UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO …app.uff.br/riuff/bitstream/1/1024/1/Andréa Pinto...
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
MESTRADO PROFISSIONAL ENFERMAGEM ASSISTENCIAL
A EFETIVIDADE DE UM PROTOCOLO DE USO DO GEL DE PAPANA
A 2% E 4% NA CICATRIZAO DE LCERAS VENOSAS
ANDRA PINTO LEITE
Orientadora: Prof. Dr. BEATRIZ GUITTON R. B. DE OLIVEIRA
Linha de Pesquisa: O cuidado de Enfermagem para os grupos humanos
Niteri, RJ
2012
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A EFETIVIDADE DE UM PROTOCOLO DE USO DO GEL DE
PAPANA A 2% E 4% NA CICATRIZAO
DE LCERAS VENOSAS
ANDRA PINTO LEITE
Orientadora: Prof. Dr. BEATRIZ GUITTON R. B. DE OLIVEIRA
Dissertao apresentada ao Programa de
Mestrado Profissional Enfermagem
Assistencial da Universidade Federal
Fluminense/RJ como parte dos requisitos
para a obteno do ttulo de Mestre.
Linha de Pesquisa: O Cuidado de
Enfermagem para os grupos humanos
Niteri, julho de 2012
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3
L 533 Leite, Andra Pinto.
A Efetividade de um protocolo de uso do gel de papana a 2% e a
4% na cicatrizao de lceras venosas./ Andra Pinto Leite. Niteri:
[s.n.], 2012.
153 f.
Dissertao (Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial) -
Universidade Federal Fluminense, 2012.
Orientador: Profa. Beatriz Guitton Renaud Baptista de
Oliveira.
1. lcera varicosa. 2. lcera da perna. 3. Efetividade. 4. Papana.
5. Enfermagem. I. Ttulo.
CDD 616.545
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
MESTRADO PROFISSIONAL ENFERMAGEM ASSISTENCIAL
A EFETIVIDADE DE UM PROTOCOLO DE USO DO GEL DE PAPANA
A 2% E 4% NA CICATRIZAO DE LCERAS VENOSAS
Linha de Pesquisa: O cuidado de Enfermagem para os grupos humanos
Autora: ANDRA PINTO LEITE
Orientadora: Prof. Dr. BEATRIZ GUITTON R. B. DE OLIVEIRA
Banca:
____________________________________________________
Profa. Dr
a. Beatriz Guitton Renaud Baptista de Oliveira
Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa - UFF
____________________________________________________
Profa. Dr
a. Maria Mrcia Bachion
Faculdade de Enfermagem UFG
_________________________________________________
Profa. Dr
a. Dbora Omena Futuro
Faculdade de Farmcia UFF
Suplentes:
____________________________________________
Profa. Dr
a. Marluci Andrade Conceio Stipp
Escola de Enfermagem Anna Nery UFRJ
__________________________________________________
Profa. Dr
a. Selma Rodrigues de Castilho
Faculdade de Farmcia UFF
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Esta pesquisa representa o desdobramento de duas
pesquisas, uma sobre o Uso de Biomateriais no
Reparo Tecidual de Leses Tissulares desenvolvido na
Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa e no
Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP) e a outra
sobre a Implementao e Avaliao de Aes Visando
a Otimizao da Assistncia Farmacutica, ambos
com apoio financeiro da FAPERJ, apoio de bolsas pelo
CNPq e Prmio de Incentivo em Cincias e Tecnologia
para o SUS 2007, sobre desenvolvimento dos
hidrogis.
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DEDICATRIA
A Deus,
Pela fora e sabedoria para enfrentar os desafios na realizao do mestrado.
Aos meus pais,
Pelo exemplo de determinao e perseverana mesmo nas horas difceis em busca de seus
ideais. Amo vocs!
A minha famlia,
Por compreender minhas ausncias e pelo apoio incondicional. Te amo!
Ao meu querido Matheus,
Pelo apoio, incentivo e por se tornar um presente na minha vida!
Aos pacientes,
Por acreditarem e confiarem na perspectiva que lhes foi oferecida, entregando-se e pelo
carinho to especial demonstrado ao longo do nosso convvio semanal que proporcionou
tantas boas lembranas.
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AGRADECIMENTOS
Professora e Orientadora Dr Beatriz Guitton,
Por brilhantemente me guiar nos trilhos da pesquisa, pela dedicao, incentivo e ajuda
que transcendem a esfera do mestrado, servindo de exemplo para minha trajetria de vida
pessoal e profissional, pelos muitos dias e noites, sem contar os domingos em que teve que
abdicar inclusive do seu tempo em famlia para o sucesso do estudo. Muito obrigada de
corao por tudo e pelo prazer de ser sua orientanda!
s Professoras Dras
Dbora O. Futuro e Selma Castilho da Faculdade de Farmcia da
Universidade Federal Fluminense,
Pela excelente experincia de multidisciplinariedade proporcionada nas vrias reunies e
por acreditarem no trabalho, pelas constantes contribuies ao meu crescimento
profissional e pessoal. Muito obrigada!
Farmacutica Mestranda Danielle Miura,
Pelo desenvolvimento das formulaes do gel de papana.
Acadmica da Faculdade de Farmcia Carina Menegussi,
Pela intensa dedicao em produzir semanalmente os frascos de gel de papana.
Muito obrigada!
s bolsistas de iniciao cientfica em pesquisa Marja Soares e Bruna Barreto e s
voluntrias de iniciao cientfica Desire Barrocas, Fernanda Pessanha e Vanessa
Pinheiro,
Pela imensa contribuio durante a coleta de dados, apoio, incentivo e por se tornarem
to especiais na minha vida. Muito obrigada, meninas!
A todas as minhas amigas, em especial, Anamlia, Lorraine e Raquel,
Que compreenderam as minhas ausncias e que sempre me incentivaram dando foras
para continuar mesmo nos momentos difceis e delicados da vida. Muito obrigada!
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chefia e aos meus amigos queridos, parceiros de planto, do Instituto Fernandes
Figueira/FIOCRUZ, em especial Enfermeira Rosanna,
Pela amizade construda ao longo desses trs anos, pelo incentivo constante, pela
compreenso e carinho nos momentos de dificuldade e por nos tornarmos uma verdadeira
famlia. Muito obrigada!
Aos meus queridos professores e, no momento, tambm colegas de trabalho, da Escola
de Enfermagem Aurora de Afonso Costa Universidade Federal Fluminense, em
especial professora Mrian da Costa Lindolpho e Vera Saboia,
Pelos ensinamentos desde a poca da graduao que me proporcionaram evoluir
academicamente e contriburam para minha busca pela excelncia profissional, alm das
contribuies pessoais, incentivo e apoio de sempre. Obrigada de corao!
Aos amigos e amigas conquistados durante o mestrado,
Pelo acolhimento, incentivo e apoio nessa caminhada. Obrigada!
Enfermeira Ftima e s Tcnicas de Enfermagem Luzia, Francisca, Eullia e Mrcia,
do Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP/UFF,
Por me acolherem de forma to especial, pela amizade construda, pelo carinho e por
estarem sempre prontas a ajudar, quando necessrio. Muito obrigada!
A todos da Unidade de Pesquisa Clnica do Hospital Universitrio Antnio Pedro, em
especial ao Estevo, Clarisse e ngela,
Por estarem sempre dispostos a ajudar e pelas palavras de incentivo. Obrigada!
Aos residentes de Enfermagem do Ambulatrio de Reparo de Feridas, em especial,
Janana, Deyvid, Cntia e Juliana,
Por participarem auxiliando nas orientaes e curativos aos pacientes, pela amizade e
pelas contribuies e trocas desenvolvidas durante o curto perodo que convivemos.
Obrigada!
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Trabalho de pesquisa com apoio da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado do
Rio de Janeiro (FAPERJ) e bolsas PIBIC/CNPq.
Crditos
Assessoria estatstica:
Rosangela Aparecida Gomes Martins
Bioestatstica e Analista de Planejamento em Projetos Cientficos
Estatstica da Diviso de Pesquisa do HUCFF/UFRJ
MSc. Estatstica - UFRJ
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RESUMO
Leite AP. A efetividade de um protocolo de uso do gel de papana a 2% e 4% na
cicatrizao de lceras venosas. [dissertation]. Niteri (RJ): Escola de Enfermagem Aurora
de Afonso Costa/UFF; 2012.
As lceras venosas so consideradas um problema de sade pblica pela dificuldade de
cicatrizao, alta recorrncia, elevado custo de tratamento e grande repercusso na
qualidade de vida do paciente. A busca de terapias que contribuam para cicatrizao tem
sido uma constante. Um produto utilizado no tratamento dessas lceras a papana.
Objetivo geral: Analisar a efetividade do gel de papana a 2% e 4% no reparo tecidual das
lceras venosas. Mtodo: Pesquisa clnica experimental, prospectiva, com o uso do Gel de
Papana a 2% e 4% produzido pela Farmcia Universitria, com formulao, conservao e
distribuio adaptada para manuteno da estabilidade enzimtica. A amostra por
convenincia foi composta por 16 pacientes atendidos no ambulatrio com 30 lceras
venosas, maiores que 2 cm2, conforme protocolo. As variveis de interesse foram
analisadas por meio do teste de Wilcoxon e McNemar, sendo p < 0,05. O projeto foi
aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa, com o no 196/08. Resultados: Nove (56,25%)
participantes eram do sexo feminino; com predomnio de idade entre 51 a 59 anos, com
mdia de 62,31 anos, desvio padro de 10,2; 13 (81,25%) apresentavam ndice de Massa
Corporal acima do normal; 12 (75%) possuam Hipertenso Arterial Sistmica e quatro
(25%) Diabetes mellitus associado ou no a outras comorbidades. Quanto s lceras, a
amostra foi dividida em trs subgrupos, com rea inicial de 2 a 3,9 cm2; de 3,9 a 20 cm
2; e
> 20 cm2, sendo que no primeiro subgrupo houve reduo mdia de 1,6 cm
2 (60%); no
segundo de 6,5 cm2 (66,6%) e no terceiro 15,7 cm
2 (23,7%). A reduo mdia na rea das
30 lceras foi de 7,9 cm2 (50%). Seis (20%) cicatrizaram completamente, com tempo
mdio de 56,67 dias 9,83, sendo todas menores ou iguais a 4 cm2. Houve reduo
significativa no tecido de esfacelo de todas as lceras (p < 0,001) e aumento significativo
no tecido de epitelizao (p < 0,001) do incio para o final do tratamento. Houve tambm
melhora significativa na profundidade das lceras venosas (p = 0,001), no tipo de exsudato
(p = 0,0001), na quantidade de exsudato (p < 0,0001) e no edema (p < 0,0001). Ocorreu
epitelizao da borda de uma (33,33%) das trs lceras que se apresentavam com bordas
maceradas. Em relao ao relato de dor, de 13 houve melhora em cinco (38,46%); em
relao ao prurido, de 17 houve melhora em seis (35,29%). Em relao dor aps o uso do
produto, houve relato de quatro (25%) pacientes, sendo de baixa intensidade. Concluso:
O gel de papana a 2% e a 4% mostrou ser efetivo na diminuio do esfacelo, favorecendo
o processo de epitelizao e proporcionando a cicatrizao total de lceras venosas
menores ou iguais a 4 cm2
no perodo de 90 dias. A pesquisa contribuiu com evidncias
cientficas acerca do uso do gel de papana a 2% e a 4% em lceras venosas.
