UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE UNIVILLE MESTRADO …
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UNIVERSIDADE DA REGIAtildeO DE JOINVILLE ndash UNIVILLE MESTRADO EM EDUCACcedilAtildeO
A EQUIPE DIRETIVA ESCOLAR E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO INTERLOCUCcedilOtildeES POSSIacuteVEIS
NEUSA DENISE MARQUES DE OLIVEIRA
ORIENTADORA PROFESSORA DOUTORA ALICIENE FUSCA MACHADO
CORDEIRO
JOINVILLE - SC
2017
NEUSA DENISE MARQUES DE OLIVEIRA
A EQUIPE DIRETIVA ESCOLAR E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO INTERLOCUCcedilOtildeES POSSIacuteVEIS
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash Univille ndash como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Educaccedilatildeo sob a orientaccedilatildeo da Professora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro
JOINVILLE - SC
2017
Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo pela Biblioteca Universitaacuteria da Univille
Oliveira Neusa Denise Marques de
O48e A equipe diretiva escolar e o atendimento educacional especializado interlocuccedilotildees possiacuteveis Neusa Denise Marques de Oliveira orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro ndash Joinville UNIVILLE 2017
187 f il 30 cm
Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo ndash Universidade da Regiatildeo de Joinville) 1 Educaccedilatildeo especial 2 Escolas ndash Organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo 3
Administradores escolares 4 Professores - Formaccedilatildeo 5 Educaccedilatildeo inclusiva I Cordeiro Aliciene Fusca Machado (orient) II Tiacutetulo
CDD 3719
DEDICATOacuteRIA
Dedico esta dissertaccedilatildeo a Rafael Cesar Marques (in
memoriam) meu irmatildeo querido e amado que sempre me
apoiou e acreditou em mim Gratidatildeo e Saudades
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeccedilo a Deus pela graccedila de ter vivido intensamente esta
experiecircncia com seriedade e compromisso
Agrave minha orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro pela paciecircncia e
dedicaccedilatildeo
Agraves professoras Dra Andrea Soares Wuo e Dra Sonia Maria Ribeiro por
aceitarem participar da minha banca
Aos professores do Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Univille que
partilharam seus conhecimentos e possibilitaram que eu pudesse ampliar os meus
Aos meus colegas do mestrado em especial agraves minhas amigas Ana Paula e
Lediane que estiveram ao meu lado durante o curso cuja convivecircncia tornou-se
para mim uma oportunidade de crescimento de relaccedilatildeo saudaacutevel com as diferenccedilas
por oferecerem sua amizade e incentivo
Ao meu irmatildeo acadecircmico Cleberson de Lima Mendes pelo companheirismo
na realizaccedilatildeo dos trabalhos e por sua amizade
Agraves coordenadoras da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute por
consentirem a viabilizaccedilatildeo deste estudo
A todas as equipes diretivas que prontamente aceitaram participar desta
pesquisa
Aos meus colegas de trabalho que assumiram minhas funccedilotildees para que eu
pudesse me afastar integralmente para me dedicar agrave escrita desta dissertaccedilatildeo
Agrave minha matildee amada que carinhosamente cuidou de mim durante o primeiro
ano do mestrado periacuteodo difiacutecil que foi superado com muito apoio e amor
Ao meu filho Viniacutecius Luiacutes de Oliveira razatildeo da minha vida que me ensina
todos os dias a ser curiosa questionadora criativa Agradeccedilo pela paciecircncia em me
deixar estudar e por me entender mesmo tatildeo pequeno
Ao meu amado esposo Jackson de Oliveira companheiro de todas as horas
um ser humano incriacutevel que me ajudou muito e que amo cada dia mais
Agrave minha sogra Sonia Buss de Oliveira e ao meu sogro Luiacutes de Oliveira
pessoas imprescindiacuteveis nessa minha caminhada por me apoiarem e por vezes
terem cuidado de meu filho com muito carinho e apreccedilo
Aos meus queridos irmatildeos e sobrinhos pela compreensatildeo de minhas
ausecircncias nas reuniotildees de famiacutelia e pela paciecircncia que tiveram comigo no decorrer
desta jornada
Agrave minha amiga Juliana Testoni dos Santos primeira pessoa que me acolheu
quando entrei no mestrado e que com o tempo se tornou uma grande amiga Uma
pessoa incriacutevel inteligente e sensiacutevel que me ensinou a acreditar mais em mim
Agraves minhas amigas Cleide Aparecida Hoffmann Bernardes e Andreacuteia
Heiderscheidt Fuck pelo companheirismo paciecircncia e por estarem sempre dispostas
a ajudar
Agrave CAPES pelo apoio financeiro que propiciou melhores condiccedilotildees de dedicaccedilatildeo a esta pesquisa A todos que de alguma forma contribuiacuteram para que esse trabalho chegasse
agrave etapa final
RESUMO Este estudo estaacute vinculado agrave linha de pesquisa ―Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do
Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash UNIVILLE e tem
como objetivo central investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares
sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e suas formas de viabilizaacute-lo
O procedimento metodoloacutegico adotado pautou-se na abordagem qualitativa (GATTI
e ANDREacute 2013) que tem como fundamento alguns pressupostos da base
epistecircmico-metodoloacutegica do materialismo histoacuterico e dialeacutetico Como instrumento de
coleta de dados utilizou-se um questionaacuterio contendo perguntas abertas e fechadas
Participaram desta pesquisa 7 diretores 8 supervisores e 7 orientadores
educacionais totalizando 7 equipes diretivas de escolas do ensino fundamental da
Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute - Santa Catarina totalizando 22
questionaacuterios respondidos A anaacutelise de conteuacutedo (BARDIN 1977 FRANCO 2012)
foi o meacutetodo escolhido para analisar os dados A fundamentaccedilatildeo teoacuterica utilizada no
trabalho foi composta por vaacuterios autores com destaque para Vasconcellos (2013)
Paro (1987 2001 2003 2010 2012 2016) Libacircneo (2007 2015 2016) Meletti e
Bueno (2011) Os resultados desta pesquisa sinalizaram que na Rede estudada a
maioria dos profissionais da equipe diretiva parece compreender o AEE como um
serviccedilo que se restringe ao estudante com deficiecircncia ou agrave sala de recursos
multifuncionais e ao professor especializado Isso pode indicar uma compreensatildeo
descontextualizada e desarticulada do serviccedilo no acircmbito escolar Em siacutentese o AEE
parece ser entendido pelas equipes diretivas pesquisadas como sendo um serviccedilo
individualizado setorizado e com pouca interaccedilatildeo entre os profissionais As anaacutelises
dos dados apontaram a necessidade de formaccedilatildeo consistente para os profissionais
das equipes diretivas e demais profissionais da educaccedilatildeo que comtemple um
aprofundamento teoacuterico sobre a aacuterea da Educaccedilatildeo e da Educaccedilatildeo Especial No que
concerne agrave viabilizaccedilatildeo do AEE observou-se nos dizeres da maioria das equipes
diretivas indiacutecios de compreensotildees que demonstram falta de clareza quanto aos
seus papeacuteis em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo do serviccedilo de AEE assim
como apontam lacunas existentes quanto agrave acessibilidade arquitetocircnica recursos
pedagoacutegicos e humanos especiacuteficos que satildeo considerados dispositivos necessaacuterios
e que compotildeem a estrutura do AEE Suas falas revelam ainda as necessidades de
reorganizaccedilatildeo dos espaccedilos escolares em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo do serviccedilo as quais
compotildeem os desafios das equipes diretivas frente ao AEE em suas concepccedilotildees
Palavras-Chave Gestatildeo escolar Equipe diretiva escolar Atendimento Educacional
Especializado Formaccedilatildeo Docente
ABSTRACT
This study is linked to the research line Teacherlsquos Work and Formation of the
Master of Education of the University of the Region of Joinville - UNIVILLE and its
main objective is to investigate the understandings of the school management teams
on Specialized Educational Services (SES) and its forms to apply it The
methodological procedure adopted was based on the qualitative approach (GATTI
and ANDREacute 2013) that is based on some assumptions of the epistemic-
methodological basis of historical and dialectical materialism A questionnaire
containing opened and closed questions was used as data collection instrument
Seven of the directors eight supervisors and seven educational supervisors
participated in this study making a total of 7 management teams from elementary
schools of the Municipal Education Network of Camboriuacute - Santa Catarina So 22
questionnaires were answered Content analysis (BARDIN 1977 FRANCO 2012)
was the method chosen to analyze the data The theoretical basis used in the study
was composed by authors such as Vasconcellos (2013) Paro (1987 2001 2003
2010 2012 2016) Libacircneo (2007 2015) Meletti and Bueno (2011) among others
The results of this research indicate that in the context studied most of the
professionals of the management teams seem to understand SES as a service that is
restricted or to the student with a disability or to the multifunction resource classroom
and to the specialized teacher This may indicate a decontextualized and disjointed
understanding of school service In summary the SES seems to be understood by
teams surveyed for this research as being a service individualized sectorized and
with little interaction among professionals The analysis of the data pointed to the
need for consistent training for the professionals of the management teams and other
professionals of education that contemplates a theoretical deepening in the area of
Education and Special Education With regard to the realization of the SES the
majority of the management teams stated that they lacked clarity regarding their roles
in relation to the implementation of the SES as well as pointing out existing gaps in
accessibility specific pedagogical resources and human resources which are
considered necessary devices and which are part of the SES structure Their
speeches also reveal the need for reorganization of school spaces in relation to the
realization of the service which are some of the challenges of the management
teams facing the SES in their conceptions
Keywords School management School management team Specialized
Educational Services
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AEE Atendimento Educacional Especializado
AHSD Altas Habilidades e Superdotaccedilatildeo
ANPEd Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo
BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaccedilotildees
CAPES Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior
CEB Cacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica
CEI Centro de Educaccedilatildeo Infantil
CF Constituiccedilatildeo Federal
CHS Conselho de Direitos Humanos
CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente
CNE Conselho Nacional de Educaccedilatildeo
CNS Conselho Nacional de Sauacutede
ED Equipe Diretiva
EDd Equipe Diretiva ndash diretor(a)
EDo Equipe Diretiva ndash orientador(a)
EDs Equipe Diretiva ndash supervisor(a)
EDUCASUL Congresso de Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul
EE Educaccedilatildeo Especial
EF Ensino Fundamental
EJA Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos
GETRAFOR Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e a Formaccedilatildeo Docente
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IFC Instituto Federal Catarinense
IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira
INTAE Interfaces entre Atendimento Educacional Especializado trabalho
docente formaccedilatildeo de professores e poliacuteticas puacuteblicas (INTAE)
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
MEC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
NAPNE Nuacutecleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiacuteficas
OCDE Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico
PETI Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil
PNEE-EI Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva
PNE Plano Nacional de Educaccedilatildeo
SCIELO Scientific Eletronic Library Online
SC Santa Catarina
SECADI Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo
SIMEC Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle
SME Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
SEM Salas de Recursos Multifuncionais
TALIS Teaching and Learning International Survey
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TDAH Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo e Hiperatividade
TGD Transtornos Globais do Desenvolvimento
UNESCO Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
UNIVILLE Universidade da Regiatildeo de Joinville
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Graacutefico 1 ndash Faixa etaacuteria dos participantes da pesquisa 58
Graacutefico 2 ndash Tempo de atuaccedilatildeo das equipes diretivas por funccedilatildeo 59
Graacutefico 3 ndash Experiecircncias dos profissionais das equipes diretivas enquanto docentes
de estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 63
Graacutefico 4 ndash Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes das equipes diretivas em sala de
aula 65
Graacutefico 5 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Diretores 66
Graacutefico 6 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Supervisores 66
Graacutefico 7 - Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Orientadores 67
Graacutefico 8 ndash Tempo de serviccedilo dos integrantes das equipes diretivas na funccedilatildeo que
atualmente ocupam na escola 67
Graacutefico 9 - Sobre a acessibilidade arquitetocircnica nas escolas
pesquisadas112
Graacutefico 10 - Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves
Redes Estadual e Municipal de Ensino de
Camboriuacute119
Graacutefico 11 ndash Recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis nas escolas pesquisadas123
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Tabela 1 ndash Mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira sobre Gestatildeo
EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de
2011 a 2015 38
Tabela 2 ndash Trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe
Diretiva e o Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE 40
Tabela 3 ndash Objetivos dos trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo
EscolarEquipe Diretiva e o Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE 41
Quadro 1 ndash Categorias de anaacutelise e suas relaccedilotildees com os objetivos da pesquisa 52
Quadro 2 ndash Gecircnero dos integrantes da equipe diretiva escolar por funccedilatildeo 55
Quadro 3 ndash Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes da equipe diretiva em sala de
aula61
Quadro 4 ndash Fases do ciclo de vida profissional segundo Huberman 62
Quadro 5 ndash Formaccedilatildeo das equipes diretivas com temas relacionados ao AEE71
Quadro 6 - Situando do Atendimento Educacional Especializado nas Escolas a partir
das falas das Equipes Diretivas73
Quadro 7 Puacuteblico-alvo do AEE nos dizeres das equipes diretivas escolares
pesquisadas78
Quadro 8 - Recorrecircncias sobre o puacuteblico-alvo da EE nos dizeres das equipes
diretivas escolares pesquisadas79
Quadro 9 - Distribuiccedilatildeo das matriacuteculas por categoria utilizada no Censo Escolar de
2015 (MECINEP 2015) no Brasil em Santa Catarina e no Municiacutepio de
Camboriuacute82
Quadro 10 - Condiccedilotildees de acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas113 Quadro 11 - Escolas pesquisadas a serem contempladas pelo Programa Escola
Acessiacutevel por meio do PDDE nos anos de 2012 e 2013119
Quadro 12 - Acessibilidade nas escolas municipais de ensino fundamental no Brasil SC e em Camboriuacute 121 Quadro 13 - O que se entende por ―recurso pedagoacutegico nos dizeres das equipes
diretivas que informaram possuiacute-los nas escolas em que atuam 123
Quadro 14 - Composiccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais ndash 20112012124
Quadro 15 - Accedilotildees que as equipes diretivas escolares consideram que sejam de
suas responsabilidades para viabilizar o AEE 130
Quadro 16 - Desafios encontrados pelas equipes diretivas escolares para viabilizar o
AEE 139
Quadro 17 - Matriz de referecircncia 180
SUMAacuteRIO
Agrave GUISA DE INTRODUCcedilAtildeO O ENTRELACcedilAMENTO DA PESQUISA COM A
PESQUISADORA 16
1 POSSIBILIDADES E DESAFIOS DE UMA GESTAtildeO ESCOLAR DEMOCRAacuteTICAndash
PARTICIPATIVA DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES NA VIABILIZACcedilAO DO
AEE 21
11 Organizaccedilatildeo e Gestatildeo Escolar tecendo reflexotildees21
12 As atribuiccedilotildees da Equipe Diretiva Escolar na Perspectiva da Gestatildeo
Democraacutetica-Participativa29
13 Equipe Diretiva na organizaccedilatildeo escolar frente ao AEE aproximaccedilotildees e
distanciamentos 34
14 A produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre Gestatildeo Escolar e Atendimento
Educacional Especializado um campo a explorar 38
2 PROCESSO DE CONSTITUICcedilAtildeO DA PESQUISA CAMINHOS TRACcedilADOS E
PERCORRIDOS 46
21 Os caminhos da pesquisa local participantes e instrumentos 47
22 Seguindo o itineraacuterio organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados 50
3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Agrave PARTIR DAS FALAS
DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE
CAMBORIUacute 54
31 Apresentaccedilatildeo das Equipes Diretivas Escolares 55
32 O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado 72
33 As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel das equipes
diretivas frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE 110
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 147
APEcircNDICES 173
APEcircNDICE A ndash Carta agrave equipe diretiva escolar 174
APEcircNDICE B ndash Instrumento de coleta de dados 175
APEcircNDICE C ndash Matriz de referecircncia 180
ANEXOS 182
ANEXO I ndash Autorizaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute 183
ANEXO II ndash Parecer de Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa 184
ANEXO III ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 187
16
Agrave GUISA DE INTRODUCcedilAtildeO O ENTRELACcedilAMENTO DA PESQUISA COM A PESQUISADORA
Revisitar o bauacute de minha histoacuteria de vida faz com que venham agrave tona vaacuterios
sentimentos de superaccedilatildeo e felicidade pois foram tantos aprendizados tantas
conquistas e diversas experiecircncias que ajudaram na minha constituiccedilatildeo enquanto
pessoa e profissional Assim escrever acerca de minha trajetoacuteria de vida passa a
ser uma forma de clarificar o entrelaccedilamento da pesquisa com a pesquisadora
levando assim agrave construccedilatildeo do objeto desta pesquisa
Aos dezessete anos no uacuteltimo ano do magisteacuterio passei em um concurso
puacuteblico para auxiliar de educadora em um Centro de Educaccedilatildeo Infantil (CEI) no
municiacutepio de Joinville O CEI ficava proacuteximo agrave minha casa o que facilitou minha
jornada de estaacutegio trabalho e estudo Iniciei trabalhando em uma turma de berccedilaacuterio
Pensei que natildeo daria conta pois a base teoacuterica do magisteacuterio foi restrita No
entanto comecei a pesquisar comprar livros e estudar muito para auxiliar no
planejamento das atividades
O trabalho com as crianccedilas era regado de brincadeiras muacutesicas pintura e
contaccedilatildeo de histoacuterias O educar e o cuidar comeccedilaram a fazer sentido para mim
sendo que a cada estudo e a cada descoberta o trabalho com as crianccedilas se tornava
mais prazeroso Apoacutes um ano trabalhando no berccedilaacuterio passei a atuar na turma de 3
a 5 anos idade com 35 crianccedilas que jaacute haviam passado por vaacuterios educadores
Nessa turma havia um aluno com deficiecircncia intelectual fato raro para a educaccedilatildeo
infantil na eacutepoca em que iniciei A experiecircncia de ensinaacute-lo e conviver com ele foi
muito significativa pois a partir dela pude vislumbrar as possibilidades e
potencialidades do trabalho colaborativo em especial nas interaccedilotildees entre os
alunos que respeitavam o tempo do colega incentivando-o a completar as
atividades escolares
Esse trabalho me proporcionou natildeo soacute uma vivecircncia na educaccedilatildeo infantil e
um crescimento pessoal e profissional mas tambeacutem propiciou condiccedilotildees
financeiras para cursar o ensino superior
Em 1996 iniciei o curso superior em Pedagogia que me proporcionou uma
base teoacuterica mais consistente Havia incentivo agrave participaccedilatildeo em eventos e a
preocupaccedilatildeo em articular a teoria e praacutetica No uacuteltimo ano da faculdade iniciei a
17
poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu em Psicopedagogia que possibilitou ampliar a minha
compreensatildeo sobre os processos de aprendizagem e estrateacutegias de trabalho
voltadas para a escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes
Em 1999 jaacute graduada e poacutes-graduada procurei novas experiecircncias de
trabalho e comecei a lecionar Filosofia em uma instituiccedilatildeo da Rede Privada de
Ensino para as turmas da preacute-escola e da quarta seacuterie no ensino fundamental
A partir de 2002 passei a trabalhar como educadora na Secretaria de
Assistecircncia Social onde integrei o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do
Adolescente - CMDCA e o Conselho de Direitos Humanos - DHS Nessa eacutepoca
trabalhei no Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil ndash PETI com adolescentes
em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social incluiacutedos na sociedade de forma perversa
Eles tinham em sua maioria entre 8 e 16 anos de idade Antes de integrarem o
programa eles trabalhavam como catadores de material reciclaacutevel apresentavam
dificuldades significativas de aprendizagem e viviam em regiotildees extremamente
pobres da cidade Passavam meio periacuteodo em escolas da Rede Puacuteblica de Ensino e
meio periacuteodo no programa PETI O planejamento das atividades para eles era
sempre um momento desafiador e os educadores se preocupavam em proporcionar
atividades mais atrativas e culturalmente enriquecedoras como visitas a Museus e
ao cinema aleacutem de planejar eventos como a Parada Cultural na qual os familiares e
a comunidade eram convidados a prestigiar as atividades criadas e apresentadas
por esses adolescentes
Essas satildeo algumas das experiecircncias que compotildeem a minha constituiccedilatildeo
como educadora marcada por uma busca constante pelo desenvolvimento de uma
praacutetica pedagoacutegica e docente responsaacutevel sensiacutevel flexiacutevel e comprometida Como
enfatizou Freire (1991 p 58) ―ningueacutem comeccedila a ser educador numa certa terccedila-
feira agraves quatro da tarde [] A gente se faz educador a gente se forma como
educador permanentemente na praacutetica e na reflexatildeo sobre a praacutetica
A partir de 2003 ateacute setembro de 2005 fui convidada pela secretaacuteria de
Assistecircncia Social para coordenar o programa Fundo do Milecircnio para a Primeira
Infacircncia um Programa em Parceria com a UNESCO Fundaccedilatildeo Mauriacutecio Sirotsky
Sobrinho e o Banco Mundial que tinha como finalidade a formaccedilatildeo de 45
educadores de cinco instituiccedilotildees filantroacutepicas de educaccedilatildeo infantil
Apesar dos desafios enfrentados na realizaccedilatildeo desse programa considero
que foi possiacutevel desenvolver um trabalho intenso de leitura e pesquisa com as 40
18
educadoras que dele participaram Dos projetos que elas elaboraram trecircs foram
aprovados para apresentaccedilatildeo no Congresso de Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul - Educasul
Em 2005 solicitei licenccedila natildeo remunerada de trecircs anos na Prefeitura
Municipal de Joinville a fim de coordenar o Programa de Jornal e Educaccedilatildeo em uma
empresa jornaliacutestica do mesmo municiacutepio
A empresa havia firmado uma parceria com a Secretaria de Educaccedilatildeo do
Estado de Santa Catarina a partir da Lei nordm 127732003 (SANTA CATARINA 2003
sp) que ―instituiu o Programa Leitura de Jornais e Revistas em Sala de Aula como
atividade multidisciplinar nos estabelecimentos puacuteblicos de ensino fundamental e
meacutedio no Estado de Santa Catarina
Por meio desse programa viajei por 36 cidades de Santa Catarina realizando
formaccedilatildeo sobre miacutedia e educaccedilatildeo para os professores da Rede Estadual de Ensino
bem como para alguns professores de escolas municipais uma vez que as
Secretarias de Educaccedilatildeo de alguns municiacutepios tambeacutem firmaram parceria Esse
trabalho me possibilitou conhecer o funcionamento de muitas escolas estaduais
municipais e uma aldeia indiacutegena em Xanxerecirc contribuindo para o desenvolvimento
de um olhar para a diversidade e a complexidade dos processos educacionais em
diferentes contextos
A experiecircncia que mais me aproximou contudo do que viria a ser meu objeto
de pesquisa no Mestrado em Educaccedilatildeo ocorreu em 2011 quando ingressei na
Rede Puacuteblica Federal de Ensino no Instituto Federal Catarinense na funccedilatildeo de
pedagogaorientadora educacional No mesmo ano no curso teacutecnico de ensino
meacutedio integrado iniciou uma estudante com deficiecircncia fiacutesica A estrutura do
cacircmpus poreacutem natildeo favorecia a mobilidade da aluna fazendo com que a equipe do
Nuacutecleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiacuteficas - NAPNE no qual
ingressei como representante passasse a discutir as adaptaccedilotildees arquitetocircnicas e
curriculares necessaacuterias para a promoccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo da aluna Saliento a
importacircncia do respaldo da direccedilatildeo do Instituto nesse periacuteodo na construccedilatildeo da
proposta de melhorias bem como na sua execuccedilatildeo O trabalho realizado de forma
colaborativa entre os profissionais envolvidos no Instituto bem como o
acompanhamento sistemaacutetico junto agrave aluna e sua famiacutelia foi essencial para o
desenvolvimento do seu processo de escolarizaccedilatildeo que se formou no ano de 2013
e atualmente estaacute cursando o ensino superior
19
Em 2015 os integrantes do NAPNE do qual faccedilo parte estavam na fase de
estudos para a implementaccedilatildeo do atendimento educacional especializado no IFC
sempre respaldados pela equipe diretiva Percebo que o envolvimento dessa equipe
foi crucial para viabilizar as propostas planejadas O referido cacircmpus do IFC foi o
uacutenico no estado a solicitar um coacutedigo de vaga para o concurso de professora com
habilitaccedilatildeo especiacutefica para atuar no AEE a qual foi nomeada no final de 2015 jaacute
iniciando a estruturaccedilatildeo do trabalho com a equipe
Como orientadora educacional percebo que a parceria junto agrave supervisatildeo e
demais profissionais faz toda a diferenccedila na promoccedilatildeo de uma educaccedilatildeo para todos
pois natildeo haacute como discutir o processo de escolarizaccedilatildeo dos alunos sem abordar as
estrateacutegias de ensino que favoreccedilam sua aprendizagem e desenvolvimento
Nessa busca intensa por conhecimentos ingressei no Programa de Mestrado
em Educaccedilatildeo da UNIVILLE na linha de pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente
Lembro-me que no primeiro encontro de orientaccedilatildeo conversando com minha
professora orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro conseguimos definir
o objeto do presente estudo a relaccedilatildeo entre a equipe diretiva e o Atendimento
Educacional Especializado
Este estudo se insere em um projeto de pesquisa mais amplo denominado
―Interfaces entre Atendimento Educational Especializado trabalho docente
formaccedilatildeo de professores e poliacuteticas puacuteblicas (INTAE) vinculado ao Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e a Formaccedilatildeo Docente (GETRAFOR) do
Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE
Considerando que o municiacutepio de Joinville foi o mais estudado ateacute o
momento pelo grupo de pesquisa em questatildeo e que o referido projeto tem por
objetivo investigar as interfaces supracitadas na regiatildeo Sul do Brasil optou-se por
escolher como loacutecus desta investigaccedilatildeo o municiacutepio de Camboriuacute
Tal escolha justifica-se em funccedilatildeo de que no processo de mapeamento das
produccedilotildees acadecircmicas dos uacuteltimos cinco anos sobre ―gestatildeo escolarequipe diretiva
e ―inclusatildeo escolareducaccedilatildeo especialAEE1 ter-se identificado que o referido
municiacutepio natildeo havia sido contemplado por nenhum dos estudos ateacute entatildeo
realizados
1 Este mapeamento das produccedilotildees acadecircmicas foi realizado nas bases de dados da ANPEd CAPES
SciELO e BDTD abrangendo o periacuteodo de 2011 a 2015 Pode-se conferir o detalhamento do referido levantamento no Capiacutetulo 1 desta dissertaccedilatildeo
20
A partir do exposto iniciou-se a construccedilatildeo do objetivo geral da pesquisa que
eacute investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento
Educacional Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo Os objetivos especiacuteficos
delineados a partir do objetivo geral foram constituiacutedos da seguinte forma
Revelar a compreensatildeo das equipes diretivas acerca do serviccedilo de AEE e do
puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial
Identificar o que as equipes diretivas escolares conhecem sobre o trabalho do
professor do AEE
Evidenciar os procedimentos que tecircm sido adotados pelas equipes diretivas
escolares na viabilizaccedilatildeo do atendimento educacional especializado
Para cada objetivo especiacutefico foi elaborada uma questatildeo de pesquisa que se
buscou responder no decorrer deste estudo 1) O que pensam as equipes diretivas
escolares sobre o serviccedilo do AEE e sobre o puacuteblico alvo da EE 2) Qual a
compreensatildeo que as equipes diretivas escolares tecircm sobre o trabalho do professor
de AEE 3) Quais satildeo os procedimentos que tecircm sido adotados pelas equipes
diretivas escolares para viabilizar o atendimento educacional especializado
Ressalto que a forma de compreender e viabilizar as poliacuteticas educacionais
expressa a concepccedilatildeo de gestatildeo escolar assumida pela equipe diretiva concepccedilatildeo
essa que permearaacute as accedilotildees realizadas na instituiccedilatildeo refletindo na conduccedilatildeo da
elaboraccedilatildeo no projeto pedagoacutegico nas accedilotildees e interaccedilatildeo com os estudantes
professores e comunidade escolar
Nesse sentido o presente estudo tem o intuito de contribuir com possiacuteveis
avanccedilos nas discussotildees acerca do papel da equipe diretiva no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial focalizando a
Rede Puacuteblica Municipal de Ensino de Camboriuacute
21
1 POSSIBILIDADES E DESAFIOS DE UMA GESTAtildeO ESCOLAR DEMOCRAacuteTICAndashPARTICIPATIVA DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES NA VIABILIZACcedilAO DO AEE
Neste capiacutetulo apresentam-se algumas reflexotildees sobre a funccedilatildeo da escola a
organizaccedilatildeo e a gestatildeo escolar contextualizando as atribuiccedilotildees dos profissionais
que compotildeem a equipe diretiva escolar a partir da perspectiva de uma gestatildeo
democraacutetica-participativa Na sequecircncia aborda-se o Atendimento Educacional
Especializado um serviccedilo direcionado ao puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial2
procurando compreender as relaccedilotildees entre uma gestatildeo democraacutetica-participativa da
equipe diretiva e o processo de desenvolvimento desse serviccedilo especializado no
contexto escolar a partir de um balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira concernente
a essa temaacutetica nos uacuteltimos cinco anos (2011-2015) Esclarece-se que existem
outras formas de gestatildeo escolar contudo neste estudo optou-se em discutir a
gestatildeo democraacutetica-participativa por ser a forma de gestatildeo evidenciada nos
documentos oficiais nacionais inspirados em acordosdocumentos internacionais
relacionados agrave Educaccedilatildeo Especial procurando tensionar suas possibilidades e
impossibilidades no acircmbito escolar
11 Organizaccedilatildeo e Gestatildeo Escolar tecendo reflexotildees
Abordar noccedilotildees de organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar implica uma tarefa anterior
que diz respeito agrave discussatildeo da funccedilatildeo da escola no cenaacuterio atual Neste estudo
entende-se que a instituiccedilatildeo escolar eacute constituiacuteda socialmente e dessa forma ―[] eacute
determinada socialmente [] sofre a determinaccedilatildeo do conflito de interesses que
caracteriza a sociedade (SAVIANI 2009 p 28) Nesse sentido a escola eacute ao
mesmo tempo produto e produtora da sociedade em que estaacute inserida e pode tanto
contribuir para a manutenccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo social quanto para transformaacute-la
A funccedilatildeo da escola como ressaltou Paro (2012) eacute a de assegurar aos
estudantes a sistematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do conhecimento da cultura produzido
historicamente tendo em vista que eacute por meio desse conhecimento que poderatildeo se
2 Satildeo compreendidos como puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial pessoas com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo (BRASIL 2008)
22
apoderar ―[] da ciecircncia da tecnologia da filosofia da arte enfim de todas as
conquistas culturais realizadas pela humanidade em seu desenvolvimento histoacuterico
(PARO 2012 p 135)
Convergindo com a discussatildeo Saviani (2008 p 13) afirmou que ―para existir
a escola natildeo basta a existecircncia do saber sistematizado Eacute necessaacuterio viabilizar as
condiccedilotildees de sua transmissatildeo e assimilaccedilatildeo de modo que o estudante se aproprie
desse saber de forma contextualizada propiciando conexotildees com outros saberes jaacute
apreendidos convergindo para o desenvolvimento humano dos estudantes e sua
inserccedilatildeo criacutetica e criativa na sociedade
Nessa perspectiva segundo Dourado (2007 p 923) ―a educaccedilatildeo eacute entendida
como processo amplo de apropriaccedilatildeo da cultura historicamente produzida pelo
homem e a escola como loacutecus privilegiado de apropriaccedilatildeo e ressignificaccedilatildeo desses
conhecimentos Eacute nesse loacutecus que se encontra ao se considerar a maioria3 das
escolas puacuteblicas de ensino fundamental a atuaccedilatildeo da equipe diretiva que segundo
Vasconcellos (2013 p 51) eacute ―composta pelo Diretor(a) Supervisor(a)Coordenador
Pedagoacutegico e Orientador(a) Educacional profissionais que desempenham um papel
de referecircncia na escola e podem contribuir de modo significativo no processo de
escolarizaccedilatildeo dos alunos ao atuarem de forma articulada como uma equipe no
acircmbito escolar
Sobre a gestatildeo escolar Libacircneo (2015) apresentou uma contribuiccedilatildeo no que
tange agrave conceituaccedilatildeo das expressotildees organizar administrar e gerir ajudando a
pensar o sentido do termo ―gestatildeo escolar O autor expocircs que ldquoorganizar significa
―[] articular as partes de um todo prover as condiccedilotildees necessaacuterias para realizar
uma accedilatildeo administrar eacute o ato de governar de por em praacutetica um conjunto de regras
e gerir significa administrar dirigir gerenciar (LIBAcircNEO 2015 p 85 grifos nossos)
A partir dessa forma de compreender os conceitos pode-se dizer que a
organizaccedilatildeo a administraccedilatildeo e a gestatildeo escolar referem-se aos princiacutepios e
procedimentos relacionados agrave atividade de planejar o trabalho da escola utilizando
de forma responsaacutevel os recursos materiais financeiros e intelectuais disponiacuteveis
3 Optou-se por utilizar a expressatildeo ―a maioria por entender que existem especificidades entre as
esferas governamentais no que tange agrave nomenclatura eou agraves funccedilotildees relativas agrave gestatildeo escolar Por exemplo nas escolas Estaduais de Santa Catarina segundo a Lei Complementar nordm 491992 (SANTA CATARINA 1992) as funccedilotildees de supervisor e orientador satildeo denominadas como Especialista em Assuntos Educacionais e Consultor Educacional
23
bem como a gestatildeo orientaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo do trabalho junto aos profissionais e
estudantes que compotildeem o coletivo escolar
Salienta-se que as formas de organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar bem como as
atribuiccedilotildees da equipe diretiva foram se constituindo historicamente nas sociedades
Contudo esse processo de constituiccedilatildeo natildeo ocorreu e natildeo ocorre de forma linear
em cada momento histoacuterico econocircmico e poliacutetico de uma sociedade A atuaccedilatildeo da
equipe diretiva no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes pode ou natildeo sofrer
modificaccedilotildees ao longo do tempo mas sempre foi e ainda eacute subsidiada por
concepccedilotildees de educaccedilatildeo escolar Como exemplo podemos citar o autor Paro
(1987) que ilustra o papel do diretor no periacuteodo da poacutes-ditadura militar (1964-1985)
o qual ainda caracterizava seu trabalho de acordo com uma abordagem burocraacutetica
autoritaacuteria e conservadora que se tornara comum na vigecircncia desse regime de
governo Sobre essa forma de realizar a funccedilatildeo diretiva na escola o autor explana
[] o maior obstaacuteculo que vejo nos dias de hoje eacute precisamente a funccedilatildeo do diretor que o coloca autoridade uacuteltima no interior da escola Esta regra astutamente mantida pela classe dominante atraveacutes do Estado confere um caraacuteter autoritaacuterio ao diretor na medida que estabelece uma hierarquia na qual ele deve ser o chefe de quem emanam todas as ordens na instituiccedilatildeo escolar leva a dividir os diversos setores no interior da escola (PARO 1987 p 52)
De acordo com o autor supracitado a gestatildeo do diretor nesse periacuteodo
destacava-se nos espaccedilos escolares pelo centralismo autoritarismo pelo caraacuteter
burocraacutetico administrativo que se sobressaiacutea em detrimento ao pedagoacutegico Nesse
modelo instaurado conferia-se ecircnfase agrave distribuiccedilatildeo rigorosa das tarefas e nessa
loacutegica cada um preocupava-se com a realizaccedilatildeo de seu trabalho de forma
individual caracterizando uma gestatildeo pouco articulada e com accedilotildees fragmentadas
Diante do exposto compreende-se que a gestatildeo escolar eacute um fenocircmeno
complexo que estaacute associado a concepccedilotildees especiacuteficas acerca do que eacute gestatildeo e
do que eacute escola que por sua vez estatildeo imbricadas a um contexto mais amplo que
envolve aspectos econocircmicos poliacuteticos e culturais de uma sociedade Para entender
as diferentes concepccedilotildees que se evidenciam no estudo da organizaccedilatildeo e gestatildeo
escolar recorre-se agrave Libacircneo (2015) que sinaliza a existecircncia de duas concepccedilotildees
bem diferentes em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola a primeira que eacute uma concepccedilatildeo
cientiacutefico-racional na qual ―[] prevalece a visatildeo mais burocraacutetica e tecnicista de
escola A escola eacute tomada como uma realidade objetiva e neutra podendo ser
24
planejada organizada controlada de modo a alcanccedilar oacutetimos resultados nos
iacutendices de eficaacutecia e eficiecircncia (LIBAcircNEO 2015 p 102 grifo nosso) A segunda
concepccedilatildeo seria a ―sociocriacutetica na qual a organizaccedilatildeo escolar eacute ―[] como um
sistema que agrega pessoas destacando-se o caraacuteter intencional de suas accedilotildees a
importacircncia das interaccedilotildees sociais no seio do grupo e as relaccedilotildees da escola com o
contexto sociocultural e poliacutetico (LIBAcircNEO 2015 p 102)
Compreende-se assim que a escola natildeo eacute um espaccedilo neutro e sim um
ambiente constituiacutedo e constitutivo de relaccedilotildees sociais imediatas e mediatas o que
pressupotildee que a tomada de decisotildees seja discutida coletivamente propiciando aos
profissionais da escola a participaccedilatildeo na discussatildeo das poliacuteticas educacionais das
dificuldades no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes entre outros desafios do
cotidiano escolar
A gestatildeo escolar aleacutem de ser discutida por autores como Paro (1987) e
Libacircneo (2015) tambeacutem eacute discursada nos documentos oficiais da educaccedilatildeo
brasileira Nesse aspecto questiona-se como os gestores dos sistemas de ensino4
interpretam compreendem e subjetivam a gestatildeo escolar expressa nas poliacuteticas
educacionais e por conseguinte como esses entendimentos satildeo disponibilizados e
posteriormente subjetivados pelas equipes diretivas escolares
Considerando a complexidade de que abarca a gestatildeo escolar optou-se por
tomar os documentos oficiais como um ponto de partida para evidenciar possiacuteveis
convergecircncias eou divergecircncias entre os discursos sobre gestatildeo e o que se
vivencia no contexto escolar
Nessa direccedilatildeo nota-se que as poliacuteticas oriundas de organismos
internacionais5 delinearam e permearam a constituiccedilatildeo das poliacuteticas educacionais no
Brasil e a partir da deacutecada de 90 jaacute era possiacutevel identificar fortes impactos de
4 Segundo Saviani (2010 380-381) o Brasil ainda natildeo dispotildee de um sistema de ensino mas sim de
vaacuterios sistemas de ensino ―Daiacute expressotildees como sistema de ensino fundamentallsquo sistema de ensino meacutediolsquo sistema de ensino profissionallsquo sistema de educaccedilatildeo baacutesicalsquo sistema de ensino superiorlsquo sistema escolarlsquo sistema estadual de ensinolsquo sistema municipal de ensinolsquo sistema federal de ensinolsquo sistema de ensino comercial (industrial agriacutecola)lsquo etc como se fossem coisas diferentes quando na verdade satildeo apenas partes do mesmo sistema Para o ator um sistema pode ser definido como a unidade de vaacuterios elementos intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto coerente e operante conclui-se que o Sistema Nacional de Educaccedilatildeo eacute a unidade dos vaacuterios aspectos ou serviccedilos educacionais mobilizados por determinado paiacutes intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto coerente que opera eficazmente no processo de educaccedilatildeo da populaccedilatildeo do referido paiacutes 5Segundo Frigotto e Ciavatta (2003 p 96) ―os organismos internacionais como o Fundo Monetaacuterio
Internacional (FMI) Banco Mundial (BIRD) o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) passam a ter o papel de tutoriar as reformas dos Estados nacionais mormente dos paiacuteses do capitalismo perifeacuterico e semiperifeacuterico
25
diretrizes educacionais internacionais nos sistemas de ensino e nas instituiccedilotildees
escolares brasileiras abrangendo mudanccedilas nos curriacuteculos nas responsabilidades
dos professores da gestatildeo escolar e as formas de participaccedilatildeo da famiacutelia A gestatildeo
democraacutetica enfatizada em referenciais internacionais como a Conferecircncia Mundial
sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) foi uma das premissas que comeccedilou a
figurar progressivamente em algumas poliacuteticas brasileiras
Eacute possiacutevel identificar que os documentos legais de acircmbito nacional tecircm
salientado a ―gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas Tem-se por exemplo a
Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seu art 206 preconiza que o ensino deve ser
ministrado com base no princiacutepio de gestatildeo democraacutetica A Lei de Diretrizes e Bases
da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) por sua vez prevecirc em seu art 14 que ―os
sistemas de ensino definiratildeo as normas da gestatildeo democraacutetica conforme os
princiacutepios de participaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo do Projeto
Pedagoacutegico e da comunidade escolar e local em Conselhos Escolares O Plano
Nacional de Educaccedilatildeo - PNE sancionado pela Lei no 13005 de 25 de junho de
2014 em seu art 2 inciso VI tambeacutem evidencia a ―promoccedilatildeo do princiacutepio da gestatildeo
democraacutetica na educaccedilatildeo puacuteblica de assegurar condiccedilotildees no prazo de dois anos
para a efetivaccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da educaccedilatildeo associada a criteacuterios teacutecnicos
de meacuterito e desempenho e agrave consulta puacuteblica (BRASIL 2014)
Uma vez que eacute conferida essa ecircnfase agrave gestatildeo democraacutetica nos documentos
oficiais conveacutem esclarecer o que se entende a esse respeito A Lei de Diretrizes e
Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) por exemplo associa uma gestatildeo
democraacutetica agrave participaccedilatildeo dos profissionais da escola e de modo mais abrangente
da comunidade escolar e local nesse processo No entanto seria a gestatildeo
democraacutetica sinocircnimo de uma gestatildeo participativa Entende-se que a participaccedilatildeo
de todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo eacute um dos elementos de uma
gestatildeo escolar democraacutetica mas que essa vai aleacutem da participaccedilatildeo Neste estudo
compreende-se a gestatildeo democraacutetica como um movimento de descentralizaccedilatildeo do
poder que supotildee a participaccedilatildeo de todos no planejamento das accedilotildees discussatildeo e
tomadas de decisotildees no acircmbito da escola
Destaca-se que uma gestatildeo democraacutetica-participativa6 oportuniza uma accedilatildeo
articulada e integrada entre diretor supervisor e orientador supotildee que os trecircs teratildeo
6 Optou-se por utilizar a expressatildeo democraacutetica-participativalsquo com hiacutefen inspirada em Libacircneo
(2015) por entender que democracia e participaccedilatildeo satildeo processos interdependentes natildeo eacute possiacutevel
26
autonomia de atuaccedilatildeo no acircmbito da escola o supervisor propondo formaccedilatildeo aos
professores em articulaccedilatildeo com o orientador e apoio do diretor o orientador
acompanhando o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes discutindo com o
supervisor planejando estrateacutegias e abrindo a discussatildeo juntamente aos
professores e junto agraves famiacutelias com o apoio do diretor em prol do processo de
escolarizaccedilatildeo Nessa perspectiva enfatiza-se que a ―distribuiccedilatildeo do poder entre os
vaacuterios setores da escola o diretor natildeo estaraacute perdendo poder [] mas estaraacute
dividindo responsabilidade E ao acontecer isso quem ganha poder eacute a escola
(PARO 1987 p 52)
Nessa perspectiva Libacircneo (2007) esclarece que a gestatildeo democraacutetica
discursada nos documentos oficiais no entanto eacute concebida e interpretada de
formas diferentes pela sociedade civil e pela inciativa governamental Enquanto por
um lado a sociedade civil a concebe como uma conquista que pode possibilitar
maior participaccedilatildeo da comunidade escolar nos processos decisoacuterios da escola por
outro lado para a iniciativa governamental representa uma forma de diminuiccedilatildeo do
papel do Estado para prover mas ampliado para regular e gerenciar A participaccedilatildeo
nessa perspectiva eacute entendida como uma forma consensual para a implementaccedilatildeo
dos ditames do Estado Tal pressuposto por sua vez tem seu fundamento nas
reformas consolidadas no governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-1998
1998-2002) nos anos de 1990 com a aprovaccedilatildeo do Plano Diretor da Reforma do
Aparelho do Estado em 19957 o qual estabeleceu como princiacutepios as accedilotildees como
descentralizaccedilatildeo autonomia das escolas racionalizaccedilatildeo dos recursos financeiros e
participaccedilatildeo da comunidade escolar
Em meio a esses tensionamentos Michels (2006 p408) ressalta que
[] eacute no embate entre a proposiccedilatildeo poliacutetica e o cotidiano da escola que esta vai constituindo-se e organizando-se Eacute justamente nessa relaccedilatildeo que se faz importante refletir sobre a poliacutetica educacional em curso e o papel atribuiacutedo agrave educaccedilatildeo e agrave escola no Brasil []
Nessa perspectiva pode-se evidenciar que o modo de gestatildeo proposto nessa
reforma representa uma agenda de governo em que o Estado transfere parte de
falar de um sem falar de outro No entanto ainda que imbricados satildeo processos que se diferenciam a participaccedilatildeo estaacute contida na democracia mas para haver uma gestatildeo democraacutetica eacute preciso mais do que a participaccedilatildeo de todos Como afirmou Libacircneo (2015) eacute preciso assegurar a aprendizagem de todos os alunos 7 Plano diretor da reforma do aparelho do Estado BRASIL Ministeacuterio de Administraccedilatildeo Federal e da Reforma do
Estado Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado Brasiacutelia 1995
27
suas responsabilidades para os sistemas de ensino e esses por conseguinte para
as escolas mas ao mesmo tempo intensifica sua forccedila reguladora junto a eles
Entretanto mesmo possuindo uma autonomia relativa8 em relaccedilatildeo agrave
organizaccedilatildeo e funcionamento das escolas as equipes diretivas podem vislumbrar
nesse contexto de reforma o desenvolvimento de uma gestatildeo participativa como um
modo de envolver o coletivo escolar nas discussotildees dos processos decisoacuterios da
escola de forma criacutetica e criativa como uma alternativa para unir forccedilas no interior
da escola e reivindicar junto ao Estado as condiccedilotildees necessaacuterias para assegurar
aos estudantes seu direito de aprender
Contudo reforccedila-se que uma gestatildeo participativa por si soacute natildeo resolve todos
os problemas da escola Ainda que seja imprescindiacutevel para uma gestatildeo
democraacutetica a participaccedilatildeo ―por si soacute natildeo eacute suficiente para a democratizaccedilatildeo da
escola pois natildeo haacute democratizaccedilatildeo verdadeira sem que seja assegurado aos
alunos o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais por meio da
apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos produzidos e acumulados historicamente (LIBAcircNEO
2015 p 24)
Identifica-se na concepccedilatildeo de Libacircneo (2015) uma ecircnfase agrave finalidade da
escola Nesse sentido destaca-se a importacircncia da equipe diretiva em organizar
suas accedilotildees tambeacutem para proporcionar momentos de discussatildeo das poliacuteticas
educacionais do processo ensino-aprendizagem e a partir daiacute traccedilar as estrateacutegias
necessaacuterias para que a escola consiga desempenhar seu papel central no processo
de escolarizaccedilatildeo de seus estudantes que eacute a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos
produzidos historicamente da cultura da ciecircncia e da tecnologia
Um exemplo de como a organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar podem proporcionar
esses momentos e se constituir como um processo participativo e democraacutetico eacute a
8 Autonomia Relativa no caso do sistema puacuteblico de ensino [] eacute sempre relativa e eacute condicionada
quer pelos poderes de tutela e de superintendecircncia do governo e da administraccedilatildeo puacuteblica quer eventualmente pelo poder local no quadro de um processo de descentralizaccedilatildeo [] (BARROSO 1996 p 20) Ainda de acordo com o autor ―a autonomia eacute um conceito relacional (sempre somos autocircnomos de algueacutem ou de alguma coisa) pelo que a sua accedilatildeo exerce sempre num contexto de interdependecircncias e num sistema de relaccedilotildees A autonomia eacute tambeacutem um conceito que exprime sempre um certo grau de relatividade somos mais ou menos autocircnomos podemos ser autocircnomos em relaccedilatildeo a umas coisas e natildeo o ser em relaccedilatildeo a outras A autonomia eacute por isso uma maneira de agir orientar as diversas dependecircncias em que os indiviacuteduos e os grupos se encontram no seu meio com suas proacuteprias leis (BARROSO 1996 p 17)
28
construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico da escola Libacircneo (2015) destacou que
essa construccedilatildeo envolve a contemplaccedilatildeo de alguns itens a saber
a) Organizaccedilatildeo da vida escolar Trata-se da organizaccedilatildeo dos meios de trabalho escolar em funccedilatildeo de sua especificidade e dos objetivos educacionais propiciando as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem dos alunos [] dizem respeito a estrutura organizacional legislaccedilatildeo escolar organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico recursos materiais didaacuteticos financeiros clima de trabalho sistema participativo de tomadas de decisatildeo [] b) Organizaccedilatildeo do processo ensino aprendizagem [] suportes pedagoacutegicos necessaacuterios agrave organizaccedilatildeo do trabalho escolar Compreende o curriacuteculo a organizaccedilatildeo pedagoacutegico-didaacutetica formaccedilatildeo continuada conselhos de classe [] c) Organizaccedilatildeo das atividades de apoio teacutecnico ndash administrativo [] abrange as atividades da secretaria escolar dos especialistas pedagoacutegicos serviccedilos auxiliares serviccedilos gerais [] d) Organizaccedilatildeo de atividades que asseguram a relaccedilatildeo entre escola e comunidade [] niacuteveis superiores de gestatildeo do sistema escolar os pais as organizaccedilotildees poliacuteticas e comunitaacuterias (LIBAcircNEO 2015 p 170 grifos nossos)
Realccedila-se que esse processo de construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico eacute
perpassado por questotildees culturais sociais e poliacuteticas dos indiviacuteduos participantes
das poliacuteticas puacuteblicas e da realidade material de cada escola e nesse sentido se
configura por tensotildees e contradiccedilotildees Contudo ao promover espaccedilos para essa
construccedilatildeo de forma conjunta e dialoacutegica a escola pode se fortalecer como espaccedilo
democraacutetico envolvendo todos os profissionais e demais participantes que atuam
nesse espaccedilo para a realizaccedilatildeo dos objetivos escolares construiacutedos coletivamente
O projeto pedagoacutegico ao ser permanentemente revisitado acompanhado e
avaliado pode permitir que cada profissional reconheccedila suas responsabilidades
discuta questotildees pertinentes ao processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes e possa
construir proposiccedilotildees de forma coletiva para o enfrentamento das questotildees
deflagradas
Ainda assim mesmo que o projeto pedagoacutegico seja um importante
instrumento por meio do qual se possa efetivar uma gestatildeo democraacutetica-
participativa somente ele natildeo garante sua efetivaccedilatildeo Do mesmo modo ainda que
se preconize uma gestatildeo democraacutetica nos documentos oficiais isso isoladamente
natildeo assegura que a gestatildeo seja realizada de forma democraacutetica-participativa nas
escolas Isso porque como expocircs Michels (2004 p 44)
[] os sujeitos envolvidos [no processo de escolarizaccedilatildeo] natildeo tomam a poliacutetica como algo pronto e acabado Ao contraacuterio por mais que as
29
legislaccedilotildees e as normas instituiacutedas conformem praacuteticas estas seratildeo apreendidas por sujeitos que daratildeo vida a estes encaminhamentos poliacuteticos Os sujeitos envolvidos entendem as indicaccedilotildees poliacuteticas de maneira distinta conforme suas vivecircncias seus interesses sua organizaccedilatildeo profissional entre outros Cada instituiccedilatildeo educacional acaba por ―implementar as poliacuteticas agrave sua maneira
Nessa direccedilatildeo segundo Paro (2012 p 162) a gestatildeo escolar constitui-se
―[] como um instrumento que como tal pode articular-se tanto para a conservaccedilatildeo
do status quo quanto para a transformaccedilatildeo social e tal articulaccedilatildeo guarda profunda
relaccedilatildeo com o modo como cada gestatildeo compreende as poliacuteticas e diretrizes
educacionais A forma de gestatildeo e organizaccedilatildeo escolar nesse sentido constitui e eacute
constituiacuteda pelas posiccedilotildees poliacuteticas e concepccedilotildees de homem e sociedade funccedilatildeo da
escola estudante da equipe diretiva que por sua vez podem ser vinculadas ao
contexto histoacuterico econocircmico poliacutetico social e cultural em que a escola estaacute
inserida
Com base nessa perspectiva de gestatildeo escolar no proacuteximo toacutepico seratildeo
discutidas as atribuiccedilotildees da equipe formada pelo(a) Diretor(a)
Supervisor(a)Coordenador(a) e Orientador(a) Educacional aqui denominada de
equipe diretiva escolar a fim de elucidar seu papel diante desses princiacutepios
democraacutetico-participativos que considere o objetivo primeiro da escola que eacute a
apropriaccedilatildeo de forma criacutetica e criativa pelos estudantes dos conhecimentos
historicamente produzidos pela humanidade
12 As atribuiccedilotildees da Equipe Diretiva Escolar na Perspectiva da Gestatildeo
Democraacutetica-Participativa
Para iniciar as discussotildees sobre as atribuiccedilotildees das equipes diretivas e a
complexidade de cada membro que compotildee essas equipes de trabalho buscou-se
as anaacutelises das pesquisas empreendidas por Ligeiro (2007) e Bastos (2012) com
gestores escolares sobre a temaacutetica gestatildeo escolar da escola puacuteblica nas quais as
autoras evidenciaram que gestatildeo democraacutetica-participativa natildeo eacute um trabalho
simples ao contraacuterio eacute uma accedilatildeo permeada por tensotildees e contradiccedilotildees As autoras
observaram ainda que a participaccedilatildeo do coletivo escolar nas discussotildees acerca do
processo ensino-aprendizagem bem como na construccedilatildeo das diretrizes da escola
30
se constitui uma das vias possiacuteveis na construccedilatildeo da melhoria do processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes Como salientou Ligeiro (2007) com base nas
compreensotildees das diretoras
[] a gestatildeo democraacutetica aponta para uma mudanccedila na forma de administrar a instituiccedilatildeo escolar a partir do reconhecimento da participaccedilatildeo da comunidade nas decisotildees sobre as questotildees educativas Esse reconhecimento eacute necessaacuterio na medida em que passa a fazer parte da realidade escolar adquirindo um significado poliacutetico que eacute internalizado pelos sujeitos como um direito e natildeo como benevolecircncia da direccedilatildeo Essa mudanccedila de comportamento por parte da direccedilatildeo vem se processando a partir da escolha eletiva dos dirigentes pela comunidade em curso no municiacutepio de Belo Horizonte haacute mais de dez anos rompendo com a utilizaccedilatildeo do cargo de diretor para fins poliacuteticos [] verificou-se ainda avanccedilos na legitimaccedilatildeo de espaccedilo de participaccedilatildeo [] com a comunidade externa [] (LIGEIRO 2007 p169)
Por sua vez Paro (2016a) ao se debruccedilar em pesquisas sobre a temaacutetica
gestatildeo democraacutetica da escola puacuteblica evidenciou que este modo de gestatildeo eacute algo a
ser conquistado O autor reitera ainda que
[] natildeo haacute duacutevida de que podemos pensar na escola como instituiccedilatildeo que pode contribuir para a transformaccedilatildeo social Mas uma coisa eacute falar de suas possibilidades uma coisa eacute falar em teselsquo falar daquilo que a escola poderia ser Uma coisa eacute expressar a crenccedila de que na medida em que consiga na forma e no conteuacutedo levar as camadas trabalhadoras a se apropriarem de um saber historicamente acumulado e desenvolver a consciecircncia criacutetica a escola pode concorrer para a transformaccedilatildeo social outra coisa bem diferente eacute considerar que a escola que aiacute estaacute esteja cumprindo essa funccedilatildeo (PARO 2016a p 15)
Para tanto a tarefa inicial deve consistir ―em tomar consciecircncia das condiccedilotildees
concretas ou das contradiccedilotildees concretas que apontam para a viabilidade de um
projeto de democratizaccedilatildeo das relaccedilotildees no interior da escola (PARO 2016a p 13)
O autor relatou ainda que a implementaccedilatildeo de uma gestatildeo democraacutetica na escola
eacute processual e requer para sua concretizaccedilatildeo que um sistema hieraacuterquico de
autoridade9 posto agraves escolas seja repensado e transformado
Nessa direccedilatildeo propotildee-se discutir a atuaccedilatildeo da equipe diretiva agrave luz da teoria
da gestatildeo democraacutetica-participativa embora se compreenda que esse tipo de
gestatildeo estaacute por se constituir na maioria das escolas brasileiras
9O sistema hieraacuterquico de autoridade se figura quando o Estado deteacutem o controle das accedilotildees do diretor ao delegar a ele o poder lhe conferindo uma autonomia relativa e este por sua vez controla ou tenta controlar o coletivo escolar por meio da divisatildeo riacutegida do trabalho estabelecendo uma hierarquia de funccedilotildees ―Assim natildeo eacute possiacutevel falar das estrateacutegias para transformar o sistema de autoridade no interior da escola em direccedilatildeo a uma efetiva participaccedilatildeo de seus diversos setores sem levar em conta a condiccedilatildeo que vive o diretor em seus respectivos sistemas de ensino e por conseguinte na escola (PARO 2016a p 15)
31
Ressalta-se desse modo que natildeo haacute um padratildeo na compreensatildeo das
especificidades das funccedilotildees de Diretor(a) Supervisor(a)Coordenador(a) e
Orientador(a) Educacional O que se procura ilustrar a seguir satildeo algumas
possibilidades de atuaccedilatildeo que ao mesmo tempo os diferenciam no que tange ao
especiacutefico de suas funccedilotildees e os aproximam como equipe diretiva que se reuacutene em
torno de objetivos comuns criar estrateacutegias de participaccedilatildeo coletiva na organizaccedilatildeo
e funcionamento dos espaccedilos e tempos da escola tendo em vista as poliacuteticas
educacionais vigentes buscando propiciar condiccedilotildees de trabalho para todos os
profissionais Estes objetivos por sua vez estatildeo relacionados a um objetivo maior
que se refere agrave escolarizaccedilatildeo dos estudantes por meio da apropriaccedilatildeo sistematizada
dos conhecimentos produzidos historicamente
Com relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos profissionais de educaccedilatildeo para administraccedilatildeo
planejamento inspeccedilatildeo supervisatildeo e orientaccedilatildeo educacional para a educaccedilatildeo
baacutesica conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996)
em seu art 64ordm pode-se dizer que deve ser ―[] realizada em cursos de graduaccedilatildeo
em Pedagogia ou em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo a criteacuterio da instituiccedilatildeo de ensino
garantida nesta formaccedilatildeo a base comum nacional
Ainda no que tange agrave formaccedilatildeo da equipe diretiva desde 2006 a partir da
Resoluccedilatildeo nordm 1 do Conselho Nacional de EducaccedilatildeoConselho Pleno (BRASIL
2006) foram instituiacutedos os cursos de licenciatura em Pedagogia com formaccedilatildeo
plena propiciando aao graduadao exercer quaisquer das funccedilotildees que antes
exigiam habilitaccedilotildees especiacuteficas durante a graduaccedilatildeo como por exemplo a funccedilatildeo
de supervisatildeocoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo educacional
No tocante agraves responsabilidades da equipe diretiva escolar ressalta-se que
os profissionais que a compotildee no caso da rede puacuteblica tecircm suas atribuiccedilotildees
regulamentadas pela legislaccedilatildeo de seus referidos sistema de ensino (LIBAcircNEO
2015) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996)
estabelece em seu art 12ordm que as instituiccedilotildees de ensino satildeo responsaacuteveis pelas
seguintes accedilotildees
[] I ndash elaborar e executar sua proposta pedagoacutegica II ndash administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros III ndash assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas IV ndash velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente V ndash prover meios para a recuperaccedilatildeo dos alunos de menor rendimento
32
VI ndash articular-se com as famiacutelias e a comunidade criando processos de integraccedilatildeo da sociedade com a escola VII ndash informar pai e matildee conviventes ou natildeo com seus filhos e se for o caso os responsaacuteveis legais sobre a frequecircncia e rendimento dos alunos bem como sobre a execuccedilatildeo da proposta pedagoacutegica da escola VIII ndash notificar ao conselho tutelar do municiacutepio ao juiz competente da comarca e ao respectivo representante do Ministeacuterio Puacuteblico a relaccedilatildeo dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei (BRASIL 1996 sp)
Percebe-se que essas accedilotildees estabelecidas na referida lei englobam as
atribuiccedilotildees dos integrantes da equipe diretiva permitindo apresentar algumas accedilotildees
pertinentes a cada participante da equipe diretiva escolar assim como apresentar
possibilidades de accedilotildees que podem ser realizadas de forma compartilhada
Iniciando pela funccedilatildeo do Diretor(a) essa parece englobar a criaccedilatildeo de
condiccedilotildees para reflexatildeo e tomada de decisatildeo coletiva acerca dos processos
educacionais Nesse sentido sua funccedilatildeo remete a accedilotildees como articular
acompanhar e mediar esses processos focalizando tanto seus aspectos
burocraacuteticos quanto pedagoacutegicos Isso implica promover de acordo com as
condiccedilotildees possiacuteveis uma estrutura e organizaccedilatildeo nos espaccedilos escolares que
promovam a escolarizaccedilatildeo de seus estudantes Paro (2010 p766) salienta que o(a)
Diretor(a)
[] ocupa uma posiccedilatildeo natildeo apenas estrateacutegica mas tambeacutem contraditoacuteria na gestatildeo da escola Esse diretor por um lado eacute considerado a autoridade maacutexima no interior na escola e isso pretensamente lhe daria um grande poder e autonomia mas por outro lado ele acaba se constituindo de fato em virtude de sua condiccedilatildeo de responsaacutevel uacuteltimo pelo cumprimento da Lei e da ordem da escola em mero proposto do Estado Uma segunda contradiccedilatildeo adveacutem do fato de que por um lado ele deve deter uma competecircncia teacutecnica e um conhecimento dos princiacutepios e meacutetodos necessaacuterios a uma adequada administraccedilatildeo dos recursos da escola mas por outro lado sua falta de autonomia em relaccedilatildeo aos escalotildees superiores e a precariedade das condiccedilotildees concretas [] [tornam-se obstaacuteculos] mdash o que estaria a merecer maior nuacutemero de anaacutelises e estudos aprofundados as quais discutem a natureza das atividades do diretor escolar e as possiacuteveis adequaccedilotildees e contradiccedilotildees dessa praacutetica diante do caraacuteter poliacutetico-pedagoacutegico da escola
Desse modo as accedilotildees do Diretor(a) dentro de um projeto coletivo e
participativo precisam estar articuladas com as accedilotildees dos demais profissionais a
exemplo do Supervisor(a)Coordenador(a) e do Orientador(a) Educacional
33
Em se tratando especificamente do Supervisor(a) Educacional10 Zieger
(2013 p 88) destaca que ele eacute o responsaacutevel na escola com o apoio do Diretor por
planejar de forma coletiva a ―construccedilatildeo do projeto poliacutetico-pedagoacutegico e de outros
projetos coordenar a construccedilatildeo do planejamento e implementaccedilatildeo de curriacuteculo e
programas ofertar apoio pedagoacutegico agrave equipe de docente com maior atenccedilatildeo agraves
atividades de ensino e avaliaccedilatildeo que propiciem a escolarizaccedilatildeo efetiva dos
estudantes Eacute responsaacutevel tambeacutem por planejar juntamente com o Diretor(a) e
Orientador(a) as reuniotildees pedagoacutegicas e a formaccedilatildeo continuada dos professores
possibilitando a reflexatildeo de sua praacutetica e propiciando assim quando necessaacuterio
ajustes nas estrateacutegias e metodologias com vistas agrave escolarizaccedilatildeo do estudante
Sobre o Orientador(a) Educacional Grinspun (2008 p 77) destaca que
atualmente esse ―[] tem o papel de mediaccedilatildeo na escola isto eacute [a Orientaccedilatildeo
Educacional] se reveste de mais um campo na escola para analisar discutir refletir
come para todos que atuam na escola ndash em especial os alunos tendo em vista o
trabalho pedagoacutegico e o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Rangel (2013) salienta que existem muitas atividades que podem ser
desenvolvidas de forma compartilhada entre Supervisor(a)Coordenador(a)
Orientador(a) e Diretor(a) com o intuito de contribuir e potencializar o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes tais como
[] a Formaccedilatildeo continuada de professores por meio de estudos dos problemas cotidianos e de conceitos teoacutericos e situaccedilotildees praacuteticas de interesse na superaccedilatildeo e nos avanccedilos do trabalho pedagoacutegico incluindo estudos sobre princiacutepios de ensino que favorecem a aprendizagem e a dinamizaccedilatildeo das aulas estudos sobre teorias de aprendizagem estudos e conceitos e procedimentos de avaliaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Conjunta de Conselho de Classe nos quais os professores se reuacutenem natildeo soacute para a avaliaccedilatildeo do aproveitamento escolar dos alunos mas para avaliaccedilatildeo do processo de ensino e aprendizagem Coordenaccedilatildeo conjunta dos conselhos de alunos nos quais os alunos se reuacutenem natildeo soacute para avaliaccedilatildeo das aulas como para a avaliaccedilatildeo de suas turmas em aspectos de participaccedilatildeo relaccedilotildees interesse motivaccedilotildees Coordenaccedilatildeo de encontros entre alunos e professores para tratar de questotildees que possam estar dificultando o entrosamento e o diaacutelogo Realizaccedilatildeo de encontros com pais sobre temas de interesse educativo que auxiliem as relaccedilotildees de aproximaccedilotildees na famiacutelia e entre ela e a escola sem perder de vista os temas que emergem das
10
Placco Souza e Almeida (2012 p 758) salientam que o termo ―supervisatildeo educacional coordenaccedilatildeo pedagoacutegica [] pode variar de acordo com o Muniacutecipio Estado ou regiatildeo
34
desigualdades e tensotildees sociais e suas consequecircncias (RANGEL 2013 p16 grifos nossos)
Essas atividades compartilhadas demonstram o quanto a equipe diretiva
escolar pode construir e desenvolver coletivamente no sentido de (re)pensar e
(re)elaborar o trabalho realizado na escola focalizando o processo de escolarizaccedilatildeo
dos estudantes e respeitando suas singularidades
Percebe-se ainda a relevacircncia da equipe diretiva no sentido de planejar
momentos de construccedilatildeo coletiva junto aos professores para que esses possam
dialogar e discutir sobre o processo de escolarizaccedilatildeo com o intuito de construir
estrateacutegias de ensino que propiciem alternativas de escolarizaccedilatildeo mais efetiva para
os estudantes Evidencia-se poreacutem que a constituiccedilatildeo de um processo de gestatildeo
escolar democraacutetico-participativo se apresenta como um desafio para as escolas
que por vezes natildeo encontram condiccedilotildees objetivas para atuarem dessa forma
No proacuteximo subcapiacutetulo buscar-se-aacute compreender as relaccedilotildees entre uma
gestatildeo escolar democraacutetica-participativa e o Atendimento Educacional
Especializado focalizando o processo de desenvolvimento desse serviccedilo no
contexto escolar
13 Equipe Diretiva na organizaccedilatildeo escolar frente ao AEE aproximaccedilotildees e
distanciamentos
Para iniciar uma discussatildeo a respeito da gestatildeo escolar em relaccedilatildeo agrave
Educaccedilatildeo Especial e mais especificamente ao Atendimento Educacional
Especializado optou-se por primeiramente elencar alguns documentos legais que
podem subsidiar a atuaccedilatildeo da equipe diretiva escolar nesse acircmbito Dentre esses
documentos podem ser citados a Constituiccedilatildeo Federal (BRASIL 1988) a
Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) a Declaraccedilatildeo de
Salamanca (UNESCO 1994) a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
(BRASIL 1996) a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da
Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) e a Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 4 (BRASIL 2009)
35
que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado
na Educaccedilatildeo Baacutesica11
Desses documentos pode-se apreender de modo geral um entendimento da
educaccedilatildeo como direito fundamental de todos independentemente das diferenccedilas
individuais No que se refere agrave poliacutetica e agraves diretrizes brasileiras relacionadas agrave
Educaccedilatildeo Especial e ao Atendimento Educacional Especializado nota-se um foco
no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
preferencialmente na Rede Municipal de Ensino Supotildee-se que instituir
possibilidades de discussatildeo dos documentos acima referidos juntamente com o
coletivo escolar eacute fundamental para a compreensatildeo da EE e do AEE assim como as
formas de viabilizaacute-los
Embora as leis sejam importantes elas se configuram como um documento
orientador da poliacutetica Contudo a forma como acontece sua materializaccedilatildeo eacute
permeada tambeacutem pelos interesses dominantes na sociedade e pela compreensatildeo
de cada equipe diretiva e os profissionais da educaccedilatildeo os quais satildeo responsaacuteveis
pela sua organizaccedilatildeo e materializaccedilatildeo no acircmbito escolar
Para avanccedilar na compreensatildeo do atendimento educacional especializado e
sua relaccedilatildeo com a equipe diretiva escolar acredita-se que pode ser esclarecedor
explicar de forma breve a Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 42009 e o Decreto 76112011 A
referida Resoluccedilatildeo que regulamenta as Diretrizes Operacionais para o Atendimento
Educacional Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica enfatiza que a elaboraccedilatildeo e a
execuccedilatildeo do plano de AEE eacute de competecircncia do professor da sala de recursos
multifuncionais ―em articulaccedilatildeo com os professores do ensino regular com a
participaccedilatildeo das famiacutelias e em interface com os demais serviccedilos setoriais da sauacutede
da assistecircncia social entre outros necessaacuterios ao atendimento (BRASIL 2009 p
2)
Ainda que o professor atuante no AEE seja responsaacutevel por elaborar e
executar o plano desse atendimento compreende-se que a equipe diretiva ao
participar dessa construccedilatildeo pode propiciar um suporte e uma integraccedilatildeo do plano
do AEE com o projeto poliacutetico-pedagoacutegico da escola aleacutem de se perceber como um
11 Aleacutem desses documentos ainda se destaca o Decreto 76112011 que reitera os princiacutepios da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) no que concerne o AEE a Lei 131462015 que instituiu a Lei Brasileira de Inclusatildeo da Pessoa com Deficiecircncia e o Estatuto da Pessoa com Deficiecircncia que reafirma o exposto no Decreto 76112011 sobre o AEE e daacute outras providecircncias
36
dos protagonistas imprescindiacuteveis para o processo de escolarizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial
Nesse sentido Vioto (2013) enfatiza que para a realizaccedilatildeo do AEE no espaccedilo
escolar eacute importante haver adequaccedilotildees natildeo soacute na acessibilidade arquitetocircnica
pedagoacutegica e de recursos humanos mas principalmente quebra de barreiras
atitudinais12 da gestatildeo e dos demais profissionais da escola
[] sabemos que sem mudanccedila de postura dos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao processo de ensino junto aos alunos com NEE na sala de aula do ensino regular natildeo haacute como desenvolver o processo de aprendizagem dos referidos alunos Logo para que ocorra essa mudanccedila faz-se necessaacuteria a conscientizaccedilatildeo de todos os envolvidos no processo educacional inclusivo de que os alunos independentemente de suas NEE possuem caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e que dentro do processo de aprendizagem estas devem ser levadas em consideraccedilatildeo (VIOTO 2013 p78)
A autora supracitada ressalta que para elaborar um planejamento pedagoacutegico
que contribua com a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos sistematizados e produzidos
historicamente por parte dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial um
caminho eacute reconhecer suas especificidades e considerar as suas potencialidades
pois focar nas suas limitaccedilotildees culminaria em um planejamento limitado privando o
estudante de seu direito de aprender e desenvolver sua autonomia Nesse sentido
enfatiza-se a responsabilidade da equipe diretiva escolar para que a escola consiga
realizar sua funccedilatildeo pensando na formaccedilatildeo integral do aluno com e sem deficiecircncia
[] uma escola organizada para assegurar a apropriaccedilatildeo de conhecimentos habilidades valores atitudes por meio do processo ensino aprendizagem que visa o desenvolvimento cognitivo afetivo dos alunos [] capaz de articular no seu curriacuteculo e em suas praacuteticas pedagoacutegico-didaacuteticas a formaccedilatildeo cultural e cientiacutefica [] Nessa escola o papel da organizaccedilatildeo e gestatildeo eacute propiciar o ambiente social necessaacuterio e as condiccedilotildees institucionais humanas materiais para a realizaccedilatildeo do processo ensino-aprendizagem Ou seja diretores coordenadores pedagoacutegicos e professores tecircm a responsabilidade profissional e eacutetica de fazerem funcionar na escola praacuteticas de organizaccedilatildeo e gestatildeo que sejam propulsoras de um determinado tipo de aprendizagem aquela que promove e amplia o desenvolvimento
12
Silva (2012 p 14 e 15) apoiada em Lima e Tavares (2007) explicita que ―[] as barreiras atitudinais satildeo barreiras sociais geradas mantidas fortalecidas por meio de accedilotildees omissotildees e linguagens produzidas ao longo da histoacuteria humana num processo tridimensional o qual envolve cogniccedilotildees afetos e accedilotildees contra a pessoa com deficiecircncia ou quaisquer grupos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade resultando no desrespeito ou impedimento aos direitos dessas pessoas limitando-as ou incapacitando-as para o exerciacutecio de direitos e deveres sociais satildeo abstratas para quem as produz e concretas para quem sofre seus efeitos
37
intelectual e o desenvolvimento integral dos alunos (LIBAcircNEO 2015 p 13)
A organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar realizada pela equipe diretiva de uma forma
como a supracitada pode ser compreendida como um trabalho que rompe com o
comumente realizado Trata-se de uma forma de gestatildeo e que se configura como
um processo coletivo e contextualizado que requer condiccedilotildees objetivas e subjetivas
que sustentem a sua construccedilatildeo Sobre isso Lira (2012 p 106) salienta que se tem
―visto que as condiccedilotildees que se apresentam no cotidiano escolar tecircm favorecido para
que se mantenham presentes as praacuteticas estanques separadas com poucas
referecircncias de compartilhamento de trocas entre os profissionais Nesse sentido
romper com essa loacutegica eacute um desafio coletivo no qual se vislumbra o importante
papel da equipe diretiva escolar que tanto pode contribuir para manter essa loacutegica
individualizada de praacuteticas pedagoacutegica estanques e individualizadas no interior da
escola como tambeacutem pode favorecer a instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos para
discutir e refletir sobre as praacuteticas pedagoacutegicas e suas implicaccedilotildees no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes Assim a instituiccedilatildeo de uma gestatildeo democraacutetica no
entanto pode ser um caminho para possibilitar trocas e compartilhamentos fazendo
circular novas formas de se fazer a gestatildeo escolar Paro (2016a) salienta ainda que
a gestatildeo democraacutetica dentre outros fatores implica na participaccedilatildeo de todos os
envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes nas decisotildees sobre os
objetivos e funcionamento da escola o que pode culminar dessa forma em
melhores condiccedilotildees para reivindicar junto ao Estado os recursos necessaacuterios para
viabilizar as accedilotildees no acircmbito escolar
No que tange portanto agrave equipe diretiva frente ao processo de
implementaccedilatildeo do AEE identifica-se um papel fundamental dessa dentre outros
aspectos no tocante agrave formaccedilatildeo continuada dos profissionais na construccedilatildeo
coletiva do projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola na proposiccedilatildeo de momentos de
discussatildeo das questotildees pertinentes ao processo de escolarizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial
No proacuteximo capiacutetulo se apresentaraacute um balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica
brasileira concernente agrave temaacutetica ―gestatildeo escolar e Atendimento Educacional
Especializado referente ao periacuteodo de 2011 a 2015
38
14 A produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre Gestatildeo Escolar e Atendimento
Educacional Especializado um campo a explorar
O mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica teve como objetivo conhecer as
pesquisas que tenham abordado a temaacutetica da gestatildeo escolarequipe diretiva
escolar em relaccedilatildeo ao AEE Para tanto realizou-se uma pesquisa em quatro bases
de dados 1) ANPEd (Associaccedilatildeo Nacional de Pesquisadores em Educaccedilatildeo mais
especificamente no GT 15 ndash Educaccedilatildeo Especial) 2) CAPES (Banco de Teses e
Dissertaccedilotildees da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior) 3)
BDTD (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaccedilotildees) e 4) SciELO (Biblioteca
Cientiacutefica Eletrocircnica Online)13
A busca utilizou primeiramente os descritores ―equipe diretiva e ―AEE
Contudo nenhuma produccedilatildeo foi encontrada Com isso optou-se por construir
descritores14 que se aproximassem do tema proposto como ―gestatildeo escolar
―supervisor educacional ―orientador educacional ―diretor educacional e
―coordenaccedilatildeo pedagoacutegica como referecircncia para listar a produccedilatildeo cientiacutefica na aacuterea
de Educaccedilatildeo sendo que as expressotildees foram pesquisadas no campo palavras-
chave
A tabela a seguir mostra os resultados das buscas realizadas nas referidas
bases de dados No total foram encontrados cinco trabalhos sobre a temaacutetica no
periacuteodo considerado (2011 a 2015) dos quais dois referiram-se especificamente agrave
gestatildeo escolar e AEE dois agrave supervisatildeo educacional e a coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e
AEE e um sobre sala de apoio pedagoacutegico e coordenaccedilatildeo pedagoacutegica
Tabela 1 ndash Mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Fonte Expressotildees Pesquisadas Resultado Geral
ANPEd Nacional
(GT 15)
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial
Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva gestatildeo escolar + AEE
gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE
2
14
Na Tabela 1 satildeo especificados todos os descritores utilizados neste balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica
39
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
BDTD
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE
Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva
gestatildeo escolar + AEE gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
1
CAPES
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE
Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva
gestatildeo escolar + AEE gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
2
SciELO
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial
Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva gestatildeo escolar + AEE
gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
0
40
inclusatildeo
diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE diretor +educaccedilatildeo especial
diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva supervisor Educacional + AEE
supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo orientador Educacional +educaccedilatildeo especial
orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva orientador Educacional + AEE
Total 05
Fonte Primaacuteria (2016)
O resultado da pesquisa demonstrou uma baixa quantidade de trabalhos que
abrangessem a temaacutetica revelando a ―gestatildeo escolar e o AEE como um campo de
estudos e pesquisas ainda a ser explorado Dentre os cinco trabalhos encontrados
dois corresponderam a artigos e trecircs a dissertaccedilotildees de mestrado Na tabela a
seguir estatildeo descritos os tiacutetulos dos trabalhos bem como seus autores e a
instituiccedilatildeo de ensino em que foram produzidos
Tabela 2 ndash Trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Autor (Ano) Tiacutetulo Tipo de
Trabalho
Instituiccedilatildeo de
Ensino Fonte
Vioto
(2013)
O papel do supervisor pedagoacutegico no processo de inclusatildeo de alunos com
necessidades educacionais especiais uma pesquisa colaborativa
Dissertaccedilatildeo de
Mestrado
Universidade do
Oeste Paulista BDTD
Silveira (2012)
Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o acompanhamento como fator de mudanccedila
Artigo Universidade
Federal do Cearaacute
ANPEd Nacional (GT 15)
Vioto e Vitaliano
(2012)
O papel da gestatildeo pedagoacutegica frente ao processo de inclusatildeo dos alunos com
necessidades educacionais especiais
Artigo Universidade do Oeste Paulista
ANPEd Nacional
(GT 15)
Lira
(2012)
A coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e o processo de inclusatildeo do aluno com necessidades
educacionais especiais um estudo de caso
Dissertaccedilatildeo de
Mestrado
Universidade
Federal do Rio Grande do Norte
CAPES
Santos (2011)
Gestatildeo escolar para uma escola inclusiva conquistas e desafios
Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Universidade do Oeste Paulista
CAPES
Fonte Primaacuteria (2016)
Nota-se que os trabalhos foram produzidos por diferentes instituiccedilotildees de
ensino que abrangem apenas as regiotildees sudeste e nordeste do Brasil
Um ponto que chamou atenccedilatildeo portanto foi a recorrecircncia de pesquisas
publicadas na regiatildeo sudeste do Brasil pela Universidade do Oeste Paulista Tal
recorrecircncia entretanto pode estar vinculada ao fato do programa de mestrado em
41
Educaccedilatildeo da UNOESTE disponibilizar uma linha de pesquisa intitulada Instituiccedilatildeo
Educacional Organizaccedilatildeo e Gestatildeo favorecendo assim a incidecircncia de pesquisas
na aacuterea de gestatildeo escolar
As produccedilotildees acadecircmicas apresentaram em comum uma discussatildeo da
relaccedilatildeo entre um dos profissionais que compotildeem a gestatildeo escolar e a educaccedilatildeo
especialinclusiva com exceccedilatildeo dos estudos de Silveira (2012) e Santos (2011) que
versaram suas discussotildees abordando mais profissionais que constituem a gestatildeo
escolar Pelo fato de que nas pesquisas encontradas somente o estudo de Silveira
(2012) tomou a equipe diretiva como um todo por objeto de estudo considera-se
que esse artigo pode se configurar como mais um avanccedilo na exploraccedilatildeo das
relaccedilotildees entre gestatildeo escolar e AEE pois parte do princiacutepio que a gestatildeo escolar eacute
formada por uma equipe com accedilotildees articuladas no que se refere agrave realizaccedilatildeo desse
atendimento no acircmbito escolar e por isso se propotildee a estudar essa gestatildeo a partir
do conjunto de profissionais (diretor supervisorcoordenador e orientador) que a
compotildeem Na Tabela 3 a seguir satildeo especificados os objetivos dos trabalhos
mapeados
Tabela 3 ndash Objetivos dos trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Autor
(Ano) Tiacutetulo Objetivo do Trabalho
Vioto
(2013)
O papel do supervisor pedagoacutegico no processo de inclusatildeo de alunos com
necessidades educacionais especiais uma pesquisa colaborativa
Desenvolver um processo de intervenccedilatildeo junto agrave Supervisatildeo Pedagoacutegica de uma escola Municipal de Londrina que ofereccedila Ensino Fundamental I com vistas a favorecer o
processo de inclusatildeo de alunos com NEE no ensino regular por meio de uma pesquisa colaborativa
Silveira
(2012)
Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o
acompanhamento como fator de mudanccedila
Apresentar elementos de uma pesquisa desenvolvida em uma escola puacuteblica da rede municipal de uma capital do Nordeste Buscamos evidenciar as caracteriacutesticas da gestatildeo
da escola e aplicar estrateacutegias de acompanhamento visando agrave transformaccedilatildeo das praacuteticas de gestatildeo
Vioto e
Vitaliano (2012)
O papel da gestatildeo pedagoacutegica
frente ao processo de inclusatildeo dos alunos com necessidades educacionais especiais
Contribuir para a reflexatildeo sobre o papel do gestor
pedagoacutegico frente ao processo de construccedilatildeo de escolas inclusivas
Lira
(2012)
A coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e o processo de inclusatildeo do aluno
com necessidades educacionais especiais um estudo de caso
Centrar no papel coordenaccedilatildeo pedagoacutegica em face
da inclusatildeo escolar de alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE)
Santos
(2011)
Gestatildeo escolar para uma escola inclusiva conquistas e
desafios
Identificar as accedilotildees desenvolvidas pela gestatildeo escolar com vistas a construir uma escola inclusiva em uma escola
puacuteblica
Fonte Primaacuteria (2016)
42
Partindo dos objetivos das produccedilotildees acadecircmicas buscou-se extrair delas
algumas compreensotildees consideradas pertinentes ao presente estudo Para isso as
referidas produccedilotildees foram organizadas em duas sessotildees de anaacutelise
A primeira sessatildeo de anaacutelise integra duas pesquisas sobre a gestatildeo escolar
de autoria de Silveira (2012) e Santos (2011) que se debruccedilaram sobre o papel da
gestatildeo escolar na constituiccedilatildeo de uma escola inclusiva Na pesquisa de Silveira
(2012) um artigo resultante de sua tese de doutorado defendida em 2009 analisou
a atuaccedilatildeo do grupo gestor (diretor(a) supervisor (a) e orientador (a) por meio da
teacutecnica da pesquisa-accedilatildeo colaborativa empreendendo uma intervenccedilatildeo e
acompanhamento de uma escola por um periacuteodo de 28 meses A pesquisa buscou
―evidenciar as caracteriacutesticas da gestatildeo da escola e aplicar estrateacutegias de
acompanhamento visando agrave transformaccedilatildeo das praacuteticas de gestatildeo mudanccedila de
concepccedilotildees e na cultura do acolhimento e da cultura de desenvolvimento
profissional (SILVEIRA 2012 p 1)
A autora ressaltou que ao longo da pesquisa foram perceptiacuteveis os avanccedilos
na escola pesquisada e cita como exemplo a vivecircncia de uma
[] nova perspectiva de atendimento [que] provocou aleacutem do acolhimento do estudante com deficiecircncia uma tomada de consciecircncia da forma de organizaccedilatildeo e gestatildeo da escola bem como da inadequaccedilatildeo dos meacutetodos pedagoacutegicos tradicionais O diretor ao assumir a escola natildeo conhecia os pressupostos baacutesicos de uma escola inclusiva Essa era a sua primeira experiecircncia como gestor e era visiacutevel sua inseguranccedila decorrente da falta de experiecircncia no cargo Durante cerca de dois anos e meio na escola pudemos perceber a sua evoluccedilatildeo ou seja ele passa de uma atuaccedilatildeo inicial insegura pouco firme no sentido das tomadas de decisotildees para accedilotildees e posiccedilotildees mais determinadas e coerentes (SILVEIRA 2012 p 4)
Em sua anaacutelise a autora expocircs ainda que o ―acompanhamento e a gestatildeo
compartilhada satildeo beneacuteficos sendo essencial que os membros da escola busquem
cada vez mais o aperfeiccediloamento de praacuteticas de colaboraccedilatildeo (SILVEIRA 2009 p
8) Salientou ainda que para colocar em praacutetica uma gestatildeo escolar que leve em
conta a construccedilatildeo de uma escola pautada em princiacutepios democraacutetico-participativos
eacute preciso pensar em programas de formaccedilatildeo de gestores que se encaminhem para
aleacutem dos programas tradicionais de formaccedilatildeo burocraacutetica investindo em um
trabalho colaborativo no acircmbito escolar
43
Contudo sabendo que as transformaccedilotildees percebidas ocorreram em parte
mediante acompanhamento e momentos de formaccedilatildeo propostos pela pesquisadora
com a equipe gestora e professores evidencia-se a importacircncia da formaccedilatildeo
continuada em serviccedilo que contribua para a praacutetica escolar reflexiva e para o
desenvolvimento da autonomia dos gestores escolares de modo que possam criar
condiccedilotildees para praacuteticas democraacuteticas-participativas no acircmbito escolar
A pesquisa de Santos (2011) por sua vez se propocircs a identificar as accedilotildees
desenvolvidas pela gestatildeo escolar (diretor (a) vice-diretor(a) e coordenador(a)
pedagoacutegico) na constituiccedilatildeo do serviccedilo de Educaccedilatildeo Especial na escola A autora
evidenciou que a efetivaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial no acircmbito da escola pesquisada
ainda se mostrava um desafio uma vez que os gestores pesquisados natildeo tinham
definido o conceito e os princiacutepios que orientariam tal proposta bem como
―apresentaram praacuteticas de gestatildeo escolar para a Educaccedilatildeo Especial pontuais
isoladas e natildeo estando fundamentadas organizadas ou planejadas nas diretrizes
gerais da escola (SANTOS 2011 p 79) Os resultados de seu estudo convidam agrave
reflexatildeo sobre a importacircncia de se conhecer as concepccedilotildees da equipe diretiva
acerca das propostas de Educaccedilatildeo Especial e como tais concepccedilotildees se articulam
com sua forma de trabalho
Na segunda seccedilatildeo de anaacutelise da tabela 3 se localizam os trabalhos que
discutiram o papel do(a) CoordenadorSupervisor(a) Pedagoacutegico frente ao processo
de construccedilatildeo de uma proposta de Educaccedilatildeo Inclusiva Entre esses estatildeo as
pesquisas de Vioto e Vitaliano (2012) Lira (2012) e Vioto (2013) Aleacutem do objeto de
estudo evidenciou-se outro ponto em comum que eacute a defesa da potecircncia do
trabalho colaborativo na escola para o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Vioto e Vitaliano (2012) realizaram uma pesquisa bibliograacutefica com o objetivo
de contribuir para a reflexatildeo sobre o papel do coordenador pedagoacutegico frente ao
processo de construccedilatildeo de escolas inclusivas Como resultado as autoras inferem
que para a constituiccedilatildeo de uma escola inclusiva o coordenador pedagoacutegico tem
atribuiccedilotildees importantes a serem desenvolvidas no acircmbito escolar como auxiliar os
professores no desenvolvimento de metodologias e estrateacutegias de ensino
diferenciadas que favoreccedila o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial Aleacutem disso estaacute entre suas atribuiccedilotildees possibilitar
momentos de formaccedilatildeo e reflexatildeo em relaccedilatildeo agraves praacuteticas pedagoacutegicas de modo
44
que todos os profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
possam ―participar na definiccedilatildeo dos objetivos no planejamento bem como na
elaboraccedilatildeo de propostas e planos de accedilatildeo que possibilite a quebra das barreiras
que estejam impedindo o processo de aprendizagem (VIOTO E VITALIANO 2012
p 14)
A pesquisa de Lira (2012) por sua vez teve como objetivo investigar a
atuaccedilatildeo dos coordenadores pedagoacutegicos no processo de inclusatildeo dos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial A autora identificou em sua pesquisa que os
coordenadores pedagoacutegicos assumiam uma rotina na escola de resoluccedilatildeo de
problemas urgentes e emergentes como falta de profissionais de condiccedilotildees fiacutesicas
estruturais e materiais precarizando a realizaccedilatildeo de suas funccedilotildees Demandas como
essas podem desfavorecer a atuaccedilatildeo do coordenador (a) pedagoacutegico(a) com os
professores e demais especialistas visto que esse profissional passa a voltar-se
mais a demandas burocraacuteticas secundarizando os demais aspectos como o
pedagoacutegico
Assim as atribuiccedilotildees pertinentes ao(agrave) Coordenador(a) Pedagoacutegico(a) como
o auxiacutelio aos professores o planejamento de momentos formativos compara os
professores e a elaboraccedilatildeo de forma coletiva do projeto-politico pedagoacutegico da
instituiccedilatildeo dentre outras satildeo desvirtuadas de seu propoacutesito comprometendo a
constituiccedilatildeo de um trabalho colaborativo dialoacutegico e reflexivo dentro do espaccedilo
escolar
Jaacute Vioto (2013) em seu estudo se pautou na metodologia de pesquisa
colaborativa e realizou uma intervenccedilatildeo direta na escola auxiliando-a na construccedilatildeo
de um trabalho colaborativo o qual resultou em uma reestruturaccedilatildeo das relaccedilotildees
construiacutedas na escola Como colocou a autora
[] os resultados evidenciaram que a supervisora pedagoacutegica e a maioria dos professores inicialmente apresentavam concepccedilotildees equivocadas a respeito do processo de inclusatildeo o qual foi trabalhado em ciclos de estudos conversas reflexivas e atuaccedilotildees colaborativas envolvendo pesquisadora e os participantes Tambeacutem foram discutidos o papel do professor de apoio e da sala de recursos junto agrave supervisora pedagoacutegica e as praacuteticas pedagoacutegicas dos professores em sala de aula As experiecircncias e reflexotildees proporcionadas por esta pesquisa nos permitiram constatar e reafirmar a importacircncia do trabalho do supervisor pedagoacutegico no que se refere agrave organizaccedilatildeo da escola inclusiva bem como as contribuiccedilotildees do trabalho colaborativo como meio de formaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo [] (VIOTO 2013 p 07)
45
O trabalho colaborativo realizado entre pesquisadora e profissionais da escola
por meio de experiecircncias e reflexotildees remeteu agrave constataccedilatildeo desse como um
aspecto importante a se considerar ao refletir sobre o papel da gestatildeo escolar frente
ao processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Pode-se pensar nesse sentido que o trabalho colaborativo emerge como um dos
meios para que o vieacutes democraacutetico-participativo da gestatildeo proposto nos documentos
oficiais seja vivenciado no cotidiano escolar
Garcia Hypoacutelito e Vieira (2005) fazem um contraponto agraves possibilidades do
trabalho colaborativo na escola o qual pode ser instituiacutedo tambeacutem de forma
perversa de modo a conformar praacuteticas no interior da escola Sobre esse aspecto de
entendimento os autores explicam ainda que
[] muitas vezes essas praacuteticas de colaboraccedilatildeo podem ser colonizadas e controladas pelas burocracias educacionais tornando tais praacuteticas uma verdadeira ―camisa-de-forccedila ora pela imposiccedilatildeo de formas colegiadas de trabalho ora por procedimentos burocraacuteticos que satildeo a proacutepria antiacutetese de um profissionalismo autocircnomo (GARCIA HYPOacuteLITO E VIEIRA 2005 p50)
Assim haacute que se pensar o trabalho colaborativo de forma contextualizada
considerando suas possibilidades e contradiccedilotildees Como alerta Paro (2016a p55)
natildeo se pode esperar por condiccedilotildees excelentes de trabalho proporcionarem por si
soacute ―a ocorrecircncia de relaccedilotildees democraacuteticas e colaborativas da mesma forma natildeo haacute
como ignorar que a ausecircncia dessas condiccedilotildees pode contribuir para o retardamento
de mudanccedilas que favoreccedilam o estabelecimento de tais relaccedilotildees
Perante o exposto o desafio posto agraves equipes diretivas eacute conseguir constituir
um trabalho dentro dos espaccedilos escolares envolvendo a participaccedilatildeo dos
professores e demais profissionais pais e estudantes na constituiccedilatildeo dos objetivos
e nos processos decisoacuterios da instituiccedilatildeo como forma de obter melhores condiccedilotildees
para pleitear junto aos sistemas de ensino os recursos necessaacuterios para a
realizaccedilatildeo das accedilotildees dentro da escola
Nesse sentido a questatildeo do trabalho colaborativo e participativo as
condiccedilotildees objetivas de trabalho e as concepccedilotildees acerca de questotildees que envolvem
a Educaccedilatildeo Especial surgem como pontos de tensatildeo relevantes e cuja discussatildeo
pode contribuir para o que esta pesquisa se propotildee a investigar as compreensotildees
das equipes diretivas escolares sobre Atendimento Educacional Especializado e
suas formas de viabilizaacute-lo
46
2 PROCESSO DE CONSTITUICcedilAtildeO DA PESQUISA CAMINHOS TRACcedilADOS E PERCORRIDOS
Com o objetivo de Investigar as compreensotildees das equipes diretivas
escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado e suas formas de
viabilizaacute-lo na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute realizou-se uma pesquisa de
abordagem qualitativa que tem como fundamento alguns pressupostos da base
epistecircmico-metodoloacutegica do materialismo histoacuterico e dialeacutetico que ―[] percebe os
sujeitos como histoacutericos datados concretos marcados por uma cultura como
criadores de ideias e consciecircncia que ao produzirem e reproduzirem a realidade
social satildeo ao mesmo tempo produzidos e reproduzidos por ela (FREITAS 2002 p
22)
A partir dessa perspectiva de sujeito a abordagem qualitativa mostrou-se
profiacutecua para alcanccedilar os objetivos da pesquisa uma vez que nela se ―[] busca a
interpretaccedilatildeo em lugar da mensuraccedilatildeo a descoberta em lugar da constataccedilatildeo []
[levando] em conta todos os componentes de uma situaccedilatildeo em suas interaccedilotildees e
influecircncias reciprocas (GATTI e ANDREacute 2013 p 30) Ressalta-se ainda que
[] as pesquisas chamadas de qualitativas vieram a se constituir em uma modalidade investigativa que se consolidou para responder ao desafio da compreensatildeo dos aspectos formadoresformantes do humano de suas relaccedilotildees e construccedilotildees culturais em suas dimensotildees grupais comunitaacuterias ou pessoais (GATTI e ANDREacute 2013 p 30)
Utilizar a abordagem qualitativa para a execuccedilatildeo de uma pesquisa nesse
sentido implica considerar tanto os dados obtidos na investigaccedilatildeo quanto o
contexto em que esses dados satildeo produzidos procurando compreender os aspectos
histoacuterico-sociais tendo em vista as especificidades e a natildeo neutralidade do
pesquisador (LUumlDKE e ANDREacute 2013)
47
21 Os caminhos da pesquisa local participantes e instrumentos
Com relaccedilatildeo ao local de realizaccedilatildeo da pesquisa foi escolhida a Rede
Municipal de Ensino de Camboriuacute muniacutecipio localizado no litoral norte de Santa
Catarina com uma populaccedilatildeo aproximada de 74434 habitantes (IBGE 2015)
Essa Rede eacute gerenciada pela Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo e atualmente
atende aos seguintes niacuteveis de ensino Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e
Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos ndash EJA
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais de 2015 o nuacutemero total de alunos matriculados na Rede Municipal de
Ensino em 2015 eacute de 10401 estudantes (INEP 2015)
O caminho percorrido no processo de coleta de dados envolveu
primeiramente a realizaccedilatildeo de uma reuniatildeo com a Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo
e a Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria de Educaccedilatildeo de Camboriuacute com o
objetivo de levantar informaccedilotildees consideradas relevantes para a constituiccedilatildeo da
pesquisa como o nuacutemero total de escolas municipais o nuacutemero de escolas que
ofertam o AEE e a composiccedilatildeo da equipe gestora da escola
Os dados obtidos na reuniatildeo apontaram que a Rede Municipal de Ensino de
Camboriuacute contava em 2015 com 12 escolas urbanas e 03 escolas de campo
Em relaccedilatildeo agrave equipe gestora foco desta pesquisa informou-se que era
composta na maioria das escolas pelo(a) diretor(a) supervisor(a) e orientador(a)
Na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute a oferta do Atendimento
Educacional Especializado teve seu iniacutecio em 2013 e portanto pode-se dizer que se
trata de um serviccedilo recente que estaacute em processo de constituiccedilatildeo no municiacutepio
Em relaccedilatildeo aos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial a
Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo informou que foram
matriculados em 2015 166 estudantes em classes comuns nas escolas municipais
da Rede Assim ao consultar a base de dados do INEP de 2015 identificou-se um
nuacutemero de 182 estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial matriculados na
referida Rede observando uma diferenccedila de 16 estudantes
Ao comparar os dados fornecidos pelo INEP referentes ao ano de 2015
(INEP 2015) no que tange ao nuacutemero de matriacuteculas na Educaccedilatildeo Especial (182) na
Rede Municipal de Camboriuacute com os dados relativos ao total de matriculas (10401)
48
pocircde-se constatar que o percentual de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo
Especial correspondeu no referido ano a 2 do nuacutemero total de alunos
matriculados nessa Rede
Considerando esse dado para a seleccedilatildeo dos participantes estabeleceram-se
quatro criteacuterios de inclusatildeo de acordo com os quais a equipe diretiva deveria
1) Ser composta por diretor(a) escolar supervisor(a)coordenador(a)
pedagoacutegico e orientador(a) educacional
2) Atuar na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute
3) Atuar em escola com estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
4) Ter o questionaacuterio respondido por todos os seus integrantes
A partir dessas informaccedilotildees elaborou-se o projeto desta pesquisa e em
consonacircncia com os objetivos deste estudo escolheu-se um instrumento de coleta
de dados que pudesse contribuir com o processo de compreensatildeo da relaccedilatildeo entre
a equipe diretiva e o Atendimento Educacional Especializado
Para a coleta de dados junto agrave equipe diretiva optou-se pelo questionaacuterio
que conforme Gil (1999 p 128) pode ser definido
[] como a teacutecnica de investigaccedilatildeo composta por um nuacutemero mais ou menos elevado de questotildees apresentadas por escrito agraves pessoas tendo por objetivo o conhecimento de opiniotildees crenccedilas sentimentos interesses expectativas situaccedilotildees vivenciadas etc
A escolha do questionaacuterio como instrumento de coleta de dados converge
com a busca por dados mais abrangentes capilarizados que ajudem a tirar uma
foto da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute no que tange agrave relaccedilatildeo entre equipe
diretiva e o AEE
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do projeto marcou-se uma segunda reuniatildeo para
apresentaacute-lo agraves coordenadoras da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo que leram o
projeto e relataram que o referido estudo se apresentava como uma forma de a
Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo compreender o que precisa ser potencializado e o
que se mostra como exemplo positivo no que tange agrave gestatildeo escolar e o AEE
A Coordenadora Geral da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo representando a
Secretaacuteria de Educaccedilatildeo se mostrou favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo do projeto assinando o
Termo de Consentimento de Instituiccedilatildeo Coparticipante (Anexo I) Posteriormente a
pesquisadora inscreveu o projeto de pesquisa na Plataforma Brasil que foi
apreciado e aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da Universidade da Regiatildeo
49
de Joinville sob o Parecer Consubstanciado nordm 1223204 de 11 de setembro de
2015 (Anexo II) que atendeu ao descrito na Resoluccedilatildeo Nordm 4662012 (CONSELHO
NACIONAL DE SAUacuteDE 2012)
Realizou-se entatildeo uma terceira visita agraves coordenadoras da Secretaria
Municipal de Educaccedilatildeo para obter a autorizaccedilatildeo para a aplicaccedilatildeo piloto do
questionaacuterio elaborado para coleta de dados Solicitou-se agraves coordenadoras nesse
encontro a indicaccedilatildeo de duas escolas municipais de ensino fundamental do 1ordm ao 9ordm
ano para iniciar a realizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo do preacute-teste do instrumento da pesquisa
nesse caso o questionaacuterio Acredita-se que a aplicaccedilatildeo do preacute-teste em duas
escolas poderia conferir mais seguranccedila quanto agrave aplicaccedilatildeo do instrumento nas
demais escolas Nesse sentido o preacute-teste eacute considerado essencial uma vez que
pode contribuir para melhorar o instrumento de coleta de dados a partir de
sugestotildees dos proacuteprios participantes
De posse do nome das 2 escolas indicadas pelas coordenadoras da
Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute iniciou-se o contato junto agraves
escolas para agendar uma visita para explanaccedilatildeo da pesquisa e aplicaccedilatildeo do
instrumento utilizado para a coleta de dados um questionaacuterio autoaplicaacutevel
constituiacutedo por 27 questotildees sendo 11 perguntas abertas e 10 perguntas abertas e
fechadas e 06 perguntas fechadas
Ao chegar nas escolas a pesquisadora era encaminhada agrave sala da direccedilatildeo e
com a presenccedila do(a) direitor(a) supervisor(a) e orientador(a) iniciava a explicaccedilatildeo
sobre a pesquisa e o objetivo da preacute-testagem do questionaacuterio salientando que esse
era um momento importante para os participantes contribuiacuterem com o
aperfeiccediloamento do instrumento apontando possiacuteveis inconsistecircncias ou
necessidade de retirar acrescentar ou modificar alguma informaccedilatildeo Contudo ao
finalizar a aplicaccedilatildeo da preacute-testagem do questionaacuterio (Anexo II) foi evidenciado
pelos participantes que natildeo havia necessidade de alteraccedilotildees assim essas duas
escolas foram incluiacutedas na pesquisa
Diante disso prosseguiu-se com a efetiva aplicaccedilatildeo do questionaacuterio nas
demais escolas durante os meses de outubro e novembro de 2015 totalizando uma
abrangecircncia de 11 escolas municipais urbanas15 Assim das 12 escolas urbanas
15
O municiacutepio de Camboriuacute possui 12 escolas urbanas e 03 de Campo Uma escola urbana natildeo conseguiu responder ao questionaacuterio E nas 03 escolas municipais de campo os questionaacuterios natildeo foram aplicados pois a Coordenadora de Inclusatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo informou que
50
pesquisadas apenas 1 ficou sem responder ao questionaacuterio devido agraves demandas
de final de ano letivo O agendamento das visitas agraves escolas foi realizado via contato
telefocircnico com o(a) diretor(a) e durante as visitas primeiramente explanou-se a
pesquisa para o(a) diretor(a) para em seguida deixar os envelopes que continham
os questionaacuterios combinando com o(a) diretor(a) o prazo de uma semana para
buscaacute-los Dentro do envelope estava anexa ao questionaacuterio uma carta agrave equipe
diretiva (Anexo I) convidando a participar da pesquisa bem como uma coacutepia do
TCLE (Anexo III) destacando o caraacuteter voluntaacuterio e sigiloso da pesquisa
explicitando que os questionaacuterios respondidos ficariam sob a guarda e a
responsabilidade da pesquisadora por um periacuteodo de cinco anos sendo apoacutes esse
prazo descartados
Em cada escola que a pesquisadora se dirigia para buscar os questionaacuterios
tomava o cuidado de realizar a conferecircncia do preenchimento do TCLE junto ao
questionaacuterio respondido
Observou-se ainda que das 11 escolas participantes em somente 07 todos
os integrantes da equipe diretiva responderam ao questionaacuterio Nas demais
evidenciou-se que pelo menos um dos integrantes natildeo havia respondido Dessa
forma atenderam ao criteacuterio de inclusatildeo desta pesquisa somente 07 escolas cuja
equipe diretiva completa respondeu ao questionaacuterio
Em siacutentese foram aplicados 36 questionaacuterios sendo 32 respondidos poreacutem
apenas 22 foram considerados vaacutelidos de acordo com os criteacuterios de inclusatildeo desta
pesquisa Nessa direccedilatildeo foram computados para a anaacutelise de dados as respostas
de um total de 22 participantes sendo 07 diretores(as) 08 supervisores(as) 07
orientadores(as) A seguir seraacute detalhada a trajetoacuteria seguida no processo de
anaacutelise dos dados coletados
22 Seguindo o itineraacuterio organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados
O processo de anaacutelise das respostas obtidas nos questionaacuterios aplicados foi
baseado na Anaacutelise de Conteuacutedo (BARDIN 1977 FRANCO 2012) Para Franco
(2012 p23) a anaacutelise de conteuacutedo eacute ―um procedimento de pesquisa que se situa
estas escolas natildeo tinham a sala de recursos multifuncionais e tampouco estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
51
em um delineamento mais amplo da teoria da comunicaccedilatildeo e tem como ponto de
partida a mensagem A autora enfatiza ainda que
[] as mensagens expressam as representaccedilotildees sociais na qualidade de elaboraccedilotildees mentais construiacutedas socialmente a partir da dinacircmica que se estabelece entre a atividade psiacutequica do sujeito e o objeto do conhecimento Relaccedilatildeo que se daacute na praacutetica social e histoacuterica da humanidade e que se generaliza na linguagem [] a anaacutelise de conteuacutedo assenta-se nos pressupostos de uma concepccedilatildeo criacutetica e dinacircmica da linguagem Linguagem aqui entendida como uma construccedilatildeo real de toda a sociedade e como expressatildeo da existecircncia humana que em diferentes momentos histoacutericos elabora e desenvolve representaccedilotildees sociais no dinamismo interacional que se estabelece entre linguagem pensamento e accedilatildeo (FRANCO 2012 p 12-13)
A partir da exposiccedilatildeo da autora pode-se compreender que na anaacutelise de
conteuacutedo considera-se aleacutem das mensagens impliacutecitas e expliacutecitas o contexto
histoacuterico no qual seus produtores estatildeo inseridos
De posse dos 22 questionaacuterios vaacutelidos seguiu-se com a transcriccedilatildeo das
respostas para uma planilha de Excel organizando-as de duas formas por escola e
por questatildeo As que foram efetivamente utilizadas foram as planilhas organizadas
por questatildeo pois se considerou que propiciavam uma visualizaccedilatildeo mais clara
A identificaccedilatildeo dos respondentes foi realizada por meio de coacutedigos formados
por letras e nuacutemeros As escolas foram representadas por nuacutemeros de 1 a 7 Jaacute os
profissionais da equipe diretiva foram identificados por letras ―EDd para referir-se agrave
fala do(a) diretor(a) ―EDs do(a) supervisor(a) e ―EDo do(a) orientador(a) Para
uma melhor compressatildeo exemplifica-se ―ED1s refere-se a(o) Supervisor(a) da
Escola 1 ―ED4d ao(a) Diretor(a) da Escola 4 e assim por diante
Para as questotildees fechadas do questionaacuterio foram elaborados graacuteficos e
caacutelculos de porcentagem para auxiliar na compreensatildeo do perfil dos participantes
que pode ser conferido no capiacutetulo seguinte que versa sobre a caracterizaccedilatildeo dos
participantes da pesquisa Jaacute para as questotildees abertas optou-se por realizar uma
anaacutelise sem o apoio dos graacuteficos mas sim de quadros em sua maioria procurando
ilustrar e focalizar a articulaccedilatildeo das respostas obtidas com as teorias existentes
Diante do exposto a anaacutelise de dados dessa pesquisa ocorreu por meio de
uma leitura minuciosa dos dados para observar possiacuteveis recorrecircncias
contradiccedilotildees e complementaridades a fim de constituir os primeiros indicadores de
anaacutelise A partir desses indicadores foram criadas as categorias de anaacutelise sem
deixar de considerar para sua elaboraccedilatildeo os pontos relevantes apontados por outras
52
pesquisas e pela teoria e que eventualmente tenham sido silenciados pelos
participantes da pesquisa Esse eacute um processo longo e trabalhoso mas como
destaca Franco (2012 p 59) a criaccedilatildeo de categorias eacute ―o ponto crucial da anaacutelise
de conteuacutedo Ainda segundo a autora ―a categorizaccedilatildeo eacute uma operaccedilatildeo de
classificaccedilatildeo de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciaccedilatildeo seguida
de um reagrupamento baseado em analogias (FRANCO 2012 p 59) Vale
ressaltar que esse processo de anaacutelise de dados requer visitas constantes agrave teoria e
ao material de anaacutelise buscando as articulaccedilotildees pertinentes A categorizaccedilatildeo dos
dados deste estudo foi realizada a posteriori a partir da construccedilatildeo de indicadores
que estatildeo em consonacircncia com os objetivos desta pesquisa conforme explicitado
no Quadro 1 a seguir
Quadro 1 ndash Categorias de anaacutelise e suas relaccedilotildees com os objetivos da pesquisa
Objetivos da pesquisa
Categorias Indicadores Perguntas do questionaacuterio relacionadas
- Revelar a compreensatildeo da equipe diretiva escolar acerca do serviccedilo de AEE e do puacuteblico-alvo da EE - Evidenciar o que a equipe diretiva escolar conhece sobre o trabalho do professor do AEE
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
O serviccedilo em si o puacuteblico alvo da EE e o trabalho docente
11 12 13 14 15 19 21 22 e 23
- Identificar os procedimentos que tecircm sido adotados pela equipe diretiva escolar na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
O papel da equipe diretiva Acessibilidade arquitetocircnica Recursos materiais e pedagoacutegicos Se o AEE estaacute comtemplado no Projeto poliacutetico-pedagoacutegico e Desafios na viabilizaccedilatildeo do serviccedilo e formas de superaacute-lo
20 16 17 25 26 e 27
Fonte Primaacuteria (2016)
53
A constituiccedilatildeo desta pesquisa seguiu um processo de estudos dos documentos
oficiais e literaturas relacionadas ao Atendimento Educacional Especializado e agrave
gestatildeo escolar procurando selecionar os aspectos mais relevantes para a
construccedilatildeo da fundamentaccedilatildeo teoacuterica e do percurso de anaacutelise dos questionaacuterios
No proacuteximo capiacutetulo seraacute apresentada a anaacutelise dos dados focalizando a
caracterizaccedilatildeo do perfil dos participantes da pesquisa e em seguida adentra-se nas
categorias de anaacutelise a primeira denominada o que pensam as equipes diretivas
escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado e a segunda as
condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe
diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
54
3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Agrave PARTIR DAS FALAS DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMBORIUacute
Nesta etapa de anaacutelise e discussatildeo dos dados coletados tem-se por objetivo
apresentar as respostas das 22 participantes que compotildeem as equipes diretivas de
7 escolas da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute articulando-as a um
referencial teoacuterico e dialogando com as questotildees de pesquisa mencionadas na
apresentaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo Salienta-se que do processo de anaacutelise de
conteuacutedo dos dados coletados duas categorias emergiram a primeira diz respeito
ao que pensam as equipe diretiva sobre o Atendimento Educacional Especializado
e o puacuteblico-alvo da EE e o professor especializado e a segunda direcionada a
abordar o papel da equipe diretiva na viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional
Especializado
Nesse sentido o presente capiacutetulo foi organizado em trecircs toacutepicos
Apresentaccedilatildeo da equipe diretiva escolar
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento
Educacional Especializado (primeira categoria de anaacutelise)
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da
equipe diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional
Especializado (segunda categoria de anaacutelise)
Acredita-se que apresentar os participantes deste estudo e suas
compreensotildees sobre o AEE e como viabilizaacute-lo pode contribuir para deflagrar o
modo como o AEE vem se constituindo na Rede Municipal de Camboriuacute e o papel
da gestatildeo escolar nesse processo
55
31 Apresentaccedilatildeo das Equipes Diretivas Escolares16
Participaram desta pesquisa 22 profissionais que compotildeem ao todo 7
equipes diretivas escolares sendo 07 Diretores(as) 07 Orientadores(as)
Educacionais e 08 Supervisores(as) Educacionais As questotildees abordadas nesta
apresentaccedilatildeo do perfil dos participantes fazem parte do primeiro eixo do
questionaacuterio e estatildeo relacionadas agraves suas caracteriacutesticas pessoais e profissionais
Como primeira caracteriacutestica destaca-se a questatildeo de gecircnero Dentre os
profissionais que compotildeem a equipe diretiva escolar nas escolas pesquisadas 17
identificaram-se com o gecircnero feminino e 5 com o masculino Analisando a relaccedilatildeo
gecircnero e funccedilatildeo profissional tem-se a seguinte configuraccedilatildeo exposta no Quadro 2
Quadro 2 - Gecircnero dos integrantes da equipe diretiva escolar por funccedilatildeo
Funccedilatildeo Gecircnero Feminino Gecircnero Masculino
Diretor(a) 6 1
Supervisor(a) 6 2
Orientador(a) 5 2
Fonte Primaacuteria (2016)
Ao pesquisar estudos nacionais e internacionais que traccedilassem o perfil dos
integrantes da equipe diretiva escolar foram encontradas duas pesquisas
desenvolvidas pela Fundaccedilatildeo Victor Civita17 (2009 - 2011) A primeira publicada em
2009 traccedilou o perfil de ―diretores escolares brasileiros A segunda datada de
2011 debruccedilou-se sobre o perfil dos ―coordenadores pedagoacutegicos Tambeacutem foi
encontrado um estudo realizado pela Pesquisa Internacional sobre Ensino e
16
Para compor a anaacutelise e discussatildeo deste item seratildeo utilizadas as respostas do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo As referidas questotildees estatildeo dispostas na seguinte ordem 2 Qual sua funccedilatildeo na escola ( ) diretor diretor (a) [] 1Qual seu ano de Nascimento 4 Vocecirc jaacute atuou como professor de sala de aula 5 Quanto tempo 6 Na sua trajetoacuteria como docente teve alguma experiecircncia com estudante com deficiecircncia 3 Qual sua formaccedilatildeo acadecircmica 7 Qual sua carga horaacuteria hoje na funccedilatildeo em que atua na Rede Municipal de Ensino8 Quanto tempo de serviccedilo vocecirc tem na funccedilatildeo em que ocupa atualmente na Rede Municipal de ensino 9 Vocecirc pertence ao quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino 10) Como vocecirc ingressou na funccedilatildeo em que ocupa em sua escolae 18 Vocecirc teve alguma formaccedilatildeo com temas relacionados ao AEE 17
Em 2009 a Fundaccedilatildeo Victor Civita desenvolveu uma pesquisa para traccedilar o ―Perfil dos Diretores de Escola da Rede Puacuteblica O estudo foi realizado com 400 diretores da educaccedilatildeo baacutesica (Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e Ensino Meacutedio) de 13 capitais brasileiras por meio de entrevistas telefocircnicas e um questionaacuterio estruturado e teve como principal objetivo levantar caracteriacutesticas percepccedilotildees e opiniotildees dos diretores escolares brasileiros aleacutem de prover um retrato desse gestor e uma investigaccedilatildeo da sua relaccedilatildeo com a Educaccedilatildeo Jaacute em 2011 a Fundaccedilatildeo Victor Civita encomendou uma pesquisa agrave Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sobre o perfil dos coordenadores pedagoacutegicos (CPs) das escolas puacuteblicas Foram entrevistados 400 CPs de 13 estados brasileiros nas diferentes regiotildees do Brasil
56
Aprendizagem ndash TALIS18 (INEP 2014) que abrangeu o Brasil no estudo sobre o
perfil de ―diretores de educaccedilatildeo baacutesica em 34 paiacuteses No que concerne ao perfil do
orientador educacional nenhuma pesquisa foi encontrada Os dados apresentados
pela Fundaccedilatildeo Victor Civita (2009) apontaram que grande parte dos diretores (80)
satildeo do sexo feminino com idade meacutedia de 46 anos o que estaacute de acordo com os
dados do estudo desenvolvido pela TALIS (INEP 2014) A pesquisa TALIS (INEP
2014) revelou que no Brasil 75 dos diretores satildeo mulheres e tecircm em meacutedia 45
anos de idade preponderando portanto o gecircnero feminino na gestatildeo das escolas
puacuteblicas de ensino fundamental Ainda segundo a TALIS (INEP 2014) nos outros
24 paiacuteses pesquisados esse percentual de mulheres ficou na meacutedia de 49
Em relaccedilatildeo agrave pesquisa sobre o coordenador(a) pedagoacutegico(a) apresentada
pela Fundaccedilatildeo Victor Civita (2011) demonstrou-se que 90 desses profissionais
satildeo mulheres e tecircm em meacutedia 44 anos de idade
Esses dados estatildeo em consonacircncia tambeacutem com as pesquisas realizadas
por Vioto (2013) e Lira (2012) apresentadas no primeiro capiacutetulo da presente
dissertaccedilatildeo Nos referidos estudos constatou-se a predominacircncia do gecircnero
feminino entre os coordenadores pedagoacutegicos pesquisados Ao analisar o perfil dos
diretores(a) coordenadores(as) pedagoacutegicos e orientadores(as) educacionais na
pesquisa de Silveira (2012) e Santos (2011) tambeacutem foi perceptiacutevel a prevalecircncia
do gecircnero feminino
Os dados revelam portanto uma presenccedila expressiva do gecircnero feminino
nessas funccedilotildees principalmente na educaccedilatildeo baacutesica que se assemelha ao
movimento ocasionado com os docentes em decorrecircncia de um processo histoacuterico
denominado de feminizaccedilatildeo19 do magisteacuterio caracterizado ao longo da histoacuteria
como um fenocircmeno pautado pelas transformaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas
―[que] abriram espaccedilo em nosso paiacutes para o incremento da entrada das mulheres
18
A Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS ndash Teaching and Learning International Survey) investigou o ambiente de ensino e aprendizagem em escolas de educaccedilatildeo baacutesica de 34 paiacuteses durante os anos de 2012 e 2013 A TALIS foi coordenada em acircmbito internacional pela Organizaccedilatildeo para Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) No Brasil a pesquisa foi organizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) responsaacutevel tambeacutem pela elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio Nacional da TALIS que descreve de maneira mais detalhada o processo de aplicaccedilatildeo da pesquisa e os principais resultados para a amostra de diretores e professores brasileiros A pesquisa TALIS entrevistou no total natildeo soacute no Brasil 14291 professores que atuam em turmas do 6ordm ao 9ordm ano do Ensino Fundamental e os diretores de suas respectivas escolas No Brasil a pesquisa abrangeu 27 Estados e 48 escolas sendo que somente 20 escolas aceitaram a participar da pesquisa 19
Denominaccedilatildeo dada ao processo soacutecio-poliacutetico-cultural decorrente da expressiva presenccedila das mulheres no trabalho docente (COSTA 2010)
57
das camadas meacutedias no mercado de trabalho sendo o magisteacuterio primaacuterio uma das
ocupaccedilotildees femininas socialmente aprovadas (COSTA 2010 p 01)
Louro (2000 p 448) relata que a atividade do magisteacuterio no Brasil por muito
tempo foi desenvolvida por ―homens religiosos como os jesuiacutetas mais
especificamente no periacuteodo compreendido entre 1549 e 1759 [e] em seguida foram
homens comuns que se ocuparam do magisteacuterio Jaacute a partir do seacuteculo XIX a
expansatildeo do ensino primaacuterio afetou diretamente as condiccedilotildees de trabalho docente
que foram se tornando cada vez mais precaacuterias afastando paulatinamente os
homens dessa profissatildeo Assim o movimento observado foi de diminuiccedilatildeo no
nuacutemero de homens em sala de aula no ensino primaacuterio e nas escolas normais
passando-se a formar jaacute nesse periacuteodo mais mulheres (VIANNA 2013) Desse
modo a presenccedila intensa de mulheres no magisteacuterio no Brasil foi se constituindo
de forma gradativa e intimamente ligada ao papel de mulher idealizado na eacutepoca
para exercer a docecircncia As mulheres tinham que dispor de caracteriacutesticas como
religiosidade docilidade e submissatildeo configurando o que deveria ser um trabalho
educativo como ―[] uma missatildeo de educar concebida como um prolongamento da
vocaccedilatildeo maternal (COSTA 2010 p 01)
Nessa perspectiva segundo Vianna (2013 p 164) o magisteacuterio integrou um
dos primeiros campos de trabalho para a ―mulher branca e de classe meacutedia
estudiosa e portadora de uma feminilidade idealizada para essa classe mas
tambeacutem protagonistas da luta pelo alargamento da participaccedilatildeo feminina na esfera
econocircmica (VIANNA 2013 p 164)
Com relaccedilatildeo agrave gestatildeo das instituiccedilotildees de ensino puacuteblico no Brasil por muito
tempo essa funccedilatildeo ficou sob a incumbecircncia dos homens reproduzindo e reforccedilando
como pontuou Louro (2000 p 460) ―[] a hierarquia domeacutestica as mulheres
ficavam nas salas de aulas ensinando enquanto os homens dirigiam e controlavam
o sistema Acrescenta-se ainda que os homens se destacavam como referecircncia
superior e de poder e entendia-se que a mulher por sua vez natildeo era adequada agrave
gestatildeo por ser muito sentimental e natildeo possuir firmeza em suas decisotildees (LOURO
2000)
Contudo a funccedilatildeo de gestatildeo exercida por mulheres foi permeada por
momentos de resistecircncia em sua historicidade visto que se tratava de um cargo
exclusivamente masculino como o caso da primeira professora que ao ascender agrave
funccedilatildeo de gestora nos anos de 1920 provocou revolta principalmente por parte dos
58
estudantes homens Assim pode-se dizer que de algum modo a inserccedilatildeo feminina
no cargo de gestatildeo rompeu ―com a representaccedilatildeo e as expectativas tradicionais
delineadas agraves mulheres (LOURO 2000 p 460)
Nessa perspectiva as discussotildees tecidas ateacute o momento no que tange agrave
questatildeo de gecircnero dos profissionais de educaccedilatildeo podem contribuir para evidenciar
possiacuteveis conexotildees entre proletarizaccedilatildeo do trabalho dos(as) professores(as) e
gestores(as) escolares e o processo histoacuterico de feminizaccedilatildeo do magisteacuterio e da
profissatildeo educativa como um todo
Seguindo com as anaacutelises passa-se a abordar agora a idade dos
profissionais das equipes diretivas20 De acordo com o Graacutefico 1 apresentado a
seguir dos 22 participantes da pesquisa 2 responderam possuir idade entre 25 a
32 anos 8 entre 33 e 40 anos 5 encontram-se na faixa etaacuteria entre 41 a 50 e 6
informaram que tecircm mais de 50 anos e 1 natildeo respondeu Ao calcular a idade meacutedia
dos profissionais por funccedilatildeo chegou-se ao seguinte resultado Diretor(a) 46 anos
Supervisor(a) 44 anos e Orientador(a) 49 anos
Graacutefico 1 Faixa etaacuteria dos participantes da pesquisa
Fonte Primaacuteria (2016)
De acordo com os dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e
Aprendizagem ndash TALIS (INEP 2014) dentre os 34 paiacuteses que participaram do
20 Optou-se neste estudo por utilizar uma menccedilatildeo aos participantes que contemple os dois gecircneros masculino e feminino ou seja utilizaremos diretor(a) supervisor(a) e orientador(a) quando nos referirmos a cada profissional que compotildee a equipe diretiva
59
estudo os diretores das escolas brasileiras apresentaram a menor meacutedia de idade
(45 anos) assemelhando-se aos resultados encontrados na presente pesquisa
No que se refere ao tempo de docecircncia da equipe diretiva em sala de aula
constatou-se que a maioria dos profissionais possuem significativa experiecircncia uma
vez que 8 responderam que possuem ateacute 5 anos 7 que tecircm de 6 a 10 anos de
docecircncia 2 possuem de 11 a 15 anos em sala de aula 4 informaram que tecircm mais
de 15 anos de experiecircncia na docecircncia e 01 natildeo respondeu conforme exposto no
graacutefico a seguir
Graacutefico 2 ndash Tempo de atuaccedilatildeo docente dos profissionais das equipes diretivas por funccedilatildeo diretor(a) supervisor(a) e orientador(a)
Fonte Primaacuteria (2016)
Evidenciou-se ao visualizar o graacutefico 2 acima uma expressiva concentraccedilatildeo
de supervisores(as) educacionais com ateacute 5 anos de experiecircncia na docecircncia
Supotildee-se que uma maior experiecircncia desse profissional em sala de aula pode
contribuir com seu trabalho de orientaccedilatildeo pedagoacutegica e didaacutetica junto aos
professores assim como com o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Em pesquisa empreendida por Placco Almeida e Souza (2011 p 247-248)
com coordenadores pedagoacutegicos (CPs) as autoras abordaram alguns
questionamentos e dentre eles se destaca o que diz respeito agrave necessidade de
tempo na docecircncia para atuarem na funccedilatildeo As autoras puderam constatar que esse
item dividiu opiniotildees entre os profissionais pesquisados ao relatarem que
[] com relaccedilatildeo agrave necessidade de ter experiecircncia na docecircncia para exercer a coordenaccedilatildeo os CPs divergem alguns acham que sim e outros que natildeo Contudo a maioria concorda que a experiecircncia como docente natildeo eacute suficiente para exercer a coordenaccedilatildeo pois entendem que haacute habilidades especiacuteficas dessa funccedilatildeo que natildeo se desenvolvem na docecircncia De outro
60
lado acreditam que a experiecircncia em sala de aula possibilita conhecer melhor a escola e vivenciar problemas que soacute aparecem laacute Em siacutentese segundo a percepccedilatildeo dos CPs o tempo na funccedilatildeo e a experiecircncia satildeo fatores importantes mas natildeo decisivos para o bom desempenho do profissional na coordenaccedilatildeo
Nessa direccedilatildeo observou-se que autores como Paro (2016b) e Libacircneo (2015)
parecem se contrapor quando o assunto eacute a experiecircncia docente que antecede a
atuaccedilatildeo da equipe diretiva na escola Paro (2016b p57) ao defender que ―todos os
educadores satildeo potenciais candidatos agrave direccedilatildeo escolar parece conferir uma
ecircnfase na importacircncia da experiecircncia docente para a realizaccedilatildeo do trabalho na
funccedilatildeo diretiva Por outro lado Libacircneo (2015) afirma que para exercer o cargo de
diretor ou coordenador pedagoacutegico natildeo eacute necessaacuterio uma experiecircncia preacutevia como
docente
[] haacute divergecircncias significativas sobre se a atividade administrativa distingue-se da atividade pedagoacutegica e sobre se a direccedilatildeo administrativa e direccedilatildeo pedagoacutegica devem ser exercidas necessariamente por um professor No Brasil difundiu-se bastante a ideia de que a direccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo pedagoacutegica satildeo formas diferenciadas de uma uacutenica funccedilatildeo a docente Defendemos uma posiccedilatildeo diferente Tanto o diretor quanto o coordenador pedagoacutegico desempenham cada um funccedilotildees especiacuteficas que requerem formaccedilatildeo profissional tambeacutem especiacutefica distinta daquela provida aos professores Nesse caso o diretor natildeo precisa exercer nem ter exercido a docecircncia embora deva receber formaccedilatildeo para lidar com questotildees de ensino Em outras palavras as funccedilotildees de direccedilatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e docente natildeo precisam coincidir necessariamente (LIBAcircNEO 2015 p 187 grifos nossos)
Ante ao exposto entende-se que a experiecircncia na docecircncia pode contribuir
para a atuaccedilatildeo dos profissionais das equipes diretivas assim como compreende-se
que as formaccedilotildees para esses profissionais precisam contemplar de forma central os
aspectos pedagoacutegicos e as singularidades das escolas e natildeo somente os aspectos
burocraacuteticos comumente mais enfatizados
No Quadro 3 apresentado na sequecircncia procurou-se detalhar o tempo de
atuaccedilatildeo em sala de cada profissional que compotildee a equipe diretiva escolar Pode-se
evidenciar que os integrantes de todas as equipes diretivas apresentam experiecircncia
na docecircncia
61
Quadro 3 Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes da equipe diretiva em sala de aula
Tempo de atuaccedilatildeo em sala de aula
Equipe Diretiva
Ateacute 5 anos De 6 a 10 anos De 11 a 15 anos Mais de 15
anos Natildeo
respondeu
ED1 Supervisor(a) Diretor(a) Orientador( a)
ED2 Orientador(a)
e Supervisor(a)
Diretor(a)
ED3 Supervisor(a) Diretor(a) Orientador(a)
ED4 Diretor(a) e
2 Supervisores(as)
Orientador(a)
ED5 Orientador(a) Diretor(a) e
Supervisor(a)
ED6 Orientador(a)
e Supervisor(a)
Diretor(a)
ED7 Diretor(a) e
Supervisor(a) Orientador(a)
Fonte Primaacuteria (2016)
Conforme os dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem ndash
TALIS (INEP 2014) a meacutedia de experiecircncia em sala de aula dos diretores
brasileiros pesquisados foi de 14 anos Nesse sentido os dados da Rede Municipal
de Ensino de Camboriuacute obtidos na presente pesquisa divergem em parte dos
indicadores nacionais pois a maioria dos respondentes possuem em meacutedia 8 anos
de docecircncia
Huberman (2000) em seus estudos sobre o ciclo de vida profissional dos
professores fez uso do tempo de atuaccedilatildeo docente para expor a existecircncia de cinco
fases que delineiam o processo de evoluccedilatildeo do docente nessa profissatildeo 1) Fase de
entrada na carreira (1 a 3 anos de docecircncia) 2) Fase de estabilizaccedilatildeo (4 a 6 anos)
3) Fase de diversificaccedilatildeo (7 a 25 anos) 4) Fase de serenidade (25 a 35 anos) 5)
Fase de desinvestimento (mais de 35 anos de docecircncia)
Para clarificar essas informaccedilotildees apresenta-se a seguir o Quadro 4 que
mostra as fases do ciclo de vida profissional dos professores conforme os estudos
do autor
62
Quadro 4 - Fases do ciclo de vida profissional segundo Huberman
Fonte Huberman (2000)
O tempo de docecircncia da maior parte dos participantes da pesquisa (6 a 10
anos) conforme Huberman (2000) estaacute compreendido na fase entre 7 e 25 anos de
docecircncia que eacute denominada de diversificaccedilatildeo na qual conta-se com um repertoacuterio
de vivecircncias pessoais e profissionais bastante diversas para atuar na docecircncia Para
os 8 que responderam que tecircm ateacute 5 anos de docecircncia em sala de aula nota-se que
sua experiecircncia docente se delimitou agrave fase mais inicial do ciclo profissional
denominada ―sobrevivecircncia e descoberta na qual satildeo explorados os contornos
dessa nova funccedilatildeo
Salienta-se que essas fases natildeo seguem em sua constituiccedilatildeo uma linearidade
de acontecimentos uma vez que cada profissional eacute singular e essa singularidade
estaacute presente na maneira como cada um vivencia a sua proacutepria trajetoacuteria
profissional
Outra questatildeo perguntada aos profissionais das equipes diretivas foi se nessa
trajetoacuteria docente eles(as) tiveram algum aluno com deficiecircncia Evidenciou-se que
dos 22 participantes somente dois diretores(as) e dois supervisores(as) natildeo tiveram
essa experiecircncia os demais integrantes de todas as equipes diretivas a tiveram
63
Graacutefico 3 ndash Experiecircncia dos profissionais da equipe diretiva enquanto docentes de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Fonte Primaacuteria (2016)
Esses dados apontam que a maioria dos profissionais participantes desta
pesquisa em sua trajetoacuteria docente trabalhou com estudantes puacuteblico-alvo da EE o
que nos permite evidenciar que cada profissional vivenciou esse trabalho em suas
respectivas escolas de formas diferentes e certamente puderam contar com uma
equipe diretiva que pode ter contribuiacutedo ou fragilizado a realizaccedilatildeo desse trabalho no
acircmbito escolar
Infere-se ainda que essa vivecircncia pode ter ocorrido em um determinado
momento histoacuterico em que a segregaccedilatildeo ainda era de fato uma opccedilatildeo mais
indicada no processo de escolarizaccedilatildeo com deficiecircncia Mesmo considerando que a
construccedilatildeo de saberes eacute um processo dinacircmico que pode passar por modificaccedilotildees
no decorrer da histoacuteria demandando que os profissionais da educaccedilatildeo estejam em
constante busca por novos conhecimentos ou por sua ressignificaccedilatildeo eacute necessaacuterio
ter em conta que reconstruir uma concepccedilatildeo sobre algo pode ser muito complexo
Aleacutem da vivecircncia que esses profissionais relataram ter eacute preciso considerar
tambeacutem a formaccedilatildeo inicial que possuem se essa propiciou ou natildeo a discussatildeo e
apropriaccedilatildeo de teorias e praacuteticas acerca da Educaccedilatildeo Especial nos espaccedilos
escolares Tendo em vista ainda que esses conhecimentos quando apreendidos na
formaccedilatildeo inicial estatildeo associados a um periacuteodo histoacuterico especiacutefico em que tal
formaccedilatildeo foi realizada
64
Nesse sentido Bueno (2002) esclarece que a incorporaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial
pelas Instituiccedilotildees de Ensino Superior no Brasil ocorreu a partir da promulgaccedilatildeo da
Lei n 569271 na medida em que essa diretriz em seu art 29 estabeleceu que a
formaccedilatildeo de professores e especialistas para o ensino fundamental e meacutedio (antigos
1ordm e 2ordm graus) fosse aumentando de forma progressiva O autor explicita ainda que
[] em decorrecircncia dessa lei o Conselho Federal de Educaccedilatildeo baixou Resoluccedilotildees
tornando obrigatoacuteria a formaccedilatildeo de professores de educaccedilatildeo especial em niacutevel
superior dentro dos cursos de Pedagogia (BUENO 2002 p 22)
Atualmente pode-se observar agrave luz da Resoluccedilatildeo nordm 22015 (BRASIL 2015)
que a incorporaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial pelos curriacuteculos dos cursos de
licenciatura e formaccedilatildeo continuada foi ampliada uma vez que passou a constituir um
tema a ser abordado por diversas disciplinas Aparentemente essa ampliaccedilatildeo pode
ser vista como positiva contudo eacute oportuno reconhecer que ―dissolver os
conteuacutedos de Educaccedilatildeo Especial nas disciplinas pode ocasionar uma fragilizaccedilatildeo no
processo de formaccedilatildeo uma vez que pode ocorrer a reduccedilatildeo da carga horaacuteria
destinada a esses conteuacutedos ao mesmo tempo em que satildeo apresentados de forma
fragmentada No art 13ordm paraacutegrafo segundo da referida Resoluccedilatildeo eacute detalhado o
modo como a Educaccedilatildeo Especial deve ser contempla no curriacuteculo dos cursos
citados
[] sect 2ordm Os cursos de formaccedilatildeo deveratildeo garantir nos curriacuteculos conteuacutedos especiacuteficos da respectiva aacuterea de conhecimento ou interdisciplinares seus fundamentos e metodologias bem como conteuacutedos relacionados aos fundamentos da educaccedilatildeo formaccedilatildeo na aacuterea de poliacuteticas puacuteblicas e gestatildeo da educaccedilatildeo seus fundamentos e metodologias direitos humanos diversidades eacutetnico-racial de gecircnero sexual religiosa de faixa geracional Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) educaccedilatildeo especial e direitos educacionais de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas (BRASIL 2015)
Segundo Pletsch (2009 p 150) limitar-se a oferecer uma disciplina com
conteuacutedos sobre Educaccedilatildeo Especial ―sem maior reflexatildeo e aprofundamento acerca
das capacidades e individualidades humanas pode acabar auxiliando a manutenccedilatildeo
de praacuteticas de segregaccedilatildeo Desse modo pode-se evidenciar que a forma como a
Lei supracitada propotildee que os conteuacutedos de Educaccedilatildeo Especial sejam abordados
nos cursos de licenciatura em geral parece natildeo colaborar com o adensamento
teoacuterico discussatildeo e reflexatildeo criacutetica sobre a educaccedilatildeo especial na formaccedilatildeo dos
futuros professores Isto por sua vez pode culminar em um entendimento
65
desarticulado entre Educaccedilatildeo Regular e Educaccedilatildeo Especial favorecendo a
constituiccedilatildeo de praacuteticas de segregaccedilatildeo nas escolas brasileiras
Ante ao exposto buscou-se analisar nos dizeres das equipes diretivas
pesquisadas a formaccedilatildeo inicial em niacutevel de graduaccedilatildeo de cada integrante que a
compotildee Evidenciou-se que dos 22 participantes 12 informaram possuir o curso de
formaccedilatildeo inicial em pedagogia 7 em outras licenciaturas e 3 optaram por natildeo
responder a essa questatildeo Assim pode-se perceber dentre as respostas dos
integrantes das equipes diretivas uma prevalecircncia da formaccedilatildeo inicial em pedagogia
Essas informaccedilotildees podem ser conferidas no graacutefico 4 abaixo
Graacutefico 4 ndash Formaccedilatildeo inicial dos integrantes das equipes diretivas
Fonte Primaacuteria (2016)
Prosseguindo com as anaacutelises percebe-se tambeacutem que dentre os integrantes
das equipes diretivas 6 diretores satildeo formados em Pedagogia e 1 diretor eacute formado
em Estudos Sociais Conforme a pesquisa desenvolvida pela Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) 43 dos diretores brasileiros possuem sua primeira graduaccedilatildeo em
Pedagogia e dos que procuram uma segunda formaccedilatildeo 60 elegeu essa
licenciatura Dos 7 diretores participantes da pesquisa apenas uma informou ter
mais de uma graduaccedilatildeo
Com relaccedilatildeo aos supervisores(as) escolares 4 satildeo formados em Pedagogia e
3 satildeo formados em outras licenciaturas ciecircncias naturais artes visuais e ciecircncias
bioloacutegicas sendo que 1 natildeo especificou De acordo com os estudos realizados pela
Fundaccedilatildeo Victor Civita (2011) 55 dos coordenadores pedagoacutegicos no Brasil
possuem sua primeira licenciatura em Pedagogia e dos 45 que natildeo tecircm
Pedagogia como seu primeiro curso 61 o elegeram como segunda opccedilatildeo de
66
formaccedilatildeo Dos 8 supervisores(as) participantes da pesquisa somente duas
informaram ter duas graduaccedilotildees
Quanto aos orientadores educacionais 2 responderam que possuem
formaccedilatildeo em Pedagogia e 3 informaram que tecircm formaccedilatildeo em outras licenciaturas
(matemaacutetica educaccedilatildeo fiacutesica e ciecircncias bioloacutegicas) e 2 natildeo especificaram
De forma geral portanto pode-se concluir que a formaccedilatildeo inicial em
Pedagogia eacute predominante nas equipes diretivas escolares da Rede Municipal de
Ensino de Camboriuacute Com relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo dos
integrantes das equipes diretivas os Graacuteficos 5 6 e 7 a seguir apresentam um
detalhamento
Graacutefico 5 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) dos Diretores(as)
Fonte Primaacuteria (2016) Graacutefico 6 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu e Stricto Sensu) dos Supervisores(as) Educacionais
Fonte Primaacuteria (2016
67
Graacutefico 7 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) Orientadores(as) Educacionais
Fonte Primaacuteria
Percebeu-se que dos 22 participantes somente 2 profissionais responderam
natildeo possuir uma poacutes-graduaccedilatildeo e 1 optou por natildeo responder agrave questatildeo Desse
modo foi possiacutevel evidenciar que a maioria dos profissionais das equipes diretivas
possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu
Dos 7 diretores(as) participantes da pesquisa 6 possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato
sensu Esses dados estatildeo em consonacircncia com o estudo da Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) o qual aponta que 72 dos diretores das escolas brasileiras realizaram
algum tipo de poacutes-graduaccedilatildeo sendo que desses 96 satildeo lato sensu E ainda
conforme a pesquisa TALIS (INEP 2014 p 10-11) ―somente uma pequena parte
dos diretores natildeo tem formaccedilatildeo em niacutevel superior (2) no entanto 12 deles
afirmaram que nunca fizeram um curso especiacutefico de administraccedilatildeo escolar
Quanto aos 8 supervisores(as) participantes desta pesquisa 6 possuem poacutes-
graduaccedilatildeo lato sensu na aacuterea de atuaccedilatildeo isto eacute voltada para a coordenaccedilatildeo
pedagoacutegica ou supervisatildeo escolar 01 em outra aacuterea enquanto apenas 1 informou
natildeo ter realizado especializaccedilatildeo Dos 7 supervisores que possuem poacutes-graduaccedilatildeo 1
informou possuir tambeacutem poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu na aacuterea de Educaccedilatildeo Esses
dados divergem em parte do estudo apresentado pela Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2011) o qual apontou que 70 dos participantes possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato
sensu poreacutem somente 3 desses a realizaram na aacuterea de coordenaccedilatildeo
pedagoacutegica
Essa discrepacircncia entre os dados nacionais e municipais pode estar
vinculada aos criteacuterios de contrataccedilatildeo estipulado pelo municiacutepio de Camboriuacute No
uacuteltimo edital de concurso puacuteblico nordm 0252013 estabeleceu-se que para se inscrever
ao cargo de Supervisor Escolar o candidato precisaria ter ―curso em Licenciatura
68
Plena com especializaccedilatildeo em Supervisatildeo Escolar com carga horaacuteria miacutenima de
360h ou Certificado de Conclusatildeo da Especializaccedilatildeo juntamente com o histoacuterico
escolar
Com relaccedilatildeo aos 7 orientadores(as) participantes deste estudo observou-se
que 06 informaram possuir poacutes-graduaccedilatildeo dos quais 4 satildeo na aacuterea de atuaccedilatildeo
(orientaccedilatildeo educacional) 2 satildeo em outra aacuterea e 1 natildeo respondeu
Seguindo com as anaacutelises os integrantes das equipes diretivas participantes
deste estudo responderam ainda que pertencem ao quadro efetivo de servidor
puacuteblico da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute e exercem uma carga horaacuteria de
40 horas semanais na funccedilatildeo em que atuam
No que tange ao ingresso no cargo para cada funccedilatildeo observou-se um
processo diferente Dentre os 7 orientadores(as) e 8 supervisores(as) participantes
deste estudo 6 orientadores(as) e 7 supervisores(as) informaram que o ingresso na
funccedilatildeo ocorreu por meio de concurso puacuteblico Somente 1 supervisor respondeu ter
ingressado na funccedilatildeo por meio de convite e 1 orientador(a) informou que ingressou
na funccedilatildeo por meio de um processo seletivo diferenciado do concurso puacuteblico Jaacute
para o cargo de diretor todos responderam que o ingresso na funccedilatildeo ocorreu por
meio de indicaccedilatildeo
Quanto ao ingresso ao cargo de diretor salienta-se que apesar de existirem
diretrizes e legislaccedilotildees que promulguem uma gestatildeo escolar democraacutetica a eleiccedilatildeo
para diretores nas escolas como ponto de partida para uma accedilatildeo mais participativa
junto agrave comunidade nos espaccedilos escolares ainda se apresenta como uma decisatildeo
que pertence aos gestores das esferas de governo Federal Estadual e Municipal
Nesse sentido introduzir a eleiccedilatildeo em detrimento da indicaccedilatildeo hoje praticada
pode ser um caminho para aproximar ainda mais as escolas municipais dos
princiacutepios de democratizaccedilatildeo e participaccedilatildeo na Rede Municipal de Ensino de
Camboriuacute
Paro (2003 p 124) adverte a esse respeito que a introduccedilatildeo da eleiccedilatildeo nas
escolas natildeo se daacute de forma harmoniosa e ―como todo instrumento de democracia
natildeo estaacute livre dos conflitos e tensionamentos Contudo constitui-se como uma
forma de permitir que um nuacutemero maior de pessoas da comunidade escolar se
envolva nos processos decisoacuterios e na gestatildeo da escola
69
Partindo agora para o conhecimento do tempo de serviccedilo de cada integrante
da equipe diretiva na funccedilatildeo em que ocupa em sua respectiva escola apresenta-se
no Graacutefico 8 uma ilustraccedilatildeo
Graacutefico 8 ndash Tempo de serviccedilo dos participantes na funccedilatildeo que atualmente ocupam na escola
Fonte Primaacuteria (2016)
Ressalta-se que ao aplicar o questionaacuterio nas escolas alguns profissionais
mencionaram que o cargo de diretor(a) escolar em 2015 sofreu mudanccedila eou
substituiccedilatildeo Esse fato pode ser constatado no Graacutefico 8 acima o qual demonstra
que dos 7 diretores(as) integrantes da pesquisa 5 possuem ateacute 3 anos na funccedilatildeo
pode-se dizer que estatildeo iniciando e 2 tecircm de 4 a 10 anos na funccedilatildeo A meacutedia de
tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo dos diretores da Rede Municipal de Ensino ficou em
torno de 29 anos Eacute expressivo portanto o nuacutemero de diretores(as) que se
encontram em iniacutecio de carreira na escola em que atuam
Esse resultado se distancia dos dados nacionais apresentados pela pesquisa
TALIS (INEP 2014) que mostrou um tempo meacutedio de 7 anos de experiecircncia dos
diretores no Brasil em cargo de direccedilatildeo Jaacute a pesquisa da Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) expocircs que o tempo meacutedio de experiecircncia dos diretores brasileiros eacute de 79
anos Essa dissonacircncia entre os dados da Rede Municipal de Ensino e os dados
nacionais pode estar vinculada agrave forma de ingresso ao cargo de direccedilatildeo que
conforme abordado anteriormente se daacute por indicaccedilatildeo configurando o cargo de
diretor(a) como um cargo de confianccedila podendo sofrer substituiccedilatildeo a qualquer
tempo principalmente em periacuteodo de mudanccedila de governo
Quanto aos supervisores(as) participantes deste estudo tambeacutem evidenciou-
se uma variaccedilatildeo no tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo 5 informaram possuir ateacute 3 anos
de experiecircncia 2 relataram ter de 4 a 10 anos e 1 natildeo respondeu sendo a meacutedia
70
de 27 anos Esse dado se aproxima daqueles apresentados pela Fundaccedilatildeo Victor
Civita (2011) com relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atuaccedilatildeo dos coordenadores
pedagoacutegicos brasileiros na escola atual que eacute de 39 anos
Dentre os integrantes da equipe diretiva escolar o orientador(a) foi o que
demostrou possuir maior tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo Dentre os 7 orientadores(as)
4 possuem ateacute 3 anos e 3 deles possuem 4 a 10 anos na funccedilatildeo A meacutedia de
tempo de atuaccedilatildeo como orientador(a) na Rede eacute dentre as equipes diretivas
pesquisadas de 34 anos
Perante os dados apresentados constatou-se que a meacutedia de tempo de
atuaccedilatildeo na funccedilatildeo por parte dos integrantes da equipe diretiva eacute baixa A partir
disso pode-se inferir que as equipes por estarem iniciando em suas funccedilotildees estatildeo
em processo de conhecer a comunidade e a cultura escolar21 local e a partir disso
construir viacutenculos de confianccedila que possibilitem uma gestatildeo colaborativa e
participativa Conhecer a escola eacute um processo que conforme explicitou Libacircneo
(2015 p 34) natildeo se daacute apenas pelo que se consegue observar dela e sim ao ―[]
captar aqueles significados valores atitudes modos de convivecircncia formas de agir
e de resolver problemas frequentemente ocultos invisiacuteveis que vatildeo definindo uma
cultura proacutepria de cada escola
Perante o exposto destaca-se aqui o desafio que se coloca agraves equipes
diretivas que estatildeo haacute pouco tempo trabalhando em suas unidades escolares uma
vez que na escola em que estatildeo iniciando existe uma cultura instituiacuteda que precisa
inicialmente ser conhecida para entatildeo ser mantida eou modificada em busca de
accedilotildees democraacuteticas e participativas
Um segundo desafio que se apresenta agraves equipes paralelamente ao primeiro
refere-se agrave implementaccedilatildeo viabilizaccedilatildeo e acompanhamento das poliacuteticas e diretrizes
educacionais na unidade escolar dentre as quais consta a poliacutetica de Educaccedilatildeo
Especial e as diretrizes para o Atendimento Educacional Especializado foco deste
estudo Sabendo disso buscou-se investigar se as equipes diretivas pesquisadas
possuiacuteam formaccedilatildeo especiacutefica com temas relacionados ao AEE O Quadro 5 a
seguir ilustra as respostas obtidas
21
Segundo Libacircneo (2015 p 34) ―a cultura da escola refere-se agravequeles significados modos de pensar e agir valores comportamentos modos de funcionamento que de certa forma mostram a identidade e os traccedilos caracteriacutesticos da escola e das pessoas que nela trabalham A cultura da escola eacute o que sintetiza os sentidos que as pessoas datildeo agraves coisas gerando um padratildeo coletivo de pensar e perceber as coisas e de agir
71
Quadro 5 ndash Formaccedilatildeo das equipes diretivas com temas relacionados ao AEE
Equipes Diretivas Diretor Orientador Supervisor
ED1 Natildeo respondeu Natildeo respondeu Natildeo respondeu
ED2 Sim Na faculdade e em cursos oferecidos pelo
Municiacutepio
Sim Cursos e materiais da grade
acadecircmica
Aleacutem de trabalhar na aacuterea Estou envolvida neste
processo
ED3 Natildeo Sim Fiz curso de linguagem de
sinais Natildeo
ED4 Sim Natildeo NatildeoNatildeo
ED5 Natildeo Natildeo respondeu Natildeo
ED6 Sim Na poacutes-graduaccedilatildeo
estudamos algumas siacutendromes
Natildeo Natildeo
ED7 Natildeo respondeu Sim Cursos que a Rede ofereceu
sobre Educaccedilatildeo Especial e o
AEE
Natildeo
Fonte Primaacuteria (2016)
A uacutenica equipe diretiva na qual todos os integrantes responderam
afirmativamente a essa questatildeo foi a ED2 na qual diretor(a) supervisor(a) e
orientador(a) informaram ter estudado o tema relacionado na graduaccedilatildeo poreacutem natildeo
especificaram os conteuacutedos abordados Em algumas equipes como a ED3 ED6 e
ED7 especificaram-se os conteuacutedos abordados na formaccedilatildeo realizada na aacuterea
como ―curso de sinais ―siacutendromes ―educaccedilatildeo especial e ―atendimento
educacional especializado Com relaccedilatildeo agrave ED1 o(a) orientador(a) apesar de
possuir trecircs especializaccedilotildees lato sensu sendo uma delas em Educaccedilatildeo Inclusiva
natildeo respondeu a essa questatildeo
Percebeu-se que na maioria das respostas houve contato com os temas
durante o percurso formativo seja na formaccedilatildeo inicial ou formaccedilatildeo continuada (poacutes-
graduaccedilatildeo e outros cursos) e que em poucos casos essa formaccedilatildeo foi oferecida
pela Rede Municipal de Ensino A formaccedilatildeo em serviccedilo pode funcionar como uma
possibilidade para mobilizar os profissionais a repensarem suas bases conceituais e
suas praacuteticas Dessa forma compreende-se que uma das tarefas primordiais da
Rede eacute conhecer as necessidades formativas dos seus profissionais e criar
condiccedilotildees para que essa formaccedilatildeo ocorra de modo contiacutenuo e consistente
Contudo Ferreira (2003 p 19-20) alerta que
A formaccedilatildeo continuada eacute uma realidade no panorama educacional brasileiro e mundial natildeo soacute como uma exigecircncia que se faz devido aos avanccedilos da ciecircncia e da tecnologia que se processam nas uacuteltimas deacutecadas mas como uma nova categoria que passou a existir no mercado da formaccedilatildeo contiacutenua e que por isso necessita ser
72
repensada cotidianamente no sentido de melhor atender a legiacutetima e digna formaccedilatildeo humana
Corroborando com a autora supracitada Silveira (2012) tambeacutem enfatizou a
importacircncia de programas de formaccedilatildeo de gestores que superem os tradicionais de
formaccedilatildeo burocraacutetica para que possam contribuir no desenvolvimento de um
trabalho colaborativo no acircmbito escolar
Em siacutentese identificou-se que os participantes dessa pesquisa tecircm um tempo
de atuaccedilatildeo significativo como professores em sala de aula e em sua maioria
apresentaram formaccedilatildeo inicial eou em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo condizentes agrave
especificidade de sua aacuterea de atuaccedilatildeo Entretanto constatou-se pouco tempo de
atuaccedilatildeo dos integrantes das equipes diretivas na funccedilatildeo em que exercem
atualmente A meacutedia de idade de cada integrante da equipe diretiva iniciando pelo
diretor(a) ficou em torno de 44 anos de idade os supervisores(as) 44 anos de
idade e os orientadores(as) 49 anos de idade
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo das equipes diretivas participantes desse estudo
segue-se para a anaacutelise dos dados da primeira categoria que versa sobre o que
pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado
32 O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado22
Nesta categoria de anaacutelise procurou-se abordar as compreensotildees das
equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
22
Para compor a anaacutelise e discussatildeo dos dados desta primeira categoria seratildeo analisadas as respostas das seguintes questotildees do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo 11Qual a compreensatildeo [da equipe diretiva] sobre o atendimento educacional especializado Quem satildeo os estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 13 Na escola em que vocecirc atua trabalha com o Atendimento Educacional Especializado Em caso afirmativo a) Eacute uma escola Polo ( ) b) atende somente estudantes desta escola ( ) 15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos estudantes puacuteblico alvo do AEE 19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE 21 Na escola em que vocecirc atua qual a participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros) 22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE 23 O professor de AEE na sua escola faz parte do quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino
73
focalizando o serviccedilo em si o puacuteblico-alvo da EE e o trabalho do professor
especializado23
Para apresentar e discutir o que pensam as equipes diretivas sobre o AEE no
acircmbito escolar optou-se por primeiramente elencar algumas informaccedilotildees a
respeito do funcionamento desse serviccedilo nas sete escolas pesquisadas conforme
se evidencia no Quadro 6
Quadro 6 - Situando o Atendimento Educacional Especializado nas escolas pesquisadas
ED1 ED2 ED3 ED4 ED5 ED6 ED7
Possui Sala de Recursos Multifuncionais X X X X
Possui Professor de AEE X X
Escola - polo e atende estudantes puacuteblico alvo da EE de outras duas escolas
X
Oferta AEE na proacutepria escola X X
Encaminha os estudantes para o AEE em outra escola
X
Estudantes puacuteblico-alvo da EE satildeo acompanhados pelo Professor da Sala Comum e pelo Monitor de Inclusatildeo da Sala Comum
X X
Natildeo possui estrutura fiacutesica e recursos humanos para oferecer o AEE e natildeo apresenta indiacutecios de encaminhamento para outras escolas
X
Fonte Primaacuteria (2016)
Pode-se perceber a partir das informaccedilotildees contidas no Quadro 6 que natildeo
satildeo todas as escolas possuem Sala de Recursos Multifuncionais localizadas em seu
espaccedilo fiacutesico Das quatro (ED1 ED2 ED4 e ED7) que possuem apenas duas (ED2
e ED4) contam com professor de AEE e ofertam esse serviccedilo na proacutepria escola as
demais apesar de possuiacuterem o espaccedilo fiacutesico para realizaccedilatildeo do AEE natildeo o
realizam (ED1) ou apresentam um entendimento de que o AEE acontece na sala
comum a partir do acompanhamento do professor e do monitor de inclusatildeo (ED7)
Constatar que das 7 equipes diretivas pesquisadas 4 possuem Salas de
Recursos Multifuncionais implantadas em suas respectivas escolas e dessas
somente duas (ED2 e ED4) estatildeo em funcionamento permite identificar um ponto de
atenccedilatildeo que diz respeito a como satildeo compreendidas as necessidades e o processo
23
Inspirando-se em Bernardes (2014) optou-se por fazer uso do termo ―professor(a) especializado(a) para se referir a docentes atuantes no AEE pelo fato de tal trabalho se configurar como especializado
74
de escolarizaccedilatildeo desses estudantes nas escolas da Rede Municipal de Ensino
pesquisada ou seja as que natildeo possuem o loacutecus para o AEE exceto a ED5
parecem natildeo se organizar de formas diferentes para garantir os apoios necessaacuterios
a aprendizagem dos estudantes considerados da EE como por exemplo
encaminhaacute-los para as escolas que possuem o AEE Logo parece haver a
compreensatildeo de que o AEE se restringe ao espaccedilo da SRM contudo eacute um dos
aspectos que compotildeem esse serviccedilo
Nesse sentido Rossato e Leonardo (2012 p 113) convidam a refletir
[] ao se considerar a educaccedilatildeo escolar como fundamental para a apropriaccedilatildeo da cultura produzida cabe questionar sobre a educaccedilatildeo e dentro desta a educaccedilatildeo especial discutindo sobre as formas e condiccedilotildees de ensino oferecidas agraves pessoas com deficiecircncia e agraves pessoas que aprendem diferentemente por nem sempre lhes possibilitarem o aprendizado escolar Condiccedilotildees de ensino essas que podem concentrar nelas estigma de fracasso e de incapacidade de maneira a natildeo viabilizar e natildeo cumprir com a sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo do conhecimento elaborado sistematizado
Nesse mesmo sentido Martins (2001) reitera que ao se defender o acesso e
o direito de aprender dos estudantes puacuteblico-alvo da EE na escola regular ―aleacutem
dos aspectos legais que as respaldam eacute fundamental analisar que esta escola eacute um
direito de todos os cidadatildeos (MARTINS 2001 p 30)
Ante o exposto questiona-se como a poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na
Perspectiva da Inclusiva (BRASIL 2008) e suas diretrizes vecircm sendo interpretadas
subjetivadas24 pelo sistema municipal de ensino e por conseguinte pelas equipes
diretivas pesquisadas
Compreende-se que essas equipes diretivas possuem um papel de referecircncia
na escola na organizaccedilatildeo e implementaccedilatildeo do serviccedilo de AEE juntamente com a
comunidade escolar considerando a necessidade desse serviccedilo e sua forma de
atuaccedilatildeo para garantir a permanecircncia e aprendizagem dos estudantes puacuteblico-alvo
da EE por meio de um processo de escolarizaccedilatildeo que leve em conta suas
singularidades potencialidades e sobretudo a garantia do direito de aprender
Assim destaca-se dentre as diretrizes da EE a Portaria ndeg 25 de 19 de junho
de 2012 que dispotildee sobre o Programa de implementaccedilatildeo de SRM a qual esclarece
24 Conforme Bock (2001 p 23) a subjetividade eacute ―concebida como algo que se constitui na relaccedilatildeo com o mundo material e social mundo este que soacute existe pela atividade humana Subjetividade e objetividade se constituem uma agrave outra sem se confundir
75
em seu o art 6ordm os compromissos assumidos pelo municiacutepio quando esse se propotildee
a implementar as salas de recursos
Art 6ordm Fica obrigada a DONATAacuteRIA [neste caso o Municiacutepio] a I - subordinar-se agraves diretrizes do Programa II- responsabilizar-se pela preservaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico para a instalaccedilatildeo dos bens doados III- disponibilizar professor para atuar na organizaccedilatildeo e oferta do atendimento educacional especializado - AEE IV- responsabilizar-se pela manutenccedilatildeo dos equipamentos doados V- orientar a escola destinataacuteria para instituir no seu Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico a organizaccedilatildeo e oferta do Atendimento Educacional Especializado complementar ou suplementar agrave escolarizaccedilatildeo de estudantes puacuteblico alvo da educaccedilatildeo especial matriculados nas classes comuns do ensino regular na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Educaccedilatildeo Profissional VI- promover a formaccedilatildeo continuada aos professores que atuam no AEE [] (BRASIL 2012 p33 grifos nosso)
Desse modo ao dispor de espaccedilo fiacutesico e natildeo utilizaacute-lo pode-se configurar
que alguns compromissos preacute-estabelecidos na referida Portaria (com destaque
para o art III nesse caso) natildeo estatildeo sendo cumpridos de modo a sinalizar que de
algum modo vem sendo negado ao estudante puacuteblico-alvo da EE o seu direito de
fazer uso de um espaccedilo que uma vez dotado de equipamentos mobiliaacuterios e
materiais didaacuteticos pedagoacutegicos e contando com o trabalho do professor
especializado e demais envolvidos pode contribuir no seu processo de
escolarizaccedilatildeo Por mais que esse espaccedilo por si soacute natildeo assegure ao estudante
puacuteblico-alvo da EE seu direito de aprender ele eacute uma das estrateacutegias que compotildeem
esse processo Nesse sentido concorda-se com Effgen (2011) quando ressalta
que ao discutir acerca da SRM e do AEE eacute preciso considerar ―[] que esse
espaccedilo e esse dispositivo configuram-se como uma rede de apoio agrave sala de aula
regular mas o centro do processo ensino-aprendizagem eacute a sala regular
(EFFGEN 2011 p158)
Ainda com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo das equipes diretivas sobre o serviccedilo de
AEE observou-se que a ED7 e a ED3 expressaram que o atendimento educacional
especializado aos estudantes puacuteblico-alvo da EE acontece por meio do
acompanhamento em suas escolas pelo Professor da Sala Comum e pelo Monitor
de Inclusatildeo na Sala Comum Esse uacuteltimo segundo a Lei Complementar nordm 192008
(CAMBORIUacute 2008) art 17D tem como atribuiccedilotildees as seguintes
76
I - auxiliar a docecircncia nas praacuteticas pedagoacutegicas mediando o desenvolvimento do aluno juntamente com o professor em situaccedilotildees que requeiram auxiacutelio como higiene alimentaccedilatildeo e locomoccedilatildeo dos educandos II - atuar diretamente com o aluno com muacuteltiplas deficiecircncias graves comprometimentos mentais ou condutas tiacutepicas de siacutendromes contribuindo para sua interaccedilatildeo e socializaccedilatildeo com os pares III - favorecer o desenvolvimento da independecircncia e autonomia dos alunos em suas atividades de vida diaacuteria e social no contexto escolar e nas atividades extraclasse auxiliando-os no que for necessaacuterio como a) cuidado pessoal uso do sanitaacuterio escovaccedilatildeo dos dentes banho troca de fraldas vestuaacuterio e outros b) refeiccedilotildees auxiliar o aluno em sua alimentaccedilatildeo c) locomoccedilatildeo conduzir o aluno que faz uso de cadeira de rodas eou apresenta dificuldades motoras aos diferentes espaccedilos fiacutesicos bem como realizar a transposiccedilatildeo do aluno para o sanitaacuterio carteira escolar e outros IV - executar tarefas afins com a educaccedilatildeo e de auxiacutelio para o levantamento de caracterizaccedilatildeo de perfil da comunidade escolar e acompanhamento da efetividade das accedilotildees realizadas e natildeo como forma de captaccedilatildeo de clientes VI - realizar accedilotildees no ambiente que favoreccedilam as condiccedilotildees adequadas para o processo de ensino e aprendizagem VII - contribuir para o planejamento e realizaccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas da escola VIII - executar outras atividades compatiacuteveis com o cargo IX - realizar as atividades que forem designadas por seu superior hieraacuterquico ou pela Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo (Redaccedilatildeo acrescida pela Lei Complementar n 7ordm 02014) (CAMBORIUacute 2008 sp)
Pode-se observar a partir da exposiccedilatildeo acima acerca das atribuiccedilotildees do
monitor de inclusatildeo orientaccedilotildees a esse profissional que dizem respeito agraves questotildees
pedagoacutegicas mas uma ecircnfase maior aos aspectos de cuidado assistecircncia e
socializaccedilatildeo do estudante puacuteblico-alvo da EE no acircmbito escolar Essa ecircnfase maior
por sua vez encontra seu fundamento na PNEE-PI (BRASIL 2008 sp) quando
essa reitera que
[] cabe aos sistemas de ensino ao organizar a educaccedilatildeo especial na perspectiva da educaccedilatildeo inclusiva disponibilizar as funccedilotildees de instrutor tradutorinteacuterprete de Libras e guia inteacuterprete bem como de monitor ou cuidador dos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene alimentaccedilatildeo locomoccedilatildeo entre outras que exijam auxiacutelio constante no cotidiano escolar
Entende-se no entanto que o monitor de inclusatildeo tem um importante papel
tambeacutem no desenvolvimento da aprendizagem e autonomia do estudante puacuteblico-
alvo da EE em interlocuccedilatildeo com o professor da sala comum professor
especializado equipe diretiva demais profissionais da escola e pais Nesse sentido
destaca-se a importacircncia da constituiccedilatildeo de espaccedilo e tempos para discussotildees sobre
os planejamentos estrateacutegias e recursos a serem utilizados com os estudantes da
EE assim como a necessidade de formaccedilatildeo providas pelos sistemas de ensino e
77
pelas escolas para os profissionais da educaccedilatildeo para discutir e refletir os assuntos
educacionais
Entende-se que estes espaccedilos e tempos de discussatildeo reflexatildeo
planejamento e formaccedilatildeo quando associados a um trabalho colaborativo na escola
podem contribuir para ressignificar os papeacuteis dos profissionais da educaccedilatildeo assim
como suas responsabilidades individuais e coletivas no processo de escolarizaccedilatildeo
do estudante puacuteblico-alvo da EE Como explicou Buumlrkle (2010 p 19) o trabalho e o
ensino colaborativo
[] abrange o professor de turma regular e o da Educaccedilatildeo Especial [monitor de inclusatildeo] poreacutem eacute indispensaacutevel que todos os envolvidos no processo educativo participem se envolvam e colaborem As parcerias estabelecidas possibilitam o desenvolvimento de ensino-aprendizagem mais adequado agraves necessidades educacionais especiais do aluno permitindo assim que o processo de inclusatildeo se efetive Uma inclusatildeo onde pertencer significa participar e natildeo apenas estar junto
No entanto realccedila-se aqui as situaccedilotildees das escolas em que atuam a ED1 e
ED6 A ED1 apesar de possuir a SRM natildeo conta com o profissional especializado e
de acordo com os dizeres do(a) supervisor(a) [] ―nenhum destes alunos possui
atendimento especializado Jaacute a ED6 aleacutem de natildeo possuir estrutura fiacutesica e
recursos humanos para oferecer o AEE natildeo apresenta indiacutecios de encaminhamento
para outras escolas E conforme o relato do(a) diretor(a) ED6d ―[] infelizmente
[estes estudantes puacuteblico-alvo da EE] natildeo satildeo atendidos
A partir desses dados eacute possiacutevel inferir que o serviccedilo de AEE natildeo vem sendo
realizado pela escola ainda que essa tenha estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo
Especial matriculados revelando uma negligecircncia Essa negligecircncia por sua vez
denota as ―tensotildees entre o legal documentado [e] sistemaacutetica jaacute estabelecida vivida
no espaccedilo escolar (FUCK 2014 p 147) Convergindo com a discussatildeo Freitas
(2011 p227) enfatiza que
[] o desafio da escola comum natildeo eacute somente com a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncias mas o de uma transformaccedilatildeo na sua totalidade pedagoacutegica tendo em vista as diferenccedilas de todos os alunos Daiacute os inuacutemeros desafios frente agraves contradiccedilotildees que demarcam as diferentes realidades do contexto nacional se acreditarmos numa educaccedilatildeo como processo de mudanccedila e de transformaccedilatildeo
78
Diante desses apontamentos iniciais que puderam ser realizados com base
na situaccedilatildeo do AEE em cada escola passa-se agora agrave anaacutelise das respostas das
equipes diretivas ao questionamento feito acerca do que pensam sobre o AEE
Dos 22 participantes 15 demonstraram uma compreensatildeo sobre o AEE
focada em seu puacuteblico alvo 4 no local de atendimento (Sala de Recursos
Multifuncionais) e 3 no processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Com exceccedilatildeo
desses uacuteltimos foi possiacutevel perceber que a maioria dos participantes demonstrou
uma compreensatildeo fragmentada privilegiando um dentre os diversos aspectos que
envolvem esse serviccedilo
Iniciando pelos participantes que demonstraram uma compreensatildeo sobre o
AEE com foco no puacuteblico-alvo desse serviccedilo observou-se que representam a
maior parte das equipes diretivas Ao especificarem quem compotildee esse puacuteblico-
alvo notou-se que a principal referecircncia feita por elas foi ao estudante com
deficiecircncia seguida de estudantes com dificuldades e distuacuterbios As falas a seguir
ilustram esse entendimento
ED3
d Satildeo alunos com dificuldade que recebem atendimento
especializado ED2
o Eacute um atendimento individualizado [para os estudantes puacuteblico-alvo
da EE] trabalhando suas habilidades ED4
s Atendimento para auxiliar alunos com deficiecircncia e distuacuterbios (grifo
nosso)
Esses dizeres que emergiram a partir do questionamento ―Qual eacute a sua
compreensatildeo sobre o AEE podem ser relacionados agraves falas emitidas pelos
participantes quando perguntados sobre ―Quem satildeo os estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial O Quadro 7 a seguir indica quais foram as suas respostas
Quadro 7 Puacuteblico-alvo do AEE nos dizeres das equipes diretivas escolares pesquisadas
Equipes diretivas
escolares Diretor(a) Orientador(a) Educacional Supervisor(a) Educacional
ED1
Estudantes com deficiecircncia auditiva
paralisia cerebral parcial deficiecircncia intelectual deficiecircncia muacuteltipla
autismo[transtornos]
Estudantes com deficiecircncia
auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia intelectual
deficiecircncia muacuteltipla autismo
[transtornos]
Estudantes com deficiecircncia auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia
intelectual deficiecircncia muacuteltipla
autismo [transtornos] Nenhum destes alunos possui atendimento
especializado a natildeo ser com a
psicoacuteloga
ED2 Alunos com laudo meacutedico
Alunos que apresentam algum
laudo meacutedico pedindo o auxiacutelio desse atendimento
Alunos do ensino fundamental da
rede puacuteblica de Camboriuacute do primeiro ao nono ano
ED3 Alunos com deficiecircncia Satildeo os alunos com dificuldades
especiais [] Os que tecircm deficiecircncia graves []
79
ED4
Alunos com baixa visatildeo
deficiecircncia e transtorno globais de
desenvolvimento Alunos com deficiecircncia e com
deacuteficit de atenccedilatildeo Alunos com deficiecircncia e com distuacuterbios de aprendizagem
ED5 Alunos com deficiecircncia Alunos com deficiecircncia Alunos com deficiecircncia
ED6
Alunos que precisam de atendimento
especializado de acordo com suas necessidades
especiacuteficas Satildeo todos os estudantes com
alguma dificuldade especiacutefica Alunos com algum tipo de deficiecircncia
fiacutesica ou deficiecircncia intelectual
ED7
Estudantes com deficiecircncia transtornos
globais do
desenvolvimento e altas habilidades
Estudantes com deficiecircncia transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades
Estudantes com deficiecircncia
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
Fonte Primaacuteria (2016)
Em primeiro lugar considera-se importante esclarecer que delimitar o puacuteblico-
alvo da Educaccedilatildeo Especial para aleacutem de definir para quem o serviccedilo de AEE eacute
destinado consiste em uma expressatildeo da loacutegica que marca a diferenccedila entre os
estudantes Conforme explicou Veiga-Neto (2011)
[] a proacutepria loacutegica de dividir os estudantes em classes ndash por niacuteveis cognitivos por aptidotildees por gecircnero por idades por classes sociais etc ndash foi um arranjo inventado para justamente colocar em accedilatildeo a norma atraveacutes de um crescente e persistente movimento de separando o normal do anormal marcar a distinccedilatildeo entre normalidade e anormalidade (VEIGA-NETO 2011 p 110-111 grifo nosso)
Quando observadas como um todo as falas dos participantes evidenciaram
que o termo utilizado com mais frequentes para se referir ao puacuteblico-alvo do AEE foi
―deficiecircncia conforme indicado no Quadro 8 a seguir
Quadro 8 - Recorrecircncias sobre o puacuteblico-alvo da EE nos dizeres das equipes diretivas escolares
pesquisadas
25 O indicador de recorrecircncia refere-se agrave quantidade de vezes que uma expressatildeo eacute repedida por um mesmo participante eou ele e os demais podendo ultrapassar o nuacutemero de participantes De acordo com Franco (2012 p 60) [] em grande parte das investigaccedilotildees qualquer que seja o tema explicitado o mesmo passa a ter mais importacircncia para a anaacutelise dos dados quanto mais frequentemente for mencionado
Categorias Recorrecircncia25
Deficiecircncia 18
Transtornos 7
Altas Habilidades 3
Laudo Meacutedico 2
Dificuldades especiacuteficasespeciais 2
Distuacuterbios 1
80
Fonte Primaacuteria (2016)
A partir da anaacutelise dos Quadros 7 e 8 pode-se dizer que haacute indiacutecios de que o
puacuteblico-alvo do AEE tem sido generalizado e focalizado como sendo ―estudantes
com deficiecircncia Nesse sentido questiona-se quem eou o que se perde de vista
quando o foco estaacute no estudante com deficiecircncia Pode-se dizer que ao restringir o
puacuteblico alvo da EE ao estudante com deficiecircncia incorre-se no risco de se distanciar
de uma compreensatildeo sobre os transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades [] ―jaacute que representam realidades complexas que necessitam de
compreensatildeo expliacutecita de suas caracteriacutesticas para que possam ser oferecidos os
apoios necessaacuterios (ARAOacuteZ 2010 p15)
Eacute preciso considerar inicialmente que a categorizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial definida na PNEE-EI (2008) como sendo pessoas com
deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo eacute uma constituiccedilatildeo histoacuterica recente Meletti e Bueno
(2011) esclarecem que as formulaccedilotildees das poliacuteticas de Educaccedilatildeo Especial no Brasil
ao incorporarem as orientaccedilotildees internacionais abordadas na Declaraccedilatildeo Mundial
sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) bem como a adesatildeo agrave Declaraccedilatildeo de
Salamanca (UNESCO 1994) procuraram se articular em uma perspectiva inclusiva
Por conseguinte na tentativa de se estabelecer um enfoque inclusivo foi possiacutevel
observar ao analisar as Diretrizes Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica
(BRASIL2001) que a categoria ―deficiecircncia era dissolvida no conceito de
necessidades educacionais especiais
Nesse sentido Meletti e Bueno (2011 p 111 - 112) enfatizam que
[] o termo [necessidades educacionais especiais] eacute utilizado inicialmente na Declaraccedilatildeo de Salamanca para caracterizar crianccedilas com deficiecircncia e crianccedila bem - dotadas crianccedilas que vivem nas ruas que trabalham crianccedilas de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais [] Isto indica que a deficiecircncia eacute entendida como uma expressatildeo localizada da diversidade que compotildee as chamadas necessidades educacionais especiais No Brasil a Declaraccedilatildeo de Salamanca passa a ser citada como um marco na educaccedilatildeo especial [] O conceito ―necessidade educacional especial passa a designar a condiccedilatildeo de deficiecircncia em nosso contexto imprimindo um novo sentido Novo mas natildeo a ponto de transformar como anunciado a concepccedilatildeo de deficiecircncia [] a adoccedilatildeo do termo necessidades
Necessidades Especiacuteficas 1
Deacuteficit de atenccedilatildeo 1
81
educacionais especiais por um lado pode representar um avanccedilo no sentido de minimizar a estigmatizaccedilatildeo e a pejoratividade de termos anteriores mas por outro lado como o conceito ―portador de necessidades educativas especiais abrange uma diversidade de sujeitos ao ganhar na amplitude e na quebra da estigmatizaccedilatildeo perde na precisatildeo
Identificou-se que mesmo demostrando imprecisatildeo o termo ―necessidades
educacionais especiais foi incorporado agrave Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 22001 que
instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educaccedilatildeo Especial na Educaccedilatildeo Baacutesica No
art 5ordm a referida Resoluccedilatildeo procurou especificar o que se entende que tais
necessidades sejam
Art 5ordm Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que durante o processo educacional apresentarem I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitaccedilotildees no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares compreendidas em dois grupos a) aquelas natildeo vinculadas a uma causa orgacircnica especiacutefica b) aquelas relacionadas a condiccedilotildees disfunccedilotildees limitaccedilotildees ou deficiecircncias II ndash dificuldades de comunicaccedilatildeo e sinalizaccedilatildeo diferenciadas dos demais alunos demandando a utilizaccedilatildeo de linguagens e coacutedigos aplicaacuteveis III - altas habilidadessuperdotaccedilatildeo grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos procedimentos e atitudes (BRASIL 2001 p 2 grifo nosso)
A ecircnfase conferida no documento agraves necessidades educacionais especiais
como sendo dificuldades de aprendizagem permite inferir que a adoccedilatildeo do termo
―favoreceu a classificaccedilatildeo de alunos com histoacuterico de fracasso escolar como
especiais (MELETTI amp BUENO 2011 p 113)
Essa forma de categorizar a deficiecircncia como parte do amplo conjunto de
necessidades educacionais especiais se alterou no discurso legal brasileiro em
2008 com a publicaccedilatildeo da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na perspectiva Inclusiva
(BRASIL 2008) Esse documento passou a delimitar o puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo
Especial agrave condiccedilatildeo de deficiecircncia e substituir a noccedilatildeo de condutas tiacutepicas pelo
conceito de transtornos globais do desenvolvimento suprimindo ainda a categoria
geneacuterica de dificuldade de aprendizagem (MELETTI amp BUENO 2011)
Ainda que esta breve contextualizaccedilatildeo histoacuterica possibilite acompanhar
algumas alteraccedilotildees realizadas nos discursos legais sobre o puacuteblico-alvo da EE os
dizeres dos integrantes das equipes diretivas evidenciaram que tais discursos de
fato natildeo satildeo apropriados da mesma maneira por todos Apesar da ED7 demonstrar
uma apropriaccedilatildeo semelhante do que estaacute posto na PNEE-EI (2008) sobre o puacuteblico-
82
alvo da EE o termo ―estudante com deficiecircncia ainda eacute o mais recorrente quando
se expande o olhar para as falas das equipes diretivas como um todo
Tal constataccedilatildeo pode significar que os estudantes com deficiecircncia
representam a maioria do puacuteblico-alvo da EE nas escolas pesquisadas mas
tambeacutem permite pensar que talvez exista uma dificuldade no processo de
identificaccedilatildeo dos estudantes com transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo No entanto suprimir os demais estudantes puacuteblico-alvo
da EE ao generalizaacute-los como ―estudantes com deficiecircncia pode indicar indiacutecios de
uma forma sutil de reiterar a invisibilidade desses no contexto escolar
Nesse sentido questiona-se se seriam esses estudantes com Transtornos
Globais do Desenvolvimento e Altas Habilidades Superdotaccedilatildeo pouco citados nos
dizeres dos integrantes das equipes diretivas escolares uma minoria matriculados
em sala de aula comum nas escolas brasileiras Para responder a esse
questionamento recorreu-se aos dados publicados no Censo Escolar (MECINEP
2015) a fim de conhecer o nuacutemero de estudantes puacuteblico-alvo da EE matriculados
no Brasil em Santa Catarina e no municiacutepio de Camboriuacute conforme detalhado no
Quadro 9 que segue
Quadro 9 Distribuiccedilatildeo das matriacuteculas por categoria utilizada no Censo Escolar de 2015 (MECINEP 2015) no Brasil em Santa Catarina e no Municiacutepio de Camboriuacute
Total de Matriacuteculas na Educaccedilatildeo Especial em Classes Comuns - Ensino Regular e
EJA
Categoria26 Brasil Santa
Catarina Camboriuacute
Deficiecircncia
Cegueira 5691 209 3
Baixa Visatildeo 64123 1858 25
Surdez 22945 704 11
Deficiecircncia Auditiva 31329 1330 11
Surdocegueira 337 13 0
Deficiecircncia Fiacutesica 100254 3382 21
Deficiecircncia Intelectual 490015 17731 180
Deficiecircncia Muacuteltipla 41948 1870 14
Total - Deficiecircncias 756642 27097 265
Transtornos Globais do Desenvolvimento
Autismo 41194 2094 19
Siacutendrome de Asperger 8244 768 7
26
Ressalta-se que conforme as instruccedilotildees disponibilizadas pelo MECINEP para preenchimento dos dados do Censo Escolar natildeo eacute necessaacuteria a comprovaccedilatildeo de laudo meacutedico no momento em que a escola informa no sistema Educacenso a categoria de um estudante puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial
83
Siacutendrome de Rett 1670 32 1
Transtorno Desintegrativa da Infacircncia ndash TDI
32904 1231 22
Total ndash TGD 84012 4125 49
Altas Habilidades Superdotaccedilatildeo
Altas HabilidadesSuperdotaccedilatildeo
14166 314 0
Total - AHSD 14166 314 0
Fonte Formulado a partir dos dados contidos na Sinopse Estatiacutestica da Educaccedilatildeo Baacutesica (MECINEP 2015) Nota-se que de fato os estudantes com transtornos globais e com altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo satildeo minoria sendo os estudantes com deficiecircncia a
maioria do puacuteblico-alvo da EE matriculado nas escolas do Brasil Santa Catarina e
Camboriuacute Ou seja quando as equipes diretivas pesquisadas recorrem com
frequecircncia ao termo ―deficiecircncia para especificar o puacuteblico-alvo da EE pode-se
dizer que elas falam daquilo que vivenciam em seu cotidiano escolar por mais que o
faccedilam de forma generalizada
Contudo generalizar que os estudantes puacuteblico-alvo da EE se resumem aos
estudantes com deficiecircncia em funccedilatildeo dessa prevalecircncia numeacuterica consiste em uma
forma de encobrir a existecircncia dos demais estudantes e com isso correr o risco de
negar a diversidade que tambeacutem existe no acircmbito do puacuteblico-alvo da EE Nessa
direccedilatildeo Vasques (2015 p118) esclarece que
[] a inclusatildeo escolar envolve uma construccedilatildeo compartilhada a partir dos nossos pressupostos a respeito de educaccedilatildeo escola aluno [educaccedilatildeo especial] infacircncia etc Tais antecipaccedilotildees ganham significados a partir do contexto da historicidade e da interpretaccedilatildeo dos sujeitos das poliacuteticas puacuteblicas educacionais e das instituiccedilotildees envolvidas
Adentrado agora nos pontos que chamaram especificamente a atenccedilatildeo nas
falas de algumas equipes diretivas notou-se que o(a) supervisor(a) educacional da
ED1 mencionou que nenhum dos estudantes puacuteblico-alvo da EE citados (estudantes
com deficiecircncia auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia mental intelectual e
muacuteltipla) recebe atendimento especializado a natildeo ser com a psicoacuteloga Investigando
as funccedilotildees do psicoacutelogo na escola encontrou-se na Lei Complementar Nordm 192008
(CAMBORIUacute 2008) as seguintes atribuiccedilotildees
At 17 Satildeo atribuiccedilotildees do Suporte Pedagoacutegico na funccedilatildeo de Psicoacutelogo lotado na Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
84
I - contribuir no processo de inclusatildeo social de alunos com necessidades educativas especiais realizando um trabalho coletivo com os pais educadores e equipe pedagoacutegica II - auxiliar no processo de inclusatildeo escolar rompendo com as praacuteticas excludentes III - orientar os professores para desenvolverem accedilotildees planejadas que promovam a apropriaccedilatildeo do saber escolar e o desenvolvimento cognitivo dos estudantes IV - promover discussatildeo sobre a inclusatildeo e o respeito agrave diversidade humana V - contribuir no processo ensino-aprendizagem colaborando com o corpo docente e teacutecnico na compreensatildeo das questotildees de aprendizagem e relacionamento VI - colaborar na reconstruccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das praacuteticas educacionais visando favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento psicossocial dos alunos VII - avaliar alunos com dificuldade de aprendizagem e o desenvolvimento psicossocial destes VIII - avaliar alunos com dificuldade de aprendizagem emitindo parecer psicoloacutegico e propondo encaminhamentos quando necessaacuterio IX - promover palestras encontros eou grupos de reflexatildeo para pais e familiares possibilitando maior envolvimento da famiacutelia no meio escolar X - desenvolver conforme necessidade da escola programas de orientaccedilatildeo profissional em conjunto com a equipe pedagoacutegica XI - realizar pesquisas na aacuterea da psicologia escolar contribuindo para a construccedilatildeo de novos saberes XII - promover a articulaccedilatildeo e troca de conhecimentos entre as diferentes aacutereas de saber XIII - colaborar com os processos de transformaccedilatildeo da realidade escolar tendo como meta a escola democraacutetica de qualidade social e para todos XIV - executar outras atividades compatiacuteveis com o cargo XV - realizar as atividades que forem designadas por seu superior hieraacuterquico ou pela Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo (CAMBORIUacute 2008)
Torna-se claro pelas funccedilotildees expostas no documento que o trabalho do
psicoacutelogo escolar eacute relevante para o processo de escolarizaccedilatildeo Em pesquisa
disponiacutevel no site do Conselho Federal de Psicologia realizada no ano de 2015 com
professores de diversas regiotildees do Brasil sobre temas relativos agrave profissatildeo docente
e ao contexto educacional do paiacutes foi constatado que a rede puacuteblica de ensino
deveria dispor de um serviccedilo integrado com psicoacutelogo(a) psicopedagogo(a) e
assistente social Para 50 dos professores entrevistados as secretarias de
educaccedilatildeo deveriam oferecer psicoacutelogos enquanto 28 solicitavam psicopedagogos
8 assistentes sociais 7 mediadores de conflito e 4 fonoaudioacutelogos
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA 2015 sp)
Esse trabalho do psicoacutelogo escolar ainda que natildeo substitua o atendimento
educacional especializado pode contribuir para favorecer um trabalho coletivo
voltado agrave escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Dazzani (2010 p 371)
apoiada em Martinez (2001) explanou que
85
[] mesmo diante de todas as criacuteticas agrave histoacuteria das relaccedilotildees entre psicologia e educaccedilatildeo devemos insistir que o conhecimento produzido pelas ciecircncias psicoloacutegicas pode contribuir com a praacutetica educativa ou seja consideramos que o psicoacutelogo pode e deve se envolver diretamente com a accedilatildeo educacional Pensando assim as estrateacutegias do psicoacutelogo educacional devem ser concebidas como um dos modos de interpretar a realidade educacional objetiva (social e politicamente objetiva) sem reduzi-la a um fenocircmeno puramente psicoloacutegico
Nesse sentido no que tange agrave realizaccedilatildeo do AEE da Rede Municipal de
Ensino de Camboriuacute haacute indiacutecios de que a forma como o serviccedilo estaacute estruturado e
organizado natildeo corrobora para assegurar o direito a aprender dos estudantes
puacuteblico-alvo da EE Isso porque como explicou Omote (2004 p6)
[] a mera inserccedilatildeo do aluno deficiente em classe comum natildeo pode ser confundida com a inclusatildeo Na verdade toda a escola precisa ter caraacuteter inclusivo nas suas caracteriacutesticas e no funcionamento para que sejam matriculados alunos deficientes [] Uma escola que soacute busca arranjo especial determinado pela presenccedila de algum aluno deficiente e na qual a adequaccedilatildeo eacute feita para as necessidades particulares dele natildeo pode ser considerada propriamente inclusiva
Nessa perspectiva Freitas (2002) alerta que ao fazer uma anaacutelise acerca da
escola puacuteblica eacute preciso considerar as pressotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais
postas pelo sistema capitalista a ela Pressotildees essas que se traduzem em poliacuteticas
puacuteblicas impregnadas de pressupostos neoliberais e colocadas em funcionamento
com o objetivo de ―reduzir custos econocircmicos sociais e poliacuteticos sem alterar a
essecircncia seletiva da escola resultando em maior nuacutemero de repetecircncia e evasatildeo
criando um campo de exclusatildeo subjetiva (FREITAS 2002 p 299) Isso pode
significar que a forma como a escola puacuteblica estaacute organizada pode natildeo estar
considerando as singularidades e potencialidades da maioria de seus estudantes e
natildeo somente dos que satildeo denominados puacuteblico-alvo da EE Nessa direccedilatildeo o autor
enfatiza ainda que
[] quanto mais se falou em inclusatildeo mais se legitimou a exclusatildeo social preacutevia agrave escolarizaccedilatildeo por um mecanismo dissimulatoacuterio de inclusatildeo formal na escola que transmutou a exclusatildeo escolar objetiva (repetecircncia evasatildeo) em exclusatildeo escolar subjetiva (auto-exclusatildeo entre ciclos ―opccedilotildees por trilhas de progressatildeo menos privilegiadas tracircnsito formal sem domiacutenio real) a partir dos horizontes e das possibilidades de classe previamente interiorizados pelas condiccedilotildees objetivas de cada classe na sociedade (FREITAS 2002 p 310)
86
Em meio agraves reflexotildees supracitadas pode-se perceber a importacircncia da
atuaccedilatildeo criacutetica e reflexiva da equipe diretiva juntamente com a comunidade escolar
no que tange agraves poliacuteticas educacionais de modo a compreender o contexto
histoacuterico econocircmico poliacutetico e social em que estatildeo inseridos assim como quais
pressupostos permeiam tais poliacuteticas buscando formas de constituir um fazer
pedagoacutegico que possa contribuir com um efetivo processo de escolarizaccedilatildeo para
todos os estudantes
Ao seguir com as anaacutelises se observou que a maioria dos integrantes da
ED2 por sua vez enfatizaram que o puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial satildeo todos
os estudantes com laudos meacutedicos indicando que a forma como essa equipe
diretiva compreende os referidos estudantes estaacute pautada em um modelo meacutedico-
psicoloacutegico Essa perspectiva que se expressa no ato de requerer ou se basear no
laudo meacutedico eou psicoloacutegico para realizar um atendimento educacional
especializado encontra seu fundamento na histoacuteria da Educaccedilatildeo Especial quando
os aspectos cliacutenicos predominavam em detrimento dos pedagoacutegicos A esse
respeito Garcia (2007 p17) esclareceu que
[] o modelo meacutedico psicoloacutegico contribuiu para que a tarefa da educaccedilatildeo especial estivesse a serviccedilo de um sistema educacional de organizaccedilatildeo seriada elitista e classificatoacuteria produtor de exclusatildeo da escola de ensino fundamental e estruturado historicamente por meio de uma organizaccedilatildeo racional do trabalho pedagoacutegico com base na homogeneidade
As falas das equipes diretivas sinalizam que o laudo meacutedico se caracteriza
como uma espeacutecie de ―credencial para que o estudante puacuteblico-alvo da EE consiga
acessar seu direito ao serviccedilo de AEE bem como a outros serviccedilos Quando se
confere tal relevacircncia ao laudo corre-se o risco de planejar as accedilotildees escolares
voltadas para a deficiecircncia e natildeo para o estudante e suas potencialidades Contudo
ressalta-se que segundo informaccedilotildees da Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria
Municipal de Educaccedilatildeo obtidas por meio de entrevista durante o processo de coleta
de dados desta pesquisa a ausecircncia de laudo natildeo eacute impeditiva para a oferta do
AEE a esses estudantes Essa informaccedilatildeo por sua vez converge com as
orientaccedilotildees contidas na Nota Teacutecnica no 042014MECSECADIDPEE quando essa
enfatiza que
[] natildeo se pode considerar imprescindiacutevel a apresentaccedilatildeo de laudo meacutedico (diagnoacutestico cliacutenico) por parte do aluno com deficiecircncia transtornos globais
87
do desenvolvimento ou altas habilidadessuperdotaccedilatildeo uma vez que o AEE caracteriza-se por atendimento pedagoacutegico e natildeo cliacutenico Durante o estudo de caso primeira etapa da elaboraccedilatildeo do Plano de AEE se for necessaacuterio o professor do AEE poderaacute articular-se com profissionais da aacuterea da sauacutede tornando-se o laudo meacutedico neste caso um documento anexo ao Plano de AEE Por isso natildeo se trata de documento obrigatoacuterio mas complementar quando a escola julgar necessaacuterio O importante eacute que o direito das pessoas com deficiecircncia agrave educaccedilatildeo natildeo poderaacute ser cerceado pela exigecircncia de laudo meacutedico (BRASIL 2014 sp)
Nesse sentido considera-se que ao conferir ecircnfase ao laudo meacutedico incorre-
se no risco de uma interpretaccedilatildeo que pode culminar em condiccedilotildees de ensino que
levem em conta unicamente a dimensatildeo individual de modo a estigmatizar e
responsabilizar cada estudante pelo seu eventual fracasso ou sucesso escolar
(ROSSATO e LEONARDO 2012)
Nota-se portanto no que tange agrave necessidade do laudo meacutedico um
desencontro entre a perspectiva da Coordenaccedilatildeo e de parte da equipe diretiva da
escola ED2 o que sugere a necessidade de uma aproximaccedilatildeo e articulaccedilatildeo entre as
duas instacircncias em prol do processo de escolarizaccedilatildeo do estudante puacuteblico-alvo da
EE
Quanto agrave ED4 percebeu-se na fala do(a) orientador(a) educacional que foi
feita uma referecircncia ao estudante com deacuteficit de atenccedilatildeo como sendo puacuteblico-alvo
da EE demonstrando uma divergecircncia do que estaacute posto na PNEE-EI (BRASIL
2008) sobre quem satildeo os estudantes que devem receber atendimento educacional
especializado A fala desse(a) participante contudo estaacute alinhada ao Plano
Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute instituiacutedo pela Lei nordm 28322015 (CAMBORIUacute
2015) que inclui os estudantes com transtorno de deacuteficit de atenccedilatildeo como parte do
puacuteblico-alvo a ser atendido pelo serviccedilo de AEE assim como ao documento da
Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina de 2014
[] fomentar a oferta do atendimento educacional especializado complementar e suplementar aos estudantes com deficiecircncia transtornos do espectro do autismo transtorno do deacuteficit de atenccedilatildeo com hiperatividade e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo assegurando a educaccedilatildeo biliacutengue para crianccedilas surdas e a transversalidade da educaccedilatildeo especial nessa etapa da educaccedilatildeo baacutesica com profissionais habilitados (CAMBORIUacute 2015 p 7 grifo nosso)
De acordo com as orientaccedilotildees da Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada
Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo por meio da Diretoria de Poliacuteticas de
88
Educaccedilatildeo Especial27 (SECADIDPEE) estudantes que apresentam transtornos
funcionais especiacuteficos tais como Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo - TDA
Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo ndash Hiperatividade - TDHA e Dislexia natildeo fazem
parte do puacuteblico alvo da educaccedilatildeo especial (INEP 2011 sp) Contudo apesar da
PNEE-EI (BRASIL 2008) esclarecer delimitar e especificar o puacuteblico-alvo da EE
como sendo pessoas com deficiecircncias transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades e superdotaccedilatildeo foi possiacutevel identificar no documento da Poliacutetica
de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina (SANTA CATARINA 2014) a
inclusatildeo de pessoas com diagnoacutestico de transtorno do deacuteficit de
atenccedilatildeohiperatividade como parte desse puacuteblico-alvo
[] eacute importante observar que no Estado de Santa Catarina em 2006 foi publicada a Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina elaborada pela Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial (FCEE) e pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo com o mesmo marco conceitual da Proposta Curricular do Estado Esta poliacutetica adota nomenclaturas e dinacircmicas para serviccedilos jaacute disponibilizados inclui as pessoas com diagnoacutestico de transtorno do deacuteficit de atenccedilatildeohiperatividade como puacuteblico da educaccedilatildeo especial e institui a co-regecircncia com o segundo professor (SANTA CATARINA 2014 p72 grifos nosso)
Pode-se inferir nesse sentido que o Plano Municipal de Educaccedilatildeo de
Camboriuacute se apoiou na poliacutetica estadual ao definir quem seriam os estudantes a
receber atendimento educacional especializado Com relaccedilatildeo ainda ao transtorno
do deacuteficit de atenccedilatildeo Leite etal (2012) evidencia um ponto de tensatildeo acerca de
encaminhamentos realizados pelas escolas dos estudantes com suspeita desse
transtorno uma vez que tem levado a um ―diagnoacutestico desse problema natildeo raros
feitos de maneira aligeirada e superficial combinada a uma prescriccedilatildeo exacerbada
de medicamentos para trataacute-los se constituindo em um fenocircmeno crescente no
cenaacuterio brasileiro (LEITE et al 2012 p 142) Sobre essa questatildeo Collares e
Moyseacutes (1996 p7) ressaltam ainda que
27
A Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo - SECADI eacute a responsaacutevel pelo Programa de implantaccedilatildeo das SRM e o compreende como parte das poliacuteticas puacuteblicas inclusivas e como uma accedilatildeo que responde agrave necessidade histoacuterica de promover condiccedilotildees de acesso e permanecircncia no ensino regular dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial (BRASIL 2013)
89
[] existem crianccedilas com necessidades especiais[puacuteblico-alvo da EE] Entretanto o universo de crianccedilas normais que satildeo transformadas em doentes por uma visatildeo de mundo medicalizada da sociedade em geral e da instituiccedilatildeo escolar em particular eacute tatildeo grande que tem nos impedido de identificar e atender adequadamente as crianccedilas que realmente precisam de atenccedilatildeo especializada []
Ateacute aqui foi possiacutevel problematizar algumas questotildees que surgiram a partir
das respostas dos participantes da pesquisa agrave pergunta ―Quem satildeo os estudantes
puacuteblico-alvo do AEE A partir de agora volta-se a anaacutelise para as respostas dos
profissionais das equipes diretivas agrave questatildeo ―Qual a sua compreensatildeo sobre
serviccedilo do AEE As respostas fornecidas a ambas as questotildees foram
semelhantes uma vez que ao falarem sobre o serviccedilo a maioria dos participantes
focalizou o seu puacuteblico-alvo Pode-se dizer que as equipes diretivas lanccedilaram luz ao
fazecirc-lo sobre um aspecto importante desse serviccedilo que se refere a para quem ele eacute
ofertado Entretanto adverte-se para o risco de se tomar a parte pelo todo isto eacute
reduzir o AEE ao indiviacuteduo que eacute puacuteblico-alvo desse serviccedilo
Uma compreensatildeo fragmentada sobre esse serviccedilo pode levar a um
entendimento descontextualizado que deixa de fora da anaacutelise outros fatores que
compotildeem o AEE como o contexto social poliacutetico e econocircmico vigente a
participaccedilatildeo da famiacutelia e comunidade o envolvimento de todos os profissionais da
escola na efetivaccedilatildeo do AEE dentre os quais figura a equipe diretiva aqui estudada
as condiccedilotildees objetivas da escola e as concepccedilotildees teoacutericas que embasam a atuaccedilatildeo
dos integrantes das Equipes Diretivas
Em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees objetivas Paro (2016b) esclarece que se referem agrave
infraestrutura fiacutesica aos recursos humanos materiais e pedagoacutegicos agrave formaccedilatildeo
profissional em serviccedilo ao apoio aos professores dentre outros fatores Tais
condiccedilotildees podem favorecer ou desfavorecer o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial bem como o trabalho da equipe
diretiva escolar no que tange agrave implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do Atendimento
Educacional Especializado
Simplificar a compreensatildeo do AEE reduzindo-o ao estudante com
deficiecircncia pode indicar que os integrantes das equipes diretivas natildeo entendem o
serviccedilo como aquele que contribui para uma adequaccedilatildeo estrutural pedagoacutegica e
cultural voltado a eliminar barreiras propiciando interface entre o professor
90
especializado e o professor da sala comum Nessa perspectiva Garcia (2008 p21)
expocircs que
[] ainda que a implantaccedilatildeo de serviccedilos especializados nas redes de ensino signifique um ganho em termos de oferta educacional puacuteblica para os alunos com deficiecircncia eacute necessaacuterio questionar qual o papel exercido por tais serviccedilos e como estatildeo relacionados ao trabalho pedagoacutegico realizado na educaccedilatildeo baacutesica
Compreender o AEE a partir do seu puacuteblico-alvo exige o cuidado de se
considerar a dimensatildeo do indiviacuteduo sem responsabilizaacute-lo unicamente pelo processo
de escolarizaccedilatildeo uma vez que a culpabilizaccedilatildeo individual eacute ―[] uma das estrateacutegias
psicossociais mais sutis na tarefa de legitimaccedilatildeo da exclusatildeo (GUARESCHI 2010
p 151)
Direcionar o foco ao estudante tambeacutem pode dar indiacutecios de que o processo
de escolarizaccedilatildeo pode estar ocorrendo de forma precaacuteria28 nas escolas
pesquisadas de forma que somente um aspecto ndash o estudante ou de forma mais
especiacutefica sua deficiecircncia ndash esteja sendo considerada quando se trata de oferecer
um atendimento que enfoque sua necessidade educacional especiacutefica O caraacuteter
ilusoacuterio da inclusatildeo nessa pesquisa se revela quando o serviccedilo de AEE para alguns
integrantes das equipes diretivas estudadas natildeo eacute compreendido a partir de uma
perspectiva contextualizada que considere aspectos estruturais pedagoacutegicos e
histoacuterico-culturais mas se reduz agrave deficiecircncia do estudante
Ainda que a maioria dos participantes tenha demonstrado uma
compreensatildeo sobre o AEE focalizada em seu puacuteblico-alvo alguns deles
apresentaram um entendimento sobre o serviccedilo com foco no local em que eacute
realizado (a Sala de Recursos Multifuncionais) conforme evidenciado nas falas de
ED1d ED1o e ED6s
ED1
d Temos a sala mas natildeo tem especialista para trabalhar
ED1o Temos a sala mas natildeo tem especialista para trabalhar nossos
alunos ED6
s Com relaccedilatildeo a nossa unidade de ensino e do municiacutepio em geral a
falta de espaccedilo adequado e profissionais qualificados eacute de grande expressatildeo (grifo nosso)
28
Segundo Martins (1997) inclusatildeo precaacuteria significa que todas as pessoas estatildeo incluiacutedas na sociedade de algum modo contudo podem estar incluiacutedas de forma perversa subalterna marginal
91
Percebe-se que ao serem perguntados sobre como compreendiam o AEE a
primeira associaccedilatildeo feita pelos participantes foi com um espaccedilo fiacutesico ―temos a
sala e se referem agrave ―falta de espaccedilo adequado O que chama atenccedilatildeo junto dessa
primeira associaccedilatildeo eacute uma segunda que eacute com relaccedilatildeo ao profissional
especializado
Essas satildeo duas partes importantes do serviccedilo a Sala de Recursos
Multifuncionais e o professor especializado Basta olhar a Resoluccedilatildeo nordm 42009
(BRASIL 2009) que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional
Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica para verificar o destaque conferido a esses
aspectos jaacute no seu art 1ordm
[] os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE) ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede puacuteblica ou de instituiccedilotildees comunitaacuterias confessionais ou filantroacutepicas sem fins lucrativos (BRASIL 2009 p 1 grifo nosso)
Evidencia-se a partir da citaccedilatildeo que na proacutepria resoluccedilatildeo a primeira
referecircncia feita ao que eacute o Atendimento Educacional Especializado no art 1 eacute
acompanhada logo na sequecircncia da expressatildeo sala de recursos multifuncionais
Vecirc-se portanto que essa associaccedilatildeo entre AEE e SRM se faz visiacutevel natildeo apenas
nos dizeres dos participantes mas tambeacutem nos documentos oficiais Os discursos
legais nesse sentido revelam-se como determinaccedilotildees dos discursos das equipes
diretivas ao se referirem ao AEE Sobre isso Vaz (2013 p44) ressaltou que eacute
preciso considerar nos discursos legais
[] o caraacuteter impositivo e direcionador que muitas vezes utiliza argumentos com caraacuteter humanista para convencer a populaccedilatildeo sobre seus objetivos [] os sujeitos podem apresentar resistecircncias em implementar a poliacutetica na escola no entanto a abrangecircncia dos discursos de convencimento e adesatildeo eacute muito significativa e faz parte de uma concepccedilatildeo de sociedade cuja intenccedilatildeo primordial eacute manter as relaccedilotildees antagocircnicas entre o capital e o trabalho
Ao fazer um contrapondo Franccedila (2008) destaca que as poliacuteticas
educacionais natildeo satildeo simplesmente incorporadas agrave escola por seus profissionais
ao inverso disso elas satildeo interpretadas ressignificadas pelos sujeitos que nela
trabalham podendo produzir nessas poliacuteticas transformaccedilotildees significativas que a
92
princiacutepio foram instituiacutedas Isso ocorre porque os profissionais da educaccedilatildeo ―satildeo
sujeitos histoacuterico-sociais marcados pelas suas experiecircncias e valores portanto
podem desempenhar um papel ativo capaz de constituir outros sentidos no processo
de implementaccedilatildeo das poliacuteticas (FRANCcedilA 2008 p 21)
Ao seguir com as discussotildees no que tange ao professor especializado pode-
se perceber que esse por sua vez eacute destacado em dois (art 12 e 13) dos catorze
artigos que compotildeem a Resoluccedilatildeo nordm 42009 (BRASIL 2009) Os requisitos
referentes agrave formaccedilatildeo desse docente bem como suas atribuiccedilotildees satildeo explorados
nos art 12 e 13
Art 12 Para atuaccedilatildeo no AEE o professor deve ter formaccedilatildeo inicial que o habilite para o exerciacutecio da docecircncia e formaccedilatildeo especiacutefica para a Educaccedilatildeo Especial Art 13 Satildeo atribuiccedilotildees do professor do Atendimento Educacional Especializado I ndash identificar elaborar produzir e organizar serviccedilos recursos pedagoacutegicos de acessibilidade e estrateacutegias considerando as necessidades especiacuteficas dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial II ndash elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade III ndash organizar o tipo e o nuacutemero de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais IV ndash acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular bem como em outros ambientes da escola V ndash estabelecer parcerias com as aacutereas intersetoriais na elaboraccedilatildeo de estrateacutegias e na disponibilizaccedilatildeo de recursos de acessibilidade VI ndash orientar professores e famiacutelias sobre os recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno VII ndash ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos promovendo autonomia e participaccedilatildeo VIII ndash estabelecer articulaccedilatildeo com os professores da sala de aula comum visando agrave disponibilizaccedilatildeo dos serviccedilos dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade e das estrateacutegias que promovem a participaccedilatildeo dos alunos
nas atividades escolares (BRASIL 2009 p 12 e 13)
Ao observar as atribuiccedilotildees do professor especializado natildeo eacute de se estranhar
que tamanha expectativa seja colocada sobre ele no que tange ao processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Expectativa essa
que pode culminar em
[] uma espeacutecie de hiper-responsabilizaccedilatildeo do docente como se as condiccedilotildees de acesso dos alunos e as proacuteprias condiccedilotildees em que se desenvolve sua atividade profissional natildeo estivessem limitadas por diretrizes normas e relaccedilotildees de poder tanto na escola como na sociedade (MARCELO 2009 p 124)
93
Pode-se dizer que em algumas das suas atribuiccedilotildees ele aparece como
responsaacutevel por atividades que implicam o envolvimento de outros profissionais que
compotildeem o contexto escolar Por exemplo na atribuiccedilatildeo V em que ele aparece
como responsaacutevel por estabelecer parcerias intersetoriais sem que haja alusatildeo de
que essa accedilatildeo demanda o envolvimento de outros sujeitos e do contexto escolar em
que estaacute inserido ou inciso VI em que ao docente eacute atribuiacuteda a responsabilidade
pela orientaccedilatildeo de professores e famiacutelias sobre os recursos pedagoacutegicos e de
acessibilidade utilizados pelo aluno sem que haja menccedilatildeo ao papel do orientador(a)
e supervisor(a) educacional nesse processo
Do mesmo modo na atribuiccedilatildeo VIII ao professor especializado eacute atribuiacuteda a
tarefa de estabelecer articulaccedilatildeo com o professor da sala comum sem que haja
referecircncia de que essa articulaccedilatildeo eacute uma via de matildeo dupla que exige tambeacutem o
envolvimento do professor da sala comum bem como o apoio do supervisor(a)
educacional com vistas a propiciar a interface entre esses profissionais no acircmbito
escolar
Apenas no art 9 da mesma Resoluccedilatildeo (BRASIL 2009 p 2) realccedila-se que a
elaboraccedilatildeo e a execuccedilatildeo do plano de AEE eacute de responsabilidade do professor que
atua no AEE em articulaccedilatildeo com ―[] os professores do ensino regular a
participaccedilatildeo das famiacutelias e em interface com os demais serviccedilos setoriais da sauacutede
da assistecircncia social entre outros necessaacuterios ao atendimento poreacutem sem
mencionar referecircncia ao papel da equipe diretiva nesse processo Presume-se que
esse papel esteja impliacutecito somente nos art 10 e 11 da referida Resoluccedilatildeo os quais
esclarecem que o plano de AEE deve integrar o projeto poliacutetico pedagoacutegico da
escola no qual se supotildee que haja envolvimento da equipe de gestatildeo escolar
Assim ao contemplar as compreensotildees dos integrantes das equipes diretivas
sobre o AEE pode-se evidenciar que em sua maioria os participantes parecem
restringir o serviccedilo ao estudante com deficiecircncia e agrave Sala de Recursos
Multifuncionaisprofessor especializado indicando uma compreensatildeo
descontextualizada sobre o AEE Essa visatildeo do AEE expressa nas falas das
equipes diretivas pode encontrar respaldo na legislaccedilatildeo e nas orientaccedilotildees e por
vezes pode culminar por limitar ou condicionar o fazer pedagoacutegico das equipes
diretivas
94
Para serem implementadas pressupotildeem-se que primeiramente as diretrizes
precisam ser analisadas e discutidas de forma criacutetica e reflexiva juntamente com
coletivo escolar Nesse sentido vislumbra-se o importante papel das equipes
diretivas em repensar e ressignificar juntamente com a comunidade escolar as
concepccedilotildees de mundo sociedade escola estudante educaccedilatildeo especial funccedilatildeo da
escola gestatildeo escolar formas de aprendizagens organizaccedilatildeo das turmas
Compreende-se que a realizaccedilatildeo dessa accedilatildeo nos espaccedilos escolares natildeo
ocorre de forma harmoniosa e colaborativa pelo contraacuterio eacute permeada por tensotildees
e conflitos mas ao mesmo tempo pode ser concebida como uma possiacutevel
alternativa como explicam Vioto e Vitaliano (2012 p 9) para
[] promover mudanccedilas educacionais de forma a transformar as escolas que historicamente se caracterizaram como espaccedilos educacionais destinados ao atendimento de alunos em classes regulares homogecircneas em escolas inclusivas nas quais a heterogeneidade possa ser percebida como princiacutepio baacutesico para elaboraccedilatildeo de todas as propostas pedagoacutegicas
Pensando nisso perguntou-se agraves equipes diretivas pesquisadas acerca de
suas compreensotildees sobre o trabalho do professor que atua no AEE a forma de
ingresso ao cargo a participaccedilatildeo nos processos coletivos da escola bem como
quem o acompanha e o auxilia no exerciacutecio de sua funccedilatildeo
Considerando que apenas as duas equipes diretivas ED2 e ED4 que
possuiacuteam o professor especializado responderam a esse item seratildeo analisadas e
discutidas somente as suas compreensotildees sobre o trabalho docente no AEE
Ao questionar os integrantes dessas duas equipes diretivas sobre o ingresso
do professor de AEE na funccedilatildeo foi possiacutevel observar que em ambos os casos foi
conduzido um processo de seleccedilatildeo segundo a ED2 um concurso puacuteblico e
conforme a ED4 um processo seletivo para contrataccedilatildeo temporaacuteria
Diferentemente da Rede Municipal de Joinville na qual de acordo com
Santos (2016) o ingresso docente no Atendimento Educacional Especializado tem
sido realizado geralmente por convite convocaccedilatildeo ou realocaccedilatildeo a Rede Municipal
de Camboriuacute parece privilegiar processos formais de seleccedilatildeo dos referidos
professores Chama a atenccedilatildeo contudo o fato de haver um(a) professor(a) de AEE
que natildeo eacute efetivo no cargo de acordo com o relato da ED4 Nesse caso pode-se
dizer que existe uma probabilidade de descontinuidade ou ruptura do trabalho
realizado por esse profissional o que pode tornar fraacutegil a estrutura do AEE na escola
95
e por conseguinte o processo de escolarizaccedilatildeo e o viacutenculo com os estudantes
puacuteblico-alvo da EE
Quanto agrave compreensatildeo da ED2 e ED4 sobre o trabalho realizado pelo(a)
professor(a) de AEE essa eacute evidenciada nas falas a seguir
ED2d [Eacute o profissional que] atende os alunos com deficiecircncia []
ED2o
Eacute um profissional diferenciado com uma qualificaccedilatildeo especializada que tem um olhar para o outro como um ser que precisa do mesmo carinho afeto paciecircncia para que alcance os objetivos ED2
s [Eacute um profissional que]
auxilia a promover a interaccedilatildeo do aluno
com os professores do ensino regular ED4
d Eacute um profissional que auxilia no desenvolvimento
ED4o
[Eacute um trabalho] muito significativo quando levado a seacuterio com responsabilidade Fazer atividades relevantes ED4
s [Eacute um trabalho] que auxilia a desenvolver as habilidades que satildeo
mais comprometidas nos alunos com deficiecircncia
Evidenciou-se que na maioria das falas dos integrantes das equipes
diretivas o foco do trabalho docente eacute o estudante com deficiecircncia Esse enfoque
tambeacutem eacute dado nas legislaccedilotildees que se referem ao AEE contudo centrar o trabalho
no estudante pode remeter a uma compreensatildeo que favoreccedila sua
descontextualizaccedilatildeo do processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Nas falas
supracitadas por exemplo natildeo apareceu um verbo essencial para descrever a
funccedilatildeo de um professor especializado ou natildeo ensinar Funccedilatildeo essa por sua vez
que se relaciona ao objetivo primeiro da escola que consiste em assegurar a
apropriaccedilatildeo dos conhecimentos produzidos historicamente de forma
sistematizada criacutetica e reflexiva a todos os estudantes
Uma forma de analisar essa constataccedilatildeo diz respeito ao modo como os
documentos oficiais relativos agrave Educaccedilatildeo Especial com destaque agrave Resoluccedilatildeo n
42009 (BRASIL 2009) concebem a funccedilatildeo docente com ―uma ecircnfase agraves
questotildees teacutecnicas referentes ao uso de recursos o que indica a secundarizaccedilatildeo
dos aspectos pedagoacutegicos relacionados ao ato de ensinar (ROSSETTO 2015 p
111)
Convergindo com a discussatildeo Michels (2011) salienta que
[] a centralidade das accedilotildees dos professores do atendimento educacional especializado (AEE) permanece nas teacutecnicas e nos recursos especializados [] Mesmo aquelas accedilotildees que dizem respeito agrave articulaccedilatildeo com a classe
96
comum natildeo estatildeo atreladas agrave discussatildeo pedagoacutegica e sim agrave utilizaccedilatildeo de recursos especiacuteficos (MICHELS2011 p 226)
Tambeacutem foi possiacutevel evidenciar que professor de AEE e seu trabalho foram
definidos por meio de adjetivos como como ―diferenciados ―especializados
―qualificados e ―significativos o que pode ser analisado de duas formas distintas
Uma delas eacute a de que haacute um reconhecimento por parte das equipes diretivas
pesquisadas da relevacircncia do trabalho docente no AEE para o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Outra diz respeito a um
entendimento que esse trabalho docente eacute tatildeo diferenciado e especializado a ponto
de distanciaacute-loseparaacute-lo do ensino regular contribuindo para a segregaccedilatildeo
(inclusatildeo precaacuteria) do estudante puacuteblico-alvo da EE
Ressalta-se ainda a compreensatildeo do(a) orientador(a) educacional da ED2
para quem a qualificaccedilatildeo especializada do(a) professor(a) de AEE lhe possibilita
desenvolver um olhar de carinho afeto e paciecircncia paracom o outro de modo a
atingir objetivos educacionais Essa compreensatildeo parece estar impregnada de
uma concepccedilatildeo que pode se traduzir em uma visatildeo de Educaccedilatildeo Especial em que
o cuidado eacute privilegiado e secundarizado portanto o processo de escolarizaccedilatildeo do
estudante puacuteblico-alvo da EE Entretanto essa forma de conceber o professor de
AEE eacute evidenciada tambeacutem na pesquisa de Santos (2016) que estudou as
narrativas de histoacuteria de vida de professoras atuantes no AEE Ao questionar
sobre as caracteriacutesticas de um professor de AEE as participantes apontaram em
seus discursos descritores como ―ser atenciosa carinhosa paciente acreditar na
capacidade e potencial dos alunos desenvolver um olhar diferente [] (SANTOS
2016 p75) A mesma autora explica que
[] uma outra questatildeo que pode ser problematizada eacute [] o lugar em que se coloca no discurso o aluno com deficiecircncia ndash que passa a ser aquele que primeiramente precisa de afeto (e por isso de uma professora atenciosa carinhosa e paciente) e cuja aprendizagem fica portanto em segundo plano Se a aprendizagem do aluno fica em segundo plano a atividade de ensinar algo a algueacutem proacutepria do professor tambeacutem fica [] (SANTOS 2016 p 76-77)
Isso natildeo significa que a sensibilidade a relaccedilatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica
natildeo sejam importantes pelo contraacuterio esses aspectos constituem o ser professor
como explicaram Pimenta amp Anastasiou (2008 p14)
97
[] ser professor requer saberes e conhecimentos cientiacuteficos pedagoacutegicos educacionais sensibilidade indagaccedilatildeo teoacuterica e criatividade para encarar as situaccedilotildees ambiacuteguas incertas conflituosas [] presentes nos contextos escolares [] Eacute da natureza da atividade docente proceder agrave mediaccedilatildeo reflexiva e criacutetica entre as transformaccedilotildees sociais concretas e a formaccedilatildeo humana dos alunos questionando os modos de pensar sentir agir e de produzir e distribuir conhecimentos
Em siacutentese foi possiacutevel constatar que o trabalho do professor de AEE na
visatildeo das equipes diretivas acentuou a relaccedilatildeo entre docente especializado e
estudante puacuteblico-alvo da EE atenuando ou mesmo natildeo mencionando o seu papel
enquanto equipe diretiva nesse trabalho docente bem como de outros profissionais
e demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo Esse silenciamento pode ser
interpretado como sinal de um trabalho docente especializado que acontece de
forma isolada
Entende-se que o desenvolvimento de um trabalho conjunto entre equipe
diretiva professores da sala comum professor de AEE pais e estudantes pode
contribuir para o trabalho do professor de AEE e por conseguinte para o processo
de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico alvo da EE
Neste processo o papel da equipe diretiva parece exceder a elaboraccedilatildeo e o
acompanhamento do projeto poliacutetico-pedagoacutegico uma vez que pode ser
vislumbrado em uma diversidade de accedilotildees que Veiga (1995) chamou de accedilotildees
intencionais com sentidos expliacutecitos e compromissos definidos coletivamente
Dentre elas pode-se citar em especial a accedilatildeo de repensar e estabelecer
formalmente espaccedilos e tempos de discussatildeo conjunta das diretrizes da Educaccedilatildeo
Especial e da proposta de AEE bem como de estrateacutegias para a escolarizaccedilatildeo de
estudantes que compotildeem seu puacuteblico-alvo Reforccedila-se assim o trabalho coletivo
como condiccedilatildeo necessaacuteria para a implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
Seria ingecircnuo entretanto constatar a relevacircncia e necessidade do trabalho
coletivo entre os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo sem refletir sobre as
(im)possibilidades de viabilizaacute-lo nos espaccedilos escolares Isto porque como explicou
Michels (2006) a escola vai se constituindo e organizando no embate entre seu
cotidiano e as proposiccedilotildees poliacuteticas Aleacutem disso estaacute inserida em um contexto
social poliacutetico cultural e econocircmico que sabidamente se expressa nas relaccedilotildees e
na organizaccedilatildeo escolar
98
Considerando essa relaccedilatildeo entre proposiccedilotildees poliacuteticas e cotidiano da escola
pode-se dizer que o modo como a educaccedilatildeo vem sendo pensada no Brasil estaacute
ancorada em instrumentos regulatoacuterios e avaliativos Analisando o Plano de
Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (BRASIL 2007) por exemplo pode-se dizer que
como um todo esse plano estaacute baseado na criaccedilatildeo do Iacutendice de Desenvolvimento
da Educaccedilatildeo Brasileira (IDEB) que por sua vez consiste mais em uma forma de
regular do que definir criteacuterios para a Uniatildeo aplicar recursos na Educaccedilatildeo Pode-se
observar a expressatildeo dessa regulaccedilatildeo no uso perverso do IDEB para ranquear as
redes de ensino e acirrar a competiccedilatildeo entre as escolas (FERNANDES 2007
ARAUacuteJO 2004) Nesse sentido eacute possiacutevel dizer que em alguns aspectos planos e
poliacuteticas educacionais parecem apostar na competiccedilatildeo e natildeo no trabalho coletivo
dentro e entre escolas
A partir dessa reflexatildeo segue-se para a anaacutelise dos entendimentos das
equipes diretivas ED2 e ED4 em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo do professor de AEE nos
processos coletivos da escola A esse respeito os integrantes das duas equipes
diretivas responderam
ED2d
Participa dando retornos dos atendimentos e de como estaacute o rendimento dos alunos ateacute mesmo se natildeo houve melhora ED2
o Eacute um profissional ativo participativo em Conselho de Classe e
demais reuniotildees pedagoacutegicas ED2
sEfetiva
ED4
dSempre trazem devolutivas dos seus trabalhos e repassam aos
professores ED4
o Reuniotildees pedagoacutegicas bem poucas
ED4s Pouco participativa
A partir destes relatos pode-se dizer que as equipes diretivas compreendem
que participar dos processos coletivos da escola implica dar um retorno ou uma
devolutiva a respeito do estudante que o professor de AEE atende como
expressaram ED2d e ED4d
Nessa forma de compreensatildeo nota-se uma apropriaccedilatildeo superficial do que
seria efetivamente participar desses processos uma vez que a participaccedilatildeo do
professor de AEE foi resumida agrave accedilatildeo de dar retornodevolutiva acerca do processo
de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE ao(a) professor(a) da sala
comum e agraves equipes diretivas
99
Jaacute no relato de ED2o e ED4o a participaccedilatildeo do professor de AEE em
processos coletivos da escola foi associada a tomar parte em conselhos de classe e
reuniotildees pedagoacutegicas Essas accedilotildees ainda que coletivas natildeo resumem todas as
possibilidades de processos coletivos que podem ser organizados nas escolas o
