8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
1/91
1
Instituto Milton H. Erickson da Costa Central da Califrnia
ANOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
HIPNOSE TERAPUTICA&REABILITAO:
UM DILOGO CRIATIVO COM NOSSOS GENES
Ernest Lawrence Rossi, Ph.D. & Khatryn Lane Rossi, Ph.D.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
2/91
2
Copyright 2008
by
Ernest Lawrence Rossi, Ph.D. & Khatryn Lane Rossi, Ph.D.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzidaem qualquer forma, em sua totalidade ou em parte (exceto para citaes
breves e artigos crticos ou revises), sem permisso por escrito dos autores.
Publicado por:
Ernest Lawrence Rossi, Ph.D. & Khatryn Lane Rossi, Ph.D.
125 Howard Avenue
Los Osos CA 93402
USA
www.ErnestRossi.com
Email: [email protected]
Email: [email protected]
Verso 2.0, Setembro 2008
Edio Brasileira (2009) Traduzida por:
Maria Lcia Lacal Cox DAvila
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
3/91
3
Tabela de Contedo
CAPTULO 1
Uma Introduo ao Dr. Milton H. Erickson (1901 1980) 05
CAPTULO 2Fontes Histricas da Nova Neurocincia em Psicoterapia,Hipnose Teraputica e Reabilitao 09
CAPTULO 3Um Novo Modelo Neurocientfico do Processo Criativo deQuatro Estgios nas Humanidades, Cincia e Psicoterapia 12
CAPTULO 4Expresso Gnica, Plasticidade Cerebral e Tempoem Psicoterapia 21
CAPTULO 5Momentos Decisivos da Vida: Uma Perspectiva EvolucionriaSobre Autocriao, Sonhos e Mente Construtiva 28
CAPTULO 6Neurnios Espelho, Empatia & Conflito:Arte, Verdade e Beleza Via Expresso do Gene e PlasticidadeCerebral 34
CAPTULO 7Um Interldio MusicalA Forma de Sonata do Processo Criativo de Quatro Estgios 44
CAPTULO 8Psicoterapia Criativa de Quatro Estgios: Construindoa Mente Futura 50
CAPTULO 9
Processo Teraputico # 1O Processo Criativo de Quatro Estgios com Reflexo de Mos 61
CAPTULO 10Processo Teraputico # 2A Facilitao Psicoteraputica da Clareza e Fora 64
CAPTULO 11Processo Teraputico # 3Facilitando a Conscincia e a Criatividade pela Integraodos Opostos 67
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
4/91
4
CAPTULO 12Processo Teraputico # 4A Alegre Busca do Sintoma para a Cura Mente-Corpo 71
CAPTULO 13
EpigenticaA Genmica Psicossocial da Expresso do Gene ePlasticidade Cerebral 75
CAPTULO 14Avaliao do Workshop & Forma de Pesquisa 80
Referncias Bibliogrficas 81
Tabela de Figuras & Quadros
Figura 1: Vinheta do Clssico Processo Criativo de Quatro Estgios...........................12
Figura 2: Um Perfil do Crebro Humano durante Perodos Offline de Sono..............15
Figura 3: O Homnculo Sensrio-Motor Humano Mente-Corpo...................................16
Figura 4: Quatro Nveis de Domnio Psicobiolgico da Psicoterapia, Hipnose,
Teraputica e Reabilitao.............................................................................17
Figura 5: Ilustrao Neural dos Parmetros de Tempo do BRAC Ultradiano...............19
Figura 6: Parmetros de Tempo da Diviso das Clulas............................................. 22
Figura 7: Um Perfil (90 -120 minutos) do Processo Criativo de Quatro Estgios.........24
Quadro 1: Uma Comparao entre as respostas Ultradianas de Cura e Estresse........25
Figura 8: Domnio do Trabalho Hipnoteraputico: Fases Alta e Baixa..........................26
Figura 9:Dinmicas Adaptativas Durante Transies da Vida........................... .........28
Figura 10: Neurnios Espelho nas Dinmicas Adaptativas.............................................38
Figura 11: O Esboo dos Quatro Estgios da Forma Musical de Sonata.......................44
Figura 12: Processo Teraputico # 1: Reflexo de Mos............................................62-63
Figura 13: Processo Teraputico # 2: Beatitude de Buda Sem Medo....................65-66
Figura 14: Processo Teraputico # 3: Integrando os Opostos...................................69-70
Figura 15: Processo Teraputico # 4: Transformando Sintomas em Sinais..............72-73
Figura 16: Influncia do Grupo Social na Expresso do Gene e
Plasticidade cerebral......................................................................................75
Quadro 2: Modulao Mental da Expresso do Gene em Leuccitos Humanos...........78
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
5/91
5
CAPTULO 1Uma Introduo ao
Dr. Milton H. Erikson (1901 1980)
Milton H. Erickson, foi descrito como um dos psicoterapeutas mais influentes
de todos os tempos em um recente levantamento feito pelo The
Psychotherapy Networker (Maro 2006). Em psicoterapia, Milton H. Erickson
est colocado entre os 10 terapeutas mais importantes ao lado de Sigmund
Freud, Carl Jung e outros. Apresentamos aqui uma breve descrio de
Erikson, escrita uma gerao aps a sua morte.
Apesar de tudo o que se tem escrito sobre Milton Erickson e dos
esforos diligentes de tantos para entenderem o que ele fez em
terapia e porque funcionou to extraordinariamente bem, um ar de
mistrio rodeia o seu trabalho at agora. Pouco depois da morte de
Erickson, Jay Haley, um discpulo seu durante 20 anos, disse: No
passa um s dia, sem que utilize em meu trabalho algo que tenha
aprendido com Erickson. At hoje s compreendo em parte as
idias bsicas dele. A imagem de Erickson que emerge no campo
a de um mago da terapia, possuidor de um poder pessoal
irresistvel.
Ele no era o tipo de pessoa com a qual voc pudesse
simplesmente sentar-se para conversar, recorda Jeffrey Zeig. Ele
estava sistematicamente trabalhando, sistematicamente sendoMilton Erickson, o que supunha ter-se a experincia mais profunda
possvel, com qualquer pessoa que estivesse sentada a sua frente.
Neste sentido, ele era continuamente hipntico, continuamente
teraputico, continuamente didtico.
Talvez isto se deva ao seu estado fsico que exigia de Erickson um
foco completo de todas as suas faculdades. Dislxico, surdo paraos tons, daltnico, propenso a vertigens e desorientao, atacado
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
6/91
6
pela plio aos 17anos e novamente aos 51, passou os ltimos 13
anos de sua vida (perodo em que muitos dos seus estudantes mais
famosos o conheceram), confinado em uma cadeira de rodas.
Enquanto ele tentava modelar a flexibilidade e os mtodos verbais
sutis que havia passado uma vida inteira desenvolvendo, isso era
feito com os lbios parcialmente paralisados e a lngua deslocada.
Ainda mais, como disse Haley, o homem trabalhava 10 horas por
dia, seis ou sete dias por semana, conduzindo terapia... Cada fim
de semana, ou estava vendo seus pacientes, ou na estrada
ensinando. Zeig acrescenta: O mais impressionante em Erickson
era o tempo e a energia que ele parecia emanar. Uma vez que
aceitasse algum como paciente ele faria literalmente qualquer
coisa que pudesse para ajudar essa pessoa. Se fosses um cliente
de Erickson sentirias que ele estava totalmente focalizado em ti.
Erickson passou meio sculo desenvolvendo uma teoria
enormemente sutil de padres de reconhecimento em mltiplos
nveis que esteve quase que totalmente em desacordo com a
terapia das principais correntes de seu tempo. As enfermidades,
dizia Erickson, tanto se so psicognicas quanto orgnicas,
seguem padres definidos de alguma espcie, particularmente no
campo das desordens psicognicas. Um rompimento desse padro
pode ser uma medida muito teraputica, e frequentemente pouco
importa quo pequena seja esta ruptura, se ela for introduzida
suficientemente cedo.
Ele descobriu que a maioria das regras da vida que determinam
as limitaes humanas eram crenas arbitrrias e no fatos. Seu
estudo primoroso da hipnose o ensinou que os estados alterados da
mente e o transe eram muito mais uma parte do funcionamento
cotidiano. Esta compreenso escreveu Ernest Rossi, formou os
princpios subjacentes de seus estudos posteriores em
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
7/91
7
psicopatologia, assim como, o desenvolvimento dos enfoques
naturalista e de utilizao em hipnose teraputica.
Tais insights foram fundamentais para a abordagem de Erickson,
contudo ele no buscou uma teoria definitiva para deix-la como um
legado. Erickson no tinha um mtodo fixo, apontou Haley. Se um
procedimento no funciona, ele tenta outros at que um o faa. Isto
o que ele enfatizava para os seus estudantes, aconselhando uma
atitude elevada de receptividade no contaminada por idias pr-
concebidas em relao a frmulas. Erickson fez esta colocao da
seguinte maneira: Eu no pretendo estruturar minha psicoterapia
mais do que de um modo vago, geral. E nesse modo vago, geral, o
paciente a estrutura... de acordo com as suas prprias
necessidades... A primeira considerao ao tratar os pacientes
dar-se conta de que cada um deles um indivduo... Assim, no
tente encaix-los em seu conceito de como eles deveriam ser...
Voc pode tentar descobrir, o que o conceito do prprio paciente
parece ser... No a quantidade de tempo. No a teoria da
terapia. como chegar personalidade da pessoa dizendo a coisa
certa no tempo certo.
Mais palavras de sabedoria de Erickson: Confie no seu
inconsciente. uma maneira deliciosa de se viver, uma maneira
deliciosa de conseguir coisas. E, No tente usar a tcnica de
qualquer outro... Apenas descubra a sua prpria.
Cremos que estas palavras, No tente usar a tcnica de qualquer outro...
apenas descubra a sua prpria, so muito importantes para terapeutas que
desejam aprender consigo prprios, tal como Erickson. Terapeutas geralmente
aprendem por ensaio e erro as maneiras pelas quais suas personalidades
nicas podem ser mais eficientes para ajudar os outros. Isto requer de cada
psicoterapeuta, coragem, persistncia e honestidade. Pode ser uma tarefa
solitria aprender a fazer isto.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
8/91
8
Quem pode saber melhor do que voc, voc mesmo, quando voc melhor e
mais eficiente para ajudar os outros? Isto requer cuidado e autorreflexo
contnua acerca do que se est fazendo. No h duas pessoas exatamente
iguais. Duas sesses teraputicas no podem ser exatamente iguais. Cada
sesso teraputica uma criao nica, uma pea nica de
autodesenvolvimento, na gnese de uma nova conscincia da prpria
identidade, no paciente e no terapeuta. Esperamos que nossa empatia,
compreenso e eficcia teraputica cresam a cada encontro humano dia
aps dia.
