02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras...

63
02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários e territorialidade

Transcript of 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras...

Page 1: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

02 a 05 setembro 2013

Faculdade de Letras UFRJRio de Janeiro - Brasil

EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários e territorialidade

Page 2: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

A Construção da Identidade no Pós-Modernismo Amanda Laís Jacobsen de Oliveira; Juliana Prestes de Oliveir

A arquitetônica dialógica de Marisa Monte: uma análise discursiva do estilo interauto-ral composicional de suas canções Bruna de Souza Silva

INDÍCE DE TRABALHOS(em ordem alfabética)

(Des)caminhos do sertão: Memória e identidade na obra Essa Terra de Antônio Torres-Graciethe da Silva de Souza Luciene Conceição dos Santos

Página 07

A produção de texto escrito por estudantes do 5º ano na escola do campo: em busca das marcas identitárias no agreste pernambucano Ana Márcia da Silva, Maria Sirleidy de Lima Cordeiro e Risoglacy Batista dos Santos

A tradição discursiva no imaginário do manuscrito culinário Erika Vanessa dos Santos Brito; Maria do Socorro da Silva Medeiros; Nilma Barros Silva

Antônio Vieira e Lopes Bogéa: um olhar sobre os pregões de São Luís Katiellen Andrade de Sousa; Lívia Fernanda Diniz Gomes; Sonia Regina de Abreu Moreira

Página 14

Página 16

Página 20

Página 12

A Carta de Caminha e a Formação da Alma Brasileira Fátima Bittar Oliveira e Souza Página 11

Página 06

Página 09A Bíblia enquanto literatura Gracielle Custódio Apolinário

Página 13A oposição de faces do Sonho Americano na década de 1920 em The GreatGatsby Gabriel Jesus de Oliveira Gaia

Página 18

Alteridade, cultura e consciência social: questões abordadas em A hora da estrela, de Clarice Lispector Janaína Santos

Page 3: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

3

Aquilo que sufoca: cosmopolitismo e diáspora em “The ThingAroundYourNeck” ,de ChimamandaNgoziAdichie Ana Paula Raposo

As relações de gênero: representações femininas em letras de música Allan Phillip Conceição de Oliveira

As ficções de Piglia e Santiago no enredo pós-moderno JocianeMaurina Salomão;Thiana Nunes Cella

Da “Área Branca”: profusões metalinguísticas em FiamaHasse Pais Brandão da Gama Campos José Antônio Rodrigues Júnior

Folheto de Cordel: Movências e Travessias Caroline Sandrise dos Santos Maia;Fabianne Ramos de Souza; Wanderson Diego Gomes Ferreira

As relações Brasil e Áustria no Correio Braziliense (1808-1822) Rafaella Pedreira Galdino

Dramaturgias contemporâneas e a re-invenção do mito de Medéia a partir da cidade Davidson Maurity Lima Araújo

Helena: O incesto à luz dos pensamentos de Freud e Lévi-Strauss Lívia Fernanda Diniz Gomes; Melissa Sales Figueiredo

História e ficção em Historia secreta de Costaguana, de Juan Gabriel Vásquez Diogo de HollandaCavalcanti

Página 22

Página 30

Página 34

Página 21

Página 26

Página 25

Página 32

Página 31

Página 37

Página 38

Página 35

Página 27Aspectos existencialistas em Fernando Pessoa Gustavo Ewerson da Rocha Balbino;Bruno Ribeiro de Jesus

Página 33

Estudo das representações do mito fáustico em Grande Sertão: Veredas - espaço e lugar Raisa Damascena Rafael

Página 24As narrativas de fogo morto (1943): Uma busca da identidade por meio das memórias Carla Sousa Ferreira

Dalcídio Jurandir e Alina Paim: Diálogos entre literatura e militância e a perspec-tiva feminina Luciana Moraes dos Santos

Fukaha: humor na literatura infantil libanesa Tainise de Souza Soares de Oliveira

Page 4: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

4

Memória e identidade: “um rio chamado tempo, uma casa chamada terra”, de Mia Couto. Andreza Flexa

Linguagem como identidade: uma condição para o sucesso escolar Bianca Alves Malvaccini

O desenvolvimento contemporâneo da produção literária africana de Língua portuguesa Clecio Marques dos Santos;Flávia Regina Neves da Silva; Mayara Crystina Rego da Silva

O “entre-lugar” do imaginário angolano na poesia de Gonçalo Tavares Deise Belizário Terto

O fantástico em A Metamorfose Ane Caroline Costa Braga;Vanderlici Silva dos Santos

Pistas do insolúvel: a desestrutura do romance policial em A varanda do frangipani Rafael da Silva Mendes; Aline de Almeida Rodrigues

O AMOR PELA MORTE NARRADA. O obituário no jornal e nas coletâneas: uma discussão sobre gênero textual e sociedade Willian Vieira

O feminino à margem: a evocação das minhas putas tristes Thays Lima e Silva

Recolhimento de Insumos na comunidade do Araçazal para construção de material didático no ensino interdisciplinar Ocineide Guimarães Ferreira;Alan Ricardo Dourado de Almeida

Página 42

Página 40

Página 47

Página 39

Página 47

Página 52

Página 45

Página 49

Página 53

Página 46

Página 51

Página 55

Página 43

Página 41Literatura de cordel: imaginário, oralidade e resistência Sabrina Augusta da Costa Arrais;AmandaYnaê Maia Furtado

Identidade cultural, africanidade e contemporaneidade: dificuldades do educador recém-formado na educação básica Leilane Alves Mendes dos Santos

O Blog como recurso na produção textual Eliene Arcanjo Marcelino

O rompimento de uma tradição: uma visão da literatura angolana a partir do período pós-guerra Mayara Crystina Rego da Silva; Clecio Marques dos Santos; Flavia Regina Neves da Silva;Dandara Sales de Lima

Narrativas orais e poesias de ribeirinhos afetados pela construção da Usina Hidrelétrica de Belo MonteLillian Silva Corrêa; Suelly Silva de Assis

Page 5: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

5

Referências históricas lusitanas: os símbolos metafóricos que emergem da palavra pessoana Alceni Elias Langner; Saulo Gomes Thimóteo

Sophia e Sena: lutando com palavras, da poesia à correspondência Mariane Tavares Sousa

Um sertão subjetivo na poética de Adriano Eysen: construções do ‘eu’ e do ‘outro’ através de imagens de campo e cidade Marcelise Lima de Assis

Um estudo sobre saúde e doenças em obras literárias sobre a transamazônica Sílvia Lethíssia Dos Santos; Felipe Costa

Página 56

Página 57

Página 61

Página 59

Página 58

Página 62

Página 63

Territórios e hibridismos nas fronteiras da “Pequena África de Tia Cita” (1890-1930) Wallace Lopes Silva

Uma (des)leitura mítica : se questoè um uomo de primo Levi e Waiting for Godot, de Samuel Beckett Elvis Freire da Silva

Uma Análise Discursiva de O VulgarisadorGustavo Alves Bezerra

Page 6: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

6

A experiência contemporânea, compreendida como pós-moderna, é marcada pela desestabilização

dos referenciais consagrados tanto no plano sociocultural quanto no cotidiano dos sujeitos que são

tensionados a reavaliar suas balizas identitárias. Neste contexto, ganha relevo o debate sobre as

fronteiras do mundo atual, em que o processo acelerado da globalização redefine os limites entre o

global e o local através da compressão espaço-temporal, num processo que Stuart Hall definiu como

glocalidade. No caso brasileiro, é possível verificar tal situação no intenso processo migratório, das

áreas rurais para os grandes centros urbanos, responsável pelo deslocamento de milhões de pessoas.

No plano literário das representações sobre o sertão nordestino, a temática da migração geralmente

está associada ao drama social dos retirantes, em que a miséria, a fome e a seca predominam no

enredo. Entretanto, a obra Essa Terra, de autoria do escritor baiano Antônio Torres, publicada em

1976, insere o debate psicológico sobre o (des) encontro campo-cidade vivenciado no sertão da Bahia.

Pretende-se com o presente trabalho, analisar o romance em questão, problematizando os pontos

relativos à memória e à identidade. A narrativa pauta-se no caminhar/deslocar-se, físico e psicológico,

do sertanejo que no desejo e na esperança de uma vida melhor buscam os centros urbanos. A cidade,

por seu turno, imaginado como lugar místico e mítico, não corresponde às expectativas do viajante.

Desse modo, o sonho e a realidade não dialogam entre si, fator que determina um desajuste no plano

psicológico do indivíduo. Ao chegar ao lugar desconhecido, há uma desconformidade com o novo

espaço, entram em choque os valores culturais e identitários. A obra representa a saga de milhões

de nordestinos, exilados da sua própria terra devido à seca, às condições climáticas que não lhes são

favoráveis, é a terra que os enxota. Geralmente são indivíduos que não veem função na educação ou

não têm oportunidade de participar dela, por isso são, em grande parte, analfabetos, conhecedores,

apenas, do seu próprio ofício que é o de manusear a terra. Frustrada a experiência urbana, a alternativa

que lhes resta é retornar para essa terra que o chama, o enlouquece, mas o ama. É nesse retorno que o

escritor centraliza a narrativa, mostrando os dramas psíquicos, as desconformidades e os desencantos

sofridos pela personagem que enfrentam (des) caminhos do Sertão.

Palavras-chave: Identidade. Memória. Sertão.

(DES) CAMINHOS DO SERTÃO: MEMÓRIA E IDENTIDADE NA OBRAESSA TERRA DE ANTÔNIO TORRES

Graciethe da Silva de Souza; Luciene Conceição dos Santos

6

Page 7: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

7

Esta pesquisa é parte integrante do projeto denominado A interdiscursividade dos Tribalistas

(Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte) desenvolvido, por sua vez, como componente

complementar do projeto de pesquisa de Paula (2010), designado A intergenericidade da canção.

Estudo que se dedica prioritariamente à reflexão sobre o conceito de intergenericidade - composta

neste caso, por letra e melodia - como construção poética interautoral, por meio do tratamento da

construção arquitetônica da cantora - compositora Marisa Monte analisada de maneira específica em

relação ao diálogo constante com os cantores - compositores Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown. Os

materiais utilizados são bibliográficos; devido a serem constituídos, em principal, de oito canções de

Monte; bem como a pesquisa contextual de sua produção e criação de seu estilo único em consideração

a seu relacionamento artístico com Antunes e Brown, e, analisados em estudos no qual faz-se uso de

diversos textos teóricos. Não existe uma metodologia consolidada para se analisar, discursivamente,

o gênero canção (letra e música). Por isso, propõe-se aqui uma pesquisa de natureza qualitativa com

caráter interpretativista analítico-descritivo, composta por etapas de análise. Primeiro, será feita a

descrição do objeto, que vai do material que lhe serve de suporte físico à sua “aparência” geral, e inclui

um levantamento sumário dos elementos essenciais de suas esferas; depois, será realizada a análise

discursiva do corpus e ao final, chegar-se-á à interpretação propriamente dita. Todavia, a apresentação

do exame do objeto não necessariamente seguirá ou mostrará passo a passo o percurso e os resultados

dessa seqüência, pois terá como objetivo final o todo discursivo. A teoria que fundamenta este estudo

encontra-se no cerne do próprio objeto, que a solicita já em sua constituição: a filosofia dialógica da

linguagem do Círculo Bakhtin, Medvedev, Volochinov e, em especial, as concepções de diálogo, sujeito,

autoria, exotopia, cronotopia e gênero. Acredita-se que o empenho em refletir e descrever o gênero

canção a partir da produção intergenérica, interdiscursiva e intertextual; por base da arquitetônica e

composição de estilo de Marisa Monte com o intuito de alcançar, o mais profundamente possível, sua

abrangência, por meio da busca de diálogos que justifiquem a sua construção discursiva dialógica -

permite contribuir com os estudos dos gêneros e sua relação com a compreensão dos valores sociais

incutidos nos discursos, que compõem e, ao mesmo tempo, são compostos pelos sujeitos concretos ali

representados. Logo, pelas vozes cruzadas, em embate, nos discursos das canções que podem ilustrar,

como afirma Bakhtin (1992), de que maneira “um gênero pode contribuir para a formação de outros

A ARQUITETÔNICA DIALÓGICA DE MARISA MONTE: UMA ANÁLISE DISCURSIVA DO ESTILO INTERAUTORAL COMPOSICIONAL DE SUAS

Bruna de Souza Silva

Page 8: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

8

gêneros” em constante diálogo. Por fim, justifica-se pela tentativa de compreensão do processo de

produção, circulação e recepção da contemporaneidade, tendo como norte específico à composição

da canção como discurso intergenérico, que transita em diversas esferas de atividades distintas e, em

especial, a cotidiana pela qual, Marisa Monte em diálogo, possivelmente reflete um ícone singular de

representação brasileira.

Palavras-chave: Marisa Monte; Circulo de Bakhtin; diálogo; gênero; discurso; canção.

Page 9: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

9

Nesse artigo confrontaremos a Bíblia com o conceito de clássico abordado por Ítalo Calvino em “Por

que ler os clássicos”. O objetivo é ler o texto bíblico enquanto literatura e demonstrar o diálogo entre

os campos de conhecimento.

A obra de Calvino apresenta critérios como universalidade, atemporalidade, releituras, formação

intelectual, menção ao livro de origem, reutilização de temas, narração da história de um povo e

tratamento dos dramas da vida humana, dentre outros conceitos que possam estar presentes nos textos

considerados clássicos. Identificamos no texto bíblico tais critérios, por isso o consideramos uma

matriz de conhecimento que influenciou a literatura e a mente humana ocidental ao narrar a história

do povo judaico-cristão, ao inserir no fluxo histórico um personagem chamado Deus que influencia a

mente ocidental desde há muito tempo até os dias de hoje e por comportar o conceito de universalidade

que faz com que o texto conviva em mundos paralelos ao tratar de situações verossimilhantes a dos

seres humanos de qualquer época.

A leitura literária da Bíblia se propõe a desvendar e interpretar a complexidade da alma humana e

não propagar as ideias de nenhuma instituição ou religião que vive sobre dogmas diferenciados. A

literatura, portanto se propõe a estudar o papel da narrativa bíblica sem estar sob o domínio religioso,

mas constatando a riqueza literária presente na Bíblia que se encontra a disposição de todos que estão

dispostos a lê-la independente da religião.

Sendo assim, a Bíblia pode se inserir na perspectiva literária, pois é formada por conteúdos

característicos de variados gêneros, como: narrativa romanesca, poesia, orações, sermões, ensaios

filosóficos, oráculos, poemas, cantos de amor, cartas, fragmentos de epopeias, dentre outros. Pode ser

classificada como um clássico por carregar em si características literárias que influenciou direta ou

indiretamente em outras obras.

