Álcool & pâncreas - Relações perigosas

Post on 03-Jul-2015

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Álcool & pâncreas: Relações perigosas

O consumo excessivo de álcool é uma das principais causas da pancreatite, uma inflamação do pâncreas que tanto pode ser ligeira como fatal.

Uma dor intensa na região superior do abdômen, que irradia para as costas, pode ser o primeiro aviso de que algo vai mal com o pâncreas. Dor que, com freqüência, agrava após uma refeição abundante, sobretudo à base de gorduras.

Com cerca de 13 centímetros e a forma de uma folha, o pâncreas localiza-se atrás do estômago e muito próximo do duodeno (a porção superior do intestino). Trata-se de uma glândula com um papel importante na digestão dos alimentos e no metabolismo dos nutrientes. Produz sucos digestivos e enzimas que ajudam a partir em pedaços mais pequenos as proteínas, os hidratos de carbono e as gorduras, de modo a que possam passar para o intestino delgado. Além disso, segrega insulina e glucagon, duas hormonas que regulam o modo como o organismo utiliza o açúcar (glicose).

O pâncreas é composto, na sua maior parte, por células exócrinas, que produzem as enzimas digestivas e que estão organizadas em grupos que comunicam entre si por pequenos canais. É por esses canais que os sucos circulam até desembocarem num caminho principal - o canal pancreático, que conduz ao duodeno. Antes, porém, juntará o canal biliar, que transporta a bílis desde o fígado e a vesícula.

Existem ainda no pâncreas pequenas ilhas de células endócrinas - os ilhéus de Langerhans - que segregam a insulina e o glucagon, libertando-as na corrente sanguínea, juntamente com uma outra hormona, a somatostatina, que regula a secreção da insulina e glucagon.

O peso do álcool

É assim que tudo funciona num pâncreas saudável. Mas o processo pode ser perturbado por fatores como a ingestão abusiva de álcool - com freqüência, em grandes quantidades e prolongada no tempo. Não se sabe exatamente como o álcool afeta o pâncreas, mas sabe-se que desencadeia uma libertação precoce das enzimas digestivas e que aumenta a permeabilidade dos pequenos canais, possibilitando fugas de sucos digestivos para o tecido normal. Sabe-se ainda que a ingestão excessiva de álcool conduz à formação de aglomerações de proteínas, as quais estão na origem de cálculos ("pedra") passíveis de bloquear o canal pancreático. O álcool é a principal causa de pancreatite crônica, sendo mais freqüente no homem.

Os cálculos biliares são outra causa freqüente de pancreatite aguda - a inflamação do pâncreas. Formam-se na vesícula quando a bílis fica quimicamente instável, após o que migram para o canal biliar, podendo bloquear a passagem dos sucos digestivos para o duodeno. A conseqüência é que estes sucos ficam ativo no pâncreas, onde "comem" o tecido saudável, em vez de atuaram no intestino, desempenhando a sua função de decompor os alimentos.

Há outros fatores associados à pancreatite, embora considerados fatores de importância menor. Aliás, 80 a 90 por cento dos casos têm os cálculos biliares a álcool como causa. É o caso de medicamentos (como os anti-inflamatórios não esteróides, os corticoesteróides e alguns para a hipertensão arterial), de infecções virais (como a papeira e a hepatite) ou bacterianas, do aumento dos níveis de triglicerídeos no sangue ou de cálcio, e ainda de doenças hereditárias como a fibrose quística.

Os homens são mais propensos a desenvolver pancreatite crônica do que as mulheres, pelo fato de beberem mais - em freqüência e quantidade. No sexo feminino, a principal causa são os cálculos biliares.

A dor como alarme

É a dor - uma dor moderada a intensa que começa na região superior do abdômen e irradia para as costas e, ocasionalmente, para o peito - que denuncia a pancreatite, sobretudo na sua forma aguda. Surge então subitamente, podendo prolongar-se por horas ou até dias, agravando-se com a ingestão de alimentos e/ou de álcool. Algum alívio, mas apenas temporário, é conseguido quando o doente se inclina para a frente ou se enrola na posição fetal.

Além da dor, a pancreatite aguda manifesta-se através de náuseas e vômitos, febre, pulsação acelerada, abdômen inchado. Nalguns casos, pode haver baixa da pressão arterial e desidratação.

É possível sofrer vários episódios de pancreatite aguda e recuperar completamente. Mas cada um dos episódios constitui uma séria ameaça ao pâncreas, podendo ter conseqüências sérias.

Aliás, a pancreatite crônica acontece, como já referido, por toxicidade do álcool ao longo do tempo e quando há episódios continuados, com risco de lesão grave do pâncreas e dos tecidos próximos. Os sintomas podem, no entanto, demorar anos a manifestar-se. A dor mantém-se como o principal, podendo ser intermitente ou constante.

