Violência Contra a Mulher

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA ADENILDA SOBRAL FAVELA Violência nas Relações Íntimas: Levantamento Bibliográfico Sobre a Violência Contra a Mulher no Norte e Nordeste. Boa Vista, RR. 2014

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  • MINISTRIO DA EDUCAO

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

    CENTRO DE EDUCAO

    CURSO DE PSICOLOGIA

    ADENILDA SOBRAL FAVELA

    Violncia nas Relaes ntimas: Levantamento Bibliogrfico Sobre a Violncia

    Contra a Mulher no Norte e Nordeste.

    Boa Vista, RR.

    2014

  • ADENILDA SOBRAL FAVELA

    Violncia nas Relaes ntimas: Levantamento Bibliogrfico Sobre a Violncia

    Contra a Mulher no Norte e Nordeste.

    Boa Vista, RR.

    2014

    Monografia apresentada como requisito

    para concluso do Curso de Psicologia do

    Departamento de Psicologia da

    Universidade Federal de Roraima.

    Orientador: Prof. Msc. Carlos Eduardo

    Ramos.

  • ADENILDA SOBRAL FAVELA

    Violncia nas Relaes ntimas: Levantamento Bibliogrfico Sobre a Violncia

    Contra a Mulher no Norte e Nordeste.

    ___________________________

    Prof. Msc. Carlos Eduardo Ramos.

    Orientador/Curso de Psicologia UFRR.

    _________________________

    Prof. Dr. Fernanda Ax Wihelm

    Curso de psicologia UFRR.

    _________________________

    Prof. Dr. Leandro Roberto Neves

    Curso de Psicologia UFRR.

    Monografia apresentada como

    requisito para concluso do Curso

    de Psicologia da Universidade

    Federal de Roraima, defendida em

    24 de janeiro de 2014 e avaliada

    pela seguinte banca examinadora:

  • As minhas filhas: Nayra Giselly e

    Yasmin Lima pelo acolhimento,

    carinho, incentivo, apoio

    incondicional nos momentos

    difceis.

  • AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar, agradeo a Deus pela sade, f, perseverana. Responsvel por

    todas as minhas realizaes e vitrias.

    Aos meus pais, irmos (as), sobrinhos (as) pelo apoio e carinho.

    As minhas amigas Andrea Carla, Gleyciane Eva, Jesucina Nascimento, Lia Sales,

    Pmela Cndido, Valdirene Amorim pela pacincia, apoio, amizade, compreenso e por todas

    as alegrias que passamos juntas nessa jornada.

    Ao meu querido esposo Jos Freitas, fonte de fora, sabedoria, pacincia,

    compreenso, pelo apoio incondicional, pelo incansvel incentivo e concretizao de mais

    uma etapa da minha vida profissional, e, sobretudo, pelos momentos agradveis que sempre

    me proporcionou.

    As minhas filhas, Nayra Giselly e Yasmin Sobral, pela pacincia, compreenso,

    carinho, amor e ternura que juntas desfrutamos a cada dia.

    Aos meus professores mestres e doutores do curso de psicologia que me

    proporcionaram essa vitria.

    Ao meu orientador Prof. Msc. Carlos Eduardo Ramos, que foi de suma importncia

    no desenvolvimento deste trabalho, pela sua sabedoria, pacincia, ensinamentos e

    oportunidades de crescimento.

    A todos, meus sinceros agradecimentos!

  • H trs formas de adoecer: das agresses da natureza, das doenas hereditrias, e

    das relaes entre os homens, sendo esta

    a mais perversa.

    Sigmund Freud, 1929.

  • RESUMO

    Este trabalho tem por objetivo fazer um levantamento bibliogrfico sobre o tema violncia

    contra a mulher nas relaes ntimas em artigos cientficos, produzidos nas regies norte e

    nordeste do pas. Trata-se de uma pesquisa de abordagem quanti-qualitativa realizada nas

    bases de dados on-line BVS-Psi, LILACS e Scielo no perodo de 2003 a 2013, utilizando os

    seguintes descritores: violncia; mulher, violncia contra a mulher, e psicologia. O resultado

    evidenciou uma realidade j descrita na Literatura Cientfica, pois, o fenmeno tal como se

    apresenta permite que haja algumas imprecises na sua forma de interpretao e que

    dificultam sua compreenso. O modo como tal questo analisada, ainda causam

    ambiguidades no momento de esclarecer a que tipo de violncia vtima est se referindo.

    Constatou-se que a regio norte apresenta um nmero pouco expressivo quanto produo

    cientfica neste tema, e a escassez de estudos referentes ao assunto constituiu-se como uma

    restrio para a concretizao deste trabalho. Torna-se, portanto, imprescindvel realizao

    de pesquisas nesta regio para que os casos de violncia contra a mulher possam ser

    divulgados nos meios cientficos, e compartilhados entre pesquisadores.

    Palavras-chaves: Violncia. Mulher. Violncia contra a mulher. Psicologia.

  • ABSTRACT

    This paper aims to review the literature regarding violence against women in intimate

    relationships in scientific articles produced in the northern and northeastern regions. This is a

    survey of quantitative and qualitative approach performed on databases online BVS-Psi,

    LILACS and SciELO the period 2003-2013, using the following descriptors: violence,

    women, violence against women, and psychology. The result showed a reality already

    described in the scientific literature since the phenomenon as it stands allows for some

    inaccuracies in their way of interpretation and hinder your understanding. The way this

    question is analyzed, still cause ambiguities when you clarify what kind of violence is

    referring to the victim. It was found that the northern region has some significant number

    regarding scientific production in this area, and the scarcity of studies on the subject is

    constituted as a constraint to the realization of this work. It is therefore essential to carry out

    research in this area so that the cases of violence against women can be disseminated in

    scientific circles, and shared among researchers.

    Keywords: Violence. Woman. Violence against women. Psychology.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Violncia contra a mulher dentro da violncia de gnero......................................20

    Figura 2 Violncia nas relaes ntimas situada entre outros tipos de violncia..................21

    Figura 3 Esquema metodolgico sobre a violncia contra a mulher nas relaes ntimas

    seleo de artigos para anlise...............................................................................38

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Relao dos artigos encontrados entre 2003 e 2013: Ttulo, ano e rea do

    conhecimento.........................................................................................................40

    Tabela 2 Quantidade de artigos cientficos publicados durante os 10 anos pesquisados.....43

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Total de artigos..................................................................................................44

    Grfico 2 Produes cientficas nas regies Norte e Nordeste..........................................45

    Grfico 3 Porcentagem segundo a rea do conhecimento.................................................46

  • LISTA DE SIGLAS

    OEA: Comisso Internacional dos Direitos Humanos da Organizao dos Estados

    Americanos.

    DM: Delegacia da Mulher.

    DEAM: Delegacia Especializada de Atendimento Mulher.

    DDM: Delegacia de Polcia de Defesa da Mulher.

    SCIELO: Scientific Electronic Library Online.

    LILACS: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade.

    BVS-Psi: Biblioteca Virtual em Sade Psicologia Brasil

    CEDAW: Conveno para a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao Contra a

    Mulher.

    CREPOP: Centro de Referncia Tcnica em Psicologia e Polticas Pbicas.

    SUS: Sistema nico de Sade.

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .......................................................................................................................13 2 REVISO DE LITERATURA ...............................................................................................17 2.1. Definindo a violncia contra a mulher ................................................................................17 2.2 Das formas de manifestaes da violncia contra a mulher. ................................................20 2.3 A Lei Maria da Penha ........................................................................................................23 2.3 O movimento feminista e a violncia contra a mulher. .......................................................26 2.4 A psicologia e a violncia contra a mulher. .......................................................................31 3 OBJETIVOS............................................................................................................................35 3.1 Objetivo Geral. ..................................................................................................................35 3.2 Objetivos Especficos. .......................................................................................................35 4 MATERIAL E MTODO.......................................................................................................36 4.1 Tipo de pesquisa ................................................................................................................36 4.2 Coleta de dados .................................................................................................................36 4.3 Procedimento para anlise dos dados. ................................................................................38 5 ANLISE DOS DADOS E DISCUSSO ...............................................................................40 5.1 Quantidade de artigos em relao ao ano de publicao. .....................................................43 5.2 Regies norte e nordeste e a violncia contra a mulher. ......................................................45 5.3 rea do conhecimento. ......................................................................................................46 5.3.1 O conceito de violncia no contexto das relaes ntimas. ..............................................48 5.3.2 A repercusso da violncia na sade da mulher. ............................................................50 5.3.3 A articulao entre as redes de atendimentos. ................................................................51 6 CONSIDERAES FINAIS ..................................................................................................54 REFERNCIAS ..............................................................................................................................56

  • 13

    1 INTRODUO

    Este trabalho monogrfico resultou do propsito de elaborar um levantamento

    bibliogrfico sobre o tema violncia contra a mulher nas relaes ntimas nas regies norte e

    nordeste do Pas, no perodo de 2003 a 2013. A Pesquisa bibliogrfica foi desenvolvida na

    Biblioteca Virtual em Sade Psicologia Brasil (BVS Psi Brasil) na base de dados SCIELO

    (Scientific Electronic Library Online), e LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe

    em Cincias da Sade). Essa busca procedeu-se em 2013, a partir das palavras violncia

    and contra or mulher. Optou-se por estas regies brasileiras por apresentarem ndice

    bastante elevado de casos de violncia contra a mulher.

    Pretende-se a partir deste arrolamento analisar qual a contribuio da psicologia e

    outras reas da sade em relao produo cientfica sobre essa temtica, visto que o mesmo

    um fenmeno muito complexo, e compreender suas caractersticas, causas e consequncias

    so tarefas desafiadoras para os estudiosos que buscam estudar esse objeto no conceitual,

    uma vez que, se concretiza sob mltiplas formas.

    O assunto abordado um problema relevante, visto que, afeta uma grande parcela

    da populao feminina, por tanto, precisa ser apreendido do ponto de vista psicolgico.

    Lettiere (2010) afirma que a violncia aponta para um fato de conflitos sociais, arraigados nas

    diferenas de gneros e repassados historicamente.

    Ela sempre esteve presente no cotidiano das famlias, e foi preservada pelo

    silncio de muitas mulheres que em nome da moral e dos bons costumes mantiveram-se

    omissas as agresses sofridas. Percebe-se que ao longo da histria da humanidade a mulher

    tem sido violentada de diversas formas. O ambiente familiar visto como acolhedor, inviolvel,

    aponta para um local de conflitos permanentes entre os casais, e o sonho que muitas dessas

    mulheres sustentam de constituir uma famlia perfeita deu lugar as frustraes, as

    insatisfaes, ao medo, as ameaas, e aos espancamentos.

    importante frisar que no contexto familiar a violncia mantida sobre forte

    sigilo para preservar a imagem idealizada de lugar acolhedor e seguro para garantir a

    manuteno da famlia (SUASSUNA, 2011). No entanto, o mesmo estudo afirma que para

    compreender como essa relao afetiva mantida a todo custo pela mulher, necessrio

    apreender os sentidos atribudos a ela e perpassados pelas histrias de vida marcada pela

    violncia na infncia, pelo abandono e desamor, somado a um sonho e expectativa de uma

    famlia idealizada.

