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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA E INSTITUCIONAL ALAÍDE FÁTIMA BARCELOS FORGIARINI PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA: REFLETINDO SOBRE O CONTRATO DE SOBREVIVÊNCIA CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009.

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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAG OGIA

CLÍNICA E INSTITUCIONAL

ALAÍDE FÁTIMA BARCELOS FORGIARINI

PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA:

REFLETINDO SOBRE O CONTRATO DE SOBREVIVÊNCIA

CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009.

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ALAÍDE FÁTIMA BARCELOS FORGIARINI

PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA:

REFLETINDO SOBRE O CONTRATO DE SOBREVIVÊNCIA

Relatório Monográfico apresentada à Diretoria de Pós-graduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense-UNESC, para a obtenção do título de especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Orientadora: Profª. Mestra, Monica Pagel Eidelwein

CRICIÚMA, DEZEMBRO DE 2009.

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“A tradição familiar e a educação imprimem

fortes e indeléveis marcas na mentalidade

dos indivíduos e estas são tanto fortes e

indeléveis quanto mais precocemente

tiverem sido impressas. Tais fatores

predeterminam o caráter e a orientação

ulterior dos indivíduos”.

Renato Kehl

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DEDICATÓRIA

A Deus por ter me dado a vida e uma família.

Aos meus pais por terem me dado à oportunidade de nascer, e me educarem

de uma maneira de sempre eu estar procurando aprender.

A meu marido Zinho que de uma forma ou de outra teve a paciência de me

esperar, mesmo não compreendendo meus ideais.

A minha filha Zezé que sempre me incentivou e colaborou para o meu

crescimento.

Ao CRÀS, Centro de Referência da Assistência Social.

A UNESC, por ter um quadro de professores que são parceiros e amigos de

seus alunos.

A Doutora Clarice Monteiro Escott, que chamou minha atenção pela sua

sabedoria e compreensão conosco, que na hora do desespero, nos acalmou.

A minha orientadora quase doutora, Mônica Pagel Eidelwein que com toda a

sua paciência e sabedoria soube me conduzir pelos caminhos de uma aprendizagem

psicopedagógica.

A todos os meus colegas pela amizade e companheirismo, durante esses dois

anos de convivência.

A todos os meus familiares que, compreenderam a minha ausência com

paciência e carinho.

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AGRADECIMENTOS

A ESCOLA

A escola é

O lugar onde se faz amigos

Não se trata só de prédios, salas, quadros,

Programas, horários, conceitos...

Escola é, sobretudo, gente,

Gente que trabalha que estuda,

Que se alegra se conhece se estima.

O diretor é gente,

O coordenador é gente, o professor é gente,

O aluno é gente,

Cada funcionário é gente.

E a escola será cada vez melhor

Na medida em que cada um,

Se comporte como colega, amigo, irmão.

Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”.

Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir

Que não tem amizade a ninguém.

Nada de ser como o tijolo que forma a parede,

Indiferente fria e só.

Importante na escola não é só estudar,

Não é só trabalhar,

É também criar laços de amizade,

É criar ambiente de camaradagem,

É conviver, é se “amarrar nela”.

Ora, é lógico...

Numa escola assim vai ser fácil,

Estudar, trabalhar, crescer,

Fazer amigos; educar-se.

Ser feliz.

Paulo Freire

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RESUMO

Este estudo tem como objetivo apresentar um caso, onde os resultados obtidos com as

sessões psicopedagógicas, entre diagnósticos e intervenções foram realizados com um

pré-adolescente. O mesmo já foi acompanhado por psicólogo e pelo Centro de Referencia

da Assistência Social. Após a análise (avaliação psicopedagógica), pode se perceber o

quanto a família com suas atitudes podem interferir no seu desenvolvimento,

comprometendo assim seu aprendizado. O problema de aprendizagem era o sintoma

apresentado pelo pré-adolescente. Neste sentido o trabalho apresentado propõe uma

ressignificação de papeis.

Palavras-chave: Ressignificação. Sintoma na família, Psicopedagogia.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9

1.1 A História da Psicopedagogia Clínica........... .................................................... 9

2 ESTUDO DE CASO EM PSICOPEDAGOGIA ................. ..................................... 18

2.1 Motivo da Consulta............................. .............................................................. 18

2.1.1 Fundamentação Teórica........................ ........................................................ 19

2.1.2 Relato....................................... ....................................................................... 20

2.1.3 Análise Diagnóstica.......................... ............................................................. 21

2.2 História Vital ................................. ..................................................................... 22

2.2.1 Fundamentação Teórica........................ ........................................................ 22

2.2.2 Relato....................................... ....................................................................... 23

2.2.3 Análise Diagnóstica.......................... ............................................................. 25

2.3 Hora do Jogo................................... .................................................................. 26

2.3.1 Fundamentação Teórica........................ ........................................................ 26

2.3.2 Relato da Hora do Jogo....................... .......................................................... 28

2.3.3 Análise Diagnóstica: modalidade de aprenizage m..................................... 30

2.4 Técnicas Projetivas ............................ .............................................................. 30

2.4.1 Fundamentação Teórica........................ ........................................................ 30

2.4.2 Relato....................................... ....................................................................... 32

2.4.3 Análise Diagnóstica.......................... ............................................................. 34

2.5 Diagnóstico Operatório ......................... ........................................................... 34

2.5.1 Fundamentação Teórica........................ ........................................................ 34

2.5.2 Relato....................................... ....................................................................... 36

2.5.3 Análise Diagnóstica.......................... ............................................................. 38

8 2.6 Análise da Lecto Escrita ....................... ........................................................... 38

2.6.1 Fundamentação Teórica........................ ........................................................ 38

2.6.2 Relato....................................... ....................................................................... 40

2.6.3 Análise Diagnóstica.......................... ............................................................. 41

2.7 Avaliação do Pensamento Lógico-Matemático...... ........................................ 42

2.7.1 Fundamentação Teórica........................ ........................................................ 42

2.7.2 Relato....................................... ....................................................................... 43

2.7.3 Análise Diagnóstica.......................... ............................................................. 44

3 AVALIAÇÃO PSICOMOTORA ............................ ................................................. 45

3.1 Fundamentação Teórica.......................... ......................................................... 45

3.2 Relato......................................... ........................................................................ 46

3.3 Análise Diagnóstica............................ .............................................................. 46

4 HIPÓTESE DIAGNÓSTICA............................. ...................................................... 48

5 PLANO DE INTERVENÇÃO ............................. .................................................... 50

6 JUSTIFICATIVA .................................... ................................................................ 52

7 OBJETIVO GERAL ................................... ............................................................ 53

8 OBJETIVO ESPECÍFICO.............................. ........................................................ 54

9 DINÂMICA OPERACIONAL ............................. .................................................... 55

10 AVALIAÇÃO DO PLANO.............................. ...................................................... 56

11 DEVOLUÇÃO (PARA PACIENTE, PAIS, FAMÍLIA, ESCOLA) .......................... 57

12 EVOLUÇÃO DO CASO................................ ....................................................... 59

13 PROGNÓSTICO.................................................................................................. 60

14 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 61

ANEXO..................................................................................................................... 63

9 1 INTRODUÇÃO

Este trabalho fundamenta-se num estudo de caso, realizado em 2009

envolvendo um menor que chamarei de JF. Para a efetivação desse estudo foram

realizadas seções psicopedagógicas, baseadas nas teorias da Psicopedagogia Clínica.

Houve contribuições da Psicóloga da mãe de JF da Assistente Social.

JF veio para o atendimento encaminhado pela juíza, devido as queixas

freqüente da mãe e da escola. Pois o mesmo estava desequilibrando toda a família,

segundo a fala da mãe. O estudo teve por objetivo descobrir o que estava naquele

momento dificultando a aprendizagem e desequilibrando a família.

1.1 A História da Psicopedagogia Clínica

A Psicopedagogia teve seu início na Europa no século XIX. Os primeiros a se

preocuparem com as dificuldades da aprendizagem, foram os Filósofos, Médicos e os

Educadores. A Psicopedagogia no Brasil teve influencia da Argentina e a mesma da

França. Encontram-se algumas considerações do termo Psicopedagogia e sua origem

nos trabalhos de Janine Mery, psicopedagoga Francesa, George Mauco, fundador do

primeiro centro médico-psicopedagógico na França, onde é encontrada alguma

articulação entre a Psicopedagogia e a Psicanálise, Psicologia, Pedagogia, Medicina, na

solução dos problemas de comportamento e da não aprendizagem (Bossa, 1994, p.28).

Janine Mery usa o termo Psicopedagogia curativa para os casos de crianças

com lentidão na aprendizagem escolar ou fracasso escolar, colocando em prática os

aspectos pedagógicos e psicológicos para dar conta dessas dificuldades (Janine Mary,

1985, p.16).

Janine Mary fez um levantamento dos autores que se preocuparam com este

assunto e apontou o século XIX em que teve inicio os estudos para se compreender e

atender os portadores de deficiências sensoriais, e debilidade mental, e outros problemas

de dificuldades do não aprender (1985, p.11).

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Neste período, educadores como Itard, Pereire, Pestalozzi e Seguin

dedicaram-se a crianças com os diversos distúrbios de aprendizagem.

Itard realizou estudos sobre o retardo mental e percepção, Pestalozzi fundou

um centro de educação para crianças carentes de todas as idades, usando o método

intuitivo e natural, estimulando a percepção. Pereire identificou-se com os estudos sobre

os órgãos do sentido (visão e audição), Seguin fundou a primeira escola de reeducação

na França, em 1837 fundou uma escola destinada a crianças mentalmente deficientes e

em 1848, foi para os Estados Unidos, onde suas idéias foram amplamente aceitas

(Seguin não aceitava a idéia de não haver cura para os deficientes mentais). Mery aponta

esses educadores como pioneiros nos estudos da não aprendizagem, ressaltando que

eles se preocuparam mais com os casos de deficiências sensoriais e debilidade mental.

A Psicologia contribui com a Psicopedagogia através do professor de

psicologia, Edouard Claparède e a neurologia, François Neville, os quais introduziram as

crianças especiais nas escolas de classes especiais, sendo esta é a primeira iniciativa

para o ensino da reeducação.

No fim do século XIX foi formado pelo médico psiquiatra Seguin e pelo

neurologista Esquirol uma equipe médico-pedagógica, acontecendo assim à

neuropsiquiatria infantil, esta fazendo parte da avaliação da não aprendizagem (cf.

Mery,1985, p.11). Nesta mesma época, Maria Montessori, psiquiatra italiana, criou o

método destinado às crianças “retardadas”, que mais tarde estendeu-se a todas as

crianças; método esse conhecido e classificado como sensorial, pois o estimulo se dá por

meio dos órgãos do sentido, tendo como sua principal preocupação a educação da

vontade e a alfabetização (cf. Montessori, 1954).

O psiquiatra Ovidir Decroly, criou os centros de interesses, que perduram até

os dias de hoje (cf. Decroly, 1929).

Na segunda década do século XX surgem os primeiros centros de reeducação

para delinqüentes infantis. Nos Estados Unidos cresce o número de escola particulares

para atender as crianças consideradas lentas de aprendizagem e em 1930 surgem na

França os primeiros centros de orientação educacional infantil, formados por uma equipe

de médicos, educadores, psicólogos e assistentes sociais (cf. Mery, 1985, p.11).

Conforme Mer, (1985), em 1946 foram fundados e chefiados por J. Boutonir e

George Mauco os primeiros Centros Psicopedagógicos, onde se buscava unir a

Psicologia, Psicanálise e a Pedagogia, para tratamento de crianças com comportamentos

socialmente inadequados, na escola ou no lar, objetivando sua readaptação (Bossa,

11 1994, p.30).

A partir de 1948, o termo Pedagogia Curativa passa a ser definido, segundo

Debesse, Pedagogia Terapêutica para atender crianças e adolescentes desadaptados

que embora fossem inteligentes, seus os resultados escolares não eram satisfatórios. A

Pedagogia Curativa introduzida no Centro de Psicopedagogia de Estrasburgo, França,

poderia ser conduzida individualmente ou em grupo, sendo entendida como “método que

favorecia a readaptação pedagógica do aluno”, atuando assim no seu desenvolvimento

cognitivo como na sua personalidade. Segundo Debesse, 1954, (apud Janine Meryl), a

Pedagogia Curativa “situa-se no interior daquilo que se chama Psicopedagogia”.

A Psicopedagogia argentina tem sua literatura marcada pelas teorias Francesa.