Este ensaio para profissionais licenciados apresenta uma nova perspectiva
neurocientfica sobre psicoterapia, hipnose teraputica e reabilitao atravs
de dilogos extremamente pessoais e criativos com os nossos genes. Embora
esta apresentao esteja implcita em muito da investigao que citaremos,
ser necessrio realizar muitas outras pesquisas para estabelecer sua
validade cientfica e eficcia teraputica. Delineamos uma srie de processos
experimentais como guias heursticos para o trabalho teraputico. Estes no
so, todavia, mtodos validados para mudana de comportamento, por
enquanto. Ao invs, nossas abordagens devem ser consideradas como formas
pessoais de autodesenvolvimento nas artes humansticas, autobiografia, e
meditao. Elas podem ser teis na criao de uma nova conscincia,
autoconhecimento e autocuidado que so de valor para os indivduos que as
praticam, mas, no so prescries mdicas ou psicolgicas para todo mundo.
Ns comeamos com uma reviso breve de alguns de nossos enfoques
criativos na histria das artes, medicina e psicoterapia, assim como na
neurocincia em evoluo.
Consequncias Criativas
Aprender com os outros s o comeo.
Cada terapeuta deve desenvolver seus prprios talentos especiais.
Esforo criativo dirio necessrio para otimizar as habilidades
teraputicas.
Cada sesso teraputica uma criao nica.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
9/91
9
CAPTULO 2Fontes Histricas da Nova Neurocinciaem Psicoterapia, Hipnose Teraputica
e Reabilitao
As primeiras fontes de psicoterapia e hipnose teraputica tm incio h quase
300 anos com a defesa de Anton Mesmer de sua tese mdica Dissertatio
Physico-Medica de Planetarum Influxu, em 27 de maio de 1766. Este foi o
perodo do filsofo suo Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), quando
aconteceram enfrentamentos filosficos entre as vises mecanicista e
naturalista da natureza humana. Rousseau acreditava que os homens
experimentavam estgios de desenvolvimento e que o exerccio das
habilidades mentais facilitava o crescimento do crebro. Charles Bonnet (1720-
1793), um naturalista experimental conhecedor das idias de Rousseau,
props ao cientista italiano Michele Vicenzo Malacarne (1744 -1816) que os
neurnios podiam responder aos exerccios tal como o fazem os msculos.
Malacarne (1793,1819), ento, realizou experimentos com littermates de
pssaros e ces. Ele observou que aqueles que eram expostos a ambientes
enriquecidos e treinamento intensivo tinham os crebros maiores! Este
experimento foi o precursor da moderna investigao em neurocincia,
documentando como a novidade, o exerccio, o treinamento e a focalizao
voluntria da ateno, podem facilitar o crescimento e a reorganizao das
redes neurais do crebro. Este o fundamento das nossas concepes atuais,
de como a expresso gnica e a plasticidade cerebral podem facilitar o
desenvolvimento humano e a cura em psicoterapia, hipnose teraputica e
reabilitao (Rosenzweig, 1996; Rosenzweig et al., 1962; Renner &
Rosenzweig, 1987).
A fisiologia da fascinao em hipnose teraputica,
psicoterapia e neurocincia moderna
Mdicos pioneiros como Anton Mesmer (1734-1815) e James Braid, MD
(1795-1860), que originalmente exploraram a hipnose teraputica como ummtodo de cura possuam apenas uma pequena compreenso de como ela
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
10/91
10
realmente funcionava. Por exemplo, a definio de hipnotismo de James Braid
em seu livro A Fisiologia da Fascinao, de 1855, diz o seguinte:
Com a inteno de simplificar o estudo das aes recprocas e
reaes da mente e da matria, uma sobre a outra..., a condio
(hipntica) surge de influncias existentes dentro do prprio corpo
do paciente, isto , a influncia da ateno concentrada, ou idias
dominantes, modificando a ao fsica, e estas mudanas
dinmicas reagindo sobre a mente do sujeito. Eu adotei o termo
hipnotismo ou sono nervoso para este processo... E finalmente,
como um termo genrico, compreendendo a totalidade destes
fenmenos que resultam das aes recprocas da mente e matria
uma sobre a outra, eu acredito no existir termo mais apropriado do
que psicofisiologia(Braid, 1855).
Atualmente acredita-se que Braid realmente inventou o termo psicofisiologia
para descrever como a mente e a matria interagem para facilitar a cura
mente-corpo via hipnose teraputica (Tinterow, 1972). Ainda hoje, 150 anos
depois, no bem compreendido como a psicofisiologia opera na terapia
mente-corpo. De modo geral, no h departamentos reconhecidos de hipnose
teraputica ou terapia mente-corpo, em nossas universidades ou escolas de
medicina que realizem pesquisa sistemtica destas terapias. Durante a
gerao passada, entretanto, a nova disciplina da neurocincia emergiu como
um advento das novas tecnologias para a investigao cientfica dos
relacionamentos naturais entre a mente e o corpo, que Erickson (1958/2008,
1958/2008) chamou de suas tcnicas de hipnose naturalista e de utilizao.A imagem de ressonncia magntica funcional (fMRI), os microarraysde DNA,
e bancos de dados bioinformticos de DNA, por exemplo, tornaram possvel
uma grande quantidade de pesquisas que revisaremos brevemente para
atualizar nossa compreenso em hipnose teraputica, psicoterapia e
reabilitao.
Resumiremos cuidadosamente as implicaes da neurocincia atual em umasrie de figuras que ilustram as vias de comunicao mente-corpo que
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
11/91
11
utilizamos em nosso trabalho teraputico. Depois ilustraremos algumas
abordagens inovadoras fceis de aprender e praticar em workshops
profissionais para terapeutas licenciados. Temos ensinado os enfoques,
naturalista e de utilizao de Erickson em workshopsprofissionais atravs
do mundo por mais de 40 anos. Apresentamos alguns deles neste ensaio, em
esboos cuidadosamente estruturados e especificamente programados para
profissionais licenciados (Rossi, 2002a, 2004a). Ilustramos como eles so
suscetveis de infinitas variaes para terapeutas mais experimentados.
Atravs destes exerccios prticos chamaremos a ateno agora, onde
necessrio, mais pesquisa para preencher os critrios da medicina baseada
em evidncias (EBT). Na verdade, ns o convidamos para cooperar conosco
em um programa de pesquisa aberto, de nvel internacional (Rossi, Rossi,
Yount, Cozzolino & Iannotti, 2006). O prmio Ernest R. e Josephine R. Hilgard,
da Sociedade de Hipnose Clnica e Experimentalao melhor artigo terico em
2001, revisa a base cientfica dos enfoques criativos que delineamos (Rossi,
2000). Exposies mais detalhadas podem ser encontradas em manuais
(Rossi, 2002, 2002b, 2004a, 2007), vdeos e CDs, disponveis na Fundao
Milton H. Erickson (Erickson, Rossi, Erickson-Klein & Rossi, 2008), assim
como em publicaes profissionais pioneiras em hipnose criativa (Bloom,
1990).
Consequncias criativas
A novidade, o exerccio, o treinamento e a ateno focalizada podem
facilitar o crescimento do crebro.
A condio hipntica surge das influncias que existem dentro dopaciente.
As implicaes da neurocincia so uma nova base de pesquisa para a
psicoterapia.
Os enfoques naturalista e de utilizao de Erickson so destinados a
profissionais licenciados.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
12/91
12
CAPTULO 3Um Novo Modelo Neurocientfico do
Processo Criativo de Quatro Estgiosnas Humanidades, Cincia e
Psicoterapia
Uma vinheta do clssico processo criativo de quatro estgios apresentada na
figura um, ilustrando um estudante empenhado em demonstrar um teorema
matemtico (Tomlin, 2005). Os dois primeiros painis representam o Estgio
Um do processo criativo onde as rodas comeam a girar na mente, e oestudante comea a fazer diagramas e a escrever equaes tentando resolver
o problema.
Figura 1: O processo criativo de quatro estgios. O Estgio Um consiste de partir de uma idiae comear a trabalhar em um problema. O Estgio Dois a experincia s vezes difcil, de lutae conflito tentando resolver o problema. O Estgio Trs o momento criativo no qual sealcana um flash ou insight de compreenso profunda. O Estgio Quatro a verificaofeliz da soluo do problema. (Com autorizao, Tomlin, 2005).
Como tpico de muitos dos esforos para resolver problemas da vida
cotidiana, o estudante logo se encontra em dificuldade. Ele se sente
bloqueado no Estgio Dois do processo criativo, quando seu conflito
emocional e desespero so evidentes no painel do meio humoristicamente
mostrando fumaa se elevando do seu crebro fervendo. O Estgio Trs do
processo criativo ilustrado no painel seguinte como um flash de luz
rodeando sua cabea. Ele est to surpreso por seu novo insightcriativo quedeixa cair seu lpis! O Estgio Quatro do processo criativo evidente quando
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
13/91
13
ele sorri feliz com seu sucesso e exclama: Mgico!. O saber popular da cura
em psicoterapia e hipnose teraputica tem sido descrito frequentemente como
magia. Mas como funciona esta magia? Esboaremos aqui um novo modelo
neurocientfico de como a chamada magia pode operar na vida cotidiana
normal em nossos sonhos, e em psicoterapia como um dilogo criativo com os
nossos genes.
A Repetio do Dilogo Criativo Mente-Crebro-Gene
Como Essncia da Psicoterapia
A Figura dois ilustra um perfil do crebro humano com um corte mostrando
detalhes do hipocampo, a parte do crebro que a primeira a gravar a
memria daquilo que experimentamos como novo e surpreendente. O
hipocampo, entretanto, apenas um lugar de descanso temporrio para a
gravao da nova memria, aprendizagem e comportamento. Mais tarde
durante os chamados perodos offline de sono, sonhos e descanso, quando a
mente consciente no est ativamente ocupada com enfrentar as realidades
externas, o hipocampo e o crebro se empenham em um dilogo para
atualizar, repetir e consolidar a nova experincia de vida de um modo
adaptativo.