que leva a refletir sobre o que as equipes diretivas entendem por processos
coletivos escolares e ainda se haacute um vieacutes coletivo na escola
Entende-se por processos coletivos escolares todas as atividades que
envolvem um coletivo escolar organizado intencional e formalmente pela equipe
diretiva para tomar conhecimento discutir eou decidir questotildees pertinentes ao
processo de escolarizaccedilatildeo Exemplos desses processos satildeo a construccedilatildeo do PPP
da escola reuniotildees pedagoacutegicas conselho de classe formaccedilatildeo em serviccedilo
reuniotildees de pais dentre outros que segundo Libacircneo (2015) satildeo procedimentos
que podem ajudar na viabilizaccedilatildeo do trabalho no acircmbito escolar
Essas accedilotildees por outro lado a exemplo do conselho de classe podem ser
planejadas contemplando o maior nuacutemero de turmas possiacutevel de forma cansativa e
superficial buscando identificar somente as notas baixas e conferindo a culpa do
fracasso escolar ao estudante A esse respeito Paro (2016b p 81) faz o seguinte
comentaacuterio
[] os conselhos de classe por exemplo natildeo podem continuar sendo instacircncias meramente burocraacuteticas onde se procura justificar o baixo rendimento colocando a culpa em fatores externos agrave escola Eacute preciso prever instrumentos institucionais que avaliem natildeo apenas o rendimento do aluno mas o proacuteprio processo escolar como um todo com a presenccedila de alunos e pais pois eles satildeo os usuaacuterios da escola e a eles compete apontar problemas e dar sugestotildees []
Seguindo com as compreensotildees sobre os processos coletivos escolares
pode-se dizer que esse coletivo escolar diz respeito a todos os profissionais da
escola pais e estudantes (ou seus representantes) Para configurar um processo
escolar genuinamente coletivo compreende-se que eacute preciso que a maioria dos
envolvidos esteja representada constituindo-se como uma accedilatildeo democraacutetica e
participativa
A partir dessa compressatildeo pode-se pensar que quanto mais processos
coletivos uma equipe diretiva conseguir organizar em uma escola mais democraacutetica
e participativa ela se constituiraacute Ainda que responsaacutevel por organizar processos
coletivos escolares as equipes diretivas natildeo podem ser inteiramente
100
responsabilizadas por algo que natildeo possuem hoje condiccedilotildees favoraacuteveis para
efetivar Eacute necessaacuterio um envolvimento de todo o corpo social conforme explicitou
Paro (2012 p 169)
[] incorrer no equiacutevoco de imputar a uma instituiccedilatildeo apenas aquilo que eacute funccedilatildeo da sociedade como um todo Igualmente equivocada eacute a atitude de negar agrave escola qualquer papel na transformaccedilatildeo social esperando que a sociedade mude para mudar a escola Por que a escola natildeo eacute o local da mudanccedila natildeo significa que ela natildeo possa ser um dos locais dessa mudanccedila A revoluccedilatildeo eacute um processo que envolve todo o corpo social inclusive a escola
Um dos principais entraves para efetivar processos coletivos na escola diz
respeito a uma problemaacutetica vivenciada por parte das escolas puacuteblicas no Brasil o
cumprimento dos 200 dias letivos conforme regulamenta a Lei de Diretrizes e Bases
da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) Salienta-se que eacute considerado dia letivo
aquele programado para a aula com a presenccedila dos alunos
Assim as accedilotildees como conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas e
momentos de formaccedilatildeo precisam ser planejadas para aleacutem dessas 800 horas que
compotildeem a carga horaacuteria miacutenima dos 200 dias letivos Dessa forma por vezes a
equipe diretiva pode na tentativa de viabilizar esses processos coletivos escolares
propocirc-los no contraturno das aulas do professor Poreacutem ao fazecirc-lo um outro
obstaacuteculo pode surgir pois alguns professores lecionam em outros locais nesse
periacuteodo Com isso nem sempre os docentes poderatildeo estar presentes em atividades
propostas fora do horaacuterio de trabalho o que pode comprometer o desenvolvimento
de accedilotildees coletivas direcionadas a conhecer discutir e decidir questotildees pertinentes
ao processo de escolarizaccedilatildeo Poreacutem compreende-se tambeacutem a urgecircncia dos
sistemas de ensino em repensar as condiccedilotildees de trabalho do professor com o
intuito de favorecer dentre outros fatores a participaccedilatildeo desses profissionais nos
processos coletivos da escola
A possibilidade portanto de que as escolas possam se organizar de modo
coletivo passa natildeo somente pelo que as equipes diretivas compreendem por
―processos coletivos escolares Passa tambeacutem pelo reconhecimento de que as
condiccedilotildees de trabalho dos profissionais da educaccedilatildeo desfavorecem hoje o vieacutes
coletivo da escola e precisam ser repensadas e modificadas para que as equipes
101
diretivas possam de fato organizar espaccedilos e tempos de reflexatildeo discussatildeo e
decisatildeo em conjunto com os demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo
Para finalizar as anaacutelises sobre o que pensam as equipes diretivas sobre a
participaccedilatildeo do(a) professor(a) de AEE nos processos coletivos da escola foi
possiacutevel identificar que em alguns casos a participaccedilatildeo foi qualificada por alguns
integrantes das equipes diretivas como ―ativa ―efetiva ou ―pouca Eacute interessante
observar que o(a) professor(a) de AEE percebido por alguns integrantes da ED4
como como ―pouco participativo ou que ―participa de poucas reuniotildees pedagoacutegicas
eacute um(a) docente contratado (a) temporariamente Sobre o aumento dos contratos
temporaacuterios nas redes puacuteblicas de ensino Oliveira (2004) ressaltou que chegou
[] em alguns estados o nuacutemero correspondente ao de trabalhadores efetivos o arrocho salarial o respeito a um piso salarial nacional a inadequaccedilatildeo ou mesmo ausecircncia em alguns casos de planos de cargos e salaacuterios a perda de garantias trabalhistas e previdenciaacuterias oriunda dos processos de reforma do Aparelho de Estado tecircm tornado cada vez mais agudo o quadro de instabilidade e precariedade do emprego no magisteacuterio puacuteblico (OLIVEIRA 2004 p1140)
Longe de justificar a baixa participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos
coletivos da escola em funccedilatildeo do contrato temporaacuterio procura-se aqui atentar ao
fato de que esse tipo de contrataccedilatildeo pode dificultar a constituiccedilatildeo de viacutenculos com a
comunidade escolar e indicar uma possiacutevel precarizaccedilatildeo do trabalho desse
profissional
Reconhecendo a complexidade do trabalho docente no AEE e sabendo da
importacircncia da colaboraccedilatildeo e da coletividade nos processos escolares perguntou-
se agrave ED2 e agrave ED4 quem auxilia e acompanha o profissional do AEE no exerciacutecio de
sua funccedilatildeo na escola Observem-se suas respostas
ED2d
A psicopedagoga e toda a equipe diretiva
ED2o
O profissional da aacuterea psicopedagogo monitoras orientaccedilatildeo
supervisatildeo e direccedilatildeo escolar
ED2s
A pedagoga de inclusatildeo esclarece sobre as deficiecircncias e a
supervisora escolar auxilia o professor monitores em atividades que
desenvolvam habilidades
ED4d
Supervisatildeo e Direccedilatildeo
ED4o
Secretaria de educaccedilatildeo
ED4s
A Secretaria de Educaccedilatildeo tem uma coordenadora e quando necessaacuterio eu mesma auxilio
102
A diversidade de respostas possibilita inferir que a responsabilidade pelo
acompanhamento do(a) professor(a) especializado parece diluiacuteda entre diversos
profissionais desde a equipe diretiva ateacute o(a) psicopedagogo(a) monitor de inclusatildeo
e Secretaria de Educaccedilatildeo Isto pode indicar tanto uma responsabilidade
compartilhada quanto uma falta de clareza com relaccedilatildeo a quem compete essa
funccedilatildeo
Na tentativa de desvelar a quem compete a funccedilatildeo de acompanhar e auxiliar
o professor de AEE no exerciacutecio de sua funccedilatildeo recorreu-se a Lei Complementar nordm
192008 a qual dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo implantaccedilatildeo e gestatildeo do Plano de
Carreira dos Profissionais do Magisteacuterio Puacuteblico Municipal de Camboriuacute e institui as
atribuiccedilotildees de cada funccedilatildeo
Segundo o art 17ordm da referida Lei agrave(ao) supervisor(a) educacional compete
acompanhar com os professores o processo didaacutetico-pedagoacutegico bem como
assessorar e orientar didaticamente o corpo docente da escola em articulaccedilatildeo com
o(a) diretor e o(a) orientador(a) escolar (CAMBORIUacute 2008)
Nesse mesmo sentido Alarcatildeo (2011) Placco Souza e Almeida (2012)
salientam que dentre as atribuiccedilotildees do supervisor destaca-se o apoio aos
professores e o fomento de uma cultura de formaccedilatildeo profissional estudo e pesquisa
no acircmbito escolar Entretanto para que essas accedilotildees sejam efetivadas no contexto
escolar eacute imprescindiacutevel o papel do diretor como articulador apoiando e
promovendo a mobilizaccedilatildeo dos profissionais bem como o do orientador que
acompanha mais de perto os alunos podendo contribuir com informaccedilotildees para a
discussatildeo e constituiccedilatildeo de estrateacutegias de ensino que favoreccedilam o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Conhecer o que pensam as equipes diretivas sobre o trabalho do professor de
AEE sua participaccedilatildeo em processos coletivos da escola e quem o acompanha e
auxilia no exerciacutecio de sua funccedilatildeo revelou que parte dos profissionais pesquisados
ao expressarem suas compreensotildees sobre o serviccedilo de AEE como um todo se
remeteram especificamente ao professor especializado e ao local desse
atendimento (SRM)
Esse foco especiacutefico evidencia mais uma vez o risco de uma compreensatildeo
limitada que toma a totalidade do AEE pela parte do espaccedilo fiacutesico em que ele
acontece e do professor especializado Quando esse serviccedilo eacute percebido como um
103
local separado para atender o estudante puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial pode-
se dizer que a segregaccedilatildeo29 que se pretende minimizar ou evitar por meio de
estrateacutegias como o AEE parece assombrar ainda os espaccedilos escolares
As perspectivas de exclusatildeo e segregaccedilatildeo que historicamente marcaram a
Educaccedilatildeo Especial nesse sentido encontram expressatildeo ainda hoje quando o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE eacute visto como ―[]
responsabilidade setorializada da Educaccedilatildeo Especial e natildeo como um conjunto de
medidas que o sistema de ensino como um todo de maneira interdisciplinar deveria
adotar para efetivar tal proposta (PLETSCH 2010 p 60)
Nessa perspectiva ao estudante puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eacute
conferido um lugar separado no processo educacional em funccedilatildeo de sua
deficiecircncia Configura-se assim uma inclusatildeo precaacuteria que segundo Meletti (2013
p 27) significa ―se inserir em um espaccedilo social jaacute existente e essencialmente
excludente Dessa forma possibilita-se uma compreensatildeo do serviccedilo de AEE como
um todo pois com uma visatildeo fragmentada do serviccedilo pode-se incorrer no risco
como apontaram Baptista Silva e Correia (2015) de pensar a Sala de Recursos
como um espaccedilo de reproduccedilatildeo e distanciamento do ensino comum Os autores
esclarecem ainda que
[] tais riscos se potencializam quando temos docentes especializados que investem prioritariamente no atendimento direto ao aluno isolando-o do grupoclasse e natildeo investindo no sistema ou nos sistemas dos quais esse aluno participa Esse eacute segundo acreditamos o principal desafio atual dirigido agrave gestatildeo dos espaccedilos especializados e agrave formaccedilatildeo de profissionais capazes de instituir parcerias que coloquem em accedilatildeo o docente de aacuterea disciplinar (pedagogia ou outras licenciaturas) e o professor especializado em educaccedilatildeo especial (BAPTISTA SILVA e CORREIA 2015 p 47)
Em parte a persistecircncia dessas marcas histoacutericas na Educaccedilatildeo Especial
pode ser explicitada pelo fato de que ―[] a proposta de uma Educaccedilatildeo Inclusiva
situa-se na contracorrente das condiccedilotildees objetivas de um modo de organizaccedilatildeo
escolar pautado em um modelo capitalista e tecnoloacutegico sustentado por relaccedilotildees de
exclusatildeo (RENGEL CORDEIRO e STEINER 2015 p 1358)
Em meio a esses tensionsamentos
29
A segregaccedilatildeo traduz a loacutegica da inclusatildeoexclusatildeo se trata portanto de uma inclusatildeo precaacuteria
104
[] encontramo-nos hoje diante do desafio de construir possiacuteveis caminhos que levem agrave formaccedilatildeo de uma educaccedilatildeo especial que realmente colabore com a educaccedilatildeo escolar de crianccedilas sob a perspectiva educacional sem no entanto apagar ou ignorar as necessidades de indiviacuteduos com caracteriacutesticas muitas vezes bastante especiacuteficas (KASSAR amp REBELO 2013 p 39)
Romper com a loacutegica de segregaccedilatildeo apresenta-se nesse sentido como um
dos desafios postos aos envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo e dentre eles agrave
equipe diretiva escolar Assim como a atuaccedilatildeo de diretores(as) coordenadores(as)
pedagoacutegicos e orientadores(as) educacionais pode contribuir para manter a loacutegica
de segregaccedilatildeo tambeacutem pode colaborar para transformaacute-la Por isso concorda-se
com Baptista (2013) quando esse diz que olhar para o presente e o futuro da
Educaccedilatildeo Especial leva a pensar um passado ndash aqui entendido como a loacutegica de
segregaccedilatildeo ndash que continua nos habitando ―esse passado somos noacutes merece
cuidado pois se constitui naquilo que conhecemos naquilo que nos orienta mas
que frequentemente ofusca nossa visatildeo e limita nossa possibilidade de enxergar
(BAPTISTA 2013 p 49)
Nesse sentido confirma-se a relevacircncia de se conhecer o modo como as
equipes diretivas pensam sobre o AEE uma vez que entendimentos reduzidos e
descontextualizados podem revelar que compreensotildees (e decorrentes praacuteticas) de
segregaccedilatildeo estatildeo sendo mantidas
Uma vez conhecidas essas compreensotildees podem ser se necessaacuterio
trabalhadas e reconfiguradas de modo a ampliar o entendimento sobre o serviccedilo de
AEE e o papel da comunidade escolar como um todo em sua viabilizaccedilatildeo rompendo
com a loacutegica de segregaccedilatildeo e dando espaccedilo para a loacutegica da educaccedilatildeo como direito
de todos
Reconhece-se nesse sentido que as equipes diretivas ao mesmo tempo que
satildeo condicionadas por ideologias fazem parte de uma organizaccedilatildeo social poliacutetica e
econocircmica marcada por relaccedilotildees da dialeacutetica exclusatildeoinclusatildeo e exercem seu
papel profissional em meio de tensionamentos poliacuteticos e legais No entanto elas
podem tambeacutem exercitar sua autonomia ainda que relativa por meio da reflexatildeo
criacutetica sobre a praacutetica compreendendo as ideologias em que estatildeo imersas pois
[] eacute pensando criticamente sobre a praacutetica de hoje ou de ontem que se pode melhorar a proacutexima praacutetica [] quanto mais me assumo como estou sendo e percebo as razotildees de ser e por que estou sendo assim mais me torno capaz de mudar (FREIRE 2013 p 40)
105
Claramente a conscientizaccedilatildeo e a reflexatildeo por si mesmas natildeo asseguram
uma mudanccedila no campo da accedilatildeo Mas por outro lado como explanou Paulo Freire
(2013) agrave medida em que a reflexatildeo cria novas opccedilotildees tanto mais ela pode provocar
rupturas escolhas e novos compromissos Sabendo que esses soacute se concretizaratildeo
materialmente quando aquilo que as equipes diretivas e demais profissionais da
escola pensam se transforme em accedilatildeo voltada a assegurar a formaccedilatildeo integral de
todos os estudantes
A escola puacuteblica comumente carece de condiccedilotildees estruturais pedagoacutegicas e
de recursos humanos contribuindo para que a equipe diretiva professores e demais
funcionaacuterios na maioria das vezes natildeo vislumbrem condiccedilotildees para realizar
mudanccedilas Entretanto Paro (2016a) adverte que
[] o que natildeo se pode eacute tomar os determinantes estruturais como desculpa para natildeo se fazer nada esperando-se que a sociedade se transforme para depois transformar a escola Sem a transformaccedilatildeo na praacutetica das pessoas natildeo haacute sociedade que se transforme de maneira consciente e duradoura Eacute aiacute na praacutetica escolar cotidiana que precisam ser enfrentados os determinantes mais imediatos do autoritarismo enquanto manifestaccedilatildeo num espaccedilo restrito dos determinantes estruturais mais amplos da sociedade (PARO 2016a p 26)
Dessa forma vislumbra-se o papel da equipe diretiva escolar na
implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE como uma possibilidade neste momento
histoacuterico de criar espaccedilos e tempos de diaacutelogo e reflexatildeo com o intuito de
possibilitar a participaccedilatildeo ativa de todos os envolvidos no processo de
escolarizaccedilatildeo no planejamento organizaccedilatildeo discussatildeo e implementaccedilatildeo das
estrateacutegias e diretrizes da Educaccedilatildeo Especial
Se ateacute o momento o que se viu por parte da maioria das equipes diretivas
foram compreensotildees fragmentadas em que se foca o estudante e ou o professor de
forma isolada pode-se refletir que hoje eacute ainda um desafio para elas pensar sobre o
AEE a partir de uma perspectiva contextualizada Ainda que presente na fala da
minoria das equipes diretivas essa perspectiva apareceu nos dizeres de ED7d e
ED3o que demonstraram compreender o AEE a partir do processo de
escolarizaccedilatildeo como um todo expressando um entendimento mais abrangente
sobre o serviccedilo
106
ED7d
[Compreendo o AEE] como uma inclusatildeo do aluno com deficiecircncia no ensino regular onde toda escola precisa de mudanccedilas desde o espaccedilo fiacutesico como tambeacutem no seu fazer do cotidiano ED3
o [O AEE] deveria ser mais abrangente aplicado por todos [os
profissionais da escolas] Mas tambeacutem nunca se sabe o que realmente fazer (grifo nosso)
Pode-se perceber que as falas dos integrantes das equipes diretivas (ED7d e
ED3o) se distanciam das compreensotildees individualizadas apresentadas
anteriormente visto que datildeo sinais de um entendimento mais amplo sobre o AEE
Suas falas remetem agrave compreensatildeo que o local do AEE eacute a ―escola e
portanto excede o espaccedilo fiacutesico da SRM Do mesmo modo indicam que todos os
envolvidos e natildeo apenas o professor especializado tecircm um papel importante no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Salienta-se no entanto algumas expressotildees importantes contidas nos
dizeres de ED7d e ED3o ―precisa e ―deveria Enquanto ED7d fala que a escola
como um todo ―precisa se implicar cotidianamente na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo
do AEE ED3o adverte que este ―deveria ser mais abrangente e aplicado por todos
os profissionais da escola Se isto eacute algo que precisa e deveria ser feito pode-se
inferir que ainda natildeo eacute uma realidade vivenciada por essas escolas ou que estaacute em
processo de constituiccedilatildeo
Saber o que precisa e deveria ser feito no entanto eacute um passo importante
para transformaccedilatildeo da realidade Paulo Freire em um trecho de sua obra Pedagogia
da Esperanccedila explicou que
[] uma vez conhecida a realidade caberaacute ao homem sua modificaccedilatildeo A realidade natildeo pode ser modificada senatildeo quando o homem descobre que eacute modificaacutevel e que ele pode fazecirc-lo Eacute preciso portanto fazer desta conscientizaccedilatildeo o primeiro objetivo de toda a educaccedilatildeo antes de tudo provocar uma atitude criacutetica de reflexatildeo que comprometa a accedilatildeo (FREIRE 1979a p 40)
Fuck (2014 p 23) apoiada em Pontes (1992) explica que as concepccedilotildees ou
diferentes compreensotildees que habitam a escola exercem ―[] um papel determinante
no nosso pensamento e na nossa accedilatildeo Libacircneo (2015) vai aleacutem ao expor que
essas compreensotildees formam a cultura escolar e que a equipe diretiva possui um
papel de destaque nesse processo
[] a partir da interaccedilatildeo entre diretores coordenadores pedagoacutegicos professores funcionaacuterios e alunos a escola vai adquirindo na vivecircncia do dia-a-dia traccedilos culturais proacuteprios vai formando crenccedilas valores
107
significados modos de agir praacuteticas [] Essa cultura proacutepria vai sendo internalizada pelas pessoas e gerando um estilo coletivo de perceber as coisas de pensar os problemas de encontrar soluccedilotildees [] Haacute em cada escola uma forma dominante de accedilatildeo na interaccedilatildeo entre as pessoas (LIBAcircNEO 2015 p 109)
Pode-se dizer portanto que haacute uma estreita relaccedilatildeo entre as formas de
compreender o AEE e as praacuteticas a ele relacionadas no contexto escolar No que
tange agraves equipes diretivas que demonstraram compreender esse serviccedilo de forma
mais abrangente e contextualizada eacute possiacutevel inferir que tal maneira de pensar pode
se traduzir em accedilotildees como a constituiccedilatildeo de espaccedilos dialoacutegicos e reflexivos com o
intuito de planejar e organizar estrateacutegias para a implementaccedilatildeo das diretrizes da
Educaccedilatildeo Especial junto aos envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo a fim de
assegurar o direito a aprender desses estudantes
Muito embora as diretrizes de Educaccedilatildeo Especial sejam importantes para a
organizaccedilatildeo de sistemas educacionais inclusivos elas se apresentam como um
documento orientador da poliacutetica Assim o modo como acontece sua efetivaccedilatildeo
perpassa ainda pelos interesses dominantes da sociedade pela compreensatildeo dos
gestores dos sistemas de ensino assim como pelo entendimento da equipe diretiva
e dos profissionais da educaccedilatildeo como um todo os quais tecircm a incumbecircncia de sua
materializaccedilatildeo no acircmbito escolar Nessa perspectiva as diretrizes da Educaccedilatildeo
Especial se apresentaratildeo de modo diferente em cada municiacutepio e em cada
instituiccedilatildeo escolar uma vez que como expocircs Michels (2004) os encaminhamentos
poliacuteticos ganham vida ao serem subjetivados pelos sujeitos que os apreendem e
nesse sentido cada escola implementa as diretrizes agrave sua maneira
Ainda que as falas da minoria apontem para uma compreensatildeo menos
individualizada e isolada do processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico alvo
da Educaccedilatildeo Especial natildeo foi possiacutevel captar uma abordagem criacutetica em que a
Educaccedilatildeo Especial seja compreendida como parte da Educaccedilatildeo que se desenvolve
em um sistema poliacutetico econocircmico e cultural marcado pela dialeacutetica
inclusatildeoexclusatildeo
Em parte pode-se dizer que esse pensamento criacutetico natildeo eacute favorecido pela
forma como hoje os espaccedilos e tempos das escolas estatildeo organizados O modo
como a escola se organiza natildeo pode ser desvinculado de seu todo correspondente
isto eacute a organizaccedilatildeo social e econocircmica da qual faz parte ndash nesse caso um sistema
capitalista e tecnoloacutegico no qual as relaccedilotildees e as jornadas de trabalho satildeo
108
reguladas pelo capital e marcadas pela falta de [] tempo para o desenvolvimento
intelectual para o livre exerciacutecio do corpo e do espiacuterito O capital monopoliza o
tempo que o desenvolvimento e equiliacutebrio do corpo em perfeita sauacutede exigem
(MARX 2013 p 103) Nessa direccedilatildeo Jesus e Alves (2011 p27) questionam
[] como lidar com as contradiccedilotildees dos sistemas pedagoacutegicos que em sua maioria estatildeo voltados para a emergecircncia e exigecircncias de uma escola que como todo o sistema educacional econocircmico poliacutetico e social estaacute voltado a atender as demandas do projeto neoliberal []
Sobre isso Paulo Freire (1982) esclarece que conhecer as intencionalidades
das ideologias dominantes que imperam pode ser um ponto de partida para uma
accedilatildeo pedagoacutegica mais reflexiva reconhecendo que natildeo haacute como mudar de forma
global um sistema posto mas haacute como transformar de forma gradativa a realidade
na qual se estaacute inserido Isso porque a mudanccedila que se deseja para a educaccedilatildeo
ocorre por meio da accedilatildeo dos homens reivindicando por exemplo condiccedilotildees de
trabalho adequadas para que possam desenvolver uma praacutetica pedagoacutegica pautada
no princiacutepio de educaccedilatildeo para todos Se em um sistema capitalista a reivindicaccedilatildeo
individual possui raro eco vislumbra-se no coletivo organizado ndash nesse caso os
profissionais da Educaccedilatildeo ndash uma importante forccedila impulsionadora de mudanccedilas
[] natildeo haacute uma estrutura que seja exclusivamente estaacutetica como natildeo haacute uma absolutamente dinacircmica O dinamismo e o estaacutetico constituem a estrutura social Mas se toda a estrutura social que eacute histoacuterica tem como expressatildeo de sua forma de ser a ―duraccedilatildeo da dialeacutetica mudanccedila ndash estabilidade eacute necessaacuterio que se tenha dela uma visatildeo criacutetica [] Mudanccedila e estabilidade resultam ambas da accedilatildeo do trabalho que o homem exerce sobre o mundo (FREIRE 1982 p45 - 46)
Por outro lado o fato de natildeo terem sido identificadas compreensotildees mais
criacuteticas a respeito do AEE conduz ao reconhecimento de que essa se configura
como uma necessidade formativa para as equipes diretivas aqui estudadas Em
breve pesquisa empreendida na BDTD foi possiacutevel identificar que nos uacuteltimos vinte
anos (2006-2016) poucas pesquisas (114) foram realizadas sobre a formaccedilatildeo
continuada de diretores enquanto a formaccedilatildeo continuada de professores contou
com o expressivo nuacutemero de 2760 pesquisas no mesmo periacuteodo
Observar esse baixo nuacutemero de produccedilotildees cientiacuteficas brasileiras sobre a
―formaccedilatildeo continuada de diretores leva agrave constataccedilatildeo de que eacute preciso investir em
estudos acerca da referida temaacutetica a fim de conhecer se e como estatildeo sendo
109
organizados os espaccedilos e tempos de formaccedilatildeo das equipes diretivas que por sua
vez satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo de espaccedilos e tempos de reflexatildeo para os demais
profissionais da escola
Nesse acircmbito eacute possiacutevel questionar quem seriam os responsaacuteveis por
organizar os espaccedilos e tempos de reflexatildeo das equipes diretivas Ou seriam essas
equipes ao mesmo tempo responsaacuteveis por organizar esses tempos e espaccedilos e
usufruir deles para sua proacutepria formaccedilatildeo Jesus e Alves (2011 p 22) sugerem que
essa eacute uma demanda que ―deve estar vinculada agrave gestatildeo dos sistemas de ensino
no caso dessa pesquisa agrave Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
Ainda sobre a formaccedilatildeo de diretores Paro (2016b p 60) identificou a partir
do relato de uma diretora que entrevistou em sua pesquisa que ―o que parece faltar
verdadeiramente [] satildeo conhecimentos pedagoacutegicos baacutesicos componentes
imprescindiacuteveis na formaccedilatildeo de bons educadores Ainda que se refira a uma
participante as palavras do autor convidam a (re)pensar a formaccedilatildeo dos gestores
escolares e reforccedilam a necessidade de se investir em mais pesquisas sobre o tema
bem como na proacutepria formaccedilatildeo das equipes diretivas visto que
[] existe por parte das Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo uma tendecircncia de grande investimento na promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo de diretores escolares sendo esse investimento significativamente menor entre as Secretarias Municipais de Educaccedilatildeo (LUumlCK 2011 p 221)
Em siacutentese ao investigar as compreensotildees das equipes diretivas sobre o
serviccedilo de AEE bem como o puacuteblico-alvo da EE foi possiacutevel identificar que a
maioria o associou ao estudante com deficiecircncia e um segundo nuacutemero expressivo
de participantes se remeteu a um lugar (SRM) e um profissional especiacutefico
(professor especializado) para apresentar seu entendimento sobre o serviccedilo Ainda
que em menor nuacutemero alguns profissionais das equipes diretivas pesquisadas
revelaram compreender o AEE a partir do processo de escolarizaccedilatildeo como um todo
poreacutem observou-se a ausecircncia de perspectivas criacuteticas que considerassem os
aspectos macroestruturais (condiccedilotildees objetivas da escola) envolvidos no referido
processo Foi possiacutevel constatar que o trabalho do professor de AEE na percepccedilatildeo
das equipes diretivas ressaltou a relaccedilatildeo entre docente especializado e estudante
puacuteblico-alvo da EE mitigando ou mesmo natildeo mencionando o seu papel enquanto
equipe diretiva nesse trabalho docente assim como de outros profissionais e demais
envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo Tambeacutem foi possiacutevel observar que em
110
algumas situaccedilotildees houve divergecircncias de entendimentos entre os integrantes da
mesma equipe apontando para a possibilidade de que o trabalho de gestatildeo vem
sendo realizado de forma desarticulada culminando na precarizaccedilatildeo do AEE bem
como do processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes de forma geral
Com essas consideraccedilotildees adentra-se a seguir na discussatildeo e anaacutelise dos
dados da uacuteltima categoria que versa sobre o papel da equipe diretiva na viabilizaccedilatildeo
do AEE
33 As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel das equipes
diretivas frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE30
A proposta desta categoria de anaacutelise eacute compor um entendimento a partir dos
dizeres das equipes diretivas escolares acerca das condiccedilotildees de acessibilidade
arquitetocircnica e pedagoacutegica que as escolas pesquisadas dispotildeem Tambeacutem se
propotildee conhecer a compreensatildeo das equipes diretivas em relaccedilatildeo ao seu papel
frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE assim como se a proposta de AEE estaacute contemplada
no PPP da escola Ao final deste subcapiacutetulo procura-se evidenciar os desafios
vivenciados pelas equipes diretivas escolares no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE
Para iniciar as discussotildees buscou-se primeiramente conceituar agrave luz da Lei
no 131462015 em seu art 3ordm e inciso I e IV o que se entende por acessibilidade
bem como as condiccedilotildees que dificultam a sua efetivaccedilatildeo que seratildeo aqui chamadas
de barreiras De acordo com a referida Lei considera-se acessibilidade
[] possibilidade e condiccedilatildeo de alcance para utilizaccedilatildeo com seguranccedila e autonomia de espaccedilos mobiliaacuterios equipamentos urbanos edificaccedilotildees transportes informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo inclusive seus sistemas e tecnologias bem como de outros serviccedilos e instalaccedilotildees abertos ao puacuteblico de uso puacuteblico ou privados de uso coletivo tanto na zona urbana como na
30
Para compor a anaacutelise e discussatildeo dos dados desta segunda categoria seratildeo analisadas as
respostas das seguintes questotildees do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo 16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE 17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE 20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento Educacional Especializada 25A escola em que vocecirc atua possui um projeto pedagoacutegico 26 O atendimento educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola 27Na escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
111
rural por pessoa com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida (BRASIL 2015 sp)
Nessa perspectiva Manzini (2005) esclarece que o conceito de acessibilidade
remete a situaccedilotildees que satildeo vivenciadas em circunstacircncias concretas do dia a dia
por isso [] ―a acessibilidade parece ser algo que pode ser observado
implementado medido legislado e avaliado (MANZINI 2005 p32)
Em relaccedilatildeo agraves barreiras a Lei no 131462015 em seu art 3ordm e inciso IV
conceituou como sendo
[] qualquer entrave obstaacuteculo atitude ou comportamento que limite ou impeccedila a participaccedilatildeo social da pessoa bem como o gozo a fruiccedilatildeo e o exerciacutecio de seus direitos agrave acessibilidade agrave liberdade de movimento e de expressatildeo agrave comunicaccedilatildeo ao acesso agrave informaccedilatildeo agrave compreensatildeo agrave circulaccedilatildeo com seguranccedila entre outros classificadas em a) barreiras urbaniacutesticas as existentes nas vias e nos espaccedilos puacuteblicos e privados abertos ao puacuteblico ou de uso coletivo b) barreiras arquitetocircnicas as existentes nos edifiacutecios puacuteblicos e privados c) barreiras nos transportes as existentes nos sistemas e meios de transportes d) barreiras nas comunicaccedilotildees e na informaccedilatildeo qualquer entrave obstaacuteculo atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressatildeo ou o recebimento de mensagens e de informaccedilotildees por intermeacutedio de sistemas de comunicaccedilatildeo e de tecnologia da informaccedilatildeo (BRASIL 2015 sp)
A respeito das barreiras arquitetocircnicas Nunes amp Sobrinho (2015) salientam
que satildeo expressotildees de barreiras atitudinais Essas por sua vez satildeo conceituadas
por Valdeacutes (2006 p6) como
[] as barreiras mais fortes e tambeacutem as mais intangiacuteveis pois envolvem componentes cognitivos afetivos e de conduta formados histoacuterica e socialmente que incluem desde fatores sociais como o estigma da deficiecircncia e sua difiacutecil diferenciaccedilatildeo de doenccedila a visatildeo tradicional da pessoa com deficiecircncia como coitadolsquo e digno de laacutestima ateacute fatores de personalidade e da histoacuteria de vida
Desse modo ao pensar a realidade das escolas puacuteblicas brasileiras a
acessibilidade nos espaccedilos escolares implicaria na reduccedilatildeo das barreiras
anteriormente citadas no entorno e no interior da escola tornando seus espaccedilos
paulatinamente acessiacuteveis e adequados para receber os estudantes considerados
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Essa prerrogativa tambeacutem estaacute contida na
Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva
(BRASIL 2008) a qual prevecirc a oferta do Atendimento Educacional Especializado
112
nas escolas puacuteblicas de ensino regular com a garantia de condiccedilotildees de acesso e
permanecircncia aos estudantes puacuteblico-alvo da EE Essa ―garantia contudo estaacute
longe de ser assegurada somente pela existecircncia de tal poliacutetica Conforme explicou
Garcia (2013 p 104) ―[] o acesso e permanecircncia dos estudantes da educaccedilatildeo
especial natildeo tem se configurado em garantia de sucesso da poliacutetica educacional
Ressalta-se ainda que embora as condiccedilotildees de acessibilidade possam ser
asseguradas elas sozinhas natildeo proporcionam o acesso e a permanecircncia do
estudante na escola Para isso eacute preciso considerar um conjunto de accedilotildees
educacionais intencionais planejadas e articuladas entre si por parte da equipe
diretiva escolar em conjunto com os demais profissionais da escola e pais Um
exemplo de accedilatildeo nesse sentido seria a sistematizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos
permanentes de discussotildees e reflexotildees ―acerca das estrateacutegias pedagoacutegicas a
serem utilizadas tomando como referecircncia o processo de desenvolvimento escolar
dos estudantes (GARCIA 2013 108) envolvendo todos os profissionais e
comunidade escolar
Com esses conceitos definidos adentra-se agora nas discussotildees sobre a
acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas A comeccedilar pela
acessibilidade arquitetocircnica foi possiacutevel observar que do total de 22 participantes
14 responderam que haacute acessibilidade na escola em que atuam enquanto 8
informaram que natildeo O Graacutefico 9 a seguir especifica as respostas por integrante das
equipes diretivas
Graacutefico 9 Sobre a acessibilidade arquitetocircnica nas escolas pesquisadas
Fonte Primaacuteria (2016)
113
Percebeu-se que os 14 integrantes que mencionaram haver acessibilidade
em sua escola associaram-na agrave existecircncia de rampas banheiros corrimatildeos
elevadores e placas em braile Pode-se dizer que as associaccedilotildees feitas pelos
participantes foram em parte devidas agrave maneira como a pergunta estava formulada
no questionaacuterio que citava rampa e corrimatildeo como exemplos de indiacutecios de
acessibilidade arquitetocircnica
Contudo ao mesmo tempo que afirmaram haver acessibilidade apontaram
alguns aspectos reveladores de que essa acessibilidade natildeo eacute de fato contemplada
de forma adequada nas escolas ―[acessibilidade] somente no teacuterreo (ED1) ―falta
corrimatildeo e elevadores (ED2) ―[acessibilidade] em alguns pontos do banheiro
(ED6) O Quadro 10 abaixo apresenta um detalhamento de suas respostas
Quadro 10 Condiccedilotildees de acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas
ED Acessibilidade arquitetocircnica
ED1d Sim somente no teacuterreo
ED1o Sim somente no teacuterreo
ED1s Natildeo
ED2d Sim Rampa e banheiros Falta corrimatildeo e elevadores
ED2o Natildeo
ED2s Sim Rampa e banheiros Falta corrimatildeo e elevadores
ED3d Sim rampa
ED3o Sim rampa
ED3s Natildeo
ED4d Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4o Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4s Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4s Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED5d Sim rampa banheiros
ED5o Sim rampa banheiros
ED5s Sim rampa banheiros
ED6d Sim em alguns pontos como banheiros
ED6o Natildeo
ED6s Natildeo
ED7d Natildeo
ED7o Natildeo
ED7s Natildeo
Fonte Primaacuteria (2016)
Evidencia-se por meio do Quadro 10 que na visatildeo das equipes diretivas os
espaccedilos escolares parecem inacessiacuteveis ou parcialmente acessiacuteveis aos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Tal situaccedilatildeo por sua vez se apresenta como
barreiras que podem limitar a circulaccedilatildeo desses estudantes nos espaccedilos escolares
e por conseguinte reduzir suas possibilidades de constituir relaccedilotildees e outras redes
114
de aprendizagens Redes essas entendidas como situaccedilotildees de interaccedilatildeo entre
pessoas as quais favoreccedilam apropriaccedilotildees dos conhecimentos produzidos
historicamente seja dentro da sala de aula com professores ou fora dela com seus
pares Essas situaccedilotildees se mostram como oportunidades para elaborar
contextualizar eou ressignificar os conhecimentos apreendidos
A acessibilidade nos espaccedilos escolares como jaacute discutido eacute importante mas
precisa ser concebida como parte da estrutura da escola que tambeacutem compotildee o
AEE ou seja de forma contextualizado considerando os demais fatores imbricados
pois quando compreendida de forma isolada pode-se incorrer no risco de um
entendimento que pouco pode contribuir com o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE
De acordo com o art 28 da Lei no 131462015 prover a acessibilidade nos
espaccedilos escolares eacute uma incumbecircncia da Uniatildeo juntamente com o poder puacuteblico
municipal Nesse sentido eacute possiacutevel constatar uma ecircnfase conferida ao poder
puacuteblico no provimento de acessibilidade aos sistemas de ensino
[] art 28 Incumbe ao poder puacuteblico assegurar criar desenvolver implementar incentivar acompanhar e avaliar I - sistema educacional inclusivo em todos os niacuteveis e modalidades bem como o aprendizado ao longo de toda a vida II - aprimoramento dos sistemas educacionais visando a garantir condiccedilotildees de acesso permanecircncia participaccedilatildeo e aprendizagem por meio da oferta de serviccedilos e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusatildeo plena [] XV - acesso da pessoa com deficiecircncia em igualdade de condiccedilotildees a jogos e a atividades recreativas esportivas e de lazer no sistema escolar XVI - acessibilidade para todos os estudantes trabalhadores da educaccedilatildeo e demais integrantes da comunidade escolar agraves edificaccedilotildees aos ambientes e agraves atividades concernentes a todas as modalidades etapas e niacuteveis de ensino XVII - oferta de profissionais de apoio escolar XVIII - articulaccedilatildeo Intersetorial na implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 2015 sp grifos nossos)
O Decreto nordm 76112011 (BRASIL 2011) por sua vez enfatiza o papel do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo no apoio teacutecnico e financeiro para adequaccedilotildees
arquitetocircnicas de preacutedios escolares bem como para elaboraccedilatildeo produccedilatildeo e
distribuiccedilatildeo de recursos educacionais para a acessibilidade com o intuito de prover
condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem no ensino regular aos
estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo especial
115
Destaca-se tambeacutem o Programa Escola Acessiacutevel criado a partir do Decreto
ndeg60942007 (BRASIL 2007) que pode disponibilizar recursos financeiros por meio
do Programa Dinheiro Direto Escola ndash PDDE (BRASIL 2013) para escolas puacuteblicas
das redes municipal estadual e do Distrito Federal que informaram no Censo
Escolar possuir matriacuteculas de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial no
intuito de assegurar a acessibilidade arquitetocircnica nos preacutedios escolares e
possibilitar a compra de materiais e equipamentos de tecnologia assistiva
Pode-se perceber que ao poder puacuteblico compete o repasse de recursos
financeiros que por sua vez seratildeo geridos e planejados pelas escolas Essa forma
de gestatildeo parece estar intimamente conectada com as reformas no aparelho do
Estado durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso consolidada
com a publicaccedilatildeo do Plano Diretor no ano de 1995 (BRASIL 1995)Tais reformas
redefiniram e delimitaram as funccedilotildees do Estado transformando-o em um Estado
miacutenimo para prover mas ampliado para normatizar criando mecanismos
regulatoacuterios de maior controle da aprendizagem e a construccedilatildeo de consensos os
quais ―[] tornam-se fundamentais para a introduccedilatildeo de uma nova racionalidade na
gestatildeo escolar e no sistema educacional capaz de envolver professores equipe
pedagoacutegica e pais em torno de um uacutenico projeto (SANTOS 2012 p 36)
Ainda sobre estas reformas Michels (2006 p408) enfatizou que
[] em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e especificamente sobre o trabalho na escola a mudanccedila no papel do Estado pode ser pensada por no miacutenimo dois pontos a) o Estado retrai-se na provisatildeo destacando o papel da unidade escolar como responsaacutevel pela educaccedilatildeo das crianccedilas jovens e adultos mas mantendo o controle do que eacute feito pela escola por meio da avaliaccedilatildeo (SAEB ndash Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica ENEM ndash Exame Nacional do Ensino Meacutedio ENC ndash Exame Nacional de Cursos) b) a retirada do Estado como provedor se daacute mediante a entrada da sociedade civil nas unidades escolares para auxiliar na resoluccedilatildeo de problemas principalmente por meio de programas como por exemplo o Programa Amigos da Escola e o Programa Adote um Aluno (MICHELS 2006)
As colocaccedilotildees de Michels (2006) concordam com o que Freitas (2011)
discutiu a respeito do contexto neotecnicista que se apresenta sob a forma da
―responsabilizaccedilatildeo31 e ―meritocracia enfatizando o gerenciamento da forccedila de
31 Segundo Freitas (2011 p338) ―[] responsabilizaccedilatildeo envolve trecircs elementos testes para os estudantes divulgaccedilatildeo puacuteblica do desempenho da escola e recompensas e sanccedilotildees [] As recompensas e sanccedilotildees compotildeem o caraacuteter meritocraacutetico do sistema mas natildeo soacute jaacute que a proacutepria divulgaccedilatildeo puacuteblica dos resultados da escola constitui em si mesma uma exposiccedilatildeo puacuteblica que
116
trabalho da escola por meio de bocircnus puniccedilotildees e controle pelo processo pautado
em teorias da ciecircncia da informaccedilatildeo e sistemas econometria e psicologia
behaviorista
Nesse contexto pode-se identificar que a forma de gestatildeo proposta nessa
reforma engloba por um lado a expressatildeo de uma agenda de governo que delega
responsabilidades estatais ao mesmo tempo em que intensifica sua forccedila
normatizadora Por outro lado pode tambeacutem se estabelecer como uma oportunidade
para que a equipe diretiva consolide forccedilas no interior da escola a fim de reivindicar
ao poder puacuteblico as condiccedilotildees necessaacuterias para prover o acesso e permanecircncia no
ensino regular a todos os estudantes Isso porque inspirando-se em Paro (2016)
pode-se dizer que o coletivo escolar organizado a partir da accedilatildeo das equipes
diretivas constitui uma espeacutecie de ―mola propulsora para reinvindicaccedilatildeo das
referidas condiccedilotildees
Nesse sentido pode-se dizer que assegurar a acessibilidade em termos
como por exemplo de provimento de recursos eacute uma responsabilidade que
compete ao poder puacuteblico Como pontuou Alves (2010)
[] sugere-se que cada um assuma sua responsabilidade em relaccedilatildeo agrave efetivaccedilatildeo da educaccedilatildeo inclusiva cabendo ao poder puacuteblico garantir as condiccedilotildees adequadas agrave sua implementaccedilatildeo entre as quais estatildeo as adaptaccedilotildees na estrutura fiacutesica material didaacutetico adequado e condiccedilotildees reais de formaccedilatildeo docente para atuar na diversidade (ALVES 2010 p4)
Contudo haacute que se reconhecer como fez Santos (2016) que a existecircncia de
leis e diretrizes com vistas a uma educaccedilatildeo para todos e ateacute mesmo o
direcionamento de recursos financeiros natildeo garante a efetivaccedilatildeo das poliacuteticas em si
Eacute a partir desse reconhecimento que se pode vislumbrar o papel da gestatildeo escolar
(equipe diretiva em conjunto com os demais envolvidos no processo de
escolarizaccedilatildeo) no que se refere agrave organizaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias para a
realizaccedilatildeo do AEE Esse papel estaacute relacionado tanto com a reivindicaccedilatildeo de
recursos quando faltantes quanto com o planejamento coletivo de como esses
seratildeo utilizados quando recebidos
Nesse sentido quando se pensa em uma forma de gestatildeo escolar que
perpassa a construccedilatildeo coletiva envolvendo a equipe diretiva em conjunto com os
demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo eacute possiacutevel se remeter a um tipo
envolve alguma recompensa ou sanccedilatildeo puacuteblicas A meritocracia eacute uma categoria portanto que perpassa a responsabilizaccedilatildeo
117
especiacutefico de gestatildeo a gestatildeo democraacutetica-participativa Sobre isso Paro (2016a p
13) ressaltou que ―[] toda vez que se propotildee uma gestatildeo democraacutetica da escola
puacuteblica baacutesica que tenha efetiva participaccedilatildeo de pais educadores alunos e
funcionaacuterios da escola isso acaba sendo considerado como coisa utoacutepica O autor
realccedila ainda que utopia natildeo se trata de um horizonte inalcanccedilaacutevel mas de um
resultado desejaacutevel que pressupotildee um processo e por isso pode vir a existir a partir
de um movimento de busca Em consonacircncia com essa discussatildeo Freire (1979b
p16) salienta que para ele o utoacutepico natildeo eacute o ―irrealizaacutevel a utopia natildeo eacute o idealismo
eacute a dialetizaccedilatildeo dos atos de denunciar e anunciar o ato de denunciar a estrutura
desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante Por essa razatildeo a utopia eacute
tambeacutem um compromisso histoacuterico
Nessa perspectiva Cury (2005) Oliveira (2008) e Paro (2016a) revelam que a
gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas eacute um processo em constituiccedilatildeo Oliveira
(2008 p95) salienta por sua vez que ―a garantia de um artigo constitucional que
estabelece a gestatildeo democraacutetica natildeo eacute suficiente para a sua efetivaccedilatildeo
Nessa direccedilatildeo Libacircneo (2015) ressalta que a reorganizaccedilatildeo da escola
implica a compreensatildeo de dois aspectos a participaccedilatildeo na gestatildeo enquanto
princiacutepio democraacutetico e a gestatildeo da participaccedilatildeo como princiacutepio teacutecnico De acordo
com o autor as escolas precisam desenvolver processos democraacuteticos e
colaborativos de trabalho e tomadas de decisotildees Por outro lado precisam funcionar
bem tecnicamente a fim de conseguir alcanccedilar seus objetivos o que requer a gestatildeo
da participaccedilatildeo Ainda segundo o autor a gestatildeo da participaccedilatildeo significa
[] alcanccedilar democraticamente os objetivos da escola A participaccedilatildeo eacute o principal meio de tomar decisotildees de mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos os conteuacutedos as formas de organizaccedilatildeo do trabalho e que ambiente de trabalho desejam para si proacuteprios e para os outros A participaccedilatildeo se viabiliza por interaccedilatildeo e participaccedilatildeo diaacutelogo [] Nesse sentido a melhor forma de gestatildeo eacute aquela que cria um sistema de praacuteticas interativas e colaborativas para trocas de ideias e experiecircncias [reflexotildees estudos][] (LIBAcircNEO 2015 p281)
Ante o exposto entende-se que embora existam tensotildees e contradiccedilotildees
quando se fala em gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas assim mesmo essa
pode ser concebida como uma possiacutevel forma de gestatildeo escolar de modo a
favorecer e contribuir para a realizaccedilatildeo do AEE na escola e por conseguinte com o
processo de escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes se levar em conta como
explicou Paro (2003) que
118
[] a possibilidade de uma administraccedilatildeo [gestatildeo] democraacutetica no sentido de sua articulaccedilatildeo [] com os interesses da sociedade como um todo tem a ver com os fins e a natureza da coisa administrada No caso da administraccedilatildeo [gestatildeo] escolar sua especificidade deriva pois a) dos objetivos que se buscam alcanccedilar com a escola b) da natureza do processo que envolve essa busca Esses dois aspectos natildeo estatildeo de modo nenhum desvinculados um do outro A apropriaccedilatildeo do saber e o desenvolvimento da consciecircncia criacutetica como objetivos de uma educaccedilatildeo transformadora determinam () a proacutepria natureza peculiar do processo pedagoacutegico escolar ou seja esse processo natildeo se constitui em mera diferenciaccedilatildeo do processo de produccedilatildeo material que tem lugar na empresa mas deriva sua especificidade de objetivos (educacionais) peculiares objetivos estes articulados com os interesses sociais mais amplos e que satildeo por isso antagocircnicos aos objetivos de dominaccedilatildeo subjacentes agrave atividade produtiva capitalista (PARO 2003 p151)
Considerando os princiacutepios de uma gestatildeo democraacutetica retorna-se agraves
discussotildees sobre a acessibilidade refletindo o que se pretende propiciar para quem
e com que objetivos Dessa forma refletir sobre barreiras arquitetocircnicas e atitudinais
compotildee o cenaacuterio de discussatildeo sobre qual a finalidade da Educaccedilatildeo na escola
puacuteblica brasileira hoje
A partir dessas reflexotildees retoma-se agrave questatildeo da acessibilidade
arquitetocircnica Observou-se que para cada instacircncia (poder puacuteblico e gestatildeo escolar)
haacute uma responsabilidade no que tange agrave acessibilidade e que existe no Brasil um
programa especiacutefico para destinaccedilatildeo de recursos puacuteblicos a fim de asseguraacute-la
(Programa Escola Acessiacutevel) Procurou-se nesse sentido investigar se as escolas
da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute haviam sido contempladas pelo
Programa Escola Acessiacutevel
No site do MEC (BRASIL 2016) foi possiacutevel localizar duas listagens nominais
das escolas a serem contempladas nos anos de 2012 e 2013 (Resoluccedilatildeo FNDE nordm
272012 e nordm192013) constatando que dentre as escolas a serem contempladas
em 2012 encontravam-se 3 escolas que fazem parte desta pesquisa Jaacute no ano de
2013 percebeu-se um incremento nesse nuacutemero que passou a totalizar 10 escolas
dentre as quais 5 compotildeem esta pesquisa conforme pode-se conferir no Quadro 11
a seguir
119
Quadro11 Escolas pesquisadas a serem contempladas pelo Programa Escola Acessiacutevel por meio do PDDE no ano de 2012 e 2013
2012 2013
E1 E1
E4 E2
E7 E4
E5
E7
Fonte Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 2016a)
Continuando a pesquisa na base de dados do MEC denominada Sistema
Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle ndash SIMEC32 (BRASIL 2016b) foi
possiacutevel identificar que a Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute recebeu o repasse
desse recurso financeiro somente no ano de 2013 conforme eacute possiacutevel conferir no
Graacutefico 10
Graacutefico10 Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves Redes Estadual e Municipal de Ensino de Camboriuacute
Fonte Dados extraiacutedos do Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle ndash SIMEC do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 2016b)
32
Para aprofundar o conhecimento sobre o assunto pode-se acessar o site do Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo Disponiacutevel em
lthttppainelmecgovbrpainelphpmodulo=principaldetalhamentoIndicadorampacao=Aampdetalhes=mu
nicipioampmuncod=4203204gt Acesso em 17102016b
120
Evidenciou-se nesse sentido que o recebimento de tal recurso natildeo eacute
imediato agrave publicaccedilatildeo da listagem de escolas que podem ser contempladas Para
fazer parte da listagem em primeiro lugar eacute necessaacuterio que as escolas tenham
aderido ao Programa de Implementaccedilatildeo de Salas de Recursos Multifuncionais e
informado no Censo Escolar a quantidade de matriacuteculas de estudantes puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial Uma vez que a listagem eacute divulgada e a escola se vecirc
contemplada cabe agrave equipe diretiva proceder com a realizaccedilatildeo de seu cadastro no
SIMEC onde deve inserir o Plano de Atendimento um documento que expressa seu
planejamento para utilizaccedilatildeo dos recursos a serem recebidos (BRASIL 2013)
Sob uma oacutetica superficial poder-se-ia inferir que a equipe diretiva em
especial precisa estar atenta e atualizada sobre os prazos e procedimentos
relacionados aos programas de repasse de recursos existentes para garantir que a
transferecircncia do recurso aconteccedila Contudo haacute um importante papel a ser
desenvolvido nesse acircmbito pelas Secretarias de Educaccedilatildeo que podem atuar como
elo entre o poder puacuteblico e as equipes diretivas escolares mantendo-as informadas
a respeito dos programas de repasse de recursos bem como acompanhando e
auxiliando no processo de execuccedilatildeo desses programas uma vez que de acordo
com o art 5ordm da ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 inciso I as prefeituras municipais
e secretarias distritais e estaduais satildeo responsaacuteveis
[] pela formalizaccedilatildeo dos procedimentos necessaacuterios ao recebimento execuccedilatildeo e prestaccedilatildeo de contas dos recursos do programa destinados agraves escolas de suas redes de ensino que natildeo possuem UEx [Unidade Executora] bem como pelo recebimento anaacutelise e emissatildeo de parecer das prestaccedilotildees de contas das UEx [Unidade Executora] representativas de suas escolas ou dos polos presenciais da UAB [Universidade Aberta do Brasil] a ela vinculados [] (BRASIL 2013 sp)
Considera-se relevante destacar ainda de acordo com a mesma
ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 que somente 20 do valor dos recursos
transferidos por meio do PDDE podem ser utilizados para aquisiccedilatildeo de itens de
capital33 Ou seja algumas necessidades de investimento para acessibilidade como
33
ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 ―[] art 4ordm Os recursos financeiros seratildeo destinados agraves escolas referidas no art 1deg na proporccedilatildeo de 80 (oitenta por cento) para cobertura de despesas de custeio e 20 (vinte por cento) para cobertura de despesas de capital de acordo com o nuacutemero de estudantes da educaccedilatildeo baacutesica matriculados na unidade educacional extraiacutedo do censo escolar do ano anterior ao do repasse e tomando como paracircmetros os intervalos de nuacutemero de alunos e os correspondentes valores [] (BRASIL 2013)
121
o elevador mencionado pela equipe diretiva ED2 excederiam o valor estipulado com
itens de capital Nesse caso entende-se que uma alternativa eacute a instacircncia municipal
em seu planejamento orccedilamentaacuterio anual contemplar essa aquisiccedilatildeo para as
unidades de ensino
Pode-se perceber que as escolas em que atuam as equipes diretivas
pesquisadas ainda natildeo contam com acessibilidade em todos os seus espaccedilos
internos e externos Entretanto ao analisar os dados do Censo Escolar de 2015
(INEP 2015) sobre a situaccedilatildeo da acessibilidade nas escolas municipais brasileiras
de ensino fundamental constatou-se que a acessibilidade estaacute longe de ser um
problema pontual do municiacutepio pesquisado
No que se refere agraves questotildees de acessibilidade arquitetocircnica os achados
apontaram que 60 das escolas municipais de ensino fundamental de Camboriuacute
contam com dependecircncias acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo
especial enquanto Santa Catarina apresenta 40 e o Brasil como um todo apenas
20 revelando que a acessibilidade nas escolas eacute uma problemaacutetica nacional O
Quadro 12 que segue apresenta essa informaccedilatildeo bem como a situaccedilatildeo de
acessibilidade dos sanitaacuterios das escolas
Quadro 12 Acessibilidades nas escolas municipais de ensino fundamental no Brasil SC e em Camboriuacute
Questotildees sobre acessibilidade arquitetocircnica
Brasil Santa Catarina Camboriuacute
Escolas com dependecircncias acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico - alvo da Educaccedilatildeo
Especial
(20) 17572 escolas (40) 765 escolas (60) 9 escolas
Escolas com sanitaacuterios acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico - alvo da Educaccedilatildeo
Especial
(26) 23232 escolas (48) 920 escolas (87) 13 escolas
Fonte Censo Escolar INEP (2015)
Ademais como salientaram Glat Pletsch e Fontes (2007) a acessibilidade
compreende um dos aspectos que compotildee a estrutura da proposta de Educaccedilatildeo
Inclusiva contida na Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial (BRASIL 2008)
122
Portanto constatar sua ausecircncia ou presenccedila parcial nas escolas brasileiras natildeo
basta eacute necessaacuteria analisaacute-la articulada aos demais aspectos que a compotildeem
como recursos pedagoacutegicoshumanos formaccedilatildeo dos profissionais da escola
participaccedilatildeo de todos os profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE bem como na construccedilatildeo discussatildeo reflexatildeo e
execuccedilatildeo da proposta de AEE dentre outros
Nesse sentido Glat Pletsch e Fontes (2007 345) apoiadas em Ainscow
(2004) ressaltam ainda que
[] a inclusatildeo escolar deve ser ancorada em trecircs aspectos inter-relacionados a saber a) a presenccedila do aluno na escola substituindo o isolamento do ambiente privado familiar pela sua inserccedilatildeo num espaccedilo puacuteblico de socializaccedilatildeo e aprendizagem b) a sua participaccedilatildeo efetiva em todas as atividades escolares a qual natildeo depende apenas de estiacutemuloslsquo de colegas e professores mas do oferecimento de condiccedilotildees de acessibilidade e adaptaccedilotildees curriculares que se faccedilam necessaacuterias e c) a construccedilatildeo de conhecimentos funccedilatildeo primordial da escola e meta a ser perseguida durante o processo de inclusatildeo
Observa-se que os desafios postos para a constituiccedilatildeo de uma escola para
todos os estudantes satildeo muitos Sabendo que a acessibilidade eacute um deles
compreende-se que haacute um papel essencial do poder puacuteblico quanto agrave
disponibilizaccedilatildeo de recursos para provecirc-los agraves escolas bem como um papel
importante da gestatildeo escolar (equipes diretivas escolares articuladas ao coletivo
escolar) no planejamento para a aplicaccedilatildeo do referido investimento Evidencia-se
contudo que o atual cenaacuterio poliacutetico econocircmico e social brasileiro tem sido
vivenciado como um momento de grande instabilidade e muitas incertezas com
indiacutecios de que os investimentos para a aacuterea da educaccedilatildeo tendem ao encolhimento
Nesse sentido Prieto (2015) expotildee que os movimentos sociais em prol da educaccedilatildeo
podem figurar como uma alternativa para se reivindicar condiccedilotildees necessaacuterias para
assegurar a educaccedilatildeo como direito fundamental e de todos
[] eacute necessaacuterio insistir na mudanccedila do patamar de participaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas de educaccedilatildeo bem como na avaliaccedilatildeo de seus impactos O que se espera eacute criar movimentos de resistecircncia aos ditames externos e agraves propostas internas que ameacem direitos adquiridos ou destruam as possibilidades de intervenccedilatildeo social na direccedilatildeo de novas conquistas no campo da educaccedilatildeo (PRIETO 2015 p 34)
123
Seguindo com as anaacutelises ao perguntar agraves equipes diretivas sobre os
recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis na escola em que atuam foi possiacutevel constatar
que a maioria (16 dos 22 integrantes pesquisados) apresentou uma resposta
positiva informando que a escola os possui Os seis demais participantes que
integram a ED3 e a ED6 informaram que a escola natildeo dispotildee de recursos
pedagoacutegicos que possam contribuir paracom o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Essas informaccedilotildees estatildeo ilustradas
no Graacutefico 11 a seguir
Graacutefico - 11 - Recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis nas escolas pesquisadas
Fonte Primaacuteria (2016) Ao observar os relatos dos integrantes das equipes diretivas que informaram
possuir recursos pedagoacutegicos na escola em que atuam (ED1 ED2 ED4 ED5 e
ED7) foi possiacutevel notar menccedilotildees recorrentes a equipamentos de informaacutetica (em
especial computador e notebook) e jogos pedagoacutegicos Vejamos no Quadro 13
quais foram os entendimentos apresentados por esses participantes acerca dos
recursos pedagoacutegicos disponibilizados pelas escolas
Quadro 13 O que se entende por ―recurso pedagoacutegico nos dizeres das equipes diretivas que informaram possuiacute-los nas escolas em que atuam
Recursos Recorrecircncia
ComputadorNotebook 12
Jogos Pedagoacutegicos 12
Lupa 6
Dominoacute taacutetil 3
Maacutequina de Braile 3
124
Reacutegua 3
Materiais DidaacuteticosAlternativos 3
Livros 3
Sala de Recursos Multifuncionais 2
Scanner de voz 1
Mobiliaacuterio 1
Maacutequina de Libras 1
Internet 1
Natildeo especificou 1
Total 52
Fonte Primaacuteria (2016)
Eacute possiacutevel constatar a partir do Quadro 13 que as respostas dos integrantes
das equipes diretivas acerca dos recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis para o trabalho
com os estudantes puacuteblico-alvo da EE se restringiram aos itens disponibilizados
pelo MEC por meio do programa de implantaccedilatildeo de SRM (BRASIL 2013) O
referido programa prevecirc a doaccedilatildeo de equipamentos mobiliaacuterios e materiais
didaacuteticos pedagoacutegicos agraves escolas que a ele aderiram conforme detalhado no
Quadro 14 a seguir
Quadro 14 Composiccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais ndash 20112012
Fonte Extraiacutedo do documento Orientador do Programa de Implantaccedilatildeo de Salas de Recursos Multifuncionais (BRASIL 2013 p15)
125
Contemplar a forma como as equipes diretivas demonstraram compreender o
que satildeo ―recursos pedagoacutegicos instiga a uma reflexatildeo conceitual acerca do termo
que vem sendo largamente utilizado em documentos legais e produccedilotildees cientiacuteficas
sem por vezes discutir sobre o seu significado Nesse sentido concorda-se com
Eiterer e Medeiros (2010 p01) quando explicaram que
[] ao falar de recursos pedagoacutegicos somos atualmente levados a pensar de modo restritivo em tecnologias digitais e recursos multimiacutedia websites infovias e outras possibilidades dessa mesma natureza Ou ainda em materiais educativos tais como jogos e brinquedos pedagoacutegicos materiais didaacuteticos e mesmo livros didaacuteticos []
As referidas autoras realizaram uma pertinente reflexatildeo acerca do significado
da expressatildeo ―recurso pedagoacutegico procurando vislumbrar aleacutem de seu aspecto
material e distinguir o que poderia conferir a um recurso o caraacuteter de pedagoacutegico
Avanccedilando nas discussotildees chegaram a um entendimento de que o recurso
pedagoacutegico
[] eacute o que auxilia a aprendizagem de quaisquer conteuacutedos intermediando os processos de ensino-aprendizagem intencionalmente organizados por educadores na escola ou fora dela Delimitando melhor os contornos de um conceito o que apresentamos como elemento que permite distinguir um recurso pedagoacutegico de outro qualquer estaacute na accedilatildeo do educador que a partir de uma atuaccedilatildeo planejada mobiliza determinados meios de maneira consciente com vistas a alcanccedilar um objetivo educacional (EITERER e MEDEIROS 2010 p 1 grifo nosso)
O que possibilita classificar um recurso como pedagoacutegico natildeo eacute portanto o
recurso em si mas sim a intencionalidade e a accedilatildeo do educador Assim natildeo
existe recurso pedagoacutegico a priori ainda que a sua finalidade seja educativa Um
recurso torna-se pedagoacutegico na medida em que o educador lhe coloque esse
objetivo e dirija sua accedilatildeo para a construccedilatildeo de um conhecimento especiacutefico
(EITERER e MEDEIROS 2010)
Ainda que a maioria das equipes diretivas escolares entenda que haacute recursos
pedagoacutegicos em suas escolas o modo como se expressaram foi indicativo de uma
compreensatildeo restrita agravequeles que satildeo disponibilizados na SRM Nesse sentido
considera-se que uma ampliaccedilatildeo do conceito de ―recurso pedagoacutegico por parte
das equipes diretivas poderia auxiliaacute-las a ressiginificar suas compreensotildees e com
isso talvez identificar outros recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis em suas escolas
126
Compreende-se que os proacuteprios documentos relacionados ao AEE apontam
para essa interpretaccedilatildeo mais restrita do que significa um ―recurso pedagoacutegico
Assim a ressignificaccedilatildeo desse conceito por meio de estudos e processos de
formaccedilatildeo continuada constitui uma forma possiacutevel natildeo apenas de identificaccedilatildeo de
recursos como mencionado anteriormente Pode favorecer tambeacutem que o proacuteprio
papel da equipe diretiva em relaccedilatildeo ao AEE e ao processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE possa se transformar de modo a contribuir para que
o cotidiano escolar seja organizado de forma a ampliar as possibilidades
pedagoacutegicas do espaccedilo escolar Entende-se que uma maneira possiacutevel de fazecirc-lo
eacute por meio de planejamento de formaccedilatildeo junto a todos os professores
Nessa direccedilatildeo eacute necessaacuterio ainda desconstruir a loacutegica de formaccedilatildeo
separada para o professor especializado professores da sala comum e equipe
diretiva que vem se constituindo como norma nos sistemas de ensino e nos
espaccedilos escolares brasileiros e que pouco pode contribuir com o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Sobre isso Garcia (2011 p 67)
explicou que
[] a loacutegica de formaccedilatildeo proposta e realizada tende a influenciar a organizaccedilatildeo escolar alimentando a caracteriacutestica de pouca ou nenhuma organicidade entre o trabalho especializado e o trabalho pedagoacutegico desenvolvido em sala de aula A formaccedilatildeo de professores nos moldes propostos mediante uma poliacutetica de Educaccedilatildeo Inclusiva tem enfrentado a realidade excludente da Educaccedilatildeo escolar brasileira Ou estamos lidando com um enfoque de justaposiccedilatildeo de um conjunto de praacuteticas especializadas metodologias e recursos especializados como imagem de inclusatildeo escolar
Seguindo com as anaacutelises foi possiacutevel perceber que a Sala de Recursos
Multifuncionais se constitui como um espaccedilo de referecircncia para pensar os recursos
pedagoacutegicos e de acessibilidade natildeo apenas nos dizeres das equipes diretivas
citadas mas na proacutepria proposta do Atendimento Educacional Especializado que
apresenta a SRM como um espaccedilo fiacutesico privilegiado para a realizaccedilatildeo de tal
atendimento que conta com mobiliaacuterio materiais didaacuteticos recursos pedagoacutegicos
e de acessibilidade e equipamentos especiacuteficos para complementarsuplementar o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE (BRASIL 2009)
Sem duacutevida esses recursos disponibilizados pelo MEC satildeo importantes e
precisam estar disponiacuteveis para a utilizaccedilatildeo do professor da sala comum no
trabalho com os estudantes puacuteblico-alvo da EE Entretanto esses recursos natildeo
127
satildeo os uacutenicos que podem ser utilizados ao se considerar que em seu trabalho
cotidiano junto aos estudantes puacuteblico-alvo da EE o professor seja na sala comum
ou na SRM pode se utilizar de outros recursos como meio para atingir seu objetivo
de aprendizagem bem como construiacute-los com os estudantes no intuito de
propiciar a adaptaccedilatildeo de um determinado conteuacutedo o que natildeo deixa de conferir a
esses recursos um caraacuteter pedagoacutegico e acessiacutevel
Convergindo com a discussatildeo Fuck e Cordeiro (2015 p398) salientaram
que
[] os recursos e adaptaccedilotildees devem ser ajustados agraves necessidades dos estudantes oportunizando-os desenvolver suas potencialidades portanto natildeo existe um padratildeo uacutenico para seu uso assim como natildeo significa que toda pessoa com deficiecircncia necessariamente necessite deles ou ainda que tudo deva ser adaptado mas que estes devem ser personalizados visando agrave autonomia da pessoa Para aleacutem desta autonomia entender que os recursos e adaptaccedilotildees constituem-se em meios pois o que deve ser fundamentalmente garantido ao aluno com deficiecircncia eacute o seu direito de acesso aos conteuacutedos escolares
Nessa direccedilatildeo Paro (2012) enfatizou que o objetivo primeiro da escola eacute a
apropriaccedilatildeo por todos os estudantes dos conhecimentos das ciecircncias da arte da
tecnologia da filosofia enfim de todas as conquistas culturais historicamente
produzidas pelos homens Apropriaccedilatildeo essa ―[] que se cumpre pelas atividades
pedagoacutegicas curriculares e docentes estas por sua vez viabilizadas pelas formas
de organizaccedilatildeo escolar e de gestatildeo (LIBAcircNEO 2007 p155)34 realizada pela
equipe diretiva em conjunto com os demais profissionais e comunidade escolar
Ainda sobre a disponibilidade de recursos pedagoacutegicos nas escolas um outro
ponto de atenccedilatildeo que surgiu refere-se a duas equipes diretivas (ED3 e ED6) que
explicitaram natildeo dispor de recursos pedagoacutegicos nos espaccedilos escolares em que
atuam A esse respeito uma primeira consideraccedilatildeo que se faz pertinente eacute a de
que essas equipes diretivas que consideraram natildeo possuir recursos pedagoacutegicos
acessiacuteveis atuam em escolas que natildeo dispotildeem de Salas de Recursos
Multifuncionais e nesse sentido tambeacutem apontaram para uma compreensatildeo de
―recursos pedagoacutegicos reduzidos aqueles que deveriam compor tal espaccedilo e natildeo
a accedilatildeo do educador que pode transformar diversos materiais espaccedilos e situaccedilotildees
34
Texto original escrito em espanhol Traduccedilatildeo livre ―que se obtiene a traveacutes de las atividades pedagoacutegicas curriculares y docentes Eacutestas a su vez son viabilizadas por las formas de organizacioacuten escolar y de gestioacuten (LIBAcircNEO 2007 p155)
128
em meios para favorecer o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo
da EE
Pode-se inferir que nas escolas em que atuam as equipes diretivas ED3 e
ED6 a ausecircncia de um espaccedilo fiacutesico como a SRM dotado de ―[] diferentes
ferramentas desde tecnoloacutegicas ateacute adaptaccedilotildees em materiais escolares
(PLETSCH 2009 p 36) parece ser evidenciada pelas equipes diretivas como
determinante para a inacessibilidade dos conteuacutedos escolares Percepccedilatildeo essa
que por sua vez pode destituir a potecircncia dos saberes e das accedilotildees docentes para
converter uma seacuterie de materiais em recursos pedagoacutegicos acessiacuteveis Contudo
os equipamentos mobiliaacuterios e materiais didaacuteticos pedagoacutegicos que compotildeem a
SRM satildeo ferramentas importantes entendidas por Pletsch (2009 p 36) como
recursos imprescindiacuteveis ―[] para o processo de ensino-aprendizagem de crianccedilas
com necessidades educacionais especiais35 incluiacutedas no ensino regular sobretudo
aquelas com comprometimentos mais severos Assim dispor de tais meios pode
favorecer o trabalho docente junto aos estudantes puacuteblico-alvo da EE ainda que
natildeo determinem por si mesmas a acessibilidade dos conteuacutedos a serem
aprendidos
Considerando tais colocaccedilotildees pode-se dizer que compreender a importacircncia
dos meacutetodos de ensino e dos recursos pedagoacutegicos como meios que possibilitam
aos estudantes puacuteblico-alvo da EE se apropriarem dos conhecimentos
sistematizados eacute uma forma de considerar as suas singularidades e dar um passo
na direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo para todos Nessa perspectiva concorda-se com
Sanches e Teodoro (2006) quando salientam que
[] para que as escolas se tornem mais inclusivas eacute necessaacuterio que assumam e valorizem os seus conhecimentos e as suas praacuteticas que considerem a diferenccedila um desafio e uma oportunidade para a criaccedilatildeo de novas situaccedilotildees de aprendizagem que sejam capazes de inventariar o que estaacute a impedir a participaccedilatildeo de todos que se disponibilizem para utilizar os recursos disponiacuteveis e para gerar outros que utilizem uma linguagem acessiacutevel a todos e que tenham a coragem de correr riscos (SANCHES amp TEODORO 2006 p71)
Evidencia-se tambeacutem que para um espaccedilo escolar tornar-se acessiacutevel eacute
fundamental o papel da equipe diretiva escolar para inventariar junto aos demais
profissionais da educaccedilatildeo o que a escola possui em relaccedilatildeo agrave acessibilidade de
35
O que Pletsch (2009) enfatiza como recursos imprescindiacuteveis para crianccedilas com necessidades educacionais especiais satildeo entendidos no contexto deste estudo como aplicaacuteveis a todos os estudantes puacuteblico-alvo da EE independentemente da faixa-etaacuteria modalidade e niacutevel de ensino
129
suas estruturas internas e externas equipamentos mobiliaacuterios e materiais
didaacuteticos pedagoacutegicos bem como levantar uma relaccedilatildeo daqueles que precisam ser
providenciados e apresentaacute-la aos oacutergatildeos competentes ensejando que sejam
incluiacutedas no planejamento orccedilamentaacuterio anual
Adicionalmente agraves equipes diretivas e demais profissionais da educaccedilatildeo eacute
posto o desafio de instituir e sistematizar momentos de discussatildeo e reflexatildeo sobre
o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Considera-se
aqui no entanto a instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos de formaccedilatildeo em que seja
possiacutevel por exemplo repensar as concepccedilotildees construiacutedas acerca da Educaccedilatildeo
Especial ponderar sobre suas accedilotildees pedagoacutegicas e de gestatildeo e perceber a forma
como a escola estaacute organizada para receber esses estudantes Isso sem deixar de
atentar para os obstaacuteculos dificuldades e resistecircncias que fazem parte de qualquer
processo de reflexatildeo eou mudanccedila e que precisam ser acolhidos compreendidos
e trabalhados Tais momentos de reflexatildeo e discussatildeo natildeo se restringem como
explicaram Placco Souza e Almeida (2012) a cursos e palestras mas remetem a
muacuteltiplos espaccedilos e atividades que favorecem a construccedilatildeo de saberes estimulem
a busca por outros conhecimentos e introduzem uma inquietaccedilatildeo fecunda e
contiacutenua com o que jaacute se conhece
Prosseguindo com as reflexotildees passa-se agora para a apresentaccedilatildeo e
discussatildeo dos dados que emergiram do questionamento realizado agraves equipes
diretivas acerca das accedilotildees36 que essas consideram de sua responsabilidade para
viabilizar o AEE Cada participante respondeu agrave questatildeo considerando sua funccedilatildeo
especiacutefica isto eacute diretores(as) relataram a respeito do papel do(a) diretor(a)
supervisores(as) sobre o papel do(a) supervisor(a) e orientadores(as) a respeito
do papel de orientador(a)
Considerando poreacutem que essa investigaccedilatildeo pretende se debruccedilar sobre a
anaacutelise do papel da equipe diretiva como um todo apresenta-se a seguir um
agrupamento dos dizeres dos participantes da pesquisa formando um conjunto de
papeacuteis que remete agrave equipe diretiva exposto no Quadro 15 Optou-se por
organizar seus dizeres por recorrecircncia em toacutepicos indicativos do modo como
demonstraram entender seu papel no que tange agrave viabilizaccedilatildeo do AEE
36
No contexto deste estudo os termos accedilatildeo papel e funccedilatildeo satildeo entendidos como expressotildees semelhantes que remetem a atividades consideradas de responsabilidade das equipes diretivas em prol da viabilizaccedilatildeo do AEE
130
Quadro 15 Accedilotildees que as equipes diretivas escolares consideram que sejam de suas responsabilidades para viabilizar o AEE
Papel da Equipe Diretiva Escolar na Viabilizaccedilatildeo do AEE Recorrecircncia
Orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores)
9
Orientar Orientar accedilotildees educativas Ajudar o professor na qualidade de suas aulas Orientaccedilotildees educativas aos professores ajudando a qualificar suas aulas Resolver auxiliar orientar os estudantes e pais em suas limitaccedilotildees e anguacutestias Orientaccedilatildeo aos professores Acompanhar a professora especializada Orientar professores Atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eou seus pais
7 Realizar atendimento a esses alunos e pais informando sua vida escolar Ajudar no atendimento aos alunos no refeitoacuterio Encaminhar alunos (2) Adequar horaacuterios dos alunos (2) Viabilizar conversas com os pais
Provimento de condiccedilotildees materiais e pedagoacutegicas
5
Dar condiccedilotildees (materiais jogos ambiente etc) para que os profissionais possam atender aos alunos Viabilizar materiais para as atividades Suprir as necessidades quanto a materiais para que os professores possam desenvolver seu trabalho Participaccedilatildeo no trabalho pedagoacutegico Proporcionar acesso ao conhecimento das diferentes siacutendromes e deficiecircncias para que o professor planeje atividades compatiacuteveis as suas possibilidades
Apuraccedilatildeorepasse de informaccedilotildees e mediaccedilatildeo entre escola e Secretaria da Educaccedilatildeo
4 Levantamento dos alunos com deficiecircncia Solicitar para a Secretaria da Educaccedilatildeo esse atendimento (AEE) aos alunos (2) Repassar informaccedilotildees relevantes
Promoccedilatildeo da aprendizagemdesenvolvimento dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
2 Promover a aprendizagem dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Acompanhar o desenvolvimento desse estudante
Natildeo responderam 5
Total 32
Fonte Primaacuteria (2016)
Identificou-se que os toacutepicos mais recorrentes nos dizeres dos integrantes
das equipes diretivas para descreverem suas accedilotildees a fim de viabilizar o AEE foram
relativos a orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores) atendimento a
estudantes puacuteblico-alvo da EE eou seus pais e ao provimento de condiccedilotildees
materiais para realizaccedilatildeo desse atendimento
No tocante ao papel de orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores)
observou-se que a maior parte dos integrantes que citou essa accedilatildeo foram
supervisores educacionais aos quais de fato eacute conferida a atribuiccedilatildeo de atender e
acompanhar os docentes focalizando o processo pedagoacutegico (CAMBORIUacute 2008)
Tambeacutem foi possiacutevel perceber que a maneira como os respondentes se
expressaram foi em alguns momentos geneacuterica imprecisa ou vaga Um deles por
131
exemplo resumiu seu papel a ―orientar o que conduziu a alguns
questionamentos orientar a quem como porque quando Do mesmo modo outro
participante ao expor que seu papel diz respeito a ―orientar accedilotildees educativas natildeo
esclareceu quais accedilotildees seriam essas Ainda um dos integrantes mencionou que
sua funccedilatildeo remete a ―ajudar o professor na qualidade de suas accedilotildees o que por
sua vez leva a questionar o que se entende por uma ―accedilatildeo de qualidade e de que
forma a equipe diretiva escolar pode ajudar a qualificar a accedilatildeo de um professor
Essa forma aqui compreendida como geneacuterica imprecisa ou vaga de falar a
respeito do papel da equipe diretiva escolar frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE pode ser
explicada a partir de perspectivas distintas dentre as quais duas parecem se
destacar A primeira se refere agrave possiacutevel falta de clareza por parte dos integrantes
das equipes diretivas acerca de seus papeacuteis Isto eacute a imprecisatildeo que foi percebida
na forma como se expressaram pode ser indicativa de que natildeo estaacute claro para
eles proacuteprios qual eacute a funccedilatildeo que lhes compete para viabilizar o AEE no acircmbito
escolar
Sabendo que a maneira como as equipes diretivas falam a respeito de seu
papel frente ao processo de viabilizaccedilatildeo do AEE revela tambeacutem o que pensam
sobre o proacuteprio AEE Supotildee-se que essa falta de clareza quanto ao seu papel pode
estar ancorada em uma concepccedilatildeo de AEE como um serviccedilo agrave parte cuja ―gestatildeo
seria de responsabilidade do professor especializado e natildeo da escola como um
todo Nesse sentido assim como Pletsch (2009) afirmou que a inclusatildeo eacute ainda
vista como uma responsabilidade setorizada da Educaccedilatildeo Especial o professor
atuante na SRM parece ser percebido em casos como esse como o principal
responsaacutevel pelo AEE Essa concepccedilatildeo parece ter sido evidenciada tambeacutem em
outras pesquisas como a empreendida por Fuck (2014 p148-149) com
professores da sala comum em que a autora observou
[] que o professor da Sala Comum espera do professor especializado soluccedilotildees que natildeo dependem exclusivamente do AEE na SRM mas que implicam a proacutepria organizaccedilatildeo estrutural poliacutetica cultural e pedagoacutegica da escola
A segunda perspectiva que pode ser apontada diz respeito ao tempo
que os participantes puderam destinar agrave resposta dos questionaacuterios dessa
pesquisa considerando que a coleta de dados ocorreu nos meses de outubro e
132
novembro de 2015 convergindo em algumas escolas com o periacuteodo de aplicaccedilatildeo
da Prova Brasil37 teacutermino de semestre e outras demandas de final de ano que
podem ter levado os integrantes das equipes diretivas a responderem de forma
sucinta agraves questotildees do referido instrumento de coleta de dados
Ainda que orientaccedilatildeoajuda em especial aos docentes tenha emergido como
o papel mais citado pelas equipes diretivas ao pensarem em suas accedilotildees em prol
da viabilizaccedilatildeo do AEE Macedo Carvalho e Pletsch (2011) esclareceram que
esse serviccedilo vai muito aleacutem da orientaccedilatildeo aos professores uma vez que requer
[] mudanccedilas estruturais e pedagoacutegicas no funcionamento das escolas como por exemplo entre outras dimensotildees na estrutura curricular riacutegida presente nos objetivos conteuacutedos nas metodologias na organizaccedilatildeo didaacutetica do tempo na estrateacutegia de avaliaccedilatildeo para atender a diversidade e especificidades dos alunos que a frequentam Flexibilizar o curriacuteculo para atender a todos os alunos eacute urgente A sua transformaccedilatildeo implica na diminuiccedilatildeo do nuacutemero de alunos por sala de aula o trabalho cooperativo ou colaborativo entre professores do AEE e da sala comum entre outros aspectos (MACEDO CARVALHO e PLETSCH 2011 p7)
Foi possiacutevel perceber que os aspectos relatados pelas autoras natildeo
apareceram nas falas das equipes diretivas como accedilotildees que poderiam realizar a
fim de viabilizar o AEE Do mesmo modo momentos coletivos de reflexatildeo e
diaacutelogo citados ao longo desta pesquisa como uma das principais accedilotildees a serem
empreendidas pelas equipes diretivas visando uma gestatildeo democraacutetica-
participativa tambeacutem natildeo surgiram nos dizeres dos participantes como uma
possibilidade para contribuiacuterem com o processo de viabilizaccedilatildeo do AEE
A criaccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo de reflexatildeo e diaacutelogo acerca de
assuntos educacionais com o coletivo escolar dentre os quais inclui-se a
elaboraccedilatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico (PPP) satildeo entendidos como formativos
e requerem uma accedilatildeo intencional e planejada por parte das equipes diretivas
combinada agrave existecircncia de condiccedilotildees adequadas para sua execuccedilatildeo (estrutura
fiacutesica tempo etc) O fato de natildeo terem sido mencionados pelos participantes
como parte de seu papel frente ao AEE pode levar agrave inferecircncia de que tal criaccedilatildeo
37 Avaliaccedilatildeo Nacional do Rendimento Escolar - Anresc (tambeacutem denominada Prova Brasil) trata-se de uma avaliaccedilatildeo censitaacuteria envolvendo os alunos da 4ordf seacuterie5ordmano e 8ordfseacuterie9ordmano do Ensino Fundamental das escolas puacuteblicas das redes municipais estaduais e federal com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas puacuteblicas Participam dessa avaliaccedilatildeo as escolas que possuem no miacutenimo 20 alunos matriculados nas seacuteriesanos avaliados sendo os resultados disponibilizados por escola e por ente federativo (BRASIL 2016 sp)
133
e organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo para discutir e refletir com o coletivo escolar natildeo
seja uma accedilatildeo desenvolvida nas escolas pesquisadas
Um dado que reforccedila essa hipoacutetese diz respeito ao fato de que dos 22
participantes da pesquisa apenas 3 (ED2o ED2s e ED4o) informaram que o AEE eacute
contemplado no PPP da escola Dentre os demais 9 justificaram a ausecircncia do
AEE no PPP da escola pelo fato de natildeo contarem com esse serviccedilo em seus
espaccedilos escolares e 7 natildeo justificaram tal ausecircncia sendo que 03 natildeo
responderam a essa questatildeo Pode-se evidenciar ainda que na escola ED4 apesar
de ofertar o AEE na proacutepria escola 03 de seus integrantes (ED4o ED4s ED4s)
informaram que o AEE natildeo consta no PPP Tal resposta se repetiu nas demais
escolas pesquisadas com exceccedilatildeo da equipe diretiva ED2 em que a maioria de
seus integrantes responderam (ED2d e ED2s) que o AEE estaacute incluso no PPP da
escola Parece haver nesse sentido um entendimento por parte das equipes
diretivas de que o AEE se restringe ao espaccedilo da SRM contudo esse serviccedilo faz
parte dos apoios que a escola promove aos estudantes e aos professores entatildeo
independente de haver ou natildeo a sala recursos multifuncionais no espaccedilo escolar
compreende-se que o atendimento especializado deveria fazer parte das diretrizes
da escola
Embora a constituiccedilatildeo coletiva do PPP na escola seja um espaccedilo e tempo
privilegiado de reflexatildeo e planejamento coletivo natildeo pode como sugeriu Carneiro
(2006 p32) se ―constituir como um fim em si mesmo pois precisa ainda ser
constantemente revisitado acompanhado e avaliado identificando as alteraccedilotildees
necessaacuterias a serem feitas Ele eacute verdadeiramente o iniacutecio de um processo de
trabalho A partir do projeto pedagoacutegico a escola vai estruturando seu trabalho
avaliando e reorganizando suas praacuteticas oportunizando que todos os envolvidos
nesse processo identifiquem suas responsabilidades individuais e coletivas no que
concerne agrave viabilizaccedilatildeo do AEE Libacircneo (2015 p127 grifo do autor) complementa
a discussatildeo ao enfatizar que
[] o projeto pedagoacutegico deve ser compreendido como instrumento e processo de organizaccedilatildeo da escola Considera o que jaacute estaacute instituiacutedo (legislaccedilatildeo curriacuteculos conteuacutedos meacutetodos formas organizativas da escola etc) mas tem tambeacutem uma caracteriacutestica de instituinte[] que significa que o projeto institui estabelece cria objetivos procedimentos instrumentos modos de agir estruturas haacutebitos valores ou seja institui uma cultura organizacional Neste sentido ele [PPP] sintetiza os interesses os desejos as propostas dos educadores [do coletivo escolar] que trabalham na escola [ao responderem] as seguintes perguntas a) Que tipo de escola noacutes
134
profissionais desta escola queremos b) Que objetivos e metas correspondem agraves necessidades e expectativas desta comunidade escolar c) Que necessidades precisamos atender em termos de formaccedilatildeo dos alunos e alunas para a autonomia cidadania participaccedilatildeo d) Como faremos para colocar o projeto em permanente avaliaccedilatildeo dentro da praacutetica da accedilatildeo-reflexatildeo-accedilatildeo Considerando o caraacuteter processual do planejamento o projeto eacute avaliado ao longo do ano letivo para verificar se as accedilotildees estatildeo correspondendo ao que foi previsto se as metas precisam ser alteradas em funccedilatildeo de fatos inesperados de forma a corrigir os desvios tomar novas decisotildees e replanejar o rumo do trabalho
Nesse sentido considerando a importacircncia do processo de construccedilatildeo de tal
documento eacute possiacutevel constatar que se torna imprescindiacutevel discutir a proposta de
AEE na elaboraccedilatildeo do PPP uma vez que essa natildeo pode ser considerada como um
apecircndice incorrendo no risco de responsabilizar somente o professor de AEE na
sua elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo Sugere-se outrossim que o AEE seja pensado e
realizado a partir do envolvimento de todos como uma proposta delineadora do
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial A
equipe diretiva aparece nesse contexto com um papel de destaque na promoccedilatildeo
desse envolvimento do coletivo escolar Como explicou Tezani (2009) apoiada em
Sage (2008) a equipe diretiva pode abrir espaccedilos e promover trocas de
experiecircncias importantes entre os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo e
conforme suas possibilidades e o contexto em que atua desenvolver uma gestatildeo
democraacutetica-participativa que favoreccedila a formaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo de equipes de
trabalho
Ratifica-se portanto que a discussatildeo coletiva da proposta de AEE eacute
fundamental uma vez que se mostra como uma forma de articular as accedilotildees dentro
da escola por meio de um processo de construccedilatildeo dialoacutegico possibilitando aos
profissionais da educaccedilatildeo pais e estudantes reconhecerem e compreenderem o
AEE como uma accedilatildeo que para ser efetiva requer o envolvimento de todos Esse
clima organizacional que se procura constituir nessa construccedilatildeo coletiva Aguiar
(2012 p 152) denominou de responsabilidade partilhada em que todos
―reconhecem seus papeacuteis e limitaccedilotildees e buscam em conjunto sanar as dificuldades
e avanccedilar sobre novos desafios
Em meio a essas reflexotildees Catani e Gutierrez (2008) advertem que
[] toda e qualquer organizaccedilatildeo que tente implantar e desenvolver praacuteticas de natureza participativa vive sob a constante ameaccedila da reconversatildeo burocraacutetica e autoritaacuteria dos seus melhores esforccedilos As razotildees para isto satildeo diversas histoacuteria de vida de seus membros supervalorizaccedilatildeo
135
ideoloacutegica das formas tradicionais de gestatildeo demandas especiacuteficas difiacuteceis de conciliar etc De tudo isso contudo um ponto deve ser destacado a participaccedilatildeo se funda no exerciacutecio do diaacutelogo entre as partes Essa comunicaccedilatildeo ocorre em geral entre pessoas com diferentes formaccedilotildees e habilidades ou seja entre agentes dotados de distintas competecircncias para a construccedilatildeo de um plano coletivo e consensual de accedilatildeo Na praacutetica da gestatildeo escolar esta diferenccedila que em si natildeo eacute original nem uacutenica assume uma dimensatildeo muito maior do que a grande maioria das propostas de gestatildeo participativa e autogestatildeo que pode ser observada (CATANI amp GUTIERREZ 2008 p71 grifo nosso)
Desse modo pode-se dizer que o processo de elaboraccedilatildeo coletiva do projeto
poliacutetico pedagoacutegico eacute permeado por aspectos culturais sociais e poliacuteticos de seus
participantes pelas poliacuteticas puacuteblicas e pelas condiccedilotildees disponiacuteveis na escola para
sua realizaccedilatildeo figurando assim as tensotildees e contradiccedilotildees que perpassam essa
construccedilatildeo coletiva
Dentre outros possiacuteveis motivos que poderiam inviabilizar a existecircncia de
momentos formativos de reflexatildeo e diaacutelogo nas escolas pode-se citar a
precariedade das condiccedilotildees para que tal accedilatildeo aconteccedila como por exemplo a
indisponibilidade de tempo como jaacute discutido anteriormente Outro ponto que
merece atenccedilatildeo eacute a possibilidade de que as equipes diretivas natildeo reconheccedilam que
criar estrateacutegias de organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo que assegure encontros de
formaccedilatildeo coletiva com os profissionais da escola como accedilotildees que podem ser
feitas por elas para viabilizar o AEE
Nesse sentido vislumbra-se que esse reconhecimento por parte das equipes
diretivas pode se mostrar uma oportunidade para que se possa identificar suas
possibilidades de accedilatildeo frente ao AEE Em momentos de reflexatildeo e accedilatildeo conjunta
pode-se refletir sobre a realidade poliacutetica econocircmica e social em que a escola estaacute
inserida percebendo a incontestaacutevel imbricaccedilatildeo dessa realidade agraves questotildees
pedagoacutegicas e do cotidiano escolar Nesses momentos tambeacutem eacute possiacutevel pensar
sobre e esclarecer as responsabilidades individuais e coletivas dos envolvidos no
processo de viabilizaccedilatildeo do AEE considerando a responsabilidade do Estado em
prover as condiccedilotildees necessaacuterias (estruturais recursos pedagoacutegicos e humanos)
para a efetivaccedilatildeo desse serviccedilo Pensar o AEE da forma que parece estar posta
nas escolas pesquisadas como sendo um serviccedilo individualizado setorizado e com
uma escassa interaccedilatildeo entre os profissionais pouco pode contribuir com o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Nesse sentido
concorda-se com Jesus Almeida e Sobrinho (2005 p1) quando explicam que
136
[] se quisermos uma escola que atenda agrave diversidade ou seja uma escola inclusiva precisamos pensar com o outro precisamos de um processo longo e constante de reflexatildeo-accedilatildeo-criacutetica com [todos] os profissionais que fazem o ato educativo acontecer []
Com relaccedilatildeo ao papel de atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial eou seus pais observou-se que a maioria dos integrantes
que fez referecircncia a esse papel foram orientadores educacionais o que pode ter
seu fundamento em parte nas proacuteprias atribuiccedilotildees das funccedilotildees desse profissional
contidas na Lei Municipal Complementar nordm 192008 (CAMBORIUacute 2008 sp)
Na referida lei ao orientador eacute atribuiacutedo um papel mais voltado ao
atendimento de estudantes e suas famiacutelias promovendo uma articulaccedilatildeo entre
escola famiacutelia e comunidade e envolvendo os estudantes e seus responsaacuteveis na
elaboraccedilatildeo do Plano Poliacutetico Pedagoacutegico da escola Enquanto isso o supervisor
educacional aparece como aquele que acompanha e daacute suporte aos professores
com foco na dimensatildeo pedagoacutegica do processo de escolarizaccedilatildeo O diretor por
sua vez parece ter uma atuaccedilatildeo direcionada a aspectos administrativos
(CAMBORIUacute 2008)
Essa divisatildeo de responsabilidades apareceu tambeacutem nas respostas dos
participantes uma vez que as trecircs accedilotildees mais citadas como aquelas que satildeo de
responsabilidade da equipe diretiva a fim de viabilizar o AEE tiveram cada uma a
marca de uma funccedilatildeo especiacutefica papel de orientaccedilatildeoajuda (em especial aos
professores) foi mais mencionado por supervisores escolares papel de
atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eou pais apareceu
com mais frequecircncia nas falas de orientadores educacionais e por fim o papel de
provimento de condiccedilotildees materiais e pedagoacutegicas foi mais constante nas respostas
de diretores escolares Contudo por mais que cada um dos integrantes da equipe
diretiva escolar tenha sua responsabilidade e um trabalho especiacutefico haacute um
imbricamento entre vaacuterias de suas funccedilotildees as quais podem uni-los enquanto
equipe com o intuito de contribuir e potencializar o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes juntamente com o coletivo escolar
Outra accedilatildeo considerada pelas equipes diretivas como sendo de sua
responsabilidade na viabilizaccedilatildeo do AEE eacute o provimento de condiccedilotildees materiais
e pedagoacutegicas citado majoritariamente por diretores(as) escolares Foi possiacutevel
137
notar que esses dois aspectosndash administrativo e pedagoacutegico ndash estatildeo de fato
imbricados no fazer cotidiano do diretor Sobre essa questatildeo Paro (2010)
esclareceu que tradicionalmente a atuaccedilatildeo do diretor escolar privilegiava os
aspectos administrativosburocraacuteticos em detrimento dos pedagoacutegicos Assim a
funccedilatildeo dos diretores se restringia apenas agraves atividades-meio (prover recursos
controlar sua utilizaccedilatildeo) dicotomizando-as das atividades-fim (pedagoacutegicas)
Dessa forma a gestatildeo escolar pareceu absorver princiacutepios semelhantes aos
empresariais culminando em uma concepccedilatildeo de diretor ―[] cuja formaccedilatildeo
atribuiccedilotildees e atuaccedilatildeo praacutetica eacute de simples gerente sem explicitaccedilatildeo nem reflexatildeo
a respeito de sua caracteriacutestica de agente poliacutetico diante do ofiacutecio de administrar
uma instituiccedilatildeo cujo fim eacute prover educaccedilatildeo (PARO 2010 p 776)
Entretanto o que se enseja e se coloca como horizonte de transformaccedilatildeo
quando se pensa na gestatildeo escolar eacute justamente a desconstruccedilatildeo dessa loacutegica
gerencial e a constituiccedilatildeo de uma outra que pense a educaccedilatildeo a partir dela
mesma e natildeo de modelos industriaisempresariais Eacute importante que se considere
a especificidade poliacutetico-pedagoacutegica da escola que se valorizem os profissionais
da educaccedilatildeo e que se atue a partir da heterogeneidade que se expressa nos
espaccedilos escolares favorecendo a participaccedilatildeo de todos os envolvidos no processo
de escolarizaccedilatildeo Nesse sentido Paro (2010) enfatizou que ao pensar em novas
alternativas para a atuaccedilatildeo do diretor escolar eacute preciso considerar
[] maneiras de conceber a direccedilatildeo escolar que transcendam a forma usual de concentraacute-la nas matildeos de apenas um indiviacuteduo que se constitui o chefe geral de todos Natildeo que a hierarquia seja nociva em si pois aquele que se coloca no escalatildeo hieraacuterquico superior pode muito bem estar investido de um tipo de autoridade democraacutetica [] aquela que supotildee a concordacircncia livre e consciente daqueles que obedecem agraves ordens que tecircm sua subjetividade preservada e mesmo afirmada na relaccedilatildeo (PARO 2010 p 776)
Ainda que haja uma delimitaccedilatildeo entre as funccedilotildees de cada integrante da
equipe diretiva para que essa possa atuar de fato de forma coletiva eacute preciso
constituir um trabalho articuladoem parceria uma vez que natildeo haacute como discutir o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes sem abordar as estrateacutegias de ensino
que favoreccedilam a aprendizagem e o desenvolvimento Do mesmo modo para que
tais estrateacutegias possam ser elaboradas e praticadas eacute necessaacuterio que haja
condiccedilotildees desde processos sistematizados de formaccedilatildeo continuada para os
profissionais da escola ateacute equipamentos mobiliaacuterio e materiais didaacuteticos
138
pedagoacutegicos adequados Conclui-se portanto que o foco conferido agrave cada funccedilatildeo
e que diferencia um profissional do outro pode fortalececirc-los como grupo em vez de
constituir uma barreira que fragmenta suas accedilotildees
Nessa perspectiva Rangel (2013) salienta que constituir no cotidiano das
escolas um trabalho de parceria entre o orientador e supervisor educacional (e aqui
se adiciona tambeacutem o diretor escolar) se mostra profiacutecuo pois favorece uma
accedilatildeo-reflexatildeo-accedilatildeo conjunta aproximando-os em torno de um objetivo comum a
escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes de modo a possibilitar-lhes o direito agrave
educaccedilatildeo escolar
Nessa direccedilatildeo foi possiacutevel identificar nas escolas pesquisadas uma
delimitaccedilatildeo entre as funccedilotildees de cada integrante da equipe diretiva para a atuaccedilatildeo
na escola a qual tem seu fundamento na Lei Complementar no 192008
(CAMBORIUacute 2008) Apesar dessas delimitaccedilotildees pode-se observar agrave luz da
referida lei alguns pontos de intersecccedilotildees entre as funccedilotildees das equipes diretivas
uma vez que vaacuterias de suas atribuiccedilotildees estatildeo interligadas o que poderia ser
concebida nesse sentido como uma oportunidade para aproximaacute-las e consolidaacute-
las enquanto equipes diretivas
Entretanto no decorrer das anaacutelises as accedilotildees das equipes diretivas no que
concerne agrave compreensatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos escolares apontaram
indiacutecios de uma accedilatildeo desarticulada entre os integrantes da proacutepria equipe diretiva
o que pode culminar em parte em um trabalho mais isolado entre os profissionais
da escola Ante o exposto concorda-se com Paro (2001 p114) quando afirma
que
[] eacute preciso que se coloque no centro das discussotildees (e das praacuteticas) a funccedilatildeo educativa global da escola Assim se entendemos que educaccedilatildeo eacute atualizaccedilatildeo histoacuterico-cultural dos indiviacuteduos e se estamos comprometidos com a superaccedilatildeo do estado geral da injusticcedila social que em lugar do bem viver reserva para a maioria o trabalho alienado entatildeo eacute preciso que nossa escola concorra para a formaccedilatildeo de cidadatildeos atualizados capazes de participar politicamente usufruindo daquilo que o homem historicamente produziu mas ao mesmo tempo dando sua contribuiccedilatildeo criadora e transformando a sociedade Soacute assim a escola estaraacute participando de forma efetiva []
De acordo com a exposiccedilatildeo do autor pode-se dizer que embora as parcerias
constituiacutedas no interior da escola sejam importantes elas natildeo encerram as
relaccedilotildees necessaacuterias para o desenvolvimento do trabalho da equipe diretiva e
demais profissionais da educaccedilatildeo frente ao AEE Eacute a partir dessa constataccedilatildeo que
139
se adentra na uacuteltima questatildeo a ser abordada neste subcapiacutetulo os desafios
encontrados pelas equipes diretivas pesquisadas na viabilizaccedilatildeo do AEE nos
espaccedilos escolares em que atuam A seguir no Quadro 16 buscou-se reunir por
toacutepicos os dizeres mais recorrentes nas respostas dos integrantes das equipes
diretivas quanto aos desafios encontrados no processo de viabilizar o AEE na
escola
Quadro 16 - Desafios encontrados pelas equipes diretivas escolares para viabilizar o AEE
Desafios encontrados pela equipe diretiva para a viabilizar o AEE Recorrecircncia
Estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos
6 Natildeo possuir a sala de AEE Tornar viaacutevel o atendimento na unidade escolar (3) A falta de espaccedilo fiacutesico A falta do profissional especializado (2) Apoio por parte da Secretaria de Educaccedilatildeo
5
A escola depende da Secretaria de Educaccedilatildeo para montagem da sala de AEE A secretaria de educaccedilatildeo atender a solicitaccedilatildeo da escola de contratar monitores de inclusatildeo Continua-se solicitando junto aos governantes esse professor Para superar tal desafio estamos solicitando a Sec de Educaccedilatildeo o profissional especializado (2) Dificuldade em constituir parcerias entre os profissionais da escola e com a comunidade escolar
5 No momento natildeo estamos fazendo parcerias com os demais membros escolares Parcerias com psicoacutelogos pais Maior interesse por parte da direccedilatildeo da professora pais e alunos Dificuldades de parcerias (2)
Efetivar a educaccedilatildeo como direito fundamental e de todos
4 O desafio eacute incluir todos no processo de escolarizaccedilatildeo Atender todos Muitos estudantes natildeo satildeo alfabetizados surdos ou ateacute de baixa visatildeo Garantia do atendimento de nossos alunos em alguma sala de recursos multifuncionais do municiacutepio
Resistecircncia de professores a novas estrateacutegias de ensino
2 Por sermos uma escola de sexto ao nono ano eacute muito difiacutecil fazer o professor das diferentes aacutereas do conhecimento planejar atividades adequadas O desafio eacute convencer (o professor) a criar novas possibilidades de aprendizagem
Formaccedilatildeo de profissionais atuantes na Educaccedilatildeo Especial
2 Falta informaccedilatildeo adequada para esses profissionais Faltam profissionais adequados e capacitados para atuarem nessa aacuterea
Ausecircncia de planejamento 1
Ainda natildeo temos um planejamento apropriado
Natildeo responderam 4
Total 29
Fonte Primaacuteria 2016
Observa-se que na perspectiva das equipes diretivas escolares os trecircs
desafios mais recorrentes no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE relacionam-se agrave
disponibilizaccedilatildeo de ―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola ao
―apoio por parte da Secretaria de Educaccedilatildeo e agrave constituiccedilatildeo de ―parcerias entre os
140
profissionais da escola e com a comunidade escolar Compreende-se que esses
trecircs aspectos estatildeo imbricados de tal forma que pensaacute-los isoladamente pouco
contribuiria para entender como o Atendimento Educacional Especializado tem sido
viabilizado nos espaccedilos escolares
Percebe-se nesse caso que para viabilizar um serviccedilo de AEE que disponha
de estrutura fiacutesica e conte com uma rede de apoio dentro da escola e tambeacutem fora
dela (com a comunidade os oacutergatildeos governamentais e as entidades eou instituiccedilotildees
a eles relacionadas) eacute necessaacuterio constituir uma rede articulada de accedilotildees entre os
profissionais atuantes na escola (professores equipe diretiva psicoacutelogos etc) pais
estudantes e o Estado Com relaccedilatildeo a esse uacuteltimo eacute incontestaacutevel que cabe agrave Uniatildeo
e o Municiacutepio a responsabilidade em prover recursos financeiros para que o espaccedilo
escolar possa se adequar em termos de acessibilidade equipamentos mobiliaacuterio
materiais didaacuteticos pedagoacutegicos e recursos humanos a fim de oferecer o serviccedilo de
AEE
No entanto o planejamento para a utilizaccedilatildeo e a efetiva aplicaccedilatildeo desses
recursos financeiros uma vez concedidos satildeo atividades que pertencem ao rol de
funccedilotildees da equipe diretiva escolar em conjunto com os demais profissionais e
comunidade escolar Logo os desafios percebidos pelos participantes da pesquisa
natildeo satildeo apenas dessas equipes Satildeo desafios de uma rede de profissionais que
precisam estar articulados para que a estrutura e os recursos necessaacuterios possam
se alinhar a outros pontos fundamentais no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE como
a formaccedilatildeo continuada dos profissionais da escola a construccedilatildeo coletiva do projeto
poliacutetico pedagoacutegico da escola e o engajamento poliacutetico no sentido de pleitear a
diminuiccedilatildeo de estudantes por turmas dentre outros Isto porque como enfatizaram
Glat e Blanco (2007 p 33) ―o sucesso da poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial depende
diretamente da continuidade da existecircncia da rede de suportes especializados
incluindo-se a formaccedilatildeo de todos os profissionais atuante na escola e o
estabelecimento de parcerias entre estes profissionais pais estudantes e o Estado
Ainda que todos esses profissionais e comunidade escolar tenham parte no
processo de viabilizaccedilatildeo do AEE eacute importante ressaltar que
[] na definiccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais eacute fundamental natildeo se confundir as responsabilidades da escola [] com as responsabilidades do Estado Entendo que o Estado eacute responsaacutevel por viabilizar a prestaccedilatildeo de todos os serviccedilos organizados na sociedade para atender a todos (MAZZOTA 2010 p 86)
141
Nesse sentido para esclarecer essas responsabilidades e compor um todo
organizado em torno de um objetivo comum ndash a viabilizaccedilatildeo do AEE ndash vislumbra-se
que a equipe diretiva pode como se vem reforccedilando neste estudo analisar a
possibilidade de instituir na escola espaccedilos e tempos de discussatildeo e reflexatildeo com
todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da
EE se permitindo juntamente com o coletivo escolar inventariar o que a escola
disponibiliza de adequaccedilotildees estruturais recursos pedagoacutegicos e humanos bem
como os que natildeo disponibiliza Uma vez documentado esse levantamento pode-se
apresentaacute-lo agrave Secretaria de Educaccedilatildeo e junto a ela acompanhar sistematicamente
o processo de solicitaccedilatildeo de adequaccedilotildees e recursos aos oacutergatildeos competentes
A gestatildeo escolar nesse sentido pode contribuir para instituir a rede de
parceria que hoje vivencia como um desafio Como ressaltou Tezani (2009 p 3)
apoiada em Sage (1999) ―o gestor escolar pode colaborar com o estabelecimento
da colaboraccedilatildeo no ambiente escolar com o aprimoramento do contato e da
interaccedilatildeo entre os professores e demais funcionaacuterios e uma das maneiras de
fazecirc-lo eacute por meio da instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos em que os envolvidos no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
possam dialogar sobre esse processo e compreender os avanccedilos e recuos que o
marcam fomentando a troca de informaccedilotildees e experiecircncias entre os profissionais
que atuam na escola e estabelecendo a partir desse entendimento os pontos de
partida que se fazem necessaacuterios para viabilizar o serviccedilo de AEE
Compreende-se que esses momentos coletivos podem contribuir com a accedilatildeo
individual de cada profissional da educaccedilatildeo No entanto Goacutees (1997) ajuda a
compreender que no diaacutelogo com o outro se revela o contraditoacuterio Natildeo se trata de
uma construccedilatildeo imune agrave diversidade de pontos de vista e ao embate uma vez que
[] o jogo dialoacutegico entre sujeitos natildeo tende a uma soacute direccedilatildeo ao contraacuterio envolve circunscriccedilatildeo ampliaccedilatildeo dispersatildeo e estabilizaccedilatildeo de sentidos Um determinado conhecimento (pretendido na intencionalidade do outro ou previsto na perspectiva de um observador) pode ou natildeo ser construiacutedo pelo indiviacuteduo (GOacuteES 1997 p 27)
Essa multiplicidade de sentidos que marcam e tensionam o jogo dialoacutegico
consiste em um terreno feacutertil para que o AEE no acircmbito escolar possa ser
constantemente ressignificado de modo a acolher a diversidade e focalizar o direito
142
de aprender dos estudantes O AEE nesse sentido precisa ser entendido como um
serviccedilo de apoio e interlocuccedilatildeo com a sala de aula comum de modo a atender agraves
singularidades dos estudantes puacuteblico-alvo da EE o que requer a participaccedilatildeo de
todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo desses estudantes Isso no
entanto implica em uma accedilatildeo da equipe diretiva que eacute a constituiccedilatildeo de espaccedilos e
tempos permanentes de discussatildeo e reflexatildeo sobre os assuntos educacionais
assim como a elaboraccedilatildeo de estrateacutegias metodologias e praacuteticas pedagoacutegicas que
busquem potencializar as condiccedilotildees de permanecircncia e o processo de escolarizaccedilatildeo
dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Nesse sentido concorda-se com Pereira
Damasceno e Andrade (2013 p1439) quando explicam que
[] o Atendimento Educacional Especializado hoje representa uma possibilidade assumida como escolha poliacutetico-pedagoacutegica para a inclusatildeo de estudantes [] [puacuteblico-alvo da EE] sobretudo na superaccedilatildeo das velhaspresentes chagaslsquo da escola a dissociaccedilatildeo entre teoria e praacutetica o trabalho individualizado a idealizaccedilatildeo da homogeneidade de aluno a negaccedilatildeo dos diferentes ritmos e estilos de aprendizagem a afirmaccedilatildeo de meacutetodos e estrateacutegias uacutenicas para se ensinar a justificativa do insucesso da aprendizagem associada exclusivamente ao aluno entre outras [] Embora os desafios agrave implementaccedilatildeo do AEE estejam postos para a escola contemporacircnea e seus profissionais o serviccedilo se configura um avanccedilo em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo especial considerando o isolamento que historicamente foi vivido por estes sujeitos nas classesescolas especiais
Nessa perspectiva considera-se que eacute por meio do diaacutelogo que as
equipes diretivas escolares podem identificar as necessidades formativas dos
profissionais que compotildeem o coletivo escolar (incluindo suas proacuteprias demandas de
formaccedilatildeo) Nesse sentido tais momentos dialoacutegicos podem favorecer reflexotildees
acerca da Educaccedilatildeo Especial e o AEE aprofundamentos teoacutericos trocas de
experiecircncias e a discussatildeo das dificuldades encontradas pelos envolvidos no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Tambeacutem podem
ensejar o debate das accedilotildees pedagoacutegicas e fortalecer a interaccedilatildeo e parceria entre os
profissionais
Ademais eacute fundamental natildeo cair na armadilha de uma compreensatildeo
reduzida de AEE que leve a pensar que para viabilizaacute-lo eacute necessaacuterio somente
―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola Como jaacute discutido
esses aspectos satildeo importantes e compotildeem a estrutura necessaacuteria para realizaacute-los
poreacutem haacute outros aspectos que precisam ser considerados pois um pensamento
reduzido pode culminar no risco de departamentalizar o AEE na escola restringindo
143
esse serviccedilo agrave SRM e ao professor especializado Tambeacutem pode levar ao equiacutevoco
de pensar que natildeo haacute nada a ser feito pelos estudantes puacuteblico-alvo da EE quando
natildeo haacute em seu espaccedilo a SRM e o profissional especializado Kassar (2011)
apresenta um relato elucidativo de que a viabilizaccedilatildeo do AEE transcende o desafio
da disponibilidade de ―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola
[] escolhemos propositadamente um caso considerado ―de sucesso frente agrave escola o aluno de 3ordm ano (Rodrigo que eacute cego) natildeo apresenta problema de interaccedilatildeo eacute bem acolhido pela turma e eacute considerado bastante inteligente[] Sua professora de sala comum leciona haacute 15 anos eacute graduada em Pedagogia e tem Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inclusiva Participa quando possiacutevel das formaccedilotildees propostas pelo Programa Educaccedilatildeo Inclusiva Direto agrave Diversidade dentre outras oferecidas pelo municiacutepio A professora da sala de recursos trabalha haacute 11 anos em sala de recurso e tem especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Baacutesica na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva e formaccedilatildeo especiacutefica na aacuterea da Deficiecircncia Visual Vamos ao diaacuterio de Campo [] quando cheguei nesse dia Rodrigo ainda estava fora da carteira sem nenhum material para trabalhar [] A professora pega o livro de Histoacuteria de um colega resume riscando com caneta algumas partes do texto e comeccedila a ditar para que Rodrigo escreva em Braille[] Ele continua a escrever e comeccedila a ―negociar com a professora para terminar em sua casa o resto do texto A professora natildeo concorda e diz para ele copiar todo o texto independente de quantas folhas fossem Rodrigo a partir desse momento se indigna e diz - ―Eu natildeo vou terminar o texto minha matildeo estaacute doendo nem adianta Ningueacutem vai me obrigar [] Eu natildeo vou ficar aqui me matando escrevendo se tem uma maacutequina aqui A professora me disse que ia regular [a maacutequina] e ateacute hoje natildeo fez isso Eu natildeo vou escrever em Braille no reglete Soacute se for na maacutequina [] A professora nesse momento vai ateacute a coordenaccedilatildeo e volta dizendo ao Rodrigo que havia conversado com a coordenadora para a aquisiccedilatildeo de uma maacutequina Rodrigo responde dizendo que jaacute existe a maacutequina e a professora da sala de recurso havia falado que iria regular mas ele mesmo ―natildeo havia nem visto a cor dela A professora sai novamente procura a professora da sala de recurso para confirmar a existecircncia da maacutequina Nesse momento a professora viu na sala muitos materiais que ela nunca havia visto e tampouco em uso na escola Entre eles ela citou a bola de futebol com guiso e a proacutepria maacutequina Apoacutes todos esses acontecimentos e a partir da mobilizaccedilatildeo que o Rodrigo causou a professora da sala de recurso afirmou que o Rodrigo iraacute comeccedilar a aprender a escrever na maacutequina de escrever em Braille no dia seguinte (REGISTRO DIAacuteRIO DE CAMPO abr 2009) (KASSAR 2011 p74)
Ao contemplar o relato supracitado pela autora eacute possiacutevel perceber as
tensotildees no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE na escola Pode-se inferir desse modo
que apesar de uma escola contar com SRM professor especializado com formaccedilatildeo
na aacuterea de educaccedilatildeo especial recursos pedagoacutegicos e humanos esses por si soacute
natildeo satildeo suficientes para promover maior interaccedilatildeo participaccedilatildeo e reflexatildeo por parte
dos profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes na
identificaccedilatildeo das barreiras educacionais minimizando-as ou ateacute mesmo eliminando-
144
as com o intuito de assegurar as condiccedilotildees necessaacuterias para que o estudante
puacuteblico-alvo da AEE tenha o seu direito de aprender garantido
Os dados apresentados e analisados neste capiacutetulo indicam que a
implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE nas escolas pesquisadas eacute enfocada a partir
de aspectos como adequaccedilotildees estruturais SRM recursos pedagoacutegicos e humanos
especiacuteficos Certamente esses aspectos satildeo importantes pois compotildeem a estrutura
do AEE e satildeo exigidos nas diretrizes da EE contudo outros fatores precisam ser
considerados
Uma das questotildees que se evidencia pelo seu silenciamento eacute a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica e as discussotildees embasadas em teoacutericos da aprendizagem e
do desenvolvimento Da mesma forma destaca-se o trabalho isolado e segregado
desenvolvido no AEE mas tambeacutem a pouca interaccedilatildeo entre os profissionais que
responderam ao questionaacuterio e o AEE Tal constataccedilatildeo eacute percebida tambeacutem em
outros estudos da aacuterea e remete a uma tendecircncia quando se discute a Educaccedilatildeo
Especial
Compreende-se que os principais desafios das equipes diretivas
investigadas no que tange o processo de viabilizaccedilatildeo do AEE residem sobre trecircs
aspectos O primeiro diz respeito agrave necessidade de uma maior discussatildeo e reflexatildeo
acerca da importacircncia das equipes diretivas pesquisadas na implementaccedilatildeo e
viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos em que atuam Como explicou Tezani (2010 p
290) ―a construccedilatildeo de um sistema educacional inclusivo eacute uma opccedilatildeo poliacutetica que
necessita de accedilotildees poliacutetico-administrativas e teacutecnico-cientiacuteficas A autora afirma
ainda que agrave gestatildeo escolar compete incentivar a troca de ideias a discussatildeo a
reflexatildeo acerca do processo ensino-aprendizagem tendo em vista que
[] a participaccedilatildeo em educaccedilatildeo vai aleacutem do dialogar eacute um processo lento conflituoso em que conhecer os conflitos e saber mediaacute-los torna-se fonte preciacutepua Por isso eacute necessaacuterio ouvir [os profissionais da escola] pais comunidade e oacutergatildeos de representaccedilatildeo Esses satildeo caminhos que devem ser trilhados para a construccedilatildeo da educaccedilatildeo inclusiva (TEZANI 2010 p291)
O segundo desafio se refere agraves questotildees que satildeo estruturais e demandam
uma accedilatildeo conjunta da equipe diretiva com o Estado (Uniatildeo e Municiacutepio) na busca de
recursos financeiros que possibilitem a adequaccedilatildeo dos espaccedilos escolares quanto a
recursos humanos a equipamentos mobiliaacuterios e materiais didaacuteticos pedagoacutegicos
necessaacuterios para o serviccedilo do AEE
145
Jaacute o terceiro desafio corresponde agrave implementaccedilatildeo de uma gestatildeo
democraacutetica-participativa o que implica dentre os diversos fatores segundo Paro
(2010) repensar a forma de ingresso no cargo do diretor Nesse sentido o autor
ressalta que pela singularidade democraacutetica e puacuteblica que caracteriza o cargo de
diretor(a) esse necessita ―ser democraacutetico no sentido pleno do conceito ou seja
sua legitimidade adveacutem precipuamente da vontade livre daqueles que se submetem
agrave sua direccedilatildeo (PARO 2010 p776) O mesmo autor considera ainda que quando a
permanecircncia do diretor no cargo natildeo depende somente do Estado e sim dos
profissionais da escola estudantes e pais eacute possiacutevel avistar maior probabilidade de
que ele propicie uma gestatildeo mais democraacutetica envolvendo a participaccedilatildeo da
comunidade escolar nos processos de tomadas de decisotildees como por exemplo na
implementaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais Aleacutem disso essa forma de ingresso no
cargo pode contribuir ainda para inibir a substituiccedilatildeo de diretores escolares a
qualquer tempo principalmente em periacuteodo de mudanccedila de governo uma vez que
tal substituiccedilatildeo pode fragilizar a continuidade dos trabalhos iniciados pela equipe
diretiva junto aos profissionais da escola estudantes e pais Paro (2001) reiterou
ainda que
[] eacute no conjunto dos fatores constitutivos das praacuteticas presentes no interior da escola que devem ser buscadas as causas de seus problemas e as fontes de suas soluccedilotildees no montante e na utilizaccedilatildeo dos recursos materiais e financeiros na organizaccedilatildeo do trabalho nos meacutetodos de ensino na formaccedilatildeo desempenho e satisfaccedilatildeo do pessoal da escolar nos curriacuteculos e nos programa no tamanho das turmas nas adequaccedilotildees estruturais do edifiacutecio na utilizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos na distribuiccedilatildeo da autoridade e do poder na instituiccedilatildeo na relaccedilatildeo com os membros da comunidade e na importacircncia que se decirc a seu papel como cidadatildeossujeitos no planejamento na avaliaccedilatildeo e no acompanhamento constante das praacuteticas escolares enfim em tudo que diz respeito agrave estrutura e ao funcionamento da escola (PARO 2001 p99)
Percebe-se que o ingresso na funccedilatildeo de direccedilatildeo se dar por meio de indicaccedilatildeo
pode corroborar para fragilizar a constituiccedilatildeo de trabalhos conjuntos dado que haacute
entre outros aspectos uma rotatividade nessa funccedilatildeo bem como uma inseguranccedila
na permanecircncia do cargo
O trabalho coletivo deve estar pautado na premissa de que todos possam se
engajar em diaacutelogos em que a troca de saberes vivecircncias e perspectivas possam
lanccedilar luz sobre o processo de escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes bem como
daqueles que satildeo puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial de modo a lhes possibilitar o
direito de aprender
146
A seguir satildeo apresentadas as consideraccedilotildees finais decorrentes desta
pesquisa com destaque aos principais resultados assim como sugestotildees de
contribuiccedilotildees para o AEE na Rede de Ensino pesquisada
147
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O presente estudo situado no campo de estudos sobre Educaccedilatildeo Especial e
focalizando discussotildees acerca do serviccedilo de Atendimento Educacional
Especializado preconizado na Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na
Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) teve por objetivo investigar as
compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo Para isso a pesquisa foi desenvolvida
em sete escolas da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute contando com a
participaccedilatildeo de sete equipes diretivas formadas por trecircs profissionais o diretor(a)
escolar o orientador(a) e o supervisor(a) educacional
A anaacutelise dos dados revelou que dos 22 profissionais que compotildeem as
equipes diretivas escolares participantes da pesquisa 17 identificaram-se como do
sexo feminino e 5 do masculino Em relaccedilatildeo agrave carga horaacuteria todos responderam que
trabalham 40 horas semanais nas escolas em que atuam
Em relaccedilatildeo ao tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo percebeu-se que a maioria se
encontra em um momento inicial no cargo ocupado na escola em que hoje trabalha
se configurando em um dos desafios postos agraves equipes diretivas na implementaccedilatildeo
do AEE visto que em cada escola haacute uma cultura organizativa instituiacuteda que
precisa ser conhecida e debatida para entatildeo ser mantida ou se necessaacuterio
transformada Entende-se que para atuar nessas funccedilotildees eacute necessaacuterio um
aprofundamento teoacuterico que permita uma leitura criacutetica acerca das poliacuteticas e
normativas educacionais vigentes de modo que se possa discuti-las junto ao
coletivo escolar antes de sua implementaccedilatildeo
Entretanto a ausecircncia de forma geral desse adensamento teoacuterico que
permite ao profissional da educaccedilatildeo compreender as bases epistemoloacutegicas que
sustentam determinadas praacuteticas orientaccedilotildees normativas e legislaccedilotildees na aacuterea da
educaccedilatildeo especial eacute ainda bastante recorrente Considera-se que a formaccedilatildeo inicial
e continuada ao seguir a loacutegica do sistema capitalista vem fomentando formaccedilotildees
cada vez mais aligeiradas com baixa carga horaacuteria para discussatildeo dos
pressupostos da educaccedilatildeo especial e inibindo aprofundar discussotildees que
possibilitem accedilotildees pedagoacutegicas e organizativas da escola que favoreccedilam o
aprendizado escolarizado do estudante puacuteblico-alvo da EE
148
Assim quando se questiona na Rede pesquisada sobre o AEE eacute possiacutevel
perceber a necessidade de um maior aprofundamento teoacuterico e uma formaccedilatildeo
diferenciada nos cursos de formaccedilatildeo inicial e continuada uma vez que permanece
uma visatildeo individualizada sobre as possibilidades de aprender calcada em uma
visatildeo organicista e segregada de Educaccedilatildeo Especial
Ao analisar as compreensotildees das equipes diretivas escolares acerca do
serviccedilo de AEE apresentaram-se trecircs focos de entendimentos 1) foco no puacuteblico-
alvo da EE 2) foco no local de atendimento (Sala de Recursos Multifuncionais) e 3)
foco no processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Eacute possiacutevel perceber nesse
sentido uma visatildeo setorizada e individualizada do serviccedilo por parte das equipes
diretivas escolares
Restringir no entanto a compreensatildeo acerca do AEE ao estudante com
deficiecircncia ou agrave Sala de Recursos Multifuncionais e ao professor especializado
sinaliza um entendimento descontextualizado e desarticulado sobre o serviccedilo no
acircmbito da escola sinalizando ainda que se manteacutem nos espaccedilos escolares uma
visatildeo de segregaccedilatildeo que responsabiliza o loacutecus do AEE bem como o professor
especializado pela aprendizagem do estudante puacuteblico-alvo da EE
Contudo modificar essa abordagem se mostra uma tarefa complexa
considerando que a escola puacuteblica brasileira tem enfrentado muitos desafios quando
se trata do ensino A diversidade de estudantes eacute cada vez maior assim como as
proposiccedilotildees poliacuteticas da Educaccedilatildeo que permeiam o cotidiano das escolas as quais
parecem estar fundamentadas e organizadas em procedimentos normativos
avaliativos em que predominam a competitividade e a individualidade nas relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos da mesma escola em detrimento de um trabalho coletivo
Ante ao exposto eacute possiacutevel constatar que essa forma de compreender o AEE
tem seu fundamento nos documentos oficiais (VAZ 2013) mas como destaca
Franccedila (2008) as poliacuteticas educacionais natildeo satildeo simplesmente incorporadas
prontamente pelos profissionais da escola ao contraacuterio disso satildeo interpretadas e
ressignificadas pelos indiviacuteduos que nela atuam Nesse mesmo sentido Kassar e
Meletti (2012 p 54) explicam apoiadas em Di Giovanni (2009) que a PNEE-PEI
(BRASIL 2008) como qualquer poliacutetica puacuteblica natildeo eacute assimilada automaticamente
Tais colocaccedilotildees endossam o questionamento de como a formaccedilatildeo dos profissionais
da escola possibilitam assumir uma postura criacutetica frente agraves politicas educacionais
149
considerando o contexto histoacuterico econocircmico poliacutetico e social em que estatildeo
inseridos
Eacute possiacutevel perceber desse modo a importacircncia de uma leitura criacutetica
reflexiva e contextualizada por parte das equipes diretivas juntamente com a
comunidade escolar no que concerne agraves poliacuteticas educacionais permitindo
identificar quais pressupostos permeiam essas poliacuteticas procurando maneiras de
constituir um fazer pedagoacutegico que assegure o direito do estudante de aprender
Isso implica planejar e instituir momentos de formaccedilatildeo na escola uma vez que a
discussatildeo e a reflexatildeo criacutetica de uma poliacutetica educacional assim como sua
implementaccedilatildeo se trata de uma accedilatildeo que precisa envolver todo o coletivo escolar
Uma possibilidade de contribuir e favorecer com o aprofundamento teoacuterico
acerca das questotildees mencionadas acima seria o planejamento por parte do sistema
municipal de ensino de uma formaccedilatildeo consistente a partir das demandas das
escolas O Sistema Municipal de Ensino por sua vez pode realizar essa formaccedilatildeo
em parceira com as Instituiccedilotildees Puacuteblicas de Ensino Superior sediadas no municiacutepio
ou em seu entorno considerando a constituiccedilatildeo e o fortalecimento de uma rede de
apoio para a realizaccedilatildeo de formaccedilotildees que contemplem os aprofundamentos teoacutericos
e praacuteticos na aacuterea da Educaccedilatildeo e da Educaccedilatildeo Especial para os profissionais da
educaccedilatildeo da Rede Compreende-se assim que essa accedilatildeo poderia contribuir para
repensar e ressignificar a PNEE-PEI e o AEE na rede municipal de ensino
A forma como a poliacutetica e as diretrizes da EE vecircm sendo interpretadas pelas
equipes diretivas e como o serviccedilo vem se materializando no contexto escolar
parecem carecer de aprofundamento teoacuterico Esse aprofundamento poderia
contribuir para a compreensatildeo de que a Educaccedilatildeo Especial estaacute contida na
Educaccedilatildeo Regular e que o AEE eacute um dos apoios para o estudante puacuteblico-alvo da
EE e tambeacutem para a comunidade escolar e dessa forma precisa estar contemplado
nas diretrizes da escola
Aleacutem das formaccedilotildees que podem ser ofertadas pela Rede Municipal observa-
se ainda o potencial das formaccedilotildees realizadas nos espaccedilos escolares Entretanto
evidencia-se que a organizaccedilatildeo dos espaccedilos e tempos das escolas agrave luz das
diretrizes educacionais brasileiras parecem natildeo colaborar com a instituiccedilatildeo de
momentos de estudos discussatildeo e reflexatildeo envolvendo todo o coletivo escolar Em
meio agraves tensotildees e contradiccedilotildees que permeiam a instituiccedilatildeo desses momentos de
formaccedilatildeo na escola evidencia-se que eles podem ser vistos como formas para
150
pensar as poliacuteticas educacionais de maneira mais articulada e criacutetica com o intuito
ainda de superar as compreensotildees individualizadas e departamentalizadas do
serviccedilo de AEE bem como do trabalho isolado do professor atuante no AEE
expresso nas falas das equipes diretivas
Questionar as equipes diretivas sobre seu entendimento acerca do trabalho
do professor de AEE possibilitou compreender as relaccedilotildees profissionais e
educacionais que envolvem a EE no municiacutepio Considerando que o AEE hoje eacute a
expressatildeo mais evidente da (des)articulaccedilatildeo entre a Educaccedilatildeo Regular e a EE
Pode-se vislumbrar tambeacutem nas respostas explicitadas no questionaacuterio a
necessidade de repensar o trabalho docente junto ao estudante puacuteblico-alvo da EE
bem como as relaccedilotildees que envolvem esse serviccedilo e a oferta de suporte a esse
professor jaacute que se evidenciou como foco do trabalho do professor de AEE na
concepccedilatildeo das equipes diretivas somente o estudante puacuteblico-alvo da EE
Sobre a viabilizaccedilatildeo do AEE observou-se nos dizeres da maioria das equipes
diretivas indiacutecios de compreensotildees que demonstram falta de clareza quanto aos
seus papeacuteis em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo desse serviccedilo assim como
apontam lacunas existentes quanto agrave acessibilidade arquitetocircnica recursos
pedagoacutegicos e humanos especiacuteficos que satildeo considerados dispositivos necessaacuterios
e que compotildeem a estrutura do AEE Suas falas sinalizam ainda as necessidades de
reorganizaccedilatildeo dos espaccedilos escolares em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo do serviccedilo os quais
compotildeem ainda os desafios das equipes diretivas frente ao AEE em suas
concepccedilotildees
No que tange a acessibilidade arquitetocircnica em sua maioria as equipes
diretivas informaram que ainda faltam realizar algumas adequaccedilotildees estruturais em
seus espaccedilos tais como elevador corrimatildeo dentre outras Pode-se dizer desse
modo que a acessibilidade arquitetocircnica eacute um aspecto relevante na objetivaccedilatildeo da
poliacutetica de EE considerando a diversidade de seu puacuteblico-alvo Entende-se nesse
sentido que haacute vaacuterias possibilidades de compreensatildeo desse aspecto desde a
simples adequaccedilatildeo meacutetrica e estrutural ateacute aquela que compreende que os espaccedilos
tambeacutem favorecem e produzem relaccedilotildees especiacuteficas de aprendizagem escolar bem
como de conviacutevio social
Quanto ao recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis na escola evidenciou-se nas
respostas das equipes diretivas que esses se restringem aos disponiacuteveis na SRM
Essa associaccedilatildeo por sua vez tem seu fundamento nas diretrizes da Educaccedilatildeo
151
Especial Entretanto entende-se que os recursos disponiacuteveis na Sala de Recursos
Multifuncionais como os demais recursos disponiacuteveis na escola para serem
denominados como pedagoacutegicos dependem da accedilatildeo intencional e planejada dos
professores frente a esses com a finalidade de contribuir com a constituiccedilatildeo de um
conhecimento especiacutefico do estudante
Contudo essas discussotildees e reflexotildees criacuteticas acerca da EE AEE recursos
pedagoacutegicos e demais assuntos educacionais nos espaccedilos escolares seratildeo
possiacuteveis na medida em que as equipes diretivas juntamente com o coletivo
escolar conseguirem repensar a forma como a escola na qual estatildeo inseridos estaacute
organizada atualmente bem como as bases conceituais que sustentam suas accedilotildees
Desse modo seria possiacutevel identificar coletivamente se estatildeo dispondo de tempo e
espaccedilos para estudar e debater de maneira criacutetica e reflexiva as poliacuteticas e os
assuntos educacionais na escola Assim quando identificada a inexistecircncia desses
momentos questionar-se como poderiam garanti-los considerando as poliacuteticas
educacionais vigentes
Sobre isso Paro (2016a) eacute cuidadoso ao enfatizar que essas soluccedilotildees para
as questotildees identificadas residem no contexto de cada unidade escolar o que
significa que eacute nos aspectos constitutivos das accedilotildees presentes no interior da escola
que deve se empreender uma busca das causas de seus problemas assim como
suas fontes de soluccedilotildees
Pode-se portanto dizer que por mais que as 7 escolas pesquisadas
pertenccedilam agrave mesma Rede elas apresentam necessidades diferentes quanto agrave
viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos escolares que necessitam ser levadas em conta
Entretanto em relaccedilatildeo agrave viabilizaccedilatildeo do AEE ainda identificou-se um aspecto em
comum nos dizeres da maioria das equipes diretivas que diz respeito a indiacutecios de
uma ausecircncia de aprofundamento teoacuterico acerca da Educaccedilatildeo politica PNEE-PEI e
diretrizes da Educaccedilatildeo Especial
Tal constataccedilatildeo pode ser evidenciada quando se observa que das 7 escolas
municipais pesquisadas somente duas possuem o AEE em funcionamento as
demais escolas com exceccedilatildeo a ED5 sinalizaram natildeo ofertar o serviccedilo e natildeo
encaminhar o estudante para ser atendido em outra escola Revelando-se assim
um entendimento de que o AEE se restringe agrave SRM bem como pode demostrar
uma precariedade no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE
152
Nessa perspectiva eacute possiacutevel perceber que dotar as escolas de SRM
profissionais especializados acessibilidade arquitetocircnica recursos pedagoacutegicos e
humanos por si soacute natildeo eacute suficiente para possibilitar uma maior reflexatildeo e
ressiginificaccedilatildeo acerca das concepccedilotildees de Educaccedilatildeo Especial apresentadas nos
dizeres das equipes diretivas Ressalta-se que esses dispositivos satildeo importantes
necessaacuterios e estatildeo previstos na PNEE-PEI e nas diretrizes da EE e com isso
reitera-se a importacircncia e responsabilidade do Sistema Municipal de Ensino em
parceria com Uniatildeo em provecirc-los agraves escolas Mas eacute preciso compreender que haacute
outros fatores que precisam ser considerados e adicionados a esses como a
qualidade da formaccedilatildeo desses profissionais e as condiccedilotildees de trabalho
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees das equipes diretivas escolares frente agrave viabilizaccedilatildeo do
AEE nas escolas em que atuam foi possiacutevel perceber trecircs respostas mais
recorrentes sendo que cada uma marca uma funccedilatildeo especiacutefica a) papel de
orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores) foi mais mencionado por
supervisores escolares b) papel de atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial eou pais apareceu com mais frequecircncia nas falas de
orientadores educacionais e por fim c) o papel de provimento de condiccedilotildees
materiais e pedagoacutegicas foi mais constante nas respostas de diretores escolares
Ter clareza sobre as funccedilotildees de cada um na escola eacute importante contudo
quando essas se constituem como um trabalho com nenhuma ou pouca articulaccedilatildeo
e interlocuccedilatildeo entre os profissionais pode culminar no desenvolvimento de um
trabalho isolado no contexto escolar
Em parte essas constataccedilotildees podem ser resultantes do pouco tempo desses
profissionais na funccedilatildeo atual na escola em que atuam assim como na rotatividade
no cargo de direccedilatildeo o que pode estar contribuindo em parte na constituiccedilatildeo de um
trabalho mais isolado entre os profissionais da escola e por conseguinte
fragilizando a implementaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais de forma contextualizada
envolvendo toda a comunidade escolar culminando na precariedade no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Esse eacute um dos pontos que se destacou na pesquisa e sinaliza ao sistema
municipal de ensino que essa questatildeo precisa ser discutida de forma criacutetica e
reflexiva com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre esse assunto uma vez
que pode estar desfavorecendo a implementaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais
153
Por fim nesse momento histoacuterico econocircmico poliacutetico e social de incertezas
que se vive atualmente avista-se que discutir o papel das equipes diretivas
escolares na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE como uma oportunidade de criar
espaccedilos e tempos de discussatildeo e reflexatildeo com o objetivo de propiciar a participaccedilatildeo
efetiva de professores demais profissionais da educaccedilatildeo e pais no planejamento
organizaccedilatildeo discussatildeo e implementaccedilatildeo das estrateacutegias e diretrizes da Educaccedilatildeo
Regular e da Educaccedilatildeo Especial de modo articulado tendo em vista um processo
efetivo de escolarizaccedilatildeo para todos os estudantes Uma vez que se continua
vislumbrando que a escola puacuteblica eacute
[] o melhor lugar e o melhor caminho para a luta poliacutetica pela igualdade e inclusatildeo social Uma visatildeo de escola democraacutetica aposta na universalidade da cultura escolar no sentido de que cabe agrave escola transmitir os saberes puacuteblicos que apresentam um valor independentemente de circunstacircncias e interesses particulares em funccedilatildeo do desenvolvimento humano Junto a isso permeando os conteuacutedos cabe tambeacutem considerar a diversidade cultural a coexistecircncia das diferenccedilas e a interaccedilatildeo entre indiviacuteduos de identidades culturais distintas Uma escola desprovida de conteuacutedos culturais substanciosos e densos reduz as possibilidades dos [estudantes] pobres de ascenderem ao mundo cultural e ao desenvolvimento das capacidades intelectuais deixando de promover desse modo a justiccedila social que pode vir da educaccedilatildeo e do ensino (LIBAcircNEO 2016 p 60)
Em meio a esses apontamentos chega-se ao final dessas consideraccedilotildees
Contudo compreende-se que esse estudo natildeo se conclui aqui mas pode possibilitar
novos caminhos e outros direcionamentos que poderatildeo ser suscitados com base no
que foi revelado a partir dos dizeres das equipes diretivas sobre suas compreensotildees
acerca do AEE e suas formas de viabilizaacute-lo Um desses caminhos eacute realizar
pesquisas de cunho etnograacutefico que possibilite observar no cotidiano das escolas
como se datildeo as (des)articulaccedilotildees entre Educaccedilatildeo Especial e Educaccedilatildeo regular
Seriam interessantes tambeacutem pesquisas intervencionistas que articulem formaccedilatildeo
em serviccedilo aprofundamento teoacuterico e accedilatildeo pedagoacutegica podendo se constituir em
um desdobramento deste estudo
Enseja-se ainda que esse estudo possa contribuir com as pesquisas acerca
do papel da equipe diretiva no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico da
EE assim como ser propositiva de reflexotildees sobre a importacircncia de repensar e
reorganizar os espaccedilos e tempos das escolas com a finalidade de assegurar o
direito a todos os estudantes de aprenderem
154
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DF 2008
___________ Conselho Nacional de Educaccedilatildeo Cacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica Resoluccedilatildeo CNE CEB nordm 4 de 2 de outubro de 2009 Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica modalidade Educaccedilatildeo Especial Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 5 de outubro de 2009 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Marcos Poliacutetico-Legais da Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo InclusivaSecretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo
Especial 2010 ___________ Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo Nordm 466 de 12 de dezembro
De 2012 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Decreto nordm 7611 DE 17 de novembro de 2011 Dispotildee sobre a educaccedilatildeo especial o atendimento educacional especializado e daacute outras providecircncias ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Portaria no 25 DE 19 de junho de 2012 Dispotildee sobre a adesatildeo ao Programa Implantaccedilatildeo de Salas de Recursos
Multifuncionais
170
___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Lei nordm 12796 de 4 de abril de 2013 Altera
a Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para dispor sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo e dar outras providecircncias ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Lei nordm 13005 de 24 de junho de 2014 -
Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo LEI Nordm 13146 DE 6 DE JULHO DE 2015
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___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 10 de 18 de abril de 2013 Dispotildee sobre os criteacuterios de repasse e execuccedilatildeo do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) em cumprimento ao disposto na Lei 11947 de 16 de junho de 2009 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Fundo Nacional De Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Conselho Deliberativo Resoluccedilatildeo nordm 27 de 27 de julho de 2012 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Documento Orientador Programa Implantaccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais Diretoria de Poliacuteticas em
Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia 2013 ___________Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Relaccedilatildeo das escolas a serem contempladas com os recursos do PDDE Acessibilidade nos anos de 2012 e 2013 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrsecretaria-de-educacao-continuada-
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___________ Ministeacuterio de Administraccedilatildeo Federal e da Reforma do Estado Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado Brasiacutelia 1995 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Conselho Nacional de Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 2 de 1ordm de Julho de 2015 Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formaccedilatildeo inicial em niacutevel superior (cursos de licenciatura cursos de formaccedilatildeo pedagoacutegica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formaccedilatildeo continuada CAMBORIUacute Lei Complementar Nordm 192008 Dispotildee Sobre a elaboraccedilatildeo do Plano
de Carreira dos Profissionais do Magisteacuterio Puacuteblico Municipal De Camboriuacute ndash SC ___________ LEI Nordm 28322015 Institui o Plano Municipal de Educaccedilatildeo ndash PME em conformidade com o art 190 da Lei orgacircnica do Municiacutepio de Camboriuacute SANTA CATARINA PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMBORIUacute EDITAL DE CONCURSO PUacuteBLICO Nordm 0252013 Abre inscriccedilotildees para o concurso puacuteblico para
os cargos elencados no Anexo I parte integrante deste edital em conformidade com as Leis Complementares ndeg 0402012 ndeg 192008 ndeg 482013 e ndeg 0662013 e suas alteraccedilotildees ___________ LEI COMPLEMENTAR Nordm 49 de 24 de abril de 1992 Dispotildee sobre
o novo Plano de Cargos Carreiras e Vencimentos do Magisteacuterio Puacuteblico Estadual reformula a sistemaacutetica de Progressatildeo Funcional institui a Gratificaccedilatildeo de Permanecircncia os Precircmios Meacuterito Gerencial e de Assiduidade e daacute outras providecircncias
172
___________ LEI Nordm 12773 de 1ordm de dezembro de 2003 Institui o Programa
Leitura de Jornais e Revistas em Sala de Aula como atividade multidisciplinar nos estabelecimentos puacuteblicos de ensino fundamental e meacutedio no Estado de Santa Catarina ___________ Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina Satildeo
Joseacute FCEE de 2014
173
APEcircNDICES
174
APEcircNDICE A ndash Carta agrave equipe diretiva escolar
CARTA Agrave EQUIPE DIRETIVA ESCOLAR
Prezados (as) Participantes
Convidamos vocecircs a participarem como voluntaacuterios(as) anocircnimos(as) da pesquisa
desenvolvida pela mestranda Neusa Denise Marques de Oliveira vinculada a linha de
pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da
Universidade da Regiatildeo de Joinville - UNIVILLE A presente pesquisa tem como objetivo
investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento
Educacional Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo
As respostas dadas por vocecirc seratildeo fundamentais para a pesquisa intitulada ―A Equipe
Diretiva Escolar e o Atendimento Educacional Especializado Interlocuccedilotildees Possiacuteveis que
estaacute sob a orientaccedilatildeo da Professora Doutora Aliciene Fusca Machado Cordeiro
Para tanto solicito seu precioso tempo para responder este questionaacuterio Sua
sinceridade seraacute fundamental para o ecircxito da pesquisa Coloco a disposiccedilatildeo meus
dados (e-mail ndmoliveirabolcombr e telefone (47) 92903131) no intuito de
sanar quaisquer duacutevidas que surgir
Desde jaacute agradeccedilo sua imprescindiacutevel colaboraccedilatildeo e informo-lhe que seratildeo assegurados sigilo de identidade e a privacidade de dados confidenciais na pesquisa
Atenciosamente Neusa Denise Marques de Oliveira
175
APEcircNDICE B ndash Instrumento de coleta de dados
QUESTIONAacuteRIO
EIXO I ndashPERFIL DA EQUIPE DIRETIVA
1 Ano de Nascimento _________________________
2 Qual sua funccedilatildeo na escola
a)( ) Diretor ( ) Diretora
b) ( ) Assessor diretor ( ) Assessora de diretora
c) ( ) Coordenador PedagoacutegicoSupervisor ( ) Coordenadora
PedagoacutegicaSupervisora
d) ( ) Orientador Educacional ( ) Orientadora Educacional
e) ( ) Outro Qual
_______________________________________________________________
3 Qual sua formaccedilatildeo acadecircmica (preencha os campos necessaacuterios)
a) ( ) Ensino Superior (especificar se Bacharelado ou Licenciatura)
Curso ________________________________ Ano que concluiu _______
Curso _________________________________Ano que concluiu _______
b) ( ) Poacutes - Graduaccedilatildeo (Especializaccedilatildeo)
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
c) ( ) Poacutes ndash Graduaccedilatildeo (Mestrado)
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
d) ( ) Poacutes ndash Graduaccedilatildeo (Doutorado)
Curso _______________________________ Ano que concluiu _________
4 Vocecirc jaacute atuou como professor de sala de aula
a) ( ) Sim
b) ( ) Natildeo
176
5 Quanto tempo
6 Na sua trajetoacuteria como docente teve alguma experiecircncia com
estudante com deficiecircncia
a) ( ) Sim
b) ( ) Natildeo
7 Qual sua carga horaacuteria hoje na funccedilatildeo em que atua na Rede Municipal
de Ensino _______________
8 Quanto tempo de serviccedilo vocecirc tem na funccedilatildeo em que ocupa
atualmente na Rede Municipal de ensino______________
9 Vocecirc pertence ao quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede
Municipal de Ensino
a) ( ) sim
b) ( ) Natildeo
10) Como vocecirc ingressou na funccedilatildeo em que ocupa em sua escola
a) ( ) Por Convite
b) ( ) Por Concurso puacuteblico
c) ( ) Por indicaccedilatildeo
d) ( ) Remanejado (a)
e) ( ) Eleiccedilatildeo
f) ( ) Outro Qual _____________________________________
EIXO IIndash COMPREENSAtildeO DA EQUIPE DIRETIVA SOBRE O AEE
11 Qual sua compreensatildeo sobre o atendimento educacional
especializado _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
12 Quem satildeo os estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento Educacional Especializado
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
177
13 A escola em que vocecirc atua trabalha com Atendimento Educacional
Especializado (AEE)
a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo Por quecirc _______________________________________
14 Em caso afirmativo
a) ( ) Eacute uma escola Poacutelo o atendimento ocorre na proacutepria escola atendendo
__________ estudantes de ___________ escolas
b) ( ) Atende somente estudantes desta escola Por quecirc
_______________________________________________________________
15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos
estudantes puacuteblico alvo do AEE
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE
a) ( ) Sim Em caso afirmativo Comente quais________________
b) ( ) Natildeo
17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE
a) ( ) Sim Em caso afirmativo Comente quais______________________________________________________ ____________________________________________________________
b) ( ) Natildeo
18 Vocecirc teve alguma formaccedilatildeo com temas relacionados ao AEE
( ) Sim Comente
( ) Natildeo
EIXO III ndash CONHECIMENTO DA EQUIPE DIRETIVA SOBRE O TRABALHO DO PROFESSOR DO AEE
178
19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento
Educacional Especializado ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
21 Na escola em que vocecirc atua como se daacute a participaccedilatildeo do professor
de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros)
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
23 O professor do AEE que atende sua escola faz parte do quadro
efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino
a) ( ) sim
b) ( ) Natildeo
c) ( ) Natildeo tenho esta informaccedilatildeo
EIXO IV ndash PROJETO PEDAGOacuteGICO E O AEE
25 A escola em que vocecirc atua possui um projeto pedagoacutegico a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo
26 O atendimento educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola
a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo
27 A escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe
179
diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
180
APEcircNDICE C ndash Matriz de referecircncia Quadro 17 Matriz de referecircncia
Objetivos da pesquisa
Categorias Questotildees a
serem abordadas
Perguntas do questionaacuterio relacionadas
- Revelar a compreensatildeo da equipe diretiva escolar acerca do serviccedilo de AEE e do puacuteblico-alvo da EE - Evidenciar o que a equipe diretiva escolar conhece sobre o trabalho do professor do AEE
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
O serviccedilo em si o puacuteblico alvo da EE e o trabalho docente
11 Qual sua compreensatildeo sobre o atendimento educacional especializado 19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE 21 A escola em que vocecirc atua qual a participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros) 22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE 23 O professor do AEE na sua escola faz parte do quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino 12 Quem satildeo os estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 13 Na escola em que vocecirc atua trabalha com Atendimento Educacional Especializado (AEE)
14 Em caso afirmativo a) ( ) Eacute uma escola Polo b) ( ) Atende somente estudantes desta escola 15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos estudantes puacuteblico alvo do AEE
- Identificar os procedimentos que tecircm sido adotados pela equipe diretiva escolar na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe diretiva frente a viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
O papel da equipe diretiva Acessibilidade arquitetocircnica Recursos materiais e pedagoacutegicos Se o AEE estaacute comtemplado no Projeto poliacutetico-pedagoacutegico e e
20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento Educacional Especializada 16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE 17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE
25 A escola em que vocecirc
181
Desafios na viabilizaccedilatildeo do serviccedilo e formas de superaacute-lo
atua possui um projeto pedagoacutegico 26 O atendimento
educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola 27A escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
Fonte Primaacuteria (2016)
182
ANEXOS
183
ANEXO I ndash Autorizaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute
184
ANEXO II ndash Parecer de Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
185
186
187
ANEXO III ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIVERSIDADE DA REGIAtildeO DE JOINVILLE ndash UNIVILLE
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCACcedilAtildeO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE
Vocecirc estaacute sendo convidado (a) a participar como voluntaacuterio (a) de uma
pesquisa desenvolvida pela mestranda Neusa Denise Marques de Oliveira
vinculada ao Grupo de Pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do Programa de
Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE As respostas dadas por vocecirc ao instrumento
de coleta de dados neste caso um questionaacuterio seratildeo fundamentais para a
construccedilatildeo da dissertaccedilatildeo intitulada ―A Equipe Diretiva Escolar e o Atendimento
Educacional Especializado Interlocuccedilotildees Possiacuteveis que estaacute sob a orientaccedilatildeo da
Professora Drordf Aliciene Fusca Machado Cordeiro Sendo seu objetivo investigar as
compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento Educacional
Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo
Sua participaccedilatildeo se restringiraacute a fornecer respostas agraves indagaccedilotildees feitas no
questionaacuterio Vocecirc teraacute a liberdade de se recusar a responder perguntas que lhe
ocasionem constrangimento de alguma natureza e tambeacutem poderaacute desistir da
pesquisa a qualquer momento sem que a recusa ou a desistecircncia lhe acarrete
qualquer prejuiacutezo bem como caso seja do seu interesse e mencionado ao
pesquisador teraacute livre acesso aos resultados do estudo
Destacamos que a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa eacute opcional e representa
riscos ou desconfortos miacutenimos Em caso de recusa ou de desistecircncia em qualquer
fase da pesquisa vocecirc natildeo seraacute penalizado (a) de forma alguma A sua participaccedilatildeo
constituiraacute de suma importacircncia para o cumprimento do objetivo da pesquisa e os
benefiacutecios seratildeo de acircmbito acadecircmico e profissional para o campo do Trabalho e
Formaccedilatildeo Docente
Vocecirc seraacute esclarecido sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar e
trataremos da sua identidade com padrotildees profissionais de sigilo ou seja natildeo
haveraacute identificaccedilatildeo nominal Os questionaacuterios respondidos durante a realizaccedilatildeo da
pesquisa ficaraacute sob a guarda e a responsabilidade da pesquisadora por um periacuteodo
de cinco anos onde apoacutes esse prazo o material seraacute descartado Os resultados
deste estudo poderatildeo ser apresentados por escrito ou oralmente em congressos
perioacutedicos cientiacuteficos e eventos promovidos na aacuterea de ciecircncias humanas
Em caso de duacutevida vocecirc poderaacute procurar a pesquisadora responsaacutevel por esta
pesquisa Neusa Denise Marques de Oliveira pelo telefone (47) 92903131 Se
preferir vocecirc tambeacutem pode entrar em contato com a professora orientadora dessa
pesquisa no Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE pelo telefone (47)
3461-09077 ou no seguinte endereccedilo Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash
188
UNIVILLE Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Campus Universitaacuterio -
JoinvilleSC CEP 89219-710 Bloco A sala A 227B
Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica que envolve a referida
pesquisa entre em contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa (CEP) pelo
telefone (47) 3461-9235 ou no endereccedilo Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash
UNIVILLE Bloco B sala B 31
Apoacutes ser esclarecido sobre a pesquisa no caso de vocecirc aceitar fazer parte do estudo assine ao final deste documento que estaacute em duas vias Uma delas eacute sua e a outra eacute do pesquisador responsaacutevel
CONSENTIMENTO
Eu ________________________________________________ acredito ter sido
suficientemente informado (a) e concordo em participar como voluntaacuterio (a) da
pesquisa descrita acima
_____________________ ____ de ____________________ de 2015
_________________________ ________________________________ Participante responsaacutevel Neusa Denise Marques de Oliveira
Pesquisadora
189
NEUSA DENISE MARQUES DE OLIVEIRA
A EQUIPE DIRETIVA ESCOLAR E O ATENDIMENTO EDUCACIONAL
ESPECIALIZADO INTERLOCUCcedilOtildeES POSSIacuteVEIS
Dissertaccedilatildeo apresentada ao Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash Univille ndash como requisito parcial para obtenccedilatildeo do grau de Mestre em Educaccedilatildeo sob a orientaccedilatildeo da Professora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro
JOINVILLE - SC
2017
Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo pela Biblioteca Universitaacuteria da Univille
Oliveira Neusa Denise Marques de
O48e A equipe diretiva escolar e o atendimento educacional especializado interlocuccedilotildees possiacuteveis Neusa Denise Marques de Oliveira orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro ndash Joinville UNIVILLE 2017
187 f il 30 cm
Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo ndash Universidade da Regiatildeo de Joinville) 1 Educaccedilatildeo especial 2 Escolas ndash Organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo 3
Administradores escolares 4 Professores - Formaccedilatildeo 5 Educaccedilatildeo inclusiva I Cordeiro Aliciene Fusca Machado (orient) II Tiacutetulo
CDD 3719
DEDICATOacuteRIA
Dedico esta dissertaccedilatildeo a Rafael Cesar Marques (in
memoriam) meu irmatildeo querido e amado que sempre me
apoiou e acreditou em mim Gratidatildeo e Saudades
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeccedilo a Deus pela graccedila de ter vivido intensamente esta
experiecircncia com seriedade e compromisso
Agrave minha orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro pela paciecircncia e
dedicaccedilatildeo
Agraves professoras Dra Andrea Soares Wuo e Dra Sonia Maria Ribeiro por
aceitarem participar da minha banca
Aos professores do Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Univille que
partilharam seus conhecimentos e possibilitaram que eu pudesse ampliar os meus
Aos meus colegas do mestrado em especial agraves minhas amigas Ana Paula e
Lediane que estiveram ao meu lado durante o curso cuja convivecircncia tornou-se
para mim uma oportunidade de crescimento de relaccedilatildeo saudaacutevel com as diferenccedilas
por oferecerem sua amizade e incentivo
Ao meu irmatildeo acadecircmico Cleberson de Lima Mendes pelo companheirismo
na realizaccedilatildeo dos trabalhos e por sua amizade
Agraves coordenadoras da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute por
consentirem a viabilizaccedilatildeo deste estudo
A todas as equipes diretivas que prontamente aceitaram participar desta
pesquisa
Aos meus colegas de trabalho que assumiram minhas funccedilotildees para que eu
pudesse me afastar integralmente para me dedicar agrave escrita desta dissertaccedilatildeo
Agrave minha matildee amada que carinhosamente cuidou de mim durante o primeiro
ano do mestrado periacuteodo difiacutecil que foi superado com muito apoio e amor
Ao meu filho Viniacutecius Luiacutes de Oliveira razatildeo da minha vida que me ensina
todos os dias a ser curiosa questionadora criativa Agradeccedilo pela paciecircncia em me
deixar estudar e por me entender mesmo tatildeo pequeno
Ao meu amado esposo Jackson de Oliveira companheiro de todas as horas
um ser humano incriacutevel que me ajudou muito e que amo cada dia mais
Agrave minha sogra Sonia Buss de Oliveira e ao meu sogro Luiacutes de Oliveira
pessoas imprescindiacuteveis nessa minha caminhada por me apoiarem e por vezes
terem cuidado de meu filho com muito carinho e apreccedilo
Aos meus queridos irmatildeos e sobrinhos pela compreensatildeo de minhas
ausecircncias nas reuniotildees de famiacutelia e pela paciecircncia que tiveram comigo no decorrer
desta jornada
Agrave minha amiga Juliana Testoni dos Santos primeira pessoa que me acolheu
quando entrei no mestrado e que com o tempo se tornou uma grande amiga Uma
pessoa incriacutevel inteligente e sensiacutevel que me ensinou a acreditar mais em mim
Agraves minhas amigas Cleide Aparecida Hoffmann Bernardes e Andreacuteia
Heiderscheidt Fuck pelo companheirismo paciecircncia e por estarem sempre dispostas
a ajudar
Agrave CAPES pelo apoio financeiro que propiciou melhores condiccedilotildees de dedicaccedilatildeo a esta pesquisa A todos que de alguma forma contribuiacuteram para que esse trabalho chegasse
agrave etapa final
RESUMO Este estudo estaacute vinculado agrave linha de pesquisa ―Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do
Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash UNIVILLE e tem
como objetivo central investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares
sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e suas formas de viabilizaacute-lo
O procedimento metodoloacutegico adotado pautou-se na abordagem qualitativa (GATTI
e ANDREacute 2013) que tem como fundamento alguns pressupostos da base
epistecircmico-metodoloacutegica do materialismo histoacuterico e dialeacutetico Como instrumento de
coleta de dados utilizou-se um questionaacuterio contendo perguntas abertas e fechadas
Participaram desta pesquisa 7 diretores 8 supervisores e 7 orientadores
educacionais totalizando 7 equipes diretivas de escolas do ensino fundamental da
Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute - Santa Catarina totalizando 22
questionaacuterios respondidos A anaacutelise de conteuacutedo (BARDIN 1977 FRANCO 2012)
foi o meacutetodo escolhido para analisar os dados A fundamentaccedilatildeo teoacuterica utilizada no
trabalho foi composta por vaacuterios autores com destaque para Vasconcellos (2013)
Paro (1987 2001 2003 2010 2012 2016) Libacircneo (2007 2015 2016) Meletti e
Bueno (2011) Os resultados desta pesquisa sinalizaram que na Rede estudada a
maioria dos profissionais da equipe diretiva parece compreender o AEE como um
serviccedilo que se restringe ao estudante com deficiecircncia ou agrave sala de recursos
multifuncionais e ao professor especializado Isso pode indicar uma compreensatildeo
descontextualizada e desarticulada do serviccedilo no acircmbito escolar Em siacutentese o AEE
parece ser entendido pelas equipes diretivas pesquisadas como sendo um serviccedilo
individualizado setorizado e com pouca interaccedilatildeo entre os profissionais As anaacutelises
dos dados apontaram a necessidade de formaccedilatildeo consistente para os profissionais
das equipes diretivas e demais profissionais da educaccedilatildeo que comtemple um
aprofundamento teoacuterico sobre a aacuterea da Educaccedilatildeo e da Educaccedilatildeo Especial No que
concerne agrave viabilizaccedilatildeo do AEE observou-se nos dizeres da maioria das equipes
diretivas indiacutecios de compreensotildees que demonstram falta de clareza quanto aos
seus papeacuteis em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo do serviccedilo de AEE assim
como apontam lacunas existentes quanto agrave acessibilidade arquitetocircnica recursos
pedagoacutegicos e humanos especiacuteficos que satildeo considerados dispositivos necessaacuterios
e que compotildeem a estrutura do AEE Suas falas revelam ainda as necessidades de
reorganizaccedilatildeo dos espaccedilos escolares em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo do serviccedilo as quais
compotildeem os desafios das equipes diretivas frente ao AEE em suas concepccedilotildees
Palavras-Chave Gestatildeo escolar Equipe diretiva escolar Atendimento Educacional
Especializado Formaccedilatildeo Docente
ABSTRACT
This study is linked to the research line Teacherlsquos Work and Formation of the
Master of Education of the University of the Region of Joinville - UNIVILLE and its
main objective is to investigate the understandings of the school management teams
on Specialized Educational Services (SES) and its forms to apply it The
methodological procedure adopted was based on the qualitative approach (GATTI
and ANDREacute 2013) that is based on some assumptions of the epistemic-
methodological basis of historical and dialectical materialism A questionnaire
containing opened and closed questions was used as data collection instrument
Seven of the directors eight supervisors and seven educational supervisors
participated in this study making a total of 7 management teams from elementary
schools of the Municipal Education Network of Camboriuacute - Santa Catarina So 22
questionnaires were answered Content analysis (BARDIN 1977 FRANCO 2012)
was the method chosen to analyze the data The theoretical basis used in the study
was composed by authors such as Vasconcellos (2013) Paro (1987 2001 2003
2010 2012 2016) Libacircneo (2007 2015) Meletti and Bueno (2011) among others
The results of this research indicate that in the context studied most of the
professionals of the management teams seem to understand SES as a service that is
restricted or to the student with a disability or to the multifunction resource classroom
and to the specialized teacher This may indicate a decontextualized and disjointed
understanding of school service In summary the SES seems to be understood by
teams surveyed for this research as being a service individualized sectorized and
with little interaction among professionals The analysis of the data pointed to the
need for consistent training for the professionals of the management teams and other
professionals of education that contemplates a theoretical deepening in the area of
Education and Special Education With regard to the realization of the SES the
majority of the management teams stated that they lacked clarity regarding their roles
in relation to the implementation of the SES as well as pointing out existing gaps in
accessibility specific pedagogical resources and human resources which are
considered necessary devices and which are part of the SES structure Their
speeches also reveal the need for reorganization of school spaces in relation to the
realization of the service which are some of the challenges of the management
teams facing the SES in their conceptions
Keywords School management School management team Specialized
Educational Services
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AEE Atendimento Educacional Especializado
AHSD Altas Habilidades e Superdotaccedilatildeo
ANPEd Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo
BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaccedilotildees
CAPES Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior
CEB Cacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica
CEI Centro de Educaccedilatildeo Infantil
CF Constituiccedilatildeo Federal
CHS Conselho de Direitos Humanos
CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente
CNE Conselho Nacional de Educaccedilatildeo
CNS Conselho Nacional de Sauacutede
ED Equipe Diretiva
EDd Equipe Diretiva ndash diretor(a)
EDo Equipe Diretiva ndash orientador(a)
EDs Equipe Diretiva ndash supervisor(a)
EDUCASUL Congresso de Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul
EE Educaccedilatildeo Especial
EF Ensino Fundamental
EJA Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos
GETRAFOR Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e a Formaccedilatildeo Docente
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IFC Instituto Federal Catarinense
IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira
INTAE Interfaces entre Atendimento Educacional Especializado trabalho
docente formaccedilatildeo de professores e poliacuteticas puacuteblicas (INTAE)
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
MEC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
NAPNE Nuacutecleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiacuteficas
OCDE Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico
PETI Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil
PNEE-EI Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva
PNE Plano Nacional de Educaccedilatildeo
SCIELO Scientific Eletronic Library Online
SC Santa Catarina
SECADI Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo
SIMEC Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle
SME Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
SEM Salas de Recursos Multifuncionais
TALIS Teaching and Learning International Survey
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TDAH Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo e Hiperatividade
TGD Transtornos Globais do Desenvolvimento
UNESCO Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
UNIVILLE Universidade da Regiatildeo de Joinville
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Graacutefico 1 ndash Faixa etaacuteria dos participantes da pesquisa 58
Graacutefico 2 ndash Tempo de atuaccedilatildeo das equipes diretivas por funccedilatildeo 59
Graacutefico 3 ndash Experiecircncias dos profissionais das equipes diretivas enquanto docentes
de estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 63
Graacutefico 4 ndash Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes das equipes diretivas em sala de
aula 65
Graacutefico 5 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Diretores 66
Graacutefico 6 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Supervisores 66
Graacutefico 7 - Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Orientadores 67
Graacutefico 8 ndash Tempo de serviccedilo dos integrantes das equipes diretivas na funccedilatildeo que
atualmente ocupam na escola 67
Graacutefico 9 - Sobre a acessibilidade arquitetocircnica nas escolas
pesquisadas112
Graacutefico 10 - Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves
Redes Estadual e Municipal de Ensino de
Camboriuacute119
Graacutefico 11 ndash Recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis nas escolas pesquisadas123
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Tabela 1 ndash Mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira sobre Gestatildeo
EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de
2011 a 2015 38
Tabela 2 ndash Trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe
Diretiva e o Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE 40
Tabela 3 ndash Objetivos dos trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo
EscolarEquipe Diretiva e o Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE 41
Quadro 1 ndash Categorias de anaacutelise e suas relaccedilotildees com os objetivos da pesquisa 52
Quadro 2 ndash Gecircnero dos integrantes da equipe diretiva escolar por funccedilatildeo 55
Quadro 3 ndash Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes da equipe diretiva em sala de
aula61
Quadro 4 ndash Fases do ciclo de vida profissional segundo Huberman 62
Quadro 5 ndash Formaccedilatildeo das equipes diretivas com temas relacionados ao AEE71
Quadro 6 - Situando do Atendimento Educacional Especializado nas Escolas a partir
das falas das Equipes Diretivas73
Quadro 7 Puacuteblico-alvo do AEE nos dizeres das equipes diretivas escolares
pesquisadas78
Quadro 8 - Recorrecircncias sobre o puacuteblico-alvo da EE nos dizeres das equipes
diretivas escolares pesquisadas79
Quadro 9 - Distribuiccedilatildeo das matriacuteculas por categoria utilizada no Censo Escolar de
2015 (MECINEP 2015) no Brasil em Santa Catarina e no Municiacutepio de
Camboriuacute82
Quadro 10 - Condiccedilotildees de acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas113 Quadro 11 - Escolas pesquisadas a serem contempladas pelo Programa Escola
Acessiacutevel por meio do PDDE nos anos de 2012 e 2013119
Quadro 12 - Acessibilidade nas escolas municipais de ensino fundamental no Brasil SC e em Camboriuacute 121 Quadro 13 - O que se entende por ―recurso pedagoacutegico nos dizeres das equipes
diretivas que informaram possuiacute-los nas escolas em que atuam 123
Quadro 14 - Composiccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais ndash 20112012124
Quadro 15 - Accedilotildees que as equipes diretivas escolares consideram que sejam de
suas responsabilidades para viabilizar o AEE 130
Quadro 16 - Desafios encontrados pelas equipes diretivas escolares para viabilizar o
AEE 139
Quadro 17 - Matriz de referecircncia 180
SUMAacuteRIO
Agrave GUISA DE INTRODUCcedilAtildeO O ENTRELACcedilAMENTO DA PESQUISA COM A
PESQUISADORA 16
1 POSSIBILIDADES E DESAFIOS DE UMA GESTAtildeO ESCOLAR DEMOCRAacuteTICAndash
PARTICIPATIVA DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES NA VIABILIZACcedilAO DO
AEE 21
11 Organizaccedilatildeo e Gestatildeo Escolar tecendo reflexotildees21
12 As atribuiccedilotildees da Equipe Diretiva Escolar na Perspectiva da Gestatildeo
Democraacutetica-Participativa29
13 Equipe Diretiva na organizaccedilatildeo escolar frente ao AEE aproximaccedilotildees e
distanciamentos 34
14 A produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre Gestatildeo Escolar e Atendimento
Educacional Especializado um campo a explorar 38
2 PROCESSO DE CONSTITUICcedilAtildeO DA PESQUISA CAMINHOS TRACcedilADOS E
PERCORRIDOS 46
21 Os caminhos da pesquisa local participantes e instrumentos 47
22 Seguindo o itineraacuterio organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados 50
3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Agrave PARTIR DAS FALAS
DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE
CAMBORIUacute 54
31 Apresentaccedilatildeo das Equipes Diretivas Escolares 55
32 O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado 72
33 As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel das equipes
diretivas frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE 110
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 147
APEcircNDICES 173
APEcircNDICE A ndash Carta agrave equipe diretiva escolar 174
APEcircNDICE B ndash Instrumento de coleta de dados 175
APEcircNDICE C ndash Matriz de referecircncia 180
ANEXOS 182
ANEXO I ndash Autorizaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute 183
ANEXO II ndash Parecer de Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa 184
ANEXO III ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 187
16
Agrave GUISA DE INTRODUCcedilAtildeO O ENTRELACcedilAMENTO DA PESQUISA COM A PESQUISADORA
Revisitar o bauacute de minha histoacuteria de vida faz com que venham agrave tona vaacuterios
sentimentos de superaccedilatildeo e felicidade pois foram tantos aprendizados tantas
conquistas e diversas experiecircncias que ajudaram na minha constituiccedilatildeo enquanto
pessoa e profissional Assim escrever acerca de minha trajetoacuteria de vida passa a
ser uma forma de clarificar o entrelaccedilamento da pesquisa com a pesquisadora
levando assim agrave construccedilatildeo do objeto desta pesquisa
Aos dezessete anos no uacuteltimo ano do magisteacuterio passei em um concurso
puacuteblico para auxiliar de educadora em um Centro de Educaccedilatildeo Infantil (CEI) no
municiacutepio de Joinville O CEI ficava proacuteximo agrave minha casa o que facilitou minha
jornada de estaacutegio trabalho e estudo Iniciei trabalhando em uma turma de berccedilaacuterio
Pensei que natildeo daria conta pois a base teoacuterica do magisteacuterio foi restrita No
entanto comecei a pesquisar comprar livros e estudar muito para auxiliar no
planejamento das atividades
O trabalho com as crianccedilas era regado de brincadeiras muacutesicas pintura e
contaccedilatildeo de histoacuterias O educar e o cuidar comeccedilaram a fazer sentido para mim
sendo que a cada estudo e a cada descoberta o trabalho com as crianccedilas se tornava
mais prazeroso Apoacutes um ano trabalhando no berccedilaacuterio passei a atuar na turma de 3
a 5 anos idade com 35 crianccedilas que jaacute haviam passado por vaacuterios educadores
Nessa turma havia um aluno com deficiecircncia intelectual fato raro para a educaccedilatildeo
infantil na eacutepoca em que iniciei A experiecircncia de ensinaacute-lo e conviver com ele foi
muito significativa pois a partir dela pude vislumbrar as possibilidades e
potencialidades do trabalho colaborativo em especial nas interaccedilotildees entre os
alunos que respeitavam o tempo do colega incentivando-o a completar as
atividades escolares
Esse trabalho me proporcionou natildeo soacute uma vivecircncia na educaccedilatildeo infantil e
um crescimento pessoal e profissional mas tambeacutem propiciou condiccedilotildees
financeiras para cursar o ensino superior
Em 1996 iniciei o curso superior em Pedagogia que me proporcionou uma
base teoacuterica mais consistente Havia incentivo agrave participaccedilatildeo em eventos e a
preocupaccedilatildeo em articular a teoria e praacutetica No uacuteltimo ano da faculdade iniciei a
17
poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu em Psicopedagogia que possibilitou ampliar a minha
compreensatildeo sobre os processos de aprendizagem e estrateacutegias de trabalho
voltadas para a escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes
Em 1999 jaacute graduada e poacutes-graduada procurei novas experiecircncias de
trabalho e comecei a lecionar Filosofia em uma instituiccedilatildeo da Rede Privada de
Ensino para as turmas da preacute-escola e da quarta seacuterie no ensino fundamental
A partir de 2002 passei a trabalhar como educadora na Secretaria de
Assistecircncia Social onde integrei o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do
Adolescente - CMDCA e o Conselho de Direitos Humanos - DHS Nessa eacutepoca
trabalhei no Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil ndash PETI com adolescentes
em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social incluiacutedos na sociedade de forma perversa
Eles tinham em sua maioria entre 8 e 16 anos de idade Antes de integrarem o
programa eles trabalhavam como catadores de material reciclaacutevel apresentavam
dificuldades significativas de aprendizagem e viviam em regiotildees extremamente
pobres da cidade Passavam meio periacuteodo em escolas da Rede Puacuteblica de Ensino e
meio periacuteodo no programa PETI O planejamento das atividades para eles era
sempre um momento desafiador e os educadores se preocupavam em proporcionar
atividades mais atrativas e culturalmente enriquecedoras como visitas a Museus e
ao cinema aleacutem de planejar eventos como a Parada Cultural na qual os familiares e
a comunidade eram convidados a prestigiar as atividades criadas e apresentadas
por esses adolescentes
Essas satildeo algumas das experiecircncias que compotildeem a minha constituiccedilatildeo
como educadora marcada por uma busca constante pelo desenvolvimento de uma
praacutetica pedagoacutegica e docente responsaacutevel sensiacutevel flexiacutevel e comprometida Como
enfatizou Freire (1991 p 58) ―ningueacutem comeccedila a ser educador numa certa terccedila-
feira agraves quatro da tarde [] A gente se faz educador a gente se forma como
educador permanentemente na praacutetica e na reflexatildeo sobre a praacutetica
A partir de 2003 ateacute setembro de 2005 fui convidada pela secretaacuteria de
Assistecircncia Social para coordenar o programa Fundo do Milecircnio para a Primeira
Infacircncia um Programa em Parceria com a UNESCO Fundaccedilatildeo Mauriacutecio Sirotsky
Sobrinho e o Banco Mundial que tinha como finalidade a formaccedilatildeo de 45
educadores de cinco instituiccedilotildees filantroacutepicas de educaccedilatildeo infantil
Apesar dos desafios enfrentados na realizaccedilatildeo desse programa considero
que foi possiacutevel desenvolver um trabalho intenso de leitura e pesquisa com as 40
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educadoras que dele participaram Dos projetos que elas elaboraram trecircs foram
aprovados para apresentaccedilatildeo no Congresso de Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul - Educasul
Em 2005 solicitei licenccedila natildeo remunerada de trecircs anos na Prefeitura
Municipal de Joinville a fim de coordenar o Programa de Jornal e Educaccedilatildeo em uma
empresa jornaliacutestica do mesmo municiacutepio
A empresa havia firmado uma parceria com a Secretaria de Educaccedilatildeo do
Estado de Santa Catarina a partir da Lei nordm 127732003 (SANTA CATARINA 2003
sp) que ―instituiu o Programa Leitura de Jornais e Revistas em Sala de Aula como
atividade multidisciplinar nos estabelecimentos puacuteblicos de ensino fundamental e
meacutedio no Estado de Santa Catarina
Por meio desse programa viajei por 36 cidades de Santa Catarina realizando
formaccedilatildeo sobre miacutedia e educaccedilatildeo para os professores da Rede Estadual de Ensino
bem como para alguns professores de escolas municipais uma vez que as
Secretarias de Educaccedilatildeo de alguns municiacutepios tambeacutem firmaram parceria Esse
trabalho me possibilitou conhecer o funcionamento de muitas escolas estaduais
municipais e uma aldeia indiacutegena em Xanxerecirc contribuindo para o desenvolvimento
de um olhar para a diversidade e a complexidade dos processos educacionais em
diferentes contextos
A experiecircncia que mais me aproximou contudo do que viria a ser meu objeto
de pesquisa no Mestrado em Educaccedilatildeo ocorreu em 2011 quando ingressei na
Rede Puacuteblica Federal de Ensino no Instituto Federal Catarinense na funccedilatildeo de
pedagogaorientadora educacional No mesmo ano no curso teacutecnico de ensino
meacutedio integrado iniciou uma estudante com deficiecircncia fiacutesica A estrutura do
cacircmpus poreacutem natildeo favorecia a mobilidade da aluna fazendo com que a equipe do
Nuacutecleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiacuteficas - NAPNE no qual
ingressei como representante passasse a discutir as adaptaccedilotildees arquitetocircnicas e
curriculares necessaacuterias para a promoccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo da aluna Saliento a
importacircncia do respaldo da direccedilatildeo do Instituto nesse periacuteodo na construccedilatildeo da
proposta de melhorias bem como na sua execuccedilatildeo O trabalho realizado de forma
colaborativa entre os profissionais envolvidos no Instituto bem como o
acompanhamento sistemaacutetico junto agrave aluna e sua famiacutelia foi essencial para o
desenvolvimento do seu processo de escolarizaccedilatildeo que se formou no ano de 2013
e atualmente estaacute cursando o ensino superior
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Em 2015 os integrantes do NAPNE do qual faccedilo parte estavam na fase de
estudos para a implementaccedilatildeo do atendimento educacional especializado no IFC
sempre respaldados pela equipe diretiva Percebo que o envolvimento dessa equipe
foi crucial para viabilizar as propostas planejadas O referido cacircmpus do IFC foi o
uacutenico no estado a solicitar um coacutedigo de vaga para o concurso de professora com
habilitaccedilatildeo especiacutefica para atuar no AEE a qual foi nomeada no final de 2015 jaacute
iniciando a estruturaccedilatildeo do trabalho com a equipe
Como orientadora educacional percebo que a parceria junto agrave supervisatildeo e
demais profissionais faz toda a diferenccedila na promoccedilatildeo de uma educaccedilatildeo para todos
pois natildeo haacute como discutir o processo de escolarizaccedilatildeo dos alunos sem abordar as
estrateacutegias de ensino que favoreccedilam sua aprendizagem e desenvolvimento
Nessa busca intensa por conhecimentos ingressei no Programa de Mestrado
em Educaccedilatildeo da UNIVILLE na linha de pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente
Lembro-me que no primeiro encontro de orientaccedilatildeo conversando com minha
professora orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro conseguimos definir
o objeto do presente estudo a relaccedilatildeo entre a equipe diretiva e o Atendimento
Educacional Especializado
Este estudo se insere em um projeto de pesquisa mais amplo denominado
―Interfaces entre Atendimento Educational Especializado trabalho docente
formaccedilatildeo de professores e poliacuteticas puacuteblicas (INTAE) vinculado ao Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e a Formaccedilatildeo Docente (GETRAFOR) do
Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE
Considerando que o municiacutepio de Joinville foi o mais estudado ateacute o
momento pelo grupo de pesquisa em questatildeo e que o referido projeto tem por
objetivo investigar as interfaces supracitadas na regiatildeo Sul do Brasil optou-se por
escolher como loacutecus desta investigaccedilatildeo o municiacutepio de Camboriuacute
Tal escolha justifica-se em funccedilatildeo de que no processo de mapeamento das
produccedilotildees acadecircmicas dos uacuteltimos cinco anos sobre ―gestatildeo escolarequipe diretiva
e ―inclusatildeo escolareducaccedilatildeo especialAEE1 ter-se identificado que o referido
municiacutepio natildeo havia sido contemplado por nenhum dos estudos ateacute entatildeo
realizados
1 Este mapeamento das produccedilotildees acadecircmicas foi realizado nas bases de dados da ANPEd CAPES
SciELO e BDTD abrangendo o periacuteodo de 2011 a 2015 Pode-se conferir o detalhamento do referido levantamento no Capiacutetulo 1 desta dissertaccedilatildeo
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A partir do exposto iniciou-se a construccedilatildeo do objetivo geral da pesquisa que
eacute investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento
Educacional Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo Os objetivos especiacuteficos
delineados a partir do objetivo geral foram constituiacutedos da seguinte forma
Revelar a compreensatildeo das equipes diretivas acerca do serviccedilo de AEE e do
puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial
Identificar o que as equipes diretivas escolares conhecem sobre o trabalho do
professor do AEE
Evidenciar os procedimentos que tecircm sido adotados pelas equipes diretivas
escolares na viabilizaccedilatildeo do atendimento educacional especializado
Para cada objetivo especiacutefico foi elaborada uma questatildeo de pesquisa que se
buscou responder no decorrer deste estudo 1) O que pensam as equipes diretivas
escolares sobre o serviccedilo do AEE e sobre o puacuteblico alvo da EE 2) Qual a
compreensatildeo que as equipes diretivas escolares tecircm sobre o trabalho do professor
de AEE 3) Quais satildeo os procedimentos que tecircm sido adotados pelas equipes
diretivas escolares para viabilizar o atendimento educacional especializado
Ressalto que a forma de compreender e viabilizar as poliacuteticas educacionais
expressa a concepccedilatildeo de gestatildeo escolar assumida pela equipe diretiva concepccedilatildeo
essa que permearaacute as accedilotildees realizadas na instituiccedilatildeo refletindo na conduccedilatildeo da
elaboraccedilatildeo no projeto pedagoacutegico nas accedilotildees e interaccedilatildeo com os estudantes
professores e comunidade escolar
Nesse sentido o presente estudo tem o intuito de contribuir com possiacuteveis
avanccedilos nas discussotildees acerca do papel da equipe diretiva no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial focalizando a
Rede Puacuteblica Municipal de Ensino de Camboriuacute
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1 POSSIBILIDADES E DESAFIOS DE UMA GESTAtildeO ESCOLAR DEMOCRAacuteTICAndashPARTICIPATIVA DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES NA VIABILIZACcedilAO DO AEE
Neste capiacutetulo apresentam-se algumas reflexotildees sobre a funccedilatildeo da escola a
organizaccedilatildeo e a gestatildeo escolar contextualizando as atribuiccedilotildees dos profissionais
que compotildeem a equipe diretiva escolar a partir da perspectiva de uma gestatildeo
democraacutetica-participativa Na sequecircncia aborda-se o Atendimento Educacional
Especializado um serviccedilo direcionado ao puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial2
procurando compreender as relaccedilotildees entre uma gestatildeo democraacutetica-participativa da
equipe diretiva e o processo de desenvolvimento desse serviccedilo especializado no
contexto escolar a partir de um balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira concernente
a essa temaacutetica nos uacuteltimos cinco anos (2011-2015) Esclarece-se que existem
outras formas de gestatildeo escolar contudo neste estudo optou-se em discutir a
gestatildeo democraacutetica-participativa por ser a forma de gestatildeo evidenciada nos
documentos oficiais nacionais inspirados em acordosdocumentos internacionais
relacionados agrave Educaccedilatildeo Especial procurando tensionar suas possibilidades e
impossibilidades no acircmbito escolar
11 Organizaccedilatildeo e Gestatildeo Escolar tecendo reflexotildees
Abordar noccedilotildees de organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar implica uma tarefa anterior
que diz respeito agrave discussatildeo da funccedilatildeo da escola no cenaacuterio atual Neste estudo
entende-se que a instituiccedilatildeo escolar eacute constituiacuteda socialmente e dessa forma ―[] eacute
determinada socialmente [] sofre a determinaccedilatildeo do conflito de interesses que
caracteriza a sociedade (SAVIANI 2009 p 28) Nesse sentido a escola eacute ao
mesmo tempo produto e produtora da sociedade em que estaacute inserida e pode tanto
contribuir para a manutenccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo social quanto para transformaacute-la
A funccedilatildeo da escola como ressaltou Paro (2012) eacute a de assegurar aos
estudantes a sistematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do conhecimento da cultura produzido
historicamente tendo em vista que eacute por meio desse conhecimento que poderatildeo se
2 Satildeo compreendidos como puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial pessoas com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo (BRASIL 2008)
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apoderar ―[] da ciecircncia da tecnologia da filosofia da arte enfim de todas as
conquistas culturais realizadas pela humanidade em seu desenvolvimento histoacuterico
(PARO 2012 p 135)
Convergindo com a discussatildeo Saviani (2008 p 13) afirmou que ―para existir
a escola natildeo basta a existecircncia do saber sistematizado Eacute necessaacuterio viabilizar as
condiccedilotildees de sua transmissatildeo e assimilaccedilatildeo de modo que o estudante se aproprie
desse saber de forma contextualizada propiciando conexotildees com outros saberes jaacute
apreendidos convergindo para o desenvolvimento humano dos estudantes e sua
inserccedilatildeo criacutetica e criativa na sociedade
Nessa perspectiva segundo Dourado (2007 p 923) ―a educaccedilatildeo eacute entendida
como processo amplo de apropriaccedilatildeo da cultura historicamente produzida pelo
homem e a escola como loacutecus privilegiado de apropriaccedilatildeo e ressignificaccedilatildeo desses
conhecimentos Eacute nesse loacutecus que se encontra ao se considerar a maioria3 das
escolas puacuteblicas de ensino fundamental a atuaccedilatildeo da equipe diretiva que segundo
Vasconcellos (2013 p 51) eacute ―composta pelo Diretor(a) Supervisor(a)Coordenador
Pedagoacutegico e Orientador(a) Educacional profissionais que desempenham um papel
de referecircncia na escola e podem contribuir de modo significativo no processo de
escolarizaccedilatildeo dos alunos ao atuarem de forma articulada como uma equipe no
acircmbito escolar
Sobre a gestatildeo escolar Libacircneo (2015) apresentou uma contribuiccedilatildeo no que
tange agrave conceituaccedilatildeo das expressotildees organizar administrar e gerir ajudando a
pensar o sentido do termo ―gestatildeo escolar O autor expocircs que ldquoorganizar significa
―[] articular as partes de um todo prover as condiccedilotildees necessaacuterias para realizar
uma accedilatildeo administrar eacute o ato de governar de por em praacutetica um conjunto de regras
e gerir significa administrar dirigir gerenciar (LIBAcircNEO 2015 p 85 grifos nossos)
A partir dessa forma de compreender os conceitos pode-se dizer que a
organizaccedilatildeo a administraccedilatildeo e a gestatildeo escolar referem-se aos princiacutepios e
procedimentos relacionados agrave atividade de planejar o trabalho da escola utilizando
de forma responsaacutevel os recursos materiais financeiros e intelectuais disponiacuteveis
3 Optou-se por utilizar a expressatildeo ―a maioria por entender que existem especificidades entre as
esferas governamentais no que tange agrave nomenclatura eou agraves funccedilotildees relativas agrave gestatildeo escolar Por exemplo nas escolas Estaduais de Santa Catarina segundo a Lei Complementar nordm 491992 (SANTA CATARINA 1992) as funccedilotildees de supervisor e orientador satildeo denominadas como Especialista em Assuntos Educacionais e Consultor Educacional
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bem como a gestatildeo orientaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo do trabalho junto aos profissionais e
estudantes que compotildeem o coletivo escolar
Salienta-se que as formas de organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar bem como as
atribuiccedilotildees da equipe diretiva foram se constituindo historicamente nas sociedades
Contudo esse processo de constituiccedilatildeo natildeo ocorreu e natildeo ocorre de forma linear
em cada momento histoacuterico econocircmico e poliacutetico de uma sociedade A atuaccedilatildeo da
equipe diretiva no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes pode ou natildeo sofrer
modificaccedilotildees ao longo do tempo mas sempre foi e ainda eacute subsidiada por
concepccedilotildees de educaccedilatildeo escolar Como exemplo podemos citar o autor Paro
(1987) que ilustra o papel do diretor no periacuteodo da poacutes-ditadura militar (1964-1985)
o qual ainda caracterizava seu trabalho de acordo com uma abordagem burocraacutetica
autoritaacuteria e conservadora que se tornara comum na vigecircncia desse regime de
governo Sobre essa forma de realizar a funccedilatildeo diretiva na escola o autor explana
[] o maior obstaacuteculo que vejo nos dias de hoje eacute precisamente a funccedilatildeo do diretor que o coloca autoridade uacuteltima no interior da escola Esta regra astutamente mantida pela classe dominante atraveacutes do Estado confere um caraacuteter autoritaacuterio ao diretor na medida que estabelece uma hierarquia na qual ele deve ser o chefe de quem emanam todas as ordens na instituiccedilatildeo escolar leva a dividir os diversos setores no interior da escola (PARO 1987 p 52)
De acordo com o autor supracitado a gestatildeo do diretor nesse periacuteodo
destacava-se nos espaccedilos escolares pelo centralismo autoritarismo pelo caraacuteter
burocraacutetico administrativo que se sobressaiacutea em detrimento ao pedagoacutegico Nesse
modelo instaurado conferia-se ecircnfase agrave distribuiccedilatildeo rigorosa das tarefas e nessa
loacutegica cada um preocupava-se com a realizaccedilatildeo de seu trabalho de forma
individual caracterizando uma gestatildeo pouco articulada e com accedilotildees fragmentadas
Diante do exposto compreende-se que a gestatildeo escolar eacute um fenocircmeno
complexo que estaacute associado a concepccedilotildees especiacuteficas acerca do que eacute gestatildeo e
do que eacute escola que por sua vez estatildeo imbricadas a um contexto mais amplo que
envolve aspectos econocircmicos poliacuteticos e culturais de uma sociedade Para entender
as diferentes concepccedilotildees que se evidenciam no estudo da organizaccedilatildeo e gestatildeo
escolar recorre-se agrave Libacircneo (2015) que sinaliza a existecircncia de duas concepccedilotildees
bem diferentes em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola a primeira que eacute uma concepccedilatildeo
cientiacutefico-racional na qual ―[] prevalece a visatildeo mais burocraacutetica e tecnicista de
escola A escola eacute tomada como uma realidade objetiva e neutra podendo ser
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planejada organizada controlada de modo a alcanccedilar oacutetimos resultados nos
iacutendices de eficaacutecia e eficiecircncia (LIBAcircNEO 2015 p 102 grifo nosso) A segunda
concepccedilatildeo seria a ―sociocriacutetica na qual a organizaccedilatildeo escolar eacute ―[] como um
sistema que agrega pessoas destacando-se o caraacuteter intencional de suas accedilotildees a
importacircncia das interaccedilotildees sociais no seio do grupo e as relaccedilotildees da escola com o
contexto sociocultural e poliacutetico (LIBAcircNEO 2015 p 102)
Compreende-se assim que a escola natildeo eacute um espaccedilo neutro e sim um
ambiente constituiacutedo e constitutivo de relaccedilotildees sociais imediatas e mediatas o que
pressupotildee que a tomada de decisotildees seja discutida coletivamente propiciando aos
profissionais da escola a participaccedilatildeo na discussatildeo das poliacuteticas educacionais das
dificuldades no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes entre outros desafios do
cotidiano escolar
A gestatildeo escolar aleacutem de ser discutida por autores como Paro (1987) e
Libacircneo (2015) tambeacutem eacute discursada nos documentos oficiais da educaccedilatildeo
brasileira Nesse aspecto questiona-se como os gestores dos sistemas de ensino4
interpretam compreendem e subjetivam a gestatildeo escolar expressa nas poliacuteticas
educacionais e por conseguinte como esses entendimentos satildeo disponibilizados e
posteriormente subjetivados pelas equipes diretivas escolares
Considerando a complexidade de que abarca a gestatildeo escolar optou-se por
tomar os documentos oficiais como um ponto de partida para evidenciar possiacuteveis
convergecircncias eou divergecircncias entre os discursos sobre gestatildeo e o que se
vivencia no contexto escolar
Nessa direccedilatildeo nota-se que as poliacuteticas oriundas de organismos
internacionais5 delinearam e permearam a constituiccedilatildeo das poliacuteticas educacionais no
Brasil e a partir da deacutecada de 90 jaacute era possiacutevel identificar fortes impactos de
4 Segundo Saviani (2010 380-381) o Brasil ainda natildeo dispotildee de um sistema de ensino mas sim de
vaacuterios sistemas de ensino ―Daiacute expressotildees como sistema de ensino fundamentallsquo sistema de ensino meacutediolsquo sistema de ensino profissionallsquo sistema de educaccedilatildeo baacutesicalsquo sistema de ensino superiorlsquo sistema escolarlsquo sistema estadual de ensinolsquo sistema municipal de ensinolsquo sistema federal de ensinolsquo sistema de ensino comercial (industrial agriacutecola)lsquo etc como se fossem coisas diferentes quando na verdade satildeo apenas partes do mesmo sistema Para o ator um sistema pode ser definido como a unidade de vaacuterios elementos intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto coerente e operante conclui-se que o Sistema Nacional de Educaccedilatildeo eacute a unidade dos vaacuterios aspectos ou serviccedilos educacionais mobilizados por determinado paiacutes intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto coerente que opera eficazmente no processo de educaccedilatildeo da populaccedilatildeo do referido paiacutes 5Segundo Frigotto e Ciavatta (2003 p 96) ―os organismos internacionais como o Fundo Monetaacuterio
Internacional (FMI) Banco Mundial (BIRD) o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) passam a ter o papel de tutoriar as reformas dos Estados nacionais mormente dos paiacuteses do capitalismo perifeacuterico e semiperifeacuterico
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diretrizes educacionais internacionais nos sistemas de ensino e nas instituiccedilotildees
escolares brasileiras abrangendo mudanccedilas nos curriacuteculos nas responsabilidades
dos professores da gestatildeo escolar e as formas de participaccedilatildeo da famiacutelia A gestatildeo
democraacutetica enfatizada em referenciais internacionais como a Conferecircncia Mundial
sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) foi uma das premissas que comeccedilou a
figurar progressivamente em algumas poliacuteticas brasileiras
Eacute possiacutevel identificar que os documentos legais de acircmbito nacional tecircm
salientado a ―gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas Tem-se por exemplo a
Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seu art 206 preconiza que o ensino deve ser
ministrado com base no princiacutepio de gestatildeo democraacutetica A Lei de Diretrizes e Bases
da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) por sua vez prevecirc em seu art 14 que ―os
sistemas de ensino definiratildeo as normas da gestatildeo democraacutetica conforme os
princiacutepios de participaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo do Projeto
Pedagoacutegico e da comunidade escolar e local em Conselhos Escolares O Plano
Nacional de Educaccedilatildeo - PNE sancionado pela Lei no 13005 de 25 de junho de
2014 em seu art 2 inciso VI tambeacutem evidencia a ―promoccedilatildeo do princiacutepio da gestatildeo
democraacutetica na educaccedilatildeo puacuteblica de assegurar condiccedilotildees no prazo de dois anos
para a efetivaccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da educaccedilatildeo associada a criteacuterios teacutecnicos
de meacuterito e desempenho e agrave consulta puacuteblica (BRASIL 2014)
Uma vez que eacute conferida essa ecircnfase agrave gestatildeo democraacutetica nos documentos
oficiais conveacutem esclarecer o que se entende a esse respeito A Lei de Diretrizes e
Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) por exemplo associa uma gestatildeo
democraacutetica agrave participaccedilatildeo dos profissionais da escola e de modo mais abrangente
da comunidade escolar e local nesse processo No entanto seria a gestatildeo
democraacutetica sinocircnimo de uma gestatildeo participativa Entende-se que a participaccedilatildeo
de todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo eacute um dos elementos de uma
gestatildeo escolar democraacutetica mas que essa vai aleacutem da participaccedilatildeo Neste estudo
compreende-se a gestatildeo democraacutetica como um movimento de descentralizaccedilatildeo do
poder que supotildee a participaccedilatildeo de todos no planejamento das accedilotildees discussatildeo e
tomadas de decisotildees no acircmbito da escola
Destaca-se que uma gestatildeo democraacutetica-participativa6 oportuniza uma accedilatildeo
articulada e integrada entre diretor supervisor e orientador supotildee que os trecircs teratildeo
6 Optou-se por utilizar a expressatildeo democraacutetica-participativalsquo com hiacutefen inspirada em Libacircneo
(2015) por entender que democracia e participaccedilatildeo satildeo processos interdependentes natildeo eacute possiacutevel
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autonomia de atuaccedilatildeo no acircmbito da escola o supervisor propondo formaccedilatildeo aos
professores em articulaccedilatildeo com o orientador e apoio do diretor o orientador
acompanhando o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes discutindo com o
supervisor planejando estrateacutegias e abrindo a discussatildeo juntamente aos
professores e junto agraves famiacutelias com o apoio do diretor em prol do processo de
escolarizaccedilatildeo Nessa perspectiva enfatiza-se que a ―distribuiccedilatildeo do poder entre os
vaacuterios setores da escola o diretor natildeo estaraacute perdendo poder [] mas estaraacute
dividindo responsabilidade E ao acontecer isso quem ganha poder eacute a escola
(PARO 1987 p 52)
Nessa perspectiva Libacircneo (2007) esclarece que a gestatildeo democraacutetica
discursada nos documentos oficiais no entanto eacute concebida e interpretada de
formas diferentes pela sociedade civil e pela inciativa governamental Enquanto por
um lado a sociedade civil a concebe como uma conquista que pode possibilitar
maior participaccedilatildeo da comunidade escolar nos processos decisoacuterios da escola por
outro lado para a iniciativa governamental representa uma forma de diminuiccedilatildeo do
papel do Estado para prover mas ampliado para regular e gerenciar A participaccedilatildeo
nessa perspectiva eacute entendida como uma forma consensual para a implementaccedilatildeo
dos ditames do Estado Tal pressuposto por sua vez tem seu fundamento nas
reformas consolidadas no governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-1998
1998-2002) nos anos de 1990 com a aprovaccedilatildeo do Plano Diretor da Reforma do
Aparelho do Estado em 19957 o qual estabeleceu como princiacutepios as accedilotildees como
descentralizaccedilatildeo autonomia das escolas racionalizaccedilatildeo dos recursos financeiros e
participaccedilatildeo da comunidade escolar
Em meio a esses tensionamentos Michels (2006 p408) ressalta que
[] eacute no embate entre a proposiccedilatildeo poliacutetica e o cotidiano da escola que esta vai constituindo-se e organizando-se Eacute justamente nessa relaccedilatildeo que se faz importante refletir sobre a poliacutetica educacional em curso e o papel atribuiacutedo agrave educaccedilatildeo e agrave escola no Brasil []
Nessa perspectiva pode-se evidenciar que o modo de gestatildeo proposto nessa
reforma representa uma agenda de governo em que o Estado transfere parte de
falar de um sem falar de outro No entanto ainda que imbricados satildeo processos que se diferenciam a participaccedilatildeo estaacute contida na democracia mas para haver uma gestatildeo democraacutetica eacute preciso mais do que a participaccedilatildeo de todos Como afirmou Libacircneo (2015) eacute preciso assegurar a aprendizagem de todos os alunos 7 Plano diretor da reforma do aparelho do Estado BRASIL Ministeacuterio de Administraccedilatildeo Federal e da Reforma do
Estado Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado Brasiacutelia 1995
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suas responsabilidades para os sistemas de ensino e esses por conseguinte para
as escolas mas ao mesmo tempo intensifica sua forccedila reguladora junto a eles
Entretanto mesmo possuindo uma autonomia relativa8 em relaccedilatildeo agrave
organizaccedilatildeo e funcionamento das escolas as equipes diretivas podem vislumbrar
nesse contexto de reforma o desenvolvimento de uma gestatildeo participativa como um
modo de envolver o coletivo escolar nas discussotildees dos processos decisoacuterios da
escola de forma criacutetica e criativa como uma alternativa para unir forccedilas no interior
da escola e reivindicar junto ao Estado as condiccedilotildees necessaacuterias para assegurar
aos estudantes seu direito de aprender
Contudo reforccedila-se que uma gestatildeo participativa por si soacute natildeo resolve todos
os problemas da escola Ainda que seja imprescindiacutevel para uma gestatildeo
democraacutetica a participaccedilatildeo ―por si soacute natildeo eacute suficiente para a democratizaccedilatildeo da
escola pois natildeo haacute democratizaccedilatildeo verdadeira sem que seja assegurado aos
alunos o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais por meio da
apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos produzidos e acumulados historicamente (LIBAcircNEO
2015 p 24)
Identifica-se na concepccedilatildeo de Libacircneo (2015) uma ecircnfase agrave finalidade da
escola Nesse sentido destaca-se a importacircncia da equipe diretiva em organizar
suas accedilotildees tambeacutem para proporcionar momentos de discussatildeo das poliacuteticas
educacionais do processo ensino-aprendizagem e a partir daiacute traccedilar as estrateacutegias
necessaacuterias para que a escola consiga desempenhar seu papel central no processo
de escolarizaccedilatildeo de seus estudantes que eacute a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos
produzidos historicamente da cultura da ciecircncia e da tecnologia
Um exemplo de como a organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar podem proporcionar
esses momentos e se constituir como um processo participativo e democraacutetico eacute a
8 Autonomia Relativa no caso do sistema puacuteblico de ensino [] eacute sempre relativa e eacute condicionada
quer pelos poderes de tutela e de superintendecircncia do governo e da administraccedilatildeo puacuteblica quer eventualmente pelo poder local no quadro de um processo de descentralizaccedilatildeo [] (BARROSO 1996 p 20) Ainda de acordo com o autor ―a autonomia eacute um conceito relacional (sempre somos autocircnomos de algueacutem ou de alguma coisa) pelo que a sua accedilatildeo exerce sempre num contexto de interdependecircncias e num sistema de relaccedilotildees A autonomia eacute tambeacutem um conceito que exprime sempre um certo grau de relatividade somos mais ou menos autocircnomos podemos ser autocircnomos em relaccedilatildeo a umas coisas e natildeo o ser em relaccedilatildeo a outras A autonomia eacute por isso uma maneira de agir orientar as diversas dependecircncias em que os indiviacuteduos e os grupos se encontram no seu meio com suas proacuteprias leis (BARROSO 1996 p 17)
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construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico da escola Libacircneo (2015) destacou que
essa construccedilatildeo envolve a contemplaccedilatildeo de alguns itens a saber
a) Organizaccedilatildeo da vida escolar Trata-se da organizaccedilatildeo dos meios de trabalho escolar em funccedilatildeo de sua especificidade e dos objetivos educacionais propiciando as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem dos alunos [] dizem respeito a estrutura organizacional legislaccedilatildeo escolar organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico recursos materiais didaacuteticos financeiros clima de trabalho sistema participativo de tomadas de decisatildeo [] b) Organizaccedilatildeo do processo ensino aprendizagem [] suportes pedagoacutegicos necessaacuterios agrave organizaccedilatildeo do trabalho escolar Compreende o curriacuteculo a organizaccedilatildeo pedagoacutegico-didaacutetica formaccedilatildeo continuada conselhos de classe [] c) Organizaccedilatildeo das atividades de apoio teacutecnico ndash administrativo [] abrange as atividades da secretaria escolar dos especialistas pedagoacutegicos serviccedilos auxiliares serviccedilos gerais [] d) Organizaccedilatildeo de atividades que asseguram a relaccedilatildeo entre escola e comunidade [] niacuteveis superiores de gestatildeo do sistema escolar os pais as organizaccedilotildees poliacuteticas e comunitaacuterias (LIBAcircNEO 2015 p 170 grifos nossos)
Realccedila-se que esse processo de construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico eacute
perpassado por questotildees culturais sociais e poliacuteticas dos indiviacuteduos participantes
das poliacuteticas puacuteblicas e da realidade material de cada escola e nesse sentido se
configura por tensotildees e contradiccedilotildees Contudo ao promover espaccedilos para essa
construccedilatildeo de forma conjunta e dialoacutegica a escola pode se fortalecer como espaccedilo
democraacutetico envolvendo todos os profissionais e demais participantes que atuam
nesse espaccedilo para a realizaccedilatildeo dos objetivos escolares construiacutedos coletivamente
O projeto pedagoacutegico ao ser permanentemente revisitado acompanhado e
avaliado pode permitir que cada profissional reconheccedila suas responsabilidades
discuta questotildees pertinentes ao processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes e possa
construir proposiccedilotildees de forma coletiva para o enfrentamento das questotildees
deflagradas
Ainda assim mesmo que o projeto pedagoacutegico seja um importante
instrumento por meio do qual se possa efetivar uma gestatildeo democraacutetica-
participativa somente ele natildeo garante sua efetivaccedilatildeo Do mesmo modo ainda que
se preconize uma gestatildeo democraacutetica nos documentos oficiais isso isoladamente
natildeo assegura que a gestatildeo seja realizada de forma democraacutetica-participativa nas
escolas Isso porque como expocircs Michels (2004 p 44)
[] os sujeitos envolvidos [no processo de escolarizaccedilatildeo] natildeo tomam a poliacutetica como algo pronto e acabado Ao contraacuterio por mais que as
29
legislaccedilotildees e as normas instituiacutedas conformem praacuteticas estas seratildeo apreendidas por sujeitos que daratildeo vida a estes encaminhamentos poliacuteticos Os sujeitos envolvidos entendem as indicaccedilotildees poliacuteticas de maneira distinta conforme suas vivecircncias seus interesses sua organizaccedilatildeo profissional entre outros Cada instituiccedilatildeo educacional acaba por ―implementar as poliacuteticas agrave sua maneira
Nessa direccedilatildeo segundo Paro (2012 p 162) a gestatildeo escolar constitui-se
―[] como um instrumento que como tal pode articular-se tanto para a conservaccedilatildeo
do status quo quanto para a transformaccedilatildeo social e tal articulaccedilatildeo guarda profunda
relaccedilatildeo com o modo como cada gestatildeo compreende as poliacuteticas e diretrizes
educacionais A forma de gestatildeo e organizaccedilatildeo escolar nesse sentido constitui e eacute
constituiacuteda pelas posiccedilotildees poliacuteticas e concepccedilotildees de homem e sociedade funccedilatildeo da
escola estudante da equipe diretiva que por sua vez podem ser vinculadas ao
contexto histoacuterico econocircmico poliacutetico social e cultural em que a escola estaacute
inserida
Com base nessa perspectiva de gestatildeo escolar no proacuteximo toacutepico seratildeo
discutidas as atribuiccedilotildees da equipe formada pelo(a) Diretor(a)
Supervisor(a)Coordenador(a) e Orientador(a) Educacional aqui denominada de
equipe diretiva escolar a fim de elucidar seu papel diante desses princiacutepios
democraacutetico-participativos que considere o objetivo primeiro da escola que eacute a
apropriaccedilatildeo de forma criacutetica e criativa pelos estudantes dos conhecimentos
historicamente produzidos pela humanidade
12 As atribuiccedilotildees da Equipe Diretiva Escolar na Perspectiva da Gestatildeo
Democraacutetica-Participativa
Para iniciar as discussotildees sobre as atribuiccedilotildees das equipes diretivas e a
complexidade de cada membro que compotildee essas equipes de trabalho buscou-se
as anaacutelises das pesquisas empreendidas por Ligeiro (2007) e Bastos (2012) com
gestores escolares sobre a temaacutetica gestatildeo escolar da escola puacuteblica nas quais as
autoras evidenciaram que gestatildeo democraacutetica-participativa natildeo eacute um trabalho
simples ao contraacuterio eacute uma accedilatildeo permeada por tensotildees e contradiccedilotildees As autoras
observaram ainda que a participaccedilatildeo do coletivo escolar nas discussotildees acerca do
processo ensino-aprendizagem bem como na construccedilatildeo das diretrizes da escola
30
se constitui uma das vias possiacuteveis na construccedilatildeo da melhoria do processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes Como salientou Ligeiro (2007) com base nas
compreensotildees das diretoras
[] a gestatildeo democraacutetica aponta para uma mudanccedila na forma de administrar a instituiccedilatildeo escolar a partir do reconhecimento da participaccedilatildeo da comunidade nas decisotildees sobre as questotildees educativas Esse reconhecimento eacute necessaacuterio na medida em que passa a fazer parte da realidade escolar adquirindo um significado poliacutetico que eacute internalizado pelos sujeitos como um direito e natildeo como benevolecircncia da direccedilatildeo Essa mudanccedila de comportamento por parte da direccedilatildeo vem se processando a partir da escolha eletiva dos dirigentes pela comunidade em curso no municiacutepio de Belo Horizonte haacute mais de dez anos rompendo com a utilizaccedilatildeo do cargo de diretor para fins poliacuteticos [] verificou-se ainda avanccedilos na legitimaccedilatildeo de espaccedilo de participaccedilatildeo [] com a comunidade externa [] (LIGEIRO 2007 p169)
Por sua vez Paro (2016a) ao se debruccedilar em pesquisas sobre a temaacutetica
gestatildeo democraacutetica da escola puacuteblica evidenciou que este modo de gestatildeo eacute algo a
ser conquistado O autor reitera ainda que
[] natildeo haacute duacutevida de que podemos pensar na escola como instituiccedilatildeo que pode contribuir para a transformaccedilatildeo social Mas uma coisa eacute falar de suas possibilidades uma coisa eacute falar em teselsquo falar daquilo que a escola poderia ser Uma coisa eacute expressar a crenccedila de que na medida em que consiga na forma e no conteuacutedo levar as camadas trabalhadoras a se apropriarem de um saber historicamente acumulado e desenvolver a consciecircncia criacutetica a escola pode concorrer para a transformaccedilatildeo social outra coisa bem diferente eacute considerar que a escola que aiacute estaacute esteja cumprindo essa funccedilatildeo (PARO 2016a p 15)
Para tanto a tarefa inicial deve consistir ―em tomar consciecircncia das condiccedilotildees
concretas ou das contradiccedilotildees concretas que apontam para a viabilidade de um
projeto de democratizaccedilatildeo das relaccedilotildees no interior da escola (PARO 2016a p 13)
O autor relatou ainda que a implementaccedilatildeo de uma gestatildeo democraacutetica na escola
eacute processual e requer para sua concretizaccedilatildeo que um sistema hieraacuterquico de
autoridade9 posto agraves escolas seja repensado e transformado
Nessa direccedilatildeo propotildee-se discutir a atuaccedilatildeo da equipe diretiva agrave luz da teoria
da gestatildeo democraacutetica-participativa embora se compreenda que esse tipo de
gestatildeo estaacute por se constituir na maioria das escolas brasileiras
9O sistema hieraacuterquico de autoridade se figura quando o Estado deteacutem o controle das accedilotildees do diretor ao delegar a ele o poder lhe conferindo uma autonomia relativa e este por sua vez controla ou tenta controlar o coletivo escolar por meio da divisatildeo riacutegida do trabalho estabelecendo uma hierarquia de funccedilotildees ―Assim natildeo eacute possiacutevel falar das estrateacutegias para transformar o sistema de autoridade no interior da escola em direccedilatildeo a uma efetiva participaccedilatildeo de seus diversos setores sem levar em conta a condiccedilatildeo que vive o diretor em seus respectivos sistemas de ensino e por conseguinte na escola (PARO 2016a p 15)
31
Ressalta-se desse modo que natildeo haacute um padratildeo na compreensatildeo das
especificidades das funccedilotildees de Diretor(a) Supervisor(a)Coordenador(a) e
Orientador(a) Educacional O que se procura ilustrar a seguir satildeo algumas
possibilidades de atuaccedilatildeo que ao mesmo tempo os diferenciam no que tange ao
especiacutefico de suas funccedilotildees e os aproximam como equipe diretiva que se reuacutene em
torno de objetivos comuns criar estrateacutegias de participaccedilatildeo coletiva na organizaccedilatildeo
e funcionamento dos espaccedilos e tempos da escola tendo em vista as poliacuteticas
educacionais vigentes buscando propiciar condiccedilotildees de trabalho para todos os
profissionais Estes objetivos por sua vez estatildeo relacionados a um objetivo maior
que se refere agrave escolarizaccedilatildeo dos estudantes por meio da apropriaccedilatildeo sistematizada
dos conhecimentos produzidos historicamente
Com relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos profissionais de educaccedilatildeo para administraccedilatildeo
planejamento inspeccedilatildeo supervisatildeo e orientaccedilatildeo educacional para a educaccedilatildeo
baacutesica conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996)
em seu art 64ordm pode-se dizer que deve ser ―[] realizada em cursos de graduaccedilatildeo
em Pedagogia ou em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo a criteacuterio da instituiccedilatildeo de ensino
garantida nesta formaccedilatildeo a base comum nacional
Ainda no que tange agrave formaccedilatildeo da equipe diretiva desde 2006 a partir da
Resoluccedilatildeo nordm 1 do Conselho Nacional de EducaccedilatildeoConselho Pleno (BRASIL
2006) foram instituiacutedos os cursos de licenciatura em Pedagogia com formaccedilatildeo
plena propiciando aao graduadao exercer quaisquer das funccedilotildees que antes
exigiam habilitaccedilotildees especiacuteficas durante a graduaccedilatildeo como por exemplo a funccedilatildeo
de supervisatildeocoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo educacional
No tocante agraves responsabilidades da equipe diretiva escolar ressalta-se que
os profissionais que a compotildee no caso da rede puacuteblica tecircm suas atribuiccedilotildees
regulamentadas pela legislaccedilatildeo de seus referidos sistema de ensino (LIBAcircNEO
2015) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996)
estabelece em seu art 12ordm que as instituiccedilotildees de ensino satildeo responsaacuteveis pelas
seguintes accedilotildees
[] I ndash elaborar e executar sua proposta pedagoacutegica II ndash administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros III ndash assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas IV ndash velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente V ndash prover meios para a recuperaccedilatildeo dos alunos de menor rendimento
32
VI ndash articular-se com as famiacutelias e a comunidade criando processos de integraccedilatildeo da sociedade com a escola VII ndash informar pai e matildee conviventes ou natildeo com seus filhos e se for o caso os responsaacuteveis legais sobre a frequecircncia e rendimento dos alunos bem como sobre a execuccedilatildeo da proposta pedagoacutegica da escola VIII ndash notificar ao conselho tutelar do municiacutepio ao juiz competente da comarca e ao respectivo representante do Ministeacuterio Puacuteblico a relaccedilatildeo dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei (BRASIL 1996 sp)
Percebe-se que essas accedilotildees estabelecidas na referida lei englobam as
atribuiccedilotildees dos integrantes da equipe diretiva permitindo apresentar algumas accedilotildees
pertinentes a cada participante da equipe diretiva escolar assim como apresentar
possibilidades de accedilotildees que podem ser realizadas de forma compartilhada
Iniciando pela funccedilatildeo do Diretor(a) essa parece englobar a criaccedilatildeo de
condiccedilotildees para reflexatildeo e tomada de decisatildeo coletiva acerca dos processos
educacionais Nesse sentido sua funccedilatildeo remete a accedilotildees como articular
acompanhar e mediar esses processos focalizando tanto seus aspectos
burocraacuteticos quanto pedagoacutegicos Isso implica promover de acordo com as
condiccedilotildees possiacuteveis uma estrutura e organizaccedilatildeo nos espaccedilos escolares que
promovam a escolarizaccedilatildeo de seus estudantes Paro (2010 p766) salienta que o(a)
Diretor(a)
[] ocupa uma posiccedilatildeo natildeo apenas estrateacutegica mas tambeacutem contraditoacuteria na gestatildeo da escola Esse diretor por um lado eacute considerado a autoridade maacutexima no interior na escola e isso pretensamente lhe daria um grande poder e autonomia mas por outro lado ele acaba se constituindo de fato em virtude de sua condiccedilatildeo de responsaacutevel uacuteltimo pelo cumprimento da Lei e da ordem da escola em mero proposto do Estado Uma segunda contradiccedilatildeo adveacutem do fato de que por um lado ele deve deter uma competecircncia teacutecnica e um conhecimento dos princiacutepios e meacutetodos necessaacuterios a uma adequada administraccedilatildeo dos recursos da escola mas por outro lado sua falta de autonomia em relaccedilatildeo aos escalotildees superiores e a precariedade das condiccedilotildees concretas [] [tornam-se obstaacuteculos] mdash o que estaria a merecer maior nuacutemero de anaacutelises e estudos aprofundados as quais discutem a natureza das atividades do diretor escolar e as possiacuteveis adequaccedilotildees e contradiccedilotildees dessa praacutetica diante do caraacuteter poliacutetico-pedagoacutegico da escola
Desse modo as accedilotildees do Diretor(a) dentro de um projeto coletivo e
participativo precisam estar articuladas com as accedilotildees dos demais profissionais a
exemplo do Supervisor(a)Coordenador(a) e do Orientador(a) Educacional
33
Em se tratando especificamente do Supervisor(a) Educacional10 Zieger
(2013 p 88) destaca que ele eacute o responsaacutevel na escola com o apoio do Diretor por
planejar de forma coletiva a ―construccedilatildeo do projeto poliacutetico-pedagoacutegico e de outros
projetos coordenar a construccedilatildeo do planejamento e implementaccedilatildeo de curriacuteculo e
programas ofertar apoio pedagoacutegico agrave equipe de docente com maior atenccedilatildeo agraves
atividades de ensino e avaliaccedilatildeo que propiciem a escolarizaccedilatildeo efetiva dos
estudantes Eacute responsaacutevel tambeacutem por planejar juntamente com o Diretor(a) e
Orientador(a) as reuniotildees pedagoacutegicas e a formaccedilatildeo continuada dos professores
possibilitando a reflexatildeo de sua praacutetica e propiciando assim quando necessaacuterio
ajustes nas estrateacutegias e metodologias com vistas agrave escolarizaccedilatildeo do estudante
Sobre o Orientador(a) Educacional Grinspun (2008 p 77) destaca que
atualmente esse ―[] tem o papel de mediaccedilatildeo na escola isto eacute [a Orientaccedilatildeo
Educacional] se reveste de mais um campo na escola para analisar discutir refletir
come para todos que atuam na escola ndash em especial os alunos tendo em vista o
trabalho pedagoacutegico e o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Rangel (2013) salienta que existem muitas atividades que podem ser
desenvolvidas de forma compartilhada entre Supervisor(a)Coordenador(a)
Orientador(a) e Diretor(a) com o intuito de contribuir e potencializar o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes tais como
[] a Formaccedilatildeo continuada de professores por meio de estudos dos problemas cotidianos e de conceitos teoacutericos e situaccedilotildees praacuteticas de interesse na superaccedilatildeo e nos avanccedilos do trabalho pedagoacutegico incluindo estudos sobre princiacutepios de ensino que favorecem a aprendizagem e a dinamizaccedilatildeo das aulas estudos sobre teorias de aprendizagem estudos e conceitos e procedimentos de avaliaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Conjunta de Conselho de Classe nos quais os professores se reuacutenem natildeo soacute para a avaliaccedilatildeo do aproveitamento escolar dos alunos mas para avaliaccedilatildeo do processo de ensino e aprendizagem Coordenaccedilatildeo conjunta dos conselhos de alunos nos quais os alunos se reuacutenem natildeo soacute para avaliaccedilatildeo das aulas como para a avaliaccedilatildeo de suas turmas em aspectos de participaccedilatildeo relaccedilotildees interesse motivaccedilotildees Coordenaccedilatildeo de encontros entre alunos e professores para tratar de questotildees que possam estar dificultando o entrosamento e o diaacutelogo Realizaccedilatildeo de encontros com pais sobre temas de interesse educativo que auxiliem as relaccedilotildees de aproximaccedilotildees na famiacutelia e entre ela e a escola sem perder de vista os temas que emergem das
