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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS – DPPE
ANÁLISE DAS RAZÕES PARA A INDISCIPLINA NO ÂMBITO ESCOLAR
AUTORA: CECÍLIA VIEIRA RIBEIRO SALVADOR
ORIENTADOR: Dr. RICHARD GONÇALVES ANDRÉ
2012
RESUMO
O objetivo da presente pesquisa foi diagnosticar e compreender as causas da
indisciplina escolar em sala de aula, tendo como amostra alunos de Ensino
Fundamental das sétimas e oitavas séries do Colégio Estadual Dr. Ivan Ferreira do
Amaral e Silva Filho, situado na cidade de Nossa Senhora das Graças (PR). Foram
realizadas entrevistas abertas (THOMPSON, 1992) com alguns alunos,
fundamentadas em questionários com perguntas direcionadas, de forma a
compreender a indisciplina na visão dos alunos. Após analisadas e interpretadas as
entrevistas, constatamos que alguns alunos não têm nenhuma perspectiva de vida,
não aceitam as normas escolares, sentem-se desmotivados, sem estímulos e
limites. Estão sempre em conflito em relação aos professores e à equipe
pedagógica. Num segundo momento, levantadas as possíveis razões para o
problema, iniciou-se a intervenção pedagógica, buscando possíveis formas de
trabalhar, de modo prático, em sala de aula com a questão, aprimorando alternativas
novas e diversificadas de trabalho. Foi realizado um trabalho de intervenção
pedagógica com o intuito de colaborar para minimizar a indisciplina. Foram
trabalhadas diversas metodologias e recursos, entre elas: filmes, reportagens,
palestras, vídeos e conteúdos de livros e revistas. Os questionamentos abrangeram
os alunos mencionados, profissionais da educação e a família, buscando meios para
que houvesse a interação entre eles, com atividades que contribuíssem para
identificar determinados problemas indisciplinares que afetassem o processo de
ensino e aprendizagem dos educandos. Como resultados, espera-se que os alunos
tenham compreendido que a indisciplina é um obstáculo ao ensino e à
aprendizagem, trazendo grande prejuízo a esse processo. Este trabalho ajudou a
minimizar as causas do problema, mudando alguns dos hábitos e atitudes dos
alunos, levando-os ao comportamento e responsabilidade com base na reflexão.
Palavras-chave: Indisciplina. Ensino. Aprendizagem. Família.
1 Introdução
A presente pesquisa busca diagnosticar e compreender as causas da
indisciplina escolar em sala de aula dos alunos de 7ª e 8ª séries do Ensino
Fundamental do Colégio Estadual Dr. Ivan Ferreira do Amaral e Silva Filho (Ensino
Fundamental e Médio) nos anos de 2011 e 2012. Além disso, busca-se oferecer
possíveis formas de trabalhar, de modo prático, esse problema nas escolas. De
forma específica, o trabalho objetivou compreender o conceito de indisciplina; buscar
alternativas que promovessem a minimização de suas causas; propiciar subsídios
para que os professores trabalhassem com o problema em sala de aula e promover
palestras envolvendo pais, alunos, professores e pedagogos visando trabalhar o
problema delimitado.
Sabemos que, no Brasil, o índice de indisciplina escolar é considerado
elevado. Segundo Celso dos Santos Vasconcelos (1995, p.13):
A (In)Disciplina em sala de aula e na escola tem sido uma preocupação crescente nos últimos anos entre os educadores. Pesquisas pedagógicas têm mostrado o quanto se perde de tempo em sala de aula com questões de disciplina, em detrimento da interação do aluno com o conhecimento e com a realidade.
A família, a escola e os meios de comunicação são possíveis variáveis que
influenciam na indisciplina. Dessa forma, precisamos detectar quais os pontos
positivos e negativos que podemos trabalhar para se minimizar as suas causas. Por
isso, segundo Áurea M. Guimarães (1996, p.81):
[...] É preciso construir práticas organizacionais e pedagógicas que levem em conta características das crianças e jovens que hoje frequentam as escolas. A organização do ano escolar, dos programas, das aulas, a arquitetura dos prédios e sua conservação não podem estar distantes do gosto e das necessidades dos alunos, pois, quando a escola não tem significado para eles, a mesma energia que leva ao envolvimento, ao interesse, pode transformar-se em apatia ou explodir indisciplina e violência.