Lisman & Morris (2001) descrevem este dilogo de atualizao conforme
segue:
...a informao sensorial recentemente adquirida canalizada
atravs do crtex at o hipocampo. Surpreendentemente s o
hipocampo aprende realmente neste momento diz-se que ele est
online. Mais tarde, quando o hipocampo est offline (provavelmentedurante o sono), repete a informao armazenada, transmitindo-a
ao crtex. O crtex considerado um aprendiz lento, capaz de
armazenar memrias duradouras somente como um resultado da
repetio da informao do hipocampo. Na opinio de alguns, o
hipocampo apenas um armazm temporrio de memrias uma
vez que os traos de memria se estabilizem no crtex, as
memrias podem ser acessadas at mesmo quando o hipocampo removido. Atualmente h evidncia direta de que alguma forma de
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
14/91
14
repetio ocorre no hipocampo... Estes resultados apiam a idia
de que o hipocampo o aprendiz veloz online que ensina ao
crtex, aprendiz mais lento offline. (p. 248-249, itlico
acrescentado).
Este dilogo de atualizao que transcorre em nvel implcito ou
inconsciente a essncia do nosso novo modelo neurocientfico de
criatividade em psicoterapia. Ele s parece uma espcie de magia oculta
nossa mente consciente, quando despertamos do sono, sonho e de estados
profundos de focalizao interna. Surpreendemo-nos ao perceber que
sabemos algo novo. Como logo veremos a repetio criativa de experincias
de vida significativa, adaptativa e de novidade, entre o crtex e o hipocampo,
o processo de vida bsico que buscamos facilitar em psicoterapia, hipnose
teraputica e reabilitao. Este dilogo psicobiolgico inteiramente natural
o processo essencial que tentamos facilitar com sugesto criativa em nosso
novo modelo teraputico neurocientfico de sugesto teraputica. Desta nova
perspectiva neurocientfica pode-se descrever melhor as sugestes
teraputicas como heursticos de processamento implcito que facilitam o
dilogo natural entre o hipocampo e o crtex como ilustrado na Figura dois.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
15/91
15
Figura 2: Um perfil do crebro humano durante os perodos offline de sono, sonhos edescanso, quando o hipocampo e o crtex entabulam um dilogo (setas azuis) para repetir,atualizar e consolidar a nova memria e aprendizagem (Atualizado por Rossi, 2002a). Estedilogo psicobiolgico inteiramente natural o processo essencial que tentamos imitar,facilitar e utilizar em nosso novo modelo neurocientfico dos heursticos de processamentoimplcito.
O Crebro Humano e as Zonas de Rapport
da Psicoterapia e Hipnose Teraputica
A Figura trs ilustra algumas das zonas de rapport no crtex cerebral, que
acreditamos serem as reas reais do crebro humano, efetivamente,
envolvidas nos dilogos criativos em psicoterapia e hipnose teraputica (Rossi
& Rossi, 2006).
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
16/91
16
Figura 3: O homnculo sensrio-motor humano mente-corpo. O tamanho descomunal dasmos e a anatomia dos lbios, lngua e face refletem reas extremamente grandes do crebroque a evoluo selecionou para mapear estas duas reas importantes de comunicao ecompreenso (Adaptado de Penfield & Rasmussen, 1950). A- Homnculo sensorial postulado como sendo ativado em um conjunto de zonas rapport via processos ideo-sensoriais da hipnose teraputica. B- Homculo motor - postulado como sendo ativado emum conjunto de zonas rapport durante processos ideo-motores da hipnose teraputica.
Comunicao mente-corpoO ciclo Bsico de Repouso-Atividade (BRAC)
Os marcos de tempo no lado direito da figura quatro ilustram outro aspecto
profundamente importante da terapia mente-corpo. A comunicao mente-
corpo, via sistema nervoso, ocorre quase que instantaneamente, em milsimos
de segundos. Entretanto, o fluxo da comunicao mente-corpo, via
mensageiros moleculares, tais como hormnios na circulao sangunea
atravs do corpo, requer cerca de um minuto. Quando estes sinais sorecebidos pelas clulas, muitos deles so transmitidos ao ncleo da clula
onde ativam a transcrio gnica (expresso gnica).
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
17/91
17
Figura 4: Quatro nveis de domnio psicobiolgico da psicoterapia, hipnose teraputica ereabilitao. (1) A informao do mundo exterior codificada nos neurnios do crtex cerebral transformada dentro do sistema lmbico-hipotalmico-pituitrio em molculas mensageiras queviajam atravs da circulao sangunea para levar informao aos receptores das clulas docrebro e do corpo. (2) Os receptores da superfcie (membrana) da clula transmitem o sinal,via segundos mensageiros, para o ncleo da clula, onde genes precoces de expressoimediata comunicam a outros genes alvos para transcreverem seu cdigo em RNAsmensageiros. (3) Os RNAs mensageiros servem como moldes, para a sntese de protenas,que funcionaro como: (a) estruturas finais altamente curativas do corpo, (b) como enzimaspara facilitar as dinmicas energticas, e (c) como receptores e molculas mensageiras paraas dinmicas informativas da clula. (4) As molculas mensageiras funcionam como um tipo
de memria molecular que pode evocar memria dependente de estado, aprendizagem ecomportamento nas redes neurais do crebro. (ilustrado na seqncia retangular de letras deA at L). (Extrado de Rossi, 2002a, 2004a, 2007).
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
18/91
18
Os genes expressam um cdigo de DNA para fabricar protenas que so
mquinas moleculares que realizam a cura fsica na terapia mente-corpo.
Como ilustrado na figura quatro, um ciclo completo de comunicao e curamente-corpo assim como atividades e atuaes da vida diria levam cerca
de 90 -120 minutos Este intervalo de tempo algumas vezes chamado um
Ciclo Ultradiano (em contraste ao Ciclo Circadiano ou ciclo dirio de 24
horas). Em cronobiologia (a biologia do tempo) chamado tambm Ciclo
Bsico de Repouso-Atividade (BRAC) (Lloyd & Rossi, 1992, 2008). Isto
significa que uma unidade fundamental de comunicao, em terapia mente-
corpo, pode iniciar e ser concluda dentro dos parmetros de tempo tpicos de
uma nica sesso de psicoterapia ou hipnose teraputica. digno de nota que
Milton H. Erickson (Erickson, Rossi, Erickson-Klein, Rossi, 2008), geralmente
considerado um dos psicoterapeutas mais inovadores de nosso tempo,
conduzia suas sesses de hipnose teraputica por cerca de 90 -120 minutos.
O funcionamento do BRACdentro de um nico neurnio do crebro ilustrado
na figura cinco. As experincias de vida, novas, surpreendentes e inesperadas
podem ativar os genes dependentes de atividade importantes para a
produo das protenas que geram o crescimento e as transformaes das
conexes sinpticas entre os neurnios, o que descrito como plasticidade
cerebral(Rossi, 2000, 2004a, 2007).
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
19/91
19
Figura 5: Os parmetros de tempo do ciclo ultradiano bsico de repouso-atividade ilustrandocomo os neurnios no crebro, quando estimulados por novidade e sinais chamativos doambiente, ativam realmente a expresso de genes dependentes de atividade, sntese de novaprotena e plasticidade cerebral (Adaptado de Kandel, 2001, 2006; Rossi, 2002a, 2004a,2007).
As ilustraes deste captulo proporcionam um breve panorama do novo
modelo neurocientfico do processo criativo desde a mente at o gene, que
agora exploraremos em maiores detalhes.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
20/91
20
Consequncias Criativas
Utilizamos um novo modelo neurocientfico do processo criativo desde a
mente at o gene.
Facilitar nosso dilogo natural mente-crebro-gene a essncia da
psicoterapia.
Um ciclo completo de comunicao e cura mente-corpo leva ao redor de
90 -120 minutos.
As experincias psicoteraputicas podem ativar genes e plasticidade
cerebral em uma nica sesso.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
21/91
21
CAPTULO 4Expresso Gnica, Plasticidade
Cerebral e Tempo em Psicoterapia
Expresso gnica e plasticidade cerebral so as bases fsicas das
transformaes naturais da mente, da conscincia e do comportamento. A
figura 6 ilustra como novas conexes sinpticas so formadas entre os
neurnios a cada uma ou duas horas do ciclo bsico de repouso-atividade.
Nosso modelo neurocientfico de psicoterapia e hipnose teraputica via dilogo
criativo com os nossos genes, utiliza estes marcos de tempo de vida
inteiramente naturais que se desenvolveram atravs de milhes de anos de
evoluo. Evidncia direta de expresso do gene e plasticidade cerebral
facilitada pela psicoterapia est sendo documentada rapidamente nos dias
atuais (Kandel, 2001; Lichtenberg et al., 2000, 2004; Rossi, 2002b, 2004b,
2005-2006, 2007, 2008). Evidncia de envolvimento da expresso do gene e
plasticidade cerebral em psicoterapia foi originalmente enfatizada por Eric
Kandel (Kandel, 2001, 2006), que ganhou recentemente um Prmio Nobel por
uma vida inteira dedicada pesquisa nesta rea. Kandel (1998) exps sua
perspectiva da seguinte maneira:
Se a psicoterapia ou o aconselhamento psicolgico so efetivos e
produzem mudanas de longo prazo no comportamento,
presumivelmente isto acontece atravs de aprendizagem,
produzindo mudanas na expresso gnica que altera a firmeza das
conexes sinpticas e mudanas estruturais as quais, por sua vez,alteram o padro anatmico das interconexes entre as clulas
nervosas do crebro. medida que aumentar a resoluo de
imagens cerebrais, isto dever eventualmente permitir avaliaes
quantitativas do resultado da psicoterapia... Formulado de uma
maneira simplificada, a regulao da expresso gnica por fatores
sociais faz com que todas as funes do corpo, incluindo todas as
funes do crebro, sejam suscetveis s influncias sociais. Estasinfluncias sociais sero incorporadas biologicamente nas
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
22/91
22
expresses alteradas de genes especficos, em clulas nervosas
especficas, de regies especficas do crebro. Estas modificaes
socialmente influenciadas so transmitidas culturalmente. Elas no
so incorporadas no espermatozide e nem no vulo, portanto, no
so transmitidas geneticamente. (p.460 itlico acrescentado).
Pesquisa com tecnologias combinadas de microarraysde DNA, ressonncia
magntica funcional (fMRI) e banco de dados bioinformticos como o Atlas
Cerebral Allen da expresso gnica http://w.w.w.brain-atlas.org/aba/so agora
necessrios para cumprir os requisitos da medicina baseada em evidncias,
para a incorporao da expresso gnica e plasticidade cerebral em
psicoterapia.