Com autores como Jacques Lacan, Maud Mannoni, Françoise Dolto, Julián de

Ajuriaguerra, Janine Mery, Michel Lobrot, Pierre Vayer, Maurice Debesse, René Diatkine,

George Mauco, Pichón-Riviére e outros (Bossa, 1994, p. 27,28).

Segundo Sara Paín, o tratamento psicopedagógico visa o desaparecimento do

sintoma e a possibilidade do sujeito aprender normalmente em condições melhores,

enfatizando a relação que ele tem ou possa ter com a aprendizagem, ou seja, que o

sujeito seja o agente da sua própria aprendizagem e que se aproprie do conhecimento

(Paín, 1986).

Para Marina Muller, psicopedagoga argentina, a Psicopedagogia é uma

disciplina na qual encontramos a confluência do psicólogo, a subjetividade, os seres

humanos, enquanto tais como o educacional, atividade especificamente humana, social e

cultural, implica uma síntese: “os seres humanos, seu mundo psíquico individual e grupal,

em relação à aprendizagem aos sistemas e ao processo educativos” (Muller, 1986, p.11).

Scoz define a Psicopedagogia como “área que estuda e lida com o processo de

aprendizagem e suas dificuldades e que, numa ação , interdisciplinar, deve englobar

vários campos do conhecimento, integrando-os e sistematizando-os” (Scoz, 1992, p. 2).

Segundo o professor Lino de Macedo a “Psicopedagogia é uma (nova) área de

atuação profissional que tem, ou melhor, busca uma identidade e que requer uma

formação de nível interdisciplinar (o que já é sugerido no próprio termo psicopedagogia)”

(1992 p.VIII).

Segundo Alícia Fernández, a graduação em Psicopedagogia surgiu a mais de

trinta anos na Argentina, sendo quase tão antiga quanto a Psicologia, criada na

Universidade de Buenos Aires. Na prática a função de Psicopedagogo já acontecia com

profissionais com outras formações acadêmicas, entre eles Sara Paín (filosofia),

12 exercendo a função de reeducador, objetivando resolver os fracassos escolares,

trabalhando as funções egóicas, tais como memória, percepção, atenção, motricidade e

pensamento, medindo-se os déficits e elaborando planos de tratamento que objetivam

vencer essas faltas (Bossa, 1994, p. 32).

Segundo o brasileiro Sergio A. da Silva, a proposta da Psicopedagogia no

Brasil veio da Argentina, sendo que, os psicólogos argentinos não tinham permissão para

exercerem a profissão, ou seja, clinicarem, a educação surgiu como uma área de

trabalho. Esta dedicação, quase exclusiva, os levou a produzir toda uma metodologia

sobre a chamada dificuldade de aprendizagem, dando origem á atual Psicopedagogia

(1991, p.3).

Alícia Fernández, na sua fala coloca que a Psicopedagogia teve três

momentos: primeiro, estudos com ênfase em formação filosófica e psicologia, e como

pré-requisito diploma da Escola Normal (Bossa e Montti,1991, p.22). Para Fernandez e

Montti, a Psicopedagogia nasceu da necessidade de suprir as dificuldades da não

aprendizagem, (no contexto histórico do momento), oferecendo assim um conhecimento

mais profundo do ser humano no processo do não aprender e como aprender. A

pedagogia enfrentava dificuldades na escola, com métodos inadequados, evasão escolar

e o aumento de matriculas devido o pós-guerra, repetências e sérias dificuldades na

aprendizagem sistemática.

No segundo momento para Fernández e Montti, com a influência da Psicologia

Experimental na formação do psicopedagogo, buscou-se a formação instrumental do

profissional e capacitá-lo nas medições cognitivas e afetivas.

O terceiro momento acontece com a mudança curricular, sendo que todos têm

o direito de cursar a Psicopedagogia, a graduação acontece com cinco anos de duração,

incluindo as disciplinas de Clínicas pedagógicas I e II, valorizando o papel do

psicopedagogo como terapeuta.

No Brasil, no princípio o fracasso escolar era tido como um problema de ordem

orgânica até a bem pouco tempo (Lefèvre, 1968, 1975, 1981; Grunspun, 1990). Para

aplacar as dúvidas, ingenuidade ou ignorância sobre as dificuldades de aprendizagem era

dado o diagnóstico: “como sendo portador de disfunções psiconeurológicas, mentais e

psicológicas”, sendo que estaríamos falando de um percentual de 40% dos escolares,

segundo observação de Cypel, que no caso infere que estaríamos com uma população de

retardados.

Segundo Dorneles (1986, p.44), esta leitura nos livrava de pensar como o

13 ensino no Brasil estava deficitário, nos livrando de tomar novas medidas e reverter

situações como: repetências, exclusão, evasão, conteúdos inapropriados, etc..,e ainda

hoje pais, educadores e familiares recorrem a estes profissionais (médicos que lhes dêem

um diagnóstico de DCM) .

Na década de 70 surgiram no Brasil os primeiros cursos de Psicopedagogia,

para complementar a formação dos psicólogos e educadores que buscavam uma solução

para os problemas de aprendizagem. O Médico e professor Julio B. de Querós: estudioso

da leitura-escrita durante anos, difundiu seus trabalhos e experiência no Brasil nas

conferências na década de 70. O professor Nilo Fichtner, fundou o Centro Médico

Psicopedagógico na capital gaúcha, onde desde 1970 os profissionais são preparados

para atuarem com a Psicopedagogia Terapêutica.

Em 1979 é criado o primeiro curso regular de Psicopedagogia, no Instituto

Sedes Sapientiae, em São Paulo, iniciativa de Maria Alice Vassimon, pedagoga e

psicodramatista, e Madre Cristina Sodré Dória, diretora do instituto. Segundo Scoz e

Mendes, preocupada com o ser humano em sua plenitude, querendo fazer com que a

arte de educar fosse mais atuante e valorizada, fez uma proposta para o Instituto Sedes

Sapientiae, que até então era freqüentado por psicólogos e psicanalistas, que o mesmo

abrisse as portas para um curso que valorizasse a ação do educador. O curso oferecido

pelo Instituto Sedes Sapientiae, passou por quatro fases: abordou o enfoque da

Reeducação em Psicopedagogia, A compreensão do raciocínio apoiava-se na

Epistemologia Genética de Piaget, e os aspectos afetivos fundamentava na relação

vincular, no aqui - e - agora, segundo abordagem gestáltico-fenomenológica. (Fagali e

Ferretti, 1992, p.2). Posteriormente, o curso assume um caráter mais terapêutico, onde o

âmbito clínico aprofunda-se nos aspectos afetivos da aprendizagem. Daí em diante, as

mudanças continuam, e abre-se um espaço para se refletir e praticar a psicopedagogia na

instituição escolar. Hoje o curso da Sedes vive o momento onde se privilegia a

Psicopedagogia Institucional e Clínica.

A história da Psicopedagogia no Brasil passa pelos cursos do Instituto Sedes

Sapientiae e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como sendo a primeira

iniciativa na formação dos psicopedagogos. Outro estado que merece destaque é o Rio

Grande do Sul, pelo seu pioneirismo na formação institucional de psicopedagogos.

A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em 1972 ministra

cursos de especialização e mestrado no programa de educação com área de

concentração em aconselhamento Psicopedagógico.

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Desde 1984, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul tem o curso de

especialização em Aconselhamento Psicopedagógico no programa de Pós-Graduação da

Faculdade de Educação.

A partir da década 90 os cursos de especialização em Psicopedagogia têm se

ampliado significativamente, tendo-se a preocupação com sua qualidade.

Alicia Fernández ao falar do pensamento afirma que: quando pensamos, em

algo, ao mesmo tempo simbolizamos nossos pensamentos, para que tenha uma lógica,

pois, o pensar e o simbólico andam juntos, mesmo que cada um esteja dentro de suas

estruturas.

O pensamento é um só, não pensamos por um lado inteligentemente e, depois, como se girássemos o dial penso simbolicamente. O pensamento é como uma trama na qual a inteligência seria o fio horizontal e o desejo o vertical. Ao mesmo tempo, acontecem à significação simbólica e a capacidade de organização lógica (1990, p.67).

Alícia Fernández na citação a seguir nos mostra como o psicopedagogo

trabalha com as dificuldades de aprendizagens, utilizando as bases teóricas do seu

trabalho.

Poucos psicoterapeutas conhecem o funcionamento mental, logo não podem interpretar o problema de aprendizagem. É necessário saber como se faz para somar, por exemplo, para descobrir a que cenário simbólico pode corresponder a soma. Se alguém não sabe qual e como é a operação alterada, não pode dar-lhe uma significação. Os psicoterapeutas têm tendência a interpretar que, se uma criança escreve homem sem H, tem problema do tipo sexual. Mas pode ser que escreva mal homem e tudo que começa com H. Se pensar que escrevesse mal só homem poder-se-ia não seria um problema de aprendizagem. Nunca escrever o H leva a Pensar que essa criança não pode escrever algo que não se diz. As teorias sobre a inteligência e o desejo se desconhecem mutuamente. (FERNÁNDEZ, 1990, p.68).

Para Bossa, o diferencial da Psicopedagogia se dá no processo de

aprendizagem, pois, analisa o sujeito num todo. Ou seja, psicopedagógico,

socioeconômico e sociocultural.

A Psicopedagogia tem seu diferencial de trabalho porque trabalha o ser humano num todo, como sujeito ativo num processo de interação com o meio físico e social. “Nesse processo interferem o seu equipamento biológico, as suas condições afetivo-emocionais e as suas condições intelectuais”. A psicopedagogia entende, ainda, que essas condições afetivo-emocionais e intelectuais são

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geradas no meio familiar e sócio-cultural no qual nasce e vive o sujeito. O produto de tal interação é a aprendizagem (Bossa, 1994, p. 54).

Na Psicopedagogia “Clínica” termo esse utilizado na Medicina, que quer dizer:

olhar, escutar, que foi aderido, pela Psicopedagogia no discurso do sujeito para poder

diagnosticar.

A Psicopedagogia Clínica tem a contribuição de várias áreas no entendimento

processo do não aprender e como aprender. A Psicanálise, a Psicologia Genética, a

Pedagogia, a Psicologia Geral, a Psicologia Social, Neurologia, a Lingüística, a Filosofia,

a Sociologia e a Pedagogia, essas áreas dão suporte teórico a Psicopedagogia, para

poder dar conta do processo, de como se aprende e por que não se aprende.

Pedagogia é a ciência ou disciplina cujo objetivo é a reflexão, ordenação, a

sistematização e a critica do processo educativo. Conjunto de filosofias, princípios,

técnicas e métodos de educação e instrução que visam a um objetivo prático (p. 197).

A Psicanálise é um método desenvolvido pelo médico neurologista austríaco

Sigmund Freud (1856-1939), para tratar de distúrbios psíquicos a partir da investigação

do inconsciente. Tem como objetivo analisar e explicar o comportamento consciente e

inconsciente do ser humano. Tratamento terapêutico das disfunções ou perturbações

mentais e psicossomáticas (pg. 206).

A Psicologia é a “ciência que estuda cientificamente a mente humana, bem

como os fenômenos e as atividades mentais, com o objetivo de desvendar seus

processos específicos” (pg. 206).

A Psicologia Genética analisa o desenvolvimento cognitivo do sujeito (Piaget).

Para Wallon, a Psicologia Genética estuda os processos psíquicos em sua origem, parte

da análise dos processos primeiros e mais simples, pelos quais cronologicamente passa o

sujeito.

A Psicologia Social surgiu no século XX como área de aplicação da Psicologia

para estabelecer uma ponte entre a Psicologia e as Ciências Sociais (Sociologia,

Antropologia e Etnologia).

Neurologia é o estudo do sistema nervoso, sua relação e transtornos.

Considerada como parte das chamadas NEUROCIENCIAS (neuroquímica,

neurofisiologia, etc..). Seus conhecimentos são divididos por várias profissões (Médico,

neurologista, fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo, etc..). Foi inicialmente observando

indivíduos com patologias neurológicas e posteriormente através de experimentação

16 cientifica que se começou a compreender a relação entre as diversas partes do sistema

nervoso e suas funções específicas.

Psiconeurologia estuda a neurologia e suas relações com desenvolvimento

psicológico, bem como a influencia dos aspectos neurológicos nas psicopatologias.

