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UNIVERSIDADE DA REGIAtildeO DE JOINVILLE ndash UNIVILLE
PROGRAMA DE MESTRADO EM PATRIMOcircNIO CULTURAL E SOCIEDADE
AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS DOS POLONESES NO MEMORIAL DA
IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA-PR
GINA ESTHER ISSBERNER
Joinville - SC
2016
GINA ESTHER ISSBERNER
AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS DOS POLONESE NO MEMORIAL DA
IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA-PR
Dissertaccedilatildeo apresentada ao curso de Mestrado em Patrimocircnio Cultural e Sociedade da Universidade da Regiatildeo de Joinville (Univille) ndash como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre Orientadora Profordf DraSandra Paschoal Leite de Camargo Guedes
Joinville ndash SC
2016
Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo pela Biblioteca Universitaacuteria da Univille
Issberner Gina Esther
I86rAs representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba-PRGina Esther Issberner orientadora Dra Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes ndash Joinville UNIVILLE 2016
143 f il 30 cm
Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Patrimocircnio Cultural e Sociedade
ndashUniversidade da Regiatildeo de Joinville)
1Imigrantes polonesesndashParanaacute 2 Patrimocircnio cultural3 Museus 4 MemorialIGuedes Sandra Paschoal Leite de Camargo (orient)II Tiacutetulo
CDD 3252438098162
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem como objetivo refletir sobre a importacircncia das representaccedilotildees sociais criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba Objetivou ainda analisar o processo de implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa na deacutecada de 1980 o conceito de memorial e seus diferentes usos as representaccedilotildees sociais dos imigrantes poloneses percebidos pelos visitantes gestores e idealizador do Memorial e os conceitos de patrimocircnio cultural e consumo aplicado na dinacircmica sociocultural do Memorial Constatamos que o Memorial eacute visto como equipamento urbaniacutestico inserido em uma proposta de city marketing constataccedilatildeo essa que pode ser reforccedilada pela ausecircncia de um projeto museoloacutegico para o memorial em estudo A reflexatildeo a respeito das representaccedilotildees sociais na oacutetica dos visitantes gestores e idealizador ocorreu em consonacircncia aos conteuacutedos desenvolvidos a partir de pesquisa qualitativa que envolveu revisatildeo bibliograacutefica levantamento documental 03 entrevistas semiestruturadas gravadas com os responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo e gestatildeo do Memorial como tambeacutem a aplicaccedilatildeo de 50 questionaacuterios junto a visitantes do memorial maiores de 21 anos de ambos os sexos A partir do entendimento sobre os memoriais enquanto espaccedilo de memoacuteria inseridos nos estudos relativos aos museus patrimocircnio cultural e representaccedilotildees sociais - na sua vertente teoacuterica de Serge Moscovici - fundamentamos o conteuacutedo das entrevistas e questionaacuterios de campo com a metodologia da anaacutelise criacutetica do discurso O resultado da anaacutelise das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba aleacutem de revelar que a imagem do imigrante polonecircs no Memorial estaacute correlacionada com a imagem do polonecircs de hoje apontou uma necessidade maior de procurar compreender como as representaccedilotildees e as narrativas dos discursos se relacionam com o processo de interpretaccedilatildeo do sujeito polonecircs no Memorial Palavras-chave Memorial Representaccedilotildees Sociais Museus Patrimocircnio Cultural
ABSTRACT
The aim of this dissertation is to discuss the importance of the social representations created by the Polish Immigration Memorial in Curitiba and to analyze the process of setting up the Polish Immigration Memorial in the 1980s the memorialrsquos concept and its different uses the social representations of Polish immigrants perceived by visitors managers and the memorialrsquos designer as well as the concepts of cultural heritage and consumption applied to the memorialrsquos socio-cultural dynamics We find that the memorial is seen as an urban tool inserted in a proposal of city marketing This finding can be strengthened by the absence of a museum-based project for the memorial under consideration in this study The consideration regarding social representations from the viewpoints of visitors managers and the memorialrsquos designer occurs in line with the contents developed from qualitative research which encompasses bibliographical review documental survey three semi-structural interviews recorded with the people responsible for the memorialrsquos implementation and management as well as the application of 50 questionnaires to both male and female visitors to the memorial who were over 21 years of age With the view that memorials are places to evoke memories which are part of studies on museums cultural heritage and social representations ndash true to the Serge Moscovici theoretical model we based the contents of the interviews and field questionnaires on the Critical Discourse Analysis methodology The result of the analysis of social representations of Polish people within the Polish Immigration Memorial in Curitiba besides revealing that the image of the Polish immigrant is correlated to the image of the Polish people nowadays demonstrates a greater need to understand how the representations and questionnaire interview narratives are related to the process of interpretation of Poles within the memorial Keywords Memorials Social Representations Museums Cultural Heritage
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15
Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho
1987 24
Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31
Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual
Joatildeo Paulo II 1915 32
Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33
Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34
Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37
Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de
Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38
Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38
Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40
Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41
Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local
de armazenamento de acervoMIP 42
Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43
Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44
Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44
Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45
Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de
Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa
Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48
Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um
momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas
comemoraccedilotildees natalinas 49
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do
Memorial Paacutescoa2016 49
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51
Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57
Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59
Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64
Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65
Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93
Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101
Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
97
Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
99
LISTA DE SIGLAS
ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso
COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus
FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais
FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute
FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBRAM Instituto Brasileiro de Museus
ICOFOM International Committe for Museology
ICOM International Conciul of Museums
IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute
IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo
IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba
MINOM International Movement for a New Museology
MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa
SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UCL Universiteacute Catholique de Louvain
UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo
UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization
ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21
11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51
2 MEMORIAIS E MUSEUS 57
21 Os Memoriais 57
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67
23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77
32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89
34 Procedimentos de Pesquisa 91
35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117
REFEREcircNCIAS121
APEcircNDICES133
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
formulaacuterio134
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da
Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
gravaccedilatildeo de voz137
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no
processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em
Curitiba138
ANEXOS 141
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de
imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143
14
INTRODUCcedilAtildeO
Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial
se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e
particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias
e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido
O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido
por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees
culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna
A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais
data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com
a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil
dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom
a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo
na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo
de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial
a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba
1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico
15
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba
Fonte Curitiba (2010)
Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II
popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo
reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de
1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco
da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma
casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua
homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no
Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins
[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)
16
Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]
nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o
estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto
entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade
A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na
deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos
com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde
estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a
comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-
se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida
ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados
faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz
a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas
colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute
Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920
Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)
17
Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a
criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de
excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de
relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e
museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-
se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a
percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs
fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre
museu memoacuteria e identidade
Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se
principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais
disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas
perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com
profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas
possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social
do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos
visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural
Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os
visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da
importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o
impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens
construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas
indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a
trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba
Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do
Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores
novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados
Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente
quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores
e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera
influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a
18
Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a
delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada
A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de
documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com
entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios
de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses
procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-
culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as
representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para
chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em
trecircs capiacutetulos
Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano
discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de
Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing
e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)
Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)
Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)
(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de
Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade
como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura
(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e
Geissler(2004)
Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o
territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou
a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a
importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico
dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)
Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)
Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem
nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich
(2008)
No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas
especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da
19
Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica
a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de
memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira
(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e
Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova
Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury
(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)
Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural
memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)
Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho
(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)
No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees
sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)
(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)
Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)
Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o
propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees
sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo
(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati
Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)
Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)
e suas especificidades
Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa
com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no
Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de
Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e
Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo
(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas
do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)
complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)
e Choay (2001)
Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e
Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das
representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos
20
conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados
Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste
Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre
patrimocircnio cultural
21
1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA
Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico
que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias
da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e
quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho
local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a
desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como
produto de consumo cultural
No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio
Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da
Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura
em 1979visando
[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)
Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no
Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas
coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de
Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da
Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio
cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de
preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria
teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016
p1)
Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira
criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila
Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus
(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema
Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado
agrave Secretaria de Estado da Cultura
22
Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da
poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos
reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo
brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir
11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial
Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi
desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que
atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos
de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar
aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia
polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo
atual
Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que
faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade
O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)
Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos
que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da
desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a
soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo
(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na
centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de
Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa
de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo
metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e
consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte
da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut
23
(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a
seguinte colocaccedilatildeo
A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)
ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo
vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo
Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente
na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se
encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos
moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas
famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL
DO ESTADO p12 010287)
Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso
e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial
corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um
atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)
24
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987
Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987
Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia
ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que
a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de
seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do
historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute
necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites
dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das
memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico
Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da
aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho
e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos
proprietaacuterios
A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo
de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava
sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com
25
o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista
Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da
cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos
aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora
esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da
cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)
A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da
sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a
remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees
dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975
-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave
continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira
administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)
[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)
Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi
intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)
o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque
Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e
o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda
servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas
etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias
serviam para uso da populaccedilatildeo em geral
Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de
Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui
a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial
de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta
dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui
2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965
26
Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques
possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas
Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem
bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de
Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para
a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais
Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes
visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e
Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais
e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma
coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia
estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal
A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo
Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo
Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento
visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as
funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo
de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais
moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento
ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e
divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial
Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na
compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos
reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante
Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala
ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre
mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo
Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao
ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No
entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano
de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a
instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)
27
Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais
esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma
populaccedilatildeo de origem europeacuteia
A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)
Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba
segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da
cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada
pelos memoriais
A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)
De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser
referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um
problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e
que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)
Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua
identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que
possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento
e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)
A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia
criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a
fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala
sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas
simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)
28
O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade
e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio
fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de
Curitiba
No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder
que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente
poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico
manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens
urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua
forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem
sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)
Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy
quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele
[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)
A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida
dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa
estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na
populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das
parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a
indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo
toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica
a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas
urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)
No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha
a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa
Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo
das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios
de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city
marketing
29
Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3
Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como
uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees
sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e
as formas de viver o espaccedilo puacuteblico
Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como
tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a
possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais
A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)
Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses
(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em
accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um
sentimento de pertencimento
Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem
sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos
30
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural
Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial
vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa
considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua
natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p
227)
Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de
determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive
gerando outras identidades
Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses
no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as
representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor
Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)
Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido
como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus
habitantes
Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem
do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade
polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da
cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as
particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no
proacuteximo item
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial
O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer
de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme
31
o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2
Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem
decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado
num bairro central de Curitiba
Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade
Fonte Curitiba (2010)
O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi
estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro
siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)
Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba
32
Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915
Fonte GEISSLER (2004)
Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e
utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da
casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes
para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de
56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste
da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo
Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo
(GEISSLER 2004 p224)
Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio
Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de
preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo
de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas
apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e
matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais
(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na
figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos
jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita
33
Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno
Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)
O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa
Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado
por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo
com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia
representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia
na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008
p97)
Portal Polonecircs
Rio Beleacutem
Entrada Secundaacuteria
Entrada Principal
34
Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial
Fonte Google maps (2016)
Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do
Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se
transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha
e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)
A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira
sobre o Rio Beleacutem
35
Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem
Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)
Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o
Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito
de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de
metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba
Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da
edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador
da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que
Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)
4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo
36
Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como
na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction
and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of
Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi
Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)
Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave
colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas
ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and
Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa
Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo
finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there
are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo
(SILEacuteN2008 p11)
Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram
desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo
da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do
Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo
(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir
detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem
acervo e edificaccedilotildees
Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa
avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa
Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em
1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de
Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II
rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por
Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute
preservado pela capela
5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo
37
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP
Fonte Figundio (2012)
Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da
Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As
comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se
atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte
Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo
Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia
38
Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP
Fonte Cequinel (2016)
Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois
outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o
costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe
da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como
sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)
39
Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP
Fonte Da Autora (2015)
Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins
na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico
devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo
e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi
permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de
contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a
necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas
praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes
as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias
que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma
diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)
Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a
Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda
de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra
ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para
descanso
40
Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP
Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB
No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas
procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas
ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces
Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do
perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma
de incentivo e desenvolvimento ao artesanato
41
Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP
FonteWpolityceForum2014
Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no
decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas
complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas
recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki
(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como
moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)
A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes
Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute
utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de
acervo
42
Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP
Fonte Papodeviajante(2008)
O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque
pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa
edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia
Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada
para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo
possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de
autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX
43
Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)
Fonte Savicki em 29082011
Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a
cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais
recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em
relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar
44
Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP
Fonte Da autora (2015)
Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que
pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de
Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de
armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico
Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP
Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)
45
Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo
procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski
utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas
Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP
Fonte Da autora (2015)
Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos
a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a
tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da
porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos
para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou
etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este
local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da
colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX
46
Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo
Fonte Da autora (2015)
Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na
colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia
de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute
utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem
nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio
comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da
Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e
valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses
47
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial
Fonte Da autora (2015)
A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um
grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais
festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial
com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a
famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os
alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees
religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia
[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)
48
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo
Fonte Curitiba (2016)
O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos
anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus
menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia
Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo
de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para
depois dar iniacutecio a ceia
49
Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas
Fonte Vacanzepoloniacom
As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da
Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas
civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016
Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II
50
No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao
Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi
concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico
e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque
Fonte feriasnowblog(2014)
De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do
parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da
teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs
Brac Dekoracyjny
51
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico
Fonte Curitiba Space (2016)
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia
parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de
parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba
A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico
do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve
relato sobre esta trajetoacuteria
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs
Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil
abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste
deslocamento
Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)
52
Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da
Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)
tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito
de naccedilatildeo
[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)
Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs
era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante
de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto
somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo
brasileirordquo
No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989
p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir
imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a
moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o
estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs
no Paranaacute em seus diversos aspectos
No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se
reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de
poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse
grupo social
Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita
agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio
cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio
Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)
53
De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a
constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera
que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem
recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram
marcados subjetivamente
Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica
ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal
e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees
ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e
de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)
Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta
investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da
pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de
ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a
rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de
interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees
sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma
viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista
estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de
imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica
de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos
imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a
respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba
Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)
54
Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute
se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses
e outrosrdquo
Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o
Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872
aconteceu com a ajuda oficial
O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)
Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute
Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas
cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital
Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a
funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme
o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)
No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas
Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da
proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da
colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo
(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins
criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil
Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba
sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se
fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da
historiadora Mafalda Sikora
55
A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)
No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas
considerando que
Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)
Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns
milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)
Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes
Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra
apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um
contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do
polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo
que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou
ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo
extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade
de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia
para o Brasil
[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo
56
polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)
A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma
ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas
brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012
p240)
A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto
abaixo
Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)
Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute
revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas
maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da
cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e
Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a
respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as
representaccedilotildees sociais
57
2 MEMORIAIS E MUSEUS
21 Os Memoriais
Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial
Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade
de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam
uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of
visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond
their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(
WILLIAMS 2007 p6)7
Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao
tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado
em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram
a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em
Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto
Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)
Fonte uacuteltimosegundo (2010)
6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram
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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world
war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization
has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)
No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente
pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas
com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que
caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave
necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais
O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a
respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais
as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e
siacutetio memorial
A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)
Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos
museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho
quanto agraves especificidades de cada termo
O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo
em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com
estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo
8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal
59
In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)
O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da
fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais
conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou
foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere
abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de
Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque
terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo
papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o
impacto de forma continuada
Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)
Fonte Damon Winter The New York Times
10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista
60
Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem
a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de
histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent
between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS
2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam
como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias
pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial
expressa algumas preocupaccedilotildees
A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12
O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus
memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento
das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de
ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo
solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and
impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes
espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal
No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses
objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e
11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel
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pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo
ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe
understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice
versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)
No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o
congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct
what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute
allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)
Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial
e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que
envolvem a sociedade contemporacircnea
Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a
realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo
especiacuteficos como no caso dos Memoriais
No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito
dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge
Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil
institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo
de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo
(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo
possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu
O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)
Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na
organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de
possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu
14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito
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No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como
o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem
de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante
Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus
implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)
direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de
estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos
podem ser definidos da seguinte forma
These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16
Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro
de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como
Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados
para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma
16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos
histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica
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cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e
teacutecnicas
Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP
dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa
de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender
viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre
eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees
com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)
Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva
ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave
comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas
instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em
termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia
em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos
de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de
memorial mas sim de museu
Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)
analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria
portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho
destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos
Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades
cidades fatos e acontecimentos
No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito
para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que
favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os
Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A
autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams
Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e
17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)
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satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)
Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito
dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as
instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)
Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional
de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave
apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem
grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer
que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram
diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes
formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais
Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)
Fonte Brasilgovbr 2016
Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades
do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos
mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com
projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu
Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a
histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS
Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de
estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura
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29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave
atualidade
Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP
Fonte tvbrasil ebccombr 2016
Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser
concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos
etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a
possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que
inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das
instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos
de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao
desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)
Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria
ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory
processes including the historical interpretation and the museums social
functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)
Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus
(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees
18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu
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e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o
territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das
comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como
instituiccedilotildees museoloacutegicas
As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e
os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de
delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao
retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais
dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos
parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e
sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem
a um novo paiacutes com cultura diversa da sua
Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de
caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas
funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos
referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender
viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo
de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica
e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao
desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo
de comemoraccedilotildees
Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta
um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute
que nos ateremos a seguir
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia
Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com
as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational
Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago
(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao
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aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos
fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico
internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou
corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)
O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre
a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-
ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees
museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade
O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave
funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais
do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-
se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da
instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)
O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da
Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com
o apoio do ICOM
Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica
Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local
patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais
em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees
A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu
e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera
que
[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)
Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago
do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com
o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o
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delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual
confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM
1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave
museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu
integral
A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da
Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na
Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada
O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e
reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho
Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o
museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a
manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela
delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta
questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no
Brasil em 1964
O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos
enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a
problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre
um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza
que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua
mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma
situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de
educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica
cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades
Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da
Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da
Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo
desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a
compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo
(CURY 2005 p 46)
No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984
em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo
os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas
69
que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)
Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu
estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade
A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)
Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa
Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc
Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute
causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil
Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida
a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos
museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute
que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo
(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora
Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)
Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da
funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do
Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a
aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele
periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras
Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em
1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para
uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a
divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA
NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e
divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas
70
experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao
colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO
2009 p 25)
O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas
museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo
francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as
possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo
O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)
Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de
Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo
social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]
relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade
agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio
institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)
Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como
patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer
museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto
Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para
atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela
SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)
A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas
propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades
de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem
no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como
nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo
Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a
uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas
71
paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute
museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)
Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao
conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua
instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do
patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo
estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda
do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)
O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus
incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a
diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu
estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem
desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial
O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)
Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por
ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de
estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais
Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas
(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina
Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse
da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo
(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de
Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma
naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e
espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)
72
Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo
direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais
representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado
por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees
Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade
visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o
reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas
ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do
mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais
complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)
No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus
reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como
consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio
cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem
abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a
serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na
medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o
tema proposto
23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural
tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura
um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo
polonesa da regiatildeo de Curitiba
Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave
comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos
anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de
uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e
espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)
Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal
mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada
comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura
73
No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute
compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico
ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de
significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)
Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de
maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por
Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos
A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)
O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos
processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto
cultural Para Moscovici
Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)
As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais
enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria
realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder
simboacutelico representadas no imaginaacuterio social
Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert
Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das
relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo
(DURANT apud COELHO 2004 p212)
Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo
social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e
objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O
imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos
alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)
74
Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades
Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades
nas sociedades contemporacircneas
A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)
As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em
constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este
sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute
de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico
Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista
sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu
passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos
criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com
a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que
[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)
Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a
problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o
que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu
conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no
presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum
Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador
francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre
problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um
elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA
1993 p9)
Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que
experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute
75
passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou
colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e
Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo
especiacutefico
Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)
Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de
preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e
grupo de pertencimento
Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da
identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma
sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum
processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)
No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos
centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de
vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este
posicionamento da seguinte forma
Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)
Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade
como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que
a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma
visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas
da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees
sociais
76
[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)
De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das
instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de
opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o
pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas
ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute
inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo
(ABRIC 2001 p156)
De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais
compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum
Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante
na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que
consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na
forma de imagens e conceitos
Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees
em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de
organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes
coletadas
77
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas
pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son
image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no
domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos
campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos
mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos
de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito
estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia
histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede
As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo
coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das
representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo
repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na
coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as
representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim
aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas
que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)
Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo
agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os
fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que
estatildeo inseridos
Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)
Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das
caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees
satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste
sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um
lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p
9)
78
Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram
posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais
sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos
posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como
um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo
consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)
Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta
que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas
praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados
assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e
comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida
cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta
maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das
sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea
do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)
O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre
transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas
como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam
continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []
elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das
representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo
Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)
As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro
transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e
adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem
compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo
os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia
eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de
79
um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo
(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)
As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre
grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma
representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma
linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas
representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se
como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do
mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano
As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo
o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores
Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo
presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira
O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)
Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento
reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade
do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido
Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro
numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p
13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o
reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas
a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e
imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes
significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de
outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus
discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em
80
termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de
representaccedilotildees sociais
Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das
coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos
estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia
individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de
salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e
arbitrariedade
Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir
Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)
Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de
investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de
Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas
praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da
comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as
palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar
equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)
Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici
alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma
forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica
e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social
(JODELET 2001 p 188)
Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar
nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas
em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social
Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os
indiviacuteduos
81
A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus
discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico
necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees
sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida
mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici
relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais
Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)
O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual
as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais
Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas
agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social
Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de
interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p
22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que
criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado
ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do
conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais
[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)
Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram
estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos
abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p
71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira
essecircncia da realidaderdquo
Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo
perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um
82
paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003
p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias
conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma
figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso
universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)
Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a
estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente
Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo
ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)
A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)
Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de
determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados
afirmam um viacutenculo social e uma identidade
As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)
No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem
como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza
certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da
realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave
comunidade
Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo
comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que
traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo
Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos
depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que
os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees
83
diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como
se refere Moscovici (1981)
A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na
necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os
comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da
experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos
agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito
museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem
No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas
preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos
de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo
como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva
(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura
iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias
imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)
Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo
ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo
em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria
importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no
artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como
ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)
Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute
esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender
quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do
Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista
Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash
Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)
traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas
Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le
Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de
Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase
nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de
comunicaccedilatildeo
84
Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo
ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os
museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento
de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus
Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na
concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso
dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram
gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu
Nacional de Histoacuteria Natural de Paris
Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de
Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT
com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma
ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)
cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde
acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade
representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de
Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees
culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano
Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de
Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em
Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses
constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees
Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea
De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute
como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os
proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre
Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja
Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as
85
forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)
Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder
como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como
construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou
ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria
pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento
Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)
A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem
como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser
reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de
representaccedilatildeo
As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)
Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se
delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo
instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que
contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas
86
A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto
intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo
vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a
textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado
segundo Rechena (2011) da seguinte forma
Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)
Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos
institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social
Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em
virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)
marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da
classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal
inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver
Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida
o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em
objeto de pesquisa
A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma
natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o
desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de
oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)
No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve
preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua
praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais
do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias
como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo
No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as
reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das
produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso
87
32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa
A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o
tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do
visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no
circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees
vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na
forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados
quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e
construir conclusotildees
O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)
Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com
informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas
conclusotildees
Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio
padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as
perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho
no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos
visitantes daquele espaccedilo cultural
A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI
LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo
que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se
que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem
Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa
Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua
importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados
para anaacutelise da seguinte forma a saber
1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do
Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa
88
2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa
os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas
3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e
disponibilidade dos participantes
4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas
dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21
anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o
formulaacuterio
5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e
discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo
social que se consolida como foco determinante neste estudo
No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo
visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como
tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais
Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as
teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos
a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a
autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de
sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De
acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os
pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm
sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao
contexto de sua produccedilatildeo
Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)
em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a
Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes
elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das
representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por
recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo
diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final
A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes
espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de
89
finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas
dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC
A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico
Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em
seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante
denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise
quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo
representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo
A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se
reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk
Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE
RAMALHO 2006 p20)
No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)
essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente
individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma
forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os
outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma
independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo
de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008
p 12)
Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e
ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor
sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como
atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais
Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas
poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de
representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social
existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma
condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor
O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem
90
suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)
Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das
preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas
de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH
2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo
e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)
Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici
quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle
de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo
estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)
Percebemos que ao utilizarmos a ADC
Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)
Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou
Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e
dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos
conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar
34 Procedimentos de Pesquisa
Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de
dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da
parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas
e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais
Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o
projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade
marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial
91
Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e
representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma
reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio
aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do
Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade
de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos
forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa
A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e
outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve
apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada
participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos
da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue
e assinado pelos entrevistados
Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora
iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as
perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes
responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo
das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar
voz ao discurso do visitante
Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)
foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal
(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento
(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar
algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na
estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial
O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi
elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos
dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como
os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos
pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como
92
pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos
poloneses no decorrer das respostas
As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento
do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do
Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como
poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de
uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas
para as escolhas
1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo
procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia
um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais
2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta
questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito
expositivo do Memorial
3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora
tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo
do visitante para o circuito do Memorial
4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos
efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs
5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o
polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais
as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram
atualmente na sociedade contemporacircnea
Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do
formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro
graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50
anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais
mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes
estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)
93
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por
turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada
com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio
Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
0 10 20 30 40 50 60 70
Fem64
Masc 36
Acima de 50 anos - 40
30 a 49 anos - 34
21 a 29 anos - 26
0 10 20 30 40 50 60
Turistas - 58
Curitibanos - 42
Outros paiacuteses - 8
Interior do PR - 6
Outros estados - 38
Curitiba - 42
94
Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade
superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico
3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo
compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados
Fonte Da autora (2015)
O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e
Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo
os usuaacuterios daquele espaccedilo
Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria
trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado
orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil
0 5 10 15 20 25 30 35
Ens fundincompleto - 6
Ens Fundamental - 26
Ensino meacutedio - 26
Ensino superior 24
Poacutes-graduaccedilatildeo - 34
95
Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total
Fonte Da autora (2015)
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total
Fonte Da Autora (2015)
O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a
maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua
caracteriacutestica como local de lazer
0 2 4 6 8 10 12
Estudante - 12
Aposentado - 12
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Autonomo - 2
0 2 4 6 8 10 12 14
Estudante - 14
Funcionaacuterio Puacuteblico - 12
Autocircnomo - 10
Aposentado - 8
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Dona de casa 2
96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial
aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as
associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar
mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes
Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades
atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que
caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los
Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do
imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas
ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste
quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes
de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as
pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa
religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a
identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que
a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -
rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores
que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a
religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Jaacute visitou o Memorial antes 68
Esta eacute a primeira visita - 32
Motivo da visita trabalho 2
Motivo da visita Lazer - 98
97
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo
(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante
polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo
(VALENTINI 1982 p25)
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo
As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural
20
2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)
15
3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia
Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia
8
4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais
5
5- Artesanatoacervo de objetos
Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo
do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante
Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas
Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos
dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio
98
Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo
Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura
similar da Europa
Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que
identificasse o local como polonecircs
No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a
atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos
objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local
chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito
Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo
TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES
1- Arquiteturacasa capela
Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos
visitantes
21
2- Objetos do acervo
Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de
polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)
20
3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo
Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante
5
4- Quiosque Artesanato
Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local
3
5- Escultura do Papa
Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante
polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de
tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes
99
nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal
de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens
em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo
simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial
reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses
e o gosto por festas
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
Arquiteturacasascapela
A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque
20
BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato
Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses
12
Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque
6
Indumentaacuteriafestas
Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial
6
Janelas com flores
Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado
4
Objetoscamacarroccedila
O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira
poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante
alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta
observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa
natildeo explica bemrdquo
Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a
decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza
romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada
Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a
privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social
sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de
100
Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos
e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica
de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus
A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza
na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as
autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a
necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem
acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo
vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em
aacuterea de risco social
Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha
que identificou o polonecircs com o que viu
O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes
da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com
algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos
como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses
No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o
grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com
o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe
principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas
apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo
de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao
destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na
comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do
espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo
19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)
101
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado
os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico
Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados
anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante
polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash
70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura
aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante
O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou
descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de
comentaacuterios
Esses discursos seratildeo comentados adiante
35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses
Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a
preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte
maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
4Natildeo conhece 42
3Sim Identificou 36
2Conhece mas natildeo identificou 20
1Natildeo respondeu 2
102
fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute
coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo
A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas
na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a
identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em
relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas
culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do
sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa
As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)
Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do
sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias
identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves
formas dos sistemas culturais existentes
No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com
algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos
conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes
1ordm Respondente
- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem
as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua
2ordm Respondente
-Eacute uma pessoa integrada no social
3ordm Respondente
- Natildeo consigo associar
Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos
poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em
referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue
103
associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As
falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar
4ordm Respondente
- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo
5ordm Respondente
- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar
maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social
considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete
aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute
propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse
ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a
proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo
democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural
agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado
Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar
que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que
circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da
cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em
suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele
equipamento cultural
De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio
ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as
informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo
com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em
contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade
da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da
Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na
sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo
natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma
antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre
a importacircncia da experiecircncia
104
[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)
Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove
que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo
algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos
discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita
significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de
conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente
possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a
representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente
elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de
uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as
narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam
a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo
coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento
A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses
no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos
sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do
visitante
Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no
graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em
relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo
(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque
A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo
dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o
visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser
valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de
estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do
Memorial
105
Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes
Fonte Da autora (2015)
Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos
apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da
diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de
Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais
Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de
informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de
representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas
relacionadas ao MIP
Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio
a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora
dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista
ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa
a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se
ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a
acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo
discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo
distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Arquitetura 41
Objetos do acervo 23
artesanatoquiosque 16
camponesvida rural 15
religioso 11
culturatradiccedilatildeo 9
Vida em comunidade 8
106
parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil
A entrevistada complementa
Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)
Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e
ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem
da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna
negoacutecio
[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)
Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um
grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas
praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um
conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo
cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz
autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as
tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que
visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)
Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade
Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte
107
da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)
O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados
como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos
releva Choay (2001)
[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)
A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como
produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual
da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos
com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem
um espaccedilo significativo na miacutedia
A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)
A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no
seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o
pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70
anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA
2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante
renovaccedilatildeo
Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)
108
Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica
cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas
estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de
fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade
A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade
econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o
fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute
de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho
administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de
funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as
mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC
Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um
dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se
que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de
equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da
aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da
Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os
poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha
um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)
O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia
cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A
linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o
meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo
formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a
praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)
Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala
McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura
nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da
Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o
exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo
Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em
Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as
109
pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os
convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico
Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses
possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-
se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando
imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias
No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos
poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo
As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que
comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste
encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores
para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a
mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do
patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social
Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os
nossos pensamentos uma vez que
Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)
Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem
apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida
pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado
Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao
realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade
Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre
teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)
A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das
representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo
psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a
qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)
110
Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de
determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva
construiacuteda na linguagem dos sujeitos
Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)
No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do
pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo
Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)
Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos
inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas
reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees
sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber
e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se
constituem mutuamente
Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu
sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de
representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao
contexto em que se configuram
O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado
na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo
como o sistema social em que eacute gerado
Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do
processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social
podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel
do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel
coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p
111
167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte
do entrevistado temos o seguinte depoimento
Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)
Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho
arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos
das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP
Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994
FONTE IPPUC2015
Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo
urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno
conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial
originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado
atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de
apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do
Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo
houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro
112
baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do
mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos
fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um
equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade
poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um
quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um
museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto
que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem
dados para anaacutelise
Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das
primeiras casas do Memorial
Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)
Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob
responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na
estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez
seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu
e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da
paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele
periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no
decorrer do segundo capiacutetulo
Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve
ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa
Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica
20 GI Abreviatura Gina Issberner
113
SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)
SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)
O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere
ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586
imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado
pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)
Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)
O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para
as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em
depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca
prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de
Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com
a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a
revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)
A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se
enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos
que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma
imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas
arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do
poder puacuteblico
Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial
seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de
21 SP Abreviatura de Sergio Pires
114
implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o
vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na
direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje
Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da
Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos
Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a
Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio
do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e
Empresariais- FACIAP
O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como
coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica
PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial
para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da
entrevistada
A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um
parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)
Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de
organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A
entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em
Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram
o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)
Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora
de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade
do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees
perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento
socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para
a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)
Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador
Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo
subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento
europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo
115
subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam
absorvidos pelos nacionais
Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo
da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte
observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha
assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e
pelo municiacutepio
Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente
coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria
brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato
de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria
Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos
costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as
raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe
um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria
instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar
de uma mesma histoacuteria e memoacuteria
A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo
das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo
ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em
constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais
Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os
sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e
construccedilotildees de identidades
Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)
O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos
culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de
identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa
identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa
116
personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar
uma pluralidade em si
117
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as
representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de
seus visitantes gestores e idealizador
Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do
disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e
significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante
a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses
representados no Memorial
Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o
processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder
municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta
construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela
populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o
espaccedilo puacuteblico
Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e
bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de
conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-
artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da
fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que
prescinde da experiecircncia
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela
comunidade polonesa
Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos
urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos
da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes
poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender
alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de
Curitiba
118
A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta
pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade
mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria
das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social
antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser
compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica
A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais
uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado
grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos
visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que
permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da
regiatildeo de Curitiba
A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que
estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se
desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem
um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o
compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas
sociais
Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da
participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo
Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo
houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em
relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local
na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio
Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de
funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como
pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo
No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do
preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na
entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os
visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta
direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora
119
Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas
evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves
expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No
Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da
comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais
aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais
simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial
se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees
Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser
relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque
1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba
mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas
puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da
criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este
tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo
temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia
2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a
amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da
etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos
leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando
uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato
percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas
dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em
casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como
etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos
conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um
local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a
experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma
agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da
ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico
sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho
daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais
positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a
120
respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que
ocorreram ao longo do tempo
3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo
museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo
considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do
Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em
detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica
Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal
deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de
procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais
pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos
processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos
imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro
do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente
Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de
se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e
identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e
fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em
movimento suas praacuteticas sociais
121
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133
APEcircNDICES
134
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para
participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em
Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo
justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos
que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela
pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de
Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos
entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar
participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo
fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)
desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em
qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o
(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os
resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer
outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da
Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em
Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC
telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu ___________________________________________________________ fui informado
sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a
explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada
e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas
assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data __ __ ___
________________________ _________________________
Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador
135
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa em Curitiba
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES
QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA
Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e
querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto
FORMULAacuteRIO DE PESQUISA
1) Idade
1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50
2) Gecircnero
1) Masculino 2) Feminino
3) Natural de
1) Curitiba 2) Outro ________________
4) Escolaridade
( ) nenhuma
( ) 1ordm grau incompleto
( ) 1ordm grau completo
( ) 2ordm grau incompleto
( ) 2ordm grau completo
( ) superior incompleto
( ) superior completo
( ) poacutes-graduaccedilatildeo
136
5) Ocupaccedilatildeo
( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador
6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________
8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba
9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc
11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu
137
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da
pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a
responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo
eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo
na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos
seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a
promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir
em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de
retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem
nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo
receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados
no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato
com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em
contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -
Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu _________________________________ fui informado sobre o que o
pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por
isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso
sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por
mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data ___ ____ _____
_____________________________________________________
Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel
138
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo
de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA
FCC-CURITIBA
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial
1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os
dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
8 O museu do memorial foi criado por ato municipal
9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo
11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA
E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE
ABREU
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
139
6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo
ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
9 O museu do memorial foi criado por ato municipal
10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua
compreensatildeo
12 Como vocecirc se descreve como polonesa
13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER
1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais
museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a
sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa
2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do
memorial
5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE
POLONESA EM CURITIBA
1 Qual seu nome
2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial
140
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial
7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)
8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
141
ANEXOS
142
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP
143
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP
GINA ESTHER ISSBERNER
AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS DOS POLONESE NO MEMORIAL DA
IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA-PR
Dissertaccedilatildeo apresentada ao curso de Mestrado em Patrimocircnio Cultural e Sociedade da Universidade da Regiatildeo de Joinville (Univille) ndash como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre Orientadora Profordf DraSandra Paschoal Leite de Camargo Guedes
Joinville ndash SC
2016
Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo pela Biblioteca Universitaacuteria da Univille
Issberner Gina Esther
I86rAs representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba-PRGina Esther Issberner orientadora Dra Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes ndash Joinville UNIVILLE 2016
143 f il 30 cm
Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Patrimocircnio Cultural e Sociedade
ndashUniversidade da Regiatildeo de Joinville)
1Imigrantes polonesesndashParanaacute 2 Patrimocircnio cultural3 Museus 4 MemorialIGuedes Sandra Paschoal Leite de Camargo (orient)II Tiacutetulo
CDD 3252438098162
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem como objetivo refletir sobre a importacircncia das representaccedilotildees sociais criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba Objetivou ainda analisar o processo de implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa na deacutecada de 1980 o conceito de memorial e seus diferentes usos as representaccedilotildees sociais dos imigrantes poloneses percebidos pelos visitantes gestores e idealizador do Memorial e os conceitos de patrimocircnio cultural e consumo aplicado na dinacircmica sociocultural do Memorial Constatamos que o Memorial eacute visto como equipamento urbaniacutestico inserido em uma proposta de city marketing constataccedilatildeo essa que pode ser reforccedilada pela ausecircncia de um projeto museoloacutegico para o memorial em estudo A reflexatildeo a respeito das representaccedilotildees sociais na oacutetica dos visitantes gestores e idealizador ocorreu em consonacircncia aos conteuacutedos desenvolvidos a partir de pesquisa qualitativa que envolveu revisatildeo bibliograacutefica levantamento documental 03 entrevistas semiestruturadas gravadas com os responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo e gestatildeo do Memorial como tambeacutem a aplicaccedilatildeo de 50 questionaacuterios junto a visitantes do memorial maiores de 21 anos de ambos os sexos A partir do entendimento sobre os memoriais enquanto espaccedilo de memoacuteria inseridos nos estudos relativos aos museus patrimocircnio cultural e representaccedilotildees sociais - na sua vertente teoacuterica de Serge Moscovici - fundamentamos o conteuacutedo das entrevistas e questionaacuterios de campo com a metodologia da anaacutelise criacutetica do discurso O resultado da anaacutelise das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba aleacutem de revelar que a imagem do imigrante polonecircs no Memorial estaacute correlacionada com a imagem do polonecircs de hoje apontou uma necessidade maior de procurar compreender como as representaccedilotildees e as narrativas dos discursos se relacionam com o processo de interpretaccedilatildeo do sujeito polonecircs no Memorial Palavras-chave Memorial Representaccedilotildees Sociais Museus Patrimocircnio Cultural
ABSTRACT
The aim of this dissertation is to discuss the importance of the social representations created by the Polish Immigration Memorial in Curitiba and to analyze the process of setting up the Polish Immigration Memorial in the 1980s the memorialrsquos concept and its different uses the social representations of Polish immigrants perceived by visitors managers and the memorialrsquos designer as well as the concepts of cultural heritage and consumption applied to the memorialrsquos socio-cultural dynamics We find that the memorial is seen as an urban tool inserted in a proposal of city marketing This finding can be strengthened by the absence of a museum-based project for the memorial under consideration in this study The consideration regarding social representations from the viewpoints of visitors managers and the memorialrsquos designer occurs in line with the contents developed from qualitative research which encompasses bibliographical review documental survey three semi-structural interviews recorded with the people responsible for the memorialrsquos implementation and management as well as the application of 50 questionnaires to both male and female visitors to the memorial who were over 21 years of age With the view that memorials are places to evoke memories which are part of studies on museums cultural heritage and social representations ndash true to the Serge Moscovici theoretical model we based the contents of the interviews and field questionnaires on the Critical Discourse Analysis methodology The result of the analysis of social representations of Polish people within the Polish Immigration Memorial in Curitiba besides revealing that the image of the Polish immigrant is correlated to the image of the Polish people nowadays demonstrates a greater need to understand how the representations and questionnaire interview narratives are related to the process of interpretation of Poles within the memorial Keywords Memorials Social Representations Museums Cultural Heritage
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15
Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho
1987 24
Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31
Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual
Joatildeo Paulo II 1915 32
Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33
Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34
Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37
Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de
Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38
Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38
Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40
Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41
Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local
de armazenamento de acervoMIP 42
Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43
Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44
Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44
Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45
Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de
Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa
Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48
Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um
momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas
comemoraccedilotildees natalinas 49
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do
Memorial Paacutescoa2016 49
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51
Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57
Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59
Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64
Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65
Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93
Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101
Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
97
Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
99
LISTA DE SIGLAS
ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso
COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus
FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais
FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute
FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBRAM Instituto Brasileiro de Museus
ICOFOM International Committe for Museology
ICOM International Conciul of Museums
IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute
IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo
IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba
MINOM International Movement for a New Museology
MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa
SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UCL Universiteacute Catholique de Louvain
UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo
UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization
ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21
11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51
2 MEMORIAIS E MUSEUS 57
21 Os Memoriais 57
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67
23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77
32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89
34 Procedimentos de Pesquisa 91
35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117
REFEREcircNCIAS121
APEcircNDICES133
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
formulaacuterio134
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da
Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
gravaccedilatildeo de voz137
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no
processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em
Curitiba138
ANEXOS 141
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de
imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143
14
INTRODUCcedilAtildeO
Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial
se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e
particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias
e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido
O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido
por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees
culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna
A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais
data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com
a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil
dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom
a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo
na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo
de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial
a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba
1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico
15
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba
Fonte Curitiba (2010)
Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II
popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo
reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de
1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco
da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma
casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua
homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no
Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins
[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)
16
Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]
nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o
estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto
entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade
A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na
deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos
com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde
estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a
comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-
se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida
ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados
faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz
a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas
colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute
Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920
Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)
17
Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a
criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de
excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de
relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e
museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-
se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a
percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs
fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre
museu memoacuteria e identidade
Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se
principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais
disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas
perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com
profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas
possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social
do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos
visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural
Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os
visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da
importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o
impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens
construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas
indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a
trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba
Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do
Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores
novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados
Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente
quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores
e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera
influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a
18
Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a
delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada
A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de
documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com
entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios
de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses
procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-
culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as
representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para
chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em
trecircs capiacutetulos
Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano
discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de
Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing
e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)
Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)
Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)
(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de
Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade
como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura
(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e
Geissler(2004)
Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o
territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou
a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a
importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico
dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)
Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)
Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem
nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich
(2008)
No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas
especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da
19
Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica
a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de
memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira
(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e
Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova
Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury
(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)
Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural
memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)
Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho
(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)
No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees
sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)
(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)
Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)
Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o
propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees
sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo
(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati
Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)
Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)
e suas especificidades
Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa
com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no
Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de
Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e
Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo
(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas
do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)
complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)
e Choay (2001)
Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e
Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das
representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos
20
conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados
Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste
Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre
patrimocircnio cultural
21
1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA
Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico
que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias
da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e
quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho
local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a
desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como
produto de consumo cultural
No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio
Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da
Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura
em 1979visando
[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)
Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no
Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas
coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de
Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da
Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio
cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de
preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria
teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016
p1)
Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira
criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila
Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus
(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema
Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado
agrave Secretaria de Estado da Cultura
22
Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da
poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos
reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo
brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir
11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial
Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi
desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que
atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos
de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar
aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia
polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo
atual
Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que
faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade
O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)
Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos
que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da
desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a
soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo
(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na
centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de
Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa
de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo
metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e
consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte
da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut
23
(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a
seguinte colocaccedilatildeo
A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)
ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo
vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo
Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente
na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se
encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos
moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas
famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL
DO ESTADO p12 010287)
Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso
e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial
corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um
atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)
24
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987
Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987
Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia
ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que
a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de
seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do
historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute
necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites
dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das
memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico
Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da
aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho
e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos
proprietaacuterios
A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo
de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava
sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com
25
o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista
Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da
cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos
aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora
esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da
cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)
A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da
sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a
remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees
dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975
-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave
continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira
administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)
[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)
Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi
intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)
o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque
Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e
o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda
servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas
etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias
serviam para uso da populaccedilatildeo em geral
Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de
Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui
a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial
de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta
dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui
2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965
26
Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques
possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas
Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem
bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de
Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para
a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais
Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes
visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e
Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais
e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma
coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia
estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal
A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo
Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo
Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento
visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as
funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo
de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais
moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento
ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e
divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial
Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na
compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos
reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante
Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala
ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre
mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo
Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao
ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No
entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano
de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a
instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)
27
Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais
esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma
populaccedilatildeo de origem europeacuteia
A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)
Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba
segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da
cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada
pelos memoriais
A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)
De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser
referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um
problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e
que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)
Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua
identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que
possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento
e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)
A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia
criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a
fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala
sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas
simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)
28
O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade
e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio
fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de
Curitiba
No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder
que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente
poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico
manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens
urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua
forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem
sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)
Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy
quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele
[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)
A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida
dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa
estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na
populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das
parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a
indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo
toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica
a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas
urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)
No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha
a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa
Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo
das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios
de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city
marketing
29
Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3
Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como
uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees
sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e
as formas de viver o espaccedilo puacuteblico
Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como
tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a
possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais
A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)
Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses
(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em
accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um
sentimento de pertencimento
Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem
sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos
30
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural
Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial
vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa
considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua
natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p
227)
Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de
determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive
gerando outras identidades
Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses
no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as
representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor
Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)
Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido
como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus
habitantes
Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem
do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade
polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da
cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as
particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no
proacuteximo item
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial
O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer
de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme
31
o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2
Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem
decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado
num bairro central de Curitiba
Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade
Fonte Curitiba (2010)
O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi
estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro
siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)
Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba
32
Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915
Fonte GEISSLER (2004)
Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e
utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da
casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes
para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de
56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste
da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo
Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo
(GEISSLER 2004 p224)
Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio
Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de
preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo
de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas
apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e
matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais
(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na
figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos
jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita
33
Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno
Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)
O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa
Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado
por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo
com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia
representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia
na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008
p97)
Portal Polonecircs
Rio Beleacutem
Entrada Secundaacuteria
Entrada Principal
34
Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial
Fonte Google maps (2016)
Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do
Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se
transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha
e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)
A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira
sobre o Rio Beleacutem
35
Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem
Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)
Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o
Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito
de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de
metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba
Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da
edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador
da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que
Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)
4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo
36
Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como
na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction
and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of
Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi
Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)
Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave
colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas
ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and
Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa
Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo
finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there
are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo
(SILEacuteN2008 p11)
Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram
desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo
da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do
Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo
(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir
detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem
acervo e edificaccedilotildees
Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa
avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa
Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em
1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de
Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II
rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por
Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute
preservado pela capela
5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo
37
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP
Fonte Figundio (2012)
Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da
Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As
comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se
atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte
Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo
Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia
38
Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP
Fonte Cequinel (2016)
Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois
outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o
costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe
da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como
sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)
39
Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP
Fonte Da Autora (2015)
Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins
na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico
devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo
e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi
permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de
contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a
necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas
praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes
as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias
que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma
diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)
Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a
Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda
de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra
ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para
descanso
40
Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP
Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB
No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas
procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas
ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces
Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do
perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma
de incentivo e desenvolvimento ao artesanato
41
Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP
FonteWpolityceForum2014
Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no
decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas
complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas
recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki
(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como
moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)
A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes
Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute
utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de
acervo
42
Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP
Fonte Papodeviajante(2008)
O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque
pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa
edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia
Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada
para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo
possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de
autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX
43
Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)
Fonte Savicki em 29082011
Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a
cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais
recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em
relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar
44
Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP
Fonte Da autora (2015)
Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que
pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de
Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de
armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico
Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP
Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)
45
Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo
procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski
utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas
Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP
Fonte Da autora (2015)
Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos
a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a
tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da
porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos
para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou
etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este
local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da
colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX
46
Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo
Fonte Da autora (2015)
Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na
colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia
de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute
utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem
nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio
comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da
Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e
valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses
47
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial
Fonte Da autora (2015)
A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um
grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais
festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial
com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a
famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os
alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees
religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia
[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)
48
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo
Fonte Curitiba (2016)
O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos
anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus
menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia
Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo
de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para
depois dar iniacutecio a ceia
49
Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas
Fonte Vacanzepoloniacom
As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da
Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas
civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016
Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II
50
No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao
Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi
concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico
e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque
Fonte feriasnowblog(2014)
De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do
parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da
teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs
Brac Dekoracyjny
51
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico
Fonte Curitiba Space (2016)
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia
parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de
parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba
A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico
do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve
relato sobre esta trajetoacuteria
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs
Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil
abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste
deslocamento
Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)
52
Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da
Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)
tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito
de naccedilatildeo
[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)
Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs
era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante
de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto
somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo
brasileirordquo
No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989
p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir
imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a
moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o
estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs
no Paranaacute em seus diversos aspectos
No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se
reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de
poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse
grupo social
Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita
agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio
cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio
Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)
53
De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a
constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera
que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem
recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram
marcados subjetivamente
Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica
ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal
e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees
ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e
de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)
Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta
investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da
pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de
ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a
rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de
interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees
sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma
viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista
estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de
imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica
de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos
imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a
respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba
Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)
54
Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute
se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses
e outrosrdquo
Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o
Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872
aconteceu com a ajuda oficial
O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)
Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute
Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas
cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital
Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a
funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme
o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)
No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas
Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da
proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da
colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo
(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins
criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil
Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba
sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se
fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da
historiadora Mafalda Sikora
55
A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)
No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas
considerando que
Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)
Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns
milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)
Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes
Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra
apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um
contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do
polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo
que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou
ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo
extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade
de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia
para o Brasil
[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo
56
polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)
A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma
ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas
brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012
p240)
A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto
abaixo
Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)
Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute
revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas
maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da
cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e
Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a
respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as
representaccedilotildees sociais
57
2 MEMORIAIS E MUSEUS
21 Os Memoriais
Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial
Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade
de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam
uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of
visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond
their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(
WILLIAMS 2007 p6)7
Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao
tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado
em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram
a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em
Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto
Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)
Fonte uacuteltimosegundo (2010)
6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram
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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world
war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization
has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)
No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente
pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas
com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que
caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave
necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais
O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a
respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais
as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e
siacutetio memorial
A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)
Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos
museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho
quanto agraves especificidades de cada termo
O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo
em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com
estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo
8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal
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In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)
O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da
fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais
conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou
foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere
abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de
Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque
terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo
papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o
impacto de forma continuada
Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)
Fonte Damon Winter The New York Times
10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista
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Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem
a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de
histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent
between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS
2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam
como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias
pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial
expressa algumas preocupaccedilotildees
A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12
O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus
memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento
das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de
ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo
solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and
impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes
espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal
No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses
objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e
11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel
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pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo
ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe
understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice
versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)
No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o
congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct
what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute
allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)
Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial
e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que
envolvem a sociedade contemporacircnea
Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a
realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo
especiacuteficos como no caso dos Memoriais
No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito
dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge
Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil
institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo
de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo
(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo
possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu
O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)
Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na
organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de
possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu
14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito
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No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como
o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem
de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante
Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus
implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)
direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de
estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos
podem ser definidos da seguinte forma
These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16
Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro
de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como
Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados
para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma
16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos
histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica
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cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e
teacutecnicas
Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP
dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa
de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender
viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre
eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees
com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)
Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva
ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave
comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas
instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em
termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia
em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos
de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de
memorial mas sim de museu
Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)
analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria
portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho
destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos
Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades
cidades fatos e acontecimentos
No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito
para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que
favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os
Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A
autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams
Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e
17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)
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satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)
Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito
dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as
instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)
Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional
de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave
apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem
grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer
que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram
diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes
formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais
Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)
Fonte Brasilgovbr 2016
Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades
do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos
mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com
projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu
Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a
histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS
Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de
estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura
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29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave
atualidade
Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP
Fonte tvbrasil ebccombr 2016
Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser
concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos
etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a
possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que
inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das
instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos
de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao
desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)
Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria
ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory
processes including the historical interpretation and the museums social
functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)
Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus
(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees
18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu
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e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o
territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das
comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como
instituiccedilotildees museoloacutegicas
As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e
os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de
delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao
retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais
dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos
parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e
sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem
a um novo paiacutes com cultura diversa da sua
Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de
caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas
funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos
referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender
viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo
de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica
e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao
desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo
de comemoraccedilotildees
Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta
um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute
que nos ateremos a seguir
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia
Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com
as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational
Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago
(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao
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aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos
fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico
internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou
corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)
O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre
a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-
ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees
museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade
O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave
funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais
do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-
se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da
instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)
O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da
Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com
o apoio do ICOM
Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica
Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local
patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais
em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees
A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu
e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera
que
[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)
Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago
do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com
o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o
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delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual
confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM
1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave
museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu
integral
A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da
Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na
Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada
O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e
reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho
Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o
museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a
manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela
delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta
questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no
Brasil em 1964
O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos
enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a
problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre
um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza
que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua
mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma
situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de
educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica
cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades
Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da
Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da
Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo
desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a
compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo
(CURY 2005 p 46)
No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984
em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo
os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas
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que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)
Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu
estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade
A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)
Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa
Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc
Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute
causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil
Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida
a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos
museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute
que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo
(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora
Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)
Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da
funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do
Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a
aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele
periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras
Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em
1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para
uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a
divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA
NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e
divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas
70
experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao
colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO
2009 p 25)
O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas
museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo
francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as
possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo
O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)
Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de
Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo
social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]
relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade
agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio
institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)
Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como
patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer
museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto
Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para
atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela
SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)
A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas
propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades
de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem
no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como
nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo
Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a
uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas
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paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute
museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)
Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao
conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua
instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do
patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo
estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda
do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)
O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus
incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a
diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu
estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem
desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial
O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)
Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por
ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de
estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais
Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas
(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina
Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse
da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo
(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de
Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma
naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e
espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)
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Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo
direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais
representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado
por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees
Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade
visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o
reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas
ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do
mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais
complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)
No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus
reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como
consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio
cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem
abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a
serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na
medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o
tema proposto
23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural
tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura
um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo
polonesa da regiatildeo de Curitiba
Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave
comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos
anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de
uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e
espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)
Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal
mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada
comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura
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No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute
compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico
ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de
significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)
Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de
maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por
Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos
A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)
O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos
processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto
cultural Para Moscovici
Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)
As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais
enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria
realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder
simboacutelico representadas no imaginaacuterio social
Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert
Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das
relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo
(DURANT apud COELHO 2004 p212)
Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo
social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e
objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O
imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos
alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)
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Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades
Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades
nas sociedades contemporacircneas
A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)
As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em
constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este
sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute
de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico
Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista
sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu
passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos
criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com
a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que
[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)
Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a
problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o
que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu
conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no
presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum
Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador
francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre
problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um
elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA
1993 p9)
Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que
experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute
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passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou
colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e
Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo
especiacutefico
Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)
Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de
preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e
grupo de pertencimento
Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da
identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma
sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum
processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)
No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos
centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de
vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este
posicionamento da seguinte forma
Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)
Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade
como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que
a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma
visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas
da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees
sociais
76
[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)
De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das
instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de
opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o
pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas
ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute
inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo
(ABRIC 2001 p156)
De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais
compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum
Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante
na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que
consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na
forma de imagens e conceitos
Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees
em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de
organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes
coletadas
77
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas
pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son
image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no
domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos
campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos
mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos
de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito
estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia
histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede
As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo
coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das
representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo
repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na
coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as
representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim
aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas
que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)
Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo
agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os
fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que
estatildeo inseridos
Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)
Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das
caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees
satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste
sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um
lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p
9)
78
Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram
posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais
sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos
posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como
um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo
consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)
Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta
que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas
praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados
assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e
comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida
cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta
maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das
sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea
do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)
O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre
transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas
como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam
continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []
elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das
representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo
Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)
As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro
transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e
adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem
compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo
os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia
eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de
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um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo
(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)
As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre
grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma
representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma
linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas
representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se
como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do
mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano
As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo
o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores
Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo
presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira
O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)
Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento
reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade
do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido
Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro
numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p
13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o
reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas
a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e
imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes
significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de
outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus
discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em
80
termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de
representaccedilotildees sociais
Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das
coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos
estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia
individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de
salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e
arbitrariedade
Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir
Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)
Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de
investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de
Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas
praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da
comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as
palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar
equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)
Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici
alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma
forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica
e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social
(JODELET 2001 p 188)
Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar
nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas
em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social
Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os
indiviacuteduos
81
A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus
discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico
necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees
sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida
mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici
relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais
Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)
O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual
as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais
Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas
agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social
Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de
interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p
22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que
criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado
ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do
conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais
[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)
Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram
estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos
abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p
71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira
essecircncia da realidaderdquo
Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo
perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um
82
paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003
p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias
conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma
figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso
universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)
Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a
estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente
Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo
ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)
A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)
Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de
determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados
afirmam um viacutenculo social e uma identidade
As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)
No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem
como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza
certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da
realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave
comunidade
Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo
comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que
traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo
Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos
depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que
os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees
83
diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como
se refere Moscovici (1981)
A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na
necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os
comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da
experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos
agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito
museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem
No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas
preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos
de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo
como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva
(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura
iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias
imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)
Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo
ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo
em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria
importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no
artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como
ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)
Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute
esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender
quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do
Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista
Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash
Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)
traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas
Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le
Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de
Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase
nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de
comunicaccedilatildeo
84
Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo
ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os
museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento
de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus
Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na
concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso
dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram
gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu
Nacional de Histoacuteria Natural de Paris
Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de
Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT
com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma
ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)
cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde
acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade
representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de
Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees
culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano
Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de
Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em
Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses
constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees
Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea
De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute
como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os
proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre
Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja
Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as
85
forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)
Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder
como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como
construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou
ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria
pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento
Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)
A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem
como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser
reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de
representaccedilatildeo
As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)
Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se
delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo
instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que
contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas
86
A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto
intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo
vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a
textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado
segundo Rechena (2011) da seguinte forma
Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)
Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos
institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social
Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em
virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)
marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da
classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal
inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver
Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida
o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em
objeto de pesquisa
A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma
natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o
desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de
oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)
No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve
preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua
praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais
do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias
como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo
No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as
reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das
produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso
87
32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa
A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o
tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do
visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no
circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees
vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na
forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados
quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e
construir conclusotildees
O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)
Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com
informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas
conclusotildees
Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio
padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as
perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho
no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos
visitantes daquele espaccedilo cultural
A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI
LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo
que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se
que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem
Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa
Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua
importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados
para anaacutelise da seguinte forma a saber
1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do
Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa
88
2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa
os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas
3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e
disponibilidade dos participantes
4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas
dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21
anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o
formulaacuterio
5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e
discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo
social que se consolida como foco determinante neste estudo
No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo
visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como
tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais
Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as
teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos
a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a
autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de
sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De
acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os
pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm
sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao
contexto de sua produccedilatildeo
Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)
em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a
Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes
elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das
representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por
recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo
diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final
A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes
espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de
89
finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas
dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC
A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico
Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em
seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante
denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise
quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo
representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo
A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se
reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk
Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE
RAMALHO 2006 p20)
No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)
essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente
individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma
forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os
outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma
independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo
de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008
p 12)
Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e
ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor
sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como
atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais
Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas
poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de
representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social
existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma
condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor
O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem
90
suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)
Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das
preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas
de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH
2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo
e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)
Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici
quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle
de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo
estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)
Percebemos que ao utilizarmos a ADC
Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)
Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou
Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e
dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos
conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar
34 Procedimentos de Pesquisa
Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de
dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da
parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas
e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais
Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o
projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade
marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial
91
Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e
representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma
reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio
aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do
Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade
de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos
forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa
A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e
outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve
apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada
participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos
da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue
e assinado pelos entrevistados
Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora
iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as
perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes
responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo
das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar
voz ao discurso do visitante
Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)
foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal
(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento
(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar
algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na
estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial
O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi
elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos
dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como
os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos
pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como
92
pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos
poloneses no decorrer das respostas
As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento
do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do
Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como
poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de
uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas
para as escolhas
1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo
procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia
um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais
2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta
questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito
expositivo do Memorial
3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora
tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo
do visitante para o circuito do Memorial
4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos
efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs
5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o
polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais
as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram
atualmente na sociedade contemporacircnea
Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do
formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro
graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50
anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais
mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes
estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)
93
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por
turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada
com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio
Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
0 10 20 30 40 50 60 70
Fem64
Masc 36
Acima de 50 anos - 40
30 a 49 anos - 34
21 a 29 anos - 26
0 10 20 30 40 50 60
Turistas - 58
Curitibanos - 42
Outros paiacuteses - 8
Interior do PR - 6
Outros estados - 38
Curitiba - 42
94
Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade
superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico
3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo
compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados
Fonte Da autora (2015)
O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e
Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo
os usuaacuterios daquele espaccedilo
Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria
trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado
orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil
0 5 10 15 20 25 30 35
Ens fundincompleto - 6
Ens Fundamental - 26
Ensino meacutedio - 26
Ensino superior 24
Poacutes-graduaccedilatildeo - 34
95
Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total
Fonte Da autora (2015)
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total
Fonte Da Autora (2015)
O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a
maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua
caracteriacutestica como local de lazer
0 2 4 6 8 10 12
Estudante - 12
Aposentado - 12
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Autonomo - 2
0 2 4 6 8 10 12 14
Estudante - 14
Funcionaacuterio Puacuteblico - 12
Autocircnomo - 10
Aposentado - 8