10
Placco Souza e Almeida (2012 p 758) salientam que o termo ―supervisatildeo educacional coordenaccedilatildeo pedagoacutegica [] pode variar de acordo com o Muniacutecipio Estado ou regiatildeo
34
desigualdades e tensotildees sociais e suas consequecircncias (RANGEL 2013 p16 grifos nossos)
Essas atividades compartilhadas demonstram o quanto a equipe diretiva
escolar pode construir e desenvolver coletivamente no sentido de (re)pensar e
(re)elaborar o trabalho realizado na escola focalizando o processo de escolarizaccedilatildeo
dos estudantes e respeitando suas singularidades
Percebe-se ainda a relevacircncia da equipe diretiva no sentido de planejar
momentos de construccedilatildeo coletiva junto aos professores para que esses possam
dialogar e discutir sobre o processo de escolarizaccedilatildeo com o intuito de construir
estrateacutegias de ensino que propiciem alternativas de escolarizaccedilatildeo mais efetiva para
os estudantes Evidencia-se poreacutem que a constituiccedilatildeo de um processo de gestatildeo
escolar democraacutetico-participativo se apresenta como um desafio para as escolas
que por vezes natildeo encontram condiccedilotildees objetivas para atuarem dessa forma
No proacuteximo subcapiacutetulo buscar-se-aacute compreender as relaccedilotildees entre uma
gestatildeo escolar democraacutetica-participativa e o Atendimento Educacional
Especializado focalizando o processo de desenvolvimento desse serviccedilo no
contexto escolar
13 Equipe Diretiva na organizaccedilatildeo escolar frente ao AEE aproximaccedilotildees e
distanciamentos
Para iniciar uma discussatildeo a respeito da gestatildeo escolar em relaccedilatildeo agrave
Educaccedilatildeo Especial e mais especificamente ao Atendimento Educacional
Especializado optou-se por primeiramente elencar alguns documentos legais que
podem subsidiar a atuaccedilatildeo da equipe diretiva escolar nesse acircmbito Dentre esses
documentos podem ser citados a Constituiccedilatildeo Federal (BRASIL 1988) a
Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) a Declaraccedilatildeo de
Salamanca (UNESCO 1994) a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
(BRASIL 1996) a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da
Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) e a Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 4 (BRASIL 2009)
35
que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado
na Educaccedilatildeo Baacutesica11
Desses documentos pode-se apreender de modo geral um entendimento da
educaccedilatildeo como direito fundamental de todos independentemente das diferenccedilas
individuais No que se refere agrave poliacutetica e agraves diretrizes brasileiras relacionadas agrave
Educaccedilatildeo Especial e ao Atendimento Educacional Especializado nota-se um foco
no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
preferencialmente na Rede Municipal de Ensino Supotildee-se que instituir
possibilidades de discussatildeo dos documentos acima referidos juntamente com o
coletivo escolar eacute fundamental para a compreensatildeo da EE e do AEE assim como as
formas de viabilizaacute-los
Embora as leis sejam importantes elas se configuram como um documento
orientador da poliacutetica Contudo a forma como acontece sua materializaccedilatildeo eacute
permeada tambeacutem pelos interesses dominantes na sociedade e pela compreensatildeo
de cada equipe diretiva e os profissionais da educaccedilatildeo os quais satildeo responsaacuteveis
pela sua organizaccedilatildeo e materializaccedilatildeo no acircmbito escolar
Para avanccedilar na compreensatildeo do atendimento educacional especializado e
sua relaccedilatildeo com a equipe diretiva escolar acredita-se que pode ser esclarecedor
explicar de forma breve a Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 42009 e o Decreto 76112011 A
referida Resoluccedilatildeo que regulamenta as Diretrizes Operacionais para o Atendimento
Educacional Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica enfatiza que a elaboraccedilatildeo e a
execuccedilatildeo do plano de AEE eacute de competecircncia do professor da sala de recursos
multifuncionais ―em articulaccedilatildeo com os professores do ensino regular com a
participaccedilatildeo das famiacutelias e em interface com os demais serviccedilos setoriais da sauacutede
da assistecircncia social entre outros necessaacuterios ao atendimento (BRASIL 2009 p
2)
Ainda que o professor atuante no AEE seja responsaacutevel por elaborar e
executar o plano desse atendimento compreende-se que a equipe diretiva ao
participar dessa construccedilatildeo pode propiciar um suporte e uma integraccedilatildeo do plano
do AEE com o projeto poliacutetico-pedagoacutegico da escola aleacutem de se perceber como um
11 Aleacutem desses documentos ainda se destaca o Decreto 76112011 que reitera os princiacutepios da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) no que concerne o AEE a Lei 131462015 que instituiu a Lei Brasileira de Inclusatildeo da Pessoa com Deficiecircncia e o Estatuto da Pessoa com Deficiecircncia que reafirma o exposto no Decreto 76112011 sobre o AEE e daacute outras providecircncias
36
dos protagonistas imprescindiacuteveis para o processo de escolarizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial
Nesse sentido Vioto (2013) enfatiza que para a realizaccedilatildeo do AEE no espaccedilo
escolar eacute importante haver adequaccedilotildees natildeo soacute na acessibilidade arquitetocircnica
pedagoacutegica e de recursos humanos mas principalmente quebra de barreiras
atitudinais12 da gestatildeo e dos demais profissionais da escola
[] sabemos que sem mudanccedila de postura dos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao processo de ensino junto aos alunos com NEE na sala de aula do ensino regular natildeo haacute como desenvolver o processo de aprendizagem dos referidos alunos Logo para que ocorra essa mudanccedila faz-se necessaacuteria a conscientizaccedilatildeo de todos os envolvidos no processo educacional inclusivo de que os alunos independentemente de suas NEE possuem caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e que dentro do processo de aprendizagem estas devem ser levadas em consideraccedilatildeo (VIOTO 2013 p78)
A autora supracitada ressalta que para elaborar um planejamento pedagoacutegico
que contribua com a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos sistematizados e produzidos
historicamente por parte dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial um
caminho eacute reconhecer suas especificidades e considerar as suas potencialidades
pois focar nas suas limitaccedilotildees culminaria em um planejamento limitado privando o
estudante de seu direito de aprender e desenvolver sua autonomia Nesse sentido
enfatiza-se a responsabilidade da equipe diretiva escolar para que a escola consiga
realizar sua funccedilatildeo pensando na formaccedilatildeo integral do aluno com e sem deficiecircncia
[] uma escola organizada para assegurar a apropriaccedilatildeo de conhecimentos habilidades valores atitudes por meio do processo ensino aprendizagem que visa o desenvolvimento cognitivo afetivo dos alunos [] capaz de articular no seu curriacuteculo e em suas praacuteticas pedagoacutegico-didaacuteticas a formaccedilatildeo cultural e cientiacutefica [] Nessa escola o papel da organizaccedilatildeo e gestatildeo eacute propiciar o ambiente social necessaacuterio e as condiccedilotildees institucionais humanas materiais para a realizaccedilatildeo do processo ensino-aprendizagem Ou seja diretores coordenadores pedagoacutegicos e professores tecircm a responsabilidade profissional e eacutetica de fazerem funcionar na escola praacuteticas de organizaccedilatildeo e gestatildeo que sejam propulsoras de um determinado tipo de aprendizagem aquela que promove e amplia o desenvolvimento
12
Silva (2012 p 14 e 15) apoiada em Lima e Tavares (2007) explicita que ―[] as barreiras atitudinais satildeo barreiras sociais geradas mantidas fortalecidas por meio de accedilotildees omissotildees e linguagens produzidas ao longo da histoacuteria humana num processo tridimensional o qual envolve cogniccedilotildees afetos e accedilotildees contra a pessoa com deficiecircncia ou quaisquer grupos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade resultando no desrespeito ou impedimento aos direitos dessas pessoas limitando-as ou incapacitando-as para o exerciacutecio de direitos e deveres sociais satildeo abstratas para quem as produz e concretas para quem sofre seus efeitos
37
intelectual e o desenvolvimento integral dos alunos (LIBAcircNEO 2015 p 13)
A organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar realizada pela equipe diretiva de uma forma
como a supracitada pode ser compreendida como um trabalho que rompe com o
comumente realizado Trata-se de uma forma de gestatildeo e que se configura como
um processo coletivo e contextualizado que requer condiccedilotildees objetivas e subjetivas
que sustentem a sua construccedilatildeo Sobre isso Lira (2012 p 106) salienta que se tem
―visto que as condiccedilotildees que se apresentam no cotidiano escolar tecircm favorecido para
que se mantenham presentes as praacuteticas estanques separadas com poucas
referecircncias de compartilhamento de trocas entre os profissionais Nesse sentido
romper com essa loacutegica eacute um desafio coletivo no qual se vislumbra o importante
papel da equipe diretiva escolar que tanto pode contribuir para manter essa loacutegica
individualizada de praacuteticas pedagoacutegica estanques e individualizadas no interior da
escola como tambeacutem pode favorecer a instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos para
discutir e refletir sobre as praacuteticas pedagoacutegicas e suas implicaccedilotildees no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes Assim a instituiccedilatildeo de uma gestatildeo democraacutetica no
entanto pode ser um caminho para possibilitar trocas e compartilhamentos fazendo
circular novas formas de se fazer a gestatildeo escolar Paro (2016a) salienta ainda que
a gestatildeo democraacutetica dentre outros fatores implica na participaccedilatildeo de todos os
envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes nas decisotildees sobre os
objetivos e funcionamento da escola o que pode culminar dessa forma em
melhores condiccedilotildees para reivindicar junto ao Estado os recursos necessaacuterios para
viabilizar as accedilotildees no acircmbito escolar
No que tange portanto agrave equipe diretiva frente ao processo de
implementaccedilatildeo do AEE identifica-se um papel fundamental dessa dentre outros
aspectos no tocante agrave formaccedilatildeo continuada dos profissionais na construccedilatildeo
coletiva do projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola na proposiccedilatildeo de momentos de
discussatildeo das questotildees pertinentes ao processo de escolarizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial
No proacuteximo capiacutetulo se apresentaraacute um balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica
brasileira concernente agrave temaacutetica ―gestatildeo escolar e Atendimento Educacional
Especializado referente ao periacuteodo de 2011 a 2015
38
14 A produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre Gestatildeo Escolar e Atendimento
Educacional Especializado um campo a explorar
O mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica teve como objetivo conhecer as
pesquisas que tenham abordado a temaacutetica da gestatildeo escolarequipe diretiva
escolar em relaccedilatildeo ao AEE Para tanto realizou-se uma pesquisa em quatro bases
de dados 1) ANPEd (Associaccedilatildeo Nacional de Pesquisadores em Educaccedilatildeo mais
especificamente no GT 15 ndash Educaccedilatildeo Especial) 2) CAPES (Banco de Teses e
Dissertaccedilotildees da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior) 3)
BDTD (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaccedilotildees) e 4) SciELO (Biblioteca
Cientiacutefica Eletrocircnica Online)13
A busca utilizou primeiramente os descritores ―equipe diretiva e ―AEE
Contudo nenhuma produccedilatildeo foi encontrada Com isso optou-se por construir
descritores14 que se aproximassem do tema proposto como ―gestatildeo escolar
―supervisor educacional ―orientador educacional ―diretor educacional e
―coordenaccedilatildeo pedagoacutegica como referecircncia para listar a produccedilatildeo cientiacutefica na aacuterea
de Educaccedilatildeo sendo que as expressotildees foram pesquisadas no campo palavras-
chave
A tabela a seguir mostra os resultados das buscas realizadas nas referidas
bases de dados No total foram encontrados cinco trabalhos sobre a temaacutetica no
periacuteodo considerado (2011 a 2015) dos quais dois referiram-se especificamente agrave
gestatildeo escolar e AEE dois agrave supervisatildeo educacional e a coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e
AEE e um sobre sala de apoio pedagoacutegico e coordenaccedilatildeo pedagoacutegica
Tabela 1 ndash Mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Fonte Expressotildees Pesquisadas Resultado Geral
ANPEd Nacional
(GT 15)
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial
Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva gestatildeo escolar + AEE
gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE
2
14
Na Tabela 1 satildeo especificados todos os descritores utilizados neste balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica
39
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
BDTD
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE
Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva
gestatildeo escolar + AEE gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
1
CAPES
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE
Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva
gestatildeo escolar + AEE gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
2
SciELO
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial
Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva gestatildeo escolar + AEE
gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
0
40
inclusatildeo
diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE diretor +educaccedilatildeo especial
diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva supervisor Educacional + AEE
supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo orientador Educacional +educaccedilatildeo especial
orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva orientador Educacional + AEE
Total 05
Fonte Primaacuteria (2016)
O resultado da pesquisa demonstrou uma baixa quantidade de trabalhos que
abrangessem a temaacutetica revelando a ―gestatildeo escolar e o AEE como um campo de
estudos e pesquisas ainda a ser explorado Dentre os cinco trabalhos encontrados
dois corresponderam a artigos e trecircs a dissertaccedilotildees de mestrado Na tabela a
seguir estatildeo descritos os tiacutetulos dos trabalhos bem como seus autores e a
instituiccedilatildeo de ensino em que foram produzidos
Tabela 2 ndash Trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Autor (Ano) Tiacutetulo Tipo de
Trabalho
Instituiccedilatildeo de
Ensino Fonte
Vioto
(2013)
O papel do supervisor pedagoacutegico no processo de inclusatildeo de alunos com
necessidades educacionais especiais uma pesquisa colaborativa
Dissertaccedilatildeo de
Mestrado
Universidade do
Oeste Paulista BDTD
Silveira (2012)
Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o acompanhamento como fator de mudanccedila
Artigo Universidade
Federal do Cearaacute
ANPEd Nacional (GT 15)
Vioto e Vitaliano
(2012)
O papel da gestatildeo pedagoacutegica frente ao processo de inclusatildeo dos alunos com
necessidades educacionais especiais
Artigo Universidade do Oeste Paulista
ANPEd Nacional
(GT 15)
Lira
(2012)
A coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e o processo de inclusatildeo do aluno com necessidades
educacionais especiais um estudo de caso
Dissertaccedilatildeo de
Mestrado
Universidade
Federal do Rio Grande do Norte
CAPES
Santos (2011)
Gestatildeo escolar para uma escola inclusiva conquistas e desafios
Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Universidade do Oeste Paulista
CAPES
Fonte Primaacuteria (2016)
Nota-se que os trabalhos foram produzidos por diferentes instituiccedilotildees de
ensino que abrangem apenas as regiotildees sudeste e nordeste do Brasil
Um ponto que chamou atenccedilatildeo portanto foi a recorrecircncia de pesquisas
publicadas na regiatildeo sudeste do Brasil pela Universidade do Oeste Paulista Tal
recorrecircncia entretanto pode estar vinculada ao fato do programa de mestrado em
41
Educaccedilatildeo da UNOESTE disponibilizar uma linha de pesquisa intitulada Instituiccedilatildeo
Educacional Organizaccedilatildeo e Gestatildeo favorecendo assim a incidecircncia de pesquisas
na aacuterea de gestatildeo escolar
As produccedilotildees acadecircmicas apresentaram em comum uma discussatildeo da
relaccedilatildeo entre um dos profissionais que compotildeem a gestatildeo escolar e a educaccedilatildeo
especialinclusiva com exceccedilatildeo dos estudos de Silveira (2012) e Santos (2011) que
versaram suas discussotildees abordando mais profissionais que constituem a gestatildeo
escolar Pelo fato de que nas pesquisas encontradas somente o estudo de Silveira
(2012) tomou a equipe diretiva como um todo por objeto de estudo considera-se
que esse artigo pode se configurar como mais um avanccedilo na exploraccedilatildeo das
relaccedilotildees entre gestatildeo escolar e AEE pois parte do princiacutepio que a gestatildeo escolar eacute
formada por uma equipe com accedilotildees articuladas no que se refere agrave realizaccedilatildeo desse
atendimento no acircmbito escolar e por isso se propotildee a estudar essa gestatildeo a partir
do conjunto de profissionais (diretor supervisorcoordenador e orientador) que a
compotildeem Na Tabela 3 a seguir satildeo especificados os objetivos dos trabalhos
mapeados
Tabela 3 ndash Objetivos dos trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Autor
(Ano) Tiacutetulo Objetivo do Trabalho
Vioto
(2013)
O papel do supervisor pedagoacutegico no processo de inclusatildeo de alunos com
necessidades educacionais especiais uma pesquisa colaborativa
Desenvolver um processo de intervenccedilatildeo junto agrave Supervisatildeo Pedagoacutegica de uma escola Municipal de Londrina que ofereccedila Ensino Fundamental I com vistas a favorecer o
processo de inclusatildeo de alunos com NEE no ensino regular por meio de uma pesquisa colaborativa
Silveira
(2012)
Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o
acompanhamento como fator de mudanccedila
Apresentar elementos de uma pesquisa desenvolvida em uma escola puacuteblica da rede municipal de uma capital do Nordeste Buscamos evidenciar as caracteriacutesticas da gestatildeo
da escola e aplicar estrateacutegias de acompanhamento visando agrave transformaccedilatildeo das praacuteticas de gestatildeo
Vioto e
Vitaliano (2012)
O papel da gestatildeo pedagoacutegica
frente ao processo de inclusatildeo dos alunos com necessidades educacionais especiais
Contribuir para a reflexatildeo sobre o papel do gestor
pedagoacutegico frente ao processo de construccedilatildeo de escolas inclusivas
Lira
(2012)
A coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e o processo de inclusatildeo do aluno
com necessidades educacionais especiais um estudo de caso
Centrar no papel coordenaccedilatildeo pedagoacutegica em face
da inclusatildeo escolar de alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE)
Santos
(2011)
Gestatildeo escolar para uma escola inclusiva conquistas e
desafios
Identificar as accedilotildees desenvolvidas pela gestatildeo escolar com vistas a construir uma escola inclusiva em uma escola
puacuteblica
Fonte Primaacuteria (2016)
42
Partindo dos objetivos das produccedilotildees acadecircmicas buscou-se extrair delas
algumas compreensotildees consideradas pertinentes ao presente estudo Para isso as
referidas produccedilotildees foram organizadas em duas sessotildees de anaacutelise
A primeira sessatildeo de anaacutelise integra duas pesquisas sobre a gestatildeo escolar
de autoria de Silveira (2012) e Santos (2011) que se debruccedilaram sobre o papel da
gestatildeo escolar na constituiccedilatildeo de uma escola inclusiva Na pesquisa de Silveira
(2012) um artigo resultante de sua tese de doutorado defendida em 2009 analisou
a atuaccedilatildeo do grupo gestor (diretor(a) supervisor (a) e orientador (a) por meio da
teacutecnica da pesquisa-accedilatildeo colaborativa empreendendo uma intervenccedilatildeo e
acompanhamento de uma escola por um periacuteodo de 28 meses A pesquisa buscou
―evidenciar as caracteriacutesticas da gestatildeo da escola e aplicar estrateacutegias de
acompanhamento visando agrave transformaccedilatildeo das praacuteticas de gestatildeo mudanccedila de
concepccedilotildees e na cultura do acolhimento e da cultura de desenvolvimento
profissional (SILVEIRA 2012 p 1)
A autora ressaltou que ao longo da pesquisa foram perceptiacuteveis os avanccedilos
na escola pesquisada e cita como exemplo a vivecircncia de uma
[] nova perspectiva de atendimento [que] provocou aleacutem do acolhimento do estudante com deficiecircncia uma tomada de consciecircncia da forma de organizaccedilatildeo e gestatildeo da escola bem como da inadequaccedilatildeo dos meacutetodos pedagoacutegicos tradicionais O diretor ao assumir a escola natildeo conhecia os pressupostos baacutesicos de uma escola inclusiva Essa era a sua primeira experiecircncia como gestor e era visiacutevel sua inseguranccedila decorrente da falta de experiecircncia no cargo Durante cerca de dois anos e meio na escola pudemos perceber a sua evoluccedilatildeo ou seja ele passa de uma atuaccedilatildeo inicial insegura pouco firme no sentido das tomadas de decisotildees para accedilotildees e posiccedilotildees mais determinadas e coerentes (SILVEIRA 2012 p 4)
Em sua anaacutelise a autora expocircs ainda que o ―acompanhamento e a gestatildeo
compartilhada satildeo beneacuteficos sendo essencial que os membros da escola busquem
cada vez mais o aperfeiccediloamento de praacuteticas de colaboraccedilatildeo (SILVEIRA 2009 p
8) Salientou ainda que para colocar em praacutetica uma gestatildeo escolar que leve em
conta a construccedilatildeo de uma escola pautada em princiacutepios democraacutetico-participativos
eacute preciso pensar em programas de formaccedilatildeo de gestores que se encaminhem para
aleacutem dos programas tradicionais de formaccedilatildeo burocraacutetica investindo em um
trabalho colaborativo no acircmbito escolar
43
Contudo sabendo que as transformaccedilotildees percebidas ocorreram em parte
mediante acompanhamento e momentos de formaccedilatildeo propostos pela pesquisadora
com a equipe gestora e professores evidencia-se a importacircncia da formaccedilatildeo
continuada em serviccedilo que contribua para a praacutetica escolar reflexiva e para o
desenvolvimento da autonomia dos gestores escolares de modo que possam criar
condiccedilotildees para praacuteticas democraacuteticas-participativas no acircmbito escolar
A pesquisa de Santos (2011) por sua vez se propocircs a identificar as accedilotildees
desenvolvidas pela gestatildeo escolar (diretor (a) vice-diretor(a) e coordenador(a)
pedagoacutegico) na constituiccedilatildeo do serviccedilo de Educaccedilatildeo Especial na escola A autora
evidenciou que a efetivaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial no acircmbito da escola pesquisada
ainda se mostrava um desafio uma vez que os gestores pesquisados natildeo tinham
definido o conceito e os princiacutepios que orientariam tal proposta bem como
―apresentaram praacuteticas de gestatildeo escolar para a Educaccedilatildeo Especial pontuais
isoladas e natildeo estando fundamentadas organizadas ou planejadas nas diretrizes
gerais da escola (SANTOS 2011 p 79) Os resultados de seu estudo convidam agrave
reflexatildeo sobre a importacircncia de se conhecer as concepccedilotildees da equipe diretiva
acerca das propostas de Educaccedilatildeo Especial e como tais concepccedilotildees se articulam
com sua forma de trabalho
Na segunda seccedilatildeo de anaacutelise da tabela 3 se localizam os trabalhos que
discutiram o papel do(a) CoordenadorSupervisor(a) Pedagoacutegico frente ao processo
de construccedilatildeo de uma proposta de Educaccedilatildeo Inclusiva Entre esses estatildeo as
pesquisas de Vioto e Vitaliano (2012) Lira (2012) e Vioto (2013) Aleacutem do objeto de
estudo evidenciou-se outro ponto em comum que eacute a defesa da potecircncia do
trabalho colaborativo na escola para o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Vioto e Vitaliano (2012) realizaram uma pesquisa bibliograacutefica com o objetivo
de contribuir para a reflexatildeo sobre o papel do coordenador pedagoacutegico frente ao
processo de construccedilatildeo de escolas inclusivas Como resultado as autoras inferem
que para a constituiccedilatildeo de uma escola inclusiva o coordenador pedagoacutegico tem
atribuiccedilotildees importantes a serem desenvolvidas no acircmbito escolar como auxiliar os
professores no desenvolvimento de metodologias e estrateacutegias de ensino
diferenciadas que favoreccedila o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial Aleacutem disso estaacute entre suas atribuiccedilotildees possibilitar
momentos de formaccedilatildeo e reflexatildeo em relaccedilatildeo agraves praacuteticas pedagoacutegicas de modo
44
que todos os profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
possam ―participar na definiccedilatildeo dos objetivos no planejamento bem como na
elaboraccedilatildeo de propostas e planos de accedilatildeo que possibilite a quebra das barreiras
que estejam impedindo o processo de aprendizagem (VIOTO E VITALIANO 2012
p 14)
A pesquisa de Lira (2012) por sua vez teve como objetivo investigar a
atuaccedilatildeo dos coordenadores pedagoacutegicos no processo de inclusatildeo dos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial A autora identificou em sua pesquisa que os
coordenadores pedagoacutegicos assumiam uma rotina na escola de resoluccedilatildeo de
problemas urgentes e emergentes como falta de profissionais de condiccedilotildees fiacutesicas
estruturais e materiais precarizando a realizaccedilatildeo de suas funccedilotildees Demandas como
essas podem desfavorecer a atuaccedilatildeo do coordenador (a) pedagoacutegico(a) com os
professores e demais especialistas visto que esse profissional passa a voltar-se
mais a demandas burocraacuteticas secundarizando os demais aspectos como o
pedagoacutegico
Assim as atribuiccedilotildees pertinentes ao(agrave) Coordenador(a) Pedagoacutegico(a) como
o auxiacutelio aos professores o planejamento de momentos formativos compara os
professores e a elaboraccedilatildeo de forma coletiva do projeto-politico pedagoacutegico da
instituiccedilatildeo dentre outras satildeo desvirtuadas de seu propoacutesito comprometendo a
constituiccedilatildeo de um trabalho colaborativo dialoacutegico e reflexivo dentro do espaccedilo
escolar
Jaacute Vioto (2013) em seu estudo se pautou na metodologia de pesquisa
colaborativa e realizou uma intervenccedilatildeo direta na escola auxiliando-a na construccedilatildeo
de um trabalho colaborativo o qual resultou em uma reestruturaccedilatildeo das relaccedilotildees
construiacutedas na escola Como colocou a autora
[] os resultados evidenciaram que a supervisora pedagoacutegica e a maioria dos professores inicialmente apresentavam concepccedilotildees equivocadas a respeito do processo de inclusatildeo o qual foi trabalhado em ciclos de estudos conversas reflexivas e atuaccedilotildees colaborativas envolvendo pesquisadora e os participantes Tambeacutem foram discutidos o papel do professor de apoio e da sala de recursos junto agrave supervisora pedagoacutegica e as praacuteticas pedagoacutegicas dos professores em sala de aula As experiecircncias e reflexotildees proporcionadas por esta pesquisa nos permitiram constatar e reafirmar a importacircncia do trabalho do supervisor pedagoacutegico no que se refere agrave organizaccedilatildeo da escola inclusiva bem como as contribuiccedilotildees do trabalho colaborativo como meio de formaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo [] (VIOTO 2013 p 07)
45
O trabalho colaborativo realizado entre pesquisadora e profissionais da escola
por meio de experiecircncias e reflexotildees remeteu agrave constataccedilatildeo desse como um
aspecto importante a se considerar ao refletir sobre o papel da gestatildeo escolar frente
ao processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Pode-se pensar nesse sentido que o trabalho colaborativo emerge como um dos
meios para que o vieacutes democraacutetico-participativo da gestatildeo proposto nos documentos
oficiais seja vivenciado no cotidiano escolar
Garcia Hypoacutelito e Vieira (2005) fazem um contraponto agraves possibilidades do
trabalho colaborativo na escola o qual pode ser instituiacutedo tambeacutem de forma
perversa de modo a conformar praacuteticas no interior da escola Sobre esse aspecto de
entendimento os autores explicam ainda que
[] muitas vezes essas praacuteticas de colaboraccedilatildeo podem ser colonizadas e controladas pelas burocracias educacionais tornando tais praacuteticas uma verdadeira ―camisa-de-forccedila ora pela imposiccedilatildeo de formas colegiadas de trabalho ora por procedimentos burocraacuteticos que satildeo a proacutepria antiacutetese de um profissionalismo autocircnomo (GARCIA HYPOacuteLITO E VIEIRA 2005 p50)
Assim haacute que se pensar o trabalho colaborativo de forma contextualizada
considerando suas possibilidades e contradiccedilotildees Como alerta Paro (2016a p55)
natildeo se pode esperar por condiccedilotildees excelentes de trabalho proporcionarem por si
soacute ―a ocorrecircncia de relaccedilotildees democraacuteticas e colaborativas da mesma forma natildeo haacute
como ignorar que a ausecircncia dessas condiccedilotildees pode contribuir para o retardamento
de mudanccedilas que favoreccedilam o estabelecimento de tais relaccedilotildees
Perante o exposto o desafio posto agraves equipes diretivas eacute conseguir constituir
um trabalho dentro dos espaccedilos escolares envolvendo a participaccedilatildeo dos
professores e demais profissionais pais e estudantes na constituiccedilatildeo dos objetivos
e nos processos decisoacuterios da instituiccedilatildeo como forma de obter melhores condiccedilotildees
para pleitear junto aos sistemas de ensino os recursos necessaacuterios para a
realizaccedilatildeo das accedilotildees dentro da escola
Nesse sentido a questatildeo do trabalho colaborativo e participativo as
condiccedilotildees objetivas de trabalho e as concepccedilotildees acerca de questotildees que envolvem
a Educaccedilatildeo Especial surgem como pontos de tensatildeo relevantes e cuja discussatildeo
pode contribuir para o que esta pesquisa se propotildee a investigar as compreensotildees
das equipes diretivas escolares sobre Atendimento Educacional Especializado e
suas formas de viabilizaacute-lo
46
2 PROCESSO DE CONSTITUICcedilAtildeO DA PESQUISA CAMINHOS TRACcedilADOS E PERCORRIDOS
Com o objetivo de Investigar as compreensotildees das equipes diretivas
escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado e suas formas de
viabilizaacute-lo na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute realizou-se uma pesquisa de
abordagem qualitativa que tem como fundamento alguns pressupostos da base
epistecircmico-metodoloacutegica do materialismo histoacuterico e dialeacutetico que ―[] percebe os
sujeitos como histoacutericos datados concretos marcados por uma cultura como
criadores de ideias e consciecircncia que ao produzirem e reproduzirem a realidade
social satildeo ao mesmo tempo produzidos e reproduzidos por ela (FREITAS 2002 p
22)
A partir dessa perspectiva de sujeito a abordagem qualitativa mostrou-se
profiacutecua para alcanccedilar os objetivos da pesquisa uma vez que nela se ―[] busca a
interpretaccedilatildeo em lugar da mensuraccedilatildeo a descoberta em lugar da constataccedilatildeo []
[levando] em conta todos os componentes de uma situaccedilatildeo em suas interaccedilotildees e
influecircncias reciprocas (GATTI e ANDREacute 2013 p 30) Ressalta-se ainda que
[] as pesquisas chamadas de qualitativas vieram a se constituir em uma modalidade investigativa que se consolidou para responder ao desafio da compreensatildeo dos aspectos formadoresformantes do humano de suas relaccedilotildees e construccedilotildees culturais em suas dimensotildees grupais comunitaacuterias ou pessoais (GATTI e ANDREacute 2013 p 30)
Utilizar a abordagem qualitativa para a execuccedilatildeo de uma pesquisa nesse
sentido implica considerar tanto os dados obtidos na investigaccedilatildeo quanto o
contexto em que esses dados satildeo produzidos procurando compreender os aspectos
histoacuterico-sociais tendo em vista as especificidades e a natildeo neutralidade do
pesquisador (LUumlDKE e ANDREacute 2013)
47
21 Os caminhos da pesquisa local participantes e instrumentos
Com relaccedilatildeo ao local de realizaccedilatildeo da pesquisa foi escolhida a Rede
Municipal de Ensino de Camboriuacute muniacutecipio localizado no litoral norte de Santa
Catarina com uma populaccedilatildeo aproximada de 74434 habitantes (IBGE 2015)
Essa Rede eacute gerenciada pela Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo e atualmente
atende aos seguintes niacuteveis de ensino Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e
Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos ndash EJA
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais de 2015 o nuacutemero total de alunos matriculados na Rede Municipal de
Ensino em 2015 eacute de 10401 estudantes (INEP 2015)
O caminho percorrido no processo de coleta de dados envolveu
primeiramente a realizaccedilatildeo de uma reuniatildeo com a Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo
e a Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria de Educaccedilatildeo de Camboriuacute com o
objetivo de levantar informaccedilotildees consideradas relevantes para a constituiccedilatildeo da
pesquisa como o nuacutemero total de escolas municipais o nuacutemero de escolas que
ofertam o AEE e a composiccedilatildeo da equipe gestora da escola
Os dados obtidos na reuniatildeo apontaram que a Rede Municipal de Ensino de
Camboriuacute contava em 2015 com 12 escolas urbanas e 03 escolas de campo
Em relaccedilatildeo agrave equipe gestora foco desta pesquisa informou-se que era
composta na maioria das escolas pelo(a) diretor(a) supervisor(a) e orientador(a)
Na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute a oferta do Atendimento
Educacional Especializado teve seu iniacutecio em 2013 e portanto pode-se dizer que se
trata de um serviccedilo recente que estaacute em processo de constituiccedilatildeo no municiacutepio
Em relaccedilatildeo aos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial a
Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo informou que foram
matriculados em 2015 166 estudantes em classes comuns nas escolas municipais
da Rede Assim ao consultar a base de dados do INEP de 2015 identificou-se um
nuacutemero de 182 estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial matriculados na
referida Rede observando uma diferenccedila de 16 estudantes
Ao comparar os dados fornecidos pelo INEP referentes ao ano de 2015
(INEP 2015) no que tange ao nuacutemero de matriacuteculas na Educaccedilatildeo Especial (182) na
Rede Municipal de Camboriuacute com os dados relativos ao total de matriculas (10401)
48
pocircde-se constatar que o percentual de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo
Especial correspondeu no referido ano a 2 do nuacutemero total de alunos
matriculados nessa Rede
Considerando esse dado para a seleccedilatildeo dos participantes estabeleceram-se
quatro criteacuterios de inclusatildeo de acordo com os quais a equipe diretiva deveria
1) Ser composta por diretor(a) escolar supervisor(a)coordenador(a)
pedagoacutegico e orientador(a) educacional
2) Atuar na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute
3) Atuar em escola com estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
4) Ter o questionaacuterio respondido por todos os seus integrantes
A partir dessas informaccedilotildees elaborou-se o projeto desta pesquisa e em
consonacircncia com os objetivos deste estudo escolheu-se um instrumento de coleta
de dados que pudesse contribuir com o processo de compreensatildeo da relaccedilatildeo entre
a equipe diretiva e o Atendimento Educacional Especializado
Para a coleta de dados junto agrave equipe diretiva optou-se pelo questionaacuterio
que conforme Gil (1999 p 128) pode ser definido
[] como a teacutecnica de investigaccedilatildeo composta por um nuacutemero mais ou menos elevado de questotildees apresentadas por escrito agraves pessoas tendo por objetivo o conhecimento de opiniotildees crenccedilas sentimentos interesses expectativas situaccedilotildees vivenciadas etc
A escolha do questionaacuterio como instrumento de coleta de dados converge
com a busca por dados mais abrangentes capilarizados que ajudem a tirar uma
foto da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute no que tange agrave relaccedilatildeo entre equipe
diretiva e o AEE
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do projeto marcou-se uma segunda reuniatildeo para
apresentaacute-lo agraves coordenadoras da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo que leram o
projeto e relataram que o referido estudo se apresentava como uma forma de a
Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo compreender o que precisa ser potencializado e o
que se mostra como exemplo positivo no que tange agrave gestatildeo escolar e o AEE
A Coordenadora Geral da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo representando a
Secretaacuteria de Educaccedilatildeo se mostrou favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo do projeto assinando o
Termo de Consentimento de Instituiccedilatildeo Coparticipante (Anexo I) Posteriormente a
pesquisadora inscreveu o projeto de pesquisa na Plataforma Brasil que foi
apreciado e aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da Universidade da Regiatildeo
49
de Joinville sob o Parecer Consubstanciado nordm 1223204 de 11 de setembro de
2015 (Anexo II) que atendeu ao descrito na Resoluccedilatildeo Nordm 4662012 (CONSELHO
NACIONAL DE SAUacuteDE 2012)
Realizou-se entatildeo uma terceira visita agraves coordenadoras da Secretaria
Municipal de Educaccedilatildeo para obter a autorizaccedilatildeo para a aplicaccedilatildeo piloto do
questionaacuterio elaborado para coleta de dados Solicitou-se agraves coordenadoras nesse
encontro a indicaccedilatildeo de duas escolas municipais de ensino fundamental do 1ordm ao 9ordm
ano para iniciar a realizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo do preacute-teste do instrumento da pesquisa
nesse caso o questionaacuterio Acredita-se que a aplicaccedilatildeo do preacute-teste em duas
escolas poderia conferir mais seguranccedila quanto agrave aplicaccedilatildeo do instrumento nas
demais escolas Nesse sentido o preacute-teste eacute considerado essencial uma vez que
pode contribuir para melhorar o instrumento de coleta de dados a partir de
sugestotildees dos proacuteprios participantes
De posse do nome das 2 escolas indicadas pelas coordenadoras da
Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute iniciou-se o contato junto agraves
escolas para agendar uma visita para explanaccedilatildeo da pesquisa e aplicaccedilatildeo do
instrumento utilizado para a coleta de dados um questionaacuterio autoaplicaacutevel
constituiacutedo por 27 questotildees sendo 11 perguntas abertas e 10 perguntas abertas e
fechadas e 06 perguntas fechadas
Ao chegar nas escolas a pesquisadora era encaminhada agrave sala da direccedilatildeo e
com a presenccedila do(a) direitor(a) supervisor(a) e orientador(a) iniciava a explicaccedilatildeo
sobre a pesquisa e o objetivo da preacute-testagem do questionaacuterio salientando que esse
era um momento importante para os participantes contribuiacuterem com o
aperfeiccediloamento do instrumento apontando possiacuteveis inconsistecircncias ou
necessidade de retirar acrescentar ou modificar alguma informaccedilatildeo Contudo ao
finalizar a aplicaccedilatildeo da preacute-testagem do questionaacuterio (Anexo II) foi evidenciado
pelos participantes que natildeo havia necessidade de alteraccedilotildees assim essas duas
escolas foram incluiacutedas na pesquisa
Diante disso prosseguiu-se com a efetiva aplicaccedilatildeo do questionaacuterio nas
demais escolas durante os meses de outubro e novembro de 2015 totalizando uma
abrangecircncia de 11 escolas municipais urbanas15 Assim das 12 escolas urbanas
15
O municiacutepio de Camboriuacute possui 12 escolas urbanas e 03 de Campo Uma escola urbana natildeo conseguiu responder ao questionaacuterio E nas 03 escolas municipais de campo os questionaacuterios natildeo foram aplicados pois a Coordenadora de Inclusatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo informou que
50
pesquisadas apenas 1 ficou sem responder ao questionaacuterio devido agraves demandas
de final de ano letivo O agendamento das visitas agraves escolas foi realizado via contato
telefocircnico com o(a) diretor(a) e durante as visitas primeiramente explanou-se a
pesquisa para o(a) diretor(a) para em seguida deixar os envelopes que continham
os questionaacuterios combinando com o(a) diretor(a) o prazo de uma semana para
buscaacute-los Dentro do envelope estava anexa ao questionaacuterio uma carta agrave equipe
diretiva (Anexo I) convidando a participar da pesquisa bem como uma coacutepia do
TCLE (Anexo III) destacando o caraacuteter voluntaacuterio e sigiloso da pesquisa
explicitando que os questionaacuterios respondidos ficariam sob a guarda e a
responsabilidade da pesquisadora por um periacuteodo de cinco anos sendo apoacutes esse
prazo descartados
Em cada escola que a pesquisadora se dirigia para buscar os questionaacuterios
tomava o cuidado de realizar a conferecircncia do preenchimento do TCLE junto ao
questionaacuterio respondido
Observou-se ainda que das 11 escolas participantes em somente 07 todos
os integrantes da equipe diretiva responderam ao questionaacuterio Nas demais
evidenciou-se que pelo menos um dos integrantes natildeo havia respondido Dessa
forma atenderam ao criteacuterio de inclusatildeo desta pesquisa somente 07 escolas cuja
equipe diretiva completa respondeu ao questionaacuterio
Em siacutentese foram aplicados 36 questionaacuterios sendo 32 respondidos poreacutem
apenas 22 foram considerados vaacutelidos de acordo com os criteacuterios de inclusatildeo desta
pesquisa Nessa direccedilatildeo foram computados para a anaacutelise de dados as respostas
de um total de 22 participantes sendo 07 diretores(as) 08 supervisores(as) 07
orientadores(as) A seguir seraacute detalhada a trajetoacuteria seguida no processo de
anaacutelise dos dados coletados
22 Seguindo o itineraacuterio organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados
O processo de anaacutelise das respostas obtidas nos questionaacuterios aplicados foi
baseado na Anaacutelise de Conteuacutedo (BARDIN 1977 FRANCO 2012) Para Franco
(2012 p23) a anaacutelise de conteuacutedo eacute ―um procedimento de pesquisa que se situa
estas escolas natildeo tinham a sala de recursos multifuncionais e tampouco estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
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em um delineamento mais amplo da teoria da comunicaccedilatildeo e tem como ponto de
partida a mensagem A autora enfatiza ainda que
[] as mensagens expressam as representaccedilotildees sociais na qualidade de elaboraccedilotildees mentais construiacutedas socialmente a partir da dinacircmica que se estabelece entre a atividade psiacutequica do sujeito e o objeto do conhecimento Relaccedilatildeo que se daacute na praacutetica social e histoacuterica da humanidade e que se generaliza na linguagem [] a anaacutelise de conteuacutedo assenta-se nos pressupostos de uma concepccedilatildeo criacutetica e dinacircmica da linguagem Linguagem aqui entendida como uma construccedilatildeo real de toda a sociedade e como expressatildeo da existecircncia humana que em diferentes momentos histoacutericos elabora e desenvolve representaccedilotildees sociais no dinamismo interacional que se estabelece entre linguagem pensamento e accedilatildeo (FRANCO 2012 p 12-13)
A partir da exposiccedilatildeo da autora pode-se compreender que na anaacutelise de
conteuacutedo considera-se aleacutem das mensagens impliacutecitas e expliacutecitas o contexto
histoacuterico no qual seus produtores estatildeo inseridos
De posse dos 22 questionaacuterios vaacutelidos seguiu-se com a transcriccedilatildeo das
respostas para uma planilha de Excel organizando-as de duas formas por escola e
por questatildeo As que foram efetivamente utilizadas foram as planilhas organizadas
por questatildeo pois se considerou que propiciavam uma visualizaccedilatildeo mais clara
A identificaccedilatildeo dos respondentes foi realizada por meio de coacutedigos formados
por letras e nuacutemeros As escolas foram representadas por nuacutemeros de 1 a 7 Jaacute os
profissionais da equipe diretiva foram identificados por letras ―EDd para referir-se agrave
fala do(a) diretor(a) ―EDs do(a) supervisor(a) e ―EDo do(a) orientador(a) Para
uma melhor compressatildeo exemplifica-se ―ED1s refere-se a(o) Supervisor(a) da
Escola 1 ―ED4d ao(a) Diretor(a) da Escola 4 e assim por diante
Para as questotildees fechadas do questionaacuterio foram elaborados graacuteficos e
caacutelculos de porcentagem para auxiliar na compreensatildeo do perfil dos participantes
que pode ser conferido no capiacutetulo seguinte que versa sobre a caracterizaccedilatildeo dos
participantes da pesquisa Jaacute para as questotildees abertas optou-se por realizar uma
anaacutelise sem o apoio dos graacuteficos mas sim de quadros em sua maioria procurando
ilustrar e focalizar a articulaccedilatildeo das respostas obtidas com as teorias existentes
Diante do exposto a anaacutelise de dados dessa pesquisa ocorreu por meio de
uma leitura minuciosa dos dados para observar possiacuteveis recorrecircncias
contradiccedilotildees e complementaridades a fim de constituir os primeiros indicadores de
anaacutelise A partir desses indicadores foram criadas as categorias de anaacutelise sem
deixar de considerar para sua elaboraccedilatildeo os pontos relevantes apontados por outras
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pesquisas e pela teoria e que eventualmente tenham sido silenciados pelos
participantes da pesquisa Esse eacute um processo longo e trabalhoso mas como
destaca Franco (2012 p 59) a criaccedilatildeo de categorias eacute ―o ponto crucial da anaacutelise
de conteuacutedo Ainda segundo a autora ―a categorizaccedilatildeo eacute uma operaccedilatildeo de
classificaccedilatildeo de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciaccedilatildeo seguida
de um reagrupamento baseado em analogias (FRANCO 2012 p 59) Vale
ressaltar que esse processo de anaacutelise de dados requer visitas constantes agrave teoria e
ao material de anaacutelise buscando as articulaccedilotildees pertinentes A categorizaccedilatildeo dos
dados deste estudo foi realizada a posteriori a partir da construccedilatildeo de indicadores
que estatildeo em consonacircncia com os objetivos desta pesquisa conforme explicitado
no Quadro 1 a seguir
Quadro 1 ndash Categorias de anaacutelise e suas relaccedilotildees com os objetivos da pesquisa
Objetivos da pesquisa
Categorias Indicadores Perguntas do questionaacuterio relacionadas
- Revelar a compreensatildeo da equipe diretiva escolar acerca do serviccedilo de AEE e do puacuteblico-alvo da EE - Evidenciar o que a equipe diretiva escolar conhece sobre o trabalho do professor do AEE
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
O serviccedilo em si o puacuteblico alvo da EE e o trabalho docente
11 12 13 14 15 19 21 22 e 23
- Identificar os procedimentos que tecircm sido adotados pela equipe diretiva escolar na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
O papel da equipe diretiva Acessibilidade arquitetocircnica Recursos materiais e pedagoacutegicos Se o AEE estaacute comtemplado no Projeto poliacutetico-pedagoacutegico e Desafios na viabilizaccedilatildeo do serviccedilo e formas de superaacute-lo
20 16 17 25 26 e 27
Fonte Primaacuteria (2016)
53
A constituiccedilatildeo desta pesquisa seguiu um processo de estudos dos documentos
oficiais e literaturas relacionadas ao Atendimento Educacional Especializado e agrave
gestatildeo escolar procurando selecionar os aspectos mais relevantes para a
construccedilatildeo da fundamentaccedilatildeo teoacuterica e do percurso de anaacutelise dos questionaacuterios
No proacuteximo capiacutetulo seraacute apresentada a anaacutelise dos dados focalizando a
caracterizaccedilatildeo do perfil dos participantes da pesquisa e em seguida adentra-se nas
categorias de anaacutelise a primeira denominada o que pensam as equipes diretivas
escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado e a segunda as
condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe
diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
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3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Agrave PARTIR DAS FALAS DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMBORIUacute
Nesta etapa de anaacutelise e discussatildeo dos dados coletados tem-se por objetivo
apresentar as respostas das 22 participantes que compotildeem as equipes diretivas de
7 escolas da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute articulando-as a um
referencial teoacuterico e dialogando com as questotildees de pesquisa mencionadas na
apresentaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo Salienta-se que do processo de anaacutelise de
conteuacutedo dos dados coletados duas categorias emergiram a primeira diz respeito
ao que pensam as equipe diretiva sobre o Atendimento Educacional Especializado
e o puacuteblico-alvo da EE e o professor especializado e a segunda direcionada a
abordar o papel da equipe diretiva na viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional
Especializado
Nesse sentido o presente capiacutetulo foi organizado em trecircs toacutepicos
Apresentaccedilatildeo da equipe diretiva escolar
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento
Educacional Especializado (primeira categoria de anaacutelise)
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da
equipe diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional
Especializado (segunda categoria de anaacutelise)
Acredita-se que apresentar os participantes deste estudo e suas
compreensotildees sobre o AEE e como viabilizaacute-lo pode contribuir para deflagrar o
modo como o AEE vem se constituindo na Rede Municipal de Camboriuacute e o papel
da gestatildeo escolar nesse processo
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31 Apresentaccedilatildeo das Equipes Diretivas Escolares16
Participaram desta pesquisa 22 profissionais que compotildeem ao todo 7
equipes diretivas escolares sendo 07 Diretores(as) 07 Orientadores(as)
Educacionais e 08 Supervisores(as) Educacionais As questotildees abordadas nesta
apresentaccedilatildeo do perfil dos participantes fazem parte do primeiro eixo do
questionaacuterio e estatildeo relacionadas agraves suas caracteriacutesticas pessoais e profissionais
Como primeira caracteriacutestica destaca-se a questatildeo de gecircnero Dentre os
profissionais que compotildeem a equipe diretiva escolar nas escolas pesquisadas 17
identificaram-se com o gecircnero feminino e 5 com o masculino Analisando a relaccedilatildeo
gecircnero e funccedilatildeo profissional tem-se a seguinte configuraccedilatildeo exposta no Quadro 2
Quadro 2 - Gecircnero dos integrantes da equipe diretiva escolar por funccedilatildeo
Funccedilatildeo Gecircnero Feminino Gecircnero Masculino
Diretor(a) 6 1
Supervisor(a) 6 2
Orientador(a) 5 2
Fonte Primaacuteria (2016)
Ao pesquisar estudos nacionais e internacionais que traccedilassem o perfil dos
integrantes da equipe diretiva escolar foram encontradas duas pesquisas
desenvolvidas pela Fundaccedilatildeo Victor Civita17 (2009 - 2011) A primeira publicada em
2009 traccedilou o perfil de ―diretores escolares brasileiros A segunda datada de
2011 debruccedilou-se sobre o perfil dos ―coordenadores pedagoacutegicos Tambeacutem foi
encontrado um estudo realizado pela Pesquisa Internacional sobre Ensino e
16
Para compor a anaacutelise e discussatildeo deste item seratildeo utilizadas as respostas do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo As referidas questotildees estatildeo dispostas na seguinte ordem 2 Qual sua funccedilatildeo na escola ( ) diretor diretor (a) [] 1Qual seu ano de Nascimento 4 Vocecirc jaacute atuou como professor de sala de aula 5 Quanto tempo 6 Na sua trajetoacuteria como docente teve alguma experiecircncia com estudante com deficiecircncia 3 Qual sua formaccedilatildeo acadecircmica 7 Qual sua carga horaacuteria hoje na funccedilatildeo em que atua na Rede Municipal de Ensino8 Quanto tempo de serviccedilo vocecirc tem na funccedilatildeo em que ocupa atualmente na Rede Municipal de ensino 9 Vocecirc pertence ao quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino 10) Como vocecirc ingressou na funccedilatildeo em que ocupa em sua escolae 18 Vocecirc teve alguma formaccedilatildeo com temas relacionados ao AEE 17
Em 2009 a Fundaccedilatildeo Victor Civita desenvolveu uma pesquisa para traccedilar o ―Perfil dos Diretores de Escola da Rede Puacuteblica O estudo foi realizado com 400 diretores da educaccedilatildeo baacutesica (Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e Ensino Meacutedio) de 13 capitais brasileiras por meio de entrevistas telefocircnicas e um questionaacuterio estruturado e teve como principal objetivo levantar caracteriacutesticas percepccedilotildees e opiniotildees dos diretores escolares brasileiros aleacutem de prover um retrato desse gestor e uma investigaccedilatildeo da sua relaccedilatildeo com a Educaccedilatildeo Jaacute em 2011 a Fundaccedilatildeo Victor Civita encomendou uma pesquisa agrave Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sobre o perfil dos coordenadores pedagoacutegicos (CPs) das escolas puacuteblicas Foram entrevistados 400 CPs de 13 estados brasileiros nas diferentes regiotildees do Brasil
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Aprendizagem ndash TALIS18 (INEP 2014) que abrangeu o Brasil no estudo sobre o
perfil de ―diretores de educaccedilatildeo baacutesica em 34 paiacuteses No que concerne ao perfil do
orientador educacional nenhuma pesquisa foi encontrada Os dados apresentados
pela Fundaccedilatildeo Victor Civita (2009) apontaram que grande parte dos diretores (80)
satildeo do sexo feminino com idade meacutedia de 46 anos o que estaacute de acordo com os
dados do estudo desenvolvido pela TALIS (INEP 2014) A pesquisa TALIS (INEP
2014) revelou que no Brasil 75 dos diretores satildeo mulheres e tecircm em meacutedia 45
anos de idade preponderando portanto o gecircnero feminino na gestatildeo das escolas
puacuteblicas de ensino fundamental Ainda segundo a TALIS (INEP 2014) nos outros
24 paiacuteses pesquisados esse percentual de mulheres ficou na meacutedia de 49
Em relaccedilatildeo agrave pesquisa sobre o coordenador(a) pedagoacutegico(a) apresentada
pela Fundaccedilatildeo Victor Civita (2011) demonstrou-se que 90 desses profissionais
satildeo mulheres e tecircm em meacutedia 44 anos de idade
Esses dados estatildeo em consonacircncia tambeacutem com as pesquisas realizadas
por Vioto (2013) e Lira (2012) apresentadas no primeiro capiacutetulo da presente
dissertaccedilatildeo Nos referidos estudos constatou-se a predominacircncia do gecircnero
feminino entre os coordenadores pedagoacutegicos pesquisados Ao analisar o perfil dos
diretores(a) coordenadores(as) pedagoacutegicos e orientadores(as) educacionais na
pesquisa de Silveira (2012) e Santos (2011) tambeacutem foi perceptiacutevel a prevalecircncia
do gecircnero feminino
Os dados revelam portanto uma presenccedila expressiva do gecircnero feminino
nessas funccedilotildees principalmente na educaccedilatildeo baacutesica que se assemelha ao
movimento ocasionado com os docentes em decorrecircncia de um processo histoacuterico
denominado de feminizaccedilatildeo19 do magisteacuterio caracterizado ao longo da histoacuteria
como um fenocircmeno pautado pelas transformaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas
―[que] abriram espaccedilo em nosso paiacutes para o incremento da entrada das mulheres
18
A Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS ndash Teaching and Learning International Survey) investigou o ambiente de ensino e aprendizagem em escolas de educaccedilatildeo baacutesica de 34 paiacuteses durante os anos de 2012 e 2013 A TALIS foi coordenada em acircmbito internacional pela Organizaccedilatildeo para Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) No Brasil a pesquisa foi organizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) responsaacutevel tambeacutem pela elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio Nacional da TALIS que descreve de maneira mais detalhada o processo de aplicaccedilatildeo da pesquisa e os principais resultados para a amostra de diretores e professores brasileiros A pesquisa TALIS entrevistou no total natildeo soacute no Brasil 14291 professores que atuam em turmas do 6ordm ao 9ordm ano do Ensino Fundamental e os diretores de suas respectivas escolas No Brasil a pesquisa abrangeu 27 Estados e 48 escolas sendo que somente 20 escolas aceitaram a participar da pesquisa 19
Denominaccedilatildeo dada ao processo soacutecio-poliacutetico-cultural decorrente da expressiva presenccedila das mulheres no trabalho docente (COSTA 2010)
57
das camadas meacutedias no mercado de trabalho sendo o magisteacuterio primaacuterio uma das
ocupaccedilotildees femininas socialmente aprovadas (COSTA 2010 p 01)
Louro (2000 p 448) relata que a atividade do magisteacuterio no Brasil por muito
tempo foi desenvolvida por ―homens religiosos como os jesuiacutetas mais
especificamente no periacuteodo compreendido entre 1549 e 1759 [e] em seguida foram
homens comuns que se ocuparam do magisteacuterio Jaacute a partir do seacuteculo XIX a
expansatildeo do ensino primaacuterio afetou diretamente as condiccedilotildees de trabalho docente
que foram se tornando cada vez mais precaacuterias afastando paulatinamente os
homens dessa profissatildeo Assim o movimento observado foi de diminuiccedilatildeo no
nuacutemero de homens em sala de aula no ensino primaacuterio e nas escolas normais
passando-se a formar jaacute nesse periacuteodo mais mulheres (VIANNA 2013) Desse
modo a presenccedila intensa de mulheres no magisteacuterio no Brasil foi se constituindo
de forma gradativa e intimamente ligada ao papel de mulher idealizado na eacutepoca
para exercer a docecircncia As mulheres tinham que dispor de caracteriacutesticas como
religiosidade docilidade e submissatildeo configurando o que deveria ser um trabalho
educativo como ―[] uma missatildeo de educar concebida como um prolongamento da
vocaccedilatildeo maternal (COSTA 2010 p 01)
Nessa perspectiva segundo Vianna (2013 p 164) o magisteacuterio integrou um
dos primeiros campos de trabalho para a ―mulher branca e de classe meacutedia
estudiosa e portadora de uma feminilidade idealizada para essa classe mas
tambeacutem protagonistas da luta pelo alargamento da participaccedilatildeo feminina na esfera
econocircmica (VIANNA 2013 p 164)
Com relaccedilatildeo agrave gestatildeo das instituiccedilotildees de ensino puacuteblico no Brasil por muito
tempo essa funccedilatildeo ficou sob a incumbecircncia dos homens reproduzindo e reforccedilando
como pontuou Louro (2000 p 460) ―[] a hierarquia domeacutestica as mulheres
ficavam nas salas de aulas ensinando enquanto os homens dirigiam e controlavam
o sistema Acrescenta-se ainda que os homens se destacavam como referecircncia
superior e de poder e entendia-se que a mulher por sua vez natildeo era adequada agrave
gestatildeo por ser muito sentimental e natildeo possuir firmeza em suas decisotildees (LOURO
2000)
Contudo a funccedilatildeo de gestatildeo exercida por mulheres foi permeada por
momentos de resistecircncia em sua historicidade visto que se tratava de um cargo
exclusivamente masculino como o caso da primeira professora que ao ascender agrave
funccedilatildeo de gestora nos anos de 1920 provocou revolta principalmente por parte dos
58
estudantes homens Assim pode-se dizer que de algum modo a inserccedilatildeo feminina
no cargo de gestatildeo rompeu ―com a representaccedilatildeo e as expectativas tradicionais
delineadas agraves mulheres (LOURO 2000 p 460)
Nessa perspectiva as discussotildees tecidas ateacute o momento no que tange agrave
questatildeo de gecircnero dos profissionais de educaccedilatildeo podem contribuir para evidenciar
possiacuteveis conexotildees entre proletarizaccedilatildeo do trabalho dos(as) professores(as) e
gestores(as) escolares e o processo histoacuterico de feminizaccedilatildeo do magisteacuterio e da
profissatildeo educativa como um todo
Seguindo com as anaacutelises passa-se a abordar agora a idade dos
profissionais das equipes diretivas20 De acordo com o Graacutefico 1 apresentado a
seguir dos 22 participantes da pesquisa 2 responderam possuir idade entre 25 a
32 anos 8 entre 33 e 40 anos 5 encontram-se na faixa etaacuteria entre 41 a 50 e 6
informaram que tecircm mais de 50 anos e 1 natildeo respondeu Ao calcular a idade meacutedia
dos profissionais por funccedilatildeo chegou-se ao seguinte resultado Diretor(a) 46 anos
Supervisor(a) 44 anos e Orientador(a) 49 anos
Graacutefico 1 Faixa etaacuteria dos participantes da pesquisa
Fonte Primaacuteria (2016)
De acordo com os dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e
Aprendizagem ndash TALIS (INEP 2014) dentre os 34 paiacuteses que participaram do
20 Optou-se neste estudo por utilizar uma menccedilatildeo aos participantes que contemple os dois gecircneros masculino e feminino ou seja utilizaremos diretor(a) supervisor(a) e orientador(a) quando nos referirmos a cada profissional que compotildee a equipe diretiva
59
estudo os diretores das escolas brasileiras apresentaram a menor meacutedia de idade
(45 anos) assemelhando-se aos resultados encontrados na presente pesquisa
No que se refere ao tempo de docecircncia da equipe diretiva em sala de aula
constatou-se que a maioria dos profissionais possuem significativa experiecircncia uma
vez que 8 responderam que possuem ateacute 5 anos 7 que tecircm de 6 a 10 anos de
docecircncia 2 possuem de 11 a 15 anos em sala de aula 4 informaram que tecircm mais
de 15 anos de experiecircncia na docecircncia e 01 natildeo respondeu conforme exposto no
graacutefico a seguir
Graacutefico 2 ndash Tempo de atuaccedilatildeo docente dos profissionais das equipes diretivas por funccedilatildeo diretor(a) supervisor(a) e orientador(a)
Fonte Primaacuteria (2016)
Evidenciou-se ao visualizar o graacutefico 2 acima uma expressiva concentraccedilatildeo
de supervisores(as) educacionais com ateacute 5 anos de experiecircncia na docecircncia
Supotildee-se que uma maior experiecircncia desse profissional em sala de aula pode
contribuir com seu trabalho de orientaccedilatildeo pedagoacutegica e didaacutetica junto aos
professores assim como com o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Em pesquisa empreendida por Placco Almeida e Souza (2011 p 247-248)
com coordenadores pedagoacutegicos (CPs) as autoras abordaram alguns
questionamentos e dentre eles se destaca o que diz respeito agrave necessidade de
tempo na docecircncia para atuarem na funccedilatildeo As autoras puderam constatar que esse
item dividiu opiniotildees entre os profissionais pesquisados ao relatarem que
[] com relaccedilatildeo agrave necessidade de ter experiecircncia na docecircncia para exercer a coordenaccedilatildeo os CPs divergem alguns acham que sim e outros que natildeo Contudo a maioria concorda que a experiecircncia como docente natildeo eacute suficiente para exercer a coordenaccedilatildeo pois entendem que haacute habilidades especiacuteficas dessa funccedilatildeo que natildeo se desenvolvem na docecircncia De outro
60
lado acreditam que a experiecircncia em sala de aula possibilita conhecer melhor a escola e vivenciar problemas que soacute aparecem laacute Em siacutentese segundo a percepccedilatildeo dos CPs o tempo na funccedilatildeo e a experiecircncia satildeo fatores importantes mas natildeo decisivos para o bom desempenho do profissional na coordenaccedilatildeo
Nessa direccedilatildeo observou-se que autores como Paro (2016b) e Libacircneo (2015)
parecem se contrapor quando o assunto eacute a experiecircncia docente que antecede a
atuaccedilatildeo da equipe diretiva na escola Paro (2016b p57) ao defender que ―todos os
educadores satildeo potenciais candidatos agrave direccedilatildeo escolar parece conferir uma
ecircnfase na importacircncia da experiecircncia docente para a realizaccedilatildeo do trabalho na
funccedilatildeo diretiva Por outro lado Libacircneo (2015) afirma que para exercer o cargo de
diretor ou coordenador pedagoacutegico natildeo eacute necessaacuterio uma experiecircncia preacutevia como
docente
[] haacute divergecircncias significativas sobre se a atividade administrativa distingue-se da atividade pedagoacutegica e sobre se a direccedilatildeo administrativa e direccedilatildeo pedagoacutegica devem ser exercidas necessariamente por um professor No Brasil difundiu-se bastante a ideia de que a direccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo pedagoacutegica satildeo formas diferenciadas de uma uacutenica funccedilatildeo a docente Defendemos uma posiccedilatildeo diferente Tanto o diretor quanto o coordenador pedagoacutegico desempenham cada um funccedilotildees especiacuteficas que requerem formaccedilatildeo profissional tambeacutem especiacutefica distinta daquela provida aos professores Nesse caso o diretor natildeo precisa exercer nem ter exercido a docecircncia embora deva receber formaccedilatildeo para lidar com questotildees de ensino Em outras palavras as funccedilotildees de direccedilatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e docente natildeo precisam coincidir necessariamente (LIBAcircNEO 2015 p 187 grifos nossos)
Ante ao exposto entende-se que a experiecircncia na docecircncia pode contribuir
para a atuaccedilatildeo dos profissionais das equipes diretivas assim como compreende-se
que as formaccedilotildees para esses profissionais precisam contemplar de forma central os
aspectos pedagoacutegicos e as singularidades das escolas e natildeo somente os aspectos
burocraacuteticos comumente mais enfatizados
No Quadro 3 apresentado na sequecircncia procurou-se detalhar o tempo de
atuaccedilatildeo em sala de cada profissional que compotildee a equipe diretiva escolar Pode-se
evidenciar que os integrantes de todas as equipes diretivas apresentam experiecircncia
na docecircncia
61
Quadro 3 Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes da equipe diretiva em sala de aula
Tempo de atuaccedilatildeo em sala de aula
Equipe Diretiva
Ateacute 5 anos De 6 a 10 anos De 11 a 15 anos Mais de 15
anos Natildeo
respondeu
ED1 Supervisor(a) Diretor(a) Orientador( a)
ED2 Orientador(a)
e Supervisor(a)
Diretor(a)
ED3 Supervisor(a) Diretor(a) Orientador(a)
ED4 Diretor(a) e
2 Supervisores(as)
Orientador(a)
ED5 Orientador(a) Diretor(a) e
Supervisor(a)
ED6 Orientador(a)
e Supervisor(a)
Diretor(a)
ED7 Diretor(a) e
Supervisor(a) Orientador(a)
Fonte Primaacuteria (2016)
Conforme os dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem ndash
TALIS (INEP 2014) a meacutedia de experiecircncia em sala de aula dos diretores
brasileiros pesquisados foi de 14 anos Nesse sentido os dados da Rede Municipal
de Ensino de Camboriuacute obtidos na presente pesquisa divergem em parte dos
indicadores nacionais pois a maioria dos respondentes possuem em meacutedia 8 anos
de docecircncia
Huberman (2000) em seus estudos sobre o ciclo de vida profissional dos
professores fez uso do tempo de atuaccedilatildeo docente para expor a existecircncia de cinco
fases que delineiam o processo de evoluccedilatildeo do docente nessa profissatildeo 1) Fase de
entrada na carreira (1 a 3 anos de docecircncia) 2) Fase de estabilizaccedilatildeo (4 a 6 anos)
3) Fase de diversificaccedilatildeo (7 a 25 anos) 4) Fase de serenidade (25 a 35 anos) 5)
Fase de desinvestimento (mais de 35 anos de docecircncia)
Para clarificar essas informaccedilotildees apresenta-se a seguir o Quadro 4 que
mostra as fases do ciclo de vida profissional dos professores conforme os estudos
do autor
62
Quadro 4 - Fases do ciclo de vida profissional segundo Huberman
Fonte Huberman (2000)
O tempo de docecircncia da maior parte dos participantes da pesquisa (6 a 10
anos) conforme Huberman (2000) estaacute compreendido na fase entre 7 e 25 anos de
docecircncia que eacute denominada de diversificaccedilatildeo na qual conta-se com um repertoacuterio
de vivecircncias pessoais e profissionais bastante diversas para atuar na docecircncia Para
os 8 que responderam que tecircm ateacute 5 anos de docecircncia em sala de aula nota-se que
sua experiecircncia docente se delimitou agrave fase mais inicial do ciclo profissional
denominada ―sobrevivecircncia e descoberta na qual satildeo explorados os contornos
dessa nova funccedilatildeo
Salienta-se que essas fases natildeo seguem em sua constituiccedilatildeo uma linearidade
de acontecimentos uma vez que cada profissional eacute singular e essa singularidade
estaacute presente na maneira como cada um vivencia a sua proacutepria trajetoacuteria
profissional
Outra questatildeo perguntada aos profissionais das equipes diretivas foi se nessa
trajetoacuteria docente eles(as) tiveram algum aluno com deficiecircncia Evidenciou-se que
dos 22 participantes somente dois diretores(as) e dois supervisores(as) natildeo tiveram
essa experiecircncia os demais integrantes de todas as equipes diretivas a tiveram
63
Graacutefico 3 ndash Experiecircncia dos profissionais da equipe diretiva enquanto docentes de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Fonte Primaacuteria (2016)
Esses dados apontam que a maioria dos profissionais participantes desta
pesquisa em sua trajetoacuteria docente trabalhou com estudantes puacuteblico-alvo da EE o
que nos permite evidenciar que cada profissional vivenciou esse trabalho em suas
respectivas escolas de formas diferentes e certamente puderam contar com uma
equipe diretiva que pode ter contribuiacutedo ou fragilizado a realizaccedilatildeo desse trabalho no
acircmbito escolar
Infere-se ainda que essa vivecircncia pode ter ocorrido em um determinado
momento histoacuterico em que a segregaccedilatildeo ainda era de fato uma opccedilatildeo mais
indicada no processo de escolarizaccedilatildeo com deficiecircncia Mesmo considerando que a
construccedilatildeo de saberes eacute um processo dinacircmico que pode passar por modificaccedilotildees
no decorrer da histoacuteria demandando que os profissionais da educaccedilatildeo estejam em
constante busca por novos conhecimentos ou por sua ressignificaccedilatildeo eacute necessaacuterio
ter em conta que reconstruir uma concepccedilatildeo sobre algo pode ser muito complexo
Aleacutem da vivecircncia que esses profissionais relataram ter eacute preciso considerar
tambeacutem a formaccedilatildeo inicial que possuem se essa propiciou ou natildeo a discussatildeo e
apropriaccedilatildeo de teorias e praacuteticas acerca da Educaccedilatildeo Especial nos espaccedilos
escolares Tendo em vista ainda que esses conhecimentos quando apreendidos na
formaccedilatildeo inicial estatildeo associados a um periacuteodo histoacuterico especiacutefico em que tal
formaccedilatildeo foi realizada
64
Nesse sentido Bueno (2002) esclarece que a incorporaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial
pelas Instituiccedilotildees de Ensino Superior no Brasil ocorreu a partir da promulgaccedilatildeo da
Lei n 569271 na medida em que essa diretriz em seu art 29 estabeleceu que a
formaccedilatildeo de professores e especialistas para o ensino fundamental e meacutedio (antigos
1ordm e 2ordm graus) fosse aumentando de forma progressiva O autor explicita ainda que
[] em decorrecircncia dessa lei o Conselho Federal de Educaccedilatildeo baixou Resoluccedilotildees
tornando obrigatoacuteria a formaccedilatildeo de professores de educaccedilatildeo especial em niacutevel
superior dentro dos cursos de Pedagogia (BUENO 2002 p 22)
Atualmente pode-se observar agrave luz da Resoluccedilatildeo nordm 22015 (BRASIL 2015)
que a incorporaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial pelos curriacuteculos dos cursos de
licenciatura e formaccedilatildeo continuada foi ampliada uma vez que passou a constituir um
tema a ser abordado por diversas disciplinas Aparentemente essa ampliaccedilatildeo pode
ser vista como positiva contudo eacute oportuno reconhecer que ―dissolver os
conteuacutedos de Educaccedilatildeo Especial nas disciplinas pode ocasionar uma fragilizaccedilatildeo no
processo de formaccedilatildeo uma vez que pode ocorrer a reduccedilatildeo da carga horaacuteria
destinada a esses conteuacutedos ao mesmo tempo em que satildeo apresentados de forma
fragmentada No art 13ordm paraacutegrafo segundo da referida Resoluccedilatildeo eacute detalhado o
modo como a Educaccedilatildeo Especial deve ser contempla no curriacuteculo dos cursos
citados
[] sect 2ordm Os cursos de formaccedilatildeo deveratildeo garantir nos curriacuteculos conteuacutedos especiacuteficos da respectiva aacuterea de conhecimento ou interdisciplinares seus fundamentos e metodologias bem como conteuacutedos relacionados aos fundamentos da educaccedilatildeo formaccedilatildeo na aacuterea de poliacuteticas puacuteblicas e gestatildeo da educaccedilatildeo seus fundamentos e metodologias direitos humanos diversidades eacutetnico-racial de gecircnero sexual religiosa de faixa geracional Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) educaccedilatildeo especial e direitos educacionais de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas (BRASIL 2015)
Segundo Pletsch (2009 p 150) limitar-se a oferecer uma disciplina com
conteuacutedos sobre Educaccedilatildeo Especial ―sem maior reflexatildeo e aprofundamento acerca
das capacidades e individualidades humanas pode acabar auxiliando a manutenccedilatildeo
de praacuteticas de segregaccedilatildeo Desse modo pode-se evidenciar que a forma como a
Lei supracitada propotildee que os conteuacutedos de Educaccedilatildeo Especial sejam abordados
nos cursos de licenciatura em geral parece natildeo colaborar com o adensamento
teoacuterico discussatildeo e reflexatildeo criacutetica sobre a educaccedilatildeo especial na formaccedilatildeo dos
futuros professores Isto por sua vez pode culminar em um entendimento
65
desarticulado entre Educaccedilatildeo Regular e Educaccedilatildeo Especial favorecendo a
constituiccedilatildeo de praacuteticas de segregaccedilatildeo nas escolas brasileiras
Ante ao exposto buscou-se analisar nos dizeres das equipes diretivas
pesquisadas a formaccedilatildeo inicial em niacutevel de graduaccedilatildeo de cada integrante que a
compotildee Evidenciou-se que dos 22 participantes 12 informaram possuir o curso de
formaccedilatildeo inicial em pedagogia 7 em outras licenciaturas e 3 optaram por natildeo
responder a essa questatildeo Assim pode-se perceber dentre as respostas dos
integrantes das equipes diretivas uma prevalecircncia da formaccedilatildeo inicial em pedagogia
Essas informaccedilotildees podem ser conferidas no graacutefico 4 abaixo
Graacutefico 4 ndash Formaccedilatildeo inicial dos integrantes das equipes diretivas
Fonte Primaacuteria (2016)
Prosseguindo com as anaacutelises percebe-se tambeacutem que dentre os integrantes
das equipes diretivas 6 diretores satildeo formados em Pedagogia e 1 diretor eacute formado
em Estudos Sociais Conforme a pesquisa desenvolvida pela Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) 43 dos diretores brasileiros possuem sua primeira graduaccedilatildeo em
Pedagogia e dos que procuram uma segunda formaccedilatildeo 60 elegeu essa
licenciatura Dos 7 diretores participantes da pesquisa apenas uma informou ter
mais de uma graduaccedilatildeo
Com relaccedilatildeo aos supervisores(as) escolares 4 satildeo formados em Pedagogia e
3 satildeo formados em outras licenciaturas ciecircncias naturais artes visuais e ciecircncias
bioloacutegicas sendo que 1 natildeo especificou De acordo com os estudos realizados pela
Fundaccedilatildeo Victor Civita (2011) 55 dos coordenadores pedagoacutegicos no Brasil
possuem sua primeira licenciatura em Pedagogia e dos 45 que natildeo tecircm
Pedagogia como seu primeiro curso 61 o elegeram como segunda opccedilatildeo de
66
formaccedilatildeo Dos 8 supervisores(as) participantes da pesquisa somente duas
informaram ter duas graduaccedilotildees
Quanto aos orientadores educacionais 2 responderam que possuem
formaccedilatildeo em Pedagogia e 3 informaram que tecircm formaccedilatildeo em outras licenciaturas
(matemaacutetica educaccedilatildeo fiacutesica e ciecircncias bioloacutegicas) e 2 natildeo especificaram
De forma geral portanto pode-se concluir que a formaccedilatildeo inicial em
Pedagogia eacute predominante nas equipes diretivas escolares da Rede Municipal de
Ensino de Camboriuacute Com relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo dos
integrantes das equipes diretivas os Graacuteficos 5 6 e 7 a seguir apresentam um
detalhamento
Graacutefico 5 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) dos Diretores(as)
Fonte Primaacuteria (2016) Graacutefico 6 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu e Stricto Sensu) dos Supervisores(as) Educacionais
Fonte Primaacuteria (2016
67
Graacutefico 7 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) Orientadores(as) Educacionais
Fonte Primaacuteria
Percebeu-se que dos 22 participantes somente 2 profissionais responderam
natildeo possuir uma poacutes-graduaccedilatildeo e 1 optou por natildeo responder agrave questatildeo Desse
modo foi possiacutevel evidenciar que a maioria dos profissionais das equipes diretivas
possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu
Dos 7 diretores(as) participantes da pesquisa 6 possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato
sensu Esses dados estatildeo em consonacircncia com o estudo da Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) o qual aponta que 72 dos diretores das escolas brasileiras realizaram
algum tipo de poacutes-graduaccedilatildeo sendo que desses 96 satildeo lato sensu E ainda
conforme a pesquisa TALIS (INEP 2014 p 10-11) ―somente uma pequena parte
dos diretores natildeo tem formaccedilatildeo em niacutevel superior (2) no entanto 12 deles
afirmaram que nunca fizeram um curso especiacutefico de administraccedilatildeo escolar
Quanto aos 8 supervisores(as) participantes desta pesquisa 6 possuem poacutes-
graduaccedilatildeo lato sensu na aacuterea de atuaccedilatildeo isto eacute voltada para a coordenaccedilatildeo
pedagoacutegica ou supervisatildeo escolar 01 em outra aacuterea enquanto apenas 1 informou
natildeo ter realizado especializaccedilatildeo Dos 7 supervisores que possuem poacutes-graduaccedilatildeo 1
informou possuir tambeacutem poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu na aacuterea de Educaccedilatildeo Esses
dados divergem em parte do estudo apresentado pela Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2011) o qual apontou que 70 dos participantes possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato
sensu poreacutem somente 3 desses a realizaram na aacuterea de coordenaccedilatildeo
pedagoacutegica
Essa discrepacircncia entre os dados nacionais e municipais pode estar
vinculada aos criteacuterios de contrataccedilatildeo estipulado pelo municiacutepio de Camboriuacute No
uacuteltimo edital de concurso puacuteblico nordm 0252013 estabeleceu-se que para se inscrever
ao cargo de Supervisor Escolar o candidato precisaria ter ―curso em Licenciatura
68
Plena com especializaccedilatildeo em Supervisatildeo Escolar com carga horaacuteria miacutenima de
360h ou Certificado de Conclusatildeo da Especializaccedilatildeo juntamente com o histoacuterico
escolar
Com relaccedilatildeo aos 7 orientadores(as) participantes deste estudo observou-se
que 06 informaram possuir poacutes-graduaccedilatildeo dos quais 4 satildeo na aacuterea de atuaccedilatildeo
(orientaccedilatildeo educacional) 2 satildeo em outra aacuterea e 1 natildeo respondeu
Seguindo com as anaacutelises os integrantes das equipes diretivas participantes
deste estudo responderam ainda que pertencem ao quadro efetivo de servidor
puacuteblico da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute e exercem uma carga horaacuteria de
40 horas semanais na funccedilatildeo em que atuam
No que tange ao ingresso no cargo para cada funccedilatildeo observou-se um
processo diferente Dentre os 7 orientadores(as) e 8 supervisores(as) participantes
deste estudo 6 orientadores(as) e 7 supervisores(as) informaram que o ingresso na
funccedilatildeo ocorreu por meio de concurso puacuteblico Somente 1 supervisor respondeu ter
ingressado na funccedilatildeo por meio de convite e 1 orientador(a) informou que ingressou
na funccedilatildeo por meio de um processo seletivo diferenciado do concurso puacuteblico Jaacute
para o cargo de diretor todos responderam que o ingresso na funccedilatildeo ocorreu por
meio de indicaccedilatildeo
Quanto ao ingresso ao cargo de diretor salienta-se que apesar de existirem
diretrizes e legislaccedilotildees que promulguem uma gestatildeo escolar democraacutetica a eleiccedilatildeo
para diretores nas escolas como ponto de partida para uma accedilatildeo mais participativa
junto agrave comunidade nos espaccedilos escolares ainda se apresenta como uma decisatildeo
que pertence aos gestores das esferas de governo Federal Estadual e Municipal
Nesse sentido introduzir a eleiccedilatildeo em detrimento da indicaccedilatildeo hoje praticada
pode ser um caminho para aproximar ainda mais as escolas municipais dos
princiacutepios de democratizaccedilatildeo e participaccedilatildeo na Rede Municipal de Ensino de
Camboriuacute
Paro (2003 p 124) adverte a esse respeito que a introduccedilatildeo da eleiccedilatildeo nas
escolas natildeo se daacute de forma harmoniosa e ―como todo instrumento de democracia
natildeo estaacute livre dos conflitos e tensionamentos Contudo constitui-se como uma
forma de permitir que um nuacutemero maior de pessoas da comunidade escolar se
envolva nos processos decisoacuterios e na gestatildeo da escola
69
Partindo agora para o conhecimento do tempo de serviccedilo de cada integrante
da equipe diretiva na funccedilatildeo em que ocupa em sua respectiva escola apresenta-se
no Graacutefico 8 uma ilustraccedilatildeo
Graacutefico 8 ndash Tempo de serviccedilo dos participantes na funccedilatildeo que atualmente ocupam na escola
Fonte Primaacuteria (2016)
Ressalta-se que ao aplicar o questionaacuterio nas escolas alguns profissionais
mencionaram que o cargo de diretor(a) escolar em 2015 sofreu mudanccedila eou
substituiccedilatildeo Esse fato pode ser constatado no Graacutefico 8 acima o qual demonstra
que dos 7 diretores(as) integrantes da pesquisa 5 possuem ateacute 3 anos na funccedilatildeo
pode-se dizer que estatildeo iniciando e 2 tecircm de 4 a 10 anos na funccedilatildeo A meacutedia de
tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo dos diretores da Rede Municipal de Ensino ficou em
torno de 29 anos Eacute expressivo portanto o nuacutemero de diretores(as) que se
encontram em iniacutecio de carreira na escola em que atuam
Esse resultado se distancia dos dados nacionais apresentados pela pesquisa
TALIS (INEP 2014) que mostrou um tempo meacutedio de 7 anos de experiecircncia dos
diretores no Brasil em cargo de direccedilatildeo Jaacute a pesquisa da Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) expocircs que o tempo meacutedio de experiecircncia dos diretores brasileiros eacute de 79
anos Essa dissonacircncia entre os dados da Rede Municipal de Ensino e os dados
nacionais pode estar vinculada agrave forma de ingresso ao cargo de direccedilatildeo que
conforme abordado anteriormente se daacute por indicaccedilatildeo configurando o cargo de
diretor(a) como um cargo de confianccedila podendo sofrer substituiccedilatildeo a qualquer
tempo principalmente em periacuteodo de mudanccedila de governo
Quanto aos supervisores(as) participantes deste estudo tambeacutem evidenciou-
se uma variaccedilatildeo no tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo 5 informaram possuir ateacute 3 anos
de experiecircncia 2 relataram ter de 4 a 10 anos e 1 natildeo respondeu sendo a meacutedia
70
de 27 anos Esse dado se aproxima daqueles apresentados pela Fundaccedilatildeo Victor
Civita (2011) com relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atuaccedilatildeo dos coordenadores
pedagoacutegicos brasileiros na escola atual que eacute de 39 anos
Dentre os integrantes da equipe diretiva escolar o orientador(a) foi o que
demostrou possuir maior tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo Dentre os 7 orientadores(as)
4 possuem ateacute 3 anos e 3 deles possuem 4 a 10 anos na funccedilatildeo A meacutedia de
tempo de atuaccedilatildeo como orientador(a) na Rede eacute dentre as equipes diretivas
pesquisadas de 34 anos
Perante os dados apresentados constatou-se que a meacutedia de tempo de
atuaccedilatildeo na funccedilatildeo por parte dos integrantes da equipe diretiva eacute baixa A partir
disso pode-se inferir que as equipes por estarem iniciando em suas funccedilotildees estatildeo
em processo de conhecer a comunidade e a cultura escolar21 local e a partir disso
construir viacutenculos de confianccedila que possibilitem uma gestatildeo colaborativa e
participativa Conhecer a escola eacute um processo que conforme explicitou Libacircneo
(2015 p 34) natildeo se daacute apenas pelo que se consegue observar dela e sim ao ―[]
captar aqueles significados valores atitudes modos de convivecircncia formas de agir
e de resolver problemas frequentemente ocultos invisiacuteveis que vatildeo definindo uma
cultura proacutepria de cada escola
Perante o exposto destaca-se aqui o desafio que se coloca agraves equipes
diretivas que estatildeo haacute pouco tempo trabalhando em suas unidades escolares uma
vez que na escola em que estatildeo iniciando existe uma cultura instituiacuteda que precisa
inicialmente ser conhecida para entatildeo ser mantida eou modificada em busca de
accedilotildees democraacuteticas e participativas
Um segundo desafio que se apresenta agraves equipes paralelamente ao primeiro
refere-se agrave implementaccedilatildeo viabilizaccedilatildeo e acompanhamento das poliacuteticas e diretrizes
educacionais na unidade escolar dentre as quais consta a poliacutetica de Educaccedilatildeo
Especial e as diretrizes para o Atendimento Educacional Especializado foco deste
estudo Sabendo disso buscou-se investigar se as equipes diretivas pesquisadas
possuiacuteam formaccedilatildeo especiacutefica com temas relacionados ao AEE O Quadro 5 a
seguir ilustra as respostas obtidas
21
Segundo Libacircneo (2015 p 34) ―a cultura da escola refere-se agravequeles significados modos de pensar e agir valores comportamentos modos de funcionamento que de certa forma mostram a identidade e os traccedilos caracteriacutesticos da escola e das pessoas que nela trabalham A cultura da escola eacute o que sintetiza os sentidos que as pessoas datildeo agraves coisas gerando um padratildeo coletivo de pensar e perceber as coisas e de agir
71
Quadro 5 ndash Formaccedilatildeo das equipes diretivas com temas relacionados ao AEE
Equipes Diretivas Diretor Orientador Supervisor
ED1 Natildeo respondeu Natildeo respondeu Natildeo respondeu
ED2 Sim Na faculdade e em cursos oferecidos pelo
Municiacutepio
Sim Cursos e materiais da grade
acadecircmica
Aleacutem de trabalhar na aacuterea Estou envolvida neste
processo
ED3 Natildeo Sim Fiz curso de linguagem de
sinais Natildeo
ED4 Sim Natildeo NatildeoNatildeo
ED5 Natildeo Natildeo respondeu Natildeo
ED6 Sim Na poacutes-graduaccedilatildeo
estudamos algumas siacutendromes
Natildeo Natildeo
ED7 Natildeo respondeu Sim Cursos que a Rede ofereceu
sobre Educaccedilatildeo Especial e o
AEE
Natildeo
Fonte Primaacuteria (2016)
A uacutenica equipe diretiva na qual todos os integrantes responderam
afirmativamente a essa questatildeo foi a ED2 na qual diretor(a) supervisor(a) e
orientador(a) informaram ter estudado o tema relacionado na graduaccedilatildeo poreacutem natildeo
especificaram os conteuacutedos abordados Em algumas equipes como a ED3 ED6 e
ED7 especificaram-se os conteuacutedos abordados na formaccedilatildeo realizada na aacuterea
como ―curso de sinais ―siacutendromes ―educaccedilatildeo especial e ―atendimento
educacional especializado Com relaccedilatildeo agrave ED1 o(a) orientador(a) apesar de
possuir trecircs especializaccedilotildees lato sensu sendo uma delas em Educaccedilatildeo Inclusiva
natildeo respondeu a essa questatildeo
Percebeu-se que na maioria das respostas houve contato com os temas
durante o percurso formativo seja na formaccedilatildeo inicial ou formaccedilatildeo continuada (poacutes-
graduaccedilatildeo e outros cursos) e que em poucos casos essa formaccedilatildeo foi oferecida
pela Rede Municipal de Ensino A formaccedilatildeo em serviccedilo pode funcionar como uma
possibilidade para mobilizar os profissionais a repensarem suas bases conceituais e
suas praacuteticas Dessa forma compreende-se que uma das tarefas primordiais da
Rede eacute conhecer as necessidades formativas dos seus profissionais e criar
condiccedilotildees para que essa formaccedilatildeo ocorra de modo contiacutenuo e consistente
Contudo Ferreira (2003 p 19-20) alerta que
A formaccedilatildeo continuada eacute uma realidade no panorama educacional brasileiro e mundial natildeo soacute como uma exigecircncia que se faz devido aos avanccedilos da ciecircncia e da tecnologia que se processam nas uacuteltimas deacutecadas mas como uma nova categoria que passou a existir no mercado da formaccedilatildeo contiacutenua e que por isso necessita ser
72
repensada cotidianamente no sentido de melhor atender a legiacutetima e digna formaccedilatildeo humana
Corroborando com a autora supracitada Silveira (2012) tambeacutem enfatizou a
importacircncia de programas de formaccedilatildeo de gestores que superem os tradicionais de
formaccedilatildeo burocraacutetica para que possam contribuir no desenvolvimento de um
trabalho colaborativo no acircmbito escolar
Em siacutentese identificou-se que os participantes dessa pesquisa tecircm um tempo
de atuaccedilatildeo significativo como professores em sala de aula e em sua maioria
apresentaram formaccedilatildeo inicial eou em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo condizentes agrave
especificidade de sua aacuterea de atuaccedilatildeo Entretanto constatou-se pouco tempo de
atuaccedilatildeo dos integrantes das equipes diretivas na funccedilatildeo em que exercem
atualmente A meacutedia de idade de cada integrante da equipe diretiva iniciando pelo
diretor(a) ficou em torno de 44 anos de idade os supervisores(as) 44 anos de
idade e os orientadores(as) 49 anos de idade
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo das equipes diretivas participantes desse estudo
segue-se para a anaacutelise dos dados da primeira categoria que versa sobre o que
pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado
32 O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado22
Nesta categoria de anaacutelise procurou-se abordar as compreensotildees das
equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
22
Para compor a anaacutelise e discussatildeo dos dados desta primeira categoria seratildeo analisadas as respostas das seguintes questotildees do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo 11Qual a compreensatildeo [da equipe diretiva] sobre o atendimento educacional especializado Quem satildeo os estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 13 Na escola em que vocecirc atua trabalha com o Atendimento Educacional Especializado Em caso afirmativo a) Eacute uma escola Polo ( ) b) atende somente estudantes desta escola ( ) 15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos estudantes puacuteblico alvo do AEE 19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE 21 Na escola em que vocecirc atua qual a participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros) 22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE 23 O professor de AEE na sua escola faz parte do quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino
73
focalizando o serviccedilo em si o puacuteblico-alvo da EE e o trabalho do professor
especializado23
Para apresentar e discutir o que pensam as equipes diretivas sobre o AEE no
acircmbito escolar optou-se por primeiramente elencar algumas informaccedilotildees a
respeito do funcionamento desse serviccedilo nas sete escolas pesquisadas conforme
se evidencia no Quadro 6
Quadro 6 - Situando o Atendimento Educacional Especializado nas escolas pesquisadas
ED1 ED2 ED3 ED4 ED5 ED6 ED7
Possui Sala de Recursos Multifuncionais X X X X
Possui Professor de AEE X X
Escola - polo e atende estudantes puacuteblico alvo da EE de outras duas escolas
X
Oferta AEE na proacutepria escola X X
Encaminha os estudantes para o AEE em outra escola
X
Estudantes puacuteblico-alvo da EE satildeo acompanhados pelo Professor da Sala Comum e pelo Monitor de Inclusatildeo da Sala Comum
X X
Natildeo possui estrutura fiacutesica e recursos humanos para oferecer o AEE e natildeo apresenta indiacutecios de encaminhamento para outras escolas
X
Fonte Primaacuteria (2016)
Pode-se perceber a partir das informaccedilotildees contidas no Quadro 6 que natildeo
satildeo todas as escolas possuem Sala de Recursos Multifuncionais localizadas em seu
espaccedilo fiacutesico Das quatro (ED1 ED2 ED4 e ED7) que possuem apenas duas (ED2
e ED4) contam com professor de AEE e ofertam esse serviccedilo na proacutepria escola as
demais apesar de possuiacuterem o espaccedilo fiacutesico para realizaccedilatildeo do AEE natildeo o
realizam (ED1) ou apresentam um entendimento de que o AEE acontece na sala
comum a partir do acompanhamento do professor e do monitor de inclusatildeo (ED7)
Constatar que das 7 equipes diretivas pesquisadas 4 possuem Salas de
Recursos Multifuncionais implantadas em suas respectivas escolas e dessas
somente duas (ED2 e ED4) estatildeo em funcionamento permite identificar um ponto de
atenccedilatildeo que diz respeito a como satildeo compreendidas as necessidades e o processo
23
Inspirando-se em Bernardes (2014) optou-se por fazer uso do termo ―professor(a) especializado(a) para se referir a docentes atuantes no AEE pelo fato de tal trabalho se configurar como especializado
74
de escolarizaccedilatildeo desses estudantes nas escolas da Rede Municipal de Ensino
pesquisada ou seja as que natildeo possuem o loacutecus para o AEE exceto a ED5
parecem natildeo se organizar de formas diferentes para garantir os apoios necessaacuterios
a aprendizagem dos estudantes considerados da EE como por exemplo
encaminhaacute-los para as escolas que possuem o AEE Logo parece haver a
compreensatildeo de que o AEE se restringe ao espaccedilo da SRM contudo eacute um dos
aspectos que compotildeem esse serviccedilo
Nesse sentido Rossato e Leonardo (2012 p 113) convidam a refletir
[] ao se considerar a educaccedilatildeo escolar como fundamental para a apropriaccedilatildeo da cultura produzida cabe questionar sobre a educaccedilatildeo e dentro desta a educaccedilatildeo especial discutindo sobre as formas e condiccedilotildees de ensino oferecidas agraves pessoas com deficiecircncia e agraves pessoas que aprendem diferentemente por nem sempre lhes possibilitarem o aprendizado escolar Condiccedilotildees de ensino essas que podem concentrar nelas estigma de fracasso e de incapacidade de maneira a natildeo viabilizar e natildeo cumprir com a sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo do conhecimento elaborado sistematizado
Nesse mesmo sentido Martins (2001) reitera que ao se defender o acesso e
o direito de aprender dos estudantes puacuteblico-alvo da EE na escola regular ―aleacutem
dos aspectos legais que as respaldam eacute fundamental analisar que esta escola eacute um
direito de todos os cidadatildeos (MARTINS 2001 p 30)
Ante o exposto questiona-se como a poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na
Perspectiva da Inclusiva (BRASIL 2008) e suas diretrizes vecircm sendo interpretadas
subjetivadas24 pelo sistema municipal de ensino e por conseguinte pelas equipes
diretivas pesquisadas
Compreende-se que essas equipes diretivas possuem um papel de referecircncia
na escola na organizaccedilatildeo e implementaccedilatildeo do serviccedilo de AEE juntamente com a
comunidade escolar considerando a necessidade desse serviccedilo e sua forma de
atuaccedilatildeo para garantir a permanecircncia e aprendizagem dos estudantes puacuteblico-alvo
da EE por meio de um processo de escolarizaccedilatildeo que leve em conta suas
singularidades potencialidades e sobretudo a garantia do direito de aprender
Assim destaca-se dentre as diretrizes da EE a Portaria ndeg 25 de 19 de junho
de 2012 que dispotildee sobre o Programa de implementaccedilatildeo de SRM a qual esclarece
24 Conforme Bock (2001 p 23) a subjetividade eacute ―concebida como algo que se constitui na relaccedilatildeo com o mundo material e social mundo este que soacute existe pela atividade humana Subjetividade e objetividade se constituem uma agrave outra sem se confundir
75
em seu o art 6ordm os compromissos assumidos pelo municiacutepio quando esse se propotildee
a implementar as salas de recursos
Art 6ordm Fica obrigada a DONATAacuteRIA [neste caso o Municiacutepio] a I - subordinar-se agraves diretrizes do Programa II- responsabilizar-se pela preservaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico para a instalaccedilatildeo dos bens doados III- disponibilizar professor para atuar na organizaccedilatildeo e oferta do atendimento educacional especializado - AEE IV- responsabilizar-se pela manutenccedilatildeo dos equipamentos doados V- orientar a escola destinataacuteria para instituir no seu Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico a organizaccedilatildeo e oferta do Atendimento Educacional Especializado complementar ou suplementar agrave escolarizaccedilatildeo de estudantes puacuteblico alvo da educaccedilatildeo especial matriculados nas classes comuns do ensino regular na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Educaccedilatildeo Profissional VI- promover a formaccedilatildeo continuada aos professores que atuam no AEE [] (BRASIL 2012 p33 grifos nosso)
Desse modo ao dispor de espaccedilo fiacutesico e natildeo utilizaacute-lo pode-se configurar
que alguns compromissos preacute-estabelecidos na referida Portaria (com destaque
para o art III nesse caso) natildeo estatildeo sendo cumpridos de modo a sinalizar que de
algum modo vem sendo negado ao estudante puacuteblico-alvo da EE o seu direito de
fazer uso de um espaccedilo que uma vez dotado de equipamentos mobiliaacuterios e
materiais didaacuteticos pedagoacutegicos e contando com o trabalho do professor
especializado e demais envolvidos pode contribuir no seu processo de
escolarizaccedilatildeo Por mais que esse espaccedilo por si soacute natildeo assegure ao estudante
puacuteblico-alvo da EE seu direito de aprender ele eacute uma das estrateacutegias que compotildeem
esse processo Nesse sentido concorda-se com Effgen (2011) quando ressalta
que ao discutir acerca da SRM e do AEE eacute preciso considerar ―[] que esse
espaccedilo e esse dispositivo configuram-se como uma rede de apoio agrave sala de aula
regular mas o centro do processo ensino-aprendizagem eacute a sala regular
(EFFGEN 2011 p158)
Ainda com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo das equipes diretivas sobre o serviccedilo de
AEE observou-se que a ED7 e a ED3 expressaram que o atendimento educacional
especializado aos estudantes puacuteblico-alvo da EE acontece por meio do
acompanhamento em suas escolas pelo Professor da Sala Comum e pelo Monitor
de Inclusatildeo na Sala Comum Esse uacuteltimo segundo a Lei Complementar nordm 192008
(CAMBORIUacute 2008) art 17D tem como atribuiccedilotildees as seguintes
76
I - auxiliar a docecircncia nas praacuteticas pedagoacutegicas mediando o desenvolvimento do aluno juntamente com o professor em situaccedilotildees que requeiram auxiacutelio como higiene alimentaccedilatildeo e locomoccedilatildeo dos educandos II - atuar diretamente com o aluno com muacuteltiplas deficiecircncias graves comprometimentos mentais ou condutas tiacutepicas de siacutendromes contribuindo para sua interaccedilatildeo e socializaccedilatildeo com os pares III - favorecer o desenvolvimento da independecircncia e autonomia dos alunos em suas atividades de vida diaacuteria e social no contexto escolar e nas atividades extraclasse auxiliando-os no que for necessaacuterio como a) cuidado pessoal uso do sanitaacuterio escovaccedilatildeo dos dentes banho troca de fraldas vestuaacuterio e outros b) refeiccedilotildees auxiliar o aluno em sua alimentaccedilatildeo c) locomoccedilatildeo conduzir o aluno que faz uso de cadeira de rodas eou apresenta dificuldades motoras aos diferentes espaccedilos fiacutesicos bem como realizar a transposiccedilatildeo do aluno para o sanitaacuterio carteira escolar e outros IV - executar tarefas afins com a educaccedilatildeo e de auxiacutelio para o levantamento de caracterizaccedilatildeo de perfil da comunidade escolar e acompanhamento da efetividade das accedilotildees realizadas e natildeo como forma de captaccedilatildeo de clientes VI - realizar accedilotildees no ambiente que favoreccedilam as condiccedilotildees adequadas para o processo de ensino e aprendizagem VII - contribuir para o planejamento e realizaccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas da escola VIII - executar outras atividades compatiacuteveis com o cargo IX - realizar as atividades que forem designadas por seu superior hieraacuterquico ou pela Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo (Redaccedilatildeo acrescida pela Lei Complementar n 7ordm 02014) (CAMBORIUacute 2008 sp)
Pode-se observar a partir da exposiccedilatildeo acima acerca das atribuiccedilotildees do
monitor de inclusatildeo orientaccedilotildees a esse profissional que dizem respeito agraves questotildees
pedagoacutegicas mas uma ecircnfase maior aos aspectos de cuidado assistecircncia e
socializaccedilatildeo do estudante puacuteblico-alvo da EE no acircmbito escolar Essa ecircnfase maior
por sua vez encontra seu fundamento na PNEE-PI (BRASIL 2008 sp) quando
essa reitera que
[] cabe aos sistemas de ensino ao organizar a educaccedilatildeo especial na perspectiva da educaccedilatildeo inclusiva disponibilizar as funccedilotildees de instrutor tradutorinteacuterprete de Libras e guia inteacuterprete bem como de monitor ou cuidador dos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene alimentaccedilatildeo locomoccedilatildeo entre outras que exijam auxiacutelio constante no cotidiano escolar
Entende-se no entanto que o monitor de inclusatildeo tem um importante papel
tambeacutem no desenvolvimento da aprendizagem e autonomia do estudante puacuteblico-
alvo da EE em interlocuccedilatildeo com o professor da sala comum professor
especializado equipe diretiva demais profissionais da escola e pais Nesse sentido
destaca-se a importacircncia da constituiccedilatildeo de espaccedilo e tempos para discussotildees sobre
os planejamentos estrateacutegias e recursos a serem utilizados com os estudantes da
EE assim como a necessidade de formaccedilatildeo providas pelos sistemas de ensino e
77
pelas escolas para os profissionais da educaccedilatildeo para discutir e refletir os assuntos
educacionais
Entende-se que estes espaccedilos e tempos de discussatildeo reflexatildeo
planejamento e formaccedilatildeo quando associados a um trabalho colaborativo na escola
podem contribuir para ressignificar os papeacuteis dos profissionais da educaccedilatildeo assim
como suas responsabilidades individuais e coletivas no processo de escolarizaccedilatildeo
do estudante puacuteblico-alvo da EE Como explicou Buumlrkle (2010 p 19) o trabalho e o
ensino colaborativo
[] abrange o professor de turma regular e o da Educaccedilatildeo Especial [monitor de inclusatildeo] poreacutem eacute indispensaacutevel que todos os envolvidos no processo educativo participem se envolvam e colaborem As parcerias estabelecidas possibilitam o desenvolvimento de ensino-aprendizagem mais adequado agraves necessidades educacionais especiais do aluno permitindo assim que o processo de inclusatildeo se efetive Uma inclusatildeo onde pertencer significa participar e natildeo apenas estar junto
No entanto realccedila-se aqui as situaccedilotildees das escolas em que atuam a ED1 e
ED6 A ED1 apesar de possuir a SRM natildeo conta com o profissional especializado e
de acordo com os dizeres do(a) supervisor(a) [] ―nenhum destes alunos possui
atendimento especializado Jaacute a ED6 aleacutem de natildeo possuir estrutura fiacutesica e
recursos humanos para oferecer o AEE natildeo apresenta indiacutecios de encaminhamento
para outras escolas E conforme o relato do(a) diretor(a) ED6d ―[] infelizmente
[estes estudantes puacuteblico-alvo da EE] natildeo satildeo atendidos
A partir desses dados eacute possiacutevel inferir que o serviccedilo de AEE natildeo vem sendo
realizado pela escola ainda que essa tenha estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo
Especial matriculados revelando uma negligecircncia Essa negligecircncia por sua vez
denota as ―tensotildees entre o legal documentado [e] sistemaacutetica jaacute estabelecida vivida
no espaccedilo escolar (FUCK 2014 p 147) Convergindo com a discussatildeo Freitas
(2011 p227) enfatiza que
[] o desafio da escola comum natildeo eacute somente com a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncias mas o de uma transformaccedilatildeo na sua totalidade pedagoacutegica tendo em vista as diferenccedilas de todos os alunos Daiacute os inuacutemeros desafios frente agraves contradiccedilotildees que demarcam as diferentes realidades do contexto nacional se acreditarmos numa educaccedilatildeo como processo de mudanccedila e de transformaccedilatildeo
78
Diante desses apontamentos iniciais que puderam ser realizados com base
na situaccedilatildeo do AEE em cada escola passa-se agora agrave anaacutelise das respostas das
equipes diretivas ao questionamento feito acerca do que pensam sobre o AEE
Dos 22 participantes 15 demonstraram uma compreensatildeo sobre o AEE
focada em seu puacuteblico alvo 4 no local de atendimento (Sala de Recursos
Multifuncionais) e 3 no processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Com exceccedilatildeo
desses uacuteltimos foi possiacutevel perceber que a maioria dos participantes demonstrou
uma compreensatildeo fragmentada privilegiando um dentre os diversos aspectos que
envolvem esse serviccedilo
Iniciando pelos participantes que demonstraram uma compreensatildeo sobre o
AEE com foco no puacuteblico-alvo desse serviccedilo observou-se que representam a
maior parte das equipes diretivas Ao especificarem quem compotildee esse puacuteblico-
alvo notou-se que a principal referecircncia feita por elas foi ao estudante com
deficiecircncia seguida de estudantes com dificuldades e distuacuterbios As falas a seguir
ilustram esse entendimento
ED3
d Satildeo alunos com dificuldade que recebem atendimento
especializado ED2
o Eacute um atendimento individualizado [para os estudantes puacuteblico-alvo
da EE] trabalhando suas habilidades ED4
s Atendimento para auxiliar alunos com deficiecircncia e distuacuterbios (grifo
nosso)
Esses dizeres que emergiram a partir do questionamento ―Qual eacute a sua
compreensatildeo sobre o AEE podem ser relacionados agraves falas emitidas pelos
participantes quando perguntados sobre ―Quem satildeo os estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial O Quadro 7 a seguir indica quais foram as suas respostas
Quadro 7 Puacuteblico-alvo do AEE nos dizeres das equipes diretivas escolares pesquisadas
Equipes diretivas
escolares Diretor(a) Orientador(a) Educacional Supervisor(a) Educacional
ED1
Estudantes com deficiecircncia auditiva
paralisia cerebral parcial deficiecircncia intelectual deficiecircncia muacuteltipla
autismo[transtornos]
Estudantes com deficiecircncia
auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia intelectual
deficiecircncia muacuteltipla autismo
[transtornos]
Estudantes com deficiecircncia auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia
intelectual deficiecircncia muacuteltipla
autismo [transtornos] Nenhum destes alunos possui atendimento
especializado a natildeo ser com a
psicoacuteloga
ED2 Alunos com laudo meacutedico
Alunos que apresentam algum
laudo meacutedico pedindo o auxiacutelio desse atendimento
Alunos do ensino fundamental da
rede puacuteblica de Camboriuacute do primeiro ao nono ano
ED3 Alunos com deficiecircncia Satildeo os alunos com dificuldades
especiais [] Os que tecircm deficiecircncia graves []
79
ED4
Alunos com baixa visatildeo
deficiecircncia e transtorno globais de
desenvolvimento Alunos com deficiecircncia e com
deacuteficit de atenccedilatildeo Alunos com deficiecircncia e com distuacuterbios de aprendizagem
ED5 Alunos com deficiecircncia Alunos com deficiecircncia Alunos com deficiecircncia
ED6
Alunos que precisam de atendimento
especializado de acordo com suas necessidades
especiacuteficas Satildeo todos os estudantes com
alguma dificuldade especiacutefica Alunos com algum tipo de deficiecircncia
fiacutesica ou deficiecircncia intelectual
ED7
Estudantes com deficiecircncia transtornos
globais do
desenvolvimento e altas habilidades
Estudantes com deficiecircncia transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades
Estudantes com deficiecircncia
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
Fonte Primaacuteria (2016)
Em primeiro lugar considera-se importante esclarecer que delimitar o puacuteblico-
alvo da Educaccedilatildeo Especial para aleacutem de definir para quem o serviccedilo de AEE eacute
destinado consiste em uma expressatildeo da loacutegica que marca a diferenccedila entre os
estudantes Conforme explicou Veiga-Neto (2011)
[] a proacutepria loacutegica de dividir os estudantes em classes ndash por niacuteveis cognitivos por aptidotildees por gecircnero por idades por classes sociais etc ndash foi um arranjo inventado para justamente colocar em accedilatildeo a norma atraveacutes de um crescente e persistente movimento de separando o normal do anormal marcar a distinccedilatildeo entre normalidade e anormalidade (VEIGA-NETO 2011 p 110-111 grifo nosso)
Quando observadas como um todo as falas dos participantes evidenciaram
que o termo utilizado com mais frequentes para se referir ao puacuteblico-alvo do AEE foi
―deficiecircncia conforme indicado no Quadro 8 a seguir
Quadro 8 - Recorrecircncias sobre o puacuteblico-alvo da EE nos dizeres das equipes diretivas escolares
pesquisadas
25 O indicador de recorrecircncia refere-se agrave quantidade de vezes que uma expressatildeo eacute repedida por um mesmo participante eou ele e os demais podendo ultrapassar o nuacutemero de participantes De acordo com Franco (2012 p 60) [] em grande parte das investigaccedilotildees qualquer que seja o tema explicitado o mesmo passa a ter mais importacircncia para a anaacutelise dos dados quanto mais frequentemente for mencionado
Categorias Recorrecircncia25
Deficiecircncia 18
Transtornos 7
Altas Habilidades 3
Laudo Meacutedico 2
Dificuldades especiacuteficasespeciais 2
Distuacuterbios 1
80
Fonte Primaacuteria (2016)
A partir da anaacutelise dos Quadros 7 e 8 pode-se dizer que haacute indiacutecios de que o
puacuteblico-alvo do AEE tem sido generalizado e focalizado como sendo ―estudantes
com deficiecircncia Nesse sentido questiona-se quem eou o que se perde de vista
quando o foco estaacute no estudante com deficiecircncia Pode-se dizer que ao restringir o
puacuteblico alvo da EE ao estudante com deficiecircncia incorre-se no risco de se distanciar
de uma compreensatildeo sobre os transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades [] ―jaacute que representam realidades complexas que necessitam de
compreensatildeo expliacutecita de suas caracteriacutesticas para que possam ser oferecidos os
apoios necessaacuterios (ARAOacuteZ 2010 p15)
Eacute preciso considerar inicialmente que a categorizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial definida na PNEE-EI (2008) como sendo pessoas com
deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo eacute uma constituiccedilatildeo histoacuterica recente Meletti e Bueno
(2011) esclarecem que as formulaccedilotildees das poliacuteticas de Educaccedilatildeo Especial no Brasil
ao incorporarem as orientaccedilotildees internacionais abordadas na Declaraccedilatildeo Mundial
sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) bem como a adesatildeo agrave Declaraccedilatildeo de
Salamanca (UNESCO 1994) procuraram se articular em uma perspectiva inclusiva
Por conseguinte na tentativa de se estabelecer um enfoque inclusivo foi possiacutevel
observar ao analisar as Diretrizes Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica
(BRASIL2001) que a categoria ―deficiecircncia era dissolvida no conceito de
necessidades educacionais especiais
Nesse sentido Meletti e Bueno (2011 p 111 - 112) enfatizam que
[] o termo [necessidades educacionais especiais] eacute utilizado inicialmente na Declaraccedilatildeo de Salamanca para caracterizar crianccedilas com deficiecircncia e crianccedila bem - dotadas crianccedilas que vivem nas ruas que trabalham crianccedilas de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais [] Isto indica que a deficiecircncia eacute entendida como uma expressatildeo localizada da diversidade que compotildee as chamadas necessidades educacionais especiais No Brasil a Declaraccedilatildeo de Salamanca passa a ser citada como um marco na educaccedilatildeo especial [] O conceito ―necessidade educacional especial passa a designar a condiccedilatildeo de deficiecircncia em nosso contexto imprimindo um novo sentido Novo mas natildeo a ponto de transformar como anunciado a concepccedilatildeo de deficiecircncia [] a adoccedilatildeo do termo necessidades
Necessidades Especiacuteficas 1
Deacuteficit de atenccedilatildeo 1
81
educacionais especiais por um lado pode representar um avanccedilo no sentido de minimizar a estigmatizaccedilatildeo e a pejoratividade de termos anteriores mas por outro lado como o conceito ―portador de necessidades educativas especiais abrange uma diversidade de sujeitos ao ganhar na amplitude e na quebra da estigmatizaccedilatildeo perde na precisatildeo
Identificou-se que mesmo demostrando imprecisatildeo o termo ―necessidades
educacionais especiais foi incorporado agrave Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 22001 que
instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educaccedilatildeo Especial na Educaccedilatildeo Baacutesica No
art 5ordm a referida Resoluccedilatildeo procurou especificar o que se entende que tais
necessidades sejam
Art 5ordm Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que durante o processo educacional apresentarem I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitaccedilotildees no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares compreendidas em dois grupos a) aquelas natildeo vinculadas a uma causa orgacircnica especiacutefica b) aquelas relacionadas a condiccedilotildees disfunccedilotildees limitaccedilotildees ou deficiecircncias II ndash dificuldades de comunicaccedilatildeo e sinalizaccedilatildeo diferenciadas dos demais alunos demandando a utilizaccedilatildeo de linguagens e coacutedigos aplicaacuteveis III - altas habilidadessuperdotaccedilatildeo grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos procedimentos e atitudes (BRASIL 2001 p 2 grifo nosso)
A ecircnfase conferida no documento agraves necessidades educacionais especiais
como sendo dificuldades de aprendizagem permite inferir que a adoccedilatildeo do termo
―favoreceu a classificaccedilatildeo de alunos com histoacuterico de fracasso escolar como
especiais (MELETTI amp BUENO 2011 p 113)
Essa forma de categorizar a deficiecircncia como parte do amplo conjunto de
necessidades educacionais especiais se alterou no discurso legal brasileiro em
2008 com a publicaccedilatildeo da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na perspectiva Inclusiva
(BRASIL 2008) Esse documento passou a delimitar o puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo
Especial agrave condiccedilatildeo de deficiecircncia e substituir a noccedilatildeo de condutas tiacutepicas pelo
conceito de transtornos globais do desenvolvimento suprimindo ainda a categoria
geneacuterica de dificuldade de aprendizagem (MELETTI amp BUENO 2011)
Ainda que esta breve contextualizaccedilatildeo histoacuterica possibilite acompanhar
algumas alteraccedilotildees realizadas nos discursos legais sobre o puacuteblico-alvo da EE os
dizeres dos integrantes das equipes diretivas evidenciaram que tais discursos de
fato natildeo satildeo apropriados da mesma maneira por todos Apesar da ED7 demonstrar
uma apropriaccedilatildeo semelhante do que estaacute posto na PNEE-EI (2008) sobre o puacuteblico-
82
alvo da EE o termo ―estudante com deficiecircncia ainda eacute o mais recorrente quando
se expande o olhar para as falas das equipes diretivas como um todo
Tal constataccedilatildeo pode significar que os estudantes com deficiecircncia
representam a maioria do puacuteblico-alvo da EE nas escolas pesquisadas mas
tambeacutem permite pensar que talvez exista uma dificuldade no processo de
identificaccedilatildeo dos estudantes com transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo No entanto suprimir os demais estudantes puacuteblico-alvo
da EE ao generalizaacute-los como ―estudantes com deficiecircncia pode indicar indiacutecios de
uma forma sutil de reiterar a invisibilidade desses no contexto escolar
Nesse sentido questiona-se se seriam esses estudantes com Transtornos
Globais do Desenvolvimento e Altas Habilidades Superdotaccedilatildeo pouco citados nos
dizeres dos integrantes das equipes diretivas escolares uma minoria matriculados
em sala de aula comum nas escolas brasileiras Para responder a esse
questionamento recorreu-se aos dados publicados no Censo Escolar (MECINEP
2015) a fim de conhecer o nuacutemero de estudantes puacuteblico-alvo da EE matriculados
no Brasil em Santa Catarina e no municiacutepio de Camboriuacute conforme detalhado no
Quadro 9 que segue
Quadro 9 Distribuiccedilatildeo das matriacuteculas por categoria utilizada no Censo Escolar de 2015 (MECINEP 2015) no Brasil em Santa Catarina e no Municiacutepio de Camboriuacute
Total de Matriacuteculas na Educaccedilatildeo Especial em Classes Comuns - Ensino Regular e
EJA
Categoria26 Brasil Santa
Catarina Camboriuacute
Deficiecircncia
Cegueira 5691 209 3
Baixa Visatildeo 64123 1858 25
Surdez 22945 704 11
Deficiecircncia Auditiva 31329 1330 11
Surdocegueira 337 13 0
Deficiecircncia Fiacutesica 100254 3382 21
Deficiecircncia Intelectual 490015 17731 180
Deficiecircncia Muacuteltipla 41948 1870 14
Total - Deficiecircncias 756642 27097 265
Transtornos Globais do Desenvolvimento
Autismo 41194 2094 19
Siacutendrome de Asperger 8244 768 7
26
Ressalta-se que conforme as instruccedilotildees disponibilizadas pelo MECINEP para preenchimento dos dados do Censo Escolar natildeo eacute necessaacuteria a comprovaccedilatildeo de laudo meacutedico no momento em que a escola informa no sistema Educacenso a categoria de um estudante puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial
83
Siacutendrome de Rett 1670 32 1
Transtorno Desintegrativa da Infacircncia ndash TDI
32904 1231 22
Total ndash TGD 84012 4125 49
Altas Habilidades Superdotaccedilatildeo
Altas HabilidadesSuperdotaccedilatildeo
14166 314 0
Total - AHSD 14166 314 0
Fonte Formulado a partir dos dados contidos na Sinopse Estatiacutestica da Educaccedilatildeo Baacutesica (MECINEP 2015) Nota-se que de fato os estudantes com transtornos globais e com altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo satildeo minoria sendo os estudantes com deficiecircncia a
maioria do puacuteblico-alvo da EE matriculado nas escolas do Brasil Santa Catarina e
Camboriuacute Ou seja quando as equipes diretivas pesquisadas recorrem com
frequecircncia ao termo ―deficiecircncia para especificar o puacuteblico-alvo da EE pode-se
dizer que elas falam daquilo que vivenciam em seu cotidiano escolar por mais que o
faccedilam de forma generalizada
Contudo generalizar que os estudantes puacuteblico-alvo da EE se resumem aos
estudantes com deficiecircncia em funccedilatildeo dessa prevalecircncia numeacuterica consiste em uma
forma de encobrir a existecircncia dos demais estudantes e com isso correr o risco de
negar a diversidade que tambeacutem existe no acircmbito do puacuteblico-alvo da EE Nessa
direccedilatildeo Vasques (2015 p118) esclarece que
[] a inclusatildeo escolar envolve uma construccedilatildeo compartilhada a partir dos nossos pressupostos a respeito de educaccedilatildeo escola aluno [educaccedilatildeo especial] infacircncia etc Tais antecipaccedilotildees ganham significados a partir do contexto da historicidade e da interpretaccedilatildeo dos sujeitos das poliacuteticas puacuteblicas educacionais e das instituiccedilotildees envolvidas
Adentrado agora nos pontos que chamaram especificamente a atenccedilatildeo nas
falas de algumas equipes diretivas notou-se que o(a) supervisor(a) educacional da
ED1 mencionou que nenhum dos estudantes puacuteblico-alvo da EE citados (estudantes
com deficiecircncia auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia mental intelectual e
muacuteltipla) recebe atendimento especializado a natildeo ser com a psicoacuteloga Investigando
as funccedilotildees do psicoacutelogo na escola encontrou-se na Lei Complementar Nordm 192008
(CAMBORIUacute 2008) as seguintes atribuiccedilotildees
At 17 Satildeo atribuiccedilotildees do Suporte Pedagoacutegico na funccedilatildeo de Psicoacutelogo lotado na Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
84
I - contribuir no processo de inclusatildeo social de alunos com necessidades educativas especiais realizando um trabalho coletivo com os pais educadores e equipe pedagoacutegica II - auxiliar no processo de inclusatildeo escolar rompendo com as praacuteticas excludentes III - orientar os professores para desenvolverem accedilotildees planejadas que promovam a apropriaccedilatildeo do saber escolar e o desenvolvimento cognitivo dos estudantes IV - promover discussatildeo sobre a inclusatildeo e o respeito agrave diversidade humana V - contribuir no processo ensino-aprendizagem colaborando com o corpo docente e teacutecnico na compreensatildeo das questotildees de aprendizagem e relacionamento VI - colaborar na reconstruccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das praacuteticas educacionais visando favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento psicossocial dos alunos VII - avaliar alunos com dificuldade de aprendizagem e o desenvolvimento psicossocial destes VIII - avaliar alunos com dificuldade de aprendizagem emitindo parecer psicoloacutegico e propondo encaminhamentos quando necessaacuterio IX - promover palestras encontros eou grupos de reflexatildeo para pais e familiares possibilitando maior envolvimento da famiacutelia no meio escolar X - desenvolver conforme necessidade da escola programas de orientaccedilatildeo profissional em conjunto com a equipe pedagoacutegica XI - realizar pesquisas na aacuterea da psicologia escolar contribuindo para a construccedilatildeo de novos saberes XII - promover a articulaccedilatildeo e troca de conhecimentos entre as diferentes aacutereas de saber XIII - colaborar com os processos de transformaccedilatildeo da realidade escolar tendo como meta a escola democraacutetica de qualidade social e para todos XIV - executar outras atividades compatiacuteveis com o cargo XV - realizar as atividades que forem designadas por seu superior hieraacuterquico ou pela Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo (CAMBORIUacute 2008)
Torna-se claro pelas funccedilotildees expostas no documento que o trabalho do
psicoacutelogo escolar eacute relevante para o processo de escolarizaccedilatildeo Em pesquisa
disponiacutevel no site do Conselho Federal de Psicologia realizada no ano de 2015 com
professores de diversas regiotildees do Brasil sobre temas relativos agrave profissatildeo docente
e ao contexto educacional do paiacutes foi constatado que a rede puacuteblica de ensino
deveria dispor de um serviccedilo integrado com psicoacutelogo(a) psicopedagogo(a) e
assistente social Para 50 dos professores entrevistados as secretarias de
educaccedilatildeo deveriam oferecer psicoacutelogos enquanto 28 solicitavam psicopedagogos
8 assistentes sociais 7 mediadores de conflito e 4 fonoaudioacutelogos
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA 2015 sp)
Esse trabalho do psicoacutelogo escolar ainda que natildeo substitua o atendimento
educacional especializado pode contribuir para favorecer um trabalho coletivo
voltado agrave escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Dazzani (2010 p 371)
apoiada em Martinez (2001) explanou que
85
[] mesmo diante de todas as criacuteticas agrave histoacuteria das relaccedilotildees entre psicologia e educaccedilatildeo devemos insistir que o conhecimento produzido pelas ciecircncias psicoloacutegicas pode contribuir com a praacutetica educativa ou seja consideramos que o psicoacutelogo pode e deve se envolver diretamente com a accedilatildeo educacional Pensando assim as estrateacutegias do psicoacutelogo educacional devem ser concebidas como um dos modos de interpretar a realidade educacional objetiva (social e politicamente objetiva) sem reduzi-la a um fenocircmeno puramente psicoloacutegico
Nesse sentido no que tange agrave realizaccedilatildeo do AEE da Rede Municipal de
Ensino de Camboriuacute haacute indiacutecios de que a forma como o serviccedilo estaacute estruturado e
organizado natildeo corrobora para assegurar o direito a aprender dos estudantes
puacuteblico-alvo da EE Isso porque como explicou Omote (2004 p6)
[] a mera inserccedilatildeo do aluno deficiente em classe comum natildeo pode ser confundida com a inclusatildeo Na verdade toda a escola precisa ter caraacuteter inclusivo nas suas caracteriacutesticas e no funcionamento para que sejam matriculados alunos deficientes [] Uma escola que soacute busca arranjo especial determinado pela presenccedila de algum aluno deficiente e na qual a adequaccedilatildeo eacute feita para as necessidades particulares dele natildeo pode ser considerada propriamente inclusiva
Nessa perspectiva Freitas (2002) alerta que ao fazer uma anaacutelise acerca da
escola puacuteblica eacute preciso considerar as pressotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais
postas pelo sistema capitalista a ela Pressotildees essas que se traduzem em poliacuteticas
puacuteblicas impregnadas de pressupostos neoliberais e colocadas em funcionamento
com o objetivo de ―reduzir custos econocircmicos sociais e poliacuteticos sem alterar a
essecircncia seletiva da escola resultando em maior nuacutemero de repetecircncia e evasatildeo
criando um campo de exclusatildeo subjetiva (FREITAS 2002 p 299) Isso pode
significar que a forma como a escola puacuteblica estaacute organizada pode natildeo estar
considerando as singularidades e potencialidades da maioria de seus estudantes e
natildeo somente dos que satildeo denominados puacuteblico-alvo da EE Nessa direccedilatildeo o autor
enfatiza ainda que
[] quanto mais se falou em inclusatildeo mais se legitimou a exclusatildeo social preacutevia agrave escolarizaccedilatildeo por um mecanismo dissimulatoacuterio de inclusatildeo formal na escola que transmutou a exclusatildeo escolar objetiva (repetecircncia evasatildeo) em exclusatildeo escolar subjetiva (auto-exclusatildeo entre ciclos ―opccedilotildees por trilhas de progressatildeo menos privilegiadas tracircnsito formal sem domiacutenio real) a partir dos horizontes e das possibilidades de classe previamente interiorizados pelas condiccedilotildees objetivas de cada classe na sociedade (FREITAS 2002 p 310)
86
Em meio agraves reflexotildees supracitadas pode-se perceber a importacircncia da
atuaccedilatildeo criacutetica e reflexiva da equipe diretiva juntamente com a comunidade escolar
no que tange agraves poliacuteticas educacionais de modo a compreender o contexto
histoacuterico econocircmico poliacutetico e social em que estatildeo inseridos assim como quais
pressupostos permeiam tais poliacuteticas buscando formas de constituir um fazer
pedagoacutegico que possa contribuir com um efetivo processo de escolarizaccedilatildeo para
todos os estudantes
Ao seguir com as anaacutelises se observou que a maioria dos integrantes da
ED2 por sua vez enfatizaram que o puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial satildeo todos
os estudantes com laudos meacutedicos indicando que a forma como essa equipe
diretiva compreende os referidos estudantes estaacute pautada em um modelo meacutedico-
psicoloacutegico Essa perspectiva que se expressa no ato de requerer ou se basear no
laudo meacutedico eou psicoloacutegico para realizar um atendimento educacional
especializado encontra seu fundamento na histoacuteria da Educaccedilatildeo Especial quando
os aspectos cliacutenicos predominavam em detrimento dos pedagoacutegicos A esse
respeito Garcia (2007 p17) esclareceu que
[] o modelo meacutedico psicoloacutegico contribuiu para que a tarefa da educaccedilatildeo especial estivesse a serviccedilo de um sistema educacional de organizaccedilatildeo seriada elitista e classificatoacuteria produtor de exclusatildeo da escola de ensino fundamental e estruturado historicamente por meio de uma organizaccedilatildeo racional do trabalho pedagoacutegico com base na homogeneidade
As falas das equipes diretivas sinalizam que o laudo meacutedico se caracteriza
como uma espeacutecie de ―credencial para que o estudante puacuteblico-alvo da EE consiga
acessar seu direito ao serviccedilo de AEE bem como a outros serviccedilos Quando se
confere tal relevacircncia ao laudo corre-se o risco de planejar as accedilotildees escolares
voltadas para a deficiecircncia e natildeo para o estudante e suas potencialidades Contudo
ressalta-se que segundo informaccedilotildees da Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria
Municipal de Educaccedilatildeo obtidas por meio de entrevista durante o processo de coleta
de dados desta pesquisa a ausecircncia de laudo natildeo eacute impeditiva para a oferta do
AEE a esses estudantes Essa informaccedilatildeo por sua vez converge com as
orientaccedilotildees contidas na Nota Teacutecnica no 042014MECSECADIDPEE quando essa
enfatiza que
[] natildeo se pode considerar imprescindiacutevel a apresentaccedilatildeo de laudo meacutedico (diagnoacutestico cliacutenico) por parte do aluno com deficiecircncia transtornos globais
87
do desenvolvimento ou altas habilidadessuperdotaccedilatildeo uma vez que o AEE caracteriza-se por atendimento pedagoacutegico e natildeo cliacutenico Durante o estudo de caso primeira etapa da elaboraccedilatildeo do Plano de AEE se for necessaacuterio o professor do AEE poderaacute articular-se com profissionais da aacuterea da sauacutede tornando-se o laudo meacutedico neste caso um documento anexo ao Plano de AEE Por isso natildeo se trata de documento obrigatoacuterio mas complementar quando a escola julgar necessaacuterio O importante eacute que o direito das pessoas com deficiecircncia agrave educaccedilatildeo natildeo poderaacute ser cerceado pela exigecircncia de laudo meacutedico (BRASIL 2014 sp)
Nesse sentido considera-se que ao conferir ecircnfase ao laudo meacutedico incorre-
se no risco de uma interpretaccedilatildeo que pode culminar em condiccedilotildees de ensino que
levem em conta unicamente a dimensatildeo individual de modo a estigmatizar e
responsabilizar cada estudante pelo seu eventual fracasso ou sucesso escolar
(ROSSATO e LEONARDO 2012)
Nota-se portanto no que tange agrave necessidade do laudo meacutedico um
desencontro entre a perspectiva da Coordenaccedilatildeo e de parte da equipe diretiva da
escola ED2 o que sugere a necessidade de uma aproximaccedilatildeo e articulaccedilatildeo entre as
duas instacircncias em prol do processo de escolarizaccedilatildeo do estudante puacuteblico-alvo da
EE
Quanto agrave ED4 percebeu-se na fala do(a) orientador(a) educacional que foi
feita uma referecircncia ao estudante com deacuteficit de atenccedilatildeo como sendo puacuteblico-alvo
da EE demonstrando uma divergecircncia do que estaacute posto na PNEE-EI (BRASIL
2008) sobre quem satildeo os estudantes que devem receber atendimento educacional
especializado A fala desse(a) participante contudo estaacute alinhada ao Plano
Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute instituiacutedo pela Lei nordm 28322015 (CAMBORIUacute
2015) que inclui os estudantes com transtorno de deacuteficit de atenccedilatildeo como parte do
puacuteblico-alvo a ser atendido pelo serviccedilo de AEE assim como ao documento da
Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina de 2014
[] fomentar a oferta do atendimento educacional especializado complementar e suplementar aos estudantes com deficiecircncia transtornos do espectro do autismo transtorno do deacuteficit de atenccedilatildeo com hiperatividade e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo assegurando a educaccedilatildeo biliacutengue para crianccedilas surdas e a transversalidade da educaccedilatildeo especial nessa etapa da educaccedilatildeo baacutesica com profissionais habilitados (CAMBORIUacute 2015 p 7 grifo nosso)
De acordo com as orientaccedilotildees da Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada
Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo por meio da Diretoria de Poliacuteticas de
88
Educaccedilatildeo Especial27 (SECADIDPEE) estudantes que apresentam transtornos
funcionais especiacuteficos tais como Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo - TDA
Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo ndash Hiperatividade - TDHA e Dislexia natildeo fazem
parte do puacuteblico alvo da educaccedilatildeo especial (INEP 2011 sp) Contudo apesar da
PNEE-EI (BRASIL 2008) esclarecer delimitar e especificar o puacuteblico-alvo da EE
como sendo pessoas com deficiecircncias transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades e superdotaccedilatildeo foi possiacutevel identificar no documento da Poliacutetica
de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina (SANTA CATARINA 2014) a
inclusatildeo de pessoas com diagnoacutestico de transtorno do deacuteficit de
atenccedilatildeohiperatividade como parte desse puacuteblico-alvo
[] eacute importante observar que no Estado de Santa Catarina em 2006 foi publicada a Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina elaborada pela Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial (FCEE) e pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo com o mesmo marco conceitual da Proposta Curricular do Estado Esta poliacutetica adota nomenclaturas e dinacircmicas para serviccedilos jaacute disponibilizados inclui as pessoas com diagnoacutestico de transtorno do deacuteficit de atenccedilatildeohiperatividade como puacuteblico da educaccedilatildeo especial e institui a co-regecircncia com o segundo professor (SANTA CATARINA 2014 p72 grifos nosso)
Pode-se inferir nesse sentido que o Plano Municipal de Educaccedilatildeo de
Camboriuacute se apoiou na poliacutetica estadual ao definir quem seriam os estudantes a
receber atendimento educacional especializado Com relaccedilatildeo ainda ao transtorno
do deacuteficit de atenccedilatildeo Leite etal (2012) evidencia um ponto de tensatildeo acerca de
encaminhamentos realizados pelas escolas dos estudantes com suspeita desse
transtorno uma vez que tem levado a um ―diagnoacutestico desse problema natildeo raros
feitos de maneira aligeirada e superficial combinada a uma prescriccedilatildeo exacerbada
de medicamentos para trataacute-los se constituindo em um fenocircmeno crescente no
cenaacuterio brasileiro (LEITE et al 2012 p 142) Sobre essa questatildeo Collares e
Moyseacutes (1996 p7) ressaltam ainda que
27
A Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo - SECADI eacute a responsaacutevel pelo Programa de implantaccedilatildeo das SRM e o compreende como parte das poliacuteticas puacuteblicas inclusivas e como uma accedilatildeo que responde agrave necessidade histoacuterica de promover condiccedilotildees de acesso e permanecircncia no ensino regular dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial (BRASIL 2013)
89
[] existem crianccedilas com necessidades especiais[puacuteblico-alvo da EE] Entretanto o universo de crianccedilas normais que satildeo transformadas em doentes por uma visatildeo de mundo medicalizada da sociedade em geral e da instituiccedilatildeo escolar em particular eacute tatildeo grande que tem nos impedido de identificar e atender adequadamente as crianccedilas que realmente precisam de atenccedilatildeo especializada []
Ateacute aqui foi possiacutevel problematizar algumas questotildees que surgiram a partir
das respostas dos participantes da pesquisa agrave pergunta ―Quem satildeo os estudantes
puacuteblico-alvo do AEE A partir de agora volta-se a anaacutelise para as respostas dos
profissionais das equipes diretivas agrave questatildeo ―Qual a sua compreensatildeo sobre
serviccedilo do AEE As respostas fornecidas a ambas as questotildees foram
semelhantes uma vez que ao falarem sobre o serviccedilo a maioria dos participantes
focalizou o seu puacuteblico-alvo Pode-se dizer que as equipes diretivas lanccedilaram luz ao
fazecirc-lo sobre um aspecto importante desse serviccedilo que se refere a para quem ele eacute
ofertado Entretanto adverte-se para o risco de se tomar a parte pelo todo isto eacute
reduzir o AEE ao indiviacuteduo que eacute puacuteblico-alvo desse serviccedilo
Uma compreensatildeo fragmentada sobre esse serviccedilo pode levar a um
entendimento descontextualizado que deixa de fora da anaacutelise outros fatores que
compotildeem o AEE como o contexto social poliacutetico e econocircmico vigente a
participaccedilatildeo da famiacutelia e comunidade o envolvimento de todos os profissionais da
escola na efetivaccedilatildeo do AEE dentre os quais figura a equipe diretiva aqui estudada
as condiccedilotildees objetivas da escola e as concepccedilotildees teoacutericas que embasam a atuaccedilatildeo
dos integrantes das Equipes Diretivas
Em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees objetivas Paro (2016b) esclarece que se referem agrave
infraestrutura fiacutesica aos recursos humanos materiais e pedagoacutegicos agrave formaccedilatildeo
profissional em serviccedilo ao apoio aos professores dentre outros fatores Tais
condiccedilotildees podem favorecer ou desfavorecer o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial bem como o trabalho da equipe
diretiva escolar no que tange agrave implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do Atendimento
Educacional Especializado
Simplificar a compreensatildeo do AEE reduzindo-o ao estudante com
deficiecircncia pode indicar que os integrantes das equipes diretivas natildeo entendem o
serviccedilo como aquele que contribui para uma adequaccedilatildeo estrutural pedagoacutegica e
cultural voltado a eliminar barreiras propiciando interface entre o professor
90
especializado e o professor da sala comum Nessa perspectiva Garcia (2008 p21)
expocircs que
[] ainda que a implantaccedilatildeo de serviccedilos especializados nas redes de ensino signifique um ganho em termos de oferta educacional puacuteblica para os alunos com deficiecircncia eacute necessaacuterio questionar qual o papel exercido por tais serviccedilos e como estatildeo relacionados ao trabalho pedagoacutegico realizado na educaccedilatildeo baacutesica
Compreender o AEE a partir do seu puacuteblico-alvo exige o cuidado de se
considerar a dimensatildeo do indiviacuteduo sem responsabilizaacute-lo unicamente pelo processo
de escolarizaccedilatildeo uma vez que a culpabilizaccedilatildeo individual eacute ―[] uma das estrateacutegias
psicossociais mais sutis na tarefa de legitimaccedilatildeo da exclusatildeo (GUARESCHI 2010
p 151)
Direcionar o foco ao estudante tambeacutem pode dar indiacutecios de que o processo
de escolarizaccedilatildeo pode estar ocorrendo de forma precaacuteria28 nas escolas
pesquisadas de forma que somente um aspecto ndash o estudante ou de forma mais
especiacutefica sua deficiecircncia ndash esteja sendo considerada quando se trata de oferecer
um atendimento que enfoque sua necessidade educacional especiacutefica O caraacuteter
ilusoacuterio da inclusatildeo nessa pesquisa se revela quando o serviccedilo de AEE para alguns
integrantes das equipes diretivas estudadas natildeo eacute compreendido a partir de uma
perspectiva contextualizada que considere aspectos estruturais pedagoacutegicos e
histoacuterico-culturais mas se reduz agrave deficiecircncia do estudante
Ainda que a maioria dos participantes tenha demonstrado uma
compreensatildeo sobre o AEE focalizada em seu puacuteblico-alvo alguns deles
apresentaram um entendimento sobre o serviccedilo com foco no local em que eacute
realizado (a Sala de Recursos Multifuncionais) conforme evidenciado nas falas de
ED1d ED1o e ED6s
ED1
d Temos a sala mas natildeo tem especialista para trabalhar
ED1o Temos a sala mas natildeo tem especialista para trabalhar nossos
alunos ED6
s Com relaccedilatildeo a nossa unidade de ensino e do municiacutepio em geral a
falta de espaccedilo adequado e profissionais qualificados eacute de grande expressatildeo (grifo nosso)
28
Segundo Martins (1997) inclusatildeo precaacuteria significa que todas as pessoas estatildeo incluiacutedas na sociedade de algum modo contudo podem estar incluiacutedas de forma perversa subalterna marginal
91
Percebe-se que ao serem perguntados sobre como compreendiam o AEE a
primeira associaccedilatildeo feita pelos participantes foi com um espaccedilo fiacutesico ―temos a
sala e se referem agrave ―falta de espaccedilo adequado O que chama atenccedilatildeo junto dessa
primeira associaccedilatildeo eacute uma segunda que eacute com relaccedilatildeo ao profissional
especializado
Essas satildeo duas partes importantes do serviccedilo a Sala de Recursos
Multifuncionais e o professor especializado Basta olhar a Resoluccedilatildeo nordm 42009
(BRASIL 2009) que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional
Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica para verificar o destaque conferido a esses
aspectos jaacute no seu art 1ordm
[] os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE) ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede puacuteblica ou de instituiccedilotildees comunitaacuterias confessionais ou filantroacutepicas sem fins lucrativos (BRASIL 2009 p 1 grifo nosso)
Evidencia-se a partir da citaccedilatildeo que na proacutepria resoluccedilatildeo a primeira
referecircncia feita ao que eacute o Atendimento Educacional Especializado no art 1 eacute
acompanhada logo na sequecircncia da expressatildeo sala de recursos multifuncionais
Vecirc-se portanto que essa associaccedilatildeo entre AEE e SRM se faz visiacutevel natildeo apenas
nos dizeres dos participantes mas tambeacutem nos documentos oficiais Os discursos
legais nesse sentido revelam-se como determinaccedilotildees dos discursos das equipes
diretivas ao se referirem ao AEE Sobre isso Vaz (2013 p44) ressaltou que eacute
preciso considerar nos discursos legais
[] o caraacuteter impositivo e direcionador que muitas vezes utiliza argumentos com caraacuteter humanista para convencer a populaccedilatildeo sobre seus objetivos [] os sujeitos podem apresentar resistecircncias em implementar a poliacutetica na escola no entanto a abrangecircncia dos discursos de convencimento e adesatildeo eacute muito significativa e faz parte de uma concepccedilatildeo de sociedade cuja intenccedilatildeo primordial eacute manter as relaccedilotildees antagocircnicas entre o capital e o trabalho
Ao fazer um contrapondo Franccedila (2008) destaca que as poliacuteticas
educacionais natildeo satildeo simplesmente incorporadas agrave escola por seus profissionais
ao inverso disso elas satildeo interpretadas ressignificadas pelos sujeitos que nela
trabalham podendo produzir nessas poliacuteticas transformaccedilotildees significativas que a
92
princiacutepio foram instituiacutedas Isso ocorre porque os profissionais da educaccedilatildeo ―satildeo
sujeitos histoacuterico-sociais marcados pelas suas experiecircncias e valores portanto
podem desempenhar um papel ativo capaz de constituir outros sentidos no processo
de implementaccedilatildeo das poliacuteticas (FRANCcedilA 2008 p 21)
Ao seguir com as discussotildees no que tange ao professor especializado pode-
se perceber que esse por sua vez eacute destacado em dois (art 12 e 13) dos catorze
artigos que compotildeem a Resoluccedilatildeo nordm 42009 (BRASIL 2009) Os requisitos
referentes agrave formaccedilatildeo desse docente bem como suas atribuiccedilotildees satildeo explorados
nos art 12 e 13
Art 12 Para atuaccedilatildeo no AEE o professor deve ter formaccedilatildeo inicial que o habilite para o exerciacutecio da docecircncia e formaccedilatildeo especiacutefica para a Educaccedilatildeo Especial Art 13 Satildeo atribuiccedilotildees do professor do Atendimento Educacional Especializado I ndash identificar elaborar produzir e organizar serviccedilos recursos pedagoacutegicos de acessibilidade e estrateacutegias considerando as necessidades especiacuteficas dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial II ndash elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade III ndash organizar o tipo e o nuacutemero de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais IV ndash acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular bem como em outros ambientes da escola V ndash estabelecer parcerias com as aacutereas intersetoriais na elaboraccedilatildeo de estrateacutegias e na disponibilizaccedilatildeo de recursos de acessibilidade VI ndash orientar professores e famiacutelias sobre os recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno VII ndash ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos promovendo autonomia e participaccedilatildeo VIII ndash estabelecer articulaccedilatildeo com os professores da sala de aula comum visando agrave disponibilizaccedilatildeo dos serviccedilos dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade e das estrateacutegias que promovem a participaccedilatildeo dos alunos
nas atividades escolares (BRASIL 2009 p 12 e 13)
Ao observar as atribuiccedilotildees do professor especializado natildeo eacute de se estranhar
que tamanha expectativa seja colocada sobre ele no que tange ao processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Expectativa essa
que pode culminar em
[] uma espeacutecie de hiper-responsabilizaccedilatildeo do docente como se as condiccedilotildees de acesso dos alunos e as proacuteprias condiccedilotildees em que se desenvolve sua atividade profissional natildeo estivessem limitadas por diretrizes normas e relaccedilotildees de poder tanto na escola como na sociedade (MARCELO 2009 p 124)
93
Pode-se dizer que em algumas das suas atribuiccedilotildees ele aparece como
responsaacutevel por atividades que implicam o envolvimento de outros profissionais que
compotildeem o contexto escolar Por exemplo na atribuiccedilatildeo V em que ele aparece
como responsaacutevel por estabelecer parcerias intersetoriais sem que haja alusatildeo de
que essa accedilatildeo demanda o envolvimento de outros sujeitos e do contexto escolar em
que estaacute inserido ou inciso VI em que ao docente eacute atribuiacuteda a responsabilidade
pela orientaccedilatildeo de professores e famiacutelias sobre os recursos pedagoacutegicos e de
acessibilidade utilizados pelo aluno sem que haja menccedilatildeo ao papel do orientador(a)
e supervisor(a) educacional nesse processo
Do mesmo modo na atribuiccedilatildeo VIII ao professor especializado eacute atribuiacuteda a
tarefa de estabelecer articulaccedilatildeo com o professor da sala comum sem que haja
referecircncia de que essa articulaccedilatildeo eacute uma via de matildeo dupla que exige tambeacutem o
envolvimento do professor da sala comum bem como o apoio do supervisor(a)
educacional com vistas a propiciar a interface entre esses profissionais no acircmbito
escolar
Apenas no art 9 da mesma Resoluccedilatildeo (BRASIL 2009 p 2) realccedila-se que a
elaboraccedilatildeo e a execuccedilatildeo do plano de AEE eacute de responsabilidade do professor que
atua no AEE em articulaccedilatildeo com ―[] os professores do ensino regular a
participaccedilatildeo das famiacutelias e em interface com os demais serviccedilos setoriais da sauacutede
da assistecircncia social entre outros necessaacuterios ao atendimento poreacutem sem
mencionar referecircncia ao papel da equipe diretiva nesse processo Presume-se que
esse papel esteja impliacutecito somente nos art 10 e 11 da referida Resoluccedilatildeo os quais
esclarecem que o plano de AEE deve integrar o projeto poliacutetico pedagoacutegico da
escola no qual se supotildee que haja envolvimento da equipe de gestatildeo escolar
Assim ao contemplar as compreensotildees dos integrantes das equipes diretivas
sobre o AEE pode-se evidenciar que em sua maioria os participantes parecem
restringir o serviccedilo ao estudante com deficiecircncia e agrave Sala de Recursos
Multifuncionaisprofessor especializado indicando uma compreensatildeo
descontextualizada sobre o AEE Essa visatildeo do AEE expressa nas falas das
equipes diretivas pode encontrar respaldo na legislaccedilatildeo e nas orientaccedilotildees e por
vezes pode culminar por limitar ou condicionar o fazer pedagoacutegico das equipes
diretivas
94
Para serem implementadas pressupotildeem-se que primeiramente as diretrizes
precisam ser analisadas e discutidas de forma criacutetica e reflexiva juntamente com
coletivo escolar Nesse sentido vislumbra-se o importante papel das equipes
diretivas em repensar e ressignificar juntamente com a comunidade escolar as
concepccedilotildees de mundo sociedade escola estudante educaccedilatildeo especial funccedilatildeo da
escola gestatildeo escolar formas de aprendizagens organizaccedilatildeo das turmas
Compreende-se que a realizaccedilatildeo dessa accedilatildeo nos espaccedilos escolares natildeo
ocorre de forma harmoniosa e colaborativa pelo contraacuterio eacute permeada por tensotildees
e conflitos mas ao mesmo tempo pode ser concebida como uma possiacutevel
alternativa como explicam Vioto e Vitaliano (2012 p 9) para
[] promover mudanccedilas educacionais de forma a transformar as escolas que historicamente se caracterizaram como espaccedilos educacionais destinados ao atendimento de alunos em classes regulares homogecircneas em escolas inclusivas nas quais a heterogeneidade possa ser percebida como princiacutepio baacutesico para elaboraccedilatildeo de todas as propostas pedagoacutegicas
Pensando nisso perguntou-se agraves equipes diretivas pesquisadas acerca de
suas compreensotildees sobre o trabalho do professor que atua no AEE a forma de
ingresso ao cargo a participaccedilatildeo nos processos coletivos da escola bem como
quem o acompanha e o auxilia no exerciacutecio de sua funccedilatildeo
Considerando que apenas as duas equipes diretivas ED2 e ED4 que
possuiacuteam o professor especializado responderam a esse item seratildeo analisadas e
discutidas somente as suas compreensotildees sobre o trabalho docente no AEE
Ao questionar os integrantes dessas duas equipes diretivas sobre o ingresso
do professor de AEE na funccedilatildeo foi possiacutevel observar que em ambos os casos foi
conduzido um processo de seleccedilatildeo segundo a ED2 um concurso puacuteblico e
conforme a ED4 um processo seletivo para contrataccedilatildeo temporaacuteria
Diferentemente da Rede Municipal de Joinville na qual de acordo com
Santos (2016) o ingresso docente no Atendimento Educacional Especializado tem
sido realizado geralmente por convite convocaccedilatildeo ou realocaccedilatildeo a Rede Municipal
de Camboriuacute parece privilegiar processos formais de seleccedilatildeo dos referidos
professores Chama a atenccedilatildeo contudo o fato de haver um(a) professor(a) de AEE
que natildeo eacute efetivo no cargo de acordo com o relato da ED4 Nesse caso pode-se
dizer que existe uma probabilidade de descontinuidade ou ruptura do trabalho
realizado por esse profissional o que pode tornar fraacutegil a estrutura do AEE na escola
95
e por conseguinte o processo de escolarizaccedilatildeo e o viacutenculo com os estudantes
puacuteblico-alvo da EE
Quanto agrave compreensatildeo da ED2 e ED4 sobre o trabalho realizado pelo(a)
professor(a) de AEE essa eacute evidenciada nas falas a seguir
ED2d [Eacute o profissional que] atende os alunos com deficiecircncia []
ED2o
Eacute um profissional diferenciado com uma qualificaccedilatildeo especializada que tem um olhar para o outro como um ser que precisa do mesmo carinho afeto paciecircncia para que alcance os objetivos ED2
s [Eacute um profissional que]
auxilia a promover a interaccedilatildeo do aluno
com os professores do ensino regular ED4
d Eacute um profissional que auxilia no desenvolvimento
ED4o
[Eacute um trabalho] muito significativo quando levado a seacuterio com responsabilidade Fazer atividades relevantes ED4
s [Eacute um trabalho] que auxilia a desenvolver as habilidades que satildeo
mais comprometidas nos alunos com deficiecircncia
Evidenciou-se que na maioria das falas dos integrantes das equipes
diretivas o foco do trabalho docente eacute o estudante com deficiecircncia Esse enfoque
tambeacutem eacute dado nas legislaccedilotildees que se referem ao AEE contudo centrar o trabalho
no estudante pode remeter a uma compreensatildeo que favoreccedila sua
descontextualizaccedilatildeo do processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Nas falas
supracitadas por exemplo natildeo apareceu um verbo essencial para descrever a
funccedilatildeo de um professor especializado ou natildeo ensinar Funccedilatildeo essa por sua vez
que se relaciona ao objetivo primeiro da escola que consiste em assegurar a
apropriaccedilatildeo dos conhecimentos produzidos historicamente de forma
sistematizada criacutetica e reflexiva a todos os estudantes
Uma forma de analisar essa constataccedilatildeo diz respeito ao modo como os
documentos oficiais relativos agrave Educaccedilatildeo Especial com destaque agrave Resoluccedilatildeo n
42009 (BRASIL 2009) concebem a funccedilatildeo docente com ―uma ecircnfase agraves
questotildees teacutecnicas referentes ao uso de recursos o que indica a secundarizaccedilatildeo
dos aspectos pedagoacutegicos relacionados ao ato de ensinar (ROSSETTO 2015 p
111)
Convergindo com a discussatildeo Michels (2011) salienta que
[] a centralidade das accedilotildees dos professores do atendimento educacional especializado (AEE) permanece nas teacutecnicas e nos recursos especializados [] Mesmo aquelas accedilotildees que dizem respeito agrave articulaccedilatildeo com a classe
96
comum natildeo estatildeo atreladas agrave discussatildeo pedagoacutegica e sim agrave utilizaccedilatildeo de recursos especiacuteficos (MICHELS2011 p 226)
Tambeacutem foi possiacutevel evidenciar que professor de AEE e seu trabalho foram
definidos por meio de adjetivos como como ―diferenciados ―especializados
―qualificados e ―significativos o que pode ser analisado de duas formas distintas
Uma delas eacute a de que haacute um reconhecimento por parte das equipes diretivas
pesquisadas da relevacircncia do trabalho docente no AEE para o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Outra diz respeito a um
entendimento que esse trabalho docente eacute tatildeo diferenciado e especializado a ponto
de distanciaacute-loseparaacute-lo do ensino regular contribuindo para a segregaccedilatildeo
(inclusatildeo precaacuteria) do estudante puacuteblico-alvo da EE
Ressalta-se ainda a compreensatildeo do(a) orientador(a) educacional da ED2
para quem a qualificaccedilatildeo especializada do(a) professor(a) de AEE lhe possibilita
desenvolver um olhar de carinho afeto e paciecircncia paracom o outro de modo a
atingir objetivos educacionais Essa compreensatildeo parece estar impregnada de
uma concepccedilatildeo que pode se traduzir em uma visatildeo de Educaccedilatildeo Especial em que
o cuidado eacute privilegiado e secundarizado portanto o processo de escolarizaccedilatildeo do
estudante puacuteblico-alvo da EE Entretanto essa forma de conceber o professor de
AEE eacute evidenciada tambeacutem na pesquisa de Santos (2016) que estudou as
narrativas de histoacuteria de vida de professoras atuantes no AEE Ao questionar
sobre as caracteriacutesticas de um professor de AEE as participantes apontaram em
seus discursos descritores como ―ser atenciosa carinhosa paciente acreditar na
capacidade e potencial dos alunos desenvolver um olhar diferente [] (SANTOS
2016 p75) A mesma autora explica que
[] uma outra questatildeo que pode ser problematizada eacute [] o lugar em que se coloca no discurso o aluno com deficiecircncia ndash que passa a ser aquele que primeiramente precisa de afeto (e por isso de uma professora atenciosa carinhosa e paciente) e cuja aprendizagem fica portanto em segundo plano Se a aprendizagem do aluno fica em segundo plano a atividade de ensinar algo a algueacutem proacutepria do professor tambeacutem fica [] (SANTOS 2016 p 76-77)
Isso natildeo significa que a sensibilidade a relaccedilatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica
natildeo sejam importantes pelo contraacuterio esses aspectos constituem o ser professor
como explicaram Pimenta amp Anastasiou (2008 p14)
97
[] ser professor requer saberes e conhecimentos cientiacuteficos pedagoacutegicos educacionais sensibilidade indagaccedilatildeo teoacuterica e criatividade para encarar as situaccedilotildees ambiacuteguas incertas conflituosas [] presentes nos contextos escolares [] Eacute da natureza da atividade docente proceder agrave mediaccedilatildeo reflexiva e criacutetica entre as transformaccedilotildees sociais concretas e a formaccedilatildeo humana dos alunos questionando os modos de pensar sentir agir e de produzir e distribuir conhecimentos
Em siacutentese foi possiacutevel constatar que o trabalho do professor de AEE na
visatildeo das equipes diretivas acentuou a relaccedilatildeo entre docente especializado e
estudante puacuteblico-alvo da EE atenuando ou mesmo natildeo mencionando o seu papel
enquanto equipe diretiva nesse trabalho docente bem como de outros profissionais
e demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo Esse silenciamento pode ser
interpretado como sinal de um trabalho docente especializado que acontece de
forma isolada
Entende-se que o desenvolvimento de um trabalho conjunto entre equipe
diretiva professores da sala comum professor de AEE pais e estudantes pode
contribuir para o trabalho do professor de AEE e por conseguinte para o processo
de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico alvo da EE
Neste processo o papel da equipe diretiva parece exceder a elaboraccedilatildeo e o
acompanhamento do projeto poliacutetico-pedagoacutegico uma vez que pode ser
vislumbrado em uma diversidade de accedilotildees que Veiga (1995) chamou de accedilotildees
intencionais com sentidos expliacutecitos e compromissos definidos coletivamente
Dentre elas pode-se citar em especial a accedilatildeo de repensar e estabelecer
formalmente espaccedilos e tempos de discussatildeo conjunta das diretrizes da Educaccedilatildeo
Especial e da proposta de AEE bem como de estrateacutegias para a escolarizaccedilatildeo de
estudantes que compotildeem seu puacuteblico-alvo Reforccedila-se assim o trabalho coletivo
como condiccedilatildeo necessaacuteria para a implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
Seria ingecircnuo entretanto constatar a relevacircncia e necessidade do trabalho
coletivo entre os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo sem refletir sobre as
(im)possibilidades de viabilizaacute-lo nos espaccedilos escolares Isto porque como explicou
Michels (2006) a escola vai se constituindo e organizando no embate entre seu
cotidiano e as proposiccedilotildees poliacuteticas Aleacutem disso estaacute inserida em um contexto
social poliacutetico cultural e econocircmico que sabidamente se expressa nas relaccedilotildees e
na organizaccedilatildeo escolar
98
Considerando essa relaccedilatildeo entre proposiccedilotildees poliacuteticas e cotidiano da escola
pode-se dizer que o modo como a educaccedilatildeo vem sendo pensada no Brasil estaacute
ancorada em instrumentos regulatoacuterios e avaliativos Analisando o Plano de
Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (BRASIL 2007) por exemplo pode-se dizer que
como um todo esse plano estaacute baseado na criaccedilatildeo do Iacutendice de Desenvolvimento
da Educaccedilatildeo Brasileira (IDEB) que por sua vez consiste mais em uma forma de
regular do que definir criteacuterios para a Uniatildeo aplicar recursos na Educaccedilatildeo Pode-se
observar a expressatildeo dessa regulaccedilatildeo no uso perverso do IDEB para ranquear as
redes de ensino e acirrar a competiccedilatildeo entre as escolas (FERNANDES 2007
ARAUacuteJO 2004) Nesse sentido eacute possiacutevel dizer que em alguns aspectos planos e
poliacuteticas educacionais parecem apostar na competiccedilatildeo e natildeo no trabalho coletivo
dentro e entre escolas
A partir dessa reflexatildeo segue-se para a anaacutelise dos entendimentos das
equipes diretivas ED2 e ED4 em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo do professor de AEE nos
processos coletivos da escola A esse respeito os integrantes das duas equipes
diretivas responderam
ED2d
Participa dando retornos dos atendimentos e de como estaacute o rendimento dos alunos ateacute mesmo se natildeo houve melhora ED2
o Eacute um profissional ativo participativo em Conselho de Classe e
demais reuniotildees pedagoacutegicas ED2
sEfetiva
ED4
dSempre trazem devolutivas dos seus trabalhos e repassam aos
professores ED4
o Reuniotildees pedagoacutegicas bem poucas
ED4s Pouco participativa
A partir destes relatos pode-se dizer que as equipes diretivas compreendem
que participar dos processos coletivos da escola implica dar um retorno ou uma
devolutiva a respeito do estudante que o professor de AEE atende como
expressaram ED2d e ED4d
Nessa forma de compreensatildeo nota-se uma apropriaccedilatildeo superficial do que
seria efetivamente participar desses processos uma vez que a participaccedilatildeo do
professor de AEE foi resumida agrave accedilatildeo de dar retornodevolutiva acerca do processo
de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE ao(a) professor(a) da sala
comum e agraves equipes diretivas
99
Jaacute no relato de ED2o e ED4o a participaccedilatildeo do professor de AEE em
processos coletivos da escola foi associada a tomar parte em conselhos de classe e
reuniotildees pedagoacutegicas Essas accedilotildees ainda que coletivas natildeo resumem todas as
possibilidades de processos coletivos que podem ser organizados nas escolas o
que leva a refletir sobre o que as equipes diretivas entendem por processos
coletivos escolares e ainda se haacute um vieacutes coletivo na escola
Entende-se por processos coletivos escolares todas as atividades que
envolvem um coletivo escolar organizado intencional e formalmente pela equipe
diretiva para tomar conhecimento discutir eou decidir questotildees pertinentes ao
processo de escolarizaccedilatildeo Exemplos desses processos satildeo a construccedilatildeo do PPP
da escola reuniotildees pedagoacutegicas conselho de classe formaccedilatildeo em serviccedilo
reuniotildees de pais dentre outros que segundo Libacircneo (2015) satildeo procedimentos
que podem ajudar na viabilizaccedilatildeo do trabalho no acircmbito escolar
Essas accedilotildees por outro lado a exemplo do conselho de classe podem ser
planejadas contemplando o maior nuacutemero de turmas possiacutevel de forma cansativa e
superficial buscando identificar somente as notas baixas e conferindo a culpa do
fracasso escolar ao estudante A esse respeito Paro (2016b p 81) faz o seguinte
comentaacuterio
[] os conselhos de classe por exemplo natildeo podem continuar sendo instacircncias meramente burocraacuteticas onde se procura justificar o baixo rendimento colocando a culpa em fatores externos agrave escola Eacute preciso prever instrumentos institucionais que avaliem natildeo apenas o rendimento do aluno mas o proacuteprio processo escolar como um todo com a presenccedila de alunos e pais pois eles satildeo os usuaacuterios da escola e a eles compete apontar problemas e dar sugestotildees []
Seguindo com as compreensotildees sobre os processos coletivos escolares
pode-se dizer que esse coletivo escolar diz respeito a todos os profissionais da
escola pais e estudantes (ou seus representantes) Para configurar um processo
escolar genuinamente coletivo compreende-se que eacute preciso que a maioria dos
envolvidos esteja representada constituindo-se como uma accedilatildeo democraacutetica e
participativa
A partir dessa compressatildeo pode-se pensar que quanto mais processos
coletivos uma equipe diretiva conseguir organizar em uma escola mais democraacutetica
e participativa ela se constituiraacute Ainda que responsaacutevel por organizar processos
coletivos escolares as equipes diretivas natildeo podem ser inteiramente
100
responsabilizadas por algo que natildeo possuem hoje condiccedilotildees favoraacuteveis para
efetivar Eacute necessaacuterio um envolvimento de todo o corpo social conforme explicitou
Paro (2012 p 169)
[] incorrer no equiacutevoco de imputar a uma instituiccedilatildeo apenas aquilo que eacute funccedilatildeo da sociedade como um todo Igualmente equivocada eacute a atitude de negar agrave escola qualquer papel na transformaccedilatildeo social esperando que a sociedade mude para mudar a escola Por que a escola natildeo eacute o local da mudanccedila natildeo significa que ela natildeo possa ser um dos locais dessa mudanccedila A revoluccedilatildeo eacute um processo que envolve todo o corpo social inclusive a escola
Um dos principais entraves para efetivar processos coletivos na escola diz
respeito a uma problemaacutetica vivenciada por parte das escolas puacuteblicas no Brasil o
cumprimento dos 200 dias letivos conforme regulamenta a Lei de Diretrizes e Bases
da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) Salienta-se que eacute considerado dia letivo
aquele programado para a aula com a presenccedila dos alunos
Assim as accedilotildees como conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas e
momentos de formaccedilatildeo precisam ser planejadas para aleacutem dessas 800 horas que
compotildeem a carga horaacuteria miacutenima dos 200 dias letivos Dessa forma por vezes a
equipe diretiva pode na tentativa de viabilizar esses processos coletivos escolares
propocirc-los no contraturno das aulas do professor Poreacutem ao fazecirc-lo um outro
obstaacuteculo pode surgir pois alguns professores lecionam em outros locais nesse
periacuteodo Com isso nem sempre os docentes poderatildeo estar presentes em atividades
propostas fora do horaacuterio de trabalho o que pode comprometer o desenvolvimento
de accedilotildees coletivas direcionadas a conhecer discutir e decidir questotildees pertinentes
ao processo de escolarizaccedilatildeo Poreacutem compreende-se tambeacutem a urgecircncia dos
sistemas de ensino em repensar as condiccedilotildees de trabalho do professor com o
intuito de favorecer dentre outros fatores a participaccedilatildeo desses profissionais nos
processos coletivos da escola
A possibilidade portanto de que as escolas possam se organizar de modo
coletivo passa natildeo somente pelo que as equipes diretivas compreendem por
―processos coletivos escolares Passa tambeacutem pelo reconhecimento de que as
condiccedilotildees de trabalho dos profissionais da educaccedilatildeo desfavorecem hoje o vieacutes
coletivo da escola e precisam ser repensadas e modificadas para que as equipes
101
diretivas possam de fato organizar espaccedilos e tempos de reflexatildeo discussatildeo e
decisatildeo em conjunto com os demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo
Para finalizar as anaacutelises sobre o que pensam as equipes diretivas sobre a
participaccedilatildeo do(a) professor(a) de AEE nos processos coletivos da escola foi
possiacutevel identificar que em alguns casos a participaccedilatildeo foi qualificada por alguns
integrantes das equipes diretivas como ―ativa ―efetiva ou ―pouca Eacute interessante
observar que o(a) professor(a) de AEE percebido por alguns integrantes da ED4
como como ―pouco participativo ou que ―participa de poucas reuniotildees pedagoacutegicas
eacute um(a) docente contratado (a) temporariamente Sobre o aumento dos contratos
temporaacuterios nas redes puacuteblicas de ensino Oliveira (2004) ressaltou que chegou
[] em alguns estados o nuacutemero correspondente ao de trabalhadores efetivos o arrocho salarial o respeito a um piso salarial nacional a inadequaccedilatildeo ou mesmo ausecircncia em alguns casos de planos de cargos e salaacuterios a perda de garantias trabalhistas e previdenciaacuterias oriunda dos processos de reforma do Aparelho de Estado tecircm tornado cada vez mais agudo o quadro de instabilidade e precariedade do emprego no magisteacuterio puacuteblico (OLIVEIRA 2004 p1140)
Longe de justificar a baixa participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos
coletivos da escola em funccedilatildeo do contrato temporaacuterio procura-se aqui atentar ao
fato de que esse tipo de contrataccedilatildeo pode dificultar a constituiccedilatildeo de viacutenculos com a
comunidade escolar e indicar uma possiacutevel precarizaccedilatildeo do trabalho desse
profissional
Reconhecendo a complexidade do trabalho docente no AEE e sabendo da
importacircncia da colaboraccedilatildeo e da coletividade nos processos escolares perguntou-
se agrave ED2 e agrave ED4 quem auxilia e acompanha o profissional do AEE no exerciacutecio de
sua funccedilatildeo na escola Observem-se suas respostas
ED2d
A psicopedagoga e toda a equipe diretiva
ED2o
O profissional da aacuterea psicopedagogo monitoras orientaccedilatildeo
supervisatildeo e direccedilatildeo escolar
ED2s
A pedagoga de inclusatildeo esclarece sobre as deficiecircncias e a
supervisora escolar auxilia o professor monitores em atividades que
desenvolvam habilidades
ED4d
Supervisatildeo e Direccedilatildeo
ED4o
Secretaria de educaccedilatildeo
ED4s
A Secretaria de Educaccedilatildeo tem uma coordenadora e quando necessaacuterio eu mesma auxilio
102
A diversidade de respostas possibilita inferir que a responsabilidade pelo
acompanhamento do(a) professor(a) especializado parece diluiacuteda entre diversos
profissionais desde a equipe diretiva ateacute o(a) psicopedagogo(a) monitor de inclusatildeo
e Secretaria de Educaccedilatildeo Isto pode indicar tanto uma responsabilidade
compartilhada quanto uma falta de clareza com relaccedilatildeo a quem compete essa
funccedilatildeo
Na tentativa de desvelar a quem compete a funccedilatildeo de acompanhar e auxiliar
o professor de AEE no exerciacutecio de sua funccedilatildeo recorreu-se a Lei Complementar nordm
192008 a qual dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo implantaccedilatildeo e gestatildeo do Plano de
Carreira dos Profissionais do Magisteacuterio Puacuteblico Municipal de Camboriuacute e institui as
atribuiccedilotildees de cada funccedilatildeo
Segundo o art 17ordm da referida Lei agrave(ao) supervisor(a) educacional compete
acompanhar com os professores o processo didaacutetico-pedagoacutegico bem como
assessorar e orientar didaticamente o corpo docente da escola em articulaccedilatildeo com
o(a) diretor e o(a) orientador(a) escolar (CAMBORIUacute 2008)
Nesse mesmo sentido Alarcatildeo (2011) Placco Souza e Almeida (2012)
salientam que dentre as atribuiccedilotildees do supervisor destaca-se o apoio aos
professores e o fomento de uma cultura de formaccedilatildeo profissional estudo e pesquisa
no acircmbito escolar Entretanto para que essas accedilotildees sejam efetivadas no contexto
escolar eacute imprescindiacutevel o papel do diretor como articulador apoiando e
promovendo a mobilizaccedilatildeo dos profissionais bem como o do orientador que
acompanha mais de perto os alunos podendo contribuir com informaccedilotildees para a
discussatildeo e constituiccedilatildeo de estrateacutegias de ensino que favoreccedilam o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Conhecer o que pensam as equipes diretivas sobre o trabalho do professor de
AEE sua participaccedilatildeo em processos coletivos da escola e quem o acompanha e
auxilia no exerciacutecio de sua funccedilatildeo revelou que parte dos profissionais pesquisados
ao expressarem suas compreensotildees sobre o serviccedilo de AEE como um todo se
remeteram especificamente ao professor especializado e ao local desse
atendimento (SRM)
Esse foco especiacutefico evidencia mais uma vez o risco de uma compreensatildeo
limitada que toma a totalidade do AEE pela parte do espaccedilo fiacutesico em que ele
acontece e do professor especializado Quando esse serviccedilo eacute percebido como um
103
local separado para atender o estudante puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial pode-
se dizer que a segregaccedilatildeo29 que se pretende minimizar ou evitar por meio de
estrateacutegias como o AEE parece assombrar ainda os espaccedilos escolares
As perspectivas de exclusatildeo e segregaccedilatildeo que historicamente marcaram a
Educaccedilatildeo Especial nesse sentido encontram expressatildeo ainda hoje quando o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE eacute visto como ―[]
responsabilidade setorializada da Educaccedilatildeo Especial e natildeo como um conjunto de
medidas que o sistema de ensino como um todo de maneira interdisciplinar deveria
adotar para efetivar tal proposta (PLETSCH 2010 p 60)
Nessa perspectiva ao estudante puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eacute
conferido um lugar separado no processo educacional em funccedilatildeo de sua
deficiecircncia Configura-se assim uma inclusatildeo precaacuteria que segundo Meletti (2013
p 27) significa ―se inserir em um espaccedilo social jaacute existente e essencialmente
excludente Dessa forma possibilita-se uma compreensatildeo do serviccedilo de AEE como
um todo pois com uma visatildeo fragmentada do serviccedilo pode-se incorrer no risco
como apontaram Baptista Silva e Correia (2015) de pensar a Sala de Recursos
como um espaccedilo de reproduccedilatildeo e distanciamento do ensino comum Os autores
esclarecem ainda que
[] tais riscos se potencializam quando temos docentes especializados que investem prioritariamente no atendimento direto ao aluno isolando-o do grupoclasse e natildeo investindo no sistema ou nos sistemas dos quais esse aluno participa Esse eacute segundo acreditamos o principal desafio atual dirigido agrave gestatildeo dos espaccedilos especializados e agrave formaccedilatildeo de profissionais capazes de instituir parcerias que coloquem em accedilatildeo o docente de aacuterea disciplinar (pedagogia ou outras licenciaturas) e o professor especializado em educaccedilatildeo especial (BAPTISTA SILVA e CORREIA 2015 p 47)
Em parte a persistecircncia dessas marcas histoacutericas na Educaccedilatildeo Especial
pode ser explicitada pelo fato de que ―[] a proposta de uma Educaccedilatildeo Inclusiva
situa-se na contracorrente das condiccedilotildees objetivas de um modo de organizaccedilatildeo
escolar pautado em um modelo capitalista e tecnoloacutegico sustentado por relaccedilotildees de
exclusatildeo (RENGEL CORDEIRO e STEINER 2015 p 1358)
Em meio a esses tensionsamentos
29
A segregaccedilatildeo traduz a loacutegica da inclusatildeoexclusatildeo se trata portanto de uma inclusatildeo precaacuteria
104
[] encontramo-nos hoje diante do desafio de construir possiacuteveis caminhos que levem agrave formaccedilatildeo de uma educaccedilatildeo especial que realmente colabore com a educaccedilatildeo escolar de crianccedilas sob a perspectiva educacional sem no entanto apagar ou ignorar as necessidades de indiviacuteduos com caracteriacutesticas muitas vezes bastante especiacuteficas (KASSAR amp REBELO 2013 p 39)
Romper com a loacutegica de segregaccedilatildeo apresenta-se nesse sentido como um
dos desafios postos aos envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo e dentre eles agrave
equipe diretiva escolar Assim como a atuaccedilatildeo de diretores(as) coordenadores(as)
pedagoacutegicos e orientadores(as) educacionais pode contribuir para manter a loacutegica
de segregaccedilatildeo tambeacutem pode colaborar para transformaacute-la Por isso concorda-se
com Baptista (2013) quando esse diz que olhar para o presente e o futuro da
Educaccedilatildeo Especial leva a pensar um passado ndash aqui entendido como a loacutegica de
segregaccedilatildeo ndash que continua nos habitando ―esse passado somos noacutes merece
cuidado pois se constitui naquilo que conhecemos naquilo que nos orienta mas
que frequentemente ofusca nossa visatildeo e limita nossa possibilidade de enxergar
(BAPTISTA 2013 p 49)
Nesse sentido confirma-se a relevacircncia de se conhecer o modo como as
equipes diretivas pensam sobre o AEE uma vez que entendimentos reduzidos e
descontextualizados podem revelar que compreensotildees (e decorrentes praacuteticas) de
segregaccedilatildeo estatildeo sendo mantidas
Uma vez conhecidas essas compreensotildees podem ser se necessaacuterio
trabalhadas e reconfiguradas de modo a ampliar o entendimento sobre o serviccedilo de
AEE e o papel da comunidade escolar como um todo em sua viabilizaccedilatildeo rompendo
com a loacutegica de segregaccedilatildeo e dando espaccedilo para a loacutegica da educaccedilatildeo como direito
de todos
Reconhece-se nesse sentido que as equipes diretivas ao mesmo tempo que
satildeo condicionadas por ideologias fazem parte de uma organizaccedilatildeo social poliacutetica e
econocircmica marcada por relaccedilotildees da dialeacutetica exclusatildeoinclusatildeo e exercem seu
papel profissional em meio de tensionamentos poliacuteticos e legais No entanto elas
podem tambeacutem exercitar sua autonomia ainda que relativa por meio da reflexatildeo
criacutetica sobre a praacutetica compreendendo as ideologias em que estatildeo imersas pois
[] eacute pensando criticamente sobre a praacutetica de hoje ou de ontem que se pode melhorar a proacutexima praacutetica [] quanto mais me assumo como estou sendo e percebo as razotildees de ser e por que estou sendo assim mais me torno capaz de mudar (FREIRE 2013 p 40)
105
Claramente a conscientizaccedilatildeo e a reflexatildeo por si mesmas natildeo asseguram
uma mudanccedila no campo da accedilatildeo Mas por outro lado como explanou Paulo Freire
(2013) agrave medida em que a reflexatildeo cria novas opccedilotildees tanto mais ela pode provocar
rupturas escolhas e novos compromissos Sabendo que esses soacute se concretizaratildeo
materialmente quando aquilo que as equipes diretivas e demais profissionais da
escola pensam se transforme em accedilatildeo voltada a assegurar a formaccedilatildeo integral de
todos os estudantes
A escola puacuteblica comumente carece de condiccedilotildees estruturais pedagoacutegicas e
de recursos humanos contribuindo para que a equipe diretiva professores e demais
funcionaacuterios na maioria das vezes natildeo vislumbrem condiccedilotildees para realizar
mudanccedilas Entretanto Paro (2016a) adverte que
[] o que natildeo se pode eacute tomar os determinantes estruturais como desculpa para natildeo se fazer nada esperando-se que a sociedade se transforme para depois transformar a escola Sem a transformaccedilatildeo na praacutetica das pessoas natildeo haacute sociedade que se transforme de maneira consciente e duradoura Eacute aiacute na praacutetica escolar cotidiana que precisam ser enfrentados os determinantes mais imediatos do autoritarismo enquanto manifestaccedilatildeo num espaccedilo restrito dos determinantes estruturais mais amplos da sociedade (PARO 2016a p 26)
Dessa forma vislumbra-se o papel da equipe diretiva escolar na
implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE como uma possibilidade neste momento
histoacuterico de criar espaccedilos e tempos de diaacutelogo e reflexatildeo com o intuito de
possibilitar a participaccedilatildeo ativa de todos os envolvidos no processo de
escolarizaccedilatildeo no planejamento organizaccedilatildeo discussatildeo e implementaccedilatildeo das
estrateacutegias e diretrizes da Educaccedilatildeo Especial
Se ateacute o momento o que se viu por parte da maioria das equipes diretivas
foram compreensotildees fragmentadas em que se foca o estudante e ou o professor de
forma isolada pode-se refletir que hoje eacute ainda um desafio para elas pensar sobre o
AEE a partir de uma perspectiva contextualizada Ainda que presente na fala da
minoria das equipes diretivas essa perspectiva apareceu nos dizeres de ED7d e
ED3o que demonstraram compreender o AEE a partir do processo de
escolarizaccedilatildeo como um todo expressando um entendimento mais abrangente
sobre o serviccedilo
106
ED7d
[Compreendo o AEE] como uma inclusatildeo do aluno com deficiecircncia no ensino regular onde toda escola precisa de mudanccedilas desde o espaccedilo fiacutesico como tambeacutem no seu fazer do cotidiano ED3
o [O AEE] deveria ser mais abrangente aplicado por todos [os
profissionais da escolas] Mas tambeacutem nunca se sabe o que realmente fazer (grifo nosso)
Pode-se perceber que as falas dos integrantes das equipes diretivas (ED7d e
ED3o) se distanciam das compreensotildees individualizadas apresentadas
anteriormente visto que datildeo sinais de um entendimento mais amplo sobre o AEE
Suas falas remetem agrave compreensatildeo que o local do AEE eacute a ―escola e
portanto excede o espaccedilo fiacutesico da SRM Do mesmo modo indicam que todos os
envolvidos e natildeo apenas o professor especializado tecircm um papel importante no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Salienta-se no entanto algumas expressotildees importantes contidas nos
dizeres de ED7d e ED3o ―precisa e ―deveria Enquanto ED7d fala que a escola
como um todo ―precisa se implicar cotidianamente na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo
do AEE ED3o adverte que este ―deveria ser mais abrangente e aplicado por todos
os profissionais da escola Se isto eacute algo que precisa e deveria ser feito pode-se
inferir que ainda natildeo eacute uma realidade vivenciada por essas escolas ou que estaacute em
processo de constituiccedilatildeo
Saber o que precisa e deveria ser feito no entanto eacute um passo importante
para transformaccedilatildeo da realidade Paulo Freire em um trecho de sua obra Pedagogia
da Esperanccedila explicou que
[] uma vez conhecida a realidade caberaacute ao homem sua modificaccedilatildeo A realidade natildeo pode ser modificada senatildeo quando o homem descobre que eacute modificaacutevel e que ele pode fazecirc-lo Eacute preciso portanto fazer desta conscientizaccedilatildeo o primeiro objetivo de toda a educaccedilatildeo antes de tudo provocar uma atitude criacutetica de reflexatildeo que comprometa a accedilatildeo (FREIRE 1979a p 40)
Fuck (2014 p 23) apoiada em Pontes (1992) explica que as concepccedilotildees ou
diferentes compreensotildees que habitam a escola exercem ―[] um papel determinante
no nosso pensamento e na nossa accedilatildeo Libacircneo (2015) vai aleacutem ao expor que
essas compreensotildees formam a cultura escolar e que a equipe diretiva possui um
papel de destaque nesse processo
[] a partir da interaccedilatildeo entre diretores coordenadores pedagoacutegicos professores funcionaacuterios e alunos a escola vai adquirindo na vivecircncia do dia-a-dia traccedilos culturais proacuteprios vai formando crenccedilas valores
107
significados modos de agir praacuteticas [] Essa cultura proacutepria vai sendo internalizada pelas pessoas e gerando um estilo coletivo de perceber as coisas de pensar os problemas de encontrar soluccedilotildees [] Haacute em cada escola uma forma dominante de accedilatildeo na interaccedilatildeo entre as pessoas (LIBAcircNEO 2015 p 109)
Pode-se dizer portanto que haacute uma estreita relaccedilatildeo entre as formas de
compreender o AEE e as praacuteticas a ele relacionadas no contexto escolar No que
tange agraves equipes diretivas que demonstraram compreender esse serviccedilo de forma
mais abrangente e contextualizada eacute possiacutevel inferir que tal maneira de pensar pode
se traduzir em accedilotildees como a constituiccedilatildeo de espaccedilos dialoacutegicos e reflexivos com o
intuito de planejar e organizar estrateacutegias para a implementaccedilatildeo das diretrizes da
Educaccedilatildeo Especial junto aos envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo a fim de
assegurar o direito a aprender desses estudantes
Muito embora as diretrizes de Educaccedilatildeo Especial sejam importantes para a
organizaccedilatildeo de sistemas educacionais inclusivos elas se apresentam como um
documento orientador da poliacutetica Assim o modo como acontece sua efetivaccedilatildeo
perpassa ainda pelos interesses dominantes da sociedade pela compreensatildeo dos
gestores dos sistemas de ensino assim como pelo entendimento da equipe diretiva
e dos profissionais da educaccedilatildeo como um todo os quais tecircm a incumbecircncia de sua
materializaccedilatildeo no acircmbito escolar Nessa perspectiva as diretrizes da Educaccedilatildeo
Especial se apresentaratildeo de modo diferente em cada municiacutepio e em cada
instituiccedilatildeo escolar uma vez que como expocircs Michels (2004) os encaminhamentos
poliacuteticos ganham vida ao serem subjetivados pelos sujeitos que os apreendem e
nesse sentido cada escola implementa as diretrizes agrave sua maneira
Ainda que as falas da minoria apontem para uma compreensatildeo menos
individualizada e isolada do processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico alvo
da Educaccedilatildeo Especial natildeo foi possiacutevel captar uma abordagem criacutetica em que a
Educaccedilatildeo Especial seja compreendida como parte da Educaccedilatildeo que se desenvolve
em um sistema poliacutetico econocircmico e cultural marcado pela dialeacutetica
inclusatildeoexclusatildeo
Em parte pode-se dizer que esse pensamento criacutetico natildeo eacute favorecido pela
forma como hoje os espaccedilos e tempos das escolas estatildeo organizados O modo
como a escola se organiza natildeo pode ser desvinculado de seu todo correspondente
isto eacute a organizaccedilatildeo social e econocircmica da qual faz parte ndash nesse caso um sistema
capitalista e tecnoloacutegico no qual as relaccedilotildees e as jornadas de trabalho satildeo
108
reguladas pelo capital e marcadas pela falta de [] tempo para o desenvolvimento
intelectual para o livre exerciacutecio do corpo e do espiacuterito O capital monopoliza o
tempo que o desenvolvimento e equiliacutebrio do corpo em perfeita sauacutede exigem
(MARX 2013 p 103) Nessa direccedilatildeo Jesus e Alves (2011 p27) questionam
[] como lidar com as contradiccedilotildees dos sistemas pedagoacutegicos que em sua maioria estatildeo voltados para a emergecircncia e exigecircncias de uma escola que como todo o sistema educacional econocircmico poliacutetico e social estaacute voltado a atender as demandas do projeto neoliberal []
Sobre isso Paulo Freire (1982) esclarece que conhecer as intencionalidades
das ideologias dominantes que imperam pode ser um ponto de partida para uma
accedilatildeo pedagoacutegica mais reflexiva reconhecendo que natildeo haacute como mudar de forma
global um sistema posto mas haacute como transformar de forma gradativa a realidade
na qual se estaacute inserido Isso porque a mudanccedila que se deseja para a educaccedilatildeo
ocorre por meio da accedilatildeo dos homens reivindicando por exemplo condiccedilotildees de
trabalho adequadas para que possam desenvolver uma praacutetica pedagoacutegica pautada
no princiacutepio de educaccedilatildeo para todos Se em um sistema capitalista a reivindicaccedilatildeo
individual possui raro eco vislumbra-se no coletivo organizado ndash nesse caso os
profissionais da Educaccedilatildeo ndash uma importante forccedila impulsionadora de mudanccedilas
[] natildeo haacute uma estrutura que seja exclusivamente estaacutetica como natildeo haacute uma absolutamente dinacircmica O dinamismo e o estaacutetico constituem a estrutura social Mas se toda a estrutura social que eacute histoacuterica tem como expressatildeo de sua forma de ser a ―duraccedilatildeo da dialeacutetica mudanccedila ndash estabilidade eacute necessaacuterio que se tenha dela uma visatildeo criacutetica [] Mudanccedila e estabilidade resultam ambas da accedilatildeo do trabalho que o homem exerce sobre o mundo (FREIRE 1982 p45 - 46)
Por outro lado o fato de natildeo terem sido identificadas compreensotildees mais
criacuteticas a respeito do AEE conduz ao reconhecimento de que essa se configura
como uma necessidade formativa para as equipes diretivas aqui estudadas Em
breve pesquisa empreendida na BDTD foi possiacutevel identificar que nos uacuteltimos vinte
anos (2006-2016) poucas pesquisas (114) foram realizadas sobre a formaccedilatildeo
continuada de diretores enquanto a formaccedilatildeo continuada de professores contou
com o expressivo nuacutemero de 2760 pesquisas no mesmo periacuteodo
Observar esse baixo nuacutemero de produccedilotildees cientiacuteficas brasileiras sobre a
―formaccedilatildeo continuada de diretores leva agrave constataccedilatildeo de que eacute preciso investir em
estudos acerca da referida temaacutetica a fim de conhecer se e como estatildeo sendo
109
organizados os espaccedilos e tempos de formaccedilatildeo das equipes diretivas que por sua
vez satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo de espaccedilos e tempos de reflexatildeo para os demais
profissionais da escola
Nesse acircmbito eacute possiacutevel questionar quem seriam os responsaacuteveis por
organizar os espaccedilos e tempos de reflexatildeo das equipes diretivas Ou seriam essas
equipes ao mesmo tempo responsaacuteveis por organizar esses tempos e espaccedilos e
usufruir deles para sua proacutepria formaccedilatildeo Jesus e Alves (2011 p 22) sugerem que
essa eacute uma demanda que ―deve estar vinculada agrave gestatildeo dos sistemas de ensino
no caso dessa pesquisa agrave Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
Ainda sobre a formaccedilatildeo de diretores Paro (2016b p 60) identificou a partir
do relato de uma diretora que entrevistou em sua pesquisa que ―o que parece faltar
verdadeiramente [] satildeo conhecimentos pedagoacutegicos baacutesicos componentes
imprescindiacuteveis na formaccedilatildeo de bons educadores Ainda que se refira a uma
participante as palavras do autor convidam a (re)pensar a formaccedilatildeo dos gestores
escolares e reforccedilam a necessidade de se investir em mais pesquisas sobre o tema
bem como na proacutepria formaccedilatildeo das equipes diretivas visto que
[] existe por parte das Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo uma tendecircncia de grande investimento na promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo de diretores escolares sendo esse investimento significativamente menor entre as Secretarias Municipais de Educaccedilatildeo (LUumlCK 2011 p 221)
Em siacutentese ao investigar as compreensotildees das equipes diretivas sobre o
serviccedilo de AEE bem como o puacuteblico-alvo da EE foi possiacutevel identificar que a
maioria o associou ao estudante com deficiecircncia e um segundo nuacutemero expressivo
de participantes se remeteu a um lugar (SRM) e um profissional especiacutefico
(professor especializado) para apresentar seu entendimento sobre o serviccedilo Ainda
que em menor nuacutemero alguns profissionais das equipes diretivas pesquisadas
revelaram compreender o AEE a partir do processo de escolarizaccedilatildeo como um todo
poreacutem observou-se a ausecircncia de perspectivas criacuteticas que considerassem os
aspectos macroestruturais (condiccedilotildees objetivas da escola) envolvidos no referido
processo Foi possiacutevel constatar que o trabalho do professor de AEE na percepccedilatildeo
das equipes diretivas ressaltou a relaccedilatildeo entre docente especializado e estudante
puacuteblico-alvo da EE mitigando ou mesmo natildeo mencionando o seu papel enquanto
equipe diretiva nesse trabalho docente assim como de outros profissionais e demais
envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo Tambeacutem foi possiacutevel observar que em
110
algumas situaccedilotildees houve divergecircncias de entendimentos entre os integrantes da
mesma equipe apontando para a possibilidade de que o trabalho de gestatildeo vem
sendo realizado de forma desarticulada culminando na precarizaccedilatildeo do AEE bem
como do processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes de forma geral
Com essas consideraccedilotildees adentra-se a seguir na discussatildeo e anaacutelise dos
dados da uacuteltima categoria que versa sobre o papel da equipe diretiva na viabilizaccedilatildeo
do AEE
33 As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel das equipes
diretivas frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE30
A proposta desta categoria de anaacutelise eacute compor um entendimento a partir dos
dizeres das equipes diretivas escolares acerca das condiccedilotildees de acessibilidade
arquitetocircnica e pedagoacutegica que as escolas pesquisadas dispotildeem Tambeacutem se
propotildee conhecer a compreensatildeo das equipes diretivas em relaccedilatildeo ao seu papel
frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE assim como se a proposta de AEE estaacute contemplada
no PPP da escola Ao final deste subcapiacutetulo procura-se evidenciar os desafios
vivenciados pelas equipes diretivas escolares no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE
Para iniciar as discussotildees buscou-se primeiramente conceituar agrave luz da Lei
no 131462015 em seu art 3ordm e inciso I e IV o que se entende por acessibilidade
bem como as condiccedilotildees que dificultam a sua efetivaccedilatildeo que seratildeo aqui chamadas
de barreiras De acordo com a referida Lei considera-se acessibilidade
[] possibilidade e condiccedilatildeo de alcance para utilizaccedilatildeo com seguranccedila e autonomia de espaccedilos mobiliaacuterios equipamentos urbanos edificaccedilotildees transportes informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo inclusive seus sistemas e tecnologias bem como de outros serviccedilos e instalaccedilotildees abertos ao puacuteblico de uso puacuteblico ou privados de uso coletivo tanto na zona urbana como na
30
Para compor a anaacutelise e discussatildeo dos dados desta segunda categoria seratildeo analisadas as
respostas das seguintes questotildees do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo 16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE 17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE 20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento Educacional Especializada 25A escola em que vocecirc atua possui um projeto pedagoacutegico 26 O atendimento educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola 27Na escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
111
rural por pessoa com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida (BRASIL 2015 sp)
Nessa perspectiva Manzini (2005) esclarece que o conceito de acessibilidade
remete a situaccedilotildees que satildeo vivenciadas em circunstacircncias concretas do dia a dia
por isso [] ―a acessibilidade parece ser algo que pode ser observado
implementado medido legislado e avaliado (MANZINI 2005 p32)
Em relaccedilatildeo agraves barreiras a Lei no 131462015 em seu art 3ordm e inciso IV
conceituou como sendo
[] qualquer entrave obstaacuteculo atitude ou comportamento que limite ou impeccedila a participaccedilatildeo social da pessoa bem como o gozo a fruiccedilatildeo e o exerciacutecio de seus direitos agrave acessibilidade agrave liberdade de movimento e de expressatildeo agrave comunicaccedilatildeo ao acesso agrave informaccedilatildeo agrave compreensatildeo agrave circulaccedilatildeo com seguranccedila entre outros classificadas em a) barreiras urbaniacutesticas as existentes nas vias e nos espaccedilos puacuteblicos e privados abertos ao puacuteblico ou de uso coletivo b) barreiras arquitetocircnicas as existentes nos edifiacutecios puacuteblicos e privados c) barreiras nos transportes as existentes nos sistemas e meios de transportes d) barreiras nas comunicaccedilotildees e na informaccedilatildeo qualquer entrave obstaacuteculo atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressatildeo ou o recebimento de mensagens e de informaccedilotildees por intermeacutedio de sistemas de comunicaccedilatildeo e de tecnologia da informaccedilatildeo (BRASIL 2015 sp)
A respeito das barreiras arquitetocircnicas Nunes amp Sobrinho (2015) salientam
que satildeo expressotildees de barreiras atitudinais Essas por sua vez satildeo conceituadas
por Valdeacutes (2006 p6) como
[] as barreiras mais fortes e tambeacutem as mais intangiacuteveis pois envolvem componentes cognitivos afetivos e de conduta formados histoacuterica e socialmente que incluem desde fatores sociais como o estigma da deficiecircncia e sua difiacutecil diferenciaccedilatildeo de doenccedila a visatildeo tradicional da pessoa com deficiecircncia como coitadolsquo e digno de laacutestima ateacute fatores de personalidade e da histoacuteria de vida
Desse modo ao pensar a realidade das escolas puacuteblicas brasileiras a
acessibilidade nos espaccedilos escolares implicaria na reduccedilatildeo das barreiras
anteriormente citadas no entorno e no interior da escola tornando seus espaccedilos
paulatinamente acessiacuteveis e adequados para receber os estudantes considerados
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Essa prerrogativa tambeacutem estaacute contida na
Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva
(BRASIL 2008) a qual prevecirc a oferta do Atendimento Educacional Especializado
112
nas escolas puacuteblicas de ensino regular com a garantia de condiccedilotildees de acesso e
permanecircncia aos estudantes puacuteblico-alvo da EE Essa ―garantia contudo estaacute
longe de ser assegurada somente pela existecircncia de tal poliacutetica Conforme explicou
Garcia (2013 p 104) ―[] o acesso e permanecircncia dos estudantes da educaccedilatildeo
especial natildeo tem se configurado em garantia de sucesso da poliacutetica educacional
Ressalta-se ainda que embora as condiccedilotildees de acessibilidade possam ser
asseguradas elas sozinhas natildeo proporcionam o acesso e a permanecircncia do
estudante na escola Para isso eacute preciso considerar um conjunto de accedilotildees
educacionais intencionais planejadas e articuladas entre si por parte da equipe
diretiva escolar em conjunto com os demais profissionais da escola e pais Um
exemplo de accedilatildeo nesse sentido seria a sistematizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos
permanentes de discussotildees e reflexotildees ―acerca das estrateacutegias pedagoacutegicas a
serem utilizadas tomando como referecircncia o processo de desenvolvimento escolar
dos estudantes (GARCIA 2013 108) envolvendo todos os profissionais e
comunidade escolar
Com esses conceitos definidos adentra-se agora nas discussotildees sobre a
acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas A comeccedilar pela
acessibilidade arquitetocircnica foi possiacutevel observar que do total de 22 participantes
14 responderam que haacute acessibilidade na escola em que atuam enquanto 8
informaram que natildeo O Graacutefico 9 a seguir especifica as respostas por integrante das
equipes diretivas
Graacutefico 9 Sobre a acessibilidade arquitetocircnica nas escolas pesquisadas
Fonte Primaacuteria (2016)
113
Percebeu-se que os 14 integrantes que mencionaram haver acessibilidade
em sua escola associaram-na agrave existecircncia de rampas banheiros corrimatildeos
elevadores e placas em braile Pode-se dizer que as associaccedilotildees feitas pelos
participantes foram em parte devidas agrave maneira como a pergunta estava formulada
no questionaacuterio que citava rampa e corrimatildeo como exemplos de indiacutecios de
acessibilidade arquitetocircnica
Contudo ao mesmo tempo que afirmaram haver acessibilidade apontaram
alguns aspectos reveladores de que essa acessibilidade natildeo eacute de fato contemplada
de forma adequada nas escolas ―[acessibilidade] somente no teacuterreo (ED1) ―falta
corrimatildeo e elevadores (ED2) ―[acessibilidade] em alguns pontos do banheiro
(ED6) O Quadro 10 abaixo apresenta um detalhamento de suas respostas
Quadro 10 Condiccedilotildees de acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas
ED Acessibilidade arquitetocircnica
ED1d Sim somente no teacuterreo
ED1o Sim somente no teacuterreo
ED1s Natildeo
ED2d Sim Rampa e banheiros Falta corrimatildeo e elevadores
ED2o Natildeo
ED2s Sim Rampa e banheiros Falta corrimatildeo e elevadores
ED3d Sim rampa
ED3o Sim rampa
ED3s Natildeo
ED4d Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4o Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4s Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4s Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED5d Sim rampa banheiros
ED5o Sim rampa banheiros
ED5s Sim rampa banheiros
ED6d Sim em alguns pontos como banheiros
ED6o Natildeo
ED6s Natildeo
ED7d Natildeo
ED7o Natildeo
ED7s Natildeo
Fonte Primaacuteria (2016)
Evidencia-se por meio do Quadro 10 que na visatildeo das equipes diretivas os
espaccedilos escolares parecem inacessiacuteveis ou parcialmente acessiacuteveis aos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Tal situaccedilatildeo por sua vez se apresenta como
barreiras que podem limitar a circulaccedilatildeo desses estudantes nos espaccedilos escolares
e por conseguinte reduzir suas possibilidades de constituir relaccedilotildees e outras redes
114
de aprendizagens Redes essas entendidas como situaccedilotildees de interaccedilatildeo entre
pessoas as quais favoreccedilam apropriaccedilotildees dos conhecimentos produzidos
historicamente seja dentro da sala de aula com professores ou fora dela com seus
pares Essas situaccedilotildees se mostram como oportunidades para elaborar
contextualizar eou ressignificar os conhecimentos apreendidos
A acessibilidade nos espaccedilos escolares como jaacute discutido eacute importante mas
precisa ser concebida como parte da estrutura da escola que tambeacutem compotildee o
AEE ou seja de forma contextualizado considerando os demais fatores imbricados
pois quando compreendida de forma isolada pode-se incorrer no risco de um
entendimento que pouco pode contribuir com o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE
De acordo com o art 28 da Lei no 131462015 prover a acessibilidade nos
espaccedilos escolares eacute uma incumbecircncia da Uniatildeo juntamente com o poder puacuteblico
municipal Nesse sentido eacute possiacutevel constatar uma ecircnfase conferida ao poder
puacuteblico no provimento de acessibilidade aos sistemas de ensino
[] art 28 Incumbe ao poder puacuteblico assegurar criar desenvolver implementar incentivar acompanhar e avaliar I - sistema educacional inclusivo em todos os niacuteveis e modalidades bem como o aprendizado ao longo de toda a vida II - aprimoramento dos sistemas educacionais visando a garantir condiccedilotildees de acesso permanecircncia participaccedilatildeo e aprendizagem por meio da oferta de serviccedilos e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusatildeo plena [] XV - acesso da pessoa com deficiecircncia em igualdade de condiccedilotildees a jogos e a atividades recreativas esportivas e de lazer no sistema escolar XVI - acessibilidade para todos os estudantes trabalhadores da educaccedilatildeo e demais integrantes da comunidade escolar agraves edificaccedilotildees aos ambientes e agraves atividades concernentes a todas as modalidades etapas e niacuteveis de ensino XVII - oferta de profissionais de apoio escolar XVIII - articulaccedilatildeo Intersetorial na implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 2015 sp grifos nossos)
O Decreto nordm 76112011 (BRASIL 2011) por sua vez enfatiza o papel do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo no apoio teacutecnico e financeiro para adequaccedilotildees
arquitetocircnicas de preacutedios escolares bem como para elaboraccedilatildeo produccedilatildeo e
distribuiccedilatildeo de recursos educacionais para a acessibilidade com o intuito de prover
condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem no ensino regular aos
estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo especial
115
Destaca-se tambeacutem o Programa Escola Acessiacutevel criado a partir do Decreto
ndeg60942007 (BRASIL 2007) que pode disponibilizar recursos financeiros por meio
do Programa Dinheiro Direto Escola ndash PDDE (BRASIL 2013) para escolas puacuteblicas
das redes municipal estadual e do Distrito Federal que informaram no Censo
Escolar possuir matriacuteculas de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial no
intuito de assegurar a acessibilidade arquitetocircnica nos preacutedios escolares e
possibilitar a compra de materiais e equipamentos de tecnologia assistiva
Pode-se perceber que ao poder puacuteblico compete o repasse de recursos
financeiros que por sua vez seratildeo geridos e planejados pelas escolas Essa forma
de gestatildeo parece estar intimamente conectada com as reformas no aparelho do
Estado durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso consolidada
com a publicaccedilatildeo do Plano Diretor no ano de 1995 (BRASIL 1995)Tais reformas
redefiniram e delimitaram as funccedilotildees do Estado transformando-o em um Estado
miacutenimo para prover mas ampliado para normatizar criando mecanismos
regulatoacuterios de maior controle da aprendizagem e a construccedilatildeo de consensos os
quais ―[] tornam-se fundamentais para a introduccedilatildeo de uma nova racionalidade na
gestatildeo escolar e no sistema educacional capaz de envolver professores equipe
pedagoacutegica e pais em torno de um uacutenico projeto (SANTOS 2012 p 36)
Ainda sobre estas reformas Michels (2006 p408) enfatizou que
[] em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e especificamente sobre o trabalho na escola a mudanccedila no papel do Estado pode ser pensada por no miacutenimo dois pontos a) o Estado retrai-se na provisatildeo destacando o papel da unidade escolar como responsaacutevel pela educaccedilatildeo das crianccedilas jovens e adultos mas mantendo o controle do que eacute feito pela escola por meio da avaliaccedilatildeo (SAEB ndash Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica ENEM ndash Exame Nacional do Ensino Meacutedio ENC ndash Exame Nacional de Cursos) b) a retirada do Estado como provedor se daacute mediante a entrada da sociedade civil nas unidades escolares para auxiliar na resoluccedilatildeo de problemas principalmente por meio de programas como por exemplo o Programa Amigos da Escola e o Programa Adote um Aluno (MICHELS 2006)
As colocaccedilotildees de Michels (2006) concordam com o que Freitas (2011)
discutiu a respeito do contexto neotecnicista que se apresenta sob a forma da
―responsabilizaccedilatildeo31 e ―meritocracia enfatizando o gerenciamento da forccedila de
31 Segundo Freitas (2011 p338) ―[] responsabilizaccedilatildeo envolve trecircs elementos testes para os estudantes divulgaccedilatildeo puacuteblica do desempenho da escola e recompensas e sanccedilotildees [] As recompensas e sanccedilotildees compotildeem o caraacuteter meritocraacutetico do sistema mas natildeo soacute jaacute que a proacutepria divulgaccedilatildeo puacuteblica dos resultados da escola constitui em si mesma uma exposiccedilatildeo puacuteblica que
116
trabalho da escola por meio de bocircnus puniccedilotildees e controle pelo processo pautado
em teorias da ciecircncia da informaccedilatildeo e sistemas econometria e psicologia
behaviorista
Nesse contexto pode-se identificar que a forma de gestatildeo proposta nessa
reforma engloba por um lado a expressatildeo de uma agenda de governo que delega
responsabilidades estatais ao mesmo tempo em que intensifica sua forccedila
normatizadora Por outro lado pode tambeacutem se estabelecer como uma oportunidade
para que a equipe diretiva consolide forccedilas no interior da escola a fim de reivindicar
ao poder puacuteblico as condiccedilotildees necessaacuterias para prover o acesso e permanecircncia no
ensino regular a todos os estudantes Isso porque inspirando-se em Paro (2016)
pode-se dizer que o coletivo escolar organizado a partir da accedilatildeo das equipes
diretivas constitui uma espeacutecie de ―mola propulsora para reinvindicaccedilatildeo das
referidas condiccedilotildees
Nesse sentido pode-se dizer que assegurar a acessibilidade em termos
como por exemplo de provimento de recursos eacute uma responsabilidade que
compete ao poder puacuteblico Como pontuou Alves (2010)
[] sugere-se que cada um assuma sua responsabilidade em relaccedilatildeo agrave efetivaccedilatildeo da educaccedilatildeo inclusiva cabendo ao poder puacuteblico garantir as condiccedilotildees adequadas agrave sua implementaccedilatildeo entre as quais estatildeo as adaptaccedilotildees na estrutura fiacutesica material didaacutetico adequado e condiccedilotildees reais de formaccedilatildeo docente para atuar na diversidade (ALVES 2010 p4)
Contudo haacute que se reconhecer como fez Santos (2016) que a existecircncia de
leis e diretrizes com vistas a uma educaccedilatildeo para todos e ateacute mesmo o
direcionamento de recursos financeiros natildeo garante a efetivaccedilatildeo das poliacuteticas em si
Eacute a partir desse reconhecimento que se pode vislumbrar o papel da gestatildeo escolar
(equipe diretiva em conjunto com os demais envolvidos no processo de
escolarizaccedilatildeo) no que se refere agrave organizaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias para a
realizaccedilatildeo do AEE Esse papel estaacute relacionado tanto com a reivindicaccedilatildeo de
recursos quando faltantes quanto com o planejamento coletivo de como esses
seratildeo utilizados quando recebidos
Nesse sentido quando se pensa em uma forma de gestatildeo escolar que
perpassa a construccedilatildeo coletiva envolvendo a equipe diretiva em conjunto com os
demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo eacute possiacutevel se remeter a um tipo
envolve alguma recompensa ou sanccedilatildeo puacuteblicas A meritocracia eacute uma categoria portanto que perpassa a responsabilizaccedilatildeo
117
especiacutefico de gestatildeo a gestatildeo democraacutetica-participativa Sobre isso Paro (2016a p
13) ressaltou que ―[] toda vez que se propotildee uma gestatildeo democraacutetica da escola
puacuteblica baacutesica que tenha efetiva participaccedilatildeo de pais educadores alunos e
funcionaacuterios da escola isso acaba sendo considerado como coisa utoacutepica O autor
realccedila ainda que utopia natildeo se trata de um horizonte inalcanccedilaacutevel mas de um
resultado desejaacutevel que pressupotildee um processo e por isso pode vir a existir a partir
de um movimento de busca Em consonacircncia com essa discussatildeo Freire (1979b
p16) salienta que para ele o utoacutepico natildeo eacute o ―irrealizaacutevel a utopia natildeo eacute o idealismo
eacute a dialetizaccedilatildeo dos atos de denunciar e anunciar o ato de denunciar a estrutura
desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante Por essa razatildeo a utopia eacute
tambeacutem um compromisso histoacuterico
Nessa perspectiva Cury (2005) Oliveira (2008) e Paro (2016a) revelam que a
gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas eacute um processo em constituiccedilatildeo Oliveira
(2008 p95) salienta por sua vez que ―a garantia de um artigo constitucional que
estabelece a gestatildeo democraacutetica natildeo eacute suficiente para a sua efetivaccedilatildeo
Nessa direccedilatildeo Libacircneo (2015) ressalta que a reorganizaccedilatildeo da escola
implica a compreensatildeo de dois aspectos a participaccedilatildeo na gestatildeo enquanto
princiacutepio democraacutetico e a gestatildeo da participaccedilatildeo como princiacutepio teacutecnico De acordo
com o autor as escolas precisam desenvolver processos democraacuteticos e
colaborativos de trabalho e tomadas de decisotildees Por outro lado precisam funcionar
bem tecnicamente a fim de conseguir alcanccedilar seus objetivos o que requer a gestatildeo
da participaccedilatildeo Ainda segundo o autor a gestatildeo da participaccedilatildeo significa
[] alcanccedilar democraticamente os objetivos da escola A participaccedilatildeo eacute o principal meio de tomar decisotildees de mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos os conteuacutedos as formas de organizaccedilatildeo do trabalho e que ambiente de trabalho desejam para si proacuteprios e para os outros A participaccedilatildeo se viabiliza por interaccedilatildeo e participaccedilatildeo diaacutelogo [] Nesse sentido a melhor forma de gestatildeo eacute aquela que cria um sistema de praacuteticas interativas e colaborativas para trocas de ideias e experiecircncias [reflexotildees estudos][] (LIBAcircNEO 2015 p281)
Ante o exposto entende-se que embora existam tensotildees e contradiccedilotildees
quando se fala em gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas assim mesmo essa
pode ser concebida como uma possiacutevel forma de gestatildeo escolar de modo a
favorecer e contribuir para a realizaccedilatildeo do AEE na escola e por conseguinte com o
processo de escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes se levar em conta como
explicou Paro (2003) que
118
[] a possibilidade de uma administraccedilatildeo [gestatildeo] democraacutetica no sentido de sua articulaccedilatildeo [] com os interesses da sociedade como um todo tem a ver com os fins e a natureza da coisa administrada No caso da administraccedilatildeo [gestatildeo] escolar sua especificidade deriva pois a) dos objetivos que se buscam alcanccedilar com a escola b) da natureza do processo que envolve essa busca Esses dois aspectos natildeo estatildeo de modo nenhum desvinculados um do outro A apropriaccedilatildeo do saber e o desenvolvimento da consciecircncia criacutetica como objetivos de uma educaccedilatildeo transformadora determinam () a proacutepria natureza peculiar do processo pedagoacutegico escolar ou seja esse processo natildeo se constitui em mera diferenciaccedilatildeo do processo de produccedilatildeo material que tem lugar na empresa mas deriva sua especificidade de objetivos (educacionais) peculiares objetivos estes articulados com os interesses sociais mais amplos e que satildeo por isso antagocircnicos aos objetivos de dominaccedilatildeo subjacentes agrave atividade produtiva capitalista (PARO 2003 p151)
Considerando os princiacutepios de uma gestatildeo democraacutetica retorna-se agraves
discussotildees sobre a acessibilidade refletindo o que se pretende propiciar para quem
e com que objetivos Dessa forma refletir sobre barreiras arquitetocircnicas e atitudinais
compotildee o cenaacuterio de discussatildeo sobre qual a finalidade da Educaccedilatildeo na escola
puacuteblica brasileira hoje
A partir dessas reflexotildees retoma-se agrave questatildeo da acessibilidade
arquitetocircnica Observou-se que para cada instacircncia (poder puacuteblico e gestatildeo escolar)
haacute uma responsabilidade no que tange agrave acessibilidade e que existe no Brasil um
programa especiacutefico para destinaccedilatildeo de recursos puacuteblicos a fim de asseguraacute-la
(Programa Escola Acessiacutevel) Procurou-se nesse sentido investigar se as escolas
da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute haviam sido contempladas pelo
Programa Escola Acessiacutevel
No site do MEC (BRASIL 2016) foi possiacutevel localizar duas listagens nominais
das escolas a serem contempladas nos anos de 2012 e 2013 (Resoluccedilatildeo FNDE nordm
272012 e nordm192013) constatando que dentre as escolas a serem contempladas
em 2012 encontravam-se 3 escolas que fazem parte desta pesquisa Jaacute no ano de
2013 percebeu-se um incremento nesse nuacutemero que passou a totalizar 10 escolas
dentre as quais 5 compotildeem esta pesquisa conforme pode-se conferir no Quadro 11
a seguir
119
Quadro11 Escolas pesquisadas a serem contempladas pelo Programa Escola Acessiacutevel por meio do PDDE no ano de 2012 e 2013
2012 2013
E1 E1
E4 E2
E7 E4
E5
E7
Fonte Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 2016a)
Continuando a pesquisa na base de dados do MEC denominada Sistema
Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle ndash SIMEC32 (BRASIL 2016b) foi
possiacutevel identificar que a Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute recebeu o repasse
desse recurso financeiro somente no ano de 2013 conforme eacute possiacutevel conferir no
Graacutefico 10
Graacutefico10 Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves Redes Estadual e Municipal de Ensino de Camboriuacute
Fonte Dados extraiacutedos do Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle ndash SIMEC do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 2016b)
32
Para aprofundar o conhecimento sobre o assunto pode-se acessar o site do Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo Disponiacutevel em
lthttppainelmecgovbrpainelphpmodulo=principaldetalhamentoIndicadorampacao=Aampdetalhes=mu
nicipioampmuncod=4203204gt Acesso em 17102016b
120
Evidenciou-se nesse sentido que o recebimento de tal recurso natildeo eacute
imediato agrave publicaccedilatildeo da listagem de escolas que podem ser contempladas Para
fazer parte da listagem em primeiro lugar eacute necessaacuterio que as escolas tenham
aderido ao Programa de Implementaccedilatildeo de Salas de Recursos Multifuncionais e
informado no Censo Escolar a quantidade de matriacuteculas de estudantes puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial Uma vez que a listagem eacute divulgada e a escola se vecirc
contemplada cabe agrave equipe diretiva proceder com a realizaccedilatildeo de seu cadastro no
SIMEC onde deve inserir o Plano de Atendimento um documento que expressa seu
planejamento para utilizaccedilatildeo dos recursos a serem recebidos (BRASIL 2013)
Sob uma oacutetica superficial poder-se-ia inferir que a equipe diretiva em
especial precisa estar atenta e atualizada sobre os prazos e procedimentos
relacionados aos programas de repasse de recursos existentes para garantir que a
transferecircncia do recurso aconteccedila Contudo haacute um importante papel a ser
desenvolvido nesse acircmbito pelas Secretarias de Educaccedilatildeo que podem atuar como
elo entre o poder puacuteblico e as equipes diretivas escolares mantendo-as informadas
a respeito dos programas de repasse de recursos bem como acompanhando e
auxiliando no processo de execuccedilatildeo desses programas uma vez que de acordo
com o art 5ordm da ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 inciso I as prefeituras municipais
e secretarias distritais e estaduais satildeo responsaacuteveis
[] pela formalizaccedilatildeo dos procedimentos necessaacuterios ao recebimento execuccedilatildeo e prestaccedilatildeo de contas dos recursos do programa destinados agraves escolas de suas redes de ensino que natildeo possuem UEx [Unidade Executora] bem como pelo recebimento anaacutelise e emissatildeo de parecer das prestaccedilotildees de contas das UEx [Unidade Executora] representativas de suas escolas ou dos polos presenciais da UAB [Universidade Aberta do Brasil] a ela vinculados [] (BRASIL 2013 sp)
Considera-se relevante destacar ainda de acordo com a mesma
ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 que somente 20 do valor dos recursos
transferidos por meio do PDDE podem ser utilizados para aquisiccedilatildeo de itens de
capital33 Ou seja algumas necessidades de investimento para acessibilidade como
33
ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 ―[] art 4ordm Os recursos financeiros seratildeo destinados agraves escolas referidas no art 1deg na proporccedilatildeo de 80 (oitenta por cento) para cobertura de despesas de custeio e 20 (vinte por cento) para cobertura de despesas de capital de acordo com o nuacutemero de estudantes da educaccedilatildeo baacutesica matriculados na unidade educacional extraiacutedo do censo escolar do ano anterior ao do repasse e tomando como paracircmetros os intervalos de nuacutemero de alunos e os correspondentes valores [] (BRASIL 2013)
121
o elevador mencionado pela equipe diretiva ED2 excederiam o valor estipulado com
itens de capital Nesse caso entende-se que uma alternativa eacute a instacircncia municipal
em seu planejamento orccedilamentaacuterio anual contemplar essa aquisiccedilatildeo para as
unidades de ensino
Pode-se perceber que as escolas em que atuam as equipes diretivas
pesquisadas ainda natildeo contam com acessibilidade em todos os seus espaccedilos
internos e externos Entretanto ao analisar os dados do Censo Escolar de 2015
(INEP 2015) sobre a situaccedilatildeo da acessibilidade nas escolas municipais brasileiras
de ensino fundamental constatou-se que a acessibilidade estaacute longe de ser um
problema pontual do municiacutepio pesquisado
No que se refere agraves questotildees de acessibilidade arquitetocircnica os achados
apontaram que 60 das escolas municipais de ensino fundamental de Camboriuacute
contam com dependecircncias acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo
especial enquanto Santa Catarina apresenta 40 e o Brasil como um todo apenas
20 revelando que a acessibilidade nas escolas eacute uma problemaacutetica nacional O
Quadro 12 que segue apresenta essa informaccedilatildeo bem como a situaccedilatildeo de
acessibilidade dos sanitaacuterios das escolas
Quadro 12 Acessibilidades nas escolas municipais de ensino fundamental no Brasil SC e em Camboriuacute
Questotildees sobre acessibilidade arquitetocircnica
Brasil Santa Catarina Camboriuacute
Escolas com dependecircncias acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico - alvo da Educaccedilatildeo
Especial
(20) 17572 escolas (40) 765 escolas (60) 9 escolas
Escolas com sanitaacuterios acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico - alvo da Educaccedilatildeo
Especial
(26) 23232 escolas (48) 920 escolas (87) 13 escolas
Fonte Censo Escolar INEP (2015)
Ademais como salientaram Glat Pletsch e Fontes (2007) a acessibilidade
compreende um dos aspectos que compotildee a estrutura da proposta de Educaccedilatildeo
Inclusiva contida na Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial (BRASIL 2008)
122
Portanto constatar sua ausecircncia ou presenccedila parcial nas escolas brasileiras natildeo
basta eacute necessaacuteria analisaacute-la articulada aos demais aspectos que a compotildeem
como recursos pedagoacutegicoshumanos formaccedilatildeo dos profissionais da escola
participaccedilatildeo de todos os profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE bem como na construccedilatildeo discussatildeo reflexatildeo e
execuccedilatildeo da proposta de AEE dentre outros
Nesse sentido Glat Pletsch e Fontes (2007 345) apoiadas em Ainscow
(2004) ressaltam ainda que
[] a inclusatildeo escolar deve ser ancorada em trecircs aspectos inter-relacionados a saber a) a presenccedila do aluno na escola substituindo o isolamento do ambiente privado familiar pela sua inserccedilatildeo num espaccedilo puacuteblico de socializaccedilatildeo e aprendizagem b) a sua participaccedilatildeo efetiva em todas as atividades escolares a qual natildeo depende apenas de estiacutemuloslsquo de colegas e professores mas do oferecimento de condiccedilotildees de acessibilidade e adaptaccedilotildees curriculares que se faccedilam necessaacuterias e c) a construccedilatildeo de conhecimentos funccedilatildeo primordial da escola e meta a ser perseguida durante o processo de inclusatildeo
Observa-se que os desafios postos para a constituiccedilatildeo de uma escola para
todos os estudantes satildeo muitos Sabendo que a acessibilidade eacute um deles
compreende-se que haacute um papel essencial do poder puacuteblico quanto agrave
disponibilizaccedilatildeo de recursos para provecirc-los agraves escolas bem como um papel
importante da gestatildeo escolar (equipes diretivas escolares articuladas ao coletivo
escolar) no planejamento para a aplicaccedilatildeo do referido investimento Evidencia-se
contudo que o atual cenaacuterio poliacutetico econocircmico e social brasileiro tem sido
vivenciado como um momento de grande instabilidade e muitas incertezas com
indiacutecios de que os investimentos para a aacuterea da educaccedilatildeo tendem ao encolhimento
Nesse sentido Prieto (2015) expotildee que os movimentos sociais em prol da educaccedilatildeo
podem figurar como uma alternativa para se reivindicar condiccedilotildees necessaacuterias para
assegurar a educaccedilatildeo como direito fundamental e de todos
[] eacute necessaacuterio insistir na mudanccedila do patamar de participaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas de educaccedilatildeo bem como na avaliaccedilatildeo de seus impactos O que se espera eacute criar movimentos de resistecircncia aos ditames externos e agraves propostas internas que ameacem direitos adquiridos ou destruam as possibilidades de intervenccedilatildeo social na direccedilatildeo de novas conquistas no campo da educaccedilatildeo (PRIETO 2015 p 34)
123
Seguindo com as anaacutelises ao perguntar agraves equipes diretivas sobre os
recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis na escola em que atuam foi possiacutevel constatar
que a maioria (16 dos 22 integrantes pesquisados) apresentou uma resposta
positiva informando que a escola os possui Os seis demais participantes que
integram a ED3 e a ED6 informaram que a escola natildeo dispotildee de recursos
pedagoacutegicos que possam contribuir paracom o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Essas informaccedilotildees estatildeo ilustradas
no Graacutefico 11 a seguir
Graacutefico - 11 - Recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis nas escolas pesquisadas
Fonte Primaacuteria (2016) Ao observar os relatos dos integrantes das equipes diretivas que informaram
possuir recursos pedagoacutegicos na escola em que atuam (ED1 ED2 ED4 ED5 e
ED7) foi possiacutevel notar menccedilotildees recorrentes a equipamentos de informaacutetica (em
especial computador e notebook) e jogos pedagoacutegicos Vejamos no Quadro 13
quais foram os entendimentos apresentados por esses participantes acerca dos
recursos pedagoacutegicos disponibilizados pelas escolas
Quadro 13 O que se entende por ―recurso pedagoacutegico nos dizeres das equipes diretivas que informaram possuiacute-los nas escolas em que atuam
Recursos Recorrecircncia
ComputadorNotebook 12
Jogos Pedagoacutegicos 12
Lupa 6
Dominoacute taacutetil 3
Maacutequina de Braile 3
124
Reacutegua 3
Materiais DidaacuteticosAlternativos 3
Livros 3
Sala de Recursos Multifuncionais 2
Scanner de voz 1
Mobiliaacuterio 1
Maacutequina de Libras 1
Internet 1
Natildeo especificou 1
Total 52
Fonte Primaacuteria (2016)
Eacute possiacutevel constatar a partir do Quadro 13 que as respostas dos integrantes
das equipes diretivas acerca dos recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis para o trabalho
com os estudantes puacuteblico-alvo da EE se restringiram aos itens disponibilizados
pelo MEC por meio do programa de implantaccedilatildeo de SRM (BRASIL 2013) O
referido programa prevecirc a doaccedilatildeo de equipamentos mobiliaacuterios e materiais
didaacuteticos pedagoacutegicos agraves escolas que a ele aderiram conforme detalhado no
Quadro 14 a seguir
Quadro 14 Composiccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais ndash 20112012
Fonte Extraiacutedo do documento Orientador do Programa de Implantaccedilatildeo de Salas de Recursos Multifuncionais (BRASIL 2013 p15)
125
Contemplar a forma como as equipes diretivas demonstraram compreender o
que satildeo ―recursos pedagoacutegicos instiga a uma reflexatildeo conceitual acerca do termo
que vem sendo largamente utilizado em documentos legais e produccedilotildees cientiacuteficas
sem por vezes discutir sobre o seu significado Nesse sentido concorda-se com
Eiterer e Medeiros (2010 p01) quando explicaram que
[] ao falar de recursos pedagoacutegicos somos atualmente levados a pensar de modo restritivo em tecnologias digitais e recursos multimiacutedia websites infovias e outras possibilidades dessa mesma natureza Ou ainda em materiais educativos tais como jogos e brinquedos pedagoacutegicos materiais didaacuteticos e mesmo livros didaacuteticos []
As referidas autoras realizaram uma pertinente reflexatildeo acerca do significado
da expressatildeo ―recurso pedagoacutegico procurando vislumbrar aleacutem de seu aspecto
material e distinguir o que poderia conferir a um recurso o caraacuteter de pedagoacutegico
Avanccedilando nas discussotildees chegaram a um entendimento de que o recurso
pedagoacutegico
[] eacute o que auxilia a aprendizagem de quaisquer conteuacutedos intermediando os processos de ensino-aprendizagem intencionalmente organizados por educadores na escola ou fora dela Delimitando melhor os contornos de um conceito o que apresentamos como elemento que permite distinguir um recurso pedagoacutegico de outro qualquer estaacute na accedilatildeo do educador que a partir de uma atuaccedilatildeo planejada mobiliza determinados meios de maneira consciente com vistas a alcanccedilar um objetivo educacional (EITERER e MEDEIROS 2010 p 1 grifo nosso)
O que possibilita classificar um recurso como pedagoacutegico natildeo eacute portanto o
recurso em si mas sim a intencionalidade e a accedilatildeo do educador Assim natildeo
existe recurso pedagoacutegico a priori ainda que a sua finalidade seja educativa Um
recurso torna-se pedagoacutegico na medida em que o educador lhe coloque esse
objetivo e dirija sua accedilatildeo para a construccedilatildeo de um conhecimento especiacutefico
(EITERER e MEDEIROS 2010)
Ainda que a maioria das equipes diretivas escolares entenda que haacute recursos
pedagoacutegicos em suas escolas o modo como se expressaram foi indicativo de uma
compreensatildeo restrita agravequeles que satildeo disponibilizados na SRM Nesse sentido
considera-se que uma ampliaccedilatildeo do conceito de ―recurso pedagoacutegico por parte
das equipes diretivas poderia auxiliaacute-las a ressiginificar suas compreensotildees e com
isso talvez identificar outros recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis em suas escolas
126
Compreende-se que os proacuteprios documentos relacionados ao AEE apontam
para essa interpretaccedilatildeo mais restrita do que significa um ―recurso pedagoacutegico
Assim a ressignificaccedilatildeo desse conceito por meio de estudos e processos de
formaccedilatildeo continuada constitui uma forma possiacutevel natildeo apenas de identificaccedilatildeo de
recursos como mencionado anteriormente Pode favorecer tambeacutem que o proacuteprio
papel da equipe diretiva em relaccedilatildeo ao AEE e ao processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE possa se transformar de modo a contribuir para que
o cotidiano escolar seja organizado de forma a ampliar as possibilidades
pedagoacutegicas do espaccedilo escolar Entende-se que uma maneira possiacutevel de fazecirc-lo
eacute por meio de planejamento de formaccedilatildeo junto a todos os professores
Nessa direccedilatildeo eacute necessaacuterio ainda desconstruir a loacutegica de formaccedilatildeo
separada para o professor especializado professores da sala comum e equipe
diretiva que vem se constituindo como norma nos sistemas de ensino e nos
espaccedilos escolares brasileiros e que pouco pode contribuir com o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Sobre isso Garcia (2011 p 67)
explicou que
[] a loacutegica de formaccedilatildeo proposta e realizada tende a influenciar a organizaccedilatildeo escolar alimentando a caracteriacutestica de pouca ou nenhuma organicidade entre o trabalho especializado e o trabalho pedagoacutegico desenvolvido em sala de aula A formaccedilatildeo de professores nos moldes propostos mediante uma poliacutetica de Educaccedilatildeo Inclusiva tem enfrentado a realidade excludente da Educaccedilatildeo escolar brasileira Ou estamos lidando com um enfoque de justaposiccedilatildeo de um conjunto de praacuteticas especializadas metodologias e recursos especializados como imagem de inclusatildeo escolar
Seguindo com as anaacutelises foi possiacutevel perceber que a Sala de Recursos
Multifuncionais se constitui como um espaccedilo de referecircncia para pensar os recursos
pedagoacutegicos e de acessibilidade natildeo apenas nos dizeres das equipes diretivas
citadas mas na proacutepria proposta do Atendimento Educacional Especializado que
apresenta a SRM como um espaccedilo fiacutesico privilegiado para a realizaccedilatildeo de tal
atendimento que conta com mobiliaacuterio materiais didaacuteticos recursos pedagoacutegicos
