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    Instituto Milton H. Erickson da Costa Central da Califrnia

    ANOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,

    HIPNOSE TERAPUTICA&REABILITAO:

    UM DILOGO CRIATIVO COM NOSSOS GENES

    Ernest Lawrence Rossi, Ph.D. & Khatryn Lane Rossi, Ph.D.

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    Copyright 2008

    by

    Ernest Lawrence Rossi, Ph.D. & Khatryn Lane Rossi, Ph.D.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzidaem qualquer forma, em sua totalidade ou em parte (exceto para citaes

    breves e artigos crticos ou revises), sem permisso por escrito dos autores.

    Publicado por:

    Ernest Lawrence Rossi, Ph.D. & Khatryn Lane Rossi, Ph.D.

    125 Howard Avenue

    Los Osos CA 93402

    USA

    www.ErnestRossi.com

    Email: [email protected]

    Email: [email protected]

    Verso 2.0, Setembro 2008

    Edio Brasileira (2009) Traduzida por:

    Maria Lcia Lacal Cox DAvila

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    Tabela de Contedo

    CAPTULO 1

    Uma Introduo ao Dr. Milton H. Erickson (1901 1980) 05

    CAPTULO 2Fontes Histricas da Nova Neurocincia em Psicoterapia,Hipnose Teraputica e Reabilitao 09

    CAPTULO 3Um Novo Modelo Neurocientfico do Processo Criativo deQuatro Estgios nas Humanidades, Cincia e Psicoterapia 12

    CAPTULO 4Expresso Gnica, Plasticidade Cerebral e Tempoem Psicoterapia 21

    CAPTULO 5Momentos Decisivos da Vida: Uma Perspectiva EvolucionriaSobre Autocriao, Sonhos e Mente Construtiva 28

    CAPTULO 6Neurnios Espelho, Empatia & Conflito:Arte, Verdade e Beleza Via Expresso do Gene e PlasticidadeCerebral 34

    CAPTULO 7Um Interldio MusicalA Forma de Sonata do Processo Criativo de Quatro Estgios 44

    CAPTULO 8Psicoterapia Criativa de Quatro Estgios: Construindoa Mente Futura 50

    CAPTULO 9

    Processo Teraputico # 1O Processo Criativo de Quatro Estgios com Reflexo de Mos 61

    CAPTULO 10Processo Teraputico # 2A Facilitao Psicoteraputica da Clareza e Fora 64

    CAPTULO 11Processo Teraputico # 3Facilitando a Conscincia e a Criatividade pela Integraodos Opostos 67

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    CAPTULO 12Processo Teraputico # 4A Alegre Busca do Sintoma para a Cura Mente-Corpo 71

    CAPTULO 13

    EpigenticaA Genmica Psicossocial da Expresso do Gene ePlasticidade Cerebral 75

    CAPTULO 14Avaliao do Workshop & Forma de Pesquisa 80

    Referncias Bibliogrficas 81

    Tabela de Figuras & Quadros

    Figura 1: Vinheta do Clssico Processo Criativo de Quatro Estgios...........................12

    Figura 2: Um Perfil do Crebro Humano durante Perodos Offline de Sono..............15

    Figura 3: O Homnculo Sensrio-Motor Humano Mente-Corpo...................................16

    Figura 4: Quatro Nveis de Domnio Psicobiolgico da Psicoterapia, Hipnose,

    Teraputica e Reabilitao.............................................................................17

    Figura 5: Ilustrao Neural dos Parmetros de Tempo do BRAC Ultradiano...............19

    Figura 6: Parmetros de Tempo da Diviso das Clulas............................................. 22

    Figura 7: Um Perfil (90 -120 minutos) do Processo Criativo de Quatro Estgios.........24

    Quadro 1: Uma Comparao entre as respostas Ultradianas de Cura e Estresse........25

    Figura 8: Domnio do Trabalho Hipnoteraputico: Fases Alta e Baixa..........................26

    Figura 9:Dinmicas Adaptativas Durante Transies da Vida........................... .........28

    Figura 10: Neurnios Espelho nas Dinmicas Adaptativas.............................................38

    Figura 11: O Esboo dos Quatro Estgios da Forma Musical de Sonata.......................44

    Figura 12: Processo Teraputico # 1: Reflexo de Mos............................................62-63

    Figura 13: Processo Teraputico # 2: Beatitude de Buda Sem Medo....................65-66

    Figura 14: Processo Teraputico # 3: Integrando os Opostos...................................69-70

    Figura 15: Processo Teraputico # 4: Transformando Sintomas em Sinais..............72-73

    Figura 16: Influncia do Grupo Social na Expresso do Gene e

    Plasticidade cerebral......................................................................................75

    Quadro 2: Modulao Mental da Expresso do Gene em Leuccitos Humanos...........78

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    CAPTULO 1Uma Introduo ao

    Dr. Milton H. Erikson (1901 1980)

    Milton H. Erickson, foi descrito como um dos psicoterapeutas mais influentes

    de todos os tempos em um recente levantamento feito pelo The

    Psychotherapy Networker (Maro 2006). Em psicoterapia, Milton H. Erickson

    est colocado entre os 10 terapeutas mais importantes ao lado de Sigmund

    Freud, Carl Jung e outros. Apresentamos aqui uma breve descrio de

    Erikson, escrita uma gerao aps a sua morte.

    Apesar de tudo o que se tem escrito sobre Milton Erickson e dos

    esforos diligentes de tantos para entenderem o que ele fez em

    terapia e porque funcionou to extraordinariamente bem, um ar de

    mistrio rodeia o seu trabalho at agora. Pouco depois da morte de

    Erickson, Jay Haley, um discpulo seu durante 20 anos, disse: No

    passa um s dia, sem que utilize em meu trabalho algo que tenha

    aprendido com Erickson. At hoje s compreendo em parte as

    idias bsicas dele. A imagem de Erickson que emerge no campo

    a de um mago da terapia, possuidor de um poder pessoal

    irresistvel.

    Ele no era o tipo de pessoa com a qual voc pudesse

    simplesmente sentar-se para conversar, recorda Jeffrey Zeig. Ele

    estava sistematicamente trabalhando, sistematicamente sendoMilton Erickson, o que supunha ter-se a experincia mais profunda

    possvel, com qualquer pessoa que estivesse sentada a sua frente.

    Neste sentido, ele era continuamente hipntico, continuamente

    teraputico, continuamente didtico.

    Talvez isto se deva ao seu estado fsico que exigia de Erickson um

    foco completo de todas as suas faculdades. Dislxico, surdo paraos tons, daltnico, propenso a vertigens e desorientao, atacado

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    pela plio aos 17anos e novamente aos 51, passou os ltimos 13

    anos de sua vida (perodo em que muitos dos seus estudantes mais

    famosos o conheceram), confinado em uma cadeira de rodas.

    Enquanto ele tentava modelar a flexibilidade e os mtodos verbais

    sutis que havia passado uma vida inteira desenvolvendo, isso era

    feito com os lbios parcialmente paralisados e a lngua deslocada.

    Ainda mais, como disse Haley, o homem trabalhava 10 horas por

    dia, seis ou sete dias por semana, conduzindo terapia... Cada fim

    de semana, ou estava vendo seus pacientes, ou na estrada

    ensinando. Zeig acrescenta: O mais impressionante em Erickson

    era o tempo e a energia que ele parecia emanar. Uma vez que

    aceitasse algum como paciente ele faria literalmente qualquer

    coisa que pudesse para ajudar essa pessoa. Se fosses um cliente

    de Erickson sentirias que ele estava totalmente focalizado em ti.

    Erickson passou meio sculo desenvolvendo uma teoria

    enormemente sutil de padres de reconhecimento em mltiplos

    nveis que esteve quase que totalmente em desacordo com a

    terapia das principais correntes de seu tempo. As enfermidades,

    dizia Erickson, tanto se so psicognicas quanto orgnicas,

    seguem padres definidos de alguma espcie, particularmente no

    campo das desordens psicognicas. Um rompimento desse padro

    pode ser uma medida muito teraputica, e frequentemente pouco

    importa quo pequena seja esta ruptura, se ela for introduzida

    suficientemente cedo.

    Ele descobriu que a maioria das regras da vida que determinam

    as limitaes humanas eram crenas arbitrrias e no fatos. Seu

    estudo primoroso da hipnose o ensinou que os estados alterados da

    mente e o transe eram muito mais uma parte do funcionamento

    cotidiano. Esta compreenso escreveu Ernest Rossi, formou os

    princpios subjacentes de seus estudos posteriores em

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    psicopatologia, assim como, o desenvolvimento dos enfoques

    naturalista e de utilizao em hipnose teraputica.

    Tais insights foram fundamentais para a abordagem de Erickson,

    contudo ele no buscou uma teoria definitiva para deix-la como um

    legado. Erickson no tinha um mtodo fixo, apontou Haley. Se um

    procedimento no funciona, ele tenta outros at que um o faa. Isto

    o que ele enfatizava para os seus estudantes, aconselhando uma

    atitude elevada de receptividade no contaminada por idias pr-

    concebidas em relao a frmulas. Erickson fez esta colocao da

    seguinte maneira: Eu no pretendo estruturar minha psicoterapia

    mais do que de um modo vago, geral. E nesse modo vago, geral, o

    paciente a estrutura... de acordo com as suas prprias

    necessidades... A primeira considerao ao tratar os pacientes

    dar-se conta de que cada um deles um indivduo... Assim, no

    tente encaix-los em seu conceito de como eles deveriam ser...

    Voc pode tentar descobrir, o que o conceito do prprio paciente

    parece ser... No a quantidade de tempo. No a teoria da

    terapia. como chegar personalidade da pessoa dizendo a coisa

    certa no tempo certo.

    Mais palavras de sabedoria de Erickson: Confie no seu

    inconsciente. uma maneira deliciosa de se viver, uma maneira

    deliciosa de conseguir coisas. E, No tente usar a tcnica de

    qualquer outro... Apenas descubra a sua prpria.

    Cremos que estas palavras, No tente usar a tcnica de qualquer outro...

    apenas descubra a sua prpria, so muito importantes para terapeutas que

    desejam aprender consigo prprios, tal como Erickson. Terapeutas geralmente

    aprendem por ensaio e erro as maneiras pelas quais suas personalidades

    nicas podem ser mais eficientes para ajudar os outros. Isto requer de cada

    psicoterapeuta, coragem, persistncia e honestidade. Pode ser uma tarefa

    solitria aprender a fazer isto.

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    Quem pode saber melhor do que voc, voc mesmo, quando voc melhor e

    mais eficiente para ajudar os outros? Isto requer cuidado e autorreflexo

    contnua acerca do que se est fazendo. No h duas pessoas exatamente

    iguais. Duas sesses teraputicas no podem ser exatamente iguais. Cada

    sesso teraputica uma criao nica, uma pea nica de

    autodesenvolvimento, na gnese de uma nova conscincia da prpria

    identidade, no paciente e no terapeuta. Esperamos que nossa empatia,

    compreenso e eficcia teraputica cresam a cada encontro humano dia

    aps dia.

