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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO PROFISSIONAL ENFERMAGEM ASSISTENCIAL A EFETIVIDADE DE UM PROTOCOLO DE USO DO GEL DE PAPAÍNA A 2% E 4% NA CICATRIZAÇÃO DE ÚLCERAS VENOSAS ANDRÉA PINTO LEITE Orientadora: Profª. Drª. BEATRIZ GUITTON R. B. DE OLIVEIRA Linha de Pesquisa: O cuidado de Enfermagem para os grupos humanos Niterói, RJ 2012

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    MESTRADO PROFISSIONAL ENFERMAGEM ASSISTENCIAL

    A EFETIVIDADE DE UM PROTOCOLO DE USO DO GEL DE PAPANA

    A 2% E 4% NA CICATRIZAO DE LCERAS VENOSAS

    ANDRA PINTO LEITE

    Orientadora: Prof. Dr. BEATRIZ GUITTON R. B. DE OLIVEIRA

    Linha de Pesquisa: O cuidado de Enfermagem para os grupos humanos

    Niteri, RJ

    2012

  • 2

    A EFETIVIDADE DE UM PROTOCOLO DE USO DO GEL DE

    PAPANA A 2% E 4% NA CICATRIZAO

    DE LCERAS VENOSAS

    ANDRA PINTO LEITE

    Orientadora: Prof. Dr. BEATRIZ GUITTON R. B. DE OLIVEIRA

    Dissertao apresentada ao Programa de

    Mestrado Profissional Enfermagem

    Assistencial da Universidade Federal

    Fluminense/RJ como parte dos requisitos

    para a obteno do ttulo de Mestre.

    Linha de Pesquisa: O Cuidado de

    Enfermagem para os grupos humanos

    Niteri, julho de 2012

  • 3

    L 533 Leite, Andra Pinto.

    A Efetividade de um protocolo de uso do gel de papana a 2% e a

    4% na cicatrizao de lceras venosas./ Andra Pinto Leite. Niteri:

    [s.n.], 2012.

    153 f.

    Dissertao (Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial) -

    Universidade Federal Fluminense, 2012.

    Orientador: Profa. Beatriz Guitton Renaud Baptista de

    Oliveira.

    1. lcera varicosa. 2. lcera da perna. 3. Efetividade. 4. Papana.

    5. Enfermagem. I. Ttulo.

    CDD 616.545

  • 4

    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    MESTRADO PROFISSIONAL ENFERMAGEM ASSISTENCIAL

    A EFETIVIDADE DE UM PROTOCOLO DE USO DO GEL DE PAPANA

    A 2% E 4% NA CICATRIZAO DE LCERAS VENOSAS

    Linha de Pesquisa: O cuidado de Enfermagem para os grupos humanos

    Autora: ANDRA PINTO LEITE

    Orientadora: Prof. Dr. BEATRIZ GUITTON R. B. DE OLIVEIRA

    Banca:

    ____________________________________________________

    Profa. Dr

    a. Beatriz Guitton Renaud Baptista de Oliveira

    Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa - UFF

    ____________________________________________________

    Profa. Dr

    a. Maria Mrcia Bachion

    Faculdade de Enfermagem UFG

    _________________________________________________

    Profa. Dr

    a. Dbora Omena Futuro

    Faculdade de Farmcia UFF

    Suplentes:

    ____________________________________________

    Profa. Dr

    a. Marluci Andrade Conceio Stipp

    Escola de Enfermagem Anna Nery UFRJ

    __________________________________________________

    Profa. Dr

    a. Selma Rodrigues de Castilho

    Faculdade de Farmcia UFF

  • 5

    Esta pesquisa representa o desdobramento de duas

    pesquisas, uma sobre o Uso de Biomateriais no

    Reparo Tecidual de Leses Tissulares desenvolvido na

    Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa e no

    Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP) e a outra

    sobre a Implementao e Avaliao de Aes Visando

    a Otimizao da Assistncia Farmacutica, ambos

    com apoio financeiro da FAPERJ, apoio de bolsas pelo

    CNPq e Prmio de Incentivo em Cincias e Tecnologia

    para o SUS 2007, sobre desenvolvimento dos

    hidrogis.

  • 6

    DEDICATRIA

    A Deus,

    Pela fora e sabedoria para enfrentar os desafios na realizao do mestrado.

    Aos meus pais,

    Pelo exemplo de determinao e perseverana mesmo nas horas difceis em busca de seus

    ideais. Amo vocs!

    A minha famlia,

    Por compreender minhas ausncias e pelo apoio incondicional. Te amo!

    Ao meu querido Matheus,

    Pelo apoio, incentivo e por se tornar um presente na minha vida!

    Aos pacientes,

    Por acreditarem e confiarem na perspectiva que lhes foi oferecida, entregando-se e pelo

    carinho to especial demonstrado ao longo do nosso convvio semanal que proporcionou

    tantas boas lembranas.

  • 7

    AGRADECIMENTOS

    Professora e Orientadora Dr Beatriz Guitton,

    Por brilhantemente me guiar nos trilhos da pesquisa, pela dedicao, incentivo e ajuda

    que transcendem a esfera do mestrado, servindo de exemplo para minha trajetria de vida

    pessoal e profissional, pelos muitos dias e noites, sem contar os domingos em que teve que

    abdicar inclusive do seu tempo em famlia para o sucesso do estudo. Muito obrigada de

    corao por tudo e pelo prazer de ser sua orientanda!

    s Professoras Dras

    Dbora O. Futuro e Selma Castilho da Faculdade de Farmcia da

    Universidade Federal Fluminense,

    Pela excelente experincia de multidisciplinariedade proporcionada nas vrias reunies e

    por acreditarem no trabalho, pelas constantes contribuies ao meu crescimento

    profissional e pessoal. Muito obrigada!

    Farmacutica Mestranda Danielle Miura,

    Pelo desenvolvimento das formulaes do gel de papana.

    Acadmica da Faculdade de Farmcia Carina Menegussi,

    Pela intensa dedicao em produzir semanalmente os frascos de gel de papana.

    Muito obrigada!

    s bolsistas de iniciao cientfica em pesquisa Marja Soares e Bruna Barreto e s

    voluntrias de iniciao cientfica Desire Barrocas, Fernanda Pessanha e Vanessa

    Pinheiro,

    Pela imensa contribuio durante a coleta de dados, apoio, incentivo e por se tornarem

    to especiais na minha vida. Muito obrigada, meninas!

    A todas as minhas amigas, em especial, Anamlia, Lorraine e Raquel,

    Que compreenderam as minhas ausncias e que sempre me incentivaram dando foras

    para continuar mesmo nos momentos difceis e delicados da vida. Muito obrigada!

  • 8

    chefia e aos meus amigos queridos, parceiros de planto, do Instituto Fernandes

    Figueira/FIOCRUZ, em especial Enfermeira Rosanna,

    Pela amizade construda ao longo desses trs anos, pelo incentivo constante, pela

    compreenso e carinho nos momentos de dificuldade e por nos tornarmos uma verdadeira

    famlia. Muito obrigada!

    Aos meus queridos professores e, no momento, tambm colegas de trabalho, da Escola

    de Enfermagem Aurora de Afonso Costa Universidade Federal Fluminense, em

    especial professora Mrian da Costa Lindolpho e Vera Saboia,

    Pelos ensinamentos desde a poca da graduao que me proporcionaram evoluir

    academicamente e contriburam para minha busca pela excelncia profissional, alm das

    contribuies pessoais, incentivo e apoio de sempre. Obrigada de corao!

    Aos amigos e amigas conquistados durante o mestrado,

    Pelo acolhimento, incentivo e apoio nessa caminhada. Obrigada!

    Enfermeira Ftima e s Tcnicas de Enfermagem Luzia, Francisca, Eullia e Mrcia,

    do Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP/UFF,

    Por me acolherem de forma to especial, pela amizade construda, pelo carinho e por

    estarem sempre prontas a ajudar, quando necessrio. Muito obrigada!

    A todos da Unidade de Pesquisa Clnica do Hospital Universitrio Antnio Pedro, em

    especial ao Estevo, Clarisse e ngela,

    Por estarem sempre dispostos a ajudar e pelas palavras de incentivo. Obrigada!

    Aos residentes de Enfermagem do Ambulatrio de Reparo de Feridas, em especial,

    Janana, Deyvid, Cntia e Juliana,

    Por participarem auxiliando nas orientaes e curativos aos pacientes, pela amizade e

    pelas contribuies e trocas desenvolvidas durante o curto perodo que convivemos.

    Obrigada!

  • 9

    Trabalho de pesquisa com apoio da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do

    Rio de Janeiro (FAPERJ) e bolsas PIBIC/CNPq.

    Crditos

    Assessoria estatstica:

    Rosangela Aparecida Gomes Martins

    Bioestatstica e Analista de Planejamento em Projetos Cientficos

    Estatstica da Diviso de Pesquisa do HUCFF/UFRJ

    MSc. Estatstica - UFRJ

  • 10

    RESUMO

    Leite AP. A efetividade de um protocolo de uso do gel de papana a 2% e 4% na

    cicatrizao de lceras venosas. [dissertation]. Niteri (RJ): Escola de Enfermagem Aurora

    de Afonso Costa/UFF; 2012.

    As lceras venosas so consideradas um problema de sade pblica pela dificuldade de

    cicatrizao, alta recorrncia, elevado custo de tratamento e grande repercusso na

    qualidade de vida do paciente. A busca de terapias que contribuam para cicatrizao tem

    sido uma constante. Um produto utilizado no tratamento dessas lceras a papana.

    Objetivo geral: Analisar a efetividade do gel de papana a 2% e 4% no reparo tecidual das

    lceras venosas. Mtodo: Pesquisa clnica experimental, prospectiva, com o uso do Gel de

    Papana a 2% e 4% produzido pela Farmcia Universitria, com formulao, conservao e

    distribuio adaptada para manuteno da estabilidade enzimtica. A amostra por

    convenincia foi composta por 16 pacientes atendidos no ambulatrio com 30 lceras

    venosas, maiores que 2 cm2, conforme protocolo. As variveis de interesse foram

    analisadas por meio do teste de Wilcoxon e McNemar, sendo p < 0,05. O projeto foi

    aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa, com o no 196/08. Resultados: Nove (56,25%)

    participantes eram do sexo feminino; com predomnio de idade entre 51 a 59 anos, com

    mdia de 62,31 anos, desvio padro de 10,2; 13 (81,25%) apresentavam ndice de Massa

    Corporal acima do normal; 12 (75%) possuam Hipertenso Arterial Sistmica e quatro

    (25%) Diabetes mellitus associado ou no a outras comorbidades. Quanto s lceras, a

    amostra foi dividida em trs subgrupos, com rea inicial de 2 a 3,9 cm2; de 3,9 a 20 cm

    2; e

    > 20 cm2, sendo que no primeiro subgrupo houve reduo mdia de 1,6 cm

    2 (60%); no

    segundo de 6,5 cm2 (66,6%) e no terceiro 15,7 cm

    2 (23,7%). A reduo mdia na rea das

    30 lceras foi de 7,9 cm2 (50%). Seis (20%) cicatrizaram completamente, com tempo

    mdio de 56,67 dias 9,83, sendo todas menores ou iguais a 4 cm2. Houve reduo

    significativa no tecido de esfacelo de todas as lceras (p < 0,001) e aumento significativo

    no tecido de epitelizao (p < 0,001) do incio para o final do tratamento. Houve tambm

    melhora significativa na profundidade das lceras venosas (p = 0,001), no tipo de exsudato

    (p = 0,0001), na quantidade de exsudato (p < 0,0001) e no edema (p < 0,0001). Ocorreu

    epitelizao da borda de uma (33,33%) das trs lceras que se apresentavam com bordas

    maceradas. Em relao ao relato de dor, de 13 houve melhora em cinco (38,46%); em

    relao ao prurido, de 17 houve melhora em seis (35,29%). Em relao dor aps o uso do

    produto, houve relato de quatro (25%) pacientes, sendo de baixa intensidade. Concluso:

    O gel de papana a 2% e a 4% mostrou ser efetivo na diminuio do esfacelo, favorecendo

    o processo de epitelizao e proporcionando a cicatrizao total de lceras venosas

    menores ou iguais a 4 cm2

    no perodo de 90 dias. A pesquisa contribuiu com evidncias

    cientficas acerca do uso do gel de papana a 2% e a 4% em lceras venosas.