e de acessibilidade e equipamentos especiacuteficos para complementarsuplementar o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE (BRASIL 2009)
Sem duacutevida esses recursos disponibilizados pelo MEC satildeo importantes e
precisam estar disponiacuteveis para a utilizaccedilatildeo do professor da sala comum no
trabalho com os estudantes puacuteblico-alvo da EE Entretanto esses recursos natildeo
127
satildeo os uacutenicos que podem ser utilizados ao se considerar que em seu trabalho
cotidiano junto aos estudantes puacuteblico-alvo da EE o professor seja na sala comum
ou na SRM pode se utilizar de outros recursos como meio para atingir seu objetivo
de aprendizagem bem como construiacute-los com os estudantes no intuito de
propiciar a adaptaccedilatildeo de um determinado conteuacutedo o que natildeo deixa de conferir a
esses recursos um caraacuteter pedagoacutegico e acessiacutevel
Convergindo com a discussatildeo Fuck e Cordeiro (2015 p398) salientaram
que
[] os recursos e adaptaccedilotildees devem ser ajustados agraves necessidades dos estudantes oportunizando-os desenvolver suas potencialidades portanto natildeo existe um padratildeo uacutenico para seu uso assim como natildeo significa que toda pessoa com deficiecircncia necessariamente necessite deles ou ainda que tudo deva ser adaptado mas que estes devem ser personalizados visando agrave autonomia da pessoa Para aleacutem desta autonomia entender que os recursos e adaptaccedilotildees constituem-se em meios pois o que deve ser fundamentalmente garantido ao aluno com deficiecircncia eacute o seu direito de acesso aos conteuacutedos escolares
Nessa direccedilatildeo Paro (2012) enfatizou que o objetivo primeiro da escola eacute a
apropriaccedilatildeo por todos os estudantes dos conhecimentos das ciecircncias da arte da
tecnologia da filosofia enfim de todas as conquistas culturais historicamente
produzidas pelos homens Apropriaccedilatildeo essa ―[] que se cumpre pelas atividades
pedagoacutegicas curriculares e docentes estas por sua vez viabilizadas pelas formas
de organizaccedilatildeo escolar e de gestatildeo (LIBAcircNEO 2007 p155)34 realizada pela
equipe diretiva em conjunto com os demais profissionais e comunidade escolar
Ainda sobre a disponibilidade de recursos pedagoacutegicos nas escolas um outro
ponto de atenccedilatildeo que surgiu refere-se a duas equipes diretivas (ED3 e ED6) que
explicitaram natildeo dispor de recursos pedagoacutegicos nos espaccedilos escolares em que
atuam A esse respeito uma primeira consideraccedilatildeo que se faz pertinente eacute a de
que essas equipes diretivas que consideraram natildeo possuir recursos pedagoacutegicos
acessiacuteveis atuam em escolas que natildeo dispotildeem de Salas de Recursos
Multifuncionais e nesse sentido tambeacutem apontaram para uma compreensatildeo de
―recursos pedagoacutegicos reduzidos aqueles que deveriam compor tal espaccedilo e natildeo
a accedilatildeo do educador que pode transformar diversos materiais espaccedilos e situaccedilotildees
34
Texto original escrito em espanhol Traduccedilatildeo livre ―que se obtiene a traveacutes de las atividades pedagoacutegicas curriculares y docentes Eacutestas a su vez son viabilizadas por las formas de organizacioacuten escolar y de gestioacuten (LIBAcircNEO 2007 p155)
128
em meios para favorecer o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo
da EE
Pode-se inferir que nas escolas em que atuam as equipes diretivas ED3 e
ED6 a ausecircncia de um espaccedilo fiacutesico como a SRM dotado de ―[] diferentes
ferramentas desde tecnoloacutegicas ateacute adaptaccedilotildees em materiais escolares
(PLETSCH 2009 p 36) parece ser evidenciada pelas equipes diretivas como
determinante para a inacessibilidade dos conteuacutedos escolares Percepccedilatildeo essa
que por sua vez pode destituir a potecircncia dos saberes e das accedilotildees docentes para
converter uma seacuterie de materiais em recursos pedagoacutegicos acessiacuteveis Contudo
os equipamentos mobiliaacuterios e materiais didaacuteticos pedagoacutegicos que compotildeem a
SRM satildeo ferramentas importantes entendidas por Pletsch (2009 p 36) como
recursos imprescindiacuteveis ―[] para o processo de ensino-aprendizagem de crianccedilas
com necessidades educacionais especiais35 incluiacutedas no ensino regular sobretudo
aquelas com comprometimentos mais severos Assim dispor de tais meios pode
favorecer o trabalho docente junto aos estudantes puacuteblico-alvo da EE ainda que
natildeo determinem por si mesmas a acessibilidade dos conteuacutedos a serem
aprendidos
Considerando tais colocaccedilotildees pode-se dizer que compreender a importacircncia
dos meacutetodos de ensino e dos recursos pedagoacutegicos como meios que possibilitam
aos estudantes puacuteblico-alvo da EE se apropriarem dos conhecimentos
sistematizados eacute uma forma de considerar as suas singularidades e dar um passo
na direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo para todos Nessa perspectiva concorda-se com
Sanches e Teodoro (2006) quando salientam que
[] para que as escolas se tornem mais inclusivas eacute necessaacuterio que assumam e valorizem os seus conhecimentos e as suas praacuteticas que considerem a diferenccedila um desafio e uma oportunidade para a criaccedilatildeo de novas situaccedilotildees de aprendizagem que sejam capazes de inventariar o que estaacute a impedir a participaccedilatildeo de todos que se disponibilizem para utilizar os recursos disponiacuteveis e para gerar outros que utilizem uma linguagem acessiacutevel a todos e que tenham a coragem de correr riscos (SANCHES amp TEODORO 2006 p71)
Evidencia-se tambeacutem que para um espaccedilo escolar tornar-se acessiacutevel eacute
fundamental o papel da equipe diretiva escolar para inventariar junto aos demais
profissionais da educaccedilatildeo o que a escola possui em relaccedilatildeo agrave acessibilidade de
35
O que Pletsch (2009) enfatiza como recursos imprescindiacuteveis para crianccedilas com necessidades educacionais especiais satildeo entendidos no contexto deste estudo como aplicaacuteveis a todos os estudantes puacuteblico-alvo da EE independentemente da faixa-etaacuteria modalidade e niacutevel de ensino
129
suas estruturas internas e externas equipamentos mobiliaacuterios e materiais
didaacuteticos pedagoacutegicos bem como levantar uma relaccedilatildeo daqueles que precisam ser
providenciados e apresentaacute-la aos oacutergatildeos competentes ensejando que sejam
incluiacutedas no planejamento orccedilamentaacuterio anual
Adicionalmente agraves equipes diretivas e demais profissionais da educaccedilatildeo eacute
posto o desafio de instituir e sistematizar momentos de discussatildeo e reflexatildeo sobre
o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Considera-se
aqui no entanto a instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos de formaccedilatildeo em que seja
possiacutevel por exemplo repensar as concepccedilotildees construiacutedas acerca da Educaccedilatildeo
Especial ponderar sobre suas accedilotildees pedagoacutegicas e de gestatildeo e perceber a forma
como a escola estaacute organizada para receber esses estudantes Isso sem deixar de
atentar para os obstaacuteculos dificuldades e resistecircncias que fazem parte de qualquer
processo de reflexatildeo eou mudanccedila e que precisam ser acolhidos compreendidos
e trabalhados Tais momentos de reflexatildeo e discussatildeo natildeo se restringem como
explicaram Placco Souza e Almeida (2012) a cursos e palestras mas remetem a
muacuteltiplos espaccedilos e atividades que favorecem a construccedilatildeo de saberes estimulem
a busca por outros conhecimentos e introduzem uma inquietaccedilatildeo fecunda e
contiacutenua com o que jaacute se conhece
Prosseguindo com as reflexotildees passa-se agora para a apresentaccedilatildeo e
discussatildeo dos dados que emergiram do questionamento realizado agraves equipes
diretivas acerca das accedilotildees36 que essas consideram de sua responsabilidade para
viabilizar o AEE Cada participante respondeu agrave questatildeo considerando sua funccedilatildeo
especiacutefica isto eacute diretores(as) relataram a respeito do papel do(a) diretor(a)
supervisores(as) sobre o papel do(a) supervisor(a) e orientadores(as) a respeito
do papel de orientador(a)
Considerando poreacutem que essa investigaccedilatildeo pretende se debruccedilar sobre a
anaacutelise do papel da equipe diretiva como um todo apresenta-se a seguir um
agrupamento dos dizeres dos participantes da pesquisa formando um conjunto de
papeacuteis que remete agrave equipe diretiva exposto no Quadro 15 Optou-se por
organizar seus dizeres por recorrecircncia em toacutepicos indicativos do modo como
demonstraram entender seu papel no que tange agrave viabilizaccedilatildeo do AEE
36
No contexto deste estudo os termos accedilatildeo papel e funccedilatildeo satildeo entendidos como expressotildees semelhantes que remetem a atividades consideradas de responsabilidade das equipes diretivas em prol da viabilizaccedilatildeo do AEE
130
Quadro 15 Accedilotildees que as equipes diretivas escolares consideram que sejam de suas responsabilidades para viabilizar o AEE
Papel da Equipe Diretiva Escolar na Viabilizaccedilatildeo do AEE Recorrecircncia
Orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores)
9
Orientar Orientar accedilotildees educativas Ajudar o professor na qualidade de suas aulas Orientaccedilotildees educativas aos professores ajudando a qualificar suas aulas Resolver auxiliar orientar os estudantes e pais em suas limitaccedilotildees e anguacutestias Orientaccedilatildeo aos professores Acompanhar a professora especializada Orientar professores Atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eou seus pais
7 Realizar atendimento a esses alunos e pais informando sua vida escolar Ajudar no atendimento aos alunos no refeitoacuterio Encaminhar alunos (2) Adequar horaacuterios dos alunos (2) Viabilizar conversas com os pais
Provimento de condiccedilotildees materiais e pedagoacutegicas
5
Dar condiccedilotildees (materiais jogos ambiente etc) para que os profissionais possam atender aos alunos Viabilizar materiais para as atividades Suprir as necessidades quanto a materiais para que os professores possam desenvolver seu trabalho Participaccedilatildeo no trabalho pedagoacutegico Proporcionar acesso ao conhecimento das diferentes siacutendromes e deficiecircncias para que o professor planeje atividades compatiacuteveis as suas possibilidades
Apuraccedilatildeorepasse de informaccedilotildees e mediaccedilatildeo entre escola e Secretaria da Educaccedilatildeo
4 Levantamento dos alunos com deficiecircncia Solicitar para a Secretaria da Educaccedilatildeo esse atendimento (AEE) aos alunos (2) Repassar informaccedilotildees relevantes
Promoccedilatildeo da aprendizagemdesenvolvimento dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
2 Promover a aprendizagem dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Acompanhar o desenvolvimento desse estudante
Natildeo responderam 5
Total 32
Fonte Primaacuteria (2016)
Identificou-se que os toacutepicos mais recorrentes nos dizeres dos integrantes
das equipes diretivas para descreverem suas accedilotildees a fim de viabilizar o AEE foram
relativos a orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores) atendimento a
estudantes puacuteblico-alvo da EE eou seus pais e ao provimento de condiccedilotildees
materiais para realizaccedilatildeo desse atendimento
No tocante ao papel de orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores)
observou-se que a maior parte dos integrantes que citou essa accedilatildeo foram
supervisores educacionais aos quais de fato eacute conferida a atribuiccedilatildeo de atender e
acompanhar os docentes focalizando o processo pedagoacutegico (CAMBORIUacute 2008)
Tambeacutem foi possiacutevel perceber que a maneira como os respondentes se
expressaram foi em alguns momentos geneacuterica imprecisa ou vaga Um deles por
131
exemplo resumiu seu papel a ―orientar o que conduziu a alguns
questionamentos orientar a quem como porque quando Do mesmo modo outro
participante ao expor que seu papel diz respeito a ―orientar accedilotildees educativas natildeo
esclareceu quais accedilotildees seriam essas Ainda um dos integrantes mencionou que
sua funccedilatildeo remete a ―ajudar o professor na qualidade de suas accedilotildees o que por
sua vez leva a questionar o que se entende por uma ―accedilatildeo de qualidade e de que
forma a equipe diretiva escolar pode ajudar a qualificar a accedilatildeo de um professor
Essa forma aqui compreendida como geneacuterica imprecisa ou vaga de falar a
respeito do papel da equipe diretiva escolar frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE pode ser
explicada a partir de perspectivas distintas dentre as quais duas parecem se
destacar A primeira se refere agrave possiacutevel falta de clareza por parte dos integrantes
das equipes diretivas acerca de seus papeacuteis Isto eacute a imprecisatildeo que foi percebida
na forma como se expressaram pode ser indicativa de que natildeo estaacute claro para
eles proacuteprios qual eacute a funccedilatildeo que lhes compete para viabilizar o AEE no acircmbito
escolar
Sabendo que a maneira como as equipes diretivas falam a respeito de seu
papel frente ao processo de viabilizaccedilatildeo do AEE revela tambeacutem o que pensam
sobre o proacuteprio AEE Supotildee-se que essa falta de clareza quanto ao seu papel pode
estar ancorada em uma concepccedilatildeo de AEE como um serviccedilo agrave parte cuja ―gestatildeo
seria de responsabilidade do professor especializado e natildeo da escola como um
todo Nesse sentido assim como Pletsch (2009) afirmou que a inclusatildeo eacute ainda
vista como uma responsabilidade setorizada da Educaccedilatildeo Especial o professor
atuante na SRM parece ser percebido em casos como esse como o principal
responsaacutevel pelo AEE Essa concepccedilatildeo parece ter sido evidenciada tambeacutem em
outras pesquisas como a empreendida por Fuck (2014 p148-149) com
professores da sala comum em que a autora observou
[] que o professor da Sala Comum espera do professor especializado soluccedilotildees que natildeo dependem exclusivamente do AEE na SRM mas que implicam a proacutepria organizaccedilatildeo estrutural poliacutetica cultural e pedagoacutegica da escola
A segunda perspectiva que pode ser apontada diz respeito ao tempo
que os participantes puderam destinar agrave resposta dos questionaacuterios dessa
pesquisa considerando que a coleta de dados ocorreu nos meses de outubro e
132
novembro de 2015 convergindo em algumas escolas com o periacuteodo de aplicaccedilatildeo
da Prova Brasil37 teacutermino de semestre e outras demandas de final de ano que
podem ter levado os integrantes das equipes diretivas a responderem de forma
sucinta agraves questotildees do referido instrumento de coleta de dados
Ainda que orientaccedilatildeoajuda em especial aos docentes tenha emergido como
o papel mais citado pelas equipes diretivas ao pensarem em suas accedilotildees em prol
da viabilizaccedilatildeo do AEE Macedo Carvalho e Pletsch (2011) esclareceram que
esse serviccedilo vai muito aleacutem da orientaccedilatildeo aos professores uma vez que requer
[] mudanccedilas estruturais e pedagoacutegicas no funcionamento das escolas como por exemplo entre outras dimensotildees na estrutura curricular riacutegida presente nos objetivos conteuacutedos nas metodologias na organizaccedilatildeo didaacutetica do tempo na estrateacutegia de avaliaccedilatildeo para atender a diversidade e especificidades dos alunos que a frequentam Flexibilizar o curriacuteculo para atender a todos os alunos eacute urgente A sua transformaccedilatildeo implica na diminuiccedilatildeo do nuacutemero de alunos por sala de aula o trabalho cooperativo ou colaborativo entre professores do AEE e da sala comum entre outros aspectos (MACEDO CARVALHO e PLETSCH 2011 p7)
Foi possiacutevel perceber que os aspectos relatados pelas autoras natildeo
apareceram nas falas das equipes diretivas como accedilotildees que poderiam realizar a
fim de viabilizar o AEE Do mesmo modo momentos coletivos de reflexatildeo e
diaacutelogo citados ao longo desta pesquisa como uma das principais accedilotildees a serem
empreendidas pelas equipes diretivas visando uma gestatildeo democraacutetica-
participativa tambeacutem natildeo surgiram nos dizeres dos participantes como uma
possibilidade para contribuiacuterem com o processo de viabilizaccedilatildeo do AEE
A criaccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo de reflexatildeo e diaacutelogo acerca de
assuntos educacionais com o coletivo escolar dentre os quais inclui-se a
elaboraccedilatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico (PPP) satildeo entendidos como formativos
e requerem uma accedilatildeo intencional e planejada por parte das equipes diretivas
combinada agrave existecircncia de condiccedilotildees adequadas para sua execuccedilatildeo (estrutura
fiacutesica tempo etc) O fato de natildeo terem sido mencionados pelos participantes
como parte de seu papel frente ao AEE pode levar agrave inferecircncia de que tal criaccedilatildeo
37 Avaliaccedilatildeo Nacional do Rendimento Escolar - Anresc (tambeacutem denominada Prova Brasil) trata-se de uma avaliaccedilatildeo censitaacuteria envolvendo os alunos da 4ordf seacuterie5ordmano e 8ordfseacuterie9ordmano do Ensino Fundamental das escolas puacuteblicas das redes municipais estaduais e federal com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas puacuteblicas Participam dessa avaliaccedilatildeo as escolas que possuem no miacutenimo 20 alunos matriculados nas seacuteriesanos avaliados sendo os resultados disponibilizados por escola e por ente federativo (BRASIL 2016 sp)
133
e organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo para discutir e refletir com o coletivo escolar natildeo
seja uma accedilatildeo desenvolvida nas escolas pesquisadas
Um dado que reforccedila essa hipoacutetese diz respeito ao fato de que dos 22
participantes da pesquisa apenas 3 (ED2o ED2s e ED4o) informaram que o AEE eacute
contemplado no PPP da escola Dentre os demais 9 justificaram a ausecircncia do
AEE no PPP da escola pelo fato de natildeo contarem com esse serviccedilo em seus
espaccedilos escolares e 7 natildeo justificaram tal ausecircncia sendo que 03 natildeo
responderam a essa questatildeo Pode-se evidenciar ainda que na escola ED4 apesar
de ofertar o AEE na proacutepria escola 03 de seus integrantes (ED4o ED4s ED4s)
informaram que o AEE natildeo consta no PPP Tal resposta se repetiu nas demais
escolas pesquisadas com exceccedilatildeo da equipe diretiva ED2 em que a maioria de
seus integrantes responderam (ED2d e ED2s) que o AEE estaacute incluso no PPP da
escola Parece haver nesse sentido um entendimento por parte das equipes
diretivas de que o AEE se restringe ao espaccedilo da SRM contudo esse serviccedilo faz
parte dos apoios que a escola promove aos estudantes e aos professores entatildeo
independente de haver ou natildeo a sala recursos multifuncionais no espaccedilo escolar
compreende-se que o atendimento especializado deveria fazer parte das diretrizes
da escola
Embora a constituiccedilatildeo coletiva do PPP na escola seja um espaccedilo e tempo
privilegiado de reflexatildeo e planejamento coletivo natildeo pode como sugeriu Carneiro
(2006 p32) se ―constituir como um fim em si mesmo pois precisa ainda ser
constantemente revisitado acompanhado e avaliado identificando as alteraccedilotildees
necessaacuterias a serem feitas Ele eacute verdadeiramente o iniacutecio de um processo de
trabalho A partir do projeto pedagoacutegico a escola vai estruturando seu trabalho
avaliando e reorganizando suas praacuteticas oportunizando que todos os envolvidos
nesse processo identifiquem suas responsabilidades individuais e coletivas no que
concerne agrave viabilizaccedilatildeo do AEE Libacircneo (2015 p127 grifo do autor) complementa
a discussatildeo ao enfatizar que
[] o projeto pedagoacutegico deve ser compreendido como instrumento e processo de organizaccedilatildeo da escola Considera o que jaacute estaacute instituiacutedo (legislaccedilatildeo curriacuteculos conteuacutedos meacutetodos formas organizativas da escola etc) mas tem tambeacutem uma caracteriacutestica de instituinte[] que significa que o projeto institui estabelece cria objetivos procedimentos instrumentos modos de agir estruturas haacutebitos valores ou seja institui uma cultura organizacional Neste sentido ele [PPP] sintetiza os interesses os desejos as propostas dos educadores [do coletivo escolar] que trabalham na escola [ao responderem] as seguintes perguntas a) Que tipo de escola noacutes
134
profissionais desta escola queremos b) Que objetivos e metas correspondem agraves necessidades e expectativas desta comunidade escolar c) Que necessidades precisamos atender em termos de formaccedilatildeo dos alunos e alunas para a autonomia cidadania participaccedilatildeo d) Como faremos para colocar o projeto em permanente avaliaccedilatildeo dentro da praacutetica da accedilatildeo-reflexatildeo-accedilatildeo Considerando o caraacuteter processual do planejamento o projeto eacute avaliado ao longo do ano letivo para verificar se as accedilotildees estatildeo correspondendo ao que foi previsto se as metas precisam ser alteradas em funccedilatildeo de fatos inesperados de forma a corrigir os desvios tomar novas decisotildees e replanejar o rumo do trabalho
Nesse sentido considerando a importacircncia do processo de construccedilatildeo de tal
documento eacute possiacutevel constatar que se torna imprescindiacutevel discutir a proposta de
AEE na elaboraccedilatildeo do PPP uma vez que essa natildeo pode ser considerada como um
apecircndice incorrendo no risco de responsabilizar somente o professor de AEE na
sua elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo Sugere-se outrossim que o AEE seja pensado e
realizado a partir do envolvimento de todos como uma proposta delineadora do
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial A
equipe diretiva aparece nesse contexto com um papel de destaque na promoccedilatildeo
desse envolvimento do coletivo escolar Como explicou Tezani (2009) apoiada em
Sage (2008) a equipe diretiva pode abrir espaccedilos e promover trocas de
experiecircncias importantes entre os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo e
conforme suas possibilidades e o contexto em que atua desenvolver uma gestatildeo
democraacutetica-participativa que favoreccedila a formaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo de equipes de
trabalho
Ratifica-se portanto que a discussatildeo coletiva da proposta de AEE eacute
fundamental uma vez que se mostra como uma forma de articular as accedilotildees dentro
da escola por meio de um processo de construccedilatildeo dialoacutegico possibilitando aos
profissionais da educaccedilatildeo pais e estudantes reconhecerem e compreenderem o
AEE como uma accedilatildeo que para ser efetiva requer o envolvimento de todos Esse
clima organizacional que se procura constituir nessa construccedilatildeo coletiva Aguiar
(2012 p 152) denominou de responsabilidade partilhada em que todos
―reconhecem seus papeacuteis e limitaccedilotildees e buscam em conjunto sanar as dificuldades
e avanccedilar sobre novos desafios
Em meio a essas reflexotildees Catani e Gutierrez (2008) advertem que
[] toda e qualquer organizaccedilatildeo que tente implantar e desenvolver praacuteticas de natureza participativa vive sob a constante ameaccedila da reconversatildeo burocraacutetica e autoritaacuteria dos seus melhores esforccedilos As razotildees para isto satildeo diversas histoacuteria de vida de seus membros supervalorizaccedilatildeo
135
ideoloacutegica das formas tradicionais de gestatildeo demandas especiacuteficas difiacuteceis de conciliar etc De tudo isso contudo um ponto deve ser destacado a participaccedilatildeo se funda no exerciacutecio do diaacutelogo entre as partes Essa comunicaccedilatildeo ocorre em geral entre pessoas com diferentes formaccedilotildees e habilidades ou seja entre agentes dotados de distintas competecircncias para a construccedilatildeo de um plano coletivo e consensual de accedilatildeo Na praacutetica da gestatildeo escolar esta diferenccedila que em si natildeo eacute original nem uacutenica assume uma dimensatildeo muito maior do que a grande maioria das propostas de gestatildeo participativa e autogestatildeo que pode ser observada (CATANI amp GUTIERREZ 2008 p71 grifo nosso)
Desse modo pode-se dizer que o processo de elaboraccedilatildeo coletiva do projeto
poliacutetico pedagoacutegico eacute permeado por aspectos culturais sociais e poliacuteticos de seus
participantes pelas poliacuteticas puacuteblicas e pelas condiccedilotildees disponiacuteveis na escola para
sua realizaccedilatildeo figurando assim as tensotildees e contradiccedilotildees que perpassam essa
construccedilatildeo coletiva
Dentre outros possiacuteveis motivos que poderiam inviabilizar a existecircncia de
momentos formativos de reflexatildeo e diaacutelogo nas escolas pode-se citar a
precariedade das condiccedilotildees para que tal accedilatildeo aconteccedila como por exemplo a
indisponibilidade de tempo como jaacute discutido anteriormente Outro ponto que
merece atenccedilatildeo eacute a possibilidade de que as equipes diretivas natildeo reconheccedilam que
criar estrateacutegias de organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo que assegure encontros de
formaccedilatildeo coletiva com os profissionais da escola como accedilotildees que podem ser
feitas por elas para viabilizar o AEE
Nesse sentido vislumbra-se que esse reconhecimento por parte das equipes
diretivas pode se mostrar uma oportunidade para que se possa identificar suas
possibilidades de accedilatildeo frente ao AEE Em momentos de reflexatildeo e accedilatildeo conjunta
pode-se refletir sobre a realidade poliacutetica econocircmica e social em que a escola estaacute
inserida percebendo a incontestaacutevel imbricaccedilatildeo dessa realidade agraves questotildees
pedagoacutegicas e do cotidiano escolar Nesses momentos tambeacutem eacute possiacutevel pensar
sobre e esclarecer as responsabilidades individuais e coletivas dos envolvidos no
processo de viabilizaccedilatildeo do AEE considerando a responsabilidade do Estado em
prover as condiccedilotildees necessaacuterias (estruturais recursos pedagoacutegicos e humanos)
para a efetivaccedilatildeo desse serviccedilo Pensar o AEE da forma que parece estar posta
nas escolas pesquisadas como sendo um serviccedilo individualizado setorizado e com
uma escassa interaccedilatildeo entre os profissionais pouco pode contribuir com o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Nesse sentido
concorda-se com Jesus Almeida e Sobrinho (2005 p1) quando explicam que
136
[] se quisermos uma escola que atenda agrave diversidade ou seja uma escola inclusiva precisamos pensar com o outro precisamos de um processo longo e constante de reflexatildeo-accedilatildeo-criacutetica com [todos] os profissionais que fazem o ato educativo acontecer []
Com relaccedilatildeo ao papel de atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial eou seus pais observou-se que a maioria dos integrantes
que fez referecircncia a esse papel foram orientadores educacionais o que pode ter
seu fundamento em parte nas proacuteprias atribuiccedilotildees das funccedilotildees desse profissional
contidas na Lei Municipal Complementar nordm 192008 (CAMBORIUacute 2008 sp)
Na referida lei ao orientador eacute atribuiacutedo um papel mais voltado ao
atendimento de estudantes e suas famiacutelias promovendo uma articulaccedilatildeo entre
escola famiacutelia e comunidade e envolvendo os estudantes e seus responsaacuteveis na
elaboraccedilatildeo do Plano Poliacutetico Pedagoacutegico da escola Enquanto isso o supervisor
educacional aparece como aquele que acompanha e daacute suporte aos professores
com foco na dimensatildeo pedagoacutegica do processo de escolarizaccedilatildeo O diretor por
sua vez parece ter uma atuaccedilatildeo direcionada a aspectos administrativos
(CAMBORIUacute 2008)
Essa divisatildeo de responsabilidades apareceu tambeacutem nas respostas dos
participantes uma vez que as trecircs accedilotildees mais citadas como aquelas que satildeo de
responsabilidade da equipe diretiva a fim de viabilizar o AEE tiveram cada uma a
marca de uma funccedilatildeo especiacutefica papel de orientaccedilatildeoajuda (em especial aos
professores) foi mais mencionado por supervisores escolares papel de
atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eou pais apareceu
com mais frequecircncia nas falas de orientadores educacionais e por fim o papel de
provimento de condiccedilotildees materiais e pedagoacutegicas foi mais constante nas respostas
de diretores escolares Contudo por mais que cada um dos integrantes da equipe
diretiva escolar tenha sua responsabilidade e um trabalho especiacutefico haacute um
imbricamento entre vaacuterias de suas funccedilotildees as quais podem uni-los enquanto
equipe com o intuito de contribuir e potencializar o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes juntamente com o coletivo escolar
Outra accedilatildeo considerada pelas equipes diretivas como sendo de sua
responsabilidade na viabilizaccedilatildeo do AEE eacute o provimento de condiccedilotildees materiais
e pedagoacutegicas citado majoritariamente por diretores(as) escolares Foi possiacutevel
137
notar que esses dois aspectosndash administrativo e pedagoacutegico ndash estatildeo de fato
imbricados no fazer cotidiano do diretor Sobre essa questatildeo Paro (2010)
esclareceu que tradicionalmente a atuaccedilatildeo do diretor escolar privilegiava os
aspectos administrativosburocraacuteticos em detrimento dos pedagoacutegicos Assim a
funccedilatildeo dos diretores se restringia apenas agraves atividades-meio (prover recursos
controlar sua utilizaccedilatildeo) dicotomizando-as das atividades-fim (pedagoacutegicas)
Dessa forma a gestatildeo escolar pareceu absorver princiacutepios semelhantes aos
empresariais culminando em uma concepccedilatildeo de diretor ―[] cuja formaccedilatildeo
atribuiccedilotildees e atuaccedilatildeo praacutetica eacute de simples gerente sem explicitaccedilatildeo nem reflexatildeo
a respeito de sua caracteriacutestica de agente poliacutetico diante do ofiacutecio de administrar
uma instituiccedilatildeo cujo fim eacute prover educaccedilatildeo (PARO 2010 p 776)
Entretanto o que se enseja e se coloca como horizonte de transformaccedilatildeo
quando se pensa na gestatildeo escolar eacute justamente a desconstruccedilatildeo dessa loacutegica
gerencial e a constituiccedilatildeo de uma outra que pense a educaccedilatildeo a partir dela
mesma e natildeo de modelos industriaisempresariais Eacute importante que se considere
a especificidade poliacutetico-pedagoacutegica da escola que se valorizem os profissionais
da educaccedilatildeo e que se atue a partir da heterogeneidade que se expressa nos
espaccedilos escolares favorecendo a participaccedilatildeo de todos os envolvidos no processo
de escolarizaccedilatildeo Nesse sentido Paro (2010) enfatizou que ao pensar em novas
alternativas para a atuaccedilatildeo do diretor escolar eacute preciso considerar
[] maneiras de conceber a direccedilatildeo escolar que transcendam a forma usual de concentraacute-la nas matildeos de apenas um indiviacuteduo que se constitui o chefe geral de todos Natildeo que a hierarquia seja nociva em si pois aquele que se coloca no escalatildeo hieraacuterquico superior pode muito bem estar investido de um tipo de autoridade democraacutetica [] aquela que supotildee a concordacircncia livre e consciente daqueles que obedecem agraves ordens que tecircm sua subjetividade preservada e mesmo afirmada na relaccedilatildeo (PARO 2010 p 776)
Ainda que haja uma delimitaccedilatildeo entre as funccedilotildees de cada integrante da
equipe diretiva para que essa possa atuar de fato de forma coletiva eacute preciso
constituir um trabalho articuladoem parceria uma vez que natildeo haacute como discutir o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes sem abordar as estrateacutegias de ensino
que favoreccedilam a aprendizagem e o desenvolvimento Do mesmo modo para que
tais estrateacutegias possam ser elaboradas e praticadas eacute necessaacuterio que haja
condiccedilotildees desde processos sistematizados de formaccedilatildeo continuada para os
profissionais da escola ateacute equipamentos mobiliaacuterio e materiais didaacuteticos
138
pedagoacutegicos adequados Conclui-se portanto que o foco conferido agrave cada funccedilatildeo
e que diferencia um profissional do outro pode fortalececirc-los como grupo em vez de
constituir uma barreira que fragmenta suas accedilotildees
Nessa perspectiva Rangel (2013) salienta que constituir no cotidiano das
escolas um trabalho de parceria entre o orientador e supervisor educacional (e aqui
se adiciona tambeacutem o diretor escolar) se mostra profiacutecuo pois favorece uma
accedilatildeo-reflexatildeo-accedilatildeo conjunta aproximando-os em torno de um objetivo comum a
escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes de modo a possibilitar-lhes o direito agrave
educaccedilatildeo escolar
Nessa direccedilatildeo foi possiacutevel identificar nas escolas pesquisadas uma
delimitaccedilatildeo entre as funccedilotildees de cada integrante da equipe diretiva para a atuaccedilatildeo
na escola a qual tem seu fundamento na Lei Complementar no 192008
(CAMBORIUacute 2008) Apesar dessas delimitaccedilotildees pode-se observar agrave luz da
referida lei alguns pontos de intersecccedilotildees entre as funccedilotildees das equipes diretivas
uma vez que vaacuterias de suas atribuiccedilotildees estatildeo interligadas o que poderia ser
concebida nesse sentido como uma oportunidade para aproximaacute-las e consolidaacute-
las enquanto equipes diretivas
Entretanto no decorrer das anaacutelises as accedilotildees das equipes diretivas no que
concerne agrave compreensatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos escolares apontaram
indiacutecios de uma accedilatildeo desarticulada entre os integrantes da proacutepria equipe diretiva
o que pode culminar em parte em um trabalho mais isolado entre os profissionais
da escola Ante o exposto concorda-se com Paro (2001 p114) quando afirma
que
[] eacute preciso que se coloque no centro das discussotildees (e das praacuteticas) a funccedilatildeo educativa global da escola Assim se entendemos que educaccedilatildeo eacute atualizaccedilatildeo histoacuterico-cultural dos indiviacuteduos e se estamos comprometidos com a superaccedilatildeo do estado geral da injusticcedila social que em lugar do bem viver reserva para a maioria o trabalho alienado entatildeo eacute preciso que nossa escola concorra para a formaccedilatildeo de cidadatildeos atualizados capazes de participar politicamente usufruindo daquilo que o homem historicamente produziu mas ao mesmo tempo dando sua contribuiccedilatildeo criadora e transformando a sociedade Soacute assim a escola estaraacute participando de forma efetiva []
De acordo com a exposiccedilatildeo do autor pode-se dizer que embora as parcerias
constituiacutedas no interior da escola sejam importantes elas natildeo encerram as
relaccedilotildees necessaacuterias para o desenvolvimento do trabalho da equipe diretiva e
demais profissionais da educaccedilatildeo frente ao AEE Eacute a partir dessa constataccedilatildeo que
139
se adentra na uacuteltima questatildeo a ser abordada neste subcapiacutetulo os desafios
encontrados pelas equipes diretivas pesquisadas na viabilizaccedilatildeo do AEE nos
espaccedilos escolares em que atuam A seguir no Quadro 16 buscou-se reunir por
toacutepicos os dizeres mais recorrentes nas respostas dos integrantes das equipes
diretivas quanto aos desafios encontrados no processo de viabilizar o AEE na
escola
Quadro 16 - Desafios encontrados pelas equipes diretivas escolares para viabilizar o AEE
Desafios encontrados pela equipe diretiva para a viabilizar o AEE Recorrecircncia
Estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos
6 Natildeo possuir a sala de AEE Tornar viaacutevel o atendimento na unidade escolar (3) A falta de espaccedilo fiacutesico A falta do profissional especializado (2) Apoio por parte da Secretaria de Educaccedilatildeo
5
A escola depende da Secretaria de Educaccedilatildeo para montagem da sala de AEE A secretaria de educaccedilatildeo atender a solicitaccedilatildeo da escola de contratar monitores de inclusatildeo Continua-se solicitando junto aos governantes esse professor Para superar tal desafio estamos solicitando a Sec de Educaccedilatildeo o profissional especializado (2) Dificuldade em constituir parcerias entre os profissionais da escola e com a comunidade escolar
5 No momento natildeo estamos fazendo parcerias com os demais membros escolares Parcerias com psicoacutelogos pais Maior interesse por parte da direccedilatildeo da professora pais e alunos Dificuldades de parcerias (2)
Efetivar a educaccedilatildeo como direito fundamental e de todos
4 O desafio eacute incluir todos no processo de escolarizaccedilatildeo Atender todos Muitos estudantes natildeo satildeo alfabetizados surdos ou ateacute de baixa visatildeo Garantia do atendimento de nossos alunos em alguma sala de recursos multifuncionais do municiacutepio
Resistecircncia de professores a novas estrateacutegias de ensino
2 Por sermos uma escola de sexto ao nono ano eacute muito difiacutecil fazer o professor das diferentes aacutereas do conhecimento planejar atividades adequadas O desafio eacute convencer (o professor) a criar novas possibilidades de aprendizagem
Formaccedilatildeo de profissionais atuantes na Educaccedilatildeo Especial
2 Falta informaccedilatildeo adequada para esses profissionais Faltam profissionais adequados e capacitados para atuarem nessa aacuterea
Ausecircncia de planejamento 1
Ainda natildeo temos um planejamento apropriado
Natildeo responderam 4
Total 29
Fonte Primaacuteria 2016
Observa-se que na perspectiva das equipes diretivas escolares os trecircs
desafios mais recorrentes no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE relacionam-se agrave
disponibilizaccedilatildeo de ―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola ao
―apoio por parte da Secretaria de Educaccedilatildeo e agrave constituiccedilatildeo de ―parcerias entre os
140
profissionais da escola e com a comunidade escolar Compreende-se que esses
trecircs aspectos estatildeo imbricados de tal forma que pensaacute-los isoladamente pouco
contribuiria para entender como o Atendimento Educacional Especializado tem sido
viabilizado nos espaccedilos escolares
Percebe-se nesse caso que para viabilizar um serviccedilo de AEE que disponha
de estrutura fiacutesica e conte com uma rede de apoio dentro da escola e tambeacutem fora
dela (com a comunidade os oacutergatildeos governamentais e as entidades eou instituiccedilotildees
a eles relacionadas) eacute necessaacuterio constituir uma rede articulada de accedilotildees entre os
profissionais atuantes na escola (professores equipe diretiva psicoacutelogos etc) pais
estudantes e o Estado Com relaccedilatildeo a esse uacuteltimo eacute incontestaacutevel que cabe agrave Uniatildeo
e o Municiacutepio a responsabilidade em prover recursos financeiros para que o espaccedilo
escolar possa se adequar em termos de acessibilidade equipamentos mobiliaacuterio
materiais didaacuteticos pedagoacutegicos e recursos humanos a fim de oferecer o serviccedilo de
AEE
No entanto o planejamento para a utilizaccedilatildeo e a efetiva aplicaccedilatildeo desses
recursos financeiros uma vez concedidos satildeo atividades que pertencem ao rol de
funccedilotildees da equipe diretiva escolar em conjunto com os demais profissionais e
comunidade escolar Logo os desafios percebidos pelos participantes da pesquisa
natildeo satildeo apenas dessas equipes Satildeo desafios de uma rede de profissionais que
precisam estar articulados para que a estrutura e os recursos necessaacuterios possam
se alinhar a outros pontos fundamentais no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE como
a formaccedilatildeo continuada dos profissionais da escola a construccedilatildeo coletiva do projeto
poliacutetico pedagoacutegico da escola e o engajamento poliacutetico no sentido de pleitear a
diminuiccedilatildeo de estudantes por turmas dentre outros Isto porque como enfatizaram
Glat e Blanco (2007 p 33) ―o sucesso da poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial depende
diretamente da continuidade da existecircncia da rede de suportes especializados
incluindo-se a formaccedilatildeo de todos os profissionais atuante na escola e o
estabelecimento de parcerias entre estes profissionais pais estudantes e o Estado
Ainda que todos esses profissionais e comunidade escolar tenham parte no
processo de viabilizaccedilatildeo do AEE eacute importante ressaltar que
[] na definiccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais eacute fundamental natildeo se confundir as responsabilidades da escola [] com as responsabilidades do Estado Entendo que o Estado eacute responsaacutevel por viabilizar a prestaccedilatildeo de todos os serviccedilos organizados na sociedade para atender a todos (MAZZOTA 2010 p 86)
141
Nesse sentido para esclarecer essas responsabilidades e compor um todo
organizado em torno de um objetivo comum ndash a viabilizaccedilatildeo do AEE ndash vislumbra-se
que a equipe diretiva pode como se vem reforccedilando neste estudo analisar a
possibilidade de instituir na escola espaccedilos e tempos de discussatildeo e reflexatildeo com
todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da
EE se permitindo juntamente com o coletivo escolar inventariar o que a escola
disponibiliza de adequaccedilotildees estruturais recursos pedagoacutegicos e humanos bem
como os que natildeo disponibiliza Uma vez documentado esse levantamento pode-se
apresentaacute-lo agrave Secretaria de Educaccedilatildeo e junto a ela acompanhar sistematicamente
o processo de solicitaccedilatildeo de adequaccedilotildees e recursos aos oacutergatildeos competentes
A gestatildeo escolar nesse sentido pode contribuir para instituir a rede de
parceria que hoje vivencia como um desafio Como ressaltou Tezani (2009 p 3)
apoiada em Sage (1999) ―o gestor escolar pode colaborar com o estabelecimento
da colaboraccedilatildeo no ambiente escolar com o aprimoramento do contato e da
interaccedilatildeo entre os professores e demais funcionaacuterios e uma das maneiras de
fazecirc-lo eacute por meio da instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos em que os envolvidos no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
possam dialogar sobre esse processo e compreender os avanccedilos e recuos que o
marcam fomentando a troca de informaccedilotildees e experiecircncias entre os profissionais
que atuam na escola e estabelecendo a partir desse entendimento os pontos de
partida que se fazem necessaacuterios para viabilizar o serviccedilo de AEE
Compreende-se que esses momentos coletivos podem contribuir com a accedilatildeo
individual de cada profissional da educaccedilatildeo No entanto Goacutees (1997) ajuda a
compreender que no diaacutelogo com o outro se revela o contraditoacuterio Natildeo se trata de
uma construccedilatildeo imune agrave diversidade de pontos de vista e ao embate uma vez que
[] o jogo dialoacutegico entre sujeitos natildeo tende a uma soacute direccedilatildeo ao contraacuterio envolve circunscriccedilatildeo ampliaccedilatildeo dispersatildeo e estabilizaccedilatildeo de sentidos Um determinado conhecimento (pretendido na intencionalidade do outro ou previsto na perspectiva de um observador) pode ou natildeo ser construiacutedo pelo indiviacuteduo (GOacuteES 1997 p 27)
Essa multiplicidade de sentidos que marcam e tensionam o jogo dialoacutegico
consiste em um terreno feacutertil para que o AEE no acircmbito escolar possa ser
constantemente ressignificado de modo a acolher a diversidade e focalizar o direito
142
de aprender dos estudantes O AEE nesse sentido precisa ser entendido como um
serviccedilo de apoio e interlocuccedilatildeo com a sala de aula comum de modo a atender agraves
singularidades dos estudantes puacuteblico-alvo da EE o que requer a participaccedilatildeo de
todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo desses estudantes Isso no
entanto implica em uma accedilatildeo da equipe diretiva que eacute a constituiccedilatildeo de espaccedilos e
tempos permanentes de discussatildeo e reflexatildeo sobre os assuntos educacionais
assim como a elaboraccedilatildeo de estrateacutegias metodologias e praacuteticas pedagoacutegicas que
busquem potencializar as condiccedilotildees de permanecircncia e o processo de escolarizaccedilatildeo
dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Nesse sentido concorda-se com Pereira
Damasceno e Andrade (2013 p1439) quando explicam que
[] o Atendimento Educacional Especializado hoje representa uma possibilidade assumida como escolha poliacutetico-pedagoacutegica para a inclusatildeo de estudantes [] [puacuteblico-alvo da EE] sobretudo na superaccedilatildeo das velhaspresentes chagaslsquo da escola a dissociaccedilatildeo entre teoria e praacutetica o trabalho individualizado a idealizaccedilatildeo da homogeneidade de aluno a negaccedilatildeo dos diferentes ritmos e estilos de aprendizagem a afirmaccedilatildeo de meacutetodos e estrateacutegias uacutenicas para se ensinar a justificativa do insucesso da aprendizagem associada exclusivamente ao aluno entre outras [] Embora os desafios agrave implementaccedilatildeo do AEE estejam postos para a escola contemporacircnea e seus profissionais o serviccedilo se configura um avanccedilo em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo especial considerando o isolamento que historicamente foi vivido por estes sujeitos nas classesescolas especiais
Nessa perspectiva considera-se que eacute por meio do diaacutelogo que as
equipes diretivas escolares podem identificar as necessidades formativas dos
profissionais que compotildeem o coletivo escolar (incluindo suas proacuteprias demandas de
formaccedilatildeo) Nesse sentido tais momentos dialoacutegicos podem favorecer reflexotildees
acerca da Educaccedilatildeo Especial e o AEE aprofundamentos teoacutericos trocas de
experiecircncias e a discussatildeo das dificuldades encontradas pelos envolvidos no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Tambeacutem podem
ensejar o debate das accedilotildees pedagoacutegicas e fortalecer a interaccedilatildeo e parceria entre os
profissionais
Ademais eacute fundamental natildeo cair na armadilha de uma compreensatildeo
reduzida de AEE que leve a pensar que para viabilizaacute-lo eacute necessaacuterio somente
―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola Como jaacute discutido
esses aspectos satildeo importantes e compotildeem a estrutura necessaacuteria para realizaacute-los
poreacutem haacute outros aspectos que precisam ser considerados pois um pensamento
reduzido pode culminar no risco de departamentalizar o AEE na escola restringindo
143
esse serviccedilo agrave SRM e ao professor especializado Tambeacutem pode levar ao equiacutevoco
de pensar que natildeo haacute nada a ser feito pelos estudantes puacuteblico-alvo da EE quando
natildeo haacute em seu espaccedilo a SRM e o profissional especializado Kassar (2011)
apresenta um relato elucidativo de que a viabilizaccedilatildeo do AEE transcende o desafio
da disponibilidade de ―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola
[] escolhemos propositadamente um caso considerado ―de sucesso frente agrave escola o aluno de 3ordm ano (Rodrigo que eacute cego) natildeo apresenta problema de interaccedilatildeo eacute bem acolhido pela turma e eacute considerado bastante inteligente[] Sua professora de sala comum leciona haacute 15 anos eacute graduada em Pedagogia e tem Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inclusiva Participa quando possiacutevel das formaccedilotildees propostas pelo Programa Educaccedilatildeo Inclusiva Direto agrave Diversidade dentre outras oferecidas pelo municiacutepio A professora da sala de recursos trabalha haacute 11 anos em sala de recurso e tem especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Baacutesica na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva e formaccedilatildeo especiacutefica na aacuterea da Deficiecircncia Visual Vamos ao diaacuterio de Campo [] quando cheguei nesse dia Rodrigo ainda estava fora da carteira sem nenhum material para trabalhar [] A professora pega o livro de Histoacuteria de um colega resume riscando com caneta algumas partes do texto e comeccedila a ditar para que Rodrigo escreva em Braille[] Ele continua a escrever e comeccedila a ―negociar com a professora para terminar em sua casa o resto do texto A professora natildeo concorda e diz para ele copiar todo o texto independente de quantas folhas fossem Rodrigo a partir desse momento se indigna e diz - ―Eu natildeo vou terminar o texto minha matildeo estaacute doendo nem adianta Ningueacutem vai me obrigar [] Eu natildeo vou ficar aqui me matando escrevendo se tem uma maacutequina aqui A professora me disse que ia regular [a maacutequina] e ateacute hoje natildeo fez isso Eu natildeo vou escrever em Braille no reglete Soacute se for na maacutequina [] A professora nesse momento vai ateacute a coordenaccedilatildeo e volta dizendo ao Rodrigo que havia conversado com a coordenadora para a aquisiccedilatildeo de uma maacutequina Rodrigo responde dizendo que jaacute existe a maacutequina e a professora da sala de recurso havia falado que iria regular mas ele mesmo ―natildeo havia nem visto a cor dela A professora sai novamente procura a professora da sala de recurso para confirmar a existecircncia da maacutequina Nesse momento a professora viu na sala muitos materiais que ela nunca havia visto e tampouco em uso na escola Entre eles ela citou a bola de futebol com guiso e a proacutepria maacutequina Apoacutes todos esses acontecimentos e a partir da mobilizaccedilatildeo que o Rodrigo causou a professora da sala de recurso afirmou que o Rodrigo iraacute comeccedilar a aprender a escrever na maacutequina de escrever em Braille no dia seguinte (REGISTRO DIAacuteRIO DE CAMPO abr 2009) (KASSAR 2011 p74)
Ao contemplar o relato supracitado pela autora eacute possiacutevel perceber as
tensotildees no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE na escola Pode-se inferir desse modo
que apesar de uma escola contar com SRM professor especializado com formaccedilatildeo
na aacuterea de educaccedilatildeo especial recursos pedagoacutegicos e humanos esses por si soacute
natildeo satildeo suficientes para promover maior interaccedilatildeo participaccedilatildeo e reflexatildeo por parte
dos profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes na
identificaccedilatildeo das barreiras educacionais minimizando-as ou ateacute mesmo eliminando-
144
as com o intuito de assegurar as condiccedilotildees necessaacuterias para que o estudante
puacuteblico-alvo da AEE tenha o seu direito de aprender garantido
Os dados apresentados e analisados neste capiacutetulo indicam que a
implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE nas escolas pesquisadas eacute enfocada a partir
de aspectos como adequaccedilotildees estruturais SRM recursos pedagoacutegicos e humanos
especiacuteficos Certamente esses aspectos satildeo importantes pois compotildeem a estrutura
do AEE e satildeo exigidos nas diretrizes da EE contudo outros fatores precisam ser
considerados
Uma das questotildees que se evidencia pelo seu silenciamento eacute a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica e as discussotildees embasadas em teoacutericos da aprendizagem e
do desenvolvimento Da mesma forma destaca-se o trabalho isolado e segregado
desenvolvido no AEE mas tambeacutem a pouca interaccedilatildeo entre os profissionais que
responderam ao questionaacuterio e o AEE Tal constataccedilatildeo eacute percebida tambeacutem em
outros estudos da aacuterea e remete a uma tendecircncia quando se discute a Educaccedilatildeo
Especial
Compreende-se que os principais desafios das equipes diretivas
investigadas no que tange o processo de viabilizaccedilatildeo do AEE residem sobre trecircs
aspectos O primeiro diz respeito agrave necessidade de uma maior discussatildeo e reflexatildeo
acerca da importacircncia das equipes diretivas pesquisadas na implementaccedilatildeo e
viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos em que atuam Como explicou Tezani (2010 p
290) ―a construccedilatildeo de um sistema educacional inclusivo eacute uma opccedilatildeo poliacutetica que
necessita de accedilotildees poliacutetico-administrativas e teacutecnico-cientiacuteficas A autora afirma
ainda que agrave gestatildeo escolar compete incentivar a troca de ideias a discussatildeo a
reflexatildeo acerca do processo ensino-aprendizagem tendo em vista que
[] a participaccedilatildeo em educaccedilatildeo vai aleacutem do dialogar eacute um processo lento conflituoso em que conhecer os conflitos e saber mediaacute-los torna-se fonte preciacutepua Por isso eacute necessaacuterio ouvir [os profissionais da escola] pais comunidade e oacutergatildeos de representaccedilatildeo Esses satildeo caminhos que devem ser trilhados para a construccedilatildeo da educaccedilatildeo inclusiva (TEZANI 2010 p291)
O segundo desafio se refere agraves questotildees que satildeo estruturais e demandam
uma accedilatildeo conjunta da equipe diretiva com o Estado (Uniatildeo e Municiacutepio) na busca de
recursos financeiros que possibilitem a adequaccedilatildeo dos espaccedilos escolares quanto a
recursos humanos a equipamentos mobiliaacuterios e materiais didaacuteticos pedagoacutegicos
necessaacuterios para o serviccedilo do AEE
145
Jaacute o terceiro desafio corresponde agrave implementaccedilatildeo de uma gestatildeo
democraacutetica-participativa o que implica dentre os diversos fatores segundo Paro
(2010) repensar a forma de ingresso no cargo do diretor Nesse sentido o autor
ressalta que pela singularidade democraacutetica e puacuteblica que caracteriza o cargo de
diretor(a) esse necessita ―ser democraacutetico no sentido pleno do conceito ou seja
sua legitimidade adveacutem precipuamente da vontade livre daqueles que se submetem
agrave sua direccedilatildeo (PARO 2010 p776) O mesmo autor considera ainda que quando a
permanecircncia do diretor no cargo natildeo depende somente do Estado e sim dos
profissionais da escola estudantes e pais eacute possiacutevel avistar maior probabilidade de
que ele propicie uma gestatildeo mais democraacutetica envolvendo a participaccedilatildeo da
comunidade escolar nos processos de tomadas de decisotildees como por exemplo na
implementaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais Aleacutem disso essa forma de ingresso no
cargo pode contribuir ainda para inibir a substituiccedilatildeo de diretores escolares a
qualquer tempo principalmente em periacuteodo de mudanccedila de governo uma vez que
tal substituiccedilatildeo pode fragilizar a continuidade dos trabalhos iniciados pela equipe
diretiva junto aos profissionais da escola estudantes e pais Paro (2001) reiterou
ainda que
[] eacute no conjunto dos fatores constitutivos das praacuteticas presentes no interior da escola que devem ser buscadas as causas de seus problemas e as fontes de suas soluccedilotildees no montante e na utilizaccedilatildeo dos recursos materiais e financeiros na organizaccedilatildeo do trabalho nos meacutetodos de ensino na formaccedilatildeo desempenho e satisfaccedilatildeo do pessoal da escolar nos curriacuteculos e nos programa no tamanho das turmas nas adequaccedilotildees estruturais do edifiacutecio na utilizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos na distribuiccedilatildeo da autoridade e do poder na instituiccedilatildeo na relaccedilatildeo com os membros da comunidade e na importacircncia que se decirc a seu papel como cidadatildeossujeitos no planejamento na avaliaccedilatildeo e no acompanhamento constante das praacuteticas escolares enfim em tudo que diz respeito agrave estrutura e ao funcionamento da escola (PARO 2001 p99)
Percebe-se que o ingresso na funccedilatildeo de direccedilatildeo se dar por meio de indicaccedilatildeo
pode corroborar para fragilizar a constituiccedilatildeo de trabalhos conjuntos dado que haacute
entre outros aspectos uma rotatividade nessa funccedilatildeo bem como uma inseguranccedila
na permanecircncia do cargo
O trabalho coletivo deve estar pautado na premissa de que todos possam se
engajar em diaacutelogos em que a troca de saberes vivecircncias e perspectivas possam
lanccedilar luz sobre o processo de escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes bem como
daqueles que satildeo puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial de modo a lhes possibilitar o
direito de aprender
146
A seguir satildeo apresentadas as consideraccedilotildees finais decorrentes desta
pesquisa com destaque aos principais resultados assim como sugestotildees de
contribuiccedilotildees para o AEE na Rede de Ensino pesquisada
147
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O presente estudo situado no campo de estudos sobre Educaccedilatildeo Especial e
focalizando discussotildees acerca do serviccedilo de Atendimento Educacional
Especializado preconizado na Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na
Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) teve por objetivo investigar as
compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo Para isso a pesquisa foi desenvolvida
em sete escolas da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute contando com a
participaccedilatildeo de sete equipes diretivas formadas por trecircs profissionais o diretor(a)
escolar o orientador(a) e o supervisor(a) educacional
A anaacutelise dos dados revelou que dos 22 profissionais que compotildeem as
equipes diretivas escolares participantes da pesquisa 17 identificaram-se como do
sexo feminino e 5 do masculino Em relaccedilatildeo agrave carga horaacuteria todos responderam que
trabalham 40 horas semanais nas escolas em que atuam
Em relaccedilatildeo ao tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo percebeu-se que a maioria se
encontra em um momento inicial no cargo ocupado na escola em que hoje trabalha
se configurando em um dos desafios postos agraves equipes diretivas na implementaccedilatildeo
do AEE visto que em cada escola haacute uma cultura organizativa instituiacuteda que
precisa ser conhecida e debatida para entatildeo ser mantida ou se necessaacuterio
transformada Entende-se que para atuar nessas funccedilotildees eacute necessaacuterio um
aprofundamento teoacuterico que permita uma leitura criacutetica acerca das poliacuteticas e
normativas educacionais vigentes de modo que se possa discuti-las junto ao
coletivo escolar antes de sua implementaccedilatildeo
Entretanto a ausecircncia de forma geral desse adensamento teoacuterico que
permite ao profissional da educaccedilatildeo compreender as bases epistemoloacutegicas que
sustentam determinadas praacuteticas orientaccedilotildees normativas e legislaccedilotildees na aacuterea da
educaccedilatildeo especial eacute ainda bastante recorrente Considera-se que a formaccedilatildeo inicial
e continuada ao seguir a loacutegica do sistema capitalista vem fomentando formaccedilotildees
cada vez mais aligeiradas com baixa carga horaacuteria para discussatildeo dos
pressupostos da educaccedilatildeo especial e inibindo aprofundar discussotildees que
possibilitem accedilotildees pedagoacutegicas e organizativas da escola que favoreccedilam o
aprendizado escolarizado do estudante puacuteblico-alvo da EE
148
Assim quando se questiona na Rede pesquisada sobre o AEE eacute possiacutevel
perceber a necessidade de um maior aprofundamento teoacuterico e uma formaccedilatildeo
diferenciada nos cursos de formaccedilatildeo inicial e continuada uma vez que permanece
uma visatildeo individualizada sobre as possibilidades de aprender calcada em uma
visatildeo organicista e segregada de Educaccedilatildeo Especial
Ao analisar as compreensotildees das equipes diretivas escolares acerca do
serviccedilo de AEE apresentaram-se trecircs focos de entendimentos 1) foco no puacuteblico-
alvo da EE 2) foco no local de atendimento (Sala de Recursos Multifuncionais) e 3)
foco no processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Eacute possiacutevel perceber nesse
sentido uma visatildeo setorizada e individualizada do serviccedilo por parte das equipes
diretivas escolares
Restringir no entanto a compreensatildeo acerca do AEE ao estudante com
deficiecircncia ou agrave Sala de Recursos Multifuncionais e ao professor especializado
sinaliza um entendimento descontextualizado e desarticulado sobre o serviccedilo no
acircmbito da escola sinalizando ainda que se manteacutem nos espaccedilos escolares uma
visatildeo de segregaccedilatildeo que responsabiliza o loacutecus do AEE bem como o professor
especializado pela aprendizagem do estudante puacuteblico-alvo da EE
Contudo modificar essa abordagem se mostra uma tarefa complexa
considerando que a escola puacuteblica brasileira tem enfrentado muitos desafios quando
se trata do ensino A diversidade de estudantes eacute cada vez maior assim como as
proposiccedilotildees poliacuteticas da Educaccedilatildeo que permeiam o cotidiano das escolas as quais
parecem estar fundamentadas e organizadas em procedimentos normativos
avaliativos em que predominam a competitividade e a individualidade nas relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos da mesma escola em detrimento de um trabalho coletivo
Ante ao exposto eacute possiacutevel constatar que essa forma de compreender o AEE
tem seu fundamento nos documentos oficiais (VAZ 2013) mas como destaca
Franccedila (2008) as poliacuteticas educacionais natildeo satildeo simplesmente incorporadas
prontamente pelos profissionais da escola ao contraacuterio disso satildeo interpretadas e
ressignificadas pelos indiviacuteduos que nela atuam Nesse mesmo sentido Kassar e
Meletti (2012 p 54) explicam apoiadas em Di Giovanni (2009) que a PNEE-PEI
(BRASIL 2008) como qualquer poliacutetica puacuteblica natildeo eacute assimilada automaticamente
Tais colocaccedilotildees endossam o questionamento de como a formaccedilatildeo dos profissionais
da escola possibilitam assumir uma postura criacutetica frente agraves politicas educacionais
149
considerando o contexto histoacuterico econocircmico poliacutetico e social em que estatildeo
inseridos
Eacute possiacutevel perceber desse modo a importacircncia de uma leitura criacutetica
reflexiva e contextualizada por parte das equipes diretivas juntamente com a
comunidade escolar no que concerne agraves poliacuteticas educacionais permitindo
identificar quais pressupostos permeiam essas poliacuteticas procurando maneiras de
constituir um fazer pedagoacutegico que assegure o direito do estudante de aprender
Isso implica planejar e instituir momentos de formaccedilatildeo na escola uma vez que a
discussatildeo e a reflexatildeo criacutetica de uma poliacutetica educacional assim como sua
implementaccedilatildeo se trata de uma accedilatildeo que precisa envolver todo o coletivo escolar
Uma possibilidade de contribuir e favorecer com o aprofundamento teoacuterico
acerca das questotildees mencionadas acima seria o planejamento por parte do sistema
municipal de ensino de uma formaccedilatildeo consistente a partir das demandas das
escolas O Sistema Municipal de Ensino por sua vez pode realizar essa formaccedilatildeo
em parceira com as Instituiccedilotildees Puacuteblicas de Ensino Superior sediadas no municiacutepio
ou em seu entorno considerando a constituiccedilatildeo e o fortalecimento de uma rede de
apoio para a realizaccedilatildeo de formaccedilotildees que contemplem os aprofundamentos teoacutericos
e praacuteticos na aacuterea da Educaccedilatildeo e da Educaccedilatildeo Especial para os profissionais da
educaccedilatildeo da Rede Compreende-se assim que essa accedilatildeo poderia contribuir para
repensar e ressignificar a PNEE-PEI e o AEE na rede municipal de ensino
A forma como a poliacutetica e as diretrizes da EE vecircm sendo interpretadas pelas
equipes diretivas e como o serviccedilo vem se materializando no contexto escolar
parecem carecer de aprofundamento teoacuterico Esse aprofundamento poderia
contribuir para a compreensatildeo de que a Educaccedilatildeo Especial estaacute contida na
Educaccedilatildeo Regular e que o AEE eacute um dos apoios para o estudante puacuteblico-alvo da
EE e tambeacutem para a comunidade escolar e dessa forma precisa estar contemplado
nas diretrizes da escola
Aleacutem das formaccedilotildees que podem ser ofertadas pela Rede Municipal observa-
se ainda o potencial das formaccedilotildees realizadas nos espaccedilos escolares Entretanto
evidencia-se que a organizaccedilatildeo dos espaccedilos e tempos das escolas agrave luz das
diretrizes educacionais brasileiras parecem natildeo colaborar com a instituiccedilatildeo de
momentos de estudos discussatildeo e reflexatildeo envolvendo todo o coletivo escolar Em
meio agraves tensotildees e contradiccedilotildees que permeiam a instituiccedilatildeo desses momentos de
formaccedilatildeo na escola evidencia-se que eles podem ser vistos como formas para
150
pensar as poliacuteticas educacionais de maneira mais articulada e criacutetica com o intuito
ainda de superar as compreensotildees individualizadas e departamentalizadas do
serviccedilo de AEE bem como do trabalho isolado do professor atuante no AEE
expresso nas falas das equipes diretivas
Questionar as equipes diretivas sobre seu entendimento acerca do trabalho
do professor de AEE possibilitou compreender as relaccedilotildees profissionais e
educacionais que envolvem a EE no municiacutepio Considerando que o AEE hoje eacute a
expressatildeo mais evidente da (des)articulaccedilatildeo entre a Educaccedilatildeo Regular e a EE
Pode-se vislumbrar tambeacutem nas respostas explicitadas no questionaacuterio a
necessidade de repensar o trabalho docente junto ao estudante puacuteblico-alvo da EE
bem como as relaccedilotildees que envolvem esse serviccedilo e a oferta de suporte a esse
professor jaacute que se evidenciou como foco do trabalho do professor de AEE na
concepccedilatildeo das equipes diretivas somente o estudante puacuteblico-alvo da EE
Sobre a viabilizaccedilatildeo do AEE observou-se nos dizeres da maioria das equipes
diretivas indiacutecios de compreensotildees que demonstram falta de clareza quanto aos
seus papeacuteis em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo desse serviccedilo assim como
apontam lacunas existentes quanto agrave acessibilidade arquitetocircnica recursos
pedagoacutegicos e humanos especiacuteficos que satildeo considerados dispositivos necessaacuterios
e que compotildeem a estrutura do AEE Suas falas sinalizam ainda as necessidades de
reorganizaccedilatildeo dos espaccedilos escolares em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo do serviccedilo os quais
compotildeem ainda os desafios das equipes diretivas frente ao AEE em suas
concepccedilotildees
No que tange a acessibilidade arquitetocircnica em sua maioria as equipes
diretivas informaram que ainda faltam realizar algumas adequaccedilotildees estruturais em
seus espaccedilos tais como elevador corrimatildeo dentre outras Pode-se dizer desse
modo que a acessibilidade arquitetocircnica eacute um aspecto relevante na objetivaccedilatildeo da
poliacutetica de EE considerando a diversidade de seu puacuteblico-alvo Entende-se nesse
sentido que haacute vaacuterias possibilidades de compreensatildeo desse aspecto desde a
simples adequaccedilatildeo meacutetrica e estrutural ateacute aquela que compreende que os espaccedilos
tambeacutem favorecem e produzem relaccedilotildees especiacuteficas de aprendizagem escolar bem
como de conviacutevio social
Quanto ao recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis na escola evidenciou-se nas
respostas das equipes diretivas que esses se restringem aos disponiacuteveis na SRM
Essa associaccedilatildeo por sua vez tem seu fundamento nas diretrizes da Educaccedilatildeo
151
Especial Entretanto entende-se que os recursos disponiacuteveis na Sala de Recursos
Multifuncionais como os demais recursos disponiacuteveis na escola para serem
denominados como pedagoacutegicos dependem da accedilatildeo intencional e planejada dos
professores frente a esses com a finalidade de contribuir com a constituiccedilatildeo de um
conhecimento especiacutefico do estudante
Contudo essas discussotildees e reflexotildees criacuteticas acerca da EE AEE recursos
pedagoacutegicos e demais assuntos educacionais nos espaccedilos escolares seratildeo
possiacuteveis na medida em que as equipes diretivas juntamente com o coletivo
escolar conseguirem repensar a forma como a escola na qual estatildeo inseridos estaacute
organizada atualmente bem como as bases conceituais que sustentam suas accedilotildees
Desse modo seria possiacutevel identificar coletivamente se estatildeo dispondo de tempo e
espaccedilos para estudar e debater de maneira criacutetica e reflexiva as poliacuteticas e os
assuntos educacionais na escola Assim quando identificada a inexistecircncia desses
momentos questionar-se como poderiam garanti-los considerando as poliacuteticas
educacionais vigentes
Sobre isso Paro (2016a) eacute cuidadoso ao enfatizar que essas soluccedilotildees para
as questotildees identificadas residem no contexto de cada unidade escolar o que
significa que eacute nos aspectos constitutivos das accedilotildees presentes no interior da escola
que deve se empreender uma busca das causas de seus problemas assim como
suas fontes de soluccedilotildees
Pode-se portanto dizer que por mais que as 7 escolas pesquisadas
pertenccedilam agrave mesma Rede elas apresentam necessidades diferentes quanto agrave
viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos escolares que necessitam ser levadas em conta
Entretanto em relaccedilatildeo agrave viabilizaccedilatildeo do AEE ainda identificou-se um aspecto em
comum nos dizeres da maioria das equipes diretivas que diz respeito a indiacutecios de
uma ausecircncia de aprofundamento teoacuterico acerca da Educaccedilatildeo politica PNEE-PEI e
diretrizes da Educaccedilatildeo Especial
Tal constataccedilatildeo pode ser evidenciada quando se observa que das 7 escolas
municipais pesquisadas somente duas possuem o AEE em funcionamento as
demais escolas com exceccedilatildeo a ED5 sinalizaram natildeo ofertar o serviccedilo e natildeo
encaminhar o estudante para ser atendido em outra escola Revelando-se assim
um entendimento de que o AEE se restringe agrave SRM bem como pode demostrar
uma precariedade no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE
152
Nessa perspectiva eacute possiacutevel perceber que dotar as escolas de SRM
profissionais especializados acessibilidade arquitetocircnica recursos pedagoacutegicos e
humanos por si soacute natildeo eacute suficiente para possibilitar uma maior reflexatildeo e
ressiginificaccedilatildeo acerca das concepccedilotildees de Educaccedilatildeo Especial apresentadas nos
dizeres das equipes diretivas Ressalta-se que esses dispositivos satildeo importantes
necessaacuterios e estatildeo previstos na PNEE-PEI e nas diretrizes da EE e com isso
reitera-se a importacircncia e responsabilidade do Sistema Municipal de Ensino em
parceria com Uniatildeo em provecirc-los agraves escolas Mas eacute preciso compreender que haacute
outros fatores que precisam ser considerados e adicionados a esses como a
qualidade da formaccedilatildeo desses profissionais e as condiccedilotildees de trabalho
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees das equipes diretivas escolares frente agrave viabilizaccedilatildeo do
AEE nas escolas em que atuam foi possiacutevel perceber trecircs respostas mais
recorrentes sendo que cada uma marca uma funccedilatildeo especiacutefica a) papel de
orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores) foi mais mencionado por
supervisores escolares b) papel de atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial eou pais apareceu com mais frequecircncia nas falas de
orientadores educacionais e por fim c) o papel de provimento de condiccedilotildees
materiais e pedagoacutegicas foi mais constante nas respostas de diretores escolares
Ter clareza sobre as funccedilotildees de cada um na escola eacute importante contudo
quando essas se constituem como um trabalho com nenhuma ou pouca articulaccedilatildeo
e interlocuccedilatildeo entre os profissionais pode culminar no desenvolvimento de um
trabalho isolado no contexto escolar
Em parte essas constataccedilotildees podem ser resultantes do pouco tempo desses
profissionais na funccedilatildeo atual na escola em que atuam assim como na rotatividade
no cargo de direccedilatildeo o que pode estar contribuindo em parte na constituiccedilatildeo de um
trabalho mais isolado entre os profissionais da escola e por conseguinte
fragilizando a implementaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais de forma contextualizada
envolvendo toda a comunidade escolar culminando na precariedade no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Esse eacute um dos pontos que se destacou na pesquisa e sinaliza ao sistema
municipal de ensino que essa questatildeo precisa ser discutida de forma criacutetica e
reflexiva com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre esse assunto uma vez
que pode estar desfavorecendo a implementaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais
153
Por fim nesse momento histoacuterico econocircmico poliacutetico e social de incertezas
que se vive atualmente avista-se que discutir o papel das equipes diretivas
escolares na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE como uma oportunidade de criar
espaccedilos e tempos de discussatildeo e reflexatildeo com o objetivo de propiciar a participaccedilatildeo
efetiva de professores demais profissionais da educaccedilatildeo e pais no planejamento
organizaccedilatildeo discussatildeo e implementaccedilatildeo das estrateacutegias e diretrizes da Educaccedilatildeo
Regular e da Educaccedilatildeo Especial de modo articulado tendo em vista um processo
efetivo de escolarizaccedilatildeo para todos os estudantes Uma vez que se continua
vislumbrando que a escola puacuteblica eacute
[] o melhor lugar e o melhor caminho para a luta poliacutetica pela igualdade e inclusatildeo social Uma visatildeo de escola democraacutetica aposta na universalidade da cultura escolar no sentido de que cabe agrave escola transmitir os saberes puacuteblicos que apresentam um valor independentemente de circunstacircncias e interesses particulares em funccedilatildeo do desenvolvimento humano Junto a isso permeando os conteuacutedos cabe tambeacutem considerar a diversidade cultural a coexistecircncia das diferenccedilas e a interaccedilatildeo entre indiviacuteduos de identidades culturais distintas Uma escola desprovida de conteuacutedos culturais substanciosos e densos reduz as possibilidades dos [estudantes] pobres de ascenderem ao mundo cultural e ao desenvolvimento das capacidades intelectuais deixando de promover desse modo a justiccedila social que pode vir da educaccedilatildeo e do ensino (LIBAcircNEO 2016 p 60)
Em meio a esses apontamentos chega-se ao final dessas consideraccedilotildees
Contudo compreende-se que esse estudo natildeo se conclui aqui mas pode possibilitar
novos caminhos e outros direcionamentos que poderatildeo ser suscitados com base no
que foi revelado a partir dos dizeres das equipes diretivas sobre suas compreensotildees
acerca do AEE e suas formas de viabilizaacute-lo Um desses caminhos eacute realizar
pesquisas de cunho etnograacutefico que possibilite observar no cotidiano das escolas
como se datildeo as (des)articulaccedilotildees entre Educaccedilatildeo Especial e Educaccedilatildeo regular
Seriam interessantes tambeacutem pesquisas intervencionistas que articulem formaccedilatildeo
em serviccedilo aprofundamento teoacuterico e accedilatildeo pedagoacutegica podendo se constituir em
um desdobramento deste estudo
Enseja-se ainda que esse estudo possa contribuir com as pesquisas acerca
do papel da equipe diretiva no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico da
EE assim como ser propositiva de reflexotildees sobre a importacircncia de repensar e
reorganizar os espaccedilos e tempos das escolas com a finalidade de assegurar o
direito a todos os estudantes de aprenderem
154
REFEREcircNCIAS
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Institui a Lei Brasileira de Inclusatildeo da Pessoa com Deficiecircncia (Estatuto da Pessoa com Deficiecircncia) ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Documento orientador programa escola acessiacutevel 2013 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrpnaes194-secretarias-
112877938secad-educacao-continuada-22336954117428-programa-escola-acessivel-novo Acesso 10102016 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Fundo Nacional De Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Conselho Deliberativo ResoluccedilatildeoCDFNDENordm 192013 de 21 de maio de 2013
___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 10 de 18 de abril de 2013 Dispotildee sobre os criteacuterios de repasse e execuccedilatildeo do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) em cumprimento ao disposto na Lei 11947 de 16 de junho de 2009 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Fundo Nacional De Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Conselho Deliberativo Resoluccedilatildeo nordm 27 de 27 de julho de 2012 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Documento Orientador Programa Implantaccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais Diretoria de Poliacuteticas em
Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia 2013 ___________Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Relaccedilatildeo das escolas a serem contempladas com os recursos do PDDE Acessibilidade nos anos de 2012 e 2013 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrsecretaria-de-educacao-continuada-
alfabetizacao-diversidade-e-inclusaoprogramas-e-acoesid=17428gt Acesso em 14 out 2016a
171
___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves Redes Estadual e Municipal de Ensino de Camboriuacute em 2011 2012 2013 Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle
(SIMEC) moacutedulo puacuteblico Disponiacutevel em lthttppainelmecgovbrpainelphpmodulo=principaldetalhamentoIndicadorampacao=Aampdetalhes=municipioampmuncod=4203204gt Acesso em 17102016b ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Diretoria de Poliacuteticas de Educaccedilatildeo Especial Nota Teacutecnica nordm 04 2014 MECSECADIDPEE Orientaccedilatildeo quanto a documentos comprobatoacuterios de alunos com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Orientaccedilotildees para implementaccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo especial na perspectiva da educaccedilatildeo inclusiva 2015
___________ Ministeacuterio de Administraccedilatildeo Federal e da Reforma do Estado Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado Brasiacutelia 1995 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Conselho Nacional de Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 2 de 1ordm de Julho de 2015 Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formaccedilatildeo inicial em niacutevel superior (cursos de licenciatura cursos de formaccedilatildeo pedagoacutegica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formaccedilatildeo continuada CAMBORIUacute Lei Complementar Nordm 192008 Dispotildee Sobre a elaboraccedilatildeo do Plano
de Carreira dos Profissionais do Magisteacuterio Puacuteblico Municipal De Camboriuacute ndash SC ___________ LEI Nordm 28322015 Institui o Plano Municipal de Educaccedilatildeo ndash PME em conformidade com o art 190 da Lei orgacircnica do Municiacutepio de Camboriuacute SANTA CATARINA PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMBORIUacute EDITAL DE CONCURSO PUacuteBLICO Nordm 0252013 Abre inscriccedilotildees para o concurso puacuteblico para
os cargos elencados no Anexo I parte integrante deste edital em conformidade com as Leis Complementares ndeg 0402012 ndeg 192008 ndeg 482013 e ndeg 0662013 e suas alteraccedilotildees ___________ LEI COMPLEMENTAR Nordm 49 de 24 de abril de 1992 Dispotildee sobre
o novo Plano de Cargos Carreiras e Vencimentos do Magisteacuterio Puacuteblico Estadual reformula a sistemaacutetica de Progressatildeo Funcional institui a Gratificaccedilatildeo de Permanecircncia os Precircmios Meacuterito Gerencial e de Assiduidade e daacute outras providecircncias
172
___________ LEI Nordm 12773 de 1ordm de dezembro de 2003 Institui o Programa
Leitura de Jornais e Revistas em Sala de Aula como atividade multidisciplinar nos estabelecimentos puacuteblicos de ensino fundamental e meacutedio no Estado de Santa Catarina ___________ Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina Satildeo
Joseacute FCEE de 2014
173
APEcircNDICES
174
APEcircNDICE A ndash Carta agrave equipe diretiva escolar
CARTA Agrave EQUIPE DIRETIVA ESCOLAR
Prezados (as) Participantes
Convidamos vocecircs a participarem como voluntaacuterios(as) anocircnimos(as) da pesquisa
desenvolvida pela mestranda Neusa Denise Marques de Oliveira vinculada a linha de
pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da
Universidade da Regiatildeo de Joinville - UNIVILLE A presente pesquisa tem como objetivo
investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento
Educacional Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo
As respostas dadas por vocecirc seratildeo fundamentais para a pesquisa intitulada ―A Equipe
Diretiva Escolar e o Atendimento Educacional Especializado Interlocuccedilotildees Possiacuteveis que
estaacute sob a orientaccedilatildeo da Professora Doutora Aliciene Fusca Machado Cordeiro
Para tanto solicito seu precioso tempo para responder este questionaacuterio Sua
sinceridade seraacute fundamental para o ecircxito da pesquisa Coloco a disposiccedilatildeo meus
dados (e-mail ndmoliveirabolcombr e telefone (47) 92903131) no intuito de
sanar quaisquer duacutevidas que surgir
Desde jaacute agradeccedilo sua imprescindiacutevel colaboraccedilatildeo e informo-lhe que seratildeo assegurados sigilo de identidade e a privacidade de dados confidenciais na pesquisa
Atenciosamente Neusa Denise Marques de Oliveira
175
APEcircNDICE B ndash Instrumento de coleta de dados
QUESTIONAacuteRIO
EIXO I ndashPERFIL DA EQUIPE DIRETIVA
1 Ano de Nascimento _________________________
2 Qual sua funccedilatildeo na escola
a)( ) Diretor ( ) Diretora
b) ( ) Assessor diretor ( ) Assessora de diretora
c) ( ) Coordenador PedagoacutegicoSupervisor ( ) Coordenadora
PedagoacutegicaSupervisora
d) ( ) Orientador Educacional ( ) Orientadora Educacional
e) ( ) Outro Qual
_______________________________________________________________
3 Qual sua formaccedilatildeo acadecircmica (preencha os campos necessaacuterios)
a) ( ) Ensino Superior (especificar se Bacharelado ou Licenciatura)
Curso ________________________________ Ano que concluiu _______
Curso _________________________________Ano que concluiu _______
b) ( ) Poacutes - Graduaccedilatildeo (Especializaccedilatildeo)
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
c) ( ) Poacutes ndash Graduaccedilatildeo (Mestrado)
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
d) ( ) Poacutes ndash Graduaccedilatildeo (Doutorado)
Curso _______________________________ Ano que concluiu _________
4 Vocecirc jaacute atuou como professor de sala de aula
a) ( ) Sim
b) ( ) Natildeo
176
5 Quanto tempo
6 Na sua trajetoacuteria como docente teve alguma experiecircncia com
estudante com deficiecircncia
a) ( ) Sim
b) ( ) Natildeo
7 Qual sua carga horaacuteria hoje na funccedilatildeo em que atua na Rede Municipal
de Ensino _______________
8 Quanto tempo de serviccedilo vocecirc tem na funccedilatildeo em que ocupa
atualmente na Rede Municipal de ensino______________
9 Vocecirc pertence ao quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede
Municipal de Ensino
a) ( ) sim
b) ( ) Natildeo
10) Como vocecirc ingressou na funccedilatildeo em que ocupa em sua escola
a) ( ) Por Convite
b) ( ) Por Concurso puacuteblico
c) ( ) Por indicaccedilatildeo
d) ( ) Remanejado (a)
e) ( ) Eleiccedilatildeo
f) ( ) Outro Qual _____________________________________
EIXO IIndash COMPREENSAtildeO DA EQUIPE DIRETIVA SOBRE O AEE
11 Qual sua compreensatildeo sobre o atendimento educacional
especializado _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
12 Quem satildeo os estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento Educacional Especializado
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
177
13 A escola em que vocecirc atua trabalha com Atendimento Educacional
Especializado (AEE)
a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo Por quecirc _______________________________________
14 Em caso afirmativo
a) ( ) Eacute uma escola Poacutelo o atendimento ocorre na proacutepria escola atendendo
__________ estudantes de ___________ escolas
b) ( ) Atende somente estudantes desta escola Por quecirc
_______________________________________________________________
15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos
estudantes puacuteblico alvo do AEE
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE
a) ( ) Sim Em caso afirmativo Comente quais________________
b) ( ) Natildeo
17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE
a) ( ) Sim Em caso afirmativo Comente quais______________________________________________________ ____________________________________________________________
b) ( ) Natildeo
18 Vocecirc teve alguma formaccedilatildeo com temas relacionados ao AEE
( ) Sim Comente
( ) Natildeo
EIXO III ndash CONHECIMENTO DA EQUIPE DIRETIVA SOBRE O TRABALHO DO PROFESSOR DO AEE
178
19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento
Educacional Especializado ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
21 Na escola em que vocecirc atua como se daacute a participaccedilatildeo do professor
de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros)
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
23 O professor do AEE que atende sua escola faz parte do quadro
efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino
a) ( ) sim
b) ( ) Natildeo
c) ( ) Natildeo tenho esta informaccedilatildeo
EIXO IV ndash PROJETO PEDAGOacuteGICO E O AEE
25 A escola em que vocecirc atua possui um projeto pedagoacutegico a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo
26 O atendimento educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola
a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo
27 A escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe
179
diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
180
APEcircNDICE C ndash Matriz de referecircncia Quadro 17 Matriz de referecircncia
Objetivos da pesquisa
Categorias Questotildees a
serem abordadas
Perguntas do questionaacuterio relacionadas
- Revelar a compreensatildeo da equipe diretiva escolar acerca do serviccedilo de AEE e do puacuteblico-alvo da EE - Evidenciar o que a equipe diretiva escolar conhece sobre o trabalho do professor do AEE
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
O serviccedilo em si o puacuteblico alvo da EE e o trabalho docente
11 Qual sua compreensatildeo sobre o atendimento educacional especializado 19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE 21 A escola em que vocecirc atua qual a participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros) 22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE 23 O professor do AEE na sua escola faz parte do quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino 12 Quem satildeo os estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 13 Na escola em que vocecirc atua trabalha com Atendimento Educacional Especializado (AEE)
14 Em caso afirmativo a) ( ) Eacute uma escola Polo b) ( ) Atende somente estudantes desta escola 15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos estudantes puacuteblico alvo do AEE
- Identificar os procedimentos que tecircm sido adotados pela equipe diretiva escolar na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe diretiva frente a viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
O papel da equipe diretiva Acessibilidade arquitetocircnica Recursos materiais e pedagoacutegicos Se o AEE estaacute comtemplado no Projeto poliacutetico-pedagoacutegico e e
20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento Educacional Especializada 16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE 17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE
25 A escola em que vocecirc
181
Desafios na viabilizaccedilatildeo do serviccedilo e formas de superaacute-lo
atua possui um projeto pedagoacutegico 26 O atendimento
educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola 27A escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
Fonte Primaacuteria (2016)
182
ANEXOS
183
ANEXO I ndash Autorizaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute
184
ANEXO II ndash Parecer de Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
185
186
187
ANEXO III ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIVERSIDADE DA REGIAtildeO DE JOINVILLE ndash UNIVILLE
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCACcedilAtildeO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE
Vocecirc estaacute sendo convidado (a) a participar como voluntaacuterio (a) de uma
pesquisa desenvolvida pela mestranda Neusa Denise Marques de Oliveira
vinculada ao Grupo de Pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do Programa de
Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE As respostas dadas por vocecirc ao instrumento
de coleta de dados neste caso um questionaacuterio seratildeo fundamentais para a
construccedilatildeo da dissertaccedilatildeo intitulada ―A Equipe Diretiva Escolar e o Atendimento
Educacional Especializado Interlocuccedilotildees Possiacuteveis que estaacute sob a orientaccedilatildeo da
Professora Drordf Aliciene Fusca Machado Cordeiro Sendo seu objetivo investigar as
compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento Educacional
Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo
Sua participaccedilatildeo se restringiraacute a fornecer respostas agraves indagaccedilotildees feitas no
questionaacuterio Vocecirc teraacute a liberdade de se recusar a responder perguntas que lhe
ocasionem constrangimento de alguma natureza e tambeacutem poderaacute desistir da
pesquisa a qualquer momento sem que a recusa ou a desistecircncia lhe acarrete
qualquer prejuiacutezo bem como caso seja do seu interesse e mencionado ao
pesquisador teraacute livre acesso aos resultados do estudo
Destacamos que a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa eacute opcional e representa
riscos ou desconfortos miacutenimos Em caso de recusa ou de desistecircncia em qualquer
fase da pesquisa vocecirc natildeo seraacute penalizado (a) de forma alguma A sua participaccedilatildeo
constituiraacute de suma importacircncia para o cumprimento do objetivo da pesquisa e os
benefiacutecios seratildeo de acircmbito acadecircmico e profissional para o campo do Trabalho e
Formaccedilatildeo Docente
Vocecirc seraacute esclarecido sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar e
trataremos da sua identidade com padrotildees profissionais de sigilo ou seja natildeo
haveraacute identificaccedilatildeo nominal Os questionaacuterios respondidos durante a realizaccedilatildeo da
pesquisa ficaraacute sob a guarda e a responsabilidade da pesquisadora por um periacuteodo
de cinco anos onde apoacutes esse prazo o material seraacute descartado Os resultados
deste estudo poderatildeo ser apresentados por escrito ou oralmente em congressos
perioacutedicos cientiacuteficos e eventos promovidos na aacuterea de ciecircncias humanas
Em caso de duacutevida vocecirc poderaacute procurar a pesquisadora responsaacutevel por esta
pesquisa Neusa Denise Marques de Oliveira pelo telefone (47) 92903131 Se
preferir vocecirc tambeacutem pode entrar em contato com a professora orientadora dessa
pesquisa no Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE pelo telefone (47)
3461-09077 ou no seguinte endereccedilo Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash
188
UNIVILLE Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Campus Universitaacuterio -
JoinvilleSC CEP 89219-710 Bloco A sala A 227B
Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica que envolve a referida
pesquisa entre em contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa (CEP) pelo
telefone (47) 3461-9235 ou no endereccedilo Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash
UNIVILLE Bloco B sala B 31
Apoacutes ser esclarecido sobre a pesquisa no caso de vocecirc aceitar fazer parte do estudo assine ao final deste documento que estaacute em duas vias Uma delas eacute sua e a outra eacute do pesquisador responsaacutevel
CONSENTIMENTO
Eu ________________________________________________ acredito ter sido
suficientemente informado (a) e concordo em participar como voluntaacuterio (a) da
pesquisa descrita acima
_____________________ ____ de ____________________ de 2015
_________________________ ________________________________ Participante responsaacutevel Neusa Denise Marques de Oliveira
Pesquisadora
189
Catalogaccedilatildeo na publicaccedilatildeo pela Biblioteca Universitaacuteria da Univille
Oliveira Neusa Denise Marques de
O48e A equipe diretiva escolar e o atendimento educacional especializado interlocuccedilotildees possiacuteveis Neusa Denise Marques de Oliveira orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro ndash Joinville UNIVILLE 2017
187 f il 30 cm
Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo ndash Universidade da Regiatildeo de Joinville) 1 Educaccedilatildeo especial 2 Escolas ndash Organizaccedilatildeo e administraccedilatildeo 3
Administradores escolares 4 Professores - Formaccedilatildeo 5 Educaccedilatildeo inclusiva I Cordeiro Aliciene Fusca Machado (orient) II Tiacutetulo
CDD 3719
DEDICATOacuteRIA
Dedico esta dissertaccedilatildeo a Rafael Cesar Marques (in
memoriam) meu irmatildeo querido e amado que sempre me
apoiou e acreditou em mim Gratidatildeo e Saudades
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeccedilo a Deus pela graccedila de ter vivido intensamente esta
experiecircncia com seriedade e compromisso
Agrave minha orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro pela paciecircncia e
dedicaccedilatildeo
Agraves professoras Dra Andrea Soares Wuo e Dra Sonia Maria Ribeiro por
aceitarem participar da minha banca
Aos professores do Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Univille que
partilharam seus conhecimentos e possibilitaram que eu pudesse ampliar os meus
Aos meus colegas do mestrado em especial agraves minhas amigas Ana Paula e
Lediane que estiveram ao meu lado durante o curso cuja convivecircncia tornou-se
para mim uma oportunidade de crescimento de relaccedilatildeo saudaacutevel com as diferenccedilas
por oferecerem sua amizade e incentivo
Ao meu irmatildeo acadecircmico Cleberson de Lima Mendes pelo companheirismo
na realizaccedilatildeo dos trabalhos e por sua amizade
Agraves coordenadoras da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute por
consentirem a viabilizaccedilatildeo deste estudo
A todas as equipes diretivas que prontamente aceitaram participar desta
pesquisa
Aos meus colegas de trabalho que assumiram minhas funccedilotildees para que eu
pudesse me afastar integralmente para me dedicar agrave escrita desta dissertaccedilatildeo
Agrave minha matildee amada que carinhosamente cuidou de mim durante o primeiro
ano do mestrado periacuteodo difiacutecil que foi superado com muito apoio e amor
Ao meu filho Viniacutecius Luiacutes de Oliveira razatildeo da minha vida que me ensina
todos os dias a ser curiosa questionadora criativa Agradeccedilo pela paciecircncia em me
deixar estudar e por me entender mesmo tatildeo pequeno
Ao meu amado esposo Jackson de Oliveira companheiro de todas as horas
um ser humano incriacutevel que me ajudou muito e que amo cada dia mais
Agrave minha sogra Sonia Buss de Oliveira e ao meu sogro Luiacutes de Oliveira
pessoas imprescindiacuteveis nessa minha caminhada por me apoiarem e por vezes
terem cuidado de meu filho com muito carinho e apreccedilo
Aos meus queridos irmatildeos e sobrinhos pela compreensatildeo de minhas
ausecircncias nas reuniotildees de famiacutelia e pela paciecircncia que tiveram comigo no decorrer
desta jornada
Agrave minha amiga Juliana Testoni dos Santos primeira pessoa que me acolheu
quando entrei no mestrado e que com o tempo se tornou uma grande amiga Uma
pessoa incriacutevel inteligente e sensiacutevel que me ensinou a acreditar mais em mim
Agraves minhas amigas Cleide Aparecida Hoffmann Bernardes e Andreacuteia
Heiderscheidt Fuck pelo companheirismo paciecircncia e por estarem sempre dispostas
a ajudar
Agrave CAPES pelo apoio financeiro que propiciou melhores condiccedilotildees de dedicaccedilatildeo a esta pesquisa A todos que de alguma forma contribuiacuteram para que esse trabalho chegasse
agrave etapa final
RESUMO Este estudo estaacute vinculado agrave linha de pesquisa ―Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do
Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash UNIVILLE e tem
como objetivo central investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares
sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e suas formas de viabilizaacute-lo
O procedimento metodoloacutegico adotado pautou-se na abordagem qualitativa (GATTI
e ANDREacute 2013) que tem como fundamento alguns pressupostos da base
epistecircmico-metodoloacutegica do materialismo histoacuterico e dialeacutetico Como instrumento de
coleta de dados utilizou-se um questionaacuterio contendo perguntas abertas e fechadas
Participaram desta pesquisa 7 diretores 8 supervisores e 7 orientadores
educacionais totalizando 7 equipes diretivas de escolas do ensino fundamental da
Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute - Santa Catarina totalizando 22
questionaacuterios respondidos A anaacutelise de conteuacutedo (BARDIN 1977 FRANCO 2012)
foi o meacutetodo escolhido para analisar os dados A fundamentaccedilatildeo teoacuterica utilizada no
trabalho foi composta por vaacuterios autores com destaque para Vasconcellos (2013)
Paro (1987 2001 2003 2010 2012 2016) Libacircneo (2007 2015 2016) Meletti e
Bueno (2011) Os resultados desta pesquisa sinalizaram que na Rede estudada a
maioria dos profissionais da equipe diretiva parece compreender o AEE como um
serviccedilo que se restringe ao estudante com deficiecircncia ou agrave sala de recursos
multifuncionais e ao professor especializado Isso pode indicar uma compreensatildeo
descontextualizada e desarticulada do serviccedilo no acircmbito escolar Em siacutentese o AEE
parece ser entendido pelas equipes diretivas pesquisadas como sendo um serviccedilo
individualizado setorizado e com pouca interaccedilatildeo entre os profissionais As anaacutelises
dos dados apontaram a necessidade de formaccedilatildeo consistente para os profissionais
das equipes diretivas e demais profissionais da educaccedilatildeo que comtemple um
aprofundamento teoacuterico sobre a aacuterea da Educaccedilatildeo e da Educaccedilatildeo Especial No que
concerne agrave viabilizaccedilatildeo do AEE observou-se nos dizeres da maioria das equipes
diretivas indiacutecios de compreensotildees que demonstram falta de clareza quanto aos
seus papeacuteis em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo do serviccedilo de AEE assim
como apontam lacunas existentes quanto agrave acessibilidade arquitetocircnica recursos
pedagoacutegicos e humanos especiacuteficos que satildeo considerados dispositivos necessaacuterios
e que compotildeem a estrutura do AEE Suas falas revelam ainda as necessidades de
reorganizaccedilatildeo dos espaccedilos escolares em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo do serviccedilo as quais
compotildeem os desafios das equipes diretivas frente ao AEE em suas concepccedilotildees
Palavras-Chave Gestatildeo escolar Equipe diretiva escolar Atendimento Educacional
Especializado Formaccedilatildeo Docente
ABSTRACT
This study is linked to the research line Teacherlsquos Work and Formation of the
Master of Education of the University of the Region of Joinville - UNIVILLE and its
main objective is to investigate the understandings of the school management teams
on Specialized Educational Services (SES) and its forms to apply it The
methodological procedure adopted was based on the qualitative approach (GATTI
and ANDREacute 2013) that is based on some assumptions of the epistemic-
methodological basis of historical and dialectical materialism A questionnaire
containing opened and closed questions was used as data collection instrument
Seven of the directors eight supervisors and seven educational supervisors
participated in this study making a total of 7 management teams from elementary
schools of the Municipal Education Network of Camboriuacute - Santa Catarina So 22
questionnaires were answered Content analysis (BARDIN 1977 FRANCO 2012)
was the method chosen to analyze the data The theoretical basis used in the study
was composed by authors such as Vasconcellos (2013) Paro (1987 2001 2003
2010 2012 2016) Libacircneo (2007 2015) Meletti and Bueno (2011) among others
The results of this research indicate that in the context studied most of the
professionals of the management teams seem to understand SES as a service that is
restricted or to the student with a disability or to the multifunction resource classroom
and to the specialized teacher This may indicate a decontextualized and disjointed
understanding of school service In summary the SES seems to be understood by
teams surveyed for this research as being a service individualized sectorized and
with little interaction among professionals The analysis of the data pointed to the
need for consistent training for the professionals of the management teams and other
professionals of education that contemplates a theoretical deepening in the area of
Education and Special Education With regard to the realization of the SES the
majority of the management teams stated that they lacked clarity regarding their roles
in relation to the implementation of the SES as well as pointing out existing gaps in
accessibility specific pedagogical resources and human resources which are
considered necessary devices and which are part of the SES structure Their
speeches also reveal the need for reorganization of school spaces in relation to the
realization of the service which are some of the challenges of the management
teams facing the SES in their conceptions
Keywords School management School management team Specialized
Educational Services
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AEE Atendimento Educacional Especializado
AHSD Altas Habilidades e Superdotaccedilatildeo
ANPEd Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo
BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaccedilotildees
CAPES Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior
CEB Cacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica
CEI Centro de Educaccedilatildeo Infantil
CF Constituiccedilatildeo Federal
CHS Conselho de Direitos Humanos
CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente
CNE Conselho Nacional de Educaccedilatildeo
CNS Conselho Nacional de Sauacutede
ED Equipe Diretiva
EDd Equipe Diretiva ndash diretor(a)
EDo Equipe Diretiva ndash orientador(a)
EDs Equipe Diretiva ndash supervisor(a)
EDUCASUL Congresso de Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul
EE Educaccedilatildeo Especial
EF Ensino Fundamental
EJA Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos
GETRAFOR Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e a Formaccedilatildeo Docente
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IFC Instituto Federal Catarinense
IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira
INTAE Interfaces entre Atendimento Educacional Especializado trabalho
docente formaccedilatildeo de professores e poliacuteticas puacuteblicas (INTAE)
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
MEC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
NAPNE Nuacutecleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiacuteficas
OCDE Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico
PETI Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil
PNEE-EI Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva
PNE Plano Nacional de Educaccedilatildeo
SCIELO Scientific Eletronic Library Online
SC Santa Catarina
SECADI Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo
SIMEC Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle
SME Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
SEM Salas de Recursos Multifuncionais
TALIS Teaching and Learning International Survey
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TDAH Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo e Hiperatividade
TGD Transtornos Globais do Desenvolvimento
UNESCO Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
UNIVILLE Universidade da Regiatildeo de Joinville
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Graacutefico 1 ndash Faixa etaacuteria dos participantes da pesquisa 58
Graacutefico 2 ndash Tempo de atuaccedilatildeo das equipes diretivas por funccedilatildeo 59
Graacutefico 3 ndash Experiecircncias dos profissionais das equipes diretivas enquanto docentes
de estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 63
Graacutefico 4 ndash Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes das equipes diretivas em sala de
aula 65
Graacutefico 5 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Diretores 66
Graacutefico 6 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Supervisores 66
Graacutefico 7 - Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Orientadores 67
Graacutefico 8 ndash Tempo de serviccedilo dos integrantes das equipes diretivas na funccedilatildeo que
atualmente ocupam na escola 67
Graacutefico 9 - Sobre a acessibilidade arquitetocircnica nas escolas
pesquisadas112
Graacutefico 10 - Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves
Redes Estadual e Municipal de Ensino de
Camboriuacute119
Graacutefico 11 ndash Recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis nas escolas pesquisadas123
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Tabela 1 ndash Mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira sobre Gestatildeo
EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de
2011 a 2015 38
Tabela 2 ndash Trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe
Diretiva e o Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE 40
Tabela 3 ndash Objetivos dos trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo
EscolarEquipe Diretiva e o Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE 41
Quadro 1 ndash Categorias de anaacutelise e suas relaccedilotildees com os objetivos da pesquisa 52
Quadro 2 ndash Gecircnero dos integrantes da equipe diretiva escolar por funccedilatildeo 55
Quadro 3 ndash Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes da equipe diretiva em sala de
aula61
Quadro 4 ndash Fases do ciclo de vida profissional segundo Huberman 62
Quadro 5 ndash Formaccedilatildeo das equipes diretivas com temas relacionados ao AEE71
Quadro 6 - Situando do Atendimento Educacional Especializado nas Escolas a partir
das falas das Equipes Diretivas73
Quadro 7 Puacuteblico-alvo do AEE nos dizeres das equipes diretivas escolares
pesquisadas78
Quadro 8 - Recorrecircncias sobre o puacuteblico-alvo da EE nos dizeres das equipes
diretivas escolares pesquisadas79
Quadro 9 - Distribuiccedilatildeo das matriacuteculas por categoria utilizada no Censo Escolar de
2015 (MECINEP 2015) no Brasil em Santa Catarina e no Municiacutepio de
Camboriuacute82
Quadro 10 - Condiccedilotildees de acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas113 Quadro 11 - Escolas pesquisadas a serem contempladas pelo Programa Escola
Acessiacutevel por meio do PDDE nos anos de 2012 e 2013119
Quadro 12 - Acessibilidade nas escolas municipais de ensino fundamental no Brasil SC e em Camboriuacute 121 Quadro 13 - O que se entende por ―recurso pedagoacutegico nos dizeres das equipes
diretivas que informaram possuiacute-los nas escolas em que atuam 123
Quadro 14 - Composiccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais ndash 20112012124
Quadro 15 - Accedilotildees que as equipes diretivas escolares consideram que sejam de
suas responsabilidades para viabilizar o AEE 130
Quadro 16 - Desafios encontrados pelas equipes diretivas escolares para viabilizar o
AEE 139
Quadro 17 - Matriz de referecircncia 180
SUMAacuteRIO
Agrave GUISA DE INTRODUCcedilAtildeO O ENTRELACcedilAMENTO DA PESQUISA COM A
PESQUISADORA 16
1 POSSIBILIDADES E DESAFIOS DE UMA GESTAtildeO ESCOLAR DEMOCRAacuteTICAndash
PARTICIPATIVA DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES NA VIABILIZACcedilAO DO
AEE 21
11 Organizaccedilatildeo e Gestatildeo Escolar tecendo reflexotildees21
12 As atribuiccedilotildees da Equipe Diretiva Escolar na Perspectiva da Gestatildeo
Democraacutetica-Participativa29
13 Equipe Diretiva na organizaccedilatildeo escolar frente ao AEE aproximaccedilotildees e
distanciamentos 34
14 A produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre Gestatildeo Escolar e Atendimento
Educacional Especializado um campo a explorar 38
2 PROCESSO DE CONSTITUICcedilAtildeO DA PESQUISA CAMINHOS TRACcedilADOS E
PERCORRIDOS 46
21 Os caminhos da pesquisa local participantes e instrumentos 47
22 Seguindo o itineraacuterio organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados 50
3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Agrave PARTIR DAS FALAS
DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE
CAMBORIUacute 54
31 Apresentaccedilatildeo das Equipes Diretivas Escolares 55
32 O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado 72
33 As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel das equipes
diretivas frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE 110
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 147
APEcircNDICES 173
APEcircNDICE A ndash Carta agrave equipe diretiva escolar 174
APEcircNDICE B ndash Instrumento de coleta de dados 175
APEcircNDICE C ndash Matriz de referecircncia 180
ANEXOS 182
ANEXO I ndash Autorizaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute 183
ANEXO II ndash Parecer de Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa 184
ANEXO III ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 187
16
Agrave GUISA DE INTRODUCcedilAtildeO O ENTRELACcedilAMENTO DA PESQUISA COM A PESQUISADORA
Revisitar o bauacute de minha histoacuteria de vida faz com que venham agrave tona vaacuterios
sentimentos de superaccedilatildeo e felicidade pois foram tantos aprendizados tantas
conquistas e diversas experiecircncias que ajudaram na minha constituiccedilatildeo enquanto
pessoa e profissional Assim escrever acerca de minha trajetoacuteria de vida passa a
ser uma forma de clarificar o entrelaccedilamento da pesquisa com a pesquisadora
levando assim agrave construccedilatildeo do objeto desta pesquisa
Aos dezessete anos no uacuteltimo ano do magisteacuterio passei em um concurso
puacuteblico para auxiliar de educadora em um Centro de Educaccedilatildeo Infantil (CEI) no
municiacutepio de Joinville O CEI ficava proacuteximo agrave minha casa o que facilitou minha
jornada de estaacutegio trabalho e estudo Iniciei trabalhando em uma turma de berccedilaacuterio
Pensei que natildeo daria conta pois a base teoacuterica do magisteacuterio foi restrita No
entanto comecei a pesquisar comprar livros e estudar muito para auxiliar no
planejamento das atividades
O trabalho com as crianccedilas era regado de brincadeiras muacutesicas pintura e
contaccedilatildeo de histoacuterias O educar e o cuidar comeccedilaram a fazer sentido para mim
sendo que a cada estudo e a cada descoberta o trabalho com as crianccedilas se tornava
mais prazeroso Apoacutes um ano trabalhando no berccedilaacuterio passei a atuar na turma de 3
a 5 anos idade com 35 crianccedilas que jaacute haviam passado por vaacuterios educadores
Nessa turma havia um aluno com deficiecircncia intelectual fato raro para a educaccedilatildeo
infantil na eacutepoca em que iniciei A experiecircncia de ensinaacute-lo e conviver com ele foi
muito significativa pois a partir dela pude vislumbrar as possibilidades e
potencialidades do trabalho colaborativo em especial nas interaccedilotildees entre os
alunos que respeitavam o tempo do colega incentivando-o a completar as
atividades escolares
Esse trabalho me proporcionou natildeo soacute uma vivecircncia na educaccedilatildeo infantil e
um crescimento pessoal e profissional mas tambeacutem propiciou condiccedilotildees
financeiras para cursar o ensino superior
Em 1996 iniciei o curso superior em Pedagogia que me proporcionou uma
base teoacuterica mais consistente Havia incentivo agrave participaccedilatildeo em eventos e a
preocupaccedilatildeo em articular a teoria e praacutetica No uacuteltimo ano da faculdade iniciei a
17
poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu em Psicopedagogia que possibilitou ampliar a minha
compreensatildeo sobre os processos de aprendizagem e estrateacutegias de trabalho
voltadas para a escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes
Em 1999 jaacute graduada e poacutes-graduada procurei novas experiecircncias de
trabalho e comecei a lecionar Filosofia em uma instituiccedilatildeo da Rede Privada de
Ensino para as turmas da preacute-escola e da quarta seacuterie no ensino fundamental
A partir de 2002 passei a trabalhar como educadora na Secretaria de
Assistecircncia Social onde integrei o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do
Adolescente - CMDCA e o Conselho de Direitos Humanos - DHS Nessa eacutepoca
trabalhei no Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil ndash PETI com adolescentes
em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social incluiacutedos na sociedade de forma perversa
Eles tinham em sua maioria entre 8 e 16 anos de idade Antes de integrarem o
programa eles trabalhavam como catadores de material reciclaacutevel apresentavam
dificuldades significativas de aprendizagem e viviam em regiotildees extremamente
pobres da cidade Passavam meio periacuteodo em escolas da Rede Puacuteblica de Ensino e
meio periacuteodo no programa PETI O planejamento das atividades para eles era
sempre um momento desafiador e os educadores se preocupavam em proporcionar
atividades mais atrativas e culturalmente enriquecedoras como visitas a Museus e
ao cinema aleacutem de planejar eventos como a Parada Cultural na qual os familiares e
a comunidade eram convidados a prestigiar as atividades criadas e apresentadas
por esses adolescentes
Essas satildeo algumas das experiecircncias que compotildeem a minha constituiccedilatildeo
como educadora marcada por uma busca constante pelo desenvolvimento de uma
praacutetica pedagoacutegica e docente responsaacutevel sensiacutevel flexiacutevel e comprometida Como
enfatizou Freire (1991 p 58) ―ningueacutem comeccedila a ser educador numa certa terccedila-
feira agraves quatro da tarde [] A gente se faz educador a gente se forma como
educador permanentemente na praacutetica e na reflexatildeo sobre a praacutetica
A partir de 2003 ateacute setembro de 2005 fui convidada pela secretaacuteria de
Assistecircncia Social para coordenar o programa Fundo do Milecircnio para a Primeira
Infacircncia um Programa em Parceria com a UNESCO Fundaccedilatildeo Mauriacutecio Sirotsky
Sobrinho e o Banco Mundial que tinha como finalidade a formaccedilatildeo de 45
educadores de cinco instituiccedilotildees filantroacutepicas de educaccedilatildeo infantil
Apesar dos desafios enfrentados na realizaccedilatildeo desse programa considero
que foi possiacutevel desenvolver um trabalho intenso de leitura e pesquisa com as 40
18
educadoras que dele participaram Dos projetos que elas elaboraram trecircs foram
aprovados para apresentaccedilatildeo no Congresso de Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul - Educasul
Em 2005 solicitei licenccedila natildeo remunerada de trecircs anos na Prefeitura
Municipal de Joinville a fim de coordenar o Programa de Jornal e Educaccedilatildeo em uma
empresa jornaliacutestica do mesmo municiacutepio
A empresa havia firmado uma parceria com a Secretaria de Educaccedilatildeo do
Estado de Santa Catarina a partir da Lei nordm 127732003 (SANTA CATARINA 2003
sp) que ―instituiu o Programa Leitura de Jornais e Revistas em Sala de Aula como
atividade multidisciplinar nos estabelecimentos puacuteblicos de ensino fundamental e
meacutedio no Estado de Santa Catarina
Por meio desse programa viajei por 36 cidades de Santa Catarina realizando
formaccedilatildeo sobre miacutedia e educaccedilatildeo para os professores da Rede Estadual de Ensino
bem como para alguns professores de escolas municipais uma vez que as
Secretarias de Educaccedilatildeo de alguns municiacutepios tambeacutem firmaram parceria Esse
trabalho me possibilitou conhecer o funcionamento de muitas escolas estaduais
municipais e uma aldeia indiacutegena em Xanxerecirc contribuindo para o desenvolvimento
de um olhar para a diversidade e a complexidade dos processos educacionais em
diferentes contextos
A experiecircncia que mais me aproximou contudo do que viria a ser meu objeto
de pesquisa no Mestrado em Educaccedilatildeo ocorreu em 2011 quando ingressei na
Rede Puacuteblica Federal de Ensino no Instituto Federal Catarinense na funccedilatildeo de
pedagogaorientadora educacional No mesmo ano no curso teacutecnico de ensino
meacutedio integrado iniciou uma estudante com deficiecircncia fiacutesica A estrutura do
cacircmpus poreacutem natildeo favorecia a mobilidade da aluna fazendo com que a equipe do
Nuacutecleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiacuteficas - NAPNE no qual
ingressei como representante passasse a discutir as adaptaccedilotildees arquitetocircnicas e
curriculares necessaacuterias para a promoccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo da aluna Saliento a
importacircncia do respaldo da direccedilatildeo do Instituto nesse periacuteodo na construccedilatildeo da
proposta de melhorias bem como na sua execuccedilatildeo O trabalho realizado de forma
colaborativa entre os profissionais envolvidos no Instituto bem como o
acompanhamento sistemaacutetico junto agrave aluna e sua famiacutelia foi essencial para o
desenvolvimento do seu processo de escolarizaccedilatildeo que se formou no ano de 2013
e atualmente estaacute cursando o ensino superior
19
Em 2015 os integrantes do NAPNE do qual faccedilo parte estavam na fase de
estudos para a implementaccedilatildeo do atendimento educacional especializado no IFC
sempre respaldados pela equipe diretiva Percebo que o envolvimento dessa equipe
foi crucial para viabilizar as propostas planejadas O referido cacircmpus do IFC foi o
uacutenico no estado a solicitar um coacutedigo de vaga para o concurso de professora com
habilitaccedilatildeo especiacutefica para atuar no AEE a qual foi nomeada no final de 2015 jaacute
iniciando a estruturaccedilatildeo do trabalho com a equipe
Como orientadora educacional percebo que a parceria junto agrave supervisatildeo e
demais profissionais faz toda a diferenccedila na promoccedilatildeo de uma educaccedilatildeo para todos
pois natildeo haacute como discutir o processo de escolarizaccedilatildeo dos alunos sem abordar as
estrateacutegias de ensino que favoreccedilam sua aprendizagem e desenvolvimento
Nessa busca intensa por conhecimentos ingressei no Programa de Mestrado
em Educaccedilatildeo da UNIVILLE na linha de pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente
Lembro-me que no primeiro encontro de orientaccedilatildeo conversando com minha
professora orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro conseguimos definir
o objeto do presente estudo a relaccedilatildeo entre a equipe diretiva e o Atendimento
Educacional Especializado
Este estudo se insere em um projeto de pesquisa mais amplo denominado
―Interfaces entre Atendimento Educational Especializado trabalho docente
formaccedilatildeo de professores e poliacuteticas puacuteblicas (INTAE) vinculado ao Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e a Formaccedilatildeo Docente (GETRAFOR) do
Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE
Considerando que o municiacutepio de Joinville foi o mais estudado ateacute o
momento pelo grupo de pesquisa em questatildeo e que o referido projeto tem por
objetivo investigar as interfaces supracitadas na regiatildeo Sul do Brasil optou-se por
escolher como loacutecus desta investigaccedilatildeo o municiacutepio de Camboriuacute
Tal escolha justifica-se em funccedilatildeo de que no processo de mapeamento das
produccedilotildees acadecircmicas dos uacuteltimos cinco anos sobre ―gestatildeo escolarequipe diretiva
e ―inclusatildeo escolareducaccedilatildeo especialAEE1 ter-se identificado que o referido
municiacutepio natildeo havia sido contemplado por nenhum dos estudos ateacute entatildeo
realizados
1 Este mapeamento das produccedilotildees acadecircmicas foi realizado nas bases de dados da ANPEd CAPES
SciELO e BDTD abrangendo o periacuteodo de 2011 a 2015 Pode-se conferir o detalhamento do referido levantamento no Capiacutetulo 1 desta dissertaccedilatildeo
20
A partir do exposto iniciou-se a construccedilatildeo do objetivo geral da pesquisa que
eacute investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento
Educacional Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo Os objetivos especiacuteficos
delineados a partir do objetivo geral foram constituiacutedos da seguinte forma
Revelar a compreensatildeo das equipes diretivas acerca do serviccedilo de AEE e do
puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial
Identificar o que as equipes diretivas escolares conhecem sobre o trabalho do
professor do AEE
Evidenciar os procedimentos que tecircm sido adotados pelas equipes diretivas
escolares na viabilizaccedilatildeo do atendimento educacional especializado
Para cada objetivo especiacutefico foi elaborada uma questatildeo de pesquisa que se
buscou responder no decorrer deste estudo 1) O que pensam as equipes diretivas
escolares sobre o serviccedilo do AEE e sobre o puacuteblico alvo da EE 2) Qual a
compreensatildeo que as equipes diretivas escolares tecircm sobre o trabalho do professor
de AEE 3) Quais satildeo os procedimentos que tecircm sido adotados pelas equipes
diretivas escolares para viabilizar o atendimento educacional especializado
Ressalto que a forma de compreender e viabilizar as poliacuteticas educacionais
expressa a concepccedilatildeo de gestatildeo escolar assumida pela equipe diretiva concepccedilatildeo
essa que permearaacute as accedilotildees realizadas na instituiccedilatildeo refletindo na conduccedilatildeo da
elaboraccedilatildeo no projeto pedagoacutegico nas accedilotildees e interaccedilatildeo com os estudantes
professores e comunidade escolar
Nesse sentido o presente estudo tem o intuito de contribuir com possiacuteveis
avanccedilos nas discussotildees acerca do papel da equipe diretiva no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial focalizando a
Rede Puacuteblica Municipal de Ensino de Camboriuacute
21
1 POSSIBILIDADES E DESAFIOS DE UMA GESTAtildeO ESCOLAR DEMOCRAacuteTICAndashPARTICIPATIVA DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES NA VIABILIZACcedilAO DO AEE
Neste capiacutetulo apresentam-se algumas reflexotildees sobre a funccedilatildeo da escola a
organizaccedilatildeo e a gestatildeo escolar contextualizando as atribuiccedilotildees dos profissionais
que compotildeem a equipe diretiva escolar a partir da perspectiva de uma gestatildeo
democraacutetica-participativa Na sequecircncia aborda-se o Atendimento Educacional
Especializado um serviccedilo direcionado ao puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial2
procurando compreender as relaccedilotildees entre uma gestatildeo democraacutetica-participativa da
equipe diretiva e o processo de desenvolvimento desse serviccedilo especializado no
contexto escolar a partir de um balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira concernente
a essa temaacutetica nos uacuteltimos cinco anos (2011-2015) Esclarece-se que existem
outras formas de gestatildeo escolar contudo neste estudo optou-se em discutir a
gestatildeo democraacutetica-participativa por ser a forma de gestatildeo evidenciada nos
documentos oficiais nacionais inspirados em acordosdocumentos internacionais
relacionados agrave Educaccedilatildeo Especial procurando tensionar suas possibilidades e
impossibilidades no acircmbito escolar
11 Organizaccedilatildeo e Gestatildeo Escolar tecendo reflexotildees
Abordar noccedilotildees de organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar implica uma tarefa anterior
que diz respeito agrave discussatildeo da funccedilatildeo da escola no cenaacuterio atual Neste estudo
entende-se que a instituiccedilatildeo escolar eacute constituiacuteda socialmente e dessa forma ―[] eacute
determinada socialmente [] sofre a determinaccedilatildeo do conflito de interesses que
caracteriza a sociedade (SAVIANI 2009 p 28) Nesse sentido a escola eacute ao
mesmo tempo produto e produtora da sociedade em que estaacute inserida e pode tanto
contribuir para a manutenccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo social quanto para transformaacute-la
A funccedilatildeo da escola como ressaltou Paro (2012) eacute a de assegurar aos
estudantes a sistematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do conhecimento da cultura produzido
historicamente tendo em vista que eacute por meio desse conhecimento que poderatildeo se
2 Satildeo compreendidos como puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial pessoas com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo (BRASIL 2008)
22
apoderar ―[] da ciecircncia da tecnologia da filosofia da arte enfim de todas as
conquistas culturais realizadas pela humanidade em seu desenvolvimento histoacuterico
(PARO 2012 p 135)
Convergindo com a discussatildeo Saviani (2008 p 13) afirmou que ―para existir
a escola natildeo basta a existecircncia do saber sistematizado Eacute necessaacuterio viabilizar as
condiccedilotildees de sua transmissatildeo e assimilaccedilatildeo de modo que o estudante se aproprie
desse saber de forma contextualizada propiciando conexotildees com outros saberes jaacute
apreendidos convergindo para o desenvolvimento humano dos estudantes e sua
inserccedilatildeo criacutetica e criativa na sociedade
Nessa perspectiva segundo Dourado (2007 p 923) ―a educaccedilatildeo eacute entendida
como processo amplo de apropriaccedilatildeo da cultura historicamente produzida pelo
homem e a escola como loacutecus privilegiado de apropriaccedilatildeo e ressignificaccedilatildeo desses
conhecimentos Eacute nesse loacutecus que se encontra ao se considerar a maioria3 das
escolas puacuteblicas de ensino fundamental a atuaccedilatildeo da equipe diretiva que segundo
Vasconcellos (2013 p 51) eacute ―composta pelo Diretor(a) Supervisor(a)Coordenador
Pedagoacutegico e Orientador(a) Educacional profissionais que desempenham um papel
de referecircncia na escola e podem contribuir de modo significativo no processo de
escolarizaccedilatildeo dos alunos ao atuarem de forma articulada como uma equipe no
acircmbito escolar
Sobre a gestatildeo escolar Libacircneo (2015) apresentou uma contribuiccedilatildeo no que
tange agrave conceituaccedilatildeo das expressotildees organizar administrar e gerir ajudando a
pensar o sentido do termo ―gestatildeo escolar O autor expocircs que ldquoorganizar significa
―[] articular as partes de um todo prover as condiccedilotildees necessaacuterias para realizar
uma accedilatildeo administrar eacute o ato de governar de por em praacutetica um conjunto de regras
e gerir significa administrar dirigir gerenciar (LIBAcircNEO 2015 p 85 grifos nossos)
A partir dessa forma de compreender os conceitos pode-se dizer que a
organizaccedilatildeo a administraccedilatildeo e a gestatildeo escolar referem-se aos princiacutepios e
procedimentos relacionados agrave atividade de planejar o trabalho da escola utilizando
de forma responsaacutevel os recursos materiais financeiros e intelectuais disponiacuteveis
3 Optou-se por utilizar a expressatildeo ―a maioria por entender que existem especificidades entre as
esferas governamentais no que tange agrave nomenclatura eou agraves funccedilotildees relativas agrave gestatildeo escolar Por exemplo nas escolas Estaduais de Santa Catarina segundo a Lei Complementar nordm 491992 (SANTA CATARINA 1992) as funccedilotildees de supervisor e orientador satildeo denominadas como Especialista em Assuntos Educacionais e Consultor Educacional
23
bem como a gestatildeo orientaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo do trabalho junto aos profissionais e
estudantes que compotildeem o coletivo escolar
Salienta-se que as formas de organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar bem como as
atribuiccedilotildees da equipe diretiva foram se constituindo historicamente nas sociedades
Contudo esse processo de constituiccedilatildeo natildeo ocorreu e natildeo ocorre de forma linear
em cada momento histoacuterico econocircmico e poliacutetico de uma sociedade A atuaccedilatildeo da
equipe diretiva no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes pode ou natildeo sofrer
modificaccedilotildees ao longo do tempo mas sempre foi e ainda eacute subsidiada por
concepccedilotildees de educaccedilatildeo escolar Como exemplo podemos citar o autor Paro
(1987) que ilustra o papel do diretor no periacuteodo da poacutes-ditadura militar (1964-1985)
o qual ainda caracterizava seu trabalho de acordo com uma abordagem burocraacutetica
autoritaacuteria e conservadora que se tornara comum na vigecircncia desse regime de
governo Sobre essa forma de realizar a funccedilatildeo diretiva na escola o autor explana
[] o maior obstaacuteculo que vejo nos dias de hoje eacute precisamente a funccedilatildeo do diretor que o coloca autoridade uacuteltima no interior da escola Esta regra astutamente mantida pela classe dominante atraveacutes do Estado confere um caraacuteter autoritaacuterio ao diretor na medida que estabelece uma hierarquia na qual ele deve ser o chefe de quem emanam todas as ordens na instituiccedilatildeo escolar leva a dividir os diversos setores no interior da escola (PARO 1987 p 52)
De acordo com o autor supracitado a gestatildeo do diretor nesse periacuteodo
destacava-se nos espaccedilos escolares pelo centralismo autoritarismo pelo caraacuteter
burocraacutetico administrativo que se sobressaiacutea em detrimento ao pedagoacutegico Nesse
modelo instaurado conferia-se ecircnfase agrave distribuiccedilatildeo rigorosa das tarefas e nessa
loacutegica cada um preocupava-se com a realizaccedilatildeo de seu trabalho de forma
individual caracterizando uma gestatildeo pouco articulada e com accedilotildees fragmentadas
Diante do exposto compreende-se que a gestatildeo escolar eacute um fenocircmeno
complexo que estaacute associado a concepccedilotildees especiacuteficas acerca do que eacute gestatildeo e
do que eacute escola que por sua vez estatildeo imbricadas a um contexto mais amplo que
envolve aspectos econocircmicos poliacuteticos e culturais de uma sociedade Para entender
as diferentes concepccedilotildees que se evidenciam no estudo da organizaccedilatildeo e gestatildeo
escolar recorre-se agrave Libacircneo (2015) que sinaliza a existecircncia de duas concepccedilotildees
bem diferentes em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola a primeira que eacute uma concepccedilatildeo
cientiacutefico-racional na qual ―[] prevalece a visatildeo mais burocraacutetica e tecnicista de
escola A escola eacute tomada como uma realidade objetiva e neutra podendo ser
24
planejada organizada controlada de modo a alcanccedilar oacutetimos resultados nos
iacutendices de eficaacutecia e eficiecircncia (LIBAcircNEO 2015 p 102 grifo nosso) A segunda
concepccedilatildeo seria a ―sociocriacutetica na qual a organizaccedilatildeo escolar eacute ―[] como um
sistema que agrega pessoas destacando-se o caraacuteter intencional de suas accedilotildees a
importacircncia das interaccedilotildees sociais no seio do grupo e as relaccedilotildees da escola com o
contexto sociocultural e poliacutetico (LIBAcircNEO 2015 p 102)
Compreende-se assim que a escola natildeo eacute um espaccedilo neutro e sim um
ambiente constituiacutedo e constitutivo de relaccedilotildees sociais imediatas e mediatas o que
pressupotildee que a tomada de decisotildees seja discutida coletivamente propiciando aos
profissionais da escola a participaccedilatildeo na discussatildeo das poliacuteticas educacionais das
dificuldades no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes entre outros desafios do
cotidiano escolar
A gestatildeo escolar aleacutem de ser discutida por autores como Paro (1987) e
Libacircneo (2015) tambeacutem eacute discursada nos documentos oficiais da educaccedilatildeo
brasileira Nesse aspecto questiona-se como os gestores dos sistemas de ensino4
interpretam compreendem e subjetivam a gestatildeo escolar expressa nas poliacuteticas
educacionais e por conseguinte como esses entendimentos satildeo disponibilizados e
posteriormente subjetivados pelas equipes diretivas escolares
Considerando a complexidade de que abarca a gestatildeo escolar optou-se por
tomar os documentos oficiais como um ponto de partida para evidenciar possiacuteveis
convergecircncias eou divergecircncias entre os discursos sobre gestatildeo e o que se
vivencia no contexto escolar
Nessa direccedilatildeo nota-se que as poliacuteticas oriundas de organismos
internacionais5 delinearam e permearam a constituiccedilatildeo das poliacuteticas educacionais no
Brasil e a partir da deacutecada de 90 jaacute era possiacutevel identificar fortes impactos de
4 Segundo Saviani (2010 380-381) o Brasil ainda natildeo dispotildee de um sistema de ensino mas sim de
vaacuterios sistemas de ensino ―Daiacute expressotildees como sistema de ensino fundamentallsquo sistema de ensino meacutediolsquo sistema de ensino profissionallsquo sistema de educaccedilatildeo baacutesicalsquo sistema de ensino superiorlsquo sistema escolarlsquo sistema estadual de ensinolsquo sistema municipal de ensinolsquo sistema federal de ensinolsquo sistema de ensino comercial (industrial agriacutecola)lsquo etc como se fossem coisas diferentes quando na verdade satildeo apenas partes do mesmo sistema Para o ator um sistema pode ser definido como a unidade de vaacuterios elementos intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto coerente e operante conclui-se que o Sistema Nacional de Educaccedilatildeo eacute a unidade dos vaacuterios aspectos ou serviccedilos educacionais mobilizados por determinado paiacutes intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto coerente que opera eficazmente no processo de educaccedilatildeo da populaccedilatildeo do referido paiacutes 5Segundo Frigotto e Ciavatta (2003 p 96) ―os organismos internacionais como o Fundo Monetaacuterio
Internacional (FMI) Banco Mundial (BIRD) o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) passam a ter o papel de tutoriar as reformas dos Estados nacionais mormente dos paiacuteses do capitalismo perifeacuterico e semiperifeacuterico
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diretrizes educacionais internacionais nos sistemas de ensino e nas instituiccedilotildees
escolares brasileiras abrangendo mudanccedilas nos curriacuteculos nas responsabilidades
dos professores da gestatildeo escolar e as formas de participaccedilatildeo da famiacutelia A gestatildeo
democraacutetica enfatizada em referenciais internacionais como a Conferecircncia Mundial
sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) foi uma das premissas que comeccedilou a
figurar progressivamente em algumas poliacuteticas brasileiras
Eacute possiacutevel identificar que os documentos legais de acircmbito nacional tecircm
salientado a ―gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas Tem-se por exemplo a
Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seu art 206 preconiza que o ensino deve ser
ministrado com base no princiacutepio de gestatildeo democraacutetica A Lei de Diretrizes e Bases
da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) por sua vez prevecirc em seu art 14 que ―os
sistemas de ensino definiratildeo as normas da gestatildeo democraacutetica conforme os
princiacutepios de participaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo do Projeto
Pedagoacutegico e da comunidade escolar e local em Conselhos Escolares O Plano
Nacional de Educaccedilatildeo - PNE sancionado pela Lei no 13005 de 25 de junho de
2014 em seu art 2 inciso VI tambeacutem evidencia a ―promoccedilatildeo do princiacutepio da gestatildeo
democraacutetica na educaccedilatildeo puacuteblica de assegurar condiccedilotildees no prazo de dois anos
para a efetivaccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da educaccedilatildeo associada a criteacuterios teacutecnicos
de meacuterito e desempenho e agrave consulta puacuteblica (BRASIL 2014)
Uma vez que eacute conferida essa ecircnfase agrave gestatildeo democraacutetica nos documentos
oficiais conveacutem esclarecer o que se entende a esse respeito A Lei de Diretrizes e
Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) por exemplo associa uma gestatildeo
democraacutetica agrave participaccedilatildeo dos profissionais da escola e de modo mais abrangente
da comunidade escolar e local nesse processo No entanto seria a gestatildeo
democraacutetica sinocircnimo de uma gestatildeo participativa Entende-se que a participaccedilatildeo
de todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo eacute um dos elementos de uma
gestatildeo escolar democraacutetica mas que essa vai aleacutem da participaccedilatildeo Neste estudo
compreende-se a gestatildeo democraacutetica como um movimento de descentralizaccedilatildeo do
poder que supotildee a participaccedilatildeo de todos no planejamento das accedilotildees discussatildeo e
tomadas de decisotildees no acircmbito da escola
Destaca-se que uma gestatildeo democraacutetica-participativa6 oportuniza uma accedilatildeo
articulada e integrada entre diretor supervisor e orientador supotildee que os trecircs teratildeo
6 Optou-se por utilizar a expressatildeo democraacutetica-participativalsquo com hiacutefen inspirada em Libacircneo
(2015) por entender que democracia e participaccedilatildeo satildeo processos interdependentes natildeo eacute possiacutevel
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autonomia de atuaccedilatildeo no acircmbito da escola o supervisor propondo formaccedilatildeo aos
professores em articulaccedilatildeo com o orientador e apoio do diretor o orientador
acompanhando o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes discutindo com o
supervisor planejando estrateacutegias e abrindo a discussatildeo juntamente aos
professores e junto agraves famiacutelias com o apoio do diretor em prol do processo de
escolarizaccedilatildeo Nessa perspectiva enfatiza-se que a ―distribuiccedilatildeo do poder entre os
vaacuterios setores da escola o diretor natildeo estaraacute perdendo poder [] mas estaraacute
dividindo responsabilidade E ao acontecer isso quem ganha poder eacute a escola
(PARO 1987 p 52)
Nessa perspectiva Libacircneo (2007) esclarece que a gestatildeo democraacutetica
discursada nos documentos oficiais no entanto eacute concebida e interpretada de
formas diferentes pela sociedade civil e pela inciativa governamental Enquanto por
um lado a sociedade civil a concebe como uma conquista que pode possibilitar
maior participaccedilatildeo da comunidade escolar nos processos decisoacuterios da escola por
outro lado para a iniciativa governamental representa uma forma de diminuiccedilatildeo do
papel do Estado para prover mas ampliado para regular e gerenciar A participaccedilatildeo
nessa perspectiva eacute entendida como uma forma consensual para a implementaccedilatildeo
dos ditames do Estado Tal pressuposto por sua vez tem seu fundamento nas
reformas consolidadas no governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-1998
1998-2002) nos anos de 1990 com a aprovaccedilatildeo do Plano Diretor da Reforma do
Aparelho do Estado em 19957 o qual estabeleceu como princiacutepios as accedilotildees como
descentralizaccedilatildeo autonomia das escolas racionalizaccedilatildeo dos recursos financeiros e
participaccedilatildeo da comunidade escolar
Em meio a esses tensionamentos Michels (2006 p408) ressalta que
[] eacute no embate entre a proposiccedilatildeo poliacutetica e o cotidiano da escola que esta vai constituindo-se e organizando-se Eacute justamente nessa relaccedilatildeo que se faz importante refletir sobre a poliacutetica educacional em curso e o papel atribuiacutedo agrave educaccedilatildeo e agrave escola no Brasil []
Nessa perspectiva pode-se evidenciar que o modo de gestatildeo proposto nessa
reforma representa uma agenda de governo em que o Estado transfere parte de
falar de um sem falar de outro No entanto ainda que imbricados satildeo processos que se diferenciam a participaccedilatildeo estaacute contida na democracia mas para haver uma gestatildeo democraacutetica eacute preciso mais do que a participaccedilatildeo de todos Como afirmou Libacircneo (2015) eacute preciso assegurar a aprendizagem de todos os alunos 7 Plano diretor da reforma do aparelho do Estado BRASIL Ministeacuterio de Administraccedilatildeo Federal e da Reforma do
Estado Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado Brasiacutelia 1995
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suas responsabilidades para os sistemas de ensino e esses por conseguinte para
as escolas mas ao mesmo tempo intensifica sua forccedila reguladora junto a eles
Entretanto mesmo possuindo uma autonomia relativa8 em relaccedilatildeo agrave
organizaccedilatildeo e funcionamento das escolas as equipes diretivas podem vislumbrar
nesse contexto de reforma o desenvolvimento de uma gestatildeo participativa como um
modo de envolver o coletivo escolar nas discussotildees dos processos decisoacuterios da
escola de forma criacutetica e criativa como uma alternativa para unir forccedilas no interior
da escola e reivindicar junto ao Estado as condiccedilotildees necessaacuterias para assegurar
aos estudantes seu direito de aprender
Contudo reforccedila-se que uma gestatildeo participativa por si soacute natildeo resolve todos
os problemas da escola Ainda que seja imprescindiacutevel para uma gestatildeo
democraacutetica a participaccedilatildeo ―por si soacute natildeo eacute suficiente para a democratizaccedilatildeo da
escola pois natildeo haacute democratizaccedilatildeo verdadeira sem que seja assegurado aos
alunos o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais por meio da
apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos produzidos e acumulados historicamente (LIBAcircNEO
2015 p 24)
Identifica-se na concepccedilatildeo de Libacircneo (2015) uma ecircnfase agrave finalidade da
escola Nesse sentido destaca-se a importacircncia da equipe diretiva em organizar
suas accedilotildees tambeacutem para proporcionar momentos de discussatildeo das poliacuteticas
educacionais do processo ensino-aprendizagem e a partir daiacute traccedilar as estrateacutegias
necessaacuterias para que a escola consiga desempenhar seu papel central no processo
de escolarizaccedilatildeo de seus estudantes que eacute a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos
produzidos historicamente da cultura da ciecircncia e da tecnologia
Um exemplo de como a organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar podem proporcionar
esses momentos e se constituir como um processo participativo e democraacutetico eacute a
8 Autonomia Relativa no caso do sistema puacuteblico de ensino [] eacute sempre relativa e eacute condicionada
quer pelos poderes de tutela e de superintendecircncia do governo e da administraccedilatildeo puacuteblica quer eventualmente pelo poder local no quadro de um processo de descentralizaccedilatildeo [] (BARROSO 1996 p 20) Ainda de acordo com o autor ―a autonomia eacute um conceito relacional (sempre somos autocircnomos de algueacutem ou de alguma coisa) pelo que a sua accedilatildeo exerce sempre num contexto de interdependecircncias e num sistema de relaccedilotildees A autonomia eacute tambeacutem um conceito que exprime sempre um certo grau de relatividade somos mais ou menos autocircnomos podemos ser autocircnomos em relaccedilatildeo a umas coisas e natildeo o ser em relaccedilatildeo a outras A autonomia eacute por isso uma maneira de agir orientar as diversas dependecircncias em que os indiviacuteduos e os grupos se encontram no seu meio com suas proacuteprias leis (BARROSO 1996 p 17)
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construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico da escola Libacircneo (2015) destacou que
essa construccedilatildeo envolve a contemplaccedilatildeo de alguns itens a saber
a) Organizaccedilatildeo da vida escolar Trata-se da organizaccedilatildeo dos meios de trabalho escolar em funccedilatildeo de sua especificidade e dos objetivos educacionais propiciando as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem dos alunos [] dizem respeito a estrutura organizacional legislaccedilatildeo escolar organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico recursos materiais didaacuteticos financeiros clima de trabalho sistema participativo de tomadas de decisatildeo [] b) Organizaccedilatildeo do processo ensino aprendizagem [] suportes pedagoacutegicos necessaacuterios agrave organizaccedilatildeo do trabalho escolar Compreende o curriacuteculo a organizaccedilatildeo pedagoacutegico-didaacutetica formaccedilatildeo continuada conselhos de classe [] c) Organizaccedilatildeo das atividades de apoio teacutecnico ndash administrativo [] abrange as atividades da secretaria escolar dos especialistas pedagoacutegicos serviccedilos auxiliares serviccedilos gerais [] d) Organizaccedilatildeo de atividades que asseguram a relaccedilatildeo entre escola e comunidade [] niacuteveis superiores de gestatildeo do sistema escolar os pais as organizaccedilotildees poliacuteticas e comunitaacuterias (LIBAcircNEO 2015 p 170 grifos nossos)
Realccedila-se que esse processo de construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico eacute
perpassado por questotildees culturais sociais e poliacuteticas dos indiviacuteduos participantes
das poliacuteticas puacuteblicas e da realidade material de cada escola e nesse sentido se
configura por tensotildees e contradiccedilotildees Contudo ao promover espaccedilos para essa
construccedilatildeo de forma conjunta e dialoacutegica a escola pode se fortalecer como espaccedilo
democraacutetico envolvendo todos os profissionais e demais participantes que atuam
nesse espaccedilo para a realizaccedilatildeo dos objetivos escolares construiacutedos coletivamente
O projeto pedagoacutegico ao ser permanentemente revisitado acompanhado e
avaliado pode permitir que cada profissional reconheccedila suas responsabilidades
discuta questotildees pertinentes ao processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes e possa
construir proposiccedilotildees de forma coletiva para o enfrentamento das questotildees
deflagradas
Ainda assim mesmo que o projeto pedagoacutegico seja um importante
instrumento por meio do qual se possa efetivar uma gestatildeo democraacutetica-
participativa somente ele natildeo garante sua efetivaccedilatildeo Do mesmo modo ainda que
se preconize uma gestatildeo democraacutetica nos documentos oficiais isso isoladamente
natildeo assegura que a gestatildeo seja realizada de forma democraacutetica-participativa nas
escolas Isso porque como expocircs Michels (2004 p 44)
[] os sujeitos envolvidos [no processo de escolarizaccedilatildeo] natildeo tomam a poliacutetica como algo pronto e acabado Ao contraacuterio por mais que as
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legislaccedilotildees e as normas instituiacutedas conformem praacuteticas estas seratildeo apreendidas por sujeitos que daratildeo vida a estes encaminhamentos poliacuteticos Os sujeitos envolvidos entendem as indicaccedilotildees poliacuteticas de maneira distinta conforme suas vivecircncias seus interesses sua organizaccedilatildeo profissional entre outros Cada instituiccedilatildeo educacional acaba por ―implementar as poliacuteticas agrave sua maneira
Nessa direccedilatildeo segundo Paro (2012 p 162) a gestatildeo escolar constitui-se
―[] como um instrumento que como tal pode articular-se tanto para a conservaccedilatildeo
do status quo quanto para a transformaccedilatildeo social e tal articulaccedilatildeo guarda profunda
relaccedilatildeo com o modo como cada gestatildeo compreende as poliacuteticas e diretrizes
educacionais A forma de gestatildeo e organizaccedilatildeo escolar nesse sentido constitui e eacute
constituiacuteda pelas posiccedilotildees poliacuteticas e concepccedilotildees de homem e sociedade funccedilatildeo da
escola estudante da equipe diretiva que por sua vez podem ser vinculadas ao
contexto histoacuterico econocircmico poliacutetico social e cultural em que a escola estaacute
inserida
Com base nessa perspectiva de gestatildeo escolar no proacuteximo toacutepico seratildeo
discutidas as atribuiccedilotildees da equipe formada pelo(a) Diretor(a)
Supervisor(a)Coordenador(a) e Orientador(a) Educacional aqui denominada de
equipe diretiva escolar a fim de elucidar seu papel diante desses princiacutepios
democraacutetico-participativos que considere o objetivo primeiro da escola que eacute a
apropriaccedilatildeo de forma criacutetica e criativa pelos estudantes dos conhecimentos
historicamente produzidos pela humanidade
12 As atribuiccedilotildees da Equipe Diretiva Escolar na Perspectiva da Gestatildeo
Democraacutetica-Participativa
Para iniciar as discussotildees sobre as atribuiccedilotildees das equipes diretivas e a
complexidade de cada membro que compotildee essas equipes de trabalho buscou-se
as anaacutelises das pesquisas empreendidas por Ligeiro (2007) e Bastos (2012) com
gestores escolares sobre a temaacutetica gestatildeo escolar da escola puacuteblica nas quais as
autoras evidenciaram que gestatildeo democraacutetica-participativa natildeo eacute um trabalho
simples ao contraacuterio eacute uma accedilatildeo permeada por tensotildees e contradiccedilotildees As autoras
observaram ainda que a participaccedilatildeo do coletivo escolar nas discussotildees acerca do
processo ensino-aprendizagem bem como na construccedilatildeo das diretrizes da escola
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se constitui uma das vias possiacuteveis na construccedilatildeo da melhoria do processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes Como salientou Ligeiro (2007) com base nas
compreensotildees das diretoras
[] a gestatildeo democraacutetica aponta para uma mudanccedila na forma de administrar a instituiccedilatildeo escolar a partir do reconhecimento da participaccedilatildeo da comunidade nas decisotildees sobre as questotildees educativas Esse reconhecimento eacute necessaacuterio na medida em que passa a fazer parte da realidade escolar adquirindo um significado poliacutetico que eacute internalizado pelos sujeitos como um direito e natildeo como benevolecircncia da direccedilatildeo Essa mudanccedila de comportamento por parte da direccedilatildeo vem se processando a partir da escolha eletiva dos dirigentes pela comunidade em curso no municiacutepio de Belo Horizonte haacute mais de dez anos rompendo com a utilizaccedilatildeo do cargo de diretor para fins poliacuteticos [] verificou-se ainda avanccedilos na legitimaccedilatildeo de espaccedilo de participaccedilatildeo [] com a comunidade externa [] (LIGEIRO 2007 p169)
Por sua vez Paro (2016a) ao se debruccedilar em pesquisas sobre a temaacutetica
gestatildeo democraacutetica da escola puacuteblica evidenciou que este modo de gestatildeo eacute algo a
ser conquistado O autor reitera ainda que
[] natildeo haacute duacutevida de que podemos pensar na escola como instituiccedilatildeo que pode contribuir para a transformaccedilatildeo social Mas uma coisa eacute falar de suas possibilidades uma coisa eacute falar em teselsquo falar daquilo que a escola poderia ser Uma coisa eacute expressar a crenccedila de que na medida em que consiga na forma e no conteuacutedo levar as camadas trabalhadoras a se apropriarem de um saber historicamente acumulado e desenvolver a consciecircncia criacutetica a escola pode concorrer para a transformaccedilatildeo social outra coisa bem diferente eacute considerar que a escola que aiacute estaacute esteja cumprindo essa funccedilatildeo (PARO 2016a p 15)
Para tanto a tarefa inicial deve consistir ―em tomar consciecircncia das condiccedilotildees
concretas ou das contradiccedilotildees concretas que apontam para a viabilidade de um
projeto de democratizaccedilatildeo das relaccedilotildees no interior da escola (PARO 2016a p 13)
O autor relatou ainda que a implementaccedilatildeo de uma gestatildeo democraacutetica na escola
eacute processual e requer para sua concretizaccedilatildeo que um sistema hieraacuterquico de
autoridade9 posto agraves escolas seja repensado e transformado
Nessa direccedilatildeo propotildee-se discutir a atuaccedilatildeo da equipe diretiva agrave luz da teoria
da gestatildeo democraacutetica-participativa embora se compreenda que esse tipo de
gestatildeo estaacute por se constituir na maioria das escolas brasileiras
9O sistema hieraacuterquico de autoridade se figura quando o Estado deteacutem o controle das accedilotildees do diretor ao delegar a ele o poder lhe conferindo uma autonomia relativa e este por sua vez controla ou tenta controlar o coletivo escolar por meio da divisatildeo riacutegida do trabalho estabelecendo uma hierarquia de funccedilotildees ―Assim natildeo eacute possiacutevel falar das estrateacutegias para transformar o sistema de autoridade no interior da escola em direccedilatildeo a uma efetiva participaccedilatildeo de seus diversos setores sem levar em conta a condiccedilatildeo que vive o diretor em seus respectivos sistemas de ensino e por conseguinte na escola (PARO 2016a p 15)
31
Ressalta-se desse modo que natildeo haacute um padratildeo na compreensatildeo das
especificidades das funccedilotildees de Diretor(a) Supervisor(a)Coordenador(a) e
Orientador(a) Educacional O que se procura ilustrar a seguir satildeo algumas
possibilidades de atuaccedilatildeo que ao mesmo tempo os diferenciam no que tange ao
especiacutefico de suas funccedilotildees e os aproximam como equipe diretiva que se reuacutene em
torno de objetivos comuns criar estrateacutegias de participaccedilatildeo coletiva na organizaccedilatildeo
e funcionamento dos espaccedilos e tempos da escola tendo em vista as poliacuteticas
educacionais vigentes buscando propiciar condiccedilotildees de trabalho para todos os
profissionais Estes objetivos por sua vez estatildeo relacionados a um objetivo maior
que se refere agrave escolarizaccedilatildeo dos estudantes por meio da apropriaccedilatildeo sistematizada
dos conhecimentos produzidos historicamente
Com relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos profissionais de educaccedilatildeo para administraccedilatildeo
planejamento inspeccedilatildeo supervisatildeo e orientaccedilatildeo educacional para a educaccedilatildeo
baacutesica conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996)
em seu art 64ordm pode-se dizer que deve ser ―[] realizada em cursos de graduaccedilatildeo
em Pedagogia ou em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo a criteacuterio da instituiccedilatildeo de ensino
garantida nesta formaccedilatildeo a base comum nacional
Ainda no que tange agrave formaccedilatildeo da equipe diretiva desde 2006 a partir da
Resoluccedilatildeo nordm 1 do Conselho Nacional de EducaccedilatildeoConselho Pleno (BRASIL
2006) foram instituiacutedos os cursos de licenciatura em Pedagogia com formaccedilatildeo
plena propiciando aao graduadao exercer quaisquer das funccedilotildees que antes
exigiam habilitaccedilotildees especiacuteficas durante a graduaccedilatildeo como por exemplo a funccedilatildeo
de supervisatildeocoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo educacional
No tocante agraves responsabilidades da equipe diretiva escolar ressalta-se que
os profissionais que a compotildee no caso da rede puacuteblica tecircm suas atribuiccedilotildees
regulamentadas pela legislaccedilatildeo de seus referidos sistema de ensino (LIBAcircNEO
2015) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996)
estabelece em seu art 12ordm que as instituiccedilotildees de ensino satildeo responsaacuteveis pelas
seguintes accedilotildees
[] I ndash elaborar e executar sua proposta pedagoacutegica II ndash administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros III ndash assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas IV ndash velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente V ndash prover meios para a recuperaccedilatildeo dos alunos de menor rendimento
32
VI ndash articular-se com as famiacutelias e a comunidade criando processos de integraccedilatildeo da sociedade com a escola VII ndash informar pai e matildee conviventes ou natildeo com seus filhos e se for o caso os responsaacuteveis legais sobre a frequecircncia e rendimento dos alunos bem como sobre a execuccedilatildeo da proposta pedagoacutegica da escola VIII ndash notificar ao conselho tutelar do municiacutepio ao juiz competente da comarca e ao respectivo representante do Ministeacuterio Puacuteblico a relaccedilatildeo dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei (BRASIL 1996 sp)
Percebe-se que essas accedilotildees estabelecidas na referida lei englobam as
atribuiccedilotildees dos integrantes da equipe diretiva permitindo apresentar algumas accedilotildees
pertinentes a cada participante da equipe diretiva escolar assim como apresentar
possibilidades de accedilotildees que podem ser realizadas de forma compartilhada
Iniciando pela funccedilatildeo do Diretor(a) essa parece englobar a criaccedilatildeo de
condiccedilotildees para reflexatildeo e tomada de decisatildeo coletiva acerca dos processos
educacionais Nesse sentido sua funccedilatildeo remete a accedilotildees como articular
acompanhar e mediar esses processos focalizando tanto seus aspectos
burocraacuteticos quanto pedagoacutegicos Isso implica promover de acordo com as
condiccedilotildees possiacuteveis uma estrutura e organizaccedilatildeo nos espaccedilos escolares que
promovam a escolarizaccedilatildeo de seus estudantes Paro (2010 p766) salienta que o(a)
Diretor(a)
[] ocupa uma posiccedilatildeo natildeo apenas estrateacutegica mas tambeacutem contraditoacuteria na gestatildeo da escola Esse diretor por um lado eacute considerado a autoridade maacutexima no interior na escola e isso pretensamente lhe daria um grande poder e autonomia mas por outro lado ele acaba se constituindo de fato em virtude de sua condiccedilatildeo de responsaacutevel uacuteltimo pelo cumprimento da Lei e da ordem da escola em mero proposto do Estado Uma segunda contradiccedilatildeo adveacutem do fato de que por um lado ele deve deter uma competecircncia teacutecnica e um conhecimento dos princiacutepios e meacutetodos necessaacuterios a uma adequada administraccedilatildeo dos recursos da escola mas por outro lado sua falta de autonomia em relaccedilatildeo aos escalotildees superiores e a precariedade das condiccedilotildees concretas [] [tornam-se obstaacuteculos] mdash o que estaria a merecer maior nuacutemero de anaacutelises e estudos aprofundados as quais discutem a natureza das atividades do diretor escolar e as possiacuteveis adequaccedilotildees e contradiccedilotildees dessa praacutetica diante do caraacuteter poliacutetico-pedagoacutegico da escola
Desse modo as accedilotildees do Diretor(a) dentro de um projeto coletivo e
participativo precisam estar articuladas com as accedilotildees dos demais profissionais a
exemplo do Supervisor(a)Coordenador(a) e do Orientador(a) Educacional
33
Em se tratando especificamente do Supervisor(a) Educacional10 Zieger
(2013 p 88) destaca que ele eacute o responsaacutevel na escola com o apoio do Diretor por
planejar de forma coletiva a ―construccedilatildeo do projeto poliacutetico-pedagoacutegico e de outros
projetos coordenar a construccedilatildeo do planejamento e implementaccedilatildeo de curriacuteculo e
programas ofertar apoio pedagoacutegico agrave equipe de docente com maior atenccedilatildeo agraves
atividades de ensino e avaliaccedilatildeo que propiciem a escolarizaccedilatildeo efetiva dos
estudantes Eacute responsaacutevel tambeacutem por planejar juntamente com o Diretor(a) e
Orientador(a) as reuniotildees pedagoacutegicas e a formaccedilatildeo continuada dos professores
possibilitando a reflexatildeo de sua praacutetica e propiciando assim quando necessaacuterio
ajustes nas estrateacutegias e metodologias com vistas agrave escolarizaccedilatildeo do estudante
Sobre o Orientador(a) Educacional Grinspun (2008 p 77) destaca que
atualmente esse ―[] tem o papel de mediaccedilatildeo na escola isto eacute [a Orientaccedilatildeo
Educacional] se reveste de mais um campo na escola para analisar discutir refletir
come para todos que atuam na escola ndash em especial os alunos tendo em vista o
trabalho pedagoacutegico e o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Rangel (2013) salienta que existem muitas atividades que podem ser
desenvolvidas de forma compartilhada entre Supervisor(a)Coordenador(a)
Orientador(a) e Diretor(a) com o intuito de contribuir e potencializar o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes tais como
[] a Formaccedilatildeo continuada de professores por meio de estudos dos problemas cotidianos e de conceitos teoacutericos e situaccedilotildees praacuteticas de interesse na superaccedilatildeo e nos avanccedilos do trabalho pedagoacutegico incluindo estudos sobre princiacutepios de ensino que favorecem a aprendizagem e a dinamizaccedilatildeo das aulas estudos sobre teorias de aprendizagem estudos e conceitos e procedimentos de avaliaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Conjunta de Conselho de Classe nos quais os professores se reuacutenem natildeo soacute para a avaliaccedilatildeo do aproveitamento escolar dos alunos mas para avaliaccedilatildeo do processo de ensino e aprendizagem Coordenaccedilatildeo conjunta dos conselhos de alunos nos quais os alunos se reuacutenem natildeo soacute para avaliaccedilatildeo das aulas como para a avaliaccedilatildeo de suas turmas em aspectos de participaccedilatildeo relaccedilotildees interesse motivaccedilotildees Coordenaccedilatildeo de encontros entre alunos e professores para tratar de questotildees que possam estar dificultando o entrosamento e o diaacutelogo Realizaccedilatildeo de encontros com pais sobre temas de interesse educativo que auxiliem as relaccedilotildees de aproximaccedilotildees na famiacutelia e entre ela e a escola sem perder de vista os temas que emergem das
10
Placco Souza e Almeida (2012 p 758) salientam que o termo ―supervisatildeo educacional coordenaccedilatildeo pedagoacutegica [] pode variar de acordo com o Muniacutecipio Estado ou regiatildeo
34
desigualdades e tensotildees sociais e suas consequecircncias (RANGEL 2013 p16 grifos nossos)
Essas atividades compartilhadas demonstram o quanto a equipe diretiva
escolar pode construir e desenvolver coletivamente no sentido de (re)pensar e
(re)elaborar o trabalho realizado na escola focalizando o processo de escolarizaccedilatildeo
dos estudantes e respeitando suas singularidades
Percebe-se ainda a relevacircncia da equipe diretiva no sentido de planejar
momentos de construccedilatildeo coletiva junto aos professores para que esses possam
dialogar e discutir sobre o processo de escolarizaccedilatildeo com o intuito de construir
estrateacutegias de ensino que propiciem alternativas de escolarizaccedilatildeo mais efetiva para
os estudantes Evidencia-se poreacutem que a constituiccedilatildeo de um processo de gestatildeo
escolar democraacutetico-participativo se apresenta como um desafio para as escolas
que por vezes natildeo encontram condiccedilotildees objetivas para atuarem dessa forma
No proacuteximo subcapiacutetulo buscar-se-aacute compreender as relaccedilotildees entre uma
gestatildeo escolar democraacutetica-participativa e o Atendimento Educacional
Especializado focalizando o processo de desenvolvimento desse serviccedilo no
contexto escolar
13 Equipe Diretiva na organizaccedilatildeo escolar frente ao AEE aproximaccedilotildees e
distanciamentos
Para iniciar uma discussatildeo a respeito da gestatildeo escolar em relaccedilatildeo agrave
Educaccedilatildeo Especial e mais especificamente ao Atendimento Educacional
Especializado optou-se por primeiramente elencar alguns documentos legais que
podem subsidiar a atuaccedilatildeo da equipe diretiva escolar nesse acircmbito Dentre esses
documentos podem ser citados a Constituiccedilatildeo Federal (BRASIL 1988) a
Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) a Declaraccedilatildeo de
Salamanca (UNESCO 1994) a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
(BRASIL 1996) a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da
Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) e a Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 4 (BRASIL 2009)
35
que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado
na Educaccedilatildeo Baacutesica11
Desses documentos pode-se apreender de modo geral um entendimento da
educaccedilatildeo como direito fundamental de todos independentemente das diferenccedilas
individuais No que se refere agrave poliacutetica e agraves diretrizes brasileiras relacionadas agrave
Educaccedilatildeo Especial e ao Atendimento Educacional Especializado nota-se um foco
no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
preferencialmente na Rede Municipal de Ensino Supotildee-se que instituir
possibilidades de discussatildeo dos documentos acima referidos juntamente com o
coletivo escolar eacute fundamental para a compreensatildeo da EE e do AEE assim como as
formas de viabilizaacute-los
Embora as leis sejam importantes elas se configuram como um documento
orientador da poliacutetica Contudo a forma como acontece sua materializaccedilatildeo eacute
permeada tambeacutem pelos interesses dominantes na sociedade e pela compreensatildeo
de cada equipe diretiva e os profissionais da educaccedilatildeo os quais satildeo responsaacuteveis
pela sua organizaccedilatildeo e materializaccedilatildeo no acircmbito escolar
Para avanccedilar na compreensatildeo do atendimento educacional especializado e
sua relaccedilatildeo com a equipe diretiva escolar acredita-se que pode ser esclarecedor
explicar de forma breve a Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 42009 e o Decreto 76112011 A
referida Resoluccedilatildeo que regulamenta as Diretrizes Operacionais para o Atendimento
Educacional Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica enfatiza que a elaboraccedilatildeo e a
execuccedilatildeo do plano de AEE eacute de competecircncia do professor da sala de recursos
multifuncionais ―em articulaccedilatildeo com os professores do ensino regular com a
participaccedilatildeo das famiacutelias e em interface com os demais serviccedilos setoriais da sauacutede
da assistecircncia social entre outros necessaacuterios ao atendimento (BRASIL 2009 p
2)
Ainda que o professor atuante no AEE seja responsaacutevel por elaborar e
executar o plano desse atendimento compreende-se que a equipe diretiva ao
participar dessa construccedilatildeo pode propiciar um suporte e uma integraccedilatildeo do plano
do AEE com o projeto poliacutetico-pedagoacutegico da escola aleacutem de se perceber como um
11 Aleacutem desses documentos ainda se destaca o Decreto 76112011 que reitera os princiacutepios da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) no que concerne o AEE a Lei 131462015 que instituiu a Lei Brasileira de Inclusatildeo da Pessoa com Deficiecircncia e o Estatuto da Pessoa com Deficiecircncia que reafirma o exposto no Decreto 76112011 sobre o AEE e daacute outras providecircncias
36
dos protagonistas imprescindiacuteveis para o processo de escolarizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial
Nesse sentido Vioto (2013) enfatiza que para a realizaccedilatildeo do AEE no espaccedilo
escolar eacute importante haver adequaccedilotildees natildeo soacute na acessibilidade arquitetocircnica
pedagoacutegica e de recursos humanos mas principalmente quebra de barreiras
atitudinais12 da gestatildeo e dos demais profissionais da escola
[] sabemos que sem mudanccedila de postura dos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao processo de ensino junto aos alunos com NEE na sala de aula do ensino regular natildeo haacute como desenvolver o processo de aprendizagem dos referidos alunos Logo para que ocorra essa mudanccedila faz-se necessaacuteria a conscientizaccedilatildeo de todos os envolvidos no processo educacional inclusivo de que os alunos independentemente de suas NEE possuem caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e que dentro do processo de aprendizagem estas devem ser levadas em consideraccedilatildeo (VIOTO 2013 p78)
A autora supracitada ressalta que para elaborar um planejamento pedagoacutegico
que contribua com a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos sistematizados e produzidos
historicamente por parte dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial um
caminho eacute reconhecer suas especificidades e considerar as suas potencialidades
pois focar nas suas limitaccedilotildees culminaria em um planejamento limitado privando o
estudante de seu direito de aprender e desenvolver sua autonomia Nesse sentido
enfatiza-se a responsabilidade da equipe diretiva escolar para que a escola consiga
realizar sua funccedilatildeo pensando na formaccedilatildeo integral do aluno com e sem deficiecircncia
[] uma escola organizada para assegurar a apropriaccedilatildeo de conhecimentos habilidades valores atitudes por meio do processo ensino aprendizagem que visa o desenvolvimento cognitivo afetivo dos alunos [] capaz de articular no seu curriacuteculo e em suas praacuteticas pedagoacutegico-didaacuteticas a formaccedilatildeo cultural e cientiacutefica [] Nessa escola o papel da organizaccedilatildeo e gestatildeo eacute propiciar o ambiente social necessaacuterio e as condiccedilotildees institucionais humanas materiais para a realizaccedilatildeo do processo ensino-aprendizagem Ou seja diretores coordenadores pedagoacutegicos e professores tecircm a responsabilidade profissional e eacutetica de fazerem funcionar na escola praacuteticas de organizaccedilatildeo e gestatildeo que sejam propulsoras de um determinado tipo de aprendizagem aquela que promove e amplia o desenvolvimento
12
Silva (2012 p 14 e 15) apoiada em Lima e Tavares (2007) explicita que ―[] as barreiras atitudinais satildeo barreiras sociais geradas mantidas fortalecidas por meio de accedilotildees omissotildees e linguagens produzidas ao longo da histoacuteria humana num processo tridimensional o qual envolve cogniccedilotildees afetos e accedilotildees contra a pessoa com deficiecircncia ou quaisquer grupos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade resultando no desrespeito ou impedimento aos direitos dessas pessoas limitando-as ou incapacitando-as para o exerciacutecio de direitos e deveres sociais satildeo abstratas para quem as produz e concretas para quem sofre seus efeitos
37
intelectual e o desenvolvimento integral dos alunos (LIBAcircNEO 2015 p 13)
A organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar realizada pela equipe diretiva de uma forma
como a supracitada pode ser compreendida como um trabalho que rompe com o
comumente realizado Trata-se de uma forma de gestatildeo e que se configura como
um processo coletivo e contextualizado que requer condiccedilotildees objetivas e subjetivas
que sustentem a sua construccedilatildeo Sobre isso Lira (2012 p 106) salienta que se tem
―visto que as condiccedilotildees que se apresentam no cotidiano escolar tecircm favorecido para
que se mantenham presentes as praacuteticas estanques separadas com poucas
referecircncias de compartilhamento de trocas entre os profissionais Nesse sentido
romper com essa loacutegica eacute um desafio coletivo no qual se vislumbra o importante
papel da equipe diretiva escolar que tanto pode contribuir para manter essa loacutegica
individualizada de praacuteticas pedagoacutegica estanques e individualizadas no interior da
escola como tambeacutem pode favorecer a instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos para
discutir e refletir sobre as praacuteticas pedagoacutegicas e suas implicaccedilotildees no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes Assim a instituiccedilatildeo de uma gestatildeo democraacutetica no
entanto pode ser um caminho para possibilitar trocas e compartilhamentos fazendo
circular novas formas de se fazer a gestatildeo escolar Paro (2016a) salienta ainda que
a gestatildeo democraacutetica dentre outros fatores implica na participaccedilatildeo de todos os
envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes nas decisotildees sobre os
objetivos e funcionamento da escola o que pode culminar dessa forma em
melhores condiccedilotildees para reivindicar junto ao Estado os recursos necessaacuterios para
viabilizar as accedilotildees no acircmbito escolar
No que tange portanto agrave equipe diretiva frente ao processo de
implementaccedilatildeo do AEE identifica-se um papel fundamental dessa dentre outros
aspectos no tocante agrave formaccedilatildeo continuada dos profissionais na construccedilatildeo
coletiva do projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola na proposiccedilatildeo de momentos de
discussatildeo das questotildees pertinentes ao processo de escolarizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial
No proacuteximo capiacutetulo se apresentaraacute um balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica
brasileira concernente agrave temaacutetica ―gestatildeo escolar e Atendimento Educacional
Especializado referente ao periacuteodo de 2011 a 2015
38
14 A produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre Gestatildeo Escolar e Atendimento
Educacional Especializado um campo a explorar
O mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica teve como objetivo conhecer as
pesquisas que tenham abordado a temaacutetica da gestatildeo escolarequipe diretiva
escolar em relaccedilatildeo ao AEE Para tanto realizou-se uma pesquisa em quatro bases
de dados 1) ANPEd (Associaccedilatildeo Nacional de Pesquisadores em Educaccedilatildeo mais
especificamente no GT 15 ndash Educaccedilatildeo Especial) 2) CAPES (Banco de Teses e
Dissertaccedilotildees da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior) 3)
BDTD (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaccedilotildees) e 4) SciELO (Biblioteca
Cientiacutefica Eletrocircnica Online)13
A busca utilizou primeiramente os descritores ―equipe diretiva e ―AEE
Contudo nenhuma produccedilatildeo foi encontrada Com isso optou-se por construir
descritores14 que se aproximassem do tema proposto como ―gestatildeo escolar
―supervisor educacional ―orientador educacional ―diretor educacional e
―coordenaccedilatildeo pedagoacutegica como referecircncia para listar a produccedilatildeo cientiacutefica na aacuterea
de Educaccedilatildeo sendo que as expressotildees foram pesquisadas no campo palavras-
chave
A tabela a seguir mostra os resultados das buscas realizadas nas referidas
bases de dados No total foram encontrados cinco trabalhos sobre a temaacutetica no
periacuteodo considerado (2011 a 2015) dos quais dois referiram-se especificamente agrave
gestatildeo escolar e AEE dois agrave supervisatildeo educacional e a coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e
AEE e um sobre sala de apoio pedagoacutegico e coordenaccedilatildeo pedagoacutegica
Tabela 1 ndash Mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Fonte Expressotildees Pesquisadas Resultado Geral
ANPEd Nacional
(GT 15)
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial
Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva gestatildeo escolar + AEE
gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE
2
14
Na Tabela 1 satildeo especificados todos os descritores utilizados neste balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica
39
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
BDTD
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE
Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva
gestatildeo escolar + AEE gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
1
CAPES
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE
Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva
gestatildeo escolar + AEE gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
2
SciELO
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial
Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva gestatildeo escolar + AEE
gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
0
40
inclusatildeo
diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE diretor +educaccedilatildeo especial
diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva supervisor Educacional + AEE
supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo orientador Educacional +educaccedilatildeo especial
orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva orientador Educacional + AEE
Total 05
Fonte Primaacuteria (2016)
O resultado da pesquisa demonstrou uma baixa quantidade de trabalhos que
abrangessem a temaacutetica revelando a ―gestatildeo escolar e o AEE como um campo de
estudos e pesquisas ainda a ser explorado Dentre os cinco trabalhos encontrados
dois corresponderam a artigos e trecircs a dissertaccedilotildees de mestrado Na tabela a
seguir estatildeo descritos os tiacutetulos dos trabalhos bem como seus autores e a
instituiccedilatildeo de ensino em que foram produzidos
Tabela 2 ndash Trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Autor (Ano) Tiacutetulo Tipo de
Trabalho
Instituiccedilatildeo de
Ensino Fonte
Vioto
(2013)
O papel do supervisor pedagoacutegico no processo de inclusatildeo de alunos com
necessidades educacionais especiais uma pesquisa colaborativa
Dissertaccedilatildeo de
Mestrado
Universidade do
Oeste Paulista BDTD
Silveira (2012)
Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o acompanhamento como fator de mudanccedila
Artigo Universidade
Federal do Cearaacute
ANPEd Nacional (GT 15)
Vioto e Vitaliano
(2012)
O papel da gestatildeo pedagoacutegica frente ao processo de inclusatildeo dos alunos com
necessidades educacionais especiais
Artigo Universidade do Oeste Paulista
ANPEd Nacional
(GT 15)
Lira
(2012)
A coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e o processo de inclusatildeo do aluno com necessidades
educacionais especiais um estudo de caso
Dissertaccedilatildeo de
Mestrado
Universidade
Federal do Rio Grande do Norte
CAPES
Santos (2011)
Gestatildeo escolar para uma escola inclusiva conquistas e desafios
Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Universidade do Oeste Paulista
CAPES
Fonte Primaacuteria (2016)
Nota-se que os trabalhos foram produzidos por diferentes instituiccedilotildees de
ensino que abrangem apenas as regiotildees sudeste e nordeste do Brasil
Um ponto que chamou atenccedilatildeo portanto foi a recorrecircncia de pesquisas
publicadas na regiatildeo sudeste do Brasil pela Universidade do Oeste Paulista Tal
recorrecircncia entretanto pode estar vinculada ao fato do programa de mestrado em
41
Educaccedilatildeo da UNOESTE disponibilizar uma linha de pesquisa intitulada Instituiccedilatildeo
Educacional Organizaccedilatildeo e Gestatildeo favorecendo assim a incidecircncia de pesquisas
na aacuterea de gestatildeo escolar
As produccedilotildees acadecircmicas apresentaram em comum uma discussatildeo da
relaccedilatildeo entre um dos profissionais que compotildeem a gestatildeo escolar e a educaccedilatildeo
especialinclusiva com exceccedilatildeo dos estudos de Silveira (2012) e Santos (2011) que
versaram suas discussotildees abordando mais profissionais que constituem a gestatildeo
escolar Pelo fato de que nas pesquisas encontradas somente o estudo de Silveira
(2012) tomou a equipe diretiva como um todo por objeto de estudo considera-se
que esse artigo pode se configurar como mais um avanccedilo na exploraccedilatildeo das
relaccedilotildees entre gestatildeo escolar e AEE pois parte do princiacutepio que a gestatildeo escolar eacute
formada por uma equipe com accedilotildees articuladas no que se refere agrave realizaccedilatildeo desse
atendimento no acircmbito escolar e por isso se propotildee a estudar essa gestatildeo a partir
do conjunto de profissionais (diretor supervisorcoordenador e orientador) que a
compotildeem Na Tabela 3 a seguir satildeo especificados os objetivos dos trabalhos
mapeados
Tabela 3 ndash Objetivos dos trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Autor
(Ano) Tiacutetulo Objetivo do Trabalho
Vioto
(2013)
O papel do supervisor pedagoacutegico no processo de inclusatildeo de alunos com
necessidades educacionais especiais uma pesquisa colaborativa
Desenvolver um processo de intervenccedilatildeo junto agrave Supervisatildeo Pedagoacutegica de uma escola Municipal de Londrina que ofereccedila Ensino Fundamental I com vistas a favorecer o
processo de inclusatildeo de alunos com NEE no ensino regular por meio de uma pesquisa colaborativa
Silveira
(2012)
Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o
acompanhamento como fator de mudanccedila
Apresentar elementos de uma pesquisa desenvolvida em uma escola puacuteblica da rede municipal de uma capital do Nordeste Buscamos evidenciar as caracteriacutesticas da gestatildeo
da escola e aplicar estrateacutegias de acompanhamento visando agrave transformaccedilatildeo das praacuteticas de gestatildeo
Vioto e
Vitaliano (2012)
O papel da gestatildeo pedagoacutegica
frente ao processo de inclusatildeo dos alunos com necessidades educacionais especiais
Contribuir para a reflexatildeo sobre o papel do gestor
pedagoacutegico frente ao processo de construccedilatildeo de escolas inclusivas
Lira
(2012)
A coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e o processo de inclusatildeo do aluno
com necessidades educacionais especiais um estudo de caso
Centrar no papel coordenaccedilatildeo pedagoacutegica em face
da inclusatildeo escolar de alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE)
Santos
(2011)
Gestatildeo escolar para uma escola inclusiva conquistas e
desafios
Identificar as accedilotildees desenvolvidas pela gestatildeo escolar com vistas a construir uma escola inclusiva em uma escola
puacuteblica
Fonte Primaacuteria (2016)
42
Partindo dos objetivos das produccedilotildees acadecircmicas buscou-se extrair delas
algumas compreensotildees consideradas pertinentes ao presente estudo Para isso as
referidas produccedilotildees foram organizadas em duas sessotildees de anaacutelise
A primeira sessatildeo de anaacutelise integra duas pesquisas sobre a gestatildeo escolar
de autoria de Silveira (2012) e Santos (2011) que se debruccedilaram sobre o papel da
gestatildeo escolar na constituiccedilatildeo de uma escola inclusiva Na pesquisa de Silveira
(2012) um artigo resultante de sua tese de doutorado defendida em 2009 analisou
a atuaccedilatildeo do grupo gestor (diretor(a) supervisor (a) e orientador (a) por meio da
teacutecnica da pesquisa-accedilatildeo colaborativa empreendendo uma intervenccedilatildeo e
acompanhamento de uma escola por um periacuteodo de 28 meses A pesquisa buscou
―evidenciar as caracteriacutesticas da gestatildeo da escola e aplicar estrateacutegias de
acompanhamento visando agrave transformaccedilatildeo das praacuteticas de gestatildeo mudanccedila de
concepccedilotildees e na cultura do acolhimento e da cultura de desenvolvimento
profissional (SILVEIRA 2012 p 1)
A autora ressaltou que ao longo da pesquisa foram perceptiacuteveis os avanccedilos
na escola pesquisada e cita como exemplo a vivecircncia de uma
[] nova perspectiva de atendimento [que] provocou aleacutem do acolhimento do estudante com deficiecircncia uma tomada de consciecircncia da forma de organizaccedilatildeo e gestatildeo da escola bem como da inadequaccedilatildeo dos meacutetodos pedagoacutegicos tradicionais O diretor ao assumir a escola natildeo conhecia os pressupostos baacutesicos de uma escola inclusiva Essa era a sua primeira experiecircncia como gestor e era visiacutevel sua inseguranccedila decorrente da falta de experiecircncia no cargo Durante cerca de dois anos e meio na escola pudemos perceber a sua evoluccedilatildeo ou seja ele passa de uma atuaccedilatildeo inicial insegura pouco firme no sentido das tomadas de decisotildees para accedilotildees e posiccedilotildees mais determinadas e coerentes (SILVEIRA 2012 p 4)
Em sua anaacutelise a autora expocircs ainda que o ―acompanhamento e a gestatildeo
compartilhada satildeo beneacuteficos sendo essencial que os membros da escola busquem
cada vez mais o aperfeiccediloamento de praacuteticas de colaboraccedilatildeo (SILVEIRA 2009 p
8) Salientou ainda que para colocar em praacutetica uma gestatildeo escolar que leve em
conta a construccedilatildeo de uma escola pautada em princiacutepios democraacutetico-participativos
eacute preciso pensar em programas de formaccedilatildeo de gestores que se encaminhem para
aleacutem dos programas tradicionais de formaccedilatildeo burocraacutetica investindo em um
trabalho colaborativo no acircmbito escolar
43
Contudo sabendo que as transformaccedilotildees percebidas ocorreram em parte
mediante acompanhamento e momentos de formaccedilatildeo propostos pela pesquisadora
com a equipe gestora e professores evidencia-se a importacircncia da formaccedilatildeo
continuada em serviccedilo que contribua para a praacutetica escolar reflexiva e para o
desenvolvimento da autonomia dos gestores escolares de modo que possam criar
condiccedilotildees para praacuteticas democraacuteticas-participativas no acircmbito escolar
A pesquisa de Santos (2011) por sua vez se propocircs a identificar as accedilotildees
desenvolvidas pela gestatildeo escolar (diretor (a) vice-diretor(a) e coordenador(a)
pedagoacutegico) na constituiccedilatildeo do serviccedilo de Educaccedilatildeo Especial na escola A autora
evidenciou que a efetivaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial no acircmbito da escola pesquisada
ainda se mostrava um desafio uma vez que os gestores pesquisados natildeo tinham
definido o conceito e os princiacutepios que orientariam tal proposta bem como
―apresentaram praacuteticas de gestatildeo escolar para a Educaccedilatildeo Especial pontuais
isoladas e natildeo estando fundamentadas organizadas ou planejadas nas diretrizes
gerais da escola (SANTOS 2011 p 79) Os resultados de seu estudo convidam agrave
reflexatildeo sobre a importacircncia de se conhecer as concepccedilotildees da equipe diretiva
acerca das propostas de Educaccedilatildeo Especial e como tais concepccedilotildees se articulam
com sua forma de trabalho
Na segunda seccedilatildeo de anaacutelise da tabela 3 se localizam os trabalhos que
discutiram o papel do(a) CoordenadorSupervisor(a) Pedagoacutegico frente ao processo
de construccedilatildeo de uma proposta de Educaccedilatildeo Inclusiva Entre esses estatildeo as
pesquisas de Vioto e Vitaliano (2012) Lira (2012) e Vioto (2013) Aleacutem do objeto de
estudo evidenciou-se outro ponto em comum que eacute a defesa da potecircncia do
trabalho colaborativo na escola para o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Vioto e Vitaliano (2012) realizaram uma pesquisa bibliograacutefica com o objetivo
de contribuir para a reflexatildeo sobre o papel do coordenador pedagoacutegico frente ao
processo de construccedilatildeo de escolas inclusivas Como resultado as autoras inferem
que para a constituiccedilatildeo de uma escola inclusiva o coordenador pedagoacutegico tem
atribuiccedilotildees importantes a serem desenvolvidas no acircmbito escolar como auxiliar os
professores no desenvolvimento de metodologias e estrateacutegias de ensino
diferenciadas que favoreccedila o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial Aleacutem disso estaacute entre suas atribuiccedilotildees possibilitar
momentos de formaccedilatildeo e reflexatildeo em relaccedilatildeo agraves praacuteticas pedagoacutegicas de modo
44
que todos os profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
possam ―participar na definiccedilatildeo dos objetivos no planejamento bem como na
elaboraccedilatildeo de propostas e planos de accedilatildeo que possibilite a quebra das barreiras
que estejam impedindo o processo de aprendizagem (VIOTO E VITALIANO 2012
p 14)
A pesquisa de Lira (2012) por sua vez teve como objetivo investigar a
atuaccedilatildeo dos coordenadores pedagoacutegicos no processo de inclusatildeo dos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial A autora identificou em sua pesquisa que os
coordenadores pedagoacutegicos assumiam uma rotina na escola de resoluccedilatildeo de
problemas urgentes e emergentes como falta de profissionais de condiccedilotildees fiacutesicas
estruturais e materiais precarizando a realizaccedilatildeo de suas funccedilotildees Demandas como
essas podem desfavorecer a atuaccedilatildeo do coordenador (a) pedagoacutegico(a) com os
professores e demais especialistas visto que esse profissional passa a voltar-se
mais a demandas burocraacuteticas secundarizando os demais aspectos como o
pedagoacutegico
Assim as atribuiccedilotildees pertinentes ao(agrave) Coordenador(a) Pedagoacutegico(a) como
o auxiacutelio aos professores o planejamento de momentos formativos compara os
professores e a elaboraccedilatildeo de forma coletiva do projeto-politico pedagoacutegico da
instituiccedilatildeo dentre outras satildeo desvirtuadas de seu propoacutesito comprometendo a
constituiccedilatildeo de um trabalho colaborativo dialoacutegico e reflexivo dentro do espaccedilo
escolar
Jaacute Vioto (2013) em seu estudo se pautou na metodologia de pesquisa
colaborativa e realizou uma intervenccedilatildeo direta na escola auxiliando-a na construccedilatildeo
de um trabalho colaborativo o qual resultou em uma reestruturaccedilatildeo das relaccedilotildees
construiacutedas na escola Como colocou a autora
[] os resultados evidenciaram que a supervisora pedagoacutegica e a maioria dos professores inicialmente apresentavam concepccedilotildees equivocadas a respeito do processo de inclusatildeo o qual foi trabalhado em ciclos de estudos conversas reflexivas e atuaccedilotildees colaborativas envolvendo pesquisadora e os participantes Tambeacutem foram discutidos o papel do professor de apoio e da sala de recursos junto agrave supervisora pedagoacutegica e as praacuteticas pedagoacutegicas dos professores em sala de aula As experiecircncias e reflexotildees proporcionadas por esta pesquisa nos permitiram constatar e reafirmar a importacircncia do trabalho do supervisor pedagoacutegico no que se refere agrave organizaccedilatildeo da escola inclusiva bem como as contribuiccedilotildees do trabalho colaborativo como meio de formaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo [] (VIOTO 2013 p 07)
45
O trabalho colaborativo realizado entre pesquisadora e profissionais da escola
por meio de experiecircncias e reflexotildees remeteu agrave constataccedilatildeo desse como um
aspecto importante a se considerar ao refletir sobre o papel da gestatildeo escolar frente
ao processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Pode-se pensar nesse sentido que o trabalho colaborativo emerge como um dos
meios para que o vieacutes democraacutetico-participativo da gestatildeo proposto nos documentos
oficiais seja vivenciado no cotidiano escolar
Garcia Hypoacutelito e Vieira (2005) fazem um contraponto agraves possibilidades do
trabalho colaborativo na escola o qual pode ser instituiacutedo tambeacutem de forma
perversa de modo a conformar praacuteticas no interior da escola Sobre esse aspecto de
entendimento os autores explicam ainda que
[] muitas vezes essas praacuteticas de colaboraccedilatildeo podem ser colonizadas e controladas pelas burocracias educacionais tornando tais praacuteticas uma verdadeira ―camisa-de-forccedila ora pela imposiccedilatildeo de formas colegiadas de trabalho ora por procedimentos burocraacuteticos que satildeo a proacutepria antiacutetese de um profissionalismo autocircnomo (GARCIA HYPOacuteLITO E VIEIRA 2005 p50)
Assim haacute que se pensar o trabalho colaborativo de forma contextualizada
considerando suas possibilidades e contradiccedilotildees Como alerta Paro (2016a p55)
natildeo se pode esperar por condiccedilotildees excelentes de trabalho proporcionarem por si
soacute ―a ocorrecircncia de relaccedilotildees democraacuteticas e colaborativas da mesma forma natildeo haacute
como ignorar que a ausecircncia dessas condiccedilotildees pode contribuir para o retardamento
de mudanccedilas que favoreccedilam o estabelecimento de tais relaccedilotildees
Perante o exposto o desafio posto agraves equipes diretivas eacute conseguir constituir
um trabalho dentro dos espaccedilos escolares envolvendo a participaccedilatildeo dos
professores e demais profissionais pais e estudantes na constituiccedilatildeo dos objetivos
e nos processos decisoacuterios da instituiccedilatildeo como forma de obter melhores condiccedilotildees
para pleitear junto aos sistemas de ensino os recursos necessaacuterios para a
realizaccedilatildeo das accedilotildees dentro da escola
Nesse sentido a questatildeo do trabalho colaborativo e participativo as
condiccedilotildees objetivas de trabalho e as concepccedilotildees acerca de questotildees que envolvem
a Educaccedilatildeo Especial surgem como pontos de tensatildeo relevantes e cuja discussatildeo
pode contribuir para o que esta pesquisa se propotildee a investigar as compreensotildees
das equipes diretivas escolares sobre Atendimento Educacional Especializado e
suas formas de viabilizaacute-lo
46
2 PROCESSO DE CONSTITUICcedilAtildeO DA PESQUISA CAMINHOS TRACcedilADOS E PERCORRIDOS
Com o objetivo de Investigar as compreensotildees das equipes diretivas
escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado e suas formas de
viabilizaacute-lo na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute realizou-se uma pesquisa de
abordagem qualitativa que tem como fundamento alguns pressupostos da base
epistecircmico-metodoloacutegica do materialismo histoacuterico e dialeacutetico que ―[] percebe os
sujeitos como histoacutericos datados concretos marcados por uma cultura como
criadores de ideias e consciecircncia que ao produzirem e reproduzirem a realidade
social satildeo ao mesmo tempo produzidos e reproduzidos por ela (FREITAS 2002 p
22)
A partir dessa perspectiva de sujeito a abordagem qualitativa mostrou-se
profiacutecua para alcanccedilar os objetivos da pesquisa uma vez que nela se ―[] busca a
interpretaccedilatildeo em lugar da mensuraccedilatildeo a descoberta em lugar da constataccedilatildeo []
[levando] em conta todos os componentes de uma situaccedilatildeo em suas interaccedilotildees e
influecircncias reciprocas (GATTI e ANDREacute 2013 p 30) Ressalta-se ainda que
[] as pesquisas chamadas de qualitativas vieram a se constituir em uma modalidade investigativa que se consolidou para responder ao desafio da compreensatildeo dos aspectos formadoresformantes do humano de suas relaccedilotildees e construccedilotildees culturais em suas dimensotildees grupais comunitaacuterias ou pessoais (GATTI e ANDREacute 2013 p 30)
Utilizar a abordagem qualitativa para a execuccedilatildeo de uma pesquisa nesse
sentido implica considerar tanto os dados obtidos na investigaccedilatildeo quanto o
contexto em que esses dados satildeo produzidos procurando compreender os aspectos
histoacuterico-sociais tendo em vista as especificidades e a natildeo neutralidade do
pesquisador (LUumlDKE e ANDREacute 2013)
47
21 Os caminhos da pesquisa local participantes e instrumentos
Com relaccedilatildeo ao local de realizaccedilatildeo da pesquisa foi escolhida a Rede
Municipal de Ensino de Camboriuacute muniacutecipio localizado no litoral norte de Santa
Catarina com uma populaccedilatildeo aproximada de 74434 habitantes (IBGE 2015)
Essa Rede eacute gerenciada pela Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo e atualmente
atende aos seguintes niacuteveis de ensino Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e
Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos ndash EJA
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais de 2015 o nuacutemero total de alunos matriculados na Rede Municipal de
Ensino em 2015 eacute de 10401 estudantes (INEP 2015)
O caminho percorrido no processo de coleta de dados envolveu
primeiramente a realizaccedilatildeo de uma reuniatildeo com a Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo
e a Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria de Educaccedilatildeo de Camboriuacute com o
objetivo de levantar informaccedilotildees consideradas relevantes para a constituiccedilatildeo da
pesquisa como o nuacutemero total de escolas municipais o nuacutemero de escolas que
ofertam o AEE e a composiccedilatildeo da equipe gestora da escola
Os dados obtidos na reuniatildeo apontaram que a Rede Municipal de Ensino de
Camboriuacute contava em 2015 com 12 escolas urbanas e 03 escolas de campo
Em relaccedilatildeo agrave equipe gestora foco desta pesquisa informou-se que era
composta na maioria das escolas pelo(a) diretor(a) supervisor(a) e orientador(a)
Na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute a oferta do Atendimento
Educacional Especializado teve seu iniacutecio em 2013 e portanto pode-se dizer que se
trata de um serviccedilo recente que estaacute em processo de constituiccedilatildeo no municiacutepio
Em relaccedilatildeo aos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial a
Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo informou que foram
matriculados em 2015 166 estudantes em classes comuns nas escolas municipais
da Rede Assim ao consultar a base de dados do INEP de 2015 identificou-se um
nuacutemero de 182 estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial matriculados na
referida Rede observando uma diferenccedila de 16 estudantes
Ao comparar os dados fornecidos pelo INEP referentes ao ano de 2015
(INEP 2015) no que tange ao nuacutemero de matriacuteculas na Educaccedilatildeo Especial (182) na
Rede Municipal de Camboriuacute com os dados relativos ao total de matriculas (10401)
48
pocircde-se constatar que o percentual de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo
Especial correspondeu no referido ano a 2 do nuacutemero total de alunos
matriculados nessa Rede
Considerando esse dado para a seleccedilatildeo dos participantes estabeleceram-se
quatro criteacuterios de inclusatildeo de acordo com os quais a equipe diretiva deveria
1) Ser composta por diretor(a) escolar supervisor(a)coordenador(a)
pedagoacutegico e orientador(a) educacional
2) Atuar na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute
3) Atuar em escola com estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
4) Ter o questionaacuterio respondido por todos os seus integrantes
A partir dessas informaccedilotildees elaborou-se o projeto desta pesquisa e em
consonacircncia com os objetivos deste estudo escolheu-se um instrumento de coleta
de dados que pudesse contribuir com o processo de compreensatildeo da relaccedilatildeo entre
a equipe diretiva e o Atendimento Educacional Especializado
Para a coleta de dados junto agrave equipe diretiva optou-se pelo questionaacuterio
que conforme Gil (1999 p 128) pode ser definido
[] como a teacutecnica de investigaccedilatildeo composta por um nuacutemero mais ou menos elevado de questotildees apresentadas por escrito agraves pessoas tendo por objetivo o conhecimento de opiniotildees crenccedilas sentimentos interesses expectativas situaccedilotildees vivenciadas etc
A escolha do questionaacuterio como instrumento de coleta de dados converge
com a busca por dados mais abrangentes capilarizados que ajudem a tirar uma
foto da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute no que tange agrave relaccedilatildeo entre equipe
diretiva e o AEE
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do projeto marcou-se uma segunda reuniatildeo para
apresentaacute-lo agraves coordenadoras da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo que leram o
projeto e relataram que o referido estudo se apresentava como uma forma de a
Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo compreender o que precisa ser potencializado e o
que se mostra como exemplo positivo no que tange agrave gestatildeo escolar e o AEE
A Coordenadora Geral da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo representando a
Secretaacuteria de Educaccedilatildeo se mostrou favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo do projeto assinando o
Termo de Consentimento de Instituiccedilatildeo Coparticipante (Anexo I) Posteriormente a
pesquisadora inscreveu o projeto de pesquisa na Plataforma Brasil que foi
apreciado e aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da Universidade da Regiatildeo
49
de Joinville sob o Parecer Consubstanciado nordm 1223204 de 11 de setembro de
2015 (Anexo II) que atendeu ao descrito na Resoluccedilatildeo Nordm 4662012 (CONSELHO
NACIONAL DE SAUacuteDE 2012)
Realizou-se entatildeo uma terceira visita agraves coordenadoras da Secretaria
Municipal de Educaccedilatildeo para obter a autorizaccedilatildeo para a aplicaccedilatildeo piloto do
questionaacuterio elaborado para coleta de dados Solicitou-se agraves coordenadoras nesse
encontro a indicaccedilatildeo de duas escolas municipais de ensino fundamental do 1ordm ao 9ordm
ano para iniciar a realizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo do preacute-teste do instrumento da pesquisa
nesse caso o questionaacuterio Acredita-se que a aplicaccedilatildeo do preacute-teste em duas
escolas poderia conferir mais seguranccedila quanto agrave aplicaccedilatildeo do instrumento nas
demais escolas Nesse sentido o preacute-teste eacute considerado essencial uma vez que
pode contribuir para melhorar o instrumento de coleta de dados a partir de
sugestotildees dos proacuteprios participantes
De posse do nome das 2 escolas indicadas pelas coordenadoras da
Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute iniciou-se o contato junto agraves
escolas para agendar uma visita para explanaccedilatildeo da pesquisa e aplicaccedilatildeo do
instrumento utilizado para a coleta de dados um questionaacuterio autoaplicaacutevel
constituiacutedo por 27 questotildees sendo 11 perguntas abertas e 10 perguntas abertas e
fechadas e 06 perguntas fechadas
Ao chegar nas escolas a pesquisadora era encaminhada agrave sala da direccedilatildeo e
com a presenccedila do(a) direitor(a) supervisor(a) e orientador(a) iniciava a explicaccedilatildeo
sobre a pesquisa e o objetivo da preacute-testagem do questionaacuterio salientando que esse
era um momento importante para os participantes contribuiacuterem com o
aperfeiccediloamento do instrumento apontando possiacuteveis inconsistecircncias ou
necessidade de retirar acrescentar ou modificar alguma informaccedilatildeo Contudo ao
finalizar a aplicaccedilatildeo da preacute-testagem do questionaacuterio (Anexo II) foi evidenciado
pelos participantes que natildeo havia necessidade de alteraccedilotildees assim essas duas
escolas foram incluiacutedas na pesquisa
Diante disso prosseguiu-se com a efetiva aplicaccedilatildeo do questionaacuterio nas
demais escolas durante os meses de outubro e novembro de 2015 totalizando uma
abrangecircncia de 11 escolas municipais urbanas15 Assim das 12 escolas urbanas
15
O municiacutepio de Camboriuacute possui 12 escolas urbanas e 03 de Campo Uma escola urbana natildeo conseguiu responder ao questionaacuterio E nas 03 escolas municipais de campo os questionaacuterios natildeo foram aplicados pois a Coordenadora de Inclusatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo informou que
50
pesquisadas apenas 1 ficou sem responder ao questionaacuterio devido agraves demandas
de final de ano letivo O agendamento das visitas agraves escolas foi realizado via contato
telefocircnico com o(a) diretor(a) e durante as visitas primeiramente explanou-se a
pesquisa para o(a) diretor(a) para em seguida deixar os envelopes que continham
os questionaacuterios combinando com o(a) diretor(a) o prazo de uma semana para
buscaacute-los Dentro do envelope estava anexa ao questionaacuterio uma carta agrave equipe
diretiva (Anexo I) convidando a participar da pesquisa bem como uma coacutepia do
TCLE (Anexo III) destacando o caraacuteter voluntaacuterio e sigiloso da pesquisa
explicitando que os questionaacuterios respondidos ficariam sob a guarda e a
responsabilidade da pesquisadora por um periacuteodo de cinco anos sendo apoacutes esse
prazo descartados
Em cada escola que a pesquisadora se dirigia para buscar os questionaacuterios
tomava o cuidado de realizar a conferecircncia do preenchimento do TCLE junto ao
questionaacuterio respondido
Observou-se ainda que das 11 escolas participantes em somente 07 todos
os integrantes da equipe diretiva responderam ao questionaacuterio Nas demais
evidenciou-se que pelo menos um dos integrantes natildeo havia respondido Dessa
forma atenderam ao criteacuterio de inclusatildeo desta pesquisa somente 07 escolas cuja
equipe diretiva completa respondeu ao questionaacuterio
Em siacutentese foram aplicados 36 questionaacuterios sendo 32 respondidos poreacutem
apenas 22 foram considerados vaacutelidos de acordo com os criteacuterios de inclusatildeo desta
pesquisa Nessa direccedilatildeo foram computados para a anaacutelise de dados as respostas
de um total de 22 participantes sendo 07 diretores(as) 08 supervisores(as) 07
orientadores(as) A seguir seraacute detalhada a trajetoacuteria seguida no processo de
anaacutelise dos dados coletados
22 Seguindo o itineraacuterio organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados
O processo de anaacutelise das respostas obtidas nos questionaacuterios aplicados foi
baseado na Anaacutelise de Conteuacutedo (BARDIN 1977 FRANCO 2012) Para Franco
(2012 p23) a anaacutelise de conteuacutedo eacute ―um procedimento de pesquisa que se situa
estas escolas natildeo tinham a sala de recursos multifuncionais e tampouco estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
51
em um delineamento mais amplo da teoria da comunicaccedilatildeo e tem como ponto de
partida a mensagem A autora enfatiza ainda que
[] as mensagens expressam as representaccedilotildees sociais na qualidade de elaboraccedilotildees mentais construiacutedas socialmente a partir da dinacircmica que se estabelece entre a atividade psiacutequica do sujeito e o objeto do conhecimento Relaccedilatildeo que se daacute na praacutetica social e histoacuterica da humanidade e que se generaliza na linguagem [] a anaacutelise de conteuacutedo assenta-se nos pressupostos de uma concepccedilatildeo criacutetica e dinacircmica da linguagem Linguagem aqui entendida como uma construccedilatildeo real de toda a sociedade e como expressatildeo da existecircncia humana que em diferentes momentos histoacutericos elabora e desenvolve representaccedilotildees sociais no dinamismo interacional que se estabelece entre linguagem pensamento e accedilatildeo (FRANCO 2012 p 12-13)
A partir da exposiccedilatildeo da autora pode-se compreender que na anaacutelise de
conteuacutedo considera-se aleacutem das mensagens impliacutecitas e expliacutecitas o contexto
histoacuterico no qual seus produtores estatildeo inseridos
De posse dos 22 questionaacuterios vaacutelidos seguiu-se com a transcriccedilatildeo das
respostas para uma planilha de Excel organizando-as de duas formas por escola e
por questatildeo As que foram efetivamente utilizadas foram as planilhas organizadas
por questatildeo pois se considerou que propiciavam uma visualizaccedilatildeo mais clara
A identificaccedilatildeo dos respondentes foi realizada por meio de coacutedigos formados
por letras e nuacutemeros As escolas foram representadas por nuacutemeros de 1 a 7 Jaacute os
profissionais da equipe diretiva foram identificados por letras ―EDd para referir-se agrave
fala do(a) diretor(a) ―EDs do(a) supervisor(a) e ―EDo do(a) orientador(a) Para
uma melhor compressatildeo exemplifica-se ―ED1s refere-se a(o) Supervisor(a) da
Escola 1 ―ED4d ao(a) Diretor(a) da Escola 4 e assim por diante
Para as questotildees fechadas do questionaacuterio foram elaborados graacuteficos e
caacutelculos de porcentagem para auxiliar na compreensatildeo do perfil dos participantes
que pode ser conferido no capiacutetulo seguinte que versa sobre a caracterizaccedilatildeo dos
participantes da pesquisa Jaacute para as questotildees abertas optou-se por realizar uma
anaacutelise sem o apoio dos graacuteficos mas sim de quadros em sua maioria procurando
ilustrar e focalizar a articulaccedilatildeo das respostas obtidas com as teorias existentes
Diante do exposto a anaacutelise de dados dessa pesquisa ocorreu por meio de
uma leitura minuciosa dos dados para observar possiacuteveis recorrecircncias
contradiccedilotildees e complementaridades a fim de constituir os primeiros indicadores de
anaacutelise A partir desses indicadores foram criadas as categorias de anaacutelise sem
deixar de considerar para sua elaboraccedilatildeo os pontos relevantes apontados por outras
52
pesquisas e pela teoria e que eventualmente tenham sido silenciados pelos
participantes da pesquisa Esse eacute um processo longo e trabalhoso mas como
destaca Franco (2012 p 59) a criaccedilatildeo de categorias eacute ―o ponto crucial da anaacutelise
de conteuacutedo Ainda segundo a autora ―a categorizaccedilatildeo eacute uma operaccedilatildeo de
classificaccedilatildeo de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciaccedilatildeo seguida
de um reagrupamento baseado em analogias (FRANCO 2012 p 59) Vale
ressaltar que esse processo de anaacutelise de dados requer visitas constantes agrave teoria e
ao material de anaacutelise buscando as articulaccedilotildees pertinentes A categorizaccedilatildeo dos
dados deste estudo foi realizada a posteriori a partir da construccedilatildeo de indicadores
que estatildeo em consonacircncia com os objetivos desta pesquisa conforme explicitado
no Quadro 1 a seguir
Quadro 1 ndash Categorias de anaacutelise e suas relaccedilotildees com os objetivos da pesquisa
Objetivos da pesquisa
Categorias Indicadores Perguntas do questionaacuterio relacionadas
- Revelar a compreensatildeo da equipe diretiva escolar acerca do serviccedilo de AEE e do puacuteblico-alvo da EE - Evidenciar o que a equipe diretiva escolar conhece sobre o trabalho do professor do AEE
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
O serviccedilo em si o puacuteblico alvo da EE e o trabalho docente
11 12 13 14 15 19 21 22 e 23
- Identificar os procedimentos que tecircm sido adotados pela equipe diretiva escolar na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
O papel da equipe diretiva Acessibilidade arquitetocircnica Recursos materiais e pedagoacutegicos Se o AEE estaacute comtemplado no Projeto poliacutetico-pedagoacutegico e Desafios na viabilizaccedilatildeo do serviccedilo e formas de superaacute-lo
20 16 17 25 26 e 27
Fonte Primaacuteria (2016)
53
A constituiccedilatildeo desta pesquisa seguiu um processo de estudos dos documentos
oficiais e literaturas relacionadas ao Atendimento Educacional Especializado e agrave
gestatildeo escolar procurando selecionar os aspectos mais relevantes para a
construccedilatildeo da fundamentaccedilatildeo teoacuterica e do percurso de anaacutelise dos questionaacuterios
No proacuteximo capiacutetulo seraacute apresentada a anaacutelise dos dados focalizando a
caracterizaccedilatildeo do perfil dos participantes da pesquisa e em seguida adentra-se nas
categorias de anaacutelise a primeira denominada o que pensam as equipes diretivas
escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado e a segunda as
condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe
diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
54
3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Agrave PARTIR DAS FALAS DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMBORIUacute
Nesta etapa de anaacutelise e discussatildeo dos dados coletados tem-se por objetivo
apresentar as respostas das 22 participantes que compotildeem as equipes diretivas de
7 escolas da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute articulando-as a um
referencial teoacuterico e dialogando com as questotildees de pesquisa mencionadas na
apresentaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo Salienta-se que do processo de anaacutelise de
conteuacutedo dos dados coletados duas categorias emergiram a primeira diz respeito
ao que pensam as equipe diretiva sobre o Atendimento Educacional Especializado
e o puacuteblico-alvo da EE e o professor especializado e a segunda direcionada a
abordar o papel da equipe diretiva na viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional
Especializado
Nesse sentido o presente capiacutetulo foi organizado em trecircs toacutepicos
Apresentaccedilatildeo da equipe diretiva escolar
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento
Educacional Especializado (primeira categoria de anaacutelise)
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da
equipe diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional
Especializado (segunda categoria de anaacutelise)
Acredita-se que apresentar os participantes deste estudo e suas
compreensotildees sobre o AEE e como viabilizaacute-lo pode contribuir para deflagrar o
modo como o AEE vem se constituindo na Rede Municipal de Camboriuacute e o papel
da gestatildeo escolar nesse processo
55
31 Apresentaccedilatildeo das Equipes Diretivas Escolares16
Participaram desta pesquisa 22 profissionais que compotildeem ao todo 7
equipes diretivas escolares sendo 07 Diretores(as) 07 Orientadores(as)
Educacionais e 08 Supervisores(as) Educacionais As questotildees abordadas nesta
apresentaccedilatildeo do perfil dos participantes fazem parte do primeiro eixo do
questionaacuterio e estatildeo relacionadas agraves suas caracteriacutesticas pessoais e profissionais
Como primeira caracteriacutestica destaca-se a questatildeo de gecircnero Dentre os
profissionais que compotildeem a equipe diretiva escolar nas escolas pesquisadas 17
identificaram-se com o gecircnero feminino e 5 com o masculino Analisando a relaccedilatildeo
gecircnero e funccedilatildeo profissional tem-se a seguinte configuraccedilatildeo exposta no Quadro 2
Quadro 2 - Gecircnero dos integrantes da equipe diretiva escolar por funccedilatildeo
Funccedilatildeo Gecircnero Feminino Gecircnero Masculino
Diretor(a) 6 1
Supervisor(a) 6 2
Orientador(a) 5 2
Fonte Primaacuteria (2016)
Ao pesquisar estudos nacionais e internacionais que traccedilassem o perfil dos
integrantes da equipe diretiva escolar foram encontradas duas pesquisas
desenvolvidas pela Fundaccedilatildeo Victor Civita17 (2009 - 2011) A primeira publicada em
2009 traccedilou o perfil de ―diretores escolares brasileiros A segunda datada de
2011 debruccedilou-se sobre o perfil dos ―coordenadores pedagoacutegicos Tambeacutem foi
encontrado um estudo realizado pela Pesquisa Internacional sobre Ensino e
16
Para compor a anaacutelise e discussatildeo deste item seratildeo utilizadas as respostas do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo As referidas questotildees estatildeo dispostas na seguinte ordem 2 Qual sua funccedilatildeo na escola ( ) diretor diretor (a) [] 1Qual seu ano de Nascimento 4 Vocecirc jaacute atuou como professor de sala de aula 5 Quanto tempo 6 Na sua trajetoacuteria como docente teve alguma experiecircncia com estudante com deficiecircncia 3 Qual sua formaccedilatildeo acadecircmica 7 Qual sua carga horaacuteria hoje na funccedilatildeo em que atua na Rede Municipal de Ensino8 Quanto tempo de serviccedilo vocecirc tem na funccedilatildeo em que ocupa atualmente na Rede Municipal de ensino 9 Vocecirc pertence ao quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino 10) Como vocecirc ingressou na funccedilatildeo em que ocupa em sua escolae 18 Vocecirc teve alguma formaccedilatildeo com temas relacionados ao AEE 17
Em 2009 a Fundaccedilatildeo Victor Civita desenvolveu uma pesquisa para traccedilar o ―Perfil dos Diretores de Escola da Rede Puacuteblica O estudo foi realizado com 400 diretores da educaccedilatildeo baacutesica (Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e Ensino Meacutedio) de 13 capitais brasileiras por meio de entrevistas telefocircnicas e um questionaacuterio estruturado e teve como principal objetivo levantar caracteriacutesticas percepccedilotildees e opiniotildees dos diretores escolares brasileiros aleacutem de prover um retrato desse gestor e uma investigaccedilatildeo da sua relaccedilatildeo com a Educaccedilatildeo Jaacute em 2011 a Fundaccedilatildeo Victor Civita encomendou uma pesquisa agrave Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sobre o perfil dos coordenadores pedagoacutegicos (CPs) das escolas puacuteblicas Foram entrevistados 400 CPs de 13 estados brasileiros nas diferentes regiotildees do Brasil
56
Aprendizagem ndash TALIS18 (INEP 2014) que abrangeu o Brasil no estudo sobre o
perfil de ―diretores de educaccedilatildeo baacutesica em 34 paiacuteses No que concerne ao perfil do
orientador educacional nenhuma pesquisa foi encontrada Os dados apresentados
pela Fundaccedilatildeo Victor Civita (2009) apontaram que grande parte dos diretores (80)
satildeo do sexo feminino com idade meacutedia de 46 anos o que estaacute de acordo com os
dados do estudo desenvolvido pela TALIS (INEP 2014) A pesquisa TALIS (INEP
2014) revelou que no Brasil 75 dos diretores satildeo mulheres e tecircm em meacutedia 45
anos de idade preponderando portanto o gecircnero feminino na gestatildeo das escolas
puacuteblicas de ensino fundamental Ainda segundo a TALIS (INEP 2014) nos outros
24 paiacuteses pesquisados esse percentual de mulheres ficou na meacutedia de 49
Em relaccedilatildeo agrave pesquisa sobre o coordenador(a) pedagoacutegico(a) apresentada
pela Fundaccedilatildeo Victor Civita (2011) demonstrou-se que 90 desses profissionais
satildeo mulheres e tecircm em meacutedia 44 anos de idade
Esses dados estatildeo em consonacircncia tambeacutem com as pesquisas realizadas
por Vioto (2013) e Lira (2012) apresentadas no primeiro capiacutetulo da presente
dissertaccedilatildeo Nos referidos estudos constatou-se a predominacircncia do gecircnero
feminino entre os coordenadores pedagoacutegicos pesquisados Ao analisar o perfil dos
diretores(a) coordenadores(as) pedagoacutegicos e orientadores(as) educacionais na
pesquisa de Silveira (2012) e Santos (2011) tambeacutem foi perceptiacutevel a prevalecircncia
do gecircnero feminino
Os dados revelam portanto uma presenccedila expressiva do gecircnero feminino
nessas funccedilotildees principalmente na educaccedilatildeo baacutesica que se assemelha ao
movimento ocasionado com os docentes em decorrecircncia de um processo histoacuterico
denominado de feminizaccedilatildeo19 do magisteacuterio caracterizado ao longo da histoacuteria
como um fenocircmeno pautado pelas transformaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas
―[que] abriram espaccedilo em nosso paiacutes para o incremento da entrada das mulheres
18
A Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS ndash Teaching and Learning International Survey) investigou o ambiente de ensino e aprendizagem em escolas de educaccedilatildeo baacutesica de 34 paiacuteses durante os anos de 2012 e 2013 A TALIS foi coordenada em acircmbito internacional pela Organizaccedilatildeo para Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) No Brasil a pesquisa foi organizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) responsaacutevel tambeacutem pela elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio Nacional da TALIS que descreve de maneira mais detalhada o processo de aplicaccedilatildeo da pesquisa e os principais resultados para a amostra de diretores e professores brasileiros A pesquisa TALIS entrevistou no total natildeo soacute no Brasil 14291 professores que atuam em turmas do 6ordm ao 9ordm ano do Ensino Fundamental e os diretores de suas respectivas escolas No Brasil a pesquisa abrangeu 27 Estados e 48 escolas sendo que somente 20 escolas aceitaram a participar da pesquisa 19
Denominaccedilatildeo dada ao processo soacutecio-poliacutetico-cultural decorrente da expressiva presenccedila das mulheres no trabalho docente (COSTA 2010)
57
das camadas meacutedias no mercado de trabalho sendo o magisteacuterio primaacuterio uma das
ocupaccedilotildees femininas socialmente aprovadas (COSTA 2010 p 01)
Louro (2000 p 448) relata que a atividade do magisteacuterio no Brasil por muito
tempo foi desenvolvida por ―homens religiosos como os jesuiacutetas mais
especificamente no periacuteodo compreendido entre 1549 e 1759 [e] em seguida foram
homens comuns que se ocuparam do magisteacuterio Jaacute a partir do seacuteculo XIX a
expansatildeo do ensino primaacuterio afetou diretamente as condiccedilotildees de trabalho docente
que foram se tornando cada vez mais precaacuterias afastando paulatinamente os
homens dessa profissatildeo Assim o movimento observado foi de diminuiccedilatildeo no
nuacutemero de homens em sala de aula no ensino primaacuterio e nas escolas normais
passando-se a formar jaacute nesse periacuteodo mais mulheres (VIANNA 2013) Desse
modo a presenccedila intensa de mulheres no magisteacuterio no Brasil foi se constituindo
de forma gradativa e intimamente ligada ao papel de mulher idealizado na eacutepoca
para exercer a docecircncia As mulheres tinham que dispor de caracteriacutesticas como
religiosidade docilidade e submissatildeo configurando o que deveria ser um trabalho
educativo como ―[] uma missatildeo de educar concebida como um prolongamento da
vocaccedilatildeo maternal (COSTA 2010 p 01)
Nessa perspectiva segundo Vianna (2013 p 164) o magisteacuterio integrou um
dos primeiros campos de trabalho para a ―mulher branca e de classe meacutedia
estudiosa e portadora de uma feminilidade idealizada para essa classe mas
tambeacutem protagonistas da luta pelo alargamento da participaccedilatildeo feminina na esfera
econocircmica (VIANNA 2013 p 164)
Com relaccedilatildeo agrave gestatildeo das instituiccedilotildees de ensino puacuteblico no Brasil por muito
tempo essa funccedilatildeo ficou sob a incumbecircncia dos homens reproduzindo e reforccedilando
como pontuou Louro (2000 p 460) ―[] a hierarquia domeacutestica as mulheres
ficavam nas salas de aulas ensinando enquanto os homens dirigiam e controlavam
o sistema Acrescenta-se ainda que os homens se destacavam como referecircncia
superior e de poder e entendia-se que a mulher por sua vez natildeo era adequada agrave
gestatildeo por ser muito sentimental e natildeo possuir firmeza em suas decisotildees (LOURO
2000)
Contudo a funccedilatildeo de gestatildeo exercida por mulheres foi permeada por
momentos de resistecircncia em sua historicidade visto que se tratava de um cargo
exclusivamente masculino como o caso da primeira professora que ao ascender agrave
funccedilatildeo de gestora nos anos de 1920 provocou revolta principalmente por parte dos
58
estudantes homens Assim pode-se dizer que de algum modo a inserccedilatildeo feminina
no cargo de gestatildeo rompeu ―com a representaccedilatildeo e as expectativas tradicionais
delineadas agraves mulheres (LOURO 2000 p 460)
Nessa perspectiva as discussotildees tecidas ateacute o momento no que tange agrave
questatildeo de gecircnero dos profissionais de educaccedilatildeo podem contribuir para evidenciar
possiacuteveis conexotildees entre proletarizaccedilatildeo do trabalho dos(as) professores(as) e
gestores(as) escolares e o processo histoacuterico de feminizaccedilatildeo do magisteacuterio e da
profissatildeo educativa como um todo
Seguindo com as anaacutelises passa-se a abordar agora a idade dos
profissionais das equipes diretivas20 De acordo com o Graacutefico 1 apresentado a
seguir dos 22 participantes da pesquisa 2 responderam possuir idade entre 25 a
32 anos 8 entre 33 e 40 anos 5 encontram-se na faixa etaacuteria entre 41 a 50 e 6
informaram que tecircm mais de 50 anos e 1 natildeo respondeu Ao calcular a idade meacutedia
dos profissionais por funccedilatildeo chegou-se ao seguinte resultado Diretor(a) 46 anos
Supervisor(a) 44 anos e Orientador(a) 49 anos
Graacutefico 1 Faixa etaacuteria dos participantes da pesquisa
Fonte Primaacuteria (2016)
De acordo com os dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e
Aprendizagem ndash TALIS (INEP 2014) dentre os 34 paiacuteses que participaram do
20 Optou-se neste estudo por utilizar uma menccedilatildeo aos participantes que contemple os dois gecircneros masculino e feminino ou seja utilizaremos diretor(a) supervisor(a) e orientador(a) quando nos referirmos a cada profissional que compotildee a equipe diretiva
59
estudo os diretores das escolas brasileiras apresentaram a menor meacutedia de idade
(45 anos) assemelhando-se aos resultados encontrados na presente pesquisa
No que se refere ao tempo de docecircncia da equipe diretiva em sala de aula
constatou-se que a maioria dos profissionais possuem significativa experiecircncia uma
vez que 8 responderam que possuem ateacute 5 anos 7 que tecircm de 6 a 10 anos de
docecircncia 2 possuem de 11 a 15 anos em sala de aula 4 informaram que tecircm mais
de 15 anos de experiecircncia na docecircncia e 01 natildeo respondeu conforme exposto no
graacutefico a seguir
Graacutefico 2 ndash Tempo de atuaccedilatildeo docente dos profissionais das equipes diretivas por funccedilatildeo diretor(a) supervisor(a) e orientador(a)
Fonte Primaacuteria (2016)
Evidenciou-se ao visualizar o graacutefico 2 acima uma expressiva concentraccedilatildeo
de supervisores(as) educacionais com ateacute 5 anos de experiecircncia na docecircncia
Supotildee-se que uma maior experiecircncia desse profissional em sala de aula pode
contribuir com seu trabalho de orientaccedilatildeo pedagoacutegica e didaacutetica junto aos
professores assim como com o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Em pesquisa empreendida por Placco Almeida e Souza (2011 p 247-248)
com coordenadores pedagoacutegicos (CPs) as autoras abordaram alguns
questionamentos e dentre eles se destaca o que diz respeito agrave necessidade de
tempo na docecircncia para atuarem na funccedilatildeo As autoras puderam constatar que esse
item dividiu opiniotildees entre os profissionais pesquisados ao relatarem que
[] com relaccedilatildeo agrave necessidade de ter experiecircncia na docecircncia para exercer a coordenaccedilatildeo os CPs divergem alguns acham que sim e outros que natildeo Contudo a maioria concorda que a experiecircncia como docente natildeo eacute suficiente para exercer a coordenaccedilatildeo pois entendem que haacute habilidades especiacuteficas dessa funccedilatildeo que natildeo se desenvolvem na docecircncia De outro
60
lado acreditam que a experiecircncia em sala de aula possibilita conhecer melhor a escola e vivenciar problemas que soacute aparecem laacute Em siacutentese segundo a percepccedilatildeo dos CPs o tempo na funccedilatildeo e a experiecircncia satildeo fatores importantes mas natildeo decisivos para o bom desempenho do profissional na coordenaccedilatildeo
Nessa direccedilatildeo observou-se que autores como Paro (2016b) e Libacircneo (2015)
parecem se contrapor quando o assunto eacute a experiecircncia docente que antecede a
atuaccedilatildeo da equipe diretiva na escola Paro (2016b p57) ao defender que ―todos os
educadores satildeo potenciais candidatos agrave direccedilatildeo escolar parece conferir uma
ecircnfase na importacircncia da experiecircncia docente para a realizaccedilatildeo do trabalho na
funccedilatildeo diretiva Por outro lado Libacircneo (2015) afirma que para exercer o cargo de
diretor ou coordenador pedagoacutegico natildeo eacute necessaacuterio uma experiecircncia preacutevia como
docente
[] haacute divergecircncias significativas sobre se a atividade administrativa distingue-se da atividade pedagoacutegica e sobre se a direccedilatildeo administrativa e direccedilatildeo pedagoacutegica devem ser exercidas necessariamente por um professor No Brasil difundiu-se bastante a ideia de que a direccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo pedagoacutegica satildeo formas diferenciadas de uma uacutenica funccedilatildeo a docente Defendemos uma posiccedilatildeo diferente Tanto o diretor quanto o coordenador pedagoacutegico desempenham cada um funccedilotildees especiacuteficas que requerem formaccedilatildeo profissional tambeacutem especiacutefica distinta daquela provida aos professores Nesse caso o diretor natildeo precisa exercer nem ter exercido a docecircncia embora deva receber formaccedilatildeo para lidar com questotildees de ensino Em outras palavras as funccedilotildees de direccedilatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e docente natildeo precisam coincidir necessariamente (LIBAcircNEO 2015 p 187 grifos nossos)
Ante ao exposto entende-se que a experiecircncia na docecircncia pode contribuir
para a atuaccedilatildeo dos profissionais das equipes diretivas assim como compreende-se
que as formaccedilotildees para esses profissionais precisam contemplar de forma central os
aspectos pedagoacutegicos e as singularidades das escolas e natildeo somente os aspectos
burocraacuteticos comumente mais enfatizados
No Quadro 3 apresentado na sequecircncia procurou-se detalhar o tempo de
atuaccedilatildeo em sala de cada profissional que compotildee a equipe diretiva escolar Pode-se
evidenciar que os integrantes de todas as equipes diretivas apresentam experiecircncia
na docecircncia
61
Quadro 3 Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes da equipe diretiva em sala de aula
Tempo de atuaccedilatildeo em sala de aula
Equipe Diretiva
Ateacute 5 anos De 6 a 10 anos De 11 a 15 anos Mais de 15
anos Natildeo
respondeu
ED1 Supervisor(a) Diretor(a) Orientador( a)
ED2 Orientador(a)
e Supervisor(a)
Diretor(a)
ED3 Supervisor(a) Diretor(a) Orientador(a)
ED4 Diretor(a) e
2 Supervisores(as)
Orientador(a)
ED5 Orientador(a) Diretor(a) e
Supervisor(a)
ED6 Orientador(a)
e Supervisor(a)
Diretor(a)
ED7 Diretor(a) e
Supervisor(a) Orientador(a)
Fonte Primaacuteria (2016)
Conforme os dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem ndash
TALIS (INEP 2014) a meacutedia de experiecircncia em sala de aula dos diretores
brasileiros pesquisados foi de 14 anos Nesse sentido os dados da Rede Municipal
de Ensino de Camboriuacute obtidos na presente pesquisa divergem em parte dos
indicadores nacionais pois a maioria dos respondentes possuem em meacutedia 8 anos
de docecircncia
Huberman (2000) em seus estudos sobre o ciclo de vida profissional dos
professores fez uso do tempo de atuaccedilatildeo docente para expor a existecircncia de cinco
fases que delineiam o processo de evoluccedilatildeo do docente nessa profissatildeo 1) Fase de
entrada na carreira (1 a 3 anos de docecircncia) 2) Fase de estabilizaccedilatildeo (4 a 6 anos)
3) Fase de diversificaccedilatildeo (7 a 25 anos) 4) Fase de serenidade (25 a 35 anos) 5)
Fase de desinvestimento (mais de 35 anos de docecircncia)
Para clarificar essas informaccedilotildees apresenta-se a seguir o Quadro 4 que
mostra as fases do ciclo de vida profissional dos professores conforme os estudos
do autor
62
Quadro 4 - Fases do ciclo de vida profissional segundo Huberman
Fonte Huberman (2000)
O tempo de docecircncia da maior parte dos participantes da pesquisa (6 a 10
anos) conforme Huberman (2000) estaacute compreendido na fase entre 7 e 25 anos de
docecircncia que eacute denominada de diversificaccedilatildeo na qual conta-se com um repertoacuterio
de vivecircncias pessoais e profissionais bastante diversas para atuar na docecircncia Para
os 8 que responderam que tecircm ateacute 5 anos de docecircncia em sala de aula nota-se que
sua experiecircncia docente se delimitou agrave fase mais inicial do ciclo profissional
denominada ―sobrevivecircncia e descoberta na qual satildeo explorados os contornos
dessa nova funccedilatildeo
Salienta-se que essas fases natildeo seguem em sua constituiccedilatildeo uma linearidade
de acontecimentos uma vez que cada profissional eacute singular e essa singularidade
estaacute presente na maneira como cada um vivencia a sua proacutepria trajetoacuteria
profissional
Outra questatildeo perguntada aos profissionais das equipes diretivas foi se nessa
trajetoacuteria docente eles(as) tiveram algum aluno com deficiecircncia Evidenciou-se que
dos 22 participantes somente dois diretores(as) e dois supervisores(as) natildeo tiveram
essa experiecircncia os demais integrantes de todas as equipes diretivas a tiveram
63
Graacutefico 3 ndash Experiecircncia dos profissionais da equipe diretiva enquanto docentes de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Fonte Primaacuteria (2016)
Esses dados apontam que a maioria dos profissionais participantes desta
pesquisa em sua trajetoacuteria docente trabalhou com estudantes puacuteblico-alvo da EE o
que nos permite evidenciar que cada profissional vivenciou esse trabalho em suas
respectivas escolas de formas diferentes e certamente puderam contar com uma
equipe diretiva que pode ter contribuiacutedo ou fragilizado a realizaccedilatildeo desse trabalho no
acircmbito escolar