Podemos então ratificar nosso estudo ao nos debruçarmos sobre a recorrência de diálogos que vários

autores em diferentes épocas estabeleceram com o texto bíblico. Sobre esse diálogo podemos citar

muitos autores conhecidos. Na literatura brasileira Machado de Assis como um dessacralizador da fé

religiosa que se apropriou da tradição judaico-cristã em “Esaú e Jacó”; João Guimarães Rosa com os

contos“Desenredo” e “Esses Lopes” que manifestam releituras do texto bíblico; na literatura estrangeira

José Saramago com “O Evangelho segundo Jesus Cristo”, no qual, o autor desmistifica Cristo e o Diabo

A BÍBLIA ENQUANTO LITERATURA

Gracielle Custódio Apolinário

Page 10: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

10

é o grande herói. O que importa ao perceber a recorrência da influência do texto bíblico nos diversos

gêneros literários, não é analisar se os autores concordam ou não com a visão de religião oficial, mas

sim demonstrar que diversos autores, de diversas épocas e lugares, bebem em uma fonte comum, a

Bíblia, uma matriz que gerou ramificações dos textos sagrados na literatura.

Page 11: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

11

O presente trabalho tem por objetivo estudar a formação da alma brasileira sob a perspectiva do

analista junguiano, Roberto Gambini. O texto base para tal trabalho é a Carta de Pero Vaz de Caminha,

visto que relata o primeiro contato entre dois povos de culturas distintas fazendo surgir através da

vinculação uma nova cultura. A literatura como espaço não só de encenação da história do Brasil, mas

também como pensadora e investigadora da identidade nacional.

Este trabalho está inserido no Projeto Literatura e Sagradoda Faculdade de Letras da Universidade

Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais. Tal projeto, sob à luz da Psicologia de Jung, utiliza conceitos

produtivos para o estudo do diálogo entre o literário e o sagrado

Através do primeiro documento sobre o Brasil, escrito por colonizadores, de que se tem notícia, A

Carta de Caminha enviada à D. Manuel I, pelo escrivão da frota de Cabral, discutiremos aspectos

da formação da “alma brasileira” (Gambini, 2000). Formação no sentido de cooptação de toda uma

civilização já instalada e altamente adaptada aqui, levando a um processo brutal e eliminatório de

sobreposição de uma cultura sobre a outra.

O trabalho está dividido em três etapas, sendo elas: a perspectiva dos viajantes lusitanos no primeiro

contato com os povos nativos; a impressão dos nativos ao verem as naus chegando a seus mares

(a ser intuída para além da Carta de Caminha)e finalmente as projeções nascidas entre estes dois

olhares,emergindo assim a alma brasileira. Para Gambini, em seu livro Espelho Índio (2000),

esse encontro realizou-se para os conquistadores, além do Mito do Paraíso Perdido, outro mito de

importância singular : o mito de Eva, projeção fálica do povo português ao ver aquelas mulheres

gozando de tão boa saúde e tão originalmente despreocupadas com a nudez.

A índia, mãe do brasileiro, foi estuprada e renegada, nem mesmo sua língua podia os seus filhos

ensinar. A autoridade disfarçada de bravura, a tirania apavorando a todos, a ausência, descrevem as

características do português, pai do brasileiro, que nas palavras de Darcy Ribeiro é um João-Ninguém,

sem pai nem mãe.

Eis um drama arquetípico e que já se delineia no primeiro documento escrito sobre o Brasil, A Carta

de Caminha.

A CARTA DE CAMINHA E A FORMAÇÃO DA ALMA BRASILEIRA

Fátima Bittar Oliveira e Souza

Page 12: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

12

É visível que, ao longo dos anos, a sociedade em que estamos inseridos vem se modificando. Essas

transformações ocorrem de tal modo que o sujeito é diariamente bombardeado com inúmeros

discursos, ideologias, ideais, informações que são constantemente despejadas no, e pelo mundo

globalizado. Destarte, o sujeito sente dificuldade em constituir a sua individualidade, para buscar a sua

própria identidade. Somos tantos e operamos tantas coisas ao mesmo tempo, que se torna cada vez mais

difícil definir quem somos. Assim, nos vemos diante da problematização da construção da identidade

pela estética do Pós-Modernismo. Diante de tal investigação, optou-se pela análise comparada de dois

romances que foram escritos na década de oitenta, sob o viés da estética mencionada, por possuir

características Pós-Modernas. O ano da morte de Ricardo Reis, de José Saramago, publicado em 1984,

pode trazer à tona a construção do sujeito de Ricardo Reis. Tornando-se extremamente interessante

justamente pelo fato de formar o sujeito Ricardo, como sendo real, ao tempo em que sabemos que esse

se trata de um dos principais heterônimos do poeta Fernando Pessoa. Essa constituição é formada

ao passo em que o discurso é manipulado. A sua comparação com Vida e época de Michael K., de

J. M. Coetzee, publicado em 1983, enriquece o trabalho e a interpretação das duas obras. Visto que,

a última também trata da constituição do sujeito. No entanto, essa se dá de forma diferenciada, pois

Michael está inserido em uma sociedade totalmente diferente, o ele, não tem vez e nem voz. A partir

disso, percebemos como o Pós-Modernismo deseja evidenciar a presença de um sujeito fragmentado,

que ainda procura formar a sua identidade. A partir da análise comparada, é possível aproximar

duas realidades e dois sujeitos opostos, observando como as semelhanças e as diferenças dos dois

romances possibilitam um aprofundamento no entendimento do tema. Compreendendo um estudo

mais profundo do discurso como elemento fundamental na construção do sujeito.

A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NO PÓS-MODERNISMO

Amanda Laís Jacobsen de Oliveira; Juliana Prestes de Oliveira

Page 13: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

13

O romance The GreatGatsby (1925), de Francis Scott Fitzgerald, aborda a questão do Sonho Americano

e mobilidade social. As duas premissas foram enraizadas no coração da sociedade norte-americana

com a chegada dos primeiros imigrantes que se estabeleceram na América no século 18, vindos de

uma conturbada Inglaterra. Em solo americano, finalmente, uma maior liberdade de crença, culto e

a possibilidade de melhorar de vida se tornou viável. O romance tem como personagem principal Jay

Gatsby, um jovem e solitário milionário cujo passado é desconhecido.Gatsby tem o costume oferecer

luxuosas festas em sua esperança de que seu antigo amor, Daisy, compareça e reate seu antigo romance.

Seu apego às coisas materiais o blindava de relações verdadeiras, trazendo pessoas desconhecidas, que

não faziam questão de conhecer o anfitrião de tais cerimônias. Toda riqueza de fato, trazia uma ilusão

à vida de Gatsby, que cada vez mais se fechava em seu próprio mundo imaginário. Nesse sentido, o

objetivo de minha apresentação é investigar de que modo a ideologia do Sonho Americano contribui

de modo positivo ou negativo para a formação do cidadão americano, e, em especial, do personagem

Jay Gatsby no romance em análise. Quais são as possíveis implicações da busca pela concretização

do Sonho Americano e da subsequente mobilidade social? Será que esse sonho é realmente vivido ou

a vida do indivíduo se torna uma tragédia? Parto do principio de que a face dual que o conjunto de

ideias que o Sonho Americano possui cega, torna superficial e destrói o ser, principalmente em suas

relações humanas.O ser humano passa a amar as coisas e usar as pessoas como artifício para se viver

o tal “Sonho Americano”.Nesse panorama é também de grande importância buscar entender como

Fitzgerald se situava no contexto da época e como isso o ajudou a desenvolver o romance.Para entender

a personagem Gatsby é válido também compreender como Fitzgerald se situava no contexto da época

do Jazz e como o mesmo elaborou a estrutura do romance, trazendo-nos exemplos de marginalização,

abusos e desesperanças. Desesperanças essas que correm aos olhos do próprio autor da obra, sugerindo

que o romance seja uma possível narrativa autobiográfica de si mesmo.

A OPOSIÇÃO DE FACES DO SONHO AMERICANO NA DÉCADA DE 1920 EM THE GREATGATSBY

Gabriel Jesus de Oliveira Gaia

Page 14: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

14

O presente estudo foi desenvolvido entre setembro a novembro de 2011. O interesse em estudar a

realidade campesina surgiu a partir dos relatos das/dos professoras/res da escola rural que também

são graduandas/os da UFPE campus agreste também localizada na zona rural para atender aos alunos

que moram no interior do estado. O estudo teve por objetivo perceber como se dá o processo de

produção textual escrito em uma escola do campo no interior de Pernambuco, respeitando a cultura,

a identidade, e o contexto histórico-social dos sujeitos do campo. Ao escrever o aluno está agindo,

argumentando, expondo pontos de vistas, sentimentos, enfim, está numa constante interação dialógica,

social e cultural.

De acordo com Marcuschi (2005) “a mente não se desliga do corpo e está situada em contextos físicos,

sociais e históricos, carregado de cultura e vivências”. A produção textual escrita de um sujeito é um

processo organizacional de concepções e expressões individual e cultural que expõe as características

próprias da identidade.Acredita-se que a escola deve respeitar os fatores sociais dos alunos

campesinosporém, garantindo eles tenha também acesso a norma padrão da língua portuguesa. A

partir desta compreensão, temos como questão/problema: como é tratada as condições de produção

textual dos estudantesno 5º ano do ensino fundamental? E de que forma estes estudantes/autores

interagem na produção textual com sua realidade do campo?

Quanto à metodologia o trabalho desenvolve-se numa perspectiva qualitativa que segundo Patton

(1986) é a descrição detalhada de situações e de interações entre as pessoas,análise de material utilizado

pelo professor e o material produzido pelos(falta aumentar)

Os textos produzidos pelos discentes, parece demonstrar de forma tímida características de suas

vivências campesinas como alguns léxicos que retomam a identidade e o território do campo, a exemplo

de expressões como “gravetos, frutas, verduras” bastante encontradas em seus texto;bem como detecta

GRANDE INCIDÊNCIA do uso de uma linguagem artificial, condizente com modelos e estereótipos

de livros didáticos, tais como “Era uma vez”, “Certo dia”.Mediante estes exemplos evidencia-se uma

rotulação para início de redações uma imitação das histórias fictícias em que o aluno está escrevendo

para atender ao ritual escolar, usando uma estratégia linguística muito formal para agradar quem vai

A PRODUÇÃO DE TEXTO ESCRITO POR ESTUDANTES DO 5º ANO NA ESCOLA DO CAMPO: EM BUSCA DAS MARCAS IDENTITÁRIAS

NO AGRESTE PERNAMBUCANO

Amanda Laís Jacobsen de Oliveira; Juliana Prestes de Oliveira

Page 15: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

15

corrigir (o professor). Góes e Smolka (1992) se referem quando explicitam que:

O propósito é o exercício; o destinatário é o professor, que vai corrigir e avaliar segundo certos critérios;

a consequência é a informação sobre a qualidade do desempenho na tarefa. Empobrece-se a noção de

interação e estreitam-se as possibilidades de destinação e repercussão do que foi escrito. (p. 63).

Estas produções artificiais distanciam os alunos da concepção de que “a mente não se desliga do corpo

e está situada em contextos físicos, sociais e históricos, carregado de cultura e vivências” MARCUSCHI

(2005).

PALAVRAS CHAVES: Escola do campo, Cultura e Identidade.

Page 16: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

16

Os manuscritos traduzem as linguagens e as tradições do “local”, no qual ele está inserido. Ao

analisarmos o caderno nos deparamos com um auto-retrato das tradições familiares, que emolduram

as famílias de uma região. Os manuscritos culinários são geralmente considerados como um objeto de

pouco valor, não passando de um objeto do cotidiano de donas de casas, enfadas por vivenciarem um

estilo de vida monótono e sem grandes méritos. Ao debruçarmos sobre os cadernos de receitas, nos

deparamos com um universo à parte, no qual esses “seres menores” deixam registrado o seu legado.

Encontramos um mundo imaginário, onde ingredientes se misturam em uma dança de sabores. Ao

analisarmos um manuscrito culinário podemos desvendar a história da família da qual ele provem, com

uma riqueza de detalhes que mexem com os sentidos e que despertam as mais remotas lembranças. A

partir do recolhimento e estudo minucioso dos cadernos, pode-se construir uma cartografia do espaço

e é isto que encontramos nos manuscritos culinários da região do Brejo paraibano. Deparamo-nos

com cadernos recheado de traços socioculturais e históricos, de um Nordeste esquecido. Marcado

por engenhos e suas senzalas. As receitas permitem estabelecer uma margem parcial da quantidade de

pessoas que compõe as famílias que nos cedem os cadernos para a pesquisa, assim como e o período

histórico no qual elas estão inseridas e os aspectos econômicos da região. As receitas descrevem a

relação da civilização com a natureza. Ao ser analisado o caderno de receita nota-se que estado na

época da globalização e de uma sociedade. A cozinha permite codificar, em um repertório estabelecido

e reconhecido as práticas e as técnicas elaboradas em determinada sociedade (Dmontanari, 2008:62).

Outro ponto de suma importância e a tradição discursiva. Os signos linguísticos que compõem o

espaço das cozinhas permeiam o imaginário de quem o compõem. de uma região onde as receitas

que contém o ingrediente açúcar como seu carro chefe. Tal gênero alimentício é fortemente marcado

nas receitas, devido ser fácil acesso. Outro fator importante dos manuscritos é que estes demonstram

a intimidade das casas e de suas articulações com a memória. A pesquisa tem como corpus a analise

de trinta cadernos de receitas do século XX e da primeira década do século XXI da região do Brejo do

estado da Paraíba, atualmente encontra-se analisado dez cadernos. Um dos aspectos é o levantamento,

seleção e fichamento de textos teóricos. A coleta do corpus – manuscritos de receitas culinárias – é

realizada em número de dez nos acervos particulares, observando os seguintes critérios: mesorregião,

cronograma, autoria e idade, assim como a elaboração de um catalogam atualizadas com os textos

A TRADIÇÃO DISCURSIVA NO IMAGINÁRIO DO MANUSCRITO CULINÁRIO

Erika Vanessa dos Santos Brito; Maria do Socorro da Silva Medeiros; Nilma Barros Silva

Page 17: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

17

identificados na pesquisa em Compact Disc (CD). Os manuscritos serão digitalizados e arquivos

em página no ciberespaço, para disposição de pesquisadores. Após a descrição das receitas e suas

funções será feita a análise e, posteriormente e sistematização dos resultados para a organização de

um catálogo.

Page 18: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

18

O presente trabalho pretende levar à reflexão sobre identidade e alteridade, abordando as questões

de consciência social que a obra A hora da estrela, de Clarice Lispector apresenta em sua construção.

Será vista a questão da identidade do eu, tomando como ponto de partida as imagens estéticas dos

personagens bem como o sentido de cada um no mundo desta obra literária, seus valores como

pessoas visual e socialmente excluídas da sociedade. A modernidade e alteridade tornam-se relações

complexas e intensas, que levam à dependência ou clausura final. São abordados, criticamente, aspectos

da sociedade modernista, acentuando as questões de valores e hierarquias sociais pela introspecção de

Clarice Lispector. O romance A hora da estrela é uma literatura contra a ordem dominante (literatura

modernista) que assume uma posição contra-cultural, possuindo ainda uma certa marca de

negativismo. A obra causa impacto na crítica nacional e internacional pelo seu caráter social. Introduz

o tema do Brasil e sua identidade no que tange a vida de muitos brasileiros espalhados pelo país que

se encontram na mesma situação de sua personagem principal, Macabéa. O tema do nordestino e a

presença dos rastros de um Brasil profundo fazem com que a obra seja referência no que diz respeito a

crítica social, sobre a questão de hierarquia, posição de classe e as lutas de classes.

