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Universidade do Minho Escola de Engenharia Rafael Alexandre Rebelo da Silva Peixoto Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado Novembro 2014
Universidade do Minho Escola de Engenharia Rafael Alexandre Rebelo da Silva Peixoto Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado Dissertação de Mestrado Mestrado Integrado em Engenharia Civil Trabalho efetuado sob a orientação de: Professor Doutor Joel Ricardo Martins Oliveira Novembro de 2014
iii
AGRADECIMENTOS
No meio desta panóplia de sentimentos é difícil encontrar as palavras certas para
demonstrar o meu profundo agradecimento a todas as pessoas que caminharam e
partilharam comigo o alcance deste sonho.
Ao meu orientador, Professor Doutor Joel Ricardo Martins Oliveira, pela sua
disponibilidade, pelas palavras de conforto e motivação, pelas críticas e reflexões
conjuntas que tornaram este trabalho um desafio constante, pela sua dedicação perante
o tema do meu relatório, que me ajudou a torná-lo mais simples e claro.
Aos meus pais, os meus pilares, pelos sacrifícios, pela sua presença atenta e
disponível, pelo seu amor incondicional, que tornaram possível a realização deste
sonho.
À minha avó, meu exemplo de vida, que esteve comigo em todos os instantes,
apoiando-me e dando-me força e motivação para continuar.
À Carina, minha amiga e namorada, que me ajudou e motivou de todas as formas
possíveis, pela sua disponibilidade e pela sua compreensão. Tenho a certeza que sem
ela seria mais difícil a conclusão do meu curso e respetivo relatório que culmina no
concretizar de um sonho.
Aos meus amigos e colegas do Mestrado, companheiros desta etapa que assim se
tornou um pouco mais fácil, aos meus colegas de trabalho, com o apoio e incentivo
necessário durante todo o processo de execução desta dissertação e a minha amiga
Sara Oliveira pelo seu contributo na fase determinante da minha dissertação.
v
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de
tráfego muito pesado
RESUMO
Neste projeto o principal tema a abordar são as estradas de baixo volume de tráfego e
sujeitas a cargas muito pesadas. Estas estradas são muitas vezes a última parte do sistema
viário a beneficiar das últimas ideias de engenharia. Estas vias são consideradas como
vias de menor importância, são muito numerosas, e os seus problemas são muito exigentes
para os recursos limitados da maioria das grandes agências rodoviárias do mundo. Assim,
as inovações que vão surgindo na maior parte das vezes têm que esperar até estarem
completamente integradas e comprovadas nas principais rodovias antes de serem usadas
nas estradas de baixo volume de tráfego (Irwin, 1991).
Em Portugal existe uma carência de um método específico para o dimensionamento de
estradas de baixo volume de tráfego. O MACOPAV indica que os pavimentos sujeitos a
tráfego muito reduzido como é o pretendido no projeto em estudo (Tráfego Médio Diário
Anual de veículos pesados no ano de abertura, por sentido de circulação e na via mais
solicitada - TMDAp <50) devem ser objeto de um estudo específico.
Posto estas condicionantes o objetivo deste projeto consiste em desenvolver um método
de dimensionamento de pavimentos destinados a baixo volume de tráfego com cargas
pesadas. Assim, pretende estudar-se quais os materiais e os métodos construtivos a
considerar nos pavimentos sujeitos a baixo volume de tráfego, quais os métodos de
dimensionamento a adotar, bem como, qual a constituição física de um pavimento sujeito
a este tipo de solicitações. Pretendeu-se ainda determinar qual é o desempenho espectável
de uma estrada sujeita a baixo volume de tráfego e comparar e criticar os resultados
obtidos no método proposto com o dimensionamento apresentado em projetos existentes,
de forma a aferir a sua capacidade de satisfazer as necessidades a nível estrutural de um
pavimento sujeito a baixo volume de tráfego com cargas pesadas.
Palavras-chave: Pavimentos de baixo volume de tráfego; Métodos empíricos; Catálogos
de dimensionamento; Ábacos de dimensionamento
vii
Evaluation of pavement design methods for low volume roads with heavy traffic
ABSTRACT
In this project the main topic to be addressed is the low traffic volume roads subjected to
very heavy loads. These roads are often the last part of the road system to benefit from
the latest engineering ideas. These roads are considered minor assets, they are numerous,
and their problems are very demanding for the limited resources of most major road
agencies in the world. Thus, the innovations that arise in most cases have to wait until
they are fully integrated and proven on major highways before being used in low traffic
volume roads (Irwin, 1991).
In Portugal, there is a lack for a specific method for the design of low traffic volume
roads. MACOPAV indicates that the pavements subjected to very low traffic, as is desired
in the project under study (Annual Average Daily Traffic of heavy vehicles in the opening
year, per direction of movement and in the most requested lane - TMDAp <50), should
be the object of a specific study.
Given these conditions the objective of this project is to develop a design method of
pavements for the low traffic volume roads with heavy loads. It is intended to study which
materials and construction methods should be considered in pavements subject to low
traffic volume, which design methods to adopt and what should be the constitution of a
pavement subjected to such loads. Another objective is to determine what is the expected
performance of a road subject to low traffic volume, and compare and criticize the results
obtained with the proposed method with the designs presented in existing, in order to
assess their ability to meet the needs at a structural level for a pavement subjected to low
traffic volume with heavy loads.
Keywords: Low traffic volume road pavements; Empirical methods; Design catalogues;
Design Charts
Índice
ix
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
1.1 Enquadramento do tema ..................................................................................... 1
1.2 Objetivos do trabalho ......................................................................................... 5
1.3 Estrutura da dissertação ...................................................................................... 6
2. ESTADO DA ARTE SOBRE PAVIMENTOS SUJEITOS A BAIXO VOLUME DE
TRÁFEGO ................................................................................................................... 7
2.1 Introdução ........................................................................................................... 7
2.2 Metodologias existentes para o dimensionamento de estradas de baixo volume de tráfego ............................................................................................. 14
2.3 Pavimentos especiais sujeitos a tráfego pesado ............................................... 19
3. PROPOSTA DE MÉTODO DE DIMENSIONAMENTO DE PAVIMENTOS DE BAIXO
VOLUME DE TRÁFEGO ............................................................................................ 25
3.1 Introdução ......................................................................................................... 25
3.2 Descrição da metodologia utilizada ................................................................. 26
3.2.1 Princípios básicos da metodologia .......................................................... 26
3.2.2 Método de dimensionamento por catálogo ............................................. 34
3.3 Desenvolvimento de critérios de dimensionamento para estradas não pavimentadas .................................................................................................... 40
4. ANÁLISE COMPARATIVA DE PROJETOS REAIS COM SOLUÇÕES OBTIDAS PELO
MÉTODO PROPOSTO ................................................................................................ 45
4.1 Enquadramento ................................................................................................. 45
4.2 Análise de projetos reais ................................................................................... 46
4.3 Proposta de Soluções Alternativas ................................................................... 48
4.4 Análise Comparativa das Soluções Obtidas ..................................................... 53
4.5 Análise de Sensibilidade do Dimensionamento em Função do Tráfego .......... 55
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 59
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
x
5.1 Conclusões ........................................................................................................ 59
5.2 Trabalhos futuros .............................................................................................. 60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 63
Índice
xi
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 - Camião de 12 eixos de Cooperativas federadas Ltd. (Berthelot, 2005) .......... 3
Figura 2 - Abordagens tradicionais versus abordagens atuais .......................................... 9
Figura 3 - Diagrama esquemático do método empírico do “Manual Euroadoquín”
(ADAH, 2004) ............................................................................................... 16
Figura 4 - Diagrama esquemático do método abreviado do “Manual Euroadoquín”
(ADAH, 2004) ............................................................................................... 16
Figura 5 - Diagrama de dimensionamento segundo método “DGADR” (DGADR,
2010) .............................................................................................................. 17
Figura 6 - Distribuição do peso bruto para cada modelo de aeronave ........................... 22
Figura 7 - Gráficos espectrais de danos .......................................................................... 22
Figura 8 - Gráfico "tridimensional" de deslocamento vertical ....................................... 23
Figura 9 - Regiões climáticas dos Estados Unidos. ........................................................ 27
Figura 10 - Ábaco de dimensionamento para estradas não pavimentadas
considerando a perda de nível de serviço admissível. ................................... 31
Figura 11 - Ábaco de dimensionamento para estradas não pavimentadas
considerando a deformação (profundidade da rodeira) admissível. .............. 31
Figura 12 - Dano total Vs espessura da camada de base tendo por base o critério de
serviço (Manutenção) e deformação (Rutting) .............................................. 33
Figura 13 - Ábaco para converter a espessura de material granular da base numa
espessura equivalente de camada de sub-base. .............................................. 33
Figura 14 - Diagrama esquemático do procedimento de dimensionamento por
catálogos para pavimentos flexíveis (método A). ......................................... 36
Figura 15 - Leis de fadiga referentes ao critério da perda do nível de serviço (ΔPSI)
igual a 1,0, 2,0 e 3,0 ....................................................................................... 42
Figura 16 - Leis de fadiga referentes ao critério de deformação admissível (RD)
igual a 2 e 3 polegadas ................................................................................... 43
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
xii
Figura 17 - Determinação da espessura mínima a usar na base do pavimento D1,
tendo em conta o valor de CBR do solo de fundação .................................... 46
Figura 18 - Determinação da espessura mínima a usar na base do pavimento D2,
tendo em conta o valor de CBR do solo de fundação .................................... 47
Figura 19 - Secção transversal do pavimento D1. .......................................................... 48
Figura 20 - Secção transversal do pavimento D2. .......................................................... 48
Figura 21 - Estruturas-tipo para o dimensionamento dos pavimentos segundo o
“novo” método ............................................................................................... 50
Figura 22 - Nomograma referente ao “novo” método para cerca de 60 000
passagens de eixo de 100 kN ......................................................................... 51
Figura 23 - Nomograma referente ao “novo” método para cerca de 40 000
passagens de eixo de 100 kN ......................................................................... 51
Figura 24 - Comparação entre o dimensionamento utilizando o novo método e o
método polaco (sem geogrelha) para um tráfego de 60000 EP (100kN). ..... 53
Figura 25 - Comparação entre o dimensionamento utilizando o novo método e o
método polaco (sem geogrelha) para um tráfego de 40000 EP (100KN). .... 54
Figura 26 - Comparação entre o dimensionamento utilizando o novo método e o
método polaco (com geogrelha) para um tráfego de 60000 EP (100KN). .... 55
Figura 27 - Comparação entre o dimensionamento utilizando o novo método e o
método polaco (com geogrelha) para um tráfego de 40000 EP (100KN). .... 55
Figura 28 - Espessura necessária tendo em conta o número acumulado de eixos-
padrão para um módulo de fundação de 50 MPa. ......................................... 56
Figura 29 - Espessura necessária tendo em conta o número acumulado de eixos-
padrão para um módulo de fundação de 25 MPa. ......................................... 56
Figura 30 - Espessura necessária tendo em conta o número acumulado de eixos
padrão para um módulo de fundação de 50 MPa. ......................................... 57
Figura 31 - Espessura necessária tendo em conta o número acumulado de eixos
padrão para um módulo de fundação de 25 MPa. ......................................... 57
Índice
xiii
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1 - Classes de tráfego consideradas no MACOPAV (adaptado de JAE, 1995) ... 8
Tabela 2 - Estradas na região da SADC (Sul de Africa) ................................................ 11
Tabela 3 - Duração das estações do ano (meses) para as seis regiões climáticas dos
EUA. .............................................................................................................. 27
Tabela 4 - Cálculo do dano total do pavimento para ambos os critérios (Nível de
serviço e Deformação), com base numa espessura experimental da
camada de base. ............................................................................................. 28
Tabela 5 - Módulo resiliente sazonal do solo de fundação, MR (psi), em função da
qualidade relativa do material da fundação. .................................................. 30
Tabela 6 - Módulo resiliente efetivo sazonal do solo de fundação, MR (psi), em
função da qualidade relativa do material da fundação. ................................. 30
Tabela 7 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos flexíveis para estradas de
baixo volume de tráfego - Nível de confiança de 50%.................................. 34
Tabela 8 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos flexíveis para estradas de
baixo volume de tráfego - Nível de confiança de 75%.................................. 35
Tabela 9 - Níveis de tráfego considerados no dimensionamento de pavimentos
flexíveis. ........................................................................................................ 35
Tabela 10 - Níveis de qualidade do solo de fundação. ................................................... 37
Tabela 11 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos rígidos para estradas de
baixo volume de tráfego: nível de confiança 50% e sem camada granular
de sub-base .................................................................................................... 37
Tabela 12 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos rígidos para estradas de
baixo volume de tráfego: nível de confiança 50% e com camada granular
de sub-base .................................................................................................... 38
Tabela 13 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos rígidos para estradas de
baixo volume de tráfego: nível de confiança 75% e sem camada granular
de sub-base .................................................................................................... 38
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
xiv
Tabela 14 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos rígidos para estradas de
baixo volume de tráfego: nível de confiança 75% e com camada granular
de sub-base .................................................................................................... 39
Tabela 15 - Níveis de tráfego considerados no dimensionamento de pavimentos
com camada de desgaste em material granular ............................................. 39
Tabela 16 - Catálogo de dimensionamento de estradas não pavimentadas:
espessuras recomendadas para a base em material granular (inches) ........... 40
Tabela 17 - Coeficientes das leis de fadiga para o critério de perda do nível de
serviço ............................................................................................................ 43
Tabela 18 - Coeficientes das leis de fadiga para o critério de rodeira admissível .......... 43
Tabela 19 - Características mecânicas adotadas para as misturas com ligantes
hidráulicos com base no “MACOPAV” ........................................................ 49
Tabela 20 - Espessuras das camadas em função do tipo de pavimento, materiais e
fundação para um tráfego do projeto de 60000 EP 100kN............................ 50
Tabela 21 - Espessuras das camadas em função do tipo de pavimento, materiais e
fundação para um tráfego do projeto de 40000 EP 100kN............................ 50
Símbolos e Abreviaturas
xv
SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
AASHTO - American Association of State Highway and Transportation Officials
AADT - Annual Average Daily Traffic
ADT - Annual Daily Traffic
APSDS - Airport Pavement Structural Design System
BPA - British Ports Association
BE - Base estabilizada
BG - Base granular
CBR - California Bearing Ratio
Cd - Condições de drenagem
CSIR - Council for Scientific and Industrial Research
CVO - Commercial vehicle operations
Dbs - Valor médio da espessura da base
DI - Índice de dimensionamento
EBS - Módulo da camada de base
Ec - Média dos módulos de elasticidade do betão de cimento
ESAL - Carga por eixo único equivalente
ESALs - Resumo estatístico da carga de tráfego cumulativa
EUA - Estados Unidos América
GE - Granular Equivalente
GL - Perda de material granular
HCADT - Heavy Commercial Average Daily Traffic (tráfego médio diário
comercial pesado)
LVRS - Low Volume Roads
MR - Módulo resiliente
MACOPAV - Manual de Conceção de Pavimentos para a Rede Rodoviária Nacional
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
xvi
NPRA - Norwegian Public Roads Agency
PAWL - Port Area Wheel Load.
