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AAAAAno III, nº 22, Valença, abril de 2007

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A vela e a ausência de texto na capaquerem dizer muita coisa. Uma delas é queestamos comemorando dois anos de publica-ção e nada mais representativo do que umavela para se festejar um aniversário. Mas nãosomente a isso ela se remete.

Na nossa cidade, nesse último mês ti-vemos uma manifestação em favor da vida, quenão parece muito valorizada. Nossos votos deque essa mobilização gere frutos e fomenteações que combatam as violências contra avida. Também triste, no dia 31 de março, umcompanheiro de luta faleceu em Juiz de Fora.Márvio, mais conhecido como Jagal, que mi-nistrando aulas de break esteve presente emValença desde o ano de 2001, junto ao Movi-mento Hip Hop Organizado de Valença(MH2OV). Depois disso, foi parceiro da RedeJovem, sempre comparecendo aos Festivaisde Inverno. Um parceiro que se vai, mas dei-xando o exemplo de perseverança e humilda-de entre nós. Na página aqui ao lado, uma ho-menagem de Rafael, amigo próximo de Jagal.Mas a edição é de aniversário, e com ela traze-mos uma nova cara, um novo visual graças aosnossos companheiros Thiago Xisto e CarolinaLara, que se propuseram a colaborar com oValença em Questão. As melhorias estão visí-veis, literalmente. Além do novo visual, estamoscom 12 páginas (edição de aniversário mere-ce!). Não somente porque comemoramos doisanos de jornal, mas porque nossa cidade pa-rece borbulhar e assuntos relevantes devemser levados em conta, como a ocupação dascasas no bairro da Varginha, a formação daAssembléia Popular, os fatos tristes que aba-laram Valença.

Também pensamos em ter uma entre-vista com alguém que representasse bem nos-sa cidade, e o “escolhido” foi Paulo RobertoFigueira, professor da Universidade Federal deJuiz de Fora (UFJF) e um apaixonado porValença. Uma entrevista/conversa sobre o nos-so município, comunicação, política e sobre avida como um todo, uma entrevista que nos fazpensar num mundo onde a miséria não sejauma coisa natural, nas palavras do entrevista-do. E a saga continua com Bebeto escrevendosobre o uso racional de nossas energias. Umaótima leitura, parabéns e obrigado a vocês lei-tores, nosso principal estímulo para continuarpor mais muitos anos nessa luta.

ExpedienteProjeto Gráfico: Thiago XistoEditoração Eletrônica: Carolina LaraJornalista Responsável e Editor: Vitor Monteirode CastroColaboraram nesta Edição: Bebeto, Carlos Latuff,Letícia Serafim, Rafael Monteiro, SadraqueSantos, Samir Resende, Danilo GarciaSerafim e MarigoniTiragem: 2.000 exemplaresImpressão: Gráfica Rioflorense

Os textos publicados podem serreproduzidos se citado a fonte e autoria domaterial e integralmente. O Valença emQuestão é uma publicação mensal sem finslucrativos, distribuída gratuitamente nomunicípio de Valença, municípios vizinhos,Rio de Janeiro e através de correioeletrônico.

Para anunciar, colaborar ou participar:[email protected] ou pelo telefone (21) 8187-7533

EditorialAnderson Rosa

Ótima a entrevista com AndersonRosa. Há mais de trinta anos acompa-nhando a nossa cidade, nunca vi (e acheique continuaria sem ver) uma entrevis-ta com um ex-dependente de álcool. Numprimeiro momento, confesso que acheimeio absurdo abrir espaço para esse tipode entrevista, mas depois que li, acheiinteressante e esclarecedora. Tomaraque nossos jovens leiam a entrevista eevitem passar pelos maus bocados queAnderson passou.

Ricardo - Centro

Parabéns IParabéns a vocês, do Valença em

Questão, que estão realizando um tra-balho legal de comunicação em nossacidade. Este mês fiquei sabendo que emabril completam dois anos de jornal, evenho por meio desta carta parabenizá-los por tal façanha. Digo façanha por-que quem conhece um pouco nossa ci-dade sabe das dificuldades encontradaspor movimentos sociais devido ao gran-de conservadorismo de Valença. Agora,mais novo do que vocês, surgiu agora oJornal Local, que espero tenha a mes-ma garra de vocês e permaneça lutan-do pra uma cidade mais comunicativa.Abraços,

Michelle, Torres Homem

Parabéns IIHá dois anos acompanhamos de

perto o trabalho do Valença em Questãoe da Rede Jovem Valenciana, e apro-veitamos a data de aniversário paradesejar a toda a equipe da Rede Joveme parceiros muito mais conquistas nesseterceiro ano de publicação. A MiriamLajes parabeniza a publicação e a ini-ciativa desses jovens em lutar por umacidade menos desigual.

Miriam Lajes - Aparecida

Leitor em QuestãoMaringoni

Excelente a ilustração do Ma-

ringoni, da Agência Carta Maior

(www.agenciacartamaior.com.br), naedição de março, na matéria sobre a

redução da maioridade penal. Ado-

rei quando ele coloca, em duas fra-

ses e no seu desenho onde está o foco

de nossos políticos: estão preocupa-dos em aumentar o número de presí-

dios, de colocar os jovens mais cedo

nessas prisões, mas não pensam em

oferecer uma educação de qualida-

de, hospitais funcionando, em alter-nativas de empregos para a grande

maioria da população. Parabéns a

vocês pela publicação.

Rafael � Bairro de Fátima

Samir ResendeTenho acompanhado o jornal

e tenho sentido falta, nas últimas

edições, da colaboração do professor

Samir Resende. Acho os textos delemuito legais e vocês deveriam ter um

texto dele toda edição. Fui aluno dele.

Tiago - Biquinha

Resposta VQ:AmigoTiago, nesta edição, co-

memorativa do nosso segundo aniver-sário, Samir Resende está de volta(por coincidência ou não) às nossaspáginas e com seus ótimos textos. Eleesteve ausente não porque o jornal oexcluía, mas porque seus afazerescomo professor e coordenador doSEPE (Sindicato Estadual dos Pro-fissionais da Educação) o impediamde escrever com regularidade. Comovocê, esperamos que ele volte a serconstante. Forte abraço.

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O Valença em Questão homenageia o companheiro Jagal nesta edição por alguns bons motivos. Primeiro porque ele se foi

e isso trás à tona a lembrança do ser humano que foi. Segundo porque sempre vale a pena lembrarmos do Jagal.