Com o livro, a autora traz o pobre para o centro da literatura e levanta a reflexão sobre o caráter

existencial sociológico: o problema do outro, a questão das vidas menores, das pessoas anônimas da

cidade, o anti-herói, as pessoas cotidianas, a marginalização. Clarice dedica esse livro a essas pessoas

invisíveis para a sociedade. Toda a trama tem como cenário o Rio de Janeiro. Os elementos da alteridade,

sendo que esta parte do pressuposto básico de que todo homem social interage e interdepende de outro

homem social, estão presentes no romance como formas de reivindicação, denúncia e atenção ás causas

sociais dos miseráveis no mundo. A modernidade nos propõe experiência social, transformação de

valores e ao ler A hora da estrela nos confrontamos com a dura realidade de muitos que não são

favorecidos pela sorte, e isso nos remete à exclamações, indagações, reflexões sobre o real sentido de

existir. A experiência da alteridade é uma identificação com o ser oposto, com o qual reproduzimos

uma identidade. Resultados: uma identificação concisa de seus leitores menos favorecidos com sua

nordestina e uma reflexão de seus leitores cultos para as questões que permeiam sua própria sociedade

em seu caráter humanista. Clarice faz uso de um discurso regionalista e em A hora da estrela ela foge

do “hermetismo” característico de suas primeiras obras e alia sua linguagem à vertente regionalista da

ALTERIDADE, CULTURA E CONSCIÊNCIA SOCIAL: QUESTÕES ABORDADAS EM A HORA DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR

Janaína Santos

Page 19: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

19

segunda geração do modernismo brasileiro.

Dentro desta perspectiva este trabalho pretende estimular o pensamento crítico sobre os aspectos

de identidade e alteridade, tendo em vista os deslocamentos geográficos e culturais, as questões de

gênero, bem como as questões de hierarquias e as relações de poder.

Palavras-chave: Modernidade. Consciência social. Alteridade. Clarice Lispector. Identidade.

Page 20: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

20

A cultura popular brasileira, sobretudo a maranhense, é caracterizada pela diversidade – variedade

de cores, sons, ritmos, sabores e falares, apresentados em manifestações folclóricas. Ao lado dessas

manifestações culturais, embora bem menos conhecida, está a prática de compor pregões para

anunciar produtos no comércio, com o intuito de conquistar a freguesia. Ao som de rimas criativas

embaladas por músicas leves e despretensiosas, os pregoeiros movimentaram o comércio maranhense

do século XIX. Embora tenham contribuído para a formação da identidade cultural e econômica do

Estado, atualmente pouco se sabe acerca da origem e importância dos pregoeiros. Considerando esta

realidade, este estudo tem por objetivo registrar a história dos pregoeiros, bem como sua rotina de

produção e venda, por meio da análise dos seus pregões. O estudo, que tem como foco a relação língua

/ cultura, seguiu os princípios teórico-metodológicos da Etnolinguística. A amostra utilizada neste

trabalho é constituída por quinze pregões do corpus obtido a partir do registro feito por Bogéa e Vieira,

na década de 80, em São Luís. A análise se volta para a língua tentando apreender, a partir desta, a

realidade cultural de São Luís e o fazer dos pregoeiros. Os resultados evidenciam o uso marcante da

metalinguagem referente ao próprio ato de vender; de vocativos e linguagem informal, que contribuem

precipuamente para persuadir a clientela; da ocorrência de hipérbato, com o intuito de enfatizar o

produto apregoado, e de incisiva repetição da mercadoria apregoada a fim de dar ênfase ao produto

posto à venda, como observado nos pregões a seguir: “Quando o dia amanhece/Saio gritando o meu

pregão/Meu pregão é a minha prece/Prece, vida, meu irmão.”; “Seu José, seu Portela/Venham comer

pamonha/feita pela Nhá Ela.” e “É o derresó, é o derresó, minha gente, que estou vendendo”. As escolhas

lexicais feitas pelos pregoeiros dão ao conhecer informações sobre a preparação dos produtos e dos

utensílios utilizados em sua venda: “Minha irmã/Quem rala o coco/Mãe Zabé que rala o milho/Eu me

encarrego da lenha/A Francisca da cozinha/Mas, na hora do tempero/Quem tempera é a Dindinha”,

“Uma palha de Juçara/Ela sempre traz à mão/Grossa rodilha à cabeça/Pra firmar o panelão/Um prato

grande de estanho/Tapando a mercadoria/Xícara pequena com asa/Pra servir a freguesia.”. Como se

pode constatar, a análise da língua usada pelos pregoeiros – os arranjos linguísticos, a seleção lexical

– é fundamental para entender-se como o grupo social, foco deste estudo, lê / interpreta o universo

em que se insere.

ANTÔNIO VIEIRA E LOPES BOGÉA: UM OLHAR SOBRE OS PREGÕES DE SÃO LUÍS

Katiellen Andrade de Sousa; Lívia Fernanda Diniz Gomes; Sonia Regina de Abreu Moreira

Page 21: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

21

Amparado ao conceito de Novas Diásporas de Gayak Spivak e ao conceito de Cosmopolitismo de

James Clifford, o trabalho discute o “sense of belonging” em The “Thing Around Your Neck”, da

autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.

Gayak Spivak afirma que os movimentos migratórios da atualidade põem em evidência e eventualmente

transformam conjuntos ideológicos, sociais e culturais que operam nas relações de gênero. Essa relação

com os mecanismos acima citados aparecem no texto de Adichie uma vez que, quando se muda da

Nigéria aos EUA, a personagem principal, Akunna, deve escolher entre sucumbir ao sistema para ser

bem sucedida como sua família espera ou seguir seus princípios - ou seja, o que forma a sua identidade

– e não superar estas expectativas. Sua família está convencida de que em pouco tempo, Akunna

terá um carro e uma casa grande, mas para que isso aconteça, ela deve desistir de muitas coisas para

ganhar outras, como explica o tio com quem ela mora nas primeiras semanas.

Na perspectiva cosmopolita de Clifford, a identidade não pode ser relacionada apenas a um determinado

local, mas também à experiência do sujeito, à deslocação e as ligações do indivíduo. Sob esse aspecto,

além de sentir-se sufocada neste novo espaço, após descobrir que seu pai morreu há mais de dois

meses Akunna opta por voltar à Nigéria.

É importante apontar que o texto é escrito em segunda pessoa. Este recurso aproxima ainda mais

o leitor, causando mais facilmente as sensações de Akunna para o leitor. O recurso também pode

ser interpretado como parte de um aviso ou um conselho sobre a situação real dos imigrantes na

“América”.

O texto apresenta uma experiência contemporânea da diáspora feminina, expondo os resultados da

diáspora em uma circunstância majoritariamente cosmopolita em que a personagem principal não

consegue se identificar com esse novo lugar, deixando que o sentimento de pertencimento do lugar de

origem fale mais alto.

AQUILO QUE SUFOCA: COSMOPOLITISMO E DIÁSPORA EM “THE THING AROUND YOUR NECK” DE CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE

Ana Paula Raposo

Page 22: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

22

O pós-modernismo e a pós-modernidade são campos recentes e muito amplos, por isso são foco de

muitos debates e discussões, tanto no seu aspecto político, quanto econômico, cultural e artístico.

Desta forma, é um problema político e social, quando falamos da sociedade e do sistema econômico

atual, e um problema estético no que se refere às diversas formas de arte pós-modernas.

No que concerne à literatura, o que o pós-moderno faz é aceitar e interrogar: aceitar e debater as

diferenças, observar e dar voz à margem (ou ex-cêntrico), ver o fragmento como um todo e o todo

como um fragmento, ouvir e refletir sobre as vozes da história, desafiar aquilo que é aceito como

verdade. Enfim, refletir e questionar a realidade.

Dito isso, o presente trabalho faz uma leitura comparada sob a luz do pós-modernismo entre os

romances: Em Liberdade, do autor brasileiro Silviano Santiago, e Respiração Artificial, do argentino

Ricardo Piglia, ambos publicados na década de 80, apogeu da literatura pós-moderna. Cabe ressaltar

que a literatura comparada é uma estratégia de investigação literária que coteja duas ou mais literaturas

e que possibilita um amplo campo de estudos. Além disso, destaca-se que a comparação é sempre

um instrumento, um meio, e não um fim. Aqui, os estudos de literatura comparada são um meio de

efetuar os estudos sobre nosso objeto maior: a pós-modernidade.

O trabalho busca analisar as semelhanças e diferenças entre os dois textos citados e aceitos como

pós-modernos. Bem como, procura mostrar, por um viés literário, mais a respeito desse movimento

fragmentado, multifacetado e questionador, centrando-se, para tanto, na leitura cruzada dos dois

romances mencionados.

O trabalho aborda temas e recursos literários caros à chamada ficção pós-moderna. Assim, na análise

dos romances podemos constatar que questões sobre a realidade e a verdade, o conhecimento histórico,

a referência histórica e literária, a autorreflexividade, a narratividade, as ideologias, as relações políticas

e de poder, entre outras questões, são problematizadas. Tais características, na acepção da teórica

canadense Linda Hutcheon, levam à caracterização das obras como metaficções historiográficas, e as

insere, por conseguinte, no âmbito das produções literárias pós-modernas ou contemporâneas.

Por fim, cabe afirmar que o presente trabalho comprova a complexidade e a pluralidade acerca do

pós-modernismo e suas produções literárias. Motivo pelo qual há um leque enorme de definições e

concepções contraditórias a seu respeito. Desta forma, o pós-modernismo e suas respectivas produções

AS FICÇÕES DE PIGLIA E SANTIAGO NO ENREDO PÓS-MODERNO

JocianeMaurina Salomão;Thiana Nunes Cella

Page 23: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

23

mostraram ser um campo amplo, complexo, extremamente produtivo, e portanto, merecedores de

atenção e de estudos ainda mais elaborados.

Page 24: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

24

Este estudo pretende investigar a encenação de histórias presentes em Fogo Morto (1943) e como a

literatura regional de José Lins do Rego universaliza conflitos que constituem a existência humana,

como a busca por uma identidade ou mesmo o remoer de memórias que constituem toda uma vida.

O contexto em que as histórias são tecidas não pode/deve ser desconsiderado, contudo, o diálogo

descrito aqui não se limita ao ciclo da cana-de-açúcar nem às cenas dos engenhos. A proposta consiste

em analisar as três partes do romance e seus respectivos personagens: Mestre José Amaro, Lula de

Holanda e Capitão Viturino. Três homens que, apesar de representarem posições sociais distintas,

comungam de desgraças semelhantes. A incessante busca pela identidade e as crises dos protagonistas

são apresentadas à luz dos estudos de Stuart Hall que fundamentam as discussões sobre o processo

de reconhecer-se e reconstruir-se na pós-modernidade, embora se tenha como objeto de pesquisa

uma obra do início do século XX, são formas de aproximar discursos e eleger a produção literária de

José Lins do Rego como atemporal, considerando a universalidade das tramas interiores e subjetivas.

A literatura, livre de qualquer pretensão e carregada de possibilidades, permite uma ressignificação

coletiva, a partir de leituras particulares. Pretende-se neste trabalho promover o dialogismo entre

leitores e obra, ao conceber esta literatura como um recurso libertador, capaz de envolver os leitores

nos cernes das questões, de modo a instigar o autoconhecimento e (re)pensar suas mazelas interiores. A

teoria da recepção encontra-se como pano de fundo para as abordagens entendendo a atividade artística

como uma atividade produtora, receptiva e comunicativa, defendida por Hans Robert Jauss. Indo de

encontro à tradição, Jauss busca compreender como funcionam as ressignificações na experiência

de fruição da obra de arte e acredita que esta não pode ser privilégio dos especialistas, limitando a

experiência estética a interpretações ou eventuais intenções do autor. Acredita-se, pois, que o estudo

sobre as condições que circundam a experiência da recepção literária transcende a hermenêutica.

AS NARRATIVAS DE FOGO MORTO (1943): UMA BUSCA DA IDENTIDADE POR MEIO DE MEMÓRIAS

Carla Sousa Ferreira

Page 25: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

25

Essa pesquisa tem como objetivo descobrir os motivos dessa relação. E no que essa relação contribuiu

para o desenvolvimento do nosso país. Dentro de um contexto histórico em que a Áustria atravessava

nessa época, descobriremos no que o Brasil pôde contribuir de forma direta para a Áustria.

Analisando documentos tais como: Correio Braziliense, que era o jornal que circulava na época do

Império, o livro de Ezequiel Stanley sobre a relação da Áustria e o Brasil, um artigo da prof..: Úrsula

Prutsch que estuda há um bom tempo sobre essa relação Áustria x Brasil em Viena. E o livro de

Friedrich Von Weech que é a respeito dessa imigração em massa para o nosso país. Fora outros livros

complementares que poderão ajudar no desencadeamento da pesquisa tal como o livro de Edward

Carr : “Que é história?”, como também teses de mestrado sempre voltados pra essa temática em estudo.

Ao longo das pesquisas teremos as expansões marítimas como uma base de apoio para entendermos

toda a relação precedente dos países em estudo.

Através do cotidiano, os alunos de Ciências Humanas estudam a história do Brasil de uma forma

fragmentada; ou seja, de um modo que alguns detalhes importantes que mudaram o rumo da nossa

história passaram despercebido. Sem contar que esse estudo facilitará não só estudantes de história,

mas também os mesmos em Letras/ Alemão, que terá oportunidade de conhecer como a Alemanha se

comportava frente à um país em expansão comercial e política como o Brasil Imperial.

Sou aluna de Letras/ Alemão na UFRJ.Também faço parte do LIEDH (Linguagens e Discursos

Históricos) que é um grupo de pesquisa aqui da Faculdade de Letras, meu projeto está no site: www.

liedh.ufrj.br, sem contar que toda a minha informação acadêmica está no Lattes: www.lattes.cnpq.br .

Também faço Iniciação Científica, sem bolsa,com o Prof. Dr. Luis Barros Montez sobre esse tema que

foi citado acima. Que por sinal é o organizador geral do LIEDH. Este grupo é destinado aos estudos de

relatos de viajantes europeus para o Brasil, o que é relevante para a minha pesquisa central.

Sempre meu interesse foi voltado para os estudos ligando o Brasil com a Europa , especificamente a

Alemanha.Comecei pesquisando sobre a Colonização alemã no estado do Rio de Janeiro em que o

meu objeto de estudo foi a Região Serrana que compreendia Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo. O

trabalho foi apresentado num Congresso na Universidade Federal de Santa Catarina. O sucesso desse

trabalho foi eu refletir sob um ângulo maior em que consistia essa relação não só da Alemanha mas

também de austríacos já que a maioria dos colonos imigrantes foram austríacos. Foi por isso que resolvi

focar nessa temática para entender todo um contexto da imigração estrangeira no Brasil na época do

AS RELAÇÕES BRASIL E ÁUSTRIA NO CORREIO BRAZILIENSE (1808-1822)

Rafaella Pedreira Galdino

Page 26: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

26

Império. Esse estudo abrange vários ramos de outras pesquisas que podem ser feitas. E também no

acúmulo de cultura que o leitor se utilizará dentro do seu meio de trabalho (especialmente professores

de geografia e história) e também para outros profissionais ,como por exemplo turismólogos ,que

necessitam saber do passado do local e da história em um contexto mais ampliado.

