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1 OS BONDES FIZERAM COPACABANA Com efeito, desde 12 de março de1856, quando, pelo decreto no. 1733 se conferiu a primeira linha de carris urbanos puxados à burros ao Conselheiro Cândido Baptista (1801-1865) e seu filho Luiz Plínio; e a segunda, de uma linha para a Tijuca, dada dias depois pelo decreto no. 1742, de 29 de março, ao médico homeopata escocês Thomás Cochrane (1805-1872), sogro de José de Alencar (1829-1877), ninguém podia imaginar a revolução que tais veículos acarretariam à cidade. A linha de Cochrane, partindo do centro para a Tijuca, começou a funcionar em 1859, mudando para tração à vapor em 1862. Não deu certo por causa da má conservação e faliu em 1865, dando prejuízo de 700 contos a seus diretores. Já Cândido Baptista desinteressou-se de sua concessão, haja vista que em 11 de outubro de 1859 foi indicado “Presidente do Banco do Brasil”. Repassou então sua concessão por quarenta contos de réis pelo decreto no. 2927, de 21 de maio de 1862 ao amigo, o banqueiro Ireneu Evangelista de Souza, Barão e Visconde de Mauá (1813-1889). Mauá, receoso com o investimento, haja vista o que acontecera à linha da Tijuca, cedeu a concessão por cem contos de réis, formalizada pelo decreto no. 3738, de 21 de novembro de 1866 ao engenheiro americano Charles B. Greenough (1825-1880). Partiu Greenough para os Estados Unidos, onde conseguiu verbas para sua linha que percorreria a Zona Sul da Cidade, organizando uma companhia dois anos depois. Logo eram assentados os trilhos do Centro ao Catete. Em 09 de outubro de 1868, começou a funcionar a “Botanical Garden Rail Road Company”, com sua primeira linha, da rua Gonçalves Dias até o Largo do Machado. O impacto sobre a cidade logo se fez sentir. Regiões que ficavam desertas, por falta de acesso logo se valorizaram e foram ocupadas. Bairros dominados por extensas chácaras, como Botafogo, logo foram repovoados. Em breve, não se vendia mais terreno algum na cidade sem antes o comprador fazer a pergunta: “...o bonde passa lá?” Já em 1 o . de janeiro de 1871 chegava o bonde ao Jardim Botânico e Gávea, tornando tais arrabaldes muito populares desde então. Em 1 o . de abril de 1873, o bonde já atingia a “Olaria”, hoje “Campus da PUC”, na Rua Marquês de São Vicente, e outro ramal, saindo do Largo do Machado atingia a “Bica da Rainha”, no Cosme Velho. Logo se vislumbrou na mente de homens progressistas que o bonde era a maneira mais eficiente de se chegar à Copacabana, Ipanema e Leblon. Entretanto, o primeiro transporte coletivo que chegou às praias da zona sul não foram os bondes, e sim as diligências do Dr. Francisco Bento Alexandre de Figueiredo de Magalhães, Conde de Figueiredo Magalhães (181?-1898), médico cirurgião formado em Lisboa, cujos serviços foram iniciados a 1 o . de dezembro de 1878. Partiam as diligências da Praia de Botafogo, canto da rua São Clemente, chegando à Praia de Copacabana pela Ladeira do Leme. O Dr. Magalhães montara em Copacabana uma casa de saúde para convalescentes, com cômodos para banhistas e um hotel anexo. As diligências trafegavam de hora em hora, das 07:00h às 10:00h da manhã, e das 17:00h às 20:00h. A primeira tentativa para se levar uma linha de bondes até a Praia de Copacabana data de 1874, quando a 4 de novembro, foi concedido ao Sr. Alexandre Vieira de Carvalho, Conde de Lages, Mordomo dos Príncipes Conde e Condessa D`Eu, e ao seu sócio, Dr. Francisco Teixeira de Magalhães, a necessária autorização para sua construção, uso e gozo, durante cinqüenta anos, de uma linha de carris para Copacabana. Chegou a ser fundada a “Empresa Ferro Carril Copacabana”, cujo principal dono era o empresário alemão Alexandre Wagner, que adquirira a concessão dos herdeiros do Conde de Lages e estava comprando todos os terrenos disponíveis em Copacabana, do Leme até a “Pedra do Inhangá”. A obra foi até iniciada, mas muito combatida na justiça pela “Botanical Garden”, que alegava ter privilégio concedido PDF Creator - PDF4Free v2.0 http://www.pdf4free.com

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OS BONDES FIZERAM COPACABANACom efeito, desde 12 de março de1856, quando, pelo decreto no. 1733 se

conferiu a primeira linha de carris urbanos puxados à burros ao Conselheiro CândidoBaptista (1801-1865) e seu filho Luiz Plínio; e a segunda, de uma linha para a Tijuca,dada dias depois pelo decreto no. 1742, de 29 de março, ao médico homeopata escocêsThomás Cochrane (1805-1872), sogro de José de Alencar (1829-1877), ninguém podiaimaginar a revolução que tais veículos acarretariam à cidade.

A linha de Cochrane, partindo do centro para a Tijuca, começou a funcionar em1859, mudando para tração à vapor em 1862. Não deu certo por causa da máconservação e faliu em 1865, dando prejuízo de 700 contos a seus diretores. Já CândidoBaptista desinteressou-se de sua concessão, haja vista que em 11 de outubro de 1859foi indicado “Presidente do Banco do Brasil”. Repassou então sua concessão porquarenta contos de réis pelo decreto no. 2927, de 21 de maio de 1862 ao amigo, obanqueiro Ireneu Evangelista de Souza, Barão e Visconde de Mauá (1813-1889). Mauá,receoso com o investimento, haja vista o que acontecera à linha da Tijuca, cedeu aconcessão por cem contos de réis, formalizada pelo decreto no. 3738, de 21 denovembro de 1866 ao engenheiro americano Charles B. Greenough (1825-1880). PartiuGreenough para os Estados Unidos, onde conseguiu verbas para sua linha quepercorreria a Zona Sul da Cidade, organizando uma companhia dois anos depois. Logoeram assentados os trilhos do Centro ao Catete.

Em 09 de outubro de 1868, começou a funcionar a “Botanical Garden Rail RoadCompany”, com sua primeira linha, da rua Gonçalves Dias até o Largo do Machado. Oimpacto sobre a cidade logo se fez sentir. Regiões que ficavam desertas, por falta deacesso logo se valorizaram e foram ocupadas. Bairros dominados por extensaschácaras, como Botafogo, logo foram repovoados. Em breve, não se vendia mais terrenoalgum na cidade sem antes o comprador fazer a pergunta: “...o bonde passa lá?”

Já em 1o. de janeiro de 1871 chegava o bonde ao Jardim Botânico e Gávea,tornando tais arrabaldes muito populares desde então. Em 1o. de abril de 1873, o bondejá atingia a “Olaria”, hoje “Campus da PUC”, na Rua Marquês de São Vicente, e outroramal, saindo do Largo do Machado atingia a “Bica da Rainha”, no Cosme Velho. Logose vislumbrou na mente de homens progressistas que o bonde era a maneira maiseficiente de se chegar à Copacabana, Ipanema e Leblon.

Entretanto, o primeiro transporte coletivo que chegou às praias da zona sul nãoforam os bondes, e sim as diligências do Dr. Francisco Bento Alexandre de Figueiredo deMagalhães, Conde de Figueiredo Magalhães (181?-1898), médico cirurgião formado emLisboa, cujos serviços foram iniciados a 1o. de dezembro de 1878. Partiam as diligênciasda Praia de Botafogo, canto da rua São Clemente, chegando à Praia de Copacabanapela Ladeira do Leme. O Dr. Magalhães montara em Copacabana uma casa de saúdepara convalescentes, com cômodos para banhistas e um hotel anexo. As diligênciastrafegavam de hora em hora, das 07:00h às 10:00h da manhã, e das 17:00h às 20:00h.

A primeira tentativa para se levar uma linha de bondes até a Praia de Copacabanadata de 1874, quando a 4 de novembro, foi concedido ao Sr. Alexandre Vieira deCarvalho, Conde de Lages, Mordomo dos Príncipes Conde e Condessa D`Eu, e ao seusócio, Dr. Francisco Teixeira de Magalhães, a necessária autorização para suaconstrução, uso e gozo, durante cinqüenta anos, de uma linha de carris paraCopacabana. Chegou a ser fundada a “Empresa Ferro Carril Copacabana”, cujo principaldono era o empresário alemão Alexandre Wagner, que adquirira a concessão dosherdeiros do Conde de Lages e estava comprando todos os terrenos disponíveis emCopacabana, do Leme até a “Pedra do Inhangá”. A obra foi até iniciada, mas muitocombatida na justiça pela “Botanical Garden”, que alegava ter privilégio concedido

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contratualmente para exploração de linhas de carris na Zona Sul da cidade. A batalhajudicial terminou em vitória para a “Botanical Garden”, caducando a concessão rival a 21de fevereiro de 1880.

Ano seguinte, a 13 de julho de 1881, o Ministro da Agricultura, Comércio e ObrasPúblicas colocou em concorrência pública a abertura de uma linha de carris urbanos paraCopacabana. A “Jardim Botânico” protestou, alegando privilégio de área, sugerindo emvez rediscutir seu contrato original e realizar a linha, mas o Govêrno fez “ouvidos demercador” e a concorrência foi realizada. A coisa não foi adiante, tendo todas asconcessões caducado.

Em 05 de outubro de 1882, um grupo de vereadores apresentou à Ilma. CâmaraMunicipal um projeto de extensão das linhas de bondes da “Companhia Ferro CarrilJardim Botânico” (nome que tomou a “Botanical Garden”, após sua nacionalização em1883), de Botafogo, para os bairros de Copacabana, Vila Ipanema e Leblon. A coisa nãosaiu de imediato.

Outros planos e concessões vieram e caducaram.Um deles, apresentado ao Govêrno Imperial em 1883, era o de Duvivier & Cia.

Seus autores eram Theodoro Duvivier (1848-1924) e Otto Simon, genros de AlexandreWagner. Igualmente caducou.Um dos planos mais interessantes foi o que propôs a 10 de fevereiro de 1886 oengenheiro João Dantas ao Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, deuma ferrovia à vapor que, partindo de Botafogo, da estação da Companhia JardimBotânico, no Largo dos Leões, chegaria por um túnel à Copacabana, Ipanema, Leblon,Barra da Tijuca, Mangaratiba, Sepetiba indo até Angra dos Reis, numa extensão de193km. Foi constituída em 1890 a “Companhia Estrada de Ferro Sapucaí”, quepretendia, dentre outras obras, fazer um prado de corridas de cavalos no Leblon, nasterras da chácara do português José de Guimarães Seixas, colado ao “Morro dos DoisIrmãos” (é onde hoje existe o “Clube Municipal”). O decreto no. 587, de 10 de outubrode 1891, emitido pelo Governo Federal, autorizou a mesma empresa a estender ostrilhos até Guaratiba. Em 1891 essa concessão caducou, quando já se havia escavadouma estrada de quase um quilômetro pela encosta do “Morro Dois Irmãos”, estrada estaque, depois de muito ampliada em outubro de 1916 seria inaugurada como av.Niemeyer.No mesmo mês de fevereiro de 1886, a “Companhia Jardim Botânico” fez umacontraproposta ao “Plano Dantas”, sugerindo uma linha ferroviária à vapor cortandoCopacabana, Ipanema e Leblon, saindo da estação do Largo dos Leões, em Botafogo eindo até “Pena”, em Jacarepaguá. Propunha também um prado de corridas no “MorroDois Irmãos” . Em vez de um prado de corridas no Leblon, o engenheiro AndréRebouças sugeriu um cemitério naquelas plagas, idéia logo enterrada. Igualmente nãofoi adiante. Ainda em 1886, por sua vez, a “Companhia” propôs ao Ministro daAgricultura, Comércio e Obras Públicas uma linha de bondes para Copacabana, o quese comprometeu por contrato assinado já na República, a 30 de agôsto de 1890 com odito ministério.Somente dois anos depois, em maio de 1892, é que pôde ser escavado um túnel e,finalmente, a 06 de julho de 1892, depois de oito meses de obras, sendo dois deescavações na rocha, o Gerente da “Jardim Botânico”, o engenheiro pernambucanoJosé Cupertino Coelho Cintra (1843-1939) inaugurou o “Túnel Velho” (hoje Alaôr Prata),ligando a rua Vila Rica, em Botafogo, ao areal de Copacabana. Na ocasião, o Barão deIpanema arrendou terras para construção de uma estação onde hoje é a av. N. Sra. deCopacabana.

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JOSÉ DE CUPERTINO COELHO CINTRA - DADOS BIOGRÁFICOSEngenheiro inovador, nasceu em Pernambuco a 18 de setembro de 1843.

Bacharelou-se em matemáticas e ciências físicas e naturais, em 1865, pela EscolaCentral, hoje Faculdade Nacional de Engenharia. Seu primeiro cargo foi o de Ajudanteda Fiscalização da Companhia City Improvements. Exerceu vários cargos pertinentes àprofissão, quase todos no estado do Espírito Santo. Como ajudante da Inspetoria deImigração, apaziguou diversas rebeliões de imigrantes naquele estado e no Rio Grandedo Sul. Fundou diversos núcleos coloniais nos referidos estados e em São Paulo.

Sua lisura, capacidade e inteligente ação valeram-lhe as distinções recebidas:sócio Benfeitor da Sociedade Propagadora das Belas Artes; da Caixa de Socorros D.Pedro V; membro da Sociedade de Geografia desta Capital; sócio honorário daSociedade de Artes Mecânicas e Liberais de Pernambuco; sócio dos Centros Carioca ePernambucano e do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco.

Em 1889, passou a dirigir, como gerente, a Companhia Ferro Carril do JardimBotânico. Projetou e executou, em apenas seis dias, a duplicação da linha de bondesde Botafogo à Escola Militar da Praia Vermelha. Estendeu as linhas de bonde atéCopacabana, o que foi possível com a abertura do 1o. túnel para aquele bairro, a 06 dejulho de 1892, ligando a rua Real Grandeza, em Botafogo, à rua Barroso, atual SiqueiraCampos (Túnel Velho, ou Túnel Alaôr Prata). Esta linha ia até a Praça Malvino Reis,atual Serzedêlo Correia, e é considerada a certidão de batismo do futuroso bairro deCopacabana. Prosseguindo, atingiu a Lagoa Rodrigo de Freitas até a praça Piassava,onde hoje se ergue a estátua de Quintino Bocaiúva. Instalou a primeira corrente elétricacontínua na América do Sul, com tração elétrica dos bondes, nesta Capital. Apesar daforte oposição por parte dos rotineiros, pôde realizar tão ousado cometimento,inaugurado em 1892, pelo Presidente da República, Marechal Floriano Peixoto.

Coelho Cintra foi ainda deputado por Pernambuco, prefeito da cidade do Recife,oficial de gabinete do Ministro Francisco Sá e autor de cartas corográficas e geográficasdo Espírito Santo. Aposentou-se aos 78 anos de idade, pobre, mas digno doacatamento de seus concidadãos.

O engenheiro Coelho Cintra é hoje credor de nossa gratidão; sendo perpetuadoem estátua de bronze em Copacabana, onde, como bandeirante que foi, recebeu asmerecidas homenagens de sua população.Faleceu Coelho Cintra no Rio de Janeiro, a 12 de agosto de 1939.

COPACABANACopacabana é conhecida internacionalmente como um dos símbolos do Rio de

Janeiro. Quem nunca ouviu os versos de João de Barro (conhecido como Braguinha)?“Copacabana, princesinha do marPelas manhãs tu és a vida a cantarE à tardinha o sol poenteDeixa sempre uma saudade na gente”.

Originalmente a região de Copacabana era denominada, na língua tupi-guarani,como Sacopenapã, que significa “caminho batido pelas socós ( ave pernalta da famíliadas garças ).

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A nomenclatura Copacabana é originária da língua quíchua (língua que era faladapelos incas) e que significa “Mirante azul”. Esta era a nomenclatura de uma penínsulaentre a Bolívia e o Peru, às margens do Lago Titicaca, onde os incas haviam construídoum templo aos seus deuses. No século XVI os espanhóis destruíram o antigo santuário,edificando no local um templo em devoção à N. Sra. das Candeias ou Candelária. Comopassou a ser adorada na península de Copacabana, a santa passou a receber adenominação de N. Sra. de Copacabana.

Não se sabe ao certo como uma imagem desta santa foi deixada em Sacopenapã.Supõe-se que peruleiros (traficantes de prata da Bolívia e Peru) tenham deixado aimagem no local. A imagem foi levada para a hoje Igreja de N. Sra. de Bonsucesso daSanta Casa de Misericórdia, onde em 1638 já era cultuada. Ainda no século XVII aimagem foi transferida para uma ermida (templo) no promontório onde hoje se localiza oForte de Copacabana.

O templo original foi sucessivamente reconstruído até a edificação do Forte deCopacabana (inaugurado em 1914). A igrejinha manteve-se na área do forte até 1918,quando a Mitra vendeu seu terreno à Fazenda Federal, a fim de que no local fosseconstruído alojamento da guarnição. A imagem da santa foi recolhida pela família doBarão de Teffé, que a levou para seu castelo em Correias, Petrópolis.

Em 1918 uma nova imagem de N. Sra. de Copacabana chegou da Bolívia, sendocolocada na então Igreja de N. Sr. do Bonfim, hoje Matriz de N. Sra. de Copacabana.

O bairro de Copacabana surgiu em 6 de julho de 1892 com a abertura do TúnelAlaôr Prata (Túnel Velho). Este túnel foi aberto para passagem de bondes. Até então, oacesso para Copacabana era feito através de caminhadas pelos morros que cercam aregião.

O Túnel Engenheiro Coelho Cintra (Túnel Novo) foi aberto em 1906, sendo situadodo lado esquerdo de quem vai para Copacabana. Em 1949 foi inaugurada suaduplicação, denominada Túnel Marques Porto (situado do lado direito de quem vai paraCopacabana).

Copacabana foi ocupada lentamente pela população até 1940; desta décadaocorreu um aumento populacional no bairro de 74,35%. A partir desta décadaCopacabana se torna um dos bairros mais populosos da cidade.

Copacabana é separada do Oceano Atlântico pela Avenida Atlântica, conhecidamundialmente. Esta foi inaugurada em 1906, com 6 metros de largura e 4 Km deextensão. Em 1919 o Prefeito Paulo de Frontim realizou o alargamento desta via para17m. Nesta Avenida situa-se um dos prédios mais belos da cidade : o Hotel CopacabanaPálace. Inaugurado em outubro de 1923, funcionou até abril de 1946 como cassino. Ohotel teve como hóspedes ilustres nomes como: Nat king cole, Clark Gable, Eisenhower,Santos Dumont, Elizabeth II.

Num apartamento do prédio n° 2856 desta avenida, onde residia Nara Leão,surgiu a Bossa Nova , em 1956. Estilo musical conhecido internacionalmente teve comocompositores importantes Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Billy Blanco, RobertoMenescal, Ronaldo Bôscoli, entre outros.

AVENIDA PRINCESA ISABEL - LEME - COPACABANAFoi aberta em 1901, nos terrenos de Alexandre Wagner, que em fins do século

XIX havia comprado todos os terrenos do Leme e arruado a região em 16 de abril de1894. Era denominada de rua Salvador Correia, em honra ao Governador do Rio deJaneiro Salvador Correia de Sá, que administrou a cidade por duas vezes, de 1568 a 71e de 1578 a 98. Em 1904 o Prefeito Francisco Pereira Passos abriu o túnel do Leme,inaugurado dois anos depois. Pelo Decreto Municipal no. 6.305, de 1o. de outubro de

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1938, mudou de nome para Avenida Princesa Isabel, em comemoração aos cinqüentaanos da assinatura da Lei Áurea, que libertou os escravos no Brasil.

O engenheiro José de Oliveira Reis duplicou o túnel do Leme (ou Túnel Novo,como também era conhecido), de 1943 a 1946, quando então se duplicou a rua,tornando-se avenida, demolindo-se todo um correr de prédios. O último a ir abaixo foi ovelho Hotel Vogue, na avenida Atlântica, em fins dos anos 50, quando então ganhou estelogradouro as dimensões largas que possui atualmente. O atual canteiro central foiresultado das obras do Rio Cidade, em 1994/96, quando então se removeu do seu eixo aestátua do Visconde do Rio Branco, hoje na Praça Demétrio Ribeiro. Esta estátua tinhasido removida da Glória para Copacabana em 1938. Quando abriram seus alicerces,acharam uma caixa de chumbo cheia de moedas, doadas depois ao Museu do Itamaraty.

Hoje, o Túnel do Leme possui denominação oficial, aliás, duas: Coelho Cintra, naboca mais antiga, ao lado da Igreja de Santa Terezinha, e Marques Pôrto, na bocasituada ao lado da Rua Carlos Peixoto.

MONUMENTO À PRINCESA ISABEL – AVENIDA PRINCESA ISABEL – LEMENa década de 60 existiu um monumento em memória à princesa Isabel Redentora

na avenida que a homenageia, no Leme. Junto com a estátua do Visconde do RioBranco, eram assim eternizados numa única via pública os dois maiores responsáveispela emancipação dos negros no Brasil. Entretanto, na década de 70, por causa de umaobra, demoliram a estátua da Princesa, a qual não foi mais reconstruída depois.Atendendo aos rogos dos moradores locais, o Prefeito César Maia ordenou a fatura deuma nova estátua, a qual foi inaugurada às 10h do dia 13 de maio de 2.003, na hora edia em que foi assinada por aquela titular a Lei Áurea.

A estátua em bronze representa a Princesa Isabel em pé, sobre um pedestal,tendo na mão esquerda a pena de escrever. Tem 2,50m de altura e é obra do escultorEdgard Duvivier Filho. Custou 80 mil reais e foi providenciada pela Fundação de Parquese Jardins.

TEATRO VILLA-LOBOS - AV. PRINCESA ISABEL, 440 - COPACABANAIniciativa da Funterj-Fundação de Teatros do Estado do Rio de Janeiro, este

empreendimento de 1977 se implantou em terreno doado pelo governo do Estadodurante a gestão Faria Lima. Dadas as limitações físicas, o programa foi resolvido peloarquiteto Raphael Matheus Peres em patamares: a partir do nível da rua amplasescadarias conduzem às bilheterias, destas ao foyer e daí à platéia, que comporta 500pessoas. No subsolo, cujo nível foi determinado pela existência de instalaçõessubterrâneas, foi implantada a escola de balé, que compreende espaços para ensaio eaquecimento, vestiários, camarins, serviço médico e administração. Para atender aosartistas, o teatro dispõe ainda de um bloco de quatro pavimentos com camarinsindividuais e coletivos, salas de ensaios e preparação e cantina. Durante a execução daobra, foi incorporado um pequeno terreno anexo para o qual o arquiteto projetou umteatro de marionetes, integrado ao conjunto por pequenos arcos que acompanham oritmo da fachada principal.