Descritores: lcera varicosa; lcera da perna; Efetividade; Papana; Enfermagem.
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11
ABSTRACT
Leite AP. The effectiveness of a protocol of use of papain gel at 2% and 4% in the venous
ulcers healing. [dissertation]. Niteri (RJ): Aurora de Afonso Costa Nursing School /UFF;
2012.
The effectiveness of a protocol of use of papain gel at 2% and 4% in the venous ulcers
healing
The venous ulcers are considered a problem in public health for its healing difficulty, high
recurrence, high cost treatment and big repercussion in the patients quality of life. The
search for therapies which contribute for the healing has been constant. A product used in
the treatment of these ulcers is the papain. General objective: Analyze the effectiveness
of the papain gel at 2% and 4% in the tissue repair of the venous ulcers. Method:
Experimental clinical research, prospective, with the use of papain gel at 2% and 4%
produced by the University Pharmacy, with formulation, preservation and distribution
adapted to maintain the enzymatic stability. The convenience sample was made of 16
outpatients with 30 venous ulcers, larger than 2 cm2, according to protocol. The variables
of interest were analyzed through Wilcoxon and McNemar tests, with p < 0,05. The project
was approved by the Ethics in Research Committee, no 196/08. Results: Nine (56,25%)
participants were female, with predominance of age between 51 and 59 years old, average
of 62,31 years old, standard deviation of 10,2; 13 (81,25%) presented body mass index
above the normal; 12 (75%) had systemic high pressure and four (25%) diabetes mellitus
associated or not to other co-morbidities. Regarding the ulcers, the sample was divided in
three subgroups, with initial area from 2 to 3.9 cm2; from 3.9 to 20 cm
2; and > 20 cm
2.
There was an average reduction in the first subgroup of 1.6 cm2 (60%); in the second one
of 6.5 cm2 (66.6%) and the third one of 15.7 cm
2 (23.7%). The average reduction in the
area of the 30 ulcers was of 7.9 cm2 (50%). Six (20%) presented complete healing, with an
average time of 56.67 days 9.83, all of them smaller or equal to 4 cm2. There was a
significant reduction of the slough of all the ulcers (p < 0,001) and significant increase of
the tissue of epithelization. (p < 0,001) from the beginning to the end of the treatment.
There was also a significant improvement in the depth of the venous ulcers (p = 0,001),
exudate type (p = 0,0001), in the exudate amount (p < 0,0001) and in the edema (p <
0,0001). There was epithelization of the edge in one (33.33%) of the three ulcers which
were macerated. Concerning pain report, out of 13, there was improvement in five
(38.46%); related to itching, out of 17, there was improvement in six (35.29%). Regarding
pain after using the product, there were four low intensity reports (25%) by the patients.
Conclusion: The papain gel at 2% and 4% presented to be effective in the decrease of the
slough, promoting the epithelization process and providing complete healing of the venous
ulcers smaller or equal to 4 cm2
in the period of 90 days. The research contributes with
scientific evidence about the use of papain gel at 2% and 4% in venous ulcers.
Descriptors: Varicose Ulcer; Leg ulcer; Effectiveness; Papain; Nursing.
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12
SUMRIO
1. INTRODUO 24
1.1 Problema do estudo 25
1.2 Objeto de estudo 27
1.3 Justificativa 27
1.4 Relevncia 28
1.5 Objetivo geral 29
2. REVISO DE LITERATURA 30
2.1 TECNOLOGIAS EM SADE 30
2.2 AVALIAO DE TECNOLOGIAS EM SADE 31
2.3 A SADE BASEADA EM EVIDNCIAS 34
2.4 LCERAS VENOSAS 36
2.5 PAPANA 38
3. MTODO 44
3.1 Tipo de estudo 44
3.2 Aspectos ticos 44
3.3 Local da pesquisa 45
3.4 Populao, amostra e amostragem 46
3.5 Coleta de dados 48
3.5.1 Tcnicas de mensurao e variveis de anlise da evoluo das lceras
venosas
48
3.6 Operacionalizao 52
3.7 Interveno 56
3.7.1 No Ambulatrio 57
3.7.2 No domiclio 58
3.8 Tratamento dos dados 60
4. RESULTADOS 61
4.1 Dados sociodemogrficos e clnicos dos pacientes 61
4.2 Caractersticas das lceras venosas 64
5. DISCUSSO 96
6. CONCLUSO 116
-
13
7. REFERNCIAS 119
ANEXOS 130
APNDICES 135
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14
LISTA DE FIGURAS
Fig. 1: Bisnagas de 100 g de gel de papana 53
Fig. 2: Caixa de isopor 53
Fig. 3: Gelo qumico reutilizvel 53
Fig. 4: Bolsa trmica 54
Fig. 5: Bolsa trmica com gelo qumico reutilizvel 54
Fig. 6: Caixa de isopor com gelo reutilizvel e bisnaga de gel de papana 54
Fig. 7: Frascos de gel de papana a 4% (p/p) e a 2% (p/p) 55
Fig. 8: Distribuio das lceras venosas de acordo com a localizao.
Niteri/RJ, 2011
66
-
15
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Evoluo das lceras venosas ao longo de 90 dias, em tratamento
com o Gel de Papana, conforme protocolo. Niteri/RJ, 2011
67
Quadro 2 Evoluo da rea em cm2
e da alterao tecidual no leito das
lceras venosas aps tratamento com o Gel de Papana, conforme
protocolo. Niteri/RJ, 2011
79
Quadro 3 Distribuio das lceras venosas de acordo com as variveis
avaliadas. Niteri/RJ, 2011
86
-
16
LISTA DE FLUXOGRAMAS
Fluxograma 1 Seleo da amostra. Niteri/ RJ, 2011 47
Fluxograma 2 Protocolo para uso do Gel de Papana na visita ambulatorial de
acordo com o tamanho e a quantidade de esfacelo. Niteri/ RJ,
2011
56
-
17
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Grfico 1 Distribuio dos pacientes quanto ao uso de lcool e
tabaco. Niteri/RJ, 2011
63
Grfico 2 Distribuio dos pacientes quanto ao ndice de Massa Corporal.
Niteri/RJ, 2011
63
Grfico 3 Distribuio dos pacientes quanto s doenas de base. Niteri/RJ,
2011
64
Grfico 4 Distribuio dos pacientes quanto ao tempo de existncia das
lceras venosas. Niteri/RJ, 2011
65
Grfico 5 Evoluo da rea das lceras venosas em tratamento com o gel de
papana, em 90 dias, conforme protocolo. Niteri/RJ, 2011
68
Grfico 6 rea da leso no incio e no final do tratamento na amostra total.
Niteri/RJ, 2011
70
Grfico 7 Evoluo das lceras venosas do subgrupo com rea inicial entre 2
cm2
a 3,9 cm2. Niteri/RJ, 2011
71
Grfico 8 Evoluo das lceras venosas do subgrupo com rea inicial entre
3,9 a 20 cm2. Niteri/RJ, 2011
72
Grfico 9 Evoluo das lceras venosas do subgrupo com rea inicial > 20
cm2. Niteri/RJ, 2011
74
Grfico 10 Delta relativo da rea da leso segundo os subgrupos. Niteri/RJ,
2011
75
Grfico 11 Evoluo das lceras venosas cicatrizadas. Niteri/RJ, 2011 76
Grfico 12 Distribuio relativa da evoluo dos tecidos na amostra total.
Niteri/RJ, 2011
81
Grfico 13 Distribuio relativa da evoluo das caractersticas das lceras
venosas, quanto profundidade, tipo e quantidade de exsudato.
Niteri/RJ, 2011
84
Grfico 14 Distribuio relativa da evoluo das caractersticas das lceras
venosas, quanto pele adjacente, presena de odor ftido, dor e
dor aps o uso do gel de papana. Niteri/RJ, 2011
84
-
18
Grfico 15 Distribuio relativa da evoluo das caractersticas das lceras
venosas, quanto ao prurido, ao edema e caractersticas das bordas.
Niteri/RJ. 2011
85
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19
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Caractersticas sociodemogrficas dos pacientes. Niteri/RJ, 2011 61
Tabela 2 Faixa etria dos pacientes. Niteri/RJ, 2011 62
Tabela 3 Relao entre idade x tempo de leso. Niteri/RJ, 2011 65
Tabela 4 Variao da rea aps 90 dias de tratamento na amostra total (n =
30). Niteri/RJ, 2011
69
Tabela 5 Variao da rea aps tratamento no subgrupo com rea inicial entre
2 a 3,9 cm2 (n = 10). Niteri/RJ, 2011
71
Tabela 6 Variao da rea aps tratamento no subgrupo com rea inicial entre
3,9 a 20 cm2 (n = 10). Niteri/RJ, 2011
73
Tabela 7 Variao da rea aps tratamento no subgrupo com rea inicial > 20
cm2 (n = 10). Niteri/RJ, 2011
74
Tabela 8 Tempo mdio em dias para cicatrizao das lceras venosas (n = 6).
Niteri/RJ, 2011
76
Tabela 9 Intensidade dos tecidos nos momentos inicial e final do tratamento.
Niteri/RJ, 2011
80
Tabela 10 Caractersticas das lceras venosas no momento inicial e final do
tratamento. Niteri/RJ. 2011
83
Tabela 11 Profundidade da lcera e tecido de granulao no incio do
tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
87
Tabela 12 Profundidade da lcera e tecido de granulao ao final do
tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
87
Tabela 13 Profundidade da lcera e tecido de esfacelo no incio do tratamento
com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
88
Tabela 14 Profundidade da lcera e tecido de esfacelo ao final do tratamento
com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
88
Tabela 15 Profundidade da lcera e tecido de epitelizao no incio do
tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
89
Tabela 16 Profundidade da lcera e tecido de epitelizao ao final do
tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
89
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20
Tabela 17 Quantidade de exsudato e tecido de granulao no incio do
tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
90
Tabela 18 Quantidade de exsudato e tecido de granulao ao final do
tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
90
Tabela 19 Quantidade de exsudato e tecido de esfacelo no incio do tratamento
com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
90
Tabela 20 Quantidade de exsudato e tecido de esfacelo ao final do tratamento
com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
90
Tabela 21 Quantidade de exsudato e tecido de epitelizao no incio do
tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
91
Tabela 22 Quantidade de exsudato e tecido de epitelizao no final do
tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
91
Tabela 23 Quantidade de exsudato e tipo de exsudato no incio do tratamento
com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
92
Tabela 24 Quantidade de exsudato e tipo de exsudato no final do tratamento
com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
92
Tabela 25 Edema e prurido no incio do tratamento com gel de papana.