Jagal tinha alguns defeitos, sim, como todos nós. Mas estes eram incapazes de superar as preciosidades que ele nos

passou e deixou. Das que conheço, tenho convicção de dizer que são merecedoras para que Valença inteira o homenageie.

Jagal era um cara que servia de exemplo como ser humano. Quantas vezes ele veio a Valença recebendo apenas o dinheiro

da passagem para dar aulas, palestras para a molecada, que se entusiasmavam com o Hip Hop. Para fazer isso é preciso acreditar

que essa molecada daria frutos, ou seja, Jagal tinha aquilo de mais precioso que nós humanos podemos conter (uns mais, outros

menos) que é a fé no outro ser humano. Porque nisso subjaz a crença de que o outro deve ter, e saberá ter aquilo que se está dando

porque lhe transborda.

Uma imagem que guardo na memória e ratifica a existência desta preciosidade no Jagal, é aquela em que estávamos indo

para a escola da Passagem, onde daria aula para a molecadinha. Era umas 9 horas da manhã. Ele acabava de chegar de Juiz de

Fora, no primeiro ônibus que saiu de lá. Essa dedicação dele, sem esperar algum tipo de reconhecimento ou troca dos garotos é o

que me fez enxergar o valor do ser humano Jagal. Ele ali, andando quilômetros naquela estrada de terra batida, sem nenhuma

câmera de televisão ou máquina fotográfica para registrar sua atitude. Não! Não havia nada disso, e ele sabia que não haveria.

Sempre veio a Valença quando o chamamos.

Ele se dedicava na verdade por este fazer ser ele. Jagal não seria Jagal se não se dedicasse ao outro. É como que se

confundisse ser o Jagal e fazer isso. Essa energia que ele nos passou era transbordada dele. De fato, esta preciosidade estava

presente nele e por isso vale a pena relembrá-la e de forma humilde neste texto, que é a forma que ele sempre disse preferir.

Jagal, guerreiro de féJagal, instrutor de dança de rua (break), morreu dia 31 de março de 2007. Devido a uma

contusão, teve que parar com as aulas e foi se tratar em Juiz de Fora, sua cidade natal. Nohospital teve uma parada respiratória depois de medicado. Parceiro de todas as horas,

ministrou oficinas de break em Valença desde 2001 e participou dos Festivais de Invernopromovidos pela Rede Jovem Valenciana

Rafael Monteiro de Castro,

estudante de filosofia

FéHip Hop

Guerreiro Jagal

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Onde foi que erramos?!AAAAAno III, nº 22, Valença, abril de 2007

Assembléia PAssembléia PAssembléia PAssembléia PAssembléia Popular: mutirão por novas cidadesopular: mutirão por novas cidadesopular: mutirão por novas cidadesopular: mutirão por novas cidadesopular: mutirão por novas cidades

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Manifestação contra a violência, dia 4 de abril de 2007, organizado pelas escolas, igrejas,entidades e associações do município de Valença

Por Samir Resende de G. Souza, professor

Com muita tristeza, Valença choroua morte violenta de alguns filhos seus; emesmo que as primeiras impressões destatragédia nos levem a causas estúpidas, nãopodemos separá-la da realidade que temos.Acon tec imen tosdeste tipo são carac-terísticos de cidadespobres, da periferiado capitalismo (anti-go terceiro mundo)que devido ao longoperíodo de estagna-ção econômica, têmsuas bases estrutu-rais corroídas pelascontradições do sis-tema, como o cres-cimento da popula-ção pobre, desigual-dades de renda,segmentações deidentidades, precon-ceito, etc. Os refle-xos deste cenáriosão visíveis paraalém da lógica eco-nômica: atingemtambém aspectos dasociedade ligados àcoesão e à solidariedade, definindo-se nummodelo de civilização em crise. E hojeValença encarna este espírito.

Se por um lado temos o flagelo eco-nômico, fruto principal da herança de“dogmas” que recebemos diariamente da

banca financeira mundial, por outro lado es-colhemos pessimamente nossos represen-tantes nesta democracia que temos. O Bra-sil precisa ser educado, ler mais, ver menosnovela, enxergar além do consumismo, do

imediatismo, não endurecer o coração, cui-dar da sua saúde... Não mais depender dos“mitos” ou do “pai dos pobres” para apontarseus caminhos e traçar seu destino.

Há quanto tempo não temos uma no-tícia boa sobre Valença? Não comemoramos

uma vitória do município? Qual foi a últimapersonalidade que trouxe orgulho para amaioria do seu povo? Provavelmente coisasboas ocorrem, mas muito fica ofuscado poracordos tácitos entre a minoria dirigente.

Nossa realidade políticabaseou-se no enriqueci-mento à custa da coisapública (patrimonialismo)e na comercialização dovoto (clientelismo), quetransforma o cidadão co-mum em um grande “fre-guês” da quitanda políti-ca.

O povo de Valençaafiançou muito no prefei-to Fábio Vieira, justamen-te por ele não ser emer-gente clássico desta bur-ro-cracia. Com um traba-lho reconhecido, notada-mente na área de saúde(área social), ainda hojeo valenciano tem espe-rança no seu governo.Porém, para quem obser-va atentamente, tem-se aimpressão de que algumacoisa anda fora da ordem,

principalmente na pauta política e questõesadministrativas. Parece que as “terríveis for-ças ocultas” (resgatando a alma penada deum ex-presidente) ainda não nos deixaramsentir com prazer o espetáculo do cresci-mento na gestão do dr. Fábio.

Felizmente para muitos, outro mundo ainda é possível. Iniciativas nacionais como o Fórum Social Mundial, OGrito dos Excluídos, A Campanha Jubileu, A Campanha Nacional Contra a Alca entre outras, nos confortam eenchem de esperança na busca de uma nova sociedade. A ASSEMBLÉIA POPULAR DE VALENÇA é uma tentativade buscar este ideal. Um ideal de sociedade verdadeiramente democrática, economicamente justa, socialmenteeqüitativa e solidária, culturalmente diversa, ambientalmente saudável.