    Descritores: lcera varicosa; lcera da perna; Efetividade; Papana; Enfermagem.

  • 11

    ABSTRACT

    Leite AP. The effectiveness of a protocol of use of papain gel at 2% and 4% in the venous

    ulcers healing. [dissertation]. Niteri (RJ): Aurora de Afonso Costa Nursing School /UFF;

    2012.

    The effectiveness of a protocol of use of papain gel at 2% and 4% in the venous ulcers

    healing

    The venous ulcers are considered a problem in public health for its healing difficulty, high

    recurrence, high cost treatment and big repercussion in the patients quality of life. The

    search for therapies which contribute for the healing has been constant. A product used in

    the treatment of these ulcers is the papain. General objective: Analyze the effectiveness

    of the papain gel at 2% and 4% in the tissue repair of the venous ulcers. Method:

    Experimental clinical research, prospective, with the use of papain gel at 2% and 4%

    produced by the University Pharmacy, with formulation, preservation and distribution

    adapted to maintain the enzymatic stability. The convenience sample was made of 16

    outpatients with 30 venous ulcers, larger than 2 cm2, according to protocol. The variables

    of interest were analyzed through Wilcoxon and McNemar tests, with p < 0,05. The project

    was approved by the Ethics in Research Committee, no 196/08. Results: Nine (56,25%)

    participants were female, with predominance of age between 51 and 59 years old, average

    of 62,31 years old, standard deviation of 10,2; 13 (81,25%) presented body mass index

    above the normal; 12 (75%) had systemic high pressure and four (25%) diabetes mellitus

    associated or not to other co-morbidities. Regarding the ulcers, the sample was divided in

    three subgroups, with initial area from 2 to 3.9 cm2; from 3.9 to 20 cm

    2; and > 20 cm

    2.

    There was an average reduction in the first subgroup of 1.6 cm2 (60%); in the second one

    of 6.5 cm2 (66.6%) and the third one of 15.7 cm

    2 (23.7%). The average reduction in the

    area of the 30 ulcers was of 7.9 cm2 (50%). Six (20%) presented complete healing, with an

    average time of 56.67 days 9.83, all of them smaller or equal to 4 cm2. There was a

    significant reduction of the slough of all the ulcers (p < 0,001) and significant increase of

    the tissue of epithelization. (p < 0,001) from the beginning to the end of the treatment.

    There was also a significant improvement in the depth of the venous ulcers (p = 0,001),

    exudate type (p = 0,0001), in the exudate amount (p < 0,0001) and in the edema (p <

    0,0001). There was epithelization of the edge in one (33.33%) of the three ulcers which

    were macerated. Concerning pain report, out of 13, there was improvement in five

    (38.46%); related to itching, out of 17, there was improvement in six (35.29%). Regarding

    pain after using the product, there were four low intensity reports (25%) by the patients.

    Conclusion: The papain gel at 2% and 4% presented to be effective in the decrease of the

    slough, promoting the epithelization process and providing complete healing of the venous

    ulcers smaller or equal to 4 cm2

    in the period of 90 days. The research contributes with

    scientific evidence about the use of papain gel at 2% and 4% in venous ulcers.

    Descriptors: Varicose Ulcer; Leg ulcer; Effectiveness; Papain; Nursing.

  • 12

    SUMRIO

    1. INTRODUO 24

    1.1 Problema do estudo 25

    1.2 Objeto de estudo 27

    1.3 Justificativa 27

    1.4 Relevncia 28

    1.5 Objetivo geral 29

    2. REVISO DE LITERATURA 30

    2.1 TECNOLOGIAS EM SADE 30

    2.2 AVALIAO DE TECNOLOGIAS EM SADE 31

    2.3 A SADE BASEADA EM EVIDNCIAS 34

    2.4 LCERAS VENOSAS 36

    2.5 PAPANA 38

    3. MTODO 44

    3.1 Tipo de estudo 44

    3.2 Aspectos ticos 44

    3.3 Local da pesquisa 45

    3.4 Populao, amostra e amostragem 46

    3.5 Coleta de dados 48

    3.5.1 Tcnicas de mensurao e variveis de anlise da evoluo das lceras

    venosas

    48

    3.6 Operacionalizao 52

    3.7 Interveno 56

    3.7.1 No Ambulatrio 57

    3.7.2 No domiclio 58

    3.8 Tratamento dos dados 60

    4. RESULTADOS 61

    4.1 Dados sociodemogrficos e clnicos dos pacientes 61

    4.2 Caractersticas das lceras venosas 64

    5. DISCUSSO 96

    6. CONCLUSO 116

  • 13

    7. REFERNCIAS 119

    ANEXOS 130

    APNDICES 135

  • 14

    LISTA DE FIGURAS

    Fig. 1: Bisnagas de 100 g de gel de papana 53

    Fig. 2: Caixa de isopor 53

    Fig. 3: Gelo qumico reutilizvel 53

    Fig. 4: Bolsa trmica 54

    Fig. 5: Bolsa trmica com gelo qumico reutilizvel 54

    Fig. 6: Caixa de isopor com gelo reutilizvel e bisnaga de gel de papana 54

    Fig. 7: Frascos de gel de papana a 4% (p/p) e a 2% (p/p) 55

    Fig. 8: Distribuio das lceras venosas de acordo com a localizao.

    Niteri/RJ, 2011

    66

  • 15

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Evoluo das lceras venosas ao longo de 90 dias, em tratamento

    com o Gel de Papana, conforme protocolo. Niteri/RJ, 2011

    67

    Quadro 2 Evoluo da rea em cm2

    e da alterao tecidual no leito das

    lceras venosas aps tratamento com o Gel de Papana, conforme

    protocolo. Niteri/RJ, 2011

    79

    Quadro 3 Distribuio das lceras venosas de acordo com as variveis

    avaliadas. Niteri/RJ, 2011

    86

  • 16

    LISTA DE FLUXOGRAMAS

    Fluxograma 1 Seleo da amostra. Niteri/ RJ, 2011 47

    Fluxograma 2 Protocolo para uso do Gel de Papana na visita ambulatorial de

    acordo com o tamanho e a quantidade de esfacelo. Niteri/ RJ,

    2011

    56

  • 17

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Grfico 1 Distribuio dos pacientes quanto ao uso de lcool e

    tabaco. Niteri/RJ, 2011

    63

    Grfico 2 Distribuio dos pacientes quanto ao ndice de Massa Corporal.

    Niteri/RJ, 2011

    63

    Grfico 3 Distribuio dos pacientes quanto s doenas de base. Niteri/RJ,

    2011

    64

    Grfico 4 Distribuio dos pacientes quanto ao tempo de existncia das

    lceras venosas. Niteri/RJ, 2011

    65

    Grfico 5 Evoluo da rea das lceras venosas em tratamento com o gel de

    papana, em 90 dias, conforme protocolo. Niteri/RJ, 2011

    68

    Grfico 6 rea da leso no incio e no final do tratamento na amostra total.

    Niteri/RJ, 2011

    70

    Grfico 7 Evoluo das lceras venosas do subgrupo com rea inicial entre 2

    cm2

    a 3,9 cm2. Niteri/RJ, 2011

    71

    Grfico 8 Evoluo das lceras venosas do subgrupo com rea inicial entre

    3,9 a 20 cm2. Niteri/RJ, 2011

    72

    Grfico 9 Evoluo das lceras venosas do subgrupo com rea inicial > 20

    cm2. Niteri/RJ, 2011

    74

    Grfico 10 Delta relativo da rea da leso segundo os subgrupos. Niteri/RJ,

    2011

    75

    Grfico 11 Evoluo das lceras venosas cicatrizadas. Niteri/RJ, 2011 76

    Grfico 12 Distribuio relativa da evoluo dos tecidos na amostra total.

    Niteri/RJ, 2011

    81

    Grfico 13 Distribuio relativa da evoluo das caractersticas das lceras

    venosas, quanto profundidade, tipo e quantidade de exsudato.

    Niteri/RJ, 2011

    84

    Grfico 14 Distribuio relativa da evoluo das caractersticas das lceras

    venosas, quanto pele adjacente, presena de odor ftido, dor e

    dor aps o uso do gel de papana. Niteri/RJ, 2011

    84

  • 18

    Grfico 15 Distribuio relativa da evoluo das caractersticas das lceras

    venosas, quanto ao prurido, ao edema e caractersticas das bordas.

    Niteri/RJ. 2011

    85

  • 19

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Caractersticas sociodemogrficas dos pacientes. Niteri/RJ, 2011 61

    Tabela 2 Faixa etria dos pacientes. Niteri/RJ, 2011 62

    Tabela 3 Relao entre idade x tempo de leso. Niteri/RJ, 2011 65

    Tabela 4 Variao da rea aps 90 dias de tratamento na amostra total (n =

    30). Niteri/RJ, 2011

    69

    Tabela 5 Variao da rea aps tratamento no subgrupo com rea inicial entre

    2 a 3,9 cm2 (n = 10). Niteri/RJ, 2011

    71

    Tabela 6 Variao da rea aps tratamento no subgrupo com rea inicial entre

    3,9 a 20 cm2 (n = 10). Niteri/RJ, 2011

    73

    Tabela 7 Variao da rea aps tratamento no subgrupo com rea inicial > 20

    cm2 (n = 10). Niteri/RJ, 2011

    74

    Tabela 8 Tempo mdio em dias para cicatrizao das lceras venosas (n = 6).

    Niteri/RJ, 2011

    76

    Tabela 9 Intensidade dos tecidos nos momentos inicial e final do tratamento.