Niteri/RJ. 2011
93
Tabela 26 Edema e prurido no final do tratamento com gel de papana.
Niteri/RJ. 2011
93
Tabela 27 Dor referida aps o uso do gel de papana e dor usual, no incio do
tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
94
Tabela 28 Dor referida aps o uso do gel de papana e dor usual, no final do
tratamento com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
94
Tabela 29 Prurido e caractersticas da pele adjacente no incio do tratamento
com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
95
Tabela 30 Prurido e caractersticas da pele adjacente ao final do tratamento
com gel de papana. Niteri/RJ. 2011
95
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21
LISTA DE ANEXOS
Anexo I Parecer do Comit de tica em Pesquisa do Hospital Universitrio
Antnio Pedro
131
Anexo II Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 132
Anexo III Folder de Orientao para Curativo Domiciliar 133
Anexo IV Notificao de suspeita de reao adversa a medicamento ou de
desvio da qualidade de medicamento
134
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22
LISTA DE APNDICES
Apndice I PROTOCOLO I DE ADMISSO DO PACIENTE NO ESTUDO 136
Apndice II PROTOCOLO II DE ACOMPANHAMENTO DAS LESES
DOS PACIENTES
137
Apndice III EVOLUO DAS LCERAS VENOSAS APS 90 DIAS DE
TRATAMENTO COM O GEL DE PAPANA
139
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23
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ANS Agncia Nacional de Sade Suplementar
ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria
ATS Avaliao de Tecnologias em Sade
CEP Comit de tica em Pesquisa
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e
Tecnolgico
CNS Conselho Nacional de Sade
DECIT Departamento de Cincia e Tecnologia
DM Diabetes mellitus
EEAAC Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa
FAPERJ Fundao de Amparo Pesquisa do Rio de Janeiro
HAS Hipertenso Arterial Sistmica
HUAP Hospital Universitrio Antnio Pedro
IMC ndice de Massa Corporal
IVC Insuficincia Vascular Crnica
MID Membro Inferior Direito
MIE Membro Inferior Esquerdo
MMII Membros inferiores
MS Ministrio da Sade
PIBIC Programa Institucional de Bolsas de Iniciao Cientfica
SCTIE Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos
SUS Sistema nico de Sade
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFF Universidade Federal Fluminense
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24
1. INTRODUO
As lceras da perna so consideradas feridas crnicas, ou seja, leses que no
cicatrizam num perodo esperado, levando em mdia mais de oito semanas1. Tambm
chamadas de feridas complexas, so consideradas atualmente um problema de sade
pblica, devido a sua incidncia e suas repercusses na qualidade de vida do paciente, sem
contar o alto custo do tratamento, a perda da capacidade laboral e o aumento de
aposentadorias precoces2.
As trs principais etiologias das lceras da perna so: venosa, arterial e neuroptica,
sendo que a lcera venosa a mais frequente, perfazendo cerca de 75% das causas3.
Vrios fatores que contribuem para aumentar o risco de aparecimento dessas
lceras tambm interferem no processo de cicatrizao, tais como: a idade; uso de
determinados medicamentos, como imunossupressores; tabagismo; comorbidades como o
Diabetes mellitus, a Hipertenso Arterial Sistmica, a doena vascular perifrica; traumas
mecnicos; condies nutricionais; radioterapia; percepo sensorial e mobilidade
prejudicadas; umidade e perfuso tissular diminuda por insuficincias vasculares4-6
.
O foco deste estudo o reparo tecidual de lceras venosas, por meio do uso do gel
de papana. Representa o desdobramento de duas pesquisas que receberam o Prmio de
Incentivo em Cincias e Tecnologia para o SUS 2007, sobre desenvolvimento dos
hidrogis: uma sobre o Uso de Biomateriais no Reparo Tecidual de Leses Tissulares
desenvolvido na Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) e na Unidade
de Pesquisa Clnica do Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP); outra sobre a
Implementao e Avaliao de Aes Visando a Otimizao da Assistncia
Farmacutica. Tais pesquisas foram desenvolvidas com apoio financeiro da Fundao de
Amparo Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq).
Em 2011, a pesquisa sobre o Hidrogel a 2% produzido pela Farmcia Universitria
e aplicado no Ambulatrio, intitulada Avaliao de Custo e Efetividade do Hidrogel a 2%
no Tratamento de lceras da Perna (Cost and Effectiveness Evaluation of Hydrogel 2% on
Leg Ulcer Treatment)" recebeu o prmio de segundo lugar em Pesquisa, pelo Dermatology
Nurses' Association, nos Estados Unidos da Amrica.
-
25
Em 2012, resultados preliminares deste trabalho foram apresentados no Congresso
do Dermatology Nurses' Association nos Estados Unidos da Amrica, recebendo o prmio
de primeiro lugar em Pesquisa.
1.1 Problema do estudo
As feridas crnicas so um desafio no s para o paciente, mas tambm para o
profissional e o sistema de sade1, visto que as leses na pele tem uma ampla gama de
repercusses que transcendem a esfera fsica, afetando tambm as dimenses
psicoemocional e social de seus portadores7. Dependendo da leso, as lceras podem
causar dificuldades para a pessoa se mobilizar, absentesmo ao trabalho e limitaes nas
atividades sociais7-9
.
Nos Estados Unidos, bilhes de dlares so gastos anualmente no cuidado s
feridas crnicas10
. No Brasil, embora se desconheam os gastos com esses tratamentos,
considera-se que sejam elevados, repercutindo na qualidade de vida do paciente e da sua
famlia11
.
Levando em considerao o processo de envelhecimento fisiolgico e sua relao
direta com a diminuio da capacidade de recuperao tecidual, considera-se que este
problema merea ateno especial medida que aumenta a longevidade da populao
brasileira e mundial5.
Estima-se para a populao brasileira, em 2020, mais de 30 milhes de idosos,
correspondendo a quase 13% da populao12
. Nos Estados Unidos, em 2002, estimava-se
que 1% da populao geral e 3,5% das pessoas idosas com mais de 65 anos tinham lceras
venosas5.
Um dos fatores predisponentes importante para o aparecimento de feridas o
Diabetes mellitus e segundo dados do Ministrio da Sade, em 2007 havia 5 milhes de
diabticos, sendo 7,6% da populao entre 30 e 69 anos. Estes dados aumentam a cada
ano. H previso de que 15% destes podero desenvolver lceras13
.
O enfermeiro, como parte da equipe multiprofissional, possui um papel
fundamental na preveno e no cuidado das leses de pele. de sua responsabilidade
-
26
monitorar a integridade da pele, planejar, implementar e avaliar intervenes para sua
manuteno4.
Para tanto, faz-se necessrio que os enfermeiros mantenham atualizados seus
conhecimentos, para que possam exercer uma assistncia de enfermagem fundamentada
em evidncias cientficas, que proporcionem segurana, efetividade e menor custo.
H diversos tipos de coberturas e produtos utilizados para realizao de curativos e
a escolha do enfermeiro deve ser realizada aps avaliao criteriosa da pessoa e sua ferida.
Nos casos de tecidos necrticos e desvitalizados, inquestionvel a necessidade de
realizao de algum mtodo de desbridamento do leito das feridas para auxiliar no
processo de cicatrizao tissular. No entanto, a eficcia e a segurana da utilizao dos
mtodos de desbridamento em feridas crnicas permanecem desconhecidas, uma vez que
faltam ensaios clnicos bem delineados3.
Um dos obstculos cicatrizao das lceras venosas o processo inflamatrio
prolongado e a presena de esfacelo. Vrios estudos tm sido desenvolvidos para avaliar
produtos com ao desbridante e cicatrizante, entre eles a papana, que provm do ltex do
fruto verde do mamoeiro (Carica papaya), encontrado comumente no Brasil. um agente
desbridante qumico, cujo uso teve incio no Brasil em 1983 e aps vrios estudos de
mbito nacional e internacional, tem sido reconhecido pela sua eficcia em acelerar o
processo de cicatrizao de feridas, principalmente, as crnicas7.
A papana tem sido considerada um produto de baixo custo final sendo consumida
na rede hospitalar e ambulatorial de sade, com uso difundido por dcadas14
. Trata-se de
um desbridante qumico, que, em baixas concentraes, pode ser utilizada em tecido de
granulao, promovendo a epitelizao da ferida15
.
Entretanto, um dos maiores desafios para o uso desta substncia a manuteno da
estabilidade da sua ao enzimtica. Outras questes que permancem sem resposta a
melhor forma de sua aplicao e a concentrao adequada.
A apresentao e a forma de utilizao da papana pelos enfermeiros variou muito
ao longo dos anos, primeiramente foram utilizados a polpa do fruto e o p diludo, com
cuidados de armazenamento e diluio a fim de manter a estabilidade enzimtica da
papana que proporciona a protelise e a cicatrizao14
.
-
27
Ainda hoje, h poucos estudos clnicos acerca do gel de papana como tecnologia
para uso em curativos e no h um consenso da sua forma de utilizao entre os
enfermeiros16
.
A primeira formulao da papana em gel surgiu em 1993, facilitando o uso e
mantendo por mais tempo a estabilidade enzimtica da papana17
. Apesar disso, estudos
com desenvolvimento de gis de papana apontam a dificuldade de manuteno da
concentrao adequada e da atividade enzimtica durante o armazenamento da papana
mesmo na formulao em gel18
.
Diante disso, professoras pesquisadoras da Escola de Enfermagem e da Faculdade
de Farmcia da UFF, do Grupo de Pesquisa em Feridas, Biomateriais e Pesquisa Clnica na
Sade e na Enfermagem vem estudando a produo e utilizao da papana em feridas,
com desenvolvimento do produto na Farmcia Universitria. Nessa pesquisa, sero
estudados os gis de papana nas concentraes a 2% e a 4%, com controle da estabilidade
enzimtica.
1.2 Objeto de estudo
A efetividade de um protocolo de uso do gel de papana a 2% e 4% no processo de
cicatrizao de lceras venosas no perodo de 90 dias.
