UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE …

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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE PROGRAMA DE MESTRADO EM PATRIMÔNIO CULTURAL E SOCIEDADE AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS POLONESES NO MEMORIAL DA IMIGRAÇÃO POLONESA EM CURITIBA-PR GINA ESTHER ISSBERNER Joinville - SC 2016

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UNIVERSIDADE DA REGIAtildeO DE JOINVILLE ndash UNIVILLE

PROGRAMA DE MESTRADO EM PATRIMOcircNIO CULTURAL E SOCIEDADE

AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS DOS POLONESES NO MEMORIAL DA

IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA-PR

GINA ESTHER ISSBERNER

Joinville - SC

2016

GINA ESTHER ISSBERNER

AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS DOS POLONESE NO MEMORIAL DA

IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA-PR

Dissertaccedilatildeo apresentada ao curso de Mestrado em Patrimocircnio Cultural e Sociedade da Universidade da Regiatildeo de Joinville (Univille) ndash como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre Orientadora Profordf DraSandra Paschoal Leite de Camargo Guedes

Joinville ndash SC

2016

Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo pela Biblioteca Universitaacuteria da Univille

Issberner Gina Esther

I86rAs representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba-PRGina Esther Issberner orientadora Dra Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes ndash Joinville UNIVILLE 2016

143 f il 30 cm

Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Patrimocircnio Cultural e Sociedade

ndashUniversidade da Regiatildeo de Joinville)

1Imigrantes polonesesndashParanaacute 2 Patrimocircnio cultural3 Museus 4 MemorialIGuedes Sandra Paschoal Leite de Camargo (orient)II Tiacutetulo

CDD 3252438098162

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem como objetivo refletir sobre a importacircncia das representaccedilotildees sociais criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba Objetivou ainda analisar o processo de implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa na deacutecada de 1980 o conceito de memorial e seus diferentes usos as representaccedilotildees sociais dos imigrantes poloneses percebidos pelos visitantes gestores e idealizador do Memorial e os conceitos de patrimocircnio cultural e consumo aplicado na dinacircmica sociocultural do Memorial Constatamos que o Memorial eacute visto como equipamento urbaniacutestico inserido em uma proposta de city marketing constataccedilatildeo essa que pode ser reforccedilada pela ausecircncia de um projeto museoloacutegico para o memorial em estudo A reflexatildeo a respeito das representaccedilotildees sociais na oacutetica dos visitantes gestores e idealizador ocorreu em consonacircncia aos conteuacutedos desenvolvidos a partir de pesquisa qualitativa que envolveu revisatildeo bibliograacutefica levantamento documental 03 entrevistas semiestruturadas gravadas com os responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo e gestatildeo do Memorial como tambeacutem a aplicaccedilatildeo de 50 questionaacuterios junto a visitantes do memorial maiores de 21 anos de ambos os sexos A partir do entendimento sobre os memoriais enquanto espaccedilo de memoacuteria inseridos nos estudos relativos aos museus patrimocircnio cultural e representaccedilotildees sociais - na sua vertente teoacuterica de Serge Moscovici - fundamentamos o conteuacutedo das entrevistas e questionaacuterios de campo com a metodologia da anaacutelise criacutetica do discurso O resultado da anaacutelise das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba aleacutem de revelar que a imagem do imigrante polonecircs no Memorial estaacute correlacionada com a imagem do polonecircs de hoje apontou uma necessidade maior de procurar compreender como as representaccedilotildees e as narrativas dos discursos se relacionam com o processo de interpretaccedilatildeo do sujeito polonecircs no Memorial Palavras-chave Memorial Representaccedilotildees Sociais Museus Patrimocircnio Cultural

ABSTRACT

The aim of this dissertation is to discuss the importance of the social representations created by the Polish Immigration Memorial in Curitiba and to analyze the process of setting up the Polish Immigration Memorial in the 1980s the memorialrsquos concept and its different uses the social representations of Polish immigrants perceived by visitors managers and the memorialrsquos designer as well as the concepts of cultural heritage and consumption applied to the memorialrsquos socio-cultural dynamics We find that the memorial is seen as an urban tool inserted in a proposal of city marketing This finding can be strengthened by the absence of a museum-based project for the memorial under consideration in this study The consideration regarding social representations from the viewpoints of visitors managers and the memorialrsquos designer occurs in line with the contents developed from qualitative research which encompasses bibliographical review documental survey three semi-structural interviews recorded with the people responsible for the memorialrsquos implementation and management as well as the application of 50 questionnaires to both male and female visitors to the memorial who were over 21 years of age With the view that memorials are places to evoke memories which are part of studies on museums cultural heritage and social representations ndash true to the Serge Moscovici theoretical model we based the contents of the interviews and field questionnaires on the Critical Discourse Analysis methodology The result of the analysis of social representations of Polish people within the Polish Immigration Memorial in Curitiba besides revealing that the image of the Polish immigrant is correlated to the image of the Polish people nowadays demonstrates a greater need to understand how the representations and questionnaire interview narratives are related to the process of interpretation of Poles within the memorial Keywords Memorials Social Representations Museums Cultural Heritage

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15

Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho

1987 24

Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31

Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual

Joatildeo Paulo II 1915 32

Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33

Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34

Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37

Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de

Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38

Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38

Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40

Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41

Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local

de armazenamento de acervoMIP 42

Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43

Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44

Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44

Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45

Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de

Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa

Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48

Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um

momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas

comemoraccedilotildees natalinas 49

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do

Memorial Paacutescoa2016 49

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51

Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57

Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59

Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64

Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65

Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93

Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101

Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

97

Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

99

LISTA DE SIGLAS

ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso

COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus

FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais

FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute

FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRAM Instituto Brasileiro de Museus

ICOFOM International Committe for Museology

ICOM International Conciul of Museums

IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute

IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo

IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba

MINOM International Movement for a New Museology

MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa

SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UCL Universiteacute Catholique de Louvain

UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo

UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization

ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21

11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51

2 MEMORIAIS E MUSEUS 57

21 Os Memoriais 57

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67

23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77

32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89

34 Procedimentos de Pesquisa 91

35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117

REFEREcircNCIAS121

APEcircNDICES133

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

formulaacuterio134

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da

Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

gravaccedilatildeo de voz137

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no

processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em

Curitiba138

ANEXOS 141

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de

imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143

14

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial

se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e

particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias

e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido

O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido

por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees

culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna

A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais

data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com

a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil

dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom

a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo

na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo

de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial

a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba

1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico

15

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba

Fonte Curitiba (2010)

Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II

popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo

reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de

1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco

da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma

casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua

homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no

Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins

[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)

16

Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]

nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o

estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto

entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade

A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na

deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos

com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde

estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a

comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-

se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida

ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados

faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz

a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas

colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute

Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920

Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)

17

Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a

criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de

excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de

relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e

museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-

se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a

percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs

fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre

museu memoacuteria e identidade

Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se

principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais

disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas

perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com

profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas

possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social

do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos

visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural

Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os

visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da

importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o

impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens

construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas

indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a

trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba

Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do

Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores

novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados

Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente

quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores

e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera

influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a

18

Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a

delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada

A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de

documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com

entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios

de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses

procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-

culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as

representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para

chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em

trecircs capiacutetulos

Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano

discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de

Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing

e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)

Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)

Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)

(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de

Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade

como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura

(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e

Geissler(2004)

Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o

territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou

a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a

importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico

dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)

Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)

Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem

nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich

(2008)

No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas

especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da

19

Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica

a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de

memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira

(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e

Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova

Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury

(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)

Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural

memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)

Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho

(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)

No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees

sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)

(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)

Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)

Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o

propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees

sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo

(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati

Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)

Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)

e suas especificidades

Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa

com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no

Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de

Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e

Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo

(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas

do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)

complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)

e Choay (2001)

Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e

Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das

representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos

20

conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados

Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste

Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre

patrimocircnio cultural

21

1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA

Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico

que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias

da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e

quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho

local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a

desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como

produto de consumo cultural

No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da

Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura

em 1979visando

[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)

Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no

Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas

coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de

Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da

Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio

cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de

preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria

teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016

p1)

Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira

criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila

Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus

(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema

Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado

agrave Secretaria de Estado da Cultura

22

Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da

poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos

reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo

brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir

11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial

Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi

desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que

atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos

de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar

aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia

polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo

atual

Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que

faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade

O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)

Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos

que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da

desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a

soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo

(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na

centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de

Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa

de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo

metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e

consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte

da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut

23

(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a

seguinte colocaccedilatildeo

A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)

ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo

vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo

Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente

na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se

encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos

moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas

famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL

DO ESTADO p12 010287)

Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso

e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial

corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um

atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)

24

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987

Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987

Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia

ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que

a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de

seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do

historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute

necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites

dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das

memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico

Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da

aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho

e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos

proprietaacuterios

A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo

de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava

sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com

25

o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista

Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da

cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos

aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora

esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da

cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)

A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da

sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a

remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees

dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975

-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave

continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira

administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)

[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)

Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi

intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)

o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque

Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e

o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda

servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas

etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias

serviam para uso da populaccedilatildeo em geral

Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de

Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui

a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial

de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta

dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui

2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965

26

Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques

possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas

Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem

bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de

Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para

a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais

Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes

visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e

Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais

e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma

coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia

estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal

A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo

Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo

Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento

visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as

funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo

de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais

moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento

ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial

Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na

compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos

reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante

Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala

ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre

mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo

Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao

ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No

entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano

de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a

instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)

27

Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais

esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma

populaccedilatildeo de origem europeacuteia

A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)

Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba

segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da

cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada

pelos memoriais

A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)

De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser

referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um

problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e

que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)

Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua

identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que

possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento

e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)

A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia

criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a

fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala

sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas

simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)

28

O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade

e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio

fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de

Curitiba

No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder

que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente

poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico

manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens

urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua

forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem

sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)

Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy

quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele

[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)

A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida

dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa

estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na

populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das

parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a

indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo

toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica

a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas

urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)

No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha

a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa

Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo

das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios

de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city

marketing

29

Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3

Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como

uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees

sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e

as formas de viver o espaccedilo puacuteblico

Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como

tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a

possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais

A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)

Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses

(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em

accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um

sentimento de pertencimento

Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem

sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

30

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural

Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial

vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa

considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua

natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p

227)

Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive

gerando outras identidades

Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses

no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as

representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor

Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)

Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido

como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus

habitantes

Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem

do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade

polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da

cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as

particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no

proacuteximo item

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial

O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer

de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme

31

o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2

Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem

decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado

num bairro central de Curitiba

Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade

Fonte Curitiba (2010)

O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi

estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro

siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)

Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba

32

Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915

Fonte GEISSLER (2004)

Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e

utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da

casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes

para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de

56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste

da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo

Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo

(GEISSLER 2004 p224)

Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio

Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de

preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo

de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas

apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e

matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais

(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na

figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos

jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita

33

Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno

Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)

O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa

Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado

por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo

com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia

representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia

na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008

p97)

Portal Polonecircs

Rio Beleacutem

Entrada Secundaacuteria

Entrada Principal

34

Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial

Fonte Google maps (2016)

Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do

Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se

transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha

e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)

A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira

sobre o Rio Beleacutem

35

Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem

Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)

Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o

Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito

de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de

metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba

Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da

edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador

da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que

Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)

4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo

36

Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como

na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction

and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of

Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi

Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)

Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave

colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas

ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and

Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa

Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo

finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there

are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo

(SILEacuteN2008 p11)

Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram

desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo

da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do

Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo

(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir

detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem

acervo e edificaccedilotildees

Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa

avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa

Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em

1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de

Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II

rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por

Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute

preservado pela capela

5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo

37

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP

Fonte Figundio (2012)

Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da

Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As

comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se

atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte

Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo

Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia

38

Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP

Fonte Cequinel (2016)

Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois

outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o

costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe

da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como

sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)

39

Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP

Fonte Da Autora (2015)

Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins

na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico

devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo

e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi

permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de

contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a

necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas

praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes

as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias

que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma

diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)

Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a

Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda

de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra

ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para

descanso

40

Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP

Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB

No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas

procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas

ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces

Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do

perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma

de incentivo e desenvolvimento ao artesanato

41

Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP

FonteWpolityceForum2014

Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no

decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas

complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas

recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki

(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como

moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)

A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes

Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute

utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de

acervo

42

Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP

Fonte Papodeviajante(2008)

O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque

pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa

edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia

Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada

para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo

possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de

autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX

43

Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)

Fonte Savicki em 29082011

Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a

cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais

recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em

relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar

44

Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP

Fonte Da autora (2015)

Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que

pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de

Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de

armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico

Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP

Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)

45

Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo

procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski

utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas

Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP

Fonte Da autora (2015)

Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos

a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a

tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da

porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos

para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou

etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este

local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da

colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX

46

Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo

Fonte Da autora (2015)

Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na

colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia

de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute

utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem

nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio

comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da

Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e

valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses

47

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial

Fonte Da autora (2015)

A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um

grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais

festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial

com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a

famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os

alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees

religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia

[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)

48

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo

Fonte Curitiba (2016)

O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos

anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus

menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia

Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo

de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para

depois dar iniacutecio a ceia

49

Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas

Fonte Vacanzepoloniacom

As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da

Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas

civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016

Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II

50

No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao

Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi

concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico

e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque

Fonte feriasnowblog(2014)

De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do

parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da

teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs

Brac Dekoracyjny

51

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico

Fonte Curitiba Space (2016)

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia

parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de

parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba

A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico

do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve

relato sobre esta trajetoacuteria

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs

Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil

abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste

deslocamento

Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)

52

Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da

Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)

tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito

de naccedilatildeo

[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)

Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs

era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante

de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto

somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo

brasileirordquo

No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989

p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir

imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a

moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o

estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs

no Paranaacute em seus diversos aspectos

No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se

reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de

poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse

grupo social

Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita

agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio

cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio

Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)

53

De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a

constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera

que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem

recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram

marcados subjetivamente

Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica

ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal

e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees

ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e

de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)

Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta

investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da

pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de

ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a

rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de

interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees

sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma

viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista

estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de

imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica

de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos

imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a

respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba

Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)

54

Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute

se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses

e outrosrdquo

Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o

Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872

aconteceu com a ajuda oficial

O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)

Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute

Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas

cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital

Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a

funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme

o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)

No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas

Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da

proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da

colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo

(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins

criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil

Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba

sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se

fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da

historiadora Mafalda Sikora

55

A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)

No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas

considerando que

Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)

Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns

milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)

Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes

Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra

apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um

contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do

polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo

que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou

ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo

extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade

de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia

para o Brasil

[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo

56

polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)

A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma

ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas

brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012

p240)

A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto

abaixo

Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)

Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute

revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas

maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da

cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e

Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a

respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as

representaccedilotildees sociais

57

2 MEMORIAIS E MUSEUS

21 Os Memoriais

Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial

Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade

de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam

uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of

visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond

their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(

WILLIAMS 2007 p6)7

Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao

tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado

em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram

a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em

Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto

Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)

Fonte uacuteltimosegundo (2010)

6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram

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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world

war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization

has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)

No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente

pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas

com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que

caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave

necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais

O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a

respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais

as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e

siacutetio memorial

A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)

Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos

museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho

quanto agraves especificidades de cada termo

O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo

em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com

estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo

8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal

59

In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)

O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da

fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais

conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou

foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere

abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de

Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque

terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo

papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o

impacto de forma continuada

Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)

Fonte Damon Winter The New York Times

10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista

60

Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem

a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de

histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent

between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS

2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam

como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias

pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial

expressa algumas preocupaccedilotildees

A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12

O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus

memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento

das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de

ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo

solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and

impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes

espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal

No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses

objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e

11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel

61

pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo

ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe

understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice

versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)

No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o

congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct

what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute

allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)

Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial

e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que

envolvem a sociedade contemporacircnea

Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a

realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo

especiacuteficos como no caso dos Memoriais

No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito

dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge

Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil

institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo

de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo

(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo

possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu

O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)

Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na

organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de

possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu

14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito

62

No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como

o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem

de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante

Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus

implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)

direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de

estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos

podem ser definidos da seguinte forma

These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16

Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro

de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como

Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados

para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma

16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos

histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica

63

cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e

teacutecnicas

Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP

dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa

de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender

viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre

eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees

com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)

Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva

ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave

comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas

instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em

termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia

em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos

de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de

memorial mas sim de museu

Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)

analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria

portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho

destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos

Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades

cidades fatos e acontecimentos

No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito

para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que

favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os

Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A

autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams

Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e

17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)

64

satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)

Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito

dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as

instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)

Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional

de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave

apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem

grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer

que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram

diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes

formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais

Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)

Fonte Brasilgovbr 2016

Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades

do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos

mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com

projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu

Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a

histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS

Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de

estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura

65

29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave

atualidade

Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP

Fonte tvbrasil ebccombr 2016

Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser

concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos

etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a

possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que

inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das

instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos

de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao

desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)

Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria

ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory

processes including the historical interpretation and the museums social

functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)

Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus

(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees

18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu

66

e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o

territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das

comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como

instituiccedilotildees museoloacutegicas

As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e

os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de

delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao

retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais

dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos

parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e

sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem

a um novo paiacutes com cultura diversa da sua

Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de

caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas

funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos

referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender

viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo

de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica

e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao

desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo

de comemoraccedilotildees

Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta

um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute

que nos ateremos a seguir

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia

Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com

as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational

Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago

(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao

67

aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos

fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico

internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou

corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)

O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre

a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-

ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees

museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade

O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave

funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais

do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-

se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da

instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)

O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da

Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com

o apoio do ICOM

Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica

Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local

patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais

em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees

A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu

e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera

que

[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)

Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago

do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com

o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o

68

delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual

confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM

1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave

museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu

integral

A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da

Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na

Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada

O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e

reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho

Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o

museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a

manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela

delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta

questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no

Brasil em 1964

O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos

enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a

problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre

um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza

que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua

mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma

situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de

educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica

cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades

Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da

Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da

Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo

desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a

compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo

(CURY 2005 p 46)

No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984

em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo

os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas

69

que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)

Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu

estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade

A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)

Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa

Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc

Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute

causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil

Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida

a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos

museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute

que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo

(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora

Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)

Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da

funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do

Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a

aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele

periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras

Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em

1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para

uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a

divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA

NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e

divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas

70

experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao

colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO

2009 p 25)

O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas

museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo

francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as

possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo

O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)

Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de

Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo

social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]

relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade

agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio

institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)

Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como

patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer

museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto

Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para

atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela

SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)

A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas

propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades

de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem

no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como

nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo

Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a

uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas

71

paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute

museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)

Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao

conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua

instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do

patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo

estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda

do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)

O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus

incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a

diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu

estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem

desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial

O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)

Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por

ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de

estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais

Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas

(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina

Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse

da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo

(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de

Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma

naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e

espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)

72

Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo

direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais

representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado

por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees

Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade

visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o

reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas

ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do

mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais

complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)

No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus

reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como

consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio

cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem

abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a

serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na

medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o

tema proposto

23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural

tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura

um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo

polonesa da regiatildeo de Curitiba

Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave

comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos

anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de

uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e

espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)

Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal

mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada

comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura

73

No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute

compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico

ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de

significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)

Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de

maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por

Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos

A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)

O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos

processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto

cultural Para Moscovici

Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)

As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais

enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria

realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder

simboacutelico representadas no imaginaacuterio social

Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert

Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das

relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo

(DURANT apud COELHO 2004 p212)

Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo

social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e

objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O

imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos

alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)

74

Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades

Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades

nas sociedades contemporacircneas

A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)

As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em

constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este

sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute

de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico

Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista

sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu

passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos

criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com

a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que

[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)

Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a

problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o

que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu

conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no

presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum

Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador

francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre

problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um

elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA

1993 p9)

Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que

experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute

75

passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou

colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e

Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo

especiacutefico

Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)

Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de

preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e

grupo de pertencimento

Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da

identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma

sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum

processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)

No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos

centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de

vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este

posicionamento da seguinte forma

Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)

Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade

como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que

a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma

visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas

da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees

sociais

76

[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)

De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das

instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de

opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o

pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas

ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute

inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo

(ABRIC 2001 p156)

De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais

compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum

Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante

na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que

consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na

forma de imagens e conceitos

Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees

em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de

organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes

coletadas

77

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas

pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son

image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no

domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos

campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos

mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos

de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito

estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia

histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede

As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo

coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das

representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo

repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na

coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as

representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim

aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas

que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)

Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo

agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os

fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que

estatildeo inseridos

Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)

Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das

caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees

satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste

sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um

lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p

9)

78

Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram

posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais

sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos

posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como

um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo

consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)

Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta

que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas

praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados

assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e

comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida

cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta

maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das

sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea

do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)

O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre

transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas

como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam

continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []

elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das

representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo

Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)

As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro

transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e

adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem

compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo

os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia

eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de

79

um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo

(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)

As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre

grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma

representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma

linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas

representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se

como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do

mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano

As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo

o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores

Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo

presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira

O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)

Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento

reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade

do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido

Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro

numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p

13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o

reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas

a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e

imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes

significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de

outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus

discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em

80

termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de

representaccedilotildees sociais

Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das

coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos

estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia

individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de

salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e

arbitrariedade

Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir

Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)

Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de

investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de

Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas

praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da

comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as

palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar

equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)

Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici

alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma

forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica

e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social

(JODELET 2001 p 188)

Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar

nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas

em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social

Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os

indiviacuteduos

81

A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus

discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico

necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees

sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida

mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici

relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais

Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)

O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual

as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais

Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas

agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social

Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de

interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p

22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que

criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado

ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do

conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais

[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)

Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram

estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos

abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p

71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira

essecircncia da realidaderdquo

Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo

perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um

82

paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003

p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias

conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma

figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso

universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)

Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a

estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente

Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo

ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)

A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)

Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de

determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados

afirmam um viacutenculo social e uma identidade

As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)

No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem

como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza

certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da

realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave

comunidade

Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo

comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que

traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo

Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos

depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que

os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees

83

diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como

se refere Moscovici (1981)

A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na

necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os

comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da

experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos

agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito

museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem

No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas

preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos

de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo

como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva

(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura

iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias

imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)

Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo

ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo

em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria

importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no

artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como

ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)

Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute

esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender

quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do

Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista

Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash

Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)

traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas

Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le

Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de

Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase

nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de

comunicaccedilatildeo

84

Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo

ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os

museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento

de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus

Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na

concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso

dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram

gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu

Nacional de Histoacuteria Natural de Paris

Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de

Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT

com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma

ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)

cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde

acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade

representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de

Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees

culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano

Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de

Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em

Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses

constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees

Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea

De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute

como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os

proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre

Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja

Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as

85

forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)

Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder

como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como

construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou

ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria

pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento

Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)

A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem

como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser

reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de

representaccedilatildeo

As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)

Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se

delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo

instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que

contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas

86

A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto

intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo

vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a

textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado

segundo Rechena (2011) da seguinte forma

Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)

Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos

institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social

Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em

virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)

marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da

classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal

inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver

Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida

o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em

objeto de pesquisa

A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma

natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o

desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de

oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)

No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve

preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua

praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais

do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias

como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo

No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as

reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das

produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso

87

32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa

A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o

tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do

visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no

circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees

vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na

forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados

quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e

construir conclusotildees

O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)

Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com

informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas

conclusotildees

Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio

padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as

perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho

no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos

visitantes daquele espaccedilo cultural

A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI

LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo

que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se

que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem

Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa

Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua

importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados

para anaacutelise da seguinte forma a saber

1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do

Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa

88

2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa

os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas

3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e

disponibilidade dos participantes

4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas

dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21

anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o

formulaacuterio

5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e

discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo

social que se consolida como foco determinante neste estudo

No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo

visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como

tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais

Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as

teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos

a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a

autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de

sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De

acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os

pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm

sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao

contexto de sua produccedilatildeo

Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)

em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a

Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes

elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das

representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por

recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo

diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final

A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes

espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de

89

finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas

dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC

A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico

Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em

seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante

denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise

quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo

representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo

A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se

reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk

Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE

RAMALHO 2006 p20)

No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)

essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente

individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma

forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os

outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma

independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo

de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008

p 12)

Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e

ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor

sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como

atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais

Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas

poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de

representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social

existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma

condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor

O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem

90

suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)

Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das

preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas

de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH

2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo

e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)

Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici

quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle

de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo

estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)

Percebemos que ao utilizarmos a ADC

Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)

Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou

Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e

dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos

conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar

34 Procedimentos de Pesquisa

Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de

dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da

parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas

e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais

Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o

projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade

marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial

91

Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e

representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma

reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio

aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do

Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade

de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos

forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa

A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e

outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve

apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada

participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos

da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue

e assinado pelos entrevistados

Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora

iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as

perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes

responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo

das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar

voz ao discurso do visitante

Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)

foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal

(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento

(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar

algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na

estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial

O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi

elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos

dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como

os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos

pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como

92

pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos

poloneses no decorrer das respostas

As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento

do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do

Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como

poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de

uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas

para as escolhas

1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo

procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia

um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais

2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta

questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito

expositivo do Memorial

3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora

tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo

do visitante para o circuito do Memorial

4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos

efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs

5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o

polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais

as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram

atualmente na sociedade contemporacircnea

Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do

formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro

graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50

anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais

mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes

estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)

93

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por

turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada

com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio

Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

0 10 20 30 40 50 60 70

Fem64

Masc 36

Acima de 50 anos - 40

30 a 49 anos - 34

21 a 29 anos - 26

0 10 20 30 40 50 60

Turistas - 58

Curitibanos - 42

Outros paiacuteses - 8

Interior do PR - 6

Outros estados - 38

Curitiba - 42

94

Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade

superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico

3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo

compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados

Fonte Da autora (2015)

O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e

Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo

os usuaacuterios daquele espaccedilo

Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria

trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado

orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil

0 5 10 15 20 25 30 35

Ens fundincompleto - 6

Ens Fundamental - 26

Ensino meacutedio - 26

Ensino superior 24

Poacutes-graduaccedilatildeo - 34

95

Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total

Fonte Da autora (2015)

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total

Fonte Da Autora (2015)

O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a

maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua

caracteriacutestica como local de lazer

0 2 4 6 8 10 12

Estudante - 12

Aposentado - 12

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Autonomo - 2

0 2 4 6 8 10 12 14

Estudante - 14

Funcionaacuterio Puacuteblico - 12

Autocircnomo - 10

Aposentado - 8

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Dona de casa 2

96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial

aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as

associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar

mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes

Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades

atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que

caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los

Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do

imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas

ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste

quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes

de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as

pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa

religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a

identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que

a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -

rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores

que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a

religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Jaacute visitou o Memorial antes 68

Esta eacute a primeira visita - 32

Motivo da visita trabalho 2

Motivo da visita Lazer - 98

97

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo

(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante

polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo

(VALENTINI 1982 p25)

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo

As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural

20

2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)

15

3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia

Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia

8

4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais

5

5- Artesanatoacervo de objetos

Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo

do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante

Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas

Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos

dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio

98

Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo

Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura

similar da Europa

Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que

identificasse o local como polonecircs

No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a

atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos

objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local

chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito

Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo

TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES

1- Arquiteturacasa capela

Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos

visitantes

21

2- Objetos do acervo

Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de

polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)

20

3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo

Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante

5

4- Quiosque Artesanato

Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local

3

5- Escultura do Papa

Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante

polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de

tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes

99

nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal

de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens

em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo

simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial

reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses

e o gosto por festas

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

Arquiteturacasascapela

A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque

20

BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato

Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses

12

Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque

6

Indumentaacuteriafestas

Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial

6

Janelas com flores

Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado

4

Objetoscamacarroccedila

O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira

poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante

alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta

observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa

natildeo explica bemrdquo

Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a

decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza

romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada

Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a

privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social

sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de

100

Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos

e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica

de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus

A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza

na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as

autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a

necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem

acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo

vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em

aacuterea de risco social

Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha

que identificou o polonecircs com o que viu

O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes

da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com

algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos

como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses

No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o

grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com

o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe

principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas

apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo

de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao

destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na

comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do

espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo

19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)

101

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado

os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico

Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados

anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante

polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash

70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura

aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante

O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou

descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de

comentaacuterios

Esses discursos seratildeo comentados adiante

35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses

Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a

preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte

maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

4Natildeo conhece 42

3Sim Identificou 36

2Conhece mas natildeo identificou 20

1Natildeo respondeu 2

102

fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute

coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo

A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas

na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a

identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em

relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas

culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do

sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa

As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)

Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do

sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias

identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves

formas dos sistemas culturais existentes

No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com

algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos

conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes

1ordm Respondente

- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem

as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua

2ordm Respondente

-Eacute uma pessoa integrada no social

3ordm Respondente

- Natildeo consigo associar

Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos

poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em

referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue

103

associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As

falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar

4ordm Respondente

- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo

5ordm Respondente

- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar

maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social

considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete

aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute

propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse

ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a

proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo

democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural

agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado

Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar

que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que

circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da

cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em

suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele

equipamento cultural

De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio

ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as

informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo

com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em

contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade

da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da

Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na

sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo

natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma

antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre

a importacircncia da experiecircncia

104

[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)

Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove

que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo

algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos

discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita

significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de

conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente

possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a

representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente

elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de

uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as

narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam

a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo

coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento

A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses

no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos

sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do

visitante

Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no

graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo

(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque

A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo

dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o

visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser

valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de

estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do

Memorial

105

Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes

Fonte Da autora (2015)

Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos

apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da

diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de

Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais

Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de

informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de

representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas

relacionadas ao MIP

Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio

a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora

dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista

ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa

a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se

ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a

acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo

discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo

distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Arquitetura 41

Objetos do acervo 23

artesanatoquiosque 16

camponesvida rural 15

religioso 11

culturatradiccedilatildeo 9

Vida em comunidade 8

106

parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil

A entrevistada complementa

Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)

Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e

ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem

da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna

negoacutecio

[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)

Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um

grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas

praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um

conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo

cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz

autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as

tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que

visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)

Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade

Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte

107

da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)

O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados

como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos

releva Choay (2001)

[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)

A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como

produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual

da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos

com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem

um espaccedilo significativo na miacutedia

A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)

A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no

seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o

pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70

anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA

2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante

renovaccedilatildeo

Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)

108

Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica

cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas

estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de

fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade

A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade

econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o

fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute

de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho

administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de

funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as

mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC

Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um

dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se

que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de

equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da

aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da

Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os

poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha

um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)

O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia

cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A

linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o

meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo

formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a

praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)

Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala

McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura

nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da

Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o

exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo

Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em

Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as

109

pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os

convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico

Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses

possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-

se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando

imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias

No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos

poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo

As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que

comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste

encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores

para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a

mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do

patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social

Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os

nossos pensamentos uma vez que

Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)

Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem

apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida

pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado

Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao

realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade

Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre

teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)

A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das

representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo

psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a

qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)

110

Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de

determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva

construiacuteda na linguagem dos sujeitos

Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)

No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do

pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo

Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)

Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos

inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas

reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees

sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber

e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se

constituem mutuamente

Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu

sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de

representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao

contexto em que se configuram

O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado

na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo

como o sistema social em que eacute gerado

Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do

processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social

podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel

do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel

coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p

111

167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte

do entrevistado temos o seguinte depoimento

Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)

Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho

arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos

das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP

Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994

FONTE IPPUC2015

Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo

urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno

conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial

originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado

atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de

apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do

Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo

houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro

112

baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do

mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos

fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um

equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade

poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um

quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um

museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto

que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem

dados para anaacutelise

Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das

primeiras casas do Memorial

Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)

Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob

responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na

estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez

seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu

e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da

paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele

periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no

decorrer do segundo capiacutetulo

Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve

ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa

Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica

20 GI Abreviatura Gina Issberner

113

SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)

SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)

O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere

ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586

imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado

pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)

Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)

O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para

as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em

depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca

prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de

Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com

a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a

revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)

A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se

enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos

que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma

imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas

arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do

poder puacuteblico

Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial

seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de

21 SP Abreviatura de Sergio Pires

114

implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o

vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na

direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje

Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da

Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos

Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a

Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio

do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e

Empresariais- FACIAP

O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como

coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica

PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial

para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da

entrevistada

A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um

parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)

Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de

organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A

entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em

Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram

o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)

Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora

de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade

do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees

perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento

socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para

a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)

Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador

Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo

subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento

europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo

115

subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam

absorvidos pelos nacionais

Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo

da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte

observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha

assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e

pelo municiacutepio

Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente

coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria

brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato

de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria

Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos

costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as

raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe

um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria

instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar

de uma mesma histoacuteria e memoacuteria

A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo

das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo

ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em

constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais

Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os

sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e

construccedilotildees de identidades

Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)

O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos

culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de

identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa

identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa

116

personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar

uma pluralidade em si

117

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as

representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de

seus visitantes gestores e idealizador

Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do

disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e

significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante

a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses

representados no Memorial

Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o

processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder

municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta

construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela

populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o

espaccedilo puacuteblico

Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e

bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de

conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-

artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da

fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que

prescinde da experiecircncia

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela

comunidade polonesa

Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos

urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos

da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes

poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender

alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de

Curitiba

118

A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta

pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade

mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria

das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social

antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser

compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica

A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais

uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado

grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos

visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que

permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da

regiatildeo de Curitiba

A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que

estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se

desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem

um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o

compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas

sociais

Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da

participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo

Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo

houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em

relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local

na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio

Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de

funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como

pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo

No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do

preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na

entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os

visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta

direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora

119

Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas

evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves

expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No

Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da

comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais

aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais

simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial

se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees

Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser

relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque

1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba

mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas

puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da

criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este

tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo

temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia

2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a

amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da

etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos

leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando

uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato

percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas

dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em

casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como

etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos

conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um

local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a

experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma

agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da

ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico

sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho

daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais

positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a

120

respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que

ocorreram ao longo do tempo

3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo

museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo

considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do

Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em

detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica

Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal

deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de

procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais

pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos

processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos

imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro

do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente

Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de

se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e

identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e

fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em

movimento suas praacuteticas sociais

121

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133

APEcircNDICES

134

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para

participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em

Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo

justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos

que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela

pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de

Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos

entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar

participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo

fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)

desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em

qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o

(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os

resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer

outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da

Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC

telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________________ fui informado

sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a

explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada

e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas

assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data __ __ ___

________________________ _________________________

Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador

135

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa em Curitiba

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES

QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA

Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e

querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto

FORMULAacuteRIO DE PESQUISA

1) Idade

1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50

2) Gecircnero

1) Masculino 2) Feminino

3) Natural de

1) Curitiba 2) Outro ________________

4) Escolaridade

( ) nenhuma

( ) 1ordm grau incompleto

( ) 1ordm grau completo

( ) 2ordm grau incompleto

( ) 2ordm grau completo

( ) superior incompleto

( ) superior completo

( ) poacutes-graduaccedilatildeo

136

5) Ocupaccedilatildeo

( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador

6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________

8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba

9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc

11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu

137

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da

pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a

responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo

eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo

na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos

seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a

promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir

em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de

retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem

nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo

receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados

no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato

com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em

contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -

Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu _________________________________ fui informado sobre o que o

pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por

isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso

sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por

mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data ___ ____ _____

_____________________________________________________

Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel

138

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo

de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA

FCC-CURITIBA

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial

1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os

dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

8 O museu do memorial foi criado por ato municipal

9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo

11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA

E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE

ABREU

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

139

6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo

ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

9 O museu do memorial foi criado por ato municipal

10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua

compreensatildeo

12 Como vocecirc se descreve como polonesa

13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER

1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais

museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a

sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa

2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do

memorial

5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE

POLONESA EM CURITIBA

1 Qual seu nome

2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial

140

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial

7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)

8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

141

ANEXOS

142

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP

143

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP

Page 2: UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE …

GINA ESTHER ISSBERNER

AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS DOS POLONESE NO MEMORIAL DA

IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA-PR

Dissertaccedilatildeo apresentada ao curso de Mestrado em Patrimocircnio Cultural e Sociedade da Universidade da Regiatildeo de Joinville (Univille) ndash como requisito parcial para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre Orientadora Profordf DraSandra Paschoal Leite de Camargo Guedes

Joinville ndash SC

2016

Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo pela Biblioteca Universitaacuteria da Univille

Issberner Gina Esther

I86rAs representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba-PRGina Esther Issberner orientadora Dra Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes ndash Joinville UNIVILLE 2016

143 f il 30 cm

Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Patrimocircnio Cultural e Sociedade

ndashUniversidade da Regiatildeo de Joinville)

1Imigrantes polonesesndashParanaacute 2 Patrimocircnio cultural3 Museus 4 MemorialIGuedes Sandra Paschoal Leite de Camargo (orient)II Tiacutetulo

CDD 3252438098162

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem como objetivo refletir sobre a importacircncia das representaccedilotildees sociais criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba Objetivou ainda analisar o processo de implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa na deacutecada de 1980 o conceito de memorial e seus diferentes usos as representaccedilotildees sociais dos imigrantes poloneses percebidos pelos visitantes gestores e idealizador do Memorial e os conceitos de patrimocircnio cultural e consumo aplicado na dinacircmica sociocultural do Memorial Constatamos que o Memorial eacute visto como equipamento urbaniacutestico inserido em uma proposta de city marketing constataccedilatildeo essa que pode ser reforccedilada pela ausecircncia de um projeto museoloacutegico para o memorial em estudo A reflexatildeo a respeito das representaccedilotildees sociais na oacutetica dos visitantes gestores e idealizador ocorreu em consonacircncia aos conteuacutedos desenvolvidos a partir de pesquisa qualitativa que envolveu revisatildeo bibliograacutefica levantamento documental 03 entrevistas semiestruturadas gravadas com os responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo e gestatildeo do Memorial como tambeacutem a aplicaccedilatildeo de 50 questionaacuterios junto a visitantes do memorial maiores de 21 anos de ambos os sexos A partir do entendimento sobre os memoriais enquanto espaccedilo de memoacuteria inseridos nos estudos relativos aos museus patrimocircnio cultural e representaccedilotildees sociais - na sua vertente teoacuterica de Serge Moscovici - fundamentamos o conteuacutedo das entrevistas e questionaacuterios de campo com a metodologia da anaacutelise criacutetica do discurso O resultado da anaacutelise das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba aleacutem de revelar que a imagem do imigrante polonecircs no Memorial estaacute correlacionada com a imagem do polonecircs de hoje apontou uma necessidade maior de procurar compreender como as representaccedilotildees e as narrativas dos discursos se relacionam com o processo de interpretaccedilatildeo do sujeito polonecircs no Memorial Palavras-chave Memorial Representaccedilotildees Sociais Museus Patrimocircnio Cultural

ABSTRACT

The aim of this dissertation is to discuss the importance of the social representations created by the Polish Immigration Memorial in Curitiba and to analyze the process of setting up the Polish Immigration Memorial in the 1980s the memorialrsquos concept and its different uses the social representations of Polish immigrants perceived by visitors managers and the memorialrsquos designer as well as the concepts of cultural heritage and consumption applied to the memorialrsquos socio-cultural dynamics We find that the memorial is seen as an urban tool inserted in a proposal of city marketing This finding can be strengthened by the absence of a museum-based project for the memorial under consideration in this study The consideration regarding social representations from the viewpoints of visitors managers and the memorialrsquos designer occurs in line with the contents developed from qualitative research which encompasses bibliographical review documental survey three semi-structural interviews recorded with the people responsible for the memorialrsquos implementation and management as well as the application of 50 questionnaires to both male and female visitors to the memorial who were over 21 years of age With the view that memorials are places to evoke memories which are part of studies on museums cultural heritage and social representations ndash true to the Serge Moscovici theoretical model we based the contents of the interviews and field questionnaires on the Critical Discourse Analysis methodology The result of the analysis of social representations of Polish people within the Polish Immigration Memorial in Curitiba besides revealing that the image of the Polish immigrant is correlated to the image of the Polish people nowadays demonstrates a greater need to understand how the representations and questionnaire interview narratives are related to the process of interpretation of Poles within the memorial Keywords Memorials Social Representations Museums Cultural Heritage

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15

Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho

1987 24

Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31

Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual

Joatildeo Paulo II 1915 32

Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33

Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34

Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37

Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de

Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38

Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38

Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40

Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41

Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local

de armazenamento de acervoMIP 42

Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43

Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44

Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44

Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45

Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de

Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa

Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48

Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um

momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas

comemoraccedilotildees natalinas 49

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do

Memorial Paacutescoa2016 49

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51

Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57

Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59

Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64

Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65

Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93

Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101

Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

97

Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

99

LISTA DE SIGLAS

ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso

COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus

FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais

FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute

FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRAM Instituto Brasileiro de Museus

ICOFOM International Committe for Museology

ICOM International Conciul of Museums

IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute

IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo

IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba

MINOM International Movement for a New Museology

MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa

SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UCL Universiteacute Catholique de Louvain

UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo

UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization

ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21

11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51

2 MEMORIAIS E MUSEUS 57

21 Os Memoriais 57

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67

23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77

32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89

34 Procedimentos de Pesquisa 91

35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117

REFEREcircNCIAS121

APEcircNDICES133

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

formulaacuterio134

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da

Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

gravaccedilatildeo de voz137

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no

processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em

Curitiba138

ANEXOS 141

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de

imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143

14

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial

se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e

particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias

e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido

O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido

por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees

culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna

A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais

data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com

a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil

dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom

a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo

na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo

de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial

a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba

1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico

15

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba

Fonte Curitiba (2010)

Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II

popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo

reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de

1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco

da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma

casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua

homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no

Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins

[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)

16

Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]

nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o

estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto

entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade

A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na

deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos

com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde

estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a

comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-

se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida

ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados

faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz

a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas

colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute

Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920

Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)

17

Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a

criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de

excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de

relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e

museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-

se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a

percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs

fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre

museu memoacuteria e identidade

Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se

principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais

disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas

perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com

profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas

possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social

do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos

visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural

Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os

visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da

importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o

impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens

construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas

indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a

trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba

Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do

Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores

novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados

Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente

quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores

e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera

influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a

18

Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a

delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada

A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de

documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com

entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios

de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses

procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-

culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as

representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para

chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em

trecircs capiacutetulos

Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano

discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de

Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing

e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)

Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)

Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)

(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de

Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade

como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura

(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e

Geissler(2004)

Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o

territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou

a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a

importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico

dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)

Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)

Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem

nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich

(2008)

No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas

especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da

19

Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica

a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de

memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira

(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e

Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova

Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury

(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)

Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural

memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)

Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho

(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)

No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees

sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)

(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)

Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)

Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o

propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees

sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo

(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati

Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)

Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)

e suas especificidades

Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa

com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no

Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de

Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e

Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo

(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas

do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)

complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)

e Choay (2001)

Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e

Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das

representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos

20

conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados

Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste

Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre

patrimocircnio cultural

21

1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA

Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico

que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias

da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e

quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho

local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a

desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como

produto de consumo cultural

No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da

Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura

em 1979visando

[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)

Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no

Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas

coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de

Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da

Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio

cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de

preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria

teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016

p1)

Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira

criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila

Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus

(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema

Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado

agrave Secretaria de Estado da Cultura

22

Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da

poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos

reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo

brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir

11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial

Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi

desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que

atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos

de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar

aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia

polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo

atual

Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que

faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade

O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)

Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos

que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da

desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a

soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo

(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na

centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de

Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa

de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo

metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e

consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte

da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut

23

(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a

seguinte colocaccedilatildeo

A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)

ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo

vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo

Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente

na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se

encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos

moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas

famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL

DO ESTADO p12 010287)

Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso

e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial

corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um

atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)

24

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987

Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987

Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia

ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que

a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de

seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do

historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute

necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites

dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das

memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico

Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da

aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho

e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos

proprietaacuterios

A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo

de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava

sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com

25

o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista

Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da

cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos

aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora

esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da

cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)

A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da

sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a

remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees

dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975

-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave

continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira

administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)

[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)

Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi

intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)

o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque

Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e

o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda

servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas

etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias

serviam para uso da populaccedilatildeo em geral

Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de

Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui

a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial

de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta

dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui

2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965

26

Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques

possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas

Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem

bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de

Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para

a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais

Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes

visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e

Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais

e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma

coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia

estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal

A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo

Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo

Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento

visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as

funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo

de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais

moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento

ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial

Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na

compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos

reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante

Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala

ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre

mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo

Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao

ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No

entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano

de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a

instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)

27

Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais

esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma

populaccedilatildeo de origem europeacuteia

A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)

Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba

segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da

cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada

pelos memoriais

A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)

De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser

referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um

problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e

que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)

Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua

identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que

possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento

e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)

A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia

criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a

fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala

sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas

simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)

28

O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade

e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio

fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de

Curitiba

No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder

que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente

poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico

manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens

urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua

forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem

sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)

Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy

quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele

[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)

A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida

dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa

estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na

populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das

parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a

indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo

toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica

a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas

urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)

No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha

a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa

Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo

das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios

de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city

marketing

29

Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3

Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como

uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees

sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e

as formas de viver o espaccedilo puacuteblico

Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como

tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a

possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais

A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)

Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses

(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em

accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um

sentimento de pertencimento

Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem

sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

30

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural

Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial

vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa

considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua

natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p

227)

Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive

gerando outras identidades

Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses

no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as

representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor

Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)

Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido

como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus

habitantes

Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem

do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade

polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da

cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as

particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no

proacuteximo item

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial

O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer

de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme

31

o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2

Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem

decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado

num bairro central de Curitiba

Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade

Fonte Curitiba (2010)

O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi

estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro

siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)

Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba

32

Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915

Fonte GEISSLER (2004)

Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e

utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da

casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes

para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de

56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste

da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo

Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo

(GEISSLER 2004 p224)

Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio

Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de

preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo

de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas

apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e

matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais

(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na

figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos

jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita

33

Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno

Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)

O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa

Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado

por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo

com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia

representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia

na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008

p97)

Portal Polonecircs

Rio Beleacutem

Entrada Secundaacuteria

Entrada Principal

34

Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial

Fonte Google maps (2016)

Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do

Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se

transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha

e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)

A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira

sobre o Rio Beleacutem

35

Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem

Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)

Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o

Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito

de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de

metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba

Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da

edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador

da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que

Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)

4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo

36

Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como

na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction

and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of

Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi

Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)

Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave

colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas

ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and

Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa

Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo

finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there

are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo

(SILEacuteN2008 p11)

Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram

desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo

da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do

Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo

(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir

detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem

acervo e edificaccedilotildees

Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa

avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa

Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em

1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de

Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II

rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por

Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute

preservado pela capela

5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo

37

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP

Fonte Figundio (2012)

Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da

Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As

comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se

atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte

Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo

Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia

38

Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP

Fonte Cequinel (2016)

Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois

outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o

costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe

da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como

sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)

39

Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP

Fonte Da Autora (2015)

Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins

na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico

devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo

e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi

permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de

contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a

necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas

praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes

as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias

que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma

diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)

Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a

Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda

de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra

ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para

descanso

40

Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP

Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB

No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas

procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas

ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces

Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do

perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma

de incentivo e desenvolvimento ao artesanato

41

Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP

FonteWpolityceForum2014

Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no

decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas

complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas

recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki

(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como

moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)

A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes

Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute

utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de

acervo

42

Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP

Fonte Papodeviajante(2008)

O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque

pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa

edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia

Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada

para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo

possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de

autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX

43

Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)

Fonte Savicki em 29082011

Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a

cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais

recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em

relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar

44

Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP

Fonte Da autora (2015)

Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que

pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de

Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de

armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico

Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP

Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)

45

Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo

procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski

utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas

Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP

Fonte Da autora (2015)

Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos

a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a

tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da

porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos

para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou

etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este

local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da

colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX

46

Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo

Fonte Da autora (2015)

Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na

colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia

de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute

utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem

nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio

comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da

Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e

valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses

47

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial

Fonte Da autora (2015)

A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um

grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais

festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial

com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a

famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os

alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees

religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia

[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)

48

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo

Fonte Curitiba (2016)

O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos

anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus

menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia

Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo

de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para

depois dar iniacutecio a ceia

49

Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas

Fonte Vacanzepoloniacom

As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da

Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas

civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016

Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II

50

No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao

Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi

concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico

e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque

Fonte feriasnowblog(2014)

De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do

parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da

teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs

Brac Dekoracyjny

51

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico

Fonte Curitiba Space (2016)

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia

parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de

parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba

A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico

do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve

relato sobre esta trajetoacuteria

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs

Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil

abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste

deslocamento

Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)

52

Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da

Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)

tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito

de naccedilatildeo

[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)

Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs

era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante

de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto

somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo

brasileirordquo

No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989

p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir

imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a

moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o

estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs

no Paranaacute em seus diversos aspectos

No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se

reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de

poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse

grupo social

Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita

agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio

cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio

Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)

53

De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a

constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera

que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem

recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram

marcados subjetivamente

Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica

ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal

e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees

ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e

de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)

Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta

investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da

pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de

ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a

rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de

interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees

sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma

viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista

estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de

imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica

de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos

imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a

respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba

Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)

54

Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute

se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses

e outrosrdquo

Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o

Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872

aconteceu com a ajuda oficial

O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)

Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute

Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas

cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital

Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a

funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme

o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)

No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas

Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da

proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da

colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo

(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins

criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil

Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba

sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se

fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da

historiadora Mafalda Sikora

55

A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)

No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas

considerando que

Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)

Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns

milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)

Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes

Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra

apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um

contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do

polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo

que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou

ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo

extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade

de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia

para o Brasil

[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo

56

polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)

A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma

ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas

brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012

p240)

A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto

abaixo

Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)

Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute

revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas

maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da

cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e

Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a

respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as

representaccedilotildees sociais

57

2 MEMORIAIS E MUSEUS

21 Os Memoriais

Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial

Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade

de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam

uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of

visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond

their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(

WILLIAMS 2007 p6)7

Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao

tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado

em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram

a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em

Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto

Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)

Fonte uacuteltimosegundo (2010)

6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram

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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world

war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization

has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)

No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente

pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas

com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que

caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave

necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais

O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a

respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais

as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e

siacutetio memorial

A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)

Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos

museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho

quanto agraves especificidades de cada termo

O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo

em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com

estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo

8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal

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In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)

O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da

fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais

conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou

foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere

abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de

Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque

terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo

papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o

impacto de forma continuada

Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)

Fonte Damon Winter The New York Times

10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista

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Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem

a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de

histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent

between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS

2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam

como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias

pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial

expressa algumas preocupaccedilotildees

A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12

O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus

memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento

das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de

ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo

solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and

impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes

espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal

No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses

objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e

11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel

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pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo

ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe

understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice

versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)

No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o

congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct

what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute

allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)

Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial

e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que

envolvem a sociedade contemporacircnea

Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a

realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo

especiacuteficos como no caso dos Memoriais

No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito

dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge

Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil

institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo

de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo

(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo

possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu

O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)

Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na

organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de

possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu

14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito

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No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como

o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem

de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante

Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus

implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)

direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de

estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos

podem ser definidos da seguinte forma

These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16

Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro

de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como

Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados

para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma

16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos

histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica

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cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e

teacutecnicas

Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP

dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa

de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender

viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre

eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees

com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)

Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva

ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave

comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas

instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em

termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia

em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos

de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de

memorial mas sim de museu

Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)

analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria

portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho

destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos

Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades

cidades fatos e acontecimentos

No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito

para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que

favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os

Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A

autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams

Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e

17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)

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satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)

Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito

dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as

instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)

Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional

de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave

apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem

grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer

que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram

diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes

formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais

Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)

Fonte Brasilgovbr 2016

Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades

do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos

mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com

projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu

Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a

histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS

Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de

estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura

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29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave

atualidade

Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP

Fonte tvbrasil ebccombr 2016

Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser

concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos

etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a

possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que

inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das

instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos

de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao

desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)

Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria

ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory

processes including the historical interpretation and the museums social

functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)

Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus

(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees

18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu

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e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o

territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das

comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como

instituiccedilotildees museoloacutegicas

As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e

os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de

delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao

retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais

dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos

parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e

sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem

a um novo paiacutes com cultura diversa da sua

Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de

caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas

funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos

referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender

viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo

de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica

e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao

desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo

de comemoraccedilotildees

Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta

um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute

que nos ateremos a seguir

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia

Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com

as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational

Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago

(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao

67

aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos

fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico

internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou

corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)

O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre

a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-

ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees

museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade

O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave

funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais

do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-

se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da

instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)

O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da

Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com

o apoio do ICOM

Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica

Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local

patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais

em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees

A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu

e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera

que

[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)

Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago

do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com

o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o

68

delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual

confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM

1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave

museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu

integral

A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da

Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na

Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada

O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e

reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho

Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o

museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a

manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela

delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta

questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no

Brasil em 1964

O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos

enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a

problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre

um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza

que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua

mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma

situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de

educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica

cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades

Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da

Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da

Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo

desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a

compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo

(CURY 2005 p 46)

No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984

em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo

os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas

69

que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)

Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu

estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade

A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)

Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa

Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc

Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute

causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil

Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida

a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos

museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute

que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo

(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora

Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)

Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da

funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do

Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a

aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele

periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras

Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em

1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para

uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a

divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA

NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e

divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas

70

experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao

colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO

2009 p 25)

O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas

museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo

francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as

possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo

O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)

Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de

Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo

social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]

relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade

agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio

institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)

Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como

patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer

museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto

Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para

atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela

SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)

A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas

propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades

de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem

no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como

nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo

Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a

uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas

71

paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute

museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)

Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao

conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua

instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do

patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo

estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda

do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)

O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus

incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a

diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu

estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem

desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial

O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)

Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por

ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de

estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais

Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas

(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina

Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse

da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo

(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de

Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma

naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e

espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)

72

Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo

direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais

representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado

por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees

Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade

visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o

reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas

ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do

mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais

complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)