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Dona de casa 2
96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial
aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as
associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar
mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes
Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades
atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que
caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los
Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do
imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas
ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste
quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes
de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as
pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa
religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a
identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que
a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -
rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores
que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a
religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Jaacute visitou o Memorial antes 68
Esta eacute a primeira visita - 32
Motivo da visita trabalho 2
Motivo da visita Lazer - 98
97
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo
(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante
polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo
(VALENTINI 1982 p25)
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo
As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural
20
2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)
15
3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia
Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia
8
4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais
5
5- Artesanatoacervo de objetos
Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo
do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante
Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas
Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos
dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio
98
Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo
Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura
similar da Europa
Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que
identificasse o local como polonecircs
No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a
atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos
objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local
chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito
Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo
TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES
1- Arquiteturacasa capela
Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos
visitantes
21
2- Objetos do acervo
Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de
polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)
20
3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo
Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante
5
4- Quiosque Artesanato
Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local
3
5- Escultura do Papa
Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante
polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de
tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes
99
nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal
de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens
em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo
simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial
reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses
e o gosto por festas
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
Arquiteturacasascapela
A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque
20
BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato
Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses
12
Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque
6
Indumentaacuteriafestas
Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial
6
Janelas com flores
Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado
4
Objetoscamacarroccedila
O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira
poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante
alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta
observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa
natildeo explica bemrdquo
Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a
decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza
romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada
Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a
privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social
sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de
100
Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos
e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica
de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus
A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza
na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as
autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a
necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem
acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo
vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em
aacuterea de risco social
Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha
que identificou o polonecircs com o que viu
O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes
da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com
algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos
como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses
No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o
grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com
o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe
principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas
apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo
de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao
destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na
comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do
espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo
19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)
101
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado
os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico
Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados
anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante
polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash
70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura
aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante
O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou
descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de
comentaacuterios
Esses discursos seratildeo comentados adiante
35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses
Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a
preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte
maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
4Natildeo conhece 42
3Sim Identificou 36
2Conhece mas natildeo identificou 20
1Natildeo respondeu 2
102
fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute
coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo
A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas
na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a
identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em
relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas
culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do
sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa
As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)
Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do
sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias
identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves
formas dos sistemas culturais existentes
No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com
algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos
conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes
1ordm Respondente
- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem
as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua
2ordm Respondente
-Eacute uma pessoa integrada no social
3ordm Respondente
- Natildeo consigo associar
Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos
poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em
referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue
103
associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As
falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar
4ordm Respondente
- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo
5ordm Respondente
- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar
maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social
considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete
aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute
propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse
ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a
proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo
democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural
agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado
Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar
que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que
circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da
cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em
suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele
equipamento cultural
De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio
ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as
informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo
com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em
contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade
da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da
Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na
sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo
natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma
antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre
a importacircncia da experiecircncia
104
[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)
Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove
que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo
algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos
discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita
significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de
conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente
possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a
representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente
elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de
uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as
narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam
a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo
coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento
A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses
no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos
sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do
visitante
Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no
graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em
relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo
(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque
A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo
dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o
visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser
valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de
estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do
Memorial
105
Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes
Fonte Da autora (2015)
Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos
apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da
diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de
Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais
Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de
informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de
representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas
relacionadas ao MIP
Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio
a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora
dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista
ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa
a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se
ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a
acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo
discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo
distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Arquitetura 41
Objetos do acervo 23
artesanatoquiosque 16
camponesvida rural 15
religioso 11
culturatradiccedilatildeo 9
Vida em comunidade 8
106
parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil
A entrevistada complementa
Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)
Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e
ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem
da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna
negoacutecio
[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)
Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um
grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas
praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um
conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo
cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz
autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as
tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que
visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)
Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade
Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte
107
da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)
O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados
como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos
releva Choay (2001)
[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)
A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como
produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual
da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos
com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem
um espaccedilo significativo na miacutedia
A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)
A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no
seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o
pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70
anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA
2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante
renovaccedilatildeo
Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)
108
Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica
cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas
estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de
fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade
A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade
econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o
fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute
de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho
administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de
funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as
mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC
Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um
dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se
que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de
equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da
aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da
Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os
poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha
um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)
O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia
cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A
linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o
meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo
formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a
praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)
Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala
McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura
nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da
Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o
exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo
Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em
Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as
109
pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os
convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico
Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses
possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-
se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando
imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias
No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos
poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo
As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que
comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste
encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores
para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a
mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do
patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social
Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os
nossos pensamentos uma vez que
Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)
Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem
apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida
pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado
Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao
realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade
Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre
teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)
A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das
representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo
psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a
qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)
110
Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de
determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva
construiacuteda na linguagem dos sujeitos
Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)
No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do
pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo
Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)
Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos
inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas
reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees
sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber
e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se
constituem mutuamente
Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu
sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de
representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao
contexto em que se configuram
O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado
na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo
como o sistema social em que eacute gerado
Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do
processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social
podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel
do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel
coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p
111
167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte
do entrevistado temos o seguinte depoimento
Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)
Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho
arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos
das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP
Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994
FONTE IPPUC2015
Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo
urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno
conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial
originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado
atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de
apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do
Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo
houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro
112
baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do
mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos
fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um
equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade
poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um
quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um
museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto
que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem
dados para anaacutelise
Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das
primeiras casas do Memorial
Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)
Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob
responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na
estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez
seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu
e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da
paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele
periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no
decorrer do segundo capiacutetulo
Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve
ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa
Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica
20 GI Abreviatura Gina Issberner
113
SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)
SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)
O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere
ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586
imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado
pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)
Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)
O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para
as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em
depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca
prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de
Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com
a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a
revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)
A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se
enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos
que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma
imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas
arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do
poder puacuteblico
Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial
seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de
21 SP Abreviatura de Sergio Pires
114
implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o
vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na
direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje
Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da
Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos
Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a
Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio
do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e
Empresariais- FACIAP
O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como
coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica
PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial
para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da
entrevistada
A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um
parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)
Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de
organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A
entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em
Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram
o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)
Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora
de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade
do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees
perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento
socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para
a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)
Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador
Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo
subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento
europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo
115
subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam
absorvidos pelos nacionais
Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo
da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte
observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha
assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e
pelo municiacutepio
Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente
coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria
brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato
de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria
Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos
costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as
raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe
um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria
instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar
de uma mesma histoacuteria e memoacuteria
A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo
das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo
ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em
constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais
Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os
sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e
construccedilotildees de identidades
Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)
O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos
culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de
identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa
identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa
116
personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar
uma pluralidade em si
117
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as
representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de
seus visitantes gestores e idealizador
Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do
disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e
significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante
a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses
representados no Memorial
Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o
processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder
municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta
construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela
populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o
espaccedilo puacuteblico
Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e
bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de
conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-
artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da
fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que
prescinde da experiecircncia
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela
comunidade polonesa
Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos
urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos
da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes
poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender
alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de
Curitiba
118
A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta
pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade
mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria
das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social
antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser
compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica
A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais
uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado
grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos
visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que
permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da
regiatildeo de Curitiba
A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que
estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se
desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem
um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o
compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas
sociais
Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da
participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo
Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo
houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em
relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local
na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio
Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de
funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como
pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo
No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do
preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na
entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os
visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta
direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora
119
Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas
evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves
expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No
Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da
comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais
aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais
simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial
se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees
Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser
relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque
1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba
mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas
puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da
criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este
tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo
temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia
2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a
amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da
etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos
leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando
uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato
percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas
dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em
casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como
etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos
conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um
local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a
experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma
agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da
ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico
sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho
daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais
positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a
120
respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que
ocorreram ao longo do tempo
3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo
museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo
considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do
Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em
detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica
Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal
deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de
procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais
pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos
processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos
imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro
do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente
Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de
se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e
identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e
fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em
movimento suas praacuteticas sociais
121
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VIEIRA A MC L Os Memoriais satildeo um novo gecircnero de museu Disponiacutevel em revistamuseucom18demaioartigosaspid=28640 acesso em 5 fev 2016
WACHOICZ R C As escolas da colonizaccedilatildeo polonesa no Brasil Curitiba Champagnat 2002 (Coleccedilatildeo gralha azul)
WACHOWICZ R C Por que preservar casas de troncosBoletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins Curitiba ano 8 n 551-8 jul1981WILLIAMS P Memorial Museums The Global Rush toCommemorateAtrocities Oxford UK Berg 2007
WINBERRY JJ The log house in MexicoAnnals of the Association of American Geographersv 64 n1USA 1974 Disponiacutevel em lthttponlinelibrarywileycomdoi101111j1467-83061974tb00954xabstractgt acesso em fev 2016
WINTERD The 911 Story Told at Bedrock Powerful as a Punch to the Gut Disponiacutevel emhttpwwwnytimescom20140514artsdesignsept-11-memorial-museum-at-ground-zero-prepares-for-openinghtml_r=0 Acesso em 3jul 2016
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WPOLITYCE FORUM Disponiacutevel em httpwpolityceplspoleczenstwo202605-urodzila-sie-w-wilnie-byla-w-sowieckim-lagrze-pozniej-w-obozie-koncentracyjnym-dzis-brazylijski-park-jana-pawla-ii-to-cale-jej-zycie-zobacz-wideo2014 Acesso em set2016
133
APEcircNDICES
134
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para
participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em
Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo
justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos
que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela
pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de
Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos
entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar
participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo
fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)
desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em
qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o
(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os
resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer
outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da
Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em
Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC
telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu ___________________________________________________________ fui informado
sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a
explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada
e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas
assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data __ __ ___
________________________ _________________________
Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador
135
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa em Curitiba
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES
QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA
Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e
querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto
FORMULAacuteRIO DE PESQUISA
1) Idade
1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50
2) Gecircnero
1) Masculino 2) Feminino
3) Natural de
1) Curitiba 2) Outro ________________
4) Escolaridade
( ) nenhuma
( ) 1ordm grau incompleto
( ) 1ordm grau completo
( ) 2ordm grau incompleto
( ) 2ordm grau completo
( ) superior incompleto
( ) superior completo
( ) poacutes-graduaccedilatildeo
136
5) Ocupaccedilatildeo
( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador
6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________
8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba
9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc
11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu
137
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da
pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a
responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo
eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo
na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos
seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a
promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir
em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de
retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem
nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo
receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados
no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato
com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em
contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -
Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu _________________________________ fui informado sobre o que o
pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por
isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso
sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por
mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data ___ ____ _____
_____________________________________________________
Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel
138
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo
de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA
FCC-CURITIBA
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial
1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os
dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
8 O museu do memorial foi criado por ato municipal
9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo
11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA
E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE
ABREU
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
139
6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo
ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
9 O museu do memorial foi criado por ato municipal
10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua
compreensatildeo
12 Como vocecirc se descreve como polonesa
13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER
1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais
museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a
sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa
2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do
memorial
5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE
POLONESA EM CURITIBA
1 Qual seu nome
2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial
140
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial
7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)
8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
141
ANEXOS
142
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP
143
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP
Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo pela Biblioteca Universitaacuteria da Univille
Issberner Gina Esther
I86rAs representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba-PRGina Esther Issberner orientadora Dra Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes ndash Joinville UNIVILLE 2016
143 f il 30 cm
Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Patrimocircnio Cultural e Sociedade
ndashUniversidade da Regiatildeo de Joinville)
1Imigrantes polonesesndashParanaacute 2 Patrimocircnio cultural3 Museus 4 MemorialIGuedes Sandra Paschoal Leite de Camargo (orient)II Tiacutetulo
CDD 3252438098162
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem como objetivo refletir sobre a importacircncia das representaccedilotildees sociais criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba Objetivou ainda analisar o processo de implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa na deacutecada de 1980 o conceito de memorial e seus diferentes usos as representaccedilotildees sociais dos imigrantes poloneses percebidos pelos visitantes gestores e idealizador do Memorial e os conceitos de patrimocircnio cultural e consumo aplicado na dinacircmica sociocultural do Memorial Constatamos que o Memorial eacute visto como equipamento urbaniacutestico inserido em uma proposta de city marketing constataccedilatildeo essa que pode ser reforccedilada pela ausecircncia de um projeto museoloacutegico para o memorial em estudo A reflexatildeo a respeito das representaccedilotildees sociais na oacutetica dos visitantes gestores e idealizador ocorreu em consonacircncia aos conteuacutedos desenvolvidos a partir de pesquisa qualitativa que envolveu revisatildeo bibliograacutefica levantamento documental 03 entrevistas semiestruturadas gravadas com os responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo e gestatildeo do Memorial como tambeacutem a aplicaccedilatildeo de 50 questionaacuterios junto a visitantes do memorial maiores de 21 anos de ambos os sexos A partir do entendimento sobre os memoriais enquanto espaccedilo de memoacuteria inseridos nos estudos relativos aos museus patrimocircnio cultural e representaccedilotildees sociais - na sua vertente teoacuterica de Serge Moscovici - fundamentamos o conteuacutedo das entrevistas e questionaacuterios de campo com a metodologia da anaacutelise criacutetica do discurso O resultado da anaacutelise das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba aleacutem de revelar que a imagem do imigrante polonecircs no Memorial estaacute correlacionada com a imagem do polonecircs de hoje apontou uma necessidade maior de procurar compreender como as representaccedilotildees e as narrativas dos discursos se relacionam com o processo de interpretaccedilatildeo do sujeito polonecircs no Memorial Palavras-chave Memorial Representaccedilotildees Sociais Museus Patrimocircnio Cultural
ABSTRACT
The aim of this dissertation is to discuss the importance of the social representations created by the Polish Immigration Memorial in Curitiba and to analyze the process of setting up the Polish Immigration Memorial in the 1980s the memorialrsquos concept and its different uses the social representations of Polish immigrants perceived by visitors managers and the memorialrsquos designer as well as the concepts of cultural heritage and consumption applied to the memorialrsquos socio-cultural dynamics We find that the memorial is seen as an urban tool inserted in a proposal of city marketing This finding can be strengthened by the absence of a museum-based project for the memorial under consideration in this study The consideration regarding social representations from the viewpoints of visitors managers and the memorialrsquos designer occurs in line with the contents developed from qualitative research which encompasses bibliographical review documental survey three semi-structural interviews recorded with the people responsible for the memorialrsquos implementation and management as well as the application of 50 questionnaires to both male and female visitors to the memorial who were over 21 years of age With the view that memorials are places to evoke memories which are part of studies on museums cultural heritage and social representations ndash true to the Serge Moscovici theoretical model we based the contents of the interviews and field questionnaires on the Critical Discourse Analysis methodology The result of the analysis of social representations of Polish people within the Polish Immigration Memorial in Curitiba besides revealing that the image of the Polish immigrant is correlated to the image of the Polish people nowadays demonstrates a greater need to understand how the representations and questionnaire interview narratives are related to the process of interpretation of Poles within the memorial Keywords Memorials Social Representations Museums Cultural Heritage
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15
Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho
1987 24
Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31
Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual
Joatildeo Paulo II 1915 32
Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33
Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34
Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37
Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de
Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38
Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38
Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40
Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41
Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local
de armazenamento de acervoMIP 42
Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43
Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44
Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44
Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45
Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de
Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa
Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48
Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um
momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas
comemoraccedilotildees natalinas 49
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do
Memorial Paacutescoa2016 49
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51
Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57
Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59
Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64
Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65
Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93
Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101
Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
97
Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
99
LISTA DE SIGLAS
ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso
COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus
FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais
FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute
FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBRAM Instituto Brasileiro de Museus
ICOFOM International Committe for Museology
ICOM International Conciul of Museums
IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute
IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo
IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba
MINOM International Movement for a New Museology
MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa
SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UCL Universiteacute Catholique de Louvain
UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo
UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization
ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21
11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51
2 MEMORIAIS E MUSEUS 57
21 Os Memoriais 57
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67
23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77
32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89
34 Procedimentos de Pesquisa 91
35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117
REFEREcircNCIAS121
APEcircNDICES133
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
formulaacuterio134
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da
Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
gravaccedilatildeo de voz137
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no
processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em
Curitiba138
ANEXOS 141
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de
imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143
14
INTRODUCcedilAtildeO
Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial
se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e
particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias
e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido
O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido
por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees
culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna
A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais
data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com
a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil
dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom
a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo
na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo
de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial
a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba
1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico
15
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba
Fonte Curitiba (2010)
Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II
popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo
reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de
1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco
da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma
casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua
homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no
Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins
[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)
16
Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]
nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o
estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto
entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade
A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na
deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos
com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde
estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a
comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-
se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida
ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados
faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz
a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas
colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute
Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920
Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)
17
Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a
criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de
excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de
relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e
museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-
se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a
percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs
fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre
museu memoacuteria e identidade
Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se
principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais
disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas
perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com
profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas
possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social
do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos
visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural
Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os
visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da
importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o
impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens
construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas
indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a
trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba
Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do
Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores
novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados
Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente
quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores
e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera
influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a
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Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a
delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada
A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de
documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com
entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios
de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses
procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-
culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as
representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para
chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em
trecircs capiacutetulos
Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano
discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de
Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing
e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)
Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)
Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)
(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de
Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade
como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura
(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e
Geissler(2004)
Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o
territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou
a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a
importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico
dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)
Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)
Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem
nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich
(2008)
No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas
especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da
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Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica
a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de
memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira
(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e
Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova
Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury
(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)
Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural
memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)
Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho
(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)
No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees
sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)
(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)
Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)
Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o
propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees
sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo
(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati
Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)
Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)
e suas especificidades
Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa
com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no
Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de
Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e
Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo
(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas
do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)
complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)
e Choay (2001)
Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e
Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das
representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos
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conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados
Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste
Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre
patrimocircnio cultural
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1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA
Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico
que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias
da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e
quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho
local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a
desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como
produto de consumo cultural
No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio
Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da
Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura
em 1979visando
[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)
Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no
Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas
coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de
Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da
Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio
cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de
preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria
teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016
p1)
Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira
criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila
Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus
(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema
Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado
agrave Secretaria de Estado da Cultura
22
Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da
poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos
reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo
brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir
11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial
Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi
desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que
atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos
de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar
aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia
polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo
atual
Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que
faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade
O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)
Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos
que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da
desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a
soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo
(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na
centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de
Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa
de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo
metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e
consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte
da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut
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(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a
seguinte colocaccedilatildeo
A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)
ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo
vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo
Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente
na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se
encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos
moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas
famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL
DO ESTADO p12 010287)
Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso
e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial
corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um
atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)
24
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987
Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987
Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia
ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que
a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de
seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do
historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute
necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites
dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das
memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico
Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da
aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho
e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos
proprietaacuterios
A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo
de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava
sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com
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o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista
Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da
cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos
aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora
esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da
cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)
A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da
sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a
remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees
dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975
-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave
continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira
administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)
[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)
Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi
intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)
o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque
Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e
o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda
servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas
etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias
serviam para uso da populaccedilatildeo em geral
Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de
Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui
a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial
de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta
dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui
2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965
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Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques
possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas
Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem
bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de
Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para
a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais
Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes
visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e
Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais
e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma
coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia
estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal
A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo
Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo
Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento
visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as
funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo
de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais
moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento
ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e
divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial
Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na
compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos
reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante
Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala
ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre
mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo
Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao
ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No
entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano
de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a
instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)
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Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais
esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma
populaccedilatildeo de origem europeacuteia
A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)
Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba
segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da
cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada
pelos memoriais
A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)
De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser
referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um
problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e
que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)
Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua
identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que
possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento
e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)
A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia
criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a
fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala
sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas
simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)
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O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade
e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio
fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de
Curitiba
No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder
que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente
poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico
manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens
urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua
forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem
sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)
Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy
quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele
[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)
A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida
dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa
estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na
populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das
parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a
indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo
toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica
a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas
urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)
No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha
a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa
Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo
das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios
de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city
marketing
29
Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3
Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como
uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees
sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e
as formas de viver o espaccedilo puacuteblico
Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como
tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a
possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais
A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)
Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses
(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em
accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um
sentimento de pertencimento
Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem
sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos
30
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural
Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial
vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa
considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua
natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p
227)
Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de
determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive
gerando outras identidades
Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses
no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as
representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor
Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)
Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido
como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus
habitantes
Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem
do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade
polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da
cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as
particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no
proacuteximo item
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial
O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer
de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme
31
o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2
Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem
decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado
num bairro central de Curitiba
Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade
Fonte Curitiba (2010)
O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi
estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro
siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)
Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba
32
Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915
Fonte GEISSLER (2004)
Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e
utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da
casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes
para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de
56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste
da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo
Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo
(GEISSLER 2004 p224)
Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio
Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de
preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo
de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas
apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e
matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais
(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na
figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos
jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita
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Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno
Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)
O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa
Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado
por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo
com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia
representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia
na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008
p97)
Portal Polonecircs
Rio Beleacutem
Entrada Secundaacuteria
Entrada Principal
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Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial
Fonte Google maps (2016)
Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do
Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se
transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha
e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)
A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira
sobre o Rio Beleacutem
35
Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem
Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)
Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o
Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito
de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de
metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba
Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da
edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador
da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que
Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)
4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo
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Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como
na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction
and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of
Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi
Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)
Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave
colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas
ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and
Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa
Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo
finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there
are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo
(SILEacuteN2008 p11)
Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram
desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo
da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do
Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo
(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir
detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem
acervo e edificaccedilotildees
Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa
avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa
Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em
1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de
Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II
rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por
Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute
preservado pela capela
5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo
37
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP
Fonte Figundio (2012)
Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da
Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As
comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se
atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte
Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo
Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia
38
Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP
Fonte Cequinel (2016)
Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois
outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o
costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe
da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como
sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)
39
Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP
Fonte Da Autora (2015)
Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins
na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico
devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo
e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi
permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de
contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a
necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas
praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes
as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias
que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma
diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)
Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a
Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda
de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra
ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para
descanso
40
Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP
Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB
No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas
procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas
ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces
Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do
perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma
de incentivo e desenvolvimento ao artesanato
41
Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP
FonteWpolityceForum2014
Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no
decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas
complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas
recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki
(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como
moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)
A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes
Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute
utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de
acervo
42
Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP
Fonte Papodeviajante(2008)
O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque
pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa
edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia
Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada
para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo
possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de
autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX
43
Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)
Fonte Savicki em 29082011
Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a
cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais
recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em
relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar
44
Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP
Fonte Da autora (2015)
Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que
pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de
Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de
armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico
Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP
Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)
45
Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo
procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski
utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas
Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP
Fonte Da autora (2015)
Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos
a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a
tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da
porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos
para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou
etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este
local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da
colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX
46
Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo
Fonte Da autora (2015)
Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na
colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia
de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute
utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem
nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio
comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da
Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e
valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses
47
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial
Fonte Da autora (2015)
A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um
grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais
festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial
com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a
famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os
alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees
religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia
[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)
48
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo
Fonte Curitiba (2016)
O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos
anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus
menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia
Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo
de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para
depois dar iniacutecio a ceia
49
Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas
Fonte Vacanzepoloniacom
As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da
Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas
civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016
Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II
50
No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao
Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi
concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico
e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque
Fonte feriasnowblog(2014)
De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do
parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da
teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs
Brac Dekoracyjny
51
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico
Fonte Curitiba Space (2016)
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia
parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de
parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba
A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico
do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve
relato sobre esta trajetoacuteria
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs
Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil
abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste
deslocamento
Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)
52
Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da
Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)
tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito
de naccedilatildeo
[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)
Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs
era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante
de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto
somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo
brasileirordquo
No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989
p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir
imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a
moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o
estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs
no Paranaacute em seus diversos aspectos
No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se
reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de
poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse
grupo social
Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita
agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio
cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio
Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)
53
De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a
constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera
que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem
recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram
marcados subjetivamente
Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica
ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal
e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees
ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e
de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)
Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta
investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da
pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de
ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a
rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de
interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees
sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma
viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista
estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de
imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica
de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos
imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a
respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba
Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)
54
Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute
se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses
e outrosrdquo
Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o
Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872
aconteceu com a ajuda oficial
O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)
Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute
Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas
cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital
Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a
funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme
o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)
No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas
Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da
proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da
colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo
(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins
criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil
Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba
sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se
fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da
historiadora Mafalda Sikora
55
A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)
No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas
considerando que
Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)
Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns
milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)
Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes
Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra
apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um
contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do
polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo
que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou
ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo
extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade
de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia
para o Brasil
[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo
56
polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)
A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma
ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas
brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012
p240)
A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto
abaixo
Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)
Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute
revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas
maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da
cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e
Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a
respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as
representaccedilotildees sociais
57
2 MEMORIAIS E MUSEUS
21 Os Memoriais
Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial
Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade
de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam
uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of
visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond
their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(
WILLIAMS 2007 p6)7
Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao
tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado
em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram
a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em
Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto
Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)
Fonte uacuteltimosegundo (2010)
6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram
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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world
war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization
has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)
No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente
pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas
com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que
caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave
necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais
O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a
respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais
as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e
siacutetio memorial
A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)
Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos
museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho
quanto agraves especificidades de cada termo
O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo
em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com
estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo
8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal
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In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)
O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da
fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais
conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou
foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere
abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de
Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque
terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo
papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o
impacto de forma continuada
Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)
Fonte Damon Winter The New York Times
10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista
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Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem
a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de
histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent
between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS
2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam
como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias
pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial
expressa algumas preocupaccedilotildees
A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12
O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus
memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento
das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de
ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo
solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and
impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes
espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal
No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses
objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e
11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel
61
pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo
ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe
understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice
versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)
No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o
congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct
what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute
allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)
Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial
e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que
envolvem a sociedade contemporacircnea
Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a
realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo
especiacuteficos como no caso dos Memoriais
No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito
dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge
Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil
institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo
de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo
(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo
possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu
O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)
Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na
organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de
possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu
14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito
62
No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como
o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem
de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante
Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus
implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)
direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de
estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos
podem ser definidos da seguinte forma
These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16
Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro
de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como
Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados
para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma
16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos
histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica
63
cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e
teacutecnicas
Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP
dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa
de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender
viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre
eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees
com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)
Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva
ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave
comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas
instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em
termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia
em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos
de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de
memorial mas sim de museu
Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)
analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria
portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho
destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos
Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades
cidades fatos e acontecimentos
No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito
para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que
favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os
Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A
autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams
Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e
17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)
64
satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)
Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito
dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as
instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)
Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional
de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave
apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem
grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer
que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram
diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes
formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais
Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)
Fonte Brasilgovbr 2016
Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades
do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos
mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com
projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu
Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a
histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS
Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de
estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura
65
29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave
atualidade
Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP
Fonte tvbrasil ebccombr 2016
Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser
concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos
etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a
possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que
inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das
instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos
de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao
desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)
Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria
ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory
processes including the historical interpretation and the museums social
functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)
Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus
(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees
18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu
66
e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o
territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das
comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como
instituiccedilotildees museoloacutegicas
As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e
os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de
delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao
retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais
dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos
parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e
sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem
a um novo paiacutes com cultura diversa da sua
Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de
caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas
funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos
referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender
viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo
de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica
e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao
desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo
de comemoraccedilotildees
Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta
um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute
que nos ateremos a seguir
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia
Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com
as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational
Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago
(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao
67
aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos
fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico
internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou
corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)
O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre
a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-
ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees
museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade
O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave
funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais
do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-
se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da
instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)
O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da
Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com
o apoio do ICOM
Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica
Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local
patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais
em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees
A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu
e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera
que
[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)
Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago
do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com
o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o
68
delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual
confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM
1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave
museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu
integral
A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da
Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na
Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada
O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e
reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho
Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o
museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a
manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela
delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta
questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no
Brasil em 1964
O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos
enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a
problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre
um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza
que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua
mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma
situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de
educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica
cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades
Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da
Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da
Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo
desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a
compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo
(CURY 2005 p 46)
No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984
em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo
os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas
69
que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)
Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu
estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade
A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)
Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa
Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc
Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute
causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil
Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida
a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos
museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute
que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo
(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora
Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)
Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da
funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do
Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a
aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele
periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras
Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em
1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para
uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a
divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA
NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e
divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas
70
experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao
colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO
2009 p 25)
O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas
museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo
francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as
possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo
O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)
Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de
Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo
social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]
relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade
agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio
institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)
Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como
patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer
museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto
Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para
atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela
SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)
A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas
propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades
de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem
no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como
nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo
Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a
uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas
71
paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute
museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)
Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao
conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua
instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do
patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo
estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda
do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)
O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus
incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a
diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu
estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem
desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial
O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)
Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por
ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de
estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais
Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas
(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina
Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse
da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo
(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de
Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma
naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e
espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)
72
Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo
direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais
representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado
por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees
Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade
visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o
reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas
ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do
mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais
complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)
No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus
reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como
consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio
cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem
abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a
serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na
medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o
tema proposto
23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural
tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura
um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo
polonesa da regiatildeo de Curitiba
Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave
comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos
anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de
uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e
espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)
Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal
mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada
comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura
73
No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute
compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico
ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de
significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)
Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de
maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por
Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos
A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)
O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos
processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto
cultural Para Moscovici
Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)
As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais
enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria
realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder
simboacutelico representadas no imaginaacuterio social
Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert
Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das
relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo
(DURANT apud COELHO 2004 p212)
Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo
social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e
objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O
imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos
alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)
74
Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades
Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades
nas sociedades contemporacircneas
A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)
As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em
constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este
sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute
de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico
Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista
sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu
passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos
criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com
a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que
[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)
Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a
problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o
que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu
conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no
presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum
Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador
francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre
problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um
elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA
1993 p9)
Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que
experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute
75
passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou
colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e
Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo
especiacutefico
Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)
Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de
preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e
grupo de pertencimento
Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da
identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma
sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum
processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)
No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos
centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de
vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este
posicionamento da seguinte forma
Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)
Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade
como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que
a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma
visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas
da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees
sociais
76
[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)
De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das
instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de
opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o
pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas
ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute
inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo
(ABRIC 2001 p156)
De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais
compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum
Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante
na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que
consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na
forma de imagens e conceitos
Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees
em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de
organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes
coletadas
77
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas
pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son
image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no
domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos
campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos
mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos
de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito
estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia
histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede
As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo
coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das
representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo
repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na
coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as
representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim
aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas
que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)
Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo
agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os
fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que
estatildeo inseridos
Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)
Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das
caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees
satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste
sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um
lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p
9)
78
Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram
posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais
sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos
posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como
um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo
consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)
Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta
que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas
praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados
assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e
comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida
cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta
maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das
sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea
do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)
O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre
transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas
como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam
continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []
elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das
representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo
Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)
As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro
transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e
adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem
compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo
os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia
eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de
79
um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo
(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)
As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre
grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma
representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma
linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas
representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se
como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do
mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano
As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo
o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores
Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo
presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira
O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)
Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento
reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade
do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido
Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro
numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p
13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o
reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas
a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e
imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes
significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de
outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus
discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em
80
termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de
representaccedilotildees sociais
Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das
coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos
estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia
individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de
salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e
arbitrariedade
Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir
Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)
Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de
investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de
Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas
praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da
comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as
palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar
equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)
Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici
alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma
forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica
e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social
(JODELET 2001 p 188)
Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar
nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas
em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social
Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os
indiviacuteduos
81
A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus
discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico
necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees
sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida
mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici
relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais
Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)
O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual
as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais
Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas
agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social
Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de
interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p
22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que
criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado
ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do
conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais
[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)
Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram
estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos
abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p
71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira
essecircncia da realidaderdquo
Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo
perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um
82
paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003
p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias
conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma
figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso
universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)
Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a
estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente
Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo
ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)
A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)
Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de
determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados
afirmam um viacutenculo social e uma identidade
As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)
No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem
como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza
certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da
realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave
comunidade
Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo
comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que
traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo
Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos
depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que
os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees
83
diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como
se refere Moscovici (1981)
A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na
necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os
comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da
experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos
agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito
museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem
No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas
preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos
de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo
como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva
(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura
iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias
imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)
Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo
ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo
em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria
importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no
artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como
ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)
Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute
esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender
quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do
Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista
Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash
Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)
traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas
Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le
Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de
Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase
nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de
comunicaccedilatildeo
84
Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo
ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os
museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento
de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus
Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na
concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso
dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram
gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu
Nacional de Histoacuteria Natural de Paris
Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de
Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT
com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma
ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)
cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde
acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade
representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de
Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees
culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano
Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de
Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em
Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses
constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees
Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea
De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute
como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os
proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre
Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja
Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as
85
forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)
Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder
como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como
construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou
ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria
pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento
Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)
A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem
como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser
reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de
representaccedilatildeo
As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)
Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se
delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo
instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que
contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas
86
A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto
intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo
vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a
textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado
segundo Rechena (2011) da seguinte forma
Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)
Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos
institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social
Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em
virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)
marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da
classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal
inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver
Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida
o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em
objeto de pesquisa
A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma
natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o
desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de
oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)
No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve
preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua
praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais
do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias
como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo
No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as
reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das
produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso
87
32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa
A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o
tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do
visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no
circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees
vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na
forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados
quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e
construir conclusotildees
O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)
Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com
informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas
conclusotildees
Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio
padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as
perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho
no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos
visitantes daquele espaccedilo cultural
A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI
LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo
que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se
que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem
Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa
Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua
importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados
para anaacutelise da seguinte forma a saber
1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do
Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa
88
2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa
os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas
3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e
disponibilidade dos participantes
4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas
dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21
anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o
formulaacuterio
5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e
discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo
social que se consolida como foco determinante neste estudo
No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo
visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como
tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais
Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as
teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos
a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a
autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de
sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De
acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os
pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm
sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao
contexto de sua produccedilatildeo
Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)
em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a
Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes
elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das
representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por
recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo
diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final
A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes
espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de
89
finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas
dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC
A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico
Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em
seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante
denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise
quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo
representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo
A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se
reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk
Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE
RAMALHO 2006 p20)
No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)
essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente
individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma
forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os
outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma
independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo
de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008
p 12)
Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e
ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor
sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como
atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais
Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas
poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de
representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social
existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma
condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor
O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem
90
suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)
Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das
preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas
de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH
2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo
e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)
Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici
quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle
de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo
estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)
Percebemos que ao utilizarmos a ADC
Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)
Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou
Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e
dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos
conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar
34 Procedimentos de Pesquisa
Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de
dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da
parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas
e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais
Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o
projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade
marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial
91
Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e
representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma
reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio
aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do
Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade
de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos
forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa
A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e
outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve
apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada
participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos
da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue
e assinado pelos entrevistados
Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora
iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as
perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes
responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo
das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar
voz ao discurso do visitante
Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)
foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal
(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento
(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar
algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na
estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial
O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi
elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos
dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como
os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos
pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como
92
pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos
poloneses no decorrer das respostas
As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento
do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do
Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como
poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de
uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas
para as escolhas
1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo
procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia
um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais
2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta
questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito
expositivo do Memorial
3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora
tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo
do visitante para o circuito do Memorial
4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos
efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs
5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o
polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais
as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram
atualmente na sociedade contemporacircnea
Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do
formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro
graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50
anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais
mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes
estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)
93
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por
turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada
com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio
Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
0 10 20 30 40 50 60 70
Fem64
Masc 36
Acima de 50 anos - 40
30 a 49 anos - 34
21 a 29 anos - 26
0 10 20 30 40 50 60
Turistas - 58
Curitibanos - 42
Outros paiacuteses - 8
Interior do PR - 6
Outros estados - 38
Curitiba - 42
94
Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade
superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico
3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo
compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados
Fonte Da autora (2015)
O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e
Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo
os usuaacuterios daquele espaccedilo
Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria
trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado
orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil
0 5 10 15 20 25 30 35
Ens fundincompleto - 6
Ens Fundamental - 26
Ensino meacutedio - 26
Ensino superior 24
Poacutes-graduaccedilatildeo - 34
95
Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total
Fonte Da autora (2015)
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total
Fonte Da Autora (2015)
O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a
maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua
caracteriacutestica como local de lazer
0 2 4 6 8 10 12
Estudante - 12
Aposentado - 12
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Autonomo - 2
0 2 4 6 8 10 12 14
Estudante - 14
Funcionaacuterio Puacuteblico - 12
Autocircnomo - 10
Aposentado - 8
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Dona de casa 2
96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial
aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as
associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar
mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes
Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades
atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que
caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los
Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do
imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas
ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste
quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes
de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as
pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa
religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a
identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que
a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -
rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores
que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a
religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Jaacute visitou o Memorial antes 68
Esta eacute a primeira visita - 32
Motivo da visita trabalho 2
Motivo da visita Lazer - 98
97
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo
(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante
polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo
(VALENTINI 1982 p25)
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo
As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural
20
2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)
15
3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia
Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia
8
4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais
5
5- Artesanatoacervo de objetos
Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo
do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante
Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas
Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos
dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio
98
Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo
Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura
similar da Europa
Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que
identificasse o local como polonecircs
No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a
atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos
objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local
chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito
Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo
TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES
1- Arquiteturacasa capela
Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos
visitantes
21
2- Objetos do acervo
Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de
polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)
20
3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo
Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante
5
4- Quiosque Artesanato
Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local
3
5- Escultura do Papa
Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante
polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de
tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes
99
nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal
de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens
em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo
simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial
reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses
e o gosto por festas
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
Arquiteturacasascapela
A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque
20
BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato
Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses
12
Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque
6
Indumentaacuteriafestas
Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial
6
Janelas com flores
Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado
4
Objetoscamacarroccedila
O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira
poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante
alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta
observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa
natildeo explica bemrdquo
Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a
decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza
romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada
Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a
privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social
sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de
100
Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos
e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica
de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus
A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza
na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as
autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a
necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem
acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo
vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em
aacuterea de risco social
Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha
que identificou o polonecircs com o que viu
O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes
da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com
algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos
como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses
No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o
grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com
o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe
principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas
apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo
de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao
destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na
comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do
espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo
19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)
101
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado
os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico
Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados
anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante
polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash
70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura
aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante
O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou
descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de
comentaacuterios
Esses discursos seratildeo comentados adiante
35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses
Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a
preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte
maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
4Natildeo conhece 42
3Sim Identificou 36
2Conhece mas natildeo identificou 20
1Natildeo respondeu 2
102
fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute
coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo
A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas
na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a
identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em
relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas
culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do
sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa
As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)
Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do
sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias
identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves
formas dos sistemas culturais existentes
No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com
algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos
conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes
1ordm Respondente
- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem
as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua
2ordm Respondente
-Eacute uma pessoa integrada no social
3ordm Respondente
- Natildeo consigo associar
Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos
poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em
referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue
103
associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As
falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar
4ordm Respondente
- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo
5ordm Respondente
- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar
maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social
considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete
aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute
propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse
ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a
proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo
democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural
agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado
Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar
que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que
circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da
cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em
suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele
equipamento cultural
De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio
ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as
informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo
com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em
contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade
da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da
Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na
sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo
natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma
antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre
a importacircncia da experiecircncia
104
[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)
Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove
que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo
algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos
discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita
significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de
conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente
possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a
representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente
elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de
uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as
narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam
a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo
coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento
A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses
no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos
sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do
visitante
Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no
graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em
relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo
(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque
A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo
dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o
visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser
valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de
estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do
Memorial
105
Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes
Fonte Da autora (2015)
Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos
apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da
diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de
Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais
Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de
informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de
representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas
relacionadas ao MIP
Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio
a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora
dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista
ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa
a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se
ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a
acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo
discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo
distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Arquitetura 41
Objetos do acervo 23
artesanatoquiosque 16
camponesvida rural 15
religioso 11
culturatradiccedilatildeo 9
Vida em comunidade 8
106
parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil
A entrevistada complementa
Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)
Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e
ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem
da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna
negoacutecio
[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)
Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um
grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas
praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um
conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo
cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz
autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as
tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que
visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)
Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade
Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte
107
da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)
O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados
como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos
releva Choay (2001)
[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)
A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como
produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual
da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos
com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem
um espaccedilo significativo na miacutedia
A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)
A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no
seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o
pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70
anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA
2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante
renovaccedilatildeo
Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)
108
Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica
cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas
estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de
fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade
A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade
econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o
fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute
de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho
administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de
funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as
mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC
Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um
dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se
que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de
equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da
aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da
Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os
poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha
um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)
O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia
cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A
linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o
meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo
formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a
praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)
Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala
McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura
nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da
Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o
exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo
Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em
Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as
109
pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os
convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico
Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses
possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-
se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando
imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias
No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos
poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo
As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que
comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste
encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores
para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a
mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do
patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social
Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os
nossos pensamentos uma vez que
Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)
Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem
apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida
pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado
Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao
realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade
Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre
teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)
A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das
representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo
psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a
qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)
110
Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de
determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva
construiacuteda na linguagem dos sujeitos
Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)
No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do
pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo
Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)
Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos
inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas
reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees
sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber
e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se
constituem mutuamente
Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu
sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de
representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao
contexto em que se configuram
O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado
na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo
como o sistema social em que eacute gerado
Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do
processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social
podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel
do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel
coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p
111
167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte
do entrevistado temos o seguinte depoimento
Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)
Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho
arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos
das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP
Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994
FONTE IPPUC2015
Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo
urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno
conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial
originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado
atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de
apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do
Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo
houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro
112
baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do
mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos
fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um
equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade
poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um
quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um
museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto
que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem
dados para anaacutelise
Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das
primeiras casas do Memorial
Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)
Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob
responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na
estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez
seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu
e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da
paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele
periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no
decorrer do segundo capiacutetulo
Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve
ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa
Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica
20 GI Abreviatura Gina Issberner
113
SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)
SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)
O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere
ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586
imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado
pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)
Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)
O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para
as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em
depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca
prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de
Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com
a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a
revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)
A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se
enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos
que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma
imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas
arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do
poder puacuteblico
Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial
seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de
21 SP Abreviatura de Sergio Pires
114
implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o
vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na
direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje
Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da
Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos
Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a
Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio
do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e
Empresariais- FACIAP
O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como
coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica
PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial
para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da
entrevistada
A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um
parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)
Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de
organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A
entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em
Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram
o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)
Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora
de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade
do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees
perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento
socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para
a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)
Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador
Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo
subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento
europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo
115
subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam
absorvidos pelos nacionais
Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo
da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte
observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha
assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e
pelo municiacutepio
Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente
coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria
brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato
de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria
Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos
costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as
raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe
um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria
instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar
de uma mesma histoacuteria e memoacuteria
A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo
das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo
ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em
constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais
Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os
sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e
construccedilotildees de identidades
Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)
O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos
culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de
identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa
identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa
116
personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar
uma pluralidade em si
117
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as
representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de
seus visitantes gestores e idealizador
Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do
disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e
significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante
a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses
representados no Memorial
Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o
processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder
municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta
construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela
populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o
espaccedilo puacuteblico
Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e
bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de
conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-
artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da
fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que
prescinde da experiecircncia
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela
comunidade polonesa
Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos
urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos
da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes
poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender
alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de
Curitiba
118
A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta
pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade
mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria
das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social
antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser
compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica
A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais
uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado
grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos
visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que
permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da
regiatildeo de Curitiba
A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que
estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se
desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem
um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o
compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas
sociais
Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da
participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo
Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo
houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em
relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local
na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio
Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de
funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como
pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo
No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do
preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na
entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os
visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta
direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora
119
Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas
evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves
expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No
Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da
comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais
aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais
simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial
se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees
Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser
relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque
1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba
mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas
puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da
criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este
tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo
temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia
2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a
amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da
etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos
leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando
uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato
percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas
dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em
casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como
etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos
conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um
local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a
experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma
agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da
ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico
sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho
daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais
positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a
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respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que
ocorreram ao longo do tempo
3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo
museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo
considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do
Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em
detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica
Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal
deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de
procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais
pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos
processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos
imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro
do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente
Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de
se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e
identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e
fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em
movimento suas praacuteticas sociais
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131
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133
APEcircNDICES
134
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para
participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em
Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo
justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos
que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela
pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de
Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos
entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar
participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo
fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)
desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em
qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o
(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os
resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer
outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da
Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em
Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC
telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu ___________________________________________________________ fui informado
sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a
explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada
e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas
assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data __ __ ___
________________________ _________________________
Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador
135
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa em Curitiba
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES
QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA
Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e
querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto
FORMULAacuteRIO DE PESQUISA
1) Idade
1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50
2) Gecircnero
1) Masculino 2) Feminino
3) Natural de
1) Curitiba 2) Outro ________________
4) Escolaridade
( ) nenhuma
( ) 1ordm grau incompleto
( ) 1ordm grau completo
( ) 2ordm grau incompleto
( ) 2ordm grau completo
( ) superior incompleto
( ) superior completo
( ) poacutes-graduaccedilatildeo
136
5) Ocupaccedilatildeo
( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador
6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________
8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba
9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc
11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu
137
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da
pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a
responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo
eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo
na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos
seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a
promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir
em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de
retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem
nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo
receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados
no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato
com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em
contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -
Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu _________________________________ fui informado sobre o que o
pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por
isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso
sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por
mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data ___ ____ _____
_____________________________________________________
Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel
138
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo
de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA
FCC-CURITIBA
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial
1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os
dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
8 O museu do memorial foi criado por ato municipal
9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo
11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA
E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE
ABREU
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
139
6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo
ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
9 O museu do memorial foi criado por ato municipal
10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua
compreensatildeo
12 Como vocecirc se descreve como polonesa
13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER
1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais
museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a
sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa
2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do
memorial
5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE
POLONESA EM CURITIBA
1 Qual seu nome
2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial
140
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial
7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)
8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
141
ANEXOS
142
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP
143
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP
RESUMO
Esta dissertaccedilatildeo tem como objetivo refletir sobre a importacircncia das representaccedilotildees sociais criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba Objetivou ainda analisar o processo de implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa na deacutecada de 1980 o conceito de memorial e seus diferentes usos as representaccedilotildees sociais dos imigrantes poloneses percebidos pelos visitantes gestores e idealizador do Memorial e os conceitos de patrimocircnio cultural e consumo aplicado na dinacircmica sociocultural do Memorial Constatamos que o Memorial eacute visto como equipamento urbaniacutestico inserido em uma proposta de city marketing constataccedilatildeo essa que pode ser reforccedilada pela ausecircncia de um projeto museoloacutegico para o memorial em estudo A reflexatildeo a respeito das representaccedilotildees sociais na oacutetica dos visitantes gestores e idealizador ocorreu em consonacircncia aos conteuacutedos desenvolvidos a partir de pesquisa qualitativa que envolveu revisatildeo bibliograacutefica levantamento documental 03 entrevistas semiestruturadas gravadas com os responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo e gestatildeo do Memorial como tambeacutem a aplicaccedilatildeo de 50 questionaacuterios junto a visitantes do memorial maiores de 21 anos de ambos os sexos A partir do entendimento sobre os memoriais enquanto espaccedilo de memoacuteria inseridos nos estudos relativos aos museus patrimocircnio cultural e representaccedilotildees sociais - na sua vertente teoacuterica de Serge Moscovici - fundamentamos o conteuacutedo das entrevistas e questionaacuterios de campo com a metodologia da anaacutelise criacutetica do discurso O resultado da anaacutelise das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba aleacutem de revelar que a imagem do imigrante polonecircs no Memorial estaacute correlacionada com a imagem do polonecircs de hoje apontou uma necessidade maior de procurar compreender como as representaccedilotildees e as narrativas dos discursos se relacionam com o processo de interpretaccedilatildeo do sujeito polonecircs no Memorial Palavras-chave Memorial Representaccedilotildees Sociais Museus Patrimocircnio Cultural
ABSTRACT
The aim of this dissertation is to discuss the importance of the social representations created by the Polish Immigration Memorial in Curitiba and to analyze the process of setting up the Polish Immigration Memorial in the 1980s the memorialrsquos concept and its different uses the social representations of Polish immigrants perceived by visitors managers and the memorialrsquos designer as well as the concepts of cultural heritage and consumption applied to the memorialrsquos socio-cultural dynamics We find that the memorial is seen as an urban tool inserted in a proposal of city marketing This finding can be strengthened by the absence of a museum-based project for the memorial under consideration in this study The consideration regarding social representations from the viewpoints of visitors managers and the memorialrsquos designer occurs in line with the contents developed from qualitative research which encompasses bibliographical review documental survey three semi-structural interviews recorded with the people responsible for the memorialrsquos implementation and management as well as the application of 50 questionnaires to both male and female visitors to the memorial who were over 21 years of age With the view that memorials are places to evoke memories which are part of studies on museums cultural heritage and social representations ndash true to the Serge Moscovici theoretical model we based the contents of the interviews and field questionnaires on the Critical Discourse Analysis methodology The result of the analysis of social representations of Polish people within the Polish Immigration Memorial in Curitiba besides revealing that the image of the Polish immigrant is correlated to the image of the Polish people nowadays demonstrates a greater need to understand how the representations and questionnaire interview narratives are related to the process of interpretation of Poles within the memorial Keywords Memorials Social Representations Museums Cultural Heritage
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15
Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho
1987 24
Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31
Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual
Joatildeo Paulo II 1915 32
Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33
Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34
Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37
Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de
Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38
Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38
Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40
Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41
Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local
de armazenamento de acervoMIP 42
Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43
Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44
Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44
Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45
Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de
Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa
Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48
Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um
momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas
comemoraccedilotildees natalinas 49
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do
Memorial Paacutescoa2016 49
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51
Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57
Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59
Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64
Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65
Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93
Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101
Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
97
Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
99
LISTA DE SIGLAS
ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso
COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus
FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais
FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute
FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBRAM Instituto Brasileiro de Museus
ICOFOM International Committe for Museology
ICOM International Conciul of Museums
IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute
IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo
IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba
MINOM International Movement for a New Museology
MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa
SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UCL Universiteacute Catholique de Louvain
UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo
UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization
ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21
11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51
2 MEMORIAIS E MUSEUS 57
21 Os Memoriais 57
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67
23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77
32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89
34 Procedimentos de Pesquisa 91
35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117
REFEREcircNCIAS121
APEcircNDICES133
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
formulaacuterio134
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da
Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
gravaccedilatildeo de voz137
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no
processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em
Curitiba138
ANEXOS 141
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de
imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143
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INTRODUCcedilAtildeO
Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial
se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e
particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias
e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido
O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido
por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees
culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna
A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais
data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com
a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil
dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom
a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo
na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo
de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial
a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba
1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico
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Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba
Fonte Curitiba (2010)
Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II
popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo
reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de
1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco
da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma
casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua
homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no
Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins
[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)
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Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]
nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o
estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto
entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade
A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na
deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos
com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde
estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a
comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-
se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida
ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados
faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz
a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas
colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute
Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920
Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)
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Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a
criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de
excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de
relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e
museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-
se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a
percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs
fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre
museu memoacuteria e identidade
Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se
principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais
disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas
perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com
profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas
possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social
do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos
visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural
Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os
visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da
importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o
impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens
construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas
indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a
trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba
Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do
Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores
novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados
Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente
quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores
e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera
influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a
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Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a
delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada
A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de
documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com
entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios
de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses
procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-
culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as
representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para
chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em
trecircs capiacutetulos
Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano
discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de
Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing
e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)
Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)
Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)
(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de
Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade
como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura
(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e
Geissler(2004)
Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o
territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou
a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a
importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico
dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)
Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)
Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem
nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich
(2008)
No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas
especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da
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Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica
a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de
memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira
(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e
Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova
Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury
(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)
Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural
memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)
Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho
(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)
No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees
sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)
(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)
Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)
Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o
propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees
sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo
(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati
Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)
Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)
e suas especificidades
Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa
com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no
Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de
Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e
Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo
(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas
do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)
complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)
e Choay (2001)
Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e
Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das
representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos
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conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados
Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste
Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre
patrimocircnio cultural
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1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA
Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico
que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias
da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e
quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho
local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a
desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como
produto de consumo cultural
No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio
Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da
Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura
em 1979visando
[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)
Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no
Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas
coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de
Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da
Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio
cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de
preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria
teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016
p1)
Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira
criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila
Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus
(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema
Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado
agrave Secretaria de Estado da Cultura
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Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da
poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos
reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo
brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir
11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial
Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi
desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que
atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos
de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar
aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia
polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo
atual
Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que
faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade
O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)
Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos
que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da
desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a
soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo
(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na
centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de
Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa
de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo
metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e
consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte
da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut
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(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a
seguinte colocaccedilatildeo
A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)
ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo
vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo
Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente
na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se
encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos
moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas
famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL
DO ESTADO p12 010287)
Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso
e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial
corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um
atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)
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Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987
Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987
Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia
ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que
a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de
seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do
historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute
necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites
dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das
memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico
Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da
aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho
e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos
proprietaacuterios
A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo
de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava
sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com
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o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista
Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da
cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos
aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora
esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da
cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)
A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da
sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a
remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees
dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975
-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave
continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira
administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)
[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)
Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi
intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)
o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque
Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e
o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda
servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas
etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias
serviam para uso da populaccedilatildeo em geral
Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de
Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui
a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial
de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta
dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui
2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965
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Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques
possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas
Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem
bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de
Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para
a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais
Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes
visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e
Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais
e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma
coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia
estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal
A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo
Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo
Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento
visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as
funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo
de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais
moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento
ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e
divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial
Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na
compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos
reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante
Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala
ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre
mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo
Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao
ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No
entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano
de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a
instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)
27
Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais
esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma
populaccedilatildeo de origem europeacuteia
A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)
Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba
segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da
cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada
pelos memoriais
A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)
De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser
referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um
problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e
que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)
Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua
identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que
possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento
e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)
A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia
criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a
fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala
sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas
simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)
28
O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade
e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio
fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de
Curitiba
No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder
que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente
poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico
manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens
urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua
forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem
sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)
Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy
quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele
[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)
A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida
dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa
estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na
populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das
parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a
indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo
toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica
a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas
urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)
No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha
a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa
Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo
das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios
de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city
marketing
29
Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3
Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como
uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees
sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e
as formas de viver o espaccedilo puacuteblico
Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como
tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a
possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais
A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)
Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses
(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em
accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um
sentimento de pertencimento
Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem
sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos
30
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural
Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial
vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa
considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua
natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p
227)
Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de
determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive
gerando outras identidades
Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses
no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as
representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor
Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)
Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido
como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus
habitantes
Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem
do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade
polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da
cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as
particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no
proacuteximo item
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial
O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer
de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme
31
o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2
Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem
decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado
num bairro central de Curitiba
Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade
Fonte Curitiba (2010)
O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi
estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro
siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)
Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba
32
Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915
Fonte GEISSLER (2004)
Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e
utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da
casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes
para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de
56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste
da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo
Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo
(GEISSLER 2004 p224)
Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio
Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de
preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo
de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas
apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e
matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais
(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na
figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos
jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita
33
Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno
Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)
O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa
Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado
por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo
com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia
representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia
na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008
p97)
Portal Polonecircs
Rio Beleacutem
Entrada Secundaacuteria
Entrada Principal
34
Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial
Fonte Google maps (2016)
Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do
Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se
transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha
e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)
A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira
sobre o Rio Beleacutem
35
Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem
Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)
Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o
Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito
de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de
metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba
Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da
edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador
da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que
Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)
4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo
36
Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como
na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction
and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of
Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi
Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)
Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave
colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas
ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and
Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa
Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo
finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there
are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo
(SILEacuteN2008 p11)
Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram
desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo
da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do
Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo
(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir
detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem
acervo e edificaccedilotildees
Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa
avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa
Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em
1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de
Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II
rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por
Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute
preservado pela capela
5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo
37
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP
Fonte Figundio (2012)
Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da
Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As
comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se
atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte
Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo
Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia
38
Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP
Fonte Cequinel (2016)
Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois
outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o
costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe
da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como
sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)
39
Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP
Fonte Da Autora (2015)
Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins
na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico
devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo
e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi
permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de
contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a
necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas
praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes
as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias
que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma
diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)
Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a
Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda
de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra
ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para
descanso
40
Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP
Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB
No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas
procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas
ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces
Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do
perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma
de incentivo e desenvolvimento ao artesanato
41
Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP
FonteWpolityceForum2014
Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no
decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas
complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas
recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki
(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como
moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)
A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes
Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute
utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de
acervo
42
Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP
Fonte Papodeviajante(2008)
O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque
pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa
edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia
Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada
para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo
possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de
autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX
43
Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)
Fonte Savicki em 29082011
Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a
cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais
recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em
relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar
44
Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP
Fonte Da autora (2015)
Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que
pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de
Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de
armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico
Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP
Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)
45
Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo
procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski
utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas
Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP
Fonte Da autora (2015)
Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos
a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a
tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da
porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos
para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou
etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este
local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da
colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX
46
Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo
Fonte Da autora (2015)
Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na
colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia
de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute
utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem
nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio
comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da
Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e
valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses
47
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial
Fonte Da autora (2015)
A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um
grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais
festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial
com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a
famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os
alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees
religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia
[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)
48
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo
Fonte Curitiba (2016)
O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos
anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus
menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia
Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo
de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para
depois dar iniacutecio a ceia
49
Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas
Fonte Vacanzepoloniacom
As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da
Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas
civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016
Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II
50
No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao
Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi
concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico
e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque
Fonte feriasnowblog(2014)
De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do
parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da
teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs
Brac Dekoracyjny
51
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico
Fonte Curitiba Space (2016)
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia
parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de
parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba
A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico
do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve
relato sobre esta trajetoacuteria
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs
Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil
abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste
deslocamento
Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)
52
Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da
Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)
tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito
de naccedilatildeo
[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)
Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs
era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante
de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto
somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo
brasileirordquo
No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989
p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir
imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a
moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o
estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs
no Paranaacute em seus diversos aspectos
No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se
reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de
poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse
grupo social
Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita
agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio
cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio
Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)
53
De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a
constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera
que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem
recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram
marcados subjetivamente
Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica
ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal
e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees
ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e
de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)
Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta
investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da
pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de
ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a
rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de
interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees
sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma
viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista
estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de
imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica
de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos
imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a
respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba
Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)
54
Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute
se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses
e outrosrdquo
Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o
Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872
aconteceu com a ajuda oficial
O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)
Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute
Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas
cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital
Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a
funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme
o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)
No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas
Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da
proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da
colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo
(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins
criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil
Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba
sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se
fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da
historiadora Mafalda Sikora
55
A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)
No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas
considerando que
Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)
Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns
milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)
Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes
Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra
apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um
contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do
polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo
que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou
ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo
extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade
de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia
para o Brasil
[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo
56
polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)
A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma
ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas
brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012
p240)
A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto
abaixo
Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)
Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute
revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas
maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da
cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e
Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a
respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as
representaccedilotildees sociais
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2 MEMORIAIS E MUSEUS
21 Os Memoriais
Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial
Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade
de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam
uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of
visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond
their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(
WILLIAMS 2007 p6)7
Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao
tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado
em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram
a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em
Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto
Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)
Fonte uacuteltimosegundo (2010)
6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram
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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world
war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization
has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)
No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente
pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas
com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que
caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave
necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais
O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a
respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais
as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e
siacutetio memorial
A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)
Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos
museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho
quanto agraves especificidades de cada termo
O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo
em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com
estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo
8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal
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In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)
O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da
fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais
conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou
foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere
abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de
Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque
terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo
papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o
impacto de forma continuada
Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)
Fonte Damon Winter The New York Times
10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista
60
Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem
a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de
histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent
between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS
2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam
como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias
pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial
expressa algumas preocupaccedilotildees
A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12
O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus
memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento
das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de
ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo
solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and
impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes
espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal
No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses
objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e
11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel
61
pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo
ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe
understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice
versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)
No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o
congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct
what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute
allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)
Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial
e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que
envolvem a sociedade contemporacircnea
Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a
realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo
especiacuteficos como no caso dos Memoriais
No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito
dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge
Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil
institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo
de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo
(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo
possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu
O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)
Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na
organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de
possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu
14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito
62
No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como
o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem
de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante
Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus
implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)
direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de
estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos
podem ser definidos da seguinte forma
These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16
Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro
de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como
Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados
para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma
16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos
histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica
63
cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e
teacutecnicas
Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP
dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa
de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender
viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre
eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees
com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)
Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva
ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave
comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas
instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em
termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia
em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos
de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de
memorial mas sim de museu
Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)
analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria
portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho
destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos
Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades
cidades fatos e acontecimentos
No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito
para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que
favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os
Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A
autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams
Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e
17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)
64
satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)
Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito
dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as
instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)
Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional
de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave
apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem
grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer
que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram
diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes
formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais
Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)
Fonte Brasilgovbr 2016
Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades
do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos
mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com
projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu
Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a
histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS
Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de
estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura
65
29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave
atualidade
Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP
Fonte tvbrasil ebccombr 2016
Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser
concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos
etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a
possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que
inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das
instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos
de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao
desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)
Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria
ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory
processes including the historical interpretation and the museums social
functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)
Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus
(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees
18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu
66
e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o
territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das
comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como
instituiccedilotildees museoloacutegicas
As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e
os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de
delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao
retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais
dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos
parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e
sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem
a um novo paiacutes com cultura diversa da sua
Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de
caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas
funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos
referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender
viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo
de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica
e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao
desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo
de comemoraccedilotildees
Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta
um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute
que nos ateremos a seguir
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia
Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com
as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational
Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago
(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao
67
aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos
fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico
internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou
corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)
O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre
a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-
ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees
museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade
O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave
funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais
do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-
se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da
instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)
O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da
Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com
o apoio do ICOM
Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica
Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local
patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais
em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees
A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu
e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera
que
[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)
Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago
do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com
o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o
68
delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual
confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM
1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave
museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu
integral
A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da
Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na
Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada
O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e
reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho
Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o
museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a
manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela
delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta
questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no
Brasil em 1964
O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos
enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a
problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre
um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza
que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua
mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma
situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de
educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica
cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades
Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da
Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da
Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo
desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a
compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo
(CURY 2005 p 46)
No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984
em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo
os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas
69
que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)
Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu
estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade
A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)
Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa
Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc
Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute
causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil
Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida
a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos
museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute
que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo
(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora
Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)
Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da
funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do
Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a
aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele
periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras
Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em
1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para
uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a
divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA
NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e
divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas
70
experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao
colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO
2009 p 25)
O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas
museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo
francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as
possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo
O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)
Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de
Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo
social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]
relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade
agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio
institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)
Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como
patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer
museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto
Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para
atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela
SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)
A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas
propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades
de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem
no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como
nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo
Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a
uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas
71
paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute
museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)
Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao
conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua
instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do
patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo
estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda
do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)
O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus
incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a
diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu
estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem
desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial
O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)
Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por
ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de
estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais
Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas
(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina
Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse
da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo
(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de
Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma
naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e
espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)
72
Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo
direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais
representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado
por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees
Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade
visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o
reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas
ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do
mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais
complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)
No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus
reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como
consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio
cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem
abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a
serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na
medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o
tema proposto
23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural
tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura
um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo
polonesa da regiatildeo de Curitiba
Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave
comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos
anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de
uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e
espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)
Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal
mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada
comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura
73
No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute
compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico
ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de
significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)
Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de
maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por
Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos
A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)
O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos
processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto
cultural Para Moscovici
Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)
As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais
enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria
realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder
simboacutelico representadas no imaginaacuterio social
Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert
Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das
relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo
(DURANT apud COELHO 2004 p212)
Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo
social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e
objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O
imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos
alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)
74
Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades
Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades
nas sociedades contemporacircneas
A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)
As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em
constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este
sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute
de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico
Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista
sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu
passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos
criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com
a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que
[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)
Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a
problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o
que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu
conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no
presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum
Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador
francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre
problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um
elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA
1993 p9)
Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que
experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute
75
passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou
colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e
Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo
especiacutefico
Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)
Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de
preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e
grupo de pertencimento
Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da
identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma
sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum
processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)
No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos
centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de
vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este
posicionamento da seguinte forma
Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)
Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade
como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que
a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma
visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas
da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees
sociais
76
[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)
De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das
instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de
opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o
pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas
ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute
inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo
(ABRIC 2001 p156)
De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais
compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum
Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante
na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que
consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na
forma de imagens e conceitos
Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees
em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de
organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes
coletadas
77
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas
pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son
image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no
domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos
campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos
mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos
de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito
estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia
histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede
As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo
coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das
representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo
repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na
coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as
representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim
aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas
que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)
Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo
agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os
fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que
estatildeo inseridos
Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)
Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das
caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees
satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste
sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um
lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p
9)
78
Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram
posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais
sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos
posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como
um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo
consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)
Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta
que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas
praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados
assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e
comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida
cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta
maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das
sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea
do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)
O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre
transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas
como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam
continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []
elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das
representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo
Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)
As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro
transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e
adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem
compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo
os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia
eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de
79
um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo
(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)
As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre
grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma
representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma
linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas
representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se
como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do
mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano
As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo
o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores
Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo
presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira
O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)
Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento
reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade
do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido
Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro
numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p
13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o
reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas
a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e
imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes
significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de
outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus
discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em
80
termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de
representaccedilotildees sociais
Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das
coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos
estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia
individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de
salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e
arbitrariedade
Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir
Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)
Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de
investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de
Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas
praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da
comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as
palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar
equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)
Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici
alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma
forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica
e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social
(JODELET 2001 p 188)
Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar
nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas
em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social
Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os
indiviacuteduos
81
A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus
discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico
necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees
sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida
mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici
relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais
Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)
O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual
as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais
Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas
agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social
Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de
interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p
22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que
criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado
ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do
conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais
[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)
Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram
estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos
abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p
71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira
essecircncia da realidaderdquo
Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo
perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um
82
paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003
p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias
conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma
figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso
universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)
Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a
estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente
Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo
ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)
A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)
Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de
determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados
afirmam um viacutenculo social e uma identidade
As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)
No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem
como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza
certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da
realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave
comunidade
Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo
comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que
traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo
Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos
depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que
os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees
83
diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como
se refere Moscovici (1981)
A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na
necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os
comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da
experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos
agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito
museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem
No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas
preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos
de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo
como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva
(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura
iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias
imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)
Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo
ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo
em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria
importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no
artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como
ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)
Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute
esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender
quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do
Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista
Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash
Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)
traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas
Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le
Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de
Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase
nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de
comunicaccedilatildeo
84
Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo
ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os
museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento
de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus
Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na
concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso
dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram
gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu
Nacional de Histoacuteria Natural de Paris
Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de
Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT
com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma
ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)
cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde
acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade
representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de
Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees
culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano
Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de
Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em
Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses
constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees
Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea
De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute
como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os
proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre
Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja
Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as
85
forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)
Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder
como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como
construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou
ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria
pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento
Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)
A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem
como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser
reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de
representaccedilatildeo
As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)
Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se
delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo
instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que
contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas
86
A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto
intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo
vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a
textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado
segundo Rechena (2011) da seguinte forma
Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)
Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos
institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social
Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em
virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)
marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da
classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal
inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver
Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida
o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em
objeto de pesquisa
A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma
natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o
desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de
oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)
No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve
preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua
praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais
do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias
como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo
No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as
reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das
produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso
87
32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa
A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o
tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do
visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no
circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees
vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na
forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados
quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e
construir conclusotildees
O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)
Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com
informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas
conclusotildees
Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio
padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as
perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho
no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos
visitantes daquele espaccedilo cultural
A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI
LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo
que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se
que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem
Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa
Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua
importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados
para anaacutelise da seguinte forma a saber
1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do
Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa
88
2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa
os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas
3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e
disponibilidade dos participantes
4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas
dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21
anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o
formulaacuterio
5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e
discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo
social que se consolida como foco determinante neste estudo
No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo
visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como
tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais
Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as
teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos
a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a
autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de
sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De
acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os
pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm
sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao
contexto de sua produccedilatildeo
Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)
em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a
Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes
elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das
representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por
recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo
diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final
A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes
espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de
89
finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas
dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC
A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico
Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em
seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante
denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise
quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo
representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo
A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se
reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk
Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE
RAMALHO 2006 p20)
No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)
essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente
individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma
forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os
outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma
independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo
de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008
p 12)
Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e
ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor
sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como
atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais
Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas
poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de
representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social
existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma
condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor
O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem
90
suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)
Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das
preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas
de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH
2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo
e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)
Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici
quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle
de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo
estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)
Percebemos que ao utilizarmos a ADC
Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)
Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou
Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e
dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos
conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar
34 Procedimentos de Pesquisa
Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de
dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da
parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas
e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais
Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o
projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade
marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial
91
Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e
representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma
reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio
aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do
Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade
de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos
forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa
A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e
outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve
apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada
participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos
da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue
e assinado pelos entrevistados
Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora
iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as
perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes
responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo
das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar
voz ao discurso do visitante
Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)
foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal
(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento
(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar
algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na
estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial
O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi
elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos
dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como
os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos
pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como
92
pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos
poloneses no decorrer das respostas
As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento
do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do
Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como
poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de
uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas
para as escolhas
1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo
procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia
um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais
2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta
questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito
expositivo do Memorial
3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora
tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo
do visitante para o circuito do Memorial
4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos
efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs
5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o
polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais
as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram
atualmente na sociedade contemporacircnea
Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do
formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro
graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50
anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais
mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes
estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)
93
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por
turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada
com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio
Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
0 10 20 30 40 50 60 70
Fem64
Masc 36
Acima de 50 anos - 40
30 a 49 anos - 34
21 a 29 anos - 26
0 10 20 30 40 50 60
Turistas - 58
Curitibanos - 42
Outros paiacuteses - 8
Interior do PR - 6
Outros estados - 38
Curitiba - 42
94
Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade
superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico
3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo
compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados
Fonte Da autora (2015)
O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e
Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo
os usuaacuterios daquele espaccedilo
Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria
trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado
orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil
0 5 10 15 20 25 30 35
Ens fundincompleto - 6
Ens Fundamental - 26
Ensino meacutedio - 26
Ensino superior 24
Poacutes-graduaccedilatildeo - 34
95
Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total
Fonte Da autora (2015)
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total
Fonte Da Autora (2015)
O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a
maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua
caracteriacutestica como local de lazer
0 2 4 6 8 10 12
Estudante - 12
Aposentado - 12
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Autonomo - 2
0 2 4 6 8 10 12 14
Estudante - 14
Funcionaacuterio Puacuteblico - 12
Autocircnomo - 10
Aposentado - 8
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Dona de casa 2
96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial
aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as
associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar
mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes
Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades
atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que
caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los
Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do
imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas
ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste
quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes
de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as
pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa
religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a
identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que
a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -
rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores
que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a
religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Jaacute visitou o Memorial antes 68
Esta eacute a primeira visita - 32
Motivo da visita trabalho 2
Motivo da visita Lazer - 98
97
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo
(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante
polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo
(VALENTINI 1982 p25)
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo
As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural
20
2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)
15
3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia
Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia
8
4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais
5
5- Artesanatoacervo de objetos
Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo
do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante
Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas
Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos
dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio
98
Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo
Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura
similar da Europa
Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que
identificasse o local como polonecircs
No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a
atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos
objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local
chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito
Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo
TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES
1- Arquiteturacasa capela
Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos
visitantes
21
2- Objetos do acervo
Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de
polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)
20
3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo
Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante
5
4- Quiosque Artesanato
Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local
3
5- Escultura do Papa
Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante
polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de
tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes
99
nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal
de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens
em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo
simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial
reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses
e o gosto por festas
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
Arquiteturacasascapela
A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque
20
BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato
Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses
12
Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque
6
Indumentaacuteriafestas
Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial
6
Janelas com flores
Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado
4
Objetoscamacarroccedila
O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira
poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante
alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta
observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa
natildeo explica bemrdquo
Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a
decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza
romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada
Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a
privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social
sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de
100
Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos
e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica
de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus
A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza
na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as
autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a
necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem
acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo
vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em
aacuterea de risco social
Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha
que identificou o polonecircs com o que viu
O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes
da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com
algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos
como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses
No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o
grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com
o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe
principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas
apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo
de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao
destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na
comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do
espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo
19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)
101
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado
os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico
Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados
anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante
polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash
70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura
aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante
O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou
descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de
comentaacuterios
Esses discursos seratildeo comentados adiante
35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses
Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a
preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte
maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
4Natildeo conhece 42
3Sim Identificou 36
2Conhece mas natildeo identificou 20
1Natildeo respondeu 2
102
fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute
coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo
A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas
na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a
identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em
relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas
culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do
sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa
As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)
Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do
sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias
identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves
formas dos sistemas culturais existentes
No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com
algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos
conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes
1ordm Respondente
- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem
as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua
2ordm Respondente
-Eacute uma pessoa integrada no social
3ordm Respondente
- Natildeo consigo associar
Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos
poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em
referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue
103
associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As
falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar
4ordm Respondente
- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo
5ordm Respondente
- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar
maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social
considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete
aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute
propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse
ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a
proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo
democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural
agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado
Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar
que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que
circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da
cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em
suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele
equipamento cultural
De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio
ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as
informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo
com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em
contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade
da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da
Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na
sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo
natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma
antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre
a importacircncia da experiecircncia
104
[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)
Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove
que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo
algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos
discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita
significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de
conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente
possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a
representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente
elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de
uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as
narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam
a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo
coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento
A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses
no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos
sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do
visitante
Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no
graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em
relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo
(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque
A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo
dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o
visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser
valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de
estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do
Memorial
105
Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes
Fonte Da autora (2015)
Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos
apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da
diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de
Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais
Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de
informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de
representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas
relacionadas ao MIP
Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio
a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora
dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista
ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa
a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se
ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a
acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo
discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo
distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Arquitetura 41
Objetos do acervo 23
artesanatoquiosque 16
camponesvida rural 15
religioso 11
culturatradiccedilatildeo 9
Vida em comunidade 8
106
parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil
A entrevistada complementa
Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)
Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e
ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem
da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna
negoacutecio
[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)
Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um
grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas
praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um
conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo
cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz
autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as
tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que
visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)
Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade
Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte
107
da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)
O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados
como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos
releva Choay (2001)
[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)
A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como
produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual
da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos
com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem
um espaccedilo significativo na miacutedia
A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)
A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no
seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o
pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70
anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA
2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante
renovaccedilatildeo
Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)
108
Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica
cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas
estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de
fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade
A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade
econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o
fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute
de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho
administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de
funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as
mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC
Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um
dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se
que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de
equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da
aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da
Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os
poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha
um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)
O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia
cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A
linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o
meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo
formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a
praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)
Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala
McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura
nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da
Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o
exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo
Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em
Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as
109
pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os
convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico
Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses
possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-
se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando
imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias
No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos
poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo
As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que
comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste
encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores
para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a
mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do
patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social
Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os
nossos pensamentos uma vez que
Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)
Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem
apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida
pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado
Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao
realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade
Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre
teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)
A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das
representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo
psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a
qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)
110
Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de
determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva
construiacuteda na linguagem dos sujeitos
Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)
No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do
pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo
Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)
Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos
inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas
reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees
sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber
e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se
constituem mutuamente
Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu
sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de
representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao
contexto em que se configuram
O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado
na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo
como o sistema social em que eacute gerado
Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do
processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social
podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel
do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel
coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p
111
167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte
do entrevistado temos o seguinte depoimento
Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)
Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho
arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos
das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP
Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994
FONTE IPPUC2015
Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo
urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno
conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial
originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado
atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de
apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do
Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo
houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro
112
baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do
mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos
fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um
equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade
poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um
quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um
museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto
que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem
dados para anaacutelise
Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das
primeiras casas do Memorial
Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)
Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob
responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na
estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez
seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu
e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da
paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele
periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no
decorrer do segundo capiacutetulo
Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve
ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa
Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica
20 GI Abreviatura Gina Issberner
113
SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)
SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)
O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere
ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586
imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado
pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)
Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)
O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para
as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em
depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca
prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de
Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com
a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a
revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)
A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se
enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos
que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma
imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas
arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do
poder puacuteblico
Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial
seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de
21 SP Abreviatura de Sergio Pires
114
implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o
vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na
direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje
Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da
Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos
Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a
Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio
do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e
Empresariais- FACIAP
O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como
coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica
PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial
para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da
entrevistada
A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um
parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)
Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de
organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A
entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em
Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram
o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)
Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora
de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade
do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees
perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento
socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para
a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)
Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador
Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo
subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento
europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo
115
subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam
absorvidos pelos nacionais
Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo
da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte
observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha
assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e
pelo municiacutepio
Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente
coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria
brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato
de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria
Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos
costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as
raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe
um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria
instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar
de uma mesma histoacuteria e memoacuteria
A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo
das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo
ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em
constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais
Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os
sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e
construccedilotildees de identidades
Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)
O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos
culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de
identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa
identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa
116
personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar
uma pluralidade em si
117
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as
representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de
seus visitantes gestores e idealizador
Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do
disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e
significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante
a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses
representados no Memorial
Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o
processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder
municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta
construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela
populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o
espaccedilo puacuteblico
Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e
bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de
conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-
artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da
fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que
prescinde da experiecircncia
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela
comunidade polonesa
Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos
urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos
da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes
poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender
alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de
Curitiba
118
A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta
pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade
mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria
das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social
antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser
compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica
A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais
uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado
grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos
visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que
permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da
regiatildeo de Curitiba
A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que
estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se
desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem
um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o
compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas
sociais
Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da
participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo
Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo
houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em
relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local
na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio
Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de
funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como
pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo
No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do
preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na
entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os
visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta
direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora
119
Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas
evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves
expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No
Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da
comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais
aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais
simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial
se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees
Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser
relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque
1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba
mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas
puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da
criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este
tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo
temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia
2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a
amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da
etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos
leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando
uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato
percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas
dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em
casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como
etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos
conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um
local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a
experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma
agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da
ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico
sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho
daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais
positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a
120
respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que
ocorreram ao longo do tempo
3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo
museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo
considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do
Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em
detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica
Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal
deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de
procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais
pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos
processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos
imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro
do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente
Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de
se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e
identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e
fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em
movimento suas praacuteticas sociais
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133
APEcircNDICES
134
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para
participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em
Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo
justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos
que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela
pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de
Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos
entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar
participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo
fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)
desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em
qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o
(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os
resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer
outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da
Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em
Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC
telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu ___________________________________________________________ fui informado
sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a
explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada
e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas
assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data __ __ ___
________________________ _________________________
Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador
135
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa em Curitiba
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES
QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA
Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e
querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto
FORMULAacuteRIO DE PESQUISA
1) Idade
1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50
2) Gecircnero
1) Masculino 2) Feminino
3) Natural de
1) Curitiba 2) Outro ________________
4) Escolaridade
( ) nenhuma
( ) 1ordm grau incompleto
( ) 1ordm grau completo
( ) 2ordm grau incompleto
( ) 2ordm grau completo
( ) superior incompleto
( ) superior completo
( ) poacutes-graduaccedilatildeo
136
5) Ocupaccedilatildeo
( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador
6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________
8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba
9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc
11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu
137
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da
pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a
responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo
eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo
na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos
seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a
promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir
em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de
retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem
nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo
receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados
no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato
com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em
contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -
Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu _________________________________ fui informado sobre o que o
pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por
isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso
sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por
mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data ___ ____ _____
_____________________________________________________
Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel
138
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo
de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA
FCC-CURITIBA
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial
1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os
dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
8 O museu do memorial foi criado por ato municipal
9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo
11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA
E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE
ABREU
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
139
6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo
ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
9 O museu do memorial foi criado por ato municipal
10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua
compreensatildeo
12 Como vocecirc se descreve como polonesa
13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER
1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais
museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a
sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa
2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do
memorial
5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE
POLONESA EM CURITIBA
1 Qual seu nome
2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial
140
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial
7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)
8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
141
ANEXOS
142
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP
143
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP
ABSTRACT
The aim of this dissertation is to discuss the importance of the social representations created by the Polish Immigration Memorial in Curitiba and to analyze the process of setting up the Polish Immigration Memorial in the 1980s the memorialrsquos concept and its different uses the social representations of Polish immigrants perceived by visitors managers and the memorialrsquos designer as well as the concepts of cultural heritage and consumption applied to the memorialrsquos socio-cultural dynamics We find that the memorial is seen as an urban tool inserted in a proposal of city marketing This finding can be strengthened by the absence of a museum-based project for the memorial under consideration in this study The consideration regarding social representations from the viewpoints of visitors managers and the memorialrsquos designer occurs in line with the contents developed from qualitative research which encompasses bibliographical review documental survey three semi-structural interviews recorded with the people responsible for the memorialrsquos implementation and management as well as the application of 50 questionnaires to both male and female visitors to the memorial who were over 21 years of age With the view that memorials are places to evoke memories which are part of studies on museums cultural heritage and social representations ndash true to the Serge Moscovici theoretical model we based the contents of the interviews and field questionnaires on the Critical Discourse Analysis methodology The result of the analysis of social representations of Polish people within the Polish Immigration Memorial in Curitiba besides revealing that the image of the Polish immigrant is correlated to the image of the Polish people nowadays demonstrates a greater need to understand how the representations and questionnaire interview narratives are related to the process of interpretation of Poles within the memorial Keywords Memorials Social Representations Museums Cultural Heritage
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15
Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho
1987 24
Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31
Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual
Joatildeo Paulo II 1915 32
Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33
Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34
Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37
Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de
Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38
Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38
Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40
Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41
Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local
de armazenamento de acervoMIP 42
Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43
Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44
Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44
Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45
Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de
Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa
Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48
Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um
momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas
comemoraccedilotildees natalinas 49
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do
Memorial Paacutescoa2016 49
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51
Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57
Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59
Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64
Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65
Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93
Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101
Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
97
Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
99
LISTA DE SIGLAS
ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso
COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus
FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais
FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute
FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBRAM Instituto Brasileiro de Museus
ICOFOM International Committe for Museology
ICOM International Conciul of Museums
IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute
IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo
IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba
MINOM International Movement for a New Museology
MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa
SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UCL Universiteacute Catholique de Louvain
UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo
UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization
ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21
11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51
2 MEMORIAIS E MUSEUS 57
21 Os Memoriais 57
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67
23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77
32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89
34 Procedimentos de Pesquisa 91
35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117
REFEREcircNCIAS121
APEcircNDICES133
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
formulaacuterio134
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da
Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
gravaccedilatildeo de voz137
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no
processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em
Curitiba138
ANEXOS 141
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de
imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143
14
INTRODUCcedilAtildeO
Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial
se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e
particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias
e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido
O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido
por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees
culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna
A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais
data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com
a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil
dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom
a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo
na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo
de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial
a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba
1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico
15
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba
Fonte Curitiba (2010)
Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II
popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo
reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de
1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco
da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma
casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua
homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no
Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins
[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)
16
Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]
nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o
estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto
entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade
A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na
deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos
com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde
estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a
comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-
se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida
ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados
faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz
a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas
colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute
Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920
Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)
17
Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a
criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de
excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de
relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e
museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-
se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a
percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs
fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre
museu memoacuteria e identidade
Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se
principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais
disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas
perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com
profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas
possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social
do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos
visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural
Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os
visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da
importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o
impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens
construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas
indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a
trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba
Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do
Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores
novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados
Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente
quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores
e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera
influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a
18
Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a
delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada
A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de
documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com
entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios
de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses
procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-
culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as
representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para
chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em
trecircs capiacutetulos
Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano
discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de
Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing
e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)
Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)
Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)
(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de
Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade
como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura
(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e
Geissler(2004)
Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o
territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou
a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a
importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico
dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)
Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)
Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem
nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich
(2008)
No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas
especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da
19
Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica
a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de
memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira
(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e
Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova
Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury
(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)
Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural
memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)
Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho
(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)
No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees
sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)
(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)
Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)
Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o
propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees
sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo
(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati
Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)
Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)
e suas especificidades
Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa
com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no
Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de
Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e
Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo
(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas
do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)
complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)
e Choay (2001)
Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e
Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das
representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos
20
conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados
Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste
Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre
patrimocircnio cultural
21
1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA
Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico
que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias
da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e
quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho
local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a
desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como
produto de consumo cultural
No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio
Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da
Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura
em 1979visando
[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)
Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no
Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas
coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de
Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da
Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio
cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de
preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria
teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016
p1)
Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira
criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila
Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus
(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema
Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado
agrave Secretaria de Estado da Cultura
22
Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da
poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos
reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo
brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir
11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial
Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi
desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que
atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos
de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar
aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia
polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo
atual
Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que
faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade
O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)
Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos
que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da
desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a
soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo
(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na
centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de
Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa
de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo
metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e
consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte
da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut
23
(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a
seguinte colocaccedilatildeo
A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)
ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo
vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo
Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente
na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se
encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos
moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas
famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL
DO ESTADO p12 010287)
Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso
e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial
corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um
atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)
24
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987
Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987
Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia
ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que
a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de
seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do
historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute
necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites
dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das
memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico
Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da
aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho
e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos
proprietaacuterios
A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo
de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava
sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com
25
o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista
Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da
cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos
aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora
esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da
cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)
A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da
sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a
remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees
dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975
-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave
continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira
administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)
[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)
Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi
intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)
o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque
Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e
o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda
servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas
etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias
serviam para uso da populaccedilatildeo em geral
Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de
Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui
a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial
de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta
dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui
2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965
26
Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques
possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas
Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem
bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de
Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para
a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais
Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes
visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e
Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais
e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma
coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia
estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal
A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo
Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo
Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento
visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as
funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo
de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais
moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento
ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e
divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial
Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na
compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos
reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante
Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala
ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre
mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo
Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao
ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No
entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano
de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a
instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)
27
Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais
esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma
populaccedilatildeo de origem europeacuteia
A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)
Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba
segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da
cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada
pelos memoriais
A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)
De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser
referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um
problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e
que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)
Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua
identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que
possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento
e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)
A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia
criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a
fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala
sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas
simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)
28
O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade
e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio
fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de
Curitiba
No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder
que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente
poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico
manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens
urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua
forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem
sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)
Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy
quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele
[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)
A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida
dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa
estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na
populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das
parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a
indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo
toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica
a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas
urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)
No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha
a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa
Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo
das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios
de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city
marketing
29
Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3
Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como
uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees
sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e
as formas de viver o espaccedilo puacuteblico
Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como
tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a
possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais
A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)
Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses
(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em
accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um
sentimento de pertencimento
Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem
sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos
30
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural
Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial
vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa
considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua
natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p
227)
Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de
determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive
gerando outras identidades
Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses
no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as
representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor
Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)
Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido
como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus
habitantes
Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem
do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade
polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da
cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as
particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no
proacuteximo item
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial
O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer
de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme
31
o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2
Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem
decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado
num bairro central de Curitiba
Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade
Fonte Curitiba (2010)
O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi
estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro
siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)
Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba
32
Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915
Fonte GEISSLER (2004)
Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e
utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da
casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes
para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de
56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste
da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo
Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo
(GEISSLER 2004 p224)
Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio
Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de
preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo
de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas
apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e
matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais
(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na
figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos
jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita
33
Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno
Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)
O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa
Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado
por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo
com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia
representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia
na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008
p97)
Portal Polonecircs
Rio Beleacutem
Entrada Secundaacuteria
Entrada Principal
34
Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial
Fonte Google maps (2016)
Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do
Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se
transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha
e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)
A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira
sobre o Rio Beleacutem
35
Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem
Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)
Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o
Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito
de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de
metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba
Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da
edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador
da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que
Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)
4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo
36
Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como
na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction
and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of
Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi
Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)
Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave
colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas
ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and
Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa
Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo
finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there
are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo
(SILEacuteN2008 p11)
Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram
desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo
da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do
Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo
(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir
detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem
acervo e edificaccedilotildees
Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa
avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa
Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em
1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de
Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II
rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por
Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute
preservado pela capela
5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo
37
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP
Fonte Figundio (2012)
Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da
Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As
comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se
atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte
Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo
Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia
38
Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP
Fonte Cequinel (2016)
Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois
outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o
costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe
da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como
sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)
39
Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP
Fonte Da Autora (2015)
Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins
na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico
devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo
e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi
permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de
contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a
necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas
praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes
as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias
que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma
diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)
Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a
Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda
de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra
ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para
descanso
40
Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP
Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB
No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas
procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas
ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces
Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do
perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma
de incentivo e desenvolvimento ao artesanato
41
Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP
FonteWpolityceForum2014
Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no
decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas
complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas
recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki
(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como
moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)
A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes
Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute
utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de
acervo
42
Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP
Fonte Papodeviajante(2008)
O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque
pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa
edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia
Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada
para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo
possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de
autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX
43
Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)
Fonte Savicki em 29082011
Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a
cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais
recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em
relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar
44
Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP
Fonte Da autora (2015)
Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que
pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de
Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de
armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico
Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP
Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)
45
Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo
procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski
utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas
Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP
Fonte Da autora (2015)
Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos
a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a
tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da
porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos
para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou
etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este
local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da
colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX
46
Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo
Fonte Da autora (2015)
Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na
colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia
de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute
utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem
nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio
comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da
Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e
valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses
47
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial
Fonte Da autora (2015)
A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um
grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais
festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial
com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a
famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os
alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees
religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia
[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)
48
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo
Fonte Curitiba (2016)
O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos
anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus
menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia
Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo
de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para
depois dar iniacutecio a ceia
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Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas
Fonte Vacanzepoloniacom
As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da
Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas
civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016
Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II
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No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao
Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi
concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico
e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque
Fonte feriasnowblog(2014)
De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do
parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da
teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs
Brac Dekoracyjny
51
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico
Fonte Curitiba Space (2016)
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia
parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de
parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba
A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico
do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve
relato sobre esta trajetoacuteria
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs
Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil
abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste
deslocamento
Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)
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Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da
Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)
tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito
de naccedilatildeo
[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)
Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs
era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante
de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto
somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo
brasileirordquo
No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989
p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir
imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a
moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o
estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs
no Paranaacute em seus diversos aspectos
No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se
reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de
poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse
grupo social
Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita
agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio
cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio
Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)
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De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a
constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera
que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem
recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram
marcados subjetivamente
Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica
ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal
e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees
ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e
de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)
Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta
investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da
pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de
ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a
rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de
interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees
sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma
viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista
estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de
imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica
de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos
imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a
respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba
Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)
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Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute
se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses
e outrosrdquo
Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o
Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872
aconteceu com a ajuda oficial
O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)
Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute
Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas
cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital
Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a
funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme
o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)
No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas
Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da
proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da
colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo
(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins
criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil
Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba
sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se
fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da
historiadora Mafalda Sikora
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A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)
No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas
considerando que
Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)
Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns
milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)
Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes
Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra
apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um
contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do
polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo
que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou
ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo
extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade
de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia
para o Brasil