    Niteri/RJ, 2011

    80

    Tabela 10 Caractersticas das lceras venosas no momento inicial e final do

    tratamento. Niteri/RJ. 2011

    83

    Tabela 11 Profundidade da lcera e tecido de granulao no incio do

    tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    87

    Tabela 12 Profundidade da lcera e tecido de granulao ao final do

    tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    87

    Tabela 13 Profundidade da lcera e tecido de esfacelo no incio do tratamento

    com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    88

    Tabela 14 Profundidade da lcera e tecido de esfacelo ao final do tratamento

    com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    88

    Tabela 15 Profundidade da lcera e tecido de epitelizao no incio do

    tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    89

    Tabela 16 Profundidade da lcera e tecido de epitelizao ao final do

    tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    89

  • 20

    Tabela 17 Quantidade de exsudato e tecido de granulao no incio do

    tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    90

    Tabela 18 Quantidade de exsudato e tecido de granulao ao final do

    tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    90

    Tabela 19 Quantidade de exsudato e tecido de esfacelo no incio do tratamento

    com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    90

    Tabela 20 Quantidade de exsudato e tecido de esfacelo ao final do tratamento

    com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    90

    Tabela 21 Quantidade de exsudato e tecido de epitelizao no incio do

    tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    91

    Tabela 22 Quantidade de exsudato e tecido de epitelizao no final do

    tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    91

    Tabela 23 Quantidade de exsudato e tipo de exsudato no incio do tratamento

    com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    92

    Tabela 24 Quantidade de exsudato e tipo de exsudato no final do tratamento

    com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    92

    Tabela 25 Edema e prurido no incio do tratamento com gel de papana.

    Niteri/RJ. 2011

    93

    Tabela 26 Edema e prurido no final do tratamento com gel de papana.

    Niteri/RJ. 2011

    93

    Tabela 27 Dor referida aps o uso do gel de papana e dor usual, no incio do

    tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    94

    Tabela 28 Dor referida aps o uso do gel de papana e dor usual, no final do

    tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    94

    Tabela 29 Prurido e caractersticas da pele adjacente no incio do tratamento

    com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    95

    Tabela 30 Prurido e caractersticas da pele adjacente ao final do tratamento

    com gel de papana. Niteri/RJ. 2011

    95

  • 21

    LISTA DE ANEXOS

    Anexo I Parecer do Comit de tica em Pesquisa do Hospital Universitrio

    Antnio Pedro

    131

    Anexo II Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 132

    Anexo III Folder de Orientao para Curativo Domiciliar 133

    Anexo IV Notificao de suspeita de reao adversa a medicamento ou de

    desvio da qualidade de medicamento

    134

  • 22

    LISTA DE APNDICES

    Apndice I PROTOCOLO I DE ADMISSO DO PACIENTE NO ESTUDO 136

    Apndice II PROTOCOLO II DE ACOMPANHAMENTO DAS LESES

    DOS PACIENTES

    137

    Apndice III EVOLUO DAS LCERAS VENOSAS APS 90 DIAS DE

    TRATAMENTO COM O GEL DE PAPANA

    139

  • 23

    LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    ANS Agncia Nacional de Sade Suplementar

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    ATS Avaliao de Tecnologias em Sade

    CEP Comit de tica em Pesquisa

    CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e

    Tecnolgico

    CNS Conselho Nacional de Sade

    DECIT Departamento de Cincia e Tecnologia

    DM Diabetes mellitus

    EEAAC Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa

    FAPERJ Fundao de Amparo Pesquisa do Rio de Janeiro

    HAS Hipertenso Arterial Sistmica

    HUAP Hospital Universitrio Antnio Pedro

    IMC ndice de Massa Corporal

    IVC Insuficincia Vascular Crnica

    MID Membro Inferior Direito

    MIE Membro Inferior Esquerdo

    MMII Membros inferiores

    MS Ministrio da Sade

    PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica

    SCTIE Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos

    SUS Sistema nico de Sade

    TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

    UFF Universidade Federal Fluminense

  • 24

    1. INTRODUO

    As lceras da perna so consideradas feridas crnicas, ou seja, leses que no

    cicatrizam num perodo esperado, levando em mdia mais de oito semanas1. Tambm

    chamadas de feridas complexas, so consideradas atualmente um problema de sade

    pblica, devido a sua incidncia e suas repercusses na qualidade de vida do paciente, sem

    contar o alto custo do tratamento, a perda da capacidade laboral e o aumento de

    aposentadorias precoces2.

    As trs principais etiologias das lceras da perna so: venosa, arterial e neuroptica,

    sendo que a lcera venosa a mais frequente, perfazendo cerca de 75% das causas3.

    Vrios fatores que contribuem para aumentar o risco de aparecimento dessas

    lceras tambm interferem no processo de cicatrizao, tais como: a idade; uso de

    determinados medicamentos, como imunossupressores; tabagismo; comorbidades como o

    Diabetes mellitus, a Hipertenso Arterial Sistmica, a doena vascular perifrica; traumas

    mecnicos; condies nutricionais; radioterapia; percepo sensorial e mobilidade

    prejudicadas; umidade e perfuso tissular diminuda por insuficincias vasculares4-6

    .

    O foco deste estudo o reparo tecidual de lceras venosas, por meio do uso do gel

    de papana. Representa o desdobramento de duas pesquisas que receberam o Prmio de

    Incentivo em Cincias e Tecnologia para o SUS 2007, sobre desenvolvimento dos

    hidrogis: uma sobre o Uso de Biomateriais no Reparo Tecidual de Leses Tissulares

    desenvolvido na Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) e na Unidade

    de Pesquisa Clnica do Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP); outra sobre a

    Implementao e Avaliao de Aes Visando a Otimizao da Assistncia

    Farmacutica. Tais pesquisas foram desenvolvidas com apoio financeiro da Fundao de

    Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e do Conselho Nacional de

    Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq).

    Em 2011, a pesquisa sobre o Hidrogel a 2% produzido pela Farmcia Universitria

    e aplicado no Ambulatrio, intitulada Avaliao de Custo e Efetividade do Hidrogel a 2%

    no Tratamento de lceras da Perna (Cost and Effectiveness Evaluation of Hydrogel 2% on

    Leg Ulcer Treatment)" recebeu o prmio de segundo lugar em Pesquisa, pelo Dermatology

    Nurses' Association, nos Estados Unidos da Amrica.

  • 25

    Em 2012, resultados preliminares deste trabalho foram apresentados no Congresso

    do Dermatology Nurses' Association nos Estados Unidos da Amrica, recebendo o prmio

    de primeiro lugar em Pesquisa.

    1.1 Problema do estudo

    As feridas crnicas so um desafio no s para o paciente, mas tambm para o

    profissional e o sistema de sade1, visto que as leses na pele tem uma ampla gama de

    repercusses que transcendem a esfera fsica, afetando tambm as dimenses

    psicoemocional e social de seus portadores7. Dependendo da leso, as lceras podem

    causar dificuldades para a pessoa se mobilizar, absentesmo ao trabalho e limitaes nas

    atividades sociais7-9

    .

    Nos Estados Unidos, bilhes de dlares so gastos anualmente no cuidado s

    feridas crnicas10

    . No Brasil, embora se desconheam os gastos com esses tratamentos,

    considera-se que sejam elevados, repercutindo na qualidade de vida do paciente e da sua

    famlia11

    .

    Levando em considerao o processo de envelhecimento fisiolgico e sua relao

    direta com a diminuio da capacidade de recuperao tecidual, considera-se que este

    problema merea ateno especial medida que aumenta a longevidade da populao

    brasileira e mundial5.

    Estima-se para a populao brasileira, em 2020, mais de 30 milhes de idosos,

    correspondendo a quase 13% da populao12

    . Nos Estados Unidos, em 2002, estimava-se

    que 1% da populao geral e 3,5% das pessoas idosas com mais de 65 anos tinham lceras

    venosas5.

    Um dos fatores predisponentes importante para o aparecimento de feridas o

    Diabetes mellitus e segundo dados do Ministrio da Sade, em 2007 havia 5 milhes de

    diabticos, sendo 7,6% da populao entre 30 e 69 anos. Estes dados aumentam a cada

    ano. H previso de que 15% destes podero desenvolver lceras13

    .

    O enfermeiro, como parte da equipe multiprofissional, possui um papel

    fundamental na preveno e no cuidado das leses de pele. de sua responsabilidade

  • 26

    monitorar a integridade da pele, planejar, implementar e avaliar intervenes para sua

    manuteno4.

    Para tanto, faz-se necessrio que os enfermeiros mantenham atualizados seus

    conhecimentos, para que possam exercer uma assistncia de enfermagem fundamentada

    em evidncias cientficas, que proporcionem segurana, efetividade e menor custo.

    H diversos tipos de coberturas e produtos utilizados para realizao de curativos e

    a escolha do enfermeiro deve ser realizada aps avaliao criteriosa da pessoa e sua ferida.

    Nos casos de tecidos necrticos e desvitalizados, inquestionvel a necessidade de

    realizao de algum mtodo de desbridamento do leito das feridas para auxiliar no

    processo de cicatrizao tissular. No entanto, a eficcia e a segurana da utilizao dos

    mtodos de desbridamento em feridas crnicas permanecem desconhecidas, uma vez que

    faltam ensaios clnicos bem delineados3.

    Um dos obstculos cicatrizao das lceras venosas o processo inflamatrio

    prolongado e a presena de esfacelo. Vrios estudos tm sido desenvolvidos para avaliar

    produtos com ao desbridante e cicatrizante, entre eles a papana, que provm do ltex do

    fruto verde do mamoeiro (Carica papaya), encontrado comumente no Brasil. um agente

    desbridante qumico, cujo uso teve incio no Brasil em 1983 e aps vrios estudos de

    mbito nacional e internacional, tem sido reconhecido pela sua eficcia em acelerar o

    processo de cicatrizao de feridas, principalmente, as crnicas7.

    A papana tem sido considerada um produto de baixo custo final sendo consumida

    na rede hospitalar e ambulatorial de sade, com uso difundido por dcadas14

    . Trata-se de

    um desbridante qumico, que, em baixas concentraes, pode ser utilizada em tecido de

    granulao, promovendo a epitelizao da ferida15

    .

    Entretanto, um dos maiores desafios para o uso desta substncia a manuteno da

    estabilidade da sua ao enzimtica. Outras questes que permancem sem resposta a

    melhor forma de sua aplicao e a concentrao adequada.

    A apresentao e a forma de utilizao da papana pelos enfermeiros variou muito

    ao longo dos anos, primeiramente foram utilizados a polpa do fruto e o p diludo, com

    cuidados de armazenamento e diluio a fim de manter a estabilidade enzimtica da

    papana que proporciona a protelise e a cicatrizao14

    .

  • 27

    Ainda hoje, h poucos estudos clnicos acerca do gel de papana como tecnologia

    para uso em curativos e no h um consenso da sua forma de utilizao entre os

    enfermeiros16

    .

    A primeira formulao da papana em gel surgiu em 1993, facilitando o uso e

    mantendo por mais tempo a estabilidade enzimtica da papana17

    . Apesar disso, estudos

    com desenvolvimento de gis de papana apontam a dificuldade de manuteno da

    concentrao adequada e da atividade enzimtica durante o armazenamento da papana

    mesmo na formulao em gel18

    .

    Diante disso, professoras pesquisadoras da Escola de Enfermagem e da Faculdade

    de Farmcia da UFF, do Grupo de Pesquisa em Feridas, Biomateriais e Pesquisa Clnica na

    Sade e na Enfermagem vem estudando a produo e utilizao da papana em feridas,

    com desenvolvimento do produto na Farmcia Universitria. Nessa pesquisa, sero

    estudados os gis de papana nas concentraes a 2% e a 4%, com controle da estabilidade

    enzimtica.