PSI - “Present Serviceability Index” (Índice de qualidade de serviço atual)
ΔPSI - Perda de qualidade de serviço atual
∆PSItráfego - Perda de qualidade de serviço atual devido ao tráfego
∆PSIsc/fh - Perda de qualidade de serviço atual devido ao congelamento dos solos
psi - Unidade de medida de pressão (força por polegada quadrada)
RD - Rodeira
R- Value - Resistance Value
SADC - Southern African Development Community
SBG - Sub-base granular
S’c - Média do módulo de rutura
SF - Soil Factor
SN - Structural Number
ST - Solo tratado
TBS - Tensar Base System
Tf - Toneladas força
Ton - Toneladas
TMD - Tráfego médio diário
TMDAp - Tráfego Médio Diário Anual de veículos pesados no ano de abertura,
por sentido de circulação e na via mais solicitada
TRB - Transportation Research Board
USACE - United States Army Corps of Engineers
Vpd - Veículos por dia
xvii
“Frase inspiradora”
"A partilha de conhecimento não é o problema, e sim a solução. A partilha de
conhecimento não divide o conhecimento, mas fá-lo crescer e multiplicar-se. Quem sabe
e divide o que sabe, não precisa temer que aquele a quem ensina "roube" o seu lugar.
Conhecimento é construção coletiva, dividi-lo é condição necessária para saber mais.”
Koïchiro Matsura
Introdução
1
1. INTRODUÇÃO
1.1 ENQUADRAMENTO DO TEMA
Um componente estrutural essencial ao transporte de veículos são os pavimentos. Os
pavimentos mais comuns são pavimentos com camadas compostas por material
betuminoso. Estas estruturas devem ser concebidas para resistir a inúmeras cargas
repetidas, sujeito constantemente às variações climáticas ao longo do seu ciclo de vida. É
necessário fazer a avaliação de desempenho do material a colocar no pavimento, sendo
este um aspeto de grande importância para qualquer projeto. Se a seleção do material de
pavimento a colocar for de desempenho estrutural adequado pode aumentar a vida útil da
estrutura, exigindo menos medidas de manutenção e reparação (Tabatabaee and Bahia,
2012).
Neste projeto o principal tema a abordar são as estradas de baixo volume de tráfego, estas
são muitas vezes a última parte do sistema viário a beneficiar das últimas ideias de
engenharia. Estas vias são consideradas como vias de menor importância, pois são muito
numerosas, e os seus problemas são muito exigentes para os recursos limitados da maioria
das grandes agências rodoviárias do mundo. Os departamentos de obras públicas são
conservativos, e as agências de estradas locais são as mais mal financiadas de todas.
Assim, as inovações que vão surgindo na maior parte das vezes têm que esperar até
estarem completamente integradas e comprovadas nas principais rodovias antes de serem
usadas nas estradas de baixo volume de tráfego. Devido à existência deste problema, em
1975 foi convocada a primeira conferência internacional de estradas com baixo volume
de tráfego em Boise, Idaho, pelo Transportation Research Council, onde Eldon Yoder da
Universidade de Purdue assumiu a liderança. Desde então, as conferências têm sido
realizadas a cada 4 anos, em locais como; Phoenix, Arizona; Ithaca, Nova Iorque;
Raleigh, North Carolina. Estas conferências foram criadas com a finalidade de terminar
com a ideia de que as estradas de baixo volume de tráfego são o parente pobre de toda a
rede viária (Irwin, 1991).
Esta dissertação pretende estudar as condições de serviço ideais ao nível da pavimentação
que servirão de base para o transporte de carga significativamente pesada, mas com uma
frequência reduzida ao longo do seu ciclo de vida. Torna-se então essencial conhecer um
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
2
pouco daquilo que são os métodos de dimensionamento mais utilizados mundialmente no
que respeita a esta tipologia de pavimentação.
Outro fator importante a abordar neste trabalho recai sobre a existência de veículos muito
pesados. A deterioração de uma estrada é acelerada ao longo do tempo através da
aplicação de cargas repetidas geradas pelos veículos pesados. A pesquisa mostrou que os
danos no pavimento duplicaram em relação aos danos causados devido a cargas aplicadas
por eixo, que são apenas 20 por cento em relação ao máximo permitido (Paxson e
Glickert, 1982).
O crescimento no volume de tráfego ao nível dos camiões, como observado ao longo das
últimas décadas, combinadas com o aumento do peso dos veículos comerciais e
dimensões, está a fazer com que o tempo de vida previsto de muitas estradas diminua.
Consequentemente verifica-se um aumento nos custos relativos a manutenção e
preservação das mesmas (SDHT, 2005).
A deterioração do pavimento é ainda mais intensificada por um aumento de camiões com
excesso de peso, devido a benefícios económicos de um aumento da carga útil (Cunagin
et al., 1997; Paxson e Glickert, 1982). Perante a expectativa de vida decrescente da sua
infraestrutura, as agências viárias estão a investigar métodos de baixo custo, mas de
monitorização e execução eficazes das operações de veículos pesados. Num esforço para
controlar as ocorrências de sobrecarga e para estender a vida útil da respetiva
infraestrutura viária, o Departamento de Estradas e Transportes de Saskatchewan tentou
obter uma compreensão completa dos espectros de carga dos veículos comerciais
(Pesados). Foram realizadas investigações sobre o uso de tecnologia de Pesagem em
Movimento para a recolha de dados de tráfego e fiscalização de veículos comerciais em
aplicações rurais (SDHT, 2005). No entanto, nos municípios urbanos ainda não estão
amplamente implementados programas de monitorização de peso especificamente
concebidos para estudar e aplicar na preservação da infraestrutura (Bushman e Berthelot,
2003). Embora exista muitas evidências empíricas a respeito da aplicação de peso em
pavimentos rurais, pouco trabalho tem sido feito para combater especificamente as
questões de dimensionamento e manutenção de ativos da infraestrutura urbana (Bushman
e Berthelot, 2003). Uma pesquisa recente debruçou-se no comportamento mecânico dos
materiais típicos num pavimento flexível, onde mostra que o comportamento relacionado
Introdução
3
com o desempenho pode ser altamente sensível para a tensão multi-axial induzida, assim
como a taxa de carregamento (Berthelot et al., 1999). Consequentemente, os danos podem
aparecer mais rapidamente em pavimentos urbanos em comparação com pavimentos
rurais devido a velocidades restritas na circulação, paragens frequentes e maior volume
de tráfego nos principais corredores dentro das jurisdições urbanas (Bushman e Berthelot,
2003). Dada a sensibilidade do desempenho da estrada para o tráfego de camiões, é claro
que os municípios urbanos precisam monitorar as operações de veículos pesados
comerciais (commercial vehicle operations, CVO) mais diligentemente para uma gestão
das estradas mais eficaz ao nível dos ativos estruturais.
O tráfego de camiões comerciais em muitas estradas tem vindo a aumentar nos últimos
anos, como fica evidente pelo aumento das dimensões dos veículos comerciais atualmente
em operação mostrados na Figura 1. Com base nos números relatados pela Comissão do
Transportation Research Board (TRB) para o Estudo da Capacidade de carga para o
próximo século, os volumes de tráfego comerciais são projetados para aumentar em 40
por cento até ao ano 2020 (TRB, 2003). Como a maioria dos destinos e origens de
embarque estão concentradas nos centros urbanos, o aumento previsto do tráfego
comercial pesado vai agravar ainda mais a circulação de veículo de passageiros criando
conflitos na infraestrutura urbana (TRB, 2003).
Figura 1 - Camião de 12 eixos de Cooperativas federadas Ltd. (Berthelot, 2005)
De acordo com as estatísticas de tráfego fornecidas pelo Departamento de Estradas de
Transportes de Saskatchewan, o total de eixos padrão (ESALs) nas estradas de
Saskatchewan em 2004 foram gastos cerca de quatro biliões de dólares por ano ao longo
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
4
de todo o sistema de 23,000 km rodovia (SDHT 2005). Os registos históricos mostram
que o número de camiões nas estradas de Saskatchewan aumentou em mais de 47 por
cento nos últimos dez anos e que o comércio com os Estados Unidos quase dobrou durante
esse mesmo período de tempo (SDHT 2005). O aumento da procura de veículos
comerciais bem como os seus requisitos no transporte estão a ocorrer devido ao abandono
de ramais ferroviários, o crescimento contínuo nas indústrias de petróleo, gás, florestal e
de mineração, bem como o sector do turismo provincial. Estes aumentos estão-se a refletir
nas estradas provinciais (SDHT, 2005). Embora venham a aumentar progressivamente ao
longo da última década, o aumento mais significativo no tráfego de camiões ocorreu no
final da década de 1990, como documentado num estudo analisando mudanças nas
tendências dos camiões norte-americanos (Hajek e Billing, 2002). Este estudo indicou um
aumento global de uma taxa de crescimento anual de 3,4 por cento para 5,8 por cento.
Eles observaram que o maior aumento da taxa de crescimento anual nos veículos
comerciais pesados ocorreu em estradas urbanas (6,5 por cento). Com base em dados
recolhidos a partir de dois postos de pesagem permanentes e quatro rotas de desvio
(monitorizados usando WIM), 19 por cento dos camiões observados ignorando as
estações de pesagem estavam acima do peso, enquanto apenas 0,8 por cento tinham
excesso de peso nos locais fixos (Cunagin et al., 1997). Ignorar estas estações juntamente
com a falta de monitorização de veículos comerciais pesados e estruturas de pavimento
mais finas em jurisdições urbanas cria um ambiente mais propício a danos graves
frequentes no pavimento devido ao carregamento exercido pelos camiões.
A nível nacional, pela análise referente à conceção de pavimentos em Portugal verifica-
se que o tipo de pavimento predominante é o dos pavimentos flexíveis, que utiliza no seu
processo de dimensionamento métodos empírico-mecanicistas, pois qualquer outro tipo
de método não tem aplicação prática simples e apresentam algumas fragilidades que
recomendam maior validação prática antes da sua aplicação generalizada (Branco et al,
2005).
Para além dos métodos empírico-mecanicistas existem alguns procedimentos mais
simplificados, ou baseados em catálogos como é o caso do “Manual de Conceção de
Pavimentos para a Rede Rodoviária Nacional” – MACOPAV (Branco et al, 2005). Este
manual abrange diferentes tipologias de pavimentos (flexíveis, rígidos e semirrígidos) e
apenas pode ser utilizado em fase de estudo prévio.
Introdução
5
1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO
Este trabalho consiste em criar condições ao nível da pavimentação que permitam o
transporte de carga pesada, nomeadamente material indispensável à criação de um parque
eólico por parte de uma empresa portuguesa. Assim, serão visadas as várias componentes
de um pavimento juntamente com uma análise ao nível da metodologia que envolve um
dimensionamento adequado ao problema em questão.
Pretende-se então analisar os métodos identificados na revisão da literatura, criticá-los e
procurar propor uma metodologia para o tipo de utilização estudada: pavimentos de baixo
volume de tráfego, mas significativamente pesado.
Numa fase inicial do trabalho procede-se a uma abordagem global acerca daquilo que são
os métodos mais utilizados quando se torna necessário o dimensionamento de estradas de
baixo volume de tráfego e com um carregamento pesado. É necessário um conhecimento
aprofundado daquilo que são os métodos a utilizar na conceção de pavimentos sujeitos a
este tipo de solicitação. Este conhecimento será fundamental na medida em que servirá
de base ao desenvolvimento de um método capaz de avaliar diferentes alternativas para a
construção de pavimentos de baixo volume de tráfego, nomeadamente, pavimentos
constituídos apenas por camadas granulares. Nesta perspetiva será então necessário
estudar e responder a aspetos como:
Qual a constituição física de um pavimento sujeito a este tipo de solicitações?
Qual é o desempenho espectável de uma estrada sujeita a baixo volume de tráfego?
Quais os materiais e os métodos construtivos a considerar nos pavimentos sujeitos
a baixo volume de tráfego?
Criticar os métodos existentes, por comparação com o método a desenvolver;
Satisfazer as necessidades de um pavimento sujeito a baixo volume de tráfego com
cargas pesadas a nível estrutural.
Apresentar as principais conclusões e propostas para desenvolvimentos futuros
recorrendo a bibliografia nacional e internacional, adquirindo conhecimentos relativos à
constituição e metodologia de dimensionamento para baixo volume de tráfego pesado.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
6
1.3 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Por forma a responder aos objetivos delineados para o presente trabalho, a dissertação
está distribuída em 5 capítulos. O CAPÍTULO 1 faz um breve enquadramento sobre o
tipo de pavimentos a estudar, bem como o tipo de metodologia de dimensionamento de
pavimentos a considerar e apresenta as ideias gerais sobre os objetivos do trabalho.