Em Valença a Assembléia Popular já conta com algumas pessoas e entidades na sua coordenação, como oCOMAM-VA (Conselho Municipal das Associações de Moradores de Valença), o SEPE (Sindicato dos Profissionaisde Educação do RJ), o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) e a Rede Jovem Valenciana. A primeirabandeira que a Assembléia levantou foi sobre a questão da habitação e moradia popular. Não admitimos que nosegundo maior município em extensão de terras do estado do Rio de Janeiro, termos pessoas vivendo em barracosnas valetas, em péssimas condições de habitação. Enquanto isso, latifundiários e os próprios poderes, donos deimensas áreas ociosas, não exercem a função social das terras.

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Ratão Diniz / Imagens do Povo

Sadraque Santos/ Imagens do Povo

Sadraque Santos/ Imagens do Povo

5AAAAAno III, nº 22, Valença, abril de 2007

Moradores da Varginha alertam:pobre não é bandido!Por Samir Resende G. Souza, professor

O dia 19 de março seria uma segun-da-feira qualquer não fossem 40 famílias de

trabalhadores va-lencianos, que ocu-param casas popu-lares construídas(mas com as obrasainda não termi-nadas) desde 2004no bairro da Var-ginha. Foram sor-teadas 100 famíli-as para ter a possedos terrenos, issodurante o governo

Fernando Graça (gestão 1997-2000). Na ges-tão seguinte, do prefeito Luiz Antônio (2001-2004), as casas foram quase totalmente cons-truídas, e outras 100 famílias foram sortea-

A ocupação das casas populares

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das. Fazendo as contas, temos 200 famílias semcasa para morar e apenas 100 construídas (ouquase).

Mas o problema não pára por aí. E adiscussão menos ainda. Hoje o número de fa-mílias que ocupam as casas ultrapassa 100 e oobjetivo não é simplesmente conseguirem as ca-sas para morar. A questão é rediscutir a mora-dia em nossa cidade. Na ocupação 16 famíliastêm o documento de doação das casas, e outras36 o de doação dos terrenos. Porém, mais dametade das famílias que estão no local não têmonde morar, e também não receberam qualquertipo de doação. Esse é o caso de Ana Paula, 27anos e mãe de cinco filhos, de três a oito anos(uma menina e quatro meninos). Antes de ocu-par uma casa na Varginha, Ana Paula moravacom os pais, mas muitas vezes foi expulsa decasa. Ela explica: �meu pai bebe e brigavamuito com a gente. De madrugada, mandava a

gente embora e muitas vezes tinha que pedirabrigo aos vizinhos�, conta.

Ana, como seu irmão mais novo, de 26anos que também está na ocupação, diz queficou sabendo no próprio domingo anterior àocupação. �Meu pai tinha me colocado parafora e dormi na vizinha. Ela disse para eu viraqui no colégio da Varginha. Eu vim e preten-do ficar para lutar por um espaço�. Pergunta-da se mesmo sem estrutura (de saneamento bási-co e de água) ainda assim era melhor, respon-deu de bate-pronto que sim, �mesmo sem estru-tura, está melhor. É a minha casa e ninguémvai me expulsar daqui de madrugada�.

A organização da ocupação está fazen-do um cadastro de todas as famílias e do núme-ro de familiares para a produção de um docu-mento para apresentar as demandas reais dasituação da habitação em nossa cidade.

Em nota enviada ao VQ através da Asses-soria de Comunicação da PMV, e em conversa tele-fônica com o secretário de governo Jorge Oliveira,o governo Fábio Vieira diz estar empenhado emsolucionar a situação das casas populares da Var-ginha e que possui um projeto de habitação popularpara o município.

Sobre a ocupação das casas e a paralisa-ção das obras, a Assessoria de Comunicação dizque na conciliação judicial da PMV com o Movi-mento dos Sem Teto � que contava com o apoio doMST, Conlutas e COMAM-VA (ligado ao ex-prefei-to Luiz Antônio, afirma a Assessoria) �, foi defini-

Nota da PMV sobre a situaçao da Varginhado que das cem casas do loteamento, oitenta seriamdesocupadas e vinte isoladas e mantidas às pessoasque tivessem os títulos dos lotes ou do sorteio dasresidências para que a empresa RJ Engenharia reini-ciasse as obras. Segundo a ASCOM, a saída das fa-mílias no prazo de dez dias a partir da conciliação emjuízo, não foi cumprida e o município teve que entrarcom o pedido de reintegração de posse para dar con-tinuidade às obras.

Questionado sobre a manifestação no prédioda PMV e sobre a existência de políticas públicashabitacionais no município, o secretário Jorge Olivei-ra disse que as portas das negociações continuam

abertas: �o governo municipal recebe qualquer tipo demovimento organizado. Assim que cumprirem a reinte-gração, manteremos nossa proposta de levá-los para aúnica área disponível no município, que é no distrito deBarão de Juparanã�, garantiu o secretário. Jorge Oli-veira acrescenta que o governo Fábio Vieira possui umprojeto de construção de aproximadamente 470 casaspopulares no município, estando na expectativa da li-beração de recursos do governo Federal.

Segundo a ASCOM, o governo municipal con-seguiu, junto ao INCRA, 500 cestas básicas que serãoentregues às famílias ocupantes do loteamento da Var-ginha.

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A situação dos moradores sem-teto daVarginha seria um exemplo até engraçado –se não fosse trágico – de como são as coi-sas na nossa cidade. Há alguns anos, veioum prefeito e loteou um terreno público na-

quele bairro, sorteando-o; logo após, veio ou-tro prefeito, com a ajuda da governadora, econstruiu algumas semi-casas no local, sor-teando-as para outras pessoas. Independen-te ou não da posse de título, conclui-se coma devida vênia, que nenhum dos documentostraz a segurança jurídica necessária para osseus proprietários e, assim sendo, as pesso-as que lá ocupam, devem mesmo ficar no lo-cal até que se chegue a uma solução definiti-va para o problema. Até mesmo porque elasnão têm mais para onde ir, a não ser voltarpara o dentro do córrego de esgoto da Vargi-nha.

Se o Estado (executivo, legislativo, ju-diciário) estivesse mais presente na vida des-tas comunidades populares, ações destecunho seriam desnecessárias. O único apa-rato estatal que se dignificou a aparecer naVarginha até agora foi a Polícia Militar, comas devidas metralhadoras em punho (como

se pobre fosse sinônimo de bandido). Por suavez, Valença ainda é uma cidade muito cristã eo amor de Cristo por seus semelhantes salvouaqueles que crêem. Esta é a esperança dos sem-teto da Varginha: que os bons cristãos desta ci-dade lutem pela salvação deles.