    1.2 Objeto de estudo

    A efetividade de um protocolo de uso do gel de papana a 2% e 4% no processo de

    cicatrizao de lceras venosas no perodo de 90 dias.

    1.3 Justificativa

    Este estudo servir como fonte de consulta sobre o uso do gel de papana a 2% e

    4% e contribuir para o conhecimento da efetividade do gel de papana nessas

    concentraes no tratamento de lceras venosas e produzir subsdios para deciso clnica

    sobre sua utilizao. Alm disso, servir como base para realizao de pesquisas futuras

    acerca do gel de papana em lceras venosas.

  • 28

    1.4 Relevncia

    Foi realizada uma reviso sistemtica com levantamento bibliogrfico manual e

    eletrnico de estudos primrios, em portugus, ingls e espanhol, sem recorte temporal,

    entre os dias 13 e 14 do ms de julho de 2011, utilizando os seguintes descritores, tambm

    como palavra: Carica; Papana e Cicatrizao, alm dos Mesh terms na MEDLINE

    (Carica; Papain e Wound Healing). A busca foi realizada nas seguintes bases de dados:

    Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade (LILACS); Portal de

    Evidncias com foco na Cochrane (COCHRANE); ndice Bibliogrfico Espaol en Ciencias de

    la Salud (IBECS); Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line (MEDLINE) via

    Pubmed e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL). Foram

    pesquisados 9145 artigos que tratavam da papana e cicatrizao de feridas, sendo

    encontrados apenas 17 que tratavam sobre a papana e a cicatrizao de feridas em

    humanos. Os artigos indicaram que a papana foi utilizada em feridas de diversas

    etiologias, em todas as fases do processo de cicatrizao e em pacientes de diferentes

    faixas etrias, como recm-nascido, adultos e idosos, porm sem um padro de formas e

    apresentao para uso do produto, j que foram utilizadas polpa do mamo verde, p, gel,

    creme associado ureia com ou sem clorofila, e spray19

    .

    Desta forma, observa-se que embora a papana j seja usada h dcadas, ainda h

    poucos estudos que avaliem com preciso a efetividade da papana, principalmente na

    formulao em gel, no processo de cicatrizao de feridas, especificamente das lceras

    venosas.

    Diante disso, surge a seguinte questo: A utilizao do Gel de Papana a 2% e 4%

    em pacientes com lceras venosas efetivo no processo de cicatrizao?

    Portanto, essa pesquisa proporcionar evidncias cientficas sobre o uso do gel de

    papana e sua efetividade, contribuindo para atualizao do conhecimento dos enfermeiros

    e acadmicos de enfermagem e oferecendo subsdios para tomada de deciso e novas

    pesquisas.

    Hiptese

    O gel de papana a 2% e 4% efetivo na cicatrizao das lceras venosas.

  • 29

    1.5 Objetivo geral

    Analisar a efetividade do gel de papana a 2% e 4% no reparo tecidual das lceras

    venosas.

    Objetivos especficos

    Avaliar a evoluo da cicatrizao das lceras venosas; percentual de lceras

    cicatrizadas; tempo mdio para cicatrizao e alterao do tipo de tecido no leito das leses

    tratadas com o gel de papana a 2% e 4%;

    Relacionar os efeitos do uso do protocolo do gel de papana quanto profundidade;

    tipo e quantidade de exsudato da leso; odor; dor; edema; reaes adversas como prurido e

    dor aps o uso do produto e caractersticas das bordas das lceras e da pele adjacente.

  • 30

    2. REVISO DE LITERATURA

    2.1 TECNOLOGIAS EM SADE

    As ltimas dcadas tem presenciado um processo de transformao e de inovao

    tecnolgica sem precedentes, inclusive na rea de sade. A cada dia, mais tecnologias em

    sade so lanadas no mercado.

    Consideram-se como tecnologias em sade: equipamentos, medicamentos, materiais,

    rteses, prteses, insumos e procedimentos mdicos-cirrgicos utilizados na prestao de

    servios de sade e voltados para o suporte, organizao e administrao de servios de

    sade20

    .

    As tecnologias em sade tambm podem ser consideradas como um conjunto

    amplo de elementos, de conhecimentos concretamente incorporados em produtos,

    conhecimentos usados no cuidado, sistemas organizacionais e de apoio. Portanto,

    tecnologia a aplicao prtica do conhecimento21

    .

    Classificao das Tecnologias em Sade

    As tecnologias em sade podem ser classificadas, de acordo com a sua natureza

    material, seu propsito e seu estgio de difuso:

    Natureza material:

    Podem ser medicamentos, procedimentos, sistemas organizacionais.

    Propsito:

    Preventivas: preveno antes que ocorra a doena, reduzindo o risco para que ocorra,

    limitando sua extenso e/ou sequela;

    Screening: deteco precoce de doenas ou anormalidades em pessoas assintomticas;

    Diagnsticas: identificao da causa ou natureza da doena em pessoas que j

    apresentam sinais e/ou sintomas;

  • 31

    Teraputicas: usadas para melhorar ou manter o estado de sade, evitar deteriorao ou

    uso paliativo;

    Reabilitao: restaurar, manter ou melhorar a funo mental ou fsica da pessoa

    deficiente e seu bem-estar.

    Estgio de Difuso:

    Futuras: trata-se de projetos, ainda em estgio conceitual. a fase mais inicial do

    desenvolvimento;

    Experimentais: estudos em laboratrio ou em animais;

    Investigacionais: avaliao clnica inicial (em humanos);

    Estabelecidas;

    Obsoletas: tecnologias que foram substitudas por outras ou se apresentaram como

    ineficazes ou prejudiciais.

    Muitas vezes, essas fases no so bem definidas e determinadas tecnologias no

    perpassam por todo esse ciclo21

    .

    As tecnologias tambm podem ser de baixa ou de alta complexidade, sendo as

    ltimas de maior custo.

    2.2 AVALIAO DE TECNOLOGIAS EM SADE

    Apesar de trazer inegveis benefcios longevidade e qualidade de vida da

    populao, a incorporao de tecnologias nos servios de sade tem sido considerada como

    uma das razes para o crescimento exponencial dos gastos com sade22

    .

    A fim de garantir uma incorporao mais adequada e uma utilizao mais racional

    dos recursos tecnolgicos em sade, faz-se necessrio executar uma avaliao rigorosa

    dessas tecnologias.

    Nesse contexto, a Avaliao de Tecnologias em Sade (ATS) um subsdio

    importante para tomada de decises quanto incorporao de uma tecnologia e elaborao

    de diretrizes clnicas23

    .

  • 32

    Este termo, Avaliao de Tecnologias em Sade, foi formalmente conceituado pela

    primeira vez em 1976, mas o crescimento desse conceito foi notvel na dcada de 90,

    especialmente nos pases europeus, ganhando visibilidade a cada dia24

    .

    A Avaliao de Tecnologias em Sade um campo multidisciplinar que aborda os

    impactos da tecnologia, considerando o seu contexto de cuidados de sade especficos,

    bem como as alternativas disponveis. So avaliados os contextos econmico,

    organizacional, social, tico e impactos micro e macro-econmicos22

    .

    O uso da Avaliao de Tecnologias em Sade de fundamental importncia porque

    evita a incorporao indiscriminada de tecnologias em sade, o que causaria um custo

    elevado e desnecessrio aos sistemas de sade; avalia o impacto econmico-financeiro de

    tecnologias de alto custo; gerencia os aumentos dos gastos em sade atravs de estudos

    sobre as alteraes do perfil demogrfico, epidemiolgico e racionaliza a tecnificao do

    cuidado22

    .

    Objetivos da Avaliao de Tecnologias em Sade

    A ATS tem como objetivo principal preservar a segurana do paciente, garantir a

    efetividade da tecnologia e seu uso apropriado. Como objetivos secundrios se encontram

    as avaliaes de custo x benefcio; a proviso de subsdios para tomada de deciso para

    incorporao de tecnologias e o gerenciamento de recursos em sade; alm de contribuir

    com a formulao de polticas de sade.

    Visa sintetizar os conhecimentos produzidos por meio de pesquisas, que podem

    analisar uma tecnologia mediante seus efeitos benficos (eficcia e acurcia) e indesejados

    (colaterais e adversos), a anlise da efetividade, e o exame comparativo da relao desses

    efeitos, e do valor atribudo a esses efeitos, com os gastos correspondentes de recursos

    (anlises custo-efetividade e custo-utilidade) para diferentes alternativas tecnolgicas,

    visando o emprego de melhores tecnologias de ateno sade (promoo e preveno)24

    .

    Ao ser inserida uma tecnologia, alguns itens devem ser avaliados, como: as

    propriedades tcnicas da tecnologia (desempenho, especificaes, confiabilidade,

    facilidade de uso, manuteno); segurana clnica; eficcia (testada em condies ideais),

    efetividade (condies reais) e eficincia, ou seja, a relao entre os custos decorrentes da

    proviso de um cuidado e os benefcios advindos do mesmo.

  • 33

    Alm disso, os aspectos sociais e ticos tambm devem ser avaliados, bem como os

    impactos macro e microeconmicos atribudos tecnologia. Em vista disso, alguns pontos

    devem ser considerados como: os critrios de seleo dos pacientes e de suspenso do

    tratamento; alocao de recursos escassos e tecnologias custosas e/ou no curativas e o

    acesso no equitativo.

    Portanto, em virtude das importantes implicaes econmicas, ticas e sociais

    relacionadas incorporao das tecnologias em sade prtica e aos sistemas de sade,

    uma avaliao dessas tecnologias em suas diversas dimenses e a regulao dos processos

    de incorporao e utilizao so elementos essenciais para uma prtica clnica mais efetiva,

    menos iatrognica e mais racional.

    Avaliao Tecnolgica em Sade no contexto brasileiro

    O Brasil, bem como os demais pases, tem elaborado polticas que possam

    implementar o uso da ATS no processo decisrio quanto incorporao e a continuidade

    de uso de tecnologias em sade.

    Nesse contexto, as avaliaes econmicas so um importante instrumento nos

    processos de deciso e alocao de recursos em sade, porque permitem identificar e

    mapear problemas e oportunidades para uso e aplicao de solues tecnolgicas,

    baseadas na avaliao da efetividade, dos custos e dos impactos do uso de uma tecnologia

    no sistema de sade, permite tambm o aprimoramento das polticas de sade, aumentando

    a eficincia e a efetividade dos servios e a qualidade do cuidado em sade prestado25

    .

    A Portaria n 2.690, de 5 de novembro de 2009, institui, no mbito do Sistema

    nico de Sade (SUS), a Poltica Nacional de Gesto de Tecnologias em Sade26

    . Este

    processo de gesto est articulado nas trs esferas de gesto do SUS, e implementado luz

    dos princpios de universalidade, equidade e integralidade27

    .

    O Ministrio da Sade, por meio do Departamento de Cincia e Tecnologia

    (DECIT), da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos (SCTIE), coordena,

    em mbito nacional, as aes de avaliao de tecnologias em sade.