  • 14

    Vale ressaltar tambm, que se trata de um crime silencioso que ocorre no contexto

    familiar, e que em sua grande maioria no so notificados. Segundo Lincon (2013), para a

    violncia se tornar um problema social precisa ser levado a srio, e atingir proporo

    significativa da populao. Entender como esse fenmeno apresenta-se do ponto de vista da

    sade pblica permite oferecer novos caminhos e possibilidades para captar as muitas

    dimenses que ela assume, no sentido de reconhecer seus aspectos sociais, epidemiolgicos,

    psicolgicos, jurdicos, e a necessidade de desenvolver respostas plausveis para a sociedade

    feminina (VIEIRA; PADOIN; PAULA, 2010).

    Acredita-se que o profissional da rea de psicologia possui um papel fundamental

    na elaborao de estratgias e intervenes que auxiliam no bem-estar biopsicossocial da

    mulher que se encontra em situao de violncia. Considerando que a mesma ao vivenciar a

    agresso ao qual foi submetida poder apresentar-se fragilizada, acuada, envergonhada, com

    sua autoestima abalada, e muitas vezes por medo de representar contra seu companheiro,

    prefere no denunci-lo.

    No entanto, deve-se ressaltar a importncia de a vtima perpetrar o Boletim de

    Ocorrncia, para que as autoridades competentes tenham conhecimento da violncia, e, assim

    contribuir com a proteo da mulher e coibir a ao do agressor. Segundo Angelim (2004), a

    dificuldade para manter a queixa est, portanto, diretamente relacionada natureza do

    relacionamento entre vtima e agressor e ao contexto ideolgico e social no qual ambos esto

    inseridos.

    O autor ainda salienta que na medida em que o agressor se desculpa e busca

    compensar sua agressividade agindo de maneira romantizada, ambos, tendem a retomar o

    relacionamento. O que de certa forma evidencia que a maioria das mulheres no deseja a

    restrio de liberdade para seus parceiros, mas sim, querem mudar o comportamento violento

    deles para a relao continuar a ser mantida.

    Um estudo desenvolvido por Schraiber e Doliveira (2005) garantem que existe

    um conjunto de fatores que contribuem para a manuteno dessa relao conflituosa. Como

    exemplo pode-se citar que a vtima espera que o agressor mude conforme lhe prometeu, elas

    acreditam que suas leses e problemas no so muito importantes, da mesma forma buscam

    proteger seus companheiros por razes de dependncia econmica ou afetiva.

    Os motivos para que a mulher permanea em um relacionamento violento variam

    desde o medo de vingana do agressor, dependncia econmica e/ou emocional, medo de

    perder a guarda dos filhos, perder o apoio dos familiares e amigos, e principalmente a

  • 15

    esperana de que o companheiro agressor mude o comportamento violento (ESPNDOLA e

    BUCHER-MALUSCHKE, 2004).

    Pensando nestas problemticas e nas implicaes da violncia, assim como as

    consequncias desta na sade da mulher, este estudo justifica-se pela relevncia social, como

    tambm, pela insuficincia de respostas dadas ao problema na literatura especializa, sobre

    quais fatores podem contribuir para erradicar o ciclo da violncia. Do mesmo modo, colaborar

    com a rea da sade e, em especial, para a psicologia, pois, entende-se que compreender essa

    questo implica proporcionar reflexo acerca de cuidados mais eficazes s mulheres e

    desenvolver estratgias que incluam um atendimento multidisciplinar.

    Espera-se que este estudo possa contribuir junto a outros trabalhos j

    desenvolvidos e auxiliar novas pesquisas na rea de psicologia. Cooperar na elaborao de

    intervenes eficientes junto s mulheres vtimas de violncia para a construo de prticas de

    carter preventivo, que tenham como objetivo a promoo da qualidade de vida dessa

    populao especfica. Alm de despertar uma postura mais ativa das autoridades

    governamentais na elaborao e desenvolvimento de projetos e polticas pblicas onde

    possam incluir a mulher vtima de violncia.

    Destaca-se a necessidade de aprofundamento na discusso cientfica sobre a

    temtica, pois, mesmo que a dimenso estatstica da violncia contra a mulher seja

    representativa, sua visibilidade ainda deixa a desejar. Por isso, prope-se investigar a

    produo cientfica sobre a violncia contra a mulher nas relaes ntimas, na forma de

    artigos, para responder a seguinte pergunta: Qual a contribuio da psicologia frente

    violncia contra a mulher? Qual a repercusso da violncia na sade da mulher?

    Esta monografia encontra-se dividida em cinco captulos: Captulo I:

    constitudo pela reviso de literatura, onde so apresentados os elementos que serviram de

    sustentao e esclarecimento para a anlise e discusso dos dados. A definio de violncia

    contra a mulher como suporte primordial para a compreenso do fenmeno a ser estudado, e

    suas formas de manifestaes. A contribuio da Lei Maria da Penha no combate a esse tipo

    de violncia. O papel que o movimento feminista teve no desenvolvimento de polticas

    pblicas para mulheres em situao de violncia. Contempla tambm a importncia da

    psicologia no atendimento e acolhimento dessas mulheres.Captulo II: representado pelos

    objetivos do estudo no qual foi delimitado o objeto de estudo nessa temtica nos ltimos dez

    anos. Captulo II: constituido pelo referencial terico metodolgico sob a qual o estudo foi

    desenvolvido. Assim como o tipo de abordagem metodolgica que foi utilizada. No Captulo

  • 16

    IV encontra-se a discusso da anlise dos dados oriundo do levantamento bibliogrfico que

    possibilitou a criao de trs categorias: O conceito de violncia no contexto das relaes

    ntimas; A repercusso da violncia na sade da mulher; A articulao entre as redes de

    atendimentos. No Captulo V, encontra-se as consideraes finais e sugere-se ainda que

    novos estudos sejam desenvolvidos nas regies norte e nordeste do Brasil.

  • 17

    CAPTULO I

    2 REVISO DE LITERATURA

    2.1. Definindo a violncia contra a mulher

    A expresso violncia deriva da palavra latina Vis, que significa fora e se

    refere s noes de constrangimentos e ao uso da superioridade fsica sobre o outro e que

    sofre influncia de pocas, locais e circunstncias (PACHECO, 2012). Neste sentido o

    emprego da fora, que ultrapassa certos limites aceitveis pela sociedade, e pode ser

    reconhecido como ato violento, assim sendo, representa abuso fsico ou psquico contra

    algum mediante a utilizao da fora, da intimidao e do medo. Para Rocha; Tassiano e

    Santana (2001), a violncia um processo de vitimizao que se manifesta em:

    Ato com inteno de prejudicar, subtrair, subestimar e subjulgar, envolvendo sempre

    um contedo de poder, que seja intelectual quer seja fsico, econmico, poltico e social. Atinge de forma mais hostil os seres indefesos da sociedade, como as

    crianas, os adolescentes e as mulheres, sem, contudo, poupar os demais (ROCHA;

    TASSIANO e SANTANA, 2001. p. 96).

    Contribuindo com o pensamento Chau (1999), afirma que:

    A violncia significa: 1) tudo que age usando a fora para ir contra a natureza de

    algum ser ( desnaturar); 2) todo ato de fora contra a espontaneidade, a vontade e a

    liberdade de algum ( coagir, constranger, torturar, brutalizar); 3) todo ato de

    violao da natureza de algum, ou de alguma coisa valorizada positivamente por

    uma sociedade ( violar); 4) todo ato de transgresso contra o que algum ou uma

    sociedade define como justo e como um direito. Portanto, violncia um ato de

    brutalidade, sevcia e abuso fsico e/ou psquico contra algum e caracteriza relaes

    intersubjetivas e sociais definidas pela opresso e intimidao, pelo medo e o terror

    (CHAU, 1999, p. 2-3).

    Segundo Saffioti (2001), no exerccio da funo patriarcal, os homens detm o

    poder de determinar a conduta das categorias sociais nomeadas, recebendo autorizao ou,

    pelo menos, tolerncia da sociedade para punir o que se lhes apresenta como desvio. Esse

    comportamento opressor se deve a herana patriarcal herdada dos antepassados, onde o

    homem reconhecido como provedor da famlia, essa justificativa pode ser ento uma

    tentativa para restaurar o poder perdido, ou, nunca alcanado. A noo de superioridade do

    gnero masculino encontra seu bero desde o incio da histria da civilizao, vinculando seu

    alicerce ao sistema familiar patriarcal, uma relao de poder estabelecida ao longo da

    histria, na qual a mulher permaneceu inferior ao homem.

    Tavares (2008) aponta que a violncia contra a mulher produto de uma

    construo social que demarca espaos de poder, privilegiando os homens e oprimindo as

    mulheres. Silva (1992) assegura que o homem sempre se manteve superior em relao

  • 18

    correlata inferioridade feminina. Esse ltimo fruto de um padro familiar de subordinao,

    construdo e reproduzido em uma sociedade machista, sacramentada ao longo da histria pela

    diferena de papis institudos socialmente a homens e mulheres, resultado da educao

    diferenciada na qual a dominao masculina foi superior em relao feminina.

    Souza (2010) refere que ela tem origem em um status de subordinao que as

    mulheres e meninas possuem na sociedade. Pode-se supor que a violncia um componente

    que faz parte da histria da humanidade e se perpetua mesmo invisvel na vida de muitas

    mulheres e que pode ser encontrada em qualquer classe social. Contribuindo com o estudo o

    Centro de Referncia Tcnica em Psicologia e Polticas Pblicas (CREPOP, 2013), apresenta

    para a categoria e para a sociedade em geral um trabalho sobre as Referncias Tcnicas para a

    Prtica de Psiclogas (os) em Programas de ateno mulher em situao de Violncia.

    Este documento afirma que anteriormente a violncia estava ligada a agresses

    sofridas na infncia por parte de familiares, especialmente praticadas pelo sexo masculino, e

    na fase adulta essa atitude ficou a cargo do companheiro. No que se refere ao conceito de

    sistema patriarcal o mesmo enfatiza que foi um conceito utilizado por algumas vertentes do

    movimento feminista para designar a dominao e explorao das mulheres. Modelada por

    uma ideologia machista construda histrica e socialmente, que ensina o homem a dominar e a

    mulher a subjugar-se a essa dominao.