Lingüística é o estudo científico da linguagem verbal humana. Um lingüista é

alguém que se dedica a esse estudo. A pesquisa lingüística é feita por muitos

especialistas que, geralmente, não concordam harmoniosamente sobre o seu conteúdo.

Psicolingüístico é o estudo das relações da psicologia com os modelos

lingüísticos. Estudo do papel da inteligência dentro de pressuposto psicológico, no

estabelecimento das relações entre a linguagem e o pensamento.

A Epistemologia convergente de Jorge Visca tem como base teórica a escolas

psicanalítica, piagetiana e a Psicologia Social, de Enrique Pichon Rivière.

A Epistemologia Convergente com relação à personalidade, leva em conta a

organização biológica com o meio, levando ao crescimento e em virtude de, sua

diferenciação nesta evolução, a personalidade possui unidade funcional, mas não

estrutural.

Em relação à aprendizagem acontece em quatro níveis, criança-mãe (proto

aprendizagem), criança e família (dêutero-aprendizagem), aprendizagem no meio em que

vive ou empírica (aprendizagem assistemática) e aprendizagem escolar (aprendizagem

sistemática).

A Filosofia é a investigação critica e racional dos princípios fundamentais

relacionados ao mundo e ao homem.

A Sociologia é uma das ciências humanas que estuda a sociedade, ou seja,

estuda o comportamento humano em função do meio e os processos que interligam os

individuo na sua singularidade. Tem uma base teórico-metodológica, que serve para

estudar os fenômenos sociais, tentando explicá-los, analisando os homens em suas

relações de interdependência. Compreender as diferentes sociedades e culturas é um dos

objetivos da sociologia.

Diz Fernández: “La epistemologia genética, assim como psicoanális, son

necessários la teoria psicopedagógica, pero não confundiles com ella, cuyo fine s dar

cuenta de la articulaçion inteligência-deseo” (1985, p.12). Jorge Visca considera que a

psicopedagogia foi se perfilando como um conhecimento independente e complementar,

por assimilação recíproca das contribuições das escolas psicanalítica, piagetiana e da

Psicologia Social de Enrique Pinchón Rivière. Desta forma, entende-se desse autor ser

17 possível compreender a participação dos aspectos afetivos, cognoscitivos e do meio no

aprender do ser humano (1987, p.7).

(...) Nesse lugar do processo de aprendizagem, coincidem em um momento histórico, um organismo, uma etapa genética da inteligência e um sujeito associado a tantas outras estruturas teóricas, de cuja engrenagem se ocupa e preocupa a Epistemologia; referimo-nos ao materialismo histórico, à teoria piagetiana da inteligência e à teoria psicanalítica de Freud, enquanto instauram a ideologia, a operatividade e o inconsciente (PAÍN apud BOSSA, 2000, P.25).

O papel do psicopedagogo em relação ao outro, visa uma mudança de atitude,

um novo olhar para que aconteça o crescimento cognitivo, deixando assim mostrar-se

sujeito assumindo seu papel de aprendente e ensinante, sem rótulos ou estigmas,

seguindo seu caminho para uma existência mais autônoma.

Pode se concluir que o campo de atuação da psicopedagogia é a

aprendizagem, e sua intervenção é preventiva e curativa, pois se dispõe a detectar

problemas de aprendizagem e resolve-los, além de preveni-los, evitando que surjam

outros.

18 2 ESTUDO DE CASO EM PSICOPEDAGOGIA

2.1 Motivo da Consulta

Para Paín (1985), a primeira entrevista é muito importante, pois, esse olhar

essa escuta é fundamental, é nesse relato que os pais expressam o motivo da consulta: o

significado do sintoma na família e o significado do sintoma para a família.

No primeiro dia estive no CRÀS (Centro de Referencia da Assistência Social)

para conhecer a instituição e seu funcionamento. A mãe de JF tinha estado no CRÀS à

procura de uma psicóloga para ajudá-la com relação à escola, pois, ele está com

dificuldade em matemática e na língua portuguesa, está muito respondão, brigão e

malcriado em casa e na escola, segundo a fala de mãe para a assistente social. A mãe

queria que o adolescente permanecesse a tarde inteira no CRÁS, pois a juíza conhece

toda sua estória e foi à juíza quem solicitou este atendimento.

A assistente social junto com a psicóloga me fez o primeiro relato, pois a

família já é conhecidas das mesmas. Logo a seguir me apresentou a mãe e a JF, sendo

que JF eu já o conhecia. Conversei com a mãe e expliquei para ela o que era uma

psicopedagoga, as pessoas não têm claro o que é a Psicopedagogia, esclareci que eu

não era psicóloga, que estava naquele momento estagiando e o meu trabalho era

descobrir porque JF estava com dificuldade de aprendizagem.

Segundo a mãe, o pai não compareceu, pois os mesmos são separados, e não

se dão bem, o pai já está vivendo com outra mulher, é drogado e está com o vírus HIV, e

quando chega para visitar os filhos é motivo de discórdia entre a família, quando o mesmo

vai embora JF fica insuportável, não obedece, age de forma errada. Agindo igual ao pai,

um delinqüente, desafiando-a e as suas irmãs, que já estão doentes devido à convivência

com o pai e a madrasta. Para a mãe a responsabilidade pelos erros é culpa do pai ou do

próprio JF.

O Adolescente JF tem 11 anos, é o terceiro filho do casal, sendo a duas

primeiras meninas, JF estuda na 6ª série, de uma escola estadual longe de sua casa, tem

vários amigos e está sempre bem vestido, mas, como um mocinho. Segundo a mãe, JF

revoltou-se com o retorno das duas irmãs para a casa da mãe, onde inicialmente,

19 moravam apenas os dois. JF regrediu na escola tirando notas baixas e sendo malcriado,

chamando palavrão e brigando em casa. O pai nunca ligou para JF, pois, não aceitou a

gravidez, e este só queria as meninas para morar com ele. JF não fala do pai em casa e

nem para os outros.

Percebi que quando estava conversando com a mãe, JF não estava muito a

vontade, fingia que não estava ouvindo e que a conversa não o estava interessando, de

repente ele levantou-se e saiu indo assistir os ensaios de HIP HOP. Quando a mãe ia

embora chamou JF, e marcou para segunda feira próxima o atendimento, percebi que ele

não gostou, mas, disse que viria.

2.1.1 Fundamentação Teórica

Na primeira consulta é importante saber qual é o objetivo da consulta, se é só

uma consulta ou um tratamento integral do problema,estabelecendo algumas hipóteses

no diagnóstico de aprendizagem como: Segredo, Pai Fracassado, Contrato de

Sobrevivência, Identificação, Sintoma na Família e Sintoma Para a Família.

Segundo Sara Paín, no motivo da consulta podemos ver o significado do

sintoma na família e para a família.

Significado do sintoma para a família: comumente se evidencia que o problema da criança é emergente do problema do grupo primário ao qual pertence. (...) alguns autores consideram o paciente emergente (sadio) de uma situação mórbida. (Sara Paín, 2007, p.38e 39). Significado do sintoma na família: à medida que fica estabelecido que a particularidade dos vínculos torne possível entender uma perturbação na adaptação e, uma vez que o sintoma se torna evidente, a família deve assumi-lo, isto é tomar consciência do déficit e das implicações que ele acarreta. (...). (Sara Paín, 2007, p.38e 39).

Para Fernández: “o fracasso escolar acontece quando o sistema não está

adequado para o aluno, podendo ser, o currículo, o professor a instituição etc. já o

fracasso escolar causado pela família, pode ser a constituição familiar, o econômico, o

social e outros” . Sendo que para Alicia Fernández quando o problema é vindo da família

para ela não seria fracasso escolar e sim problema de aprendizagem.

20

Estabelecendo uma diferença entre o fracasso na aprendizagem, ancorado no sistema educativo, o qual, por isso, preferimos chamar fracasso escolar, e o fracasso na aprendizagem ancorado na criança e seu meio familiar. Reservamos o nome de problema de aprendizagem apenas para esse ultimo. Alem disso, comprovamos que, realizando intervenções psicopedagógicas clínicas tendentes à ressignificação da modalidade de aprendizagem da criança – mesmo daqueles que haviam sido ligeira e erroneamente diagnosticados como incapacitados mentais – e à modificação dos posicionamentos ensinantes dos pais, podia superar por completo o problema que haviam manifestado (Alicia Fernandez, 2001, trad. Neusa Kern Hichkel e Regina Orgler Sordi p.52).

2.1.2 Relato

JF é um adolescente de 11 anos, chegou com as mãos nos bolsos, não olhava

nos olhos das pessoas, a mãe na frente e ele atrás, a mãe perguntando o que tinha ali

para ajudar seu filho, pois, a juíza tinha encaminhado para aquele local.

A mãe queria uma psicóloga, pois o filho está mau na escola, brigando dentro

de casa, não obedece ninguém e ela não sabia o que fazer com o adolescente.

Conversei com o adolescente, ele não me olhava e resmungava dizendo que

não queria saber de psicóloga, pois, ele já tem uma trajetória com psicóloga, ele só queria

ir para o futebol e fazer computação, ao mesmo tempo em que à mãe falava “eu quero te

por a par de como é a nossa vida. A juíza sabe tudo o que acontece dentro da minha

casa, posso conversar contigo agora”.

Olhei para o adolescente, ele virou o rosto e saiu, então falei para a mãe que

neste momento eu gostaria de conversar primeiro com o adolescente. A mãe o chamou,

dizendo que eu gostaria de falar com ele, e neste momento percebi que ele mudou o

semblante. Para amenizar, falei logo em seguida “tu gosta de brincar com jogos? Tenho

alguns bem legais”. Até então ele não tinha me olhado, foi ai então que me olhou e disse

só se a minha mãe for junto. Olhei para a mãe, e disse; “os meus jogos são para duas

pessoas”. Ele sorriu e disse “vamos”.

A mãe nos interrompeu depois de uns 20 min, dizendo que iria a algum lugar,

mas que logo estaria de volta, o adolescente mexeu com os ombros e ela saiu.

Expliquei o que era uma psicopedagoga, o que estava fazendo ali e como eu

iria trabalhar, mesmo assim ele mal me olhava. Voltei a perguntar por que ele estava ali, e

21 JF me respondeu que ele tinha um pouco só de dificuldade, mas que não precisava de

ajuda já que ele sabia tudo. Perguntei: “então tu não precisas da minha ajuda?” Ele

respondeu que a dificuldade era com os conteúdos, o problema é que não conseguia

terminar de copiar os conteúdos, pois ficava de conversa com os outros, que não resistia

e fazia bagunça. Perguntei se o que fazia era certo, ele respondeu que os outros fazem,

e questionou porque só ele recebia o castigo, neste caso ir para a psicóloga, assinar o

livro na secretaria, falar com a diretora, a mãe ser chamada. Expliquei que esse

procedimento é para com todos, segundo a diretora, mas, falei: “parece que tu estas

exagerando ultimamente”. Questionou: o que esta acontecendo de fato. Ele me olhou e

disse: “de novo estás querendo saber demais”.

O adolescente senta quase deitado, fica encolhido, não olha nos olhos, fala

muito pouco, e quando questionado sobre algo, diz que não quer falar, não sabe. Percebi

que quando está jogando ele se libera e conversa mais. Me questionou duas vezes: “se

não és psicóloga porque faz tantas perguntas? “ Expliquei que para ajudá-lo é necessário

que eu saiba algumas coisas, e voltei a explicar a diferença de psicóloga e de uma

psicopedagoga, mas, JF não ficou muito convencido.

2.1.3 Análise Diagnóstica

Contrato de sobrevivência

JF está com a idade cronológica correta para idade e ano de estudo, sua

dificuldade na escola só acontece quando algo em sua casa está em desequilíbrio, ou

seja, acontecendo alguma coisa que o está colocando na condição de sujeito não

aprendente.

O conceito de função materna, descrito por Winnicott (1994) como “mãe suficiente boa”, onde atende as necessidades de prover as necessidades do filho como: alimentação, agasalho, proteção, enfim cuidar do psíquico e físico, promovendo assim o seu crescimento nas frustrações, pois são essências para o crescimento emocional e cognitivo da criança. A família é formada pelo pai, mãe e filho, sendo que cada um exerce sua função, o pai agindo como um terceiro nesta relação,

22

permitindo assim ao filho o desenvolvimento de sua identidade e um crescimento maduro.