Diante de tudo isso, é importante que o ambiente escolar seja um espaço
onde os alunos se sintam bem, focando um ensino de qualidade e a organização de
um trabalho com o intuito de manter o aluno na escola com sucesso.
2 Causas da indisciplina
2.1 Procedimentos metodológicos e análise de dados
A primeira parte da pesquisa foi desenvolvida no Colégio Estadual Dr. Ivan
Ferreira do Amaral e Silva Filho. Os trabalhos foram realizados com os alunos de
sétimas e oitavas sérias do Ensino Fundamental e com os professores das turmas e
do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) da Plataforma Moodle, acessada pelo site
www.diaadiaeducacao.pr.gov.br.
Os alunos de sétimas e oitavas séries do Ensino Fundamental que
apresentavam comportamento inadequado ao bom andamento das aulas, do ponto
de vista dos professores, foram convidados para comparecer à escola em horário
inverso para participar de uma entrevista com questionário aberto e direto (BELLINI,
2005; THOMPSON, 1992). A entrevista foi realizada individualmente, garantindo o
sigilo e a privacidade de cada aluno. Os entrevistados, seguindo os procedimentos
éticos de pesquisa, foram mantidos em anonimato. A entrevista teve o intuito de
diagnosticar os fatores que provocam a indisciplina, avaliando questões
relacionadas à família, à escola e aos meios de comunicação.
Levado em consideração os fatores abordados, foram levantadas as seguintes
questões para os alunos:
1. Qual a sua data de nascimento?
2. Você mora com os seus pais?
3. Qual a ocupação de seus pais?
4. Conte-me com é o relacionamento com você e sua família.
5. Qual a idade de seus pais?
6. O que você entende por indisciplina?
7. Você se julga uma pessoa indisciplinada?
8. Seus pais incentivam você para estudar?
9. Você já reprovou?
10.O que você menos gosta na escola?
11.Você se relaciona bem com os seus professores?
12.Você acredita que os meios de comunicação influenciam na indisciplina?
13.Seus pais deixam você usar os meios de comunicação sem limites?
14.Você tem muitos amigos?
Obtivemos respostas coerentes às perguntas elaboradas na entrevista,
lembrando que a idade média dos alunos era de catorze anos. De acordo com
minha experiência profissional durante muitos anos nessa instituição, constatei que
alguns alunos não têm interesse algum pela aprendizagem, vão para a escola
porque os pais os pressionam1 e a cada dia que se passa, percebo que eles não têm
nenhum estímulo para o aprendizado. Dos seis alunos entrevistados, quatro foram
para a série seguinte e dois reprovaram dois anos consecutivos, evadindo antes do
término do período letivo.
Alguns alunos não residem com os pais e sim com outros parentes, como os
avós. Entre os entrevistados, parte não tem pai ou não o conhece. Em sua maioria,
os alunos recebem incentivo familiar inadequado, sendo desmotivados. Alguns dos
pais ou responsáveis trabalham o dia todo e só retornam a seus lares no período
noturno, não podendo colaborar efetivamente na educação de seus dependentes e
tampouco com as atividades escolares. Certos pais consideram que fornecendo
aparelhos tecnológicos como computadores e celulares, tais artefatos venham a
suprir sua ausência. Dois alunos entrevistados, Manoel e Juarez2, são considerados
problemáticos: moram no mesmo conjunto habitacional e sempre chegam atrasados
às aulas e com muito sono, pois passam a noite utilizando aparelhos eletrônicos.
Tais considerações são condizentes com as reflexões de Vasconcelos (1995, p.