    Este ensaio para profissionais licenciados apresenta uma nova perspectiva

    neurocientfica sobre psicoterapia, hipnose teraputica e reabilitao atravs

    de dilogos extremamente pessoais e criativos com os nossos genes. Embora

    esta apresentao esteja implcita em muito da investigao que citaremos,

    ser necessrio realizar muitas outras pesquisas para estabelecer sua

    validade cientfica e eficcia teraputica. Delineamos uma srie de processos

    experimentais como guias heursticos para o trabalho teraputico. Estes no

    so, todavia, mtodos validados para mudana de comportamento, por

    enquanto. Ao invs, nossas abordagens devem ser consideradas como formas

    pessoais de autodesenvolvimento nas artes humansticas, autobiografia, e

    meditao. Elas podem ser teis na criao de uma nova conscincia,

    autoconhecimento e autocuidado que so de valor para os indivduos que as

    praticam, mas, no so prescries mdicas ou psicolgicas para todo mundo.

    Ns comeamos com uma reviso breve de alguns de nossos enfoques

    criativos na histria das artes, medicina e psicoterapia, assim como na

    neurocincia em evoluo.

    Consequncias Criativas

    Aprender com os outros s o comeo.

    Cada terapeuta deve desenvolver seus prprios talentos especiais.

    Esforo criativo dirio necessrio para otimizar as habilidades

    teraputicas.

    Cada sesso teraputica uma criao nica.

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    CAPTULO 2Fontes Histricas da Nova Neurocinciaem Psicoterapia, Hipnose Teraputica

    e Reabilitao

    As primeiras fontes de psicoterapia e hipnose teraputica tm incio h quase

    300 anos com a defesa de Anton Mesmer de sua tese mdica Dissertatio

    Physico-Medica de Planetarum Influxu, em 27 de maio de 1766. Este foi o

    perodo do filsofo suo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), quando

    aconteceram enfrentamentos filosficos entre as vises mecanicista e

    naturalista da natureza humana. Rousseau acreditava que os homens

    experimentavam estgios de desenvolvimento e que o exerccio das

    habilidades mentais facilitava o crescimento do crebro. Charles Bonnet (1720-

    1793), um naturalista experimental conhecedor das idias de Rousseau,

    props ao cientista italiano Michele Vicenzo Malacarne (1744 -1816) que os

    neurnios podiam responder aos exerccios tal como o fazem os msculos.

    Malacarne (1793,1819), ento, realizou experimentos com littermates de

    pssaros e ces. Ele observou que aqueles que eram expostos a ambientes

    enriquecidos e treinamento intensivo tinham os crebros maiores! Este

    experimento foi o precursor da moderna investigao em neurocincia,

    documentando como a novidade, o exerccio, o treinamento e a focalizao

    voluntria da ateno, podem facilitar o crescimento e a reorganizao das

    redes neurais do crebro. Este o fundamento das nossas concepes atuais,

    de como a expresso gnica e a plasticidade cerebral podem facilitar o

    desenvolvimento humano e a cura em psicoterapia, hipnose teraputica e

    reabilitao (Rosenzweig, 1996; Rosenzweig et al., 1962; Renner &

    Rosenzweig, 1987).

    A fisiologia da fascinao em hipnose teraputica,

    psicoterapia e neurocincia moderna

    Mdicos pioneiros como Anton Mesmer (1734-1815) e James Braid, MD

    (1795-1860), que originalmente exploraram a hipnose teraputica como ummtodo de cura possuam apenas uma pequena compreenso de como ela

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    realmente funcionava. Por exemplo, a definio de hipnotismo de James Braid

    em seu livro A Fisiologia da Fascinao, de 1855, diz o seguinte:

    Com a inteno de simplificar o estudo das aes recprocas e

    reaes da mente e da matria, uma sobre a outra..., a condio

    (hipntica) surge de influncias existentes dentro do prprio corpo

    do paciente, isto , a influncia da ateno concentrada, ou idias

    dominantes, modificando a ao fsica, e estas mudanas

    dinmicas reagindo sobre a mente do sujeito. Eu adotei o termo

    hipnotismo ou sono nervoso para este processo... E finalmente,

    como um termo genrico, compreendendo a totalidade destes

    fenmenos que resultam das aes recprocas da mente e matria

    uma sobre a outra, eu acredito no existir termo mais apropriado do

    que psicofisiologia(Braid, 1855).

    Atualmente acredita-se que Braid realmente inventou o termo psicofisiologia

    para descrever como a mente e a matria interagem para facilitar a cura

    mente-corpo via hipnose teraputica (Tinterow, 1972). Ainda hoje, 150 anos

    depois, no bem compreendido como a psicofisiologia opera na terapia

    mente-corpo. De modo geral, no h departamentos reconhecidos de hipnose

    teraputica ou terapia mente-corpo, em nossas universidades ou escolas de

    medicina que realizem pesquisa sistemtica destas terapias. Durante a

    gerao passada, entretanto, a nova disciplina da neurocincia emergiu como

    um advento das novas tecnologias para a investigao cientfica dos

    relacionamentos naturais entre a mente e o corpo, que Erickson (1958/2008,

    1958/2008) chamou de suas tcnicas de hipnose naturalista e de utilizao.A imagem de ressonncia magntica funcional (fMRI), os microarraysde DNA,

    e bancos de dados bioinformticos de DNA, por exemplo, tornaram possvel

    uma grande quantidade de pesquisas que revisaremos brevemente para

    atualizar nossa compreenso em hipnose teraputica, psicoterapia e

    reabilitao.

    Resumiremos cuidadosamente as implicaes da neurocincia atual em umasrie de figuras que ilustram as vias de comunicao mente-corpo que

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    utilizamos em nosso trabalho teraputico. Depois ilustraremos algumas

    abordagens inovadoras fceis de aprender e praticar em workshops

    profissionais para terapeutas licenciados. Temos ensinado os enfoques,

    naturalista e de utilizao de Erickson em workshopsprofissionais atravs

    do mundo por mais de 40 anos. Apresentamos alguns deles neste ensaio, em

    esboos cuidadosamente estruturados e especificamente programados para

    profissionais licenciados (Rossi, 2002a, 2004a). Ilustramos como eles so

    suscetveis de infinitas variaes para terapeutas mais experimentados.

    Atravs destes exerccios prticos chamaremos a ateno agora, onde

    necessrio, mais pesquisa para preencher os critrios da medicina baseada

    em evidncias (EBT). Na verdade, ns o convidamos para cooperar conosco

    em um programa de pesquisa aberto, de nvel internacional (Rossi, Rossi,

    Yount, Cozzolino & Iannotti, 2006). O prmio Ernest R. e Josephine R. Hilgard,

    da Sociedade de Hipnose Clnica e Experimentalao melhor artigo terico em

    2001, revisa a base cientfica dos enfoques criativos que delineamos (Rossi,

    2000). Exposies mais detalhadas podem ser encontradas em manuais

    (Rossi, 2002, 2002b, 2004a, 2007), vdeos e CDs, disponveis na Fundao

    Milton H. Erickson (Erickson, Rossi, Erickson-Klein & Rossi, 2008), assim

    como em publicaes profissionais pioneiras em hipnose criativa (Bloom,

    1990).

    Consequncias criativas

    A novidade, o exerccio, o treinamento e a ateno focalizada podem

    facilitar o crescimento do crebro.

    A condio hipntica surge das influncias que existem dentro dopaciente.

    As implicaes da neurocincia so uma nova base de pesquisa para a

    psicoterapia.

    Os enfoques naturalista e de utilizao de Erickson so destinados a

    profissionais licenciados.

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    CAPTULO 3Um Novo Modelo Neurocientfico do

    Processo Criativo de Quatro Estgiosnas Humanidades, Cincia e

    Psicoterapia

    Uma vinheta do clssico processo criativo de quatro estgios apresentada na

    figura um, ilustrando um estudante empenhado em demonstrar um teorema

    matemtico (Tomlin, 2005). Os dois primeiros painis representam o Estgio

    Um do processo criativo onde as rodas comeam a girar na mente, e oestudante comea a fazer diagramas e a escrever equaes tentando resolver

    o problema.

    Figura 1: O processo criativo de quatro estgios. O Estgio Um consiste de partir de uma idiae comear a trabalhar em um problema. O Estgio Dois a experincia s vezes difcil, de lutae conflito tentando resolver o problema. O Estgio Trs o momento criativo no qual sealcana um flash ou insight de compreenso profunda. O Estgio Quatro a verificaofeliz da soluo do problema. (Com autorizao, Tomlin, 2005).

    Como tpico de muitos dos esforos para resolver problemas da vida

    cotidiana, o estudante logo se encontra em dificuldade. Ele se sente

    bloqueado no Estgio Dois do processo criativo, quando seu conflito

    emocional e desespero so evidentes no painel do meio humoristicamente

    mostrando fumaa se elevando do seu crebro fervendo. O Estgio Trs do

    processo criativo ilustrado no painel seguinte como um flash de luz

    rodeando sua cabea. Ele est to surpreso por seu novo insightcriativo quedeixa cair seu lpis! O Estgio Quatro do processo criativo evidente quando

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    ele sorri feliz com seu sucesso e exclama: Mgico!. O saber popular da cura

    em psicoterapia e hipnose teraputica tem sido descrito frequentemente como

    magia. Mas como funciona esta magia? Esboaremos aqui um novo modelo

    neurocientfico de como a chamada magia pode operar na vida cotidiana

    normal em nossos sonhos, e em psicoterapia como um dilogo criativo com os

    nossos genes.

    A Repetio do Dilogo Criativo Mente-Crebro-Gene

    Como Essncia da Psicoterapia

    A Figura dois ilustra um perfil do crebro humano com um corte mostrando

    detalhes do hipocampo, a parte do crebro que a primeira a gravar a

    memria daquilo que experimentamos como novo e surpreendente. O

    hipocampo, entretanto, apenas um lugar de descanso temporrio para a

    gravao da nova memria, aprendizagem e comportamento. Mais tarde

    durante os chamados perodos offline de sono, sonhos e descanso, quando a

    mente consciente no est ativamente ocupada com enfrentar as realidades

    externas, o hipocampo e o crebro se empenham em um dilogo para

    atualizar, repetir e consolidar a nova experincia de vida de um modo

    adaptativo.