[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo
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polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)
A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma
ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas
brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012
p240)
A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto
abaixo
Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)
Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute
revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas
maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da
cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e
Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a
respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as
representaccedilotildees sociais
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2 MEMORIAIS E MUSEUS
21 Os Memoriais
Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial
Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade
de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam
uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of
visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond
their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(
WILLIAMS 2007 p6)7
Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao
tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado
em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram
a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em
Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto
Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)
Fonte uacuteltimosegundo (2010)
6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram
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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world
war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization
has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)
No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente
pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas
com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que
caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave
necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais
O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a
respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais
as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e
siacutetio memorial
A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)
Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos
museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho
quanto agraves especificidades de cada termo
O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo
em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com
estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo
8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal
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In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)
O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da
fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais
conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou
foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere
abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de
Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque
terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo
papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o
impacto de forma continuada
Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)
Fonte Damon Winter The New York Times
10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista
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Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem
a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de
histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent
between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS
2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam
como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias
pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial
expressa algumas preocupaccedilotildees
A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12
O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus
memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento
das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de
ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo
solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and
impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes
espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal
No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses
objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e
11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel
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pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo
ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe
understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice
versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)
No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o
congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct
what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute
allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)
Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial
e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que
envolvem a sociedade contemporacircnea
Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a
realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo
especiacuteficos como no caso dos Memoriais
No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito
dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge
Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil
institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo
de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo
(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo
possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu
O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)
Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na
organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de
possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu
14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito
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No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como
o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem
de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante
Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus
implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)
direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de
estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos
podem ser definidos da seguinte forma
These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16
Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro
de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como
Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados
para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma
16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos
histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica
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cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e
teacutecnicas
Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP
dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa
de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender
viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre
eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees
com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)
Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva
ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave
comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas
instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em
termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia
em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos
de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de
memorial mas sim de museu
Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)
analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria
portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho
destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos
Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades
cidades fatos e acontecimentos
No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito
para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que
favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os
Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A
autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams
Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e
17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)
64
satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)
Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito
dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as
instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)
Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional
de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave
apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem
grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer
que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram
diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes
formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais
Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)
Fonte Brasilgovbr 2016
Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades
do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos
mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com
projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu
Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a
histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS
Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de
estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura
65
29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave
atualidade
Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP
Fonte tvbrasil ebccombr 2016
Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser
concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos
etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a
possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que
inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das
instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos
de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao
desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)
Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria
ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory
processes including the historical interpretation and the museums social
functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)
Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus
(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees
18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu
66
e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o
territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das
comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como
instituiccedilotildees museoloacutegicas
As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e
os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de
delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao
retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais
dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos
parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e
sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem
a um novo paiacutes com cultura diversa da sua
Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de
caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas
funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos
referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender
viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo
de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica
e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao
desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo
de comemoraccedilotildees
Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta
um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute
que nos ateremos a seguir
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia
Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com
as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational
Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago
(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao
67
aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos
fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico
internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou
corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)
O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre
a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-
ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees
museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade
O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave
funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais
do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-
se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da
instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)
O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da
Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com
o apoio do ICOM
Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica
Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local
patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais
em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees
A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu
e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera
que
[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)
Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago
do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com
o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o
68
delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual
confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM
1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave
museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu
integral
A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da
Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na
Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada
O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e
reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho
Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o
museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a
manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela
delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta
questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no
Brasil em 1964
O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos
enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a
problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre
um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza
que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua
mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma
situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de
educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica
cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades
Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da
Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da
Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo
desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a
compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo
(CURY 2005 p 46)
No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984
em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo
os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas
69
que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)
Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu
estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade
A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)
Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa
Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc
Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute
causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil
Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida
a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos
museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute
que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo
(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora
Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)
Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da
funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do
Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a
aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele
periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras
Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em
1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para
uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a
divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA
NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e
divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas
70
experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao
colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO
2009 p 25)
O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas
museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo
francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as
possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo
O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)
Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de
Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo
social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]
relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade
agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio
institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)
Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como
patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer
museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto
Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para
atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela
SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)
A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas
propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades
de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem
no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como
nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo
Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a
uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas
71
paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute
museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)
Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao
conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua
instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do
patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo
estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda
do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)
O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus
incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a
diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu
estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem
desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial
O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)
Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por
ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de
estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais
Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas
(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina
Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse
da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo
(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de
Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma
naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e
espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)
72
Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo
direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais
representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado
por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees
Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade
visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o
reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas
ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do
mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais
complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)
No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus
reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como
consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio
cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem
abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a
serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na
medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o
tema proposto
23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural
tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura
um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo
polonesa da regiatildeo de Curitiba
Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave
comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos
anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de
uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e
espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)
Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal
mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada
comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura
73
No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute
compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico
ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de
significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)
Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de
maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por
Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos
A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)
O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos
processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto
cultural Para Moscovici
Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)
As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais
enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria
realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder
simboacutelico representadas no imaginaacuterio social
Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert
Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das
relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo
(DURANT apud COELHO 2004 p212)
Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo
social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e
objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O
imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos
alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)
74
Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades
Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades
nas sociedades contemporacircneas
A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)
As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em
constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este
sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute
de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico
Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista
sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu
passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos
criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com
a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que
[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)
Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a
problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o
que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu
conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no
presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum
Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador
francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre
problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um
elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA
1993 p9)
Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que
experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute
75
passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou
colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e
Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo
especiacutefico
Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)
Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de
preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e
grupo de pertencimento
Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da
identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma
sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum
processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)
No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos
centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de
vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este
posicionamento da seguinte forma
Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)
Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade
como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que
a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma
visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas
da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees
sociais
76
[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)
De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das
instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de
opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o
pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas
ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute
inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo
(ABRIC 2001 p156)
De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais
compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum
Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante
na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que
consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na
forma de imagens e conceitos
Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees
em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de
organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes
coletadas
77
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas
pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son
image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no
domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos
campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos
mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos
de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito
estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia
histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede
As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo
coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das
representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo
repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na
coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as
representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim
aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas
que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)
Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo
agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os
fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que
estatildeo inseridos
Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)
Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das
caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees
satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste
sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um
lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p
9)
78
Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram
posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais
sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos
posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como
um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo
consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)
Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta
que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas
praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados
assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e
comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida
cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta
maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das
sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea
do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)
O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre
transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas
como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam
continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []
elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das
representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo
Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)
As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro
transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e
adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem
compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo
os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia
eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de
79
um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo
(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)
As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre
grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma
representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma
linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas
representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se
como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do
mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano
As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo
o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores
Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo
presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira
O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)
Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento
reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade
do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido
Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro
numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p
13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o
reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas
a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e
imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes
significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de
outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus
discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em
80
termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de
representaccedilotildees sociais
Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das
coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos
estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia
individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de
salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e
arbitrariedade
Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir
Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)
Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de
investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de
Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas
praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da
comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as
palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar
equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)
Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici
alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma
forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica
e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social
(JODELET 2001 p 188)
Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar
nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas
em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social
Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os
indiviacuteduos
81
A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus
discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico
necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees
sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida
mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici
relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais
Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)
O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual
as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais
Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas
agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social
Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de
interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p
22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que
criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado
ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do
conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais
[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)
Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram
estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos
abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p
71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira
essecircncia da realidaderdquo
Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo
perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um
82
paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003
p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias
conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma
figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso
universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)
Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a
estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente
Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo
ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)
A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)
Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de
determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados
afirmam um viacutenculo social e uma identidade
As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)
No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem
como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza
certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da
realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave
comunidade
Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo
comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que
traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo
Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos
depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que
os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees
83
diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como
se refere Moscovici (1981)
A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na
necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os
comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da
experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos
agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito
museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem
No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas
preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos
de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo
como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva
(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura
iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias
imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)
Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo
ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo
em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria
importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no
artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como
ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)
Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute
esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender
quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do
Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista
Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash
Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)
traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas
Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le
Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de
Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase
nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de
comunicaccedilatildeo
84
Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo
ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os
museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento
de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus
Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na
concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso
dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram
gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu
Nacional de Histoacuteria Natural de Paris
Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de
Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT
com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma
ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)
cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde
acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade
representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de
Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees
culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano
Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de
Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em
Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses
constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees
Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea
De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute
como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os
proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre
Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja
Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as
85
forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)
Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder
como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como
construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou
ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria
pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento
Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)
A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem
como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser
reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de
representaccedilatildeo
As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)
Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se
delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo
instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que
contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas
86
A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto
intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo
vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a
textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado
segundo Rechena (2011) da seguinte forma
Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)
Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos
institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social
Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em
virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)
marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da
classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal
inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver
Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida
o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em
objeto de pesquisa
A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma
natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o
desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de
oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)
No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve
preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua
praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais
do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias
como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo
No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as
reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das
produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso
87
32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa
A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o
tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do
visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no
circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees
vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na
forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados
quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e
construir conclusotildees
O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)
Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com
informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas
conclusotildees
Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio
padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as
perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho
no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos
visitantes daquele espaccedilo cultural
A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI
LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo
que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se
que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem
Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa
Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua
importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados
para anaacutelise da seguinte forma a saber
1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do
Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa
88
2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa
os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas
3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e
disponibilidade dos participantes
4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas
dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21
anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o
formulaacuterio
5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e
discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo
social que se consolida como foco determinante neste estudo
No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo
visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como
tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais
Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as
teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos
a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a
autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de
sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De
acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os
pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm
sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao
contexto de sua produccedilatildeo
Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)
em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a
Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes
elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das
representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por
recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo
diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final
A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes
espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de
89
finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas
dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC
A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico
Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em
seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante
denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise
quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo
representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo
A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se
reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk
Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE
RAMALHO 2006 p20)
No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)
essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente
individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma
forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os
outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma
independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo
de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008
p 12)
Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e
ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor
sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como
atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais
Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas
poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de
representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social
existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma
condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor
O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem
90
suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)
Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das
preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas
de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH
2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo
e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)
Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici
quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle
de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo
estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)
Percebemos que ao utilizarmos a ADC
Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)
Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou
Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e
dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos
conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar
34 Procedimentos de Pesquisa
Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de
dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da
parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas
e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais
Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o
projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade
marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial
91
Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e
representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma
reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio
aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do
Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade
de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos
forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa
A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e
outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve
apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada
participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos
da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue
e assinado pelos entrevistados
Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora
iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as
perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes
responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo
das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar
voz ao discurso do visitante
Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)
foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal
(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento
(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar
algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na
estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial
O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi
elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos
dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como
os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos
pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como
92
pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos
poloneses no decorrer das respostas
As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento
do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do
Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como
poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de
uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas
para as escolhas
1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo
procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia
um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais
2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta
questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito
expositivo do Memorial
3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora
tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo
do visitante para o circuito do Memorial
4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos
efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs
5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o
polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais
as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram
atualmente na sociedade contemporacircnea
Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do
formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro
graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50
anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais
mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes
estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)
93
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por
turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada
com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio
Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
0 10 20 30 40 50 60 70
Fem64
Masc 36
Acima de 50 anos - 40
30 a 49 anos - 34
21 a 29 anos - 26
0 10 20 30 40 50 60
Turistas - 58
Curitibanos - 42
Outros paiacuteses - 8
Interior do PR - 6
Outros estados - 38
Curitiba - 42
94
Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade
superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico
3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo
compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados
Fonte Da autora (2015)
O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e
Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo
os usuaacuterios daquele espaccedilo
Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria
trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado
orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil
0 5 10 15 20 25 30 35
Ens fundincompleto - 6
Ens Fundamental - 26
Ensino meacutedio - 26
Ensino superior 24
Poacutes-graduaccedilatildeo - 34
95
Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total
Fonte Da autora (2015)
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total
Fonte Da Autora (2015)
O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a
maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua
caracteriacutestica como local de lazer
0 2 4 6 8 10 12
Estudante - 12
Aposentado - 12
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Autonomo - 2
0 2 4 6 8 10 12 14
Estudante - 14
Funcionaacuterio Puacuteblico - 12
Autocircnomo - 10
Aposentado - 8
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Dona de casa 2
96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial
aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as
associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar
mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes
Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades
atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que
caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los
Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do
imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas
ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste
quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes
de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as
pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa
religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a
identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que
a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -
rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores
que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a
religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Jaacute visitou o Memorial antes 68
Esta eacute a primeira visita - 32
Motivo da visita trabalho 2
Motivo da visita Lazer - 98
97
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo
(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante
polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo
(VALENTINI 1982 p25)
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo
As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural
20
2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)
15
3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia
Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia
8
4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais
5
5- Artesanatoacervo de objetos
Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo
do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante
Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas
Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos
dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio
98
Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo
Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura
similar da Europa
Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que
identificasse o local como polonecircs
No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a
atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos
objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local
chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito
Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo
TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES
1- Arquiteturacasa capela
Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos
visitantes
21
2- Objetos do acervo
Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de
polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)
20
3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo
Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante
5
4- Quiosque Artesanato
Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local
3
5- Escultura do Papa
Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante
polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de
tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes
99
nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal
de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens
em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo
simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial
reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses
e o gosto por festas
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
Arquiteturacasascapela
A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque
20
BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato
Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses
12
Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque
6
Indumentaacuteriafestas
Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial
6
Janelas com flores
Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado
4
Objetoscamacarroccedila
O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira
poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante
alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta
observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa
natildeo explica bemrdquo
Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a
decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza
romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada
Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a
privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social
sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de
100
Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos
e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica
de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus
A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza
na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as
autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a
necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem
acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo
vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em
aacuterea de risco social
Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha
que identificou o polonecircs com o que viu
O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes
da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com
algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos
como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses
No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o
grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com
o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe
principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas
apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo
de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao
destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na
comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do
espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo
19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)
101
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado
os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico
Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados
anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante
polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash
70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura
aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante
O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou
descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de
comentaacuterios
Esses discursos seratildeo comentados adiante
35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses
Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a
preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte
maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
4Natildeo conhece 42
3Sim Identificou 36
2Conhece mas natildeo identificou 20
1Natildeo respondeu 2
102
fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute
coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo
A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas
na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a
identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em
relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas
culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do
sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa
As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)
Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do
sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias
identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves
formas dos sistemas culturais existentes
No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com
algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos
conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes
1ordm Respondente
- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem
as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua
2ordm Respondente
-Eacute uma pessoa integrada no social
3ordm Respondente
- Natildeo consigo associar
Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos
poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em
referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue
103
associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As
falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar
4ordm Respondente
- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo
5ordm Respondente
- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar
maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social
considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete
aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute
propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse
ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a
proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo
democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural
agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado
Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar
que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que
circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da
cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em
suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele
equipamento cultural
De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio
ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as
informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo
com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em
contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade
da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da
Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na
sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo
natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma
antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre
a importacircncia da experiecircncia
104
[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)
Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove
que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo
algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos
discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita
significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de
conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente
possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a
representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente
elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de
uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as
narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam
a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo
coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento
A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses
no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos
sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do
visitante
Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no
graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em
relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo
(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque
A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo
dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o
visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser
valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de
estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do
Memorial
105
Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes
Fonte Da autora (2015)
Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos
apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da
diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de
Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais
Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de
informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de
representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas
relacionadas ao MIP
Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio
a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora
dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista
ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa
a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se
ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a
acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo
discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo
distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Arquitetura 41
Objetos do acervo 23
artesanatoquiosque 16
camponesvida rural 15
religioso 11
culturatradiccedilatildeo 9
Vida em comunidade 8
106
parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil
A entrevistada complementa
Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)
Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e
ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem
da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna
negoacutecio
[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)
Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um
grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas
praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um
conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo
cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz
autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as
tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que
visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)
Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade
Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte
107
da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)
O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados
como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos
releva Choay (2001)
[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)
A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como
produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual
da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos
com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem
um espaccedilo significativo na miacutedia
A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)
A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no
seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o
pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70
anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA
2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante
renovaccedilatildeo
Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)
108
Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica
cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas
estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de
fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade
A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade
econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o
fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute
de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho
administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de
funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as
mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC
Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um
dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se
que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de
equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da
aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da
Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os
poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha
um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)
O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia
cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A
linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o
meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo
formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a
praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)
Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala
McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura
nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da
Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o
exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo
Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em
Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as
109
pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os
convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico
Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses
possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-
se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando
imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias
No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos
poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo
As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que
comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste
encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores
para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a
mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do
patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social
Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os
nossos pensamentos uma vez que
Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)
Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem
apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida
pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado
Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao
realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade
Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre
teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)
A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das
representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo
psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a
qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)
110
Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de
determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva
construiacuteda na linguagem dos sujeitos
Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)
No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do
pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo
Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)
Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos
inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas
reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees
sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber
e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se
constituem mutuamente
Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu
sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de
representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao
contexto em que se configuram
O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado
na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo
como o sistema social em que eacute gerado
Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do
processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social
podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel
do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel
coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p
111
167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte
do entrevistado temos o seguinte depoimento
Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)
Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho
arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos
das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP
Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994
FONTE IPPUC2015
Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo
urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno
conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial
originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado
atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de
apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do
Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo
houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro
112
baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do
mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos
fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um
equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade
poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um
quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um
museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto
que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem
dados para anaacutelise
Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das
primeiras casas do Memorial
Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)
Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob
responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na
estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez
seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu
e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da
paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele
periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no
decorrer do segundo capiacutetulo
Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve
ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa
Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica
20 GI Abreviatura Gina Issberner
113
SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)
SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)
O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere
ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586
imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado
pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)
Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)
O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para
as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em
depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca
prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de
Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com
a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a
revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)
A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se
enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos
que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma
imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas
arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do
poder puacuteblico
Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial
seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de
21 SP Abreviatura de Sergio Pires
114
implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o
vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na
direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje
Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da
Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos
Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a
Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio
do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e
Empresariais- FACIAP
O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como
coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica
PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial
para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da
entrevistada
A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um
parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)
Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de
organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A
entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em
Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram
o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)
Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora
de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade
do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees
perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento
socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para
a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)
Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador
Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo
subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento
europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo
115
subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam
absorvidos pelos nacionais
Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo
da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte
observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha
assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e
pelo municiacutepio
Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente
coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria
brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato
de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria
Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos
costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as
raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe
um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria
instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar
de uma mesma histoacuteria e memoacuteria
A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo
das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo
ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em
constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais
Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os
sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e
construccedilotildees de identidades
Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)
O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos
culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de
identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa
identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa
116
personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar
uma pluralidade em si
117
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as
representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de
seus visitantes gestores e idealizador
Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do
disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e
significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante
a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses
representados no Memorial
Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o
processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder
municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta
construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela
populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o
espaccedilo puacuteblico
Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e
bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de
conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-
artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da
fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que
prescinde da experiecircncia
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela
comunidade polonesa
Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos
urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos
da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes
poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender
alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de
Curitiba
118
A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta
pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade
mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria
das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social
antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser
compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica
A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais
uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado
grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos
visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que
permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da
regiatildeo de Curitiba
A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que
estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se
desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem
um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o
compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas
sociais
Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da
participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo
Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo
houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em
relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local
na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio
Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de
funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como
pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo
No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do
preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na
entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os
visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta
direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora
119
Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas
evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves
expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No
Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da
comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais
aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais
simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial
se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees
Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser
relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque
1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba
mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas
puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da
criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este
tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo
temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia
2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a
amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da
etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos
leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando
uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato
percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas
dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em
casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como
etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos
conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um
local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a
experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma
agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da
ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico
sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho
daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais
positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a
120
respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que
ocorreram ao longo do tempo
3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo
museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo
considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do
Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em
detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica
Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal
deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de
procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais
pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos
processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos
imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro
do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente
Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de
se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e
identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e
fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em
movimento suas praacuteticas sociais
121
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133
APEcircNDICES
134
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para
participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em
Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo
justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos
que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela
pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de
Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos
entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar
participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo
fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)
desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em
qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o
(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os
resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer
outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da
Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em
Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC
telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu ___________________________________________________________ fui informado
sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a
explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada
e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas
assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data __ __ ___
________________________ _________________________
Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador
135
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa em Curitiba
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES
QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA
Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e
querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto
FORMULAacuteRIO DE PESQUISA
1) Idade
1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50
2) Gecircnero
1) Masculino 2) Feminino
3) Natural de
1) Curitiba 2) Outro ________________
4) Escolaridade
( ) nenhuma
( ) 1ordm grau incompleto
( ) 1ordm grau completo
( ) 2ordm grau incompleto
( ) 2ordm grau completo
( ) superior incompleto
( ) superior completo
( ) poacutes-graduaccedilatildeo
136
5) Ocupaccedilatildeo
( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador
6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________
8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba
9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc
11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu
137
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da
pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a
responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo
eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo
na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos
seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a
promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir
em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de
retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem
nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo
receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados
no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato
com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em
contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -
Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu _________________________________ fui informado sobre o que o
pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por
isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso
sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por
mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data ___ ____ _____
_____________________________________________________
Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel
138
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo
de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA
FCC-CURITIBA
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial
1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os
dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
8 O museu do memorial foi criado por ato municipal
9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo
11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA
E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE
ABREU
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
139
6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo
ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
9 O museu do memorial foi criado por ato municipal
10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua
compreensatildeo
12 Como vocecirc se descreve como polonesa
13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER
1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais
museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a
sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa
2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do
memorial
5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE
POLONESA EM CURITIBA
1 Qual seu nome
2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial
140
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial
7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)
8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
141
ANEXOS
142
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP
143
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15
Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho
1987 24
Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31
Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual
Joatildeo Paulo II 1915 32
Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33
Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34
Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37
Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de
Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38
Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38
Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40
Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41
Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local
de armazenamento de acervoMIP 42
Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43
Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44
Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44
Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45
Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de
Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa
Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48
Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um
momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas
comemoraccedilotildees natalinas 49
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do
Memorial Paacutescoa2016 49
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51
Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57
Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59
Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64
Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65
Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93
Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101
Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
97
Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
99
LISTA DE SIGLAS
ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso
COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus
FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais
FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute
FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBRAM Instituto Brasileiro de Museus
ICOFOM International Committe for Museology
ICOM International Conciul of Museums
IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute
IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo
IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba
MINOM International Movement for a New Museology
MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa
SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UCL Universiteacute Catholique de Louvain
UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo
UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization
ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21
11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51
2 MEMORIAIS E MUSEUS 57
21 Os Memoriais 57
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67
23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77
32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89
34 Procedimentos de Pesquisa 91
35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117
REFEREcircNCIAS121
APEcircNDICES133
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
formulaacuterio134
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da
Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
gravaccedilatildeo de voz137
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no
processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em
Curitiba138
ANEXOS 141
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de
imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143
14
INTRODUCcedilAtildeO
Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial
se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e
particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias
e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido
O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido
por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees
culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna
A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais
data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com
a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil
dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom
a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo
na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo
de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial
a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba
1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico
15
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba
Fonte Curitiba (2010)
Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II
popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo
reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de
1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco
da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma
casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua
homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no
Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins
[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)
16
Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]
nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o
estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto
entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade
A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na
deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos
com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde
estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a
comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-
se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida
ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados
faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz
a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas
colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute
Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920
Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)
17
Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a
criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de
excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de
relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e
museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-
se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a
percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs
fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre
museu memoacuteria e identidade
Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se
principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais
disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas
perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com
profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas
possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social
do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos
visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural
Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os
visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da
importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o
impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens
construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas
indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a
trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba
Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do
Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores
novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados
Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente
quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores
e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera
influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a
18
Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a
delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada
A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de
documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com
entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios
de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses
procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-
culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as
representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para
chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em
trecircs capiacutetulos
Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano
discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de
Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing
e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)
Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)
Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)
(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de
Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade
como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura
(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e
Geissler(2004)
Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o
territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou
a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a
importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico
dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)
Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)
Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem
nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich
(2008)
No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas
especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da
19
Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica
a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de
memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira
(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e
Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova
Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury
(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)
Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural
memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)
Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho
(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)
No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees
sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)
(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)
Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)
Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o
propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees
sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo
(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati
Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)
Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)
e suas especificidades
Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa
com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no
Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de
Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e
Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo
(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas
do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)
complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)
e Choay (2001)
Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e
Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das
representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos
20
conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados
Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste
Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre
patrimocircnio cultural
21
1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA
Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico
que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias
da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e
quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho
local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a
desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como
produto de consumo cultural
No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio
Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da
Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura
em 1979visando
[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)
Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no
Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas
coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de
Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da
Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio
cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de
preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria
teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016
p1)
Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira
criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila
Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus
(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema
Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado
agrave Secretaria de Estado da Cultura
22
Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da
poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos
reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo
brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir
11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial
Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi
desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que
atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos
de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar
aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia
polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo
atual
Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que
faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade
O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)
Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos
que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da
desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a
soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo
(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na
centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de
Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa
de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo
metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e
consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte
da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut
23
(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a
seguinte colocaccedilatildeo
A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)
ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo
vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo
Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente
na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se
encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos
moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas
famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL
DO ESTADO p12 010287)
Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso
e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial
corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um
atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)
24
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987
Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987
Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia
ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que
a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de
seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do
historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute
necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites
dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das
memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico
Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da
aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho
e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos
proprietaacuterios
A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo
de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava
sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com
25
o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista
Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da
cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos
aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora
esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da
cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)
A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da
sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a
remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees
dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975
-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave
continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira
administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)
[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)
Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi
intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)
o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque
Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e
o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda
servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas
etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias
serviam para uso da populaccedilatildeo em geral
Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de
Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui
a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial
de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta
dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui
2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965
26
Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques
possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas
Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem
bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de
Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para
a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais
Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes
visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e
Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais
e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma
coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia
estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal
A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo
Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo
Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento
visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as
funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo
de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais
moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento
ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e
divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial
Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na
compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos
reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante
Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala
ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre
mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo
Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao
ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No
entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano
de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a
instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)
27
Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais
esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma
populaccedilatildeo de origem europeacuteia
A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)
Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba
segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da
cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada
pelos memoriais
A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)
De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser
referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um
problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e
que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)
Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua
identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que
possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento
e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)
A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia
criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a
fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala
sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas
simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)
28
O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade
e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio
fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de
Curitiba
No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder
que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente
poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico
manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens
urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua
forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem
sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)
Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy
quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele
[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)
A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida
dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa
estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na
populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das
parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a
indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo
toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica
a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas
urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)
No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha
a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa
Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo
das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios
de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city
marketing
29
Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3
Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como
uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees
sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e
as formas de viver o espaccedilo puacuteblico
Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como
tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a
possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais
A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)
Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses
(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em
accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um
sentimento de pertencimento
Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem
sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos
30
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural
Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial
vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa
considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua
natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p
227)
Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de
determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive
gerando outras identidades
Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses
no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as
representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor
Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)
Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido
como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus
habitantes
Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem
do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade
polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da
cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as
particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no
proacuteximo item
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial
O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer
de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme
31
o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2
Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem
decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado
num bairro central de Curitiba
Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade
Fonte Curitiba (2010)
O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi
estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro
siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)
Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba
32
Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915
Fonte GEISSLER (2004)
Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e
utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da
casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes
para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de
56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste
da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo
Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo
(GEISSLER 2004 p224)
Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio
Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de
preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo
de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas
apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e
matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais
(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na
figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos
jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita
33
Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno
Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)
O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa
Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado
por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo
com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia
representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia
na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008
p97)
Portal Polonecircs
Rio Beleacutem
Entrada Secundaacuteria
Entrada Principal
34
Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial
Fonte Google maps (2016)
Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do
Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se
transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha
e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)
A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira
sobre o Rio Beleacutem
35
Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem
Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)
Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o
Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito
de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de
metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba
Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da
edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador
da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que
Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)
4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo
36
Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como
na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction
and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of
Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi
Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)
Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave
colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas
ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and
Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa
Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo
finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there
are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo
(SILEacuteN2008 p11)
Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram
desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo
da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do
Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo
(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir
detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem
acervo e edificaccedilotildees
Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa
avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa
Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em
1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de
Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II
rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por
Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute
preservado pela capela
5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo
37
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP
Fonte Figundio (2012)
Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da
Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As
comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se
atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte
Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo
Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia
38
Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP
Fonte Cequinel (2016)
Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois
outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o
costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe
da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como
sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)
39
Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP
Fonte Da Autora (2015)
Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins
na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico
devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo
e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi
permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de
contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a
necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas
praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes
as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias
que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma
diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)
Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a
Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda
de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra
ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para
descanso
40
Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP
Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB
No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas
procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas
ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces
Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do
perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma
de incentivo e desenvolvimento ao artesanato
41
Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP
FonteWpolityceForum2014
Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no
decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas
complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas
recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki
(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como
moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)
A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes
Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute
utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de
acervo
42
Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP
Fonte Papodeviajante(2008)
O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque
pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa
edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia
Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada
para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo
possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de
autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX
43
Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)
Fonte Savicki em 29082011
Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a
cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais
recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em
relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar
44
Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP
Fonte Da autora (2015)
Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que
pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de
Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de
armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico
Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP
Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)
45
Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo
procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski
utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas
Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP
Fonte Da autora (2015)
Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos
a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a
tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da
porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos
para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou
etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este
local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da
colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX
46
Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo
Fonte Da autora (2015)
Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na
colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia
de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute
utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem
nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio
comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da
Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e
valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses
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Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial
Fonte Da autora (2015)
A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um
grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais
festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial
com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a
famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os
alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees
religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia
[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)
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Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo
Fonte Curitiba (2016)
O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos
anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus
menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia
Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo
de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para
depois dar iniacutecio a ceia
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Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas
Fonte Vacanzepoloniacom
As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da
Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas
civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016
Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II
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No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao
Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi
concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico
e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque
Fonte feriasnowblog(2014)
De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do
parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da
teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs
Brac Dekoracyjny
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Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico
Fonte Curitiba Space (2016)
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia
parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de
parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba
A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico
do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve
relato sobre esta trajetoacuteria
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs
Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil
abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste
deslocamento
Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)
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Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da
Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)
tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito
de naccedilatildeo
[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)
Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs
era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante
de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto
somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo
brasileirordquo
No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989
p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir
imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a
moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o
estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs
no Paranaacute em seus diversos aspectos
No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se
reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de
poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse
grupo social
Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita
agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio
cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio
Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)
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De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a
constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera
que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem
recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram
marcados subjetivamente
Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica
ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal
e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees
ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e
de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)
Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta
investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da
pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de
ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a
rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de
interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees
sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma
viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista
estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de
imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica
de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos
imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a
respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba
Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)
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Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute
se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses
e outrosrdquo
Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o
Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872
aconteceu com a ajuda oficial
O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)
Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute
Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas
cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital
Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a
funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme
o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)
No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas
Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da
proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da
colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo
(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins
criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil
Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba
sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se
fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da
historiadora Mafalda Sikora
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A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)
No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas
considerando que
Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)
Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns
milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)
Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes
Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra
apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um
contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do
polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo
que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou
ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo
extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade
de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia
para o Brasil
[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo
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polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)
A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma
ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas
brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012
p240)
A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto
abaixo
Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)
Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute
revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas
maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da
cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e
Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a
respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as
representaccedilotildees sociais
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2 MEMORIAIS E MUSEUS
21 Os Memoriais
Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial
Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade
de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam
uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of
visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond
their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(
WILLIAMS 2007 p6)7
Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao
tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado
em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram
a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em
Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto
Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)
Fonte uacuteltimosegundo (2010)
6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram
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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world
war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization
has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)
No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente
pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas
com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que
caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave
necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais
O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a
respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais
as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e
siacutetio memorial
A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)
Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos
museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho
quanto agraves especificidades de cada termo
O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo
em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com
estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo
8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal
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In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)
O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da
fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais
conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou
foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere
abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de
Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque
terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo
papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o
impacto de forma continuada
Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)
Fonte Damon Winter The New York Times
10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista
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Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem
a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de
histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent
between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS
2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam
como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias
pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial
expressa algumas preocupaccedilotildees
A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12
O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus
memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento
das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de
ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo
solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and
impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes
espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal
No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses
objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e
11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel
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pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo
ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe
understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice
versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)
No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o
congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct
what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute
allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)
Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial
e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que
envolvem a sociedade contemporacircnea
Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a
realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo
especiacuteficos como no caso dos Memoriais
No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito
dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge
Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil
institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo
de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo
(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo
possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu
O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)
Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na
organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de
possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu
14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito
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No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como
o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem
de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante
Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus
implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)
direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de
estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos
podem ser definidos da seguinte forma
These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16
Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro
de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como
Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados
para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma
16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos
histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica
63
cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e
teacutecnicas
Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP
dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa
de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender
viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre
eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees
com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)
Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva
ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave
comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas
instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em
termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia
em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos
de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de
memorial mas sim de museu
Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)
analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria
portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho
destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos
Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades
cidades fatos e acontecimentos
No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito
para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que
favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os
Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A
autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams
Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e
17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)
64
satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)
Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito
dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as
instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)
Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional
de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave
apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem
grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer
que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram
diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes
formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais
Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)
Fonte Brasilgovbr 2016
Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades
do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos
mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com
projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu
Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a
histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS
Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de
estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura
65
29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave
atualidade
Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP
Fonte tvbrasil ebccombr 2016
Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser
concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos
etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a
possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que
inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das
instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos
de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao
desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)
Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria
ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory
processes including the historical interpretation and the museums social
functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)
Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus
(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees
18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu
66
e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o
territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das
comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como
instituiccedilotildees museoloacutegicas
As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e
os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de
delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao
retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais
dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos
parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e
sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem
a um novo paiacutes com cultura diversa da sua
Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de
caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas
funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos
referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender
viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo
de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica
e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao
desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo
de comemoraccedilotildees
Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta
um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute
que nos ateremos a seguir
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia
Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com
as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational
Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago
(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao
67
aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos
fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico
internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou
corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)
O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre
a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-
ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees
museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade
O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave
funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais
do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-
se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da
instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)
O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da
Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com
o apoio do ICOM
Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica
Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local
patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais
em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees
A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu
e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera
que
[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)
Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago
do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com
o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o
68
delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual
confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM
1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave
museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu
integral
A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da
Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na
Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada
O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e
reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho
Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o
museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a
manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela
delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta
questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no
Brasil em 1964
O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos
enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a
problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre
um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza
que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua
mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma
situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de
educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica
cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades
Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da
Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da
Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo
desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a
compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo
(CURY 2005 p 46)
No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984
em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo
os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas
69
que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)
Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu
estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade
A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)
Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa
Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc
Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute
causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil
Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida
a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos
museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute
que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo
(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora
Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)
Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da
funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do
Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a
aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele
periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras
Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em
1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para
uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a
divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA
NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e
divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas
70
experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao
colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO
2009 p 25)
O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas
museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo
francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as
possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo
O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)
Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de
Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo
social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]
relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade
agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio
institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)
Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como
patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer
museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto
Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para
atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela
SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)
A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas
propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades
de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem
no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como
nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo
Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a
uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas
71
paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute
museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)
Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao
conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua
instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do
patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo
estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda
do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)
O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus
incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a
diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu
estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem
desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial
O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)
Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por
ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de
estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais
Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas
(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina
Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse
da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo
(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de
Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma
naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e
espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)
72
Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo
direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais
representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado
por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees
Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade
visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o
reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas
ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do
mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais
complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)
No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus
reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como
consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio
cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem
abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a
serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na
medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o
tema proposto
23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural
tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura
um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo
polonesa da regiatildeo de Curitiba
Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave
comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos
anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de
uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e
espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)
Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal
mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada
comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura
73
No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute
compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico
ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de
significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)
Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de
maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por
Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos
A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)
O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos
processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto
cultural Para Moscovici
Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)
As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais
enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria
realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder
simboacutelico representadas no imaginaacuterio social
Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert
Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das
relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo
(DURANT apud COELHO 2004 p212)
Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo
social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e
objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O
imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos
alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)
74
Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades
Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades
nas sociedades contemporacircneas
A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)
As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em
constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este
sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute
de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico
Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista
sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu
passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos
criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com
a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que
[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)
Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a
problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o
que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu
conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no
presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum
Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador
francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre
problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um
elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA
1993 p9)
Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que
experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute
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passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou
colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e
Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo
especiacutefico
Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)
Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de
preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e
grupo de pertencimento
Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da
identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma
sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum
processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)
No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos
centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de
vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este
posicionamento da seguinte forma
Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)
Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade
como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que
a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma
visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas
da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees
sociais
76
[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)
De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das
instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de
opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o
pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas
ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute
inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo
(ABRIC 2001 p156)
De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais
compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum
Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante
na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que
consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na
forma de imagens e conceitos
Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees
em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de
organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes
coletadas
77
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas
pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son
image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no
domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos
campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos
mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos
de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito
estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia
histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede
As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo
coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das
representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo
repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na
coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as
representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim
aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas
que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)
Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo
agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os
fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que
estatildeo inseridos
Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)
Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das
caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees
satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste
sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um
lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p
9)
78
Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram
posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais
sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos
posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como
um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo
consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)
Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta
que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas
praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados
assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e
comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida
cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta
maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das
sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea
do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)
O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre
transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas
como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam
continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []
elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das
representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo
Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)
As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro
transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e
adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem
compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo
os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia
eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de
79
um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo
(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)
As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre
grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma
representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma
linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas
representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se
como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do
mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano
As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo
o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores
Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo
presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira
O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)
Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento
reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade
do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido
Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro
numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p
13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o
reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas
a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e
imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes
significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de
outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus
discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em
80
termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de
representaccedilotildees sociais
Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das
coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos
estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia
individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de
salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e
arbitrariedade
Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir
Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)
Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de
investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de
Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas
praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da
comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as
palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar
equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)
Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici
alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma
forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica
e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social
(JODELET 2001 p 188)
Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar
nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas
em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social
Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os
indiviacuteduos
81
A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus
discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico
necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees
sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida
mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici
relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais
Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)
O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual
as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais
Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas
agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social
Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de
interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p
22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que
criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado
ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do
conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais
[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)
Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram
estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos
abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p
71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira
essecircncia da realidaderdquo
Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo
perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um
82
paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003
p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias
conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma
figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso
universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)
Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a
estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente
Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo
ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)
A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)
Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de
determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados
afirmam um viacutenculo social e uma identidade
As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)
No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem
como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza
certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da
realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave
comunidade
Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo
comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que
traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo
Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos
depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que
os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees
83
diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como
se refere Moscovici (1981)
A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na
necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os
comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da
experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos
agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito
museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem
No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas
preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos
de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo
como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva
(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura
iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias
imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)
Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo
ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo
em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria
importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no
artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como
ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)
Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute
esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender
quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do
Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista
Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash
Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)
traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas
Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le
Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de
Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase
nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de
comunicaccedilatildeo
84
Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo
ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os
museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento
de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus
Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na
concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso
dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram
gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu
Nacional de Histoacuteria Natural de Paris
Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de
Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT
com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma
ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)
cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde
acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade
representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de
Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees
culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano
Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de
Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em
Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses
constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees
Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea
De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute
como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os
proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre
Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja
Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as
85
forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)
Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder
como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como
construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou
ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria
pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento
Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)
A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem
como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser
reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de
representaccedilatildeo
As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)
Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se
delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo
instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que
contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas
86
A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto
intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo
vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a
textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado
segundo Rechena (2011) da seguinte forma
Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)
Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos
institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social
Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em
virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)
marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da
classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal
inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver
Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida
o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em
objeto de pesquisa
A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma
natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o
desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de
oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)
No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve
preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua
praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais
do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias
como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo
No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as
reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das
produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso
87
32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa
A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o
tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do
visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no
circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees
vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na
forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados
quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e
construir conclusotildees
O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)
Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com
informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas
conclusotildees
Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio
padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as
perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho
no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos
visitantes daquele espaccedilo cultural
A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI
LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo
que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se
que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem
Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa
Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua
importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados
para anaacutelise da seguinte forma a saber
1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do
Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa
88
2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa
os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas
3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e
disponibilidade dos participantes
4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas
dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21
anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o
formulaacuterio
5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e
discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo
social que se consolida como foco determinante neste estudo
No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo
visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como
tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais
Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as
teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos
a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a
autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de
sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De
acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os
pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm
sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao
contexto de sua produccedilatildeo
Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)
em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a
Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes
elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das
representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por
recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo
diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final
A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes
espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de
89
finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas
dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC
A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico
Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em
seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante
denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise
quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo
representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo
A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se
reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk
Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE
RAMALHO 2006 p20)
No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)
essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente
individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma
forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os
outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma
independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo
de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008
p 12)
Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e
ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor
sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como
atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais
Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas
poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de
representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social
existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma
condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor
O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem
90
suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)
Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das
preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas
de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH
2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo
e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)
Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici
quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle
de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo
estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)
Percebemos que ao utilizarmos a ADC
Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)
Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou
Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e
dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos
conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar
34 Procedimentos de Pesquisa
Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de
dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da
parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas
e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais
Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o
projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade
marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial
91
Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e
representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma
reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio
aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do
Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade
de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos
forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa
A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e
outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve
apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada
participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos
da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue
e assinado pelos entrevistados
Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora
iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as
perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes
responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo
das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar
voz ao discurso do visitante
Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)
foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal
(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento
(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar
algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na
estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial
O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi
elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos
dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como
os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos
pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como
92
pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos
poloneses no decorrer das respostas
As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento
do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do
Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como
poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de
uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas
para as escolhas
1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo
procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia
um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais
2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta
questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito
expositivo do Memorial
3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora
tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo
do visitante para o circuito do Memorial
4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos
efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs
5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o
polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais
as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram
atualmente na sociedade contemporacircnea
Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do
formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro
graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50
anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais
mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes
estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)
93
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por
turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada
com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio
Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
0 10 20 30 40 50 60 70
Fem64
Masc 36
Acima de 50 anos - 40
30 a 49 anos - 34
21 a 29 anos - 26
0 10 20 30 40 50 60
Turistas - 58
Curitibanos - 42
Outros paiacuteses - 8
Interior do PR - 6
Outros estados - 38
Curitiba - 42
94
Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade
superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico
3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo
compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados
Fonte Da autora (2015)
O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e
Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo
os usuaacuterios daquele espaccedilo
Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria
trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado
orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil
0 5 10 15 20 25 30 35
Ens fundincompleto - 6
Ens Fundamental - 26
Ensino meacutedio - 26
Ensino superior 24
Poacutes-graduaccedilatildeo - 34
95
Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total
Fonte Da autora (2015)
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total
Fonte Da Autora (2015)
O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a
maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua
caracteriacutestica como local de lazer
0 2 4 6 8 10 12
Estudante - 12
Aposentado - 12
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Autonomo - 2
0 2 4 6 8 10 12 14
Estudante - 14
Funcionaacuterio Puacuteblico - 12
Autocircnomo - 10
Aposentado - 8
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Dona de casa 2
96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial
aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as
associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar
mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes
Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades
atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que
caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los
Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do
imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas
ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste
quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes
de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as
pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa
religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a
identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que
a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -
rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores
que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a
religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Jaacute visitou o Memorial antes 68
Esta eacute a primeira visita - 32
Motivo da visita trabalho 2
Motivo da visita Lazer - 98
97
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo
(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante
polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo
(VALENTINI 1982 p25)
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo
As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural
20
2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)
15
3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia
Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia
8
4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais
5
5- Artesanatoacervo de objetos
Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo
do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante
Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas
Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos
dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio
98
Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo
Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura
similar da Europa
Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que
identificasse o local como polonecircs
No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a
atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos
objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local
chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito
Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo
TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES
1- Arquiteturacasa capela
Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos
visitantes
21
2- Objetos do acervo
Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de
polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)
20
3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo
Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante
5
4- Quiosque Artesanato
Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local
3
5- Escultura do Papa
Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante
polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de
tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes
99
nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal
de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens
em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo
simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial
reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses
e o gosto por festas
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
Arquiteturacasascapela
A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque
20
BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato
Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses
12
Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque
6
Indumentaacuteriafestas
Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial
6
Janelas com flores
Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado
4
Objetoscamacarroccedila
O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira
poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante
alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta
observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa
natildeo explica bemrdquo
Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a
decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza
romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada
Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a
privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social
sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de
100
Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos
e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica
de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus
A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza
na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as
autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a
necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem
acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo
vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em
aacuterea de risco social
Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha
que identificou o polonecircs com o que viu
O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes
da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com
algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos
como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses
No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o
grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com
o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe
principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas
apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo
de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao
destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na
comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do
espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo
19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)
101
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado
os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico
Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados
anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante
polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash
70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura
aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante
O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou
descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de
comentaacuterios
Esses discursos seratildeo comentados adiante
35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses
Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a
preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte
maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
4Natildeo conhece 42
3Sim Identificou 36
2Conhece mas natildeo identificou 20
1Natildeo respondeu 2
102
fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute
coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo
A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas
na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a
identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em
relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas
culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do
sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa
As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)
Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do
sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias
identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves
formas dos sistemas culturais existentes
No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com
algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos
conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes
1ordm Respondente
- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem
as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua
2ordm Respondente
-Eacute uma pessoa integrada no social
3ordm Respondente
- Natildeo consigo associar
Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos
poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em
referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue
103
associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As
falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar
4ordm Respondente
- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo
5ordm Respondente
- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar
maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social
considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete
aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute
propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse
ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a
proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo
democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural
agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado
Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar
que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que
circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da
cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em
suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele
equipamento cultural
De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio
ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as
informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo
com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em
contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade
da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da
Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na
sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo
natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma
antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre
a importacircncia da experiecircncia
104
[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)
Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove
que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo
algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos
discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita
significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de
conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente
possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a
representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente
elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de
uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as
narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam
a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo
coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento
A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses
no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos
sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do
visitante
Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no
graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em
relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo
(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque
A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo
dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o
visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser
valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de
estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do
Memorial
105
Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes
Fonte Da autora (2015)
Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos
apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da
diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de
Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais
Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de
informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de
representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas
relacionadas ao MIP
Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio
a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora
dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista
ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa
a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se
ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a
acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo
discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo
distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Arquitetura 41
Objetos do acervo 23
artesanatoquiosque 16
camponesvida rural 15
religioso 11
culturatradiccedilatildeo 9
Vida em comunidade 8
106
parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil
A entrevistada complementa
Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)
Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e
ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem
da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna
negoacutecio
[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)
Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um
grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas
praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um
conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo
cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz
autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as
tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que
visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)
Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade
Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte
107
da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)
O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados
como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos
releva Choay (2001)
[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)
A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como
produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual
da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos
com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem
um espaccedilo significativo na miacutedia
A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)
A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no
seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o
pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70
anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA
2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante
renovaccedilatildeo
Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)
108
Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica
cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas
estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de
fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade
A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade
econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o
fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute
de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho
administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de
funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as
mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC
Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um
dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se
que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de
equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da
aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da
Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os
poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha
um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)
O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia
cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A
linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o
meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo
formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a
praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)
Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala
McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura
nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da
Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o
exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo
Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em
Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as
109
pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os
convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico
Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses
possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-
se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando
imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias
No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos
poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo
As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que
comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste
encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores
para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a
mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do
patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social
Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os
nossos pensamentos uma vez que
Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)
Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem
apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida
pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado
Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao
realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade
Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre
teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)
A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das
representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo
psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a
qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)
110
Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de
determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva
construiacuteda na linguagem dos sujeitos
Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)
No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do
pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo
Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)
Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos
inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas
reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees
sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber
e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se
constituem mutuamente
Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu
sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de
representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao
contexto em que se configuram
O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado
na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo
como o sistema social em que eacute gerado
Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do
processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social
podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel
do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel
coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p
111
167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte
do entrevistado temos o seguinte depoimento
Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)
Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho
arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos
das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP
Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994
FONTE IPPUC2015
Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo
urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno
conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial
originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado
atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de
apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do
Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo
houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro
112
baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do
mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos
fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um
equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade
poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um
quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um
museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto
que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem
dados para anaacutelise
Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das
primeiras casas do Memorial
Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)
Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob
responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na
estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez
seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu
e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da
paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele
periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no
decorrer do segundo capiacutetulo
Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve
ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa
Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica
20 GI Abreviatura Gina Issberner
113
SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)
SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)
O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere
ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586
imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado
pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)
Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)
O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para
as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em
depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca
prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de
Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com
a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a
revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)
A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se
enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos
que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma
imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas
arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do
poder puacuteblico
Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial
seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de
21 SP Abreviatura de Sergio Pires
114
implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o
vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na
direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje
Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da
Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos
Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a
Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio
do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e
Empresariais- FACIAP
O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como
coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica
PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial
para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da
entrevistada
A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um
parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)
Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de
organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A
entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em
Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram
o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)
Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora
de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade
do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees
perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento
socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para
a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)
Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador
Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo
subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento
europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo
115
subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam
absorvidos pelos nacionais
Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo
da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte
observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha
assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e
pelo municiacutepio
Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente
coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria
brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato
de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria
Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos
costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as
raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe
um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria
instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar
de uma mesma histoacuteria e memoacuteria
A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo
das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo
ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em
constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais
Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os
sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e
construccedilotildees de identidades
Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)
O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos
culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de
identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa
identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa
116
personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar
uma pluralidade em si
117
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as
representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de
seus visitantes gestores e idealizador
Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do
disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e
significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante
a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses
representados no Memorial
Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o
processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder
municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta
construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela
populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o
espaccedilo puacuteblico
Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e
bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de
conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-
artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da
fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que
prescinde da experiecircncia
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela
comunidade polonesa
Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos
urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos
da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes
poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender
alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de
Curitiba
118
A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta
pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade
mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria
das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social
antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser
compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica
A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais
uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado
grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos
visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que
permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da
regiatildeo de Curitiba
A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que
estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se
desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem
um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o
compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas
sociais
Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da
participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo
Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo
houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em
relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local
na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio
Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de
funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como
pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo
No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do
preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na
entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os
visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta
direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora
119
Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas
evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves
expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No
Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da
comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais
aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais
simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial
se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees
Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser
relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque
1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba
mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas
puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da
criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este
tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo
temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia
2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a
amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da
etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos
leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando
uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato
percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas
dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em
casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como
etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos
conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um
local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a
experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma
agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da
ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico
sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho
daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais
positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a
120
respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que
ocorreram ao longo do tempo
3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo
museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo
considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do
Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em
detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica
Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal
deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de
procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais
pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos
processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos
imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro
do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente
Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de
se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e
identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e
fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em
movimento suas praacuteticas sociais
121
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133
APEcircNDICES
134
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para
participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em
Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo
justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos
que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela
pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de
Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos
entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar
participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo
fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)
desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em
qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o
(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os
resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer
outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da
Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em
Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC
telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu ___________________________________________________________ fui informado
sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a
explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada
e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas
assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data __ __ ___
________________________ _________________________
Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador
135
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa em Curitiba
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES
QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA
Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e
querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto
FORMULAacuteRIO DE PESQUISA
1) Idade
1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50
2) Gecircnero
1) Masculino 2) Feminino
3) Natural de
1) Curitiba 2) Outro ________________
4) Escolaridade
( ) nenhuma
( ) 1ordm grau incompleto
( ) 1ordm grau completo
( ) 2ordm grau incompleto
( ) 2ordm grau completo
( ) superior incompleto
( ) superior completo
( ) poacutes-graduaccedilatildeo
136
5) Ocupaccedilatildeo
( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador
6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________
8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba
9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc
11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu
137
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da
pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a
responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo
eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo
na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos
seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a
promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir
em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de
retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem
nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo
receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados
no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato
com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em
contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -
Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu _________________________________ fui informado sobre o que o
pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por
isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso
sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por
mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data ___ ____ _____
_____________________________________________________
Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel
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APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo
de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA
FCC-CURITIBA
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial
1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os
dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
8 O museu do memorial foi criado por ato municipal
9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo
11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA
E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE
ABREU
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
139
6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo
ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
9 O museu do memorial foi criado por ato municipal
10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua
compreensatildeo
12 Como vocecirc se descreve como polonesa
13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER
1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais
museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a
sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa
2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do
memorial
5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE
POLONESA EM CURITIBA
1 Qual seu nome
2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial
140
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial
7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)
8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
141
ANEXOS
142
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP
143
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51
Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57
Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59
Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64
Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65
Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112
LISTA DE GRAacuteFICOS
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93
Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94
Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101
Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
97
Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
99
LISTA DE SIGLAS
ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso
COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus
FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais
FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute
FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IBRAM Instituto Brasileiro de Museus
ICOFOM International Committe for Museology
ICOM International Conciul of Museums
IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute
IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo
IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba
MINOM International Movement for a New Museology
MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa
SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UCL Universiteacute Catholique de Louvain
UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo
UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization
ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias
SUMAacuteRIO
INTRODUCcedilAtildeO 14
1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21
11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51
2 MEMORIAIS E MUSEUS 57
21 Os Memoriais 57
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67
23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77
32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89
34 Procedimentos de Pesquisa 91
35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117
REFEREcircNCIAS121
APEcircNDICES133
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
formulaacuterio134
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da
Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de
gravaccedilatildeo de voz137
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no
processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em
Curitiba138
ANEXOS 141
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de
imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143
14
INTRODUCcedilAtildeO
Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial
se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e
particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias
e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido
O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido
por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees
culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna
A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais
data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com
a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil
dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom
a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo
na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo
de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial
a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba
1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico
15
Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba
Fonte Curitiba (2010)
Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II
popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo
reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de
1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco
da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma
casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua
homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no
Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins
[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)
16
Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]
nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o
estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto
entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade
A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na
deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos
com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde
estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a
comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-
se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida
ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados
faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz
a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas
colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute
Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920
Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)
17
Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a
criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de
excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de
relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e
museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-
se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a
percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs
fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre
museu memoacuteria e identidade
Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se
principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais
disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas
perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com
profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas
possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social
do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos
visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural
Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os
visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da
importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o
impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens
construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas
indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a
trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba
Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do
Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores
novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados
Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente
quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores
e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera
influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a
18
Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a
delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada
A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de
documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com
entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios
de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses
procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-
culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as
representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para
chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em
trecircs capiacutetulos
Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano
discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de
Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing
e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)
Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)
Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)
(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de
Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade
como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura
(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e
Geissler(2004)
Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o
territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou
a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a
importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico
dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)
Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)
Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem
nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich
(2008)
No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas
especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da
19
Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica
a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de
memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira
(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e
Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova
Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury
(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)
Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural
memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)
Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho
(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)
No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees
sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)
(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)
Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)
Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o
propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees
sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo
(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati
Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)
Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)
e suas especificidades
Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa
com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no
Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de
Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e
Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo
(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas
do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)
complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)
e Choay (2001)
Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e
Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das
representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos
20
conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados
Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste
Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre
patrimocircnio cultural
21
1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA
Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico
que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias
da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e
quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho
local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a
desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como
produto de consumo cultural
No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio
Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da
Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura
em 1979visando
[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)
Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no
Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas
coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de
Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da
Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio
cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de
preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria
teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016
p1)
Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo
Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira
criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila
Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus
(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema
Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado
agrave Secretaria de Estado da Cultura
22
Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da
poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos
reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo
brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir
11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial
Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi
desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que
atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos
de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar
aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia
polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo
atual
Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que
faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade
O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)
Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos
que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da
desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a
soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo
(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na
centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de
Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa
de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo
metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e
consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte
da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut
23
(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a
seguinte colocaccedilatildeo
A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)
ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo
vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo
Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente
na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se
encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos
moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas
famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL
DO ESTADO p12 010287)
Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso
e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial
corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um
atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)
24
Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987
Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987
Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia
ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que
a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de
seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do
historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute
necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites
dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das
memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico
Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da
aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho
e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos
proprietaacuterios
A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo
de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava
sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com
25
o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista
Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da
cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos
aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora
esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da
cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)
A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da
sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a
remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees
dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975
-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave
continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira
administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)
[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)
Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi
intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de
Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)
o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque
Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e
o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda
servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas
etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias
serviam para uso da populaccedilatildeo em geral
Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de
Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui
a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial
de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta
dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui
2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965
26
Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques
possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas
Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem
bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de
Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para
a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais
Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes
visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e
Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais
e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma
coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia
estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal
A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo
Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo
Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento
visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as
funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo
de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais
moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento
ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e
divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial
Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na
compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos
reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante
Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala
ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre
mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo
Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao
ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No
entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano
de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a
instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)
27
Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais
esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma
populaccedilatildeo de origem europeacuteia
A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)
Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba
segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da
cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada
pelos memoriais
A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)
De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser
referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um
problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e
que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)
Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua
identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que
possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento
e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)
A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia
criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a
fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala
sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas
simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)
28
O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade
e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio
fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de
Curitiba
No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder
que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente
poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico
manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens
urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua
forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem
sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)
Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy
quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele
[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)
A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida
dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa
estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na
populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das
parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a
indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo
toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica
a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas
urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)
No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha
a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa
Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo
das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios
de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city
marketing
29
Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3
Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como
uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees
sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e
as formas de viver o espaccedilo puacuteblico
Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como
tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a
possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais
A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)
Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses
(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em
accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um
sentimento de pertencimento
Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem
sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos
30
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural
Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial
vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa
considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua
natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p
227)
Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de
determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive
gerando outras identidades
Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses
no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as
representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor
Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)
Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido
como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus
habitantes
Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem
do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade
polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da
cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as
particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no
proacuteximo item
12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial
O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer
de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme
31
o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2
Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem
decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado
num bairro central de Curitiba
Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade
Fonte Curitiba (2010)
O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi
estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro
siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)
Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba
32
Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915
Fonte GEISSLER (2004)
Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e
utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da
casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes
para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de
56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste
da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo
Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo
(GEISSLER 2004 p224)
Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio
Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de
preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo
de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas
apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e
matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais
(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na
figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos
jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita
33
Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno
Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)
O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa
Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado
por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo
com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia
representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia
na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008
p97)
Portal Polonecircs
Rio Beleacutem
Entrada Secundaacuteria
Entrada Principal
34
Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial
Fonte Google maps (2016)
Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do
Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se
transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha
e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)
A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira
sobre o Rio Beleacutem
35
Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem
Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)
Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o
Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito
de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de
metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba
Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da
edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador
da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que
Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)
4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo
36
Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como
na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction
and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of
Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi
Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)
Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave
colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas
ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and
Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa
Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo
finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there
are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo
(SILEacuteN2008 p11)
Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram
desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo
da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do
Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo
(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir
detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem
acervo e edificaccedilotildees
Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa
avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa
Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em
1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de
Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II
rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por
Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute
preservado pela capela
5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo
37
Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP
Fonte Figundio (2012)
Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da
Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As
comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se
atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte
Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo
Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia
38
Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP
Fonte Cequinel (2016)
Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois
outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o
costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe
da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como
sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)
39
Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP
Fonte Da Autora (2015)
Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins
na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico
devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo
e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi
permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de
contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a
necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas
praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes
as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias
que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma
diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)
Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a
Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda
de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra
ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para
descanso
40
Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP
Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB
No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas
procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas
ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces
Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do
perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma
de incentivo e desenvolvimento ao artesanato
41
Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP
FonteWpolityceForum2014
Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no
decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas
complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas
recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki
(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como
moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)
A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes
Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute
utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de
acervo
42
Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP
Fonte Papodeviajante(2008)
O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque
pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa
edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia
Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada
para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo
possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de
autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX
43
Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)
Fonte Savicki em 29082011
Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a
cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais
recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em
relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar
44
Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP
Fonte Da autora (2015)
Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que
pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de
Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de
armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico
Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP
Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)
45
Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo
procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski
utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas
Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP
Fonte Da autora (2015)
Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos
a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a
tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da
porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos
para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou
etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este
local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da
colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX
46
Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo
Fonte Da autora (2015)
Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na
colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia
de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute
utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem
nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio
comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da
Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e
valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses
47
Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial
Fonte Da autora (2015)
A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um
grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais
festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial
com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a
famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os
alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees
religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia
[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)
48
Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo
Fonte Curitiba (2016)
O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos
anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus
menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia
Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo
de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para
depois dar iniacutecio a ceia
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Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas
Fonte Vacanzepoloniacom
As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da
Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas
civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte
Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016
Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II
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No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao
Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi
concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico
e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013
Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque
Fonte feriasnowblog(2014)
De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do
parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da
teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs
Brac Dekoracyjny
51
Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico
Fonte Curitiba Space (2016)
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia
parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de
parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba
A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico
do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve
relato sobre esta trajetoacuteria
13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs
Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil
abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste
deslocamento
Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)
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Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da
Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)
tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito
de naccedilatildeo
[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)
Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs
era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante
de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto
somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo
brasileirordquo
No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989
p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir
imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a
moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o
estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs
no Paranaacute em seus diversos aspectos
No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se
reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de
poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse
grupo social
Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita
agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio
cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio
Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)
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De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a
constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera
que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem
recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram
marcados subjetivamente
Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica
ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal
e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees
ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e
de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)
Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta
investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da
pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de
ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a
rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de
interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees
sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma
viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista
estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de
imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica
de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos
imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a
respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba
Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)
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Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute
se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses
e outrosrdquo
Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o
Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872
aconteceu com a ajuda oficial
O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)
Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute
Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas
cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital
Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a
funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme
o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)
No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas
Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da
proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da
colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo
(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins
criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil
Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba
sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se
fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da
historiadora Mafalda Sikora
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A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)
No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas
considerando que
Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)
Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns
milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)
Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes
Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra
apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um
contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do
polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo
que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou
ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo
extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade
de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia
para o Brasil
[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo
56
polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)
A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma
ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas
brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012
p240)
A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto
abaixo
Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)
Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute
revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas
maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da
cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da
memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e
Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a
respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as
representaccedilotildees sociais
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2 MEMORIAIS E MUSEUS
21 Os Memoriais
Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial
Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade
de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam
uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of
visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond
their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(
WILLIAMS 2007 p6)7
Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao
tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado
em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram
a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em
Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto
Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)
Fonte uacuteltimosegundo (2010)
6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram
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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world
war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization
has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)
No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente
pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas
com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que
caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave
necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais
O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a
respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais
as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e
siacutetio memorial
A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)
Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos
museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho
quanto agraves especificidades de cada termo
O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo
em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com
estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo
8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal
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In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)
O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da
fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais
conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou
foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere
abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de
Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque
terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo
papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o
impacto de forma continuada
Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)
Fonte Damon Winter The New York Times
10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista
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Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem
a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de
histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent
between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS
2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam
como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias
pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial
expressa algumas preocupaccedilotildees
A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12
O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus
memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento
das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de
ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo
solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and
impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes
espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal
No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses
objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e
11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel
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pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo
ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe
understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice
versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)
No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o
congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct
what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute
allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)
Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial
e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que
envolvem a sociedade contemporacircnea
Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a
realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo
especiacuteficos como no caso dos Memoriais
No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito
dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge
Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil
institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo
de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo
(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo
possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu
O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)
Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na
organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de
possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu
14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito
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No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que
viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como
o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem
de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante
Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus
implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)
direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de
estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos
podem ser definidos da seguinte forma
These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16
Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro
de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como
Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados
para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma
16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos
histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica
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cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e
teacutecnicas
Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP
dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa
de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender
viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre
eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees
com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)
Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva
ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave
comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas
instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em
termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia
em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos
de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de
memorial mas sim de museu
Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)
analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria
portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho
destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos
Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades
cidades fatos e acontecimentos
No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito
para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que
favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os
Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A
autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams
Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e
17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)
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satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)
Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito
dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as
instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)
Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional
de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave
apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem
grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer
que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram
diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes
formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais
Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)
Fonte Brasilgovbr 2016
Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades
do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos
mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com
projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu
Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a
histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS
Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de
estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura
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29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave
atualidade
Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP
Fonte tvbrasil ebccombr 2016
Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser
concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos
etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a
possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que
inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das
instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos
de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao
desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)
Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria
ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory
processes including the historical interpretation and the museums social
functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)
Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus
(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees
18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu
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e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o
territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das
comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como
instituiccedilotildees museoloacutegicas
As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e
os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de
delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao
retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais
dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos
parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e
sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem
a um novo paiacutes com cultura diversa da sua
Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de
caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas
funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos
referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender
viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo
de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica
e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao
desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo
de comemoraccedilotildees
Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta
um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute
que nos ateremos a seguir
22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia
Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com
as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational
Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago
(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao
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aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos
fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico
internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou
corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)
O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre
a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-
ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees
museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade
O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave
funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais
do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-
se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da
instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)
O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo
do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da
Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com
o apoio do ICOM
Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica
Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local
patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais
em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees
A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu
e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera
que
[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)
Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago
do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com
o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o
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delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual
confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM
1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave
museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu
integral
A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da
Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na
Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada
O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e
reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho
Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o
museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a
manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela
delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta
questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no
Brasil em 1964
O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos
enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a
problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre
um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza
que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua
mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma
situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de
educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica
cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades
Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da
Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da
Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo
desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a
compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo
(CURY 2005 p 46)
No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984
em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo
os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas
69
que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)
Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu
estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade
A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)
Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa
Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc
Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute
causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil
Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida
a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos
museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute
que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo
(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora
Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)
Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da
funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do
Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a
aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele
periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras
Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em
1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para
uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a
divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA
NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e
divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas
70
experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao
colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO
2009 p 25)
O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas
museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo
francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as
possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo
O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)
Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de
Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo
social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]
relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade
agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio
institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)
Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como
patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer
museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto
Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para
atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela
SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)
A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas
propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades
de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem
no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como
nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo
Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a
uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas
71
paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute
museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)
Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao
conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua
instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do
patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo
estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda
do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)
Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)
O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus
incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a
diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu
estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem
desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial
O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)
Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por
ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de
estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais
Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas
(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina
Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse
da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo
(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de
Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma
naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e
espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)
72
Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo
direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais
representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado
por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees
Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade
visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o
reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas
ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do
mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais
complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)
No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus
reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como
consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio
cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem
abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a
serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na
medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o
tema proposto
23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade
O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural
tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura
um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo
polonesa da regiatildeo de Curitiba
Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave
comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos
anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de
uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e
espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)
Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal
mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada
comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura
73
No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute
compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico
ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de
significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)
Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de
maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por
Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos
A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)
O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos
processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto
cultural Para Moscovici
Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)
As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais
enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria
realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder
simboacutelico representadas no imaginaacuterio social
Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert
Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das
relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo
(DURANT apud COELHO 2004 p212)
Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo
social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e
objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O
imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos
alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)
74
Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades
Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades
nas sociedades contemporacircneas
A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)
As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em
constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este
sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute
de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico
Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista
sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu
passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos
criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com
a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que
[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)
Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a
problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o
que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu
conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no
presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum
Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador
francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre
problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um
elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA
1993 p9)
Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que
experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute
75
passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou
colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e
Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo
especiacutefico
Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)
Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de
preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e
grupo de pertencimento
Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da
identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma
sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum
processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)
No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos
centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de
vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este
posicionamento da seguinte forma
Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)
Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade
como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que
a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma
visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas
da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees
sociais
76
[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)
De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das
instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de
opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o
pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas
ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute
inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo
(ABRIC 2001 p156)
De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais
compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum
Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante
na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que
consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na
forma de imagens e conceitos
Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees
em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de
organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes
coletadas
77
3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS
31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus
A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas
pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son
image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no
domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos
campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos
mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos
de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito
estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia
histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede
As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo
coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das
representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo
repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na
coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as
representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim
aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas
que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)
Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo
agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os
fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que
estatildeo inseridos
Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)
Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das
caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees
satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste
sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um
lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p
9)
78
Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram
posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais
sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos
posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como
um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo
consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)
Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta
que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas
praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados
assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e
comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida
cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta
maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das
sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea
do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)
O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre
transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas
como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam
continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []
elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das
representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo
Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)
As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro
transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e
adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem
compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo
os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia
eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de
79
um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo
(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)
As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre
grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma
representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma
linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas
representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se
como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do
mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano
As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo
o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores
Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo
presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira
O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)
Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento
reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade
do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido
Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro
numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p
13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o
reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas
a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e
imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes
significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de
outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus
discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em
80
termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de
representaccedilotildees sociais
Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das
coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos
estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia
individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de
salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e
arbitrariedade
Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir
Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)
Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de
investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba
Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de
Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas
praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da
comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as
palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar
equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)
Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici
alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma
forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica
e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social
(JODELET 2001 p 188)
Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar
nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas
em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social
Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os
indiviacuteduos
81
A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus
discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico
necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees
sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida
mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici
relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais
Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)
O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual
as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais
Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas
agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social
Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de
interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p
22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que
criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado
ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do
conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais
[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)
Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram
estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos
abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p
71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira
essecircncia da realidaderdquo
Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo
perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um
82
paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003
p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias
conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma
figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso
universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)
Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a
estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente
Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo
ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)
A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)
Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de
determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados
afirmam um viacutenculo social e uma identidade
As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)
No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem
como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza
certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da
realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave
comunidade
Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo
comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que
traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo
Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos
depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que
os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees
83
diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como
se refere Moscovici (1981)
A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na
necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os
comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da
experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos
agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito
museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem
No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas
preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos
de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo
como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva
(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura
iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias
imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)
Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo
ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo
em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria
importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no
artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como
ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)
Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute
esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender
quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do
Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista
Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash
Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)
traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas
Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le
Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de
Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase
nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de
comunicaccedilatildeo
84
Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo
ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os
museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento
de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus
Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na
concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso
dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram
gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu
Nacional de Histoacuteria Natural de Paris
Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de
Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT
com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma
ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)
cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde
acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade
representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de
Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees
culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano
Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de
Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em
Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses
constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees
Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea
De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute
como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os
proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre
Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja
Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as
85
forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)
Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder
como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como
construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou
ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria
pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento
Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)
A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem
como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser
reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de
representaccedilatildeo
As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)
Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se
delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo
instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que
contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas
86
A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto
intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo
vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a
textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado
segundo Rechena (2011) da seguinte forma
Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)
Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos
institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social
Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em
virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)
marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da
classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal
inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver
Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida
o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em
objeto de pesquisa
A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma
natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o
desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de
oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)
No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve
preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua
praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais
do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias
como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo
No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as
reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das
produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso
87
32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa
A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o
tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do
visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no
circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees
vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na
forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados
quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e
construir conclusotildees
O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)
Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com
informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas
conclusotildees
Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio
padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as
perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho
no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos
visitantes daquele espaccedilo cultural
A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI
LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo
que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se
que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem
Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa
Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua
importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados
para anaacutelise da seguinte forma a saber
1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do
Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa
88
2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa
os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas
3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e
disponibilidade dos participantes
4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas
dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21
anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o
formulaacuterio
5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e
discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo
social que se consolida como foco determinante neste estudo
No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo
visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como
tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais
Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as
teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos
a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a
autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de
sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De
acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os
pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm
sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao
contexto de sua produccedilatildeo
Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)
em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a
Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes
elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das
representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por
recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo
diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final
A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes
espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de
89
finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas
dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba
33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC
A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico
Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em
seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante
denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise
quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo
representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo
A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se
reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk
Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE
RAMALHO 2006 p20)
No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)
essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente
individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma
forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os
outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma
independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo
de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008
p 12)
Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e
ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor
sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como
atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais
Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas
poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de
representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social
existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma
condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor
O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem
90
suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)
Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das
preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas
de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH
2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo
e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)
Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici
quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle
de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo
estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)
Percebemos que ao utilizarmos a ADC
Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)
Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou
Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das
representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e
dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos
conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar
34 Procedimentos de Pesquisa
Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de
dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da
parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas
e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais
Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o
projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade
marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial
91
Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e
representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma
reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio
aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do
Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade
de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos
forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa
A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e
outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve
apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada
participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos
da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue
e assinado pelos entrevistados
Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora
iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as
perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes
responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo
das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar
voz ao discurso do visitante
Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)
foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal
(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento
(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar
algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na
estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial
O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi
elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos
dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como
os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos
pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como
92
pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos
poloneses no decorrer das respostas
As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento
do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do
Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como
poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de
uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas
para as escolhas
1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo
procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia
um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais
2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta
questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito
expositivo do Memorial
3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora
tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo
do visitante para o circuito do Memorial
4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos
efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs
5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o
polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais
as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram
atualmente na sociedade contemporacircnea
Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do
formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro
graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50
anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais
mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes
estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)
93
Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por
turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada
com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio
Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP
Fonte Da autora (2015)
0 10 20 30 40 50 60 70
Fem64
Masc 36
Acima de 50 anos - 40
30 a 49 anos - 34
21 a 29 anos - 26
0 10 20 30 40 50 60
Turistas - 58
Curitibanos - 42
Outros paiacuteses - 8
Interior do PR - 6
Outros estados - 38
Curitiba - 42
94
Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade
superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico
3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo
compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior
Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados
Fonte Da autora (2015)
O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e
Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo
os usuaacuterios daquele espaccedilo
Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria
trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado
orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil
0 5 10 15 20 25 30 35
Ens fundincompleto - 6
Ens Fundamental - 26
Ensino meacutedio - 26
Ensino superior 24
Poacutes-graduaccedilatildeo - 34
95
Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total
Fonte Da autora (2015)
Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total
Fonte Da Autora (2015)
O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a
maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua
caracteriacutestica como local de lazer
0 2 4 6 8 10 12
Estudante - 12
Aposentado - 12
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Autonomo - 2
0 2 4 6 8 10 12 14
Estudante - 14
Funcionaacuterio Puacuteblico - 12
Autocircnomo - 10
Aposentado - 8
Empresaacuterio - 6
Assalariado - 6
Dona de casa 2
96
Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial
aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as
associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar
mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes
Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades
atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que
caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los
Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do
imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas
ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste
quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes
de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as
pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa
religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a
identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que
a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -
rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores
que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a
religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Jaacute visitou o Memorial antes 68
Esta eacute a primeira visita - 32
Motivo da visita trabalho 2
Motivo da visita Lazer - 98
97
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo
(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante
polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo
(VALENTINI 1982 p25)
Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo
As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural
20
2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor
Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)
15
3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia
Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia
8
4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais
5
5- Artesanatoacervo de objetos
Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo
do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante
Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas
Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos
dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio
98
Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo
Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura
similar da Europa
Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que
identificasse o local como polonecircs
No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a
atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos
objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local
chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito
Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo
TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES
1- Arquiteturacasa capela
Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos
visitantes
21
2- Objetos do acervo
Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de
polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)
20
3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo
Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante
5
4- Quiosque Artesanato
Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local
3
5- Escultura do Papa
Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante
polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de
tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes
99
nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal
de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens
em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo
simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial
reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses
e o gosto por festas
Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO
Arquiteturacasascapela
A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque
20
BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato
Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses
12
Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque
6
Indumentaacuteriafestas
Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial
6
Janelas com flores
Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado
4
Objetoscamacarroccedila
O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava
2
TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)
Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira
poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante
alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta
observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa
natildeo explica bemrdquo
Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a
decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza
romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada
Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a
privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social
sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de
100
Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos
e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica
de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus
A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza
na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as
autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a
necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem
acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo
vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em
aacuterea de risco social
Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha
que identificou o polonecircs com o que viu
O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes
da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com
algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos
como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como
imigrantes ou descendentes de poloneses
No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o
grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com
o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe
principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas
apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo
de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao
destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na
comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do
espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo
19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)
101
Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial
Fonte Da autora (2015)
Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado
os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico
Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados
anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante
polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash
70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura
aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante
O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou
descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de
comentaacuterios
Esses discursos seratildeo comentados adiante
35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses
Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a
preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte
maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
4Natildeo conhece 42
3Sim Identificou 36
2Conhece mas natildeo identificou 20
1Natildeo respondeu 2
102
fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute
coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo
A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas
na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a
identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em
relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas
culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do
sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa
As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)
Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do
sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias
identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves
formas dos sistemas culturais existentes
No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com
algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos
conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes
1ordm Respondente
- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem
as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua
2ordm Respondente
-Eacute uma pessoa integrada no social
3ordm Respondente
- Natildeo consigo associar
Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos
poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em
referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue
103
associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As
falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar
4ordm Respondente
- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo
5ordm Respondente
- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar
maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social
considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete
aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute
propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse
ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a
proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo
democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural
agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado
Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar
que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que
circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da
cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em
suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele
equipamento cultural
De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio
ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as
informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo
com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em
contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade
da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da
Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na
sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo
natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma
antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre
a importacircncia da experiecircncia
104
[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)
Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove
que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo
algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos
discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita
significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de
conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente
possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a
representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente
elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de
uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as
narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam
a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo
coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento
A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses
no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos
sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do
visitante
Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no
graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em
relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo
(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque
A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo
dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o
visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser
valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de
estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do
Memorial
105
Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes
Fonte Da autora (2015)
Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos
apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da
diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de
Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais
Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de
informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de
representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das
representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas
relacionadas ao MIP
Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio
a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora
dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista
ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa
a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se
ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a
acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo
discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo
distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Arquitetura 41
Objetos do acervo 23
artesanatoquiosque 16
camponesvida rural 15
religioso 11
culturatradiccedilatildeo 9
Vida em comunidade 8
106
parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil
A entrevistada complementa
Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)
Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e
ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem
da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna
negoacutecio
[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)
Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um
grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas
praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um
conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo
cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz
autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as
tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que
visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)
Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade
Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte
107
da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)
O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados
como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos
releva Choay (2001)
[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)
A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como
produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual
da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos
com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem
um espaccedilo significativo na miacutedia
A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)
A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no
seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o
pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70
anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA
2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante
renovaccedilatildeo
Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)
108
Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica
cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas
estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de
fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade
A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade
econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o
fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute
de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho
administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de
funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as
mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC
Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um
dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se
que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de
equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da
aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da
Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os
poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha
um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)
O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia
cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A
linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o
meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo
formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a
praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)
Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala
McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura
nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da
Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o
exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo
Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em
Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as
109
pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os
convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico
Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses
possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-
se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando
imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias
No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos
poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo
As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que
comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste
encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores
para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a
mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do
patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social
Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os
nossos pensamentos uma vez que
Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)
Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem
apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida
pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado
Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao
realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade
Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre
teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)
A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das
representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo
psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a
qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)
110
Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de
determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva
construiacuteda na linguagem dos sujeitos
Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)
No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do
pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo
Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)
Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos
inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas
reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees
sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber
e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se
constituem mutuamente
Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu
sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de
representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao
contexto em que se configuram
O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado
na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo
como o sistema social em que eacute gerado
Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do
processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social
podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel
do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel
coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p
111
167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte
do entrevistado temos o seguinte depoimento
Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)
Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho
arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos
das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP
Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994
FONTE IPPUC2015
Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo
urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno
conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial
originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado
atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de
apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do
Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo
houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro
112
baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do
mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos
fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um
equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade
poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um
quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um
museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto
que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem
dados para anaacutelise
Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das
primeiras casas do Memorial
Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)
Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob
responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na
estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez
seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu
e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da
paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele
periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no
decorrer do segundo capiacutetulo
Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve
ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa
Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica
20 GI Abreviatura Gina Issberner
113
SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)
SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)
O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere
ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586
imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado
pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)
Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)
O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para
as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em
depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca
prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de
Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com
a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a
revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)
A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se
enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos
que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma
imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas
arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do
poder puacuteblico
Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial
seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de
21 SP Abreviatura de Sergio Pires
114
implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o
vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na
direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje
Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da
Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos
Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a
Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio
do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e
Empresariais- FACIAP
O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como
coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica
PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial
para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da
entrevistada
A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um
parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)
Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de
organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A
entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em
Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram
o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)
Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora
de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade
do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees
perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento
socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para
a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)
Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador
Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo
subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento
europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo
115
subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam
absorvidos pelos nacionais
Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo
da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte
observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha
assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e
pelo municiacutepio
Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente
coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria
brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato
de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria
Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos
costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as
raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe
um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria
instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar
de uma mesma histoacuteria e memoacuteria
A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo
das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo
ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em
constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais
Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os
sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e
construccedilotildees de identidades
Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)
O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos
culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de
identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa
identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa
116
personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar
uma pluralidade em si
117
4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no
Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as
representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de
seus visitantes gestores e idealizador
Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do
disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e
significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante
a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses
representados no Memorial
Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o
processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder
municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta
construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela
populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o
espaccedilo puacuteblico
Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e
bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de
conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-
artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da
fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que
prescinde da experiecircncia
Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos
entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo
da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem
inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela
comunidade polonesa
Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos
urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos
da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes
poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender
alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de
Curitiba
118
A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta
pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade
mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria
das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social
antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser
compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica
A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais
uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado
grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos
visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que
permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da
regiatildeo de Curitiba
A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que
estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se
desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem
um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o
compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas
sociais
Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da
participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo
Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo
houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em
relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo
A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local
na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio
Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de
funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como
pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo
No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do
preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na
entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os
visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta
direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora
119
Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas
evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves
expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No
Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da
comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais
aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais
simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial
se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees
Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser
relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque
1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba
mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas
puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da
criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este
tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo
temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia
2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a
amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da
etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos
leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando
uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato
percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas
dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em
casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como
etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos
conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um
local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a
experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma
agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da
ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico
sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho
daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante
polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais
positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a
120
respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que
ocorreram ao longo do tempo
3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo
museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo
considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do
Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em
detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica
Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal
deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de
procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais
pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos
processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos
imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro
do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente
Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de
se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e
identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e
fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em
movimento suas praacuteticas sociais
121
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133
APEcircNDICES
134
APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para
participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em
Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo
justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos
que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela
pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de
Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos
entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar
participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo
fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)
desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em
qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o
(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os
resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer
outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da
Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em
Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC
telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu ___________________________________________________________ fui informado
sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a
explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada
e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas
assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data __ __ ___
________________________ _________________________
Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador
135
APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa em Curitiba
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES
QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA
Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e
querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto
FORMULAacuteRIO DE PESQUISA
1) Idade
1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50
2) Gecircnero
1) Masculino 2) Feminino
3) Natural de
1) Curitiba 2) Outro ________________
4) Escolaridade
( ) nenhuma
( ) 1ordm grau incompleto
( ) 1ordm grau completo
( ) 2ordm grau incompleto
( ) 2ordm grau completo
( ) superior incompleto
( ) superior completo
( ) poacutes-graduaccedilatildeo
136
5) Ocupaccedilatildeo
( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador
6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba
7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________
8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba
9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial
10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc
11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs
12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu
137
APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido
UNIVILLE
MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da
pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a
responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo
eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo
na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos
seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a
promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir
em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de
retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem
nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo
receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados
no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato
com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em
contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -
Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000
CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO
Eu _________________________________ fui informado sobre o que o
pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por
isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso
sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por
mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes
Data ___ ____ _____
_____________________________________________________
Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel
138
APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo
de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba
1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA
FCC-CURITIBA
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial
1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os
dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
8 O museu do memorial foi criado por ato municipal
9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo
11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA
E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE
ABREU
1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo
2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que
cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
139
6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo
ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial
9 O museu do memorial foi criado por ato municipal
10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas
exposiccedilotildees
11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua
compreensatildeo
12 Como vocecirc se descreve como polonesa
13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER
1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais
museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a
sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo
Polonesa
2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido
4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do
memorial
5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial
4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE
POLONESA EM CURITIBA
1 Qual seu nome
2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial
3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial
140
4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia
polonesa
5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras
instituiccedilotildees comunidade)
6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial
7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)
8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo
de Curitiba
9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo
141
ANEXOS
142
ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP
143
ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP