Não-violência contra a mulher

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Crochê em lacre de latinhas Página 17 Ano IV nº17 Outubro/Novembro 2008 Papel de Mulher Página 4 Viver sem Violência Página 8 Entrevista com Maria da Penha Página 14 Não-violência contra a mulher

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Crochê em lacre de latinhas

Página 17

Ano IV nº17 Outubro/Novembro 2008

Papel de MulherPágina 4

Viver sem Violência

Página 8

Entrevista com Maria da Penha Página 14

Não-violência contra a mulher

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2 REVISTA DO INSTITUTO 3CONSULADO DA MULHER

M U L H E R , H O M E ME D I T O R I A L

Precisamos do envolvimento de toda sociedade para enfrentar, re-duzir e eliminar a violência contra as mulheres. Ações isoladas contri-buem, mas só a união de todas(os) poderá atender tão importante e com-plexa demanda.

Enfrentar e vencer essa ques-tão exige entender a complexida-de que está contida nela, como entender que a solução vai muito além de punir o agressor. Passa também pela mudança dos nos-sos padrões culturais e comporta-mentos machistas.

Esse conflito entre o que con-sideramos correto e o que re-produzimos de padrões da nos-sa cultura fica evidente quando comparamos dados recentes da Pesquisa Ibope/Instituto Patrícia Galvão, que afirma que 91% das pessoas consideram muito grave o fato de mulheres serem agredidas por companheiros/maridos, enquanto 66% acre-ditam que “em briga de marido

Não-violência contra a mulher : um

compromisso de todas(os)

Nossas vidas sem

Violência e mulher não se mete a colher”.

Por que pes-soas que conside-ram muito grave as mulheres serem agredidas acre-d i tam que não devem “meter a colher”? Quantas mulheres continu-arão a ser agredi-das, violentadas e

mortas para que saibamos que sim, devemos “meter a colher” e fazer alguma ação para reverter essa situação?

Precisamos dar cada vez mais visibilidade e promover o debate sobre a violência doméstica. Essas ações têm sido feitas por movi-mentos e organizações sociais e mais recentemente também pelo poder público, por meio do Pac-to Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres.

Uma forma de colaborar é di-vulgar o 180 – Central de Atendi-mento à Mulher, número para o qual podemos ligar gratuitamen-te e denunciar violência contra as mulheres ou solicitar orientações sobre como proceder.

Vivemos um tempo críti-co dos valores humanos, em que homens e mulheres estão cada vez mais violentos(as). E esta violência dá-se a partir da agressão moral e física. Mas, an-tes de analisar este conflito que persiste na atualidade, precisa-mos analisar a raiz do problema.

Quando falamos de violên-cia contra a mulher, a partir das origens históricas, temos um as-sunto ainda muito comum: o as-pecto cultural da sociedade com relação ao mito da força centrali-zada na figura masculina, em que homem tem de ser “bravo” e a mulher “frágil”. Estes mitos per-manecem, ofuscando a realidade dos valores humanos.

E esses casos de violência são mais comuns do que a gente pen-sa. Segundo uma pesquisa feita no ano passado pelo Instituto Da-taSenado, de cada 100 mulheres brasileiras entrevistadas, 15 disse-ram viver ou terem passado por situações de violência doméstica.

E o mais grave disso tudo: se-gundo a mesma pesquisa, menos da metade das mulheres em si-tuação de violência denunciaram seus agressores.

Este quadro, ao contrário do que podemos imaginar, pode nos motivar a transformar esta si-tuação! Como?

Todas(os) temos dentro de nós a essência da vida, e faze-mos uma representação interna que nos permite escolher a for-ma como vamos nos comportar na sociedade. E como raramente escolhemos o que nos causa dor, o que podemos fazer é nos co-locar no lugar da(o) outra(o), em um exercício constante de refletir sobre a questão: “eu gostaria de sofrer essa agressão?”

Além disso, entender a situ-ação dessas mulheres, apoiá-las nesses momentos difíceis, de-nunciar os agressores e ofere-cer às(aos) nossas(os) filhas(os) uma educação livre de precon-ceitos, com respeito às mulhe-res e aos homens são atitudes que contribuirão, e muito, para eliminar a violência de nossas vidas para que se tornem histó-rias de felicidade.

Célia Regina Lara, coordenadora do Consulado da Mulher de Rio Claro

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4 REVISTA DO INSTITUTO 5

Papel de Mulher

“Construindo histórias, reciclando a vida”

M I R E - S E N O E X E M P L O

Tudo começou com uma ini-ciativa do Programa de Educação e Defesa Ambiental Ângela de Cara Limpa – Reciclângela e de um Seminário promovido pela Sociedade Santos Mártires sobre meio ambiente no Jardim Ângela, bairro da zona sul de São Paulo, que despertou nas mulheres, que hoje formam o grupo Papel de Mulher, a vontade de se eman-cipar e recomeçar. Elas viram na reciclagem e na arte com o papel a oportunidade de gerar sua pró-pria renda e, principalmente, de conhecer pessoas novas e com-partilhar experiências.

O trabalho do grupo começou com cursos para que as partici-

pantes aprendessem o processo de fazer papel, antes de coloca-rem a mão na massa. Nessa eta-pa, elas contaram com o apoio de Sulália de Souza e Gabriel Mene-zes, idealizadores(as) do projeto.

Hoje, depois de um ano, elas recebem uma bolsa como ajuda de custo do Programa Opera-ção Trabalho, resultado da par-ceria com a Secretaria Munici-pal do Trabalho, para assegurar a sobrevivência, enquanto ain-da não têm renda própria, por estarem em processo constante de aprendizado.

Há, aproximadamente, três meses, o grupo teve suas ferra-

um problema. “Meu marido não gostava porque eu não recebia, e uma hora ele me disse assim: Ou eu ou esse grupo”, comenta Ge-ralda, uma das participantes do Papel de Mulher. “Escolhi o gru-po, porque acredito nele e hoje sou muito mais feliz”, explica.

Para a maioria delas, o grupo veio como uma luz. “Eu vivia na escuridão, depois que entrei no Papel de Mulher tudo clareou. É como se eu tivesse nascido de novo”, explica Antonia, que considera o grupo uma família.

Com o apoio do Consulado da Mulher, a expectativa é

de que o grupo a p r i m o r e suas técni-cas para a geração de

r e n d a p a r a crescer ainda mais!

mentas básicas de trabalho rou-badas. Mas não desistiram.

“Ficamos desanimadas quan-do vimos, mas não abaixamos a cabeça, recomeçamos todo o tra-balho e nos descobrimos fazen-do outras coisas”. Desde então, elas têm desenvolvido capas para bloco de notas e porta-retratos. Naquele momento também foi criado o lema “Construindo his-tórias, reciclando a vida”, que acompanha o grupo até hoje.

No início das atividades do Pa-pel de Mulher, o fato de o traba-lho não gerar renda também era

Dica do Papel de Mulher: união,

respeito e cuidado são valores fun-damentais

para superar as dificulda-

des.

M I R E - S E N O E X E M P L O

CONSULADO DA MULHER

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6 REVISTA DO INSTITUTO 7CONSULADO DA MULHER

Q U E N T I N H A S D O C O N S U L A D O Q U E N T I N H A S D O C O N S U L A D O

Rio Claro (SP)

São Paulo (SP)

Manaus (AM)

No próximo dia 25 de novem-bro, o Consulado de Joinville co-memora seis anos de atividades, troca de experiências e histórias de felicidade na vida de inúme-ras mulheres. Você que faz par-te dessa trajetória, celebre junto com toda a equipe mais este ano cheio de conquistas!

No dia 5 de dezembro, Dia Internacional do Voluntariado, o Consulado irá celebrar a participa-ção cidadã de homens e mulheres que constroem inúmeras histórias de felicidade todos os dias: as(os) voluntárias(os). E, como de costu-me, o Consulado da Mulher de Rio Claro realizará um jantar es-pecial para as(os) voluntárias(os) na Usina do Trabalho.

Não perca! Retire seu con-vite na recepção e, para mais informações, ligue para (19) 3532 4801.

O grupo de artesanato Rota da Arte, com o apoio do Con-sulado da Mulher, realizará dos dias 3 a 15 de novembro a 1ª DECOR-ARTE no Shopping Cen-ter de Rio Claro.

A mostra de artesanato con-tará com exposição e venda de trabalhos em bambu, pa-tchwork, tecido, crochê, borda-do, pintura em tecido e seda, decoração em madeira, mosai-co, biscuit, fuxico, vela, feltro, meia de seda, bonecas, jogos educativos, papel reciclado, en-tre outros.

A feira é aberta ao público de segunda a sábado, das 10h às 22h, e aos domingos, do meio-dia às 20h. Não deixe de pres-tigiar este lindo trabalho! Mais informações pelo telefone (19) 9739-3982, com Dulcinéia.

No dia 11 de dezembro, acon-tece a Reunião Geral para as(os) voluntárias(os) do Consulado da Mulher de Rio Claro. O objetivo do encontro, feito na Usina do Trabalho, é fazer um resumo do ano de 2008 e apresentar pro-postas e sugestões para o próxi-mo ano. Se você é voluntária(o), não perca a oportunidade de colaborar para o crescimento e amadurecimento do Consulado!

A parceria entre Consulado da Mulher e SENAC se consoli-da a cada dia. Após começar por Manaus, com ação conjunta para formação de dezenas de mulhe-res para o mercado de trabalho, agora é a vez de São Paulo. Na capital paulista, a parceria atende 40 grupos de geração de traba-lho e renda a partir do diagnós-tico e elaboração de planos de negócio. Essa mesma experiência começa a ser implantada tam-bém na cidade de Rio Claro, in-terior de São Paulo. A intenção é criar cada vez mais parcerias que possibilitem a geração de traba-lho e renda e a construção de mais histórias de felicidade.

Acontece em Manaus de 3 a 5 de dezembro a I Feira de Empre-endedorismo Coletivo no Centro de Convivência da Família Padre Pedro Vignola, organizada pelo Sebrae. O Consulado da Mulher, como um dos parceiros do even-to, estará presente, junto com os empreendimentos apoiados, que terão um espaço para comercia-lizar seus produtos solidários. O Centro de Convivência fica na Avenida Gandu, nº 119, no bair-ro Cidade Nova, em Manaus. A entrada é gratuita.

Joinville (SC)

Até fevereiro do ano que vem, o Consulado da Mulher, em parceria com o Banco do Brasil, realizará oficinas de auto-estima, artesanato, custo-mização de roupas e reaprovei-tamento de alimentos na Co-munidade Dom Gregório, em Joinville. Para mais informações sobre essas oficinas, ligue para (47) 3433-3773.

Consulado na comunidade

Dom Gregório

Consulado comemora 6º aniversário

Jantar para voluntárias(os)

1ª DECOR-ARTE

Reunião Geral de Voluntariado

SENAC e Consulado da Mulher

trabalhando juntos

I Feira de Empreen-dedorismo Coletivo

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8 REVISTA DO INSTITUTO 9CONSULADO DA MULHER

E U P O S S OE U P O S S O

REVISTA DO INSTITUTO

Por conta de uma gravidez inesperada, Helena* casou-se aos 17 anos. Os primeiros mo-mentos de agressão acontece-ram poucos meses depois do nascimento do bebê. Irritado com o choro da criança, o pai agredia mãe e filha.

Enquanto as surras ficavam mais freqüentes, ela achava tudo normal porque, afinal, “estava casada com ele”. A história de Helena choca, mas saiba que ela é mais comum do que você pen-sa. Ela pode fazer parte da vida de uma amiga, de uma colega de trabalho ou de uma vizinha. E nem sempre na forma de uma agressão física, que é apenas mais uma forma de violência.

Foi o caso de Márcia*, quan-do descobriu que o companheiro mantinha outra família. Ameaça-da, foi obrigada a sair de casa e recomeçar a vida em outro lugar.