Figura 6: As dinmicas ultradianas (tempo) da memria dependente de atividade,aprendizagem e mudanca comportamental, conforme proposto por Lscher et al., (2000).Dentro dos primeiros 10 minutos, h mudanas mensurveis na expresso gnica e naativao (fosforilao) e crescimento dos receptores que esto envolvidos na comunicaosinptica atravs dos neurotransmissores. Depois de trinta minutos, o tamanho da espinhasinptica aumenta e os receptores se transferem para a membrana ps-sinptica; isto leva a
um aumento no tamanho da ps-sinpse. Em uma hora, algumas ps-sinpses dividem-se emduas. Isto leva por sua vez, a um novo crescimento, multiplicao e remodelagem pr-sinpticas que eventualmente criam novas redes neurais capazes de codificar memria,aprendizagem e mudana comportamental, que so a essncia da psicoterapia e de muitosoutros processos de expresso gnica dependentes de atividade, sntese protica, esinaptognese, durante experincias humanas criativas nas artes e cincias, bem como navida diria. Pesquisa sugere que so necessrios de quatro semanas a quatro meses paraestabilizar novas redes neurais capazes de codificar nova memria e aprendizagem (VanPraag et al., 2002). Este simples fato sugere os parmetros naturais de tempo para aneurocincia da psicoterapia breve e reabilitao.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
23/91
23
Darwin, Evoluo, Adaptao e Tempo de Cura
Em uma declarao insolitamente proftica de sua teoria natural de seleo da
adaptao, Charles Darwin (1859) intuiu o que agora descrevemos como os
parmetros naturais de tempo em psicoterapia, como segue:
Pode-se dizer que a seleo natural est esquadrinhando, a cada
dia, a cada hora, em todas as partes do mundo, cada variao, at a
mais ligeira;refutando aquilo que ruim, preservando e acumulando
tudo o que bom, trabalhando silenciosa e insensivelmente, quando
e onde quer que se oferea uma oportunidade, na melhora de cada
organismo em relao s suas condies orgnica e inorgnica de
vida. No percebemos nenhuma dessas mudanas lentas no
progresso, at que a mo do tempo tenha marcado o longo intervalo
das eras, e to imperfeita a nossa viso da longa passagem das
eras geolgicas, que s vemos que as formas de vida so agora
diferentes das de antigamente(itlico adicionado aqui).
A figura 7 ilustra o perfil da psicoterapia com a demonstraco de um processo
criativo de quatro estgios que ocorre a cada 90 -120 minutos do ciclo-bsico-
repouso-atividade.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
24/91
24
Figura 7: Na parte superior desta figura (curva superior) ilustrado um perfil (90-120 minutos)do processo criativo de 4-estgios em psicoterapia. O perfil da protemica (protenas) na curvamdia representa o panorama de energia, para o dobramento das protenas nos neurnios docrebro, requerido para a plasticidade cerebral. Este perfil protemico surge da concordnciafuncional dos genes coexpressos ilustrados no perfil genmico abaixo dele. Esta curvagenmica representa os perfis atuais de expresso gnica, dos genes precoces de expressoimediata c-fos e 10 outros genes (alelos), durante o tpico perodo bsico de repouso-atividade
(BRAC) de 90-120 minutos. O diagrama inferior ilustra como estas dinmicas ultradianas deconscincia so experimentadas tipicamente como Ciclo Bsico de Repouso-Atividade de 90-120 minutos de Kleitman, dentro do ciclo circadiano normal de viglia e sono (Rossi, 2002b,2004b, 2007; Rossi & Nimmons, 1991).
A Resposta Ultradiana de Cura e a Resposta Ultradiana de Estresse
O quadro um esboa como o processo criativo de quatro estgios pode ser
experimentado tanto como uma resposta curativa ultradiana, quanto como
uma resposta ultradiana de estresse. Qual resposta escolhida depende de
nos permitirmos, ou no, desfrutar a fase natural de repouso-cura do ciclo.Propomos que o estresse crnico induzido por ignorar e pular esta fase natural
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
25/91
25
de repouso do Ciclo Bsico de Repouso-Atividade uma fonte primria de
desordens psicossomticas que podem ser resolvidas mediante terapia mente-
corpo via hipnose teraputica (Lloyd e Rossi, 1992, 2008; Rossi & Nimmons,
1991).
Quadro1. Uma Comparao entre as respostas Ultradianas de Cura e Estresse
Como Escolha do Estilo de Vida (Rossi & Nimmons, 1991).
RESPOSTA ULTRADIANA DE CURA SNDROME ULTRADIANA DE ESTRESSE
1. Sinais de Reconhecimento
Uma aceitao do chamado da natureza,
para sua necessidade de repouso e
recuperao de sua fora e bem estar,leva-o a uma experincia de conforto e
gratido.
1. Sinais de Fazer uma Pausa
Uma rejeio do chamado da natureza,
para a sua necessidade de repouso e
recuperao de sua fora e bem estar,leva-o a uma experincia estresse e
fadiga.
2.Tomando uma Respirao Profunda
Uma respirao espontnea mais
profunda chega automaticamente aps
alguns momentos de descanso, como
um sinal de que voc est deslizando em
um estado mais profundo de
relaxamento e cura. Explore o profundosentimento de conforto que chega
espontaneamente. Procure averiguar as
possibilidades de comunicao e cura
mente-gene, com uma atitude de
compaixo desapaixonada.
2. Aumento da Concentrao Hormonal
Esforo contnuo frente fadiga leva
liberao de hormnios de estresse que
provocam um curtocircuito na
necessidade de repouso ultradiano. O
desempenho segue em frente expensas
de um desgaste oculto, de tal modo quevoc cai em mais estresse e necessidade
de estimulantes artificiais (cafena,
nicotina, lcool, cocana etc).
3. Cura Mente-Corpo
Fantasia espontnea, memria,
imaginao ativa e estados numinosos
de ser, so orquestrados para a cura e
re-enquadre de vida. Algumas pessoas
tiram uma soneca.
3. Unio de M Funo
Aparecem muitos erros em seu
desempenho, memria e aprendizagem;
problemas emocionais tornam-se
manifestos. Voc pode ficar deprimido ou
irritado e abusivo consigo e com os
outros.
4.Rejuvenescimento e Despertar
Um despertar natural com sentimentos
de serenidade, clareza e cura juntos com
um senso de como voc poder
melhorar o seu desempenho e bem estarno mundo.
4. O Corpo Rebelde
Sintomas Psicossomticos clssicos
agora o invadem de tal modo que voc
finalmente tem que parar e descansar.
Voc fica com uma sensao persistentede fracasso, de depresso e de doena.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
26/91
26
A figura 8 ilustra a alternncia de domnio da hipnose teraputica durante a
facilitao do ciclo bsico de repouso-atividade (BRAC) na terapia mente-
corpo, em todos os nveis desde a mente at o gene. As caractersticas do
estado inicial de excitao do BRACtm sido descritas como, hipnose de fase
alta ou hipnose de alerta, na qual o desempenho externo no trabalho e no
jogo pode ser timo. Isto est em contraste com a hipnose de fase baixa,
quando a cura mente-corpo pode ser facilitada mais fcil e naturalmente.
Observe como este contnuumnatural de atividade e repouso pode adaptar e
resolver muitas das caractersticas aparentemente opostas das principais
teorias de hipnose psicossocial (fase alta) e de estado especial (fase baixa).
Ver o nmero especial do American Journal of Clinical Hypnosis (Lankton,
2007).
O Domnio do Trabalho Hipnoteraputico
Tempo Caotobiolgico
Figura 8: O domnio da hipnose teraputica que supostamente varia entre as fases alta ebaixa durante o ciclo natural bsico de repouso-atividade na cronobiologia (tempocaotobiolgico). (de Rossi, 1996).
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
27/91
27
Os parmetros naturais de tempo da expresso do gene e plasticidade
cerebral so importantes em nossa escolha de estilo de vida. Podemos
escolher ignorar nossos sinais naturais mente-corpo para atividade e descanso
na vida cotidiana. Podemos fazer uma eleio entre a resposta ultradiana
curativa ou resposta ultradiana de estresse, a cada duas horas ou mais, ao
longo do dia. Estas escolhas de estilo de vida so os fundamentos
psicobiolgicos profundos de nossa nova teoria neurocientfica da
comunicao e cura mente-corpo da mente ao gene.
Consequncias Criativas
A expresso gnica e a plasticidade cerebral so as bases fsicas de
nossas transformaes naturais da mente, conscincia e comportamento.
A modulao da expresso gnica por fatores sociais faz com que todas
as funes do crebro e do corpo sejam suscetveis s influncias
sociais.
Podemos fazer uma escolha entre a resposta ultradiana curativa ou
resposta ultradiana de estresse por volta de cada 2 horas ao longo do
dia.
A Fase de Atividade do BRAC(hipnose de fase alta), que pode tornar
timo o desempenho externo no trabalho e no jogo, alterna-se
naturalmente com a Fase de Repouso (hipnose de fase baixa) quando a
cura mente-corpo pode ser facilitada mais facilmente.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
28/91
28
CAPTULO 5Momentos Decisivos da Vida: UmaPerspectiva Evolucionria Sobre
Autocriao, Sonhos e MenteConstrutiva
De nossa nova perspectiva neurocientfica, os sonhos vvidos, dramticos,
incomuns e surpreendentes que so experimentados tipicamente durante as
crises da vida, so manifestaes de excitao psicobiolgica profunda que
evoca o ciclo expresso gnica/plasticidade cerebral, para re-enquadrar ereconstruir a conscincia e o comportamento de forma adaptativa e criativa. A
figura 9 esboa as dinmicas adaptativas da cura mente-corpo durante os
momentos decisivos da vida.
Figura 9: As dinmicas adaptativas da cura mente-corpo durante os momentos decisivosimportantes da vida. Os sonhos vvidos, dramticos, incomuns e surpreendentes (sono REM)que so experimentados durante as crises da vida, podem ser manifestaes de umaexcitao psicobiolgica profunda que evoca o ciclo de expresso gnica/plasticidade cerebralque reenquadra e reconstri a conscincia, memria, aprendizagem e o comportamento deuma forma adaptativa e criativa. O pequeno smbolo delta (tringulo) significa que umamudana em qualquer desses quatro nveis maiores de transduo de informao mente-corpo, gera uma transformao matemtica no nvel seguinte, em uma espiral infinita dedesenvolvimentos interminveis na conscincia e na experincia humana.