HOTEL MERIDIEN - AV. ATLÂNTICA, 1020/AV PRINCESA ISABEL - LEMEO projeto dos arquitetos Paulo Casé e Luís Acioli, de 1973, beneficiou-se da

legislação especial surgida na época que, sob alegação de incentivo ao turismo, liberou ogabarito de edificações destinadas a instalações hoteleiras. Assim, numa faixa litorâneade gabarito máximo fixado em 12 pavimentos foi inserido um edifício três vezes maisalto. Este hotel de alto padrão compreende 535 unidades e 33.500m2 de área

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construída. Os acessos foram localizados em função das características das vias quecircundam o terreno, com entradas independentes para o público em geral, hóspedes,banhistas e serviço. A torre de apartamentos foi projetada e localizada de modo aatender à necessária concentração de serviços e liberar a maior parte do terreno parapiscina e restaurantes, situados no embasamento. A implantação da piscina na esquinadas avenidas Atlântica e Princesa Isabel favorece a visão global da praia e permiteinsolação durante a maior parte do dia. A exiguidade do terreno determinou a construçãode um edifício-garagem privativo a 100m do hotel. Devido à limitação de altura, a caixad`água superior foi substituída por uma cisterna, que comporta 1,5 milhão de litros,estudada volumetricamente para dar estabilidade à estrutura do prédio. As fachadasreafirmam a verticalidade do edifício, valorizando os elementos estruturais, revestidos demármore, que se destacam sobre as superfícies envidraçadas. Apesar de não serempermitidas por lei, as aberturas na divisa lateral foram liberadas por serem fixas eindevassáveis. Também levou-se em consideração ser esta solução mais apropriada quea tradicional, que seria “colar” o prédio no vizinho.

AVENIDA ATLÂNTICA - COPACABANAA primitiva avenida foi traçada como reles rua de serviço em 1904/06 pelo Prefeito

Pereira Passos. Só possuía quatro metros de largura, servindo apenas para pedestres.Com o crescimento do trânsito pela orla e o surgimento da moda dos banhos de mar, setornou pequena, sendo ampliada para 19 metros de largura em 1910/11 pelo PrefeitoBento Ribeiro. O Prefeito Paulo de Frontin a melhorou em 1918/19, quando foi todarefeita. Logo depois, uma ressaca a destruiu, exigindo ser reconstruída em 1921/22. Foinovamente atingida por outra ressaca e refeita em 1924. De 1969 a 1971 foi duplicadapelo Governador Negrão de Lima, segundo sugestão do arquiteto Lúcio Costa e projetodo engenheiro Raimundo de Paula Soares. Na ocasião, colocou-se sob o calçadãocentral o Interceptor Oceânico da Zona Sul, a maior obra de esgotos até então efetuadana cidade.

As calçadas em mosaico de pedras portuguesas foram desenhadas por RobertoBurle Marx, que se utilizou de pedras de três cores, preta, branca e vermelha,representando os povos que formaram nossa etnia. O desenho foi imaginado para serpercebido de avião, à exceção do da orla, que reproduz o antigo mosaico onduladoimitado de Portugal. Em 1988 foram plantados coqueiros pela administração SaturninoBraga, na areia para suavizar a paisagem e, finalmente, em 1992, foi refeita a orla peloPrefeito Marcelo Alencar, com a proibição de estacionamentos, a construção de umaciclovia e a colocação de quiosques de alimentação.

POSTOS DE SALVAMENTO – AVENIDAS ATLÂNTICA/VIEIRA SOUTO/DELFIMMOREIRA – COPACABANA/IPANEMA/LEBLON

Em 1924, o Prefeito Alaôr Prata mandou edificar postos de salvamento na orlamarítima da cidade, principalmente nas praias oceânicas. Colocados em intervalosregulares de 900 metros, acabaram por demarcar áreas específicas das praias, além, éclaro, de cumprirem suas funções originais. Os banhistas marcavam encontros usandoos postos como balizas. Em 1975, esses postos, em estilo art-déco, estavam játecnologicamente superados e muito danificados, o que impôs sua substituição. Osnovos postos foram projetados em 1976 pelo arquiteto Sérgio Wladimir Bernardes, eforam colocados em toda a orla oceânica, inclusive nas novas praias da Barra da Tijucae Recreio dos Bandeirantes. Mantendo o mesmo espaçamento, são de formatoaerodinâmico, em concreto aparente, possuindo sanitários e chuveiros para banhistas,além das instalações para salva vidas.

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POSTOS DE ABASTECIMENTO DA AV. ATLÂNTICA - COPACABANAConcebido pela mesma equipe de arquitetos e na mesma época em que foi

realizado o Posto Catacumba (1968, Dilson Gestal Pereira, Waldyr A . Figueiredo, PauloRoberto M. de Souza e Alfredo Lemos), este projeto segue a intenção promocional doanterior. Planejado em quatro pontos ao longo do canteiro central da av. Atlântica,segundo idéia do Governo do Estado da Guanabara, de viabilizar as obras dealargamento da avenida através da venda dos terrenos à Petrobrás Distribuidora S.A .Extremamente polêmico, devido a sua situação particular, o projeto procurou se integrarà paisagem minimizando o atrito visual. A solução encontrada demonstra a preocupaçãodos arquitetos em amenizar o contraste com a paisagem, mantendo em destaque a praiade Copacabana, cartão postal do Rio de Janeiro. Novamente a cobertura domina acomposição. Seu desenho surgiu da idéia de um cálice, ou uma papoula, e evoluiu paraquatro pétalas em fibra de vidro que, ao se tocarem, dão rigidez à estrutura. O encontrodessas pétalas é marcado por uma cúpula de vidro translúcido. A continuidade visual foiassegurada pela solução para áreas de escritório e vendas, localizada numa caixa devidro transparente, e as dependências de depósito e serviço, num pavimento enterrado,com iluminação zenital.

HOTEL INTERNACIONAL RIO - AV. ATLÂNTICA, 1500 - COPACABANAO hotel foi construído em terreno reduzido de 400m2, num projeto de 1986

elaborado por Cláudio Fortes e Roberto Victor. Projetado inicialmente como hotel-residência, foi modificado para uso hoteleiro, o que incentivou os arquitetos a lhe conferiruma personalidade marcante que caracterizasse sua nova função, destacando aedificação do conjunto de prédios da av. Atlântica. O volume é composto por um corpode 13 pavimentos sobre embasamento e recebeu tratamento em vidos bronze eesquadrias pintadas de vermelho em composição com os pilares cilíndricos externos aoedifício revestidos em granito marrom-avermelhado. Em vista da proposta, inédita no Rio,de dar atenção especial aos executivos em viagens de negócios, foram criadascondições especiais para garantir funcionalidade no atendimento e na prestação deserviços extras. Além de restaurante, bares, piscina, sauna e garagem, o hotel temsalões de convenções, serviço de secretária bilíngüe, escritórios para hóspedes e todoapoio tecnológico mais avançado.

O PALÁCIO DO MAR - HOTEL COPACABANA PÁLACENo dia 28 de outubro de 2.003, o SINDEGTUR/RJ, por intermédio de sua Diretoria

de Capacitação, efetivou mais um evento de seu projeto cultural “Andando pelo Rio”,realizando importante visita técnica de Guias de Turismo às belas instalações doCopacabana Pálace Hotel. Aqui, nesse pequeno espaço, tento traçar apenas algunsdados curiosos de sua história.

Em 1920 o Presidente da República, Epitácio Pessoa, convocou o empresário dosetor de hotelaria Octávio Guinle e fez-lhe a proposta para construção de um grandehotel de turismo no Rio de Janeiro. A iniciativa visava atender ao grande fluxo devisitantes previstos para a Exposição Internacional comemorativa do Centenário daIndependência do Brasil, que se realizaria em 1922, no Castelo. Seriam concedidosbenefícios fiscais, bem como a licença para nele funcionar um cassino, este último umaexigência dos Guinle. A proposta foi aceita e essa é a origem do Hotel CopacabanaPálace.

Octávio Guinle adquiriu então um alqueire de terras na Praia de Copacabana, quenaquela época ainda era ocupada escassamente por algumas casas. O terreno dava

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frente para a Avenida Atlântica, alargada em 1919 por Paulo de Frontin. Contratou-se oafamado arquiteto francês Joseph Gire, o qual projetou um estabelecimento bastantecalcado nos modelos dos hotéis Negresco e Carlton, de Nice, na Côte D`Azur. Foientregue a construção ao engenheiro brasileiro César Mello e Cunha. Dificuldades deimportação de materiais de construção, quase todos vindos da França, bem como otransporte dos mesmos para o Brasil e para Copacabana, assim como também osprofundos alicerces de 14m exigidos e para a confecção dos quais ainda não tínhamostecnologia, atrasaram de muito a obra, somente possível de ser inaugurada em 13 deagosto de 1923, quase um ano após o encerramento da dita Exposição Internacional. Nanoite de estréia, deveria ocorrer um show com a artista francesa Mistinguett, mas seucontrato com o Teatro Lírico a proibiu.

O Presidente Arthur Bernardes, sucessor de Epitácio Pessoa, tentou em 1924cassar a licença para nele funcionar um cassino, haja vista que a construção do mesmoultrapassara o prazo estipulado pelo Governo. Depois de longa pendência judicial, afamília Guinle obteve ganho de causa em 1934. A visão de Octávio Guinle mostrou-secorreta e logo se tornou o Copacabana Pálace lugar de encontro da sociedade brasileirae de celebridades internacionais, ultrapassando de muito a tímida visão espalhada pelacrítica da época de que ninguém se hospedaria em hotel tão distante do centro. Nessesprimeiros dez anos de vida, o Copacabana Pálace foi palco de eventos históricos edramáticos. Ainda em construção, sofreu violenta ressaca em 1922, que lhe destruiu todaa avenida Atlântica e causou-lhe danos nos pavimentos inferiores. Em 1925 hospedou aprimeira personalidade mundial, na figura do cientista Albert Einstein. Em 1928, num deseus salões, foi alvejado por uma bala o Presidente Washington Luís, num tiro dado porsua amante francesa durante um arrufo. O Presidente foi socorrido pelo médicoFrancisco de Castro e o episódio abafado. No mesmo ano, em dezembro, hospedou-seno Copacabana, em profunda crise de depressão, o inventor Alberto Santos Dumont, jácom a mente bastante debilitada e muito triste ao presenciar, na sua chegada ao Brasil,um horrível acidente aéreo, quando o avião que jogaria pétalas de flores em seu barcobateu na água, na Baía de Guanabara e explodiu, matando seus doze ocupantes.

Em 1933 o Copacabana Pálace seria conhecido internacionalmente por um filmerealizado em Hollywood, “Flying down to Rio”, com Dolores Del Rio, Fred Astaire eGinger Roger, ambientado no hotel, mas todo realizado em estúdios nos Estados Unidos,com cenários pintados do Rio de Janeiro e a praia de Malibu “dublando” Copacabana. Ofilme foi um sucesso e tornou o hotel famoso mundialmente da noite para o dia. Em1934, foi construída a piscina do hotel, em projeto de César Mello e Cunha, depoisampliada em 1949. Em 1938 inaugurou-se o “Golden Room”, com show de MauriceChevalier.

O Príncipe Edward de Gales, futuro Rei Edward VIII da Inglaterra, bem como seuirmão Jorge, igualmente futuro monarca britânico, se hospedaram no Copa em 1931,tendo Edward protagonizado um rumoroso episódio constrangedor para a Família RealBritânica ao se apaixonar por uma senhora brasileira, Negra Bernardez, desquitada emãe de dois filhos, a qual ele queria levar de todo o jeito para a Inglaterra e com ela secasar. Em seus arroubos, chegou a intentar um vôo num avião experimental trazidodesmontado em seu navio para impressionar sua amada, jogando-lhe flores do altosobre sua casa, no que foi dissuadido do ato por seus assessores. Não se refez doepisódio, tomando “homérico” porre e jogando-se todo fardado na piscina do CountryClub de Ipanema. Anos depois, Edward, já Rei da Inglaterra, renunciaria ao trono paracasar com a desquitada americana Lady Simpson, com quem viveu o amor de sua vida.Quanto à Negra Bernardez, a mulher que recusou ser rainha da Inglaterra, era mãe doafamado colunista social Manuel Bernardez Müller (Maneco Müller).

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A Segunda Guerra Mundial tornou o Copacabana Pálace o único hotel de turismode porte capaz de hospedar a elite internacional sem sofrer do perigo de um bombardeio.Foram os anos áureos do hotel. A política de boa vizinhança para com os EstadosUnidos, estabelecida em 1942, fez com que grandes personalidades daquele país nosvisitassem e se hospedassem no Copa. Praticamente todos os grandes atores deHollywood nele tiveram pouso: Clark Gable, Edward G. Robinson, Fred Astaire, DoloresDel Rio (finalmente no Copa!), Katerine Hepburn, Lana Turner, Marlene Dietrich (querealizou show memorável em 1959), Orson Welles (que “morou” seis meses no hotel em1942, e que num acesso de fúria jogou os móveis de seu quarto na piscina...), WaltDisney (que nele esboçou o personagem “Zé Carioca”), Josephine Baker (que manteveencontro furtivo com Le Corbusier), e muitos outros.

Após a guerra, com a proibição do jogo em abril de 1946, passou o CopacabanaPálace por ampla reforma, que lhe aumentou a capacidade, acrescentando dois andaresao prédio principal, mais a pérgula lateral, que se tornou ponto de encontro da sociedadebrasileira e estrangeira, e ergueu-se o anexo nos fundos, inaugurado em 1949. No antigocassino foi instalado o teatro Copacabana, responsável pelo lançamento de muitostalentos da dramaturgia nacional. Fez a reforma do Copa o arquiteto Wladimir Alves deSousa, que soube preservar a ambiência antiga do hotel. O anexo tornou-se logo lugarnão só para residência de hóspedes ilustres, como também para encontros furtivosimportantes, pois existia uma elaborada passagem subterrânea, por detrás do salão decabeleireiro, que conduzia quem não quisesse ser visto daquele lugar até o anexo.Devem ter sido encontros extremamente apaixonados, pois pelo menos dois amantesmorreram do coração, um deles importante senador da República por São Paulo e outroum respeitável banqueiro carioca...

Quem quase morreu no Copa, mas de coração partido, foi a grande cantoranacional Carmem Miranda, frustrada pelo fracasso de seu casamento. Carmem trancou-se em seu quarto em dezembro de 1954 e pensou seriamente em se matar, desistindoapós olhar a bela paisagem da orla de Copacabana da janela de sua suíte. Carmem,aliás, seria muito mais lembrada pela alegria que exarava em seus shows no GoldenRoom que por este episódio, que com o tempo lhe levaria à morte em agosto de 1955.

Os anos cinqüenta foram o canto-do-cisne da fase áurea do Copacabana Pálace,que entra em lenta decadência após a transferência da capital para Brasília em 1960.Continuou como um importante hotel da cidade, servindo de pouso a visitantes ilustresdo Rio de Janeiro (como os astronautas da Apolo 11), palco da vida social da cidade,onde famosos cronistas sociais iam buscar matérias para suas colunas, até ser superadopor hotéis mais modernos na década de setenta. Em 1985, quando intentaram suademolição, foi tombado pelas três esferas: IPHAN (Federal), INEPAC (Estadual) e DGPC(Municipal). Em fins da década de oitenta a família Guinle, na figura de seu herdeiro epresidente José Eduardo Guinle, vendeu-o em 1989 ao grupo “Orient Express”, que oreabilitou, modernizando velhas instalações sem descaracterizá-las.

Presentemente é o Hotel Copacabana Pálace um dos mais importantesestabelecimentos hoteleiros da cidade, com modernas 236 acomodações palacianas edos mais queridos bens culturais do Rio de Janeiro, local de confluência de váriosepisódios importantes do século XX, sendo preciosa lembrança de uma época de fastígioe esplendor, único bem deste gênero sobrevivente na cidade.

HOTEL RIO OTHON PALACE - AV. ATLÂNTICA, 3.264 - COPACABANAA liberação do gabarito para edificações destinadas a serviços de hotelaria

favoreceu a implantação desse edifício na av. Atlântica. O anteprojeto, elaborado porArthur Lício Pontual, vencedor de concurso privado em 1968, foi retomado no período

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1971-72, após sua morte, por uma equipe de arquitetos encabeçada por seu irmãoDavino Pontual. Dadas as dimensões exíguas do terreno, de 1.600m2, o partido adotadofoi o de uma torre de 28 pavimentos afastada das divisas; sobre embasamento com setepavimentos, onde estão serviços gerais e garagem, com ocupação integral do lote. Adisposição do pavimento-tipo em “U”, abraçando a garagem vertical, possibilitou aliberação de três subsolos, construídos simultaneamente com a superestrutura, parainstalação de todos os equipamentos e serviços de apoio. No térreo, a criação de umarua interna facilita a circulação de hóspedes e visitantes. Externamente, o edifícioharmoniza o emprego de elementos estruturais em concreto aparente com um jogovolumétrico de sacadas e superfícies brancas.

RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR – AVENIDA ATLÂNTICA, 3.804 – COPACABANAErguida em 1927 sob projeto em estilo art-déco do arquiteto Júlio de Abreu Júnior,

foi uma obra pioneira dentro da arquitetura moderna no Rio de Janeiro. É uma dasúltimas residências da orla de Copacabana.

EDIFÍCIO JUSTUS WALLERSTEIN – AVENIDA ATLÂNTICA, 3.958 – COPACABANAProjeto moderno de Sérgio Bernardes, datado de 1960. houve especial cuidado do

arquiteto com desenho dos elementos pré-fabricados.

EDIFÍCIO IMPERADOR – AVENIDA ATLÂNTICA – ESQUINA DE RUA JOAQUIMNABUCO – POSTO VI – COPACABANA

Grande edifício multifamiliar com acentuada volumetria e ângulos abaulados ouem curva, construído em 1938 por Cápua & Cápua engenheiros e arquitetos. Um dosícones do estilo art-déco no bairro.

MUSEU HISTÓRICO DO EXÉRCITO E FORTE DE COPACABANA – PRAÇACORONEL EUGÊNIO FRANCO, NO. 1 - POSTO VI - COPACABANA

O Vice-Rei Marquês de Lavradio mandou erguer em 1776 um pequeno forte emalvenaria onde era a antiga ponta da Igrejinha, na praia de Sacopenapan. Sua funçãoera prevenir ataques dos espanhóis, que no ano seguinte, realmente, invadiram oterritório nacional e atingiram a Capitania de Santa Catarina. O forte nunca foi terminadoe somente foi artilhado em 1823, quando se temia um ataque português às nossascostas. Em 1831, foi mandado desarmar pela Regência provisória. Quando da Revoltada Armada, em 1893, voltou a ser artilhado, mas sua ancianidade já estava patente:nada pôde fazer para impedir a saída dos navios revoltosos da Baía de Guanabara. Anosdepois, uma ameaça de guerra contra a República Argentina fez com que o Estado Maiordo Exército encomendasse em 1898 o projeto de uma nova fortificação ao majorengenheiro Augusto Tasso Fragoso, que elaborou um anteprojeto da Fortaleza deCopacabana, com seis canhões de longo alcance. A solução de uma grave questão defronteira com aquela República foi resolvida diplomaticamente pelo Barão do Rio Branco,fazendo com que o projeto da citada fortificação fosse engavetado.

Tendo as relações entre a Argentina e o Brasil novamente piorado na primeiradécada do século XX, decidiu-se pela construção da fortificação, tendo sido enviado oprojeto de Tasso Fragoso à Casa Krupp, de Essen, na Alemanha, para ser atualizado eorçado. Foi a obra toda recalculada para ser executada em peças de concreto pré-moldadas na Alemanha, sendo os canhões adaptados aos novos calibres surgidos. Fezas alterações o major engenheiro Otto Kuhn. Em 1908, sendo Presidente da RepúblicaAfonso Augusto Moreira Penna e Ministro da Guerra o Marechal Hermes Rodrigues daFonseca, foi dado início à obra da fortificação, que veio quase toda desmontada da

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Alemanha em 5.000 caixotes, desembarcados num cais construído especialmente paraisso ao lado da ponta de Copacabana. Coordenou a obra o Major Arnaldo Paes deAndrade. Foi, finalmente inaugurado o Forte de Copacabana a 28 de setembro de 1914,sendo classificada na ocasião de fortificação de 1a. Classe. Era dotada de seis canhõesKrupp de longo alcance: dois de 240mm; dois de 180mm e dois de 75mm. O alcancemáximo atingia 28km. O útil, 21Km. Os quatro primeiros podiam girar 360o. Os doisúltimos somente 180o. Na época não existia nada que a superasse na América Latina.Em 1918, foi ampliada, tendo o Exército adquirido a rua de acesso e comprado à Mitra aigrejinha de Nossa Senhora de Copacabana, erguida ai por volta de 1715, e demolida em1918-19 por ficar na linha de fogo dos quatro maiores canhões. Na mesma ocasião foiconstruído o quartel de paz e ampliadas as instalações elétricas, fornecidas pela firmaAEG, de Berlin, tão poderosas que podiam fornecer energia elétrica a todo o bairro deCopacabana. O artístico portal da Praça Coronel Eugênio Franco, bem como a magníficaentrada da Praça d`Armas, foi projeto do major engenheiro Volmér da Silveira.

Em princípio de julho de 1922, depois de longos atritos entre o Governo EpitácioPessoa e o Exército, foi ordenada a prisão do Marechal Hermes da Fonseca, porinsubordinação. Comandava o Forte de Copacabana, na ocasião, o Capitão EuclidesHermes da Fonseca, que intentou um plano para derrubar o Governo pela força dasarmas. A rebelião foi marcada para cinco de julho, mas o Governo se antecipou e trocouos principais comandos das guarnições das fortificações da cidade, tendo emconsequência disso que apenas os Fortes de Copacabana e Leme, este últimodesarmado; e a Escola Militar, aderiram ao movimento, sendo que os dois últimos foramlogo debelados. O Forte de Copacabana fez vários disparos contra o Quartel General doExército, no Campo de Santana; o Ministério da Marinha, na Praça Barão de Ladário; aFortaleza de Santa Cruz, em Niterói; e o Forte de São João, na Urca; atingindo somenteo primeiro, no segundo tiro. O Capitão Euclides Hermes saiu da fortificação paranegociar e foi preso em Laranjeiras. Assumiu, então, a chefia do movimento, o TenenteAntônio de Siqueira Campos, que verificou a total impossibilidade de resistência, bemcomo o sacrifício que tal atitude estava custando à população da cidade, com as balasatingindo alvos civis. Também observou que os canhões haviam sido sabotados, e agorao Forte era bombardeado pelo Encouraçado São Paulo, e por aviões militares. Resolveuentão abrir o Forte, permitindo que os desejosos de rendição assim o procedessem.Trezentos se renderam, ficando fiéis ao movimento apenas 28 homens. Resolveu-seentão marchar até o Catete, num ato de protesto suicida. Às 13:00h do dia 06 de julho,iniciaram a marcha, juntando-se a eles o engenheiro civil Otávio Correia, amigo deSiqueira Campos. Um número até hoje não especificado de integrantes se rendeu oudesertou, ficando ao final apenas 11 ou 13 do grupo original. Na altura da rua Barroso,atual Siqueira campos, foram obstaculizados por uma força legalista, iniciando-se umtiroteio que durou uns trinta minutos. Ao final, foram capturados, muito feridos, o TenenteSiqueira Campos, com um tiro no abdômem; o Capitão Eduardo Gomes, com um tiro navirilha; e dois soldados. Os outros morreram na ocasião ou no hospital, em consequênciados ferimentos recebidos.