As duas histórias são situações extremas, mas que começaram com atitudes que podem fazer parte da vida de muitas mulhe-res. Algumas são impedidas de estudar, outras de trabalhar fora de casa, e a maioria é responsável por cuidar dos serviços de casa sem a ajuda do companheiro.

Viver sem Violência

Todas essas situações são for- mas de violência contra a Mu-lher. E eliminá-las não depende apenas da mulher que passa por essa situação. É preciso apoio e coragem de todas(os), para não nos calarmos, nem fecharmos os olhos diante da violência.

No caso de Helena, a ajuda veio de uma professora da filha que, ao ver as marcas da agres-são na menina, encaminhou-a para o Conselho Tutelar. Lá, He-lena e o companheiro contaram com acompanhamento psico-lógico. Durante as terapias, ela descobriu que ele também sofre-ra maus-tratos do pai durante a infância. Hoje, Helena começa a mudar sua história.

“Comecei a reagir a partir do momento em que a escola acio-nou o Conselho Tutelar. Agora eu descobri do que sou capaz, agora eu não aceito mais sofrer”, diz ela.

Com Márcia, o contato com as oficinas e as outras partici-pantes do Consulado da Mulher

foi fundamental para resgatar a auto-estima e recomeçar. “Hoje, já posso ver uma luz no fim do túnel, e estou muito feliz com mi-nha nova vida. Espero, com essa experiência, ajudar outras pessoas a não terem medo de recomeçar, independente da situação que

É seu direito viver sem violência!• Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 – o atendimento é gratuito!• Casa Sofia de São Paulo: (11) 5831-3053 - Rua Dr. Luis Fernando Ferreira, 06 - Bairro Sonia Regina - Jardim Ângela - São Paulo - SP• Casa Viviane dos Santos: (11) 2553-2424 - Rua Antônio Cari, 17 Guaianases - São Paulo - SP• Delegacia da Mulher de Rio Claro: (19) 3524-9503 - Rua 6, 557 Centro • Delegacia da Mulher de Joinville: (47) 3433-4714 e (47) 3433-9737 Rua Dr. Plácido Olímpio de Oliveira, 843 - Bucarein• PAMVVI – Programa de Atendimento a Mulheres Vítimas de Violência - Joinville: (47) 3439-2870 - Rua Urussanga, s/n - antigo Lar Abdon Batista - Bucarein• Delegacia da Mulher de Manaus: (92) 3236-7012 - Rua Recife, 3395• Para a ver a lista de todas as Delegacias da Mulher do país, acesse o site http://www.violenciamulher.org.br

* Os nomes foram alterados para preservar as mulheres

estiverem passando, pois uma porta sempre se abre”, explica.

Se você vive uma situação de violência, ou conhece al-guma mulher que passa por isso, não se cale. Veja algu-mas formas de buscar ajuda:

Grupo de costura Conquistando SonhosSacolas e bolsas retornáveis produzidas com tecidos ecologicamente corretos, logo da empresa serigrafado ou bordado, aventais,

camisetas customizadas, uniformes empresariais e outras variedades.

Encomendas de brindes institucionais para feiras, exposições de final de ano e presentes em geral.

Rua Nova Ponte 49 - Vila Progresso - Zona Leste - São Paulo - Fone para contatos: (11) 6864 4669 - cel. 7512 0358, falar com Lourdes.

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P A R A T R A B A L H A R E R E N D E RP A R A T R A B A L H A R E R E N D E R

Cooperanti, de sucesso

Renda, fundo para empréstimos e recolhimento de INSS são algumas das conquistas da Cooperativa Amiga do Meio Ambiente

CONSULADO DA MULHER

“Com o que ganhei, consegui pagar a conta da luz da minha casa” [...] “a gente não vê a hora de ir para a cooperativa traba-lhar.” “Deus nos livre de fechar a cooperativa...” “Hoje estou cons-truindo a minha casa.”

E s s a s são frases presentes no dia-a- dia do gru- p o C o o - peranti - a Cooperati- va Amiga d o M e i o Ambiente que atua na periferia de Joinville e tem como missão reduzir contrastes sociais, por meio de ações voltadas para a educação.

O grupo, que há seis anos atrás começou a se reunir para trabalhar com uma horta comuni-tária e em contrapartida, recebia ajuda do Projeto Resgate, iniciou suas atividades com material reci-clado nos fundos da casa de uma integrante e, após alguns meses,

já necessitou de um espaço maior para trabalhar.

Durante oito meses o Consu-lado da Mulher contribuiu com o grupo no pagamento do aluguel de um espaço até que pudessem assumir suas próprias despesas.

Pouco de-pois, o gru-po decidiu que com-praria um terreno, pa-gando em prestações com base no salário mínimo.

Através da doação

das horas trabalhadas, as(os) in-tegrantes deram entrada no ter-reno e construíram um pequeno galpão para trabalhar.

Além do espaço, as conquis-tas da Cooperanti continuaram. As mulheres, que são a maio-ria do grupo, perto do horário do meio-dia tinham que parar de trabalhar para poder fazer o almoço em suas casas. O grupo resolveu então construir uma

pequena cozinha no galpão, e hoje fazem a comida ali mes-mo, um almoço em grupo. A compra dos alimentos é feita coletivamente e paga pelo em-preendimento.

Outro grande avanço foi a criação de um fundo de reser-va só para fazer empréstimos às(aos) integrantes. Quem usa o benefício pode pagar em até 10 prestações e os “juros” são apenas uma taxa de R$ 10,00 pelo empréstimo.

A conquista mais recente foi o recolhimento de INSS en-tre todas(os) as(os) integrantes. A preocupação não é apenas

um modelo em Joinville

com a aposentadoria, mas sim com um “seguro”, pois caso algum(a) integrante ficar doen-te ou sofrer um acidente, não ficará desamparado(a). Poderá recorrer ao INSS.

“Trabalhar na Cooperanti me ajudou muito. Sou sozinha para criar quatro filhos meno-res, e tiro o sustento da família com o suor do meu trabalho. E agora essa satisfação é ainda maior, já que estamos pagando INSS e temos nossa alimentação coletiva garantida”, comenta Aparecida de Jesus de Nasci-mento, 37 anos, integrante do grupo.

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12 REVISTA DO INSTITUTO 13CONSULADO DA MULHER

Manaus“Eu não tenho palavras para

expressar o sentimento de ser voluntária. Ser voluntária é amar a(o) próxima(o) como a si mesmo, é se doar sem esperar receber, é cooperar para um mundo melhor em que todas as pessoas venham a ter qualidade de vida. Amo ser voluntária e amo o Consulado da Mulher” .

Shirlene Martins Dias, 42 anos, co-laboradora da Whirlpool e voluntária do Consulado da Mulher de Manaus

Rio Claro“Em 2005, participei de

uma oficina de culinária com a voluntária Renata, e gostei tanto que decidi compartilhar meus conhecimentos com ou-tras pessoas e me tornar volun-tária do Consulado. Isso ajuda a desenvolver meus próprios talentos e faz com que seja-mos menos egoístas. Acho que através do trabalho voluntário, melhoramos as relações com outras pessoas, fazemos novas amizades e, além de ensinar, eu aprendo muito”.

Margareth Rosa de Jesus Luiz, 35 anos, voluntária do Consulado da Mulher de Rio Claro.

Joinville“Ser voluntária é ser cidadã

porque, nas atividades de arte-sanato que desenvolvo, consigo estimular e orientar as(os) par-ticipantes para também terem atuações em comunidades, seja em associações de moradores ou em alguma instituição. A atuação voluntária permite-nos participar ativamente na socie-dade, contribuindo e transfor-mando”.

Tamy Regina de Souza, 42 anos, vo-luntária do Consulado da Mulher de Joinville

São Paulo“Nunca tinha realizado uma

oficina como voluntária para o Consulado, somente para um grupo de terceira idade da igre-ja da minha comunidade. Gos-tei da experiência, as partici-pantes foram ótimas e já estão pedindo outras oficinas”.

Ligia Maria Jesus dos Santos Men-des, 47 anos, voluntária do Consulado da Mulher de São Paulo

E X P R E S S Ã O D E C I D A D A N I A E X P R E S S Ã O D E C I D A D A N I A

Compartilhar é transformar

conhecimentos a sociedade

O que é, o que é: quanto mais se divide, maior fica? As(os) voluntárias(os) do Consulado respondem: aprendizado e troca de saberes!

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15CONSULADO DA MULHER14 REVISTA DO INSTITUTO

Em agosto deste ano, fo-ram completados dois anos da aprovação da lei que leva seu nome. Como você avalia o impacto dela hoje?

Muito positivo, principal-mente na conscientização das mulheres. Onde a lei foi bem implementada, está atendendo perfeitamente essas mulheres.

Em um evento, uma repre-sentante do movimento de mu-lheres chegou para mim e disse: “Olhe, fui a uma Delegacia da Mulher e fiquei tão feliz quando vi uma mulher jovem, recém-ca-sada, acompanhada do marido, dizer - Olhe, a Maria da Penha disse que no primeiro empur-rão, eu tenho de vir pra Delega-cia”. Fiquei feliz de ver a mulher empoderada desse jeito.

Após sua aprovação, a Lei Maria da Penha foi critica-da por algumas pessoas. Há algum ponto que pode ser melhorado?

Maria da Penha Maia Fernandes. Este é o nome da mulher que, por meio de sua história de superação, deu nome a lei que

revolucionou as políticas de enfrentamento à violência doméstica. Após dois anos de aprovação da lei, ela conversou

com a Revista do Consulado e fez um balanço sobre as mudanças proporcionadas pela nova legislação.

Lei Maria da Penha: o que mudou em

dois anos

“Infelizmente, a Lei Maria da Penha está sendo bem

implementada apenas nas grandes cidades”

A lei, hoje, atinge os objetivos de punir os agressores e preve-nir a violência doméstica, e no local onde ela está sendo bem implementada, está funcionan-do. Infelizmente, ela está sendo bem implementada apenas nas grandes cidades. Existe, claro, um ou outro problema relacio-nado à cultura machista, como as(os) juízas(es) que dizem que a lei é inconstitucional. Mas isso é de se esperar, pois essa é a cultura da sociedade brasileira.

E o que a lei precisa para ser bem implementada fora das grandes cidades?

Há a necessidade da criação dos Centros de Referência da Mulher e das Casas-Abrigo, as Delegacias da Mulher, e os Jui-zados de Violência Doméstica e Familiar. Com esses quatro ór-gãos de apoio, a lei funciona. Também é muito importante a capacitação de todas(os) as(os) envolvidas(os). A(o) policial,

a(o) delegada(o), a(o) juiz(a), a (o) psicóloga(o), todas(os) têm de estar afinados em relação ao problema da violência domésti-ca, para que a lei funcione.

Muitas mulheres vítimas de violência enfrentam pre-conceito da so-ciedade, dito em frases como: “a mulher apanha porque quer”. Como você enxerga isso?

Se essa pessoa tem esse pre-conceito, é porque ela não en-tende o problema da mulher víti-ma de violência doméstica, talvez porque teve a sorte de viver em uma família onde isso não existe.

Dessa forma, ela não pre-senciou o problema, então, vai dar uma opinião errada, porque o caso da família dela é uma ex-ceção.

Na maioria dos lares brasilei-ros existe a violência doméstica, e já foi constatado em estudos que o lugar mais perigoso para uma mulher ficar é a sua pró-pria casa.

A geração de renda entre as mulheres pode contribuir com o fim da violência con-tra a mulher?

Acredito que é mais uma questão de conscientização do papel da mulher. Se não gente rica não apanhava. Apenas a di-ferença é que a mulher rica pro-cura a Delegacia da Mulher com o apoio de um(a) advogada(o).

É possível dizer, então, que a educação atual esti-mula a violência contra a mulher?