1.3 Justificativa
Este estudo servir como fonte de consulta sobre o uso do gel de papana a 2% e
4% e contribuir para o conhecimento da efetividade do gel de papana nessas
concentraes no tratamento de lceras venosas e produzir subsdios para deciso clnica
sobre sua utilizao. Alm disso, servir como base para realizao de pesquisas futuras
acerca do gel de papana em lceras venosas.
-
28
1.4 Relevncia
Foi realizada uma reviso sistemtica com levantamento bibliogrfico manual e
eletrnico de estudos primrios, em portugus, ingls e espanhol, sem recorte temporal,
entre os dias 13 e 14 do ms de julho de 2011, utilizando os seguintes descritores, tambm
como palavra: Carica; Papana e Cicatrizao, alm dos Mesh terms na MEDLINE
(Carica; Papain e Wound Healing). A busca foi realizada nas seguintes bases de dados:
Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade (LILACS); Portal de
Evidncias com foco na Cochrane (COCHRANE); ndice Bibliogrfico Espaol en Ciencias de
la Salud (IBECS); Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line (MEDLINE) via
Pubmed e Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature (CINAHL). Foram
pesquisados 9145 artigos que tratavam da papana e cicatrizao de feridas, sendo
encontrados apenas 17 que tratavam sobre a papana e a cicatrizao de feridas em
humanos. Os artigos indicaram que a papana foi utilizada em feridas de diversas
etiologias, em todas as fases do processo de cicatrizao e em pacientes de diferentes
faixas etrias, como recm-nascido, adultos e idosos, porm sem um padro de formas e
apresentao para uso do produto, j que foram utilizadas polpa do mamo verde, p, gel,
creme associado ureia com ou sem clorofila, e spray19
.
Desta forma, observa-se que embora a papana j seja usada h dcadas, ainda h
poucos estudos que avaliem com preciso a efetividade da papana, principalmente na
formulao em gel, no processo de cicatrizao de feridas, especificamente das lceras
venosas.
Diante disso, surge a seguinte questo: A utilizao do Gel de Papana a 2% e 4%
em pacientes com lceras venosas efetivo no processo de cicatrizao?
Portanto, essa pesquisa proporcionar evidncias cientficas sobre o uso do gel de
papana e sua efetividade, contribuindo para atualizao do conhecimento dos enfermeiros
e acadmicos de enfermagem e oferecendo subsdios para tomada de deciso e novas
pesquisas.
Hiptese
O gel de papana a 2% e 4% efetivo na cicatrizao das lceras venosas.
-
29
1.5 Objetivo geral
Analisar a efetividade do gel de papana a 2% e 4% no reparo tecidual das lceras
venosas.
Objetivos especficos
Avaliar a evoluo da cicatrizao das lceras venosas; percentual de lceras
cicatrizadas; tempo mdio para cicatrizao e alterao do tipo de tecido no leito das leses
tratadas com o gel de papana a 2% e 4%;
Relacionar os efeitos do uso do protocolo do gel de papana quanto profundidade;
tipo e quantidade de exsudato da leso; odor; dor; edema; reaes adversas como prurido e
dor aps o uso do produto e caractersticas das bordas das lceras e da pele adjacente.
-
30
2. REVISO DE LITERATURA
2.1 TECNOLOGIAS EM SADE
As ltimas dcadas tem presenciado um processo de transformao e de inovao
tecnolgica sem precedentes, inclusive na rea de sade. A cada dia, mais tecnologias em
sade so lanadas no mercado.
Consideram-se como tecnologias em sade: equipamentos, medicamentos, materiais,
rteses, prteses, insumos e procedimentos mdicos-cirrgicos utilizados na prestao de
servios de sade e voltados para o suporte, organizao e administrao de servios de
sade20
.
As tecnologias em sade tambm podem ser consideradas como um conjunto
amplo de elementos, de conhecimentos concretamente incorporados em produtos,
conhecimentos usados no cuidado, sistemas organizacionais e de apoio. Portanto,
tecnologia a aplicao prtica do conhecimento21
.
Classificao das Tecnologias em Sade
As tecnologias em sade podem ser classificadas, de acordo com a sua natureza
material, seu propsito e seu estgio de difuso:
Natureza material:
Podem ser medicamentos, procedimentos, sistemas organizacionais.
Propsito:
Preventivas: preveno antes que ocorra a doena, reduzindo o risco para que ocorra,
limitando sua extenso e/ou sequela;
Screening: deteco precoce de doenas ou anormalidades em pessoas assintomticas;
Diagnsticas: identificao da causa ou natureza da doena em pessoas que j
apresentam sinais e/ou sintomas;
-
31
Teraputicas: usadas para melhorar ou manter o estado de sade, evitar deteriorao ou
uso paliativo;
Reabilitao: restaurar, manter ou melhorar a funo mental ou fsica da pessoa
deficiente e seu bem-estar.
Estgio de Difuso:
Futuras: trata-se de projetos, ainda em estgio conceitual. a fase mais inicial do
desenvolvimento;
Experimentais: estudos em laboratrio ou em animais;
Investigacionais: avaliao clnica inicial (em humanos);
Estabelecidas;
Obsoletas: tecnologias que foram substitudas por outras ou se apresentaram como
ineficazes ou prejudiciais.
Muitas vezes, essas fases no so bem definidas e determinadas tecnologias no
perpassam por todo esse ciclo21
.
As tecnologias tambm podem ser de baixa ou de alta complexidade, sendo as
ltimas de maior custo.
2.2 AVALIAO DE TECNOLOGIAS EM SADE
Apesar de trazer inegveis benefcios longevidade e qualidade de vida da
populao, a incorporao de tecnologias nos servios de sade tem sido considerada como
uma das razes para o crescimento exponencial dos gastos com sade22
.
A fim de garantir uma incorporao mais adequada e uma utilizao mais racional
dos recursos tecnolgicos em sade, faz-se necessrio executar uma avaliao rigorosa
dessas tecnologias.
Nesse contexto, a Avaliao de Tecnologias em Sade (ATS) um subsdio
importante para tomada de decises quanto incorporao de uma tecnologia e elaborao
de diretrizes clnicas23
.
-
32
Este termo, Avaliao de Tecnologias em Sade, foi formalmente conceituado pela
primeira vez em 1976, mas o crescimento desse conceito foi notvel na dcada de 90,
especialmente nos pases europeus, ganhando visibilidade a cada dia24
.
A Avaliao de Tecnologias em Sade um campo multidisciplinar que aborda os
impactos da tecnologia, considerando o seu contexto de cuidados de sade especficos,
bem como as alternativas disponveis. So avaliados os contextos econmico,
organizacional, social, tico e impactos micro e macro-econmicos22
.
O uso da Avaliao de Tecnologias em Sade de fundamental importncia porque
evita a incorporao indiscriminada de tecnologias em sade, o que causaria um custo
elevado e desnecessrio aos sistemas de sade; avalia o impacto econmico-financeiro de
tecnologias de alto custo; gerencia os aumentos dos gastos em sade atravs de estudos
sobre as alteraes do perfil demogrfico, epidemiolgico e racionaliza a tecnificao do
cuidado22
.
Objetivos da Avaliao de Tecnologias em Sade
A ATS tem como objetivo principal preservar a segurana do paciente, garantir a
efetividade da tecnologia e seu uso apropriado. Como objetivos secundrios se encontram
as avaliaes de custo x benefcio; a proviso de subsdios para tomada de deciso para
incorporao de tecnologias e o gerenciamento de recursos em sade; alm de contribuir
com a formulao de polticas de sade.
Visa sintetizar os conhecimentos produzidos por meio de pesquisas, que podem
analisar uma tecnologia mediante seus efeitos benficos (eficcia e acurcia) e indesejados
(colaterais e adversos), a anlise da efetividade, e o exame comparativo da relao desses
efeitos, e do valor atribudo a esses efeitos, com os gastos correspondentes de recursos
(anlises custo-efetividade e custo-utilidade) para diferentes alternativas tecnolgicas,
visando o emprego de melhores tecnologias de ateno sade (promoo e preveno)24
.
Ao ser inserida uma tecnologia, alguns itens devem ser avaliados, como: as
propriedades tcnicas da tecnologia (desempenho, especificaes, confiabilidade,
facilidade de uso, manuteno); segurana clnica; eficcia (testada em condies ideais),
efetividade (condies reais) e eficincia, ou seja, a relao entre os custos decorrentes da
proviso de um cuidado e os benefcios advindos do mesmo.
-
33
Alm disso, os aspectos sociais e ticos tambm devem ser avaliados, bem como os
impactos macro e microeconmicos atribudos tecnologia. Em vista disso, alguns pontos
devem ser considerados como: os critrios de seleo dos pacientes e de suspenso do
tratamento; alocao de recursos escassos e tecnologias custosas e/ou no curativas e o
acesso no equitativo.
Portanto, em virtude das importantes implicaes econmicas, ticas e sociais
relacionadas incorporao das tecnologias em sade prtica e aos sistemas de sade,
uma avaliao dessas tecnologias em suas diversas dimenses e a regulao dos processos
de incorporao e utilizao so elementos essenciais para uma prtica clnica mais efetiva,
menos iatrognica e mais racional.
Avaliao Tecnolgica em Sade no contexto brasileiro
O Brasil, bem como os demais pases, tem elaborado polticas que possam
implementar o uso da ATS no processo decisrio quanto incorporao e a continuidade
de uso de tecnologias em sade.
Nesse contexto, as avaliaes econmicas so um importante instrumento nos
processos de deciso e alocao de recursos em sade, porque permitem identificar e
mapear problemas e oportunidades para uso e aplicao de solues tecnolgicas,
baseadas na avaliao da efetividade, dos custos e dos impactos do uso de uma tecnologia
no sistema de sade, permite tambm o aprimoramento das polticas de sade, aumentando
a eficincia e a efetividade dos servios e a qualidade do cuidado em sade prestado25
.
A Portaria n 2.690, de 5 de novembro de 2009, institui, no mbito do Sistema
nico de Sade (SUS), a Poltica Nacional de Gesto de Tecnologias em Sade26
. Este
processo de gesto est articulado nas trs esferas de gesto do SUS, e implementado luz
dos princpios de universalidade, equidade e integralidade27
.
O Ministrio da Sade, por meio do Departamento de Cincia e Tecnologia
(DECIT), da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Insumos Estratgicos (SCTIE), coordena,
em mbito nacional, as aes de avaliao de tecnologias em sade.