Visto que as famílias hoje mudaram a sua constituição e JF não aprova esse

novo lar constituído por sua família, percebe-se que quando algo interfere no lar, acaba

trazendo para JF um resultado negativo na escola. JF comporta-se como um adulto no se

vestir, falar e no querer, levando a pensar que não tem bem definido seu papel de filho e

irmão. Visto que JF viveu só ele e a mãe por alguns anos, e que a mesma deu a ele

poderes de decisão, até mesmo interferindo na sua vida, com isso acha uma intromissão

a volta das irmãs ao lar.

No relato dá a entender que é protegido pela mãe, talvez para compensar a

ausência do pai, sendo que o mesmo nunca o aceitou. É um adolescente totalmente

dependente da mãe, e ao mesmo tempo tem poderes para decidir a vida da família. JF

não encara as pessoas e se nega a falar da família. JF não aceita as irmãs, pois viveu só

ele e a mãe por alguns anos, pois, as irmãs moravam com o pai. Desde que as irmãs

voltaram a morar com a mãe, JF está mais agressivo com as irmãs, na escola e em casa,

ou seja, quebrou a rotina da casa, neste momento a hipótese é de que inconscientemente

haja um contrato de sobrevivência.

2.2 História Vital

2.2.1 Fundamentação Teórica

Para Sara Paín, a história vital é de suma importância, pois, nos dá subsídios

para compreendermos alguns fatos da vida do paciente, e porque se estar neste

momento como paciente. A autora afirma.

...É conveniente realizá-la depois de conhecer um pouco o paciente, por meio da hora do jogo e algumas provas psicométricas, a fim de orientar o interrogatório para aquelas áreas mais relevantes e de não abrir oportunidades à emergência de ansiedades e deslocamentos.... “A história vital” nos proverá de uma série de

23

dados relativamente objetivos vinculados às condições atuais do problema, permitindo-nos, simultaneamente, detectar o grau de individualização que a criança tem com relação à mãe e a conservação de sua história nele. È interessante notar a estreita relação dos problemas de aprendizagem, definidos, muitas vezes, como “de memória”, com a impossibilidade da mãe para rememorar fatos, e anedotas sobre a criança, que só pode recuperar parte de sua vida através dela.... (Sara Paín, 2007, p42)..

Segundo Maria Lucia Weiss, a anamnese se faz necessária para ter-se

conhecimento de como se constituiu o paciente e porque de estar na situação de

paciente. Ela diz:

Considero a entrevista de anamnese um dos pontos cruciais de um bom diagnóstico. É ela que possibilita a integração das dimensões de passado, presente, permitindo perceber a construção ou não de sua própria continuidade e das diferentes gerações, ou seja, é uma anamnese da família. A visão familiar da história de vida do paciente traz em seu bojo seus preconceitos, normas, expectativas, a circulação dos afetos e do conhecimento, além do peso das gerações anteriores que é depositado sobre o paciente (Maria Lucia Weiss 2007, p.63).

Segundo o dicionário de Filosofia, Aristóteles entende que o Desejo é

“o apetite do que é agradável” (...). Analogamente, Descartes o definiu como “a agitação da alma causada pelos espíritos que a dispõem a querer no futuro as coisas que a ela se afiguram convenientes” (...). Equivalente a esta é a definição de Spinosa: “tristeza ligada à falta da coisa que amamos” (...). Esses significados repetem-se ao longo da história da filosofia. Na literatura contemporânea essa palavra assumiu alguns significados novos. Dewey definiu o Desejo como “atividade que procura agir no sentido de romper o clique que a retem. O objeto que se apresenta no pensamento como meta do Desejo é o objeto do ambiente que, se estivesse presente, garantiria a reunificação da atividade e a restauração de sua unidade” (...). Heidegger vinculou o Desejo à natureza do homem como ser projetante: o ser para as possibilidades manifesta-se em geral como puro desejo. No Desejo o ser-aí projeta seu ser para possibilidades que não somente não é captado na ocupação, como também não se examina seriamente nem se espera a sua realização (...) (dicionário de filosofia, p.241).

2.2.2 Relato

A mãe compareceu ao CRÀS a meu pedido para uma conversa, mais,

precisamente fazer a história vital.

24

A mãe relatou que teve uma gravidez boa, sendo que, duas mortes marcaram

a sua gravidez, na época em que estava grávida aconteceu um acidente na empresa

onde trabalhava, havendo duas mortes, sendo que, os dois homens eram seus

subordinados e seus amigos.

Quando ganhou o JF teve depressão pós - parto, não queria ver o filho, mas,

segundo ela já conversou com ele e tudo esta resolvido. O pai não aceitou a gravidez e

nem o nascimento do filho.

JF tomou mamadeira até um ano e meio e chupou bico, andou com mais ou

menos um ano, mas só foi falar aos quatro anos. O médico constatou que a mãe o

reprimia, porque não aceitava a sua gravidez. O menino foi encaminhando para a creche

e para uma fonoaudióloga a pedido do médico. JF entrou na escola e passou de ano sem

maiores problemas.

A mãe separou-se do marido quando JF tinha 6 anos. O pai rejeitou o filho,

segundo a mãe JF fala bem do pai. A mãe relatou que JF está começando a roubar em

casa e isso é uma coisa que ele não fazia, mas que a culpa é do pai. Ela diz que não fala

mal do pai para os filhos. A família é constituída de duas meninas, de 13 e 15 anos, e o

menino JF de 11 anos.

A mãe relatou que um dia desses uma das filhas ficou doente, ela pôs a

menina dormir com ela, sendo que JF é que dorme com a mãe. Neste dia dormiria no

sofá, mas acordou de madrugada e ele estava de pé e não havia dormido ainda. Como

era uma noite muito fria, ele estava todo gelado e quando ela perguntou por que ele não

estava dormindo ele disse que não conseguia dormir longe dela e estava dormindo

embaixo da cama de sua mãe. Ela logo pôs ele dormir junto a ela, relatou aos prantos,

mas, logo em seguida se controlou. Neste dia ela chorou várias vezes, mas sempre se

controlando rápido.

JF ainda dorme com a mãe no quarto de casal e as duas irmãs dormem no

outro quarto, A mãe diz que não tem dinheiro para comprar uma cama, pois está doente e

não está conseguindo trabalhar.

Segundo a mãe, JF é possessivo, não a deixa arrumar namorado e vive colado

nela, JF age como um adolescente adulto, parecendo ocupar o lugar do pai.

Dia desses JF faltou uma sessão e quando perguntei para ele porque havia

faltado, disse que estava triste porque o time dele havia perdido no futebol do

campeonato da escola, já a mãe telefonou e disse que JF estava com febre, observando

certa contradição na fala da mãe e do filho..

25

Quando perguntei pessoalmente a ela, disse que ele não queria vir porque não

gosta, e que eu faço muita pergunta, e ele não gosta de falar.

Segundo a mãe ele pouco fala em casa, não gosta de conversar sobre a

intimidade dele, ou seja, mostrar o que está sentindo.

JF ajuda a mãe no trabalho, mas, desde que às irmãs chegaram JF mudou

muito, pois não aceita as irmãs em casa, quer que elas voltem a morar com o pai.

Segundo a mãe as meninas serviam de mula (entregando droga) para o pai e a madrasta,

hoje elas estão com depressão fazendo tratamento, e voltaram a morar com a mãe.

Segundo a mãe quando JF fala mal de alguma coisa as meninas argumentam

que ele fala mal porque ele nunca passou fome igual a elas e ele revida dizendo que ele

nunca abandonou a mãe igual a elas, então bem feito.

A mãe relatou que o pai é usuário de droga e traficante e está com o vírus do

HIV. Diz que o adolescente não sabe e não entende a gravidade do caso, e que ela já

tentou matar o marido algumas vezes.

Neste primeiro relato a mãe estava calma, apesar de ter chorado algumas

vezes, mas se recompunha rápido.

2.2.3 Análise Diagnóstica

No relato da mãe deu a entender que o modelo de família que JF tem não é de

seu agrado e não consegue compreender e aceitar sua família.

O não aprender de JF pode estar ligado ao emocional, devido a fatos de sua

história familiar. A dinâmica familiar faz com que JF apresente uma dificuldade de

aprendizagem sintoma, omitindo-se de uma aprendizagem formal e transgredindo regras

de comportamento, apontando para isso a falta de desejo pela aprendizagem formal.

Percebe-se que mãe trata JF como um adulto em certas ocasiões como: pagar

conta no banco, sair para ajudá-la a fazer as vendas de porta em porta carregando

bolsas, dormindo junto para fazer-lhe companhia.

Quando as irmãs voltaram para casa, JF teve que repartir o amor a casa e a

mãe e pensa que deixou de ser tão importante para ela. Esta mudança está refletindo na

escola, na aprendizagem e no comportamento.

26

Para Sara Paín, o processo da aprendizagem ocorre nos quatro níveis, corpo,

inteligência, organismo e desejo, quando um deles estiver compromissado a

aprendizagem estará comprometida.

(...) Sara Paín com a distinção entre organismo e corpo, F. Dolto com a diferenciação entre esquema e imagem corporal, permitem começar a dar respostas desde a teoria, a algo que na clinica observamos diariamente: o organismo transversalizado pelo desejo e pela inteligência, conforma uma corporeidade, um corpo que aprende, goza, pensa, sofre ou age. Assim como em todo processo de aprendizagem estão implicados os quatro níveis (organismo, corpo, inteligência, desejo), e não se poderia falar de aprendizagem excluindo algum deles, também no problema de aprendizagem, necessariamente estarão em jogo os quatro níveis em diferentes graus de compromisso (Alicia Fernánde, 2007, p.58).

A construção da história da vida se dá pelo meio familiar, social e econômico,

dependendo da importância que se dá para cada um, há uma interferência maior ou

menor. Desde o nascimento, os fatos vão deixando marcas, construindo desejos de

possibilidades e desenvolvimento, é no outro que e com o outro que aprendemos a nos

relacionar. A mãe, desde o inicio da vida de um ser, compartilha da aprendizagem e do

desenvolvimento, ou seja, ajuda a inscrever no campo da aprendizagem.

É em relação com o Outro que o sujeito vai construindo as possibilidades de

uma inscrição no campo da cultura, entre os seus semelhantes. Conforme sublinha

Lacan:

(...) o desejo do outro é apreendido pelo sujeito naquilo que não cola nas faltas do discurso do Outro, e todos os porquês? Da criança testemunham menos de uma avidez da razão das coisas do que constituem uma colocação em prova do adulto, um por que será que você me diz isso? Sempre ressuscitado de seu fundo que é o enigma do desejo do adulto (1964/1988, p.2003).

2.3 Hora do Jogo

2.3.1 Fundamentação Teórica

A organização da caixa de trabalho deverá conter materiais respeitando a

27 idade, cultura e o desenvolvimento da criança ou do adolescente, materiais este que

possibilitem a vivencia do aprender e do não aprender.

A caixa simbolicamente é considerada para o paciente como deposito do

conteúdo de saber e de não saber. Na hora do jogo a criança projeta seus desejos

mostrando suas dificuldades.

Segundo Sara Paín (2007), o material dentro da caixa deverá ser um material

não-figurativo, para o diagnostico do processo de aprendizagem, pois, o interesse do

Psicopedagogo, é um olhar para a construção do simbólico transformando-o em realidade

naquele momento.

Para compreender o processo de aprendizagem temos que compreender as

modalidades de aprendizagem:

(...) todo o sujeito tem a sua modalidade de aprendizagem, ou seja, meios, condições e limites para conhecer. Modalidade de aprendizagem significa uma maneira pessoal para aproximar-se do conhecimento e constituir o saber. Tal modalidade constrói-se desde o nascimento, é como uma matriz, um molde, um esquema de operar que vamos utilizando nas situações de aprendizagem (Bossa, apud Fernandez, 1994, p.15).

Para Escott: a sujeito aprendente ou não, mostra no corpo, organismo,

inteligência e desejo sua forma de aprendizagem ou de falta.

(...) a possibilidade de aprender inscreve-se no sujeito através da relação entre “organismo, corpo, inteligência e desejo" (Fernandez, 1990, p.48). O organismo refere-se à máquina em funcionamento. O corpo constituído a partir da dramática do inconsciente e do organismo; é o que nos inscreve no mundo. A inteligência é a dimensão lógica e objetiva da aprendizagem. O desejo é o que nos impulsiona, é a nossa libido, nosso instinto de vida; é a dimensão subjetiva da aprendizagem (ESCOTT, 1997, p.314).