A atitude de protesto contra o Governo da República Velha fôra debelada, mas oexemplo frutificou, originando o dito “Movimento Tenentista” e a legenda dos “Dezoito doForte”(termo cunhado pela imprensa, que desconhecia o número real de participantes),os quais representavam uma atitude de protesto da classe média à oligarquia que nosgovernava. Dois anos depois, na mesma data, estourava movimento similar em SãoPaulo, e de 1925 a 27 o país foi palmilhado pela Coluna Prestes, com idêntico objetivo. Avitória dos tenentes deu-se na Revolução de 1930, com a queda do Governo e aascensão de Vargas. A 24 de outubro de 1930, o Forte de Copacabana serviu de

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presídio ao presidente deposto, Dr. Washington Luís Pereira de Sousa, bem como aoPrefeito do Distrito Federal, Antônio Prado Júnior. Partiram ambos em exílio, direto dalipara a Europa.

O Forte de Copacabana teve atuação discreta durante a Segunda Guerra Mundial,tendo dado seus últimos disparos efetivos em novembro de 1955, contra o CruzadorTamandaré, que se rebelara e fugira para São Paulo, levando a bordo o presidentedeposto, o Sr. Carlos Luz, bem como parte de seu ministério e aliados. Foram feitos dozedisparos durante vinte minutos, sem, no entanto, atingir a embarcação, que estavadesarmada e só com uma hélice funcionando. Em 1964, o Forte não aderiu aomovimento militar de 1o. de abril, tendo sido tomado pela força de terra enviada peloCoronel Cézar Montagna, ocorrendo então o famoso “episódio da bofetada”, quando odito Coronel derrubou a sentinela da entrada com um golpe de mão, invadindo etomando a fortificação, sem o uso de armas. Durante o regime militar, serviu o Forte deCopacabana de presídio político.

Desativado totalmente em 1986, foi reaberto no ano seguinte como MuseuHistórico do Exército e Forte de Copacabana, muito ampliado em meados da década denoventa por ordem do Ministro do Exército Zenildo de Lucena, sendo suas instalaçõesequipadas com os mais modernos processos museológicos, tornando-se importante bemcultural da cidade e repositório de elevadas tradições militares. A área de entorno, cujosterrenos chegam ao Arpoador, igualmente tornou-se notável área de lazer para apopulação carioca, sendo palco de eventos marcantes, particularmente no Reveillon,onde há artística queima de fogos e disputada recepção.

MONUMENTO AO POETA CARLOS DRUMMOND – AVENIDA ATLÂNTICA – POSTOVI – COPACABANA

Interessante monumento interativo inaugurado a 31 de outubro de 2.002 emhomenagem ao centenário de nascimento do poeta mineiro Carlos Drummond deAndrade. Representa o homenageado em tamanho natural, sentado num banco de praia,de costas para o mar e mirando os prédios, atitude que era seu costume. Aliás,Drummond residia nas proximidades, na Avenida Rainha Elizabeth. Dois dias após adata de inauguração, a estátua foi pichada por vândalos. Vinte e três dias depois, outrodesocupado a atacou com uma pedra, quebrando o aro dos óculos. Em ambos os casos,foi restaurada e agora é bem vigiada.

Estátua sedestre em liga de bronze, linda concepção naturalista do artista LéoSantana.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE – DADOS BIOGRÁFICOSCarlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de

outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade deBelo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foiexpulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira deescritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais doincipiente movimento modernista mineiro.

Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmáciana cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesarda vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressouno serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe degabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois atrabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em

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1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de1969, no Jornal do Brasil.

O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros deDrummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e adescontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade doautor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente,contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém numpresente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e dotranscurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquantoironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto,entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo deser e estar.

Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha sobretudo com o tempo,em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento domundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummondlançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando,solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua maisíntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.

Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano,alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitasdécadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo tambémpublicado diversos livros em prosa.

Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (LesPaysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782;As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (DoñaRosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), FrançoisMauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberiesde Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).

Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento comoescritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 deagosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria JulietaDrummond de Andrade.

PALACETE PIRATININGA – AVENIDA RAINHA ELIZABETH, 152 – POSTO VI –COPACABANA

Prédio em estilo art-déco, erguido na década de 1930, muito simples, ondedevemos notar as janelas dos saguões de cada andar com interessante desenho devidro e ferro, o movimentado desenho das grades e no pátio a esbelta escada.

EDIFÍCIO MULTIFAMILIAR – AVENIDA RAINHA ELIZABETH, 729 – POSTO VI –COPACABANA

Grande edifício multifamiliar em estilo art-déco, projetado em 1937 pelo arquitetoaustríaco Arnaldo Gladosh, inspirado em construções similares feitas à época em seupaís de origem.

BAIRRO DO PEIXOTO – COPACABANAO Comendador Paulo Felisberto Peixoto da Fonseca nasceu a 14 de dezembro

de 1864, em Portugal, vindo para o Rio de Janeiro com 11 anos. Dedicou-se aocomércio de secos e molhados, onde prosperou muito. Após alguns anos adquiriram

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uma mercearia. Depois de 1898 passou também a administrar bens imobiliários delusitanos no Brasil, quando então adquiriu imensa chácara no areal de Copacabana,entre as ruas Figueiredo Magalhães e Santa Clara. Viúvo em 1929 de Da. OrmindaCunha, brasileira; e sem filhos, passou a se dedicar a obras de caridade. Ainda em vidadoou todos os seus principais bens para instituições beneficentes lusitanas, sendo queos terrenos de Copacabana foram repartidos entre várias entidades de assistênciasocial e hospitalar de Portugal e do Brasil, principalmente à Caixa de Socorros D. PedroV. Esta última, solicitou à Prefeitura em 1939 o loteamento das terras de Copacabana,tendo o engenheiro José de Oliveira Reis projetado as ruas Henrique Oswald, MaestroFrancisco Braga, Décio Vilares e Praça Edmundo Bittencourt, surgindo então o que sechamou Bairro do Peixoto.

Ao contrário do resto de Copacabana, somente foram autorizadas construções depoucos pavimentos ou unifamiliares, evitando assim a verticalização do bairro. A únicaexceção, o edifício São Luiz Rei, desabou fragorosamente em 1951, poucos dias antesde sua inauguração. O Comendador Peixoto faleceu no Brasil a 3 de novembro de1947. Hoje, seu bairro é denominado de “oásis de Copacabana”, pela tranqüilidade queapresenta em relação às barulhentas ruas vizinhas. O jornalista Arthur Xexéo, moradordo bairro, sempre que pode, elogia-o pela sua familiaridade em sua coluna no jornal OGlobo.

BECO DO JOGA-A-CHAVE-MEU-AMOR – RUA CARVALHO DE MENDONÇA –COPACABANA

Em verdade, esse beco nem chega a ser beco, e sim uma pequena rua, aCarvalho de Mendonça, que liga as ruas Duvivier e Rodolfo Dantas. Ladeada por doisedifícios apenas, ambos com muitos e minúsculos apartamentos, autênticas cabeças-de-porco modernas. Nos anos 50, tais apartamentos eram muito alugados porrespeitáveis figuras para abrigarem seus encontros amorosos, ou alguma amante deplantão. O apelido surgiu de uma história dessa época. Conta-se que numa noite, umrapaz bêbado, bem apessoado, esqueceu a chave da portaria e cometeu a temeridadede ir para o meio da rua e gritar para o alto: “Joga a chave, meu amor.”

A mulherada chegou à janela e jogou tantas chaves, que um molhe mais pesadolhe bateu na cabeça, nocauteando-o, forçando sua ida a um hospital para ganhar unspontos. A notícia se espalhou, sendo que o compositor popular João Roberto Kellycompôs uma alegre marchinha carnavalesca que foi um grande sucesso no carnaval de1965.

No Beco do Joga-a-chave-meu-amor os problemas foram muitos. Ali alguns barestiveram pretensões a reviver a velha Lapa, abrigando mulheres de trottoir e traficantesde entorpecentes. Foram fechados pela polícia, reabertos por novos proprietários e,mais cedo ou mais tarde, tornados fora da lei. E assim foram vivendo.

Outros bares do mesmo local, permaneceram alheios a esses problemas, comoacontecia com o Manhattan, de vida mais calma, ou o Kilt Club, o único bar da Zona Sulque exigia o uso de paletó, para os seus freqüentadores. E, como é raro se andar porCopacabana de paletó, o porteiro se incumbia de arranjar algum para quem quisesseentrar. O bar era elegante, mas os fregueses, nem sempre. Ali nunca houve o caso deum freguês pagar a conta, botar a carteira no bolso do paletó e depois devolve-lo àsaída, com a carteira dentro. Donde se conclui que os bêbados do Kilt Club não eramtão bêbados assim.

Hoje, nada mais disso existe. Desde os anos 80 a rua é só de pedestres, osbares viraram brechós, os cubículos viraram lares familiares e as prostitutas foramsubstituídas por homossexuais e travestis, que passaram a reinar de noite.

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BECO DAS GARRAFAS – RUA DUVIVIER – COPACABANAFamoso logradouro de Copacabana, sito na Rua Duvivier, entre as avenidas

Atlântica e Copacabana, o qual não consta de qualquer catálogo de indicação, pois éalcunha de origem popular. Tem seu nome desde os anos 50, pelo fato de serlocalizado num agrupamento de pequenos bares, boites e “inferninhos”, cujosfreqüentadores provocavam tanta algazarra de madrugada, que os moradores davizinhança protestavam, jogando garrafas, sem a maior cerimônia, que vez por outra,atingiam um dos perturbadores da ordem. Não é só a boemia que freqüenta esse beco;a ambulância também, de vez em quando entra ali, para socorrer os que falam alto semse valerem da proteção que lhes dá as marquises dos edifícios.

No Beco das Garrafas enfileiravam-se vários bares: Ma Griffe, Bottle`s, Baccará eLittle Club. Eles tinham características diferentes: o primeiro é meio “inferninho”, osegundo é a catedral da Bossa Nova, o terceiro é o responsável pelo lançamento demuitos cantores (dali saíram para o sucesso a falecida Dolores Duran, Helena de Lima,etc.) e o quarto foi um dos pioneiros do show de bolso, tendo apresentado bailarinos,cantores, músicos e cômicos, sempre com êxito.

O mais famoso produtor de shows no Beco das Garrafas foi Luís Carlos Miéle,que promoveu ali, dentre outros, notáveis espetáculos de Luís Carlos Vinhas, MarisaGata Mansa (Baccará) e Tito Madi (Little Club). O beco foi berço da cantora Nara Leão,ícone da Bossa Nova.

Desde fins da década de 60 o local entrou em decadência e hoje não apresentanada de notável, abrigando bares e boites vulgares.

A ESQUINA DAS COBRASEm 1958, os músicos mais mal comportados se reuniam numa esquina de

Copacabana. A turma do rock fazia um alarido infernal no Snack Bar, um boteco bem naesquina das ruas Raul Pompéia e Francisco Sá, no Posto 6. Sempre era um ensaio oualgo parecido, do grupo The Snakes, criado pelos freqüentadores do local, um antrovisitado a toda hora pela polícia atrás dos jovens delinqüentes. Barra pesada.

Olha o barulho! – grita um dos moradores do prédio onde o Snack está instalado.Um desses moradores, mais impaciente, não se dava ao trabalho de emitir os

gritos. Partia logo para a guerra. Começava a jogar cabeças-de-negro na garotada. Éuma daquelas cenas que nem o maior ficcionista poderia imaginar, mas aconteceumesmo e, quase cinqüenta anos depois, ainda é manchete. O conjunto que ensaiava nomeio das lambretas roncantes era formado por Roberto Carlos e Tim Maia, jovenssuburbanos da distante Tijuca. O morador desesperado que atirava as bombas eraLúcio Alves, um cantor sofisticadíssimo, que tinha a acompanhá-lo na ação belicosa oseu visitante, um jovem baiano que estava no apartamento justamente para mostrar aomestre o seu primeiro 78 rotações: João Gilberto. Corria o mês de julho. O disco estavaquentinho. Aquele som, sim, aquilo era uma verdadeira cabeça-de-negro no ringue damúsica.

Os roqueiros do Snack acabaram fugindo do bombardeio e Lúcio pôde finalmenteouvir o disco. De um lado, Chega de Saudade, de Antônio Carlos Jobim e Vinícius deMorais. Do outro, Bim-bom, do próprio João Gilberto. Eram seis minutos de música, masLúcio teve a mesma impressão óbvia de todos os que correriam atrás do disco naquelesdias: a música brasileira nunca mais seria a mesma. O violão pulava de um jeito inédito,o cantor sussurrava. A primeira impressão podia ser um desencontro absoluto. E ali, noentanto, oito andares acima do Snack, estava rodando um novo país. Nunca mais semorreria de mal de amor nas canções.

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CONGREGAÇÃO RELIGIOSA ISRAELITA SINAGOGA BETH-EL – RUA BARATARIBEIRO, 489 – COPACABANA

No ano de 1921, um grupo de judeus sefarditas fundou uma sinagoga numa casade sobrado comum, na Avenida Mem de Sá, 181. Crescendo a comunidade, esta setransferiu alguns anos depois para a Rua Conselheiro Josino, 14. Com o pomposo nomede Centro Israelita Brasileiro Bené-Herzl, a sinagoga estava instalada um belo sobradoeclético, com dois andares e um terraço. Se tivesse sido preservado seria um importantebem cultural da cidade, mas o êxodo dos membros para a Copacabana, em fins dadécada de 50, levou a transferência das instalações da congregação para o novo bairropraiano. A velha sinagoga acabou depois demolida.

Adquirida uma bela casa na Rua Barata Ribeiro, 489, lá existia um salão parapráticas religiosas, além de área de lazer e desportos.

Havendo necessidade de um espaço maior para as práticas religiosas, entre1966/7 foi construída a nova sinagoga Beth-El num terreno anexo ao casarão, umprojeto muito sóbrio e discreto. Projetada pelo arquiteto Mauro Kleimann, a sinagoga éem arquitetura moderna, desprovida de qualquer luxo, exceto pelos revestimentosexterno e interno em mármore branco imaculado. Internamente, os únicos elementosdecorativos se resumem a uma tapeçaria moderna com o tema das Tábuas da Lei e ummoderno Menorah em bronze.

Obedece, como já foi citado, ao rito Sefaradi.

EDIFÍCIO MMM ROBERTO – AVENIDA NOSSA SENHORA DE COPACABANA, 1.267– COPACABANA

A característica fundamental deste edifício de apartamentos é a preocupação –constante na obra dos irmãos Roberto – com controle da insolação. O inventivo sistemade proteção contra o sol foi projetado para atender a ângulos de incidência solarvariáveis durante o dia. As esquadrias são divididas em três partes, articuladas numquadriculado de concreto. Persianas ajustáveis, empregadas na face externa do vidro,protegem as partes superior e inferior. A parte central é sombreada no período de sol apino pela disposição de treliças horizontais fixas em concreto, e a insolação da tarde éamenizada por um quadro móvel de persianas, também em concreto, estudado deforma a não prejudicar a visão da rua. Como curiosidade, vale ressaltar que este edifíciofoi erguido em 1945 onde existiu a casa da família e nasceram os três arquitetos.

EDIFÍCIO ITAHY – AVENIDA NOSSA SENHORA DE COPACABANA, 252 – ESQUINADE RUA RONALD DE CARVALHO - COPACABANA

Edifício em estilo art-déco erguido em c. 1938 por Arnaldo Gladosh, arquiteto. Oritmo linear das verticais formadas pelas peças de majólica, cria uma moldura muitoelegante para o ingresso, coroado por uma estupenda escultura de sereia que surge domar entre peixes e estrelas do mar. O artista executor era o marido da poetisa CecíliaMeirelles.

No corredor de ingresso, muito rico, pilastras da mesma majólica, que repetem oritmo vertical da porta de ingresso, e nos lados da porta, duas placas com cenas dofundo do mar. Interessante balaústre de ferro na escada do fundo. A porta cominteressante desenho que parece abstração de algas.

EDIFÍCIO ITAÓCA – RUA DUVIVIER, 43 – ESQUINA DE AVENIDA NOSSASENHORA DE COPACABANA – COPACABANA

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Na esquina do Itahy, o estupendo Itaóca projetado em 1938 por Robert R.Prentice e Anton Floderer, autores de sucesso de numerosas residências e edifícios deapartamentos. O Itaóca se levanta imponente com seus claros volumes cúbicos eparece guardar todos os prédios art-déco das redondezas. Notar o desenho em bandashorizontais do primeiro e último andar, os desenhos verdes triangulares que, comoreminiscências quase aztecas, enfeitam cada andar na fachada principal, as grades comdesenho geométrico de módulo triangular, e sobretudo, a entrada do vestíbulo revestidacom majólicas verdes no gênero das que empregara o arquiteto Buddeus no seu bonitoprédio da Rua da Alfândega, no. 48 (hoje muito descaracterizado).

EDIFÍCIO MULTIFAMILIAR – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 123 –COPACABANA

Observar desenhos art-déco na fachada e portas com grades onde sobressai odesenho de losangos superpostos. Foi construído na década de 1930.

EDIFÍCIO CAXIAS – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 116 – COPACABANAA fachada fortemente marcada pelas verticais que criam um jogo muito

interessante, pleno de força e criatividade. Em estilo art-déco. Erguido na década de1930.

EDIFÍCIO AMÉRICA – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 110 –COPACABANA

Muito simples, em estilo art-déco, com hall de ingresso em mármore rosa comlistras em rosa escuro. Erguido na década de 1930. No fundo do prédio sobrevivemcinco grandes árvores: um oitizeiro, duas amendoeiras e dois algodoeiros do Pará.

As cinco árvores existentes nos fundos são tombadas pela Municipalidade desde1991.

EDIFÍCIO TUYUTI – RUA MINISTRO VIVEIROS DE CASTRO, 100 – COPACABANAMuito simples, com porta interessante onde são notáveis os agradáveis conjuntos

de flores tipicamente art-déco no seu geometrismo.

EDIFÍCIO GUAHY - RUA RONALD DE CARVALHO, 181 – ESQUINA DE RUAMINISTRO VIVEIROS DE CASTRO – COPACABANA

Edifício em forte estilo art-déco, com interessante trabalho de relevo queacompanha o arco da porta, e movimentada fachada, graças ao zig-zag criado pelasaliência das sacadas.

O Edifício Guahy é tombado pela Municipalidade desde 1990.

EDIFÍCIO OPHIR – RUA RONALD DE CARVALHO, 154 – ESQUINA DE RUAMINISTRO VIVEIROS DE CASTRO – COPACABANA

Sem dúvida o prédio mais coerente deste grupo. Nele toda a decoração em estiloart-déco repete o mesmo desenho de ângulos retos ascendente até o centro, seja nasgrades, como no corte dos mármores do corredor de ingresso, seja nos arcos. Tudochegando à sua realização mais rica na porta de cristal bizotado, onde as linhas quedescem dos ângulos terminam em delicadas espirais.

FAVELA DO CHAPÉU MANGUEIRA - LEMEDesde os primeiros tempos da colonização portuguesa que a orla correspondente

à Copacabana e Leme já era ocupada ou tinha dono. Não contando os índios tamoios,

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que ocupavam as praias desde o século VI, os primeiros sesmeiros portugueses vieramcom a fundação da cidade em 1565.

Estácio de Sá em 1565 doou parte da orla marítima a André de Leão. Seguiram-se em rápida sucessão Bartolomeu de Seixas Rabelo e Francisco Caldas, ambos comengenhos de cana na Lagoa de Sacopenapã (hoje Rodrigo de Freitas). Suas indústriasnão prosperaram. Em 1606, toda a praia passava às mãos do casal Afonso Fernandes eDomingas Mendes. Três anos depois, Da. Domingas, já viúva, repassa essas terras aoGovernador Martim de Sá. Êste não esquenta com elas e, em 1611, passa-as aosesmeiro Sebastião Fagundes Varela, dono do Engenho de Nossa Senhora daConceição da Lagoa. Sua bisneta e herdeira, Da. Petronilha Fagundes, uma respeitávelbalzaquiana de trinta e um anos, casou-se em 1702 com o Capitão de Cavalos Rodrigode Freitas Castro, êle com 16 anos. Em 1717, com a morte de Da. Petronilha, Rodrigode Freitas herdou tudo e bandeou-se para Portugal, onde morreu em 1748 na suaQuinta de Suariba, no Minho.

Com a morte de Rodrigo de Freitas, seus herdeiros desfazem-se de algumasterras, dentre elas, as correspondentes à Praia do Leme, que foi vendida em meados doséculo XVIII a Manuel Antunes Suzano, que assim ficou proprietário de terras que iamda Praia Vermelha à Pedra do Inhangá.

Surgiu a “Fazenda do Leme”, que durou até fins do século XIX. Sua sede erauma casa térrea que ainda existia nos anos trinta, na base do morro do ChapéuMangueira. Em meados do século XIX, a família Suzano vendeu grande parte desseschãos ao Comendador João Cornélio dos Santos, que, entretanto, nada fez com eles.

Entretanto, Suzano não era o único ocupante de suas terras. Desde 1714 ogoverno havia construído um posto semafórico no Morro da Babilônia, que naqueletrecho passou a ser conhecido como “Vigia do Leme”. Tinha a função de avisar por meiode bandeiras ou fogos de artifício a aproximação de navios da Baía de Guanabara, e seeram amistosos ou não. A casa do posto semafórico era exatamente onde hoje seencontra a favela do Chapéu Mangueira, e ainda existiam suas ruínas em 1920.

Em 1776, o Vice Rei D. Manuel de Portugal, Marquês de Lavradio (1769-79),achando que era pouco apenas um posto de sinalização na entrada da barra, mandouerguer um forte no morro do Leme, assim chamado por sua semelhança com os lemesdos navios. Êsse fortim nunca foi artilhado no período colonial e foi abandonadoinconcluso pelo Vice Rei D. José Luiz de Castro, Conde de Rezende (1790-1801), que oconsiderou inútil. Após a Independência, foi artilhado com cinco canhões em 1823, masa Regência novamente o desartilhou em 1831.

As coisas estavam nesse pé quando em 1873 surgiu a figura do alemãoAlexandre Wagner, capitalista e grileiro. Wagner comprou a 07 de maio de 1873 todasas terras da família Suzano e de seu vizinho, o Comendador João Cornélio dos Santos,tornando-se único proprietário dos chãos que iam do morro do Leme até a Pedra doInhangá.