E os motivos que levou-me a pesquisar esse tema é por ter muito a ver com a área da qual futuramente

exercerei que é no Turismo. E dentro desta área de letras em alemão, meu curso atual, pude aproveitar

conhecimentos que ajudaram-me a decidir por este tema. Além de um conhecimento geral , também

irá enriquecer meu conhecimento na língua lema haja vista que terão alguns documentos em alemão

de relatos de viajantes que terei que traduzir. E também irá tornar-me uma profissional com um

diferencial no mercado de trabalho, mesmo que eu venha dar aulas de alemão em colégios.

As contribuições teóricas que essa pesquisa traz são conhecimentos dos fatos por meio da literatura e

até da poesia. Os viajantes relatam sobre o Brasil, ora por meio de poemas ou em forma de diário. E esses

poemas eram sempre enaltecendo as paisagens que eles encontravam aqui no Brasil, especificamente

na Costa Brasileira. E quanto à literatura, sempre vemos uma escrita com tendências ao português

europeu mas sempre descrevendo de forma erudita os acontecimentos. Desde a vinda dos colonos

alemães até relatos de como foi a viagem de navio da Europa até o Brasil.

A cultura miscigenada que é a identidade do nosso país, é comprovada através dessa pesquisa. E

podemos encontrar essa relação estreita política e econômica dos países europeus com o Brasil,que

geralmente não são mencionados nos livros didáticos de história. Digamos que, seja um recorte da

história, no período do Império para entendermos profundamente o que se passava, refletido até hoje

no nosso país.

Um dos questionamentos que sempre a maioria das pessoas que vão para a Região Serrana por exemplo

é: “Por que aqui não parece o Rio de Janeiro? Aquela metrópole agitada?”.Tudo tem uma explicação.

E ainda: Porque D. Pedro II casou-se com Leopoldina que era austríaca, e porquê?. O Rio de Janeiro

sendo um dos estados que mais contribuem para o PIB do Brasil. E porque a maior parte provém da

Região serrana ?.

São questionamentos válidos para serem discutidos e analisados, pois a nossa sociedade deve e muito à

esses colonos que saíram de seu próprio país a fim de crescerem economicamente nas terras brasileiras.

E o professor, ou por exemplo, o turismólogo terá uma base suficiente para utilizar a história como um

objeto de esclarecimento para a sociedade.

A partir do livro de Edward Carr “Que é história?”,podemos perceber que a resposta de uma pesquisa

Page 27: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

27

nunca é definitiva. Mas sim um levantamento de futuras hipóteses para entendermos o presente. Logo,

a pesquisa tem diversas hipóteses a serem descobertas. E os resultados são favoráveis para entender

por exemplo porque somente a Alemanha e a Áustria foram países que estreitaram relações com o

Brasil, tendo um possível interesse em crescerem economicamente expandir a economia, haja vista

que o nosso país estava em ascensão no expansionismo Marítimo de imigrantes. Por isso essa pesquisa

sempre será relevante para o meio acadêmico e até para profissionais no mercado de trabalho.

Page 28: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

28

As relações simbólicas – os enunciados, propriamente ditos – perpassam todos os meios de interação

em sociedade. As formações discursivas (FOUCAULT, 2010) seguem essas relações que diversas vezes

trazem à superfície linguística preconceitos formados historicamente. A construção das identidades

de gênero, campo discursivo “pantanoso” e quase sempre polêmico, pode ser considerada cheia dessas

interações preconceituosas e desiguais. Em nosso trabalho, abordaremos os preconceitos endereçados

ao gênero feminino.

A mulher sempre foi mais vitimada dentro do jogo de identidades e imagens. Há, em torno da figura

feminina, toda uma construção ideológica (ORLANDI, 2012) que a define como “sexo frágil”, “inferior

ao homem”, “objeto sexual”, além de “cuidadora do lar”. Apesar das tentativas de modificação dessas

imagens historicamente construídas, a mulher ainda hoje sofre preconceitos. Através da análise de

algumas letras de música, poderemos perceber como essas representações preconceituosas ainda

fazem parte de nosso imaginário.

Por meio do arcabouço da Análise do Discurso (AD) de linha francesa, procuraremos expor quais

são os discursos que constroem a imagem da mulher na sociedade; que tipos de “jogos” de poder são

instituídos como sendo pertencentes a ela, além de abordamos os deslocamentos de sentido que sua

identidade sofreu nas últimas décadas.

Para alcançarmos o nosso propósito, trabalharemos com um corpus em que são analisadas letras de

música dos seguintes estilos musicais: samba/pagode, funk e rock – pois acreditamos serem os ritmos

mais populares atualmente. Procuraremos verificar seus pontos de semelhança e diferença, além dos

deslizamentos de sentido que elas trazem em relação aos discursos que perpassam o senso comum.

Como corpus auxiliar, abordaremos também sobre alguns projetos de lei, tais como o PL 19.203/2011,

da deputada estadual baiana Luiza Maia (PT), que proíbem o uso de dinheiro público em apresentações

de bandas que possuam em seu repertório músicas que desvalorizam ou constrangem as mulheres,

além da grande polêmica ocasionada pela publicação desse documento.

Tratando sobre esse tema, buscamos trazer alguma contribuição aos estudos sobre “identidades,

culturas, imaginários e territorialidade”, pois procuraremos explorar, através das manifestações

linguísticas – enunciados –, os sentidos que são construídos/desconstruídos sobre a representação

feminina dentro das relações de gênero em nossa sociedade.

AS RELAÇÕES DE GÊNERO: REPRESENTAÇÕES FEMININAS EM LETRAS DE MÚSICA

Allan Phillip Conceição de Oliveira

Page 29: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

29

A poesia portuguesa no período da modernidade tem Fernando Pessoa como expoente. A poesia

pessoana caracteriza-se por uma grave preocupação existencial. Dentro dessa temática, saltam aos olhos

alguns aspectos filosóficos: a subjetividade, a temporalidade, o niilismo (descrença absoluta), a finitude,

a contingência, a autenticidade, a solidão existencial, a escolha, o estar no mundo, o estar próximo da

morte e o fazer a si mesmo. Apontamos todos estes aspectos para o eixo temático IDENTIDADES,

CULTURAS, IMAGINÁRIOS E TERRITORIALIDADE na qual notamos a alteridade e a identidade

plural do poeta português que não apresentou um sistema filosófico, no entanto recorreu à filosofia

para enriquecer seu lirismo poético. Seguindo um enfoque existencialista, corrente de pensamento

da modernidade entre guerras, tentaremos apenas constatar traços filosóficos e jamais enquadrar o

poeta na corrente de pensamento da filosofia da existência que durante as décadas de 1930 e 1950

designou uma corrente literária surgida na Europa que obteve grande divulgação de Jean-Paul Sartre.

Adotaremos a metodologia seguinte: procederemos a uma crítica hermenêutica, com recorrências a

soluções ontológicas. Primeiramente, faremos uma explicação do processo de criação de heterônimos,

e logo depois, analisaremos as poesias do ortônimo (Fernando Pessoa, ele mesmo) e dos principais

heterônimos (Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos), baseando-se nos estudos de Linhares

Filho (1982). Por fim, faremos correlações com os pensamentos dos filósofos existencialistas oriundo

de estudos historiográficos de Giles (1975) e Giordani (1976). Em suma, em toda a obra pessoana,

são notáveis laivos de pensamentos dos filósofos existencialistas, como: Jean Paul-Sartre, Martin

Heidegger, Gabriel Marcel, Kierkegaard, Friedrich Nietsche.

ASPECTOS EXISTENCIALISTAS EM FERNANDO PESSOA

Gustavo Ewerson da Rocha Balbino;Bruno Ribeiro de Jesus

Page 30: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

30

Em todo percurso da obra de Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007) verifica-se o estabelecimento de

um diálogo intenso com o legado artístico, histórico e filosófico da tradição ocidental. Essa interlocução

em sua obra engendra uma produção poética excessiva sobre a arte em geral. Desde sua estréia com

Morfismos, na revista-movimento Poesia 61 (1961), até sua última obra Cenas vivas (2007), Fiama

procura pensar as questões da linguagem em sua caris artística, tanto na tradição cultural portuguesa,

quanto num macro contexto europeu. Em 1978, a autora publica Área Branca, livro de poemas que

discute as questões concernentes à produção de sua poética, bem como da portuguesa. Nesse sentido,

nosso trabalho tem por conta apresentar uma leitura metalinguística do poema 6 do livro Área

Branca, contido e re-editado na antologia poética Obra breve (1991), realizada pela autora. Para tanto,

investigamos as questões de natureza da poética em dois planos de abordagem: a poética da poeta e

a estética portuguesa sob olhar do poema de Fiama. Em Área Branca, nossa leitura contemplará a

descrição de alguns expedientes metalinguísticos, como quando Fiama discute as diferentes esferas

da arte, da língua e da linguagem. Dessarte, nosso trabalho se mostra pertinente aos influxos do

eixo temático: identidades, culturas, imaginários e territorialidade; uma vez que, a tradição artística

do imaginário fundante de nossa sociedade é ocidental. Com efeito, dada a riqueza de exploração

metalingüística pôde-se reconstruir um quadro panorâmico da poética contemporânea eivada das

vicissitudes e idiossincrasias da poeta. Portanto, com o ensejo de procurar refletir acerca da forma

pela qual Fiama Hasse Pais Brandão opera o signo poético, analisamos algumas dessas profusões

metalinguísticas acerca da cena das artes plásticas portuguesa, bem como da própria “po-ética” da

autora de Área Branca. Consequentemente, nosso trabalho discutirá a relação metalinguística do

poema “6” e seu discurso acerca das pinturas de Eduardo Nery e Guilherme Perante, assim como da

própria Fiama Hasse, sempre em consonância com a História da Arte e da Sociedade.

Palavras-chave: Fiama. Metalinguagem. Área Branca. Poesia. Artes Plásticas.

DA “ÁREA BRANCA”: PROFUSÕES METALINGUÍSTICAS EM FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO

José Antônio Rodrigues Júnior

Page 31: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

31

Os romances Linha do Parque (1959), de Dalcídio Jurandir (1909-1979) e, A Hora Próxima (1955), de

Alina Paim (1919-2011), retratam a participação proletária feminina em greves importantes do final

da década de 1940 e início da década de 1950. Neste sentido, a pesquisa observou as personagens

femininas em seus enredos, no que diz respeito ao aspecto da militância, bem como, estabeleceu

relações entre a análise do papel da mulher em Linha do Parque e em artigos de Dalcídio Jurandir

sobre a militância feminina, publicados no periódico carioca Imprensa Popular, pois o romancista,

paralelamente à vida artístico-literária, também participou da história político-intelectual do país a

partir do seu comprometimento com as causas sociais, presentes nos textos jornalísticos.

Para tanto, além da leitura e análise das personagens femininas dos romances em questão, houve

a verificação do contexto histórico da década de 50, no qual o Partido Comunista Brasileiro (PCB)

intervém na produção cultural de seus intelectuais filiados com uma política cultural partidária. De

acordo com Moraes (1994), os romances em estudo foram barrados pela censura do próprio Partido.

Este fato aponta para a hipótese de que os intelectuais mesmo filiados ao PCB não aceitavam atuar

como meros propagadores de uma ideologia partidária, pois, ao aderir à estética da política cultural

do PCB - o realismo socialista -, Dalcídio Jurandir e Alina Paim, além de realizar a tarefa da militância

como escritores politicamente engajados, também assumiram uma postura de indignação e confronto

diante dos problemas sociais que assolavam os trabalhadores da época em que os romances foram

produzidos, em especial as mulheres.

E, por intermédio de suas criações literárias, narraram a realidade do operariado, visando fortalecer

a consciência proletária no leitor ao denunciar as precárias condições de trabalho as quais estes (as)

eram constantemente submetidos (as) e ao expor a transformação da imagem feminina, da passividade

à resistência, tanto no lar quanto no local de trabalho, diante de uma sociedade patriarcal e opressora.

DALCÍDIO JURANDIR E ALINA PAIM: DIÁLOGOS ENTRE LITERATURA E MILITÂNCIA E A PERSPECTIVA FEMININA

Luciana Moraes dos Santos

Page 32: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

32

Este artigo pretende, a partir do texto Medeia Zona Morta, de Leticia Andrade, encenado pelo grupo

Teatro Invertido , de Belo Horizonte (Brasil), verificar como o teatro, por meio do texto, procura

resgatar o mito e/ ou seu arquétipo como fio condutor da sua trama para tratar temas de caráter social,

como questões feministas, marginalidade, abandono a partir da cidade.

O trabalho se faz a partir da leitura da obra, analisando a re-invenção do mito a partir da realidade

em que ele se insere, contribuindo para a discussão da construção das identidades através da dinâmica

política-social da cidade.

DRAMATURGIAS CONTEMPORÂNEAS E A RE-INVENÇÃO DO MITO DE MEDÉIA A PARTIR DA CIDADE

Davidson Maurity Lima Araújo

Page 33: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

33

A fortuna crítica de Grande Sertão: Veredas por vezes tem se preocupado em desvendar suas referências

(literárias, religiosas ou místicas), localizar sua correspondência com a geografia do sertão mineiro ou

situar filiações a determinados eixos temáticos da literatura, como o mito fáustico e o romance de

formação. Contudo, situar corretamente referências, tradições e correspondências não contribui para

demonstrar as potências de Grande Sertão: Veredas. Esses dados sobre possíveis origens na composição

da obra somente ganham relevância quando identificamos de que modo os dados de origem foram

metamorfoseados para apontar novas possibilidades.

O próprio conceito de sertão, por exemplo, é ainda apresentado como um dos núcleos duros de

Grande Sertão: Veredas, mas merece uma reflexão crítica como modulador. Mais do que um lugar

físico, geograficamente localizável ou uma paisagem, no sentido de percepção mediada pelo recorte

subjetivo, o sertão de Rosa é uma terra, um território desterritorializado, em termos deleuzianos.

Assim compreendido, esse sertão-terra, sem limites, pode ser enriquecido no cotejo com a tradição

literária. As narrativas fáusticas, desde a obra teatral de Christopher Marlowe, apresentam o inferno

como um lugar vivenciável na Terra. Quando Fausto pergunta a Mefistófeles onde é o inferno, este

responde que o inferno é sem limites, não está circunscrito a um lugar. Esta resposta já foi apontada

como uma aprovação de Marlowe a visões heréticas que floresciam na Inglaterra elizabetana.

Questionando a punição infernal, questionava-se, por conseguinte, todo o aparato punitivo estatal,

que não se dissociava da Igreja.

Na fala de Riobaldo, o lugar sem limites, que está em toda parte, é o sertão. Confunde-se com o inferno

na travessia do Liso do Sussuarão. E confunde-se com a própria travessia da vida: “Sertão sendo do

sol e os pássaros: urubú, gavião — que sempre voam, às imensidões, por sobre...Travessia perigosa,

mas é a da vida”. Desse modo, mais do que uma região geográfica, ou um estado mental, o sertão se

confunde com o próprio ato de narrar e com a memória, que reconstitui a travessia vivida:

“Assim, é como conto. Antes conto as coisas que formaram passado para mim com mais pertença. Vou

lhe falar. Lhe falo do sertão. Do que não sei. Um grande sertão! Não sei. Ninguém ainda não sabe. Só

umas raríssimas pessoas — e só essas poucas veredas, veredazinhas.”