Em rgos como a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (ANVISA) e na
Agncia Nacional de Sade Suplementar (ANS), as diretrizes da Poltica Nacional de
Gesto de Tecnologias em Sade so de carter recomendatrio, ainda que esses rgos
-
34
sejam coordenados pelo DECIT. As aes articuladas so subsidiadas por um Grupo de
Trabalho Permanente de Avaliao de Tecnologias em Sade. Uma rede de centros
colaboradores e instituies de ensino e pesquisa no Pas, denominada Rede Brasileira de
Avaliao de Tecnologias em Sade (REBRATS) responsvel pela gerao e sntese de
evidncias cientficas no campo de Avaliao de Tecnologias em Sade26
. Alm disso, a
REBRATS tem como princpios norteadores a qualidade e a excelncia na pesquisa,
poltica e gesto de tecnologias, no tempo oportuno e no contexto da ateno prestada28
.
2.3 A SADE BASEADA EM EVIDNCIAS
Durante muitos anos, o atendimento em sade se baseava na experincia
profissional e na opinio de especialistas. Este processo de tomada de deciso coloca em
segundo plano a busca por evidncias cientficas que comprovem qual a melhor escolha.
Faz-se necessrio, ento, delimitar quais os procedimentos que realmente tem resultados
positivos, so seguros e que possuem o menor custo possvel.
Atualmente, os livros apesar de serem tradicionalmente fontes confiveis, tornam-
se rapidamente desatualizados e com o aumento da produo de artigos e a valorizao da
busca pelas evidncias cientficas, torna-se fundamental uma avaliao crtica da qualidade
das informaes encontradas29
.
Esta preocupao faz parte de um movimento criado na dcada de 1990, derivado
da epidemiologia clnica, chamado de Medicina Baseada em Evidncias (MBE), que
buscava organizar as informaes mais relevantes e as condutas em sade mais eficientes,
ou seja, que oferecessem uma melhor resposta ao paciente e fossem mais seguras e de
custo adequado29
.
Essa busca pela melhor evidncia, no se restringe aos mdicos, tambm
preocupao dos demais profissionais da sade. A Sade Baseada em Evidncias busca
integrar a melhor evidncia disponvel experincia clnica e s caractersticas individuais
de cada paciente, o qual deve participar do processo de deciso e ter acesso s fontes de
conhecimento30
.
-
35
O enfermeiro e a prtica baseada em evidncias
Os enfermeiros exercem um papel fundamental na avaliao de muitos produtos
que so inseridos no mercado, como coberturas para curativos, dispositivos de acesso
venoso e outras tecnologias utilizadas diretamente na assistncia de enfermagem.
As Normas Internacionais de Boas Prticas Clnicas, que so um conjunto de
normas e orientaes ticas e cientficas, preconizam a existncia de uma equipe
multiprofissional (mdicos, enfermeiros, farmacuticos, estatsticos, auxiliares de
enfermagem, tcnicos de informtica, psiclogos, dentre outros) bem treinada para
conduo adequada de uma pesquisa clnica30
.
Nesse sentido, a busca por evidncias cientficas na literatura pode auxiliar no
processo decisrio e servir de estmulo para que novas pesquisas sejam realizadas para
comprovar a efetividade de algumas tecnologias em uso e a insero de outras.
Faz-se necessrio que os enfermeiros se atentem aos nveis de evidncias dos
estudos encontrados, pois de acordo com o tipo de estudo, possvel saber o nvel de
confiabilidade e validade. Os estudos so classificados de acordo com o grau de evidncia
a seguir, do maior para o menor: Metanlises, Revises sistemticas, Ensaios clnicos,
Coorte, Caso-controle, Estudo de casos e Opinio de especialistas29
.
Os enfermeiros devem se esforar para produzir, quando possvel, estudos com
maior grau de evidncia para avaliar a efetividade de intervenes de sade, como os
ensaios clnicos randomizados e controlados, considerados padro-ouro na medicina
baseada em evidncias31
.
Alm disso, o enfermeiro tambm pode atuar em estudos clnicos como membro da
equipe multiprofissional, exercendo diversas atividades, como a operacionalizao da
pesquisa clnica e incorporao de protocolos clnicos rigorosos, visando evitar desvios,
falhas e vieses, com dedicao, responsabilidade e compromisso com a autenticidade dos
registros, ateno e respeito aos direitos e bem-estar dos sujeitos. Alm de executar
atividades de monitoramento, superviso, capacitao profissional, preparo de artigos
cientficos e desenvolvimento de novos projetos e subprojetos de pesquisa32
.
Para tanto, faz-se necessrio ao enfermeiro contnuo aperfeioamento, boa
interao, estabelecimento de vnculo entre os sujeitos da pesquisa e a equipe
-
36
multidisciplinar, proporcionando credibilidade equipe e desenvolvimento de confiana do
paciente para adeso interveno32
.
2.4 LCERAS VENOSAS
As lceras venosas acometem uma grande parcela da populao, com significante
impacto econmico e social, tanto para o paciente como para o sistema pblico de sade.
So feridas crnicas, de elevada incidncia clnica, que trazem no s sofrimento fsico ao
paciente, como afetam sua qualidade de vida, trazendo tambm prejuzos ao seu
desenvolvimento profissional, pelas constantes recidivas e tratamento prolongado.
Consideradas um problema de sade pblica, so a causa mais comum de lceras de
membros inferiores33
, pode atingir cerca de 75% das causas de lceras, deve ser tratada por
uma equipe multiprofissional. Sua incidncia maior em pacientes com mais de 65 anos,
chegando a 4% nessa populao e em menores, 0,06% a 2%34
.
Os estudos quanto aos dados epidemiolgicos da populao brasileira ainda so
incipientes, mas estima-se que 3% da populao seja portadora de lceras venosas e essa
estimativa se eleva para 10% em diabticos. Em torno de quatro milhes de pessoas so
portadoras de leses crnicas ou possuem algum tipo de complicao no processo de
cicatrizao2.
Dados demonstram que a incidncia de insuficincia venosa crnica de 5,9% e a
prevalncia de lcera venosa gira em torno de 1% no mundo ocidental, sendo mais
frequente nos idosos35
.
A causa mais comum para o seu desenvolvimento a Insuficincia Venosa
Crnica, precipitada pela hipertenso venosa. Essas lceras atingem 0,1 a 0,5% da
populao adulta em fase produtiva e, com o passar dos anos, a incidncia aumenta. H
maior prevalncia de lceras no sexo feminino, chegando proporo de 2,6:1; a maioria
dos pacientes possui a ferida h mais de cinco anos11, 36
. H elevada taxa de recidiva, com
cerca de 70% at o segundo ano aps a cicatrizao2.
A etiopatogenia da lcera venosa est relacionada com a disfuno da bomba
muscular da panturrilha, que leva hipertenso venosa nos membros inferiores. Essa
-
37
bomba o mecanismo primrio de retorno de sangue dos vasos dos membros inferiores ao
corao, atravs de sistema venoso profundo e superficial, de veias comunicantes e
msculos da panturrilha3.
As lceras venosas possuem desenvolvimento lento, com suas principais causas:
doena varicosa primria e efeitos tardios relacionados com a trombose venosa profunda
(sndrome ps-trombtica ou ps-flebtica). Os traumas so comumente fatores
desencadeantes das lceras venosas37
.
Possui como caractersticas clnicas, formato irregular, tendendo a superficialidade,
com bordas definidas, tecido desvitalizado e tecido de granulao no leito, com exsudato
de quantidade varivel e amarelado. Podem ser nicas ou mltiplas, de localizao variada
sendo mais comum na regio maleolar. O edema frequentemente est presente
principalmente ao final do dia34
.
Na regio perilesional, a pele tende a ser purprica e hiperpigmentada, com
dermatite ocre, podendo apresentar quadro caracterizado por eritema, descamao, prurido
e exsudato chamado de eczema de estase. A dor piora ao final do dia com a posio
ortosttica e melhora ao se elevarem os membros. Endurecimento e fibrose dos membros
inferiores podem estar presentes dando ao tero distal da perna do indivduo aspecto de
garrafa invertida, fenmeno identificado como lipodermatosclerose3,33
.
O tratamento da dor est baseado na reduo do edema atravs da terapia
compressiva, pelo uso de meias elsticas, ataduras compressivas elsticas ou inelsticas e
compresso pneumtica33
.
A abordagem do leito da lcera venosa visa otimizar o processo de cicatrizao,
atravs da retirada de esfacelo e tecidos desvitalizados; manuteno do meio mido, que
favorece a angiognese e alvio da dor, alm de proliferao de queratincitos e tecido de
epitelizao3. O repouso com as pernas elevadas 20 cm acima do corao em intervalos de
15 a 30 minutos, trs a quatro vezes por dia e durante a noite, melhora a perfuso e o
retorno venoso, diminuindo o edema e a incidncia de recidivas de lceras e aparecimento
de novas leses33
.
-
38
2.5 PAPANA
A enzima conhecida por papana provm do ltex do mamoeiro (Carica papaya),
encontrado comumente no Brasil. A aplicao da papana no tratamento de feridas teve seu
inicio em 1983. Desde esta data vrios estudos nacionais e internacionais tm sido
realizados para a ampliao do conhecimento sobre sua eficcia em acelerar o processo de
cicatrizao. Os melhores resultados so observados no tratamento de lceras crnicas38
.
Lina Monetta foi a primeira enfermeira brasileira a publicar estudos utilizando
primeiramente a polpa do mamo verde in natura diretamente sobre a leso sem qualquer
processamento anterior do material15
e depois foi utilizada a papana em p diluda em
gua bidestilada em leses teciduais39.
J em 1987, a autora salientava a necessidade de avaliar o paciente, quanto aos
fatores que interferem na cicatrizao, como idade, estado nutricional, patologias
associadas e as caractersticas das leses, alm da escolha do tratamento mais eficaz para
cicatrizao de leses. Alm disso, naquela poca, era forte a tendncia de aproveitar os
recursos naturais na teraputica e a investigao quanto ao uso de substncias da medicina
tradicional, de origem vegetal, animal e mineral15,39
.
Propriedades fsico-qumicas
A papana uma mistura complexa de enzimas proteolticas e peroxidases
existentes no ltex do mamoeiro, conhecido popularmente como leite de mamo. Por
meio de sua ao enzimtica, esta enzima provoca a protelise. Hidrolisa ligaes
peptdicas de aminocidos hidrofbicos na posio P2 e, preferencialmente, aminocidos
bsicos na posio P1, da sua ao desbridante na ferida40
.
Uma das preocupaes quanto ao uso da papana era a possibilidade de ser lesiva ao
tecido sadio devido ao fato de tratar-se de uma enzima. Esta hiptese, porm, foi
descartada devido existncia da 1-antitripsina, uma antiprotease plasmtica, presente
somente no tecido epidrmico sadio que inativa as proteases, impedindo um efeito lesivo
da papana15
. Alm disso, um estudo in vitro avaliou a segurana do uso da papana na pele
humana, verificando as alteraes celulares ocorridas aps 4, 24 e 48 horas de contato da
pele com uma soluo de papana a 0,2%, concluindo que embora haja uma reao de
-
39
protelise do estrato crneo, a papana pode ser seguramente aplicada sobre a pele41
. No
caso das lceras, esse fator importante, pois demonstra o efeito desbridante seletivo da
papana, que ter sua ao somente no tecido desvitalizado, esfacelo, presente no leito da
lcera, sem alterar o tecido de epitelizao neoformado.