No CAPÍTULO 2 faz-se uma breve introdução referente aquilo que são os pavimentos
sujeitos a baixo volume de tráfego, onde são abordadas ideias base acerca dos métodos
de dimensionamento dos respetivos pavimentos, iniciando-se neste capítulo parte
fundamental do corpo principal deste trabalho, apresentando-se de uma forma resumida
as principais referências bibliográficas.
O CAPÍTULOS 3 constitui o corpo principal deste trabalho. Este capítulo aborda toda a
matéria que serviu de base a todo o processo de desenvolvimento de uma nova abordagem
ao método da AASHTO, demonstrando assim a proposta final do método que visa
dimensionar pavimentos sujeitos a baixo volume de tráfego muito pesado.
No CAPÍTULO 4 é realizada uma análise comparativa de soluções construtivas de
projetos reais com soluções obtidas pelo método desenvolvido (caracterizado no capítulo
anterior).
O CAPITULO 5 aborda as considerações finais, incluindo as conclusões retiradas de toda
a análise comparativa realizada nos capítulos anteriores.
Estado da Arte sobre Pavimentos Sujeitos a Baixo Volume de Tráfego
7
2. ESTADO DA ARTE SOBRE PAVIMENTOS SUJEITOS A BAIXO VOLUME DE TRÁFEGO
2.1 INTRODUÇÃO
Para dimensionar os pavimentos é necessário conhecer o tipo de tráfego pesado, os pesos
descarregados em cada eixo, o tipo de eixos, o número de passagens de cada eixo e a
velocidade de circulação (no caso de pavimentos com camadas betuminosas). Nem
sempre existe informação tão detalhada relativamente ao tráfego pesado. Assim, em
alternativa, poderá ser necessário recorrer a métodos de dimensionamento existentes que
são capazes de prever o número acumulado de eixos-padrão que irá solicitar o pavimento
conhecendo o número de veículos pesados por dia (considera-se veículo pesado aquele
cujo peso bruto é igual ou superior a 3 tf) (JAE, 1995).
No MACOPAV (JAE, 1995) são definidas 8 classes com as quais se caracteriza o tráfego
(Tabela 1), definidas pelo valor do tráfego médio diário anual de pesados na via de projeto
e no ano de abertura (TMDAp) às quais se associa uma taxa de crescimento anual (t) e
um “fator de agressividade” (α). Com base nos valores de TMDAp, t e α é possível então
determinar o número de eixos-padrão que solicitará o pavimento para um dado período
de serviço (p). Este Manual propõe a consideração de um período de 20 anos para os
pavimentos flexíveis e semirrígidos e de 30 anos para os pavimentos rígidos.
No entanto, o MACOPAV indica que os pavimentos sujeitos a tráfego muito reduzido
como é o pretendido no projeto em estudo (Tráfego Médio Diário Anual de veículos
pesados no ano de abertura, por sentido de circulação e na via mais solicitada - TMDAp
<50) devem ser objeto de um estudo específico. Esta situação advém da (quase)
inexistência de tráfego pesado, inviabilizando desta forma, a utilização do referido
Manual.
Devido a este tipo de limitações surge a necessidade de encontrar soluções para
pavimentos sujeitos a este tipo de solicitações. Realizando uma pesquisa mais alargada
no âmbito do tema em causa verifica-se a existência de alguns métodos distintos mas que
visam satisfazer este tipo de pavimentos.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
8
Tabela 1 - Classes de tráfego consideradas no MACOPAV (adaptado de JAE, 1995)
Estradas de baixo volume, tipicamente, têm menos de 500 veículos por dia (FHWA,
1992), mas esta definição varia de acordo com a agência responsável e sua a localização.
Historicamente as estradas de baixo volume de tráfego (Low Volume Roads, LVRS) não
eram o foco principal do setor de transporte; o volume mais alto do escrutínio público e
oficial (junto com as despesas) foi concentrado nas estradas classificadas como de maior
importância, como as rodovias interestaduais e rodovias estaduais primárias. Estradas de
baixo volume locais foram tipicamente construídos usando uma secção transversal
padrão, como um revestimento superficial duplo sobre uma espessura especificada de
material de base granular. Com a degradação das estradas de baixo volume, tornou-se
evidente que estas secções "padrão" foram muitas vezes dimensionadas
inadequadamente. Em resposta, a “American Association of State Highway and
Transportation Officials” (AASHTO) desenvolveu um procedimento de projeto do
pavimento para LVRS que é semelhante ao seu processo de dimensionamento para as
estradas de maior volume, conforme detalhado no "Guia AASHTO para o projeto de
estruturas de pavimento" (AASHTO, 1993). Uma pesquisa realizada como parte desse
estudo revelou que 37 dos 48 estados continentais dos Estados Unidos projetam as suas
LVRS utilizando o método de projeto AASHTO (Hall e Bettis, 2000).
A maioria dos modelos mais antigos utilizados no processo de avaliação de estrada
contam com benefícios decorrentes da redução dos custos de utilização das rodovias
motorizadas. No entanto, muitos dos benefícios decorrentes da prestação de LVRS são
de natureza social e não económico e os beneficiários também incluem tráfego não
Estado da Arte sobre Pavimentos Sujeitos a Baixo Volume de Tráfego
9
motorizado e pedestre - fatores que normalmente não são captados nos modelos
convencionais análises custo-benefício. Isso faz com que os métodos tradicionais de
avaliação económica sejam inadequados para a avaliação de LVRS. No entanto, a
evolução da tecnologia, pesquisa e conhecimento criaram uma nova plataforma para uma
abordagem mais racional e benéfica para a economia da provisão de uma estrada rural.
Métodos de avaliação melhorados, capazes de captar os benefícios sociais ou malefícios
decorrentes do fornecimento ou da ausência de infraestrutura viária adequada, devem ser
incluídos em qualquer avaliação económica de projetos de baixo volume de tráfego.
Ao adotar métodos de avaliação que são capazes de captar os benefícios não-económicos
da prestação de estrada de baixo volume (por exemplo, o modelo Road Economic
Decision, RED) (Archondo-Callao, 1999) e promovendo a utilização de materiais locais
e usando tecnologias, juntamente com abordagens de dimensionamento que trabalham
com o meio ambiente, tanto na construção inicial como a longo prazo, a necessidade de
manutenção pode ser significativamente reduzida, resultando em menores custos de ciclo
de vida. Talvez uma das mais importantes conclusões da pesquisa, combinando os
resultados de muitas inovações dos últimos anos, é que em algumas circunstâncias, a
pavimentação com asfalto de estradas de cascalho é economicamente justificável para
níveis de tráfego inferiores a 100 veículos por dia (Morusuik et al, 1999).
Isto está em contraste com os desatualizados critérios da "regra do polegar" que estipulam
níveis de tráfego em mais de 200 veículos por dia (Figura 2), números que ainda persistem
nas mentes de alguns decisores e agências de financiamento internacionais.
Figura 2 - Abordagens tradicionais versus abordagens atuais
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
10
Se for feita uma análise global verifica-se quais as diferenças na forma como o
dimensionamento se processa nos mais diversos locais onde pode encontrar-se estradas
sujeitas a baixo volume de tráfego. No continente Africano (SADC, 2003) muitos aspetos
da documentação sobre a prestação de estradas de baixo volume ter-se-ão originado a
partir de tecnologia e pesquisa realizada na Europa e nos EUA alguns 30-40 anos atrás,
em ambientes muito diferentes. Embora alguns aspetos desta documentação se tenham
vindo a modificar, em certa medida, nos anos seguintes, a filosofia básica de prestação da
estrada permaneceu essencialmente a mesma.
As abordagens típicas apropriadas a uma rede de estradas principais com elevado volume
de tráfego pesado são claramente inadequadas para o uso em estradas de baixo volume
de tráfego que compõem uma grande parte da rede de estradas nacionais do continente
Africano. Isso fez com que uma série de organizações internacionais de investigação, bem
como departamentos e agências governamentais locais, iniciassem pesquisas em vários
aspetos de estradas de baixo volume fechadas (Pinard, et al. 2003).
Os padrões de dimensionamento de estradas na região da SADC variam
consideravelmente, refletindo tanto a praticados países desenvolvidos com os quais os
Estados-Membros tiveram vínculos anteriores, ou as preferências dos consultores
internacionais, normalmente financiados por doadores, que trabalharam no país. Assim,
britânicos, americanos, portugueses, franceses, alemães e outros padrões deixaram a sua
marca na infraestrutura rodoviária. Em muitos casos, esses padrões têm sido inadequados
para aplicação de baixo custo na região da SADC, onde as condições geográficas,
socioeconómicas e ambientais variam enormemente das que prevalecem nos países de
origem das normas (Pinard, et al. 2003).
As estradas na região SADC são tipicamente classificados de acordo com a função, como
mostrado na Tabela 2 (Tr =Principal; P = primária; S = Secundária; Te =
Terciária/acesso).
Estado da Arte sobre Pavimentos Sujeitos a Baixo Volume de Tráfego
11
Tabela 2 - Estradas na região da SADC (Sul de Africa)
Com exceção da África do Sul, e para além de algumas rotas internacionais de tráfego
intenso, a maioria das principais estradas transportam volumes modestos de tráfego, com
pouco mais de cerca de 10 por cento em relação a 2000 vpd, aproximadamente 25 por
cento dos quais consiste, muitas vezes em veículos comerciais pesados. Em estradas
rurais, os volumes de tráfego são relativamente baixos e grande parte desta rede suporta
o tráfego na faixa dos 50-200 vpd. Perto dos centros de uma aldeia o tráfego não
motorizado, incluindo bicicletas, muitas vezes compreende uma parte significativa do
tráfego total.
As características "de baixo tráfego" de grande parte das redes de estradas rurais na região
da SADC têm implicações para o desenho geométrico, pavimentação e estruturas de
drenagem, manutenção, ou seja, a maneira pela qual as avaliações de investimento são
realizadas.
Durante os últimos 20 anos, várias organizações de investigação, incluindo o “UK
Transport Research Laboratory” (TRL), o “Council for Scientific and Industrial
Research” (CSIR), a “Norwegian Public Roads Agency” (NPRA) e a “Swedish National
Road Consulting AB” (SweRoad), têm pesquisa realizada em vários aspetos de estradas
de baixo volume na região da SADC com o objetivo de reduzir custos e aumentar a
eficácia da prestação de tais estradas (Gourley e Greening, 1999; Netterberg e Paige -
Verde, 1988; Visser e Van Niekerk, 1987, Departament of State Roads, 1995).
Departamentos e agências governamentais locais na região também realizaram pesquisa
e tecnologia desenvolvida para satisfazer as suas necessidades nacionais. Foi realizado
um forte investimento. Um estudo realizado na região da SADC e em outros países em
desenvolvimento identificou muitas anomalias no entendimento anterior e questionou
alguns dos paradigmas aceites associados à prestação de estradas de baixo volume, que
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
12
tem mostrado que tais estradas muitas vezes podem ser dimensionadas de forma mais
barata e rentável e indicou a necessidade de repensar toda a abordagem ao
dimensionamento de estradas de baixo volume fechadas (LVSRs) (Paige - verde, 1999;
Netterberg, 1993). A pesquisa mostrou claramente uma nova abordagem na avaliação
económica, os padrões de desenho geométrico e pavimento mais adequado, melhor uso
de materiais disponíveis localmente para as camadas de pavimento de estradas e
pavimentação, métodos construtivos inovadores e maior participação local e do setor
privado na manutenção, são apenas algumas das áreas onde as grandes economias de
custos e aumento da eficiência podem ser feitas. Infelizmente, menos sucesso foi
alcançado em promover a absorção dos resultados da investigação, o que levou a uma
falta de consciência, transferência de tecnologia e implementação subsequente.
Outra abordagem passa por analisar a forma como são tratadas as estradas de baixo
volume de tráfego num outro continente. Nos Estados Unidos da América (mais
concretamente em Minnesota) os procedimentos de projeto utilizados para estradas de
baixo volume de tráfego têm evoluído ao longo de muitos anos. De acordo com Skok et
al. (1998), o “soil factor” procedimento de dimensionamento que está no manual de
auxílios estatais (Mn/DOT State Aid Manual) foi o procedimento desenvolvido na década
de 1950 e utilizado para todos os pavimentos flexíveis em Minnesota até 1970, quando
Mn / DOT começou a usar no dimensionamento o método segundo “R- Value”. O
dimensionamento segundo o “soil factor” resulta num equivalente granular (GE) de
espessura com base no tipo de solo, perante sete níveis de tráfego baseado no TMDA
(tráfego medio diário anual) e HCADT (tráfego comercial pesado médio diário). O
procedimento de dimensionamento segundo “R – Value” que está no atual manual de
dimensionamento de estradas do departamento de transportes de Minnesota (Mn/DOT
Design Manual) usa o R-Value ou é estimado com base em resultados de laboratório para
avaliar o solo. Há alguma relação entre “R- Value” e “soil factor”. Houve comparações
feitas entre as espessuras de projeto para os dois procedimentos (Mn/DOT State Aid
Manual). Geralmente o procedimento R-Value requer maiores espessuras, especialmente
em maiores níveis de tráfego. Existem dois procedimentos de projeto de espessura do
pavimento flexível agora utilizados em Minnesota. Além disso, alguns pavimentos,
especialmente a nível local, são concebidos pela experiência com base no que já se
trabalhou no passado. Os dois procedimentos formais de espessura de dimensionamento
são o “soil factor” encontradas no Manual de Mn/DOT “State Aid Manual” (Mn/DOT
Estado da Arte sobre Pavimentos Sujeitos a Baixo Volume de Tráfego
13
State Aid Manual) R-Value (estabilómetro) encontrado nos manuais Mn/DOT “Design
and Geotechnical Manuals” (Mn/DOT Design Manual, Mn/DOT Geotechnical Manual).
O procedimento “soil factor” é um extravasamento do procedimento Mn/DOT usado
antes do R-Value, foi adotada no início dos anos 1970. Nesta secção os dois
procedimentos são apresentados juntamente com os fatores necessários para a
determinação da espessura (Skok et al., 1999).