Nessa configuração como desconhecido e vazio, passível de preenchimento pela memória e pela

narração, Grande Sertão: Veredas promove um tratamento laico das questões fáusticas, num

ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES DO MITO FÁUSTICO EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS – ESPAÇO E LUGAR

Raisa Damascena Rafael

Page 34: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

34

movimento que já vinha se configurando desde Goethe, como já apontado por Haroldo de Campos.

Quando Riobaldo afirma que diabo não há, que se for é o homem humano em sua travessia, postula

a responsabilidade total do homem diante do vazio e do deserto, pois não há mais Deus, diabo, nem

História, somente estórias. O sertão, como um espaço em branco para o narrar, constitui-se, assim,

como um espaço de liberdade sobre o qual o homem pode se recriar.

Page 35: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

35

O folheto de cordel – narrativa popular nordestina – tem como referência territorial os ‘sertões’ do

Nordeste Brasileiro. Tal gênero literário teve suas origens na Europa Medieval, e chegou ao Brasil com

os colonizadores portugueses, no século XVI, estabelecendo-se no Brasil no século XIX, quando se

tem os primeiros cordéis impressos. O cordel faz parte da literatura do povo. São versos que refletem

acontecimentos recentes, figuras políticas, assuntos do fim do mundo, temas de animais, cidades,

hábitos e costumes, epopeias e romances. Daí, os próprios poetas populares classificarem como o “

jornal dos sertões”, em épocas anteriores ao “boom” midiático.

A partir das pesquisas desenvolvidas pelo projeto do PROLICEN desde 2003 pela professora Beliza

áurea de Arruda Mello junto ao alunado da Graduação em Letras Clássicas e Vernáculas, foca-se ,

segundo os pressupostos teóricos de Zumthor(1993, 2000, 2003) sobre o impacto dos meios eletrônicos

sobre a vocalidade e como, o poeta popular, “manipula” os novos sistemas da pós-modernidade, que

embora tendam a apagar as referências espaciais da voz viva, retoma a imagem e a voz, tornando

reiterável a performance. Na contemporaneidade, há uma movência territorial, o mundo rural dá

espaço ao mundo urbano influenciando também na escolha dos suportes.

Se os cordéis antes eram fixados em folhetos, publicações em papel jornal, na atualidade eles

emigraram para outros suportes como livros e o ciberespaço, principal fonte mediadora do homem

contemporâneo. Atualmente, o ciberespaço é a principal ferramenta de comunicação e/ou obtenção

de conhecimentos e de pesquisa. Este espaço vem se ampliando, chegando a lugares e a populações

que possuem poucos recursos. Tal crescimento é resultante de um movimento mundial de pessoas

ansiosas por novas experiências, novas formas de comunicação. Os folhetos de cordel estão emigrando

para o ciberespaço, visto que a necessidade de acompanhar novas tecnologias recria os gêneros.

Em decorrência disso, o cordel sai do seu território e se reterritorializa no meio virtual. Os poetas

populares ao usarem também esse novo recurso, confirmam o “trajeto antropológico” das práticas

das modalidades da poética oral, as tradições “sempre reinventadas”.

Com efeito, as formas poéticas transmitidas anteriormente pelas vozes e pelas impressões tradicionais,

passam a ter uma nova agilidade na recepção do texto, ao entrar no ciberespaço, local que permite

uma recepção coletiva mais ampla, sem contudo solapar os hábitos culturais do poeta popular.

Desta maneira, pretende-se discutir, nesta comunicação, as “travessias” e movência desses suportes e

territórios poéticos.

FOLHETO DE CORDEL: MOVÊNCIAS E TRAVESSIAS

Caroline Sandrise dos Santos Maia;Fabianne Ramos de Souza; Wanderson Diego Gomes Ferreira

Page 36: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

36

O humor é comumente explorado na literatura infantil de diversas formas e em níveis diferentes. Na

literatura infantil brasileira este fenômeno é também considerado um reflexo da cultura, já que o povo

brasileiro se percebe como extremamente humorístico e capaz de superar o sofrimento através do riso

e da arte de fazer rir. Mas como o humor é visto e experienciado no Líbano? De que forma a cultura

libanesa do riso se reflete na literatura infantil?

Este trabalho tem como objetivo apresentar o humor na literatura infantil libanesa através de duas

obras contemporâneas, ambas de 2009, da autora infantil libanesa Rania Zaghir: Man Lahasa Karna

il Booza (Quem tomou o meu sorvete?) e Sisi Malakit Talbes Kharofan wa Dodatayn (Sissi Malaket se

veste com uma ovelha e dois bichos-da-seda!). Esta, além de ter sido traduzida para o italiano, recebeu

o prêmio de melhor história infantil árabe para crianças – Assabil ( Amigos das Bibliotecas Públicas)

2009/2010. Aquela, foi traduzida para o alemão e tornou-se desenho animado na BBC Cebebees. Ambas

foram traduzidas para o português, porém, ainda não foram publicadas no Brasil. Rania Zaghir é

libanesa, tem mestrado em psicologia educacional, escreveu 18 livros, e fundou a editora Al Khayyat

Al Saghir (O pequeno alfaiate).

Este trabalho é adequado ao eixo temático escolhido por apresentar a literatura infantil libanesa como

um espaço para dialogar com as crianças, através do humor, sobre a identidade e alteridade. É uma

literatura, incluindo a ilustração das obras, que leva a criança a refletir sobre si mesma, sobre seus

conflitos com o Outro, a valorizar o eu-criativo no processo de resolução de problemas.

Quem tomou o meu sorvete? é uma história divertida de uma menina que busca ajuda nos seres mágicos

e míticos para decidir qual é a melhor forma de tomar o seu sorvete, uma atividade comum do dia a dia

de uma criança. A trama fortalece a criança como indivíduo e cidadão, apontando para a necessidade

de se aprender a tomar decisões, assim como a assumir a responsabilidade pelas decisões tomadas.

Sissi Malaket ressalta o senso de moda de uma menina muito vaidosa e criativa, que utiliza diferentes

animais para se vestir nas diferentes estações do ano, até perceber que não é possível retirar os animais

de seu habitat, e então, é forçada a buscar uma solução viável para todos os envolvidos.

FUKAHA: HUMOR NA LITERATURA INFANTIL LIBANESA

Tainise de Souza Soares de Oliveira

Page 37: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

37

Ainda que a fase romântica do seu trabalho não tenha sido a de maior destaque para Machado de

Assis, pode-se observar que o autor retrata em suas obras de então questões ainda não tão frequentes

na época. Em Helena, Machado de Assis, além da critica social, aborda a questão do incesto entre os

“irmãos” Helena e Estácio. Tudo tem início com a morte do Conselheiro Vale: sua herança é dividida

entre Estácio, seu filho legítimo, e Helena, que todos acreditam ser fruto de um relacionamento

extraconjugal. Com isso, Helena passa a morar na casa do Conselheiro junto com Estácio e família e,

no decorrer da narrativa, a ligação entre os supostos irmãos torna-se algo maior que um sentimento

de fraternidade. Embora não haja, de fato, ligação sanguínea entre os dois, o filho do Conselheiro

Vale não possui tal informação e pensa sentir-se atraído por sua própria irmã, e não vê possibilidade

de concretização desse amor, uma vez que por convenções sociais e leis cristãs essa relação seria um

desvio de conduta moral, além de ser caracterizada como pecado. Esse sentimento é alertado pela

personagem padre Melchior, que é o mediador das vontades e repressões sentidas por Estácio. A partir

desta situação, o tema incesto será analisado nas perspectivas de Freud e de Lévi-Strauss. Em Freud,

será trabalhado o Complexo de Édipo na construção de uma relação incestuosa desde a infância

e como esse tema tabu está como “proibido” na sociedade, de religiões a comunidades primitivas.

Em Lévi-Strauss será abordada a questão natural e cultural acerca do incesto, pois, para o filósofo e

antropólogo francês, a proibição de uma relação incestuosa é tida como “socialmente absurda”. Busca-

se por meio do estudo da Psicanálise e Antropologia melhor compreender o incesto como algo tão

absurdo e imoral no processo de desenvolvimento humano e social.

HELENA: O INCESTO À LUZ DOS PENSAMENTOS DE FREUD E LÉVI-STRAUSS

Lívia Fernanda Diniz Gomes; Melissa Sales Figueiredo

Page 38: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

38

Este trabalho é parte de um projeto de pesquisa de doutorado sobre as figurações do passado na obra

do escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez (Bogotá, 1973). O objetivo aqui é fazer uma análise do

romance Historia secreta de Costaguana (2007), enfocando principalmente as inúmeras reflexões do

livro sobre história e ficção. Tendo uma trama familiar como fio condutor e uma especulação literária

como pano de fundo, a obra de Vásquez é, em última análise, um livro sobre a Colômbia oitocentista,

mas que resiste logo no título – que alude à república imaginária do romance Nostromo (1904), de

Joseph Conrad – aos esforços de verossimilização que caracterizam a ficção histórica tradicional

(JITRIK, 1995).

Centrada na construção do Canal do Panamá, a narrativa questiona a história oficial e resgata

vários episódios esquecidos, como a morte de trabalhadores chineses, os surtos de febre amarela e

o superfaturamento das obras, mas o tom, longe da denúncia, é mais próximo do escárnio, da ironia

e da farsa. Favorecidas pelo discurso em primeira pessoa, observações sobre a escrita e os métodos

historiográficos são um dos distintivos do romance: do início ao fim, o protagonista discorre sobre

o ato de narrar, questionando-se sobre o espaço que deve dedicar a cada acontecimento ou sobre a

conveniência, para fins estilísticos, de alterar ligeiramente alguns dados.

Figura onipresente no livro, pairando às vezes irônico, às vezes impertinente, o “Anjo da História”

determina o destino dos personagens – sem jamais oferecer qualquer tentativa de previsão. Ao apontar

essas características, pretendo demonstrar que, além de uma obra canônica do início do século XXI,

como definiu Carlos Fuentes (2011), o livro de Vásquez exibe vários dos traços apontados por Seymour

Menton (1993) como definidores de um “novo romance histórico”, assim como se insere na categoria

de “metaficção historiográfica” criada por Linda Hutcheon (1991). Como em todos os seus principais

romances, o autor colombiano retorna ao passado de seu país com uma postura crítica e ao mesmo

tempo desconfiada de suas próprias ferramentas.

HISTÓRIA E FICÇÃO EM HISTORIA SECRETA DE COSTAGUANA, DE JUAN GABRIEL VÁSQUEZ

Diogo de Hollanda Cavalcanti

Page 39: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

39

Atualmente, a sociedade vem discutindo questões relacionadas às minorias e isso tem contribuído para

a diminuição das diferenças entre os povos. Este novo olhar voltado para os menos favorecidos tem

apontado que novos direcionamentos vêm alcançando êxito nos grupos sociais da contemporaneidade.

Considerando este contexto de discussão e estudos recentes de Hall (2003), Moita Lopes (2006), Serrani,

(2005) e outros, este trabalho propõe uma reflexão sobre a formação docente quanto a necessidade da

inserção de temas oriundos das culturas africana e afrobrasileiras, nas etapas do curso Normal. Para

isso, consideramos a lei 10.639 que torna obrigatório o estudo das culturas africanas no ensino regular.

Observamos que há um déficit desses conteúdos nas disciplinas humanas em geral, assim como na de

língua portuguesa, que mesmo com a promulgação desta lei, continua a restringir o estudo da cultura

africana às questões como escravidão e poucas heranças mais expressivas na contemporaneidade.

No ensino de língua, a escolha dos materiais didáticos e paradidáticos, a realização de atividades

artísticas, educacionais e culturais, são fundamentais para a (re)construção da identidade cultural

do aprendiz. Logo, o responsável por essa tarefa, nas séries iniciais, tem um trabalho árduo: lidar,

tanto com a necessidade de formar esses alunos como indivíduos conscientes das questões relativas

às culturas africanas, tanto pelo esforço de vencer suas limitações de formação. Para isso, utilizamos

a legislação brasileira, que prevê o exercício dos conteúdos relativos à cultura africana; uma breve

ambientação no contexto escolar com formandos do ensino médio Normal, que logo estarão aptos a

conferir o ensino regular para séries iniciais ( 1ª ao 5º ano) para a constatação da motivação principal

do trabalho. Dessa forma, pretendemos entender as dificuldades encontradas pelos discentes para

lidar com esse universo de conteúdos, contribuindo para uma formação de qualidade ao tomar lugar

de profissional na educação brasileira.

Palavras-chave: Identidade Cultural, Formação docente, Africanidade

IDENTIDADE CULTURAL, AFRICANIDADE E CONTEMPORANEIDADE: DIFICULDADES DO EDUCADOR RECÉM-FORMADO NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Leilane Alves Mendes dos Santos

Page 40: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

40

O presente trabalho apresenta uma pesquisa teórica-prática que nasceu do projeto “A Pedagogia da

Variação Linguística na Escola”, desenvolvido no grupo de pesquisa FALE (Formação de professores,

alfabetização, linguagem e ensino), da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de

Fora (MG). A pesquisa tem como objetivo principal investigar a possibilidade de implementação,

na escola, de uma pedagogia da variação linguística que leve os alunos ao reconhecimento de sua

identidade dialetal, valorizando-se como cidadãos falantes da língua portuguesa de um determinado

grupo social, mas que necessitam aprender também as variedades consideradas cultas, de modo que

possam buscar posições melhores na sociedade.

Trata-se, portanto, de uma proposta de expansão das competências em relação ao uso das modalidades

oral e escrita da língua, levando-os à reflexão sobre a necessidade de adequação do uso da língua ao

contexto (BAGNO, 2009).

O método adotado é a pesquisa-ação, com caráter qualitativo, e se realiza em turmas do 6º ano do

Ensino Fundamental de uma escola pública, que adota o projeto de aceleração dos anos finais do

ensino fundamental e que tem como proposta uma pedagogia libertadora. Pretende-se que os alunos

reflitam sobre as variedades linguísticas a partir de gêneros textuais, com atividades reais de uso,

fazendo uma ligação com seu próprio cotidiano.

A pedagogia culturalmente sensível (BORTONI, 2004) vê essa adequação como indispensável para

o sucesso escolar. O projeto encontra-se na fase de reconhecimento das ações escolares, porém já se

pôde notar que a maior parte desses alunos têm grande dificuldade de interpretação, o que se revela

na sua grande carência no uso da língua oral e escrita. Toda variedade linguística é, antes de tudo,

um instrumento de construção de uma identidade de um determinado grupo. Reconhecer-se como

falante legítimo e obter esse reconhecimento é fator de integração e ascensão social.