A atividade enzimtica decorrente principalmente da presena de um radical
sulfidrila (SH) pertencente ao aminocido cistena. Por isso, aps a diluio apresenta odor
caracterstico semelhante ao enxofre. Sua associao com outras substncias se torna difcil
e exige ateno do enfermeiro porque a papana inativada ao reagir com agentes
oxidantes como o ferro, o oxignio, derivados de iodo, gua oxigenada e nitrato de prata,
luz e calor38
.
Formas de apresentao
As formas de apresentao da papana foram se aperfeioando ao longo do tempo.
H cinco formas de apresentao da papana descritas na literatura para uso em curativos:
in natura (polpa de mamo verde), em p, em gel, em creme associado ureia e/ou
clorofila e spray (no comercializada no Brasil). As preparaes contendo papana no so
produzidas industrialmente no Brasil, sendo vendidas apenas em Farmcias de
Manipulao.
A forma in natura, ou seja, a polpa sem nenhum tipo de processamento teve seu
registro cientfico de uso, no Brasil, em apenas um paciente, visto que naquela poca j
existia a forma em p e houve receio de que o uso da forma in natura pudesse aumentar o
risco de infeco, optando-se pelo uso da papana em p15
.
Nessa apresentao, a papana consiste em um p amorfo, levemente higroscpico,
branco ou branco acinzentado, solvel em gua. Essa soluo apresenta um aspecto que
varia de incolor a amarela clara pouco opaca. parcialmente solvel em glicerina. A
soluo aquosa a 2% possui um pH de 4,8 a 6,2. O p deve ser mantido livre da luz e
umidade, em recipiente fechado e refrigerado42
.
Desde os primeiros estudos realizados com a aplicao da papana, a diluio era
feita no momento da aplicao e utilizada o mais rpido possvel15,39
. Recomenda-se o uso
de frascos plsticos, opacos e pequenos7,15
. Apenas um estudo refere guarda da soluo
para uso por 12 horas em temperatura ambiente, em frascos escuros17
.
-
40
A associao de clorofila com a ureia e a papana tem como objetivo a reduo do
odor da ferida, o aumento do efeito anti-inflamatrio e da granulognese43-44
. A ureia
desnatura protenas por ao solvente e desnatura material necrosado permitindo que fique
mais susceptvel a digesto enzimtica. A combinao da papana com a ureia pode ser
duas vezes mais eficaz que a papana pura45
. A papana tambm tem sido usada em
associao com o silicato de magnsio com maximizao da cicatrizao da ferida46
.
A maioria das enzimas no estvel em temperatura ambiente, e perdem sua
atividade biolgica num curto perodo de tempo. As solues de papana preparadas com
gua destilada ou soro fisiolgico tambm apresentam pouca durabilidade, pois a soluo
de papana a 2% em soro fisiolgico armazenada a 22C possui estabilidade de somente 6
horas47
.
O uso do gel de papana tem se tornado uma tendncia no Brasil, com muitos
estudos sendo desenvolvidos para facilitar o uso e diminuir a manipulao do p da
papana, buscando manter por mais tempo a estabilidade da enzima17
.
A formulao do gel de papana a 1%, tendo o Carbopol
940 como agente
gelificante, manteve-se estvel somente quando armazenado em baixa temperatura (4C).
Este gel, quando submetido a temperaturas de 30C ou 40C apresentou reduo
significativa de sua atividade proteoltica. No entanto, embora os gis contendo papana
tenham demonstrado eficcia (in vitro) para uso tpico, o Carbopol 940 demonstrou ser o
meio mais adequado para veicul-la, sendo superior mesmo formulao aquosa
extempornea18
.
A Farmcia Universitria da Universidade Federal Fluminense, aps diversos
estudos quanto estabilidade da papana para uso em curativos formulou gis de papana
na concentrao de 2% e 4%, utilizando como veculo o Carbopol
940, que realmente
demonstrou ser o melhor meio de veiculao.
Aes e indicaes
A papana possui vrias indicaes como no tratamento da doena de Peyronie por
sua ao proteoltica nas bordas das placas fibrticas. Para uso oral, aplicada como
auxiliar na digesto de protenas em pacientes com dislepsia crnica e gastrite. Encontra-se
ainda sua indicao como nematicida porque a camada externa da cutcula de vrios
-
41
nematides constituda por uma queratina resistente s proteases intestinais, mas no a
outras enzimas proteolticas estranhas ao organismo e que, digerindo a queratina,
provocam em um segundo a morte dos parasitas45
.
Os benefcios do uso da papana tem sido observados no tratamento de feridas de
vrias etiologias e as caractersticas da ferida porque possui um baixo custo, sendo sua
utilizao altamente vivel at mesmo em pases com baixos recursos, devido boa relao
custo-benefcio, praticidade e segurana.
A papana foi utilizada em feridas de diversas etiologias (lceras por presso7,15,48-
50, venosas
7,46, plantares
51-52,
vsceras17,53
, diabticas7,54
, traumticas55
, leses por
extravasamento de potssio e quimioterpico7,15,51
, queimaduras56
, deiscncias de sutura
51,57-58, Sndrome de Fournier
59, leso por Piomiosite Tropical
60); em feridas infectadas e
limpas51
e nas diversas fases de cicatrizao. A concentrao de papana varia de acordo
com o tecido apresentado na ferida14
.
Coutinho descreve as principais indicaes do uso da papana nos diversos tipos de
feridas. Quando a ferida apresenta tecido de granulao, a indicao o uso da papana
numa concentrao a 2%. Na presena de necrose de liquefao, utiliza-se a concentrao
de 4 a 6% de papana diluda em soluo fisiolgica, administrada em jato. Na presena de
necrose de coagulao, utilizam-se produtos com 8 a 10%, aps escarectomia. A indicao
que se realize a troca do curativo a cada 12 horas46
.
A papana no age somente como desbridante qumico, esta possui ao anti-
inflamatria, estimulando o processo de cicatrizao de feridas, atuando inclusive na
contrao e juno de bordos de feridas de cicatrizao por segunda inteno15
.
Alm disso, promove o alinhamento das fibras de colgeno, levando a um
crescimento tecidual uniforme. Esta enzima atua como coadjuvante da antibioticoterapia
sistmica de feridas infectadas43
.
Alguns estudos indicam que a papana possui efeito bacteriosttico, bactericida e
anti-inflamatrio15,53,57
, porm um estudo acerca da atividade antibacteriana in vitro de gis
com diferentes concentraes de papana verificou que apenas a papana a 10% foi capaz
de inibir o crescimento do S. aureus e de duas cepas de P. aeruginosa. Essa concentrao
utilizada apenas para feridas com grande concentrao de tecido necrtico e/ou
desvitalizado47
.
-
42
Contraindicaes e reaes adversas
O mecanismo de ao da papana ainda no est bem estabelecido e, assim como
outras enzimas proteolticas, seu uso deve ser evitado em casos de afeces hepticas ou
renais e durante o tratamento com anticoagulantes. Nenhuma interao medicamentosa foi
documentada45
.
Foram registrados alguns relatos de dor transitria e ardncia aps o uso da papana
como leve efeito colateral7,56
, porm nestes estudos no havia sido bem delimitada a
concentrao da papana utilizada. Reaes anafilticas papana foram relatadas em
aproximadamente 1% das crianas61
.
Nos Estados Unidos, h relatos de pacientes com alergia ao ltex, que apresentaram
reao cruzada com formulaes contendo papana e casos de alergia ocupacional
papana, desencadeada por via respiratria ou por contato, devido manipulao da
papana tanto em indstrias, como em estabelecimentos estticos62-63
. Tambm foi
reportado um caso de alergia desencadeada pela ingesto da fruta, sendo que o paciente j
havia demonstrado a mesma reao quando exposto ao ltex64
.
No Brasil, a Associao Brasileira de Enfermagem em Dermatologia (SOBENDE)
e a Associao Brasileira de Estomaterapia: estomias, feridas e incontinncias (SOBEST),
recomenda a suspenso do uso da papana em pacientes que apresentarem sinais de alergia
e refere o risco de uso nos pacientes que j possuem alergia ao ltex, solicitando que seja
protocolado no Histrico de Enfermagem a investigao de alergia a componentes
derivados do ltex e informar a ocorrncia de qualquer reao alrgica a estas associaes,
visto que os registros de reao papana se restringem aos Estados Unidos e ainda no
foram evidenciadas no Brasil42
.
Segundo uma reviso sistemtica publicada no Journal of Wound, Ostomy &
Continence Nursing, em 2008, que fez o levantamento de estudos sobre desbridantes
qumicos de Janeiro de 1960 a Fevereiro de 2008, o desbridamento qumico necessrio
para o preparo do leito da ferida quando h necrose. Foram pesquisadas evidncias em
estudos prospectivos e retrospectivos, comparando a eficcia da papana, da colagenase e
da associao papana-ureia, associada ou no com a clorofila. O estudo concluiu que os
agentes desbridantes enzimticos so alternativas efetivas para remoo de material
necrtico de lceras de presso, lceras de membros inferiores e queimaduras. Os
-
43
pesquisadores indicam que esta estratgia tambm pode ser usada em necroses de
liquefao. Ocorre, porm, que h poucas evidncias para guiar a clnica na seleo segura
e efetiva do mtodo de desbridamento para pacientes com feridas crnicas. Havia
evidncias limitadas de que a papana - associada a ureia removesse a necrose das lceras
por presso mais rapidamente que a colagenase e o relato do processo de cicatrizao da
ferida no parecia claro65
.
Um estudo acerca dos conhecimentos de enfermeiros sobre o uso da papana em um
hospital de So Paulo, embora esta seja muito utilizada, tanto na rede hospitalar como na
rede de ateno primria devido ao seu baixo custo, fcil aplicabilidade e efetividade no
tratamento de feridas, constatou que no h um consenso entre os enfermeiros, quanto s
indicaes do uso da papana, forma utilizada e tempo de durao da soluo aps
diluio16
.
Portanto, h necessidade de estudos com maior grau de evidncia quanto
estabilidade, concentraes e formulaes da papana, sua efetividade e segurana.
-
44
3. MTODO
3.1 Tipo de estudo
Trata-se de uma pesquisa clnica experimental, prospectiva, onde foi utilizado um
protocolo de aplicao do gel de papana a 2% e 4% em lceras venosas.
A escolha do mtodo se justifica por serem os estudos experimentais de extrema
importncia, pois proporcionam validao da prtica clnica e fundamentos lgicos para
mudar aspectos especficos da prtica66
.
O ensaio clnico tambm classificado de acordo com a descrio dos resultados de
uma interveno, ou seja, em situaes ideais ou reais. O estudo em questo classificado
como um ensaio clnico de efetividade, j que o tratamento est sendo implementado sob
circunstncias normais, ou seja, alguns pacientes podem no seguir rigorosamente o
tratamento no domiclio, abandonar o estudo ou utilizar outras formas de tratamento que
no foram designadas67
.
3.2 Aspectos ticos
A pesquisa faz parte do projeto Uso de Biomateriais no reparo tecidual de feridas,
que foi submetido ao Comit de tica em Pesquisa da Faculdade de Medicina, da
Universidade Federal Fluminense, respeitando os princpios estabelecidos na Resoluo
no196/96 do Conselho Nacional de Sade (CNS), do Ministrio da Sade e aprovado com
o nmero 196/08; CAAE no 0154.0.258.000-08. (Anexo I)
O consentimento dos voluntrios para participao na pesquisa foi obtido aps o
esclarecimento dos objetivos, benefcios e riscos da pesquisa, mediante a assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo II).
Aos mesmos foi garantido o anonimato e o desligamento da pesquisa a qualquer
momento, caso o desejassem, e a continuidade do tratamento no Ambulatrio de Reparo de
Feridas do Hospital Universitrio Antnio Pedro (HUAP). No foi oferecido qualquer tipo
de auxlio financeiro para participao na pesquisa. Tambm no houve ressarcimento de
despesas dos voluntrios.
-
45
3.3 Local da pesquisa
Primeira etapa
Foi desenvolvida na Faculdade de Farmcia da Universidade Federal Fluminense,
no Laboratrio de Tecnologia Farmacutica e na Farmcia Universitria.
Durante esta etapa, as farmacuticas desenvolveram diversas frmulas do Gel de
Papana, buscando alm da qualidade do produto, a estabilidade da frmula, j que a
papana termolbil e fotossensvel. Para tanto, foram desenvolvidos prottipos do
produto a ser testado no estudo clnico, no intuito de adequ-lo tcnica de curativo
estabelecida em protocolo do Ambulatrio de Reparo de Feridas do Hospital Universitrio
Antnio Pedro (HUAP). Os prottipos foram gis de papana de diversas consistncias
para cada uma das concentraes do estudo (2% e 4%). A escolha das formulaes mais
adequadas foi feita atravs de testes de avaliao sensorial com cinco enfermeiros
especialistas.
Paralelamente, diversas reunies foram realizadas com as farmacuticas, para
definio do protocolo de pesquisa e delimitao de aspectos como dia da semana e horrio
para entrega dos gis de papana no ambulatrio, pedido de solicitao para produo dos
gis Farmcia Universitria, local para o armazenamento e dimensionamento do material
a ser utilizado.
O processo de produo foi mapeado por parmetros internacionais de controle de
qualidade que garantem a perfeita reprodutibilidade do produto. Foram estabelecidas
formulaes de gel de papana, nas concentraes de 2% e 4%, com a seguinte
composio: papana (princpio ativo), EDTA (agente de estabilizao da enzima), cistena
(agente de estabilizao da enzima), propilenoglicol (umectante), Carbopol940 (agente
gelificante), nipagin (conservante), gua (veculo). A escolha da papana na forma
farmacutica gel teve como objetivo atender a necessidade de ambiente mido, que
favorece o processo de cicatrizao. Os outros componentes da formulao esto
relacionados com a estabilidade qumica, fsico-qumica e microbiolgica do produto
farmacutico. Foram utilizadas embalagens de 100g.
Os gis de papana receberam um prazo de validade de 15 dias e foram produzidos
semanalmente pela acadmica estagiria da Faculdade de Farmcia, na Farmcia
-
46
Universitria, que os entregava semanalmente para ser armazenado na Pesquisa Clnica do
HUAP, em geladeira a uma temperatura inferior a 4 C.
Segunda etapa
Foi desenvolvida no Ambulatrio de Reparo de Feridas do Hospital Universitrio
Antnio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niteri - RJ. Trata-se de
um hospital pblico, de nvel quaternrio, que atende pacientes vinculados Regio
Metropolitana II do Estado do Rio de Janeiro, que compreende os municpios de Niteri,
So Gonalo, Silva Jardim, Maric, Itabora, Rio Bonito e Tangu.
O Ambulatrio de Reparo de Feridas do HUAP fica situado no trreo do hospital,
coordenado por professora da EEAAC, sendo um local de ensino, pesquisa e extenso para
a graduao, residncia e ps-graduao. considerado referncia para o tratamento de
leses crnicas no municpio de Niteri, recebendo pacientes referenciados oriundos das
Unidades Bsicas de Sade vinculadas Regio Metropolitana II, alm de pacientes do
prprio hospital, encaminhados pelos servios de Cirurgia Geral, Cirurgia Vascular e pelo
grupo de Diabetes do HUAP.
3.4 Populao, amostra e amostragem
A populao compreende os pacientes com lceras venosas atendidos no
Ambulatrio de Reparo de Feridas do Hospital Universitrio Antnio Pedro. A amostra de
convenincia correspondeu a 16 pacientes, com 30 lceras.
Para seleo da amostragem, os voluntrios preencheram os seguintes critrios de
incluso:
Ser maior de 18 anos;
Apresentar lcera venosa com dimenses maiores que 2,0 cm2;
Estar em pleno domnio de conscincia, avaliado durante a consulta de
enfermagem quanto lucidez, grau de orientao e capacidade para autocuidado ou possuir
responsvel legal que garantisse a continuidade do tratamento no domiclio.
Os critrios de excluso foram:
Falta de continuidade do tratamento no domiclio;
-
47
Alergia aos produtos da pesquisa utilizados na leso;
Alergia a qualquer tipo de ltex;
Doenas psiquitricas;
Gravidez e lactao;
lceras arteriais;
Infeco no local da leso.
A amostragem foi no probabilstica, onde a mdia amostral foi considerada
representativa para o universo em questo. Em 2008, foi realizado um levantamento dos
pacientes atendidos no Ambulatrio, verificando que havia 105 pacientes com 136 lceras
de diversas etiologias, sendo que 49 apresentavam 67 lceras venosas68
.
Atenderam aos critrios de incluso 21 voluntrios, com um total de 39 lceras,
sendo que cinco foram excludos. Um foi excludo com 10 dias de tratamento, por
apresentar na consulta subsequente episdios de desorientao e por no possuir
acompanhante ou responsvel legal que pudesse dar continuidade ao tratamento no
domiclio. Outro foi excludo com 30 dias de tratamento, aps relato de queixas lgicas e
exposio de tendes decorrente da diminuio considervel da grande quantidade de
esfacelo que estava presente em suas duas leses. Outra paciente apresentou Erisipela,
sendo diagnosticada e tratada pelo setor de Cirurgia Vascular do HUAP. Um paciente foi a
bito por Insuficincia Renal Aguda. O ltimo paciente foi excludo, pois as lceras de
perna eram grandes demais, da rtula aos dedos do p, sem condies de mensurao,
impossibilitando uma anlise fidedigna da evoluo do tamanho da leso.
Permanecendo 16 pacientes com 30 lceras, que foram acompanhados conforme o
protocolo por 90 dias, perfazendo um total de 191 consultas, com uma mdia de 12
consultas por paciente.
Fluxograma 1: Seleo da amostra. Niteri/ RJ, 2011
Total de 191 consultas, durante 90 dias, com mdia de 12 consultas por paciente
16 voluntrios com 30 lceras
5 excludos
21 voluntrios com 39 lceras
-
48
3.5 Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada no perodo de abril a novembro de 2011, utilizando
instrumentos contendo dados scio-demogrficos e descritivos para avaliao do estado
clnico do paciente e da leso. Esses instrumentos j foram validados em outras pesquisas e
fazem parte dos protocolos de pesquisa do servio do Ambulatrio (Apndices I, II, III,
IV).
Cada sujeito foi avaliado por um perodo de noventa dias, uma vez por semana. A
mensurao das leses e o registro fotogrfico foram realizados a cada 15 dias. O registro
foi realizado em formulrio individualizado, em acordo com os padres internacionais de
pesquisa69
.
3.5.1 Tcnicas de mensurao e variveis de anlise da evoluo das lceras venosas
As variveis de anlise foram divididas em desfechos primrios e secundrios.
Os desfechos primrios observados no estudo foram: evoluo da rea das lceras venosas;
taxa de reduo das lceras venosas; percentual de lceras cicatrizadas; tempo mdio para
cicatrizao e a evoluo do tipo de tecido no leito das leses.
Evoluo da rea das lceras venosas
Para mensurao das leses, foi utilizado o decalque, no qual a forma da lcera
traada em material transparente estril, sendo sua rea calculada atravs da quantificao
dos quadrados centimetrados de um papel quadriculado. Tem a vantagem de fornecer o
formato e o tamanho preciso da leso69,70
. Essa medida foi registrada no incio do estudo, a
cada 15 dias e ao final do estudo.
O registro fotogrfico foi realizado com Cmera Fotogrfica digital da marca Sony,
modelo Cyber-shot, 7,2 mega pixels, com foco a 90 da leso, numa distncia de 50 cm.
Esse registro possibilitou construir uma evidncia visual.
A nica desvantagem da tcnica do decalque e da fotografia no fornecer a
medida da profundidade da leso69,70
.
-
49
Ambas as medidas eram realizadas aps a limpeza da ferida com soro fisiolgico a
0,9%, nos casos de tecido de granulao, e com sabo neutro, nos casos de esfacelo. Pois
medida que se removem os tecidos necrticos e de esfacelo, o tamanho e a profundidade da
ferida podem aumentar, pois a extenso da ferida pode estar mascarada pelo tecido
desvitalizado69
.
Taxa de reduo das lceras venosas
Foi calculada a rea da lcera a partir da medida inicial da leso e aps 90 dias de
tratamento. A apresentao desse dado foi realizada nos subgrupos e na amostra total. Para
anlise do percentual de reduo/aumento de cada lcera venosa foi utilizada a seguinte
frmula70
:
Porcentagem de reduo da rea da lcera venosa = (rea inicial - rea final) x 100
rea inicial
Percentual de lceras cicatrizadas
Foi calculado ao final do estudo, considerando a quantidade de lceras venosas
cicatrizadas e seu percentual em relao amostra total.