    Em rgos como a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) e na

    Agncia Nacional de Sade Suplementar (ANS), as diretrizes da Poltica Nacional de

    Gesto de Tecnologias em Sade so de carter recomendatrio, ainda que esses rgos

  • 34

    sejam coordenados pelo DECIT. As aes articuladas so subsidiadas por um Grupo de

    Trabalho Permanente de Avaliao de Tecnologias em Sade. Uma rede de centros

    colaboradores e instituies de ensino e pesquisa no Pas, denominada Rede Brasileira de

    Avaliao de Tecnologias em Sade (REBRATS) responsvel pela gerao e sntese de

    evidncias cientficas no campo de Avaliao de Tecnologias em Sade26

    . Alm disso, a

    REBRATS tem como princpios norteadores a qualidade e a excelncia na pesquisa,

    poltica e gesto de tecnologias, no tempo oportuno e no contexto da ateno prestada28

    .

    2.3 A SADE BASEADA EM EVIDNCIAS

    Durante muitos anos, o atendimento em sade se baseava na experincia

    profissional e na opinio de especialistas. Este processo de tomada de deciso coloca em

    segundo plano a busca por evidncias cientficas que comprovem qual a melhor escolha.

    Faz-se necessrio, ento, delimitar quais os procedimentos que realmente tem resultados

    positivos, so seguros e que possuem o menor custo possvel.

    Atualmente, os livros apesar de serem tradicionalmente fontes confiveis, tornam-

    se rapidamente desatualizados e com o aumento da produo de artigos e a valorizao da

    busca pelas evidncias cientficas, torna-se fundamental uma avaliao crtica da qualidade

    das informaes encontradas29

    .

    Esta preocupao faz parte de um movimento criado na dcada de 1990, derivado

    da epidemiologia clnica, chamado de Medicina Baseada em Evidncias (MBE), que

    buscava organizar as informaes mais relevantes e as condutas em sade mais eficientes,

    ou seja, que oferecessem uma melhor resposta ao paciente e fossem mais seguras e de

    custo adequado29

    .

    Essa busca pela melhor evidncia, no se restringe aos mdicos, tambm

    preocupao dos demais profissionais da sade. A Sade Baseada em Evidncias busca

    integrar a melhor evidncia disponvel experincia clnica e s caractersticas individuais

    de cada paciente, o qual deve participar do processo de deciso e ter acesso s fontes de

    conhecimento30

    .

  • 35

    O enfermeiro e a prtica baseada em evidncias

    Os enfermeiros exercem um papel fundamental na avaliao de muitos produtos

    que so inseridos no mercado, como coberturas para curativos, dispositivos de acesso

    venoso e outras tecnologias utilizadas diretamente na assistncia de enfermagem.

    As Normas Internacionais de Boas Prticas Clnicas, que so um conjunto de

    normas e orientaes ticas e cientficas, preconizam a existncia de uma equipe

    multiprofissional (mdicos, enfermeiros, farmacuticos, estatsticos, auxiliares de

    enfermagem, tcnicos de informtica, psiclogos, dentre outros) bem treinada para

    conduo adequada de uma pesquisa clnica30

    .

    Nesse sentido, a busca por evidncias cientficas na literatura pode auxiliar no

    processo decisrio e servir de estmulo para que novas pesquisas sejam realizadas para

    comprovar a efetividade de algumas tecnologias em uso e a insero de outras.

    Faz-se necessrio que os enfermeiros se atentem aos nveis de evidncias dos

    estudos encontrados, pois de acordo com o tipo de estudo, possvel saber o nvel de

    confiabilidade e validade. Os estudos so classificados de acordo com o grau de evidncia

    a seguir, do maior para o menor: Metanlises, Revises sistemticas, Ensaios clnicos,

    Coorte, Caso-controle, Estudo de casos e Opinio de especialistas29

    .

    Os enfermeiros devem se esforar para produzir, quando possvel, estudos com

    maior grau de evidncia para avaliar a efetividade de intervenes de sade, como os

    ensaios clnicos randomizados e controlados, considerados padro-ouro na medicina

    baseada em evidncias31

    .

    Alm disso, o enfermeiro tambm pode atuar em estudos clnicos como membro da

    equipe multiprofissional, exercendo diversas atividades, como a operacionalizao da

    pesquisa clnica e incorporao de protocolos clnicos rigorosos, visando evitar desvios,

    falhas e vieses, com dedicao, responsabilidade e compromisso com a autenticidade dos

    registros, ateno e respeito aos direitos e bem-estar dos sujeitos. Alm de executar

    atividades de monitoramento, superviso, capacitao profissional, preparo de artigos

    cientficos e desenvolvimento de novos projetos e subprojetos de pesquisa32

    .

    Para tanto, faz-se necessrio ao enfermeiro contnuo aperfeioamento, boa

    interao, estabelecimento de vnculo entre os sujeitos da pesquisa e a equipe

  • 36

    multidisciplinar, proporcionando credibilidade equipe e desenvolvimento de confiana do

    paciente para adeso interveno32

    .

    2.4 LCERAS VENOSAS

    As lceras venosas acometem uma grande parcela da populao, com significante

    impacto econmico e social, tanto para o paciente como para o sistema pblico de sade.

    So feridas crnicas, de elevada incidncia clnica, que trazem no s sofrimento fsico ao

    paciente, como afetam sua qualidade de vida, trazendo tambm prejuzos ao seu

    desenvolvimento profissional, pelas constantes recidivas e tratamento prolongado.

    Consideradas um problema de sade pblica, so a causa mais comum de lceras de

    membros inferiores33

    , pode atingir cerca de 75% das causas de lceras, deve ser tratada por

    uma equipe multiprofissional. Sua incidncia maior em pacientes com mais de 65 anos,

    chegando a 4% nessa populao e em menores, 0,06% a 2%34

    .

    Os estudos quanto aos dados epidemiolgicos da populao brasileira ainda so

    incipientes, mas estima-se que 3% da populao seja portadora de lceras venosas e essa

    estimativa se eleva para 10% em diabticos. Em torno de quatro milhes de pessoas so

    portadoras de leses crnicas ou possuem algum tipo de complicao no processo de

    cicatrizao2.

    Dados demonstram que a incidncia de insuficincia venosa crnica de 5,9% e a

    prevalncia de lcera venosa gira em torno de 1% no mundo ocidental, sendo mais

    frequente nos idosos35

    .

    A causa mais comum para o seu desenvolvimento a Insuficincia Venosa

    Crnica, precipitada pela hipertenso venosa. Essas lceras atingem 0,1 a 0,5% da

    populao adulta em fase produtiva e, com o passar dos anos, a incidncia aumenta. H

    maior prevalncia de lceras no sexo feminino, chegando proporo de 2,6:1; a maioria

    dos pacientes possui a ferida h mais de cinco anos11, 36

    . H elevada taxa de recidiva, com

    cerca de 70% at o segundo ano aps a cicatrizao2.

    A etiopatogenia da lcera venosa est relacionada com a disfuno da bomba

    muscular da panturrilha, que leva hipertenso venosa nos membros inferiores. Essa

  • 37

    bomba o mecanismo primrio de retorno de sangue dos vasos dos membros inferiores ao

    corao, atravs de sistema venoso profundo e superficial, de veias comunicantes e

    msculos da panturrilha3.

    As lceras venosas possuem desenvolvimento lento, com suas principais causas:

    doena varicosa primria e efeitos tardios relacionados com a trombose venosa profunda

    (sndrome ps-trombtica ou ps-flebtica). Os traumas so comumente fatores

    desencadeantes das lceras venosas37

    .

    Possui como caractersticas clnicas, formato irregular, tendendo a superficialidade,

    com bordas definidas, tecido desvitalizado e tecido de granulao no leito, com exsudato

    de quantidade varivel e amarelado. Podem ser nicas ou mltiplas, de localizao variada

    sendo mais comum na regio maleolar. O edema frequentemente est presente

    principalmente ao final do dia34

    .

    Na regio perilesional, a pele tende a ser purprica e hiperpigmentada, com

    dermatite ocre, podendo apresentar quadro caracterizado por eritema, descamao, prurido

    e exsudato chamado de eczema de estase. A dor piora ao final do dia com a posio

    ortosttica e melhora ao se elevarem os membros. Endurecimento e fibrose dos membros

    inferiores podem estar presentes dando ao tero distal da perna do indivduo aspecto de

    garrafa invertida, fenmeno identificado como lipodermatosclerose3,33

    .

    O tratamento da dor est baseado na reduo do edema atravs da terapia

    compressiva, pelo uso de meias elsticas, ataduras compressivas elsticas ou inelsticas e

    compresso pneumtica33

    .

    A abordagem do leito da lcera venosa visa otimizar o processo de cicatrizao,

    atravs da retirada de esfacelo e tecidos desvitalizados; manuteno do meio mido, que

    favorece a angiognese e alvio da dor, alm de proliferao de queratincitos e tecido de

    epitelizao3. O repouso com as pernas elevadas 20 cm acima do corao em intervalos de

    15 a 30 minutos, trs a quatro vezes por dia e durante a noite, melhora a perfuso e o

    retorno venoso, diminuindo o edema e a incidncia de recidivas de lceras e aparecimento

    de novas leses33

    .

  • 38

    2.5 PAPANA

    A enzima conhecida por papana provm do ltex do mamoeiro (Carica papaya),

    encontrado comumente no Brasil. A aplicao da papana no tratamento de feridas teve seu

    inicio em 1983. Desde esta data vrios estudos nacionais e internacionais tm sido

    realizados para a ampliao do conhecimento sobre sua eficcia em acelerar o processo de

    cicatrizao. Os melhores resultados so observados no tratamento de lceras crnicas38

    .

    Lina Monetta foi a primeira enfermeira brasileira a publicar estudos utilizando

    primeiramente a polpa do mamo verde in natura diretamente sobre a leso sem qualquer

    processamento anterior do material15

    e depois foi utilizada a papana em p diluda em

    gua bidestilada em leses teciduais39.

    J em 1987, a autora salientava a necessidade de avaliar o paciente, quanto aos

    fatores que interferem na cicatrizao, como idade, estado nutricional, patologias

    associadas e as caractersticas das leses, alm da escolha do tratamento mais eficaz para

    cicatrizao de leses. Alm disso, naquela poca, era forte a tendncia de aproveitar os

    recursos naturais na teraputica e a investigao quanto ao uso de substncias da medicina

    tradicional, de origem vegetal, animal e mineral15,39

    .

    Propriedades fsico-qumicas

    A papana uma mistura complexa de enzimas proteolticas e peroxidases

    existentes no ltex do mamoeiro, conhecido popularmente como leite de mamo. Por

    meio de sua ao enzimtica, esta enzima provoca a protelise. Hidrolisa ligaes

    peptdicas de aminocidos hidrofbicos na posio P2 e, preferencialmente, aminocidos

    bsicos na posio P1, da sua ao desbridante na ferida40

    .