    Rocha (2010) afirma que as mulheres fazem parte de um grupo minoritrio e

    fraco, e por isso sofrem com esse tipo de discriminao, sendo esta uma forma de violncia, a

    qual emerge do preconceito de uma sociedade que as oprime. Contudo, ao se questionar as

    formas de estruturao e organizao da sociedade, pode-se concluir como esse pensamento

    continua se expandido entre a sociedade moderna.

    Ferreira (2010) retrata a violncia atravs de um fenmeno observvel por

    diferentes ngulos e no depende apenas do indivduo e das relaes de poder, mas da

    diversidade de fatores que engloba a maneira como cada populao se comporta.

    Especificando, dessa forma, a variedade de fatos sociais, econmicos e culturais (ela tem seu

    cunho centrado em fatores que se inter-relacionam e se perpetuam historicamente), fazendo

    com que repasse de gerao a gerao. A questo da violncia era banalizada pela tradio

    social marcada pelas relaes hierrquicas de gnero. No entanto, no se pode esquecer que a

    mulher vtima dessa cultura milenar h muito tempo, mas isso no justifica as atrocidades

    cometidas pelo homem ao longo dos sculos.

  • 19

    Segundo Souza (2010) embora o homem possa sofrer este mesmo tipo de

    violncia, eles esto mais suscetveis a sofrer de um estranho, enquanto as mulheres, a serem

    vtimas de um familiar, ou, um parceiro ntimo. O que permite observar que a violncia possui

    um alvo especfico, ou seja, ela direcionada mulher, pois, h sofrimentos e agresses

    dirigidos especificamente s mulheres pelo fato de serem mulheres.

    No Brasil a expresso violncia contra a mulher surgiu atravs do movimento

    feminista na dcada de 60, seguida pela noo denominada violncia conjugal que a

    especifica no contexto das relaes de conjugalidade na abordagem de gnero (...) conceito

    mais utilizado pelas feministas, compreendida dentro da perspectiva de gnero (GREGOR e

    DEBERT, 2008). O conjunto de ideias que deu suporte e substncia a essa expresso foi

    elaborado a partir de uma compreenso particular acerca da opresso sofrida pelas mulheres

    no mbito do Patriarcalismo - noo sintonizada com as discusses feministas em cenrio

    internacional (DEBERT, 2008).

    No entanto, o movimento feminista ao nomear as violncias, salientou sua

    disseminao nos mais diversos espaos sociais e desfez sua invisibilidade (ANGELIM e

    DINIZ, 2009). Os autores citam que o processo de nomeao e denncia permitiu que se

    exigisse do Estado maior envolvimento no sentido de garantir proteo e cuidado com as

    mulheres vtimas de violncia na medida em que esse tipo de violncia era desvelado em suas

    especificidades. Acredita-se que a maior contribuio do movimento feminista, tenha sido

    proporcionar a visibilidade da questo da violncia contra a mulher, trazendo para a esfera

    pblica um assunto to ntimo.

    Embora a violncia tenha estado sempre presente, o ser humano no deve aceit-la

    como um aspecto inevitvel da condio humana (DAHLBERG e KRUG, 2013). Autores

    como Fonseca e Lucas (2006) discorrem sobre esse assunto e afirmam que ela no deve ser

    compreendida apenas no mbito individual e privado, mas como uma questo de direitos

    humanos e de sade pblica, pois, alm de afrontar a dignidade da pessoa humana, impede o

    desenvolvimento pleno da cidadania da mulher. Acredita-se que se trata de uma questo

    social na qual o Estado possui um papel fundamental, visto que, ele responsvel pela

    elaborao de aes, portanto, precisa ser combatida com polticas pblicas capazes de

    amenizar os sofrimentos vivenciados pelas vtimas.

    O Estado de direito tem como um de seus fundamentos o controle da violncia na

    sociedade, isso implica numa possibilidade de uso do aparelho do Estado para interveno ou

  • 20

    reavaliao do exerccio da violncia por meio de suas agncias tais como a polcia e as foras

    armadas (ANGELIM e DINIZ, 2009).

    2.2 Das formas de manifestaes da violncia contra a mulher.

    Observa-se que, na literatura cientfica, vrias expresses so utilizadas para se

    referir violncia praticada contra a mulher pelo marido, ex-marido, companheiro, namorado,

    ex-namorado, como por exemplo: violncia de gnero, domstica, intrafamiliar,

    violncia por parceiros ntimos, violncia contra a mulher, entre outros (NUNES, 2012).

    Dentre os vrios tipos de violncia contra a mulher podem ser destacados: violncia de gnero

    e violncia domstica.

    A violncia de gnero est intimamente relacionada aos papis sociais assumidos

    pelo homem e pela mulher na sociedade, ou seja, a mulher teria um status subalterno em

    relao ao homem. Esse tipo de violncia ocorre em diversos mbitos no ambiente de

    trabalho, na rua, nos comportamentos violentos como: o estupro, a diferena salarial, a

    violncia institucional, a violncia no lar e nas relaes ntimas (SOUZA, 2010).

    Ela inclui a violncia do homem contra a mulher; da mulher contra a mulher; da

    mulher contra o homem. Ela abarca os tipos de violncia que foi construdo ao longo da

    histria atravs da sociedade e tm como pano de fundo o que ser mulher e o que ser

    homem. De acordo com o estudo acima a violncia contra a mulher est compreendida dentro

    da perspectiva de gnero. Ela se diferencia dos outros tipos de violncia por ter um alvo

    especfico, ou seja, est direcionada mulher, outra questo abordada neste caso afirma que a

    mulher neste aspecto est envolvida emocionalmente e dependente financeiramente do

    agressor. A Figura 1 ilustra a inter-relao entre a violncia de gnero e a violncia contra a

    mulher.

    Figura 1: violncia contra a mulher dentro da violncia de gnero

    Fonte: Souza (2010).

    Violncia de gnero

    Violncia contra a mulher

  • 21

    Violncia familiar ou domstica um tipo de violncia que pode ocorrer ou no

    sob um contexto de gnero. Todavia sua principal caracterstica o fato de incidir no

    ambiente domstico, e praticada necessariamente entre membros de uma famlia. Em geral

    dirigida aos membros mais vulnerveis da famlia (inclui desde o maltrato infantil at maltrato

    aos idosos) (Souza, 2010).

    O mesmo estudo conclui que a violncia na relao ntima (ou casal) bem mais

    especfica e sua distino reside no fato de o agressor manter ou manteve um relacionamento

    afetivo, conjugal, um vnculo emocional com a vtima. Comumente o agressor neste tipo de

    violncia no apenas o marido ou ex-marido, mas tambm o companheiro e ex-

    companheiro, noivo e ex-noivo, namorado e ex-namorado, ou seja, so pessoas que podem ou

    no fazer parte do convvio familiar da vtima, mas que no passado mantiveram um lao

    afetivo. O que permite compreender que esse tipo de violncia pode estar situado dentro do

    tipo de violncia familiar. A ilustrao abaixo permite visualizar o complexo fenmeno da

    violncia nas relaes ntimas em meio s demais.

    Figura 2: violncia nas relaes ntimas situada entre outros tipos de violncia

    Fonte: Souza (2010).

    Neste trabalho adotou-se o termo violncia contra a mulher nas relaes ntimas,

    ou seja, aquelas que foram praticadas por parceiro ou ex-parceiro, noivo ou ex-noivo,

    namorado ou ex-namorado, ou seja, pessoas que podem no ter o meio familiar como cenrio

    para ocorrncia da agresso, ela est intimamente respaldada em um vnculo emocional que a

    vtima mantm ou manteve com o agressor (SOUZA, 2010).

    A escolha por essa terminologia violncia contra a mulher se deve a expresso

    desenvolvida pelos movimentos feministas no Brasil na dcada de 1970, assim como, por

    diversas Conferncias e Convenes Internacionais. No entanto essa designao permite que

    se encontre entre os estudiosos do assunto vrias lacunas que impossibilitam sua exata

    Violncia de gnero

    Violncia contra a mulher

    Violncia nas relaes ntimas

    Violncia domstica

  • 22

    nomenclatura, especificamente por no delimitar a qual violncia se refere (LIMA;

    BUCHELE e CLIMACO, 2008).

    Segundo estudo desenvolvido por Schraiber e DOliveira (2005) o termo, tal

    como usado, denota grande alargamento de nomeaes, que vo desde as formas mais cruis

    da tortura e do assassinato em massa, at aspectos mais sutis, mas considerados opressivos na

    vida moderna cotidiana (...). Esse processo de nomeao e denncia permitiu que se exigisse

    do Estado maior envolvimento no sentido de garantir proteo e cuidado com as mulheres

    vtimas de violncia na medida em que esse tipo de violncia era desvelado em suas

    especificidades (ANGELIM e DINIZ, 2009).

    Segundo o Ministrio da Sade (2006), a violncia contra a mulher qualquer

    conduta, ativa ou passiva, de discriminao, agresso, coero, ocasionada pelo simples fato

    da vtima ser mulher e que cause dano, morte, constrangimento, limitao, sofrimento fsico,

    sexual, moral, psicolgico, social, poltico ou perda patrimonial. Nesta perspectiva Fonseca e

    Lucas (2006)

    Entende por violncia fsica o ato de provocar leses corporais possivelmente

    diagnosticveis, tais como cutneas, neurolgicas, oculares e sseas, provocadas por

    queimaduras, mordidas, tapas, espancamentos, ou qualquer ao que ponha em risco

    a integridade fsica da mulher (...). Violncia sexual (...) que inclui forar a prtica

    de atos sexuais que lhe desagradem ou criticar seu desempenho sexual, e at obrig-

    la a ter relaes sexuais com outras pessoas. A violncia emocional ou psicolgica

    evidenciada pelo prejuzo competncia emocional da mulher, expresso atravs da

    tentativa de controlar suas aes, crenas e decises, por meio de intimidao, manipulao, ameaas dirigidas a ela ou a seus filhos, humilhao, isolamento,

    rejeio, explorao e agresso verbal (...). Violncia patrimonial (...) esta forma de

    violncia pode ser visualizada atravs de situaes como quebrar mveis ou

    eletrodomsticos, rasgar roupas e documentos, ferir ou matar animais de estimao,

    tomar imveis e dinheiro, ou, at, no pagar penso alimentcia (FONSECA &

    LUCAS, 2006. p. 9).

    O Relatrio Mundial sobre violncia e sade da Organizao Mundial da Sade

    (2002) classifica a violncia contra a mulher como uma violncia intrafamiliar ou familiar

    inserida na categoria interpessoal e refere que o fenmeno ocorre geralmente no ambiente

    domstico entre membros da famlia e parceiros ntimos.

    A Declarao da Eliminao da Violncia contra a Mulher, aprovada pela

    Conferncia de Viena em 1993 em seu Artigo 1. declara que:

    Violncia contra as mulheres significa qualquer ato de violncia baseado no gnero do qual resulte, ou possa resultar dano, sofrimento fsico, sexual ou

    psicolgico para as mulheres, incluindo ameaas de tais atos, a coao, a privao

    arbitrria de liberdade, que ocorra, quer na vida pblica, quer na vida privada

    (BRASIL, 1993).

  • 23

    Esse tipo de violncia mais amplo, abarca a violncia na famlia, inclui o abuso

    sexual, violncia relacionada ao dote, mutilao genital, e outras prticas que atentem contra a

    mulher, no necessariamente perpetradas pelo marido (SOUZA, 2010).

    Percebe-se que entre os pesquisadores(as) no existe um consenso em relao

    terminologia utilizada para designar a violncia contra a mulher, permitindo assim um vis

    em sua interpretao. Por compreender que um fenmeno muito complexo e de inmeros

    questionamentos, neste estudo adotam-se as seguintes definies do prprio texto da

    Conveno Internacional para prevenir, punir e erradicar a violncia contra a mulher, que

    buscou definir seu carter, fsico, psicolgico e interpessoal:

    CAPTULO I

    DEFINIO E MBITO DE APLICAO

    Artigo 1.

    Para os efeitos desta Conveno deve-se entender por violncia contra a mulher a

    qualquer ao ou conduta, baseada no gnero, que cause morte, dano ou sofrimento

    fsico, sexual ou psicolgico mulher, tanto no mbito pblico como no privado.

    Artigo 2 Entender-se- que violncia contra a mulher inclui violncia fsica, sexual

    e psicolgica:

    a) que tenha ocorrido dentro da famlia ou unidade domstica, em qualquer outra

    relao interpessoal, em que o agressor conviva ou haja convivido no mesmo

    domiclio que a mulher e, compreende, entre outros, estupro, violao, maus-tratos e

    abuso sexual;

    b) que tenha ocorrido na comunidade e seja perpetrada por qualquer pessoa e que compreende, entre outros, violao, abuso sexual, tortura, maus tratos de pessoas,

    trfico de mulheres, prostituio forada, sequestro e assdio sexual no lugar de

    trabalho, bem como em instituies educacionais, estabelecimentos de sade ou

    qualquer outro lugar;

    c) que seja perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra

    (OEA, 1994. p. 14).

    2.3 A Lei Maria da Penha

    A lei 11.340/96 conhecida por Lei Maria da Penha surge como resultado de um

    esforo coletivo dos movimentos de mulheres e poderes pblicos no enfrentamento

    violncia domstica e familiar e ao alto ndice de morte de mulheres no Pas. Ela apresenta

    uma estrutura especfica para atender a mulher vtima de violncia domstica e familiar contra

    a mulher e se manifesta das seguintes formas:

    CAPTULO II

    DAS FORMAS DE VIOLNCIA DOMSTICA E FAMILIAR CONTRA A

    MULHER

  • 24

    I- A violncia fsica, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou sade corporal;

    II A violncia psicolgica, entendida como qualquer conduta que lhe cause

    dano emocional e diminuio da autoestima; ou que lhe prejudique e perturbe o

    pleno desenvolvimento; ou que vise degradar ou controlar suas aes,

    comportamentos, crenas e decises, mediante ameaa, constrangimento,

    humilhao, manipulao, isolamento, vigilncia constante, perseguio contumaz,

    insulto, chantagem, ridicularizao, explorao e limitao do direito de ir e vir ou

    qualquer outro meio que lhe cause prejuzo sade psicolgica e

    autodeterminao;

    III A violncia sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relao sexual no desejada, mediante

    intimidao, ameaa, coao ou uso da fora; que a induza a comercializar ou a

    utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade; que a impea de usar qualquer mtodo

    contraceptivo ou que a force ao matrimnio, gravidez, ao aborto ou prostituio,

    mediante coao, chantagem, suborno ou manipulao; ou que limite ou anule o

    exerccio de seus direitos sexuais e reprodutivos;

    IV A violncia patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure

    reteno, subtrao, destruio parcial ou total de seus objetos, instrumentos de

    trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econmicos,

    incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

    V A violncia moral, entendida como qualquer conduta que configure calnia, difamao ou injria (BRASIL, 2006).

    Percebe-se que avanos na Lei foram criados para proteger a mulher vtima de

    violncia e que medidas de proteo nasceram na tentativa de coibir os casos de agresses e

    punir os agressores. No Brasil, a Lei n. 11.340/2006, chamada de Lei Maria da Penha, em

    homenagem a uma biofarmacutica que vivenciou a violncia por vrias vezes em seu

    ambiente domstico, vtima por duas vezes da violncia cometida por seu marido, um

    professor universitrio Marco Antonio Heredia Viveiros, que tentou assassin-la. Na primeira

    tentativa, ela foi alvejada com um tiro, que a deixou paraplgica, na segunda vez ele a

    eletrocutou (SANTINON, 2010).

    Segundo o mesmo estudo a denncia foi apresentada ao Ministrio Pblico

    Estadual em 1984, porm em 1998 no havia deciso definitiva no processo e o acusado

    permanecia em liberdade. Inconformada com a morosidade da Lei Maria da Penha formalizou

    uma denncia Comisso Internacional dos Direitos Humanos da Organizao dos Estados

    Americanos (OEA). A OEA foi pioneira ao acatar a denncia desse crime de violncia contra

    a mulher, e posteriormente responsabilizou o Brasil por omisso, tolerncia e negligncia.

    Durante o perodo em que ficou casada, Maria da Penha sofreu repetidas agresses e

    intimidaes sem reagir, temendo uma represlia ainda maior contra suas trs filhas

    (SUASSUNA, 2011).

    Em decorrncia dessa trgica histria de violncia domstica e familiar praticada

    contra a mulher, a Lei n 11.340 (BRASIL, 2006), ainda:

    Possibilita que os agressores sejam presos em flagrante ou tenham sua priso

    preventiva decretada e, em adio a isso, alterou a pena de deteno dos crimes de

  • 25

    violncia domstica, que era de seis meses a um ano, para at trs anos. Ainda

    estabelece medidas de assistncia social, como a incluso da mulher em situaes de

    risco no cadastro de programas assistenciais dos governos federal, estadual e

    municipal (SUASSUNA, 2011. p.38).

    A referida Lei se prope a contribuir para que a mulher tenha um tratamento

    diferenciado, promovendo sua proteo de forma especial em cumprimento s diretrizes

    constitucionais e aos tratados ratificados pelo Brasil, visto que a mulher a grande vtima da

    violncia (SOARES, 2012). Ela resultado de um longo caminho percorrido pelas mulheres

    vitimizadas, que deixou evidente que a violncia sofrida demandava um novo processo

    jurdico que protegesse as mulheres, especialmente nos casos de maior risco. Ela de fato se

    prope, corrigindo o vis de interpretao de alguns magistrados e outros operadores do

    direito, a defender as mulheres vtimas de violncia (ANGELIM e DINIZ, 2009).

    Uma das contribuies desta lei que ela no versa, portanto, sobre proteo aos

    homens que venham a sofrer agresses e ameaas semelhantes (DIAS, 2007; CAMPOS,

    2006). Segundo Angelim e Diniz (2009), ela consiste em cinco fatores que desafiaram as

    intervenes em casos de violncia domstica ao longo de quatro dcadas:

    1) lidar com a definio de violncia contra a mulher com um status diferenciado

    dos demais crimes; 2) facilitar a manuteno das queixas e pronunciamento das

    denncias; 3) garantir a segurana da mulher vtima atravs de medidas protetivas;

    4) promover a ao de uma rede de servios na preveno e interveno em casos de

    violncia contra as mulheres; e 5) impedir as transaes penais (especialmente o pagamento de cestas bsicas) priorizando aes de educao e de ressocializao dos

    agressores (ANGELIM e DINIZ, 2009. p. 9-10).

    A lei 11.340/2006, em seu captulo II versa sobre as Medidas Protetivas de

    Urgncias. De acordo com Angelim e Diniz (2009), elas funcionam como um lembrete para

    agressores e vtimas de que a violncia ser coibida pelo Estado. E possibilitam uma clara

    referncia para que a mulher possa reorganizar sua vida e ter tempo para refletir sobre suas

    intenes em romper ou manter o relacionamento com o parceiro agressor.

    Ao constatar a prtica de violncia domstica e familiar contra a mulher, nos

    termos desta Lei, o juiz poder aplicar, de imediato, ao agressor, as seguintes Medidas

    Protetivas: afastamento do lar, domiclio ou local de convivncia da mulher; proibio de

    condutas, que inclui (aproximao da ofendida, de familiares ou amigos); suspenso de visitas

    aos filhos comuns; prestao de alimentos provisionais ou provisrios.

  • 26

    2.3 O movimento feminista e a violncia contra a mulher.

    Na dcada de 70 surgiram os primeiros movimentos feministas politicamente

    engajados na defesa dos direitos da mulher na famlia e na sociedade. No contexto brasileiro o

    movimento feminista ganhou repercusso quando as mulheres foram s ruas clamar por

    justia pelas vtimas que foram assassinadas pelos seus parceiros. Como exemplo desse caso

    pode-se citar o brutal assassinato de ngela Maria Fernandes Diniz pelo seu ex-marido, Raul

    Fernando do Amaral Street (vulgo Doca) ao no se conformar com o fim do

    relacionamento.

    Na poca, os argumentos utilizados pela defesa como legtima defesa

    permitiram ao assassino receber uma pena mnima de dois anos em recluso. A grande

    repercusso dada morte de ngela Diniz na mdia, acarretou uma intensa opresso do

    movimento em torno do tema: quem ama no mata (GROSSI, 1994). O promotor

    responsvel pelo caso na poca no se conformou com o resultado e recorreu, no segundo

    julgamento, o ru foi condenado, por homicdio qualificado, a quinze anos de recluso.

    A condenao foi uma vitria do movimento feminista, demonstrando que as

    mulheres no estavam mais dispostas a aceitar passivamente os desmandos de uma sociedade

    patriarcal, em que o homem se considerava dono do corpo, mente e, at, da vida de sua

    mulher. Alm disso, as mulheres estavam inconformadas com os absurdos que estavam

    acontecendo na poca, por parte das autoridades competentes em relao violncia contra a

    mulher. Um dos motivos desse descontentamento se deve ao fato de no levarem a srio as

    denncias de violncia contra a mulher, mesmo quando havia casos de agresso e o acusado

    era denunciado.

    Essa negligncia do estado e a inrcia da justia fez com que houvesse o

    crescimento e fortalecimento do movimento feminista no Brasil. No entanto no se pode

    esquecer que muitas mulheres no levavam as denncias at o final, pois havia constantes

    desistncias e retiradas das queixas por parte das vtimas. Por outro lado, foi-se reconhecendo

    a fora que o movimento feminista alcanou com as manifestaes, por ser esse um

    mecanismo de poder, a violncia contra a mulher ganha visibilidade e comea a ser tratada

    como uma Violao dos Direitos Humanos (SILVA, 2011).

    Outra conquista do Movimento feminista foi a Conveno de 1984 que visa

    promoo dos direitos da mulher na busca da igualdade de gnero, bem como, a represso a

    qualquer tipo de discriminao. A Conveno Interamericana para Prevenir, Punir, e Erradicar

    a Violncia Contra a Mulher (ratificada em 1995), conhecida como Conveno de Belm do

  • 27

    Par teve um passo decisivo para viabilizar a criao de leis especficas para a erradicao.

    Nesta conveno diversos pases assinaram o compromisso de garantir os direitos das

    mulheres, e de desenvolver aes de enfrentamento violncia contra a mulher (HANADA,

    2007).

    Para fins desta Conveno, entende-se por violncia contra a mulher qualquer ato

    ou conduta baseada no gnero, que cause morte, dano ou sofrimento fsico, sexual ou

    psicolgico mulher, tanto na esfera pblica como na esfera privada (BRASIL, 1996).

    Entende-se que a violncia contra a mulher abrange a violncia fsica, sexual e

    psicolgica:

    A. ocorrida no mbito da famlia ou unidade domstica ou em qualquer relao

    interpessoal, quer o agressor compartilhe, tenha compartilhado ou no a sua

    residncia, incluindo-se, entre outras formas, o estupro, maus tratos e abuso sexual;

    B. ocorrida na comunidade e cometida por qualquer pessoa, incluindo, entre

    outras formas, o estupro, abuso sexual, tortura, trfico de mulheres, prostituio forada, sequestro e assdio sexual no local de trabalho, bem como em instituies

    educacionais, servios de sade ou qualquer outro local e C. perpetrada ou tolerada pelo Estado ou seus agentes, onde quer que ocorra

    (BRASIL, 1996).

    Outro marco importante na assistncia social mulher foi a Constituio Federal

    de 1988. Ela representa o reconhecimento dos direito das mulheres, este instrumento expressa

    a conquista fundamental dos direitos, a igualdade de direitos e de deveres entre homens e

    mulheres, alm de privilegiar a participao da sociedade, por meio de seus segmentos

    organizados em decises estratgicas. A Constituio promoveu uma nova concepo de

    assistncia social, assumida ento como de responsabilidade do Estado.

    A visibilidade ao problema da violncia contra a mulher, fez com que as polticas

    pblicas ocupassem o espao na estrutura do governo federal. Suas propostas passaram a

    serem referncias do movimento social, nas aes e desenvolvimento de polticas pblicas

    definidas como polticas de governo e de Estado para as mulheres (PORTO e BUCHER-

    MALUSCHKE, 2012).

    A partir das manifestaes feministas surgiu em 1981, no Rio de janeiro, o SOS

    Mulher, cujo objetivo foi construir um espao de atendimento s mulheres vtimas de

    violncia, alm de ser um espao de reflexo e mudanas das condies de vida destas

    mulheres. O SOS Mulher posteriormente se expandiu para outras capitais brasileiras como

    So Paulo e Porto Alegre.

    As manifestaes de indignao das feministas foram fundamentais para a criao

    de instituies que atendessem s vtimas de violncia. O movimento feminista contribuiu

    para a criao de vrios servios de ateno e proteo mulher, principalmente em situao

  • 28

    de violncia, como a Delegacia Especializada de Atendimento Mulher (DEAM), criao de

    Casas-abrigo, e os Centros de Atendimento Multiprofissional (SCHARAIBER e D

    OLIVEIRA, 2002).

    Assim sendo, a violncia contra a mulher deixou de ser vista como algo privado, e

    passou para a esfera pblica como um problema social que precisava ser combatida por meio

    de polticas pblicas. Ainda segundo o estudo de Scharaiber e DOliveira (2002) as demandas

    do movimento feminista foram fundamentais para a elaborao de aes e, ocuparam um

    importante espao na estrutura do governo federal. Passando da condio de propostas de

    orientaes e referncias do movimento social para as aes e polticas pblicas definidas

    como polticas de governo e de Estado para as mulheres.

    Outra contribuio que surgiu atravs do movimento feminista no Brasil, foi a

    criao da primeira Delegacia de Polcia de Defesa da Mulher (DDM) criada em 1985 no

    Estado de So Paulo. A funo da DDM apurar os delitos praticados, sendo que alguns

    crimes demandavam a prtica de um exame mais detalhado do corpo da vtima, para poder

    identificar as marcas da violncia deixadas no corpo da mulher. Posteriormente as demais

    delegacias inauguradas em todo o pas e passaram a ser denominadas de Delegacia Especial

    de Atendimento Mulher (DEAM).

    As DEAMs surgiram como resposta questo da violncia contra a mulher no

    Brasil, oferecendo espao de proteo vtima de violncia, e punio para os homens

    agressores. Scardueli (2006) afirma que os profissionais que atuam nestas instituies, ainda

    no sabem como atender as vtimas, pois se sentem despreparados para esse fim.

    Consequentemente apresentam-se desmotivados, essa constatao foi comprovada atravs de

    seu estudo que teve por objetivo investigar a percepo dos policiais quanto ao lugar ocupado

    pela DM no combater a violncia contra a mulher, dentro da instituio Polcia Civil de Santa

    Catarina.

    O mesmo estudo ainda revelou um nvel bastante baixo de motivao entre os

    policiais da DM, bem como dos policiais das outras delegacias com relao ao trabalho da

    DM, isso se deve ao fato de no saberem ao certo a real funo das DM no combate

    violncia contra a mulher.

    Outra questo abordada na referida pesquisa acima est relacionada ao

    comprometimento das DEAMs, em no poderem oferecer s vtimas a soluo adequada para

    o seu problema. Visto que, se refere categoria gnero, tornando assim um fenmeno

  • 29

    desconhecido da maioria dos policiais, cujas atividades profissionais so frequentemente

    pautadas por esteretipos agregados culturalmente.

    Contribuindo com a afirmativa anterior Matos e Ingberman (2012) afirmam que

    as Delegacias que j existem no dispem de uma estrutura para esse atendimento; nem os

    policiais possuem capacitao profissional para esse fim. Por sua vez, devido grande

    demanda nos Juizados os processos duram em torno de seis a oito meses para que se cumpra

    uma priso preventiva ou que saia uma medida protetiva.

    Para esses autores acima citados as Delegacias como porta de entrada para a

    questo da violncia domstica deveria possuir um protocolo de atendimento a essas vtimas.

    Essencialmente para a recepo da mulher, fundamental um servio de triagem e

    atendimento emergencial psicossocial, antes da mulher ser atendida pelos policiais ou

    atendentes das DEAMs.

    Ainda de acordo com o referido estudo o atendimento dentro de uma Delegacia

    deveria ser o mesmo que o prestado num hospital, onde existe um esprito de ajuda,

    complacncia e solidariedade, mas que o respeito cidad deva ser, no mnimo, condizente

    com sua condio de mulher.

    Outro estudo desenvolvido por (VILLELA, 2011) que teve por objetivo

    identificar a dinmica institucional que emoldura a relao profissional-mulher violentada em

    dois hospitais, trs unidades de ateno bsica sade, e duas delegacias especializadas de

    atendimento mulher na cidade de So Paulo. Demonstrou a fragilidade da rede institucional

    ao atender essas vtimas, pois, os profissionais de sade e da segurana pblica em suas

    atividades dirias enfrentam vrios desafios ao prestarem atendimento s vtimas, visto que a

    estrutura fsica das instituies no oferecem acomodaes adequadas, assim como, o

    despreparo tcnico dos mesmos. Os profissionais da sade no so treinados para atender as

    mulheres que sofrem violncia na perspectiva de ajud-las a romper com o circulo de

    violncia ao qual esto aprisionadas, cabendo equipe a construo de estratgias para lidar

    com o caso.

    Percebe-se que j houve avanos nas polticas pblicas para amparar a mulher

    vtima de violncia, mas, ainda h um longo caminho a percorrer, visto que, a proteo ainda

    no faz parte de toda a populao feminina brasileira. Essa contestao foi revelada na

    pesquisa encomenda pelo DATASENADO1 (2013), que afirma que 700 mil brasileiras

    continuam sofrendo agresses, principalmente de seus companheiros, e 13,5 milhes de

    1 Pesquisa feita por meio de amostragem com entrevistas telefnicas. O nvel de confiana utilizado nos

    resultados da pesquisa de 95%.

  • 30

    mulheres (19% da populao feminina acima de 16 anos) j foram vtimas de algum tipo de

    violncia domstica ou familiar.

    Outro dado que a pesquisa revela aponta que as nordestinas so as que mais

    sofrem, com 21,9% do total nacional. Foram entrevistadas 107 mulheres dos sete Estados da

    Regio Norte. Enquanto apenas 10% delas disseram que j haviam sofrido algum tipo de

    violncia domstica, 25% responderam que ainda sofrem agresses em casa mesmo que

    raramente. A referida pesquisa ainda informa que entre as mulheres que j sofreram violncia,

    65% foram agredidas por seu prprio parceiro de relacionamento, ou seja, por marido,

    companheiro ou namorado ex-namorados, ex-maridos e ex-companheiros. Tambm aparecem

    como agressores frequentes, tendo sido apontados por 13% das vtimas, parentes

    consanguneos e cunhados aparecem em 11% dos casos. O percentual mais elevado

    corresponde as que possuem menor nvel de escolaridade, renda familiar at dois salrios

    mnimos e as que possuem idade entre 40 a 49 anos.

    Pode-se supor que a violncia contra a mulher se faz presente na populao

    brasileira, ela no escolhe grupo social, etnia, situao econmica, escolaridade e geralmente

    ocorre em lugares onde h envolvimento de pessoas da mesma famlia. Seja nuclear (pai, me,

    filho), seja extensiva (familiares que moram juntos, unidos por laos consanguneos, ou

    afinidades), ou os novos arranjos familiares.