As dinmicas da figura 9 so esboadas acertadamente por Ribeiro (2004) em
sua teoria evolucionria do sono e sonhos, conforme segue:
Chegamos agora hiptese central da teoria, ou seja, que os
sonhos dos mamferos so simulaes probabilsticas de eventos
passados e expectativas futuras. A funo principal de tais
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
29/91
29
simulaes seria experimentar comportamentos especficos novos
contra uma memria rplica de mundo, mais do que contra o prprio
mundo real. Esta hiptese uma generalizao da teoria de
simulao de ameaas dos sonhos... Sonhos podem simular aes
que levam a um resultado desejvel e que por isso deveriam ser
desempenhadas no mundo real, ou bem, aes que levam aos
resultados indesejveis e que, portanto, deveriam ser evitadas no
mundo real. (p.12).
Como a Novidade, o Ambiente Enriquecido e o Exerccio Fsico
Consolidam a Memria via Estruturas Cerebrais
Ribeiro et al., (2004) resumiram sua pesquisa sobre novidade induzindo
expresso e transcrio do gene durante os sonhos, que proporciona a base
celular da plasticidade cerebral, conforme segue:
A descoberta da reativao cerebral dependente-de-experincia
[experincias destacveis diurnas de novidade, ambiente
enriquecidoe exerccio fsico] durante o sono de ondas-lentas (SW)
e sono de movimento-rpido-dos-olhos (REM) leva noo de que a
consolidao de traos da memria recentemente adquirida requer
uma repetio neural durante o sono... Nossos resultados indicam
que a reverberao neural persistente dependente-de-experincia
uma propriedade geral de estruturas mltiplas do crebro anterior.
Esta no consiste de uma repetio exata. Pesquisa recente em
neurocincia encontrou que quando experimentamos alguma
novidade significativa, ambiente enriquecido e exerccio fsicodurante o estado de viglia, o gene Zif-268 se expressa durante o
nosso sono REM (Ribeiro et al., 2002, 2004). O Zif-268 um gene
precoce de expresso imediata relacionado ao estado
comportamental que tem a funo de gerar protenas e fatores de
crescimento facilitando a plasticidade cerebral... Concluindo, a
reverberao neural sistemtica durante o sono de ondas lentas
(SW), seguida imediatamente por expresso gnica relacionada complasticidade cerebral durante o sono REM (sonhos), pode ser
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
30/91
30
suficiente para explicar o papel benfico do sono na consolidao de
novas memrias. (p.126 -135, itlico adicionado).
Mais recentemente, Ribeiro et al., (2008, em impresso) revisaram a pesquisa
que documentou como os genes arc e zif-268 so ativados para facilitar
plasticidade cerebral, com a finalidade de codificarem experincias de vida
novas e enriquecedoras de forma adaptativa, conforme segue.
Em um estudo folow-up (Ribeiro et al., 2002) encontramos
resultados similares quando a exposio a um ambiente novo foi
substituda pela induo de potenciao de longo prazo (LTP) no
hipocampo, um modelo neurofisiolgico de memria bem conhecido
(Bliss e Collingridge, 1993). Nossos experimentos revelaram uma
seqncia de trs ondas espao-temporalmente distintas de
expresso do gene zif-268, comeando localmente no hipocampo 30
minutos depois da estimulao, ainda durante o despertar e
avanando at reas distais extra-hipocampais durante os dois
episdios seguintes de sono REM. Cada onda de up-regulationdo
zif-268 foi interrompida pelo episdio seguinte de sono de ondas
lentas (SWS), indicando a existncia de ciclos de plasticidade
recorrentes (intermitentes) conforme os dois estados de sono se
alternam. Em 2005, nossos relatos de super-regulao dependente-
de-experincia do zif-268 mRNA durante o sono REM, foram
estendidos a outras molculas relacionadas com plasticidade por
uma equipe de pesquisa independente. O estudo que empregou a
prova de aprendizagem por evitao ativa como um paradigmacomportamental relacionou o sono REMe as ondas pontinas tpicas
desse estado com a super-regulao dependente-de-experincia do
gene arc e com os nveis de fator de crescimento derivado do
crebro (BDNF), assim como, com o aumento de fosforilao da
resposta cclica AMP, um elemento de vinculao da protena
(CREB). Em 2006, um estudo do sono em moscas investigou os
efeitos da exposio a um ambiente socialmente enriquecido sobrea expresso de genes relacionados ao sono. Os pesquisadores
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
31/91
31
encontraram evidncias de que o sono aumentado em moscas
expostas a um ambiente socialmente enriquecido. Ainda mais
importante, durante o sono, estas moscas mostraram um aumento
de expresso em 17 genes relacionados com a memria de longo
prazo (Ganguly-Fitzgerald et al., 2006). Mais recentemente, nossa
equipe de pesquisa mostrou que os nveis de mRNA do zif-268e do
gene arc eram up-regulated [aumentados] no crtex cerebral
durante o episdio final de sono REM (Ribeiro et al., 2007).
Tomados em conjunto, estes achados corroboram a idia de que o
sono conecta processos ativos dependentes-de-experincia a
plasticidade neural.
Se no temos nenhuma experincia de vida nova ou saliente durante o dia,
muitos destes genes precoces de expresso imediata (IEGs) como arce zif-
268no so ativados durante o sono REMpara facilitar a plasticidade cerebral
que gera a possibilidade de comportamentos mais adaptativos ao despertar!
Observe que enfatizamos isto somente como uma possibilidade de
comportamentos mais adaptativos ao despertar!. Para aumentar a
possibilidade de tornar-se mais consciente de novas opes de
comportamentos mais adaptativos gerados por expresso gnica e
plasticidade cerebral durante episdios de sonhos REM, recomendamos que a
pessoa anote cuidadosamente seus primeiros pensamentos da manh,
imediatamente aps acordar. Geralmente, despertamos fora dos sonhos
orientados de forma mais cognitiva que esto mais prximos do pensamento
dirio consciente voltado para metas. Propomos que uma atitude cuidadosa,
receptiva e meditativa, na qual acolhemos estes pensamentos matutinos queainda esto prximos da nova plasticidade cerebral gerada durante sonhos
REMcriativos, uma prtica criativa de autocuidado e autofavorecimento que
mais factvel de acessar e facilitar as transformaes adaptativas da
conscincia e comportamento, que so explorados durante os nossos sonhos.
Esta recomendao consistente com a pesquisa sobre as tradies
meditativas que enfatizam como a primeira meditao no incio da manh
geralmente a melhor.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
32/91
32
Rossi (2005) esboou recentemente como a reverberao neural sistemtica
durante o sono de ondas lentas (SW), seguida imediatamente por expresso
gnica relacionada a plasticidade cerebral durante o sono REM, tal como
relataram Ribeiro et al. (2008), pode ser um processo adaptativo importante na
teoria da reconstruo do medo, estresse e memrias traumticas e sintomas
via psicoterapia e hipnose teraputica. Os psicoterapeutas no mudam nem
curam a pessoa na consulta, e sim, eles simplesmente facilitam pensamentos
novos e experincias emocionais associadas com a possvel reconstruo da
memria, aprendizagem, conscincia e comportamento. Mais tarde, estes
pensamentos novos e as experincias emocionais, sero repetidos
criativamente em dilogos entre o crtex e o hipocampo durante o sono e
sonhos que exploram suas possibilidades adaptativas. a repetio criativa
dos dilogos dos sonhos, que gera a expresso gnica dependente de
atividade e plasticidade cerebral, que por sua vez levam possibilidade de
transformar a conscincia e o comportamento o que resulta numa mudana
adaptativa que chamada cura. Isto implica uma profunda mudana de
nossa compreenso do significado da memria e dos sonhos como gravaes
do passado, para o seu significado na criao de novas possibilidades
construtivas para o futuro.
A Orientao Futura da Memria Construtiva
Em uma reviso recente (Rossi, Erickson-Klein & Rossi, 2008) exploramos a
nova distino entre o futuro, sistema de memria prospectiva, investigado na
neurocincia atual, e o passado, sistema de memria retrospectiva que foi o
fundamento terico original da hipnose teraputica, psicanlise clssica e
psicoterapia. Generalizamos a teoria evolucionria do sono e sonho de Ribeiroque focaliza o futuro, sistema de memria prospectiva, para conceituar uma
nova perspectiva evolutiva em psicoterapia, hipnose teraputica e reabilitao.
Durante 200 anos a investigao em hipnose explorou a memria em estudos
cujo foco era a preservao e recuperao do passado. Os neurocientistas, ao
contrrio, esto agora documentando como alguns sistemas cerebrais de
memria e aprendizagem esto mais bem orientados para explorarpossibilidades futuras de vida do que para manter gravaes precisas do
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
33/91
33
passado. Agora sabemos que as memrias no so rplicas exatas do
passado, mais do que isto, tais gravaes exatas do passado no so a
melhor estratgia para o comportamento adaptativo no futuro. Esses cientistas
proporcionam evidncias para uma nova teoria construtiva de como as
memrias passadas podem ser reorganizadas em novos cenrios para um
comportamento adaptativo atual e futuro (Gaidos, 2008; Schacter et al. 2007;
Szpunar et al. 2007). Esta orientao futura do sistema de memria cerebral
adaptativa e construtiva que complementar funo da memria de
manuteno dos registros do passado, um foco importante para facilitar a
resoluo de problemas atuais nos processos teraputicos esboados nos
captulos 9, 10, 11 e 12.
Consequncias Criativas
Os sonhos podem ser repeties criativas de eventos passados que
podem gerar futuros mais adaptativos.
A reverberao neural sistemtica durante sono SW, seguida por
expresso gnica relacionada com plasticidade durante os sonhos, gera
nossas transformaes naturais da mente e do comportamento.
A expresso gnica e a plasticidade cerebral consolidam a reconstruo
do medo, estresse e memrias traumticas, e sintomas via psicoterapia e
hipnose teraputica.
A orientao futura do sistema de memria construtiva do crebro
utilizada para facilitar a criao de uma nova identidade e resoluo de
problemas via processos teraputicos esboados a seguir.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
34/91
34
CAPTULO 6Neurnios Espelho, Empatia & Conflito:Arte, Verdade e Beleza Via Expresso
do Gene e Plasticidade Cerebral
Pesquisa recente em neurocincia documentou a atividade dos neurnios
espelho, em primatas e seres humanos, funcionando como um mecanismo
potencial neural para a empatia por meio do qual entendemos os outros
reproduzindo como um espelho sua atividade cerebral (Miller, 2005, p.946).