    Uma das preocupaes quanto ao uso da papana era a possibilidade de ser lesiva ao

    tecido sadio devido ao fato de tratar-se de uma enzima. Esta hiptese, porm, foi

    descartada devido existncia da 1-antitripsina, uma antiprotease plasmtica, presente

    somente no tecido epidrmico sadio que inativa as proteases, impedindo um efeito lesivo

    da papana15

    . Alm disso, um estudo in vitro avaliou a segurana do uso da papana na pele

    humana, verificando as alteraes celulares ocorridas aps 4, 24 e 48 horas de contato da

    pele com uma soluo de papana a 0,2%, concluindo que embora haja uma reao de

  • 39

    protelise do estrato crneo, a papana pode ser seguramente aplicada sobre a pele41

    . No

    caso das lceras, esse fator importante, pois demonstra o efeito desbridante seletivo da

    papana, que ter sua ao somente no tecido desvitalizado, esfacelo, presente no leito da

    lcera, sem alterar o tecido de epitelizao neoformado.

    A atividade enzimtica decorrente principalmente da presena de um radical

    sulfidrila (SH) pertencente ao aminocido cistena. Por isso, aps a diluio apresenta odor

    caracterstico semelhante ao enxofre. Sua associao com outras substncias se torna difcil

    e exige ateno do enfermeiro porque a papana inativada ao reagir com agentes

    oxidantes como o ferro, o oxignio, derivados de iodo, gua oxigenada e nitrato de prata,

    luz e calor38

    .

    Formas de apresentao

    As formas de apresentao da papana foram se aperfeioando ao longo do tempo.

    H cinco formas de apresentao da papana descritas na literatura para uso em curativos:

    in natura (polpa de mamo verde), em p, em gel, em creme associado ureia e/ou

    clorofila e spray (no comercializada no Brasil). As preparaes contendo papana no so

    produzidas industrialmente no Brasil, sendo vendidas apenas em Farmcias de

    Manipulao.

    A forma in natura, ou seja, a polpa sem nenhum tipo de processamento teve seu

    registro cientfico de uso, no Brasil, em apenas um paciente, visto que naquela poca j

    existia a forma em p e houve receio de que o uso da forma in natura pudesse aumentar o

    risco de infeco, optando-se pelo uso da papana em p15

    .

    Nessa apresentao, a papana consiste em um p amorfo, levemente higroscpico,

    branco ou branco acinzentado, solvel em gua. Essa soluo apresenta um aspecto que

    varia de incolor a amarela clara pouco opaca. parcialmente solvel em glicerina. A

    soluo aquosa a 2% possui um pH de 4,8 a 6,2. O p deve ser mantido livre da luz e

    umidade, em recipiente fechado e refrigerado42

    .

    Desde os primeiros estudos realizados com a aplicao da papana, a diluio era

    feita no momento da aplicao e utilizada o mais rpido possvel15,39

    . Recomenda-se o uso

    de frascos plsticos, opacos e pequenos7,15

    . Apenas um estudo refere guarda da soluo

    para uso por 12 horas em temperatura ambiente, em frascos escuros17

    .

  • 40

    A associao de clorofila com a ureia e a papana tem como objetivo a reduo do

    odor da ferida, o aumento do efeito anti-inflamatrio e da granulognese43-44

    . A ureia

    desnatura protenas por ao solvente e desnatura material necrosado permitindo que fique

    mais susceptvel a digesto enzimtica. A combinao da papana com a ureia pode ser

    duas vezes mais eficaz que a papana pura45

    . A papana tambm tem sido usada em

    associao com o silicato de magnsio com maximizao da cicatrizao da ferida46

    .

    A maioria das enzimas no estvel em temperatura ambiente, e perdem sua

    atividade biolgica num curto perodo de tempo. As solues de papana preparadas com

    gua destilada ou soro fisiolgico tambm apresentam pouca durabilidade, pois a soluo

    de papana a 2% em soro fisiolgico armazenada a 22C possui estabilidade de somente 6

    horas47

    .

    O uso do gel de papana tem se tornado uma tendncia no Brasil, com muitos

    estudos sendo desenvolvidos para facilitar o uso e diminuir a manipulao do p da

    papana, buscando manter por mais tempo a estabilidade da enzima17

    .

    A formulao do gel de papana a 1%, tendo o Carbopol

    940 como agente

    gelificante, manteve-se estvel somente quando armazenado em baixa temperatura (4C).

    Este gel, quando submetido a temperaturas de 30C ou 40C apresentou reduo

    significativa de sua atividade proteoltica. No entanto, embora os gis contendo papana

    tenham demonstrado eficcia (in vitro) para uso tpico, o Carbopol 940 demonstrou ser o

    meio mais adequado para veicul-la, sendo superior mesmo formulao aquosa

    extempornea18

    .

    A Farmcia Universitria da Universidade Federal Fluminense, aps diversos

    estudos quanto estabilidade da papana para uso em curativos formulou gis de papana

    na concentrao de 2% e 4%, utilizando como veculo o Carbopol

    940, que realmente

    demonstrou ser o melhor meio de veiculao.

    Aes e indicaes

    A papana possui vrias indicaes como no tratamento da doena de Peyronie por

    sua ao proteoltica nas bordas das placas fibrticas. Para uso oral, aplicada como

    auxiliar na digesto de protenas em pacientes com dislepsia crnica e gastrite. Encontra-se

    ainda sua indicao como nematicida porque a camada externa da cutcula de vrios

  • 41

    nematides constituda por uma queratina resistente s proteases intestinais, mas no a

    outras enzimas proteolticas estranhas ao organismo e que, digerindo a queratina,

    provocam em um segundo a morte dos parasitas45

    .

    Os benefcios do uso da papana tem sido observados no tratamento de feridas de

    vrias etiologias e as caractersticas da ferida porque possui um baixo custo, sendo sua

    utilizao altamente vivel at mesmo em pases com baixos recursos, devido boa relao

    custo-benefcio, praticidade e segurana.

    A papana foi utilizada em feridas de diversas etiologias (lceras por presso7,15,48-

    50, venosas

    7,46, plantares

    51-52,

    vsceras17,53

    , diabticas7,54

    , traumticas55

    , leses por

    extravasamento de potssio e quimioterpico7,15,51

    , queimaduras56

    , deiscncias de sutura

    51,57-58, Sndrome de Fournier

    59, leso por Piomiosite Tropical

    60); em feridas infectadas e

    limpas51

    e nas diversas fases de cicatrizao. A concentrao de papana varia de acordo

    com o tecido apresentado na ferida14

    .

    Coutinho descreve as principais indicaes do uso da papana nos diversos tipos de

    feridas. Quando a ferida apresenta tecido de granulao, a indicao o uso da papana

    numa concentrao a 2%. Na presena de necrose de liquefao, utiliza-se a concentrao

    de 4 a 6% de papana diluda em soluo fisiolgica, administrada em jato. Na presena de

    necrose de coagulao, utilizam-se produtos com 8 a 10%, aps escarectomia. A indicao

    que se realize a troca do curativo a cada 12 horas46

    .

    A papana no age somente como desbridante qumico, esta possui ao anti-

    inflamatria, estimulando o processo de cicatrizao de feridas, atuando inclusive na

    contrao e juno de bordos de feridas de cicatrizao por segunda inteno15

    .

    Alm disso, promove o alinhamento das fibras de colgeno, levando a um

    crescimento tecidual uniforme. Esta enzima atua como coadjuvante da antibioticoterapia

    sistmica de feridas infectadas43

    .

    Alguns estudos indicam que a papana possui efeito bacteriosttico, bactericida e

    anti-inflamatrio15,53,57

    , porm um estudo acerca da atividade antibacteriana in vitro de gis

    com diferentes concentraes de papana verificou que apenas a papana a 10% foi capaz

    de inibir o crescimento do S. aureus e de duas cepas de P. aeruginosa. Essa concentrao

    utilizada apenas para feridas com grande concentrao de tecido necrtico e/ou

    desvitalizado47

    .

  • 42

    Contraindicaes e reaes adversas

    O mecanismo de ao da papana ainda no est bem estabelecido e, assim como

    outras enzimas proteolticas, seu uso deve ser evitado em casos de afeces hepticas ou

    renais e durante o tratamento com anticoagulantes. Nenhuma interao medicamentosa foi

    documentada45

    .

    Foram registrados alguns relatos de dor transitria e ardncia aps o uso da papana

    como leve efeito colateral7,56

    , porm nestes estudos no havia sido bem delimitada a

    concentrao da papana utilizada. Reaes anafilticas papana foram relatadas em

    aproximadamente 1% das crianas61

    .

    Nos Estados Unidos, h relatos de pacientes com alergia ao ltex, que apresentaram

    reao cruzada com formulaes contendo papana e casos de alergia ocupacional

    papana, desencadeada por via respiratria ou por contato, devido manipulao da

    papana tanto em indstrias, como em estabelecimentos estticos62-63

    . Tambm foi

    reportado um caso de alergia desencadeada pela ingesto da fruta, sendo que o paciente j

    havia demonstrado a mesma reao quando exposto ao ltex64

    .

    No Brasil, a Associao Brasileira de Enfermagem em Dermatologia (SOBENDE)

    e a Associao Brasileira de Estomaterapia: estomias, feridas e incontinncias (SOBEST),

    recomenda a suspenso do uso da papana em pacientes que apresentarem sinais de alergia

    e refere o risco de uso nos pacientes que j possuem alergia ao ltex, solicitando que seja

    protocolado no Histrico de Enfermagem a investigao de alergia a componentes

    derivados do ltex e informar a ocorrncia de qualquer reao alrgica a estas associaes,

    visto que os registros de reao papana se restringem aos Estados Unidos e ainda no

    foram evidenciadas no Brasil42

    .

    Segundo uma reviso sistemtica publicada no Journal of Wound, Ostomy &

    Continence Nursing, em 2008, que fez o levantamento de estudos sobre desbridantes

    qumicos de Janeiro de 1960 a Fevereiro de 2008, o desbridamento qumico necessrio

    para o preparo do leito da ferida quando h necrose. Foram pesquisadas evidncias em

    estudos prospectivos e retrospectivos, comparando a eficcia da papana, da colagenase e

    da associao papana-ureia, associada ou no com a clorofila. O estudo concluiu que os

    agentes desbridantes enzimticos so alternativas efetivas para remoo de material

    necrtico de lceras de presso, lceras de membros inferiores e queimaduras. Os

  • 43

    pesquisadores indicam que esta estratgia tambm pode ser usada em necroses de

    liquefao. Ocorre, porm, que h poucas evidncias para guiar a clnica na seleo segura

    e efetiva do mtodo de desbridamento para pacientes com feridas crnicas. Havia

    evidncias limitadas de que a papana - associada a ureia removesse a necrose das lceras

    por presso mais rapidamente que a colagenase e o relato do processo de cicatrizao da

    ferida no parecia claro65

    .

    Um estudo acerca dos conhecimentos de enfermeiros sobre o uso da papana em um

    hospital de So Paulo, embora esta seja muito utilizada, tanto na rede hospitalar como na

    rede de ateno primria devido ao seu baixo custo, fcil aplicabilidade e efetividade no

    tratamento de feridas, constatou que no h um consenso entre os enfermeiros, quanto s

    indicaes do uso da papana, forma utilizada e tempo de durao da soluo aps

    diluio16

    .

    Portanto, h necessidade de estudos com maior grau de evidncia quanto

    estabilidade, concentraes e formulaes da papana, sua efetividade e segurana.