Na Índia as estradas têm desempenhado um papel muito importante no cumprimento dos
requisitos estratégicos e de desenvolvimento na Índia. O progresso técnico em
planeamento e tecnologia de construção de estradas manteve o ritmo com mudanças
rápidas no campo do desenvolvimento de infraestruturas. O mundo tem assistido ao
excelente desempenho de obras de engenharia da Índia em diversas áreas de Engenharia
Civil, incluindo a construção de estradas, e a capacidade dos seus engenheiros em adotar
uma abordagem científica para a resolução de problemas desafiadores. A Índia detém a
segunda maior rede de estradas do mundo, ao lado de EUA. O comprimento total das
estradas no país no momento é de mais de 3,3 milhões km, o que dá a densidade rodoviária
espacial de cerca de 1 km/km2 de área. Estradas de baixo volume são, principalmente, as
estradas rurais na Índia que transportam tráfego diário inferior a 450 veículos comerciais
por dia. As estradas de baixo volume servem como uma das infraestruturas essenciais
para o desenvolvimento rural integrado, que se tornou uma questão de urgência crescente
para as considerações de justiça social, integração nacional e crescimento económico das
áreas rurais (Gupta, Kumar et al. (2010)).
Após uma análise intercontinental aos pavimentos de baixo volume de tráfego
verificaram-se diferenças nos métodos a executar na construção ou reabilitação dos
respetivos pavimentos. Percebe-se que neste tipo de pavimento há um conhecimento e
um trabalho mais desenvolvido referente aos métodos utilizados na conceção ou
reabilitação por parte de países pertencentes ao continente Americano. Em Portugal existe
ainda algumas limitações nesse aspeto que obriga a um esforço maior quando chamados
a intervir a este nível. No continente Africano realizam-se conferências no intuito de
aproximar os métodos de dimensionamento à forma como se executa em países onde já
existe informação sólida no que toca a este tipo de pavimentos, mais respetivamente EUA,
daí ser um aspeto importante a ter em conta, pois são este tipo de pavimentos que
permitem uma expansão ao nível social, estrutural e económico de determinadas
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
14
localidades no acesso aos centros urbanos. Devem ser criadas condições para que este
tipo de pavimentos sejam dimensionados por forma a responder com sucesso às
necessidades dos diversos utentes e localidades.
2.2 METODOLOGIAS EXISTENTES PARA O DIMENSIONAMENTO DE ESTRADAS DE
BAIXO VOLUME DE TRÁFEGO
Nos E.U.A, o manual da AASHTO (AASHTO 1993), de natureza empírica, ajuda a
compreender melhor este tema, uma vez que o manual utilizado em Portugal
(MACOPAV) se encontra limitado neste capítulo de estradas com baixo volume de
tráfego. Recorrendo ao manual da AASHTO verifica-se a existência de um capítulo
referente a este tipo de estradas, apresentando a estrutura de um pavimento referente a
baixo volume de tráfego dividindo-a em três categorias: pavimentos flexíveis, pavimentos
rígidos, pavimentos com camada de desgaste em material granular (não pavimentadas).
O manual utiliza procedimentos baseados em dois métodos distintos: método de projeto
através de ábacos e métodos de projeto através de catálogos.
A metodologia dos ábacos apenas será abordada para os pavimentos com camada de
desgaste em material granular (estradas não pavimentadas) pelo facto de estes serem
específicos do tipo de estradas em análise. Este método permite determinar a espessura
de material granular da camada de base e posteriormente converter esta espessura numa
espessura equivalente para a camada de sub-base, através de um conjunto de ábacos. No
método de dimensionamento por catálogos abordar-se-ão as 3 tipologias de pavimentos
referidas anteriormente porque se trata de uma metodologia que é apresentada neste
manual especificamente para o tipo de estradas em análise (“baixo volume de tráfego”).
Para pavimentos flexíveis e pavimentos com camada de desgaste em material granular, o
catálogo de dimensionamento é função da zona climática, da qualidade relativa do solo
de fundação e do nível de tráfego. O resultado final é o número estrutural (SN) e a
espessura da camada de base granular no caso de pavimentos flexíveis e de pavimentos
com camada de desgaste em material granular, respetivamente. No que se refere aos
pavimentos rígidos, o catálogo apresenta espessuras mínimas a considerar na laje do
pavimento em betão de cimento Portland que variam com o nível de tráfego, com a
qualidade relativa do solo de fundação e com a existência ou não de elementos de
transferência de carga.
Estado da Arte sobre Pavimentos Sujeitos a Baixo Volume de Tráfego
15
A principal limitação do procedimento de dimensionamento do pavimento da AASHTO
é a natureza empírica do processo de decisão de espessura, que é derivado de um ensaio
de estrada realizado há quase 45 anos atrás, num único local, em Ottawa, Illinois (EUA).
Esta abordagem empírica não pode ser aplicada a sistemas de pavimentos atuais com
aumentos de volumes do tráfego, condições climáticas diferentes, de diferentes áreas de
construção do pavimento, entre outros (Kim, Ceylan et al. 2005).
No “Manual Euroadoquín” (ADAH, 2004) são abordados pavimentos de baixo volume
de tráfego sujeitos a diferentes tipos de utilizações: vias urbanas; parques de
estacionamento; zonas de paragem de autocarros; estações de serviço e espaços pedonais
com camada de desgaste em blocos de betão. Nesse manual são propostos dois métodos
de dimensionamento: o empírico (Figura 3) e o abreviado (Figura 4). Para o primeiro
método são propostos dois modelos. No modelo baseado em critérios de deformação do
pavimento, o cálculo da espessura da camada de base/sub-base (granular) é em função da
espessura dos blocos, da deformação admissível (dependente do tipo de utilização da via)
e do índice CBR que caracteriza a fundação do pavimento. No modelo baseado em níveis
de tráfego, o cálculo da espessura da camada de base/sub-base (granular ou tratada com
cimento) é função da classe de tráfego (a variar de C0 a C4) e do índice CBR da fundação.
No caso do método abreviado são indicadas estruturas de pavimento em função da
natureza da base (em betão ou granular e em betão pobre), do grupo de tráfego (a variar
de C0 a C4) e da classe de fundação (E1, E2 ou E3).
O documento de “Orientação para Elaboração de Projetos de Caminhos Rurais e
Agrícolas” (DGADR, 2010) apresenta espessuras indicativas de camadas de pavimento a
considerar no dimensionamento de caminhos rurais e agrícolas. O modelo de
dimensionamento proposto baseia-se no método empírico do CBR. Este método permite
determinar a espessura do pavimento através de um ábaco, em função do tráfego (rural,
agrícola tipo I, tipo II e tipo III) e da capacidade de suporte do solo de fundação. A
espessura do pavimento assim determinada diz respeito a um solo padrão, o que significa
que com quaisquer outros materiais, poder-se-ão obter espessuras equivalentes à do solo
padrão, mediante uma relação de equivalência.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
16
Figura 3 - Diagrama esquemático do método empírico do “Manual Euroadoquín” (ADAH, 2004)
Figura 4 - Diagrama esquemático do método abreviado do “Manual Euroadoquín” (ADAH, 2004)
Estado da Arte sobre Pavimentos Sujeitos a Baixo Volume de Tráfego
17
Figura 5 - Diagrama de dimensionamento segundo método “DGADR” (DGADR, 2010)
O método da “National Crushed Stone Association” (NCSA, 1973) é basicamente uma
adaptação do procedimento do USACE (U.S. Army Corps of Engineers) baseado no valor
de CBR. Este procedimento considera apenas uma camada betuminosa sobre uma boa
base granular ao longo da rede viária. Este é um procedimento relativamente simples de
quatro etapas. Em primeiro lugar, o apoio do solo de fundação deve ser avaliado de acordo
com a classificação de solos (AASHTO ou métodos Unificados) e capacidade de carga
aproximada (CBR). Ao solo é atribuída uma categoria de suporte com a designação:
excelente, bom, regular ou fraco. Em seguida, a intensidade de tráfego provável deve ser
avaliada. O Índice de Dimensionamento (DI) é classificado atribuindo uma categoria à
estrada em questão. A maioria das estradas rurais locais correspondem às categorias DI-
1 ou DI-2, mas como o tráfego de camiões pesados tem sido realizado através de estradas
de baixo volume de tráfego surge a necessidade de considerar outras categorias para o
Índice de dimensionamento. A terceira etapa do processo de dimensionamento consiste
em selecionar uma espessura de projeto básico de uma Tabela de projeto de pavimento
flexível, que é baseado no valor do CBR. A decisão de usar uma camada delgada
superficial com betume ou uma camada de betão betuminoso é normalmente baseada na
experiência e custo locais. O tratamento da superfície tem um custo inicial mais baixo,
mas deve ser reabilitada ou sobreposta com novas camadas com mais frequência; a
superfície de betão betuminoso tem um custo inicial mais elevado, mas a necessidade de
reabilitação é menos frequente do que a do tratamento da superfície. A etapa final deste
procedimento é verificar a espessura do projeto básico para condições graves, como danos
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
18
causados pelo congelamento dos solos e problemas de drenagem. Para um grupo de solo
de fundação “congelado” é determinada uma “nova” espessura a partir de uma tabela de
dimensionamento de pavimentos flexíveis. A secção mais espessa do passo 3 ou o passo
4 é a utilizada na construção do pavimento.
O procedimento de dimensionamento do “Asphalt Institute” é um procedimento de
projeto mecanicista-empírico com base na análise de camadas com comportamento
elástico (Asphalt institute, 1991). Este método implica dois requisitos de entrada para o
dimensionamento, o módulo de resiliência do subleito e o tráfego, em termos de eixos-
padrão (ESALs 18 Kip). Considera pavimentos asfálticos na sua profundidade total,
pavimentos com asfalto sobre camadas estabilizadas com ligantes betuminosos,
pavimentos com camadas estabilizadas com emulsões sobre bases granulares. São
fornecidos métodos simplificados para calcular o número de ESALs 18 kip e o módulo
de resiliência. Este procedimento é relativamente simples de usar, mas é limitado por não
permitir o uso de outras camadas estabilizadas ou camadas sub-base.
Outro método a considerar é o método “R-Value”. Este tem como primeiro fator a
considerar a carga do tráfego, o qual é expresso como Sigma N-18. Esta é uma
identificação conveniente do efeito dos danos cumulativos de veículos pesados durante a
vida útil de um pavimento flexível. Sigma N-18 é o equivalente a uma passagem de uma
carga padrão de 18 Kip. As tabelas de dimensionamento ilustram o processo de
combinação de dados para calcular o valor total de Sigma N-18, que é posteriormente
corrigido por um fator de ajuste sazonal, fatores de crescimento. O “R-Value” para o solo
é, em seguida, determinado para o dimensionamento. Este é um passo crítico no
dimensionamento do pavimento; os requisitos estruturais são consideravelmente
influenciados por uma pequena mudança no R-Value. Uma vez que ambos os valores de
entrada são conhecidos (R-Value e Sigma N-18), o dimensionamento é então realizado
através de uma tabela de projeto para obter o fator de Equivalência Granular (GE)
apropriado e uma figura (dimensionamento) para estimar as espessuras das camadas
estruturais.
Para o dimensionamento segundo o método do “Soil Factor” verifica-se que desde 1954
alguns pavimentos em Minnesota foram projetados usando um gráfico onde estão
descriminados valores de entrada para o respetivo dimensionamento (Ton, SF, GE). Esta
Estado da Arte sobre Pavimentos Sujeitos a Baixo Volume de Tráfego
19
é a versão de 1998, que utiliza as unidades métricas. O método disponibiliza um gráfico
que usa sete categorias de tráfego e alguns tipos de aterro para determinar a espessura em
termos de Equivalente Granular (GE). Cada projeto tem também uma carga especificada
máxima por eixo em toneladas (1,1 toneladas). Os fatores de dimensionamento são o
Tráfego Médio Diário (TMD) e o correspondente valor de veículos comerciais pesados
(HCADT). Os valores normalmente usados para o projeto são valores bidirecionais
previstos para 20 anos no futuro. As condições locais devem ser consideradas e o valor
previsto pode ser aumentado ou diminuído, com base no uso futuro previsto da estrada.
2.3 PAVIMENTOS ESPECIAIS SUJEITOS A TRÁFEGO PESADO
Outras possibilidades de dimensionamento de pavimentos que não fazem parte de uma
estrada foram igualmente abordadas, por se tratar de pavimentos sujeitos a cargas
significativas de veículos pesados. Muitos aspetos dos métodos de dimensionamento para
pavimentos rodoviários não são adequados para o dimensionamento de pavimentos
flexíveis sujeitos a pesados para aplicações tais como portos e terminais de contentores.
Tradicionalmente, os pavimentos portuários foram concebidos utilizando, métodos
empíricos baseados em ábacos como o método da British Ports Association (BPA, 1996).
Em tempos mais recentes, os engenheiros projetistas combinaram a gama completa de
veículos e contentores num único número de repetições de um “eixo-padrão equivalente”.
Este eixo equivalente seria aplicado em dimensionamento de camadas elásticas usando
ferramentas como Circly (Wardle, 2004) e APSDS (Airport Pavement Structural Design
System) (Wardle, 1999). Alternativamente, muitos engenheiros projetistas preferem usar
as configurações reais de carga dos rodados dos veículos e estes podem ser usados
diretamente nos programas Circly e APSDS. Embora estes tenham sido usados com
sucesso para o dimensionamento de pavimentos industriais sujeito a tráfego pesado, a
entrada de dados referentes aos veículos pesados faz com que seja difícil modelar mais
de uma ou duas cargas por veículo.
Para minimizar esse problema surge então o HIPAVE (método de dimensionamento de
pavimentos industriais pesados), que se baseia nos programas Circly e APSDS.
O HIPAVE foi concebido para lidar com todos os pormenores dos veículos de
movimentação de carga e as características de distribuição da carga útil para cada veículo,
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
20
facilitando a análise dos efeitos de uma gama de diferentes carregamentos (MINCAD
Systems, 2009a).