Esta base neural de empatia confirmada pela pesquisa sobre as disfunes
nos sistemas espelho de humanos com autismo e na pesquisa com fMRI
projetada para avaliar empatia emocional. Tal pesquisa sobre empatia em
nvel neurale confianaem nvel genmicoe hormonal(Kosfeld et al., 2005)
consistente com as descries de rapport a relao emptica entre
terapeuta e paciente que tem sido usada como explicao principal para os
diversos fenmenos clssicos de hipnose por mais de 200 anos.
importante perceber como esta relao concatenada em mltiplos nveis de
rapport, em pelo menos quatro niveis (molecular-genmico, hormonal, neural e
experimental) um novo modelo para todas as experincias psicossociais
complexas, cujo aspecto subjetivo tornou-as aparentemente refratrias
mensurao objetivae ao estudo cientfico no passado. Esta compreenso de
rapport inteiramente consistente com a nossa viso de mundo da
neurocincia que esboa como a concordncia funcional das famlias de
genes coexpressas segundo a medio realizada com microarrays de DNA
pode converter-se em um novo enfoque cientfico, para quantificar os diversos
estados subjetivos de conscincia, criatividade e processamento implcito
privado durante a psicoterapia, hipnose teraputica e reabilitao (Rossi,
2007).
A histria da hipnose que comeou com Mesmer rica em relatos da eficcia
especial da hipnose teraputica quando experimentada em grupos e emdemonstraes de hipnose de palco, onde a pessoa imita, replica e reproduz
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
35/91
35
os papis de conduta de outros (Tinterow, 1970). Erickson descreve como ele
pode determinar se uma pessoa ser um bom sujeito hipntico avaliando sua
resposta ou comportamento natural de ateno em uma entrevista inicial
(Erickson, Haley e Weakland, 1959). Agora necessrio pesquisa para
determinar em que grau tal resposta de atenoreflete realmente a atividade
dos neurnios espelho na vida diria, assim como em nossas escalas
padronizadas de susceptibilidade hipntica.
Especulamos que o uso por Erickson das tcnicas de pantomima
provavelmente seja mediado pelos neurnios espelho. Erickson s vezes
rodeava um sujeito resistente com sujeitos altamente sugestionveis, para
induzir a hipnose; agora reconhecemos isto como uma utilizao do princpio
simples dos neurnios espelho, o macaco v, o macaco faz. Agora
reconhecemos que o estudo dos sistemas espelho do crebro far para a
psicologia o que o estudo do DNA fez para a biologia (Miller, 2005, p. 945).
Desta perspectiva da nova neurocincia, podemos entender as interaes
psicossociais entre terapeuta, sujeito e grupos em psicoterapia e hipnose
teraputica, como treinamentos empticos mtuos em nveis da expresso
gnica, plasticidade cerebral e neurnios espelho.
Agora podemos entender como a capacidade do sujeito para pensar e sentir
com as palavras, metforas, histrias e heursticos de processamento
implcito do terapeuta, em psicoterapia e hipnose teraputica, pode ser uma
medida de susceptibilidade hipntica via atividade dos neurnios espelho.
Igualmente, as aes dos contadores de histrias, cantores, bailarinas,
oradores, atores e polticos de todas as classes para mexer com a audinciaso realmente heursticos de processamento implcito que evocam a
expresso gnica e a plasticidade cerebral. Todas as interaes psicossociais
profundamente significativas entre pessoas amigos, casais, famlias, grupos
de interesses especiais, comunidades e naes esto utilizando heursticos
de processamento implcito para envolver-se e harmonizar-se mutuamente no
nvel da expresso gnica e plasticidade cerebral via neurnios espelho. Agora
podemos apreciar melhor como eventos destrutivos externos de guerra e caospodem traumatizar e estressar os indivduos at a perda de suas estruturas
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
36/91
36
psicossociais nos nveis fundamentais da expresso gnica, plasticidade
cerebral e sade mente-corpo.
Propomos que a pesquisa neurocientfica sobre os neurnios espelho est
oferecendo um novo fundamento emprico para explorao dos processos
fundamentais de empatia em psicoterapia, transferncia em psicanlise e
rapport(relao de confiana) em hipnose teraputica. Na verdade h muitas
evidncias para sugerir que pesquisa sobre neurnios espelho ir clarear uma
ampla gama de experincias humanas desde as dinmicas do inconsciente
(Rossi, 2007) at a cognio social (Iacoboni, 2008). Cremos que um
funcionamento timo dos neurnios espelho seja um fator fundamental no
talento de todos os que trabalham com psicologia, particularmente
psicoterapeutas.
Neurnios Espelho, Desenvolvimento da Linguagem e Conflito Emocional
Crespi (2007) descreve uma nova perspectiva evolutiva dos neurnios espelho
e da experincia humana do conflito no nvel genmico, da seguinte maneira:
A origem da fala e da linguagem indiscutivelmente a transio
mais importante na evoluo dos humanos modernos... com base na
anlise das mudanas gentico-evolutivas e neurolgicas que foram
concomitantes s origens do ser humano moderno. Esta estrutura
est fundamentada no sistema de neurnios espelho, dos humanos
e primatas relacionados, que proporciona um substrato neural bem
caracterizado (isto , o mesmo conjunto de neurnios pr-motores
que dispara quando algum observa ou escuta o movimento ou somfeito pelo outro indivduo, tambm dispara quando o prprio
indivduo faz um movimento ou emite um som) por uma aparente
transio evolutiva na linhagem humana de gestos, para gestos com
articulaes at articulaes que so livres de gestos.
Evidncias obtidas por meio de ressonncia magntica funcional,
estudos de expresso do gene, associaes fentipo-gentipo e aevoluo molecular de FOXP2 implicam este gene na evoluo
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
37/91
37
adaptativa dos sistemas de neurnios espelho nos humanos e, na
origem da fala articulada. O que pode nos dizer o desenho funcional
de FOXP2 e o do sistema de neurnios espelho, a respeito das
presses seletivas envolvidas na origem da linguagem humana? ...
A hiptese de que a fala articulada e a linguagem humana
evoluram, ao menos parcialmente, no contexto do conflito
genmico, tambm apoiada por: (i) evidncia do imprinting de
FOXP1 que interage com FOXP2 no desenvolvimento inicial do
crebro; (ii) o papel de FOXP2 nas vocalizaes ultra-snicas das
crias de ratas que exibem caractersticas complexas interativas,
indicativas de comunicao me-cria; e (iii) a conexo das variantes
dos alelos de FOXP2 no autismo e esquizofrenia, duas desordens
do crebro social e lingstico cujo desenvolvimento mediado pelo
sistema de neurnios espelho e pelos efeitos do imprinting (as
referncias citadas no original so omitidas aqui).
Crespi chama a ateno para o fato de que sua hiptese evolutiva oferece um
contexto seletivo de novidade para uma transio chave na origem dos
humanos modernos. Coloca o conflito em nvel genmico como uma fonte de
Darwinismo neural (Edelman, 1987, 1992). Esta literatura cientfica sobre
atividade em nvel genmico em neurnios espelho, acrescenta mais suporte
cientfico para o nosso modelo de expresso gnica e plasticidade cerebral em
psicoterapia, hipnose teraputica e reabilitao apresentado aqui. tambm,
uma lembrana de que os conflitos humanos so aspectos inerentes ao
estgio dois do processo criativo, conforme foi ilustrado nas figuras sete e dez.
Uma Nova Teoria da Arte, Beleza e Verdade nas Relaes Humanas
Especulamos que a neurocincia dos neurnios espelho implica uma nova
teoria da arte, beleza e verdade, ilustrada na figura dez (Rossi, 2004b, 2007).
A figura 10 ilustra como o princpio o macaco v, o macaco faz dos neurnios
espelho constri pontes entre as metforas religiosas psico-espirituais detodas as culturas desde a mente at a expresso do gene e plasticidade
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
38/91
38
cerebral. A figura 10 apresenta, em um simples olhar, nossa viso de mundo
especulativa da genmica psicossocial e cura mente-corpo. Experincias
numinosas de arte, beleza e verdade, so experincias positivas precisamente
porque geram reconstruo criativa dependente de atividade da mente-crebro
em nvel molecular genmico de plasticidade cerebral e psicossocial.
Buscamos construir pontes entre nossas experincias numinosas de arte e
autocriao em todos os nveis desde a mente at o gene, como fundamento
para uma nova abordagem bioinformtica em medicina, psicoterapia e
reabilitao.
Figura 10: Os neurnios espelho nas dinmicas adaptativas de nossa nova teoria dacriatividade na arte, verdade e beleza que consistente com nossa perspectiva daneurocincia em psicoterapia e hipnose teraputica (Rossi, 2004b, 2007; Rossi & Rossi,
2006). O pequeno smbolo delta (tringulo) significa que uma mudana em qualquer destesquatro nveis maiores de transduo de informao mente-corpo gera uma transformaomatemtica no nvel seguinte, em uma espiral infinita de desenvolvimentos interminveis naconscincia e experincia humanas.
Estudemos a figura dez cuidadosamente para apreciar as profundas
implicaes de nossa integrao da natureza dependente de atividade dos
neurnios espelho, na gerao da expresso gnica dependente de atividade
e plasticidade cerebral durante as fases numinosas de conscincia criativa,
experincia psicossocial e cura. Observe em particular, o pequeno smbolodelta (tringulo) indicando como qualquer mudana nestes quatro nveis
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
39/91
39
maiores da mente-corpo pode ser descrita mediante transformaes
matemticasno nvel seguinte, em uma espiral infinita de desenvolvimentos
interminveis, na conscincia e experincia humana. No jargo dos
matemticos estas transformaes so chamadas de equaes diferenciais.
Ainda que no pensemos realizar o desenvolvimento matemtico aqui,
importante compreender o valor destas transformaes matemticas porque
levam a uma resoluo prtica da chamada dicotomia entre a mente e o
corpo tornada famosa pelo filsofo Ren Descartes (1596-1650). Propomos
que estas transformaes matemticas so, em ltima instncia, as descries
mais econmicas de como os enfoques teraputicos psicossociais delineados
neste pequeno livro, na melhor das circunstncias, podem facilitar nossos
modelos naturais de conscincia, comunicao e cura entre a mente e o gene.
O brilhante fsico Frank Wilczek (2008) que ganhou um Prmio Nobel pela
pesquisa realizada quando tinha 21 anos, nos ajuda a compreender tais
transformaes matemticas como a melhor maneira de compreenso final da
realidade. Nas citaes seguintes ser til recordar que o aspecto dependente
de atividade da menteque ativa a expresso do gene dependente-de-atividade
e plasticidade cerebral uma atividade, uma energia que estende uma ponte
sobre a chamada brecha Cartesiana entre a informao da mentee a massa
do corpo.