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Há exatos dois anos, no dia 22 deabril de 2005, o primeiro número do Valen-ça em Questão era distri-buído no centro da cida-de, por um grupo de jo-vens. Era um momento deeuforia, já que um projetoestava pronto, mas ao mes-mo tempo, de incertezas.Incerteza se teríamos umnúmero dois, porque nãohaveria condições da des-pesa continuar individual. Ogrupo foi se formando, forta-lecendo, conquistando, nes-se primeiro momento, algunsparceiros que foram funda-mentais. O mais importante,a Miriam Lajes, que é anunci-ante ininterruptamente desdeo segundo número. Mas tive-mos outros, como a Total Lo-cadora, o RogeGuts, a Cia. DoLivro e Vídeo Avenida, além deRaquel Freire, Ulisses Rode-gueri, Moonlight Pub e Hotel Pal-meira Imperial. Alguns ainda par-ceiros, mas que por dificuldadenossa (principalmente de tempo),não conseguimos nos articular daforma ideal para manter essas par-cerias. Mas não sabemos como,“no final tudo dá certo. E se nãodeu certo, ainda não chegou ao fi-nal”. Esta frase, inclusive, virouchavão para o Valença em Ques-tão. A “explicação” para isso é quea intenção é positiva, e por isso, asmais diversas forças convergem anosso favor.

E se estamos há dois anos,e cada vez melhores (desculpem afalta de modéstia) é porque estamosseguindo um caminho próprio, inde-pendente e de interesse coletivo. Fôs-semos nos preocupar com nossospróprios umbigos, não acredito queestaria escrevendo isso agora. Esta-mos ainda por aqui porque temos um pa-pel importante para desenvolver. Olhandopara trás percebemos, primeiro, a melho-ria da qualidade e de nossas posturas, esegundo, que fomos/somos muito impor-tantes (e isso inclui todos os que já parti-ciparam de alguma forma do jornal, e tam-bém os que vierem a colaborar) para a

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Aniversário VQ

construção deuma nova Valença, de uma nova cidadeque seja mais justa, mais humana e mui-to menos desigual. Um dos lemas dessegrupo é que “juntos somos fortes”, e foisempre através de parcerias que conse-guimos realizar muito nesses dois anos.Além do jornal Valença em Questão, rea-lizamos dois Festivais de Inverno, tentan-do redescobrir nossa identidade como

povo, valorizando nossa cul-tura local. Foram dois eventos que mexe-ram com quem participou de alguma for-ma, mexeu com corações e mentes, por-que foram realizados, acima de tudo, comamor, um amor que foi se disseminandopara o coletivo. Mas não só de Festival eVQ a Rede Jovem Valenciana vive. Reali-zamos o Cinema nos Bairros, levando di-versão, cultura e música para os diversosbairros de nossa cidade; participamos da

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� Fôssemos nos preocuparcom nossos próprios

umbigos, não acredito queestaria escrevendoi s s o a g o r a .�

�Importante para dar voz àperiferia do pensamento�Breno

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�É um cesto de papel comidéias livres dentro�

Samir

Valença em Questão

�A busca por uma sociedade maisparticipativa quanto às questõesde seu próprio interesse�Rafael

�É luta por justiça

social com temperos de

solidariedade�Vitor

�Uma porta para o jovem demonstrar seusobjetivos de uma forma simples e objetiva�

Luiz Fernando

�Mostra um outro lado da informação,

com espaço para singularidades de

Valença, uma alternativa diferente de

opinião�Gustavo

�jornalismo inovador eindependente�Letícia

em questão

�Uma ferramenta contra ainércia cultural�

Thiago Xisto

campanha “Sou doador” para cadastramento de do-adores de medula na nossa cidade; com o projetoSorriso Nota 10 distribuímos kits odontológicos ce-didos pela Petrobras em escolas da cidade; realiza-mos palestra sobre o plebiscito sobre a proibição ounão da venda de armas de fogo; criamos a FrentePopular por Políticas Públicas para a Juventude; re-alizamos oficinas de jornalismo no aniversário de umano do VQ; em parceria com o SESC levamos paraValença oficinas de percussão com o grupo culturalAfroReggae e de dança com a Cia. Étnica de Dan-

ça; participamos da organização da Semana MundoUnido, evento ecumênico. Atualmente fazemos parteda Assembléia Popular, contribuindo para a constru-ção de um projeto de cidade.

Não somos muitos, mas a vontade de realizar,de forma colaborativa, e também de ser ajudados damesma forma, nos faz um movimento importante na(re)construção da nossa cidade. Já escrevi isso mui-tas vezes, mas insisto em repetir: o Valença em Ques-tão está aí para ser construído por nós de Valença,sempre aberto às manifestações de quem nos escre-ve (ou escreve para nós), aos mais diversos camposutópicos (principalmente) e ideológicos. Mas tambémvale lembrar, o Valença em Questão se preocupa, pri-oritariamente, com a justiça social.

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�Uma engrenagem que busca se juntar a diversasoutras engrenagens e

colaborar para que a máquina valenciana seja eficiente,solidária e promova

o desenvolvimento sustentável, para todos�Bebeto

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Em janeiro o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC em inglês) divulgou um relatório com até 95% de certezasconcluindo que a atividade humana desde a Revolução Industrial aumentou a temperatura da Terra, e que o aquecimento global é

irreversível. Mesmo que se parasse de enviar gases causadores do efeito estufa à atmosfera, o planeta esquentará gradativamente atéum novo equilíbrio.

Nesse instante entra em discussão a utilização de �energias limpas�, o que é uma falácia. Qualquer tipo de energia é mais ou menosimpactante no ambiente. Exemplo: hidroeletricidade, nossa principal matriz energética. Pela necessidade da construção de barragens, ashidrelétricas inundam imensas áreas de vegetação. Essa vegetação submersa apodrece e libera gás metano, 21 vezes mais danoso que ogás carbônico ao aumento do efeito estufa. Isto sem contar a destruição de ecossistemas e o deslocamento de pessoas que habitavam a

região.

O nosso etanol se inclui neste quadro de poluição (queima no corte e na explosão dos motores) e principalmente nas questões sócio-políticas. Em março Lula recebeu a visita do presidente estadunidense para �acordos sobre transferência de tecnologia na produção deetanol�. Os EUA produzem álcool através do milho, o que está causando um grande impacto na sua produção alimentícia. Já que o povo

de lá vê no etanol a saída para sua ganância em gasolina, os produtores de milho estão voltadosquase exclusivamente para a produção do combustível. Além de utilizado na alimentação humana,

lá o milho é mais usado nas rações animais. Ou seja, está faltando milho no Tio Sam!

