre a importância do meio ambiente

que a gente não sabia, aprendemos a conhecer”. Ivoneide (falta sobrenome), agricultora na comunidade do Jacaré,

em Parnamirim, Pernambuco.

19 20

Page 12: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação Permanente

Para realizar as primeiras atividades do projeto, o primeiro passo foi mobilizar o en-volvimento dos participantes numa experiência de construção de uma compreensão comum sobre a importância do meio ambiente e o desafio de recuperar a cobertura vegetal das margens dos rios. Nesse momento, os participantes reconhecem e com-preendem os problemas ambientais, e potencialidades de suas comunidades, e se or-ganizam de acordo com o próprio ritmo e interesse de envolvimento no projeto. Esse processo desperta uma integração maior de todos fortalecendo a prática da partici-pação e gestão coletiva das etapas de implementação do projeto nas comunidades.

A participação, a partir da compreensão da realidade e das potencialidades existentes, é um princípio para se garantir práticas que geram mudanças concretas nessa reali-dade. Então, um momento importante é planejar as ações que serão realizadas gar-antindo a participação de todos/as, definindo papéis, prioridades, responsabilidades e os prazos para execução. Essa atividade tem um papel muito importante durante toda a realização do projeto, por ajudar a construir estratégias comuns de superação das dificuldades, e envolvendo os grupos nas ações do projeto.

Referências Bibliográficas

SOUZA, Joseilton Evangelista; SILVA, Adeildo Fernandes da. Agricultura agroflorestal ou agrofloresta. Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, Recife, 2007.

SILVA, Adeildo Fernandes da; PIRES, Alexandre Bezerra; MORAIS, Carlos Magno de M.; AURELIANO, Maria Cristina; OLIVEIRA, Maria Laudenice Alves. Agricultura agroflo-restal e criação animal no semi-árido. Centro Agroecológico Sabiá, Recife, 2010.

BARBOSA, Antônio Gomes; LOPES, Fábia; SOUZA, Joseilton Evangelista; LIMA, Marceli-no de Souza; BAPTISTA, Naidison de Quintella; BROCHARDT, Viviane. Caminhos para a convivência no semi-árido. Articulação no Semi-Árido Brasileiro, Recife, .Projeto “Riachos do Velho Chico”. Relatório parcial do projeto. Recife, Nov/2012.

SENADO FEDERAL. Código Florestal em debate. http://www.senado.gov.br/noticias/agencia/infos/info_app/2010.11.26_info_app.html

21

Page 13: Agrofloresta: na recuperação de Áreas de Preservação ...

Série Conhecimentos