Não dá para dizer isso. Não se bota isso propositadamente, já vem na cultura. Um exemplo: por que a mãe pede para a filha

arrumar a cama dela e a do irmão, e não o contrário?

Tem algum reca-do para as mu-

lheres leitoras da Revista do Consulado?

Que elas se conscientizem de que devem buscar seus di-reitos. Busquem, em suas ci-dades, os movimentos de mu-lheres, para que juntas possam reivindicar a implementação da lei em seu município, para que ele tenha condições de atender a todas essas mulheres vítimas de violência.

Maria da Penha, líder de movimentos de defesa dos direitos da mulher.

P Á G I N A S C O L O R I D A S P Á G I N A S C O L O R I D A S

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16 REVISTA DO INSTITUTO 17CONSULADO DA MULHER

H A H A H A P R A T I Q U E A I D É I A D A

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cion

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Santina, voluntária do Consulado.

Santina

Dicas• O *Ponto Baixo é uma das técnicas mais comuns e usadas no crochê. Se você ficou com dúvidas em como fazê-lo, acesse o site do Consulado da Mu-lher, no endereço www.consuladoda-mulher.org.br, e confira uma explicação sobre esse tipo de ponto.

• A artesã Santina Menon, além de ofi-cinas, também comercializa seus produ-tos. Para falar com ela, ligue para (47) 8406-3434

Crochê em lacre de

latinhas

Simples e barata. É assim que a técnica usada por Santina Me-non, 51, voluntária do Consula-do da Mulher de Joinville, pode s e r d e s c r i t a . Com criativida-de e habilidade no crochê, la-cres de latinhas de alumínio e li-nha de algodão transformam-se em bolsas, car-teiras e até tiras de chinelos.

“Tudo isso pode aumentar a renda. Sempre incentivo as par-

ticipantes para que aprendam a fazer artesanato e já comecem a gerar renda”, explica Santina.

Você vai pre-cisar de:

• Lacres de lati-nhas de alumínio

• Linha para cro-chê/tricô (prefira as mais finas)

• Agu lha para crochê 1.0 mm

Obs.: Durante o trabalho, é utilizado o Ponto Baixo*

Cantinho X Alimentação

Salgados assados, coxinhas, lanches, pastéis, sucos, café-da-manhã e muito mais! Aceitamos encomendas de salgadinhos para eventos e festas.

Av. Visconde de Rio Claro 150, esquina da Rua 2 Rio Claro - SP - Fones (19) 3525-6189 ramal 21 e (19) 9778-3139 (falar com Rita)

Page 10: Não-violência contra a mulher

REVISTA DO INSTITUTO

Comente matéria(s) e/ou a revista. Se você é um(a) participante do Instituto e tam-bém quer falar sobre seus produtos ou serviços, envie-nos seu anúncio. Ele será avaliado, dentro da filosofia do Consulado, para divulgação.

As cartas ou e-mails devem ser enviados com nome completo, RG, endereço e tele-fone. A revista se reserva o direito de, sem alterar o conteúdo, resumir e adaptar os textos publicados. As correspondências devem ser endereçadas à seção Cartas, na Rua Olímpia Semeraro, 675, Jardim Santa Emília, CEP: 04183-901, aos cuidados da Comunicação do Consulado da Mulher, pelo e-mail [email protected], ou entregues diretamente na recepção das unidades do Instituto em Rio Claro (SP), Joinville (SC) e Manaus (AM).

C A R T A D E L E I T O R ( A )

“Gosto de ler a Revista do Consu-lado da Mulher, pois está sempre atu-alizada, com notícias e informações importantes para serem utilizadas no dia-a-dia, incluindo as informações sobre geração de renda e cidadania. É uma ótima oportunidade para atu-alização das informações e comu-nicação entre os(as) participantes e voluntários(as) das diferentes casas.”Guilheme Minoru Takeda, 26 anos, voluntário

do Consulado da Mulher de Rio Claro.

“Fiquei bastante motivada com as informações da revista, principalmente porque mostra a realidade da comu-nidade feminina. Esses relatos podem ser tomados como exemplo e nos en-corajar para que possamos conquistar nosso espaço na sociedade.”