HIPAVE é uma consequência das ferramentas de dimensionamento bem estabelecidas
para multicamadas em pavimentos flexíveis, designadas Circly e APSDS. O método
HIPAVE (dimensionamento de pavimentos industriais pesados) é para a análise
mecanicista e dimensionamento de pavimentos flexíveis submetidos a cargas
extremamente pesadas associadas a veículos de movimentação de carga em instalações
industriais, em particular, os terminais de contentores intermodais. É projetado para
modelar convenientemente cada combinação de modelo do veículo e da carga do
recipiente e para combinar os danos utilizando o conceito de “factor de danos
acumulados”. Este recurso permite otimizar até três camadas. Combinando isso com um
recurso de análise de custos, permite o ajuste fino de espessuras de camadas para
minimizar os custos de construção e manutenção. HIPAVE faz uma análise espectral
integral do dano do pavimento, utilizando o conceito de danos cumulativos para somar o
dano de vários modelos de veículos e casos de carga útil. O procedimento tem em conta:
As repetições de dimensionamento de cada eixo de cada combinação modelo do
veículo/carga;
As propriedades de desempenho dos materiais utilizados no modelo de
dimensionamento.
Esta abordagem permite que as análises possam ser realizadas diretamente usando uma
mistura de modelos de veículos.
O Circly é um pacote poderoso, fácil de usar baseado no Windows que automatiza e
analisa dimensionamento de pavimento seguindo um método mecanicista. Este sistema
projetado na Austrália esteve em uso regular em todo o mundo por mais de duas décadas
provando o seu rendimento em milhares de aplicações de dimensionamento. Desde 1987
que formou uma parte integrante da “Austroads Pavement Design Guide”, o padrão para
o dimensionamento de estradas na Austrália e Nova Zelândia. Circly implementa uma
metodologia de dimensionamento rigorosa para pavimentos flexíveis, que incorpora
propriedades de materiais, pavimentos e modelos de desempenho. Calcula o dano
cumulativo induzido por todo o espectro de tráfego. O Circly acumula a contribuição de
Estado da Arte sobre Pavimentos Sujeitos a Baixo Volume de Tráfego
21
cada carga no espectro de tráfego em cada ponto de análise, usando a hipótese de Miner.
O procedimento tem em conta (MINCAD Systems, 2009b):
As repetições de cada dimensionamento modelo do veículo / combinação de
carga;
O desempenho das propriedades do material utilizado na conceção modelo.
Esta abordagem oferece benefícios para todas as partes envolvidas na conceção,
construção, propriedade e utilização de pavimentos. Os utilizadores beneficiam da
inclusão de funções automatizadas e análises mais rápidas, o material fornecido provoca
alterações significativas na economia, porque os custos e os perigos do excesso de
especificação devido a informações imprecisas são significativamente reduzidos, os
benefícios do proprietário na gestão mais eficiente de materiais, fará obter benefícios a
longo prazo, porque torna-se possível mudar os padrões de tráfego em projetos propostos.
O APSDS (Airport Pavement Structural Design System) foi desenvolvido a partir do
Circly especificamente para pavimentos sujeitos a cargas pesadas, nomeadamente,
pavimentos aeroportuários. A análise inclui o efeito da variação lateral da aplicação das
cargas, o que pode reduzir a probabilidade de sobredimensionamento de pavimentos o
que seria mais dispendioso. A variação lateral da posição dos veículos é a variação
estatística dos caminhos tomados por movimentos sucessivos de veículos em relação aos
eixos da via. O APSDS 5.0 implementa o método de "reservatório", para lidar com cargas
complexas, para calcular de forma consistente os danos da sobreposição de várias cargas
devido a trens de aterragem de vários eixos. A versão anterior do APSDS só poderia
calcular danos com base em dois extremos: múltiplas pressões curtas distintas resultantes
de cada um dos eixos (para pequenas profundidades) e uma única pressão que reflete mais
a carga global sobre a engrenagem (para grandes profundidades). Como o APSDS 4.0, o
APSDS 5.0 acumula a contribuição de cada carga no espectro de tráfego em cada ponto
de análise, usando a hipótese de Miner. O procedimento leva em conta: as repetições de
dimensionamento de cada combinação de peso bruto / modelo do veículo, e as
propriedades de desempenho dos materiais utilizados no modelo de dimensionamento
(Mincad, 2014). Novo no APSDS 5.0 é a maneira de poder definir uma distribuição de
peso bruto para cada modelo de aeronave num espectro de tráfego, como mostra o
exemplo abaixo da Figura 6.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
22
Figura 6 - Distribuição do peso bruto para cada modelo de aeronave
Além dos gráficos usuais de danos em função da distância, o APSDS 5.0 gera gráficos
espectrais de danos como o exemplo da Figura 7. Aqui há um ponto de dados para cada
combinação de modelo de aeronave e peso bruto.
Figura 7 - Gráficos espectrais de danos
APSDS 5.0 utiliza o seu próprio criador de gráficos integrados para desenhar gráficos no
ecrã quase instantaneamente. Os gráficos podem ser personalizados, exportadas e
impressos. Na maioria dos casos, os resultados para as diferentes camadas ou Z-
profundidades num sistema de camadas pode ser criado sem reanálise do sistema.
A Figura 8 representa um exemplo gráfico "tridimensional" de deslocamento vertical sob
a ação de uma carga.
Estado da Arte sobre Pavimentos Sujeitos a Baixo Volume de Tráfego
23
Figura 8 - Gráfico "tridimensional" de deslocamento vertical
O manual de BPA (1990) oferece um método realista de avaliar o efeito prejudicial de
equipamentos de movimentação de contentores, que reflete os parâmetros especiais para
pavimentos terminais de contentores como (a) cargas por roda muito elevadas (até 25
toneladas), (b) vasta área de operação, (c) dinâmicas graves, (d) ampla gama de tipos e
tamanhos de equipamentos. Este método é aplicável para pavimentos betuminosos,
pavimentos em blocos de betão, pavimentos em betão rígido e pavimentos em betão
armado. Para cada roda, o efeito nocivo é calculado a partir da Equação 1 proposta por
Heukelom e Klomp (1978):
,
.
.
.
(1)
Onde:
D= dano do pavimento;
W= carga da roda (kg);
P= pressão dos pneus (N/mm2);
Esta equação resulta no dano do pavimento, “D”, na unidade (PAWL).
A abordagem de dimensionamento do pavimento para carga pesada consiste no cálculo
das tensões resultantes de um regime de carga definido e na determinação das tensões
admissíveis que a construção do pavimento (materiais) pode suportar. Um pavimento é
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
24
considerado corretamente projetado quando as tensões reais e as admissíveis são
semelhantes. A extensão vertical permitida é dada pela Equação 2.
.
(2)
Onde:
N = o número de repetições de carga aplicadas
O valor admissível para a extensão horizontal de tração é dada pela Equação 3.
. . (3)
Onde:
Fc = resistência à compressão característica do material base (N/mm2);
Eb = 16800 x Fc0,25 (N/mm2);
Proposta de Método de Dimensionamento de Pavimentos de Baixo Volume de Tráfego
25
3. PROPOSTA DE MÉTODO DE DIMENSIONAMENTO DE PAVIMENTOS DE BAIXO
VOLUME DE TRÁFEGO
3.1 INTRODUÇÃO
Neste capítulo é realizada uma nova abordagem aos métodos de dimensionamento de
pavimentos de baixo volume de tráfego, tendo por base toda a informação proveniente da
avaliação realizada no capítulo anterior. Os métodos apresentados ajudam a compreender
melhor a complexidade e crescimento daquilo que são as metodologias desenvolvidas
respeitantes a estradas sujeitas a baixo volume de tráfego, mais concretamente tráfego
pesado. Surge então neste trabalho a necessidade de desenvolver um método capaz de
satisfazer aquilo que são as necessidades exigidas no tratamento de pavimentos
destinados a baixo volume de tráfego, tendo por base análises feitas nos métodos
antecedentes.
O método a desenvolver deverá satisfazer determinadas condições respeitantes à
composição e estrutura do pavimento, no caso, pavimentos com camada de desgaste em
material granular (estradas não pavimentadas) e/ou fundação estabilizada com ligantes
hidráulicos. Neste desenvolvimento houve a preocupação na escolha dos métodos que
funcionaram como base para todo este processo. Como não poderia deixar de ser e após
a análise dos diversos métodos verifica-se que o método da AASHTO surge muito bem
conceituado e com grande aplicabilidade num continente muito forte (Americano) no que
diz respeito ao crescimento das vias de comunicação, bem como, por todos os meios que
têm à disposição para testar os métodos por eles desenvolvidos. Atualmente são muitas
vezes a base dos projetistas que executam obras de dimensionamento de vias de
comunicação no continente americano. É nesta base que se desenvolve todo este processo,
uma vez que este método satisfaz as exigências referentes ao pavimento em questão. A
principal inovação do método agora proposto consiste na eliminação da necessidade de
consultar ábacos para obter o dimensionamento do pavimento para um determinado
tráfego. Para isso é utilizada uma ferramenta que permite determinar o estado de
tensão/deformação de um sistema multiestratificado, designada “JPAV”. Esta ferramenta
foi desenvolvida pelo Professor Doutor Jorge Pais do Departamento de Engenharia Civil
da Universidade do Minho.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
26
3.2 DESCRIÇÃO DA METODOLOGIA UTILIZADA
3.2.1 PRINCÍPIOS BÁSICOS DA METODOLOGIA
A principal motivação para o desenvolvimento da metodologia proposta neste trabalho
está relacionada com a inexistência de um método de dimensionamento de pavimentos
apropriado para estradas sujeitas a um número reduzido de passagens de veículos pesados
com cargas significativamente elevadas. Como exemplo deste tipo de situações pode
referir-se as estradas de acesso a parques eólicos, que devido às restrições ambientais não
são normalmente pavimentadas e cujo tráfego de veículos pesados se resume
essencialmente ao tráfego de obra durante a construção dos referidos parques. Assim, a
primeira opção recai sobre a utilização de pavimentos compostos por camada de desgaste
em material granular, uma vez que se verifica como uma boa opção, quer
economicamente quer estruturalmente no que respeita a pavimentos sujeitos a este tipo
de carregamento. Em seguida e após uma análise aos vários métodos abordados no
Capítulo 2, faz-se uma descrição mais aprofundada daquele que será a base para todo o
desenvolvimento do novo método, o método da AASHTO, o qual disponibiliza um
capítulo apenas para os pavimentos sujeitos a baixo volume de tráfego, com um
subcapítulo destinado a pavimentos com camada de desgaste em material granular.
O manual da AASHTO, de natureza empírica, ajuda a compreender melhor este tema,
uma vez que o manual utilizado em Portugal (MACOPAV) se encontra limitado neste
capítulo de estradas com baixo volume de tráfego. Recorrendo ao manual da AASHTO
verifica-se a existência de uma estrutura de um pavimento referente a baixo volume de
tráfego dividindo-a em três categorias:
-pavimentos flexíveis;
-pavimentos rígidos;
-pavimentos com camada de desgaste em material granular (não pavimentadas);
O manual utiliza procedimentos baseados em dois métodos distintos: método de projeto
através de Ábacos e métodos de projeto através de catálogos.
Nos ábacos são abordados pavimentos com camada de desgaste em material granular (não
pavimentadas) pelo facto de estes serem específicos do tipo de estradas em análise. Este
Proposta de Método de Dimensionamento de Pavimentos de Baixo Volume de Tráfego
27
método permite determinar a espessura de material granular da camada de base e, se for
o caso, converter posteriormente parte desta espessura numa espessura equivalente para
a camada de sub-base.
O método de dimensionamento por ábacos permite uma maior flexibilidade no
dimensionamento de pavimentos para qualquer valor de tráfego, sendo por isso possível
obter pavimentos específicos para um determinado conjunto de materiais e solicitações.
Para um melhor entendimento do método que serviu de base à nova abordagem agora
realizada, apresenta-se neste capítulo algumas figuras que ajudam na determinação e
conclusão do método em causa.
A Figura 9 demonstra as regiões climáticas nos E.U.A., com implicações ao nível da
capacidade resistente dos solos de fundação e, por consequência, das camadas granulares
sobrejacentes. Na Tabela 3 apresenta-se a duração das estações do ano para cada uma das
regiões climáticas.
Figura 9 - Regiões climáticas dos Estados Unidos.
Tabela 3 - Duração das estações do ano (meses) para as seis regiões climáticas dos EUA.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
28
O método de dimensionamento por ábacos para este tipo de pavimentos resulta na
combinação de vários procedimentos, tais como:
Selecionar quatro espessuras experimentais para a camada de base, DBS (em
polegadas); para tal será necessário recorrer ao cálculo do dano total do pavimento
(nível de serviço (critério ∆PSI) + deformação (Rodeira)). Para isso é necessário
recorrer à Tabela 4.
Introduzir os dados relativos à perda do nível de serviço ∆PSI (polegadas)
(momento durante a vida útil do pavimento de serviço, a irregularidade é o fator
dominante na estimativa do PSI), assim como da deformação admissível RD
(polegadas) nas quatro tabelas. Para ∆PSI (∆PSI=∆PSItráfego - ∆PSIsc/fh, Perda total
de serviço que resulta da diferença entre a perda de serviço devido ao tráfego e a
perda de serviço devido ao inchaço provocado pelo congelamento dos solos) este
manual indica o valor de 7,62 cm (3,0 polegadas) e para RD indica o intervalo
entre 2,54 e 5,08 cm (1 e 2 polegadas).
Tabela 4 - Cálculo do dano total do pavimento para ambos os critérios (Nível de serviço e Deformação),
com base numa espessura experimental da camada de base.