No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus

reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como

consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio

cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem

abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a

serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na

medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o

tema proposto

23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural

tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura

um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo

polonesa da regiatildeo de Curitiba

Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave

comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos

anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de

uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e

espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)

Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal

mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada

comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura

73

No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute

compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico

ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de

significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)

Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de

maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por

Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos

A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)

O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos

processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto

cultural Para Moscovici

Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)

As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais

enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria

realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder

simboacutelico representadas no imaginaacuterio social

Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert

Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das

relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo

(DURANT apud COELHO 2004 p212)

Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo

social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e

objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O

imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos

alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)

74

Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades

Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades

nas sociedades contemporacircneas

A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)

As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em

constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este

sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute

de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico

Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista

sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu

passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos

criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com

a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que

[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)

Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a

problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o

que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu

conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no

presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum

Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador

francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre

problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um

elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA

1993 p9)

Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que

experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute

75

passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou

colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e

Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo

especiacutefico

Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)

Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de

preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e

grupo de pertencimento

Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da

identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma

sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum

processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)

No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos

centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de

vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este

posicionamento da seguinte forma

Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)

Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade

como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que

a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma

visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas

da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees

sociais

76

[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)

De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das

instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de

opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o

pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas

ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute

inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo

(ABRIC 2001 p156)

De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais

compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum

Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante

na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que

consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na

forma de imagens e conceitos

Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees

em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de

organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes

coletadas

77

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas

pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son

image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no

domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos

campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos

mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos

de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito

estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia

histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede

As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo

coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das

representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo

repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na

coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as

representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim

aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas

que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)

Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo

agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os

fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que

estatildeo inseridos

Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)

Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das

caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees

satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste

sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um

lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p

9)

78

Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram

posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais

sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos

posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como

um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo

consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)

Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta

que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas

praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados

assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e

comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida

cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta

maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das

sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea

do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)

O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre

transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas

como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam

continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []

elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das

representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo

Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)

As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro

transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e

adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem

compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo

os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia

eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de

79

um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo

(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)

As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre

grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma

representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma

linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas

representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se

como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do

mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano

As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo

o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores

Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo

presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira

O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)

Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento

reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade

do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido

Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro

numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p

13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o

reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas

a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e

imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes

significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de

outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus

discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em

80

termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de

representaccedilotildees sociais

Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das

coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos

estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia

individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de

salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e

arbitrariedade

Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir

Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)

Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de

investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de

Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas

praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da

comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as

palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar

equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)

Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici

alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma

forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica

e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social

(JODELET 2001 p 188)

Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar

nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas

em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social

Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os

indiviacuteduos

81

A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus

discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico

necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees

sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida

mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici

relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais

Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)

O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual

as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais

Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas

agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social

Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de

interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p

22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que

criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado

ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do

conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais

[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)

Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram

estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos

abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p

71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira

essecircncia da realidaderdquo

Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo

perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um

82

paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003

p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias

conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma

figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso

universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)

Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a

estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente

Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo

ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)

A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)

Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de

determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados

afirmam um viacutenculo social e uma identidade

As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)

No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem

como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza

certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da

realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave

comunidade

Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo

comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que

traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo

Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos

depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que

os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees

83

diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como

se refere Moscovici (1981)

A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na

necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os

comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da

experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos

agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito

museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem

No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas

preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos

de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo

como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva

(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura

iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias

imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)

Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo

ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo

em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria

importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no

artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como

ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)

Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute

esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender

quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do

Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista

Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash

Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)

traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas

Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le

Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de

Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase

nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de

comunicaccedilatildeo

84

Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo

ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os

museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento

de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus

Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na

concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso

dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram

gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu

Nacional de Histoacuteria Natural de Paris

Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de

Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT

com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma

ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)

cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde

acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade

representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de

Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees

culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano

Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de

Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em

Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses

constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees

Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea

De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute

como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os

proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre

Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja

Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as

85

forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)

Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder

como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como

construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou

ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria

pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento

Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)

A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem

como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser

reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de

representaccedilatildeo

As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)

Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se

delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo

instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que

contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas

86

A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto

intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo

vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a

textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado

segundo Rechena (2011) da seguinte forma

Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)

Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos

institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social

Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em

virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)

marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da

classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal

inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver

Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida

o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em

objeto de pesquisa

A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma

natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o

desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de

oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)

No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve

preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua

praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais

do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias

como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo

No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as

reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das

produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso

87

32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa

A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o

tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do

visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no

circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees

vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na

forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados

quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e

construir conclusotildees

O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)

Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com

informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas

conclusotildees

Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio

padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as

perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho

no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos

visitantes daquele espaccedilo cultural

A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI

LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo

que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se

que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem

Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa

Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua

importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados

para anaacutelise da seguinte forma a saber

1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do

Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa

88

2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa

os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas

3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e

disponibilidade dos participantes

4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas

dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21

anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o

formulaacuterio

5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e

discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo

social que se consolida como foco determinante neste estudo

No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo

visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como

tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais

Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as

teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos

a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a

autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de

sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De

acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os

pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm

sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao

contexto de sua produccedilatildeo

Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)

em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a

Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes

elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das

representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por

recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo

diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final

A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes

espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de

89

finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas

dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC

A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico

Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em

seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante

denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise

quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo

representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo

A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se

reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk

Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE

RAMALHO 2006 p20)

No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)

essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente

individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma

forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os

outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma

independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo

de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008

p 12)

Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e

ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor

sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como

atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais

Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas

poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de

representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social

existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma

condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor

O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem

90

suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)

Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das

preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas

de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH

2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo

e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)

Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici

quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle

de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo

estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)

Percebemos que ao utilizarmos a ADC

Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)

Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou

Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e

dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos

conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar

34 Procedimentos de Pesquisa

Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de

dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da

parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas

e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais

Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o

projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade

marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial

91

Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e

representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma

reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio

aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do

Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade

de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos

forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa

A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e

outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve

apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada

participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos

da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue

e assinado pelos entrevistados

Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora

iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as

perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes

responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo

das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar

voz ao discurso do visitante

Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)

foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal

(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento

(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar

algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na

estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial

O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi

elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos

dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como

os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos

pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como

92

pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos

poloneses no decorrer das respostas

As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento

do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do

Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como

poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de

uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas

para as escolhas

1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo

procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia

um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais

2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta

questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito

expositivo do Memorial

3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora

tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo

do visitante para o circuito do Memorial

4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos

efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs

5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o

polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais

as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram

atualmente na sociedade contemporacircnea

Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do

formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro

graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50

anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais

mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes

estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)

93

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por

turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada

com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio

Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

0 10 20 30 40 50 60 70

Fem64

Masc 36

Acima de 50 anos - 40

30 a 49 anos - 34

21 a 29 anos - 26

0 10 20 30 40 50 60

Turistas - 58

Curitibanos - 42

Outros paiacuteses - 8

Interior do PR - 6

Outros estados - 38

Curitiba - 42

94

Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade

superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico

3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo

compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados

Fonte Da autora (2015)

O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e

Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo

os usuaacuterios daquele espaccedilo

Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria

trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado

orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil

0 5 10 15 20 25 30 35

Ens fundincompleto - 6

Ens Fundamental - 26

Ensino meacutedio - 26

Ensino superior 24

Poacutes-graduaccedilatildeo - 34

95

Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total

Fonte Da autora (2015)

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total

Fonte Da Autora (2015)

O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a

maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua

caracteriacutestica como local de lazer

0 2 4 6 8 10 12

Estudante - 12

Aposentado - 12

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Autonomo - 2

0 2 4 6 8 10 12 14

Estudante - 14

Funcionaacuterio Puacuteblico - 12

Autocircnomo - 10

Aposentado - 8

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Dona de casa 2

96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial

aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as

associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar

mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes

Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades

atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que

caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los

Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do

imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas

ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste

quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes

de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as

pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa

religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a

identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que

a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -

rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores

que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a

religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Jaacute visitou o Memorial antes 68

Esta eacute a primeira visita - 32

Motivo da visita trabalho 2

Motivo da visita Lazer - 98

97

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo

(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante

polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo

(VALENTINI 1982 p25)

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo

As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural

20

2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)

15

3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia

Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia

8

4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais

5

5- Artesanatoacervo de objetos

Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo

do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante

Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas

Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos

dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio

98

Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo

Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura

similar da Europa

Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que

identificasse o local como polonecircs

No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a

atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos

objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local

chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito

Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo

TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES

1- Arquiteturacasa capela

Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos

visitantes

21

2- Objetos do acervo

Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de

polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)

20

3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo

Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante

5

4- Quiosque Artesanato

Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local

3

5- Escultura do Papa

Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante

polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de

tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes

99

nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal

de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens

em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo

simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial

reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses

e o gosto por festas

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

Arquiteturacasascapela

A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque

20

BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato

Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses

12

Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque

6

Indumentaacuteriafestas

Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial

6

Janelas com flores

Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado

4

Objetoscamacarroccedila

O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira

poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante

alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta

observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa

natildeo explica bemrdquo

Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a

decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza

romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada

Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a

privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social

sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de

100

Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos

e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica

de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus

A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza

na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as

autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a

necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem

acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo

vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em

aacuterea de risco social

Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha

que identificou o polonecircs com o que viu

O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes

da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com

algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos

como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses

No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o

grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com

o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe

principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas

apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo

de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao

destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na

comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do

espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo

19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)

101

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado

os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico

Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados

anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante

polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash

70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura

aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante

O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou

descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de

comentaacuterios

Esses discursos seratildeo comentados adiante

35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses

Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a

preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte

maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

4Natildeo conhece 42

3Sim Identificou 36

2Conhece mas natildeo identificou 20

1Natildeo respondeu 2

102

fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute

coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo

A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas

na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a

identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em

relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas

culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do

sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa

As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)

Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do

sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias

identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves

formas dos sistemas culturais existentes

No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com

algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos

conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes

1ordm Respondente

- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem

as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua

2ordm Respondente

-Eacute uma pessoa integrada no social

3ordm Respondente

- Natildeo consigo associar

Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos

poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em

referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue

103

associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As

falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar

4ordm Respondente

- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo

5ordm Respondente

- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar

maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social

considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete

aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute

propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse

ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a

proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo

democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural

agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado

Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar

que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que

circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da

cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em

suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele

equipamento cultural

De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio

ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as

informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo

com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em

contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade

da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da

Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na

sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo

natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma

antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre

a importacircncia da experiecircncia

104

[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)

Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove

que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo

algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos

discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita

significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de

conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente

possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a

representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente

elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de

uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as

narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam

a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo

coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento

A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses

no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos

sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do

visitante

Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no

graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo

(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque

A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo

dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o

visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser

valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de

estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do

Memorial

105

Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes

Fonte Da autora (2015)

Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos

apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da

diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de

Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais

Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de

informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de

representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas

relacionadas ao MIP

Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio

a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora

dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista

ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa

a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se

ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a

acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo

discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo

distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Arquitetura 41

Objetos do acervo 23

artesanatoquiosque 16

camponesvida rural 15

religioso 11

culturatradiccedilatildeo 9

Vida em comunidade 8

106

parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil

A entrevistada complementa

Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)

Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e

ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem

da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna

negoacutecio

[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)

Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um

grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas

praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um

conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo

cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz

autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as

tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que

visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)

Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade

Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte

107

da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)

O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados

como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos

releva Choay (2001)

[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)

A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como

produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual

da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos

com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem

um espaccedilo significativo na miacutedia

A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)

A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no

seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o

pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70

anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA

2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante

renovaccedilatildeo

Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)

108

Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica

cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas

estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de

fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade

A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade

econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o

fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute

de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho

administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de

funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as

mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC

Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um

dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se

que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de

equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da

aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da

Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os

poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha

um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)

O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia

cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A

linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o

meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo

formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a

praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)

Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala

McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura

nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da

Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o

exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo

Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em

Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as

109

pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os

convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico

Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses

possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-

se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando

imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias

No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos

poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo

As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que

comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste

encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores

para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a

mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do

patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social

Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os

nossos pensamentos uma vez que

Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)

Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem

apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida

pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado

Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao

realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade

Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre

teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)

A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das

representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo

psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a

qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)

110

Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de

determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva

construiacuteda na linguagem dos sujeitos

Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)

No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do

pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo

Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)

Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos

inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas

reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees

sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber

e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se

constituem mutuamente

Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu

sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de

representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao

contexto em que se configuram

O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado

na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo

como o sistema social em que eacute gerado

Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do

processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social

podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel

do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel

coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p

111

167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte

do entrevistado temos o seguinte depoimento

Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)

Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho

arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos

das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP

Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994

FONTE IPPUC2015

Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo

urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno

conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial

originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado

atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de

apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do

Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo

houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro

112

baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do

mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos

fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um

equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade

poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um

quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um

museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto

que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem

dados para anaacutelise

Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das

primeiras casas do Memorial

Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)

Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob

responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na

estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez

seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu

e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da

paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele

periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no

decorrer do segundo capiacutetulo

Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve

ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa

Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica

20 GI Abreviatura Gina Issberner

113

SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)

SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)

O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere

ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586

imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado

pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)

Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)

O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para

as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em

depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca

prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de

Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com

a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a

revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)

A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se

enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos

que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma

imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas

arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do

poder puacuteblico

Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial

seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de

21 SP Abreviatura de Sergio Pires

114

implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o

vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na

direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje

Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da

Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos

Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a

Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio

do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e

Empresariais- FACIAP

O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como

coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica

PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial

para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da

entrevistada

A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um

parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)

Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de

organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A

entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em

Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram

o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)

Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora

de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade

do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees

perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento

socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para

a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)

Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador

Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo

subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento

europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo

115

subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam

absorvidos pelos nacionais

Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo

da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte

observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha

assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e

pelo municiacutepio

Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente

coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria

brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato

de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria

Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos

costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as

raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe

um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria

instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar

de uma mesma histoacuteria e memoacuteria

A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo

das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo

ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em

constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais

Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os

sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e

construccedilotildees de identidades

Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)

O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos

culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de

identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa

identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa

116

personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar

uma pluralidade em si

117

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as

representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de

seus visitantes gestores e idealizador

Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do

disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e

significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante

a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses

representados no Memorial

Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o

processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder

municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta

construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela

populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o

espaccedilo puacuteblico

Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e

bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de

conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-

artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da

fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que

prescinde da experiecircncia

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela

comunidade polonesa

Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos

urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos

da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes

poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender

alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de

Curitiba

118

A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta

pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade

mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria

das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social

antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser

compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica

A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais

uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado

grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos

visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que

permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da

regiatildeo de Curitiba

A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que

estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se

desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem

um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o

compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas

sociais

Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da

participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo

Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo

houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em

relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local

na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio

Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de

funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como

pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo

No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do

preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na

entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os

visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta

direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora

119

Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas

evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves

expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No

Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da

comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais

aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais

simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial

se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees

Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser

relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque

1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba

mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas

puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da

criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este

tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo

temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia

2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a

amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da

etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos

leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando

uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato

percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas

dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em

casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como

etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos

conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um

local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a

experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma

agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da

ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico

sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho

daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais

positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a

120

respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que

ocorreram ao longo do tempo

3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo

museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo

considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do

Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em

detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica

Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal

deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de

procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais

pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos

processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos

imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro

do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente

Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de

se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e

identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e

fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em

movimento suas praacuteticas sociais

121

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VIEIRA A MC L Os Memoriais satildeo um novo gecircnero de museu Disponiacutevel em revistamuseucom18demaioartigosaspid=28640 acesso em 5 fev 2016

WACHOICZ R C As escolas da colonizaccedilatildeo polonesa no Brasil Curitiba Champagnat 2002 (Coleccedilatildeo gralha azul)

WACHOWICZ R C Por que preservar casas de troncosBoletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins Curitiba ano 8 n 551-8 jul1981WILLIAMS P Memorial Museums The Global Rush toCommemorateAtrocities Oxford UK Berg 2007

WINBERRY JJ The log house in MexicoAnnals of the Association of American Geographersv 64 n1USA 1974 Disponiacutevel em lthttponlinelibrarywileycomdoi101111j1467-83061974tb00954xabstractgt acesso em fev 2016

WINTERD The 911 Story Told at Bedrock Powerful as a Punch to the Gut Disponiacutevel emhttpwwwnytimescom20140514artsdesignsept-11-memorial-museum-at-ground-zero-prepares-for-openinghtml_r=0 Acesso em 3jul 2016

WOLNY A A polaca a mulata do avesso Revista Romacircnica Cracoviensia Universidade de Jagiellońskiego CracoacuteviaJa n 12 338-348 2012Disponiacutevel em httpwwwwujplUserFilesFileRomanica201233-Wolny-RC-12pdf Acesso 12032015

WPOLITYCE FORUM Disponiacutevel em httpwpolityceplspoleczenstwo202605-urodzila-sie-w-wilnie-byla-w-sowieckim-lagrze-pozniej-w-obozie-koncentracyjnym-dzis-brazylijski-park-jana-pawla-ii-to-cale-jej-zycie-zobacz-wideo2014 Acesso em set2016

133

APEcircNDICES

134

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para

participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em

Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo

justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos

que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela

pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de

Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos

entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar

participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo

fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)

desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em

qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o

(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os

resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer

outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da

Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC

telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________________ fui informado

sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a

explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada

e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas

assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data __ __ ___

________________________ _________________________

Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador

135

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa em Curitiba

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES

QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA

Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e

querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto

FORMULAacuteRIO DE PESQUISA

1) Idade

1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50

2) Gecircnero

1) Masculino 2) Feminino

3) Natural de

1) Curitiba 2) Outro ________________

4) Escolaridade

( ) nenhuma

( ) 1ordm grau incompleto

( ) 1ordm grau completo

( ) 2ordm grau incompleto

( ) 2ordm grau completo

( ) superior incompleto

( ) superior completo

( ) poacutes-graduaccedilatildeo

136

5) Ocupaccedilatildeo

( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador

6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________

8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba

9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc

11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu

137

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da

pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a

responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo

eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo

na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos

seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a

promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir

em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de

retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem

nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo

receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados

no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato

com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em

contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -

Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu _________________________________ fui informado sobre o que o

pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por

isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso

sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por

mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data ___ ____ _____

_____________________________________________________

Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel

138

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo

de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA

FCC-CURITIBA

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial

1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os

dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

8 O museu do memorial foi criado por ato municipal

9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo

11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA

E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE

ABREU

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

139

6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo

ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

9 O museu do memorial foi criado por ato municipal

10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua

compreensatildeo

12 Como vocecirc se descreve como polonesa

13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER

1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais

museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a

sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa

2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do

memorial

5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE

POLONESA EM CURITIBA

1 Qual seu nome

2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial

140

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial

7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)

8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

141

ANEXOS

142

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP

143

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP

Page 3: UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE …

Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo pela Biblioteca Universitaacuteria da Univille

Issberner Gina Esther

I86rAs representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba-PRGina Esther Issberner orientadora Dra Sandra Paschoal Leite de Camargo Guedes ndash Joinville UNIVILLE 2016

143 f il 30 cm

Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Patrimocircnio Cultural e Sociedade

ndashUniversidade da Regiatildeo de Joinville)

1Imigrantes polonesesndashParanaacute 2 Patrimocircnio cultural3 Museus 4 MemorialIGuedes Sandra Paschoal Leite de Camargo (orient)II Tiacutetulo

CDD 3252438098162

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem como objetivo refletir sobre a importacircncia das representaccedilotildees sociais criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba Objetivou ainda analisar o processo de implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa na deacutecada de 1980 o conceito de memorial e seus diferentes usos as representaccedilotildees sociais dos imigrantes poloneses percebidos pelos visitantes gestores e idealizador do Memorial e os conceitos de patrimocircnio cultural e consumo aplicado na dinacircmica sociocultural do Memorial Constatamos que o Memorial eacute visto como equipamento urbaniacutestico inserido em uma proposta de city marketing constataccedilatildeo essa que pode ser reforccedilada pela ausecircncia de um projeto museoloacutegico para o memorial em estudo A reflexatildeo a respeito das representaccedilotildees sociais na oacutetica dos visitantes gestores e idealizador ocorreu em consonacircncia aos conteuacutedos desenvolvidos a partir de pesquisa qualitativa que envolveu revisatildeo bibliograacutefica levantamento documental 03 entrevistas semiestruturadas gravadas com os responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo e gestatildeo do Memorial como tambeacutem a aplicaccedilatildeo de 50 questionaacuterios junto a visitantes do memorial maiores de 21 anos de ambos os sexos A partir do entendimento sobre os memoriais enquanto espaccedilo de memoacuteria inseridos nos estudos relativos aos museus patrimocircnio cultural e representaccedilotildees sociais - na sua vertente teoacuterica de Serge Moscovici - fundamentamos o conteuacutedo das entrevistas e questionaacuterios de campo com a metodologia da anaacutelise criacutetica do discurso O resultado da anaacutelise das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba aleacutem de revelar que a imagem do imigrante polonecircs no Memorial estaacute correlacionada com a imagem do polonecircs de hoje apontou uma necessidade maior de procurar compreender como as representaccedilotildees e as narrativas dos discursos se relacionam com o processo de interpretaccedilatildeo do sujeito polonecircs no Memorial Palavras-chave Memorial Representaccedilotildees Sociais Museus Patrimocircnio Cultural

ABSTRACT

The aim of this dissertation is to discuss the importance of the social representations created by the Polish Immigration Memorial in Curitiba and to analyze the process of setting up the Polish Immigration Memorial in the 1980s the memorialrsquos concept and its different uses the social representations of Polish immigrants perceived by visitors managers and the memorialrsquos designer as well as the concepts of cultural heritage and consumption applied to the memorialrsquos socio-cultural dynamics We find that the memorial is seen as an urban tool inserted in a proposal of city marketing This finding can be strengthened by the absence of a museum-based project for the memorial under consideration in this study The consideration regarding social representations from the viewpoints of visitors managers and the memorialrsquos designer occurs in line with the contents developed from qualitative research which encompasses bibliographical review documental survey three semi-structural interviews recorded with the people responsible for the memorialrsquos implementation and management as well as the application of 50 questionnaires to both male and female visitors to the memorial who were over 21 years of age With the view that memorials are places to evoke memories which are part of studies on museums cultural heritage and social representations ndash true to the Serge Moscovici theoretical model we based the contents of the interviews and field questionnaires on the Critical Discourse Analysis methodology The result of the analysis of social representations of Polish people within the Polish Immigration Memorial in Curitiba besides revealing that the image of the Polish immigrant is correlated to the image of the Polish people nowadays demonstrates a greater need to understand how the representations and questionnaire interview narratives are related to the process of interpretation of Poles within the memorial Keywords Memorials Social Representations Museums Cultural Heritage

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15

Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho

1987 24

Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31

Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual

Joatildeo Paulo II 1915 32

Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33

Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34

Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37

Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de

Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38

Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38

Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40

Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41

Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local

de armazenamento de acervoMIP 42

Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43

Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44

Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44

Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45

Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de

Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa

Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48

Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um

momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas

comemoraccedilotildees natalinas 49

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do

Memorial Paacutescoa2016 49

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51

Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57

Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59

Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64

Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65

Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93

Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101

Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

97

Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

99

LISTA DE SIGLAS

ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso

COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus

FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais

FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute

FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRAM Instituto Brasileiro de Museus

ICOFOM International Committe for Museology

ICOM International Conciul of Museums

IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute

IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo

IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba

MINOM International Movement for a New Museology

MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa

SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UCL Universiteacute Catholique de Louvain

UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo

UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization

ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21

11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51

2 MEMORIAIS E MUSEUS 57

21 Os Memoriais 57

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67

23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77

32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89

34 Procedimentos de Pesquisa 91

35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117

REFEREcircNCIAS121

APEcircNDICES133

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

formulaacuterio134

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da

Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

gravaccedilatildeo de voz137

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no

processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em

Curitiba138

ANEXOS 141

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de

imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143

14

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial

se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e

particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias

e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido

O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido

por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees

culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna

A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais

data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com

a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil

dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom

a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo

na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo

de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial

a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba

1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico

15

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba

Fonte Curitiba (2010)

Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II

popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo

reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de

1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco

da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma

casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua

homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no

Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins

[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)

16

Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]

nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o

estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto

entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade

A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na

deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos

com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde

estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a

comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-

se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida

ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados

faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz

a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas

colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute

Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920

Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)

17

Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a

criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de

excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de

relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e

museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-

se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a

percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs

fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre

museu memoacuteria e identidade

Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se

principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais

disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas

perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com

profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas

possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social

do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos

visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural

Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os

visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da

importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o

impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens

construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas

indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a

trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba

Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do

Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores

novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados

Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente

quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores

e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera

influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a

18

Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a

delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada

A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de

documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com

entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios

de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses

procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-

culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as

representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para

chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em

trecircs capiacutetulos

Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano

discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de

Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing

e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)

Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)

Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)

(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de

Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade

como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura

(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e

Geissler(2004)

Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o

territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou

a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a

importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico

dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)

Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)

Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem

nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich

(2008)

No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas

especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da

19

Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica

a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de

memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira

(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e

Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova

Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury

(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)

Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural

memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)

Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho

(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)

No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees

sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)

(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)

Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)

Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o

propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees

sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo

(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati

Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)

Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)

e suas especificidades

Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa

com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no

Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de

Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e

Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo

(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas

do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)

complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)

e Choay (2001)

Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e

Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das

representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos

20

conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados

Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste

Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre

patrimocircnio cultural

21

1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA

Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico

que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias

da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e

quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho

local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a

desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como

produto de consumo cultural

No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da

Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura

em 1979visando

[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)

Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no

Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas

coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de

Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da

Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio

cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de

preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria

teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016

p1)

Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira

criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila

Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus

(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema

Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado

agrave Secretaria de Estado da Cultura

22

Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da

poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos

reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo

brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir

11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial

Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi

desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que

atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos

de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar

aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia

polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo

atual

Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que

faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade

O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)

Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos

que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da

desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a

soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo

(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na

centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de

Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa

de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo

metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e

consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte

da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut

23

(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a

seguinte colocaccedilatildeo

A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)

ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo

vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo

Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente

na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se

encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos

moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas

famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL

DO ESTADO p12 010287)

Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso

e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial

corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um

atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)

24

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987

Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987

Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia

ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que

a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de

seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do

historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute

necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites

dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das

memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico

Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da

aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho

e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos

proprietaacuterios

A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo

de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava

sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com

25

o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista

Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da

cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos

aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora

esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da

cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)

A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da

sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a

remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees

dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975

-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave

continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira

administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)

[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)

Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi

intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)

o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque

Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e

o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda

servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas

etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias

serviam para uso da populaccedilatildeo em geral

Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de

Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui

a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial

de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta

dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui

2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965

26

Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques

possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas

Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem

bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de

Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para

a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais

Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes

visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e

Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais

e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma

coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia

estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal

A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo

Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo

Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento

visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as

funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo

de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais

moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento

ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial

Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na

compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos

reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante

Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala

ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre

mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo

Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao

ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No

entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano

de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a

instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)

27

Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais

esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma

populaccedilatildeo de origem europeacuteia

A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)

Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba

segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da

cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada

pelos memoriais

A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)

De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser

referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um

problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e

que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)

Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua

identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que

possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento

e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)

A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia

criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a

fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala

sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas

simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)

28

O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade

e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio

fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de

Curitiba

No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder

que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente

poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico

manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens

urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua

forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem

sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)

Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy

quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele

[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)

A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida

dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa

estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na

populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das

parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a

indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo

toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica

a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas

urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)

No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha

a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa

Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo

das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios

de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city

marketing

29

Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3

Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como

uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees

sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e

as formas de viver o espaccedilo puacuteblico

Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como

tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a

possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais

A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)

Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses

(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em

accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um

sentimento de pertencimento

Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem

sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

30

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural

Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial

vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa

considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua

natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p

227)

Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive

gerando outras identidades

Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses

no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as

representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor

Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)

Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido

como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus

habitantes

Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem

do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade

polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da

cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as

particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no

proacuteximo item

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial

O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer

de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme

31

o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2

Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem

decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado

num bairro central de Curitiba

Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade

Fonte Curitiba (2010)

O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi

estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro

siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)

Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba

32

Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915

Fonte GEISSLER (2004)

Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e

utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da

casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes

para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de

56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste

da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo

Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo

(GEISSLER 2004 p224)

Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio

Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de

preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo

de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas

apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e

matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais

(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na

figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos

jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita

33

Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno

Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)

O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa

Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado

por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo

com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia

representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia

na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008

p97)

Portal Polonecircs

Rio Beleacutem

Entrada Secundaacuteria

Entrada Principal

34

Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial

Fonte Google maps (2016)

Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do

Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se

transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha

e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)

A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira

sobre o Rio Beleacutem

35

Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem

Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)

Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o

Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito

de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de

metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba

Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da

edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador

da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que

Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)

4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo

36

Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como

na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction

and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of

Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi

Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)

Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave

colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas

ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and

Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa

Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo

finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there

are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo

(SILEacuteN2008 p11)

Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram

desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo

da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do

Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo

(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir

detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem

acervo e edificaccedilotildees

Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa

avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa

Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em

1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de

Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II

rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por

Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute

preservado pela capela

5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo

37

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP

Fonte Figundio (2012)

Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da

Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As

comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se

atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte

Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo

Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia

38

Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP

Fonte Cequinel (2016)

Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois

outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o

costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe

da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como

sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)

39

Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP

Fonte Da Autora (2015)

Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins

na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico

devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo

e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi

permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de

contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a

necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas

praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes

as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias

que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma

diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)

Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a

Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda

de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra

ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para

descanso

40

Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP

Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB

No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas

procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas

ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces

Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do

perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma

de incentivo e desenvolvimento ao artesanato

41

Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP

FonteWpolityceForum2014

Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no

decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas

complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas

recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki

(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como

moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)

A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes

Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute

utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de

acervo

42

Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP

Fonte Papodeviajante(2008)

O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque

pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa

edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia

Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada

para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo

possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de

autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX

43

Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)

Fonte Savicki em 29082011

Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a

cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais

recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em

relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar

44

Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP

Fonte Da autora (2015)

Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que

pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de

Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de

armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico

Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP

Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)

45

Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo

procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski

utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas

Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP

Fonte Da autora (2015)

Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos

a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a

tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da

porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos

para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou

etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este

local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da

colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX

46

Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo

Fonte Da autora (2015)

Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na

colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia

de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute

utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem

nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio

comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da

Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e

valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses

47

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial

Fonte Da autora (2015)

A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um

grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais

festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial

com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a

famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os

alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees

religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia

[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)

48

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo

Fonte Curitiba (2016)

O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos

anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus

menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia

Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo

de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para

depois dar iniacutecio a ceia

49

Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas

Fonte Vacanzepoloniacom

As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da

Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas

civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016

Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II

50

No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao

Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi

concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico

e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque

Fonte feriasnowblog(2014)

De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do

parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da

teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs

Brac Dekoracyjny

51

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico

Fonte Curitiba Space (2016)

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia

parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de

parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba

A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico

do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve

relato sobre esta trajetoacuteria

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs

Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil

abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste

deslocamento

Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)

52

Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da

Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)

tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito

de naccedilatildeo

[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)

Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs

era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante

de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto

somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo

brasileirordquo

No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989

p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir

imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a

moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o

estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs

no Paranaacute em seus diversos aspectos

No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se

reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de

poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse

grupo social

Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita

agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio

cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio

Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)

53

De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a

constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera

que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem

recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram

marcados subjetivamente

Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica

ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal

e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees

ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e

de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)

Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta

investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da

pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de

ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a

rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de

interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees

sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma

viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista

estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de

imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica

de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos

imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a

respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba

Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)

54

Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute

se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses

e outrosrdquo

Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o

Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872

aconteceu com a ajuda oficial

O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)

Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute

Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas

cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital

Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a

funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme

o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)

No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas

Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da

proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da

colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo

(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins

criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil

Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba

sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se

fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da

historiadora Mafalda Sikora

55

A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)

No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas

considerando que

Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)

Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns

milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)

Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes

Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra

apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um

contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do

polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo

que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou

ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo

extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade

de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia

para o Brasil

[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo

56

polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)

A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma

ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas

brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012

p240)

A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto

abaixo

Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)

Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute

revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas

maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da

cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e

Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a

respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as

representaccedilotildees sociais

57

2 MEMORIAIS E MUSEUS

21 Os Memoriais

Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial

Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade

de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam

uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of

visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond

their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(

WILLIAMS 2007 p6)7

Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao

tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado

em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram

a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em

Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto

Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)

Fonte uacuteltimosegundo (2010)

6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram

58

Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world

war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization

has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)

No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente

pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas

com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que

caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave

necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais

O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a

respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais

as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e

siacutetio memorial

A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)

Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos

museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho

quanto agraves especificidades de cada termo

O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo

em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com

estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo

8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal

59

In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)

O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da

fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais

conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou

foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere

abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de

Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque

terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo

papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o

impacto de forma continuada

Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)

Fonte Damon Winter The New York Times

10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista

60

Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem

a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de

histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent

between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS

2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam

como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias

pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial

expressa algumas preocupaccedilotildees

A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12

O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus

memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento

das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de

ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo

solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and

impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes

espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal

No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses

objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e

11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel

61

pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo

ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe

understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice

versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)

No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o

congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct

what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute

allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)

Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial

e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que

envolvem a sociedade contemporacircnea

Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a

realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo

especiacuteficos como no caso dos Memoriais

No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito

dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge

Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil

institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo

de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo

(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo

possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu

O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)

Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na

organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de

possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu

14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito

62

No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como

o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem

de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante

Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus

implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)

direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de

estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos

podem ser definidos da seguinte forma

These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16

Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro

de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como

Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados

para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma

16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos

histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica

63

cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e

teacutecnicas

Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP

dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa

de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender

viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre

eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees

com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)

Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva

ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave

comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas

instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em

termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia

em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos

de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de

memorial mas sim de museu

Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)

analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria

portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho

destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos

Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades

cidades fatos e acontecimentos

No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito

para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que

favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os

Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A

autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams

Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e

17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)

64

satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)

Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito

dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as

instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)

Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional

de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave

apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem

grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer

que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram

diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes

formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais

Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)

Fonte Brasilgovbr 2016

Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades

do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos

mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com

projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu

Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a

histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS

Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de

estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura

65

29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave

atualidade

Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP

Fonte tvbrasil ebccombr 2016

Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser

concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos

etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a

possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que

inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das

instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos

de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao

desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)

Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria

ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory

processes including the historical interpretation and the museums social

functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)

Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus

(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees

18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu

66

e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o

territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das

comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como

instituiccedilotildees museoloacutegicas

As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e

os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de

delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao

retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais

dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos

parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e

sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem

a um novo paiacutes com cultura diversa da sua

Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de

caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas

funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos

referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender

viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo

de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica

e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao

desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo

de comemoraccedilotildees

Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta

um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute

que nos ateremos a seguir

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia

Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com

as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational

Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago

(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao

67

aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos

fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico

internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou

corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)

O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre

a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-

ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees

museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade

O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave

funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais

do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-

se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da

instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)

O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da

Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com

o apoio do ICOM

Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica

Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local

patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais

em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees

A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu

e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera

que

[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)

Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago

do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com

o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o

68

delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual

confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM

1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave

museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu

integral

A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da

Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na

Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada

O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e

reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho

Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o

museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a

manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela

delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta

questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no

Brasil em 1964

O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos

enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a

problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre

um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza

que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua

mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma

situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de

educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica

cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades

Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da

Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da

Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo

desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a

compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo

(CURY 2005 p 46)

No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984

em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo

os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas

69

que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)

Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu

estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade

A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)

Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa

Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc

Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute

causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil

Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida

a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos

museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute

que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo

(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora

Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)

Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da

funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do

Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a

aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele

periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras

Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em

1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para

uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a

divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA

NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e

divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas

70

experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao

colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO

2009 p 25)

O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas

museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo

francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as

possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo

O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)

Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de

Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo

social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]

relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade

agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio

institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)

Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como

patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer

museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto

Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para

atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela

SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)

A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas

propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades

de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem

no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como

nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo

Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a

uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas

71

paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute

museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)

Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao

conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua

instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do

patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo

estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda

do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)

O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus

incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a

diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu

estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem

desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial

O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)

Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por

ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de

estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais

Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas

(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina

Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse

da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo

(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de

Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma

naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e

espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)

72

Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo

direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais

representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado

por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees

Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade

visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o

reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas

ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do

mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais

complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)

No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus

reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como

consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio

cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem

abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a

serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na

medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o

tema proposto

23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural

tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura

um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo

polonesa da regiatildeo de Curitiba

Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave

comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos

anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de

uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e

espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)

Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal

mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada

comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura

73

No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute

compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico

ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de

significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)

Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de

maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por

Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos

A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)

O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos

processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto

cultural Para Moscovici

Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)

As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais

enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria

realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder

simboacutelico representadas no imaginaacuterio social

Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert

Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das

relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo

(DURANT apud COELHO 2004 p212)

Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo

social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e

objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O

imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos

alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)

74

Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades

Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades

nas sociedades contemporacircneas

A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)

As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em

constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este

sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute

de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico

Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista

sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu

passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos

criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com

a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que

[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)

Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a

problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o

que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu

conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no

presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum

Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador

francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre

problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um

elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA

1993 p9)

Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que

experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute

75

passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou

colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e

Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo

especiacutefico

Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)

Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de

preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e

grupo de pertencimento

Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da

identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma

sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum

processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)

No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos

centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de

vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este

posicionamento da seguinte forma

Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)

Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade

como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que

a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma

visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas

da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees

sociais

76

[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)

De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das

instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de

opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o

pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas

ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute

inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo

(ABRIC 2001 p156)

De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais

compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum

Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante

na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que

consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na

forma de imagens e conceitos

Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees

em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de

organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes

coletadas

77

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas

pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son

image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no

domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos

campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos

mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos

de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito

estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia

histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede

As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo

coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das

representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo

repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na

coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as

representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim

aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas

que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)

Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo

agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os

fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que

estatildeo inseridos

Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)

Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das

caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees

satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste

sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um

lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p

9)

78

Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram

posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais

sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos

posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como

um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo

consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)

Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta

que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas

praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados

assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e

comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida

cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta

maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das

sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea

do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)

O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre

transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas

como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam

continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []

elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das

representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo

Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)

As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro

transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e

adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem

compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo

os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia

eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de

79

um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo

(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)

As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre

grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma

representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma

linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas

representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se

como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do

mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano

As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo

o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores

Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo

presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira

O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)

Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento

reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade

do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido

Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro

numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p

13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o

reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas

a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e

imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes

significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de

outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus

discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em

80

termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de

representaccedilotildees sociais

Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das

coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos

estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia

individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de

salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e

arbitrariedade

Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir

Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)

Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de

investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de

Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas

praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da

comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as

palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar

equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)

Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici

alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma

forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica

e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social

(JODELET 2001 p 188)

Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar

nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas

em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social

Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os

indiviacuteduos

81

A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus

discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico

necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees

sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida

mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici

relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais

Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)

O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual

as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais

Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas

agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social

Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de

interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p

22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que

criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado

ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do

conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais

[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)

Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram

estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos

abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p

71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira

essecircncia da realidaderdquo

Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo

perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um

82

paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003

p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias

conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma

figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso

universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)

Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a

estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente

Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo

ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)

A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)

Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de

determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados

afirmam um viacutenculo social e uma identidade

As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)

No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem

como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza

certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da

realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave

comunidade

Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo

comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que

traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo

Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos

depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que

os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees

83

diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como

se refere Moscovici (1981)

A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na

necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os

comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da

experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos

agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito

museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem

No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas

preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos

de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo

como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva

(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura

iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias

imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)

Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo

ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo

em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria

importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no

artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como

ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)

Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute

esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender

quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do

Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista

Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash

Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)

traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas

Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le

Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de

Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase

nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de

comunicaccedilatildeo

84

Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo

ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os

museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento

de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus

Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na

concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso

dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram

gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu

Nacional de Histoacuteria Natural de Paris

Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de

Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT

com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma

ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)

cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde

acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade

representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de

Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees

culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano

Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de

Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em

Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses

constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees

Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea

De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute

como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os

proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre

Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja

Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as

85

forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)

Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder

como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como

construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou

ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria

pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento

Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)

A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem

como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser

reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de

representaccedilatildeo

As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)

Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se

delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo

instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que

contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas

86

A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto

intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo

vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a

textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado

segundo Rechena (2011) da seguinte forma

Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)

Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos

institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social

Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em

virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)

marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da

classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal

inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver

Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida

o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em

objeto de pesquisa

A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma

natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o

desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de

oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)

No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve

preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua

praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais

do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias

como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo

No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as

reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das

produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso

87

32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa

A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o

tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do

visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no

circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees

vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na

forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados

quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e

construir conclusotildees

O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)

Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com

informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas

conclusotildees

Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio

padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as

perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho

no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos

visitantes daquele espaccedilo cultural

A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI

LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo

que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se

que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem

Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa

Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua

importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados

para anaacutelise da seguinte forma a saber

1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do

Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa

88

2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa

os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas

3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e

disponibilidade dos participantes

4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas

dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21

anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o

formulaacuterio

5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e

discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo

social que se consolida como foco determinante neste estudo

No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo

visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como

tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais

Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as

teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos

a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a

autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de

sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De

acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os

pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm

sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao

contexto de sua produccedilatildeo

Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)

em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a

Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes

elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das

representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por

recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo

diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final

A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes

espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de

89

finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas

dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC

A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico

Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em

seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante

denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise

quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo

representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo

A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se

reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk

Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE

RAMALHO 2006 p20)

No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)

essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente

individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma

forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os

outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma

independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo

de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008

p 12)

Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e

ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor

sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como

atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais

Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas

poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de

representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social

existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma

condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor

O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem

90

suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)

Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das

preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas

de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH

2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo

e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)

Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici

quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle

de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo

estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)

Percebemos que ao utilizarmos a ADC

Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)

Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou

Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e

dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos

conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar

34 Procedimentos de Pesquisa

Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de

dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da

parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas

e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais

Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o

projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade

marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial

91

Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e

representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma

reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio

aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do

Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade

de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos

forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa

A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e

outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve

apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada

participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos

da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue

e assinado pelos entrevistados

Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora

iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as

perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes

responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo

das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar

voz ao discurso do visitante

Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)

foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal

(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento

(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar

algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na

estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial

O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi

elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos

dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como

os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos

pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como

92

pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos

poloneses no decorrer das respostas

As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento

do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do

Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como

poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de

uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas

para as escolhas

1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo

procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia

um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais

2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta

questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito

expositivo do Memorial

3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora

tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo

do visitante para o circuito do Memorial

4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos

efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs

5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o

polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais

as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram

atualmente na sociedade contemporacircnea

Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do

formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro

graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50

anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais

mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes

estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)

93

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por

turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada

com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio

Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

0 10 20 30 40 50 60 70

Fem64

Masc 36

Acima de 50 anos - 40

30 a 49 anos - 34

21 a 29 anos - 26

0 10 20 30 40 50 60

Turistas - 58

Curitibanos - 42

Outros paiacuteses - 8

Interior do PR - 6

Outros estados - 38

Curitiba - 42

94

Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade

superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico

3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo

compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados

Fonte Da autora (2015)

O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e

Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo

os usuaacuterios daquele espaccedilo

Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria

trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado

orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil

0 5 10 15 20 25 30 35

Ens fundincompleto - 6

Ens Fundamental - 26

Ensino meacutedio - 26

Ensino superior 24

Poacutes-graduaccedilatildeo - 34

95

Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total

Fonte Da autora (2015)

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total

Fonte Da Autora (2015)

O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a

maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua

caracteriacutestica como local de lazer

0 2 4 6 8 10 12

Estudante - 12

Aposentado - 12

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Autonomo - 2

0 2 4 6 8 10 12 14

Estudante - 14

Funcionaacuterio Puacuteblico - 12

Autocircnomo - 10

Aposentado - 8

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Dona de casa 2

96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial

aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as

associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar

mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes

Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades

atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que

caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los

Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do

imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas

ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste

quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes

de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as

pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa

religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a

identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que

a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -

rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores

que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a

religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Jaacute visitou o Memorial antes 68

Esta eacute a primeira visita - 32

Motivo da visita trabalho 2

Motivo da visita Lazer - 98

97

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo

(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante

polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo

(VALENTINI 1982 p25)

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo

As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural

20

2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)

15

3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia

Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia

8

4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais

5

5- Artesanatoacervo de objetos

Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo

do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante

Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas

Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos

dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio

98

Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo

Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura

similar da Europa

Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que

identificasse o local como polonecircs

No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a

atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos

objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local

chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito

Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo

TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES

1- Arquiteturacasa capela

Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos

visitantes

21

2- Objetos do acervo

Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de

polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)

20

3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo

Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante

5

4- Quiosque Artesanato

Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local

3

5- Escultura do Papa

Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante

polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de

tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes

99

nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal

de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens

em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo

simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial

reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses

e o gosto por festas

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

Arquiteturacasascapela

A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque

20

BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato

Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses

12

Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque

6

Indumentaacuteriafestas

Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial

6

Janelas com flores

Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado

4

Objetoscamacarroccedila

O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira

poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante

alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta

observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa

natildeo explica bemrdquo

Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a

decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza

romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada

Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a

privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social

sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de

100

Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos

e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica

de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus

A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza

na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as

autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a

necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem

acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo

vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em

aacuterea de risco social

Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha

que identificou o polonecircs com o que viu

O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes

da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com

algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos

como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses

No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o

grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com

o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe

principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas

apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo

de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao

destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na

comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do

espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo

19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)

101

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado

os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico

Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados

anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante

polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash

70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura

aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante

O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou

descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de

comentaacuterios

Esses discursos seratildeo comentados adiante

35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses

Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a

preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte

maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

4Natildeo conhece 42

3Sim Identificou 36

2Conhece mas natildeo identificou 20

1Natildeo respondeu 2

102

fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute

coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo

A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas

na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a

identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em

relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas

culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do

sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa

As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)

Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do

sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias

identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves

formas dos sistemas culturais existentes

No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com

algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos

conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes

1ordm Respondente

- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem

as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua

2ordm Respondente

-Eacute uma pessoa integrada no social

3ordm Respondente

- Natildeo consigo associar

Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos

poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em

referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue

103

associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As

falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar

4ordm Respondente

- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo

5ordm Respondente

- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar

maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social

considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete

aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute

propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse

ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a

proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo

democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural

agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado

Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar

que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que

circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da

cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em

suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele

equipamento cultural

De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio

ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as

informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo

com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em

contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade

da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da

Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na

sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo

natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma

antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre

a importacircncia da experiecircncia

104

[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)

Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove

que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo

algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos

discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita

significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de

conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente

possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a

representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente

elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de

uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as

narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam

a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo

coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento

A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses

no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos

sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do

visitante

Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no

graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo

(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque

A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo

dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o

visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser

valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de

estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do

Memorial

105

Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes

Fonte Da autora (2015)

Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos

apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da

diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de

Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais

Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de

informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de

representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas

relacionadas ao MIP

Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio

a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora

dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista

ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa

a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se

ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a

acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo

discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo

distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Arquitetura 41

Objetos do acervo 23

artesanatoquiosque 16

camponesvida rural 15

religioso 11

culturatradiccedilatildeo 9

Vida em comunidade 8

106

parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil

A entrevistada complementa

Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)

Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e

ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem

da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna

negoacutecio

[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)

Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um

grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas

praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um

conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo

cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz

autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as

tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que

visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)

Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade

Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte

107

da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)

O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados

como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos

releva Choay (2001)

[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)

A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como

produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual

da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos

com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem

um espaccedilo significativo na miacutedia

A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)

A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no

seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o

pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70

anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA

2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante

renovaccedilatildeo

Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)

108

Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica

cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas

estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de

fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade

A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade

econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o

fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute

de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho

administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de

funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as

mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC

Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um

dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se

que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de

equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da

aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da

Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os

poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha

um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)

O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia

cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A

linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o

meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo

formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a

praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)

Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala

McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura

nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da

Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o

exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo

Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em

Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as

109

pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os

convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico

Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses

possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-

se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando

imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias

No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos

poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo

As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que

comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste

encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores

para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a

mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do

patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social

Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os

nossos pensamentos uma vez que

Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)

Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem

apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida

pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado

Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao

realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade

Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre

teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)

A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das

representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo

psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a

qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)

110

Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de

determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva

construiacuteda na linguagem dos sujeitos

Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)

No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do

pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo

Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)

Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos

inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas

reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees

sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber

e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se

constituem mutuamente

Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu

sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de

representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao

contexto em que se configuram

O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado

na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo

como o sistema social em que eacute gerado

Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do

processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social

podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel

do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel

coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p

111

167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte

do entrevistado temos o seguinte depoimento

Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)

Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho

arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos

das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP

Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994

FONTE IPPUC2015

Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo

urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno

conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial

originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado

atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de

apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do

Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo

houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro

112

baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do

mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos

fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um

equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade

poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um

quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um

museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto

que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem

dados para anaacutelise

Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das

primeiras casas do Memorial

Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)

Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob

responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na

estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez

seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu

e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da

paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele

periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no

decorrer do segundo capiacutetulo

Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve

ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa

Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica

20 GI Abreviatura Gina Issberner

113

SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)

SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)

O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere

ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586

imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado

pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)

Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)

O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para

as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em

depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca

prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de

Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com

a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a

revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)

A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se

enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos

que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma

imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas

arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do

poder puacuteblico

Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial

seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de

21 SP Abreviatura de Sergio Pires

114

implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o

vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na

direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje

Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da

Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos

Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a

Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio

do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e

Empresariais- FACIAP

O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como

coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica

PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial

para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da

entrevistada

A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um

parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)

Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de

organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A

entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em

Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram

o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)

Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora

de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade

do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees

perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento

socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para

a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)

Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador

Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo

subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento

europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo

115

subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam

absorvidos pelos nacionais

Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo

da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte

observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha

assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e

pelo municiacutepio

Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente

coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria

brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato

de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria

Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos

costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as

raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe

um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria

instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar

de uma mesma histoacuteria e memoacuteria

A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo

das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo

ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em

constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais

Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os

sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e

construccedilotildees de identidades

Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)

O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos

culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de

identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa

identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa

116

personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar

uma pluralidade em si

117

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as

representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de

seus visitantes gestores e idealizador

Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do

disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e

significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante

a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses

representados no Memorial

Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o

processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder

municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta

construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela

populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o

espaccedilo puacuteblico

Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e

bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de

conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-

artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da

fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que

prescinde da experiecircncia

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela

comunidade polonesa

Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos

urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos

da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes

poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender

alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de

Curitiba

118

A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta

pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade

mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria

das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social

antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser

compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica

A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais

uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado

grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos

visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que

permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da

regiatildeo de Curitiba

A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que

estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se

desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem

um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o

compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas

sociais

Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da

participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo

Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo

houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em

relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local

na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio

Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de

funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como

pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo

No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do

preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na

entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os

visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta

direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora

119

Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas

evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves

expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No

Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da

comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais

aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais

simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial

se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees

Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser

relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque

1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba

mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas

puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da

criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este

tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo

temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia

2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a

amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da

etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos

leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando

uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato

percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas

dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em

casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como

etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos

conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um

local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a

experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma

agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da

ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico

sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho

daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais

positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a

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respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que

ocorreram ao longo do tempo

3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo

museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo

considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do

Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em

detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica

Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal

deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de

procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais

pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos

processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos

imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro

do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente

Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de

se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e

identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e

fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em

movimento suas praacuteticas sociais

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131

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133

APEcircNDICES

134

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para

participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em

Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo

justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos

que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela

pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de

Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos

entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar

participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo

fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)

desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em

qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o

(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os

resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer

outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da

Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC

telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________________ fui informado

sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a

explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada

e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas

assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data __ __ ___

________________________ _________________________

Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador

135

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa em Curitiba

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES

QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA

Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e

querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto

FORMULAacuteRIO DE PESQUISA

1) Idade

1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50

2) Gecircnero

1) Masculino 2) Feminino

3) Natural de

1) Curitiba 2) Outro ________________

4) Escolaridade

( ) nenhuma

( ) 1ordm grau incompleto

( ) 1ordm grau completo

( ) 2ordm grau incompleto

( ) 2ordm grau completo

( ) superior incompleto

( ) superior completo

( ) poacutes-graduaccedilatildeo

136

5) Ocupaccedilatildeo

( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador

6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________

8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba

9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc

11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu

137

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da

pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a

responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo

eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo

na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos

seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a

promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir

em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de

retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem

nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo

receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados

no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato

com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em

contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -

Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu _________________________________ fui informado sobre o que o

pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por

isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso

sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por

mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data ___ ____ _____

_____________________________________________________

Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel

138

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo

de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA

FCC-CURITIBA

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial

1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os

dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

8 O museu do memorial foi criado por ato municipal

9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo

11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA

E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE

ABREU

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

139

6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo

ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

9 O museu do memorial foi criado por ato municipal

10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua

compreensatildeo

12 Como vocecirc se descreve como polonesa

13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER

1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais

museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a

sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa

2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do

memorial

5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE

POLONESA EM CURITIBA

1 Qual seu nome

2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial

140

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial

7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)