Miracy Tavares, 63 anos, participante do Consulado da Mulher de Manaus.

“A revista traz muitas informações interessantes como as dicas, receita, o passo-a-passo, as histórias das mu-lheres de coragem e isso era o que estava faltando para incentivar outras mulheres. E a revista nos encoraja a praticar o que ela nos oferece.”

Maria de Nazaré Vital, 43 anos, participante do Consulado da Mulher de Manaus.

P R A T I Q U E A I D É I A D A

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19CONSULADO DA MULHER18

Colecione esta idéia!

“Achei muito importante a en-trevista com a ministra Nilcéia Freire, falando sobre a participação da mu-lher na política. Temos que mostrar nossa capacidade para a vida públi-ca, tanto quanto os homens!”

Sueli Libardi, 54 anos, participante do Consulado da Mulher de Joinville.

“A revista fala de tudo um pouco, ainda ensina a fazer artesanato... E isso é bom porque a gente vê as mu-lheres aumentando sua auto-estima, gerando renda, montando seu pró-prio negócio. É um meio de informa-ção e de aprendizado.”

Edjane Gomes de Lima, 30 anos, voluntária do Consulado da Mulher de Joinville.

“Acredito que a revista agradou pelo seu modo simples e dinâmico de colocar os temas. Acompanhar as publicações é aprender muito. A Revista do Consulado da Mulher tem muita informação sobre empre-endimentos solidários, microcrédito, desenvolvimento social e o papel da mulher na sociedade.”

Luciana Bolognini, 36 anos, participante do Consulado da Mulher de São Paulo.

ERRATA - Na edição nº16 da Revista do Consulado da Mulher, erramos ao incluir a palavra “Públicas” ao nomear a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) na capa da publicação. O texto já foi corrigido na versão eletrônica da revista.

P a r t i c i p e c o m c o m e n t á r i o s e a n ú n c i o s

1. Passe o fio por dentro do lacre com a ajuda da agulha e amarre.

2. Faça o Ponto Baixo de acordo com a foto por oito vezes, para fechar o lacre.

3. Pegue outro lacre vazio, emende e faça o mesmo processo em ponto baixo, dos dois lados do lacre. Não esqueça de “arrematar” (amarrar o fio) no final.

4. Para emendar outros lacres formando uma malha, pegue um novo, faça quatro pontos baixos e, com a ajuda da agulha, passe o fio no meio de outro lacre pronto. Por fim, preencha com mais quatro pontos, para fechar o lacre.

Santina Crochê em lacre de latinhas

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Ano IV Nº 17 Outubro/Novembro 2008

A Revista do Consulado da Mulher é uma publicação bimestral do Instituto do Consulado da Mulher.

Coordenação da publicação Bruno Galhardi e Inês Meneguelli Acosta.

Conselho editorial Célia Regina Lara, Christiano Basile, Dayla C. Souza, Iara Honorato, Leda Böger, Marina Stern , Melissa Pin Lucheti, Louise Assumpção,

Mônica Souza, Paula Watson e Renata Watson.

Fotos Marcelo Caetano (Joinville - SC); Edilson Gusson (Rio Claro - SP); Mônica Souza (Manaus - AM); Páginas coloridas: Bruno Galhardi.

Textos Iara Honorato e Melissa Pin Lucheti: educadoras sociais;

Célia Regina Lara: coordenadora do Consulado de Rio Claro; Juliana Durães: voluntária de SP; Paulo Dalfovo: coordenador de programas sociais;

Louise Assumpção e Mônica Souza: estagiárias.

Projeto gráfico, diagramação e ilustrações Traço Comunicação (www.watsons.com.br)

Tiragem 6.000 exemplares

Instituto Consulado da Mulher • Núcleo São Paulo SP: (11) 3566-1665 • Unidade Rio Claro SP: (19) 3532-4801 • Unidade Joinville SC: (47) 3433-3773 • Unidade Manaus AM: (92) 3651-1556

www.consuladodamulher.org.br

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