102), que afirma:
Percebemos hoje duas realidades contraditórias nas famílias: ou a ausência de regras, ou a imposição autoritária de normas. Muitas vezes, por um medo interno de não serem aceitos, os pais acabam não estabelecendo e/ou não fazendo cumprir os limites, levando a uma relação muito permissiva. Outras vezes sentindo necessidade de fazer alguma coisa, mas não tendo clareza, acabam impondo limites, sem explicitar razão. A superação desta situação pode se dar pelo diálogo, com afeto e segurança, chegando a limites razoáveis. Assim sendo tem-se condições de não ceder diante da insistência ou da chantagem emocional.
1 Alguns alunos que não gostam de estudar acabam vindo forçados para a escola porque os pais os obrigam para garantir a “bolsa família”, benefício concedido pelo governo federal. Alunos até dezessete anos recebem este benefício do Estado, tendo frequência, no mínimo, de 85% para não perderem a “bolsa família” que é de trinta e seis reais.2 Foram utilizados pseudônimos para garantir o anonimato dos entrevistados, seguindo os procedimentos éticos da pesquisa.
Segundo Rego (1996, p. 88):
Muitos atribuem a culpa pelo “comportamento indisciplinado” do aluno à educação recebida na família, assim como à dissolução do modelo familiar [...] muitos filhos não moram com os pais e sim com parentes mais próximos. A maior parte dos alunos vem de lares desestruturados, são filhos de pais separados, por isso apresentam comportamento diferente. Ou ainda a falta de interesse (ou possibilidade) dos pais em conhecer e acompanhar a vida escolar de seus filhos. [...]
Normalmente, quando há um diálogo entre professores sobre determinados
alunos, muitos dizem que o problema da indisciplina está relacionado à família,
como apontado por Vasconcelos e Rego. Ou a família é muito severa, inibindo
drasticamente o aluno, impedindo que ele viva em ambientes democráticos, ou os
pais não impõem limites a seus filhos. Ora porque não pensam em educar bem, ora
porque não conseguem ocupar verdadeiramente o lugar de pais. Muitos pais
trabalham fora e não acompanham os conteúdos que os filhos estão aprendendo na
escola. Raramente vão à escola para acompanhar o aprendizado e muitas vezes
nem assinam as advertências de seus filhos.
Mesmo havendo problemas familiares que, de forma indireta, acabam
interferindo no comportamento dos alunos em ambiente escolar, a escola não deve
eximir-se da responsabilidade de trabalhar os problemas decorrentes por considerá-
los alheios ao processo formal de ensino e aprendizagem (VASCONCELOS, 1996).
Ela deve, na medida do possível, caminhar em parceria com a família, constituindo
um elo entre a educação familiar e formal. O aluno vem para a escola para adquirir
conhecimentos, problematizá-los e desenvolver o senso crítico. Quando surgem
conflitos quanto à indisciplina e os responsáveis são ausentes, a equipe pedagógica
precisa detectar quais fatores interferem no comportamento do aluno. As razões
podem variar, como bullying, intrigas particulares, cultura de grupos, entre outros
fatores. A culpa não recai somente no âmbito escolar, mas a instituição pedagógica
precisa diagnosticar as causas da indisciplina e construir estratégias eficazes para
lidar com a mesma.
De um modo geral, alguns alunos entrevistados dizem que a escola tem
muros altos e se sentem reprimidos, lembrando os dispositivos disciplinares
ressaltados por Michel Foucault (2009), que se tornaram modelo para a estruturação
físicas das primeiras escolas. Os discentes acham que são vigiados o tempo todo,
alegando que querem liberdade de ir e vir por não terem limites estabelecidos pela
família. Sabendo que isto é impossível, acabam se irritando por não quererem
cumprir as normas escolares.