8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

141

ANEXOS

142

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP

143

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP

Page 4: UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE …

RESUMO

Esta dissertaccedilatildeo tem como objetivo refletir sobre a importacircncia das representaccedilotildees sociais criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba Objetivou ainda analisar o processo de implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa na deacutecada de 1980 o conceito de memorial e seus diferentes usos as representaccedilotildees sociais dos imigrantes poloneses percebidos pelos visitantes gestores e idealizador do Memorial e os conceitos de patrimocircnio cultural e consumo aplicado na dinacircmica sociocultural do Memorial Constatamos que o Memorial eacute visto como equipamento urbaniacutestico inserido em uma proposta de city marketing constataccedilatildeo essa que pode ser reforccedilada pela ausecircncia de um projeto museoloacutegico para o memorial em estudo A reflexatildeo a respeito das representaccedilotildees sociais na oacutetica dos visitantes gestores e idealizador ocorreu em consonacircncia aos conteuacutedos desenvolvidos a partir de pesquisa qualitativa que envolveu revisatildeo bibliograacutefica levantamento documental 03 entrevistas semiestruturadas gravadas com os responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo e gestatildeo do Memorial como tambeacutem a aplicaccedilatildeo de 50 questionaacuterios junto a visitantes do memorial maiores de 21 anos de ambos os sexos A partir do entendimento sobre os memoriais enquanto espaccedilo de memoacuteria inseridos nos estudos relativos aos museus patrimocircnio cultural e representaccedilotildees sociais - na sua vertente teoacuterica de Serge Moscovici - fundamentamos o conteuacutedo das entrevistas e questionaacuterios de campo com a metodologia da anaacutelise criacutetica do discurso O resultado da anaacutelise das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba aleacutem de revelar que a imagem do imigrante polonecircs no Memorial estaacute correlacionada com a imagem do polonecircs de hoje apontou uma necessidade maior de procurar compreender como as representaccedilotildees e as narrativas dos discursos se relacionam com o processo de interpretaccedilatildeo do sujeito polonecircs no Memorial Palavras-chave Memorial Representaccedilotildees Sociais Museus Patrimocircnio Cultural

ABSTRACT

The aim of this dissertation is to discuss the importance of the social representations created by the Polish Immigration Memorial in Curitiba and to analyze the process of setting up the Polish Immigration Memorial in the 1980s the memorialrsquos concept and its different uses the social representations of Polish immigrants perceived by visitors managers and the memorialrsquos designer as well as the concepts of cultural heritage and consumption applied to the memorialrsquos socio-cultural dynamics We find that the memorial is seen as an urban tool inserted in a proposal of city marketing This finding can be strengthened by the absence of a museum-based project for the memorial under consideration in this study The consideration regarding social representations from the viewpoints of visitors managers and the memorialrsquos designer occurs in line with the contents developed from qualitative research which encompasses bibliographical review documental survey three semi-structural interviews recorded with the people responsible for the memorialrsquos implementation and management as well as the application of 50 questionnaires to both male and female visitors to the memorial who were over 21 years of age With the view that memorials are places to evoke memories which are part of studies on museums cultural heritage and social representations ndash true to the Serge Moscovici theoretical model we based the contents of the interviews and field questionnaires on the Critical Discourse Analysis methodology The result of the analysis of social representations of Polish people within the Polish Immigration Memorial in Curitiba besides revealing that the image of the Polish immigrant is correlated to the image of the Polish people nowadays demonstrates a greater need to understand how the representations and questionnaire interview narratives are related to the process of interpretation of Poles within the memorial Keywords Memorials Social Representations Museums Cultural Heritage

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15

Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho

1987 24

Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31

Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual

Joatildeo Paulo II 1915 32

Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33

Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34

Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37

Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de

Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38

Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38

Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40

Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41

Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local

de armazenamento de acervoMIP 42

Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43

Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44

Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44

Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45

Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de

Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa

Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48

Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um

momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas

comemoraccedilotildees natalinas 49

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do

Memorial Paacutescoa2016 49

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51

Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57

Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59

Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64

Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65

Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93

Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101

Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

97

Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

99

LISTA DE SIGLAS

ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso

COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus

FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais

FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute

FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRAM Instituto Brasileiro de Museus

ICOFOM International Committe for Museology

ICOM International Conciul of Museums

IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute

IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo

IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba

MINOM International Movement for a New Museology

MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa

SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UCL Universiteacute Catholique de Louvain

UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo

UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization

ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21

11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51

2 MEMORIAIS E MUSEUS 57

21 Os Memoriais 57

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67

23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77

32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89

34 Procedimentos de Pesquisa 91

35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117

REFEREcircNCIAS121

APEcircNDICES133

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

formulaacuterio134

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da

Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

gravaccedilatildeo de voz137

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no

processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em

Curitiba138

ANEXOS 141

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de

imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143

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INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial

se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e

particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias

e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido

O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido

por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees

culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna

A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais

data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com

a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil

dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom

a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo

na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo

de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial

a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba

1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico

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Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba

Fonte Curitiba (2010)

Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II

popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo

reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de

1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco

da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma

casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua

homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no

Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins

[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)

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Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]

nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o

estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto

entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade

A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na

deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos

com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde

estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a

comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-

se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida

ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados

faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz

a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas

colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute

Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920

Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)

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Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a

criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de

excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de

relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e

museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-

se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a

percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs

fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre

museu memoacuteria e identidade

Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se

principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais

disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas

perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com

profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas

possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social

do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos

visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural

Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os

visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da

importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o

impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens

construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas

indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a

trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba

Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do

Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores

novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados

Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente

quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores

e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera

influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a

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Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a

delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada

A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de

documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com

entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios

de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses

procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-

culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as

representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para

chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em

trecircs capiacutetulos

Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano

discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de

Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing

e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)

Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)

Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)

(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de

Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade

como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura

(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e

Geissler(2004)

Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o

territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou

a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a

importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico

dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)

Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)

Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem

nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich

(2008)

No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas

especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da

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Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica

a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de

memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira

(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e

Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova

Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury

(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)

Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural

memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)

Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho

(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)

No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees

sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)

(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)

Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)

Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o

propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees

sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo

(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati

Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)

Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)

e suas especificidades

Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa

com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no

Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de

Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e

Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo

(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas

do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)

complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)

e Choay (2001)

Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e

Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das

representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos

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conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados

Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste

Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre

patrimocircnio cultural

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1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA

Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico

que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias

da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e

quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho

local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a

desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como

produto de consumo cultural

No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da

Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura

em 1979visando

[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)

Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no

Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas

coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de

Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da

Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio

cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de

preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria

teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016

p1)

Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira

criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila

Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus

(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema

Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado

agrave Secretaria de Estado da Cultura

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Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da

poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos

reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo

brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir

11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial

Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi

desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que

atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos

de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar

aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia

polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo

atual

Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que

faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade

O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)

Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos

que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da

desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a

soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo

(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na

centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de

Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa

de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo

metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e

consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte

da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut

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(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a

seguinte colocaccedilatildeo

A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)

ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo

vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo

Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente

na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se

encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos

moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas

famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL

DO ESTADO p12 010287)

Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso

e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial

corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um

atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)

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Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987

Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987

Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia

ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que

a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de

seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do

historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute

necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites

dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das

memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico

Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da

aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho

e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos

proprietaacuterios

A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo

de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava

sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com

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o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista

Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da

cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos

aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora

esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da

cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)

A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da

sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a

remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees

dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975

-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave

continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira

administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)

[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)

Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi

intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)

o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque

Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e

o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda

servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas

etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias

serviam para uso da populaccedilatildeo em geral

Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de

Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui

a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial

de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta

dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui

2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965

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Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques

possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas

Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem

bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de

Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para

a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais

Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes

visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e

Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais

e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma

coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia

estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal

A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo

Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo

Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento

visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as

funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo

de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais

moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento

ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial

Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na

compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos

reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante

Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala

ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre

mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo

Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao

ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No

entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano

de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a

instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)

27

Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais

esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma

populaccedilatildeo de origem europeacuteia

A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)

Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba

segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da

cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada

pelos memoriais

A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)

De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser

referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um

problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e

que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)

Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua

identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que

possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento

e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)

A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia

criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a

fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala

sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas

simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)

28

O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade

e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio

fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de

Curitiba

No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder

que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente

poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico

manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens

urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua

forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem

sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)

Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy

quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele

[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)

A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida

dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa

estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na

populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das

parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a

indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo

toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica

a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas

urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)

No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha

a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa

Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo

das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios

de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city

marketing

29

Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3

Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como

uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees

sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e

as formas de viver o espaccedilo puacuteblico

Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como

tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a

possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais

A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)

Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses

(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em

accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um

sentimento de pertencimento

Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem

sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

30

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural

Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial

vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa

considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua

natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p

227)

Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive

gerando outras identidades

Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses

no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as

representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor

Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)

Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido

como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus

habitantes

Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem

do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade

polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da

cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as

particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no

proacuteximo item

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial

O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer

de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme

31

o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2

Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem

decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado

num bairro central de Curitiba

Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade

Fonte Curitiba (2010)

O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi

estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro

siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)

Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba

32

Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915

Fonte GEISSLER (2004)

Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e

utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da

casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes

para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de

56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste

da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo

Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo

(GEISSLER 2004 p224)

Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio

Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de

preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo

de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas

apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e

matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais

(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na

figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos

jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita

33

Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno

Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)

O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa

Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado

por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo

com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia

representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia

na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008

p97)

Portal Polonecircs

Rio Beleacutem

Entrada Secundaacuteria

Entrada Principal

34

Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial

Fonte Google maps (2016)

Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do

Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se

transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha

e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)

A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira

sobre o Rio Beleacutem

35

Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem

Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)

Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o

Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito

de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de

metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba

Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da

edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador

da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que

Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)

4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo

36

Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como

na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction

and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of

Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi

Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)

Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave

colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas

ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and

Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa

Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo

finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there

are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo

(SILEacuteN2008 p11)

Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram

desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo

da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do

Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo

(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir

detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem

acervo e edificaccedilotildees

Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa

avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa

Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em

1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de

Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II

rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por

Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute

preservado pela capela

5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo

37

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP

Fonte Figundio (2012)

Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da

Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As

comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se

atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte

Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo

Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia

38

Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP

Fonte Cequinel (2016)

Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois

outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o

costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe

da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como

sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)

39

Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP

Fonte Da Autora (2015)

Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins

na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico

devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo

e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi

permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de

contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a

necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas

praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes

as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias

que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma

diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)

Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a

Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda

de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra

ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para

descanso

40

Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP

Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB

No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas

procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas

ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces

Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do

perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma

de incentivo e desenvolvimento ao artesanato

41

Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP

FonteWpolityceForum2014

Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no

decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas

complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas

recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki

(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como

moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)

A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes

Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute

utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de

acervo

42

Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP

Fonte Papodeviajante(2008)

O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque

pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa

edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia

Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada

para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo

possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de

autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX

43

Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)

Fonte Savicki em 29082011

Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a

cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais

recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em

relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar

44

Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP

Fonte Da autora (2015)

Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que

pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de

Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de

armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico

Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP

Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)

45

Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo

procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski

utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas

Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP

Fonte Da autora (2015)

Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos

a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a

tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da

porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos

para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou

etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este

local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da

colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX

46

Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo

Fonte Da autora (2015)

Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na

colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia

de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute

utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem

nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio

comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da

Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e

valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses

47

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial

Fonte Da autora (2015)

A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um

grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais

festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial

com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a

famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os

alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees

religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia

[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)

48

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo

Fonte Curitiba (2016)

O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos

anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus

menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia

Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo

de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para

depois dar iniacutecio a ceia

49

Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas

Fonte Vacanzepoloniacom

As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da

Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas

civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016

Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II

50

No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao

Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi

concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico

e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque

Fonte feriasnowblog(2014)

De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do

parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da

teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs

Brac Dekoracyjny

51

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico

Fonte Curitiba Space (2016)

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia

parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de

parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba

A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico

do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve

relato sobre esta trajetoacuteria

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs

Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil

abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste

deslocamento

Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)

52

Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da

Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)

tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito

de naccedilatildeo

[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)

Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs

era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante

de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto

somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo

brasileirordquo

No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989

p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir

imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a

moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o

estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs

no Paranaacute em seus diversos aspectos

No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se

reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de

poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse

grupo social

Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita

agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio

cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio

Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)

53

De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a

constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera

que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem

recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram

marcados subjetivamente

Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica

ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal

e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees

ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e

de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)

Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta

investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da

pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de

ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a

rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de

interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees

sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma

viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista

estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de

imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica

de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos

imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a

respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba

Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)

54

Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute

se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses

e outrosrdquo

Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o

Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872

aconteceu com a ajuda oficial

O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)

Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute

Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas

cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital

Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a

funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme

o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)

No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas

Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da

proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da

colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo

(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins

criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil

Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba

sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se

fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da

historiadora Mafalda Sikora

55

A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)

No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas

considerando que

Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)

Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns

milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)

Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes

Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra

apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um

contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do

polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo

que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou

ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo

extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade

de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia

para o Brasil

[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo

56

polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)

A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma

ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas

brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012

p240)

A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto

abaixo

Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)

Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute

revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas

maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da

cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e

Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a

respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as

representaccedilotildees sociais

57

2 MEMORIAIS E MUSEUS

21 Os Memoriais

Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial

Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade

de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam

uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of

visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond

their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(

WILLIAMS 2007 p6)7

Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao

tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado

em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram

a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em

Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto

Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)

Fonte uacuteltimosegundo (2010)

6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram

58

Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world

war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization

has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)

No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente

pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas

com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que

caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave

necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais

O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a

respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais

as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e

siacutetio memorial

A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)

Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos

museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho

quanto agraves especificidades de cada termo

O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo

em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com

estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo

8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal

59

In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)

O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da

fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais

conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou

foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere

abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de

Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque

terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo

papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o

impacto de forma continuada

Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)

Fonte Damon Winter The New York Times

10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista

60

Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem

a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de

histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent

between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS

2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam

como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias

pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial

expressa algumas preocupaccedilotildees

A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12

O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus

memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento

das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de

ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo

solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and

impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes

espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal

No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses

objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e

11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel

61

pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo

ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe

understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice

versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)

No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o

congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct

what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute

allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)

Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial

e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que

envolvem a sociedade contemporacircnea

Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a

realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo

especiacuteficos como no caso dos Memoriais

No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito

dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge

Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil

institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo

de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo

(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo

possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu

O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)

Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na

organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de

possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu

14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito

62

No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como

o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem

de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante

Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus

implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)

direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de

estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos

podem ser definidos da seguinte forma

These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16

Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro

de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como

Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados

para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma

16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos

histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica

63

cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e

teacutecnicas

Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP

dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa

de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender

viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre

eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees

com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)

Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva

ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave

comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas

instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em

termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia

em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos

de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de

memorial mas sim de museu

Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)

analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria

portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho

destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos

Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades

cidades fatos e acontecimentos

No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito

para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que

favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os

Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A

autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams

Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e

17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)

64

satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)

Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito

dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as

instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)

Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional

de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave

apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem

grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer

que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram

diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes

formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais

Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)

Fonte Brasilgovbr 2016

Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades

do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos

mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com

projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu

Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a

histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS

Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de

estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura

65

29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave

atualidade

Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP

Fonte tvbrasil ebccombr 2016

Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser

concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos

etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a

possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que

inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das

instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos

de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao

desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)

Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria

ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory

processes including the historical interpretation and the museums social

functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)

Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus

(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees

18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu

66

e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o

territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das

comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como

instituiccedilotildees museoloacutegicas

As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e

os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de

delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao

retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais

dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos

parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e

sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem

a um novo paiacutes com cultura diversa da sua

Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de

caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas

funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos

referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender

viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo

de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica

e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao

desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo

de comemoraccedilotildees

Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta

um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute

que nos ateremos a seguir

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia

Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com

as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational

Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago

(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao

67

aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos

fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico

internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou

corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)

O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre

a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-

ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees

museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade

O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave

funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais

do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-

se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da

instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)

O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da

Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com

o apoio do ICOM

Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica

Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local

patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais

em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees

A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu

e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera

que

[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)

Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago

do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com

o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o

68

delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual

confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM

1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave

museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu

integral

A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da

Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na

Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada

O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e

reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho

Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o

museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a

manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela

delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta

questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no

Brasil em 1964

O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos

enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a

problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre

um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza

que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua

mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma

situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de

educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica

cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades

Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da

Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da

Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo

desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a

compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo

(CURY 2005 p 46)

No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984

em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo

os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas

69

que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)

Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu

estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade

A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)

Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa

Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc

Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute

causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil

Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida

a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos

museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute

que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo

(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora

Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)

Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da

funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do

Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a

aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele

periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras

Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em

1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para

uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a

divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA

NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e

divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas

70

experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao

colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO

2009 p 25)

O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas

museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo

francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as

possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo

O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)

Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de

Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo

social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]

relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade

agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio

institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)

Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como

patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer

museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto

Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para

atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela

SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)

A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas

propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades

de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem

no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como

nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo

Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a

uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas

71

paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute

museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)

Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao

conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua

instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do

patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo

estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda

do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)

O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus

incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a

diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu

estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem

desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial

O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)

Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por

ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de

estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais

Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas

(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina

Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse

da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo

(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de

Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma

naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e

espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)

72

Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo

direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais

representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado

por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees

Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade

visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o

reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas

ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do

mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais

complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)

No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus

reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como

consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio

cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem

abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a

serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na

medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o

tema proposto

23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural

tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura

um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo

polonesa da regiatildeo de Curitiba

Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave

comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos

anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de

uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e

espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)

Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal

mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada

comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura

73

No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute

compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico

ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de

significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)

Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de

maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por

Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos

A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)

O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos

processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto

cultural Para Moscovici

Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)

As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais

enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria

realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder

simboacutelico representadas no imaginaacuterio social

Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert

Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das

relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo

(DURANT apud COELHO 2004 p212)

Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo

social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e

objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O

imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos

alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)

74

Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades

Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades

nas sociedades contemporacircneas

A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)

As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em

constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este

sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute

de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico

Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista

sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu

passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos

criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com

a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que

[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)

Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a

problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o

que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu

conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no

presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum

Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador

francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre

problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um

elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA

1993 p9)

Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que

experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute

75

passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou

colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e

Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo

especiacutefico

Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)

Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de

preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e

grupo de pertencimento

Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da

identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma

sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum

processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)

No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos

centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de

vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este

posicionamento da seguinte forma

Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)

Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade

como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que

a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma

visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas

da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees

sociais

76

[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)

De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das

instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de

opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o

pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas

ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute

inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo

(ABRIC 2001 p156)

De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais

compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum

Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante

na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que

consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na

forma de imagens e conceitos

Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees

em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de

organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes

coletadas

77

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas

pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son

image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no

domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos

campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos

mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos

de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito

estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia

histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede

As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo

coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das

representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo

repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na

coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as

representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim

aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas

que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)

Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo

agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os

fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que

estatildeo inseridos

Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)

Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das

caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees

satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste

sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um

lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p

9)

78

Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram

posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais

sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos

posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como

um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo

consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)

Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta

que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas

praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados

assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e

comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida

cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta

maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das

sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea

do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)

O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre

transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas

como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam

continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []

elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das

representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo

Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)

As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro

transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e

adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem

compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo

os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia

eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de

79

um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo

(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)

As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre

grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma

representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma

linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas

representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se

como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do

mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano

As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo

o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores

Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo

presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira

O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)

Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento

reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade

do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido

Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro

numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p

13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o

reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas

a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e

imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes

significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de

outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus

discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em

80

termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de

representaccedilotildees sociais

Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das

coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos

estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia

individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de

salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e

arbitrariedade

Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir

Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)

Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de

investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de

Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas

praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da

comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as

palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar

equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)

Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici

alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma

forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica

e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social

(JODELET 2001 p 188)

Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar

nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas

em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social

Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os

indiviacuteduos

81

A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus

discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico

necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees

sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida

mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici

relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais

Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)

O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual

as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais

Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas

agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social

Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de

interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p

22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que

criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado

ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do

conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais

[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)

Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram

estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos

abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p

71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira

essecircncia da realidaderdquo

Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo

perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um

82

paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003

p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias

conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma

figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso

universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)

Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a

estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente

Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo

ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)

A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)

Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de

determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados

afirmam um viacutenculo social e uma identidade

As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)

No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem

como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza

certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da

realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave

comunidade

Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo

comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que

traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo

Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos

depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que

os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees

83

diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como

se refere Moscovici (1981)

A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na

necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os

comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da

experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos

agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito

museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem

No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas

preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos

de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo

como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva

(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura

iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias

imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)

Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo

ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo

em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria

importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no

artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como

ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)

Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute

esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender

quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do

Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista

Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash

Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)

traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas

Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le

Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de

Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase

nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de

comunicaccedilatildeo

84

Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo

ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os

museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento

de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus

Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na

concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso

dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram

gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu

Nacional de Histoacuteria Natural de Paris

Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de

Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT

com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma

ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)

cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde

acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade

representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de

Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees

culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano

Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de

Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em

Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses

constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees

Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea

De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute

como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os

proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre

Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja

Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as

85

forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)

Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder

como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como

construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou

ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria

pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento

Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)

A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem

como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser

reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de

representaccedilatildeo

As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)

Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se

delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo

instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que

contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas

86

A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto

intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo

vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a

textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado

segundo Rechena (2011) da seguinte forma

Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)

Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos

institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social

Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em

virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)

marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da

classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal

inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver

Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida

o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em

objeto de pesquisa

A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma

natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o

desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de

oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)

No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve

preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua

praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais

do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias

como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo

No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as

reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das

produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso

87

32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa

A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o

tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do

visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no

circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees

vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na

forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados

quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e

construir conclusotildees

O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)

Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com

informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas

conclusotildees

Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio

padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as

perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho

no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos

visitantes daquele espaccedilo cultural

A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI

LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo

que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se

que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem

Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa

Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua

importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados

para anaacutelise da seguinte forma a saber

1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do

Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa

88

2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa

os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas

3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e

disponibilidade dos participantes

4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas

dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21

anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o

formulaacuterio

5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e

discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo

social que se consolida como foco determinante neste estudo

No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo

visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como

tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais

Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as

teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos

a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a

autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de

sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De

acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os

pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm

sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao

contexto de sua produccedilatildeo

Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)

em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a

Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes

elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das

representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por

recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo

diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final

A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes

espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de

89

finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas

dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC

A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico

Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em

seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante

denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise

quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo

representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo

A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se

reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk

Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE

RAMALHO 2006 p20)

No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)

essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente

individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma

forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os

outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma

independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo

de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008

p 12)

Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e

ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor

sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como

atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais

Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas

poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de

representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social

existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma

condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor

O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem

90

suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)

Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das

preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas

de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH

2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo

e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)

Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici

quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle

de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo

estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)

Percebemos que ao utilizarmos a ADC

Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)

Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou

Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e

dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos

conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar

34 Procedimentos de Pesquisa

Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de

dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da

parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas

e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais

Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o

projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade

marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial

91

Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e

representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma

reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio

aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do

Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade

de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos

forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa

A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e

outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve

apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada

participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos

da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue

e assinado pelos entrevistados

Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora

iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as

perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes

responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo

das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar

voz ao discurso do visitante

Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)

foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal

(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento

(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar

algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na

estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial

O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi

elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos

dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como

os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos

pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como

92

pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos

poloneses no decorrer das respostas

As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento

do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do

Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como

poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de

uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas

para as escolhas

1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo

procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia

um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais

2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta

questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito

expositivo do Memorial

3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora

tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo

do visitante para o circuito do Memorial

4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos

efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs

5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o

polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais

as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram

atualmente na sociedade contemporacircnea

Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do

formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro

graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50

anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais

mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes

estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)

93

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por

turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada

com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio

Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

0 10 20 30 40 50 60 70

Fem64

Masc 36

Acima de 50 anos - 40

30 a 49 anos - 34

21 a 29 anos - 26

0 10 20 30 40 50 60

Turistas - 58

Curitibanos - 42

Outros paiacuteses - 8

Interior do PR - 6

Outros estados - 38

Curitiba - 42

94

Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade

superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico

3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo

compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados

Fonte Da autora (2015)

O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e

Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo

os usuaacuterios daquele espaccedilo

Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria

trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado

orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil

0 5 10 15 20 25 30 35

Ens fundincompleto - 6

Ens Fundamental - 26

Ensino meacutedio - 26

Ensino superior 24

Poacutes-graduaccedilatildeo - 34

95

Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total

Fonte Da autora (2015)

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total

Fonte Da Autora (2015)

O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a

maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua

caracteriacutestica como local de lazer

0 2 4 6 8 10 12

Estudante - 12

Aposentado - 12

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Autonomo - 2

0 2 4 6 8 10 12 14

Estudante - 14

Funcionaacuterio Puacuteblico - 12

Autocircnomo - 10

Aposentado - 8

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Dona de casa 2

96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial

aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as

associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar

mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes

Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades

atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que

caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los

Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do

imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas

ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste

quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes

de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as

pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa

religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a

identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que

a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -

rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores

que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a

religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Jaacute visitou o Memorial antes 68

Esta eacute a primeira visita - 32

Motivo da visita trabalho 2

Motivo da visita Lazer - 98

97

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo

(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante

polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo

(VALENTINI 1982 p25)

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo

As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural

20

2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)

15

3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia

Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia

8

4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais

5

5- Artesanatoacervo de objetos

Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo

do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante

Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas

Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos

dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio

98

Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo

Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura

similar da Europa

Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que

identificasse o local como polonecircs

No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a

atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos

objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local

chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito

Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo

TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES

1- Arquiteturacasa capela

Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos

visitantes

21

2- Objetos do acervo

Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de

polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)

20

3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo

Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante

5

4- Quiosque Artesanato

Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local

3

5- Escultura do Papa

Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante

polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de

tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes

99

nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal

de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens

em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo

simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial

reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses

e o gosto por festas

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

Arquiteturacasascapela

A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque

20

BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato

Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses

12

Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque

6

Indumentaacuteriafestas

Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial

6

Janelas com flores

Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado

4

Objetoscamacarroccedila

O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira

poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante

alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta

observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa

natildeo explica bemrdquo

Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a

decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza

romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada

Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a

privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social

sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de

100

Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos

e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica

de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus

A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza

na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as

autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a

necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem

acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo

vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em

aacuterea de risco social

Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha

que identificou o polonecircs com o que viu

O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes

da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com

algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos

como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses

No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o

grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com

o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe

principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas

apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo

de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao

destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na

comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do

espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo

19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)

101

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado

os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico

Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados

anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante

polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash

70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura

aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante

O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou

descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de

comentaacuterios

Esses discursos seratildeo comentados adiante

35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses

Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a

preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte

maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

4Natildeo conhece 42

3Sim Identificou 36

2Conhece mas natildeo identificou 20

1Natildeo respondeu 2

102

fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute

coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo

A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas

na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a

identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em

relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas

culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do

sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa

As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)

Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do

sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias

identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves

formas dos sistemas culturais existentes

No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com

algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos

conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes

1ordm Respondente

- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem

as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua

2ordm Respondente

-Eacute uma pessoa integrada no social

3ordm Respondente

- Natildeo consigo associar

Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos

poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em

referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue

103

associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As

falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar

4ordm Respondente

- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo

5ordm Respondente

- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar

maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social

considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete

aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute

propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse

ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a

proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo

democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural

agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado

Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar

que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que

circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da

cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em

suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele

equipamento cultural

De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio

ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as

informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo

com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em

contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade

da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da

Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na

sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo

natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma

antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre

a importacircncia da experiecircncia

104

[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)

Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove

que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo

algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos

discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita

significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de

conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente

possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a

representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente

elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de

uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as

narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam

a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo

coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento

A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses

no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos

sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do

visitante

Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no

graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo

(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque

A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo

dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o

visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser

valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de

estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do

Memorial

105

Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes

Fonte Da autora (2015)

Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos

apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da

diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de

Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais

Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de

informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de

representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas

relacionadas ao MIP

Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio

a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora

dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista

ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa

a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se

ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a

acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo

discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo

distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Arquitetura 41

Objetos do acervo 23

artesanatoquiosque 16

camponesvida rural 15

religioso 11

culturatradiccedilatildeo 9

Vida em comunidade 8

106

parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil

A entrevistada complementa

Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)

Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e

ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem

da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna

negoacutecio

[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)

Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um

grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas

praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um

conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo

cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz

autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as

tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que

visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)

Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade

Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte

107

da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)

O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados

como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos

releva Choay (2001)

[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)

A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como

produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual

da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos

com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem

um espaccedilo significativo na miacutedia

A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)

A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no

seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o

pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70

anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA

2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante

renovaccedilatildeo

Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)

108

Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica

cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas

estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de

fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade

A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade

econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o

fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute

de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho

administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de

funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as

mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC

Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um

dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se

que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de

equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da

aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da

Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os

poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha

um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)

O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia

cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A

linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o

meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo

formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a

praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)

Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala

McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura

nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da

Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o

exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo

Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em

Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as

109

pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os

convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico

Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses

possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-

se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando

imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias

No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos

poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo

As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que

comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste

encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores

para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a

mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do

patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social

Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os

nossos pensamentos uma vez que

Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)

Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem

apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida

pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado

Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao

realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade

Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre

teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)

A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das

representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo

psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a

qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)

110

Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de

determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva

construiacuteda na linguagem dos sujeitos

Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)

No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do

pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo

Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)

Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos

inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas

reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees

sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber

e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se

constituem mutuamente

Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu

sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de

representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao

contexto em que se configuram

O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado

na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo

como o sistema social em que eacute gerado

Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do

processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social

podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel

do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel

coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p

111

167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte

do entrevistado temos o seguinte depoimento

Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)

Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho

arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos

das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP

Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994

FONTE IPPUC2015

Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo

urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno

conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial

originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado

atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de

apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do

Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo

houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro

112

baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do

mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos

fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um

equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade

poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um

quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um

museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto

que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem

dados para anaacutelise

Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das

primeiras casas do Memorial

Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)

Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob

responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na

estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez

seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu

e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da

paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele

periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no

decorrer do segundo capiacutetulo

Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve

ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa

Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica

20 GI Abreviatura Gina Issberner

113

SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)

SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)

O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere

ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586

imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado

pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)

Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)

O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para

as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em

depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca

prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de

Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com

a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a

revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)

A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se

enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos

que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma

imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas

arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do

poder puacuteblico

Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial

seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de

21 SP Abreviatura de Sergio Pires

114

implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o

vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na

direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje

Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da

Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos

Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a

Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio

do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e

Empresariais- FACIAP

O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como

coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica

PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial

para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da

entrevistada

A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um

parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)

Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de

organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A

entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em

Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram

o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)

Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora

de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade

do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees

perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento

socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para

a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)

Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador

Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo

subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento

europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo

115

subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam

absorvidos pelos nacionais

Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo

da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte

observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha

assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e

pelo municiacutepio

Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente

coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria

brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato

de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria

Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos

costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as

raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe

um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria

instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar

de uma mesma histoacuteria e memoacuteria

A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo

das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo

ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em

constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais

Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os

sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e

construccedilotildees de identidades

Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)

O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos

culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de

identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa

identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa

116

personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar

uma pluralidade em si

117

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as

representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de

seus visitantes gestores e idealizador

Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do

disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e

significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante

a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses

representados no Memorial

Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o

processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder

municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta

construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela

populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o

espaccedilo puacuteblico

Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e

bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de

conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-

artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da

fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que

prescinde da experiecircncia

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela

comunidade polonesa

Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos

urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos

da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes

poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender

alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de

Curitiba

118

A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta

pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade

mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria

das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social

antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser

compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica

A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais

uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado

grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos

visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que

permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da

regiatildeo de Curitiba

A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que

estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se

desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem

um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o

compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas

sociais

Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da

participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo

Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo

houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em

relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local

na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio

Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de

funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como

pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo

No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do

preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na

entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os

visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta

direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora

119

Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas

evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves

expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No

Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da

comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais

aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais

simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial

se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees

Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser

relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque

1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba

mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas

puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da

criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este

tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo

temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia

2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a

amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da

etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos

leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando

uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato

percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas

dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em

casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como

etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos

conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um

local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a

experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma

agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da

ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico

sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho

daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais

positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a

120

respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que

ocorreram ao longo do tempo

3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo

museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo

considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do

Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em

detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica

Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal

deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de

procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais

pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos

processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos

imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro

do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente

Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de

se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e

identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e

fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em

movimento suas praacuteticas sociais

121

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133

APEcircNDICES

134

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para

participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em

Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo

justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos

que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela

pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de

Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos

entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar

participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo

fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)

desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em

qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o

(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os

resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer

outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da

Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC

telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________________ fui informado

sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a

explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada

e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas

assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data __ __ ___

________________________ _________________________

Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador

135

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa em Curitiba

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES

QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA

Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e

querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto

FORMULAacuteRIO DE PESQUISA

1) Idade

1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50

2) Gecircnero

1) Masculino 2) Feminino

3) Natural de

1) Curitiba 2) Outro ________________

4) Escolaridade

( ) nenhuma

( ) 1ordm grau incompleto

( ) 1ordm grau completo

( ) 2ordm grau incompleto

( ) 2ordm grau completo

( ) superior incompleto

( ) superior completo

( ) poacutes-graduaccedilatildeo

136

5) Ocupaccedilatildeo

( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador

6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________

8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba

9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc

11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu

137

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da

pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a

responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo

eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo

na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos

seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a

promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir

em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de

retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem

nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo

receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados

no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato

com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em

contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -

Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu _________________________________ fui informado sobre o que o

pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por

isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso

sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por

mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data ___ ____ _____

_____________________________________________________

Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel

138

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo

de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA

FCC-CURITIBA

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial

1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os

dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

8 O museu do memorial foi criado por ato municipal

9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo

11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA

E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE

ABREU

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

139

6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo

ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

9 O museu do memorial foi criado por ato municipal

10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua

compreensatildeo

12 Como vocecirc se descreve como polonesa

13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER

1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais

museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a

sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa

2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do

memorial

5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE

POLONESA EM CURITIBA

1 Qual seu nome

2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial

140

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial

7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)

8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

141

ANEXOS

142

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP

143

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP

Page 5: UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE …

ABSTRACT

The aim of this dissertation is to discuss the importance of the social representations created by the Polish Immigration Memorial in Curitiba and to analyze the process of setting up the Polish Immigration Memorial in the 1980s the memorialrsquos concept and its different uses the social representations of Polish immigrants perceived by visitors managers and the memorialrsquos designer as well as the concepts of cultural heritage and consumption applied to the memorialrsquos socio-cultural dynamics We find that the memorial is seen as an urban tool inserted in a proposal of city marketing This finding can be strengthened by the absence of a museum-based project for the memorial under consideration in this study The consideration regarding social representations from the viewpoints of visitors managers and the memorialrsquos designer occurs in line with the contents developed from qualitative research which encompasses bibliographical review documental survey three semi-structural interviews recorded with the people responsible for the memorialrsquos implementation and management as well as the application of 50 questionnaires to both male and female visitors to the memorial who were over 21 years of age With the view that memorials are places to evoke memories which are part of studies on museums cultural heritage and social representations ndash true to the Serge Moscovici theoretical model we based the contents of the interviews and field questionnaires on the Critical Discourse Analysis methodology The result of the analysis of social representations of Polish people within the Polish Immigration Memorial in Curitiba besides revealing that the image of the Polish immigrant is correlated to the image of the Polish people nowadays demonstrates a greater need to understand how the representations and questionnaire interview narratives are related to the process of interpretation of Poles within the memorial Keywords Memorials Social Representations Museums Cultural Heritage

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15

Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho

1987 24

Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31

Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual

Joatildeo Paulo II 1915 32

Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33

Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34

Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37

Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de

Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38

Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38

Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40

Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41

Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local

de armazenamento de acervoMIP 42

Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43

Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44

Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44

Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45

Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de

Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa

Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48

Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um

momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas

comemoraccedilotildees natalinas 49

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do

Memorial Paacutescoa2016 49

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51

Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57

Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59

Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64

Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65

Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93

Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101

Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

97

Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

99

LISTA DE SIGLAS

ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso

COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus

FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais

FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute

FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRAM Instituto Brasileiro de Museus

ICOFOM International Committe for Museology

ICOM International Conciul of Museums

IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute

IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo

IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba

MINOM International Movement for a New Museology

MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa

SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UCL Universiteacute Catholique de Louvain

UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo

UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization

ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21

11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51

2 MEMORIAIS E MUSEUS 57

21 Os Memoriais 57

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67

23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77

32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89

34 Procedimentos de Pesquisa 91

35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117

REFEREcircNCIAS121

APEcircNDICES133

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

formulaacuterio134

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da

Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

gravaccedilatildeo de voz137

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no

processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em

Curitiba138

ANEXOS 141

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de

imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143

14

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial

se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e

particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias

e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido

O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido

por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees

culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna

A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais

data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com

a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil

dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom

a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo

na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo

de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial

a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba

1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico

15

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba

Fonte Curitiba (2010)

Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II

popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo

reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de

1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco

da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma

casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua

homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no

Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins

[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)

16

Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]

nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o

estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto

entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade

A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na

deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos

com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde

estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a

comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-

se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida

ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados

faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz

a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas

colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute

Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920

Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)

17

Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a

criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de

excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de

relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e

museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-

se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a

percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs

fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre

museu memoacuteria e identidade

Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se

principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais

disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas

perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com

profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas

possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social

do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos

visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural

Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os

visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da

importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o

impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens

construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas

indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a

trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba

Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do

Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores

novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados

Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente

quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores

e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera

influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a

18

Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a

delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada

A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de

documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com

entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios

de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses

procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-

culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as

representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para

chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em

trecircs capiacutetulos

Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano

discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de

Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing

e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)

Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)

Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)

(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de

Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade

como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura

(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e

Geissler(2004)

Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o

territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou

a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a

importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico

dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)

Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)

Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem

nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich

(2008)

No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas

especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da

19

Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica

a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de

memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira

(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e

Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova

Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury

(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)

Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural

memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)

Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho

(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)

No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees

sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)

(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)

Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)

Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o

propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees

sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo

(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati

Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)

Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)

e suas especificidades

Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa

com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no

Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de

Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e

Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo

(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas

do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)

complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)

e Choay (2001)

Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e

Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das

representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos

20

conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados

Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste

Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre

patrimocircnio cultural

21

1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA

Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico

que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias

da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e

quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho

local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a

desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como

produto de consumo cultural

No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da

Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura

em 1979visando

[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)

Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no

Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas

coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de

Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da

Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio

cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de

preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria

teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016

p1)

Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira

criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila

Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus

(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema

Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado

agrave Secretaria de Estado da Cultura

22

Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da

poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos

reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo

brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir

11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial

Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi

desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que

atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos

de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar

aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia

polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo

atual

Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que

faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade

O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)

Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos

que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da

desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a

soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo

(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na

centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de

Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa

de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo

metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e

consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte

da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut

23

(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a

seguinte colocaccedilatildeo

A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)

ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo

vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo

Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente

na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se

encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos

moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas

famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL

DO ESTADO p12 010287)

Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso

e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial

corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um

atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)

24

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987

Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987

Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia

ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que

a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de

seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do

historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute

necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites

dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das

memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico

Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da

aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho

e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos

proprietaacuterios

A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo

de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava

sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com

25

o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista

Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da

cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos

aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora

esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da

cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)

A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da

sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a

remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees

dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975

-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave

continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira

administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)

[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)

Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi

intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)

o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque

Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e

o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda

servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas

etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias

serviam para uso da populaccedilatildeo em geral

Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de

Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui

a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial

de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta

dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui

2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965

26

Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques

possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas

Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem

bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de

Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para

a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais

Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes

visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e

Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais

e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma

coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia

estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal

A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo

Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo

Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento

visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as

funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo

de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais

moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento

ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial

Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na

compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos

reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante

Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala

ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre

mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo

Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao

ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No

entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano

de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a

instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)

27

Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais

esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma

populaccedilatildeo de origem europeacuteia

A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)

Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba

segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da

cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada

pelos memoriais

A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)

De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser

referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um

problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e

que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)

Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua

identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que

possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento

e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)

A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia

criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a

fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala

sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas

simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)

28

O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade

e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio

fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de

Curitiba

No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder

que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente

poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico

manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens

urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua

forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem

sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)

Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy

quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele

[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)

A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida

dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa

estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na

populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das

parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a

indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo

toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica

a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas

urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)

No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha

a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa

Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo

das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios

de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city

marketing

29

Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3

Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como

uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees

sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e

as formas de viver o espaccedilo puacuteblico

Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como

tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a

possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais

A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)

Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses

(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em

accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um

sentimento de pertencimento

Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem

sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

30

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural

Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial

vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa

considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua

natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p

227)

Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive

gerando outras identidades

Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses

no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as

representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor

Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)

Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido

como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus

habitantes

Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem

do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade

polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da

cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as

particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no

proacuteximo item

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial

O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer

de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme

31

o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2

Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem

decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado

num bairro central de Curitiba

Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade

Fonte Curitiba (2010)

O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi

estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro

siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)

Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba

32

Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915

Fonte GEISSLER (2004)

Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e

utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da

casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes

para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de

56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste

da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo

Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo

(GEISSLER 2004 p224)

Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio

Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de

preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo

de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas

apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e

matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais

(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na

figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos

jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita

33

Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno

Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)

O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa

Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado

por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo

com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia

representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia

na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008

p97)

Portal Polonecircs

Rio Beleacutem

Entrada Secundaacuteria

Entrada Principal

34

Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial

Fonte Google maps (2016)

Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do

Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se

transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha

e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)

A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira

sobre o Rio Beleacutem

35

Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem

Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)

Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o

Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito

de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de

metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba

Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da

edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador

da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que

Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)

4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo

36

Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como

na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction

and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of

Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi

Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)

Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave

colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas

ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and

Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa

Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo

finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there

are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo

(SILEacuteN2008 p11)

Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram

desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo

da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do

Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo

(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir

detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem

acervo e edificaccedilotildees

Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa

avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa

Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em

1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de

Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II

rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por

Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute

preservado pela capela

5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo

37

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP

Fonte Figundio (2012)

Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da

Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As

comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se

atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte

Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo

Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia

38

Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP

Fonte Cequinel (2016)

Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois

outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o

costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe

da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como

sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)

39

Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP

Fonte Da Autora (2015)

Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins

na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico

devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo

e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi

permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de

contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a

necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas

praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes

as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias

que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma

diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)

Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a

Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda

de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra

ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para

descanso

40

Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP

Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB

No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas

procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas

ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces

Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do

perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma

de incentivo e desenvolvimento ao artesanato

41

Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP

FonteWpolityceForum2014

Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no

decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas

complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas

recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki

(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como

moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)

A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes

Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute

utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de

acervo

42

Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP

Fonte Papodeviajante(2008)

O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque

pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa

edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia

Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada

para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo

possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de

autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX

43

Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)

Fonte Savicki em 29082011

Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a

cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais

recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em

relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar

44

Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP

Fonte Da autora (2015)

Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que

pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de

Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de

armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico

Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP

Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)

45

Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo

procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski

utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas

Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP

Fonte Da autora (2015)

Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos

a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a

tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da

porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos

para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou

etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este

local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da

colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX

46

Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo

Fonte Da autora (2015)

Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na

colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia

de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute

utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem

nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio

comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da

Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e

valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses

47

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial

Fonte Da autora (2015)

A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um

grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais

festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial

com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a

famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os

alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees

religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia

[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)

48

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo

Fonte Curitiba (2016)

O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos

anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus

menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia

Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo

de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para

depois dar iniacutecio a ceia

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Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas

Fonte Vacanzepoloniacom

As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da

Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas

civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016

Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II

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No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao

Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi

concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico

e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque

Fonte feriasnowblog(2014)

De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do

parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da

teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs

Brac Dekoracyjny

51

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico

Fonte Curitiba Space (2016)

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia

parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de

parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba

A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico

do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve

relato sobre esta trajetoacuteria

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs

Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil

abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste

deslocamento

Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)

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Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da

Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)

tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito

de naccedilatildeo

[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)

Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs

era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante

de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto

somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo

brasileirordquo

No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989

p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir

imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a

moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o

estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs

no Paranaacute em seus diversos aspectos

No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se

reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de

poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse

grupo social

Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita

agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio

cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio

Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)

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De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a

constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera

que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem

recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram

marcados subjetivamente

Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica

ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal

e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees

ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e

de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)

Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta

investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da

pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de

ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a

rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de

interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees

sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma

viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista

estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de

imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica

de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos

imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a

respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba

Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)

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Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute

se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses

e outrosrdquo

Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o

Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872

aconteceu com a ajuda oficial

O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)

Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute

Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas

cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital

Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a

funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme

o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)

No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas

Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da

proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da

colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo

(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins

criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil

Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba

sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se

fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da

historiadora Mafalda Sikora

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A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)

No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas

considerando que

Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)

Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns

milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)

Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes

Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra

apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um

contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do

polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo

que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou

ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo

extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade

de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia

para o Brasil

[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo

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polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)

A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma

ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas

brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012

p240)

A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto

abaixo

Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)

Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute

revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas

maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da

cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e

Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a

respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as

representaccedilotildees sociais

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2 MEMORIAIS E MUSEUS

21 Os Memoriais

Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial

Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade

de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam

uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of

visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond

their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(

WILLIAMS 2007 p6)7

Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao

tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado

em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram

a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em

Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto

Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)

Fonte uacuteltimosegundo (2010)

6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram

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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world

war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization

has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)

No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente

pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas

com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que

caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave

necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais

O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a

respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais

as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e

siacutetio memorial

A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)

Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos

museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho

quanto agraves especificidades de cada termo

O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo

em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com

estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo

8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal

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In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)

O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da

fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais

conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou

foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere

abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de

Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque

terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo

papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o

impacto de forma continuada

Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)

Fonte Damon Winter The New York Times

10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista

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Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem

a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de

histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent

between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS

2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam

como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias

pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial

expressa algumas preocupaccedilotildees

A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12

O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus

memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento

das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de

ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo

solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and

impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes

espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal

No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses

objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e

11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel

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pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo

ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe

understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice

versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)

No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o

congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct

what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute

allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)

Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial

e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que

envolvem a sociedade contemporacircnea

Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a

realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo

especiacuteficos como no caso dos Memoriais

No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito

dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge

Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil

institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo

de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo

(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo

possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu

O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)

Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na

organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de

possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu

14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito

62

No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como

o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem

de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante

Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus

implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)

direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de

estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos

podem ser definidos da seguinte forma

These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16

Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro

de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como

Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados

para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma

16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos

histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica

63

cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e

teacutecnicas

Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP

dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa

de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender

viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre

eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees

com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)

Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva

ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave

comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas

instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em

termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia

em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos

de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de

memorial mas sim de museu

Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)

analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria

portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho

destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos

Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades

cidades fatos e acontecimentos

No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito

para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que

favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os

Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A

autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams

Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e

17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)

64

satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)

Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito

dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as

instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)

Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional

de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave

apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem

grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer

que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram

diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes

formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais

Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)

Fonte Brasilgovbr 2016

Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades

do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos

mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com

projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu

Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a

histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS

Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de

estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura

65

29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave

atualidade

Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP

Fonte tvbrasil ebccombr 2016

Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser

concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos

etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a

possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que

inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das

instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos

de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao

desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)

Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria

ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory

processes including the historical interpretation and the museums social

functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)

Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus

(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees

18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu

66

e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o

territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das

comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como

instituiccedilotildees museoloacutegicas

As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e

os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de

delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao

retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais

dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos

parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e

sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem

a um novo paiacutes com cultura diversa da sua

Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de

caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas

funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos

referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender

viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo

de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica

e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao

desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo

de comemoraccedilotildees

Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta

um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute

que nos ateremos a seguir

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia

Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com

as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational

Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago

(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao

67

aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos

fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico

internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou

corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)

O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre

a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-

ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees

museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade

O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave

funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais

do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-

se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da

instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)

O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da

Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com

o apoio do ICOM

Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica

Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local

patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais

em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees

A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu

e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera

que

[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)

Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago

do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com

o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o

68

delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual

confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM

1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave

museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu

integral

A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da

Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na

Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada

O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e

reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho

Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o

museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a

manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela

delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta

questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no

Brasil em 1964

O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos

enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a

problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre

um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza

que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua

mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma

situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de

educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica

cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades

Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da

Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da

Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo

desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a

compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo

(CURY 2005 p 46)

No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984

em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo

os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas

69

que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)

Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu

estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade

A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)

Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa

Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc

Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute

causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil

Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida

a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos

museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute

que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo

(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora

Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)

Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da

funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do

Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a

aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele

periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras

Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em

1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para

uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a

divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA

NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e

divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas

70

experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao

colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO

2009 p 25)

O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas

museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo

francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as

possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo

O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)

Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de

Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo

social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]

relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade

agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio

institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)

Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como

patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer

museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto

Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para

atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela

SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)

A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas

propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades

de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem

no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como

nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo

Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a

uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas

71

paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute

museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)

Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao

conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua

instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do

patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo

estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda

do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)

O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus

incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a

diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu

estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem

desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial

O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)

Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por

ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de

estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais

Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas

(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina

Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse

da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo

(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de

Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma

naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e

espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)

72

Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo

direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais

representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado

por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees

Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade

visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o

reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas

ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do

mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais

complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)

No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus

reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como

consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio

cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem

abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a

serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na

medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o

tema proposto

23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural

tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura

um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo

polonesa da regiatildeo de Curitiba

Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave

comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos

anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de

uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e

espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)

Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal

mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada

comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura

73

No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute

compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico

ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de

significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)

Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de

maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por

Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos

A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)

O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos

processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto

cultural Para Moscovici

Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)

As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais

enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria

realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder

simboacutelico representadas no imaginaacuterio social

Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert

Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das

relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo

(DURANT apud COELHO 2004 p212)

Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo

social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e

objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O

imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos

alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)

74

Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades

Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades

nas sociedades contemporacircneas

A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)

As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em

constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este

sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute

de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico

Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista

sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu

passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos

criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com

a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que

[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)

Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a

problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o

que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu

conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no

presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum

Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador

francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre

problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um

elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA

1993 p9)

Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que

experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute

75

passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou

colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e

Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo

especiacutefico

Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)

Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de

preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e

grupo de pertencimento

Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da

identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma

sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum

processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)

No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos

centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de

vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este

posicionamento da seguinte forma

Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)

Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade

como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que

a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma

visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas

da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees

sociais

76

[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)

De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das

instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de

opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o

pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas

ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute

inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo

(ABRIC 2001 p156)

De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais

compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum

Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante

na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que

consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na

forma de imagens e conceitos

Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees

em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de

organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes

coletadas

77

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas

pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son

image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no

domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos

campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos

mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos

de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito

estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia

histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede

As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo

coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das

representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo

repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na

coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as

representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim

aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas

que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)

Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo

agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os

fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que

estatildeo inseridos

Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)

Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das

caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees

satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste

sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um

lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p

9)

78

Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram

posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais

sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos

posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como

um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo

consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)

Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta

que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas

praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados

assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e

comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida

cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta

maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das

sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea

do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)

O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre

transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas

como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam

continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []

elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das

representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo

Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)

As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro

transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e

adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem

compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo

os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia

eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de

79

um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo

(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)

As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre

grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma

representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma

linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas

representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se

como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do

mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano

As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo

o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores

Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo

presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira

O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)

Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento

reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade

do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido

Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro

numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p

13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o

reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas

a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e

imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes

significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de

outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus

discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em

80

termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de

representaccedilotildees sociais

Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das

coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos

estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia

individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de

salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e

arbitrariedade

Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir

Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)

Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de

investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de

Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas

praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da

comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as

palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar

equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)

Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici

alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma

forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica

e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social

(JODELET 2001 p 188)

Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar

nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas

em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social

Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os

indiviacuteduos

81

A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus

discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico

necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees

sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida

mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici

relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais

Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)

O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual

as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais

Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas

agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social

Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de

interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p

22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que

criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado

ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do

conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais

[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)

Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram

estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos

abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p

71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira

essecircncia da realidaderdquo

Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo

perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um

82

paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003

p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias

conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma

figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso

universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)

Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a

estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente

Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo

ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)

A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)

Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de

determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados

afirmam um viacutenculo social e uma identidade

As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)

No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem

como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza

certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da

realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave

comunidade

Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo

comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que

traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo

Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos

depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que

os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees

83

diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como

se refere Moscovici (1981)

A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na

necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os

comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da

experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos

agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito

museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem

No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas

preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos

de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo

como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva

(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura

iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias

imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)

Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo

ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo

em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria

importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no

artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como

ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)

Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute

esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender

quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do

Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista

Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash

Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)

traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas

Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le

Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de

Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase

nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de

comunicaccedilatildeo

84

Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo

ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os

museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento

de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus

Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na

concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso

dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram

gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu

Nacional de Histoacuteria Natural de Paris

Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de

Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT

com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma

ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)

cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde

acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade

representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de

Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees

culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano

Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de

Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em

Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses

constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees

Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea

De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute

como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os

proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre

Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja

Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as

85

forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)

Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder

como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como

construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou

ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria

pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento

Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)

A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem

como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser

reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de

representaccedilatildeo

As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)

Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se

delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo

instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que

contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas

86

A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto

intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo

vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a

textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado

segundo Rechena (2011) da seguinte forma

Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)

Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos

institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social

Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em

virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)

marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da

classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal

inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver

Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida

o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em

objeto de pesquisa

A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma

natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o

desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de

oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)

No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve

preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua

praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais

do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias

como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo

No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as

reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das

produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso

87

32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa

A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o

tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do

visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no

circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees

vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na

forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados

quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e

construir conclusotildees

O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)

Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com

informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas

conclusotildees

Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio

padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as

perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho

no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos

visitantes daquele espaccedilo cultural

A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI

LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo

que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se

que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem

Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa

Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua

importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados

para anaacutelise da seguinte forma a saber

1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do

Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa

88

2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa

os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas

3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e

disponibilidade dos participantes

4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas

dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21

anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o

formulaacuterio

5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e

discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo

social que se consolida como foco determinante neste estudo

No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo

visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como

tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais

Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as

teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos

a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a

autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de

sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De

acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os

pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm

sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao

contexto de sua produccedilatildeo

Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)

em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a

Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes

elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das

representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por

recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo

diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final

A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes

espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de

89

finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas

dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC

A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico

Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em

seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante

denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise

quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo

representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo

A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se

reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk

Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE

RAMALHO 2006 p20)

No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)

essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente

individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma

forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os

outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma

independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo

de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008

p 12)

Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e

ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor

sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como

atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais

Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas

poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de

representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social

existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma

condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor

O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem

90

suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)

Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das

preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas

de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH

2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo

e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)

Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici

quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle

de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo

estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)

Percebemos que ao utilizarmos a ADC

Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)

Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou

Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e

dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos

conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar

34 Procedimentos de Pesquisa

Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de

dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da

parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas

e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais

Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o

projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade

marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial

91

Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e

representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma

reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio

aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do

Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade

de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos

forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa

A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e

outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve

apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada

participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos

da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue

e assinado pelos entrevistados

Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora

iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as

perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes

responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo

das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar

voz ao discurso do visitante

Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)

foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal

(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento

(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar

algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na

estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial

O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi

elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos

dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como

os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos

pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como

92

pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos

poloneses no decorrer das respostas

As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento

do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do

Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como

poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de

uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas

para as escolhas

1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo

procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia

um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais

2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta

questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito

expositivo do Memorial

3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora

tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo

do visitante para o circuito do Memorial

4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos

efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs

5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o

polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais

as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram

atualmente na sociedade contemporacircnea

Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do

formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro

graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50

anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais

mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes

estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)

93

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por

turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada

com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio

Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

0 10 20 30 40 50 60 70

Fem64

Masc 36

Acima de 50 anos - 40

30 a 49 anos - 34

21 a 29 anos - 26

0 10 20 30 40 50 60

Turistas - 58

Curitibanos - 42

Outros paiacuteses - 8

Interior do PR - 6

Outros estados - 38

Curitiba - 42

94

Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade

superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico

3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo

compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados

Fonte Da autora (2015)

O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e

Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo

os usuaacuterios daquele espaccedilo

Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria

trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado

orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil

0 5 10 15 20 25 30 35

Ens fundincompleto - 6

Ens Fundamental - 26

Ensino meacutedio - 26

Ensino superior 24

Poacutes-graduaccedilatildeo - 34

95

Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total

Fonte Da autora (2015)

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total

Fonte Da Autora (2015)

O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a

maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua

caracteriacutestica como local de lazer

0 2 4 6 8 10 12

Estudante - 12

Aposentado - 12

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Autonomo - 2

0 2 4 6 8 10 12 14

Estudante - 14

Funcionaacuterio Puacuteblico - 12

Autocircnomo - 10

Aposentado - 8

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Dona de casa 2

96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial

aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as

associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar

mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes

Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades

atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que

caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los

Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do

imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas

ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste

quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes

de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as

pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa

religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a

identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que

a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -

rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores

que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a

religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Jaacute visitou o Memorial antes 68

Esta eacute a primeira visita - 32

Motivo da visita trabalho 2

Motivo da visita Lazer - 98

97

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo

(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante

polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo

(VALENTINI 1982 p25)

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo

As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural

20

2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)

15

3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia

Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia

8

4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais

5

5- Artesanatoacervo de objetos

Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo

do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante

Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas

Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos

dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio

98

Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo

Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura

similar da Europa

Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que

identificasse o local como polonecircs

No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a

atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos

objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local

chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito

Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo

TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES

1- Arquiteturacasa capela

Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos

visitantes

21

2- Objetos do acervo

Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de

polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)

20

3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo

Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante

5

4- Quiosque Artesanato

Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local

3

5- Escultura do Papa

Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante

polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de

tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes

99

nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal

de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens

em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo

simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial

reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses

e o gosto por festas

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

Arquiteturacasascapela

A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque

20

BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato

Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses

12

Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque

6

Indumentaacuteriafestas

Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial

6

Janelas com flores

Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado

4

Objetoscamacarroccedila

O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira

poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante

alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta

observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa

natildeo explica bemrdquo

Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a

decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza

romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada

Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a

privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social

sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de

100

Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos

e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica

de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus

A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza

na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as

autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a

necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem

acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo

vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em

aacuterea de risco social

Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha

que identificou o polonecircs com o que viu

O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes

da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com

algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos

como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses

No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o

grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com

o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe

principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas

apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo

de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao

destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na

comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do

espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo

19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)

101

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado

os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico

Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados

anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante

polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash

70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura

aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante

O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou

descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de

comentaacuterios

Esses discursos seratildeo comentados adiante

35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses

Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a

preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte

maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

4Natildeo conhece 42

3Sim Identificou 36

2Conhece mas natildeo identificou 20

1Natildeo respondeu 2

102

fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute

coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo

A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas

na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a

identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em

relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas

culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do

sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa

As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)

Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do

sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias

identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves

formas dos sistemas culturais existentes

No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com

algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos

conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes

1ordm Respondente

- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem

as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua

2ordm Respondente

-Eacute uma pessoa integrada no social

3ordm Respondente

- Natildeo consigo associar

Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos

poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em

referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue

103

associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As

falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar

4ordm Respondente

- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo

5ordm Respondente

- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar

maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social

considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete

aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute

propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse

ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a

proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo

democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural

agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado

Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar

que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que

circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da

cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em

suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele

equipamento cultural

De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio

ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as

informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo

com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em

contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade

da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da

Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na

sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo

natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma

antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre

a importacircncia da experiecircncia

104

[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)

Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove

que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo

algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos

discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita

significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de

conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente

possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a

representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente

elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de

uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as

narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam

a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo

coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento

A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses

no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos

sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do

visitante

Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no

graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo

(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque

A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo

dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o

visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser

valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de

estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do

Memorial

105

Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes

Fonte Da autora (2015)

Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos

apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da

diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de

Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais

Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de

informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de

representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas

relacionadas ao MIP

Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio

a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora

dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista

ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa

a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se

ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a

acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo

discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo

distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Arquitetura 41

Objetos do acervo 23

artesanatoquiosque 16

camponesvida rural 15

religioso 11

culturatradiccedilatildeo 9

Vida em comunidade 8

106

parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil

A entrevistada complementa

Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)

Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e

ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem

da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna

negoacutecio

[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)

Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um

grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas

praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um

conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo

cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz

autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as

tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que

visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)

Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade

Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte

107

da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)

O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados

como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos

releva Choay (2001)

[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)

A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como

produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual

da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos

com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem

um espaccedilo significativo na miacutedia

A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)

A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no

seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o

pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70

anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA

2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante

renovaccedilatildeo

Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)

108

Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica

cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas

estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de

fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade

A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade

econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o

fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute

de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho

administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de

funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as

mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC

Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um

dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se

que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de

equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da

aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da

Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os

poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha

um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)

O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia

cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A

linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o

meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo

formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a

praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)

Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala

McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura

nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da

Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o

exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo

Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em

Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as

109

pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os

convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico

Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses

possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-

se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando

imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias

No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos

poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo

As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que

comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste

encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores

para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a

mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do

patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social

Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os

nossos pensamentos uma vez que

Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)

Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem

apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida

pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado

Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao

realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade

Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre

teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)

A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das

representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo

psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a

qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)

110

Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de

determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva

construiacuteda na linguagem dos sujeitos

Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)

No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do

pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo

Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)

Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos

inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas

reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees

sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber

e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se

constituem mutuamente

Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu

sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de

representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao

contexto em que se configuram

O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado

na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo

como o sistema social em que eacute gerado

Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do

processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social

podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel

do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel

coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p

111

167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte

do entrevistado temos o seguinte depoimento

Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)

Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho

arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos

das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP

Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994

FONTE IPPUC2015

Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo

urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno

conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial

originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado

atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de

apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do

Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo

houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro

112

baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do

mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos

fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um

equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade

poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um

quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um

museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto

que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem

dados para anaacutelise

Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das

primeiras casas do Memorial

Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)

Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob

responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na

estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez

seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu

e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da

paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele

periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no

decorrer do segundo capiacutetulo

Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve

ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa

Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica

20 GI Abreviatura Gina Issberner

113

SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)

SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)

O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere

ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586

imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado

pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)

Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)

O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para

as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em

depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca

prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de

Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com

a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a

revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)

A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se

enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos

que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma

imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas

arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do

poder puacuteblico

Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial

seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de

21 SP Abreviatura de Sergio Pires

114

implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o

vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na

direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje

Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da

Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos

Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a

Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio

do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e

Empresariais- FACIAP

O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como

coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica

PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial

para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da

entrevistada

A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um

parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)

Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de

organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A

entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em

Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram

o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)

Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora

de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade

do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees

perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento

socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para

a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)

Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador

Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo

subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento

europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo

115

subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam

absorvidos pelos nacionais

Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo

da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte

observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha

assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e

pelo municiacutepio

Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente

coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria

brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato

de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria

Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos

costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as

raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe

um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria

instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar

de uma mesma histoacuteria e memoacuteria

A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo

das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo

ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em

constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais

Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os

sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e

construccedilotildees de identidades

Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)

O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos

culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de

identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa

identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa

116

personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar

uma pluralidade em si

117

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as

representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de

seus visitantes gestores e idealizador

Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do

disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e

significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante

a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses

representados no Memorial

Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o

processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder

municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta

construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela

populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o

espaccedilo puacuteblico

Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e

bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de

conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-

artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da

fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que

prescinde da experiecircncia

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela

comunidade polonesa

Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos

urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos

da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes

poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender

alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de

Curitiba

118

A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta

pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade

mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria

das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social

antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser

compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica

A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais

uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado

grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos

visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que

permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da

regiatildeo de Curitiba

A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que

estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se

desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem

um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o

compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas

sociais

Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da

participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo

Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo

houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em

relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local

na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio

Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de

funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como

pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo

No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do

preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na

entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os

visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta

direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora

119

Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas

evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves

expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No

Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da

comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais

aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais

simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial

se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees

Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser

relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque

1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba

mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas

puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da

criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este

tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo

temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia

2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a

amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da

etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos

leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando

uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato

percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas

dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em

casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como

etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos

conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um

local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a

experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma

agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da

ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico

sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho

daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais

positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a

120

respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que

ocorreram ao longo do tempo

3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo

museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo

considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do

Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em

detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica

Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal

deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de

procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais

pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos

processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos

imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro

do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente

Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de

se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e

identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e

fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em

movimento suas praacuteticas sociais

121

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133

APEcircNDICES

134

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para

participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em

Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo

justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos

que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela

pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de

Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos

entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar

participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo

fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)

desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em

qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o

(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os

resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer

outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da

Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC

telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________________ fui informado

sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a

explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada

e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas

assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data __ __ ___

________________________ _________________________

Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador

135

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa em Curitiba

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES

QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA

Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e

querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto

FORMULAacuteRIO DE PESQUISA

1) Idade

1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50

2) Gecircnero

1) Masculino 2) Feminino

3) Natural de

1) Curitiba 2) Outro ________________

4) Escolaridade

( ) nenhuma

( ) 1ordm grau incompleto

( ) 1ordm grau completo

( ) 2ordm grau incompleto

( ) 2ordm grau completo

( ) superior incompleto

( ) superior completo

( ) poacutes-graduaccedilatildeo

136

5) Ocupaccedilatildeo

( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador

6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________

8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba

9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc

11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu

137

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da

pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a

responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo

eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo

na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos

seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a

promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir

em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de

retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem

nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo

receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados

no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato

com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em

contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -

Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu _________________________________ fui informado sobre o que o

pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por

isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso

sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por

mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data ___ ____ _____

_____________________________________________________

Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel

138

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo

de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA

FCC-CURITIBA

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial

1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os

dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

8 O museu do memorial foi criado por ato municipal

9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo

11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA

E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE

ABREU

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

139

6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo

ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

9 O museu do memorial foi criado por ato municipal

10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua

compreensatildeo

12 Como vocecirc se descreve como polonesa

13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER

1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais

museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a

sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa

2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do

memorial

5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE

POLONESA EM CURITIBA

1 Qual seu nome

2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial

140

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial

7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)

8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

141

ANEXOS

142

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP

143

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP

Page 6: UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE …

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba 15

Figura 2 - Imigrantes no centro de Curitiba Deacutecada de 1920 16

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho

1987 24

Figura 4 - Localizaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao entorno do Memorial 31

Figura 5- Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual

Joatildeo Paulo II 1915 32

Figura 6 - Localizaccedilatildeo e acesso do memorial em relaccedilatildeo ao entorno 33

Figura 7-Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial 34

Figura 8 - Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem 35

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf Srordf de Czestochowa situada no MIP 37

Figura 10- Interior da capela ornamentada para dia de Nossa Senhora de

Czestochowa Padroeira da Polocircnia 38

Figura 11 - Inscriccedilatildeo na viga central da capela MIP 38

Figura 12 - Loja de artesanato e espaccedilo administrativoMIP 40

Figura 13- Interior da loja de artesanatoMIP 41

Figura 14- Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local

de armazenamento de acervoMIP 42

Figura 15 - Museu da habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011) MIP 43

Figura 16 - Imagem recente do interior do museu da habitaccedilatildeo MIP 44

Figura 17 - Local de armazenamento de acervo do Memorial MIP 44

Figura 18 - Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP 45

Figura 19 - Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo MIP 46

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita escultura de

Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial 47

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa

Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo 48

Figura 22 - A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um

momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas

comemoraccedilotildees natalinas 49

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndash Pisankirdquo Casa de Eventos do

Memorial Paacutescoa2016 49

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51

Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57

Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59

Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64

Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65

Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93

Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101

Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

97

Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

99

LISTA DE SIGLAS

ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso

COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus

FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais

FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute

FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRAM Instituto Brasileiro de Museus

ICOFOM International Committe for Museology

ICOM International Conciul of Museums

IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute

IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo

IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba

MINOM International Movement for a New Museology

MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa

SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UCL Universiteacute Catholique de Louvain

UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo

UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization

ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21

11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51

2 MEMORIAIS E MUSEUS 57

21 Os Memoriais 57

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67

23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77

32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89

34 Procedimentos de Pesquisa 91

35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117

REFEREcircNCIAS121

APEcircNDICES133

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

formulaacuterio134

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da

Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

gravaccedilatildeo de voz137

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no

processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em

Curitiba138

ANEXOS 141

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de

imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143

14

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial

se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e

particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias

e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido

O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido

por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees

culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna

A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais

data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com

a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil

dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom

a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo

na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo

de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial

a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba

1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico

15

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba

Fonte Curitiba (2010)

Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II

popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo

reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de

1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco

da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma

casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua

homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no

Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins

[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)

16

Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]

nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o

estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto

entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade

A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na

deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos

com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde

estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a

comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-

se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida

ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados

faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz

a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas

colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute

Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920

Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)

17

Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a

criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de

excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de

relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e

museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-

se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a

percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs

fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre

museu memoacuteria e identidade

Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se

principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais

disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas

perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com

profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas

possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social

do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos

visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural

Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os

visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da

importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o

impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens

construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas

indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a

trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba

Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do

Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores

novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados

Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente

quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores

e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera

influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a

18

Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a

delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada

A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de

documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com

entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios

de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses

procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-

culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as

representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para

chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em

trecircs capiacutetulos

Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano

discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de

Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing

e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)

Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)

Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)

(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de

Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade

como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura

(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e

Geissler(2004)

Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o

territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou

a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a

importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico

dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)

Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)

Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem

nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich

(2008)

No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas

especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da

19

Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica

a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de

memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira

(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e

Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova

Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury

(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)

Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural

memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)

Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho

(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)

No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees

sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)

(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)

Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)

Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o

propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees

sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo

(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati

Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)

Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)

e suas especificidades

Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa

com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no

Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de

Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e

Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo

(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas

do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)

complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)

e Choay (2001)

Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e

Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das

representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos

20

conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados

Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste

Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre

patrimocircnio cultural

21

1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA

Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico

que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias

da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e

quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho

local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a

desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como

produto de consumo cultural

No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da

Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura

em 1979visando

[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)

Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no

Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas

coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de

Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da

Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio

cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de

preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria

teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016

p1)

Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira

criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila

Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus

(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema

Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado

agrave Secretaria de Estado da Cultura

22

Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da

poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos

reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo

brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir

11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial

Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi

desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que

atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos

de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar

aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia

polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo

atual

Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que

faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade

O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)

Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos

que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da

desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a

soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo

(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na

centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de

Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa

de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo

metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e

consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte

da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut

23

(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a

seguinte colocaccedilatildeo

A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)

ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo

vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo

Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente

na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se

encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos

moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas

famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL

DO ESTADO p12 010287)

Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso

e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial

corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um

atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)

24

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987

Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987

Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia

ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que

a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de

seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do

historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute

necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites

dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das

memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico

Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da

aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho

e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos

proprietaacuterios

A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo

de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava

sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com

25

o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista

Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da

cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos

aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora

esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da

cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)

A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da

sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a

remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees

dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975

-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave

continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira

administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)

[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)

Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi

intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)

o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque

Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e

o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda

servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas

etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias

serviam para uso da populaccedilatildeo em geral

Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de

Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui

a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial

de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta

dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui

2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965

26

Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques

possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas

Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem

bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de

Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para

a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais

Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes

visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e

Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais

e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma

coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia

estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal

A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo

Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo

Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento

visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as

funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo

de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais

moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento

ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial

Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na

compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos

reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante

Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala

ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre

mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo

Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao

ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No

entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano

de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a

instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)

27

Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais

esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma

populaccedilatildeo de origem europeacuteia

A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)

Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba

segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da

cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada

pelos memoriais

A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)

De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser

referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um

problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e

que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)

Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua

identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que

possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento

e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)

A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia

criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a

fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala

sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas

simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)

28

O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade

e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio

fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de

Curitiba

No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder

que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente

poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico

manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens

urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua

forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem

sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)

Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy

quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele

[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)

A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida

dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa

estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na

populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das

parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a

indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo

toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica

a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas

urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)

No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha

a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa

Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo

das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios

de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city

marketing

29

Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3

Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como

uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees

sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e

as formas de viver o espaccedilo puacuteblico

Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como

tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a

possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais

A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)

Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses

(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em

accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um

sentimento de pertencimento

Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem

sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

30

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural

Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial

vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa

considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua

natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p

227)

Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive

gerando outras identidades

Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses

no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as

representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor

Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)

Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido

como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus

habitantes

Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem

do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade

polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da

cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as

particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no

proacuteximo item

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial

O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer

de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme

31

o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2

Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem

decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado

num bairro central de Curitiba

Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade

Fonte Curitiba (2010)

O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi

estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro

siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)

Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba

32

Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915

Fonte GEISSLER (2004)

Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e

utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da

casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes

para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de

56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste

da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo

Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo

(GEISSLER 2004 p224)

Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio

Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de

preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo

de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas

apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e

matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais

(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na

figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos

jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita

33

Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno

Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)

O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa

Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado

por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo

com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia

representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia

na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008

p97)

Portal Polonecircs

Rio Beleacutem

Entrada Secundaacuteria

Entrada Principal

34

Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial

Fonte Google maps (2016)

Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do

Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se

transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha

e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)

A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira

sobre o Rio Beleacutem

35

Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem

Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)

Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o

Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito

de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de

metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba

Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da

edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador

da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que

Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)

4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo

36

Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como

na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction

and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of

Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi

Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)

Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave

colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas

ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and

Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa

Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo

finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there

are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo

(SILEacuteN2008 p11)

Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram

desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo

da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do

Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo

(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir

detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem

acervo e edificaccedilotildees

Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa

avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa

Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em

1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de

Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II

rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por

Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute

preservado pela capela

5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo

37

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP

Fonte Figundio (2012)

Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da

Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As

comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se

atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte

Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo

Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia

38

Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP

Fonte Cequinel (2016)

Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois

outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o

costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe

da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como

sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)

39

Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP

Fonte Da Autora (2015)

Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins

na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico

devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo

e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi

permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de

contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a

necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas

praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes

as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias

que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma

diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)

Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a

Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda

de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra

ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para

descanso

40

Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP

Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB

No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas

procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas

ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces

Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do

perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma

de incentivo e desenvolvimento ao artesanato

41

Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP

FonteWpolityceForum2014

Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no

decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas

complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas

recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki

(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como

moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)

A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes

Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute

utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de

acervo

42

Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP

Fonte Papodeviajante(2008)

O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque

pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa

edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia

Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada

para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo

possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de

autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX

43

Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)

Fonte Savicki em 29082011

Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a

cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais

recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em

relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar

44

Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP

Fonte Da autora (2015)

Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que

pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de

Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de

armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico

Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP

Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)

45

Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo

procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski

utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas

Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP

Fonte Da autora (2015)

Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos

a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a

tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da

porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos

para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou

etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este

local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da

colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX

46

Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo

Fonte Da autora (2015)

Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na

colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia

de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute

utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem

nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio

comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da

Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e

valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses

47

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial

Fonte Da autora (2015)

A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um

grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais

festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial

com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a

famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os

alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees

religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia

[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)

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Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo

Fonte Curitiba (2016)

O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos

anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus

menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia

Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo

de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para

depois dar iniacutecio a ceia

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Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas

Fonte Vacanzepoloniacom

As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da

Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas

civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016

Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II

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No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao

Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi

concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico

e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque

Fonte feriasnowblog(2014)

De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do

parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da

teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs

Brac Dekoracyjny

51

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico

Fonte Curitiba Space (2016)

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia

parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de

parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba

A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico

do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve

relato sobre esta trajetoacuteria

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs

Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil

abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste

deslocamento

Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)

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Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da

Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)

tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito

de naccedilatildeo

[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)

Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs

era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante

de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto

somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo

brasileirordquo

No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989

p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir

imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a

moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o

estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs

no Paranaacute em seus diversos aspectos

No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se

reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de

poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse

grupo social

Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita

agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio

cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio

Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)

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De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a

constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera

que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem

recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram

marcados subjetivamente

Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica

ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal

e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees

ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e

de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)

Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta

investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da

pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de

ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a

rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de

interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees

sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma

viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista

estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de

imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica

de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos

imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a

respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba

Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)

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Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute

se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses

e outrosrdquo

Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o

Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872

aconteceu com a ajuda oficial

O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)

Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute

Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas

cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital

Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a

funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme

o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)

No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas

Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da

proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da

colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo

(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins

criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil

Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba

sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se

fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da

historiadora Mafalda Sikora

55

A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)

No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas

considerando que

Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)

Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns

milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)

Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes

Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra

apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um

contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do

polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo

que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou

ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo

extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade

de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia

para o Brasil

[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo

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polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)

A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma

ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas

brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012

p240)

A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto

abaixo

Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)

Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute

revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas

maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da

cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e

Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a

respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as

representaccedilotildees sociais

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2 MEMORIAIS E MUSEUS

21 Os Memoriais

Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial

Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade

de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam

uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of

visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond

their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(

WILLIAMS 2007 p6)7

Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao

tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado

em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram

a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em

Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto

Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)

Fonte uacuteltimosegundo (2010)

6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram

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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world

war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization

has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)

No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente

pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas

com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que

caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave

necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais

O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a

respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais

as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e

siacutetio memorial

A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)

Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos

museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho

quanto agraves especificidades de cada termo

O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo

em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com

estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo

8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal

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In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)

O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da

fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais

conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou

foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere

abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de

Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque

terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo

papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o

impacto de forma continuada

Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)

Fonte Damon Winter The New York Times

10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista

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Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem

a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de

histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent

between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS

2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam

como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias

pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial

expressa algumas preocupaccedilotildees

A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12

O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus

memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento

das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de

ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo

solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and

impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes

espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal

No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses

objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e

11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel

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pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo

ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe

understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice

versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)

No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o

congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct

what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute

allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)

Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial

e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que

envolvem a sociedade contemporacircnea

Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a

realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo

especiacuteficos como no caso dos Memoriais

No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito

dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge

Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil

institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo

de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo

(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo

possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu

O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)

Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na

organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de

possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu

14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito

62

No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como

o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem

de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante

Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus

implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)

direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de

estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos

podem ser definidos da seguinte forma

These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16

Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro

de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como

Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados

para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma

16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos

histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica

63

cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e

teacutecnicas

Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP

dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa

de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender

viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre

eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees

com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)

Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva

ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave

comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas

instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em

termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia

em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos

de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de

memorial mas sim de museu

Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)

analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria

portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho

destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos

Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades

cidades fatos e acontecimentos

No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito

para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que

favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os

Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A

autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams

Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e

17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)

64

satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)

Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito

dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as

instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)

Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional

de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave

apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem

grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer

que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram

diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes

formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais

Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)

Fonte Brasilgovbr 2016

Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades

do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos

mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com

projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu

Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a

histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS

Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de

estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura

65

29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave

atualidade

Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP

Fonte tvbrasil ebccombr 2016

Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser

concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos

etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a

possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que

inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das

instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos

de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao

desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)

Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria

ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory

processes including the historical interpretation and the museums social

functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)

Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus

(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees

18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu

66

e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o

territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das

comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como

instituiccedilotildees museoloacutegicas

As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e

os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de

delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao

retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais

dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos

parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e

sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem

a um novo paiacutes com cultura diversa da sua

Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de

caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas

funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos

referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender

viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo

de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica

e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao

desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo

de comemoraccedilotildees

Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta

um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute

que nos ateremos a seguir

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia

Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com

as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational

Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago

(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao

67

aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos

fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico

internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou

corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)

O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre

a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-

ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees

museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade

O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave

funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais

do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-

se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da

instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)

O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da

Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com

o apoio do ICOM

Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica

Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local

patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais

em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees

A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu

e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera

que

[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)

Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago

do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com

o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o

68

delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual

confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM

1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave

museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu

integral

A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da

Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na

Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada

O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e

reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho

Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o

museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a

manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela

delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta

questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no

Brasil em 1964

O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos

enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a

problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre

um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza

que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua

mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma

situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de

educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica

cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades

Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da

Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da

Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo

desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a

compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo

(CURY 2005 p 46)

No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984

em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo

os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas

69

que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)

Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu

estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade

A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)

Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa

Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc

Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute

causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil

Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida

a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos

museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute

que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo

(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora

Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)

Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da

funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do

Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a

aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele

periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras

Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em

1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para

uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a

divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA

NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e

divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas

70

experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao

colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO

2009 p 25)

O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas

museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo

francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as

possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo

O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)

Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de

Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo

social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]

relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade

agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio

institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)

Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como

patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer

museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto

Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para

atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela

SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)

A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas

propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades

de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem

no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como

nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo

Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a

uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas

71

paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute

museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)

Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao

conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua

instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do

patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo

estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda

do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)

O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus

incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a

diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu

estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem

desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial

O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)

Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por

ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de

estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais

Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas

(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina

Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse

da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo

(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de

Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma

naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e

espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)

72

Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo

direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais

representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado

por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees

Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade

visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o

reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas

ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do

mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais

complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)

No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus

reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como

consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio

cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem

abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a

serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na

medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o

tema proposto

23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural

tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura

um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo

polonesa da regiatildeo de Curitiba

Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave

comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos

anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de

uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e

espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)

Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal

mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada

comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura

73

No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute

compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico

ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de

significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)

Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de

maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por

Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos

A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)

O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos

processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto

cultural Para Moscovici

Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)

As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais

enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria

realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder

simboacutelico representadas no imaginaacuterio social

Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert

Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das

relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo

(DURANT apud COELHO 2004 p212)

Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo

social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e

objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O

imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos

alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)

74

Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades

Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades

nas sociedades contemporacircneas

A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)

As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em

constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este

sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute

de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico

Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista

sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu

passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos

criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com

a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que

[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)

Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a

problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o

que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu

conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no

presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum

Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador

francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre

problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um

elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA

1993 p9)

Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que

experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute

75

passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou

colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e

Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo

especiacutefico

Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)

Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de

preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e

grupo de pertencimento

Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da

identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma

sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum

processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)

No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos

centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de

vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este

posicionamento da seguinte forma

Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)

Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade

como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que

a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma

visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas

da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees

sociais

76

[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)

De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das

instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de

opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o

pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas

ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute

inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo

(ABRIC 2001 p156)

De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais

compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum

Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante

na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que

consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na

forma de imagens e conceitos

Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees

em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de

organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes

coletadas

77

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas

pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son

image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no

domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos

campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos

mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos

de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito

estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia

histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede

As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo

coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das

representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo

repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na

coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as

representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim

aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas

que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)

Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo

agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os

fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que

estatildeo inseridos

Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)

Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das

caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees

satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste

sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um

lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p

9)

78

Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram

posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais

sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos

posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como

um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo

consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)

Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta

que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas

praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados

assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e

comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida

cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta

maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das

sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea

do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)

O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre

transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas

como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam

continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []

elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das

representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo

Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)

As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro

transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e

adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem

compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo

os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia

eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de

79

um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo

(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)

As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre

grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma

representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma

linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas

representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se

como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do

mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano

As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo

o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores

Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo

presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira

O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)

Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento

reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade

do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido

Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro

numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p

13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o

reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas

a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e

imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes

significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de

outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus

discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em

80

termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de

representaccedilotildees sociais

Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das

coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos

estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia

individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de

salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e

arbitrariedade

Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir

Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)

Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de

investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de

Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas

praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da

comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as

palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar

equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)

Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici

alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma

forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica

e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social

(JODELET 2001 p 188)

Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar

nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas

em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social

Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os

indiviacuteduos

81

A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus

discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico

necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees

sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida

mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici

relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais

Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)

O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual

as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais

Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas

agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social

Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de

interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p

22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que

criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado

ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do

conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais

[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)

Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram

estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos

abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p

71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira

essecircncia da realidaderdquo

Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo

perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um

82

paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003

p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias

conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma

figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso

universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)

Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a

estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente

Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo

ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)

A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)

Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de

determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados

afirmam um viacutenculo social e uma identidade

As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)

No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem

como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza

certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da

realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave

comunidade

Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo

comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que

traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo

Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos

depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que

os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees

83

diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como

se refere Moscovici (1981)

A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na

necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os

comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da

experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos

agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito

museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem

No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas

preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos

de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo

como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva

(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura

iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias

imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)

Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo

ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo

em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria

importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no

artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como

ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)

Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute

esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender

quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do

Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista

Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash

Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)

traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas

Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le

Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de

Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase

nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de

comunicaccedilatildeo

84

Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo

ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os

museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento

de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus

Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na

concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso

dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram

gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu

Nacional de Histoacuteria Natural de Paris

Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de

Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT

com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma

ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)

cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde

acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade

representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de

Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees

culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano

Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de

Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em

Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses

constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees

Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea

De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute

como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os

proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre

Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja

Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as

85

forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)

Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder

como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como

construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou

ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria

pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento

Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)

A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem

como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser

reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de

representaccedilatildeo

As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)

Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se

delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo

instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que

contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas

86

A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto

intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo

vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a

textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado

segundo Rechena (2011) da seguinte forma

Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)

Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos

institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social

Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em

virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)

marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da

classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal

inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver

Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida

o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em

objeto de pesquisa

A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma

natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o

desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de

oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)

No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve

preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua

praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais

do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias

como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo

No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as

reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das

produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso

87

32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa

A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o

tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do

visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no

circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees

vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na

forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados

quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e

construir conclusotildees

O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)

Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com

informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas

conclusotildees

Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio

padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as

perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho

no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos

visitantes daquele espaccedilo cultural

A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI

LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo

que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se

que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem

Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa

Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua

importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados

para anaacutelise da seguinte forma a saber

1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do

Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa

88

2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa

os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas

3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e

disponibilidade dos participantes

4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas

dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21

anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o

formulaacuterio

5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e

discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo

social que se consolida como foco determinante neste estudo

No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo

visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como

tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais

Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as

teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos

a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a

autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de

sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De

acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os

pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm

sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao

contexto de sua produccedilatildeo

Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)

em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a

Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes

elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das

representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por

recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo

diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final

A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes

espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de

89

finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas

dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC

A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico

Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em

seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante

denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise

quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo

representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo

A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se

reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk

Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE

RAMALHO 2006 p20)

No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)

essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente

individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma

forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os

outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma

independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo

de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008

p 12)

Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e

ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor

sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como

atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais

Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas

poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de

representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social

existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma

condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor

O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem

90

suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)

Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das

preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas

de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH

2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo

e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)

Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici

quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle

de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo

estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)

Percebemos que ao utilizarmos a ADC

Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)

Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou

Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e

dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos

conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar

34 Procedimentos de Pesquisa

Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de

dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da

parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas

e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais

Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o

projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade

marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial

91

Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e

representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma

reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio

aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do

Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade

de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos

forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa

A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e

outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve

apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada

participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos

da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue

e assinado pelos entrevistados

Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora

iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as

perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes

responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo

das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar

voz ao discurso do visitante

Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)

foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal

(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento

(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar

algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na

estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial

O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi

elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos

dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como

os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos

pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como

92

pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos

poloneses no decorrer das respostas

As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento

do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do

Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como

poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de

uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas

para as escolhas

1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo

procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia

um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais

2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta

questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito

expositivo do Memorial

3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora

tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo

do visitante para o circuito do Memorial

4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos

efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs

5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o

polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais

as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram

atualmente na sociedade contemporacircnea

Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do

formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro

graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50

anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais

mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes

estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)

93

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por

turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada

com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio

Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

0 10 20 30 40 50 60 70

Fem64

Masc 36

Acima de 50 anos - 40

30 a 49 anos - 34

21 a 29 anos - 26

0 10 20 30 40 50 60

Turistas - 58

Curitibanos - 42

Outros paiacuteses - 8

Interior do PR - 6

Outros estados - 38

Curitiba - 42

94

Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade

superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico

3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo

compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados

Fonte Da autora (2015)

O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e

Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo

os usuaacuterios daquele espaccedilo

Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria

trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado

orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil

0 5 10 15 20 25 30 35

Ens fundincompleto - 6

Ens Fundamental - 26

Ensino meacutedio - 26

Ensino superior 24

Poacutes-graduaccedilatildeo - 34

95

Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total

Fonte Da autora (2015)

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total

Fonte Da Autora (2015)

O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a

maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua

caracteriacutestica como local de lazer

0 2 4 6 8 10 12

Estudante - 12

Aposentado - 12

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Autonomo - 2

0 2 4 6 8 10 12 14

Estudante - 14

Funcionaacuterio Puacuteblico - 12

Autocircnomo - 10

Aposentado - 8

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Dona de casa 2

96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial

aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as

associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar

mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes

Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades

atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que

caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los

Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do

imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas

ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste

quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes

de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as

pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa

religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a

identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que

a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -

rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores

que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a

religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Jaacute visitou o Memorial antes 68

Esta eacute a primeira visita - 32

Motivo da visita trabalho 2

Motivo da visita Lazer - 98

97

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo

(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante

polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo

(VALENTINI 1982 p25)

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo

As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural

20

2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)

15

3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia

Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia

8

4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais

5

5- Artesanatoacervo de objetos

Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo

do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante

Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas

Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos

dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio

98

Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo

Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura

similar da Europa

Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que

identificasse o local como polonecircs

No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a

atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos

objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local

chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito

Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo

TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES

1- Arquiteturacasa capela

Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos

visitantes

21

2- Objetos do acervo

Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de

polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)

20

3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo

Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante

5

4- Quiosque Artesanato

Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local

3

5- Escultura do Papa

Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante

polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de

tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes

99

nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal

de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens

em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo

simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial

reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses

e o gosto por festas

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

Arquiteturacasascapela

A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque

20

BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato

Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses

12

Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque

6

Indumentaacuteriafestas

Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial

6

Janelas com flores

Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado

4

Objetoscamacarroccedila

O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira

poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante

alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta

observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa

natildeo explica bemrdquo

Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a

decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza

romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada

Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a

privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social

sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de

100

Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos

e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica

de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus

A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza

na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as

autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a

necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem

acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo

vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em

aacuterea de risco social

Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha

que identificou o polonecircs com o que viu

O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes

da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com

algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos

como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses

No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o

grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com

o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe

principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas

apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo

de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao

destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na

comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do

espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo

19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)

101

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado

os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico

Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados

anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante

polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash

70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura

aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante

O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou

descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de

comentaacuterios

Esses discursos seratildeo comentados adiante

35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses

Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a

preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte

maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

4Natildeo conhece 42

3Sim Identificou 36

2Conhece mas natildeo identificou 20

1Natildeo respondeu 2

102

fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute

coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo

A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas

na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a

identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em

relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas

culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do

sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa

As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)

Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do

sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias

identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves

formas dos sistemas culturais existentes

No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com

algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos

conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes

1ordm Respondente

- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem

as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua

2ordm Respondente

-Eacute uma pessoa integrada no social

3ordm Respondente

- Natildeo consigo associar

Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos

poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em

referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue

103

associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As

falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar

4ordm Respondente

- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo

5ordm Respondente

- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar

maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social

considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete

aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute

propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse

ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a

proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo

democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural

agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado

Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar

que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que

circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da

cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em

suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele

equipamento cultural

De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio

ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as

informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo

com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em

contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade

da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da

Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na

sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo

natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma

antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre

a importacircncia da experiecircncia

104

[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)

Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove

que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo

algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos

discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita

significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de

conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente

possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a

representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente

elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de

uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as

narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam

a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo

coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento

A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses

no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos

sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do

visitante

Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no

graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo

(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque

A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo

dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o

visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser

valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de

estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do

Memorial

105

Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes

Fonte Da autora (2015)

Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos

apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da

diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de

Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais

Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de

informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de

representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas

relacionadas ao MIP

Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio

a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora

dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista

ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa

a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se

ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a

acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo

discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo

distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Arquitetura 41

Objetos do acervo 23

artesanatoquiosque 16

camponesvida rural 15

religioso 11

culturatradiccedilatildeo 9

Vida em comunidade 8

106

parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil

A entrevistada complementa

Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)

Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e

ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem

da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna

negoacutecio

[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)

Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um

grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas

praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um

conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo

cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz

autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as

tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que

visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)

Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade

Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte

107

da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)

O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados

como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos

releva Choay (2001)

[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)

A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como

produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual

da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos

com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem

um espaccedilo significativo na miacutedia

A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)

A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no

seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o

pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70

anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA

2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante

renovaccedilatildeo

Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)

108

Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica

cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas

estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de

fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade

A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade

econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o

fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute

de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho

administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de

funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as

mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC

Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um

dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se

que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de

equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da

aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da

Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os

poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha

um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)

O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia

cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A

linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o

meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo

formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a

praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)

Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala

McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura

nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da

Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o

exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo

Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em

Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as

109

pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os

convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico

Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses

possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-

se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando

imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias

No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos

poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo

As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que

comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste

encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores

para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a

mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do

patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social

Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os

nossos pensamentos uma vez que

Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)

Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem

apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida

pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado

Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao

realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade

Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre

teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)

A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das

representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo

psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a

qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)

110

Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de

determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva

construiacuteda na linguagem dos sujeitos

Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)

No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do

pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo

Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)

Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos

inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas

reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees

sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber

e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se

constituem mutuamente

Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu

sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de

representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao

contexto em que se configuram

O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado

na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo

como o sistema social em que eacute gerado

Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do

processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social

podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel

do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel

coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p

111

167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte

do entrevistado temos o seguinte depoimento

Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)

Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho

arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos

das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP

Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994

FONTE IPPUC2015

Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo

urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno

conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial

originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado

atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de

apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do

Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo

houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro

112

baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do

mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos

fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um

equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade

poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um

quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um

museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto

que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem

dados para anaacutelise

Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das

primeiras casas do Memorial

Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)

Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob

responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na

estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez

seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu

e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da

paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele

periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no

decorrer do segundo capiacutetulo

Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve

ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa

Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica

20 GI Abreviatura Gina Issberner

113

SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)

SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)

O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere

ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586

imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado

pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)

Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)

O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para

as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em

depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca

prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de

Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com

a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a

revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)

A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se

enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos

que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma

imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas

arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do

poder puacuteblico

Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial

seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de

21 SP Abreviatura de Sergio Pires

114

implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o

vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na

direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje

Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da

Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos

Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a

Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio

do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e

Empresariais- FACIAP

O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como

coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica

PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial

para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da

entrevistada

A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um

parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)

Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de

organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A

entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em

Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram

o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)

Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora

de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade

do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees

perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento

socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para

a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)

Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador

Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo

subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento

europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo

115

subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam

absorvidos pelos nacionais

Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo

da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte

observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha

assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e

pelo municiacutepio

Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente

coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria

brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato

de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria

Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos

costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as

raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe

um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria

instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar

de uma mesma histoacuteria e memoacuteria

A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo

das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo

ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em

constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais

Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os

sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e

construccedilotildees de identidades

Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)

O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos

culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de

identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa

identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa

116

personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar

uma pluralidade em si

117

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as

representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de

seus visitantes gestores e idealizador

Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do

disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e

significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante

a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses

representados no Memorial

Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o

processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder

municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta

construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela

populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o

espaccedilo puacuteblico

Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e

bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de

conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-

artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da

fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que

prescinde da experiecircncia

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela

comunidade polonesa

Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos

urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos

da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes

poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender

alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de

Curitiba

118

A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta

pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade

mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria

das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social

antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser

compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica

A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais

uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado

grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos

visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que

permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da

regiatildeo de Curitiba

A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que

estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se

desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem

um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o

compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas

sociais

Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da

participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo

Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo

houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em

relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local

na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio

Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de

funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como

pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo

No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do

preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na

entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os

visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta

direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora

119

Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas

evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves

expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No

Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da

comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais

aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais

simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial

se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees

Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser

relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque

1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba

mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas

puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da

criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este

tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo

temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia

2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a

amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da

etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos

leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando

uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato

percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas

dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em

casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como

etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos

conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um

local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a

experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma

agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da

ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico

sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho

daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais

positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a

120

respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que

ocorreram ao longo do tempo

3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo

museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo

considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do

Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em

detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica

Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal

deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de

procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais

pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos

processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos

imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro

do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente

Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de

se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e

identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e

fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em

movimento suas praacuteticas sociais

121

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133

APEcircNDICES

134

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para

participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em

Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo

justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos

que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela

pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de

Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos

entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar

participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo

fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)

desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em

qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o

(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os

resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer

outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da

Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC

telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________________ fui informado

sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a

explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada

e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas

assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data __ __ ___

________________________ _________________________

Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador

135

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa em Curitiba

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES

QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA

Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e

querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto

FORMULAacuteRIO DE PESQUISA

1) Idade

1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50

2) Gecircnero

1) Masculino 2) Feminino

3) Natural de

1) Curitiba 2) Outro ________________

4) Escolaridade

( ) nenhuma

( ) 1ordm grau incompleto

( ) 1ordm grau completo

( ) 2ordm grau incompleto

( ) 2ordm grau completo

( ) superior incompleto

( ) superior completo

( ) poacutes-graduaccedilatildeo

136

5) Ocupaccedilatildeo

( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador

6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________

8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba

9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc

11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu

137

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da

pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a

responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo

eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo

na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos

seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a

promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir

em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de

retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem

nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo

receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados

no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato

com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em

contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -

Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu _________________________________ fui informado sobre o que o

pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por

isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso

sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por

mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data ___ ____ _____

_____________________________________________________

Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel

138

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo

de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA

FCC-CURITIBA

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial

1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os

dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

8 O museu do memorial foi criado por ato municipal

9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo

11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA

E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE

ABREU

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

139

6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo

ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

9 O museu do memorial foi criado por ato municipal

10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua

compreensatildeo

12 Como vocecirc se descreve como polonesa

13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER

1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais

museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a

sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa

2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do

memorial

5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE

POLONESA EM CURITIBA

1 Qual seu nome

2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial

140

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial

7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)

8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

141

ANEXOS

142

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP

143

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP

Page 7: UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE …

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio agrave trilha do Bosque 50

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico 51

Figura 26- Memorial da Paz em Hiroshima (JP) 57

Figura 27- Museu Memorial 911 em NYC (US) 59

Figura 28- Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF) 64

Figura 29- Memorial da Resistecircncia em S Paulo (SP) 65

Figura 30- Projeto Urbaniacutestico do MIP 1994112

LISTA DE GRAacuteFICOS

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP 93

Graacutefico 2 ndash Procedecircncia dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados do MIP 94

Graacutefico 4 - Perfil ocupacional dos visitantes de Curitiba ndash 42 do total 95

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas- 58 do total 96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial 96

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial 101

Graacutefico 8 - Principais imagens apuradas nos formulaacuterios dos visitantes 105

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

97

Quadro 2-Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo 98

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

99

LISTA DE SIGLAS

ADC Anaacutelise Criacutetica do Discurso

COSEM Coordenaccedilatildeo do Sistema Estadual de Museus

FACIAP Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e Empresariais

FECOMEacuteRCIO Federaccedilatildeo do Comeacutercio do Estado do Paranaacute

FIEP - PR Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica

IBRAM Instituto Brasileiro de Museus

ICOFOM International Committe for Museology

ICOM International Conciul of Museums

IHGEP Instituto Histoacuterico e Geograacutefico do Estado do Paranaacute

IMC Instituto de Museus e Conservaccedilatildeo

IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba

MINOM International Movement for a New Museology

MIP Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa

SANEPAR Companhia de Saneamento do Paranaacute

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

UCL Universiteacute Catholique de Louvain

UIP Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo

UNESCO United Nations Educational Scientific and Cultural Organization

ULHT Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO 14

1 O MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA 21

11 Processo de Criaccedilatildeo do Memorial 22

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial 30

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs 51

2 MEMORIAIS E MUSEUS 57

21 Os Memoriais 57

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia 67

23 Patrimocircnio Cultural Memoacuteria e Identidade 72

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS 77

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus 77

32 Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa 87

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC 89

34 Procedimentos de Pesquisa 91

35 As Representaccedilotildees sobre os Imigrantes Poloneses102

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS117

REFEREcircNCIAS121

APEcircNDICES133

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

formulaacuterio134

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da

Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba135

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido por meio de

gravaccedilatildeo de voz137

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no

processo de implantaccedilatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em

Curitiba138

ANEXOS 141

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP142

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de

imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP143

14

INTRODUCcedilAtildeO

Esta dissertaccedilatildeo tem como problema de pesquisa compreender quais satildeo as

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses criadas a partir do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP em Curitiba capital do estado do Paranaacute A escolha desse Memorial

se deu em virtude de seu potencial educativo e cultural junto agrave sociedade e

particularmente no trabalho de preservaccedilatildeo de testemunhos materiais das memoacuterias

e tradiccedilotildees culturais da comunidade polonesa ali desenvolvido

O Parque Estadual Joatildeo Paulo II onde se localiza o Memorial foi concebido

por meio de decreto estadual nordm 82991986 como uma aacuterea de lazer de manifestaccedilotildees

culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da flora e fauna

A cidade a princiacutepio denominada Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais

data de 1693 ldquoA mudanccedila do nome da vila e da rotina do povoado veio em 1721 com

a visita do ouvidor Raphael Pires Pardinhordquo (IBGE 2016) Ateacute o seacuteculo XVIII o perfil

dos habitantes era composto por iacutendios portugueses espanhoacuteis e brasileiros ldquoCom

a emancipaccedilatildeo poliacutetica do Paranaacute (1854) e o incentivo governamental agrave colonizaccedilatildeo

na segunda metade do seacuteculo XIX Curitiba foi transformada pela intensa imigraccedilatildeo

de europeusrdquo (IBGE 2016)1middot A Figura 1 oferece por meio de aproximaccedilatildeo territorial

a localizaccedilatildeo da cidade de Curitiba

1httpcidadesibgegovbrpainelhistoricophplang=ampcodmun=410690ampsearch=parana|curitiba|infograficos-historico

15

Figura 1 - Localizaccedilatildeo geograacutefica de Curitiba

Fonte Curitiba (2010)

Ao tecermos alguns comentaacuterios a respeito do Bosque Joatildeo Paulo II

popularmente conhecido como Bosque do Papa mencionamos que sua criaccedilatildeo

reporta a uma homenagem ao Papa polonecircs em sua viagem agrave Curitiba em junho de

1980 Inaugurado em dezembro do mesmo ano esse Bosque representa um marco

da passagem do Papa da Igreja Catoacutelica por Curitiba jaacute que ali foi remontada uma

casa tiacutepica polonesa que foi visitada pelo Papa durante a solenidade em sua

homenagem ocorrida no Estaacutedio Major Antocircnio Couto Pereira Conforme texto no

Boletim Informativo da Casa Romaacuterio Martins

[] o projeto do Parque Joatildeo Paulo II Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa aleacutem da preservaccedilatildeo- a ser intentada a partir de julho de 1981 [] as velhas casas polonesas se transformaram em merecidas [e] significativa homenagem a todos os imigrantes que aqui realizaram seu projeto de vida (WACHOWICZ 1981 p7)

16

Esta corrente migratoacuteria na formaccedilatildeo da cidade de Curitiba representou ldquo[]

nada menos do que 40 mil poloneses [] entre 1870 e 1914 fazendo do Paranaacute o

estado que mais recebeu imigrantes desse grupordquo (OLIVEIRA 2009 p 230) Portanto

entendemos como significativa a influecircncia polonesa no contexto cultural da cidade

A Figura 2 apresenta um registro da movimentaccedilatildeo urbana de Curitiba na

deacutecada de 1920 com mulheres imigrantes com lenccedilos na cabeccedila portando cestos

com produtos ao lado das carroccedilas que trafegavam pela estrada do Accedilungui (onde

estaacute o Portal Polonecircs como veremos adiante) ateacute o centro de Curitiba para a

comercializaccedilatildeo de hortifrutigranjeiros A imigraccedilatildeo polonesa no Brasil caracterizou-

se por ser formada por agricultores provenientes de condiccedilotildees semi-feudais de vida

ldquoo cheiro do mato o panorama da criaccedilatildeo domeacutestica e os celeiros abarrotados

faziam-lhe bem agrave almardquo (WACHOWICZ 1981 p1) A mata existente no bosque traduz

a ambientaccedilatildeo natural em que os imigrantes poloneses viviam na maioria das antigas

colocircnias no final do seacuteculo XIX no Paranaacute

Figura 2ndashImigrantes no Centro de Curitiba Deacutecada de 1920

Fonte Acervo da Casa da Memoacuteria de CuritibaPR (2015)

17

Por configurar um lugar carregado de histoacuterias e memoacuterias e por abranger a

criaccedilatildeo e o uso de um equipamento cultural urbano em Curitiba num espaccedilo de

excelecircncia da cidade acreditamos que esta pesquisa apresenta um tema de

relevacircncia para a cidade de Curitiba e para a pesquisadora que como curitibana e

museoacuteloga sente a necessidade de maiores estudos sobre esse Memorial Acredita-

se que a aplicaccedilatildeo da anaacutelise das representaccedilotildees sociais permitiraacute conhecer a

percepccedilatildeo do puacuteblico gestores e idealizador a respeito do imigrante polonecircs

fornecendo uma janela de observaccedilatildeo para o reconhecimento das relaccedilotildees entre

museu memoacuteria e identidade

Neste trabalho de cunho interdisciplinar cujo ferramental teoacuterico pauta-se

principalmente na Museologia na Histoacuteria e na Teoria das Representaccedilotildees Sociais

disponibilizamos a oportunidade para o entendimento da realidade oferecendo novas

perspectivas Pela praacutexis o cientista social tem a possibilidade de identificar com

profundidade algumas questotildees da sociedade contemporacircnea propondo alternativas

possiacuteveis Uma dessas questotildees que reivindicam respostas eacute a representaccedilatildeo social

do imigrante polonecircs no Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a oacutetica dos

visitantes gestores e idealizador daquele espaccedilo cultural

Ao escolhermos para estudo a abordagem das representaccedilotildees que os

visitantes do Memorial possuem sobre os poloneses intuitivamente sabiacuteamos da

importacircncia do tema considerando a quantidade daquele contingente populacional o

impacto cultural na cidade e como nos referiacuteamos no cotidiano agraves histoacuterias e imagens

construiacutedas em relaccedilatildeo agravequela etnia Sendo assim resolvemos transformar algumas

indagaccedilotildees e esta curiosidade em projeto de pesquisa a fim de compreender a

trajetoacuteria daquele povo o significado da construccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa para a comunidade polonesa como tambeacutem para a cidade de Curitiba

Entendemos que o conhecimento sobre as representaccedilotildees que os visitantes do

Memorial adquirem a respeito dos imigrantes poloneses poderaacute trazer aos gestores

novas informaccedilotildees para agir e fazer refletir acerca dos trabalhos ali realizados

Na anaacutelise das representaccedilotildees sobre os poloneses no Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa de Curitiba a intenccedilatildeo prioritariamente foi conhecer mais profundamente

quais as representaccedilotildees presentes na construccedilatildeo do discurso dos visitantes gestores

e idealizador daquele Memorial sobre os poloneses Propomos ainda percebera

influecircncia da participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a

18

Fundaccedilatildeo Cultural de Curitibano projeto de implantaccedilatildeo do Memorial assim como a

delimitaccedilatildeo da linha historiograacutefica e a proposta museoloacutegica implantada