    Lisman & Morris (2001) descrevem este dilogo de atualizao conforme

    segue:

    ...a informao sensorial recentemente adquirida canalizada

    atravs do crtex at o hipocampo. Surpreendentemente s o

    hipocampo aprende realmente neste momento diz-se que ele est

    online. Mais tarde, quando o hipocampo est offline (provavelmentedurante o sono), repete a informao armazenada, transmitindo-a

    ao crtex. O crtex considerado um aprendiz lento, capaz de

    armazenar memrias duradouras somente como um resultado da

    repetio da informao do hipocampo. Na opinio de alguns, o

    hipocampo apenas um armazm temporrio de memrias uma

    vez que os traos de memria se estabilizem no crtex, as

    memrias podem ser acessadas at mesmo quando o hipocampo removido. Atualmente h evidncia direta de que alguma forma de

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    repetio ocorre no hipocampo... Estes resultados apiam a idia

    de que o hipocampo o aprendiz veloz online que ensina ao

    crtex, aprendiz mais lento offline. (p. 248-249, itlico

    acrescentado).

    Este dilogo de atualizao que transcorre em nvel implcito ou

    inconsciente a essncia do nosso novo modelo neurocientfico de

    criatividade em psicoterapia. Ele s parece uma espcie de magia oculta

    nossa mente consciente, quando despertamos do sono, sonho e de estados

    profundos de focalizao interna. Surpreendemo-nos ao perceber que

    sabemos algo novo. Como logo veremos a repetio criativa de experincias

    de vida significativa, adaptativa e de novidade, entre o crtex e o hipocampo,

    o processo de vida bsico que buscamos facilitar em psicoterapia, hipnose

    teraputica e reabilitao. Este dilogo psicobiolgico inteiramente natural

    o processo essencial que tentamos facilitar com sugesto criativa em nosso

    novo modelo teraputico neurocientfico de sugesto teraputica. Desta nova

    perspectiva neurocientfica pode-se descrever melhor as sugestes

    teraputicas como heursticos de processamento implcito que facilitam o

    dilogo natural entre o hipocampo e o crtex como ilustrado na Figura dois.

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    Figura 2: Um perfil do crebro humano durante os perodos offline de sono, sonhos edescanso, quando o hipocampo e o crtex entabulam um dilogo (setas azuis) para repetir,atualizar e consolidar a nova memria e aprendizagem (Atualizado por Rossi, 2002a). Estedilogo psicobiolgico inteiramente natural o processo essencial que tentamos imitar,facilitar e utilizar em nosso novo modelo neurocientfico dos heursticos de processamentoimplcito.

    O Crebro Humano e as Zonas de Rapport

    da Psicoterapia e Hipnose Teraputica

    A Figura trs ilustra algumas das zonas de rapport no crtex cerebral, que

    acreditamos serem as reas reais do crebro humano, efetivamente,

    envolvidas nos dilogos criativos em psicoterapia e hipnose teraputica (Rossi

    & Rossi, 2006).

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    Figura 3: O homnculo sensrio-motor humano mente-corpo. O tamanho descomunal dasmos e a anatomia dos lbios, lngua e face refletem reas extremamente grandes do crebroque a evoluo selecionou para mapear estas duas reas importantes de comunicao ecompreenso (Adaptado de Penfield & Rasmussen, 1950). A- Homnculo sensorial postulado como sendo ativado em um conjunto de zonas rapport via processos ideo-sensoriais da hipnose teraputica. B- Homculo motor - postulado como sendo ativado emum conjunto de zonas rapport durante processos ideo-motores da hipnose teraputica.

    Comunicao mente-corpoO ciclo Bsico de Repouso-Atividade (BRAC)

    Os marcos de tempo no lado direito da figura quatro ilustram outro aspecto

    profundamente importante da terapia mente-corpo. A comunicao mente-

    corpo, via sistema nervoso, ocorre quase que instantaneamente, em milsimos

    de segundos. Entretanto, o fluxo da comunicao mente-corpo, via

    mensageiros moleculares, tais como hormnios na circulao sangunea

    atravs do corpo, requer cerca de um minuto. Quando estes sinais sorecebidos pelas clulas, muitos deles so transmitidos ao ncleo da clula

    onde ativam a transcrio gnica (expresso gnica).

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    Figura 4: Quatro nveis de domnio psicobiolgico da psicoterapia, hipnose teraputica ereabilitao. (1) A informao do mundo exterior codificada nos neurnios do crtex cerebral transformada dentro do sistema lmbico-hipotalmico-pituitrio em molculas mensageiras queviajam atravs da circulao sangunea para levar informao aos receptores das clulas docrebro e do corpo. (2) Os receptores da superfcie (membrana) da clula transmitem o sinal,via segundos mensageiros, para o ncleo da clula, onde genes precoces de expressoimediata comunicam a outros genes alvos para transcreverem seu cdigo em RNAsmensageiros. (3) Os RNAs mensageiros servem como moldes, para a sntese de protenas,que funcionaro como: (a) estruturas finais altamente curativas do corpo, (b) como enzimaspara facilitar as dinmicas energticas, e (c) como receptores e molculas mensageiras paraas dinmicas informativas da clula. (4) As molculas mensageiras funcionam como um tipo

    de memria molecular que pode evocar memria dependente de estado, aprendizagem ecomportamento nas redes neurais do crebro. (ilustrado na seqncia retangular de letras deA at L). (Extrado de Rossi, 2002a, 2004a, 2007).

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    Os genes expressam um cdigo de DNA para fabricar protenas que so

    mquinas moleculares que realizam a cura fsica na terapia mente-corpo.

    Como ilustrado na figura quatro, um ciclo completo de comunicao e curamente-corpo assim como atividades e atuaes da vida diria levam cerca

    de 90 -120 minutos Este intervalo de tempo algumas vezes chamado um

    Ciclo Ultradiano (em contraste ao Ciclo Circadiano ou ciclo dirio de 24

    horas). Em cronobiologia (a biologia do tempo) chamado tambm Ciclo

    Bsico de Repouso-Atividade (BRAC) (Lloyd & Rossi, 1992, 2008). Isto

    significa que uma unidade fundamental de comunicao, em terapia mente-

    corpo, pode iniciar e ser concluda dentro dos parmetros de tempo tpicos de

    uma nica sesso de psicoterapia ou hipnose teraputica. digno de nota que

    Milton H. Erickson (Erickson, Rossi, Erickson-Klein, Rossi, 2008), geralmente

    considerado um dos psicoterapeutas mais inovadores de nosso tempo,

    conduzia suas sesses de hipnose teraputica por cerca de 90 -120 minutos.

    O funcionamento do BRACdentro de um nico neurnio do crebro ilustrado

    na figura cinco. As experincias de vida, novas, surpreendentes e inesperadas

    podem ativar os genes dependentes de atividade importantes para a

    produo das protenas que geram o crescimento e as transformaes das

    conexes sinpticas entre os neurnios, o que descrito como plasticidade

    cerebral(Rossi, 2000, 2004a, 2007).

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    Figura 5: Os parmetros de tempo do ciclo ultradiano bsico de repouso-atividade ilustrandocomo os neurnios no crebro, quando estimulados por novidade e sinais chamativos doambiente, ativam realmente a expresso de genes dependentes de atividade, sntese de novaprotena e plasticidade cerebral (Adaptado de Kandel, 2001, 2006; Rossi, 2002a, 2004a,2007).

    As ilustraes deste captulo proporcionam um breve panorama do novo

    modelo neurocientfico do processo criativo desde a mente at o gene, que

    agora exploraremos em maiores detalhes.

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    Consequncias Criativas

    Utilizamos um novo modelo neurocientfico do processo criativo desde a

    mente at o gene.

    Facilitar nosso dilogo natural mente-crebro-gene a essncia da

    psicoterapia.

    Um ciclo completo de comunicao e cura mente-corpo leva ao redor de

    90 -120 minutos.

    As experincias psicoteraputicas podem ativar genes e plasticidade

    cerebral em uma nica sesso.

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    CAPTULO 4Expresso Gnica, Plasticidade

    Cerebral e Tempo em Psicoterapia

    Expresso gnica e plasticidade cerebral so as bases fsicas das

    transformaes naturais da mente, da conscincia e do comportamento. A

    figura 6 ilustra como novas conexes sinpticas so formadas entre os

    neurnios a cada uma ou duas horas do ciclo bsico de repouso-atividade.

    Nosso modelo neurocientfico de psicoterapia e hipnose teraputica via dilogo

    criativo com os nossos genes, utiliza estes marcos de tempo de vida

    inteiramente naturais que se desenvolveram atravs de milhes de anos de

    evoluo. Evidncia direta de expresso do gene e plasticidade cerebral

    facilitada pela psicoterapia est sendo documentada rapidamente nos dias

    atuais (Kandel, 2001; Lichtenberg et al., 2000, 2004; Rossi, 2002b, 2004b,

    2005-2006, 2007, 2008). Evidncia de envolvimento da expresso do gene e

    plasticidade cerebral em psicoterapia foi originalmente enfatizada por Eric

    Kandel (Kandel, 2001, 2006), que ganhou recentemente um Prmio Nobel por

    uma vida inteira dedicada pesquisa nesta rea. Kandel (1998) exps sua

    perspectiva da seguinte maneira:

    Se a psicoterapia ou o aconselhamento psicolgico so efetivos e

    produzem mudanas de longo prazo no comportamento,

    presumivelmente isto acontece atravs de aprendizagem,

    produzindo mudanas na expresso gnica que altera a firmeza das

    conexes sinpticas e mudanas estruturais as quais, por sua vez,alteram o padro anatmico das interconexes entre as clulas

    nervosas do crebro. medida que aumentar a resoluo de

    imagens cerebrais, isto dever eventualmente permitir avaliaes

    quantitativas do resultado da psicoterapia... Formulado de uma

    maneira simplificada, a regulao da expresso gnica por fatores

    sociais faz com que todas as funes do corpo, incluindo todas as

    funes do crebro, sejam suscetveis s influncias sociais. Estasinfluncias sociais sero incorporadas biologicamente nas

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    expresses alteradas de genes especficos, em clulas nervosas

    especficas, de regies especficas do crebro. Estas modificaes

    socialmente influenciadas so transmitidas culturalmente. Elas no

    so incorporadas no espermatozide e nem no vulo, portanto, no

    so transmitidas geneticamente. (p.460 itlico acrescentado).

    Pesquisa com tecnologias combinadas de microarraysde DNA, ressonncia

    magntica funcional (fMRI) e banco de dados bioinformticos como o Atlas

    Cerebral Allen da expresso gnica http://w.w.w.brain-atlas.org/aba/so agora

    necessrios para cumprir os requisitos da medicina baseada em evidncias,

    para a incorporao da expresso gnica e plasticidade cerebral em

    psicoterapia.