Wagner abriu diversas ruas em suas terras, doando-as à municipalidade em1874, mas o isolamento de Copacabana impediu qualquer loteamento sério na região.Em 1881, seus dois genros e procuradores Theodoro Duvivier e Otto Simon fundaram aempresa Duvivier & Cia. Levando avante a abertura das referidas ruas e desenvolveramo seu loteamento. Entretanto, poucos foram lá morar.

Copacabana começou a tornar-se uma realidade quando em julho de 1892 foiinaugurado o túnel ligando a rua Real Grandeza, em Botafogo, à Rua Barroso (atualSiqueira Campos), por iniciativa da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico, quandogerenciada pelo inteligente engenheiro José Cupertino Coelho Cintra. O bonde ia até aestação, localizada na Praça Malvino Reis (atual Serzedelo Correia) e foi um grande

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avanço para a efetiva ocupação do bairro. Dois anos depois, o Prefeito CoronelHenrique Valadares inaugurou dois novos ramais, Leme e Igrejinha (atual Posto VI),sendo as novas linhas inauguradas a 15 de abril. Onze dias depois, era lançado aopúblico o novo loteamento do bairro do Leme, com várias ruas já cordeadas. Em 1904 aCompanhia Ferro Carril do Jardim Botânico inaugurou sua nova estação e restauranteanexo, logo arrendado à Cervejaria Brahma.

Dentre os primeiros moradores do bairro do Leme estava o Sr. William Marx,alemão, neto do filósofo Karl Marx. William era casado com a pernambucana Da. CecíliaBurle e pai de vários filhos, dentre eles Roberto Burle Marx, nascido em São Paulo emjulho de 1909. O Sr. William Marx inicialmente adquiriu um terreno na nova AvenidaAtlântica, aberta em 1904 pelo Prefeito Francisco Pereira Passos, mas foi dissuadidopor seu médico particular, que afirmava ser o ar salitrado altamente nocivo à saúde deum de seus filhos, Haroldo, que sofria dos pulmões. William vendeu o lote praiano eadquiriu a casa da fazenda do Suzano, um bonito casarão térreo cercado de varandasna nova rua Araújo Gondim, hoje General Ribeiro da Costa. Seu terreno de fundoabrangia todo o morro da Babilônia, exatamente onde hoje se encontra a favela doChapéu Mangueira.

Após estudar canto na Alemanha, Roberto Burle Marx voltou ao Rio de Janeiroem 1926, onde matriculou-se no Curso de Pintura da Escola Nacional de Belas Artes,formando-se em 1930. Roberto utilizava os terrenos do morro para suas experiênciascom plantas exóticas e vegetais, sua verdadeira paixão e que o perseguiu por toda avida. Pode-se dizer que aquele morro foi a primeira versão do “Sítio Burle Marx”, que elefundaria em Guaratiba vinte anos depois.

Por essa época ou pouco antes, uma fábrica de chapéus no morro da Mangueira,no subúrbio da Leopoldina, montou um enorme cartaz no topo do morro do Telégrafo.Era um out-door colorido, com duas pessoas experimentando um Chapéu-do-Chile, queera de um tecido tão leve e fino que podia ser dobrado e colocado no bolso. Já em finsdos anos vinte todos chamavam aquele trecho do morro da Babilônia de “ChapéuMangueira”. O nome pegou.

O crescimento de Copacabana e Leme e a febre de construções que dominou obairro até os anos sessenta ajudou na formação das primeiras favelas, formadas emgrande parte por lavradores empobrecidos que migravam do interior para o Rio à buscade trabalho na construção civil.

William e seu filho Roberto, fiéis ao ideário socialista, não se incomodaram com ainvasão do morro por famílias pobres e, pode-se dizer, até a estimularam com pequenasdoações. Já em 1920 existiam 73 moradias no morro da Babilônia, comaproximadamente trezentos moradores. Em 1929, com a queda dos preços do café,mais lavradores migram para o Rio. Assim sendo, já em 1933 eram 73 moradias, comquase quatrocentos moradores. Na década de quarenta, Roberto Burle Marx doou paraseu amigo particular, o radialista e compositor Ari Barroso uma parte de suas terrasonde passou a residir, originando daí a Ladeira Ari Barroso, legitimada por decreto doPrefeito Marcos Tamoyo em 1975, e ainda hoje o melhor acesso à favela. Anos depois,em 1949, Burle Marx mudou-se para Guaratiba e vendeu sua velha casa, que foi logodemolida e substituída por um arranha-céu moderno que tapou boa parte da vista dafavela.

Aliás, falando em favela, esta não parava de crescer. Pudera. Em 1948 o PrefeitoMarechal Ângelo Mendes de Morais quadruplicou os gabaritos da orla marítima.Rapidamente os antigos casarões são vendidos e demolidos, o que gerou corridaimobiliária e uma febre de construções no bairro que varou os anos sessenta. Em 1950

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moravam no morro da Babilônia(aí se incluindo Chapéu Mangueira), 2.617 favelados,sendo 1.313 homens e 1.304 mulheres.

Depois de 1960, iniciou o Governo do novo Estado da Guanabara (1960-75)intensa campanha de erradicação de favelas, estando Babilônia na lista das quedeveriam ser removidas de imediato. Cessaram todos os recenseamentos e pesquisasoficiais, de modo que não se tem idéia de como a favela cresceu nesses complicadosanos. Não é difícil imaginar. O empobrecimento geral da população brasileira levou àfavelização dos grandes centros. Esses núcleos abandonados pelo poder público àprópria sorte, aprenderam que unidos resistiriam mais eficientemente às investidascontra sua permanência. Chapéu Mangueira resistiu aos Governos Lacerda e Negrão deLima e, com o empobrecimento geral do estado nos anos setenta, atitude agravado pelafusão da Guanabara com o Rio de Janeiro em março de 1975, foram os faveladosdeixados em paz.

Em 1977, o Plano Urbanístico Básico da Cidade do Rio de Janeiro, executadosob ordem do Prefeito Marcos Tamoyo, não definia o que fazer com Chapéu Mangueira.Simplesmente o mapa de intervenções pintava de amarelo a favela e informava “área aser urbanizada”. Em 1979, o Prefeito Israel Klabin declarou serem as favelasirremovíveis. Nessa mesma época, a Pastoral da Favelas, criada pela Arquidiocese doRio de Janeiro iniciou os primeiros levantamentos em vinte anos da população dasfavelas da zona sul, com vistas à sua legalização perante a Prefeitura.

Graças a este levantamento, ficamos sabendo que o morro da Babilônia possuía290 casas, com 1.450 moradores, ocupando a favela uma área de 37.640m2, sendo suavizinha, a favela do Chapéu Mangueira com menor área, possuindo 27.000m2, mas commaior população, contando 339 casas e 1.695 moradores.

Nas eleições de 1982, ocorre o inédito fato de uma moradora do morro ChapéuMangueira sagrar-se vereadora. A Sra. Benedita da Silva foi eleita para a CâmaraMunicipal, sagrando-se, posteriormente, Deputada, Senadora, e Vice-Governadora, játendo sido candidata à Prefeitura uma vez, perdendo de pouco.

E, ao que consta, novamente tentará em 2000.

MONUMENTO A ARI BARROSO – LEMESituado próximo à antiga Cantina Fiorentina, na Av. Atlântica, Leme, foi

inaugurado na sexta feira, dia 19 de dezembro de 2.003. O compositor passou osúltimos 40 anos no Leme, daí a localização da homenagem. Monumento em bronze ede caráter interativo, retrata Ari Barroso em escala real, sentado numa cadeira, como seestivesse numa mesa da dita cantina. O povo pode sentar na cadeia ao Aldo, como seestivesse a dividir o espaço com Ari. Concepção do artista Léo Santana, o mesmo quefez a estátua de Carlos Drummond de Andrade.

ARI EVANGELISTA BARROSO – DADOS BIOGRÁFICOSCompositor e cantor popular, nasceu em Ubá, Minas Gerais, a 7 de novembro de

1903. Anos depois, seguindo um conselho de um amigo numerólogo, retirou o“Evangelista” do nome. Em sua opinião, não dava certo. Com certeza foi o primeirocompositor popular a assim proceder. Perdeu os pais aos sete anos. Foi criado por suatia Rita, que o obrigava a estudar por três horas a fio, todo o dia.

Estudou na cidade natal e veio para o Rio de Janeiro em 1920, com uma herançade 40 contos de réis, legada por um tio. Gastou tudo em dois anos, com farras. Dedicou-se à música e começou tocando piano no Cinema Ideal, na Rua da Carioca. Por vezestocava no Cine Íris, em frente. Formou-se em direito após nove anos de curso, mas suavida já estava dedicada ao samba. Popularizou-se como compositor, radialista de

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sucesso, com dois dos mais disputados programas de calouros, lançando muitostalentos, como Elizeth Cardoso e Elza Soares; e afamado locutor esportivo, torcendoacintosamente sempre para o Flamengo. Quando seu time fazia gol, ele tocava umagaita pelo microfone. Quando perdia, ficava de costas e se negava a transmitir. Foitambém vereador pela UDN, em 1946, o mais votado da Câmara pelo antigo DistritoFederal. Como vereador, bateu-se pelo Direito Autoral, pela construção do estádio doMaracanã e pela implantação da coleta seletiva de lixo.

Compôs sua primeira música, Cateretê, aos 15 anos de idade. Escreveu para oteatro com êxito e dessas revistas surgiram o samba Faceira e a marcha Dá Nela(1930), sendo que esta última o salvou da inadimplência. Seguiram-se sucessosnacionais: No Rancho Fundo, Mimi, Vou à Penha, Quando Eu Penso na Bahia, Maria(1832), Na Batucada da Vida (1934), Na Baixa do Sapateiro (1938), Boneca de Piche(1938), Terra Seca, Aquarela do Brasil (1930), No Tabuleiro da Baiana (1937), Ranchodas Namoradas (1962), Os Quindins de Iaiá, etc.. Esteve nos Estados Unidos em 1944,tendo executado a trilha sonora da parte brasileira do filme de Walt Disney: Você Já Foià Bahia? (1944). Convidado a lá permanecer, recusou-se, afirmando que lá não existia oFlamengo. Participou dos filmes nacionais: Alô, Alô Brasil e Favela dos Meus Amores.

Lutou muito para ordenar o direito autoral no Brasil, contra a politicagem do rádioe dos editores, que o boicotaram sem dó. A partir desse período (1946/52), sóconseguiu romper a barreira da política musical com o esplêndido Risque (1952). Ari fezo samba dar um passo à frente, dando-lhe toque cívico grandioso. Aquarela do Brasilchegou a ser proposta para segundo hino nacional. Ainda hoje é a segunda músicabrasileira mais executada no exterior, só perdendo para Garota de Ipanema, de TonJobim e Vinícius de Morais.

Imprimiu novo impulso à orquestra na música popular pela utilização de conjuntosinstrumentais mais amplos, em contraste com a singeleza de Noel Rosa e Sinhô. Ao fimda vida apadrinhou a Bossa Nova, ficando amigo de Tom, Vinícius e João Gilberto, osquais, aliás, o consideravam um ícone. Enquanto viveu, combateu seu arqui-rival, ocompositor Antônio Maria, contra quem combatia as músicas, na imprensa.

Ari Barroso morava no Leme, em terreno situado no morro do Chapéu Mangueira,onde hoje se abre a ladeira com seu nome, lote doado por seu amigo, o paisagistaRoberto Burle Marx. Sua casa ainda existe e está bem preservada.

O compositor faleceu de cirrose hepática, no Rio de Janeiro, a 9 de fevereiro de1964, num domingo de carnaval, exatamente quando a Escola de Samba ImpérioSerrano entrava na avenida com o samba Aquarela Brasileira, feito em suahomenagem.

FORTE DUQUE DE CAXIAS - PRAÇA JÚLIO DE NORONHA - LEMEEm princípios do século XVIII, o morro e praia do Leme era um lugar ermo,

habitado apenas por palhoças de pescadores e caiçaras. O nome Leme era devido aoformato do morro, que, com seus 124m de altura, lembrava o “leme” das embarcaçõesde então. Logo após a invasão francesa de 1711, foi instalado em seu topo um posto devigia com bandeiras e fogos de artifício, para anunciar a aproximação de naviosestranhos da barra da Baía de Guanabara. Durante muitos anos o morro ganhou oapelido de “do Vigia”, assim sendo citado nos documentos setecentistas. Em 1776, oMarquês de Lavradio, Vice-Rei do Brasil, ordenou a construção de um forte no lugar doposto semafórico, o que foi feito antes de 1779. Em 1791, o Vice-Rei Conde deResende mandou retirar dali toda a guarnição, por motivos de economia. Reza umdocumento antigo que o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, serviu em

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1785-89 como oficial de ligação entre este forte e os de São João, na Urca eCopacabana, na ponta da Igrejinha.

Após a Independência, o forte foi artilhado com cinco canhões de ferro em1823(dois quais três ainda existem na entrada), para oito anos depois ser novamenteabandonado por ordem da Regência Trina, sendo que, desta vez, o abandono perdurounoventa anos.

Em 1913, estando o Brasil em severa crise diplomática com a RepúblicaArgentina, resolveu o Presidente Hermes da Fonseca erguer no local um moderno fortepara defesa da entrada da barra. Fez o projeto o Coronel engenheiro Augusto TassoFragoso, do Estado Maior do Exército, coordenando os trabalhos o Major Arnaldo Paesde Andrade. O projeto foi levado à Alemanha, para ser detalhado pela casa Krupp, deEssen, que o reprojetou em blocos pré-moldados de concreto armado. Comoarmamento, foram projetados quatro obuseiros gigantes Krupp de 120mm, fabricadosespecialmente para esta fortificação, sendo a parte elétrica executada pela firma AEG,de Berlin. Dificuldades no transporte de materiais para o topo do morro, atrasaram demuito o cronograma da obra, que só pode ser entregue ao uso em maio de 1917. Trêsmeses depois, declaramos guerra ao Império Alemão em consequência dotorpedeamento de navios brasileiros durante a 1a. Guerra Mundial, tendo sido expulsosdo Brasil todos os técnicos daquela nacionalidade que trabalhavam na fortificação, semno entanto, nos ensinar como usar aqueles armamentos, o que fez o Forte do Leme teruma atuação passiva durante aquele conflito.

Durante a construção, em 07 de setembro de 1915, foram instalados holofotes nomorro do Leme, tendo se simulado um ataque noturno da esquadra brasileira, fazendo-se passar pela marinha Argentina, ao Rio de Janeiro. Na hora da exibição, com apresença do Presidente da República, ministros e autoridades, falhou a instalaçãoelétrica e os holofotes ficaram às escuras. O assunto repercutiu muito na imprensaArgentina e houve militar portenho que viu nisso uma oportunidade perdida de se atacaro Brasil.

Quando ocorreu a revolta do Forte de Copacabana, em 05 de julho de 1922, oForte do Leme aderiu ao movimento, tendo toda a guarnição abandonado a fortificaçãoe seqüestrado um bonde urbano, que partiu apinhado de soldados para o vizinhorevoltado. Foi o Forte do Leme depois acertado por dois disparos, um deles destruiuparte do muro inferior e a casa da guarda, tendo o segundo, no dia 06 de julho, acertadoa cantina e produzido diversas vítimas fatais. Dois anos depois, em julho de 1924estourou outra revolta, desta vez no Encouraçado São Paulo, da Marinha do Brasil, quezarpou com a guarnição amotinada do Rio de Janeiro em destino ao sul. Resolveram osoficiais do Forte do Leme disparar contra o encouraçado, mesmo não se podendocalcular onde a bala ia cair. O disparo passou longe do navio, mas o impacto dadetonação fez lavrar furioso incêndio nas instalações do forte, que a custo foi debelado.No mesmo ano foram estabelecidos os cálculos necessários para a mira dos obuses,fazendo-se um teste num alvo móvel em abril de 1925, com sucesso completo, tendo,no entanto, os disparos causado danos no próprio forte, haja vista o enormedeslocamento de ar, que feriu os soldados e derrubou uma parede da fortificação.

Em 24 de outubro de 1930, durante a Revolução de 30, ocorreu a queda doPresidente Washington Luís, tendo assumido provisoriamente o poder uma junta militar,que ordenou o fechamento do porto do Rio de Janeiro até o país se normalizar. O navioalemão misto de carga e passageiros “Baden” não obedeceu a ordem e zarpou do portodo Rio de Janeiro sem permissão. O Forte do Leme fez-lhe três disparos de advertência,sem resposta. No quarto, a bala atingiu o mastro principal e matou oito tripulantes,havendo o navio retornado ao Rio de Janeiro para ser acareado.

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Na década de trinta, serviu o forte de menagem a alguns presos políticos. O maisfamoso foi o ex-presidente Arthur Bernardes, que nele esteve recolhido em 1932. Em1935, o forte foi rebatizado para Duque de Caxias, em homenagem ao Patrono doExército Brasileiro. Durante a Segunda Guerra Mundial, manteve o Forte Duque deCaxias posição de atalaia vigilante, tendo ocorrido episódio pitoresco na ocasião. Emfevereiro de 1943, um vigia da fortificação deu o alarme de que vários submarinosalemães estavam próximos da entrada da barra. O Capitão Sadock de Sá, ordenou fogoe começou intenso tiroteio, que contou com o concurso do Forte de Copacabana e dasFortalezas de Santa Cruz e São João. Depois de algum tempo, verificou-se que os taissubmarinos eram baleias, felizmente não atingidas pela chuva de petardos. Ocomandante foi submetido a Conselho de Guerra, sendo absolvido, haja vista que nãose possuía no Brasil radares, sonares ou outros detetores que pudessem diferenciaruma baleia de um submarino.

Em novembro de 1955, o Forte Duque de Caxias deu seu último disparo efetivocontra o Cruzador Tamandaré, que fugiu barra afora levando o presidente deposto, Dr.Carlos Luz, ministros e aliados. O navio foi alvejado por vinte minutos sem ser atingido,apesar de só estar com metade das máquinas em funcionamento. Nove anos depois, oForte Duque de Caxias foi desativado, para ser convertido em 1965 no Centro deEstudos de Pessoal do Exército, importante instituição de ensino superior comportandodiversos cursos de pós-graduação em áreas técnico-administrativas, abertos à classecivil, mas voltados principalmente ao aprimoramento da oficialidade das ForçasArmadas, tanto do Brasil quanto do estrangeiro.

Permanece, hoje, no alto do morro do Leme, o velho forte, desativado,preservado como relíquia histórica militar, inserido em importante contexto paisagístico eecológico, rigorosamente intactos e mantidos com muito zelo pelo Exército Brasileiro.

CENTRO DE ESTUDOS DE PESSOAL – PRAÇA ALMIRANTE JÚLIO DE NORONHA– FORTE DUQUE DE CAXIAS – LEME

Estabelecimento de ensino do Exército Brasileiro, fundado em 1965 e desdeentão instalado no antigo Forte Duque de Caxias, no Leme. É voltado para o estudo e apesquisa na área do comportamento humano.

O Centro de Estudos de Pessoal está subordinado à Diretoria de Pesquisa eEstudos de Pessoal (DPEP), que funciona na Fortaleza de São João, na Urca.

O CEP tem como missão: desenvolver recursos humanos, particularmente nasáreas de psicologia, educação, comunicação social, gestão de informações, informáticae idiomas. Desenvolver pesquisas nos campos acima mencionados e contribuir para oaperfeiçoamento da doutrina pedagógica aplicável ao ensino e à instrução militar.

Para cumprir sua missão, o CEP ministra cursos, gerencia projetos e realizaestudos. Essas atividades estão, em grande parte, abertas também ao público nãomilitar.

OURO NO LEME – MENTIRA CARIOCAO Jornal Última Hora, de terça feira, 11 de março de 1958, estampava em sua

primeira página uma notícia fenomenal: “Ouro no Leme!”Explica-se: o garimpeiro belga René Schutter encontrava-se no Brasil há apenas

quatro meses quando resolveu dar um passeio no costão do Morro do Leme. Próximo àgruta dos Meros, no costão da pedra do Leme batido pelo mar, avistou um brilhoamarelo refulgindo ao sol. Conhecedor do vil metal, identificou-o de imediato. Schutter,curiosamente, não comunicou autoridade alguma sobre o assunto e, segundo o ditojornal, a notícia só transpirou por ele tê-la contado a alguns amigos. Justificando tal

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dificuldade pela alegação de que seria quase impossível de ali se escavar, por ser umapedreira alcantilada batida pelo mar. Schutter conduziu um grupo de dois jornalistas aosítio, onde, com muita dificuldade e alguns canivetes, tentaram raspar alguma coisa. Omar os expulsou. Munidos de algumas fotografias, foram em seguida à Divisão deGeologia do Ministério da Agricultura, onde o geólogo Evaristo Scorza argumentou queas formações antigas do litoral são cortadas por veios de quartzo, da Era Arqueozóica,onde, em alguns lugares se pode encontrar pirita e ouro, mas em quantidades ínfimas.José Cardoso da Silva, funcionário da Divisão de Zoologia e Mineralogia da mesmarepartição, argumentou que o solo do Rio é uma terra própria para formação de mineraispreciosos.

A “Nova Califórnia” do Rio de Janeiro revelou-se, no entanto, um blefe. Depois dealgumas análises, constatou-se que aqueles minerais não tinham valor algum e ahistória morreu, indo-se juntar a tantas outras lendas cariocas.

RESUMO HISTÓRICO DE IPANEMAA restinga hoje ocupada pelos bairros de Ipanema e Leblon já era habitada desde

priscas eras. Com efeito, há provas que os primeiros agrupamentos indígenasassentaram naquela região por volta do século VI.

Um mapa francês de 1558 situa duas aldeias tamoias naquelas plagas, uma emIpanema (aldeia “Jaboracyá”) e outra no Leblon (aldeia “Kariané”). Ambas sobreviveramaos primeiros anos da cidade, mas foram eliminadas em 1575 pelo “Governador daParte Sul do Brasil”, Antônio de Salema, natural de Alcácer do Sal (152?-1586).

Desejoso daquelas terras, Salema, em seu mandato de três anos (1575-1578)mandou colocar roupas de doentes nas matas da região, eliminando os índios porcontágio. Na parte onde hoje está o Jardim Botânico, mandou erigir um engenho decana, ao qual denominou “D`El Rei”. O engenho não deu certo de início e em 1584 foisugerida sua venda. Quatorze anos depois, ele foi vendido ao Vereador Diogo deAmorim Soares, vindo da Bahia (1558?-1609?), que o rebatizou de “Engenho de NossaSenhora da Conceição da Lagoa”. Soares, retirando-se da cidade em 1609, revendeuas terras no ano anterior a seu genro, Sebastião Fagundes Varela, natural de Viana doCastelo (1563-1639), casado com sua filha Da. Maria de Amorim Soares (1589-1676).Fagundes logo ampliou as instalações do engenho e, para tal, cobiçou para suaempresa os terrenos de marinha.