A metodologia utilizada para tanto se deu atraveacutes do levantamento e anaacutelise de

documentaccedilatildeo disponiacutevel em arquivos puacuteblicos pelo recurso da histoacuteria oral com

entrevistas aos gestores e idealizador do Memorial aleacutem da aplicaccedilatildeo de questionaacuterios

de campo aos visitantes Nesta anaacutelise se fez necessaacuterio considerar que esses

procedimentos natildeo acontecem de forma isolada mas em contextos soacutecio-histoacuterico-

culturais Assim como estudo investigativo nos dedicamos a analisar as

representaccedilotildees sociais e as imagens construiacutedas em torno da cultura polonesa Para

chegar aos resultados esperados procuramos desenvolver nossa argumentaccedilatildeo em

trecircs capiacutetulos

Iniciamos apresentando o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

localizado no Bosque Joatildeo Paulo II enquanto equipamento cultural urbano

discorrendo sobre o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de

Curitiba e refletindo sobre a estetizaccedilatildeo da cidade o uso do discurso de city marketing

e suas representaccedilotildees Para isso utilizaremos os trabalhos de Chauiacute (2009)

Pesavento (2007) Geertz (2011) Burke (2000) Ribeiro (2006) Albuquerque (2002)

Gonccedilalves (2005) Freitas (2014) Oliveira (2000) Meneses (1985) e Jeudy(1990)

(2013)Outros autores foram consultados no sentido de enriquecer o contexto de

Curitiba nos anos de 1980 periacuteodo de criaccedilatildeo do parque e estetizaccedilatildeo da cidade

como os arquitetos e urbanistas Garcia Saacutenchez (19971999 2001) Garcia e Moura

(1999)Valentini (1982) Larocca (2008) Turbanski (1978) Pedroacuten (2013) e

Geissler(2004)

Ainda no primeiro capiacutetulo abordaremos o processo migratoacuterio polonecircs para o

territoacuterio meridional do Brasil especificamente para Curitiba Este assunto nos ajudou

a compreender a construccedilatildeo do conceito de identidade polonesa revelando assim a

importacircncia desse deslocamento Nesta etapa contaremos com o apoio bibliograacutefico

dos historiadores Martins (1989) Almeida e Zanini (2013) Wachowicz (1981 2002)

Bueno (1996) Kersten (1983) Wachowicz (1981) Obrzut (2006) Kawka (2011)

Sikora (2014) Doustdar (1990) Wolny (2012) e Oliveira (2009) (2006) como tambeacutem

nos apoiaremos em Hobsbawn (1990) Pollak (1992) Ricoeur (1990) e Jovchelovich

(2008)

No segundo capiacutetulo abordaremos o entendimento sobre os memoriais e suas

especificidades exploraremos os estudos relacionados aos museus e a trajetoacuteria da

19

Nova Museologia Dada a riqueza do tema proposto apresentaremos a problemaacutetica

a respeito do patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade Como fonte na aacuterea de

memoriais utilizou os trabalhos de Paul Williams (2007) Barcellos (1999) e Vieira

(2013) interagindo com os conceitos do Conselho Internacional de Museus - ICOM e

Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM Na apresentaccedilatildeo do conteuacutedo da Nova

Museologia utilizaremos as contribuiccedilotildees de Candido (2003) Freire (1983) Cury

(2005 2010) Ceraacutevolo (2004) Cabral (2012) Varine-Bohan (2000) Guarnieri (1990)

Desvalleeacutes (1989) Para os estudos relacionados ao campo do patrimocircnio cultural

memoacuteria e identidade nos apoiamos nos conceitos de Geertz (2011) Hall (2000)

Halbwachs (1990) Nora (1993) e Michael Pollak (1992) e nos aportes de Coelho

(2004) Carvalho (1987) Leal (2005) e Diehl (2002)

No terceiro capiacutetulo nas discussotildees a respeito da teoria das representaccedilotildees

sociais temos a fundamentaccedilatildeo teoacuterica de Durkheim (1974) Moscovici (1981)

(2003) Jodelet (2001 2005) Jovchelovitch e Guareschi (1998) Alexandre (2004)

Lopes (1998) Chagas (2001) (2002) Alves-Mazzotti (1994) Castoriadis (1995)

Bourdieu (1996 1998) Chartier (1990 1991) Moutinho (2014) e Saacute (1996) Com o

propoacutesito de conhecermos a produccedilatildeo internacional e brasileira sobre representaccedilotildees

sociais em museus consideramos a produccedilatildeo de Abreu e Silva (2014) Conceiccedilatildeo

(2014) Maranhatildeo (2008) Gonccedilalves (2005) Guedes e Baptista (2013) Sambati

Guedes e Polakovick (2014) Davallon e Le Marek (1995) Timbart e Girauld (2006)

Ornella e Girauld (1997) Rechena (2011) Cavaca (2011) Guedes e Moutinho (2015)

e suas especificidades

Ainda no capiacutetulo terceiro expomos a abordagem metodoloacutegica da pesquisa

com o intuito de verificarmos as representaccedilotildees sociais sobre os poloneses no

Memorial sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador com o apoio teoacuterico de

Marconi e Lakatos (2010) Freitas Janissek-Muniz Moscarola (2005) Minayo e

Sanches (1993) Spink (1995) Hall (2006) (2000) (1998) Van Dijk (2008) Drsquoolivo

(2001) Resende e Ramalho (2006) e Roth (1989) Para a aplicaccedilatildeo das bases teoacutericas

do discurso - ADC utilizaremos o aporte teoacuterico de Fairclough (2001)

complementados pela produccedilatildeo de Durhan (1984) Bondiacutea (2002) Heidegger (2003)

e Choay (2001)

Entendemos que os textos de Serge Moscovici Denise Jodelet Stuart Hall e

Pierre Nora foram imprescindiacuteveis para a compreensatildeo da dinacircmica das

representaccedilotildees sociais sobre o imigrante polonecircs e foram reflexotildees constantes nos

20

conteuacutedos desenvolvidos desta dissertaccedilatildeo ao longo dos trecircs capiacutetulos apresentados

Esta caracteriacutestica do texto procurou convergir em direccedilatildeo aos propoacutesitos deste

Mestrado considerando o diaacutelogo interdisciplinar na produccedilatildeo de conhecimento sobre

patrimocircnio cultural

21

1 MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA DE CURITIBA

Neste capiacutetulo abordaremos o processo de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa na perspectiva da utilizaccedilatildeo do city marketing por parte do poder puacuteblico

que cria a ldquoimagem da cidade que mesmo sendo pensada para as camadas meacutedias

da populaccedilatildeo eacute tomada como sendo para todosrdquo (ALBUQUERQUE 2002 p3) e

quais os custos sociais sofridos pela populaccedilatildeo polonesa da colocircnia Tomaacutes Coelho

local de procedecircncia das primeiras casas de troncos alocadas no Memorial com a

desapropriaccedilatildeo de seu territoacuterio e a espetacularizaccedilatildeo da cidade de Curitiba como

produto de consumo cultural

No periacuteodo em que o MIP foi criado o entatildeo diretor do Instituto do Patrimocircnio

Histoacuterico e Artiacutestico Nacional ndash IPHAN - Aloiacutesio Magalhatildees propotildee a criaccedilatildeo da

Fundaccedilatildeo Nacional Proacute-Memoacuteria na sessatildeo plenaacuteria do Conselho Federal de Cultura

em 1979visando

[] um conjunto de accedilotildees integradas e organicamente estruturadas que objetivam identificar documentar proteger classificar restaurar e revitalizar bens do patrimocircnio cultural brasileiro proporcionando agrave comunidade nacional melhor conhecimento maior participaccedilatildeo e o uso adequado desses bens (MAGALHAtildeES 1997 p 109)

Com a preocupaccedilatildeo voltada agrave preservaccedilatildeo do patrimocircnio cultural surge no

Paranaacute em 1979 a Secretaria de Estado da Cultura tendo como uma de suas

coordenadorias a de Patrimocircnio Cultural em substituiccedilatildeo agrave antiga Diretoria de

Assuntos Culturais Anos depois em 1987 o governo do Estado cria dentro da

Coordenadoria do Patrimocircnio as curadorias do patrimocircnio natural e do patrimocircnio

cultural A Coordenadoria do Patrimocircnio delineava-se ldquopelas propostas de

preservaccedilatildeo dos bens de interesse histoacuterico eou artiacutestico bem como pela assessoria

teacutecnica e fiscalizaccedilatildeo aos bens e aacutereas de interesse de preservaccedilatildeordquo (SEEC 2016

p1)

Cabe salientar que o contexto do surgimento do Memorial de Imigraccedilatildeo

Polonesa no panorama nacional de museus configura como anterior agrave primeira

criaccedilatildeo do Sistema Nacional de Museus (1986 -1990) cuja coordenadora era Priscila

Euler Freire de Carvalho do Ministeacuterio da Cultura e da Coordenadoria de Museus

(1987) da Secretaria de Estado da Cultura do Paranaacute atual Coordenaccedilatildeo do Sistema

Estadual de Museus ndash COSEM implantado em 1990 (Lei nordm 43751990) e vinculado

agrave Secretaria de Estado da Cultura

22

Portanto a concepccedilatildeo do Memorial abrange um periacuteodo de construccedilatildeo da

poliacutetica cultural em termos museoloacutegicos e no trato com o patrimocircnio cultural nos

reportando a uma fase de transiccedilatildeo marcada pela abertura poliacutetica do governo

brasileiro Mas eacute na compreensatildeo do panorama local que nos ateremos a seguir

11 O Processo de Criaccedilatildeo do Memorial

Em termos urbaniacutesticos a aacuterea onde se situa o Bosque Joatildeo Paulo II foi

desapropriada em 1977 por questotildees de controle de enchente do Rio Beleacutem que

atravessa o local ldquoas aacutereas verdes de Curitiba foram criadas mediante uso de fundos

de vale para evitar e controlar as enchentes do rio Beleacutem [] sanear e recuperar

aacutereasrdquo (GEISLLER 2004 p 248) No mesmo local em 1981 foi criado o Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa De forma gradativa as casas de tronco provenientes da colocircnia

polonesa e os demais equipamentos foram implantados ateacute obter a configuraccedilatildeo

atual

Interessante notar seacuterie de parques e memoriais implantados na cidade que

faziam referecircncia ao imigrante europeu valorizando este perfil na formaccedilatildeo da cidade

O aspecto curioso em toda essa poliacutetica era sua faceta eacutetnica Natildeo eacute preciso muito esforccedilo para se perceber que o essencial da poliacutetica de patrimocircnio histoacuterico e de promoccedilatildeo das atividades culturais se remetia recorrentemente a uma parte especiacutefica da memoacuteria e da cultura imigrante Essa parte era aquela de origem europeacuteia (OLIVEIRA 2000 p56)

Embora houvesse uma poliacutetica de valorizaccedilatildeo do patrimocircnio cultural notamos

que houve logicamente um conflito com a comunidade polonesa na ocasiatildeo da

desapropriaccedilatildeo das terras dos colonos ldquoA iniciativa de transplantar essas casas foi a

soluccedilatildeo encontrada pela prefeitura diante do risco de desaparecimento que corriamrdquo

(PARANAacute 2006 p170) por ocasiatildeo do enchimento do reservatoacuterio do Passauacutena na

centenaacuteria colocircnia polonesa de Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria regiatildeo metropolitana de

Curitiba Segundo a pesquisadora Neida Doustdar (1990 p 1) ldquodentro do programa

de construccedilatildeo de barragens para o aproveitamento dos rios e mananciais da regiatildeo

metropolitana estipulou-se a construccedilatildeo da Barragem do Passauacutenardquo e

consequumlentemente a desapropriaccedilatildeo de 10 kmsup2 de terras Sendo assim grande parte

da colocircnia foi desapropriada e as propriedades inundadas com a represaPara Obrzut

23

(2006) quanto agrave preservaccedilatildeo da cultura polonesa a contradiccedilatildeo fica clara com a

seguinte colocaccedilatildeo

A iniciativa da Secretaria da Cultura em ldquopreservar para fins de registros histoacutericos a arquitetura a tradiccedilatildeo e os haacutebitos da populaccedilatildeo da colocircniardquo soou irocircnica aos ouvidos dos colonos que ateacute os dias de hoje natildeo conseguem compreender a loacutegica dessa forma de pensamento onde a destruiccedilatildeo de uma colocircnia centenaacuteria poderia trazer a sua preservaccedilatildeo (OBRZUT 2006 p 58)

ldquoCom a pressatildeo do alagamento muitas dessas casas acabaram sendo

vendidas ou doadas como eacute o caso das sete casas que compotildeem o Bosque Joatildeo

Paulo IIrdquo (OBRZUT 2006 p 57) Na figura 3 a imagem de uma polonesa residente

na Colocircnia Tomaz Coelho local de proveniecircncia de parte das casas de tronco que se

encontram no Memorial na ocasiatildeo da formaccedilatildeo da barragem ldquoPara surpresa dos

moradores o desvio do rio foi antecipado [] a situaccedilatildeo no local eacute criacutetica pois muitas

famiacutelias continuam morando ali e a aacutegua jaacute estaacute entrando nas residecircnciasrdquo (JORNAL

DO ESTADO p12 010287)

Ao analisarmos a imagem da Figura 3 percebemos um modo de vida diverso

e distante daqueles que usufruem do parque visto que a localizaccedilatildeo do Memorial

corresponde a uma ldquoregiatildeo de poder aquisitivo alto e se encontra proacuteximo a um

atrativo cultural relevante o Museu Oscar Niemeyerrdquo (PEDROacuteN 2013 p64-65)

24

Figura 3 - Moradora de uma das casas inundadas da Colocircnia Tomaacutes Coelho 1987

Fonte Jornal do Estado p1 1 de fev de 1987

Sendo assim percebemos um processo de seleccedilatildeo de qual memoacuteria poderia

ser preservada nas praacuteticas do poder puacuteblico da cultura Partindo do princiacutepio de que

a memoacuteria individual como a social eacute seletiva houve determinados requisitos de

seleccedilatildeo por parte dos dirigentes municipais o que nos leva a refletir sobre a fala do

historiador Peter Burke quando afirma que ldquoas memoacuterias satildeo maleaacuteveis e eacute

necessaacuterio compreender como satildeo concretizadas e por quem assim como os limites

dessa maleabilidaderdquo (BURKE 2000 p73) De fato assinalamos o descarte das

memoacuterias dos antigos proprietaacuterios pelo poder puacuteblico

Como exemplo disso podemos citar que um ano apoacutes a desapropriaccedilatildeo da

aacuterea ocorrida em 1974 ldquoiniciaram as obras de demoliccedilatildeo da casa matadouro moinho

e remoccedilatildeo do parreiralrdquo (GEISSLER 2004 p214) pertencentes aos antigos

proprietaacuterios

A implantaccedilatildeo do Bosque do Papa procurava responder por meio da criaccedilatildeo

de uma aacuterea ambiental e de um parque eacutetnico a base de city marketing que estava

sendo estabelecida na cidade e que utilizava naquele periacuteodo a temaacutetica eacutetnica com

25

o slogan ldquoCuritiba de todas as gentesrdquo De acordo com a arquiteta e urbanista

Fernanda Saacutenchez Garcia a poliacutetica de city marketing tem como foco a promoccedilatildeo da

cidade ldquono sentido de atraccedilatildeo de atividades comerciais de serviccedilos e investimentos

aleacutem da promoccedilatildeo crescente de um turismo nitidamente urbaniacutesticordquo A autora

esclarece ainda que ldquoesta poliacutetica tem como estrateacutegia a construccedilatildeo da imagem da

cidade mesmo que isso tenha forte impacto social em suas accedilotildeesrdquo (1994 p2)

A respeito da administraccedilatildeo da cidade cabe salientar a importacircncia da

sucessatildeo de mandatos exercidos por Jaime Lerner fator fundamental para a

remodelaccedilatildeo da cidade De fato houve a gestatildeo que ldquocorresponde agraves administraccedilotildees

dos prefeitos da ARENA 2ndash Jaime Lerner (1971-1975 e 1979-1983) e Saul Raiz (1975

-1979)rdquo (OLIVEIRA 2000 p 52) A gestatildeo de Saul Raiz ofereceu suporte agrave

continuidade dos projetos da gestatildeo anterior Oliveira afirma que a terceira

administraccedilatildeo de Jaime Lerner (1988-1992)

[] optou por uma substancial mudanccedila de enfoque que relegando ao segundo plano os discursos e as praacuteticas afetas ao planejamento urbano enfatizou as realizaccedilotildees de ordem esteacutetica e uma poliacutetica de caraacuteter setorial aquela voltada para o meio ambiente Dificilmente se poderia exagerar o impacto que ambas causaram nacional e internacionalmente (OLIVEIRA 2000 p 57)

Na administraccedilatildeo subsequumlente do prefeito Rafael Greca (1993 - 1996)foi

intensificada a implantaccedilatildeo de outros memoriais eacutetnicos aleacutem do Memorial de

Imigraccedilatildeo Polonesa como o Memorial da Cultura Japonesa (1993 - Praccedila do Japatildeo)

o Memorial Ucraniano (1994 - Parque Tingui) o Bosque de Portugal (1994) o Bosque

Alematildeo (1996) o Memorial da Imigraccedilatildeo Aacuterabe (1996 - Praccedila Gibran Khalil Gibran) e

o memorial italiano (1996 - Bosque Satildeo Cristoacutevatildeo) Estes locais serviam ou ainda

servem como locais de festas folcloacutericas e religiosas e pontos de encontro para essas

etnias Embora esses parques natildeo fossem planejados exclusivamente para as etnias

serviam para uso da populaccedilatildeo em geral

Administrativamente no Municiacutepio o MIP eacute vinculado agrave Fundaccedilatildeo Cultural de

Curitiba ndash FCC atraveacutes da Diretoria do Patrimocircnio Cultural Esta por sua vez possui

a coordenaccedilatildeo dos dois uacutenicos Memoriais geridos pelo poder municipal O Memorial

de Imigraccedilatildeo Polonesa ndash localizado no Bosque Joatildeo Paulo II objeto desta

dissertaccedilatildeo e o Memorial de Imigraccedilatildeo Ucraniana ndash localizado no Parque Tingui

2 Alianccedila Renovadora Nacional Partido poliacutetico do governo militar criado em 1965

26

Estes dois Memoriais possuem em comum o fato de estarem localizados em Parques

possuiacuterem uma capela e sua gestatildeo estar vinculada a associaccedilotildees eacutetnicas

Os demais Memoriais apesar de criados pela prefeitura por conterem

bibliotecas foram repassados administrativamente para a Secretaria Municipal de

Educaccedilatildeo a qual se encarrega das accedilotildees culturais junto agraves associaccedilotildees eacutetnicas para

a dinamizaccedilatildeo destes espaccedilos de leitura mediante manifestaccedilotildees culturais

Na gestatildeo municipal as unidades museoloacutegicas estatildeo voltadas para artes

visuais como o Museu Municipal de Arte Museu da Fotografia Museu da Gravura e

Museu de Arte Sacra e por este motivo estatildeo vinculadas agrave Diretoria de Artes Visuais

e natildeo a de Patrimocircnio Cultural Efetivamente o poder municipal natildeo possui uma

coordenaccedilatildeo de museus ou mesmo um Sistema Municipal de Museus ao qual poderia

estar vinculado o Memorial como pressupotildee estar uma instituiccedilatildeo museal

A condiccedilatildeo de Museu-Memorial do MIP pode ser afirmada a princiacutepio pelo

Termo de Cooperaccedilatildeo efetuado entre a Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e a Missatildeo

Catoacutelica Polonesa no Brasil de 1987 em vigecircncia ateacute os dias de hoje Este documento

visa a animaccedilatildeo e manutenccedilatildeo do Bosque com claacuteusulas que nos remetem para as

funccedilotildees caracteriacutesticas de um museu como ldquoc) estabelecer criteacuterios para a obtenccedilatildeo

de acervo de bens moacuteveis ou imoacuteveis [] d) conservar e restaurar os bens culturais

moacuteveis e imoacuteveis k) manter serviccedilo com o apoio da Missatildeo Catoacutelica de atendimento

ao puacuteblicordquo demonstrando neste Termo a preocupaccedilatildeo com a coleta conservaccedilatildeo e

divulgaccedilatildeo do acervo do Memorial

Avanccedilando no delineamento do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa na

compreensatildeo dos criteacuterios de gestatildeo museal sugeridos para aquele espaccedilo nos

reportamos a um trecho da entrevista com o idealizador do Memorial do Imigrante

Polonecircs arquiteto e idealizador do Memorial Seacutergio Pires (2015) com a seguinte fala

ldquomas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro [] vocecirc tem um museu ao ar livre

mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeordquo

Com isso o idealizador tambeacutem percebe ou constata a condiccedilatildeo de museu ao

ar livre o que pressupotildee a possibilidade de atividades museais naquele espaccedilo No

entanto a proposta inicial por parte do Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano

de Curitiba - IPPUC segundo o entrevistado tivera um contorno urbaniacutestico com a

instalaccedilatildeo de um equipamento com fins de lazer de temaacutetica eacutetnica (PIRES 2015)

27

Recuperando a discussatildeo a respeito da proposta de implantaccedilatildeo de Memoriais

esta reforccedilava a imagem de Curitiba como uma cidade de primeiro mundo com uma

populaccedilatildeo de origem europeacuteia

A poliacutetica cultural oficial dos anos 90 em Curitiba recompotildee as vaacuterias culturas que participaram do movimento de colonizaccedilatildeo da regiatildeo atraveacutes de memoriais eacutetnicos na arquitetura urbana associados a novos parques como o Tingui dos ucranianos o ldquoBosque Alematildeordquo ou o ldquoBosque do Papardquo dos poloneses Esses espaccedilos de celebraccedilatildeo das etnias e da natureza exaltam ao mesmo tempo o proacuteprio projeto de cidade (GARCIA MOURA 1999 p108)

Embora os legados da cultura negra que soma 23 da populaccedilatildeo de Curitiba

segundo o senso de 2010 do IBGE ndash Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica da

cultura indiacutegena sejam imensos e muito mais antigos do que a populaccedilatildeo contemplada

pelos memoriais

A invisibilizaccedilatildeo da populaccedilatildeo negra na cidade se constitui numa marca histoacuterica do Estado e do seu relato histoacuterico como tambeacutem da Capital Isto se daacute tanto atraveacutes de documentos oficiais como das homenagens eacutetnicas representadas por parques bosques portais e outras formas arquitetocircnicas que homenageiam imigrantes europeus considerando-os os principais ou uacutenicos responsaacuteveis pela construccedilatildeo e formaccedilatildeo econocircmica e cultural da cidade (ALBUQUERQUE 2002 p5)

De acordo com a historiadora Sandra Pesavento (2007) a cidade natildeo deve ser

referecircncia privilegiada da accedilatildeo de alguns atores sociais ldquomas sobretudo como um

problema e um objeto de reflexatildeo a partir das representaccedilotildees sociais que produz e

que se objetivam em praacuteticas sociaisrdquo (PESAVENTO 2007 p 3)

Neste permanente sistema de construccedilatildeo de imagens a cidade define sua

identidade ldquoum modo de ser uma cara e um espiacuterito um corpo e uma alma que

possibilitam reconhecimento e fornecem aos homens uma sensaccedilatildeo de pertencimento

e de identificaccedilatildeo com a sua cidaderdquo (PESAVENTO 2007 p 5-6)

A representaccedilatildeo de Curitiba como cidade de populaccedilatildeo de origem europeacuteia

criada pela gestatildeo municipal decorreu de uma operacionalizaccedilatildeo de city marketing a

fim de implantar uma imagem como citado anteriormente Geertz (2011) nos fala

sobre a multiplicidade do poder simboacutelico ldquocomo as formas sociais as formas

simboacutelicas podem servir a muacuteltiplos propoacutesitosrdquo (GEERTZ 2011 p83)

28

O city marketing com o intuito de aumentar a atratividade do turismo na cidade

e atrair investidores internacionais conjugado aos interesses do mercado imobiliaacuterio

fez com que o poder puacuteblico intensificasse novos investimentos em aacutereas nobres de

Curitiba

No jogo do campo simboacutelico natildeo eacute apenas o poder do dinheiro ldquomas o poder

que a riqueza exerce sobre os espiacuteritos sobre as mentes eacute o poder propriamente

poliacuteticordquo (GARCIA 2001 p40) O sentido dessas colocaccedilotildees no campo simboacutelico

manifestadas atraveacutes das accedilotildees de city marketing com a imposiccedilatildeo das imagens

urbanas dominantes ldquocontribui para o exerciacutecio da violecircncia especialmente em sua

forma simboacutelica pelas vias da comunicaccedilatildeo e do conhecimento violecircncia nem

sempre percebida por suas proacuteprias viacutetimasrdquo (GARCIA 2001 p38)

Essa violecircncia simboacutelica tambeacutem eacute apresentada por Henry Pierre Jeudy

quando discute o conceito de espetacularizaccedilatildeo das cidades que segundo ele

[] eacute indissociaacutevel das novas estrateacutegias e marketing ou mesmo branding urbano ditas de revitalizaccedilatildeo que buscam construir uma nova imagem para as cidades contemporacircneas que lhe garantam um lugar na nova geopoliacutetica das redes internacionais (JEUDY 2013 p 9)

A cidade se faz como um ldquoespetaacuteculordquo em constante renovaccedilatildeo Eacute concebida

dia-a-dia reduzida a slogan e bordotildees superficiais de uma imagem de cidade Essa

estrateacutegia de city marketing pelos gestores da cidade enraiacuteza novos haacutebitos na

populaccedilatildeo como tambeacutem provoca um custo social como a discriminaccedilatildeo das

parcelas da populaccedilatildeo natildeo representadas pelos memoriais tais quais a negra a

indiacutegena e a migrante como no caso da cidade de Curitiba ldquoDeste modo o espaccedilo

toma forma tambeacutem atraveacutes de representaccedilotildees e imagens adequadas o que explica

a importacircncia que vem adquirindo o city marketing como instrumento das poliacuteticas

urbanasrdquo (GARCIA 2001 p32)

No estudo equiparativo entre as cidades de Curitiba e Barcelona na Espanha

a mesma autora na publicaccedilatildeo realizada em conjunto com a pesquisadora e geoacutegrafa

Nuacuteria Rovira (1999) analisa que as poliacuteticas de desenvolvimento urbano e a produccedilatildeo

das imagens pelo poder puacuteblico pode ser caracterizada pelo uso frequumlente dos meios

de comunicaccedilatildeo como accedilotildees de apoio aos governos na construccedilatildeo do modelo de city

marketing

29

Los medios de comunicacioacuten e informacioacuten que en los casos analizados han sido intensamente utilizados como vehiacuteculos constructores de determinadas lecturas de la ciudad intervienen decisivamente en la creacioacuten de valores culturales y de representaciones sociales que a su vez promueven determinados comportamientos y formas de utilizacioacuten de los espacios puacuteblicos (ROVIRA GAacuteRCIA1999 p 42)3

Na anaacutelise das autoras o uso de city marketing pode ser considerado como

uma ferramenta para a construccedilatildeo da imagem da cidade criando representaccedilotildees

sociais da cidade pela populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e

as formas de viver o espaccedilo puacuteblico

Em contraponto agraves iniciativas da cidade espetaacuteculo que nos fala Jeudy como

tambeacutem Garcia lembramos que Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) propotildee a

possibilidade de pensar a cidade como artefato produto e vetor das relaccedilotildees sociais

A cidade eacute um artefato coisa feita fabricada pelo homem segmento do universo material socialmente apropriado [] todo o artefato eacute ao mesmo tempo produto e vetor das relaccedilotildees sociais Assim a cidade eacute tambeacutem um lugar onde agem forccedilas muacuteltiplas produtivas territoriais de formaccedilatildeo e pressotildees sociais etc (MENESES 1985 p199)

Tendo como base esta discussatildeo segundo Ulpiano Bezerra de Meneses

(1985) a cidade-artefato pode ser vista como algo feito e fabricado pelo homem em

accedilatildeo e desconstruccedilatildeo pensada pelos seus habitantes A cidade-artefato possui um

sentimento de pertencimento

Cidade-Artefato eacute a cidade entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem estaacutetica pasteurizada asseacuteptica e chapada da fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que prescinde da experiecircncia A essa representaccedilatildeo quase abstrata se contrapotildee a imagem dinacircmica do seu viver cotidiano (FREITAS 2014 p4)

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

3Traduccedilatildeo da autora Os meios de comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo que nos casos analisados tem

sido intensamente utilizado como veiacuteculos construtores de determinadas leituras na cidade interveem decisivamente na criaccedilatildeo de valores culturais e de representaccedilotildees sociais que por sua vez promovem determinados comportamentos e formas de utilizaccedilatildeo dos espaccedilos puacuteblicos

30

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural

Na abordagem de cidade-artefato a participaccedilatildeo da gestatildeo do Memorial

vinculada agrave Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil passa a ser significativa

considerando que o sentido fundamental dos patrimocircnios consiste talvez em sua

natureza total e em sua funccedilatildeo eminentemente mediadorardquo (GONCcedilALVES 2005 p

227)

Segundo o autor o patrimocircnio eacute fator de mediaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo de

determinado grupo e estes compartilham e se apropriam deste significado inclusive

gerando outras identidades

Para o nosso tema de pesquisa as representaccedilotildees feitas sobre os poloneses

no Memorial natildeo poderiacuteamos deixar de lado a assertiva de Meneses (1985) sobre as

representaccedilotildees sociais e o imaginaacuterio urbano Para o autor

Identificar imagens urbanas eacute identificaacute-las na estrutura social os habitantes da cidade natildeo satildeo puras abstraccedilotildees produtoras de imagens mas indiviacuteduos socialmente categorizados Por isso numa sociedade como a nossa as tocircnicas teratildeo que ser a pluralidade dessas representaccedilotildees e as relaccedilotildees de hierarquia e dependecircncia entre elas (MENESES 1985 p200)

Assim nesta pesquisa o Memorial no contexto urbano pode ser percebido

como um campo de forccedilas cenaacuterio e produto das representaccedilotildees sociais de seus

habitantes

Entendemos que o conjunto de edificaccedilotildees polonesas integradas na paisagem

do parque haacute mais de 35 anos o acervo de objetos as comemoraccedilotildees da comunidade

polonesa naquele espaccedilo se constitui como um importante patrimocircnio cultural da

cidade de Curitiba E eacute este patrimocircnio com a descriccedilatildeo dos equipamentos e as

particularidades da cultura dos imigrantes poloneses que acompanharemos no

proacuteximo item

12 O Bosque Joatildeo Paulo II e o Memorial

O Bosque Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa ndash MIP foi instituiacutedo com a ldquofunccedilatildeo de estabelecer o local como aacuterea de lazer

de manifestaccedilotildees culturais e etnoloacutegicas e de preservaccedilatildeo da fauna e florardquo conforme

31

o texto do decreto-lei nordm 8299 de 1986 do governo estadual numa aacuterea de 48 mil msup2

Jaacute o MIP instalado no bosque foi inaugurado em 13 de dezembro de 1980 (sem

decreto municipal) Como podemos perceber na figura 4 Memorial estaacute localizado

num bairro central de Curitiba

Figura 4-Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba em relaccedilatildeo ao centro da cidade

Fonte Curitiba (2010)

O Bosque Estadual Joatildeo Paulo II onde estaacute localizado o Memorial foi

estabelecido numa antiga chaacutecara em meio a uma floresta de Araucaacuteria o pinheiro

siacutembolo do Paranaacute (Figura 5)

Localizaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba Dista aproximadamente a 2 km do centro da cidade Centro de Curitiba

32

Figura 5 ndash Antigos proprietaacuterios da aacuterea onde foi construiacutedo o Bosque Estadual Joatildeo Paulo II 1915

Fonte GEISSLER (2004)

Este local tambeacutem era conhecido como Chaacutecara do Opa (avocirc em alematildeo) e

utilizado para o lazer em finais de semana da famiacutelia de Juacutelio Garmatter ldquoAleacutem da

casa situada no topo do morro para moradia de caseiros havia instalaccedilotildees e piquetes

para criaccedilatildeo de animais pomar e videirasrdquo (GEISSLER 2004 p213) numa aacuterea de

56 mil msup2 aproximadamente A chaacutecara foi desapropriada em 1977 e na parte Leste

da antiga propriedade ldquofoi implantado o Museu Oscar Niemeyer Palaacutecio Castelo

Branco e [ao] Sul [] foram construiacutedos os preacutedios das Secretarias Estaduaisrdquo

(GEISSLER 2004 p224)

Podemos observar na Figura 6 a localizaccedilatildeo do Memorial em relaccedilatildeo ao rio

Beleacutem cujas obras de drenagem deram origem ao Bosque como aacuterea de

preservaccedilatildeo A maioria dos parques de Curitiba teve sua implantaccedilatildeo como soluccedilatildeo

de problemas de saneamento e de drenagem de aacutereas alagadiccedilas Estas iniciativas

apresentaram como mote as ldquopreocupaccedilotildees ambientais (preservaccedilatildeo de nascentes e

matas nativas) poliacuteticas (homenagens a homens puacuteblicos) e socioculturais

(homenagem agraves diversas colocircnias de imigrantes)rdquo (OLIVEIRA 2006 p16) Ainda na

figura 6 a localizaccedilatildeo do Portal Polonecircs agrave esquerda e a entrada secundaacuteria pelos

jardins do Museu Oscar Niemeyer agrave direita

33

Figura 6 ndash Localizaccedilatildeo e acessos do Memorial em relaccedilatildeo ao entorno

Fonte Centro_CiacutevicoPDF (2015)

O Portal Polonecircs (Figura 7) estaacute situado proacuteximo agrave entrada do Bosque do Papa

Inaugurado em 1991 onze anos apoacutes a inauguraccedilatildeo do MIP portanto foi instalado

por comemoraccedilatildeo aos 120 anos da imigraccedilatildeo polonesa na cidade Sua decoraccedilatildeo

com lambrequins e apliques de madeira como eacute possiacutevel notar na Figura 7pretendia

representar aspectos da arquitetura polonesa ldquoa casa de taacutebuas verticais jaacute aparecia

na paisagem paranaense desde os anos noventa do seacuteculo XIXrdquo (LAROCCA 2008

p97)

Portal Polonecircs

Rio Beleacutem

Entrada Secundaacuteria

Entrada Principal

34

Figura 7 - Portal Polonecircs proacuteximo agrave entrada do Memorial

Fonte Google maps (2016)

Situado na Rua Mateus Leme o Portal estaacute no antigo traccedilado da estrada do

Accedilungui ligando a regiatildeo central de Curitiba agraves antigas colocircnias polonesas e ldquoque se

transformaram em diversos bairros da cidade como Taboatildeo Abranches Barreirinha

e Pilarzinhordquo (CURITIBA 2015)

A Figura 8 apresenta o acesso principal para o Memorial pela ponte de madeira

sobre o Rio Beleacutem

35

Figura 8-Entrada do Memorial ponte do rio Beleacutem

Fonte Aacutereas Verdes das Cidades (2015)

Aleacutem da preservaccedilatildeo do meio ambiente e do notaacutevel aspecto paisagiacutestico o

Bosque possui como atrativo cultural o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa um circuito

de visitaccedilatildeo composto por sete casas de troncos encaixados sem o uso de pregos de

metal originaacuterias das antigas colocircnias polonesas da regiatildeo de Curitiba

Esta teacutecnica construtiva de troncos mediante o encaixe nos acircngulos da

edificaccedilatildeo pode ser encontrada em diversas partes do mundo Winberry pesquisador

da University of South Carolina em Columbia nos Estados Unidos esclarece que

Notched-log construction in Europe occurs in a band from the subarctic forests of Sweden and Finland through Poland and Czechoslovakia to the highlands of southern Germany and southwestern France Eastward it extends through Russia to Manchuria and Japan4(WINBERRY 1974 p59)

4ldquoEste entalhe construtivo ocorre na Europa em uma parte das florestas sub-arctica da Sueacutecia e na Finlacircndia atraveacutes da Polocircnia e da Checoslovaacutequia para as terras altas do sul da Alemanha e sudoeste da Franccedila Para o leste se estende atraveacutes da Ruacutessia para a Manchuacuteria e no Japatildeordquo

36

Este tipo de arquitetura constitui objeto de estudo no acircmbito internacional como

na University of Tsukuba no Japatildeo mediante o tema ldquoA study on the construction

and production technology of traditional log cabin of Jinjiang Village in the area of

Changbai Mountain Jilin Chinardquo dos pesquisadores Songhua Gao Sadashi

Hama Hisataka Kobayashi e Kunihiro Ando (2012)

Assinalamos tambeacutem os estudos deste tipo de edificaccedilatildeo pertinente agrave

colonizaccedilatildeo em territoacuterio americano datadas do iniacutecio do seacuteculo XVII denominadas

ldquologrdquo Na pesquisa ldquoFinnish-American Architecture and Architects in Northern and

Eastern Parts of the United States of America 1850-1950rdquo da pesquisadora finlandesa

Saija Siacutelen (2008) satildeo mostradas as semelhanccedilas nas teacutecnicas de construccedilatildeo

finlandesa e norte americana salientando que ldquoin many small villages in Finland there

are houses that are still known among local residents as the lsquoAmerican house5 rdquo

(SILEacuteN2008 p11)

Em Curitiba o cuidado com que as casas dos imigrantes poloneses foram

desmontadas no local de origem e remontadas no espaccedilo do bosque e a preservaccedilatildeo

da paisagem natural fez com que este bem cultural fosse ldquotombado pela Curadoria do

Patrimocircnio Natural do Estado do Paranaacute conforme tombo 21-I processo 01290rdquo

(PARANAacute 2006 p169) no livro de patrimocircnio etnograacutefico e paisagiacutestico A seguir

detalharemos as principais caracteriacutesticas do espaccedilo do MIP com sua paisagem

acervo e edificaccedilotildees

Ao entrar no Parque a partir da ponte sobre o Rio Beleacutem a primeira casa

avistada eacute a que abriga uma capela em homenagem agrave padroeira da Polocircnia Nossa

Senhora de Czestochowa Essa casa mostrada nas Figuras 9 e 10 foi construiacuteda em

1883 por Silvestre e Genoveva Pianowski na Colocircnia Tomaacutes Coelho no municiacutepio de

Araucaacuteria ndash PR e foi montada no estaacutedio Couto Pereira onde o Papa Joatildeo Paulo II

rezou uma missa campal em 5 de julho de 1980 na ocasiatildeo de sua passagem por

Curitiba A presenccedila do Papa em seu interior deu a ela um caraacuteter sagrado que eacute

preservado pela capela

5 Traduccedilatildeo livreldquoem muitas pequenas aldeias na Finlacircndia existem casas que ainda satildeo conhecidas entre os moradores locais como a lsquocasa americanarsquordquo

37

Figura 9 - Capela dedicada agrave Nordf SrordfdeCzestochowa situada no MIP

Fonte Figundio (2012)

Ornamentada para dia de Nossa Senhora de Czestochowa padroeira da

Polocircnia o altar da Capela (Figura 10) apresenta as cores da Polocircnia As

comemoraccedilotildees acontecem em 26 de agosto Sua imagem original encontra-se

atualmente na Polocircnia em um santuaacuterio na montanha chamada Jasna Goacutera (Monte

Claro) na regiatildeo de CzestochowaSegundo a tradiccedilatildeo a imagem foi pintada pelo

Evangelista Satildeo Lucas em Nazareacute sobre a mesa do refeitoacuterio da Sagrada Famiacutelia

38

Figura 10 - Interior da capela ornamentada para dia de NSrordf de Czestochowa Padroeira da Polocircnia MIP

Fonte Cequinel (2016)

Na figura 11 a inscriccedilatildeo com a data de construccedilatildeo a sigla ldquoJHSrdquo aleacutem de dois

outros siacutembolos natildeo identificados no meio da viga central da edificaccedilatildeo mostram o

costume da etnia polonesa de marcar a data da inauguraccedilatildeo da casa com ldquoo entalhe

da cruz e das iniciais da eucaristia catoacutelica romana lsquoJHSrsquo - Jesus Hoacutestia Santardquo como

sinal de religiosidade (VALENTINI 1982 p11)

39

Figura11 - Inscriccedilatildeo na viga central da Capela MIP

Fonte Da Autora (2015)

Na viga central da Capela (Figura 11) eacute possiacutevel perceber a presenccedila de cupins

na madeira Eacute preocupante o estado de conservaccedilatildeo deste conjunto arquitetocircnico

devido agrave infestaccedilatildeo de xiloacutefagos em grande parte dos troncos causando a degradaccedilatildeo

e a perda irreparaacutevel deste acervo em curto espaccedilo de tempo Como natildeo nos foi

permitido ter contato com os objetos de acervo natildeo podemos afirmar sobre o grau de

contaminaccedilatildeo e extensatildeo deste ataque bioloacutegicoNo entanto observamos a

necessidade de implantaccedilatildeo de um plano de conservaccedilatildeo preventiva no MIPEstas

praacuteticas estatildeo relacionadas a ldquocaracterizar o edifiacutecio o acervo os recursos existentes

as atividades desenvolvidas bem como o seu puacuteblicordquo como tambeacutem as ldquoestrateacutegias

que levem a uma maior estabilidade das condiccedilotildees e consequentemente a uma

diminuiccedilatildeo na degradaccedilatildeo dos bens culturaisrdquo (IMC 2007 P13)

Ao lado da Capela encontra-se a edificaccedilatildeo que serviu de moradia e paiol a

Alberto e Bronoslawa Greboge em 1877 (Figura 12) No local funciona uma venda

de produtos tiacutepicos poloneses e a administraccedilatildeo local do parque A figura 12 mostra

ainda que em frente a essa edificaccedilatildeo existe uma pracinha com bancos para

descanso

40

Figura 12-Loja de artesanato e espaccedilo administrativo MIP

Fonte Partiu pelo Mundo (2015) WEB

No interior da loja (Figura 13) existe uma variedade de produtos de diversas

procedecircncias formas e teacutecnicas como pisanki bonecas de palha de milho mamuskas

ou matrioskas mobiles de MDF bordados objetos de marquetaria bolachas e doces

Em visita ao local entendemos que natildeo existe uma preocupaccedilatildeo de delimitaccedilatildeo do

perfil dos objetos agrave venda como de procedecircncia da comunidade polonesa como forma

de incentivo e desenvolvimento ao artesanato

41

Figura 13 ndash Interior da loja de artesanatoMIP

FonteWpolityceForum2014

Quanto ao uso dessas casas de tronco originalmente foram habitaccedilotildees no

decorrer do tempo foram transformadas em ldquoceleiros estaacutebulos oficinas

complementos de novas casas de alvenaria de pedra ou de tijolos de varandas

recortadas de lambrequinsrdquo (TEMPSKI 1982 p13) Como tambeacutem salienta Kuretzki

(2014) posteriormente as edificaccedilotildees de tronco ldquoseriam abandonadas como

moradias passando a servir como depoacutesitosrdquo (KURETZKI 2014 p4)

A figura 14 mostra a edificaccedilatildeo datada de 1876 Proveniente da Colocircnia Tomaacutes

Coelho (Araucaacuteria - PR) foi doada pelo casal Pedro e Sofia Pathecki Atualmente eacute

utilizada como posto da Guarda Municipal e como ambiente de armazenamento de

acervo

42

Figura 14 ndash Edificaccedilatildeo utilizada como posto da guarda municipal e como local de armazenamento de acervoMIP

Fonte Papodeviajante(2008)

O Museu da Habitaccedilatildeo (Figura 15) situado agrave direita de quem entra no Bosque

pelo rio Beleacutem local que abriga moacuteveis e utensiacutelios domeacutesticos dos imigrantes Essa

edificaccedilatildeo foi construiacuteda no final do seacuteculo XIX pela famiacutelia Krizanowski da Colocircnia

Muricy municiacutepio de S Joseacute dos Pinhais-PR e posteriormente tambeacutem transportada

para o MIP Interessante notar que esta edificaccedilatildeo anteriormente ao ano de 2011 natildeo

possuiacutea pintura branca Nos parece que esta iniciativa se contrapotildee a necessidade de

autenticidade do ambiente original relativo ao seacuteculo XIX

43

Figura 15 Museu da Habitaccedilatildeo antes da pintura branca (2011)

Fonte Savicki em 29082011

Esta exposiccedilatildeo (Figura 16) conjuga objetos de diferentes periacuteodos como a

cristaleira ao fundo as porcelanas ou o lenccedilo sobre a cadeira de procedecircncia mais

recente em relaccedilatildeo agrave construccedilatildeo prescindindo de uma leitura mais aprofundada em

relaccedilatildeo ao acervo e ao periacuteodo se quer referenciar

44

Figura 16ndashImagem recente do interior do Museu da Habitaccedilatildeo MIP

Fonte Da autora (2015)

Compotildee o conjunto de edificaccedilotildees antigo paiol do seacuteculo XIX (Figura 16) que

pertenceu ao colono Pedro Przepyura e originalmente foi construiacutedo na localidade de

Roccedila Velha na Colocircnia Tomaacutes Coelho- Araucaacuteria-PR hoje funciona como local de

armazenamento de acervo do Memorial e eacute fechado ao puacuteblico

Figura 17-Local de armazenamento de acervo do MemorialMIP

Fonte feriasnowblogwordpresscom (2014)

45

Utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas (Figura 18) a edificaccedilatildeo

procedente da Colocircnia Tomaacutes Coelho construiacuteda em 1852 por Estanilau Zawilinski

utilizada para exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas

Figura 18 ndash Casa com exposiccedilatildeo de objetos agriacutecolas MIP

Fonte Da autora (2015)

Na Figura 19 podemos observar instrumentos agriacutecolas em exposiccedilatildeo relativos

a materiais de trabalho dos colonos poloneses como o arado a moacute para cereais a

tina de lavar roupas entre tantos outros Esta exposiccedilatildeo pode ser vista apenas da

porta o que dificulta sua visualizaccedilatildeo Natildeo foram aplicados recursos museograacuteficos

para facilitar o entendimento do acervo de objetos como iluminaccedilatildeo tablados ou

etiquetas para que o puacuteblico compreenda a mensagem que se quer passar para este

local que seriam as tecnologias disponiacuteveis para o colono imigrante polonecircs da

colocircnia Tomaacutes Coelho no seacuteculo XIX

46

Figura 19-Exposiccedilatildeo agriacutecola vista da entrada da edificaccedilatildeo

Fonte Da autora (2015)

Na figura 20 outra edificaccedilatildeo transplantada das margens do rio Passauacutena na

colocircnia Tomaacutes Coelho e que pertenceu a Joseacute Malzuck Foi adquirida pela Companhia

de Saneamento do Paranaacute-SANEPAR que a cedeu para o municiacutepio em 1985 Eacute

utilizada como Casa de Eventos do Memorial As exposiccedilotildees temporaacuterias ocorrem

nesta edificaccedilatildeo Os temas abordados costumam acompanhar o calendaacuterio

comemorativo da comunidade Polonesa como Natal Paacutescoa data da padroeira da

Polocircnia ou o aniversaacuterio da beatificaccedilatildeo do papa Joatildeo Paulo II de modo a divulgar e

valorizar os aspectos culturais dos imigrantes poloneses

47

Figura 20 - Casa de Eventos e exposiccedilatildeo temporaacuteria Agrave direita a escultura de Nicolau Copeacuternico de costas para o Memorial

Fonte Da autora (2015)

A Figura 21 mostra a comemoraccedilatildeo da Swieconka paacutescoa polonesa com um

grupo de danccedila polonecircs e as cestas em primeiro plano Uma das mais tradicionais

festas dos descendentes e imigrantes poloneses de Curitiba que ocorre no Memorial

com a becircnccedilatildeo das cestas de alimentos simbolizando a fartura e vida nova para a

famiacutelia As cestas satildeo levadas pelas famiacutelias de descendentes de poloneses e os

alimentos satildeo consumidos no Domingo de Paacutescoa Os ritos e as comemoraccedilotildees

religiosas como o Natal e a Paacutescoa satildeo aqui reproduzidos agrave semelhanccedila da Polocircnia

[] O Natal e a Paacutescoa eram festejados com muita devoccedilatildeo Na veacutespera do Natal cada famiacutelia celebrava o nascimento de Jesus com a tradicional ceia com Opłatek [] e na Paacutescoa consumia-se a chamada swieconka (manjares) benzidos pelo padre no saacutebado de aleluia entre os quais ocupava lugar de destaque o ovo com siacutembolo da vida e ressurreiccedilatildeo (TURBANSKI 1978 p 28)

48

Figura 21 - No palco do Memorial grupo folcloacuterico em celebraccedilatildeo agrave paacutescoa Em primeiro plano cestas de alimentos preparadas para a benccedilatildeo

Fonte Curitiba (2016)

O Opłatek (pronuncia-se opuacuteateacutek) (Figura 22) eacute tambeacutem chamado de ldquopatildeo dos

anjosrdquo feito de uma massa finiacutessima como uma hoacutestia com as imagens de Jesus

menino Maria e Joseacute distribuiacutedo pela Congregaccedilatildeo das Irmatildes da Sagrada Famiacutelia

Na veacutespera do Natal ao surgir a primeira estrela o chefe da casa pega um pedaccedilo

de Opłatek para si e reparte com todos o outro pedaccedilo simbolizando a eucaristia para

depois dar iniacutecio a ceia

49

Figura 22ndash A divisatildeo do Opłatek uma espeacutecie de hoacutestia constitui um momento solene na mesa dos imigrantes poloneses nas comemoraccedilotildees natalinas

Fonte Vacanzepoloniacom

As Pecircssankas (Figura 23) ovos pintados agrave matildeo em filigranas siacutembolo da

Paacutescoa e da vida para os poloneses Tambeacutem presente nas mitologias de muitas

civilizaccedilotildees antigas ligado aos rituais de fertilidade da primavera no hemisfeacuterio norte

Figura 23 - Exposiccedilatildeo ldquoArte em Ovos ndashPisankirdquo Casa de Eventos do Memorial Paacutescoa2016

Fonte Facebook Memorial Estadual de Imigraccedilatildeo Polonesa Papa Joatildeo Paulo II

50

No meio do Bosque haacute uma escultura do Papa (Figura 24) homenagem ao

Papa Joatildeo Paulo II por ocasiatildeo de sua visita agrave Curitiba em 1981 A escultura foi

concebida pela artista Maria Helena Chaturni com corpo em bronze olhos de acriacutelico

e matildeos de resina de polieacutester inaugurada em 2013

Figura 24 - Escultura do Papa Joatildeo Paulo II em meio a trilha do Bosque

Fonte feriasnowblog(2014)

De costas para o Memorial um pouco deslocado do contexto temaacutetico do

parque encontramos a escultura do polonecircs Nicolau Copeacuternico (1473-1543) autor da

teoria heliocecircntrica (Figura 25)Esta obra em bronze foi criada pelo artista polonecircs

Brac Dekoracyjny

51

Figura 25 - Escultura de Nicolau Copeacuternico

Fonte Curitiba Space (2016)

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa oferece outros atrativos como ciclovia

parque infantil sanitaacuterios e estacionamento apresentando uma infraestrutura de

parque puacuteblico de acordo com as demandas de modernizaccedilatildeo urbana de Curitiba

A seguir no proacuteximo item para compreendermos melhor o processo histoacuterico

do imigrante polonecircs em terras europeias e brasileiras nos ateremos a um breve

relato sobre esta trajetoacuteria

13 A Trajetoacuteria do Imigrante Polonecircs

Ao analisar o processo migratoacuterio polonecircs para o territoacuterio meridional do Brasil

abordando o Paranaacute e especificamente Curitiba revela-se a importacircncia deste

deslocamento

Natildeo por acaso eacute bastante razoaacutevel o nuacutemero de autores que ao tentar explicar o processo migratoacuterio em questatildeo lembram que o estado polonecircs inexistia e que os Impeacuterios Russo Prussiano e Austriacuteaco dominavam terras futuramente polonesas Decol (2002 p2) considera que aleacutem dos motivos econocircmicos a emigraccedilatildeo em tela precisa ser compreendida tambeacutem como motivada por questotildees de ordem poliacutetica referindo-se a estas ocupaccedilotildees (ALMEIDA ZANINI 2013 p164)

52

Observamos que o estado-naccedilatildeo polonecircs somente se organiza com o fim da

Primeira Guerra Mundial (ALMEIDA ZANINI 2013 p 158) Hobsbawn (1990)

tambeacutem discute a respeito do estado nacional com a assertiva a respeito do conceito

de naccedilatildeo

[]eacute uma entidade social apenas quando relacionada agrave certa forma de Estado territorial moderno o ldquoEstado-naccedilatildeordquo e natildeo faz sentido discutir naccedilatildeo e nacionalidade fora desta relaccedilatildeo [] As naccedilotildees natildeo formam os estados e o nacionalismo e sim o oposto (HOBSBAWN 1990 p 19)

Entatildeo no processo emigratoacuterio em questatildeo o territoacuterio que viria a ser polonecircs

era ocupado pelo impeacuterio prussiano russo e austro-huacutengaro E o mais interessante

de acordo com Almeida e Zanini (2013 p 158) ldquoEsses sujeitos imigrantes portanto

somente satildeo reconhecidos como poloneses quando desembarcam em solo

brasileirordquo

No entanto de acordo com o historiador paranaense Wilson Martins (1989

p6) ldquoO imigrante num espaccedilo de tempo extraordinariamente curto deixou de se sentir

imigrante para se amoldar por completo agrave nova terra da mesma forma por que a

moldava aos seus proacuteprios haacutebitos experiecircncias e tradiccedilotildeesrdquo Desta maneira o

estudo da imigraccedilatildeo polonesa nos apoia na compreensatildeo da histoacuteria do povo polonecircs

no Paranaacute em seus diversos aspectos

No decorrer desta pesquisa identifiquei como poloneses os indiviacuteduos que se

reconhecessem ou fossem reconhecidos como imigrantes ou descendentes de

poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de uma memoacuteria em comum desse

grupo social

Pollak (1992) nos esclarece que a questatildeo da memoacuteria pode estar circunscrita

agrave identidade individual ou de um grupo o que nos permite entender o repertoacuterio

cultural polonecircs de forma integral como grupo identitaacuterio

Podemos portando dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si (POLLAK 1992 p204)

53

De acordo com o autor a memoacuteria social eacute um fenocircmeno coletivo suscetiacutevel a

constantes transformaccedilotildees Ao afirmar a respeito da seleccedilatildeo de memoacuteria considera

que nem todos os fatos permanecem registrados e os sujeitos soacute possuem

recordaccedilotildees dos momentos a que datildeo importacircncia e que por alguma razatildeo ficaram

marcados subjetivamente

Paul Ricoeur (1990) ao mencionar a respeito do tempo e da narrativa histoacuterica

ressalta que a narrativa eacute uma forma de reconfigurarmos nossa experiecircncia temporal

e que portanto interpretamos o passado a partir da construccedilatildeo das representaccedilotildees

ldquoo sujeito eacute fortemente mediatizado por todos os sistemas de signos de siacutembolos e

de escriturardquo (RICOEUR 1990 p 21)

Ao abordarmos o contexto soacutecio-histoacuterico do imigrante polonecircs nesta

investigaccedilatildeo temos a possibilidade de estabelecermos uma interessante reflexatildeo da

pesquisadora Sandra Jovchelovitch (2008) ao mencionar a necessidade de

ldquocompreender a comunidade para compreender a identidade as afiliaccedilotildees sociais a

rebeliatildeordquo (JOVCHELOVITCH 2008 p 130) possibilitando assim algumas chaves de

interpretaccedilotildees para a compreensatildeo do nosso objeto de pesquisa as representaccedilotildees

sociais do imigrante polonecircs sob a oacutetica dos visitantes gestores e idealizador do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

Para entendermos a imigraccedilatildeo no Brasil de maneira geral eacute necessaacuteria uma

viagem ao tempo em 1889 quando o avanccedilo do sentimento antiescravagista

estimulava o governo brasileiro e as proviacutencias a promoverem uma poliacutetica de

imigraccedilatildeo para atrair agricultores europeus Os estados do Sul iniciavam uma poliacutetica

de atraccedilatildeo e apoio aos imigrantes europeus como veremos adiante Em relaccedilatildeo aos

imigrantes poloneses em Curitiba Wilma de Lara Bueno (1996) nos esclarece a

respeito da vinda dos primeiros colonos agrave Curitiba

Os primeiros poloneses que chegaram ao Brasil vieram da Sileacutesia e se fixaram inicialmente em Brusque Santa Catarina (1869) junto agraves famiacutelias alematildes laacute instaladas Eram 16 famiacutelias Mais tarde essas famiacutelias foram transferidas por intermeacutedio de Edmundo Saporski para Curitiba e junto com outras 16 famiacutelias que chegaram ainda em 1871 foram instaladas nas proximidades da capital fundando-se dessa maneira a Colocircnia do Pilarzinho (BUENO1996 p19)