Para construir o conhecimento ou reconstruir esse conhecimento,

necessitamos dar vazão ao imaginário, este objetiva ou subjetivamente. Na hora do jogo o

paciente coloca seu imaginário, para construir, reconstruir ou compreender esses

conhecimentos. , resignificando-os.

Segundo Escott: quando brincamos vivemos situações que faz parte em da

nossa vida diária, resignificando nossa realidade.

A dinâmica de identificação com o imaginário ou simbólico, permite que a

criança refaça rupturas ocorridas no desenvolvimento, resgatando, por vezes, sua história

28 pessoal e sua identidade. Nesse contexto, "(...) quando a criança brinca faz-de-conta, joga

ou desenha, está mostrando ao educador como organiza sua realidade, tanto em nível

cognitivo, quanto em nível afetivo-emocional". (ESCOTT, 1997, p.315).

Após se apropriar da caixa e realizar o inventário, que poderá ser pelo olhar, ou

classificá-lo ou ainda uma reação acompanhada de uma ação. Ocorre a construção que

tem significado simbólico, na qual utiliza todos os matérias ou só alguns, ela é criativa ou

coloca os objetos de qualquer maneira, os objetos são arrumados, realinhados com

freqüência ou tem uma ordem mental já programada de acordo com o que tem na caixa.

Ela fala durante a construção com os objetos, ou não esboça nenhuma reação de fala.

2.3.2 Relato da Hora do Jogo

Neste dia estava programado para realizar a Hora do Jogo, mas, comecei

conversando sobre a escola e se estava gostando das aulas de computação e hip hop,

ele disse sem muito entusiasmo que estava gostando. Perguntei por que não veio na

segunda feira, “JF me respondeu que estava doente, porem não faltou ao futebol e nem

as aulas”.

Coloquei a caixa em cima da cadeira com outros materiais e propus para JF:

que hoje seria uma proposta diferente, “ele começou a rir e disse: vais querer perder de

novo no jogo”.

Disse-lhe que hoje trouxe algo diferente, e desafiei-o para que ele construísse

algo. Ele de pronto aceitou, olhou a caixa pegando-a. Primeiro a colocou em cima da

cadeira, depois a colocou no chão sentou-se ao lado, bem feliz, abriu-a, tirou algumas

coisas, pegou as folhas coloridas e perguntou - me para que servia, e eu respondi que ele

é que deveria saber.

Tirou algumas coisas e colocou no chão, pegou quatro bolas de isopor de

tamanhos diferentes, mas, baixinho falava que não ia conseguir fazer nada, mas,

continuava a construir. Pegou as bolas de isopor e o palito de churrasquinho depositou-os

em um suporte de bolo, espetou palitos nas bolas da maior para a menor, colocou os

palitos no lugar das pernas, como quebrou alguns palitos, parava me olhava para ver se

eu dizia algo, eu estava de cabeça baixa escrevendo. Depois de perceber que eu não o

29 recriminava ele continuou a construção e não ligou mais, a partir desse momento, se

quebrava os palitos ou não.

Perguntou-me se tinha tesoura, eu disse que o tinha e estava dentro da caixa.

Ele olhou e pegou dentro da caixa, pegou as quatro bolas de isopor e fez uma figura

feminina, colocou um espiral como cabelo, colou com fita adesiva. No fazer a figura

masculina precisou de uma bola de isopor, retirou uma bola de isopor da figura feminina

deixou-a com três, e colocou na figura masculina, dois palitos para as pernas e dois para

os braços. A figura masculina ele fez com canudo de papel toalha, fez os olhos o nariz e

boca, na figura feminina ele não fez os olhos, nem boca e não fez o nariz.

Pegou um canudo de papel toalha e fez um binóculo, logo em seguida deixou-o

de lado e continuou o trabalho de construção de uma casa completa.

O casal na sala vendo televisão, construídas com dois tocos de madeira. A

cortina feita com barbante preso com adesivo fazendo de conta que era uma cortina. O

sofá feito com canudo de papel higiênico e papel toalha, a mesa com bandeja de isopor e

uma toalha de folha A4. O prato tampa de garrafa peti, o vaso sanitário com um de

copinho plástico de cafezinho a descarga feita com um pedaço de barbante pendurado e

preso com adesivo na parede. A cama fez com dois pratos de isopor cortados às beiradas

para que pudesse juntá-los.

Ele de repente me perguntou: “sabes o que estou fazendo?” Eu respondi que

não, mas depois ele me contaria. Ele colocou tudo nos mínimos detalhes, arrumava como

se fosse acostumado a fazer aquele serviço, e demonstrou estar muito feliz arrumando a

casa, quando terminou sentou-se na cadeira, e disse terminei. Então eu disse: “agora me

conta o que tu fizestes”.

Ele me contou a história de uma família vendo televisão, os filhos não foram

reproduzidos, mas, tinham nome: o pai, seu nome era Maicon e um dos filhos também

tinha o nome de Maicon, a mãe se chamava Cíntia e uma das filhas também tinha o nome

de Cíntia à outra o nome de Julia e terceira menina tinha o nome de Isabel e o filho mais

novo Junior. A família estava feliz, tinha um prato em cima da mesa sujo, segundo ele os

outros estão na pia. Perguntei a ele porque a cama era tão grande, ele disse que o Junior

é pequeno igual a ele (11 anos) ou talvez um pouco menor e dormia com o casal.

Perguntei se achava certo continuar a dormir com o casal, se era grande. Ele riu e disse

que era certo, pois, era criança e não era muito grande e que só iria sair quando

arrumasse uma namorada para casar.

Deu para perceber que ele ficou muito feliz com o resultado de uma construção

30 de um lar. Essa atividade demorou 45 min.

2.3.3 Análise Diagnóstica: modalidade de aprenizage m

JF mostrou-se interessado pela caixa, primeiro procurando um lugar onde ele

pudesse sentar-se e ficar a vontade. Colocou a caixa no chão e sentou-se ao lado

abrindo-a e verificando o conteúdo da caixa. Retirou algumas coisas da caixa e começou

a construir, percebi que ele é cauteloso, pois, só pegava o era necessário para seu

projeto de construção. JF quando terminou sua construção, senti-se realizado, contou

como era o funcionamento de uma casa nos mínimos detalhes, estava feliz por ter

concluído seu projeto. JF deu a impressão de que desde o começo sabia o que iria

construir, efetuou a construção e falou sobre o que fez. Demonstrando assim a

modalidade de aprendizagem assimilativa x acomodativa.

Para Paín (2007), Assimilação é o processo de adquirir novos conhecimentos,

ampliando ou modificando esses conhecimentos, construindo novos esquemas de ação

ou conhecimentos.

Acomodação é o processo de assimilar novas estruturas, dando a elas

significação para compreendê-las ou não, no caso de compreendê-las, houve um

equilíbrio.

2.4 Técnicas Projetivas

2.4.1 Fundamentação Teórica

As provas projetivas são recursos para se investigar a aprendizagem e a

dimensão dessa trajetória numa possibilidade positiva ou negativa.

31

Com as provas projetivas é possível também investigar os vínculos que o

sujeito estabelece com a aprendizagem, bem como com o contexto em que essa se

constrói. Os vínculos de aprendizagem e as circunstancias em que acontecem podem ser

desconhecidos por quem sofre. É importante considerar que o processo de aprendizagem

consiste na produção e estabilização de condutas que ocorrem tanto dentro como fora do

contexto escolar. São vínculos que se estabelecem na família, na escola, e consigo

mesmo.

Para Visca, as técnicas projetivas nos dão uma pista de como está à

aprendizagem,

As técnicas projetivas psicopedagógicas têm como objetivo geral investigar a rede de vínculos que um sujeito pode estabelecer em três grandes domínios: escolar, o familiar e consigo mesmo. – Em cada um desses domínios - com diferenças individuais – é possível reconhecer três grandes níveis, em relação ao grau de consciência, dos distintos aspectos que constituem um vinculo: neste caso, o vinculo de aprendizagem (2008, p. 21).

Segundo Sara Paín, as provas projetivas permitem uma avaliação mais

completa no campo emocional, organizacional, e na aprendizagem.

O exame das provas projetivas permitira, em geral, avaliar a capacidade do pensamento para construir, no relato ou no desenho, uma organização suficientemente coerente e harmoniosa como para veicular e elaborar a emoção; também permitirá avaliar a deteorização que se produz no próprio pensamento, quando o quantum emotivo resulta excessivo. O pensamento incoerente não é negação do pensamento, ele fala ali mesmo onde não se diz nada e isto oferece a oportunidade de determinar a norma no incongruente e saber como o sujeito ignora (2007, p.62).

As provas projetivas são recursos, que nos permitem investigar os vínculos que

o sujeito estabelece com a aprendizagem e de que maneira são construídos. Os

vínculos de aprendizagem são construídos com a família, na comunidade, na escola, com

os amigos, ou seja, em várias circunstâncias da vida.

Objetivando maiores informações com o vínculo de aprendizagem, algumas

provas projetiva poderão ser aplicada, Visca (2008):

• Par educativo;

• O plano da sala de aula;

• A família educativa;

32

• Fazendo o que gosta;

• Os quatro momentos do dia;

• O desenho em episódio - As minhas férias, o dia do meu aniversário;

• Eu com os meus colegas;

• A planta da minha casa.

As provas projetivas, como seu nome indica, tratam de desvendar quais são as

partes do sujeito depositadas nos objetos que aparecem como suportes da identificação e

que mecanismos atuam diante de uma instrução que obriga o sujeito a representar-se

situações estereotipadas e carregadas emotivamente (2007, p.61).

As técnicas utilizadas foram:

• Par educativo

• O dia do meu aniversário

• A família

• Os quatro momentos do dia

• O plano da sala de aula

As técnicas projetivas psicopedagógicas servem para a construção de um

diagnóstico clínico, colocando o sujeito a descoberto com o vínculo de aprendizagem.

2.4.2 Relato

Conversamos sobre suas férias, falou pouco dizendo que não aconteceu nada

de mais, pois, não saiu de casa, só brincou com os amigos andou de bicicleta e só.

Neste momento entreguei uma folha A4 e pedi para que ele desenhasse algo

de suas férias, ele se negou. Disse que não iria desenhar, pois, não gosta de desenhar.

Então pedi que desenhasse sua família, a principio negou-se a desenhar a

família, dizendo que não sabia desenhar. Expliquei que não valia nota e ninguém iria olhar

só eu teria acesso. Com pouca vontade disse que só desenharia ele e a mãe, fez o

desenho palito, uma bola para a cabeça e cinco linhas para o corpo, o desenho não tinha

33 sobrancelhas, cílios e cabelos, mas, as mãos estavam bem desenhadas, colocou a mãe

maior que ele as mãos na mesma direção quase se tocando. Desenhou em perspectiva

ele com relação à mãe, falou das irmãs que não gosta delas e não mencionou o pai

nenhuma vez.

O adolescente se nega a conversar, para qualquer pergunta a resposta é não

quero falar, não encara as pessoas a partir do momento que sabe quem são essas

pessoas e o que elas fazem (psicóloga psicopedagoga). Segundo ele querem saber

demais da vida dos outros.

Relatou-me alguns dados no momento das provas projetivas, pedi que

realizasse o par educativo, a reação foi imediata, odeio a professora porque ela está de

marcação comigo, não gosto das minhas irmãs, porque não me deixam brincar a hora que

eu quero , durmo com minha mãe!

Neste momento ele ficou com imensa vergonha, abaixou a cabeça, virou-se

para trás, justificou-se dizendo que a casa só tem dois quartos, pediu-me que não fizesse

mais perguntas, perguntei se ele gostava de dormir com a mãe, ele mudou de assunto.

JF já me olhava pouco, passou a não me olhar mais e tive que encerrar a sessão, mas

prometeu-me ensinar xadrez.

Para a prova dos quatro momentos do dia coloquei um maço de papel A4 em

cima da mesa, um lápis e uma lapiseira, peguei uma folha e dobrei em quatro partes,

depois olhei para JF, e pedi que ele dobrasse uma folha igual a minha, ele dobrou com

muito capricho. Fiquei conversando o que ele gostaria de fazer ou aprender a fazer no

CRÀS, ele nesse dia disse que, não estava a fim de conversar.

Então pedi que ele desenhasse os quatro momentos do dia. Os quatros

momentos do dia JF negou-se a desenhar, depois pensou e foi desenhando ele no jogo

de futebol, desta vez um desenho mais estruturado, está sempre resmungando “não

quero fazer”, não gosto de desenhar, não sei fazer, vou desenhar só isso, falando que o

resto do dia para ele não tem validade.