Tempo mdio para cicatrizao
Foi avaliado de acordo com a mdia do nmero de dias que as lceras venosas
apresentaram total cicatrizao.
Evoluo do tipo de tecido no leito das leses
O tipo de tecido encontrado no leito das lceras venosas demonstra a evoluo do
processo de cicatrizao. Os tecidos que podem ser encontrados, segundo a gravidade do
pior para o melhor, so:
Necrose: de colorao preta, marrom, cinzenta ou esbranquiada;
-
50
Tecido de esfacelo: tecido desvitalizado, com clulas mortas, de aspecto
amolecido e colorao branca ou amarelada;
Tecido de granulao: bom indicador do processo de cicatrizao, esse tecido
avermelhado, de aspecto granuloso, vivo e brilhante representa a formao de capilares,
que vo possibilitar a formao do tecido novo;
Tecido de epitelizao: representa a formao do tecido de cicatrizao, tem
aspecto rosado. Pode se formar da margem para o meio da leso, em feridas pequenas ou
pode se apresentar tambm, principalmente em feridas maiores como ilhas, no meio da
leso, migrando para as margens69
.
Esta avaliao foi realizada no incio do estudo, a cada visita semanal ao
ambulatrio e ao final do estudo, considerando a porcentagem de cada tecido encontrado
no leito da leso, sendo registrado no formulrio de coleta de dados (Apndice II). Para
tanto, foram consideradas para cada tecido a graduao de porcentagem: 0%; 1-25%; 26-
50%; 51-75%; 76-99%; 100%. No foram includos sujeitos com necrose de coagulao.
Nos desfechos secundrios foram considerados: profundidade; tipo e quantidade de
exsudato da leso; odor; dor; edema perilesional; reaes adversas como prurido e dor aps
o uso do produto; e caractersticas das bordas e da pele adjacente. Todas essas variveis
foram avaliadas no incio do estudo, a cada visita semanal ao ambulatrio e ao final do
estudo, considerando a porcentagem de cada tecido encontrado no leito da leso, sendo
registrado no formulrio de coleta de dados (Apndice II).
Profundidade
A profundidade das lceras venosas foi classificada em: superficial, quando
acomete a epiderme; parcial quando atinge as camadas mais profundas da epiderme e
derme; e total na qual ocorre comprometimento de toda a epiderme, derme e tecido
subcutneo, podendo se estender ao tecido muscular e sseo72
. As lceras superficiais esto
em um processo de reparo tecidual mais avanado, tendo, portanto um melhor
prognstico73
.
-
51
Tipo e quantidade de exsudato
O exsudato foi classificado em: seroso, de aspecto plasmtico, transparente e
aquoso, esse tipo de exsudato composto por leuccitos e microrganismos vivos ou
mortos; serossanguinolento indica muitas vezes a presena de leso vascular dos novos
vasos frgeis que esto surgindo pelo processo de cicatrizao; sanguinolento, indicando
uma maior leso vascular, que pode ser causada pela baixa umidade no leito da leso
provocando o rompimento de vasos neoformados. O exsudato purulento e o
piossanguinolento esto geralmente associados a processos infecciosos, podendo
apresentar coloraes que variam entre amarelo, verde ou marrom74
.
A quantidade de exsudato varia de acordo com a fase de cicatrizao. Uma ferida
muito exsudativa pode representar uma fase inflamatria prolongada ou infeco. A
presena da uma quantidade grande de exsudato nas fases posteriores inflamao forma
uma barreira para a cicatrizao da leso, podendo levar ao maceramento das bordas75-76
.
Foi classificada em: grande, mdia e pouca quantidade.
Odor
As lceras venosas foram classificadas quanto presena ou no de odor ftido. A
presena pode indicar infeco na leso.
Dor
Foi avaliada quanto presena ou ausncia, intensidade e localizao (na leso ou
na regio perilesional).
Edema perilesional
Avaliado de acordo com o local, a presena ou ausncia e a intensidade, sendo
considerado de menor intensidade (1+) e de maior intensidade (4+).
-
52
Reaes adversas como prurido e dor aps o uso do produto
Avaliados tambm quanto presena ou ausncia, intensidade e localizao. Sendo
registrados na Notificao de suspeita de reao adversa a medicamento ou de desvio da
qualidade de medicamento (Anexo IV).
Caractersticas das bordas e da pele adjacente
A pele adjacente foi avaliada quanto ao grau de hidratao/ressecamento e outros
aspectos como hipo ou hiperpigmentao. As bordas foram analisadas quanto a sua
integridade, evoluindo para um processo de epitelizao, o que indica uma melhora da
leso ou para um aspecto macerado, prejudicial ao processo de cicatrizao, pelo risco de
aumento da leso.
3.6 Operacionalizao
O incio do projeto se deu depois do ajuste da consistncia da formulao, baseada
nos testes sensoriais. A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora, com o apoio de
trs alunas de graduao de enfermagem, sendo uma bolsista e duas voluntrias de
Iniciao Cientfica, previamente treinadas quanto ao procedimento de coleta de dados e
sob superviso da pesquisadora. As alunas auxiliavam na realizao do curativo,
distribuio do material para uso em domiclio, marcao de retorno das consultas, alm de
participarem em conjunto com a pesquisadora da consulta de enfermagem.
Durante a execuo do curativo, foram realizadas orientaes e treinamento ao
paciente ou responsvel legal quanto tcnica para realizao do curativo em domiclio
(limpeza da ferida e aplicao do produto, cobertura e bandagem). No foi utilizado
nenhum tipo de terapia compressiva, como meias ou ataduras elsticas para realizao da
bandagem. Utilizaram-se somente ataduras inelsticas.
Aps a primeira aplicao do gel de papana, foi solicitado que o paciente
permanecesse no ambulatrio por cerca de meia hora a fim de que fossem avaliados sinais
de alergia, queixas lgicas ou qualquer outro evento adverso imediato.
-
53
Para realizao do curativo domiciliar, os pacientes receberam o gel de papana a
2% em bisnagas de 100g. (Fig. 1)
Fig. 1: Bisnagas de 100 g de gel de papana
A conservao do gel de papana foi realizada em geladeira, na segunda prateleira,
tanto as de uso domiciliar quanto as de uso ambulatorial. Os transportes realizados foram
da Farmcia Universitria para a Unidade de Pesquisa Clnica do Hospital Universitrio
Antnio Pedro/UFF, e desta para o ambulatrio ou para a residncia do paciente.
Os transportes foram realizados em bolsas trmicas ou caixas de isopor, com gelo
qumico reutilizvel, fornecidos aos pacientes, a fim de manter o produto a uma
temperatura de 4C. (Fig. 2, 3, 4, 5 e 6)
Fig. 2: Caixa de isopor Fig. 3: Gelo qumico reutilizvel
-
54
Fig. 4: Bolsa trmica Fig. 5: Bolsa trmica com gelo
qumico reutilizvel
Fig. 6: Caixa de isopor com gelo reutilizvel e bisnaga de gel de papana
Uso ambulatorial
Para uso ambulatorial, o gel de papana foi produzido em duas concentraes do
ativo, a saber, gel de papana a 2% (p/p) e gel de papana a 4% (p/p). Os rtulos dos
produtos apresentavam todas as informaes exigidas pela ANVISA para produtos obtidos
por manipulao indicando a composio completa do produto, a posologia, data de
fabricao, prazo de validade, local de uso e nome do paciente, alm de todas as
informaes legais da instituio produtora do gel. As bisnagas dos produtos eram
entregues pela equipe de farmcia participante do projeto pesquisadora, em embalagens
com identificaes diferentes, de forma que fosse prevenida a troca entre os produtos. Para
tal as bisnagas com gel de papana a 2% (p/p) possuam uma etiqueta identificadora na
tampa da embalagem de cor verde, enquanto as bisnagas contendo gel de papana a 4%
(p/p) foram identificadas com etiquetas de cor laranja (Fig. 7).
-
55
Fig. 7. Frasco de gel de papana a 4% (p/p) e a 2% (p/p)
O protocolo para utilizao do gel de papana foi realizado da seguinte forma:
No ambulatrio:
Gel de papana a 4%. Indicado uma vez por semana para todos os pacientes
que tenham feridas maiores que 5,0 cm2
e/ou mais de 25% de esfacelo no leito da
ferida.
Gel de papana a 2%. Indicado para pacientes em que todas as leses fossem
menores ou iguais a 5,0 cm2 e com quantidade de esfacelo inferior ou igual a 25%
no leito da ferida (Fluxograma 2).
-
56
Fluxograma 2: Protocolo para uso do Gel de Papana na visita ambulatorial de
acordo com o tamanho e a quantidade de esfacelo. Niteri/ RJ, 2011
No domiclio:
Gel de papana a 2% (p/p). Indicado para uso dirio, independente do tamanho da
leso ou da quantidade de esfacelo.
Na regio perilesional, orientou-se o uso de lubrificantes e hidratantes para pele.
Estes poderiam ser: cremes ou leos contendo cidos graxos essenciais; creme de ureia;
vaselina lquida ou leo mineral. Como estes produtos poderiam interagir com o gel de
papana, foram consideradas as interaes medicamentosas e registradas quaisquer tipos de
reaes.
3.7 Interveno
Alguns cuidados foram tomados no ambulatrio e orientados ao
paciente/acompanhante para evitar a perda da estabilidade da papana durante a realizao
dos curativos como: retirada do produto da geladeira somente no momento do curativo,
-
57
deixando a bisnaga junto ao material para realizao do mesmo; utilizar a gaze ou, no caso
do Ambulatrio, a luva estril para espalhar o gel na gaze, evitando utilizar pina e outros
metais.
Enquanto era realizada a retirada do curativo anterior e a limpeza do leito da ferida,
o gel de papana era deixado exposto ao ambiente para que alcanasse uma temperatura
mais prxima do corpo. Ento, era realizada a aplicao no leito da ferida e o curativo
secundrio com gaze e atadura de crepom. Logo que terminava o curativo, o produto
retornava geladeira. Este procedimento foi adotado devido preocupao em no utilizar
o produto demasiadamente frio no leito da ferida, a fim de evitar a vasoconstrico, que
poderia prejudicar o processo de reparao tecidual.
3.7.1 No Ambulatrio
Na visita ambulatorial, foi utilizada a seguinte tcnica para realizao do curativo:
Materiais
Soro fisiolgico a 0,9%
Gaze de algodo estril
Gel de papana a 2% ou a 4%, de acordo com o protocolo
Atadura inelstica de 15 cm
Esparadrapo
Procedimentos
1. Lavar bem as mos com gua e sabo.
2. Separar o material antes de retirar o curativo anterior.
3. Retirar a atadura e as gazes soltas com luvas de procedimento. Umedecer com soro
fisiolgico, em t