No entanto, segundo Rego (1996, p. 86):
A vida em sociedade pressupõe a criação e o cumprimento de regras e preceitos capazes de nortear relações, possibilitar o diálogo, a cooperação e a troca entre membros deste grupo social (sobretudo numa sociedade complexa como a nossa). A escola, por sua vez, também precisa de regras e normas orientadoras do seu funcionamento e da convivência entre os diferentes elementos que nela atuam. Nesse sentido, as normas deixam de ser vistas apenas como prescrições castradoras, e passam a ser compreendidas como condição necessária ao convívio social. [...] A indisciplina nesta ótica, passa a ser vista como uma atitude de desrespeito, de intolerância aos acordos firmados de intransigência, do não cumprimento de regras capazes de pautar a conduta de um indivíduo ou de um grupo. [...] Partindo destas premissas, no plano educativo, um aluno indisciplinado não é entendido como aquele que questiona, pergunta, se inquieta e se movimenta na sala, mas sim como aquele que não tem limites, que não respeita a opinião e sentimentos alheios, que apresenta dificuldade em entender o ponto de vista do outro e de se autogovernar, que não consegue compartilhar, dialogar e conviver de modo cooperativo com seus pares.
Muitos alunos não conseguem viver obedecendo às normas impostas pela
escola. Acabam atrapalhando o ensino e a aprendizagem dos demais. Quando o
professor deixa de explicar um conteúdo para resolver problemas de indisciplina na
sala de aula, está prejudicando muitos que vão até a escola para estudar. O aluno
deve viver de forma que possa estar inserido em uma sociedade, onde existem os
direitos e deveres e que deverão ser cumpridos por eles.
As normas existem para serem cumpridas. No entanto, para que isso ocorra,
elas devem ser bem elaboradas, significativas e constituídas em co-participação
entre equipe pedagógica e, também, os próprios alunos. Segundo Vasconcelos
(1995, p. 98)
A formação da cidadania só pode se dar num contexto de exercício de direitos e deveres. Os alunos devem participar ativamente na elaboração das normas. Saber trabalhar com
limites. Avaliar as normas através de assembleia de classe e/ou dos representantes de classe junto à orientação, coordenação e direção.
Alguns exemplos de normas, de acordo com Vasconcelos (1995, p. 98),
poderiam ser:
Os direitos e deveres de cada um. Todos nós temos nossos direitos e deveres e precisamos cumpri-los.O aluno tem o direito de reclamar da matéria mal explicada, mas também tem o dever de prestar atenção na aula.Tem o direito de reclamar da sala suja, mas também tem o dever de conservá-la limpa.Tem o direito de conversar baixo na classe, mas também tem o dever de não levantar sua voz.Tem o direito de exigir respeito dos professores e dos colegas, mas tem o dever de respeitar também.
Esses são alguns exemplos de direitos e deveres que devem ser cumpridos
não só na escola, mas também em outros ambientes. Porém, de nada adianta que a
equipe pedagógica institua normas independentemente da participação de sua
principal clientela, os alunos. Além disso, as normas não podem ser destituídas de
sentido real. Por exemplo: não há sentido algum em impedir o uso do boné em sala
de aula afirmando que ele gera calvície ou que, com isso, os discentes faltariam com
o respeito aos colegas, baseando-se em normas de cortesia ultrapassadas há duas
ou três gerações. Se as normas apenas fazem sentido para os propositores e não
para os discentes, acabam caindo no “vazio” e gerando apenas conflito
desnecessário entre a equipe pedagógica e os educandos.
Além da falta da família e do problema das normas escolares, há a questão
da perspectiva de trabalho dos alunos. Muitos alunos entrevistados gostariam de ter
trabalho para poder ganhar o seu próprio dinheiro, o que é relativamente comum
entre a clientela atendida pelo Colégio Estadual Dr. Ivan Ferreira do Amaral e Silva
Filho. Mas estudando no período vespertino e sendo menores de idade, torna-se
difícil que os alunos consigam algum trabalho. Eles sempre questionam que quando
terminarem o Ensino Fundamental, estudarão no Ensino Médio no período noturno
para fazer alguns “bicos” durante o dia até atingir a maioridade.