    Figura 6: As dinmicas ultradianas (tempo) da memria dependente de atividade,aprendizagem e mudanca comportamental, conforme proposto por Lscher et al., (2000).Dentro dos primeiros 10 minutos, h mudanas mensurveis na expresso gnica e naativao (fosforilao) e crescimento dos receptores que esto envolvidos na comunicaosinptica atravs dos neurotransmissores. Depois de trinta minutos, o tamanho da espinhasinptica aumenta e os receptores se transferem para a membrana ps-sinptica; isto leva a

    um aumento no tamanho da ps-sinpse. Em uma hora, algumas ps-sinpses dividem-se emduas. Isto leva por sua vez, a um novo crescimento, multiplicao e remodelagem pr-sinpticas que eventualmente criam novas redes neurais capazes de codificar memria,aprendizagem e mudana comportamental, que so a essncia da psicoterapia e de muitosoutros processos de expresso gnica dependentes de atividade, sntese protica, esinaptognese, durante experincias humanas criativas nas artes e cincias, bem como navida diria. Pesquisa sugere que so necessrios de quatro semanas a quatro meses paraestabilizar novas redes neurais capazes de codificar nova memria e aprendizagem (VanPraag et al., 2002). Este simples fato sugere os parmetros naturais de tempo para aneurocincia da psicoterapia breve e reabilitao.

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    Darwin, Evoluo, Adaptao e Tempo de Cura

    Em uma declarao insolitamente proftica de sua teoria natural de seleo da

    adaptao, Charles Darwin (1859) intuiu o que agora descrevemos como os

    parmetros naturais de tempo em psicoterapia, como segue:

    Pode-se dizer que a seleo natural est esquadrinhando, a cada

    dia, a cada hora, em todas as partes do mundo, cada variao, at a

    mais ligeira;refutando aquilo que ruim, preservando e acumulando

    tudo o que bom, trabalhando silenciosa e insensivelmente, quando

    e onde quer que se oferea uma oportunidade, na melhora de cada

    organismo em relao s suas condies orgnica e inorgnica de

    vida. No percebemos nenhuma dessas mudanas lentas no

    progresso, at que a mo do tempo tenha marcado o longo intervalo

    das eras, e to imperfeita a nossa viso da longa passagem das

    eras geolgicas, que s vemos que as formas de vida so agora

    diferentes das de antigamente(itlico adicionado aqui).

    A figura 7 ilustra o perfil da psicoterapia com a demonstraco de um processo

    criativo de quatro estgios que ocorre a cada 90 -120 minutos do ciclo-bsico-

    repouso-atividade.

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    Figura 7: Na parte superior desta figura (curva superior) ilustrado um perfil (90-120 minutos)do processo criativo de 4-estgios em psicoterapia. O perfil da protemica (protenas) na curvamdia representa o panorama de energia, para o dobramento das protenas nos neurnios docrebro, requerido para a plasticidade cerebral. Este perfil protemico surge da concordnciafuncional dos genes coexpressos ilustrados no perfil genmico abaixo dele. Esta curvagenmica representa os perfis atuais de expresso gnica, dos genes precoces de expressoimediata c-fos e 10 outros genes (alelos), durante o tpico perodo bsico de repouso-atividade

    (BRAC) de 90-120 minutos. O diagrama inferior ilustra como estas dinmicas ultradianas deconscincia so experimentadas tipicamente como Ciclo Bsico de Repouso-Atividade de 90-120 minutos de Kleitman, dentro do ciclo circadiano normal de viglia e sono (Rossi, 2002b,2004b, 2007; Rossi & Nimmons, 1991).

    A Resposta Ultradiana de Cura e a Resposta Ultradiana de Estresse

    O quadro um esboa como o processo criativo de quatro estgios pode ser

    experimentado tanto como uma resposta curativa ultradiana, quanto como

    uma resposta ultradiana de estresse. Qual resposta escolhida depende de

    nos permitirmos, ou no, desfrutar a fase natural de repouso-cura do ciclo.Propomos que o estresse crnico induzido por ignorar e pular esta fase natural

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    de repouso do Ciclo Bsico de Repouso-Atividade uma fonte primria de

    desordens psicossomticas que podem ser resolvidas mediante terapia mente-

    corpo via hipnose teraputica (Lloyd e Rossi, 1992, 2008; Rossi & Nimmons,

    1991).

    Quadro1. Uma Comparao entre as respostas Ultradianas de Cura e Estresse

    Como Escolha do Estilo de Vida (Rossi & Nimmons, 1991).

    RESPOSTA ULTRADIANA DE CURA SNDROME ULTRADIANA DE ESTRESSE

    1. Sinais de Reconhecimento

    Uma aceitao do chamado da natureza,

    para sua necessidade de repouso e

    recuperao de sua fora e bem estar,leva-o a uma experincia de conforto e

    gratido.

    1. Sinais de Fazer uma Pausa

    Uma rejeio do chamado da natureza,

    para a sua necessidade de repouso e

    recuperao de sua fora e bem estar,leva-o a uma experincia estresse e

    fadiga.

    2.Tomando uma Respirao Profunda

    Uma respirao espontnea mais

    profunda chega automaticamente aps

    alguns momentos de descanso, como

    um sinal de que voc est deslizando em

    um estado mais profundo de

    relaxamento e cura. Explore o profundosentimento de conforto que chega

    espontaneamente. Procure averiguar as

    possibilidades de comunicao e cura

    mente-gene, com uma atitude de

    compaixo desapaixonada.

    2. Aumento da Concentrao Hormonal

    Esforo contnuo frente fadiga leva

    liberao de hormnios de estresse que

    provocam um curtocircuito na

    necessidade de repouso ultradiano. O

    desempenho segue em frente expensas

    de um desgaste oculto, de tal modo quevoc cai em mais estresse e necessidade

    de estimulantes artificiais (cafena,

    nicotina, lcool, cocana etc).

    3. Cura Mente-Corpo

    Fantasia espontnea, memria,

    imaginao ativa e estados numinosos

    de ser, so orquestrados para a cura e

    re-enquadre de vida. Algumas pessoas

    tiram uma soneca.

    3. Unio de M Funo

    Aparecem muitos erros em seu

    desempenho, memria e aprendizagem;

    problemas emocionais tornam-se

    manifestos. Voc pode ficar deprimido ou

    irritado e abusivo consigo e com os

    outros.

    4.Rejuvenescimento e Despertar

    Um despertar natural com sentimentos

    de serenidade, clareza e cura juntos com

    um senso de como voc poder

    melhorar o seu desempenho e bem estarno mundo.

    4. O Corpo Rebelde

    Sintomas Psicossomticos clssicos

    agora o invadem de tal modo que voc

    finalmente tem que parar e descansar.

    Voc fica com uma sensao persistentede fracasso, de depresso e de doena.

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    A figura 8 ilustra a alternncia de domnio da hipnose teraputica durante a

    facilitao do ciclo bsico de repouso-atividade (BRAC) na terapia mente-

    corpo, em todos os nveis desde a mente at o gene. As caractersticas do

    estado inicial de excitao do BRACtm sido descritas como, hipnose de fase

    alta ou hipnose de alerta, na qual o desempenho externo no trabalho e no

    jogo pode ser timo. Isto est em contraste com a hipnose de fase baixa,

    quando a cura mente-corpo pode ser facilitada mais fcil e naturalmente.

    Observe como este contnuumnatural de atividade e repouso pode adaptar e

    resolver muitas das caractersticas aparentemente opostas das principais

    teorias de hipnose psicossocial (fase alta) e de estado especial (fase baixa).

    Ver o nmero especial do American Journal of Clinical Hypnosis (Lankton,

    2007).

    O Domnio do Trabalho Hipnoteraputico

    Tempo Caotobiolgico

    Figura 8: O domnio da hipnose teraputica que supostamente varia entre as fases alta ebaixa durante o ciclo natural bsico de repouso-atividade na cronobiologia (tempocaotobiolgico). (de Rossi, 1996).

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    Os parmetros naturais de tempo da expresso do gene e plasticidade

    cerebral so importantes em nossa escolha de estilo de vida. Podemos

    escolher ignorar nossos sinais naturais mente-corpo para atividade e descanso

    na vida cotidiana. Podemos fazer uma eleio entre a resposta ultradiana

    curativa ou resposta ultradiana de estresse, a cada duas horas ou mais, ao

    longo do dia. Estas escolhas de estilo de vida so os fundamentos

    psicobiolgicos profundos de nossa nova teoria neurocientfica da

    comunicao e cura mente-corpo da mente ao gene.

    Consequncias Criativas

    A expresso gnica e a plasticidade cerebral so as bases fsicas de

    nossas transformaes naturais da mente, conscincia e comportamento.

    A modulao da expresso gnica por fatores sociais faz com que todas

    as funes do crebro e do corpo sejam suscetveis s influncias

    sociais.

    Podemos fazer uma escolha entre a resposta ultradiana curativa ou

    resposta ultradiana de estresse por volta de cada 2 horas ao longo do

    dia.

    A Fase de Atividade do BRAC(hipnose de fase alta), que pode tornar

    timo o desempenho externo no trabalho e no jogo, alterna-se

    naturalmente com a Fase de Repouso (hipnose de fase baixa) quando a

    cura mente-corpo pode ser facilitada mais facilmente.

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    CAPTULO 5Momentos Decisivos da Vida: UmaPerspectiva Evolucionria Sobre

    Autocriao, Sonhos e MenteConstrutiva

    De nossa nova perspectiva neurocientfica, os sonhos vvidos, dramticos,

    incomuns e surpreendentes que so experimentados tipicamente durante as

    crises da vida, so manifestaes de excitao psicobiolgica profunda que

    evoca o ciclo expresso gnica/plasticidade cerebral, para re-enquadrar ereconstruir a conscincia e o comportamento de forma adaptativa e criativa. A

    figura 9 esboa as dinmicas adaptativas da cura mente-corpo durante os

    momentos decisivos da vida.

    Figura 9: As dinmicas adaptativas da cura mente-corpo durante os momentos decisivosimportantes da vida. Os sonhos vvidos, dramticos, incomuns e surpreendentes (sono REM)que so experimentados durante as crises da vida, podem ser manifestaes de umaexcitao psicobiolgica profunda que evoca o ciclo de expresso gnica/plasticidade cerebralque reenquadra e reconstri a conscincia, memria, aprendizagem e o comportamento deuma forma adaptativa e criativa. O pequeno smbolo delta (tringulo) significa que umamudana em qualquer desses quatro nveis maiores de transduo de informao mente-corpo, gera uma transformao matemtica no nvel seguinte, em uma espiral infinita dedesenvolvimentos interminveis na conscincia e na experincia humana.