  • 44

    3. MTODO

    3.1 Tipo de estudo

    Trata-se de uma pesquisa clnica experimental, prospectiva, onde foi utilizado um

    protocolo de aplicao do gel de papana a 2% e 4% em lceras venosas.

    A escolha do mtodo se justifica por serem os estudos experimentais de extrema

    importncia, pois proporcionam validao da prtica clnica e fundamentos lgicos para

    mudar aspectos especficos da prtica66

    .

    O ensaio clnico tambm classificado de acordo com a descrio dos resultados de

    uma interveno, ou seja, em situaes ideais ou reais. O estudo em questo classificado

    como um ensaio clnico de efetividade, j que o tratamento est sendo implementado sob

    circunstncias normais, ou seja, alguns pacientes podem no seguir rigorosamente o

    tratamento no domiclio, abandonar o estudo ou utilizar outras formas de tratamento que

    no foram designadas67

    .

    3.2 Aspectos ticos

    A pesquisa faz parte do projeto Uso de Biomateriais no reparo tecidual de feridas,

    que foi submetido ao Comit de tica em Pesquisa da Faculdade de Medicina, da

    Universidade Federal Fluminense, respeitando os princpios estabelecidos na Resoluo

    no196/96 do Conselho Nacional de Sade (CNS), do Ministrio da Sade e aprovado com

    o nmero 196/08; CAAE no 0154.0.258.000-08. (Anexo I)

    O consentimento dos voluntrios para participao na pesquisa foi obtido aps o

    esclarecimento dos objetivos, benefcios e riscos da pesquisa, mediante a assinatura do

    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo II).

    Aos mesmos foi garantido o anonimato e o desligamento da pesquisa a qualquer

    momento, caso o desejassem, e a continuidade do tratamento no Ambulatrio de Reparo de

    Feridas do Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP). No foi oferecido qualquer tipo

    de auxlio financeiro para participao na pesquisa. Tambm no houve ressarcimento de

    despesas dos voluntrios.

  • 45

    3.3 Local da pesquisa

    Primeira etapa

    Foi desenvolvida na Faculdade de Farmcia da Universidade Federal Fluminense,

    no Laboratrio de Tecnologia Farmacutica e na Farmcia Universitria.

    Durante esta etapa, as farmacuticas desenvolveram diversas frmulas do Gel de

    Papana, buscando alm da qualidade do produto, a estabilidade da frmula, j que a

    papana termolbil e fotossensvel. Para tanto, foram desenvolvidos prottipos do

    produto a ser testado no estudo clnico, no intuito de adequ-lo tcnica de curativo

    estabelecida em protocolo do Ambulatrio de Reparo de Feridas do Hospital Universitrio

    Antnio Pedro (HUAP). Os prottipos foram gis de papana de diversas consistncias

    para cada uma das concentraes do estudo (2% e 4%). A escolha das formulaes mais

    adequadas foi feita atravs de testes de avaliao sensorial com cinco enfermeiros

    especialistas.

    Paralelamente, diversas reunies foram realizadas com as farmacuticas, para

    definio do protocolo de pesquisa e delimitao de aspectos como dia da semana e horrio

    para entrega dos gis de papana no ambulatrio, pedido de solicitao para produo dos

    gis Farmcia Universitria, local para o armazenamento e dimensionamento do material

    a ser utilizado.

    O processo de produo foi mapeado por parmetros internacionais de controle de

    qualidade que garantem a perfeita reprodutibilidade do produto. Foram estabelecidas

    formulaes de gel de papana, nas concentraes de 2% e 4%, com a seguinte

    composio: papana (princpio ativo), EDTA (agente de estabilizao da enzima), cistena

    (agente de estabilizao da enzima), propilenoglicol (umectante), Carbopol940 (agente

    gelificante), nipagin (conservante), gua (veculo). A escolha da papana na forma

    farmacutica gel teve como objetivo atender a necessidade de ambiente mido, que

    favorece o processo de cicatrizao. Os outros componentes da formulao esto

    relacionados com a estabilidade qumica, fsico-qumica e microbiolgica do produto

    farmacutico. Foram utilizadas embalagens de 100g.

    Os gis de papana receberam um prazo de validade de 15 dias e foram produzidos

    semanalmente pela acadmica estagiria da Faculdade de Farmcia, na Farmcia

  • 46

    Universitria, que os entregava semanalmente para ser armazenado na Pesquisa Clnica do

    HUAP, em geladeira a uma temperatura inferior a 4 C.

    Segunda etapa

    Foi desenvolvida no Ambulatrio de Reparo de Feridas do Hospital Universitrio

    Antnio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niteri - RJ. Trata-se de

    um hospital pblico, de nvel quaternrio, que atende pacientes vinculados Regio

    Metropolitana II do Estado do Rio de Janeiro, que compreende os municpios de Niteri,

    So Gonalo, Silva Jardim, Maric, Itabora, Rio Bonito e Tangu.

    O Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP fica situado no trreo do hospital,

    coordenado por professora da EEAAC, sendo um local de ensino, pesquisa e extenso para

    a graduao, residncia e ps-graduao. considerado referncia para o tratamento de

    leses crnicas no municpio de Niteri, recebendo pacientes referenciados oriundos das

    Unidades Bsicas de Sade vinculadas Regio Metropolitana II, alm de pacientes do

    prprio hospital, encaminhados pelos servios de Cirurgia Geral, Cirurgia Vascular e pelo

    grupo de Diabetes do HUAP.

    3.4 Populao, amostra e amostragem

    A populao compreende os pacientes com lceras venosas atendidos no

    Ambulatrio de Reparo de Feridas do Hospital Universitrio Antnio Pedro. A amostra de

    convenincia correspondeu a 16 pacientes, com 30 lceras.

    Para seleo da amostragem, os voluntrios preencheram os seguintes critrios de

    incluso:

    Ser maior de 18 anos;

    Apresentar lcera venosa com dimenses maiores que 2,0 cm2;

    Estar em pleno domnio de conscincia, avaliado durante a consulta de

    enfermagem quanto lucidez, grau de orientao e capacidade para autocuidado ou possuir

    responsvel legal que garantisse a continuidade do tratamento no domiclio.

    Os critrios de excluso foram:

    Falta de continuidade do tratamento no domiclio;

  • 47

    Alergia aos produtos da pesquisa utilizados na leso;

    Alergia a qualquer tipo de ltex;

    Doenas psiquitricas;

    Gravidez e lactao;

    lceras arteriais;

    Infeco no local da leso.

    A amostragem foi no probabilstica, onde a mdia amostral foi considerada

    representativa para o universo em questo. Em 2008, foi realizado um levantamento dos

    pacientes atendidos no Ambulatrio, verificando que havia 105 pacientes com 136 lceras

    de diversas etiologias, sendo que 49 apresentavam 67 lceras venosas68

    .

    Atenderam aos critrios de incluso 21 voluntrios, com um total de 39 lceras,

    sendo que cinco foram excludos. Um foi excludo com 10 dias de tratamento, por

    apresentar na consulta subsequente episdios de desorientao e por no possuir

    acompanhante ou responsvel legal que pudesse dar continuidade ao tratamento no

    domiclio. Outro foi excludo com 30 dias de tratamento, aps relato de queixas lgicas e

    exposio de tendes decorrente da diminuio considervel da grande quantidade de

    esfacelo que estava presente em suas duas leses. Outra paciente apresentou Erisipela,

    sendo diagnosticada e tratada pelo setor de Cirurgia Vascular do HUAP. Um paciente foi a

    bito por Insuficincia Renal Aguda. O ltimo paciente foi excludo, pois as lceras de

    perna eram grandes demais, da rtula aos dedos do p, sem condies de mensurao,

    impossibilitando uma anlise fidedigna da evoluo do tamanho da leso.

    Permanecendo 16 pacientes com 30 lceras, que foram acompanhados conforme o

    protocolo por 90 dias, perfazendo um total de 191 consultas, com uma mdia de 12

    consultas por paciente.

    Fluxograma 1: Seleo da amostra. Niteri/ RJ, 2011

    Total de 191 consultas, durante 90 dias, com mdia de 12 consultas por paciente

    16 voluntrios com 30 lceras

    5 excludos

    21 voluntrios com 39 lceras

  • 48

    3.5 Coleta de dados

    A coleta de dados foi realizada no perodo de abril a novembro de 2011, utilizando

    instrumentos contendo dados scio-demogrficos e descritivos para avaliao do estado

    clnico do paciente e da leso. Esses instrumentos j foram validados em outras pesquisas e

    fazem parte dos protocolos de pesquisa do servio do Ambulatrio (Apndices I, II, III,

    IV).

    Cada sujeito foi avaliado por um perodo de noventa dias, uma vez por semana. A

    mensurao das leses e o registro fotogrfico foram realizados a cada 15 dias. O registro

    foi realizado em formulrio individualizado, em acordo com os padres internacionais de

    pesquisa69

    .

    3.5.1 Tcnicas de mensurao e variveis de anlise da evoluo das lceras venosas

    As variveis de anlise foram divididas em desfechos primrios e secundrios.

    Os desfechos primrios observados no estudo foram: evoluo da rea das lceras venosas;

    taxa de reduo das lceras venosas; percentual de lceras cicatrizadas; tempo mdio para

    cicatrizao e a evoluo do tipo de tecido no leito das leses.

    Evoluo da rea das lceras venosas

    Para mensurao das leses, foi utilizado o decalque, no qual a forma da lcera

    traada em material transparente estril, sendo sua rea calculada atravs da quantificao

    dos quadrados centimetrados de um papel quadriculado. Tem a vantagem de fornecer o

    formato e o tamanho preciso da leso69,70

    . Essa medida foi registrada no incio do estudo, a

    cada 15 dias e ao final do estudo.

    O registro fotogrfico foi realizado com Cmera Fotogrfica digital da marca Sony,

    modelo Cyber-shot, 7,2 mega pixels, com foco a 90 da leso, numa distncia de 50 cm.

    Esse registro possibilitou construir uma evidncia visual.

    A nica desvantagem da tcnica do decalque e da fotografia no fornecer a

    medida da profundidade da leso69,70

    .

  • 49

    Ambas as medidas eram realizadas aps a limpeza da ferida com soro fisiolgico a

    0,9%, nos casos de tecido de granulao, e com sabo neutro, nos casos de esfacelo. Pois

    medida que se removem os tecidos necrticos e de esfacelo, o tamanho e a profundidade da

    ferida podem aumentar, pois a extenso da ferida pode estar mascarada pelo tecido

    desvitalizado69

    .

    Taxa de reduo das lceras venosas

    Foi calculada a rea da lcera a partir da medida inicial da leso e aps 90 dias de

    tratamento. A apresentao desse dado foi realizada nos subgrupos e na amostra total. Para

    anlise do percentual de reduo/aumento de cada lcera venosa foi utilizada a seguinte

    frmula70

    :

    Porcentagem de reduo da rea da lcera venosa = (rea inicial - rea final) x 100

    rea inicial

    Percentual de lceras cicatrizadas

    Foi calculado ao final do estudo, considerando a quantidade de lceras venosas

    cicatrizadas e seu percentual em relao amostra total.