54

Acrescentamos que segundo a historiadora Marcia Kersten (1983 p 49) ldquoJaacute

se encontravam instalados na regiatildeo imigrantes italianos franceses suiacuteccedilos ingleses

e outrosrdquo

Tambeacutem fica claro que o episoacutedio de transmigraccedilatildeo de Santa Catarina para o

Paranaacute na transcriccedilatildeo do relatoacuterio do presidente da Proviacutencia do Paranaacute de 1872

aconteceu com a ajuda oficial

O polaco Sebastiatildeo Saporoki (sic) apresentou-se como encarregado por diversos compatriotas estabelecidos na proviacutencia de Santa Catarina pedindo para facilitar-lhes passagem para virem se estabelecer nos subuacuterbios desta Capital Declarei a este indiviacuteduo que os mandaria transportar ateacute Paranaguaacute e que dahi para aqui correriam as despezas por conta delle ou de seus compatriotas com o que concordou e nesse sentido dei as ordens necessaacuterias (PARANAacute 1872 p64)

Estes ldquosubuacuterbios da capitalrdquo aos quais se refere o presidente da proviacutencia Joseacute

Venacircncio de Oliveira constituem-se como as primeiras colocircnias fundadas nas

cercanias de Curitiba e que hoje satildeo bairros quase centrais da capital

Os novos nuacutecleos povoadores na entatildeo proviacutencia do Paranaacute cumpriam a

funccedilatildeo de abastecimento de gecircneros alimentiacutecios para a cidade de Curitiba conforme

o texto da historiadora Neda M Doustdar (1990 p 92)

No seacuteculo XIX a proviacutencia do Paranaacute com a economia direcionada para o comeacutercio de gado e o extrativismo vive seacuterios problemas de abastecimento chegando mesmo a importar de outras proviacutencias toda sorte de produtos Nesse contexto a imigraccedilatildeo europeacuteia teria o papel fundamental tanto de ocupaccedilatildeo do territoacuterio como do desenvolvimento de atividades agriacutecolas

Um dos incentivadores da colonizaccedilatildeo Adolpho Lamenha Lins presidente da

proviacutencia entre 1875 e 1877 estabelece em seu governo ldquoo incremento da

colonizaccedilatildeo do territoacuterio atraveacutes de poliacutetica imigratoacuteria e desenvolvimento ruralrdquo

(OLIVEIRA 2009 p 1) De acordo com o historiador Wachowicz (2002 p 150) ldquoLins

criou o primeiro cinturatildeo verde organizado por imigrantes no Brasil

Desta maneira as primeiras colocircnias surgiram nas adjacecircncias de Curitiba

sendo que a partir das uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX ateacute 1920 os poloneses se

fixaram em diversas localidades no interior do estado do Paranaacute conforme citaccedilatildeo da

historiadora Mafalda Sikora

55

A imigraccedilatildeo polonesa alcanccedila maiores iacutendices entre o ano de 1890 e 1914 quando ocorre a eclosatildeo da Primeira Guerra Mundial que comeccedila a modificar radicalmente a situaccedilatildeo poliacutetica e econocircmica nas terras polonesas No Paranaacute os povos eslavos em sua maioria polonesa constituiacuteram a maior corrente migratoacuteria formando-se assim um dos maiores grupos eacutetnicos do Estado Entre 1869 e 1920 estima-se que dos 60000 mil poloneses que entraram no Brasil 95 estabeleceram-se no Paranaacute nas vaacuterias colocircnias do interior e na regiatildeo de Curitiba (SIKORA 2014 p39)

No entanto os iacutendices migratoacuterios permanecem apenas em estimativas

considerando que

Durante o periacuteodo que a Polocircnia estava ocupada muitos poloneses partiram munidos de passaporte alematildeo Por isso Wachowicz (1999) estima que 25 do total de alematildees que imigraram para o Brasil possam ser poloneses (OLIVEIRA 2009 p2)

Durante a II Guerra Mundial e apoacutes esse conflito entraram no Brasil mais alguns

milhares de imigrantes poloneses como podemos verificar em Kawka (2011 p 79)

Apoacutes a II Guerra Mundial em consequecircncia do deslocamento populacional provocado por esse conflito vieram ao Paranaacute mais alguns milhares de imigrantes poloneses Esses normalmente natildeo eram agricultores e na sua maioria fixaram-se em centros urbanos maiores [] De acordo com pesquisas realizadas pelo historiador Ruy C Wachowicz entre 1869 e 1934 entraram no Brasil 105 mil imigrantes poloneses a metade dos quais se estabeleceu no Paranaacute Um censo promovido pela Uniatildeo Central dos Poloneses (Central NyZwiazek Polakoacutew) de Curitiba em 1937 informava que naquele ano havia no Paranaacute 92 mil poloneses e seus descendentes

Esta breve descriccedilatildeo da imigraccedilatildeo polonesa no estado do Paranaacute demonstra

apenas parte da complexidade deste processo migratoacuterio por representar um

contingente populacional significativo Tratando-se do processo de integraccedilatildeo do

polonecircs no Brasil observamos uma espeacutecie de estigmatizaccedilatildeo dos poloneses sendo

que ostermos comumente utilizados para designar esses imigrantes ldquopolacordquo ou

ldquopolacardquo nada tem a ver comldquopolonecircsrdquo ou ldquopolonesardquo mas carregam uma conotaccedilatildeo

extremamente preconceituosa A pesquisadora Anna Wolny (2012) da Universidade

de Cracoacutevia na Polocircnia aponta a existecircncia de duas vertentes migratoacuterias da Polocircnia

para o Brasil

[] desde logo o pesquisador depara-se com um problema essencial que eacute a suposta ligaccedilatildeo da polaca-prostituta com a imigraccedilatildeo

56

polonesa facilmente questionaacutevel considerando que eram dois grupos de imigrantes de caraacuteter e propoacutesitos diferentes Os primeiros habitantes da Polocircnia chegam ao Brasil em resposta ao incentivo do governo brasileiro que depois da aboliccedilatildeo da escravidatildeo em 1888 encontra-se numa situaccedilatildeo econocircmica carente []Do outro lado e cronologicamente em simultacircneo temos o termo ldquopolacardquo que vem associado agraves mulheres trazidas para o Brasil pelos traficantes de escravas brancas reunidos em associaccedilotildees como Migdal Zwi WOLNY2012 p240)

A autora ainda esclarece em nota que a referida Migdal Zwi constitui uma

ldquoorganizaccedilatildeo judaica criada na Argentina que se ocupava do traacutefico das escravas

brancas na Argentina e no Brasil sob as aparecircncias de filantropia (WOLNY 2012

p240)

A questatildeo a respeito do preconceito agrave etnia polonesa tambeacutem eacute revista no texto

abaixo

Essa demonstraccedilatildeo passa pela identificaccedilatildeo das fontes do preconceito que diferencia os poloneses dos demais imigrantes Nesse caso particular sobressaem a discussatildeo do germanismo antipolonecircs de um lado e a inserccedilatildeo do imigrante numa produccedilatildeo agriacutecola de subsistecircncia subordinada a um complexo agroexportador (DOUSTDAR 1990 p 26)

Desta maneira os estudos da trajetoacuteria das comunidades polonesas no Paranaacute

revelam a complexidade de suas formas de organizaccedilatildeo assim como as diversas

maneiras como estas representaccedilotildees foram sendo construiacutedas ateacute o presente

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba na busca da preservaccedilatildeo da

cultura polonesa possui um importante papel de valorizaccedilatildeo e conservaccedilatildeo da

memoacuteria daquela comunidade A dinacircmica da construccedilatildeo social dos Museus e

Memoriais seraacute o tema do capiacutetulo a seguir complementado com as reflexotildees a

respeito de patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade articulados com as

representaccedilotildees sociais

57

2 MEMORIAIS E MUSEUS

21 Os Memoriais

Em estudo abrangente sobre Museus Memoriais intitulado ldquoMemorial

Museums The Global Rush to Commemorate Atrocitiesrdquo professor da Universidade

de Nova York Dr Paul Harvey Williams (2007) considera que os Memoriais revelam

uma postura social ldquohave helped to engender and consolidate social practices of

visitationrdquo (WILLIAMS 2007 p 5)6 como tambeacutem satildeo lugares que ldquowill lead us beyond

their own materiality and back in time to the personas and events they commemoraterdquo(

WILLIAMS 2007 p6)7

Os primeiros memoriais criados nos anos cinquenta estavam associados ao

tema dos genociacutedios de viacutetimas de guerra o Museu da Paz (Figura 26) inaugurado

em 1955 na cidade de Hiroshima no Japatildeo local onde os Estados Unidos lanccedilaram

a bomba atocircmica na segunda guerra mundial e o Yad Vashem do ano de 1953 em

Jerusaleacutem em Israel principal centro para a guarda da memoacuteria sobre o Holocausto

Figura 26 Memorial da Paz em Hiroshima (JP)

Fonte uacuteltimosegundo (2010)

6 Traduccedilatildeo da Autora Tem ajudado a gerar e consolidar praacuteticas sociais de visitaccedilatildeo 7 Traduccedilatildeo da Autora Nos levam para aleacutem da sua proacutepria materialidade e voltam no tempo para as pessoas e eventos que comemoram

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Segundo Paul Williams (2007) ldquowhile the Holocaust is tied to the second world

war its obvius antinomy to conventional warfare has meant that its memorialization

has required considerable departures in form and meaningrdquo8 (WILLIAMS 2007p6)

No seu livro o autor esclarece que na Segunda Guerra Mundial principalmente

pensando em relaccedilatildeo ao Holocausto e agrave bomba nuclear houve trageacutedias humanas

com proporccedilotildees ineacuteditas cujas viacutetimas eram civis e natildeo soldados em combate o que

caracterizou uma diferenciaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves guerras convencionais e tambeacutem agrave

necessidade de uma nova forma de memoralizacatildeo daiacute a criaccedilatildeo dos Memoriais

O autor segue em sua tentativa de delimitar o campo de conhecimento a

respeito de Memoriais tema central de seu trabalho apresentando em linhas gerais

as principais caracteriacutesticas distintivas a respeito de monumento museu memorial e

siacutetio memorial

A monument is a sculpture structure or physical marker designed to memorialize A museum as we know is an institution devoted to the acquisition conservation study exhibition and educational interpretation of objects with scientific historical or artistic value I use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kind A final term the memorial site is used to describe physical locations that serve a commerative function but are not necessarily dominated by a built structure9 (WILLIAMS 2007 p8)

Williams ao definir um conjunto de significadosreferentes a monumentos

museus museus memoriais e siacutetios memoriais busca delimitar o campo de trabalho

quanto agraves especificidades de cada termo

O autor acrescenta que os Memoriais existentes em todas as partes do mundo

em que ocorreram conflitos armados foram construiacutedos em vaacuterios periacuteodos com

estruturas poliacuteticas e culturais diferenciadas em seus discursos como por exemplo

8Traduccedilatildeo da Autora Embora o holocausto esteja ligado agrave segunda guerra mundial a sua antinomia oacutebvia agrave ldquoguerra convencionalrdquo significa que sua memorializaccedilatildeo requer consideraacuteveis desvios em forma e significado 9 Traduccedilatildeo da Autora Um monumento eacute uma escultura estrutura ou marca fiacutesica projetado para memorializar Um museu como sabemos eacute uma instituiccedilatildeo dedicada agrave aquisiccedilatildeo conservaccedilatildeo estudo exibiccedilatildeo e interpretaccedilatildeo educacional de objetos com valor cientiacutefico histoacuterico ou artiacutestico Eu uso o termo Museu Memorial para identificar um tipo especiacutefico de museu dedicado a um evento histoacuterico que comemora algum tipo de sofrimento em massa Um termo final o Memorial eacute usado para descrever locais fiacutesicos que tem funccediloes comemorativas mas que natildeo possuem necessariamente uma estrutura construiacuteda para tal

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In postwar Poland and Czechoslovakia the communist regimes produced holocaust memorials that predictably had strong antifascist interpretations (that is Nazis as oppressors of the working class) [] By contrast the YadVashen complex in Jerusalem (1953) has generally reflected (over several alterations and enlargements) a Zionist framework10 (WILLIAMS 2007 p6)

O Museu Memorial e o Memorial 11 de Setembro de Nova York iniciativa da

fundaccedilatildeo americana World Trade Center (Figura 27)que talvez possam ser os mais

conhecidos devido ao impacto midiaacutetico que a trageacutedia que os precedeu causou

foram instalados onde antes estavam as torres gecircmeas do Word Trade Centere

abertos ao puacuteblico em 2014 O Memorial 11 de Setembro tambeacutem chamado de

Tribute Center possui a funccedilatildeo de homenagear os cerca de trecircs mil mortos no ataque

terrorista de 11 de setembro de 2001 diferentemente do Museu 11 de Setembro cujo

papel eacute de explorar as implicaccedilotildees dos eventos de 11 de setembro documentando o

impacto de forma continuada

Figura 27 Museu Memorial 911 em NYC (US)

Fonte Damon Winter The New York Times

10 Traduccedilatildeo da Autora Na Polocircnia do poacutes-guerra e na Tchecoslovaacutequia os regimes comunistas produziram memoriais do Holocausto que previsivelmente tiveram fortes interpretaccedilotildees antifascistas (isto eacute os nazistas como opressores da classe trabalhadora) [] Por outro lado o complexo de Yad Vashen em Jerusaleacutem (1953) tem geralmente refletido (ao longo de vaacuterias alteraccedilotildees e ampliaccedilotildees) um quadro sionista

60

Os memoriais ao representarem uma nova forma de memoralizacatildeo possuem

a proposta de sensibilizaccedilatildeo e diaacutelogo com o puacuteblico em contraponto aos museus de

histoacuteria e suas formas de memoacuteria Between the ephemeral and the permanent

between dissolving personal memories and hardened official histories11 (WILLIAMS

2007 p 1) Muito mais que mostrar as histoacuterias traumaacuteticas os memoriais funcionam

como lugares de siacutetio construiacutedos tanto por histoacuterias oficiais como por histoacuterias

pessoais Williams considera que em termos de interpretaccedilatildeo de conteuacutedo omemorial

expressa algumas preocupaccedilotildees

A memorial is seen to be if not apolitical at least safe in the refuge of history This is largely because we recognize that honor will accrue to most people ndash no matter their actual worldly deeds ndash simply because honest evaluation of the dead is normally seen as disrespectful A history museum by contrast is presumed to be concerned with interpretation contextualization and critique The coalescing of the two suggest that there is an increasing desire to add both a moral framework to the narration of terrible historical events and more in-depth contextual explanations to commemorative acts (WILLIAMS 2007 p 8) 12

O autor segue na sua anaacutelise pontuando que o aumento do nuacutemero de museus

memoriais apoacutes a Segunda Guerra Mundial estaacute correlacionado ao direcionamento

das grandes narrativas e experiecircncias autoritaacuterias em museus nacionais Ao inveacutes de

ser imerso em narrativas histoacutericas prontas os visitantes dos memoriais satildeo

solicitados a ter experiences that are sensory and emotional rather than visual and

impassive 13 (Williams 2007 p 3) O autor considera que a experiecircncia nestes

espaccedilos possa ser mais fluiacuteda menos hieraacuterquica e mais pessoal

No seu trabalho Williams destaca sobre as possibilidades de narrativa desses

objetos em exposiccedilotildees de museus Tanto podem ser respaldados pelas palavras e

11 Traduccedilatildeo da autora Entre o efecircmero e o permanente entre dissolver memoacuterias pessoais e solidificar histoacuterias oficiais 12 Traduccedilatildeo da autora Um memorial eacute considerado quando natildeo apoliacutetico pelo menos seguro no refuacutegio da histoacuteria Isso se deve em grande parte por reconhecermos que a homenagem iraacute reverter em favor da maioria das pessoas ndash independente de suas verdadeiras accedilotildees mundanas ndash simplesmente por que uma avaliaccedilatildeo honesta do morto eacute normalmente considerada desrespeitosa Presume-se que um museu histoacuterico ao contraacuterio estaacute voltado a questotildees de interpretaccedilatildeo contextualizaccedilatildeo e criacutetica A fusatildeo dos dois sugere que haacute um desejo crescente de acrescentar um enquadramento moral agrave narrativa de eventos histoacutericos terriacuteveis e explicaccedilotildees mais contextualmente aprofundadas de atos comemorativos 13 Traduccedilatildeo da Autora Experiecircncias que satildeo sensoriais e emocionais ao inveacutes de visual e impassiacutevel

61

pelos documentos que os acompanham como tambeacutem podem ter sua significaccedilatildeo

ampliada quando interpretados pelos curadores ou pelo puacuteblico visitante ldquoWe

understand that stories about the past are what gives life to objects rather than vice

versardquo14(WILLIAMS 2007 p 49)

No entanto advertequantoaocontrole da narrativa de um museu e o

congelamento do significado do objeto ldquothe language and themes used to construct

what is a now sacred national memory has placed the event almost beyond dispute

allowing it to harden into myth15rdquo (WILLIAMS 2007 p 167)

Desta maneira os Memoriais articulam a delicada relaccedilatildeo entre a histoacuteria oficial

e a histoacuteria dos sujeitos na perspectiva de promover a discussatildeo das temaacuteticas que

envolvem a sociedade contemporacircnea

Inevitavelmente os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas ao assimilar a

realidade em diferentes periacuteodos e assume posturas paradigmaacuteticas distintas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo

especiacuteficos como no caso dos Memoriais

No entanto existe a necessidade de aprofundamento das discussotildees a respeito

dos memoriais em razatildeo das especificidades destas instituiccedilotildees O historiador Jorge

Barcellos (1999) ao procurar um conceito para os memoriais analisa o perfil

institucional de diversos memoriais com a intenccedilatildeo de delimitar ldquoseu objeto e campo

de atuaccedilatildeo distinguindo-o de seus congecircneres centro cultural e museurdquo

(BARCELLOS 1999 p3) Em sua anaacutelise o autor propotildee que os Memoriais natildeo

possuem as mesmas atribuiccedilotildees de um museu

O eixo sobre o qual o trabalho de um memorial deve centrar sua organizaccedilatildeo eacute a memoacuteria do Estado ou da instituiccedilatildeo a que se refere - o que os libera de se constituiacuterem como os demais museus [] em funccedilatildeo de determinados acervos temas ou objetos (BARCELLOS 1999 p 11)

Percebemos que nesta anaacutelise o autor direciona os trabalhos do Memorial na

organizaccedilatildeo das memoacuterias do estado ou de instituiccedilotildees sem a pretensatildeo de

possuiacuterem as caracteriacutesticas institucionais de um museu

14 Traduccedilatildeo da autora Eacute do conhecimento comum que as histoacuterias datildeo vida a objetos e natildeo o contraacuterio 15 Traduccedilatildeo da Autora A linguagem e os temas usados para construir o que agora eacute uma memoacuteria nacional sagrada torna o evento quase que incontestaacutevel permitindo que o mesmo se transforme em mito

62

No decorrer dos tempos os museus sofreram uma seacuterie de mudanccedilas que

viabilizaram o aparecimento de novas instituiccedilotildees e processos de musealizaccedilatildeo como

o caso dos memoriais cuja pluralidade de temas e formataccedilatildeo museograacutefica ocorrem

de maneiras diferenciadas como veremos mais adiante

Na tentativa de categorizar os memoriais o Conselho Internacional de Museus

implantou em 2001 o Comitecirc Internacional de Museus Memoriais (IC MEMO)

direcionado para as questotildees de preservaccedilatildeo da memoacuteria de viacutetimas de crimes de

estado Os Museus Memoriais para a recordaccedilatildeo das viacutetimas de crimes puacuteblicos

podem ser definidos da seguinte forma

These institutions function as museums with a stock of original historical objects which generally includes buildings and work in all the classical fields of museum work (collecting preserving exhibiting doing research providing education) Their purpose is to commemorate the victims of state and socially determined ideologically motivated crimes They are frequently located at the original historical sites or at places chosen by the victims of such crimes for the purpose of commemoration They are conceived as memorials admonishing visitors to safeguard basic human rights As these institutions co-operate with the victims and other contemporary witnesses their work also takes on a psychosocial character Their endeavors to convey information about historical events are morally grounded and aim to establish a definite relationship to the present without abandoning a historical perspective (ICMEMO-ICOM 2001 p1)16

Conforme consulta no Guia de Museus Brasileiros (2011) do Instituto Brasileiro

de Museus - IBRAM existem 203 unidades museoloacutegicas no Brasil denominadas como

Memorial Percebemos que os memoriais elencados na publicaccedilatildeo estatildeo voltados

para a preservaccedilatildeo e difusatildeo da memoacuteria seja institucional biograacutefica ou de uma

16Traduccedilatildeo livre Estas instituiccedilotildees funcionam como museus com um estoque de objetos

histoacutericos originais que geralmente incluem preacutedios e obras em todos os campos claacutessicos de trabalhos de museus (colecionar preservar exibir fazer pesquisa promover educaccedilatildeo) O propoacutesito dessas instituiccedilotildees eacute celebrar as viacutetimas do estado e os crimes socialmente determinados e ideologicamente motivados Elas satildeo frequentemente localizadas nos locais histoacutericos originais ou em locais escolhidos pelas viacutetimas de tais crimes com o propoacutesito de celebraccedilatildeo Elas satildeo idealizadas como memoriais que lembram visitantes a salvaguardar direitos humanos baacutesicos Como estas instituiccedilotildees cooperam com as viacutetimas e outras testemunhas contemporacircneas elas tambeacutem exercem um trabalho de caraacuteter psicossocial Seus esforccedilos para transmitir informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos estatildeo moralmente fundamentados e objetivam estabelecer uma relaccedilatildeo definitiva com o presente sem abandonar uma perspectiva histoacuterica

63

cultura especiacutefica Nesses locais acontecem atividades culturais educativas e

teacutecnicas

Desta maneira sentimos a necessidade de avaliarmos a configuraccedilatildeo do MIP

dentro do conceito de Memorial e percebemos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa

de Curitiba natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM por natildeo compreender

viacutetimas de estado embora tenha a preocupaccedilatildeo de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre

eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees

com o presenterdquo (ICOM 2001 p1)

Paul Williams na sua discussatildeo considera que o termo Museu Memorial deva

ser utilizado para um tipo especiacutefico de museus ou seja aquele que se dedica agrave

comemoraccedilatildeo de eventos de trageacutedias coletivas 17 No acircmbito internacional estas

instituiccedilotildees estatildeo voltadas agrave questatildeo dos crimes de guerra e genociacutedios o que em

termos nacionais satildeo pouco explorados Neste aspecto o Memorial de Resistecircncia

em S Paulo como tambeacutem o Museu do Holocausto de Curitiba configuram exemplos

de Memoriais na oacutetica de Williams apesar deste uacuteltimo natildeo receber o nome de

memorial mas sim de museu

Ampliando a discussatildeo sobre memoriais a museoacuteloga Ana Maria Vieira (2013)

analisa que os ldquoMemoriais satildeo monumentos agrave memoacuteria onde a cultura material seria

portanto o meio e natildeo o fimrdquoevidenciando desta maneira que o foco de trabalho

destas instituiccedilotildees estaria substancialmente voltado agrave identidade coletiva dos sujeitos

Nesta concepccedilatildeo o memorial abrange as memoacuterias de instituiccedilotildees personalidades

cidades fatos e acontecimentos

No mesmo artigo Vieira (2013) questiona sobre a existecircncia de um conceito

para memorial e propotildee e argumenta que ldquonem todos os museus criam espaccedilos que

favorecem a reflexatildeo sobre todas essas questotildeesrdquo (VIEIRA 2013 p2) como os

Memoriais e que satildeo vaacuterios os questionamentos sobre a denominaccedilatildeo Memorial A

autora reafirma as propostas de memoriais citadas por Williams

Situados em siacutetios histoacutericos originais refletem politicas puacuteblicas estrateacutegicas de direitos humanos no acircmbito da Justiccedila e das Relaccedilotildees Internacionais Envolvem principalmente as questotildees relacionadas agrave memoacuteria No caso dos inuacutemeros memoriais de guerra estes foram e

17ldquoI use the term memorial museum to identify a specific kind of museum dedicated to a historic event commemorating mass suffering of some kindrdquo (WILLIAMS 2007p8)

64

satildeo erigidos no sentido de reparaccedilotildees ou como espaccedilos de reflexatildeo objetivando a paz (VIEIRA 2013 p2)

Barcellos aponta que haacute ldquoausecircncia de uma delimitaccedilatildeo conceitualrdquo a respeito

dos Memoriais pois estes ldquoderivam dum entendimento sobre o papel que tecircm as

instituiccedilotildees que trabalham com a memoacuteria na sociedaderdquo (BARCELLOS 1999 p1)

Em termos nacionais considerando as 203 memoriais no Cadastro Nacional

de Museus (2006) do Instituto Brasileiro de Museus ndash IBRAM no que se refere agrave

apresentaccedilatildeo ao puacuteblico edificaccedilatildeo estrutura de pessoal e estrutura fiacutesica possuem

grande diversidade natildeo apresentando uma uniformidade de perfil Poderiacuteamos dizer

que a configuraccedilatildeo dos memoriais enquanto instituiccedilotildees museoloacutegicas apresentaram

diversos formatos ao longo de sua histoacuteria do Museion da Greacutecia Antiga agraves diferentes

formas de linguagem da hipermiacutedia e digitalizaccedilatildeo atuais

Figura 28 - Memorial Juscelino Kubitscheck em Brasiacutelia (DF)

Fonte Brasilgovbr 2016

Alguns memoriais aleacutem de acervo biograacutefico e temaacutetica voltada agraves atividades

do homenageado possuem em suas instalaccedilotildees mausoleacuteus para a guarda dos restos

mortais de figuras notaacuteveis como no caso do Memorial Juscelino Kubitschek com

projeto arquitetocircnico de Oscar Niemayer em Brasiacutelia - DF (Figura 28)memorial Nereu

Ramos na cidade de Lages - SC ou o Memorial Marechal Mallet voltado para a

histoacuteria militar e localizado no Quartel do 3ordm Grupo de Artilharia em Santa Maria ndash RS

Como exemplo de memorial voltado para a organizaccedilatildeo das memoacuterias de

estado ou de instituiccedilotildees identificamos o Memorial da Resistecircncia de S Paulo (Figura

65

29) que trata da resistecircncia e repressatildeo poliacutetica do iniacutecio do Brasil republicano agrave

atualidade

Figura 29ndash Memorial da Resistecircncia Satildeo Paulo-SP

Fonte tvbrasil ebccombr 2016

Como podemos observar os memoriais tais como os museus podem ser

concebidos com diversos perfis sejam arquitetocircnicos museograacuteficos administrativos

etc mas que ao passarem por um processo de musealizaccedilatildeo oferecem a

possibilidade de uma leitura mais ampla de seu patrimocircnio cultural desde que

inseridos nas praacuteticas sociais da comunidade Jeudy (1990) ao focalizar o papel das

instituiccedilotildees museoloacutegicas no mundo social afirma que se apresentam como espaccedilos

de organizaccedilatildeo e de evocaccedilatildeo das referecircncias culturais que servem ao

desenvolvimento do conhecimentordquo (JEUDY 1990 p19)

Williams acredita que a criaccedilatildeo de Memoriais como instituiccedilotildees de memoacuteria

ldquorevolutionized the world of history museums because it reflected when new memory

processes including the historical interpretation and the museums social

functionrdquo18(WILLIAMS 2007 p 8)

Devido agrave extensatildeo do conceito de museus presente no Estatuto de Museus

(Lei nordm 119042009) que no seu artigo primeiro define como museus as ldquoinstituiccedilotildees

18Traduccedilatildeo da Autora revolucionou o mundo dos museus de histoacuteria porque eles refletiam novos processos de memoacuteria incluindo a interpretaccedilatildeo histoacuterica e a funccedilatildeo social do museu

66

e os processos museoloacutegicos voltados para o trabalho com o patrimocircnio cultural e o

territoacuterio visando ao desenvolvimento cultural e socioeconocircmico e agrave participaccedilatildeo das

comunidadesrdquo (Brasil 2007) os memoriais podem ser contemplados como

instituiccedilotildees museoloacutegicas

As diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo de memoacuteria e

os delineamentos contemporacircneos das instituiccedilotildees museais reportam agraves tentativas de

delimitaccedilatildeo de seu campo de trabalho como museu memorial Neste sentido ao

retomar a anaacutelise de Williams (2007) quando define os memoriais como locais

dedicados a um evento histoacuterico que comemora um sofrimento de massa natildeo nos

parece obviamente adequado a menos que levemos em conta as dificuldades e

sofrimento passados pelos imigrantes ao deixarem sua terra natal e de se adaptarem

a um novo paiacutes com cultura diversa da sua

Considerando a anaacutelise de Williams (2007) percebe-se a possibilidade de

caracterizaccedilatildeo do MIP como instituiccedilatildeo museal na medida em que elege para suas

funccedilotildees a preservaccedilatildeo do acervo de casas de tronco e uma coleccedilatildeo de objetos

referentes agrave imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

Por outro lado observamos que o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

natildeo se configura na descriccedilatildeo do comitecirc do ICOM ICMEMO por natildeo compreender

viacutetimas de estado No entanto o MIP possui em seu perfil de atuaccedilatildeo a preocupaccedilatildeo

de ldquodivulgar informaccedilatildeo sobre eventos histoacutericos mantendo sua perspectiva histoacuterica

e tambeacutem suas fortes ligaccedilotildees com o presenterdquo (ICOMICMEMO 2001 p1) ao

desenvolver atividades com o intuito de congregar a comunidade polonesa na ocasiatildeo

de comemoraccedilotildees

Desta forma acreditamos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

enquanto espaccedilo de preservaccedilatildeo da memoacuteria dos imigrantes poloneses comporta

um perfil museoloacutegico e eacute o entendimento o da evoluccedilatildeo do pensamento museal eacute

que nos ateremos a seguir

22 Os Museus e a Trajetoacuteria para a Nova Museologia

Para o entendimento da evoluccedilatildeo do pensamento museoloacutegico iniciamos com

as discussotildees do Seminaacuterio Regional da UNESCO ndash United Nations Educational

Scientifics and Cultural Organization - no Rio de Janeiro (1958) as Cartas de Santiago

(ICOM 1972) Quebec (ICOM 1984) e Caracas (ICOM 1999) o que nos leva ao

67

aporte para compreensatildeo do tema Estas cartas constituem ldquodocumentos

fundamentais para o entendimento da renovaccedilatildeo no cenaacuterio museoloacutegico

internacional e notadamente na Ameacuterica Latina onde a maior parte deles tomou

corpordquo (CAcircNDIDO 2009 p 17)

O primeiro evento transformador do campo museal intitulado Seminaacuterio sobre

a Funccedilatildeo Educativa dos Museus com o apoio do International Council of Museum-

ICOM ocorreu no Rio de Janeiro em 1958 com a proposta de analisar as exposiccedilotildees

museais como instacircncias mediadoras entre os museus e a sociedade

O Documento do Rio de Janeiro foi delineado considerando especial atenccedilatildeo agrave

funccedilatildeo didaacutetica dos museus e aos recursos expositivos Nas definiccedilotildees fundamentais

do documento destacamos a preocupaccedilatildeo com a funccedilatildeo educativa do museu ldquoTrata-

se de dar agrave funccedilatildeo educativa toda a importacircncia que merece sem diminuir o niacutevel da

instituiccedilatildeo nem colocar em perigo outras finalidades []rdquo (BRASIL 2007 p 92)

O iniacutecio da tendecircncia democratizante no meio museal em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo

do museu com a comunidade tornou-se efetivamente possiacutevel com a realizaccedilatildeo da

Mesa Redonda de Santiago do Chile (ICOM 1972) organizada pela UNESCO e com

o apoio do ICOM

Nesta ocasiatildeo a temaacutetica versou em torno do papel dos museus na Ameacuterica

Latina com ecircnfase nas questotildees de integraccedilatildeo do museu agrave populaccedilatildeo local

patrimocircnio e meio ambiente em substituiccedilatildeo aos enfoques dos museus tradicionais

em que puacuteblico coleccedilatildeo e edifiacutecio centravam as preocupaccedilotildees destas instituiccedilotildees

A partir das discussotildees ali realizadas foi proposto um novo conceito de museu

e de sua funccedilatildeo social atraveacutes da ediccedilatildeo da Declaraccedilatildeo de Santiago a qual considera

que

[] o museu eacute uma instituiccedilatildeo a serviccedilo da sociedade da qual eacute parte integrante e que possui nele mesmo os elementos que lhe permitem participar na formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que ele serve que ele pode contribuir para o engajamento destas comunidades na accedilatildeo situando suas atividades em um quadro histoacuterico que permita esclarecer os problemas atuais isto eacute ligando o passado ao presente engajando-se nas mudanccedilas de estrutura em curso e provocando outras mudanccedilas no interior de suas respectivas realidades nacionais (ICOM 1972 p 1)

Esta formaccedilatildeo da consciecircncia das comunidades que alude a Carta de Santiago

do Chile sinalizou a importacircncia do museu como instrumento de desenvolvimento com

o olhar da responsabilidade social Mas o aspecto mais significativo para o

68

delineamento da museologia apresenta-se na proposta do museu integral o qual

confere ldquoa comunidade uma visatildeo de conjunto de seu meio material e culturalrdquo (ICOM

1972) Essas novas discussotildees em acircmbito internacional trouxeram outros desafios agrave

museologia com a necessidade de repensar os museus sob a perspectiva do museu

integral

A ecircnfase ao trabalho de uma museologia comunitaacuteria impliacutecita na proposta da

Carta de Santiago do Chile era uma resposta aos regimes ditatoriais vigentes na

Ameacuterica Latina e por essa razatildeo enfrentou dificuldades poliacuteticas para ser implantada

O educador pedagogo e filoacutesofo brasileiro Paulo Freire com atuaccedilatildeo e

reconhecimento internacionais aceitou o convite do presidente do Conselho

Internacional de Museus (ICOM) agrave eacutepoca da organizaccedilatildeo e realizaccedilatildeo do evento o

museoacutelogo Hugues de Varine-Bohan para presidir a Mesa-Redonda de Santiago e a

manifestar suas ideias de educador No entanto sua participaccedilatildeo foi vetada pela

delegaccedilatildeo brasileira da UNESCO inviabilizando seu contributo agrave museologia Esta

questatildeo foi motivada pelo exiacutelio poliacutetico de Freire iniciado pelo golpe de estado no

Brasil em 1964

O pensamento de Paulo Freire (1983) considera a importacircncia dos sujeitos

enquanto protagonistas nos processos educacionais Esta preocupaccedilatildeo perpassa a

problemaacutetica dos museus enquanto instituiccedilatildeo mediaacutetica ldquoConhecer que eacute sempre

um processo supotildee uma situaccedilatildeo dialoacutegicardquo (FREIRE 1983 p 71) O autor enfatiza

que o ldquoobjeto do conhecimento natildeo eacute o termo dos sujeitos cognoscentes mas a sua

mediaccedilatildeordquo (FREIRE 1983 p 71) de maneira que o ato de conhecer pressupotildee uma

situaccedilatildeo interativa de comunicaccedilatildeo Percebemos os museus como instituiccedilotildees de

educaccedilatildeo natildeo formal que intermediam o conhecimento atraveacutes de sua poliacutetica

cultural contribuindo dessa forma no processo de valorizaccedilatildeo das comunidades

Com o propoacutesito de fomentar as discussotildees em torno das relaccedilotildees da

Museologia e seu objeto de estudo em 1977 foi criado o Comitecirc Internacional da

Museologia (ICOFOM) Conforme Cury (2005) os objetivos do ICOFOM seriam [] ldquoo

desenvolvimento de um programa de ensino universitaacuterio da museologia e a

compreensatildeo das interrelaccedilotildees da museologia com outros campos de conhecimentordquo

(CURY 2005 p 46)

No Ateliecirc internacional de Ecomuseus ndash Nova Museologia ocorrido em 1984

em Quebec (ICOM 1984) no Canadaacute novos conceitos foram desenvolvidos ldquocomo

os de lsquonova museologiarsquo lsquoecomuseologiarsquo lsquomuseologia comunitaacuteriarsquo e outras formas

69

que tinham em comum a interaccedilatildeo com as comunidadesrdquo (CERAacuteVOLO 2004 p 261)

Ainda de acordo com um dos itens da declaraccedilatildeo expotildee-se a necessidade do museu

estender suas accedilotildees ao meio ambiente e agrave comunidade

A museologia deve procurar num mundo contemporacircneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento estender suas atribuiccedilotildees e funccedilotildees tradicionais de identificaccedilatildeo de conservaccedilatildeo e de educaccedilatildeo a praacuteticas mais vastas que estes objetivos para melhor inserir sua accedilatildeo naquelas ligadas ao meio humano e fiacutesico (ICOM 1984 p 1)

Observamos que os documentos produzidos em 1972 durante a Mesa

Redonda de Santiago do Chile assim como o de 1984 na realizaccedilatildeo do Ateliecirc

Internacional de Ecomuseu de Haute Beauce situado em Quebec no Canadaacute

causaram um movimento diferenciado no campo teoacuterico e metodoloacutegico no Brasil

Neste sentido os museus rumaram em direccedilatildeo agrave museologia comunitaacuteria concebida

a partir do patrimocircnio como agente de mediaccedilatildeo reforccedilada pela funccedilatildeo social dos

museus No acircmbito nacional houve um atraso na aplicabilidade destes princiacutepios jaacute

que ldquosomente se teve acesso ao documento de Santiago [] dez anos depoisrdquo

(CABRAL 2012 p 1) Conforme indica a autora

Nunca eacute demais lembrar que agrave eacutepoca os participantes latino-americanos talvez natildeo tenham podido implementar as resoluccedilotildees porque a Ameacuterica Latina se inscrevia num contexto de combates para a institucionalizaccedilatildeo da democracia e que essa luta poliacutetica se constituiacutea em condiccedilatildeo preacutevia para a superaccedilatildeo de sua profunda crise econocircmica e social (CABRAL 2012 p1)

Com o ambiente acadecircmico da museologia ausente dos debates a respeito da

funccedilatildeo social dos museus como presenciado por esta mestranda no decorrer do

Curso de Museologia no iniacutecio da deacutecada de 1980 houve um retardo para a

aplicabilidade destes novos conceitos no acircmbito museal mesmo porque naquele

periacuteodo chefes militares dirigiam grande parte das universidades brasileiras

Com o desenvolvimento das discussotildees do Ateliecirc Internacional ocorrido em

1984 foi organizado no ano seguinte em Portugal o Movimento Internacional para

uma Nova Museologia (MINOM) tendo como ldquoobjeto de estudo a formaccedilatildeo e a

divulgaccedilatildeo da museologia socialrdquo (MOVIMENTO INTERNACIONAL PARA UMA

NOVA MUSEOLOGIA 1984 p 16) Esta Nova Museologia baseava-se no estiacutemulo e

divulgaccedilatildeo de novas experiecircncias no campo museal ldquoO fundamento destas novas

70

experiecircncias deveria ser o de uma Museologia de caraacuteter social em oposiccedilatildeo ao

colecionismordquo e abordava as ldquodiversas formas de expressotildees museaisrdquo (CAcircNDIDO

2009 p 25)

O impacto dos movimentos em direccedilatildeo agrave renovaccedilatildeo teoacuterica das praacuteticas

museais ocasionou novas propostas conceituais como a do renomado museoacutelogo

francecircs Hugues de Varine-Bohan em que propotildee uma classificaccedilatildeo entre as

possibilidades de museus os museus-instituiccedilatildeo e os museus-processo

O museu-instituiccedilatildeo seria aquele composto por um acervo e um puacuteblico atendidos por profissionais que decidem os papeacuteis e as accedilotildees de ambos sem se relacionar minimamente com seu contexto social Jaacute o museu-processo seria aquele cujo objetivo principal eacute servir de instrumento para a comunidade que integra e como parte do tecido social econocircmico e educativo contribuir para seu desenvolvimento (VARINE-BOHAN 2000 p22)

Na deacutecada de 1980 no Brasil destacou-se em termos teoacutericos o trabalho de

Waldisa Russio Camargo Guarnieri comprometida com as accedilotildees de transformaccedilatildeo

social dos museus Para ela o conceito do Fato Museal eacute identificado como uma ldquo[]

relaccedilatildeo profunda entre o homem sujeito que conhece e o objeto parte da realidade

agrave qual o homem tambeacutem pertence e sobre o qual tem o poder de agir num cenaacuterio

institucionalizado o museurdquo (GUARNIERI 1990 p 204)

Esta referecircncia nos revela a possibilidade de interpretaccedilatildeo do objeto como

patrimocircnio cultural inserido agrave dinacircmica de vida da comunidade natildeo limitando o fazer

museoloacutegico agrave preservaccedilatildeo e a exposiccedilatildeo do objeto

Este entendimento do fato museal ldquoeacute replicado em uma outra versatildeo para

atender agrave nova museologia [] neste sentido o ternaacuterio eacute constituiacutedo pela

SOCIEDADE o PATRIMOcircNIO e o TERRITOacuteRIO ou S x P x Trdquo (CURY 2010 p 272)

A discussatildeo da problemaacutetica em torno da agenda museal ocasionou novas

propostas conceituais No cenaacuterio atual os museus constituem importantes unidades

de memoacuteria inseridas na vida e no consumo coletivo na tentativa de se popularizarem

no sentido de cumprirem uma nova tarefa de preservar as culturas perifeacutericas como

nos casos dos museus comunitaacuterios e ecomuseus por exemplo

Com a noccedilatildeo cada vez mais alargada de patrimocircnio Desvalleacutees refere-se a

uma museologia globalizante de maneira que a instituiccedilatildeo museal ldquoultrapassa suas

71

paredes Suas coleccedilotildees estatildeo em toda parte Tudo lhe pertence Todo patrimocircnio eacute

museal minus e natildeo apenas museificaacutevel Tudo eacute museu (DESVALLEacuteES 1989 p 14)

Quando o autor sugere que todo o patrimocircnio eacute museal nos reportamos ao

conceito de patrimocircnio com conotaccedilotildees e dimensotildees diferenciadas transferindo sua

instacircncia para aleacutem do patrimocircnio material onde encontramos a inclusatildeo do

patrimocircnio imaterial ou intangiacutevel abarcando as expressotildees cuja importacircncia natildeo

estaria mais na dimensatildeo fiacutesica mas como o inscrito na Convenccedilatildeo da Salvaguarda

do Patrimocircnio Imaterial (UNESCO 2003)

Entende-se por ldquopatrimocircnio cultural imaterialrdquo as praacuteticas representaccedilotildees expressotildees conhecimentos e teacutecnicas - junto com os instrumentos objetos artefatos e lugares culturais que lhes satildeo associados - que as comunidades os grupos e em alguns casos os indiviacuteduos reconhecem como parte integrante de seu patrimocircnio cultural (UNESCO 2003)

O seacuteculo XX registrou importantes mudanccedilas na trajetoacuteria dos museus

incorporando estes novos conceitos de patrimocircnio como tambeacutem reconsiderando a

diversidade dos espaccedilos museoloacutegicos Na mais recente definiccedilatildeo de museu

estipulada pelo ICOM percebe-se o reconhecimento de que os museus devem

desenvolver mecanismos voltados para o patrimocircnio imaterial

O museu eacute uma instituiccedilatildeo permanente sem fins lucrativos ao serviccedilo da sociedade e do seu desenvolvimento aberta ao puacuteblico que adquire conserva investiga comunica e expotildee o patrimoacutenio material e imaterial da humanidade e do seu meio envolvente com fins de educaccedilatildeo estudo e deleite (ICOM 2007)

Nesta atualizaccedilatildeo houve a substituiccedilatildeo do termo ldquoevidencia materialrdquo por

ldquopatrimocircnio material e imaterialrdquo expandindo significativamente a problemaacutetica de

estudo dos museus em conformidade aos desafios atuais

Nas questotildees relativas ao patrimocircnio evidencia-se na Declaraccedilatildeo de Caracas

(ICOM 1992) por ocasiatildeo do Seminaacuterio ldquoA Missatildeo dos Museus na Ameacuterica Latina

Hoje Novos Desafiosrdquo quando o museu ldquocomeccedila a ser gerenciado para o interesse

da sociedade e natildeo exclusivamente para instituiccedilotildees como os museus tradicionaisrdquo

(VIANA 2009 p 18) Assim na Carta de Caracas encontramos a definiccedilatildeo de

Patrimocircnio de uma forma abrangente ldquoEntende-se como patrimocircnio cultural de uma

naccedilatildeo de uma regiatildeo ou de uma comunidade aquelas expressotildees materiais e

espirituais que as caracterizamrdquo (ICOM 1999 p 254)

72

Constatamos que na Nova Museologia os museus se desvencilham da relaccedilatildeo

direcionada unicamente para a coleccedilatildeo para se voltarem a outras instacircncias sociais

representadas pela heterogeneidade de determinados grupos num campo marcado

por tensotildees e conflitos em suas diversas instacircncias de representaccedilotildees

Estas articulaccedilotildees do museu como instituiccedilatildeo de diaacutelogo com a comunidade

visam ampliar as relaccedilotildees com seus atores sociais aleacutem de favorecer o encontro e o

reconhecimento do museu com o seu puacuteblico atraveacutes de praacuteticas sociais especiacuteficas

ldquoos museus conquistaram notaacutevel centralidade no panorama poliacutetico e cultural do

mundo contemporacircneo [] Passaram a ser percebidos como praacuteticas sociais

complexasrdquo (BRASILMINC 2007 p18)

No panorama museoloacutegico compreende-se a importacircncia dos museus

reafirmarem suas poliacuteticas culturais voltadas para a comunidade Como

consequecircncia no proacuteximo item refletiremos a respeito das noccedilotildees de patrimocircnio

cultural memoacuteria e identidade na contextualizaccedilatildeo do Memorial como tambeacutem

abordaremos os conteuacutedos relativos aos lugares de memoacuteria Estes conceitos a

serem apresentados revelam sua importacircncia no objeto da nossa investigaccedilatildeo na

medida em que os correlacionamos aos conteuacutedos das representaccedilotildees sociais com o

tema proposto

23 Patrimocircnio cultural memoacuteria e identidade

O Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba constitui um patrimocircnio cultural

tombado na esfera estadual pelo seu conjunto arquitetocircnico e paisagiacutestico Configura

um testemunho para a memoacuteria e a identidade dos primoacuterdios da colonizaccedilatildeo

polonesa da regiatildeo de Curitiba

Como patrimocircnio cultural o Memorial possui caracteriacutesticas e valores ligados agrave

comunidade polonesa Na Declaraccedilatildeo de Caracas (ICOM 1992) como jaacute citamos

anteriormente podemos compreender que o patrimocircnio cultural de uma naccedilatildeo de

uma regiatildeo ou de uma comunidade eacute composto de todas as expressotildees materiais e

espirituais que lhe constituem incluindo o meio ambiente naturalrdquo (ICOM 1992)

Portanto o patrimocircnio nesta perspectiva natildeo eacute formado apenas de pedra e cal

mas constituiacutedo pelos usos e costumes e pelos modos de ser e fazer de determinada

comunidade e considera portanto o homem como produtor de cultura

73

No entendimento do antropoacutelogo Clifford Geertz (2011) a cultura eacute

compreendida como uma accedilatildeo simboacutelica interpretada como um conceito semioacutetico

ldquoacreditando como Max Weber que o homem eacute um animal amarrado a teias de

significados que ele mesmo teceurdquo (GEERTZ2011 p15)

Segundo Geertz a cultura natildeo deve ser vista de forma individual mas de

maneira socializada Assim os elementos que constituem as teias indicadas por

Weber natildeo possuem sujeitos ou fatos geradores definidos

A cultura natildeo eacute um poder algo ao qual podem ser atribuiacutedos casualmente os acontecimentos sociais os comportamentos as instituiccedilotildees ou os processos ela eacute um contexto algo dentro do qual eles (os siacutembolos) podem ser descritos de forma inteligiacutevel ndash isto eacute descritos com densidade (GEERTZ 2011 p24)

O entendimento das manifestaccedilotildees culturais e seus mecanismos nos

processos de anaacutelise das representaccedilotildees sociais apontam a importacircncia do contexto

cultural Para Moscovici

Nenhuma mente estaacute livre dos efeitos de condicionamentos anteriores que lhe satildeo impostos por suas representaccedilotildees linguagem ou cultura Noacutes pensamos atraveacutes de uma linguagem noacutes organizamos nossos pensamentos de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas representaccedilotildees como por nossa cultura (MOSCOVICI 1981 p35)

As representaccedilotildees sociais importam para anaacutelise das manifestaccedilotildees culturais

enquanto praacuteticas sociais pois auxiliam e atuam para a compreensatildeo da proacutepria

realidade Assim a cultura e suas diversas formas de expressatildeo possuem um poder

simboacutelico representadas no imaginaacuterio social

Ao utilizamos o termo ldquoimaginaacuteriordquo partimos das proposiccedilotildees de Gilbert

Durand segundo o qual ldquoimaginaacuterio eacute o conjunto das imagens natildeo gratuitas e das

relaccedilotildees de imagens que constituem o capital inconsciente e pensado do ser humanordquo

(DURANT apud COELHO 2004 p212)

Segundo o cientista poliacutetico e historiador Joseacute Murilo de Carvalho a atuaccedilatildeo

social do imaginaacuterio eacute ampla e complexa ldquoas sociedades definem suas identidades e

objetivos definem seus inimigos organizam seu passado presente e futuro O

imaginaacuterio social eacute constituiacutedo e se expressa por ideologias e utopias [] por siacutembolos

alegorias rituais mitosrdquo (CARVALHO 1987 p 11)

74

Assim o imaginaacuterio contribui com sua parcela para a definiccedilatildeo das identidades

Stuart Hall (2000) nos daacute uma noccedilatildeo da complexidade da percepccedilatildeo das identidades

nas sociedades contemporacircneas

A identidade plenamente unificada completa segura e coerente eacute uma fantasia Ao inveacutes disso agrave medida em que os sistemas de significaccedilatildeo e representaccedilatildeo cultural se multiplicam somos confrontados por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de identidades possiacuteveis com cada uma das quais poderiacuteamos nos identificar ndash ao menos temporariamente (HALL 2002 p 12)

As identidades possuem certa suscetibilidade na medida em que estatildeo em

constante mutaccedilatildeo e na multiplicaccedilatildeo de seus sujeitos Compreendemos que este

sentido de identidade do indiviacuteduo consolida-se numa memoacuteria compartilhada natildeo soacute

de um passado comum mas sobretudo no campo simboacutelico

Halbwachs (1990) argumenta que ldquocada memoacuteria individual eacute um ponto de vista

sobre a memoacuteria coletivardquo os grupos sociais desenvolvem uma memoacuteria do seu

passado coletivo mantendo uma identidade que permite a distinccedilatildeo dos grupos

criando o sentimento de pertencimento O autor acrescenta a respeito da relaccedilatildeo com

a construccedilatildeo da memoacuteria ao dizer que

[]a sucessatildeo de lembranccedilas mesmo daquelas que satildeo mais pessoais explica-se sempre pelas mudanccedilas que se produzem em nossas relaccedilotildees com os diversos meios coletivos isto eacute em definitivo pelas transformaccedilotildees desses meios cada um tomado agrave parte e em seu conjunto (HALBWACHS 1990 p51)

Para Maurice Halbwachs (1990) as reflexotildees sobre a memoacuteria possibilitam a

problematizaccedilatildeo da reconstruccedilatildeo das lembranccedilas no campo das relaccedilotildees sociais o

que nos reporta ao local de nossa pesquisa o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e seu

conjunto de narrativas que apontam para a construccedilatildeo de uma identidade no

presente a partir da legitimaccedilatildeo de um passado de uma histoacuteria em comum

Os conteuacutedos entre memoacuteria e histoacuteria foram aprofundados pelo historiador

francecircs Pierre Nora (1993) A histoacuteria segundo o autor ldquoeacute a reconstruccedilatildeo sempre

problemaacutetica do que natildeo existe mais A memoacuteria eacute um fenocircmeno sempre atual um

elo vivido no eterno presente a histoacuteria uma representaccedilatildeo do passadordquo (NORA

1993 p9)

Nesta perspectiva o Memorial constitui-se como um espaccedilo em que

experiecircncias satildeo divididas lugar de lembranccedilas significativas dos sujeitos que por laacute

75

passam quer sejam representantes da comunidade polonesa visitantes ou

colaboradores Segundo Nora (1993) os lugares de memoacuteria como Museus e

Memoriais satildeo lugares feitos propositadamente para recordar e lembrar algo

especiacutefico

Os lugares de memoacuteria nascem e vivem do sentimento que natildeo existe memoacuteria espontacircnea que eacute preciso criar arquivos que eacute preciso manter os aniversaacuterios organizar as celebraccedilotildees pronunciar as honras fuacutenebres estabelecer contratos porque estas operaccedilotildees natildeo satildeo naturais Se vivecircssemos verdadeiramente as lembranccedilas que eles envolvem eles seriam inuacuteteis E se em compensaccedilatildeo a histoacuteria natildeo se apoderasse deles para deformaacute-los transformaacute-los sovaacute-los e petrificaacute-los eles natildeo se tornariam lugares de memoacuteria (NORA 1993 p 13)

Ao analisarmos a significaccedilatildeo dos ldquolugares de memoacuteriardquo na perspectiva do

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa entendemos sua importacircncia como local de

preservaccedilatildeo de identidades que possibilitem agraves pessoas o referencial de seu lugar e

grupo de pertencimento

Do ponto de vista da histoacuteria os estudos dos conteuacutedos da memoacuteria e da

identidade cultural permitem o reconhecimento dos modos de pensar e agir de uma

sociedade De acordo com Diehl (2002) a memoacuteria deve ser entendida como ldquoum

processo dinacircmico da proacutepria rememorizaccedilatildeordquo (DIEHL 2002 p112)

No entanto ldquoPara a histoacuteria natildeo satildeo as memoacuterias e identidades os pontos

centrais mas as suas respectivas representaccedilotildees nas experiecircncias e expectativas de

vidardquo (DIEHL 2002 p 113) Eacute importante ressaltar que Polar (1992) aprofunda este

posicionamento da seguinte forma

Podemos portanto dizer que a memoacuteria eacute um elemento constituinte do sentimento de identidade tanto individual como coletiva na medida em que ela eacute tambeacutem um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerecircncia de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstruccedilatildeo de si A memoacuteria e a identidade satildeo valores disputados em conflitos sociais e intergrupais (POLLAK 1992 p 204-205)

Nesta abordagem Polar nos daacute a direccedilatildeo poliacutetica da memoacuteria e da identidade

como elementos de disputa negociaacuteveis A historiadora Boris Leal complementa que

a memoacuteria pode ldquoservir de instrumento ideoloacutegico de dominaccedilatildeo e de criaccedilatildeo de uma

visatildeo e de uma identidade culturalrdquo (LEAL 2005 p171) Sendo assim as dinacircmicas

da memoacuteria e da identidade avanccedilam em direccedilatildeo aos conteuacutedos das representaccedilotildees

sociais

76

[] cada vez que exprimimos uma ideia uma concepccedilatildeo uma adesatildeo dizemos algo de noacutes mesmos Aderir a uma representaccedilatildeo eacute particular de um grupo de uma ligaccedilatildeo social mas tambeacutem expressa algo de sua identidade que pode ter um efeito sobre a construccedilatildeo do objeto (JODELET 2005 p315)