Introduzir o módulo resiliente (MR) da fundação (em função da qualidade relativa
do material da fundação, Introduzir o tráfego projetado em número acumulado de
eixos-padrão de 80 kN (18- kip ESAL), w18, na coluna 4 da Tabela 4. Admitindo
que o tráfego de veículos pesados é distribuído uniformemente ao longo do ano,
os comprimentos das estações devem ser utilizados para prever o tráfego de cada
estação, caso contrário será necessário calcular o tráfego tendo em conta os
Proposta de Método de Dimensionamento de Pavimentos de Baixo Volume de Tráfego
29
seguintes parâmetros: tráfego corrente, fatores de crescimento, tráfego de
dimensionamento, fator ESAL, dimensionamento ESAL). Nota: Se a estrada é
restrita a cargas durante certos períodos críticos, o tráfego pode ser distribuído
apenas entre os períodos em que a circulação de tráfego pesado é permitida.
Tabela 5 e da Tabela 6, ou através de ensaios que reflitam o comportamento
(humidade) das estações) e do material granular da camada de base EBS
(determinado através de ensaios ou a partir de correlações com outros parâmetros)
nas colunas 2 e 3 da Tabela 1.4, respetivamente. Devido à falta de equipamento
por parte de várias agências para realizar o ensaio de módulo resiliente (MR), este
pode ser obtido a partir de um CBR padrão, R-Value ou através de resultados dos
testes de índices de solo. O desenvolvimento destes fatores é baseado nas
correlações de conhecimento.
Assim o MR pode ser obtido usando as seguintes expressões: MR (psi) = 1500 x
CBR (dados a partir do qual esta correlação foi desenvolvida variou de 750 a 3000
vezes CBR), MR (psi) = A + B x (R-Value) (onde, A = 772 – 1155, B = 369 –
555, desenvolvido pelo Asphalt Institute), para a AASHTO verifica-se MR (psi)
= 1000 + 555 (R-Value). O módulo do material da base pode considerar-se
proporcional ao módulo resiliente do solo de fundação do pavimento durante uma
determinada estação.
Introduzir o tráfego projetado em número acumulado de eixos-padrão de 80 kN
(18- kip ESAL), w18, na coluna 4 da Tabela 4. Admitindo que o tráfego de
veículos pesados é distribuído uniformemente ao longo do ano, os comprimentos
das estações devem ser utilizados para prever o tráfego de cada estação, caso
contrário será necessário calcular o tráfego tendo em conta os seguintes
parâmetros: tráfego corrente, fatores de crescimento, tráfego de
dimensionamento, fator ESAL, dimensionamento ESAL). Nota: Se a estrada é
restrita a cargas durante certos períodos críticos, o tráfego pode ser distribuído
apenas entre os períodos em que a circulação de tráfego pesado é permitida.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
30
Tabela 5 - Módulo resiliente sazonal do solo de fundação, MR (psi), em função da qualidade relativa do
material da fundação.
Tabela 6 - Módulo resiliente efetivo sazonal do solo de fundação, MR (psi), em função da qualidade
relativa do material da fundação.
Em cada tabela deve ser estimado o tráfego admissível em eixos-padrão de 80 kN
(18- kip ESAL) para cada estação utilizando o ábaco da Figura 10 referente ao
nível de serviço ((W18)PSI) e introduzido na coluna 5 e o ábaco da Figura 11
referente à deformação ((W18)RUT) e introduzido na coluna 7. Nota: Se o módulo
resiliente do solo de fundação do pavimento (durante a estação gelada) é tal que
o tráfego admissível excede o limite superior do ábaco, poder-se-á assumir o valor
de 500000 eixos de 80 kN (18-kip ESAL).
Proposta de Método de Dimensionamento de Pavimentos de Baixo Volume de Tráfego
31
Figura 10 - Ábaco de dimensionamento para estradas não pavimentadas considerando a perda de nível de
serviço admissível.
Figura 11 - Ábaco de dimensionamento para estradas não pavimentadas considerando a deformação
(profundidade da rodeira) admissível.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
32
Calcular os valores dos danos para as quatro tabelas pelo critério do nível de
serviço, dividindo o tráfego sazonal projetado (coluna 4) pelo tráfego admissível
nessa estação (coluna 5). Este valor é introduzido na coluna 6 da Tabela 4,
correspondente ao critério do nível de serviço. As mesmas instruções devem ser
seguidas para o critério da deformação, isto é, divide-se a coluna 4 pela coluna 7
e introduzem-se os valores na coluna 8.
Calcular o valor total do dano pelos dois critérios referidos anteriormente,
adicionando os danos referentes a cada estação. Após o cálculo destes valores para
as quatro tabelas (correspondentes às quatro espessuras experimentais da camada
de base), deve ser construído um gráfico (dano total vs espessura da camada de
base). O valor médio da espessura da base, DBS, é determinado através do gráfico
para um valor total do dano de 1,0. A espessura é controlada pelo critério que
conduzir a uma espessura superior.
A espessura da camada de base determinada no último passo deve ser utilizada
quando os efeitos da perda de agregado não forem significativos, caso contrário,
esta espessura deve ser majorada tendo em consideração a perda de material
granular estimada GL (polegadas) durante o período de dimensionamento. A
equação é a seguinte:
O último passo do processo de dimensionamento de estradas não pavimentadas
consiste em converter parte da espessura de material granular da camada de base
numa espessura equivalente para a camada de sub-base, através do ábaco da
Figura 13. Para tal são necessários os dados relativos à espessura desejada final
da base, DBSf, ao módulo do material da camada de sub-base, ESB, à redução da
espessura da base (DBSi - DBSf) e ao módulo do material da camada de base, EBS.
Proposta de Método de Dimensionamento de Pavimentos de Baixo Volume de Tráfego
33
Figura 12 - Dano total Vs espessura da camada de base tendo por base o critério de serviço
(Manutenção) e deformação (Rutting)
Figura 13 - Ábaco para converter a espessura de material granular da base numa espessura equivalente de
camada de sub-base.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
34
3.2.2 MÉTODO DE DIMENSIONAMENTO POR CATÁLOGO
Para este processo de dimensionamento para estradas de baixo volume de tráfego
utilizam-se os catálogos apresentados prescindindo de uma análise mais detalhada. Este
método pode ser usado então para as diferentes tipologias de pavimento:
Flexível;
Rígido;
Pavimento com camada de desgaste em material granular.
No caso dos pavimentos flexíveis, o dimensionamento é realizado determinando o
número estrutural (SN) que garante uma capacidade de carga adequada. Para isso, é
necessário consultar umas tabelas que foram desenvolvidas para níveis de confiança na
ordem do 50% e 75%, conforme se apresenta, respetivamente, na Tabela 7 e na Tabela 8.
Tabela 7 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos flexíveis para estradas de baixo volume de
tráfego - Nível de confiança de 50%.
O intervalo de valores do número estrutural apresentado para cada condição é função da
região climática, da qualidade do solo de fundação e do nível de tráfego (Tabela 9).
Proposta de Método de Dimensionamento de Pavimentos de Baixo Volume de Tráfego
35
Tabela 8 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos flexíveis para estradas de baixo volume de
tráfego - Nível de confiança de 75%.
Tabela 9 - Níveis de tráfego considerados no dimensionamento de pavimentos flexíveis.
Após a seleção do número estrutural (resistência estrutural mínima), deve-se proceder a
uma combinação adequada para as espessuras das camadas constituintes do pavimento
flexível. Para tal deve ser utilizado o critério dos coeficientes das camadas (valores ai,
determinados em função das características dos materiais de cada camada). A expressão
geral para o número estrutural (SN) é dada pela Equação 5.
(5)
Onde:
a1, a2, a3 - coeficientes das camadas de superfície (a1 = 0,42), base (a2 = 0,14) e sub-base (a3 = 0,08). D1, D2, D3 - espessuras (polegadas) das camadas de superfície, base e sub-base, respetivamente.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
36
Na Figura 14 apresenta-se toda a descrição do método de dimensionamento.
Figura 14 - Diagrama esquemático do procedimento de dimensionamento por catálogos para pavimentos
flexíveis (método A).
No que diz respeito aos pavimentos rígidos, o dimensionamento é realizado através das
Tabelas 10, 11, 12, 13 e 14. As espessuras apresentadas representam os valores mínimos
aceitáveis, variando com o nível de tráfego e a qualidade do solo de fundação. Os
pressupostos considerados para a elaboração destes catálogos foram os seguintes:
As espessuras das lajes aplicam-se às seis regiões climáticas identificadas nos
Estados Unidos;
Caso se utilize camada de sub-base, a mesma consiste numa espessura de 10 e 15
cm (4 a 6 inches) de material granular de alta qualidade;
A média dos módulos de rutura (S’c) do betão de cimento Portland é 4,1 ou
4,8 MPa (600 ou 700 psi);
A média dos módulos de elasticidade (Ec) do betão de cimento Portland é
34,5 GPa (5000000 psi);
As condições de drenagem (humidade) são razoáveis (Cd=1,0);
Os níveis de tráfego em número acumulado de eixos-padrão de 80kN (18-kip
ESAL) são os apresentados na Tabela 9;
Proposta de Método de Dimensionamento de Pavimentos de Baixo Volume de Tráfego
37
Os níveis de qualidade do solo de fundação e os correspondentes intervalos dos
módulos efetivos da reação da fundação (k) (1 pci = 271 kPa/m) são os que se
encontram indicados na Tabela 10.
Tabela 10 - Níveis de qualidade do solo de fundação.
Tabela 11 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos rígidos para estradas de baixo volume de
tráfego: nível de confiança 50% e sem camada granular de sub-base
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
38
Tabela 12 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos rígidos para estradas de baixo volume de
tráfego: nível de confiança 50% e com camada granular de sub-base
Tabela 13 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos rígidos para estradas de baixo volume de
tráfego: nível de confiança 75% e sem camada granular de sub-base
Proposta de Método de Dimensionamento de Pavimentos de Baixo Volume de Tráfego
39
Tabela 14 - Catálogo de dimensionamento de pavimentos rígidos para estradas de baixo volume de
tráfego: nível de confiança 75% e com camada granular de sub-base
Para dimensionamento de pavimentos com camada de desgaste em material granular, a
espessura proposta no catálogo é função da zona climática, da qualidade relativa do solo
de fundação e do nível de tráfego (Tabela 15).
Tabela 15 - Níveis de tráfego considerados no dimensionamento de pavimentos com camada de desgaste
em material granular
O dimensionamento para este tipo de pavimento processa-se através da Tabela 16,
adotando um módulo de elasticidade efetivo do material granular da camada base de
206,9 MPa (30000 psi) independentemente da qualidade do solo de fundação.
A principal limitação do procedimento AASHTO para o dimensionamento do pavimento
é a natureza empírica do processo de decisão de espessura, que é derivado de um ensaio
de estrada realizada há quase 45 anos atrás, num único local, em Ottawa, Illinois (EUA),
o que pode reduzir a sua aplicabilidade a sistemas de pavimentos diferentes, com
condições climáticas e de carregamento distintos (Kim, et al. (2005)).
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
40
Tabela 16 - Catálogo de dimensionamento de estradas não pavimentadas: espessuras recomendadas para a
base em material granular (inches)
3.3 DESENVOLVIMENTO DE CRITÉRIOS DE DIMENSIONAMENTO PARA ESTRADAS NÃO
PAVIMENTADAS
Para o desenvolvimento do método que visa satisfazer pavimentos sujeitos a baixo
volume de tráfego seguiu-se determinados critérios com o objetivo de atingir uma base
que permitisse avaliar de uma forma direta qual o impacto causado no pavimento aquando
da sua utilização, onde se irá expor a baixo volume de tráfego pesado.
Partindo do princípio que todo este processo de desenvolvimento de um novo método tem
por base o método da AASHTO abordado anteriormente, na sua variante de consulta de
ábacos de dimensionamento, seguiram-se determinados critérios tendo em vista satisfazer
da melhor maneira as necessidades presentes em todo este processo relativo a estradas
sujeitas a baixo volume de tráfego.
O primeiro passo consistiu em definir valores para o critério referente ao nível de serviço
(∆PSI), bem como, o critério referente à deformação RD (polegadas). Dado o tipo de
utilização dos pavimentos em análise, numa primeira fase considerou-se adequados os
valores de 3.0 e 2.0 respetivamente para ambos os critérios, tendo posteriormente (após
Proposta de Método de Dimensionamento de Pavimentos de Baixo Volume de Tráfego
41
consulta dos critérios utilizados em projetos reais de pavimentos de acesso a parques
eólicos) sido considerados os valores de 3.0 e 3.0, respetivamente.
Após definir este primeiro critério seguiu-se a escolha das espessuras referentes à camada
de base. Nesta fase definiu-se 5 espessuras no intuito de perceber melhor qual o
comportamento do pavimento em causa, ficando essas espessuras fixadas nos valores de
6, 8, 10, 12, 14 polegadas (aproximadamente, 15, 20, 25, 30 e 35 cm).
Definidos estes critérios avançou-se para o passo seguinte na qual foram selecionados de
forma criteriosa alguns valores referentes aos módulos das camadas que compõe o
pavimento, nomeadamente, fundação e camada base. Para a camada de fundação e após
algumas iterações selecionou-se os seguintes valores de módulo de deformabilidade:
34.4738 MPa (5000 psi), 68.9476 MPa (10000 psi), 55.1581 MPa (8000 psi),
13.7895 MPa (2000 psi), 103.421 MPa (15000 psi), para a camada de base optou-se pelos
valores: 68.9476 MPa (10000 psi), 103.4214 MPa (15000 psi), 137.8952 MPa (20000
psi), 206.843 MPa (30000 psi), 275.7904 MPa (40000 psi), 344.738 MPa (50000 psi) e
413.686 MPa (60000 psi). Estes valores foram propostos no intuito de obter maior número
de valores para posteriormente gerar os critérios de dimensionamento (vulgarmente
designados de “leis de fadiga”) para uma utilização empírico-mecanicista em programas
de cálculos de pavimentos.
Após a definição destes valores torna-se possível prosseguir para o próximo passo rumo
ao desenvolvimento do novo método. Com os valores definidos anteriormente torna-se
possível a obtenção de valores como a extensão vertical de compressão no topo do solo
de fundação e a deformação à superfície. Estes parâmetros podem ser relacionados com
o comportamento em serviço dos pavimentos e dessa forma representar o efeito da
aplicação repetida das cargas dos veículos na diminuição da qualidade de serviço (∆PSI)
e da formação de uma rodeira superficial (RD). Para tal foi indispensável o recurso à
ferramenta designada JPAV. Esta ferramenta permite calcular as extensões/tensões e
deformações em diferentes localizações de uma determinada estrutura do pavimento.