    Tempo mdio para cicatrizao

    Foi avaliado de acordo com a mdia do nmero de dias que as lceras venosas

    apresentaram total cicatrizao.

    Evoluo do tipo de tecido no leito das leses

    O tipo de tecido encontrado no leito das lceras venosas demonstra a evoluo do

    processo de cicatrizao. Os tecidos que podem ser encontrados, segundo a gravidade do

    pior para o melhor, so:

    Necrose: de colorao preta, marrom, cinzenta ou esbranquiada;

  • 50

    Tecido de esfacelo: tecido desvitalizado, com clulas mortas, de aspecto

    amolecido e colorao branca ou amarelada;

    Tecido de granulao: bom indicador do processo de cicatrizao, esse tecido

    avermelhado, de aspecto granuloso, vivo e brilhante representa a formao de capilares,

    que vo possibilitar a formao do tecido novo;

    Tecido de epitelizao: representa a formao do tecido de cicatrizao, tem

    aspecto rosado. Pode se formar da margem para o meio da leso, em feridas pequenas ou

    pode se apresentar tambm, principalmente em feridas maiores como ilhas, no meio da

    leso, migrando para as margens69

    .

    Esta avaliao foi realizada no incio do estudo, a cada visita semanal ao

    ambulatrio e ao final do estudo, considerando a porcentagem de cada tecido encontrado

    no leito da leso, sendo registrado no formulrio de coleta de dados (Apndice II). Para

    tanto, foram consideradas para cada tecido a graduao de porcentagem: 0%; 1-25%; 26-

    50%; 51-75%; 76-99%; 100%. No foram includos sujeitos com necrose de coagulao.

    Nos desfechos secundrios foram considerados: profundidade; tipo e quantidade de

    exsudato da leso; odor; dor; edema perilesional; reaes adversas como prurido e dor aps

    o uso do produto; e caractersticas das bordas e da pele adjacente. Todas essas variveis

    foram avaliadas no incio do estudo, a cada visita semanal ao ambulatrio e ao final do

    estudo, considerando a porcentagem de cada tecido encontrado no leito da leso, sendo

    registrado no formulrio de coleta de dados (Apndice II).

    Profundidade

    A profundidade das lceras venosas foi classificada em: superficial, quando

    acomete a epiderme; parcial quando atinge as camadas mais profundas da epiderme e

    derme; e total na qual ocorre comprometimento de toda a epiderme, derme e tecido

    subcutneo, podendo se estender ao tecido muscular e sseo72

    . As lceras superficiais esto

    em um processo de reparo tecidual mais avanado, tendo, portanto um melhor

    prognstico73

    .

  • 51

    Tipo e quantidade de exsudato

    O exsudato foi classificado em: seroso, de aspecto plasmtico, transparente e

    aquoso, esse tipo de exsudato composto por leuccitos e microrganismos vivos ou

    mortos; serossanguinolento indica muitas vezes a presena de leso vascular dos novos

    vasos frgeis que esto surgindo pelo processo de cicatrizao; sanguinolento, indicando

    uma maior leso vascular, que pode ser causada pela baixa umidade no leito da leso

    provocando o rompimento de vasos neoformados. O exsudato purulento e o

    piossanguinolento esto geralmente associados a processos infecciosos, podendo

    apresentar coloraes que variam entre amarelo, verde ou marrom74

    .

    A quantidade de exsudato varia de acordo com a fase de cicatrizao. Uma ferida

    muito exsudativa pode representar uma fase inflamatria prolongada ou infeco. A

    presena da uma quantidade grande de exsudato nas fases posteriores inflamao forma

    uma barreira para a cicatrizao da leso, podendo levar ao maceramento das bordas75-76

    .

    Foi classificada em: grande, mdia e pouca quantidade.

    Odor

    As lceras venosas foram classificadas quanto presena ou no de odor ftido. A

    presena pode indicar infeco na leso.

    Dor

    Foi avaliada quanto presena ou ausncia, intensidade e localizao (na leso ou

    na regio perilesional).

    Edema perilesional

    Avaliado de acordo com o local, a presena ou ausncia e a intensidade, sendo

    considerado de menor intensidade (1+) e de maior intensidade (4+).

  • 52

    Reaes adversas como prurido e dor aps o uso do produto

    Avaliados tambm quanto presena ou ausncia, intensidade e localizao. Sendo

    registrados na Notificao de suspeita de reao adversa a medicamento ou de desvio da

    qualidade de medicamento (Anexo IV).

    Caractersticas das bordas e da pele adjacente

    A pele adjacente foi avaliada quanto ao grau de hidratao/ressecamento e outros

    aspectos como hipo ou hiperpigmentao. As bordas foram analisadas quanto a sua

    integridade, evoluindo para um processo de epitelizao, o que indica uma melhora da

    leso ou para um aspecto macerado, prejudicial ao processo de cicatrizao, pelo risco de

    aumento da leso.

    3.6 Operacionalizao

    O incio do projeto se deu depois do ajuste da consistncia da formulao, baseada

    nos testes sensoriais. A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora, com o apoio de

    trs alunas de graduao de enfermagem, sendo uma bolsista e duas voluntrias de

    Iniciao Cientfica, previamente treinadas quanto ao procedimento de coleta de dados e

    sob superviso da pesquisadora. As alunas auxiliavam na realizao do curativo,

    distribuio do material para uso em domiclio, marcao de retorno das consultas, alm de

    participarem em conjunto com a pesquisadora da consulta de enfermagem.

    Durante a execuo do curativo, foram realizadas orientaes e treinamento ao

    paciente ou responsvel legal quanto tcnica para realizao do curativo em domiclio

    (limpeza da ferida e aplicao do produto, cobertura e bandagem). No foi utilizado

    nenhum tipo de terapia compressiva, como meias ou ataduras elsticas para realizao da

    bandagem. Utilizaram-se somente ataduras inelsticas.

    Aps a primeira aplicao do gel de papana, foi solicitado que o paciente

    permanecesse no ambulatrio por cerca de meia hora a fim de que fossem avaliados sinais

    de alergia, queixas lgicas ou qualquer outro evento adverso imediato.

  • 53

    Para realizao do curativo domiciliar, os pacientes receberam o gel de papana a

    2% em bisnagas de 100g. (Fig. 1)

    Fig. 1: Bisnagas de 100 g de gel de papana

    A conservao do gel de papana foi realizada em geladeira, na segunda prateleira,

    tanto as de uso domiciliar quanto as de uso ambulatorial. Os transportes realizados foram

    da Farmcia Universitria para a Unidade de Pesquisa Clnica do Hospital Universitrio

    Antnio Pedro/UFF, e desta para o ambulatrio ou para a residncia do paciente.

    Os transportes foram realizados em bolsas trmicas ou caixas de isopor, com gelo

    qumico reutilizvel, fornecidos aos pacientes, a fim de manter o produto a uma

    temperatura de 4C. (Fig. 2, 3, 4, 5 e 6)

    Fig. 2: Caixa de isopor Fig. 3: Gelo qumico reutilizvel

  • 54

    Fig. 4: Bolsa trmica Fig. 5: Bolsa trmica com gelo

    qumico reutilizvel

    Fig. 6: Caixa de isopor com gelo reutilizvel e bisnaga de gel de papana

    Uso ambulatorial

    Para uso ambulatorial, o gel de papana foi produzido em duas concentraes do

    ativo, a saber, gel de papana a 2% (p/p) e gel de papana a 4% (p/p). Os rtulos dos

    produtos apresentavam todas as informaes exigidas pela ANVISA para produtos obtidos

    por manipulao indicando a composio completa do produto, a posologia, data de

    fabricao, prazo de validade, local de uso e nome do paciente, alm de todas as

    informaes legais da instituio produtora do gel. As bisnagas dos produtos eram

    entregues pela equipe de farmcia participante do projeto pesquisadora, em embalagens

    com identificaes diferentes, de forma que fosse prevenida a troca entre os produtos. Para

    tal as bisnagas com gel de papana a 2% (p/p) possuam uma etiqueta identificadora na

    tampa da embalagem de cor verde, enquanto as bisnagas contendo gel de papana a 4%

    (p/p) foram identificadas com etiquetas de cor laranja (Fig. 7).

  • 55

    Fig. 7. Frasco de gel de papana a 4% (p/p) e a 2% (p/p)

    O protocolo para utilizao do gel de papana foi realizado da seguinte forma:

    No ambulatrio:

    Gel de papana a 4%. Indicado uma vez por semana para todos os pacientes

    que tenham feridas maiores que 5,0 cm2

    e/ou mais de 25% de esfacelo no leito da

    ferida.

    Gel de papana a 2%. Indicado para pacientes em que todas as leses fossem

    menores ou iguais a 5,0 cm2 e com quantidade de esfacelo inferior ou igual a 25%

    no leito da ferida (Fluxograma 2).

  • 56

    Fluxograma 2: Protocolo para uso do Gel de Papana na visita ambulatorial de

    acordo com o tamanho e a quantidade de esfacelo. Niteri/ RJ, 2011

    No domiclio:

    Gel de papana a 2% (p/p). Indicado para uso dirio, independente do tamanho da

    leso ou da quantidade de esfacelo.

    Na regio perilesional, orientou-se o uso de lubrificantes e hidratantes para pele.

    Estes poderiam ser: cremes ou leos contendo cidos graxos essenciais; creme de ureia;

    vaselina lquida ou leo mineral. Como estes produtos poderiam interagir com o gel de

    papana, foram consideradas as interaes medicamentosas e registradas quaisquer tipos de

    reaes.

    3.7 Interveno

    Alguns cuidados foram tomados no ambulatrio e orientados ao

    paciente/acompanhante para evitar a perda da estabilidade da papana durante a realizao

    dos curativos como: retirada do produto da geladeira somente no momento do curativo,

  • 57

    deixando a bisnaga junto ao material para realizao do mesmo; utilizar a gaze ou, no caso

    do Ambulatrio, a luva estril para espalhar o gel na gaze, evitando utilizar pina e outros

    metais.

    Enquanto era realizada a retirada do curativo anterior e a limpeza do leito da ferida,

    o gel de papana era deixado exposto ao ambiente para que alcanasse uma temperatura

    mais prxima do corpo. Ento, era realizada a aplicao no leito da ferida e o curativo

    secundrio com gaze e atadura de crepom. Logo que terminava o curativo, o produto

    retornava geladeira. Este procedimento foi adotado devido preocupao em no utilizar

    o produto demasiadamente frio no leito da ferida, a fim de evitar a vasoconstrico, que

    poderia prejudicar o processo de reparao tecidual.

    3.7.1 No Ambulatrio

    Na visita ambulatorial, foi utilizada a seguinte tcnica para realizao do curativo:

    Materiais

    Soro fisiolgico a 0,9%

    Gaze de algodo estril

    Gel de papana a 2% ou a 4%, de acordo com o protocolo

    Atadura inelstica de 15 cm

    Esparadrapo

    Procedimentos

    1. Lavar bem as mos com gua e sabo.

    2. Separar o material antes de retirar o curativo anterior.

    3. Retirar a atadura e as gazes soltas com luvas de procedimento. Umedecer com soro

    fisiolgico, em t