Contudo, o ensino também é voltado para o trabalho: de acordo com
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997), a educação formal é voltada
para o desenvolvimento do senso crítico, da cidadania, mas também para a inserção
futura do educando no mercado de trabalho. Segundo Luiz Antonio de Carvalho
Franco (1987, p.75):
[...] a questão do trabalho pensada isoladamente, sem levar em conta a necessidade de superação dos problemas das escolas que aí estão, pode cair num esforço vão, inútil, num mero exercício de meta-física. Mais do que, isso pode se constituir num falso problema. [...] Procuramos mostrar que o trabalho está presente na escola, que não é estranho às atividades escolares, na medida em que estas se constituem em formas de trabalho. Não cabe, pois, a afirmação frequentemente repetida de que é preciso trazer o trabalho para dentro da escola, porque ela está “desvinculada” do trabalho da vida, do mundo, etc. Essa postura, no fundo, desvincula o fato objetivo de que o trabalho sempre se fez presente no interior da escola. Subjacente à ênfase na idéia de que a escola está “desligada” do trabalho está a idéia de ausência do trabalho na escola, a idéia de que o trabalho só pode ter lugar fora da escola.
Existem também as questões relacionadas às culturas de grupo. Alguns
entrevistados mantêm um laço de amizade duradouro, o que não é necessariamente
ruim. Esses alunos participam juntos de várias atividades, como treinos de futebol.
Esses alunos vão para a escola juntos e sempre que necessário defendem os
amigos, inclusive de forma violenta, utilizando da agressão física para isso.
Infelizmente, essas relações sociais não se refletem necessariamente de forma
adequada no processo ensino-aprendizagem no ambiente escolar. Devido a essa
cultura de grupo, os discentes não respondem adequadamente aos estímulos
escolares. Quanto ao futuro, quando interpelados pela equipe pedagógica, esses
alunos ouvem, concordam que estão errados, mas não têm atitudes para a
mudança.
Certos alunos, para fazer parte de um grupo, acabam regredindo na escola.
Na sala de aula, existem os grupos fragmentados que podem vir a entrar em conflito,
real ou simbólico. Certos indivíduos, quando querem migrar para outros grupos,
passam por “rituais” para serem aceitos. Por exemplo, há alunos que mudam de
comportamento, acabam até perdendo sua própria identidade para serem aceitos.
Quando não obedecem às normas estabelecidas pelo grupo são excluídos e
tachados como “baba-ovos” ou “puxa sacos” de professores ou mesmo outros
alunos.
Segundo José Aloyseo Bzuneck (2001, p. 9), o que se pode concluir é que:
A pressão de grupo acaba reduzindo seu empenho [do aluno], por sentir que não é bem aceito pelo grupo aquele que aparecer como muita diligente, pelo fato de cada qual sente peso de um estereótipo que toma a forma de certos apelidos ridicularizantes ou depreciativos, aos quais é normalmente preferível escapar.
Em síntese, na tentativa de detectar os problemas que levam à indisciplina
escolar, percebemos os seguintes pontos: 1) alguns alunos não residem com os
pais, morando com outros responsáveis; 2) pela necessidade e excesso de trabalho
destes, os discentes não recebem incentivo adequado para o estudo; 3) foi
evidenciado que muitos utilizam a Internet nos horários em que deveriam estar
dormindo, causando transtorno escolar e o fracasso do rendimento no dia seguinte;
4) foi notável a falta de conhecimento sobre a palavra “disciplina”, pois os educandos
não conhecem o que significa o termo “limites”; 5) os alunos entrevistados mantêm
certo nível de amizade com os colegas da escola, porém 6) não têm expectativa de
melhoria na qualidade de vida, já que não percebem uma conexão entre a escola e
a possibilidade de inserção no mercado de trabalho.
2.2 Atividade na Plataforma Moodle
Parte das reflexões que compõem a presente pesquisa foi realizada a
distância pelo Grupo de Trabalho em Rede por intermédio da Plataforma Moodle. O
trabalho teve quatro momentos básicos, que serão descritos a seguir.