De fato as representaccedilotildees sociais satildeo manifestadas no contexto das

instituiccedilotildees nas relaccedilotildees dos sujeitos nas praacuteticas do cotidiano por um conjunto de

opiniotildees imagens e atitudes Estatildeo associadas agrave memoacuteria e agrave identidade Para o

pesquisador francecircs Jean-Claude Abricoacute essas representaccedilotildees satildeo determinadas

ldquopelo proacuteprio sujeito (sua histoacuteria sua vivecircncia) pelo sistema social no qual ele estaacute

inserido e pela natureza dos viacutenculos que ele manteacutem com esse sistema socialrdquo

(ABRIC 2001 p156)

De acordo com o autor as representaccedilotildees satildeo fenocircmenos sociais

compartilhados que contribuem para a construccedilatildeo de uma realidade comum

Observamos que as representaccedilotildees sociais podem exercer um papel determinante

na conduta de visitantes gestores e idealizadores do Memorial uma vez que

consistem em formas de pensar exteriorizadas a partir de elementos cognitivos na

forma de imagens e conceitos

Assim sendo no proacuteximo capiacutetulo esta investigaccedilatildeo iraacute focalizar as discussotildees

em torno das representaccedilotildees sociais e os museus acrescidas do quadro de

organizaccedilatildeo metodoloacutegica desta pesquisa e das interpretaccedilotildees acerca das fontes

coletadas

77

3 AS REPRESENTACcedilOtildeES SOCIAIS

31 A Teoria das Representaccedilotildees Sociais e os Museus

A Teoria das Representaccedilotildees Sociais inicialmente foi desenvolvida pelas

pesquisas do romeno Serge Moscovici com a publicaccedilatildeo La psychanalyse son

image son public em 1961 onde foram fundamentadas suas bases conceituais no

domiacutenio da psicologia social O estudo da representaccedilatildeo social possui sua origem nos

campos de conhecimento da sociologia e da psicologia caracterizado como ldquoum dos

mais produtivos no acircmbito da psicologia social de origem europeia tanto em termos

de pesquisa empiacuterica quanto de elaboraccedilatildeo teoacutericardquo (SAacute 1996 p 13) Este conceito

estaacute presente em diversas aacutereas de conhecimento como por exemplo antropologia

histoacuteria sociologia museologia aleacutem da psicologia social e da sauacutede

As representaccedilotildees sociais tiveram iniacutecio nos estudos de ldquorepresentaccedilatildeo

coletivardquo realizados por Emile Durkheim Para o socioacutelogo a construccedilatildeo das

representaccedilotildees coletivas se desenvolve atraveacutes da ldquoformaccedilatildeo de conceitos que satildeo

repartidos pelos membros do grupo com origem nas caracteriacutesticas da vida na

coletividaderdquo (ALEXANDRE 2004 p 131) Nesta perspectiva Durkheim analisa as

representaccedilotildees como o modo como o grupo se vecirc em relaccedilatildeo ao mundo Durkheim

aponta que ldquoo grupo estaacute constituiacutedo de maneira diferente do indiviacuteduo e as coisas

que o afetam satildeo de outra naturezardquo (DURKHEIM 1974 p 25)

Desta forma Emile Durkheim privilegia a natureza social do sujeito em relaccedilatildeo

agraves representaccedilotildees coletivas evidenciando a vinculaccedilatildeo entre as representaccedilotildees e os

fenocircmenos mentais como categorias de pensamento nos processos sociais em que

estatildeo inseridos

Para compreender a maneira como a sociedade se vecirc a si mesma e ao mundo que a rodeia eacute preciso considerar a natureza da sociedade e natildeo a dos indiviacuteduosOs siacutembolos atraveacutes das quais ela se encara mudam conforme o que ela eacute (DURKHEIM 1974 p 26)

Na visatildeo de Durkheim os siacutembolos se reconstroem em funccedilatildeo das

caracteriacutesticas de determinada sociedade onde foram originados As representaccedilotildees

satildeo socialmente geradas e compartilhadas atraveacutes de uma dinacircmica social Neste

sentido ldquoa consciecircncia coletiva aliaacutes eacute por Durkheim considerada como um

lsquocompostorsquo superiormente formado acima das mentes individuaisrdquo (LOPES 1998 p

9)

78

Estas enunciaccedilotildees sobre os primoacuterdios dos estudos das representaccedilotildees foram

posteriormente desenvolvidas por inuacutemeros autores no campo das ciecircncias sociais

sobretudo na anaacutelise do ldquosenso comumrdquo que utilizamos cotidianamente nos

posicionamentos e comportamentos sociais ldquoO senso comum eacute categorizado como

um tipo anocircnimo de conhecimento em oposiccedilatildeo agrave ciecircncia ou agrave filosofia que satildeo

consideradas natildeo anocircnimasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 331)

Moscovici ao revelar a importacircncia das comunicaccedilotildees interpessoais aponta

que as representaccedilotildees satildeo produto das relaccedilotildees sociais de determinado grupo Nas

praacuteticas do cotidiano os sujeitos conversam e pensam sobre os mais variados

assuntos e elaboram representaccedilotildees que passam a influenciar seus viacutenculos e

comportamentos sociais O autor entende as representaccedilotildees como originaacuterias da vida

cotidiana produzidas nas relaccedilotildees com o outro ou mesmo com o grupo Desta

maneira consistem [] ldquoem nossa sociedade dos mitos e sistemas de crenccedilas das

sociedades tradicionais [e] podem tambeacutem ser vistas como a versatildeo contemporacircnea

do senso comumrdquo (MOSCOVICI 1981 p 181)

O contexto das representaccedilotildees sociais nos indica uma articulaccedilatildeo entre

transformaccedilatildeo e estabilidade Moscovici aponta que estas possam ser analisadas

como um fenocircmeno na medida em que as representaccedilotildees sociais ldquose transformam

continuamente jaacute que as pessoas e grupos longe de serem receptores passivos []

elaboram as suas proacuteprias soluccedilotildeesrdquo (MOSCOVICI 2003 p 45) A volatilidade das

representaccedilotildees sociais entre vaacuterios atores sociais explica sua circulaccedilatildeo

Representaccedilotildees obviamente natildeo satildeo criadas por um indiviacuteduo isoladamente Uma vez criadas contudo elas adquirem vida proacutepria circulam se encontram se atraem e se repelem e datildeo oportunidade para o nascimento de novas representaccedilotildees enquanto velhas representaccedilotildees morrem Como consequecircncia disso para se compreender e explicar uma representaccedilatildeo eacute necessaacuterio comeccedilar com aquela ou aquelas das quais ela nasceu (MOSCOVICI 2003 p 41)

As representaccedilotildees se modificam quando passam de um ambiente para outro

transformam-se a cada movimento Nesta trajetoacuteria outras satildeo construiacutedas e

adquiridas mas com novos significados As representaccedilotildees sociais nos fazem

compreender os sujeitos em sua accedilatildeo aleacutem de sua proacutepria individualidade Segundo

os pesquisadores Sandra Jovchelovitch e Pedrinho Guareshi (1998) esta estrateacutegia

eacute desenvolvida por [] ldquoatores sociais para enfrentar a diversidade e a mobilidade de

79

um mundo que embora pertenccedila a todos transcende a cada um individualmenterdquo

(JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 81)

As interaccedilotildees humanas sugerem uma relaccedilatildeo social entre sujeitos ou entre

grupos pressupondo que neste ambiente se possa perceber e interpretar uma

representaccedilatildeo social Para Moscovici (2003) ldquonoacutes pensamos atraveacutes de uma

linguagem [] de acordo com um sistema que estaacute condicionado tanto por nossas

representaccedilotildees como por nossa culturardquo (MOSCOVICI 2003 p 35) Constituem-se

como aspectos da realidade satildeo linguagens articuladas nas possiacuteveis leituras do

mundo delineadas nas relaccedilotildees entre sujeitos objetos e acontecimentos do cotidiano

As representaccedilotildees sociais conectam a instancia individual agrave social permitindo

o entendimento da vida social incluindo as relaccedilotildees individuais destes atores

Segundo Jovchelovitch e Guareschi (1998) as representaccedilotildees sociais estatildeo

presentes no nosso cotidiano da seguinte maneira

O modo mesmo de sua produccedilatildeo se encontra nas instituiccedilotildees nas ruas nos meios de comunicaccedilatildeo de massa nos canais informais de comunicaccedilatildeo social nos movimentos sociais nos atos de resistecircncia e em uma seacuterie infindaacutevel de lugares sociais Eacute quando as pessoas se encontram para falar argumentar discutir o cotidiano ou quando elas estatildeo expostas agraves instituiccedilotildees aos meios de comunicaccedilatildeo aos mitos e agrave heranccedila histoacuterico-cultural de suas sociedades que as representaccedilotildees satildeo formadas (JOVCHELOVITCH GUARESCHI 1998 p 20)

Assim sendo as representaccedilotildees refletem uma forma de conhecimento

reelaborado pelos atores sociais sobre a realidade cotidiana considerando a realidade

do contexto social histoacuterico cultural em que o sujeito estaacute inserido

Percebe-se que as representaccedilotildees sociais atuam sobre o mundo e o outro

numa relaccedilatildeo de poder especiacutefica Mas como salienta Corneacutelio Castoriadis (1995 p

13) ldquotoda configuraccedilatildeo de uma realidade social passa pelo simboacutelico mas natildeo eacute o

reflexo do realrdquo pois para o filoacutesofo grego o imaginaacuterio natildeo eacute a imagem de algo mas

a ldquocriaccedilatildeo incessante indeterminada (social-histoacuterica e psiacutequica) de figuras formas e

imagensrdquo (CASTORIADIS 1995 p 13) Com isso eacute necessaacuterio reconhecer que estes

significados natildeo possuem determinada primazia o que permite as ausecircncias de

outros discursos Desta maneira entendemos que os museus permeiam em seus

discursos uma praacutetica de presenccedilas e ausecircncias A produccedilatildeo de narrativas em

80

termos de identidade e da memoacuteria produzem discursos que possibilitam a criaccedilatildeo de

representaccedilotildees sociais

Na construccedilatildeo dos discursos dos museus estatildeo os processos de formaccedilatildeo das

coleccedilotildees Os procedimentos de seleccedilatildeo de acervo decorrem de criteacuterios seletivos

estabelecidos pela instituiccedilatildeo Ao serem institucionalizados passam da instancia

individual para a instacircncia coletiva Daquele momento em diante tornam-se objeto de

salvaguarda e entram no jogo do poder da memoacuteria um campo repleto de conflito e

arbitrariedade

Maacuterio Chagas aborda a questatildeo dos discursos museoloacutegicos a seguir

Interessa compreender que a exposiccedilatildeo do acervo vincula-se a um determinado discurso a um determinado saber dizer Assim ao dar maior visibilidade ao acervo o que se faz eacute afirmar ou confirmar um discurso O que se expotildee agrave visatildeo do vigia natildeo satildeo os objetos satildeo falas narrativas histoacuterias memoacuterias personagens em cela em cena e em cera acontecimentos congelados Neste caso o que se quer aprisionar e ao mesmo tempo deixar agrave vista eacute a memoacuteria a histoacuteria a verdade o saber (CHAGAS 2002 p 56)

Eacute nesta perspectiva que se dirige o nosso objeto de pesquisa no sentido de

investigar as narrativas dos discursos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa de Curitiba

Os museus como instituiccedilotildees dialoacutegicas satildeo percebidos mediante o pensamento de

Moscovici na dimensatildeo cognitiva da representaccedilatildeo e das interaccedilotildees sociais nas

praacuteticas sociais no sentido que as representaccedilotildees se concretizam a partir da

comunicaccedilatildeo Moscovici (2003) esclarece que ldquodesde que suponhamos que as

palavras natildeo falam sobre lsquonadarsquo somos obrigados a ligaacute-las a algo a encontrar

equivalentes natildeo verbais para elasrdquo (MOSCOVICI 2003 p 72)

Coube a Denise Jodelet a reafirmaccedilatildeo do pensamento de Moscovici

alargando a definiccedilatildeo de representaccedilotildees sociais com a seguinte contribuiccedilatildeo ldquouma

forma de conhecimento socialmente elaborada e partilhada tendo uma visatildeo praacutetica

e concorrendo para a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto social

(JODELET 2001 p 188)

Desta maneira as representaccedilotildees satildeo reproduzidas nos discursos no falar

nas palavras percebidas atraveacutes da miacutedia por mensagens e imagens cristalizadas

em comportamentos e em organizaccedilotildees materiais e num determinado contexto social

Portanto podemos reconhececirc-las pelo senso comum e nas relaccedilotildees entre os

indiviacuteduos

81

A importacircncia destas mesmas relaccedilotildees entre os sujeitos ou entre grupos e seus

discursos podem ser percebidas pela linguagem como parte do ferramental teoacuterico

necessaacuterio agrave construccedilatildeo de representaccedilotildees Neste sentido ldquoas representaccedilotildees

sociais estatildeo eacute claro relacionadas ao pensamento simboacutelico e a toda forma de vida

mental que pressupotildee linguagemrdquo (MOSCOVICI 2003 p 307) Assim Moscovici

relaciona comunicaccedilatildeo e representaccedilotildees sociais

Uma condiciona a outra porque noacutes natildeo podemos comunicar sem que partilhemos determinadas representaccedilotildees e uma representaccedilatildeo eacute partilhada e entra na nossa heranccedila social quando ela se torna um objeto de interesse e de comunicaccedilatildeo (MOSCOVICI 2003 p 371)

O estudo das representaccedilotildees sociais procura compreender a forma pela qual

as pessoas de maneira geral pensam a realidade e interagem nas praacuteticas sociais

Apesar de contemplar comportamentos e expressotildees individuais estatildeo condicionadas

agrave linguagem a um repertoacuterio de siacutembolos inerentes agravequele meio social

Nesse sentido as representaccedilotildees sociais atuam como um ldquosistema de

interaccedilatildeo que regem nossa relaccedilatildeo com o mundo e com o outrordquo (JODELET 2001 p

22) Assim as representaccedilotildees satildeo estabelecidas atraveacutes de operaccedilotildees mentais que

criam o sentido e a visatildeo de mundo dos indiviacuteduos e do grupo fornecendo significado

ao objeto de estudo Denise Jodelet complementa o pensamento a respeito do

conteuacutedo das condiccedilotildees da produccedilatildeo das representaccedilotildees sociais

[] satildeo sociais tanto pela natureza de suas condiccedilotildees de produccedilatildeo como pelos efeitos que engendram e pela dinacircmica de seu funcionamento sendo permanentemente influenciadas pelo conjunto de condiccedilotildees econocircmicas sociais histoacutericas em uma determinada sociedade pelos mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo e pelas diversas modalidades de comunicaccedilatildeo social (JODELET 2001 p 182)

Os mecanismos de ancoragem e objetivaccedilatildeo que cita Denise Jodelet foram

estruturados por Serge Moscovici Referimo-nos a objetivaccedilatildeo quando conceitos

abstratos satildeo aplicados em realidades concretas De acordo com Moscovici (2003 p

71) ldquoune a ideia de natildeo familiaridade com a de realidade torna-se a verdadeira

essecircncia da realidaderdquo

Na questatildeo da ancoragem esta eacute determinada quando ldquotransforma algo

perturbador que nos intriga em nosso sistema de categorias e a compara com um

82

paradigma de uma categoria que noacutes pensamos ser apropriadardquo (MOSCOVICI 2003

p 61) Na anaacutelise de objetos natildeo familiares a ancoragem reconhece-as em categorias

conhecidas Para Alves-Mazzotti (1994) a ancoragem consiste em ldquodestacar uma

figura e ao mesmo tempo carregaacute-la de um sentido inscrever o objeto em nosso

universordquo (ALVES-MAZZOTTI 1994 p 63)

Percebemos que os processos de ancoragem e objetivaccedilatildeo traduzem a

estreita relaccedilatildeo entre o social e as representaccedilotildees e como interagem reciprocamente

Operam como um processo de conhecimento com a intenccedilatildeo de familiarizar o grupo

ou o sujeito social com o natildeo familiar De acordo com Saacute (1996 p 46)

A duplicaccedilatildeo de um sentido por uma figura pela qual se daacute materialidade a um objeto abstrato eacute cumprida pelo processo de objetivaccedilatildeo A duplicaccedilatildeo de uma figura por um sentido pela qual se fornece um contexto inteligiacutevel ao objeto eacute cumprida pelo processo de ancoragem (SAacute 1996 p46)

Os aspectos midiaacuteticos da comunicaccedilatildeo social surgem como condiccedilatildeo de

determinaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais e do pensamento e quando partilhados

afirmam um viacutenculo social e uma identidade

As representaccedilotildees sociais enquanto fenocircmenos psicossociais estatildeo necessariamente radicados no espaccedilo puacuteblico e nos processos atraveacutes dos quais o ser humano desenvolve uma identidade cria siacutembolos e se abre para a diversidade (JOVCHELOVITCH GUARESHI 1998 p 54)

No contexto das representaccedilotildees sociais uma exposiccedilatildeo de museu-que tem

como objetivo a comunicaccedilatildeo-seleciona e reproduz imagens e objetos contextualiza

certas relaccedilotildees e combinaccedilotildees que definem um sentido para determinado recorte da

realidade elaborando assim o direcionamento de suas praacuteticas em relaccedilatildeo agrave

comunidade

Moscovici (1981 p 49) afirma que ldquo[] as imagens as opiniotildees satildeo

comumente apresentadas estudadas e pensadas tatildeo somente na medida em que

traduzem a posiccedilatildeo e a escala de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedaderdquo

Os museus como mecanismos produtores de signos (imagens textos

depoimentos) contribuem no processo de construccedilatildeo da memoacuteria e a relevacircncia que

os grupos atribuem a determinados signos fornecem para a memoacuteria significaccedilotildees

83

diversas inseridas nas escalas de valores de um indiviacuteduo ou de uma sociedade como

se refere Moscovici (1981)

A importacircncia dos estudos das representaccedilotildees sociais sobre museus estaacute na

necessidade dessas instituiccedilotildees investigarem quais satildeo as relaccedilotildees e os

comportamentos sociais do puacuteblico (e do natildeo puacuteblico) nos diferentes aspectos da

experiecircncia museal Ao abarcarmos parte da produccedilatildeo sobre o assunto buscamos

agrupar as publicaccedilotildees especiacuteficas sobre representaccedilotildees sociais no acircmbito

museoloacutegico ainda que seja uma breve amostragem

No Brasil trabalhos recentes tecircm sido publicados adotando novas

preocupaccedilotildees sociais e assumindo perspectivas inovadoras com relaccedilatildeo aos estudos

de museus Inicialmente poderemos citar a contribuiccedilatildeo do artigo ldquoO Contemporacircneo

como Representaccedilatildeo Social o caso dos museusrdquo das historiadoras Abreu e Silva

(2014) com a anaacutelise de conceitos sobre o contemporacircneo representaccedilatildeo e leitura

iconograacutefica Igualmente relevante o artigo ldquomuseu da gente sergipana Memoacuterias

imaginaacuterios e representaccedilotildeesrdquo da socioacuteloga Mirtes R M da Conceiccedilatildeo (2014)

Tambeacutem podemos citar o aporte da socioacuteloga Helena P Maranhatildeo (2008) no artigo

ldquoMuseu nas representaccedilotildees sociais ou quais satildeo seus lugares no imaginaacuterio coletivordquo

em que investiga o museu enquanto espaccedilo institucional-simboacutelico De notoacuteria

importacircncia no campo patrimonial a produccedilatildeo de Gonccedilalves (2005) destaca-se no

artigo ldquoOs museus e a representaccedilatildeo do Brasilrdquo em que articula os museus como

ldquoespaccedilos materiais de representaccedilatildeo socialrdquo (GONCcedilALVES 2005 p255)

Guedes e Baptista (2013) nos oferecem para anaacutelise o artigo ldquoQue imigrante eacute

esse Representaccedilotildees do imigrante em um museu de JoinvilleSCrdquo visando entender

quais as representaccedilotildees sobre imigraccedilatildeo satildeo formadas a partir das exposiccedilotildees do

Museu Nacional de Imigraccedilatildeo e Colonizaccedilatildeo Nesta mesma linha o artigo da Revista

Confluecircncias Culturais V3 ldquoO Museu dos Compatriotas Emigrantes no Brasil ndash

Repuacuteblica Tcheca uma experiecircncia socialrdquo de Sambati Guedes e Polakovič (2014)

traduz a oportunidade de integraccedilatildeo social mediante praacuteticas museoloacutegicas

Em acircmbito internacional citamos a produccedilatildeo dos socioacutelogos Davallon e Le

Marec (1995) do Doutorado Internacional de Museologia da Universidade Catoacutelica de

Louvain (UCL) com o artigo ldquoExposiccedilatildeo representaccedilatildeo e comunicaccedilatildeordquo com ecircnfase

nas representaccedilotildees sociais voltadas para exposiccedilotildees de museus como ferramenta de

comunicaccedilatildeo

84

Abordando a questatildeo da representaccedilatildeo social e o puacuteblico de museus o artigo

ldquoRepresentaccedilotildees sociais e praacuteticas declaradas de adolescentes franceses sobre os

museusrdquo dos pesquisadores Timbart e Girault (2006) contribui para o entendimento

de aplicaccedilatildeo das bases da representaccedilatildeo social como praacutetica social em museus

Igualmente relevante o artigo ldquoRepresentaccedilotildees sociais e pluriculturalismo na

concepccedilatildeo de exposiccedilotildeesrdquo de Ornella e Girauld (1997) em que analisam o discurso

dos museus de ciecircncia e a adaptaccedilatildeo deste ao puacuteblico Ambos os artigos foram

gerados pelo curso de doutorado em museologia e mediaccedilatildeo de ciecircncias do Museu

Nacional de Histoacuteria Natural de Paris

Possui contribuiccedilatildeo significativa a produccedilatildeo relativa aos Cadernos de

Sociomuseologia da Universidade Lusoacutefona de Humanidades e Tecnologias - ULHT

com artigos de importacircncia como ldquoTeoria das Representaccedilotildees Sociais uma

ferramenta para a anaacutelise de exposiccedilotildees museoloacutegicasrdquo de Aiacuteda Rechena (2011)

cujo texto propotildee uma visatildeo dos museus como lugares de representaccedilatildeo social onde

acontece a interaccedilatildeo entre o indiviacuteduosociedade ldquoUm Museu na Cidade

representaccedilotildees sociais de uma unidade museoloacutegica em transformaccedilatildeo no centro de

Lisboardquo de Gabriela Cavaco (2011) com a perspectiva dos museus e instituiccedilotildees

culturais como espaccedilos de desenvolvimento urbano

Igualmente relevante o recente artigo tambeacutem publicado no Caderno de

Sociomuseologia por Guedes e Moutinho (2015) ldquoRepresentaccedilotildees do Brasil em

Museus de Portugalrdquo em que analisa como as exposiccedilotildees dos museus portugueses

constroem as representaccedilotildees sobre o Brasil considerando a dinacircmica das relaccedilotildees

Brasil-Portugal na sociedade contemporacircnea

De fato o museu como dispositivo de construccedilatildeo de espaccedilo simboacutelico isto eacute

como espaccedilo dotado de representaccedilotildees possui uma dinacircmica que contraria os

proacuteprios limites entre os grupos num espaccedilo de disputas pelo poder Para Pierre

Bourdieu (1996) o campo de poder se constitui em um ldquocampo de lutasrdquo ou seja

Eacute o espaccedilo das relaccedilotildees de forccedila entre agentes ou instituiccedilotildees que tecircm em comum possuir capital necessaacuterio para ocupar posiccedilotildees dominantes nos diferentes campos (econocircmico e cultural especialmente) Ele eacute o lugar de lutas entre detentores de poderes (ou de espeacutecies de capital) diferentes que como as lutas simboacutelicas entre os artistas e os ldquoburguesesrdquo do seacuteculo XIX tecircm por aposta a transformaccedilatildeo ou a conservaccedilatildeo do valor relativo das diferentes espeacutecies de capital que determina ele proacuteprio a cada momento as

85

forccedilas suscetiacuteveis de ser lanccediladas nessas lutas (BOURDIEU 1996 p 244)

Pode-se desta forma entender a importacircncia da memoacuteria e do jogo do poder

como um perfil caracteriacutestico das instituiccedilotildees museoloacutegicas e destas como

construtoras de representaccedilotildees sociais Atraveacutes da praacutetica das presenccedilas e ou

ausecircncias de determinados atores sociais dentro do acircmbito dos espaccedilos de memoacuteria

pode-se consolidar um discurso que transforme o objeto em monumento

Assim a compreensatildeo do museu como sendo tambeacutem arena e campo de luta estaacute bastante distante da ideia de espaccedilo neutro e apoliacutetico de celebraccedilatildeo de memoacuterias (ou ainda da memoacuteria dos poderosos) Entretanto desde o nascedouro os museus ndash mesmo estruturados sobre bases positivistas de celebraccedilatildeo da memoacuteria de vultos vitoriosos e de culto agrave saudade de heroacuteis consagrados por ldquotradiccedilatildeo inventadardquo ndash estatildeo indelevelmente marcados com os germes da contradiccedilatildeo e do jogo dialeacutetico (CHAGAS 2001 p 20)

A importacircncia das decisotildees sobre o que deve ou natildeo ser museificado bem

como quais discursos construir no contexto dos museus ou memoriais pode ser

reforccedilada no pensamento de Roger Chartier (1990) sobre o conceito de

representaccedilatildeo

As representaccedilotildees do mundo social assim construiacutedas embora aspirem agrave universalidade de um diagnoacutestico fundado na razatildeo satildeo sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam Daiacute para cada caso o necessaacuterio relacionamento dos discursos proferidos com a posiccedilatildeo de quem os utiliza [] As percepccedilotildees do social natildeo satildeo de forma alguma discursos neutros produzem estrateacutegias e praacuteticas (sociais escolares poliacuteticas) que tendem a impor uma autoridade agrave custa de outros por elas menosprezadas a legitimar um projeto reformador ou a justificar para os proacuteprios indiviacuteduos as suas escolhas e condutas Por isso esta investigaccedilatildeo sobre as representaccedilotildees supotildee-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrecircncias e de competiccedilotildees cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominaccedilatildeo (CHARTIER 1990 p 17)

Para o autor assim como para Moscovici as representaccedilotildees sociais se

delineiam enquanto praacuteticas de um discurso de determinado grupo Os museus satildeo

instituiccedilotildees com significativo potencial de produccedilotildees simboacutelicas na medida em que

contribuem na construccedilatildeo das identidades e se configuram como campo de disputas

86

A interpretaccedilatildeo do patrimocircnio cultural num museu pressupotildee um conjunto

intercambiante de informaccedilotildees em diversos niacuteveis desde a arquitetura iluminaccedilatildeo

vitrines ateacute os conteuacutedos expositivos mais tradicionais voltados prioritariamente a

textos e acervo Como fenocircmeno cognitivo o espaccedilo museal pode ser interpretado

segundo Rechena (2011) da seguinte forma

Satildeo as representaccedilotildees sociais de cada indiviacuteduo (partilhadas com o grupo mas relacionadas com a esfera especiacutefica em que satildeo originadas) que lhe permitem interpretar o discurso museoloacutegico e descodificar e apropriar-se do patrimocircnio cultural musealizado integrando-o no seu quadro de pensamento ou estrutura mental preexistente (RECHENA 2011 p220)

Nesta perspectiva a anaacutelise das representaccedilotildees sociais nos discursos

institucionais dos museus permitem a compreensatildeo das relaccedilotildees do mundo social

Roger Chartier (1991) aponta que ldquo[] as formas institucionalizadas e objetivadas em

virtude das quais ldquorepresentantesrdquo (instacircncias coletivas ou individuais singulares)

marcam de modo visiacutevel e perpeacutetuo a existecircncia do grupo da comunidade ou da

classerdquo (CHARTIER 1991 p 21) Nesta reflexatildeo entendemos a praacutetica museal

inserida nas instacircncias coletivas que se pretende envolver

Apoacutes estas aproximaccedilotildees conceituais gostariacuteamos de pontuar em que medida

o estudo das representaccedilotildees sociais interessa agrave museologia e se transforma em

objeto de pesquisa

A museologia enquanto profissatildeo inserida na aacuterea das ciecircncias sociais tem uma

natureza interventiva e de produccedilatildeo de conhecimento ldquocomo recurso para o

desenvolvimento sustentaacutevel da humanidade assentada na igualdade de

oportunidades e na inclusatildeo social e econocircmicardquo (MOUTINHO 2014 p 423)

No que se refere agraves temaacuteticas das representaccedilotildees sociais a museologia deve

preocupar-se com as construccedilotildees cognitivas dos proacuteprios atores envolvidos com sua

praacutetica profissional visto que o grau de intervenccedilatildeo nos processos comunicacionais

do museu eacute decorrente do processo de accedilatildeo museoloacutegica em diferentes instacircncias

como a da educaccedilatildeo da comunicaccedilatildeo da pesquisa e do gerenciamento de acervo

No proacuteximo item satildeo apresentadas as anaacutelises dos dados considerando as

reflexotildees que pudemos elaborar a partir deles bem como as resultantes das

produccedilotildees teoacutericas e empiacutericas pertinentes a que tivemos acesso

87

32Abordagem Metodoloacutegica da Pesquisa

A abordagem metodoloacutegica utilizada foi prioritariamente qualitativa mas com o

tratamento quantitativo de alguns dados com o objetivo de verificar a percepccedilatildeo do

visitante no que se refere agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses presentes no

circuito do Memorial Segundo Marconi e Lakatos (2010) a busca por informaccedilotildees

vaacutelidas e consistentes natildeo deve se limitar aos dados estruturados quantitativos na

forma de nuacutemeros percentuais e graacuteficos Percebemos que cruzamento de dados

quantitativos e qualitativos eacute fundamental para engendrar ideias verificar hipoacuteteses e

construir conclusotildees

O uso de teacutecnicas qualitativas e quantitativas tanto para coleta quanto anaacutelise de dados permite quando combinadas estabelecer conclusotildees mais significativas a partir dos dados coletados conclusotildees estas que balizariam condutas e formas de atuaccedilatildeo em diferentes contextos (FREITAS JANISSEK-MUNIZ MOSCAROLA 2005 p 7)

Portanto haacute necessidade de se tratar do quantitativo enriquecendo-o com

informaccedilotildees qualitativas de forma a adquirir forccedila de argumento e qualidade nas

conclusotildees

Para tanto adotamos como procedimento para a coleta de dados um formulaacuterio

padratildeo composto de 10 (dez) perguntas (Apecircndice B) Os fatores que norteiam as

perguntas dos formulaacuterios se relacionam aos conteuacutedos desenvolvidos neste trabalho

no que diz respeito agraves representaccedilotildees dos imigrantes poloneses na oacutetica dos

visitantes daquele espaccedilo cultural

A utilizaccedilatildeo do formulaacuterio padronizado objetiva segundo Lodi (apud MARCONI

LAKATOS 2010) obter dos entrevistados respostas agraves mesmas perguntas permitindo

que todas elas sejam comparadas com o mesmo conjunto de perguntas Ressalta-se

que os meacutetodos quantitativos e qualitativos natildeo se opotildeem muito menos se excluem

Satildeo complementares nas observaccedilotildees da pesquisa

Eacute o que Minayo e Sanches (1993) argumentam ao colocar que ambos tecircm sua

importacircncia Assim estes instrumentos foram utilizados objetivando coletar os dados

para anaacutelise da seguinte forma a saber

1 Reuniatildeo com os dirigentes da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba e do

Memorial para autorizaccedilatildeo da pesquisa

88

2 Preacute-contato com os entrevistados para esclarecimentos sobre a pesquisa

os objetivos e solicitaccedilatildeo das assinaturas do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido - TCLE e agendamento das entrevistas

3 Entrevistas gravadas atraveacutes de um roteiro obedecendo aos horaacuterios e

disponibilidade dos participantes

4 Aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios a 50 visitantes em final de semana nas

dependecircncias do Memorial que se caracterizassem como maiores de 21

anos para ambos os sexos e que estivessem dispostos a responder o

formulaacuterio

5 Tratamento dos dados obtidos tabulaccedilatildeo anaacutelise interpretaccedilatildeo e

discussatildeo buscando consolidaacute-los no aporte teoacuterico sobre representaccedilatildeo

social que se consolida como foco determinante neste estudo

No tratamento dos dados obtidos aplicamos a Anaacutelise de Conteuacutedo

visualizando os pontos principais de organizaccedilatildeo dos discursos as variaacuteveis como

tambeacutem a categorizaccedilatildeo dos sujeitos sociais

Com a leitura da ldquoAnaacutelise de Conteuacutedordquo de Spink (1995) em ldquoDesvendando as

teorias impliacutecitas uma metodologia de anaacutelise das representaccedilotildees sociaisrdquo tomamos

a perspectiva das representaccedilotildees sociais como forma de conhecimento Conforme a

autora ldquoprecisamos entendecirc-las a partir do contexto que as engendram e a partir de

sua funcionalidade nas interaccedilotildees sociais do cotidianordquo (SPINK 1995 p 55) De

acordo com as reflexotildees de Spink (1995) existe uma convergecircncia entre os

pesquisadores da aacuterea de que as representaccedilotildees sociais como produtos sociais tecircm

sempre que ser remetidas agraves condiccedilotildees sociais que as engendraram ou seja ao

contexto de sua produccedilatildeo

Outro teoacuterico importante utilizado nesta pesquisa Norman Fairclough (2001)

em ldquoDiscurso e Mudanccedila Socialrdquo nos apoia no embasamento teoacuterico ao utilizarmos a

Anaacutelise Criacutetica do Discurso onde exploramos os resultados mais evidentes

elaborando conjuntos de respostas ateacute chegarmos agrave compreensatildeo do fenocircmeno das

representaccedilotildees sociais Esta teacutecnica de codificaccedilatildeo do discurso permite a anaacutelise por

recorte agregaccedilatildeo e enumeraccedilatildeo separadamente isto eacute os graacuteficos satildeo

diferenciados mas se cruzam na anaacutelise final

A parte empiacuterica do trabalho foi realizada em dois momentos junto a visitantes

espontacircneos do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba no momento de

89

finalizaccedilatildeo da visita agraves casas histoacutericas e com os gestores do memorial nas

dependecircncias de unidades administrativas da Fundaccedilatildeo Cultural de Curitiba

33 Bases Teoacutericas da Anaacutelise Criacutetica do Discurso - ADC

A Teoria Social do Discurso tem como base o pensamento do linguista britacircnico

Norman Fairclough em sua obra ldquoDiscourse and Social Changerdquo em 1992 para em

seguida gerar o aprofundamento com a Anaacutelise Criacutetica do Discurso ndash doravante

denominado ADC em que Fairclough (2001) propotildee uma nova forma de anaacutelise

quanto ao funcionamento do discurso e os seus significados como accedilatildeo

representaccedilatildeo e identificaccedilatildeo

A ADC estabeleceu-se como disciplina na deacutecada de 1990 ldquoquando se

reuniram em um simpoacutesio realizado em janeiro de 1991 em Amsterdatilde Teun Van Dijk

Norman Fairlough Gunter Kress Theo Van Leewen e Ruth Wodakrdquo (RESENDE

RAMALHO 2006 p20)

No uso da linguagem o discurso eacute percebido por Fairclough (2001)

essencialmente como forma de praacutetica social e natildeo apenas como atividade puramente

individual uma vez que para o autor ldquoimplica ser o discurso um modo de accedilatildeo uma

forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os

outrosrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p90-91) O discurso natildeo eacute analisado de forma

independente mas dentro de um contexto ldquocomo uma praacutetica social ou como um tipo

de comunicaccedilatildeo numa situaccedilatildeo social cultural histoacuterica ou poliacuteticardquo (VAN DIJK 2008

p 12)

Segundo Fairclough (2001) o discurso eacute ldquomoldado por relaccedilotildees de poder e

ideologiasrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p31) Ao empregar o termo ldquodiscursordquo o autor

sugere refletir sobre o uso de linguagem como forma de praacutetica social e natildeo como

atividade puramente individual ou reflexo de variaacuteveis situacionais

Para ele o discurso propotildee um modo de accedilatildeo uma maneira das pessoas

poderem agir sobre o mundo e sobre os outros como tambeacutem um modo de

representaccedilatildeo Some-se a isto a relaccedilatildeo dialeacutetica entre o discurso e a estrutura social

existindo tal relaccedilatildeo entre a praacutetica social e a estrutura social a uacuteltima eacute tanto uma

condiccedilatildeo como um efeito da primeira De acordo com o autor

O discurso contribui para a constituiccedilatildeo de todas as dimensotildees da estrutura social que direta ou indiretamente o moldam e o restringem

90

suas proacuteprias normas e convenccedilotildees como tambeacutem relaccedilotildees identidades e instituiccedilotildees que lhe satildeo subjacentes O discurso eacute uma praacutetica natildeo apenas de representaccedilatildeo do mundo mas de significaccedilatildeo do mundo constituindo e construindo o mundo em significado (FAIRCLOUGH 2001 p91)

Vale ressaltar ainda seguindo o pensamento de Fairclough (2001) uma das

preocupaccedilotildees da ADC eacute ldquodesnaturalizar crenccedilas que servem de suporte a estruturas

de dominaccedilatildeo a fim de favorecer a desarticulaccedilatildeo de tais estruturasrdquo (FAIRCLOUGH

2001 p91) A ADC tem como objetivo pesquisar ldquoas relaccedilotildees de poder discriminaccedilatildeo

e controle que se manifestam atraveacutes da linguagemrdquo (FAIRCLOUGH 2001 p 91)

Assim percebemos que a ADC coaduna com o pensamento de Moscovici

quando afirma que ldquogrupos e pessoas estatildeo sempre e completamente sob o controle

de uma ideologia dominante que eacute produzida e imposta por sua classe social pelo

estado igreja ou escolardquo (MOSCOVICI 2003 p 44)

Percebemos que ao utilizarmos a ADC

Tanto as condiccedilotildees de produccedilatildeo quanto as formaccedilotildees imaginaacuterias permitem ao analista a definiccedilatildeo da (s) formaccedilatildeo (ccedilotildees) discursiva (s) estruturantes do discurso que define (m) o que pode e deve ser dito e permite (m) ao analista chegar agrave configuraccedilatildeo das formaccedilotildees ideoloacutegicas (DrsquoOLIVO 2001 p110)

Portanto compreendemos que tanto os teoacutericos como Moscovici (2003) ou

Fairclough (2001) utilizados neste trabalho fundamentam o processo de anaacutelise das

representaccedilotildees sociais sobre os poloneses presentes no discurso dos dirigentes e

dos visitantes do memorial a fim de que possamos desenvolver a anaacutelise dos

conteuacutedos presentes sobre esta etnia polonesa em que parecem expressar

34 Procedimentos de Pesquisa

Duas etapas distintas caracterizaram o roteiro percorrido para a coleta de

dados a primeira teve como propoacutesito a obtenccedilatildeo da autorizaccedilatildeo para a execuccedilatildeo da

parte empiacuterica deste trabalho e a segunda etapa consistiu na aplicaccedilatildeo de entrevistas

e formulaacuterio de campo para a anaacutelise das representaccedilotildees sociais

Para a realizaccedilatildeo da primeira etapa inicialmente contatamos e expusemos o

projeto de pesquisa a um gestor de Memoriais do municiacutepio Na oportunidade

marcamos a data para aplicaccedilatildeo de uma entrevista oral sobre o memorial

91

Contatamos a coordenadora local do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e

representante da Missatildeo Catoacutelica Polonesa no Brasil para a realizaccedilatildeo de uma

reuniatildeo expondo o projeto de pesquisa a necessidade de aplicaccedilatildeo de questionaacuterio

aos visitantes como tambeacutem o agendamento de uma entrevista oral a respeito do

Memorial o que transcorreu na normalidade Posteriormente tivemos a oportunidade

de contar com a colaboraccedilatildeo do idealizador do Memorial arquiteto e urbanista do

Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbaniacutestico de Curitiba ndash IPPUC que nos

forneceu esclarecimentos significativos para a pesquisa

A coleta de dados propriamente dita ocorreu nos meses de setembro e

outubro de 2015 nas dependecircncias do Memorial Na abordagem apoacutes breve

apresentaccedilatildeo da pesquisadora e do objetivo da pesquisa entregamos a cada

participante uma folha na qual constava o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE (Apecircndice A) o qual apresenta de maneira sucinta os objetivos

da pesquisa com os termos de aceite Esclarecemos que o mesmo termo foi entregue

e assinado pelos entrevistados

Cada um dos visitantes apoacutes assinar o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido - TCLE respondeu o formulaacuterio que foi preenchido pela pesquisadora

iniciando com os dados pessoais do visitante para em seguida realizarmos as

perguntas relativas ao Memorial e aos poloneses Todos os participantes

responderam as nossas perguntas e procuramos manter-nos acessiacutevel ao conteuacutedo

das perguntas poreacutem sem interferirmos no repertorio de entendimento a fim de dar

voz ao discurso do visitante

Os dados obtidos atraveacutes do formulaacuterio direcionado aos visitantes (Apecircndice B)

foram organizados de acordo com algumas dimensotildees de anaacutelise a saber pessoal

(nome gecircnero idade procedecircncia) profissional (tipo de profissatildeo) conhecimento

(escolaridade) Os dados que compotildee o perfil dos visitantes nos permitiram interpretar

algumas caracteriacutesticas que poderiam influenciar direta ou indiretamente na

estruturaccedilatildeo das representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial

O formulaacuterio especialmente elaborado para este estudo (Apecircndice B) foi

elaborado com 10 enunciados As primeiras cinco questotildees satildeo concernentes aos

dados do visitante As outras cinco perguntas tiveram como funccedilatildeo identificar como

os visitantes veem os poloneses representados no circuito do Memorial Os sujeitos

pesquisados identificaram a imagem do imigrante polonecircs naquele espaccedilo como

92

pretendiacuteamos e acrescentaram sua experiecircncia e seu cotidiano em relaccedilatildeo aos

poloneses no decorrer das respostas

As perguntas do formulaacuterio procuraram entender qual o grau de envolvimento

do visitante com o sujeito polonecircs e como percebia este sujeito dentro do espaccedilo do

Memorial Lembramos como citado anteriormente que identificamos como

poloneses os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses considerando a importacircncia do viacutenculo de

uma memoacuteria em comum desse grupo social Seguem as frases e as justificativas

para as escolhas

1Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba Nesta questatildeo

procurou-se saber o grau de aproximaccedilatildeo do visitante com a etnia polonesa se existia

um conviacutevio ou um total desconhecimento do sujeito polonecircs e suas praacuteticas culturais

2Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial Atraveacutes desta

questatildeo procuramos detectar como o visitante percebe o imigrante polonecircs no circuito

expositivo do Memorial

3Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc Neste ponto embora

tenham duas questotildees sobre o tema objeto nossa intenccedilatildeo foi direcionar a atenccedilatildeo

do visitante para o circuito do Memorial

4Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs Nesta questatildeo lidamos

efetivamente com a imagem que o visitante tem a respeito do polonecircs

5Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que identificou o

polonecircs com o que viu Atraveacutes do circuito do memorial procuramos entender quais

as principais representaccedilotildees da etnia polonesa no circuito do Memorial que perduram

atualmente na sociedade contemporacircnea

Assim a anaacutelise do perfil dos sujeitos da pesquisa nos cinco primeiros itens do

formulaacuterio se constitui na forma de graacuteficos Conforme observamos no primeiro

graacutefico a maioria dos sujeitos entrevistados foi composta por mulheres acima de 50

anos seguida da faixa de 30 a 49 anos Nesta amostragem percebemos mais

mulheres visitando o espaccedilo No local a pesquisadora observou que os visitantes

estatildeo em grupo em famiacutelia ou com o parceiro (a)

93

Graacutefico 1 - Faixa etaacuteria e gecircnero dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

Resultados apresentados no Graacutefico 2 mostram que o Memorial eacute visitado por

turistas (58)e Curitibanos (42) Devemos considerar que a pesquisa foi realizada

com tempo nublado e frio num clima natildeo muito convidativo para um passeio

Graacutefico 2 ndashProcedecircncia dos entrevistados do MIP

Fonte Da autora (2015)

0 10 20 30 40 50 60 70

Fem64

Masc 36

Acima de 50 anos - 40

30 a 49 anos - 34

21 a 29 anos - 26

0 10 20 30 40 50 60

Turistas - 58

Curitibanos - 42

Outros paiacuteses - 8

Interior do PR - 6

Outros estados - 38

Curitiba - 42

94

Observamos que somados os frequentadores que possuem escolaridade

superior e com poacutes-graduaccedilatildeo perfazem um total de 58 dos entrevistados (Graacutefico

3) No detalhamento do perfil da amostra os indicativos de escolaridade satildeo

compostos por 24 de poacutes-graduados e 16 com curso superior

Graacutefico 3 - Grau de escolaridade dos entrevistados

Fonte Da autora (2015)

O perfil ocupacional dos visitantes foi dividido entre Curitibanos (Graacutefico 4) e

Turistas (Graacutefico 5) com a intenccedilatildeo de analisarmos mais detalhadamente quem satildeo

os usuaacuterios daquele espaccedilo

Em comum os Graacuteficos 4 e 5 indicam um nuacutemero significativo na categoria

trabalhadores indicando um puacuteblico capaz de um senso criacutetico mais apurado

orientando a necessidade de uma abordagem que satisfaccedila este perfil

0 5 10 15 20 25 30 35

Ens fundincompleto - 6

Ens Fundamental - 26

Ensino meacutedio - 26

Ensino superior 24

Poacutes-graduaccedilatildeo - 34

95

Graacutefico 4 ndashPerfil ocupacional dos visitantes de Curitiba - 42 do total

Fonte Da autora (2015)

Graacutefico 5 - Perfil ocupacional dos turistas - 58 do total

Fonte Da Autora (2015)

O lazer eacute a grande motivaccedilatildeo para a ida ao Memorial (Graacutefico 6) sendo que a

maioria que frequenta o parque jaacute visitou o Memorial antes (68) reforccedilando assua

caracteriacutestica como local de lazer

0 2 4 6 8 10 12

Estudante - 12

Aposentado - 12

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Autonomo - 2

0 2 4 6 8 10 12 14

Estudante - 14

Funcionaacuterio Puacuteblico - 12

Autocircnomo - 10

Aposentado - 8

Empresaacuterio - 6

Assalariado - 6

Dona de casa 2

96

Graacutefico 6 - Qual o motivo da visita Jaacute visitou antes o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Para a anaacutelise das respostas fornecidas pelos 50 visitantes do Memorial

aplicamos os criteacuterios de frequecircncia das palavras utilizadas pelos participantes e as

associaccedilotildees por temaacuteticas como por exemplo campo-rural-agricultor a fim de dar

mais significado a imagem do polonecircs na voz dos visitantes

Em algumas respostas aparecem mais de um termo designando qualidades

atributos solicitados nas perguntas do formulaacuterio A frequecircncia dos termos que

caracterizam as representaccedilotildees sobre os poloneses de modo a distingui-los

Na apreciaccedilatildeo das respostas ao questionarmos a respeito da imagem do

imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial destacamos 20 correspondecircncias relativas

ao aspecto religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo (Quadro 1 tema 1) Neste

quesito confirma-se a relevacircncia da tradiccedilatildeo religiosa em relaccedilatildeo aos descendentes

de poloneses no sentido de manutenccedilatildeo da identidade culturalSegundo as

pesquisadoras em filologia Romacircnica Dorotea Kersche Silvia Delong (2014) ldquoa

religiosidade foi um dos aspectos que historicamente ajudou a manter e constituir a

identidade polonesardquo (KERSCH e DELONG 2014 p74) As autoras acrescentam que

a manutenccedilatildeo da liacutengua polonesa estaacute coligada aos ldquoeventos de letramento lituacutergico -

rezas terccedilo missa Esses eventos estatildeo correlacionados diretamente aos valores

que tradicionalmente constituem esse grupo eacutetnico como por exemplo a

religiosidaderdquo (KERSCH e DELONG 2014 p 84)

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Jaacute visitou o Memorial antes 68

Esta eacute a primeira visita - 32

Motivo da visita trabalho 2

Motivo da visita Lazer - 98

97

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo

(Quadro 1 tema 2) Este aspecto nos remete a condiccedilatildeo histoacuterica do imigrante

polonecircs em que ldquoa influecircncia polonesa se faz sentir sobretudo nos meios ruraisrdquo

(VALENTINI 1982 p25)

Quadro 1 - Primeira pergunta Como vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do memorial

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

1- Religioso religiatildeo catoacutelicosculturatradiccedilatildeo

As correspondecircncias que correlacionam fortemente a identidade polonesa com a religiosidade e ao catolicismo O termo religiatildeo ou religiosidade vem acompanhado de cultura e tradiccedilatildeo como se fossem uma soacute caracteriacutestica cultural

20

2- Camponecircscampo-rural-jardim- agriacutecolaagricultor

Os entrevistados captaram a imagem do polonecircs como uma pessoa do campo ou camponecircs (6) de caracteriacutesticas rurais (4) associam os poloneses pelo gosto por jardins floridos (4) e como agricultor de famiacutelia grande (1)

15

3- Associaccedilotildees vida na comunidade vilascoletivoconvivecircncia

Neste item da amostragem eacute associado agrave imagem dos poloneses o fato de participarem de associaccedilotildees da vida em comunidade da convivecircncia e uniatildeo como caracteriacutestica da etnia

8

4- Passadohistoacuteriaantigo Estes entrevistados fizeram menccedilotildees ao passado ao antigo e ao ancestral frisando como um modo de vida que natildeo existe mais

5

5- Artesanatoacervo de objetos

Por duas vezes houve associaccedilatildeo de objetos e o modo de vida com a identidade polonesa mencionando objetos de acervo artesanato agrave venda no quiosque com a identidade cultural do polonecircs

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Observamos na anaacutelise do discurso de alguns entrevistados que a identificaccedilatildeo

do espaccedilo como da etnia polonesa eacute agraves vezes imprecisa na perspectiva do visitante

Entre dez entrevistados obtivemos as seguintes respostas

Um identificou o espaccedilo como polonecircs apenas quando observou os retratos

dos reis poloneses na casa com mobiliaacuterio

98

Dois visitantes identificaram como um espaccedilo alematildeo

Quatro deles como um espaccedilo europeu ndash referindo-se a qualquer cultura

similar da Europa

Trecircs dos entrevistados natildeo encontraram uma distinccedilatildeo cultural que

identificasse o local como polonecircs

No quadro 2 quando indagamos sobre qual o objeto que mais chamou a

atenccedilatildeo do visitante destacou-se o aspecto arquitetocircnico do Memorial seguido pelos

objetos de acervo particularmente pelos bercinhos em exposiccedilatildeo na casa 4 no local

chamado museu da habitaccedilatildeo entre outros objetos em exposiccedilatildeo no circuito

Quadro 2 - Segunda pergunta Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo

TEMA ASPECTOS CITACcedilOtildeES

1- Arquiteturacasa capela

Os aspectos arquitetocircnicos das casas e da capela foram destaque nas respostas dos

visitantes

21

2- Objetos do acervo

Foram mencionados os moacuteveis (6) em especial o colchatildeo de penas de ganso (2) e o bercinho (10) os bordados coloridos (2) a pipa de azedar repolho (1) e a carroccedila de

polaco (4) o fole (1) e o martelo (1)

20

3- Floresjardim Patrimocircnio naturalvegetaccedilatildeo

Foram mencionados os aspectos ambientais do parque visto estar cercado por extensa vegetaccedilatildeo Foram destaque o jardim (2) e as flores nas janelas (1) a vegetaccedilatildeo (1) a integraccedilatildeo do patrimocircnio natural com o cultural (1) Quanto ao ambiente neste item surgiu por duas vezes a palavra aconchegante

5

4- Quiosque Artesanato

Alguns objetos agrave venda no quiosque satildeo mencionados como parte integrante do Memorial confundindo os visitantes com o circuito histoacuterico como por exemplo uma referecircncia a uma boneca tiacutepica no quiosque as Pecircssankas e os pratinhos agrave venda no local

3

5- Escultura do Papa

Foi citada por duas vezes a escultura com a imagem do Papa

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

No quadro 3 indagamos sobre qual o objeto que mais simbolizaria o imigrante

polonecircs e natildeo nos foi surpresa ao responderem sobre a arquitetura das casas de

tronco Entretanto queremos destacar as referecircncias a respeito do colorido presentes

99

nos bordados e objetos de artesanato mencionados e que satildeo lembrados como sinal

de alegria dos poloneses Esta informaccedilatildeo eacute complementada com os proacuteximos itens

em destaque a culinaacuteria e festas Apesar de questionarmos sobre qual o ldquoobjetordquo

simbolizaria o imigrante polonecircs as respostas referenciaram o patrimocircnio imaterial

reforccedilando a imagem presente no senso comum a respeito da alegria dos poloneses

e o gosto por festas

Quadro 3 - Terceira pergunta Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

TEMA ASPECTOS CITACcedilAtildeO

Arquiteturacasascapela

A grande maioria dos visitantes destacou a arquitetura de troncos como forte siacutembolo do parque

20

BordadosBabuska Pecircssankas Quiosqueartesanato

Foram destacados pela cor em referecircncia agrave alegria dos poloneses

12

Culinaacuteria Apesar de natildeo haver referecircncia ao tema no circuito este item pode ser apreciado no quiosque

6

Indumentaacuteriafestas

Embora natildeo houvesse menccedilatildeo no circuito em relaccedilatildeo a roupas tiacutepicas e festas estas caracteriacutesticas estatildeo presentes nos grupos de danccedila folcloacuterica e satildeo inerentes aos dias comemorativos no Memorial

6

Janelas com flores

Eacute um detalhe decorativo que eacute muito fotografado

4

Objetoscamacarroccedila

O acervo (de objetos) parece simbolizar menos do que se esperava

2

TOTAL 50 Fonte Da autora (2015)

Algumas observaccedilotildees foram feitas no sentido de que as casas de madeira

poderiam ter caracteriacutesticas suecas ou alematildes Tambeacutem segundo outro visitante

alguns objetos satildeo comuns a outras etnias No comentaacuterio de uma visitante esta

observou que ldquonatildeo imaginava que era soacute polonecircs precisei parar para olhar A placa

natildeo explica bemrdquo

Outras imagens dos visitantes foram destacadas como o cuidado com a

decoraccedilatildeo e a limpeza dos objetos o que nos reporta aos debates da pobreza

romacircntica em museus e casas histoacutericas que costuma ser pouco comentada

Segundo o museoacutelogo francecircs Martin Roth (1989) a pobreza romacircntica diz respeito a

privilegiar o conteuacutedo esteacutetico da exposiccedilatildeo em detrimento ao testemunho social

sobre as condiccedilotildees de vida e trabalho de determinada populaccedilatildeo Nas palavras de

100

Martin Roth (1989) o autor entende que ldquoatraveacutes do testemunho de objetos bem limpos

e cuidadosamente restauradosrdquo (ROTH 1989 p2) se deixa de lado a problemaacutetica

de reproduccedilatildeo da pobreza fome e miseacuteria nos asseacutepticos museus