De seguida, foi estabelecida uma base de dados com os resultados de várias simulações
no JPAV, onde se determinou o valor das extensões verticais na camada de fundação e
deformações verticais superficiais. Nessa base de dados relacionam-se os valores dos
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
42
módulos da fundação e da camada base para diferentes espessuras da camada base, com
o tráfego admissível (em eixos padrão de 80 kN) obtido pelos ábacos do método da
AASHTO para cada critério de dimensionamento, perda do nível de serviço (Figura 10)
ou critério profundidade da rodeira (Figura 11).
Com a informação da base de dados tornou-se possível a criação de gráficos referentes
aos critérios de dimensionamento ∆PSI e rodeira (RD), nos quais se relacionam,
respetivamente, os parâmetros extensão vertical no topo da fundação e deformação
vertical superficial com o número admissível de eixos padrão. Estes gráficos permitem
assim atingir um dos principais objetivos deste trabalho que se prende com a obtenção
das equações das Leis de fadiga para cada critério de dimensionamento, que servem de
base a todo o trabalho realizado no Capítulo 4.
Na Figura 15 encontram-se definidas três retas representativa do nível de serviço esperado
para um ΔPSI=1,0, ΔPSI=2,0 e ΔPSI=3,0, onde se obtém as novas leis de fadiga para esse
critério de dimensionamento, de acordo com a Equação 6.
Figura 15 - Leis de fadiga referentes ao critério da perda do nível de serviço (ΔPSI) igual a 1,0, 2,0 e 3,0
(6)
Onde:
a, b - coeficientes determinados numericamente para cada critério de dimensionamento; εz – extensão vertical de compressão no topo da fundação.
Proposta de Método de Dimensionamento de Pavimentos de Baixo Volume de Tráfego
43
Os valores dos coeficientes a e b apresentam-se na Tabela 17.
Tabela 17 - Coeficientes das leis de fadiga para o critério de perda do nível de serviço
Coeficiente ΔPSI = 1,0 ΔPSI = 2,0 ΔPSI = 3,0
a 0,0259 0,0325 0,00751
b 2,247 2,246 2,134
Na Figura 16, encontram-se representadas duas retas referentes às leis de fadiga obtidas
partindo do critério da deformação (rodeira) admissível. O gráfico mostra resultados para
uma rodeira admissível de 2,0 e 3,0 polegadas (aproximadamente 5 e 7,5 cm) obtendo-se
as leis de fadiga de acordo com a Equação 7.
Figura 16 - Leis de fadiga referentes ao critério de deformação admissível (RD) igual a 2 e 3 polegadas
(7)
Onde:
c, d - coeficientes determinados numericamente para cada critério de dimensionamento; dz – deformação vertical superficial.
Os valores dos coeficientes c e d apresentam-se na Tabela 18.
Tabela 18 - Coeficientes das leis de fadiga para o critério de rodeira admissível
Coeficiente RD = 2,0 RD = 3,0
c 5E-10 4E-08
d 4.737 4.145
Análise Comparativa de Projetos Reais com Soluções Obtidas pelo Método Desenvolvido
45
4. ANÁLISE COMPARATIVA DE PROJETOS REAIS COM SOLUÇÕES OBTIDAS PELO
MÉTODO PROPOSTO
4.1 ENQUADRAMENTO
Neste capítulo serão analisados projetos reais que respondem às necessidades da
construção a executar. Estes projetos são uma das soluções que poderão ser utilizadas no
dimensionamento do pavimento em causa. A criação do novo método permite avaliar
alternativas de dimensionamento em relação às soluções propostas nos projetos
existentes. Assim, foram analisados projetos de dimensionamento de estradas de acesso
a parques eólicos construídos em Jędrzychowice - śarska Village, na Polónia por uma
empresa Portuguesa (CJR Wind), nos quais se utilizou um sistema construtivo que
envolve a utilização de uma geogrelha Tensar Base System (TBS), que reforça a
capacidade de carga do pavimento, construído apenas com materiais granulares.
Todos os elementos do sistema TBS têm certas propriedades físicas e mecânicas, que
foram incluídas no dimensionamento original dos pavimentos. Estes elementos formam
um material compósito caracterizado por um reforço efetivo da capacidade de carga do
pavimento. Além deste sistema foi utilizado uma camada de separação designada camada
de geotêxtil de separação.
A análise destes projetos é importante no intuito de tentar perceber quais as possibilidades
de competir diretamente com o método desenvolvido, através de um conjunto de
alternativas de pavimentação com materiais granulares e/ou estabilizados. Estas
geogrelhas triaxiais são um elemento em forma de grelha com funções predominantes de
reforço, cujas aberturas permitem uma eficaz interação com o meio, especialmente
quando este é granular, proporcionando confinamento. É constituída por elementos
resistentes à tração, sendo considerada unidirecional quando apresenta elevada resistência
à tração apenas em uma direção, e bidirecional quando apresenta uma elevada resistência
à tração nas duas direções principais.
Tendo em conta estes pressupostos entende-se que seria interessante perceber qual a
importância da aplicação deste material no desempenho do pavimento quando sujeito à
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
46
passagem de pouco tráfego pesado comparativamente aos pavimentos dimensionados
segundo o método desenvolvido.
4.2 ANÁLISE DE PROJETOS REAIS
Neste subcapítulo realiza-se uma análise de projetos reais construídos na Polónia. São
abordados dois projetos com os quais se procedeu à análise comparativa com o novo
método abordado anteriormente. Nestes projetos existe o dimensionamento de um
pavimento designado D1 e um outro pavimento D2.
O dimensionamento das estradas de acesso ao local da obra, bem como, o próprio local
(praça) de montagem das torres eólicas foi feito inicialmente com o recurso ao programa
TensarWinPave. O programa baseia-se na correlação de dados de cálculo e de medição
entre a espessura da camada de agregado, a deformação das camadas e da quantidade de
eixos padrão que lá irão passar. Com base nos nomogramas apresentados na Figura 17
(pavimento D1) e na Figura 18 (pavimento D2), é determinada a espessura da camada de
base granular com ou sem reforço (geogrelhas) para garantir que a deformação da
estrutura não deve exceder o valor assumido após a passagem de um certo número de
eixos padrão, em função das características de resistência do solo de fundação. No caso
do projeto para o pavimento D1 foi adotado o valor de 60 000 viagens de um eixo-padrão
de 100 kN e um critério de ruína de uma profundidade da rodeira de 75 mm.
Figura 17 - Determinação da espessura mínima a usar na base do pavimento D1, tendo em conta o valor
de CBR do solo de fundação
Análise Comparativa de Projetos Reais com Soluções Obtidas pelo Método Desenvolvido
47
A Figura 17 mostra que a espessura mínima designada para a alternativa com a utilização
de geogrelhas da Tensar na construção D1 é de aproximadamente 260 mm. Por razões
técnicas, a estrutura adotada como espessura mínima foi de 300 mm.
Para o pavimento D2 foi considerado um tráfego de projeto de cerca de 40 000 viagens
de um eixo-padrão de 100 kN e uma profundidade da rodeira de 75 mm.
Figura 18 - Determinação da espessura mínima a usar na base do pavimento D2, tendo em conta o valor
de CBR do solo de fundação
No caso do pavimento D2 é possível concluir que a espessura mínima designada para a
alternativa com geogrelhas da Tensar é de aproximadamente 460 mm.
Os valores apresentados em ambos os nomogramas são valores de espessura para um
determinado valor de CBR, em condições normais e quando existe o reforço do
pavimento através das geogrelhas.
Assim para a obtenção destes valores foi necessário perceber a constituição de cada tipo
de pavimento: D1 e D2. A construção D1 é constituída por: fundação com um módulo de
deformabilidade E ≥ 50 MPa e com um CBR ≥ 4%; Geotêxtil Tipptex BS13; Geogrelhas
triaxiais com nós rígidos do tipo Triax TX150; camada de agregados estabilizada
mecanicamente com 20 cm espessura; outra camada de agregados com 10 cm espessura,
ou seja, um total de 30 cm de camada de agregado, conforme se apresenta
esquematicamente na Figura 19.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
48
Figura 19 - Secção transversal do pavimento D1.
A construção D2 é constituída por: fundação com capacidade E ≥ 25 MPa e com um
CBR ≥ 1,6%; Geotêxtil Tipptex BS13; Geogrelhas triaxiais com nós rígidos do tipo Triax
TX150; camada de agregados estabilizada mecanicamente com 36 cm espessura; outra
camada de agregados com 10 cm espessura, ou seja, um total de 46 cm de camada de
agregado, tal como ilustra a Figura 20.
Figura 20 - Secção transversal do pavimento D2.
4.3 PROPOSTA DE SOLUÇÕES ALTERNATIVAS
No “novo” método houve a preocupação de dimensionar um pavimento capaz de
satisfazer as condições de tráfego que estão dispostas nos projetos referentes à obra em
causa.
Após a obtenção das leis de fadiga, processo já frisado no capítulo anterior, iniciou-se o
dimensionamento do pavimento capaz de satisfazer as necessidades da obra em causa.
Abordou-se os vários tipos de solos (diferentes CBR) fazendo variar a espessura das
camadas que constituem o pavimento com a finalidade de perceber qual o comportamento
Geogrelha “TriAx160”
Geotêxtil “tipptex BS13”
Geogrelha “TriAx150”
Geotêxtil “tipptex BS13”
SbG 0/63
BG 0/31,5
SbG 0/63
BG 0/31,5
Análise Comparativa de Projetos Reais com Soluções Obtidas pelo Método Desenvolvido
49
do pavimento quando sujeito a um carregamento de 40 000 e 60 000 eixos-padrão de
100 kN.
Outra possibilidade passa por abordar pavimentos com solos e camadas granulares
estabilizadas. Nesse caso, a opção recai por usar o cimento como ligante. Tendo por base
os valores adotados no MACOPAV (Tabela 19), o valor a adotar para o módulo de
deformabilidade de um solo estabilizado com cimento seria de 2000 MPa. No entanto,
como este parâmetro pode ser influenciado pelas características do solo e de modo a
utilizar valores mais conservativos considerou-se adequado utilizar um módulo igual a
dez vezes o módulo do solo natural em causa. Assim, para um solo com um módulo de
cerca de 50 MPa, que é um valor relativamente comum, seria considerado um módulo de
deformabilidade de cerca de 500 MPa para esse solo estabilizado com cimento.
Na alternativa em que se considerou a utilização de uma base estabilizada considerou-se
esta teria um módulo de deformabilidade de 2000 MPa (valor bastante conservativo, por
comparação com os valores apresentados no MACOPAV), fazendo variar o módulo da
fundação sob a base estabilizada e a espessura desta.
Tabela 19 - Características mecânicas adotadas para as misturas com ligantes hidráulicos com base no
“MACOPAV”
Assim apresentam-se em forma de resumo na Tabela 20 e na (a) Sub-base Granular, (b)
Base Granular, (c) Base estabilizada, (d) Solo tratado com cimento
Tabela 21 os resultados respeitantes ao dimensionamento do pavimento recorrendo ao
“novo” método desenvolvido, onde estão abordadas as várias possibilidades/tipos de
pavimento. Nestas tabelas os valores de espessura estão apresentados em centímetros.
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
50
Tabela 20 - Espessuras das camadas em função do tipo de pavimento, materiais e fundação para um
tráfego do projeto de 60000 EP 100kN
Tipo de estrutura
Número de camadas e
materiais da fundação à
camada superficial
Tp (60000 EP 100kN) Fa (25 MPa) Fb (30 MPa) Fc (40 MPa) Fd (50 MPa)
a b c d a b c d a b c d a b c d
Tipo 1 SBG(a) +
BG(b) 40 (1)
40 (1)
35(1)
30(1)
30(1)
20(1)
20 (1)
15 (1)
Tipo2 BE (c)
(2000 MPa)
20(2)
15(2)
15(2)
15 (2)
Tipo 3 ST (d)
(10 x Fi)
50(3)
35(3)
25 (3)
25(3)
(a) Sub-base Granular, (b) Base Granular, (c) Base estabilizada, (d) Solo tratado com cimento
Tabela 21 - Espessuras das camadas em função do tipo de pavimento, materiais e fundação para um
tráfego do projeto de 40000 EP 100kN
Tipo de estrutura
Número de camadas e
materiais da fundação à
camada superficial
Tp (40000 EP 100kN) Fa (25 MPa) Fb (30 MPa) Fc (40 MPa) Fd (50 MPa)
a b c d a b c d a b c d A b c d
Tipo 1 SBG(a) +
BG(b) 35 (1)
35 (1)
30(1)
30(1)
20(1)
20(1)
20 (1)
15 (1)
Tipo2 BE (c)
(2000 MPa)
15(2)
15(2)
15(2)
15 (2)
Tipo 3 ST (d)
(10 x Fi)
40(3)
35(3)
25 (3)
20(3)
(a) Sub-base Granular, (b) Base Granular, (c) Base estabilizada, (d) Solo tratado com cimento
Na Figura 21 apresenta-se esquematicamente a constituição de cada uma das estruturas-
tipo consideradas neste trabalho.
Figura 21 - Estruturas-tipo para o dimensionamento dos pavimentos segundo o “novo” método
Análise Comparativa de Projetos Reais com Soluções Obtidas pelo Método Desenvolvido
51
Na Figura 22 e na Figura 23 encontram-se representadas, respetivamente, as espessuras
necessárias para um tráfego de 60000 e 40000 EP 100kN, obtidas através do “novo”
método para cada uma das estruturas-tipo consideradas.