Os primeiros proprietários das praias da zona sul carioca, afora os índiostamoios, foram poucos portugueses. Em 1603 Antônio Pacheco Calheiros (1569?-1634),vereador em 1619, casado com Da. Inês de Leão, obteve enfiteuse de terras que iam doengenho de Diogo de Amorim Soares (Lagoa) até a “costa brava” (Leblon), correndo atéa Gávea (Vidigal). Em 1606, Afonso Fernandes e sua esposa, Da. Domingas Mendesobtiveram carta de sesmaria da câmara que lhes davam o aforamento de “300 braçascomeçadas a medir do Pão de Açúcar ao longo do mar salgado para a Praia de João deSouza (Botafogo) e para o sertão, costa brava, tudo o que houvesse”. Eram todos osterrenos de marinha do Leme ao atual Leblon, incluindo-se aí, é claro, a futura Ipanema.Pagavam foro de 1000 réis.

Em 1609, Da. Domingas, já viúva, trespassa esse aforamento a Martim de Sá(1575-1632), Governador do Rio de Janeiro (1602/08, e 1623/32), filho do então ex-Governador Salvador Corrêa de Sá, nascido em Barcelos (1542-1631, governou em1568/72 e 78/98) para benefício do engenho que o mesmo possuía na Lagoa. Esseengenho, denominado de “Nossa Senhora das Cabeças”, não foi adiante, haja vista queMartim estava erguendo outro maior em terras que obtivera na aldeia de “GuaraguassúMirim” (atual Barra da Tijuca). O aforamento então foi sendo aos poucos repassado,

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sucessivamente em 22 de junho de1609, das terras que iam desde o Pão de Açúcar atéa “Praia Brava” (Leblon); em 23 de setembro de 1611 (mais terras); em 19 de julho de1617 (para aumento de pastos); e em 1619 ao dono do “Engenho de Nossa Senhora daConceição da Lagoa”, Sebastião Fagundes Varela. O aforamento era por 9 anos e tinhamais 400 braças para o sertão, permitindo a Varela explorar para pasto e extração demadeiras para seu engenho.

Varela ficou assim, aos poucos, dono de todas as terras que iam do Humaitá aoLeblon. A extensão de suas posses abrangiam 1700 braças de testada e 4.500.000braças de área, que englobava a atual Lagoa Rodrigo de Freitas. Os terrenos pagavamforo de 6$400 réis ao “Senado da Câmara”. Esse latifundiário criava gado nessas praias,onde suas vacas pastavam entre cajueiros, ananases e pitangueiras.

Em 1702, a herdeira de Varela, sua bisneta, Da. Petronilha Fagundes (1671-1717), era uma solteirona de trinta e um anos, numa época em que as mulherescasavam com doze, ou até menos idade. Petronilha casou-se com um jovem oficial decavalaria, Rodrigo de Freitas de Carvalho (1686-1748), natural de Suariba, Freguesia deSam Payo de Visella, Têrmo da Vila de Guimarães. Ele com dezesseis anos. Algunsanos depois, em 1717, Rodrigo de Freitas, já viúvo, voltou para Portugal, onde passou aresidir em sua quinta de Suariba. Lá morreu viúvo em 1748. Sua enorme fazenda, queenglobava a Lagoa que lhe acabou por herdar o nome (e, igualmente, eternizar natopografia carioca o “golpista do baú” mais bem sucedido em nossa cidade...), seráarrendada a particulares, ficando decadente até princípios do século XIX.

Nada existia edificado. Ainda em 1645, o Governador Duarte Corrêa Vasqueanesproibira aos pescadores que edificassem suas casas na praia, com medo de umdesembarque holandês para tomar o Rio de Janeiro.

Em 1808 o Príncipe D. João manda desapropriar o engenho da Lagoa pordecreto de 13 de junho, com o fito de alí instalar uma fábrica de pólvora, aproveitando-se os terrenos circundantes para neles criar o Real Horto Botânico, origem do JardimBotânico do Rio de Janeiro. Ele visitou essas terras em janeiro de 1809, sendo malrecebido pelos escravos e feitor do engenho, que abaixaram as calças à sua passagem.D. João ordenou depois a prisão dos escravos e a perda de todas as mercês ebenesses ao feitor e proprietários daqueles chãos.

Era herdeira daquelas terras Da. Maria Leonor de Freitas Mello e Castro (1773-183?), filha de Rodrigo de Freitas Mello e Castro (1740-1803), e bisneta do primeiroRodrigo de Freitas. Procedeu-se a avaliação da propriedade e a indenização. Julgada aadjudicação por sentença de 30 de janeiro de 1810, foi estipulada a quantia, sendo asterras incorporadas aos próprios nacionais, com as formalidades da lei de 28 desetembro de 1835. Da. Maria Leonor recebeu por estas terras R$: 42:193$430 contosde réis, pagos após a Independência em 1826. Os terrenos de marinha, que nãointeressavam aos propósitos do Jardim Botânico, foram repassados.

FAZENDA DE COPACABANA (IPANEMA)Toda a orla marítima da zona sul, possuía então o nome de “Fazenda de

Copacabana”, e foi adquirida em 1808 por Da. Aldonsa da Silva Rosa, uma chacareira.Da. Aldonsa não ficou muito tempo com ela, tendo-a revendido em 1810 ao portuguêsManoel dos Santos Passos, que, ao morrer, legou em testamento para seu sobrinhoAntônio da Costa Passos, ficando com elas até 1819. Antônio, assim como seu tio,legou as terras em testamento para seu filho, João da Costa Passos. João era, em1827, administrador da Capela de Nossa Senhora de Copacabana, na Ponta da“Igrejinha”, erguida antes de 1746 (provavelmente em 1732) e depois demolida. Joãonão ficou, entretanto, muito tempo com suas terras de Ipanema, vendendo-as em 1820

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para Inácio da Silva Melo. Inácio, ao morrer em 1843, deixou tudo para dois sobrinhos,Francisco da Silva Melo e Francisco Nascimento de Almeida Gonzaga e eles logodepois venderam tudo em 1844 para Bernardino José Ribeiro. Ano seguinte, Bernardinovende tudo ao empresário francês Carlos Leblon (ele assinava assim, Carlos, e nãoCharles, como muitos afirmam) o qual instalou no final da praia sua fazenda e empresade pesca de baleias, a “Aliança”.

O negócio ia bem, pois das baleias “espermacetes” do gênero “cachalote”,abundantes em nossos mares, extraía-se o famoso óleo, que era usado não só como“concreto” em nossa construção civil, muito estimulada pelo crescimento da cidade noSegundo Império, como igualmente servia como combustível para iluminação, atividadeincrementada por D. Pedro II, que mandou ampliar a iluminação pública das ruas do Riopor lampiões de óleo de baleia, principalmente depois de sua ascensão ao trono em1841.

A pesca fazia-se não só de barcas baleeiras, apelidadas de “Alabamas” porprovirem tais naves deste estado americano, como também do alto das pedras da praia,que por este motivo apelidou-se “Arpoador” (lá pelos idos de 1964, eu mesmo cheguei aver baleias perto do Arpoador).

Em 1851, Irineu Evangelista de Souza, Barão e depois Visconde de Mauá (1813-1889), iniciou as obras para poder proceder à iluminação à gaz no Rio de Janeiro, comos primeiros postes na rua Direita, atual Primeiro de Março. Em 25 de março de 1854 foiinaugurado este serviço, atingindo outros bairros além do Centro.

Com isso, caiu o negócio da pesca de baleias no Rio, tendo Carlos Leblonvendido suas terras da “Fazenda Copacabana” em 1857 ao tabelião e empresárioFrancisco José Fialho (1820?-1885), que adquiriu a parte que ia da atual rua Barão deIpanema, em Copacabana, até o pico dos Dois Irmãos. Fialho, envolvido em váriosnegócios (dentre eles a restauração do “Passeio Público”), vendeu suas terras em 1878,divididas em dois grandes lotes.

A área do lote um, correspondendo ao atual bairro do Leblon foi retalhada em trêsgrandes chácaras, vendidas a particulares, um deles o português José de GuimarãesSeixas, famoso por manter um quilombo em sua chácara no “Morro Dois Irmãos”, ondehoje está o Clube Federal.

O lote dois, que era o maior, e ia desde a atual Rua Barão de Ipanema ao que éhoje o Canal do Jardim de Alah, abrangendo desde o atual posto V em Copacabana atétoda Ipanema, foi adquirida pelo fazendeiro e Comendador José Antônio Moreira Filho,carioca, 2o. Barão com Grandeza de Ipanema (1830-1899). Empreendedor, JoséAntônio logo pensou em criar alí um novo bairro, que batizou de “Vila Ipanema”, emhomenagem a seu pai, o 1o. Barão e Conde de Ipanema, José Antônio Moreira (1797-1879), que era paulista.

Vale aqui ressaltar que até então a praia era conhecida desde o século XVIIIcomo “Copacabana”, ou “Praia Grande de Fora”, sendo o nome indígena “Ipanema”(literalmente “água ruim”, em tupi), tirado de uma das propriedades do Conde em MinasGerais.

Em 1878 todo o local era a morada predileta dos socós, preás e tatus;abundavam cajueiros, pitangueiras, araçazeiros e ananases. Era tudo um imenso areal,com pobres choupanas de pescadores.

As restingas do Leblon e de Ipanema eram desertas, pois não havia águapotável. Um par de casas com a indicação de ser a chácara de Paulino AntônioAndrade, dado como sendo talvez o primeiro morador do bairro. Um levantamento de1879 atestava que existiam na “Praia Grande da Restinga” apenas sete casas, dasquais só uma era de construção perene. Nesse mesmo ano, sua vizinha, a restinga do

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Leblon, já era mais animada: existiam 49 casas residenciais (duas de sobrado) na ruado “Sapê” (atual Dias Ferreira), rua do “Pau” (atual Conde de Bernadotte) e “Praia doPinto”.

Verdade seja dita, a Praia do Leblon propriamente dita era deserta. No mesmoano Copacabana contava 58 residências, sendo uma de sobrado.

Um dos motivos da baixa procura da “Praia da Restinga” para moradia eram asfreqüentes enchentes provocadas pelas chuvas na Lagoa Rodrigo de Freitas, que, sópossuindo um vazadouro para o oceano, alagava os terrenos circundantes, destruindoas casas. Para resolver esse problema, apresentou o Barão de Ipanema um plano aoGovêrno Imperial para o saneamento da Lagoa. Pretendia o Barão captar as águas daLagoa por enorme cano com um metro de diâmetro e conduzi-las por duto até a alturade Copacabana, onde desaguariam no Atlântico. O plano não foi adiante e é bem difícilque resolvesse alguma coisa, pois para dal deságüe precisar-se-ía de duto muito maior.Só em 1920 foram realizados os canais que resolveram o problema.

Os limites do futuroso bairro, à época eram: a “Praia Grande”, cortada de ponta aponta em 1893 por um “boulevard”, origem da avenida Vieira Souto; o “Morro daCaieira”, depois rebatizado para “Cantagalo”; parte das areias de Copacabana; a “Praiade Fora”, hoje Praia de Ipanema; o bolsão entre Leblon e Ipanema, hoje canal do“Jardim de Alah”, que era o canal natural de descarga da Lagoa; a “Ponta do PauComprido”, hoje ilha do “Clube dos Caiçaras”; e a “Praia Saneada”, hoje é a av. EpitácioPessôa.

Existia apenas meia dúzia de simples trilhas por todo o areal, usadas pelospescadores, trilhas essas que cortavam até a Praia de Fora. As principais vinham deonde hoje está a rua Aníbal de Mendonça (ex-rua Dário Silva, ex-rua Jangadeiros,reconhecida em 1922) até a rua Prudente de Morais (sempre teve essa denominação,reconhecida em 1917); da atual rua Garcia D`Ávila (ex-rua Pedro Silva, reconhecida em1922) até a Barão da Torre (ex-rua 28 de agosto, reconhecida em 1917) e PraçaGeneral Osório (ex-praça Ferreira Viana, ex-praça Floriano Peixoto, reconhecida em1922). Desta prossegue por caminhos onde hoje estão as ruas Saint-Romain eFrancisco Sá, derivando por uma picada até a “Pedra do Arpoador”. Outras picadasdavam em um descampado, onde hoje é a Praça N. Sra. da Paz (antiga Praça CoronelHenrique Valadares e Praça Souza Ferreira, reconhecida em 1917).

No ano de 1888 surgia a primeira rua com nome, a “Rua 20 de Novembro”, atualVisconde de Pirajá, batizada em homenagem às datas do aniversário e casamento daBaronesa de Ipanema, Da. Luiza Rudge, nascida a 20 de novembro de 1838, e casadanessa mesma data vinte anos depois. A Baronesa faleceu em 1891, sem ver o bairrodesenvolver-se. Deixou cinco filhos: Luísa de Ipanema Moreira, José Jorge Moreira,Sofia Emília Moreira, Laurinda de Ipanema e Carlos de Ipanema. Quanto à “Rua 20 deNovembro”, o caminho primitivo já existia desde 1809. Era a rua interna da “FazendaCopacabana”.

A empresa de urbanização do novo bairro foi formada em 1883 pelo Barão(titulado de “Ipanema” por decreto de 13 de março de 1885, ampliado para “Com Honrase Grandeza”, por decreto de 05 de julho de 1888) e por seu sócio, o Coronel AntônioJosé Silva (que não tinha título algum). Projetou as ruas o engenheiro da prefeitura eeconomista Luís Raphael Vieira Souto (1849-1922), que acabou sendo homenageadodando seu nome à via que margeava a praia. Antes teve o nome de av. “Meridional”. Aav. foi duplicada em 1915/1916, quando ganhou arborização central. Na obra,trabalharam mendigos e desocupados recolhidos pela Prefeitura das ruas. Só tomou adenominação atual em 1917. Na época, não era a via mais importante.

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Não se poderia reconstituir a história de Ipanema sem antes falar dos meios detransportes urbanos que tornaram possível a ocupação de tão longínquo arrabalde. Equando se fala em transportes urbanos que possibilitassem tal proeza em fins doImpério, está se falando de bondes.

BONDES PARA IPANEMAA 27 de abril de 1893, o Prefeito Dr. Cândido Barata Ribeiro (1847-1910) fez uma

excursão de inspeção à Copacabana, Leme e Ipanema. Como não estavam prontas asúltimas duas linhas, o Prefeito saltou na estação de Copacabana, fazendo o resto dopercurso à cavalo. Chegando à “Igrejinha” (era a Igreja de Nossa Sra. de Copacabana,fundada antes de 1746 e demolida em 1918. Hoje lá existe o “Campo de Marte” do“Forte de Copacabana”), embarcou o prefeito num bonde provisório alí assentado peloCoronel José Silva, sócio do Barão, percorrendo então as obras de arruamento peloArpoador.

Curiosamente, o Coronel Silva mantinha uma atividade paralela de “peixeiro”,tendo solicitado permissão, em maio de 1893 ao Gerente Coelho Cintra, para atrelar umreboque com carregamento de peixes aos bondes da “Companhia Jardim Botânico”,com o fito de vendê-los na cidade. Desde 1869 era arrendatário por nove anos do“Mercado do Largo do Paço”, erguido em 1842 onde hoje está o prédio da “Bolsa deValores”. O Coronel era também, desde 1896, Provedor da “Capela de Nossa Senhorade Copacabana”, sendo Vice-Provedor o médico João Ribeiro de Almeida, BarãoRibeiro de Almeida (1827-1908), Presidente da “Companhia Jardim Botânico”, ficandocomo Mesário o Barão de Ipanema. A permissão do transporte foi concedida e os“bondes peixeiros” rodaram por algum tempo, no que não deve ter agradado muito aosusuários. Uma prova disso é que em junho de 1899, o “Conselho Municipal” tentouproibir por lei os “bondes peixeiros”, mas o prefeito vetou a medida.

A 19 de janeiro de 1894, o Presidente da “Companhia Jardim Botânico”,engenheiro Malvino da Silva Reis (1830?-1896), que igualmente era vereador e Coronelda Guarda Nacional, assina um contrato com o engenheiro Prefeito Coronel HenriqueValladares, piauiense, visando levar as linhas de bondes para o Leme e “Igrejinha”(atualPosto VI). Quatro meses de frenéticas obras tornaram-na uma realidade.

INAUGURAÇÃO DE IPANEMAA “Vila Ipanema” foi inaugurada a 15 de abril de 1894 pelo Prefeito Henrique

Valladares, amigo do Barão e do Coronel Silva, que no mesmo dia estava tambéminaugurando a ampliação das linhas de bonde da empresa de “Ferro Carril do JardimBotânico”, da Praça Malvino Reis(atual Serzedelo Correia), até a ponta da “Igrejinha”,próximo à rua Francisco Otaviano.

A excursão oficial percorreu toda a linha de bondes, do Centro à Copacabana,indo primeiro ao Leme, depois à “Igrejinha”. Ao chegar neste ponto, houve a cerimôniaoficial de inauguração e um banquete, tendo o Prefeito percorrido Ipanema por umalinha provisória de bondes puxados à burro por trilhos de madeira, que iam até o final doArpoador, onde a “Sociedade Copacabana Sport” havia adquirido terras para alí erguerum grande estabelecimento de banhos. A iniciativa dessa linha provisória foi do CoronelAntônio José Silva, que foi estendendo os trilhos conforme os lotes eram vendidos. Estaprimitiva linha de bondes sobreviveu até 1903.

Apesar da festa de inauguração ter sido no dia 15, só no dia 26 de abril de 1894é que foi assinada por todos a ata de fundação definitiva do bairro “Villa Ipanema”. Emvirtude disso, até hoje Ipanema comemora seu natalício em 26 de abril, e não a 15,como seria o lógico.

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Vale ressaltar que o então Presidente da “Companhia Ferro Carril do JardimBotânico”, Dr. Alfredo Camilo de Valdetaro, havia pedido em fevereiro sua demissão, porachar o empreendimento de levar as linhas de bonde a terras tão distantes um fiasco.Não fosse a prévia assinatura por seu antecessor, o Coronel Malvino da Silva Reis, deum contrato entre a “Companhia” e a Prefeitura para extensão da linha, tão cedo obonde não chegaria à Ipanema. Na mesma época, a “Companhia Jardim Botânico”começou a promover o novo arrabalde, e colocou um cartaz em suas estações, dizendoo seguinte: “Bondes em quantidade para as Praias do Leme e Ipanema. O luar éencantador, sendo as noites muito frescas, graças aos ares do alto mar”. Como sepercebe, possuía a “Companhia” muito interêsse na prosperidade dos novos arrabaldes.

Já em 1896, o “Conselho Municipal” cogitava de outra linha para o Leblon, hajavista o sucesso da concessão anterior.

Do têrmo de fundação consta a abertura de dezenove ruas e duas praças. Oscritérios para escolha dos nomes dos logradouros foram os seguintes: 1o. homenagearparentes e datas alusivas à família do Barão; 2o. homenagear parentes e amigos doCoronel; 3o. homenagear personalidades e políticos envolvidos com a empresa.

A prefeitura reconheceu essas ruas em 1917, mas mudou o nome de algumas.Logo depois, em 1922, o Prefeito Carlos Sampaio (1920-1922) mudou o nome de outraspara homenagear vários heróis da “Independência do Brasil”, particularmente da Bahia.

A 27 de agôsto de 1901 a Companhia Jardim Botânico assinou outro contratocom o engenheiro Prefeito João Felipe Pereira, cearense, comprometendo-se a levar osbondes até a Vila Ipanema, conquanto a “Companhia Urbanizadora” se comprometessea abrir as ruas. No dia seguinte, foi inaugurado mais um trecho da linha da “Igrejinha”,chegando os bondes até a altura da atual rua Bulhões de Carvalho, antiga rua “Divisa”.

Em 1898 o Prefeito Luiz Van Erven, engenheiro e acionista da “Jardim Botânico”,isentou de qualquer imposto as construções do novo bairro, benefício que foi ampliadoem 1902 para dez anos.

Em 1905 o Prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913) voltou atrás e revogoutal decreto, submetendo Ipanema aos mesmos impostos de outros bairros da zona sul.Com a revogação de tal benefício, foi no ano de 1905 constituída uma empresa deurbanização para continuar os trabalhos do Barão de Ipanema e do Coronel Silva, quehaviam falecido. Era dirigida por Raul Kennedy de Lemos e Octávio da Rocha Miranda(1884-1954). Raul Kennedy foi um dos maiores “grileiros” do Rio de Janeiro, tendo,durante muitos anos, demandado na justiça contra Otto Simon pela posse das terras deCopacabana, do Lido até a rua Paula Freitas.

RESUMO HISTÓRICO DAS RUAS DE IPANEMANo ano de 1894, um relatório do engenheiro Malvino Reis informava existir no

bairro uma ou outra casa boa de moradia, sendo as demais choupanas de pescadores,ou seja, pouco mudara desde as sete casinhas recenseadas em 1879. Já em 1902existiam cinqüenta casas próximas ao Arpoador, com, aproximadamente, quinhentosmoradores. Em 1906 já residiam em Ipanema 1.006 moradores, em 118 residências.Quatro anos depois, em 1910, eram 175 residências. No ano de 1920, o excelenterecenseamento geral realizado pelo Governo Epitácio Pessôa acusou as seguintesconstruções:

Av. Vieira Souto possuía 45 edificações, sendo 10 térreas, 32 sobrados, três emconstrução. Dos prédios da Vieira Souto, todos eram residenciais exceto dois: um erauma repartição municipal e o outro um clube, o “Country”. No ano de 1922 surgiria nelao “Colégio São Paulo”.

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Na Prudente de Morais, assim batizada em 1917,homenageando ao primeiroPresidente Civil da República(1894-1898), o paulista Prudente José de Morais eBarro(1841/1902); existiam 51 edificações, sendo 15 térreas e 33 sobrados, mais trêsem construção. Todas eram residenciais.

Na Vinte de Novembro, reconhecida em 1917, rebatizada em 1922 para Viscondede Pirajá, em homenagem ao baiano, Coronel Joaquim Pires de Carvalho eAlbuquerque, 1o. Visconde com Grandeza de Pirajá(1788-1848), o qual, de quebra, erairmão do Visconde da Tôrre e do Barão de Jaguaripe; existiam 94 edificações, sendo 43térreas e 46 sobrados, mais cinco em construção. Todos eram residenciais exceto sete,eram casas de negócios (Bar Vinte, Padaria Ipanema, etc.) e uma agência dos correios.

Na 28 de Agôsto, data do aniversário do Barão de Ipanema, mudou de nome em1922 para Barão da Tôrre, em homenagem ao baiano, Coronel Antônio Joaquim Piresde Carvalho e Albuquerque, último senhor e administrador da Casa da Tôrre de GarciaD`Ávila, na Bahia, e que, em verdade, foi Barão e Visconde com Grandeza de GarciaD`Ávila(1774-1852); existiam noventa edificações, sendo 72 térreas e seis sobrados,mais duas em construção. Todas residenciais menos quatro. Uma escola, duas casasde negócios e um “centro espírita”, no 85.