Em uma conversa sobre a escola, quem são os amigos que ele tem mais

afinidade, onde moram, quem são seus professores, qual é a disciplina que ele mais

gosta, algumas coisas ele me respondia outras ele fazia que não ouvia. Peguei uma folha

e entreguei segurando-a na ponta da folha, ele pegou da minha mão colocou-a em sua

frente endireitando-a, depois me perguntou para que a folha? Gostaria que você

desenhasse a tua sala de aula, sorriu e se negou veementemente, nem pensar escola!

Não quero aquela escola nem aquela professora.

34

JF estava com lápis brincando, coloquei algumas folhas de propósito para ver o

que ele faria, ele riscava, mas, não fazia nada de concreto. Então pedi que fizesse um

desenho livre, fez uma flor em um vaso com detalhes, apagou a primeira e fez à segunda,

neste dia disse que enquanto estava desenhando não queria falar, portanto não respondia

as perguntas, só resmunga um canto. Quando pedi para por o seu nome e a data de

nascimento ele tentou por quatro vezes por a data de nascimento e errou, só depois

conseguiu acertar.

2.4.3 Análise Diagnóstica

Segundo Visca (2008), a família educativa nos remete ao vínculo de

aprendizagem com o grupo familiar e a cada um dos integrantes do mesmo.

Considerando a posição do desenho de JF, e segundo Visca conforme o

desenho “Da família educativa” pode-se dizer que no momento JF é impulsivo (desenho

inferior, embaixo da folha). No desenho percebe-se que no momento há um vinculo só e

com mãe. O vinculo de aprendizagem não é demasiado negativo, nem positivo. O grupo

familiar não significa uma referencia muito adequada.

Na prova projetiva dos quatro momentos do dia, investiga os vínculos ao longo

do dia. Neste desenho houve uma mudança de seqüência temporal, indicando

impulsividade, um uso desordenado do tempo e geralmente baixa tolerância à frustração:

Aprendizagem inconstante.

2.5 Diagnóstico Operatório

2.5.1 Fundamentação Teórica

35

As provas operatórias são recursos indispensáveis em um diagnóstico

psicopedagógico. Elas provocam intensas e diversas reações em curto espaço de tempo.

Essas provas serão elencadas de acordo com o olhar psicopedagógico extraído das

sessões familiares e nas atividades lúdicas com o paciente. De acordo com Weiss (2007),

a provas operatórias são um auxilio, é fundamental a observação acurada, a escuta

durante o processo de execução e a leitura psicopedagógica possível de ser feita do

produto realizado. Pela idade de JF supõe-se que esteja no período das operações

formais.

(...) uma criança com as operações formais plenamente desenvolvidas pode lidar com todas as classes de problemas. Ela pode raciocinar de forma efetivo sobre o presente, passado e futuro, bem como sobre problemas hipotéticos e problemas proposicionais verbais. Durante este estágio, a criança torna-se capaz de introspecção e está apta a pensar sobre seus próprios pensamentos e sentimentos como se fossem objetos. Portanto, uma criança com as operações formais plenamente desenvolvidas é capaz de raciocinar de um modo que se caracteriza por ser praticamente mais independente das experiências atuais e do passado (Piaget 1992, p.108).

O raciocínio hipotético-dedutivo é o raciocínio que

implica deduzir conclusões de premissas que são hipóteses em vez de deduzir de fatos que o sujeito tenha realmente verificado” (Brainerd 1978, p. 205). Desta maneira, o possível (hipotético) torna-se a arena dentro da qual o raciocínio pode ser efetivamente empregado (Piaget, 1992 p.109).

O raciocínio hipotético

(...) ultrapassa os limites de a experiência cotidiana para lidar com objetos com os quais não temos experiência” (Brainerd 1978, p.205). é necessário que transcende a percepção e a memória e lida com objetos dos quais não temos conhecimentos diretos, ou seja, objetos hipotéticos. Os raciocínios indutivos ou cientifico formulam hipóteses, experimentam, controlam variáveis, registram efeitos e extraem conclusões sistemáticas dos resultados. Piaget referiu-se a isto de modo como um raciocínio combinatório. O raciocínio combinatório ou o raciocínio sobre certo número de variáveis ao mesmo tempo. O raciocínio dedutivo é o raciocínio que vai das premissas à conclusão ou do geral para o especifico. As inferências ou conclusões que tem por base o raciocínio dedutivo são necessariamente verdadeiras. O raciocínio pode ser aplicado a argumentos que tem premissas falsas, no entanto, conclusões lógicas podem ser delas derivadas (Piaget, 1992. p.109).

As noções operatórias segundo a Epistemologia Genética de Piaget são:

36

• Noção de objeto permanente

• Noção de espaço

• Seriação

• Classificação

• Correspondência termo a termo

• Noção de tempo

• Função simbólica

• Conservação

• Reversibilidade

• Noção de causalidade

2.5.2 Relato

Em agosto me programei para aplicar as provas operatórias, coloquei diversos

jogos em cima da mesa e convidei JF para conhecer e escolher um para jogar e ele

escolheu o dominó de associação. A principio ele ficou meio desconfiado, deixei-o que

manipulasse o jogo e de repente disse sorrindo “já entendi como é, sorriu e montou tudo

sozinho”.

Pedi para que ele virasse todas as peça e embaralhasse para que jogássemos.

Ele achou estranho, pois não entendia como jogar. Expliquei como nós iríamos jogar e ele

entendeu, tentou-me “roubar” no jogo de um jeito muito sutil. Eu chamei a sua atenção,

falei as regras pela segunda vez, ele sorriu e concordou. Quando terminou a jogo ele me

convidou para jogar mais uma vez. Percebi que ele libera a conversa quando joga e

aproveitei para fazer outras perguntas.

E assim jogamos dominó de associação e abstração, ele brincou sorrindo

sempre tentando ganhar de mim e ganhou. O dominó de associação e abstração trabalha:

correspondência termo a termo, conservação e reversibilidade, função simbólica, objeto,

espaço.

Em outro dia mostrei a torre de hanói, não se interressou muito e disse que não

37 entendia o jogo, e que aquilo não dá certo. Desafiei-o e comecei a jogar parei na metade

e desafiei-o outra vez e ele aceitou, tentou, tentou e disse que dali para frente não dava

mais, novamente eu continuei e de repente ele disse já sei e continuou. Falei: “quer

tentar de novo? Garanto que tu consegues fazer em pouco tempo e quando tu te

concentrares conseguirás fazer em 3 minutos”. Ele sorriu e disse é impossível, pensou e

disse “posso experimentar”. Marquei no relógio, ele ficou nervoso se perdeu, mas, levou 5

minutos, pediu para tentar novamente levou 4 minutos e sorriu satisfeito. Eu interrompi e

disse que outro dia nós continuaríamos. Ele me perguntou se eu sabia jogar xadrez,

porque ele sabia,

Então combinamos que ele me ensinaria, ele sorriu satisfeito, me perguntou as

horas, e se admirou que o tempo passou rápido, pensou, me olhou e disse “parece que

faz só uns 20 minutos” .

Coloquei a caixa com o jogo de xadrez em cima da mesa, JF desembrulhou

com cuidado, retirando cada peça com cuidado.

JF me ensinou algumas regras de xadrez, o nome de algumas peças, outras

ele havia esquecido o nome. Começamos a jogar, mas, quando eu perguntava algo

sobre o jogo ele se negava a responder, repetindo o que eu podia já te ensinei.

Compreendi que ele não queria perder, sempre perguntando se haveria outra jogada.

Disse que não, que por hoje seria só uma jogada, ele sempre sorrindo faceiro porque

estava ganhando. Quando terminamos a jogada, JF colocou tudo de volta na caixa com

cuidado e capricho e cada peça no seu devido lugar.

Cheguei bem cedo ao CRÀS para vê-lo na aula de computação. Seu

desempenho no computador é muito bom (JF não tem computador). Mexe no computador

com naturalidade, mas quando o professor pede algo que ele não gosta de fazer ou não

tem muita segurança de acertar, reclama. Num outro momento tive a oportunidade de vê-

lo jogar no computador, ele estava num jogo, onde um adolescente andava de bicicleta,

dava velocidade na bicicleta e subia num suporte alto e ao cair dava piruetas. JF apertava

as teclas do computador como se fosse quebrar o computador, para o desenho

obedecesse. Ele continuou no desenho animado por uns quinze minutos, sempre no

mesmo jogo. Esse é um jogo de exercício, pois, repetia sempre as mesmas cenas.

38 2.5.3 Análise Diagnóstica

JF consegue resolver problemas com facilidade, tem noção de tempo, de

objeto, espaço e causalidade. Fala o que faz na semana e em quais horários são

realizadas as tarefas do dia a dia. Na hora do jogo ele construiu uma casa completa

dando significação a todos os objetos, realizando uma representação mental e depois

física. JF demonstrou ter noção de espaço, é organizado, coloca os objetos nos lugares

em que pega, organiza tudo nas caixas com cuidado “se este objeto estava aqui tem que

entrar”. O dia que não está feliz não produz, quando não quer ou não gosta, logo fala: eu

não estou bem ou eu estou triste, e desta forma consegue fazer o quer. JF está no

estagio do desenvolvimento Operatório Formal.

O adolescente JF está com 11 anos, encontrando-se no estágio das

operações formais. Na adolescência o pensamento formal é marcado. Apresenta

estruturas cognitivas desenvolvidas, prontas para a resolução de problemas científicos, e

solução lógica, estruturas essas comparadas a de um adulto, tem uma oralidade com

qualidade de assunto, resolve assuntos hipotéticos - dedutivos, é idealista nos seus

sentimentos, é imediatista, ou seja, quer resolver tudo rápido.

A estrutura cognitiva do adolescente se diferencia do adulto pela quantidade de

conteúdo de esquemas que o adulto detém.

2.6 Análise da Lecto Escrita

2.6.1 Fundamentação Teórica

Para Emília Ferreiro (1982) a construção da linguagem escrita passa pelos

mesmos estágios de desenvolvimento, que a humanidade passou para chegar ao sistema

alfabético da escrita.

39

A história da escrita está ligada ao desenvolvimento do homem, desde os nós em cipós, à escrita pictórica, utilizando imagens visuais para transmitir pensamentos e conceitos, à escrita ideográfica ou hieroglífica que se utilizavam de símbolos que se que se distanciam dos objetos. Com a finalidade de informa o outro, exercendo assim uma função social. A escrita pictográfica: desenho do objeto (representa o objeto através do desenho). A escrita ideográfica: diferença do desenho e letra. A escrita logografica: a palavra é o desenho do som. A escrita silábica: o som pode corresponder ao sinal gráfico. A escrita alfabética: descobrindo as leis da combinação (FERREIRO, 1982, p.10).

O processo de desenvolvimento da Lecto Escrita segundo Ferreiro organiza-se:

• As escritas pré-silabícas que podem ser identificadas através de escritas

indiferenciadas ou escritas diferenciadas quanto, ao contrario da

anterior, a criança já responde a estímulos diferenciando a grafia através

de variação de repertório em quantidade ou posição.

• As escritas silábicas que já apresentam correspondência quantitativa

através da analise sonora da linguagem, correspondendo a cada silaba

uma grafia.

• As escritas alfabéticas onde já existe correspondência sonora do valor

fonético e com o valor sonoro convencional.

• As escritas ortográficas já respeitam a convenção social da escrita

(FERREIRO,1998, p,11).

Segundo Wygotsky e Luria,

Tudo o que a humanidade enculturada lembra e conhece hoje em dia, toda a sua experiência acumulada em livros, vestígios, monumentos e manuscritos, toda essa imensa expansão da memória humana – condição necessária para o desenvolvimento histórico e cultural do homem – deve-se à memória externa baseada em signos (WYGOSTSKY E LURIA, 1996, P.120).

Segundo Paín (1991), para aprender, necessitam de dois personagens

(ensinante e apendente) e um vínculo que se estabelece entre ambos.

Desde a gestação o ser humano inicia o seu processo de aprendizagem.

Quando nasce forma novos vínculos com a aprendizagem no meio familiar, pai, mãe,

filho, irmão, mais tarde incorpora outros indivíduos na aprendizagem como meio social

incluindo assim a escola.

40

Por volta dos seis anos começa a sua entrada para o mundo da escrita e leitura

formal. Sendo que a criança quando chega à escola traz na bagagem uma estória de vida

com uma escritura e leitura de mundo já construído ao longo dos seis anos de sua vida.