LINGUAGEM COMO IDENTIDADE: UMA CONDIÇÃO PARA O SUCESSO ESCOLAR

Bianca Alves Malvaccini

Page 41: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

41

Este trabalho, surgido a partir de estudos realizados no subprojeto de “Arte e Literatura” do Programa

Institucional de Iniciação a Docência (PIBID) que se desenvolve no Instituto Federal de Educação

Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA), investigou na literatura de cordel, eclodida na Europa feudal do

século XII, as inúmeras formas pelas quais o povo resguarda sua identidade, expondo a relevância

do imaginário popular. A Literatura de Cordel, enquanto veículo desse imaginário popular refaz os

caminhos enviesados do olhar matuto, reconstitui a maneira do sertanejo reagir ao mundo e, mais

do que isso, deixa pistas do sistema complexo sobre o qual se edifica seu sentimento de contestação.

É através da voz que a identidade do cordel pode assumir diversos significados, principalmente os de

caráter extratextual, que surgem a partir da “performance” do cordelista. Essa forma poética, que se

situa entre a oralidade e a escrita, insere-se no que Paul Zumthor denomina “oralidade mista”, isto é,

oralidade marcada pela coexistência com uma cultura escrita, que se reflete em seus estilhaços, numa

instância em que não mais se reconhecem os traços originais de cada um deles, fundidos e confundidos

no ponto de cruzamento das linguagens que sugerem, no âmbito da literatura, uma resistência inerente

ao cordel. Tais folhetos populares que são quase sempre transgressores escapam do silêncio dos textos

e ganham as ruas, transformando o cordel em porta-voz das camadas marginalizadas refletindo em

suas rimas e versos o que por vezes é ignorado. Essa discussão que, perpassa os séculos traz para

a contemporaneidade uma nova visão sobre o cordel, que de literatura marginalizada passou a ser

valorizado como instrumento de pensar o mundo e de afirmar a identidade, traçando caminhos de

subversão e de liberdade, protesto, convertendo o espaço poético numa arena de luta, além de transitar

entre o fantástico e o sobrenatural por isso, nunca deixará de conquistar gerações.

LITERATURA DE CORDEL: IMAGINÁRIO, ORALIDADE E RESISTÊNCIA

Sabrina Augusta da Costa Arrais;Amanda Ynaê Maia Furtado

Page 42: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

42

Este trabalho apresenta uma análise da identidade de “Marianinho”, narrador-personagem do romance

“Um rio chamado Tempo, uma casa chamada terra” (2003), de Mia Couto, escritor moçambicano que

discute, entre outras coisas, a formação social e cultural do homem moderno. Sendo as Literaturas

Africanas de Língua Portuguesa um dos objetos de representação da identidade cultural de um

povo que foi vítima do processo de colonização, julgamos importante o estudo das mesmas para a

elucidação das características identitárias do indivíduo moderno. Partindo do pressuposto de que

a temática identitária é fundamental para os estudos da Literatura, em particular as Literaturas

Africanas de Língua Portuguesa, pois como assinala Stuart Hall “as velhas identidades que por

tanto tempo estabilizaram o mundo social estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e

fragmentando o indivíduo moderno”, analisamos o passado histórico-cultural da África pós-colonial,

a fim de compreendermos o que acontece com as identidades culturais dos indivíduos pertencentes

aos espaços colonizados. No romance de Mia Couto, a personagem Marianinho, ao retornar para sua

terra natal, fragmenta-se entre o Tempo, responsável pelas memórias sobre o passado da família dos

Malilanes e a Terra, representação das raízes tradicionais africanas, ao mesmo tempo em que busca

construir sua identidade. Percebendo-se um deslocado, o jovem narrador passa a sofrer de uma “crise

de identidade” ocasionada pelos diálogos e conflitos entre a tradição familiar africana e a cultura do

local de sua formação, a europeia. A identidade cultural do protagonista vai se formando a partir da

negociação entre as memórias que surgem em forma de relatos, fotografias e cartas, sobre o passado

dos Malilanes. O suporte teórico utilizado para sustentar essa pesquisa foi Stuart Hall, Maurice

Halbwachs, Buman, Antony Giddens e Ademar Bogo, Arnaldo Franco, Inocência Mata e outros. Com

o estudo, constatou-se que o sujeito pós-moderno na referida literatura vive um tempo marcado por

identidades fragmentadas, múltiplas e deslocadas, geradas a partir das mudanças nas estruturas das

sociedades.

MEMÓRIA E IDENTIDADE: “UM RIO CHAMADO TEMPO, UMA CASA CHAMADA TERRA”, DE MIA COUTO.

Andreza Flexa

Page 43: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

43

A Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que está sendo construída próxima à cidade de Altamira-PA,

será a terceira maior hidrelétrica do mundo, e apesar do progresso que ela está trazendo a região,

a construção da usina também está causando vários transtornos, tanto para a população que será

afetada, quanto ao restante da população que sofre com a falta de estrutura da cidade para receber tal

empreendimento, além dela também estar causando grande impacto ambiental. Através de narrativas

orais feitas por ribeirinhos, que vivem às margens do rio Xingu e que serão afetados pela construção

da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, este trabalho têm como objetivo principal analisar suas histórias,

suas poesias, e suas aspirações, além de como a construção da hidrelétrica irá influenciar algumas

mudanças nos seus estilos de vida. Morando durante a maior parte de suas vidas às margens do rio,

uma das principais fontes de inspiração para suas poesias, acostumados com a pesca e com a caça,

eles se veem obrigados a sair de suas casas, pois elas serão atingidas com a elevação do nível do rio.

Com a construção da Usina Hidrelétrica, e com a indenização que receberão por terem tido suas casas

atingidas, eles serão obrigados a começar uma vida nova, e terão de partir para áreas urbanas onde

irão viver de um modo diferente de até então, essa nova vida, apesar de assustá-los, é a única opção

que lhes restam. A análise oral das histórias, experiências e vivências de ribeirinhos, suas narrativas

orais e poesias, serão abordadas neste trabalho, a fim de fazer uma maior e melhor compreensão do

modo como eles estão acostumados a viver até hoje, e como essa mudança de ambiente, costumes, e

até mesmo de realidade, que são mudanças inevitáveis e que eles estão sendo submetidos a enfrentar,

afetará seus estilos de vida.

NARRATIVAS ORAIS E POESIAS DE RIBEIRINHOS AFETADOS PELA CONSTRUÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE BELO MONTE

Lillian Silva Corrêa; Suelly Silva de Assis

Page 44: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

44

A presente pesquisa de iniciação á docência, parte do objetivo de pesquisar o “entre-lugar” da poesia

angolana, em especial na escrita de Gonçalo Tavares. Perceberemos o “entre-lugar” como um não-

lugar, sendo este um espaço que não pode ser definido como identitário, histórico e relacional. A

nossa modernidade é criadora de não lugares, ou seja, espaços que não são eles próprios lugares

antropológicos e que não integram os lugares antigos, os ‘lugares de memórias’.

Tal estudo surgiu da necessidade de se compreender esse espaço que vem se tornando cada vez mais

comum na sociedade contemporânea. Partindo do princípio do “entre-lugar” percorreremos outros

âmbitos do dia-a-dia do homem moderno, foco principal da escrita de Gonçalo Tavares. Atentamos

através do presente trabalho pensar a poesia e a prosa afro-descendente por uma ótica contemporânea,

ótica essa em que percebemos um hibidrismo cultural legado da colonialização e “desterritorialização”

da cultura afro-descendente.

Pensar o “entre-lugar” da poesia de Gonçalo Tavares é perceber questões pertinentes ao homem

moderno como uma metáfora do coletivo. Buscando não se ater somente à correntes teóricas que

trabalham a linguagem do imaginário também incluímos a literatura como ponto norteador desta

pesquisa. Nossa pesquisa visa estimular o debate desse novo espaço, caminhando em conjunto com a

literatura africana, não podemos, dessa forma, definir respostas, pois pensamos questões pertinentes

ao ser humano. Não é difícil perceber que o escritor angolano disseca o ser humano, como um cientista

que desnuda o objeto a ser estudado.

Utilizaremos a biografia do autor como principal corpus deste projeto. Nos auxiliamos em nossas

leituras dos estudo de BLANCHOT (1987) que faz um mapeamento do homem moderno; ARENDT

(2009) por introduzir a questão da violência e AUGÉ (1994) o qual insere a questão do não-lugar,

além de BHABAH (2011) que permeia as questões do hibidrismo cultural, entre outros autores afro-

descentes para que possamos fazer um diálogo entre as “Áfricas” e seus “entre-lugares” apresentada

por cada autor, mas tendo como foco principal a escrita de Gonçalo M. Tavares.

O “ENTRE-LUGAR” DO IMAGINÁRIO ANGOLANO NA POESIA DE GONÇALO TAVARES

Deise Belizário Terto

Page 45: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

45

Este trabalho busca posicionar o obituário, texto mortuário de caráter biográfico comum na imprensa

anglo-saxã (e surgindo aos poucos na mídia brasileira), como um gênero textual específico e, a partir

daí, explicar o crescente interesse por tais textos tanto em jornais e revistas como nas cada vez mais

populares coletâneas. Parte das complexas relações socioculturais da representação da morte, o

obituário é aqui proposto numa acepção mais contemporânea – pragmática e não apenas lógica –

de gênero, aquele que se torna real quando há textos que o exemplifiquem, ou seja, sob demanda de

uma sociedade. Como tentaremos mostrar, uma definição do gênero obituário como proposta deve

explicitar sua relação direta com as narrativas de vida exemplares, em concordância com os estudos

sobre o “espaço biográfico”, em consonância com a ressignificação conceitual aplicado por Leonor

Arfuch à discussão de Philippe Lejeune, assim como suas relações com os horizontes de expectativa

(JAUSS), comunidades disciplinares (BATHIA) e comunidades discursivas (SWALES) em questão.

Tencionamos ir ainda além.

O obituário faz parte, sugerimos, de uma série de relações socioculturais complexas envolvendo a

representação da morte em termos de memória social, cultural, coletiva: é, ao mesmo tempo parte da

memória cultural de uma dada sociedade e interessante objeto cultural por meio do qual acessá-la.

Tal tipo de texto pode ser uma fonte rica para analisar tanto os discursos hegemônicos sobre a morte

(e o morto) em uma dada sociedade quanto de discursos e regimes de verdade alternativos e mesmo

marginais; pode encerrar tanto memórias individuais e grupais como coletivas, locais, nacionais,

sempre impregnadas de um capital simbólico e da ação do habitus, em termos caros a Bourdieu, como

sustenta Bridget Fowler – mas não só isso.

Há tantas camadas de sentido em um obituário, sustentamos, quanto há nas relações com que uma

sociedade lida com a memória de seus mortos, com sua história local e nacional. Tais relações podem

ajudar a compreender como os obituários têm migrado da efemeridade da imprensa para a relação

espaciotemporal mais duradoura das coletâneas, um fenômeno editorial, comercial e cultural cada vez

mais chamativo nos Estados Unidos e na Europa, mas que ganha aos poucos espaço mesmo no Brasil.

Uma possibilidade que aventamos, de acordo com os estudos literários e de crítica, na esteira das

definições sobre literariedade, como as propostas por Gerard Genette, é tentar compreender como é

possível “amar um gênero” e como tais migrações de plataforma e de sentido fazem parte dapermanente

O AMOR PELA MORTE NARRADA. O OBITUÁRIO NO JORNAL E NAS COLETÂNEAS: UMA DISCUSSÃO SOBRE GÊNERO TEXTUAL E SOCIEDADE

Willian Vieira

Page 46: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

46

atualização do repertório simbólico dos grupos sociais em questão, de suas intertextualidades, de sua

complexa dinâmica de memória e identidade social.

Page 47: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

47

O presente trabalho, pautado na visão Vgotskyana(2001), que ressalta em sua teoria sociointeracionistano

âmbito da origem social da inteligência no desenvolvimento da aprendizagem colaborativa, que a

prioriacontece na coletividade, promovendo uma construção intrapsíquica. Partindo do pressuposto

de que a aprendizagem constrói-se pelas interações entre os indivíduos, estas são as principais

desencadeadoras do conhecimento, e o blog apresenta-se como ferramenta plausível por possibilitar

essa interação em rede. Tem por objetivo geral desenvolver habilidades de produção textual do gênero

Memórias Literáriasde forma colaborativa numa perspectiva interacionista dos alunos do sétimo ano

do Ensino Fundamental da Escola Estadual Reunidas Castro Alves situada no município de Jiquiriçá-

BA, localizada no Recôncavo da Baiano.

Neste trabalho observa-se como objetivos específicos: a)a possibilidade da interação professores/

alunos e demais envolvidos; b) o favorecimento de um ambiente de debates e construção conjunta de

conhecimentos entre professores/alunos e alunos/alunos; c) o despertar da capacidade de criatividade

na produção textual a partir de entrevistas; d) o desempenho dos alunos ao se colocarem na posição

de leitores críticos do próprio texto e do texto do colega. O trabalho adota a perspectiva teórico-

metodológica da interação social descrita por Vygotsky e a sua possível ligação com a aprendizagem

colaborativa através das tecnologias de rede (2001), enfocando a interação dos alunos de forma

colaborativa durante as produções textuais no blog.

Apresenta como questões norteadoras a contribuição do blog na autoria textual e no trabalho conjunto

de professores e alunos. Do ponto de vista metodológico, este projeto apresenta-se como um estudo

da prática de produção textual de forma colaborativa numa perspectivasociointeracionista vista pelo

teórico supracitado, com base na formação do desenvolvimento da aprendizagem e da formação

psíquica do indivíduo, uma vez que para o desenvolvimento das atividades realizou-se entrevista com

informantes de faixas etárias variáveis, residentes do município de Jiquiriçá, assim como oficinas

de produção textual a partir das entrevistas. Para a realização das oficinas utilizou-se dos recursos

auxiliares como os computadores do laboratório de informática da escola, câmera digital e mídias

impressas como as coletâneas referentes aos conceitos estudados. Após a realização do projeto obsevou-

se que ainda que os blogs não tenham sido criados para fins educacionais, nota-se que a cada dia

cresce mais a sua utilidade no âmbito educacional. Isso se deve a sua promoção da interatividade, por

também permitir o letramento digital e formação de redes colaborativas o que reflete diretamente no

O BLOG COMO RECURSO NA PRODUÇÃO TEXTUAL

Eliene Arcanjo Marcelino

Page 48: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

48

processo de construção dos saberes.Nesta perspectiva o blog apresenta-se como ferramenta de base na

formação de teias que abrangem a produção colaborativa tanto no meio educacional quanto em outros

setores promovendo uma inter-ação entre as mais diversas categorias cumprindo assim seu papel social

favorecendo um convívio ético, organizado e pautado pelas regras dos seus usuários. Assim, o projeto

oferece aos alunos e professores, bem como a comunidade em geral o uso de uma ferramenta interativa,

com o apoio da escola, cumprindo então o seu papel social, pautado na teoria sociointeracionista de

Vygotsky, promovendo um acelerado e autônomo aperfeiçoamento da comunicação oral e escrita.