Na Nascimento Silva, em homenagem ao engenheiro da antiga Prefeitura, Dr.Carlos Augusto Nascimento Silva, 1o. Diretor da Diretoria de Engenharia na República eDiretor da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico; só existiam dezenove edificaçõestérreas residenciais.

Na Alberto de Campos, reconhecida em 1917, sempre teve esse nome, que foide um genro do Barão de Ipanema; só três edificações térreas residenciais.

Na 16 de Novembro, que mudou de nome em 1922 para Jangadeiros, emhomenagem a um grupo de pescadores do nordeste que fez um raid de jangada pelacosta brasileira, do Ceará ao Rio de Janeiro; cinco edificações, sendo uma térrea, trêssobrados e um prédio não residencial.

Na Farme de Amoedo, batizada assim em 1917, homenageando o médico daantiga Prefeitura; eram 51 edificações, sendo 49 térreas e dois sobrados. Destes, umera casa de negócios e outro era não residencial.

Na Montenegro, homenagem a um dos genros do Barão, Manuel Pinto deMiranda Montenegro, casado com sua filha Sofia Moreira. Desde 1983 rebatizaram-na arua para Vinícius de Moraes; eram só seis casas, sendo quatro térreas, um sobrado eum em construção, todos residenciais.

Na Oscar Silva, que era o nome de um dos filhos do Coronel Antônio José Silva,mudou em 1922 para Joana Angélica, freira baiana, mártir e heroína na luta pelaIndependência na Bahia(1761/1822); eram cinco casas, sendo duas térreas e trêssobrados, todos residenciais.

Na Otávio Silva, outro filho do Coronel, mudou de nome em 1922 para MariaQuitéria, a “mulher soldado do Brasil” baiana, outra heroína nas lutas na Bahia(1792-1835); não existia construção alguma.

Na Pedro Silva, mais um filho do Coronel, mudou em 1922 para Garcia D`Ávila,em homenagem ao desbravador da Bahia Colonial, Senhor da Casa da Tôrre, D. Luísde Brito de Almeida de Garcia de Ávila(1520?-1609); só existia uma casa emconstrução.

Na Dário Silva, idem, idem, hoje batizada em homenagem ao Almirante Aníbal deMendonça, herói do Tenentismo; eram sete edificações, sendo duas térreas, quatrosobrados e uma em construção.

Na Henrique Dumont, sempre teve esse nome, dado em 1919, em memória doengenheiro Henrique Dumont(1832-1892), pai de Alberto Santos Dumont (1871-1932),

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inventor do avião; nada havia sido erguido. Pudera, era o limite do bairro, dando diretopara o canal da Lagoa Rodrigo de Freitas, ainda sujeito a inundações. As ruasposteriores só surgiriam depois de 1938.

Na Teixeira de Melo, homenageando o escritor e educador José AlexandreTeixeira de Melo (1833-1907), Presidente do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro eMembro da Academia Brasileira de Letras; eram 28 edificações residenciais, sendoquinze térreas e doze sobrados, e uma em construção.

Na Gomes Carneiro, batizada em homenagem ao General Antônio ErnestoGomes Carneiro (1846-1894), herói do “Cerco da Lapa”; eram 13 edificaçõesresidenciais, sendo cinco térreas, sete sobrados e uma em construção.

Na Praia do Arpoador, existiam 18 construções residenciais. Essa tambémmudou de nome em 1921 para Francisco Bhering, engenheiro e professor da “EscolaPolitécnica”, e pioneiro da radiotelegrafia no Brasil.

As praças não possuíam numeração própria.Todas as outras ruas surgiram entre 1922 e 1948.A Barão de Jaguaripe, antiga rua 31, surgiu em 1921/1922. Era uma

homenagem a Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque, Barão de Jaguaripe(1787-1856).

A Redentor, antiga rua 30, aberta em 1921/1922, foi rebatizada em 1928 emhomenagem ao Cristo Redentor.

A Almirante Sadock de Sá, antiga rua 32, aberta em 1921/1922, foi rebatizada em1933 homenageando ao herói do Tenentismo.

A Antônio Parreiras, aberta em 1948, batizada em homenagem ao pintorpaisagista niteroiense Antônio Diogo da Silva Parreiras (1860-1937).

A Gorceix, aberta em 1933, batizada em homenagem a Henry Gorceix,engenheiro fundador da Escola de Minas.

A Paul Redfern, aberta em 1928, homenageando o aviador americano falecidoem 1927 de acidente aéreo na costa do Brasil.

A av. Epitácio Pessoa, assim batizada em homenagem ao paraibano, PresidenteEpitácio da Silva Pessôa (1865-1942); no trecho de Ipanema, teve de 1919 a 1922 onome de av. Ipanema. Os morros não eram habitados.

Quanto ao Leblon, existiam em 1920 apenas 195 prédios, sendo uma casa denegócios e quatro pensões. As casas se subdividiam pela Dias Ferreira (108), rua do“Pau”(29), “Praia do Pinto”(54) e “Pedra do Baiano”(4).

A restinga do Leblon, sua orla e praia, estavam desertas como no século anterior.Tudo isso totalizavam mais de 433 edificações em todo o bairro de Ipanema, (não

incluindo aqui as tais 195 do Leblon) sendo onze casas de negócio, um clube, umarepartição federal (correio), uma municipal, uma escola particular e duas construçõesdiversas não residenciais (uma era a estação dos bondes). A população beirava os4.000 moradores.

A Firma Kennedy/Miranda fechou as portas em 1927. Não existiam mais terrenosdisponíveis. Em princípio, a via mais procurada era a “Rua 20” e suas vizinhas, notrecho mais próximo ao Arpoador, haja vista que a água potável só chegava por canosvindos do “Posto VI”.

BONDES ELÉTRICOS EM IPANEMAPrefeito Joaquim Xavier da Silveira mandou instalar a luz elétrica no bairro em

1901, sendo oficialmente inaugurada em 20 de janeiro de 1902, quando ainda secontavam suas casas nos dedos das mãos. A luz ainda era fornecida pela “SocietéAnonimé du Gaz”, cuja concessão era privilegiada. A “Light” só começaria a funcionar

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em 1907, quando inaugurou sua represa em “Ribeirão das Lages”. Só então começou aexistir iluminação domiciliar, antes impossível.

Com luz elétrica no bairro, mesmo precária, pôde a “Companhia Jardim Botânico”estender sua linha de bondes elétricos até Ipanema em 1902, sendo o serviçoinaugurado oficialmente pelo Prefeito Pereira Passos a 14 de junho de 1903 (naquelaépoca, instalava-se o serviço primeiro, deixava-se funcionar por algum tempo, e aí simdepois inaugurava-se oficialmente). A solenidade de inauguração da tração elétrica nosbondes foi muito concorrida, participando da mesma importantes personalidades. Dentreelas, merece destaque o Sr. Joaquim José Moreira Filho, representando seu irmão, ofinado Barão de Ipanema.

Os bondes percorriam os doze quilômetros desde o Largo da Carioca atéIpanema em 80 minutos, com ponto final na “Praça Marechal Floriano Peixoto”(hojeGeneral Osório), sendo que em 1903, foi a Praça oficialmente inaugurada pelo PrefeitoPassos. Ele mesmo inaugurou a nova estação, na esquina da “Rua 20” com a praça(vale aqui o que já foi dito anteriormente. A dita estação já funcionava desde 02 dejunho de 1902, mas só foi oficialmente inaugurada ano seguinte). Essa estação foiabaixo nos anos 60, sendo a construção antiga substituída por um prédio residencialmoderno projetado por Oscar Niemeyer (n.1907).

Ressalte-se que no mesmo dia era inaugurada a eletrificação do ramal do Leme.O Prefeito passos foi saudado por festas e muitos fogos de artifício e até explosivos dedinamite. Logo após as festas, sapecou uma multa de 50$000 na “FirmaKennedy/Miranda”, pois pouco antes editara postura proibindo fogos de artifício nacidade. Aparte a “gafe”, a inauguração foi um sucesso.

Esta “Praça Marechal Floriano Peixoto”, surgida em 1894, e que era maisimportante do bairro de Ipanema, foi aterrada em 1905 com atêrro do Morro do Casteloe das demolições no Centro resultantes da abertura da Av. Central. Recebeu em 1914seu monumento mais antigo até hoje. O velho “Chafariz das Saracuras”, erguido porMestre Valentim da Fonseca e Silva(1745-1813) em 1791 no pátio interno do Conventoda Ajuda, no Centro, e dalí removido quando da demolição do dito convento em outubrode 1911. Esse chafariz andou um pouco. Em 1911 foi colocado na “Praça Malvino Reis”e, três anos depois, levado para Ipanema.

No mesmo ano de 1914, a “Companhia Jardim Botânico” estendeu a linha debondes até o “Bar 20”, no final de Ipanema, quando a rua ainda se chamava “20 deNovembro”. A “virada do bonde” era na “Praça 20 de Novembro”, hoje rebatizada para“Alcazar de Toledo (sic!)”. Em 1938 prolongaram a Visconde de Pirajá, que por meio deponte passou a cruzar o canal da Lagoa, conduzindo os bondes ao Leblon sem precisarfazer o contorno pela praia.

Já o tal “Bar 20”, era na atual Visconde de Pirajá, quase esquina de rua HenriqueDumont. Fundado em 1903, durou até meados de 1950.

Em 02 de dezembro de 1913 a “Companhia Jardim Botânico” obteve permissãoda Prefeitura para estender suas linhas de bonde de Ipanema por Leblon e Gávea, masa obra demorou muito. Como já foi dito, só ano seguinte a linha atingiu os limites dobairro.

Em 1918 chegou ao Leblon, que ainda não possuía prédios na praia e muitodepois à Gávea. Com isso a Delfim Moreira começa a ser valorizada.

Em 1912 faziam a linha de Ipanema 45 bondes, durando o percurso 47 minutosdesde o Centro. Os intervalos entre os veículos era de 10 minutos e, por dia, corriam235 viagens.

Em 1916 usavam-se 49 bondes, levando o percurso do Centro à Ipanema 56minutos. O intervalo de tempo entre as composições ainda era de 10 minutos, e o

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número de viagens ainda era 235 por dia. Para estimular a ocupação do bairro, aPrefeitura fez um acordo em 1916 com a “Companhia Jardim Botânico” para baixar opreço das passagens.

Como já foi dito atrás, até 1918 Ipanema era bairro final de linha. O bonde vinhade Copacabana pela Francisco Otaviano, ia até a praia de Ipanema e entrava naTeixeira de Melo, onde na esquina com rua Visconde de Pirajá ficava a estação.

Em 1914 o bonde passou a correr toda a Visconde de Pirajá, até a altura deHenrique Dumont, onde fazia a volta. Somente em 1918 seria construída uma ponte deconcreto sobre o canal da Lagoa Rodrigo de Freitas, ligando a Vieira Souto à Av. DelfimMoreira, aberta também em 1918, mas só inaugurada ano seguinte pelo Prefeito Paulode Frontin(1860-1933). Então o bonde passou a descer pela Henrique Dumont até apraia, aí pegava a nova ponte sobre o canal e entrava na Delfim Moreira (ainda semconstruções). Lá entrava pela Afrânio de Mello Franco (idem) e dobrava na Ataulfo dePaiva(idem), por ela percorrendo todo o Leblon.

Em 1920/22 essa ponte seria melhorada pelo Prefeito Carlos Sampaio, comprojeto do engenheiro Francisco Saturnino de Brito (1864-1929) cujo filho, o tambémengenheiro Fernando Saturnino de Brito (1914-196?) era morador da Barão da Tôrre,698; e, até 1938, foi a única ligação de Ipanema com Leblon. Quando era dia deressaca, o Leblon ficava isolado.

O dito bairro do Leblon só surgiria em princípios dos anos vinte, por intermédio da“Empresa Industrial da Gávea”, dos engenheiros Adolfo José Del Vecchio, José Ludolf eMiguel Braga. Só à partir de 1918 ganhou bondes e benefícios urbanos e pôde entãosediar belas casas na praia.

Diga-se a verdade, o Engenheiro Del Vecchio era o grande “remendão” daspraias da zona sul, haja vista que ele reconstruiu as avenidas Atlântica, Vieira Souto eDelfim Moreira, após as três grandes ressacas que destruíram-nas em 1918, 1921 e1923.

No ano de 1931, apenas doze bondes faziam a linha de Ipanema. Apesar deserem menos veículos, eram mais eficientes, pois o número de viagens/dia continuousendo 235, o tempo entre as composições continuou a ser dez minutos, e o número depassageiros aumentou, já que os novos bondes eram maiores e mais rápidos.

Nos anos 30, a “Light” fez uma casa de força para o serviço dos bondes elétricos,na Teixeira de Melo, 57. Graças à isso, em 1938, fez-se a conexão da linha dos bondeselétricos do Leblon com os da Gávea. Eram então quatro linhas de bondes passandopelo bairro.

À partir de 1909, foi arrendada por contrato parte da “Companhia Ferro CarrilJardim Botânico” à “Light”, entretanto, continuou como companhia independente até1946, quando foi incorporada definitivamente e passou a pertencer à “Light”. Depois da2a. Guerra, em 1950, desinteressou-se a “Light” pelos bondes, já que a legislação daépoca dificultava a importação de peças. Ao mesmo tempo, a “Light” estava investindoem ônibus à diesel, considerado o transporte coletivo mais eficiente naquele momento.Com a criação do “Estado da Guanabara” em 1960, iniciou o governo estadual guerra à“Light”, pois era objetivo político a “estadualização” dos transportes coletivos. Em 1962 oGovernador Carlos Lacerda (1914-1976) extinguiu os bondes de Ipanema, tomando osmotorneiros “porre” de despedida no “Bar Zeppelim”.

ÔNIBUS PARA A ZONA SULA primeira linha de ônibus para a Zona Sul da cidade surgiu em 1908, por

iniciativa de Octávio da Rocha Miranda, com ônibus saindo do Centro para a Urca. Suaintenção era levar uma linha para Ipanema, mas a “Companhia Jardim Botânico” fez

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muita oposição. Só depois que a “Light” encampou a Companhia em 1916 é quesurgiram as primeiras linhas de ônibus para Copacabana.

A linha de ônibus para Ipanema surgiu em 1923, ligando o Centro à Ipanema eLeblon. A iniciativa coube ao português Manoel Lopes Ferreira (1873-1931), que criouuma companhia para tal finalidade. Posteriormente, a própria “Light” criaria sua empresade ônibus, a “Excelsior”, com várias linhas para Copacabana, Ipanema e Leblon.Durante a Segunda Guerra Mundial, a crise de combustíveis fez com que diminuíssemuito o número de ônibus em circulação, deixando o maior encargo dos transportespara os bondes, que não davam conta do recado.

Em conseqüência disso, surgiram os “lotações”, veículos “piratas” quetransportavam passageiros. O mais famoso, e que fazia a linha de Ipanema foi o célere“Lagosta”, que era um carro de passeio adaptado, expandido com outra carroceria parareceber até doze passageiros. Era todo pintado de abóbora, daí o apelido. Eu aindacheguei a vê-lo, estacionado no Humaitá, em meados de 1960, ainda com a cor original.Funcionava então como veículo turístico. Foi o antepassado das nossas “vans”.

PRIMEIROS MORADORES DE IPANEMAForam os primeiros moradores de Ipanema alguns dos homens mais importantes

do Brasil naquela época.Um foi o Senador João Leopoldo de Modesto Leal, Conde de Modesto Leal pela

Santa Sé (1860?-1936), e que tendo começado na vida como vendedor de sucatas,chegou a ser o homem mais rico da “República Velha”. Basta dizer que ele era o maiorcontribuinte do Imposto Predial da Capital da República, de 1902 a 1918. Era tambémDiretor da “Companhia Jardim Botânico” e grande acionista de outras empresas debonde. Foi um dos fundadores do “Clube de Engenharia” em 1884. Foi dos primeiros“aventureiros” de Ipanema. Além dessa morada, possuía imensa chácara de veraneioem Paquetá, na “Praia Grossa”, comprada em 1930 de Henrique Lage, bem como trintafazendas de café no “Vale do Paraíba”. Dizia-se que podia ir do Rio às Minas Gerais sópercorrendo suas terras. Depois mudou-se para Laranjeiras, onde até hoje existe seuimenso palacete.

Outro foi o banqueiro e Comendador José de Chaves Faria (1848-1915), quegostava de praia, pois foi também o primeiro morador do bairro do Leme. Chaves Fariaera igualmente grande acionista da “Companhia Jardim Botânico”, e vereador,conseguindo que a Câmara aprovasse rapidamente o projeto de loteamento da “VillaIpanema”. Não é de hoje que vereadores legislam em causa própria...;

Também montaram casa em Ipanema a Família Barreiros Vianna; a família doadvogado e Senador Antônio Ferreira Vianna (1840?-1903), que foi Presidente daCâmara de Vereadores em 1869/73, e Ministro da Justiça em 1888/89, e do Império em1889. Ferreira Viana foi de 1896 a 1903 advogado da “Companhia Jardim Botânico”.

Outro pioneiro foi o médico oftalmologista Dr. José Cardoso de MouraBrasil(1845-1928), grande benfeitor do “Liceu de Artes e Ofícios” e pioneiro daoftalmologia no Brasil.

Um dos mais lindos palacetes ecléticos da “rua 20” era o do Sr. Antônio VanErven, vulgo “Libra Esterlina”, projetado pelo arquiteto espanhol Adolfo Morales de LosRios.

Um irmão de Antônio, Luís Van Erven, era “Diretor Geral de Obras e Viação daPrefeitura”, Prefeito do Rio de Janeiro em 1898 e Diretor do “Clube de Engenharia”, eum de seus fundadores em 1884. Ele muito facilitou a edificação de novos prédios emIpanema.

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Contudo, foi o Cônsul Geral da Suécia, Dr. Johan Edward Jansson quem ergueuem 1904 a mais pitoresca residência no Arpoador, batizada de “Castelinho”, que ficavana esquina de Vieira Souto com Rainha Elizabeth, onde existia a famosa casa que era,efetivamente, um castelo neo-mourisco com sua famosa torre panorâmica. Anos depoiso castelinho foi vendido à Família Catão, sendo tal a permanência desse nome, que em1966, muitos anos depois de demolida a residência dos Catão, perto dela surgiu o bar“Castelinho”, na Av. Vieira Souto no. 100, de grande fama e ponto de encontro dajuventude, demolido em fins dos anos 70.

AS PRIMEIRAS CASAS COMERCIAIS DE IPANEMAAo lado, na confluência da Praia de Ipanema com Rainha Elizabeth, no

quarteirão chamado “ferro de engomar”, surgiu o bar “Mau Cheiro”, freqüentado pormotoristas de ônibus e motorneiros. Tinha esse nome porque os pescadores limpavam opeixe na porta. Tornou-se depois a boite “Barril 1800”, na Av. Vieira Souto no. 104,depois 110.

Até 1896 só existiam algumas vendas em Copacabana. Nenhum açougue oupadaria existia em Copacabana e Ipanema, forçando os moradores a se abasteceremem Botafogo. Uma das casas comerciais pioneiras foi a “Padaria e ConfeitariaIpanema”, fundada em c.1896 na “rua 20”, depois Visconde de Pirajá, 325; e quechegou aos cem anos. Ao lado, no 321, surgiu anos depois famoso botequim, ondesempre corria uma saudável “porrada” entre os valentões da Zona Sul, origem depois dopacato restaurante “Chaika”, ainda no mesmo endereço. O Bar “Bofetada”, na ruaFarme de Amoedo no. 87, considerado hoje um dos melhores do Rio, surgiu em 1934com o nome de “Nova Lisboa”.

Segundo a abalizada opinião do ipanemense, o Senador Arthur da Távola, nosanos 50 os melhores pastéis, empadas e sonhos de Ipanema eram os da “ConfeitariaPirajá”, fundada nos anos 30, e da “Padaria Brasil”, ambas na Visconde de Pirajá,respectivamente nos. 152-A e 162. Já a primeira casa noturna de Ipanema custou aaparecer, surgida nos idos de 1960. Foi a extinta Boite “Y-Panema”, que era na GarciaD`Ávila, 85.

BANHOS DE MAREm 1900/1910 ninguém de família ia à praia tomar banho, que era lugar de

despejo, ou então local de tratamento de doentes por hidroterapia(o que seria hoje ahidroginástica). O hábito de banhos de mar só toma vulto por volta de 1910, porinfluência dos hábitos franceses congêneres na “Côte D`Azur”. Prefeitos os maisdiversos tentaram nas décadas de 10 e 20 normalizar os banhos de mar, estabelecendohorários para os mesmos, tanto no inverno quanto no verão, com severas disposiçõesquanto aos trajes, particularmente os femininos.

A mais famosa legislação foi a do Prefeito Álvaro Alvim em 1917. O horário dosbanhos era limitado. De 01 de abril a 30 de novembro era das 06:00h às 09:00h, e das16:00 às 18:00. De 01 de dezembro a 31 de março, era das 05:00h às 08:00h, e das17:00h às 19:00h. Nos domingos e feriados havia uma tolerância de 01:00h a mais. Eraexigido dos banhistas um vestuário apropriado e necessária decência. Eram igualmenteproibidos ruídos e vozerio. A multa por infringir tais posturas era de 20$000 réis ou 05dias de prisão.

Nada disso adiantou. A praia demoliu essas pretensões, firmando-se comoterritório livre, característica que nem o Regime Militar conseguiu restringir. A praia era oterritório sem barreiras do Rio, onde não existiam diferenças sociais e todos andavamquase despidos.

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Nos anos 70, o banho de mar havia se tornado tal especialidade dosipanemenses que, em 1970, surge nas praias de Ipanema a famosa “Tanga”, inspiradano vestuário sumário das índias brasileiras. As primeiras a usar foram as atrizes LeilaDiniz e Tânia Scher, numa peça intitulada “Tem Banana na Banda”, estreada em janeirono teatro “Poeira”.

CLUBES E VIDA SOCIAL EM IPANEMASe o banho de mar, de início não teve muita fama, Ipanema sempre possuiu vida

social agitada.Em 1916, um grupo de ingleses e americanos, a maior parte deles funcionários

da “Light” e da “Botanical Garden” fundaram na Prudente de Morais no. 1597 o “The Riode Janeiro Country Club”, o mais fechado do Rio, no dizer de Ibrahim Sued. Aliás, opróprio Ibrahim foi barrado como sócio, bem como JK e uma nora de Roberto Marinho.Entretanto, o Príncipe de Gales, quando visitou o Rio de Janeiro em 1929, não deixoude conhecê-lo. E seu comportamento no clube não foi nada exemplar. O futuro ReiEduardo VIII apaixonou-se de tal forma por uma senhora da sociedade brasileira, joveme desquitada, que a convidou para acompanhá-lo à Inglaterra. A jovem se negou(eraDa. Leda de Almeida, mãe do futuro colunista Jacinto de Thormes). Chateado, opríncipe tomou um “porre” majestático no “Country” e jogou-se, todo vestido, na piscinado clube. Seu segurança o rescaldou incólume. Anos depois, o já Rei Eduardo VIIIrenunciou ao trono para casar-se com a divorciada americana Lady Simpson, com quemviveu seu grande amor até a morte.