    A violncia gera consequncias psicolgicas profundas na sade fsica, mental e

    emocional da mulher, manifestada por depresso, ansiedade, sono, medo, distrbio

    alimentares, dificuldade de contato social entre outros males (GOMES, 2010). Essa violncia

    geralmente ocorre em lugares que at ento eram vistos como protetores, seguros, afetuosos,

    no entanto, este ambiente esconde em seu interior cenas de profundas marcas de agresso,

    fsica, verbal, psicolgica, na qual a vtima no tem possibilidade de defesa.

    Segundo estudos (DIAS, 2006; FONSECA e LUCAS, 2006) vrios so os

    motivos pelos quais a primeira agresso no denunciada, a vergonha, a dependncia

    econmica, o sentimento de inferioridade, o temor que o agressor possa espanc-la

    novamente, o anseio que o agressor mude seu comportamento violento, entre outros. A

    procura por ajuda ocorre somente quando ela percebe que no h mais possibilidade de

    suportar a situao violenta do parceiro, ou seja, quando a mesma entende que j chegou ao

    seu limite.

    Na maioria das vezes o marido lhe faz juras, pede perdo, promete que no vai

    mais ser violento novamente, demonstra gentileza, carinho, fazendo com que a mulher

  • 31

    acredite que o ciclo de violncia cessou. Dias (2006) afirma que alarmante o nmero de

    mulheres que retornam a seus lares, mesmo aps fazerem a denncia de seu companheiro.

    2.4 A psicologia e a violncia contra a mulher.

    Desde a dcada de 1980, que estudiosos se dedicam a tentar entender o

    fenmeno da violncia. Mdicos, pesquisadores e sistemas da sade pblica tm se dedicado

    tarefa de compreender as razes da violncia e sua preveno (DAHLBERG & KRUG,

    2013). O mesmo estudo afirma o trabalho interdisciplinar proveniente de setores diversos,

    como sade, educao, servio social, justia e polticas, so necessrios para solucionar

    questes que at ento eram exclusivos da rea mdica.

    violncia contra a mulher, por ser um fenmeno complexo, precisa ser

    visto por diferentes ngulos, e a psicologia precisa se apropriar tambm desse objeto de

    estudo. Segundo (VILLELA, 2011) a compreenso de tal questo no um fenmeno natural

    nem uma experincia de carter privado tem exigido dos formuladores de polticas pblicas o

    esforo de capacitar os servios para identificar a violncia e trat-la como um agravo de

    natureza social que produz consequncias.

    A percepo que possuem sobre a violncia, representada pela lgica

    patriarcal, desmistificando a naturalidade da violncia do homem contra a mulher, as crenas

    e os valores acerca dessa problemtica podem influenciar essas mulheres a perceberem sua

    suscetibilidade em apresentar o problema e a sua severidade (PARENTE; NASCIMENTO e

    VIEIRA, 2009). Nesta perspectiva, entende-se que a psicologia possui um papel fundamental

    na elaborao de estratgias que possibilitem a mulher a compreender a relao conflituosa.

    Fonseca e Lucas (2006) afirmam que a psicologia no pode ficar alheia a esta

    realidade, fazendo-se necessrio compreender as especificidades que a permeiam em toda sua

    amplitude. Acredita-se que a psicologia possui esse olhar diferenciado, entender sua

    interelao com os elementos sociais, econmicos e polticos, poder garantir interveno que

    promova o bem-estar, o poder de deciso da mulher, criar novas alternativas para lidar com

    questo da violncia no contexto familiar.

    A interveno psicolgica faz-se necessria tambm para se trabalhar com os

    contedos da subjetividade (emoes, desejos inconscientes) e da individualidade, que

    favorecem atitudes de submisso violncia, juntamente com as questes de ordem cultural,

    uma vez que os(as) psiclogos(as), em sua atuao profissional, identificam a dificuldade das

  • 32

    mulheres em revelar a violncia sofrida e um sofrimento psquico complexo presente nessa

    experincia (GARCIA et al, 2008).

    Segundo Porto e Bucher-Maluschke (2012) a psicologia precisa abordar os

    sentimentos e as dores das mulheres que vivenciam a ligao com um parceiro definida como

    dependncia emocional, com culpa e vergonha por algo que sofrem como se fossem elas que

    promovessem a situao e por isso a merecessem. O mesmo estudo afirma que talvez seja

    preciso discutir no a culpabilizao das mulheres que continuam em relaes mediadas pela

    violncia, mas a corresponsabilizao, que precisa ser considerada nesses casos.

    No se pretende colocar toda a culpa na mulher por permanecer em um

    relacionamento violento, mas sim, possibilitar a ampliao do tema, assim como, discutir

    proposta de interveno que incluam os autores da violncia. Um estudo desenvolvido por

    Lima; Buchele e Climaco (2008) afirmam que incluir o envolvimento dos homens com o

    debate e as aes sobre gnero e violncia contra a mulher traz novos olhares, assim como

    novos problemas para esse campo e tema j bastante complexos. No entanto, o mesmo estudo

    afirma que as intervenes com homens autores de violncia no so o melhor nem o nico

    caminho para eliminar a violncia contra as mulheres. Porm, vislumbra-se que, quando

    integradas com outras aes dirigidas s mulheres, esse pode ser um importante meio para

    promover a equidade de gnero e diminuir a violncia.

    Dantas e Melo (2008) compartilham do mesmo pensamento ao chamar-nos a

    ateno que a Lei, de certo modo, reconhece que para intervir no contexto da violncia

    domstica e familiar contra as mulheres, a partir da perspectiva de gnero, preciso

    programar aes que possam tambm incluir os homens.

    Porm de acordo com o mesmo estudo as aes propostas apresentam duas

    lacunas: (a) no fazem nenhuma aluso explcita a trabalhos de promoo sade (ou

    promoo da equidade de gnero) com a populao masculina, e (b) no h uma definio

    clara sobre a estrutura e organizao dos centros de atendimento aos "agressores", cuja

    finalidade, conforme a lei, de "educao e reabilitao" ou "recuperao ou reeducao.

    Para Dantas e Melo (2008) essas lacunas precisam ser bem esclarecida,

    porque se referem exatamente, ainda que usando termos absolutamente questionveis,

    ateno integral que deveria ser dada ao problema, envolvendo todos os agentes sociais que

    fazem e participam. Da mesma forma salienta a necessidade de se discutir o uso dos termos

    como "preveno", "recuperao" ou "reeducao". Segundo os autores preveno: inteno

    de lhes sensibilizar para a situao de violncia contra a mulher, buscando propor-lhes outros

  • 33

    modos de ser que no a tradicional diviso sexista, na qual de um lado est parte frgil e de

    outro a parte forte. Esta pode exercer sobre a outra seu poder, inclusive na forma da violncia.

    Quanto "reeducao" ou "recuperao", para esses autores, Dantas e Melo

    (2008), essa abordagem s aumenta a intolerncia para com os homens que cometem

    violncia. Alm de pragmaticamente invivel, o sistema penitencirio no oferece a

    preveno para violncia, esta proposta serve exclusivamente para fortalecer estigmas. So

    estigmas que se assumidos pelos homens estigmatizados os levam tambm a um

    posicionamento de no mudana e de assuno e reposio dos modos de ser agressivos.

    Nesta perspectiva, tenta-se pensar em um modelo de interveno que inclua o

    atendimento psicolgico para o autor das agresses, que possibilite que o agressor tambm

    seja acolhido, entender o processo de violncia na raiz do problema. Inclu-lo tambm nas

    aes preventivas e intervenes psicolgicas da mesma forma que a mulher.

    Porto (2008) desenvolveu um estudo que tem como objetivo descrever a

    trajetria da reconstruo da proposta de interveno psicolgica em uma instituio

    governamental - Casa Abrigo Me da Mata do Governo do Estado do Acre. A misso dessa

    instituio abrigar mulheres em situao de violncia intrafamiliar e de gnero juntamente

    com seus filhos e filhas por um perodo mximo de 90 dias. Percebeu-se que as dificuldades

    do Servio de Psicologia eram percebidas de forma ambgua do papel do psiclogo, o que

    provocava a demanda do profissional para outros servios e as expectativas difceis de serem

    realizadas, at mesmo incompatveis como a interveno em psicologia. No entanto, houve a

    necessidade de se ampliar o atendimento prestado a essas mulheres, pois o modelo de

    interveno no estava dando resposta satisfatria.

    Por fim, ao se conhecer a realidade vivenciada pelas mulheres, optou-se por

    criar um novo formato de atendimento psicolgico. Trata-se de uma superviso clnica, que

    consta com um atendimento multidisciplinar entre as psiclogas que trabalham nas

    instituies de atendimento que formam essa rede, composta pela Casa Abrigo Me da Mata,

    o Centro de Referncia, a DEAM, a maternidade pblica, unidades de sade, entre outros.

    Este estudo apresenta os resultados de oferecer aos (s) psiclogos (as) que trabalham com

    mulheres em situao de violncia um espao para a discusso e troca de experincias clnicas

    e institucionais no contexto da violncia contra a mulher. Esse modelo de atendimento surgiu

    da necessidade local, e hoje pode ser utilizado por outros estados no qual a violncia contra a

    mulher ainda continua a dar ndice alarmante.

  • 34

    Segundo o Centro de Referncia Tcnica em Psicologia e Polticas Pbicas

    CREPOP (Conselho Federal de Psicologia, 2013), importante ressaltar que os(as)

    psiclogos(as) envolvidos nos Programas de Ateno Mulher Vtimas de Violncia devero

    apropriar-se do conhecimento de todas as possibilidades de orientao sexual na relao direta

    com o fenmeno da violncia. Construindo assim um projeto de atendimento universalizado e

    amplo, que acolha os mais diferentes matizes de gnero e suas particularidades.

    Alm das questes de gnero e sexo, as discusses sobre a violncia contra a

    mulher passaram a abordar outras categorias socialmente construdas, como classe social, raa

    e etnia. O profissional da rea da sade deve ser sensvel para identificar a agresso sofrida

    pela vtima, pois, geralmente ela se sente envergonhada no momento de relatar o que

    realmente aconteceu entre quatro paredes. Ento, cabendo ao profissional desenvolver um

    olhar clnico para identificar a dor, a angstia e a vergonha, que o paciente est passando

    naquele momento de narrar violncia sofrida.

    No entanto, Hananda (2007) chama a ateno para o referido Programa de

    Ateno a Mulher Vtima de Violncia, visto que, o mesmo apresenta poucas orientaes para

    o trabalho especfico do psiclogo, no existindo muitas diferenciaes entre o trabalho deste

    com o do assistente social. O estudo ainda afirma que para melhor articulao da rede e da

    equipe de trabalho, seria importante tambm a distino clara dos trabalhos especficos para

    que no ocorram sobreposies de funo e para que as atividades desenvolvidas pelos

    diferentes profissionais no estejam apenas articuladas num projeto assistencial comum.