Assim como o desenvolvimento humano, no processo de leitura há 4 níveis de

elaboração de elaboração que tornam possíveis: um organismo, um corpo, a inteligência

e uma dimensão dramática.

As dificuldades da leitura serão sempre em função da capacidade global de

compreensão e não das dificuldades especificas do ato de ler.

O significado da leitura organiza-se em dois níveis:

1 - o significado do texto – a possibilidade do sujeito de lhe dar um significado,

2 - o significado para o sujeito, do próprio ato de ler.

2.6.2 Relato

JF chegou com uma bicicleta bonita e nova. Quando falei que a bicicleta era

nova, ele disse que a bicicleta já tinha uns três meses, então não era nova. Contou-me

que o serviço dele é lavar a louça, mas, faz resmungando. Ele levanta as 06h30min h,

toma café que a mãe deixa pronto no dia anterior, e vai para a escola, chega depois do

meio dia e lava a louça, resmungando segundo ele, pois, têm duas preguiçosas dentro de

casa, elas é que deveriam fazer.

JF acha importante estudar, mas se nega escrever, diz que não gosta de

escrever. Perguntei o que ele seria quando crescesse, respondeu que queria ser jogador

de futebol ou caminhoneiro, pois já dirige o caminhão do tio, mas, jogador de futebol

ganha mais dinheiro, então, caminhoneiro só se não conseguir ser jogador de futebol.

Quando perguntei se ele lembrava de alguma festa de aniversário, ele disse que quando

era muito pequeno ele ganhou um bolo com a decoração do saci.

Pedi que ele escrevesse sobre o aniversário, a principio disse que não

escreveria nada, levantou-se da cadeira e ficou agachado com a cabeça quase embaixo

da cadeira. Perguntou-me o que aconteceria se ele não quisesse mais vir nas sessões,

pois ele não estava gostando, pois, não gosta de escrever, de falar e nem de desenhar, e

principalmente hoje que ele estava triste porque tinha acontecido algo muito ruim. Por

41 mais que insistisse não disse o que era.

Ele só escreveu quando eu disse que ele tinha uma festa para lembrar e eu

nunca tinha tido uma, saiu de trás da cadeira e escreveu uma frase a respeito do

aniversário, entregou-me e disse chega. Insisti para que brincasse de completar frase,

que seria muito legal. Eu mostrava uma gravura e começava a história com uma frase e

ele completaria a frase escrevendo-a; só assim consegui que ele escrevesse um pouco

mais, e deu certo.

Com relação à leitura coloquei um livro com o titulo “O Bichinho da Maçã”,

quando vi que se interessou pedi que lesse algo mesmo contra gosto ele leu, fazendo

correção quando a leitura estava errada.

Quando não quer fazer algo ele costuma se esconder atrás de alguma coisa,

não olha mais nos olhos, emburra, e faz chantagem, voltando ao normal se lhe é

oferecido algo em troca que ele quer ou deseja. Mais de uma vez deu para perceber que

JF não consegue lidar com as frustrações.

2.6.3 Análise Diagnóstica

JF sabe escrever, ler e interpretar textos, ou seja, está alfabetizado. Realizou

leituras com certa facilidade, regulamentos de jogos, fazendo as pontuações correções

das palavras quando lidas incorretas. JF está na sexta série e comete “erros” normais

para a série que se encontra no momento. Tem domínio visual, perceptivo motor,

organização de espaço, integração de linguagem falada, competência semiológica e

avaliação consciente e inconsciente que o sujeito faz da leitura. Seguindo as orientações

da Lecto Escrita de Emilia Ferreiro, JF encontra no nível alfabético: que constitui o final

desta evolução. A partir desse momento a criança se defrontará com as dificuldades

próprias da ortografia, mas, não terá problemas de escrita. Faz-se esta distinção, pois se

confundem as dificuldades ortográficas com as dificuldades de compreensão do sistema

de escrita.

42 2.7 Avaliação do Pensamento Lógico-Matemático

2.7.1 Fundamentação Teórica

Para Rangel, a matemática deve priorizar a construção dos conceitos

matemáticos, deve ser construído através da experiência, por meio da ação,

concretizando assim o conceito da matemática.

Parece excluído, em primeiro lugar, interpretar as estruturas lógicas como formas a priori, pois a aprendizagem e a experiência são necessárias a sua elaboração. Trata-se, é verdade, de um tipo especial, que não comporta como experiência física, uma abstração a partir das ações se exercendo sobre esses objetos e sim de coordenações que ligam essas ações (experiência lógico matemática). A aprendizagem das estruturas lógicas é, pois, ela mesma, um tipo especial, pois consiste simplesmente em exercer ou diferenciar estruturas lógicas ou pré-lógicas anteriormente adquiridas (Piaget, 1973, p. 99).

Para Rangel,

“a experiência física corresponde à concepção clássica do que seja experiência; consiste em agir sobre os objetos propriamente ditos. Nela, o sujeito age sobre o objeto e, pela abstração das suas ações se exercendo sobre os objetos, descobre as propriedades físicas deste objeto, bem como propriedades observáveis das realizadas materialmente”.

A experiência lógico-matemática refere-se não somente às abstrações das ações exercidas sobre os objetos, mas às abstrações das coordenadas que ligam essas ações; ela se relaciona com as propriedades das ações e não apenas dos objetos (Rangel, 1992, p.23).

Segundo Claudia Glavan Duarte, Os tipos de conhecimento: lógico-

Matemático, físico e social são:

Lógico Matemático

• Conhecimento abstrato

• Construído a partir das relações que se estabelecem sobre as ações

43

efetuadas sobre o objeto

• Interno. Relações que não existe na realidade externa, está na mente do

SUJEITO.

Físico

• Conhecimento a respeito das propriedades do objeto

• Descoberto através das ações sobre os objetos

• Implica o processo de descoberta

• A fonte são os objetos – Externos

• Não é arbitrário – é caracterizado pela regularidade da reação do objeto

Conhecimento Social

• O Conhecimento obtido através da interação entre as pessoas.

• Implica a transmissão – alguém deve me falar sobre o objeto a conhecer

– Externa (fonte-cultura).

• É arbitrário, proveniente do consenso social, externo ao sujeito.

Segundo Vygotsky, quando a criança se torna capaz de usar os sistemas de

símbolos para registrar eventos, lembrar e pensar sobre eles, inicia-se um novo processo

de desenvolvimento, que ele considerava essencialmente humano e social (Vygotsky,

1978).

2.7.2 Relato

Na avaliação do pensamento lógico matemático, trabalhei o jogo de dominó, e

JF fez os cálculos mentalmente, mesmo porque ele se negava a escrever, segundo ele o

seu dia a dia já é bastante conturbado, ajudando a mãe a fazer as contas da casa, o

pagamento de contas, às cobranças e freqüentando o banco para realizar outros

44 pagamentos.

Segundo JF ele é muito bom em matemática. No jogo da torre de Hanói,

demonstrou que conhece as horas, minutos e segundos com bastante tranqüilidade, pois,

desafiava a si mesmo a construir sempre a torre de Hanói em menos minutos. Quando

pedi para ele resolver um problema que continha multiplicação e divisão juntos ele se

negou a resolver, mas, leu o problema que sabia resolver, falou que tinha duas contas,

mas, não resolveu.

2.7.3 Análise Diagnóstica

Para JF, estudar faz parte de uma realidade de necessidade para se ter um

bom futuro, no jogo de xadrez fez varias antecipações de jogada, no jogo de dominó

realizou a soma dos pontos mentalmente. JF demonstrou ter conhecimento lógico

matemático, físico e social. Todo esse conhecimento se dá pela experiência de vida que

ele tem.

45 3 AVALIAÇÃO PSICOMOTORA

3.1 Fundamentação Teórica

O ser humano é formado pela inteligência, pela afetividade e pela motricidade.

Seu desenvolvimento sofre influências mutuas entre aspectos – cognitivo emocional e

corporal, sendo que quando um desses três aspectos estiver comprometido refletira nos

demais.

De acordo com Escott, o corpo mostra o seu desenvolvimento, ou seja, uma

história de vida, construída na família, no social ou imposta.

É através do corpo que a criança se comunica, de forma não verbal, seu modo de ser, sua unidade existencial, sua totalidade enquanto ser-no-mundo. Essa comunicação vivida ao nível do corpo, que se inicia nos primórdios de vida através dos primeiros contatos da criança com o outro e com o mundo que a rodeia, denomina-se dialogo corporal (Ajuriaguerra, J. 1972). (Gomes, in Oliveira, 1994, p.127).

Impossível desvinculá-la do contexto onde se desenvolve nem dissociá-la da

problemática emocional existente e ou decorrente. É nessa dialética de interferência e

reforços mútuos que o sintoma psicomotor se instala, traduzindo “sempre uma

perturbação de conjunto única, particular a cada criança, naquele dado momento”

(BURCHER, H. 1973) (GOMES, In Oliveira, 1994, p 126).

Alguns fatores que interferem no desenvolvimento corporal são:

• O ritmo de desenvolvimento varia de sujeito para sujeito, porém o

aparecimento de sinais internos que governa a maioria dos padrões de

crescimento segue a mesma seqüência;

• O desenvolvimento físico é a parte visível do desenvolvimento motor;

• Impossível separar a gênese da motricidade da maturação nervosa;

• Em continuação à atividade fetal, o desenvolvimento motor da criança,

acompanha duas tendências básicas da organização motora: da cabeça

46

para a parte inferior do corpo –cefálio caudal – e do tronco para as

extremidades – próximo distral;

• A criança deve ter disponibilidade de agir num meio ambiente material e

relacionais favoráveis – desenvolvimento infantil e organização egóica;

• Doença prolongada e aspectos inadequados de nutrição –

impossibilidade da ação corporal – interferem negativamente no

desenvolvimento e crescimento infantil.

3.2 Relato

A análise psicomotora foi realizada a partir da:

• História vital;

• Construção da Família Educativa;

• Suas realizações práxicas;

• O tônus muscular que desenvolveu;

• Provas Projetivas

3.3 Análise Diagnóstica

Conforme o relato da mãe o desenvolvimento de JF foi normal, sendo que, o

maior problema foi à fala que só desenvolveu depois dos quatro anos, quando passou a

freqüentar a creche. JF é um garoto miúdo para sua idade, anda como adulto e se

comporta como tal, senta-se na mesa para lanchar como um adulto, e na hora das provas

projetiva comportava-se como uma criança, se escondendo atrás da cadeira, escondia a

cabeça entre os braços e não olhava nos olhos.

Na construção da Família educativa fez com pobreza de detalhes (bonecos

47 palitos, ele e a mãe). Mas logo construiu outra figura de si mesmo com uma riqueza de

detalhes. Durante os atendimentos ele entrava, deixava a cabeça abaixada, não olhando

nos olhos, ombros caídos como se estivessem pesados demais.

48 4 HIPÓTESE DIAGNÓSTICA

O diagnóstico psicopedagógico é um instrumento que investiga os elementos

que se interpõem no processo de aprendizagem do sujeito. Pois, pensar no sujeito

aprendente, é pensar que este sujeito encontra-se num espaço temporal, existencial,

orgânico e emocional. Espaço esse que tem como problematização a família, a escola, o

meio social e econômico, que muitas vezes são deturpados com meias verdades, mas

que de alguma forma são organizados de forma que chegam a interferir nas estruturas

cognitivas. Nesse processo de compreensão e contextualização da realidade se faz

necessário uma recondução para sua realidade.

A hipótese diagnóstica sobre JF é que no momento não distingue seu papel na

família. Lugar esse de filho, irmão e aluno que no momento está meio conturbado. E isto

acontece porque JF tem ocupado espaço que tem lhe dado ônus de homem da casa, de

tomar decisão para fazer o que quer e quando quer e ao mesmo tempo é super protegido.

A situação mudou devido à mudança da rotina familiar, as irmãs retornando para casa,

doentes necessitando da ajuda da mãe, agora ele não é mais único dentro de casa, e não

sabendo lidar com a frustração, torna-se agressivo.

No momento JF apresenta fraturas com relação ao pai, e as irmãs e sua avó, a

modalidade de aprendizagem é assimilativa e acomodativa, demonstrou ser uma criança

instável ao mesmo tempo, nas provas operatórias constatou-se que esta no estágio

formal, com relação à lecto escrita está no nível ortográfico.

Neste momento o não aprender está relacionado com o sintoma na família,

ligado ao contrato de sobrevivência, tem um grande vinculo com a mãe.