Somente em 1938 surgiria um segundo clube no bairro, o “Lagoa”, naNascimento Silva. Nesse ano surgiu na Visconde de Pirajá, 172 o “Velo SportivoHelênico”, dedicado ao ciclismo.

Por sua vez, nas areias de Ipanema ocorreu o mais famoso duelo da belleépoque, travado em 1903 pelo General e Senador gaúcho José Gomes PinheiroMachado (1852-1915), contra o também gaúcho jornalista Edmundo Bittencourt (1866-1943), dono do jornal “Correio da Manhã”, e que injuriara Pinheiro Machado em suaspáginas. Venceu Pinheiro, tendo sido ferido o jornalista por um tiro de pistola, sem maiorgravidade. Pinheiro, aliás, seria homenageado em 1931 com um grande monumento embronze na Praça N. Sra. da Paz, obra do artista Hildegardo Leão Veloso (1899-1966).

IGREJA MATRIZ DE NOSSA SENHORA DA PAZ - IPANEMAA Igreja de Nossa Senhora da Paz foi construída em 1918/21, com projeto do

engenheiro e arquiteto Gastão da Cunha Bahiana (1874-1959), em estilo neo-bizantino.A iniciativa partiu do vigário de Copacabana, Monsenhor Cônego Joaquim Soares deOliveira Alvim, que obteve o dinheiro com a venda por oitenta contos de réis da Igreja deNossa Senhora de Copacabana, no Promontório da Igrejinha ao Exército, para neleampliar as instalações do “Forte de Copacabana”. O Cônego destinou 5$000 réis paraconstruir um altar na Igreja Matriz do Bonfim, na Praça Serzedelo Correia, destinando orestante 75$000 para o novo templete católico de Ipanema.

O novo templo foi elevado à Matriz da Paróquia de Ipanema em 1920, sendo suaadministração confiada aos frades franciscanos, que ergueram bonito convento e escolaao lado. Em 1930 os frades pintaram o interior do templo, com pinturas murais ingênuas,o que fez o arquiteto Gastão Bahiana furioso, tendo exigido da mitra sua caiação. Foramrestauradas em 1999.

O convento, ao lado, foi demolido em 1953 para alí surgir o “Cine Pax”, bonitoprédio art-déco. Em 1979 demoliram o velho “Pax” e em seu lugar subiu um shoppingcenter, o “Fórum de Ipanema”.

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A igreja, por sua vez, foi a primeira na América do Sul a ter ar condicionado, issoainda em 1958, por iniciativa do Padre Marcos. Quando foi criticado pelos que seopunham à novidade, sob alegação que ar condicionado era coisa de boite, e queatrairiam desocupados para as missas, Padre Marcos, furibundo, fez célere sermão queterminava: “...quem gosta de lugar quente é o Diabo no Inferno!”

A Praça de Nossa Senhora da Paz, antiga “Praça Coronel Henrique Valladares”,ex-prefeito e amigo do Barão de Ipanema, foi a primeira do Brasil a ganhar iluminaçãoem vapor de mercúrio, ainda em 1966.

CINEMAS E TEATROS EM IPANEMAEntretanto, foi na Praça General Osório onde se instalou o primeiro e por anos o

único cinema do bairro, o “Cine Ipanema”, inaugurado em 1936 na Visconde de Pirajáno. 86. Era um prédio art-déco, com 1.808 lugares, projetado por Raphael Galvão (1894-1964), demolido nos anos 80. Dois anos depois surgiu o “Pirajá”, no 303 da mesma rua,com 1.629 lugares. Nos anos 40 surgiu o “Astória”, na Visconde de Pirajá, 595;posteriormente convertido em 1959 no estúdio da “TV Excelsior, Canal 2”. A Viscondeganharia mais dois cinemas: o “Pax”, no 351, em 1953, que durou até 1979. Nos idos de1960 viria o “Roma-Bruni”, no 371. O Leblon teve dois cinemas: Leblon e Miramar”, epor muitos anos foram os únicos.

ARQUITETURA MODERNA EM IPANEMAA primeira casa em arquitetura moderna do bairro foi uma residência erguida em

1935 pelos arquitetos Affonso Eduardo Reidy (1908-1964) e Gérson Pompeu Pinheiro.Logo depois surgiu em 1936 uma casa moderna projetada por Adalberto Szilard.Nenhuma das duas hoje sobrevivem. O primeiro prédio com mais de dois andares foi o“Edifício Issa”, erguido em 1935 na Visconde de Pirajá. Já o primeiro arranha-céu deIpanema foi o feio “Edifício Aquino”, prédio art-déco de oito andares, construído em1935 perto do canal. Ambos não mais existem.

A arquitetura moderna de Ipanema é de uma monotonia não condizente com obairro. Dos muitos prédios modernos, merecem distinção os edifícios “Estrela deIpanema”, erguido em 1967 na Prudente de Morais, 765, obra do arquiteto carioca PauloHamilton Casé (1931); e o “Atlântica Boavista”, erguido em 1978 na Prudente de Morais,630, esquina de Vinícius, obra dos arquitetos Luiz Paulo Fernandez Conde (1934),depois Prefeito do Rio de Janeiro; e Mauro Neves Nogueira.

Em 1969, por decreto do Governador Negrão de Lima, o gabarito da orla pulou deseis para onze andares. Resultado: em 1980 a população saltara para 65.000moradores, sessenta e cinco vezes mais que 1906!

A primeira grande escola foi o “Colégio São Paulo”, fundado em 1922 na VieiraSouto. Depois surgiu o “Notre Dame”, fundado em 1933 numa casa e desde 1939 emsede própria, na Barão da Tôrre, 308. Ano seguinte, em 1934, surgia o “Colégio Rio deJaneiro”, na Nascimento Silva, 556. Em 1938 surgia a “Escola Brasileira”, hoje “ColégioBrasileiro de Almeida”.

A garotada não tinha do que reclamar, pois em 1938 surgia a primeira sorveteriano bairro, a “Mercearia Moraes”, depois “Sorveteria Moraes”, com os imbatíveis sorvetesde Da. Maria de Moraes.

Já as meninas não precisavam ficar sem flores. A “Rainha das Flores”, foiinaugurada em 1938 na Visconde de Pirajá, 124. Também tinham onde se aprontar,pois em 38 surgiu na Visconde no. 106-A, a “Casa Dalva”, cabeleireiro e manicure.

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Sem cartas ou notícias não ficariam, pois desde 1920 funcionava na Visconde dePirajá, 296(depois p/ 111, loja 3) uma agência postal/ telefônica. Nos idos de 1930 acentral telefônica passou para a Visconde de Pirajá, 54.

Da parte relativa à saúde, o primeiro consultório pediátrico foi o do Dr. MassilonSabóia, na av. Vieira Souto, 680. Nos anos quarenta, foi montado um consultóriodentário no convento franciscano da Praça N. Sra. da Paz para atendimento de pessoascarentes, iniciativa de Da. Rosa de Assis.

Já a primeira sociedade beneficente antecede essas de muitos anos. Em 1907 foifundada na “Rua 28 de Agosto”, no. 85(atual Barão da Tôrre), a “Sociedade EspíritaBeneficente Santo Antônio de Lisboa”, com 37 associados em 1912 e atendendo, namesma época, 1400 necessitados.

POLÍTICA NO BAIRRO PRAIANOAliás, foi na rua Barão da Tôrre, no. 636, que se instalou em apartamento

alugado o refúgio e quartel general do líder comunista Luís Carlos Prestes. Dali elecomandou o movimento de 27 de novembro de 1935, a famosa “Intentona Comunista”,cujo centro foi o quartel do 3o. Regimento de Infantaria, na Praia Vermelha. Quem diria,uma “revolução comunista” com sede em Ipanema...

Por sua vez, na rua Paul Redfern, 33, era o refúgio de outro líder comunista, ojornalista alemão Harry Berger, que dali saiu preso no mesmo ano de 1935, acusado deser um dos cabeças da Intentona de 27 de novembro, morrendo de câncer ósseo naprisão.

CULTURA NOS BARES DE IPANEMAIpanema sempre foi um grande ponto de reunião de intelectuais, não tendo rival

na zona sul à exceção do bairro da Lapa, este quase no Centro.O “Bar Jangadeiros”, fundado em 1935 na Visconde de Pirajá, 80 com o nome de

“Café Rhenânia”, e rebatizado depois da declaração de guerra à Alemanha, sendotransferido já com o nome atual para rua Teixeira de Melo, 20(ainda existe, todomodificado) era, nos anos 50, ponto de encontro dos jornalistas da “Revista Manchete”.Seus membros eram conhecidos como o “Bando de Ipanema”: Rubem Braga, capixaba,jornalista e cronista (1913-198?), Fernando Sabino, mineiro, idem (1923-198?), moravana rua Canning; Paulo Mendes Campos, idem, idem (1902-198?); Elsie Lessa, cronistae colunista; aos quais juntavam-se o carioca Gláucio Gil, ator(1932-1965); Eneida deMoraes, paraense, jornalista(1900-1969), morava no Leme; Aldary Henriques Toledo,carioca, arquiteto (1915-1994), morava em Copacabana; Carlos de Azevedo Leão,carioca, arquiteto e desenhista(1906-1983), morava na Nascimento Silva, 66; CarlosThiré e seu filho Cécil (seu nome verdadeiro era Carlos Aldary Thiré, ator), MillôrFernandes, carioca, jornalista (1924), Vinícius de Moraes, carioca, poeta, diplomata ecompositor (1913-1983), morava na Frederico Eyer, na Gávea; o futuro arquiteto PauloHamilton Casé (1931), morava em Copacabana e hoje na Lagoa; Hugo Bidet, chargista;Caio Mourão, idem; Samuel Wainer, jornalista, etc.

Em fins dos anos 50, era o “Bar Jangadeiros” que possuía a maior serpentina dechope do Rio, o que tornava-o ponto da boemia na Zona Sul.

O bar era o único do mundo a ter um coelho como mascote, que apareciaincidentalmente perambulando entre os freqüentadores. Algumas vezes, um ou outrofreguês não habitual berrava de susto por achar que estava com “delirium tremens” pois,por causa da bebida, achava que estava até vendo coelho andando no bar... . Umadessas vítimas foi o jornalista mineiro Alberto Deodato, que depois de vê-lo saiu àspressas do balcão e foi para seu hotel tomar banho de água fria na banheira, berrando a

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todos que estava enlouquecendo, que havia visto um coelho balançando o focinho,achando que estava com alucinações.

Ficou famosa a história ocorrida em c.1964, da bonita mocinha que bebeudemais, viu o coelho e quase desmaiou. Atendida pelos fregueses, que a avisaram ser ocoelho não uma alucinação e sim a mascote do dono, ela respondeu nervosamenteperguntando “que mascote era aquela, que convidara-a para uma noitada?” .

A musa do “Bando de Ipanema” era a jovem atriz Maria Antonieta Porto Carrero(1922), mais conhecida como “Mariinha”, para os íntimos, e como Tônia Carrero, para oteatro. Pouca gente sabe, mas Tônia foi, portanto, das primeiras “musas de Ipanema”,antecedendo em vinte anos a Helô Pinheiro e outras.

Entretanto, se quisermos ser corretos com a história, a primeira “Miss” deIpanema foi a Srta. Orminda Ovalle, finalista do concurso de beleza feminina brasileiroem 1922/23 (perdeu o primeiro lugar para uma paulista, Zezé de Leone). Bem antesdisso, arrebatava corações ipanemenses nos idos de 1910 a Srta. Laura Barros Moreira,neta do Barão de Ipanema, e que por um tempo namorou o futuro industrial RaymundoOttoni de Castro Maia, dono da “Empresa Coqueiro”(1894-1968).

POETAS E CANTORES DAS GAROTASSe a Bossa Nova surgiu pelo violão de João Gilberto em 1958 na vizinha

Copacabana, no prédio do “Snack Bar”, no “Posto Seis”; será em Ipanema ondeganhará foros de maioridade. Encontravam-se com freqüência no bairro, ora no“Jangadeiros”, ora no “Zeppelim”, fundado em 1937 na Visconde de Pirajá, 499, pelovelho Moraes, boteco feio e sujo, até ser comprado por Ricardo Amaral em 1969 ereformado com gosto; ora no “Lagoa” (ex-“Berlin”), fundado em 1934, na EpitácioPessoa, no. 1674, rebatizado em 1944; mas, principalmente, no “Veloso”, hoje “Garotade Ipanema” fundado em 1945 com o nome de “Bar e Mercearia Montenegro”, na ex-ruaMontenegro e hoje Vinícius de Moraes no. 49A; o grupo denominado “Bossa Nova deIpanema”. Formado quase todos por moradores da Gávea: Vinícius de Moraes, jácitado; João Roberto Kelly, carioca (1938); Roberto Menescal, capixaba (1937); AntônioCarlos Jobin (1927-1994), nasceu na Tijuca, mas morou a vida toda na NascimentoSilva; Carlos Lyra, carioca (1933); Joaquim Pedro de Andrade, carioca (1932), que nãoera compositor, mas cineasta. Entretanto, era figura obrigatória no grupo; o arquitetoSabino Barroso (1934); etc. O baiano João Gilberto (1931) não morava na Gávea, masna “fronteira” de Ipanema, ou seja, no “Jardim de Alah”, para o lado do Leblon; e outrosmais.

Do grupo dos cantores ipanemenses, além dos acima citados, deve-se destacar a“Divina” Elizeth Cardoso, carioca (1918-1988), que durante uma época namorou JK..., eque morava na Nascimento Silva 107, no mesmo prédio de Tom Jobin; e a baiana GalCosta, em princípio de carreira. O Tropicalismo na música, surgido em 1966, encontrouguarita em Ipanema. Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso e Gal Costareuniam-se no “Bar Lagoa”. Gal chegou a batizar uma duna de Ipanema com seu nome,onde a juventude dos anos 70 fumava maconha.

A duna, vizinha à outra, a do “barato”, paraíso dos “chincheiros”, era próxima aovelho píer do emissário submarino, o píer foi erguido em 1969 e desmontado em 1974.Era feio, mas era um “point”.

A REPÚBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DE IPANEMAA “República de Ipanema” era realmente habitada por figurões importantes da

política nacional dos anos 50 e 60: Almirante Carlos Pena Bôto, carioca, Ministro daMarinha (1892-196?); Filinto Strübling Müller, Senador da ARENA, falecido em 1972;

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Marechal Henrique Duffles Teixeira Lott, carioca, Ministro da Guerra de Juscelino,morava na Vieira Souto, (1894- 1994); O próprio mineiro Juscelino Kubitschek (1902-1976), morava no Arpoador, depois mudou-se para uma cobertura na av. Atlântica, emCopacabana, Presidente da República em 1956/1960; Hélio de Almeida, ministro;Marechal Eurico Gaspar Dutra, mato-grossense (1885-1980), Presidente da Repúblicaem 1946/51; Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, cearense (1900-1967),Presidente da República em 1964/67, morava na Nascimento Silva, donde saiu em 1964para Brasília; e outros.

ATORES, CINEASTAS E TEATRÓLOGOS DE IPANEMAA “Hollywood de Ipanema” era formada pelos cineastas Gláuber Rocha, baiano

(1939-1981); Walter Lima Júnior, niteroiense (1938); Paulo César Sarraceni, carioca(1933),por sinal, um dos fundadores da “Banda de Ipanema”; Maurício Gomes Leitão;Suzana de Moraes, filha de Vinícius; o já citado Joaquim Pedro de Andrade, dentreoutros.

Muita gente de televisão e teatro freqüentava ou morava em Ipanema. Alguns jáforam citados, como Tônia Carrero e seu filho Cécil Thiré; Paulo Autran, carioca (1922),que morava na Joaquim Nabuco; o cearense José Wilker, que morava num prédioantigo; Gláucio Gil, que abriu no bairro seu primeiro teatro, o “Gláucio Gil”, na Viscondede Pirajá; Aurimar Rocha, grande animador do bairro; e Maria Clara Machado, mineira(1921), a pioneira do teatro infantil no Brasil. Além de, é claro, Leila Diniz, atriz (1950-1972), que inspirou uma música e comportamento de toda uma geração até sua morteem 1972. O grupo teatral “Asdrúbal Trouxe o Trombone”, foi outra criação ipanemensedos anos 70. Outra atriz, essa mais de comédias, foi a americana naturalizada KateLyra, ex-esposa de Carlos Lyra.

Teatros não faltaram em Ipanema. Além do já citado “Gláucio Gil”, que depoismudou-se para a Praça Cardeal Arcoverde, s/no, em Copacabana; surgira antes, naVisconde de Pirajá, 22 o “Teatro Santa Rosa”, do “Grupo Bloch”, onde, nos anos setentainstalou-se a “Discoteca New York City”, de efêmera existência; o “Teatro da Praça”, naGeneral Osório; o “Teatro de Bôlso”, fundado pelo carioca Silveira Sampaio (1914-1964), na Jangadeiros, 28-A, e que depois mudou-se nos anos 70 para a Av. Ataulfo dePaiva, 269, Leblon; antes já mudara seu nome para “Cine Teatro Poeira”, já citado.

ARTES PLÁSTICAS E MUSEUS EM IPANEMAAs artes plásticas em Ipanema formam um “primo pobre do bairro”, que por

muitos anos não possuiu museu algum ou centro cultural. Entretanto, tudo mudouquando em princípios de 1960 surgiu a primeira galeria de arte, a “Petite Galerie”, naPraça General Osório, 53. O acêrvo, que, por ser uma loja variava muito, nem por issodeixava de ser de primeira. Lá podiam se ver obras de Alfredo Volpi, o concretista ítalo-brasileiro, pintor das bandeirinhas (1896-1977); Emiliano Di Cavalcanti, o carioca pintorde coloridas mulatas (1897-1976); Franz Krajberg, polonês, pintor, gravador e escultor(1921); Genaro de Carvalho, o baiano dos tapetes (1926); Glauco Rodrigues, gaúcho,pintor e gravador hiper-realista(1929); Alberto da Veiga Guignard, fluminense, pintorcolorista (1896-1962); Marcelo Grassmann, paulista, pintor e gravador surrealista (1925-1974); Maria Leontina, paulista, pintora (1917-198?); Milton Dacosta, fluminense, pintore gravador cubista (1915-198?); Ruben Valentim, baiano, pintor e escultor (1922); HélioOitica, carioca, pintor e escultor neo-concretista (1937-1981); e outros.

Nos anos 80 foram inaugurados três museus em Ipanema. Um, na Vieira Souto,176, é a “Casa de Cultura Laura Alvim”, fundada em lembrança à sua instituidora, a“locomotiva social” Laura Alvim, filha e neta de artistas (era neta do famoso chargista do

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Império, Ângelo Agostini), e que transformou sua residência em ponto de encontros deintelectuais nos anos vinte, numa época em que eram raros os museus e centros decultura no Rio. Outro museu foi o da “H. Stern Joalheiros”, em na Visconde de Pirajá,490, dedicado às pedras preciosas e à joalheria, foi fundado por seu mantenedor, Dr.Hans Stern, considerado por muitos o maior joalheiro do mundo. Ao lado, surgiu oterceiro, o “Museu de Minerais e Jóias da Amsterdam Sauer”, fundado para dar apoio àloja de jóias, como o anterior.

Dentre os artistas ditos “menores”, não podemos esquecer os caricaturistas echargistas de um porte como: Borjalo Lopes, mineiro (1925); Ziraldo Alves Pinto, mineiro(1932); Jaguar, carioca (1932); que depois abandonou Ipanema pelo Leblon, alegandoterem acabado os bares de lá; Millôr Fernandes, carioca, morador do Méier (1924);Hugo Bidet, chargista, já citado; dentre outros. Eram responsáveis pela crítica social nospesados “Anos de Chumbo” (1964-1985). Leila Diniz, que já foi citada acima, não erachargista, mas atriz. Entretanto foi, com seu comportamento, uma das maiorescontestadoras da sociedade burguesa, sendo eleita a primeira “Musa de Ipanema”.

MANIFESTAÇÕES CULTURAIS URBANAS EM IPANEMAimagem completamente oposta à de Leila Diniz era a da socialite Beki Klabin,

dona da cobertura de um milhão de cruzeiros, a mais cara na Vieira Souto dos anos 70,mas que, por sua vez, foi a primeira figura da sociedade a desfilar fantasiada numaescola de samba, a Portela, em 1969, lançando moda que pegou. Beki mudou-sedepois para o “Largo do Boticário”, no Cosme Velho, onde teve tempestuoso romancecom o cirurgião plástico Hosmany Ramos.

Outro pólo cultural do bairro foi a “esquerda festiva”, com sua “sede própria” no“Bar Zeppelim”, onde nasceu a idéia do mais corrosivo jornal da década, “O Pasquim”,fundado em 1968 e extinto em 1980. Criação de Ziraldo (Ziraldo Alves Pinto, “...o quenunca brochou!”); Jaguar (pseudônimo de Hélio Jaguaribe, funcionário do Banco doBrasil “...intelectual não vai à praia, intelectual bebe!”); Millôr (Millôr Fernandes, “...omelhor humorista do Méier!”); e, acredite se quiser, Paulo Francis (em verdade, seunome era Franz Paulo Tranin Heilborn, jornalista da Manchete e Diário de Notícias...“Waal!”)! O Pasquim era a crítica social da época do Regime Militar.

Outra importante manifestação cultural foi a “Banda de Ipanema”, a qual, porincrível que pareça, foi fundada em Ubá, Minas Gerais em 1957, por Ferdy Carneiro,Albino Pinheiro (falecido em 1999), Paulo César Sarraceni e outros. Radicou-se cincoanos depois definitivamente em Ipanema e ainda hoje firme, é um dos símbolos dobairro. Alguns integrantes da Banda de Ipanema começaram a vender produtosartesanais em 1962, na Praça General Osório, origem da feira “Hippie”, legalizada peloGovernador Francisco Negrão de Lima (n. 1901) em 1969.

Em 1985 surgiu o primeiro bloco carnavalesco de Ipanema, o “Simpatia é quaseAmor”, cuja sede fica no Arpoador.

Outro artesão, o arquiteto e designer carioca Sérgio Rodrigues (1927-1997);lançou em 1958 em Ipanema, na sua “Galeria Oca”, na Jangadeiros, 14-C; a famosa“poltrona mole”, peça primorosa de designer mobiliário que arrebatou todos os prêmiosdo setor, no Brasil e no exterior.

A moda brasileira será revolucionada por uma estilista ipanemense, Marília Valls(1930-1997), com sua loja “Blu-Blu”, numa casa pequena da rua Montenegro, fundadaem 1972. Marília, que residia na Prudente de Morais, foi uma das melhores estilistas doBrasil. Depois surgiram a “Jo and Co”; a “Glorinha Pires Rebêlo”; a “Gregório Faganello”,na Barão da Tôrre, 422; bem como a lendária “Company”, fundada por Mauro

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Taubmann(já falecido) na Garcia D`Ávila, 56. A “Company” foi a primeira griffe apatrocinar desportistas no Brasil, moda que, felizmente, pegou.

ESPORTES EM IPANEMAFalando em esportes, o surf surgiu na “Praia do Arpoador”, nos princípios de

1964. Depois mudou-se para a “Praia do Diabo” e “Macumba”. Seu primeiro campeãointernacional foi o célebre “Rico”. O “Body Boarding” também teve origem idêntica,chamada naqueles anos inocentemente de “jacaré”. Em 1989 foram tombadas pelaprefeitura as pedras e praia do Arpoador, sendo dotadas de possante iluminação,possibilitando a prática do surf noturno.

Por sua vez, Millôr Fernandes e seu irmão Hélio inventariam em 1958 igualmentena Praia do Arpoador um esporte original, o “Frescobol”, única modalidade desportiva nomundo sem vencedores ou vencidos.

POETAS(MAIS SÉRIOS) DE IPANEMAJorge Murad, foi, por muitos anos, o maior poeta de Ipanema, mas perdeu feio o

posto para o “gaviano” Vinícius de Moraes, que eternizou o bairro e suas mulheres napoesia e na música. Dentre suas musas, sobressaiu-se Helô Pinheiro, que inspirou acançoneta “Garota de Ipanema”, literalmente um hino extra-oficial do bairro(e dacidade). O mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) morava na fronteira deCopacabana com Ipanema, ou seja, no meio da Rainha Elizabeth, na pracinha ReiAlberto. O poeta maranhense neo-concretista Ferreira Gullar(1930) era outro moradorda Praça General Osório. Gullar, que trabalhava como jornalista no Centro, lembra comsaudades do velho ônibus “Gosório”. Em verdade, o título na tabuleta do teto do veículoera G. Osório, mas grafados de maneira tão junta que logo originou o neologismo paraos coletivos que iam do Centro para Zona Sul. Esses ônibus, que circularam nos anos50/60, também eram alcunhados de “Camões”, por possuírem somente cabineproeminente na parte do motorista, dando a impressão de veículos “caolhos”, daí aassociação com o poeta português. Outro que morava em Ipanema, era poeta, mas emverdade ficou muito mais conhecido pela luta em prol da preservação do patrimôniohistórico nacional foi o mineiro Rodrigo Mello Franco de Andrade, Diretor do IPHAN portrinta anos até 1967(1898-1969). Era morador da rua Nascimento Silva.

Uma das figuras populares mais conhecidas de Ipanema nos anos 60 foi o“Chita”, apelido do mímico José Conceição(1925-198?), ex-combatente da FEB, tipo derua que imitava com graça a famosa macaca do Tarzan. Fez muito sucesso entre agarotada da Praia do Arpoador.

JARDIM DE ALAHO “Jardim de Alah”, possui, em verdade nome oficial. Aliás, três: Praças Grécia,

Paul Claudel e Saldanha da Gama. O apelido “Jardim de Alah” proveio do fato de quequando inauguraram as obras executadas pelo Prefeito Dodsworth(1895-1977) no canalda Lagoa, em 1938, fazia sucesso nos cinemas do Rio o filme “Jardim de Alah”, comMarlene Dietrich.

Aliás, esse canal, outrora natural, entupia com freqüência por assoreamento. Até1893 a União era responsável por sua manutenção. Em 1893, esse serviço passou paraa municipalidade, que o terceirizou em 1896 para a empresa “Companhia deMelhoramentos da Lagoa e Botafogo”, que logo se mostrou ineficaz. Em consequênciadisso, as enchentes e a mortandade de peixes infernizavam os bairros circundantes daLagoa. O canal só foi perenizado em 1920/22 pelo engenheiro Saturnino de Brito porordem do Prefeito Carlos Sampaio para manter limpa e salgada as águas da Lagoa

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Rodrigo de Freitas, comunicando-as com as do oceano. Só ganhou o famoso jardim,desenhado pelo paisagista da Prefeitura David Xavier de Azambuja durante aadministração do Prefeito Henrique Dodsworth, que almejava transformar o feio canalem lugar romântico, com cais e gôndolas para os namorados passearem na Lagoa. Nãodeu certo, mais os cais de atracação ainda estão lá esperando as tais gôndolas.

O único marinheiro que atracou no “Jardim de Alah” até hoje foi o Almirantecampista Luís Felipe de Saldanha da Gama(1846-1895), um dos líderes da Revolta daArmada (1893/94), falecido na “Batalha de Campo Osório”. Seu monumento foiinaugurado no jardim em 1946, obra do artista Antônio Caringi.

Alí perto da boca do canal, em 1922, surgiu uma ilha na Lagoa, ampliada comaterro pelo engenheiro Saturnino de Brito, onde em 1930 foi fundado o “Prant Club”,hoje rebatizado para “Clube Caiçaras”. Em 1966, o arquiteto Sérgio Bernardes projetouuma grande marina para iates, a ser erguida na entrada do canal, na praia entreIpanema e Leblon. Não foi adiante, haja vista o reboliço que causaria no trânsito.

Em 1933 surgiu em frente ao Caiçaras enorme favela, a da “Praia do Pinto”, quechegou a ter 7.142 moradores em 1950, mas foi removida em 1954 por iniciativa doBispo D. Hélder Câmara(1909-1999) para a “Cruzada São Sebastião”, um conjuntohabitacional erguido no princípio do Leblon, na antiga “Pedra do Baiano”, sob projeto deOscar Niemeyer(n. 1907). Onde era a favela pôde então ser feita a ligação entre asAvenidas Epitácio Pessôa e Borges de Medeiros, e de ambas com Vieira Souto e DelfimMoreira. Já no Leblon, nos terrenos recuperados se ergueram ainda nos anos cinqüentao “Clube Monte Líbano” e a “Associação Atlética do Banco do Brasil”.

BRIZOLÃO DE IPANEMANo início da década de sessenta, um grupo de empresários lançou a idéia de um

grande estabelecimento hoteleiro em Ipanema, no morro do Cantagalo. Era o“Panorama Pálace Hotel”, que teve até festa de inauguração em 1964, mas fracassandoo empreendimento, tornar-se-ía a ruína mais famosa do bairro por vinte anos, até sertransformada num CIEP, pelo Governador Brizola. No ano do centenário do bairro,existiam sete hotéis importantes em Ipanema, sendo dois de cinco estrelas, um dequatro, e um três estrelas. Os outros eram de duas apenas.

ARPOADORA “Praça Garota de Ipanema”, com saídas para o Arpoador e a rua Francisco

Otaviano, foi feita em terras que foram do “Forte de Copacabana”, urbanizadas em1978/80 pelo Prefeito Marcos Tito Tamoyo da Silva(morador do Leblon). Foi o últimogrande espaço verde criado no bairro.

O Arpoador, por sua vez, teve, nos idos de 1937, uma piscina pública, inauguradapelo Prefeito Dodsworth(que inaugurou outra no Leblon, no princípio da av. Niemeyer),as quais duraram pouco.

Afinal, quem é que iria a uma piscina em frente à Praia de Ipanema?...Por sua vez, foi instalado no Arpoador em 1982 o “Circo Voador”, iniciativa

cultural de Perfeito Fortuna, que revelou muitos grupos de música jovem. Alí ficou cincoanos até ser transferido para a rua dos Arcos.

Em 1924, as praias da Zona Sul ganharam postos de salvamento. Seis emCopacabana, três em Ipanema e três no Leblon. Foram substituídos por outros maismodernos em 1978, projetados por Sérgio Bernardes. Tais postos acabaram balizando apraia e, até a construção de quiosques na orla em 1992, o povo marcava encontro naareia pelos postos. O sete, no Arpoador, era o das famílias, surfistas e sambistas, daturma do bloco “Simpatia é quase Amor”, etc. O nove era do pessoal de vanguarda,

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intelectuais, artistas, maconheiros e também onde se lançava moda: biquíni fio dental(1975); brincos para homens(1978); tanga de crochê(1979), e, até “topless”(1981), Modaque voltou no verão de 2.000.

PARQUE GAROTA DE IPANEMA - PRAIA DO ARPOADORO parque, junto à Pedra do Arpoador, é tombado pelo Município. Seu nome é

homenagem a uma das mais famosas músicas de Tom Jobim e Vinícius de Moraes.Essa ligação com a música popular brasileira levou o local a se tornar ponto derealização de shows musicais.

Com 28 mil e 270m2, o Parque Garota de Ipanema possui local com pistas deskate e um mirante de onde se pode admirar a Praia do Arpoador, famosa por seussurfistas e por ser o local de onde se vê o mais belo pôr-do-sol da cidade, as praias deIpanema, Leblon, o Morro Dois Irmãos e a Pedra da Gávea.

BARES ATUAIS DE IPANEMAApesar da crítica de Jaguar, afirmando terem acabado os bares de Ipanema, isso

não é lá bem verdade. Em 1994, no ano do centenário do bairro, dos restaurantes maisbadalados de toda a cidade, os dez mais freqüentados e na moda estavam emIpanema: “Casa da Feijoada”, na Prudente de Morais, 10. “Le Streghe”, na Prudente deMorais, 129. “Satiricon”, na Barão da Tôrre, 192. “Grottamare”, na Gomes Carneiro, 132.“Natural”, na Barão da Tôrre, 171. “Mediterrâneo”, na Prudente de Morais, 1810.“Mariu`s”, na Francisco Otaviano, 96. “Churrascaria Porcão”, na Barão da Tôrre, 218.“Lagoa Charlie s̀”, na Maria Quitéria, 136. e “Mistura Fina”, na Garcia D`Ávila, 15. Dosbares do Rio, seis dos mais famosos localizam-se no bairro: “Alberico”, na Vieira Souto,236. “Barril 1800”, na Vieira Souto, 110. “Garota de Ipanema”, na Vinícius de Morais, 49-A. “The Lord Jim Pub”, na Paul Redfern, 63. “Polis Sucos”, na Maria Quitéria, 70. E o“Bofetada”, na Farme de Amoedo 87-A. Nem se inclui aí o já falado “Bar Lagoa”, hojemonumento tombado pelo Município.

O “PIRULITO” DE IPANEMAO Prefeito César Epitácio Maia iniciou em 1994 seu famoso projeto “Rio-Cidade”,

objetivando melhorar a qualidade de vida do pedestre carioca.Particularmente, Ipanema foi beneficiada de muito pelas obras, ganhando mobiliáriourbano de primeiro mundo, monumentos e benefícios que precisava há mais de vinteanos. Entretanto, nem tudo foi bem sucedido. O arquiteto Paulo Casé, morador daLagoa, mas ex-integrante do “Bando de Ipanema” , colocaria por obra e graça doprefeito o monumento mais polêmico do bairro: o “pirulito” e, de quebra, um arco(ex-passarela), na Praça Alcazar de Toledo, arranjo até hoje muito questionado pelapopulação.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA SOBRE IPANEMA01)- Abreu, Maurício de A .; Evolução Urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,IPLANRIO/Jorge Zahar Editor, 1987, il.02)- Amaral, Zózimo Barroso do; Projeto de Construção de uma Cidade Jardim àsmargens da Lagoa Rodrigo de Freitas. Rio de Janeiro, 1930, il.03)- Athayde, Raimundo; Paulo de Frontin. Rio de Janeiro, Prefeitura do Distrito Federal,1959.04)- Azevedo, Manuel Duarte Moreira de; O Rio de Janeiro - Sua História, homensNotáveis, Usos e Curiosidades. Rio de Janeiro, Livraria Brasiliana Editôra, ColeçãoVieira Fazenda, 2 vols., 1967, il.

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29)- Ferreira, João da Costa; A Cidade do Rio de Janeiro e o seu Têrmo. Rio de Janeiro,Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Coleção Memória do Rio, s/d., 1978.30)- Fontainha, Affonso; História dos Monumentos do Distrito Federal - Biografias. Riode Janeiro, Companhia Editora Americana, 1954, il.31)- Fontainha, Affonso; História dos Monumentos do Rio de Janeiro(Estado daGuanabara) - Biografias. Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, 1965, il.32)- Fuss, Peter; Brasil. Berlin und Zürich, Orbis Terrarum, Atlantis Verlag, 1937, il.33)- Fuss, Peter; Rio de Janeiro - Com 48 fotografias. Berlin und Zürich, Atlantis Verlag,1937, il.34)- Gautherot, Marcel; Rio de Janeiro, Trinta Ilustrações em Cor. Rio de Janeiro, 1965,il.35)- Gerson, Brasil; História das Ruas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, LivrariaBrasiliana Editôra, Coleção Vieira Fazenda, 1965, il.36)- Gonçalves, Aureliano Restier; Extractos de Manuscriptos sobre Aforamentos -1925/1926/1929. Rio de Janeiro, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, ColeçãoMemória do Rio, 1978, il.37)- Govêrno do Brasil. Recenseamento Geral de 1920. Rio de Janeiro, 6 vols., DiretoriaGeral de Estatística, 1922, il.38)- Hollanda, Nestor de; Itinerário da Paisagem Carioca. Rio de Janeiro, Editora Letrase Artes, 1965, il.39)- Kastrup, Sebastião Aroldo; O Rio Pitoresco - Histórias Curiosas da Cidade Estado.Rio de Janeiro, José Álvaro Editor, 1965, il.40)- Lozada, Germán; Nossa Senhora de Copacabana. Rio de Janeiro, Editôra do Autor,1953, il.41)- Oliveira, Agenor Lopes de; Toponímia Carioca. Rio de Janeiro, Prefeitura do DistritoFederal, 1959.42)- Orazi, Ângelo; Rio de Janeiro And Environs. Rio de Janeiro, Guias do Brasil Ltda.,1939.43)- Lima, Negrão de; Guanabara em Nova Dimensão. Rio de Janeiro, Estado daGuanabara, 1967, il.44)- Macedo, Roberto Duarte Teixeira de; Barata Ribeiro - 1o. Prefeito do DistritoFederal. Rio de Janeiro, Serviço de Documentação do DASP, 1955,il.45)- Macedo, Roberto Duarte Teixeira de; Henrique Dodsworth. Rio de Janeiro, Serviçode Documentação do DASP, 1955, il.46)- Magalhães, Paulo de; Antes que Eu me Esqueça - A História de Copacabana. Riode Janeiro, 1967, il.47)- Martins, Luís Dodsworth; Presença de Paulo de Frontin. Rio de Janeiro, 1960, il.48)- Moraes, Alexandre José de Mello; Chrônica Geral e Minuciosa do Império do Brasil.Rio de Janeiro, Typographia Dias da Silva Júnior, 1879, il.49)- Niemeyer, Conrado Jacob; Ferro Carril Copacabana. Concessão Duvivier & Cia. -Conferência Pública. Rio de Janeiro, Typographia à Vapor, 1883.50)- Orazi, Ângelo; Rio de Janeiro and Environs. Traveller s̀ Guide. Rio de Janeiro,Guias do Brasil Ltda., 1939.51)- Pessôa, Murilo; Ipanema e Sua História. Rio de Janeiro, Revista LionsInternacional, 1969, il.52)- Prefeitura do Districto Federal - Recenseamento Geral de 1906. Rio de Janeiro,1907, il.53)- Prefeitura do Districto Federal; Sinopse Estatística do Districto Federal. Rio deJaneiro, 1935.

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54)- Questão de Privilégio; Recurso para o Conselho de Estado Interposto pelaCompanhia Brasileira Ferro Carril do Jardim Botânico Contra o Procedimento Arbitráriodo Governo. Rio de Janeiro, Typographia de Leuzinger e Filhos, 1883.55)- Reis, José de Oliveira; A Guanabara e seus Governadores. Rio de Janeiro,Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1978, il.56)- Reis, José de Oliveira; O Rio de Janeiro e seus Prefeitos. Rio de Janeiro, Prefeiturada Cidade do Rio de Janeiro, 1977, 4 vols., il.57)- Relatório da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico. Rio de Janeiro,Typographia de Carlos Gaspar da Silva, 1890.58)- Relatório da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico. Rio de Janeiro,Typographia de Carlos Gaspar da Silva, 1892.59)- Relatório da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico. Rio de Janeiro,Typographia de Carlos Gaspar da Silva, 1894.60)- Relatório da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico. Rio de Janeiro,Typographia de Carlos Gaspar da Silva, 1895.61)- Relatório da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico. Rio de Janeiro,Typographia de Carlos Gaspar da Silva, 1896.62)- Relatório da Companhia Ferro Carril do Jardim Botânico. Rio de Janeiro,Typographia de Carlos Gaspar da Silva, 1899.63)- Rheingantz, Carlos Grandmasson; Primeiras Famílias do Rio de Janeiro - Sécs.XVI/XVII. Rio de Janeiro, Livraria Brasiliana Editora, Coleção Vieira Fazenda, 2 vols.,1965.64)- Rocha, Luiz; Rio e Arredores - A Melhor Maneira de se Conhecer o Rio. Rio deJaneiro, Editôra do Autor, 1991, il.65)- Rosa, Professor Ferreira da; Memorial do Rio de Janeiro - 1878/1928. Rio deJaneiro, Arquivo do Distrito Federal, 1951, il.66)- Rosa, Professor Ferreira da; Rio de Janeiro em 1922/24. Rio de Janeiro, Prefeiturada Cidade do Rio de Janeiro, Coleção Memória do Rio, 1978, il.67)- Rouchou, Jöelle; e Blanc, Lúcia; Memórias de Ipanema: 100 anos de Bairro. Rio deJaneiro, Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1994, il.68)- Sampaio, Carlos César de Oliveira; Memória Histórica - Obras da Prefeitura. Rio deJaneiro, Lumen Empresa Internacional Editora, 1924, il.69)- Santos, Francisco Agenor de Noronha; As Freguesias do Rio Antigo. Rio deJaneiro, Editôra O Cruzeiro, 1965, il.70)- Santos, Francisco Agenor de Noronha; Chorographia do Districto Federal. Rio deJaneiro, 1913, il.71)- Santos, Francisco Agenor de Noronha; Os Meios de Transporte do Rio de Janeiro.Rio de Janeiro, 2 vols., Typografia Jornal do Commércio, 1934, il.72)- Santos, Joaquim Ferreira dos; Feliz 1958 - O Ano que não Devia Terminar. Rio deJaneiro, Editôra Record, 1998, il.73)- Santos, Paulo F.; Quatro Séculos de Arquitetura. Rio de Janeiro, Instituto deArquitetos do Brasil, 1981, il.74)- Schlichthorst, C.; O Rio de Janeiro Como É - 1824/26: Huma Vez e Nunca Mais.Rio de Janeiro, 1938, il.75)- Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes; Guia do Patrimônio CulturalCarioca. Rio de Janeiro, Departamento Geral de Patrimônio Cultural, Prefeitura daCidade do Rio de Janeiro, 1992, il.76)- Silva, J. Romão da; Geonomásticos Cariocas de Procedência Indígena. Rio deJaneiro, Prefeitura do Distrito Federal, 1959.

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77)- Silva, Maurício Joppert da; Paulo de Frontin - Patrono da Engenharia Brasileira.Rio de Janeiro, Clube de Engenharia, 1967, il.78)- Soares, Alaôr Prata; Recordações de Vida Pública. Rio de Janeiro, Editora Borsoi,1958.79)- Tabet, Sérgio; e Pummar, Sônia; O Rio de Janeiro em Antigos Cartões Postais. Riode Janeiro, Editôra do Autor, 1985, il.80)- Teixeira Filho, Álvaro; Roteiro Cartográfico da Baía de Guanabara e Cidade do Riode Janeiro. Rio de Janeiro, Livraria São José, 1974, il.81)- Teixeira, Milton de Mendonça; O Rio de Janeiro e sua Arquitetura. Rio de Janeiro,GECET/DOP/RIOTUR, 1988.82)- Teixeira, Milton de Mendonça; O Rio de Janeiro e suas Praças. Rio de Janeiro,GECET/DOP/RIOTUR, 1988.83)- Tôrres, José Moreira; Lagoa Rodrigo de Freitas. Rio de Janeiro, Revista Municipalde Engenharia, 1990, il.84)- Vários Autores; Assistência Pública e Privada no Rio de Janeiro(Brasil). História eEstatística. Em Comemoração do Centenário da Independência do Brasil. Tip. DoAnuário do Brasil, 1922, il.85)- Vários Autores; O Rio de Janeiro em seus Quatrocentos Anos. Rio de Janeiro,Editôra Record, 1965, il.86)- Vários Autores; Rio, Modéstia à Parte. Rio de Janeiro, Suplemento Especial deSeleções do Reader s̀ Digest, dezembro de 1964, il.87)- Winz, Antônio Pimentel; Notas Históricas sobre Nossa Senhora de Copacabana.Rio de Janeiro, Anais do Museu Histórico Nacional, 1965, il.88)- Xavier, Alberto; Britto, Alfredo; Nobre, Ana Luiza; Arquitetura Moderna no Rio deJaneiro. Rio de Janeiro, RioArte, PINI, 1991, il.

PRIMÓRDIOS DA LAGOA RODRIGO DE FREITASUm mapa francês antigo indicava que até 1575, existiam cinco aldeias de índios

tamoios em volta da Lagoa. Elas já ocupavam essa região pelo menos desde o séculoVI da Era Cristã. Uma era aldeia "Kariané", onde hoje está o bairro do Leblon, umaoutra, a "Jaboracyá", era na base do Corcovado e as outras três, "Pepim", "Earumyri" e"Paná-Ucú", margeavam a Lagoa propriamente dita. Os índios tamoios chamavam aLagoa de "Piraguá" ("Água parada", em tupi), ou "Sacopenapan/ Socopenapan"("Caminho onde andam as Socós"), que era uma avezinha pernalta, da família dasgarças, a qual se alimentava de peixe podre, quando havia mortandade deles na Lagoa.

Os primeiros sesmeiros portugueses na região não quebraram esse equilíbrioentre as aldeias, até porque, crê-se, não chegaram a ocupar com grandes culturas asterras que receberam. O primeiro deles foi o Capitão de Infantaria Manuel de BritoPereira, Fidalgo da Casa D`El Rei, nascido em Beja (1542?-1602), e que participou dafundação do Rio de Janeiro. Ele solicitou e obteve de Estácio de Sá a 25 de abril de1566 uma sesmaria de 1000 braças de largo e 1500 de comprido no caminho "Aquémda Gávea" (seria na atual Barra da Tijuca?). A 03 de dezembro de 1566, o vicentinoAndré de Leão (1540?-1610?), Vereador, obteve sesmaria de 200 braças ao longo domar e 500 braças para o sertão. Geralmente os historiadores estão de acordo que suasterras correspondem à atual Gávea e Marquês de São Vicente. André, que era versadona linguagem dos tamoios, obteve outra sesmaria da Câmara a 19 de janeiro de 1592,acrescentando 300 braças às suas posses. A 25 de setembro de 1567, foi a vez dofidalgo português Antônio Preto (1542?-1601), morador em São Vicente, obter seuquinhão. Prêto recebeu 1000 braças de largo e 1500 braças para o sertão "Aquém da

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