O que o Brasil tem a ver com isso? Os produtores de milho estão vendendo como nunca para osEUA. Isto significa mais áreas devastadas ilegalmente, mais grilagem de terras públicas, mais

monocultura, mais desemprego e mais enriquecimento para os latifundiários e as multinacionais.Isso é a tal �transferência de tecnologia� que Bu$h e Lula querem!

E parece que o nosso presidente também vê nos biocombustíveis os salvadores da pátria. Queestes são muito importantes, não tenhamos dúvidas, mas há a necessidade de melhorar as

condições de trabalho e eliminar a concentração de produção na mão de poucos. Porém, Lulachama os usineiros de heróis e esquece que na última safra morreram 19 pessoas por exaustão detrabalho só em Ribeirão Preto-SP. Um cortador de cana tem que talhar CINCO TONELADAS PORDIA para ser eficiente! E para piorar, fala que a agricultura familiar será potencializada com a

produção de biocombustíveis. Se ele acredita nisso, por que o BNDES ainda �empresta� milhões àCargill, Monsanto e poucas outras, e destina misérias aos pequenos produtores?

Surge a pergunta: �mas o que vou usar no meu carro? Gasolina ferra a atmosfera; álcool matagente no corte e está na mão de usineiros; gás natural também é combustível fóssil!�. A resposta virá quando a sociedade debater sobre

a relação de desenvolvimento e consumo que queremos de agora em diante, pensar num novo estilo de vida, em alternativas à buscadesenfreada pelo lucro, na diminuição dos abismos entre salários de gerentes e faxineiros, na ganância de comprar um celular mais novo,na ânsia em ter o seu próprio carro. Enquanto continuarmos a utilizar os recursos naturais e a tecnologia inconseqüentemente para obterprazer imediato, todas as alternativas (energéticas, alimentares, trabalhistas) serão apenas opções utópicas e insuficientes para mudar o

atual quadro de devastação ambiental e desigualdade social.

Aí que Valença encontra espaço nessa discussão. Temos muita terra e falta trabalho. Então vamos investir na agricultura familiar - paraque ela seja capaz de produzir alimentos diversos e também matéria-prima para o biocombustível, gerando empregos e distribuição derenda - ou continuar no modelo das fazendas improdutivas, da compra de alimentos de outros municípios, da dependência da PMV para

empregar? Vamos esperar por um benemérito que traga empregos ou fomentaremos o associativismo e os pequenos negócios?

Não podemos mais suportar este banho-maria que nos cozinha lentamente há quatro décadas. Precisamos aumentar a temperatura, fazer aindignação da massa ferver, queimar a mão dos políticos virtuais que pilotam o fogão e indicarmos o novo rumo que o município tomará.Para isto é preciso organização popular. Este é o verdadeiro combustível para o desenvolvimento de uma sociedade. Vamos à luta?!

BebetoEstudante de Engenharia de Produção

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Fala-se em �energia limpa� como a solução para os problemas ambientais. Isto não existe! Oque devemos discutir e construir são novas relações de desenvolvimento e consumo

8 AAAAAno III, nº 22, Valença, abril de 2007

Transferência de tecnologia em energia limpa?!

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O debate que envolve hoje os di-versos setores do movimento social eda academia é sobre os rumos dos go-vernos latino-americanos e, fundamen-talmente aqui no Brasil, sobre o rumodo Partido dos Trabalhadores e do go-verno Lula. No caso do Brasil este de-bate toma dimensões a partir de um dosfenômenos mais enigmáticos e polêmi-cos da história recente, que é a trajetó-ria do Partido dos Trabalhadores. A con-trovérsia ainda em andamento atesta adificuldade em encontrar explicaçõespara a oscilação que levou um movimen-to político, organizado pelos setoresmais combativos do operariado, com for-te teor anticapitalista e projeto assumi-damente socialista, a se tornar um dosbaluartes do capitalismo no Brasil.

Em meados da década de 70começou a crise do regime militar. Ochamado milagre econômico, sustenta-do no tripé do capital internacional, naci-onal e no investimento estatal, esgotavasua capacidade de desenvolver a eco-nomia. O início desse esgotamento em1973 foi agravado pela recessão econô-mica mundial de 1974. Em pouco tem-po o novo cenário econômico seria com-pletado pelas mobilizações em defesada anistia ampla, geral e irrestrita com omovimento estudantil tomando as ruas.

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O PT e a Capitulação para oNeoliberalismo

No final da década de 70 o rastilho dasmobilizações atingiria o movimento ope-rário, em particular o ABC paulista comseu jovem e combativo proletariado, pro-duto genuíno da grande indústria auto-mobilística.

Nascido das greves do ABC de1979-80, o PT cresceu acompanhandoum cenário marcado pela crise econô-mica crônica. No bojo do ascenso domovimento de massas, caudatário quefoi das greves operárias, empolgou mili-tantes das comunidades de base e daspastorais sociais, intelectuais, estudan-tes, camponeses e organizações queenfrentaram a ditadura militar. Foi umadas mais bonitas páginas da história dopaís, fazendo que neste último quarto deséculo, o PT sempre estivesse presen-te nas principais lutas democráticas epopulares no Brasil, além da realizaçãode experiências importantes no âmbitoadministrativo, como o orçamento parti-cipativo. Protagonista principal da cam-panha das diretas já em 1984, o partidofoi o carro chefe das reivindicações de-mocráticas - recusando não apenas oColégio Eleitoral em 1984, mas não as-sinando a Constituição de 1988 - impul-sionador da CUT e das greves da déca-da de 80 e das lutas agrárias da qualsurgiu o MST, atualmente o principal mo-vimento social do país e um dos mais

reconhecidos do mundo. No ter-reno eleitoral os

acertos dessa ori-entação fo- ram visíveis na

conquista de inúmeras prefei-turas em 1988 e no fenômeno dacampanha Lula em 1989.Dois fatores aceleraram os aconteci-mentos para que o cenário de 1989 setornasse favorável ao PT: a acentuação

da crise econômica e a crisede legitimidade do governoSarney, considerado comodesastroso e ilegítimo. Osinsucessos do plano eco-