Infere-se ainda que essa vivecircncia pode ter ocorrido em um determinado
momento histoacuterico em que a segregaccedilatildeo ainda era de fato uma opccedilatildeo mais
indicada no processo de escolarizaccedilatildeo com deficiecircncia Mesmo considerando que a
construccedilatildeo de saberes eacute um processo dinacircmico que pode passar por modificaccedilotildees
no decorrer da histoacuteria demandando que os profissionais da educaccedilatildeo estejam em
constante busca por novos conhecimentos ou por sua ressignificaccedilatildeo eacute necessaacuterio
ter em conta que reconstruir uma concepccedilatildeo sobre algo pode ser muito complexo
Aleacutem da vivecircncia que esses profissionais relataram ter eacute preciso considerar
tambeacutem a formaccedilatildeo inicial que possuem se essa propiciou ou natildeo a discussatildeo e
apropriaccedilatildeo de teorias e praacuteticas acerca da Educaccedilatildeo Especial nos espaccedilos
escolares Tendo em vista ainda que esses conhecimentos quando apreendidos na
formaccedilatildeo inicial estatildeo associados a um periacuteodo histoacuterico especiacutefico em que tal
formaccedilatildeo foi realizada
64
Nesse sentido Bueno (2002) esclarece que a incorporaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial
pelas Instituiccedilotildees de Ensino Superior no Brasil ocorreu a partir da promulgaccedilatildeo da
Lei n 569271 na medida em que essa diretriz em seu art 29 estabeleceu que a
formaccedilatildeo de professores e especialistas para o ensino fundamental e meacutedio (antigos
1ordm e 2ordm graus) fosse aumentando de forma progressiva O autor explicita ainda que
[] em decorrecircncia dessa lei o Conselho Federal de Educaccedilatildeo baixou Resoluccedilotildees
tornando obrigatoacuteria a formaccedilatildeo de professores de educaccedilatildeo especial em niacutevel
superior dentro dos cursos de Pedagogia (BUENO 2002 p 22)
Atualmente pode-se observar agrave luz da Resoluccedilatildeo nordm 22015 (BRASIL 2015)
que a incorporaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial pelos curriacuteculos dos cursos de
licenciatura e formaccedilatildeo continuada foi ampliada uma vez que passou a constituir um
tema a ser abordado por diversas disciplinas Aparentemente essa ampliaccedilatildeo pode
ser vista como positiva contudo eacute oportuno reconhecer que ―dissolver os
conteuacutedos de Educaccedilatildeo Especial nas disciplinas pode ocasionar uma fragilizaccedilatildeo no
processo de formaccedilatildeo uma vez que pode ocorrer a reduccedilatildeo da carga horaacuteria
destinada a esses conteuacutedos ao mesmo tempo em que satildeo apresentados de forma
fragmentada No art 13ordm paraacutegrafo segundo da referida Resoluccedilatildeo eacute detalhado o
modo como a Educaccedilatildeo Especial deve ser contempla no curriacuteculo dos cursos
citados
[] sect 2ordm Os cursos de formaccedilatildeo deveratildeo garantir nos curriacuteculos conteuacutedos especiacuteficos da respectiva aacuterea de conhecimento ou interdisciplinares seus fundamentos e metodologias bem como conteuacutedos relacionados aos fundamentos da educaccedilatildeo formaccedilatildeo na aacuterea de poliacuteticas puacuteblicas e gestatildeo da educaccedilatildeo seus fundamentos e metodologias direitos humanos diversidades eacutetnico-racial de gecircnero sexual religiosa de faixa geracional Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) educaccedilatildeo especial e direitos educacionais de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas (BRASIL 2015)
Segundo Pletsch (2009 p 150) limitar-se a oferecer uma disciplina com
conteuacutedos sobre Educaccedilatildeo Especial ―sem maior reflexatildeo e aprofundamento acerca
das capacidades e individualidades humanas pode acabar auxiliando a manutenccedilatildeo
de praacuteticas de segregaccedilatildeo Desse modo pode-se evidenciar que a forma como a
Lei supracitada propotildee que os conteuacutedos de Educaccedilatildeo Especial sejam abordados
nos cursos de licenciatura em geral parece natildeo colaborar com o adensamento
teoacuterico discussatildeo e reflexatildeo criacutetica sobre a educaccedilatildeo especial na formaccedilatildeo dos
futuros professores Isto por sua vez pode culminar em um entendimento
65
desarticulado entre Educaccedilatildeo Regular e Educaccedilatildeo Especial favorecendo a
constituiccedilatildeo de praacuteticas de segregaccedilatildeo nas escolas brasileiras
Ante ao exposto buscou-se analisar nos dizeres das equipes diretivas
pesquisadas a formaccedilatildeo inicial em niacutevel de graduaccedilatildeo de cada integrante que a
compotildee Evidenciou-se que dos 22 participantes 12 informaram possuir o curso de
formaccedilatildeo inicial em pedagogia 7 em outras licenciaturas e 3 optaram por natildeo
responder a essa questatildeo Assim pode-se perceber dentre as respostas dos
integrantes das equipes diretivas uma prevalecircncia da formaccedilatildeo inicial em pedagogia
Essas informaccedilotildees podem ser conferidas no graacutefico 4 abaixo
Graacutefico 4 ndash Formaccedilatildeo inicial dos integrantes das equipes diretivas
Fonte Primaacuteria (2016)
Prosseguindo com as anaacutelises percebe-se tambeacutem que dentre os integrantes
das equipes diretivas 6 diretores satildeo formados em Pedagogia e 1 diretor eacute formado
em Estudos Sociais Conforme a pesquisa desenvolvida pela Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) 43 dos diretores brasileiros possuem sua primeira graduaccedilatildeo em
Pedagogia e dos que procuram uma segunda formaccedilatildeo 60 elegeu essa
licenciatura Dos 7 diretores participantes da pesquisa apenas uma informou ter
mais de uma graduaccedilatildeo
Com relaccedilatildeo aos supervisores(as) escolares 4 satildeo formados em Pedagogia e
3 satildeo formados em outras licenciaturas ciecircncias naturais artes visuais e ciecircncias
bioloacutegicas sendo que 1 natildeo especificou De acordo com os estudos realizados pela
Fundaccedilatildeo Victor Civita (2011) 55 dos coordenadores pedagoacutegicos no Brasil
possuem sua primeira licenciatura em Pedagogia e dos 45 que natildeo tecircm
Pedagogia como seu primeiro curso 61 o elegeram como segunda opccedilatildeo de
66
formaccedilatildeo Dos 8 supervisores(as) participantes da pesquisa somente duas
informaram ter duas graduaccedilotildees
Quanto aos orientadores educacionais 2 responderam que possuem
formaccedilatildeo em Pedagogia e 3 informaram que tecircm formaccedilatildeo em outras licenciaturas
(matemaacutetica educaccedilatildeo fiacutesica e ciecircncias bioloacutegicas) e 2 natildeo especificaram
De forma geral portanto pode-se concluir que a formaccedilatildeo inicial em
Pedagogia eacute predominante nas equipes diretivas escolares da Rede Municipal de
Ensino de Camboriuacute Com relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo dos
integrantes das equipes diretivas os Graacuteficos 5 6 e 7 a seguir apresentam um
detalhamento
Graacutefico 5 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) dos Diretores(as)
Fonte Primaacuteria (2016) Graacutefico 6 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu e Stricto Sensu) dos Supervisores(as) Educacionais
Fonte Primaacuteria (2016
67
Graacutefico 7 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) Orientadores(as) Educacionais
Fonte Primaacuteria
Percebeu-se que dos 22 participantes somente 2 profissionais responderam
natildeo possuir uma poacutes-graduaccedilatildeo e 1 optou por natildeo responder agrave questatildeo Desse
modo foi possiacutevel evidenciar que a maioria dos profissionais das equipes diretivas
possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu
Dos 7 diretores(as) participantes da pesquisa 6 possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato
sensu Esses dados estatildeo em consonacircncia com o estudo da Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) o qual aponta que 72 dos diretores das escolas brasileiras realizaram
algum tipo de poacutes-graduaccedilatildeo sendo que desses 96 satildeo lato sensu E ainda
conforme a pesquisa TALIS (INEP 2014 p 10-11) ―somente uma pequena parte
dos diretores natildeo tem formaccedilatildeo em niacutevel superior (2) no entanto 12 deles
afirmaram que nunca fizeram um curso especiacutefico de administraccedilatildeo escolar
Quanto aos 8 supervisores(as) participantes desta pesquisa 6 possuem poacutes-
graduaccedilatildeo lato sensu na aacuterea de atuaccedilatildeo isto eacute voltada para a coordenaccedilatildeo
pedagoacutegica ou supervisatildeo escolar 01 em outra aacuterea enquanto apenas 1 informou
natildeo ter realizado especializaccedilatildeo Dos 7 supervisores que possuem poacutes-graduaccedilatildeo 1
informou possuir tambeacutem poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu na aacuterea de Educaccedilatildeo Esses
dados divergem em parte do estudo apresentado pela Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2011) o qual apontou que 70 dos participantes possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato
sensu poreacutem somente 3 desses a realizaram na aacuterea de coordenaccedilatildeo
pedagoacutegica
Essa discrepacircncia entre os dados nacionais e municipais pode estar
vinculada aos criteacuterios de contrataccedilatildeo estipulado pelo municiacutepio de Camboriuacute No
uacuteltimo edital de concurso puacuteblico nordm 0252013 estabeleceu-se que para se inscrever
ao cargo de Supervisor Escolar o candidato precisaria ter ―curso em Licenciatura
68
Plena com especializaccedilatildeo em Supervisatildeo Escolar com carga horaacuteria miacutenima de
360h ou Certificado de Conclusatildeo da Especializaccedilatildeo juntamente com o histoacuterico
escolar
Com relaccedilatildeo aos 7 orientadores(as) participantes deste estudo observou-se
que 06 informaram possuir poacutes-graduaccedilatildeo dos quais 4 satildeo na aacuterea de atuaccedilatildeo
(orientaccedilatildeo educacional) 2 satildeo em outra aacuterea e 1 natildeo respondeu
Seguindo com as anaacutelises os integrantes das equipes diretivas participantes
deste estudo responderam ainda que pertencem ao quadro efetivo de servidor
puacuteblico da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute e exercem uma carga horaacuteria de
40 horas semanais na funccedilatildeo em que atuam
No que tange ao ingresso no cargo para cada funccedilatildeo observou-se um
processo diferente Dentre os 7 orientadores(as) e 8 supervisores(as) participantes
deste estudo 6 orientadores(as) e 7 supervisores(as) informaram que o ingresso na
funccedilatildeo ocorreu por meio de concurso puacuteblico Somente 1 supervisor respondeu ter
ingressado na funccedilatildeo por meio de convite e 1 orientador(a) informou que ingressou
na funccedilatildeo por meio de um processo seletivo diferenciado do concurso puacuteblico Jaacute
para o cargo de diretor todos responderam que o ingresso na funccedilatildeo ocorreu por
meio de indicaccedilatildeo
Quanto ao ingresso ao cargo de diretor salienta-se que apesar de existirem
diretrizes e legislaccedilotildees que promulguem uma gestatildeo escolar democraacutetica a eleiccedilatildeo
para diretores nas escolas como ponto de partida para uma accedilatildeo mais participativa
junto agrave comunidade nos espaccedilos escolares ainda se apresenta como uma decisatildeo
que pertence aos gestores das esferas de governo Federal Estadual e Municipal
Nesse sentido introduzir a eleiccedilatildeo em detrimento da indicaccedilatildeo hoje praticada
pode ser um caminho para aproximar ainda mais as escolas municipais dos
princiacutepios de democratizaccedilatildeo e participaccedilatildeo na Rede Municipal de Ensino de
Camboriuacute
Paro (2003 p 124) adverte a esse respeito que a introduccedilatildeo da eleiccedilatildeo nas
escolas natildeo se daacute de forma harmoniosa e ―como todo instrumento de democracia
natildeo estaacute livre dos conflitos e tensionamentos Contudo constitui-se como uma
forma de permitir que um nuacutemero maior de pessoas da comunidade escolar se
envolva nos processos decisoacuterios e na gestatildeo da escola
69
Partindo agora para o conhecimento do tempo de serviccedilo de cada integrante
da equipe diretiva na funccedilatildeo em que ocupa em sua respectiva escola apresenta-se
no Graacutefico 8 uma ilustraccedilatildeo
Graacutefico 8 ndash Tempo de serviccedilo dos participantes na funccedilatildeo que atualmente ocupam na escola
Fonte Primaacuteria (2016)
Ressalta-se que ao aplicar o questionaacuterio nas escolas alguns profissionais
mencionaram que o cargo de diretor(a) escolar em 2015 sofreu mudanccedila eou
substituiccedilatildeo Esse fato pode ser constatado no Graacutefico 8 acima o qual demonstra
que dos 7 diretores(as) integrantes da pesquisa 5 possuem ateacute 3 anos na funccedilatildeo
pode-se dizer que estatildeo iniciando e 2 tecircm de 4 a 10 anos na funccedilatildeo A meacutedia de
tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo dos diretores da Rede Municipal de Ensino ficou em
torno de 29 anos Eacute expressivo portanto o nuacutemero de diretores(as) que se
encontram em iniacutecio de carreira na escola em que atuam
Esse resultado se distancia dos dados nacionais apresentados pela pesquisa
TALIS (INEP 2014) que mostrou um tempo meacutedio de 7 anos de experiecircncia dos
diretores no Brasil em cargo de direccedilatildeo Jaacute a pesquisa da Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) expocircs que o tempo meacutedio de experiecircncia dos diretores brasileiros eacute de 79
anos Essa dissonacircncia entre os dados da Rede Municipal de Ensino e os dados
nacionais pode estar vinculada agrave forma de ingresso ao cargo de direccedilatildeo que
conforme abordado anteriormente se daacute por indicaccedilatildeo configurando o cargo de
diretor(a) como um cargo de confianccedila podendo sofrer substituiccedilatildeo a qualquer
tempo principalmente em periacuteodo de mudanccedila de governo
Quanto aos supervisores(as) participantes deste estudo tambeacutem evidenciou-
se uma variaccedilatildeo no tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo 5 informaram possuir ateacute 3 anos
de experiecircncia 2 relataram ter de 4 a 10 anos e 1 natildeo respondeu sendo a meacutedia
70
de 27 anos Esse dado se aproxima daqueles apresentados pela Fundaccedilatildeo Victor
Civita (2011) com relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atuaccedilatildeo dos coordenadores
pedagoacutegicos brasileiros na escola atual que eacute de 39 anos
Dentre os integrantes da equipe diretiva escolar o orientador(a) foi o que
demostrou possuir maior tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo Dentre os 7 orientadores(as)
4 possuem ateacute 3 anos e 3 deles possuem 4 a 10 anos na funccedilatildeo A meacutedia de
tempo de atuaccedilatildeo como orientador(a) na Rede eacute dentre as equipes diretivas
pesquisadas de 34 anos
Perante os dados apresentados constatou-se que a meacutedia de tempo de
atuaccedilatildeo na funccedilatildeo por parte dos integrantes da equipe diretiva eacute baixa A partir
disso pode-se inferir que as equipes por estarem iniciando em suas funccedilotildees estatildeo
em processo de conhecer a comunidade e a cultura escolar21 local e a partir disso
construir viacutenculos de confianccedila que possibilitem uma gestatildeo colaborativa e
participativa Conhecer a escola eacute um processo que conforme explicitou Libacircneo
(2015 p 34) natildeo se daacute apenas pelo que se consegue observar dela e sim ao ―[]
captar aqueles significados valores atitudes modos de convivecircncia formas de agir
e de resolver problemas frequentemente ocultos invisiacuteveis que vatildeo definindo uma
cultura proacutepria de cada escola
Perante o exposto destaca-se aqui o desafio que se coloca agraves equipes
diretivas que estatildeo haacute pouco tempo trabalhando em suas unidades escolares uma
vez que na escola em que estatildeo iniciando existe uma cultura instituiacuteda que precisa
inicialmente ser conhecida para entatildeo ser mantida eou modificada em busca de
accedilotildees democraacuteticas e participativas
Um segundo desafio que se apresenta agraves equipes paralelamente ao primeiro
refere-se agrave implementaccedilatildeo viabilizaccedilatildeo e acompanhamento das poliacuteticas e diretrizes
educacionais na unidade escolar dentre as quais consta a poliacutetica de Educaccedilatildeo
Especial e as diretrizes para o Atendimento Educacional Especializado foco deste
estudo Sabendo disso buscou-se investigar se as equipes diretivas pesquisadas
possuiacuteam formaccedilatildeo especiacutefica com temas relacionados ao AEE O Quadro 5 a
seguir ilustra as respostas obtidas
21
Segundo Libacircneo (2015 p 34) ―a cultura da escola refere-se agravequeles significados modos de pensar e agir valores comportamentos modos de funcionamento que de certa forma mostram a identidade e os traccedilos caracteriacutesticos da escola e das pessoas que nela trabalham A cultura da escola eacute o que sintetiza os sentidos que as pessoas datildeo agraves coisas gerando um padratildeo coletivo de pensar e perceber as coisas e de agir
71
Quadro 5 ndash Formaccedilatildeo das equipes diretivas com temas relacionados ao AEE
Equipes Diretivas Diretor Orientador Supervisor
ED1 Natildeo respondeu Natildeo respondeu Natildeo respondeu
ED2 Sim Na faculdade e em cursos oferecidos pelo
Municiacutepio
Sim Cursos e materiais da grade
acadecircmica
Aleacutem de trabalhar na aacuterea Estou envolvida neste
processo
ED3 Natildeo Sim Fiz curso de linguagem de
sinais Natildeo
ED4 Sim Natildeo NatildeoNatildeo
ED5 Natildeo Natildeo respondeu Natildeo
ED6 Sim Na poacutes-graduaccedilatildeo
estudamos algumas siacutendromes
Natildeo Natildeo
ED7 Natildeo respondeu Sim Cursos que a Rede ofereceu
sobre Educaccedilatildeo Especial e o
AEE
Natildeo
Fonte Primaacuteria (2016)
A uacutenica equipe diretiva na qual todos os integrantes responderam
afirmativamente a essa questatildeo foi a ED2 na qual diretor(a) supervisor(a) e
orientador(a) informaram ter estudado o tema relacionado na graduaccedilatildeo poreacutem natildeo
especificaram os conteuacutedos abordados Em algumas equipes como a ED3 ED6 e
ED7 especificaram-se os conteuacutedos abordados na formaccedilatildeo realizada na aacuterea
como ―curso de sinais ―siacutendromes ―educaccedilatildeo especial e ―atendimento
educacional especializado Com relaccedilatildeo agrave ED1 o(a) orientador(a) apesar de
possuir trecircs especializaccedilotildees lato sensu sendo uma delas em Educaccedilatildeo Inclusiva
natildeo respondeu a essa questatildeo
Percebeu-se que na maioria das respostas houve contato com os temas
durante o percurso formativo seja na formaccedilatildeo inicial ou formaccedilatildeo continuada (poacutes-
graduaccedilatildeo e outros cursos) e que em poucos casos essa formaccedilatildeo foi oferecida
pela Rede Municipal de Ensino A formaccedilatildeo em serviccedilo pode funcionar como uma
possibilidade para mobilizar os profissionais a repensarem suas bases conceituais e
suas praacuteticas Dessa forma compreende-se que uma das tarefas primordiais da
Rede eacute conhecer as necessidades formativas dos seus profissionais e criar
condiccedilotildees para que essa formaccedilatildeo ocorra de modo contiacutenuo e consistente
Contudo Ferreira (2003 p 19-20) alerta que
A formaccedilatildeo continuada eacute uma realidade no panorama educacional brasileiro e mundial natildeo soacute como uma exigecircncia que se faz devido aos avanccedilos da ciecircncia e da tecnologia que se processam nas uacuteltimas deacutecadas mas como uma nova categoria que passou a existir no mercado da formaccedilatildeo contiacutenua e que por isso necessita ser
72
repensada cotidianamente no sentido de melhor atender a legiacutetima e digna formaccedilatildeo humana
Corroborando com a autora supracitada Silveira (2012) tambeacutem enfatizou a
importacircncia de programas de formaccedilatildeo de gestores que superem os tradicionais de
formaccedilatildeo burocraacutetica para que possam contribuir no desenvolvimento de um
trabalho colaborativo no acircmbito escolar
Em siacutentese identificou-se que os participantes dessa pesquisa tecircm um tempo
de atuaccedilatildeo significativo como professores em sala de aula e em sua maioria
apresentaram formaccedilatildeo inicial eou em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo condizentes agrave
especificidade de sua aacuterea de atuaccedilatildeo Entretanto constatou-se pouco tempo de
atuaccedilatildeo dos integrantes das equipes diretivas na funccedilatildeo em que exercem
atualmente A meacutedia de idade de cada integrante da equipe diretiva iniciando pelo
diretor(a) ficou em torno de 44 anos de idade os supervisores(as) 44 anos de
idade e os orientadores(as) 49 anos de idade
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo das equipes diretivas participantes desse estudo
segue-se para a anaacutelise dos dados da primeira categoria que versa sobre o que
pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado
32 O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado22
Nesta categoria de anaacutelise procurou-se abordar as compreensotildees das
equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
22
Para compor a anaacutelise e discussatildeo dos dados desta primeira categoria seratildeo analisadas as respostas das seguintes questotildees do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo 11Qual a compreensatildeo [da equipe diretiva] sobre o atendimento educacional especializado Quem satildeo os estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 13 Na escola em que vocecirc atua trabalha com o Atendimento Educacional Especializado Em caso afirmativo a) Eacute uma escola Polo ( ) b) atende somente estudantes desta escola ( ) 15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos estudantes puacuteblico alvo do AEE 19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE 21 Na escola em que vocecirc atua qual a participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros) 22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE 23 O professor de AEE na sua escola faz parte do quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino
73
focalizando o serviccedilo em si o puacuteblico-alvo da EE e o trabalho do professor
especializado23
Para apresentar e discutir o que pensam as equipes diretivas sobre o AEE no
acircmbito escolar optou-se por primeiramente elencar algumas informaccedilotildees a
respeito do funcionamento desse serviccedilo nas sete escolas pesquisadas conforme
se evidencia no Quadro 6
Quadro 6 - Situando o Atendimento Educacional Especializado nas escolas pesquisadas
ED1 ED2 ED3 ED4 ED5 ED6 ED7
Possui Sala de Recursos Multifuncionais X X X X
Possui Professor de AEE X X
Escola - polo e atende estudantes puacuteblico alvo da EE de outras duas escolas
X
Oferta AEE na proacutepria escola X X
Encaminha os estudantes para o AEE em outra escola
X
Estudantes puacuteblico-alvo da EE satildeo acompanhados pelo Professor da Sala Comum e pelo Monitor de Inclusatildeo da Sala Comum
X X
Natildeo possui estrutura fiacutesica e recursos humanos para oferecer o AEE e natildeo apresenta indiacutecios de encaminhamento para outras escolas
X
Fonte Primaacuteria (2016)
Pode-se perceber a partir das informaccedilotildees contidas no Quadro 6 que natildeo
satildeo todas as escolas possuem Sala de Recursos Multifuncionais localizadas em seu
espaccedilo fiacutesico Das quatro (ED1 ED2 ED4 e ED7) que possuem apenas duas (ED2
e ED4) contam com professor de AEE e ofertam esse serviccedilo na proacutepria escola as
demais apesar de possuiacuterem o espaccedilo fiacutesico para realizaccedilatildeo do AEE natildeo o
realizam (ED1) ou apresentam um entendimento de que o AEE acontece na sala
comum a partir do acompanhamento do professor e do monitor de inclusatildeo (ED7)
Constatar que das 7 equipes diretivas pesquisadas 4 possuem Salas de
Recursos Multifuncionais implantadas em suas respectivas escolas e dessas
somente duas (ED2 e ED4) estatildeo em funcionamento permite identificar um ponto de
atenccedilatildeo que diz respeito a como satildeo compreendidas as necessidades e o processo
23
Inspirando-se em Bernardes (2014) optou-se por fazer uso do termo ―professor(a) especializado(a) para se referir a docentes atuantes no AEE pelo fato de tal trabalho se configurar como especializado
74
de escolarizaccedilatildeo desses estudantes nas escolas da Rede Municipal de Ensino
pesquisada ou seja as que natildeo possuem o loacutecus para o AEE exceto a ED5
parecem natildeo se organizar de formas diferentes para garantir os apoios necessaacuterios
a aprendizagem dos estudantes considerados da EE como por exemplo
encaminhaacute-los para as escolas que possuem o AEE Logo parece haver a
compreensatildeo de que o AEE se restringe ao espaccedilo da SRM contudo eacute um dos
aspectos que compotildeem esse serviccedilo
Nesse sentido Rossato e Leonardo (2012 p 113) convidam a refletir
[] ao se considerar a educaccedilatildeo escolar como fundamental para a apropriaccedilatildeo da cultura produzida cabe questionar sobre a educaccedilatildeo e dentro desta a educaccedilatildeo especial discutindo sobre as formas e condiccedilotildees de ensino oferecidas agraves pessoas com deficiecircncia e agraves pessoas que aprendem diferentemente por nem sempre lhes possibilitarem o aprendizado escolar Condiccedilotildees de ensino essas que podem concentrar nelas estigma de fracasso e de incapacidade de maneira a natildeo viabilizar e natildeo cumprir com a sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo do conhecimento elaborado sistematizado
Nesse mesmo sentido Martins (2001) reitera que ao se defender o acesso e
o direito de aprender dos estudantes puacuteblico-alvo da EE na escola regular ―aleacutem
dos aspectos legais que as respaldam eacute fundamental analisar que esta escola eacute um
direito de todos os cidadatildeos (MARTINS 2001 p 30)
Ante o exposto questiona-se como a poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na
Perspectiva da Inclusiva (BRASIL 2008) e suas diretrizes vecircm sendo interpretadas
subjetivadas24 pelo sistema municipal de ensino e por conseguinte pelas equipes
diretivas pesquisadas
Compreende-se que essas equipes diretivas possuem um papel de referecircncia
na escola na organizaccedilatildeo e implementaccedilatildeo do serviccedilo de AEE juntamente com a
comunidade escolar considerando a necessidade desse serviccedilo e sua forma de
atuaccedilatildeo para garantir a permanecircncia e aprendizagem dos estudantes puacuteblico-alvo
da EE por meio de um processo de escolarizaccedilatildeo que leve em conta suas
singularidades potencialidades e sobretudo a garantia do direito de aprender
Assim destaca-se dentre as diretrizes da EE a Portaria ndeg 25 de 19 de junho
de 2012 que dispotildee sobre o Programa de implementaccedilatildeo de SRM a qual esclarece
24 Conforme Bock (2001 p 23) a subjetividade eacute ―concebida como algo que se constitui na relaccedilatildeo com o mundo material e social mundo este que soacute existe pela atividade humana Subjetividade e objetividade se constituem uma agrave outra sem se confundir
75
em seu o art 6ordm os compromissos assumidos pelo municiacutepio quando esse se propotildee
a implementar as salas de recursos
Art 6ordm Fica obrigada a DONATAacuteRIA [neste caso o Municiacutepio] a I - subordinar-se agraves diretrizes do Programa II- responsabilizar-se pela preservaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico para a instalaccedilatildeo dos bens doados III- disponibilizar professor para atuar na organizaccedilatildeo e oferta do atendimento educacional especializado - AEE IV- responsabilizar-se pela manutenccedilatildeo dos equipamentos doados V- orientar a escola destinataacuteria para instituir no seu Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico a organizaccedilatildeo e oferta do Atendimento Educacional Especializado complementar ou suplementar agrave escolarizaccedilatildeo de estudantes puacuteblico alvo da educaccedilatildeo especial matriculados nas classes comuns do ensino regular na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Educaccedilatildeo Profissional VI- promover a formaccedilatildeo continuada aos professores que atuam no AEE [] (BRASIL 2012 p33 grifos nosso)
Desse modo ao dispor de espaccedilo fiacutesico e natildeo utilizaacute-lo pode-se configurar
que alguns compromissos preacute-estabelecidos na referida Portaria (com destaque
para o art III nesse caso) natildeo estatildeo sendo cumpridos de modo a sinalizar que de
algum modo vem sendo negado ao estudante puacuteblico-alvo da EE o seu direito de
fazer uso de um espaccedilo que uma vez dotado de equipamentos mobiliaacuterios e
materiais didaacuteticos pedagoacutegicos e contando com o trabalho do professor
especializado e demais envolvidos pode contribuir no seu processo de
escolarizaccedilatildeo Por mais que esse espaccedilo por si soacute natildeo assegure ao estudante
puacuteblico-alvo da EE seu direito de aprender ele eacute uma das estrateacutegias que compotildeem
esse processo Nesse sentido concorda-se com Effgen (2011) quando ressalta
que ao discutir acerca da SRM e do AEE eacute preciso considerar ―[] que esse
espaccedilo e esse dispositivo configuram-se como uma rede de apoio agrave sala de aula
regular mas o centro do processo ensino-aprendizagem eacute a sala regular
(EFFGEN 2011 p158)
Ainda com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo das equipes diretivas sobre o serviccedilo de
AEE observou-se que a ED7 e a ED3 expressaram que o atendimento educacional
especializado aos estudantes puacuteblico-alvo da EE acontece por meio do
acompanhamento em suas escolas pelo Professor da Sala Comum e pelo Monitor
de Inclusatildeo na Sala Comum Esse uacuteltimo segundo a Lei Complementar nordm 192008
(CAMBORIUacute 2008) art 17D tem como atribuiccedilotildees as seguintes
76
I - auxiliar a docecircncia nas praacuteticas pedagoacutegicas mediando o desenvolvimento do aluno juntamente com o professor em situaccedilotildees que requeiram auxiacutelio como higiene alimentaccedilatildeo e locomoccedilatildeo dos educandos II - atuar diretamente com o aluno com muacuteltiplas deficiecircncias graves comprometimentos mentais ou condutas tiacutepicas de siacutendromes contribuindo para sua interaccedilatildeo e socializaccedilatildeo com os pares III - favorecer o desenvolvimento da independecircncia e autonomia dos alunos em suas atividades de vida diaacuteria e social no contexto escolar e nas atividades extraclasse auxiliando-os no que for necessaacuterio como a) cuidado pessoal uso do sanitaacuterio escovaccedilatildeo dos dentes banho troca de fraldas vestuaacuterio e outros b) refeiccedilotildees auxiliar o aluno em sua alimentaccedilatildeo c) locomoccedilatildeo conduzir o aluno que faz uso de cadeira de rodas eou apresenta dificuldades motoras aos diferentes espaccedilos fiacutesicos bem como realizar a transposiccedilatildeo do aluno para o sanitaacuterio carteira escolar e outros IV - executar tarefas afins com a educaccedilatildeo e de auxiacutelio para o levantamento de caracterizaccedilatildeo de perfil da comunidade escolar e acompanhamento da efetividade das accedilotildees realizadas e natildeo como forma de captaccedilatildeo de clientes VI - realizar accedilotildees no ambiente que favoreccedilam as condiccedilotildees adequadas para o processo de ensino e aprendizagem VII - contribuir para o planejamento e realizaccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas da escola VIII - executar outras atividades compatiacuteveis com o cargo IX - realizar as atividades que forem designadas por seu superior hieraacuterquico ou pela Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo (Redaccedilatildeo acrescida pela Lei Complementar n 7ordm 02014) (CAMBORIUacute 2008 sp)
Pode-se observar a partir da exposiccedilatildeo acima acerca das atribuiccedilotildees do
monitor de inclusatildeo orientaccedilotildees a esse profissional que dizem respeito agraves questotildees
pedagoacutegicas mas uma ecircnfase maior aos aspectos de cuidado assistecircncia e
socializaccedilatildeo do estudante puacuteblico-alvo da EE no acircmbito escolar Essa ecircnfase maior
por sua vez encontra seu fundamento na PNEE-PI (BRASIL 2008 sp) quando
essa reitera que
[] cabe aos sistemas de ensino ao organizar a educaccedilatildeo especial na perspectiva da educaccedilatildeo inclusiva disponibilizar as funccedilotildees de instrutor tradutorinteacuterprete de Libras e guia inteacuterprete bem como de monitor ou cuidador dos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene alimentaccedilatildeo locomoccedilatildeo entre outras que exijam auxiacutelio constante no cotidiano escolar
Entende-se no entanto que o monitor de inclusatildeo tem um importante papel
tambeacutem no desenvolvimento da aprendizagem e autonomia do estudante puacuteblico-
alvo da EE em interlocuccedilatildeo com o professor da sala comum professor
especializado equipe diretiva demais profissionais da escola e pais Nesse sentido
destaca-se a importacircncia da constituiccedilatildeo de espaccedilo e tempos para discussotildees sobre
os planejamentos estrateacutegias e recursos a serem utilizados com os estudantes da
EE assim como a necessidade de formaccedilatildeo providas pelos sistemas de ensino e
77
pelas escolas para os profissionais da educaccedilatildeo para discutir e refletir os assuntos
educacionais
Entende-se que estes espaccedilos e tempos de discussatildeo reflexatildeo
planejamento e formaccedilatildeo quando associados a um trabalho colaborativo na escola
podem contribuir para ressignificar os papeacuteis dos profissionais da educaccedilatildeo assim
como suas responsabilidades individuais e coletivas no processo de escolarizaccedilatildeo
do estudante puacuteblico-alvo da EE Como explicou Buumlrkle (2010 p 19) o trabalho e o
ensino colaborativo
[] abrange o professor de turma regular e o da Educaccedilatildeo Especial [monitor de inclusatildeo] poreacutem eacute indispensaacutevel que todos os envolvidos no processo educativo participem se envolvam e colaborem As parcerias estabelecidas possibilitam o desenvolvimento de ensino-aprendizagem mais adequado agraves necessidades educacionais especiais do aluno permitindo assim que o processo de inclusatildeo se efetive Uma inclusatildeo onde pertencer significa participar e natildeo apenas estar junto
No entanto realccedila-se aqui as situaccedilotildees das escolas em que atuam a ED1 e
ED6 A ED1 apesar de possuir a SRM natildeo conta com o profissional especializado e
de acordo com os dizeres do(a) supervisor(a) [] ―nenhum destes alunos possui
atendimento especializado Jaacute a ED6 aleacutem de natildeo possuir estrutura fiacutesica e
recursos humanos para oferecer o AEE natildeo apresenta indiacutecios de encaminhamento
para outras escolas E conforme o relato do(a) diretor(a) ED6d ―[] infelizmente
[estes estudantes puacuteblico-alvo da EE] natildeo satildeo atendidos
A partir desses dados eacute possiacutevel inferir que o serviccedilo de AEE natildeo vem sendo
realizado pela escola ainda que essa tenha estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo
Especial matriculados revelando uma negligecircncia Essa negligecircncia por sua vez
denota as ―tensotildees entre o legal documentado [e] sistemaacutetica jaacute estabelecida vivida
no espaccedilo escolar (FUCK 2014 p 147) Convergindo com a discussatildeo Freitas
(2011 p227) enfatiza que
[] o desafio da escola comum natildeo eacute somente com a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncias mas o de uma transformaccedilatildeo na sua totalidade pedagoacutegica tendo em vista as diferenccedilas de todos os alunos Daiacute os inuacutemeros desafios frente agraves contradiccedilotildees que demarcam as diferentes realidades do contexto nacional se acreditarmos numa educaccedilatildeo como processo de mudanccedila e de transformaccedilatildeo
78
Diante desses apontamentos iniciais que puderam ser realizados com base
na situaccedilatildeo do AEE em cada escola passa-se agora agrave anaacutelise das respostas das
equipes diretivas ao questionamento feito acerca do que pensam sobre o AEE
Dos 22 participantes 15 demonstraram uma compreensatildeo sobre o AEE
focada em seu puacuteblico alvo 4 no local de atendimento (Sala de Recursos
Multifuncionais) e 3 no processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Com exceccedilatildeo
desses uacuteltimos foi possiacutevel perceber que a maioria dos participantes demonstrou
uma compreensatildeo fragmentada privilegiando um dentre os diversos aspectos que
envolvem esse serviccedilo
Iniciando pelos participantes que demonstraram uma compreensatildeo sobre o
AEE com foco no puacuteblico-alvo desse serviccedilo observou-se que representam a
maior parte das equipes diretivas Ao especificarem quem compotildee esse puacuteblico-
alvo notou-se que a principal referecircncia feita por elas foi ao estudante com
deficiecircncia seguida de estudantes com dificuldades e distuacuterbios As falas a seguir
ilustram esse entendimento
ED3
d Satildeo alunos com dificuldade que recebem atendimento
especializado ED2
o Eacute um atendimento individualizado [para os estudantes puacuteblico-alvo
da EE] trabalhando suas habilidades ED4
s Atendimento para auxiliar alunos com deficiecircncia e distuacuterbios (grifo
nosso)
Esses dizeres que emergiram a partir do questionamento ―Qual eacute a sua
compreensatildeo sobre o AEE podem ser relacionados agraves falas emitidas pelos
participantes quando perguntados sobre ―Quem satildeo os estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial O Quadro 7 a seguir indica quais foram as suas respostas
Quadro 7 Puacuteblico-alvo do AEE nos dizeres das equipes diretivas escolares pesquisadas
Equipes diretivas
escolares Diretor(a) Orientador(a) Educacional Supervisor(a) Educacional
ED1
Estudantes com deficiecircncia auditiva
paralisia cerebral parcial deficiecircncia intelectual deficiecircncia muacuteltipla
autismo[transtornos]
Estudantes com deficiecircncia
auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia intelectual
deficiecircncia muacuteltipla autismo
[transtornos]
Estudantes com deficiecircncia auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia
intelectual deficiecircncia muacuteltipla
autismo [transtornos] Nenhum destes alunos possui atendimento
especializado a natildeo ser com a
psicoacuteloga
ED2 Alunos com laudo meacutedico
Alunos que apresentam algum
laudo meacutedico pedindo o auxiacutelio desse atendimento
Alunos do ensino fundamental da
rede puacuteblica de Camboriuacute do primeiro ao nono ano
ED3 Alunos com deficiecircncia Satildeo os alunos com dificuldades
especiais [] Os que tecircm deficiecircncia graves []
79
ED4
Alunos com baixa visatildeo
deficiecircncia e transtorno globais de
desenvolvimento Alunos com deficiecircncia e com
deacuteficit de atenccedilatildeo Alunos com deficiecircncia e com distuacuterbios de aprendizagem
ED5 Alunos com deficiecircncia Alunos com deficiecircncia Alunos com deficiecircncia
ED6
Alunos que precisam de atendimento
especializado de acordo com suas necessidades
especiacuteficas Satildeo todos os estudantes com
alguma dificuldade especiacutefica Alunos com algum tipo de deficiecircncia
fiacutesica ou deficiecircncia intelectual
ED7
Estudantes com deficiecircncia transtornos
globais do
desenvolvimento e altas habilidades
Estudantes com deficiecircncia transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades
Estudantes com deficiecircncia
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
Fonte Primaacuteria (2016)
Em primeiro lugar considera-se importante esclarecer que delimitar o puacuteblico-
alvo da Educaccedilatildeo Especial para aleacutem de definir para quem o serviccedilo de AEE eacute
destinado consiste em uma expressatildeo da loacutegica que marca a diferenccedila entre os
estudantes Conforme explicou Veiga-Neto (2011)
[] a proacutepria loacutegica de dividir os estudantes em classes ndash por niacuteveis cognitivos por aptidotildees por gecircnero por idades por classes sociais etc ndash foi um arranjo inventado para justamente colocar em accedilatildeo a norma atraveacutes de um crescente e persistente movimento de separando o normal do anormal marcar a distinccedilatildeo entre normalidade e anormalidade (VEIGA-NETO 2011 p 110-111 grifo nosso)
Quando observadas como um todo as falas dos participantes evidenciaram
que o termo utilizado com mais frequentes para se referir ao puacuteblico-alvo do AEE foi
―deficiecircncia conforme indicado no Quadro 8 a seguir
Quadro 8 - Recorrecircncias sobre o puacuteblico-alvo da EE nos dizeres das equipes diretivas escolares
pesquisadas
25 O indicador de recorrecircncia refere-se agrave quantidade de vezes que uma expressatildeo eacute repedida por um mesmo participante eou ele e os demais podendo ultrapassar o nuacutemero de participantes De acordo com Franco (2012 p 60) [] em grande parte das investigaccedilotildees qualquer que seja o tema explicitado o mesmo passa a ter mais importacircncia para a anaacutelise dos dados quanto mais frequentemente for mencionado
Categorias Recorrecircncia25
Deficiecircncia 18
Transtornos 7
Altas Habilidades 3
Laudo Meacutedico 2
Dificuldades especiacuteficasespeciais 2
Distuacuterbios 1
80
Fonte Primaacuteria (2016)
A partir da anaacutelise dos Quadros 7 e 8 pode-se dizer que haacute indiacutecios de que o
puacuteblico-alvo do AEE tem sido generalizado e focalizado como sendo ―estudantes
com deficiecircncia Nesse sentido questiona-se quem eou o que se perde de vista
quando o foco estaacute no estudante com deficiecircncia Pode-se dizer que ao restringir o
puacuteblico alvo da EE ao estudante com deficiecircncia incorre-se no risco de se distanciar
de uma compreensatildeo sobre os transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades [] ―jaacute que representam realidades complexas que necessitam de
compreensatildeo expliacutecita de suas caracteriacutesticas para que possam ser oferecidos os
apoios necessaacuterios (ARAOacuteZ 2010 p15)
Eacute preciso considerar inicialmente que a categorizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial definida na PNEE-EI (2008) como sendo pessoas com
deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo eacute uma constituiccedilatildeo histoacuterica recente Meletti e Bueno
(2011) esclarecem que as formulaccedilotildees das poliacuteticas de Educaccedilatildeo Especial no Brasil
ao incorporarem as orientaccedilotildees internacionais abordadas na Declaraccedilatildeo Mundial
sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) bem como a adesatildeo agrave Declaraccedilatildeo de
Salamanca (UNESCO 1994) procuraram se articular em uma perspectiva inclusiva
Por conseguinte na tentativa de se estabelecer um enfoque inclusivo foi possiacutevel
observar ao analisar as Diretrizes Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica
(BRASIL2001) que a categoria ―deficiecircncia era dissolvida no conceito de
necessidades educacionais especiais
Nesse sentido Meletti e Bueno (2011 p 111 - 112) enfatizam que
[] o termo [necessidades educacionais especiais] eacute utilizado inicialmente na Declaraccedilatildeo de Salamanca para caracterizar crianccedilas com deficiecircncia e crianccedila bem - dotadas crianccedilas que vivem nas ruas que trabalham crianccedilas de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais [] Isto indica que a deficiecircncia eacute entendida como uma expressatildeo localizada da diversidade que compotildee as chamadas necessidades educacionais especiais No Brasil a Declaraccedilatildeo de Salamanca passa a ser citada como um marco na educaccedilatildeo especial [] O conceito ―necessidade educacional especial passa a designar a condiccedilatildeo de deficiecircncia em nosso contexto imprimindo um novo sentido Novo mas natildeo a ponto de transformar como anunciado a concepccedilatildeo de deficiecircncia [] a adoccedilatildeo do termo necessidades
Necessidades Especiacuteficas 1
Deacuteficit de atenccedilatildeo 1
81
educacionais especiais por um lado pode representar um avanccedilo no sentido de minimizar a estigmatizaccedilatildeo e a pejoratividade de termos anteriores mas por outro lado como o conceito ―portador de necessidades educativas especiais abrange uma diversidade de sujeitos ao ganhar na amplitude e na quebra da estigmatizaccedilatildeo perde na precisatildeo
Identificou-se que mesmo demostrando imprecisatildeo o termo ―necessidades
educacionais especiais foi incorporado agrave Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 22001 que
instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educaccedilatildeo Especial na Educaccedilatildeo Baacutesica No
art 5ordm a referida Resoluccedilatildeo procurou especificar o que se entende que tais
necessidades sejam
Art 5ordm Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que durante o processo educacional apresentarem I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitaccedilotildees no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares compreendidas em dois grupos a) aquelas natildeo vinculadas a uma causa orgacircnica especiacutefica b) aquelas relacionadas a condiccedilotildees disfunccedilotildees limitaccedilotildees ou deficiecircncias II ndash dificuldades de comunicaccedilatildeo e sinalizaccedilatildeo diferenciadas dos demais alunos demandando a utilizaccedilatildeo de linguagens e coacutedigos aplicaacuteveis III - altas habilidadessuperdotaccedilatildeo grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos procedimentos e atitudes (BRASIL 2001 p 2 grifo nosso)
A ecircnfase conferida no documento agraves necessidades educacionais especiais
como sendo dificuldades de aprendizagem permite inferir que a adoccedilatildeo do termo
―favoreceu a classificaccedilatildeo de alunos com histoacuterico de fracasso escolar como
especiais (MELETTI amp BUENO 2011 p 113)
Essa forma de categorizar a deficiecircncia como parte do amplo conjunto de
necessidades educacionais especiais se alterou no discurso legal brasileiro em
2008 com a publicaccedilatildeo da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na perspectiva Inclusiva
(BRASIL 2008) Esse documento passou a delimitar o puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo
Especial agrave condiccedilatildeo de deficiecircncia e substituir a noccedilatildeo de condutas tiacutepicas pelo
conceito de transtornos globais do desenvolvimento suprimindo ainda a categoria
geneacuterica de dificuldade de aprendizagem (MELETTI amp BUENO 2011)
Ainda que esta breve contextualizaccedilatildeo histoacuterica possibilite acompanhar
algumas alteraccedilotildees realizadas nos discursos legais sobre o puacuteblico-alvo da EE os
dizeres dos integrantes das equipes diretivas evidenciaram que tais discursos de
fato natildeo satildeo apropriados da mesma maneira por todos Apesar da ED7 demonstrar
uma apropriaccedilatildeo semelhante do que estaacute posto na PNEE-EI (2008) sobre o puacuteblico-
82
alvo da EE o termo ―estudante com deficiecircncia ainda eacute o mais recorrente quando
se expande o olhar para as falas das equipes diretivas como um todo
Tal constataccedilatildeo pode significar que os estudantes com deficiecircncia
representam a maioria do puacuteblico-alvo da EE nas escolas pesquisadas mas
tambeacutem permite pensar que talvez exista uma dificuldade no processo de
identificaccedilatildeo dos estudantes com transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo No entanto suprimir os demais estudantes puacuteblico-alvo
da EE ao generalizaacute-los como ―estudantes com deficiecircncia pode indicar indiacutecios de
uma forma sutil de reiterar a invisibilidade desses no contexto escolar
Nesse sentido questiona-se se seriam esses estudantes com Transtornos
Globais do Desenvolvimento e Altas Habilidades Superdotaccedilatildeo pouco citados nos
dizeres dos integrantes das equipes diretivas escolares uma minoria matriculados
em sala de aula comum nas escolas brasileiras Para responder a esse
questionamento recorreu-se aos dados publicados no Censo Escolar (MECINEP
2015) a fim de conhecer o nuacutemero de estudantes puacuteblico-alvo da EE matriculados
no Brasil em Santa Catarina e no municiacutepio de Camboriuacute conforme detalhado no
Quadro 9 que segue
Quadro 9 Distribuiccedilatildeo das matriacuteculas por categoria utilizada no Censo Escolar de 2015 (MECINEP 2015) no Brasil em Santa Catarina e no Municiacutepio de Camboriuacute
Total de Matriacuteculas na Educaccedilatildeo Especial em Classes Comuns - Ensino Regular e
EJA
Categoria26 Brasil Santa
Catarina Camboriuacute
Deficiecircncia
Cegueira 5691 209 3
Baixa Visatildeo 64123 1858 25
Surdez 22945 704 11
Deficiecircncia Auditiva 31329 1330 11
Surdocegueira 337 13 0
Deficiecircncia Fiacutesica 100254 3382 21
Deficiecircncia Intelectual 490015 17731 180
Deficiecircncia Muacuteltipla 41948 1870 14
Total - Deficiecircncias 756642 27097 265
Transtornos Globais do Desenvolvimento
Autismo 41194 2094 19
Siacutendrome de Asperger 8244 768 7
26
Ressalta-se que conforme as instruccedilotildees disponibilizadas pelo MECINEP para preenchimento dos dados do Censo Escolar natildeo eacute necessaacuteria a comprovaccedilatildeo de laudo meacutedico no momento em que a escola informa no sistema Educacenso a categoria de um estudante puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial
83
Siacutendrome de Rett 1670 32 1
Transtorno Desintegrativa da Infacircncia ndash TDI
32904 1231 22
Total ndash TGD 84012 4125 49
Altas Habilidades Superdotaccedilatildeo
Altas HabilidadesSuperdotaccedilatildeo
14166 314 0
Total - AHSD 14166 314 0
Fonte Formulado a partir dos dados contidos na Sinopse Estatiacutestica da Educaccedilatildeo Baacutesica (MECINEP 2015) Nota-se que de fato os estudantes com transtornos globais e com altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo satildeo minoria sendo os estudantes com deficiecircncia a
maioria do puacuteblico-alvo da EE matriculado nas escolas do Brasil Santa Catarina e
Camboriuacute Ou seja quando as equipes diretivas pesquisadas recorrem com
frequecircncia ao termo ―deficiecircncia para especificar o puacuteblico-alvo da EE pode-se
dizer que elas falam daquilo que vivenciam em seu cotidiano escolar por mais que o
faccedilam de forma generalizada
Contudo generalizar que os estudantes puacuteblico-alvo da EE se resumem aos
estudantes com deficiecircncia em funccedilatildeo dessa prevalecircncia numeacuterica consiste em uma
forma de encobrir a existecircncia dos demais estudantes e com isso correr o risco de
negar a diversidade que tambeacutem existe no acircmbito do puacuteblico-alvo da EE Nessa
direccedilatildeo Vasques (2015 p118) esclarece que
[] a inclusatildeo escolar envolve uma construccedilatildeo compartilhada a partir dos nossos pressupostos a respeito de educaccedilatildeo escola aluno [educaccedilatildeo especial] infacircncia etc Tais antecipaccedilotildees ganham significados a partir do contexto da historicidade e da interpretaccedilatildeo dos sujeitos das poliacuteticas puacuteblicas educacionais e das instituiccedilotildees envolvidas
Adentrado agora nos pontos que chamaram especificamente a atenccedilatildeo nas
falas de algumas equipes diretivas notou-se que o(a) supervisor(a) educacional da
ED1 mencionou que nenhum dos estudantes puacuteblico-alvo da EE citados (estudantes
com deficiecircncia auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia mental intelectual e
muacuteltipla) recebe atendimento especializado a natildeo ser com a psicoacuteloga Investigando
as funccedilotildees do psicoacutelogo na escola encontrou-se na Lei Complementar Nordm 192008
(CAMBORIUacute 2008) as seguintes atribuiccedilotildees
At 17 Satildeo atribuiccedilotildees do Suporte Pedagoacutegico na funccedilatildeo de Psicoacutelogo lotado na Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
84
I - contribuir no processo de inclusatildeo social de alunos com necessidades educativas especiais realizando um trabalho coletivo com os pais educadores e equipe pedagoacutegica II - auxiliar no processo de inclusatildeo escolar rompendo com as praacuteticas excludentes III - orientar os professores para desenvolverem accedilotildees planejadas que promovam a apropriaccedilatildeo do saber escolar e o desenvolvimento cognitivo dos estudantes IV - promover discussatildeo sobre a inclusatildeo e o respeito agrave diversidade humana V - contribuir no processo ensino-aprendizagem colaborando com o corpo docente e teacutecnico na compreensatildeo das questotildees de aprendizagem e relacionamento VI - colaborar na reconstruccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das praacuteticas educacionais visando favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento psicossocial dos alunos VII - avaliar alunos com dificuldade de aprendizagem e o desenvolvimento psicossocial destes VIII - avaliar alunos com dificuldade de aprendizagem emitindo parecer psicoloacutegico e propondo encaminhamentos quando necessaacuterio IX - promover palestras encontros eou grupos de reflexatildeo para pais e familiares possibilitando maior envolvimento da famiacutelia no meio escolar X - desenvolver conforme necessidade da escola programas de orientaccedilatildeo profissional em conjunto com a equipe pedagoacutegica XI - realizar pesquisas na aacuterea da psicologia escolar contribuindo para a construccedilatildeo de novos saberes XII - promover a articulaccedilatildeo e troca de conhecimentos entre as diferentes aacutereas de saber XIII - colaborar com os processos de transformaccedilatildeo da realidade escolar tendo como meta a escola democraacutetica de qualidade social e para todos XIV - executar outras atividades compatiacuteveis com o cargo XV - realizar as atividades que forem designadas por seu superior hieraacuterquico ou pela Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo (CAMBORIUacute 2008)
Torna-se claro pelas funccedilotildees expostas no documento que o trabalho do
psicoacutelogo escolar eacute relevante para o processo de escolarizaccedilatildeo Em pesquisa
disponiacutevel no site do Conselho Federal de Psicologia realizada no ano de 2015 com
professores de diversas regiotildees do Brasil sobre temas relativos agrave profissatildeo docente
e ao contexto educacional do paiacutes foi constatado que a rede puacuteblica de ensino
deveria dispor de um serviccedilo integrado com psicoacutelogo(a) psicopedagogo(a) e
assistente social Para 50 dos professores entrevistados as secretarias de
educaccedilatildeo deveriam oferecer psicoacutelogos enquanto 28 solicitavam psicopedagogos
8 assistentes sociais 7 mediadores de conflito e 4 fonoaudioacutelogos
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA 2015 sp)
Esse trabalho do psicoacutelogo escolar ainda que natildeo substitua o atendimento
educacional especializado pode contribuir para favorecer um trabalho coletivo
voltado agrave escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Dazzani (2010 p 371)
apoiada em Martinez (2001) explanou que
85
[] mesmo diante de todas as criacuteticas agrave histoacuteria das relaccedilotildees entre psicologia e educaccedilatildeo devemos insistir que o conhecimento produzido pelas ciecircncias psicoloacutegicas pode contribuir com a praacutetica educativa ou seja consideramos que o psicoacutelogo pode e deve se envolver diretamente com a accedilatildeo educacional Pensando assim as estrateacutegias do psicoacutelogo educacional devem ser concebidas como um dos modos de interpretar a realidade educacional objetiva (social e politicamente objetiva) sem reduzi-la a um fenocircmeno puramente psicoloacutegico
Nesse sentido no que tange agrave realizaccedilatildeo do AEE da Rede Municipal de
Ensino de Camboriuacute haacute indiacutecios de que a forma como o serviccedilo estaacute estruturado e
organizado natildeo corrobora para assegurar o direito a aprender dos estudantes
puacuteblico-alvo da EE Isso porque como explicou Omote (2004 p6)
[] a mera inserccedilatildeo do aluno deficiente em classe comum natildeo pode ser confundida com a inclusatildeo Na verdade toda a escola precisa ter caraacuteter inclusivo nas suas caracteriacutesticas e no funcionamento para que sejam matriculados alunos deficientes [] Uma escola que soacute busca arranjo especial determinado pela presenccedila de algum aluno deficiente e na qual a adequaccedilatildeo eacute feita para as necessidades particulares dele natildeo pode ser considerada propriamente inclusiva
Nessa perspectiva Freitas (2002) alerta que ao fazer uma anaacutelise acerca da
escola puacuteblica eacute preciso considerar as pressotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais
postas pelo sistema capitalista a ela Pressotildees essas que se traduzem em poliacuteticas
puacuteblicas impregnadas de pressupostos neoliberais e colocadas em funcionamento
com o objetivo de ―reduzir custos econocircmicos sociais e poliacuteticos sem alterar a
essecircncia seletiva da escola resultando em maior nuacutemero de repetecircncia e evasatildeo
criando um campo de exclusatildeo subjetiva (FREITAS 2002 p 299) Isso pode
significar que a forma como a escola puacuteblica estaacute organizada pode natildeo estar
considerando as singularidades e potencialidades da maioria de seus estudantes e
natildeo somente dos que satildeo denominados puacuteblico-alvo da EE Nessa direccedilatildeo o autor
enfatiza ainda que
[] quanto mais se falou em inclusatildeo mais se legitimou a exclusatildeo social preacutevia agrave escolarizaccedilatildeo por um mecanismo dissimulatoacuterio de inclusatildeo formal na escola que transmutou a exclusatildeo escolar objetiva (repetecircncia evasatildeo) em exclusatildeo escolar subjetiva (auto-exclusatildeo entre ciclos ―opccedilotildees por trilhas de progressatildeo menos privilegiadas tracircnsito formal sem domiacutenio real) a partir dos horizontes e das possibilidades de classe previamente interiorizados pelas condiccedilotildees objetivas de cada classe na sociedade (FREITAS 2002 p 310)
86
Em meio agraves reflexotildees supracitadas pode-se perceber a importacircncia da
atuaccedilatildeo criacutetica e reflexiva da equipe diretiva juntamente com a comunidade escolar
no que tange agraves poliacuteticas educacionais de modo a compreender o contexto
histoacuterico econocircmico poliacutetico e social em que estatildeo inseridos assim como quais
pressupostos permeiam tais poliacuteticas buscando formas de constituir um fazer
pedagoacutegico que possa contribuir com um efetivo processo de escolarizaccedilatildeo para
todos os estudantes
Ao seguir com as anaacutelises se observou que a maioria dos integrantes da
ED2 por sua vez enfatizaram que o puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial satildeo todos
os estudantes com laudos meacutedicos indicando que a forma como essa equipe
diretiva compreende os referidos estudantes estaacute pautada em um modelo meacutedico-
psicoloacutegico Essa perspectiva que se expressa no ato de requerer ou se basear no
laudo meacutedico eou psicoloacutegico para realizar um atendimento educacional
especializado encontra seu fundamento na histoacuteria da Educaccedilatildeo Especial quando
os aspectos cliacutenicos predominavam em detrimento dos pedagoacutegicos A esse
respeito Garcia (2007 p17) esclareceu que
[] o modelo meacutedico psicoloacutegico contribuiu para que a tarefa da educaccedilatildeo especial estivesse a serviccedilo de um sistema educacional de organizaccedilatildeo seriada elitista e classificatoacuteria produtor de exclusatildeo da escola de ensino fundamental e estruturado historicamente por meio de uma organizaccedilatildeo racional do trabalho pedagoacutegico com base na homogeneidade
As falas das equipes diretivas sinalizam que o laudo meacutedico se caracteriza
como uma espeacutecie de ―credencial para que o estudante puacuteblico-alvo da EE consiga
acessar seu direito ao serviccedilo de AEE bem como a outros serviccedilos Quando se
confere tal relevacircncia ao laudo corre-se o risco de planejar as accedilotildees escolares
voltadas para a deficiecircncia e natildeo para o estudante e suas potencialidades Contudo
ressalta-se que segundo informaccedilotildees da Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria
Municipal de Educaccedilatildeo obtidas por meio de entrevista durante o processo de coleta
de dados desta pesquisa a ausecircncia de laudo natildeo eacute impeditiva para a oferta do
AEE a esses estudantes Essa informaccedilatildeo por sua vez converge com as
orientaccedilotildees contidas na Nota Teacutecnica no 042014MECSECADIDPEE quando essa
enfatiza que
[] natildeo se pode considerar imprescindiacutevel a apresentaccedilatildeo de laudo meacutedico (diagnoacutestico cliacutenico) por parte do aluno com deficiecircncia transtornos globais
87
do desenvolvimento ou altas habilidadessuperdotaccedilatildeo uma vez que o AEE caracteriza-se por atendimento pedagoacutegico e natildeo cliacutenico Durante o estudo de caso primeira etapa da elaboraccedilatildeo do Plano de AEE se for necessaacuterio o professor do AEE poderaacute articular-se com profissionais da aacuterea da sauacutede tornando-se o laudo meacutedico neste caso um documento anexo ao Plano de AEE Por isso natildeo se trata de documento obrigatoacuterio mas complementar quando a escola julgar necessaacuterio O importante eacute que o direito das pessoas com deficiecircncia agrave educaccedilatildeo natildeo poderaacute ser cerceado pela exigecircncia de laudo meacutedico (BRASIL 2014 sp)
Nesse sentido considera-se que ao conferir ecircnfase ao laudo meacutedico incorre-
se no risco de uma interpretaccedilatildeo que pode culminar em condiccedilotildees de ensino que
levem em conta unicamente a dimensatildeo individual de modo a estigmatizar e
responsabilizar cada estudante pelo seu eventual fracasso ou sucesso escolar
(ROSSATO e LEONARDO 2012)
Nota-se portanto no que tange agrave necessidade do laudo meacutedico um
desencontro entre a perspectiva da Coordenaccedilatildeo e de parte da equipe diretiva da
escola ED2 o que sugere a necessidade de uma aproximaccedilatildeo e articulaccedilatildeo entre as
duas instacircncias em prol do processo de escolarizaccedilatildeo do estudante puacuteblico-alvo da
EE
Quanto agrave ED4 percebeu-se na fala do(a) orientador(a) educacional que foi
feita uma referecircncia ao estudante com deacuteficit de atenccedilatildeo como sendo puacuteblico-alvo
da EE demonstrando uma divergecircncia do que estaacute posto na PNEE-EI (BRASIL
2008) sobre quem satildeo os estudantes que devem receber atendimento educacional
especializado A fala desse(a) participante contudo estaacute alinhada ao Plano
Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute instituiacutedo pela Lei nordm 28322015 (CAMBORIUacute
2015) que inclui os estudantes com transtorno de deacuteficit de atenccedilatildeo como parte do
puacuteblico-alvo a ser atendido pelo serviccedilo de AEE assim como ao documento da
Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina de 2014
[] fomentar a oferta do atendimento educacional especializado complementar e suplementar aos estudantes com deficiecircncia transtornos do espectro do autismo transtorno do deacuteficit de atenccedilatildeo com hiperatividade e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo assegurando a educaccedilatildeo biliacutengue para crianccedilas surdas e a transversalidade da educaccedilatildeo especial nessa etapa da educaccedilatildeo baacutesica com profissionais habilitados (CAMBORIUacute 2015 p 7 grifo nosso)
De acordo com as orientaccedilotildees da Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada
Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo por meio da Diretoria de Poliacuteticas de
88
Educaccedilatildeo Especial27 (SECADIDPEE) estudantes que apresentam transtornos
funcionais especiacuteficos tais como Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo - TDA
Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo ndash Hiperatividade - TDHA e Dislexia natildeo fazem
parte do puacuteblico alvo da educaccedilatildeo especial (INEP 2011 sp) Contudo apesar da
PNEE-EI (BRASIL 2008) esclarecer delimitar e especificar o puacuteblico-alvo da EE
como sendo pessoas com deficiecircncias transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades e superdotaccedilatildeo foi possiacutevel identificar no documento da Poliacutetica
de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina (SANTA CATARINA 2014) a
inclusatildeo de pessoas com diagnoacutestico de transtorno do deacuteficit de
atenccedilatildeohiperatividade como parte desse puacuteblico-alvo
[] eacute importante observar que no Estado de Santa Catarina em 2006 foi publicada a Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina elaborada pela Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial (FCEE) e pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo com o mesmo marco conceitual da Proposta Curricular do Estado Esta poliacutetica adota nomenclaturas e dinacircmicas para serviccedilos jaacute disponibilizados inclui as pessoas com diagnoacutestico de transtorno do deacuteficit de atenccedilatildeohiperatividade como puacuteblico da educaccedilatildeo especial e institui a co-regecircncia com o segundo professor (SANTA CATARINA 2014 p72 grifos nosso)
Pode-se inferir nesse sentido que o Plano Municipal de Educaccedilatildeo de
Camboriuacute se apoiou na poliacutetica estadual ao definir quem seriam os estudantes a
receber atendimento educacional especializado Com relaccedilatildeo ainda ao transtorno
do deacuteficit de atenccedilatildeo Leite etal (2012) evidencia um ponto de tensatildeo acerca de
encaminhamentos realizados pelas escolas dos estudantes com suspeita desse
transtorno uma vez que tem levado a um ―diagnoacutestico desse problema natildeo raros
feitos de maneira aligeirada e superficial combinada a uma prescriccedilatildeo exacerbada
de medicamentos para trataacute-los se constituindo em um fenocircmeno crescente no
cenaacuterio brasileiro (LEITE et al 2012 p 142) Sobre essa questatildeo Collares e
Moyseacutes (1996 p7) ressaltam ainda que
27
A Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo - SECADI eacute a responsaacutevel pelo Programa de implantaccedilatildeo das SRM e o compreende como parte das poliacuteticas puacuteblicas inclusivas e como uma accedilatildeo que responde agrave necessidade histoacuterica de promover condiccedilotildees de acesso e permanecircncia no ensino regular dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial (BRASIL 2013)
89
[] existem crianccedilas com necessidades especiais[puacuteblico-alvo da EE] Entretanto o universo de crianccedilas normais que satildeo transformadas em doentes por uma visatildeo de mundo medicalizada da sociedade em geral e da instituiccedilatildeo escolar em particular eacute tatildeo grande que tem nos impedido de identificar e atender adequadamente as crianccedilas que realmente precisam de atenccedilatildeo especializada []
Ateacute aqui foi possiacutevel problematizar algumas questotildees que surgiram a partir
das respostas dos participantes da pesquisa agrave pergunta ―Quem satildeo os estudantes
puacuteblico-alvo do AEE A partir de agora volta-se a anaacutelise para as respostas dos
profissionais das equipes diretivas agrave questatildeo ―Qual a sua compreensatildeo sobre
serviccedilo do AEE As respostas fornecidas a ambas as questotildees foram
semelhantes uma vez que ao falarem sobre o serviccedilo a maioria dos participantes
focalizou o seu puacuteblico-alvo Pode-se dizer que as equipes diretivas lanccedilaram luz ao
fazecirc-lo sobre um aspecto importante desse serviccedilo que se refere a para quem ele eacute
ofertado Entretanto adverte-se para o risco de se tomar a parte pelo todo isto eacute
reduzir o AEE ao indiviacuteduo que eacute puacuteblico-alvo desse serviccedilo
Uma compreensatildeo fragmentada sobre esse serviccedilo pode levar a um
entendimento descontextualizado que deixa de fora da anaacutelise outros fatores que
compotildeem o AEE como o contexto social poliacutetico e econocircmico vigente a
participaccedilatildeo da famiacutelia e comunidade o envolvimento de todos os profissionais da
escola na efetivaccedilatildeo do AEE dentre os quais figura a equipe diretiva aqui estudada
as condiccedilotildees objetivas da escola e as concepccedilotildees teoacutericas que embasam a atuaccedilatildeo
dos integrantes das Equipes Diretivas
Em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees objetivas Paro (2016b) esclarece que se referem agrave
infraestrutura fiacutesica aos recursos humanos materiais e pedagoacutegicos agrave formaccedilatildeo
profissional em serviccedilo ao apoio aos professores dentre outros fatores Tais
condiccedilotildees podem favorecer ou desfavorecer o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial bem como o trabalho da equipe
diretiva escolar no que tange agrave implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do Atendimento
Educacional Especializado
Simplificar a compreensatildeo do AEE reduzindo-o ao estudante com
deficiecircncia pode indicar que os integrantes das equipes diretivas natildeo entendem o
serviccedilo como aquele que contribui para uma adequaccedilatildeo estrutural pedagoacutegica e
cultural voltado a eliminar barreiras propiciando interface entre o professor
90
especializado e o professor da sala comum Nessa perspectiva Garcia (2008 p21)
expocircs que
[] ainda que a implantaccedilatildeo de serviccedilos especializados nas redes de ensino signifique um ganho em termos de oferta educacional puacuteblica para os alunos com deficiecircncia eacute necessaacuterio questionar qual o papel exercido por tais serviccedilos e como estatildeo relacionados ao trabalho pedagoacutegico realizado na educaccedilatildeo baacutesica
Compreender o AEE a partir do seu puacuteblico-alvo exige o cuidado de se
considerar a dimensatildeo do indiviacuteduo sem responsabilizaacute-lo unicamente pelo processo
de escolarizaccedilatildeo uma vez que a culpabilizaccedilatildeo individual eacute ―[] uma das estrateacutegias
psicossociais mais sutis na tarefa de legitimaccedilatildeo da exclusatildeo (GUARESCHI 2010
p 151)
Direcionar o foco ao estudante tambeacutem pode dar indiacutecios de que o processo
de escolarizaccedilatildeo pode estar ocorrendo de forma precaacuteria28 nas escolas
pesquisadas de forma que somente um aspecto ndash o estudante ou de forma mais
especiacutefica sua deficiecircncia ndash esteja sendo considerada quando se trata de oferecer
um atendimento que enfoque sua necessidade educacional especiacutefica O caraacuteter
ilusoacuterio da inclusatildeo nessa pesquisa se revela quando o serviccedilo de AEE para alguns
integrantes das equipes diretivas estudadas natildeo eacute compreendido a partir de uma
perspectiva contextualizada que considere aspectos estruturais pedagoacutegicos e
histoacuterico-culturais mas se reduz agrave deficiecircncia do estudante
Ainda que a maioria dos participantes tenha demonstrado uma
compreensatildeo sobre o AEE focalizada em seu puacuteblico-alvo alguns deles
apresentaram um entendimento sobre o serviccedilo com foco no local em que eacute
realizado (a Sala de Recursos Multifuncionais) conforme evidenciado nas falas de
ED1d ED1o e ED6s
ED1
d Temos a sala mas natildeo tem especialista para trabalhar
ED1o Temos a sala mas natildeo tem especialista para trabalhar nossos
alunos ED6
s Com relaccedilatildeo a nossa unidade de ensino e do municiacutepio em geral a
falta de espaccedilo adequado e profissionais qualificados eacute de grande expressatildeo (grifo nosso)
28
Segundo Martins (1997) inclusatildeo precaacuteria significa que todas as pessoas estatildeo incluiacutedas na sociedade de algum modo contudo podem estar incluiacutedas de forma perversa subalterna marginal
91
Percebe-se que ao serem perguntados sobre como compreendiam o AEE a
primeira associaccedilatildeo feita pelos participantes foi com um espaccedilo fiacutesico ―temos a
sala e se referem agrave ―falta de espaccedilo adequado O que chama atenccedilatildeo junto dessa
primeira associaccedilatildeo eacute uma segunda que eacute com relaccedilatildeo ao profissional
especializado
Essas satildeo duas partes importantes do serviccedilo a Sala de Recursos
Multifuncionais e o professor especializado Basta olhar a Resoluccedilatildeo nordm 42009
(BRASIL 2009) que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional
Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica para verificar o destaque conferido a esses
aspectos jaacute no seu art 1ordm
[] os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE) ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede puacuteblica ou de instituiccedilotildees comunitaacuterias confessionais ou filantroacutepicas sem fins lucrativos (BRASIL 2009 p 1 grifo nosso)
Evidencia-se a partir da citaccedilatildeo que na proacutepria resoluccedilatildeo a primeira
referecircncia feita ao que eacute o Atendimento Educacional Especializado no art 1 eacute
acompanhada logo na sequecircncia da expressatildeo sala de recursos multifuncionais
Vecirc-se portanto que essa associaccedilatildeo entre AEE e SRM se faz visiacutevel natildeo apenas
nos dizeres dos participantes mas tambeacutem nos documentos oficiais Os discursos
legais nesse sentido revelam-se como determinaccedilotildees dos discursos das equipes
diretivas ao se referirem ao AEE Sobre isso Vaz (2013 p44) ressaltou que eacute
preciso considerar nos discursos legais
[] o caraacuteter impositivo e direcionador que muitas vezes utiliza argumentos com caraacuteter humanista para convencer a populaccedilatildeo sobre seus objetivos [] os sujeitos podem apresentar resistecircncias em implementar a poliacutetica na escola no entanto a abrangecircncia dos discursos de convencimento e adesatildeo eacute muito significativa e faz parte de uma concepccedilatildeo de sociedade cuja intenccedilatildeo primordial eacute manter as relaccedilotildees antagocircnicas entre o capital e o trabalho
Ao fazer um contrapondo Franccedila (2008) destaca que as poliacuteticas
educacionais natildeo satildeo simplesmente incorporadas agrave escola por seus profissionais
ao inverso disso elas satildeo interpretadas ressignificadas pelos sujeitos que nela
trabalham podendo produzir nessas poliacuteticas transformaccedilotildees significativas que a
92
princiacutepio foram instituiacutedas Isso ocorre porque os profissionais da educaccedilatildeo ―satildeo
sujeitos histoacuterico-sociais marcados pelas suas experiecircncias e valores portanto
podem desempenhar um papel ativo capaz de constituir outros sentidos no processo
de implementaccedilatildeo das poliacuteticas (FRANCcedilA 2008 p 21)
Ao seguir com as discussotildees no que tange ao professor especializado pode-
se perceber que esse por sua vez eacute destacado em dois (art 12 e 13) dos catorze
artigos que compotildeem a Resoluccedilatildeo nordm 42009 (BRASIL 2009) Os requisitos
referentes agrave formaccedilatildeo desse docente bem como suas atribuiccedilotildees satildeo explorados
nos art 12 e 13
Art 12 Para atuaccedilatildeo no AEE o professor deve ter formaccedilatildeo inicial que o habilite para o exerciacutecio da docecircncia e formaccedilatildeo especiacutefica para a Educaccedilatildeo Especial Art 13 Satildeo atribuiccedilotildees do professor do Atendimento Educacional Especializado I ndash identificar elaborar produzir e organizar serviccedilos recursos pedagoacutegicos de acessibilidade e estrateacutegias considerando as necessidades especiacuteficas dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial II ndash elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade III ndash organizar o tipo e o nuacutemero de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais IV ndash acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular bem como em outros ambientes da escola V ndash estabelecer parcerias com as aacutereas intersetoriais na elaboraccedilatildeo de estrateacutegias e na disponibilizaccedilatildeo de recursos de acessibilidade VI ndash orientar professores e famiacutelias sobre os recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno VII ndash ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos promovendo autonomia e participaccedilatildeo VIII ndash estabelecer articulaccedilatildeo com os professores da sala de aula comum visando agrave disponibilizaccedilatildeo dos serviccedilos dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade e das estrateacutegias que promovem a participaccedilatildeo dos alunos
nas atividades escolares (BRASIL 2009 p 12 e 13)
Ao observar as atribuiccedilotildees do professor especializado natildeo eacute de se estranhar
que tamanha expectativa seja colocada sobre ele no que tange ao processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Expectativa essa
que pode culminar em
[] uma espeacutecie de hiper-responsabilizaccedilatildeo do docente como se as condiccedilotildees de acesso dos alunos e as proacuteprias condiccedilotildees em que se desenvolve sua atividade profissional natildeo estivessem limitadas por diretrizes normas e relaccedilotildees de poder tanto na escola como na sociedade (MARCELO 2009 p 124)
93
Pode-se dizer que em algumas das suas atribuiccedilotildees ele aparece como
responsaacutevel por atividades que implicam o envolvimento de outros profissionais que
compotildeem o contexto escolar Por exemplo na atribuiccedilatildeo V em que ele aparece
como responsaacutevel por estabelecer parcerias intersetoriais sem que haja alusatildeo de
que essa accedilatildeo demanda o envolvimento de outros sujeitos e do contexto escolar em
que estaacute inserido ou inciso VI em que ao docente eacute atribuiacuteda a responsabilidade
pela orientaccedilatildeo de professores e famiacutelias sobre os recursos pedagoacutegicos e de
acessibilidade utilizados pelo aluno sem que haja menccedilatildeo ao papel do orientador(a)
e supervisor(a) educacional nesse processo
Do mesmo modo na atribuiccedilatildeo VIII ao professor especializado eacute atribuiacuteda a
tarefa de estabelecer articulaccedilatildeo com o professor da sala comum sem que haja
referecircncia de que essa articulaccedilatildeo eacute uma via de matildeo dupla que exige tambeacutem o
envolvimento do professor da sala comum bem como o apoio do supervisor(a)
educacional com vistas a propiciar a interface entre esses profissionais no acircmbito
escolar
Apenas no art 9 da mesma Resoluccedilatildeo (BRASIL 2009 p 2) realccedila-se que a
elaboraccedilatildeo e a execuccedilatildeo do plano de AEE eacute de responsabilidade do professor que
atua no AEE em articulaccedilatildeo com ―[] os professores do ensino regular a
participaccedilatildeo das famiacutelias e em interface com os demais serviccedilos setoriais da sauacutede
da assistecircncia social entre outros necessaacuterios ao atendimento poreacutem sem
mencionar referecircncia ao papel da equipe diretiva nesse processo Presume-se que
esse papel esteja impliacutecito somente nos art 10 e 11 da referida Resoluccedilatildeo os quais
esclarecem que o plano de AEE deve integrar o projeto poliacutetico pedagoacutegico da
escola no qual se supotildee que haja envolvimento da equipe de gestatildeo escolar
Assim ao contemplar as compreensotildees dos integrantes das equipes diretivas
sobre o AEE pode-se evidenciar que em sua maioria os participantes parecem
restringir o serviccedilo ao estudante com deficiecircncia e agrave Sala de Recursos
Multifuncionaisprofessor especializado indicando uma compreensatildeo
descontextualizada sobre o AEE Essa visatildeo do AEE expressa nas falas das
equipes diretivas pode encontrar respaldo na legislaccedilatildeo e nas orientaccedilotildees e por
vezes pode culminar por limitar ou condicionar o fazer pedagoacutegico das equipes
diretivas
94
Para serem implementadas pressupotildeem-se que primeiramente as diretrizes
precisam ser analisadas e discutidas de forma criacutetica e reflexiva juntamente com
coletivo escolar Nesse sentido vislumbra-se o importante papel das equipes
diretivas em repensar e ressignificar juntamente com a comunidade escolar as
concepccedilotildees de mundo sociedade escola estudante educaccedilatildeo especial funccedilatildeo da
escola gestatildeo escolar formas de aprendizagens organizaccedilatildeo das turmas
Compreende-se que a realizaccedilatildeo dessa accedilatildeo nos espaccedilos escolares natildeo
ocorre de forma harmoniosa e colaborativa pelo contraacuterio eacute permeada por tensotildees
e conflitos mas ao mesmo tempo pode ser concebida como uma possiacutevel
alternativa como explicam Vioto e Vitaliano (2012 p 9) para
[] promover mudanccedilas educacionais de forma a transformar as escolas que historicamente se caracterizaram como espaccedilos educacionais destinados ao atendimento de alunos em classes regulares homogecircneas em escolas inclusivas nas quais a heterogeneidade possa ser percebida como princiacutepio baacutesico para elaboraccedilatildeo de todas as propostas pedagoacutegicas
Pensando nisso perguntou-se agraves equipes diretivas pesquisadas acerca de
suas compreensotildees sobre o trabalho do professor que atua no AEE a forma de
ingresso ao cargo a participaccedilatildeo nos processos coletivos da escola bem como
quem o acompanha e o auxilia no exerciacutecio de sua funccedilatildeo
Considerando que apenas as duas equipes diretivas ED2 e ED4 que
possuiacuteam o professor especializado responderam a esse item seratildeo analisadas e
discutidas somente as suas compreensotildees sobre o trabalho docente no AEE
Ao questionar os integrantes dessas duas equipes diretivas sobre o ingresso
do professor de AEE na funccedilatildeo foi possiacutevel observar que em ambos os casos foi
conduzido um processo de seleccedilatildeo segundo a ED2 um concurso puacuteblico e
conforme a ED4 um processo seletivo para contrataccedilatildeo temporaacuteria
Diferentemente da Rede Municipal de Joinville na qual de acordo com
Santos (2016) o ingresso docente no Atendimento Educacional Especializado tem
sido realizado geralmente por convite convocaccedilatildeo ou realocaccedilatildeo a Rede Municipal
de Camboriuacute parece privilegiar processos formais de seleccedilatildeo dos referidos
professores Chama a atenccedilatildeo contudo o fato de haver um(a) professor(a) de AEE
que natildeo eacute efetivo no cargo de acordo com o relato da ED4 Nesse caso pode-se
dizer que existe uma probabilidade de descontinuidade ou ruptura do trabalho
realizado por esse profissional o que pode tornar fraacutegil a estrutura do AEE na escola
95
e por conseguinte o processo de escolarizaccedilatildeo e o viacutenculo com os estudantes
puacuteblico-alvo da EE
Quanto agrave compreensatildeo da ED2 e ED4 sobre o trabalho realizado pelo(a)
professor(a) de AEE essa eacute evidenciada nas falas a seguir
ED2d [Eacute o profissional que] atende os alunos com deficiecircncia []
ED2o
Eacute um profissional diferenciado com uma qualificaccedilatildeo especializada que tem um olhar para o outro como um ser que precisa do mesmo carinho afeto paciecircncia para que alcance os objetivos ED2
s [Eacute um profissional que]
auxilia a promover a interaccedilatildeo do aluno
com os professores do ensino regular ED4
d Eacute um profissional que auxilia no desenvolvimento
ED4o
[Eacute um trabalho] muito significativo quando levado a seacuterio com responsabilidade Fazer atividades relevantes ED4
s [Eacute um trabalho] que auxilia a desenvolver as habilidades que satildeo
mais comprometidas nos alunos com deficiecircncia
Evidenciou-se que na maioria das falas dos integrantes das equipes
diretivas o foco do trabalho docente eacute o estudante com deficiecircncia Esse enfoque
tambeacutem eacute dado nas legislaccedilotildees que se referem ao AEE contudo centrar o trabalho
no estudante pode remeter a uma compreensatildeo que favoreccedila sua
descontextualizaccedilatildeo do processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Nas falas
supracitadas por exemplo natildeo apareceu um verbo essencial para descrever a
funccedilatildeo de um professor especializado ou natildeo ensinar Funccedilatildeo essa por sua vez
que se relaciona ao objetivo primeiro da escola que consiste em assegurar a
apropriaccedilatildeo dos conhecimentos produzidos historicamente de forma
sistematizada criacutetica e reflexiva a todos os estudantes
Uma forma de analisar essa constataccedilatildeo diz respeito ao modo como os
documentos oficiais relativos agrave Educaccedilatildeo Especial com destaque agrave Resoluccedilatildeo n
42009 (BRASIL 2009) concebem a funccedilatildeo docente com ―uma ecircnfase agraves
questotildees teacutecnicas referentes ao uso de recursos o que indica a secundarizaccedilatildeo
dos aspectos pedagoacutegicos relacionados ao ato de ensinar (ROSSETTO 2015 p
111)
Convergindo com a discussatildeo Michels (2011) salienta que
[] a centralidade das accedilotildees dos professores do atendimento educacional especializado (AEE) permanece nas teacutecnicas e nos recursos especializados [] Mesmo aquelas accedilotildees que dizem respeito agrave articulaccedilatildeo com a classe
96
comum natildeo estatildeo atreladas agrave discussatildeo pedagoacutegica e sim agrave utilizaccedilatildeo de recursos especiacuteficos (MICHELS2011 p 226)
Tambeacutem foi possiacutevel evidenciar que professor de AEE e seu trabalho foram
definidos por meio de adjetivos como como ―diferenciados ―especializados
―qualificados e ―significativos o que pode ser analisado de duas formas distintas
Uma delas eacute a de que haacute um reconhecimento por parte das equipes diretivas
pesquisadas da relevacircncia do trabalho docente no AEE para o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Outra diz respeito a um
entendimento que esse trabalho docente eacute tatildeo diferenciado e especializado a ponto
de distanciaacute-loseparaacute-lo do ensino regular contribuindo para a segregaccedilatildeo
(inclusatildeo precaacuteria) do estudante puacuteblico-alvo da EE
Ressalta-se ainda a compreensatildeo do(a) orientador(a) educacional da ED2
para quem a qualificaccedilatildeo especializada do(a) professor(a) de AEE lhe possibilita
desenvolver um olhar de carinho afeto e paciecircncia paracom o outro de modo a
atingir objetivos educacionais Essa compreensatildeo parece estar impregnada de
uma concepccedilatildeo que pode se traduzir em uma visatildeo de Educaccedilatildeo Especial em que
o cuidado eacute privilegiado e secundarizado portanto o processo de escolarizaccedilatildeo do
estudante puacuteblico-alvo da EE Entretanto essa forma de conceber o professor de
AEE eacute evidenciada tambeacutem na pesquisa de Santos (2016) que estudou as
narrativas de histoacuteria de vida de professoras atuantes no AEE Ao questionar
sobre as caracteriacutesticas de um professor de AEE as participantes apontaram em
seus discursos descritores como ―ser atenciosa carinhosa paciente acreditar na
capacidade e potencial dos alunos desenvolver um olhar diferente [] (SANTOS
2016 p75) A mesma autora explica que
[] uma outra questatildeo que pode ser problematizada eacute [] o lugar em que se coloca no discurso o aluno com deficiecircncia ndash que passa a ser aquele que primeiramente precisa de afeto (e por isso de uma professora atenciosa carinhosa e paciente) e cuja aprendizagem fica portanto em segundo plano Se a aprendizagem do aluno fica em segundo plano a atividade de ensinar algo a algueacutem proacutepria do professor tambeacutem fica [] (SANTOS 2016 p 76-77)
Isso natildeo significa que a sensibilidade a relaccedilatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica
natildeo sejam importantes pelo contraacuterio esses aspectos constituem o ser professor
como explicaram Pimenta amp Anastasiou (2008 p14)
97
[] ser professor requer saberes e conhecimentos cientiacuteficos pedagoacutegicos educacionais sensibilidade indagaccedilatildeo teoacuterica e criatividade para encarar as situaccedilotildees ambiacuteguas incertas conflituosas [] presentes nos contextos escolares [] Eacute da natureza da atividade docente proceder agrave mediaccedilatildeo reflexiva e criacutetica entre as transformaccedilotildees sociais concretas e a formaccedilatildeo humana dos alunos questionando os modos de pensar sentir agir e de produzir e distribuir conhecimentos
Em siacutentese foi possiacutevel constatar que o trabalho do professor de AEE na
visatildeo das equipes diretivas acentuou a relaccedilatildeo entre docente especializado e
estudante puacuteblico-alvo da EE atenuando ou mesmo natildeo mencionando o seu papel
enquanto equipe diretiva nesse trabalho docente bem como de outros profissionais
e demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo Esse silenciamento pode ser
interpretado como sinal de um trabalho docente especializado que acontece de
forma isolada
Entende-se que o desenvolvimento de um trabalho conjunto entre equipe
diretiva professores da sala comum professor de AEE pais e estudantes pode
contribuir para o trabalho do professor de AEE e por conseguinte para o processo
de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico alvo da EE
Neste processo o papel da equipe diretiva parece exceder a elaboraccedilatildeo e o
acompanhamento do projeto poliacutetico-pedagoacutegico uma vez que pode ser
vislumbrado em uma diversidade de accedilotildees que Veiga (1995) chamou de accedilotildees
intencionais com sentidos expliacutecitos e compromissos definidos coletivamente
Dentre elas pode-se citar em especial a accedilatildeo de repensar e estabelecer
formalmente espaccedilos e tempos de discussatildeo conjunta das diretrizes da Educaccedilatildeo
Especial e da proposta de AEE bem como de estrateacutegias para a escolarizaccedilatildeo de
estudantes que compotildeem seu puacuteblico-alvo Reforccedila-se assim o trabalho coletivo
como condiccedilatildeo necessaacuteria para a implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
Seria ingecircnuo entretanto constatar a relevacircncia e necessidade do trabalho
coletivo entre os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo sem refletir sobre as
(im)possibilidades de viabilizaacute-lo nos espaccedilos escolares Isto porque como explicou
Michels (2006) a escola vai se constituindo e organizando no embate entre seu
cotidiano e as proposiccedilotildees poliacuteticas Aleacutem disso estaacute inserida em um contexto
social poliacutetico cultural e econocircmico que sabidamente se expressa nas relaccedilotildees e
na organizaccedilatildeo escolar
98
Considerando essa relaccedilatildeo entre proposiccedilotildees poliacuteticas e cotidiano da escola
pode-se dizer que o modo como a educaccedilatildeo vem sendo pensada no Brasil estaacute
ancorada em instrumentos regulatoacuterios e avaliativos Analisando o Plano de
Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (BRASIL 2007) por exemplo pode-se dizer que
como um todo esse plano estaacute baseado na criaccedilatildeo do Iacutendice de Desenvolvimento
da Educaccedilatildeo Brasileira (IDEB) que por sua vez consiste mais em uma forma de
regular do que definir criteacuterios para a Uniatildeo aplicar recursos na Educaccedilatildeo Pode-se
observar a expressatildeo dessa regulaccedilatildeo no uso perverso do IDEB para ranquear as
redes de ensino e acirrar a competiccedilatildeo entre as escolas (FERNANDES 2007
ARAUacuteJO 2004) Nesse sentido eacute possiacutevel dizer que em alguns aspectos planos e
poliacuteticas educacionais parecem apostar na competiccedilatildeo e natildeo no trabalho coletivo
dentro e entre escolas
A partir dessa reflexatildeo segue-se para a anaacutelise dos entendimentos das
equipes diretivas ED2 e ED4 em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo do professor de AEE nos
processos coletivos da escola A esse respeito os integrantes das duas equipes
diretivas responderam
ED2d
Participa dando retornos dos atendimentos e de como estaacute o rendimento dos alunos ateacute mesmo se natildeo houve melhora ED2
o Eacute um profissional ativo participativo em Conselho de Classe e
demais reuniotildees pedagoacutegicas ED2
sEfetiva
ED4
dSempre trazem devolutivas dos seus trabalhos e repassam aos
professores ED4
o Reuniotildees pedagoacutegicas bem poucas
ED4s Pouco participativa
A partir destes relatos pode-se dizer que as equipes diretivas compreendem
que participar dos processos coletivos da escola implica dar um retorno ou uma
devolutiva a respeito do estudante que o professor de AEE atende como
expressaram ED2d e ED4d
Nessa forma de compreensatildeo nota-se uma apropriaccedilatildeo superficial do que
seria efetivamente participar desses processos uma vez que a participaccedilatildeo do
professor de AEE foi resumida agrave accedilatildeo de dar retornodevolutiva acerca do processo
de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE ao(a) professor(a) da sala
comum e agraves equipes diretivas
99
Jaacute no relato de ED2o e ED4o a participaccedilatildeo do professor de AEE em
processos coletivos da escola foi associada a tomar parte em conselhos de classe e
reuniotildees pedagoacutegicas Essas accedilotildees ainda que coletivas natildeo resumem todas as
possibilidades de processos coletivos que podem ser organizados nas escolas o
que leva a refletir sobre o que as equipes diretivas entendem por processos
coletivos escolares e ainda se haacute um vieacutes coletivo na escola
Entende-se por processos coletivos escolares todas as atividades que
envolvem um coletivo escolar organizado intencional e formalmente pela equipe
diretiva para tomar conhecimento discutir eou decidir questotildees pertinentes ao
processo de escolarizaccedilatildeo Exemplos desses processos satildeo a construccedilatildeo do PPP
da escola reuniotildees pedagoacutegicas conselho de classe formaccedilatildeo em serviccedilo
reuniotildees de pais dentre outros que segundo Libacircneo (2015) satildeo procedimentos
que podem ajudar na viabilizaccedilatildeo do trabalho no acircmbito escolar
Essas accedilotildees por outro lado a exemplo do conselho de classe podem ser
planejadas contemplando o maior nuacutemero de turmas possiacutevel de forma cansativa e
superficial buscando identificar somente as notas baixas e conferindo a culpa do
fracasso escolar ao estudante A esse respeito Paro (2016b p 81) faz o seguinte
comentaacuterio
[] os conselhos de classe por exemplo natildeo podem continuar sendo instacircncias meramente burocraacuteticas onde se procura justificar o baixo rendimento colocando a culpa em fatores externos agrave escola Eacute preciso prever instrumentos institucionais que avaliem natildeo apenas o rendimento do aluno mas o proacuteprio processo escolar como um todo com a presenccedila de alunos e pais pois eles satildeo os usuaacuterios da escola e a eles compete apontar problemas e dar sugestotildees []
Seguindo com as compreensotildees sobre os processos coletivos escolares
pode-se dizer que esse coletivo escolar diz respeito a todos os profissionais da
escola pais e estudantes (ou seus representantes) Para configurar um processo
escolar genuinamente coletivo compreende-se que eacute preciso que a maioria dos
envolvidos esteja representada constituindo-se como uma accedilatildeo democraacutetica e
participativa
A partir dessa compressatildeo pode-se pensar que quanto mais processos
coletivos uma equipe diretiva conseguir organizar em uma escola mais democraacutetica
e participativa ela se constituiraacute Ainda que responsaacutevel por organizar processos
coletivos escolares as equipes diretivas natildeo podem ser inteiramente
100
responsabilizadas por algo que natildeo possuem hoje condiccedilotildees favoraacuteveis para
efetivar Eacute necessaacuterio um envolvimento de todo o corpo social conforme explicitou
Paro (2012 p 169)
[] incorrer no equiacutevoco de imputar a uma instituiccedilatildeo apenas aquilo que eacute funccedilatildeo da sociedade como um todo Igualmente equivocada eacute a atitude de negar agrave escola qualquer papel na transformaccedilatildeo social esperando que a sociedade mude para mudar a escola Por que a escola natildeo eacute o local da mudanccedila natildeo significa que ela natildeo possa ser um dos locais dessa mudanccedila A revoluccedilatildeo eacute um processo que envolve todo o corpo social inclusive a escola
Um dos principais entraves para efetivar processos coletivos na escola diz
respeito a uma problemaacutetica vivenciada por parte das escolas puacuteblicas no Brasil o
cumprimento dos 200 dias letivos conforme regulamenta a Lei de Diretrizes e Bases
da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) Salienta-se que eacute considerado dia letivo
aquele programado para a aula com a presenccedila dos alunos
Assim as accedilotildees como conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas e
momentos de formaccedilatildeo precisam ser planejadas para aleacutem dessas 800 horas que
compotildeem a carga horaacuteria miacutenima dos 200 dias letivos Dessa forma por vezes a
equipe diretiva pode na tentativa de viabilizar esses processos coletivos escolares
propocirc-los no contraturno das aulas do professor Poreacutem ao fazecirc-lo um outro
obstaacuteculo pode surgir pois alguns professores lecionam em outros locais nesse
periacuteodo Com isso nem sempre os docentes poderatildeo estar presentes em atividades
propostas fora do horaacuterio de trabalho o que pode comprometer o desenvolvimento
de accedilotildees coletivas direcionadas a conhecer discutir e decidir questotildees pertinentes
ao processo de escolarizaccedilatildeo Poreacutem compreende-se tambeacutem a urgecircncia dos
sistemas de ensino em repensar as condiccedilotildees de trabalho do professor com o
intuito de favorecer dentre outros fatores a participaccedilatildeo desses profissionais nos
processos coletivos da escola
A possibilidade portanto de que as escolas possam se organizar de modo
coletivo passa natildeo somente pelo que as equipes diretivas compreendem por
―processos coletivos escolares Passa tambeacutem pelo reconhecimento de que as
condiccedilotildees de trabalho dos profissionais da educaccedilatildeo desfavorecem hoje o vieacutes
coletivo da escola e precisam ser repensadas e modificadas para que as equipes
101
diretivas possam de fato organizar espaccedilos e tempos de reflexatildeo discussatildeo e
decisatildeo em conjunto com os demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo
Para finalizar as anaacutelises sobre o que pensam as equipes diretivas sobre a
participaccedilatildeo do(a) professor(a) de AEE nos processos coletivos da escola foi
possiacutevel identificar que em alguns casos a participaccedilatildeo foi qualificada por alguns
integrantes das equipes diretivas como ―ativa ―efetiva ou ―pouca Eacute interessante
observar que o(a) professor(a) de AEE percebido por alguns integrantes da ED4
como como ―pouco participativo ou que ―participa de poucas reuniotildees pedagoacutegicas
eacute um(a) docente contratado (a) temporariamente Sobre o aumento dos contratos
temporaacuterios nas redes puacuteblicas de ensino Oliveira (2004) ressaltou que chegou
[] em alguns estados o nuacutemero correspondente ao de trabalhadores efetivos o arrocho salarial o respeito a um piso salarial nacional a inadequaccedilatildeo ou mesmo ausecircncia em alguns casos de planos de cargos e salaacuterios a perda de garantias trabalhistas e previdenciaacuterias oriunda dos processos de reforma do Aparelho de Estado tecircm tornado cada vez mais agudo o quadro de instabilidade e precariedade do emprego no magisteacuterio puacuteblico (OLIVEIRA 2004 p1140)
Longe de justificar a baixa participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos
coletivos da escola em funccedilatildeo do contrato temporaacuterio procura-se aqui atentar ao
fato de que esse tipo de contrataccedilatildeo pode dificultar a constituiccedilatildeo de viacutenculos com a
comunidade escolar e indicar uma possiacutevel precarizaccedilatildeo do trabalho desse
profissional
Reconhecendo a complexidade do trabalho docente no AEE e sabendo da
importacircncia da colaboraccedilatildeo e da coletividade nos processos escolares perguntou-
se agrave ED2 e agrave ED4 quem auxilia e acompanha o profissional do AEE no exerciacutecio de
sua funccedilatildeo na escola Observem-se suas respostas
ED2d
A psicopedagoga e toda a equipe diretiva
ED2o
O profissional da aacuterea psicopedagogo monitoras orientaccedilatildeo
supervisatildeo e direccedilatildeo escolar
ED2s
A pedagoga de inclusatildeo esclarece sobre as deficiecircncias e a
supervisora escolar auxilia o professor monitores em atividades que
desenvolvam habilidades
ED4d
Supervisatildeo e Direccedilatildeo
ED4o
Secretaria de educaccedilatildeo
ED4s
A Secretaria de Educaccedilatildeo tem uma coordenadora e quando necessaacuterio eu mesma auxilio
102
A diversidade de respostas possibilita inferir que a responsabilidade pelo
acompanhamento do(a) professor(a) especializado parece diluiacuteda entre diversos
profissionais desde a equipe diretiva ateacute o(a) psicopedagogo(a) monitor de inclusatildeo
e Secretaria de Educaccedilatildeo Isto pode indicar tanto uma responsabilidade
compartilhada quanto uma falta de clareza com relaccedilatildeo a quem compete essa
funccedilatildeo
Na tentativa de desvelar a quem compete a funccedilatildeo de acompanhar e auxiliar
o professor de AEE no exerciacutecio de sua funccedilatildeo recorreu-se a Lei Complementar nordm
192008 a qual dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo implantaccedilatildeo e gestatildeo do Plano de
Carreira dos Profissionais do Magisteacuterio Puacuteblico Municipal de Camboriuacute e institui as
atribuiccedilotildees de cada funccedilatildeo
Segundo o art 17ordm da referida Lei agrave(ao) supervisor(a) educacional compete
acompanhar com os professores o processo didaacutetico-pedagoacutegico bem como
assessorar e orientar didaticamente o corpo docente da escola em articulaccedilatildeo com
o(a) diretor e o(a) orientador(a) escolar (CAMBORIUacute 2008)
Nesse mesmo sentido Alarcatildeo (2011) Placco Souza e Almeida (2012)
salientam que dentre as atribuiccedilotildees do supervisor destaca-se o apoio aos
professores e o fomento de uma cultura de formaccedilatildeo profissional estudo e pesquisa
no acircmbito escolar Entretanto para que essas accedilotildees sejam efetivadas no contexto
escolar eacute imprescindiacutevel o papel do diretor como articulador apoiando e
promovendo a mobilizaccedilatildeo dos profissionais bem como o do orientador que
acompanha mais de perto os alunos podendo contribuir com informaccedilotildees para a
discussatildeo e constituiccedilatildeo de estrateacutegias de ensino que favoreccedilam o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Conhecer o que pensam as equipes diretivas sobre o trabalho do professor de
AEE sua participaccedilatildeo em processos coletivos da escola e quem o acompanha e
auxilia no exerciacutecio de sua funccedilatildeo revelou que parte dos profissionais pesquisados
ao expressarem suas compreensotildees sobre o serviccedilo de AEE como um todo se
remeteram especificamente ao professor especializado e ao local desse
atendimento (SRM)
Esse foco especiacutefico evidencia mais uma vez o risco de uma compreensatildeo
limitada que toma a totalidade do AEE pela parte do espaccedilo fiacutesico em que ele
acontece e do professor especializado Quando esse serviccedilo eacute percebido como um
103
local separado para atender o estudante puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial pode-
se dizer que a segregaccedilatildeo29 que se pretende minimizar ou evitar por meio de
estrateacutegias como o AEE parece assombrar ainda os espaccedilos escolares
As perspectivas de exclusatildeo e segregaccedilatildeo que historicamente marcaram a
Educaccedilatildeo Especial nesse sentido encontram expressatildeo ainda hoje quando o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE eacute visto como ―[]
responsabilidade setorializada da Educaccedilatildeo Especial e natildeo como um conjunto de
medidas que o sistema de ensino como um todo de maneira interdisciplinar deveria
adotar para efetivar tal proposta (PLETSCH 2010 p 60)
Nessa perspectiva ao estudante puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eacute
conferido um lugar separado no processo educacional em funccedilatildeo de sua
deficiecircncia Configura-se assim uma inclusatildeo precaacuteria que segundo Meletti (2013
p 27) significa ―se inserir em um espaccedilo social jaacute existente e essencialmente
excludente Dessa forma possibilita-se uma compreensatildeo do serviccedilo de AEE como
um todo pois com uma visatildeo fragmentada do serviccedilo pode-se incorrer no risco
como apontaram Baptista Silva e Correia (2015) de pensar a Sala de Recursos
como um espaccedilo de reproduccedilatildeo e distanciamento do ensino comum Os autores
esclarecem ainda que
[] tais riscos se potencializam quando temos docentes especializados que investem prioritariamente no atendimento direto ao aluno isolando-o do grupoclasse e natildeo investindo no sistema ou nos sistemas dos quais esse aluno participa Esse eacute segundo acreditamos o principal desafio atual dirigido agrave gestatildeo dos espaccedilos especializados e agrave formaccedilatildeo de profissionais capazes de instituir parcerias que coloquem em accedilatildeo o docente de aacuterea disciplinar (pedagogia ou outras licenciaturas) e o professor especializado em educaccedilatildeo especial (BAPTISTA SILVA e CORREIA 2015 p 47)
Em parte a persistecircncia dessas marcas histoacutericas na Educaccedilatildeo Especial
pode ser explicitada pelo fato de que ―[] a proposta de uma Educaccedilatildeo Inclusiva
situa-se na contracorrente das condiccedilotildees objetivas de um modo de organizaccedilatildeo
escolar pautado em um modelo capitalista e tecnoloacutegico sustentado por relaccedilotildees de
exclusatildeo (RENGEL CORDEIRO e STEINER 2015 p 1358)
Em meio a esses tensionsamentos
29
A segregaccedilatildeo traduz a loacutegica da inclusatildeoexclusatildeo se trata portanto de uma inclusatildeo precaacuteria
104
[] encontramo-nos hoje diante do desafio de construir possiacuteveis caminhos que levem agrave formaccedilatildeo de uma educaccedilatildeo especial que realmente colabore com a educaccedilatildeo escolar de crianccedilas sob a perspectiva educacional sem no entanto apagar ou ignorar as necessidades de indiviacuteduos com caracteriacutesticas muitas vezes bastante especiacuteficas (KASSAR amp REBELO 2013 p 39)
Romper com a loacutegica de segregaccedilatildeo apresenta-se nesse sentido como um
dos desafios postos aos envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo e dentre eles agrave
equipe diretiva escolar Assim como a atuaccedilatildeo de diretores(as) coordenadores(as)
pedagoacutegicos e orientadores(as) educacionais pode contribuir para manter a loacutegica
de segregaccedilatildeo tambeacutem pode colaborar para transformaacute-la Por isso concorda-se
com Baptista (2013) quando esse diz que olhar para o presente e o futuro da
Educaccedilatildeo Especial leva a pensar um passado ndash aqui entendido como a loacutegica de
segregaccedilatildeo ndash que continua nos habitando ―esse passado somos noacutes merece
cuidado pois se constitui naquilo que conhecemos naquilo que nos orienta mas
que frequentemente ofusca nossa visatildeo e limita nossa possibilidade de enxergar
(BAPTISTA 2013 p 49)
Nesse sentido confirma-se a relevacircncia de se conhecer o modo como as
equipes diretivas pensam sobre o AEE uma vez que entendimentos reduzidos e
descontextualizados podem revelar que compreensotildees (e decorrentes praacuteticas) de
segregaccedilatildeo estatildeo sendo mantidas
Uma vez conhecidas essas compreensotildees podem ser se necessaacuterio
trabalhadas e reconfiguradas de modo a ampliar o entendimento sobre o serviccedilo de
AEE e o papel da comunidade escolar como um todo em sua viabilizaccedilatildeo rompendo
com a loacutegica de segregaccedilatildeo e dando espaccedilo para a loacutegica da educaccedilatildeo como direito
de todos
Reconhece-se nesse sentido que as equipes diretivas ao mesmo tempo que
satildeo condicionadas por ideologias fazem parte de uma organizaccedilatildeo social poliacutetica e
econocircmica marcada por relaccedilotildees da dialeacutetica exclusatildeoinclusatildeo e exercem seu
papel profissional em meio de tensionamentos poliacuteticos e legais No entanto elas
podem tambeacutem exercitar sua autonomia ainda que relativa por meio da reflexatildeo
criacutetica sobre a praacutetica compreendendo as ideologias em que estatildeo imersas pois
[] eacute pensando criticamente sobre a praacutetica de hoje ou de ontem que se pode melhorar a proacutexima praacutetica [] quanto mais me assumo como estou sendo e percebo as razotildees de ser e por que estou sendo assim mais me torno capaz de mudar (FREIRE 2013 p 40)
105
Claramente a conscientizaccedilatildeo e a reflexatildeo por si mesmas natildeo asseguram
uma mudanccedila no campo da accedilatildeo Mas por outro lado como explanou Paulo Freire
(2013) agrave medida em que a reflexatildeo cria novas opccedilotildees tanto mais ela pode provocar
rupturas escolhas e novos compromissos Sabendo que esses soacute se concretizaratildeo
materialmente quando aquilo que as equipes diretivas e demais profissionais da
escola pensam se transforme em accedilatildeo voltada a assegurar a formaccedilatildeo integral de
todos os estudantes
A escola puacuteblica comumente carece de condiccedilotildees estruturais pedagoacutegicas e
de recursos humanos contribuindo para que a equipe diretiva professores e demais
funcionaacuterios na maioria das vezes natildeo vislumbrem condiccedilotildees para realizar
mudanccedilas Entretanto Paro (2016a) adverte que
[] o que natildeo se pode eacute tomar os determinantes estruturais como desculpa para natildeo se fazer nada esperando-se que a sociedade se transforme para depois transformar a escola Sem a transformaccedilatildeo na praacutetica das pessoas natildeo haacute sociedade que se transforme de maneira consciente e duradoura Eacute aiacute na praacutetica escolar cotidiana que precisam ser enfrentados os determinantes mais imediatos do autoritarismo enquanto manifestaccedilatildeo num espaccedilo restrito dos determinantes estruturais mais amplos da sociedade (PARO 2016a p 26)
Dessa forma vislumbra-se o papel da equipe diretiva escolar na
implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE como uma possibilidade neste momento
histoacuterico de criar espaccedilos e tempos de diaacutelogo e reflexatildeo com o intuito de
possibilitar a participaccedilatildeo ativa de todos os envolvidos no processo de
escolarizaccedilatildeo no planejamento organizaccedilatildeo discussatildeo e implementaccedilatildeo das
estrateacutegias e diretrizes da Educaccedilatildeo Especial
Se ateacute o momento o que se viu por parte da maioria das equipes diretivas
foram compreensotildees fragmentadas em que se foca o estudante e ou o professor de
forma isolada pode-se refletir que hoje eacute ainda um desafio para elas pensar sobre o
AEE a partir de uma perspectiva contextualizada Ainda que presente na fala da
minoria das equipes diretivas essa perspectiva apareceu nos dizeres de ED7d e
ED3o que demonstraram compreender o AEE a partir do processo de
escolarizaccedilatildeo como um todo expressando um entendimento mais abrangente
sobre o serviccedilo
106
ED7d
[Compreendo o AEE] como uma inclusatildeo do aluno com deficiecircncia no ensino regular onde toda escola precisa de mudanccedilas desde o espaccedilo fiacutesico como tambeacutem no seu fazer do cotidiano ED3
o [O AEE] deveria ser mais abrangente aplicado por todos [os
profissionais da escolas] Mas tambeacutem nunca se sabe o que realmente fazer (grifo nosso)
Pode-se perceber que as falas dos integrantes das equipes diretivas (ED7d e
ED3o) se distanciam das compreensotildees individualizadas apresentadas
anteriormente visto que datildeo sinais de um entendimento mais amplo sobre o AEE
Suas falas remetem agrave compreensatildeo que o local do AEE eacute a ―escola e
portanto excede o espaccedilo fiacutesico da SRM Do mesmo modo indicam que todos os
envolvidos e natildeo apenas o professor especializado tecircm um papel importante no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Salienta-se no entanto algumas expressotildees importantes contidas nos
dizeres de ED7d e ED3o ―precisa e ―deveria Enquanto ED7d fala que a escola
como um todo ―precisa se implicar cotidianamente na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo
do AEE ED3o adverte que este ―deveria ser mais abrangente e aplicado por todos
os profissionais da escola Se isto eacute algo que precisa e deveria ser feito pode-se
inferir que ainda natildeo eacute uma realidade vivenciada por essas escolas ou que estaacute em
processo de constituiccedilatildeo
Saber o que precisa e deveria ser feito no entanto eacute um passo importante
para transformaccedilatildeo da realidade Paulo Freire em um trecho de sua obra Pedagogia
da Esperanccedila explicou que
[] uma vez conhecida a realidade caberaacute ao homem sua modificaccedilatildeo A realidade natildeo pode ser modificada senatildeo quando o homem descobre que eacute modificaacutevel e que ele pode fazecirc-lo Eacute preciso portanto fazer desta conscientizaccedilatildeo o primeiro objetivo de toda a educaccedilatildeo antes de tudo provocar uma atitude criacutetica de reflexatildeo que comprometa a accedilatildeo (FREIRE 1979a p 40)
Fuck (2014 p 23) apoiada em Pontes (1992) explica que as concepccedilotildees ou
diferentes compreensotildees que habitam a escola exercem ―[] um papel determinante
no nosso pensamento e na nossa accedilatildeo Libacircneo (2015) vai aleacutem ao expor que
essas compreensotildees formam a cultura escolar e que a equipe diretiva possui um
papel de destaque nesse processo
[] a partir da interaccedilatildeo entre diretores coordenadores pedagoacutegicos professores funcionaacuterios e alunos a escola vai adquirindo na vivecircncia do dia-a-dia traccedilos culturais proacuteprios vai formando crenccedilas valores
107
significados modos de agir praacuteticas [] Essa cultura proacutepria vai sendo internalizada pelas pessoas e gerando um estilo coletivo de perceber as coisas de pensar os problemas de encontrar soluccedilotildees [] Haacute em cada escola uma forma dominante de accedilatildeo na interaccedilatildeo entre as pessoas (LIBAcircNEO 2015 p 109)
Pode-se dizer portanto que haacute uma estreita relaccedilatildeo entre as formas de
compreender o AEE e as praacuteticas a ele relacionadas no contexto escolar No que
tange agraves equipes diretivas que demonstraram compreender esse serviccedilo de forma
mais abrangente e contextualizada eacute possiacutevel inferir que tal maneira de pensar pode
se traduzir em accedilotildees como a constituiccedilatildeo de espaccedilos dialoacutegicos e reflexivos com o
intuito de planejar e organizar estrateacutegias para a implementaccedilatildeo das diretrizes da
Educaccedilatildeo Especial junto aos envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo a fim de
assegurar o direito a aprender desses estudantes
Muito embora as diretrizes de Educaccedilatildeo Especial sejam importantes para a
organizaccedilatildeo de sistemas educacionais inclusivos elas se apresentam como um
documento orientador da poliacutetica Assim o modo como acontece sua efetivaccedilatildeo
perpassa ainda pelos interesses dominantes da sociedade pela compreensatildeo dos
gestores dos sistemas de ensino assim como pelo entendimento da equipe diretiva
e dos profissionais da educaccedilatildeo como um todo os quais tecircm a incumbecircncia de sua
materializaccedilatildeo no acircmbito escolar Nessa perspectiva as diretrizes da Educaccedilatildeo
Especial se apresentaratildeo de modo diferente em cada municiacutepio e em cada
instituiccedilatildeo escolar uma vez que como expocircs Michels (2004) os encaminhamentos
poliacuteticos ganham vida ao serem subjetivados pelos sujeitos que os apreendem e
nesse sentido cada escola implementa as diretrizes agrave sua maneira
Ainda que as falas da minoria apontem para uma compreensatildeo menos
individualizada e isolada do processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico alvo
da Educaccedilatildeo Especial natildeo foi possiacutevel captar uma abordagem criacutetica em que a
Educaccedilatildeo Especial seja compreendida como parte da Educaccedilatildeo que se desenvolve
em um sistema poliacutetico econocircmico e cultural marcado pela dialeacutetica
inclusatildeoexclusatildeo
Em parte pode-se dizer que esse pensamento criacutetico natildeo eacute favorecido pela
forma como hoje os espaccedilos e tempos das escolas estatildeo organizados O modo
como a escola se organiza natildeo pode ser desvinculado de seu todo correspondente
isto eacute a organizaccedilatildeo social e econocircmica da qual faz parte ndash nesse caso um sistema
capitalista e tecnoloacutegico no qual as relaccedilotildees e as jornadas de trabalho satildeo
108
reguladas pelo capital e marcadas pela falta de [] tempo para o desenvolvimento
intelectual para o livre exerciacutecio do corpo e do espiacuterito O capital monopoliza o
tempo que o desenvolvimento e equiliacutebrio do corpo em perfeita sauacutede exigem
(MARX 2013 p 103) Nessa direccedilatildeo Jesus e Alves (2011 p27) questionam
[] como lidar com as contradiccedilotildees dos sistemas pedagoacutegicos que em sua maioria estatildeo voltados para a emergecircncia e exigecircncias de uma escola que como todo o sistema educacional econocircmico poliacutetico e social estaacute voltado a atender as demandas do projeto neoliberal []
Sobre isso Paulo Freire (1982) esclarece que conhecer as intencionalidades
das ideologias dominantes que imperam pode ser um ponto de partida para uma
accedilatildeo pedagoacutegica mais reflexiva reconhecendo que natildeo haacute como mudar de forma
global um sistema posto mas haacute como transformar de forma gradativa a realidade
na qual se estaacute inserido Isso porque a mudanccedila que se deseja para a educaccedilatildeo
ocorre por meio da accedilatildeo dos homens reivindicando por exemplo condiccedilotildees de
trabalho adequadas para que possam desenvolver uma praacutetica pedagoacutegica pautada
no princiacutepio de educaccedilatildeo para todos Se em um sistema capitalista a reivindicaccedilatildeo
individual possui raro eco vislumbra-se no coletivo organizado ndash nesse caso os
profissionais da Educaccedilatildeo ndash uma importante forccedila impulsionadora de mudanccedilas
[] natildeo haacute uma estrutura que seja exclusivamente estaacutetica como natildeo haacute uma absolutamente dinacircmica O dinamismo e o estaacutetico constituem a estrutura social Mas se toda a estrutura social que eacute histoacuterica tem como expressatildeo de sua forma de ser a ―duraccedilatildeo da dialeacutetica mudanccedila ndash estabilidade eacute necessaacuterio que se tenha dela uma visatildeo criacutetica [] Mudanccedila e estabilidade resultam ambas da accedilatildeo do trabalho que o homem exerce sobre o mundo (FREIRE 1982 p45 - 46)
Por outro lado o fato de natildeo terem sido identificadas compreensotildees mais
criacuteticas a respeito do AEE conduz ao reconhecimento de que essa se configura
como uma necessidade formativa para as equipes diretivas aqui estudadas Em
breve pesquisa empreendida na BDTD foi possiacutevel identificar que nos uacuteltimos vinte
anos (2006-2016) poucas pesquisas (114) foram realizadas sobre a formaccedilatildeo
continuada de diretores enquanto a formaccedilatildeo continuada de professores contou
com o expressivo nuacutemero de 2760 pesquisas no mesmo periacuteodo
Observar esse baixo nuacutemero de produccedilotildees cientiacuteficas brasileiras sobre a
―formaccedilatildeo continuada de diretores leva agrave constataccedilatildeo de que eacute preciso investir em
estudos acerca da referida temaacutetica a fim de conhecer se e como estatildeo sendo
109
organizados os espaccedilos e tempos de formaccedilatildeo das equipes diretivas que por sua
vez satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo de espaccedilos e tempos de reflexatildeo para os demais
profissionais da escola
Nesse acircmbito eacute possiacutevel questionar quem seriam os responsaacuteveis por
organizar os espaccedilos e tempos de reflexatildeo das equipes diretivas Ou seriam essas
equipes ao mesmo tempo responsaacuteveis por organizar esses tempos e espaccedilos e
usufruir deles para sua proacutepria formaccedilatildeo Jesus e Alves (2011 p 22) sugerem que
essa eacute uma demanda que ―deve estar vinculada agrave gestatildeo dos sistemas de ensino
no caso dessa pesquisa agrave Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
Ainda sobre a formaccedilatildeo de diretores Paro (2016b p 60) identificou a partir
do relato de uma diretora que entrevistou em sua pesquisa que ―o que parece faltar
verdadeiramente [] satildeo conhecimentos pedagoacutegicos baacutesicos componentes
imprescindiacuteveis na formaccedilatildeo de bons educadores Ainda que se refira a uma
participante as palavras do autor convidam a (re)pensar a formaccedilatildeo dos gestores
escolares e reforccedilam a necessidade de se investir em mais pesquisas sobre o tema
bem como na proacutepria formaccedilatildeo das equipes diretivas visto que
[] existe por parte das Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo uma tendecircncia de grande investimento na promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo de diretores escolares sendo esse investimento significativamente menor entre as Secretarias Municipais de Educaccedilatildeo (LUumlCK 2011 p 221)
Em siacutentese ao investigar as compreensotildees das equipes diretivas sobre o
serviccedilo de AEE bem como o puacuteblico-alvo da EE foi possiacutevel identificar que a
maioria o associou ao estudante com deficiecircncia e um segundo nuacutemero expressivo
de participantes se remeteu a um lugar (SRM) e um profissional especiacutefico
(professor especializado) para apresentar seu entendimento sobre o serviccedilo Ainda
que em menor nuacutemero alguns profissionais das equipes diretivas pesquisadas
revelaram compreender o AEE a partir do processo de escolarizaccedilatildeo como um todo
poreacutem observou-se a ausecircncia de perspectivas criacuteticas que considerassem os
aspectos macroestruturais (condiccedilotildees objetivas da escola) envolvidos no referido
processo Foi possiacutevel constatar que o trabalho do professor de AEE na percepccedilatildeo
das equipes diretivas ressaltou a relaccedilatildeo entre docente especializado e estudante
puacuteblico-alvo da EE mitigando ou mesmo natildeo mencionando o seu papel enquanto
equipe diretiva nesse trabalho docente assim como de outros profissionais e demais
envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo Tambeacutem foi possiacutevel observar que em
110
algumas situaccedilotildees houve divergecircncias de entendimentos entre os integrantes da
mesma equipe apontando para a possibilidade de que o trabalho de gestatildeo vem
sendo realizado de forma desarticulada culminando na precarizaccedilatildeo do AEE bem
como do processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes de forma geral
Com essas consideraccedilotildees adentra-se a seguir na discussatildeo e anaacutelise dos
dados da uacuteltima categoria que versa sobre o papel da equipe diretiva na viabilizaccedilatildeo
do AEE
33 As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel das equipes
diretivas frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE30
A proposta desta categoria de anaacutelise eacute compor um entendimento a partir dos
dizeres das equipes diretivas escolares acerca das condiccedilotildees de acessibilidade
arquitetocircnica e pedagoacutegica que as escolas pesquisadas dispotildeem Tambeacutem se
propotildee conhecer a compreensatildeo das equipes diretivas em relaccedilatildeo ao seu papel
frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE assim como se a proposta de AEE estaacute contemplada
no PPP da escola Ao final deste subcapiacutetulo procura-se evidenciar os desafios
vivenciados pelas equipes diretivas escolares no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE
Para iniciar as discussotildees buscou-se primeiramente conceituar agrave luz da Lei
no 131462015 em seu art 3ordm e inciso I e IV o que se entende por acessibilidade
bem como as condiccedilotildees que dificultam a sua efetivaccedilatildeo que seratildeo aqui chamadas
de barreiras De acordo com a referida Lei considera-se acessibilidade
[] possibilidade e condiccedilatildeo de alcance para utilizaccedilatildeo com seguranccedila e autonomia de espaccedilos mobiliaacuterios equipamentos urbanos edificaccedilotildees transportes informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo inclusive seus sistemas e tecnologias bem como de outros serviccedilos e instalaccedilotildees abertos ao puacuteblico de uso puacuteblico ou privados de uso coletivo tanto na zona urbana como na
30
Para compor a anaacutelise e discussatildeo dos dados desta segunda categoria seratildeo analisadas as
respostas das seguintes questotildees do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo 16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE 17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE 20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento Educacional Especializada 25A escola em que vocecirc atua possui um projeto pedagoacutegico 26 O atendimento educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola 27Na escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
111
rural por pessoa com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida (BRASIL 2015 sp)
Nessa perspectiva Manzini (2005) esclarece que o conceito de acessibilidade
remete a situaccedilotildees que satildeo vivenciadas em circunstacircncias concretas do dia a dia
por isso [] ―a acessibilidade parece ser algo que pode ser observado
implementado medido legislado e avaliado (MANZINI 2005 p32)
Em relaccedilatildeo agraves barreiras a Lei no 131462015 em seu art 3ordm e inciso IV
conceituou como sendo
[] qualquer entrave obstaacuteculo atitude ou comportamento que limite ou impeccedila a participaccedilatildeo social da pessoa bem como o gozo a fruiccedilatildeo e o exerciacutecio de seus direitos agrave acessibilidade agrave liberdade de movimento e de expressatildeo agrave comunicaccedilatildeo ao acesso agrave informaccedilatildeo agrave compreensatildeo agrave circulaccedilatildeo com seguranccedila entre outros classificadas em a) barreiras urbaniacutesticas as existentes nas vias e nos espaccedilos puacuteblicos e privados abertos ao puacuteblico ou de uso coletivo b) barreiras arquitetocircnicas as existentes nos edifiacutecios puacuteblicos e privados c) barreiras nos transportes as existentes nos sistemas e meios de transportes d) barreiras nas comunicaccedilotildees e na informaccedilatildeo qualquer entrave obstaacuteculo atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressatildeo ou o recebimento de mensagens e de informaccedilotildees por intermeacutedio de sistemas de comunicaccedilatildeo e de tecnologia da informaccedilatildeo (BRASIL 2015 sp)
A respeito das barreiras arquitetocircnicas Nunes amp Sobrinho (2015) salientam
que satildeo expressotildees de barreiras atitudinais Essas por sua vez satildeo conceituadas
por Valdeacutes (2006 p6) como
[] as barreiras mais fortes e tambeacutem as mais intangiacuteveis pois envolvem componentes cognitivos afetivos e de conduta formados histoacuterica e socialmente que incluem desde fatores sociais como o estigma da deficiecircncia e sua difiacutecil diferenciaccedilatildeo de doenccedila a visatildeo tradicional da pessoa com deficiecircncia como coitadolsquo e digno de laacutestima ateacute fatores de personalidade e da histoacuteria de vida
Desse modo ao pensar a realidade das escolas puacuteblicas brasileiras a
acessibilidade nos espaccedilos escolares implicaria na reduccedilatildeo das barreiras
anteriormente citadas no entorno e no interior da escola tornando seus espaccedilos
paulatinamente acessiacuteveis e adequados para receber os estudantes considerados
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Essa prerrogativa tambeacutem estaacute contida na
Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva
(BRASIL 2008) a qual prevecirc a oferta do Atendimento Educacional Especializado
112
nas escolas puacuteblicas de ensino regular com a garantia de condiccedilotildees de acesso e
permanecircncia aos estudantes puacuteblico-alvo da EE Essa ―garantia contudo estaacute
longe de ser assegurada somente pela existecircncia de tal poliacutetica Conforme explicou
Garcia (2013 p 104) ―[] o acesso e permanecircncia dos estudantes da educaccedilatildeo
especial natildeo tem se configurado em garantia de sucesso da poliacutetica educacional
Ressalta-se ainda que embora as condiccedilotildees de acessibilidade possam ser
asseguradas elas sozinhas natildeo proporcionam o acesso e a permanecircncia do
estudante na escola Para isso eacute preciso considerar um conjunto de accedilotildees
educacionais intencionais planejadas e articuladas entre si por parte da equipe
diretiva escolar em conjunto com os demais profissionais da escola e pais Um
exemplo de accedilatildeo nesse sentido seria a sistematizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos
permanentes de discussotildees e reflexotildees ―acerca das estrateacutegias pedagoacutegicas a
serem utilizadas tomando como referecircncia o processo de desenvolvimento escolar
dos estudantes (GARCIA 2013 108) envolvendo todos os profissionais e
comunidade escolar
Com esses conceitos definidos adentra-se agora nas discussotildees sobre a
acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas A comeccedilar pela
acessibilidade arquitetocircnica foi possiacutevel observar que do total de 22 participantes
14 responderam que haacute acessibilidade na escola em que atuam enquanto 8
informaram que natildeo O Graacutefico 9 a seguir especifica as respostas por integrante das
equipes diretivas
Graacutefico 9 Sobre a acessibilidade arquitetocircnica nas escolas pesquisadas
Fonte Primaacuteria (2016)
113
Percebeu-se que os 14 integrantes que mencionaram haver acessibilidade
em sua escola associaram-na agrave existecircncia de rampas banheiros corrimatildeos
elevadores e placas em braile Pode-se dizer que as associaccedilotildees feitas pelos
participantes foram em parte devidas agrave maneira como a pergunta estava formulada
no questionaacuterio que citava rampa e corrimatildeo como exemplos de indiacutecios de
acessibilidade arquitetocircnica
Contudo ao mesmo tempo que afirmaram haver acessibilidade apontaram
alguns aspectos reveladores de que essa acessibilidade natildeo eacute de fato contemplada
de forma adequada nas escolas ―[acessibilidade] somente no teacuterreo (ED1) ―falta
corrimatildeo e elevadores (ED2) ―[acessibilidade] em alguns pontos do banheiro
(ED6) O Quadro 10 abaixo apresenta um detalhamento de suas respostas
Quadro 10 Condiccedilotildees de acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas
ED Acessibilidade arquitetocircnica
ED1d Sim somente no teacuterreo
ED1o Sim somente no teacuterreo
ED1s Natildeo
ED2d Sim Rampa e banheiros Falta corrimatildeo e elevadores
ED2o Natildeo
ED2s Sim Rampa e banheiros Falta corrimatildeo e elevadores
ED3d Sim rampa
ED3o Sim rampa
ED3s Natildeo
ED4d Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4o Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4s Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4s Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED5d Sim rampa banheiros
ED5o Sim rampa banheiros
ED5s Sim rampa banheiros
ED6d Sim em alguns pontos como banheiros
ED6o Natildeo
ED6s Natildeo
ED7d Natildeo
ED7o Natildeo
ED7s Natildeo
Fonte Primaacuteria (2016)
Evidencia-se por meio do Quadro 10 que na visatildeo das equipes diretivas os
espaccedilos escolares parecem inacessiacuteveis ou parcialmente acessiacuteveis aos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Tal situaccedilatildeo por sua vez se apresenta como
barreiras que podem limitar a circulaccedilatildeo desses estudantes nos espaccedilos escolares
e por conseguinte reduzir suas possibilidades de constituir relaccedilotildees e outras redes
114
de aprendizagens Redes essas entendidas como situaccedilotildees de interaccedilatildeo entre
pessoas as quais favoreccedilam apropriaccedilotildees dos conhecimentos produzidos
historicamente seja dentro da sala de aula com professores ou fora dela com seus
pares Essas situaccedilotildees se mostram como oportunidades para elaborar
contextualizar eou ressignificar os conhecimentos apreendidos
A acessibilidade nos espaccedilos escolares como jaacute discutido eacute importante mas
precisa ser concebida como parte da estrutura da escola que tambeacutem compotildee o
AEE ou seja de forma contextualizado considerando os demais fatores imbricados
pois quando compreendida de forma isolada pode-se incorrer no risco de um
entendimento que pouco pode contribuir com o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE
De acordo com o art 28 da Lei no 131462015 prover a acessibilidade nos
espaccedilos escolares eacute uma incumbecircncia da Uniatildeo juntamente com o poder puacuteblico
municipal Nesse sentido eacute possiacutevel constatar uma ecircnfase conferida ao poder
puacuteblico no provimento de acessibilidade aos sistemas de ensino
[] art 28 Incumbe ao poder puacuteblico assegurar criar desenvolver implementar incentivar acompanhar e avaliar I - sistema educacional inclusivo em todos os niacuteveis e modalidades bem como o aprendizado ao longo de toda a vida II - aprimoramento dos sistemas educacionais visando a garantir condiccedilotildees de acesso permanecircncia participaccedilatildeo e aprendizagem por meio da oferta de serviccedilos e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusatildeo plena [] XV - acesso da pessoa com deficiecircncia em igualdade de condiccedilotildees a jogos e a atividades recreativas esportivas e de lazer no sistema escolar XVI - acessibilidade para todos os estudantes trabalhadores da educaccedilatildeo e demais integrantes da comunidade escolar agraves edificaccedilotildees aos ambientes e agraves atividades concernentes a todas as modalidades etapas e niacuteveis de ensino XVII - oferta de profissionais de apoio escolar XVIII - articulaccedilatildeo Intersetorial na implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 2015 sp grifos nossos)
O Decreto nordm 76112011 (BRASIL 2011) por sua vez enfatiza o papel do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo no apoio teacutecnico e financeiro para adequaccedilotildees
arquitetocircnicas de preacutedios escolares bem como para elaboraccedilatildeo produccedilatildeo e
distribuiccedilatildeo de recursos educacionais para a acessibilidade com o intuito de prover
condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem no ensino regular aos
estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo especial
115
Destaca-se tambeacutem o Programa Escola Acessiacutevel criado a partir do Decreto
ndeg60942007 (BRASIL 2007) que pode disponibilizar recursos financeiros por meio
do Programa Dinheiro Direto Escola ndash PDDE (BRASIL 2013) para escolas puacuteblicas
das redes municipal estadual e do Distrito Federal que informaram no Censo
Escolar possuir matriacuteculas de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial no
intuito de assegurar a acessibilidade arquitetocircnica nos preacutedios escolares e
possibilitar a compra de materiais e equipamentos de tecnologia assistiva
Pode-se perceber que ao poder puacuteblico compete o repasse de recursos
financeiros que por sua vez seratildeo geridos e planejados pelas escolas Essa forma
de gestatildeo parece estar intimamente conectada com as reformas no aparelho do
Estado durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso consolidada
com a publicaccedilatildeo do Plano Diretor no ano de 1995 (BRASIL 1995)Tais reformas
redefiniram e delimitaram as funccedilotildees do Estado transformando-o em um Estado
miacutenimo para prover mas ampliado para normatizar criando mecanismos
regulatoacuterios de maior controle da aprendizagem e a construccedilatildeo de consensos os
quais ―[] tornam-se fundamentais para a introduccedilatildeo de uma nova racionalidade na
gestatildeo escolar e no sistema educacional capaz de envolver professores equipe
pedagoacutegica e pais em torno de um uacutenico projeto (SANTOS 2012 p 36)
Ainda sobre estas reformas Michels (2006 p408) enfatizou que
[] em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e especificamente sobre o trabalho na escola a mudanccedila no papel do Estado pode ser pensada por no miacutenimo dois pontos a) o Estado retrai-se na provisatildeo destacando o papel da unidade escolar como responsaacutevel pela educaccedilatildeo das crianccedilas jovens e adultos mas mantendo o controle do que eacute feito pela escola por meio da avaliaccedilatildeo (SAEB ndash Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica ENEM ndash Exame Nacional do Ensino Meacutedio ENC ndash Exame Nacional de Cursos) b) a retirada do Estado como provedor se daacute mediante a entrada da sociedade civil nas unidades escolares para auxiliar na resoluccedilatildeo de problemas principalmente por meio de programas como por exemplo o Programa Amigos da Escola e o Programa Adote um Aluno (MICHELS 2006)
As colocaccedilotildees de Michels (2006) concordam com o que Freitas (2011)
discutiu a respeito do contexto neotecnicista que se apresenta sob a forma da
―responsabilizaccedilatildeo31 e ―meritocracia enfatizando o gerenciamento da forccedila de
31 Segundo Freitas (2011 p338) ―[] responsabilizaccedilatildeo envolve trecircs elementos testes para os estudantes divulgaccedilatildeo puacuteblica do desempenho da escola e recompensas e sanccedilotildees [] As recompensas e sanccedilotildees compotildeem o caraacuteter meritocraacutetico do sistema mas natildeo soacute jaacute que a proacutepria divulgaccedilatildeo puacuteblica dos resultados da escola constitui em si mesma uma exposiccedilatildeo puacuteblica que
116
trabalho da escola por meio de bocircnus puniccedilotildees e controle pelo processo pautado
em teorias da ciecircncia da informaccedilatildeo e sistemas econometria e psicologia
behaviorista
Nesse contexto pode-se identificar que a forma de gestatildeo proposta nessa
reforma engloba por um lado a expressatildeo de uma agenda de governo que delega
responsabilidades estatais ao mesmo tempo em que intensifica sua forccedila
normatizadora Por outro lado pode tambeacutem se estabelecer como uma oportunidade
para que a equipe diretiva consolide forccedilas no interior da escola a fim de reivindicar
ao poder puacuteblico as condiccedilotildees necessaacuterias para prover o acesso e permanecircncia no
ensino regular a todos os estudantes Isso porque inspirando-se em Paro (2016)
pode-se dizer que o coletivo escolar organizado a partir da accedilatildeo das equipes
diretivas constitui uma espeacutecie de ―mola propulsora para reinvindicaccedilatildeo das
referidas condiccedilotildees
Nesse sentido pode-se dizer que assegurar a acessibilidade em termos
como por exemplo de provimento de recursos eacute uma responsabilidade que
compete ao poder puacuteblico Como pontuou Alves (2010)
[] sugere-se que cada um assuma sua responsabilidade em relaccedilatildeo agrave efetivaccedilatildeo da educaccedilatildeo inclusiva cabendo ao poder puacuteblico garantir as condiccedilotildees adequadas agrave sua implementaccedilatildeo entre as quais estatildeo as adaptaccedilotildees na estrutura fiacutesica material didaacutetico adequado e condiccedilotildees reais de formaccedilatildeo docente para atuar na diversidade (ALVES 2010 p4)
Contudo haacute que se reconhecer como fez Santos (2016) que a existecircncia de
leis e diretrizes com vistas a uma educaccedilatildeo para todos e ateacute mesmo o
direcionamento de recursos financeiros natildeo garante a efetivaccedilatildeo das poliacuteticas em si
Eacute a partir desse reconhecimento que se pode vislumbrar o papel da gestatildeo escolar
(equipe diretiva em conjunto com os demais envolvidos no processo de
escolarizaccedilatildeo) no que se refere agrave organizaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias para a
realizaccedilatildeo do AEE Esse papel estaacute relacionado tanto com a reivindicaccedilatildeo de
recursos quando faltantes quanto com o planejamento coletivo de como esses
seratildeo utilizados quando recebidos
Nesse sentido quando se pensa em uma forma de gestatildeo escolar que
perpassa a construccedilatildeo coletiva envolvendo a equipe diretiva em conjunto com os
demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo eacute possiacutevel se remeter a um tipo
envolve alguma recompensa ou sanccedilatildeo puacuteblicas A meritocracia eacute uma categoria portanto que perpassa a responsabilizaccedilatildeo
117
especiacutefico de gestatildeo a gestatildeo democraacutetica-participativa Sobre isso Paro (2016a p
13) ressaltou que ―[] toda vez que se propotildee uma gestatildeo democraacutetica da escola
puacuteblica baacutesica que tenha efetiva participaccedilatildeo de pais educadores alunos e
funcionaacuterios da escola isso acaba sendo considerado como coisa utoacutepica O autor
realccedila ainda que utopia natildeo se trata de um horizonte inalcanccedilaacutevel mas de um
resultado desejaacutevel que pressupotildee um processo e por isso pode vir a existir a partir
de um movimento de busca Em consonacircncia com essa discussatildeo Freire (1979b
p16) salienta que para ele o utoacutepico natildeo eacute o ―irrealizaacutevel a utopia natildeo eacute o idealismo
eacute a dialetizaccedilatildeo dos atos de denunciar e anunciar o ato de denunciar a estrutura
desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante Por essa razatildeo a utopia eacute
tambeacutem um compromisso histoacuterico
Nessa perspectiva Cury (2005) Oliveira (2008) e Paro (2016a) revelam que a
gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas eacute um processo em constituiccedilatildeo Oliveira
(2008 p95) salienta por sua vez que ―a garantia de um artigo constitucional que
estabelece a gestatildeo democraacutetica natildeo eacute suficiente para a sua efetivaccedilatildeo
Nessa direccedilatildeo Libacircneo (2015) ressalta que a reorganizaccedilatildeo da escola
implica a compreensatildeo de dois aspectos a participaccedilatildeo na gestatildeo enquanto
princiacutepio democraacutetico e a gestatildeo da participaccedilatildeo como princiacutepio teacutecnico De acordo
com o autor as escolas precisam desenvolver processos democraacuteticos e
colaborativos de trabalho e tomadas de decisotildees Por outro lado precisam funcionar
bem tecnicamente a fim de conseguir alcanccedilar seus objetivos o que requer a gestatildeo
da participaccedilatildeo Ainda segundo o autor a gestatildeo da participaccedilatildeo significa
[] alcanccedilar democraticamente os objetivos da escola A participaccedilatildeo eacute o principal meio de tomar decisotildees de mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos os conteuacutedos as formas de organizaccedilatildeo do trabalho e que ambiente de trabalho desejam para si proacuteprios e para os outros A participaccedilatildeo se viabiliza por interaccedilatildeo e participaccedilatildeo diaacutelogo [] Nesse sentido a melhor forma de gestatildeo eacute aquela que cria um sistema de praacuteticas interativas e colaborativas para trocas de ideias e experiecircncias [reflexotildees estudos][] (LIBAcircNEO 2015 p281)
Ante o exposto entende-se que embora existam tensotildees e contradiccedilotildees
quando se fala em gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas assim mesmo essa
pode ser concebida como uma possiacutevel forma de gestatildeo escolar de modo a
favorecer e contribuir para a realizaccedilatildeo do AEE na escola e por conseguinte com o
processo de escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes se levar em conta como
explicou Paro (2003) que
118
[] a possibilidade de uma administraccedilatildeo [gestatildeo] democraacutetica no sentido de sua articulaccedilatildeo [] com os interesses da sociedade como um todo tem a ver com os fins e a natureza da coisa administrada No caso da administraccedilatildeo [gestatildeo] escolar sua especificidade deriva pois a) dos objetivos que se buscam alcanccedilar com a escola b) da natureza do processo que envolve essa busca Esses dois aspectos natildeo estatildeo de modo nenhum desvinculados um do outro A apropriaccedilatildeo do saber e o desenvolvimento da consciecircncia criacutetica como objetivos de uma educaccedilatildeo transformadora determinam () a proacutepria natureza peculiar do processo pedagoacutegico escolar ou seja esse processo natildeo se constitui em mera diferenciaccedilatildeo do processo de produccedilatildeo material que tem lugar na empresa mas deriva sua especificidade de objetivos (educacionais) peculiares objetivos estes articulados com os interesses sociais mais amplos e que satildeo por isso antagocircnicos aos objetivos de dominaccedilatildeo subjacentes agrave atividade produtiva capitalista (PARO 2003 p151)
Considerando os princiacutepios de uma gestatildeo democraacutetica retorna-se agraves
discussotildees sobre a acessibilidade refletindo o que se pretende propiciar para quem
e com que objetivos Dessa forma refletir sobre barreiras arquitetocircnicas e atitudinais
compotildee o cenaacuterio de discussatildeo sobre qual a finalidade da Educaccedilatildeo na escola
puacuteblica brasileira hoje
A partir dessas reflexotildees retoma-se agrave questatildeo da acessibilidade
arquitetocircnica Observou-se que para cada instacircncia (poder puacuteblico e gestatildeo escolar)
haacute uma responsabilidade no que tange agrave acessibilidade e que existe no Brasil um
programa especiacutefico para destinaccedilatildeo de recursos puacuteblicos a fim de asseguraacute-la
(Programa Escola Acessiacutevel) Procurou-se nesse sentido investigar se as escolas
da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute haviam sido contempladas pelo
Programa Escola Acessiacutevel
No site do MEC (BRASIL 2016) foi possiacutevel localizar duas listagens nominais
das escolas a serem contempladas nos anos de 2012 e 2013 (Resoluccedilatildeo FNDE nordm
272012 e nordm192013) constatando que dentre as escolas a serem contempladas
em 2012 encontravam-se 3 escolas que fazem parte desta pesquisa Jaacute no ano de
2013 percebeu-se um incremento nesse nuacutemero que passou a totalizar 10 escolas
dentre as quais 5 compotildeem esta pesquisa conforme pode-se conferir no Quadro 11
a seguir
119
Quadro11 Escolas pesquisadas a serem contempladas pelo Programa Escola Acessiacutevel por meio do PDDE no ano de 2012 e 2013
2012 2013
E1 E1
E4 E2
E7 E4
E5
E7
Fonte Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 2016a)
Continuando a pesquisa na base de dados do MEC denominada Sistema
Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle ndash SIMEC32 (BRASIL 2016b) foi
possiacutevel identificar que a Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute recebeu o repasse
desse recurso financeiro somente no ano de 2013 conforme eacute possiacutevel conferir no
Graacutefico 10
Graacutefico10 Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves Redes Estadual e Municipal de Ensino de Camboriuacute
Fonte Dados extraiacutedos do Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle ndash SIMEC do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 2016b)
32
Para aprofundar o conhecimento sobre o assunto pode-se acessar o site do Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo Disponiacutevel em
lthttppainelmecgovbrpainelphpmodulo=principaldetalhamentoIndicadorampacao=Aampdetalhes=mu
nicipioampmuncod=4203204gt Acesso em 17102016b
120
Evidenciou-se nesse sentido que o recebimento de tal recurso natildeo eacute
imediato agrave publicaccedilatildeo da listagem de escolas que podem ser contempladas Para
fazer parte da listagem em primeiro lugar eacute necessaacuterio que as escolas tenham
aderido ao Programa de Implementaccedilatildeo de Salas de Recursos Multifuncionais e
informado no Censo Escolar a quantidade de matriacuteculas de estudantes puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial Uma vez que a listagem eacute divulgada e a escola se vecirc
contemplada cabe agrave equipe diretiva proceder com a realizaccedilatildeo de seu cadastro no
SIMEC onde deve inserir o Plano de Atendimento um documento que expressa seu
planejamento para utilizaccedilatildeo dos recursos a serem recebidos (BRASIL 2013)
Sob uma oacutetica superficial poder-se-ia inferir que a equipe diretiva em
especial precisa estar atenta e atualizada sobre os prazos e procedimentos
relacionados aos programas de repasse de recursos existentes para garantir que a
transferecircncia do recurso aconteccedila Contudo haacute um importante papel a ser
desenvolvido nesse acircmbito pelas Secretarias de Educaccedilatildeo que podem atuar como
elo entre o poder puacuteblico e as equipes diretivas escolares mantendo-as informadas
a respeito dos programas de repasse de recursos bem como acompanhando e
auxiliando no processo de execuccedilatildeo desses programas uma vez que de acordo
com o art 5ordm da ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 inciso I as prefeituras municipais
e secretarias distritais e estaduais satildeo responsaacuteveis
[] pela formalizaccedilatildeo dos procedimentos necessaacuterios ao recebimento execuccedilatildeo e prestaccedilatildeo de contas dos recursos do programa destinados agraves escolas de suas redes de ensino que natildeo possuem UEx [Unidade Executora] bem como pelo recebimento anaacutelise e emissatildeo de parecer das prestaccedilotildees de contas das UEx [Unidade Executora] representativas de suas escolas ou dos polos presenciais da UAB [Universidade Aberta do Brasil] a ela vinculados [] (BRASIL 2013 sp)
Considera-se relevante destacar ainda de acordo com a mesma
ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 que somente 20 do valor dos recursos
transferidos por meio do PDDE podem ser utilizados para aquisiccedilatildeo de itens de
capital33 Ou seja algumas necessidades de investimento para acessibilidade como
33
ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 ―[] art 4ordm Os recursos financeiros seratildeo destinados agraves escolas referidas no art 1deg na proporccedilatildeo de 80 (oitenta por cento) para cobertura de despesas de custeio e 20 (vinte por cento) para cobertura de despesas de capital de acordo com o nuacutemero de estudantes da educaccedilatildeo baacutesica matriculados na unidade educacional extraiacutedo do censo escolar do ano anterior ao do repasse e tomando como paracircmetros os intervalos de nuacutemero de alunos e os correspondentes valores [] (BRASIL 2013)
121
o elevador mencionado pela equipe diretiva ED2 excederiam o valor estipulado com
itens de capital Nesse caso entende-se que uma alternativa eacute a instacircncia municipal
em seu planejamento orccedilamentaacuterio anual contemplar essa aquisiccedilatildeo para as
unidades de ensino
Pode-se perceber que as escolas em que atuam as equipes diretivas
pesquisadas ainda natildeo contam com acessibilidade em todos os seus espaccedilos
internos e externos Entretanto ao analisar os dados do Censo Escolar de 2015
(INEP 2015) sobre a situaccedilatildeo da acessibilidade nas escolas municipais brasileiras
de ensino fundamental constatou-se que a acessibilidade estaacute longe de ser um
problema pontual do municiacutepio pesquisado
No que se refere agraves questotildees de acessibilidade arquitetocircnica os achados
apontaram que 60 das escolas municipais de ensino fundamental de Camboriuacute
contam com dependecircncias acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo
especial enquanto Santa Catarina apresenta 40 e o Brasil como um todo apenas
20 revelando que a acessibilidade nas escolas eacute uma problemaacutetica nacional O
Quadro 12 que segue apresenta essa informaccedilatildeo bem como a situaccedilatildeo de
acessibilidade dos sanitaacuterios das escolas
Quadro 12 Acessibilidades nas escolas municipais de ensino fundamental no Brasil SC e em Camboriuacute
Questotildees sobre acessibilidade arquitetocircnica
Brasil Santa Catarina Camboriuacute
Escolas com dependecircncias acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico - alvo da Educaccedilatildeo
Especial
(20) 17572 escolas (40) 765 escolas (60) 9 escolas
Escolas com sanitaacuterios acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico - alvo da Educaccedilatildeo
Especial
(26) 23232 escolas (48) 920 escolas (87) 13 escolas
Fonte Censo Escolar INEP (2015)
Ademais como salientaram Glat Pletsch e Fontes (2007) a acessibilidade
compreende um dos aspectos que compotildee a estrutura da proposta de Educaccedilatildeo
Inclusiva contida na Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial (BRASIL 2008)
122
Portanto constatar sua ausecircncia ou presenccedila parcial nas escolas brasileiras natildeo
basta eacute necessaacuteria analisaacute-la articulada aos demais aspectos que a compotildeem
como recursos pedagoacutegicoshumanos formaccedilatildeo dos profissionais da escola
participaccedilatildeo de todos os profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE bem como na construccedilatildeo discussatildeo reflexatildeo e
execuccedilatildeo da proposta de AEE dentre outros
Nesse sentido Glat Pletsch e Fontes (2007 345) apoiadas em Ainscow
(2004) ressaltam ainda que
[] a inclusatildeo escolar deve ser ancorada em trecircs aspectos inter-relacionados a saber a) a presenccedila do aluno na escola substituindo o isolamento do ambiente privado familiar pela sua inserccedilatildeo num espaccedilo puacuteblico de socializaccedilatildeo e aprendizagem b) a sua participaccedilatildeo efetiva em todas as atividades escolares a qual natildeo depende apenas de estiacutemuloslsquo de colegas e professores mas do oferecimento de condiccedilotildees de acessibilidade e adaptaccedilotildees curriculares que se faccedilam necessaacuterias e c) a construccedilatildeo de conhecimentos funccedilatildeo primordial da escola e meta a ser perseguida durante o processo de inclusatildeo
Observa-se que os desafios postos para a constituiccedilatildeo de uma escola para
todos os estudantes satildeo muitos Sabendo que a acessibilidade eacute um deles
compreende-se que haacute um papel essencial do poder puacuteblico quanto agrave
disponibilizaccedilatildeo de recursos para provecirc-los agraves escolas bem como um papel
importante da gestatildeo escolar (equipes diretivas escolares articuladas ao coletivo
escolar) no planejamento para a aplicaccedilatildeo do referido investimento Evidencia-se
contudo que o atual cenaacuterio poliacutetico econocircmico e social brasileiro tem sido
vivenciado como um momento de grande instabilidade e muitas incertezas com
indiacutecios de que os investimentos para a aacuterea da educaccedilatildeo tendem ao encolhimento
Nesse sentido Prieto (2015) expotildee que os movimentos sociais em prol da educaccedilatildeo
podem figurar como uma alternativa para se reivindicar condiccedilotildees necessaacuterias para
assegurar a educaccedilatildeo como direito fundamental e de todos
[] eacute necessaacuterio insistir na mudanccedila do patamar de participaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas de educaccedilatildeo bem como na avaliaccedilatildeo de seus impactos O que se espera eacute criar movimentos de resistecircncia aos ditames externos e agraves propostas internas que ameacem direitos adquiridos ou destruam as possibilidades de intervenccedilatildeo social na direccedilatildeo de novas conquistas no campo da educaccedilatildeo (PRIETO 2015 p 34)
123
Seguindo com as anaacutelises ao perguntar agraves equipes diretivas sobre os
recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis na escola em que atuam foi possiacutevel constatar
que a maioria (16 dos 22 integrantes pesquisados) apresentou uma resposta
positiva informando que a escola os possui Os seis demais participantes que
integram a ED3 e a ED6 informaram que a escola natildeo dispotildee de recursos
pedagoacutegicos que possam contribuir paracom o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Essas informaccedilotildees estatildeo ilustradas
no Graacutefico 11 a seguir
Graacutefico - 11 - Recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis nas escolas pesquisadas
Fonte Primaacuteria (2016) Ao observar os relatos dos integrantes das equipes diretivas que informaram
possuir recursos pedagoacutegicos na escola em que atuam (ED1 ED2 ED4 ED5 e
ED7) foi possiacutevel notar menccedilotildees recorrentes a equipamentos de informaacutetica (em
especial computador e notebook) e jogos pedagoacutegicos Vejamos no Quadro 13
quais foram os entendimentos apresentados por esses participantes acerca dos
recursos pedagoacutegicos disponibilizados pelas escolas
Quadro 13 O que se entende por ―recurso pedagoacutegico nos dizeres das equipes diretivas que informaram possuiacute-los nas escolas em que atuam
Recursos Recorrecircncia
ComputadorNotebook 12
Jogos Pedagoacutegicos 12
Lupa 6
Dominoacute taacutetil 3
Maacutequina de Braile 3
124
Reacutegua 3
Materiais DidaacuteticosAlternativos 3
Livros 3
Sala de Recursos Multifuncionais 2
Scanner de voz 1
Mobiliaacuterio 1
Maacutequina de Libras 1
Internet 1
Natildeo especificou 1
Total 52
Fonte Primaacuteria (2016)
Eacute possiacutevel constatar a partir do Quadro 13 que as respostas dos integrantes
das equipes diretivas acerca dos recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis para o trabalho
com os estudantes puacuteblico-alvo da EE se restringiram aos itens disponibilizados
pelo MEC por meio do programa de implantaccedilatildeo de SRM (BRASIL 2013) O
referido programa prevecirc a doaccedilatildeo de equipamentos mobiliaacuterios e materiais
didaacuteticos pedagoacutegicos agraves escolas que a ele aderiram conforme detalhado no
Quadro 14 a seguir
Quadro 14 Composiccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais ndash 20112012
Fonte Extraiacutedo do documento Orientador do Programa de Implantaccedilatildeo de Salas de Recursos Multifuncionais (BRASIL 2013 p15)
125
Contemplar a forma como as equipes diretivas demonstraram compreender o
que satildeo ―recursos pedagoacutegicos instiga a uma reflexatildeo conceitual acerca do termo
que vem sendo largamente utilizado em documentos legais e produccedilotildees cientiacuteficas
sem por vezes discutir sobre o seu significado Nesse sentido concorda-se com
Eiterer e Medeiros (2010 p01) quando explicaram que
[] ao falar de recursos pedagoacutegicos somos atualmente levados a pensar de modo restritivo em tecnologias digitais e recursos multimiacutedia websites infovias e outras possibilidades dessa mesma natureza Ou ainda em materiais educativos tais como jogos e brinquedos pedagoacutegicos materiais didaacuteticos e mesmo livros didaacuteticos []
As referidas autoras realizaram uma pertinente reflexatildeo acerca do significado
da expressatildeo ―recurso pedagoacutegico procurando vislumbrar aleacutem de seu aspecto
material e distinguir o que poderia conferir a um recurso o caraacuteter de pedagoacutegico
Avanccedilando nas discussotildees chegaram a um entendimento de que o recurso
pedagoacutegico
[] eacute o que auxilia a aprendizagem de quaisquer conteuacutedos intermediando os processos de ensino-aprendizagem intencionalmente organizados por educadores na escola ou fora dela Delimitando melhor os contornos de um conceito o que apresentamos como elemento que permite distinguir um recurso pedagoacutegico de outro qualquer estaacute na accedilatildeo do educador que a partir de uma atuaccedilatildeo planejada mobiliza determinados meios de maneira consciente com vistas a alcanccedilar um objetivo educacional (EITERER e MEDEIROS 2010 p 1 grifo nosso)
O que possibilita classificar um recurso como pedagoacutegico natildeo eacute portanto o
recurso em si mas sim a intencionalidade e a accedilatildeo do educador Assim natildeo
existe recurso pedagoacutegico a priori ainda que a sua finalidade seja educativa Um
recurso torna-se pedagoacutegico na medida em que o educador lhe coloque esse
objetivo e dirija sua accedilatildeo para a construccedilatildeo de um conhecimento especiacutefico
(EITERER e MEDEIROS 2010)
Ainda que a maioria das equipes diretivas escolares entenda que haacute recursos
pedagoacutegicos em suas escolas o modo como se expressaram foi indicativo de uma
compreensatildeo restrita agravequeles que satildeo disponibilizados na SRM Nesse sentido
considera-se que uma ampliaccedilatildeo do conceito de ―recurso pedagoacutegico por parte
das equipes diretivas poderia auxiliaacute-las a ressiginificar suas compreensotildees e com
isso talvez identificar outros recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis em suas escolas
126
Compreende-se que os proacuteprios documentos relacionados ao AEE apontam
para essa interpretaccedilatildeo mais restrita do que significa um ―recurso pedagoacutegico
Assim a ressignificaccedilatildeo desse conceito por meio de estudos e processos de
formaccedilatildeo continuada constitui uma forma possiacutevel natildeo apenas de identificaccedilatildeo de
recursos como mencionado anteriormente Pode favorecer tambeacutem que o proacuteprio
papel da equipe diretiva em relaccedilatildeo ao AEE e ao processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE possa se transformar de modo a contribuir para que
o cotidiano escolar seja organizado de forma a ampliar as possibilidades
pedagoacutegicas do espaccedilo escolar Entende-se que uma maneira possiacutevel de fazecirc-lo
eacute por meio de planejamento de formaccedilatildeo junto a todos os professores
Nessa direccedilatildeo eacute necessaacuterio ainda desconstruir a loacutegica de formaccedilatildeo
separada para o professor especializado professores da sala comum e equipe
diretiva que vem se constituindo como norma nos sistemas de ensino e nos
espaccedilos escolares brasileiros e que pouco pode contribuir com o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Sobre isso Garcia (2011 p 67)
explicou que
[] a loacutegica de formaccedilatildeo proposta e realizada tende a influenciar a organizaccedilatildeo escolar alimentando a caracteriacutestica de pouca ou nenhuma organicidade entre o trabalho especializado e o trabalho pedagoacutegico desenvolvido em sala de aula A formaccedilatildeo de professores nos moldes propostos mediante uma poliacutetica de Educaccedilatildeo Inclusiva tem enfrentado a realidade excludente da Educaccedilatildeo escolar brasileira Ou estamos lidando com um enfoque de justaposiccedilatildeo de um conjunto de praacuteticas especializadas metodologias e recursos especializados como imagem de inclusatildeo escolar
Seguindo com as anaacutelises foi possiacutevel perceber que a Sala de Recursos
Multifuncionais se constitui como um espaccedilo de referecircncia para pensar os recursos
pedagoacutegicos e de acessibilidade natildeo apenas nos dizeres das equipes diretivas
citadas mas na proacutepria proposta do Atendimento Educacional Especializado que
apresenta a SRM como um espaccedilo fiacutesico privilegiado para a realizaccedilatildeo de tal
atendimento que conta com mobiliaacuterio materiais didaacuteticos recursos pedagoacutegicos
e de acessibilidade e equipamentos especiacuteficos para complementarsuplementar o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE (BRASIL 2009)
Sem duacutevida esses recursos disponibilizados pelo MEC satildeo importantes e
precisam estar disponiacuteveis para a utilizaccedilatildeo do professor da sala comum no
trabalho com os estudantes puacuteblico-alvo da EE Entretanto esses recursos natildeo
127
satildeo os uacutenicos que podem ser utilizados ao se considerar que em seu trabalho
cotidiano junto aos estudantes puacuteblico-alvo da EE o professor seja na sala comum
ou na SRM pode se utilizar de outros recursos como meio para atingir seu objetivo
de aprendizagem bem como construiacute-los com os estudantes no intuito de
propiciar a adaptaccedilatildeo de um determinado conteuacutedo o que natildeo deixa de conferir a
esses recursos um caraacuteter pedagoacutegico e acessiacutevel
Convergindo com a discussatildeo Fuck e Cordeiro (2015 p398) salientaram
que
[] os recursos e adaptaccedilotildees devem ser ajustados agraves necessidades dos estudantes oportunizando-os desenvolver suas potencialidades portanto natildeo existe um padratildeo uacutenico para seu uso assim como natildeo significa que toda pessoa com deficiecircncia necessariamente necessite deles ou ainda que tudo deva ser adaptado mas que estes devem ser personalizados visando agrave autonomia da pessoa Para aleacutem desta autonomia entender que os recursos e adaptaccedilotildees constituem-se em meios pois o que deve ser fundamentalmente garantido ao aluno com deficiecircncia eacute o seu direito de acesso aos conteuacutedos escolares
Nessa direccedilatildeo Paro (2012) enfatizou que o objetivo primeiro da escola eacute a
apropriaccedilatildeo por todos os estudantes dos conhecimentos das ciecircncias da arte da
tecnologia da filosofia enfim de todas as conquistas culturais historicamente
produzidas pelos homens Apropriaccedilatildeo essa ―[] que se cumpre pelas atividades
pedagoacutegicas curriculares e docentes estas por sua vez viabilizadas pelas formas
de organizaccedilatildeo escolar e de gestatildeo (LIBAcircNEO 2007 p155)34 realizada pela
equipe diretiva em conjunto com os demais profissionais e comunidade escolar
Ainda sobre a disponibilidade de recursos pedagoacutegicos nas escolas um outro
ponto de atenccedilatildeo que surgiu refere-se a duas equipes diretivas (ED3 e ED6) que
explicitaram natildeo dispor de recursos pedagoacutegicos nos espaccedilos escolares em que
atuam A esse respeito uma primeira consideraccedilatildeo que se faz pertinente eacute a de
que essas equipes diretivas que consideraram natildeo possuir recursos pedagoacutegicos
acessiacuteveis atuam em escolas que natildeo dispotildeem de Salas de Recursos
Multifuncionais e nesse sentido tambeacutem apontaram para uma compreensatildeo de
―recursos pedagoacutegicos reduzidos aqueles que deveriam compor tal espaccedilo e natildeo
a accedilatildeo do educador que pode transformar diversos materiais espaccedilos e situaccedilotildees
34
Texto original escrito em espanhol Traduccedilatildeo livre ―que se obtiene a traveacutes de las atividades pedagoacutegicas curriculares y docentes Eacutestas a su vez son viabilizadas por las formas de organizacioacuten escolar y de gestioacuten (LIBAcircNEO 2007 p155)
128
em meios para favorecer o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo
da EE
Pode-se inferir que nas escolas em que atuam as equipes diretivas ED3 e
ED6 a ausecircncia de um espaccedilo fiacutesico como a SRM dotado de ―[] diferentes
ferramentas desde tecnoloacutegicas ateacute adaptaccedilotildees em materiais escolares
(PLETSCH 2009 p 36) parece ser evidenciada pelas equipes diretivas como
determinante para a inacessibilidade dos conteuacutedos escolares Percepccedilatildeo essa
que por sua vez pode destituir a potecircncia dos saberes e das accedilotildees docentes para
converter uma seacuterie de materiais em recursos pedagoacutegicos acessiacuteveis Contudo
os equipamentos mobiliaacuterios e materiais didaacuteticos pedagoacutegicos que compotildeem a
SRM satildeo ferramentas importantes entendidas por Pletsch (2009 p 36) como
recursos imprescindiacuteveis ―[] para o processo de ensino-aprendizagem de crianccedilas
com necessidades educacionais especiais35 incluiacutedas no ensino regular sobretudo
aquelas com comprometimentos mais severos Assim dispor de tais meios pode
favorecer o trabalho docente junto aos estudantes puacuteblico-alvo da EE ainda que
natildeo determinem por si mesmas a acessibilidade dos conteuacutedos a serem
aprendidos
Considerando tais colocaccedilotildees pode-se dizer que compreender a importacircncia
dos meacutetodos de ensino e dos recursos pedagoacutegicos como meios que possibilitam
aos estudantes puacuteblico-alvo da EE se apropriarem dos conhecimentos
sistematizados eacute uma forma de considerar as suas singularidades e dar um passo
na direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo para todos Nessa perspectiva concorda-se com
Sanches e Teodoro (2006) quando salientam que
[] para que as escolas se tornem mais inclusivas eacute necessaacuterio que assumam e valorizem os seus conhecimentos e as suas praacuteticas que considerem a diferenccedila um desafio e uma oportunidade para a criaccedilatildeo de novas situaccedilotildees de aprendizagem que sejam capazes de inventariar o que estaacute a impedir a participaccedilatildeo de todos que se disponibilizem para utilizar os recursos disponiacuteveis e para gerar outros que utilizem uma linguagem acessiacutevel a todos e que tenham a coragem de correr riscos (SANCHES amp TEODORO 2006 p71)
Evidencia-se tambeacutem que para um espaccedilo escolar tornar-se acessiacutevel eacute
fundamental o papel da equipe diretiva escolar para inventariar junto aos demais
profissionais da educaccedilatildeo o que a escola possui em relaccedilatildeo agrave acessibilidade de
35
O que Pletsch (2009) enfatiza como recursos imprescindiacuteveis para crianccedilas com necessidades educacionais especiais satildeo entendidos no contexto deste estudo como aplicaacuteveis a todos os estudantes puacuteblico-alvo da EE independentemente da faixa-etaacuteria modalidade e niacutevel de ensino
129
suas estruturas internas e externas equipamentos mobiliaacuterios e materiais
didaacuteticos pedagoacutegicos bem como levantar uma relaccedilatildeo daqueles que precisam ser
providenciados e apresentaacute-la aos oacutergatildeos competentes ensejando que sejam
incluiacutedas no planejamento orccedilamentaacuterio anual
Adicionalmente agraves equipes diretivas e demais profissionais da educaccedilatildeo eacute
posto o desafio de instituir e sistematizar momentos de discussatildeo e reflexatildeo sobre
o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Considera-se
aqui no entanto a instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos de formaccedilatildeo em que seja
possiacutevel por exemplo repensar as concepccedilotildees construiacutedas acerca da Educaccedilatildeo
Especial ponderar sobre suas accedilotildees pedagoacutegicas e de gestatildeo e perceber a forma
como a escola estaacute organizada para receber esses estudantes Isso sem deixar de
atentar para os obstaacuteculos dificuldades e resistecircncias que fazem parte de qualquer
processo de reflexatildeo eou mudanccedila e que precisam ser acolhidos compreendidos
e trabalhados Tais momentos de reflexatildeo e discussatildeo natildeo se restringem como
explicaram Placco Souza e Almeida (2012) a cursos e palestras mas remetem a
muacuteltiplos espaccedilos e atividades que favorecem a construccedilatildeo de saberes estimulem
a busca por outros conhecimentos e introduzem uma inquietaccedilatildeo fecunda e
contiacutenua com o que jaacute se conhece
Prosseguindo com as reflexotildees passa-se agora para a apresentaccedilatildeo e
discussatildeo dos dados que emergiram do questionamento realizado agraves equipes
diretivas acerca das accedilotildees36 que essas consideram de sua responsabilidade para
viabilizar o AEE Cada participante respondeu agrave questatildeo considerando sua funccedilatildeo
especiacutefica isto eacute diretores(as) relataram a respeito do papel do(a) diretor(a)
supervisores(as) sobre o papel do(a) supervisor(a) e orientadores(as) a respeito
do papel de orientador(a)
Considerando poreacutem que essa investigaccedilatildeo pretende se debruccedilar sobre a
anaacutelise do papel da equipe diretiva como um todo apresenta-se a seguir um
agrupamento dos dizeres dos participantes da pesquisa formando um conjunto de
papeacuteis que remete agrave equipe diretiva exposto no Quadro 15 Optou-se por
organizar seus dizeres por recorrecircncia em toacutepicos indicativos do modo como
demonstraram entender seu papel no que tange agrave viabilizaccedilatildeo do AEE
36
No contexto deste estudo os termos accedilatildeo papel e funccedilatildeo satildeo entendidos como expressotildees semelhantes que remetem a atividades consideradas de responsabilidade das equipes diretivas em prol da viabilizaccedilatildeo do AEE
130
Quadro 15 Accedilotildees que as equipes diretivas escolares consideram que sejam de suas responsabilidades para viabilizar o AEE
Papel da Equipe Diretiva Escolar na Viabilizaccedilatildeo do AEE Recorrecircncia
Orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores)
9
Orientar Orientar accedilotildees educativas Ajudar o professor na qualidade de suas aulas Orientaccedilotildees educativas aos professores ajudando a qualificar suas aulas Resolver auxiliar orientar os estudantes e pais em suas limitaccedilotildees e anguacutestias Orientaccedilatildeo aos professores Acompanhar a professora especializada Orientar professores Atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eou seus pais
7 Realizar atendimento a esses alunos e pais informando sua vida escolar Ajudar no atendimento aos alunos no refeitoacuterio Encaminhar alunos (2) Adequar horaacuterios dos alunos (2) Viabilizar conversas com os pais
Provimento de condiccedilotildees materiais e pedagoacutegicas
5
Dar condiccedilotildees (materiais jogos ambiente etc) para que os profissionais possam atender aos alunos Viabilizar materiais para as atividades Suprir as necessidades quanto a materiais para que os professores possam desenvolver seu trabalho Participaccedilatildeo no trabalho pedagoacutegico Proporcionar acesso ao conhecimento das diferentes siacutendromes e deficiecircncias para que o professor planeje atividades compatiacuteveis as suas possibilidades
Apuraccedilatildeorepasse de informaccedilotildees e mediaccedilatildeo entre escola e Secretaria da Educaccedilatildeo
4 Levantamento dos alunos com deficiecircncia Solicitar para a Secretaria da Educaccedilatildeo esse atendimento (AEE) aos alunos (2) Repassar informaccedilotildees relevantes
Promoccedilatildeo da aprendizagemdesenvolvimento dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
2 Promover a aprendizagem dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Acompanhar o desenvolvimento desse estudante
Natildeo responderam 5
Total 32
Fonte Primaacuteria (2016)
Identificou-se que os toacutepicos mais recorrentes nos dizeres dos integrantes
das equipes diretivas para descreverem suas accedilotildees a fim de viabilizar o AEE foram
relativos a orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores) atendimento a
estudantes puacuteblico-alvo da EE eou seus pais e ao provimento de condiccedilotildees
materiais para realizaccedilatildeo desse atendimento
No tocante ao papel de orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores)
observou-se que a maior parte dos integrantes que citou essa accedilatildeo foram
supervisores educacionais aos quais de fato eacute conferida a atribuiccedilatildeo de atender e
acompanhar os docentes focalizando o processo pedagoacutegico (CAMBORIUacute 2008)
Tambeacutem foi possiacutevel perceber que a maneira como os respondentes se
expressaram foi em alguns momentos geneacuterica imprecisa ou vaga Um deles por
131
exemplo resumiu seu papel a ―orientar o que conduziu a alguns
questionamentos orientar a quem como porque quando Do mesmo modo outro
participante ao expor que seu papel diz respeito a ―orientar accedilotildees educativas natildeo
esclareceu quais accedilotildees seriam essas Ainda um dos integrantes mencionou que
sua funccedilatildeo remete a ―ajudar o professor na qualidade de suas accedilotildees o que por
sua vez leva a questionar o que se entende por uma ―accedilatildeo de qualidade e de que
forma a equipe diretiva escolar pode ajudar a qualificar a accedilatildeo de um professor
Essa forma aqui compreendida como geneacuterica imprecisa ou vaga de falar a
respeito do papel da equipe diretiva escolar frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE pode ser
explicada a partir de perspectivas distintas dentre as quais duas parecem se
destacar A primeira se refere agrave possiacutevel falta de clareza por parte dos integrantes
das equipes diretivas acerca de seus papeacuteis Isto eacute a imprecisatildeo que foi percebida
na forma como se expressaram pode ser indicativa de que natildeo estaacute claro para
eles proacuteprios qual eacute a funccedilatildeo que lhes compete para viabilizar o AEE no acircmbito
escolar
Sabendo que a maneira como as equipes diretivas falam a respeito de seu
papel frente ao processo de viabilizaccedilatildeo do AEE revela tambeacutem o que pensam
sobre o proacuteprio AEE Supotildee-se que essa falta de clareza quanto ao seu papel pode
estar ancorada em uma concepccedilatildeo de AEE como um serviccedilo agrave parte cuja ―gestatildeo
seria de responsabilidade do professor especializado e natildeo da escola como um
todo Nesse sentido assim como Pletsch (2009) afirmou que a inclusatildeo eacute ainda
vista como uma responsabilidade setorizada da Educaccedilatildeo Especial o professor
atuante na SRM parece ser percebido em casos como esse como o principal
responsaacutevel pelo AEE Essa concepccedilatildeo parece ter sido evidenciada tambeacutem em
outras pesquisas como a empreendida por Fuck (2014 p148-149) com
professores da sala comum em que a autora observou
[] que o professor da Sala Comum espera do professor especializado soluccedilotildees que natildeo dependem exclusivamente do AEE na SRM mas que implicam a proacutepria organizaccedilatildeo estrutural poliacutetica cultural e pedagoacutegica da escola
A segunda perspectiva que pode ser apontada diz respeito ao tempo
que os participantes puderam destinar agrave resposta dos questionaacuterios dessa
pesquisa considerando que a coleta de dados ocorreu nos meses de outubro e
132
novembro de 2015 convergindo em algumas escolas com o periacuteodo de aplicaccedilatildeo
da Prova Brasil37 teacutermino de semestre e outras demandas de final de ano que
podem ter levado os integrantes das equipes diretivas a responderem de forma
sucinta agraves questotildees do referido instrumento de coleta de dados
Ainda que orientaccedilatildeoajuda em especial aos docentes tenha emergido como
o papel mais citado pelas equipes diretivas ao pensarem em suas accedilotildees em prol
da viabilizaccedilatildeo do AEE Macedo Carvalho e Pletsch (2011) esclareceram que
esse serviccedilo vai muito aleacutem da orientaccedilatildeo aos professores uma vez que requer
[] mudanccedilas estruturais e pedagoacutegicas no funcionamento das escolas como por exemplo entre outras dimensotildees na estrutura curricular riacutegida presente nos objetivos conteuacutedos nas metodologias na organizaccedilatildeo didaacutetica do tempo na estrateacutegia de avaliaccedilatildeo para atender a diversidade e especificidades dos alunos que a frequentam Flexibilizar o curriacuteculo para atender a todos os alunos eacute urgente A sua transformaccedilatildeo implica na diminuiccedilatildeo do nuacutemero de alunos por sala de aula o trabalho cooperativo ou colaborativo entre professores do AEE e da sala comum entre outros aspectos (MACEDO CARVALHO e PLETSCH 2011 p7)
Foi possiacutevel perceber que os aspectos relatados pelas autoras natildeo
apareceram nas falas das equipes diretivas como accedilotildees que poderiam realizar a
fim de viabilizar o AEE Do mesmo modo momentos coletivos de reflexatildeo e
diaacutelogo citados ao longo desta pesquisa como uma das principais accedilotildees a serem
empreendidas pelas equipes diretivas visando uma gestatildeo democraacutetica-
participativa tambeacutem natildeo surgiram nos dizeres dos participantes como uma
possibilidade para contribuiacuterem com o processo de viabilizaccedilatildeo do AEE
A criaccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo de reflexatildeo e diaacutelogo acerca de
assuntos educacionais com o coletivo escolar dentre os quais inclui-se a
elaboraccedilatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico (PPP) satildeo entendidos como formativos
e requerem uma accedilatildeo intencional e planejada por parte das equipes diretivas
combinada agrave existecircncia de condiccedilotildees adequadas para sua execuccedilatildeo (estrutura
fiacutesica tempo etc) O fato de natildeo terem sido mencionados pelos participantes
como parte de seu papel frente ao AEE pode levar agrave inferecircncia de que tal criaccedilatildeo
37 Avaliaccedilatildeo Nacional do Rendimento Escolar - Anresc (tambeacutem denominada Prova Brasil) trata-se de uma avaliaccedilatildeo censitaacuteria envolvendo os alunos da 4ordf seacuterie5ordmano e 8ordfseacuterie9ordmano do Ensino Fundamental das escolas puacuteblicas das redes municipais estaduais e federal com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas puacuteblicas Participam dessa avaliaccedilatildeo as escolas que possuem no miacutenimo 20 alunos matriculados nas seacuteriesanos avaliados sendo os resultados disponibilizados por escola e por ente federativo (BRASIL 2016 sp)
133
e organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo para discutir e refletir com o coletivo escolar natildeo
seja uma accedilatildeo desenvolvida nas escolas pesquisadas
Um dado que reforccedila essa hipoacutetese diz respeito ao fato de que dos 22
participantes da pesquisa apenas 3 (ED2o ED2s e ED4o) informaram que o AEE eacute
contemplado no PPP da escola Dentre os demais 9 justificaram a ausecircncia do
AEE no PPP da escola pelo fato de natildeo contarem com esse serviccedilo em seus
espaccedilos escolares e 7 natildeo justificaram tal ausecircncia sendo que 03 natildeo
responderam a essa questatildeo Pode-se evidenciar ainda que na escola ED4 apesar
de ofertar o AEE na proacutepria escola 03 de seus integrantes (ED4o ED4s ED4s)
informaram que o AEE natildeo consta no PPP Tal resposta se repetiu nas demais
escolas pesquisadas com exceccedilatildeo da equipe diretiva ED2 em que a maioria de
seus integrantes responderam (ED2d e ED2s) que o AEE estaacute incluso no PPP da
escola Parece haver nesse sentido um entendimento por parte das equipes
diretivas de que o AEE se restringe ao espaccedilo da SRM contudo esse serviccedilo faz
parte dos apoios que a escola promove aos estudantes e aos professores entatildeo
independente de haver ou natildeo a sala recursos multifuncionais no espaccedilo escolar
compreende-se que o atendimento especializado deveria fazer parte das diretrizes
da escola
Embora a constituiccedilatildeo coletiva do PPP na escola seja um espaccedilo e tempo
privilegiado de reflexatildeo e planejamento coletivo natildeo pode como sugeriu Carneiro
(2006 p32) se ―constituir como um fim em si mesmo pois precisa ainda ser
constantemente revisitado acompanhado e avaliado identificando as alteraccedilotildees
necessaacuterias a serem feitas Ele eacute verdadeiramente o iniacutecio de um processo de
trabalho A partir do projeto pedagoacutegico a escola vai estruturando seu trabalho
avaliando e reorganizando suas praacuteticas oportunizando que todos os envolvidos
nesse processo identifiquem suas responsabilidades individuais e coletivas no que
concerne agrave viabilizaccedilatildeo do AEE Libacircneo (2015 p127 grifo do autor) complementa
a discussatildeo ao enfatizar que
[] o projeto pedagoacutegico deve ser compreendido como instrumento e processo de organizaccedilatildeo da escola Considera o que jaacute estaacute instituiacutedo (legislaccedilatildeo curriacuteculos conteuacutedos meacutetodos formas organizativas da escola etc) mas tem tambeacutem uma caracteriacutestica de instituinte[] que significa que o projeto institui estabelece cria objetivos procedimentos instrumentos modos de agir estruturas haacutebitos valores ou seja institui uma cultura organizacional Neste sentido ele [PPP] sintetiza os interesses os desejos as propostas dos educadores [do coletivo escolar] que trabalham na escola [ao responderem] as seguintes perguntas a) Que tipo de escola noacutes
134
profissionais desta escola queremos b) Que objetivos e metas correspondem agraves necessidades e expectativas desta comunidade escolar c) Que necessidades precisamos atender em termos de formaccedilatildeo dos alunos e alunas para a autonomia cidadania participaccedilatildeo d) Como faremos para colocar o projeto em permanente avaliaccedilatildeo dentro da praacutetica da accedilatildeo-reflexatildeo-accedilatildeo Considerando o caraacuteter processual do planejamento o projeto eacute avaliado ao longo do ano letivo para verificar se as accedilotildees estatildeo correspondendo ao que foi previsto se as metas precisam ser alteradas em funccedilatildeo de fatos inesperados de forma a corrigir os desvios tomar novas decisotildees e replanejar o rumo do trabalho
Nesse sentido considerando a importacircncia do processo de construccedilatildeo de tal
documento eacute possiacutevel constatar que se torna imprescindiacutevel discutir a proposta de
AEE na elaboraccedilatildeo do PPP uma vez que essa natildeo pode ser considerada como um
apecircndice incorrendo no risco de responsabilizar somente o professor de AEE na
sua elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo Sugere-se outrossim que o AEE seja pensado e
realizado a partir do envolvimento de todos como uma proposta delineadora do
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial A
equipe diretiva aparece nesse contexto com um papel de destaque na promoccedilatildeo
desse envolvimento do coletivo escolar Como explicou Tezani (2009) apoiada em
Sage (2008) a equipe diretiva pode abrir espaccedilos e promover trocas de
experiecircncias importantes entre os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo e
conforme suas possibilidades e o contexto em que atua desenvolver uma gestatildeo
democraacutetica-participativa que favoreccedila a formaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo de equipes de
trabalho
Ratifica-se portanto que a discussatildeo coletiva da proposta de AEE eacute
fundamental uma vez que se mostra como uma forma de articular as accedilotildees dentro
da escola por meio de um processo de construccedilatildeo dialoacutegico possibilitando aos
profissionais da educaccedilatildeo pais e estudantes reconhecerem e compreenderem o
AEE como uma accedilatildeo que para ser efetiva requer o envolvimento de todos Esse
clima organizacional que se procura constituir nessa construccedilatildeo coletiva Aguiar
(2012 p 152) denominou de responsabilidade partilhada em que todos
―reconhecem seus papeacuteis e limitaccedilotildees e buscam em conjunto sanar as dificuldades
e avanccedilar sobre novos desafios
Em meio a essas reflexotildees Catani e Gutierrez (2008) advertem que
[] toda e qualquer organizaccedilatildeo que tente implantar e desenvolver praacuteticas de natureza participativa vive sob a constante ameaccedila da reconversatildeo burocraacutetica e autoritaacuteria dos seus melhores esforccedilos As razotildees para isto satildeo diversas histoacuteria de vida de seus membros supervalorizaccedilatildeo
135
ideoloacutegica das formas tradicionais de gestatildeo demandas especiacuteficas difiacuteceis de conciliar etc De tudo isso contudo um ponto deve ser destacado a participaccedilatildeo se funda no exerciacutecio do diaacutelogo entre as partes Essa comunicaccedilatildeo ocorre em geral entre pessoas com diferentes formaccedilotildees e habilidades ou seja entre agentes dotados de distintas competecircncias para a construccedilatildeo de um plano coletivo e consensual de accedilatildeo Na praacutetica da gestatildeo escolar esta diferenccedila que em si natildeo eacute original nem uacutenica assume uma dimensatildeo muito maior do que a grande maioria das propostas de gestatildeo participativa e autogestatildeo que pode ser observada (CATANI amp GUTIERREZ 2008 p71 grifo nosso)
Desse modo pode-se dizer que o processo de elaboraccedilatildeo coletiva do projeto
poliacutetico pedagoacutegico eacute permeado por aspectos culturais sociais e poliacuteticos de seus
participantes pelas poliacuteticas puacuteblicas e pelas condiccedilotildees disponiacuteveis na escola para
sua realizaccedilatildeo figurando assim as tensotildees e contradiccedilotildees que perpassam essa
construccedilatildeo coletiva
Dentre outros possiacuteveis motivos que poderiam inviabilizar a existecircncia de
momentos formativos de reflexatildeo e diaacutelogo nas escolas pode-se citar a
precariedade das condiccedilotildees para que tal accedilatildeo aconteccedila como por exemplo a
indisponibilidade de tempo como jaacute discutido anteriormente Outro ponto que
merece atenccedilatildeo eacute a possibilidade de que as equipes diretivas natildeo reconheccedilam que
criar estrateacutegias de organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo que assegure encontros de
formaccedilatildeo coletiva com os profissionais da escola como accedilotildees que podem ser
feitas por elas para viabilizar o AEE
Nesse sentido vislumbra-se que esse reconhecimento por parte das equipes
diretivas pode se mostrar uma oportunidade para que se possa identificar suas
possibilidades de accedilatildeo frente ao AEE Em momentos de reflexatildeo e accedilatildeo conjunta
pode-se refletir sobre a realidade poliacutetica econocircmica e social em que a escola estaacute
inserida percebendo a incontestaacutevel imbricaccedilatildeo dessa realidade agraves questotildees
pedagoacutegicas e do cotidiano escolar Nesses momentos tambeacutem eacute possiacutevel pensar
sobre e esclarecer as responsabilidades individuais e coletivas dos envolvidos no
processo de viabilizaccedilatildeo do AEE considerando a responsabilidade do Estado em
prover as condiccedilotildees necessaacuterias (estruturais recursos pedagoacutegicos e humanos)
para a efetivaccedilatildeo desse serviccedilo Pensar o AEE da forma que parece estar posta
nas escolas pesquisadas como sendo um serviccedilo individualizado setorizado e com
uma escassa interaccedilatildeo entre os profissionais pouco pode contribuir com o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Nesse sentido
concorda-se com Jesus Almeida e Sobrinho (2005 p1) quando explicam que
136
[] se quisermos uma escola que atenda agrave diversidade ou seja uma escola inclusiva precisamos pensar com o outro precisamos de um processo longo e constante de reflexatildeo-accedilatildeo-criacutetica com [todos] os profissionais que fazem o ato educativo acontecer []
Com relaccedilatildeo ao papel de atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial eou seus pais observou-se que a maioria dos integrantes
que fez referecircncia a esse papel foram orientadores educacionais o que pode ter
seu fundamento em parte nas proacuteprias atribuiccedilotildees das funccedilotildees desse profissional
contidas na Lei Municipal Complementar nordm 192008 (CAMBORIUacute 2008 sp)
Na referida lei ao orientador eacute atribuiacutedo um papel mais voltado ao
atendimento de estudantes e suas famiacutelias promovendo uma articulaccedilatildeo entre
escola famiacutelia e comunidade e envolvendo os estudantes e seus responsaacuteveis na
elaboraccedilatildeo do Plano Poliacutetico Pedagoacutegico da escola Enquanto isso o supervisor
educacional aparece como aquele que acompanha e daacute suporte aos professores
com foco na dimensatildeo pedagoacutegica do processo de escolarizaccedilatildeo O diretor por
sua vez parece ter uma atuaccedilatildeo direcionada a aspectos administrativos
(CAMBORIUacute 2008)
Essa divisatildeo de responsabilidades apareceu tambeacutem nas respostas dos
participantes uma vez que as trecircs accedilotildees mais citadas como aquelas que satildeo de
responsabilidade da equipe diretiva a fim de viabilizar o AEE tiveram cada uma a
marca de uma funccedilatildeo especiacutefica papel de orientaccedilatildeoajuda (em especial aos
professores) foi mais mencionado por supervisores escolares papel de
atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eou pais apareceu
com mais frequecircncia nas falas de orientadores educacionais e por fim o papel de
provimento de condiccedilotildees materiais e pedagoacutegicas foi mais constante nas respostas
de diretores escolares Contudo por mais que cada um dos integrantes da equipe
diretiva escolar tenha sua responsabilidade e um trabalho especiacutefico haacute um
imbricamento entre vaacuterias de suas funccedilotildees as quais podem uni-los enquanto
equipe com o intuito de contribuir e potencializar o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes juntamente com o coletivo escolar
Outra accedilatildeo considerada pelas equipes diretivas como sendo de sua
responsabilidade na viabilizaccedilatildeo do AEE eacute o provimento de condiccedilotildees materiais
e pedagoacutegicas citado majoritariamente por diretores(as) escolares Foi possiacutevel
137
notar que esses dois aspectosndash administrativo e pedagoacutegico ndash estatildeo de fato
imbricados no fazer cotidiano do diretor Sobre essa questatildeo Paro (2010)
esclareceu que tradicionalmente a atuaccedilatildeo do diretor escolar privilegiava os
aspectos administrativosburocraacuteticos em detrimento dos pedagoacutegicos Assim a
funccedilatildeo dos diretores se restringia apenas agraves atividades-meio (prover recursos
controlar sua utilizaccedilatildeo) dicotomizando-as das atividades-fim (pedagoacutegicas)
Dessa forma a gestatildeo escolar pareceu absorver princiacutepios semelhantes aos
empresariais culminando em uma concepccedilatildeo de diretor ―[] cuja formaccedilatildeo
atribuiccedilotildees e atuaccedilatildeo praacutetica eacute de simples gerente sem explicitaccedilatildeo nem reflexatildeo
a respeito de sua caracteriacutestica de agente poliacutetico diante do ofiacutecio de administrar
uma instituiccedilatildeo cujo fim eacute prover educaccedilatildeo (PARO 2010 p 776)
Entretanto o que se enseja e se coloca como horizonte de transformaccedilatildeo
quando se pensa na gestatildeo escolar eacute justamente a desconstruccedilatildeo dessa loacutegica
gerencial e a constituiccedilatildeo de uma outra que pense a educaccedilatildeo a partir dela
mesma e natildeo de modelos industriaisempresariais Eacute importante que se considere
a especificidade poliacutetico-pedagoacutegica da escola que se valorizem os profissionais
da educaccedilatildeo e que se atue a partir da heterogeneidade que se expressa nos
espaccedilos escolares favorecendo a participaccedilatildeo de todos os envolvidos no processo
de escolarizaccedilatildeo Nesse sentido Paro (2010) enfatizou que ao pensar em novas
alternativas para a atuaccedilatildeo do diretor escolar eacute preciso considerar
[] maneiras de conceber a direccedilatildeo escolar que transcendam a forma usual de concentraacute-la nas matildeos de apenas um indiviacuteduo que se constitui o chefe geral de todos Natildeo que a hierarquia seja nociva em si pois aquele que se coloca no escalatildeo hieraacuterquico superior pode muito bem estar investido de um tipo de autoridade democraacutetica [] aquela que supotildee a concordacircncia livre e consciente daqueles que obedecem agraves ordens que tecircm sua subjetividade preservada e mesmo afirmada na relaccedilatildeo (PARO 2010 p 776)
Ainda que haja uma delimitaccedilatildeo entre as funccedilotildees de cada integrante da
equipe diretiva para que essa possa atuar de fato de forma coletiva eacute preciso
constituir um trabalho articuladoem parceria uma vez que natildeo haacute como discutir o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes sem abordar as estrateacutegias de ensino
que favoreccedilam a aprendizagem e o desenvolvimento Do mesmo modo para que
tais estrateacutegias possam ser elaboradas e praticadas eacute necessaacuterio que haja
condiccedilotildees desde processos sistematizados de formaccedilatildeo continuada para os
profissionais da escola ateacute equipamentos mobiliaacuterio e materiais didaacuteticos
138
pedagoacutegicos adequados Conclui-se portanto que o foco conferido agrave cada funccedilatildeo
e que diferencia um profissional do outro pode fortalececirc-los como grupo em vez de
constituir uma barreira que fragmenta suas accedilotildees
Nessa perspectiva Rangel (2013) salienta que constituir no cotidiano das
escolas um trabalho de parceria entre o orientador e supervisor educacional (e aqui
se adiciona tambeacutem o diretor escolar) se mostra profiacutecuo pois favorece uma
accedilatildeo-reflexatildeo-accedilatildeo conjunta aproximando-os em torno de um objetivo comum a
escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes de modo a possibilitar-lhes o direito agrave
educaccedilatildeo escolar
Nessa direccedilatildeo foi possiacutevel identificar nas escolas pesquisadas uma
delimitaccedilatildeo entre as funccedilotildees de cada integrante da equipe diretiva para a atuaccedilatildeo
na escola a qual tem seu fundamento na Lei Complementar no 192008
(CAMBORIUacute 2008) Apesar dessas delimitaccedilotildees pode-se observar agrave luz da
referida lei alguns pontos de intersecccedilotildees entre as funccedilotildees das equipes diretivas
uma vez que vaacuterias de suas atribuiccedilotildees estatildeo interligadas o que poderia ser
concebida nesse sentido como uma oportunidade para aproximaacute-las e consolidaacute-
las enquanto equipes diretivas
Entretanto no decorrer das anaacutelises as accedilotildees das equipes diretivas no que
concerne agrave compreensatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos escolares apontaram
indiacutecios de uma accedilatildeo desarticulada entre os integrantes da proacutepria equipe diretiva
o que pode culminar em parte em um trabalho mais isolado entre os profissionais
da escola Ante o exposto concorda-se com Paro (2001 p114) quando afirma
que
[] eacute preciso que se coloque no centro das discussotildees (e das praacuteticas) a funccedilatildeo educativa global da escola Assim se entendemos que educaccedilatildeo eacute atualizaccedilatildeo histoacuterico-cultural dos indiviacuteduos e se estamos comprometidos com a superaccedilatildeo do estado geral da injusticcedila social que em lugar do bem viver reserva para a maioria o trabalho alienado entatildeo eacute preciso que nossa escola concorra para a formaccedilatildeo de cidadatildeos atualizados capazes de participar politicamente usufruindo daquilo que o homem historicamente produziu mas ao mesmo tempo dando sua contribuiccedilatildeo criadora e transformando a sociedade Soacute assim a escola estaraacute participando de forma efetiva []
De acordo com a exposiccedilatildeo do autor pode-se dizer que embora as parcerias
constituiacutedas no interior da escola sejam importantes elas natildeo encerram as
relaccedilotildees necessaacuterias para o desenvolvimento do trabalho da equipe diretiva e
demais profissionais da educaccedilatildeo frente ao AEE Eacute a partir dessa constataccedilatildeo que
139
se adentra na uacuteltima questatildeo a ser abordada neste subcapiacutetulo os desafios
encontrados pelas equipes diretivas pesquisadas na viabilizaccedilatildeo do AEE nos
espaccedilos escolares em que atuam A seguir no Quadro 16 buscou-se reunir por
toacutepicos os dizeres mais recorrentes nas respostas dos integrantes das equipes
diretivas quanto aos desafios encontrados no processo de viabilizar o AEE na
escola
Quadro 16 - Desafios encontrados pelas equipes diretivas escolares para viabilizar o AEE
Desafios encontrados pela equipe diretiva para a viabilizar o AEE Recorrecircncia
Estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos
6 Natildeo possuir a sala de AEE Tornar viaacutevel o atendimento na unidade escolar (3) A falta de espaccedilo fiacutesico A falta do profissional especializado (2) Apoio por parte da Secretaria de Educaccedilatildeo
5
A escola depende da Secretaria de Educaccedilatildeo para montagem da sala de AEE A secretaria de educaccedilatildeo atender a solicitaccedilatildeo da escola de contratar monitores de inclusatildeo Continua-se solicitando junto aos governantes esse professor Para superar tal desafio estamos solicitando a Sec de Educaccedilatildeo o profissional especializado (2) Dificuldade em constituir parcerias entre os profissionais da escola e com a comunidade escolar
5 No momento natildeo estamos fazendo parcerias com os demais membros escolares Parcerias com psicoacutelogos pais Maior interesse por parte da direccedilatildeo da professora pais e alunos Dificuldades de parcerias (2)
Efetivar a educaccedilatildeo como direito fundamental e de todos
4 O desafio eacute incluir todos no processo de escolarizaccedilatildeo Atender todos Muitos estudantes natildeo satildeo alfabetizados surdos ou ateacute de baixa visatildeo Garantia do atendimento de nossos alunos em alguma sala de recursos multifuncionais do municiacutepio
Resistecircncia de professores a novas estrateacutegias de ensino
2 Por sermos uma escola de sexto ao nono ano eacute muito difiacutecil fazer o professor das diferentes aacutereas do conhecimento planejar atividades adequadas O desafio eacute convencer (o professor) a criar novas possibilidades de aprendizagem
Formaccedilatildeo de profissionais atuantes na Educaccedilatildeo Especial
2 Falta informaccedilatildeo adequada para esses profissionais Faltam profissionais adequados e capacitados para atuarem nessa aacuterea
Ausecircncia de planejamento 1
Ainda natildeo temos um planejamento apropriado
Natildeo responderam 4
Total 29
Fonte Primaacuteria 2016
Observa-se que na perspectiva das equipes diretivas escolares os trecircs
desafios mais recorrentes no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE relacionam-se agrave
disponibilizaccedilatildeo de ―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola ao
―apoio por parte da Secretaria de Educaccedilatildeo e agrave constituiccedilatildeo de ―parcerias entre os
140
profissionais da escola e com a comunidade escolar Compreende-se que esses
trecircs aspectos estatildeo imbricados de tal forma que pensaacute-los isoladamente pouco
contribuiria para entender como o Atendimento Educacional Especializado tem sido
viabilizado nos espaccedilos escolares
Percebe-se nesse caso que para viabilizar um serviccedilo de AEE que disponha
de estrutura fiacutesica e conte com uma rede de apoio dentro da escola e tambeacutem fora
dela (com a comunidade os oacutergatildeos governamentais e as entidades eou instituiccedilotildees
a eles relacionadas) eacute necessaacuterio constituir uma rede articulada de accedilotildees entre os
profissionais atuantes na escola (professores equipe diretiva psicoacutelogos etc) pais
estudantes e o Estado Com relaccedilatildeo a esse uacuteltimo eacute incontestaacutevel que cabe agrave Uniatildeo
e o Municiacutepio a responsabilidade em prover recursos financeiros para que o espaccedilo
escolar possa se adequar em termos de acessibilidade equipamentos mobiliaacuterio
materiais didaacuteticos pedagoacutegicos e recursos humanos a fim de oferecer o serviccedilo de
AEE
No entanto o planejamento para a utilizaccedilatildeo e a efetiva aplicaccedilatildeo desses
recursos financeiros uma vez concedidos satildeo atividades que pertencem ao rol de
funccedilotildees da equipe diretiva escolar em conjunto com os demais profissionais e
comunidade escolar Logo os desafios percebidos pelos participantes da pesquisa
natildeo satildeo apenas dessas equipes Satildeo desafios de uma rede de profissionais que
precisam estar articulados para que a estrutura e os recursos necessaacuterios possam
se alinhar a outros pontos fundamentais no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE como
a formaccedilatildeo continuada dos profissionais da escola a construccedilatildeo coletiva do projeto
poliacutetico pedagoacutegico da escola e o engajamento poliacutetico no sentido de pleitear a
diminuiccedilatildeo de estudantes por turmas dentre outros Isto porque como enfatizaram
Glat e Blanco (2007 p 33) ―o sucesso da poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial depende
diretamente da continuidade da existecircncia da rede de suportes especializados
incluindo-se a formaccedilatildeo de todos os profissionais atuante na escola e o
estabelecimento de parcerias entre estes profissionais pais estudantes e o Estado
Ainda que todos esses profissionais e comunidade escolar tenham parte no
processo de viabilizaccedilatildeo do AEE eacute importante ressaltar que
[] na definiccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais eacute fundamental natildeo se confundir as responsabilidades da escola [] com as responsabilidades do Estado Entendo que o Estado eacute responsaacutevel por viabilizar a prestaccedilatildeo de todos os serviccedilos organizados na sociedade para atender a todos (MAZZOTA 2010 p 86)
141
Nesse sentido para esclarecer essas responsabilidades e compor um todo
organizado em torno de um objetivo comum ndash a viabilizaccedilatildeo do AEE ndash vislumbra-se
que a equipe diretiva pode como se vem reforccedilando neste estudo analisar a
possibilidade de instituir na escola espaccedilos e tempos de discussatildeo e reflexatildeo com
todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da
EE se permitindo juntamente com o coletivo escolar inventariar o que a escola
disponibiliza de adequaccedilotildees estruturais recursos pedagoacutegicos e humanos bem
como os que natildeo disponibiliza Uma vez documentado esse levantamento pode-se
apresentaacute-lo agrave Secretaria de Educaccedilatildeo e junto a ela acompanhar sistematicamente
o processo de solicitaccedilatildeo de adequaccedilotildees e recursos aos oacutergatildeos competentes
A gestatildeo escolar nesse sentido pode contribuir para instituir a rede de
parceria que hoje vivencia como um desafio Como ressaltou Tezani (2009 p 3)
apoiada em Sage (1999) ―o gestor escolar pode colaborar com o estabelecimento
da colaboraccedilatildeo no ambiente escolar com o aprimoramento do contato e da
interaccedilatildeo entre os professores e demais funcionaacuterios e uma das maneiras de
fazecirc-lo eacute por meio da instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos em que os envolvidos no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
possam dialogar sobre esse processo e compreender os avanccedilos e recuos que o
marcam fomentando a troca de informaccedilotildees e experiecircncias entre os profissionais
que atuam na escola e estabelecendo a partir desse entendimento os pontos de
partida que se fazem necessaacuterios para viabilizar o serviccedilo de AEE
Compreende-se que esses momentos coletivos podem contribuir com a accedilatildeo
individual de cada profissional da educaccedilatildeo No entanto Goacutees (1997) ajuda a
compreender que no diaacutelogo com o outro se revela o contraditoacuterio Natildeo se trata de
uma construccedilatildeo imune agrave diversidade de pontos de vista e ao embate uma vez que
[] o jogo dialoacutegico entre sujeitos natildeo tende a uma soacute direccedilatildeo ao contraacuterio envolve circunscriccedilatildeo ampliaccedilatildeo dispersatildeo e estabilizaccedilatildeo de sentidos Um determinado conhecimento (pretendido na intencionalidade do outro ou previsto na perspectiva de um observador) pode ou natildeo ser construiacutedo pelo indiviacuteduo (GOacuteES 1997 p 27)
Essa multiplicidade de sentidos que marcam e tensionam o jogo dialoacutegico
consiste em um terreno feacutertil para que o AEE no acircmbito escolar possa ser
constantemente ressignificado de modo a acolher a diversidade e focalizar o direito
142
de aprender dos estudantes O AEE nesse sentido precisa ser entendido como um
serviccedilo de apoio e interlocuccedilatildeo com a sala de aula comum de modo a atender agraves
singularidades dos estudantes puacuteblico-alvo da EE o que requer a participaccedilatildeo de
todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo desses estudantes Isso no
entanto implica em uma accedilatildeo da equipe diretiva que eacute a constituiccedilatildeo de espaccedilos e
tempos permanentes de discussatildeo e reflexatildeo sobre os assuntos educacionais
assim como a elaboraccedilatildeo de estrateacutegias metodologias e praacuteticas pedagoacutegicas que
busquem potencializar as condiccedilotildees de permanecircncia e o processo de escolarizaccedilatildeo
dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Nesse sentido concorda-se com Pereira
Damasceno e Andrade (2013 p1439) quando explicam que
[] o Atendimento Educacional Especializado hoje representa uma possibilidade assumida como escolha poliacutetico-pedagoacutegica para a inclusatildeo de estudantes [] [puacuteblico-alvo da EE] sobretudo na superaccedilatildeo das velhaspresentes chagaslsquo da escola a dissociaccedilatildeo entre teoria e praacutetica o trabalho individualizado a idealizaccedilatildeo da homogeneidade de aluno a negaccedilatildeo dos diferentes ritmos e estilos de aprendizagem a afirmaccedilatildeo de meacutetodos e estrateacutegias uacutenicas para se ensinar a justificativa do insucesso da aprendizagem associada exclusivamente ao aluno entre outras [] Embora os desafios agrave implementaccedilatildeo do AEE estejam postos para a escola contemporacircnea e seus profissionais o serviccedilo se configura um avanccedilo em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo especial considerando o isolamento que historicamente foi vivido por estes sujeitos nas classesescolas especiais
Nessa perspectiva considera-se que eacute por meio do diaacutelogo que as
equipes diretivas escolares podem identificar as necessidades formativas dos
profissionais que compotildeem o coletivo escolar (incluindo suas proacuteprias demandas de
formaccedilatildeo) Nesse sentido tais momentos dialoacutegicos podem favorecer reflexotildees
acerca da Educaccedilatildeo Especial e o AEE aprofundamentos teoacutericos trocas de
experiecircncias e a discussatildeo das dificuldades encontradas pelos envolvidos no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Tambeacutem podem
ensejar o debate das accedilotildees pedagoacutegicas e fortalecer a interaccedilatildeo e parceria entre os
profissionais
Ademais eacute fundamental natildeo cair na armadilha de uma compreensatildeo
reduzida de AEE que leve a pensar que para viabilizaacute-lo eacute necessaacuterio somente
―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola Como jaacute discutido
esses aspectos satildeo importantes e compotildeem a estrutura necessaacuteria para realizaacute-los
poreacutem haacute outros aspectos que precisam ser considerados pois um pensamento
reduzido pode culminar no risco de departamentalizar o AEE na escola restringindo
143
esse serviccedilo agrave SRM e ao professor especializado Tambeacutem pode levar ao equiacutevoco
de pensar que natildeo haacute nada a ser feito pelos estudantes puacuteblico-alvo da EE quando
natildeo haacute em seu espaccedilo a SRM e o profissional especializado Kassar (2011)
apresenta um relato elucidativo de que a viabilizaccedilatildeo do AEE transcende o desafio
da disponibilidade de ―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola
[] escolhemos propositadamente um caso considerado ―de sucesso frente agrave escola o aluno de 3ordm ano (Rodrigo que eacute cego) natildeo apresenta problema de interaccedilatildeo eacute bem acolhido pela turma e eacute considerado bastante inteligente[] Sua professora de sala comum leciona haacute 15 anos eacute graduada em Pedagogia e tem Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inclusiva Participa quando possiacutevel das formaccedilotildees propostas pelo Programa Educaccedilatildeo Inclusiva Direto agrave Diversidade dentre outras oferecidas pelo municiacutepio A professora da sala de recursos trabalha haacute 11 anos em sala de recurso e tem especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Baacutesica na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva e formaccedilatildeo especiacutefica na aacuterea da Deficiecircncia Visual Vamos ao diaacuterio de Campo [] quando cheguei nesse dia Rodrigo ainda estava fora da carteira sem nenhum material para trabalhar [] A professora pega o livro de Histoacuteria de um colega resume riscando com caneta algumas partes do texto e comeccedila a ditar para que Rodrigo escreva em Braille[] Ele continua a escrever e comeccedila a ―negociar com a professora para terminar em sua casa o resto do texto A professora natildeo concorda e diz para ele copiar todo o texto independente de quantas folhas fossem Rodrigo a partir desse momento se indigna e diz - ―Eu natildeo vou terminar o texto minha matildeo estaacute doendo nem adianta Ningueacutem vai me obrigar [] Eu natildeo vou ficar aqui me matando escrevendo se tem uma maacutequina aqui A professora me disse que ia regular [a maacutequina] e ateacute hoje natildeo fez isso Eu natildeo vou escrever em Braille no reglete Soacute se for na maacutequina [] A professora nesse momento vai ateacute a coordenaccedilatildeo e volta dizendo ao Rodrigo que havia conversado com a coordenadora para a aquisiccedilatildeo de uma maacutequina Rodrigo responde dizendo que jaacute existe a maacutequina e a professora da sala de recurso havia falado que iria regular mas ele mesmo ―natildeo havia nem visto a cor dela A professora sai novamente procura a professora da sala de recurso para confirmar a existecircncia da maacutequina Nesse momento a professora viu na sala muitos materiais que ela nunca havia visto e tampouco em uso na escola Entre eles ela citou a bola de futebol com guiso e a proacutepria maacutequina Apoacutes todos esses acontecimentos e a partir da mobilizaccedilatildeo que o Rodrigo causou a professora da sala de recurso afirmou que o Rodrigo iraacute comeccedilar a aprender a escrever na maacutequina de escrever em Braille no dia seguinte (REGISTRO DIAacuteRIO DE CAMPO abr 2009) (KASSAR 2011 p74)
Ao contemplar o relato supracitado pela autora eacute possiacutevel perceber as
tensotildees no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE na escola Pode-se inferir desse modo
que apesar de uma escola contar com SRM professor especializado com formaccedilatildeo
na aacuterea de educaccedilatildeo especial recursos pedagoacutegicos e humanos esses por si soacute
natildeo satildeo suficientes para promover maior interaccedilatildeo participaccedilatildeo e reflexatildeo por parte
dos profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes na
identificaccedilatildeo das barreiras educacionais minimizando-as ou ateacute mesmo eliminando-
144
as com o intuito de assegurar as condiccedilotildees necessaacuterias para que o estudante
puacuteblico-alvo da AEE tenha o seu direito de aprender garantido
Os dados apresentados e analisados neste capiacutetulo indicam que a
implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE nas escolas pesquisadas eacute enfocada a partir
de aspectos como adequaccedilotildees estruturais SRM recursos pedagoacutegicos e humanos
especiacuteficos Certamente esses aspectos satildeo importantes pois compotildeem a estrutura
do AEE e satildeo exigidos nas diretrizes da EE contudo outros fatores precisam ser
considerados
Uma das questotildees que se evidencia pelo seu silenciamento eacute a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica e as discussotildees embasadas em teoacutericos da aprendizagem e
do desenvolvimento Da mesma forma destaca-se o trabalho isolado e segregado
desenvolvido no AEE mas tambeacutem a pouca interaccedilatildeo entre os profissionais que
responderam ao questionaacuterio e o AEE Tal constataccedilatildeo eacute percebida tambeacutem em
outros estudos da aacuterea e remete a uma tendecircncia quando se discute a Educaccedilatildeo
Especial
Compreende-se que os principais desafios das equipes diretivas
investigadas no que tange o processo de viabilizaccedilatildeo do AEE residem sobre trecircs
aspectos O primeiro diz respeito agrave necessidade de uma maior discussatildeo e reflexatildeo
acerca da importacircncia das equipes diretivas pesquisadas na implementaccedilatildeo e
viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos em que atuam Como explicou Tezani (2010 p
290) ―a construccedilatildeo de um sistema educacional inclusivo eacute uma opccedilatildeo poliacutetica que
necessita de accedilotildees poliacutetico-administrativas e teacutecnico-cientiacuteficas A autora afirma
ainda que agrave gestatildeo escolar compete incentivar a troca de ideias a discussatildeo a
reflexatildeo acerca do processo ensino-aprendizagem tendo em vista que
[] a participaccedilatildeo em educaccedilatildeo vai aleacutem do dialogar eacute um processo lento conflituoso em que conhecer os conflitos e saber mediaacute-los torna-se fonte preciacutepua Por isso eacute necessaacuterio ouvir [os profissionais da escola] pais comunidade e oacutergatildeos de representaccedilatildeo Esses satildeo caminhos que devem ser trilhados para a construccedilatildeo da educaccedilatildeo inclusiva (TEZANI 2010 p291)
O segundo desafio se refere agraves questotildees que satildeo estruturais e demandam
uma accedilatildeo conjunta da equipe diretiva com o Estado (Uniatildeo e Municiacutepio) na busca de
recursos financeiros que possibilitem a adequaccedilatildeo dos espaccedilos escolares quanto a
recursos humanos a equipamentos mobiliaacuterios e materiais didaacuteticos pedagoacutegicos
necessaacuterios para o serviccedilo do AEE
145
Jaacute o terceiro desafio corresponde agrave implementaccedilatildeo de uma gestatildeo
democraacutetica-participativa o que implica dentre os diversos fatores segundo Paro
(2010) repensar a forma de ingresso no cargo do diretor Nesse sentido o autor
ressalta que pela singularidade democraacutetica e puacuteblica que caracteriza o cargo de
diretor(a) esse necessita ―ser democraacutetico no sentido pleno do conceito ou seja
sua legitimidade adveacutem precipuamente da vontade livre daqueles que se submetem
agrave sua direccedilatildeo (PARO 2010 p776) O mesmo autor considera ainda que quando a
permanecircncia do diretor no cargo natildeo depende somente do Estado e sim dos
profissionais da escola estudantes e pais eacute possiacutevel avistar maior probabilidade de
que ele propicie uma gestatildeo mais democraacutetica envolvendo a participaccedilatildeo da
comunidade escolar nos processos de tomadas de decisotildees como por exemplo na
implementaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais Aleacutem disso essa forma de ingresso no
cargo pode contribuir ainda para inibir a substituiccedilatildeo de diretores escolares a
qualquer tempo principalmente em periacuteodo de mudanccedila de governo uma vez que
tal substituiccedilatildeo pode fragilizar a continuidade dos trabalhos iniciados pela equipe
diretiva junto aos profissionais da escola estudantes e pais Paro (2001) reiterou
ainda que
[] eacute no conjunto dos fatores constitutivos das praacuteticas presentes no interior da escola que devem ser buscadas as causas de seus problemas e as fontes de suas soluccedilotildees no montante e na utilizaccedilatildeo dos recursos materiais e financeiros na organizaccedilatildeo do trabalho nos meacutetodos de ensino na formaccedilatildeo desempenho e satisfaccedilatildeo do pessoal da escolar nos curriacuteculos e nos programa no tamanho das turmas nas adequaccedilotildees estruturais do edifiacutecio na utilizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos na distribuiccedilatildeo da autoridade e do poder na instituiccedilatildeo na relaccedilatildeo com os membros da comunidade e na importacircncia que se decirc a seu papel como cidadatildeossujeitos no planejamento na avaliaccedilatildeo e no acompanhamento constante das praacuteticas escolares enfim em tudo que diz respeito agrave estrutura e ao funcionamento da escola (PARO 2001 p99)
Percebe-se que o ingresso na funccedilatildeo de direccedilatildeo se dar por meio de indicaccedilatildeo
pode corroborar para fragilizar a constituiccedilatildeo de trabalhos conjuntos dado que haacute
entre outros aspectos uma rotatividade nessa funccedilatildeo bem como uma inseguranccedila
na permanecircncia do cargo
O trabalho coletivo deve estar pautado na premissa de que todos possam se
engajar em diaacutelogos em que a troca de saberes vivecircncias e perspectivas possam
lanccedilar luz sobre o processo de escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes bem como
daqueles que satildeo puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial de modo a lhes possibilitar o
direito de aprender
146
A seguir satildeo apresentadas as consideraccedilotildees finais decorrentes desta
pesquisa com destaque aos principais resultados assim como sugestotildees de
contribuiccedilotildees para o AEE na Rede de Ensino pesquisada
147
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O presente estudo situado no campo de estudos sobre Educaccedilatildeo Especial e
focalizando discussotildees acerca do serviccedilo de Atendimento Educacional
Especializado preconizado na Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na
Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) teve por objetivo investigar as
compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo Para isso a pesquisa foi desenvolvida
em sete escolas da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute contando com a
participaccedilatildeo de sete equipes diretivas formadas por trecircs profissionais o diretor(a)
escolar o orientador(a) e o supervisor(a) educacional
A anaacutelise dos dados revelou que dos 22 profissionais que compotildeem as
equipes diretivas escolares participantes da pesquisa 17 identificaram-se como do
sexo feminino e 5 do masculino Em relaccedilatildeo agrave carga horaacuteria todos responderam que
trabalham 40 horas semanais nas escolas em que atuam
Em relaccedilatildeo ao tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo percebeu-se que a maioria se
encontra em um momento inicial no cargo ocupado na escola em que hoje trabalha
se configurando em um dos desafios postos agraves equipes diretivas na implementaccedilatildeo
do AEE visto que em cada escola haacute uma cultura organizativa instituiacuteda que
precisa ser conhecida e debatida para entatildeo ser mantida ou se necessaacuterio
transformada Entende-se que para atuar nessas funccedilotildees eacute necessaacuterio um
aprofundamento teoacuterico que permita uma leitura criacutetica acerca das poliacuteticas e
normativas educacionais vigentes de modo que se possa discuti-las junto ao
coletivo escolar antes de sua implementaccedilatildeo
Entretanto a ausecircncia de forma geral desse adensamento teoacuterico que
permite ao profissional da educaccedilatildeo compreender as bases epistemoloacutegicas que
sustentam determinadas praacuteticas orientaccedilotildees normativas e legislaccedilotildees na aacuterea da
educaccedilatildeo especial eacute ainda bastante recorrente Considera-se que a formaccedilatildeo inicial
e continuada ao seguir a loacutegica do sistema capitalista vem fomentando formaccedilotildees
cada vez mais aligeiradas com baixa carga horaacuteria para discussatildeo dos
pressupostos da educaccedilatildeo especial e inibindo aprofundar discussotildees que
possibilitem accedilotildees pedagoacutegicas e organizativas da escola que favoreccedilam o
aprendizado escolarizado do estudante puacuteblico-alvo da EE
148
Assim quando se questiona na Rede pesquisada sobre o AEE eacute possiacutevel
perceber a necessidade de um maior aprofundamento teoacuterico e uma formaccedilatildeo
diferenciada nos cursos de formaccedilatildeo inicial e continuada uma vez que permanece
uma visatildeo individualizada sobre as possibilidades de aprender calcada em uma
visatildeo organicista e segregada de Educaccedilatildeo Especial
Ao analisar as compreensotildees das equipes diretivas escolares acerca do
serviccedilo de AEE apresentaram-se trecircs focos de entendimentos 1) foco no puacuteblico-
alvo da EE 2) foco no local de atendimento (Sala de Recursos Multifuncionais) e 3)
foco no processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Eacute possiacutevel perceber nesse
sentido uma visatildeo setorizada e individualizada do serviccedilo por parte das equipes
diretivas escolares
Restringir no entanto a compreensatildeo acerca do AEE ao estudante com
deficiecircncia ou agrave Sala de Recursos Multifuncionais e ao professor especializado
sinaliza um entendimento descontextualizado e desarticulado sobre o serviccedilo no
acircmbito da escola sinalizando ainda que se manteacutem nos espaccedilos escolares uma
visatildeo de segregaccedilatildeo que responsabiliza o loacutecus do AEE bem como o professor
especializado pela aprendizagem do estudante puacuteblico-alvo da EE
Contudo modificar essa abordagem se mostra uma tarefa complexa
considerando que a escola puacuteblica brasileira tem enfrentado muitos desafios quando
se trata do ensino A diversidade de estudantes eacute cada vez maior assim como as
proposiccedilotildees poliacuteticas da Educaccedilatildeo que permeiam o cotidiano das escolas as quais
parecem estar fundamentadas e organizadas em procedimentos normativos
avaliativos em que predominam a competitividade e a individualidade nas relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos da mesma escola em detrimento de um trabalho coletivo
Ante ao exposto eacute possiacutevel constatar que essa forma de compreender o AEE
tem seu fundamento nos documentos oficiais (VAZ 2013) mas como destaca
Franccedila (2008) as poliacuteticas educacionais natildeo satildeo simplesmente incorporadas
prontamente pelos profissionais da escola ao contraacuterio disso satildeo interpretadas e
ressignificadas pelos indiviacuteduos que nela atuam Nesse mesmo sentido Kassar e
Meletti (2012 p 54) explicam apoiadas em Di Giovanni (2009) que a PNEE-PEI
(BRASIL 2008) como qualquer poliacutetica puacuteblica natildeo eacute assimilada automaticamente
Tais colocaccedilotildees endossam o questionamento de como a formaccedilatildeo dos profissionais
da escola possibilitam assumir uma postura criacutetica frente agraves politicas educacionais
149
considerando o contexto histoacuterico econocircmico poliacutetico e social em que estatildeo
inseridos
Eacute possiacutevel perceber desse modo a importacircncia de uma leitura criacutetica
reflexiva e contextualizada por parte das equipes diretivas juntamente com a
comunidade escolar no que concerne agraves poliacuteticas educacionais permitindo
identificar quais pressupostos permeiam essas poliacuteticas procurando maneiras de
constituir um fazer pedagoacutegico que assegure o direito do estudante de aprender
Isso implica planejar e instituir momentos de formaccedilatildeo na escola uma vez que a
discussatildeo e a reflexatildeo criacutetica de uma poliacutetica educacional assim como sua
implementaccedilatildeo se trata de uma accedilatildeo que precisa envolver todo o coletivo escolar
Uma possibilidade de contribuir e favorecer com o aprofundamento teoacuterico
acerca das questotildees mencionadas acima seria o planejamento por parte do sistema
municipal de ensino de uma formaccedilatildeo consistente a partir das demandas das
escolas O Sistema Municipal de Ensino por sua vez pode realizar essa formaccedilatildeo
em parceira com as Instituiccedilotildees Puacuteblicas de Ensino Superior sediadas no municiacutepio
ou em seu entorno considerando a constituiccedilatildeo e o fortalecimento de uma rede de
apoio para a realizaccedilatildeo de formaccedilotildees que contemplem os aprofundamentos teoacutericos
e praacuteticos na aacuterea da Educaccedilatildeo e da Educaccedilatildeo Especial para os profissionais da
educaccedilatildeo da Rede Compreende-se assim que essa accedilatildeo poderia contribuir para
repensar e ressignificar a PNEE-PEI e o AEE na rede municipal de ensino
A forma como a poliacutetica e as diretrizes da EE vecircm sendo interpretadas pelas
equipes diretivas e como o serviccedilo vem se materializando no contexto escolar
parecem carecer de aprofundamento teoacuterico Esse aprofundamento poderia
contribuir para a compreensatildeo de que a Educaccedilatildeo Especial estaacute contida na
Educaccedilatildeo Regular e que o AEE eacute um dos apoios para o estudante puacuteblico-alvo da
EE e tambeacutem para a comunidade escolar e dessa forma precisa estar contemplado
nas diretrizes da escola
Aleacutem das formaccedilotildees que podem ser ofertadas pela Rede Municipal observa-
se ainda o potencial das formaccedilotildees realizadas nos espaccedilos escolares Entretanto
evidencia-se que a organizaccedilatildeo dos espaccedilos e tempos das escolas agrave luz das
diretrizes educacionais brasileiras parecem natildeo colaborar com a instituiccedilatildeo de
momentos de estudos discussatildeo e reflexatildeo envolvendo todo o coletivo escolar Em
meio agraves tensotildees e contradiccedilotildees que permeiam a instituiccedilatildeo desses momentos de
formaccedilatildeo na escola evidencia-se que eles podem ser vistos como formas para
150
pensar as poliacuteticas educacionais de maneira mais articulada e criacutetica com o intuito
ainda de superar as compreensotildees individualizadas e departamentalizadas do
serviccedilo de AEE bem como do trabalho isolado do professor atuante no AEE
expresso nas falas das equipes diretivas
Questionar as equipes diretivas sobre seu entendimento acerca do trabalho
do professor de AEE possibilitou compreender as relaccedilotildees profissionais e
educacionais que envolvem a EE no municiacutepio Considerando que o AEE hoje eacute a
expressatildeo mais evidente da (des)articulaccedilatildeo entre a Educaccedilatildeo Regular e a EE
Pode-se vislumbrar tambeacutem nas respostas explicitadas no questionaacuterio a
necessidade de repensar o trabalho docente junto ao estudante puacuteblico-alvo da EE
bem como as relaccedilotildees que envolvem esse serviccedilo e a oferta de suporte a esse
professor jaacute que se evidenciou como foco do trabalho do professor de AEE na
concepccedilatildeo das equipes diretivas somente o estudante puacuteblico-alvo da EE
Sobre a viabilizaccedilatildeo do AEE observou-se nos dizeres da maioria das equipes
diretivas indiacutecios de compreensotildees que demonstram falta de clareza quanto aos
seus papeacuteis em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo desse serviccedilo assim como
apontam lacunas existentes quanto agrave acessibilidade arquitetocircnica recursos
pedagoacutegicos e humanos especiacuteficos que satildeo considerados dispositivos necessaacuterios
e que compotildeem a estrutura do AEE Suas falas sinalizam ainda as necessidades de
reorganizaccedilatildeo dos espaccedilos escolares em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo do serviccedilo os quais
compotildeem ainda os desafios das equipes diretivas frente ao AEE em suas
concepccedilotildees
No que tange a acessibilidade arquitetocircnica em sua maioria as equipes
diretivas informaram que ainda faltam realizar algumas adequaccedilotildees estruturais em
seus espaccedilos tais como elevador corrimatildeo dentre outras Pode-se dizer desse
modo que a acessibilidade arquitetocircnica eacute um aspecto relevante na objetivaccedilatildeo da
poliacutetica de EE considerando a diversidade de seu puacuteblico-alvo Entende-se nesse
sentido que haacute vaacuterias possibilidades de compreensatildeo desse aspecto desde a
simples adequaccedilatildeo meacutetrica e estrutural ateacute aquela que compreende que os espaccedilos
tambeacutem favorecem e produzem relaccedilotildees especiacuteficas de aprendizagem escolar bem
como de conviacutevio social
Quanto ao recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis na escola evidenciou-se nas
respostas das equipes diretivas que esses se restringem aos disponiacuteveis na SRM
Essa associaccedilatildeo por sua vez tem seu fundamento nas diretrizes da Educaccedilatildeo
151
Especial Entretanto entende-se que os recursos disponiacuteveis na Sala de Recursos
Multifuncionais como os demais recursos disponiacuteveis na escola para serem
denominados como pedagoacutegicos dependem da accedilatildeo intencional e planejada dos
professores frente a esses com a finalidade de contribuir com a constituiccedilatildeo de um
conhecimento especiacutefico do estudante
Contudo essas discussotildees e reflexotildees criacuteticas acerca da EE AEE recursos
pedagoacutegicos e demais assuntos educacionais nos espaccedilos escolares seratildeo
possiacuteveis na medida em que as equipes diretivas juntamente com o coletivo
escolar conseguirem repensar a forma como a escola na qual estatildeo inseridos estaacute
organizada atualmente bem como as bases conceituais que sustentam suas accedilotildees
Desse modo seria possiacutevel identificar coletivamente se estatildeo dispondo de tempo e
espaccedilos para estudar e debater de maneira criacutetica e reflexiva as poliacuteticas e os
assuntos educacionais na escola Assim quando identificada a inexistecircncia desses
momentos questionar-se como poderiam garanti-los considerando as poliacuteticas
educacionais vigentes
Sobre isso Paro (2016a) eacute cuidadoso ao enfatizar que essas soluccedilotildees para
as questotildees identificadas residem no contexto de cada unidade escolar o que
significa que eacute nos aspectos constitutivos das accedilotildees presentes no interior da escola
que deve se empreender uma busca das causas de seus problemas assim como
suas fontes de soluccedilotildees
Pode-se portanto dizer que por mais que as 7 escolas pesquisadas
pertenccedilam agrave mesma Rede elas apresentam necessidades diferentes quanto agrave
viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos escolares que necessitam ser levadas em conta
Entretanto em relaccedilatildeo agrave viabilizaccedilatildeo do AEE ainda identificou-se um aspecto em
comum nos dizeres da maioria das equipes diretivas que diz respeito a indiacutecios de
uma ausecircncia de aprofundamento teoacuterico acerca da Educaccedilatildeo politica PNEE-PEI e
diretrizes da Educaccedilatildeo Especial
Tal constataccedilatildeo pode ser evidenciada quando se observa que das 7 escolas
municipais pesquisadas somente duas possuem o AEE em funcionamento as
demais escolas com exceccedilatildeo a ED5 sinalizaram natildeo ofertar o serviccedilo e natildeo
encaminhar o estudante para ser atendido em outra escola Revelando-se assim
um entendimento de que o AEE se restringe agrave SRM bem como pode demostrar
uma precariedade no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE
152
Nessa perspectiva eacute possiacutevel perceber que dotar as escolas de SRM
profissionais especializados acessibilidade arquitetocircnica recursos pedagoacutegicos e