Figura 22 - Nomograma referente ao “novo” método para cerca de 60 000 passagens de eixo de 100 kN
Figura 23 - Nomograma referente ao “novo” método para cerca de 40 000 passagens de eixo de 100 kN
Analisando o dimensionamento dos projetos Polacos (D1 e D2) verifica-se o uso de duas
camadas granulares, sendo a camada de sub-base e a camada de base dimensionadas com
20 cm e 10 cm de espessura no pavimento D1 e com 36 cm e 10 cm no pavimento D2,
respetivamente. Aliado a esta estrutura está também o recurso às geogrelhas
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
52
dimensionadas e colocadas entre o solo fundação (50 MPa de módulo no caso D1 e 25
MPa no caso D2) e a camada de sub-base.
Neste “novo método” verifica-se que para um tráfego de 60000 EP (100kN) e um módulo
de fundação de 50 MPa (equivalente ao do pavimento D1) para um pavimento composto
por duas camadas granulares (sub-base + base) será necessária uma espessura total de
35 cm para satisfazer a condição em causa. No caso de se optar por um solo estabilizado
com cimento a espessura necessária reduz para 25 cm. Para um pavimento com camada
de base estabilizada a 2000 MPa pode-se observar que serão apenas necessários 15 cm
para cumprir os limites impostos pelo critério de ruína em causa. No caso de se tratar de
um solo com 25 MPa (equivalente ao do pavimento D2), para um pavimento composto
por duas camadas granulares (sub-base + base) será necessária uma espessura total de
80 cm para satisfazer a condição em causa. No caso de se optar por um solo estabilizado
com cimento a espessura necessária reduz para 50 cm. Para um pavimento com camada
de base estabilizada a 2000 MPa pode-se observar que serão apenas necessários 20 cm.
Para o dimensionamento de um pavimento sujeito a um tráfego de 40000 EP (100kN) e
um módulo de fundação de 50 MPa para um pavimento composto por duas camadas
granulares (sub-base + base) será necessária uma espessura total de 35 cm para satisfazer
a condição em causa. No caso de se optar por um solo estabilizado com cimento a
espessura necessária reduz para 20cm. Para um pavimento com camada de base
estabilizada a 2000 MPa pode-se observar que serão apenas necessários 15 cm para
cumprir os limites impostos pela condição em causa. No caso de se tratar de um solo com
25 MPa a espessura para um pavimento composto por duas camadas granulares (sub-base
+ base) será necessária uma espessura total de 70 cm para satisfazer a condição em causa.
No caso de se optar por um solo estabilizado com cimento a espessura necessária reduz
para 40 cm. Para um pavimento com camada de base estabilizada a 2000 MPa pode-se
observar que serão apenas necessários 15 cm.
Para o dimensionamento em causa utilizou-se para definir os módulos das várias
possibilidades de fundação, bem como das camadas base e sub-base as Equações 8 e 9.
Ef= 17,6 × CBR0,64 (8)
Análise Comparativa de Projetos Reais com Soluções Obtidas pelo Método Desenvolvido
53
Ei= Ei-1 × (0,2 × H0,45), H em milímetros; (9)
4.4 ANÁLISE COMPARATIVA DAS SOLUÇÕES OBTIDAS
Através dos nomogramas referentes ao novo método procedeu-se à análise comparativa
propriamente dita. Na Figura 24 verifica-se a comparação entre o dimensionamento
utilizando o novo método e o dimensionamento apresentado nos projetos reais, onde a
escolha recai num pavimento composto com duas camadas granulares (base + sub-base)
sobre o solo fundação.
Pode-se observar que para um pavimento sujeito a um tráfego de 60000 EP (100kN)
existe uma proximidade entre os valores da espessura verificando-se apenas uma ligeira
alteração entre solos compreendidos nos 40 MPa a 50 MPa onde se verifica maior
espessura no método utilizado pelos Polacos.
Figura 24 - Comparação entre o dimensionamento utilizando o novo método e o método polaco (sem
geogrelha) para um tráfego de 60000 EP (100kN).
Para um tráfego de 40000 EP (100kN) verifica-se uma variação no dimensionamento
(Figura 25), sendo que para o novo método a espessura necessária é maior para solos entre
os 25 MPa e os 30 MPa e menor para solos com módulos de maior valor, nomeadamente
para 30, 40 e 50 MPa. Apesar disso, os valores obtidos para ambos os tráfegos de projeto
são relativamente próximos dos apresentados nos projetos reais para camadas não
40 + 40
30+35
20+30
15+20
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
20 25 30 35 40 45 50 55
Espessura (cm
)
Módulo da Fundação (MPa)
Camadasgranulares(Sub‐base +Base)
Camadasgranulares semreforço(polacos)
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
54
reforçadas, o que permite concluir que os valores obtidos pelo novo método são
adequados.
Figura 25 - Comparação entre o dimensionamento utilizando o novo método e o método polaco (sem
geogrelha) para um tráfego de 40000 EP (100kN).
As outras soluções em estudo no dimensionamento do pavimento através do novo método
passam pela utilização de um solo estabilizado e de uma base estabilizada (com 2000 MPa
de módulo). Comparando com o dimensionamento dos polacos onde utilizam geogrelhas
como reforço para o dimensionamento do pavimento verifica-se que, no geral a
alternativa de estabilização do solo de fundação apresenta espessuras próximas das
obtidas com a solução de reforço com a geogrelha (Figura 26). Os valores são
ligeiramente superiores para solos com módulo de fundação superiores a
aproximadamente 28 MPa, e inferiores para solos com módulo fundação inferiores a 28
MPa. Outra conclusão é o facto de as espessuras serem muito inferiores para qualquer
composição do solo quando se dimensionam pavimentos com base estabilizada a 2000
MPa. Estas conclusões verificam-se para os dois tráfegos de projeto (40000 e 60000 eixos
padrão de 100kN), apesar de se verificar uma ligeira inversão da tendência se for
comparada a solução de reforço com geogrelha com a de solo estabilizado, conforme se
apresenta na Figura 27.
35 + 35
30+30
20+2015+20
0
10
20
30
40
50
60
70
80
20 25 30 35 40 45 50 55
Espessura (cm
)
Módulo da Fundação (MPa)
Camadasgranulares(Sub‐base +Base)
Camadasgranulares semreforço(polacos)
Análise Comparativa de Projetos Reais com Soluções Obtidas pelo Método Desenvolvido
55
Figura 26 - Comparação entre o dimensionamento utilizando o novo método e o método polaco (com
geogrelha) para um tráfego de 60000 EP (100kN).
Figura 27 - Comparação entre o dimensionamento utilizando o novo método e o método polaco (com
geogrelha) para um tráfego de 40000 EP (100kN).
4.5 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE DO DIMENSIONAMENTO EM FUNÇÃO DO TRÁFEGO
Uma outra possibilidade a verificar em todo este processo de dimensionamento será
perceber qual a variação da espessura quando se faz variar o número acumulado de eixos
padrão para um determinado módulo da fundação.
O gráfico da Figura 28 demonstra o resultado obtido em termos de espessura quando se
está perante pavimentos sujeitos a 20000, 40000 e 60000 EP (100kN) para um solo de
0
10
20
30
40
50
60
20 25 30 35 40 45 50 55
Espessura (cm
)
Módulo da Fundação (MPa)
pavimento comreforço(polacos)
Fundaçãoestabilizada
Baseestabilizada(2000 MPa)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
20 25 30 35 40 45 50 55
Espessura (cm
)
Módulo da Fundação (MPa)
pavimento comreforço(polacos)
Fundaçãoestabilizada
Baseestabilizada(2000 MPa)
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
56
fundação de 50MPa. Verifica-se que para esses valores de tráfego de projeto, a espessura
necessária para as camadas granulares será de aproximadamente 23 cm, 32 cm e 35 cm,
respetivamente. Na Figura 29 verifica-se que para um solo com modulo de 25 MPa se o
tráfego a que o pavimento está sujeito for de 20000, 40000 ou 60000 EP (100kN), a
espessura necessária para as camadas granulares será de aproximadamente 59 cm, 69 cm
e 79 cm, respetivamente.
Figura 28 - Espessura necessária tendo em conta o número acumulado de eixos-padrão para um módulo
de fundação de 50 MPa.
Figura 29 - Espessura necessária tendo em conta o número acumulado de eixos-padrão para um módulo
de fundação de 25 MPa.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
20 40 60
Espessura (cm
)
Número acumulado de eixos‐padrão (milhares)
Camadasgranulares(Sub‐base +Base)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
20 40 60
Espessura (cm
)
Número acumulado de eixos‐padrão (milhares)
Camadasgranulares(Sub‐base +Base)
Análise Comparativa de Projetos Reais com Soluções Obtidas pelo Método Desenvolvido
57
Na Figura 30 e na Figura 31 apresenta-se a análise da sensibilidade do dimensionamento
das alternativas estudadas para fundações e bases estabilizadas com cimento à variação
do tráfego de projeto.
Figura 30 - Espessura necessária tendo em conta o número acumulado de eixos padrão para um módulo
de fundação de 50 MPa.
Figura 31 - Espessura necessária tendo em conta o número acumulado de eixos padrão para um módulo
de fundação de 25 MPa.
Com este tipo de resultados é possivél abordar a questão do dimensionamento com mais
precisão e objetividade, pois torna-se possível perceber a espessura exata ao
dimensionamento de um pavimento sujeito a um determinado nível de tráfego nas
0
5
10
15
20
25
20 40 60
Espessura (cm
)
número acumulado de eixos‐padrão (milhares)
Fundaçãoestabilizada
Baseestabilizada(2000 MPa)
0
10
20
30
40
50
60
20 40 60
Espessura (cm
)
número acumulado de eixos‐padrão (milhares)
Fundaçãoestabilizada
Baseestabilizada(2000 MPa)
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
58
diversas modalidades de pavimentos aqui referidas, nomeadamente, solos constituidos
por sub-base + base granulares, fundação estabilizada ou base estabilizada.
Considerações Finais
59
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5.1 CONCLUSÕES
O dimensionamento de um pavimento tem como principais obrigações a definição dos
materiais e da espessura das camadas que o constituem, otimizando a secção estrutural
resistente, minimizando o custo global, o qual engloba os custos de construção,
conservação e reabilitação no denominado período de projeto.
Na atualidade existem vários métodos para o dimensionamento da espessura de
pavimentos, nomeadamente os métodos empíricos, empírico-mecanicistas e
mecanicistas. Os métodos empíricos são baseados em experimentação e observação,
apresentando correlações válidas, não sendo necessário o recurso a uma base científica.
Os métodos empírico-mecanicistas recorrem a uma análise mecanicista para a
determinação dos esforços gerados pelo carregamento do material, relacionando
empiricamente esses esforços com o comportamento real da estrutura (baseado no
acompanhamento de trechos experimentais sujeitos a tráfego real). Os métodos
puramente mecanicistas, onde intervêm as características mecânicas dos materiais, bem
como as solicitações de variada ordem, ainda não estão completamente estudados, devido
à dificuldade em definir modelos de comportamento que representem adequadamente os
materiais utilizados nas diferentes situações.
De referir será o facto de não existir em Portugal nenhum método que aborde
particularmente o dimensionamento de pavimentos sujeitos a baixo volume de tráfego
pesado (neste trabalho e com base no MACOPAV considerou-se como sendo o tráfego
médio diário anual de veículos pesados no ano de abertura, por sentido e na via mais
solicitada inferior a 50).
Neste trabalho foram analisados e posteriormente descritos alguns métodos
desenvolvidos para responder ao dimensionamento sujeito a este tipo de tráfego. Não
existindo um grande esclarecimento sobre o dimensionamento conclui-se que a maioria
dos métodos de dimensionamento é baseada na experiência (resultados obtidos do
comportamento dos pavimentos ao longo dos anos quando sujeitos a esta especificidade
de tráfego).
Avaliação de metodologias de dimensionamento de pavimentos de baixo volume de tráfego muito pesado
60
Para a elaboração do “novo” método foram analisados pormenorizadamente todos os
métodos encontrados. Perante as soluções analisadas conclui-se que o método que
responde com mais precisão às exigências deste tipo de pavimentos é o método da
AASHTO.
A nova abordagem ao método da AASHTO apresentada no presente trabalho pretende
constituir uma ferramenta útil para a análise e conceção de soluções de pavimentação
quando sujeitos a este tipo de condicionantes, sem a necessidade de recorrer a ábacos de
leitura por vezes difícil e sujeita a maiores erros.
Esta solução permite adequar o dimensionamento de pavimentos às condições do solo,
bem como, às condições de tráfego que estará sujeito, otimizando as espessuras das
camadas e respetivos materiais em conformidade com as suas necessidades de acordo
com as condicionantes existentes (capacidade do solo e o número acumulado de eixos
padrão).
Relativamente à análise comparativa com os projetos existentes de pavimentos de
estradas de acesso a parques eólicos na Polónia, este trabalho permitiu concluir que os
resultados obtidos pelo “novo” método estão relativamente próximos dos valores
apresentados nos referidos projetos para a aplicação de camadas exclusivamente
granulares. Foi também possível concluir que existem diferentes alternativas de
pavimentação com resultados equivalentes ou até superiores à utilização de geogrelhas
de reforço da capacidade de carga de pavimentos granulares.
5.2 TRABALHOS FUTUROS
Numa ótica de trabalhos futuros, será interessante perceber através de uma análise de
programas de elementos finitos se os resultados obtidos com o programa JPAV, que
considera um modelo elástico e linear para o comportamento dos materiais, são
equivalentes aos que se poderiam obter com modelos de comportamento não linear (que
representam mais adequadamente os materiais granulares).
Para além disso seria interessante analisar as diferentes alternativas do ponto de vista
económico para se poder concluir acerca da sua viabilidade. Dessa forma seria possível a
Considerações Finais
61
inclusão de outras soluções que se revelem determinantes na prática do dimensionamento
deste tipo de pavimentos.
Este tipo de trabalho necessitaria também de algum tipo de validação com a construção
de trechos experimentais monitorizados ao longo do tempo, ou a realização de ensaios
acelerados em pistas à escala real, de modo a validar as leis de fadiga determinadas.
Referências Bibliográficas
63
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