nômico, principalmente por frustrara imensa mobilização em torno do cha-mado plano cruzado de Sarney, precipi-

taram a crise e as intensas mobilizaçõesgrevistas do período. O indicativo maispreciso foi uma abrupta reversão das ex-pectativas eleitorais em novembro de1988, quando o PT acabou vencendo em36 prefeituras, inclusive em algumas ca-pitais. Logo que saíram as primeiras pes-quisas eleitorais, o país foi informado deque a disputa estava polarizada entreLula e Brizola. Contribuía ainda para estecenário a crise do PMDB e a fragmenta-ção do Bloco Conservador que não en-contrava em suas fileiras alguém paraunificá-lo contra uma alternativa à es-querda. Basta lembrar as sucessivastentativas de catapultar figuras comoQuércia (considerado de centro-direita),Afif Domingos, Aureliano Chaves, Ulys-ses Guimarães ou mesmo Mário Covas,e que não vingaram. Restava a carta deuma figura fora do eixo tradicional e comcapacidade de mobilizar o mesmo des-contentamento, mas em sentido contrá-rio: o governador de Alagoas, FernandoCollor de Mello, acabou sendo a alterna-tiva de unidade do bloco conservadorcontra Lula.

É exatamente a partir do resulta-do eleitoral de 1989 da derrota para Co-llor que Lula e o campo majoritário doPT foi adequando seu discurso, dilapi-dando uma das maiores conquistas daclasse trabalhadora ao formar o PT,transformando-se, cada vez mais, emprisioneiro de sua própria moderação nocenário eleitoral e abandonando a pers-pectiva socialista e anticapitalista e apro-fundando o seu processo de institucio-nalização e burocratização autoritáriaque levou sua direção a utilizar os méto-dos mais condenáveis da prática políti-ca. O pragmatismo eleitoreiro resultouem alianças sem qualquer princípio ecorromperam de vez a alma petista.Tudo isso, evidentemente, causado peloabandono dos princípios ideológicos queo fizeram surgir e da opção estratégicapelo socialismo.

Danilo Garcia SerafimCientista Social

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Paulo Roberto Figueira10 AAAAAno III, nº 22, Valença, abril de 2007

�Caminante, no hay camino, se hace el camino al andar �- Antônio Machado

�Nas últimas décadasmaltrataram demais o

ensino público poramesquinhamento salarial�

Filho do ensino público de Valença,como ele mesmo diz, Paulo Roberto Figueira,ou simplesmente Pabeto, é cientista sociale professor da Universidade Federal de Juizde Fora (UFJF). Mas continua morando emValença, com a esposa, onde recebeu opessoal do VQ, e até bolo de aniversário dosnossos dois anos ofereceu.

Educação - Não tenho a menor dúvidade que temos uma história em Valença deum ensino público de qualidade, queinfelizmente está sob ameaça nos últimosanos. Nas últimas décadas maltrataramdemais o ensino público poramesquinhamento salarial. Por perda dapossibilidade do professor planejar umacarreira em longo prazo, muitos abandonaramo magistério ou diminuíram a capacidade dese reciclar para atuar no ensino público.

Não é possível construir umaeducação de qualidade pagando saláriomínimo. E aí, acho até que a Regina(Magalhães) – que considero uma pessoacorreta – está lutando para conseguirganhar essa batalha no atual governo. Masse ela perceber que não dá pra fazer nada,ela tem que se retirar antes que sejaarrastada pelos equívocos que podem sercometidos. Não há qualquer saída possívelpara Valença que não passe pela recuperaçãode uma educação de qualidade no ensinopúblico.

História da Cidade - Na minha épocaainda podíamos imaginar que Valença seriao destino profissional de muitos de nós. Hojetodos vocês em alguma medida acabam tendoque desenvolver parte do projeto de vocês foradaqui. Esse é o grande desafio no qual vocêscontribuem muito, de esperança no futuro,de possibilidade de sonhar com uma cidademelhor.

Do ponto de vista econômico, no finaldos anos 80 teve o baque da indústria têxtilque representou um golpe de morte naeconomia do município. No início dos anos90 talvez pelas açodadas decisões doFernando Collor de baixar as alíquotas deexportação, dizimou a possibilidade de umaindústria em Valença, que não acompanhouo desafio tecnológico. Chegamos a ter 5 miloperários – e hoje deve ter entre 300 e 500.Tem-se um período muito grande de 2 grupospolíticos de Valença se alternando no podere isso não permitiu uma certa oxigenação dosistema político da cidade. Valença tem que

pensar seu futuro de modo menos mesquinhodo que as elites políticas da cidade vêmfazendo. Precisamos de uma força políticaque ouse não estruturar todas as suasdecisões pensando em ganhar as eleiçõesseguintes, que tenha planejamento de longoprazo, que agregue membros que tenhamalguma coisa a contribuir.

Tradicionalismo Político - A gentetem uma longa tradição de centralização dapersonalização. Essa tradição de projetarqualquer chance de sucesso a algumabnegado que faça algo, talvez tenha criadoum terrível vício que é o da incapacidade daorganização coletiva. E aí, os nomes, aorigem dos beneméritos mudam, mas temsempre alguém procurando algumbenemérito, quando na verdade não vai chegar

nenhum herói a cavalo para salvar a cidade.Não se trata de discutir nomes, trata-se dediscutir possibilidades. A cidade perdeu orumo econômico, grande parte de suasconquistas sociais e históricas. Mas isso nãoé culpa de fulano ou beltrano. É culpa de umprocesso em que as elites políticas deValença não foram capazes de dar respostas,ao mesmo tempo que a sociedade delegou alideranças políticas todo o seu futuro e deixoude se organizar para ser capaz de cobrareficientemente, de prover soluções quandoera possível. Personalizar é o processo maisfácil.

Exploração da miséria - Se eutivesse que escolher um responsável maisdo que outros, das elites políticas de Valença,acho que quem prestou o maior desserviçopara a organização da sociedade foi oFernando Graça. Não tenho nada pessoalcontra ele, creio até que ele achava queestava fazendo o correto, mas ajudar ospobres com política de porta da esperança éo que há de mais desmobilizador no mundoporque com isso você passa a atender asdemandas da sociedade através de relaçõespessoais. Isso é desmobilizar por definição,é o máximo da exploração da miséria alheia,

da transformaçãoda miséria emmoeda eleitoral.