O conceito de energia muito mais central na fsica moderna, do
que o conceito de massa. Isto se mostra de muitas maneiras. a
energia no a massa que verdadeiramente conservada. a
energia que aparece em nossas equaes tradicionais, tais como, aequao de Boltzsman para a mecnica estatstica, a equao de
Schrdinger para a mecnica quntica e a equao de Einstein para
a gravidade. A massa aparece de um modo mais tcnico, como uma
etiqueta ou representao irredutvel do grupo de Poincar. (nem
tentarei explicar esta afirmao afortunadamente, s o fato de
afirm-la expressa o ponto).
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
40/91
40
A questo de Einstein, portanto, apresenta um desafio. Se
pudermos explicar a massa em termos de energia, estaremos
melhorando nossa descrio de mundo. Precisaremos de menos
ingredientes para nossa receita de mundo. A primeira lei de Einstein
naturalmente, Energia = M x C . Esta primeira lei to famosa
sugere a possibilidade de obter grandes quantidades de energia a
partir de uma pequena quantidade de massa. (p.20).
Wilczek segue explicando como as estruturas finais da natureza dentro dos
ncleos dos tomos so os quarks e os gluons. A citao seguinte
importante para aumentar nossa compreenso de informao da mente como
bits (os bits so as menores unidades de informao binria) e do corpo
como its fsicos.
Portanto, os quarkse gluonsso bits em outro sentido muito mais
profundo, o sentido que usamos quando falamos de bits de
informao. Com um alcance que qualitativamente novo na
cincia, so idias materializadas(p.33, itlico no original).
Gluonsso objetos que obedecem as equaes de gluons. Os its
so os bits. (p.34).
E a temos: A estrutura final da matria ou massa na fsica moderna foi
dissolvida nas transformaes matemticas da mente, energia e informao
dentro dos neurnios espelho de nossa mente. Isto invoca a pergunta: Se as
matemticas tm sido descritas como A Rainha das Cincias, quem seria oseu consorte, O Rei das Cincias?
A Regra de Ouro:
Neurnios Espelho em uma Nova Teoria da tica
Propomos agora que os neurnios espelho assumem um importante papel em
uma nova teoria da tica. O princpio filosfico central da tica de Emmanuel
Kant o Imperativo Categrico Supremo. A maioria das tradies espirituaisdescreve o imperativo categrico supremo de Kant como A Regra de Ouro:
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
41/91
41
Faa aos outros, o que queres que os outros faam a ti. Aqui tomamos
emprestada uma pgina da histria e o humor da filosofia de Cathcart e Klein
(2007, p.85-86) que traa a pista da regra de ouro at suas fontes nas
tradies religiosas.
HINDUISMO (Sculo XIII A.C.)
No faas aos outros, o que no queres que faam a ti.
Este o Dharma inteiro. Observa-o bem.
-O Mahabharata
JUDAISMO (Sculo XIII A.C.)
Aquilo que insuportvel para ti, no o faa ao teu vizinho.
Este o Torah inteiro;
O resto comentrio; aprende-o.
-O Talmud Babilnico
ZOROASTRISMO (Sculo XII A.C.)
A natureza humana s boa quando no se faz
aos outros o que no bom para si mesmo.
- O Dadistan-i-Dinikk
BUDISMO (Sculo VI A.C.)
No ofendas aos outros do modo que tu prprio ficarias ofendido.
- O DhammapadaTibetano
CONFUCIONISMO (Sculo VI A.C.)No faas aos outros o que no queres que seja feito a ti.
- Confcio, Analectos
ISL (Sculo VII D.C.)
Nenhum de vocs um crente at que desejem ao prximo o que desejam a si
prprios.
-O Sunnah, de O Hadith
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
42/91
42
BAHI (Sculo XIX D.C.)
No atribuas a nenhuma alma aquilo que no tenhas atribudo a ti mesmo, e
no digas aquilo que no fazes.
Este o meu mandamento para ti, obedece-o.
-Bah allh, As Palavras Ocultas.
SOPRANOISMO (Sculo XXI D.C.)
Espanca o prximo com o mesmo respeito que voc gostaria de ser
espancado, entende?
-Tony Soprano, Episdio Doze.
Propomos que nosso reconhecimento universal do valor da regra de ouro se
faz possvel pela atividade emptica e ideodinmica de nosso sistema de
neurnios espelho. A teoria da ao ideodinmica da hipnose teraputica foi
descrita como uma idia ativadora de psicodinmicaem todos os nveis desde
a mente at a expresso do gene e plasticidade cerebral (Rossi, 2007, captulo
treze). Os valores da regra de ouro podem ser facilitados com aproximaes
teraputicas ideodinmicas tais como O Processo Criativo de Quatro Estgios
com Reflexo de Mos que esboamos nos ltimos captulos deste livro. Estas
aproximaes teraputicas so operativas em muitos nveis autoreferenciais,
tanto no cliente quanto no terapeuta, assim como entre eles. No sentido mais
profundo a psicoterapia no simplesmente um processo no qual o terapeuta
ensina, dirige ou sugere coisas ao cliente. Na melhor das circunstncias, os
sistemas de neurnios espelho de ambos, terapeuta e cliente, estosimultaneamente ativos em sincronia emptica um com o outro. Esta a regra
de ouro da psicoterapia: O que os terapeutas dizem aos seus clientes, tambm
o esto dizendo a si mesmos. Insightscriativos, cura e resoluo do problema,
atravs de experincias novas de expresso do gene e plasticidade cerebral,
so mediados por processos mtuos de desenvolvimento e autocura internos,
dentro e entre os sistemas de neurnios espelho do cliente e do terapeuta.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
43/91
43
Consequncias Criativas
Os neurnios espelho so os mediadores da empatiaem psicoterapia, da
transfernciaem psicanlise e do rapportem hipnose teraputica.
Os neurnios espelho so os mediadores dos relacionamentos empticos
e criativos auto-referenciais dentro e entre terapeutas e clientes em todos
os nveis, desde a mente at o gene.
As experincias numinosas de arte, beleza e verdade so experincias
positivas precisamente porque elas geram a reconstruo criativa
dependente de atividade da mente-crebro em nveis molecular-
genmico, de plasticidade cerebral e nvel psicolgico.
Buscamos construir pontes entre nossas experincias numinosas de arte
e autocriao, em todos os nveis desde a mente at o gene e a tica,
como o fundamento para uma nova abordagem psicobioinformticaem
medicina, psicoterapia e reabilitao.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
44/91
44
CAPTULO 7Um Interldio Musical
A Forma de Sonata do ProcessoCriativo de Quatro Estgios
Por que temos msica? A experincia psicolgica e o significado da msica
tm estado sob intenso exame nos ltimos anos (Patel, 2008). Neste captulo
propomos como a msica pode ser uma expresso do processo criativo de
quatro estgios em todos os nveis desde a mente at a molcula. A msica
um exemplo claro de como a arte, a beleza e a verdade podem ser
experincias criativas que facilitam o desenvolvimento e as transformaes da
conscincia e do comportamento em nossa vida diria.
Os estudantes que apreciam msica observaro a semelhana entre o ciclo
criativo de quatro estgios perfilado antes na figura sete e as quatro partes da
forma de sonataclssica perfilada na figura onze. O termo forma de sonata
refere-se ao primeiro movimento de uma sinfonia. O movimento rpido de
abertura de uma sinfonia clssica (sonata-allegro), por exemplo, est
usualmente em forma de sonata. A forma de sonata tem trs seces
principais (exposio, desenvolvimento e recapitulao) que so
frequentemente seguidas por um quarto movimento concludente chamado
coda. A forma de sonata ilustra como compositores do perodo clssico
(1750-1820) tais como Hayden, Mozart, Beethoven e seus seguidores
expressaram o conflitohumano, a crisee, a sua resoluoatravs da msica
por mais de 200 anos (Kamien, 2006).
Figura 11: Este perfil dos quatro estgios da forma de sonata na msica clssica ilustra comoas artes criativas (dana, drama, msica, mito, poesia, cano, histrias etc.) podem sercompreendidas como modalidades de atuao para a repetio teraputica, reconstruo e re-
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
45/91
45
enquadramento de experincias humanas negativas em perspectivas positivas que muitasculturas consideram curativas ou teraputicas. As experincias numinosas de arte, beleza everdade so experincias positivas precisamente porque geram a reconstruo criativadependente de atividade da mente-crebro em nveis molecular-genmico, de plasticidadecerebral e nvel psicolgico(Rossi, 2002a, 2004b; Rossi & Carrer, 2005; Erickson 1958/2007).
Como a Forma de Sonata da Msica Clssica
Representa o Processo Criativo de Quatro Estgios
A forma de sonata, que representa aproximadamente 20 a 45 minutos da
sinfonia clssica, geralmente conduzida em trs ou quatro movimentos.
Kamien (2006, p.163-164) descreve a forma de sonata nas citaes que
seguem:
A surpreendente durao e vitalidade da forma de sonata resultade sua capacidade dramtica. A forma se move de uma situao
estvel at o conflito (na exposio) chega a uma tenso
aumentada (no desenvolvimento), e logo volta estabilidade e
resoluo do conflito.
Isto nos recorda o processo criativo em psicoterapia. Propomos que a durao
e a vitalidade da forma de sonata por mais de 200 anos, vem de suaintegrao da experincia humana criativa desde cognio e emoo at o
nvel molecular-genmico.
Estgio Um: Exposio
A exposio prepara um forte conflito entre a chave tnica e a nova
chave. Comea com o primeiro tema na chave tnica inicial. Segue
com uma ponte, ou transio, que leva ao segundo tema, em umanova chave.
O primeiro estgio da forma de sonata corresponde ao Estgio Um do
Processo Criativo quando o paciente e o terapeuta buscam identificar o
problema (primeiro tema) e as mudanas de vida do Estgio Dois (segundo
tema) que esto na origem dos conflitos do paciente.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
46/91
46
Estgio Dois: Desenvolvimento
O desenvolvimento frequentemente a seco mais dramtica do
movimento. O ouvinte pode perder o equilbrio medida que a
msica se move agitadamente atravs de vrias chaves diferentes.
Atravs destas rpidas modulaes a tenso harmnica se eleva.
Nesta seco os temas so desenvolvidos ou tratados de novas
formas. Quebram-se em fragmentos, ou motivos, que so idias
musicais curtas desenvolvidas dentro da composio. Um motivo
pode assumir significados emocionais diferentes e inesperados.
Esta segunda parte da forma de sonata corresponde ao Estgio Dois, o
estgio de incubao do Processo Criativo, com seus conflitos caractersticos,
emoes negativas e sintomas.