2.2.1 Primeiro momento
Com base na Plataforma Moodle, foram desenvolvidas algumas atividades do
PDE. O projeto base para a realização da presente pesquisa foi inserido na
Plataforma Moodle, num ambiente escolar de caráter virtual. Os interessados
fizeram as inscrições dentro de um prazo estipulado pelo responsável da plataforma.
O objetivo da atividade foi promover uma discussão sobre o projeto de intervenção
pedagógica antes de sua aplicação, para que houvesse uma interação entre os
participantes e a tutora, a própria autora da pesquisa, o que contribuiu para a
ampliação das ideias relacionadas à temática proposta.
2.2.2 Segundo momento
A fundamentação teórica do projeto foi lida pelos participantes. De acordo
com isso e com a prática pedagógica dos usuários, eles comentaram as seguintes
questões:
1. Como a família pode influenciar nos comportamentos considerados
inadequados dos filhos/dependentes na vida escolar?
2. Quais as razões que levam os alunos a serem indisciplinados?
Após ler e discutir o projeto de pesquisa, os participantes postaram no fórum de
discussão da Plataforma Moodle suas considerações. De forma geral, segundo eles,
a família deve trabalhar sobre o comportamento de seus filhos em parceria com a
escola. É preciso articular os esforços da equipe pedagógica, contribuindo para
amenizar o problema da indisciplina, visando à aplicação de práticas inovadoras,
incentivando a participação individual e coletiva no processo de ensino e
aprendizagem.
2.2.3 Terceiro momento
Após a leitura do projeto de pesquisa, os participantes fizeram sua análise.
Foram elencados os elementos fundamentais da proposta. Após a análise, refletiram
e argumentaram sobre a relevância desta atividade para a realidade de cada escola.
No final acrescentaram suas contribuições, que acreditam ser de alta relevância
para contribuir na aprendizagem dos alunos, ajudando a minimizar a indisciplina na
sala de aula:
• A escola deve investir em um trabalho de formação e conscientização de pais e
alunos para minimizar a indisciplina;
• Trabalhar os limites e regras necessárias à convivência, possibilitando a
inserção dos indivíduos na sociedade. Nos locais onde os limites são
respeitados, ocorreria a disciplina;
• Os trabalhos realizados no âmbito escolar devem estar sempre interligados à
família.
2.2.4 Quarto momento
No quarto momento, foram socializados no fórum de discussão desafios e
soluções enfrentados pelos participantes em sua prática docente. Os pedagogos
relataram algumas experiências, tais como:
• Apresentar uma mesa redonda com alunos e professores, abordando o tema
“indisciplina” na tentativa de busca de soluções;
• Realizar um questionário para os alunos e professores refletirem sobre suas
atitudes em sala, com questões reflexivas sobre o tema abordado;
• Realizar uma reunião por turma com os alunos para discutir os motivos da
indisciplina e, na opinião deles, o que fazer para minimizá-la;
• Fazer reuniões com os professores para que apresentem propostas de atitudes
para diminuir o problema da indisciplina, proporcionando a melhoria da qualidade
de ensino e aprendizagem.
3 Intervenção pedagógica
Feita a coleta e análise de dados junto aos alunos da instituição e a atividade
por meio do GTR, buscou-se compreender as razões que geram a indisciplina
escolar. Após a primeira fase da pesquisa, foi executada a etapa da intervenção
pedagógica, constituída por uma palestra, pela aplicação de um questionário com os
professores e com o trabalho sobre um filme pertinente ao assunto.
3.1 Palestra
Foi realizada uma palestra com o professor pedagogo Gilmar Bispo de
Oliveira para os alunos e professores do colégio. O pedagogo sugeriu que os pais
participem mais de reuniões com a comunidade escolar e procurem saber sempre a
respeito do desenvolvimento de seus filhos. Como ressaltou, nos dias atuais, por
conta do trabalho, os pais permanecem ausentes parte significativa do tempo de
seus lares e acabam deixando seus filhos/dependentes por conta da escola, como
se constatou na leitura das referências pertinentes ao assunto (REGO, 1996). É
preciso que a família atente para aspectos como comportamento, assiduidade e
dificuldades de aprendizagem. Nesse sentido, o diálogo familiar, que permite uma
maior compreensão entre as partes, contribui para que se diminua a indisciplina.