MST -Pegando o exemplo do MST(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), isso pode em alguns lugares promovera transformação total do município. Por quenão investir num esforço de acolhimentodessas propostas que não sãonecessariamente antieconômicas? Volta emeia você tem um negócio perverso que sãoos pequenos proprietários imaginarem osSem-Terra como adversários. Não é adversárioe não tem motivo pra ser, se tem alguém quetem que ver como adversário é o sujeito queé incapaz de perceber a dimensão social daspropriedades que tem. Quantos municípios

no sul do país não se viabilizarameconomicamente por conta da presençado MST, criaram uma agroindústria, cominiciativas de economia solidária, dapercepção que o MST é um parceiro naeconomia da cidade e que temos que lutarpara agregar pessoas. Eu sou umgramsciano e acho que em últimainstância temos que lutar pelos corações

e mentes das pessoas no âmbito de valores.Se não for por essa via eu não creio emsoluções mágicas que venham de cima. Ovelho e bom Marx já nos dizia: “o homem fazhistória, mas não a história que quer”, ou seja,a gente não sabe onde vamos chegar, massabemos onde queremos chegar. Somosaquilo que decidimos ser. Precisamos nospropor a construir um novo modelo desociedade, pra isso devemos reagrupar estesgrupos que querem constituir uma novasociedade e fomentar a discussão quanto aonovo modelo a ser criado.

Política - Eu não vejo outra saída praValença a não ser por uma decisão políticatomada por muitos cidadãos de pegarem oseu destino nas mãos, em todos os espaçosque podem, e sonharem com outra coisa. Ouseja, se queremos abrir uma perspectiva praValença, não podemos pensar, do ponto devista econômico, do seguinte modo: se fula-no de tal for prefeito da cidade irá trazer in-vestimento pra cidade, ora, não foi esse orumo que tomaram os municípios que a pou-co se tornaram auto-sustentáveis. O rumo queestes seguiram foi começar a analisar o quetinham de melhor, quais as vocações domunicípio e criar um grande esforço de viabi-

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�Eu sou um gramsciano e acho quetemos que lutar pelos corações e

mentes das pessoas�

lizar estas vocações para que de fato elas ve-nham prosperar. O rumo é como podemosdotar a indústria de confecção local para tercondições de competição (local, no estado eno país); como é que se ajuda o pequeno pro-dutor rural e inclusive os Sem-Terra que irãoser assentados nos próximos anos a viabilizaruma produção de alimentos pra Valença; comoa gente viabiliza a Fundação, isto é, como agente democratiza a Fundação.

A gente na política tem que ter a postu-ra de que podemos estar errados. E se nãopudermos garantir alguma ponte de contatocom quem pensa diferente, estamos até invia-bilizando processos que poderiam fazer a gentecrescer.

Representatividade - Há 50 anos Va-lença tem deputado estadual. Valença melho-rou neste tempo tendo ininterruptamente de-putado estadual? Não! Então, não podemosficar com esse discurso de que temos que ele-ger deputado de Valença. Não deve ser este ofoco, não podemos tomar como prioridade ele-ger este ou aquele deputado, afinal estes aca-baram sendo tragados pelo jogo político.

Mídia - Durante alguns anos Valençanão tinha algo que poderia ser chamado deMídia. Aqui se tem um processo muito perver-so de desmoralização de um produto chama-do jornal. Quantos jornalzinhos nós tínhamos,que na verdade não eram jornais, eram sim-plesmente meros instrumentos de propagan-da política. Isso continua existindo, todo mun-do sabe. Isso avilta aquele jornal que quer serdigno deste nome. A gente precisa fortalecer amídia que quer existir para contribuir: vocêscontribuem com uma comunicação que é cla-ramente marcada porum viés ideológico,vocês têm declarada-mente a visão demundo de vocês, e éfundamental que te-nham. Isso não querdizer que outros jornais que tenham outro rumonão possam contribuir. Eu estou torcendomuito, e quero colaborar com o que puder, como jornal Local, pois considero importante terum jornal como aquele, mais de cobertura fac-tual, que estará tentando se consolidar comouma empresa – e não há mal nenhum nisso,desde que não haja somente este tipo de ex-periência.

Construir uma mídia em Valença impli-ca ter uma diversidade de experiências jorna-lísticas, que sejam realmente jornalísticas enão político-eleitoreiras. Eu torço muito paraque vocês continuem, que estes dois anossejam os primeiros de muitos, que possamtrazer mais gente e torço muito para que seconsolide também uma imprensa que tenhaum viés mais factual, de cobertura do dia-dia.

O Independente - Valença por muito tempoviveu no câmbio negro da informação, a únicainformação que se tinha era a da rua dos mi-n e i r o s ,que eratão confi-á v e lquanto onada. In-clusive neste momento que notamos isso de-mos surgimento ao jornal Independente. Quefoi uma experiência que, em certa medida, nãofoi bem sucedida, primeiro porque estava con-centrado em poucas pessoas; e segundo por-que minha vida profissional acabou me afas-tando demais da cidade, de modo que eu nãotinha mais condições de dar conta de fazerreportagem e o jornal como um todo. Era umjornal mensal. Surgiu em 1993 e acabou du-rando um ano apenas, mas foi uma experiên-cia prazerosa. Também, em parte não deu certoporque sofremos algo que o VQ e o Jornal Lo-cal devem sofrer, que é o dupin (prática con-correncial lesiva, que é vender o seu produto,no caso, o espaço publicitário, abaixo do pre-ço de custo), porque muitos jornais ganhamna venda da linha editorial para interesses deA ou B, e têm uma dependência muito menordo dinheiro. Naquele momento tentou ocuparum espaço, que é o espaço que vocês cum-prem hoje, que o Gustavo (do Jornal Local)cumpre. Que a Gazeta (Valenciana) cumpriu,de ser uma imprensa que não seja totalmenteatrelada a valores políticos. Lembro de um de-bate que o professor Nilson Lage participou,sobre a objetividade do jornalismo, se existe

ou não. Sabemos que não existe né! O mundonão cabe em trinta linhas, e nós escolhemoso que é importante e o que não é. Aí entram asnossas preferências. Isso no melhor dos ce-nários. O pior é quando o jornal tem interes-ses políticos e econômicos de fato. Mas issoquer dizer que vale tudo? O fato de você nuncaconseguir a objetividade total não deve legiti-mar a postura que faço o que quero, ao con-trário, tem que fazer a gente ser cada vez maisrigoroso para chegar o mais perto possível daobjetividade.