A ela se juntam náuseas e vômitos, febre, perda de peso mesmo que os hábitos alimentares não se alterem. As fezes ganham uma aparência gordurosa e odor, devido à deficiente digestão e absorção dos alimentos, sobretudo das gorduras. A diabetes é um risco, uma vez que pode haver lesão das células produtoras de insulina e, assim, uma deficiente gestão do açúcar no sangue.

Controlar a dor, permitir que o pâncreas se recupere e restaurar o equilíbrio normal dos sucos pancreáticos são os objetivo do tratamento da pancreatite aguda, o qual passa, quase sempre, pela hospitalização. E porque o pâncreas entra em ação sempre que se come, o doente tem de ser alimentado por via endovenosa - ou seja, recebe fluidos e nutrientes através de uma veia.

Quando a causa está relacionada com o abuso de álcool, o tratamento envolve necessariamente a abstinência. Já quando a causa é a existência de cálculos biliares, pode ser recomendada cirurgia para remoção dos obstáculos à circulação dos sucos digestivos.

Em relação à pancreatite crônica, o tratamento passa também por controlar a dor e melhorar os problemas de absorção dos nutrientes, a par da cessação dos hábitos alcoólicos.

Até porque, à medida que a doença progride, a continuação da ingestão de álcool aumenta grandemente o risco de complicações e morte. Pode requerer hospitalização.

Complicações à espreita

E são várias as complicações possíveis de uma inflamação do pâncreas.No caso da pancreatite aguda um dos riscos é o de uma infecção bacteriana, na medida em

que o pâncreas fica mais susceptível à ação das bactérias existentes nos intestinos.Outras possibilidades são a formação de quistos e abscessos. Um risco significativo é o de

insuficiência respiratória: é que as alterações químicas no organismo podem afeta a função pulmonar, fazendo com que o oxigênio no sangue desça para níveis perigosos.

Pode haver também insuficiência renal. Potencialmente fatal é o choque, resultante da descida da pressão arterial a um nível tal que os órgãos ficam incapazes de desempenhar as suas tarefas.

A estas complicações juntam-se outras na pancreatite crônica, nomeadamente a possibilidade de formação de pseudo-quisto (acumulação de fluido pancreático em ducto obstruído) que acontece em 25 por cento dos casos.

Desnutrição e perda de peso são problemas reais, na medida em que a falta de enzimas digestivas afetam a absorção dos nutrientes.

No mesmo campo situa-se a diabetes, uma conseqüência possível das lesões nas células produtoras de insulina. O cancro do pâncreas é mais freqüente nos doentes com pancreatite crônica.

O pâncreas é uma glândula vital para o funcionamento do corpo humano, desempenhando funções essenciais para a digestão e o metabolismo. Os danos nele produzidos podem, em última instância, ser fatais, pelo que mais vale prevenir.

Reduzir o risco

Nem sempre é possível prevenir a pancreatite, mas é possível reduzir o risco:

Evitando o consumo excessivo de álcool - o álcool é a principal causa da pancreatite crônica;

Limitando a ingestão de gorduras - uma dieta rica em gorduras pode aumentar o risco de formação de cálculos;

Deixando de fumar - o tabaco aumenta o risco, sobretudo se associado ao álcool.

Fonte: FARMÁCIA SAÚDE

Descoberta proteína que protege o pâncreas contra os efeitos do álcool

Resultados de estudo podem levar a novos tratamentos para reduzir as chances de aparecimento de câncer de pâncreas

Pesquisadores da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, descobriram que a proteína calmodulina pode proteger o pâncreas dos efeitos nocivos do álcool.

Descoberta pode levar ao desenvolvimento de novos tratamentos para reduzir as chances de desenvolvimento de câncer de pâncreas.

A equipe de pesquisa, liderada por Ole Petersen, notou que quando calmodulina está em falta nas células do pâncreas, o álcool tem um efeito muito mais tóxico como uma reação em cadeia que faz com que as células se autodestruam rapidamente. Isso pode levar à inflamação (pancreatite), que, em longo prazo, aumenta significativamente o risco de desenvolver câncer de pâncreas.

A equipe de estudo descobriu que a calmodulina protege as células pancreáticas contra os efeitos tóxicos do álcool quando ela é ativada por outra pequena proteína, CALP-3.

"Há ainda muita incerteza sobre como o álcool danifica as células do organismo, no entanto, temos encontrado uma forma nova e inesperada de proteção das células do pâncreas. Sugerimos que a ativação da proteína calmodulina protege contra o desenvolvimento de pancreatite. Existe uma forte correlação entre a ingestão de álcool e a incidência de pancreatite, e esperamos que nossas descobertas acabem por levar ao desenvolvimento de drogas para combater isso. Este é um passo muito importante", afirmou Petersen.