A este respeito acompanhamos pela miacutedia a abertura do Museu da Pobreza

na cidade de Copenhague na Dinamarca Os responsaacuteveis pela instituiccedilatildeo e as

autoridades consideram erradicada a pobreza absoluta no paiacutes surgindo a

necessidade de mostrar as condiccedilotildees de vida da pobreza no mundo Tambeacutem

acompanhamos a implantaccedilatildeo do Museu da Mareacute no Rio de Janeiro como exemplo

vigoroso de reflexatildeo sobre as referecircncias dessa comunidade reconhecidamente em

aacuterea de risco social

Quinta pergunta Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha

que identificou o polonecircs com o que viu

O graacutefico 6 mostra o resultado da questatildeo que foi solicitado aos participantes

da pesquisa que estabelecessem a ligaccedilatildeo do polonecircs representado no Memorial com

algum descendente da etnia polonesa visto que na nossa pesquisa identificamos

como polonecircs os indiviacuteduos que se reconhecessem ou fossem reconhecidos como

imigrantes ou descendentes de poloneses

No item 2 do graacutefico 6 as respostas foram ldquoconhece mas natildeo identificourdquo o

grupo de 20 dos entrevistados natildeo estabeleceu a identificaccedilatildeo dos poloneses com

o Memorial achando que ldquoeacute coisa do passadordquo que estatildeo ldquointegrados no social ldquoe

principalmente ldquonatildeo conhecem nenhum polonecircs assimrdquo com as caracteriacutesticas

apresentadas no Memorial o que nos leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo

de teacutecnicas expograacuteficas 19 mais eficazes Elisa Guimaratildees Ennes (2003 p7) ao

destacar a importacircncia das exposiccedilotildees analisa que estas possuem ldquoo enfoque na

comunicaccedilatildeo do conteuacutedo e nos mecanismos de informaccedilatildeo para ampliaccedilatildeo do

espaccedilo de troca e possiacutevel interaccedilatildeo do visitante com o espetaacuteculo museoloacutegicordquo

19A Expografia eacute a aacuterea da Museografia que se ocupa da definiccedilatildeo da linguagem e do design da exposiccedilatildeo museoloacutegica englobando a criaccedilatildeo de circuitos suportes expositivos recursos multimeios e projeto graacutefico incluindo programaccedilatildeo visual diagramaccedilatildeo de textos explicativos imagens legendas aleacutem de outros recursos comunicacionais (FRANCO 2008 p61)

101

Graacutefico 7 - Se conhece algum polonecircs identificou com o Memorial

Fonte Da autora (2015)

Os visitantes que possuem contato com a etnia e que disseram ter identificado

os poloneses no MIP somaram 36 e satildeo demonstrados no item 3 do mesmo graacutefico

Estes dados se cruzados com os resultados dos quadros de respostas apresentados

anteriormente mostram que os dois temas mais comentados relativos ao imigrante

polonecircs satildeo aqueles que o correlacionam agrave religiosidade e ao campo (quadro 1 ndash

70) agrave arquitetura e objetos de acervo (quadro 2 ndash 82) e novamente agrave arquitetura

aos bordados e a alegria (quadro 3 ndash 64) confirmando a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante

O grupo que assinalou que natildeo conhece nenhum polonecircs imigrante ou

descendente (item 4) soma um total de 42 e natildeo se pronunciaram atraveacutes de

comentaacuterios

Esses discursos seratildeo comentados adiante

35 As representaccedilotildees sobre os imigrantes poloneses

Na fala dos visitantes quanto a identidade polonesa no Memorial existe a

preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo das casas de tronco que eacute traduzida da seguinte

maneira ldquoA humanidade natildeo vai ver daqui alguns anos esta construccedilatildeordquo Em outra

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

4Natildeo conhece 42

3Sim Identificou 36

2Conhece mas natildeo identificou 20

1Natildeo respondeu 2

102

fala o visitante natildeo consegue associar o Memorial com o sujeito polonecircs ldquonatildeo isto eacute

coisa antiga de trecircs geraccedilotildeesrdquo

A busca pela identidade do sujeito social e as vaacuterias transformaccedilotildees sofridas

na poacutes-modernidade eacute apontada por Stuart Hall (2000) ao compreender que a

identidade como ldquocelebraccedilatildeo moacutevelrdquo eacute ldquoformada e transformada continuamente em

relaccedilatildeo agraves formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas

culturais que nos rodeiam (HALL 2000 p12-13) O autor complementa a respeito do

sujeito poacutes-moderno sem identidade fixa

As velhas identidades que por tanto tempo estabilizaram o mundo social estatildeo em decliacutenio fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indiviacuteduo moderno A assim chamada ldquocrise de identidade eacute vista como parte de um processo mais amplo de mudanccedila que estaacute deslocando as estruturas e processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de referecircncia que davam aos indiviacuteduos uma ancoragem estaacutevel no mundo social (HALL 1998 p7)

Segundo o pensamento do autor na sociedade moderna a identidade do

sujeito eacute projetada de forma fragmentada apresentando-se como portador de vaacuterias

identidades dentro de um ambiente em contiacutenua transformaccedilatildeo condicionado agraves

formas dos sistemas culturais existentes

No quesito de associaccedilatildeo do que eacute mostrado no circuito do Memorial com

algum descendente de polonecircs que o visitante conheccedila existe certa distacircncia dos

conteuacutedos apresentados no Memorial As respostas foram as seguintes

1ordm Respondente

- Natildeo Eles satildeo iguais a qualquer um natildeo usam mais nada disso Nem comem

as comidas tipo pirogue Soacute em festa e na rua

2ordm Respondente

-Eacute uma pessoa integrada no social

3ordm Respondente

- Natildeo consigo associar

Interessante notar que os dois primeiros respondentes associam a imagem dos

poloneses com os eventos e festas que ocorrem no Memorial justamente em

referecircncia ao patrimocircnio imaterial da etnia enquanto a terceira fala natildeo consegue

103

associar ao sujeito polonecircs de hoje com o representado no circuito do Memorial As

falas seguintes remetem a um sujeito polonecircs que natildeo conseguem determinar

4ordm Respondente

- ldquoSe eu viesse e natildeo soubesse o nome [do Memorial] natildeo poderia identificarrdquo

5ordm Respondente

- ldquoFalta um simbolismo a praccedila o conjunto arquitetocircnico poderia significar

maisrdquo A voz deste visitante nos remete agrave necessidade da participaccedilatildeo social

considerando que essencialmente o homem gera e produz cultura o que nos remete

aos estudos da antropoacuteloga Eunice Durhan sobre o conceito de cultura ldquoa cultura eacute

propriamente esse movimento de criaccedilatildeo transmissatildeo e reformulaccedilatildeo desse

ambiente artificialrdquo (DURHAN 1984 p26) Considerando ou natildeo significativa a

proposta de intervenccedilatildeo do visitante entendemos que a participaccedilatildeo social na gestatildeo

democraacutetica da cultura cria o sentimento de responsabilidade pelo bem cultural

agregando valores e representatividade ao patrimocircnio preservado

Em continuidade a nossa anaacutelise a respeito do Memorial pudemos observar

que apesar do Bosque estar inserido na Linha Turismo (linha de ocircnibus especial que

circula nos principais pontos turiacutesticos de Curitiba) de estar inserido no roteiro da

cidade e possuir sinalizaccedilatildeo ainda percebemos que alguns visitantes apontam em

suas falas para uma determinada carecircncia na disposiccedilatildeo da sinaleacutetica naquele

equipamento cultural

De qualquer forma o espaccedilo do Memorial com as casas centenaacuterias em meio

ao bosque eacute um ambiente que natildeo condiz com a cultura de massa em que as

informaccedilotildees estatildeo para um faacutecil consumo com um excesso de placas e sinalizaccedilatildeo

com puacuteblico numeroso Aquele eacute um ambiente para se ter a experiecircncia em

contraponto a uma sociedade que em termos de comunicaccedilatildeo nos oferece a facilidade

da vivecircncia por meio digital Jorge Larossa Bondiacutea (2002) filoacutesofo e professor da

Universidade de Barcelona indica os resultados do enorme volume de informaccedilotildees na

sociedade contemporacircnea ldquoA informaccedilatildeo natildeo eacute experiecircncia E mais a informaccedilatildeo

natildeo deixa lugar para a experiecircncia ela eacute quase o contraacuterio da experiecircncia quase uma

antiexperiecircnciardquo (BONDIacuteA 2002 p2) O pensador alematildeo Heidegger esclarece sobre

a importacircncia da experiecircncia

104

[]fazer uma experiecircncia com algo []significa que esse algo nos atropela nos vem ao encontro chega ateacute noacutes nos avassala e nos transforma Fazer natildeo diz aqui de maneira alguma que noacutes mesmos produzimos e operacionalizamos a experiecircncia Fazer tem aqui o sentido de atravessar sofrer receber o que nos vem ao encontro (HEIDEGGER 2003 p121)

Heidegger (2003) ao interpretar a experiecircncia como aquilo que nos comove

que nos emociona nos faz perceber que o museu deve ser um local de provocaccedilatildeo

algo transformador Atraveacutes das narrativas dos museus muitas vezes acabamos

discordando ou natildeo sobre a abordagem e eacute justamente isto que tornaraacute a visita

significativa Compreendemos que os museus possibilitam a compreensatildeo de

conhecimento mas os seus conteuacutedos natildeo satildeo verdades absolutas Novamente

possibilitamos a inserccedilatildeo dos conhecimentos de Jodelet (2001) em que a

representaccedilatildeo social se constitui como ldquouma forma de conhecimento socialmente

elaborada e partilhada com um objetivo praacutetico e que contribui para a construccedilatildeo de

uma realidade comum a um conjunto social (JODELET 2001 p 22) Assim as

narrativas de uma exposiccedilatildeo nos seus textos imagens ou cenaacuterios natildeo possibilitam

a traduccedilatildeo de uma realidade objetiva mas acabam por significar uma construccedilatildeo

coletiva em que os profissionais se apropriam de determinado conhecimento

A seguir daremos continuidade agrave anaacutelise das representaccedilotildees dos poloneses

no conjunto dos dados coletados o que nos permitiu a compreensatildeo a respeito dos

sentidos e significados da representaccedilatildeo dos poloneses no Memorial sob a oacutetica do

visitante

Considerando o conjunto dos dados dos formulaacuterios eacute possiacutevel verificar no

graacutefico 7 que as trecircs maiores incidecircncias de respostas recaem na aproximaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a arquitetura das casas polonesas (41) seguida pelos objetos de acervo

(23) e por uacuteltimo o artesanato do quiosque

A possiacutevel sistematizaccedilatildeo que emerge desta anaacutelise demonstra a aproximaccedilatildeo

dos sujeitos com a categoria arquitetura e objetos de acervo deixando claro que o

visitante valoriza e percebe a narrativa do Memorial O fato de o artesanato ser

valorado pelo visitante como parte da identidade cultural polonesa independente de

estar numa edificaccedilatildeo histoacuterica demonstra a coerecircncia que tem com o circuito do

Memorial

105

Graacutefico 8 - Principais termos apresentados nos formulaacuterios dos visitantes

Fonte Da autora (2015)

Quanto a anaacutelise das entrevistas com os gestores e idealizador do MIP nos

apoiamos nos conceitos enunciados por Peter McLaren (2000) no acircmbito da

diversidade cultural de Stuart Hall (2000) sobre a construccedilatildeo da identidade aleacutem de

Moscovici (1981) e Jodelet (2001) sobre representaccedilotildees sociais

Busca-se analisar o conteuacutedo das narrativas das entrevistas natildeo a tiacutetulo de

informaccedilatildeo especiacutefica sobre o Memorial ou de seus dirigentes mas como forma de

representaccedilotildees dos poloneses a fim de promovermos as chaves de interpretaccedilatildeo das

representaccedilotildees sociais inscritas subjetivamente nos discursos e nas praacuteticas

relacionadas ao MIP

Inicialmente iremos discutir o discurso da gestora dos Memoriais do municiacutepio

a entrevistada Maria Daici Gonccedilalves de Lara que ocupa o cargo de coordenadora

dos Memoriais da prefeitura de Curitiba desde 2012 No recorte inicial da entrevista

ao indagarmos sobre a importacircncia do memorial polonecircs para a comunidade polonesa

a dirigente colocou que ldquoa importacircncia dele eacute abrangente Na verdade eu natildeo sei se

ele eacute tatildeo importante para a comunidade (polonesa) ou para noacutesrdquo o que nos leva a

acreditar num certo distanciamento com a comunidade polonesa marcado pelo

discurso do ldquonoacutesrdquo e ldquoelesrdquo (os poloneses) Esta premissa eacute marcada pelo

distanciamento do poder puacuteblico em relaccedilatildeo aos imigrantes poloneses ao terceirizar

0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Arquitetura 41

Objetos do acervo 23

artesanatoquiosque 16

camponesvida rural 15

religioso 11

culturatradiccedilatildeo 9

Vida em comunidade 8

106

parte da administraccedilatildeo do Memorial em favor da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil

A entrevistada complementa

Dentro desta cultura vocecirc tem todas as oportunidades ali vocecirc conhece a culinaacuteria vocecirc conhece a religiosidade deles que eacute muito forte vocecirc conhece o artesanato que eacute maravilhoso vocecirc conhece o folclore que eacute muito forte em Curitiba Entatildeo eacute o folclore culinaacuteria religiosidade e artesanato (LARA 2015 p1)

Na perspectiva da gestora a cultura eacute traduzida como fator de conhecimento e

ldquooportunidaderdquo de conhecer no sentido de consumir Tratamos entatildeo da abordagem

da filoacutesofa Marilena Chauiacute (2009) em perceber que na induacutestria cultural tudo se torna

negoacutecio

[] o Estado passa a operar no interior da cultura com os padrotildees de mercado Se no primeiro caso oferecia-se como produtor e irradiador de uma cultura oficial no segundo oferece-se como um balcatildeo para atendimento de demandas e adota os padrotildees do consumo e dos mass media particularmente o padratildeo da consagraccedilatildeo do consagrado[] Para compreendermos porque o Estado natildeo pode ser produtor de cultura precisamos retomar a concepccedilatildeo filosoacutefica e antropoloacutegica abrangente ndash a cultura como atividade social que institui um campo de siacutembolos e signos de valores comportamentos e praacuteticas ndash acrescentando poreacutem que haacute campos culturais diferenciados no interior da sociedade em decorrecircncia da divisatildeo social das classes e da pluralidade de grupos e movimentos sociais(CHAUIacute2009 p 43-44)

Para Chauiacute (2009) o fazer social da cultura institui as representaccedilotildees de um

grupo ou indiviacuteduos Nesta condiccedilatildeo a gestora encarrega-se de mediar determinadas

praacuteticas sociais mediante a atuaccedilatildeo do poder puacuteblico Ao mediar legitima tambeacutem um

conjunto de signos e imagens que traduzem formas de ldquoserrdquo e ldquoestarrdquo naquele espaccedilo

cultural Numa perspectiva relacional focaliza-se um discurso no sentido de ldquouma voz

autorizadardquo pertencente a um ldquosistema de relaccedilotildees objetivas no qual as posiccedilotildees e as

tomadas de posiccedilatildeo se definem relacionalmente e que domina ainda as lutas que

visam transformaacute-lordquo (BOURDIEU 1998 p 175)

Em outra passagem a entrevistada nos fala da agenda da cidade

Noacutes temos uma agenda anual da cidade na qual fazem parte vaacuterias datas Comeccedila no iniacutecio do ano com a benccedilatildeo dos alimentos e ao longo do ano a gente vai desenvolvendo vaacuterias atividades Faz parte

107

da agenda anual da cidade mesmo Na verdade eacute uma troca (LARA 2015)

O Memorial assim como outros centros histoacutericos e monumentos satildeo utilizados

como recursos de governabilidade enquanto equipamentos culturais Conforme nos

releva Choay (2001)

[] a cidade patrimonial eacute duplamente posta em cena De um lado ela eacute iluminada maquiada paramentada para fins de embelezamento e midiaacuteticos de outro lado ela serve de palco para festivais festas comemoraccedilotildees congressos verdadeiros e falsos happenings que multiplicam o nuacutemero dos visitantes em funccedilatildeo da engenhosidade dos animadores culturais O objetivo destes uacuteltimos eacute preparar os visitantes para a criaccedilatildeo de uma atmosfera convivial (CHOAY 2001 p224)

A espetacularizaccedilatildeo dos centros histoacutericos nas cidades contemporacircneas como

produto cultural converge na fala da gestora quanto agrave importacircncia da agenda anual

da cidade com a aplicaccedilatildeo de uma poliacutetica cultural voltada agrave valorizaccedilatildeo de eventos

com grande afluecircncia de puacuteblico ao Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa como tambeacutem

um espaccedilo significativo na miacutedia

A cidade e suas possiacuteveis intervenccedilotildees satildeo consideradas da perspectiva dos potenciais ldquocidadatildeos consumidoresrdquo Ela mesma eacute um produto a ser vendido com seus atributos e qualidades serviccedilos puacuteblicos e redes de serviccedilos privados O marketing urbaniacutestico opera mediante a informaccedilatildeo a comunicaccedilatildeo o convite a fazer uso da cidade (GARCIA 1994 p 1134)

A estreita relaccedilatildeo com uma poliacutetica cultural voltada a eventos eacute reafirmada no

seguinte recorte ldquoAcho bem interessante porque eles participam desde o

pequenininho a partir de 2 3 anos de idade ele danccedila como uma pessoa de 60 70

anos Entatildeo todas as faixas etaacuterias participam Acaba que todos se envolvemrdquo (LARA

2015 p2) Sendo assim a cidade se torna um ldquoespetaacuteculordquo cotidiano em constante

renovaccedilatildeo

Cabe dizer que a cidade foi transformada de teatro ou ldquocenaacuterio de encontro elementos presentes na imagem dos anos 70 em espetaacuteculo multimiacutedia dos anos 90 cuja audiecircncia privilegiada natildeo se encontra mais apenas posta nos habitantes locais mas simultaneamente no paiacutes e no mundo (GARCIA 2001 p113)

108

Segundo a autora a estrateacutegia de marketing urbano presente na dinacircmica

cultural da cidade possui um grau de visibilidade de alcance internacional Estas

estrateacutegias de city marketing atualmente satildeo viabilizadas com uma agecircncia de

fomento especiacutefica para fins de atraccedilatildeo de capital para a cidade

A Agencia Curitiba criada em 2007 tem como propoacutesito fomentar a atividade

econocircmica e promover eventos especiais que contribuam efetivamente para o

fomento das atividades econocircmicas da cidade (CURITIBA 2016) Esta sociedade eacute

de economia mista com 51 de capital municipal e a presidecircncia do conselho

administrativo da Agecircncia eacute do proacuteprio prefeito da cidade Existe a possibilidade de

funccedilotildees sobrepostas visto que a proacutepria prefeitura possui setores aptos a exercer as

mesmas funccedilotildees da Agecircncia como por exemplo o Instituto de Pesquisa e

Planejamento Urbano de Curitiba - IPPUC

Na anaacutelise do discurso do entrevistado Seacutergio Pires arquiteto e urbanista um

dos idealizadores do projeto do MIP junto ao IPPUC na deacutecada de 1980 percebe-se

que ele tem acompanhado o desenvolvimento do Memorial no aspecto de

equipamento urbano No recorte inicial ao comentar a respeito da dificuldade da

aquisiccedilatildeo das casas de troncos para o Memorial pertencentes aos poloneses da

Colocircnia Tomaz Coelho o entrevistado faz a seguinte colocaccedilatildeo ldquoPorque os

poloneses soacute tratavam com quem falava polonecircs Natildeo tinha essa histoacuteria que tinha

um forasteiro aqui que ia querer as nossas casasrdquo (PIRES 2015)

O fato dos colonos manterem a liacutengua polonesa como fator de resistecircncia

cultural revela a preocupaccedilatildeo com a preservaccedilatildeo identitaacuteria da comunidade A

linguagem para o pedagogo e multiculturalista Peter McLaren (2000) eacute vista como o

meio baacutesico no qual ldquoas identidades sociais satildeo construiacutedas os agentes sociais satildeo

formados as hegemonias culturais asseguradas e designando e agindo sobre a

praacutetica socialrdquo (MCLAREN 2000 p30)

Esta construccedilatildeo da identidade cultural atraveacutes da linguagem que nos fala

McLaren (2000) subjetivamente revela uma resistecircncia cultural em relaccedilatildeo agrave cultura

nacional Historicamente esta atitude ateacute se justifica devido agrave invasatildeo territorial da

Polocircnia pelas naccedilotildees e reinos vizinhos e consequente opressatildeo poliacutetica como o

exposto no segundo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo

Mais adiante o entrevistado cita o uso do patildeo e sal na recepccedilatildeo ao Papa em

Curitiba ldquoeles foram levaram patildeo e sal [ao Papa] Pois eacute assim que se recebem as

109

pessoas na tradiccedilatildeo polonesardquo Para o polonecircs servir o patildeo e o sal para os

convidados eacute um ato de hospitalidade e possui um significado de ato eucariacutestico

Esta praacutetica cultural como vimos em relaccedilatildeo ao patildeo e sal dos poloneses

possui o papel de orientar e dar sentido aos sujeitos na sua vida cotidiana situando-

se entre o mundo real e agraves percepccedilotildees do sujeito em pensar o mundo gerando

imagens mentais e concepccedilotildees de mundo que lhe satildeo proacuteprias

No terceiro recorte o entrevistado possui a seguinte representaccedilatildeo dos

poloneses ldquoMuita festa Os polacos satildeo divertidos Danccedilam muitordquo

As festas dos poloneses de modo geral constituem praacuteticas culturais que

comunicam saberes e praacuteticas coletivas associadas agrave cultura imaterial Neste

encontro do grupo a tradiccedilatildeo da cultura local favorece uma transmissatildeo de valores

para sua continuidade Assim as representaccedilotildees sociais passam a exercer a

mediaccedilatildeo simboacutelica produzida na associaccedilatildeo dos sentidos como fonte geradora do

patrimocircnio imaterial e da intangibilidade da memoacuteria social

Na concepccedilatildeo de Moscovici (2003) a linguagem e a cultura organizam os

nossos pensamentos uma vez que

Todos os sistemas de classificaccedilatildeo todas as imagens e todas as descriccedilotildees que circulam dentro de uma sociedade mesmo as descriccedilotildees cientificas implicam um elo de preacutevios sistemas e imagens uma estratificaccedilatildeo da memoacuteria coletiva e uma reproduccedilatildeo na linguagem que invariavelmente reflete um conhecimento anterior e que quebra as amarras da informaccedilatildeo presente (MOSCOVICI2003 p23)

Desta maneira a constituiccedilatildeo de uma representaccedilatildeo natildeo tem sua origem

apenas no social mas na possibilidade de ser compartilhada por todos e fortalecida

pela tradiccedilatildeo a que se refere o entrevistado

Mais adiante o entrevistado reforccedila a ligaccedilatildeo dos imigrantes com a lavoura ao

realizar a seguinte citaccedilatildeo [] ldquoFicaram [os poloneses] na parte perifeacuterica da cidade

Ficaram cuidando da terra Tanto que o polonecircs aqui eacute chamado de batateiro Sempre

teve o cultivo da lavoura como seu ganha-patildeordquo (PIRES 2015)

A imagem apresentada a respeito do polonecircs na perspectiva das

representaccedilotildees sociais segundo Moscovici (1981) ldquo[] constituem uma organizaccedilatildeo

psicoloacutegica uma forma de conhecimento particular de nossa sociedade e irredutiacutevel a

qualquer outrardquo (MOSCOVICI 1981 p 46)

110

Para Stuart Hall (2000) a imagem construiacuteda atraveacutes de discursos de

determinado grupo como no caso dos poloneses eacute parte de uma identidade coletiva

construiacuteda na linguagem dos sujeitos

Eacute precisamente porque as identidades satildeo construiacutedas dentro e natildeo fora do discurso que noacutes precisamos compreendecirc-las como produzidas em locais histoacutericos e institucionais especiacuteficos no interior de formaccedilotildees e praacuteticas discursivas especificas por estrateacutegias e iniciativas especiacuteficas (HALL 2000 p 109)

No entanto o estereoacutetipo do polonecircs como batateiro nas palavras do

pesquisador inglecircs Peter McLaren (2000) pode assumir um caraacuteter de discriminaccedilatildeo

Preconceito eacute o prejulgamento negativo de indiviacuteduos e grupos com base em evidecircncias natildeo reconhecidas natildeo pesquisadas e inadequadas Como essas atitudes ocorrem com muita frequecircncia elas assumem um caraacuteter de consenso ou cunho ideoloacutegico que eacute muitas vezes usado para justificar atos de discriminaccedilatildeo (MCLAREM2000 p 212)

Ao abordarmos o preconceito na perspectiva das representaccedilotildees percebemos

inuacutemeras interpretaccedilotildees mas que geralmente dependem da loacutegica social Nas

reflexotildees de Jovchelovitch e Guareschi (1998 p 92) a teoria das representaccedilotildees

sociais se alimenta destas compreensotildees quando discute as origens sociais do saber

e em particular quando estuda como os contextos sociais e as representaccedilotildees se

constituem mutuamente

Para a autora o pensamento as percepccedilotildees de mundo dos indiviacuteduos e o seu

sistema cognitivo atuam em conjunto com o sistema social do indiviacuteduo As formas de

representaccedilatildeo satildeo partes inerentes do processo de representaccedilatildeo relacionado ao

contexto em que se configuram

O preconceito como discurso de determinado meio social pode ser analisado

na teoria das representaccedilotildees sociais considerando o sistema cognitivo do indiviacuteduo

como o sistema social em que eacute gerado

Moscovici argumenta que o meio social controla e estabelece as regras do

processamento das informaccedilotildees Tanto o sistema cognitivo como o sistema social

podem explicar a questatildeo do conhecimento do indiviacuteduo pelo senso comum ldquoNo niacutevel

do indiviacuteduo as transformaccedilotildees satildeo executadas pelas regras de inferecircncia no niacutevel

coletivo elas satildeo executadas pelas regras da comunicaccedilatildeordquo (MOSCOVICI 1981 p

111

167) Em relaccedilatildeo ao projeto de criaccedilatildeo do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa por parte

do entrevistado temos o seguinte depoimento

Como eu jaacute conhecia outros parques do mundo eu me baseei no Skansen O Skansen eacute um parque de casas na regiatildeo de Estocolmo Foi este que foi minha inspiraccedilatildeo para fazer aquilo Eu disse natildeo Vamos fazer o parque desse jeito com mais casas e etc e tal Entatildeo eu dei a minha meta Vocecircs tecircm os projetos aqui dentro da biblioteca [] O projeto eacute desenho meu (PIRES 2015)

Portanto o projeto de concepccedilatildeo do Memorial apresenta-se como de cunho

arquitetocircnico e urbaniacutestico Na planta baixa da Figura 30 estatildeo delimitados os espaccedilos

das edificaccedilotildees o palco a praccedila e outros equipamentos urbanos existentes no MIP

Figura 30 ndash Projeto urbaniacutestico do MIP 1994

FONTE IPPUC2015

Observamos que o Memorial foi concebido a partir de uma concepccedilatildeo

urbaniacutestica composto basicamente por uma praccedila com casas histoacutericas no entorno

conforme alguns itens arrolados na plantada Figura 29 No projeto do Memorial

originalmente havia a proposta do Museu do Utensiacutelio e Mobiliaacuterio denominado

atualmente como Museu da Habitaccedilatildeo que acompanhou o mesmo perfil de

apresentaccedilatildeo e localizaccedilatildeo desde o iniacutecio das atividades A proposta do Museu do

Vestuaacuterio natildeo teve o desenvolvimento previsto No entanto constatamos que natildeo

houve um projeto que evidenciasse uma linha de trabalho ou mesmo um roteiro

112

baacutesico do circuito expositivo As duas exposiccedilotildees abertas ao puacuteblico do museu do

mobiliaacuterio e a de objetos agriacutecolas em outra edificaccedilatildeo natildeo possuem apoio de textos

fotos ou ilustraccedilotildees podendo ser contempladas sem acesso ao cocircmodo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico a valorizaccedilatildeo do local como um

equipamento urbaniacutestico e a falta de um projeto de lei de criaccedilatildeo daquela unidade

poderiam ajudar a explicar algumas carecircncias do local como a inexistecircncia de um

quadro de funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um

museu Portanto a anaacutelise da documentaccedilatildeo da instituiccedilatildeo ficou comprometida visto

que natildeo existe um conjunto de textos ou um roteiro expositivo que possibilitassem

dados para anaacutelise

Mais adiante o entrevistado continua relatando a respeito da aquisiccedilatildeo das

primeiras casas do Memorial

Daiacute o que aconteceu Noacutes conseguimos aquela casa Depois o Waldir Simotildees tinha aquela galeria Waldir Simotildees comprou uma casa de polonecircs Porque acontece o seguinte tudo isso seguiu por que a gente tinha a Colocircnia Tomaacutes Coelho em Araucaacuteria que ia ser alagada pelo Passauacutena e resolveram tirar Ele era meu amigo e ele me vendeu como madeira velha e sempre foi assim (PIRES 2015)

Desta maneira podemos entender que o projeto do Memorial sob

responsabilidade do IPPUC restringe-se agrave esfera do urbanismo sem enfoque na

estrutura administrativa de museu conforme esta fala ldquoMas laacute natildeo eacute museu isso talvez

seja um errordquo (PIRES 2015) Torna-se evidente que a falta de uma estrutura de museu

e a preocupaccedilatildeo com a aquisiccedilatildeo das casas de troncos para a composiccedilatildeo da

paisagem daquela aacuterea coaduna com a poliacutetica de construccedilatildeo da paisagem daquele

periacuteodo administrativo dentro do processo de city marketing conforme observamos no

decorrer do segundo capiacutetulo

Na concepccedilatildeo do entrevistado o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa natildeo deve

ser visto como um museu mas estar voltado para a promoccedilatildeo da cultura polonesa

Gi20 Mas por exemplo as escolas que visitam natildeo dispotildeem de setor educativo Entatildeo eacute um museu-memorial Memorial pela sua monumentalidade que ele exerce pelo siacutembolo que tem mas ao mesmo tempo como museu ele natildeo tem aquela estrutura museoloacutegica

20 GI Abreviatura Gina Issberner

113

SP21 Mas laacute natildeo eacute museu isso talvez seja um erro (Pausa)

SP Aquilo ali ao meu modo de ver vocecirc tem um museu ao ar livre mas eu acho que vocecirc pensar numa estrutura administrativa de museus natildeo GI Vocecirc natildeo vecirc o Memorial dessa maneira SP De jeito nenhum GI Vocecirc vecirc o Memorial mais voltado para a cultura polonesa SP Sim Do mesmo jeito que os ucranianos do mesmo jeito que o bosque alematildeo Isso comeccedilou eu trabalhei antes com o patrimocircnio cultural Quem bolou as unidades de interesse de preservaccedilatildeo fui eu Quem bolou a lei de incentivo ao potencial construtivo fui eu Entatildeo eu estudei muito estas coisas (PIRES 2015)

O arquiteto ao mencionar sua experiecircncia com o patrimocircnio cultural se refere

ao decreto municipal nordm 15471979 que propotildee inicialmente o monitoramento de 586

imoacuteveis de Curitiba Na ocasiatildeo o entrevistado compunha a equipe do IPPUC liderado

pelo entatildeo futuro prefeito Rafael Greca (gestatildeo 1993-1997)

Art 1ordm - Fica criado o Setor Especial das Unidades de Interesse de Preservaccedilatildeo constituiacutedo por edificaccedilotildees que de alguma forma possam concorrer significativamente para marcar as tradiccedilotildees e a memoacuteria da cidade (CURITIBA 1979)

O direcionamento das poliacuteticas de proteccedilatildeo ao patrimocircnio cultural voltado para

as edificaccedilotildees pode ser evidenciado neste decreto aleacutem de um documento em

depoacutesito na Casa da Memoacuteria Uma carta de Jaime Lerner (em anexo) na eacutepoca

prefeito de Curitiba aos proprietaacuterios de imoacuteveis contemplados como Unidade de

Interesse de Preservaccedilatildeo ndash UIP datada de 1980 em que destaca a preocupaccedilatildeo com

a paisagem ldquoo que se pretende eacute a melhoria da paisagem da cidade com a

revitalizaccedilatildeo de muitos imoacuteveisrdquo (LERNER 1980)

A poliacutetica municipal de preservaccedilatildeo do patrimocircnio arquitetocircnico de Curitiba se

enquadrava na construccedilatildeo da imagem da cidade com a criaccedilatildeo de espaccedilos urbanos

que enfocassem a europeizaccedilatildeo com vistas a exportar para outras regiotildees uma

imagem de primeiro mundo destacando as tradiccedilotildees preservadas

arquitetonicamente evidenciando o compartilhamento dos ideais do city marketing do

poder puacuteblico

Portanto de acordo com o entrevistado a intenccedilatildeo de implantaccedilatildeo do Memorial

seria uma estrutura de uso puacuteblico de lazer sem ater-se a possibilidade de

21 SP Abreviatura de Sergio Pires

114

implantaccedilatildeo de um museu Desta maneira podemos sugerir na nossa anaacutelise que o

vieacutes do IPPUC na tematizaccedilatildeo eacutetnica dos parques e praccedilas de Curitiba converge na

direccedilatildeo da proposta de city marketing que perdura ateacute hoje

Esta poliacutetica de promoccedilatildeo da cidade foi fortalecida com a implantaccedilatildeo da

Agecircncia Curitiba de Planejamento SA em 2007 criada pelo governador Carlos

Alberto Richa ndash lei nordm 7671 cujo capital eacute de 51 do municiacutepio e tem como soacutecias a

Federaccedilatildeo das Induacutestrias do Estado do Paranaacute - FIEP-PR Federaccedilatildeo do Comeacutercio

do Estado do Paranaacute -FECOMEacuteRCIO e Federaccedilatildeo das Associaccedilotildees Comerciais e

Empresariais- FACIAP

O sujeito desta proacutexima entrevista Danuta Lisicki Abreu se apresenta como

coordenadora do Bosque do Papa e representante da Missatildeo Catoacutelica

PolonesaInicialmente nesta entrevista ao indagarmos da importacircncia do Memorial

para a comunidade de descendecircncia polonesa temos o seguinte discurso da

entrevistada

A responsabilidade de participar da experiecircncia inovadora de organizar um ldquoSkansenrdquo (Museu ao Ar Livre) de ter um lugar um

parque para falar das tradiccedilotildees do folclore da religiatildeo costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas na nunca esquecida Polocircnia (ABREU 2015 p1)

Nesta fala a coordenadora se coloca como capacitada na condiccedilatildeo de

organizadora de um museu como o de Skansen inaugurado em 1891 na Sueacutecia A

entrevistada equipara o Museu Etnograacutefico ao Ar Livre Skansen localizado em

Estocolmo Trata-se ldquona maioria dos casos de um conjunto de edifiacutecios que ilustram

o modo de vida de uma dada comunidaderdquo (SUANO 1986 p 66)

Na citaccedilatildeo acima a ldquoresponsabilidade de participar da experiecircncia inovadora

de organizarrdquo percebemos o comprometimento para aquilo que a mobiliza a realidade

do seu trabalho a socializaccedilatildeo do sujeito pelo trabalho Estas representaccedilotildees

perpassam os conteuacutedos da seguinte reflexatildeo ldquouma forma de conhecimento

socialmente elaborado e partilhado com uma dimensatildeo praacutetica e que concorre para

a construccedilatildeo de uma realidade comum a um conjunto socialrdquo (JODELET 2001 p 53)

Temos entatildeo uma imagem do sujeito participante e inovador

Na sequecircncia do discurso eacute mencionado ldquocostumes da gente polonesardquo

subentendido como pessoas da Polocircnia que trazem um modelo de comportamento

europeu a ser admirado pelos que visitam o local Nestes termos temos entatildeo

115

subjetivamente uma hierarquizaccedilatildeo de valores europeus que se espera sejam

absorvidos pelos nacionais

Existe uma qualidade transnacional no discurso ldquopara mim trazer para o solo

da paacutetria brasileira as raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo Neste recorte

observamos certa resistecircncia agrave identidade brasileira mesmo considerando que tenha

assumido o papel de coordenadora de uma unidade gerida pelo estado do Paranaacute e

pelo municiacutepio

Neste mesmo recorte observamos uma personalizaccedilatildeo quando a dirigente

coloca o discurso na primeira pessoa ldquoera para mim trazer para o solo da paacutetria

brasileirardquo enunciando um apoderamento e uma dramaticidade conjugados pelo fato

de oficializar a fala quando a politiza ao usar a palavra paacutetria

Na continuidade da anaacutelise deste recorte a entrevistada menciona ldquoos

costumes da gente polonesa era para mim trazer para o solo da paacutetria brasileira as

raiacutezes deixadas da nunca esquecida Polocircniardquo nos parece que primeiramente existe

um sentimento de responsabilidade em relaccedilatildeo agrave comunidade polonesa e agrave proacutepria

instituiccedilatildeo na qual a profissional estaacute inserida pelo fato da entrevistada compartilhar

de uma mesma histoacuteria e memoacuteria

A entrevistada nos deixa entrever a problemaacutetica dos processos de construccedilatildeo

das identidades na contemporaneidade o fato de ser brasileiro e ao mesmo tempo

ser imigrante polonecircs nos revela que a identidade apresenta um processo em

constante mudanccedila e que acontece por meio das relaccedilotildees sociais

Neste panorama Hall apresenta o conceito de globalizaccedilatildeo e aponta como os

sistemas poliacuteticos econocircmicos e culturais se organizam nas negociaccedilotildees e

construccedilotildees de identidades

Um complexo de processos e forccedilas de mudanccedila [] atuantes numa escala global que atravessam fronteiras nacionais integrando e conectando comunidades e organizaccedilotildees em novas combinaccedilotildees de espaccedilo-tempo tornando o mundo em realidade e em experiecircncia mais interconectado (HALL 2000 p67)

O autor analisa a concepccedilatildeo de uma identidade global e reforccedilada pelos fluxos

culturais ldquocaracterizada por uma multiplicidade desconcertante e cambiante de

identidades possiacuteveisrdquo (HALL 2002 p12) De acordo com Stuart Hall nossa

identidade reuacutene vaacuterias dimensotildees e caracteriacutesticas Nesta perspectiva nossa

116

personalidade manifesta uma identidade muacuteltipla e cada sujeito eacute capaz de carregar

uma pluralidade em si

117

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A proposta desta dissertaccedilatildeo intitulada ldquoAs Representaccedilotildees dos Poloneses no

Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitibardquo eacute descrever e analisar as

representaccedilotildees sociais dos poloneses no Memorial de Imigraccedilatildeo pela percepccedilatildeo de

seus visitantes gestores e idealizador

Pode-se perceber que na anaacutelise das representaccedilotildees sociais aleacutem do

disposto do observaacutevel na superfiacutecie ou aparentemente existem conteuacutedos e

significados acerca da comunidade polonesa que influenciam de forma determinante

a percepccedilatildeo dos visitantes gestores e idealizadores com relaccedilatildeo aos poloneses

representados no Memorial

Na estruturaccedilatildeo deste trabalho iniciamos nossa reflexatildeo apresentando o

processo de criaccedilatildeo do Memorial no ambiente de city marketing por parte do poder

municipal preocupado em construir uma imagem europeia da cidade Nesta

construccedilatildeo de imagem percebemos as representaccedilotildees sociais criadas pela

populaccedilatildeo de maneira geral influenciando comportamentos e formas de viver o

espaccedilo puacuteblico

Na problemaacutetica de cidade-espetaacuteculo que nos fala Jeudy reduzida a slogan e

bordotildees superficiais de uma imagem de cidade tivemos a grata oportunidade de

conhecer a fala de Ulpiano Bezerra de Meneses (1985) ao mencionar a cidade-

artefato entendida como patrimocircnio que natildeo corresponde mais agrave imagem da

fotografia postal ou seja da imagem produzida para o consumo como cidade que

prescinde da experiecircncia

Dentro da discussatildeo entre cidade-espetaacuteculo e cidade-artefato podemos

entender que o MIP representa parte de cada processo Tanto inserido na construccedilatildeo

da imagem urbana na estrateacutegia de city marketing do poder puacuteblico como tambeacutem

inserido no processo de apropriaccedilatildeo de uso de um patrimocircnio cultural pela

comunidade polonesa

Em continuidade ao mencionarmos as caracteriacutesticas dos equipamentos

urbanos e culturais do Memorial tivemos a oportunidade de conhecer alguns aspectos

da cultura polonesa Ao traccedilarmos a trajetoacuteria poliacutetica e social dos imigrantes

poloneses no seu paiacutes de origem e sua vinda para o Brasil pudemos compreender

alguns aspectos que influenciaram na dinacircmica social da comunidade na regiatildeo de

Curitiba

118

A elaboraccedilatildeo de uma proposta que permitisse atingir os objetivos desta

pesquisa natildeo foi uma tarefa faacutecil uma vez que ao buscar a interdisciplinaridade

mediante a aproximaccedilatildeo dos estudos da histoacuteria cultural e dos museus com a teoria

das representaccedilotildees sociais diversas aacutereas afins foram solicitadas ndash psicologia-social

antropologia e sociologia de modo que um amplo referencial teoacuterico precisou ser

compreendido e estudado para garantir as particularidades da pesquisa empiacuterica

A teoria das representaccedilotildees sociais proposta por Moscovici evidenciou mais

uma vez tratar-se de uma ferramenta indispensaacutevel aos estudos de determinado

grupo social ao possibilitar o surgimento dos conteuacutedos subjetivos inerentes aos

visitantes gestores e conceptores do Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa e que

permeiam a vida de uma determinada comunidade neste caso os poloneses da

regiatildeo de Curitiba

A discussatildeo sobre a dimensatildeo social das representaccedilotildees apontou assim que

estas natildeo se balizam por uma dinacircmica de caraacuteter individual psicoloacutegica mas que se

desdobram pela apropriaccedilatildeo de determinada realidade pela razatildeo de organizarem

um processo pertinente a um contexto social onde haacute a comunicaccedilatildeo e o

compartilhamento de experiecircncias pessoais com outros indiviacuteduos em suas praacuteticas

sociais

Um dos objetivos desta investigaccedilatildeo foi a de saber qual a influecircncia da

participaccedilatildeo da Missatildeo Catoacutelica Polonesa do Brasil em parceria com a Fundaccedilatildeo

Cultural de Curitiba no projeto de implantaccedilatildeo do Memorial Observamos que natildeo

houve um projeto que contemplasse o Memorial como instituiccedilatildeo museoloacutegica em

relaccedilatildeo aos responsaacuteveis pela implantaccedilatildeo

A ausecircncia de um projeto museoloacutegico e museograacutefico e a valorizaccedilatildeo do local

na forma de um equipamento urbaniacutestico conforme o idealizador do projeto Seacutergio

Pires explicaria algumas carecircncias do local como a ausecircncia de um quadro de

funcionaacuterios e a falta de desenvolvimento de serviccedilos baacutesicos de um museu como

pesquisa conservaccedilatildeo e educaccedilatildeo

No decorrer da nossa pesquisa mencionamos alguns trabalhos a respeito do

preconceito em relaccedilatildeo ao polonecircs Este quesito soacute pode ser evidenciado na

entrevista com o idealizador do Memorial No caso dos formulaacuterios aplicados com os

visitantes natildeo houve a detecccedilatildeo desta imagem como tambeacutem nenhuma pergunta

direta a respeito desta temaacutetica por parte da pesquisadora

119

Na nossa pesquisa a aplicaccedilatildeo de formulaacuterios de campo e de entrevistas

evidenciou uma concepccedilatildeo de que o trabalho do Memorial corresponde agraves

expectativas do visitante e que possui um conteuacutedo necessaacuterio e enriquecedor No

Memorial ocorre o processo de comunicaccedilatildeo e diaacutelogo com o universo da

comunidade polonesa Para discernir qual o conteuacutedo de imagem com mais

aderecircncia indagamos por exemplo sobre qual o objeto ou imagem que mais

simbolizava o imigrante e o que mais lhe chamou a atenccedilatildeo no circuito do Memorial

se conhecia algum polonecircs entre outras questotildees

Desta forma ao finalizar esta dissertaccedilatildeo alguns itens identificados devem ser

relacionados aqui em condiccedilatildeo de destaque

1 Constatou-se que a estrutura de promoccedilatildeo da cidade de Curitiba

mediante a aplicaccedilatildeo dos conceitos de city marketing por parte das poliacuteticas

puacuteblicas municipais nas deacutecadas de 1980-1990 foi consolidada atraveacutes da

criaccedilatildeo da Agecircncia Curitiba SA em 2007 Com isso queremos dizer que este

tema natildeo estaacute esgotado apenas o nosso recorte natildeo alcanccedilou o periacuteodo

temporal de implantaccedilatildeo da agecircncia

2 No discurso de alguns visitantes (graacutefico 6 item 2) detectamos a

amostragem de 20 no item relativo a identificaccedilatildeo do espaccedilo como sendo da

etnia polonesa sendo confundida com casas alematildes suecas etc o que nos

leva a acreditar na necessidade de aplicaccedilatildeo de teacutecnicas expograacuteficas visando

uma qualidade de comunicaccedilatildeo com o puacuteblico mais significativa De fato

percebemos que o Memorial de Imigraccedilatildeo Polonesa possui em suas

dependecircncias uma exposiccedilatildeo de mobiliaacuterio e outra de utensiacutelios agriacutecolas em

casas diferentes Essas mostras natildeo possuem recurso expograacutefico como

etiquetas iluminaccedilatildeo textos explicativos etc o que torna a interpretaccedilatildeo dos

conteuacutedos e a didaacutetica distante do que poderia ser adequado O museu eacute um

local de aprendizado onde accedilotildees de dinamizaccedilatildeo possam favorecer a

experiecircncia cultural proporcionando a aquisiccedilatildeo de conhecimentos de forma

agradaacutevel A comunicaccedilatildeo de um museu apoia-se nos recursos da

ldquoMuseografiardquo para a mediaccedilatildeo de informaccedilotildees entre a instituiccedilatildeo e o puacuteblico

sendo necessaacuteria a aplicaccedilatildeo desses conhecimentos na rotina de trabalho

daqueles profissionais Assim podemos supor que a identificaccedilatildeo do imigrante

polonecircs com aquele espaccedilo segundo a oacutetica do visitante poderia ser mais

positiva contribuindo por exemplo para a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos a

120

respeito da formaccedilatildeo da cidade de Curitiba e quais as mudanccedilas que

ocorreram ao longo do tempo

3 Percebemos que o fato de natildeo haver um plano de concepccedilatildeo

museoloacutegico do Memorial pela oacutetica do idealizador estaria pontuado por natildeo

considerar o Memorial um museu Neste aspecto houve uma valorizaccedilatildeo do

Memorial como exemplar arquitetocircnico por parte do poder puacuteblico em

detrimento agraves possibilidades daquele espaccedilo como unidade museoloacutegica

Poreacutem na opiniatildeo da pesquisadora o Memorial como uma instituiccedilatildeo museal

deve ser caracterizado por uma estrutura orgacircnica com uma poliacutetica de

procedimentos metodoloacutegicos infraestrutura de pessoal e de materiais

pesquisa e difusatildeo cultural entre outros aspectos para o desenvolvimento dos

processos museais que valorizem e preservem o patrimocircnio cultural dos

imigrantes poloneses Portanto o incremento destas teacutecnicas museais dentro

do Memorial contribuiria para a qualificaccedilatildeo da instituiccedilatildeo de forma abrangente

Assim o Memorial e suas diversas formas de expressatildeo tem a possibilidade de

se constituir como um territoacuterio aberto a novas narrativas para que as memoacuterias e

identidades possam conviver e apresentar seu discurso em uma rede de saberes e

fazeres do cotidiano ampliando suas estrateacutegias de representaccedilatildeo e colocando em

movimento suas praacuteticas sociais

121

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133

APEcircNDICES

134

APEcircNDICE A - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)____________________________________________ para

participar da pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em

Curitiba sob a responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner cujo objetivo

justifica-se pela anaacutelise das representaccedilotildees da etnia polonesa em Curitiba Esclarecemos

que sua participaccedilatildeo eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de um formulaacuterio a ser preenchido pela

pesquisadora ao final da visita ao circuito expositivo do Memorial de imigraccedilatildeo polonesa de

Curitiba Os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo na pesquisa seratildeo miacutenimos aos

entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos seres humanos se vocecirc aceitar

participar estaraacute contribuindo academicamente para a promoccedilatildeo da cidadania e pelo

fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir em sua participaccedilatildeo o Sr (a)

desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de retirar seu consentimento em

qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o

(a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os

resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados no meio acadecircmico para qualquer

outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato com o pesquisador no endereccedilo da

Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em contato com o Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Norte Joinville - SC

telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________________ fui informado

sobre o que o pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a

explicaccedilatildeo Por isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada

e que posso sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas

assinadas por mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data __ __ ___

________________________ _________________________

Assinatura do participante Assinatura do Pesquisador

135

APEcircNDICE B - Questionaacuterio apresentado aos visitantes do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa em Curitiba

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

ALUNA GINA ESTHER ISSBERNER ORIENTADORA SANDRA GUEDES

QUESTIONAacuteRIO APRESENTADO AOS VISITANTES DO MEMORIAL DA IMIGRACcedilAtildeO POLONESA EM CURITIBA

Sabendo da importacircncia cultural do Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa e

querendo aprofundar os conhecimentos relativos a cultura e a histoacuteria estamos desenvolvendo uma dissertaccedilatildeo a respeito da representaccedilatildeo social dos imigrantes poloneses em Curitiba Respondendo a este questionaacuterio vocecirc estaraacute contribuindo para o desenvolvimento deste projeto

FORMULAacuteRIO DE PESQUISA

1) Idade

1) 18 a 29 anos 2) 30 a 49 anos 3) Acima de 50

2) Gecircnero

1) Masculino 2) Feminino

3) Natural de

1) Curitiba 2) Outro ________________

4) Escolaridade

( ) nenhuma

( ) 1ordm grau incompleto

( ) 1ordm grau completo

( ) 2ordm grau incompleto

( ) 2ordm grau completo

( ) superior incompleto

( ) superior completo

( ) poacutes-graduaccedilatildeo

136

5) Ocupaccedilatildeo

( ) assalariado ( ) estudante ( ) empresaacuterio ( )aposentado ( ) dona de casa ( )desempregado ( ) funcionaacuterio puacuteblico ( ) autocircnomo ( ) pescador

6) Vocecirc jaacute visitou o Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba

7) Qual o motivo da visita ( ) Lazer ( ) curiosidade ( ) estudo ( ) outro___________

8) Vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa em Curitiba

9) Como vocecirc vecirc o imigrante polonecircs no cenaacuterio do Memorial

10) Qual o objeto que mais chamou sua atenccedilatildeo Por quecirc

11) Qual o objeto que mais simboliza o imigrante polonecircs

12) Se vocecirc eacute ou conhece algueacutem de origem polonesa acha que se identificou com o que viu

137

APEcircNDICE C - Termo de consentimento livre e esclarecido

UNIVILLE

MESTRADO EM PATRIMONIO CULTURAL E SOCIEDADE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o (a) Sr (a)_________________________________________para participar da

pesquisa As Representaccedilotildees no Memorial da Imigraccedilatildeo Polonesa em Curitiba sob a

responsabilidade da pesquisadora Gina Esther Issberner Esclarecemos que sua participaccedilatildeo

eacute voluntaacuteria e se daraacute por meio de gravaccedilatildeo de voz os riscos decorrentes de sua participaccedilatildeo

na pesquisa seratildeo miacutenimos aos entrevistados compatiacuteveis com as atividades cotidianas dos

seres humanos se vocecirc aceitar participar estaraacute contribuindo academicamente para a

promoccedilatildeo da cidadania e pelo fortalecimento da identidade cultural se depois de consentir

em sua participaccedilatildeo o Sr (a) desistir de continuar participando tem o direito e a liberdade de

retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa independente do motivo e sem

nenhum prejuiacutezo a sua pessoa o (a) Sr (a) natildeo teraacute nenhuma despesa e tambeacutem natildeo

receberaacute nenhuma remuneraccedilatildeo os resultados da pesquisa seratildeo analisados e publicados

no meio acadecircmico para qualquer outra informaccedilatildeo o (a) Sr (a) poderaacute entrar em contato

com o pesquisador no endereccedilo da Univille pelo telefone 41 3455 2765 ou poderaacute entrar em

contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPUNIVILLE na Rua Paulo Malschitzki 10 -

Zona Industrial Norte Joinville - SC telefone (47) 3461-9000

CONSENTIMENTO POacuteSndashINFORMACcedilAtildeO

Eu _________________________________ fui informado sobre o que o

pesquisador quer fazer e porque precisa da minha colaboraccedilatildeo e entendi a explicaccedilatildeo Por

isso eu concordo em participar do projeto sabendo que natildeo vou ganhar nada e que posso

sair quando quiser Este documento eacute emitido em duas vias que seratildeo ambas assinadas por

mim e pelo pesquisador ficando uma via com cada um de noacutes

Data ___ ____ _____

_____________________________________________________

Assinatura do participanteAssinatura do Pesquisador Responsaacutevel

138

APEcircNDICE D - Roteiro das entrevistas com os profissionais envolvidos no processo

de implantaccedilatildeo e gestatildeo do memorial da imigraccedilatildeo polonesa em Curitiba

1-ROTEIRO PARA ENTREVISTA PARA A ADMINISTRADORA DE MEMORIAIS DA

FCC-CURITIBA

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge a ideia de implantaccedilatildeo do Memorial

1 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

3 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

4 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo ateacute os

dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

7 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

8 O museu do memorial foi criado por ato municipal

9 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

10 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua compreensatildeo

11 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

2-ROTEIRO DE ENTREVISTA PARA A COORDENADORA DO BOSQUE DO PAPA

E REPRESENTANTE DA MISSAtildeO CATOacuteLICA POLONESA DANUTA LISICKI DE

ABREU

1 Fale um pouco de vocecirc Qual seu nome Idade profissatildeo

2 Em que momento surge aideia de implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial Que

cargo ou funccedilatildeo vocecirc exercia na eacutepoca e onde

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

139

6 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(Prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

7 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo

ateacute os dias de hoje e como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

8 Como satildeo concebidas as exposiccedilotildees e os eventos no Memorial

9 O museu do memorial foi criado por ato municipal

10 O Memorial possui serviccedilo de Mediaccedilatildeo de atendimento ao puacuteblico nas

exposiccedilotildees

11 O Memorial cumpre com a funccedilatildeo e qual eacute essa funccedilatildeo na sua

compreensatildeo

12 Como vocecirc se descreve como polonesa

13 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

14 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

3-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DO EX PREFEITO DE CURITIBA JAIME LERNER

1 Como prefeito o senhor estimulou a criaccedilatildeo de monumentos (parques portais

museus praccedilas) exaltando o trabalho das etnias e sua contribuiccedilatildeo para a

sociedade curitibana Como foi a implantaccedilatildeo do Memorial da Imigraccedilatildeo

Polonesa

2 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

3 O projeto desenvolvido teve algum referencial algum modelo seguido

4 Quais as principais dificuldades encontradas no decorrer da implantaccedilatildeo do

memorial

5 Como vocecirc vecirc o futuro do Memorial

4-ROTEIRO PARA ENTREVISTA DE REPRESENTANTE DA COMUNIDADE

POLONESA EM CURITIBA

1 Qual seu nome

2 Em que momento soube da implantaccedilatildeo do Memorial

3 Como foi sua participaccedilatildeo no processo de implantaccedilatildeo do Memorial

140

4 Qual a importacircncia deste projeto para a comunidade de descendecircncia

polonesa

5 Vocecirc poderia citar os principais parceiros desse projeto(prefeituras

instituiccedilotildees comunidade)

6 Como vocecirc percebe a imagem do polonecircs no Memorial

7 Como vocecirc se descreve como polonecircs(a)

8 Quais as principais expressotildees eacutetnicas culturais dos poloneses da regiatildeo

de Curitiba

9 Gostaria de acrescentar mais alguma informaccedilatildeo

141

ANEXOS

142

ANEXO A - Parecer Consubstanciado do CEP

143

ANEXO B - Carta do Prefeito de Curitiba Jaime Lerner aos proprietaacuterios de imoacuteveis identificados como Unidade de Interesse de Preservaccedilatildeo - UIP

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