Direita e Esquerda - O que é direita eo que é esquerda? Para muitos jovens ser di-reita é ser um político certo, direito. Na verda-de, direita é um tipo de formação política, legí-tima, que pensa sempre a partir de um valor

fundamental, que é o valor da liberdade, so-bretudo econômica. E esquerda é uma forma-ção que pensa sobre outro valor, da igualdade

social. O idealseria os dois, omáximo de liber-dade com o má-ximo de igualda-de. Às vezes,

para diminuir a desigualdade, eu diminuo a li-berdade. Isso é uma política de esquerda por-que opta pela igualdade social. E eu prefiroque diminua um pouco o crescimento da eco-nomia, mas que cresça distribuindo melhor. Apolítica de direita é, em nome de aumentar aliberdade e o crescimento econômico, a acei-tação de uma sociedade mais desigual.

Comunicação - A diversidade é funda-mental. Você ter gente pensando e fazendodiferente é o primeiro passo que é importante.E o segundo é ter diversidade com compro-misso ético. Tem coisas que não são legíti-mas. O caso de vocês acho que ilustra exata-mente essa idéia, desse tipo de comunicaçãoque não é centradanuma lógica perversade propriedade, umalógica de que vocêssão os donos daquilo,mas é uma coisa quepode acontecer mes-mo se vocês não esti-verem presentes. Oque acho que vocêstêm é a idéia de queprecisamos construiras coisas juntos. Nes-se sentido, o VQ cum-pre esse papel, é umatribuna aberta para dis-cussão de idéias,mesmo que vocês te-nham um perfil ideoló-gico claro. Acho quehoje estamos melhordo que estávamos unsanos atrás. Na horaque eu leio o materialde vocês, mesmo agente não se conhe-cendo eu percebo quetemos muita sintonia.E mesmo que não te-nham pleno sucesso,quantas pulguinhasatrás da orelha vocêsnão deixaram? Quan-tas dúvidas não foramlevantadas? O bastãopassa.

�O mundo não cabe em trintalinhas, e nós escolhemos o que é

importante e o que não é�

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Pequena Miss Sunshine � Jonathan Daytone e Valerie FarisUma família totalmente fora dos padrões se une para realizar o sonho da filha caçula: participar de um

concurso de beleza. Uma comédia deliciosa que aborda questões sensíveis ao relacionamento familiar e

humano. Cinema indie total.

Los Hermanos � VenturaO disco Ventura do Los Hermanos é o 3º da banda. Neste álbum, os barbudos esbanjam sofisticaçãonos arranjos e letras tendo o samba e a MPB como referência. Isso tudo com uma dose expressivade modernidade. As faixas Samba a Dois, Um Cara Estranho, e Último Romance merecem umaatenção especial.

Filme

Disco

Livro

O livro traz à tona a discussão sobre as favelas sob um novo olhar � o de quem vive ou já viveu nafavela � mostrando a trajetória do estigma e da violência. Com prefacio de Paulo Lins, possui aindafotos do projeto Imagens do Povo selecionadas por J. R. Ripper, além de um capitulo dedicado apropostas para uma cidade melhor e de dados preciosos para pesquisadores da área � entre eles umguia de leitura recomendada sobre o tema, com mapas e dados estatísticos.

Favela: alegria e dor na cidade � Jailson de Sousae Jorge Barbosa

Uma boa notícia para os educadores de Va-lença. Em audiência com o Prefeito Fábio Vieira, daSecretária de Educação Sra. Regina Magalhães, doSecretário de Fazenda Sr. Erardo Fonseca, do Secre-tário de Governo Sr. Jorge de Oliveira, do Procura-dor do Município Sr. Márcio Petrillo e do Presidentedo Conselho Municipal de Educação Sr. Roberto, foidefinida uma proposta sobre um novo plano de car-gos e salários para a Educação Municipal.

O SEPE tinha apresentado uma proposta ini-cial com uma progressão por Formação e Tempo deServiço de 8% entre níveis e mais a incorporação doabono de R$ 100,00 ao piso salarial, estendido atodos profissionais lotados na educação infantil. OGoverno por sua vez propôs que este percentual fossede 5%. Depois de um longo debate concordaram coma incorporação do abono de R$ 100,00, a extensãodo mesmo aos profissionais da educação infantil eavançou propondo que a progressão seja de 6%. O

O MST (Movimento dos Trabalhadores Ru-rais Sem Terra) relembrou no dia 17 de abril 11 anosdo Massacre de Eldorado de Carajás-PA. Há 11 anostrês mil Sem Terra ocuparam a rodovia PA-150 eestavam em caminhada em direção a Marabá-PA paraexigir a desapropriação da Fazenda Macaxeira. Elesforam cercados por duas tropas de militares, que abri-ram fogo para cumprir a ordem do governador doPará na época Almir Gabriel, de desobstruir a pista aqualquer custo. Os policiais saíram dos quartéis deParauabebas e Marabé sem identificação na farda eno armamento e avisaram os médicos e ambulânciaspara ficarem de plantão.

O ato violento deixou 19 trabalhadores mor-tos e 69 ficaram feridos. Outros três morreram de-pois em conseqüência das seqüelas. Até hoje apenasdois policiais foram julgados, condenados, mas conti-nuam soltos.

11 ANOS DE CARAJÁS

FÓRUM DE HISTÓRIANos dias 8, 9 e 10 de maio, os alunos da

Faculdade de História da Fundação Dom André Ar-coverde realizam o Fórum de História.

A Secretaria Municipal de Saúde informa quea vacinação contra gripe para idosos acontecerá de24 de abril a 03 de maio de 2007. A vacinação, so-mente para pessoas com mais de 60 anos, será feitaem todos os postos de saúde, gratuitamente. Seránecessário apresentar o cartão de vacinação do anopassado.

No dia 13 de maio, dia em que se comemora aassinatura da Abolição da Escravatura, o Clube dosCoroados servirá de palco para um Encontro de Ca-poeira em Valença, que dura o dia inteiro. Diversascidades da Região Sudeste já confirmaram a presen-ça.

PLANO DE CARGOS E SALÁRIOS DAREDE MUNICIPAL DE ENSINO

VACINA CONTRA GRIPE

CAPOEIRA NO COROADOS

Notas novo Plano será votado no dia 25 de abril na Câmarade Vereadores.