humanos por si soacute natildeo eacute suficiente para possibilitar uma maior reflexatildeo e
ressiginificaccedilatildeo acerca das concepccedilotildees de Educaccedilatildeo Especial apresentadas nos
dizeres das equipes diretivas Ressalta-se que esses dispositivos satildeo importantes
necessaacuterios e estatildeo previstos na PNEE-PEI e nas diretrizes da EE e com isso
reitera-se a importacircncia e responsabilidade do Sistema Municipal de Ensino em
parceria com Uniatildeo em provecirc-los agraves escolas Mas eacute preciso compreender que haacute
outros fatores que precisam ser considerados e adicionados a esses como a
qualidade da formaccedilatildeo desses profissionais e as condiccedilotildees de trabalho
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees das equipes diretivas escolares frente agrave viabilizaccedilatildeo do
AEE nas escolas em que atuam foi possiacutevel perceber trecircs respostas mais
recorrentes sendo que cada uma marca uma funccedilatildeo especiacutefica a) papel de
orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores) foi mais mencionado por
supervisores escolares b) papel de atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial eou pais apareceu com mais frequecircncia nas falas de
orientadores educacionais e por fim c) o papel de provimento de condiccedilotildees
materiais e pedagoacutegicas foi mais constante nas respostas de diretores escolares
Ter clareza sobre as funccedilotildees de cada um na escola eacute importante contudo
quando essas se constituem como um trabalho com nenhuma ou pouca articulaccedilatildeo
e interlocuccedilatildeo entre os profissionais pode culminar no desenvolvimento de um
trabalho isolado no contexto escolar
Em parte essas constataccedilotildees podem ser resultantes do pouco tempo desses
profissionais na funccedilatildeo atual na escola em que atuam assim como na rotatividade
no cargo de direccedilatildeo o que pode estar contribuindo em parte na constituiccedilatildeo de um
trabalho mais isolado entre os profissionais da escola e por conseguinte
fragilizando a implementaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais de forma contextualizada
envolvendo toda a comunidade escolar culminando na precariedade no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Esse eacute um dos pontos que se destacou na pesquisa e sinaliza ao sistema
municipal de ensino que essa questatildeo precisa ser discutida de forma criacutetica e
reflexiva com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre esse assunto uma vez
que pode estar desfavorecendo a implementaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais
153
Por fim nesse momento histoacuterico econocircmico poliacutetico e social de incertezas
que se vive atualmente avista-se que discutir o papel das equipes diretivas
escolares na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE como uma oportunidade de criar
espaccedilos e tempos de discussatildeo e reflexatildeo com o objetivo de propiciar a participaccedilatildeo
efetiva de professores demais profissionais da educaccedilatildeo e pais no planejamento
organizaccedilatildeo discussatildeo e implementaccedilatildeo das estrateacutegias e diretrizes da Educaccedilatildeo
Regular e da Educaccedilatildeo Especial de modo articulado tendo em vista um processo
efetivo de escolarizaccedilatildeo para todos os estudantes Uma vez que se continua
vislumbrando que a escola puacuteblica eacute
[] o melhor lugar e o melhor caminho para a luta poliacutetica pela igualdade e inclusatildeo social Uma visatildeo de escola democraacutetica aposta na universalidade da cultura escolar no sentido de que cabe agrave escola transmitir os saberes puacuteblicos que apresentam um valor independentemente de circunstacircncias e interesses particulares em funccedilatildeo do desenvolvimento humano Junto a isso permeando os conteuacutedos cabe tambeacutem considerar a diversidade cultural a coexistecircncia das diferenccedilas e a interaccedilatildeo entre indiviacuteduos de identidades culturais distintas Uma escola desprovida de conteuacutedos culturais substanciosos e densos reduz as possibilidades dos [estudantes] pobres de ascenderem ao mundo cultural e ao desenvolvimento das capacidades intelectuais deixando de promover desse modo a justiccedila social que pode vir da educaccedilatildeo e do ensino (LIBAcircNEO 2016 p 60)
Em meio a esses apontamentos chega-se ao final dessas consideraccedilotildees
Contudo compreende-se que esse estudo natildeo se conclui aqui mas pode possibilitar
novos caminhos e outros direcionamentos que poderatildeo ser suscitados com base no
que foi revelado a partir dos dizeres das equipes diretivas sobre suas compreensotildees
acerca do AEE e suas formas de viabilizaacute-lo Um desses caminhos eacute realizar
pesquisas de cunho etnograacutefico que possibilite observar no cotidiano das escolas
como se datildeo as (des)articulaccedilotildees entre Educaccedilatildeo Especial e Educaccedilatildeo regular
Seriam interessantes tambeacutem pesquisas intervencionistas que articulem formaccedilatildeo
em serviccedilo aprofundamento teoacuterico e accedilatildeo pedagoacutegica podendo se constituir em
um desdobramento deste estudo
Enseja-se ainda que esse estudo possa contribuir com as pesquisas acerca
do papel da equipe diretiva no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico da
EE assim como ser propositiva de reflexotildees sobre a importacircncia de repensar e
reorganizar os espaccedilos e tempos das escolas com a finalidade de assegurar o
direito a todos os estudantes de aprenderem
154
REFEREcircNCIAS
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SANTOS Juliana Testoni dos Professoras atuantes no Atendimento Educacional Especializado e suas histoacuterias de vida um estudo sobre identidade docente Dissertaccedilatildeo de Mestrado 2016 112 f Universidade da Regiatildeo de Joinville Joinville SAVIANI Dermeval Pedagogia Histoacuterico-criacutetica primeiras aproximaccedilotildees 10 ed rev Campinas SP Autores Associados 2008 SAVIANI Dermeval Escola e Democracia 41 ed Campinas SP Autores associados 2009 SAVIANI Dermeval Sistema Nacional de Educaccedilatildeo articulado ao Plano Nacional de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Faculdade de
Educaccedilatildeo Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 15 n 44 maioago 2010
167
SILVA Fabiana Tavares dos Santos Educaccedilatildeo natildeo inclusiva a trajetoacuteria das barreiras atitudinais nas dissertaccedilotildees de educaccedilatildeo do programa de poacutes-graduaccedilatildeo em educaccedilatildeo Dissertaccedilatildeo de Mestrado 2012 595f Universidade
Federal de Pernambuco Recife SILVEIRA Selene Maria Penafortte Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o acompanhamento como fator de mudanccedila Universidade Federal do
Cearaacute Trabalho apresentado na 35ordf Reuniatildeo Nacional da ANPEd emm 2012 GT 15 ndash Educaccedilatildeo Especial Disponiacutevel em lthttp35reuniaoanpedorgbrtrabalhos121-gt15gt Acesso em 10102015 SILVEIRA Selene Maria Penafortte A gestatildeo para a inclusatildeo uma pesquisa ndash
accedilatildeo colaborativa no meio escolar Tese (Doutorado) 2009 277f Universidade Federal do Cearaacute Fortaleza TEZANI Thaiacutes Cristina Rodrigues A relaccedilatildeo entre gestatildeo escolar e educaccedilatildeo inclusiva o que dizem os documentos oficiais Revista Eletrocircnica Poliacutetica e Gestatildeo
Educacional Araraquara n 6 janjun 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwfclarunespbrHomeDepartamentosCienciasdaEducacaoRevistaEletronicaedi6_artigothaistezanipdfgt Acesso em 02 nov 2016 TEZANI Thaiacutes Cristina Rodrigues Gestatildeo escolar a praacutetica pedagoacutegica administrativa na poliacutetica de educaccedilatildeo inclusiva Educaccedilatildeo Santa Maria v 35 n 2 p 287-302 maioago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwufsmbrrevistaeducacaogt Acesso em 02nov2016 VALDEacuteS Maria Teresa Moreno Inclusatildeo de Pessoas com Deficiecircncia no Ensino
Superior no Brasil Caminhos e Desafios Fortaleza Eduece 2006 VASCONCELLOS Celso Coordenaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico do projeto
poliacutetico pedagoacutegico ao cotidiano de sala de aula Satildeo Paulo Libertad 2013 VASQUES Carla Karnoppi O diagnoacutestico e a Escolarizaccedilatildeo de alunos com transtornos globais do desenvolvimento In BAPTISTA Claudio Roberto (Org) Escolarizaccedilatildeo de alunos com deficiecircncias configuraccedilotildees nas poliacuteticas de
inclusatildeo escolar Satildeo Carlos Marquezine amp Manzini 2015 VAZ Kamille O professor de educaccedilatildeo especial nas poliacuteticas de perspectiva inclusiva no brasil concepccedilotildees em disputa Dissertaccedilatildeo de Mestrado 2013 237 f Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis
168
VEIGA Ilma Passos Alencastro Projeto poliacutetico-pedagoacutegico da escola uma construccedilatildeo possiacutevel In Coleccedilatildeo Magisteacuterio Formaccedilatildeo e Trabalho Pedagoacutegico
Campinas SP Papirus 1995 VEIGA-NETO Alfredo Incluir para excluir In ______ LARROSA Jorge SKLIAR Carlos Habitantes de Babel poliacuteticas e poeacuteticas da diferenccedila 2 ed Belo Horizonte Autecircntica Editora 2011 p 105- 118 VIANNA Claudia Pereira A feminizaccedilatildeo do magisteacuterio na educaccedilatildeo baacutesica e os desafios para a praacutetica e a identidade coletiva docente In YANNOULAS Silvia Cristina (Org) Trabalhadoras anaacutelise da feminizaccedilatildeo das profissotildees e ocupaccedilotildees Brasiacutelia DF Abareacute 2013 p 159-180 VIOTO Josiane Rodrigues Barbosa VITALIANO Ceacutelia Regina Papel da Gestatildeo Pedagoacutegica frente ao processo de inclusatildeo dos alunos com necessidades educacionais especais Londrina Trabalho apresentado na IX ANPEd SUL 2012 VIOTO Josiane Rodrigues Barbosa O papel do supervisor pedagoacutegico no processo de inclusatildeo de alunos com necessidades educacionais especiais uma pesquisa colaborativa Dissertaccedilatildeo de Mestrado 2013 164 f ndash Universidade
Estadual de Londrina - Londrina 2013 ZIEGERLilian Os Saberes e Fazeres da Supervisatildeo Educacional Perspectiva teoacuterico-praacuteticas In Supervisatildeo e Gestatildeo na escola Conceitos e praacuteticas de mediaccedilatildeo RANGEL Mary (Org) Campinas SP Papirus 2013
LEGISLACcedilAtildeO
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1988
169
BRASIL Lei nordm 5692 de 11 de agosto de 1971 Fixa Diretrizes e Bases para o
ensino de 1deg e 2ordm graus e daacute outras providecircncias ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional LDB 9394 de 20 de dezembro de 1996 ___________ Conselho Nacional de Educaccedilatildeo Cacircmara da educaccedilatildeo baacutesica Resoluccedilatildeo CNECEB ndeg 2 de 11 de setembro de 2001
___________ Resoluccedilatildeo CNECP Nordm 1 De 15 De Maio De 2006 Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduaccedilatildeo em Pedagogia licenciatura ___________ Decreto nordm 6571 de 17 de setembro de 2008 Dispotildee sobre o atendimento educacional especializado regulamenta o paraacutegrafo uacutenico do art 60 da Lei ndeg 9394 de 20 de dezembro de 1996 e acrescenta dispositivo ao Decreto no 6253 de 13 de novembro de 2007 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria da Educaccedilatildeo Especial Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia
DF 2008
___________ Conselho Nacional de Educaccedilatildeo Cacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica Resoluccedilatildeo CNE CEB nordm 4 de 2 de outubro de 2009 Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica modalidade Educaccedilatildeo Especial Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 5 de outubro de 2009 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Marcos Poliacutetico-Legais da Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo InclusivaSecretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo
Especial 2010 ___________ Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo Nordm 466 de 12 de dezembro
De 2012 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Decreto nordm 7611 DE 17 de novembro de 2011 Dispotildee sobre a educaccedilatildeo especial o atendimento educacional especializado e daacute outras providecircncias ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Portaria no 25 DE 19 de junho de 2012 Dispotildee sobre a adesatildeo ao Programa Implantaccedilatildeo de Salas de Recursos
Multifuncionais
170
___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Lei nordm 12796 de 4 de abril de 2013 Altera
a Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para dispor sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo e dar outras providecircncias ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Lei nordm 13005 de 24 de junho de 2014 -
Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo LEI Nordm 13146 DE 6 DE JULHO DE 2015
Institui a Lei Brasileira de Inclusatildeo da Pessoa com Deficiecircncia (Estatuto da Pessoa com Deficiecircncia) ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Documento orientador programa escola acessiacutevel 2013 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrpnaes194-secretarias-
112877938secad-educacao-continuada-22336954117428-programa-escola-acessivel-novo Acesso 10102016 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Fundo Nacional De Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Conselho Deliberativo ResoluccedilatildeoCDFNDENordm 192013 de 21 de maio de 2013
___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 10 de 18 de abril de 2013 Dispotildee sobre os criteacuterios de repasse e execuccedilatildeo do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) em cumprimento ao disposto na Lei 11947 de 16 de junho de 2009 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Fundo Nacional De Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Conselho Deliberativo Resoluccedilatildeo nordm 27 de 27 de julho de 2012 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Documento Orientador Programa Implantaccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais Diretoria de Poliacuteticas em
Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia 2013 ___________Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Relaccedilatildeo das escolas a serem contempladas com os recursos do PDDE Acessibilidade nos anos de 2012 e 2013 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrsecretaria-de-educacao-continuada-
alfabetizacao-diversidade-e-inclusaoprogramas-e-acoesid=17428gt Acesso em 14 out 2016a
171
___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves Redes Estadual e Municipal de Ensino de Camboriuacute em 2011 2012 2013 Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle
(SIMEC) moacutedulo puacuteblico Disponiacutevel em lthttppainelmecgovbrpainelphpmodulo=principaldetalhamentoIndicadorampacao=Aampdetalhes=municipioampmuncod=4203204gt Acesso em 17102016b ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Diretoria de Poliacuteticas de Educaccedilatildeo Especial Nota Teacutecnica nordm 04 2014 MECSECADIDPEE Orientaccedilatildeo quanto a documentos comprobatoacuterios de alunos com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Orientaccedilotildees para implementaccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo especial na perspectiva da educaccedilatildeo inclusiva 2015
___________ Ministeacuterio de Administraccedilatildeo Federal e da Reforma do Estado Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado Brasiacutelia 1995 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Conselho Nacional de Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 2 de 1ordm de Julho de 2015 Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formaccedilatildeo inicial em niacutevel superior (cursos de licenciatura cursos de formaccedilatildeo pedagoacutegica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formaccedilatildeo continuada CAMBORIUacute Lei Complementar Nordm 192008 Dispotildee Sobre a elaboraccedilatildeo do Plano
de Carreira dos Profissionais do Magisteacuterio Puacuteblico Municipal De Camboriuacute ndash SC ___________ LEI Nordm 28322015 Institui o Plano Municipal de Educaccedilatildeo ndash PME em conformidade com o art 190 da Lei orgacircnica do Municiacutepio de Camboriuacute SANTA CATARINA PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMBORIUacute EDITAL DE CONCURSO PUacuteBLICO Nordm 0252013 Abre inscriccedilotildees para o concurso puacuteblico para
os cargos elencados no Anexo I parte integrante deste edital em conformidade com as Leis Complementares ndeg 0402012 ndeg 192008 ndeg 482013 e ndeg 0662013 e suas alteraccedilotildees ___________ LEI COMPLEMENTAR Nordm 49 de 24 de abril de 1992 Dispotildee sobre
o novo Plano de Cargos Carreiras e Vencimentos do Magisteacuterio Puacuteblico Estadual reformula a sistemaacutetica de Progressatildeo Funcional institui a Gratificaccedilatildeo de Permanecircncia os Precircmios Meacuterito Gerencial e de Assiduidade e daacute outras providecircncias
172
___________ LEI Nordm 12773 de 1ordm de dezembro de 2003 Institui o Programa
Leitura de Jornais e Revistas em Sala de Aula como atividade multidisciplinar nos estabelecimentos puacuteblicos de ensino fundamental e meacutedio no Estado de Santa Catarina ___________ Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina Satildeo
Joseacute FCEE de 2014
173
APEcircNDICES
174
APEcircNDICE A ndash Carta agrave equipe diretiva escolar
CARTA Agrave EQUIPE DIRETIVA ESCOLAR
Prezados (as) Participantes
Convidamos vocecircs a participarem como voluntaacuterios(as) anocircnimos(as) da pesquisa
desenvolvida pela mestranda Neusa Denise Marques de Oliveira vinculada a linha de
pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da
Universidade da Regiatildeo de Joinville - UNIVILLE A presente pesquisa tem como objetivo
investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento
Educacional Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo
As respostas dadas por vocecirc seratildeo fundamentais para a pesquisa intitulada ―A Equipe
Diretiva Escolar e o Atendimento Educacional Especializado Interlocuccedilotildees Possiacuteveis que
estaacute sob a orientaccedilatildeo da Professora Doutora Aliciene Fusca Machado Cordeiro
Para tanto solicito seu precioso tempo para responder este questionaacuterio Sua
sinceridade seraacute fundamental para o ecircxito da pesquisa Coloco a disposiccedilatildeo meus
dados (e-mail ndmoliveirabolcombr e telefone (47) 92903131) no intuito de
sanar quaisquer duacutevidas que surgir
Desde jaacute agradeccedilo sua imprescindiacutevel colaboraccedilatildeo e informo-lhe que seratildeo assegurados sigilo de identidade e a privacidade de dados confidenciais na pesquisa
Atenciosamente Neusa Denise Marques de Oliveira
175
APEcircNDICE B ndash Instrumento de coleta de dados
QUESTIONAacuteRIO
EIXO I ndashPERFIL DA EQUIPE DIRETIVA
1 Ano de Nascimento _________________________
2 Qual sua funccedilatildeo na escola
a)( ) Diretor ( ) Diretora
b) ( ) Assessor diretor ( ) Assessora de diretora
c) ( ) Coordenador PedagoacutegicoSupervisor ( ) Coordenadora
PedagoacutegicaSupervisora
d) ( ) Orientador Educacional ( ) Orientadora Educacional
e) ( ) Outro Qual
_______________________________________________________________
3 Qual sua formaccedilatildeo acadecircmica (preencha os campos necessaacuterios)
a) ( ) Ensino Superior (especificar se Bacharelado ou Licenciatura)
Curso ________________________________ Ano que concluiu _______
Curso _________________________________Ano que concluiu _______
b) ( ) Poacutes - Graduaccedilatildeo (Especializaccedilatildeo)
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
c) ( ) Poacutes ndash Graduaccedilatildeo (Mestrado)
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
d) ( ) Poacutes ndash Graduaccedilatildeo (Doutorado)
Curso _______________________________ Ano que concluiu _________
4 Vocecirc jaacute atuou como professor de sala de aula
a) ( ) Sim
b) ( ) Natildeo
176
5 Quanto tempo
6 Na sua trajetoacuteria como docente teve alguma experiecircncia com
estudante com deficiecircncia
a) ( ) Sim
b) ( ) Natildeo
7 Qual sua carga horaacuteria hoje na funccedilatildeo em que atua na Rede Municipal
de Ensino _______________
8 Quanto tempo de serviccedilo vocecirc tem na funccedilatildeo em que ocupa
atualmente na Rede Municipal de ensino______________
9 Vocecirc pertence ao quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede
Municipal de Ensino
a) ( ) sim
b) ( ) Natildeo
10) Como vocecirc ingressou na funccedilatildeo em que ocupa em sua escola
a) ( ) Por Convite
b) ( ) Por Concurso puacuteblico
c) ( ) Por indicaccedilatildeo
d) ( ) Remanejado (a)
e) ( ) Eleiccedilatildeo
f) ( ) Outro Qual _____________________________________
EIXO IIndash COMPREENSAtildeO DA EQUIPE DIRETIVA SOBRE O AEE
11 Qual sua compreensatildeo sobre o atendimento educacional
especializado _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
12 Quem satildeo os estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento Educacional Especializado
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
177
13 A escola em que vocecirc atua trabalha com Atendimento Educacional
Especializado (AEE)
a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo Por quecirc _______________________________________
14 Em caso afirmativo
a) ( ) Eacute uma escola Poacutelo o atendimento ocorre na proacutepria escola atendendo
__________ estudantes de ___________ escolas
b) ( ) Atende somente estudantes desta escola Por quecirc
_______________________________________________________________
15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos
estudantes puacuteblico alvo do AEE
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE
a) ( ) Sim Em caso afirmativo Comente quais________________
b) ( ) Natildeo
17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE
a) ( ) Sim Em caso afirmativo Comente quais______________________________________________________ ____________________________________________________________
b) ( ) Natildeo
18 Vocecirc teve alguma formaccedilatildeo com temas relacionados ao AEE
( ) Sim Comente
( ) Natildeo
EIXO III ndash CONHECIMENTO DA EQUIPE DIRETIVA SOBRE O TRABALHO DO PROFESSOR DO AEE
178
19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento
Educacional Especializado ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
21 Na escola em que vocecirc atua como se daacute a participaccedilatildeo do professor
de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros)
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
23 O professor do AEE que atende sua escola faz parte do quadro
efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino
a) ( ) sim
b) ( ) Natildeo
c) ( ) Natildeo tenho esta informaccedilatildeo
EIXO IV ndash PROJETO PEDAGOacuteGICO E O AEE
25 A escola em que vocecirc atua possui um projeto pedagoacutegico a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo
26 O atendimento educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola
a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo
27 A escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe
179
diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
180
APEcircNDICE C ndash Matriz de referecircncia Quadro 17 Matriz de referecircncia
Objetivos da pesquisa
Categorias Questotildees a
serem abordadas
Perguntas do questionaacuterio relacionadas
- Revelar a compreensatildeo da equipe diretiva escolar acerca do serviccedilo de AEE e do puacuteblico-alvo da EE - Evidenciar o que a equipe diretiva escolar conhece sobre o trabalho do professor do AEE
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
O serviccedilo em si o puacuteblico alvo da EE e o trabalho docente
11 Qual sua compreensatildeo sobre o atendimento educacional especializado 19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE 21 A escola em que vocecirc atua qual a participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros) 22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE 23 O professor do AEE na sua escola faz parte do quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino 12 Quem satildeo os estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 13 Na escola em que vocecirc atua trabalha com Atendimento Educacional Especializado (AEE)
14 Em caso afirmativo a) ( ) Eacute uma escola Polo b) ( ) Atende somente estudantes desta escola 15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos estudantes puacuteblico alvo do AEE
- Identificar os procedimentos que tecircm sido adotados pela equipe diretiva escolar na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe diretiva frente a viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
O papel da equipe diretiva Acessibilidade arquitetocircnica Recursos materiais e pedagoacutegicos Se o AEE estaacute comtemplado no Projeto poliacutetico-pedagoacutegico e e
20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento Educacional Especializada 16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE 17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE
25 A escola em que vocecirc
181
Desafios na viabilizaccedilatildeo do serviccedilo e formas de superaacute-lo
atua possui um projeto pedagoacutegico 26 O atendimento
educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola 27A escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
Fonte Primaacuteria (2016)
182
ANEXOS
183
ANEXO I ndash Autorizaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute
184
ANEXO II ndash Parecer de Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
185
186
187
ANEXO III ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIVERSIDADE DA REGIAtildeO DE JOINVILLE ndash UNIVILLE
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCACcedilAtildeO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE
Vocecirc estaacute sendo convidado (a) a participar como voluntaacuterio (a) de uma
pesquisa desenvolvida pela mestranda Neusa Denise Marques de Oliveira
vinculada ao Grupo de Pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do Programa de
Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE As respostas dadas por vocecirc ao instrumento
de coleta de dados neste caso um questionaacuterio seratildeo fundamentais para a
construccedilatildeo da dissertaccedilatildeo intitulada ―A Equipe Diretiva Escolar e o Atendimento
Educacional Especializado Interlocuccedilotildees Possiacuteveis que estaacute sob a orientaccedilatildeo da
Professora Drordf Aliciene Fusca Machado Cordeiro Sendo seu objetivo investigar as
compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento Educacional
Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo
Sua participaccedilatildeo se restringiraacute a fornecer respostas agraves indagaccedilotildees feitas no
questionaacuterio Vocecirc teraacute a liberdade de se recusar a responder perguntas que lhe
ocasionem constrangimento de alguma natureza e tambeacutem poderaacute desistir da
pesquisa a qualquer momento sem que a recusa ou a desistecircncia lhe acarrete
qualquer prejuiacutezo bem como caso seja do seu interesse e mencionado ao
pesquisador teraacute livre acesso aos resultados do estudo
Destacamos que a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa eacute opcional e representa
riscos ou desconfortos miacutenimos Em caso de recusa ou de desistecircncia em qualquer
fase da pesquisa vocecirc natildeo seraacute penalizado (a) de forma alguma A sua participaccedilatildeo
constituiraacute de suma importacircncia para o cumprimento do objetivo da pesquisa e os
benefiacutecios seratildeo de acircmbito acadecircmico e profissional para o campo do Trabalho e
Formaccedilatildeo Docente
Vocecirc seraacute esclarecido sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar e
trataremos da sua identidade com padrotildees profissionais de sigilo ou seja natildeo
haveraacute identificaccedilatildeo nominal Os questionaacuterios respondidos durante a realizaccedilatildeo da
pesquisa ficaraacute sob a guarda e a responsabilidade da pesquisadora por um periacuteodo
de cinco anos onde apoacutes esse prazo o material seraacute descartado Os resultados
deste estudo poderatildeo ser apresentados por escrito ou oralmente em congressos
perioacutedicos cientiacuteficos e eventos promovidos na aacuterea de ciecircncias humanas
Em caso de duacutevida vocecirc poderaacute procurar a pesquisadora responsaacutevel por esta
pesquisa Neusa Denise Marques de Oliveira pelo telefone (47) 92903131 Se
preferir vocecirc tambeacutem pode entrar em contato com a professora orientadora dessa
pesquisa no Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE pelo telefone (47)
3461-09077 ou no seguinte endereccedilo Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash
188
UNIVILLE Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Campus Universitaacuterio -
JoinvilleSC CEP 89219-710 Bloco A sala A 227B
Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica que envolve a referida
pesquisa entre em contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa (CEP) pelo
telefone (47) 3461-9235 ou no endereccedilo Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash
UNIVILLE Bloco B sala B 31
Apoacutes ser esclarecido sobre a pesquisa no caso de vocecirc aceitar fazer parte do estudo assine ao final deste documento que estaacute em duas vias Uma delas eacute sua e a outra eacute do pesquisador responsaacutevel
CONSENTIMENTO
Eu ________________________________________________ acredito ter sido
suficientemente informado (a) e concordo em participar como voluntaacuterio (a) da
pesquisa descrita acima
_____________________ ____ de ____________________ de 2015
_________________________ ________________________________ Participante responsaacutevel Neusa Denise Marques de Oliveira
Pesquisadora
189
DEDICATOacuteRIA
Dedico esta dissertaccedilatildeo a Rafael Cesar Marques (in
memoriam) meu irmatildeo querido e amado que sempre me
apoiou e acreditou em mim Gratidatildeo e Saudades
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeccedilo a Deus pela graccedila de ter vivido intensamente esta
experiecircncia com seriedade e compromisso
Agrave minha orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro pela paciecircncia e
dedicaccedilatildeo
Agraves professoras Dra Andrea Soares Wuo e Dra Sonia Maria Ribeiro por
aceitarem participar da minha banca
Aos professores do Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Univille que
partilharam seus conhecimentos e possibilitaram que eu pudesse ampliar os meus
Aos meus colegas do mestrado em especial agraves minhas amigas Ana Paula e
Lediane que estiveram ao meu lado durante o curso cuja convivecircncia tornou-se
para mim uma oportunidade de crescimento de relaccedilatildeo saudaacutevel com as diferenccedilas
por oferecerem sua amizade e incentivo
Ao meu irmatildeo acadecircmico Cleberson de Lima Mendes pelo companheirismo
na realizaccedilatildeo dos trabalhos e por sua amizade
Agraves coordenadoras da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute por
consentirem a viabilizaccedilatildeo deste estudo
A todas as equipes diretivas que prontamente aceitaram participar desta
pesquisa
Aos meus colegas de trabalho que assumiram minhas funccedilotildees para que eu
pudesse me afastar integralmente para me dedicar agrave escrita desta dissertaccedilatildeo
Agrave minha matildee amada que carinhosamente cuidou de mim durante o primeiro
ano do mestrado periacuteodo difiacutecil que foi superado com muito apoio e amor
Ao meu filho Viniacutecius Luiacutes de Oliveira razatildeo da minha vida que me ensina
todos os dias a ser curiosa questionadora criativa Agradeccedilo pela paciecircncia em me
deixar estudar e por me entender mesmo tatildeo pequeno
Ao meu amado esposo Jackson de Oliveira companheiro de todas as horas
um ser humano incriacutevel que me ajudou muito e que amo cada dia mais
Agrave minha sogra Sonia Buss de Oliveira e ao meu sogro Luiacutes de Oliveira
pessoas imprescindiacuteveis nessa minha caminhada por me apoiarem e por vezes
terem cuidado de meu filho com muito carinho e apreccedilo
Aos meus queridos irmatildeos e sobrinhos pela compreensatildeo de minhas
ausecircncias nas reuniotildees de famiacutelia e pela paciecircncia que tiveram comigo no decorrer
desta jornada
Agrave minha amiga Juliana Testoni dos Santos primeira pessoa que me acolheu
quando entrei no mestrado e que com o tempo se tornou uma grande amiga Uma
pessoa incriacutevel inteligente e sensiacutevel que me ensinou a acreditar mais em mim
Agraves minhas amigas Cleide Aparecida Hoffmann Bernardes e Andreacuteia
Heiderscheidt Fuck pelo companheirismo paciecircncia e por estarem sempre dispostas
a ajudar
Agrave CAPES pelo apoio financeiro que propiciou melhores condiccedilotildees de dedicaccedilatildeo a esta pesquisa A todos que de alguma forma contribuiacuteram para que esse trabalho chegasse
agrave etapa final
RESUMO Este estudo estaacute vinculado agrave linha de pesquisa ―Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do
Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash UNIVILLE e tem
como objetivo central investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares
sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e suas formas de viabilizaacute-lo
O procedimento metodoloacutegico adotado pautou-se na abordagem qualitativa (GATTI
e ANDREacute 2013) que tem como fundamento alguns pressupostos da base
epistecircmico-metodoloacutegica do materialismo histoacuterico e dialeacutetico Como instrumento de
coleta de dados utilizou-se um questionaacuterio contendo perguntas abertas e fechadas
Participaram desta pesquisa 7 diretores 8 supervisores e 7 orientadores
educacionais totalizando 7 equipes diretivas de escolas do ensino fundamental da
Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute - Santa Catarina totalizando 22
questionaacuterios respondidos A anaacutelise de conteuacutedo (BARDIN 1977 FRANCO 2012)
foi o meacutetodo escolhido para analisar os dados A fundamentaccedilatildeo teoacuterica utilizada no
trabalho foi composta por vaacuterios autores com destaque para Vasconcellos (2013)
Paro (1987 2001 2003 2010 2012 2016) Libacircneo (2007 2015 2016) Meletti e
Bueno (2011) Os resultados desta pesquisa sinalizaram que na Rede estudada a
maioria dos profissionais da equipe diretiva parece compreender o AEE como um
serviccedilo que se restringe ao estudante com deficiecircncia ou agrave sala de recursos
multifuncionais e ao professor especializado Isso pode indicar uma compreensatildeo
descontextualizada e desarticulada do serviccedilo no acircmbito escolar Em siacutentese o AEE
parece ser entendido pelas equipes diretivas pesquisadas como sendo um serviccedilo
individualizado setorizado e com pouca interaccedilatildeo entre os profissionais As anaacutelises
dos dados apontaram a necessidade de formaccedilatildeo consistente para os profissionais
das equipes diretivas e demais profissionais da educaccedilatildeo que comtemple um
aprofundamento teoacuterico sobre a aacuterea da Educaccedilatildeo e da Educaccedilatildeo Especial No que
concerne agrave viabilizaccedilatildeo do AEE observou-se nos dizeres da maioria das equipes
diretivas indiacutecios de compreensotildees que demonstram falta de clareza quanto aos
seus papeacuteis em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo do serviccedilo de AEE assim
como apontam lacunas existentes quanto agrave acessibilidade arquitetocircnica recursos
pedagoacutegicos e humanos especiacuteficos que satildeo considerados dispositivos necessaacuterios
e que compotildeem a estrutura do AEE Suas falas revelam ainda as necessidades de
reorganizaccedilatildeo dos espaccedilos escolares em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo do serviccedilo as quais
compotildeem os desafios das equipes diretivas frente ao AEE em suas concepccedilotildees
Palavras-Chave Gestatildeo escolar Equipe diretiva escolar Atendimento Educacional
Especializado Formaccedilatildeo Docente
ABSTRACT
This study is linked to the research line Teacherlsquos Work and Formation of the
Master of Education of the University of the Region of Joinville - UNIVILLE and its
main objective is to investigate the understandings of the school management teams
on Specialized Educational Services (SES) and its forms to apply it The
methodological procedure adopted was based on the qualitative approach (GATTI
and ANDREacute 2013) that is based on some assumptions of the epistemic-
methodological basis of historical and dialectical materialism A questionnaire
containing opened and closed questions was used as data collection instrument
Seven of the directors eight supervisors and seven educational supervisors
participated in this study making a total of 7 management teams from elementary
schools of the Municipal Education Network of Camboriuacute - Santa Catarina So 22
questionnaires were answered Content analysis (BARDIN 1977 FRANCO 2012)
was the method chosen to analyze the data The theoretical basis used in the study
was composed by authors such as Vasconcellos (2013) Paro (1987 2001 2003
2010 2012 2016) Libacircneo (2007 2015) Meletti and Bueno (2011) among others
The results of this research indicate that in the context studied most of the
professionals of the management teams seem to understand SES as a service that is
restricted or to the student with a disability or to the multifunction resource classroom
and to the specialized teacher This may indicate a decontextualized and disjointed
understanding of school service In summary the SES seems to be understood by
teams surveyed for this research as being a service individualized sectorized and
with little interaction among professionals The analysis of the data pointed to the
need for consistent training for the professionals of the management teams and other
professionals of education that contemplates a theoretical deepening in the area of
Education and Special Education With regard to the realization of the SES the
majority of the management teams stated that they lacked clarity regarding their roles
in relation to the implementation of the SES as well as pointing out existing gaps in
accessibility specific pedagogical resources and human resources which are
considered necessary devices and which are part of the SES structure Their
speeches also reveal the need for reorganization of school spaces in relation to the
realization of the service which are some of the challenges of the management
teams facing the SES in their conceptions
Keywords School management School management team Specialized
Educational Services
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AEE Atendimento Educacional Especializado
AHSD Altas Habilidades e Superdotaccedilatildeo
ANPEd Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo
BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaccedilotildees
CAPES Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior
CEB Cacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica
CEI Centro de Educaccedilatildeo Infantil
CF Constituiccedilatildeo Federal
CHS Conselho de Direitos Humanos
CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente
CNE Conselho Nacional de Educaccedilatildeo
CNS Conselho Nacional de Sauacutede
ED Equipe Diretiva
EDd Equipe Diretiva ndash diretor(a)
EDo Equipe Diretiva ndash orientador(a)
EDs Equipe Diretiva ndash supervisor(a)
EDUCASUL Congresso de Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul
EE Educaccedilatildeo Especial
EF Ensino Fundamental
EJA Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos
GETRAFOR Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e a Formaccedilatildeo Docente
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IFC Instituto Federal Catarinense
IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira
INTAE Interfaces entre Atendimento Educacional Especializado trabalho
docente formaccedilatildeo de professores e poliacuteticas puacuteblicas (INTAE)
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
MEC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
NAPNE Nuacutecleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiacuteficas
OCDE Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico
PETI Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil
PNEE-EI Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva
PNE Plano Nacional de Educaccedilatildeo
SCIELO Scientific Eletronic Library Online
SC Santa Catarina
SECADI Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo
SIMEC Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle
SME Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
SEM Salas de Recursos Multifuncionais
TALIS Teaching and Learning International Survey
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TDAH Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo e Hiperatividade
TGD Transtornos Globais do Desenvolvimento
UNESCO Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
UNIVILLE Universidade da Regiatildeo de Joinville
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Graacutefico 1 ndash Faixa etaacuteria dos participantes da pesquisa 58
Graacutefico 2 ndash Tempo de atuaccedilatildeo das equipes diretivas por funccedilatildeo 59
Graacutefico 3 ndash Experiecircncias dos profissionais das equipes diretivas enquanto docentes
de estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 63
Graacutefico 4 ndash Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes das equipes diretivas em sala de
aula 65
Graacutefico 5 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Diretores 66
Graacutefico 6 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Supervisores 66
Graacutefico 7 - Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Orientadores 67
Graacutefico 8 ndash Tempo de serviccedilo dos integrantes das equipes diretivas na funccedilatildeo que
atualmente ocupam na escola 67
Graacutefico 9 - Sobre a acessibilidade arquitetocircnica nas escolas
pesquisadas112
Graacutefico 10 - Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves
Redes Estadual e Municipal de Ensino de
Camboriuacute119
Graacutefico 11 ndash Recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis nas escolas pesquisadas123
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Tabela 1 ndash Mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira sobre Gestatildeo
EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de
2011 a 2015 38
Tabela 2 ndash Trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe
Diretiva e o Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE 40
Tabela 3 ndash Objetivos dos trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo
EscolarEquipe Diretiva e o Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE 41
Quadro 1 ndash Categorias de anaacutelise e suas relaccedilotildees com os objetivos da pesquisa 52
Quadro 2 ndash Gecircnero dos integrantes da equipe diretiva escolar por funccedilatildeo 55
Quadro 3 ndash Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes da equipe diretiva em sala de
aula61
Quadro 4 ndash Fases do ciclo de vida profissional segundo Huberman 62
Quadro 5 ndash Formaccedilatildeo das equipes diretivas com temas relacionados ao AEE71
Quadro 6 - Situando do Atendimento Educacional Especializado nas Escolas a partir
das falas das Equipes Diretivas73
Quadro 7 Puacuteblico-alvo do AEE nos dizeres das equipes diretivas escolares
pesquisadas78
Quadro 8 - Recorrecircncias sobre o puacuteblico-alvo da EE nos dizeres das equipes
diretivas escolares pesquisadas79
Quadro 9 - Distribuiccedilatildeo das matriacuteculas por categoria utilizada no Censo Escolar de
2015 (MECINEP 2015) no Brasil em Santa Catarina e no Municiacutepio de
Camboriuacute82
Quadro 10 - Condiccedilotildees de acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas113 Quadro 11 - Escolas pesquisadas a serem contempladas pelo Programa Escola
Acessiacutevel por meio do PDDE nos anos de 2012 e 2013119
Quadro 12 - Acessibilidade nas escolas municipais de ensino fundamental no Brasil SC e em Camboriuacute 121 Quadro 13 - O que se entende por ―recurso pedagoacutegico nos dizeres das equipes
diretivas que informaram possuiacute-los nas escolas em que atuam 123
Quadro 14 - Composiccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais ndash 20112012124
Quadro 15 - Accedilotildees que as equipes diretivas escolares consideram que sejam de
suas responsabilidades para viabilizar o AEE 130
Quadro 16 - Desafios encontrados pelas equipes diretivas escolares para viabilizar o
AEE 139
Quadro 17 - Matriz de referecircncia 180
SUMAacuteRIO
Agrave GUISA DE INTRODUCcedilAtildeO O ENTRELACcedilAMENTO DA PESQUISA COM A
PESQUISADORA 16
1 POSSIBILIDADES E DESAFIOS DE UMA GESTAtildeO ESCOLAR DEMOCRAacuteTICAndash
PARTICIPATIVA DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES NA VIABILIZACcedilAO DO
AEE 21
11 Organizaccedilatildeo e Gestatildeo Escolar tecendo reflexotildees21
12 As atribuiccedilotildees da Equipe Diretiva Escolar na Perspectiva da Gestatildeo
Democraacutetica-Participativa29
13 Equipe Diretiva na organizaccedilatildeo escolar frente ao AEE aproximaccedilotildees e
distanciamentos 34
14 A produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre Gestatildeo Escolar e Atendimento
Educacional Especializado um campo a explorar 38
2 PROCESSO DE CONSTITUICcedilAtildeO DA PESQUISA CAMINHOS TRACcedilADOS E
PERCORRIDOS 46
21 Os caminhos da pesquisa local participantes e instrumentos 47
22 Seguindo o itineraacuterio organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados 50
3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Agrave PARTIR DAS FALAS
DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE
CAMBORIUacute 54
31 Apresentaccedilatildeo das Equipes Diretivas Escolares 55
32 O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado 72
33 As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel das equipes
diretivas frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE 110
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 147
APEcircNDICES 173
APEcircNDICE A ndash Carta agrave equipe diretiva escolar 174
APEcircNDICE B ndash Instrumento de coleta de dados 175
APEcircNDICE C ndash Matriz de referecircncia 180
ANEXOS 182
ANEXO I ndash Autorizaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute 183
ANEXO II ndash Parecer de Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa 184
ANEXO III ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 187
16
Agrave GUISA DE INTRODUCcedilAtildeO O ENTRELACcedilAMENTO DA PESQUISA COM A PESQUISADORA
Revisitar o bauacute de minha histoacuteria de vida faz com que venham agrave tona vaacuterios
sentimentos de superaccedilatildeo e felicidade pois foram tantos aprendizados tantas
conquistas e diversas experiecircncias que ajudaram na minha constituiccedilatildeo enquanto
pessoa e profissional Assim escrever acerca de minha trajetoacuteria de vida passa a
ser uma forma de clarificar o entrelaccedilamento da pesquisa com a pesquisadora
levando assim agrave construccedilatildeo do objeto desta pesquisa
Aos dezessete anos no uacuteltimo ano do magisteacuterio passei em um concurso
puacuteblico para auxiliar de educadora em um Centro de Educaccedilatildeo Infantil (CEI) no
municiacutepio de Joinville O CEI ficava proacuteximo agrave minha casa o que facilitou minha
jornada de estaacutegio trabalho e estudo Iniciei trabalhando em uma turma de berccedilaacuterio
Pensei que natildeo daria conta pois a base teoacuterica do magisteacuterio foi restrita No
entanto comecei a pesquisar comprar livros e estudar muito para auxiliar no
planejamento das atividades
O trabalho com as crianccedilas era regado de brincadeiras muacutesicas pintura e
contaccedilatildeo de histoacuterias O educar e o cuidar comeccedilaram a fazer sentido para mim
sendo que a cada estudo e a cada descoberta o trabalho com as crianccedilas se tornava
mais prazeroso Apoacutes um ano trabalhando no berccedilaacuterio passei a atuar na turma de 3
a 5 anos idade com 35 crianccedilas que jaacute haviam passado por vaacuterios educadores
Nessa turma havia um aluno com deficiecircncia intelectual fato raro para a educaccedilatildeo
infantil na eacutepoca em que iniciei A experiecircncia de ensinaacute-lo e conviver com ele foi
muito significativa pois a partir dela pude vislumbrar as possibilidades e
potencialidades do trabalho colaborativo em especial nas interaccedilotildees entre os
alunos que respeitavam o tempo do colega incentivando-o a completar as
atividades escolares
Esse trabalho me proporcionou natildeo soacute uma vivecircncia na educaccedilatildeo infantil e
um crescimento pessoal e profissional mas tambeacutem propiciou condiccedilotildees
financeiras para cursar o ensino superior
Em 1996 iniciei o curso superior em Pedagogia que me proporcionou uma
base teoacuterica mais consistente Havia incentivo agrave participaccedilatildeo em eventos e a
preocupaccedilatildeo em articular a teoria e praacutetica No uacuteltimo ano da faculdade iniciei a
17
poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu em Psicopedagogia que possibilitou ampliar a minha
compreensatildeo sobre os processos de aprendizagem e estrateacutegias de trabalho
voltadas para a escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes
Em 1999 jaacute graduada e poacutes-graduada procurei novas experiecircncias de
trabalho e comecei a lecionar Filosofia em uma instituiccedilatildeo da Rede Privada de
Ensino para as turmas da preacute-escola e da quarta seacuterie no ensino fundamental
A partir de 2002 passei a trabalhar como educadora na Secretaria de
Assistecircncia Social onde integrei o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do
Adolescente - CMDCA e o Conselho de Direitos Humanos - DHS Nessa eacutepoca
trabalhei no Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil ndash PETI com adolescentes
em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social incluiacutedos na sociedade de forma perversa
Eles tinham em sua maioria entre 8 e 16 anos de idade Antes de integrarem o
programa eles trabalhavam como catadores de material reciclaacutevel apresentavam
dificuldades significativas de aprendizagem e viviam em regiotildees extremamente
pobres da cidade Passavam meio periacuteodo em escolas da Rede Puacuteblica de Ensino e
meio periacuteodo no programa PETI O planejamento das atividades para eles era
sempre um momento desafiador e os educadores se preocupavam em proporcionar
atividades mais atrativas e culturalmente enriquecedoras como visitas a Museus e
ao cinema aleacutem de planejar eventos como a Parada Cultural na qual os familiares e
a comunidade eram convidados a prestigiar as atividades criadas e apresentadas
por esses adolescentes
Essas satildeo algumas das experiecircncias que compotildeem a minha constituiccedilatildeo
como educadora marcada por uma busca constante pelo desenvolvimento de uma
praacutetica pedagoacutegica e docente responsaacutevel sensiacutevel flexiacutevel e comprometida Como
enfatizou Freire (1991 p 58) ―ningueacutem comeccedila a ser educador numa certa terccedila-
feira agraves quatro da tarde [] A gente se faz educador a gente se forma como
educador permanentemente na praacutetica e na reflexatildeo sobre a praacutetica
A partir de 2003 ateacute setembro de 2005 fui convidada pela secretaacuteria de
Assistecircncia Social para coordenar o programa Fundo do Milecircnio para a Primeira
Infacircncia um Programa em Parceria com a UNESCO Fundaccedilatildeo Mauriacutecio Sirotsky
Sobrinho e o Banco Mundial que tinha como finalidade a formaccedilatildeo de 45
educadores de cinco instituiccedilotildees filantroacutepicas de educaccedilatildeo infantil
Apesar dos desafios enfrentados na realizaccedilatildeo desse programa considero
que foi possiacutevel desenvolver um trabalho intenso de leitura e pesquisa com as 40
18
educadoras que dele participaram Dos projetos que elas elaboraram trecircs foram
aprovados para apresentaccedilatildeo no Congresso de Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul - Educasul
Em 2005 solicitei licenccedila natildeo remunerada de trecircs anos na Prefeitura
Municipal de Joinville a fim de coordenar o Programa de Jornal e Educaccedilatildeo em uma
empresa jornaliacutestica do mesmo municiacutepio
A empresa havia firmado uma parceria com a Secretaria de Educaccedilatildeo do
Estado de Santa Catarina a partir da Lei nordm 127732003 (SANTA CATARINA 2003
sp) que ―instituiu o Programa Leitura de Jornais e Revistas em Sala de Aula como
atividade multidisciplinar nos estabelecimentos puacuteblicos de ensino fundamental e
meacutedio no Estado de Santa Catarina
Por meio desse programa viajei por 36 cidades de Santa Catarina realizando
formaccedilatildeo sobre miacutedia e educaccedilatildeo para os professores da Rede Estadual de Ensino
bem como para alguns professores de escolas municipais uma vez que as
Secretarias de Educaccedilatildeo de alguns municiacutepios tambeacutem firmaram parceria Esse
trabalho me possibilitou conhecer o funcionamento de muitas escolas estaduais
municipais e uma aldeia indiacutegena em Xanxerecirc contribuindo para o desenvolvimento
de um olhar para a diversidade e a complexidade dos processos educacionais em
diferentes contextos
A experiecircncia que mais me aproximou contudo do que viria a ser meu objeto
de pesquisa no Mestrado em Educaccedilatildeo ocorreu em 2011 quando ingressei na
Rede Puacuteblica Federal de Ensino no Instituto Federal Catarinense na funccedilatildeo de
pedagogaorientadora educacional No mesmo ano no curso teacutecnico de ensino
meacutedio integrado iniciou uma estudante com deficiecircncia fiacutesica A estrutura do
cacircmpus poreacutem natildeo favorecia a mobilidade da aluna fazendo com que a equipe do
Nuacutecleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiacuteficas - NAPNE no qual
ingressei como representante passasse a discutir as adaptaccedilotildees arquitetocircnicas e
curriculares necessaacuterias para a promoccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo da aluna Saliento a
importacircncia do respaldo da direccedilatildeo do Instituto nesse periacuteodo na construccedilatildeo da
proposta de melhorias bem como na sua execuccedilatildeo O trabalho realizado de forma
colaborativa entre os profissionais envolvidos no Instituto bem como o
acompanhamento sistemaacutetico junto agrave aluna e sua famiacutelia foi essencial para o
desenvolvimento do seu processo de escolarizaccedilatildeo que se formou no ano de 2013
e atualmente estaacute cursando o ensino superior
19
Em 2015 os integrantes do NAPNE do qual faccedilo parte estavam na fase de
estudos para a implementaccedilatildeo do atendimento educacional especializado no IFC
sempre respaldados pela equipe diretiva Percebo que o envolvimento dessa equipe
foi crucial para viabilizar as propostas planejadas O referido cacircmpus do IFC foi o
uacutenico no estado a solicitar um coacutedigo de vaga para o concurso de professora com
habilitaccedilatildeo especiacutefica para atuar no AEE a qual foi nomeada no final de 2015 jaacute
iniciando a estruturaccedilatildeo do trabalho com a equipe
Como orientadora educacional percebo que a parceria junto agrave supervisatildeo e
demais profissionais faz toda a diferenccedila na promoccedilatildeo de uma educaccedilatildeo para todos
pois natildeo haacute como discutir o processo de escolarizaccedilatildeo dos alunos sem abordar as
estrateacutegias de ensino que favoreccedilam sua aprendizagem e desenvolvimento
Nessa busca intensa por conhecimentos ingressei no Programa de Mestrado
em Educaccedilatildeo da UNIVILLE na linha de pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente
Lembro-me que no primeiro encontro de orientaccedilatildeo conversando com minha
professora orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro conseguimos definir
o objeto do presente estudo a relaccedilatildeo entre a equipe diretiva e o Atendimento
Educacional Especializado
Este estudo se insere em um projeto de pesquisa mais amplo denominado
―Interfaces entre Atendimento Educational Especializado trabalho docente
formaccedilatildeo de professores e poliacuteticas puacuteblicas (INTAE) vinculado ao Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e a Formaccedilatildeo Docente (GETRAFOR) do
Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE
Considerando que o municiacutepio de Joinville foi o mais estudado ateacute o
momento pelo grupo de pesquisa em questatildeo e que o referido projeto tem por
objetivo investigar as interfaces supracitadas na regiatildeo Sul do Brasil optou-se por
escolher como loacutecus desta investigaccedilatildeo o municiacutepio de Camboriuacute
Tal escolha justifica-se em funccedilatildeo de que no processo de mapeamento das
produccedilotildees acadecircmicas dos uacuteltimos cinco anos sobre ―gestatildeo escolarequipe diretiva
e ―inclusatildeo escolareducaccedilatildeo especialAEE1 ter-se identificado que o referido
municiacutepio natildeo havia sido contemplado por nenhum dos estudos ateacute entatildeo
realizados
1 Este mapeamento das produccedilotildees acadecircmicas foi realizado nas bases de dados da ANPEd CAPES
SciELO e BDTD abrangendo o periacuteodo de 2011 a 2015 Pode-se conferir o detalhamento do referido levantamento no Capiacutetulo 1 desta dissertaccedilatildeo
20
A partir do exposto iniciou-se a construccedilatildeo do objetivo geral da pesquisa que
eacute investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento
Educacional Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo Os objetivos especiacuteficos
delineados a partir do objetivo geral foram constituiacutedos da seguinte forma
Revelar a compreensatildeo das equipes diretivas acerca do serviccedilo de AEE e do
puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial
Identificar o que as equipes diretivas escolares conhecem sobre o trabalho do
professor do AEE
Evidenciar os procedimentos que tecircm sido adotados pelas equipes diretivas
escolares na viabilizaccedilatildeo do atendimento educacional especializado
Para cada objetivo especiacutefico foi elaborada uma questatildeo de pesquisa que se
buscou responder no decorrer deste estudo 1) O que pensam as equipes diretivas
escolares sobre o serviccedilo do AEE e sobre o puacuteblico alvo da EE 2) Qual a
compreensatildeo que as equipes diretivas escolares tecircm sobre o trabalho do professor
de AEE 3) Quais satildeo os procedimentos que tecircm sido adotados pelas equipes
diretivas escolares para viabilizar o atendimento educacional especializado
Ressalto que a forma de compreender e viabilizar as poliacuteticas educacionais
expressa a concepccedilatildeo de gestatildeo escolar assumida pela equipe diretiva concepccedilatildeo
essa que permearaacute as accedilotildees realizadas na instituiccedilatildeo refletindo na conduccedilatildeo da
elaboraccedilatildeo no projeto pedagoacutegico nas accedilotildees e interaccedilatildeo com os estudantes
professores e comunidade escolar
Nesse sentido o presente estudo tem o intuito de contribuir com possiacuteveis
avanccedilos nas discussotildees acerca do papel da equipe diretiva no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial focalizando a
Rede Puacuteblica Municipal de Ensino de Camboriuacute
21
1 POSSIBILIDADES E DESAFIOS DE UMA GESTAtildeO ESCOLAR DEMOCRAacuteTICAndashPARTICIPATIVA DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES NA VIABILIZACcedilAO DO AEE
Neste capiacutetulo apresentam-se algumas reflexotildees sobre a funccedilatildeo da escola a
organizaccedilatildeo e a gestatildeo escolar contextualizando as atribuiccedilotildees dos profissionais
que compotildeem a equipe diretiva escolar a partir da perspectiva de uma gestatildeo
democraacutetica-participativa Na sequecircncia aborda-se o Atendimento Educacional
Especializado um serviccedilo direcionado ao puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial2
procurando compreender as relaccedilotildees entre uma gestatildeo democraacutetica-participativa da
equipe diretiva e o processo de desenvolvimento desse serviccedilo especializado no
contexto escolar a partir de um balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira concernente
a essa temaacutetica nos uacuteltimos cinco anos (2011-2015) Esclarece-se que existem
outras formas de gestatildeo escolar contudo neste estudo optou-se em discutir a
gestatildeo democraacutetica-participativa por ser a forma de gestatildeo evidenciada nos
documentos oficiais nacionais inspirados em acordosdocumentos internacionais
relacionados agrave Educaccedilatildeo Especial procurando tensionar suas possibilidades e
impossibilidades no acircmbito escolar
11 Organizaccedilatildeo e Gestatildeo Escolar tecendo reflexotildees
Abordar noccedilotildees de organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar implica uma tarefa anterior
que diz respeito agrave discussatildeo da funccedilatildeo da escola no cenaacuterio atual Neste estudo
entende-se que a instituiccedilatildeo escolar eacute constituiacuteda socialmente e dessa forma ―[] eacute
determinada socialmente [] sofre a determinaccedilatildeo do conflito de interesses que
caracteriza a sociedade (SAVIANI 2009 p 28) Nesse sentido a escola eacute ao
mesmo tempo produto e produtora da sociedade em que estaacute inserida e pode tanto
contribuir para a manutenccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo social quanto para transformaacute-la
A funccedilatildeo da escola como ressaltou Paro (2012) eacute a de assegurar aos
estudantes a sistematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do conhecimento da cultura produzido
historicamente tendo em vista que eacute por meio desse conhecimento que poderatildeo se
2 Satildeo compreendidos como puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial pessoas com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo (BRASIL 2008)
22
apoderar ―[] da ciecircncia da tecnologia da filosofia da arte enfim de todas as
conquistas culturais realizadas pela humanidade em seu desenvolvimento histoacuterico
(PARO 2012 p 135)
Convergindo com a discussatildeo Saviani (2008 p 13) afirmou que ―para existir
a escola natildeo basta a existecircncia do saber sistematizado Eacute necessaacuterio viabilizar as
condiccedilotildees de sua transmissatildeo e assimilaccedilatildeo de modo que o estudante se aproprie
desse saber de forma contextualizada propiciando conexotildees com outros saberes jaacute
apreendidos convergindo para o desenvolvimento humano dos estudantes e sua
inserccedilatildeo criacutetica e criativa na sociedade
Nessa perspectiva segundo Dourado (2007 p 923) ―a educaccedilatildeo eacute entendida
como processo amplo de apropriaccedilatildeo da cultura historicamente produzida pelo
homem e a escola como loacutecus privilegiado de apropriaccedilatildeo e ressignificaccedilatildeo desses
conhecimentos Eacute nesse loacutecus que se encontra ao se considerar a maioria3 das
escolas puacuteblicas de ensino fundamental a atuaccedilatildeo da equipe diretiva que segundo
Vasconcellos (2013 p 51) eacute ―composta pelo Diretor(a) Supervisor(a)Coordenador
Pedagoacutegico e Orientador(a) Educacional profissionais que desempenham um papel
de referecircncia na escola e podem contribuir de modo significativo no processo de
escolarizaccedilatildeo dos alunos ao atuarem de forma articulada como uma equipe no
acircmbito escolar
Sobre a gestatildeo escolar Libacircneo (2015) apresentou uma contribuiccedilatildeo no que
tange agrave conceituaccedilatildeo das expressotildees organizar administrar e gerir ajudando a
pensar o sentido do termo ―gestatildeo escolar O autor expocircs que ldquoorganizar significa
―[] articular as partes de um todo prover as condiccedilotildees necessaacuterias para realizar
uma accedilatildeo administrar eacute o ato de governar de por em praacutetica um conjunto de regras
e gerir significa administrar dirigir gerenciar (LIBAcircNEO 2015 p 85 grifos nossos)
A partir dessa forma de compreender os conceitos pode-se dizer que a
organizaccedilatildeo a administraccedilatildeo e a gestatildeo escolar referem-se aos princiacutepios e
procedimentos relacionados agrave atividade de planejar o trabalho da escola utilizando
de forma responsaacutevel os recursos materiais financeiros e intelectuais disponiacuteveis
3 Optou-se por utilizar a expressatildeo ―a maioria por entender que existem especificidades entre as
esferas governamentais no que tange agrave nomenclatura eou agraves funccedilotildees relativas agrave gestatildeo escolar Por exemplo nas escolas Estaduais de Santa Catarina segundo a Lei Complementar nordm 491992 (SANTA CATARINA 1992) as funccedilotildees de supervisor e orientador satildeo denominadas como Especialista em Assuntos Educacionais e Consultor Educacional
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bem como a gestatildeo orientaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo do trabalho junto aos profissionais e
estudantes que compotildeem o coletivo escolar
Salienta-se que as formas de organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar bem como as
atribuiccedilotildees da equipe diretiva foram se constituindo historicamente nas sociedades
Contudo esse processo de constituiccedilatildeo natildeo ocorreu e natildeo ocorre de forma linear
em cada momento histoacuterico econocircmico e poliacutetico de uma sociedade A atuaccedilatildeo da
equipe diretiva no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes pode ou natildeo sofrer
modificaccedilotildees ao longo do tempo mas sempre foi e ainda eacute subsidiada por
concepccedilotildees de educaccedilatildeo escolar Como exemplo podemos citar o autor Paro
(1987) que ilustra o papel do diretor no periacuteodo da poacutes-ditadura militar (1964-1985)
o qual ainda caracterizava seu trabalho de acordo com uma abordagem burocraacutetica
autoritaacuteria e conservadora que se tornara comum na vigecircncia desse regime de
governo Sobre essa forma de realizar a funccedilatildeo diretiva na escola o autor explana
[] o maior obstaacuteculo que vejo nos dias de hoje eacute precisamente a funccedilatildeo do diretor que o coloca autoridade uacuteltima no interior da escola Esta regra astutamente mantida pela classe dominante atraveacutes do Estado confere um caraacuteter autoritaacuterio ao diretor na medida que estabelece uma hierarquia na qual ele deve ser o chefe de quem emanam todas as ordens na instituiccedilatildeo escolar leva a dividir os diversos setores no interior da escola (PARO 1987 p 52)
De acordo com o autor supracitado a gestatildeo do diretor nesse periacuteodo
destacava-se nos espaccedilos escolares pelo centralismo autoritarismo pelo caraacuteter
burocraacutetico administrativo que se sobressaiacutea em detrimento ao pedagoacutegico Nesse
modelo instaurado conferia-se ecircnfase agrave distribuiccedilatildeo rigorosa das tarefas e nessa
loacutegica cada um preocupava-se com a realizaccedilatildeo de seu trabalho de forma
individual caracterizando uma gestatildeo pouco articulada e com accedilotildees fragmentadas
Diante do exposto compreende-se que a gestatildeo escolar eacute um fenocircmeno
complexo que estaacute associado a concepccedilotildees especiacuteficas acerca do que eacute gestatildeo e
do que eacute escola que por sua vez estatildeo imbricadas a um contexto mais amplo que
envolve aspectos econocircmicos poliacuteticos e culturais de uma sociedade Para entender
as diferentes concepccedilotildees que se evidenciam no estudo da organizaccedilatildeo e gestatildeo
escolar recorre-se agrave Libacircneo (2015) que sinaliza a existecircncia de duas concepccedilotildees
bem diferentes em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola a primeira que eacute uma concepccedilatildeo
cientiacutefico-racional na qual ―[] prevalece a visatildeo mais burocraacutetica e tecnicista de
escola A escola eacute tomada como uma realidade objetiva e neutra podendo ser
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planejada organizada controlada de modo a alcanccedilar oacutetimos resultados nos
iacutendices de eficaacutecia e eficiecircncia (LIBAcircNEO 2015 p 102 grifo nosso) A segunda
concepccedilatildeo seria a ―sociocriacutetica na qual a organizaccedilatildeo escolar eacute ―[] como um
sistema que agrega pessoas destacando-se o caraacuteter intencional de suas accedilotildees a
importacircncia das interaccedilotildees sociais no seio do grupo e as relaccedilotildees da escola com o
contexto sociocultural e poliacutetico (LIBAcircNEO 2015 p 102)
Compreende-se assim que a escola natildeo eacute um espaccedilo neutro e sim um
ambiente constituiacutedo e constitutivo de relaccedilotildees sociais imediatas e mediatas o que
pressupotildee que a tomada de decisotildees seja discutida coletivamente propiciando aos
profissionais da escola a participaccedilatildeo na discussatildeo das poliacuteticas educacionais das
dificuldades no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes entre outros desafios do
cotidiano escolar
A gestatildeo escolar aleacutem de ser discutida por autores como Paro (1987) e
Libacircneo (2015) tambeacutem eacute discursada nos documentos oficiais da educaccedilatildeo
brasileira Nesse aspecto questiona-se como os gestores dos sistemas de ensino4
interpretam compreendem e subjetivam a gestatildeo escolar expressa nas poliacuteticas
educacionais e por conseguinte como esses entendimentos satildeo disponibilizados e
posteriormente subjetivados pelas equipes diretivas escolares
Considerando a complexidade de que abarca a gestatildeo escolar optou-se por
tomar os documentos oficiais como um ponto de partida para evidenciar possiacuteveis
convergecircncias eou divergecircncias entre os discursos sobre gestatildeo e o que se
vivencia no contexto escolar
Nessa direccedilatildeo nota-se que as poliacuteticas oriundas de organismos
internacionais5 delinearam e permearam a constituiccedilatildeo das poliacuteticas educacionais no
Brasil e a partir da deacutecada de 90 jaacute era possiacutevel identificar fortes impactos de
4 Segundo Saviani (2010 380-381) o Brasil ainda natildeo dispotildee de um sistema de ensino mas sim de
vaacuterios sistemas de ensino ―Daiacute expressotildees como sistema de ensino fundamentallsquo sistema de ensino meacutediolsquo sistema de ensino profissionallsquo sistema de educaccedilatildeo baacutesicalsquo sistema de ensino superiorlsquo sistema escolarlsquo sistema estadual de ensinolsquo sistema municipal de ensinolsquo sistema federal de ensinolsquo sistema de ensino comercial (industrial agriacutecola)lsquo etc como se fossem coisas diferentes quando na verdade satildeo apenas partes do mesmo sistema Para o ator um sistema pode ser definido como a unidade de vaacuterios elementos intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto coerente e operante conclui-se que o Sistema Nacional de Educaccedilatildeo eacute a unidade dos vaacuterios aspectos ou serviccedilos educacionais mobilizados por determinado paiacutes intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto coerente que opera eficazmente no processo de educaccedilatildeo da populaccedilatildeo do referido paiacutes 5Segundo Frigotto e Ciavatta (2003 p 96) ―os organismos internacionais como o Fundo Monetaacuterio
Internacional (FMI) Banco Mundial (BIRD) o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) passam a ter o papel de tutoriar as reformas dos Estados nacionais mormente dos paiacuteses do capitalismo perifeacuterico e semiperifeacuterico
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diretrizes educacionais internacionais nos sistemas de ensino e nas instituiccedilotildees
escolares brasileiras abrangendo mudanccedilas nos curriacuteculos nas responsabilidades
dos professores da gestatildeo escolar e as formas de participaccedilatildeo da famiacutelia A gestatildeo
democraacutetica enfatizada em referenciais internacionais como a Conferecircncia Mundial
sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) foi uma das premissas que comeccedilou a
figurar progressivamente em algumas poliacuteticas brasileiras
Eacute possiacutevel identificar que os documentos legais de acircmbito nacional tecircm
salientado a ―gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas Tem-se por exemplo a
Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seu art 206 preconiza que o ensino deve ser
ministrado com base no princiacutepio de gestatildeo democraacutetica A Lei de Diretrizes e Bases
da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) por sua vez prevecirc em seu art 14 que ―os
sistemas de ensino definiratildeo as normas da gestatildeo democraacutetica conforme os
princiacutepios de participaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo do Projeto
Pedagoacutegico e da comunidade escolar e local em Conselhos Escolares O Plano
Nacional de Educaccedilatildeo - PNE sancionado pela Lei no 13005 de 25 de junho de
2014 em seu art 2 inciso VI tambeacutem evidencia a ―promoccedilatildeo do princiacutepio da gestatildeo
democraacutetica na educaccedilatildeo puacuteblica de assegurar condiccedilotildees no prazo de dois anos
para a efetivaccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da educaccedilatildeo associada a criteacuterios teacutecnicos
de meacuterito e desempenho e agrave consulta puacuteblica (BRASIL 2014)
Uma vez que eacute conferida essa ecircnfase agrave gestatildeo democraacutetica nos documentos
oficiais conveacutem esclarecer o que se entende a esse respeito A Lei de Diretrizes e
Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) por exemplo associa uma gestatildeo
democraacutetica agrave participaccedilatildeo dos profissionais da escola e de modo mais abrangente
da comunidade escolar e local nesse processo No entanto seria a gestatildeo
democraacutetica sinocircnimo de uma gestatildeo participativa Entende-se que a participaccedilatildeo
de todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo eacute um dos elementos de uma
gestatildeo escolar democraacutetica mas que essa vai aleacutem da participaccedilatildeo Neste estudo
compreende-se a gestatildeo democraacutetica como um movimento de descentralizaccedilatildeo do
poder que supotildee a participaccedilatildeo de todos no planejamento das accedilotildees discussatildeo e
tomadas de decisotildees no acircmbito da escola
Destaca-se que uma gestatildeo democraacutetica-participativa6 oportuniza uma accedilatildeo
articulada e integrada entre diretor supervisor e orientador supotildee que os trecircs teratildeo
6 Optou-se por utilizar a expressatildeo democraacutetica-participativalsquo com hiacutefen inspirada em Libacircneo
(2015) por entender que democracia e participaccedilatildeo satildeo processos interdependentes natildeo eacute possiacutevel
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autonomia de atuaccedilatildeo no acircmbito da escola o supervisor propondo formaccedilatildeo aos
professores em articulaccedilatildeo com o orientador e apoio do diretor o orientador
acompanhando o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes discutindo com o
supervisor planejando estrateacutegias e abrindo a discussatildeo juntamente aos
professores e junto agraves famiacutelias com o apoio do diretor em prol do processo de
escolarizaccedilatildeo Nessa perspectiva enfatiza-se que a ―distribuiccedilatildeo do poder entre os
vaacuterios setores da escola o diretor natildeo estaraacute perdendo poder [] mas estaraacute
dividindo responsabilidade E ao acontecer isso quem ganha poder eacute a escola
(PARO 1987 p 52)
Nessa perspectiva Libacircneo (2007) esclarece que a gestatildeo democraacutetica
discursada nos documentos oficiais no entanto eacute concebida e interpretada de
formas diferentes pela sociedade civil e pela inciativa governamental Enquanto por
um lado a sociedade civil a concebe como uma conquista que pode possibilitar
maior participaccedilatildeo da comunidade escolar nos processos decisoacuterios da escola por
outro lado para a iniciativa governamental representa uma forma de diminuiccedilatildeo do
papel do Estado para prover mas ampliado para regular e gerenciar A participaccedilatildeo
nessa perspectiva eacute entendida como uma forma consensual para a implementaccedilatildeo
dos ditames do Estado Tal pressuposto por sua vez tem seu fundamento nas
reformas consolidadas no governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-1998
1998-2002) nos anos de 1990 com a aprovaccedilatildeo do Plano Diretor da Reforma do
Aparelho do Estado em 19957 o qual estabeleceu como princiacutepios as accedilotildees como
descentralizaccedilatildeo autonomia das escolas racionalizaccedilatildeo dos recursos financeiros e
participaccedilatildeo da comunidade escolar
Em meio a esses tensionamentos Michels (2006 p408) ressalta que
[] eacute no embate entre a proposiccedilatildeo poliacutetica e o cotidiano da escola que esta vai constituindo-se e organizando-se Eacute justamente nessa relaccedilatildeo que se faz importante refletir sobre a poliacutetica educacional em curso e o papel atribuiacutedo agrave educaccedilatildeo e agrave escola no Brasil []
Nessa perspectiva pode-se evidenciar que o modo de gestatildeo proposto nessa
reforma representa uma agenda de governo em que o Estado transfere parte de
falar de um sem falar de outro No entanto ainda que imbricados satildeo processos que se diferenciam a participaccedilatildeo estaacute contida na democracia mas para haver uma gestatildeo democraacutetica eacute preciso mais do que a participaccedilatildeo de todos Como afirmou Libacircneo (2015) eacute preciso assegurar a aprendizagem de todos os alunos 7 Plano diretor da reforma do aparelho do Estado BRASIL Ministeacuterio de Administraccedilatildeo Federal e da Reforma do
Estado Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado Brasiacutelia 1995
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suas responsabilidades para os sistemas de ensino e esses por conseguinte para
as escolas mas ao mesmo tempo intensifica sua forccedila reguladora junto a eles
Entretanto mesmo possuindo uma autonomia relativa8 em relaccedilatildeo agrave
organizaccedilatildeo e funcionamento das escolas as equipes diretivas podem vislumbrar
nesse contexto de reforma o desenvolvimento de uma gestatildeo participativa como um
modo de envolver o coletivo escolar nas discussotildees dos processos decisoacuterios da
escola de forma criacutetica e criativa como uma alternativa para unir forccedilas no interior
da escola e reivindicar junto ao Estado as condiccedilotildees necessaacuterias para assegurar
aos estudantes seu direito de aprender
Contudo reforccedila-se que uma gestatildeo participativa por si soacute natildeo resolve todos
os problemas da escola Ainda que seja imprescindiacutevel para uma gestatildeo
democraacutetica a participaccedilatildeo ―por si soacute natildeo eacute suficiente para a democratizaccedilatildeo da
escola pois natildeo haacute democratizaccedilatildeo verdadeira sem que seja assegurado aos
alunos o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais por meio da
apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos produzidos e acumulados historicamente (LIBAcircNEO
2015 p 24)
Identifica-se na concepccedilatildeo de Libacircneo (2015) uma ecircnfase agrave finalidade da
escola Nesse sentido destaca-se a importacircncia da equipe diretiva em organizar
suas accedilotildees tambeacutem para proporcionar momentos de discussatildeo das poliacuteticas
educacionais do processo ensino-aprendizagem e a partir daiacute traccedilar as estrateacutegias
necessaacuterias para que a escola consiga desempenhar seu papel central no processo
de escolarizaccedilatildeo de seus estudantes que eacute a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos
produzidos historicamente da cultura da ciecircncia e da tecnologia
Um exemplo de como a organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar podem proporcionar
esses momentos e se constituir como um processo participativo e democraacutetico eacute a
8 Autonomia Relativa no caso do sistema puacuteblico de ensino [] eacute sempre relativa e eacute condicionada
quer pelos poderes de tutela e de superintendecircncia do governo e da administraccedilatildeo puacuteblica quer eventualmente pelo poder local no quadro de um processo de descentralizaccedilatildeo [] (BARROSO 1996 p 20) Ainda de acordo com o autor ―a autonomia eacute um conceito relacional (sempre somos autocircnomos de algueacutem ou de alguma coisa) pelo que a sua accedilatildeo exerce sempre num contexto de interdependecircncias e num sistema de relaccedilotildees A autonomia eacute tambeacutem um conceito que exprime sempre um certo grau de relatividade somos mais ou menos autocircnomos podemos ser autocircnomos em relaccedilatildeo a umas coisas e natildeo o ser em relaccedilatildeo a outras A autonomia eacute por isso uma maneira de agir orientar as diversas dependecircncias em que os indiviacuteduos e os grupos se encontram no seu meio com suas proacuteprias leis (BARROSO 1996 p 17)
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construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico da escola Libacircneo (2015) destacou que
essa construccedilatildeo envolve a contemplaccedilatildeo de alguns itens a saber
a) Organizaccedilatildeo da vida escolar Trata-se da organizaccedilatildeo dos meios de trabalho escolar em funccedilatildeo de sua especificidade e dos objetivos educacionais propiciando as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem dos alunos [] dizem respeito a estrutura organizacional legislaccedilatildeo escolar organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico recursos materiais didaacuteticos financeiros clima de trabalho sistema participativo de tomadas de decisatildeo [] b) Organizaccedilatildeo do processo ensino aprendizagem [] suportes pedagoacutegicos necessaacuterios agrave organizaccedilatildeo do trabalho escolar Compreende o curriacuteculo a organizaccedilatildeo pedagoacutegico-didaacutetica formaccedilatildeo continuada conselhos de classe [] c) Organizaccedilatildeo das atividades de apoio teacutecnico ndash administrativo [] abrange as atividades da secretaria escolar dos especialistas pedagoacutegicos serviccedilos auxiliares serviccedilos gerais [] d) Organizaccedilatildeo de atividades que asseguram a relaccedilatildeo entre escola e comunidade [] niacuteveis superiores de gestatildeo do sistema escolar os pais as organizaccedilotildees poliacuteticas e comunitaacuterias (LIBAcircNEO 2015 p 170 grifos nossos)
Realccedila-se que esse processo de construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico eacute
perpassado por questotildees culturais sociais e poliacuteticas dos indiviacuteduos participantes
das poliacuteticas puacuteblicas e da realidade material de cada escola e nesse sentido se
configura por tensotildees e contradiccedilotildees Contudo ao promover espaccedilos para essa
construccedilatildeo de forma conjunta e dialoacutegica a escola pode se fortalecer como espaccedilo
democraacutetico envolvendo todos os profissionais e demais participantes que atuam
nesse espaccedilo para a realizaccedilatildeo dos objetivos escolares construiacutedos coletivamente
O projeto pedagoacutegico ao ser permanentemente revisitado acompanhado e
avaliado pode permitir que cada profissional reconheccedila suas responsabilidades
discuta questotildees pertinentes ao processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes e possa
construir proposiccedilotildees de forma coletiva para o enfrentamento das questotildees
deflagradas
Ainda assim mesmo que o projeto pedagoacutegico seja um importante
instrumento por meio do qual se possa efetivar uma gestatildeo democraacutetica-
participativa somente ele natildeo garante sua efetivaccedilatildeo Do mesmo modo ainda que
se preconize uma gestatildeo democraacutetica nos documentos oficiais isso isoladamente
natildeo assegura que a gestatildeo seja realizada de forma democraacutetica-participativa nas
escolas Isso porque como expocircs Michels (2004 p 44)
[] os sujeitos envolvidos [no processo de escolarizaccedilatildeo] natildeo tomam a poliacutetica como algo pronto e acabado Ao contraacuterio por mais que as
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legislaccedilotildees e as normas instituiacutedas conformem praacuteticas estas seratildeo apreendidas por sujeitos que daratildeo vida a estes encaminhamentos poliacuteticos Os sujeitos envolvidos entendem as indicaccedilotildees poliacuteticas de maneira distinta conforme suas vivecircncias seus interesses sua organizaccedilatildeo profissional entre outros Cada instituiccedilatildeo educacional acaba por ―implementar as poliacuteticas agrave sua maneira
Nessa direccedilatildeo segundo Paro (2012 p 162) a gestatildeo escolar constitui-se
―[] como um instrumento que como tal pode articular-se tanto para a conservaccedilatildeo
do status quo quanto para a transformaccedilatildeo social e tal articulaccedilatildeo guarda profunda
relaccedilatildeo com o modo como cada gestatildeo compreende as poliacuteticas e diretrizes
educacionais A forma de gestatildeo e organizaccedilatildeo escolar nesse sentido constitui e eacute
constituiacuteda pelas posiccedilotildees poliacuteticas e concepccedilotildees de homem e sociedade funccedilatildeo da
escola estudante da equipe diretiva que por sua vez podem ser vinculadas ao
contexto histoacuterico econocircmico poliacutetico social e cultural em que a escola estaacute
inserida
Com base nessa perspectiva de gestatildeo escolar no proacuteximo toacutepico seratildeo
discutidas as atribuiccedilotildees da equipe formada pelo(a) Diretor(a)
Supervisor(a)Coordenador(a) e Orientador(a) Educacional aqui denominada de
equipe diretiva escolar a fim de elucidar seu papel diante desses princiacutepios
democraacutetico-participativos que considere o objetivo primeiro da escola que eacute a
apropriaccedilatildeo de forma criacutetica e criativa pelos estudantes dos conhecimentos
historicamente produzidos pela humanidade
12 As atribuiccedilotildees da Equipe Diretiva Escolar na Perspectiva da Gestatildeo
Democraacutetica-Participativa
Para iniciar as discussotildees sobre as atribuiccedilotildees das equipes diretivas e a
complexidade de cada membro que compotildee essas equipes de trabalho buscou-se
as anaacutelises das pesquisas empreendidas por Ligeiro (2007) e Bastos (2012) com
gestores escolares sobre a temaacutetica gestatildeo escolar da escola puacuteblica nas quais as
autoras evidenciaram que gestatildeo democraacutetica-participativa natildeo eacute um trabalho
simples ao contraacuterio eacute uma accedilatildeo permeada por tensotildees e contradiccedilotildees As autoras
observaram ainda que a participaccedilatildeo do coletivo escolar nas discussotildees acerca do
processo ensino-aprendizagem bem como na construccedilatildeo das diretrizes da escola
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se constitui uma das vias possiacuteveis na construccedilatildeo da melhoria do processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes Como salientou Ligeiro (2007) com base nas
compreensotildees das diretoras
[] a gestatildeo democraacutetica aponta para uma mudanccedila na forma de administrar a instituiccedilatildeo escolar a partir do reconhecimento da participaccedilatildeo da comunidade nas decisotildees sobre as questotildees educativas Esse reconhecimento eacute necessaacuterio na medida em que passa a fazer parte da realidade escolar adquirindo um significado poliacutetico que eacute internalizado pelos sujeitos como um direito e natildeo como benevolecircncia da direccedilatildeo Essa mudanccedila de comportamento por parte da direccedilatildeo vem se processando a partir da escolha eletiva dos dirigentes pela comunidade em curso no municiacutepio de Belo Horizonte haacute mais de dez anos rompendo com a utilizaccedilatildeo do cargo de diretor para fins poliacuteticos [] verificou-se ainda avanccedilos na legitimaccedilatildeo de espaccedilo de participaccedilatildeo [] com a comunidade externa [] (LIGEIRO 2007 p169)
Por sua vez Paro (2016a) ao se debruccedilar em pesquisas sobre a temaacutetica
gestatildeo democraacutetica da escola puacuteblica evidenciou que este modo de gestatildeo eacute algo a
ser conquistado O autor reitera ainda que
[] natildeo haacute duacutevida de que podemos pensar na escola como instituiccedilatildeo que pode contribuir para a transformaccedilatildeo social Mas uma coisa eacute falar de suas possibilidades uma coisa eacute falar em teselsquo falar daquilo que a escola poderia ser Uma coisa eacute expressar a crenccedila de que na medida em que consiga na forma e no conteuacutedo levar as camadas trabalhadoras a se apropriarem de um saber historicamente acumulado e desenvolver a consciecircncia criacutetica a escola pode concorrer para a transformaccedilatildeo social outra coisa bem diferente eacute considerar que a escola que aiacute estaacute esteja cumprindo essa funccedilatildeo (PARO 2016a p 15)
Para tanto a tarefa inicial deve consistir ―em tomar consciecircncia das condiccedilotildees
concretas ou das contradiccedilotildees concretas que apontam para a viabilidade de um
projeto de democratizaccedilatildeo das relaccedilotildees no interior da escola (PARO 2016a p 13)
O autor relatou ainda que a implementaccedilatildeo de uma gestatildeo democraacutetica na escola
eacute processual e requer para sua concretizaccedilatildeo que um sistema hieraacuterquico de
autoridade9 posto agraves escolas seja repensado e transformado
Nessa direccedilatildeo propotildee-se discutir a atuaccedilatildeo da equipe diretiva agrave luz da teoria
da gestatildeo democraacutetica-participativa embora se compreenda que esse tipo de
gestatildeo estaacute por se constituir na maioria das escolas brasileiras
9O sistema hieraacuterquico de autoridade se figura quando o Estado deteacutem o controle das accedilotildees do diretor ao delegar a ele o poder lhe conferindo uma autonomia relativa e este por sua vez controla ou tenta controlar o coletivo escolar por meio da divisatildeo riacutegida do trabalho estabelecendo uma hierarquia de funccedilotildees ―Assim natildeo eacute possiacutevel falar das estrateacutegias para transformar o sistema de autoridade no interior da escola em direccedilatildeo a uma efetiva participaccedilatildeo de seus diversos setores sem levar em conta a condiccedilatildeo que vive o diretor em seus respectivos sistemas de ensino e por conseguinte na escola (PARO 2016a p 15)
31
Ressalta-se desse modo que natildeo haacute um padratildeo na compreensatildeo das
especificidades das funccedilotildees de Diretor(a) Supervisor(a)Coordenador(a) e
Orientador(a) Educacional O que se procura ilustrar a seguir satildeo algumas
possibilidades de atuaccedilatildeo que ao mesmo tempo os diferenciam no que tange ao
especiacutefico de suas funccedilotildees e os aproximam como equipe diretiva que se reuacutene em
torno de objetivos comuns criar estrateacutegias de participaccedilatildeo coletiva na organizaccedilatildeo
e funcionamento dos espaccedilos e tempos da escola tendo em vista as poliacuteticas
educacionais vigentes buscando propiciar condiccedilotildees de trabalho para todos os
profissionais Estes objetivos por sua vez estatildeo relacionados a um objetivo maior
que se refere agrave escolarizaccedilatildeo dos estudantes por meio da apropriaccedilatildeo sistematizada
dos conhecimentos produzidos historicamente
Com relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos profissionais de educaccedilatildeo para administraccedilatildeo
planejamento inspeccedilatildeo supervisatildeo e orientaccedilatildeo educacional para a educaccedilatildeo
baacutesica conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996)
em seu art 64ordm pode-se dizer que deve ser ―[] realizada em cursos de graduaccedilatildeo
em Pedagogia ou em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo a criteacuterio da instituiccedilatildeo de ensino
garantida nesta formaccedilatildeo a base comum nacional
Ainda no que tange agrave formaccedilatildeo da equipe diretiva desde 2006 a partir da
Resoluccedilatildeo nordm 1 do Conselho Nacional de EducaccedilatildeoConselho Pleno (BRASIL
2006) foram instituiacutedos os cursos de licenciatura em Pedagogia com formaccedilatildeo
plena propiciando aao graduadao exercer quaisquer das funccedilotildees que antes
exigiam habilitaccedilotildees especiacuteficas durante a graduaccedilatildeo como por exemplo a funccedilatildeo
de supervisatildeocoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo educacional
No tocante agraves responsabilidades da equipe diretiva escolar ressalta-se que
os profissionais que a compotildee no caso da rede puacuteblica tecircm suas atribuiccedilotildees
regulamentadas pela legislaccedilatildeo de seus referidos sistema de ensino (LIBAcircNEO
2015) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996)
estabelece em seu art 12ordm que as instituiccedilotildees de ensino satildeo responsaacuteveis pelas
seguintes accedilotildees
[] I ndash elaborar e executar sua proposta pedagoacutegica II ndash administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros III ndash assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas IV ndash velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente V ndash prover meios para a recuperaccedilatildeo dos alunos de menor rendimento
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VI ndash articular-se com as famiacutelias e a comunidade criando processos de integraccedilatildeo da sociedade com a escola VII ndash informar pai e matildee conviventes ou natildeo com seus filhos e se for o caso os responsaacuteveis legais sobre a frequecircncia e rendimento dos alunos bem como sobre a execuccedilatildeo da proposta pedagoacutegica da escola VIII ndash notificar ao conselho tutelar do municiacutepio ao juiz competente da comarca e ao respectivo representante do Ministeacuterio Puacuteblico a relaccedilatildeo dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei (BRASIL 1996 sp)
Percebe-se que essas accedilotildees estabelecidas na referida lei englobam as
atribuiccedilotildees dos integrantes da equipe diretiva permitindo apresentar algumas accedilotildees
pertinentes a cada participante da equipe diretiva escolar assim como apresentar
possibilidades de accedilotildees que podem ser realizadas de forma compartilhada
Iniciando pela funccedilatildeo do Diretor(a) essa parece englobar a criaccedilatildeo de
condiccedilotildees para reflexatildeo e tomada de decisatildeo coletiva acerca dos processos
educacionais Nesse sentido sua funccedilatildeo remete a accedilotildees como articular
acompanhar e mediar esses processos focalizando tanto seus aspectos
burocraacuteticos quanto pedagoacutegicos Isso implica promover de acordo com as
condiccedilotildees possiacuteveis uma estrutura e organizaccedilatildeo nos espaccedilos escolares que
promovam a escolarizaccedilatildeo de seus estudantes Paro (2010 p766) salienta que o(a)
Diretor(a)
[] ocupa uma posiccedilatildeo natildeo apenas estrateacutegica mas tambeacutem contraditoacuteria na gestatildeo da escola Esse diretor por um lado eacute considerado a autoridade maacutexima no interior na escola e isso pretensamente lhe daria um grande poder e autonomia mas por outro lado ele acaba se constituindo de fato em virtude de sua condiccedilatildeo de responsaacutevel uacuteltimo pelo cumprimento da Lei e da ordem da escola em mero proposto do Estado Uma segunda contradiccedilatildeo adveacutem do fato de que por um lado ele deve deter uma competecircncia teacutecnica e um conhecimento dos princiacutepios e meacutetodos necessaacuterios a uma adequada administraccedilatildeo dos recursos da escola mas por outro lado sua falta de autonomia em relaccedilatildeo aos escalotildees superiores e a precariedade das condiccedilotildees concretas [] [tornam-se obstaacuteculos] mdash o que estaria a merecer maior nuacutemero de anaacutelises e estudos aprofundados as quais discutem a natureza das atividades do diretor escolar e as possiacuteveis adequaccedilotildees e contradiccedilotildees dessa praacutetica diante do caraacuteter poliacutetico-pedagoacutegico da escola
Desse modo as accedilotildees do Diretor(a) dentro de um projeto coletivo e
participativo precisam estar articuladas com as accedilotildees dos demais profissionais a
exemplo do Supervisor(a)Coordenador(a) e do Orientador(a) Educacional
33
Em se tratando especificamente do Supervisor(a) Educacional10 Zieger
(2013 p 88) destaca que ele eacute o responsaacutevel na escola com o apoio do Diretor por
planejar de forma coletiva a ―construccedilatildeo do projeto poliacutetico-pedagoacutegico e de outros
projetos coordenar a construccedilatildeo do planejamento e implementaccedilatildeo de curriacuteculo e
programas ofertar apoio pedagoacutegico agrave equipe de docente com maior atenccedilatildeo agraves
atividades de ensino e avaliaccedilatildeo que propiciem a escolarizaccedilatildeo efetiva dos
estudantes Eacute responsaacutevel tambeacutem por planejar juntamente com o Diretor(a) e
Orientador(a) as reuniotildees pedagoacutegicas e a formaccedilatildeo continuada dos professores
possibilitando a reflexatildeo de sua praacutetica e propiciando assim quando necessaacuterio
ajustes nas estrateacutegias e metodologias com vistas agrave escolarizaccedilatildeo do estudante
Sobre o Orientador(a) Educacional Grinspun (2008 p 77) destaca que
atualmente esse ―[] tem o papel de mediaccedilatildeo na escola isto eacute [a Orientaccedilatildeo
Educacional] se reveste de mais um campo na escola para analisar discutir refletir
come para todos que atuam na escola ndash em especial os alunos tendo em vista o
trabalho pedagoacutegico e o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Rangel (2013) salienta que existem muitas atividades que podem ser
desenvolvidas de forma compartilhada entre Supervisor(a)Coordenador(a)
Orientador(a) e Diretor(a) com o intuito de contribuir e potencializar o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes tais como
[] a Formaccedilatildeo continuada de professores por meio de estudos dos problemas cotidianos e de conceitos teoacutericos e situaccedilotildees praacuteticas de interesse na superaccedilatildeo e nos avanccedilos do trabalho pedagoacutegico incluindo estudos sobre princiacutepios de ensino que favorecem a aprendizagem e a dinamizaccedilatildeo das aulas estudos sobre teorias de aprendizagem estudos e conceitos e procedimentos de avaliaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Conjunta de Conselho de Classe nos quais os professores se reuacutenem natildeo soacute para a avaliaccedilatildeo do aproveitamento escolar dos alunos mas para avaliaccedilatildeo do processo de ensino e aprendizagem Coordenaccedilatildeo conjunta dos conselhos de alunos nos quais os alunos se reuacutenem natildeo soacute para avaliaccedilatildeo das aulas como para a avaliaccedilatildeo de suas turmas em aspectos de participaccedilatildeo relaccedilotildees interesse motivaccedilotildees Coordenaccedilatildeo de encontros entre alunos e professores para tratar de questotildees que possam estar dificultando o entrosamento e o diaacutelogo Realizaccedilatildeo de encontros com pais sobre temas de interesse educativo que auxiliem as relaccedilotildees de aproximaccedilotildees na famiacutelia e entre ela e a escola sem perder de vista os temas que emergem das
10
Placco Souza e Almeida (2012 p 758) salientam que o termo ―supervisatildeo educacional coordenaccedilatildeo pedagoacutegica [] pode variar de acordo com o Muniacutecipio Estado ou regiatildeo
34
desigualdades e tensotildees sociais e suas consequecircncias (RANGEL 2013 p16 grifos nossos)
Essas atividades compartilhadas demonstram o quanto a equipe diretiva
escolar pode construir e desenvolver coletivamente no sentido de (re)pensar e
(re)elaborar o trabalho realizado na escola focalizando o processo de escolarizaccedilatildeo
dos estudantes e respeitando suas singularidades
Percebe-se ainda a relevacircncia da equipe diretiva no sentido de planejar
momentos de construccedilatildeo coletiva junto aos professores para que esses possam
dialogar e discutir sobre o processo de escolarizaccedilatildeo com o intuito de construir
estrateacutegias de ensino que propiciem alternativas de escolarizaccedilatildeo mais efetiva para
os estudantes Evidencia-se poreacutem que a constituiccedilatildeo de um processo de gestatildeo
escolar democraacutetico-participativo se apresenta como um desafio para as escolas
que por vezes natildeo encontram condiccedilotildees objetivas para atuarem dessa forma
No proacuteximo subcapiacutetulo buscar-se-aacute compreender as relaccedilotildees entre uma
gestatildeo escolar democraacutetica-participativa e o Atendimento Educacional
Especializado focalizando o processo de desenvolvimento desse serviccedilo no
contexto escolar
13 Equipe Diretiva na organizaccedilatildeo escolar frente ao AEE aproximaccedilotildees e
distanciamentos
Para iniciar uma discussatildeo a respeito da gestatildeo escolar em relaccedilatildeo agrave
Educaccedilatildeo Especial e mais especificamente ao Atendimento Educacional
Especializado optou-se por primeiramente elencar alguns documentos legais que
podem subsidiar a atuaccedilatildeo da equipe diretiva escolar nesse acircmbito Dentre esses
documentos podem ser citados a Constituiccedilatildeo Federal (BRASIL 1988) a
Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) a Declaraccedilatildeo de
Salamanca (UNESCO 1994) a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
(BRASIL 1996) a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da
Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) e a Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 4 (BRASIL 2009)
35
que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado
na Educaccedilatildeo Baacutesica11
Desses documentos pode-se apreender de modo geral um entendimento da
educaccedilatildeo como direito fundamental de todos independentemente das diferenccedilas
individuais No que se refere agrave poliacutetica e agraves diretrizes brasileiras relacionadas agrave
Educaccedilatildeo Especial e ao Atendimento Educacional Especializado nota-se um foco
no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
preferencialmente na Rede Municipal de Ensino Supotildee-se que instituir
possibilidades de discussatildeo dos documentos acima referidos juntamente com o
coletivo escolar eacute fundamental para a compreensatildeo da EE e do AEE assim como as
formas de viabilizaacute-los
Embora as leis sejam importantes elas se configuram como um documento
orientador da poliacutetica Contudo a forma como acontece sua materializaccedilatildeo eacute
permeada tambeacutem pelos interesses dominantes na sociedade e pela compreensatildeo
de cada equipe diretiva e os profissionais da educaccedilatildeo os quais satildeo responsaacuteveis
pela sua organizaccedilatildeo e materializaccedilatildeo no acircmbito escolar
Para avanccedilar na compreensatildeo do atendimento educacional especializado e
sua relaccedilatildeo com a equipe diretiva escolar acredita-se que pode ser esclarecedor
explicar de forma breve a Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 42009 e o Decreto 76112011 A
referida Resoluccedilatildeo que regulamenta as Diretrizes Operacionais para o Atendimento
Educacional Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica enfatiza que a elaboraccedilatildeo e a
execuccedilatildeo do plano de AEE eacute de competecircncia do professor da sala de recursos
multifuncionais ―em articulaccedilatildeo com os professores do ensino regular com a
participaccedilatildeo das famiacutelias e em interface com os demais serviccedilos setoriais da sauacutede
da assistecircncia social entre outros necessaacuterios ao atendimento (BRASIL 2009 p
2)
Ainda que o professor atuante no AEE seja responsaacutevel por elaborar e
executar o plano desse atendimento compreende-se que a equipe diretiva ao
participar dessa construccedilatildeo pode propiciar um suporte e uma integraccedilatildeo do plano
do AEE com o projeto poliacutetico-pedagoacutegico da escola aleacutem de se perceber como um
11 Aleacutem desses documentos ainda se destaca o Decreto 76112011 que reitera os princiacutepios da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) no que concerne o AEE a Lei 131462015 que instituiu a Lei Brasileira de Inclusatildeo da Pessoa com Deficiecircncia e o Estatuto da Pessoa com Deficiecircncia que reafirma o exposto no Decreto 76112011 sobre o AEE e daacute outras providecircncias
36
dos protagonistas imprescindiacuteveis para o processo de escolarizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial
Nesse sentido Vioto (2013) enfatiza que para a realizaccedilatildeo do AEE no espaccedilo
escolar eacute importante haver adequaccedilotildees natildeo soacute na acessibilidade arquitetocircnica
pedagoacutegica e de recursos humanos mas principalmente quebra de barreiras
atitudinais12 da gestatildeo e dos demais profissionais da escola
[] sabemos que sem mudanccedila de postura dos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao processo de ensino junto aos alunos com NEE na sala de aula do ensino regular natildeo haacute como desenvolver o processo de aprendizagem dos referidos alunos Logo para que ocorra essa mudanccedila faz-se necessaacuteria a conscientizaccedilatildeo de todos os envolvidos no processo educacional inclusivo de que os alunos independentemente de suas NEE possuem caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e que dentro do processo de aprendizagem estas devem ser levadas em consideraccedilatildeo (VIOTO 2013 p78)
A autora supracitada ressalta que para elaborar um planejamento pedagoacutegico
que contribua com a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos sistematizados e produzidos
historicamente por parte dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial um
caminho eacute reconhecer suas especificidades e considerar as suas potencialidades
pois focar nas suas limitaccedilotildees culminaria em um planejamento limitado privando o
estudante de seu direito de aprender e desenvolver sua autonomia Nesse sentido
enfatiza-se a responsabilidade da equipe diretiva escolar para que a escola consiga
realizar sua funccedilatildeo pensando na formaccedilatildeo integral do aluno com e sem deficiecircncia
[] uma escola organizada para assegurar a apropriaccedilatildeo de conhecimentos habilidades valores atitudes por meio do processo ensino aprendizagem que visa o desenvolvimento cognitivo afetivo dos alunos [] capaz de articular no seu curriacuteculo e em suas praacuteticas pedagoacutegico-didaacuteticas a formaccedilatildeo cultural e cientiacutefica [] Nessa escola o papel da organizaccedilatildeo e gestatildeo eacute propiciar o ambiente social necessaacuterio e as condiccedilotildees institucionais humanas materiais para a realizaccedilatildeo do processo ensino-aprendizagem Ou seja diretores coordenadores pedagoacutegicos e professores tecircm a responsabilidade profissional e eacutetica de fazerem funcionar na escola praacuteticas de organizaccedilatildeo e gestatildeo que sejam propulsoras de um determinado tipo de aprendizagem aquela que promove e amplia o desenvolvimento
12
Silva (2012 p 14 e 15) apoiada em Lima e Tavares (2007) explicita que ―[] as barreiras atitudinais satildeo barreiras sociais geradas mantidas fortalecidas por meio de accedilotildees omissotildees e linguagens produzidas ao longo da histoacuteria humana num processo tridimensional o qual envolve cogniccedilotildees afetos e accedilotildees contra a pessoa com deficiecircncia ou quaisquer grupos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade resultando no desrespeito ou impedimento aos direitos dessas pessoas limitando-as ou incapacitando-as para o exerciacutecio de direitos e deveres sociais satildeo abstratas para quem as produz e concretas para quem sofre seus efeitos
37
intelectual e o desenvolvimento integral dos alunos (LIBAcircNEO 2015 p 13)
A organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar realizada pela equipe diretiva de uma forma
como a supracitada pode ser compreendida como um trabalho que rompe com o
comumente realizado Trata-se de uma forma de gestatildeo e que se configura como
um processo coletivo e contextualizado que requer condiccedilotildees objetivas e subjetivas
que sustentem a sua construccedilatildeo Sobre isso Lira (2012 p 106) salienta que se tem
―visto que as condiccedilotildees que se apresentam no cotidiano escolar tecircm favorecido para
que se mantenham presentes as praacuteticas estanques separadas com poucas
referecircncias de compartilhamento de trocas entre os profissionais Nesse sentido
romper com essa loacutegica eacute um desafio coletivo no qual se vislumbra o importante
papel da equipe diretiva escolar que tanto pode contribuir para manter essa loacutegica
individualizada de praacuteticas pedagoacutegica estanques e individualizadas no interior da
escola como tambeacutem pode favorecer a instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos para
discutir e refletir sobre as praacuteticas pedagoacutegicas e suas implicaccedilotildees no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes Assim a instituiccedilatildeo de uma gestatildeo democraacutetica no
entanto pode ser um caminho para possibilitar trocas e compartilhamentos fazendo
circular novas formas de se fazer a gestatildeo escolar Paro (2016a) salienta ainda que
a gestatildeo democraacutetica dentre outros fatores implica na participaccedilatildeo de todos os
envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes nas decisotildees sobre os
objetivos e funcionamento da escola o que pode culminar dessa forma em
melhores condiccedilotildees para reivindicar junto ao Estado os recursos necessaacuterios para
viabilizar as accedilotildees no acircmbito escolar
No que tange portanto agrave equipe diretiva frente ao processo de
implementaccedilatildeo do AEE identifica-se um papel fundamental dessa dentre outros
aspectos no tocante agrave formaccedilatildeo continuada dos profissionais na construccedilatildeo
coletiva do projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola na proposiccedilatildeo de momentos de
discussatildeo das questotildees pertinentes ao processo de escolarizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial
No proacuteximo capiacutetulo se apresentaraacute um balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica
brasileira concernente agrave temaacutetica ―gestatildeo escolar e Atendimento Educacional
Especializado referente ao periacuteodo de 2011 a 2015
38
14 A produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre Gestatildeo Escolar e Atendimento
Educacional Especializado um campo a explorar
O mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica teve como objetivo conhecer as
pesquisas que tenham abordado a temaacutetica da gestatildeo escolarequipe diretiva
escolar em relaccedilatildeo ao AEE Para tanto realizou-se uma pesquisa em quatro bases
de dados 1) ANPEd (Associaccedilatildeo Nacional de Pesquisadores em Educaccedilatildeo mais
especificamente no GT 15 ndash Educaccedilatildeo Especial) 2) CAPES (Banco de Teses e
Dissertaccedilotildees da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior) 3)
BDTD (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaccedilotildees) e 4) SciELO (Biblioteca
Cientiacutefica Eletrocircnica Online)13
A busca utilizou primeiramente os descritores ―equipe diretiva e ―AEE
Contudo nenhuma produccedilatildeo foi encontrada Com isso optou-se por construir
descritores14 que se aproximassem do tema proposto como ―gestatildeo escolar
―supervisor educacional ―orientador educacional ―diretor educacional e
―coordenaccedilatildeo pedagoacutegica como referecircncia para listar a produccedilatildeo cientiacutefica na aacuterea
de Educaccedilatildeo sendo que as expressotildees foram pesquisadas no campo palavras-
chave
A tabela a seguir mostra os resultados das buscas realizadas nas referidas
bases de dados No total foram encontrados cinco trabalhos sobre a temaacutetica no
periacuteodo considerado (2011 a 2015) dos quais dois referiram-se especificamente agrave
gestatildeo escolar e AEE dois agrave supervisatildeo educacional e a coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e
AEE e um sobre sala de apoio pedagoacutegico e coordenaccedilatildeo pedagoacutegica
Tabela 1 ndash Mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Fonte Expressotildees Pesquisadas Resultado Geral
ANPEd Nacional
(GT 15)
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial
Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva gestatildeo escolar + AEE
gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE
2
14
Na Tabela 1 satildeo especificados todos os descritores utilizados neste balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica
39
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
BDTD
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE
Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva
gestatildeo escolar + AEE gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
1
CAPES
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE
Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva
gestatildeo escolar + AEE gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
2
SciELO
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial
Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva gestatildeo escolar + AEE
gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
0
40
inclusatildeo
diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE diretor +educaccedilatildeo especial
diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva supervisor Educacional + AEE
supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo orientador Educacional +educaccedilatildeo especial
orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva orientador Educacional + AEE
Total 05
Fonte Primaacuteria (2016)
O resultado da pesquisa demonstrou uma baixa quantidade de trabalhos que
abrangessem a temaacutetica revelando a ―gestatildeo escolar e o AEE como um campo de
estudos e pesquisas ainda a ser explorado Dentre os cinco trabalhos encontrados
dois corresponderam a artigos e trecircs a dissertaccedilotildees de mestrado Na tabela a
seguir estatildeo descritos os tiacutetulos dos trabalhos bem como seus autores e a
instituiccedilatildeo de ensino em que foram produzidos
Tabela 2 ndash Trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Autor (Ano) Tiacutetulo Tipo de
Trabalho
Instituiccedilatildeo de
Ensino Fonte
Vioto
(2013)
O papel do supervisor pedagoacutegico no processo de inclusatildeo de alunos com
necessidades educacionais especiais uma pesquisa colaborativa
Dissertaccedilatildeo de
Mestrado
Universidade do
Oeste Paulista BDTD
Silveira (2012)
Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o acompanhamento como fator de mudanccedila
Artigo Universidade
Federal do Cearaacute
ANPEd Nacional (GT 15)
Vioto e Vitaliano
(2012)
O papel da gestatildeo pedagoacutegica frente ao processo de inclusatildeo dos alunos com
necessidades educacionais especiais
Artigo Universidade do Oeste Paulista
ANPEd Nacional
(GT 15)
Lira
(2012)
A coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e o processo de inclusatildeo do aluno com necessidades
educacionais especiais um estudo de caso
Dissertaccedilatildeo de
Mestrado
Universidade
Federal do Rio Grande do Norte
CAPES
Santos (2011)
Gestatildeo escolar para uma escola inclusiva conquistas e desafios
Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Universidade do Oeste Paulista
CAPES
Fonte Primaacuteria (2016)
Nota-se que os trabalhos foram produzidos por diferentes instituiccedilotildees de
ensino que abrangem apenas as regiotildees sudeste e nordeste do Brasil
Um ponto que chamou atenccedilatildeo portanto foi a recorrecircncia de pesquisas
publicadas na regiatildeo sudeste do Brasil pela Universidade do Oeste Paulista Tal
recorrecircncia entretanto pode estar vinculada ao fato do programa de mestrado em
41
Educaccedilatildeo da UNOESTE disponibilizar uma linha de pesquisa intitulada Instituiccedilatildeo
Educacional Organizaccedilatildeo e Gestatildeo favorecendo assim a incidecircncia de pesquisas
na aacuterea de gestatildeo escolar
As produccedilotildees acadecircmicas apresentaram em comum uma discussatildeo da
relaccedilatildeo entre um dos profissionais que compotildeem a gestatildeo escolar e a educaccedilatildeo
especialinclusiva com exceccedilatildeo dos estudos de Silveira (2012) e Santos (2011) que
versaram suas discussotildees abordando mais profissionais que constituem a gestatildeo
escolar Pelo fato de que nas pesquisas encontradas somente o estudo de Silveira
(2012) tomou a equipe diretiva como um todo por objeto de estudo considera-se
que esse artigo pode se configurar como mais um avanccedilo na exploraccedilatildeo das
relaccedilotildees entre gestatildeo escolar e AEE pois parte do princiacutepio que a gestatildeo escolar eacute
formada por uma equipe com accedilotildees articuladas no que se refere agrave realizaccedilatildeo desse
atendimento no acircmbito escolar e por isso se propotildee a estudar essa gestatildeo a partir
do conjunto de profissionais (diretor supervisorcoordenador e orientador) que a
compotildeem Na Tabela 3 a seguir satildeo especificados os objetivos dos trabalhos
mapeados
Tabela 3 ndash Objetivos dos trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Autor
(Ano) Tiacutetulo Objetivo do Trabalho
Vioto
(2013)
O papel do supervisor pedagoacutegico no processo de inclusatildeo de alunos com
necessidades educacionais especiais uma pesquisa colaborativa
Desenvolver um processo de intervenccedilatildeo junto agrave Supervisatildeo Pedagoacutegica de uma escola Municipal de Londrina que ofereccedila Ensino Fundamental I com vistas a favorecer o
processo de inclusatildeo de alunos com NEE no ensino regular por meio de uma pesquisa colaborativa
Silveira
(2012)
Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o
acompanhamento como fator de mudanccedila
Apresentar elementos de uma pesquisa desenvolvida em uma escola puacuteblica da rede municipal de uma capital do Nordeste Buscamos evidenciar as caracteriacutesticas da gestatildeo
da escola e aplicar estrateacutegias de acompanhamento visando agrave transformaccedilatildeo das praacuteticas de gestatildeo
Vioto e
Vitaliano (2012)
O papel da gestatildeo pedagoacutegica
frente ao processo de inclusatildeo dos alunos com necessidades educacionais especiais
Contribuir para a reflexatildeo sobre o papel do gestor
pedagoacutegico frente ao processo de construccedilatildeo de escolas inclusivas
Lira
(2012)
A coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e o processo de inclusatildeo do aluno
com necessidades educacionais especiais um estudo de caso
Centrar no papel coordenaccedilatildeo pedagoacutegica em face
da inclusatildeo escolar de alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE)
Santos
(2011)
Gestatildeo escolar para uma escola inclusiva conquistas e
desafios
Identificar as accedilotildees desenvolvidas pela gestatildeo escolar com vistas a construir uma escola inclusiva em uma escola
puacuteblica
Fonte Primaacuteria (2016)
42
Partindo dos objetivos das produccedilotildees acadecircmicas buscou-se extrair delas
algumas compreensotildees consideradas pertinentes ao presente estudo Para isso as
referidas produccedilotildees foram organizadas em duas sessotildees de anaacutelise
A primeira sessatildeo de anaacutelise integra duas pesquisas sobre a gestatildeo escolar
de autoria de Silveira (2012) e Santos (2011) que se debruccedilaram sobre o papel da
gestatildeo escolar na constituiccedilatildeo de uma escola inclusiva Na pesquisa de Silveira
(2012) um artigo resultante de sua tese de doutorado defendida em 2009 analisou
a atuaccedilatildeo do grupo gestor (diretor(a) supervisor (a) e orientador (a) por meio da
teacutecnica da pesquisa-accedilatildeo colaborativa empreendendo uma intervenccedilatildeo e
acompanhamento de uma escola por um periacuteodo de 28 meses A pesquisa buscou
―evidenciar as caracteriacutesticas da gestatildeo da escola e aplicar estrateacutegias de
acompanhamento visando agrave transformaccedilatildeo das praacuteticas de gestatildeo mudanccedila de
concepccedilotildees e na cultura do acolhimento e da cultura de desenvolvimento
profissional (SILVEIRA 2012 p 1)
A autora ressaltou que ao longo da pesquisa foram perceptiacuteveis os avanccedilos
na escola pesquisada e cita como exemplo a vivecircncia de uma
[] nova perspectiva de atendimento [que] provocou aleacutem do acolhimento do estudante com deficiecircncia uma tomada de consciecircncia da forma de organizaccedilatildeo e gestatildeo da escola bem como da inadequaccedilatildeo dos meacutetodos pedagoacutegicos tradicionais O diretor ao assumir a escola natildeo conhecia os pressupostos baacutesicos de uma escola inclusiva Essa era a sua primeira experiecircncia como gestor e era visiacutevel sua inseguranccedila decorrente da falta de experiecircncia no cargo Durante cerca de dois anos e meio na escola pudemos perceber a sua evoluccedilatildeo ou seja ele passa de uma atuaccedilatildeo inicial insegura pouco firme no sentido das tomadas de decisotildees para accedilotildees e posiccedilotildees mais determinadas e coerentes (SILVEIRA 2012 p 4)
Em sua anaacutelise a autora expocircs ainda que o ―acompanhamento e a gestatildeo
compartilhada satildeo beneacuteficos sendo essencial que os membros da escola busquem
cada vez mais o aperfeiccediloamento de praacuteticas de colaboraccedilatildeo (SILVEIRA 2009 p
8) Salientou ainda que para colocar em praacutetica uma gestatildeo escolar que leve em
conta a construccedilatildeo de uma escola pautada em princiacutepios democraacutetico-participativos
eacute preciso pensar em programas de formaccedilatildeo de gestores que se encaminhem para
aleacutem dos programas tradicionais de formaccedilatildeo burocraacutetica investindo em um
trabalho colaborativo no acircmbito escolar
43
Contudo sabendo que as transformaccedilotildees percebidas ocorreram em parte
mediante acompanhamento e momentos de formaccedilatildeo propostos pela pesquisadora
com a equipe gestora e professores evidencia-se a importacircncia da formaccedilatildeo
continuada em serviccedilo que contribua para a praacutetica escolar reflexiva e para o
desenvolvimento da autonomia dos gestores escolares de modo que possam criar
condiccedilotildees para praacuteticas democraacuteticas-participativas no acircmbito escolar
A pesquisa de Santos (2011) por sua vez se propocircs a identificar as accedilotildees
desenvolvidas pela gestatildeo escolar (diretor (a) vice-diretor(a) e coordenador(a)
pedagoacutegico) na constituiccedilatildeo do serviccedilo de Educaccedilatildeo Especial na escola A autora
evidenciou que a efetivaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial no acircmbito da escola pesquisada
ainda se mostrava um desafio uma vez que os gestores pesquisados natildeo tinham
definido o conceito e os princiacutepios que orientariam tal proposta bem como
―apresentaram praacuteticas de gestatildeo escolar para a Educaccedilatildeo Especial pontuais
isoladas e natildeo estando fundamentadas organizadas ou planejadas nas diretrizes
gerais da escola (SANTOS 2011 p 79) Os resultados de seu estudo convidam agrave
reflexatildeo sobre a importacircncia de se conhecer as concepccedilotildees da equipe diretiva
acerca das propostas de Educaccedilatildeo Especial e como tais concepccedilotildees se articulam
com sua forma de trabalho
Na segunda seccedilatildeo de anaacutelise da tabela 3 se localizam os trabalhos que
discutiram o papel do(a) CoordenadorSupervisor(a) Pedagoacutegico frente ao processo
de construccedilatildeo de uma proposta de Educaccedilatildeo Inclusiva Entre esses estatildeo as
pesquisas de Vioto e Vitaliano (2012) Lira (2012) e Vioto (2013) Aleacutem do objeto de
estudo evidenciou-se outro ponto em comum que eacute a defesa da potecircncia do
trabalho colaborativo na escola para o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Vioto e Vitaliano (2012) realizaram uma pesquisa bibliograacutefica com o objetivo
de contribuir para a reflexatildeo sobre o papel do coordenador pedagoacutegico frente ao
processo de construccedilatildeo de escolas inclusivas Como resultado as autoras inferem
que para a constituiccedilatildeo de uma escola inclusiva o coordenador pedagoacutegico tem
atribuiccedilotildees importantes a serem desenvolvidas no acircmbito escolar como auxiliar os
professores no desenvolvimento de metodologias e estrateacutegias de ensino
diferenciadas que favoreccedila o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial Aleacutem disso estaacute entre suas atribuiccedilotildees possibilitar
momentos de formaccedilatildeo e reflexatildeo em relaccedilatildeo agraves praacuteticas pedagoacutegicas de modo
44
que todos os profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
possam ―participar na definiccedilatildeo dos objetivos no planejamento bem como na
elaboraccedilatildeo de propostas e planos de accedilatildeo que possibilite a quebra das barreiras
que estejam impedindo o processo de aprendizagem (VIOTO E VITALIANO 2012
p 14)
A pesquisa de Lira (2012) por sua vez teve como objetivo investigar a
atuaccedilatildeo dos coordenadores pedagoacutegicos no processo de inclusatildeo dos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial A autora identificou em sua pesquisa que os
coordenadores pedagoacutegicos assumiam uma rotina na escola de resoluccedilatildeo de
problemas urgentes e emergentes como falta de profissionais de condiccedilotildees fiacutesicas
estruturais e materiais precarizando a realizaccedilatildeo de suas funccedilotildees Demandas como
essas podem desfavorecer a atuaccedilatildeo do coordenador (a) pedagoacutegico(a) com os
professores e demais especialistas visto que esse profissional passa a voltar-se
mais a demandas burocraacuteticas secundarizando os demais aspectos como o
pedagoacutegico
Assim as atribuiccedilotildees pertinentes ao(agrave) Coordenador(a) Pedagoacutegico(a) como
o auxiacutelio aos professores o planejamento de momentos formativos compara os
professores e a elaboraccedilatildeo de forma coletiva do projeto-politico pedagoacutegico da
instituiccedilatildeo dentre outras satildeo desvirtuadas de seu propoacutesito comprometendo a
constituiccedilatildeo de um trabalho colaborativo dialoacutegico e reflexivo dentro do espaccedilo
escolar
Jaacute Vioto (2013) em seu estudo se pautou na metodologia de pesquisa
colaborativa e realizou uma intervenccedilatildeo direta na escola auxiliando-a na construccedilatildeo
de um trabalho colaborativo o qual resultou em uma reestruturaccedilatildeo das relaccedilotildees
construiacutedas na escola Como colocou a autora
[] os resultados evidenciaram que a supervisora pedagoacutegica e a maioria dos professores inicialmente apresentavam concepccedilotildees equivocadas a respeito do processo de inclusatildeo o qual foi trabalhado em ciclos de estudos conversas reflexivas e atuaccedilotildees colaborativas envolvendo pesquisadora e os participantes Tambeacutem foram discutidos o papel do professor de apoio e da sala de recursos junto agrave supervisora pedagoacutegica e as praacuteticas pedagoacutegicas dos professores em sala de aula As experiecircncias e reflexotildees proporcionadas por esta pesquisa nos permitiram constatar e reafirmar a importacircncia do trabalho do supervisor pedagoacutegico no que se refere agrave organizaccedilatildeo da escola inclusiva bem como as contribuiccedilotildees do trabalho colaborativo como meio de formaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo [] (VIOTO 2013 p 07)
45
O trabalho colaborativo realizado entre pesquisadora e profissionais da escola
por meio de experiecircncias e reflexotildees remeteu agrave constataccedilatildeo desse como um
aspecto importante a se considerar ao refletir sobre o papel da gestatildeo escolar frente
ao processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Pode-se pensar nesse sentido que o trabalho colaborativo emerge como um dos
meios para que o vieacutes democraacutetico-participativo da gestatildeo proposto nos documentos
oficiais seja vivenciado no cotidiano escolar
Garcia Hypoacutelito e Vieira (2005) fazem um contraponto agraves possibilidades do
trabalho colaborativo na escola o qual pode ser instituiacutedo tambeacutem de forma
perversa de modo a conformar praacuteticas no interior da escola Sobre esse aspecto de
entendimento os autores explicam ainda que
[] muitas vezes essas praacuteticas de colaboraccedilatildeo podem ser colonizadas e controladas pelas burocracias educacionais tornando tais praacuteticas uma verdadeira ―camisa-de-forccedila ora pela imposiccedilatildeo de formas colegiadas de trabalho ora por procedimentos burocraacuteticos que satildeo a proacutepria antiacutetese de um profissionalismo autocircnomo (GARCIA HYPOacuteLITO E VIEIRA 2005 p50)
Assim haacute que se pensar o trabalho colaborativo de forma contextualizada
considerando suas possibilidades e contradiccedilotildees Como alerta Paro (2016a p55)
natildeo se pode esperar por condiccedilotildees excelentes de trabalho proporcionarem por si
soacute ―a ocorrecircncia de relaccedilotildees democraacuteticas e colaborativas da mesma forma natildeo haacute
como ignorar que a ausecircncia dessas condiccedilotildees pode contribuir para o retardamento
de mudanccedilas que favoreccedilam o estabelecimento de tais relaccedilotildees
Perante o exposto o desafio posto agraves equipes diretivas eacute conseguir constituir
um trabalho dentro dos espaccedilos escolares envolvendo a participaccedilatildeo dos
professores e demais profissionais pais e estudantes na constituiccedilatildeo dos objetivos
e nos processos decisoacuterios da instituiccedilatildeo como forma de obter melhores condiccedilotildees
para pleitear junto aos sistemas de ensino os recursos necessaacuterios para a
realizaccedilatildeo das accedilotildees dentro da escola
Nesse sentido a questatildeo do trabalho colaborativo e participativo as
condiccedilotildees objetivas de trabalho e as concepccedilotildees acerca de questotildees que envolvem
a Educaccedilatildeo Especial surgem como pontos de tensatildeo relevantes e cuja discussatildeo
pode contribuir para o que esta pesquisa se propotildee a investigar as compreensotildees
das equipes diretivas escolares sobre Atendimento Educacional Especializado e
suas formas de viabilizaacute-lo
46
2 PROCESSO DE CONSTITUICcedilAtildeO DA PESQUISA CAMINHOS TRACcedilADOS E PERCORRIDOS
Com o objetivo de Investigar as compreensotildees das equipes diretivas
escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado e suas formas de
viabilizaacute-lo na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute realizou-se uma pesquisa de
abordagem qualitativa que tem como fundamento alguns pressupostos da base
epistecircmico-metodoloacutegica do materialismo histoacuterico e dialeacutetico que ―[] percebe os
sujeitos como histoacutericos datados concretos marcados por uma cultura como
criadores de ideias e consciecircncia que ao produzirem e reproduzirem a realidade
social satildeo ao mesmo tempo produzidos e reproduzidos por ela (FREITAS 2002 p
22)
A partir dessa perspectiva de sujeito a abordagem qualitativa mostrou-se
profiacutecua para alcanccedilar os objetivos da pesquisa uma vez que nela se ―[] busca a
interpretaccedilatildeo em lugar da mensuraccedilatildeo a descoberta em lugar da constataccedilatildeo []
[levando] em conta todos os componentes de uma situaccedilatildeo em suas interaccedilotildees e
influecircncias reciprocas (GATTI e ANDREacute 2013 p 30) Ressalta-se ainda que
[] as pesquisas chamadas de qualitativas vieram a se constituir em uma modalidade investigativa que se consolidou para responder ao desafio da compreensatildeo dos aspectos formadoresformantes do humano de suas relaccedilotildees e construccedilotildees culturais em suas dimensotildees grupais comunitaacuterias ou pessoais (GATTI e ANDREacute 2013 p 30)
Utilizar a abordagem qualitativa para a execuccedilatildeo de uma pesquisa nesse
sentido implica considerar tanto os dados obtidos na investigaccedilatildeo quanto o
contexto em que esses dados satildeo produzidos procurando compreender os aspectos
histoacuterico-sociais tendo em vista as especificidades e a natildeo neutralidade do
pesquisador (LUumlDKE e ANDREacute 2013)
47
21 Os caminhos da pesquisa local participantes e instrumentos
Com relaccedilatildeo ao local de realizaccedilatildeo da pesquisa foi escolhida a Rede
Municipal de Ensino de Camboriuacute muniacutecipio localizado no litoral norte de Santa
Catarina com uma populaccedilatildeo aproximada de 74434 habitantes (IBGE 2015)
Essa Rede eacute gerenciada pela Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo e atualmente
atende aos seguintes niacuteveis de ensino Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e
Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos ndash EJA
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais de 2015 o nuacutemero total de alunos matriculados na Rede Municipal de
Ensino em 2015 eacute de 10401 estudantes (INEP 2015)
O caminho percorrido no processo de coleta de dados envolveu
primeiramente a realizaccedilatildeo de uma reuniatildeo com a Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo
e a Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria de Educaccedilatildeo de Camboriuacute com o
objetivo de levantar informaccedilotildees consideradas relevantes para a constituiccedilatildeo da
pesquisa como o nuacutemero total de escolas municipais o nuacutemero de escolas que
ofertam o AEE e a composiccedilatildeo da equipe gestora da escola
Os dados obtidos na reuniatildeo apontaram que a Rede Municipal de Ensino de
Camboriuacute contava em 2015 com 12 escolas urbanas e 03 escolas de campo
Em relaccedilatildeo agrave equipe gestora foco desta pesquisa informou-se que era
composta na maioria das escolas pelo(a) diretor(a) supervisor(a) e orientador(a)
Na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute a oferta do Atendimento
Educacional Especializado teve seu iniacutecio em 2013 e portanto pode-se dizer que se
trata de um serviccedilo recente que estaacute em processo de constituiccedilatildeo no municiacutepio
Em relaccedilatildeo aos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial a
Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo informou que foram
matriculados em 2015 166 estudantes em classes comuns nas escolas municipais
da Rede Assim ao consultar a base de dados do INEP de 2015 identificou-se um
nuacutemero de 182 estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial matriculados na
referida Rede observando uma diferenccedila de 16 estudantes
Ao comparar os dados fornecidos pelo INEP referentes ao ano de 2015
(INEP 2015) no que tange ao nuacutemero de matriacuteculas na Educaccedilatildeo Especial (182) na
Rede Municipal de Camboriuacute com os dados relativos ao total de matriculas (10401)
48
pocircde-se constatar que o percentual de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo
Especial correspondeu no referido ano a 2 do nuacutemero total de alunos
matriculados nessa Rede
Considerando esse dado para a seleccedilatildeo dos participantes estabeleceram-se
quatro criteacuterios de inclusatildeo de acordo com os quais a equipe diretiva deveria
1) Ser composta por diretor(a) escolar supervisor(a)coordenador(a)
pedagoacutegico e orientador(a) educacional
2) Atuar na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute
3) Atuar em escola com estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
4) Ter o questionaacuterio respondido por todos os seus integrantes
A partir dessas informaccedilotildees elaborou-se o projeto desta pesquisa e em
consonacircncia com os objetivos deste estudo escolheu-se um instrumento de coleta
de dados que pudesse contribuir com o processo de compreensatildeo da relaccedilatildeo entre
a equipe diretiva e o Atendimento Educacional Especializado
Para a coleta de dados junto agrave equipe diretiva optou-se pelo questionaacuterio
que conforme Gil (1999 p 128) pode ser definido
[] como a teacutecnica de investigaccedilatildeo composta por um nuacutemero mais ou menos elevado de questotildees apresentadas por escrito agraves pessoas tendo por objetivo o conhecimento de opiniotildees crenccedilas sentimentos interesses expectativas situaccedilotildees vivenciadas etc
A escolha do questionaacuterio como instrumento de coleta de dados converge
com a busca por dados mais abrangentes capilarizados que ajudem a tirar uma
foto da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute no que tange agrave relaccedilatildeo entre equipe
diretiva e o AEE
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do projeto marcou-se uma segunda reuniatildeo para
apresentaacute-lo agraves coordenadoras da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo que leram o
projeto e relataram que o referido estudo se apresentava como uma forma de a
Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo compreender o que precisa ser potencializado e o
que se mostra como exemplo positivo no que tange agrave gestatildeo escolar e o AEE
A Coordenadora Geral da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo representando a
Secretaacuteria de Educaccedilatildeo se mostrou favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo do projeto assinando o
Termo de Consentimento de Instituiccedilatildeo Coparticipante (Anexo I) Posteriormente a
pesquisadora inscreveu o projeto de pesquisa na Plataforma Brasil que foi
apreciado e aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da Universidade da Regiatildeo
49
de Joinville sob o Parecer Consubstanciado nordm 1223204 de 11 de setembro de
2015 (Anexo II) que atendeu ao descrito na Resoluccedilatildeo Nordm 4662012 (CONSELHO
NACIONAL DE SAUacuteDE 2012)
Realizou-se entatildeo uma terceira visita agraves coordenadoras da Secretaria
Municipal de Educaccedilatildeo para obter a autorizaccedilatildeo para a aplicaccedilatildeo piloto do
questionaacuterio elaborado para coleta de dados Solicitou-se agraves coordenadoras nesse
encontro a indicaccedilatildeo de duas escolas municipais de ensino fundamental do 1ordm ao 9ordm
ano para iniciar a realizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo do preacute-teste do instrumento da pesquisa
nesse caso o questionaacuterio Acredita-se que a aplicaccedilatildeo do preacute-teste em duas
escolas poderia conferir mais seguranccedila quanto agrave aplicaccedilatildeo do instrumento nas
demais escolas Nesse sentido o preacute-teste eacute considerado essencial uma vez que
pode contribuir para melhorar o instrumento de coleta de dados a partir de
sugestotildees dos proacuteprios participantes
De posse do nome das 2 escolas indicadas pelas coordenadoras da
Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute iniciou-se o contato junto agraves
escolas para agendar uma visita para explanaccedilatildeo da pesquisa e aplicaccedilatildeo do
instrumento utilizado para a coleta de dados um questionaacuterio autoaplicaacutevel
constituiacutedo por 27 questotildees sendo 11 perguntas abertas e 10 perguntas abertas e
fechadas e 06 perguntas fechadas
Ao chegar nas escolas a pesquisadora era encaminhada agrave sala da direccedilatildeo e
com a presenccedila do(a) direitor(a) supervisor(a) e orientador(a) iniciava a explicaccedilatildeo
sobre a pesquisa e o objetivo da preacute-testagem do questionaacuterio salientando que esse
era um momento importante para os participantes contribuiacuterem com o
aperfeiccediloamento do instrumento apontando possiacuteveis inconsistecircncias ou
necessidade de retirar acrescentar ou modificar alguma informaccedilatildeo Contudo ao
finalizar a aplicaccedilatildeo da preacute-testagem do questionaacuterio (Anexo II) foi evidenciado
pelos participantes que natildeo havia necessidade de alteraccedilotildees assim essas duas
escolas foram incluiacutedas na pesquisa
Diante disso prosseguiu-se com a efetiva aplicaccedilatildeo do questionaacuterio nas
demais escolas durante os meses de outubro e novembro de 2015 totalizando uma
abrangecircncia de 11 escolas municipais urbanas15 Assim das 12 escolas urbanas
15
O municiacutepio de Camboriuacute possui 12 escolas urbanas e 03 de Campo Uma escola urbana natildeo conseguiu responder ao questionaacuterio E nas 03 escolas municipais de campo os questionaacuterios natildeo foram aplicados pois a Coordenadora de Inclusatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo informou que
50
pesquisadas apenas 1 ficou sem responder ao questionaacuterio devido agraves demandas
de final de ano letivo O agendamento das visitas agraves escolas foi realizado via contato
telefocircnico com o(a) diretor(a) e durante as visitas primeiramente explanou-se a
pesquisa para o(a) diretor(a) para em seguida deixar os envelopes que continham
os questionaacuterios combinando com o(a) diretor(a) o prazo de uma semana para
buscaacute-los Dentro do envelope estava anexa ao questionaacuterio uma carta agrave equipe
diretiva (Anexo I) convidando a participar da pesquisa bem como uma coacutepia do
TCLE (Anexo III) destacando o caraacuteter voluntaacuterio e sigiloso da pesquisa
explicitando que os questionaacuterios respondidos ficariam sob a guarda e a
responsabilidade da pesquisadora por um periacuteodo de cinco anos sendo apoacutes esse
prazo descartados
Em cada escola que a pesquisadora se dirigia para buscar os questionaacuterios
tomava o cuidado de realizar a conferecircncia do preenchimento do TCLE junto ao
questionaacuterio respondido
Observou-se ainda que das 11 escolas participantes em somente 07 todos
os integrantes da equipe diretiva responderam ao questionaacuterio Nas demais
evidenciou-se que pelo menos um dos integrantes natildeo havia respondido Dessa
forma atenderam ao criteacuterio de inclusatildeo desta pesquisa somente 07 escolas cuja
equipe diretiva completa respondeu ao questionaacuterio
Em siacutentese foram aplicados 36 questionaacuterios sendo 32 respondidos poreacutem
apenas 22 foram considerados vaacutelidos de acordo com os criteacuterios de inclusatildeo desta
pesquisa Nessa direccedilatildeo foram computados para a anaacutelise de dados as respostas
de um total de 22 participantes sendo 07 diretores(as) 08 supervisores(as) 07
orientadores(as) A seguir seraacute detalhada a trajetoacuteria seguida no processo de
anaacutelise dos dados coletados
22 Seguindo o itineraacuterio organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados
O processo de anaacutelise das respostas obtidas nos questionaacuterios aplicados foi
baseado na Anaacutelise de Conteuacutedo (BARDIN 1977 FRANCO 2012) Para Franco
(2012 p23) a anaacutelise de conteuacutedo eacute ―um procedimento de pesquisa que se situa
estas escolas natildeo tinham a sala de recursos multifuncionais e tampouco estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
51
em um delineamento mais amplo da teoria da comunicaccedilatildeo e tem como ponto de
partida a mensagem A autora enfatiza ainda que
[] as mensagens expressam as representaccedilotildees sociais na qualidade de elaboraccedilotildees mentais construiacutedas socialmente a partir da dinacircmica que se estabelece entre a atividade psiacutequica do sujeito e o objeto do conhecimento Relaccedilatildeo que se daacute na praacutetica social e histoacuterica da humanidade e que se generaliza na linguagem [] a anaacutelise de conteuacutedo assenta-se nos pressupostos de uma concepccedilatildeo criacutetica e dinacircmica da linguagem Linguagem aqui entendida como uma construccedilatildeo real de toda a sociedade e como expressatildeo da existecircncia humana que em diferentes momentos histoacutericos elabora e desenvolve representaccedilotildees sociais no dinamismo interacional que se estabelece entre linguagem pensamento e accedilatildeo (FRANCO 2012 p 12-13)
A partir da exposiccedilatildeo da autora pode-se compreender que na anaacutelise de
conteuacutedo considera-se aleacutem das mensagens impliacutecitas e expliacutecitas o contexto
histoacuterico no qual seus produtores estatildeo inseridos
De posse dos 22 questionaacuterios vaacutelidos seguiu-se com a transcriccedilatildeo das
respostas para uma planilha de Excel organizando-as de duas formas por escola e
por questatildeo As que foram efetivamente utilizadas foram as planilhas organizadas
por questatildeo pois se considerou que propiciavam uma visualizaccedilatildeo mais clara
A identificaccedilatildeo dos respondentes foi realizada por meio de coacutedigos formados
por letras e nuacutemeros As escolas foram representadas por nuacutemeros de 1 a 7 Jaacute os
profissionais da equipe diretiva foram identificados por letras ―EDd para referir-se agrave
fala do(a) diretor(a) ―EDs do(a) supervisor(a) e ―EDo do(a) orientador(a) Para
uma melhor compressatildeo exemplifica-se ―ED1s refere-se a(o) Supervisor(a) da
Escola 1 ―ED4d ao(a) Diretor(a) da Escola 4 e assim por diante
Para as questotildees fechadas do questionaacuterio foram elaborados graacuteficos e
caacutelculos de porcentagem para auxiliar na compreensatildeo do perfil dos participantes
que pode ser conferido no capiacutetulo seguinte que versa sobre a caracterizaccedilatildeo dos
participantes da pesquisa Jaacute para as questotildees abertas optou-se por realizar uma
anaacutelise sem o apoio dos graacuteficos mas sim de quadros em sua maioria procurando
ilustrar e focalizar a articulaccedilatildeo das respostas obtidas com as teorias existentes
Diante do exposto a anaacutelise de dados dessa pesquisa ocorreu por meio de
uma leitura minuciosa dos dados para observar possiacuteveis recorrecircncias
contradiccedilotildees e complementaridades a fim de constituir os primeiros indicadores de
anaacutelise A partir desses indicadores foram criadas as categorias de anaacutelise sem
deixar de considerar para sua elaboraccedilatildeo os pontos relevantes apontados por outras
52
pesquisas e pela teoria e que eventualmente tenham sido silenciados pelos
participantes da pesquisa Esse eacute um processo longo e trabalhoso mas como
destaca Franco (2012 p 59) a criaccedilatildeo de categorias eacute ―o ponto crucial da anaacutelise
de conteuacutedo Ainda segundo a autora ―a categorizaccedilatildeo eacute uma operaccedilatildeo de
classificaccedilatildeo de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciaccedilatildeo seguida
de um reagrupamento baseado em analogias (FRANCO 2012 p 59) Vale
ressaltar que esse processo de anaacutelise de dados requer visitas constantes agrave teoria e
ao material de anaacutelise buscando as articulaccedilotildees pertinentes A categorizaccedilatildeo dos
dados deste estudo foi realizada a posteriori a partir da construccedilatildeo de indicadores
que estatildeo em consonacircncia com os objetivos desta pesquisa conforme explicitado
no Quadro 1 a seguir
Quadro 1 ndash Categorias de anaacutelise e suas relaccedilotildees com os objetivos da pesquisa
Objetivos da pesquisa
Categorias Indicadores Perguntas do questionaacuterio relacionadas
- Revelar a compreensatildeo da equipe diretiva escolar acerca do serviccedilo de AEE e do puacuteblico-alvo da EE - Evidenciar o que a equipe diretiva escolar conhece sobre o trabalho do professor do AEE
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
O serviccedilo em si o puacuteblico alvo da EE e o trabalho docente
11 12 13 14 15 19 21 22 e 23
- Identificar os procedimentos que tecircm sido adotados pela equipe diretiva escolar na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
O papel da equipe diretiva Acessibilidade arquitetocircnica Recursos materiais e pedagoacutegicos Se o AEE estaacute comtemplado no Projeto poliacutetico-pedagoacutegico e Desafios na viabilizaccedilatildeo do serviccedilo e formas de superaacute-lo
20 16 17 25 26 e 27
Fonte Primaacuteria (2016)
53
A constituiccedilatildeo desta pesquisa seguiu um processo de estudos dos documentos
oficiais e literaturas relacionadas ao Atendimento Educacional Especializado e agrave
gestatildeo escolar procurando selecionar os aspectos mais relevantes para a
construccedilatildeo da fundamentaccedilatildeo teoacuterica e do percurso de anaacutelise dos questionaacuterios
No proacuteximo capiacutetulo seraacute apresentada a anaacutelise dos dados focalizando a
caracterizaccedilatildeo do perfil dos participantes da pesquisa e em seguida adentra-se nas
categorias de anaacutelise a primeira denominada o que pensam as equipes diretivas
escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado e a segunda as
condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe
diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
54
3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Agrave PARTIR DAS FALAS DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMBORIUacute
Nesta etapa de anaacutelise e discussatildeo dos dados coletados tem-se por objetivo
apresentar as respostas das 22 participantes que compotildeem as equipes diretivas de
7 escolas da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute articulando-as a um
referencial teoacuterico e dialogando com as questotildees de pesquisa mencionadas na
apresentaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo Salienta-se que do processo de anaacutelise de
conteuacutedo dos dados coletados duas categorias emergiram a primeira diz respeito
ao que pensam as equipe diretiva sobre o Atendimento Educacional Especializado
e o puacuteblico-alvo da EE e o professor especializado e a segunda direcionada a
abordar o papel da equipe diretiva na viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional
Especializado
Nesse sentido o presente capiacutetulo foi organizado em trecircs toacutepicos
Apresentaccedilatildeo da equipe diretiva escolar
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento
Educacional Especializado (primeira categoria de anaacutelise)
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da
equipe diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional
Especializado (segunda categoria de anaacutelise)
Acredita-se que apresentar os participantes deste estudo e suas
compreensotildees sobre o AEE e como viabilizaacute-lo pode contribuir para deflagrar o
modo como o AEE vem se constituindo na Rede Municipal de Camboriuacute e o papel
da gestatildeo escolar nesse processo
55
31 Apresentaccedilatildeo das Equipes Diretivas Escolares16
Participaram desta pesquisa 22 profissionais que compotildeem ao todo 7
equipes diretivas escolares sendo 07 Diretores(as) 07 Orientadores(as)
Educacionais e 08 Supervisores(as) Educacionais As questotildees abordadas nesta
apresentaccedilatildeo do perfil dos participantes fazem parte do primeiro eixo do
questionaacuterio e estatildeo relacionadas agraves suas caracteriacutesticas pessoais e profissionais
Como primeira caracteriacutestica destaca-se a questatildeo de gecircnero Dentre os
profissionais que compotildeem a equipe diretiva escolar nas escolas pesquisadas 17
identificaram-se com o gecircnero feminino e 5 com o masculino Analisando a relaccedilatildeo
gecircnero e funccedilatildeo profissional tem-se a seguinte configuraccedilatildeo exposta no Quadro 2
Quadro 2 - Gecircnero dos integrantes da equipe diretiva escolar por funccedilatildeo
Funccedilatildeo Gecircnero Feminino Gecircnero Masculino
Diretor(a) 6 1
Supervisor(a) 6 2
Orientador(a) 5 2
Fonte Primaacuteria (2016)
Ao pesquisar estudos nacionais e internacionais que traccedilassem o perfil dos
integrantes da equipe diretiva escolar foram encontradas duas pesquisas
desenvolvidas pela Fundaccedilatildeo Victor Civita17 (2009 - 2011) A primeira publicada em
2009 traccedilou o perfil de ―diretores escolares brasileiros A segunda datada de
2011 debruccedilou-se sobre o perfil dos ―coordenadores pedagoacutegicos Tambeacutem foi
encontrado um estudo realizado pela Pesquisa Internacional sobre Ensino e
16
Para compor a anaacutelise e discussatildeo deste item seratildeo utilizadas as respostas do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo As referidas questotildees estatildeo dispostas na seguinte ordem 2 Qual sua funccedilatildeo na escola ( ) diretor diretor (a) [] 1Qual seu ano de Nascimento 4 Vocecirc jaacute atuou como professor de sala de aula 5 Quanto tempo 6 Na sua trajetoacuteria como docente teve alguma experiecircncia com estudante com deficiecircncia 3 Qual sua formaccedilatildeo acadecircmica 7 Qual sua carga horaacuteria hoje na funccedilatildeo em que atua na Rede Municipal de Ensino8 Quanto tempo de serviccedilo vocecirc tem na funccedilatildeo em que ocupa atualmente na Rede Municipal de ensino 9 Vocecirc pertence ao quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino 10) Como vocecirc ingressou na funccedilatildeo em que ocupa em sua escolae 18 Vocecirc teve alguma formaccedilatildeo com temas relacionados ao AEE 17
Em 2009 a Fundaccedilatildeo Victor Civita desenvolveu uma pesquisa para traccedilar o ―Perfil dos Diretores de Escola da Rede Puacuteblica O estudo foi realizado com 400 diretores da educaccedilatildeo baacutesica (Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e Ensino Meacutedio) de 13 capitais brasileiras por meio de entrevistas telefocircnicas e um questionaacuterio estruturado e teve como principal objetivo levantar caracteriacutesticas percepccedilotildees e opiniotildees dos diretores escolares brasileiros aleacutem de prover um retrato desse gestor e uma investigaccedilatildeo da sua relaccedilatildeo com a Educaccedilatildeo Jaacute em 2011 a Fundaccedilatildeo Victor Civita encomendou uma pesquisa agrave Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sobre o perfil dos coordenadores pedagoacutegicos (CPs) das escolas puacuteblicas Foram entrevistados 400 CPs de 13 estados brasileiros nas diferentes regiotildees do Brasil
56
Aprendizagem ndash TALIS18 (INEP 2014) que abrangeu o Brasil no estudo sobre o
perfil de ―diretores de educaccedilatildeo baacutesica em 34 paiacuteses No que concerne ao perfil do
orientador educacional nenhuma pesquisa foi encontrada Os dados apresentados
pela Fundaccedilatildeo Victor Civita (2009) apontaram que grande parte dos diretores (80)
satildeo do sexo feminino com idade meacutedia de 46 anos o que estaacute de acordo com os
dados do estudo desenvolvido pela TALIS (INEP 2014) A pesquisa TALIS (INEP
2014) revelou que no Brasil 75 dos diretores satildeo mulheres e tecircm em meacutedia 45
anos de idade preponderando portanto o gecircnero feminino na gestatildeo das escolas
puacuteblicas de ensino fundamental Ainda segundo a TALIS (INEP 2014) nos outros
24 paiacuteses pesquisados esse percentual de mulheres ficou na meacutedia de 49
Em relaccedilatildeo agrave pesquisa sobre o coordenador(a) pedagoacutegico(a) apresentada
pela Fundaccedilatildeo Victor Civita (2011) demonstrou-se que 90 desses profissionais
satildeo mulheres e tecircm em meacutedia 44 anos de idade
Esses dados estatildeo em consonacircncia tambeacutem com as pesquisas realizadas
por Vioto (2013) e Lira (2012) apresentadas no primeiro capiacutetulo da presente
dissertaccedilatildeo Nos referidos estudos constatou-se a predominacircncia do gecircnero
feminino entre os coordenadores pedagoacutegicos pesquisados Ao analisar o perfil dos
diretores(a) coordenadores(as) pedagoacutegicos e orientadores(as) educacionais na
pesquisa de Silveira (2012) e Santos (2011) tambeacutem foi perceptiacutevel a prevalecircncia
do gecircnero feminino
Os dados revelam portanto uma presenccedila expressiva do gecircnero feminino
nessas funccedilotildees principalmente na educaccedilatildeo baacutesica que se assemelha ao
movimento ocasionado com os docentes em decorrecircncia de um processo histoacuterico
denominado de feminizaccedilatildeo19 do magisteacuterio caracterizado ao longo da histoacuteria
como um fenocircmeno pautado pelas transformaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas
―[que] abriram espaccedilo em nosso paiacutes para o incremento da entrada das mulheres
18
A Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS ndash Teaching and Learning International Survey) investigou o ambiente de ensino e aprendizagem em escolas de educaccedilatildeo baacutesica de 34 paiacuteses durante os anos de 2012 e 2013 A TALIS foi coordenada em acircmbito internacional pela Organizaccedilatildeo para Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) No Brasil a pesquisa foi organizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) responsaacutevel tambeacutem pela elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio Nacional da TALIS que descreve de maneira mais detalhada o processo de aplicaccedilatildeo da pesquisa e os principais resultados para a amostra de diretores e professores brasileiros A pesquisa TALIS entrevistou no total natildeo soacute no Brasil 14291 professores que atuam em turmas do 6ordm ao 9ordm ano do Ensino Fundamental e os diretores de suas respectivas escolas No Brasil a pesquisa abrangeu 27 Estados e 48 escolas sendo que somente 20 escolas aceitaram a participar da pesquisa 19
Denominaccedilatildeo dada ao processo soacutecio-poliacutetico-cultural decorrente da expressiva presenccedila das mulheres no trabalho docente (COSTA 2010)
57
das camadas meacutedias no mercado de trabalho sendo o magisteacuterio primaacuterio uma das
ocupaccedilotildees femininas socialmente aprovadas (COSTA 2010 p 01)
Louro (2000 p 448) relata que a atividade do magisteacuterio no Brasil por muito
tempo foi desenvolvida por ―homens religiosos como os jesuiacutetas mais
especificamente no periacuteodo compreendido entre 1549 e 1759 [e] em seguida foram
homens comuns que se ocuparam do magisteacuterio Jaacute a partir do seacuteculo XIX a
expansatildeo do ensino primaacuterio afetou diretamente as condiccedilotildees de trabalho docente
que foram se tornando cada vez mais precaacuterias afastando paulatinamente os
homens dessa profissatildeo Assim o movimento observado foi de diminuiccedilatildeo no
nuacutemero de homens em sala de aula no ensino primaacuterio e nas escolas normais
passando-se a formar jaacute nesse periacuteodo mais mulheres (VIANNA 2013) Desse
modo a presenccedila intensa de mulheres no magisteacuterio no Brasil foi se constituindo
de forma gradativa e intimamente ligada ao papel de mulher idealizado na eacutepoca
para exercer a docecircncia As mulheres tinham que dispor de caracteriacutesticas como
religiosidade docilidade e submissatildeo configurando o que deveria ser um trabalho
educativo como ―[] uma missatildeo de educar concebida como um prolongamento da
vocaccedilatildeo maternal (COSTA 2010 p 01)
Nessa perspectiva segundo Vianna (2013 p 164) o magisteacuterio integrou um
dos primeiros campos de trabalho para a ―mulher branca e de classe meacutedia
estudiosa e portadora de uma feminilidade idealizada para essa classe mas
tambeacutem protagonistas da luta pelo alargamento da participaccedilatildeo feminina na esfera
econocircmica (VIANNA 2013 p 164)
Com relaccedilatildeo agrave gestatildeo das instituiccedilotildees de ensino puacuteblico no Brasil por muito
tempo essa funccedilatildeo ficou sob a incumbecircncia dos homens reproduzindo e reforccedilando
como pontuou Louro (2000 p 460) ―[] a hierarquia domeacutestica as mulheres
ficavam nas salas de aulas ensinando enquanto os homens dirigiam e controlavam
o sistema Acrescenta-se ainda que os homens se destacavam como referecircncia
superior e de poder e entendia-se que a mulher por sua vez natildeo era adequada agrave
gestatildeo por ser muito sentimental e natildeo possuir firmeza em suas decisotildees (LOURO
2000)
Contudo a funccedilatildeo de gestatildeo exercida por mulheres foi permeada por
momentos de resistecircncia em sua historicidade visto que se tratava de um cargo
exclusivamente masculino como o caso da primeira professora que ao ascender agrave
funccedilatildeo de gestora nos anos de 1920 provocou revolta principalmente por parte dos
58
estudantes homens Assim pode-se dizer que de algum modo a inserccedilatildeo feminina
no cargo de gestatildeo rompeu ―com a representaccedilatildeo e as expectativas tradicionais
delineadas agraves mulheres (LOURO 2000 p 460)
Nessa perspectiva as discussotildees tecidas ateacute o momento no que tange agrave
questatildeo de gecircnero dos profissionais de educaccedilatildeo podem contribuir para evidenciar
possiacuteveis conexotildees entre proletarizaccedilatildeo do trabalho dos(as) professores(as) e
gestores(as) escolares e o processo histoacuterico de feminizaccedilatildeo do magisteacuterio e da
profissatildeo educativa como um todo
Seguindo com as anaacutelises passa-se a abordar agora a idade dos
profissionais das equipes diretivas20 De acordo com o Graacutefico 1 apresentado a
seguir dos 22 participantes da pesquisa 2 responderam possuir idade entre 25 a
32 anos 8 entre 33 e 40 anos 5 encontram-se na faixa etaacuteria entre 41 a 50 e 6
informaram que tecircm mais de 50 anos e 1 natildeo respondeu Ao calcular a idade meacutedia
dos profissionais por funccedilatildeo chegou-se ao seguinte resultado Diretor(a) 46 anos
Supervisor(a) 44 anos e Orientador(a) 49 anos
Graacutefico 1 Faixa etaacuteria dos participantes da pesquisa
Fonte Primaacuteria (2016)
De acordo com os dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e
Aprendizagem ndash TALIS (INEP 2014) dentre os 34 paiacuteses que participaram do
20 Optou-se neste estudo por utilizar uma menccedilatildeo aos participantes que contemple os dois gecircneros masculino e feminino ou seja utilizaremos diretor(a) supervisor(a) e orientador(a) quando nos referirmos a cada profissional que compotildee a equipe diretiva
59
estudo os diretores das escolas brasileiras apresentaram a menor meacutedia de idade
(45 anos) assemelhando-se aos resultados encontrados na presente pesquisa
No que se refere ao tempo de docecircncia da equipe diretiva em sala de aula
constatou-se que a maioria dos profissionais possuem significativa experiecircncia uma
vez que 8 responderam que possuem ateacute 5 anos 7 que tecircm de 6 a 10 anos de
docecircncia 2 possuem de 11 a 15 anos em sala de aula 4 informaram que tecircm mais
de 15 anos de experiecircncia na docecircncia e 01 natildeo respondeu conforme exposto no
graacutefico a seguir
Graacutefico 2 ndash Tempo de atuaccedilatildeo docente dos profissionais das equipes diretivas por funccedilatildeo diretor(a) supervisor(a) e orientador(a)
Fonte Primaacuteria (2016)
Evidenciou-se ao visualizar o graacutefico 2 acima uma expressiva concentraccedilatildeo
de supervisores(as) educacionais com ateacute 5 anos de experiecircncia na docecircncia
Supotildee-se que uma maior experiecircncia desse profissional em sala de aula pode
contribuir com seu trabalho de orientaccedilatildeo pedagoacutegica e didaacutetica junto aos
professores assim como com o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Em pesquisa empreendida por Placco Almeida e Souza (2011 p 247-248)
com coordenadores pedagoacutegicos (CPs) as autoras abordaram alguns
questionamentos e dentre eles se destaca o que diz respeito agrave necessidade de
tempo na docecircncia para atuarem na funccedilatildeo As autoras puderam constatar que esse
item dividiu opiniotildees entre os profissionais pesquisados ao relatarem que
[] com relaccedilatildeo agrave necessidade de ter experiecircncia na docecircncia para exercer a coordenaccedilatildeo os CPs divergem alguns acham que sim e outros que natildeo Contudo a maioria concorda que a experiecircncia como docente natildeo eacute suficiente para exercer a coordenaccedilatildeo pois entendem que haacute habilidades especiacuteficas dessa funccedilatildeo que natildeo se desenvolvem na docecircncia De outro
60
lado acreditam que a experiecircncia em sala de aula possibilita conhecer melhor a escola e vivenciar problemas que soacute aparecem laacute Em siacutentese segundo a percepccedilatildeo dos CPs o tempo na funccedilatildeo e a experiecircncia satildeo fatores importantes mas natildeo decisivos para o bom desempenho do profissional na coordenaccedilatildeo
Nessa direccedilatildeo observou-se que autores como Paro (2016b) e Libacircneo (2015)
parecem se contrapor quando o assunto eacute a experiecircncia docente que antecede a
atuaccedilatildeo da equipe diretiva na escola Paro (2016b p57) ao defender que ―todos os
educadores satildeo potenciais candidatos agrave direccedilatildeo escolar parece conferir uma
ecircnfase na importacircncia da experiecircncia docente para a realizaccedilatildeo do trabalho na
funccedilatildeo diretiva Por outro lado Libacircneo (2015) afirma que para exercer o cargo de
diretor ou coordenador pedagoacutegico natildeo eacute necessaacuterio uma experiecircncia preacutevia como
docente
[] haacute divergecircncias significativas sobre se a atividade administrativa distingue-se da atividade pedagoacutegica e sobre se a direccedilatildeo administrativa e direccedilatildeo pedagoacutegica devem ser exercidas necessariamente por um professor No Brasil difundiu-se bastante a ideia de que a direccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo pedagoacutegica satildeo formas diferenciadas de uma uacutenica funccedilatildeo a docente Defendemos uma posiccedilatildeo diferente Tanto o diretor quanto o coordenador pedagoacutegico desempenham cada um funccedilotildees especiacuteficas que requerem formaccedilatildeo profissional tambeacutem especiacutefica distinta daquela provida aos professores Nesse caso o diretor natildeo precisa exercer nem ter exercido a docecircncia embora deva receber formaccedilatildeo para lidar com questotildees de ensino Em outras palavras as funccedilotildees de direccedilatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e docente natildeo precisam coincidir necessariamente (LIBAcircNEO 2015 p 187 grifos nossos)
Ante ao exposto entende-se que a experiecircncia na docecircncia pode contribuir
para a atuaccedilatildeo dos profissionais das equipes diretivas assim como compreende-se
que as formaccedilotildees para esses profissionais precisam contemplar de forma central os
aspectos pedagoacutegicos e as singularidades das escolas e natildeo somente os aspectos
burocraacuteticos comumente mais enfatizados
No Quadro 3 apresentado na sequecircncia procurou-se detalhar o tempo de
atuaccedilatildeo em sala de cada profissional que compotildee a equipe diretiva escolar Pode-se
evidenciar que os integrantes de todas as equipes diretivas apresentam experiecircncia
na docecircncia
61
Quadro 3 Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes da equipe diretiva em sala de aula
Tempo de atuaccedilatildeo em sala de aula
Equipe Diretiva
Ateacute 5 anos De 6 a 10 anos De 11 a 15 anos Mais de 15
anos Natildeo
respondeu
ED1 Supervisor(a) Diretor(a) Orientador( a)
ED2 Orientador(a)
e Supervisor(a)
Diretor(a)
ED3 Supervisor(a) Diretor(a) Orientador(a)
ED4 Diretor(a) e
2 Supervisores(as)
Orientador(a)
ED5 Orientador(a) Diretor(a) e
Supervisor(a)
ED6 Orientador(a)
e Supervisor(a)
Diretor(a)
ED7 Diretor(a) e
Supervisor(a) Orientador(a)
Fonte Primaacuteria (2016)
Conforme os dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem ndash
TALIS (INEP 2014) a meacutedia de experiecircncia em sala de aula dos diretores
brasileiros pesquisados foi de 14 anos Nesse sentido os dados da Rede Municipal
de Ensino de Camboriuacute obtidos na presente pesquisa divergem em parte dos
indicadores nacionais pois a maioria dos respondentes possuem em meacutedia 8 anos
de docecircncia
Huberman (2000) em seus estudos sobre o ciclo de vida profissional dos
professores fez uso do tempo de atuaccedilatildeo docente para expor a existecircncia de cinco
fases que delineiam o processo de evoluccedilatildeo do docente nessa profissatildeo 1) Fase de
entrada na carreira (1 a 3 anos de docecircncia) 2) Fase de estabilizaccedilatildeo (4 a 6 anos)
3) Fase de diversificaccedilatildeo (7 a 25 anos) 4) Fase de serenidade (25 a 35 anos) 5)
Fase de desinvestimento (mais de 35 anos de docecircncia)
Para clarificar essas informaccedilotildees apresenta-se a seguir o Quadro 4 que
mostra as fases do ciclo de vida profissional dos professores conforme os estudos
do autor
62
Quadro 4 - Fases do ciclo de vida profissional segundo Huberman
Fonte Huberman (2000)
O tempo de docecircncia da maior parte dos participantes da pesquisa (6 a 10
anos) conforme Huberman (2000) estaacute compreendido na fase entre 7 e 25 anos de
docecircncia que eacute denominada de diversificaccedilatildeo na qual conta-se com um repertoacuterio
de vivecircncias pessoais e profissionais bastante diversas para atuar na docecircncia Para
os 8 que responderam que tecircm ateacute 5 anos de docecircncia em sala de aula nota-se que
sua experiecircncia docente se delimitou agrave fase mais inicial do ciclo profissional
denominada ―sobrevivecircncia e descoberta na qual satildeo explorados os contornos
dessa nova funccedilatildeo
Salienta-se que essas fases natildeo seguem em sua constituiccedilatildeo uma linearidade
de acontecimentos uma vez que cada profissional eacute singular e essa singularidade
estaacute presente na maneira como cada um vivencia a sua proacutepria trajetoacuteria
profissional
Outra questatildeo perguntada aos profissionais das equipes diretivas foi se nessa
trajetoacuteria docente eles(as) tiveram algum aluno com deficiecircncia Evidenciou-se que
dos 22 participantes somente dois diretores(as) e dois supervisores(as) natildeo tiveram
essa experiecircncia os demais integrantes de todas as equipes diretivas a tiveram
63
Graacutefico 3 ndash Experiecircncia dos profissionais da equipe diretiva enquanto docentes de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Fonte Primaacuteria (2016)
Esses dados apontam que a maioria dos profissionais participantes desta
pesquisa em sua trajetoacuteria docente trabalhou com estudantes puacuteblico-alvo da EE o
que nos permite evidenciar que cada profissional vivenciou esse trabalho em suas
respectivas escolas de formas diferentes e certamente puderam contar com uma
equipe diretiva que pode ter contribuiacutedo ou fragilizado a realizaccedilatildeo desse trabalho no
acircmbito escolar
Infere-se ainda que essa vivecircncia pode ter ocorrido em um determinado
momento histoacuterico em que a segregaccedilatildeo ainda era de fato uma opccedilatildeo mais
indicada no processo de escolarizaccedilatildeo com deficiecircncia Mesmo considerando que a
construccedilatildeo de saberes eacute um processo dinacircmico que pode passar por modificaccedilotildees
no decorrer da histoacuteria demandando que os profissionais da educaccedilatildeo estejam em
constante busca por novos conhecimentos ou por sua ressignificaccedilatildeo eacute necessaacuterio
ter em conta que reconstruir uma concepccedilatildeo sobre algo pode ser muito complexo
Aleacutem da vivecircncia que esses profissionais relataram ter eacute preciso considerar
tambeacutem a formaccedilatildeo inicial que possuem se essa propiciou ou natildeo a discussatildeo e
apropriaccedilatildeo de teorias e praacuteticas acerca da Educaccedilatildeo Especial nos espaccedilos
escolares Tendo em vista ainda que esses conhecimentos quando apreendidos na
formaccedilatildeo inicial estatildeo associados a um periacuteodo histoacuterico especiacutefico em que tal
formaccedilatildeo foi realizada
64
Nesse sentido Bueno (2002) esclarece que a incorporaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial
pelas Instituiccedilotildees de Ensino Superior no Brasil ocorreu a partir da promulgaccedilatildeo da
Lei n 569271 na medida em que essa diretriz em seu art 29 estabeleceu que a
formaccedilatildeo de professores e especialistas para o ensino fundamental e meacutedio (antigos
1ordm e 2ordm graus) fosse aumentando de forma progressiva O autor explicita ainda que
[] em decorrecircncia dessa lei o Conselho Federal de Educaccedilatildeo baixou Resoluccedilotildees
tornando obrigatoacuteria a formaccedilatildeo de professores de educaccedilatildeo especial em niacutevel
superior dentro dos cursos de Pedagogia (BUENO 2002 p 22)
Atualmente pode-se observar agrave luz da Resoluccedilatildeo nordm 22015 (BRASIL 2015)
que a incorporaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial pelos curriacuteculos dos cursos de
licenciatura e formaccedilatildeo continuada foi ampliada uma vez que passou a constituir um
tema a ser abordado por diversas disciplinas Aparentemente essa ampliaccedilatildeo pode
ser vista como positiva contudo eacute oportuno reconhecer que ―dissolver os
conteuacutedos de Educaccedilatildeo Especial nas disciplinas pode ocasionar uma fragilizaccedilatildeo no
processo de formaccedilatildeo uma vez que pode ocorrer a reduccedilatildeo da carga horaacuteria
destinada a esses conteuacutedos ao mesmo tempo em que satildeo apresentados de forma
fragmentada No art 13ordm paraacutegrafo segundo da referida Resoluccedilatildeo eacute detalhado o
modo como a Educaccedilatildeo Especial deve ser contempla no curriacuteculo dos cursos
citados
[] sect 2ordm Os cursos de formaccedilatildeo deveratildeo garantir nos curriacuteculos conteuacutedos especiacuteficos da respectiva aacuterea de conhecimento ou interdisciplinares seus fundamentos e metodologias bem como conteuacutedos relacionados aos fundamentos da educaccedilatildeo formaccedilatildeo na aacuterea de poliacuteticas puacuteblicas e gestatildeo da educaccedilatildeo seus fundamentos e metodologias direitos humanos diversidades eacutetnico-racial de gecircnero sexual religiosa de faixa geracional Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) educaccedilatildeo especial e direitos educacionais de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas (BRASIL 2015)
Segundo Pletsch (2009 p 150) limitar-se a oferecer uma disciplina com
conteuacutedos sobre Educaccedilatildeo Especial ―sem maior reflexatildeo e aprofundamento acerca
das capacidades e individualidades humanas pode acabar auxiliando a manutenccedilatildeo
de praacuteticas de segregaccedilatildeo Desse modo pode-se evidenciar que a forma como a
Lei supracitada propotildee que os conteuacutedos de Educaccedilatildeo Especial sejam abordados
nos cursos de licenciatura em geral parece natildeo colaborar com o adensamento
teoacuterico discussatildeo e reflexatildeo criacutetica sobre a educaccedilatildeo especial na formaccedilatildeo dos
futuros professores Isto por sua vez pode culminar em um entendimento
65
desarticulado entre Educaccedilatildeo Regular e Educaccedilatildeo Especial favorecendo a
constituiccedilatildeo de praacuteticas de segregaccedilatildeo nas escolas brasileiras
Ante ao exposto buscou-se analisar nos dizeres das equipes diretivas
pesquisadas a formaccedilatildeo inicial em niacutevel de graduaccedilatildeo de cada integrante que a
compotildee Evidenciou-se que dos 22 participantes 12 informaram possuir o curso de
formaccedilatildeo inicial em pedagogia 7 em outras licenciaturas e 3 optaram por natildeo
responder a essa questatildeo Assim pode-se perceber dentre as respostas dos
integrantes das equipes diretivas uma prevalecircncia da formaccedilatildeo inicial em pedagogia
Essas informaccedilotildees podem ser conferidas no graacutefico 4 abaixo
Graacutefico 4 ndash Formaccedilatildeo inicial dos integrantes das equipes diretivas
Fonte Primaacuteria (2016)
Prosseguindo com as anaacutelises percebe-se tambeacutem que dentre os integrantes
das equipes diretivas 6 diretores satildeo formados em Pedagogia e 1 diretor eacute formado
em Estudos Sociais Conforme a pesquisa desenvolvida pela Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) 43 dos diretores brasileiros possuem sua primeira graduaccedilatildeo em
Pedagogia e dos que procuram uma segunda formaccedilatildeo 60 elegeu essa
licenciatura Dos 7 diretores participantes da pesquisa apenas uma informou ter
mais de uma graduaccedilatildeo
Com relaccedilatildeo aos supervisores(as) escolares 4 satildeo formados em Pedagogia e
3 satildeo formados em outras licenciaturas ciecircncias naturais artes visuais e ciecircncias
bioloacutegicas sendo que 1 natildeo especificou De acordo com os estudos realizados pela
Fundaccedilatildeo Victor Civita (2011) 55 dos coordenadores pedagoacutegicos no Brasil
possuem sua primeira licenciatura em Pedagogia e dos 45 que natildeo tecircm
Pedagogia como seu primeiro curso 61 o elegeram como segunda opccedilatildeo de
66
formaccedilatildeo Dos 8 supervisores(as) participantes da pesquisa somente duas
informaram ter duas graduaccedilotildees
Quanto aos orientadores educacionais 2 responderam que possuem
formaccedilatildeo em Pedagogia e 3 informaram que tecircm formaccedilatildeo em outras licenciaturas
(matemaacutetica educaccedilatildeo fiacutesica e ciecircncias bioloacutegicas) e 2 natildeo especificaram
De forma geral portanto pode-se concluir que a formaccedilatildeo inicial em
Pedagogia eacute predominante nas equipes diretivas escolares da Rede Municipal de
Ensino de Camboriuacute Com relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo dos
integrantes das equipes diretivas os Graacuteficos 5 6 e 7 a seguir apresentam um
detalhamento
Graacutefico 5 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) dos Diretores(as)
Fonte Primaacuteria (2016) Graacutefico 6 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu e Stricto Sensu) dos Supervisores(as) Educacionais
Fonte Primaacuteria (2016
67
Graacutefico 7 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) Orientadores(as) Educacionais
Fonte Primaacuteria
Percebeu-se que dos 22 participantes somente 2 profissionais responderam
natildeo possuir uma poacutes-graduaccedilatildeo e 1 optou por natildeo responder agrave questatildeo Desse
modo foi possiacutevel evidenciar que a maioria dos profissionais das equipes diretivas
possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu
Dos 7 diretores(as) participantes da pesquisa 6 possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato
sensu Esses dados estatildeo em consonacircncia com o estudo da Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) o qual aponta que 72 dos diretores das escolas brasileiras realizaram
algum tipo de poacutes-graduaccedilatildeo sendo que desses 96 satildeo lato sensu E ainda
conforme a pesquisa TALIS (INEP 2014 p 10-11) ―somente uma pequena parte
dos diretores natildeo tem formaccedilatildeo em niacutevel superior (2) no entanto 12 deles
afirmaram que nunca fizeram um curso especiacutefico de administraccedilatildeo escolar
Quanto aos 8 supervisores(as) participantes desta pesquisa 6 possuem poacutes-
graduaccedilatildeo lato sensu na aacuterea de atuaccedilatildeo isto eacute voltada para a coordenaccedilatildeo
pedagoacutegica ou supervisatildeo escolar 01 em outra aacuterea enquanto apenas 1 informou
natildeo ter realizado especializaccedilatildeo Dos 7 supervisores que possuem poacutes-graduaccedilatildeo 1
informou possuir tambeacutem poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu na aacuterea de Educaccedilatildeo Esses
dados divergem em parte do estudo apresentado pela Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2011) o qual apontou que 70 dos participantes possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato
sensu poreacutem somente 3 desses a realizaram na aacuterea de coordenaccedilatildeo
pedagoacutegica
Essa discrepacircncia entre os dados nacionais e municipais pode estar
vinculada aos criteacuterios de contrataccedilatildeo estipulado pelo municiacutepio de Camboriuacute No
uacuteltimo edital de concurso puacuteblico nordm 0252013 estabeleceu-se que para se inscrever
ao cargo de Supervisor Escolar o candidato precisaria ter ―curso em Licenciatura
68
Plena com especializaccedilatildeo em Supervisatildeo Escolar com carga horaacuteria miacutenima de
360h ou Certificado de Conclusatildeo da Especializaccedilatildeo juntamente com o histoacuterico
escolar
Com relaccedilatildeo aos 7 orientadores(as) participantes deste estudo observou-se
que 06 informaram possuir poacutes-graduaccedilatildeo dos quais 4 satildeo na aacuterea de atuaccedilatildeo
(orientaccedilatildeo educacional) 2 satildeo em outra aacuterea e 1 natildeo respondeu
Seguindo com as anaacutelises os integrantes das equipes diretivas participantes
deste estudo responderam ainda que pertencem ao quadro efetivo de servidor
puacuteblico da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute e exercem uma carga horaacuteria de
40 horas semanais na funccedilatildeo em que atuam
No que tange ao ingresso no cargo para cada funccedilatildeo observou-se um
processo diferente Dentre os 7 orientadores(as) e 8 supervisores(as) participantes
deste estudo 6 orientadores(as) e 7 supervisores(as) informaram que o ingresso na
funccedilatildeo ocorreu por meio de concurso puacuteblico Somente 1 supervisor respondeu ter
ingressado na funccedilatildeo por meio de convite e 1 orientador(a) informou que ingressou
na funccedilatildeo por meio de um processo seletivo diferenciado do concurso puacuteblico Jaacute
para o cargo de diretor todos responderam que o ingresso na funccedilatildeo ocorreu por
meio de indicaccedilatildeo
Quanto ao ingresso ao cargo de diretor salienta-se que apesar de existirem
diretrizes e legislaccedilotildees que promulguem uma gestatildeo escolar democraacutetica a eleiccedilatildeo
para diretores nas escolas como ponto de partida para uma accedilatildeo mais participativa
junto agrave comunidade nos espaccedilos escolares ainda se apresenta como uma decisatildeo
que pertence aos gestores das esferas de governo Federal Estadual e Municipal
Nesse sentido introduzir a eleiccedilatildeo em detrimento da indicaccedilatildeo hoje praticada
pode ser um caminho para aproximar ainda mais as escolas municipais dos
princiacutepios de democratizaccedilatildeo e participaccedilatildeo na Rede Municipal de Ensino de
Camboriuacute
Paro (2003 p 124) adverte a esse respeito que a introduccedilatildeo da eleiccedilatildeo nas
escolas natildeo se daacute de forma harmoniosa e ―como todo instrumento de democracia
natildeo estaacute livre dos conflitos e tensionamentos Contudo constitui-se como uma
forma de permitir que um nuacutemero maior de pessoas da comunidade escolar se
envolva nos processos decisoacuterios e na gestatildeo da escola
69
Partindo agora para o conhecimento do tempo de serviccedilo de cada integrante
da equipe diretiva na funccedilatildeo em que ocupa em sua respectiva escola apresenta-se
no Graacutefico 8 uma ilustraccedilatildeo
Graacutefico 8 ndash Tempo de serviccedilo dos participantes na funccedilatildeo que atualmente ocupam na escola
Fonte Primaacuteria (2016)
Ressalta-se que ao aplicar o questionaacuterio nas escolas alguns profissionais
mencionaram que o cargo de diretor(a) escolar em 2015 sofreu mudanccedila eou
substituiccedilatildeo Esse fato pode ser constatado no Graacutefico 8 acima o qual demonstra
que dos 7 diretores(as) integrantes da pesquisa 5 possuem ateacute 3 anos na funccedilatildeo
pode-se dizer que estatildeo iniciando e 2 tecircm de 4 a 10 anos na funccedilatildeo A meacutedia de
tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo dos diretores da Rede Municipal de Ensino ficou em
torno de 29 anos Eacute expressivo portanto o nuacutemero de diretores(as) que se
encontram em iniacutecio de carreira na escola em que atuam
Esse resultado se distancia dos dados nacionais apresentados pela pesquisa
TALIS (INEP 2014) que mostrou um tempo meacutedio de 7 anos de experiecircncia dos
diretores no Brasil em cargo de direccedilatildeo Jaacute a pesquisa da Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) expocircs que o tempo meacutedio de experiecircncia dos diretores brasileiros eacute de 79
anos Essa dissonacircncia entre os dados da Rede Municipal de Ensino e os dados
nacionais pode estar vinculada agrave forma de ingresso ao cargo de direccedilatildeo que
conforme abordado anteriormente se daacute por indicaccedilatildeo configurando o cargo de
diretor(a) como um cargo de confianccedila podendo sofrer substituiccedilatildeo a qualquer
tempo principalmente em periacuteodo de mudanccedila de governo
Quanto aos supervisores(as) participantes deste estudo tambeacutem evidenciou-
se uma variaccedilatildeo no tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo 5 informaram possuir ateacute 3 anos
de experiecircncia 2 relataram ter de 4 a 10 anos e 1 natildeo respondeu sendo a meacutedia
70
de 27 anos Esse dado se aproxima daqueles apresentados pela Fundaccedilatildeo Victor
Civita (2011) com relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atuaccedilatildeo dos coordenadores
pedagoacutegicos brasileiros na escola atual que eacute de 39 anos
Dentre os integrantes da equipe diretiva escolar o orientador(a) foi o que
demostrou possuir maior tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo Dentre os 7 orientadores(as)
4 possuem ateacute 3 anos e 3 deles possuem 4 a 10 anos na funccedilatildeo A meacutedia de
tempo de atuaccedilatildeo como orientador(a) na Rede eacute dentre as equipes diretivas
pesquisadas de 34 anos
Perante os dados apresentados constatou-se que a meacutedia de tempo de
atuaccedilatildeo na funccedilatildeo por parte dos integrantes da equipe diretiva eacute baixa A partir
disso pode-se inferir que as equipes por estarem iniciando em suas funccedilotildees estatildeo
em processo de conhecer a comunidade e a cultura escolar21 local e a partir disso
construir viacutenculos de confianccedila que possibilitem uma gestatildeo colaborativa e
participativa Conhecer a escola eacute um processo que conforme explicitou Libacircneo
(2015 p 34) natildeo se daacute apenas pelo que se consegue observar dela e sim ao ―[]
captar aqueles significados valores atitudes modos de convivecircncia formas de agir
e de resolver problemas frequentemente ocultos invisiacuteveis que vatildeo definindo uma
cultura proacutepria de cada escola
Perante o exposto destaca-se aqui o desafio que se coloca agraves equipes
diretivas que estatildeo haacute pouco tempo trabalhando em suas unidades escolares uma
vez que na escola em que estatildeo iniciando existe uma cultura instituiacuteda que precisa
inicialmente ser conhecida para entatildeo ser mantida eou modificada em busca de
accedilotildees democraacuteticas e participativas
Um segundo desafio que se apresenta agraves equipes paralelamente ao primeiro
refere-se agrave implementaccedilatildeo viabilizaccedilatildeo e acompanhamento das poliacuteticas e diretrizes
educacionais na unidade escolar dentre as quais consta a poliacutetica de Educaccedilatildeo
Especial e as diretrizes para o Atendimento Educacional Especializado foco deste
estudo Sabendo disso buscou-se investigar se as equipes diretivas pesquisadas
possuiacuteam formaccedilatildeo especiacutefica com temas relacionados ao AEE O Quadro 5 a
seguir ilustra as respostas obtidas
21
Segundo Libacircneo (2015 p 34) ―a cultura da escola refere-se agravequeles significados modos de pensar e agir valores comportamentos modos de funcionamento que de certa forma mostram a identidade e os traccedilos caracteriacutesticos da escola e das pessoas que nela trabalham A cultura da escola eacute o que sintetiza os sentidos que as pessoas datildeo agraves coisas gerando um padratildeo coletivo de pensar e perceber as coisas e de agir
71
Quadro 5 ndash Formaccedilatildeo das equipes diretivas com temas relacionados ao AEE
Equipes Diretivas Diretor Orientador Supervisor
ED1 Natildeo respondeu Natildeo respondeu Natildeo respondeu
ED2 Sim Na faculdade e em cursos oferecidos pelo
Municiacutepio
Sim Cursos e materiais da grade
acadecircmica
Aleacutem de trabalhar na aacuterea Estou envolvida neste
processo
ED3 Natildeo Sim Fiz curso de linguagem de
sinais Natildeo
ED4 Sim Natildeo NatildeoNatildeo
ED5 Natildeo Natildeo respondeu Natildeo
ED6 Sim Na poacutes-graduaccedilatildeo
estudamos algumas siacutendromes
Natildeo Natildeo
ED7 Natildeo respondeu Sim Cursos que a Rede ofereceu
sobre Educaccedilatildeo Especial e o
AEE
Natildeo
Fonte Primaacuteria (2016)
A uacutenica equipe diretiva na qual todos os integrantes responderam
afirmativamente a essa questatildeo foi a ED2 na qual diretor(a) supervisor(a) e
orientador(a) informaram ter estudado o tema relacionado na graduaccedilatildeo poreacutem natildeo
especificaram os conteuacutedos abordados Em algumas equipes como a ED3 ED6 e
ED7 especificaram-se os conteuacutedos abordados na formaccedilatildeo realizada na aacuterea
como ―curso de sinais ―siacutendromes ―educaccedilatildeo especial e ―atendimento
educacional especializado Com relaccedilatildeo agrave ED1 o(a) orientador(a) apesar de
possuir trecircs especializaccedilotildees lato sensu sendo uma delas em Educaccedilatildeo Inclusiva
natildeo respondeu a essa questatildeo
Percebeu-se que na maioria das respostas houve contato com os temas
durante o percurso formativo seja na formaccedilatildeo inicial ou formaccedilatildeo continuada (poacutes-
graduaccedilatildeo e outros cursos) e que em poucos casos essa formaccedilatildeo foi oferecida
pela Rede Municipal de Ensino A formaccedilatildeo em serviccedilo pode funcionar como uma
possibilidade para mobilizar os profissionais a repensarem suas bases conceituais e
suas praacuteticas Dessa forma compreende-se que uma das tarefas primordiais da
Rede eacute conhecer as necessidades formativas dos seus profissionais e criar
condiccedilotildees para que essa formaccedilatildeo ocorra de modo contiacutenuo e consistente
Contudo Ferreira (2003 p 19-20) alerta que
A formaccedilatildeo continuada eacute uma realidade no panorama educacional brasileiro e mundial natildeo soacute como uma exigecircncia que se faz devido aos avanccedilos da ciecircncia e da tecnologia que se processam nas uacuteltimas deacutecadas mas como uma nova categoria que passou a existir no mercado da formaccedilatildeo contiacutenua e que por isso necessita ser
72
repensada cotidianamente no sentido de melhor atender a legiacutetima e digna formaccedilatildeo humana
Corroborando com a autora supracitada Silveira (2012) tambeacutem enfatizou a
importacircncia de programas de formaccedilatildeo de gestores que superem os tradicionais de
formaccedilatildeo burocraacutetica para que possam contribuir no desenvolvimento de um
trabalho colaborativo no acircmbito escolar
Em siacutentese identificou-se que os participantes dessa pesquisa tecircm um tempo
de atuaccedilatildeo significativo como professores em sala de aula e em sua maioria
apresentaram formaccedilatildeo inicial eou em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo condizentes agrave
especificidade de sua aacuterea de atuaccedilatildeo Entretanto constatou-se pouco tempo de
atuaccedilatildeo dos integrantes das equipes diretivas na funccedilatildeo em que exercem
atualmente A meacutedia de idade de cada integrante da equipe diretiva iniciando pelo
diretor(a) ficou em torno de 44 anos de idade os supervisores(as) 44 anos de
idade e os orientadores(as) 49 anos de idade
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo das equipes diretivas participantes desse estudo
segue-se para a anaacutelise dos dados da primeira categoria que versa sobre o que
pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado
32 O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado22
Nesta categoria de anaacutelise procurou-se abordar as compreensotildees das
equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
22
Para compor a anaacutelise e discussatildeo dos dados desta primeira categoria seratildeo analisadas as respostas das seguintes questotildees do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo 11Qual a compreensatildeo [da equipe diretiva] sobre o atendimento educacional especializado Quem satildeo os estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 13 Na escola em que vocecirc atua trabalha com o Atendimento Educacional Especializado Em caso afirmativo a) Eacute uma escola Polo ( ) b) atende somente estudantes desta escola ( ) 15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos estudantes puacuteblico alvo do AEE 19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE 21 Na escola em que vocecirc atua qual a participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros) 22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE 23 O professor de AEE na sua escola faz parte do quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino
73
focalizando o serviccedilo em si o puacuteblico-alvo da EE e o trabalho do professor
especializado23
Para apresentar e discutir o que pensam as equipes diretivas sobre o AEE no
acircmbito escolar optou-se por primeiramente elencar algumas informaccedilotildees a
respeito do funcionamento desse serviccedilo nas sete escolas pesquisadas conforme
se evidencia no Quadro 6
Quadro 6 - Situando o Atendimento Educacional Especializado nas escolas pesquisadas
ED1 ED2 ED3 ED4 ED5 ED6 ED7
Possui Sala de Recursos Multifuncionais X X X X
Possui Professor de AEE X X
Escola - polo e atende estudantes puacuteblico alvo da EE de outras duas escolas
X
Oferta AEE na proacutepria escola X X
Encaminha os estudantes para o AEE em outra escola
X
Estudantes puacuteblico-alvo da EE satildeo acompanhados pelo Professor da Sala Comum e pelo Monitor de Inclusatildeo da Sala Comum
X X
Natildeo possui estrutura fiacutesica e recursos humanos para oferecer o AEE e natildeo apresenta indiacutecios de encaminhamento para outras escolas
X
Fonte Primaacuteria (2016)
Pode-se perceber a partir das informaccedilotildees contidas no Quadro 6 que natildeo
satildeo todas as escolas possuem Sala de Recursos Multifuncionais localizadas em seu
espaccedilo fiacutesico Das quatro (ED1 ED2 ED4 e ED7) que possuem apenas duas (ED2
e ED4) contam com professor de AEE e ofertam esse serviccedilo na proacutepria escola as
demais apesar de possuiacuterem o espaccedilo fiacutesico para realizaccedilatildeo do AEE natildeo o
realizam (ED1) ou apresentam um entendimento de que o AEE acontece na sala
comum a partir do acompanhamento do professor e do monitor de inclusatildeo (ED7)
Constatar que das 7 equipes diretivas pesquisadas 4 possuem Salas de
Recursos Multifuncionais implantadas em suas respectivas escolas e dessas
somente duas (ED2 e ED4) estatildeo em funcionamento permite identificar um ponto de
atenccedilatildeo que diz respeito a como satildeo compreendidas as necessidades e o processo
23
Inspirando-se em Bernardes (2014) optou-se por fazer uso do termo ―professor(a) especializado(a) para se referir a docentes atuantes no AEE pelo fato de tal trabalho se configurar como especializado
74
de escolarizaccedilatildeo desses estudantes nas escolas da Rede Municipal de Ensino
pesquisada ou seja as que natildeo possuem o loacutecus para o AEE exceto a ED5
parecem natildeo se organizar de formas diferentes para garantir os apoios necessaacuterios
a aprendizagem dos estudantes considerados da EE como por exemplo
encaminhaacute-los para as escolas que possuem o AEE Logo parece haver a
compreensatildeo de que o AEE se restringe ao espaccedilo da SRM contudo eacute um dos
aspectos que compotildeem esse serviccedilo
Nesse sentido Rossato e Leonardo (2012 p 113) convidam a refletir
[] ao se considerar a educaccedilatildeo escolar como fundamental para a apropriaccedilatildeo da cultura produzida cabe questionar sobre a educaccedilatildeo e dentro desta a educaccedilatildeo especial discutindo sobre as formas e condiccedilotildees de ensino oferecidas agraves pessoas com deficiecircncia e agraves pessoas que aprendem diferentemente por nem sempre lhes possibilitarem o aprendizado escolar Condiccedilotildees de ensino essas que podem concentrar nelas estigma de fracasso e de incapacidade de maneira a natildeo viabilizar e natildeo cumprir com a sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo do conhecimento elaborado sistematizado
Nesse mesmo sentido Martins (2001) reitera que ao se defender o acesso e
o direito de aprender dos estudantes puacuteblico-alvo da EE na escola regular ―aleacutem
dos aspectos legais que as respaldam eacute fundamental analisar que esta escola eacute um
direito de todos os cidadatildeos (MARTINS 2001 p 30)
Ante o exposto questiona-se como a poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na
Perspectiva da Inclusiva (BRASIL 2008) e suas diretrizes vecircm sendo interpretadas
subjetivadas24 pelo sistema municipal de ensino e por conseguinte pelas equipes
diretivas pesquisadas
Compreende-se que essas equipes diretivas possuem um papel de referecircncia
na escola na organizaccedilatildeo e implementaccedilatildeo do serviccedilo de AEE juntamente com a
comunidade escolar considerando a necessidade desse serviccedilo e sua forma de
atuaccedilatildeo para garantir a permanecircncia e aprendizagem dos estudantes puacuteblico-alvo
da EE por meio de um processo de escolarizaccedilatildeo que leve em conta suas
singularidades potencialidades e sobretudo a garantia do direito de aprender
Assim destaca-se dentre as diretrizes da EE a Portaria ndeg 25 de 19 de junho
de 2012 que dispotildee sobre o Programa de implementaccedilatildeo de SRM a qual esclarece
24 Conforme Bock (2001 p 23) a subjetividade eacute ―concebida como algo que se constitui na relaccedilatildeo com o mundo material e social mundo este que soacute existe pela atividade humana Subjetividade e objetividade se constituem uma agrave outra sem se confundir
75
em seu o art 6ordm os compromissos assumidos pelo municiacutepio quando esse se propotildee
a implementar as salas de recursos
Art 6ordm Fica obrigada a DONATAacuteRIA [neste caso o Municiacutepio] a I - subordinar-se agraves diretrizes do Programa II- responsabilizar-se pela preservaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico para a instalaccedilatildeo dos bens doados III- disponibilizar professor para atuar na organizaccedilatildeo e oferta do atendimento educacional especializado - AEE IV- responsabilizar-se pela manutenccedilatildeo dos equipamentos doados V- orientar a escola destinataacuteria para instituir no seu Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico a organizaccedilatildeo e oferta do Atendimento Educacional Especializado complementar ou suplementar agrave escolarizaccedilatildeo de estudantes puacuteblico alvo da educaccedilatildeo especial matriculados nas classes comuns do ensino regular na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Educaccedilatildeo Profissional VI- promover a formaccedilatildeo continuada aos professores que atuam no AEE [] (BRASIL 2012 p33 grifos nosso)
Desse modo ao dispor de espaccedilo fiacutesico e natildeo utilizaacute-lo pode-se configurar
que alguns compromissos preacute-estabelecidos na referida Portaria (com destaque
para o art III nesse caso) natildeo estatildeo sendo cumpridos de modo a sinalizar que de
algum modo vem sendo negado ao estudante puacuteblico-alvo da EE o seu direito de
fazer uso de um espaccedilo que uma vez dotado de equipamentos mobiliaacuterios e
materiais didaacuteticos pedagoacutegicos e contando com o trabalho do professor
especializado e demais envolvidos pode contribuir no seu processo de
escolarizaccedilatildeo Por mais que esse espaccedilo por si soacute natildeo assegure ao estudante
puacuteblico-alvo da EE seu direito de aprender ele eacute uma das estrateacutegias que compotildeem
esse processo Nesse sentido concorda-se com Effgen (2011) quando ressalta
que ao discutir acerca da SRM e do AEE eacute preciso considerar ―[] que esse
espaccedilo e esse dispositivo configuram-se como uma rede de apoio agrave sala de aula
regular mas o centro do processo ensino-aprendizagem eacute a sala regular
(EFFGEN 2011 p158)
Ainda com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo das equipes diretivas sobre o serviccedilo de
AEE observou-se que a ED7 e a ED3 expressaram que o atendimento educacional
especializado aos estudantes puacuteblico-alvo da EE acontece por meio do
acompanhamento em suas escolas pelo Professor da Sala Comum e pelo Monitor
de Inclusatildeo na Sala Comum Esse uacuteltimo segundo a Lei Complementar nordm 192008
(CAMBORIUacute 2008) art 17D tem como atribuiccedilotildees as seguintes
76
I - auxiliar a docecircncia nas praacuteticas pedagoacutegicas mediando o desenvolvimento do aluno juntamente com o professor em situaccedilotildees que requeiram auxiacutelio como higiene alimentaccedilatildeo e locomoccedilatildeo dos educandos II - atuar diretamente com o aluno com muacuteltiplas deficiecircncias graves comprometimentos mentais ou condutas tiacutepicas de siacutendromes contribuindo para sua interaccedilatildeo e socializaccedilatildeo com os pares III - favorecer o desenvolvimento da independecircncia e autonomia dos alunos em suas atividades de vida diaacuteria e social no contexto escolar e nas atividades extraclasse auxiliando-os no que for necessaacuterio como a) cuidado pessoal uso do sanitaacuterio escovaccedilatildeo dos dentes banho troca de fraldas vestuaacuterio e outros b) refeiccedilotildees auxiliar o aluno em sua alimentaccedilatildeo c) locomoccedilatildeo conduzir o aluno que faz uso de cadeira de rodas eou apresenta dificuldades motoras aos diferentes espaccedilos fiacutesicos bem como realizar a transposiccedilatildeo do aluno para o sanitaacuterio carteira escolar e outros IV - executar tarefas afins com a educaccedilatildeo e de auxiacutelio para o levantamento de caracterizaccedilatildeo de perfil da comunidade escolar e acompanhamento da efetividade das accedilotildees realizadas e natildeo como forma de captaccedilatildeo de clientes VI - realizar accedilotildees no ambiente que favoreccedilam as condiccedilotildees adequadas para o processo de ensino e aprendizagem VII - contribuir para o planejamento e realizaccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas da escola VIII - executar outras atividades compatiacuteveis com o cargo IX - realizar as atividades que forem designadas por seu superior hieraacuterquico ou pela Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo (Redaccedilatildeo acrescida pela Lei Complementar n 7ordm 02014) (CAMBORIUacute 2008 sp)
Pode-se observar a partir da exposiccedilatildeo acima acerca das atribuiccedilotildees do
monitor de inclusatildeo orientaccedilotildees a esse profissional que dizem respeito agraves questotildees
pedagoacutegicas mas uma ecircnfase maior aos aspectos de cuidado assistecircncia e
socializaccedilatildeo do estudante puacuteblico-alvo da EE no acircmbito escolar Essa ecircnfase maior
por sua vez encontra seu fundamento na PNEE-PI (BRASIL 2008 sp) quando
essa reitera que
[] cabe aos sistemas de ensino ao organizar a educaccedilatildeo especial na perspectiva da educaccedilatildeo inclusiva disponibilizar as funccedilotildees de instrutor tradutorinteacuterprete de Libras e guia inteacuterprete bem como de monitor ou cuidador dos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene alimentaccedilatildeo locomoccedilatildeo entre outras que exijam auxiacutelio constante no cotidiano escolar
Entende-se no entanto que o monitor de inclusatildeo tem um importante papel
tambeacutem no desenvolvimento da aprendizagem e autonomia do estudante puacuteblico-
alvo da EE em interlocuccedilatildeo com o professor da sala comum professor
especializado equipe diretiva demais profissionais da escola e pais Nesse sentido
destaca-se a importacircncia da constituiccedilatildeo de espaccedilo e tempos para discussotildees sobre
os planejamentos estrateacutegias e recursos a serem utilizados com os estudantes da
EE assim como a necessidade de formaccedilatildeo providas pelos sistemas de ensino e
77
pelas escolas para os profissionais da educaccedilatildeo para discutir e refletir os assuntos
educacionais
Entende-se que estes espaccedilos e tempos de discussatildeo reflexatildeo
planejamento e formaccedilatildeo quando associados a um trabalho colaborativo na escola
podem contribuir para ressignificar os papeacuteis dos profissionais da educaccedilatildeo assim
como suas responsabilidades individuais e coletivas no processo de escolarizaccedilatildeo
do estudante puacuteblico-alvo da EE Como explicou Buumlrkle (2010 p 19) o trabalho e o
ensino colaborativo
[] abrange o professor de turma regular e o da Educaccedilatildeo Especial [monitor de inclusatildeo] poreacutem eacute indispensaacutevel que todos os envolvidos no processo educativo participem se envolvam e colaborem As parcerias estabelecidas possibilitam o desenvolvimento de ensino-aprendizagem mais adequado agraves necessidades educacionais especiais do aluno permitindo assim que o processo de inclusatildeo se efetive Uma inclusatildeo onde pertencer significa participar e natildeo apenas estar junto
No entanto realccedila-se aqui as situaccedilotildees das escolas em que atuam a ED1 e
ED6 A ED1 apesar de possuir a SRM natildeo conta com o profissional especializado e
de acordo com os dizeres do(a) supervisor(a) [] ―nenhum destes alunos possui
atendimento especializado Jaacute a ED6 aleacutem de natildeo possuir estrutura fiacutesica e
recursos humanos para oferecer o AEE natildeo apresenta indiacutecios de encaminhamento
para outras escolas E conforme o relato do(a) diretor(a) ED6d ―[] infelizmente
[estes estudantes puacuteblico-alvo da EE] natildeo satildeo atendidos
A partir desses dados eacute possiacutevel inferir que o serviccedilo de AEE natildeo vem sendo
realizado pela escola ainda que essa tenha estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo
Especial matriculados revelando uma negligecircncia Essa negligecircncia por sua vez
denota as ―tensotildees entre o legal documentado [e] sistemaacutetica jaacute estabelecida vivida
no espaccedilo escolar (FUCK 2014 p 147) Convergindo com a discussatildeo Freitas
(2011 p227) enfatiza que
[] o desafio da escola comum natildeo eacute somente com a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncias mas o de uma transformaccedilatildeo na sua totalidade pedagoacutegica tendo em vista as diferenccedilas de todos os alunos Daiacute os inuacutemeros desafios frente agraves contradiccedilotildees que demarcam as diferentes realidades do contexto nacional se acreditarmos numa educaccedilatildeo como processo de mudanccedila e de transformaccedilatildeo
78
Diante desses apontamentos iniciais que puderam ser realizados com base
na situaccedilatildeo do AEE em cada escola passa-se agora agrave anaacutelise das respostas das
equipes diretivas ao questionamento feito acerca do que pensam sobre o AEE
Dos 22 participantes 15 demonstraram uma compreensatildeo sobre o AEE
focada em seu puacuteblico alvo 4 no local de atendimento (Sala de Recursos
Multifuncionais) e 3 no processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Com exceccedilatildeo
desses uacuteltimos foi possiacutevel perceber que a maioria dos participantes demonstrou
uma compreensatildeo fragmentada privilegiando um dentre os diversos aspectos que
envolvem esse serviccedilo
Iniciando pelos participantes que demonstraram uma compreensatildeo sobre o
AEE com foco no puacuteblico-alvo desse serviccedilo observou-se que representam a
maior parte das equipes diretivas Ao especificarem quem compotildee esse puacuteblico-
alvo notou-se que a principal referecircncia feita por elas foi ao estudante com
deficiecircncia seguida de estudantes com dificuldades e distuacuterbios As falas a seguir
ilustram esse entendimento
ED3
d Satildeo alunos com dificuldade que recebem atendimento
especializado ED2
o Eacute um atendimento individualizado [para os estudantes puacuteblico-alvo
da EE] trabalhando suas habilidades ED4
s Atendimento para auxiliar alunos com deficiecircncia e distuacuterbios (grifo
nosso)
Esses dizeres que emergiram a partir do questionamento ―Qual eacute a sua
compreensatildeo sobre o AEE podem ser relacionados agraves falas emitidas pelos
participantes quando perguntados sobre ―Quem satildeo os estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial O Quadro 7 a seguir indica quais foram as suas respostas
Quadro 7 Puacuteblico-alvo do AEE nos dizeres das equipes diretivas escolares pesquisadas
Equipes diretivas
escolares Diretor(a) Orientador(a) Educacional Supervisor(a) Educacional
ED1
Estudantes com deficiecircncia auditiva
paralisia cerebral parcial deficiecircncia intelectual deficiecircncia muacuteltipla
autismo[transtornos]
Estudantes com deficiecircncia
auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia intelectual
deficiecircncia muacuteltipla autismo
[transtornos]
Estudantes com deficiecircncia auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia
intelectual deficiecircncia muacuteltipla
autismo [transtornos] Nenhum destes alunos possui atendimento
especializado a natildeo ser com a
psicoacuteloga
ED2 Alunos com laudo meacutedico
Alunos que apresentam algum
laudo meacutedico pedindo o auxiacutelio desse atendimento
Alunos do ensino fundamental da
rede puacuteblica de Camboriuacute do primeiro ao nono ano
ED3 Alunos com deficiecircncia Satildeo os alunos com dificuldades
especiais [] Os que tecircm deficiecircncia graves []
79
ED4
Alunos com baixa visatildeo
deficiecircncia e transtorno globais de
desenvolvimento Alunos com deficiecircncia e com
deacuteficit de atenccedilatildeo Alunos com deficiecircncia e com distuacuterbios de aprendizagem
ED5 Alunos com deficiecircncia Alunos com deficiecircncia Alunos com deficiecircncia
ED6
Alunos que precisam de atendimento
especializado de acordo com suas necessidades
especiacuteficas Satildeo todos os estudantes com
alguma dificuldade especiacutefica Alunos com algum tipo de deficiecircncia
fiacutesica ou deficiecircncia intelectual
ED7
Estudantes com deficiecircncia transtornos
globais do
desenvolvimento e altas habilidades
Estudantes com deficiecircncia transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades
Estudantes com deficiecircncia
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
Fonte Primaacuteria (2016)
Em primeiro lugar considera-se importante esclarecer que delimitar o puacuteblico-
alvo da Educaccedilatildeo Especial para aleacutem de definir para quem o serviccedilo de AEE eacute
destinado consiste em uma expressatildeo da loacutegica que marca a diferenccedila entre os
estudantes Conforme explicou Veiga-Neto (2011)
[] a proacutepria loacutegica de dividir os estudantes em classes ndash por niacuteveis cognitivos por aptidotildees por gecircnero por idades por classes sociais etc ndash foi um arranjo inventado para justamente colocar em accedilatildeo a norma atraveacutes de um crescente e persistente movimento de separando o normal do anormal marcar a distinccedilatildeo entre normalidade e anormalidade (VEIGA-NETO 2011 p 110-111 grifo nosso)
Quando observadas como um todo as falas dos participantes evidenciaram
que o termo utilizado com mais frequentes para se referir ao puacuteblico-alvo do AEE foi
―deficiecircncia conforme indicado no Quadro 8 a seguir
Quadro 8 - Recorrecircncias sobre o puacuteblico-alvo da EE nos dizeres das equipes diretivas escolares
pesquisadas
25 O indicador de recorrecircncia refere-se agrave quantidade de vezes que uma expressatildeo eacute repedida por um mesmo participante eou ele e os demais podendo ultrapassar o nuacutemero de participantes De acordo com Franco (2012 p 60) [] em grande parte das investigaccedilotildees qualquer que seja o tema explicitado o mesmo passa a ter mais importacircncia para a anaacutelise dos dados quanto mais frequentemente for mencionado
Categorias Recorrecircncia25
Deficiecircncia 18
Transtornos 7
Altas Habilidades 3
Laudo Meacutedico 2
Dificuldades especiacuteficasespeciais 2
Distuacuterbios 1
80
Fonte Primaacuteria (2016)
A partir da anaacutelise dos Quadros 7 e 8 pode-se dizer que haacute indiacutecios de que o
puacuteblico-alvo do AEE tem sido generalizado e focalizado como sendo ―estudantes
com deficiecircncia Nesse sentido questiona-se quem eou o que se perde de vista
quando o foco estaacute no estudante com deficiecircncia Pode-se dizer que ao restringir o
puacuteblico alvo da EE ao estudante com deficiecircncia incorre-se no risco de se distanciar
de uma compreensatildeo sobre os transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades [] ―jaacute que representam realidades complexas que necessitam de
compreensatildeo expliacutecita de suas caracteriacutesticas para que possam ser oferecidos os
apoios necessaacuterios (ARAOacuteZ 2010 p15)
Eacute preciso considerar inicialmente que a categorizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial definida na PNEE-EI (2008) como sendo pessoas com
deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo eacute uma constituiccedilatildeo histoacuterica recente Meletti e Bueno
(2011) esclarecem que as formulaccedilotildees das poliacuteticas de Educaccedilatildeo Especial no Brasil
ao incorporarem as orientaccedilotildees internacionais abordadas na Declaraccedilatildeo Mundial
sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) bem como a adesatildeo agrave Declaraccedilatildeo de
Salamanca (UNESCO 1994) procuraram se articular em uma perspectiva inclusiva
Por conseguinte na tentativa de se estabelecer um enfoque inclusivo foi possiacutevel
observar ao analisar as Diretrizes Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica
(BRASIL2001) que a categoria ―deficiecircncia era dissolvida no conceito de
necessidades educacionais especiais
Nesse sentido Meletti e Bueno (2011 p 111 - 112) enfatizam que
[] o termo [necessidades educacionais especiais] eacute utilizado inicialmente na Declaraccedilatildeo de Salamanca para caracterizar crianccedilas com deficiecircncia e crianccedila bem - dotadas crianccedilas que vivem nas ruas que trabalham crianccedilas de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais [] Isto indica que a deficiecircncia eacute entendida como uma expressatildeo localizada da diversidade que compotildee as chamadas necessidades educacionais especiais No Brasil a Declaraccedilatildeo de Salamanca passa a ser citada como um marco na educaccedilatildeo especial [] O conceito ―necessidade educacional especial passa a designar a condiccedilatildeo de deficiecircncia em nosso contexto imprimindo um novo sentido Novo mas natildeo a ponto de transformar como anunciado a concepccedilatildeo de deficiecircncia [] a adoccedilatildeo do termo necessidades
Necessidades Especiacuteficas 1
Deacuteficit de atenccedilatildeo 1
81
educacionais especiais por um lado pode representar um avanccedilo no sentido de minimizar a estigmatizaccedilatildeo e a pejoratividade de termos anteriores mas por outro lado como o conceito ―portador de necessidades educativas especiais abrange uma diversidade de sujeitos ao ganhar na amplitude e na quebra da estigmatizaccedilatildeo perde na precisatildeo
Identificou-se que mesmo demostrando imprecisatildeo o termo ―necessidades
educacionais especiais foi incorporado agrave Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 22001 que
instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educaccedilatildeo Especial na Educaccedilatildeo Baacutesica No
art 5ordm a referida Resoluccedilatildeo procurou especificar o que se entende que tais
necessidades sejam
Art 5ordm Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que durante o processo educacional apresentarem I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitaccedilotildees no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares compreendidas em dois grupos a) aquelas natildeo vinculadas a uma causa orgacircnica especiacutefica b) aquelas relacionadas a condiccedilotildees disfunccedilotildees limitaccedilotildees ou deficiecircncias II ndash dificuldades de comunicaccedilatildeo e sinalizaccedilatildeo diferenciadas dos demais alunos demandando a utilizaccedilatildeo de linguagens e coacutedigos aplicaacuteveis III - altas habilidadessuperdotaccedilatildeo grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos procedimentos e atitudes (BRASIL 2001 p 2 grifo nosso)
A ecircnfase conferida no documento agraves necessidades educacionais especiais
como sendo dificuldades de aprendizagem permite inferir que a adoccedilatildeo do termo
―favoreceu a classificaccedilatildeo de alunos com histoacuterico de fracasso escolar como
especiais (MELETTI amp BUENO 2011 p 113)
Essa forma de categorizar a deficiecircncia como parte do amplo conjunto de
necessidades educacionais especiais se alterou no discurso legal brasileiro em
2008 com a publicaccedilatildeo da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na perspectiva Inclusiva
(BRASIL 2008) Esse documento passou a delimitar o puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo
Especial agrave condiccedilatildeo de deficiecircncia e substituir a noccedilatildeo de condutas tiacutepicas pelo
conceito de transtornos globais do desenvolvimento suprimindo ainda a categoria
geneacuterica de dificuldade de aprendizagem (MELETTI amp BUENO 2011)
Ainda que esta breve contextualizaccedilatildeo histoacuterica possibilite acompanhar
algumas alteraccedilotildees realizadas nos discursos legais sobre o puacuteblico-alvo da EE os
dizeres dos integrantes das equipes diretivas evidenciaram que tais discursos de
fato natildeo satildeo apropriados da mesma maneira por todos Apesar da ED7 demonstrar
uma apropriaccedilatildeo semelhante do que estaacute posto na PNEE-EI (2008) sobre o puacuteblico-
82
alvo da EE o termo ―estudante com deficiecircncia ainda eacute o mais recorrente quando
se expande o olhar para as falas das equipes diretivas como um todo
Tal constataccedilatildeo pode significar que os estudantes com deficiecircncia
representam a maioria do puacuteblico-alvo da EE nas escolas pesquisadas mas
tambeacutem permite pensar que talvez exista uma dificuldade no processo de
identificaccedilatildeo dos estudantes com transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo No entanto suprimir os demais estudantes puacuteblico-alvo
da EE ao generalizaacute-los como ―estudantes com deficiecircncia pode indicar indiacutecios de
uma forma sutil de reiterar a invisibilidade desses no contexto escolar
Nesse sentido questiona-se se seriam esses estudantes com Transtornos
Globais do Desenvolvimento e Altas Habilidades Superdotaccedilatildeo pouco citados nos
dizeres dos integrantes das equipes diretivas escolares uma minoria matriculados
em sala de aula comum nas escolas brasileiras Para responder a esse
questionamento recorreu-se aos dados publicados no Censo Escolar (MECINEP
2015) a fim de conhecer o nuacutemero de estudantes puacuteblico-alvo da EE matriculados
no Brasil em Santa Catarina e no municiacutepio de Camboriuacute conforme detalhado no
Quadro 9 que segue
Quadro 9 Distribuiccedilatildeo das matriacuteculas por categoria utilizada no Censo Escolar de 2015 (MECINEP 2015) no Brasil em Santa Catarina e no Municiacutepio de Camboriuacute
Total de Matriacuteculas na Educaccedilatildeo Especial em Classes Comuns - Ensino Regular e
EJA
Categoria26 Brasil Santa
Catarina Camboriuacute
Deficiecircncia
Cegueira 5691 209 3
Baixa Visatildeo 64123 1858 25
Surdez 22945 704 11
Deficiecircncia Auditiva 31329 1330 11
Surdocegueira 337 13 0
Deficiecircncia Fiacutesica 100254 3382 21
Deficiecircncia Intelectual 490015 17731 180
Deficiecircncia Muacuteltipla 41948 1870 14
Total - Deficiecircncias 756642 27097 265
Transtornos Globais do Desenvolvimento
Autismo 41194 2094 19
Siacutendrome de Asperger 8244 768 7
26
Ressalta-se que conforme as instruccedilotildees disponibilizadas pelo MECINEP para preenchimento dos dados do Censo Escolar natildeo eacute necessaacuteria a comprovaccedilatildeo de laudo meacutedico no momento em que a escola informa no sistema Educacenso a categoria de um estudante puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial
83
Siacutendrome de Rett 1670 32 1
Transtorno Desintegrativa da Infacircncia ndash TDI
32904 1231 22
Total ndash TGD 84012 4125 49
Altas Habilidades Superdotaccedilatildeo
Altas HabilidadesSuperdotaccedilatildeo
14166 314 0
Total - AHSD 14166 314 0
Fonte Formulado a partir dos dados contidos na Sinopse Estatiacutestica da Educaccedilatildeo Baacutesica (MECINEP 2015) Nota-se que de fato os estudantes com transtornos globais e com altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo satildeo minoria sendo os estudantes com deficiecircncia a
maioria do puacuteblico-alvo da EE matriculado nas escolas do Brasil Santa Catarina e
Camboriuacute Ou seja quando as equipes diretivas pesquisadas recorrem com
frequecircncia ao termo ―deficiecircncia para especificar o puacuteblico-alvo da EE pode-se
dizer que elas falam daquilo que vivenciam em seu cotidiano escolar por mais que o
faccedilam de forma generalizada
Contudo generalizar que os estudantes puacuteblico-alvo da EE se resumem aos
estudantes com deficiecircncia em funccedilatildeo dessa prevalecircncia numeacuterica consiste em uma
forma de encobrir a existecircncia dos demais estudantes e com isso correr o risco de
negar a diversidade que tambeacutem existe no acircmbito do puacuteblico-alvo da EE Nessa
direccedilatildeo Vasques (2015 p118) esclarece que
[] a inclusatildeo escolar envolve uma construccedilatildeo compartilhada a partir dos nossos pressupostos a respeito de educaccedilatildeo escola aluno [educaccedilatildeo especial] infacircncia etc Tais antecipaccedilotildees ganham significados a partir do contexto da historicidade e da interpretaccedilatildeo dos sujeitos das poliacuteticas puacuteblicas educacionais e das instituiccedilotildees envolvidas
Adentrado agora nos pontos que chamaram especificamente a atenccedilatildeo nas
falas de algumas equipes diretivas notou-se que o(a) supervisor(a) educacional da
ED1 mencionou que nenhum dos estudantes puacuteblico-alvo da EE citados (estudantes
com deficiecircncia auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia mental intelectual e
muacuteltipla) recebe atendimento especializado a natildeo ser com a psicoacuteloga Investigando
as funccedilotildees do psicoacutelogo na escola encontrou-se na Lei Complementar Nordm 192008
(CAMBORIUacute 2008) as seguintes atribuiccedilotildees
At 17 Satildeo atribuiccedilotildees do Suporte Pedagoacutegico na funccedilatildeo de Psicoacutelogo lotado na Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
84
I - contribuir no processo de inclusatildeo social de alunos com necessidades educativas especiais realizando um trabalho coletivo com os pais educadores e equipe pedagoacutegica II - auxiliar no processo de inclusatildeo escolar rompendo com as praacuteticas excludentes III - orientar os professores para desenvolverem accedilotildees planejadas que promovam a apropriaccedilatildeo do saber escolar e o desenvolvimento cognitivo dos estudantes IV - promover discussatildeo sobre a inclusatildeo e o respeito agrave diversidade humana V - contribuir no processo ensino-aprendizagem colaborando com o corpo docente e teacutecnico na compreensatildeo das questotildees de aprendizagem e relacionamento VI - colaborar na reconstruccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das praacuteticas educacionais visando favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento psicossocial dos alunos VII - avaliar alunos com dificuldade de aprendizagem e o desenvolvimento psicossocial destes VIII - avaliar alunos com dificuldade de aprendizagem emitindo parecer psicoloacutegico e propondo encaminhamentos quando necessaacuterio IX - promover palestras encontros eou grupos de reflexatildeo para pais e familiares possibilitando maior envolvimento da famiacutelia no meio escolar X - desenvolver conforme necessidade da escola programas de orientaccedilatildeo profissional em conjunto com a equipe pedagoacutegica XI - realizar pesquisas na aacuterea da psicologia escolar contribuindo para a construccedilatildeo de novos saberes XII - promover a articulaccedilatildeo e troca de conhecimentos entre as diferentes aacutereas de saber XIII - colaborar com os processos de transformaccedilatildeo da realidade escolar tendo como meta a escola democraacutetica de qualidade social e para todos XIV - executar outras atividades compatiacuteveis com o cargo XV - realizar as atividades que forem designadas por seu superior hieraacuterquico ou pela Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo (CAMBORIUacute 2008)
Torna-se claro pelas funccedilotildees expostas no documento que o trabalho do
psicoacutelogo escolar eacute relevante para o processo de escolarizaccedilatildeo Em pesquisa
disponiacutevel no site do Conselho Federal de Psicologia realizada no ano de 2015 com
professores de diversas regiotildees do Brasil sobre temas relativos agrave profissatildeo docente
e ao contexto educacional do paiacutes foi constatado que a rede puacuteblica de ensino
deveria dispor de um serviccedilo integrado com psicoacutelogo(a) psicopedagogo(a) e
assistente social Para 50 dos professores entrevistados as secretarias de
educaccedilatildeo deveriam oferecer psicoacutelogos enquanto 28 solicitavam psicopedagogos
8 assistentes sociais 7 mediadores de conflito e 4 fonoaudioacutelogos
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA 2015 sp)
Esse trabalho do psicoacutelogo escolar ainda que natildeo substitua o atendimento
educacional especializado pode contribuir para favorecer um trabalho coletivo
voltado agrave escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Dazzani (2010 p 371)
apoiada em Martinez (2001) explanou que
85
[] mesmo diante de todas as criacuteticas agrave histoacuteria das relaccedilotildees entre psicologia e educaccedilatildeo devemos insistir que o conhecimento produzido pelas ciecircncias psicoloacutegicas pode contribuir com a praacutetica educativa ou seja consideramos que o psicoacutelogo pode e deve se envolver diretamente com a accedilatildeo educacional Pensando assim as estrateacutegias do psicoacutelogo educacional devem ser concebidas como um dos modos de interpretar a realidade educacional objetiva (social e politicamente objetiva) sem reduzi-la a um fenocircmeno puramente psicoloacutegico
Nesse sentido no que tange agrave realizaccedilatildeo do AEE da Rede Municipal de
Ensino de Camboriuacute haacute indiacutecios de que a forma como o serviccedilo estaacute estruturado e
organizado natildeo corrobora para assegurar o direito a aprender dos estudantes
puacuteblico-alvo da EE Isso porque como explicou Omote (2004 p6)
[] a mera inserccedilatildeo do aluno deficiente em classe comum natildeo pode ser confundida com a inclusatildeo Na verdade toda a escola precisa ter caraacuteter inclusivo nas suas caracteriacutesticas e no funcionamento para que sejam matriculados alunos deficientes [] Uma escola que soacute busca arranjo especial determinado pela presenccedila de algum aluno deficiente e na qual a adequaccedilatildeo eacute feita para as necessidades particulares dele natildeo pode ser considerada propriamente inclusiva
Nessa perspectiva Freitas (2002) alerta que ao fazer uma anaacutelise acerca da
escola puacuteblica eacute preciso considerar as pressotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais
postas pelo sistema capitalista a ela Pressotildees essas que se traduzem em poliacuteticas
puacuteblicas impregnadas de pressupostos neoliberais e colocadas em funcionamento
com o objetivo de ―reduzir custos econocircmicos sociais e poliacuteticos sem alterar a
essecircncia seletiva da escola resultando em maior nuacutemero de repetecircncia e evasatildeo
criando um campo de exclusatildeo subjetiva (FREITAS 2002 p 299) Isso pode
significar que a forma como a escola puacuteblica estaacute organizada pode natildeo estar
considerando as singularidades e potencialidades da maioria de seus estudantes e
natildeo somente dos que satildeo denominados puacuteblico-alvo da EE Nessa direccedilatildeo o autor
enfatiza ainda que
[] quanto mais se falou em inclusatildeo mais se legitimou a exclusatildeo social preacutevia agrave escolarizaccedilatildeo por um mecanismo dissimulatoacuterio de inclusatildeo formal na escola que transmutou a exclusatildeo escolar objetiva (repetecircncia evasatildeo) em exclusatildeo escolar subjetiva (auto-exclusatildeo entre ciclos ―opccedilotildees por trilhas de progressatildeo menos privilegiadas tracircnsito formal sem domiacutenio real) a partir dos horizontes e das possibilidades de classe previamente interiorizados pelas condiccedilotildees objetivas de cada classe na sociedade (FREITAS 2002 p 310)
86
Em meio agraves reflexotildees supracitadas pode-se perceber a importacircncia da
atuaccedilatildeo criacutetica e reflexiva da equipe diretiva juntamente com a comunidade escolar
no que tange agraves poliacuteticas educacionais de modo a compreender o contexto
histoacuterico econocircmico poliacutetico e social em que estatildeo inseridos assim como quais
pressupostos permeiam tais poliacuteticas buscando formas de constituir um fazer
pedagoacutegico que possa contribuir com um efetivo processo de escolarizaccedilatildeo para
todos os estudantes
Ao seguir com as anaacutelises se observou que a maioria dos integrantes da
ED2 por sua vez enfatizaram que o puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial satildeo todos
os estudantes com laudos meacutedicos indicando que a forma como essa equipe
diretiva compreende os referidos estudantes estaacute pautada em um modelo meacutedico-
psicoloacutegico Essa perspectiva que se expressa no ato de requerer ou se basear no
laudo meacutedico eou psicoloacutegico para realizar um atendimento educacional
especializado encontra seu fundamento na histoacuteria da Educaccedilatildeo Especial quando
os aspectos cliacutenicos predominavam em detrimento dos pedagoacutegicos A esse
respeito Garcia (2007 p17) esclareceu que
[] o modelo meacutedico psicoloacutegico contribuiu para que a tarefa da educaccedilatildeo especial estivesse a serviccedilo de um sistema educacional de organizaccedilatildeo seriada elitista e classificatoacuteria produtor de exclusatildeo da escola de ensino fundamental e estruturado historicamente por meio de uma organizaccedilatildeo racional do trabalho pedagoacutegico com base na homogeneidade
As falas das equipes diretivas sinalizam que o laudo meacutedico se caracteriza
como uma espeacutecie de ―credencial para que o estudante puacuteblico-alvo da EE consiga
acessar seu direito ao serviccedilo de AEE bem como a outros serviccedilos Quando se
confere tal relevacircncia ao laudo corre-se o risco de planejar as accedilotildees escolares
voltadas para a deficiecircncia e natildeo para o estudante e suas potencialidades Contudo
ressalta-se que segundo informaccedilotildees da Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria
Municipal de Educaccedilatildeo obtidas por meio de entrevista durante o processo de coleta
de dados desta pesquisa a ausecircncia de laudo natildeo eacute impeditiva para a oferta do
AEE a esses estudantes Essa informaccedilatildeo por sua vez converge com as
orientaccedilotildees contidas na Nota Teacutecnica no 042014MECSECADIDPEE quando essa
enfatiza que
[] natildeo se pode considerar imprescindiacutevel a apresentaccedilatildeo de laudo meacutedico (diagnoacutestico cliacutenico) por parte do aluno com deficiecircncia transtornos globais
87
do desenvolvimento ou altas habilidadessuperdotaccedilatildeo uma vez que o AEE caracteriza-se por atendimento pedagoacutegico e natildeo cliacutenico Durante o estudo de caso primeira etapa da elaboraccedilatildeo do Plano de AEE se for necessaacuterio o professor do AEE poderaacute articular-se com profissionais da aacuterea da sauacutede tornando-se o laudo meacutedico neste caso um documento anexo ao Plano de AEE Por isso natildeo se trata de documento obrigatoacuterio mas complementar quando a escola julgar necessaacuterio O importante eacute que o direito das pessoas com deficiecircncia agrave educaccedilatildeo natildeo poderaacute ser cerceado pela exigecircncia de laudo meacutedico (BRASIL 2014 sp)
Nesse sentido considera-se que ao conferir ecircnfase ao laudo meacutedico incorre-
se no risco de uma interpretaccedilatildeo que pode culminar em condiccedilotildees de ensino que
levem em conta unicamente a dimensatildeo individual de modo a estigmatizar e
responsabilizar cada estudante pelo seu eventual fracasso ou sucesso escolar
(ROSSATO e LEONARDO 2012)
Nota-se portanto no que tange agrave necessidade do laudo meacutedico um
desencontro entre a perspectiva da Coordenaccedilatildeo e de parte da equipe diretiva da
escola ED2 o que sugere a necessidade de uma aproximaccedilatildeo e articulaccedilatildeo entre as
duas instacircncias em prol do processo de escolarizaccedilatildeo do estudante puacuteblico-alvo da
EE
Quanto agrave ED4 percebeu-se na fala do(a) orientador(a) educacional que foi
feita uma referecircncia ao estudante com deacuteficit de atenccedilatildeo como sendo puacuteblico-alvo
da EE demonstrando uma divergecircncia do que estaacute posto na PNEE-EI (BRASIL
2008) sobre quem satildeo os estudantes que devem receber atendimento educacional
especializado A fala desse(a) participante contudo estaacute alinhada ao Plano
Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute instituiacutedo pela Lei nordm 28322015 (CAMBORIUacute
2015) que inclui os estudantes com transtorno de deacuteficit de atenccedilatildeo como parte do
puacuteblico-alvo a ser atendido pelo serviccedilo de AEE assim como ao documento da
Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina de 2014
[] fomentar a oferta do atendimento educacional especializado complementar e suplementar aos estudantes com deficiecircncia transtornos do espectro do autismo transtorno do deacuteficit de atenccedilatildeo com hiperatividade e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo assegurando a educaccedilatildeo biliacutengue para crianccedilas surdas e a transversalidade da educaccedilatildeo especial nessa etapa da educaccedilatildeo baacutesica com profissionais habilitados (CAMBORIUacute 2015 p 7 grifo nosso)
De acordo com as orientaccedilotildees da Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada
Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo por meio da Diretoria de Poliacuteticas de
88
Educaccedilatildeo Especial27 (SECADIDPEE) estudantes que apresentam transtornos
funcionais especiacuteficos tais como Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo - TDA
Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo ndash Hiperatividade - TDHA e Dislexia natildeo fazem
parte do puacuteblico alvo da educaccedilatildeo especial (INEP 2011 sp) Contudo apesar da
PNEE-EI (BRASIL 2008) esclarecer delimitar e especificar o puacuteblico-alvo da EE
como sendo pessoas com deficiecircncias transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades e superdotaccedilatildeo foi possiacutevel identificar no documento da Poliacutetica
de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina (SANTA CATARINA 2014) a
inclusatildeo de pessoas com diagnoacutestico de transtorno do deacuteficit de
atenccedilatildeohiperatividade como parte desse puacuteblico-alvo
