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  • CAMINHOS DE GEOGRAFIA - revista on line http://www.seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/ ISSN 1678-6343

    Instituto de Geografia UFU Programa de Ps-graduao em Geografia

    Caminhos de Geografia Uberlndia v. 16, n. 53 Mar/2015 p. 101117 Pgina 101

    MAPEAMENTO HIDROGRFICO DE DETALHE E ANLISE MORFOMTRICA COMPARATIVA DAS BACIAS DOS RIOS TIJUPE E TIJUIPINHO, LITORAL SUL DA

    BAHIA1

    Pedro Enrico Salamim Fonseca Spanghero Graduando em Geografia Universidade Estadual de Santa Cruz / UESC

    [email protected]

    Paulo Fernando Meliani Prof. Dr. do Departamento de Cincias Agrrias e Ambientais / UESC

    [email protected]

    Jlio Santos Mendes Graduado em Geografia Universidade Estadual de Santa Cruz / UESC

    [email protected]

    RESUMO

    Este artigo teve como objetivo elaborar um mapeamento hidrogrfico de detalhe e anlise morfomtrica comparativa das bacias dos rios Tijupe e Tijuipinho, situadas no litoral sul da Bahia. Para tal, foram realizadas anlises por meio de fotointerpretao, sensoriamento remoto e pesquisas de campo, nos quais restitumos as redes hidrogrficas e delineamos os divisores de gua das bacias, processando estas informaes em um Sistema de Informao Geogrfica (SIG), que utilizamos na edio dos mapas e na leitura digital dos dados lineares, de superfcie e altimtricos. No geral, constatou-se que a rea da bacia do Tijupe de 74,66 km2, enquanto que a rea do Tijuipinho de 41,27 km2 e possuem densidade de drenagem de 3,74 km de canais/km para a bacia do Tijupe e 2,67 km de canais/km para a bacia do Tijuipinho. Constatou-se que as bacias estudadas possuem formas relativamente alongadas, influenciadas pelos lineamentos estruturais da regio que determinaram a formao de dois vales paralelos, o do Tijupe e do Tijuipinho, na direo SO-NE. Conclui-se que a abordagem apresentada tenha o potencial de orientar a demarcao de importantes mananciais e de reas de recarga dos aquferos, bem como a delimitao de reas sujeitas a desequilbrios morfodinmicos.

    Palavras-chave: Hidrografia; Morfometria; Base cartogrfica.

    DETAILED HYDROGRAPHIC MAPPING AND COMPARATIVE MORPHOMETRIC ANALYSIS OF TIJUIPE AND TIJUIPINHO WATERSHEDS, BAHIA SOUTHERN

    COAST

    ABSTRACT

    This study aimed to develop a detailed hydrographic mapping and comparative morphometric analysis of the basins of Tijupe and Tijuipinho rivers, located in the south of Bahia. To this end, analyzes were performed by means of photo interpretation, remote sensing and field surveys, in which we restore the river networks and outline the divisors of water basins, processing this information in a Geographic Information System (GIS), which we use in editing maps and digital reading of linear data and surface altimetry. Overall, it was found that the area of the Tijupe basin is 74.66 km, while the area of Tijuipinho is 41.27 km, and have drainage density of 3.74 km of waterways / km for Tijupe basin, and 2.67 km of waterways / km for the basin Tijuipinho. It was found that the watersheds studied have relatively elongated shapes, influenced by structural lineaments of the region that led to the formation of two parallel valleys, the Tijupe and Tijuipinho, toward SO-NE. We conclude that the presented approach has the potential to guide the demarcation of important water sources and aquifer recharge areas, and the delimitation of areas subject to morphodynamic imbalances.

    Keywords: Hydrography. Morphometry. Basemap 1 Recebido em 01/10/2014

    Aprovado para publicao em 19/01/2015

  • Mapeamento hidrogrfico de detalhe e anlise morfomtrica comparativa das bacias dos rios Tijupe e Tijuipinho, litoral sul da Bahia

    Pedro Enrico Salamim Fonseca Spanghero Paulo Fernando Meliani

    Jlio Santos Mendes

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    INTRODUO Do ponto de vista ambiental, uma bacia hidrogrfica relevante por ser compreendida como um sistema natural, constitudo por uma rea de captao e drenagem das guas precipitadas e por uma rede de canais articulados de escoamento superficial concentrado. Definida como uma superfcie contornada por divisores topogrficos, onde as guas precipitadas e as emersas de nascentes escoam superficialmente para e por uma rede hidrogrfica comum, a bacia possui um curso dgua principal que apresenta desembocadura identificvel. A partir da localizao da foz do rio principal, possvel identificar a rede hidrogrfica e os interflvios mais elevados que circundam os cursos dgua da bacia, chamados em conjunto de divisor de guas. Esta identificao se faz, comumente, por meio da interpretao de cartas topogrficas e de fotografias areas verticais, sempre com o controle de pesquisas de campo e com o auxlio de geoprocessamento e de outros produtos de sensoriamento remoto, como imagens de satlite e de radar. A restituio da estrutura fluvial da rede hidrogrfica, e dos interflvios que compem o divisor de guas, subsidiam uma primeira anlise morfomtrica detalhada da bacia, elaborada a partir das medidas lineares, poligonais e altimtricas obtidas nas cartas topogrficas, fotos areas e imagens orbitais. Analisar bacias hidrogrficas possui relevncia histrica para a Geomorfologia, pois os cursos de gua constituem processo morfogentico dos mais ativos na esculturao da paisagem terrestre (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 102). Desde 1945, com os pioneiros estudos de Horton, que procurava estabelecer leis de organizao das redes de canais fluviais, as bacias hidrogrficas constituram-se na unidade fundamental de estudo da Geomorfologia (OLIVEIRA, 1999, p. 87). Na superfcie de uma bacia hidrogrfica possvel reconhecer a dinmica atual e a geomorfognese do relevo, por meio do escoamento superficial e da morfologia dos modelados fluviais. Em meio de anlises morfomtricas, por exemplo, possvel identificar caractersticas fsicas concernentes ao comportamento da drenagem na bacia, inclusive em situaes provocadas por eventos pluviomtricos extremos, como inundaes ou o incremento de processos erosivos. Contudo, preciso que as bacias estejam detalhadamente mapeadas para que, em primeira instncia, seja possvel identificar suas caractersticas fsicas fundamentais, como a extenso da rede hidrogrfica, a rea da bacia, os limites (permetro), a topografia, etc., que subsidiaro outros estudos hidrolgicos, ecolgicos, geolgico-geomorfolgicos, entre outros. Por sua vez, orienta Botelho (1999, p.284), o estudo hidrogrfico como um indicador ambiental requer um mapa detalhado da rede de canais fluviais, elaborado a partir de fotografias areas em escalas grandes, preferencialmente no inferiores a 1: 25.000, de onde sejam mapeados todos os cursos de gua, inclusive os efmeros. A anlise de bacias hidrogrficas situadas em pores territoriais desprovidas de bases cartogrficas em escala grande, de onde se poderiam obter dados hidrogrficos, altimtricos e de superfcie, necessita de um mapeamento detalhado que restitua a hidrografia e delineie os divisores de gua, elaborado por meio de fotointerpretao, sensoriamento remoto e pesquisas de campo. Neste artigo apresentamos os resultados do mapeamento da rede hidrogrfica e da anlise morfomtrica comparativa das bacias dos rios Tijupe e Tijuipinho, situadas no litoral sul da Bahia, ocupando parte do territrio dos municpios de Ilhus, Uruuca e Itacar (figura 01). Entre a vila de Serra Grande, sede de um distrito de Uruuca, e a cidade de Itacar, na foz do rio de Contas, um compartimento planltico formado por serras, macios e tabuleiros, alcana o mar estruturando uma costa dominantemente rochosa, com costes e promontrios que entremeiam pequenas praias, exceo feita praia do Itacarezinho, onde desgua o rio Tijupe. Este planalto, que encontra o oceano neste pequeno trecho da costa baiana, se constitui num litoral de elevada importncia scio-ambiental, em funo dos remanescentes da floresta tropical (Mata Atlntica) que ainda recobrem muitos dos morros, bem como pelo fato de alguns dos rios costeiros, como o Tijuipinho, terem captada parte de suas guas para o abastecimento pblico. A inexistncia de uma base cartogrfica em escala grande, para o litoral sul da Bahia, nos indicou a necessidade de um mapeamento hidrogrfico detalhado que elaboramos interpretando fotografias areas em escala grande, imagens de satlite de alta resoluo e imagens de radar, bem como realizando pesquisas de campo. Por meio de foto de

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    fotointerpretao e sensoriamento remoto restitumos as redes hidrogrficas e delineamos o contorno estabelecido pelos divisores de gua das bacias, processando estas informaes em um Sistema de Informao Geogrfica (SIG), que utilizamos para a edio dos mapas e leitura digital dos dados necessrios anlise morfomtrica comparativa.

    Figura 1. Mapa de localizao das bacias dos rios Tijupe e Tijuipinho, litoral sul da Bahia.

    Fonte: SUDENE (1977)

    Um Modelo Digital de Elevao (MDE) foi preparado para identificar as caractersticas topogrficas das bacias, que serviu inclusive como auxiliar na restituio hidrogrfica e no delineamento dos divisores de gua. Pesquisas de campo foram realizadas para controlar o mapeamento hidrogrfico e dos divisores, bem como para verificar a compatibilidade do MDE com as formas de relevo das bacias. A anlise morfomtrica teve por objetivo identificar e comparar as caractersticas fsicas da estrutura das redes hidrogrficas, do sistema fluvial e da topografia das bacias. Antes dos procedimentos metodolgicos e dos resultados da anlise, apresentamos algumas caractersticas regionais do meio fsico do litoral sul da Bahia.

    CARACTERSTICAS REGIONAIS DO MEIO FSICO DO LITORAL SUL DA BAHIA Apesar de inserida em uma regio formada em funo da produo de cacau (a conhecida regio cacaueira da Bahia), esta pequena faixa litornea, de aproximadamente 25 km de costa, historicamente esteve fora do sistema produtivo cacaueiro, por causa da dificuldade de plantio e escoamento da produo num meio fsico de relevo planltico, de mar de morros (MELIANI, 2011, p. 57). Mesmo com a proximidade de Ilhus e Itabuna, os centros regionais, este trecho da costa sul baiana se manteve em certo isolamento regional, em virtude da desintegrao com o modo de produo cacaueiro, bem como pela inexistncia de acessos por estradas pavimentadas, num lugar cercado de morros e submetido a um clima supermido. As dcadas de isolamento do litoral entre Serra Grande e Itacar respondem, em parte, pela conservao dos fragmentos de Mata Atlntica que ainda recobrem muitos dos morros do lugar. Este isolamento se rompeu em 1998, com a pavimentao de um trecho da rodovia BA-001, entre Ilhus e Itacar, chamado estrada-parque por atravessar fragmentos conservados de Mata Atlntica, uma obra idealizada e financiada por polticas do Programa de

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    Desenvolvimento Turstico da Bahia I (PRODETUR I). Este litoral, com seus morros florestados, uma rea prioritria para a conservao da Mata Atlntica na Bahia, que atualmente serve de material publicitrio para a economia do turismo (MELIANI, 2011). Na primeira metade dos anos 1990, j na perspectiva da atrao de recursos econmicos e turistas, a ao do Estado pautou-se tambm na criao de unidades de conservao da natureza, notadamente as reas de Proteo Ambiental (APA), um tipo de unidade de conservao onde permitido o desenvolvimento de atividades econmicas, desde que submetidas ao enquadramento no plano de manejo. Entre as dezenas de APAs criadas pelo governo do Estado da Bahia, para esta poro do territrio baiano foi criada a APA da Costa de Itacar-Serra Grande, em 1993, que ocupa uma faixa costeira de 6 km entre a cidade de Itacar e a vila de Serra Grande. Em 1997, outra unidade de conservao da natureza foi criada junto costa, desta vez de proteo integral, o Parque Estadual da Serra do Condur (PESC), que foi solicitado pelos ambientalistas como compensao pelos impactos causados com a construo da estrada-parque, notadamente a fragmentao florestal. Localizado numa posio mais interiorana, adjacente costa de Ilhus, Uruuca e Itacar, o territrio do PESC compreende uma rea que envolve e circunda a Serra do Conduru, um conjunto de elevaes recobertas por fragmentos secundrios de Mata Atlntica, onde nascem muitos rios da regio, inclusive o Tijupe e o Tijuipinho. O planalto pr-litorneo de Itacar-Serra Grande est atualmente submetido a um clima tropical quente e mido a supermido, que domina sobre uma faixa longitudinal do litoral baiano com cerca de 20 km de largura, entre os municpios litorneos de Itaparica e Una (NUNES, RAMOS e DILLINGER, 1981). Nesta faixa costeira ocorrem elevadas temperaturas mdias anuais, entre 24 e 25 C, e baixas amplitudes trmicas anuais, ao redor de 7a 8 C (CEPLAC, 1975). A aproximada posio geogrfica, em relao linha do Equador, faz com que este trecho da costa baiana esteja exposto a forte radiao, com incidncia pouco inclinada dos raios solares durante todo o ano. Tambm em funo da baixa latitude, as mdias das variaes trmicas dirias e sazonais so pequenas, entre 26 e 28 C, muito influenciadas pelos constantes ventos alsios que sopram contra o litoral sul baiano (NUNES, RAMOS e DILLINGER, 1981). Esta faixa climtica, que envolve toda a conhecida zona cacaueira da Bahia, tem como caracterstica marcante alta umidade, com mdias pluviomtricas anuais que superam os 2.000 milmetros, sem a ocorrncia de uma estao seca tpica (GONALVES e PEREIRA, 1981). Segundo Meliani (2003, p. 17), que analisou uma srie de dados pluviomtricos registrados em uma estao meteorolgica da SUDENE instalada em Itacar, a mdia anual de precipitao nesta zona se aproxima dos 2,5 mil mm, distribudos em mais de 200 dias por ano. De acordo com o autor, durante o outono que ocorrem as maiores quantidades de chuva, no ocorrendo, em contrapartida, uma estao tipicamente seca. Apesar da notvel abundncia de chuvas durante os meses do outono, com mdia de precipitao na estao variando entre 600 e 1000 milmetros, as estaes relativamente menos chuvosas raramente apresentam volumes inferiores a 400 milmetros (MELIANI, 2003, p. 18). As chuvas no litoral sul baiano acontecem por causa da elevada umidade das massas de ar que dominam a circulao normal da atmosfera, bem como a perturbaes advindas da circulao secundria. Segundo Gonalves e Pereira (1981), a circulao atmosfrica normal, que domina na maior parte do ano nesta zona, determinada pela dinmica das massas de ar Equatorial Atlntica (EA) e Tropical Atlntica (TA). A circulao secundria caracterizada pelas perturbaes provocadas por Linhas de Instabilidade Tropical (IT), por Ondas de Leste (OL) e pela Frente Polar Atlntica (FPA). A orientao N/NE-S/SO da linha de costa, perpendicular aos alsios, bem como o relevo planltico adjacente a costa, que se eleva na medida em que se interioriza, so tambm condicionantes da elevada pluviosidade, notadamente as chuvas orogrficas quando do avano das massas de ar midas por sobre o continente (MELIANI, 2013, p. 19). O litoral entre Itacar e Serra Grande situa-se em um compartimento planltico pertencente ao Domnio Morfoestrutural dos Planaltos Cristalinos da Bahia, mais precisamente Regio Geomorfolgica denominada Planalto Cristalino Rebaixado, uma extensa superfcie adjacente ao litoral baiano, que se estende do municpio de Salvador ao de Una (NUNES, RAMOS e DILLINGER, 1981). Os Planaltos Cristalinos Rebaixados se distinguem em duas

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    unidades geomorfolgicas: a das Serras e Macios Pr-Litorneos (de natureza cristalina e um pouco mais elevada e interiorana) e a dos Tabuleiros Pr-Litorneos (de natureza cristalino-sedimentar, menos elevada e adjacente a costa). Composto por granulitos e milonitos, entre outras rochas, o embasamento geolgico desta poro do litoral sul baiano, entre Serra Grande e Itacar, faz parte um domnio metamrfico complexo, localmente recoberto por coberturas detrticas tercirias (Formao Barreiras), enquanto que os depsitos mais recentes (quaternrios) ocorrem na orla martima e no fundo das plancies fluviais atuais. De acordo com Meliani, Oliveira e Santana (2013, p. 07), as Serras e Macios Pr-litorneos so elevaes em geral convexas e de natureza cristalina, mas de topografia distinta, pois ocorrem desde colinas at grandes morros com topos aguados, de vertentes ngremes e com diferenas por vezes superiores a 200 metros entre o topo e a base. Por sua vez, os Tabuleiros Pr-litorneos correspondem s elevaes de natureza cristalino-sedimentar adjacentes a costa, que alcanam um mximo de 120 metros de altitude (MELIANI, 2012, p. 504). De acordo com o autor, estas elevaes so sustentadas por rochas do embasamento cristalino, todavia, parcialmente inumadas por coberturas sedimentares, que conferem um aspecto tabular aos interflvios menos dissecados pela atual eroso fluvial. Ao recobrirem o embasamento metamrfico, estes sedimentos configuram formas aplainadas de relevo, estabelecendo, onde h maior distribuio sedimentar, formas tabulares ao topo das elevaes, como ocorre na localidade conhecida como Campo Cheiroso, uma superfcie plana divisora de guas das bacias do Jeribucassu, Burundanga e Tijupe. De modo geral, este compartimento planltico drenado por meio de bacias de rios relativamente pouco extensos que correm diretamente para o oceano Atlntico, como o Jeribucassu, o Burundanga e o Tijupe, bem como por afluentes da margem direita do rio de Contas, como o riacho do Capito, entre outros. A influncia da tectnica manifesta-se na estrutura do relevo, na linha de costa e nas redes hidrogrficas adaptadas estrutura geolgica, principalmente no sentido N-NE, acompanhando fraturas, falhas ou sequncias de dobramentos (MELIANI, 2003, p. 97). Para Meliani (2012, p.503), h uma relao do relevo do litoral sul de Itacar com lineamentos associados ao padro de drenagem, inclusive com a ocorrncia de vales adaptados estrutura e de quedas dgua originadas de falhamentos. Na costa, tambm estruturada na direo N-NE, ocorrem modelados de acumulao, como praias arenosas, praias de seixos e de blocos, terraos marinhos, dunas, restingas e plancies de mar, que traduzem as etapas de evoluo do litoral e dos baixos cursos dos rios costeiros do municpio (MELIANI, 2012, p. 504). PROCEDIMENTOS METODOLGICOS Em funo da inexistncia de uma base cartogrfica em escala grande, para o litoral sul da Bahia, elaboramos um mapeamento da rede hidrogrfica das bacias do Tijupe e do Tijuipinho por meio de fotointerpretao, sensoriamento remoto e pesquisas de campo. Nas folhas topogrficas Itacar e Ubaitaba (SUDENE, 1977a; 1977b), em escala 1: 100.000, est a base cartogrfica oficial para esta poro do litoral baiano, elaborada pela Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), em 1977, sendo posteriormente digitalizada pela Superintendncia de Estudos Econmicos e Sociais da Bahia (SEI). Apesar de incompatvel com a anlise de detalhe proposta para este estudo, estas folhas topogrficas da SUDENE foram importantes nos estudos preliminares das bacias, do mesmo modo que outros documentos cartogrficos regionais existentes em escala pequena, especialmente os elaborados por Mendona (1979), RADAMBRASIL (1980), VeS Engenheiros Consultores (1996) e Arcanjo (1997). RESTITUIO DAS REDES HIDROGRFICAS E DELINEAMENTO DOS DIVISORES DE GUA O mapeamento hidrogrfico teve como base a interpretao de fotografias areas em escala 1:25.000 (CRUZEIRO DO SUL, 1964), de uma imagem de satlite de alta resoluo espacial (IKONOS, 2010) e dos dados geomorfomtricos do Brasil (TOPODATA), estes ltimos disponibilizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). As operaes necessrias para o mapeamento foram processadas em meio digital, com auxlio do software ArcGis, que permitiu a elaborao de um Sistema de Informaes Geogrficas (SIG), a edio dos mapas e a leitura digital das informaes necessrias anlise morfomtrica pretendida. A

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    fotointerpretao possibilitou a restituio dos cursos dgua e o delineamento dos interflvios que circundam a rede hidrogrfica das bacias. Com a imagem de satlite foi possvel aprimorar a restituio das redes hidrogrficas obtida pela fotointerpretao, notadamente no baixo curso das bacias, onde foi possvel, em funo da alta resoluo da imagem, identificar e restituir o percurso dos canais fluviais simplesmente seguindo as linhas hidrogrficas aparentes pela presena da gua. Em campo, com auxlio de um dispositivo Global Position System (GPS), foram realizadas pesquisas para controle da restituio hidrogrfica e do delineamento dos divisores, inclusive com a localizao de cursos dgua no perceptveis nas fotografias areas e na imagem de satlite, alm da verificao da compatibilidade do MDE com as formas de relevo existentes na bacia. PREPARAO DE MODELOS DIGITAIS DE ELEVAO (MDE) Os dados geomorfomtricos ou representaes pictricas do projeto TOPODATA, que permitem a elaborao de MDEs a partir do cruzamento de imagens de satlites da Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) que possui acurcia vertical nominal de 16 metros (USGS, 2003), tambm contriburam no aprimoramento da restituio hidrogrfica e no delineamento do divisor de guas das bacias. Conforme orientao de Valeriano (2008, p. 92), a posio altimtrica dos canais fluviais restitudos pela fotointerpretao pde ser determinada pela localizao dos pontos mais baixos de sees transversais dos vales, bem como pela localizao de pontos cuja vizinhana apresenta uma nica direo. Os divisores de gua tambm puderam ser verificados e delineados por meio das mesmas tcnicas, levando-se em conta que os interflvios apresentam relao inversa com os canais fluviais, ou seja, se localizam nos pontos mais altos das sees transversas do vales. Os dados do TOPODATA foram tambm utilizados na identificao de caractersticas topogrficas das bacias, em funo da limitao da base cartogrfica oficial (SUDENE, 1977) que, por ser em escala 1: 100.000, apresentam informaes topogrficas pouco detalhadas, como as curvas de nvel com eqidistncia de 40 metros. Em funo disso, optamos pela preparao de um MDE a partir dos dados topogrficos matriciais rasterizados do projeto TOPODATA, pois estes apresentam resoluo espacial de 30 metros e exagero vertical (z) interpolados a partir de informaes de altimetria do relevo baseados em cartas topogrficas digitais e valores do SRTM (VALERIANO, 2005, p. 3.596) e, portanto, apresentam maior detalhamento comparado a base cartogrfica oficial da regio. Segundo o autor, a utilizao de MDEs obtidos por sensores orbitais representa uma alternativa interessante para pores do territrio brasileiro carentes de mapeamentos topogrficos detalhados, principalmente para a obteno de variveis derivadas da altimetria, como a declividade, possvel com operaes de vizinhana. Com a elaborao de um MDE, conforme sugerido por Valeriano (2008, p. 92), foi possvel obter as informaes topogrficas necessrias para a anlise morfomtrica proposta, notadamente a hipsometria. ANLISE MORFOMTRICA COMPARATIVA DAS BACIAS Depois de restituda a rede hidrogrfica, delineado o divisor de guas e elaborado o MDE, realizamos a anlise morfomtrica com o objetivo de identificar e comparar algumas das caractersticas da estrutura e do sistema fluvial, bem como da topografia das bacias. Para a obteno destas caractersticas usamos equaes sugeridas e reconhecidas por diversos autores, como Back (2006), Silveira (1997), Teodoro et al (1997), Beltrame (1994), Abdalla (1989), Giometti e Garcia (1984), Christofoletti (1980), Villela e Mattos (1975), entre outros, que apresentamos juntos aos resultados da anlise. A anlise morfomtrica comparativa foi organizada a partir de trs categorias: 1. Quanto estrutura fluvial, identificamos o total de cursos dgua, a quantidade de afluentes, subafluentes, formadores, lagos e represas, reconhecendo a extenso e a hierarquia destes corpos dgua e da rede hidrogrfica como um todo. 2. Quanto ao sistema fluvial, identificamos a rea (superfcie), o permetro e a forma da bacia (ndice de circularidade e coeficiente de compacidade), a densidade hidrogrfica, a densidade de drenagem, o coeficiente de manuteno, a extenso do percurso superficial, o comprimento vetorial e a sinuosidade do rio principal.

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    3. Quanto topografia da bacia, identificamos os padres de drenagem, as altitudes, a relao de relevo, o ndice de rugosidade e o comprimento das bacias, bem como a declividade mdia dos rios principais.

    CARACTERSTICAS FSICAS DAS BACIAS DOS RIOS TIJUPE E TIJUIPINHO As bacias hidrogrficas dos rios Tijupe e Tijuipinho localizam-se no litoral sul da Bahia, entre os meridianos 481550O e 492117O e entre os paralelos 83031S e 84368S, e esto parcialmente inseridas nos territrios dos municpios de Ilhus, Uruuca e Itacar (figura 2). Pores de suas superfcies esto includas em duas unidades de conservao: o Parque Estadual da Serra do Condur (PESC) e a APA da Costa de Itacar-Serra Grande. O rio principal, o Tijupe, percorre 34,76 km da sua nascente na Serra do Condur, no extremo oeste da bacia, at sua foz no Oceano atlntico, junto praia do Itacarezinho. Entre os afluentes, o Tijuipinho merece considerao especial, mesmo sendo o ltimo afluente a desaguar no Tijupe, j na plancie flvio-marinha da foz, pois o mais longo depois do principal, 21,14 km, e dele que se capta gua para abastecimento pblico, alm de ser ele tambm o que recebe as guas tratadas pela Empresa de Saneamento da Bahia (EMBASA). Cabe destacar ainda que o um dos afluentes do Tijuipinho, o rio Pancadinha, passa pela rea urbana da sede do distrito de Serra Grande, e sofre presso antrpica concernente ao desmatamento da vegetao ciliar e ao lanamento de lixo e esgoto domstico e comercial.

    Figura 2. Mapa hidrogrfico das bacias dos rios Tijupe e Tijuipinho.

    Fonte: CRUZEIRO DO SUL (1964); TOPODATA (2009); IKONOS (2010).

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    A ESTRUTURA DAS REDES HIDROGRFICAS As nascentes do Tijupe, do Tijuipinho e de seus afluentes foram localizadas determinando-se qual dos canais de 1 ordem, aqueles que no possuem tributrios, tem sua cabeceira em cota altimtrica mais elevada. Para tal determinao, editamos um mapa hipsomtrico das bacias (figura 03), que representa as informaes altimtricas obtidas pelo MDE elaborado a partir dos dados geomorfomtricos do projeto TOPODATA. Nos casos em que mais de um canal de 1 ordem de um curso dgua, esteja na mesma cota altimtrica, foi considerada como nascente a cabeceira do canal de 1 ordem que est mais distante da foz do canal estudado. De acordo com estes critrios, foi determinada como nascente principal do rio Tijupe, a cabeceira do canal de 1 ordem mais distante da foz, localizada a 228 metros de altitude, no extremo oeste da bacia, na Serra do Condur, o divisor de guas topograficamente mais expressivo, onde nascem tambm alguns importantes afluentes. Uma sntese das caractersticas da estrutura da rede hidrogrfica das bacias apresentada no quadro 1.

    Quadro 01. Caractersticas estruturais da rede hidrogrfica. Caractersticas Hidrografia do Tijupe Hidrografia do Tijuipinho Quantidade de canais fluviais (total e %) 516 ( 72,3%) 198 (27,7%) Quantidade de afluentes diretos (total e %) 43 (51,8%) 40 (48,2%) Quantidade de subafluentes (total e %) 144 (66,6%) 72 (33,4%) Quantidade de formadores (total e %) 132 (89,7%) 15 (10,3%) Quantidade de lagos e represas (total) 4 (20%) 16 (80%) Hierarquia do rio principal (seo final) 5 ordem 4 ordem Canais de 1 ordem (total e %) 377 (70,8%) 155 (29,2%) Canais de 2 ordem (total e %) 119 (76,7%) 36 (23,3%) Canais de 3 ordem (total e %) 16 (72,7%) (27,3%) Canais de 4 ordem (total e %) 3 (75%) 1 (25%) Canais de 5 ordem (total e %) 1 (100%) -