Page 49: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

49

A Literatura é parte integrante da cultura de um povo. Por meio dela, consegue-se apreender elementos

de suma importância que são constitutivos da história, das artes, da língua do grupo social que a

produz. Em síntese, a literatura permite a seu leitor compreender melhor a realidade do sistema social

que nela e por ela é refletido. Levando-se em consideração essa realidade, este trabalho, recorte de uma

pesquisa mais ampla sobre língua, literatura e cultura, focaliza um importante elo entre a Europa, a

América e a África, por meio do qual a literatura se constrói – a língua portuguesa. Objetiva-se, pois,

traçar um paralelo entre as literaturas contemporâneas brasileira, portuguesa e africana, a partir de

1960 até atualidade. Além disso, busca-se examinar o que há de semelhante entre essas literaturas e o

que singulariza a literatura africana. A divulgação dessa literatura abre um importante caminho para

que o Brasil retome seus laços com as culturas africanas e também para que se conheça uma literatura

que revela a preciosidade expressiva da língua portuguesa.

O DESENVOLVIMENTO CONTEMPORÂNEO DA PRODUÇÃO LITERÁRIA AFRICANA DE ÍNGUA PORTUGUESA

Clecio Marques dos Santos;Flávia Regina Neves da Silva; Mayara Crystina Rego da Silva

Page 50: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

50

O referido texto baseia-se em pesquisas realizadas no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à

Docência (PIBID)-IFPA que identifica o fantástico na novela A Metamorfose (Kafka, 1997).Na narrativa

de Kafka o personagem Gregor Samsa ao acordar-se de sonhos inquietantes vê-se transformado em

um inseto. Ao mergulhar em eventos sobrenaturais na narrativa há certa hesitação por parte do leitor

que oscila na busca de uma explicação racional ou uma aceitação irracional de algo inexplicável pelas

leis naturais e o fantástico nasce daquilo que não pode ser explicado, através da racionalidade e do

pensamento crítico. Segundo as classificações que Todorov emprega ao termo fantástico A Metamorfose

encaixa-se na categoria fantástico-estranho.Para ele a função do texto fantástico é “subtrair o texto

à ação da lei e assim transgredi-la”. É comum a existência de textos que exploram a metamorfose

sendo que estes a caracterizam como um fenômeno de causa natural, como por exemplo,a lagarta

se transformando em borboleta ou mesmo homens que se transformam em seres estranhos como

forma de castigo, em A Metamorfose a transformação não é esclarecida no decorrer da narrativa,

algo curioso que acaba por deixar o leitor sem respostas é o porquê da metamorfose de Gregor? Para

clarificar tais questões levantam-se algumas possíveis interpretações a cerca deste evento que é o

cerne da obra.Abordar-se a evolução histórica dos textos fantásticos a partir de textos Homéricos e

lendas antigas, observando a mudança conceitual do termo fantástico dependendo da época em que

se situa.A visão de fantástico aqui defendido é aquela que revela e problematiza a vida e o ambiente

que conhecemos dia – a- dia. Tal perspectiva foi apresentada a alunos da escola pública para tratar das

diversas formas de preconceitos existentes no ambiente escolar, a partir de então esperamos que estes

alunosaprendama identificar e combater as diversas formas de preconceito que de certa maneira estão

invisibilizadas, no entanto, continuam presentes em nosso cotidiano.

O FANTÁSTICO EM A METAMORFOSE

Ane Caroline Costa Braga; Vanderlici Silva dos Santos

Page 51: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

51

Resumo: Nesta pesquisa, buscamos empreender uma análise literária que problematize a forma como,

em uma representação artística, o narrador-protagonista articula suas memórias com seus discursos

e juízos de valor a respeito das personagens femininas presentes em sua narrativa. Diniz (2009)

afirma que à manutenção do poder patriarcal são essenciais a descrição e a definição do elemento

subordinado. Incutir significados ao feminino torna-se um ato que se efetiva mediante a linguagem,

realizado por um sujeito masculino, cujo intuito é a perpetuação da sujeição do outro feminino.

Butler (2008) defende que há também outras instâncias produtoras da assimetria de gêneros, tais

como classe, raça e etnia. Partindo, então, das concepções de Butler e Diniz, investigamos a obra

literária Memórias de Minhas Putas Tristes, de Gabriel García Márquez, com o propósito de mostrar

como o narrador-protagonista, contando-nos suas memórias, constrói as personagens femininas

(sua empregada e a prostituta com a qual se envolve) sob a ótica de um discurso masculinista.

Destacaremos também outro eixo que contribui para compreender a relação de poder existente entre

o narrador-protagonista e as duas referidas personagens: a posição social por elas ocupada. Para tanto,

realizamos a leitura crítica da obra literária em questão com base nas seguintes categorias de análise:

conceitos de reificação, de Goldmann (1991), e de cultura patriarcal, de Costa (2008); noção das faces

de Eva e da Virgem Maria incorporadas pela mulher, de Beauvoir (1949). Os resultados mostraram

que o narrador-protagonista percebe as mulheres como um objeto comprável e que ele se caracteriza

como sendo a figura representativa da dominação masculina, detentora de poder, podendo, por

exemplo, pagar as mulheres com as quais se relaciona sexualmente, convencendo-as (racionalmente

ou utilizando de sua truculência) a aceitarem o dinheiro. Constatamos também que as faces profana

e sagrada são encarnadas respectivamente pela empregada e pela prostituta: a primeira, a única com

quem o narrador-protagonista manteve uma relação durante anos, despertava-lhe ímpetos sexuais,

quando forçada à prática sexual enquanto lavava roupa; a segunda era virgem e ele assim sempre a

conservou. Ademais, observamos que o narrador não se apaixonou pela prostituta enquanto pessoa

real e sim por uma imagem dela, construída nos momentos em que ele a observava dormindo, com

base em seus referenciais de mulher inseridos numa cultura patriarcal. Observamos, ainda, que o

amor do narrador-protagonista pela prostituta não é capaz de modificar suas concepções a respeito

da prostituição nem tampouco das mulheres. A análise empreendida nos permitiu concluir que, ao

longo de toda a narrativa, o narrador-protagonista se coloca sempre como a figura possuidora de

O FEMININO À MARGEM: A EVOCAÇÃO DAS MINHAS PUTAS TRISTES

Thays Lima e Silva

Page 52: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

52

poder, capaz de fazer, explicita ou implicitamente, julgamentos de valor sobre as outras personagens.

Por outro lado, a empregada e a prostituta, enquanto pertencentes à classe social inferior, assumem o

papel de mulheres subjugadas – a primeira era forçada a práticas sexuais sem o seu consentimento; já

à segunda não era sequer conferido o poder de fala.

Page 53: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

53

A Literatura é, sem sombra de dúvida, de fundamental importância para o desenvolvimento da

identidade cultural de um povo. Torna-se, assim, fonte inesgotável de elementos da história, da

cultura, da língua do grupo social que a produz, o que possibilita ao leitor/fruidor conhecer e analisar

melhor a sociedade nela e por ela refletida. Diante dos fatores históricos que atingiram Angola no

decorrer do século passado, como as guerras civis e movimentos para a descolonização, houve uma

grande produção literária em torno deste contexto. Produções estas, que colocaram em foco questões

relacionadas a terra e costumes aliado às relações de descobrimento da própria identidade do povo

angolano.Considerando essa realidade, este trabalho, recorte de um estudo mais amplo sobre a língua,

a literatura e a cultura, põe em foco a literatura ampla, a partir do período pós-guerra. Objetiva-

se, pois, examinar como Angola, até então colônia portuguesa, produzia uma literatura de grande

impacto social e de muita relevância para o período. O surgimento do Movimento “Vamos Descobrir

Angola”, a partir de 1948, traz a proposta de uma redescoberta dos valores culturais africanos sufocados

pela assimilação cultural europeia. Fato este, que vai desencadear produções angolanas que marcam

esse período na história do país.Através da análise de fragmentos de obras de autores que ajudaram

a construir à ruptura do estilo literário português na busca de uma identidade literária no país.As

mudanças provocadas em virtude das modificações oriundas de toda a reviravolta neste canário vão

resultar em produções literárias que falam da terra, e do povo angolano.Com o intuito de reavaliar

a importância desse período, este trabalho faz reflexões pertinentes sobre a condição da Literatura

angolana e de suas temáticas principais, suas contribuições, chegando aos nossos dias.

Palavras chaves: Literatura, Cultura e Angola.

O ROMPIMENTO DE UMA TRADIÇÃO: UMA VISÃO DA LITERATURA ANGOLANA APARTIR DO PERÍODO PÓS-GUERRA

Mayara Crystina Rego da Silva; Clecio Marques dos Santos; Flavia Regina Neves da Silva;Dandara Sales de Lima

Page 54: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

54

Ao trazer o universo onírico das culturas africanas para um relato de enigma, o escritor moçambicano

Mia Couto destaca-se na narrativa contemporânea por construir um romance à margem da literatura

policial. O enredo de A varanda do frangipani (2007) envolve o leitor no mistério sobre a morte do

diretor de um asilo de idosos. Até então, uma proposta típica dos romances policiais, com um crime,

uma vítima, suspeitos e um investigador. Entretanto, no decorrer do romance, desenrola-se um

mistério maior, de caráter estrutural, que torna o anterior insolúvel: a narrativa apresenta-se polifônica,

dando-se voz ora ao investigador, ora aos suspeitos – todos réus confessos. Tornando mais complexa a

questão das vozes narrantes, a perspectiva assumida na investigação é a do policial Izidine Naíta, mas

coencarnado por um “xipoco”, um fantasma, que, para encontrar a paz espiritual, precisa novamente

habitar um corpo vivo. Assumindo este ponto de vista, o autor aproxima-se do conceito machadiano

do “defunto-autor”, grande exemplo de transgressão e inovação narrativa da literatura brasileira.

Baseando-se nos postulados de Tzetan Todorov a respeito da tipologia do romance policial, observa-

se na obra do escritor moçambicano um relato investigativo no qual – ao contrário do romance

policial clássico – os amores, as crenças e as rememoranças têm lugar de destaque, a lógica racional é

insuficiente para desvendar o mistério e solucionar o crime não é primordial. Neste sentido, a obra de

Mia Couto afina-se com o romance português O Delfim (1968), de José Cardoso Pires, ao subverter

o gênero policial, modernizando a sua estruturação clássica e fazendo dele um fingimento, já que o

texto não pretende culpar ou absolver ninguém. A varanda do frangipani, portanto, se estrutura pela

desestrutura do romance policial enquanto constrói, sob uma perspectiva original e complexa, uma

denúncia do grande crime que acomete toda a nação angolana: a degradação do “antigamente”.

PISTAS DO INSOLÚVEL: A DESESTRUTURA DO ROMANCE POLICIAL EM A VARANDA DO FRANGIPANI

Rafael da Silva Mendes; Aline de Almeida Rodrigues

Page 55: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

55

Este trabalho trata de uma pesquisa realizada na reserva indígena Araçazal, como parte das atividades

do Subprojeto de licenciatura em língua inglesa que propõe cooperar com a formação de professores

de língua inglesa na Região Oeste do Pará, que irá engendrar a elaboração de um conjunto de

ferramentas que facilitem o processo de ensino e aprendizado de forma interdisciplinar, objetivando:

a) desenvolver atividades que levem o aluno a refletir sobre a sua relação cultural e socioambiental

no meio em que habita; b) propiciar aos indivíduos a assimilação dos conhecimentos e as habilidades

necessárias que lhes permitam problematizar, investigar e avaliar soluções de problemas; c) instigar

o aluno a desenvolver sua incumbência enquanto sujeito transformador da sua própria realidade.

Essa estratégia permitirá aos educandos problematizar acerca dos conflitos do entorno em que vivem,

realizando o seu auto modelamento, acarretando numa participação maior dos indivíduos enquanto

cidadãos. Para viabilizar a proposta citada, serão produzidos materiais para serem usados de forma

interdisciplinar, favorecendo o diálogo da língua inglesa com outras disciplinas como português,

matemática, historia geografia, tendo como bases de estudo as observações e dados coletados nas

ruinas do Hotel de Selva Amazonlodge na comunidade do Araçazal, um ambiente que apresenta

possibilidades de manejo analítico a serem tratados, bem como, a arquitetura, variação linguística e a

cultura local, tendo em vista a relação entre os interesses desejados entre a localização da construção

do hotel e os anseios da comunidade acerca do escopo da obra, havendo espaço para uma análise das

questões culturais, econômicas e socioambientais, à medida que se discute o interesse dos envolvidos.

Tendo como resultado da pesquisa observando as ruinas do Hotel de Selva Amazonlodge a obtenção

de matéria-prima, tais quais, registros fotográficos e audiovisuais, entrevistas com moradores da

comunidade, fim de refletir e compreender a interação necessária entre o ser humano, o ambiente em

que vive e o processo educativo com o escopo de utilizá-los posteriormente na elaboração de materiais

didático-pedagógicos que contribuirão de forma eficaz para a práxis do ensino e aprendizado que

possibilitará os estudos em sala de aula através dos conteúdos articulados, o compartilhamento dos

conhecimentos que se completarão de forma interdisciplinar.

PALAVRAS - CHAVE: Interdisciplinaridade, Coleta de dados, Elaboração de material didático.

RECOLHIMENTO DE INSUMOS NA COMUNIDADE ARAÇAZAL PARA CONSTRUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO NO ENSINO INTERDISCIPLINAR

Ocineide Guimarães Ferreira;Alan Ricardo Dourado de Almeida

Page 56: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

56

Constituindo-se parte do projeto de pesquisa intitulado “O fil rouge saramaguiano na toalha da

literatura portuguesa: as referências (e reverências) de José Saramago”, esta pesquisa detém-se num dos

autores mais influentes da Literatura de Portugal: Fernando Pessoa. No presente trabalho, analisar-

se-á especificamente Mensagem (1934), a obra épica da Literatura Portuguesa no século XX. O vínculo

com a história e o contexto lusitano do século XVI se faz presente constantemente nessa obra poética,

trazendo reflexos e refrações de outros textos épicos como Os Lusíadas, de Luís de Camões, porém de

forma incontestavelmente “pessoada”. Em observação da primeira parte da obra, intitulada “Brasão”,

pode-se estabelecer uma associação do visual do brasão português a referências históricas descritas

por Pessoa, divididas em Os campos, Os castelos, As quinas, A coroa e O timbre. Tendo em vista a

ultrapassagem dos estudos literários às análises textuais, o presente trabalho busca apresentar a poesia

de Pessoa supracitada estabelecendo os múltiplos diálogos, explícitos e implícitos, existentes entre esta

e os fatos histórico-patrióticos da nação portuguesa, dentre os quais se destacam a representação do

império, das conquistas, da espiritualidade e da origem mitologica. Tavares (1967) defende a ideia de

que, em literatura, palavra alguma terá apenas função de objeto de comunicação e Amoroso Lima

(1954), reforça afirmando o nascimento da literatura no atribuição de vida ao verbo, dessa forma,

encaramos a poesia de Fernando Pessoa como a encarnação de tudo aquilo que ele escreve e pensa.

Em sentido lato, as palavras transcendem do símbolo metafórico criado para dar vida aos símbolos da

nação, citados na primeira parte da obra, cujos títulos remetem aos reis e personalidades do passado

heroico português. O que se pretende, na exposição desse trabalho, é apresentar dados analíticos,

colhidos durante o processo de investigação da obra pessoana, que estão relacionados aos símbolos

do berço lusitano, e sua revitalização através das palavras de Mensagem. Além de dados históricos

ilustrativos, Massaud Moisés e Cleonice Berardineli valer-se-ão como base teórica, para estabelecer

a ligação prevista na análise.