Na palestra, o pedagogo ressaltou a possível aversão que os alunos têm pelo
estudo e pela responsabilidade. Mesmo assim, segundo ele, é possível encontrar
meios que permitam a interação entre a realidade familiar e o desenvolvimento de
um bom senso para alcançar uma aprendizagem adequada.
As ações do coletivo da escola, envolvendo alunos, professores e
coordenação pedagógica, devem articular processos de ensino-aprendizado
eficientes. É preciso criar estratégias que possibilitem ao discente a construção de
uma visão de mundo, demonstrando suas opções diante de um futuro profissional de
forma a contribuir na formação do cidadão. Deve-se enfatizar, por isso, que não há
dissociação entre vida escolar e desempenho profissional, como os entrevistados
demonstraram anteriormente (item 2.1).
No entanto, apesar da riqueza das questões apresentadas ao longo da
palestra, o pedagogo abordou certas discussões partindo de premissas do senso
comum e, portanto, ignorando a produção científica. Por exemplo, ao falar sobre a
indisciplina, esta parece ter sido reduzida a um problema motivacional do aluno, na
medida em que o palestrante ressaltou ideias com o intuito de motivar o público
ouvinte. Porém, como visto na análise das referências sobre o assunto, há inúmeras
variáveis que envolvem a indisciplina, como o sistema normativo das escolas que
estabelece regras de convívio destituídas de significação para os educandos.
3.2 Atividade com professores da escola
Posteriormente, foi aplicado um questionário por escrito para os professores
da instituição. Foram abordados os seguintes questionamentos:
1. Quais os pontos positivos e negativos que palestra proporcionou aos
professores?
2. Qual a contribuição sugerida pelo palestrante em sua atuação docente?
3. O que vocês sugerem para que se possa minimizar a indisciplina na sala de
aula e na escola?
Em relação aos resultados obtidos a partir da aplicação do questionário, os
professores acreditam que a palestra não apresentou pontos negativos, apesar dos
problemas sugeridos anteriormente. Segundo a percepção dos docentes, o diálogo
foi aberto e direto, enriquecendo a metodologia e as formas de comunicação com os
educandos.
De acordo com os professores, ficaram explícitos os direitos e deveres dos
alunos, sempre devendo ser cobrados dos mesmos a integridade como futuros
cidadãos. A palestra teria sido motivadora, com um vocabulário acessível e de fácil
entendimento. O palestrante teria feito uso de exemplos do cotidiano para retratar a
indisciplina. Teria, ainda, contribuído com ideias para serem aplicadas em sala de
aula, sugerindo, também, materiais interessantes como filmes. De modo geral, teria
havido ampla contribuição.
A palestra teria sido coerente com a realidade escolar. Segundo os
professores, seria importante palestras relacionadas a esses temas com mais
frequência nas escolas, pois encorajariam os professores a tomar decisões mais
adequadas diante de algumas situações. O palestrante teria ajudado a refletir sobre
o respeito ao próximo e a si mesmo; a aproveitar a cada momento da vida com
quem está presente; os cuidados com os perigos que o mundo oferece e a
conscientização dos educandos quanto ao cumprimento de regras e limites.
Os professores ressaltaram também que, independente da posição social que
se encontram, sejam educadores ou educandos, é preciso lutar e perseverar para
alcançar os objetivos, não desacreditando na esperança de dias melhores. Se cada
um fizer sua parte, a felicidade da realização será para todos. Percebe-se, nesse
item, que os elementos motivacionais da palestra tocaram os professores, ainda que
certas considerações do palestrante prescindissem de uma reflexão científica
teoricamente embasada.
Outra questão que chamou a atenção dos docentes foi que a indisciplina em
sala de aula faz parte do meio onde os alunos vivem. Como parte significativa das
famílias não está compromissada com a educação de seus filhos e dependentes no
âmbito familiar, a indisciplina se estende até as salas de aulas e no meio social em
que vivem.