Estgio Trs: Recapitulao
O comeo da recapitulao traz a resoluo, quando ouvimos
novamente o primeiro tema na chave tnica... Inicialmente, na
exposio, houve um forte contraste entre o primeiro tema na chave
inicial, e o segundo tema e seco de fechamento em uma nova
chave; esta tenso resolvida na recapitulao....
Esta terceira seco da forma de sonata corresponde obviamente ao Estgio
Trs do Processo Criativo quando h uma resoluo inicial do conflito, do
problema e dos sintomas do Estgio Dois.
Estgio Quatro: CodaUm sentimento ainda mais poderoso obtido ao continuar a
recapitulao com mais uma seco. A coda arremata um
movimento, repetindo temas ou desenvolvendo-os mais. Ela
sempre termina na chave tnica (inicial).
Esta quarta, e ltima parte da forma de sonata corresponde ao Estgio Quatro
do Processo Criativo em psicoterapia quando o paciente volta para casa paraexperimentar na vida real, novas solues para os problemas e sintomas
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
47/91
47
encontrados no Estgio Trs. (Todas as citaes so de Kamien, 2006, p.163-
164).
A integrao das perspectivas musical e psicolgica da forma de sonata foi
descrita curiosamente por Sullivan (1927) em seu breve e clarividente livro:
Beethoven: Seu Desenvolvimento Espiritual. Neste pequeno livro Sullivan
prope uma teoria da revelao na arte e conscincia elevada que
Beethoven experimentou compondo seus ltimos quartetos de cordas.
A forma de sonata de quatro movimentos corresponde a um
processo psicolgico muito fundamental e geral que a razo pela
qual ele considerado to satisfatrio e tem sido empregado
frequentemente. O esquema geral de um primeiro movimento,
representando geralmente algum tipo de conflito, seguido por um
movimento lento, meditativo ou reconfortante, e este por uma
seco que facilita o caminho para uma exposio final vigorosa,
para uma concluso obtida, , em suas linhas principais, adaptada
admirvelmente para exibir um processo psicolgico importante e
recorrente. As histrias de vida de muitos processos psicolgicos
maiores podem acomodar-se dentro desta estrutura. Mas, nos
quartetos que estamos discutindo, a experincia de Beethoven no
poderia ser apresentada dessa forma. A conexo entre os diversos
movimentos , no conjunto, mais orgnica que a forma de sonata
de quatro movimentos. Nestes quartetos como se os movimentos
irradiassem de uma experincia central. Eles no representam
estgios dentro de uma viagem, sendo cada estgio independente eexistindo por direito prprio. Representam experincias separadas,
mas, o significado que adquirem no quarteto derivado da sua
relao com uma experincia dominante. Isto caracterstico da
viso mstica, para a qual tudo no mundo parece unificado luz de
uma experincia fundamental. Nestes quartetos Beethoven no
est nos descrevendo uma histria espiritual, ele est nos
apresentando uma viso de vida. Em cada quarteto so observados
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
48/91
48
muitos elementos, mas a partir de um foco central. (p. 153-154,
itlico adicionado).
Desse modo uma obra de arte pode transmitir conhecimento. Ela
pode na verdade ser uma revelao. A conscincia mais elevada
do grande artista evidencia-se no s pela capacidade de ordenar a
prpria experincia, mas tambm, pela capacidade de ter a sua
experincia. Seu mundo pode diferir do mundo do homem comum,
assim como o mundo do homem comum, difere do mundo do co,
no s pela proporo do seu contato com a realidade, como
tambm, pela sua capacidade superior para organiz-lo.
Continuamos mantendo ento a teoria da revelao da arte. Na
verdade como crticos nossa funo torn-la mais explcita. A arte
mais elevada tem uma funo transcendental tal como a cincia. Ao
dizer isto, entretanto, devemos ser cuidadosos para distinguir entre
estas funes. (p. 15-16).
Os quatro estgios da forma de sonata, segundo descrito por muitos
estudiosos de msica clssica (Kamien, 2006; Rosen, 1988, 1997; Sullivan,
1927) e ilustrado na figura 11 so exemplos chamativos de como as artes
criativas podem ser entendidas como modalidades de atuao que realizam
um trabalho psicolgico (Haukappe & Bongartz, 1992; Unterwegner, Lamas &
Bongartz, 1992). O que este trabalho psicolgico? As vrias formas de
expresso artstica (cinema, dana, drama, literatura, msica, mito, poesia,
canes, histrias etc.) so trabalhos psicolgicos em nveis implcitos
(inconscientes) de repetio, reconstruo e reenquadramento teraputico dasexperincias humanas negativas (estressantes), em recursos internos
positivos que muitas culturas chamam de cura, teraputica ou sabedoria.
As experincias numinosas de arte, beleza e verdade tornam-se experincias
positivas quando a ativao do estresse da novidade, inicialmente
surpreendente e inesperado, gera reconstruo criativa dependente de
atividade da mente-crebro, em nvel molecular-genmico, de plasticidade
cerebral, e nvel psicolgico (Rossi, 2002, 2004a, 2004b e 2005a).
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
49/91
49
Em conjunto as figuras sete e onze ilustram como as artes criativas so
modalidades de atuao para a repetio, reconstruo e transformao
teraputica de experincias humanas negativas, em perspectivas positivas.
Uma funo primria da cultura desempenhar rituais curativos e
teraputicos que levem integrao social e sabedoria. a profunda
excitao psicobiolgica do estresse, luta e conflito durante os estgios um e
dois do processo criativo que gera a reconstruo criativa dependente de
atividade da mente-crebro em nveis molecular-genmico e de plasticidade
cerebral que experimentada como positiva e feliz nos novos estgios trs e
quatro. As experincias numinosas de arte, beleza e verdade so experincias
positivas dos estgios trs e quatro do processo criativo que so
experimentadas depois do estresse e do difcil trabalho dos estgios um e
dois. Arte, beleza e verdade so experincias criativas em nvel psicolgico
que correspondem expresso gnica e plasticidade cerebral em nvel
molecular e neural no crebro, particularmente, durante o estgio trs do ciclo
criativo. Os captulos seguintes esboam alguns processos criativos que
desenvolvemos para favorecer o desenvolvimento psicolgico em psicoterapia.
Consequncias Criativas
A experincia psicolgica e o significado da msica podem ser
expresses do processo criativo de quatro estgios em todos os nveis
desde a mente at a molcula.
Os compositores do perodo clssico (1750-1820) tais como Hayden,
Mozart e Beethoven expressaram o conflito humano, crise e sua
resoluono processo criativo de quatro estgios da forma de sonata.
Msica que evoca profunda excitao psicobiolgica de estresse, de lutae conflito durante os estgios um e dois do processo criativo pode facilitar
a reconstruo criativa dependente de atividade da mente-crebro em
nveis molecular-genmico e de plasticidade cerebral que so
experimentados como feliz e positivo nos novos estgios trs e quatro.
necessria investigao futura para avaliar se a msica e outras artes
podem facilitar a revelao de uma conscincia mais elevada que possa
otimizar a expresso do gene e a plasticidade cerebral.
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
50/91
50
CAPTULO 8Psicoterapia Criativa de Quatro
Estgios: Construindo a Mente Futura
O processo criativo de quatro estgios em psicoterapia tem uma longa histria.
Ele tem sua fonte de origem nos sonhos e mitos das eras, assim como, nas
abordagens recentes que investigam o processo criativo, a psicoterapia e a
hipnose teraputica (Rossi 1972/2000). Leonardo da Vinci descreveu
originalmente sete caractersticas do processo criativo: Curiosit
Dimostrazione Sensazione Sfumato Arte/Scienza Corporalit
Connessione. Sculos de introspeco dos trabalhadores criativos, assim
como, a pesquisa em psicologia e a neurocincia moderna, simplificaram e
condensaram estas sete caractersticas num Processo Criativo de Quatro
Estgios que fcil, para que a maior parte das pessoas possa aprender a
favorecer suas mentes construtivas (Rossi, 2002a, 2004a; Sandkhler &
Bhattacharya, 2008).
Integrao dos Sete Princpios do Processo Criativo de Leonardo da
Vinci com a Neurocincia Moderna
Estgio 1: Preparao, Coleta de Dados: curiosit e sensazione
Agora se sabe que qualquer estado psicolgico de excitao intensa tais
como: traumas, dor, estresse, novidade, sonhos (sono REM), e momentos
criativos na vida cotidiana, assim como artes e cincias podem iniciar a
atividade dos Genes Precoces de Expresso Imediata, Genes Dependentesde Atividade (Experincia), e Genes Relacionados ao Estado Comportamental,
em nosso crebro e corpo. Nossos genes no esto sempre em um estado
ativo; os genes tm que ser estimulados na vida cotidiana por fatores
ambientais internos e externos e psicossociaispara gerar protenas que so as
mquinas moleculares da vida que realizam o trabalho criativo. O estgio um
do processo criativo inclui os princpios de curiosit e sensazionede Leonardo
da Vinci. As sensaes estimulam a atividade neural e curiosidade, e o desejo
8/2/2019 A NOVA NEUROCINCIA DA PSICOTERAPIA,
51/91
51
de aprender mais, que nos transportam para jornadas externas e internas de
descoberta e autocriao profundamente motivadoras.
Estgio 2: Incubao: dimostrazione e sfumato
Em suas demonstraes docentes de psicoterapia para estudantes e
profissionais, Rossi levanta a hiptese de como a Expresso dos Genes
Precoces de Expresso Imediata, Genes Dependentes de Atividade e Genes
Relacionados ao Estado Comportamental podem estar ocorrendo durante a
resoluo criativa de um problema. Frequentemente o estgio de incubao
caracterizado por um estado moderado de confuso, estresse e at de
sintomas psicossomticos. Este estgio frequentemente corresponde ao
principio de dimostrazionede Leonardo. Temos que descobrir por ns mesmos
aquilo em que acreditamos. Precisamos olhar para as coisas por perspectivas
diferentes e aprender a partir de nossos erros. O principio de sfumato de
Leonardo tem uma gradao de significados, desde a traduo literal de
fumaa, que vai gradualmente diminuindo, muito suave, sombreado e, o mais
popularmente dito: tornar-se nada ou ir-se com a fumaa, esvair-se, anular-
se. O conceito de sfumato caracteriza frequentemente a difcil transio do
estgio 2 para o estgio 3 do processo criativo.
Estgio 3: Iluminao: arte/scienza, corporalit e connessione
Este o momento criativo muito gratificante, experimentado nas artes e nas
cincias assim como em psicoterapia. Este estgio a experincia inicial
daquilo que Leonard
Top Related