É possível considerar que as dificuldades apresentadas por JF decorrem de

algumas carências afetivas apresentadas pela falta do pai, a mãe apresenta uma relação

simbiótica com o filho, por superprotegê-lo; com o pai tem uma relação distante, já que

mora em outro estado.

Toda vez que JF é contrariado, se revolta tornando assim difícil sua atuação na

escola e a convivência com os familiares.

A mãe de JF tem um histórico de depressão de muitos anos, e sempre se

apoia em JF para o trabalho, tratando-o como adulto e ele se espelha na mãe, agindo

como um adulto.

49

A mãe por sua vez coloca toda a culpa no próprio JF e em seu pai.

50 5 PLANO DE INTERVENÇÃO

A psicopedagogia clínica utiliza-se de autores como Sara Paín, Jorge Visca e

Maria Lucia Weiss, entre outros, como forma de orientar os procedimentos do diagnóstico

psicopedagógico. De acordo com esses autores, no diagnóstico psicopedagógico, o

primeiro contato da família com o psicopedagogo representa o pedido de ajuda, não só

para o sujeito que não aprende, mas traz implicitamente a necessidade de ajuda para o

grupo familiar como também para a instituição escolar aonde o sintoma da não-

aprendizagem vem-se manifestando (Clarice Monteiro Escott, 2001, p.217).

É importante dialogar com JF sobre a vida e suas dificuldades, pois tem

demonstrado que é um adolescente bastante vivido para sua idade, consegue da mãe

tudo que quer com algumas chantagens emocionais.

Desde a chegada dos novos membros da família a situação mudou, e ele tem

que pensar nas outras pessoas que vivem na mesma casa, JF não está conseguindo lidar

com a frustração de ter que dividir tudo o que conseguiu, devido à situação anterior onde

ele era o homem da casa e lhe era dado poderes de adulto, hoje a situação mudou, e no

momento JF não está conseguindo lidar com essa nova realidade. Sendo assim JF

necessita da ajuda para nesse momento compreender a dinâmica de uma família.

A mãe mostra um comportamento também não adequado neste momento, é

necessário que a mesma tenha uma conversa com JF, e o trate como um filho, colocando

no lugar de filho com responsabilidade de filho condizente com a idade.

A mesma necessita da ajuda de um psicólogo para rever sua posição de mãe,

para assim deixar o filho crescer, começando por fazê-lo mudar de cama, ou seja, não

dormir mais com ela, livrá-lo de compromissos e assuntos que por idade não está

conseguindo dar conta devendo tomar a atitude de falar claro sobre o pai e dar

oportunidade do mesmo de conversar com os filhos.

Na escola é necessário compreender a hierarquia aluno, professor, que todos

merecem respeito..

JF vive uma situação de adulto, sendo necessário deixá-lo aprender a ser

criança, sendo assim, o convívio com pessoas de sua idade neste momento seria ideal.

O casal mesmo separado deverá ter um dialogo franco, falando para os filhos

os porquês da separação e a doença do pai.

51

Deverá partir de a mãe enfrentar a situação que está vivendo olhando seus

filhos mas deixando-os. JF necessita aprender a enfrentar as situações da sua realidade

social, econômica e familiar, pois, é vivendo as contrariedades que aprenderemos a lidar

com as frustrações.

52 6 JUSTIFICATIVA

Sentindo necessidade de ajuda para solucionar um problema que foi e está

sendo construído ao longo de vários anos a responsável (mãe) por JF, foi procurar ajuda.

A ajuda seria para a reorganização dos lugares de cada um como: ser filho, irmão, aluno

e neto e outros valores morais e éticos. Algumas vezes devido às necessidades passadas

pela família, acaba atingindo seus filhos, sem que seus pais saibam ou compreendam o

porquê de seus filhos adoecerem, e desencadeando uma dificuldade de aprendizagem,

que nesse caso o sintoma está na família através de um contrato de sobrevivência.

Muitas vezes para o restante da família estar equilibrada alguém do grupo precisa

evidenciar o problema, para que os outros membros da família possam se sentir

confortáveis. Neste caso a mãe deve ser tratada com uma psicóloga, seguindo de uma

terapia familiar.

Segundo GARCIA,(1998) – a dificuldade de aprendizagem está inserida em

todo e qualquer lugar onde o sujeito sinta-se incapaz de agir para o seu bem e do outro,

ou seja um ser autônomo.

JF necessita de uma intervenção psicopedagógica devido a apresentar uma

dificuldade de aprendizagem sintoma.

53 7 OBJETIVO GERAL

Durante o processo de investigação nesse caso, percebeu-se que será

necessário rever os lugares ocupados pelos membros da família ressignificando-os como:

ser filho, irmão, neto, e aluno.

Para entender esse fracasso faz-se necessário entender a dinâmica familiar,

realizando uma aproximação da historia do sujeito e como ele opera a função do aprender

e como aprender, sendo necessário a aproximação do grupo familiar para despatologizar

o sujeito aprendente.

Neste momento o sintoma está na família, com o contrato de sobrevivência,

mãe e filho, sendo necessário o corte ser feito por um terceiro, podendo ser dentro do

grupo familiar ou fora do mesmo.

54 8 OBJETIVO ESPECÍFICO

- Levar a família compreender o quanto se faz necessário dialogar, usando da

sinceridade para se obter um bom entendimento.

- Aproximar o sujeito a escola e a família, colaborando assim para uma maior

compreensão e desenvolvimento como aluno.

- Tentar modificar as manifestações dos conflitos no âmbito escolar e familiar.

- Assessorar o aluno a escola e a família, para uma maior compreensão no

desenvolvimento para a vida.

- Provocar mudanças positivas no meio escolar e no âmbito familiar,

colaborando com a formação e um desenvolvimento saudável.

- Operar jogos de acordo com sua idade e maturidade (provas operatórias).

- Criar desenhos ou instalações, colocando-se como um personagem

autônomo de uma criação. (Provas projetivas).

- Mostrar-se na lecto escrita, sem cobrar-se ou sentir-se incapaz ou inferior

com relação ao não aprender, compreendendo, assim, que o processo de aprendizagem

é para a vida toda.

- Ressignificar o lugar de cada um na família.

55 9 DINÂMICA OPERACIONAL

Buscando atingir os objetivos acima descritos algumas atividades serão

elencadas:

- Buscando uma dinâmica para aproximar os membros familiares: A teia da

vida.

- Atividades que promovam a representação simbólica, fantoches: jogos de

ação, instalação.

- Jogos de regras: Cara a Cara, Banco Imobiliário, Dominó,...

- Atividades com leitura e escrita: Poesia, Leitura de Imagem,...

- Diálogo com a Família.

- Diálogo com a Escola.

56 10 AVALIAÇÃO DO PLANO

O plano será avaliado constantemente, sujeito as novas hipóteses diagnósticas

e dinâmica operacional, com isso sujeito as novas intervenções.

57 11 DEVOLUÇÃO (PARA PACIENTE, PAIS, FAMÍLIA, ESCOLA)

Nos jogos que foram realizados percebeu-se que JF não tem dificuldade com

relação a espaço, reversibilidade, conservação, antecipação de pensamento, objeto,

saindo-se assim muito bem em todos os jogos, inclusive na torre de Hanói que para ele foi

um desafio.

Na lecto-escrita JF se recusava a realizar a qualquer solicitação, então para

realizar a leitura utilizei um livro com pouca coisa escrita, mas, como uma estória

interessante, “O bichinho da maçã”, onde pedi ele fazer a interpretação, ele interpretou

com muita segurança, realizou a pontuação e correção das palavras lidas erradas ou

confusas, fez a leitura dos regulamentos dos jogos e interpretou-os, mesmo eu

distorcendo as interpretações foi firme e às vezes usando de ironia para mostrar que

sabia o que estava falando.

Na escrita utilizei um recurso novo, uma brincadeira onde cada figura ele

deveria escrever uma frase que desse significado a figura ou ao desenho, foi onde

consegui apurar que os erros que tem na escrita são normais para idade e série. Percebi

que JF tem muita resistência para admitir erros e superar as frustrações.

E como a rotina da casa esta atrelada a aprendizagem de JF, e ele sente-se

incapaz de enfrentar novas situações, porque aprender significa enfrentar o novo, e suas

dificuldades se dão quando o novo aparece. Não podendo contar com a ajuda de outros

para poder resolver estas dificuldades, promovendo assim o aparecimento de condutas

defensivas levando-o a fugir, negar, projetar, temer, despistando, assim, situações de

aprendizagem.

JF é menino muito sensível, quando vê sua mãe sofrer ou passar privações ele

sofre junto. E no momento JF não tem estruturas para saber lidar com estas frustrações.

Já que sua dificuldade de aprendizagem se dá quando os problemas estão relacionados

com as dificuldades ou mudanças na família.

JF esta na idade correspondente com o ano escolar, portanto, suas ditas

dificuldades de aprendizagem não estão na escola, sendo necessário um novo olhar no

processo familiar. Começando pela a aceitação da estrutura familiar que tem, e

ressignificar sua posição dentro da família.

A mãe é uma mulher que procura dar conta no momento dos três filhos

58 sozinha, não tendo a ajuda de nenhum companheiro. Trata os filhos bem, fazendo

freqüentar as aulas, e procura ajuda sempre que precisa, mas, costuma não dar

continuidade.

Ao conversar com a mãe explicar como é o desenvolvimento de um

adolescente, falar sobre a importância de saber colocar seu filho no lugar de filho e irmão,

com direitos e deveres e fazer circular mais a conversa familiar. Colocar que as situações

vividas pela família de discussões, desavenças, gera em JF um sintoma de não

aprendizagem e revolta.

A mãe de JF há muitos anos sofre com depressão, sendo que a mesma está

controlada com os medicamentos, e com isso JF sofre as conseqüências, pois, não pode

ver a mãe sofre. Algumas vezes a mãe trata JF como o homem da casa, outras trata

como a um bebe, não conseguindo no momento cortar o vínculo simbiotico.

A escola será informada dos procedimentos e será acompanhada sempre que

solicitar. Na devolução para a família ninguém compareceu, o paciente JF desistiu de

participar das sessões antes de saber o diagnóstico. JF continua a freqüentar o CRÀS e a

meu pedido a psicóloga vai conversar com JF e fazer todas a colocações desse relatório,

inclusive o de ser acompanhado por uma psicopedagoga para superar esse não saber.

59 12 EVOLUÇÃO DO CASO

Na primeira conversa com JF combinamos que quando ele não quisesse mais

participar das sessões ele estaria livre desse compromisso.

Quando tive a primeira conversa com JF, ele estava irritado, não olhava

diretamente para as pessoas, a não ser para a mãe, que no primeiro momento o tratou

como um bebê.

A mãe de JF veio à procura de ajuda porque ele estava com dificuldade na

escola, irresponsável, brigando na escola e em casa, não estava obedecendo-a, a

convivência com as irmãs estava insuportável, ou seja, agredindo-se fisicamente.

Desde que começou o atendimento clínico as brigas haviam cessado, segundo

JF já não brigavam mais. As notas na escola melhoraram. Nos últimos encontros JF tem

se queixado da avó, mas ele admitiu que o que a avó falava era com razão, pois

admitindo assim que de certa forma a avó estava certa.

Um outro fato esta acontecendo, o roubo em casa e na casa da avó, que o

mesmo admitiu que era verdade, mas que para a mãe ele diz que não, aproveitando-se,

segundo a mãe, de sua doença.

A mãe deverá ser atendida por uma psicóloga, dando continuidade do caso.

60 13 PROGNÓSTICO

Este trabalho foi muito compensador tanto para o psicopedagogo, como para o

paciente, acredito, pois a cada sessão é um novo desafio. As intervenções feitas surtiram

efeitos, olhando pelo viés da reação do paciente. Sabe-se que as mudanças demoram a

ocorrer pelo grupo e estes podem rejeitá-las, ou demorar um pouco mais para enfrentar

novas situações. As primeiras reações foram favoráveis. E acreditando na

Psicopedagogia e na sua filosofia, de que ela é uma constante procura, e não um dar

respostas prontas, fazendo o sujeito ser escritor de sua estória, acredito que a família irá

procurar ajuda para resolver essas dificuldades.

O paciente não foi liberado, mas o atendimento foi encerrado, pois, tanto a

família como o paciente não conseguiram dar continuidade, pois ainda não conseguem

suportar trabalhar estas questões.

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