No entanto, os professores apontaram também questões que não foram
trabalhadas pelo palestrante. Um dos fatores que consideraram significativos na
questão da indisciplina foi a falta de projetos governamentais que contribuiriam com
a formação da criança e do adolescente.
A partir da palestra e com o trabalho de percepção dos professores, eles
elaboraram sugestões práticas:
1. Fazer o espelho da classe, ou seja, determinar o lugar que cada um deve
ocupar (somente em salas indisciplinadas e/ou numerosas);
2. Proporcionar com mais frequência palestras motivadoras para professores,
pais e alunos;
3. Preparar as aulas com metodologias diferenciadas, proporcionando uma
melhoria na indisciplina;
4. Maximizar o trabalho conjunto entre docentes, coordenação pedagógica,
demais funcionários, alunos e famílias.
3.3 Atividade com alunos da escola
A etapa final da intervenção pedagógica envolveu uma atividade com todos
os alunos de sétimos e oitavos anos da instituição. O ponto de partida da reflexão foi
a exibição de um trecho do filme “Another Brick In the Wall”, de Pink Floyd. O vídeo
representa de forma irônica o modelo das escolas tradicionais, ressaltando que a
complexidade dos alunos seria reduzida e padronizada por métodos ortodoxos de
ensino-aprendizagem.
O resultado da atividade foi produzido na forma de texto escrito elaborado por
grupos de dois alunos. Um deles relatou o seguinte:
As crianças antigamente não tinham liberdade de expressão. Havia certos professores que faziam o que queriam para prejudicar os alunos, humilhando, tratando como se fossem tijolos na parede. Não tinham voz e nem vez. As escolas do passado eram rígidas demais, caso o aluno não cumprisse seus deveres, seriam punidos e humilhados publicamente, sendo tratados com sarcasmo e deboche. Os professores geravam uma espécie de ditadura.
O grupo interpretou o vídeo aludindo a uma visão de passado, sem o
relacionar às questões presentes que envolvem sua própria situação de
aprendizagem. As questões normativas inerentes à instituição onde estudam foi
praticamente ignorada. Os problemas disciplinares, portanto, foram interpretados
como um contraste entre passado e presente.
Outro grupo interpretou que a disciplina imposta pelos professores seria
rígida, não permitindo voz pelos alunos. O diálogo, segundo o grupo fundamental
para a resolução dos problemas, não existiria. Esse tipo de disciplina não levaria a
lugar algum. No caso, os alunos perceberam que as normas em si, calcadas num
autoritarismo docente, seriam absurdas para o desenvolvimento das práticas
pedagógicas, que deveriam ser fundamentadas no diálogo e, portanto, na
compreensão mútua.
4 CONCLUSÃO
Sabemos que a indisciplina não pode ser resolvida de forma imediata. O
modo como o professor trabalha com o aluno e a reflexão contínua sobre as próprias
ações podem contribuir para uma mudança de comportamento. Mesmo lenta, é na
busca de uma transformação que podemos modificar o panorama da realidade
escolar. Um dos trabalhos da equipe pedagógica é auxiliar o aluno a construir
autonomia, respeitando, no entanto, regras que façam sentido nas relações sociais
em ambiente escolar. Ao longo da pesquisa, compreendemos também que a
indisciplina é um problema que envolve a todos: sociedade, escola e família, que
devem trabalhar em parceria para o desenvolvimento de relações sociais e
escolares saudáveis. Procuramos, no decorrer deste artigo, despertar reflexões
sobre o problema da indisciplina escolar, sugerindo também formas práticas de
trabalhar com a mesma na escola. Vimos a importância de estabelecer uma prática
pedagógica que possa contribuir para que o professor desenvolva conteúdos de
maneira significativa e relevante. Podemos concluir que é necessária uma
conscientização de alunos, professores e familiares, gerando atitudes para a
melhoria das relações de ensino-aprendizagem e, portanto, da qualidade de ensino.
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