    Fonte: Mapa hidrogrfico das bacias dos rios Tijupe e Tijuipinho

    A estrutura da rede hidrogrfica da bacia do rio Tijupe composta por 516 canais fluviais perenes, intermitentes ou efmeros, que fora restitudos e mapeados por meio de fotointerpretao, sensoriamento remoto e pesquisas de campo. Destes 516 cursos dgua, 43 so afluentes diretos do Tijupe, 144 so subafluentes e 132 so formadores de 1 ou 2 ordem. J a rede hidrogrfica do Tijuipinho constituda por 198 cursos dgua, sendo 40 afluentes, 72 subafluentes e 15 formadores. Ao longo dos cursos dgua em ambas as bacias existem 20 lagos e represas, 4 na bacia do Tijupe e 16 na do Tijuipinho, muitas destas construdas para o abastecimento local de gua para consumo, dessedentao de animais e irrigao, bem como, em alguns casos, para a produo de peixes. A ordenao dos cursos dgua permitiu a caracterizao da hierarquia dos canais fluviais e do grau de ramificao das redes hidrogrficas das bacias. A ordenao utilizada foi proposta por Strahler (1952) apud Christofoletti (1980, p.107), que estabelece um aumento sucessivo do nmero de ordem de um determinado curso dgua, na medida em que este vai recebendo afluentes de mesma ordem. Desta maneira, a seo final do rio principal de uma bacia indica, por meio de sua ordem, a hierarquia fluvial do rio principal e o grau de ramificao de sua rede hidrogrfica. A rede hidrogrfica da bacia do rio Tijupe possui uma hierarquia de 5 ordem, enquanto que a do Tijuipinho uma hierarquia de 4 ordem. Segundo Christofoletti (1980, p. 116), em uma bacia hidrogrfica existe correspondncia entre a hierarquia fluvial e a superfcie, pois nas bacias de 2, 3 ou ordem mais elevada, a rea a elas subordinada abrange tambm a rea de todos os segmentos de ordem menores que lhe so subsidirios. Desta maneira, cada seo de ordem superior drena uma rea que cada vez maior medida que aumenta a ordem dos canais. O SISTEMA FLUVIAL DAS BACIAS A relao da rede hidrogrfica com a rea da bacia, entre outros aspectos, permite a identificao de caractersticas do sistema fluvial, notadamente algumas concernentes a drenagem na superfcie da bacia e ao escoamento concentrado nos canais fluviais (quadro 2). A rea de uma bacia corresponde projeo horizontal de sua superfcie, a sua rea de captao das guas das chuvas, um fator determinante, segundo Garcez e Alvarez (1988,

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    p.213) e Pinto et al. (1976, p.34), no afluxo de gua aos canais fluviais. Para Silveira (1997, p.46), a rea um dado fundamental para definir a potencialidade hdrica da bacia hidrogrfica, porque seu valor multiplicado pela lmina da chuva precipitada define o volume de gua recebido pela bacia. Deste modo, a rea pode se constituir como um indicador preliminar do potencial de captao das guas superficiais de uma bacia ou sub-bacia, subsidiando aes voltadas preservao de mananciais (MELIANI, 2006, p. 125). O delineamento dos divisores de gua nos permitiu identificar, por meio de leitura digital, que a rea da bacia do rio Tijupe de 74,66 km2, enquanto que a rea de seu maior afluente, o Tijuipinho, de 41,27 km2.

    Quadro 02. Caractersticas do sistema fluvial. Caractersticas do sistema fluvial Bacia do rio Tijupe Bacia do Tijuipinho rea da bacia (km2) 74,66 km 41,27 km Extenso da rede hidrogrfica (Km) 279,92 km 110,25 km Permetro da bacia (km) 55,43 km 36, 735 km ndice de circularidade (adimensional mximo = 1,0) 0,30 0,38 Coeficiente de compacidade (adimensional mnimo = 1,0) 1,79 1,60 Densidade hidrogrfica (quantidade de canais por km2) 6,91 4,79 Densidade de drenagem (Km de canais/km) 3,74 2,67 Coeficiente de manuteno (m2 de superfcie/metro de canal) 374,00 267,00 Extenso mdia do percurso superficial (metros) 748 534 Extenso do rio principal (Km) 34,76 21,14 Comprimento vetorial do rio principal (km) 15,87 12,50 Sinuosidade (adimensional mnimo = 1,0) 2,19 1,69 ndice de sinuosidade do rio principal (%) 54,34 40,87

    Fonte: Mapa hidrogrfico das bacias dos rios Tijupe e Tijuipinho

    Para Meliani (2006, p. 126), a quantidade e a extenso dos cursos dgua, bem como a densidade hidrogrfica (Dh) e de drenagem (Dd), so tambm indicadores da potencialidade hdrica, pois bacias com muitos e longos canais possuem potencial superior de captar e transportar as guas precipitadas em suas superfcies. O valor referente extenso da rede se obtm por meio do somatrio dos comprimentos de todos os canais fluviais da bacia, enquanto que os ndices de densidade so resultantes da relao entre o total de canais (Dh) e a extenso deles (Dd) e a rea da bacia. Todas estas informaes, nmero e extenso de canais, bem como a densidade hidrogrfica e a de drenagem, esto intimamente relacionadas com a escala de trabalho adotado no mapeamento hidrogrfico, dificultando assim a comparao de ndices de densidade de bacias diferentes e impossibilitando a comparao de dados obtidos em escalas de trabalho diferentes. A extenso da rede hidrogrfica do rio Tijupe, somados os comprimentos de todos os 516 cursos dgua que cruzam a superfcie da bacia, sejam afluentes, subafluentes e formadores, de 279,92 km de canais fluviais, enquanto que o somatrio dos cursos dgua da rede do Tijuipinho de 110,25 km de canais de escoamento. A densidade hidrogrfica (Dh) da bacia do Tijupe de 6,91 cursos dgua/km2, um ndice resultante da relao entre a quantidade de canais de uma bacia e a rea de sua superfcie. Para a bacia do Tijuipinho, a densidade hidrogrfica calculada de 4,79 canais/km2. Chamada por Christofoletti (1980, p. 115) de densidade de rios e tem como finalidade comparar a freqncia ou a quantidade de cursos dgua existentes em uma rea de tamanho padro como, por exemplo, o quilmetro quadrado. Segundo Abdalla (1989, p. 385), tambm comum a denominao frequncia de rios, termo inicialmente proposto por Horton em 1945 (stream frequency). Para Christofoletti (1980, p. 108), na natureza, sob condies geogrficas e climticas similares, a descarga e outras caractersticas hidrolgicas dependem, em grande parte, do nmero de canais existentes na rea. A densidade de drenagem (Dd) um ndice determinado pela relao entre a extenso de uma rede hidrogrfica e a rea de sua bacia. Giometti e Garcia (1984, p. 189) afirmam que possvel correlacionar a permeabilidade do substrato com a densidade de drenagem, pois quando a permeabilidade aumenta, a densidade de drenagem diminui. Segundo Christofoletti (1980, p. 116), nas rochas onde a infiltrao encontra maior dificuldade h condies melhores para o escoamento superficial, gerando possibilidades para a esculturao de canais e, como

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    consequncia, densidade de drenagem mais elevada. Sobre substratos impermeveis, o ndice de densidade de drenagem elevado devido tendncia que as guas superficiais tm, ao serem impedidas de infiltrar, de escoar para e pelos cursos dgua gerando, por vezes, novos canais. A densidade de drenagem (Dd) calculada para a bacia do rio Tijupe de 3,74 km de canais/km2, enquanto que a Dd da bacia do Tijuipinho de 2,67 Km de canais/km2. Na literatura no existe consenso nas classificaes da densidade de drenagem de bacias hidrogrficas. Christofoletti (1969, p. 38), por exemplo, entende que a Dd baixa quando h menos do que 7,5 km de canais/km2, mdia quando os valores de Dd esto entre 7,5 e 10,0 km de canais/km2, e alta a Dd quando h mais do que 10,0 km de canais/km2. Para Beltrame (1994, p. 55), a Dd baixa quando menor do que 0,5 km de canais/km2, mediana entre 0,51 e 2,0 km de canais/ km2, alta entre 2,01 e 3,5 km de canais/km2 e muito alta quando a Dd maior do que 3,5 km de canais/km2. Assim, as Dd das bacias do Tijupe e do Tijuipinho so consideradas baixas para Christofoletti (1980), todavia so de alta e muito altas Dd para Beltrame (1994). Outros indicadores derivados da Dd so interessantes para a caracterizao do sistema fluvial, como o coeficiente de manuteno (Cm) e a extenso do percurso superficial (Eps), porque dizem respeito drenagem no-canalizada das guas na superfcie de uma bacia hidrogrfica. De acordo com Abdalla (1989, p. 386), o coeficiente de manuteno representa a rea das vertentes que no possuem canais estabelecidos de escoamento que pode, com o a evoluo do relevo da bacia, diminuir medida que novos canais vo se formando. J a extenso do percurso superficial, de acordo com Christofoletti (1980, p. 111), representa a distncia mdia percorrida pelas enxurradas entre o interflvio e o canal permanente que, com a evoluo do sistema fluvial, se ajusta ao tamanho das sub-bacias de 1 ordem. Para Meliani (2006, p. 125), o coeficiente de manuteno (Cm) tambm um parmetro que se relaciona com o potencial de captao das guas, porque ele expressa rea mnima necessria, em metros quadrados, para a manuteno de um metro de canal fluvial na superfcie da bacia. O coeficiente de manuteno obtido pela equao , desde que a densidade de drenagem esteja expressa em km de canais/km2, indicando assim, em m2/m, a rea disponvel para a alimentao e abastecimento dos canais fluviais. Depois de calculado, observasse que na bacia do rio Tijupe o Cm de 374,00 m2/m, ou seja, na superfcie da bacia so necessrios em mdia 374 m2 de terreno no canalizado para manter 1 m de canal de escoamento concentrado. Para a bacia do Tijuipinho, o Cm calculado foi de 267,00 m2/m, nos mostrando que, nesta bacia, para se manter um metro de curso dgua canalizado preciso uma menor superfcie do que na bacia do Tijupe. Tambm derivado da Dd, a extenso do percurso superficial (Eps) identificada em metros (m) por meio da equao , desde que a Dd esteja expressa em km de canais por km2. Em bacias bem drenadas, com elevados ndices de densidade de drenagem, o percurso superficial das guas precipitadas at um dos canais estabelecidos de escoamento concentrado apresenta distncias mdias menores, quando comparadas a sub-bacias com baixa densidade de drenagem, e vice-versa. O Eps calculado para a bacia do Tijupe foi de 748 metros, ou seja, as guas precipitadas na superfcie da bacia percorrem essa distncia, em mdia, at alcanaram um canal fluvial estabelecido. Para a bacia do Tijuipinho, a Eps calculada foi de 534 metros, ou seja, nesta bacia a distncia mdia percorrida pelas guas at um canal de escoamento permanente menor do que na superfcie da bacia do Tijupe. Por sua vez, a forma da bacia que tem uma direta relao com o comportamento hidrolgico dos cursos dgua, porque ela pode influenciar no tempo de concentrao das guas, ou seja, no tempo que as guas precipitadas em determinado ponto da bacia leva para alcanar o exutrio ou at uma seo especfica de um de seus cursos dgua. Em bacias com forma alongada, por exemplo, os tempos de concentrao das guas so mais curtos com tendncia ao aumento abrupto no regime fluvial, situao que sugere a ocorrncia de torrentes em uma determinada seo de curso dgua aps as chuvas. Segundo Christofoletti (1969, p. 40), o crculo a forma que melhor se relaciona com o escoamento fluvial, j que bacias hidrogrficas que apresentam forma relativamente circular tendem a escoar as guas de modo mais equilibrado ao longo do tempo, com um aumento gradual da vazo aps as chuvas. Para o

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    reconhecimento da forma das bacias do Tijupe e Tijuipinho, identificamos o ndice de circularidade e o coeficiente de compacidade, ambos relacionam a forma da bacia com a forma de um crculo. O ndice de circularidade (Ic) uma relao ente a rea (A) de uma bacia e a rea de um crculo de mesmo permetro (Ac), ou seja, , sendo o resultado um valor adimensional que pode ser no mximo igual a 1. Como o valor mximo a ser obtido desta relao 1, quanto maior o valor obtido, ou seja, quanto mais prximo de 1, mais aproximada da forma circular a forma da bacia (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 114). De acordo com Teodoro et al (2007, p. 148), esta relao pode ser calculada atravs da frmula , considerando A o valor correspondente a rea da bacia e P o valor correspondente ao seu permetro. O Ic calculado para a bacia do rio Tijupe foi de 0,30, enquanto que para a bacia do Tijuipinho foi de 0,38, portanto, de acordo com a premissa anterior, a forma da bacia difere muito daquela de um crculo. O coeficiente de compacidade (Kc) a relao entre o permetro da bacia (P) e a circunferncia de um crculo de rea igual a da bacia (Ac), que pode ser obtida, segundo Back (2006, p. 109), atravs da equao . Assim, o valor mnimo a ser obtido nesta relao 1 (caso a bacia tenha a forma de um crculo perfeito), portanto, quanto mais prximo de 1 mais circular a bacia e, ao contrrio, quanto maior o Kc mais prximo da forma alongada tende a ser a bacia. O Kc calculado para a bacia do Tijupe foi de 1,79 e para a bacia do Tijuipinho foi de 1,60, nos indicando, do mesmo modo que o Ic, uma forma bastante diferente daquela de um crculo. Muito condicionadas pela estrutura geolgica, estas bacias apresentam formas quase elpticas, relativamente alongadas, notadamente influenciadas pelos lineamentos estruturais da regio, que determinaram a formao de dois vales paralelos, o do Tijupe e do Tijuipinho, na direo SO-NE. Por serem alongados, estes vales so pouco propensos a grandes enchentes, pois baixa a probabilidade de ocorrerem chuvas intensas ao mesmo tempo em toda a superfcie deles. Todavia, em situaes de chuva intensa em suas cabeceiras, os vales do Tijupe e a do Tijuipinho podem apresentar um tempo bastante reduzido de concentrao das guas precipitadas e, assim, estarem sujeitos a torrentes eventuais, ou seja, a episdios de rpido crescimento do deflvio nas reas a jusante. As calhas dos rios Tijupe e Tijuipinho esto encaixadas em sulcos estruturais concernentes a direo NE geolgica dominante no compartimento planltico de Itacar-Serra Grande. Apesar de encaixados, os rios Tijupe e Tijuipinho apresentam percursos sinuosos, tambm em funo da estrutura falhada e fraturada do embasamento, que apresenta diversos lineamentos preferenciais para o escoamento das guas. A sinuosidade de um canal fluvial um dos fatores controladores da velocidade do escoamento, pois quanto mais retilneo for um canal, mais rapidamente a gua poder escoar por ele. A recproca verdadeira, pois as curvas de um canal fluvial provocam uma diminuio na velocidade do escoamento das guas, situao muito comum em relevos planos, onde a energia potencial da gravidade tem menor efeito. A sinuosidade (Sin) de um curso dgua pode ser identificado pela simples relao entre o comprimento do rio (L) com o seu comprimento vetorial (Ev), que corresponde distncia em linha reta da nascente foz, ou seja, . O resultado desta equao um nmero adimensional que, no mnimo, pode ser igual a 1, caso o rio analisado seja exatamente uma linha reta. Assim, valores baixos (aproximados de 1) indicam que o percurso do rio apresenta pouca sinuosidade, enquanto que, valores mais elevados (acima de 2) so caractersticos de rios sinuosos. Para o autor (BACK, 2006, p. 113), valores de sinuosidade prximos a 1 indicam que os canais tendem a serem mais retilneos, j valores superiores a 2 sugerem canais irregulares. Considerando esta relao, ambos os canais so sinuosos ou irregulares nos termos de Back, porm a sinuosidade maior no percurso do Tijupe (Sin = 2,19) do que no do Tijuipinho (Sin = 1,69). Contudo, para Back (2006, p. 110), a sinuosidade pode ser mais bem classificada por meio da caracterizao do ndice de sinuosidade (Is), que obtido pela equao , conforme L e Ev j enunciados. Expresso em percentual (%), o Is pode ser classificado,

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    segundo Back (2006, p. 110), em classes que descrevem a sinuosidade do rio de acordo com a variao percentual em: muito reto (50%). De acordo com esta classificao, o Tijupe, que apresenta Is de 54,34%, um rio muito sinuoso, enquanto que o Tijuipinho, com Is de 40,87%, um rio sinuoso. HIPSOMETRIA DAS BACIAS ANALISADAS Apesar de sinuosos, os rios Tijupe e Tijuipinho esto encaixados em sulcos estruturais, que estabelecem a primeira caracterstica do padro de drenagem das bacias, com os rios e afluentes principais correndo paralelos ou subparalelos na direo N-NE, com eventuais cursos dgua fluindo em direo transversal aos principais, ajustados a fraturamentos estruturais secundrios. Ao padro de drenagem (sub) paralelo, articula-se um padro dendrtico na menor nervura da drenagem, referente aos cursos dgua de 1 ordem, que no necessariamente se relacionam com o controle estrutural, dissecando em diferentes direes o relevo das reas mais cimeiras da bacia. O padro dendrtico se faz observar nas confluncias, onde desguam estes cursos dgua formadores das redes hidrogrficas, quase sempre formando ngulos agudos, de graduaes variadas. A prpria orientao geral das bacias, SO-NE, segue o padro imposto pela estrutura tectnica do compartimento planltico pr-litorneo da costa de Itacar-Serra Grande, que tem como caracterstica a ocorrncia de elevaes cristalinas ao longo do litoral. A altitude mdia da bacia do Tijupe de 209,5 metros, numa variao que vai dos 419 metros no divisor topogrfico mais expressivo da bacia, a Serra do Condur, ao nvel do mar na foz do rio Tijupe, na praia do Itacarezinho, o que faz a amplitude altimtrica ser igual altitude mxima da bacia. Do mesmo modo, a amplitude altimtrica na bacia do Tijuipinho 406,3 metros, pois o ponto mais baixo da bacia est muito prximo ao nvel do mar, a 2,7 m de altitude, j no esturio do Tijupe (figura 3).

    Figura 3. Mapa hipsomtrico das bacias dos rios Tijupe e Tijuipinho.

    Fonte: TOPODATA (2009)

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    A anlise de dados altimtricos utilizando dados do sistema fluvial permitiu o reconhecimento de caractersticas gerais do relevo da bacia, como a declividade mdia dos rios principais, a relao de relevo e o ndice de rugosidade. Estas e outras caractersticas gerais da topografia da bacia do rio Tijupe esto apresentadas no quadro 3.

    Quadro 03. Caractersticas topogrficas. Caractersticas topogrficas Bacia do Tijupe Bacia do Tijuipinho Padro de drenagem da rede hidrogrfica Subparalelo e dendrtico Subparalelo e dendrtico Altitude mxima (metros) 419 409 Altitude mnima (metros) 0 2,7 Altitude mdia (metros) 209,5 203,15 Amplitude altimtrica mxima da bacia (metros) 419 406,3 Comprimento da bacia (km) 15,8 12,9 Relao de relevo 0,012 0,019 ndice de rugosidade (adimensional) 1.143,87 1.084,82 Declividade mdia do rio principal (m/km) 14,36 17,46

    Fonte: Mapa hipsomtrico das bacias dos rios Tijupe e Tijuipinho

    Com os dados referentes altitude das nascentes e das desembocaduras, bem como dos comprimentos dos cursos dgua, foi possvel identificar a declividade mdia dos rios principais, uma varivel que expressa a inclinao mdia dos cursos dgua em relao ao plano horizontal. De acordo com Vilela e Matos (1975, p. 88), a declividade relaciona-se com a velocidade do escoamento superficial, notadamente no tempo que as guas precipitadas levam at alcanarem os leitos fluviais, bem como interferem na infiltrao e na suscetibilidade eroso dos terrenos da bacia. A declividade mdia de um curso dgua pode ser obtida por meio da equao

    , que considera Dm a declividade mdia do rio, Hmx a altitude da nascente, Hmn a altitude da foz e L o comprimento do rio. O resultado dessa equao expressa quantos metros, em mdia, o rio desce a cada mil metros de percurso, o que pode ser convertido, multiplicando-se o resultado por 100, para porcentagem, uma das expresses correntes da declividade. Assim, o rio Tijupe desce em torno de 14,36 m/km, em uma declividade mdia de 1,43%, num percurso que, em mdia, menos inclinado do que o percurso do rio Tijuipinho, j que este desce em torno de 17,43 m/km ou 1,74% de declividade mdia. Contudo, para caracterizarmos com maior detalhamento a declividade dos rios, elaboramos o perfil longitudinal de ambos considerando as faixas de altitude obtidas no MDE construdo a partir dos dados geomorfomtricos do projeto TOPODATA (figura 4 e 5).

    Figura 4. Perfil longitudinal do rio Tijupe.

    Fonte: Mapa hipsomtrico da bacia do rio Tijupe

    No perfil topogrfico que representa a descida do rio Tijupe, buscamos citar dois trechos tpicos, no qual apresentam relativa homogeneidade. O primeiro est situado entre os valores de 800m a 400m de distncia da foz do rio e altitude entre 60m a 70m, j o segundo trecho est situado entre os valores de 1.700m a 1.300m de distncia da foz do rio, e altitude entre 125m a 130m. Com relao ao perfil longitudinal que representa a descida do rio Tijuipinho,

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    tambm foi possvel destacar dois trechos com relativa homogeneidade, no qual o primeiro est situado entre os valores de 1.200m a 900m de distncia de sua foz e a 100m de altitude, e o segundo est entre 380m a 250m de distncia e altitude entre 18m a 22m.

    Figura 5. Perfil longitudinal do rio Tijuipinho

    Fonte: Mapa hipsomtrico da bacia do rio Tijuipinho

    Por sua vez, a relao de relevo (Rr) uma caracterstica topogrfica da bacia identificada a partir da relao entre a amplitude altimtrica (Hm) e o comprimento da bacia (Lh), ou seja,

    . De acordo com Christofoletti (1980, p. 120), o parmetro relao de relevo foi apresentado inicialmente por Schumm, em 1956, para caracterizar a inclinao da bacia, uma caracterstica relevante para a hidrologia, pois tambm tem influncia na velocidade das guas que escoam das cabeceiras foz. Segundo Schumm (1956), citado por Santos et al. (2012, p. 201), quanto maior for o valor de Rr, maior ser o desnvel entre a cabeceira e o exutrio da bacia e, consequentemente, maior ser a sua declividade mdia. O comprimento das bacias dos rios Tijupe e Tijuipinho, por ns mensurados, correspondem distncia em linha reta entre a foz e o ponto mais alto do divisor de guas, uma definio que nos pareceu bastante adequada em razo da forma alongada destas bacias e da inexistncia de anomalias importantes em suas redes hidrogrficas. Assim, por meio da identificao do Rr, possvel afirmar que a bacia do Tijupe menos inclinada que a do Tijuipinho, pois apresenta uma relao de relevo de 0,012 metros de desnvel por m, enquanto que na bacia do Tijuipinho a Rr de 0,019 m/m. O ndice de rugosidade (Ir) outro parmetro para caracterizar a topografia de uma bacia hidrogrfica, que resulta do produto entre a amplitude altimtrica (Hm) e a densidade de drenagem (Dd), ou seja, . Segundo Christofoletti (1980, p. 121), o resultado do Ir um nmero adimensional que expressa uma combinao entre as caractersticas das vertentes com as da densidade de drenagem da bacia hidrogrfica. Para Santos e Sousa (2013, p. 195), importante avaliar a rugosidade do relevo da bacia, pois quanto mais rugoso for o relevo maior ser a capacidade do escoamento superficial. A rugosidade do relevo, de acordo com os autores, interfere no comprimento das vertentes, no escoamento superficial e na capacidade erosiva da gua de escoamento. De acordo com Ferreira (2010, p. 73), o ndice de rugosidade so maiores em bacias mais acidentadas e dissecadas pela eroso fluvial. Portanto, calculado o Ir das bacias, identificamos que a superfcie da bacia do Tijupe, com um Ir de 1.143,87, mais rugosa do que a do Tijuipinho, que apresenta um Ir de 1.084,82. Apesar de ser menos densamente drenada, a bacia do Tijupe apresenta maior desnvel altimtrico do que a do Tijuipinho, fator que determinou a diferena de rugosidade entre as bacias.

    CONSIDERAES FINAIS O mapeamento hidrogrfico em escala de detalhe e a anlise morfomtrica comparativa das bacias dos rios Tijupe e Tijuipinho contribui para o acmulo de conhecimentos bsicos sobre a geografia local e regional, notadamente para a geomorfologia fluvial da costa de Itacar-Serra

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    Pedro Enrico Salamim Fonseca Spanghero Paulo Fernando Meliani

    Jlio Santos Mendes

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    Grande. Diante das significativas transformaes scio-espaciais que tem se impactado nesta costa, pesquisas hidrogrficas servem para municiar anlises ambientais, bem como contribuir na avaliao das limitaes e potencialidades do relevo ocupao humana, subsidiando propostas de planejamento ambiental. Uma pesquisa desse tipo, alm da produo e ampliao do conhecimento sobre o meio fsico das bacias, pode orientar a demarcao de mananciais, reas de recarga dos aquferos, reas sujeitas a inundaes ou, ainda, sujeitas a desequilbrios morfodinmicos, com possibilidades de acelerao dos processos erosivos. Para alm da anlise morfomtrica, o mapeamento detalhado da hidrografia e da topografia se constitui na base cartogrfica adequada para outros estudos, que contemplem as bacias do Tijupe e do Tijuipinho como unidade espacial de referncia, como do uso da terra, atual e pretrito, bem como de compartimentao geomorfolgica, que j se encontram em andamento.

    REFERNCIAS ABDALLA, S. L. F. A morfometria como tcnica auxiliar na avaliao dos recursos hdricos. In: 2o Encontro Nacional de Estudos sobre Meio Ambiente Volume 1: Comunicaes, Anais... Florianpolis, SC: UFSC, 1989. pp. 393-401. ARCANJO, J. B. A. Programa Levantamentos Geolgicos Bsicos do Brasil. Itabuna. Folha SD.24-Y-B-VI. Estado da Bahia. Organizado por Joo Alves Arcanjo Escala 1: 100.000. Braslia: CPRM (Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais), 1997. pp. 19-31. BACK, . J. Anlise morfomtrica da bacia do rio Urussanga SC. Revista Brasileira de Geomorfologia. Unio da geomorfologia Brasileira. V. 1, n.1 (2000). Uberlndia, MG: UFU, 2006. BELTRAME, A. V. Diagnstico do meio fsico de bacias hidrogrficas modelo e aplicao. SC, Florianpolis: Editora da UFSC, 1994. BOTELHO, R. G. M. Planejamento ambiental em microbacia hidrogrfica. In: GUERRA, A.J.T.; SOARES DA SILVA, A.; BOTELHO, R.G.M. (orgs.) Eroso e conservao dos solos: conceitos, temas e aplicaes. RJ: Bertrand-Brasil, 1999. pp.269-300. CEPLAC. Comisso Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira. Diagnstico Scio-econmico da Regio Cacaueira Reconhecimento Climatolgico (Volume 4). Ilhus, Bahia: CEPLAC/IICA (Instituto Interamericano de Cincias Agrcolas), 1975. CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2a ed. SP: Edgard Blcher, 1980. ______. Anlise morfomtrica de bacias hidrogrficas. Revista Notcia Geomorfolgica. Campinas, v.18, n.9, p.35-64, 1969. CRUZEIRO DO SUL Fotografias areas verticais de Itacar. Escala 1: 25.000. Curitiba: Servios Areos Cruzeiro do Sul, 1964. FERREIRA, A. L. M. Caracterizao morfomtrica das bacias hidrogrficas e reas inundveis no Concelho de Pombal. Dissertao de Mestrado em Dinmicas Sociais, Riscos Naturais e Tecnolgicos. Departamento de Geografia/Departamento de Cincias da Terra. Coimbra, Portugal: Universidade de Coimbra, 2010. 156 p. GARCEZ, L.N.; ALVAREZ, G. A. Hidrologia. 2 ed. SP: Edgard-Blcher, 1988. 291 pp. GIOMETTI, A.B.R.; GARCIA, G. J. Anlises morfomtrica e hidrogrfica da bacia do rio Jacar-Pepira SP. Geografia. SP, Rio Claro, 19 (2): 183-195, outubro de 1994. GONALVES, R. N; PEREIRA, R. F. Climatologia em Uso potencial da Terra. Projeto RADAMBRASIL. Folha SD. 24 Salvador: Geologia, Geomorfologia, Pedologia, Vegetao e Uso potencial da terra. (Acompanha material cartogrfico em escala 1: 1.000.000). RJ: Ministrio das Minas e Energia, 1981. pp. 582-620. MELIANI, P. F. Geomorfognese do compartimento litorneo do planalto cristalino da Bahia, Brasil: uma hiptese sobre a evoluo do relevo costeiro do municpio de Itacar. REVISTA GEONORTE. V.2, N.4. Manaus (AM): Universidade Federal do Amazonas (UFAM), 2012. p. 498 509.

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