    As dinmicas da figura 9 so esboadas acertadamente por Ribeiro (2004) em

    sua teoria evolucionria do sono e sonhos, conforme segue:

    Chegamos agora hiptese central da teoria, ou seja, que os

    sonhos dos mamferos so simulaes probabilsticas de eventos

    passados e expectativas futuras. A funo principal de tais

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    simulaes seria experimentar comportamentos especficos novos

    contra uma memria rplica de mundo, mais do que contra o prprio

    mundo real. Esta hiptese uma generalizao da teoria de

    simulao de ameaas dos sonhos... Sonhos podem simular aes

    que levam a um resultado desejvel e que por isso deveriam ser

    desempenhadas no mundo real, ou bem, aes que levam aos

    resultados indesejveis e que, portanto, deveriam ser evitadas no

    mundo real. (p.12).

    Como a Novidade, o Ambiente Enriquecido e o Exerccio Fsico

    Consolidam a Memria via Estruturas Cerebrais

    Ribeiro et al., (2004) resumiram sua pesquisa sobre novidade induzindo

    expresso e transcrio do gene durante os sonhos, que proporciona a base

    celular da plasticidade cerebral, conforme segue:

    A descoberta da reativao cerebral dependente-de-experincia

    [experincias destacveis diurnas de novidade, ambiente

    enriquecidoe exerccio fsico] durante o sono de ondas-lentas (SW)

    e sono de movimento-rpido-dos-olhos (REM) leva noo de que a

    consolidao de traos da memria recentemente adquirida requer

    uma repetio neural durante o sono... Nossos resultados indicam

    que a reverberao neural persistente dependente-de-experincia

    uma propriedade geral de estruturas mltiplas do crebro anterior.

    Esta no consiste de uma repetio exata. Pesquisa recente em

    neurocincia encontrou que quando experimentamos alguma

    novidade significativa, ambiente enriquecido e exerccio fsicodurante o estado de viglia, o gene Zif-268 se expressa durante o

    nosso sono REM (Ribeiro et al., 2002, 2004). O Zif-268 um gene

    precoce de expresso imediata relacionado ao estado

    comportamental que tem a funo de gerar protenas e fatores de

    crescimento facilitando a plasticidade cerebral... Concluindo, a

    reverberao neural sistemtica durante o sono de ondas lentas

    (SW), seguida imediatamente por expresso gnica relacionada complasticidade cerebral durante o sono REM (sonhos), pode ser

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    suficiente para explicar o papel benfico do sono na consolidao de

    novas memrias. (p.126 -135, itlico adicionado).

    Mais recentemente, Ribeiro et al., (2008, em impresso) revisaram a pesquisa

    que documentou como os genes arc e zif-268 so ativados para facilitar

    plasticidade cerebral, com a finalidade de codificarem experincias de vida

    novas e enriquecedoras de forma adaptativa, conforme segue.

    Em um estudo folow-up (Ribeiro et al., 2002) encontramos

    resultados similares quando a exposio a um ambiente novo foi

    substituda pela induo de potenciao de longo prazo (LTP) no

    hipocampo, um modelo neurofisiolgico de memria bem conhecido

    (Bliss e Collingridge, 1993). Nossos experimentos revelaram uma

    seqncia de trs ondas espao-temporalmente distintas de

    expresso do gene zif-268, comeando localmente no hipocampo 30

    minutos depois da estimulao, ainda durante o despertar e

    avanando at reas distais extra-hipocampais durante os dois

    episdios seguintes de sono REM. Cada onda de up-regulationdo

    zif-268 foi interrompida pelo episdio seguinte de sono de ondas

    lentas (SWS), indicando a existncia de ciclos de plasticidade

    recorrentes (intermitentes) conforme os dois estados de sono se

    alternam. Em 2005, nossos relatos de super-regulao dependente-

    de-experincia do zif-268 mRNA durante o sono REM, foram

    estendidos a outras molculas relacionadas com plasticidade por

    uma equipe de pesquisa independente. O estudo que empregou a

    prova de aprendizagem por evitao ativa como um paradigmacomportamental relacionou o sono REMe as ondas pontinas tpicas

    desse estado com a super-regulao dependente-de-experincia do

    gene arc e com os nveis de fator de crescimento derivado do

    crebro (BDNF), assim como, com o aumento de fosforilao da

    resposta cclica AMP, um elemento de vinculao da protena

    (CREB). Em 2006, um estudo do sono em moscas investigou os

    efeitos da exposio a um ambiente socialmente enriquecido sobrea expresso de genes relacionados ao sono. Os pesquisadores

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    encontraram evidncias de que o sono aumentado em moscas

    expostas a um ambiente socialmente enriquecido. Ainda mais

    importante, durante o sono, estas moscas mostraram um aumento

    de expresso em 17 genes relacionados com a memria de longo

    prazo (Ganguly-Fitzgerald et al., 2006). Mais recentemente, nossa

    equipe de pesquisa mostrou que os nveis de mRNA do zif-268e do

    gene arc eram up-regulated [aumentados] no crtex cerebral

    durante o episdio final de sono REM (Ribeiro et al., 2007).

    Tomados em conjunto, estes achados corroboram a idia de que o

    sono conecta processos ativos dependentes-de-experincia a

    plasticidade neural.

    Se no temos nenhuma experincia de vida nova ou saliente durante o dia,

    muitos destes genes precoces de expresso imediata (IEGs) como arce zif-

    268no so ativados durante o sono REMpara facilitar a plasticidade cerebral

    que gera a possibilidade de comportamentos mais adaptativos ao despertar!

    Observe que enfatizamos isto somente como uma possibilidade de

    comportamentos mais adaptativos ao despertar!. Para aumentar a

    possibilidade de tornar-se mais consciente de novas opes de

    comportamentos mais adaptativos gerados por expresso gnica e

    plasticidade cerebral durante episdios de sonhos REM, recomendamos que a

    pessoa anote cuidadosamente seus primeiros pensamentos da manh,

    imediatamente aps acordar. Geralmente, despertamos fora dos sonhos

    orientados de forma mais cognitiva que esto mais prximos do pensamento

    dirio consciente voltado para metas. Propomos que uma atitude cuidadosa,

    receptiva e meditativa, na qual acolhemos estes pensamentos matutinos queainda esto prximos da nova plasticidade cerebral gerada durante sonhos

    REMcriativos, uma prtica criativa de autocuidado e autofavorecimento que

    mais factvel de acessar e facilitar as transformaes adaptativas da

    conscincia e comportamento, que so explorados durante os nossos sonhos.

    Esta recomendao consistente com a pesquisa sobre as tradies

    meditativas que enfatizam como a primeira meditao no incio da manh

    geralmente a melhor.

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    Rossi (2005) esboou recentemente como a reverberao neural sistemtica

    durante o sono de ondas lentas (SW), seguida imediatamente por expresso

    gnica relacionada a plasticidade cerebral durante o sono REM, tal como

    relataram Ribeiro et al. (2008), pode ser um processo adaptativo importante na

    teoria da reconstruo do medo, estresse e memrias traumticas e sintomas

    via psicoterapia e hipnose teraputica. Os psicoterapeutas no mudam nem

    curam a pessoa na consulta, e sim, eles simplesmente facilitam pensamentos

    novos e experincias emocionais associadas com a possvel reconstruo da

    memria, aprendizagem, conscincia e comportamento. Mais tarde, estes

    pensamentos novos e as experincias emocionais, sero repetidos

    criativamente em dilogos entre o crtex e o hipocampo durante o sono e

    sonhos que exploram suas possibilidades adaptativas. a repetio criativa

    dos dilogos dos sonhos, que gera a expresso gnica dependente de

    atividade e plasticidade cerebral, que por sua vez levam possibilidade de

    transformar a conscincia e o comportamento o que resulta numa mudana

    adaptativa que chamada cura. Isto implica uma profunda mudana de

    nossa compreenso do significado da memria e dos sonhos como gravaes

    do passado, para o seu significado na criao de novas possibilidades

    construtivas para o futuro.

    A Orientao Futura da Memria Construtiva

    Em uma reviso recente (Rossi, Erickson-Klein & Rossi, 2008) exploramos a

    nova distino entre o futuro, sistema de memria prospectiva, investigado na

    neurocincia atual, e o passado, sistema de memria retrospectiva que foi o

    fundamento terico original da hipnose teraputica, psicanlise clssica e

    psicoterapia. Generalizamos a teoria evolucionria do sono e sonho de Ribeiroque focaliza o futuro, sistema de memria prospectiva, para conceituar uma

    nova perspectiva evolutiva em psicoterapia, hipnose teraputica e reabilitao.

    Durante 200 anos a investigao em hipnose explorou a memria em estudos

    cujo foco era a preservao e recuperao do passado. Os neurocientistas, ao

    contrrio, esto agora documentando como alguns sistemas cerebrais de

    memria e aprendizagem esto mais bem orientados para explorarpossibilidades futuras de vida do que para manter gravaes precisas do

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    passado. Agora sabemos que as memrias no so rplicas exatas do

    passado, mais do que isto, tais gravaes exatas do passado no so a

    melhor estratgia para o comportamento adaptativo no futuro. Esses cientistas

    proporcionam evidncias para uma nova teoria construtiva de como as

    memrias passadas podem ser reorganizadas em novos cenrios para um

    comportamento adaptativo atual e futuro (Gaidos, 2008; Schacter et al. 2007;

    Szpunar et al. 2007). Esta orientao futura do sistema de memria cerebral

    adaptativa e construtiva que complementar funo da memria de

    manuteno dos registros do passado, um foco importante para facilitar a

    resoluo de problemas atuais nos processos teraputicos esboados nos

    captulos 9, 10, 11 e 12.

    Consequncias Criativas

    Os sonhos podem ser repeties criativas de eventos passados que

    podem gerar futuros mais adaptativos.

    A reverberao neural sistemtica durante sono SW, seguida por

    expresso gnica relacionada com plasticidade durante os sonhos, gera

    nossas transformaes naturais da mente e do comportamento.

    A expresso gnica e a plasticidade cerebral consolidam a reconstruo

    do medo, estresse e memrias traumticas, e sintomas via psicoterapia e

    hipnose teraputica.

    A orientao futura do sistema de memria construtiva do crebro

    utilizada para facilitar a criao de uma nova identidade e resoluo de

    problemas via processos teraputicos esboados a seguir.

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    CAPTULO 6Neurnios Espelho, Empatia & Conflito:Arte, Verdade e Beleza Via Expresso

    do Gene e Plasticidade Cerebral

    Pesquisa recente em neurocincia documentou a atividade dos neurnios

    espelho, em primatas e seres humanos, funcionando como um mecanismo

    potencial neural para a empatia por meio do qual entendemos os outros

    reproduzindo como um espelho sua atividade cerebral (Miller, 2005, p.946).