REFERÊNCIAS HISTÓRICAS LUSITANAS: OS SÍMBOLOS METAFÓRICOS QUE EMERGEM DA PALAVRA PESSOANA

Alceni Elias Langner; Saulo Gomes Thimóteo

Page 57: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

57

Relacionadaà pesquisa “A produção literária de Jorge de Sena sob ditadura e exílio”, desenvolvida com

a participação nos grupos de estudos “Narrativas latino-americanas de viagem” e “Poesia portuguesa”,

esta pesquisa procura relacionar história e literatura, em especial a relação que os poetas portugueses

Jorge de Sena e Sophia de Mello BreynerAndresen desenvolveram com o momento histórico em que

produziram e como isso aparece em seus poemas e na correspondência que mantiveram.

Sendo assim, investigamos a poesia de Jorge de Sena e decidimos comparar alguns de seus poemas

ditos engajados com poemas de Sophia de Mello BreynerAndresen, que também viveu sob o regime

de Salazar. Levantamos com essa pesquisa a hipótese de que a situação política do país exerceu certa

influência na obra poética dos dois escritores; no entanto, o exílio de Jorge de Sena, por estar num local

diferente e num momento político diferente, em outro país, teria diferenciado sua poesia, da poesia

de Sophia Andresen, mesmo que ambos tratassem dos mesmos temas como exílio, pátria, violência,

liberdade, etc.

Tendo como pressuposto, que os diferentes lugares de escrita propiciaram diferentes modos de

escrita, ainda que ambos tenham uma visão semelhante sobre o que é poesia e qual a sua função no

mundo, consideramos pertinente aproximar essa produção de outra marcadamente autobiográfica,

da qual seria possível extrair informações e afirmações que não estão na poesia. Em função disso,

comparamosa correspondência entre Sophia Andresen e Jorge de Sena, pois o gênero epistolar,com seu

caráter autobiográfico, permite-nos extrair dados que competem à escrita do eu, e ali ambos refletem

sobre a poesia, principalmente durante o regime salazarista.

A partir dessa relação entre os dois corpi, poesia e correspondência, buscamos encontrar um elo entre

os dois documentos e entre o momento e o lugar onde foram escritos, também procuramos analisar

as especificidades do gênero poético e epistolar e por fim analisar como as relações sociais, políticas e

históricas podem influenciar a linguagem poética de escritor.

Para esta pesquisa, optamos por fazer um levantamento bibliográfico com textos teóricos e literários,

selecionando para a análise cinco poemas de cada escritor e toda a correspondência, posteriormente a

cada quinze dias participávamos de reuniões do grupo de estudo para discutir as questões que foram

levantadas durante a pesquisa como: existe uma diferença entre a escrita de quem fica e de quem

parte? Por outro lado, quais as características que tornam a poesia dos dois resistente à ditadura? Para

Sophia, que permaneceu em Portugal, o fato de ainda estar sob o regime ditatorial, torna sua linguagem

SOPHIA E SENA: LUTANDO COM PALAVRAS, DA POESIA À CORRESPONDÊNCIA

Mariane Tavares Sousa

Page 58: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

58

poética mais eufêmica diante da poesia de Jorge de Sena, que podia escrever e publicar o que quisesse

acerca do regime, por estar fora de Portugal e livre da censura? Depois de realizarmos as leituras e

discussões, produzimos um relatório parcial, um resumo e um relatório final para problematizar e

desenvolver tudo o que a pesquisa se propõe a fazer.

Page 59: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

59

Com isso é possível pensar no nascimento do samba urbano durante a conjuntura de 1890 a 1930

tendo ocorrido em lugar fixo e cristalizado? Tal expressividade possui uma delimitação geográfica

concreta, sólida e acaba? Uma vez que suas representações giram em torno de reinvenções numa rede

simbólica presente nas praças negras da cidade do Rio. O samba proveniente das “praças negras” na

cidade do Rio de Janeiro incorporou algumas características urbanas, constitui um elemento marcante

da história da cidade, com profundas implicações na compreensão de seu processo de urbanização

e conformação de novas espacialidades. No último quartel do século XIX, por sua estrutura, rede

de transportes e centralidade financeiro-comercial, a cidade do Rio de Janeiro apontava para o que

seria a metrópole que se firmaria em meados do século XX. Desde aquela época, alguns bairros

cariocas estiveram tradicionalmente relacionados a redutos de sambistas, onde surgiram os primeiros

cordões carnavalescos que posteriormente se transformaram em escolas de samba. Nestes bairros, a

convivência entre segmentos raciais, étnicos, híbridos e heterogêneos foram à base para a organização

das primeiras “praças negras” na cidade. As invenções do samba e de suas batucadas nas praças negras

da cidade do Rio de janeiro escondem sociabilidades ainda não desvendadas em sua totalidade devido

à carência de fontes e dificuldade de acesso aos depoimentos dos sujeitos que aturam no período. Desde

o início do século XX, a prostituição, a malandragem e a boemia foram responsáveis por compor a

memória coletiva que atualmente é (re) significada através de intervenções em suas formas conteúdos e

constituem arranjos espaciais que desenham outras paisagens ligadas numa de redes de comunicação

que se configuraram no processo de urbanização da cidade dentro de uma conjuntura histórica.

Palavras-chave: Hibridismos, praças negras, redes, territórios e samba.

TERRITÓRIOS E HIBRIDISMOS NAS FRONTEIRAS DA “PEQUENA ÁFRICA DE TIA CITA” (1890-1930)

Wallace Lopes Silva

Page 60: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

60

Na década de 1970 muitas famílias vieram para a região norte em busca de terras para trabalhar e

de uma vida melhor, porém nem para todos isso foi possível, mas, com o inicio da construção da

rodovia Transamazônica, se depararam com muitas dificuldades, uma delas foram as endemias aqui

encontradas. Muitas famílias que foram trazidas pelo governo militar da época foram estabilizadas

às margens da rodovia Transamazônica sem assistência necessária em saúde, educação e moradia.

Muitos morreram abandonados no meio da selva infectados por doenças como malária, febre amarela,

picadas de inseto, picadas de cobras.

Os trabalhadores ficavam sem comunicação por meses, obtendo informações sobre assuntos diversos

apenas em visitas ocasionais e em seus deslocamentos às cidades próximas. O transporte era geralmente

feito realizado por pequenos aviões, que usavam pistas com pouca infraestrutura, bem como por

barcos. Com a realização dessa pesquisa compreendemos o cotidiano e tragédias que assolavam

famílias inteiras que tiveram que aprender a lidar com coisas simples como uma gripe, novos hábitos

alimentares e higiênicos chegando até a enfrentar animais selvagens e doenças como leishmaniose,

hanseníase e doenças sexualmente transmissíveis.

A metodologia de análise de obras e narrativas orais sobre a Transamazônica permite refletir sobre

como literatos e emigrantes debatiam o cotidiano dos núcleos de colonização e de novos moradores

da rodovia.Nesse sentido, a realização de análise de obras literárias possibilita outro olhar sobre

essa realidade. A partir do presente trabalho podemos não apenas contar histórias do cotidiano da

Transamazônica, durante a colonização oficial, na década de 1970, como também refletir sobre olhares

de literatos e de migrantes em relação a este momento marcante da ditadura civil-militar brasileira.

UM ESTUDO SOBRE SAÚDE E DOENÇA EM OBRAS LITERÁRIAS SOBRE A TRANSAMAZÔNICA

Sílvia Lethissia Dos Santos; Felipe Costa

Page 61: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

61

A pesquisa de Iniciação Científica (IC/UNEB) aqui apresentada está ligada ao Projeto ‘Poéticas

baianas: entre linguagens contemporâneas e outras imagens de sertão’. O objetivo macro da pesquisa

pretendeu colocar em debate o esboço subjetivo e identitário que se revela na obra Cicatriz do silêncio

(2007), de Adriano Eysen. Do eu-lírico ao ‘outro’ (mulheres, sertanejos, entes familiares, conhecidos,

desconhecidos etc), a obra literária contemporânea escolhida para realizar este estudo nos apresentou

imagens variadas de sertão, que vão da cidade ao campo. Para entender coerentemente o sertão que

se dá a [entre]ver em meio à poética de Eysen, tomamos como fundamentação teórica da pesquisa

estudos sobre identidade individual e coletiva em constante entrelace (HALL, 2006), sobre a memória

(BERGSON, 2010), poesia lírica (COMBE, 2010), sertão (FERREIRA, 2004; VICENTINI, 1998) e sobre

a relação campo/cidade (WILLIAMS, 2011), entre outros.

A modalidade de pesquisa foi a bibliográfica, realizada a partir de obras e documentos (impressos e

virtuais). Os registros líricos da memória que se apresentam na obra de Eysen nos mostraram a ação

memorialista como construtora de imagens internas e externas ao eu-lírico dos versos que formam

o corpus da investigação. Outra parte do estudo destinou-se a perceber as subjetividades que podem

ser lidas como elemento intrínseco da poesia lírica, uma vez que são preeminentes ao próprio ‘eu’ e

também ao ‘outro’, interlocutor da obra.

Por outra via, detemo-nos no modo como o poeta teceu emoções e lembranças (talvez não só suas,

mas alheias, coletivas, ancestrais etc.) em seu discurso literário, ao se valer, na maioria das vezes,

de geografias reais e subjetivas em que o sertão é o espaço privilegiado a ser retratado, movimento

que talvez tenha ajudado o poeta a conferir ou (re)construir novos sentidos sobre a realidade. Como

resultados parciais da pesquisa pudemos compreender que a presença de imagens relacionadas a

campo/cidade nos versos de Eysen colocam em evidência o entrelace entre os dois espaços (não só

físicos e para além do viés literário), que por sua vez revelam duas faces complementares do eu-lírico

expressas no livro - a do ‘eu’ menino e a do ‘eu’ homem e seus sentimentos variados. Por meio da arte

de narrar poeticamente o [ser]tão que traz dentro de si, o poeta acaba por remodelar os contornos

do que se entende por sertão, ao envolver o leitor em um galope lírico inundado de sentimentos, de

saudades, de objetos, pessoas e cenas que desempenham, quem sabe, o papel de cicatrizar/atualizar

tempos reais e de sonho, do poeta, do eu-lírico e quiçá dos leitores.

UM SERTÃO SUBJETIVO NA POÉTICA DE ADRIANO EYSEN: CONSTRUÇÕES DO ‘EU’ E DO ‘OUTRO’ ATRAVÉS DE IMAGENS DE

CAMPO E CIDADE

Marcelise Lima de Assis

Page 62: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

62

O presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise comparativa entre as obras Se Questo è un

Uomo (1958) e Waiting For Godot (1958), escritos respectivamente pelo italiano Primo Levi (1919 –

1987) e pelo irlandês Samuel Beckett (1906 – 1989), tendo como base o mito de Sísifo estudado por

Albert Camus (1913 – 1960) em seu Le Mythe de Sysiphe – Essai sur l’absurde (1942).

Primo Levi (1919 – 1987) foi um escritor italiano que influenciou e ainda influencia a produção literária

italiana e mundial. Tendo vivido os horrores de Auschwitz, depois de ser capturado junto com um

grupo de companheiros que lutavam contra o avanço nazi-fascista na Itália, Levi transporta cinzas

memórias para o interior de sua obra, em especial para seu romance mais conhecido: Se Questo è un

Uomo, alvo desse estudo. Samuel Beckett, por sua vez, figura icônica do chamado “teatro do absurdo”,

é autor de Waiting for Godot (publicado a primeira vez em francês como En attendant Godot, em

1958). Excluindo de cara toda a esperança humana (com a repetida frase “nothing to be done”), a peça

traz a cena muitos dos questionamentos que perpassam o ensaio de Camus.

Para esta análise, utilizaremos como apoio os estudos sobre a modernidade e a pós-modernidade

de Zygmunt Bauman em seu Amor Líquido (2004) e de Jean François Lyotard em La Condition

postmoderne (2005). Para um estudo mais apurado das personagens utilizaremos a obra de Umberto

Eco, Os Limites da Interpretação (2010). Nosso trabalho dividir-se-á em três etapas. Inicialmente,

iremos realizar um apanhado geral do momento de publicação e posterior recepção das duas obras.

Em seguida, iremos analisar sob uma perspectiva mítica as duas obras em estudo, tendo em vista o

trabalho de Camus, e as suposições filosóficas em torno do conceito de homem concebido pelo autor.

Por fim, observaremos a construção das personagens em ambas as obras e sua inserção na produção

artística contemporânea. Tendo em vista a mudança das perspectivas críticas sobre a literatura e a arte

iniciadas desde 1960, é de fundamental importância investigar como esse novo olhar enxerga tanto

o presente quanto o passado. A título de conclusão pode-se afirmar a grande importância que ambos

os autores tiveram na formulação do pensamento moderno, ao mesmo tempo em que trazem em suas

obras diversas características da produção pós-moderna.

UMA (DES)LEITURA MÍTICA : SE QUESTOÈ UM UOMO DE PRIMO LEVI E WAITING FOR GODOT, DE SAMUEL BECKETT

Elvis Freire da Silva

Page 63: 02 a 05 setembro 2013 Temáticos/Eixo-identidades... · 02 a 05 setembro 2013 Faculdade de Letras UFRJ Rio de Janeiro - Brasil EIXO TEMÁTICO - Identidades, culturas, imaginários

63

O presente trabalho visa apresentar uma leitura discursiva de O Vulgarisador: o jornal dos

conhecimentos úteis, publicado de 1877 a 1880 por Augusto Emilio Zaluar, famoso jornalista, escritor

e pesquisador português no Brasil oitocentista. A análise deste material deve-se ao fato de que em

todo o século XIX houve uma grande expansão da pesquisa científica tanto em campos tradicionais,

como matemática, física, química etc., assim como em campos emergentes e, portanto, não dotados do

mesmo prestígio de suas predecessoras, como psiquiatria, filologia, linguística. A leitura discursiva do

referido material visa buscar indícios de como se constituíram as imagens de linguista e de linguística,

até então associada a todo e qualquer estudo referente à língua (sendo muitas vezes rotulada como

filologia). O estudo em questão pauta-se na Análise do Discurso de origem francesa, a qual se baseia

em indícios intra e extralinguísticos a fim de desvendar os sentidos que possam estar ali presentes

e que, contudo, não são os sentidos oficiais. Para a Análise do Discurso importam conceitos como

silêncio, esquecimento, formação discursiva, ideologia, sujeito, historicidade. Alguns resultados da

análise de O Vulgarisador são a constatação de que a Linguística nascente à época se constituiu de

terminologias de outras ciências já existentes, principalmente das exatas e biológicas, ou seja, havia a

tentativa de se aplicar términos de ciências mais prestigiosas a fim de se acreditar, validar e prestigiar

o novo campo científico. Também se conclui que o papel do linguista equivale em muito ao papel do

biólogo, o qual procura, por meio do método científico, as origens maternas do seu material de estudo,

dissecando as palavras em termos menores, numa tentativa de atomização, de se poder chegar a um

denominador comum, irredutível, a origem de toda a linguagem.

UMA ANÁLISE DISCURSIVA DE O VULGARISADOR

Gustavo Alves Bezerra