[] eacute importante observar que no Estado de Santa Catarina em 2006 foi publicada a Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina elaborada pela Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial (FCEE) e pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo com o mesmo marco conceitual da Proposta Curricular do Estado Esta poliacutetica adota nomenclaturas e dinacircmicas para serviccedilos jaacute disponibilizados inclui as pessoas com diagnoacutestico de transtorno do deacuteficit de atenccedilatildeohiperatividade como puacuteblico da educaccedilatildeo especial e institui a co-regecircncia com o segundo professor (SANTA CATARINA 2014 p72 grifos nosso)
Pode-se inferir nesse sentido que o Plano Municipal de Educaccedilatildeo de
Camboriuacute se apoiou na poliacutetica estadual ao definir quem seriam os estudantes a
receber atendimento educacional especializado Com relaccedilatildeo ainda ao transtorno
do deacuteficit de atenccedilatildeo Leite etal (2012) evidencia um ponto de tensatildeo acerca de
encaminhamentos realizados pelas escolas dos estudantes com suspeita desse
transtorno uma vez que tem levado a um ―diagnoacutestico desse problema natildeo raros
feitos de maneira aligeirada e superficial combinada a uma prescriccedilatildeo exacerbada
de medicamentos para trataacute-los se constituindo em um fenocircmeno crescente no
cenaacuterio brasileiro (LEITE et al 2012 p 142) Sobre essa questatildeo Collares e
Moyseacutes (1996 p7) ressaltam ainda que
27
A Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo - SECADI eacute a responsaacutevel pelo Programa de implantaccedilatildeo das SRM e o compreende como parte das poliacuteticas puacuteblicas inclusivas e como uma accedilatildeo que responde agrave necessidade histoacuterica de promover condiccedilotildees de acesso e permanecircncia no ensino regular dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial (BRASIL 2013)
89
[] existem crianccedilas com necessidades especiais[puacuteblico-alvo da EE] Entretanto o universo de crianccedilas normais que satildeo transformadas em doentes por uma visatildeo de mundo medicalizada da sociedade em geral e da instituiccedilatildeo escolar em particular eacute tatildeo grande que tem nos impedido de identificar e atender adequadamente as crianccedilas que realmente precisam de atenccedilatildeo especializada []
Ateacute aqui foi possiacutevel problematizar algumas questotildees que surgiram a partir
das respostas dos participantes da pesquisa agrave pergunta ―Quem satildeo os estudantes
puacuteblico-alvo do AEE A partir de agora volta-se a anaacutelise para as respostas dos
profissionais das equipes diretivas agrave questatildeo ―Qual a sua compreensatildeo sobre
serviccedilo do AEE As respostas fornecidas a ambas as questotildees foram
semelhantes uma vez que ao falarem sobre o serviccedilo a maioria dos participantes
focalizou o seu puacuteblico-alvo Pode-se dizer que as equipes diretivas lanccedilaram luz ao
fazecirc-lo sobre um aspecto importante desse serviccedilo que se refere a para quem ele eacute
ofertado Entretanto adverte-se para o risco de se tomar a parte pelo todo isto eacute
reduzir o AEE ao indiviacuteduo que eacute puacuteblico-alvo desse serviccedilo
Uma compreensatildeo fragmentada sobre esse serviccedilo pode levar a um
entendimento descontextualizado que deixa de fora da anaacutelise outros fatores que
compotildeem o AEE como o contexto social poliacutetico e econocircmico vigente a
participaccedilatildeo da famiacutelia e comunidade o envolvimento de todos os profissionais da
escola na efetivaccedilatildeo do AEE dentre os quais figura a equipe diretiva aqui estudada
as condiccedilotildees objetivas da escola e as concepccedilotildees teoacutericas que embasam a atuaccedilatildeo
dos integrantes das Equipes Diretivas
Em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees objetivas Paro (2016b) esclarece que se referem agrave
infraestrutura fiacutesica aos recursos humanos materiais e pedagoacutegicos agrave formaccedilatildeo
profissional em serviccedilo ao apoio aos professores dentre outros fatores Tais
condiccedilotildees podem favorecer ou desfavorecer o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial bem como o trabalho da equipe
diretiva escolar no que tange agrave implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do Atendimento
Educacional Especializado
Simplificar a compreensatildeo do AEE reduzindo-o ao estudante com
deficiecircncia pode indicar que os integrantes das equipes diretivas natildeo entendem o
serviccedilo como aquele que contribui para uma adequaccedilatildeo estrutural pedagoacutegica e
cultural voltado a eliminar barreiras propiciando interface entre o professor
90
especializado e o professor da sala comum Nessa perspectiva Garcia (2008 p21)
expocircs que
[] ainda que a implantaccedilatildeo de serviccedilos especializados nas redes de ensino signifique um ganho em termos de oferta educacional puacuteblica para os alunos com deficiecircncia eacute necessaacuterio questionar qual o papel exercido por tais serviccedilos e como estatildeo relacionados ao trabalho pedagoacutegico realizado na educaccedilatildeo baacutesica
Compreender o AEE a partir do seu puacuteblico-alvo exige o cuidado de se
considerar a dimensatildeo do indiviacuteduo sem responsabilizaacute-lo unicamente pelo processo
de escolarizaccedilatildeo uma vez que a culpabilizaccedilatildeo individual eacute ―[] uma das estrateacutegias
psicossociais mais sutis na tarefa de legitimaccedilatildeo da exclusatildeo (GUARESCHI 2010
p 151)
Direcionar o foco ao estudante tambeacutem pode dar indiacutecios de que o processo
de escolarizaccedilatildeo pode estar ocorrendo de forma precaacuteria28 nas escolas
pesquisadas de forma que somente um aspecto ndash o estudante ou de forma mais
especiacutefica sua deficiecircncia ndash esteja sendo considerada quando se trata de oferecer
um atendimento que enfoque sua necessidade educacional especiacutefica O caraacuteter
ilusoacuterio da inclusatildeo nessa pesquisa se revela quando o serviccedilo de AEE para alguns
integrantes das equipes diretivas estudadas natildeo eacute compreendido a partir de uma
perspectiva contextualizada que considere aspectos estruturais pedagoacutegicos e
histoacuterico-culturais mas se reduz agrave deficiecircncia do estudante
Ainda que a maioria dos participantes tenha demonstrado uma
compreensatildeo sobre o AEE focalizada em seu puacuteblico-alvo alguns deles
apresentaram um entendimento sobre o serviccedilo com foco no local em que eacute
realizado (a Sala de Recursos Multifuncionais) conforme evidenciado nas falas de
ED1d ED1o e ED6s
ED1
d Temos a sala mas natildeo tem especialista para trabalhar
ED1o Temos a sala mas natildeo tem especialista para trabalhar nossos
alunos ED6
s Com relaccedilatildeo a nossa unidade de ensino e do municiacutepio em geral a
falta de espaccedilo adequado e profissionais qualificados eacute de grande expressatildeo (grifo nosso)
28
Segundo Martins (1997) inclusatildeo precaacuteria significa que todas as pessoas estatildeo incluiacutedas na sociedade de algum modo contudo podem estar incluiacutedas de forma perversa subalterna marginal
91
Percebe-se que ao serem perguntados sobre como compreendiam o AEE a
primeira associaccedilatildeo feita pelos participantes foi com um espaccedilo fiacutesico ―temos a
sala e se referem agrave ―falta de espaccedilo adequado O que chama atenccedilatildeo junto dessa
primeira associaccedilatildeo eacute uma segunda que eacute com relaccedilatildeo ao profissional
especializado
Essas satildeo duas partes importantes do serviccedilo a Sala de Recursos
Multifuncionais e o professor especializado Basta olhar a Resoluccedilatildeo nordm 42009
(BRASIL 2009) que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional
Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica para verificar o destaque conferido a esses
aspectos jaacute no seu art 1ordm
[] os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE) ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede puacuteblica ou de instituiccedilotildees comunitaacuterias confessionais ou filantroacutepicas sem fins lucrativos (BRASIL 2009 p 1 grifo nosso)
Evidencia-se a partir da citaccedilatildeo que na proacutepria resoluccedilatildeo a primeira
referecircncia feita ao que eacute o Atendimento Educacional Especializado no art 1 eacute
acompanhada logo na sequecircncia da expressatildeo sala de recursos multifuncionais
Vecirc-se portanto que essa associaccedilatildeo entre AEE e SRM se faz visiacutevel natildeo apenas
nos dizeres dos participantes mas tambeacutem nos documentos oficiais Os discursos
legais nesse sentido revelam-se como determinaccedilotildees dos discursos das equipes
diretivas ao se referirem ao AEE Sobre isso Vaz (2013 p44) ressaltou que eacute
preciso considerar nos discursos legais
[] o caraacuteter impositivo e direcionador que muitas vezes utiliza argumentos com caraacuteter humanista para convencer a populaccedilatildeo sobre seus objetivos [] os sujeitos podem apresentar resistecircncias em implementar a poliacutetica na escola no entanto a abrangecircncia dos discursos de convencimento e adesatildeo eacute muito significativa e faz parte de uma concepccedilatildeo de sociedade cuja intenccedilatildeo primordial eacute manter as relaccedilotildees antagocircnicas entre o capital e o trabalho
Ao fazer um contrapondo Franccedila (2008) destaca que as poliacuteticas
educacionais natildeo satildeo simplesmente incorporadas agrave escola por seus profissionais
ao inverso disso elas satildeo interpretadas ressignificadas pelos sujeitos que nela
trabalham podendo produzir nessas poliacuteticas transformaccedilotildees significativas que a
92
princiacutepio foram instituiacutedas Isso ocorre porque os profissionais da educaccedilatildeo ―satildeo
sujeitos histoacuterico-sociais marcados pelas suas experiecircncias e valores portanto
podem desempenhar um papel ativo capaz de constituir outros sentidos no processo
de implementaccedilatildeo das poliacuteticas (FRANCcedilA 2008 p 21)
Ao seguir com as discussotildees no que tange ao professor especializado pode-
se perceber que esse por sua vez eacute destacado em dois (art 12 e 13) dos catorze
artigos que compotildeem a Resoluccedilatildeo nordm 42009 (BRASIL 2009) Os requisitos
referentes agrave formaccedilatildeo desse docente bem como suas atribuiccedilotildees satildeo explorados
nos art 12 e 13
Art 12 Para atuaccedilatildeo no AEE o professor deve ter formaccedilatildeo inicial que o habilite para o exerciacutecio da docecircncia e formaccedilatildeo especiacutefica para a Educaccedilatildeo Especial Art 13 Satildeo atribuiccedilotildees do professor do Atendimento Educacional Especializado I ndash identificar elaborar produzir e organizar serviccedilos recursos pedagoacutegicos de acessibilidade e estrateacutegias considerando as necessidades especiacuteficas dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial II ndash elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade III ndash organizar o tipo e o nuacutemero de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais IV ndash acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular bem como em outros ambientes da escola V ndash estabelecer parcerias com as aacutereas intersetoriais na elaboraccedilatildeo de estrateacutegias e na disponibilizaccedilatildeo de recursos de acessibilidade VI ndash orientar professores e famiacutelias sobre os recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno VII ndash ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos promovendo autonomia e participaccedilatildeo VIII ndash estabelecer articulaccedilatildeo com os professores da sala de aula comum visando agrave disponibilizaccedilatildeo dos serviccedilos dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade e das estrateacutegias que promovem a participaccedilatildeo dos alunos
nas atividades escolares (BRASIL 2009 p 12 e 13)
Ao observar as atribuiccedilotildees do professor especializado natildeo eacute de se estranhar
que tamanha expectativa seja colocada sobre ele no que tange ao processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Expectativa essa
que pode culminar em
[] uma espeacutecie de hiper-responsabilizaccedilatildeo do docente como se as condiccedilotildees de acesso dos alunos e as proacuteprias condiccedilotildees em que se desenvolve sua atividade profissional natildeo estivessem limitadas por diretrizes normas e relaccedilotildees de poder tanto na escola como na sociedade (MARCELO 2009 p 124)
93
Pode-se dizer que em algumas das suas atribuiccedilotildees ele aparece como
responsaacutevel por atividades que implicam o envolvimento de outros profissionais que
compotildeem o contexto escolar Por exemplo na atribuiccedilatildeo V em que ele aparece
como responsaacutevel por estabelecer parcerias intersetoriais sem que haja alusatildeo de
que essa accedilatildeo demanda o envolvimento de outros sujeitos e do contexto escolar em
que estaacute inserido ou inciso VI em que ao docente eacute atribuiacuteda a responsabilidade
pela orientaccedilatildeo de professores e famiacutelias sobre os recursos pedagoacutegicos e de
acessibilidade utilizados pelo aluno sem que haja menccedilatildeo ao papel do orientador(a)
e supervisor(a) educacional nesse processo
Do mesmo modo na atribuiccedilatildeo VIII ao professor especializado eacute atribuiacuteda a
tarefa de estabelecer articulaccedilatildeo com o professor da sala comum sem que haja
referecircncia de que essa articulaccedilatildeo eacute uma via de matildeo dupla que exige tambeacutem o
envolvimento do professor da sala comum bem como o apoio do supervisor(a)
educacional com vistas a propiciar a interface entre esses profissionais no acircmbito
escolar
Apenas no art 9 da mesma Resoluccedilatildeo (BRASIL 2009 p 2) realccedila-se que a
elaboraccedilatildeo e a execuccedilatildeo do plano de AEE eacute de responsabilidade do professor que
atua no AEE em articulaccedilatildeo com ―[] os professores do ensino regular a
participaccedilatildeo das famiacutelias e em interface com os demais serviccedilos setoriais da sauacutede
da assistecircncia social entre outros necessaacuterios ao atendimento poreacutem sem
mencionar referecircncia ao papel da equipe diretiva nesse processo Presume-se que
esse papel esteja impliacutecito somente nos art 10 e 11 da referida Resoluccedilatildeo os quais
esclarecem que o plano de AEE deve integrar o projeto poliacutetico pedagoacutegico da
escola no qual se supotildee que haja envolvimento da equipe de gestatildeo escolar
Assim ao contemplar as compreensotildees dos integrantes das equipes diretivas
sobre o AEE pode-se evidenciar que em sua maioria os participantes parecem
restringir o serviccedilo ao estudante com deficiecircncia e agrave Sala de Recursos
Multifuncionaisprofessor especializado indicando uma compreensatildeo
descontextualizada sobre o AEE Essa visatildeo do AEE expressa nas falas das
equipes diretivas pode encontrar respaldo na legislaccedilatildeo e nas orientaccedilotildees e por
vezes pode culminar por limitar ou condicionar o fazer pedagoacutegico das equipes
diretivas
94
Para serem implementadas pressupotildeem-se que primeiramente as diretrizes
precisam ser analisadas e discutidas de forma criacutetica e reflexiva juntamente com
coletivo escolar Nesse sentido vislumbra-se o importante papel das equipes
diretivas em repensar e ressignificar juntamente com a comunidade escolar as
concepccedilotildees de mundo sociedade escola estudante educaccedilatildeo especial funccedilatildeo da
escola gestatildeo escolar formas de aprendizagens organizaccedilatildeo das turmas
Compreende-se que a realizaccedilatildeo dessa accedilatildeo nos espaccedilos escolares natildeo
ocorre de forma harmoniosa e colaborativa pelo contraacuterio eacute permeada por tensotildees
e conflitos mas ao mesmo tempo pode ser concebida como uma possiacutevel
alternativa como explicam Vioto e Vitaliano (2012 p 9) para
[] promover mudanccedilas educacionais de forma a transformar as escolas que historicamente se caracterizaram como espaccedilos educacionais destinados ao atendimento de alunos em classes regulares homogecircneas em escolas inclusivas nas quais a heterogeneidade possa ser percebida como princiacutepio baacutesico para elaboraccedilatildeo de todas as propostas pedagoacutegicas
Pensando nisso perguntou-se agraves equipes diretivas pesquisadas acerca de
suas compreensotildees sobre o trabalho do professor que atua no AEE a forma de
ingresso ao cargo a participaccedilatildeo nos processos coletivos da escola bem como
quem o acompanha e o auxilia no exerciacutecio de sua funccedilatildeo
Considerando que apenas as duas equipes diretivas ED2 e ED4 que
possuiacuteam o professor especializado responderam a esse item seratildeo analisadas e
discutidas somente as suas compreensotildees sobre o trabalho docente no AEE
Ao questionar os integrantes dessas duas equipes diretivas sobre o ingresso
do professor de AEE na funccedilatildeo foi possiacutevel observar que em ambos os casos foi
conduzido um processo de seleccedilatildeo segundo a ED2 um concurso puacuteblico e
conforme a ED4 um processo seletivo para contrataccedilatildeo temporaacuteria
Diferentemente da Rede Municipal de Joinville na qual de acordo com
Santos (2016) o ingresso docente no Atendimento Educacional Especializado tem
sido realizado geralmente por convite convocaccedilatildeo ou realocaccedilatildeo a Rede Municipal
de Camboriuacute parece privilegiar processos formais de seleccedilatildeo dos referidos
professores Chama a atenccedilatildeo contudo o fato de haver um(a) professor(a) de AEE
que natildeo eacute efetivo no cargo de acordo com o relato da ED4 Nesse caso pode-se
dizer que existe uma probabilidade de descontinuidade ou ruptura do trabalho
realizado por esse profissional o que pode tornar fraacutegil a estrutura do AEE na escola
95
e por conseguinte o processo de escolarizaccedilatildeo e o viacutenculo com os estudantes
puacuteblico-alvo da EE
Quanto agrave compreensatildeo da ED2 e ED4 sobre o trabalho realizado pelo(a)
professor(a) de AEE essa eacute evidenciada nas falas a seguir
ED2d [Eacute o profissional que] atende os alunos com deficiecircncia []
ED2o
Eacute um profissional diferenciado com uma qualificaccedilatildeo especializada que tem um olhar para o outro como um ser que precisa do mesmo carinho afeto paciecircncia para que alcance os objetivos ED2
s [Eacute um profissional que]
auxilia a promover a interaccedilatildeo do aluno
com os professores do ensino regular ED4
d Eacute um profissional que auxilia no desenvolvimento
ED4o
[Eacute um trabalho] muito significativo quando levado a seacuterio com responsabilidade Fazer atividades relevantes ED4
s [Eacute um trabalho] que auxilia a desenvolver as habilidades que satildeo
mais comprometidas nos alunos com deficiecircncia
Evidenciou-se que na maioria das falas dos integrantes das equipes
diretivas o foco do trabalho docente eacute o estudante com deficiecircncia Esse enfoque
tambeacutem eacute dado nas legislaccedilotildees que se referem ao AEE contudo centrar o trabalho
no estudante pode remeter a uma compreensatildeo que favoreccedila sua
descontextualizaccedilatildeo do processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Nas falas
supracitadas por exemplo natildeo apareceu um verbo essencial para descrever a
funccedilatildeo de um professor especializado ou natildeo ensinar Funccedilatildeo essa por sua vez
que se relaciona ao objetivo primeiro da escola que consiste em assegurar a
apropriaccedilatildeo dos conhecimentos produzidos historicamente de forma
sistematizada criacutetica e reflexiva a todos os estudantes
Uma forma de analisar essa constataccedilatildeo diz respeito ao modo como os
documentos oficiais relativos agrave Educaccedilatildeo Especial com destaque agrave Resoluccedilatildeo n
42009 (BRASIL 2009) concebem a funccedilatildeo docente com ―uma ecircnfase agraves
questotildees teacutecnicas referentes ao uso de recursos o que indica a secundarizaccedilatildeo
dos aspectos pedagoacutegicos relacionados ao ato de ensinar (ROSSETTO 2015 p
111)
Convergindo com a discussatildeo Michels (2011) salienta que
[] a centralidade das accedilotildees dos professores do atendimento educacional especializado (AEE) permanece nas teacutecnicas e nos recursos especializados [] Mesmo aquelas accedilotildees que dizem respeito agrave articulaccedilatildeo com a classe
96
comum natildeo estatildeo atreladas agrave discussatildeo pedagoacutegica e sim agrave utilizaccedilatildeo de recursos especiacuteficos (MICHELS2011 p 226)
Tambeacutem foi possiacutevel evidenciar que professor de AEE e seu trabalho foram
definidos por meio de adjetivos como como ―diferenciados ―especializados
―qualificados e ―significativos o que pode ser analisado de duas formas distintas
Uma delas eacute a de que haacute um reconhecimento por parte das equipes diretivas
pesquisadas da relevacircncia do trabalho docente no AEE para o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Outra diz respeito a um
entendimento que esse trabalho docente eacute tatildeo diferenciado e especializado a ponto
de distanciaacute-loseparaacute-lo do ensino regular contribuindo para a segregaccedilatildeo
(inclusatildeo precaacuteria) do estudante puacuteblico-alvo da EE
Ressalta-se ainda a compreensatildeo do(a) orientador(a) educacional da ED2
para quem a qualificaccedilatildeo especializada do(a) professor(a) de AEE lhe possibilita
desenvolver um olhar de carinho afeto e paciecircncia paracom o outro de modo a
atingir objetivos educacionais Essa compreensatildeo parece estar impregnada de
uma concepccedilatildeo que pode se traduzir em uma visatildeo de Educaccedilatildeo Especial em que
o cuidado eacute privilegiado e secundarizado portanto o processo de escolarizaccedilatildeo do
estudante puacuteblico-alvo da EE Entretanto essa forma de conceber o professor de
AEE eacute evidenciada tambeacutem na pesquisa de Santos (2016) que estudou as
narrativas de histoacuteria de vida de professoras atuantes no AEE Ao questionar
sobre as caracteriacutesticas de um professor de AEE as participantes apontaram em
seus discursos descritores como ―ser atenciosa carinhosa paciente acreditar na
capacidade e potencial dos alunos desenvolver um olhar diferente [] (SANTOS
2016 p75) A mesma autora explica que
[] uma outra questatildeo que pode ser problematizada eacute [] o lugar em que se coloca no discurso o aluno com deficiecircncia ndash que passa a ser aquele que primeiramente precisa de afeto (e por isso de uma professora atenciosa carinhosa e paciente) e cuja aprendizagem fica portanto em segundo plano Se a aprendizagem do aluno fica em segundo plano a atividade de ensinar algo a algueacutem proacutepria do professor tambeacutem fica [] (SANTOS 2016 p 76-77)
Isso natildeo significa que a sensibilidade a relaccedilatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica
natildeo sejam importantes pelo contraacuterio esses aspectos constituem o ser professor
como explicaram Pimenta amp Anastasiou (2008 p14)
97
[] ser professor requer saberes e conhecimentos cientiacuteficos pedagoacutegicos educacionais sensibilidade indagaccedilatildeo teoacuterica e criatividade para encarar as situaccedilotildees ambiacuteguas incertas conflituosas [] presentes nos contextos escolares [] Eacute da natureza da atividade docente proceder agrave mediaccedilatildeo reflexiva e criacutetica entre as transformaccedilotildees sociais concretas e a formaccedilatildeo humana dos alunos questionando os modos de pensar sentir agir e de produzir e distribuir conhecimentos
Em siacutentese foi possiacutevel constatar que o trabalho do professor de AEE na
visatildeo das equipes diretivas acentuou a relaccedilatildeo entre docente especializado e
estudante puacuteblico-alvo da EE atenuando ou mesmo natildeo mencionando o seu papel
enquanto equipe diretiva nesse trabalho docente bem como de outros profissionais
e demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo Esse silenciamento pode ser
interpretado como sinal de um trabalho docente especializado que acontece de
forma isolada
Entende-se que o desenvolvimento de um trabalho conjunto entre equipe
diretiva professores da sala comum professor de AEE pais e estudantes pode
contribuir para o trabalho do professor de AEE e por conseguinte para o processo
de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico alvo da EE
Neste processo o papel da equipe diretiva parece exceder a elaboraccedilatildeo e o
acompanhamento do projeto poliacutetico-pedagoacutegico uma vez que pode ser
vislumbrado em uma diversidade de accedilotildees que Veiga (1995) chamou de accedilotildees
intencionais com sentidos expliacutecitos e compromissos definidos coletivamente
Dentre elas pode-se citar em especial a accedilatildeo de repensar e estabelecer
formalmente espaccedilos e tempos de discussatildeo conjunta das diretrizes da Educaccedilatildeo
Especial e da proposta de AEE bem como de estrateacutegias para a escolarizaccedilatildeo de
estudantes que compotildeem seu puacuteblico-alvo Reforccedila-se assim o trabalho coletivo
como condiccedilatildeo necessaacuteria para a implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
Seria ingecircnuo entretanto constatar a relevacircncia e necessidade do trabalho
coletivo entre os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo sem refletir sobre as
(im)possibilidades de viabilizaacute-lo nos espaccedilos escolares Isto porque como explicou
Michels (2006) a escola vai se constituindo e organizando no embate entre seu
cotidiano e as proposiccedilotildees poliacuteticas Aleacutem disso estaacute inserida em um contexto
social poliacutetico cultural e econocircmico que sabidamente se expressa nas relaccedilotildees e
na organizaccedilatildeo escolar
98
Considerando essa relaccedilatildeo entre proposiccedilotildees poliacuteticas e cotidiano da escola
pode-se dizer que o modo como a educaccedilatildeo vem sendo pensada no Brasil estaacute
ancorada em instrumentos regulatoacuterios e avaliativos Analisando o Plano de
Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (BRASIL 2007) por exemplo pode-se dizer que
como um todo esse plano estaacute baseado na criaccedilatildeo do Iacutendice de Desenvolvimento
da Educaccedilatildeo Brasileira (IDEB) que por sua vez consiste mais em uma forma de
regular do que definir criteacuterios para a Uniatildeo aplicar recursos na Educaccedilatildeo Pode-se
observar a expressatildeo dessa regulaccedilatildeo no uso perverso do IDEB para ranquear as
redes de ensino e acirrar a competiccedilatildeo entre as escolas (FERNANDES 2007
ARAUacuteJO 2004) Nesse sentido eacute possiacutevel dizer que em alguns aspectos planos e
poliacuteticas educacionais parecem apostar na competiccedilatildeo e natildeo no trabalho coletivo
dentro e entre escolas
A partir dessa reflexatildeo segue-se para a anaacutelise dos entendimentos das
equipes diretivas ED2 e ED4 em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo do professor de AEE nos
processos coletivos da escola A esse respeito os integrantes das duas equipes
diretivas responderam
ED2d
Participa dando retornos dos atendimentos e de como estaacute o rendimento dos alunos ateacute mesmo se natildeo houve melhora ED2
o Eacute um profissional ativo participativo em Conselho de Classe e
demais reuniotildees pedagoacutegicas ED2
sEfetiva
ED4
dSempre trazem devolutivas dos seus trabalhos e repassam aos
professores ED4
o Reuniotildees pedagoacutegicas bem poucas
ED4s Pouco participativa
A partir destes relatos pode-se dizer que as equipes diretivas compreendem
que participar dos processos coletivos da escola implica dar um retorno ou uma
devolutiva a respeito do estudante que o professor de AEE atende como
expressaram ED2d e ED4d
Nessa forma de compreensatildeo nota-se uma apropriaccedilatildeo superficial do que
seria efetivamente participar desses processos uma vez que a participaccedilatildeo do
professor de AEE foi resumida agrave accedilatildeo de dar retornodevolutiva acerca do processo
de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE ao(a) professor(a) da sala
comum e agraves equipes diretivas
99
Jaacute no relato de ED2o e ED4o a participaccedilatildeo do professor de AEE em
processos coletivos da escola foi associada a tomar parte em conselhos de classe e
reuniotildees pedagoacutegicas Essas accedilotildees ainda que coletivas natildeo resumem todas as
possibilidades de processos coletivos que podem ser organizados nas escolas o
que leva a refletir sobre o que as equipes diretivas entendem por processos
coletivos escolares e ainda se haacute um vieacutes coletivo na escola
Entende-se por processos coletivos escolares todas as atividades que
envolvem um coletivo escolar organizado intencional e formalmente pela equipe
diretiva para tomar conhecimento discutir eou decidir questotildees pertinentes ao
processo de escolarizaccedilatildeo Exemplos desses processos satildeo a construccedilatildeo do PPP
da escola reuniotildees pedagoacutegicas conselho de classe formaccedilatildeo em serviccedilo
reuniotildees de pais dentre outros que segundo Libacircneo (2015) satildeo procedimentos
que podem ajudar na viabilizaccedilatildeo do trabalho no acircmbito escolar
Essas accedilotildees por outro lado a exemplo do conselho de classe podem ser
planejadas contemplando o maior nuacutemero de turmas possiacutevel de forma cansativa e
superficial buscando identificar somente as notas baixas e conferindo a culpa do
fracasso escolar ao estudante A esse respeito Paro (2016b p 81) faz o seguinte
comentaacuterio
[] os conselhos de classe por exemplo natildeo podem continuar sendo instacircncias meramente burocraacuteticas onde se procura justificar o baixo rendimento colocando a culpa em fatores externos agrave escola Eacute preciso prever instrumentos institucionais que avaliem natildeo apenas o rendimento do aluno mas o proacuteprio processo escolar como um todo com a presenccedila de alunos e pais pois eles satildeo os usuaacuterios da escola e a eles compete apontar problemas e dar sugestotildees []
Seguindo com as compreensotildees sobre os processos coletivos escolares
pode-se dizer que esse coletivo escolar diz respeito a todos os profissionais da
escola pais e estudantes (ou seus representantes) Para configurar um processo
escolar genuinamente coletivo compreende-se que eacute preciso que a maioria dos
envolvidos esteja representada constituindo-se como uma accedilatildeo democraacutetica e
participativa
A partir dessa compressatildeo pode-se pensar que quanto mais processos
coletivos uma equipe diretiva conseguir organizar em uma escola mais democraacutetica
e participativa ela se constituiraacute Ainda que responsaacutevel por organizar processos
coletivos escolares as equipes diretivas natildeo podem ser inteiramente
100
responsabilizadas por algo que natildeo possuem hoje condiccedilotildees favoraacuteveis para
efetivar Eacute necessaacuterio um envolvimento de todo o corpo social conforme explicitou
Paro (2012 p 169)
[] incorrer no equiacutevoco de imputar a uma instituiccedilatildeo apenas aquilo que eacute funccedilatildeo da sociedade como um todo Igualmente equivocada eacute a atitude de negar agrave escola qualquer papel na transformaccedilatildeo social esperando que a sociedade mude para mudar a escola Por que a escola natildeo eacute o local da mudanccedila natildeo significa que ela natildeo possa ser um dos locais dessa mudanccedila A revoluccedilatildeo eacute um processo que envolve todo o corpo social inclusive a escola
Um dos principais entraves para efetivar processos coletivos na escola diz
respeito a uma problemaacutetica vivenciada por parte das escolas puacuteblicas no Brasil o
cumprimento dos 200 dias letivos conforme regulamenta a Lei de Diretrizes e Bases
da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) Salienta-se que eacute considerado dia letivo
aquele programado para a aula com a presenccedila dos alunos
Assim as accedilotildees como conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas e
momentos de formaccedilatildeo precisam ser planejadas para aleacutem dessas 800 horas que
compotildeem a carga horaacuteria miacutenima dos 200 dias letivos Dessa forma por vezes a
equipe diretiva pode na tentativa de viabilizar esses processos coletivos escolares
propocirc-los no contraturno das aulas do professor Poreacutem ao fazecirc-lo um outro
obstaacuteculo pode surgir pois alguns professores lecionam em outros locais nesse
periacuteodo Com isso nem sempre os docentes poderatildeo estar presentes em atividades
propostas fora do horaacuterio de trabalho o que pode comprometer o desenvolvimento
de accedilotildees coletivas direcionadas a conhecer discutir e decidir questotildees pertinentes
ao processo de escolarizaccedilatildeo Poreacutem compreende-se tambeacutem a urgecircncia dos
sistemas de ensino em repensar as condiccedilotildees de trabalho do professor com o
intuito de favorecer dentre outros fatores a participaccedilatildeo desses profissionais nos
processos coletivos da escola
A possibilidade portanto de que as escolas possam se organizar de modo
coletivo passa natildeo somente pelo que as equipes diretivas compreendem por
―processos coletivos escolares Passa tambeacutem pelo reconhecimento de que as
condiccedilotildees de trabalho dos profissionais da educaccedilatildeo desfavorecem hoje o vieacutes
coletivo da escola e precisam ser repensadas e modificadas para que as equipes
101
diretivas possam de fato organizar espaccedilos e tempos de reflexatildeo discussatildeo e
decisatildeo em conjunto com os demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo
Para finalizar as anaacutelises sobre o que pensam as equipes diretivas sobre a
participaccedilatildeo do(a) professor(a) de AEE nos processos coletivos da escola foi
possiacutevel identificar que em alguns casos a participaccedilatildeo foi qualificada por alguns
integrantes das equipes diretivas como ―ativa ―efetiva ou ―pouca Eacute interessante
observar que o(a) professor(a) de AEE percebido por alguns integrantes da ED4
como como ―pouco participativo ou que ―participa de poucas reuniotildees pedagoacutegicas
eacute um(a) docente contratado (a) temporariamente Sobre o aumento dos contratos
temporaacuterios nas redes puacuteblicas de ensino Oliveira (2004) ressaltou que chegou
[] em alguns estados o nuacutemero correspondente ao de trabalhadores efetivos o arrocho salarial o respeito a um piso salarial nacional a inadequaccedilatildeo ou mesmo ausecircncia em alguns casos de planos de cargos e salaacuterios a perda de garantias trabalhistas e previdenciaacuterias oriunda dos processos de reforma do Aparelho de Estado tecircm tornado cada vez mais agudo o quadro de instabilidade e precariedade do emprego no magisteacuterio puacuteblico (OLIVEIRA 2004 p1140)
Longe de justificar a baixa participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos
coletivos da escola em funccedilatildeo do contrato temporaacuterio procura-se aqui atentar ao
fato de que esse tipo de contrataccedilatildeo pode dificultar a constituiccedilatildeo de viacutenculos com a
comunidade escolar e indicar uma possiacutevel precarizaccedilatildeo do trabalho desse
profissional
Reconhecendo a complexidade do trabalho docente no AEE e sabendo da
importacircncia da colaboraccedilatildeo e da coletividade nos processos escolares perguntou-
se agrave ED2 e agrave ED4 quem auxilia e acompanha o profissional do AEE no exerciacutecio de
sua funccedilatildeo na escola Observem-se suas respostas
ED2d
A psicopedagoga e toda a equipe diretiva
ED2o
O profissional da aacuterea psicopedagogo monitoras orientaccedilatildeo
supervisatildeo e direccedilatildeo escolar
ED2s
A pedagoga de inclusatildeo esclarece sobre as deficiecircncias e a
supervisora escolar auxilia o professor monitores em atividades que
desenvolvam habilidades
ED4d
Supervisatildeo e Direccedilatildeo
ED4o
Secretaria de educaccedilatildeo
ED4s
A Secretaria de Educaccedilatildeo tem uma coordenadora e quando necessaacuterio eu mesma auxilio
102
A diversidade de respostas possibilita inferir que a responsabilidade pelo
acompanhamento do(a) professor(a) especializado parece diluiacuteda entre diversos
profissionais desde a equipe diretiva ateacute o(a) psicopedagogo(a) monitor de inclusatildeo
e Secretaria de Educaccedilatildeo Isto pode indicar tanto uma responsabilidade
compartilhada quanto uma falta de clareza com relaccedilatildeo a quem compete essa
funccedilatildeo
Na tentativa de desvelar a quem compete a funccedilatildeo de acompanhar e auxiliar
o professor de AEE no exerciacutecio de sua funccedilatildeo recorreu-se a Lei Complementar nordm
192008 a qual dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo implantaccedilatildeo e gestatildeo do Plano de
Carreira dos Profissionais do Magisteacuterio Puacuteblico Municipal de Camboriuacute e institui as
atribuiccedilotildees de cada funccedilatildeo
Segundo o art 17ordm da referida Lei agrave(ao) supervisor(a) educacional compete
acompanhar com os professores o processo didaacutetico-pedagoacutegico bem como
assessorar e orientar didaticamente o corpo docente da escola em articulaccedilatildeo com
o(a) diretor e o(a) orientador(a) escolar (CAMBORIUacute 2008)
Nesse mesmo sentido Alarcatildeo (2011) Placco Souza e Almeida (2012)
salientam que dentre as atribuiccedilotildees do supervisor destaca-se o apoio aos
professores e o fomento de uma cultura de formaccedilatildeo profissional estudo e pesquisa
no acircmbito escolar Entretanto para que essas accedilotildees sejam efetivadas no contexto
escolar eacute imprescindiacutevel o papel do diretor como articulador apoiando e
promovendo a mobilizaccedilatildeo dos profissionais bem como o do orientador que
acompanha mais de perto os alunos podendo contribuir com informaccedilotildees para a
discussatildeo e constituiccedilatildeo de estrateacutegias de ensino que favoreccedilam o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Conhecer o que pensam as equipes diretivas sobre o trabalho do professor de
AEE sua participaccedilatildeo em processos coletivos da escola e quem o acompanha e
auxilia no exerciacutecio de sua funccedilatildeo revelou que parte dos profissionais pesquisados
ao expressarem suas compreensotildees sobre o serviccedilo de AEE como um todo se
remeteram especificamente ao professor especializado e ao local desse
atendimento (SRM)
Esse foco especiacutefico evidencia mais uma vez o risco de uma compreensatildeo
limitada que toma a totalidade do AEE pela parte do espaccedilo fiacutesico em que ele
acontece e do professor especializado Quando esse serviccedilo eacute percebido como um
103
local separado para atender o estudante puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial pode-
se dizer que a segregaccedilatildeo29 que se pretende minimizar ou evitar por meio de
estrateacutegias como o AEE parece assombrar ainda os espaccedilos escolares
As perspectivas de exclusatildeo e segregaccedilatildeo que historicamente marcaram a
Educaccedilatildeo Especial nesse sentido encontram expressatildeo ainda hoje quando o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE eacute visto como ―[]
responsabilidade setorializada da Educaccedilatildeo Especial e natildeo como um conjunto de
medidas que o sistema de ensino como um todo de maneira interdisciplinar deveria
adotar para efetivar tal proposta (PLETSCH 2010 p 60)
Nessa perspectiva ao estudante puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eacute
conferido um lugar separado no processo educacional em funccedilatildeo de sua
deficiecircncia Configura-se assim uma inclusatildeo precaacuteria que segundo Meletti (2013
p 27) significa ―se inserir em um espaccedilo social jaacute existente e essencialmente
excludente Dessa forma possibilita-se uma compreensatildeo do serviccedilo de AEE como
um todo pois com uma visatildeo fragmentada do serviccedilo pode-se incorrer no risco
como apontaram Baptista Silva e Correia (2015) de pensar a Sala de Recursos
como um espaccedilo de reproduccedilatildeo e distanciamento do ensino comum Os autores
esclarecem ainda que
[] tais riscos se potencializam quando temos docentes especializados que investem prioritariamente no atendimento direto ao aluno isolando-o do grupoclasse e natildeo investindo no sistema ou nos sistemas dos quais esse aluno participa Esse eacute segundo acreditamos o principal desafio atual dirigido agrave gestatildeo dos espaccedilos especializados e agrave formaccedilatildeo de profissionais capazes de instituir parcerias que coloquem em accedilatildeo o docente de aacuterea disciplinar (pedagogia ou outras licenciaturas) e o professor especializado em educaccedilatildeo especial (BAPTISTA SILVA e CORREIA 2015 p 47)
Em parte a persistecircncia dessas marcas histoacutericas na Educaccedilatildeo Especial
pode ser explicitada pelo fato de que ―[] a proposta de uma Educaccedilatildeo Inclusiva
situa-se na contracorrente das condiccedilotildees objetivas de um modo de organizaccedilatildeo
escolar pautado em um modelo capitalista e tecnoloacutegico sustentado por relaccedilotildees de
exclusatildeo (RENGEL CORDEIRO e STEINER 2015 p 1358)
Em meio a esses tensionsamentos
29
A segregaccedilatildeo traduz a loacutegica da inclusatildeoexclusatildeo se trata portanto de uma inclusatildeo precaacuteria
104
[] encontramo-nos hoje diante do desafio de construir possiacuteveis caminhos que levem agrave formaccedilatildeo de uma educaccedilatildeo especial que realmente colabore com a educaccedilatildeo escolar de crianccedilas sob a perspectiva educacional sem no entanto apagar ou ignorar as necessidades de indiviacuteduos com caracteriacutesticas muitas vezes bastante especiacuteficas (KASSAR amp REBELO 2013 p 39)
Romper com a loacutegica de segregaccedilatildeo apresenta-se nesse sentido como um
dos desafios postos aos envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo e dentre eles agrave
equipe diretiva escolar Assim como a atuaccedilatildeo de diretores(as) coordenadores(as)
pedagoacutegicos e orientadores(as) educacionais pode contribuir para manter a loacutegica
de segregaccedilatildeo tambeacutem pode colaborar para transformaacute-la Por isso concorda-se
com Baptista (2013) quando esse diz que olhar para o presente e o futuro da
Educaccedilatildeo Especial leva a pensar um passado ndash aqui entendido como a loacutegica de
segregaccedilatildeo ndash que continua nos habitando ―esse passado somos noacutes merece
cuidado pois se constitui naquilo que conhecemos naquilo que nos orienta mas
que frequentemente ofusca nossa visatildeo e limita nossa possibilidade de enxergar
(BAPTISTA 2013 p 49)
Nesse sentido confirma-se a relevacircncia de se conhecer o modo como as
equipes diretivas pensam sobre o AEE uma vez que entendimentos reduzidos e
descontextualizados podem revelar que compreensotildees (e decorrentes praacuteticas) de
segregaccedilatildeo estatildeo sendo mantidas
Uma vez conhecidas essas compreensotildees podem ser se necessaacuterio
trabalhadas e reconfiguradas de modo a ampliar o entendimento sobre o serviccedilo de
AEE e o papel da comunidade escolar como um todo em sua viabilizaccedilatildeo rompendo
com a loacutegica de segregaccedilatildeo e dando espaccedilo para a loacutegica da educaccedilatildeo como direito
de todos
Reconhece-se nesse sentido que as equipes diretivas ao mesmo tempo que
satildeo condicionadas por ideologias fazem parte de uma organizaccedilatildeo social poliacutetica e
econocircmica marcada por relaccedilotildees da dialeacutetica exclusatildeoinclusatildeo e exercem seu
papel profissional em meio de tensionamentos poliacuteticos e legais No entanto elas
podem tambeacutem exercitar sua autonomia ainda que relativa por meio da reflexatildeo
criacutetica sobre a praacutetica compreendendo as ideologias em que estatildeo imersas pois
[] eacute pensando criticamente sobre a praacutetica de hoje ou de ontem que se pode melhorar a proacutexima praacutetica [] quanto mais me assumo como estou sendo e percebo as razotildees de ser e por que estou sendo assim mais me torno capaz de mudar (FREIRE 2013 p 40)
105
Claramente a conscientizaccedilatildeo e a reflexatildeo por si mesmas natildeo asseguram
uma mudanccedila no campo da accedilatildeo Mas por outro lado como explanou Paulo Freire
(2013) agrave medida em que a reflexatildeo cria novas opccedilotildees tanto mais ela pode provocar
rupturas escolhas e novos compromissos Sabendo que esses soacute se concretizaratildeo
materialmente quando aquilo que as equipes diretivas e demais profissionais da
escola pensam se transforme em accedilatildeo voltada a assegurar a formaccedilatildeo integral de
todos os estudantes
A escola puacuteblica comumente carece de condiccedilotildees estruturais pedagoacutegicas e
de recursos humanos contribuindo para que a equipe diretiva professores e demais
funcionaacuterios na maioria das vezes natildeo vislumbrem condiccedilotildees para realizar
mudanccedilas Entretanto Paro (2016a) adverte que
[] o que natildeo se pode eacute tomar os determinantes estruturais como desculpa para natildeo se fazer nada esperando-se que a sociedade se transforme para depois transformar a escola Sem a transformaccedilatildeo na praacutetica das pessoas natildeo haacute sociedade que se transforme de maneira consciente e duradoura Eacute aiacute na praacutetica escolar cotidiana que precisam ser enfrentados os determinantes mais imediatos do autoritarismo enquanto manifestaccedilatildeo num espaccedilo restrito dos determinantes estruturais mais amplos da sociedade (PARO 2016a p 26)
Dessa forma vislumbra-se o papel da equipe diretiva escolar na
implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE como uma possibilidade neste momento
histoacuterico de criar espaccedilos e tempos de diaacutelogo e reflexatildeo com o intuito de
possibilitar a participaccedilatildeo ativa de todos os envolvidos no processo de
escolarizaccedilatildeo no planejamento organizaccedilatildeo discussatildeo e implementaccedilatildeo das
estrateacutegias e diretrizes da Educaccedilatildeo Especial
Se ateacute o momento o que se viu por parte da maioria das equipes diretivas
foram compreensotildees fragmentadas em que se foca o estudante e ou o professor de
forma isolada pode-se refletir que hoje eacute ainda um desafio para elas pensar sobre o
AEE a partir de uma perspectiva contextualizada Ainda que presente na fala da
minoria das equipes diretivas essa perspectiva apareceu nos dizeres de ED7d e
ED3o que demonstraram compreender o AEE a partir do processo de
escolarizaccedilatildeo como um todo expressando um entendimento mais abrangente
sobre o serviccedilo
106
ED7d
[Compreendo o AEE] como uma inclusatildeo do aluno com deficiecircncia no ensino regular onde toda escola precisa de mudanccedilas desde o espaccedilo fiacutesico como tambeacutem no seu fazer do cotidiano ED3
o [O AEE] deveria ser mais abrangente aplicado por todos [os
profissionais da escolas] Mas tambeacutem nunca se sabe o que realmente fazer (grifo nosso)
Pode-se perceber que as falas dos integrantes das equipes diretivas (ED7d e
ED3o) se distanciam das compreensotildees individualizadas apresentadas
anteriormente visto que datildeo sinais de um entendimento mais amplo sobre o AEE
Suas falas remetem agrave compreensatildeo que o local do AEE eacute a ―escola e
portanto excede o espaccedilo fiacutesico da SRM Do mesmo modo indicam que todos os
envolvidos e natildeo apenas o professor especializado tecircm um papel importante no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Salienta-se no entanto algumas expressotildees importantes contidas nos
dizeres de ED7d e ED3o ―precisa e ―deveria Enquanto ED7d fala que a escola
como um todo ―precisa se implicar cotidianamente na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo
do AEE ED3o adverte que este ―deveria ser mais abrangente e aplicado por todos
os profissionais da escola Se isto eacute algo que precisa e deveria ser feito pode-se
inferir que ainda natildeo eacute uma realidade vivenciada por essas escolas ou que estaacute em
processo de constituiccedilatildeo
Saber o que precisa e deveria ser feito no entanto eacute um passo importante
para transformaccedilatildeo da realidade Paulo Freire em um trecho de sua obra Pedagogia
da Esperanccedila explicou que
[] uma vez conhecida a realidade caberaacute ao homem sua modificaccedilatildeo A realidade natildeo pode ser modificada senatildeo quando o homem descobre que eacute modificaacutevel e que ele pode fazecirc-lo Eacute preciso portanto fazer desta conscientizaccedilatildeo o primeiro objetivo de toda a educaccedilatildeo antes de tudo provocar uma atitude criacutetica de reflexatildeo que comprometa a accedilatildeo (FREIRE 1979a p 40)
Fuck (2014 p 23) apoiada em Pontes (1992) explica que as concepccedilotildees ou
diferentes compreensotildees que habitam a escola exercem ―[] um papel determinante
no nosso pensamento e na nossa accedilatildeo Libacircneo (2015) vai aleacutem ao expor que
essas compreensotildees formam a cultura escolar e que a equipe diretiva possui um
papel de destaque nesse processo
[] a partir da interaccedilatildeo entre diretores coordenadores pedagoacutegicos professores funcionaacuterios e alunos a escola vai adquirindo na vivecircncia do dia-a-dia traccedilos culturais proacuteprios vai formando crenccedilas valores
107
significados modos de agir praacuteticas [] Essa cultura proacutepria vai sendo internalizada pelas pessoas e gerando um estilo coletivo de perceber as coisas de pensar os problemas de encontrar soluccedilotildees [] Haacute em cada escola uma forma dominante de accedilatildeo na interaccedilatildeo entre as pessoas (LIBAcircNEO 2015 p 109)
Pode-se dizer portanto que haacute uma estreita relaccedilatildeo entre as formas de
compreender o AEE e as praacuteticas a ele relacionadas no contexto escolar No que
tange agraves equipes diretivas que demonstraram compreender esse serviccedilo de forma
mais abrangente e contextualizada eacute possiacutevel inferir que tal maneira de pensar pode
se traduzir em accedilotildees como a constituiccedilatildeo de espaccedilos dialoacutegicos e reflexivos com o
intuito de planejar e organizar estrateacutegias para a implementaccedilatildeo das diretrizes da
Educaccedilatildeo Especial junto aos envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo a fim de
assegurar o direito a aprender desses estudantes
Muito embora as diretrizes de Educaccedilatildeo Especial sejam importantes para a
organizaccedilatildeo de sistemas educacionais inclusivos elas se apresentam como um
documento orientador da poliacutetica Assim o modo como acontece sua efetivaccedilatildeo
perpassa ainda pelos interesses dominantes da sociedade pela compreensatildeo dos
gestores dos sistemas de ensino assim como pelo entendimento da equipe diretiva
e dos profissionais da educaccedilatildeo como um todo os quais tecircm a incumbecircncia de sua
materializaccedilatildeo no acircmbito escolar Nessa perspectiva as diretrizes da Educaccedilatildeo
Especial se apresentaratildeo de modo diferente em cada municiacutepio e em cada
instituiccedilatildeo escolar uma vez que como expocircs Michels (2004) os encaminhamentos
poliacuteticos ganham vida ao serem subjetivados pelos sujeitos que os apreendem e
nesse sentido cada escola implementa as diretrizes agrave sua maneira
Ainda que as falas da minoria apontem para uma compreensatildeo menos
individualizada e isolada do processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico alvo
da Educaccedilatildeo Especial natildeo foi possiacutevel captar uma abordagem criacutetica em que a
Educaccedilatildeo Especial seja compreendida como parte da Educaccedilatildeo que se desenvolve
em um sistema poliacutetico econocircmico e cultural marcado pela dialeacutetica
inclusatildeoexclusatildeo
Em parte pode-se dizer que esse pensamento criacutetico natildeo eacute favorecido pela
forma como hoje os espaccedilos e tempos das escolas estatildeo organizados O modo
como a escola se organiza natildeo pode ser desvinculado de seu todo correspondente
isto eacute a organizaccedilatildeo social e econocircmica da qual faz parte ndash nesse caso um sistema
capitalista e tecnoloacutegico no qual as relaccedilotildees e as jornadas de trabalho satildeo
108
reguladas pelo capital e marcadas pela falta de [] tempo para o desenvolvimento
intelectual para o livre exerciacutecio do corpo e do espiacuterito O capital monopoliza o
tempo que o desenvolvimento e equiliacutebrio do corpo em perfeita sauacutede exigem
(MARX 2013 p 103) Nessa direccedilatildeo Jesus e Alves (2011 p27) questionam
[] como lidar com as contradiccedilotildees dos sistemas pedagoacutegicos que em sua maioria estatildeo voltados para a emergecircncia e exigecircncias de uma escola que como todo o sistema educacional econocircmico poliacutetico e social estaacute voltado a atender as demandas do projeto neoliberal []
Sobre isso Paulo Freire (1982) esclarece que conhecer as intencionalidades
das ideologias dominantes que imperam pode ser um ponto de partida para uma
accedilatildeo pedagoacutegica mais reflexiva reconhecendo que natildeo haacute como mudar de forma
global um sistema posto mas haacute como transformar de forma gradativa a realidade
na qual se estaacute inserido Isso porque a mudanccedila que se deseja para a educaccedilatildeo
ocorre por meio da accedilatildeo dos homens reivindicando por exemplo condiccedilotildees de
trabalho adequadas para que possam desenvolver uma praacutetica pedagoacutegica pautada
no princiacutepio de educaccedilatildeo para todos Se em um sistema capitalista a reivindicaccedilatildeo
individual possui raro eco vislumbra-se no coletivo organizado ndash nesse caso os
profissionais da Educaccedilatildeo ndash uma importante forccedila impulsionadora de mudanccedilas
[] natildeo haacute uma estrutura que seja exclusivamente estaacutetica como natildeo haacute uma absolutamente dinacircmica O dinamismo e o estaacutetico constituem a estrutura social Mas se toda a estrutura social que eacute histoacuterica tem como expressatildeo de sua forma de ser a ―duraccedilatildeo da dialeacutetica mudanccedila ndash estabilidade eacute necessaacuterio que se tenha dela uma visatildeo criacutetica [] Mudanccedila e estabilidade resultam ambas da accedilatildeo do trabalho que o homem exerce sobre o mundo (FREIRE 1982 p45 - 46)
Por outro lado o fato de natildeo terem sido identificadas compreensotildees mais
criacuteticas a respeito do AEE conduz ao reconhecimento de que essa se configura
como uma necessidade formativa para as equipes diretivas aqui estudadas Em
breve pesquisa empreendida na BDTD foi possiacutevel identificar que nos uacuteltimos vinte
anos (2006-2016) poucas pesquisas (114) foram realizadas sobre a formaccedilatildeo
continuada de diretores enquanto a formaccedilatildeo continuada de professores contou
com o expressivo nuacutemero de 2760 pesquisas no mesmo periacuteodo
Observar esse baixo nuacutemero de produccedilotildees cientiacuteficas brasileiras sobre a
―formaccedilatildeo continuada de diretores leva agrave constataccedilatildeo de que eacute preciso investir em
estudos acerca da referida temaacutetica a fim de conhecer se e como estatildeo sendo
109
organizados os espaccedilos e tempos de formaccedilatildeo das equipes diretivas que por sua
vez satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo de espaccedilos e tempos de reflexatildeo para os demais
profissionais da escola
Nesse acircmbito eacute possiacutevel questionar quem seriam os responsaacuteveis por
organizar os espaccedilos e tempos de reflexatildeo das equipes diretivas Ou seriam essas
equipes ao mesmo tempo responsaacuteveis por organizar esses tempos e espaccedilos e
usufruir deles para sua proacutepria formaccedilatildeo Jesus e Alves (2011 p 22) sugerem que
essa eacute uma demanda que ―deve estar vinculada agrave gestatildeo dos sistemas de ensino
no caso dessa pesquisa agrave Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
Ainda sobre a formaccedilatildeo de diretores Paro (2016b p 60) identificou a partir
do relato de uma diretora que entrevistou em sua pesquisa que ―o que parece faltar
verdadeiramente [] satildeo conhecimentos pedagoacutegicos baacutesicos componentes
imprescindiacuteveis na formaccedilatildeo de bons educadores Ainda que se refira a uma
participante as palavras do autor convidam a (re)pensar a formaccedilatildeo dos gestores
escolares e reforccedilam a necessidade de se investir em mais pesquisas sobre o tema
bem como na proacutepria formaccedilatildeo das equipes diretivas visto que
[] existe por parte das Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo uma tendecircncia de grande investimento na promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo de diretores escolares sendo esse investimento significativamente menor entre as Secretarias Municipais de Educaccedilatildeo (LUumlCK 2011 p 221)
Em siacutentese ao investigar as compreensotildees das equipes diretivas sobre o
serviccedilo de AEE bem como o puacuteblico-alvo da EE foi possiacutevel identificar que a
maioria o associou ao estudante com deficiecircncia e um segundo nuacutemero expressivo
de participantes se remeteu a um lugar (SRM) e um profissional especiacutefico
(professor especializado) para apresentar seu entendimento sobre o serviccedilo Ainda
que em menor nuacutemero alguns profissionais das equipes diretivas pesquisadas
revelaram compreender o AEE a partir do processo de escolarizaccedilatildeo como um todo
poreacutem observou-se a ausecircncia de perspectivas criacuteticas que considerassem os
aspectos macroestruturais (condiccedilotildees objetivas da escola) envolvidos no referido
processo Foi possiacutevel constatar que o trabalho do professor de AEE na percepccedilatildeo
das equipes diretivas ressaltou a relaccedilatildeo entre docente especializado e estudante
puacuteblico-alvo da EE mitigando ou mesmo natildeo mencionando o seu papel enquanto
equipe diretiva nesse trabalho docente assim como de outros profissionais e demais
envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo Tambeacutem foi possiacutevel observar que em
110
algumas situaccedilotildees houve divergecircncias de entendimentos entre os integrantes da
mesma equipe apontando para a possibilidade de que o trabalho de gestatildeo vem
sendo realizado de forma desarticulada culminando na precarizaccedilatildeo do AEE bem
como do processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes de forma geral
Com essas consideraccedilotildees adentra-se a seguir na discussatildeo e anaacutelise dos
dados da uacuteltima categoria que versa sobre o papel da equipe diretiva na viabilizaccedilatildeo
do AEE
33 As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel das equipes
diretivas frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE30
A proposta desta categoria de anaacutelise eacute compor um entendimento a partir dos
dizeres das equipes diretivas escolares acerca das condiccedilotildees de acessibilidade
arquitetocircnica e pedagoacutegica que as escolas pesquisadas dispotildeem Tambeacutem se
propotildee conhecer a compreensatildeo das equipes diretivas em relaccedilatildeo ao seu papel
frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE assim como se a proposta de AEE estaacute contemplada
no PPP da escola Ao final deste subcapiacutetulo procura-se evidenciar os desafios
vivenciados pelas equipes diretivas escolares no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE
Para iniciar as discussotildees buscou-se primeiramente conceituar agrave luz da Lei
no 131462015 em seu art 3ordm e inciso I e IV o que se entende por acessibilidade
bem como as condiccedilotildees que dificultam a sua efetivaccedilatildeo que seratildeo aqui chamadas
de barreiras De acordo com a referida Lei considera-se acessibilidade
[] possibilidade e condiccedilatildeo de alcance para utilizaccedilatildeo com seguranccedila e autonomia de espaccedilos mobiliaacuterios equipamentos urbanos edificaccedilotildees transportes informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo inclusive seus sistemas e tecnologias bem como de outros serviccedilos e instalaccedilotildees abertos ao puacuteblico de uso puacuteblico ou privados de uso coletivo tanto na zona urbana como na
30
Para compor a anaacutelise e discussatildeo dos dados desta segunda categoria seratildeo analisadas as
respostas das seguintes questotildees do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo 16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE 17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE 20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento Educacional Especializada 25A escola em que vocecirc atua possui um projeto pedagoacutegico 26 O atendimento educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola 27Na escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
111
rural por pessoa com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida (BRASIL 2015 sp)
Nessa perspectiva Manzini (2005) esclarece que o conceito de acessibilidade
remete a situaccedilotildees que satildeo vivenciadas em circunstacircncias concretas do dia a dia
por isso [] ―a acessibilidade parece ser algo que pode ser observado
implementado medido legislado e avaliado (MANZINI 2005 p32)
Em relaccedilatildeo agraves barreiras a Lei no 131462015 em seu art 3ordm e inciso IV
conceituou como sendo
[] qualquer entrave obstaacuteculo atitude ou comportamento que limite ou impeccedila a participaccedilatildeo social da pessoa bem como o gozo a fruiccedilatildeo e o exerciacutecio de seus direitos agrave acessibilidade agrave liberdade de movimento e de expressatildeo agrave comunicaccedilatildeo ao acesso agrave informaccedilatildeo agrave compreensatildeo agrave circulaccedilatildeo com seguranccedila entre outros classificadas em a) barreiras urbaniacutesticas as existentes nas vias e nos espaccedilos puacuteblicos e privados abertos ao puacuteblico ou de uso coletivo b) barreiras arquitetocircnicas as existentes nos edifiacutecios puacuteblicos e privados c) barreiras nos transportes as existentes nos sistemas e meios de transportes d) barreiras nas comunicaccedilotildees e na informaccedilatildeo qualquer entrave obstaacuteculo atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressatildeo ou o recebimento de mensagens e de informaccedilotildees por intermeacutedio de sistemas de comunicaccedilatildeo e de tecnologia da informaccedilatildeo (BRASIL 2015 sp)
A respeito das barreiras arquitetocircnicas Nunes amp Sobrinho (2015) salientam
que satildeo expressotildees de barreiras atitudinais Essas por sua vez satildeo conceituadas
por Valdeacutes (2006 p6) como
[] as barreiras mais fortes e tambeacutem as mais intangiacuteveis pois envolvem componentes cognitivos afetivos e de conduta formados histoacuterica e socialmente que incluem desde fatores sociais como o estigma da deficiecircncia e sua difiacutecil diferenciaccedilatildeo de doenccedila a visatildeo tradicional da pessoa com deficiecircncia como coitadolsquo e digno de laacutestima ateacute fatores de personalidade e da histoacuteria de vida
Desse modo ao pensar a realidade das escolas puacuteblicas brasileiras a
acessibilidade nos espaccedilos escolares implicaria na reduccedilatildeo das barreiras
anteriormente citadas no entorno e no interior da escola tornando seus espaccedilos
paulatinamente acessiacuteveis e adequados para receber os estudantes considerados
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Essa prerrogativa tambeacutem estaacute contida na
Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva
(BRASIL 2008) a qual prevecirc a oferta do Atendimento Educacional Especializado
112
nas escolas puacuteblicas de ensino regular com a garantia de condiccedilotildees de acesso e
permanecircncia aos estudantes puacuteblico-alvo da EE Essa ―garantia contudo estaacute
longe de ser assegurada somente pela existecircncia de tal poliacutetica Conforme explicou
Garcia (2013 p 104) ―[] o acesso e permanecircncia dos estudantes da educaccedilatildeo
especial natildeo tem se configurado em garantia de sucesso da poliacutetica educacional
Ressalta-se ainda que embora as condiccedilotildees de acessibilidade possam ser
asseguradas elas sozinhas natildeo proporcionam o acesso e a permanecircncia do
estudante na escola Para isso eacute preciso considerar um conjunto de accedilotildees
educacionais intencionais planejadas e articuladas entre si por parte da equipe
diretiva escolar em conjunto com os demais profissionais da escola e pais Um
exemplo de accedilatildeo nesse sentido seria a sistematizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos
permanentes de discussotildees e reflexotildees ―acerca das estrateacutegias pedagoacutegicas a
serem utilizadas tomando como referecircncia o processo de desenvolvimento escolar
dos estudantes (GARCIA 2013 108) envolvendo todos os profissionais e
comunidade escolar
Com esses conceitos definidos adentra-se agora nas discussotildees sobre a
acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas A comeccedilar pela
acessibilidade arquitetocircnica foi possiacutevel observar que do total de 22 participantes
14 responderam que haacute acessibilidade na escola em que atuam enquanto 8
informaram que natildeo O Graacutefico 9 a seguir especifica as respostas por integrante das
equipes diretivas
Graacutefico 9 Sobre a acessibilidade arquitetocircnica nas escolas pesquisadas
Fonte Primaacuteria (2016)
113
Percebeu-se que os 14 integrantes que mencionaram haver acessibilidade
em sua escola associaram-na agrave existecircncia de rampas banheiros corrimatildeos
elevadores e placas em braile Pode-se dizer que as associaccedilotildees feitas pelos
participantes foram em parte devidas agrave maneira como a pergunta estava formulada
no questionaacuterio que citava rampa e corrimatildeo como exemplos de indiacutecios de
acessibilidade arquitetocircnica
Contudo ao mesmo tempo que afirmaram haver acessibilidade apontaram
alguns aspectos reveladores de que essa acessibilidade natildeo eacute de fato contemplada
de forma adequada nas escolas ―[acessibilidade] somente no teacuterreo (ED1) ―falta
corrimatildeo e elevadores (ED2) ―[acessibilidade] em alguns pontos do banheiro
(ED6) O Quadro 10 abaixo apresenta um detalhamento de suas respostas
Quadro 10 Condiccedilotildees de acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas
ED Acessibilidade arquitetocircnica
ED1d Sim somente no teacuterreo
ED1o Sim somente no teacuterreo
ED1s Natildeo
ED2d Sim Rampa e banheiros Falta corrimatildeo e elevadores
ED2o Natildeo
ED2s Sim Rampa e banheiros Falta corrimatildeo e elevadores
ED3d Sim rampa
ED3o Sim rampa
ED3s Natildeo
ED4d Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4o Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4s Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4s Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED5d Sim rampa banheiros
ED5o Sim rampa banheiros
ED5s Sim rampa banheiros
ED6d Sim em alguns pontos como banheiros
ED6o Natildeo
ED6s Natildeo
ED7d Natildeo
ED7o Natildeo
ED7s Natildeo
Fonte Primaacuteria (2016)
Evidencia-se por meio do Quadro 10 que na visatildeo das equipes diretivas os
espaccedilos escolares parecem inacessiacuteveis ou parcialmente acessiacuteveis aos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Tal situaccedilatildeo por sua vez se apresenta como
barreiras que podem limitar a circulaccedilatildeo desses estudantes nos espaccedilos escolares
e por conseguinte reduzir suas possibilidades de constituir relaccedilotildees e outras redes
114
de aprendizagens Redes essas entendidas como situaccedilotildees de interaccedilatildeo entre
pessoas as quais favoreccedilam apropriaccedilotildees dos conhecimentos produzidos
historicamente seja dentro da sala de aula com professores ou fora dela com seus
pares Essas situaccedilotildees se mostram como oportunidades para elaborar
contextualizar eou ressignificar os conhecimentos apreendidos
A acessibilidade nos espaccedilos escolares como jaacute discutido eacute importante mas
precisa ser concebida como parte da estrutura da escola que tambeacutem compotildee o
AEE ou seja de forma contextualizado considerando os demais fatores imbricados
pois quando compreendida de forma isolada pode-se incorrer no risco de um
entendimento que pouco pode contribuir com o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE
De acordo com o art 28 da Lei no 131462015 prover a acessibilidade nos
espaccedilos escolares eacute uma incumbecircncia da Uniatildeo juntamente com o poder puacuteblico
municipal Nesse sentido eacute possiacutevel constatar uma ecircnfase conferida ao poder
puacuteblico no provimento de acessibilidade aos sistemas de ensino
[] art 28 Incumbe ao poder puacuteblico assegurar criar desenvolver implementar incentivar acompanhar e avaliar I - sistema educacional inclusivo em todos os niacuteveis e modalidades bem como o aprendizado ao longo de toda a vida II - aprimoramento dos sistemas educacionais visando a garantir condiccedilotildees de acesso permanecircncia participaccedilatildeo e aprendizagem por meio da oferta de serviccedilos e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusatildeo plena [] XV - acesso da pessoa com deficiecircncia em igualdade de condiccedilotildees a jogos e a atividades recreativas esportivas e de lazer no sistema escolar XVI - acessibilidade para todos os estudantes trabalhadores da educaccedilatildeo e demais integrantes da comunidade escolar agraves edificaccedilotildees aos ambientes e agraves atividades concernentes a todas as modalidades etapas e niacuteveis de ensino XVII - oferta de profissionais de apoio escolar XVIII - articulaccedilatildeo Intersetorial na implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 2015 sp grifos nossos)
O Decreto nordm 76112011 (BRASIL 2011) por sua vez enfatiza o papel do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo no apoio teacutecnico e financeiro para adequaccedilotildees
arquitetocircnicas de preacutedios escolares bem como para elaboraccedilatildeo produccedilatildeo e
distribuiccedilatildeo de recursos educacionais para a acessibilidade com o intuito de prover
condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem no ensino regular aos
estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo especial
115
Destaca-se tambeacutem o Programa Escola Acessiacutevel criado a partir do Decreto
ndeg60942007 (BRASIL 2007) que pode disponibilizar recursos financeiros por meio
do Programa Dinheiro Direto Escola ndash PDDE (BRASIL 2013) para escolas puacuteblicas
das redes municipal estadual e do Distrito Federal que informaram no Censo
Escolar possuir matriacuteculas de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial no
intuito de assegurar a acessibilidade arquitetocircnica nos preacutedios escolares e
possibilitar a compra de materiais e equipamentos de tecnologia assistiva
Pode-se perceber que ao poder puacuteblico compete o repasse de recursos
financeiros que por sua vez seratildeo geridos e planejados pelas escolas Essa forma
de gestatildeo parece estar intimamente conectada com as reformas no aparelho do
Estado durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso consolidada
com a publicaccedilatildeo do Plano Diretor no ano de 1995 (BRASIL 1995)Tais reformas
redefiniram e delimitaram as funccedilotildees do Estado transformando-o em um Estado
miacutenimo para prover mas ampliado para normatizar criando mecanismos
regulatoacuterios de maior controle da aprendizagem e a construccedilatildeo de consensos os
quais ―[] tornam-se fundamentais para a introduccedilatildeo de uma nova racionalidade na
gestatildeo escolar e no sistema educacional capaz de envolver professores equipe
pedagoacutegica e pais em torno de um uacutenico projeto (SANTOS 2012 p 36)
Ainda sobre estas reformas Michels (2006 p408) enfatizou que
[] em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e especificamente sobre o trabalho na escola a mudanccedila no papel do Estado pode ser pensada por no miacutenimo dois pontos a) o Estado retrai-se na provisatildeo destacando o papel da unidade escolar como responsaacutevel pela educaccedilatildeo das crianccedilas jovens e adultos mas mantendo o controle do que eacute feito pela escola por meio da avaliaccedilatildeo (SAEB ndash Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica ENEM ndash Exame Nacional do Ensino Meacutedio ENC ndash Exame Nacional de Cursos) b) a retirada do Estado como provedor se daacute mediante a entrada da sociedade civil nas unidades escolares para auxiliar na resoluccedilatildeo de problemas principalmente por meio de programas como por exemplo o Programa Amigos da Escola e o Programa Adote um Aluno (MICHELS 2006)
As colocaccedilotildees de Michels (2006) concordam com o que Freitas (2011)
discutiu a respeito do contexto neotecnicista que se apresenta sob a forma da
―responsabilizaccedilatildeo31 e ―meritocracia enfatizando o gerenciamento da forccedila de
31 Segundo Freitas (2011 p338) ―[] responsabilizaccedilatildeo envolve trecircs elementos testes para os estudantes divulgaccedilatildeo puacuteblica do desempenho da escola e recompensas e sanccedilotildees [] As recompensas e sanccedilotildees compotildeem o caraacuteter meritocraacutetico do sistema mas natildeo soacute jaacute que a proacutepria divulgaccedilatildeo puacuteblica dos resultados da escola constitui em si mesma uma exposiccedilatildeo puacuteblica que
116
trabalho da escola por meio de bocircnus puniccedilotildees e controle pelo processo pautado
em teorias da ciecircncia da informaccedilatildeo e sistemas econometria e psicologia
behaviorista
Nesse contexto pode-se identificar que a forma de gestatildeo proposta nessa
reforma engloba por um lado a expressatildeo de uma agenda de governo que delega
responsabilidades estatais ao mesmo tempo em que intensifica sua forccedila
normatizadora Por outro lado pode tambeacutem se estabelecer como uma oportunidade
para que a equipe diretiva consolide forccedilas no interior da escola a fim de reivindicar
ao poder puacuteblico as condiccedilotildees necessaacuterias para prover o acesso e permanecircncia no
ensino regular a todos os estudantes Isso porque inspirando-se em Paro (2016)
pode-se dizer que o coletivo escolar organizado a partir da accedilatildeo das equipes
diretivas constitui uma espeacutecie de ―mola propulsora para reinvindicaccedilatildeo das
referidas condiccedilotildees
Nesse sentido pode-se dizer que assegurar a acessibilidade em termos
como por exemplo de provimento de recursos eacute uma responsabilidade que
compete ao poder puacuteblico Como pontuou Alves (2010)
[] sugere-se que cada um assuma sua responsabilidade em relaccedilatildeo agrave efetivaccedilatildeo da educaccedilatildeo inclusiva cabendo ao poder puacuteblico garantir as condiccedilotildees adequadas agrave sua implementaccedilatildeo entre as quais estatildeo as adaptaccedilotildees na estrutura fiacutesica material didaacutetico adequado e condiccedilotildees reais de formaccedilatildeo docente para atuar na diversidade (ALVES 2010 p4)
Contudo haacute que se reconhecer como fez Santos (2016) que a existecircncia de
leis e diretrizes com vistas a uma educaccedilatildeo para todos e ateacute mesmo o
direcionamento de recursos financeiros natildeo garante a efetivaccedilatildeo das poliacuteticas em si
Eacute a partir desse reconhecimento que se pode vislumbrar o papel da gestatildeo escolar
(equipe diretiva em conjunto com os demais envolvidos no processo de
escolarizaccedilatildeo) no que se refere agrave organizaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias para a
realizaccedilatildeo do AEE Esse papel estaacute relacionado tanto com a reivindicaccedilatildeo de
recursos quando faltantes quanto com o planejamento coletivo de como esses
seratildeo utilizados quando recebidos
Nesse sentido quando se pensa em uma forma de gestatildeo escolar que
perpassa a construccedilatildeo coletiva envolvendo a equipe diretiva em conjunto com os
demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo eacute possiacutevel se remeter a um tipo
envolve alguma recompensa ou sanccedilatildeo puacuteblicas A meritocracia eacute uma categoria portanto que perpassa a responsabilizaccedilatildeo
117
especiacutefico de gestatildeo a gestatildeo democraacutetica-participativa Sobre isso Paro (2016a p
13) ressaltou que ―[] toda vez que se propotildee uma gestatildeo democraacutetica da escola
puacuteblica baacutesica que tenha efetiva participaccedilatildeo de pais educadores alunos e
funcionaacuterios da escola isso acaba sendo considerado como coisa utoacutepica O autor
realccedila ainda que utopia natildeo se trata de um horizonte inalcanccedilaacutevel mas de um
resultado desejaacutevel que pressupotildee um processo e por isso pode vir a existir a partir
de um movimento de busca Em consonacircncia com essa discussatildeo Freire (1979b
p16) salienta que para ele o utoacutepico natildeo eacute o ―irrealizaacutevel a utopia natildeo eacute o idealismo
eacute a dialetizaccedilatildeo dos atos de denunciar e anunciar o ato de denunciar a estrutura
desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante Por essa razatildeo a utopia eacute
tambeacutem um compromisso histoacuterico
Nessa perspectiva Cury (2005) Oliveira (2008) e Paro (2016a) revelam que a
gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas eacute um processo em constituiccedilatildeo Oliveira
(2008 p95) salienta por sua vez que ―a garantia de um artigo constitucional que
estabelece a gestatildeo democraacutetica natildeo eacute suficiente para a sua efetivaccedilatildeo
Nessa direccedilatildeo Libacircneo (2015) ressalta que a reorganizaccedilatildeo da escola
implica a compreensatildeo de dois aspectos a participaccedilatildeo na gestatildeo enquanto
princiacutepio democraacutetico e a gestatildeo da participaccedilatildeo como princiacutepio teacutecnico De acordo
com o autor as escolas precisam desenvolver processos democraacuteticos e
colaborativos de trabalho e tomadas de decisotildees Por outro lado precisam funcionar
bem tecnicamente a fim de conseguir alcanccedilar seus objetivos o que requer a gestatildeo
da participaccedilatildeo Ainda segundo o autor a gestatildeo da participaccedilatildeo significa
[] alcanccedilar democraticamente os objetivos da escola A participaccedilatildeo eacute o principal meio de tomar decisotildees de mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos os conteuacutedos as formas de organizaccedilatildeo do trabalho e que ambiente de trabalho desejam para si proacuteprios e para os outros A participaccedilatildeo se viabiliza por interaccedilatildeo e participaccedilatildeo diaacutelogo [] Nesse sentido a melhor forma de gestatildeo eacute aquela que cria um sistema de praacuteticas interativas e colaborativas para trocas de ideias e experiecircncias [reflexotildees estudos][] (LIBAcircNEO 2015 p281)
Ante o exposto entende-se que embora existam tensotildees e contradiccedilotildees
quando se fala em gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas assim mesmo essa
pode ser concebida como uma possiacutevel forma de gestatildeo escolar de modo a
favorecer e contribuir para a realizaccedilatildeo do AEE na escola e por conseguinte com o
processo de escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes se levar em conta como
explicou Paro (2003) que
118
[] a possibilidade de uma administraccedilatildeo [gestatildeo] democraacutetica no sentido de sua articulaccedilatildeo [] com os interesses da sociedade como um todo tem a ver com os fins e a natureza da coisa administrada No caso da administraccedilatildeo [gestatildeo] escolar sua especificidade deriva pois a) dos objetivos que se buscam alcanccedilar com a escola b) da natureza do processo que envolve essa busca Esses dois aspectos natildeo estatildeo de modo nenhum desvinculados um do outro A apropriaccedilatildeo do saber e o desenvolvimento da consciecircncia criacutetica como objetivos de uma educaccedilatildeo transformadora determinam () a proacutepria natureza peculiar do processo pedagoacutegico escolar ou seja esse processo natildeo se constitui em mera diferenciaccedilatildeo do processo de produccedilatildeo material que tem lugar na empresa mas deriva sua especificidade de objetivos (educacionais) peculiares objetivos estes articulados com os interesses sociais mais amplos e que satildeo por isso antagocircnicos aos objetivos de dominaccedilatildeo subjacentes agrave atividade produtiva capitalista (PARO 2003 p151)
Considerando os princiacutepios de uma gestatildeo democraacutetica retorna-se agraves
discussotildees sobre a acessibilidade refletindo o que se pretende propiciar para quem
e com que objetivos Dessa forma refletir sobre barreiras arquitetocircnicas e atitudinais
compotildee o cenaacuterio de discussatildeo sobre qual a finalidade da Educaccedilatildeo na escola
puacuteblica brasileira hoje
A partir dessas reflexotildees retoma-se agrave questatildeo da acessibilidade
arquitetocircnica Observou-se que para cada instacircncia (poder puacuteblico e gestatildeo escolar)
haacute uma responsabilidade no que tange agrave acessibilidade e que existe no Brasil um
programa especiacutefico para destinaccedilatildeo de recursos puacuteblicos a fim de asseguraacute-la
(Programa Escola Acessiacutevel) Procurou-se nesse sentido investigar se as escolas
da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute haviam sido contempladas pelo
Programa Escola Acessiacutevel
No site do MEC (BRASIL 2016) foi possiacutevel localizar duas listagens nominais
das escolas a serem contempladas nos anos de 2012 e 2013 (Resoluccedilatildeo FNDE nordm
272012 e nordm192013) constatando que dentre as escolas a serem contempladas
em 2012 encontravam-se 3 escolas que fazem parte desta pesquisa Jaacute no ano de
2013 percebeu-se um incremento nesse nuacutemero que passou a totalizar 10 escolas
dentre as quais 5 compotildeem esta pesquisa conforme pode-se conferir no Quadro 11
a seguir
119
Quadro11 Escolas pesquisadas a serem contempladas pelo Programa Escola Acessiacutevel por meio do PDDE no ano de 2012 e 2013
2012 2013
E1 E1
E4 E2
E7 E4
E5
E7
Fonte Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 2016a)
Continuando a pesquisa na base de dados do MEC denominada Sistema
Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle ndash SIMEC32 (BRASIL 2016b) foi
possiacutevel identificar que a Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute recebeu o repasse
desse recurso financeiro somente no ano de 2013 conforme eacute possiacutevel conferir no
Graacutefico 10
Graacutefico10 Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves Redes Estadual e Municipal de Ensino de Camboriuacute
Fonte Dados extraiacutedos do Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle ndash SIMEC do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 2016b)
32
Para aprofundar o conhecimento sobre o assunto pode-se acessar o site do Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo Disponiacutevel em
lthttppainelmecgovbrpainelphpmodulo=principaldetalhamentoIndicadorampacao=Aampdetalhes=mu
nicipioampmuncod=4203204gt Acesso em 17102016b
120
Evidenciou-se nesse sentido que o recebimento de tal recurso natildeo eacute
imediato agrave publicaccedilatildeo da listagem de escolas que podem ser contempladas Para
fazer parte da listagem em primeiro lugar eacute necessaacuterio que as escolas tenham
aderido ao Programa de Implementaccedilatildeo de Salas de Recursos Multifuncionais e
informado no Censo Escolar a quantidade de matriacuteculas de estudantes puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial Uma vez que a listagem eacute divulgada e a escola se vecirc
contemplada cabe agrave equipe diretiva proceder com a realizaccedilatildeo de seu cadastro no
SIMEC onde deve inserir o Plano de Atendimento um documento que expressa seu
planejamento para utilizaccedilatildeo dos recursos a serem recebidos (BRASIL 2013)
Sob uma oacutetica superficial poder-se-ia inferir que a equipe diretiva em
especial precisa estar atenta e atualizada sobre os prazos e procedimentos
relacionados aos programas de repasse de recursos existentes para garantir que a
transferecircncia do recurso aconteccedila Contudo haacute um importante papel a ser
desenvolvido nesse acircmbito pelas Secretarias de Educaccedilatildeo que podem atuar como
elo entre o poder puacuteblico e as equipes diretivas escolares mantendo-as informadas
a respeito dos programas de repasse de recursos bem como acompanhando e
auxiliando no processo de execuccedilatildeo desses programas uma vez que de acordo
com o art 5ordm da ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 inciso I as prefeituras municipais
e secretarias distritais e estaduais satildeo responsaacuteveis
[] pela formalizaccedilatildeo dos procedimentos necessaacuterios ao recebimento execuccedilatildeo e prestaccedilatildeo de contas dos recursos do programa destinados agraves escolas de suas redes de ensino que natildeo possuem UEx [Unidade Executora] bem como pelo recebimento anaacutelise e emissatildeo de parecer das prestaccedilotildees de contas das UEx [Unidade Executora] representativas de suas escolas ou dos polos presenciais da UAB [Universidade Aberta do Brasil] a ela vinculados [] (BRASIL 2013 sp)
Considera-se relevante destacar ainda de acordo com a mesma
ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 que somente 20 do valor dos recursos
transferidos por meio do PDDE podem ser utilizados para aquisiccedilatildeo de itens de
capital33 Ou seja algumas necessidades de investimento para acessibilidade como
33
ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 ―[] art 4ordm Os recursos financeiros seratildeo destinados agraves escolas referidas no art 1deg na proporccedilatildeo de 80 (oitenta por cento) para cobertura de despesas de custeio e 20 (vinte por cento) para cobertura de despesas de capital de acordo com o nuacutemero de estudantes da educaccedilatildeo baacutesica matriculados na unidade educacional extraiacutedo do censo escolar do ano anterior ao do repasse e tomando como paracircmetros os intervalos de nuacutemero de alunos e os correspondentes valores [] (BRASIL 2013)
121
o elevador mencionado pela equipe diretiva ED2 excederiam o valor estipulado com
itens de capital Nesse caso entende-se que uma alternativa eacute a instacircncia municipal
em seu planejamento orccedilamentaacuterio anual contemplar essa aquisiccedilatildeo para as
unidades de ensino
Pode-se perceber que as escolas em que atuam as equipes diretivas
pesquisadas ainda natildeo contam com acessibilidade em todos os seus espaccedilos
internos e externos Entretanto ao analisar os dados do Censo Escolar de 2015
(INEP 2015) sobre a situaccedilatildeo da acessibilidade nas escolas municipais brasileiras
de ensino fundamental constatou-se que a acessibilidade estaacute longe de ser um
problema pontual do municiacutepio pesquisado
No que se refere agraves questotildees de acessibilidade arquitetocircnica os achados
apontaram que 60 das escolas municipais de ensino fundamental de Camboriuacute
contam com dependecircncias acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo
especial enquanto Santa Catarina apresenta 40 e o Brasil como um todo apenas
20 revelando que a acessibilidade nas escolas eacute uma problemaacutetica nacional O
Quadro 12 que segue apresenta essa informaccedilatildeo bem como a situaccedilatildeo de
acessibilidade dos sanitaacuterios das escolas
Quadro 12 Acessibilidades nas escolas municipais de ensino fundamental no Brasil SC e em Camboriuacute
Questotildees sobre acessibilidade arquitetocircnica
Brasil Santa Catarina Camboriuacute
Escolas com dependecircncias acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico - alvo da Educaccedilatildeo
Especial
(20) 17572 escolas (40) 765 escolas (60) 9 escolas
Escolas com sanitaacuterios acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico - alvo da Educaccedilatildeo
Especial
(26) 23232 escolas (48) 920 escolas (87) 13 escolas
Fonte Censo Escolar INEP (2015)
Ademais como salientaram Glat Pletsch e Fontes (2007) a acessibilidade
compreende um dos aspectos que compotildee a estrutura da proposta de Educaccedilatildeo
Inclusiva contida na Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial (BRASIL 2008)
122
Portanto constatar sua ausecircncia ou presenccedila parcial nas escolas brasileiras natildeo
basta eacute necessaacuteria analisaacute-la articulada aos demais aspectos que a compotildeem
como recursos pedagoacutegicoshumanos formaccedilatildeo dos profissionais da escola
participaccedilatildeo de todos os profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE bem como na construccedilatildeo discussatildeo reflexatildeo e
execuccedilatildeo da proposta de AEE dentre outros
Nesse sentido Glat Pletsch e Fontes (2007 345) apoiadas em Ainscow
(2004) ressaltam ainda que
[] a inclusatildeo escolar deve ser ancorada em trecircs aspectos inter-relacionados a saber a) a presenccedila do aluno na escola substituindo o isolamento do ambiente privado familiar pela sua inserccedilatildeo num espaccedilo puacuteblico de socializaccedilatildeo e aprendizagem b) a sua participaccedilatildeo efetiva em todas as atividades escolares a qual natildeo depende apenas de estiacutemuloslsquo de colegas e professores mas do oferecimento de condiccedilotildees de acessibilidade e adaptaccedilotildees curriculares que se faccedilam necessaacuterias e c) a construccedilatildeo de conhecimentos funccedilatildeo primordial da escola e meta a ser perseguida durante o processo de inclusatildeo
Observa-se que os desafios postos para a constituiccedilatildeo de uma escola para
todos os estudantes satildeo muitos Sabendo que a acessibilidade eacute um deles
compreende-se que haacute um papel essencial do poder puacuteblico quanto agrave
disponibilizaccedilatildeo de recursos para provecirc-los agraves escolas bem como um papel
importante da gestatildeo escolar (equipes diretivas escolares articuladas ao coletivo
escolar) no planejamento para a aplicaccedilatildeo do referido investimento Evidencia-se
contudo que o atual cenaacuterio poliacutetico econocircmico e social brasileiro tem sido
vivenciado como um momento de grande instabilidade e muitas incertezas com
indiacutecios de que os investimentos para a aacuterea da educaccedilatildeo tendem ao encolhimento
Nesse sentido Prieto (2015) expotildee que os movimentos sociais em prol da educaccedilatildeo
podem figurar como uma alternativa para se reivindicar condiccedilotildees necessaacuterias para
assegurar a educaccedilatildeo como direito fundamental e de todos
[] eacute necessaacuterio insistir na mudanccedila do patamar de participaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas de educaccedilatildeo bem como na avaliaccedilatildeo de seus impactos O que se espera eacute criar movimentos de resistecircncia aos ditames externos e agraves propostas internas que ameacem direitos adquiridos ou destruam as possibilidades de intervenccedilatildeo social na direccedilatildeo de novas conquistas no campo da educaccedilatildeo (PRIETO 2015 p 34)
123
Seguindo com as anaacutelises ao perguntar agraves equipes diretivas sobre os
recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis na escola em que atuam foi possiacutevel constatar
que a maioria (16 dos 22 integrantes pesquisados) apresentou uma resposta
positiva informando que a escola os possui Os seis demais participantes que
integram a ED3 e a ED6 informaram que a escola natildeo dispotildee de recursos
pedagoacutegicos que possam contribuir paracom o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Essas informaccedilotildees estatildeo ilustradas
no Graacutefico 11 a seguir
Graacutefico - 11 - Recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis nas escolas pesquisadas
Fonte Primaacuteria (2016) Ao observar os relatos dos integrantes das equipes diretivas que informaram
possuir recursos pedagoacutegicos na escola em que atuam (ED1 ED2 ED4 ED5 e
ED7) foi possiacutevel notar menccedilotildees recorrentes a equipamentos de informaacutetica (em
especial computador e notebook) e jogos pedagoacutegicos Vejamos no Quadro 13
quais foram os entendimentos apresentados por esses participantes acerca dos
recursos pedagoacutegicos disponibilizados pelas escolas
Quadro 13 O que se entende por ―recurso pedagoacutegico nos dizeres das equipes diretivas que informaram possuiacute-los nas escolas em que atuam
Recursos Recorrecircncia
ComputadorNotebook 12
Jogos Pedagoacutegicos 12
Lupa 6
Dominoacute taacutetil 3
Maacutequina de Braile 3
124
Reacutegua 3
Materiais DidaacuteticosAlternativos 3
Livros 3
Sala de Recursos Multifuncionais 2
Scanner de voz 1
Mobiliaacuterio 1
Maacutequina de Libras 1
Internet 1
Natildeo especificou 1
Total 52
Fonte Primaacuteria (2016)
Eacute possiacutevel constatar a partir do Quadro 13 que as respostas dos integrantes
das equipes diretivas acerca dos recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis para o trabalho
com os estudantes puacuteblico-alvo da EE se restringiram aos itens disponibilizados
pelo MEC por meio do programa de implantaccedilatildeo de SRM (BRASIL 2013) O
referido programa prevecirc a doaccedilatildeo de equipamentos mobiliaacuterios e materiais
didaacuteticos pedagoacutegicos agraves escolas que a ele aderiram conforme detalhado no
Quadro 14 a seguir
Quadro 14 Composiccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais ndash 20112012
Fonte Extraiacutedo do documento Orientador do Programa de Implantaccedilatildeo de Salas de Recursos Multifuncionais (BRASIL 2013 p15)
125
Contemplar a forma como as equipes diretivas demonstraram compreender o
que satildeo ―recursos pedagoacutegicos instiga a uma reflexatildeo conceitual acerca do termo
que vem sendo largamente utilizado em documentos legais e produccedilotildees cientiacuteficas
sem por vezes discutir sobre o seu significado Nesse sentido concorda-se com
Eiterer e Medeiros (2010 p01) quando explicaram que
[] ao falar de recursos pedagoacutegicos somos atualmente levados a pensar de modo restritivo em tecnologias digitais e recursos multimiacutedia websites infovias e outras possibilidades dessa mesma natureza Ou ainda em materiais educativos tais como jogos e brinquedos pedagoacutegicos materiais didaacuteticos e mesmo livros didaacuteticos []
As referidas autoras realizaram uma pertinente reflexatildeo acerca do significado
da expressatildeo ―recurso pedagoacutegico procurando vislumbrar aleacutem de seu aspecto
material e distinguir o que poderia conferir a um recurso o caraacuteter de pedagoacutegico
Avanccedilando nas discussotildees chegaram a um entendimento de que o recurso
pedagoacutegico
[] eacute o que auxilia a aprendizagem de quaisquer conteuacutedos intermediando os processos de ensino-aprendizagem intencionalmente organizados por educadores na escola ou fora dela Delimitando melhor os contornos de um conceito o que apresentamos como elemento que permite distinguir um recurso pedagoacutegico de outro qualquer estaacute na accedilatildeo do educador que a partir de uma atuaccedilatildeo planejada mobiliza determinados meios de maneira consciente com vistas a alcanccedilar um objetivo educacional (EITERER e MEDEIROS 2010 p 1 grifo nosso)
O que possibilita classificar um recurso como pedagoacutegico natildeo eacute portanto o
recurso em si mas sim a intencionalidade e a accedilatildeo do educador Assim natildeo
existe recurso pedagoacutegico a priori ainda que a sua finalidade seja educativa Um
recurso torna-se pedagoacutegico na medida em que o educador lhe coloque esse
objetivo e dirija sua accedilatildeo para a construccedilatildeo de um conhecimento especiacutefico
(EITERER e MEDEIROS 2010)
Ainda que a maioria das equipes diretivas escolares entenda que haacute recursos
pedagoacutegicos em suas escolas o modo como se expressaram foi indicativo de uma
compreensatildeo restrita agravequeles que satildeo disponibilizados na SRM Nesse sentido
considera-se que uma ampliaccedilatildeo do conceito de ―recurso pedagoacutegico por parte
das equipes diretivas poderia auxiliaacute-las a ressiginificar suas compreensotildees e com
isso talvez identificar outros recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis em suas escolas
126
Compreende-se que os proacuteprios documentos relacionados ao AEE apontam
para essa interpretaccedilatildeo mais restrita do que significa um ―recurso pedagoacutegico
Assim a ressignificaccedilatildeo desse conceito por meio de estudos e processos de
formaccedilatildeo continuada constitui uma forma possiacutevel natildeo apenas de identificaccedilatildeo de
recursos como mencionado anteriormente Pode favorecer tambeacutem que o proacuteprio
papel da equipe diretiva em relaccedilatildeo ao AEE e ao processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE possa se transformar de modo a contribuir para que
o cotidiano escolar seja organizado de forma a ampliar as possibilidades
pedagoacutegicas do espaccedilo escolar Entende-se que uma maneira possiacutevel de fazecirc-lo
eacute por meio de planejamento de formaccedilatildeo junto a todos os professores
Nessa direccedilatildeo eacute necessaacuterio ainda desconstruir a loacutegica de formaccedilatildeo
separada para o professor especializado professores da sala comum e equipe
diretiva que vem se constituindo como norma nos sistemas de ensino e nos
espaccedilos escolares brasileiros e que pouco pode contribuir com o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Sobre isso Garcia (2011 p 67)
explicou que
[] a loacutegica de formaccedilatildeo proposta e realizada tende a influenciar a organizaccedilatildeo escolar alimentando a caracteriacutestica de pouca ou nenhuma organicidade entre o trabalho especializado e o trabalho pedagoacutegico desenvolvido em sala de aula A formaccedilatildeo de professores nos moldes propostos mediante uma poliacutetica de Educaccedilatildeo Inclusiva tem enfrentado a realidade excludente da Educaccedilatildeo escolar brasileira Ou estamos lidando com um enfoque de justaposiccedilatildeo de um conjunto de praacuteticas especializadas metodologias e recursos especializados como imagem de inclusatildeo escolar
Seguindo com as anaacutelises foi possiacutevel perceber que a Sala de Recursos
Multifuncionais se constitui como um espaccedilo de referecircncia para pensar os recursos
pedagoacutegicos e de acessibilidade natildeo apenas nos dizeres das equipes diretivas
citadas mas na proacutepria proposta do Atendimento Educacional Especializado que
apresenta a SRM como um espaccedilo fiacutesico privilegiado para a realizaccedilatildeo de tal
atendimento que conta com mobiliaacuterio materiais didaacuteticos recursos pedagoacutegicos
e de acessibilidade e equipamentos especiacuteficos para complementarsuplementar o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE (BRASIL 2009)
Sem duacutevida esses recursos disponibilizados pelo MEC satildeo importantes e
precisam estar disponiacuteveis para a utilizaccedilatildeo do professor da sala comum no
trabalho com os estudantes puacuteblico-alvo da EE Entretanto esses recursos natildeo
127
satildeo os uacutenicos que podem ser utilizados ao se considerar que em seu trabalho
cotidiano junto aos estudantes puacuteblico-alvo da EE o professor seja na sala comum
ou na SRM pode se utilizar de outros recursos como meio para atingir seu objetivo
de aprendizagem bem como construiacute-los com os estudantes no intuito de
propiciar a adaptaccedilatildeo de um determinado conteuacutedo o que natildeo deixa de conferir a
esses recursos um caraacuteter pedagoacutegico e acessiacutevel
Convergindo com a discussatildeo Fuck e Cordeiro (2015 p398) salientaram
que
[] os recursos e adaptaccedilotildees devem ser ajustados agraves necessidades dos estudantes oportunizando-os desenvolver suas potencialidades portanto natildeo existe um padratildeo uacutenico para seu uso assim como natildeo significa que toda pessoa com deficiecircncia necessariamente necessite deles ou ainda que tudo deva ser adaptado mas que estes devem ser personalizados visando agrave autonomia da pessoa Para aleacutem desta autonomia entender que os recursos e adaptaccedilotildees constituem-se em meios pois o que deve ser fundamentalmente garantido ao aluno com deficiecircncia eacute o seu direito de acesso aos conteuacutedos escolares
Nessa direccedilatildeo Paro (2012) enfatizou que o objetivo primeiro da escola eacute a
apropriaccedilatildeo por todos os estudantes dos conhecimentos das ciecircncias da arte da
tecnologia da filosofia enfim de todas as conquistas culturais historicamente
produzidas pelos homens Apropriaccedilatildeo essa ―[] que se cumpre pelas atividades
pedagoacutegicas curriculares e docentes estas por sua vez viabilizadas pelas formas
de organizaccedilatildeo escolar e de gestatildeo (LIBAcircNEO 2007 p155)34 realizada pela
equipe diretiva em conjunto com os demais profissionais e comunidade escolar
Ainda sobre a disponibilidade de recursos pedagoacutegicos nas escolas um outro
ponto de atenccedilatildeo que surgiu refere-se a duas equipes diretivas (ED3 e ED6) que
explicitaram natildeo dispor de recursos pedagoacutegicos nos espaccedilos escolares em que
atuam A esse respeito uma primeira consideraccedilatildeo que se faz pertinente eacute a de
que essas equipes diretivas que consideraram natildeo possuir recursos pedagoacutegicos
acessiacuteveis atuam em escolas que natildeo dispotildeem de Salas de Recursos
Multifuncionais e nesse sentido tambeacutem apontaram para uma compreensatildeo de
―recursos pedagoacutegicos reduzidos aqueles que deveriam compor tal espaccedilo e natildeo
a accedilatildeo do educador que pode transformar diversos materiais espaccedilos e situaccedilotildees
34
Texto original escrito em espanhol Traduccedilatildeo livre ―que se obtiene a traveacutes de las atividades pedagoacutegicas curriculares y docentes Eacutestas a su vez son viabilizadas por las formas de organizacioacuten escolar y de gestioacuten (LIBAcircNEO 2007 p155)
128
em meios para favorecer o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo
da EE
Pode-se inferir que nas escolas em que atuam as equipes diretivas ED3 e
ED6 a ausecircncia de um espaccedilo fiacutesico como a SRM dotado de ―[] diferentes
ferramentas desde tecnoloacutegicas ateacute adaptaccedilotildees em materiais escolares
(PLETSCH 2009 p 36) parece ser evidenciada pelas equipes diretivas como
determinante para a inacessibilidade dos conteuacutedos escolares Percepccedilatildeo essa
que por sua vez pode destituir a potecircncia dos saberes e das accedilotildees docentes para
converter uma seacuterie de materiais em recursos pedagoacutegicos acessiacuteveis Contudo
os equipamentos mobiliaacuterios e materiais didaacuteticos pedagoacutegicos que compotildeem a
SRM satildeo ferramentas importantes entendidas por Pletsch (2009 p 36) como
recursos imprescindiacuteveis ―[] para o processo de ensino-aprendizagem de crianccedilas
com necessidades educacionais especiais35 incluiacutedas no ensino regular sobretudo
aquelas com comprometimentos mais severos Assim dispor de tais meios pode
favorecer o trabalho docente junto aos estudantes puacuteblico-alvo da EE ainda que
natildeo determinem por si mesmas a acessibilidade dos conteuacutedos a serem
aprendidos
Considerando tais colocaccedilotildees pode-se dizer que compreender a importacircncia
dos meacutetodos de ensino e dos recursos pedagoacutegicos como meios que possibilitam
aos estudantes puacuteblico-alvo da EE se apropriarem dos conhecimentos
sistematizados eacute uma forma de considerar as suas singularidades e dar um passo
na direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo para todos Nessa perspectiva concorda-se com
Sanches e Teodoro (2006) quando salientam que
[] para que as escolas se tornem mais inclusivas eacute necessaacuterio que assumam e valorizem os seus conhecimentos e as suas praacuteticas que considerem a diferenccedila um desafio e uma oportunidade para a criaccedilatildeo de novas situaccedilotildees de aprendizagem que sejam capazes de inventariar o que estaacute a impedir a participaccedilatildeo de todos que se disponibilizem para utilizar os recursos disponiacuteveis e para gerar outros que utilizem uma linguagem acessiacutevel a todos e que tenham a coragem de correr riscos (SANCHES amp TEODORO 2006 p71)
Evidencia-se tambeacutem que para um espaccedilo escolar tornar-se acessiacutevel eacute
fundamental o papel da equipe diretiva escolar para inventariar junto aos demais
profissionais da educaccedilatildeo o que a escola possui em relaccedilatildeo agrave acessibilidade de
35
O que Pletsch (2009) enfatiza como recursos imprescindiacuteveis para crianccedilas com necessidades educacionais especiais satildeo entendidos no contexto deste estudo como aplicaacuteveis a todos os estudantes puacuteblico-alvo da EE independentemente da faixa-etaacuteria modalidade e niacutevel de ensino
129
suas estruturas internas e externas equipamentos mobiliaacuterios e materiais
didaacuteticos pedagoacutegicos bem como levantar uma relaccedilatildeo daqueles que precisam ser
providenciados e apresentaacute-la aos oacutergatildeos competentes ensejando que sejam
incluiacutedas no planejamento orccedilamentaacuterio anual
Adicionalmente agraves equipes diretivas e demais profissionais da educaccedilatildeo eacute
posto o desafio de instituir e sistematizar momentos de discussatildeo e reflexatildeo sobre
o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Considera-se
aqui no entanto a instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos de formaccedilatildeo em que seja
possiacutevel por exemplo repensar as concepccedilotildees construiacutedas acerca da Educaccedilatildeo
Especial ponderar sobre suas accedilotildees pedagoacutegicas e de gestatildeo e perceber a forma
como a escola estaacute organizada para receber esses estudantes Isso sem deixar de
atentar para os obstaacuteculos dificuldades e resistecircncias que fazem parte de qualquer
processo de reflexatildeo eou mudanccedila e que precisam ser acolhidos compreendidos
e trabalhados Tais momentos de reflexatildeo e discussatildeo natildeo se restringem como
explicaram Placco Souza e Almeida (2012) a cursos e palestras mas remetem a
muacuteltiplos espaccedilos e atividades que favorecem a construccedilatildeo de saberes estimulem
a busca por outros conhecimentos e introduzem uma inquietaccedilatildeo fecunda e
contiacutenua com o que jaacute se conhece
Prosseguindo com as reflexotildees passa-se agora para a apresentaccedilatildeo e
discussatildeo dos dados que emergiram do questionamento realizado agraves equipes
diretivas acerca das accedilotildees36 que essas consideram de sua responsabilidade para
viabilizar o AEE Cada participante respondeu agrave questatildeo considerando sua funccedilatildeo
especiacutefica isto eacute diretores(as) relataram a respeito do papel do(a) diretor(a)
supervisores(as) sobre o papel do(a) supervisor(a) e orientadores(as) a respeito
do papel de orientador(a)
Considerando poreacutem que essa investigaccedilatildeo pretende se debruccedilar sobre a
anaacutelise do papel da equipe diretiva como um todo apresenta-se a seguir um
agrupamento dos dizeres dos participantes da pesquisa formando um conjunto de
papeacuteis que remete agrave equipe diretiva exposto no Quadro 15 Optou-se por
organizar seus dizeres por recorrecircncia em toacutepicos indicativos do modo como
demonstraram entender seu papel no que tange agrave viabilizaccedilatildeo do AEE
36
No contexto deste estudo os termos accedilatildeo papel e funccedilatildeo satildeo entendidos como expressotildees semelhantes que remetem a atividades consideradas de responsabilidade das equipes diretivas em prol da viabilizaccedilatildeo do AEE
130
Quadro 15 Accedilotildees que as equipes diretivas escolares consideram que sejam de suas responsabilidades para viabilizar o AEE
Papel da Equipe Diretiva Escolar na Viabilizaccedilatildeo do AEE Recorrecircncia
Orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores)
9
Orientar Orientar accedilotildees educativas Ajudar o professor na qualidade de suas aulas Orientaccedilotildees educativas aos professores ajudando a qualificar suas aulas Resolver auxiliar orientar os estudantes e pais em suas limitaccedilotildees e anguacutestias Orientaccedilatildeo aos professores Acompanhar a professora especializada Orientar professores Atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eou seus pais
7 Realizar atendimento a esses alunos e pais informando sua vida escolar Ajudar no atendimento aos alunos no refeitoacuterio Encaminhar alunos (2) Adequar horaacuterios dos alunos (2) Viabilizar conversas com os pais
Provimento de condiccedilotildees materiais e pedagoacutegicas
5
Dar condiccedilotildees (materiais jogos ambiente etc) para que os profissionais possam atender aos alunos Viabilizar materiais para as atividades Suprir as necessidades quanto a materiais para que os professores possam desenvolver seu trabalho Participaccedilatildeo no trabalho pedagoacutegico Proporcionar acesso ao conhecimento das diferentes siacutendromes e deficiecircncias para que o professor planeje atividades compatiacuteveis as suas possibilidades
Apuraccedilatildeorepasse de informaccedilotildees e mediaccedilatildeo entre escola e Secretaria da Educaccedilatildeo
4 Levantamento dos alunos com deficiecircncia Solicitar para a Secretaria da Educaccedilatildeo esse atendimento (AEE) aos alunos (2) Repassar informaccedilotildees relevantes
Promoccedilatildeo da aprendizagemdesenvolvimento dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
2 Promover a aprendizagem dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Acompanhar o desenvolvimento desse estudante
Natildeo responderam 5
Total 32
Fonte Primaacuteria (2016)
Identificou-se que os toacutepicos mais recorrentes nos dizeres dos integrantes
das equipes diretivas para descreverem suas accedilotildees a fim de viabilizar o AEE foram
relativos a orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores) atendimento a
estudantes puacuteblico-alvo da EE eou seus pais e ao provimento de condiccedilotildees
materiais para realizaccedilatildeo desse atendimento
No tocante ao papel de orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores)
observou-se que a maior parte dos integrantes que citou essa accedilatildeo foram
supervisores educacionais aos quais de fato eacute conferida a atribuiccedilatildeo de atender e
acompanhar os docentes focalizando o processo pedagoacutegico (CAMBORIUacute 2008)
Tambeacutem foi possiacutevel perceber que a maneira como os respondentes se
expressaram foi em alguns momentos geneacuterica imprecisa ou vaga Um deles por
131
exemplo resumiu seu papel a ―orientar o que conduziu a alguns
questionamentos orientar a quem como porque quando Do mesmo modo outro
participante ao expor que seu papel diz respeito a ―orientar accedilotildees educativas natildeo
esclareceu quais accedilotildees seriam essas Ainda um dos integrantes mencionou que
sua funccedilatildeo remete a ―ajudar o professor na qualidade de suas accedilotildees o que por
sua vez leva a questionar o que se entende por uma ―accedilatildeo de qualidade e de que
forma a equipe diretiva escolar pode ajudar a qualificar a accedilatildeo de um professor
Essa forma aqui compreendida como geneacuterica imprecisa ou vaga de falar a
respeito do papel da equipe diretiva escolar frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE pode ser
explicada a partir de perspectivas distintas dentre as quais duas parecem se
destacar A primeira se refere agrave possiacutevel falta de clareza por parte dos integrantes
das equipes diretivas acerca de seus papeacuteis Isto eacute a imprecisatildeo que foi percebida
na forma como se expressaram pode ser indicativa de que natildeo estaacute claro para
eles proacuteprios qual eacute a funccedilatildeo que lhes compete para viabilizar o AEE no acircmbito
escolar
Sabendo que a maneira como as equipes diretivas falam a respeito de seu
papel frente ao processo de viabilizaccedilatildeo do AEE revela tambeacutem o que pensam
sobre o proacuteprio AEE Supotildee-se que essa falta de clareza quanto ao seu papel pode
estar ancorada em uma concepccedilatildeo de AEE como um serviccedilo agrave parte cuja ―gestatildeo
seria de responsabilidade do professor especializado e natildeo da escola como um
todo Nesse sentido assim como Pletsch (2009) afirmou que a inclusatildeo eacute ainda
vista como uma responsabilidade setorizada da Educaccedilatildeo Especial o professor
atuante na SRM parece ser percebido em casos como esse como o principal
responsaacutevel pelo AEE Essa concepccedilatildeo parece ter sido evidenciada tambeacutem em
outras pesquisas como a empreendida por Fuck (2014 p148-149) com
professores da sala comum em que a autora observou
[] que o professor da Sala Comum espera do professor especializado soluccedilotildees que natildeo dependem exclusivamente do AEE na SRM mas que implicam a proacutepria organizaccedilatildeo estrutural poliacutetica cultural e pedagoacutegica da escola
A segunda perspectiva que pode ser apontada diz respeito ao tempo
que os participantes puderam destinar agrave resposta dos questionaacuterios dessa
pesquisa considerando que a coleta de dados ocorreu nos meses de outubro e
132
novembro de 2015 convergindo em algumas escolas com o periacuteodo de aplicaccedilatildeo
da Prova Brasil37 teacutermino de semestre e outras demandas de final de ano que
podem ter levado os integrantes das equipes diretivas a responderem de forma
sucinta agraves questotildees do referido instrumento de coleta de dados
Ainda que orientaccedilatildeoajuda em especial aos docentes tenha emergido como
o papel mais citado pelas equipes diretivas ao pensarem em suas accedilotildees em prol
da viabilizaccedilatildeo do AEE Macedo Carvalho e Pletsch (2011) esclareceram que
esse serviccedilo vai muito aleacutem da orientaccedilatildeo aos professores uma vez que requer
[] mudanccedilas estruturais e pedagoacutegicas no funcionamento das escolas como por exemplo entre outras dimensotildees na estrutura curricular riacutegida presente nos objetivos conteuacutedos nas metodologias na organizaccedilatildeo didaacutetica do tempo na estrateacutegia de avaliaccedilatildeo para atender a diversidade e especificidades dos alunos que a frequentam Flexibilizar o curriacuteculo para atender a todos os alunos eacute urgente A sua transformaccedilatildeo implica na diminuiccedilatildeo do nuacutemero de alunos por sala de aula o trabalho cooperativo ou colaborativo entre professores do AEE e da sala comum entre outros aspectos (MACEDO CARVALHO e PLETSCH 2011 p7)
Foi possiacutevel perceber que os aspectos relatados pelas autoras natildeo
apareceram nas falas das equipes diretivas como accedilotildees que poderiam realizar a
fim de viabilizar o AEE Do mesmo modo momentos coletivos de reflexatildeo e
diaacutelogo citados ao longo desta pesquisa como uma das principais accedilotildees a serem
empreendidas pelas equipes diretivas visando uma gestatildeo democraacutetica-
participativa tambeacutem natildeo surgiram nos dizeres dos participantes como uma
possibilidade para contribuiacuterem com o processo de viabilizaccedilatildeo do AEE
A criaccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo de reflexatildeo e diaacutelogo acerca de
assuntos educacionais com o coletivo escolar dentre os quais inclui-se a
elaboraccedilatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico (PPP) satildeo entendidos como formativos
e requerem uma accedilatildeo intencional e planejada por parte das equipes diretivas
combinada agrave existecircncia de condiccedilotildees adequadas para sua execuccedilatildeo (estrutura
fiacutesica tempo etc) O fato de natildeo terem sido mencionados pelos participantes
como parte de seu papel frente ao AEE pode levar agrave inferecircncia de que tal criaccedilatildeo
37 Avaliaccedilatildeo Nacional do Rendimento Escolar - Anresc (tambeacutem denominada Prova Brasil) trata-se de uma avaliaccedilatildeo censitaacuteria envolvendo os alunos da 4ordf seacuterie5ordmano e 8ordfseacuterie9ordmano do Ensino Fundamental das escolas puacuteblicas das redes municipais estaduais e federal com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas puacuteblicas Participam dessa avaliaccedilatildeo as escolas que possuem no miacutenimo 20 alunos matriculados nas seacuteriesanos avaliados sendo os resultados disponibilizados por escola e por ente federativo (BRASIL 2016 sp)
133
e organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo para discutir e refletir com o coletivo escolar natildeo
seja uma accedilatildeo desenvolvida nas escolas pesquisadas
Um dado que reforccedila essa hipoacutetese diz respeito ao fato de que dos 22
participantes da pesquisa apenas 3 (ED2o ED2s e ED4o) informaram que o AEE eacute
contemplado no PPP da escola Dentre os demais 9 justificaram a ausecircncia do
AEE no PPP da escola pelo fato de natildeo contarem com esse serviccedilo em seus
espaccedilos escolares e 7 natildeo justificaram tal ausecircncia sendo que 03 natildeo
responderam a essa questatildeo Pode-se evidenciar ainda que na escola ED4 apesar
de ofertar o AEE na proacutepria escola 03 de seus integrantes (ED4o ED4s ED4s)
informaram que o AEE natildeo consta no PPP Tal resposta se repetiu nas demais
escolas pesquisadas com exceccedilatildeo da equipe diretiva ED2 em que a maioria de
seus integrantes responderam (ED2d e ED2s) que o AEE estaacute incluso no PPP da
escola Parece haver nesse sentido um entendimento por parte das equipes
diretivas de que o AEE se restringe ao espaccedilo da SRM contudo esse serviccedilo faz
parte dos apoios que a escola promove aos estudantes e aos professores entatildeo
independente de haver ou natildeo a sala recursos multifuncionais no espaccedilo escolar
compreende-se que o atendimento especializado deveria fazer parte das diretrizes
da escola
Embora a constituiccedilatildeo coletiva do PPP na escola seja um espaccedilo e tempo
privilegiado de reflexatildeo e planejamento coletivo natildeo pode como sugeriu Carneiro
(2006 p32) se ―constituir como um fim em si mesmo pois precisa ainda ser
constantemente revisitado acompanhado e avaliado identificando as alteraccedilotildees
necessaacuterias a serem feitas Ele eacute verdadeiramente o iniacutecio de um processo de
trabalho A partir do projeto pedagoacutegico a escola vai estruturando seu trabalho
avaliando e reorganizando suas praacuteticas oportunizando que todos os envolvidos
nesse processo identifiquem suas responsabilidades individuais e coletivas no que
concerne agrave viabilizaccedilatildeo do AEE Libacircneo (2015 p127 grifo do autor) complementa
a discussatildeo ao enfatizar que
[] o projeto pedagoacutegico deve ser compreendido como instrumento e processo de organizaccedilatildeo da escola Considera o que jaacute estaacute instituiacutedo (legislaccedilatildeo curriacuteculos conteuacutedos meacutetodos formas organizativas da escola etc) mas tem tambeacutem uma caracteriacutestica de instituinte[] que significa que o projeto institui estabelece cria objetivos procedimentos instrumentos modos de agir estruturas haacutebitos valores ou seja institui uma cultura organizacional Neste sentido ele [PPP] sintetiza os interesses os desejos as propostas dos educadores [do coletivo escolar] que trabalham na escola [ao responderem] as seguintes perguntas a) Que tipo de escola noacutes
134
profissionais desta escola queremos b) Que objetivos e metas correspondem agraves necessidades e expectativas desta comunidade escolar c) Que necessidades precisamos atender em termos de formaccedilatildeo dos alunos e alunas para a autonomia cidadania participaccedilatildeo d) Como faremos para colocar o projeto em permanente avaliaccedilatildeo dentro da praacutetica da accedilatildeo-reflexatildeo-accedilatildeo Considerando o caraacuteter processual do planejamento o projeto eacute avaliado ao longo do ano letivo para verificar se as accedilotildees estatildeo correspondendo ao que foi previsto se as metas precisam ser alteradas em funccedilatildeo de fatos inesperados de forma a corrigir os desvios tomar novas decisotildees e replanejar o rumo do trabalho
Nesse sentido considerando a importacircncia do processo de construccedilatildeo de tal
documento eacute possiacutevel constatar que se torna imprescindiacutevel discutir a proposta de
AEE na elaboraccedilatildeo do PPP uma vez que essa natildeo pode ser considerada como um
apecircndice incorrendo no risco de responsabilizar somente o professor de AEE na
sua elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo Sugere-se outrossim que o AEE seja pensado e
realizado a partir do envolvimento de todos como uma proposta delineadora do
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial A
equipe diretiva aparece nesse contexto com um papel de destaque na promoccedilatildeo
desse envolvimento do coletivo escolar Como explicou Tezani (2009) apoiada em
Sage (2008) a equipe diretiva pode abrir espaccedilos e promover trocas de
experiecircncias importantes entre os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo e
conforme suas possibilidades e o contexto em que atua desenvolver uma gestatildeo
democraacutetica-participativa que favoreccedila a formaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo de equipes de
trabalho
Ratifica-se portanto que a discussatildeo coletiva da proposta de AEE eacute
fundamental uma vez que se mostra como uma forma de articular as accedilotildees dentro
da escola por meio de um processo de construccedilatildeo dialoacutegico possibilitando aos
profissionais da educaccedilatildeo pais e estudantes reconhecerem e compreenderem o
AEE como uma accedilatildeo que para ser efetiva requer o envolvimento de todos Esse
clima organizacional que se procura constituir nessa construccedilatildeo coletiva Aguiar
(2012 p 152) denominou de responsabilidade partilhada em que todos
―reconhecem seus papeacuteis e limitaccedilotildees e buscam em conjunto sanar as dificuldades
e avanccedilar sobre novos desafios
Em meio a essas reflexotildees Catani e Gutierrez (2008) advertem que
[] toda e qualquer organizaccedilatildeo que tente implantar e desenvolver praacuteticas de natureza participativa vive sob a constante ameaccedila da reconversatildeo burocraacutetica e autoritaacuteria dos seus melhores esforccedilos As razotildees para isto satildeo diversas histoacuteria de vida de seus membros supervalorizaccedilatildeo
135
ideoloacutegica das formas tradicionais de gestatildeo demandas especiacuteficas difiacuteceis de conciliar etc De tudo isso contudo um ponto deve ser destacado a participaccedilatildeo se funda no exerciacutecio do diaacutelogo entre as partes Essa comunicaccedilatildeo ocorre em geral entre pessoas com diferentes formaccedilotildees e habilidades ou seja entre agentes dotados de distintas competecircncias para a construccedilatildeo de um plano coletivo e consensual de accedilatildeo Na praacutetica da gestatildeo escolar esta diferenccedila que em si natildeo eacute original nem uacutenica assume uma dimensatildeo muito maior do que a grande maioria das propostas de gestatildeo participativa e autogestatildeo que pode ser observada (CATANI amp GUTIERREZ 2008 p71 grifo nosso)
Desse modo pode-se dizer que o processo de elaboraccedilatildeo coletiva do projeto
poliacutetico pedagoacutegico eacute permeado por aspectos culturais sociais e poliacuteticos de seus
participantes pelas poliacuteticas puacuteblicas e pelas condiccedilotildees disponiacuteveis na escola para
sua realizaccedilatildeo figurando assim as tensotildees e contradiccedilotildees que perpassam essa
construccedilatildeo coletiva
Dentre outros possiacuteveis motivos que poderiam inviabilizar a existecircncia de
momentos formativos de reflexatildeo e diaacutelogo nas escolas pode-se citar a
precariedade das condiccedilotildees para que tal accedilatildeo aconteccedila como por exemplo a
indisponibilidade de tempo como jaacute discutido anteriormente Outro ponto que
merece atenccedilatildeo eacute a possibilidade de que as equipes diretivas natildeo reconheccedilam que
criar estrateacutegias de organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo que assegure encontros de
formaccedilatildeo coletiva com os profissionais da escola como accedilotildees que podem ser
feitas por elas para viabilizar o AEE
Nesse sentido vislumbra-se que esse reconhecimento por parte das equipes
diretivas pode se mostrar uma oportunidade para que se possa identificar suas
possibilidades de accedilatildeo frente ao AEE Em momentos de reflexatildeo e accedilatildeo conjunta
pode-se refletir sobre a realidade poliacutetica econocircmica e social em que a escola estaacute
inserida percebendo a incontestaacutevel imbricaccedilatildeo dessa realidade agraves questotildees
pedagoacutegicas e do cotidiano escolar Nesses momentos tambeacutem eacute possiacutevel pensar
sobre e esclarecer as responsabilidades individuais e coletivas dos envolvidos no
processo de viabilizaccedilatildeo do AEE considerando a responsabilidade do Estado em
prover as condiccedilotildees necessaacuterias (estruturais recursos pedagoacutegicos e humanos)
para a efetivaccedilatildeo desse serviccedilo Pensar o AEE da forma que parece estar posta
nas escolas pesquisadas como sendo um serviccedilo individualizado setorizado e com
uma escassa interaccedilatildeo entre os profissionais pouco pode contribuir com o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Nesse sentido
concorda-se com Jesus Almeida e Sobrinho (2005 p1) quando explicam que
136
[] se quisermos uma escola que atenda agrave diversidade ou seja uma escola inclusiva precisamos pensar com o outro precisamos de um processo longo e constante de reflexatildeo-accedilatildeo-criacutetica com [todos] os profissionais que fazem o ato educativo acontecer []
Com relaccedilatildeo ao papel de atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial eou seus pais observou-se que a maioria dos integrantes
que fez referecircncia a esse papel foram orientadores educacionais o que pode ter
seu fundamento em parte nas proacuteprias atribuiccedilotildees das funccedilotildees desse profissional
contidas na Lei Municipal Complementar nordm 192008 (CAMBORIUacute 2008 sp)
Na referida lei ao orientador eacute atribuiacutedo um papel mais voltado ao
atendimento de estudantes e suas famiacutelias promovendo uma articulaccedilatildeo entre
escola famiacutelia e comunidade e envolvendo os estudantes e seus responsaacuteveis na
elaboraccedilatildeo do Plano Poliacutetico Pedagoacutegico da escola Enquanto isso o supervisor
educacional aparece como aquele que acompanha e daacute suporte aos professores
com foco na dimensatildeo pedagoacutegica do processo de escolarizaccedilatildeo O diretor por
sua vez parece ter uma atuaccedilatildeo direcionada a aspectos administrativos
(CAMBORIUacute 2008)
Essa divisatildeo de responsabilidades apareceu tambeacutem nas respostas dos
participantes uma vez que as trecircs accedilotildees mais citadas como aquelas que satildeo de
responsabilidade da equipe diretiva a fim de viabilizar o AEE tiveram cada uma a
marca de uma funccedilatildeo especiacutefica papel de orientaccedilatildeoajuda (em especial aos
professores) foi mais mencionado por supervisores escolares papel de
atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eou pais apareceu
com mais frequecircncia nas falas de orientadores educacionais e por fim o papel de
provimento de condiccedilotildees materiais e pedagoacutegicas foi mais constante nas respostas
de diretores escolares Contudo por mais que cada um dos integrantes da equipe
diretiva escolar tenha sua responsabilidade e um trabalho especiacutefico haacute um
imbricamento entre vaacuterias de suas funccedilotildees as quais podem uni-los enquanto
equipe com o intuito de contribuir e potencializar o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes juntamente com o coletivo escolar
Outra accedilatildeo considerada pelas equipes diretivas como sendo de sua
responsabilidade na viabilizaccedilatildeo do AEE eacute o provimento de condiccedilotildees materiais
e pedagoacutegicas citado majoritariamente por diretores(as) escolares Foi possiacutevel
137
notar que esses dois aspectosndash administrativo e pedagoacutegico ndash estatildeo de fato
imbricados no fazer cotidiano do diretor Sobre essa questatildeo Paro (2010)
esclareceu que tradicionalmente a atuaccedilatildeo do diretor escolar privilegiava os
aspectos administrativosburocraacuteticos em detrimento dos pedagoacutegicos Assim a
funccedilatildeo dos diretores se restringia apenas agraves atividades-meio (prover recursos
controlar sua utilizaccedilatildeo) dicotomizando-as das atividades-fim (pedagoacutegicas)
Dessa forma a gestatildeo escolar pareceu absorver princiacutepios semelhantes aos
empresariais culminando em uma concepccedilatildeo de diretor ―[] cuja formaccedilatildeo
atribuiccedilotildees e atuaccedilatildeo praacutetica eacute de simples gerente sem explicitaccedilatildeo nem reflexatildeo
a respeito de sua caracteriacutestica de agente poliacutetico diante do ofiacutecio de administrar
uma instituiccedilatildeo cujo fim eacute prover educaccedilatildeo (PARO 2010 p 776)
Entretanto o que se enseja e se coloca como horizonte de transformaccedilatildeo
quando se pensa na gestatildeo escolar eacute justamente a desconstruccedilatildeo dessa loacutegica
gerencial e a constituiccedilatildeo de uma outra que pense a educaccedilatildeo a partir dela
mesma e natildeo de modelos industriaisempresariais Eacute importante que se considere
a especificidade poliacutetico-pedagoacutegica da escola que se valorizem os profissionais
da educaccedilatildeo e que se atue a partir da heterogeneidade que se expressa nos
espaccedilos escolares favorecendo a participaccedilatildeo de todos os envolvidos no processo
de escolarizaccedilatildeo Nesse sentido Paro (2010) enfatizou que ao pensar em novas
alternativas para a atuaccedilatildeo do diretor escolar eacute preciso considerar
[] maneiras de conceber a direccedilatildeo escolar que transcendam a forma usual de concentraacute-la nas matildeos de apenas um indiviacuteduo que se constitui o chefe geral de todos Natildeo que a hierarquia seja nociva em si pois aquele que se coloca no escalatildeo hieraacuterquico superior pode muito bem estar investido de um tipo de autoridade democraacutetica [] aquela que supotildee a concordacircncia livre e consciente daqueles que obedecem agraves ordens que tecircm sua subjetividade preservada e mesmo afirmada na relaccedilatildeo (PARO 2010 p 776)
Ainda que haja uma delimitaccedilatildeo entre as funccedilotildees de cada integrante da
equipe diretiva para que essa possa atuar de fato de forma coletiva eacute preciso
constituir um trabalho articuladoem parceria uma vez que natildeo haacute como discutir o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes sem abordar as estrateacutegias de ensino
que favoreccedilam a aprendizagem e o desenvolvimento Do mesmo modo para que
tais estrateacutegias possam ser elaboradas e praticadas eacute necessaacuterio que haja
condiccedilotildees desde processos sistematizados de formaccedilatildeo continuada para os
profissionais da escola ateacute equipamentos mobiliaacuterio e materiais didaacuteticos
138
pedagoacutegicos adequados Conclui-se portanto que o foco conferido agrave cada funccedilatildeo
e que diferencia um profissional do outro pode fortalececirc-los como grupo em vez de
constituir uma barreira que fragmenta suas accedilotildees
Nessa perspectiva Rangel (2013) salienta que constituir no cotidiano das
escolas um trabalho de parceria entre o orientador e supervisor educacional (e aqui
se adiciona tambeacutem o diretor escolar) se mostra profiacutecuo pois favorece uma
accedilatildeo-reflexatildeo-accedilatildeo conjunta aproximando-os em torno de um objetivo comum a
escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes de modo a possibilitar-lhes o direito agrave
educaccedilatildeo escolar
Nessa direccedilatildeo foi possiacutevel identificar nas escolas pesquisadas uma
delimitaccedilatildeo entre as funccedilotildees de cada integrante da equipe diretiva para a atuaccedilatildeo
na escola a qual tem seu fundamento na Lei Complementar no 192008
(CAMBORIUacute 2008) Apesar dessas delimitaccedilotildees pode-se observar agrave luz da
referida lei alguns pontos de intersecccedilotildees entre as funccedilotildees das equipes diretivas
uma vez que vaacuterias de suas atribuiccedilotildees estatildeo interligadas o que poderia ser
concebida nesse sentido como uma oportunidade para aproximaacute-las e consolidaacute-
las enquanto equipes diretivas
Entretanto no decorrer das anaacutelises as accedilotildees das equipes diretivas no que
concerne agrave compreensatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos escolares apontaram
indiacutecios de uma accedilatildeo desarticulada entre os integrantes da proacutepria equipe diretiva
o que pode culminar em parte em um trabalho mais isolado entre os profissionais
da escola Ante o exposto concorda-se com Paro (2001 p114) quando afirma
que
[] eacute preciso que se coloque no centro das discussotildees (e das praacuteticas) a funccedilatildeo educativa global da escola Assim se entendemos que educaccedilatildeo eacute atualizaccedilatildeo histoacuterico-cultural dos indiviacuteduos e se estamos comprometidos com a superaccedilatildeo do estado geral da injusticcedila social que em lugar do bem viver reserva para a maioria o trabalho alienado entatildeo eacute preciso que nossa escola concorra para a formaccedilatildeo de cidadatildeos atualizados capazes de participar politicamente usufruindo daquilo que o homem historicamente produziu mas ao mesmo tempo dando sua contribuiccedilatildeo criadora e transformando a sociedade Soacute assim a escola estaraacute participando de forma efetiva []
De acordo com a exposiccedilatildeo do autor pode-se dizer que embora as parcerias
constituiacutedas no interior da escola sejam importantes elas natildeo encerram as
relaccedilotildees necessaacuterias para o desenvolvimento do trabalho da equipe diretiva e
demais profissionais da educaccedilatildeo frente ao AEE Eacute a partir dessa constataccedilatildeo que
139
se adentra na uacuteltima questatildeo a ser abordada neste subcapiacutetulo os desafios
encontrados pelas equipes diretivas pesquisadas na viabilizaccedilatildeo do AEE nos
espaccedilos escolares em que atuam A seguir no Quadro 16 buscou-se reunir por
toacutepicos os dizeres mais recorrentes nas respostas dos integrantes das equipes
diretivas quanto aos desafios encontrados no processo de viabilizar o AEE na
escola
Quadro 16 - Desafios encontrados pelas equipes diretivas escolares para viabilizar o AEE
Desafios encontrados pela equipe diretiva para a viabilizar o AEE Recorrecircncia
Estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos
6 Natildeo possuir a sala de AEE Tornar viaacutevel o atendimento na unidade escolar (3) A falta de espaccedilo fiacutesico A falta do profissional especializado (2) Apoio por parte da Secretaria de Educaccedilatildeo
5
A escola depende da Secretaria de Educaccedilatildeo para montagem da sala de AEE A secretaria de educaccedilatildeo atender a solicitaccedilatildeo da escola de contratar monitores de inclusatildeo Continua-se solicitando junto aos governantes esse professor Para superar tal desafio estamos solicitando a Sec de Educaccedilatildeo o profissional especializado (2) Dificuldade em constituir parcerias entre os profissionais da escola e com a comunidade escolar
5 No momento natildeo estamos fazendo parcerias com os demais membros escolares Parcerias com psicoacutelogos pais Maior interesse por parte da direccedilatildeo da professora pais e alunos Dificuldades de parcerias (2)
Efetivar a educaccedilatildeo como direito fundamental e de todos
4 O desafio eacute incluir todos no processo de escolarizaccedilatildeo Atender todos Muitos estudantes natildeo satildeo alfabetizados surdos ou ateacute de baixa visatildeo Garantia do atendimento de nossos alunos em alguma sala de recursos multifuncionais do municiacutepio
Resistecircncia de professores a novas estrateacutegias de ensino
2 Por sermos uma escola de sexto ao nono ano eacute muito difiacutecil fazer o professor das diferentes aacutereas do conhecimento planejar atividades adequadas O desafio eacute convencer (o professor) a criar novas possibilidades de aprendizagem
Formaccedilatildeo de profissionais atuantes na Educaccedilatildeo Especial
2 Falta informaccedilatildeo adequada para esses profissionais Faltam profissionais adequados e capacitados para atuarem nessa aacuterea
Ausecircncia de planejamento 1
Ainda natildeo temos um planejamento apropriado
Natildeo responderam 4
Total 29
Fonte Primaacuteria 2016
Observa-se que na perspectiva das equipes diretivas escolares os trecircs
desafios mais recorrentes no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE relacionam-se agrave
disponibilizaccedilatildeo de ―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola ao
―apoio por parte da Secretaria de Educaccedilatildeo e agrave constituiccedilatildeo de ―parcerias entre os
140
profissionais da escola e com a comunidade escolar Compreende-se que esses
trecircs aspectos estatildeo imbricados de tal forma que pensaacute-los isoladamente pouco
contribuiria para entender como o Atendimento Educacional Especializado tem sido
viabilizado nos espaccedilos escolares
Percebe-se nesse caso que para viabilizar um serviccedilo de AEE que disponha
de estrutura fiacutesica e conte com uma rede de apoio dentro da escola e tambeacutem fora
dela (com a comunidade os oacutergatildeos governamentais e as entidades eou instituiccedilotildees
a eles relacionadas) eacute necessaacuterio constituir uma rede articulada de accedilotildees entre os
profissionais atuantes na escola (professores equipe diretiva psicoacutelogos etc) pais
estudantes e o Estado Com relaccedilatildeo a esse uacuteltimo eacute incontestaacutevel que cabe agrave Uniatildeo
e o Municiacutepio a responsabilidade em prover recursos financeiros para que o espaccedilo
escolar possa se adequar em termos de acessibilidade equipamentos mobiliaacuterio
materiais didaacuteticos pedagoacutegicos e recursos humanos a fim de oferecer o serviccedilo de
AEE
No entanto o planejamento para a utilizaccedilatildeo e a efetiva aplicaccedilatildeo desses
recursos financeiros uma vez concedidos satildeo atividades que pertencem ao rol de
funccedilotildees da equipe diretiva escolar em conjunto com os demais profissionais e
comunidade escolar Logo os desafios percebidos pelos participantes da pesquisa
natildeo satildeo apenas dessas equipes Satildeo desafios de uma rede de profissionais que
precisam estar articulados para que a estrutura e os recursos necessaacuterios possam
se alinhar a outros pontos fundamentais no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE como
a formaccedilatildeo continuada dos profissionais da escola a construccedilatildeo coletiva do projeto
poliacutetico pedagoacutegico da escola e o engajamento poliacutetico no sentido de pleitear a
diminuiccedilatildeo de estudantes por turmas dentre outros Isto porque como enfatizaram
Glat e Blanco (2007 p 33) ―o sucesso da poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial depende
diretamente da continuidade da existecircncia da rede de suportes especializados
incluindo-se a formaccedilatildeo de todos os profissionais atuante na escola e o
estabelecimento de parcerias entre estes profissionais pais estudantes e o Estado
Ainda que todos esses profissionais e comunidade escolar tenham parte no
processo de viabilizaccedilatildeo do AEE eacute importante ressaltar que
[] na definiccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais eacute fundamental natildeo se confundir as responsabilidades da escola [] com as responsabilidades do Estado Entendo que o Estado eacute responsaacutevel por viabilizar a prestaccedilatildeo de todos os serviccedilos organizados na sociedade para atender a todos (MAZZOTA 2010 p 86)
141
Nesse sentido para esclarecer essas responsabilidades e compor um todo
organizado em torno de um objetivo comum ndash a viabilizaccedilatildeo do AEE ndash vislumbra-se
que a equipe diretiva pode como se vem reforccedilando neste estudo analisar a
possibilidade de instituir na escola espaccedilos e tempos de discussatildeo e reflexatildeo com
todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da
EE se permitindo juntamente com o coletivo escolar inventariar o que a escola
disponibiliza de adequaccedilotildees estruturais recursos pedagoacutegicos e humanos bem
como os que natildeo disponibiliza Uma vez documentado esse levantamento pode-se
apresentaacute-lo agrave Secretaria de Educaccedilatildeo e junto a ela acompanhar sistematicamente
o processo de solicitaccedilatildeo de adequaccedilotildees e recursos aos oacutergatildeos competentes
A gestatildeo escolar nesse sentido pode contribuir para instituir a rede de
parceria que hoje vivencia como um desafio Como ressaltou Tezani (2009 p 3)
apoiada em Sage (1999) ―o gestor escolar pode colaborar com o estabelecimento
da colaboraccedilatildeo no ambiente escolar com o aprimoramento do contato e da
interaccedilatildeo entre os professores e demais funcionaacuterios e uma das maneiras de
fazecirc-lo eacute por meio da instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos em que os envolvidos no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
possam dialogar sobre esse processo e compreender os avanccedilos e recuos que o
marcam fomentando a troca de informaccedilotildees e experiecircncias entre os profissionais
que atuam na escola e estabelecendo a partir desse entendimento os pontos de
partida que se fazem necessaacuterios para viabilizar o serviccedilo de AEE
Compreende-se que esses momentos coletivos podem contribuir com a accedilatildeo
individual de cada profissional da educaccedilatildeo No entanto Goacutees (1997) ajuda a
compreender que no diaacutelogo com o outro se revela o contraditoacuterio Natildeo se trata de
uma construccedilatildeo imune agrave diversidade de pontos de vista e ao embate uma vez que
[] o jogo dialoacutegico entre sujeitos natildeo tende a uma soacute direccedilatildeo ao contraacuterio envolve circunscriccedilatildeo ampliaccedilatildeo dispersatildeo e estabilizaccedilatildeo de sentidos Um determinado conhecimento (pretendido na intencionalidade do outro ou previsto na perspectiva de um observador) pode ou natildeo ser construiacutedo pelo indiviacuteduo (GOacuteES 1997 p 27)
Essa multiplicidade de sentidos que marcam e tensionam o jogo dialoacutegico
consiste em um terreno feacutertil para que o AEE no acircmbito escolar possa ser
constantemente ressignificado de modo a acolher a diversidade e focalizar o direito
142
de aprender dos estudantes O AEE nesse sentido precisa ser entendido como um
serviccedilo de apoio e interlocuccedilatildeo com a sala de aula comum de modo a atender agraves
singularidades dos estudantes puacuteblico-alvo da EE o que requer a participaccedilatildeo de
todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo desses estudantes Isso no
entanto implica em uma accedilatildeo da equipe diretiva que eacute a constituiccedilatildeo de espaccedilos e
tempos permanentes de discussatildeo e reflexatildeo sobre os assuntos educacionais
assim como a elaboraccedilatildeo de estrateacutegias metodologias e praacuteticas pedagoacutegicas que
busquem potencializar as condiccedilotildees de permanecircncia e o processo de escolarizaccedilatildeo
dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Nesse sentido concorda-se com Pereira
Damasceno e Andrade (2013 p1439) quando explicam que
[] o Atendimento Educacional Especializado hoje representa uma possibilidade assumida como escolha poliacutetico-pedagoacutegica para a inclusatildeo de estudantes [] [puacuteblico-alvo da EE] sobretudo na superaccedilatildeo das velhaspresentes chagaslsquo da escola a dissociaccedilatildeo entre teoria e praacutetica o trabalho individualizado a idealizaccedilatildeo da homogeneidade de aluno a negaccedilatildeo dos diferentes ritmos e estilos de aprendizagem a afirmaccedilatildeo de meacutetodos e estrateacutegias uacutenicas para se ensinar a justificativa do insucesso da aprendizagem associada exclusivamente ao aluno entre outras [] Embora os desafios agrave implementaccedilatildeo do AEE estejam postos para a escola contemporacircnea e seus profissionais o serviccedilo se configura um avanccedilo em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo especial considerando o isolamento que historicamente foi vivido por estes sujeitos nas classesescolas especiais
Nessa perspectiva considera-se que eacute por meio do diaacutelogo que as
equipes diretivas escolares podem identificar as necessidades formativas dos
profissionais que compotildeem o coletivo escolar (incluindo suas proacuteprias demandas de
formaccedilatildeo) Nesse sentido tais momentos dialoacutegicos podem favorecer reflexotildees
acerca da Educaccedilatildeo Especial e o AEE aprofundamentos teoacutericos trocas de
experiecircncias e a discussatildeo das dificuldades encontradas pelos envolvidos no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Tambeacutem podem
ensejar o debate das accedilotildees pedagoacutegicas e fortalecer a interaccedilatildeo e parceria entre os
profissionais
Ademais eacute fundamental natildeo cair na armadilha de uma compreensatildeo
reduzida de AEE que leve a pensar que para viabilizaacute-lo eacute necessaacuterio somente
―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola Como jaacute discutido
esses aspectos satildeo importantes e compotildeem a estrutura necessaacuteria para realizaacute-los
poreacutem haacute outros aspectos que precisam ser considerados pois um pensamento
reduzido pode culminar no risco de departamentalizar o AEE na escola restringindo
143
esse serviccedilo agrave SRM e ao professor especializado Tambeacutem pode levar ao equiacutevoco
de pensar que natildeo haacute nada a ser feito pelos estudantes puacuteblico-alvo da EE quando
natildeo haacute em seu espaccedilo a SRM e o profissional especializado Kassar (2011)
apresenta um relato elucidativo de que a viabilizaccedilatildeo do AEE transcende o desafio
da disponibilidade de ―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola
[] escolhemos propositadamente um caso considerado ―de sucesso frente agrave escola o aluno de 3ordm ano (Rodrigo que eacute cego) natildeo apresenta problema de interaccedilatildeo eacute bem acolhido pela turma e eacute considerado bastante inteligente[] Sua professora de sala comum leciona haacute 15 anos eacute graduada em Pedagogia e tem Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inclusiva Participa quando possiacutevel das formaccedilotildees propostas pelo Programa Educaccedilatildeo Inclusiva Direto agrave Diversidade dentre outras oferecidas pelo municiacutepio A professora da sala de recursos trabalha haacute 11 anos em sala de recurso e tem especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Baacutesica na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva e formaccedilatildeo especiacutefica na aacuterea da Deficiecircncia Visual Vamos ao diaacuterio de Campo [] quando cheguei nesse dia Rodrigo ainda estava fora da carteira sem nenhum material para trabalhar [] A professora pega o livro de Histoacuteria de um colega resume riscando com caneta algumas partes do texto e comeccedila a ditar para que Rodrigo escreva em Braille[] Ele continua a escrever e comeccedila a ―negociar com a professora para terminar em sua casa o resto do texto A professora natildeo concorda e diz para ele copiar todo o texto independente de quantas folhas fossem Rodrigo a partir desse momento se indigna e diz - ―Eu natildeo vou terminar o texto minha matildeo estaacute doendo nem adianta Ningueacutem vai me obrigar [] Eu natildeo vou ficar aqui me matando escrevendo se tem uma maacutequina aqui A professora me disse que ia regular [a maacutequina] e ateacute hoje natildeo fez isso Eu natildeo vou escrever em Braille no reglete Soacute se for na maacutequina [] A professora nesse momento vai ateacute a coordenaccedilatildeo e volta dizendo ao Rodrigo que havia conversado com a coordenadora para a aquisiccedilatildeo de uma maacutequina Rodrigo responde dizendo que jaacute existe a maacutequina e a professora da sala de recurso havia falado que iria regular mas ele mesmo ―natildeo havia nem visto a cor dela A professora sai novamente procura a professora da sala de recurso para confirmar a existecircncia da maacutequina Nesse momento a professora viu na sala muitos materiais que ela nunca havia visto e tampouco em uso na escola Entre eles ela citou a bola de futebol com guiso e a proacutepria maacutequina Apoacutes todos esses acontecimentos e a partir da mobilizaccedilatildeo que o Rodrigo causou a professora da sala de recurso afirmou que o Rodrigo iraacute comeccedilar a aprender a escrever na maacutequina de escrever em Braille no dia seguinte (REGISTRO DIAacuteRIO DE CAMPO abr 2009) (KASSAR 2011 p74)
Ao contemplar o relato supracitado pela autora eacute possiacutevel perceber as
tensotildees no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE na escola Pode-se inferir desse modo
que apesar de uma escola contar com SRM professor especializado com formaccedilatildeo
na aacuterea de educaccedilatildeo especial recursos pedagoacutegicos e humanos esses por si soacute
natildeo satildeo suficientes para promover maior interaccedilatildeo participaccedilatildeo e reflexatildeo por parte
dos profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes na
identificaccedilatildeo das barreiras educacionais minimizando-as ou ateacute mesmo eliminando-
144
as com o intuito de assegurar as condiccedilotildees necessaacuterias para que o estudante
puacuteblico-alvo da AEE tenha o seu direito de aprender garantido
Os dados apresentados e analisados neste capiacutetulo indicam que a
implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE nas escolas pesquisadas eacute enfocada a partir
de aspectos como adequaccedilotildees estruturais SRM recursos pedagoacutegicos e humanos
especiacuteficos Certamente esses aspectos satildeo importantes pois compotildeem a estrutura
do AEE e satildeo exigidos nas diretrizes da EE contudo outros fatores precisam ser
considerados
Uma das questotildees que se evidencia pelo seu silenciamento eacute a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica e as discussotildees embasadas em teoacutericos da aprendizagem e
do desenvolvimento Da mesma forma destaca-se o trabalho isolado e segregado
desenvolvido no AEE mas tambeacutem a pouca interaccedilatildeo entre os profissionais que
responderam ao questionaacuterio e o AEE Tal constataccedilatildeo eacute percebida tambeacutem em
outros estudos da aacuterea e remete a uma tendecircncia quando se discute a Educaccedilatildeo
Especial
Compreende-se que os principais desafios das equipes diretivas
investigadas no que tange o processo de viabilizaccedilatildeo do AEE residem sobre trecircs
aspectos O primeiro diz respeito agrave necessidade de uma maior discussatildeo e reflexatildeo
acerca da importacircncia das equipes diretivas pesquisadas na implementaccedilatildeo e
viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos em que atuam Como explicou Tezani (2010 p
290) ―a construccedilatildeo de um sistema educacional inclusivo eacute uma opccedilatildeo poliacutetica que
necessita de accedilotildees poliacutetico-administrativas e teacutecnico-cientiacuteficas A autora afirma
ainda que agrave gestatildeo escolar compete incentivar a troca de ideias a discussatildeo a
reflexatildeo acerca do processo ensino-aprendizagem tendo em vista que
[] a participaccedilatildeo em educaccedilatildeo vai aleacutem do dialogar eacute um processo lento conflituoso em que conhecer os conflitos e saber mediaacute-los torna-se fonte preciacutepua Por isso eacute necessaacuterio ouvir [os profissionais da escola] pais comunidade e oacutergatildeos de representaccedilatildeo Esses satildeo caminhos que devem ser trilhados para a construccedilatildeo da educaccedilatildeo inclusiva (TEZANI 2010 p291)
O segundo desafio se refere agraves questotildees que satildeo estruturais e demandam
uma accedilatildeo conjunta da equipe diretiva com o Estado (Uniatildeo e Municiacutepio) na busca de
recursos financeiros que possibilitem a adequaccedilatildeo dos espaccedilos escolares quanto a
recursos humanos a equipamentos mobiliaacuterios e materiais didaacuteticos pedagoacutegicos
necessaacuterios para o serviccedilo do AEE
145
Jaacute o terceiro desafio corresponde agrave implementaccedilatildeo de uma gestatildeo
democraacutetica-participativa o que implica dentre os diversos fatores segundo Paro
(2010) repensar a forma de ingresso no cargo do diretor Nesse sentido o autor
ressalta que pela singularidade democraacutetica e puacuteblica que caracteriza o cargo de
diretor(a) esse necessita ―ser democraacutetico no sentido pleno do conceito ou seja
sua legitimidade adveacutem precipuamente da vontade livre daqueles que se submetem
agrave sua direccedilatildeo (PARO 2010 p776) O mesmo autor considera ainda que quando a
permanecircncia do diretor no cargo natildeo depende somente do Estado e sim dos
profissionais da escola estudantes e pais eacute possiacutevel avistar maior probabilidade de
que ele propicie uma gestatildeo mais democraacutetica envolvendo a participaccedilatildeo da
comunidade escolar nos processos de tomadas de decisotildees como por exemplo na
implementaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais Aleacutem disso essa forma de ingresso no
cargo pode contribuir ainda para inibir a substituiccedilatildeo de diretores escolares a
qualquer tempo principalmente em periacuteodo de mudanccedila de governo uma vez que
tal substituiccedilatildeo pode fragilizar a continuidade dos trabalhos iniciados pela equipe
diretiva junto aos profissionais da escola estudantes e pais Paro (2001) reiterou
ainda que
[] eacute no conjunto dos fatores constitutivos das praacuteticas presentes no interior da escola que devem ser buscadas as causas de seus problemas e as fontes de suas soluccedilotildees no montante e na utilizaccedilatildeo dos recursos materiais e financeiros na organizaccedilatildeo do trabalho nos meacutetodos de ensino na formaccedilatildeo desempenho e satisfaccedilatildeo do pessoal da escolar nos curriacuteculos e nos programa no tamanho das turmas nas adequaccedilotildees estruturais do edifiacutecio na utilizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos na distribuiccedilatildeo da autoridade e do poder na instituiccedilatildeo na relaccedilatildeo com os membros da comunidade e na importacircncia que se decirc a seu papel como cidadatildeossujeitos no planejamento na avaliaccedilatildeo e no acompanhamento constante das praacuteticas escolares enfim em tudo que diz respeito agrave estrutura e ao funcionamento da escola (PARO 2001 p99)
Percebe-se que o ingresso na funccedilatildeo de direccedilatildeo se dar por meio de indicaccedilatildeo
pode corroborar para fragilizar a constituiccedilatildeo de trabalhos conjuntos dado que haacute
entre outros aspectos uma rotatividade nessa funccedilatildeo bem como uma inseguranccedila
na permanecircncia do cargo
O trabalho coletivo deve estar pautado na premissa de que todos possam se
engajar em diaacutelogos em que a troca de saberes vivecircncias e perspectivas possam
lanccedilar luz sobre o processo de escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes bem como
daqueles que satildeo puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial de modo a lhes possibilitar o
direito de aprender
146
A seguir satildeo apresentadas as consideraccedilotildees finais decorrentes desta
pesquisa com destaque aos principais resultados assim como sugestotildees de
contribuiccedilotildees para o AEE na Rede de Ensino pesquisada
147
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O presente estudo situado no campo de estudos sobre Educaccedilatildeo Especial e
focalizando discussotildees acerca do serviccedilo de Atendimento Educacional
Especializado preconizado na Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na
Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) teve por objetivo investigar as
compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo Para isso a pesquisa foi desenvolvida
em sete escolas da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute contando com a
participaccedilatildeo de sete equipes diretivas formadas por trecircs profissionais o diretor(a)
escolar o orientador(a) e o supervisor(a) educacional
A anaacutelise dos dados revelou que dos 22 profissionais que compotildeem as
equipes diretivas escolares participantes da pesquisa 17 identificaram-se como do
sexo feminino e 5 do masculino Em relaccedilatildeo agrave carga horaacuteria todos responderam que
trabalham 40 horas semanais nas escolas em que atuam
Em relaccedilatildeo ao tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo percebeu-se que a maioria se
encontra em um momento inicial no cargo ocupado na escola em que hoje trabalha
se configurando em um dos desafios postos agraves equipes diretivas na implementaccedilatildeo
do AEE visto que em cada escola haacute uma cultura organizativa instituiacuteda que
precisa ser conhecida e debatida para entatildeo ser mantida ou se necessaacuterio
transformada Entende-se que para atuar nessas funccedilotildees eacute necessaacuterio um
aprofundamento teoacuterico que permita uma leitura criacutetica acerca das poliacuteticas e
normativas educacionais vigentes de modo que se possa discuti-las junto ao
coletivo escolar antes de sua implementaccedilatildeo
Entretanto a ausecircncia de forma geral desse adensamento teoacuterico que
permite ao profissional da educaccedilatildeo compreender as bases epistemoloacutegicas que
sustentam determinadas praacuteticas orientaccedilotildees normativas e legislaccedilotildees na aacuterea da
educaccedilatildeo especial eacute ainda bastante recorrente Considera-se que a formaccedilatildeo inicial
e continuada ao seguir a loacutegica do sistema capitalista vem fomentando formaccedilotildees
cada vez mais aligeiradas com baixa carga horaacuteria para discussatildeo dos
pressupostos da educaccedilatildeo especial e inibindo aprofundar discussotildees que
possibilitem accedilotildees pedagoacutegicas e organizativas da escola que favoreccedilam o
aprendizado escolarizado do estudante puacuteblico-alvo da EE
148
Assim quando se questiona na Rede pesquisada sobre o AEE eacute possiacutevel
perceber a necessidade de um maior aprofundamento teoacuterico e uma formaccedilatildeo
diferenciada nos cursos de formaccedilatildeo inicial e continuada uma vez que permanece
uma visatildeo individualizada sobre as possibilidades de aprender calcada em uma
visatildeo organicista e segregada de Educaccedilatildeo Especial
Ao analisar as compreensotildees das equipes diretivas escolares acerca do
serviccedilo de AEE apresentaram-se trecircs focos de entendimentos 1) foco no puacuteblico-
alvo da EE 2) foco no local de atendimento (Sala de Recursos Multifuncionais) e 3)
foco no processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Eacute possiacutevel perceber nesse
sentido uma visatildeo setorizada e individualizada do serviccedilo por parte das equipes
diretivas escolares
Restringir no entanto a compreensatildeo acerca do AEE ao estudante com
deficiecircncia ou agrave Sala de Recursos Multifuncionais e ao professor especializado
sinaliza um entendimento descontextualizado e desarticulado sobre o serviccedilo no
acircmbito da escola sinalizando ainda que se manteacutem nos espaccedilos escolares uma
visatildeo de segregaccedilatildeo que responsabiliza o loacutecus do AEE bem como o professor
especializado pela aprendizagem do estudante puacuteblico-alvo da EE
Contudo modificar essa abordagem se mostra uma tarefa complexa
considerando que a escola puacuteblica brasileira tem enfrentado muitos desafios quando
se trata do ensino A diversidade de estudantes eacute cada vez maior assim como as
proposiccedilotildees poliacuteticas da Educaccedilatildeo que permeiam o cotidiano das escolas as quais
parecem estar fundamentadas e organizadas em procedimentos normativos
avaliativos em que predominam a competitividade e a individualidade nas relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos da mesma escola em detrimento de um trabalho coletivo
Ante ao exposto eacute possiacutevel constatar que essa forma de compreender o AEE
tem seu fundamento nos documentos oficiais (VAZ 2013) mas como destaca
Franccedila (2008) as poliacuteticas educacionais natildeo satildeo simplesmente incorporadas
prontamente pelos profissionais da escola ao contraacuterio disso satildeo interpretadas e
ressignificadas pelos indiviacuteduos que nela atuam Nesse mesmo sentido Kassar e
Meletti (2012 p 54) explicam apoiadas em Di Giovanni (2009) que a PNEE-PEI
(BRASIL 2008) como qualquer poliacutetica puacuteblica natildeo eacute assimilada automaticamente
Tais colocaccedilotildees endossam o questionamento de como a formaccedilatildeo dos profissionais
da escola possibilitam assumir uma postura criacutetica frente agraves politicas educacionais
149
considerando o contexto histoacuterico econocircmico poliacutetico e social em que estatildeo
inseridos
Eacute possiacutevel perceber desse modo a importacircncia de uma leitura criacutetica
reflexiva e contextualizada por parte das equipes diretivas juntamente com a
comunidade escolar no que concerne agraves poliacuteticas educacionais permitindo
identificar quais pressupostos permeiam essas poliacuteticas procurando maneiras de
constituir um fazer pedagoacutegico que assegure o direito do estudante de aprender
Isso implica planejar e instituir momentos de formaccedilatildeo na escola uma vez que a
discussatildeo e a reflexatildeo criacutetica de uma poliacutetica educacional assim como sua
implementaccedilatildeo se trata de uma accedilatildeo que precisa envolver todo o coletivo escolar
Uma possibilidade de contribuir e favorecer com o aprofundamento teoacuterico
acerca das questotildees mencionadas acima seria o planejamento por parte do sistema
municipal de ensino de uma formaccedilatildeo consistente a partir das demandas das
escolas O Sistema Municipal de Ensino por sua vez pode realizar essa formaccedilatildeo
em parceira com as Instituiccedilotildees Puacuteblicas de Ensino Superior sediadas no municiacutepio
ou em seu entorno considerando a constituiccedilatildeo e o fortalecimento de uma rede de
apoio para a realizaccedilatildeo de formaccedilotildees que contemplem os aprofundamentos teoacutericos
e praacuteticos na aacuterea da Educaccedilatildeo e da Educaccedilatildeo Especial para os profissionais da
educaccedilatildeo da Rede Compreende-se assim que essa accedilatildeo poderia contribuir para
repensar e ressignificar a PNEE-PEI e o AEE na rede municipal de ensino
A forma como a poliacutetica e as diretrizes da EE vecircm sendo interpretadas pelas
equipes diretivas e como o serviccedilo vem se materializando no contexto escolar
parecem carecer de aprofundamento teoacuterico Esse aprofundamento poderia
contribuir para a compreensatildeo de que a Educaccedilatildeo Especial estaacute contida na
Educaccedilatildeo Regular e que o AEE eacute um dos apoios para o estudante puacuteblico-alvo da
EE e tambeacutem para a comunidade escolar e dessa forma precisa estar contemplado
nas diretrizes da escola
Aleacutem das formaccedilotildees que podem ser ofertadas pela Rede Municipal observa-
se ainda o potencial das formaccedilotildees realizadas nos espaccedilos escolares Entretanto
evidencia-se que a organizaccedilatildeo dos espaccedilos e tempos das escolas agrave luz das
diretrizes educacionais brasileiras parecem natildeo colaborar com a instituiccedilatildeo de
momentos de estudos discussatildeo e reflexatildeo envolvendo todo o coletivo escolar Em
meio agraves tensotildees e contradiccedilotildees que permeiam a instituiccedilatildeo desses momentos de
formaccedilatildeo na escola evidencia-se que eles podem ser vistos como formas para
150
pensar as poliacuteticas educacionais de maneira mais articulada e criacutetica com o intuito
ainda de superar as compreensotildees individualizadas e departamentalizadas do
serviccedilo de AEE bem como do trabalho isolado do professor atuante no AEE
expresso nas falas das equipes diretivas
Questionar as equipes diretivas sobre seu entendimento acerca do trabalho
do professor de AEE possibilitou compreender as relaccedilotildees profissionais e
educacionais que envolvem a EE no municiacutepio Considerando que o AEE hoje eacute a
expressatildeo mais evidente da (des)articulaccedilatildeo entre a Educaccedilatildeo Regular e a EE
Pode-se vislumbrar tambeacutem nas respostas explicitadas no questionaacuterio a
necessidade de repensar o trabalho docente junto ao estudante puacuteblico-alvo da EE
bem como as relaccedilotildees que envolvem esse serviccedilo e a oferta de suporte a esse
professor jaacute que se evidenciou como foco do trabalho do professor de AEE na
concepccedilatildeo das equipes diretivas somente o estudante puacuteblico-alvo da EE
Sobre a viabilizaccedilatildeo do AEE observou-se nos dizeres da maioria das equipes
diretivas indiacutecios de compreensotildees que demonstram falta de clareza quanto aos
seus papeacuteis em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo desse serviccedilo assim como
apontam lacunas existentes quanto agrave acessibilidade arquitetocircnica recursos
pedagoacutegicos e humanos especiacuteficos que satildeo considerados dispositivos necessaacuterios
e que compotildeem a estrutura do AEE Suas falas sinalizam ainda as necessidades de
reorganizaccedilatildeo dos espaccedilos escolares em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo do serviccedilo os quais
compotildeem ainda os desafios das equipes diretivas frente ao AEE em suas
concepccedilotildees
No que tange a acessibilidade arquitetocircnica em sua maioria as equipes
diretivas informaram que ainda faltam realizar algumas adequaccedilotildees estruturais em
seus espaccedilos tais como elevador corrimatildeo dentre outras Pode-se dizer desse
modo que a acessibilidade arquitetocircnica eacute um aspecto relevante na objetivaccedilatildeo da
poliacutetica de EE considerando a diversidade de seu puacuteblico-alvo Entende-se nesse
sentido que haacute vaacuterias possibilidades de compreensatildeo desse aspecto desde a
simples adequaccedilatildeo meacutetrica e estrutural ateacute aquela que compreende que os espaccedilos
tambeacutem favorecem e produzem relaccedilotildees especiacuteficas de aprendizagem escolar bem
como de conviacutevio social
Quanto ao recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis na escola evidenciou-se nas
respostas das equipes diretivas que esses se restringem aos disponiacuteveis na SRM
Essa associaccedilatildeo por sua vez tem seu fundamento nas diretrizes da Educaccedilatildeo
151
Especial Entretanto entende-se que os recursos disponiacuteveis na Sala de Recursos
Multifuncionais como os demais recursos disponiacuteveis na escola para serem
denominados como pedagoacutegicos dependem da accedilatildeo intencional e planejada dos
professores frente a esses com a finalidade de contribuir com a constituiccedilatildeo de um
conhecimento especiacutefico do estudante
Contudo essas discussotildees e reflexotildees criacuteticas acerca da EE AEE recursos
pedagoacutegicos e demais assuntos educacionais nos espaccedilos escolares seratildeo
possiacuteveis na medida em que as equipes diretivas juntamente com o coletivo
escolar conseguirem repensar a forma como a escola na qual estatildeo inseridos estaacute
organizada atualmente bem como as bases conceituais que sustentam suas accedilotildees
Desse modo seria possiacutevel identificar coletivamente se estatildeo dispondo de tempo e
espaccedilos para estudar e debater de maneira criacutetica e reflexiva as poliacuteticas e os
assuntos educacionais na escola Assim quando identificada a inexistecircncia desses
momentos questionar-se como poderiam garanti-los considerando as poliacuteticas
educacionais vigentes
Sobre isso Paro (2016a) eacute cuidadoso ao enfatizar que essas soluccedilotildees para
as questotildees identificadas residem no contexto de cada unidade escolar o que
significa que eacute nos aspectos constitutivos das accedilotildees presentes no interior da escola
que deve se empreender uma busca das causas de seus problemas assim como
suas fontes de soluccedilotildees
Pode-se portanto dizer que por mais que as 7 escolas pesquisadas
pertenccedilam agrave mesma Rede elas apresentam necessidades diferentes quanto agrave
viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos escolares que necessitam ser levadas em conta
Entretanto em relaccedilatildeo agrave viabilizaccedilatildeo do AEE ainda identificou-se um aspecto em
comum nos dizeres da maioria das equipes diretivas que diz respeito a indiacutecios de
uma ausecircncia de aprofundamento teoacuterico acerca da Educaccedilatildeo politica PNEE-PEI e
diretrizes da Educaccedilatildeo Especial
Tal constataccedilatildeo pode ser evidenciada quando se observa que das 7 escolas
municipais pesquisadas somente duas possuem o AEE em funcionamento as
demais escolas com exceccedilatildeo a ED5 sinalizaram natildeo ofertar o serviccedilo e natildeo
encaminhar o estudante para ser atendido em outra escola Revelando-se assim
um entendimento de que o AEE se restringe agrave SRM bem como pode demostrar
uma precariedade no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE
152
Nessa perspectiva eacute possiacutevel perceber que dotar as escolas de SRM
profissionais especializados acessibilidade arquitetocircnica recursos pedagoacutegicos e
humanos por si soacute natildeo eacute suficiente para possibilitar uma maior reflexatildeo e
ressiginificaccedilatildeo acerca das concepccedilotildees de Educaccedilatildeo Especial apresentadas nos
dizeres das equipes diretivas Ressalta-se que esses dispositivos satildeo importantes
necessaacuterios e estatildeo previstos na PNEE-PEI e nas diretrizes da EE e com isso
reitera-se a importacircncia e responsabilidade do Sistema Municipal de Ensino em
parceria com Uniatildeo em provecirc-los agraves escolas Mas eacute preciso compreender que haacute
outros fatores que precisam ser considerados e adicionados a esses como a
qualidade da formaccedilatildeo desses profissionais e as condiccedilotildees de trabalho
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees das equipes diretivas escolares frente agrave viabilizaccedilatildeo do
AEE nas escolas em que atuam foi possiacutevel perceber trecircs respostas mais
recorrentes sendo que cada uma marca uma funccedilatildeo especiacutefica a) papel de
orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores) foi mais mencionado por
supervisores escolares b) papel de atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial eou pais apareceu com mais frequecircncia nas falas de
orientadores educacionais e por fim c) o papel de provimento de condiccedilotildees
materiais e pedagoacutegicas foi mais constante nas respostas de diretores escolares
Ter clareza sobre as funccedilotildees de cada um na escola eacute importante contudo
quando essas se constituem como um trabalho com nenhuma ou pouca articulaccedilatildeo
e interlocuccedilatildeo entre os profissionais pode culminar no desenvolvimento de um
trabalho isolado no contexto escolar
Em parte essas constataccedilotildees podem ser resultantes do pouco tempo desses
profissionais na funccedilatildeo atual na escola em que atuam assim como na rotatividade
no cargo de direccedilatildeo o que pode estar contribuindo em parte na constituiccedilatildeo de um
trabalho mais isolado entre os profissionais da escola e por conseguinte
fragilizando a implementaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais de forma contextualizada
envolvendo toda a comunidade escolar culminando na precariedade no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Esse eacute um dos pontos que se destacou na pesquisa e sinaliza ao sistema
municipal de ensino que essa questatildeo precisa ser discutida de forma criacutetica e
reflexiva com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre esse assunto uma vez
que pode estar desfavorecendo a implementaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais
153
Por fim nesse momento histoacuterico econocircmico poliacutetico e social de incertezas
que se vive atualmente avista-se que discutir o papel das equipes diretivas
escolares na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE como uma oportunidade de criar
espaccedilos e tempos de discussatildeo e reflexatildeo com o objetivo de propiciar a participaccedilatildeo
efetiva de professores demais profissionais da educaccedilatildeo e pais no planejamento
organizaccedilatildeo discussatildeo e implementaccedilatildeo das estrateacutegias e diretrizes da Educaccedilatildeo
Regular e da Educaccedilatildeo Especial de modo articulado tendo em vista um processo
efetivo de escolarizaccedilatildeo para todos os estudantes Uma vez que se continua
vislumbrando que a escola puacuteblica eacute
[] o melhor lugar e o melhor caminho para a luta poliacutetica pela igualdade e inclusatildeo social Uma visatildeo de escola democraacutetica aposta na universalidade da cultura escolar no sentido de que cabe agrave escola transmitir os saberes puacuteblicos que apresentam um valor independentemente de circunstacircncias e interesses particulares em funccedilatildeo do desenvolvimento humano Junto a isso permeando os conteuacutedos cabe tambeacutem considerar a diversidade cultural a coexistecircncia das diferenccedilas e a interaccedilatildeo entre indiviacuteduos de identidades culturais distintas Uma escola desprovida de conteuacutedos culturais substanciosos e densos reduz as possibilidades dos [estudantes] pobres de ascenderem ao mundo cultural e ao desenvolvimento das capacidades intelectuais deixando de promover desse modo a justiccedila social que pode vir da educaccedilatildeo e do ensino (LIBAcircNEO 2016 p 60)
Em meio a esses apontamentos chega-se ao final dessas consideraccedilotildees
Contudo compreende-se que esse estudo natildeo se conclui aqui mas pode possibilitar
novos caminhos e outros direcionamentos que poderatildeo ser suscitados com base no
que foi revelado a partir dos dizeres das equipes diretivas sobre suas compreensotildees
acerca do AEE e suas formas de viabilizaacute-lo Um desses caminhos eacute realizar
pesquisas de cunho etnograacutefico que possibilite observar no cotidiano das escolas
como se datildeo as (des)articulaccedilotildees entre Educaccedilatildeo Especial e Educaccedilatildeo regular
Seriam interessantes tambeacutem pesquisas intervencionistas que articulem formaccedilatildeo
em serviccedilo aprofundamento teoacuterico e accedilatildeo pedagoacutegica podendo se constituir em
um desdobramento deste estudo
Enseja-se ainda que esse estudo possa contribuir com as pesquisas acerca
do papel da equipe diretiva no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico da
EE assim como ser propositiva de reflexotildees sobre a importacircncia de repensar e
reorganizar os espaccedilos e tempos das escolas com a finalidade de assegurar o
direito a todos os estudantes de aprenderem
154
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Cortez 2012 ___________ Gestatildeo democraacutetica da escola puacuteblica Satildeo Paulo Cortez 2016a
___________ Criacutetica da Estrutura da Escola Satildeo Paulo Cortez 2016b PLACCO Vera Maria Nigro De Souza SOUZA Vera Lucia Trevisan de ALMEIDA Laurinda Ramalho de O coordenador pedagoacutegico aportes agrave proposiccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas Cadernos de Pesquisa v 42 n 147 p 754-771 setdez 2012 PLACCO Vera Maria Nigro De Souza SOUZA Vera Lucia Trevisan de ALMEIDA Laurinda Ramalho de O coordenador pedagoacutegico (CP) e a formaccedilatildeo de professores intenccedilotildees tensotildees e contradiccedilotildees Fundaccedilatildeo Carlos Chagas Estudos amp Pesquisas Educacionais p 227-288 agost 2011 PEREIRA Andressa Silva DAMASCENO Allan Rocha ANDRADE Patriacutecia O Atendimento Educacional Especializado (AEE) e o processo de inclusatildeo de
165
estudantes com necessidades especiais Fronteiras das experiecircncias de um
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PRIETO Rosacircngela Gavioli Sobre mecanismos de (re)produccedilatildeo de sentidos das Poliacuteticas educacionais In BAPTISTA Claudio Roberto CAIADO Katia Regina Moreno JESUS Denise Meyrelles de Educaccedilatildeo Especial diaacutelogo e pluralidade 3ed Porto Alegre Mediaccedilotildees 2015 PONTES Joatildeo Pedro Concepccedilatildeo dos Professores de Matemaacutetica e Processos de Formaccedilatildeo In_______ Educaccedilatildeo Matemaacutetica Temas de Investigaccedilatildeo Lisboa
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166
Teoria Histoacuterico-Cultural Em defesa da humanizaccedilatildeo do homem Maringaacute
Eduem 2012 ROSSETTO Elisabeth Formaccedilatildeo do professor do atendimento educacional especializado a Educaccedilatildeo Especial em questatildeo Revista Educaccedilatildeo Especial Santa Maria vol 28 nuacutem 51 enero- pp 101-114 abril 2015 SAGE Daniel D Estrateacutegias administrativas para a realizaccedilatildeo do ensino inclusivo In STAINBACK Susan STAINBACK William (Orgs) Inclusatildeo um guia para educadores Porto Alegre Artes Meacutedicas 1999 SAWAIA Bader O sofrimento eacutetico-poliacutetico como categoria de anaacutelise da dialeacutetica exclusatildeoinclusatildeo In _____ As artimanhas da exclusatildeo anaacutelise psicossocial e
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Federal de Santa Catarina Centro de Ciecircncias da Educaccedilatildeo Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Florianoacutepolis
SANTOS Juliana Testoni dos Professoras atuantes no Atendimento Educacional Especializado e suas histoacuterias de vida um estudo sobre identidade docente Dissertaccedilatildeo de Mestrado 2016 112 f Universidade da Regiatildeo de Joinville Joinville SAVIANI Dermeval Pedagogia Histoacuterico-criacutetica primeiras aproximaccedilotildees 10 ed rev Campinas SP Autores Associados 2008 SAVIANI Dermeval Escola e Democracia 41 ed Campinas SP Autores associados 2009 SAVIANI Dermeval Sistema Nacional de Educaccedilatildeo articulado ao Plano Nacional de Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Campinas Faculdade de
Educaccedilatildeo Revista Brasileira de Educaccedilatildeo v 15 n 44 maioago 2010
167
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Federal de Pernambuco Recife SILVEIRA Selene Maria Penafortte Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o acompanhamento como fator de mudanccedila Universidade Federal do
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Educacional Araraquara n 6 janjun 2009 Disponiacutevel em lthttpwwwfclarunespbrHomeDepartamentosCienciasdaEducacaoRevistaEletronicaedi6_artigothaistezanipdfgt Acesso em 02 nov 2016 TEZANI Thaiacutes Cristina Rodrigues Gestatildeo escolar a praacutetica pedagoacutegica administrativa na poliacutetica de educaccedilatildeo inclusiva Educaccedilatildeo Santa Maria v 35 n 2 p 287-302 maioago 2010 Disponiacutevel em lthttpwwwufsmbrrevistaeducacaogt Acesso em 02nov2016 VALDEacuteS Maria Teresa Moreno Inclusatildeo de Pessoas com Deficiecircncia no Ensino
Superior no Brasil Caminhos e Desafios Fortaleza Eduece 2006 VASCONCELLOS Celso Coordenaccedilatildeo do Trabalho Pedagoacutegico do projeto
poliacutetico pedagoacutegico ao cotidiano de sala de aula Satildeo Paulo Libertad 2013 VASQUES Carla Karnoppi O diagnoacutestico e a Escolarizaccedilatildeo de alunos com transtornos globais do desenvolvimento In BAPTISTA Claudio Roberto (Org) Escolarizaccedilatildeo de alunos com deficiecircncias configuraccedilotildees nas poliacuteticas de
inclusatildeo escolar Satildeo Carlos Marquezine amp Manzini 2015 VAZ Kamille O professor de educaccedilatildeo especial nas poliacuteticas de perspectiva inclusiva no brasil concepccedilotildees em disputa Dissertaccedilatildeo de Mestrado 2013 237 f Universidade Federal de Santa Catarina Florianoacutepolis
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Estadual de Londrina - Londrina 2013 ZIEGERLilian Os Saberes e Fazeres da Supervisatildeo Educacional Perspectiva teoacuterico-praacuteticas In Supervisatildeo e Gestatildeo na escola Conceitos e praacuteticas de mediaccedilatildeo RANGEL Mary (Org) Campinas SP Papirus 2013
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___________ Resoluccedilatildeo CNECP Nordm 1 De 15 De Maio De 2006 Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduaccedilatildeo em Pedagogia licenciatura ___________ Decreto nordm 6571 de 17 de setembro de 2008 Dispotildee sobre o atendimento educacional especializado regulamenta o paraacutegrafo uacutenico do art 60 da Lei ndeg 9394 de 20 de dezembro de 1996 e acrescenta dispositivo ao Decreto no 6253 de 13 de novembro de 2007 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria da Educaccedilatildeo Especial Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva Brasiacutelia
DF 2008
___________ Conselho Nacional de Educaccedilatildeo Cacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica Resoluccedilatildeo CNE CEB nordm 4 de 2 de outubro de 2009 Institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica modalidade Educaccedilatildeo Especial Diaacuterio Oficial da Uniatildeo 5 de outubro de 2009 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Especial Marcos Poliacutetico-Legais da Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo InclusivaSecretaria de Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia Secretaria de Educaccedilatildeo
Especial 2010 ___________ Conselho Nacional de Sauacutede Resoluccedilatildeo Nordm 466 de 12 de dezembro
De 2012 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Decreto nordm 7611 DE 17 de novembro de 2011 Dispotildee sobre a educaccedilatildeo especial o atendimento educacional especializado e daacute outras providecircncias ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Portaria no 25 DE 19 de junho de 2012 Dispotildee sobre a adesatildeo ao Programa Implantaccedilatildeo de Salas de Recursos
Multifuncionais
170
___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Lei nordm 12796 de 4 de abril de 2013 Altera
a Lei no 9394 de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes e bases da educaccedilatildeo nacional para dispor sobre a formaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo e dar outras providecircncias ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Lei nordm 13005 de 24 de junho de 2014 -
Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo LEI Nordm 13146 DE 6 DE JULHO DE 2015
Institui a Lei Brasileira de Inclusatildeo da Pessoa com Deficiecircncia (Estatuto da Pessoa com Deficiecircncia) ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Documento orientador programa escola acessiacutevel 2013 Disponiacutevel em httpportalmecgovbrpnaes194-secretarias-
112877938secad-educacao-continuada-22336954117428-programa-escola-acessivel-novo Acesso 10102016 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Fundo Nacional De Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Conselho Deliberativo ResoluccedilatildeoCDFNDENordm 192013 de 21 de maio de 2013
___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 10 de 18 de abril de 2013 Dispotildee sobre os criteacuterios de repasse e execuccedilatildeo do Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) em cumprimento ao disposto na Lei 11947 de 16 de junho de 2009 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Fundo Nacional De Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Conselho Deliberativo Resoluccedilatildeo nordm 27 de 27 de julho de 2012 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Documento Orientador Programa Implantaccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais Diretoria de Poliacuteticas em
Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia 2013 ___________Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Relaccedilatildeo das escolas a serem contempladas com os recursos do PDDE Acessibilidade nos anos de 2012 e 2013 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrsecretaria-de-educacao-continuada-
alfabetizacao-diversidade-e-inclusaoprogramas-e-acoesid=17428gt Acesso em 14 out 2016a
171
___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves Redes Estadual e Municipal de Ensino de Camboriuacute em 2011 2012 2013 Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle
(SIMEC) moacutedulo puacuteblico Disponiacutevel em lthttppainelmecgovbrpainelphpmodulo=principaldetalhamentoIndicadorampacao=Aampdetalhes=municipioampmuncod=4203204gt Acesso em 17102016b ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Diretoria de Poliacuteticas de Educaccedilatildeo Especial Nota Teacutecnica nordm 04 2014 MECSECADIDPEE Orientaccedilatildeo quanto a documentos comprobatoacuterios de alunos com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo Orientaccedilotildees para implementaccedilatildeo da poliacutetica de educaccedilatildeo especial na perspectiva da educaccedilatildeo inclusiva 2015
___________ Ministeacuterio de Administraccedilatildeo Federal e da Reforma do Estado Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado Brasiacutelia 1995 ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Conselho Nacional de Educaccedilatildeo Resoluccedilatildeo nordm 2 de 1ordm de Julho de 2015 Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formaccedilatildeo inicial em niacutevel superior (cursos de licenciatura cursos de formaccedilatildeo pedagoacutegica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formaccedilatildeo continuada CAMBORIUacute Lei Complementar Nordm 192008 Dispotildee Sobre a elaboraccedilatildeo do Plano
de Carreira dos Profissionais do Magisteacuterio Puacuteblico Municipal De Camboriuacute ndash SC ___________ LEI Nordm 28322015 Institui o Plano Municipal de Educaccedilatildeo ndash PME em conformidade com o art 190 da Lei orgacircnica do Municiacutepio de Camboriuacute SANTA CATARINA PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMBORIUacute EDITAL DE CONCURSO PUacuteBLICO Nordm 0252013 Abre inscriccedilotildees para o concurso puacuteblico para
os cargos elencados no Anexo I parte integrante deste edital em conformidade com as Leis Complementares ndeg 0402012 ndeg 192008 ndeg 482013 e ndeg 0662013 e suas alteraccedilotildees ___________ LEI COMPLEMENTAR Nordm 49 de 24 de abril de 1992 Dispotildee sobre
o novo Plano de Cargos Carreiras e Vencimentos do Magisteacuterio Puacuteblico Estadual reformula a sistemaacutetica de Progressatildeo Funcional institui a Gratificaccedilatildeo de Permanecircncia os Precircmios Meacuterito Gerencial e de Assiduidade e daacute outras providecircncias
172
___________ LEI Nordm 12773 de 1ordm de dezembro de 2003 Institui o Programa
Leitura de Jornais e Revistas em Sala de Aula como atividade multidisciplinar nos estabelecimentos puacuteblicos de ensino fundamental e meacutedio no Estado de Santa Catarina ___________ Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina Satildeo
Joseacute FCEE de 2014
173
APEcircNDICES
174
APEcircNDICE A ndash Carta agrave equipe diretiva escolar
CARTA Agrave EQUIPE DIRETIVA ESCOLAR
Prezados (as) Participantes
Convidamos vocecircs a participarem como voluntaacuterios(as) anocircnimos(as) da pesquisa
desenvolvida pela mestranda Neusa Denise Marques de Oliveira vinculada a linha de
pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da
Universidade da Regiatildeo de Joinville - UNIVILLE A presente pesquisa tem como objetivo
investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento
Educacional Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo
As respostas dadas por vocecirc seratildeo fundamentais para a pesquisa intitulada ―A Equipe
Diretiva Escolar e o Atendimento Educacional Especializado Interlocuccedilotildees Possiacuteveis que
estaacute sob a orientaccedilatildeo da Professora Doutora Aliciene Fusca Machado Cordeiro
Para tanto solicito seu precioso tempo para responder este questionaacuterio Sua
sinceridade seraacute fundamental para o ecircxito da pesquisa Coloco a disposiccedilatildeo meus
dados (e-mail ndmoliveirabolcombr e telefone (47) 92903131) no intuito de
sanar quaisquer duacutevidas que surgir
Desde jaacute agradeccedilo sua imprescindiacutevel colaboraccedilatildeo e informo-lhe que seratildeo assegurados sigilo de identidade e a privacidade de dados confidenciais na pesquisa
Atenciosamente Neusa Denise Marques de Oliveira
175
APEcircNDICE B ndash Instrumento de coleta de dados
QUESTIONAacuteRIO
EIXO I ndashPERFIL DA EQUIPE DIRETIVA
1 Ano de Nascimento _________________________
2 Qual sua funccedilatildeo na escola
a)( ) Diretor ( ) Diretora
b) ( ) Assessor diretor ( ) Assessora de diretora
c) ( ) Coordenador PedagoacutegicoSupervisor ( ) Coordenadora
PedagoacutegicaSupervisora
d) ( ) Orientador Educacional ( ) Orientadora Educacional
e) ( ) Outro Qual
_______________________________________________________________
3 Qual sua formaccedilatildeo acadecircmica (preencha os campos necessaacuterios)
a) ( ) Ensino Superior (especificar se Bacharelado ou Licenciatura)
Curso ________________________________ Ano que concluiu _______
Curso _________________________________Ano que concluiu _______
b) ( ) Poacutes - Graduaccedilatildeo (Especializaccedilatildeo)
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
c) ( ) Poacutes ndash Graduaccedilatildeo (Mestrado)
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
d) ( ) Poacutes ndash Graduaccedilatildeo (Doutorado)
Curso _______________________________ Ano que concluiu _________
4 Vocecirc jaacute atuou como professor de sala de aula
a) ( ) Sim
b) ( ) Natildeo
176
5 Quanto tempo
6 Na sua trajetoacuteria como docente teve alguma experiecircncia com
estudante com deficiecircncia
a) ( ) Sim
b) ( ) Natildeo
7 Qual sua carga horaacuteria hoje na funccedilatildeo em que atua na Rede Municipal
de Ensino _______________
8 Quanto tempo de serviccedilo vocecirc tem na funccedilatildeo em que ocupa
atualmente na Rede Municipal de ensino______________
9 Vocecirc pertence ao quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede
Municipal de Ensino
a) ( ) sim
b) ( ) Natildeo
10) Como vocecirc ingressou na funccedilatildeo em que ocupa em sua escola
a) ( ) Por Convite
b) ( ) Por Concurso puacuteblico
c) ( ) Por indicaccedilatildeo
d) ( ) Remanejado (a)
e) ( ) Eleiccedilatildeo
f) ( ) Outro Qual _____________________________________
EIXO IIndash COMPREENSAtildeO DA EQUIPE DIRETIVA SOBRE O AEE
11 Qual sua compreensatildeo sobre o atendimento educacional
especializado _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
12 Quem satildeo os estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento Educacional Especializado
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
177
13 A escola em que vocecirc atua trabalha com Atendimento Educacional
Especializado (AEE)
a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo Por quecirc _______________________________________
14 Em caso afirmativo
a) ( ) Eacute uma escola Poacutelo o atendimento ocorre na proacutepria escola atendendo
__________ estudantes de ___________ escolas
b) ( ) Atende somente estudantes desta escola Por quecirc
_______________________________________________________________
15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos
estudantes puacuteblico alvo do AEE
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE
a) ( ) Sim Em caso afirmativo Comente quais________________
b) ( ) Natildeo
17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE
a) ( ) Sim Em caso afirmativo Comente quais______________________________________________________ ____________________________________________________________
b) ( ) Natildeo
18 Vocecirc teve alguma formaccedilatildeo com temas relacionados ao AEE
( ) Sim Comente
( ) Natildeo
EIXO III ndash CONHECIMENTO DA EQUIPE DIRETIVA SOBRE O TRABALHO DO PROFESSOR DO AEE
178
19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento
Educacional Especializado ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
21 Na escola em que vocecirc atua como se daacute a participaccedilatildeo do professor
de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros)
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
23 O professor do AEE que atende sua escola faz parte do quadro
efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino
a) ( ) sim
b) ( ) Natildeo
c) ( ) Natildeo tenho esta informaccedilatildeo
EIXO IV ndash PROJETO PEDAGOacuteGICO E O AEE
25 A escola em que vocecirc atua possui um projeto pedagoacutegico a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo
26 O atendimento educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola
a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo
27 A escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe
179
diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
180
APEcircNDICE C ndash Matriz de referecircncia Quadro 17 Matriz de referecircncia
Objetivos da pesquisa
Categorias Questotildees a
serem abordadas
Perguntas do questionaacuterio relacionadas
- Revelar a compreensatildeo da equipe diretiva escolar acerca do serviccedilo de AEE e do puacuteblico-alvo da EE - Evidenciar o que a equipe diretiva escolar conhece sobre o trabalho do professor do AEE
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
O serviccedilo em si o puacuteblico alvo da EE e o trabalho docente
11 Qual sua compreensatildeo sobre o atendimento educacional especializado 19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE 21 A escola em que vocecirc atua qual a participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros) 22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE 23 O professor do AEE na sua escola faz parte do quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino 12 Quem satildeo os estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 13 Na escola em que vocecirc atua trabalha com Atendimento Educacional Especializado (AEE)
14 Em caso afirmativo a) ( ) Eacute uma escola Polo b) ( ) Atende somente estudantes desta escola 15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos estudantes puacuteblico alvo do AEE
- Identificar os procedimentos que tecircm sido adotados pela equipe diretiva escolar na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe diretiva frente a viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
O papel da equipe diretiva Acessibilidade arquitetocircnica Recursos materiais e pedagoacutegicos Se o AEE estaacute comtemplado no Projeto poliacutetico-pedagoacutegico e e
20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento Educacional Especializada 16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE 17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE
25 A escola em que vocecirc
181
Desafios na viabilizaccedilatildeo do serviccedilo e formas de superaacute-lo
atua possui um projeto pedagoacutegico 26 O atendimento
educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola 27A escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
Fonte Primaacuteria (2016)
182
ANEXOS
183
ANEXO I ndash Autorizaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute
184
ANEXO II ndash Parecer de Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
185
186
187
ANEXO III ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIVERSIDADE DA REGIAtildeO DE JOINVILLE ndash UNIVILLE
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCACcedilAtildeO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE
Vocecirc estaacute sendo convidado (a) a participar como voluntaacuterio (a) de uma
pesquisa desenvolvida pela mestranda Neusa Denise Marques de Oliveira
vinculada ao Grupo de Pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do Programa de
Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE As respostas dadas por vocecirc ao instrumento
de coleta de dados neste caso um questionaacuterio seratildeo fundamentais para a
construccedilatildeo da dissertaccedilatildeo intitulada ―A Equipe Diretiva Escolar e o Atendimento
Educacional Especializado Interlocuccedilotildees Possiacuteveis que estaacute sob a orientaccedilatildeo da
Professora Drordf Aliciene Fusca Machado Cordeiro Sendo seu objetivo investigar as
compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento Educacional
Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo
Sua participaccedilatildeo se restringiraacute a fornecer respostas agraves indagaccedilotildees feitas no
questionaacuterio Vocecirc teraacute a liberdade de se recusar a responder perguntas que lhe
ocasionem constrangimento de alguma natureza e tambeacutem poderaacute desistir da
pesquisa a qualquer momento sem que a recusa ou a desistecircncia lhe acarrete
qualquer prejuiacutezo bem como caso seja do seu interesse e mencionado ao
pesquisador teraacute livre acesso aos resultados do estudo
Destacamos que a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa eacute opcional e representa
riscos ou desconfortos miacutenimos Em caso de recusa ou de desistecircncia em qualquer
fase da pesquisa vocecirc natildeo seraacute penalizado (a) de forma alguma A sua participaccedilatildeo
constituiraacute de suma importacircncia para o cumprimento do objetivo da pesquisa e os
benefiacutecios seratildeo de acircmbito acadecircmico e profissional para o campo do Trabalho e
Formaccedilatildeo Docente
Vocecirc seraacute esclarecido sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar e
trataremos da sua identidade com padrotildees profissionais de sigilo ou seja natildeo
haveraacute identificaccedilatildeo nominal Os questionaacuterios respondidos durante a realizaccedilatildeo da
pesquisa ficaraacute sob a guarda e a responsabilidade da pesquisadora por um periacuteodo
de cinco anos onde apoacutes esse prazo o material seraacute descartado Os resultados
deste estudo poderatildeo ser apresentados por escrito ou oralmente em congressos
perioacutedicos cientiacuteficos e eventos promovidos na aacuterea de ciecircncias humanas
Em caso de duacutevida vocecirc poderaacute procurar a pesquisadora responsaacutevel por esta
pesquisa Neusa Denise Marques de Oliveira pelo telefone (47) 92903131 Se
preferir vocecirc tambeacutem pode entrar em contato com a professora orientadora dessa
pesquisa no Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE pelo telefone (47)
3461-09077 ou no seguinte endereccedilo Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash
188
UNIVILLE Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Campus Universitaacuterio -
JoinvilleSC CEP 89219-710 Bloco A sala A 227B
Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica que envolve a referida
pesquisa entre em contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa (CEP) pelo
telefone (47) 3461-9235 ou no endereccedilo Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash
UNIVILLE Bloco B sala B 31
Apoacutes ser esclarecido sobre a pesquisa no caso de vocecirc aceitar fazer parte do estudo assine ao final deste documento que estaacute em duas vias Uma delas eacute sua e a outra eacute do pesquisador responsaacutevel
CONSENTIMENTO
Eu ________________________________________________ acredito ter sido
suficientemente informado (a) e concordo em participar como voluntaacuterio (a) da
pesquisa descrita acima
_____________________ ____ de ____________________ de 2015
_________________________ ________________________________ Participante responsaacutevel Neusa Denise Marques de Oliveira
Pesquisadora
189
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeccedilo a Deus pela graccedila de ter vivido intensamente esta
experiecircncia com seriedade e compromisso
Agrave minha orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro pela paciecircncia e
dedicaccedilatildeo
Agraves professoras Dra Andrea Soares Wuo e Dra Sonia Maria Ribeiro por
aceitarem participar da minha banca
Aos professores do Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Univille que
partilharam seus conhecimentos e possibilitaram que eu pudesse ampliar os meus
Aos meus colegas do mestrado em especial agraves minhas amigas Ana Paula e
Lediane que estiveram ao meu lado durante o curso cuja convivecircncia tornou-se
para mim uma oportunidade de crescimento de relaccedilatildeo saudaacutevel com as diferenccedilas
por oferecerem sua amizade e incentivo
Ao meu irmatildeo acadecircmico Cleberson de Lima Mendes pelo companheirismo
na realizaccedilatildeo dos trabalhos e por sua amizade
Agraves coordenadoras da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute por
consentirem a viabilizaccedilatildeo deste estudo
A todas as equipes diretivas que prontamente aceitaram participar desta
pesquisa
Aos meus colegas de trabalho que assumiram minhas funccedilotildees para que eu
pudesse me afastar integralmente para me dedicar agrave escrita desta dissertaccedilatildeo
Agrave minha matildee amada que carinhosamente cuidou de mim durante o primeiro
ano do mestrado periacuteodo difiacutecil que foi superado com muito apoio e amor
Ao meu filho Viniacutecius Luiacutes de Oliveira razatildeo da minha vida que me ensina
todos os dias a ser curiosa questionadora criativa Agradeccedilo pela paciecircncia em me
deixar estudar e por me entender mesmo tatildeo pequeno
Ao meu amado esposo Jackson de Oliveira companheiro de todas as horas
um ser humano incriacutevel que me ajudou muito e que amo cada dia mais
Agrave minha sogra Sonia Buss de Oliveira e ao meu sogro Luiacutes de Oliveira
pessoas imprescindiacuteveis nessa minha caminhada por me apoiarem e por vezes
terem cuidado de meu filho com muito carinho e apreccedilo
Aos meus queridos irmatildeos e sobrinhos pela compreensatildeo de minhas
ausecircncias nas reuniotildees de famiacutelia e pela paciecircncia que tiveram comigo no decorrer
desta jornada
Agrave minha amiga Juliana Testoni dos Santos primeira pessoa que me acolheu
quando entrei no mestrado e que com o tempo se tornou uma grande amiga Uma
pessoa incriacutevel inteligente e sensiacutevel que me ensinou a acreditar mais em mim
Agraves minhas amigas Cleide Aparecida Hoffmann Bernardes e Andreacuteia
Heiderscheidt Fuck pelo companheirismo paciecircncia e por estarem sempre dispostas
a ajudar
Agrave CAPES pelo apoio financeiro que propiciou melhores condiccedilotildees de dedicaccedilatildeo a esta pesquisa A todos que de alguma forma contribuiacuteram para que esse trabalho chegasse
agrave etapa final
RESUMO Este estudo estaacute vinculado agrave linha de pesquisa ―Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do
Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash UNIVILLE e tem
como objetivo central investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares
sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE) e suas formas de viabilizaacute-lo
O procedimento metodoloacutegico adotado pautou-se na abordagem qualitativa (GATTI
e ANDREacute 2013) que tem como fundamento alguns pressupostos da base
epistecircmico-metodoloacutegica do materialismo histoacuterico e dialeacutetico Como instrumento de
coleta de dados utilizou-se um questionaacuterio contendo perguntas abertas e fechadas
Participaram desta pesquisa 7 diretores 8 supervisores e 7 orientadores
educacionais totalizando 7 equipes diretivas de escolas do ensino fundamental da
Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute - Santa Catarina totalizando 22
questionaacuterios respondidos A anaacutelise de conteuacutedo (BARDIN 1977 FRANCO 2012)
foi o meacutetodo escolhido para analisar os dados A fundamentaccedilatildeo teoacuterica utilizada no
trabalho foi composta por vaacuterios autores com destaque para Vasconcellos (2013)
Paro (1987 2001 2003 2010 2012 2016) Libacircneo (2007 2015 2016) Meletti e
Bueno (2011) Os resultados desta pesquisa sinalizaram que na Rede estudada a
maioria dos profissionais da equipe diretiva parece compreender o AEE como um
serviccedilo que se restringe ao estudante com deficiecircncia ou agrave sala de recursos
multifuncionais e ao professor especializado Isso pode indicar uma compreensatildeo
descontextualizada e desarticulada do serviccedilo no acircmbito escolar Em siacutentese o AEE
parece ser entendido pelas equipes diretivas pesquisadas como sendo um serviccedilo
individualizado setorizado e com pouca interaccedilatildeo entre os profissionais As anaacutelises
dos dados apontaram a necessidade de formaccedilatildeo consistente para os profissionais
das equipes diretivas e demais profissionais da educaccedilatildeo que comtemple um
aprofundamento teoacuterico sobre a aacuterea da Educaccedilatildeo e da Educaccedilatildeo Especial No que
concerne agrave viabilizaccedilatildeo do AEE observou-se nos dizeres da maioria das equipes
diretivas indiacutecios de compreensotildees que demonstram falta de clareza quanto aos
seus papeacuteis em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo do serviccedilo de AEE assim
como apontam lacunas existentes quanto agrave acessibilidade arquitetocircnica recursos
pedagoacutegicos e humanos especiacuteficos que satildeo considerados dispositivos necessaacuterios
e que compotildeem a estrutura do AEE Suas falas revelam ainda as necessidades de
reorganizaccedilatildeo dos espaccedilos escolares em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo do serviccedilo as quais
compotildeem os desafios das equipes diretivas frente ao AEE em suas concepccedilotildees
Palavras-Chave Gestatildeo escolar Equipe diretiva escolar Atendimento Educacional
Especializado Formaccedilatildeo Docente
ABSTRACT
This study is linked to the research line Teacherlsquos Work and Formation of the
Master of Education of the University of the Region of Joinville - UNIVILLE and its
main objective is to investigate the understandings of the school management teams
on Specialized Educational Services (SES) and its forms to apply it The
methodological procedure adopted was based on the qualitative approach (GATTI
and ANDREacute 2013) that is based on some assumptions of the epistemic-
methodological basis of historical and dialectical materialism A questionnaire
containing opened and closed questions was used as data collection instrument
Seven of the directors eight supervisors and seven educational supervisors
participated in this study making a total of 7 management teams from elementary
schools of the Municipal Education Network of Camboriuacute - Santa Catarina So 22
questionnaires were answered Content analysis (BARDIN 1977 FRANCO 2012)
was the method chosen to analyze the data The theoretical basis used in the study
was composed by authors such as Vasconcellos (2013) Paro (1987 2001 2003
2010 2012 2016) Libacircneo (2007 2015) Meletti and Bueno (2011) among others
The results of this research indicate that in the context studied most of the
professionals of the management teams seem to understand SES as a service that is
restricted or to the student with a disability or to the multifunction resource classroom
and to the specialized teacher This may indicate a decontextualized and disjointed
understanding of school service In summary the SES seems to be understood by
teams surveyed for this research as being a service individualized sectorized and
with little interaction among professionals The analysis of the data pointed to the
need for consistent training for the professionals of the management teams and other
professionals of education that contemplates a theoretical deepening in the area of
Education and Special Education With regard to the realization of the SES the
majority of the management teams stated that they lacked clarity regarding their roles
in relation to the implementation of the SES as well as pointing out existing gaps in
accessibility specific pedagogical resources and human resources which are
considered necessary devices and which are part of the SES structure Their
speeches also reveal the need for reorganization of school spaces in relation to the
realization of the service which are some of the challenges of the management
teams facing the SES in their conceptions
Keywords School management School management team Specialized
Educational Services
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AEE Atendimento Educacional Especializado
AHSD Altas Habilidades e Superdotaccedilatildeo
ANPEd Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em Educaccedilatildeo
BDTD Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaccedilotildees
CAPES Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior
CEB Cacircmara de Educaccedilatildeo Baacutesica
CEI Centro de Educaccedilatildeo Infantil
CF Constituiccedilatildeo Federal
CHS Conselho de Direitos Humanos
CMDCA Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do Adolescente
CNE Conselho Nacional de Educaccedilatildeo
CNS Conselho Nacional de Sauacutede
ED Equipe Diretiva
EDd Equipe Diretiva ndash diretor(a)
EDo Equipe Diretiva ndash orientador(a)
EDs Equipe Diretiva ndash supervisor(a)
EDUCASUL Congresso de Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul
EE Educaccedilatildeo Especial
EF Ensino Fundamental
EJA Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos
GETRAFOR Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e a Formaccedilatildeo Docente
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica
IFC Instituto Federal Catarinense
IDEB Iacutendice de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo Baacutesica
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira
INTAE Interfaces entre Atendimento Educacional Especializado trabalho
docente formaccedilatildeo de professores e poliacuteticas puacuteblicas (INTAE)
LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
MEC Ministeacuterio da Educaccedilatildeo
NAPNE Nuacutecleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiacuteficas
OCDE Organizaccedilatildeo de Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico
PETI Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil
PNEE-EI Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva
PNE Plano Nacional de Educaccedilatildeo
SCIELO Scientific Eletronic Library Online
SC Santa Catarina
SECADI Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo
SIMEC Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle
SME Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
SEM Salas de Recursos Multifuncionais
TALIS Teaching and Learning International Survey
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TDAH Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo e Hiperatividade
TGD Transtornos Globais do Desenvolvimento
UNESCO Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas para a Educaccedilatildeo a Ciecircncia e a Cultura
UNIVILLE Universidade da Regiatildeo de Joinville
LISTA DE ILUSTRACcedilOtildeES
Graacutefico 1 ndash Faixa etaacuteria dos participantes da pesquisa 58
Graacutefico 2 ndash Tempo de atuaccedilatildeo das equipes diretivas por funccedilatildeo 59
Graacutefico 3 ndash Experiecircncias dos profissionais das equipes diretivas enquanto docentes
de estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 63
Graacutefico 4 ndash Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes das equipes diretivas em sala de
aula 65
Graacutefico 5 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Diretores 66
Graacutefico 6 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Supervisores 66
Graacutefico 7 - Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) - Orientadores 67
Graacutefico 8 ndash Tempo de serviccedilo dos integrantes das equipes diretivas na funccedilatildeo que
atualmente ocupam na escola 67
Graacutefico 9 - Sobre a acessibilidade arquitetocircnica nas escolas
pesquisadas112
Graacutefico 10 - Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves
Redes Estadual e Municipal de Ensino de
Camboriuacute119
Graacutefico 11 ndash Recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis nas escolas pesquisadas123
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Tabela 1 ndash Mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira sobre Gestatildeo
EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de
2011 a 2015 38
Tabela 2 ndash Trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe
Diretiva e o Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE 40
Tabela 3 ndash Objetivos dos trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo
EscolarEquipe Diretiva e o Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE 41
Quadro 1 ndash Categorias de anaacutelise e suas relaccedilotildees com os objetivos da pesquisa 52
Quadro 2 ndash Gecircnero dos integrantes da equipe diretiva escolar por funccedilatildeo 55
Quadro 3 ndash Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes da equipe diretiva em sala de
aula61
Quadro 4 ndash Fases do ciclo de vida profissional segundo Huberman 62
Quadro 5 ndash Formaccedilatildeo das equipes diretivas com temas relacionados ao AEE71
Quadro 6 - Situando do Atendimento Educacional Especializado nas Escolas a partir
das falas das Equipes Diretivas73
Quadro 7 Puacuteblico-alvo do AEE nos dizeres das equipes diretivas escolares
pesquisadas78
Quadro 8 - Recorrecircncias sobre o puacuteblico-alvo da EE nos dizeres das equipes
diretivas escolares pesquisadas79
Quadro 9 - Distribuiccedilatildeo das matriacuteculas por categoria utilizada no Censo Escolar de
2015 (MECINEP 2015) no Brasil em Santa Catarina e no Municiacutepio de
Camboriuacute82
Quadro 10 - Condiccedilotildees de acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas113 Quadro 11 - Escolas pesquisadas a serem contempladas pelo Programa Escola
Acessiacutevel por meio do PDDE nos anos de 2012 e 2013119
Quadro 12 - Acessibilidade nas escolas municipais de ensino fundamental no Brasil SC e em Camboriuacute 121 Quadro 13 - O que se entende por ―recurso pedagoacutegico nos dizeres das equipes
diretivas que informaram possuiacute-los nas escolas em que atuam 123
Quadro 14 - Composiccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais ndash 20112012124
Quadro 15 - Accedilotildees que as equipes diretivas escolares consideram que sejam de
suas responsabilidades para viabilizar o AEE 130
Quadro 16 - Desafios encontrados pelas equipes diretivas escolares para viabilizar o
AEE 139
Quadro 17 - Matriz de referecircncia 180
SUMAacuteRIO
Agrave GUISA DE INTRODUCcedilAtildeO O ENTRELACcedilAMENTO DA PESQUISA COM A
PESQUISADORA 16
1 POSSIBILIDADES E DESAFIOS DE UMA GESTAtildeO ESCOLAR DEMOCRAacuteTICAndash
PARTICIPATIVA DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES NA VIABILIZACcedilAO DO
AEE 21
11 Organizaccedilatildeo e Gestatildeo Escolar tecendo reflexotildees21
12 As atribuiccedilotildees da Equipe Diretiva Escolar na Perspectiva da Gestatildeo
Democraacutetica-Participativa29
13 Equipe Diretiva na organizaccedilatildeo escolar frente ao AEE aproximaccedilotildees e
distanciamentos 34
14 A produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre Gestatildeo Escolar e Atendimento
Educacional Especializado um campo a explorar 38
2 PROCESSO DE CONSTITUICcedilAtildeO DA PESQUISA CAMINHOS TRACcedilADOS E
PERCORRIDOS 46
21 Os caminhos da pesquisa local participantes e instrumentos 47
22 Seguindo o itineraacuterio organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados 50
3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Agrave PARTIR DAS FALAS
DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE
CAMBORIUacute 54
31 Apresentaccedilatildeo das Equipes Diretivas Escolares 55
32 O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado 72
33 As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel das equipes
diretivas frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE 110
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 147
APEcircNDICES 173
APEcircNDICE A ndash Carta agrave equipe diretiva escolar 174
APEcircNDICE B ndash Instrumento de coleta de dados 175
APEcircNDICE C ndash Matriz de referecircncia 180
ANEXOS 182
ANEXO I ndash Autorizaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute 183
ANEXO II ndash Parecer de Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa 184
ANEXO III ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 187
16
Agrave GUISA DE INTRODUCcedilAtildeO O ENTRELACcedilAMENTO DA PESQUISA COM A PESQUISADORA
Revisitar o bauacute de minha histoacuteria de vida faz com que venham agrave tona vaacuterios
sentimentos de superaccedilatildeo e felicidade pois foram tantos aprendizados tantas
conquistas e diversas experiecircncias que ajudaram na minha constituiccedilatildeo enquanto
pessoa e profissional Assim escrever acerca de minha trajetoacuteria de vida passa a
ser uma forma de clarificar o entrelaccedilamento da pesquisa com a pesquisadora
levando assim agrave construccedilatildeo do objeto desta pesquisa
Aos dezessete anos no uacuteltimo ano do magisteacuterio passei em um concurso
puacuteblico para auxiliar de educadora em um Centro de Educaccedilatildeo Infantil (CEI) no
municiacutepio de Joinville O CEI ficava proacuteximo agrave minha casa o que facilitou minha
jornada de estaacutegio trabalho e estudo Iniciei trabalhando em uma turma de berccedilaacuterio
Pensei que natildeo daria conta pois a base teoacuterica do magisteacuterio foi restrita No
entanto comecei a pesquisar comprar livros e estudar muito para auxiliar no
planejamento das atividades
O trabalho com as crianccedilas era regado de brincadeiras muacutesicas pintura e
contaccedilatildeo de histoacuterias O educar e o cuidar comeccedilaram a fazer sentido para mim
sendo que a cada estudo e a cada descoberta o trabalho com as crianccedilas se tornava
mais prazeroso Apoacutes um ano trabalhando no berccedilaacuterio passei a atuar na turma de 3
a 5 anos idade com 35 crianccedilas que jaacute haviam passado por vaacuterios educadores
Nessa turma havia um aluno com deficiecircncia intelectual fato raro para a educaccedilatildeo
infantil na eacutepoca em que iniciei A experiecircncia de ensinaacute-lo e conviver com ele foi
muito significativa pois a partir dela pude vislumbrar as possibilidades e
potencialidades do trabalho colaborativo em especial nas interaccedilotildees entre os
alunos que respeitavam o tempo do colega incentivando-o a completar as
atividades escolares
Esse trabalho me proporcionou natildeo soacute uma vivecircncia na educaccedilatildeo infantil e
um crescimento pessoal e profissional mas tambeacutem propiciou condiccedilotildees
financeiras para cursar o ensino superior
Em 1996 iniciei o curso superior em Pedagogia que me proporcionou uma
base teoacuterica mais consistente Havia incentivo agrave participaccedilatildeo em eventos e a
preocupaccedilatildeo em articular a teoria e praacutetica No uacuteltimo ano da faculdade iniciei a
17
poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu em Psicopedagogia que possibilitou ampliar a minha
compreensatildeo sobre os processos de aprendizagem e estrateacutegias de trabalho
voltadas para a escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes
Em 1999 jaacute graduada e poacutes-graduada procurei novas experiecircncias de
trabalho e comecei a lecionar Filosofia em uma instituiccedilatildeo da Rede Privada de
Ensino para as turmas da preacute-escola e da quarta seacuterie no ensino fundamental
A partir de 2002 passei a trabalhar como educadora na Secretaria de
Assistecircncia Social onde integrei o Conselho Municipal dos Direitos da Crianccedila e do
Adolescente - CMDCA e o Conselho de Direitos Humanos - DHS Nessa eacutepoca
trabalhei no Programa de Erradicaccedilatildeo do Trabalho Infantil ndash PETI com adolescentes
em situaccedilatildeo de vulnerabilidade social incluiacutedos na sociedade de forma perversa
Eles tinham em sua maioria entre 8 e 16 anos de idade Antes de integrarem o
programa eles trabalhavam como catadores de material reciclaacutevel apresentavam
dificuldades significativas de aprendizagem e viviam em regiotildees extremamente
pobres da cidade Passavam meio periacuteodo em escolas da Rede Puacuteblica de Ensino e
meio periacuteodo no programa PETI O planejamento das atividades para eles era
sempre um momento desafiador e os educadores se preocupavam em proporcionar
atividades mais atrativas e culturalmente enriquecedoras como visitas a Museus e
ao cinema aleacutem de planejar eventos como a Parada Cultural na qual os familiares e
a comunidade eram convidados a prestigiar as atividades criadas e apresentadas
por esses adolescentes
Essas satildeo algumas das experiecircncias que compotildeem a minha constituiccedilatildeo
como educadora marcada por uma busca constante pelo desenvolvimento de uma
praacutetica pedagoacutegica e docente responsaacutevel sensiacutevel flexiacutevel e comprometida Como
enfatizou Freire (1991 p 58) ―ningueacutem comeccedila a ser educador numa certa terccedila-
feira agraves quatro da tarde [] A gente se faz educador a gente se forma como
educador permanentemente na praacutetica e na reflexatildeo sobre a praacutetica
A partir de 2003 ateacute setembro de 2005 fui convidada pela secretaacuteria de
Assistecircncia Social para coordenar o programa Fundo do Milecircnio para a Primeira
Infacircncia um Programa em Parceria com a UNESCO Fundaccedilatildeo Mauriacutecio Sirotsky
Sobrinho e o Banco Mundial que tinha como finalidade a formaccedilatildeo de 45
educadores de cinco instituiccedilotildees filantroacutepicas de educaccedilatildeo infantil
Apesar dos desafios enfrentados na realizaccedilatildeo desse programa considero
que foi possiacutevel desenvolver um trabalho intenso de leitura e pesquisa com as 40
18
educadoras que dele participaram Dos projetos que elas elaboraram trecircs foram
aprovados para apresentaccedilatildeo no Congresso de Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul - Educasul
Em 2005 solicitei licenccedila natildeo remunerada de trecircs anos na Prefeitura
Municipal de Joinville a fim de coordenar o Programa de Jornal e Educaccedilatildeo em uma
empresa jornaliacutestica do mesmo municiacutepio
A empresa havia firmado uma parceria com a Secretaria de Educaccedilatildeo do
Estado de Santa Catarina a partir da Lei nordm 127732003 (SANTA CATARINA 2003
sp) que ―instituiu o Programa Leitura de Jornais e Revistas em Sala de Aula como
atividade multidisciplinar nos estabelecimentos puacuteblicos de ensino fundamental e
meacutedio no Estado de Santa Catarina
Por meio desse programa viajei por 36 cidades de Santa Catarina realizando
formaccedilatildeo sobre miacutedia e educaccedilatildeo para os professores da Rede Estadual de Ensino
bem como para alguns professores de escolas municipais uma vez que as
Secretarias de Educaccedilatildeo de alguns municiacutepios tambeacutem firmaram parceria Esse
trabalho me possibilitou conhecer o funcionamento de muitas escolas estaduais
municipais e uma aldeia indiacutegena em Xanxerecirc contribuindo para o desenvolvimento
de um olhar para a diversidade e a complexidade dos processos educacionais em
diferentes contextos
A experiecircncia que mais me aproximou contudo do que viria a ser meu objeto
de pesquisa no Mestrado em Educaccedilatildeo ocorreu em 2011 quando ingressei na
Rede Puacuteblica Federal de Ensino no Instituto Federal Catarinense na funccedilatildeo de
pedagogaorientadora educacional No mesmo ano no curso teacutecnico de ensino
meacutedio integrado iniciou uma estudante com deficiecircncia fiacutesica A estrutura do
cacircmpus poreacutem natildeo favorecia a mobilidade da aluna fazendo com que a equipe do
Nuacutecleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Especiacuteficas - NAPNE no qual
ingressei como representante passasse a discutir as adaptaccedilotildees arquitetocircnicas e
curriculares necessaacuterias para a promoccedilatildeo da escolarizaccedilatildeo da aluna Saliento a
importacircncia do respaldo da direccedilatildeo do Instituto nesse periacuteodo na construccedilatildeo da
proposta de melhorias bem como na sua execuccedilatildeo O trabalho realizado de forma
colaborativa entre os profissionais envolvidos no Instituto bem como o
acompanhamento sistemaacutetico junto agrave aluna e sua famiacutelia foi essencial para o
desenvolvimento do seu processo de escolarizaccedilatildeo que se formou no ano de 2013
e atualmente estaacute cursando o ensino superior
19
Em 2015 os integrantes do NAPNE do qual faccedilo parte estavam na fase de
estudos para a implementaccedilatildeo do atendimento educacional especializado no IFC
sempre respaldados pela equipe diretiva Percebo que o envolvimento dessa equipe
foi crucial para viabilizar as propostas planejadas O referido cacircmpus do IFC foi o
uacutenico no estado a solicitar um coacutedigo de vaga para o concurso de professora com
habilitaccedilatildeo especiacutefica para atuar no AEE a qual foi nomeada no final de 2015 jaacute
iniciando a estruturaccedilatildeo do trabalho com a equipe
Como orientadora educacional percebo que a parceria junto agrave supervisatildeo e
demais profissionais faz toda a diferenccedila na promoccedilatildeo de uma educaccedilatildeo para todos
pois natildeo haacute como discutir o processo de escolarizaccedilatildeo dos alunos sem abordar as
estrateacutegias de ensino que favoreccedilam sua aprendizagem e desenvolvimento
Nessa busca intensa por conhecimentos ingressei no Programa de Mestrado
em Educaccedilatildeo da UNIVILLE na linha de pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente
Lembro-me que no primeiro encontro de orientaccedilatildeo conversando com minha
professora orientadora Dra Aliciene Fusca Machado Cordeiro conseguimos definir
o objeto do presente estudo a relaccedilatildeo entre a equipe diretiva e o Atendimento
Educacional Especializado
Este estudo se insere em um projeto de pesquisa mais amplo denominado
―Interfaces entre Atendimento Educational Especializado trabalho docente
formaccedilatildeo de professores e poliacuteticas puacuteblicas (INTAE) vinculado ao Grupo de
Estudos e Pesquisas sobre o Trabalho e a Formaccedilatildeo Docente (GETRAFOR) do
Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE
Considerando que o municiacutepio de Joinville foi o mais estudado ateacute o
momento pelo grupo de pesquisa em questatildeo e que o referido projeto tem por
objetivo investigar as interfaces supracitadas na regiatildeo Sul do Brasil optou-se por
escolher como loacutecus desta investigaccedilatildeo o municiacutepio de Camboriuacute
Tal escolha justifica-se em funccedilatildeo de que no processo de mapeamento das
produccedilotildees acadecircmicas dos uacuteltimos cinco anos sobre ―gestatildeo escolarequipe diretiva
e ―inclusatildeo escolareducaccedilatildeo especialAEE1 ter-se identificado que o referido
municiacutepio natildeo havia sido contemplado por nenhum dos estudos ateacute entatildeo
realizados
1 Este mapeamento das produccedilotildees acadecircmicas foi realizado nas bases de dados da ANPEd CAPES
SciELO e BDTD abrangendo o periacuteodo de 2011 a 2015 Pode-se conferir o detalhamento do referido levantamento no Capiacutetulo 1 desta dissertaccedilatildeo
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A partir do exposto iniciou-se a construccedilatildeo do objetivo geral da pesquisa que
eacute investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento
Educacional Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo Os objetivos especiacuteficos
delineados a partir do objetivo geral foram constituiacutedos da seguinte forma
Revelar a compreensatildeo das equipes diretivas acerca do serviccedilo de AEE e do
puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial
Identificar o que as equipes diretivas escolares conhecem sobre o trabalho do
professor do AEE
Evidenciar os procedimentos que tecircm sido adotados pelas equipes diretivas
escolares na viabilizaccedilatildeo do atendimento educacional especializado
Para cada objetivo especiacutefico foi elaborada uma questatildeo de pesquisa que se
buscou responder no decorrer deste estudo 1) O que pensam as equipes diretivas
escolares sobre o serviccedilo do AEE e sobre o puacuteblico alvo da EE 2) Qual a
compreensatildeo que as equipes diretivas escolares tecircm sobre o trabalho do professor
de AEE 3) Quais satildeo os procedimentos que tecircm sido adotados pelas equipes
diretivas escolares para viabilizar o atendimento educacional especializado
Ressalto que a forma de compreender e viabilizar as poliacuteticas educacionais
expressa a concepccedilatildeo de gestatildeo escolar assumida pela equipe diretiva concepccedilatildeo
essa que permearaacute as accedilotildees realizadas na instituiccedilatildeo refletindo na conduccedilatildeo da
elaboraccedilatildeo no projeto pedagoacutegico nas accedilotildees e interaccedilatildeo com os estudantes
professores e comunidade escolar
Nesse sentido o presente estudo tem o intuito de contribuir com possiacuteveis
avanccedilos nas discussotildees acerca do papel da equipe diretiva no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial focalizando a
Rede Puacuteblica Municipal de Ensino de Camboriuacute
21
1 POSSIBILIDADES E DESAFIOS DE UMA GESTAtildeO ESCOLAR DEMOCRAacuteTICAndashPARTICIPATIVA DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES NA VIABILIZACcedilAO DO AEE
Neste capiacutetulo apresentam-se algumas reflexotildees sobre a funccedilatildeo da escola a
organizaccedilatildeo e a gestatildeo escolar contextualizando as atribuiccedilotildees dos profissionais
que compotildeem a equipe diretiva escolar a partir da perspectiva de uma gestatildeo
democraacutetica-participativa Na sequecircncia aborda-se o Atendimento Educacional
Especializado um serviccedilo direcionado ao puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial2
procurando compreender as relaccedilotildees entre uma gestatildeo democraacutetica-participativa da
equipe diretiva e o processo de desenvolvimento desse serviccedilo especializado no
contexto escolar a partir de um balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira concernente
a essa temaacutetica nos uacuteltimos cinco anos (2011-2015) Esclarece-se que existem
outras formas de gestatildeo escolar contudo neste estudo optou-se em discutir a
gestatildeo democraacutetica-participativa por ser a forma de gestatildeo evidenciada nos
documentos oficiais nacionais inspirados em acordosdocumentos internacionais
relacionados agrave Educaccedilatildeo Especial procurando tensionar suas possibilidades e
impossibilidades no acircmbito escolar
11 Organizaccedilatildeo e Gestatildeo Escolar tecendo reflexotildees
Abordar noccedilotildees de organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar implica uma tarefa anterior
que diz respeito agrave discussatildeo da funccedilatildeo da escola no cenaacuterio atual Neste estudo
entende-se que a instituiccedilatildeo escolar eacute constituiacuteda socialmente e dessa forma ―[] eacute
determinada socialmente [] sofre a determinaccedilatildeo do conflito de interesses que
caracteriza a sociedade (SAVIANI 2009 p 28) Nesse sentido a escola eacute ao
mesmo tempo produto e produtora da sociedade em que estaacute inserida e pode tanto
contribuir para a manutenccedilatildeo dessa organizaccedilatildeo social quanto para transformaacute-la
A funccedilatildeo da escola como ressaltou Paro (2012) eacute a de assegurar aos
estudantes a sistematizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do conhecimento da cultura produzido
historicamente tendo em vista que eacute por meio desse conhecimento que poderatildeo se
2 Satildeo compreendidos como puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial pessoas com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo (BRASIL 2008)
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apoderar ―[] da ciecircncia da tecnologia da filosofia da arte enfim de todas as
conquistas culturais realizadas pela humanidade em seu desenvolvimento histoacuterico
(PARO 2012 p 135)
Convergindo com a discussatildeo Saviani (2008 p 13) afirmou que ―para existir
a escola natildeo basta a existecircncia do saber sistematizado Eacute necessaacuterio viabilizar as
condiccedilotildees de sua transmissatildeo e assimilaccedilatildeo de modo que o estudante se aproprie
desse saber de forma contextualizada propiciando conexotildees com outros saberes jaacute
apreendidos convergindo para o desenvolvimento humano dos estudantes e sua
inserccedilatildeo criacutetica e criativa na sociedade
Nessa perspectiva segundo Dourado (2007 p 923) ―a educaccedilatildeo eacute entendida
como processo amplo de apropriaccedilatildeo da cultura historicamente produzida pelo
homem e a escola como loacutecus privilegiado de apropriaccedilatildeo e ressignificaccedilatildeo desses
conhecimentos Eacute nesse loacutecus que se encontra ao se considerar a maioria3 das
escolas puacuteblicas de ensino fundamental a atuaccedilatildeo da equipe diretiva que segundo
Vasconcellos (2013 p 51) eacute ―composta pelo Diretor(a) Supervisor(a)Coordenador
Pedagoacutegico e Orientador(a) Educacional profissionais que desempenham um papel
de referecircncia na escola e podem contribuir de modo significativo no processo de
escolarizaccedilatildeo dos alunos ao atuarem de forma articulada como uma equipe no
acircmbito escolar
Sobre a gestatildeo escolar Libacircneo (2015) apresentou uma contribuiccedilatildeo no que
tange agrave conceituaccedilatildeo das expressotildees organizar administrar e gerir ajudando a
pensar o sentido do termo ―gestatildeo escolar O autor expocircs que ldquoorganizar significa
―[] articular as partes de um todo prover as condiccedilotildees necessaacuterias para realizar
uma accedilatildeo administrar eacute o ato de governar de por em praacutetica um conjunto de regras
e gerir significa administrar dirigir gerenciar (LIBAcircNEO 2015 p 85 grifos nossos)
A partir dessa forma de compreender os conceitos pode-se dizer que a
organizaccedilatildeo a administraccedilatildeo e a gestatildeo escolar referem-se aos princiacutepios e
procedimentos relacionados agrave atividade de planejar o trabalho da escola utilizando
de forma responsaacutevel os recursos materiais financeiros e intelectuais disponiacuteveis
3 Optou-se por utilizar a expressatildeo ―a maioria por entender que existem especificidades entre as