  • 35

    CAPTULO II

    3 OBJETIVOS

    3.1 Objetivo Geral.

    Fazer um levantamento bibliogrfico sobre o tema violncia contra a mulher

    nas relaes ntimas em artigos cientficos, publicados no perodo de 2003 a 2013, e

    indexados nas bases de dados on-line BVS-Psi, LILACS e Scielo.

    3.2 Objetivos Especficos.

    Identificar na literatura nacional a produo cientfica sobre a temtica

    violncia contra a mulher nas relaes ntimas;

    Analisar os artigos cientficos considerando as reas do conhecimento e

    regies norte e nordeste;

    Avaliar a partir de levantamento bibliogrfico as possveis implicaes

    da violncia na sade da mulher.

  • 36

    CAPTULO III

    4 MATERIAL E MTODO

    4.1 Tipo de pesquisa

    Para atingir os objetivos propostos a pesquisa bibliogrfica foi dividida em

    duas etapas: uma de natureza quantitativa e outra qualitativa. A anlise do material coletado

    fundamentou-se na articulao entre as duas modalidades, uma vez que as duas perspectivas

    se complementam na aproximao de uma realidade que se quer conhecer.

    Do ponto de vista da abordagem quantitativa, para cada artigo estudado,

    foram investigadas as seguintes variveis: tema, ano de publicao, rea do conhecimento,

    regio. A abordagem qualitativa baseou-se na Tcnica de Anlise de Contedo, modalidade

    Temtica. A tcnica de anlise temtica consiste em descobrir os ncleos de sentido que

    compem a comunicao e cuja presena ou frequncia de apario pode significar alguma

    coisa para o objetivo analtico escolhido (BARDIN, 2008).

    A pesquisa bibliogrfica realizada quando o tema escolhido pouco

    explorado e torna-se difcil sobre ele formar hipteses precisas e operacionalizveis (GIL,

    2010). A vantagem dessa pesquisa que o pesquisador pode estudar tudo o que se encontra

    publicado em relao ao tema proposto, seja no Brasil, como tambm em outros pases e ter

    uma viso mais ampla do assunto em questo.

    Ainda segundo Gil (2010) o levantamento bibliogrfico constitui um

    importante passo na elaborao de uma pesquisa bibliogrfica, posto que tenha a finalidade de

    familiarizar o pesquisador com o assunto de seu interesse. Da mesma forma Severino afirma

    que:

    A pesquisa bibliogrfica aquela realizada a partir do registro disponvel,

    decorrentes de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos,

    teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias tericas j trabalhadas por outros

    pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a

    serem pesquisados (SEVERINO, 2007, p. 122).

    4.2 Coleta de dados

    O levantamento bibliogrfico foi realizado ao longo de 2013 e abarcaram os

    ltimos dez anos sobre o tema violncia contra a mulher nas relaes ntimas produzidas no

  • 37

    Brasil. Em todas as reas de conhecimento, as estratgia de identificao e seleo da

    populao foi desenvolvida nos bancos de dados disponveis na Biblioteca Virtual em Sade

    Psicologia Brasil (BVS Psi Brasil): SCIELO (Scientific Electronic Library Online),

    LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade) que fazem parte da

    Biblioteca Virtual de Sade (BVS) da Bireme. O levantamento bibliogrfico realizado pela

    internet utilizou-se de palavras-chaves baseados nos Descritores em Cincias da Sade

    (DeCS): violncia, mulher, violncia contra a mulher, psicologia. Optou-se pelo emprego dos

    descritores mencionados levando-se em considerao que so reconhecidos pelas bases de

    dados pesquisadas e utilizados de forma corrente na literatura cientfica especializada.

    Foram includos na anlise artigos que discutiam a violncia contra a mulher

    nas relaes ntimas; artigos referentes a programas e servios de ateno mulher em

    situao de violncia; artigos que abordavam consequncias psicolgicas para a sade da

    mulher; artigos que debatiam polticas pblicas e programas de aes voltados para atender as

    mulheres vtimas de violncia, e artigos cientficos que abordavam a violncia contra a

    mulher nas relaes ntimas nas regies norte e nordeste do pas.

    Foram excludos da anlise artigos que abordavam a temtica referente, mas,

    que se referiam a produes cientficas de outras regies brasileiras, artigos cientficos que

    investigaram a violncia fsica, sexual, domstica, gnero, emocional e/ou comportamentos

    controladores contra a mulher, artigos cujos objetivos eram investigar outros tipos de

    violncia: (contra criana, adolescentes, idosos, animais).

    Tambm foram excludos dos estudos violncia cometida por gangues ou em

    guerras; violncia no mbito da sade mental e no contexto lcool/drogas; violncia entre

    parceiros do mesmo sexo e/ou perpetrada pela mulher; a violncia no contexto das

    DSTs/AIDS violncias cometidas por pessoas com outros vnculos com a vtima que no a

    de parceiro ntimo, contra gestantes, femicdio, assassinatos, assim como, livros, captulos de

    livros, teses, dissertaes, anais de congressos ou conferncias, relatrios tcnicos e

    cientficos e documentos ministeriais, artigos sem resumo indexados nas bases de dados. A

    figura 3 demonstra os critrios de incluso e excluso de acordo com os objetivos da pesquisa.

  • 38

    Figura 3: Esquema metodolgico sobre a violncia contra a mulher nas relaes ntimas e seleo de artigos

    para anlise.

    Fonte: Frank (2009).

    4.3 Procedimento para anlise dos dados.

    Inicialmente foi realizada uma leitura dos ttulos e resumos dos artigos

    selecionados para uma familiarizao com o material. Posteriormente, foi realizada uma

    leitura de cada artigo integralmente. Durante essa leitura foram observados os principais

    pontos questionados pelos autores. Seguidamente foram destacados alguns conceitos e

    categorizados em tabelas especficas elaboradas pela pesquisadora para esse fim. De posse

    dos 22 artigos cientficos levantados procedeu-se, uma anlise mais detalhada sobre a

    temtica a fim de responder aos objetivos da pesquisa.

    Perodo de publicao (2003

    a 2013), regio (Norte e

    Nordeste), Idioma

    (Portugus), disponibilidade

    de textos completos,

    Violncia nas relaes

    ntimas, programas de

    ateno s mulheres vtimas

    de violncia.

    685

    Referncias

    262

    Artigos para

    anlise

    Excluso de 423

    referncias

    22 artigos selecionados

    segundo critrio de

    INCLUSO

    240 artigos

    segundo os

    critrios de

    EXCLUSO

    Teses, dissertaes, captulos de teses,

    captulos de dissertaes, livros, captulos

    de livros, anais de congressos ou

    conferncias, relatrios tcnicos e

    cientficos e documentos ministeriais,

    violncia de gnero, violncia sexual,

    violncia domstica, artigos sobre outros

    tipos de violncia (contra crianas, idosos

    ou animais).

    gangues, guerras

  • 39

    Durante a leitura flutuante ocorreu o fichamento dos pontos pertinentes

    temtica, o que possibilitou uma viso abrangente do contedo. A leitura integral do artigo

    possibilitou a transcrio dos resultados e de trechos significativos, identificao das ideias

    principais. A leitura exaustiva se deu pela releitura dos textos minuciosamente de acordo com

    os achados fichados e separadamente, onde foram agrupados em categorias temticas. A partir

    da elaborao das categorias temticas foi realizada uma releitura de cada artigo, a fim de

    visualizar os textos de forma integrada, podendo relacion-los e sintetiz-los, observando as

    convergncias, divergncias e semelhanas existentes sob a tica de diferentes autores.

    Depois de feita a organizao dos pontos principais dos textos foi destacada algumas palavras

    chaves que deram sentido a busca: violncia nas relaes ntimas; Lei Maria da Penha,

    polticas pblicas voltadas para mulher vtima de violncia; repercusso da violncia na sade

    da mulher.

  • 40

    CAPTULO IV

    5 ANLISE DOS DADOS E DISCUSSO

    Os resultados encontrados foram caracterizados conforme a tabela abaixo. E

    posteriormente analisados segundo os objetivos da pesquisa: ano de publicao, tema, rea do

    conhecimento.

    Tabela 1 - Relao dos artigos encontrados entre 2003 e 2013: Ttulo, ano e rea do conhecimento.

    Ttulo Ano rea do conhecimento

    Enfrentamento da violncia

    infligida pelo parceiro

    ntimo por mulheres em

    rea urbana da regio

    Nordeste do Brasil.

    2012 Sade Pblica

    Violncia e gnero: novas

    propostas, velhos dilemas.

    2012 Sade Pblica

    Violncia, mulheres e

    atendimento psicolgico na

    Amaznia e no Distrito

    Federal.

    2012

    Psicologia

    Percepo dos profissionais

    da rede de servios sobre o

    enfrentamento da violncia

    contra a mulher.

    2012 Enfermagem

    Violncia conjugal:

    elementos que favorecem o

    reconhecimento do agravo.

    2012 Enfermagem

    Homens e mulheres em

    vivncia de violncia

    conjugal: caractersticas

    socioeconmicas.

    2012 Enfermagem

    Continua

  • 41

    Continuao

    Violncia contra a mulher

    entre residentes de reas

    urbanas de Feira de

    Santana, Bahia.

    2011 Psicologia

    O estigma da violncia

    sofrida por mulheres na

    relao com seus parceiros

    ntimos.

    2011 Psicologia

    Violncia contra a mulher:

    caracterizao de casos

    atendidos em um centro

    estadual de referncia

    2011 Enfermagem

    Sentidos de violncia contra

    as mulheres nas narrativas

    de homens denunciados por

    violncia conjugal.

    2009 Psicologia

    Fatores associados

    violncia por parceiro

    ntimo em mulheres

    brasileiras.

    2009 Sade Pblica

    A violncia de gnero e o

    processo sade-doena das

    mulheres

    2009 Enfermagem

    Vivncias da vida conjugal:

    posicionamento das

    mulheres

    2009 Enfermagem

    Enfrentamento da violncia

    domstica por um grupo de

    mulheres aps a denncia.

    2009

    Sade Pblica

    Continua

  • 42

    Continuao

    Homens, gnero e violncia

    contra a mulher.

    2008

    Sade Coletiva

    Interveno psicolgica em

    abrigo para mulheres em

    situao de violncia: uma

    experincia

    2008

    Psicologia

    Posicionamentos crticos e

    ticos sobre a violncia

    contra as mulheres.

    2008 Psicologia

    Vivncia da violncia

    conjugal: fatos do cotidiano

    2007 Enfermagem

    Prevalncia da violncia

    contra a mulher por parceiro

    ntimo em regies do Brasil.

    2007

    Enfermagem

    A violncia contra a mulher

    atendida em unidade de

    urgncia: uma contribuio

    da Enfermagem.

    2006

    Enfermagem

    Violncia contra a mulher e

    atendimento psicolgico: o

    que pensam os/as

    gestores/as municipais do

    SUS

    2006

    Psicologia

    Violncia contra mulheres:

    a experincia de usurias de

    um servio de urgncia e

    emergncia de Salvador,

    Bahia, Brasil.

    2003 Sade Pblica

    Fonte: A autora.

  • 43

    De acordo com a tabela 3 pode-se observar que em 2012 houve um aumento

    significativo na produo cientfica sobre a temtica em questo, na qual a enfermagem se

    destaca em relao psicologia, a sade publica, e sade coletiva. Segundo Monteiro (2006)

    os profissionais de sade esto em posio privilegiada por ser um dos primeiros a entrar em

    contato com as mulheres vtimas da violncia, independentemente do agravo sua integridade

    fsica e/ou psicolgica, porque o servio de sade que a mulher procura de imediato. No

    entanto, esses profissionais se queixam da falta de preparo para tal atendimento, e sentem-se

    despreparados para acolher a vtima.

    5.1 Quantidade de artigos em relao ao ano de publicao.

    Tabela 2: Quantidade de artigos cientficos publicados durante os 10 anos pesquisados.

    Fonte: A autora.

    Segundo a tabela acima, no ano de 2003 foi publicado apenas um artigo cientfico

    que abordava o tema. Nos anos de 2004, 2005, 2010 e 2013 no houve produes cientficas

    referentes temtica em questo. Em 2006 foram publicados dois artigos cientficos. O

    mesmo ocorreu em 2007 que tambm manteve esse total. No ano de 2008 foram divulgadas

    trs produes cientficas e 2011 tambm apresentaram trs artigos cientficos. Em 2009

    foram publicados cinco artigos cientficos referentes ao assunto. Em 2012 houve um aumento

    significativo nas produes referente ao assunto, pois foram divulgados seis artigos cientficos

    que discutiam a violncia contra a mulher.

    ANO NORTE NORDESTE TOTAL DE ARTIGOS

    2003 0 1 1

    2004 0 0 0

    2005 0 0 0

    2006 0 2 2

    2007 0 2 2

    2008 1 2 3

    2009 0 5 5

    2010 0 0 0

    2011 0 3 3

    2012 0 6 6

    2013 0 0 0

  • 44

    Grfico 1 - Total de artigos em relao ao ano de publicao

    Fonte: A autora

    Dentre os 22 artigos pesquisados, observou-se que em 2003 foi publicado apenas

    um artigo cientfico referente temtica, o que representa os 4% do total de publicaes. Nos

    anos de 2004 e 2005 no houve publicaes de trabalhos nestas duas regies pesquisadas que

    abordassem a violncia contra a mulher. Em 2006 e 2007 houve um percentual de 12% o que

    representa um total de dois artigos cientficos publicados por ano conforme especificado na

    tabela (1). No ano de 2008 teve um acrscimo de 14% empatando com 2011 no total de trs

    publicaes por ano. Em 2009 foi verificado um aumento significativo nas produes

    cientficas correspondendo a 23% totalizando cinco produes neste perodo. Em 2010 no

    houve produes cientficas nas regies pesquisadas. Merece destaque o ano de 2012 o qual

    pode-se perceber um aumento nos temas relacionados a questo da violncia contra a mulher,

    representando um percentual de 27% o qual corresponde a um total de seis artigos publicados

    abordando o tema em questo. No ano de 2013 no houve nenhuma produo cientfica

    referente temtica.

  • 45

    5.2 Regies norte e nordeste e a violncia contra a mulher.

    Grfico 2 - Produes cientficas nas regies Norte e Nordeste.

    Fonte: A autora

    Nas regies norte e nordeste foram catalogados 22 artigos referentes

    violncia contra a mulher nas relaes ntimas. Destes verificou-se que a regio nordeste se

    destaca em relao produo cientfica, representando um percentual de 96% sobre a

    temtica nos ltimos dez anos, a regio norte representou um total de 4%. Pode-se perceber

    que a produo cientifica no norte do Pas deixou muito a desejar, pois durante os dez anos s

    foram catalogados um artigo cientifico que aborda a violncia contra a mulher, aparentemente

    as pesquisas nesta temtica especfica ainda so incipientes nesta regio.

    No entanto um estudo encomendado pelo Instituto de Pesquisa Econmica

    Aplicada (IPEA, 2013) afirma que a regio nordeste lidera o ranking com a maior taxa de

    feminicdios do Pas entre 2009 e 2011, com 6,9 mortes violentas a cada 100 mil mulheres. A

    regio norte aparece em terceiro lugar, com 6,42. A mesma pesquisa afirma que

    aproximadamente 40% de todos os homicdios de mulheres no mundo so cometidos por um

    parceiro ntimo e os estados brasileiros com maiores taxas foram: Esprito Santo (11,24),

    Bahia (9,08), Alagoas (8,84), Roraima (8,51) e Pernambuco (7,81). Todavia alguns estados

    localizados nestas regies obtiveram taxas um pouco menores como: Piau (2,71), Maranho

    (4,63) e Amazonas com (5,07).

  • 46

    5.3 rea do conhecimento.

    Grfico 3 Porcentagem segundo a rea do conhecimento.

    Fonte: A autora.

    Dentre as reas do conhecimento observou-se que o setor da enfermagem foi

    a maior produtora de trabalhos publicados sobre a temtica (41%). Salientando desta forma o

    papel da enfermagem no contexto da violncia, envolvendo prticas, aes, questes polticas

    e sociais, buscando reconhecer e compreender o processo sade-doena das mulheres em

    situao de violncia. Procurando contemplar a mulher no seu cotidiano, promovendo espaos

    de dilogo e possibilitando um cuidado pautado nos referenciais dos direitos humanos e

    cidadania, conforme preconiza a atual poltica pblica de ateno s mulheres do pas

    (VIEIRA, PANDOIN E PAULA, 2010).

    O mesmo estudo afirma que compreender esse fenmeno do ponto de vista da

    sade pblica oferecer caminhos para captar as vrias dimenses que a violncia assume, no

    sentido de reconhecer seus aspectos sociais, epidemiolgicos, psicolgicos, jurdicos, e a

    necessidade de desenvolver respostas multissetoriais. Da mesma forma salienta a importncia

    de uma equipe profissional qualificada e que a rede de apoio do Estado oferea subsdio capaz

    de amenizar essa problemtica.

    A rea da psicologia surge em segundo lugar correspondendo a 32% do total

    de artigos cientficos publicados abordando a temtica violncia contra a mulher nas relaes

    ntimas. Segundo Porto e Bucher-Maluschk (2012) o profissional de psicologia se preocupa

    em garantir mulher um acolhimento especializado de forma a no apenas receb-la, mas

    tambm ajud-la a mudar sua vida.

  • 47

    Conforme as autoras acima a psicologia precisa abordar os sentimentos e as

    dores das mulheres que vivenciam a ligao com um parceiro definida como dependncia

    emocional, com culpa e vergonha por algo que sofrem como se fossem elas que promovessem

    a situao e por isso a merecessem. Mas a forma como sentem a situao promove um

    sentimento de ser responsvel construdo a partir do lugar social atribudo ao feminino e

    vivido por algumas mulheres como algo que as aprisiona apesar de lhes serem apresentadas

    possveis sadas.

    A rea da sade pblica representa (18%) das produes cientficas. Silva

    (2003) aponta que o setor da sade precisa compreender que o atendimento na unidade de

    sade no pode resumir-se a uma prtica medicalizadora, limitada prescrio de analgsicos

    e tranquilizantes. Mas sim que haja o compromisso de considerar os aspectos sociais inter-

    relacionados com o processo de adoecer e respeitando as peculiaridades de cada ser humano.

    Os servios de atendimento necessitam de uma integrao entre a equipe

    multidisciplinar para que se possa intervir em todas as fases do ciclo da violncia, afirmando

    desse modo uma atuao rumo afirmao dos direitos e necessidades da vtima. Segundo

    estudos (MONTEIRO, 2006; LETTIRRE, 2010; COSTA, 2011, PEDROSA, 2011) os

    profissionais de sade no esto preparados para desempenhar um diagnstico preciso, pois

    sua atuao limita-se apenas a observao das marcas da violncia deixada no corpo da

    vtima.

    Todavia deve-se ressaltar a importncia de uma atuao interdisciplinar, o

    apoio deve ter incio no servio de urgncia, de forma articulada com outros servios que

    tratam da mesma questo, como as Delegacias Especiais de Atendimento Mulher (DEAM),

    os Conselhos de Direitos da Mulher, Abrigos e outras instituies (MONTEIRO, 2006). A

    autora enfatiza que esse atendimento j est sendo oferecido no Estado do Piau e que no ano

    de 2002, 11,46% dos casos denunciados foram justia comum, e ao restante no se deu

    prosseguimento, tendo como principal fator a desistncia da vtima. Em 2003 este nmero

    aumentou para 31,15%, evidenciando que as mulheres esto dando continuidade s denncias

    de violncia. A sociologia aparece com apenas 4% do total de artigos publicados nos ltimos

    dez anos sobre a temtica e a sade e sociedade com 5%.

    Diante do que foi exposto e obedecendo aos objetivos do trabalho surgiram as

    seguintes questes para o aprofundamento da anlise: o conceito de violncia no contexto das

    relaes ntimas; a repercusso da violncia na sade da mulher; a articulao entre as redes

    de atendimento.

  • 48

    5.3.1 O conceito de violncia no contexto das relaes ntimas.

    Segundo a literatura pesquisada pode-se perceber que o tema violncia contra

    a mulher bastante estudado na sociedade brasileira. No entanto, a nomenclatura pode ser

    empregada muitas vezes como sinnimo de violncia domstica, mesmo no sendo. Na

    concepo de Celmer (2010) a violncia domstica qualquer conduta que cause dano fsico,

    psquico ou sexual no apenas mulher, mais se estendem a outros membros da casa,

    incluindo empregados, idosos, crianas. J violncia familiar mais especfica, abrange as

    agresses fsicas, e psicolgicas entre os membros de uma mesma famlia.

    A violncia conjugal deve ser entendida como todo tipo de agresso praticada

    contra cnjuge companheira (o), namorado (a). Nesta perspectiva, a violncia conjugal pode

    ser cometida entre os casais homossexuais, o que a desmistifica como sendo cometida

    exclusivamente por homem contra a mulher. Observou-se que o fenmeno apresenta-se sobre

    vrias denominaes, e que embora este tema seja bastante discutido ainda existem lacunas

    em relao a