    Esta base neural de empatia confirmada pela pesquisa sobre as disfunes

    nos sistemas espelho de humanos com autismo e na pesquisa com fMRI

    projetada para avaliar empatia emocional. Tal pesquisa sobre empatia em

    nvel neurale confianaem nvel genmicoe hormonal(Kosfeld et al., 2005)

    consistente com as descries de rapport a relao emptica entre

    terapeuta e paciente que tem sido usada como explicao principal para os

    diversos fenmenos clssicos de hipnose por mais de 200 anos.

    importante perceber como esta relao concatenada em mltiplos nveis de

    rapport, em pelo menos quatro niveis (molecular-genmico, hormonal, neural e

    experimental) um novo modelo para todas as experincias psicossociais

    complexas, cujo aspecto subjetivo tornou-as aparentemente refratrias

    mensurao objetivae ao estudo cientfico no passado. Esta compreenso de

    rapport inteiramente consistente com a nossa viso de mundo da

    neurocincia que esboa como a concordncia funcional das famlias de

    genes coexpressas segundo a medio realizada com microarrays de DNA

    pode converter-se em um novo enfoque cientfico, para quantificar os diversos

    estados subjetivos de conscincia, criatividade e processamento implcito

    privado durante a psicoterapia, hipnose teraputica e reabilitao (Rossi,

    2007).

    A histria da hipnose que comeou com Mesmer rica em relatos da eficcia

    especial da hipnose teraputica quando experimentada em grupos e emdemonstraes de hipnose de palco, onde a pessoa imita, replica e reproduz

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    os papis de conduta de outros (Tinterow, 1970). Erickson descreve como ele

    pode determinar se uma pessoa ser um bom sujeito hipntico avaliando sua

    resposta ou comportamento natural de ateno em uma entrevista inicial

    (Erickson, Haley e Weakland, 1959). Agora necessrio pesquisa para

    determinar em que grau tal resposta de atenoreflete realmente a atividade

    dos neurnios espelho na vida diria, assim como em nossas escalas

    padronizadas de susceptibilidade hipntica.

    Especulamos que o uso por Erickson das tcnicas de pantomima

    provavelmente seja mediado pelos neurnios espelho. Erickson s vezes

    rodeava um sujeito resistente com sujeitos altamente sugestionveis, para

    induzir a hipnose; agora reconhecemos isto como uma utilizao do princpio

    simples dos neurnios espelho, o macaco v, o macaco faz. Agora

    reconhecemos que o estudo dos sistemas espelho do crebro far para a

    psicologia o que o estudo do DNA fez para a biologia (Miller, 2005, p. 945).

    Desta perspectiva da nova neurocincia, podemos entender as interaes

    psicossociais entre terapeuta, sujeito e grupos em psicoterapia e hipnose

    teraputica, como treinamentos empticos mtuos em nveis da expresso

    gnica, plasticidade cerebral e neurnios espelho.

    Agora podemos entender como a capacidade do sujeito para pensar e sentir

    com as palavras, metforas, histrias e heursticos de processamento

    implcito do terapeuta, em psicoterapia e hipnose teraputica, pode ser uma

    medida de susceptibilidade hipntica via atividade dos neurnios espelho.

    Igualmente, as aes dos contadores de histrias, cantores, bailarinas,

    oradores, atores e polticos de todas as classes para mexer com a audinciaso realmente heursticos de processamento implcito que evocam a

    expresso gnica e a plasticidade cerebral. Todas as interaes psicossociais

    profundamente significativas entre pessoas amigos, casais, famlias, grupos

    de interesses especiais, comunidades e naes esto utilizando heursticos

    de processamento implcito para envolver-se e harmonizar-se mutuamente no

    nvel da expresso gnica e plasticidade cerebral via neurnios espelho. Agora

    podemos apreciar melhor como eventos destrutivos externos de guerra e caospodem traumatizar e estressar os indivduos at a perda de suas estruturas

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    psicossociais nos nveis fundamentais da expresso gnica, plasticidade

    cerebral e sade mente-corpo.

    Propomos que a pesquisa neurocientfica sobre os neurnios espelho est

    oferecendo um novo fundamento emprico para explorao dos processos

    fundamentais de empatia em psicoterapia, transferncia em psicanlise e

    rapport(relao de confiana) em hipnose teraputica. Na verdade h muitas

    evidncias para sugerir que pesquisa sobre neurnios espelho ir clarear uma

    ampla gama de experincias humanas desde as dinmicas do inconsciente

    (Rossi, 2007) at a cognio social (Iacoboni, 2008). Cremos que um

    funcionamento timo dos neurnios espelho seja um fator fundamental no

    talento de todos os que trabalham com psicologia, particularmente

    psicoterapeutas.

    Neurnios Espelho, Desenvolvimento da Linguagem e Conflito Emocional

    Crespi (2007) descreve uma nova perspectiva evolutiva dos neurnios espelho

    e da experincia humana do conflito no nvel genmico, da seguinte maneira:

    A origem da fala e da linguagem indiscutivelmente a transio

    mais importante na evoluo dos humanos modernos... com base na

    anlise das mudanas gentico-evolutivas e neurolgicas que foram

    concomitantes s origens do ser humano moderno. Esta estrutura

    est fundamentada no sistema de neurnios espelho, dos humanos

    e primatas relacionados, que proporciona um substrato neural bem

    caracterizado (isto , o mesmo conjunto de neurnios pr-motores

    que dispara quando algum observa ou escuta o movimento ou somfeito pelo outro indivduo, tambm dispara quando o prprio

    indivduo faz um movimento ou emite um som) por uma aparente

    transio evolutiva na linhagem humana de gestos, para gestos com

    articulaes at articulaes que so livres de gestos.

    Evidncias obtidas por meio de ressonncia magntica funcional,

    estudos de expresso do gene, associaes fentipo-gentipo e aevoluo molecular de FOXP2 implicam este gene na evoluo

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    adaptativa dos sistemas de neurnios espelho nos humanos e, na

    origem da fala articulada. O que pode nos dizer o desenho funcional

    de FOXP2 e o do sistema de neurnios espelho, a respeito das

    presses seletivas envolvidas na origem da linguagem humana? ...

    A hiptese de que a fala articulada e a linguagem humana

    evoluram, ao menos parcialmente, no contexto do conflito

    genmico, tambm apoiada por: (i) evidncia do imprinting de

    FOXP1 que interage com FOXP2 no desenvolvimento inicial do

    crebro; (ii) o papel de FOXP2 nas vocalizaes ultra-snicas das

    crias de ratas que exibem caractersticas complexas interativas,

    indicativas de comunicao me-cria; e (iii) a conexo das variantes

    dos alelos de FOXP2 no autismo e esquizofrenia, duas desordens

    do crebro social e lingstico cujo desenvolvimento mediado pelo

    sistema de neurnios espelho e pelos efeitos do imprinting (as

    referncias citadas no original so omitidas aqui).

    Crespi chama a ateno para o fato de que sua hiptese evolutiva oferece um

    contexto seletivo de novidade para uma transio chave na origem dos

    humanos modernos. Coloca o conflito em nvel genmico como uma fonte de

    Darwinismo neural (Edelman, 1987, 1992). Esta literatura cientfica sobre

    atividade em nvel genmico em neurnios espelho, acrescenta mais suporte

    cientfico para o nosso modelo de expresso gnica e plasticidade cerebral em

    psicoterapia, hipnose teraputica e reabilitao apresentado aqui. tambm,

    uma lembrana de que os conflitos humanos so aspectos inerentes ao

    estgio dois do processo criativo, conforme foi ilustrado nas figuras sete e dez.

    Uma Nova Teoria da Arte, Beleza e Verdade nas Relaes Humanas

    Especulamos que a neurocincia dos neurnios espelho implica uma nova

    teoria da arte, beleza e verdade, ilustrada na figura dez (Rossi, 2004b, 2007).

    A figura 10 ilustra como o princpio o macaco v, o macaco faz dos neurnios

    espelho constri pontes entre as metforas religiosas psico-espirituais detodas as culturas desde a mente at a expresso do gene e plasticidade

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    cerebral. A figura 10 apresenta, em um simples olhar, nossa viso de mundo

    especulativa da genmica psicossocial e cura mente-corpo. Experincias

    numinosas de arte, beleza e verdade, so experincias positivas precisamente

    porque geram reconstruo criativa dependente de atividade da mente-crebro

    em nvel molecular genmico de plasticidade cerebral e psicossocial.

    Buscamos construir pontes entre nossas experincias numinosas de arte e

    autocriao em todos os nveis desde a mente at o gene, como fundamento

    para uma nova abordagem bioinformtica em medicina, psicoterapia e

    reabilitao.

    Figura 10: Os neurnios espelho nas dinmicas adaptativas de nossa nova teoria dacriatividade na arte, verdade e beleza que consistente com nossa perspectiva daneurocincia em psicoterapia e hipnose teraputica (Rossi, 2004b, 2007; Rossi & Rossi,

    2006). O pequeno smbolo delta (tringulo) significa que uma mudana em qualquer destesquatro nveis maiores de transduo de informao mente-corpo gera uma transformaomatemtica no nvel seguinte, em uma espiral infinita de desenvolvimentos interminveis naconscincia e experincia humanas.

    Estudemos a figura dez cuidadosamente para apreciar as profundas

    implicaes de nossa integrao da natureza dependente de atividade dos

    neurnios espelho, na gerao da expresso gnica dependente de atividade

    e plasticidade cerebral durante as fases numinosas de conscincia criativa,

    experincia psicossocial e cura. Observe em particular, o pequeno smbolodelta (tringulo) indicando como qualquer mudana nestes quatro nveis

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    maiores da mente-corpo pode ser descrita mediante transformaes

    matemticasno nvel seguinte, em uma espiral infinita de desenvolvimentos

    interminveis, na conscincia e experincia humana. No jargo dos

    matemticos estas transformaes so chamadas de equaes diferenciais.

    Ainda que no pensemos realizar o desenvolvimento matemtico aqui,

    importante compreender o valor destas transformaes matemticas porque

    levam a uma resoluo prtica da chamada dicotomia entre a mente e o

    corpo tornada famosa pelo filsofo Ren Descartes (1596-1650). Propomos

    que estas transformaes matemticas so, em ltima instncia, as descries

    mais econmicas de como os enfoques teraputicos psicossociais delineados

    neste pequeno livro, na melhor das circunstncias, podem facilitar nossos

    modelos naturais de conscincia, comunicao e cura entre a mente e o gene.

    O brilhante fsico Frank Wilczek (2008) que ganhou um Prmio Nobel pela

    pesquisa realizada quando tinha 21 anos, nos ajuda a compreender tais

    transformaes matemticas como a melhor maneira de compreenso final da

    realidade. Nas citaes seguintes ser til recordar que o aspecto dependente

    de atividade da menteque ativa a expresso do gene dependente-de-atividade

    e plasticidade cerebral uma atividade, uma energia que estende uma ponte

    sobre a chamada brecha Cartesiana entre a informao da mentee a massa

    do corpo.

    O conceito de energia muito mais central na fsica moderna, do

    que o conceito de massa. Isto se mostra de muitas maneiras. a

    energia no a massa que verdadeiramente conservada. a

    energia que aparece em nossas equaes tradicionais, tais como, aequao de Boltzsman para a mecnica estatstica, a equao de

    Schrdinger para a mecnica quntica e a equao de Einstein para

    a gravidade. A massa aparece de um modo mais tcnico, como uma

    etiqueta ou representao irredutvel do grupo de Poincar. (nem

    tentarei explicar esta afirmao afortunadamente, s o fato de

    afirm-la expressa o ponto).

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    A questo de Einstein, portanto, apresenta um desafio. Se

    pudermos explicar a massa em termos de energia, estaremos

    melhorando nossa descrio de mundo. Precisaremos de menos

    ingredientes para nossa receita de mundo. A primeira lei de Einstein

    naturalmente, Energia = M x C . Esta primeira lei to famosa

    sugere a possibilidade de obter grandes quantidades de energia a

    partir de uma pequena quantidade de massa. (p.20).

    Wilczek segue explicando como as estruturas finais da natureza dentro dos

    ncleos dos tomos so os quarks e os gluons. A citao seguinte

    importante para aumentar nossa compreenso de informao da mente como

    bits (os bits so as menores unidades de informao binria) e do corpo

    como its fsicos.

    Portanto, os quarkse gluonsso bits em outro sentido muito mais

    profundo, o sentido que usamos quando falamos de bits de

    informao. Com um alcance que qualitativamente novo na

    cincia, so idias materializadas(p.33, itlico no original).

    Gluonsso objetos que obedecem as equaes de gluons. Os its

    so os bits. (p.34).

    E a temos: A estrutura final da matria ou massa na fsica moderna foi

    dissolvida nas transformaes matemticas da mente, energia e informao

    dentro dos neurnios espelho de nossa mente. Isto invoca a pergunta: Se as

    matemticas tm sido descritas como A Rainha das Cincias, quem seria oseu consorte, O Rei das Cincias?

    A Regra de Ouro:

    Neurnios Espelho em uma Nova Teoria da tica

    Propomos agora que os neurnios espelho assumem um importante papel em

    uma nova teoria da tica. O princpio filosfico central da tica de Emmanuel

    Kant o Imperativo Categrico Supremo. A maioria das tradies espirituaisdescreve o imperativo categrico supremo de Kant como A Regra de Ouro:

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    Faa aos outros, o que queres que os outros faam a ti. Aqui tomamos

    emprestada uma pgina da histria e o humor da filosofia de Cathcart e Klein

    (2007, p.85-86) que traa a pista da regra de ouro at suas fontes nas

    tradies religiosas.

    HINDUISMO (Sculo XIII A.C.)

    No faas aos outros, o que no queres que faam a ti.

    Este o Dharma inteiro. Observa-o bem.

    -O Mahabharata

    JUDAISMO (Sculo XIII A.C.)

    Aquilo que insuportvel para ti, no o faa ao teu vizinho.

    Este o Torah inteiro;

    O resto comentrio; aprende-o.

    -O Talmud Babilnico

    ZOROASTRISMO (Sculo XII A.C.)

    A natureza humana s boa quando no se faz

    aos outros o que no bom para si mesmo.

    - O Dadistan-i-Dinikk

    BUDISMO (Sculo VI A.C.)

    No ofendas aos outros do modo que tu prprio ficarias ofendido.

    - O DhammapadaTibetano

    CONFUCIONISMO (Sculo VI A.C.)No faas aos outros o que no queres que seja feito a ti.

    - Confcio, Analectos

    ISL (Sculo VII D.C.)

    Nenhum de vocs um crente at que desejem ao prximo o que desejam a si

    prprios.

    -O Sunnah, de O Hadith

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    BAHI (Sculo XIX D.C.)

    No atribuas a nenhuma alma aquilo que no tenhas atribudo a ti mesmo, e

    no digas aquilo que no fazes.

    Este o meu mandamento para ti, obedece-o.

    -Bah allh, As Palavras Ocultas.

    SOPRANOISMO (Sculo XXI D.C.)

    Espanca o prximo com o mesmo respeito que voc gostaria de ser

    espancado, entende?

    -Tony Soprano, Episdio Doze.

    Propomos que nosso reconhecimento universal do valor da regra de ouro se

    faz possvel pela atividade emptica e ideodinmica de nosso sistema de

    neurnios espelho. A teoria da ao ideodinmica da hipnose teraputica foi

    descrita como uma idia ativadora de psicodinmicaem todos os nveis desde

    a mente at a expresso do gene e plasticidade cerebral (Rossi, 2007, captulo

    treze). Os valores da regra de ouro podem ser facilitados com aproximaes

    teraputicas ideodinmicas tais como O Processo Criativo de Quatro Estgios

    com Reflexo de Mos que esboamos nos ltimos captulos deste livro. Estas

    aproximaes teraputicas so operativas em muitos nveis autoreferenciais,

    tanto no cliente quanto no terapeuta, assim como entre eles. No sentido mais

    profundo a psicoterapia no simplesmente um processo no qual o terapeuta

    ensina, dirige ou sugere coisas ao cliente. Na melhor das circunstncias, os

    sistemas de neurnios espelho de ambos, terapeuta e cliente, estosimultaneamente ativos em sincronia emptica um com o outro. Esta a regra

    de ouro da psicoterapia: O que os terapeutas dizem aos seus clientes, tambm

    o esto dizendo a si mesmos. Insightscriativos, cura e resoluo do problema,

    atravs de experincias novas de expresso do gene e plasticidade cerebral,

    so mediados por processos mtuos de desenvolvimento e autocura internos,

    dentro e entre os sistemas de neurnios espelho do cliente e do terapeuta.

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    Consequncias Criativas

    Os neurnios espelho so os mediadores da empatiaem psicoterapia, da

    transfernciaem psicanlise e do rapportem hipnose teraputica.

    Os neurnios espelho so os mediadores dos relacionamentos empticos

    e criativos auto-referenciais dentro e entre terapeutas e clientes em todos

    os nveis, desde a mente at o gene.

    As experincias numinosas de arte, beleza e verdade so experincias

    positivas precisamente porque elas geram a reconstruo criativa

    dependente de atividade da mente-crebro em nveis molecular-

    genmico, de plasticidade cerebral e nvel psicolgico.

    Buscamos construir pontes entre nossas experincias numinosas de arte

    e autocriao, em todos os nveis desde a mente at o gene e a tica,

    como o fundamento para uma nova abordagem psicobioinformticaem

    medicina, psicoterapia e reabilitao.

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    CAPTULO 7Um Interldio Musical

    A Forma de Sonata do ProcessoCriativo de Quatro Estgios

    Por que temos msica? A experincia psicolgica e o significado da msica

    tm estado sob intenso exame nos ltimos anos (Patel, 2008). Neste captulo

    propomos como a msica pode ser uma expresso do processo criativo de

    quatro estgios em todos os nveis desde a mente at a molcula. A msica

    um exemplo claro de como a arte, a beleza e a verdade podem ser

    experincias criativas que facilitam o desenvolvimento e as transformaes da

    conscincia e do comportamento em nossa vida diria.

    Os estudantes que apreciam msica observaro a semelhana entre o ciclo

    criativo de quatro estgios perfilado antes na figura sete e as quatro partes da

    forma de sonataclssica perfilada na figura onze. O termo forma de sonata

    refere-se ao primeiro movimento de uma sinfonia. O movimento rpido de

    abertura de uma sinfonia clssica (sonata-allegro), por exemplo, est

    usualmente em forma de sonata. A forma de sonata tem trs seces

    principais (exposio, desenvolvimento e recapitulao) que so

    frequentemente seguidas por um quarto movimento concludente chamado

    coda. A forma de sonata ilustra como compositores do perodo clssico

    (1750-1820) tais como Hayden, Mozart, Beethoven e seus seguidores

    expressaram o conflitohumano, a crisee, a sua resoluoatravs da msica

    por mais de 200 anos (Kamien, 2006).

    Figura 11: Este perfil dos quatro estgios da forma de sonata na msica clssica ilustra comoas artes criativas (dana, drama, msica, mito, poesia, cano, histrias etc.) podem sercompreendidas como modalidades de atuao para a repetio teraputica, reconstruo e re-

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    enquadramento de experincias humanas negativas em perspectivas positivas que muitasculturas consideram curativas ou teraputicas. As experincias numinosas de arte, beleza everdade so experincias positivas precisamente porque geram a reconstruo criativadependente de atividade da mente-crebro em nveis molecular-genmico, de plasticidadecerebral e nvel psicolgico(Rossi, 2002a, 2004b; Rossi & Carrer, 2005; Erickson 1958/2007).

    Como a Forma de Sonata da Msica Clssica

    Representa o Processo Criativo de Quatro Estgios

    A forma de sonata, que representa aproximadamente 20 a 45 minutos da

    sinfonia clssica, geralmente conduzida em trs ou quatro movimentos.

    Kamien (2006, p.163-164) descreve a forma de sonata nas citaes que

    seguem:

    A surpreendente durao e vitalidade da forma de sonata resultade sua capacidade dramtica. A forma se move de uma situao

    estvel at o conflito (na exposio) chega a uma tenso

    aumentada (no desenvolvimento), e logo volta estabilidade e

    resoluo do conflito.

    Isto nos recorda o processo criativo em psicoterapia. Propomos que a durao

    e a vitalidade da forma de sonata por mais de 200 anos, vem de suaintegrao da experincia humana criativa desde cognio e emoo at o

    nvel molecular-genmico.

    Estgio Um: Exposio

    A exposio prepara um forte conflito entre a chave tnica e a nova

    chave. Comea com o primeiro tema na chave tnica inicial. Segue

    com uma ponte, ou transio, que leva ao segundo tema, em umanova chave.

    O primeiro estgio da forma de sonata corresponde ao Estgio Um do

    Processo Criativo quando o paciente e o terapeuta buscam identificar o

    problema (primeiro tema) e as mudanas de vida do Estgio Dois (segundo

    tema) que esto na origem dos conflitos do paciente.

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    Estgio Dois: Desenvolvimento

    O desenvolvimento frequentemente a seco mais dramtica do

    movimento. O ouvinte pode perder o equilbrio medida que a

    msica se move agitadamente atravs de vrias chaves diferentes.

    Atravs destas rpidas modulaes a tenso harmnica se eleva.

    Nesta seco os temas so desenvolvidos ou tratados de novas

    formas. Quebram-se em fragmentos, ou motivos, que so idias

    musicais curtas desenvolvidas dentro da composio. Um motivo

    pode assumir significados emocionais diferentes e inesperados.

    Esta segunda parte da forma de sonata corresponde ao Estgio Dois, o

    estgio de incubao do Processo Criativo, com seus conflitos caractersticos,

    emoes negativas e sintomas.

    Estgio Trs: Recapitulao

    O comeo da recapitulao traz a resoluo, quando ouvimos

    novamente o primeiro tema na chave tnica... Inicialmente, na

    exposio, houve um forte contraste entre o primeiro tema na chave

    inicial, e o segundo tema e seco de fechamento em uma nova

    chave; esta tenso resolvida na recapitulao....

    Esta terceira seco da forma de sonata corresponde obviamente ao Estgio

    Trs do Processo Criativo quando h uma resoluo inicial do conflito, do

    problema e dos sintomas do Estgio Dois.

    Estgio Quatro: CodaUm sentimento ainda mais poderoso obtido ao continuar a

    recapitulao com mais uma seco. A coda arremata um

    movimento, repetindo temas ou desenvolvendo-os mais. Ela

    sempre termina na chave tnica (inicial).

    Esta quarta, e ltima parte da forma de sonata corresponde ao Estgio Quatro

    do Processo Criativo em psicoterapia quando o paciente volta para casa paraexperimentar na vida real, novas solues para os problemas e sintomas

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    47

    encontrados no Estgio Trs. (Todas as citaes so de Kamien, 2006, p.163-

    164).

    A integrao das perspectivas musical e psicolgica da forma de sonata foi

    descrita curiosamente por Sullivan (1927) em seu breve e clarividente livro:

    Beethoven: Seu Desenvolvimento Espiritual. Neste pequeno livro Sullivan

    prope uma teoria da revelao na arte e conscincia elevada que

    Beethoven experimentou compondo seus ltimos quartetos de cordas.

    A forma de sonata de quatro movimentos corresponde a um

    processo psicolgico muito fundamental e geral que a razo pela

    qual ele considerado to satisfatrio e tem sido empregado

    frequentemente. O esquema geral de um primeiro movimento,

    representando geralmente algum tipo de conflito, seguido por um

    movimento lento, meditativo ou reconfortante, e este por uma

    seco que facilita o caminho para uma exposio final vigorosa,

    para uma concluso obtida, , em suas linhas principais, adaptada

    admirvelmente para exibir um processo psicolgico importante e

    recorrente. As histrias de vida de muitos processos psicolgicos

    maiores podem acomodar-se dentro desta estrutura. Mas, nos

    quartetos que estamos discutindo, a experincia de Beethoven no

    poderia ser apresentada dessa forma. A conexo entre os diversos

    movimentos , no conjunto, mais orgnica que a forma de sonata

    de quatro movimentos. Nestes quartetos como se os movimentos

    irradiassem de uma experincia central. Eles no representam

    estgios dentro de uma viagem, sendo cada estgio independente eexistindo por direito prprio. Representam experincias separadas,

    mas, o significado que adquirem no quarteto derivado da sua

    relao com uma experincia dominante. Isto caracterstico da

    viso mstica, para a qual tudo no mundo parece unificado luz de

    uma experincia fundamental. Nestes quartetos Beethoven no

    est nos descrevendo uma histria espiritual, ele est nos

    apresentando uma viso de vida. Em cada quarteto so observados

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    muitos elementos, mas a partir de um foco central. (p. 153-154,

    itlico adicionado).

    Desse modo uma obra de arte pode transmitir conhecimento. Ela

    pode na verdade ser uma revelao. A conscincia mais elevada

    do grande artista evidencia-se no s pela capacidade de ordenar a

    prpria experincia, mas tambm, pela capacidade de ter a sua

    experincia. Seu mundo pode diferir do mundo do homem comum,

    assim como o mundo do homem comum, difere do mundo do co,

    no s pela proporo do seu contato com a realidade, como

    tambm, pela sua capacidade superior para organiz-lo.

    Continuamos mantendo ento a teoria da revelao da arte. Na

    verdade como crticos nossa funo torn-la mais explcita. A arte

    mais elevada tem uma funo transcendental tal como a cincia. Ao

    dizer isto, entretanto, devemos ser cuidadosos para distinguir entre

    estas funes. (p. 15-16).

    Os quatro estgios da forma de sonata, segundo descrito por muitos

    estudiosos de msica clssica (Kamien, 2006; Rosen, 1988, 1997; Sullivan,

    1927) e ilustrado na figura 11 so exemplos chamativos de como as artes

    criativas podem ser entendidas como modalidades de atuao que realizam

    um trabalho psicolgico (Haukappe & Bongartz, 1992; Unterwegner, Lamas &

    Bongartz, 1992). O que este trabalho psicolgico? As vrias formas de

    expresso artstica (cinema, dana, drama, literatura, msica, mito, poesia,

    canes, histrias etc.) so trabalhos psicolgicos em nveis implcitos

    (inconscientes) de repetio, reconstruo e reenquadramento teraputico dasexperincias humanas negativas (estressantes), em recursos internos

    positivos que muitas culturas chamam de cura, teraputica ou sabedoria.

    As experincias numinosas de arte, beleza e verdade tornam-se experincias

    positivas quando a ativao do estresse da novidade, inicialmente

    surpreendente e inesperado, gera reconstruo criativa dependente de

    atividade da mente-crebro, em nvel molecular-genmico, de plasticidade

    cerebral, e nvel psicolgico (Rossi, 2002, 2004a, 2004b e 2005a).

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    Em conjunto as figuras sete e onze ilustram como as artes criativas so

    modalidades de atuao para a repetio, reconstruo e transformao

    teraputica de experincias humanas negativas, em perspectivas positivas.

    Uma funo primria da cultura desempenhar rituais curativos e

    teraputicos que levem integrao social e sabedoria. a profunda

    excitao psicobiolgica do estresse, luta e conflito durante os estgios um e

    dois do processo criativo que gera a reconstruo criativa dependente de

    atividade da mente-crebro em nveis molecular-genmico e de plasticidade

    cerebral que experimentada como positiva e feliz nos novos estgios trs e

    quatro. As experincias numinosas de arte, beleza e verdade so experincias

    positivas dos estgios trs e quatro do processo criativo que so

    experimentadas depois do estresse e do difcil trabalho dos estgios um e

    dois. Arte, beleza e verdade so experincias criativas em nvel psicolgico

    que correspondem expresso gnica e plasticidade cerebral em nvel

    molecular e neural no crebro, particularmente, durante o estgio trs do ciclo

    criativo. Os captulos seguintes esboam alguns processos criativos que

    desenvolvemos para favorecer o desenvolvimento psicolgico em psicoterapia.

    Consequncias Criativas

    A experincia psicolgica e o significado da msica podem ser

    expresses do processo criativo de quatro estgios em todos os nveis

    desde a mente at a molcula.

    Os compositores do perodo clssico (1750-1820) tais como Hayden,

    Mozart e Beethoven expressaram o conflito humano, crise e sua

    resoluono processo criativo de quatro estgios da forma de sonata.

    Msica que evoca profunda excitao psicobiolgica de estresse, de lutae conflito durante os estgios um e dois do processo criativo pode facilitar

    a reconstruo criativa dependente de atividade da mente-crebro em

    nveis molecular-genmico e de plasticidade cerebral que so

    experimentados como feliz e positivo nos novos estgios trs e quatro.

    necessria investigao futura para avaliar se a msica e outras artes

    podem facilitar a revelao de uma conscincia mais elevada que possa

    otimizar a expresso do gene e a plasticidade cerebral.

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    CAPTULO 8Psicoterapia Criativa de Quatro

    Estgios: Construindo a Mente Futura

    O processo criativo de quatro estgios em psicoterapia tem uma longa histria.

    Ele tem sua fonte de origem nos sonhos e mitos das eras, assim como, nas

    abordagens recentes que investigam o processo criativo, a psicoterapia e a

    hipnose teraputica (Rossi 1972/2000). Leonardo da Vinci descreveu

    originalmente sete caractersticas do processo criativo: Curiosit

    Dimostrazione Sensazione Sfumato Arte/Scienza Corporalit

    Connessione. Sculos de introspeco dos trabalhadores criativos, assim

    como, a pesquisa em psicologia e a neurocincia moderna, simplificaram e

    condensaram estas sete caractersticas num Processo Criativo de Quatro

    Estgios que fcil, para que a maior parte das pessoas possa aprender a

    favorecer suas mentes construtivas (Rossi, 2002a, 2004a; Sandkhler &

    Bhattacharya, 2008).

    Integrao dos Sete Princpios do Processo Criativo de Leonardo da

    Vinci com a Neurocincia Moderna

    Estgio 1: Preparao, Coleta de Dados: curiosit e sensazione

    Agora se sabe que qualquer estado psicolgico de excitao intensa tais

    como: traumas, dor, estresse, novidade, sonhos (sono REM), e momentos

    criativos na vida cotidiana, assim como artes e cincias podem iniciar a

    atividade dos Genes Precoces de Expresso Imediata, Genes Dependentesde Atividade (Experincia), e Genes Relacionados ao Estado Comportamental,

    em nosso crebro e corpo. Nossos genes no esto sempre em um estado

    ativo; os genes tm que ser estimulados na vida cotidiana por fatores

    ambientais internos e externos e psicossociaispara gerar protenas que so as

    mquinas moleculares da vida que realizam o trabalho criativo. O estgio um

    do processo criativo inclui os princpios de curiosit e sensazionede Leonardo

    da Vinci. As sensaes estimulam a atividade neural e curiosidade, e o desejo

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    de aprender mais, que nos transportam para jornadas externas e internas de

    descoberta e autocriao profundamente motivadoras.

    Estgio 2: Incubao: dimostrazione e sfumato

    Em suas demonstraes docentes de psicoterapia para estudantes e

    profissionais, Rossi levanta a hiptese de como a Expresso dos Genes

    Precoces de Expresso Imediata, Genes Dependentes de Atividade e Genes

    Relacionados ao Estado Comportamental podem estar ocorrendo durante a

    resoluo criativa de um problema. Frequentemente o estgio de incubao

    caracterizado por um estado moderado de confuso, estresse e at de

    sintomas psicossomticos. Este estgio frequentemente corresponde ao

    principio de dimostrazionede Leonardo. Temos que descobrir por ns mesmos

    aquilo em que acreditamos. Precisamos olhar para as coisas por perspectivas

    diferentes e aprender a partir de nossos erros. O principio de sfumato de

    Leonardo tem uma gradao de significados, desde a traduo literal de

    fumaa, que vai gradualmente diminuindo, muito suave, sombreado e, o mais

    popularmente dito: tornar-se nada ou ir-se com a fumaa, esvair-se, anular-

    se. O conceito de sfumato caracteriza frequentemente a difcil transio do

    estgio 2 para o estgio 3 do processo criativo.

    Estgio 3: Iluminao: arte/scienza, corporalit e connessione

    Este o momento criativo muito gratificante, experimentado nas artes e nas

    cincias assim como em psicoterapia. Este estgio a experincia inicial

    daquilo que Leonard