esferas governamentais no que tange agrave nomenclatura eou agraves funccedilotildees relativas agrave gestatildeo escolar Por exemplo nas escolas Estaduais de Santa Catarina segundo a Lei Complementar nordm 491992 (SANTA CATARINA 1992) as funccedilotildees de supervisor e orientador satildeo denominadas como Especialista em Assuntos Educacionais e Consultor Educacional
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bem como a gestatildeo orientaccedilatildeo e coordenaccedilatildeo do trabalho junto aos profissionais e
estudantes que compotildeem o coletivo escolar
Salienta-se que as formas de organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar bem como as
atribuiccedilotildees da equipe diretiva foram se constituindo historicamente nas sociedades
Contudo esse processo de constituiccedilatildeo natildeo ocorreu e natildeo ocorre de forma linear
em cada momento histoacuterico econocircmico e poliacutetico de uma sociedade A atuaccedilatildeo da
equipe diretiva no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes pode ou natildeo sofrer
modificaccedilotildees ao longo do tempo mas sempre foi e ainda eacute subsidiada por
concepccedilotildees de educaccedilatildeo escolar Como exemplo podemos citar o autor Paro
(1987) que ilustra o papel do diretor no periacuteodo da poacutes-ditadura militar (1964-1985)
o qual ainda caracterizava seu trabalho de acordo com uma abordagem burocraacutetica
autoritaacuteria e conservadora que se tornara comum na vigecircncia desse regime de
governo Sobre essa forma de realizar a funccedilatildeo diretiva na escola o autor explana
[] o maior obstaacuteculo que vejo nos dias de hoje eacute precisamente a funccedilatildeo do diretor que o coloca autoridade uacuteltima no interior da escola Esta regra astutamente mantida pela classe dominante atraveacutes do Estado confere um caraacuteter autoritaacuterio ao diretor na medida que estabelece uma hierarquia na qual ele deve ser o chefe de quem emanam todas as ordens na instituiccedilatildeo escolar leva a dividir os diversos setores no interior da escola (PARO 1987 p 52)
De acordo com o autor supracitado a gestatildeo do diretor nesse periacuteodo
destacava-se nos espaccedilos escolares pelo centralismo autoritarismo pelo caraacuteter
burocraacutetico administrativo que se sobressaiacutea em detrimento ao pedagoacutegico Nesse
modelo instaurado conferia-se ecircnfase agrave distribuiccedilatildeo rigorosa das tarefas e nessa
loacutegica cada um preocupava-se com a realizaccedilatildeo de seu trabalho de forma
individual caracterizando uma gestatildeo pouco articulada e com accedilotildees fragmentadas
Diante do exposto compreende-se que a gestatildeo escolar eacute um fenocircmeno
complexo que estaacute associado a concepccedilotildees especiacuteficas acerca do que eacute gestatildeo e
do que eacute escola que por sua vez estatildeo imbricadas a um contexto mais amplo que
envolve aspectos econocircmicos poliacuteticos e culturais de uma sociedade Para entender
as diferentes concepccedilotildees que se evidenciam no estudo da organizaccedilatildeo e gestatildeo
escolar recorre-se agrave Libacircneo (2015) que sinaliza a existecircncia de duas concepccedilotildees
bem diferentes em relaccedilatildeo agrave funccedilatildeo da escola a primeira que eacute uma concepccedilatildeo
cientiacutefico-racional na qual ―[] prevalece a visatildeo mais burocraacutetica e tecnicista de
escola A escola eacute tomada como uma realidade objetiva e neutra podendo ser
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planejada organizada controlada de modo a alcanccedilar oacutetimos resultados nos
iacutendices de eficaacutecia e eficiecircncia (LIBAcircNEO 2015 p 102 grifo nosso) A segunda
concepccedilatildeo seria a ―sociocriacutetica na qual a organizaccedilatildeo escolar eacute ―[] como um
sistema que agrega pessoas destacando-se o caraacuteter intencional de suas accedilotildees a
importacircncia das interaccedilotildees sociais no seio do grupo e as relaccedilotildees da escola com o
contexto sociocultural e poliacutetico (LIBAcircNEO 2015 p 102)
Compreende-se assim que a escola natildeo eacute um espaccedilo neutro e sim um
ambiente constituiacutedo e constitutivo de relaccedilotildees sociais imediatas e mediatas o que
pressupotildee que a tomada de decisotildees seja discutida coletivamente propiciando aos
profissionais da escola a participaccedilatildeo na discussatildeo das poliacuteticas educacionais das
dificuldades no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes entre outros desafios do
cotidiano escolar
A gestatildeo escolar aleacutem de ser discutida por autores como Paro (1987) e
Libacircneo (2015) tambeacutem eacute discursada nos documentos oficiais da educaccedilatildeo
brasileira Nesse aspecto questiona-se como os gestores dos sistemas de ensino4
interpretam compreendem e subjetivam a gestatildeo escolar expressa nas poliacuteticas
educacionais e por conseguinte como esses entendimentos satildeo disponibilizados e
posteriormente subjetivados pelas equipes diretivas escolares
Considerando a complexidade de que abarca a gestatildeo escolar optou-se por
tomar os documentos oficiais como um ponto de partida para evidenciar possiacuteveis
convergecircncias eou divergecircncias entre os discursos sobre gestatildeo e o que se
vivencia no contexto escolar
Nessa direccedilatildeo nota-se que as poliacuteticas oriundas de organismos
internacionais5 delinearam e permearam a constituiccedilatildeo das poliacuteticas educacionais no
Brasil e a partir da deacutecada de 90 jaacute era possiacutevel identificar fortes impactos de
4 Segundo Saviani (2010 380-381) o Brasil ainda natildeo dispotildee de um sistema de ensino mas sim de
vaacuterios sistemas de ensino ―Daiacute expressotildees como sistema de ensino fundamentallsquo sistema de ensino meacutediolsquo sistema de ensino profissionallsquo sistema de educaccedilatildeo baacutesicalsquo sistema de ensino superiorlsquo sistema escolarlsquo sistema estadual de ensinolsquo sistema municipal de ensinolsquo sistema federal de ensinolsquo sistema de ensino comercial (industrial agriacutecola)lsquo etc como se fossem coisas diferentes quando na verdade satildeo apenas partes do mesmo sistema Para o ator um sistema pode ser definido como a unidade de vaacuterios elementos intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto coerente e operante conclui-se que o Sistema Nacional de Educaccedilatildeo eacute a unidade dos vaacuterios aspectos ou serviccedilos educacionais mobilizados por determinado paiacutes intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto coerente que opera eficazmente no processo de educaccedilatildeo da populaccedilatildeo do referido paiacutes 5Segundo Frigotto e Ciavatta (2003 p 96) ―os organismos internacionais como o Fundo Monetaacuterio
Internacional (FMI) Banco Mundial (BIRD) o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e o Programa das Naccedilotildees Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) passam a ter o papel de tutoriar as reformas dos Estados nacionais mormente dos paiacuteses do capitalismo perifeacuterico e semiperifeacuterico
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diretrizes educacionais internacionais nos sistemas de ensino e nas instituiccedilotildees
escolares brasileiras abrangendo mudanccedilas nos curriacuteculos nas responsabilidades
dos professores da gestatildeo escolar e as formas de participaccedilatildeo da famiacutelia A gestatildeo
democraacutetica enfatizada em referenciais internacionais como a Conferecircncia Mundial
sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) foi uma das premissas que comeccedilou a
figurar progressivamente em algumas poliacuteticas brasileiras
Eacute possiacutevel identificar que os documentos legais de acircmbito nacional tecircm
salientado a ―gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas Tem-se por exemplo a
Constituiccedilatildeo Federal de 1988 que em seu art 206 preconiza que o ensino deve ser
ministrado com base no princiacutepio de gestatildeo democraacutetica A Lei de Diretrizes e Bases
da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) por sua vez prevecirc em seu art 14 que ―os
sistemas de ensino definiratildeo as normas da gestatildeo democraacutetica conforme os
princiacutepios de participaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo do Projeto
Pedagoacutegico e da comunidade escolar e local em Conselhos Escolares O Plano
Nacional de Educaccedilatildeo - PNE sancionado pela Lei no 13005 de 25 de junho de
2014 em seu art 2 inciso VI tambeacutem evidencia a ―promoccedilatildeo do princiacutepio da gestatildeo
democraacutetica na educaccedilatildeo puacuteblica de assegurar condiccedilotildees no prazo de dois anos
para a efetivaccedilatildeo da gestatildeo democraacutetica da educaccedilatildeo associada a criteacuterios teacutecnicos
de meacuterito e desempenho e agrave consulta puacuteblica (BRASIL 2014)
Uma vez que eacute conferida essa ecircnfase agrave gestatildeo democraacutetica nos documentos
oficiais conveacutem esclarecer o que se entende a esse respeito A Lei de Diretrizes e
Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) por exemplo associa uma gestatildeo
democraacutetica agrave participaccedilatildeo dos profissionais da escola e de modo mais abrangente
da comunidade escolar e local nesse processo No entanto seria a gestatildeo
democraacutetica sinocircnimo de uma gestatildeo participativa Entende-se que a participaccedilatildeo
de todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo eacute um dos elementos de uma
gestatildeo escolar democraacutetica mas que essa vai aleacutem da participaccedilatildeo Neste estudo
compreende-se a gestatildeo democraacutetica como um movimento de descentralizaccedilatildeo do
poder que supotildee a participaccedilatildeo de todos no planejamento das accedilotildees discussatildeo e
tomadas de decisotildees no acircmbito da escola
Destaca-se que uma gestatildeo democraacutetica-participativa6 oportuniza uma accedilatildeo
articulada e integrada entre diretor supervisor e orientador supotildee que os trecircs teratildeo
6 Optou-se por utilizar a expressatildeo democraacutetica-participativalsquo com hiacutefen inspirada em Libacircneo
(2015) por entender que democracia e participaccedilatildeo satildeo processos interdependentes natildeo eacute possiacutevel
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autonomia de atuaccedilatildeo no acircmbito da escola o supervisor propondo formaccedilatildeo aos
professores em articulaccedilatildeo com o orientador e apoio do diretor o orientador
acompanhando o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes discutindo com o
supervisor planejando estrateacutegias e abrindo a discussatildeo juntamente aos
professores e junto agraves famiacutelias com o apoio do diretor em prol do processo de
escolarizaccedilatildeo Nessa perspectiva enfatiza-se que a ―distribuiccedilatildeo do poder entre os
vaacuterios setores da escola o diretor natildeo estaraacute perdendo poder [] mas estaraacute
dividindo responsabilidade E ao acontecer isso quem ganha poder eacute a escola
(PARO 1987 p 52)
Nessa perspectiva Libacircneo (2007) esclarece que a gestatildeo democraacutetica
discursada nos documentos oficiais no entanto eacute concebida e interpretada de
formas diferentes pela sociedade civil e pela inciativa governamental Enquanto por
um lado a sociedade civil a concebe como uma conquista que pode possibilitar
maior participaccedilatildeo da comunidade escolar nos processos decisoacuterios da escola por
outro lado para a iniciativa governamental representa uma forma de diminuiccedilatildeo do
papel do Estado para prover mas ampliado para regular e gerenciar A participaccedilatildeo
nessa perspectiva eacute entendida como uma forma consensual para a implementaccedilatildeo
dos ditames do Estado Tal pressuposto por sua vez tem seu fundamento nas
reformas consolidadas no governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-1998
1998-2002) nos anos de 1990 com a aprovaccedilatildeo do Plano Diretor da Reforma do
Aparelho do Estado em 19957 o qual estabeleceu como princiacutepios as accedilotildees como
descentralizaccedilatildeo autonomia das escolas racionalizaccedilatildeo dos recursos financeiros e
participaccedilatildeo da comunidade escolar
Em meio a esses tensionamentos Michels (2006 p408) ressalta que
[] eacute no embate entre a proposiccedilatildeo poliacutetica e o cotidiano da escola que esta vai constituindo-se e organizando-se Eacute justamente nessa relaccedilatildeo que se faz importante refletir sobre a poliacutetica educacional em curso e o papel atribuiacutedo agrave educaccedilatildeo e agrave escola no Brasil []
Nessa perspectiva pode-se evidenciar que o modo de gestatildeo proposto nessa
reforma representa uma agenda de governo em que o Estado transfere parte de
falar de um sem falar de outro No entanto ainda que imbricados satildeo processos que se diferenciam a participaccedilatildeo estaacute contida na democracia mas para haver uma gestatildeo democraacutetica eacute preciso mais do que a participaccedilatildeo de todos Como afirmou Libacircneo (2015) eacute preciso assegurar a aprendizagem de todos os alunos 7 Plano diretor da reforma do aparelho do Estado BRASIL Ministeacuterio de Administraccedilatildeo Federal e da Reforma do
Estado Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado Brasiacutelia 1995
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suas responsabilidades para os sistemas de ensino e esses por conseguinte para
as escolas mas ao mesmo tempo intensifica sua forccedila reguladora junto a eles
Entretanto mesmo possuindo uma autonomia relativa8 em relaccedilatildeo agrave
organizaccedilatildeo e funcionamento das escolas as equipes diretivas podem vislumbrar
nesse contexto de reforma o desenvolvimento de uma gestatildeo participativa como um
modo de envolver o coletivo escolar nas discussotildees dos processos decisoacuterios da
escola de forma criacutetica e criativa como uma alternativa para unir forccedilas no interior
da escola e reivindicar junto ao Estado as condiccedilotildees necessaacuterias para assegurar
aos estudantes seu direito de aprender
Contudo reforccedila-se que uma gestatildeo participativa por si soacute natildeo resolve todos
os problemas da escola Ainda que seja imprescindiacutevel para uma gestatildeo
democraacutetica a participaccedilatildeo ―por si soacute natildeo eacute suficiente para a democratizaccedilatildeo da
escola pois natildeo haacute democratizaccedilatildeo verdadeira sem que seja assegurado aos
alunos o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais por meio da
apropriaccedilatildeo dos conteuacutedos produzidos e acumulados historicamente (LIBAcircNEO
2015 p 24)
Identifica-se na concepccedilatildeo de Libacircneo (2015) uma ecircnfase agrave finalidade da
escola Nesse sentido destaca-se a importacircncia da equipe diretiva em organizar
suas accedilotildees tambeacutem para proporcionar momentos de discussatildeo das poliacuteticas
educacionais do processo ensino-aprendizagem e a partir daiacute traccedilar as estrateacutegias
necessaacuterias para que a escola consiga desempenhar seu papel central no processo
de escolarizaccedilatildeo de seus estudantes que eacute a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos
produzidos historicamente da cultura da ciecircncia e da tecnologia
Um exemplo de como a organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar podem proporcionar
esses momentos e se constituir como um processo participativo e democraacutetico eacute a
8 Autonomia Relativa no caso do sistema puacuteblico de ensino [] eacute sempre relativa e eacute condicionada
quer pelos poderes de tutela e de superintendecircncia do governo e da administraccedilatildeo puacuteblica quer eventualmente pelo poder local no quadro de um processo de descentralizaccedilatildeo [] (BARROSO 1996 p 20) Ainda de acordo com o autor ―a autonomia eacute um conceito relacional (sempre somos autocircnomos de algueacutem ou de alguma coisa) pelo que a sua accedilatildeo exerce sempre num contexto de interdependecircncias e num sistema de relaccedilotildees A autonomia eacute tambeacutem um conceito que exprime sempre um certo grau de relatividade somos mais ou menos autocircnomos podemos ser autocircnomos em relaccedilatildeo a umas coisas e natildeo o ser em relaccedilatildeo a outras A autonomia eacute por isso uma maneira de agir orientar as diversas dependecircncias em que os indiviacuteduos e os grupos se encontram no seu meio com suas proacuteprias leis (BARROSO 1996 p 17)
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construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico da escola Libacircneo (2015) destacou que
essa construccedilatildeo envolve a contemplaccedilatildeo de alguns itens a saber
a) Organizaccedilatildeo da vida escolar Trata-se da organizaccedilatildeo dos meios de trabalho escolar em funccedilatildeo de sua especificidade e dos objetivos educacionais propiciando as melhores condiccedilotildees possiacuteveis para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem dos alunos [] dizem respeito a estrutura organizacional legislaccedilatildeo escolar organizaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico recursos materiais didaacuteticos financeiros clima de trabalho sistema participativo de tomadas de decisatildeo [] b) Organizaccedilatildeo do processo ensino aprendizagem [] suportes pedagoacutegicos necessaacuterios agrave organizaccedilatildeo do trabalho escolar Compreende o curriacuteculo a organizaccedilatildeo pedagoacutegico-didaacutetica formaccedilatildeo continuada conselhos de classe [] c) Organizaccedilatildeo das atividades de apoio teacutecnico ndash administrativo [] abrange as atividades da secretaria escolar dos especialistas pedagoacutegicos serviccedilos auxiliares serviccedilos gerais [] d) Organizaccedilatildeo de atividades que asseguram a relaccedilatildeo entre escola e comunidade [] niacuteveis superiores de gestatildeo do sistema escolar os pais as organizaccedilotildees poliacuteticas e comunitaacuterias (LIBAcircNEO 2015 p 170 grifos nossos)
Realccedila-se que esse processo de construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico eacute
perpassado por questotildees culturais sociais e poliacuteticas dos indiviacuteduos participantes
das poliacuteticas puacuteblicas e da realidade material de cada escola e nesse sentido se
configura por tensotildees e contradiccedilotildees Contudo ao promover espaccedilos para essa
construccedilatildeo de forma conjunta e dialoacutegica a escola pode se fortalecer como espaccedilo
democraacutetico envolvendo todos os profissionais e demais participantes que atuam
nesse espaccedilo para a realizaccedilatildeo dos objetivos escolares construiacutedos coletivamente
O projeto pedagoacutegico ao ser permanentemente revisitado acompanhado e
avaliado pode permitir que cada profissional reconheccedila suas responsabilidades
discuta questotildees pertinentes ao processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes e possa
construir proposiccedilotildees de forma coletiva para o enfrentamento das questotildees
deflagradas
Ainda assim mesmo que o projeto pedagoacutegico seja um importante
instrumento por meio do qual se possa efetivar uma gestatildeo democraacutetica-
participativa somente ele natildeo garante sua efetivaccedilatildeo Do mesmo modo ainda que
se preconize uma gestatildeo democraacutetica nos documentos oficiais isso isoladamente
natildeo assegura que a gestatildeo seja realizada de forma democraacutetica-participativa nas
escolas Isso porque como expocircs Michels (2004 p 44)
[] os sujeitos envolvidos [no processo de escolarizaccedilatildeo] natildeo tomam a poliacutetica como algo pronto e acabado Ao contraacuterio por mais que as
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legislaccedilotildees e as normas instituiacutedas conformem praacuteticas estas seratildeo apreendidas por sujeitos que daratildeo vida a estes encaminhamentos poliacuteticos Os sujeitos envolvidos entendem as indicaccedilotildees poliacuteticas de maneira distinta conforme suas vivecircncias seus interesses sua organizaccedilatildeo profissional entre outros Cada instituiccedilatildeo educacional acaba por ―implementar as poliacuteticas agrave sua maneira
Nessa direccedilatildeo segundo Paro (2012 p 162) a gestatildeo escolar constitui-se
―[] como um instrumento que como tal pode articular-se tanto para a conservaccedilatildeo
do status quo quanto para a transformaccedilatildeo social e tal articulaccedilatildeo guarda profunda
relaccedilatildeo com o modo como cada gestatildeo compreende as poliacuteticas e diretrizes
educacionais A forma de gestatildeo e organizaccedilatildeo escolar nesse sentido constitui e eacute
constituiacuteda pelas posiccedilotildees poliacuteticas e concepccedilotildees de homem e sociedade funccedilatildeo da
escola estudante da equipe diretiva que por sua vez podem ser vinculadas ao
contexto histoacuterico econocircmico poliacutetico social e cultural em que a escola estaacute
inserida
Com base nessa perspectiva de gestatildeo escolar no proacuteximo toacutepico seratildeo
discutidas as atribuiccedilotildees da equipe formada pelo(a) Diretor(a)
Supervisor(a)Coordenador(a) e Orientador(a) Educacional aqui denominada de
equipe diretiva escolar a fim de elucidar seu papel diante desses princiacutepios
democraacutetico-participativos que considere o objetivo primeiro da escola que eacute a
apropriaccedilatildeo de forma criacutetica e criativa pelos estudantes dos conhecimentos
historicamente produzidos pela humanidade
12 As atribuiccedilotildees da Equipe Diretiva Escolar na Perspectiva da Gestatildeo
Democraacutetica-Participativa
Para iniciar as discussotildees sobre as atribuiccedilotildees das equipes diretivas e a
complexidade de cada membro que compotildee essas equipes de trabalho buscou-se
as anaacutelises das pesquisas empreendidas por Ligeiro (2007) e Bastos (2012) com
gestores escolares sobre a temaacutetica gestatildeo escolar da escola puacuteblica nas quais as
autoras evidenciaram que gestatildeo democraacutetica-participativa natildeo eacute um trabalho
simples ao contraacuterio eacute uma accedilatildeo permeada por tensotildees e contradiccedilotildees As autoras
observaram ainda que a participaccedilatildeo do coletivo escolar nas discussotildees acerca do
processo ensino-aprendizagem bem como na construccedilatildeo das diretrizes da escola
30
se constitui uma das vias possiacuteveis na construccedilatildeo da melhoria do processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes Como salientou Ligeiro (2007) com base nas
compreensotildees das diretoras
[] a gestatildeo democraacutetica aponta para uma mudanccedila na forma de administrar a instituiccedilatildeo escolar a partir do reconhecimento da participaccedilatildeo da comunidade nas decisotildees sobre as questotildees educativas Esse reconhecimento eacute necessaacuterio na medida em que passa a fazer parte da realidade escolar adquirindo um significado poliacutetico que eacute internalizado pelos sujeitos como um direito e natildeo como benevolecircncia da direccedilatildeo Essa mudanccedila de comportamento por parte da direccedilatildeo vem se processando a partir da escolha eletiva dos dirigentes pela comunidade em curso no municiacutepio de Belo Horizonte haacute mais de dez anos rompendo com a utilizaccedilatildeo do cargo de diretor para fins poliacuteticos [] verificou-se ainda avanccedilos na legitimaccedilatildeo de espaccedilo de participaccedilatildeo [] com a comunidade externa [] (LIGEIRO 2007 p169)
Por sua vez Paro (2016a) ao se debruccedilar em pesquisas sobre a temaacutetica
gestatildeo democraacutetica da escola puacuteblica evidenciou que este modo de gestatildeo eacute algo a
ser conquistado O autor reitera ainda que
[] natildeo haacute duacutevida de que podemos pensar na escola como instituiccedilatildeo que pode contribuir para a transformaccedilatildeo social Mas uma coisa eacute falar de suas possibilidades uma coisa eacute falar em teselsquo falar daquilo que a escola poderia ser Uma coisa eacute expressar a crenccedila de que na medida em que consiga na forma e no conteuacutedo levar as camadas trabalhadoras a se apropriarem de um saber historicamente acumulado e desenvolver a consciecircncia criacutetica a escola pode concorrer para a transformaccedilatildeo social outra coisa bem diferente eacute considerar que a escola que aiacute estaacute esteja cumprindo essa funccedilatildeo (PARO 2016a p 15)
Para tanto a tarefa inicial deve consistir ―em tomar consciecircncia das condiccedilotildees
concretas ou das contradiccedilotildees concretas que apontam para a viabilidade de um
projeto de democratizaccedilatildeo das relaccedilotildees no interior da escola (PARO 2016a p 13)
O autor relatou ainda que a implementaccedilatildeo de uma gestatildeo democraacutetica na escola
eacute processual e requer para sua concretizaccedilatildeo que um sistema hieraacuterquico de
autoridade9 posto agraves escolas seja repensado e transformado
Nessa direccedilatildeo propotildee-se discutir a atuaccedilatildeo da equipe diretiva agrave luz da teoria
da gestatildeo democraacutetica-participativa embora se compreenda que esse tipo de
gestatildeo estaacute por se constituir na maioria das escolas brasileiras
9O sistema hieraacuterquico de autoridade se figura quando o Estado deteacutem o controle das accedilotildees do diretor ao delegar a ele o poder lhe conferindo uma autonomia relativa e este por sua vez controla ou tenta controlar o coletivo escolar por meio da divisatildeo riacutegida do trabalho estabelecendo uma hierarquia de funccedilotildees ―Assim natildeo eacute possiacutevel falar das estrateacutegias para transformar o sistema de autoridade no interior da escola em direccedilatildeo a uma efetiva participaccedilatildeo de seus diversos setores sem levar em conta a condiccedilatildeo que vive o diretor em seus respectivos sistemas de ensino e por conseguinte na escola (PARO 2016a p 15)
31
Ressalta-se desse modo que natildeo haacute um padratildeo na compreensatildeo das
especificidades das funccedilotildees de Diretor(a) Supervisor(a)Coordenador(a) e
Orientador(a) Educacional O que se procura ilustrar a seguir satildeo algumas
possibilidades de atuaccedilatildeo que ao mesmo tempo os diferenciam no que tange ao
especiacutefico de suas funccedilotildees e os aproximam como equipe diretiva que se reuacutene em
torno de objetivos comuns criar estrateacutegias de participaccedilatildeo coletiva na organizaccedilatildeo
e funcionamento dos espaccedilos e tempos da escola tendo em vista as poliacuteticas
educacionais vigentes buscando propiciar condiccedilotildees de trabalho para todos os
profissionais Estes objetivos por sua vez estatildeo relacionados a um objetivo maior
que se refere agrave escolarizaccedilatildeo dos estudantes por meio da apropriaccedilatildeo sistematizada
dos conhecimentos produzidos historicamente
Com relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos profissionais de educaccedilatildeo para administraccedilatildeo
planejamento inspeccedilatildeo supervisatildeo e orientaccedilatildeo educacional para a educaccedilatildeo
baacutesica conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996)
em seu art 64ordm pode-se dizer que deve ser ―[] realizada em cursos de graduaccedilatildeo
em Pedagogia ou em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo a criteacuterio da instituiccedilatildeo de ensino
garantida nesta formaccedilatildeo a base comum nacional
Ainda no que tange agrave formaccedilatildeo da equipe diretiva desde 2006 a partir da
Resoluccedilatildeo nordm 1 do Conselho Nacional de EducaccedilatildeoConselho Pleno (BRASIL
2006) foram instituiacutedos os cursos de licenciatura em Pedagogia com formaccedilatildeo
plena propiciando aao graduadao exercer quaisquer das funccedilotildees que antes
exigiam habilitaccedilotildees especiacuteficas durante a graduaccedilatildeo como por exemplo a funccedilatildeo
de supervisatildeocoordenaccedilatildeo e orientaccedilatildeo educacional
No tocante agraves responsabilidades da equipe diretiva escolar ressalta-se que
os profissionais que a compotildee no caso da rede puacuteblica tecircm suas atribuiccedilotildees
regulamentadas pela legislaccedilatildeo de seus referidos sistema de ensino (LIBAcircNEO
2015) A Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996)
estabelece em seu art 12ordm que as instituiccedilotildees de ensino satildeo responsaacuteveis pelas
seguintes accedilotildees
[] I ndash elaborar e executar sua proposta pedagoacutegica II ndash administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros III ndash assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas IV ndash velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente V ndash prover meios para a recuperaccedilatildeo dos alunos de menor rendimento
32
VI ndash articular-se com as famiacutelias e a comunidade criando processos de integraccedilatildeo da sociedade com a escola VII ndash informar pai e matildee conviventes ou natildeo com seus filhos e se for o caso os responsaacuteveis legais sobre a frequecircncia e rendimento dos alunos bem como sobre a execuccedilatildeo da proposta pedagoacutegica da escola VIII ndash notificar ao conselho tutelar do municiacutepio ao juiz competente da comarca e ao respectivo representante do Ministeacuterio Puacuteblico a relaccedilatildeo dos alunos que apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do percentual permitido em lei (BRASIL 1996 sp)
Percebe-se que essas accedilotildees estabelecidas na referida lei englobam as
atribuiccedilotildees dos integrantes da equipe diretiva permitindo apresentar algumas accedilotildees
pertinentes a cada participante da equipe diretiva escolar assim como apresentar
possibilidades de accedilotildees que podem ser realizadas de forma compartilhada
Iniciando pela funccedilatildeo do Diretor(a) essa parece englobar a criaccedilatildeo de
condiccedilotildees para reflexatildeo e tomada de decisatildeo coletiva acerca dos processos
educacionais Nesse sentido sua funccedilatildeo remete a accedilotildees como articular
acompanhar e mediar esses processos focalizando tanto seus aspectos
burocraacuteticos quanto pedagoacutegicos Isso implica promover de acordo com as
condiccedilotildees possiacuteveis uma estrutura e organizaccedilatildeo nos espaccedilos escolares que
promovam a escolarizaccedilatildeo de seus estudantes Paro (2010 p766) salienta que o(a)
Diretor(a)
[] ocupa uma posiccedilatildeo natildeo apenas estrateacutegica mas tambeacutem contraditoacuteria na gestatildeo da escola Esse diretor por um lado eacute considerado a autoridade maacutexima no interior na escola e isso pretensamente lhe daria um grande poder e autonomia mas por outro lado ele acaba se constituindo de fato em virtude de sua condiccedilatildeo de responsaacutevel uacuteltimo pelo cumprimento da Lei e da ordem da escola em mero proposto do Estado Uma segunda contradiccedilatildeo adveacutem do fato de que por um lado ele deve deter uma competecircncia teacutecnica e um conhecimento dos princiacutepios e meacutetodos necessaacuterios a uma adequada administraccedilatildeo dos recursos da escola mas por outro lado sua falta de autonomia em relaccedilatildeo aos escalotildees superiores e a precariedade das condiccedilotildees concretas [] [tornam-se obstaacuteculos] mdash o que estaria a merecer maior nuacutemero de anaacutelises e estudos aprofundados as quais discutem a natureza das atividades do diretor escolar e as possiacuteveis adequaccedilotildees e contradiccedilotildees dessa praacutetica diante do caraacuteter poliacutetico-pedagoacutegico da escola
Desse modo as accedilotildees do Diretor(a) dentro de um projeto coletivo e
participativo precisam estar articuladas com as accedilotildees dos demais profissionais a
exemplo do Supervisor(a)Coordenador(a) e do Orientador(a) Educacional
33
Em se tratando especificamente do Supervisor(a) Educacional10 Zieger
(2013 p 88) destaca que ele eacute o responsaacutevel na escola com o apoio do Diretor por
planejar de forma coletiva a ―construccedilatildeo do projeto poliacutetico-pedagoacutegico e de outros
projetos coordenar a construccedilatildeo do planejamento e implementaccedilatildeo de curriacuteculo e
programas ofertar apoio pedagoacutegico agrave equipe de docente com maior atenccedilatildeo agraves
atividades de ensino e avaliaccedilatildeo que propiciem a escolarizaccedilatildeo efetiva dos
estudantes Eacute responsaacutevel tambeacutem por planejar juntamente com o Diretor(a) e
Orientador(a) as reuniotildees pedagoacutegicas e a formaccedilatildeo continuada dos professores
possibilitando a reflexatildeo de sua praacutetica e propiciando assim quando necessaacuterio
ajustes nas estrateacutegias e metodologias com vistas agrave escolarizaccedilatildeo do estudante
Sobre o Orientador(a) Educacional Grinspun (2008 p 77) destaca que
atualmente esse ―[] tem o papel de mediaccedilatildeo na escola isto eacute [a Orientaccedilatildeo
Educacional] se reveste de mais um campo na escola para analisar discutir refletir
come para todos que atuam na escola ndash em especial os alunos tendo em vista o
trabalho pedagoacutegico e o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Rangel (2013) salienta que existem muitas atividades que podem ser
desenvolvidas de forma compartilhada entre Supervisor(a)Coordenador(a)
Orientador(a) e Diretor(a) com o intuito de contribuir e potencializar o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes tais como
[] a Formaccedilatildeo continuada de professores por meio de estudos dos problemas cotidianos e de conceitos teoacutericos e situaccedilotildees praacuteticas de interesse na superaccedilatildeo e nos avanccedilos do trabalho pedagoacutegico incluindo estudos sobre princiacutepios de ensino que favorecem a aprendizagem e a dinamizaccedilatildeo das aulas estudos sobre teorias de aprendizagem estudos e conceitos e procedimentos de avaliaccedilatildeo Coordenaccedilatildeo Conjunta de Conselho de Classe nos quais os professores se reuacutenem natildeo soacute para a avaliaccedilatildeo do aproveitamento escolar dos alunos mas para avaliaccedilatildeo do processo de ensino e aprendizagem Coordenaccedilatildeo conjunta dos conselhos de alunos nos quais os alunos se reuacutenem natildeo soacute para avaliaccedilatildeo das aulas como para a avaliaccedilatildeo de suas turmas em aspectos de participaccedilatildeo relaccedilotildees interesse motivaccedilotildees Coordenaccedilatildeo de encontros entre alunos e professores para tratar de questotildees que possam estar dificultando o entrosamento e o diaacutelogo Realizaccedilatildeo de encontros com pais sobre temas de interesse educativo que auxiliem as relaccedilotildees de aproximaccedilotildees na famiacutelia e entre ela e a escola sem perder de vista os temas que emergem das
10
Placco Souza e Almeida (2012 p 758) salientam que o termo ―supervisatildeo educacional coordenaccedilatildeo pedagoacutegica [] pode variar de acordo com o Muniacutecipio Estado ou regiatildeo
34
desigualdades e tensotildees sociais e suas consequecircncias (RANGEL 2013 p16 grifos nossos)
Essas atividades compartilhadas demonstram o quanto a equipe diretiva
escolar pode construir e desenvolver coletivamente no sentido de (re)pensar e
(re)elaborar o trabalho realizado na escola focalizando o processo de escolarizaccedilatildeo
dos estudantes e respeitando suas singularidades
Percebe-se ainda a relevacircncia da equipe diretiva no sentido de planejar
momentos de construccedilatildeo coletiva junto aos professores para que esses possam
dialogar e discutir sobre o processo de escolarizaccedilatildeo com o intuito de construir
estrateacutegias de ensino que propiciem alternativas de escolarizaccedilatildeo mais efetiva para
os estudantes Evidencia-se poreacutem que a constituiccedilatildeo de um processo de gestatildeo
escolar democraacutetico-participativo se apresenta como um desafio para as escolas
que por vezes natildeo encontram condiccedilotildees objetivas para atuarem dessa forma
No proacuteximo subcapiacutetulo buscar-se-aacute compreender as relaccedilotildees entre uma
gestatildeo escolar democraacutetica-participativa e o Atendimento Educacional
Especializado focalizando o processo de desenvolvimento desse serviccedilo no
contexto escolar
13 Equipe Diretiva na organizaccedilatildeo escolar frente ao AEE aproximaccedilotildees e
distanciamentos
Para iniciar uma discussatildeo a respeito da gestatildeo escolar em relaccedilatildeo agrave
Educaccedilatildeo Especial e mais especificamente ao Atendimento Educacional
Especializado optou-se por primeiramente elencar alguns documentos legais que
podem subsidiar a atuaccedilatildeo da equipe diretiva escolar nesse acircmbito Dentre esses
documentos podem ser citados a Constituiccedilatildeo Federal (BRASIL 1988) a
Declaraccedilatildeo Mundial sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) a Declaraccedilatildeo de
Salamanca (UNESCO 1994) a Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo Nacional
(BRASIL 1996) a Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na perspectiva da
Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) e a Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 4 (BRASIL 2009)
35
que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado
na Educaccedilatildeo Baacutesica11
Desses documentos pode-se apreender de modo geral um entendimento da
educaccedilatildeo como direito fundamental de todos independentemente das diferenccedilas
individuais No que se refere agrave poliacutetica e agraves diretrizes brasileiras relacionadas agrave
Educaccedilatildeo Especial e ao Atendimento Educacional Especializado nota-se um foco
no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
preferencialmente na Rede Municipal de Ensino Supotildee-se que instituir
possibilidades de discussatildeo dos documentos acima referidos juntamente com o
coletivo escolar eacute fundamental para a compreensatildeo da EE e do AEE assim como as
formas de viabilizaacute-los
Embora as leis sejam importantes elas se configuram como um documento
orientador da poliacutetica Contudo a forma como acontece sua materializaccedilatildeo eacute
permeada tambeacutem pelos interesses dominantes na sociedade e pela compreensatildeo
de cada equipe diretiva e os profissionais da educaccedilatildeo os quais satildeo responsaacuteveis
pela sua organizaccedilatildeo e materializaccedilatildeo no acircmbito escolar
Para avanccedilar na compreensatildeo do atendimento educacional especializado e
sua relaccedilatildeo com a equipe diretiva escolar acredita-se que pode ser esclarecedor
explicar de forma breve a Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 42009 e o Decreto 76112011 A
referida Resoluccedilatildeo que regulamenta as Diretrizes Operacionais para o Atendimento
Educacional Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica enfatiza que a elaboraccedilatildeo e a
execuccedilatildeo do plano de AEE eacute de competecircncia do professor da sala de recursos
multifuncionais ―em articulaccedilatildeo com os professores do ensino regular com a
participaccedilatildeo das famiacutelias e em interface com os demais serviccedilos setoriais da sauacutede
da assistecircncia social entre outros necessaacuterios ao atendimento (BRASIL 2009 p
2)
Ainda que o professor atuante no AEE seja responsaacutevel por elaborar e
executar o plano desse atendimento compreende-se que a equipe diretiva ao
participar dessa construccedilatildeo pode propiciar um suporte e uma integraccedilatildeo do plano
do AEE com o projeto poliacutetico-pedagoacutegico da escola aleacutem de se perceber como um
11 Aleacutem desses documentos ainda se destaca o Decreto 76112011 que reitera os princiacutepios da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) no que concerne o AEE a Lei 131462015 que instituiu a Lei Brasileira de Inclusatildeo da Pessoa com Deficiecircncia e o Estatuto da Pessoa com Deficiecircncia que reafirma o exposto no Decreto 76112011 sobre o AEE e daacute outras providecircncias
36
dos protagonistas imprescindiacuteveis para o processo de escolarizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial
Nesse sentido Vioto (2013) enfatiza que para a realizaccedilatildeo do AEE no espaccedilo
escolar eacute importante haver adequaccedilotildees natildeo soacute na acessibilidade arquitetocircnica
pedagoacutegica e de recursos humanos mas principalmente quebra de barreiras
atitudinais12 da gestatildeo e dos demais profissionais da escola
[] sabemos que sem mudanccedila de postura dos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao processo de ensino junto aos alunos com NEE na sala de aula do ensino regular natildeo haacute como desenvolver o processo de aprendizagem dos referidos alunos Logo para que ocorra essa mudanccedila faz-se necessaacuteria a conscientizaccedilatildeo de todos os envolvidos no processo educacional inclusivo de que os alunos independentemente de suas NEE possuem caracteriacutesticas que lhe satildeo proacuteprias e que dentro do processo de aprendizagem estas devem ser levadas em consideraccedilatildeo (VIOTO 2013 p78)
A autora supracitada ressalta que para elaborar um planejamento pedagoacutegico
que contribua com a apropriaccedilatildeo dos conhecimentos sistematizados e produzidos
historicamente por parte dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial um
caminho eacute reconhecer suas especificidades e considerar as suas potencialidades
pois focar nas suas limitaccedilotildees culminaria em um planejamento limitado privando o
estudante de seu direito de aprender e desenvolver sua autonomia Nesse sentido
enfatiza-se a responsabilidade da equipe diretiva escolar para que a escola consiga
realizar sua funccedilatildeo pensando na formaccedilatildeo integral do aluno com e sem deficiecircncia
[] uma escola organizada para assegurar a apropriaccedilatildeo de conhecimentos habilidades valores atitudes por meio do processo ensino aprendizagem que visa o desenvolvimento cognitivo afetivo dos alunos [] capaz de articular no seu curriacuteculo e em suas praacuteticas pedagoacutegico-didaacuteticas a formaccedilatildeo cultural e cientiacutefica [] Nessa escola o papel da organizaccedilatildeo e gestatildeo eacute propiciar o ambiente social necessaacuterio e as condiccedilotildees institucionais humanas materiais para a realizaccedilatildeo do processo ensino-aprendizagem Ou seja diretores coordenadores pedagoacutegicos e professores tecircm a responsabilidade profissional e eacutetica de fazerem funcionar na escola praacuteticas de organizaccedilatildeo e gestatildeo que sejam propulsoras de um determinado tipo de aprendizagem aquela que promove e amplia o desenvolvimento
12
Silva (2012 p 14 e 15) apoiada em Lima e Tavares (2007) explicita que ―[] as barreiras atitudinais satildeo barreiras sociais geradas mantidas fortalecidas por meio de accedilotildees omissotildees e linguagens produzidas ao longo da histoacuteria humana num processo tridimensional o qual envolve cogniccedilotildees afetos e accedilotildees contra a pessoa com deficiecircncia ou quaisquer grupos em situaccedilatildeo de vulnerabilidade resultando no desrespeito ou impedimento aos direitos dessas pessoas limitando-as ou incapacitando-as para o exerciacutecio de direitos e deveres sociais satildeo abstratas para quem as produz e concretas para quem sofre seus efeitos
37
intelectual e o desenvolvimento integral dos alunos (LIBAcircNEO 2015 p 13)
A organizaccedilatildeo e gestatildeo escolar realizada pela equipe diretiva de uma forma
como a supracitada pode ser compreendida como um trabalho que rompe com o
comumente realizado Trata-se de uma forma de gestatildeo e que se configura como
um processo coletivo e contextualizado que requer condiccedilotildees objetivas e subjetivas
que sustentem a sua construccedilatildeo Sobre isso Lira (2012 p 106) salienta que se tem
―visto que as condiccedilotildees que se apresentam no cotidiano escolar tecircm favorecido para
que se mantenham presentes as praacuteticas estanques separadas com poucas
referecircncias de compartilhamento de trocas entre os profissionais Nesse sentido
romper com essa loacutegica eacute um desafio coletivo no qual se vislumbra o importante
papel da equipe diretiva escolar que tanto pode contribuir para manter essa loacutegica
individualizada de praacuteticas pedagoacutegica estanques e individualizadas no interior da
escola como tambeacutem pode favorecer a instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos para
discutir e refletir sobre as praacuteticas pedagoacutegicas e suas implicaccedilotildees no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes Assim a instituiccedilatildeo de uma gestatildeo democraacutetica no
entanto pode ser um caminho para possibilitar trocas e compartilhamentos fazendo
circular novas formas de se fazer a gestatildeo escolar Paro (2016a) salienta ainda que
a gestatildeo democraacutetica dentre outros fatores implica na participaccedilatildeo de todos os
envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes nas decisotildees sobre os
objetivos e funcionamento da escola o que pode culminar dessa forma em
melhores condiccedilotildees para reivindicar junto ao Estado os recursos necessaacuterios para
viabilizar as accedilotildees no acircmbito escolar
No que tange portanto agrave equipe diretiva frente ao processo de
implementaccedilatildeo do AEE identifica-se um papel fundamental dessa dentre outros
aspectos no tocante agrave formaccedilatildeo continuada dos profissionais na construccedilatildeo
coletiva do projeto poliacutetico pedagoacutegico da escola na proposiccedilatildeo de momentos de
discussatildeo das questotildees pertinentes ao processo de escolarizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial
No proacuteximo capiacutetulo se apresentaraacute um balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica
brasileira concernente agrave temaacutetica ―gestatildeo escolar e Atendimento Educacional
Especializado referente ao periacuteodo de 2011 a 2015
38
14 A produccedilatildeo acadecircmica brasileira sobre Gestatildeo Escolar e Atendimento
Educacional Especializado um campo a explorar
O mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica teve como objetivo conhecer as
pesquisas que tenham abordado a temaacutetica da gestatildeo escolarequipe diretiva
escolar em relaccedilatildeo ao AEE Para tanto realizou-se uma pesquisa em quatro bases
de dados 1) ANPEd (Associaccedilatildeo Nacional de Pesquisadores em Educaccedilatildeo mais
especificamente no GT 15 ndash Educaccedilatildeo Especial) 2) CAPES (Banco de Teses e
Dissertaccedilotildees da Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior) 3)
BDTD (Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertaccedilotildees) e 4) SciELO (Biblioteca
Cientiacutefica Eletrocircnica Online)13
A busca utilizou primeiramente os descritores ―equipe diretiva e ―AEE
Contudo nenhuma produccedilatildeo foi encontrada Com isso optou-se por construir
descritores14 que se aproximassem do tema proposto como ―gestatildeo escolar
―supervisor educacional ―orientador educacional ―diretor educacional e
―coordenaccedilatildeo pedagoacutegica como referecircncia para listar a produccedilatildeo cientiacutefica na aacuterea
de Educaccedilatildeo sendo que as expressotildees foram pesquisadas no campo palavras-
chave
A tabela a seguir mostra os resultados das buscas realizadas nas referidas
bases de dados No total foram encontrados cinco trabalhos sobre a temaacutetica no
periacuteodo considerado (2011 a 2015) dos quais dois referiram-se especificamente agrave
gestatildeo escolar e AEE dois agrave supervisatildeo educacional e a coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e
AEE e um sobre sala de apoio pedagoacutegico e coordenaccedilatildeo pedagoacutegica
Tabela 1 ndash Mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica brasileira sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Fonte Expressotildees Pesquisadas Resultado Geral
ANPEd Nacional
(GT 15)
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial
Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva gestatildeo escolar + AEE
gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE
2
14
Na Tabela 1 satildeo especificados todos os descritores utilizados neste balanccedilo da produccedilatildeo cientiacutefica
39
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
BDTD
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE
Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva
gestatildeo escolar + AEE gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
1
CAPES
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE
Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva
gestatildeo escolar + AEE gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
inclusatildeo diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE
diretor +educaccedilatildeo especial diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva
supervisor Educacional + AEE supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo
orientador Educacional +educaccedilatildeo especial orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva
orientador Educacional + AEE
2
SciELO
Equipe diretiva + educaccedilatildeo inclusiva Equipe diretiva + AEE Equipe diretiva +educaccedilatildeo especial
Equipe diretiva + inclusatildeo gestatildeo escolar + educaccedilatildeo inclusiva gestatildeo escolar + AEE
gestatildeo escolar +educaccedilatildeo especial gestatildeo escolar + inclusatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo inclusiva
coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + AEE coordenaccedilatildeo pedagoacutegica + educaccedilatildeo especial coordenaccedilatildeo pedagoacutegica +
0
40
inclusatildeo
diretor + educaccedilatildeo inclusiva diretor + AEE diretor +educaccedilatildeo especial
diretor + inclusatildeo supervisatildeo educacional + educaccedilatildeo inclusiva supervisor Educacional + AEE
supervisor Educacional +educaccedilatildeo especial supervisor Educacional + inclusatildeo orientador Educacional +educaccedilatildeo especial
orientador Educacional + inclusatildeo orientador educacional + educaccedilatildeo inclusiva orientador Educacional + AEE
Total 05
Fonte Primaacuteria (2016)
O resultado da pesquisa demonstrou uma baixa quantidade de trabalhos que
abrangessem a temaacutetica revelando a ―gestatildeo escolar e o AEE como um campo de
estudos e pesquisas ainda a ser explorado Dentre os cinco trabalhos encontrados
dois corresponderam a artigos e trecircs a dissertaccedilotildees de mestrado Na tabela a
seguir estatildeo descritos os tiacutetulos dos trabalhos bem como seus autores e a
instituiccedilatildeo de ensino em que foram produzidos
Tabela 2 ndash Trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Autor (Ano) Tiacutetulo Tipo de
Trabalho
Instituiccedilatildeo de
Ensino Fonte
Vioto
(2013)
O papel do supervisor pedagoacutegico no processo de inclusatildeo de alunos com
necessidades educacionais especiais uma pesquisa colaborativa
Dissertaccedilatildeo de
Mestrado
Universidade do
Oeste Paulista BDTD
Silveira (2012)
Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o acompanhamento como fator de mudanccedila
Artigo Universidade
Federal do Cearaacute
ANPEd Nacional (GT 15)
Vioto e Vitaliano
(2012)
O papel da gestatildeo pedagoacutegica frente ao processo de inclusatildeo dos alunos com
necessidades educacionais especiais
Artigo Universidade do Oeste Paulista
ANPEd Nacional
(GT 15)
Lira
(2012)
A coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e o processo de inclusatildeo do aluno com necessidades
educacionais especiais um estudo de caso
Dissertaccedilatildeo de
Mestrado
Universidade
Federal do Rio Grande do Norte
CAPES
Santos (2011)
Gestatildeo escolar para uma escola inclusiva conquistas e desafios
Dissertaccedilatildeo de Mestrado
Universidade do Oeste Paulista
CAPES
Fonte Primaacuteria (2016)
Nota-se que os trabalhos foram produzidos por diferentes instituiccedilotildees de
ensino que abrangem apenas as regiotildees sudeste e nordeste do Brasil
Um ponto que chamou atenccedilatildeo portanto foi a recorrecircncia de pesquisas
publicadas na regiatildeo sudeste do Brasil pela Universidade do Oeste Paulista Tal
recorrecircncia entretanto pode estar vinculada ao fato do programa de mestrado em
41
Educaccedilatildeo da UNOESTE disponibilizar uma linha de pesquisa intitulada Instituiccedilatildeo
Educacional Organizaccedilatildeo e Gestatildeo favorecendo assim a incidecircncia de pesquisas
na aacuterea de gestatildeo escolar
As produccedilotildees acadecircmicas apresentaram em comum uma discussatildeo da
relaccedilatildeo entre um dos profissionais que compotildeem a gestatildeo escolar e a educaccedilatildeo
especialinclusiva com exceccedilatildeo dos estudos de Silveira (2012) e Santos (2011) que
versaram suas discussotildees abordando mais profissionais que constituem a gestatildeo
escolar Pelo fato de que nas pesquisas encontradas somente o estudo de Silveira
(2012) tomou a equipe diretiva como um todo por objeto de estudo considera-se
que esse artigo pode se configurar como mais um avanccedilo na exploraccedilatildeo das
relaccedilotildees entre gestatildeo escolar e AEE pois parte do princiacutepio que a gestatildeo escolar eacute
formada por uma equipe com accedilotildees articuladas no que se refere agrave realizaccedilatildeo desse
atendimento no acircmbito escolar e por isso se propotildee a estudar essa gestatildeo a partir
do conjunto de profissionais (diretor supervisorcoordenador e orientador) que a
compotildeem Na Tabela 3 a seguir satildeo especificados os objetivos dos trabalhos
mapeados
Tabela 3 ndash Objetivos dos trabalhos que relacionaram a temaacutetica sobre Gestatildeo EscolarEquipe Diretiva e a Inclusatildeo EscolarEducaccedilatildeo EspecialAEE no periacuteodo de 2011 a 2015
Autor
(Ano) Tiacutetulo Objetivo do Trabalho
Vioto
(2013)
O papel do supervisor pedagoacutegico no processo de inclusatildeo de alunos com
necessidades educacionais especiais uma pesquisa colaborativa
Desenvolver um processo de intervenccedilatildeo junto agrave Supervisatildeo Pedagoacutegica de uma escola Municipal de Londrina que ofereccedila Ensino Fundamental I com vistas a favorecer o
processo de inclusatildeo de alunos com NEE no ensino regular por meio de uma pesquisa colaborativa
Silveira
(2012)
Gestatildeo e organizaccedilatildeo da escola para a inclusatildeo o
acompanhamento como fator de mudanccedila
Apresentar elementos de uma pesquisa desenvolvida em uma escola puacuteblica da rede municipal de uma capital do Nordeste Buscamos evidenciar as caracteriacutesticas da gestatildeo
da escola e aplicar estrateacutegias de acompanhamento visando agrave transformaccedilatildeo das praacuteticas de gestatildeo
Vioto e
Vitaliano (2012)
O papel da gestatildeo pedagoacutegica
frente ao processo de inclusatildeo dos alunos com necessidades educacionais especiais
Contribuir para a reflexatildeo sobre o papel do gestor
pedagoacutegico frente ao processo de construccedilatildeo de escolas inclusivas
Lira
(2012)
A coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e o processo de inclusatildeo do aluno
com necessidades educacionais especiais um estudo de caso
Centrar no papel coordenaccedilatildeo pedagoacutegica em face
da inclusatildeo escolar de alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE)
Santos
(2011)
Gestatildeo escolar para uma escola inclusiva conquistas e
desafios
Identificar as accedilotildees desenvolvidas pela gestatildeo escolar com vistas a construir uma escola inclusiva em uma escola
puacuteblica
Fonte Primaacuteria (2016)
42
Partindo dos objetivos das produccedilotildees acadecircmicas buscou-se extrair delas
algumas compreensotildees consideradas pertinentes ao presente estudo Para isso as
referidas produccedilotildees foram organizadas em duas sessotildees de anaacutelise
A primeira sessatildeo de anaacutelise integra duas pesquisas sobre a gestatildeo escolar
de autoria de Silveira (2012) e Santos (2011) que se debruccedilaram sobre o papel da
gestatildeo escolar na constituiccedilatildeo de uma escola inclusiva Na pesquisa de Silveira
(2012) um artigo resultante de sua tese de doutorado defendida em 2009 analisou
a atuaccedilatildeo do grupo gestor (diretor(a) supervisor (a) e orientador (a) por meio da
teacutecnica da pesquisa-accedilatildeo colaborativa empreendendo uma intervenccedilatildeo e
acompanhamento de uma escola por um periacuteodo de 28 meses A pesquisa buscou
―evidenciar as caracteriacutesticas da gestatildeo da escola e aplicar estrateacutegias de
acompanhamento visando agrave transformaccedilatildeo das praacuteticas de gestatildeo mudanccedila de
concepccedilotildees e na cultura do acolhimento e da cultura de desenvolvimento
profissional (SILVEIRA 2012 p 1)
A autora ressaltou que ao longo da pesquisa foram perceptiacuteveis os avanccedilos
na escola pesquisada e cita como exemplo a vivecircncia de uma
[] nova perspectiva de atendimento [que] provocou aleacutem do acolhimento do estudante com deficiecircncia uma tomada de consciecircncia da forma de organizaccedilatildeo e gestatildeo da escola bem como da inadequaccedilatildeo dos meacutetodos pedagoacutegicos tradicionais O diretor ao assumir a escola natildeo conhecia os pressupostos baacutesicos de uma escola inclusiva Essa era a sua primeira experiecircncia como gestor e era visiacutevel sua inseguranccedila decorrente da falta de experiecircncia no cargo Durante cerca de dois anos e meio na escola pudemos perceber a sua evoluccedilatildeo ou seja ele passa de uma atuaccedilatildeo inicial insegura pouco firme no sentido das tomadas de decisotildees para accedilotildees e posiccedilotildees mais determinadas e coerentes (SILVEIRA 2012 p 4)
Em sua anaacutelise a autora expocircs ainda que o ―acompanhamento e a gestatildeo
compartilhada satildeo beneacuteficos sendo essencial que os membros da escola busquem
cada vez mais o aperfeiccediloamento de praacuteticas de colaboraccedilatildeo (SILVEIRA 2009 p
8) Salientou ainda que para colocar em praacutetica uma gestatildeo escolar que leve em
conta a construccedilatildeo de uma escola pautada em princiacutepios democraacutetico-participativos
eacute preciso pensar em programas de formaccedilatildeo de gestores que se encaminhem para
aleacutem dos programas tradicionais de formaccedilatildeo burocraacutetica investindo em um
trabalho colaborativo no acircmbito escolar
43
Contudo sabendo que as transformaccedilotildees percebidas ocorreram em parte
mediante acompanhamento e momentos de formaccedilatildeo propostos pela pesquisadora
com a equipe gestora e professores evidencia-se a importacircncia da formaccedilatildeo
continuada em serviccedilo que contribua para a praacutetica escolar reflexiva e para o
desenvolvimento da autonomia dos gestores escolares de modo que possam criar
condiccedilotildees para praacuteticas democraacuteticas-participativas no acircmbito escolar
A pesquisa de Santos (2011) por sua vez se propocircs a identificar as accedilotildees
desenvolvidas pela gestatildeo escolar (diretor (a) vice-diretor(a) e coordenador(a)
pedagoacutegico) na constituiccedilatildeo do serviccedilo de Educaccedilatildeo Especial na escola A autora
evidenciou que a efetivaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial no acircmbito da escola pesquisada
ainda se mostrava um desafio uma vez que os gestores pesquisados natildeo tinham
definido o conceito e os princiacutepios que orientariam tal proposta bem como
―apresentaram praacuteticas de gestatildeo escolar para a Educaccedilatildeo Especial pontuais
isoladas e natildeo estando fundamentadas organizadas ou planejadas nas diretrizes
gerais da escola (SANTOS 2011 p 79) Os resultados de seu estudo convidam agrave
reflexatildeo sobre a importacircncia de se conhecer as concepccedilotildees da equipe diretiva
acerca das propostas de Educaccedilatildeo Especial e como tais concepccedilotildees se articulam
com sua forma de trabalho
Na segunda seccedilatildeo de anaacutelise da tabela 3 se localizam os trabalhos que
discutiram o papel do(a) CoordenadorSupervisor(a) Pedagoacutegico frente ao processo
de construccedilatildeo de uma proposta de Educaccedilatildeo Inclusiva Entre esses estatildeo as
pesquisas de Vioto e Vitaliano (2012) Lira (2012) e Vioto (2013) Aleacutem do objeto de
estudo evidenciou-se outro ponto em comum que eacute a defesa da potecircncia do
trabalho colaborativo na escola para o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Vioto e Vitaliano (2012) realizaram uma pesquisa bibliograacutefica com o objetivo
de contribuir para a reflexatildeo sobre o papel do coordenador pedagoacutegico frente ao
processo de construccedilatildeo de escolas inclusivas Como resultado as autoras inferem
que para a constituiccedilatildeo de uma escola inclusiva o coordenador pedagoacutegico tem
atribuiccedilotildees importantes a serem desenvolvidas no acircmbito escolar como auxiliar os
professores no desenvolvimento de metodologias e estrateacutegias de ensino
diferenciadas que favoreccedila o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial Aleacutem disso estaacute entre suas atribuiccedilotildees possibilitar
momentos de formaccedilatildeo e reflexatildeo em relaccedilatildeo agraves praacuteticas pedagoacutegicas de modo
44
que todos os profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
possam ―participar na definiccedilatildeo dos objetivos no planejamento bem como na
elaboraccedilatildeo de propostas e planos de accedilatildeo que possibilite a quebra das barreiras
que estejam impedindo o processo de aprendizagem (VIOTO E VITALIANO 2012
p 14)
A pesquisa de Lira (2012) por sua vez teve como objetivo investigar a
atuaccedilatildeo dos coordenadores pedagoacutegicos no processo de inclusatildeo dos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial A autora identificou em sua pesquisa que os
coordenadores pedagoacutegicos assumiam uma rotina na escola de resoluccedilatildeo de
problemas urgentes e emergentes como falta de profissionais de condiccedilotildees fiacutesicas
estruturais e materiais precarizando a realizaccedilatildeo de suas funccedilotildees Demandas como
essas podem desfavorecer a atuaccedilatildeo do coordenador (a) pedagoacutegico(a) com os
professores e demais especialistas visto que esse profissional passa a voltar-se
mais a demandas burocraacuteticas secundarizando os demais aspectos como o
pedagoacutegico
Assim as atribuiccedilotildees pertinentes ao(agrave) Coordenador(a) Pedagoacutegico(a) como
o auxiacutelio aos professores o planejamento de momentos formativos compara os
professores e a elaboraccedilatildeo de forma coletiva do projeto-politico pedagoacutegico da
instituiccedilatildeo dentre outras satildeo desvirtuadas de seu propoacutesito comprometendo a
constituiccedilatildeo de um trabalho colaborativo dialoacutegico e reflexivo dentro do espaccedilo
escolar
Jaacute Vioto (2013) em seu estudo se pautou na metodologia de pesquisa
colaborativa e realizou uma intervenccedilatildeo direta na escola auxiliando-a na construccedilatildeo
de um trabalho colaborativo o qual resultou em uma reestruturaccedilatildeo das relaccedilotildees
construiacutedas na escola Como colocou a autora
[] os resultados evidenciaram que a supervisora pedagoacutegica e a maioria dos professores inicialmente apresentavam concepccedilotildees equivocadas a respeito do processo de inclusatildeo o qual foi trabalhado em ciclos de estudos conversas reflexivas e atuaccedilotildees colaborativas envolvendo pesquisadora e os participantes Tambeacutem foram discutidos o papel do professor de apoio e da sala de recursos junto agrave supervisora pedagoacutegica e as praacuteticas pedagoacutegicas dos professores em sala de aula As experiecircncias e reflexotildees proporcionadas por esta pesquisa nos permitiram constatar e reafirmar a importacircncia do trabalho do supervisor pedagoacutegico no que se refere agrave organizaccedilatildeo da escola inclusiva bem como as contribuiccedilotildees do trabalho colaborativo como meio de formaccedilatildeo dos profissionais da aacuterea da educaccedilatildeo [] (VIOTO 2013 p 07)
45
O trabalho colaborativo realizado entre pesquisadora e profissionais da escola
por meio de experiecircncias e reflexotildees remeteu agrave constataccedilatildeo desse como um
aspecto importante a se considerar ao refletir sobre o papel da gestatildeo escolar frente
ao processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Pode-se pensar nesse sentido que o trabalho colaborativo emerge como um dos
meios para que o vieacutes democraacutetico-participativo da gestatildeo proposto nos documentos
oficiais seja vivenciado no cotidiano escolar
Garcia Hypoacutelito e Vieira (2005) fazem um contraponto agraves possibilidades do
trabalho colaborativo na escola o qual pode ser instituiacutedo tambeacutem de forma
perversa de modo a conformar praacuteticas no interior da escola Sobre esse aspecto de
entendimento os autores explicam ainda que
[] muitas vezes essas praacuteticas de colaboraccedilatildeo podem ser colonizadas e controladas pelas burocracias educacionais tornando tais praacuteticas uma verdadeira ―camisa-de-forccedila ora pela imposiccedilatildeo de formas colegiadas de trabalho ora por procedimentos burocraacuteticos que satildeo a proacutepria antiacutetese de um profissionalismo autocircnomo (GARCIA HYPOacuteLITO E VIEIRA 2005 p50)
Assim haacute que se pensar o trabalho colaborativo de forma contextualizada
considerando suas possibilidades e contradiccedilotildees Como alerta Paro (2016a p55)
natildeo se pode esperar por condiccedilotildees excelentes de trabalho proporcionarem por si
soacute ―a ocorrecircncia de relaccedilotildees democraacuteticas e colaborativas da mesma forma natildeo haacute
como ignorar que a ausecircncia dessas condiccedilotildees pode contribuir para o retardamento
de mudanccedilas que favoreccedilam o estabelecimento de tais relaccedilotildees
Perante o exposto o desafio posto agraves equipes diretivas eacute conseguir constituir
um trabalho dentro dos espaccedilos escolares envolvendo a participaccedilatildeo dos
professores e demais profissionais pais e estudantes na constituiccedilatildeo dos objetivos
e nos processos decisoacuterios da instituiccedilatildeo como forma de obter melhores condiccedilotildees
para pleitear junto aos sistemas de ensino os recursos necessaacuterios para a
realizaccedilatildeo das accedilotildees dentro da escola
Nesse sentido a questatildeo do trabalho colaborativo e participativo as
condiccedilotildees objetivas de trabalho e as concepccedilotildees acerca de questotildees que envolvem
a Educaccedilatildeo Especial surgem como pontos de tensatildeo relevantes e cuja discussatildeo
pode contribuir para o que esta pesquisa se propotildee a investigar as compreensotildees
das equipes diretivas escolares sobre Atendimento Educacional Especializado e
suas formas de viabilizaacute-lo
46
2 PROCESSO DE CONSTITUICcedilAtildeO DA PESQUISA CAMINHOS TRACcedilADOS E PERCORRIDOS
Com o objetivo de Investigar as compreensotildees das equipes diretivas
escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado e suas formas de
viabilizaacute-lo na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute realizou-se uma pesquisa de
abordagem qualitativa que tem como fundamento alguns pressupostos da base
epistecircmico-metodoloacutegica do materialismo histoacuterico e dialeacutetico que ―[] percebe os
sujeitos como histoacutericos datados concretos marcados por uma cultura como
criadores de ideias e consciecircncia que ao produzirem e reproduzirem a realidade
social satildeo ao mesmo tempo produzidos e reproduzidos por ela (FREITAS 2002 p
22)
A partir dessa perspectiva de sujeito a abordagem qualitativa mostrou-se
profiacutecua para alcanccedilar os objetivos da pesquisa uma vez que nela se ―[] busca a
interpretaccedilatildeo em lugar da mensuraccedilatildeo a descoberta em lugar da constataccedilatildeo []
[levando] em conta todos os componentes de uma situaccedilatildeo em suas interaccedilotildees e
influecircncias reciprocas (GATTI e ANDREacute 2013 p 30) Ressalta-se ainda que
[] as pesquisas chamadas de qualitativas vieram a se constituir em uma modalidade investigativa que se consolidou para responder ao desafio da compreensatildeo dos aspectos formadoresformantes do humano de suas relaccedilotildees e construccedilotildees culturais em suas dimensotildees grupais comunitaacuterias ou pessoais (GATTI e ANDREacute 2013 p 30)
Utilizar a abordagem qualitativa para a execuccedilatildeo de uma pesquisa nesse
sentido implica considerar tanto os dados obtidos na investigaccedilatildeo quanto o
contexto em que esses dados satildeo produzidos procurando compreender os aspectos
histoacuterico-sociais tendo em vista as especificidades e a natildeo neutralidade do
pesquisador (LUumlDKE e ANDREacute 2013)
47
21 Os caminhos da pesquisa local participantes e instrumentos
Com relaccedilatildeo ao local de realizaccedilatildeo da pesquisa foi escolhida a Rede
Municipal de Ensino de Camboriuacute muniacutecipio localizado no litoral norte de Santa
Catarina com uma populaccedilatildeo aproximada de 74434 habitantes (IBGE 2015)
Essa Rede eacute gerenciada pela Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo e atualmente
atende aos seguintes niacuteveis de ensino Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e
Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos ndash EJA
De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais de 2015 o nuacutemero total de alunos matriculados na Rede Municipal de
Ensino em 2015 eacute de 10401 estudantes (INEP 2015)
O caminho percorrido no processo de coleta de dados envolveu
primeiramente a realizaccedilatildeo de uma reuniatildeo com a Coordenaccedilatildeo Geral de Educaccedilatildeo
e a Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria de Educaccedilatildeo de Camboriuacute com o
objetivo de levantar informaccedilotildees consideradas relevantes para a constituiccedilatildeo da
pesquisa como o nuacutemero total de escolas municipais o nuacutemero de escolas que
ofertam o AEE e a composiccedilatildeo da equipe gestora da escola
Os dados obtidos na reuniatildeo apontaram que a Rede Municipal de Ensino de
Camboriuacute contava em 2015 com 12 escolas urbanas e 03 escolas de campo
Em relaccedilatildeo agrave equipe gestora foco desta pesquisa informou-se que era
composta na maioria das escolas pelo(a) diretor(a) supervisor(a) e orientador(a)
Na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute a oferta do Atendimento
Educacional Especializado teve seu iniacutecio em 2013 e portanto pode-se dizer que se
trata de um serviccedilo recente que estaacute em processo de constituiccedilatildeo no municiacutepio
Em relaccedilatildeo aos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial a
Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo informou que foram
matriculados em 2015 166 estudantes em classes comuns nas escolas municipais
da Rede Assim ao consultar a base de dados do INEP de 2015 identificou-se um
nuacutemero de 182 estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial matriculados na
referida Rede observando uma diferenccedila de 16 estudantes
Ao comparar os dados fornecidos pelo INEP referentes ao ano de 2015
(INEP 2015) no que tange ao nuacutemero de matriacuteculas na Educaccedilatildeo Especial (182) na
Rede Municipal de Camboriuacute com os dados relativos ao total de matriculas (10401)
48
pocircde-se constatar que o percentual de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo
Especial correspondeu no referido ano a 2 do nuacutemero total de alunos
matriculados nessa Rede
Considerando esse dado para a seleccedilatildeo dos participantes estabeleceram-se
quatro criteacuterios de inclusatildeo de acordo com os quais a equipe diretiva deveria
1) Ser composta por diretor(a) escolar supervisor(a)coordenador(a)
pedagoacutegico e orientador(a) educacional
2) Atuar na Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute
3) Atuar em escola com estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
4) Ter o questionaacuterio respondido por todos os seus integrantes
A partir dessas informaccedilotildees elaborou-se o projeto desta pesquisa e em
consonacircncia com os objetivos deste estudo escolheu-se um instrumento de coleta
de dados que pudesse contribuir com o processo de compreensatildeo da relaccedilatildeo entre
a equipe diretiva e o Atendimento Educacional Especializado
Para a coleta de dados junto agrave equipe diretiva optou-se pelo questionaacuterio
que conforme Gil (1999 p 128) pode ser definido
[] como a teacutecnica de investigaccedilatildeo composta por um nuacutemero mais ou menos elevado de questotildees apresentadas por escrito agraves pessoas tendo por objetivo o conhecimento de opiniotildees crenccedilas sentimentos interesses expectativas situaccedilotildees vivenciadas etc
A escolha do questionaacuterio como instrumento de coleta de dados converge
com a busca por dados mais abrangentes capilarizados que ajudem a tirar uma
foto da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute no que tange agrave relaccedilatildeo entre equipe
diretiva e o AEE
Apoacutes a elaboraccedilatildeo do projeto marcou-se uma segunda reuniatildeo para
apresentaacute-lo agraves coordenadoras da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo que leram o
projeto e relataram que o referido estudo se apresentava como uma forma de a
Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo compreender o que precisa ser potencializado e o
que se mostra como exemplo positivo no que tange agrave gestatildeo escolar e o AEE
A Coordenadora Geral da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo representando a
Secretaacuteria de Educaccedilatildeo se mostrou favoraacutevel agrave realizaccedilatildeo do projeto assinando o
Termo de Consentimento de Instituiccedilatildeo Coparticipante (Anexo I) Posteriormente a
pesquisadora inscreveu o projeto de pesquisa na Plataforma Brasil que foi
apreciado e aprovado pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da Universidade da Regiatildeo
49
de Joinville sob o Parecer Consubstanciado nordm 1223204 de 11 de setembro de
2015 (Anexo II) que atendeu ao descrito na Resoluccedilatildeo Nordm 4662012 (CONSELHO
NACIONAL DE SAUacuteDE 2012)
Realizou-se entatildeo uma terceira visita agraves coordenadoras da Secretaria
Municipal de Educaccedilatildeo para obter a autorizaccedilatildeo para a aplicaccedilatildeo piloto do
questionaacuterio elaborado para coleta de dados Solicitou-se agraves coordenadoras nesse
encontro a indicaccedilatildeo de duas escolas municipais de ensino fundamental do 1ordm ao 9ordm
ano para iniciar a realizaccedilatildeo da aplicaccedilatildeo do preacute-teste do instrumento da pesquisa
nesse caso o questionaacuterio Acredita-se que a aplicaccedilatildeo do preacute-teste em duas
escolas poderia conferir mais seguranccedila quanto agrave aplicaccedilatildeo do instrumento nas
demais escolas Nesse sentido o preacute-teste eacute considerado essencial uma vez que
pode contribuir para melhorar o instrumento de coleta de dados a partir de
sugestotildees dos proacuteprios participantes
De posse do nome das 2 escolas indicadas pelas coordenadoras da
Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute iniciou-se o contato junto agraves
escolas para agendar uma visita para explanaccedilatildeo da pesquisa e aplicaccedilatildeo do
instrumento utilizado para a coleta de dados um questionaacuterio autoaplicaacutevel
constituiacutedo por 27 questotildees sendo 11 perguntas abertas e 10 perguntas abertas e
fechadas e 06 perguntas fechadas
Ao chegar nas escolas a pesquisadora era encaminhada agrave sala da direccedilatildeo e
com a presenccedila do(a) direitor(a) supervisor(a) e orientador(a) iniciava a explicaccedilatildeo
sobre a pesquisa e o objetivo da preacute-testagem do questionaacuterio salientando que esse
era um momento importante para os participantes contribuiacuterem com o
aperfeiccediloamento do instrumento apontando possiacuteveis inconsistecircncias ou
necessidade de retirar acrescentar ou modificar alguma informaccedilatildeo Contudo ao
finalizar a aplicaccedilatildeo da preacute-testagem do questionaacuterio (Anexo II) foi evidenciado
pelos participantes que natildeo havia necessidade de alteraccedilotildees assim essas duas
escolas foram incluiacutedas na pesquisa
Diante disso prosseguiu-se com a efetiva aplicaccedilatildeo do questionaacuterio nas
demais escolas durante os meses de outubro e novembro de 2015 totalizando uma
abrangecircncia de 11 escolas municipais urbanas15 Assim das 12 escolas urbanas
15
O municiacutepio de Camboriuacute possui 12 escolas urbanas e 03 de Campo Uma escola urbana natildeo conseguiu responder ao questionaacuterio E nas 03 escolas municipais de campo os questionaacuterios natildeo foram aplicados pois a Coordenadora de Inclusatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo informou que
50
pesquisadas apenas 1 ficou sem responder ao questionaacuterio devido agraves demandas
de final de ano letivo O agendamento das visitas agraves escolas foi realizado via contato
telefocircnico com o(a) diretor(a) e durante as visitas primeiramente explanou-se a
pesquisa para o(a) diretor(a) para em seguida deixar os envelopes que continham
os questionaacuterios combinando com o(a) diretor(a) o prazo de uma semana para
buscaacute-los Dentro do envelope estava anexa ao questionaacuterio uma carta agrave equipe
diretiva (Anexo I) convidando a participar da pesquisa bem como uma coacutepia do
TCLE (Anexo III) destacando o caraacuteter voluntaacuterio e sigiloso da pesquisa
explicitando que os questionaacuterios respondidos ficariam sob a guarda e a
responsabilidade da pesquisadora por um periacuteodo de cinco anos sendo apoacutes esse
prazo descartados
Em cada escola que a pesquisadora se dirigia para buscar os questionaacuterios
tomava o cuidado de realizar a conferecircncia do preenchimento do TCLE junto ao
questionaacuterio respondido
Observou-se ainda que das 11 escolas participantes em somente 07 todos
os integrantes da equipe diretiva responderam ao questionaacuterio Nas demais
evidenciou-se que pelo menos um dos integrantes natildeo havia respondido Dessa
forma atenderam ao criteacuterio de inclusatildeo desta pesquisa somente 07 escolas cuja
equipe diretiva completa respondeu ao questionaacuterio
Em siacutentese foram aplicados 36 questionaacuterios sendo 32 respondidos poreacutem
apenas 22 foram considerados vaacutelidos de acordo com os criteacuterios de inclusatildeo desta
pesquisa Nessa direccedilatildeo foram computados para a anaacutelise de dados as respostas
de um total de 22 participantes sendo 07 diretores(as) 08 supervisores(as) 07
orientadores(as) A seguir seraacute detalhada a trajetoacuteria seguida no processo de
anaacutelise dos dados coletados
22 Seguindo o itineraacuterio organizaccedilatildeo e anaacutelise dos dados
O processo de anaacutelise das respostas obtidas nos questionaacuterios aplicados foi
baseado na Anaacutelise de Conteuacutedo (BARDIN 1977 FRANCO 2012) Para Franco
(2012 p23) a anaacutelise de conteuacutedo eacute ―um procedimento de pesquisa que se situa
estas escolas natildeo tinham a sala de recursos multifuncionais e tampouco estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
51
em um delineamento mais amplo da teoria da comunicaccedilatildeo e tem como ponto de
partida a mensagem A autora enfatiza ainda que
[] as mensagens expressam as representaccedilotildees sociais na qualidade de elaboraccedilotildees mentais construiacutedas socialmente a partir da dinacircmica que se estabelece entre a atividade psiacutequica do sujeito e o objeto do conhecimento Relaccedilatildeo que se daacute na praacutetica social e histoacuterica da humanidade e que se generaliza na linguagem [] a anaacutelise de conteuacutedo assenta-se nos pressupostos de uma concepccedilatildeo criacutetica e dinacircmica da linguagem Linguagem aqui entendida como uma construccedilatildeo real de toda a sociedade e como expressatildeo da existecircncia humana que em diferentes momentos histoacutericos elabora e desenvolve representaccedilotildees sociais no dinamismo interacional que se estabelece entre linguagem pensamento e accedilatildeo (FRANCO 2012 p 12-13)
A partir da exposiccedilatildeo da autora pode-se compreender que na anaacutelise de
conteuacutedo considera-se aleacutem das mensagens impliacutecitas e expliacutecitas o contexto
histoacuterico no qual seus produtores estatildeo inseridos
De posse dos 22 questionaacuterios vaacutelidos seguiu-se com a transcriccedilatildeo das
respostas para uma planilha de Excel organizando-as de duas formas por escola e
por questatildeo As que foram efetivamente utilizadas foram as planilhas organizadas
por questatildeo pois se considerou que propiciavam uma visualizaccedilatildeo mais clara
A identificaccedilatildeo dos respondentes foi realizada por meio de coacutedigos formados
por letras e nuacutemeros As escolas foram representadas por nuacutemeros de 1 a 7 Jaacute os
profissionais da equipe diretiva foram identificados por letras ―EDd para referir-se agrave
fala do(a) diretor(a) ―EDs do(a) supervisor(a) e ―EDo do(a) orientador(a) Para
uma melhor compressatildeo exemplifica-se ―ED1s refere-se a(o) Supervisor(a) da
Escola 1 ―ED4d ao(a) Diretor(a) da Escola 4 e assim por diante
Para as questotildees fechadas do questionaacuterio foram elaborados graacuteficos e
caacutelculos de porcentagem para auxiliar na compreensatildeo do perfil dos participantes
que pode ser conferido no capiacutetulo seguinte que versa sobre a caracterizaccedilatildeo dos
participantes da pesquisa Jaacute para as questotildees abertas optou-se por realizar uma
anaacutelise sem o apoio dos graacuteficos mas sim de quadros em sua maioria procurando
ilustrar e focalizar a articulaccedilatildeo das respostas obtidas com as teorias existentes
Diante do exposto a anaacutelise de dados dessa pesquisa ocorreu por meio de
uma leitura minuciosa dos dados para observar possiacuteveis recorrecircncias
contradiccedilotildees e complementaridades a fim de constituir os primeiros indicadores de
anaacutelise A partir desses indicadores foram criadas as categorias de anaacutelise sem
deixar de considerar para sua elaboraccedilatildeo os pontos relevantes apontados por outras
52
pesquisas e pela teoria e que eventualmente tenham sido silenciados pelos
participantes da pesquisa Esse eacute um processo longo e trabalhoso mas como
destaca Franco (2012 p 59) a criaccedilatildeo de categorias eacute ―o ponto crucial da anaacutelise
de conteuacutedo Ainda segundo a autora ―a categorizaccedilatildeo eacute uma operaccedilatildeo de
classificaccedilatildeo de elementos constitutivos de um conjunto por diferenciaccedilatildeo seguida
de um reagrupamento baseado em analogias (FRANCO 2012 p 59) Vale
ressaltar que esse processo de anaacutelise de dados requer visitas constantes agrave teoria e
ao material de anaacutelise buscando as articulaccedilotildees pertinentes A categorizaccedilatildeo dos
dados deste estudo foi realizada a posteriori a partir da construccedilatildeo de indicadores
que estatildeo em consonacircncia com os objetivos desta pesquisa conforme explicitado
no Quadro 1 a seguir
Quadro 1 ndash Categorias de anaacutelise e suas relaccedilotildees com os objetivos da pesquisa
Objetivos da pesquisa
Categorias Indicadores Perguntas do questionaacuterio relacionadas
- Revelar a compreensatildeo da equipe diretiva escolar acerca do serviccedilo de AEE e do puacuteblico-alvo da EE - Evidenciar o que a equipe diretiva escolar conhece sobre o trabalho do professor do AEE
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
O serviccedilo em si o puacuteblico alvo da EE e o trabalho docente
11 12 13 14 15 19 21 22 e 23
- Identificar os procedimentos que tecircm sido adotados pela equipe diretiva escolar na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
O papel da equipe diretiva Acessibilidade arquitetocircnica Recursos materiais e pedagoacutegicos Se o AEE estaacute comtemplado no Projeto poliacutetico-pedagoacutegico e Desafios na viabilizaccedilatildeo do serviccedilo e formas de superaacute-lo
20 16 17 25 26 e 27
Fonte Primaacuteria (2016)
53
A constituiccedilatildeo desta pesquisa seguiu um processo de estudos dos documentos
oficiais e literaturas relacionadas ao Atendimento Educacional Especializado e agrave
gestatildeo escolar procurando selecionar os aspectos mais relevantes para a
construccedilatildeo da fundamentaccedilatildeo teoacuterica e do percurso de anaacutelise dos questionaacuterios
No proacuteximo capiacutetulo seraacute apresentada a anaacutelise dos dados focalizando a
caracterizaccedilatildeo do perfil dos participantes da pesquisa e em seguida adentra-se nas
categorias de anaacutelise a primeira denominada o que pensam as equipes diretivas
escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado e a segunda as
condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe
diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
54
3 O ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO Agrave PARTIR DAS FALAS DAS EQUIPES DIRETIVAS ESCOLARES DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMBORIUacute
Nesta etapa de anaacutelise e discussatildeo dos dados coletados tem-se por objetivo
apresentar as respostas das 22 participantes que compotildeem as equipes diretivas de
7 escolas da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute articulando-as a um
referencial teoacuterico e dialogando com as questotildees de pesquisa mencionadas na
apresentaccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo Salienta-se que do processo de anaacutelise de
conteuacutedo dos dados coletados duas categorias emergiram a primeira diz respeito
ao que pensam as equipe diretiva sobre o Atendimento Educacional Especializado
e o puacuteblico-alvo da EE e o professor especializado e a segunda direcionada a
abordar o papel da equipe diretiva na viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional
Especializado
Nesse sentido o presente capiacutetulo foi organizado em trecircs toacutepicos
Apresentaccedilatildeo da equipe diretiva escolar
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento
Educacional Especializado (primeira categoria de anaacutelise)
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da
equipe diretiva frente agrave viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional
Especializado (segunda categoria de anaacutelise)
Acredita-se que apresentar os participantes deste estudo e suas
compreensotildees sobre o AEE e como viabilizaacute-lo pode contribuir para deflagrar o
modo como o AEE vem se constituindo na Rede Municipal de Camboriuacute e o papel
da gestatildeo escolar nesse processo
55
31 Apresentaccedilatildeo das Equipes Diretivas Escolares16
Participaram desta pesquisa 22 profissionais que compotildeem ao todo 7
equipes diretivas escolares sendo 07 Diretores(as) 07 Orientadores(as)
Educacionais e 08 Supervisores(as) Educacionais As questotildees abordadas nesta
apresentaccedilatildeo do perfil dos participantes fazem parte do primeiro eixo do
questionaacuterio e estatildeo relacionadas agraves suas caracteriacutesticas pessoais e profissionais
Como primeira caracteriacutestica destaca-se a questatildeo de gecircnero Dentre os
profissionais que compotildeem a equipe diretiva escolar nas escolas pesquisadas 17
identificaram-se com o gecircnero feminino e 5 com o masculino Analisando a relaccedilatildeo
gecircnero e funccedilatildeo profissional tem-se a seguinte configuraccedilatildeo exposta no Quadro 2
Quadro 2 - Gecircnero dos integrantes da equipe diretiva escolar por funccedilatildeo
Funccedilatildeo Gecircnero Feminino Gecircnero Masculino
Diretor(a) 6 1
Supervisor(a) 6 2
Orientador(a) 5 2
Fonte Primaacuteria (2016)
Ao pesquisar estudos nacionais e internacionais que traccedilassem o perfil dos
integrantes da equipe diretiva escolar foram encontradas duas pesquisas
desenvolvidas pela Fundaccedilatildeo Victor Civita17 (2009 - 2011) A primeira publicada em
2009 traccedilou o perfil de ―diretores escolares brasileiros A segunda datada de
2011 debruccedilou-se sobre o perfil dos ―coordenadores pedagoacutegicos Tambeacutem foi
encontrado um estudo realizado pela Pesquisa Internacional sobre Ensino e
16
Para compor a anaacutelise e discussatildeo deste item seratildeo utilizadas as respostas do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo As referidas questotildees estatildeo dispostas na seguinte ordem 2 Qual sua funccedilatildeo na escola ( ) diretor diretor (a) [] 1Qual seu ano de Nascimento 4 Vocecirc jaacute atuou como professor de sala de aula 5 Quanto tempo 6 Na sua trajetoacuteria como docente teve alguma experiecircncia com estudante com deficiecircncia 3 Qual sua formaccedilatildeo acadecircmica 7 Qual sua carga horaacuteria hoje na funccedilatildeo em que atua na Rede Municipal de Ensino8 Quanto tempo de serviccedilo vocecirc tem na funccedilatildeo em que ocupa atualmente na Rede Municipal de ensino 9 Vocecirc pertence ao quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino 10) Como vocecirc ingressou na funccedilatildeo em que ocupa em sua escolae 18 Vocecirc teve alguma formaccedilatildeo com temas relacionados ao AEE 17
Em 2009 a Fundaccedilatildeo Victor Civita desenvolveu uma pesquisa para traccedilar o ―Perfil dos Diretores de Escola da Rede Puacuteblica O estudo foi realizado com 400 diretores da educaccedilatildeo baacutesica (Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e Ensino Meacutedio) de 13 capitais brasileiras por meio de entrevistas telefocircnicas e um questionaacuterio estruturado e teve como principal objetivo levantar caracteriacutesticas percepccedilotildees e opiniotildees dos diretores escolares brasileiros aleacutem de prover um retrato desse gestor e uma investigaccedilatildeo da sua relaccedilatildeo com a Educaccedilatildeo Jaacute em 2011 a Fundaccedilatildeo Victor Civita encomendou uma pesquisa agrave Fundaccedilatildeo Carlos Chagas sobre o perfil dos coordenadores pedagoacutegicos (CPs) das escolas puacuteblicas Foram entrevistados 400 CPs de 13 estados brasileiros nas diferentes regiotildees do Brasil
56
Aprendizagem ndash TALIS18 (INEP 2014) que abrangeu o Brasil no estudo sobre o
perfil de ―diretores de educaccedilatildeo baacutesica em 34 paiacuteses No que concerne ao perfil do
orientador educacional nenhuma pesquisa foi encontrada Os dados apresentados
pela Fundaccedilatildeo Victor Civita (2009) apontaram que grande parte dos diretores (80)
satildeo do sexo feminino com idade meacutedia de 46 anos o que estaacute de acordo com os
dados do estudo desenvolvido pela TALIS (INEP 2014) A pesquisa TALIS (INEP
2014) revelou que no Brasil 75 dos diretores satildeo mulheres e tecircm em meacutedia 45
anos de idade preponderando portanto o gecircnero feminino na gestatildeo das escolas
puacuteblicas de ensino fundamental Ainda segundo a TALIS (INEP 2014) nos outros
24 paiacuteses pesquisados esse percentual de mulheres ficou na meacutedia de 49
Em relaccedilatildeo agrave pesquisa sobre o coordenador(a) pedagoacutegico(a) apresentada
pela Fundaccedilatildeo Victor Civita (2011) demonstrou-se que 90 desses profissionais
satildeo mulheres e tecircm em meacutedia 44 anos de idade
Esses dados estatildeo em consonacircncia tambeacutem com as pesquisas realizadas
por Vioto (2013) e Lira (2012) apresentadas no primeiro capiacutetulo da presente
dissertaccedilatildeo Nos referidos estudos constatou-se a predominacircncia do gecircnero
feminino entre os coordenadores pedagoacutegicos pesquisados Ao analisar o perfil dos
diretores(a) coordenadores(as) pedagoacutegicos e orientadores(as) educacionais na
pesquisa de Silveira (2012) e Santos (2011) tambeacutem foi perceptiacutevel a prevalecircncia
do gecircnero feminino
Os dados revelam portanto uma presenccedila expressiva do gecircnero feminino
nessas funccedilotildees principalmente na educaccedilatildeo baacutesica que se assemelha ao
movimento ocasionado com os docentes em decorrecircncia de um processo histoacuterico
denominado de feminizaccedilatildeo19 do magisteacuterio caracterizado ao longo da histoacuteria
como um fenocircmeno pautado pelas transformaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas
―[que] abriram espaccedilo em nosso paiacutes para o incremento da entrada das mulheres
18
A Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (TALIS ndash Teaching and Learning International Survey) investigou o ambiente de ensino e aprendizagem em escolas de educaccedilatildeo baacutesica de 34 paiacuteses durante os anos de 2012 e 2013 A TALIS foi coordenada em acircmbito internacional pela Organizaccedilatildeo para Cooperaccedilatildeo e Desenvolvimento Econocircmico (OCDE) No Brasil a pesquisa foi organizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) responsaacutevel tambeacutem pela elaboraccedilatildeo do Relatoacuterio Nacional da TALIS que descreve de maneira mais detalhada o processo de aplicaccedilatildeo da pesquisa e os principais resultados para a amostra de diretores e professores brasileiros A pesquisa TALIS entrevistou no total natildeo soacute no Brasil 14291 professores que atuam em turmas do 6ordm ao 9ordm ano do Ensino Fundamental e os diretores de suas respectivas escolas No Brasil a pesquisa abrangeu 27 Estados e 48 escolas sendo que somente 20 escolas aceitaram a participar da pesquisa 19
Denominaccedilatildeo dada ao processo soacutecio-poliacutetico-cultural decorrente da expressiva presenccedila das mulheres no trabalho docente (COSTA 2010)
57
das camadas meacutedias no mercado de trabalho sendo o magisteacuterio primaacuterio uma das
ocupaccedilotildees femininas socialmente aprovadas (COSTA 2010 p 01)
Louro (2000 p 448) relata que a atividade do magisteacuterio no Brasil por muito
tempo foi desenvolvida por ―homens religiosos como os jesuiacutetas mais
especificamente no periacuteodo compreendido entre 1549 e 1759 [e] em seguida foram
homens comuns que se ocuparam do magisteacuterio Jaacute a partir do seacuteculo XIX a
expansatildeo do ensino primaacuterio afetou diretamente as condiccedilotildees de trabalho docente
que foram se tornando cada vez mais precaacuterias afastando paulatinamente os
homens dessa profissatildeo Assim o movimento observado foi de diminuiccedilatildeo no
nuacutemero de homens em sala de aula no ensino primaacuterio e nas escolas normais
passando-se a formar jaacute nesse periacuteodo mais mulheres (VIANNA 2013) Desse
modo a presenccedila intensa de mulheres no magisteacuterio no Brasil foi se constituindo
de forma gradativa e intimamente ligada ao papel de mulher idealizado na eacutepoca
para exercer a docecircncia As mulheres tinham que dispor de caracteriacutesticas como
religiosidade docilidade e submissatildeo configurando o que deveria ser um trabalho
educativo como ―[] uma missatildeo de educar concebida como um prolongamento da
vocaccedilatildeo maternal (COSTA 2010 p 01)
Nessa perspectiva segundo Vianna (2013 p 164) o magisteacuterio integrou um
dos primeiros campos de trabalho para a ―mulher branca e de classe meacutedia
estudiosa e portadora de uma feminilidade idealizada para essa classe mas
tambeacutem protagonistas da luta pelo alargamento da participaccedilatildeo feminina na esfera
econocircmica (VIANNA 2013 p 164)
Com relaccedilatildeo agrave gestatildeo das instituiccedilotildees de ensino puacuteblico no Brasil por muito
tempo essa funccedilatildeo ficou sob a incumbecircncia dos homens reproduzindo e reforccedilando
como pontuou Louro (2000 p 460) ―[] a hierarquia domeacutestica as mulheres
ficavam nas salas de aulas ensinando enquanto os homens dirigiam e controlavam
o sistema Acrescenta-se ainda que os homens se destacavam como referecircncia
superior e de poder e entendia-se que a mulher por sua vez natildeo era adequada agrave
gestatildeo por ser muito sentimental e natildeo possuir firmeza em suas decisotildees (LOURO
2000)
Contudo a funccedilatildeo de gestatildeo exercida por mulheres foi permeada por
momentos de resistecircncia em sua historicidade visto que se tratava de um cargo
exclusivamente masculino como o caso da primeira professora que ao ascender agrave
funccedilatildeo de gestora nos anos de 1920 provocou revolta principalmente por parte dos
58
estudantes homens Assim pode-se dizer que de algum modo a inserccedilatildeo feminina
no cargo de gestatildeo rompeu ―com a representaccedilatildeo e as expectativas tradicionais
delineadas agraves mulheres (LOURO 2000 p 460)
Nessa perspectiva as discussotildees tecidas ateacute o momento no que tange agrave
questatildeo de gecircnero dos profissionais de educaccedilatildeo podem contribuir para evidenciar
possiacuteveis conexotildees entre proletarizaccedilatildeo do trabalho dos(as) professores(as) e
gestores(as) escolares e o processo histoacuterico de feminizaccedilatildeo do magisteacuterio e da
profissatildeo educativa como um todo
Seguindo com as anaacutelises passa-se a abordar agora a idade dos
profissionais das equipes diretivas20 De acordo com o Graacutefico 1 apresentado a
seguir dos 22 participantes da pesquisa 2 responderam possuir idade entre 25 a
32 anos 8 entre 33 e 40 anos 5 encontram-se na faixa etaacuteria entre 41 a 50 e 6
informaram que tecircm mais de 50 anos e 1 natildeo respondeu Ao calcular a idade meacutedia
dos profissionais por funccedilatildeo chegou-se ao seguinte resultado Diretor(a) 46 anos
Supervisor(a) 44 anos e Orientador(a) 49 anos
Graacutefico 1 Faixa etaacuteria dos participantes da pesquisa
Fonte Primaacuteria (2016)
De acordo com os dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e
Aprendizagem ndash TALIS (INEP 2014) dentre os 34 paiacuteses que participaram do
20 Optou-se neste estudo por utilizar uma menccedilatildeo aos participantes que contemple os dois gecircneros masculino e feminino ou seja utilizaremos diretor(a) supervisor(a) e orientador(a) quando nos referirmos a cada profissional que compotildee a equipe diretiva
59
estudo os diretores das escolas brasileiras apresentaram a menor meacutedia de idade
(45 anos) assemelhando-se aos resultados encontrados na presente pesquisa
No que se refere ao tempo de docecircncia da equipe diretiva em sala de aula
constatou-se que a maioria dos profissionais possuem significativa experiecircncia uma
vez que 8 responderam que possuem ateacute 5 anos 7 que tecircm de 6 a 10 anos de
docecircncia 2 possuem de 11 a 15 anos em sala de aula 4 informaram que tecircm mais
de 15 anos de experiecircncia na docecircncia e 01 natildeo respondeu conforme exposto no
graacutefico a seguir
Graacutefico 2 ndash Tempo de atuaccedilatildeo docente dos profissionais das equipes diretivas por funccedilatildeo diretor(a) supervisor(a) e orientador(a)
Fonte Primaacuteria (2016)
Evidenciou-se ao visualizar o graacutefico 2 acima uma expressiva concentraccedilatildeo
de supervisores(as) educacionais com ateacute 5 anos de experiecircncia na docecircncia
Supotildee-se que uma maior experiecircncia desse profissional em sala de aula pode
contribuir com seu trabalho de orientaccedilatildeo pedagoacutegica e didaacutetica junto aos
professores assim como com o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Em pesquisa empreendida por Placco Almeida e Souza (2011 p 247-248)
com coordenadores pedagoacutegicos (CPs) as autoras abordaram alguns
questionamentos e dentre eles se destaca o que diz respeito agrave necessidade de
tempo na docecircncia para atuarem na funccedilatildeo As autoras puderam constatar que esse
item dividiu opiniotildees entre os profissionais pesquisados ao relatarem que
[] com relaccedilatildeo agrave necessidade de ter experiecircncia na docecircncia para exercer a coordenaccedilatildeo os CPs divergem alguns acham que sim e outros que natildeo Contudo a maioria concorda que a experiecircncia como docente natildeo eacute suficiente para exercer a coordenaccedilatildeo pois entendem que haacute habilidades especiacuteficas dessa funccedilatildeo que natildeo se desenvolvem na docecircncia De outro
60
lado acreditam que a experiecircncia em sala de aula possibilita conhecer melhor a escola e vivenciar problemas que soacute aparecem laacute Em siacutentese segundo a percepccedilatildeo dos CPs o tempo na funccedilatildeo e a experiecircncia satildeo fatores importantes mas natildeo decisivos para o bom desempenho do profissional na coordenaccedilatildeo
Nessa direccedilatildeo observou-se que autores como Paro (2016b) e Libacircneo (2015)
parecem se contrapor quando o assunto eacute a experiecircncia docente que antecede a
atuaccedilatildeo da equipe diretiva na escola Paro (2016b p57) ao defender que ―todos os
educadores satildeo potenciais candidatos agrave direccedilatildeo escolar parece conferir uma
ecircnfase na importacircncia da experiecircncia docente para a realizaccedilatildeo do trabalho na
funccedilatildeo diretiva Por outro lado Libacircneo (2015) afirma que para exercer o cargo de
diretor ou coordenador pedagoacutegico natildeo eacute necessaacuterio uma experiecircncia preacutevia como
docente
[] haacute divergecircncias significativas sobre se a atividade administrativa distingue-se da atividade pedagoacutegica e sobre se a direccedilatildeo administrativa e direccedilatildeo pedagoacutegica devem ser exercidas necessariamente por um professor No Brasil difundiu-se bastante a ideia de que a direccedilatildeo e a coordenaccedilatildeo pedagoacutegica satildeo formas diferenciadas de uma uacutenica funccedilatildeo a docente Defendemos uma posiccedilatildeo diferente Tanto o diretor quanto o coordenador pedagoacutegico desempenham cada um funccedilotildees especiacuteficas que requerem formaccedilatildeo profissional tambeacutem especiacutefica distinta daquela provida aos professores Nesse caso o diretor natildeo precisa exercer nem ter exercido a docecircncia embora deva receber formaccedilatildeo para lidar com questotildees de ensino Em outras palavras as funccedilotildees de direccedilatildeo coordenaccedilatildeo pedagoacutegica e docente natildeo precisam coincidir necessariamente (LIBAcircNEO 2015 p 187 grifos nossos)
Ante ao exposto entende-se que a experiecircncia na docecircncia pode contribuir
para a atuaccedilatildeo dos profissionais das equipes diretivas assim como compreende-se
que as formaccedilotildees para esses profissionais precisam contemplar de forma central os
aspectos pedagoacutegicos e as singularidades das escolas e natildeo somente os aspectos
burocraacuteticos comumente mais enfatizados
No Quadro 3 apresentado na sequecircncia procurou-se detalhar o tempo de
atuaccedilatildeo em sala de cada profissional que compotildee a equipe diretiva escolar Pode-se
evidenciar que os integrantes de todas as equipes diretivas apresentam experiecircncia
na docecircncia
61
Quadro 3 Tempo de atuaccedilatildeo dos integrantes da equipe diretiva em sala de aula
Tempo de atuaccedilatildeo em sala de aula
Equipe Diretiva
Ateacute 5 anos De 6 a 10 anos De 11 a 15 anos Mais de 15
anos Natildeo
respondeu
ED1 Supervisor(a) Diretor(a) Orientador( a)
ED2 Orientador(a)
e Supervisor(a)
Diretor(a)
ED3 Supervisor(a) Diretor(a) Orientador(a)
ED4 Diretor(a) e
2 Supervisores(as)
Orientador(a)
ED5 Orientador(a) Diretor(a) e
Supervisor(a)
ED6 Orientador(a)
e Supervisor(a)
Diretor(a)
ED7 Diretor(a) e
Supervisor(a) Orientador(a)
Fonte Primaacuteria (2016)
Conforme os dados da Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem ndash
TALIS (INEP 2014) a meacutedia de experiecircncia em sala de aula dos diretores
brasileiros pesquisados foi de 14 anos Nesse sentido os dados da Rede Municipal
de Ensino de Camboriuacute obtidos na presente pesquisa divergem em parte dos
indicadores nacionais pois a maioria dos respondentes possuem em meacutedia 8 anos
de docecircncia
Huberman (2000) em seus estudos sobre o ciclo de vida profissional dos
professores fez uso do tempo de atuaccedilatildeo docente para expor a existecircncia de cinco
fases que delineiam o processo de evoluccedilatildeo do docente nessa profissatildeo 1) Fase de
entrada na carreira (1 a 3 anos de docecircncia) 2) Fase de estabilizaccedilatildeo (4 a 6 anos)
3) Fase de diversificaccedilatildeo (7 a 25 anos) 4) Fase de serenidade (25 a 35 anos) 5)
Fase de desinvestimento (mais de 35 anos de docecircncia)
Para clarificar essas informaccedilotildees apresenta-se a seguir o Quadro 4 que
mostra as fases do ciclo de vida profissional dos professores conforme os estudos
do autor
62
Quadro 4 - Fases do ciclo de vida profissional segundo Huberman
Fonte Huberman (2000)
O tempo de docecircncia da maior parte dos participantes da pesquisa (6 a 10
anos) conforme Huberman (2000) estaacute compreendido na fase entre 7 e 25 anos de
docecircncia que eacute denominada de diversificaccedilatildeo na qual conta-se com um repertoacuterio
de vivecircncias pessoais e profissionais bastante diversas para atuar na docecircncia Para
os 8 que responderam que tecircm ateacute 5 anos de docecircncia em sala de aula nota-se que
sua experiecircncia docente se delimitou agrave fase mais inicial do ciclo profissional
denominada ―sobrevivecircncia e descoberta na qual satildeo explorados os contornos
dessa nova funccedilatildeo
Salienta-se que essas fases natildeo seguem em sua constituiccedilatildeo uma linearidade
de acontecimentos uma vez que cada profissional eacute singular e essa singularidade
estaacute presente na maneira como cada um vivencia a sua proacutepria trajetoacuteria
profissional
Outra questatildeo perguntada aos profissionais das equipes diretivas foi se nessa
trajetoacuteria docente eles(as) tiveram algum aluno com deficiecircncia Evidenciou-se que
dos 22 participantes somente dois diretores(as) e dois supervisores(as) natildeo tiveram
essa experiecircncia os demais integrantes de todas as equipes diretivas a tiveram
63
Graacutefico 3 ndash Experiecircncia dos profissionais da equipe diretiva enquanto docentes de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Fonte Primaacuteria (2016)
Esses dados apontam que a maioria dos profissionais participantes desta
pesquisa em sua trajetoacuteria docente trabalhou com estudantes puacuteblico-alvo da EE o
que nos permite evidenciar que cada profissional vivenciou esse trabalho em suas
respectivas escolas de formas diferentes e certamente puderam contar com uma
equipe diretiva que pode ter contribuiacutedo ou fragilizado a realizaccedilatildeo desse trabalho no
acircmbito escolar
Infere-se ainda que essa vivecircncia pode ter ocorrido em um determinado
momento histoacuterico em que a segregaccedilatildeo ainda era de fato uma opccedilatildeo mais
indicada no processo de escolarizaccedilatildeo com deficiecircncia Mesmo considerando que a
construccedilatildeo de saberes eacute um processo dinacircmico que pode passar por modificaccedilotildees
no decorrer da histoacuteria demandando que os profissionais da educaccedilatildeo estejam em
constante busca por novos conhecimentos ou por sua ressignificaccedilatildeo eacute necessaacuterio
ter em conta que reconstruir uma concepccedilatildeo sobre algo pode ser muito complexo
Aleacutem da vivecircncia que esses profissionais relataram ter eacute preciso considerar
tambeacutem a formaccedilatildeo inicial que possuem se essa propiciou ou natildeo a discussatildeo e
apropriaccedilatildeo de teorias e praacuteticas acerca da Educaccedilatildeo Especial nos espaccedilos
escolares Tendo em vista ainda que esses conhecimentos quando apreendidos na
formaccedilatildeo inicial estatildeo associados a um periacuteodo histoacuterico especiacutefico em que tal
formaccedilatildeo foi realizada
64
Nesse sentido Bueno (2002) esclarece que a incorporaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial
pelas Instituiccedilotildees de Ensino Superior no Brasil ocorreu a partir da promulgaccedilatildeo da
Lei n 569271 na medida em que essa diretriz em seu art 29 estabeleceu que a
formaccedilatildeo de professores e especialistas para o ensino fundamental e meacutedio (antigos
1ordm e 2ordm graus) fosse aumentando de forma progressiva O autor explicita ainda que
[] em decorrecircncia dessa lei o Conselho Federal de Educaccedilatildeo baixou Resoluccedilotildees
tornando obrigatoacuteria a formaccedilatildeo de professores de educaccedilatildeo especial em niacutevel
superior dentro dos cursos de Pedagogia (BUENO 2002 p 22)
Atualmente pode-se observar agrave luz da Resoluccedilatildeo nordm 22015 (BRASIL 2015)
que a incorporaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Especial pelos curriacuteculos dos cursos de
licenciatura e formaccedilatildeo continuada foi ampliada uma vez que passou a constituir um
tema a ser abordado por diversas disciplinas Aparentemente essa ampliaccedilatildeo pode
ser vista como positiva contudo eacute oportuno reconhecer que ―dissolver os
conteuacutedos de Educaccedilatildeo Especial nas disciplinas pode ocasionar uma fragilizaccedilatildeo no
processo de formaccedilatildeo uma vez que pode ocorrer a reduccedilatildeo da carga horaacuteria
destinada a esses conteuacutedos ao mesmo tempo em que satildeo apresentados de forma
fragmentada No art 13ordm paraacutegrafo segundo da referida Resoluccedilatildeo eacute detalhado o
modo como a Educaccedilatildeo Especial deve ser contempla no curriacuteculo dos cursos
citados
[] sect 2ordm Os cursos de formaccedilatildeo deveratildeo garantir nos curriacuteculos conteuacutedos especiacuteficos da respectiva aacuterea de conhecimento ou interdisciplinares seus fundamentos e metodologias bem como conteuacutedos relacionados aos fundamentos da educaccedilatildeo formaccedilatildeo na aacuterea de poliacuteticas puacuteblicas e gestatildeo da educaccedilatildeo seus fundamentos e metodologias direitos humanos diversidades eacutetnico-racial de gecircnero sexual religiosa de faixa geracional Liacutengua Brasileira de Sinais (Libras) educaccedilatildeo especial e direitos educacionais de adolescentes e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas (BRASIL 2015)
Segundo Pletsch (2009 p 150) limitar-se a oferecer uma disciplina com
conteuacutedos sobre Educaccedilatildeo Especial ―sem maior reflexatildeo e aprofundamento acerca
das capacidades e individualidades humanas pode acabar auxiliando a manutenccedilatildeo
de praacuteticas de segregaccedilatildeo Desse modo pode-se evidenciar que a forma como a
Lei supracitada propotildee que os conteuacutedos de Educaccedilatildeo Especial sejam abordados
nos cursos de licenciatura em geral parece natildeo colaborar com o adensamento
teoacuterico discussatildeo e reflexatildeo criacutetica sobre a educaccedilatildeo especial na formaccedilatildeo dos
futuros professores Isto por sua vez pode culminar em um entendimento
65
desarticulado entre Educaccedilatildeo Regular e Educaccedilatildeo Especial favorecendo a
constituiccedilatildeo de praacuteticas de segregaccedilatildeo nas escolas brasileiras
Ante ao exposto buscou-se analisar nos dizeres das equipes diretivas
pesquisadas a formaccedilatildeo inicial em niacutevel de graduaccedilatildeo de cada integrante que a
compotildee Evidenciou-se que dos 22 participantes 12 informaram possuir o curso de
formaccedilatildeo inicial em pedagogia 7 em outras licenciaturas e 3 optaram por natildeo
responder a essa questatildeo Assim pode-se perceber dentre as respostas dos
integrantes das equipes diretivas uma prevalecircncia da formaccedilatildeo inicial em pedagogia
Essas informaccedilotildees podem ser conferidas no graacutefico 4 abaixo
Graacutefico 4 ndash Formaccedilatildeo inicial dos integrantes das equipes diretivas
Fonte Primaacuteria (2016)
Prosseguindo com as anaacutelises percebe-se tambeacutem que dentre os integrantes
das equipes diretivas 6 diretores satildeo formados em Pedagogia e 1 diretor eacute formado
em Estudos Sociais Conforme a pesquisa desenvolvida pela Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) 43 dos diretores brasileiros possuem sua primeira graduaccedilatildeo em
Pedagogia e dos que procuram uma segunda formaccedilatildeo 60 elegeu essa
licenciatura Dos 7 diretores participantes da pesquisa apenas uma informou ter
mais de uma graduaccedilatildeo
Com relaccedilatildeo aos supervisores(as) escolares 4 satildeo formados em Pedagogia e
3 satildeo formados em outras licenciaturas ciecircncias naturais artes visuais e ciecircncias
bioloacutegicas sendo que 1 natildeo especificou De acordo com os estudos realizados pela
Fundaccedilatildeo Victor Civita (2011) 55 dos coordenadores pedagoacutegicos no Brasil
possuem sua primeira licenciatura em Pedagogia e dos 45 que natildeo tecircm
Pedagogia como seu primeiro curso 61 o elegeram como segunda opccedilatildeo de
66
formaccedilatildeo Dos 8 supervisores(as) participantes da pesquisa somente duas
informaram ter duas graduaccedilotildees
Quanto aos orientadores educacionais 2 responderam que possuem
formaccedilatildeo em Pedagogia e 3 informaram que tecircm formaccedilatildeo em outras licenciaturas
(matemaacutetica educaccedilatildeo fiacutesica e ciecircncias bioloacutegicas) e 2 natildeo especificaram
De forma geral portanto pode-se concluir que a formaccedilatildeo inicial em
Pedagogia eacute predominante nas equipes diretivas escolares da Rede Municipal de
Ensino de Camboriuacute Com relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo dos
integrantes das equipes diretivas os Graacuteficos 5 6 e 7 a seguir apresentam um
detalhamento
Graacutefico 5 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) dos Diretores(as)
Fonte Primaacuteria (2016) Graacutefico 6 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu e Stricto Sensu) dos Supervisores(as) Educacionais
Fonte Primaacuteria (2016
67
Graacutefico 7 ndash Formaccedilatildeo em niacutevel de Poacutes-Graduaccedilatildeo (Lato Sensu) Orientadores(as) Educacionais
Fonte Primaacuteria
Percebeu-se que dos 22 participantes somente 2 profissionais responderam
natildeo possuir uma poacutes-graduaccedilatildeo e 1 optou por natildeo responder agrave questatildeo Desse
modo foi possiacutevel evidenciar que a maioria dos profissionais das equipes diretivas
possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato sensu
Dos 7 diretores(as) participantes da pesquisa 6 possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato
sensu Esses dados estatildeo em consonacircncia com o estudo da Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) o qual aponta que 72 dos diretores das escolas brasileiras realizaram
algum tipo de poacutes-graduaccedilatildeo sendo que desses 96 satildeo lato sensu E ainda
conforme a pesquisa TALIS (INEP 2014 p 10-11) ―somente uma pequena parte
dos diretores natildeo tem formaccedilatildeo em niacutevel superior (2) no entanto 12 deles
afirmaram que nunca fizeram um curso especiacutefico de administraccedilatildeo escolar
Quanto aos 8 supervisores(as) participantes desta pesquisa 6 possuem poacutes-
graduaccedilatildeo lato sensu na aacuterea de atuaccedilatildeo isto eacute voltada para a coordenaccedilatildeo
pedagoacutegica ou supervisatildeo escolar 01 em outra aacuterea enquanto apenas 1 informou
natildeo ter realizado especializaccedilatildeo Dos 7 supervisores que possuem poacutes-graduaccedilatildeo 1
informou possuir tambeacutem poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu na aacuterea de Educaccedilatildeo Esses
dados divergem em parte do estudo apresentado pela Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2011) o qual apontou que 70 dos participantes possuem poacutes-graduaccedilatildeo lato
sensu poreacutem somente 3 desses a realizaram na aacuterea de coordenaccedilatildeo
pedagoacutegica
Essa discrepacircncia entre os dados nacionais e municipais pode estar
vinculada aos criteacuterios de contrataccedilatildeo estipulado pelo municiacutepio de Camboriuacute No
uacuteltimo edital de concurso puacuteblico nordm 0252013 estabeleceu-se que para se inscrever
ao cargo de Supervisor Escolar o candidato precisaria ter ―curso em Licenciatura
68
Plena com especializaccedilatildeo em Supervisatildeo Escolar com carga horaacuteria miacutenima de
360h ou Certificado de Conclusatildeo da Especializaccedilatildeo juntamente com o histoacuterico
escolar
Com relaccedilatildeo aos 7 orientadores(as) participantes deste estudo observou-se
que 06 informaram possuir poacutes-graduaccedilatildeo dos quais 4 satildeo na aacuterea de atuaccedilatildeo
(orientaccedilatildeo educacional) 2 satildeo em outra aacuterea e 1 natildeo respondeu
Seguindo com as anaacutelises os integrantes das equipes diretivas participantes
deste estudo responderam ainda que pertencem ao quadro efetivo de servidor
puacuteblico da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute e exercem uma carga horaacuteria de
40 horas semanais na funccedilatildeo em que atuam
No que tange ao ingresso no cargo para cada funccedilatildeo observou-se um
processo diferente Dentre os 7 orientadores(as) e 8 supervisores(as) participantes
deste estudo 6 orientadores(as) e 7 supervisores(as) informaram que o ingresso na
funccedilatildeo ocorreu por meio de concurso puacuteblico Somente 1 supervisor respondeu ter
ingressado na funccedilatildeo por meio de convite e 1 orientador(a) informou que ingressou
na funccedilatildeo por meio de um processo seletivo diferenciado do concurso puacuteblico Jaacute
para o cargo de diretor todos responderam que o ingresso na funccedilatildeo ocorreu por
meio de indicaccedilatildeo
Quanto ao ingresso ao cargo de diretor salienta-se que apesar de existirem
diretrizes e legislaccedilotildees que promulguem uma gestatildeo escolar democraacutetica a eleiccedilatildeo
para diretores nas escolas como ponto de partida para uma accedilatildeo mais participativa
junto agrave comunidade nos espaccedilos escolares ainda se apresenta como uma decisatildeo
que pertence aos gestores das esferas de governo Federal Estadual e Municipal
Nesse sentido introduzir a eleiccedilatildeo em detrimento da indicaccedilatildeo hoje praticada
pode ser um caminho para aproximar ainda mais as escolas municipais dos
princiacutepios de democratizaccedilatildeo e participaccedilatildeo na Rede Municipal de Ensino de
Camboriuacute
Paro (2003 p 124) adverte a esse respeito que a introduccedilatildeo da eleiccedilatildeo nas
escolas natildeo se daacute de forma harmoniosa e ―como todo instrumento de democracia
natildeo estaacute livre dos conflitos e tensionamentos Contudo constitui-se como uma
forma de permitir que um nuacutemero maior de pessoas da comunidade escolar se
envolva nos processos decisoacuterios e na gestatildeo da escola
69
Partindo agora para o conhecimento do tempo de serviccedilo de cada integrante
da equipe diretiva na funccedilatildeo em que ocupa em sua respectiva escola apresenta-se
no Graacutefico 8 uma ilustraccedilatildeo
Graacutefico 8 ndash Tempo de serviccedilo dos participantes na funccedilatildeo que atualmente ocupam na escola
Fonte Primaacuteria (2016)
Ressalta-se que ao aplicar o questionaacuterio nas escolas alguns profissionais
mencionaram que o cargo de diretor(a) escolar em 2015 sofreu mudanccedila eou
substituiccedilatildeo Esse fato pode ser constatado no Graacutefico 8 acima o qual demonstra
que dos 7 diretores(as) integrantes da pesquisa 5 possuem ateacute 3 anos na funccedilatildeo
pode-se dizer que estatildeo iniciando e 2 tecircm de 4 a 10 anos na funccedilatildeo A meacutedia de
tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo dos diretores da Rede Municipal de Ensino ficou em
torno de 29 anos Eacute expressivo portanto o nuacutemero de diretores(as) que se
encontram em iniacutecio de carreira na escola em que atuam
Esse resultado se distancia dos dados nacionais apresentados pela pesquisa
TALIS (INEP 2014) que mostrou um tempo meacutedio de 7 anos de experiecircncia dos
diretores no Brasil em cargo de direccedilatildeo Jaacute a pesquisa da Fundaccedilatildeo Victor Civita
(2009) expocircs que o tempo meacutedio de experiecircncia dos diretores brasileiros eacute de 79
anos Essa dissonacircncia entre os dados da Rede Municipal de Ensino e os dados
nacionais pode estar vinculada agrave forma de ingresso ao cargo de direccedilatildeo que
conforme abordado anteriormente se daacute por indicaccedilatildeo configurando o cargo de
diretor(a) como um cargo de confianccedila podendo sofrer substituiccedilatildeo a qualquer
tempo principalmente em periacuteodo de mudanccedila de governo
Quanto aos supervisores(as) participantes deste estudo tambeacutem evidenciou-
se uma variaccedilatildeo no tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo 5 informaram possuir ateacute 3 anos
de experiecircncia 2 relataram ter de 4 a 10 anos e 1 natildeo respondeu sendo a meacutedia
70
de 27 anos Esse dado se aproxima daqueles apresentados pela Fundaccedilatildeo Victor
Civita (2011) com relaccedilatildeo ao tempo meacutedio de atuaccedilatildeo dos coordenadores
pedagoacutegicos brasileiros na escola atual que eacute de 39 anos
Dentre os integrantes da equipe diretiva escolar o orientador(a) foi o que
demostrou possuir maior tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo Dentre os 7 orientadores(as)
4 possuem ateacute 3 anos e 3 deles possuem 4 a 10 anos na funccedilatildeo A meacutedia de
tempo de atuaccedilatildeo como orientador(a) na Rede eacute dentre as equipes diretivas
pesquisadas de 34 anos
Perante os dados apresentados constatou-se que a meacutedia de tempo de
atuaccedilatildeo na funccedilatildeo por parte dos integrantes da equipe diretiva eacute baixa A partir
disso pode-se inferir que as equipes por estarem iniciando em suas funccedilotildees estatildeo
em processo de conhecer a comunidade e a cultura escolar21 local e a partir disso
construir viacutenculos de confianccedila que possibilitem uma gestatildeo colaborativa e
participativa Conhecer a escola eacute um processo que conforme explicitou Libacircneo
(2015 p 34) natildeo se daacute apenas pelo que se consegue observar dela e sim ao ―[]
captar aqueles significados valores atitudes modos de convivecircncia formas de agir
e de resolver problemas frequentemente ocultos invisiacuteveis que vatildeo definindo uma
cultura proacutepria de cada escola
Perante o exposto destaca-se aqui o desafio que se coloca agraves equipes
diretivas que estatildeo haacute pouco tempo trabalhando em suas unidades escolares uma
vez que na escola em que estatildeo iniciando existe uma cultura instituiacuteda que precisa
inicialmente ser conhecida para entatildeo ser mantida eou modificada em busca de
accedilotildees democraacuteticas e participativas
Um segundo desafio que se apresenta agraves equipes paralelamente ao primeiro
refere-se agrave implementaccedilatildeo viabilizaccedilatildeo e acompanhamento das poliacuteticas e diretrizes
educacionais na unidade escolar dentre as quais consta a poliacutetica de Educaccedilatildeo
Especial e as diretrizes para o Atendimento Educacional Especializado foco deste
estudo Sabendo disso buscou-se investigar se as equipes diretivas pesquisadas
possuiacuteam formaccedilatildeo especiacutefica com temas relacionados ao AEE O Quadro 5 a
seguir ilustra as respostas obtidas
21
Segundo Libacircneo (2015 p 34) ―a cultura da escola refere-se agravequeles significados modos de pensar e agir valores comportamentos modos de funcionamento que de certa forma mostram a identidade e os traccedilos caracteriacutesticos da escola e das pessoas que nela trabalham A cultura da escola eacute o que sintetiza os sentidos que as pessoas datildeo agraves coisas gerando um padratildeo coletivo de pensar e perceber as coisas e de agir
71
Quadro 5 ndash Formaccedilatildeo das equipes diretivas com temas relacionados ao AEE
Equipes Diretivas Diretor Orientador Supervisor
ED1 Natildeo respondeu Natildeo respondeu Natildeo respondeu
ED2 Sim Na faculdade e em cursos oferecidos pelo
Municiacutepio
Sim Cursos e materiais da grade
acadecircmica
Aleacutem de trabalhar na aacuterea Estou envolvida neste
processo
ED3 Natildeo Sim Fiz curso de linguagem de
sinais Natildeo
ED4 Sim Natildeo NatildeoNatildeo
ED5 Natildeo Natildeo respondeu Natildeo
ED6 Sim Na poacutes-graduaccedilatildeo
estudamos algumas siacutendromes
Natildeo Natildeo
ED7 Natildeo respondeu Sim Cursos que a Rede ofereceu
sobre Educaccedilatildeo Especial e o
AEE
Natildeo
Fonte Primaacuteria (2016)
A uacutenica equipe diretiva na qual todos os integrantes responderam
afirmativamente a essa questatildeo foi a ED2 na qual diretor(a) supervisor(a) e
orientador(a) informaram ter estudado o tema relacionado na graduaccedilatildeo poreacutem natildeo
especificaram os conteuacutedos abordados Em algumas equipes como a ED3 ED6 e
ED7 especificaram-se os conteuacutedos abordados na formaccedilatildeo realizada na aacuterea
como ―curso de sinais ―siacutendromes ―educaccedilatildeo especial e ―atendimento
educacional especializado Com relaccedilatildeo agrave ED1 o(a) orientador(a) apesar de
possuir trecircs especializaccedilotildees lato sensu sendo uma delas em Educaccedilatildeo Inclusiva
natildeo respondeu a essa questatildeo
Percebeu-se que na maioria das respostas houve contato com os temas
durante o percurso formativo seja na formaccedilatildeo inicial ou formaccedilatildeo continuada (poacutes-
graduaccedilatildeo e outros cursos) e que em poucos casos essa formaccedilatildeo foi oferecida
pela Rede Municipal de Ensino A formaccedilatildeo em serviccedilo pode funcionar como uma
possibilidade para mobilizar os profissionais a repensarem suas bases conceituais e
suas praacuteticas Dessa forma compreende-se que uma das tarefas primordiais da
Rede eacute conhecer as necessidades formativas dos seus profissionais e criar
condiccedilotildees para que essa formaccedilatildeo ocorra de modo contiacutenuo e consistente
Contudo Ferreira (2003 p 19-20) alerta que
A formaccedilatildeo continuada eacute uma realidade no panorama educacional brasileiro e mundial natildeo soacute como uma exigecircncia que se faz devido aos avanccedilos da ciecircncia e da tecnologia que se processam nas uacuteltimas deacutecadas mas como uma nova categoria que passou a existir no mercado da formaccedilatildeo contiacutenua e que por isso necessita ser
72
repensada cotidianamente no sentido de melhor atender a legiacutetima e digna formaccedilatildeo humana
Corroborando com a autora supracitada Silveira (2012) tambeacutem enfatizou a
importacircncia de programas de formaccedilatildeo de gestores que superem os tradicionais de
formaccedilatildeo burocraacutetica para que possam contribuir no desenvolvimento de um
trabalho colaborativo no acircmbito escolar
Em siacutentese identificou-se que os participantes dessa pesquisa tecircm um tempo
de atuaccedilatildeo significativo como professores em sala de aula e em sua maioria
apresentaram formaccedilatildeo inicial eou em niacutevel de poacutes-graduaccedilatildeo condizentes agrave
especificidade de sua aacuterea de atuaccedilatildeo Entretanto constatou-se pouco tempo de
atuaccedilatildeo dos integrantes das equipes diretivas na funccedilatildeo em que exercem
atualmente A meacutedia de idade de cada integrante da equipe diretiva iniciando pelo
diretor(a) ficou em torno de 44 anos de idade os supervisores(as) 44 anos de
idade e os orientadores(as) 49 anos de idade
Apoacutes a caracterizaccedilatildeo das equipes diretivas participantes desse estudo
segue-se para a anaacutelise dos dados da primeira categoria que versa sobre o que
pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado
32 O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado22
Nesta categoria de anaacutelise procurou-se abordar as compreensotildees das
equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
22
Para compor a anaacutelise e discussatildeo dos dados desta primeira categoria seratildeo analisadas as respostas das seguintes questotildees do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo 11Qual a compreensatildeo [da equipe diretiva] sobre o atendimento educacional especializado Quem satildeo os estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 13 Na escola em que vocecirc atua trabalha com o Atendimento Educacional Especializado Em caso afirmativo a) Eacute uma escola Polo ( ) b) atende somente estudantes desta escola ( ) 15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos estudantes puacuteblico alvo do AEE 19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE 21 Na escola em que vocecirc atua qual a participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros) 22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE 23 O professor de AEE na sua escola faz parte do quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino
73
focalizando o serviccedilo em si o puacuteblico-alvo da EE e o trabalho do professor
especializado23
Para apresentar e discutir o que pensam as equipes diretivas sobre o AEE no
acircmbito escolar optou-se por primeiramente elencar algumas informaccedilotildees a
respeito do funcionamento desse serviccedilo nas sete escolas pesquisadas conforme
se evidencia no Quadro 6
Quadro 6 - Situando o Atendimento Educacional Especializado nas escolas pesquisadas
ED1 ED2 ED3 ED4 ED5 ED6 ED7
Possui Sala de Recursos Multifuncionais X X X X
Possui Professor de AEE X X
Escola - polo e atende estudantes puacuteblico alvo da EE de outras duas escolas
X
Oferta AEE na proacutepria escola X X
Encaminha os estudantes para o AEE em outra escola
X
Estudantes puacuteblico-alvo da EE satildeo acompanhados pelo Professor da Sala Comum e pelo Monitor de Inclusatildeo da Sala Comum
X X
Natildeo possui estrutura fiacutesica e recursos humanos para oferecer o AEE e natildeo apresenta indiacutecios de encaminhamento para outras escolas
X
Fonte Primaacuteria (2016)
Pode-se perceber a partir das informaccedilotildees contidas no Quadro 6 que natildeo
satildeo todas as escolas possuem Sala de Recursos Multifuncionais localizadas em seu
espaccedilo fiacutesico Das quatro (ED1 ED2 ED4 e ED7) que possuem apenas duas (ED2
e ED4) contam com professor de AEE e ofertam esse serviccedilo na proacutepria escola as
demais apesar de possuiacuterem o espaccedilo fiacutesico para realizaccedilatildeo do AEE natildeo o
realizam (ED1) ou apresentam um entendimento de que o AEE acontece na sala
comum a partir do acompanhamento do professor e do monitor de inclusatildeo (ED7)
Constatar que das 7 equipes diretivas pesquisadas 4 possuem Salas de
Recursos Multifuncionais implantadas em suas respectivas escolas e dessas
somente duas (ED2 e ED4) estatildeo em funcionamento permite identificar um ponto de
atenccedilatildeo que diz respeito a como satildeo compreendidas as necessidades e o processo
23
Inspirando-se em Bernardes (2014) optou-se por fazer uso do termo ―professor(a) especializado(a) para se referir a docentes atuantes no AEE pelo fato de tal trabalho se configurar como especializado
74
de escolarizaccedilatildeo desses estudantes nas escolas da Rede Municipal de Ensino
pesquisada ou seja as que natildeo possuem o loacutecus para o AEE exceto a ED5
parecem natildeo se organizar de formas diferentes para garantir os apoios necessaacuterios
a aprendizagem dos estudantes considerados da EE como por exemplo
encaminhaacute-los para as escolas que possuem o AEE Logo parece haver a
compreensatildeo de que o AEE se restringe ao espaccedilo da SRM contudo eacute um dos
aspectos que compotildeem esse serviccedilo
Nesse sentido Rossato e Leonardo (2012 p 113) convidam a refletir
[] ao se considerar a educaccedilatildeo escolar como fundamental para a apropriaccedilatildeo da cultura produzida cabe questionar sobre a educaccedilatildeo e dentro desta a educaccedilatildeo especial discutindo sobre as formas e condiccedilotildees de ensino oferecidas agraves pessoas com deficiecircncia e agraves pessoas que aprendem diferentemente por nem sempre lhes possibilitarem o aprendizado escolar Condiccedilotildees de ensino essas que podem concentrar nelas estigma de fracasso e de incapacidade de maneira a natildeo viabilizar e natildeo cumprir com a sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo do conhecimento elaborado sistematizado
Nesse mesmo sentido Martins (2001) reitera que ao se defender o acesso e
o direito de aprender dos estudantes puacuteblico-alvo da EE na escola regular ―aleacutem
dos aspectos legais que as respaldam eacute fundamental analisar que esta escola eacute um
direito de todos os cidadatildeos (MARTINS 2001 p 30)
Ante o exposto questiona-se como a poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na
Perspectiva da Inclusiva (BRASIL 2008) e suas diretrizes vecircm sendo interpretadas
subjetivadas24 pelo sistema municipal de ensino e por conseguinte pelas equipes
diretivas pesquisadas
Compreende-se que essas equipes diretivas possuem um papel de referecircncia
na escola na organizaccedilatildeo e implementaccedilatildeo do serviccedilo de AEE juntamente com a
comunidade escolar considerando a necessidade desse serviccedilo e sua forma de
atuaccedilatildeo para garantir a permanecircncia e aprendizagem dos estudantes puacuteblico-alvo
da EE por meio de um processo de escolarizaccedilatildeo que leve em conta suas
singularidades potencialidades e sobretudo a garantia do direito de aprender
Assim destaca-se dentre as diretrizes da EE a Portaria ndeg 25 de 19 de junho
de 2012 que dispotildee sobre o Programa de implementaccedilatildeo de SRM a qual esclarece
24 Conforme Bock (2001 p 23) a subjetividade eacute ―concebida como algo que se constitui na relaccedilatildeo com o mundo material e social mundo este que soacute existe pela atividade humana Subjetividade e objetividade se constituem uma agrave outra sem se confundir
75
em seu o art 6ordm os compromissos assumidos pelo municiacutepio quando esse se propotildee
a implementar as salas de recursos
Art 6ordm Fica obrigada a DONATAacuteRIA [neste caso o Municiacutepio] a I - subordinar-se agraves diretrizes do Programa II- responsabilizar-se pela preservaccedilatildeo do espaccedilo fiacutesico para a instalaccedilatildeo dos bens doados III- disponibilizar professor para atuar na organizaccedilatildeo e oferta do atendimento educacional especializado - AEE IV- responsabilizar-se pela manutenccedilatildeo dos equipamentos doados V- orientar a escola destinataacuteria para instituir no seu Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico a organizaccedilatildeo e oferta do Atendimento Educacional Especializado complementar ou suplementar agrave escolarizaccedilatildeo de estudantes puacuteblico alvo da educaccedilatildeo especial matriculados nas classes comuns do ensino regular na Educaccedilatildeo de Jovens e Adultos e na Educaccedilatildeo Profissional VI- promover a formaccedilatildeo continuada aos professores que atuam no AEE [] (BRASIL 2012 p33 grifos nosso)
Desse modo ao dispor de espaccedilo fiacutesico e natildeo utilizaacute-lo pode-se configurar
que alguns compromissos preacute-estabelecidos na referida Portaria (com destaque
para o art III nesse caso) natildeo estatildeo sendo cumpridos de modo a sinalizar que de
algum modo vem sendo negado ao estudante puacuteblico-alvo da EE o seu direito de
fazer uso de um espaccedilo que uma vez dotado de equipamentos mobiliaacuterios e
materiais didaacuteticos pedagoacutegicos e contando com o trabalho do professor
especializado e demais envolvidos pode contribuir no seu processo de
escolarizaccedilatildeo Por mais que esse espaccedilo por si soacute natildeo assegure ao estudante
puacuteblico-alvo da EE seu direito de aprender ele eacute uma das estrateacutegias que compotildeem
esse processo Nesse sentido concorda-se com Effgen (2011) quando ressalta
que ao discutir acerca da SRM e do AEE eacute preciso considerar ―[] que esse
espaccedilo e esse dispositivo configuram-se como uma rede de apoio agrave sala de aula
regular mas o centro do processo ensino-aprendizagem eacute a sala regular
(EFFGEN 2011 p158)
Ainda com relaccedilatildeo agrave compreensatildeo das equipes diretivas sobre o serviccedilo de
AEE observou-se que a ED7 e a ED3 expressaram que o atendimento educacional
especializado aos estudantes puacuteblico-alvo da EE acontece por meio do
acompanhamento em suas escolas pelo Professor da Sala Comum e pelo Monitor
de Inclusatildeo na Sala Comum Esse uacuteltimo segundo a Lei Complementar nordm 192008
(CAMBORIUacute 2008) art 17D tem como atribuiccedilotildees as seguintes
76
I - auxiliar a docecircncia nas praacuteticas pedagoacutegicas mediando o desenvolvimento do aluno juntamente com o professor em situaccedilotildees que requeiram auxiacutelio como higiene alimentaccedilatildeo e locomoccedilatildeo dos educandos II - atuar diretamente com o aluno com muacuteltiplas deficiecircncias graves comprometimentos mentais ou condutas tiacutepicas de siacutendromes contribuindo para sua interaccedilatildeo e socializaccedilatildeo com os pares III - favorecer o desenvolvimento da independecircncia e autonomia dos alunos em suas atividades de vida diaacuteria e social no contexto escolar e nas atividades extraclasse auxiliando-os no que for necessaacuterio como a) cuidado pessoal uso do sanitaacuterio escovaccedilatildeo dos dentes banho troca de fraldas vestuaacuterio e outros b) refeiccedilotildees auxiliar o aluno em sua alimentaccedilatildeo c) locomoccedilatildeo conduzir o aluno que faz uso de cadeira de rodas eou apresenta dificuldades motoras aos diferentes espaccedilos fiacutesicos bem como realizar a transposiccedilatildeo do aluno para o sanitaacuterio carteira escolar e outros IV - executar tarefas afins com a educaccedilatildeo e de auxiacutelio para o levantamento de caracterizaccedilatildeo de perfil da comunidade escolar e acompanhamento da efetividade das accedilotildees realizadas e natildeo como forma de captaccedilatildeo de clientes VI - realizar accedilotildees no ambiente que favoreccedilam as condiccedilotildees adequadas para o processo de ensino e aprendizagem VII - contribuir para o planejamento e realizaccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas da escola VIII - executar outras atividades compatiacuteveis com o cargo IX - realizar as atividades que forem designadas por seu superior hieraacuterquico ou pela Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo (Redaccedilatildeo acrescida pela Lei Complementar n 7ordm 02014) (CAMBORIUacute 2008 sp)
Pode-se observar a partir da exposiccedilatildeo acima acerca das atribuiccedilotildees do
monitor de inclusatildeo orientaccedilotildees a esse profissional que dizem respeito agraves questotildees
pedagoacutegicas mas uma ecircnfase maior aos aspectos de cuidado assistecircncia e
socializaccedilatildeo do estudante puacuteblico-alvo da EE no acircmbito escolar Essa ecircnfase maior
por sua vez encontra seu fundamento na PNEE-PI (BRASIL 2008 sp) quando
essa reitera que
[] cabe aos sistemas de ensino ao organizar a educaccedilatildeo especial na perspectiva da educaccedilatildeo inclusiva disponibilizar as funccedilotildees de instrutor tradutorinteacuterprete de Libras e guia inteacuterprete bem como de monitor ou cuidador dos alunos com necessidade de apoio nas atividades de higiene alimentaccedilatildeo locomoccedilatildeo entre outras que exijam auxiacutelio constante no cotidiano escolar
Entende-se no entanto que o monitor de inclusatildeo tem um importante papel
tambeacutem no desenvolvimento da aprendizagem e autonomia do estudante puacuteblico-
alvo da EE em interlocuccedilatildeo com o professor da sala comum professor
especializado equipe diretiva demais profissionais da escola e pais Nesse sentido
destaca-se a importacircncia da constituiccedilatildeo de espaccedilo e tempos para discussotildees sobre
os planejamentos estrateacutegias e recursos a serem utilizados com os estudantes da
EE assim como a necessidade de formaccedilatildeo providas pelos sistemas de ensino e
77
pelas escolas para os profissionais da educaccedilatildeo para discutir e refletir os assuntos
educacionais
Entende-se que estes espaccedilos e tempos de discussatildeo reflexatildeo
planejamento e formaccedilatildeo quando associados a um trabalho colaborativo na escola
podem contribuir para ressignificar os papeacuteis dos profissionais da educaccedilatildeo assim
como suas responsabilidades individuais e coletivas no processo de escolarizaccedilatildeo
do estudante puacuteblico-alvo da EE Como explicou Buumlrkle (2010 p 19) o trabalho e o
ensino colaborativo
[] abrange o professor de turma regular e o da Educaccedilatildeo Especial [monitor de inclusatildeo] poreacutem eacute indispensaacutevel que todos os envolvidos no processo educativo participem se envolvam e colaborem As parcerias estabelecidas possibilitam o desenvolvimento de ensino-aprendizagem mais adequado agraves necessidades educacionais especiais do aluno permitindo assim que o processo de inclusatildeo se efetive Uma inclusatildeo onde pertencer significa participar e natildeo apenas estar junto
No entanto realccedila-se aqui as situaccedilotildees das escolas em que atuam a ED1 e
ED6 A ED1 apesar de possuir a SRM natildeo conta com o profissional especializado e
de acordo com os dizeres do(a) supervisor(a) [] ―nenhum destes alunos possui
atendimento especializado Jaacute a ED6 aleacutem de natildeo possuir estrutura fiacutesica e
recursos humanos para oferecer o AEE natildeo apresenta indiacutecios de encaminhamento
para outras escolas E conforme o relato do(a) diretor(a) ED6d ―[] infelizmente
[estes estudantes puacuteblico-alvo da EE] natildeo satildeo atendidos
A partir desses dados eacute possiacutevel inferir que o serviccedilo de AEE natildeo vem sendo
realizado pela escola ainda que essa tenha estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo
Especial matriculados revelando uma negligecircncia Essa negligecircncia por sua vez
denota as ―tensotildees entre o legal documentado [e] sistemaacutetica jaacute estabelecida vivida
no espaccedilo escolar (FUCK 2014 p 147) Convergindo com a discussatildeo Freitas
(2011 p227) enfatiza que
[] o desafio da escola comum natildeo eacute somente com a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncias mas o de uma transformaccedilatildeo na sua totalidade pedagoacutegica tendo em vista as diferenccedilas de todos os alunos Daiacute os inuacutemeros desafios frente agraves contradiccedilotildees que demarcam as diferentes realidades do contexto nacional se acreditarmos numa educaccedilatildeo como processo de mudanccedila e de transformaccedilatildeo
78
Diante desses apontamentos iniciais que puderam ser realizados com base
na situaccedilatildeo do AEE em cada escola passa-se agora agrave anaacutelise das respostas das
equipes diretivas ao questionamento feito acerca do que pensam sobre o AEE
Dos 22 participantes 15 demonstraram uma compreensatildeo sobre o AEE
focada em seu puacuteblico alvo 4 no local de atendimento (Sala de Recursos
Multifuncionais) e 3 no processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Com exceccedilatildeo
desses uacuteltimos foi possiacutevel perceber que a maioria dos participantes demonstrou
uma compreensatildeo fragmentada privilegiando um dentre os diversos aspectos que
envolvem esse serviccedilo
Iniciando pelos participantes que demonstraram uma compreensatildeo sobre o
AEE com foco no puacuteblico-alvo desse serviccedilo observou-se que representam a
maior parte das equipes diretivas Ao especificarem quem compotildee esse puacuteblico-
alvo notou-se que a principal referecircncia feita por elas foi ao estudante com
deficiecircncia seguida de estudantes com dificuldades e distuacuterbios As falas a seguir
ilustram esse entendimento
ED3
d Satildeo alunos com dificuldade que recebem atendimento
especializado ED2
o Eacute um atendimento individualizado [para os estudantes puacuteblico-alvo
da EE] trabalhando suas habilidades ED4
s Atendimento para auxiliar alunos com deficiecircncia e distuacuterbios (grifo
nosso)
Esses dizeres que emergiram a partir do questionamento ―Qual eacute a sua
compreensatildeo sobre o AEE podem ser relacionados agraves falas emitidas pelos
participantes quando perguntados sobre ―Quem satildeo os estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial O Quadro 7 a seguir indica quais foram as suas respostas
Quadro 7 Puacuteblico-alvo do AEE nos dizeres das equipes diretivas escolares pesquisadas
Equipes diretivas
escolares Diretor(a) Orientador(a) Educacional Supervisor(a) Educacional
ED1
Estudantes com deficiecircncia auditiva
paralisia cerebral parcial deficiecircncia intelectual deficiecircncia muacuteltipla
autismo[transtornos]
Estudantes com deficiecircncia
auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia intelectual
deficiecircncia muacuteltipla autismo
[transtornos]
Estudantes com deficiecircncia auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia
intelectual deficiecircncia muacuteltipla
autismo [transtornos] Nenhum destes alunos possui atendimento
especializado a natildeo ser com a
psicoacuteloga
ED2 Alunos com laudo meacutedico
Alunos que apresentam algum
laudo meacutedico pedindo o auxiacutelio desse atendimento
Alunos do ensino fundamental da
rede puacuteblica de Camboriuacute do primeiro ao nono ano
ED3 Alunos com deficiecircncia Satildeo os alunos com dificuldades
especiais [] Os que tecircm deficiecircncia graves []
79
ED4
Alunos com baixa visatildeo
deficiecircncia e transtorno globais de
desenvolvimento Alunos com deficiecircncia e com
deacuteficit de atenccedilatildeo Alunos com deficiecircncia e com distuacuterbios de aprendizagem
ED5 Alunos com deficiecircncia Alunos com deficiecircncia Alunos com deficiecircncia
ED6
Alunos que precisam de atendimento
especializado de acordo com suas necessidades
especiacuteficas Satildeo todos os estudantes com
alguma dificuldade especiacutefica Alunos com algum tipo de deficiecircncia
fiacutesica ou deficiecircncia intelectual
ED7
Estudantes com deficiecircncia transtornos
globais do
desenvolvimento e altas habilidades
Estudantes com deficiecircncia transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades
Estudantes com deficiecircncia
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades
Fonte Primaacuteria (2016)
Em primeiro lugar considera-se importante esclarecer que delimitar o puacuteblico-
alvo da Educaccedilatildeo Especial para aleacutem de definir para quem o serviccedilo de AEE eacute
destinado consiste em uma expressatildeo da loacutegica que marca a diferenccedila entre os
estudantes Conforme explicou Veiga-Neto (2011)
[] a proacutepria loacutegica de dividir os estudantes em classes ndash por niacuteveis cognitivos por aptidotildees por gecircnero por idades por classes sociais etc ndash foi um arranjo inventado para justamente colocar em accedilatildeo a norma atraveacutes de um crescente e persistente movimento de separando o normal do anormal marcar a distinccedilatildeo entre normalidade e anormalidade (VEIGA-NETO 2011 p 110-111 grifo nosso)
Quando observadas como um todo as falas dos participantes evidenciaram
que o termo utilizado com mais frequentes para se referir ao puacuteblico-alvo do AEE foi
―deficiecircncia conforme indicado no Quadro 8 a seguir
Quadro 8 - Recorrecircncias sobre o puacuteblico-alvo da EE nos dizeres das equipes diretivas escolares
pesquisadas
25 O indicador de recorrecircncia refere-se agrave quantidade de vezes que uma expressatildeo eacute repedida por um mesmo participante eou ele e os demais podendo ultrapassar o nuacutemero de participantes De acordo com Franco (2012 p 60) [] em grande parte das investigaccedilotildees qualquer que seja o tema explicitado o mesmo passa a ter mais importacircncia para a anaacutelise dos dados quanto mais frequentemente for mencionado
Categorias Recorrecircncia25
Deficiecircncia 18
Transtornos 7
Altas Habilidades 3
Laudo Meacutedico 2
Dificuldades especiacuteficasespeciais 2
Distuacuterbios 1
80
Fonte Primaacuteria (2016)
A partir da anaacutelise dos Quadros 7 e 8 pode-se dizer que haacute indiacutecios de que o
puacuteblico-alvo do AEE tem sido generalizado e focalizado como sendo ―estudantes
com deficiecircncia Nesse sentido questiona-se quem eou o que se perde de vista
quando o foco estaacute no estudante com deficiecircncia Pode-se dizer que ao restringir o
puacuteblico alvo da EE ao estudante com deficiecircncia incorre-se no risco de se distanciar
de uma compreensatildeo sobre os transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades [] ―jaacute que representam realidades complexas que necessitam de
compreensatildeo expliacutecita de suas caracteriacutesticas para que possam ser oferecidos os
apoios necessaacuterios (ARAOacuteZ 2010 p15)
Eacute preciso considerar inicialmente que a categorizaccedilatildeo do puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial definida na PNEE-EI (2008) como sendo pessoas com
deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo eacute uma constituiccedilatildeo histoacuterica recente Meletti e Bueno
(2011) esclarecem que as formulaccedilotildees das poliacuteticas de Educaccedilatildeo Especial no Brasil
ao incorporarem as orientaccedilotildees internacionais abordadas na Declaraccedilatildeo Mundial
sobre Educaccedilatildeo para Todos (UNICEF 1990) bem como a adesatildeo agrave Declaraccedilatildeo de
Salamanca (UNESCO 1994) procuraram se articular em uma perspectiva inclusiva
Por conseguinte na tentativa de se estabelecer um enfoque inclusivo foi possiacutevel
observar ao analisar as Diretrizes Nacionais para a Educaccedilatildeo Baacutesica
(BRASIL2001) que a categoria ―deficiecircncia era dissolvida no conceito de
necessidades educacionais especiais
Nesse sentido Meletti e Bueno (2011 p 111 - 112) enfatizam que
[] o termo [necessidades educacionais especiais] eacute utilizado inicialmente na Declaraccedilatildeo de Salamanca para caracterizar crianccedilas com deficiecircncia e crianccedila bem - dotadas crianccedilas que vivem nas ruas que trabalham crianccedilas de populaccedilotildees distantes ou nocircmades crianccedilas de minorias linguiacutesticas eacutetnicas ou culturais [] Isto indica que a deficiecircncia eacute entendida como uma expressatildeo localizada da diversidade que compotildee as chamadas necessidades educacionais especiais No Brasil a Declaraccedilatildeo de Salamanca passa a ser citada como um marco na educaccedilatildeo especial [] O conceito ―necessidade educacional especial passa a designar a condiccedilatildeo de deficiecircncia em nosso contexto imprimindo um novo sentido Novo mas natildeo a ponto de transformar como anunciado a concepccedilatildeo de deficiecircncia [] a adoccedilatildeo do termo necessidades
Necessidades Especiacuteficas 1
Deacuteficit de atenccedilatildeo 1
81
educacionais especiais por um lado pode representar um avanccedilo no sentido de minimizar a estigmatizaccedilatildeo e a pejoratividade de termos anteriores mas por outro lado como o conceito ―portador de necessidades educativas especiais abrange uma diversidade de sujeitos ao ganhar na amplitude e na quebra da estigmatizaccedilatildeo perde na precisatildeo
Identificou-se que mesmo demostrando imprecisatildeo o termo ―necessidades
educacionais especiais foi incorporado agrave Resoluccedilatildeo CNECEB nordm 22001 que
instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educaccedilatildeo Especial na Educaccedilatildeo Baacutesica No
art 5ordm a referida Resoluccedilatildeo procurou especificar o que se entende que tais
necessidades sejam
Art 5ordm Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que durante o processo educacional apresentarem I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitaccedilotildees no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares compreendidas em dois grupos a) aquelas natildeo vinculadas a uma causa orgacircnica especiacutefica b) aquelas relacionadas a condiccedilotildees disfunccedilotildees limitaccedilotildees ou deficiecircncias II ndash dificuldades de comunicaccedilatildeo e sinalizaccedilatildeo diferenciadas dos demais alunos demandando a utilizaccedilatildeo de linguagens e coacutedigos aplicaacuteveis III - altas habilidadessuperdotaccedilatildeo grande facilidade de aprendizagem que os leve a dominar rapidamente conceitos procedimentos e atitudes (BRASIL 2001 p 2 grifo nosso)
A ecircnfase conferida no documento agraves necessidades educacionais especiais
como sendo dificuldades de aprendizagem permite inferir que a adoccedilatildeo do termo
―favoreceu a classificaccedilatildeo de alunos com histoacuterico de fracasso escolar como
especiais (MELETTI amp BUENO 2011 p 113)
Essa forma de categorizar a deficiecircncia como parte do amplo conjunto de
necessidades educacionais especiais se alterou no discurso legal brasileiro em
2008 com a publicaccedilatildeo da Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial na perspectiva Inclusiva
(BRASIL 2008) Esse documento passou a delimitar o puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo
Especial agrave condiccedilatildeo de deficiecircncia e substituir a noccedilatildeo de condutas tiacutepicas pelo
conceito de transtornos globais do desenvolvimento suprimindo ainda a categoria
geneacuterica de dificuldade de aprendizagem (MELETTI amp BUENO 2011)
Ainda que esta breve contextualizaccedilatildeo histoacuterica possibilite acompanhar
algumas alteraccedilotildees realizadas nos discursos legais sobre o puacuteblico-alvo da EE os
dizeres dos integrantes das equipes diretivas evidenciaram que tais discursos de
fato natildeo satildeo apropriados da mesma maneira por todos Apesar da ED7 demonstrar
uma apropriaccedilatildeo semelhante do que estaacute posto na PNEE-EI (2008) sobre o puacuteblico-
82
alvo da EE o termo ―estudante com deficiecircncia ainda eacute o mais recorrente quando
se expande o olhar para as falas das equipes diretivas como um todo
Tal constataccedilatildeo pode significar que os estudantes com deficiecircncia
representam a maioria do puacuteblico-alvo da EE nas escolas pesquisadas mas
tambeacutem permite pensar que talvez exista uma dificuldade no processo de
identificaccedilatildeo dos estudantes com transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo No entanto suprimir os demais estudantes puacuteblico-alvo
da EE ao generalizaacute-los como ―estudantes com deficiecircncia pode indicar indiacutecios de
uma forma sutil de reiterar a invisibilidade desses no contexto escolar
Nesse sentido questiona-se se seriam esses estudantes com Transtornos
Globais do Desenvolvimento e Altas Habilidades Superdotaccedilatildeo pouco citados nos
dizeres dos integrantes das equipes diretivas escolares uma minoria matriculados
em sala de aula comum nas escolas brasileiras Para responder a esse
questionamento recorreu-se aos dados publicados no Censo Escolar (MECINEP
2015) a fim de conhecer o nuacutemero de estudantes puacuteblico-alvo da EE matriculados
no Brasil em Santa Catarina e no municiacutepio de Camboriuacute conforme detalhado no
Quadro 9 que segue
Quadro 9 Distribuiccedilatildeo das matriacuteculas por categoria utilizada no Censo Escolar de 2015 (MECINEP 2015) no Brasil em Santa Catarina e no Municiacutepio de Camboriuacute
Total de Matriacuteculas na Educaccedilatildeo Especial em Classes Comuns - Ensino Regular e
EJA
Categoria26 Brasil Santa
Catarina Camboriuacute
Deficiecircncia
Cegueira 5691 209 3
Baixa Visatildeo 64123 1858 25
Surdez 22945 704 11
Deficiecircncia Auditiva 31329 1330 11
Surdocegueira 337 13 0
Deficiecircncia Fiacutesica 100254 3382 21
Deficiecircncia Intelectual 490015 17731 180
Deficiecircncia Muacuteltipla 41948 1870 14
Total - Deficiecircncias 756642 27097 265
Transtornos Globais do Desenvolvimento
Autismo 41194 2094 19
Siacutendrome de Asperger 8244 768 7
26
Ressalta-se que conforme as instruccedilotildees disponibilizadas pelo MECINEP para preenchimento dos dados do Censo Escolar natildeo eacute necessaacuteria a comprovaccedilatildeo de laudo meacutedico no momento em que a escola informa no sistema Educacenso a categoria de um estudante puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial
83
Siacutendrome de Rett 1670 32 1
Transtorno Desintegrativa da Infacircncia ndash TDI
32904 1231 22
Total ndash TGD 84012 4125 49
Altas Habilidades Superdotaccedilatildeo
Altas HabilidadesSuperdotaccedilatildeo
14166 314 0
Total - AHSD 14166 314 0
Fonte Formulado a partir dos dados contidos na Sinopse Estatiacutestica da Educaccedilatildeo Baacutesica (MECINEP 2015) Nota-se que de fato os estudantes com transtornos globais e com altas
habilidadessuperdotaccedilatildeo satildeo minoria sendo os estudantes com deficiecircncia a
maioria do puacuteblico-alvo da EE matriculado nas escolas do Brasil Santa Catarina e
Camboriuacute Ou seja quando as equipes diretivas pesquisadas recorrem com
frequecircncia ao termo ―deficiecircncia para especificar o puacuteblico-alvo da EE pode-se
dizer que elas falam daquilo que vivenciam em seu cotidiano escolar por mais que o
faccedilam de forma generalizada
Contudo generalizar que os estudantes puacuteblico-alvo da EE se resumem aos
estudantes com deficiecircncia em funccedilatildeo dessa prevalecircncia numeacuterica consiste em uma
forma de encobrir a existecircncia dos demais estudantes e com isso correr o risco de
negar a diversidade que tambeacutem existe no acircmbito do puacuteblico-alvo da EE Nessa
direccedilatildeo Vasques (2015 p118) esclarece que
[] a inclusatildeo escolar envolve uma construccedilatildeo compartilhada a partir dos nossos pressupostos a respeito de educaccedilatildeo escola aluno [educaccedilatildeo especial] infacircncia etc Tais antecipaccedilotildees ganham significados a partir do contexto da historicidade e da interpretaccedilatildeo dos sujeitos das poliacuteticas puacuteblicas educacionais e das instituiccedilotildees envolvidas
Adentrado agora nos pontos que chamaram especificamente a atenccedilatildeo nas
falas de algumas equipes diretivas notou-se que o(a) supervisor(a) educacional da
ED1 mencionou que nenhum dos estudantes puacuteblico-alvo da EE citados (estudantes
com deficiecircncia auditiva paralisia cerebral parcial deficiecircncia mental intelectual e
muacuteltipla) recebe atendimento especializado a natildeo ser com a psicoacuteloga Investigando
as funccedilotildees do psicoacutelogo na escola encontrou-se na Lei Complementar Nordm 192008
(CAMBORIUacute 2008) as seguintes atribuiccedilotildees
At 17 Satildeo atribuiccedilotildees do Suporte Pedagoacutegico na funccedilatildeo de Psicoacutelogo lotado na Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
84
I - contribuir no processo de inclusatildeo social de alunos com necessidades educativas especiais realizando um trabalho coletivo com os pais educadores e equipe pedagoacutegica II - auxiliar no processo de inclusatildeo escolar rompendo com as praacuteticas excludentes III - orientar os professores para desenvolverem accedilotildees planejadas que promovam a apropriaccedilatildeo do saber escolar e o desenvolvimento cognitivo dos estudantes IV - promover discussatildeo sobre a inclusatildeo e o respeito agrave diversidade humana V - contribuir no processo ensino-aprendizagem colaborando com o corpo docente e teacutecnico na compreensatildeo das questotildees de aprendizagem e relacionamento VI - colaborar na reconstruccedilatildeo e avaliaccedilatildeo das praacuteticas educacionais visando favorecer a aprendizagem e o desenvolvimento psicossocial dos alunos VII - avaliar alunos com dificuldade de aprendizagem e o desenvolvimento psicossocial destes VIII - avaliar alunos com dificuldade de aprendizagem emitindo parecer psicoloacutegico e propondo encaminhamentos quando necessaacuterio IX - promover palestras encontros eou grupos de reflexatildeo para pais e familiares possibilitando maior envolvimento da famiacutelia no meio escolar X - desenvolver conforme necessidade da escola programas de orientaccedilatildeo profissional em conjunto com a equipe pedagoacutegica XI - realizar pesquisas na aacuterea da psicologia escolar contribuindo para a construccedilatildeo de novos saberes XII - promover a articulaccedilatildeo e troca de conhecimentos entre as diferentes aacutereas de saber XIII - colaborar com os processos de transformaccedilatildeo da realidade escolar tendo como meta a escola democraacutetica de qualidade social e para todos XIV - executar outras atividades compatiacuteveis com o cargo XV - realizar as atividades que forem designadas por seu superior hieraacuterquico ou pela Secretaacuteria Municipal de Educaccedilatildeo (CAMBORIUacute 2008)
Torna-se claro pelas funccedilotildees expostas no documento que o trabalho do
psicoacutelogo escolar eacute relevante para o processo de escolarizaccedilatildeo Em pesquisa
disponiacutevel no site do Conselho Federal de Psicologia realizada no ano de 2015 com
professores de diversas regiotildees do Brasil sobre temas relativos agrave profissatildeo docente
e ao contexto educacional do paiacutes foi constatado que a rede puacuteblica de ensino
deveria dispor de um serviccedilo integrado com psicoacutelogo(a) psicopedagogo(a) e
assistente social Para 50 dos professores entrevistados as secretarias de
educaccedilatildeo deveriam oferecer psicoacutelogos enquanto 28 solicitavam psicopedagogos
8 assistentes sociais 7 mediadores de conflito e 4 fonoaudioacutelogos
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA 2015 sp)
Esse trabalho do psicoacutelogo escolar ainda que natildeo substitua o atendimento
educacional especializado pode contribuir para favorecer um trabalho coletivo
voltado agrave escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Dazzani (2010 p 371)
apoiada em Martinez (2001) explanou que
85
[] mesmo diante de todas as criacuteticas agrave histoacuteria das relaccedilotildees entre psicologia e educaccedilatildeo devemos insistir que o conhecimento produzido pelas ciecircncias psicoloacutegicas pode contribuir com a praacutetica educativa ou seja consideramos que o psicoacutelogo pode e deve se envolver diretamente com a accedilatildeo educacional Pensando assim as estrateacutegias do psicoacutelogo educacional devem ser concebidas como um dos modos de interpretar a realidade educacional objetiva (social e politicamente objetiva) sem reduzi-la a um fenocircmeno puramente psicoloacutegico
Nesse sentido no que tange agrave realizaccedilatildeo do AEE da Rede Municipal de
Ensino de Camboriuacute haacute indiacutecios de que a forma como o serviccedilo estaacute estruturado e
organizado natildeo corrobora para assegurar o direito a aprender dos estudantes
puacuteblico-alvo da EE Isso porque como explicou Omote (2004 p6)
[] a mera inserccedilatildeo do aluno deficiente em classe comum natildeo pode ser confundida com a inclusatildeo Na verdade toda a escola precisa ter caraacuteter inclusivo nas suas caracteriacutesticas e no funcionamento para que sejam matriculados alunos deficientes [] Uma escola que soacute busca arranjo especial determinado pela presenccedila de algum aluno deficiente e na qual a adequaccedilatildeo eacute feita para as necessidades particulares dele natildeo pode ser considerada propriamente inclusiva
Nessa perspectiva Freitas (2002) alerta que ao fazer uma anaacutelise acerca da
escola puacuteblica eacute preciso considerar as pressotildees econocircmicas poliacuteticas e sociais
postas pelo sistema capitalista a ela Pressotildees essas que se traduzem em poliacuteticas
puacuteblicas impregnadas de pressupostos neoliberais e colocadas em funcionamento
com o objetivo de ―reduzir custos econocircmicos sociais e poliacuteticos sem alterar a
essecircncia seletiva da escola resultando em maior nuacutemero de repetecircncia e evasatildeo
criando um campo de exclusatildeo subjetiva (FREITAS 2002 p 299) Isso pode
significar que a forma como a escola puacuteblica estaacute organizada pode natildeo estar
considerando as singularidades e potencialidades da maioria de seus estudantes e
natildeo somente dos que satildeo denominados puacuteblico-alvo da EE Nessa direccedilatildeo o autor
enfatiza ainda que
[] quanto mais se falou em inclusatildeo mais se legitimou a exclusatildeo social preacutevia agrave escolarizaccedilatildeo por um mecanismo dissimulatoacuterio de inclusatildeo formal na escola que transmutou a exclusatildeo escolar objetiva (repetecircncia evasatildeo) em exclusatildeo escolar subjetiva (auto-exclusatildeo entre ciclos ―opccedilotildees por trilhas de progressatildeo menos privilegiadas tracircnsito formal sem domiacutenio real) a partir dos horizontes e das possibilidades de classe previamente interiorizados pelas condiccedilotildees objetivas de cada classe na sociedade (FREITAS 2002 p 310)
86
Em meio agraves reflexotildees supracitadas pode-se perceber a importacircncia da
atuaccedilatildeo criacutetica e reflexiva da equipe diretiva juntamente com a comunidade escolar
no que tange agraves poliacuteticas educacionais de modo a compreender o contexto
histoacuterico econocircmico poliacutetico e social em que estatildeo inseridos assim como quais
pressupostos permeiam tais poliacuteticas buscando formas de constituir um fazer
pedagoacutegico que possa contribuir com um efetivo processo de escolarizaccedilatildeo para
todos os estudantes
Ao seguir com as anaacutelises se observou que a maioria dos integrantes da
ED2 por sua vez enfatizaram que o puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial satildeo todos
os estudantes com laudos meacutedicos indicando que a forma como essa equipe
diretiva compreende os referidos estudantes estaacute pautada em um modelo meacutedico-
psicoloacutegico Essa perspectiva que se expressa no ato de requerer ou se basear no
laudo meacutedico eou psicoloacutegico para realizar um atendimento educacional
especializado encontra seu fundamento na histoacuteria da Educaccedilatildeo Especial quando
os aspectos cliacutenicos predominavam em detrimento dos pedagoacutegicos A esse
respeito Garcia (2007 p17) esclareceu que
[] o modelo meacutedico psicoloacutegico contribuiu para que a tarefa da educaccedilatildeo especial estivesse a serviccedilo de um sistema educacional de organizaccedilatildeo seriada elitista e classificatoacuteria produtor de exclusatildeo da escola de ensino fundamental e estruturado historicamente por meio de uma organizaccedilatildeo racional do trabalho pedagoacutegico com base na homogeneidade
As falas das equipes diretivas sinalizam que o laudo meacutedico se caracteriza
como uma espeacutecie de ―credencial para que o estudante puacuteblico-alvo da EE consiga
acessar seu direito ao serviccedilo de AEE bem como a outros serviccedilos Quando se
confere tal relevacircncia ao laudo corre-se o risco de planejar as accedilotildees escolares
voltadas para a deficiecircncia e natildeo para o estudante e suas potencialidades Contudo
ressalta-se que segundo informaccedilotildees da Coordenaccedilatildeo de Inclusatildeo da Secretaria
Municipal de Educaccedilatildeo obtidas por meio de entrevista durante o processo de coleta
de dados desta pesquisa a ausecircncia de laudo natildeo eacute impeditiva para a oferta do
AEE a esses estudantes Essa informaccedilatildeo por sua vez converge com as
orientaccedilotildees contidas na Nota Teacutecnica no 042014MECSECADIDPEE quando essa
enfatiza que
[] natildeo se pode considerar imprescindiacutevel a apresentaccedilatildeo de laudo meacutedico (diagnoacutestico cliacutenico) por parte do aluno com deficiecircncia transtornos globais
87
do desenvolvimento ou altas habilidadessuperdotaccedilatildeo uma vez que o AEE caracteriza-se por atendimento pedagoacutegico e natildeo cliacutenico Durante o estudo de caso primeira etapa da elaboraccedilatildeo do Plano de AEE se for necessaacuterio o professor do AEE poderaacute articular-se com profissionais da aacuterea da sauacutede tornando-se o laudo meacutedico neste caso um documento anexo ao Plano de AEE Por isso natildeo se trata de documento obrigatoacuterio mas complementar quando a escola julgar necessaacuterio O importante eacute que o direito das pessoas com deficiecircncia agrave educaccedilatildeo natildeo poderaacute ser cerceado pela exigecircncia de laudo meacutedico (BRASIL 2014 sp)
Nesse sentido considera-se que ao conferir ecircnfase ao laudo meacutedico incorre-
se no risco de uma interpretaccedilatildeo que pode culminar em condiccedilotildees de ensino que
levem em conta unicamente a dimensatildeo individual de modo a estigmatizar e
responsabilizar cada estudante pelo seu eventual fracasso ou sucesso escolar
(ROSSATO e LEONARDO 2012)
Nota-se portanto no que tange agrave necessidade do laudo meacutedico um
desencontro entre a perspectiva da Coordenaccedilatildeo e de parte da equipe diretiva da
escola ED2 o que sugere a necessidade de uma aproximaccedilatildeo e articulaccedilatildeo entre as
duas instacircncias em prol do processo de escolarizaccedilatildeo do estudante puacuteblico-alvo da
EE
Quanto agrave ED4 percebeu-se na fala do(a) orientador(a) educacional que foi
feita uma referecircncia ao estudante com deacuteficit de atenccedilatildeo como sendo puacuteblico-alvo
da EE demonstrando uma divergecircncia do que estaacute posto na PNEE-EI (BRASIL
2008) sobre quem satildeo os estudantes que devem receber atendimento educacional
especializado A fala desse(a) participante contudo estaacute alinhada ao Plano
Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute instituiacutedo pela Lei nordm 28322015 (CAMBORIUacute
2015) que inclui os estudantes com transtorno de deacuteficit de atenccedilatildeo como parte do
puacuteblico-alvo a ser atendido pelo serviccedilo de AEE assim como ao documento da
Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina de 2014
[] fomentar a oferta do atendimento educacional especializado complementar e suplementar aos estudantes com deficiecircncia transtornos do espectro do autismo transtorno do deacuteficit de atenccedilatildeo com hiperatividade e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo assegurando a educaccedilatildeo biliacutengue para crianccedilas surdas e a transversalidade da educaccedilatildeo especial nessa etapa da educaccedilatildeo baacutesica com profissionais habilitados (CAMBORIUacute 2015 p 7 grifo nosso)
De acordo com as orientaccedilotildees da Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada
Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo por meio da Diretoria de Poliacuteticas de
88
Educaccedilatildeo Especial27 (SECADIDPEE) estudantes que apresentam transtornos
funcionais especiacuteficos tais como Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo - TDA
Transtorno de Deacuteficit de Atenccedilatildeo ndash Hiperatividade - TDHA e Dislexia natildeo fazem
parte do puacuteblico alvo da educaccedilatildeo especial (INEP 2011 sp) Contudo apesar da
PNEE-EI (BRASIL 2008) esclarecer delimitar e especificar o puacuteblico-alvo da EE
como sendo pessoas com deficiecircncias transtornos globais do desenvolvimento e
altas habilidades e superdotaccedilatildeo foi possiacutevel identificar no documento da Poliacutetica
de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina (SANTA CATARINA 2014) a
inclusatildeo de pessoas com diagnoacutestico de transtorno do deacuteficit de
atenccedilatildeohiperatividade como parte desse puacuteblico-alvo
[] eacute importante observar que no Estado de Santa Catarina em 2006 foi publicada a Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina elaborada pela Fundaccedilatildeo Catarinense de Educaccedilatildeo Especial (FCEE) e pela Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo com o mesmo marco conceitual da Proposta Curricular do Estado Esta poliacutetica adota nomenclaturas e dinacircmicas para serviccedilos jaacute disponibilizados inclui as pessoas com diagnoacutestico de transtorno do deacuteficit de atenccedilatildeohiperatividade como puacuteblico da educaccedilatildeo especial e institui a co-regecircncia com o segundo professor (SANTA CATARINA 2014 p72 grifos nosso)
Pode-se inferir nesse sentido que o Plano Municipal de Educaccedilatildeo de
Camboriuacute se apoiou na poliacutetica estadual ao definir quem seriam os estudantes a
receber atendimento educacional especializado Com relaccedilatildeo ainda ao transtorno
do deacuteficit de atenccedilatildeo Leite etal (2012) evidencia um ponto de tensatildeo acerca de
encaminhamentos realizados pelas escolas dos estudantes com suspeita desse
transtorno uma vez que tem levado a um ―diagnoacutestico desse problema natildeo raros
feitos de maneira aligeirada e superficial combinada a uma prescriccedilatildeo exacerbada
de medicamentos para trataacute-los se constituindo em um fenocircmeno crescente no
cenaacuterio brasileiro (LEITE et al 2012 p 142) Sobre essa questatildeo Collares e
Moyseacutes (1996 p7) ressaltam ainda que
27
A Secretaria de Educaccedilatildeo Continuada Alfabetizaccedilatildeo Diversidade e Inclusatildeo - SECADI eacute a responsaacutevel pelo Programa de implantaccedilatildeo das SRM e o compreende como parte das poliacuteticas puacuteblicas inclusivas e como uma accedilatildeo que responde agrave necessidade histoacuterica de promover condiccedilotildees de acesso e permanecircncia no ensino regular dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial (BRASIL 2013)
89
[] existem crianccedilas com necessidades especiais[puacuteblico-alvo da EE] Entretanto o universo de crianccedilas normais que satildeo transformadas em doentes por uma visatildeo de mundo medicalizada da sociedade em geral e da instituiccedilatildeo escolar em particular eacute tatildeo grande que tem nos impedido de identificar e atender adequadamente as crianccedilas que realmente precisam de atenccedilatildeo especializada []
Ateacute aqui foi possiacutevel problematizar algumas questotildees que surgiram a partir
das respostas dos participantes da pesquisa agrave pergunta ―Quem satildeo os estudantes
puacuteblico-alvo do AEE A partir de agora volta-se a anaacutelise para as respostas dos
profissionais das equipes diretivas agrave questatildeo ―Qual a sua compreensatildeo sobre
serviccedilo do AEE As respostas fornecidas a ambas as questotildees foram
semelhantes uma vez que ao falarem sobre o serviccedilo a maioria dos participantes
focalizou o seu puacuteblico-alvo Pode-se dizer que as equipes diretivas lanccedilaram luz ao
fazecirc-lo sobre um aspecto importante desse serviccedilo que se refere a para quem ele eacute
ofertado Entretanto adverte-se para o risco de se tomar a parte pelo todo isto eacute
reduzir o AEE ao indiviacuteduo que eacute puacuteblico-alvo desse serviccedilo
Uma compreensatildeo fragmentada sobre esse serviccedilo pode levar a um
entendimento descontextualizado que deixa de fora da anaacutelise outros fatores que
compotildeem o AEE como o contexto social poliacutetico e econocircmico vigente a
participaccedilatildeo da famiacutelia e comunidade o envolvimento de todos os profissionais da
escola na efetivaccedilatildeo do AEE dentre os quais figura a equipe diretiva aqui estudada
as condiccedilotildees objetivas da escola e as concepccedilotildees teoacutericas que embasam a atuaccedilatildeo
dos integrantes das Equipes Diretivas
Em relaccedilatildeo agraves condiccedilotildees objetivas Paro (2016b) esclarece que se referem agrave
infraestrutura fiacutesica aos recursos humanos materiais e pedagoacutegicos agrave formaccedilatildeo
profissional em serviccedilo ao apoio aos professores dentre outros fatores Tais
condiccedilotildees podem favorecer ou desfavorecer o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial bem como o trabalho da equipe
diretiva escolar no que tange agrave implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do Atendimento
Educacional Especializado
Simplificar a compreensatildeo do AEE reduzindo-o ao estudante com
deficiecircncia pode indicar que os integrantes das equipes diretivas natildeo entendem o
serviccedilo como aquele que contribui para uma adequaccedilatildeo estrutural pedagoacutegica e
cultural voltado a eliminar barreiras propiciando interface entre o professor
90
especializado e o professor da sala comum Nessa perspectiva Garcia (2008 p21)
expocircs que
[] ainda que a implantaccedilatildeo de serviccedilos especializados nas redes de ensino signifique um ganho em termos de oferta educacional puacuteblica para os alunos com deficiecircncia eacute necessaacuterio questionar qual o papel exercido por tais serviccedilos e como estatildeo relacionados ao trabalho pedagoacutegico realizado na educaccedilatildeo baacutesica
Compreender o AEE a partir do seu puacuteblico-alvo exige o cuidado de se
considerar a dimensatildeo do indiviacuteduo sem responsabilizaacute-lo unicamente pelo processo
de escolarizaccedilatildeo uma vez que a culpabilizaccedilatildeo individual eacute ―[] uma das estrateacutegias
psicossociais mais sutis na tarefa de legitimaccedilatildeo da exclusatildeo (GUARESCHI 2010
p 151)
Direcionar o foco ao estudante tambeacutem pode dar indiacutecios de que o processo
de escolarizaccedilatildeo pode estar ocorrendo de forma precaacuteria28 nas escolas
pesquisadas de forma que somente um aspecto ndash o estudante ou de forma mais
especiacutefica sua deficiecircncia ndash esteja sendo considerada quando se trata de oferecer
um atendimento que enfoque sua necessidade educacional especiacutefica O caraacuteter
ilusoacuterio da inclusatildeo nessa pesquisa se revela quando o serviccedilo de AEE para alguns
integrantes das equipes diretivas estudadas natildeo eacute compreendido a partir de uma
perspectiva contextualizada que considere aspectos estruturais pedagoacutegicos e
histoacuterico-culturais mas se reduz agrave deficiecircncia do estudante
Ainda que a maioria dos participantes tenha demonstrado uma
compreensatildeo sobre o AEE focalizada em seu puacuteblico-alvo alguns deles
apresentaram um entendimento sobre o serviccedilo com foco no local em que eacute
realizado (a Sala de Recursos Multifuncionais) conforme evidenciado nas falas de
ED1d ED1o e ED6s
ED1
d Temos a sala mas natildeo tem especialista para trabalhar
ED1o Temos a sala mas natildeo tem especialista para trabalhar nossos
alunos ED6
s Com relaccedilatildeo a nossa unidade de ensino e do municiacutepio em geral a
falta de espaccedilo adequado e profissionais qualificados eacute de grande expressatildeo (grifo nosso)
28
Segundo Martins (1997) inclusatildeo precaacuteria significa que todas as pessoas estatildeo incluiacutedas na sociedade de algum modo contudo podem estar incluiacutedas de forma perversa subalterna marginal
91
Percebe-se que ao serem perguntados sobre como compreendiam o AEE a
primeira associaccedilatildeo feita pelos participantes foi com um espaccedilo fiacutesico ―temos a
sala e se referem agrave ―falta de espaccedilo adequado O que chama atenccedilatildeo junto dessa
primeira associaccedilatildeo eacute uma segunda que eacute com relaccedilatildeo ao profissional
especializado
Essas satildeo duas partes importantes do serviccedilo a Sala de Recursos
Multifuncionais e o professor especializado Basta olhar a Resoluccedilatildeo nordm 42009
(BRASIL 2009) que institui Diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional
Especializado na Educaccedilatildeo Baacutesica para verificar o destaque conferido a esses
aspectos jaacute no seu art 1ordm
[] os sistemas de ensino devem matricular os alunos com deficiecircncia transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidadessuperdotaccedilatildeo nas classes comuns do ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE) ofertado em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional Especializado da rede puacuteblica ou de instituiccedilotildees comunitaacuterias confessionais ou filantroacutepicas sem fins lucrativos (BRASIL 2009 p 1 grifo nosso)
Evidencia-se a partir da citaccedilatildeo que na proacutepria resoluccedilatildeo a primeira
referecircncia feita ao que eacute o Atendimento Educacional Especializado no art 1 eacute
acompanhada logo na sequecircncia da expressatildeo sala de recursos multifuncionais
Vecirc-se portanto que essa associaccedilatildeo entre AEE e SRM se faz visiacutevel natildeo apenas
nos dizeres dos participantes mas tambeacutem nos documentos oficiais Os discursos
legais nesse sentido revelam-se como determinaccedilotildees dos discursos das equipes
diretivas ao se referirem ao AEE Sobre isso Vaz (2013 p44) ressaltou que eacute
preciso considerar nos discursos legais
[] o caraacuteter impositivo e direcionador que muitas vezes utiliza argumentos com caraacuteter humanista para convencer a populaccedilatildeo sobre seus objetivos [] os sujeitos podem apresentar resistecircncias em implementar a poliacutetica na escola no entanto a abrangecircncia dos discursos de convencimento e adesatildeo eacute muito significativa e faz parte de uma concepccedilatildeo de sociedade cuja intenccedilatildeo primordial eacute manter as relaccedilotildees antagocircnicas entre o capital e o trabalho
Ao fazer um contrapondo Franccedila (2008) destaca que as poliacuteticas
educacionais natildeo satildeo simplesmente incorporadas agrave escola por seus profissionais
ao inverso disso elas satildeo interpretadas ressignificadas pelos sujeitos que nela
trabalham podendo produzir nessas poliacuteticas transformaccedilotildees significativas que a
92
princiacutepio foram instituiacutedas Isso ocorre porque os profissionais da educaccedilatildeo ―satildeo
sujeitos histoacuterico-sociais marcados pelas suas experiecircncias e valores portanto
podem desempenhar um papel ativo capaz de constituir outros sentidos no processo
de implementaccedilatildeo das poliacuteticas (FRANCcedilA 2008 p 21)
Ao seguir com as discussotildees no que tange ao professor especializado pode-
se perceber que esse por sua vez eacute destacado em dois (art 12 e 13) dos catorze
artigos que compotildeem a Resoluccedilatildeo nordm 42009 (BRASIL 2009) Os requisitos
referentes agrave formaccedilatildeo desse docente bem como suas atribuiccedilotildees satildeo explorados
nos art 12 e 13
Art 12 Para atuaccedilatildeo no AEE o professor deve ter formaccedilatildeo inicial que o habilite para o exerciacutecio da docecircncia e formaccedilatildeo especiacutefica para a Educaccedilatildeo Especial Art 13 Satildeo atribuiccedilotildees do professor do Atendimento Educacional Especializado I ndash identificar elaborar produzir e organizar serviccedilos recursos pedagoacutegicos de acessibilidade e estrateacutegias considerando as necessidades especiacuteficas dos alunos puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial II ndash elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade III ndash organizar o tipo e o nuacutemero de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais IV ndash acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular bem como em outros ambientes da escola V ndash estabelecer parcerias com as aacutereas intersetoriais na elaboraccedilatildeo de estrateacutegias e na disponibilizaccedilatildeo de recursos de acessibilidade VI ndash orientar professores e famiacutelias sobre os recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno VII ndash ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar habilidades funcionais dos alunos promovendo autonomia e participaccedilatildeo VIII ndash estabelecer articulaccedilatildeo com os professores da sala de aula comum visando agrave disponibilizaccedilatildeo dos serviccedilos dos recursos pedagoacutegicos e de acessibilidade e das estrateacutegias que promovem a participaccedilatildeo dos alunos
nas atividades escolares (BRASIL 2009 p 12 e 13)
Ao observar as atribuiccedilotildees do professor especializado natildeo eacute de se estranhar
que tamanha expectativa seja colocada sobre ele no que tange ao processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Expectativa essa
que pode culminar em
[] uma espeacutecie de hiper-responsabilizaccedilatildeo do docente como se as condiccedilotildees de acesso dos alunos e as proacuteprias condiccedilotildees em que se desenvolve sua atividade profissional natildeo estivessem limitadas por diretrizes normas e relaccedilotildees de poder tanto na escola como na sociedade (MARCELO 2009 p 124)
93
Pode-se dizer que em algumas das suas atribuiccedilotildees ele aparece como
responsaacutevel por atividades que implicam o envolvimento de outros profissionais que
compotildeem o contexto escolar Por exemplo na atribuiccedilatildeo V em que ele aparece
como responsaacutevel por estabelecer parcerias intersetoriais sem que haja alusatildeo de
que essa accedilatildeo demanda o envolvimento de outros sujeitos e do contexto escolar em
que estaacute inserido ou inciso VI em que ao docente eacute atribuiacuteda a responsabilidade
pela orientaccedilatildeo de professores e famiacutelias sobre os recursos pedagoacutegicos e de
acessibilidade utilizados pelo aluno sem que haja menccedilatildeo ao papel do orientador(a)
e supervisor(a) educacional nesse processo
Do mesmo modo na atribuiccedilatildeo VIII ao professor especializado eacute atribuiacuteda a
tarefa de estabelecer articulaccedilatildeo com o professor da sala comum sem que haja
referecircncia de que essa articulaccedilatildeo eacute uma via de matildeo dupla que exige tambeacutem o
envolvimento do professor da sala comum bem como o apoio do supervisor(a)
educacional com vistas a propiciar a interface entre esses profissionais no acircmbito
escolar
Apenas no art 9 da mesma Resoluccedilatildeo (BRASIL 2009 p 2) realccedila-se que a
elaboraccedilatildeo e a execuccedilatildeo do plano de AEE eacute de responsabilidade do professor que
atua no AEE em articulaccedilatildeo com ―[] os professores do ensino regular a
participaccedilatildeo das famiacutelias e em interface com os demais serviccedilos setoriais da sauacutede
da assistecircncia social entre outros necessaacuterios ao atendimento poreacutem sem
mencionar referecircncia ao papel da equipe diretiva nesse processo Presume-se que
esse papel esteja impliacutecito somente nos art 10 e 11 da referida Resoluccedilatildeo os quais
esclarecem que o plano de AEE deve integrar o projeto poliacutetico pedagoacutegico da
escola no qual se supotildee que haja envolvimento da equipe de gestatildeo escolar
Assim ao contemplar as compreensotildees dos integrantes das equipes diretivas
sobre o AEE pode-se evidenciar que em sua maioria os participantes parecem
restringir o serviccedilo ao estudante com deficiecircncia e agrave Sala de Recursos
Multifuncionaisprofessor especializado indicando uma compreensatildeo
descontextualizada sobre o AEE Essa visatildeo do AEE expressa nas falas das
equipes diretivas pode encontrar respaldo na legislaccedilatildeo e nas orientaccedilotildees e por
vezes pode culminar por limitar ou condicionar o fazer pedagoacutegico das equipes
diretivas
94
Para serem implementadas pressupotildeem-se que primeiramente as diretrizes
precisam ser analisadas e discutidas de forma criacutetica e reflexiva juntamente com
coletivo escolar Nesse sentido vislumbra-se o importante papel das equipes
diretivas em repensar e ressignificar juntamente com a comunidade escolar as
concepccedilotildees de mundo sociedade escola estudante educaccedilatildeo especial funccedilatildeo da
escola gestatildeo escolar formas de aprendizagens organizaccedilatildeo das turmas
Compreende-se que a realizaccedilatildeo dessa accedilatildeo nos espaccedilos escolares natildeo
ocorre de forma harmoniosa e colaborativa pelo contraacuterio eacute permeada por tensotildees
e conflitos mas ao mesmo tempo pode ser concebida como uma possiacutevel
alternativa como explicam Vioto e Vitaliano (2012 p 9) para
[] promover mudanccedilas educacionais de forma a transformar as escolas que historicamente se caracterizaram como espaccedilos educacionais destinados ao atendimento de alunos em classes regulares homogecircneas em escolas inclusivas nas quais a heterogeneidade possa ser percebida como princiacutepio baacutesico para elaboraccedilatildeo de todas as propostas pedagoacutegicas
Pensando nisso perguntou-se agraves equipes diretivas pesquisadas acerca de
suas compreensotildees sobre o trabalho do professor que atua no AEE a forma de
ingresso ao cargo a participaccedilatildeo nos processos coletivos da escola bem como
quem o acompanha e o auxilia no exerciacutecio de sua funccedilatildeo
Considerando que apenas as duas equipes diretivas ED2 e ED4 que
possuiacuteam o professor especializado responderam a esse item seratildeo analisadas e
discutidas somente as suas compreensotildees sobre o trabalho docente no AEE
Ao questionar os integrantes dessas duas equipes diretivas sobre o ingresso
do professor de AEE na funccedilatildeo foi possiacutevel observar que em ambos os casos foi
conduzido um processo de seleccedilatildeo segundo a ED2 um concurso puacuteblico e
conforme a ED4 um processo seletivo para contrataccedilatildeo temporaacuteria
Diferentemente da Rede Municipal de Joinville na qual de acordo com
Santos (2016) o ingresso docente no Atendimento Educacional Especializado tem
sido realizado geralmente por convite convocaccedilatildeo ou realocaccedilatildeo a Rede Municipal
de Camboriuacute parece privilegiar processos formais de seleccedilatildeo dos referidos
professores Chama a atenccedilatildeo contudo o fato de haver um(a) professor(a) de AEE
que natildeo eacute efetivo no cargo de acordo com o relato da ED4 Nesse caso pode-se
dizer que existe uma probabilidade de descontinuidade ou ruptura do trabalho
realizado por esse profissional o que pode tornar fraacutegil a estrutura do AEE na escola
95
e por conseguinte o processo de escolarizaccedilatildeo e o viacutenculo com os estudantes
puacuteblico-alvo da EE
Quanto agrave compreensatildeo da ED2 e ED4 sobre o trabalho realizado pelo(a)
professor(a) de AEE essa eacute evidenciada nas falas a seguir
ED2d [Eacute o profissional que] atende os alunos com deficiecircncia []
ED2o
Eacute um profissional diferenciado com uma qualificaccedilatildeo especializada que tem um olhar para o outro como um ser que precisa do mesmo carinho afeto paciecircncia para que alcance os objetivos ED2
s [Eacute um profissional que]
auxilia a promover a interaccedilatildeo do aluno
com os professores do ensino regular ED4
d Eacute um profissional que auxilia no desenvolvimento
ED4o
[Eacute um trabalho] muito significativo quando levado a seacuterio com responsabilidade Fazer atividades relevantes ED4
s [Eacute um trabalho] que auxilia a desenvolver as habilidades que satildeo
mais comprometidas nos alunos com deficiecircncia
Evidenciou-se que na maioria das falas dos integrantes das equipes
diretivas o foco do trabalho docente eacute o estudante com deficiecircncia Esse enfoque
tambeacutem eacute dado nas legislaccedilotildees que se referem ao AEE contudo centrar o trabalho
no estudante pode remeter a uma compreensatildeo que favoreccedila sua
descontextualizaccedilatildeo do processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Nas falas
supracitadas por exemplo natildeo apareceu um verbo essencial para descrever a
funccedilatildeo de um professor especializado ou natildeo ensinar Funccedilatildeo essa por sua vez
que se relaciona ao objetivo primeiro da escola que consiste em assegurar a
apropriaccedilatildeo dos conhecimentos produzidos historicamente de forma
sistematizada criacutetica e reflexiva a todos os estudantes
Uma forma de analisar essa constataccedilatildeo diz respeito ao modo como os
documentos oficiais relativos agrave Educaccedilatildeo Especial com destaque agrave Resoluccedilatildeo n
42009 (BRASIL 2009) concebem a funccedilatildeo docente com ―uma ecircnfase agraves
questotildees teacutecnicas referentes ao uso de recursos o que indica a secundarizaccedilatildeo
dos aspectos pedagoacutegicos relacionados ao ato de ensinar (ROSSETTO 2015 p
111)
Convergindo com a discussatildeo Michels (2011) salienta que
[] a centralidade das accedilotildees dos professores do atendimento educacional especializado (AEE) permanece nas teacutecnicas e nos recursos especializados [] Mesmo aquelas accedilotildees que dizem respeito agrave articulaccedilatildeo com a classe
96
comum natildeo estatildeo atreladas agrave discussatildeo pedagoacutegica e sim agrave utilizaccedilatildeo de recursos especiacuteficos (MICHELS2011 p 226)
Tambeacutem foi possiacutevel evidenciar que professor de AEE e seu trabalho foram
definidos por meio de adjetivos como como ―diferenciados ―especializados
―qualificados e ―significativos o que pode ser analisado de duas formas distintas
Uma delas eacute a de que haacute um reconhecimento por parte das equipes diretivas
pesquisadas da relevacircncia do trabalho docente no AEE para o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Outra diz respeito a um
entendimento que esse trabalho docente eacute tatildeo diferenciado e especializado a ponto
de distanciaacute-loseparaacute-lo do ensino regular contribuindo para a segregaccedilatildeo
(inclusatildeo precaacuteria) do estudante puacuteblico-alvo da EE
Ressalta-se ainda a compreensatildeo do(a) orientador(a) educacional da ED2
para quem a qualificaccedilatildeo especializada do(a) professor(a) de AEE lhe possibilita
desenvolver um olhar de carinho afeto e paciecircncia paracom o outro de modo a
atingir objetivos educacionais Essa compreensatildeo parece estar impregnada de
uma concepccedilatildeo que pode se traduzir em uma visatildeo de Educaccedilatildeo Especial em que
o cuidado eacute privilegiado e secundarizado portanto o processo de escolarizaccedilatildeo do
estudante puacuteblico-alvo da EE Entretanto essa forma de conceber o professor de
AEE eacute evidenciada tambeacutem na pesquisa de Santos (2016) que estudou as
narrativas de histoacuteria de vida de professoras atuantes no AEE Ao questionar
sobre as caracteriacutesticas de um professor de AEE as participantes apontaram em
seus discursos descritores como ―ser atenciosa carinhosa paciente acreditar na
capacidade e potencial dos alunos desenvolver um olhar diferente [] (SANTOS
2016 p75) A mesma autora explica que
[] uma outra questatildeo que pode ser problematizada eacute [] o lugar em que se coloca no discurso o aluno com deficiecircncia ndash que passa a ser aquele que primeiramente precisa de afeto (e por isso de uma professora atenciosa carinhosa e paciente) e cuja aprendizagem fica portanto em segundo plano Se a aprendizagem do aluno fica em segundo plano a atividade de ensinar algo a algueacutem proacutepria do professor tambeacutem fica [] (SANTOS 2016 p 76-77)
Isso natildeo significa que a sensibilidade a relaccedilatildeo afetiva na accedilatildeo pedagoacutegica
natildeo sejam importantes pelo contraacuterio esses aspectos constituem o ser professor
como explicaram Pimenta amp Anastasiou (2008 p14)
97
[] ser professor requer saberes e conhecimentos cientiacuteficos pedagoacutegicos educacionais sensibilidade indagaccedilatildeo teoacuterica e criatividade para encarar as situaccedilotildees ambiacuteguas incertas conflituosas [] presentes nos contextos escolares [] Eacute da natureza da atividade docente proceder agrave mediaccedilatildeo reflexiva e criacutetica entre as transformaccedilotildees sociais concretas e a formaccedilatildeo humana dos alunos questionando os modos de pensar sentir agir e de produzir e distribuir conhecimentos
Em siacutentese foi possiacutevel constatar que o trabalho do professor de AEE na
visatildeo das equipes diretivas acentuou a relaccedilatildeo entre docente especializado e
estudante puacuteblico-alvo da EE atenuando ou mesmo natildeo mencionando o seu papel
enquanto equipe diretiva nesse trabalho docente bem como de outros profissionais
e demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo Esse silenciamento pode ser
interpretado como sinal de um trabalho docente especializado que acontece de
forma isolada
Entende-se que o desenvolvimento de um trabalho conjunto entre equipe
diretiva professores da sala comum professor de AEE pais e estudantes pode
contribuir para o trabalho do professor de AEE e por conseguinte para o processo
de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico alvo da EE
Neste processo o papel da equipe diretiva parece exceder a elaboraccedilatildeo e o
acompanhamento do projeto poliacutetico-pedagoacutegico uma vez que pode ser
vislumbrado em uma diversidade de accedilotildees que Veiga (1995) chamou de accedilotildees
intencionais com sentidos expliacutecitos e compromissos definidos coletivamente
Dentre elas pode-se citar em especial a accedilatildeo de repensar e estabelecer
formalmente espaccedilos e tempos de discussatildeo conjunta das diretrizes da Educaccedilatildeo
Especial e da proposta de AEE bem como de estrateacutegias para a escolarizaccedilatildeo de
estudantes que compotildeem seu puacuteblico-alvo Reforccedila-se assim o trabalho coletivo
como condiccedilatildeo necessaacuteria para a implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
Seria ingecircnuo entretanto constatar a relevacircncia e necessidade do trabalho
coletivo entre os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo sem refletir sobre as
(im)possibilidades de viabilizaacute-lo nos espaccedilos escolares Isto porque como explicou
Michels (2006) a escola vai se constituindo e organizando no embate entre seu
cotidiano e as proposiccedilotildees poliacuteticas Aleacutem disso estaacute inserida em um contexto
social poliacutetico cultural e econocircmico que sabidamente se expressa nas relaccedilotildees e
na organizaccedilatildeo escolar
98
Considerando essa relaccedilatildeo entre proposiccedilotildees poliacuteticas e cotidiano da escola
pode-se dizer que o modo como a educaccedilatildeo vem sendo pensada no Brasil estaacute
ancorada em instrumentos regulatoacuterios e avaliativos Analisando o Plano de
Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (BRASIL 2007) por exemplo pode-se dizer que
como um todo esse plano estaacute baseado na criaccedilatildeo do Iacutendice de Desenvolvimento
da Educaccedilatildeo Brasileira (IDEB) que por sua vez consiste mais em uma forma de
regular do que definir criteacuterios para a Uniatildeo aplicar recursos na Educaccedilatildeo Pode-se
observar a expressatildeo dessa regulaccedilatildeo no uso perverso do IDEB para ranquear as
redes de ensino e acirrar a competiccedilatildeo entre as escolas (FERNANDES 2007
ARAUacuteJO 2004) Nesse sentido eacute possiacutevel dizer que em alguns aspectos planos e
poliacuteticas educacionais parecem apostar na competiccedilatildeo e natildeo no trabalho coletivo
dentro e entre escolas
A partir dessa reflexatildeo segue-se para a anaacutelise dos entendimentos das
equipes diretivas ED2 e ED4 em relaccedilatildeo agrave participaccedilatildeo do professor de AEE nos
processos coletivos da escola A esse respeito os integrantes das duas equipes
diretivas responderam
ED2d
Participa dando retornos dos atendimentos e de como estaacute o rendimento dos alunos ateacute mesmo se natildeo houve melhora ED2
o Eacute um profissional ativo participativo em Conselho de Classe e
demais reuniotildees pedagoacutegicas ED2
sEfetiva
ED4
dSempre trazem devolutivas dos seus trabalhos e repassam aos
professores ED4
o Reuniotildees pedagoacutegicas bem poucas
ED4s Pouco participativa
A partir destes relatos pode-se dizer que as equipes diretivas compreendem
que participar dos processos coletivos da escola implica dar um retorno ou uma
devolutiva a respeito do estudante que o professor de AEE atende como
expressaram ED2d e ED4d
Nessa forma de compreensatildeo nota-se uma apropriaccedilatildeo superficial do que
seria efetivamente participar desses processos uma vez que a participaccedilatildeo do
professor de AEE foi resumida agrave accedilatildeo de dar retornodevolutiva acerca do processo
de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE ao(a) professor(a) da sala
comum e agraves equipes diretivas
99
Jaacute no relato de ED2o e ED4o a participaccedilatildeo do professor de AEE em
processos coletivos da escola foi associada a tomar parte em conselhos de classe e
reuniotildees pedagoacutegicas Essas accedilotildees ainda que coletivas natildeo resumem todas as
possibilidades de processos coletivos que podem ser organizados nas escolas o
que leva a refletir sobre o que as equipes diretivas entendem por processos
coletivos escolares e ainda se haacute um vieacutes coletivo na escola
Entende-se por processos coletivos escolares todas as atividades que
envolvem um coletivo escolar organizado intencional e formalmente pela equipe
diretiva para tomar conhecimento discutir eou decidir questotildees pertinentes ao
processo de escolarizaccedilatildeo Exemplos desses processos satildeo a construccedilatildeo do PPP
da escola reuniotildees pedagoacutegicas conselho de classe formaccedilatildeo em serviccedilo
reuniotildees de pais dentre outros que segundo Libacircneo (2015) satildeo procedimentos
que podem ajudar na viabilizaccedilatildeo do trabalho no acircmbito escolar
Essas accedilotildees por outro lado a exemplo do conselho de classe podem ser
planejadas contemplando o maior nuacutemero de turmas possiacutevel de forma cansativa e
superficial buscando identificar somente as notas baixas e conferindo a culpa do
fracasso escolar ao estudante A esse respeito Paro (2016b p 81) faz o seguinte
comentaacuterio
[] os conselhos de classe por exemplo natildeo podem continuar sendo instacircncias meramente burocraacuteticas onde se procura justificar o baixo rendimento colocando a culpa em fatores externos agrave escola Eacute preciso prever instrumentos institucionais que avaliem natildeo apenas o rendimento do aluno mas o proacuteprio processo escolar como um todo com a presenccedila de alunos e pais pois eles satildeo os usuaacuterios da escola e a eles compete apontar problemas e dar sugestotildees []
Seguindo com as compreensotildees sobre os processos coletivos escolares
pode-se dizer que esse coletivo escolar diz respeito a todos os profissionais da
escola pais e estudantes (ou seus representantes) Para configurar um processo
escolar genuinamente coletivo compreende-se que eacute preciso que a maioria dos
envolvidos esteja representada constituindo-se como uma accedilatildeo democraacutetica e
participativa
A partir dessa compressatildeo pode-se pensar que quanto mais processos
coletivos uma equipe diretiva conseguir organizar em uma escola mais democraacutetica
e participativa ela se constituiraacute Ainda que responsaacutevel por organizar processos
coletivos escolares as equipes diretivas natildeo podem ser inteiramente
100
responsabilizadas por algo que natildeo possuem hoje condiccedilotildees favoraacuteveis para
efetivar Eacute necessaacuterio um envolvimento de todo o corpo social conforme explicitou
Paro (2012 p 169)
[] incorrer no equiacutevoco de imputar a uma instituiccedilatildeo apenas aquilo que eacute funccedilatildeo da sociedade como um todo Igualmente equivocada eacute a atitude de negar agrave escola qualquer papel na transformaccedilatildeo social esperando que a sociedade mude para mudar a escola Por que a escola natildeo eacute o local da mudanccedila natildeo significa que ela natildeo possa ser um dos locais dessa mudanccedila A revoluccedilatildeo eacute um processo que envolve todo o corpo social inclusive a escola
Um dos principais entraves para efetivar processos coletivos na escola diz
respeito a uma problemaacutetica vivenciada por parte das escolas puacuteblicas no Brasil o
cumprimento dos 200 dias letivos conforme regulamenta a Lei de Diretrizes e Bases
da Educaccedilatildeo Nacional (BRASIL 1996) Salienta-se que eacute considerado dia letivo
aquele programado para a aula com a presenccedila dos alunos
Assim as accedilotildees como conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas e
momentos de formaccedilatildeo precisam ser planejadas para aleacutem dessas 800 horas que
compotildeem a carga horaacuteria miacutenima dos 200 dias letivos Dessa forma por vezes a
equipe diretiva pode na tentativa de viabilizar esses processos coletivos escolares
propocirc-los no contraturno das aulas do professor Poreacutem ao fazecirc-lo um outro
obstaacuteculo pode surgir pois alguns professores lecionam em outros locais nesse
periacuteodo Com isso nem sempre os docentes poderatildeo estar presentes em atividades
propostas fora do horaacuterio de trabalho o que pode comprometer o desenvolvimento
de accedilotildees coletivas direcionadas a conhecer discutir e decidir questotildees pertinentes
ao processo de escolarizaccedilatildeo Poreacutem compreende-se tambeacutem a urgecircncia dos
sistemas de ensino em repensar as condiccedilotildees de trabalho do professor com o
intuito de favorecer dentre outros fatores a participaccedilatildeo desses profissionais nos
processos coletivos da escola
A possibilidade portanto de que as escolas possam se organizar de modo
coletivo passa natildeo somente pelo que as equipes diretivas compreendem por
―processos coletivos escolares Passa tambeacutem pelo reconhecimento de que as
condiccedilotildees de trabalho dos profissionais da educaccedilatildeo desfavorecem hoje o vieacutes
coletivo da escola e precisam ser repensadas e modificadas para que as equipes
101
diretivas possam de fato organizar espaccedilos e tempos de reflexatildeo discussatildeo e
decisatildeo em conjunto com os demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo
Para finalizar as anaacutelises sobre o que pensam as equipes diretivas sobre a
participaccedilatildeo do(a) professor(a) de AEE nos processos coletivos da escola foi
possiacutevel identificar que em alguns casos a participaccedilatildeo foi qualificada por alguns
integrantes das equipes diretivas como ―ativa ―efetiva ou ―pouca Eacute interessante
observar que o(a) professor(a) de AEE percebido por alguns integrantes da ED4
como como ―pouco participativo ou que ―participa de poucas reuniotildees pedagoacutegicas
eacute um(a) docente contratado (a) temporariamente Sobre o aumento dos contratos
temporaacuterios nas redes puacuteblicas de ensino Oliveira (2004) ressaltou que chegou
[] em alguns estados o nuacutemero correspondente ao de trabalhadores efetivos o arrocho salarial o respeito a um piso salarial nacional a inadequaccedilatildeo ou mesmo ausecircncia em alguns casos de planos de cargos e salaacuterios a perda de garantias trabalhistas e previdenciaacuterias oriunda dos processos de reforma do Aparelho de Estado tecircm tornado cada vez mais agudo o quadro de instabilidade e precariedade do emprego no magisteacuterio puacuteblico (OLIVEIRA 2004 p1140)
Longe de justificar a baixa participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos
coletivos da escola em funccedilatildeo do contrato temporaacuterio procura-se aqui atentar ao
fato de que esse tipo de contrataccedilatildeo pode dificultar a constituiccedilatildeo de viacutenculos com a
comunidade escolar e indicar uma possiacutevel precarizaccedilatildeo do trabalho desse
profissional
Reconhecendo a complexidade do trabalho docente no AEE e sabendo da
importacircncia da colaboraccedilatildeo e da coletividade nos processos escolares perguntou-
se agrave ED2 e agrave ED4 quem auxilia e acompanha o profissional do AEE no exerciacutecio de
sua funccedilatildeo na escola Observem-se suas respostas
ED2d
A psicopedagoga e toda a equipe diretiva
ED2o
O profissional da aacuterea psicopedagogo monitoras orientaccedilatildeo
supervisatildeo e direccedilatildeo escolar
ED2s
A pedagoga de inclusatildeo esclarece sobre as deficiecircncias e a
supervisora escolar auxilia o professor monitores em atividades que
desenvolvam habilidades
ED4d
Supervisatildeo e Direccedilatildeo
ED4o
Secretaria de educaccedilatildeo
ED4s
A Secretaria de Educaccedilatildeo tem uma coordenadora e quando necessaacuterio eu mesma auxilio
102
A diversidade de respostas possibilita inferir que a responsabilidade pelo
acompanhamento do(a) professor(a) especializado parece diluiacuteda entre diversos
profissionais desde a equipe diretiva ateacute o(a) psicopedagogo(a) monitor de inclusatildeo
e Secretaria de Educaccedilatildeo Isto pode indicar tanto uma responsabilidade
compartilhada quanto uma falta de clareza com relaccedilatildeo a quem compete essa
funccedilatildeo
Na tentativa de desvelar a quem compete a funccedilatildeo de acompanhar e auxiliar
o professor de AEE no exerciacutecio de sua funccedilatildeo recorreu-se a Lei Complementar nordm
192008 a qual dispotildee sobre a elaboraccedilatildeo implantaccedilatildeo e gestatildeo do Plano de
Carreira dos Profissionais do Magisteacuterio Puacuteblico Municipal de Camboriuacute e institui as
atribuiccedilotildees de cada funccedilatildeo
Segundo o art 17ordm da referida Lei agrave(ao) supervisor(a) educacional compete
acompanhar com os professores o processo didaacutetico-pedagoacutegico bem como
assessorar e orientar didaticamente o corpo docente da escola em articulaccedilatildeo com
o(a) diretor e o(a) orientador(a) escolar (CAMBORIUacute 2008)
Nesse mesmo sentido Alarcatildeo (2011) Placco Souza e Almeida (2012)
salientam que dentre as atribuiccedilotildees do supervisor destaca-se o apoio aos
professores e o fomento de uma cultura de formaccedilatildeo profissional estudo e pesquisa
no acircmbito escolar Entretanto para que essas accedilotildees sejam efetivadas no contexto
escolar eacute imprescindiacutevel o papel do diretor como articulador apoiando e
promovendo a mobilizaccedilatildeo dos profissionais bem como o do orientador que
acompanha mais de perto os alunos podendo contribuir com informaccedilotildees para a
discussatildeo e constituiccedilatildeo de estrateacutegias de ensino que favoreccedilam o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Conhecer o que pensam as equipes diretivas sobre o trabalho do professor de
AEE sua participaccedilatildeo em processos coletivos da escola e quem o acompanha e
auxilia no exerciacutecio de sua funccedilatildeo revelou que parte dos profissionais pesquisados
ao expressarem suas compreensotildees sobre o serviccedilo de AEE como um todo se
remeteram especificamente ao professor especializado e ao local desse
atendimento (SRM)
Esse foco especiacutefico evidencia mais uma vez o risco de uma compreensatildeo
limitada que toma a totalidade do AEE pela parte do espaccedilo fiacutesico em que ele
acontece e do professor especializado Quando esse serviccedilo eacute percebido como um
103
local separado para atender o estudante puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial pode-
se dizer que a segregaccedilatildeo29 que se pretende minimizar ou evitar por meio de
estrateacutegias como o AEE parece assombrar ainda os espaccedilos escolares
As perspectivas de exclusatildeo e segregaccedilatildeo que historicamente marcaram a
Educaccedilatildeo Especial nesse sentido encontram expressatildeo ainda hoje quando o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE eacute visto como ―[]
responsabilidade setorializada da Educaccedilatildeo Especial e natildeo como um conjunto de
medidas que o sistema de ensino como um todo de maneira interdisciplinar deveria
adotar para efetivar tal proposta (PLETSCH 2010 p 60)
Nessa perspectiva ao estudante puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eacute
conferido um lugar separado no processo educacional em funccedilatildeo de sua
deficiecircncia Configura-se assim uma inclusatildeo precaacuteria que segundo Meletti (2013
p 27) significa ―se inserir em um espaccedilo social jaacute existente e essencialmente
excludente Dessa forma possibilita-se uma compreensatildeo do serviccedilo de AEE como
um todo pois com uma visatildeo fragmentada do serviccedilo pode-se incorrer no risco
como apontaram Baptista Silva e Correia (2015) de pensar a Sala de Recursos
como um espaccedilo de reproduccedilatildeo e distanciamento do ensino comum Os autores
esclarecem ainda que
[] tais riscos se potencializam quando temos docentes especializados que investem prioritariamente no atendimento direto ao aluno isolando-o do grupoclasse e natildeo investindo no sistema ou nos sistemas dos quais esse aluno participa Esse eacute segundo acreditamos o principal desafio atual dirigido agrave gestatildeo dos espaccedilos especializados e agrave formaccedilatildeo de profissionais capazes de instituir parcerias que coloquem em accedilatildeo o docente de aacuterea disciplinar (pedagogia ou outras licenciaturas) e o professor especializado em educaccedilatildeo especial (BAPTISTA SILVA e CORREIA 2015 p 47)
Em parte a persistecircncia dessas marcas histoacutericas na Educaccedilatildeo Especial
pode ser explicitada pelo fato de que ―[] a proposta de uma Educaccedilatildeo Inclusiva
situa-se na contracorrente das condiccedilotildees objetivas de um modo de organizaccedilatildeo
escolar pautado em um modelo capitalista e tecnoloacutegico sustentado por relaccedilotildees de
exclusatildeo (RENGEL CORDEIRO e STEINER 2015 p 1358)
Em meio a esses tensionsamentos
29
A segregaccedilatildeo traduz a loacutegica da inclusatildeoexclusatildeo se trata portanto de uma inclusatildeo precaacuteria
104
[] encontramo-nos hoje diante do desafio de construir possiacuteveis caminhos que levem agrave formaccedilatildeo de uma educaccedilatildeo especial que realmente colabore com a educaccedilatildeo escolar de crianccedilas sob a perspectiva educacional sem no entanto apagar ou ignorar as necessidades de indiviacuteduos com caracteriacutesticas muitas vezes bastante especiacuteficas (KASSAR amp REBELO 2013 p 39)
Romper com a loacutegica de segregaccedilatildeo apresenta-se nesse sentido como um
dos desafios postos aos envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo e dentre eles agrave
equipe diretiva escolar Assim como a atuaccedilatildeo de diretores(as) coordenadores(as)
pedagoacutegicos e orientadores(as) educacionais pode contribuir para manter a loacutegica
de segregaccedilatildeo tambeacutem pode colaborar para transformaacute-la Por isso concorda-se
com Baptista (2013) quando esse diz que olhar para o presente e o futuro da
Educaccedilatildeo Especial leva a pensar um passado ndash aqui entendido como a loacutegica de
segregaccedilatildeo ndash que continua nos habitando ―esse passado somos noacutes merece
cuidado pois se constitui naquilo que conhecemos naquilo que nos orienta mas
que frequentemente ofusca nossa visatildeo e limita nossa possibilidade de enxergar
(BAPTISTA 2013 p 49)
Nesse sentido confirma-se a relevacircncia de se conhecer o modo como as
equipes diretivas pensam sobre o AEE uma vez que entendimentos reduzidos e
descontextualizados podem revelar que compreensotildees (e decorrentes praacuteticas) de
segregaccedilatildeo estatildeo sendo mantidas
Uma vez conhecidas essas compreensotildees podem ser se necessaacuterio
trabalhadas e reconfiguradas de modo a ampliar o entendimento sobre o serviccedilo de
AEE e o papel da comunidade escolar como um todo em sua viabilizaccedilatildeo rompendo
com a loacutegica de segregaccedilatildeo e dando espaccedilo para a loacutegica da educaccedilatildeo como direito
de todos
Reconhece-se nesse sentido que as equipes diretivas ao mesmo tempo que
satildeo condicionadas por ideologias fazem parte de uma organizaccedilatildeo social poliacutetica e
econocircmica marcada por relaccedilotildees da dialeacutetica exclusatildeoinclusatildeo e exercem seu
papel profissional em meio de tensionamentos poliacuteticos e legais No entanto elas
podem tambeacutem exercitar sua autonomia ainda que relativa por meio da reflexatildeo
criacutetica sobre a praacutetica compreendendo as ideologias em que estatildeo imersas pois
[] eacute pensando criticamente sobre a praacutetica de hoje ou de ontem que se pode melhorar a proacutexima praacutetica [] quanto mais me assumo como estou sendo e percebo as razotildees de ser e por que estou sendo assim mais me torno capaz de mudar (FREIRE 2013 p 40)
105
Claramente a conscientizaccedilatildeo e a reflexatildeo por si mesmas natildeo asseguram
uma mudanccedila no campo da accedilatildeo Mas por outro lado como explanou Paulo Freire
(2013) agrave medida em que a reflexatildeo cria novas opccedilotildees tanto mais ela pode provocar
rupturas escolhas e novos compromissos Sabendo que esses soacute se concretizaratildeo
materialmente quando aquilo que as equipes diretivas e demais profissionais da
escola pensam se transforme em accedilatildeo voltada a assegurar a formaccedilatildeo integral de
todos os estudantes
A escola puacuteblica comumente carece de condiccedilotildees estruturais pedagoacutegicas e
de recursos humanos contribuindo para que a equipe diretiva professores e demais
funcionaacuterios na maioria das vezes natildeo vislumbrem condiccedilotildees para realizar
mudanccedilas Entretanto Paro (2016a) adverte que
[] o que natildeo se pode eacute tomar os determinantes estruturais como desculpa para natildeo se fazer nada esperando-se que a sociedade se transforme para depois transformar a escola Sem a transformaccedilatildeo na praacutetica das pessoas natildeo haacute sociedade que se transforme de maneira consciente e duradoura Eacute aiacute na praacutetica escolar cotidiana que precisam ser enfrentados os determinantes mais imediatos do autoritarismo enquanto manifestaccedilatildeo num espaccedilo restrito dos determinantes estruturais mais amplos da sociedade (PARO 2016a p 26)
Dessa forma vislumbra-se o papel da equipe diretiva escolar na
implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE como uma possibilidade neste momento
histoacuterico de criar espaccedilos e tempos de diaacutelogo e reflexatildeo com o intuito de
possibilitar a participaccedilatildeo ativa de todos os envolvidos no processo de
escolarizaccedilatildeo no planejamento organizaccedilatildeo discussatildeo e implementaccedilatildeo das
estrateacutegias e diretrizes da Educaccedilatildeo Especial
Se ateacute o momento o que se viu por parte da maioria das equipes diretivas
foram compreensotildees fragmentadas em que se foca o estudante e ou o professor de
forma isolada pode-se refletir que hoje eacute ainda um desafio para elas pensar sobre o
AEE a partir de uma perspectiva contextualizada Ainda que presente na fala da
minoria das equipes diretivas essa perspectiva apareceu nos dizeres de ED7d e
ED3o que demonstraram compreender o AEE a partir do processo de
escolarizaccedilatildeo como um todo expressando um entendimento mais abrangente
sobre o serviccedilo
106
ED7d
[Compreendo o AEE] como uma inclusatildeo do aluno com deficiecircncia no ensino regular onde toda escola precisa de mudanccedilas desde o espaccedilo fiacutesico como tambeacutem no seu fazer do cotidiano ED3
o [O AEE] deveria ser mais abrangente aplicado por todos [os
profissionais da escolas] Mas tambeacutem nunca se sabe o que realmente fazer (grifo nosso)
Pode-se perceber que as falas dos integrantes das equipes diretivas (ED7d e
ED3o) se distanciam das compreensotildees individualizadas apresentadas
anteriormente visto que datildeo sinais de um entendimento mais amplo sobre o AEE
Suas falas remetem agrave compreensatildeo que o local do AEE eacute a ―escola e
portanto excede o espaccedilo fiacutesico da SRM Do mesmo modo indicam que todos os
envolvidos e natildeo apenas o professor especializado tecircm um papel importante no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
Salienta-se no entanto algumas expressotildees importantes contidas nos
dizeres de ED7d e ED3o ―precisa e ―deveria Enquanto ED7d fala que a escola
como um todo ―precisa se implicar cotidianamente na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo
do AEE ED3o adverte que este ―deveria ser mais abrangente e aplicado por todos
os profissionais da escola Se isto eacute algo que precisa e deveria ser feito pode-se
inferir que ainda natildeo eacute uma realidade vivenciada por essas escolas ou que estaacute em
processo de constituiccedilatildeo
Saber o que precisa e deveria ser feito no entanto eacute um passo importante
para transformaccedilatildeo da realidade Paulo Freire em um trecho de sua obra Pedagogia
da Esperanccedila explicou que
[] uma vez conhecida a realidade caberaacute ao homem sua modificaccedilatildeo A realidade natildeo pode ser modificada senatildeo quando o homem descobre que eacute modificaacutevel e que ele pode fazecirc-lo Eacute preciso portanto fazer desta conscientizaccedilatildeo o primeiro objetivo de toda a educaccedilatildeo antes de tudo provocar uma atitude criacutetica de reflexatildeo que comprometa a accedilatildeo (FREIRE 1979a p 40)
Fuck (2014 p 23) apoiada em Pontes (1992) explica que as concepccedilotildees ou
diferentes compreensotildees que habitam a escola exercem ―[] um papel determinante
no nosso pensamento e na nossa accedilatildeo Libacircneo (2015) vai aleacutem ao expor que
essas compreensotildees formam a cultura escolar e que a equipe diretiva possui um
papel de destaque nesse processo
[] a partir da interaccedilatildeo entre diretores coordenadores pedagoacutegicos professores funcionaacuterios e alunos a escola vai adquirindo na vivecircncia do dia-a-dia traccedilos culturais proacuteprios vai formando crenccedilas valores
107
significados modos de agir praacuteticas [] Essa cultura proacutepria vai sendo internalizada pelas pessoas e gerando um estilo coletivo de perceber as coisas de pensar os problemas de encontrar soluccedilotildees [] Haacute em cada escola uma forma dominante de accedilatildeo na interaccedilatildeo entre as pessoas (LIBAcircNEO 2015 p 109)
Pode-se dizer portanto que haacute uma estreita relaccedilatildeo entre as formas de
compreender o AEE e as praacuteticas a ele relacionadas no contexto escolar No que
tange agraves equipes diretivas que demonstraram compreender esse serviccedilo de forma
mais abrangente e contextualizada eacute possiacutevel inferir que tal maneira de pensar pode
se traduzir em accedilotildees como a constituiccedilatildeo de espaccedilos dialoacutegicos e reflexivos com o
intuito de planejar e organizar estrateacutegias para a implementaccedilatildeo das diretrizes da
Educaccedilatildeo Especial junto aos envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo a fim de
assegurar o direito a aprender desses estudantes
Muito embora as diretrizes de Educaccedilatildeo Especial sejam importantes para a
organizaccedilatildeo de sistemas educacionais inclusivos elas se apresentam como um
documento orientador da poliacutetica Assim o modo como acontece sua efetivaccedilatildeo
perpassa ainda pelos interesses dominantes da sociedade pela compreensatildeo dos
gestores dos sistemas de ensino assim como pelo entendimento da equipe diretiva
e dos profissionais da educaccedilatildeo como um todo os quais tecircm a incumbecircncia de sua
materializaccedilatildeo no acircmbito escolar Nessa perspectiva as diretrizes da Educaccedilatildeo
Especial se apresentaratildeo de modo diferente em cada municiacutepio e em cada
instituiccedilatildeo escolar uma vez que como expocircs Michels (2004) os encaminhamentos
poliacuteticos ganham vida ao serem subjetivados pelos sujeitos que os apreendem e
nesse sentido cada escola implementa as diretrizes agrave sua maneira
Ainda que as falas da minoria apontem para uma compreensatildeo menos
individualizada e isolada do processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico alvo
da Educaccedilatildeo Especial natildeo foi possiacutevel captar uma abordagem criacutetica em que a
Educaccedilatildeo Especial seja compreendida como parte da Educaccedilatildeo que se desenvolve
em um sistema poliacutetico econocircmico e cultural marcado pela dialeacutetica
inclusatildeoexclusatildeo
Em parte pode-se dizer que esse pensamento criacutetico natildeo eacute favorecido pela
forma como hoje os espaccedilos e tempos das escolas estatildeo organizados O modo
como a escola se organiza natildeo pode ser desvinculado de seu todo correspondente
isto eacute a organizaccedilatildeo social e econocircmica da qual faz parte ndash nesse caso um sistema
capitalista e tecnoloacutegico no qual as relaccedilotildees e as jornadas de trabalho satildeo
108
reguladas pelo capital e marcadas pela falta de [] tempo para o desenvolvimento
intelectual para o livre exerciacutecio do corpo e do espiacuterito O capital monopoliza o
tempo que o desenvolvimento e equiliacutebrio do corpo em perfeita sauacutede exigem
(MARX 2013 p 103) Nessa direccedilatildeo Jesus e Alves (2011 p27) questionam
[] como lidar com as contradiccedilotildees dos sistemas pedagoacutegicos que em sua maioria estatildeo voltados para a emergecircncia e exigecircncias de uma escola que como todo o sistema educacional econocircmico poliacutetico e social estaacute voltado a atender as demandas do projeto neoliberal []
Sobre isso Paulo Freire (1982) esclarece que conhecer as intencionalidades
das ideologias dominantes que imperam pode ser um ponto de partida para uma
accedilatildeo pedagoacutegica mais reflexiva reconhecendo que natildeo haacute como mudar de forma
global um sistema posto mas haacute como transformar de forma gradativa a realidade
na qual se estaacute inserido Isso porque a mudanccedila que se deseja para a educaccedilatildeo
ocorre por meio da accedilatildeo dos homens reivindicando por exemplo condiccedilotildees de
trabalho adequadas para que possam desenvolver uma praacutetica pedagoacutegica pautada
no princiacutepio de educaccedilatildeo para todos Se em um sistema capitalista a reivindicaccedilatildeo
individual possui raro eco vislumbra-se no coletivo organizado ndash nesse caso os
profissionais da Educaccedilatildeo ndash uma importante forccedila impulsionadora de mudanccedilas
[] natildeo haacute uma estrutura que seja exclusivamente estaacutetica como natildeo haacute uma absolutamente dinacircmica O dinamismo e o estaacutetico constituem a estrutura social Mas se toda a estrutura social que eacute histoacuterica tem como expressatildeo de sua forma de ser a ―duraccedilatildeo da dialeacutetica mudanccedila ndash estabilidade eacute necessaacuterio que se tenha dela uma visatildeo criacutetica [] Mudanccedila e estabilidade resultam ambas da accedilatildeo do trabalho que o homem exerce sobre o mundo (FREIRE 1982 p45 - 46)
Por outro lado o fato de natildeo terem sido identificadas compreensotildees mais
criacuteticas a respeito do AEE conduz ao reconhecimento de que essa se configura
como uma necessidade formativa para as equipes diretivas aqui estudadas Em
breve pesquisa empreendida na BDTD foi possiacutevel identificar que nos uacuteltimos vinte
anos (2006-2016) poucas pesquisas (114) foram realizadas sobre a formaccedilatildeo
continuada de diretores enquanto a formaccedilatildeo continuada de professores contou
com o expressivo nuacutemero de 2760 pesquisas no mesmo periacuteodo
Observar esse baixo nuacutemero de produccedilotildees cientiacuteficas brasileiras sobre a
―formaccedilatildeo continuada de diretores leva agrave constataccedilatildeo de que eacute preciso investir em
estudos acerca da referida temaacutetica a fim de conhecer se e como estatildeo sendo
109
organizados os espaccedilos e tempos de formaccedilatildeo das equipes diretivas que por sua
vez satildeo responsaacuteveis pela criaccedilatildeo de espaccedilos e tempos de reflexatildeo para os demais
profissionais da escola
Nesse acircmbito eacute possiacutevel questionar quem seriam os responsaacuteveis por
organizar os espaccedilos e tempos de reflexatildeo das equipes diretivas Ou seriam essas
equipes ao mesmo tempo responsaacuteveis por organizar esses tempos e espaccedilos e
usufruir deles para sua proacutepria formaccedilatildeo Jesus e Alves (2011 p 22) sugerem que
essa eacute uma demanda que ―deve estar vinculada agrave gestatildeo dos sistemas de ensino
no caso dessa pesquisa agrave Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo
Ainda sobre a formaccedilatildeo de diretores Paro (2016b p 60) identificou a partir
do relato de uma diretora que entrevistou em sua pesquisa que ―o que parece faltar
verdadeiramente [] satildeo conhecimentos pedagoacutegicos baacutesicos componentes
imprescindiacuteveis na formaccedilatildeo de bons educadores Ainda que se refira a uma
participante as palavras do autor convidam a (re)pensar a formaccedilatildeo dos gestores
escolares e reforccedilam a necessidade de se investir em mais pesquisas sobre o tema
bem como na proacutepria formaccedilatildeo das equipes diretivas visto que
[] existe por parte das Secretarias Estaduais de Educaccedilatildeo uma tendecircncia de grande investimento na promoccedilatildeo da capacitaccedilatildeo de diretores escolares sendo esse investimento significativamente menor entre as Secretarias Municipais de Educaccedilatildeo (LUumlCK 2011 p 221)
Em siacutentese ao investigar as compreensotildees das equipes diretivas sobre o
serviccedilo de AEE bem como o puacuteblico-alvo da EE foi possiacutevel identificar que a
maioria o associou ao estudante com deficiecircncia e um segundo nuacutemero expressivo
de participantes se remeteu a um lugar (SRM) e um profissional especiacutefico
(professor especializado) para apresentar seu entendimento sobre o serviccedilo Ainda
que em menor nuacutemero alguns profissionais das equipes diretivas pesquisadas
revelaram compreender o AEE a partir do processo de escolarizaccedilatildeo como um todo
poreacutem observou-se a ausecircncia de perspectivas criacuteticas que considerassem os
aspectos macroestruturais (condiccedilotildees objetivas da escola) envolvidos no referido
processo Foi possiacutevel constatar que o trabalho do professor de AEE na percepccedilatildeo
das equipes diretivas ressaltou a relaccedilatildeo entre docente especializado e estudante
puacuteblico-alvo da EE mitigando ou mesmo natildeo mencionando o seu papel enquanto
equipe diretiva nesse trabalho docente assim como de outros profissionais e demais
envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo Tambeacutem foi possiacutevel observar que em
110
algumas situaccedilotildees houve divergecircncias de entendimentos entre os integrantes da
mesma equipe apontando para a possibilidade de que o trabalho de gestatildeo vem
sendo realizado de forma desarticulada culminando na precarizaccedilatildeo do AEE bem
como do processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes de forma geral
Com essas consideraccedilotildees adentra-se a seguir na discussatildeo e anaacutelise dos
dados da uacuteltima categoria que versa sobre o papel da equipe diretiva na viabilizaccedilatildeo
do AEE
33 As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel das equipes
diretivas frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE30
A proposta desta categoria de anaacutelise eacute compor um entendimento a partir dos
dizeres das equipes diretivas escolares acerca das condiccedilotildees de acessibilidade
arquitetocircnica e pedagoacutegica que as escolas pesquisadas dispotildeem Tambeacutem se
propotildee conhecer a compreensatildeo das equipes diretivas em relaccedilatildeo ao seu papel
frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE assim como se a proposta de AEE estaacute contemplada
no PPP da escola Ao final deste subcapiacutetulo procura-se evidenciar os desafios
vivenciados pelas equipes diretivas escolares no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE
Para iniciar as discussotildees buscou-se primeiramente conceituar agrave luz da Lei
no 131462015 em seu art 3ordm e inciso I e IV o que se entende por acessibilidade
bem como as condiccedilotildees que dificultam a sua efetivaccedilatildeo que seratildeo aqui chamadas
de barreiras De acordo com a referida Lei considera-se acessibilidade
[] possibilidade e condiccedilatildeo de alcance para utilizaccedilatildeo com seguranccedila e autonomia de espaccedilos mobiliaacuterios equipamentos urbanos edificaccedilotildees transportes informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo inclusive seus sistemas e tecnologias bem como de outros serviccedilos e instalaccedilotildees abertos ao puacuteblico de uso puacuteblico ou privados de uso coletivo tanto na zona urbana como na
30
Para compor a anaacutelise e discussatildeo dos dados desta segunda categoria seratildeo analisadas as
respostas das seguintes questotildees do questionaacuterio apresentado no Apecircndice B desta dissertaccedilatildeo 16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE 17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE 20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento Educacional Especializada 25A escola em que vocecirc atua possui um projeto pedagoacutegico 26 O atendimento educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola 27Na escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
111
rural por pessoa com deficiecircncia ou com mobilidade reduzida (BRASIL 2015 sp)
Nessa perspectiva Manzini (2005) esclarece que o conceito de acessibilidade
remete a situaccedilotildees que satildeo vivenciadas em circunstacircncias concretas do dia a dia
por isso [] ―a acessibilidade parece ser algo que pode ser observado
implementado medido legislado e avaliado (MANZINI 2005 p32)
Em relaccedilatildeo agraves barreiras a Lei no 131462015 em seu art 3ordm e inciso IV
conceituou como sendo
[] qualquer entrave obstaacuteculo atitude ou comportamento que limite ou impeccedila a participaccedilatildeo social da pessoa bem como o gozo a fruiccedilatildeo e o exerciacutecio de seus direitos agrave acessibilidade agrave liberdade de movimento e de expressatildeo agrave comunicaccedilatildeo ao acesso agrave informaccedilatildeo agrave compreensatildeo agrave circulaccedilatildeo com seguranccedila entre outros classificadas em a) barreiras urbaniacutesticas as existentes nas vias e nos espaccedilos puacuteblicos e privados abertos ao puacuteblico ou de uso coletivo b) barreiras arquitetocircnicas as existentes nos edifiacutecios puacuteblicos e privados c) barreiras nos transportes as existentes nos sistemas e meios de transportes d) barreiras nas comunicaccedilotildees e na informaccedilatildeo qualquer entrave obstaacuteculo atitude ou comportamento que dificulte ou impossibilite a expressatildeo ou o recebimento de mensagens e de informaccedilotildees por intermeacutedio de sistemas de comunicaccedilatildeo e de tecnologia da informaccedilatildeo (BRASIL 2015 sp)
A respeito das barreiras arquitetocircnicas Nunes amp Sobrinho (2015) salientam
que satildeo expressotildees de barreiras atitudinais Essas por sua vez satildeo conceituadas
por Valdeacutes (2006 p6) como
[] as barreiras mais fortes e tambeacutem as mais intangiacuteveis pois envolvem componentes cognitivos afetivos e de conduta formados histoacuterica e socialmente que incluem desde fatores sociais como o estigma da deficiecircncia e sua difiacutecil diferenciaccedilatildeo de doenccedila a visatildeo tradicional da pessoa com deficiecircncia como coitadolsquo e digno de laacutestima ateacute fatores de personalidade e da histoacuteria de vida
Desse modo ao pensar a realidade das escolas puacuteblicas brasileiras a
acessibilidade nos espaccedilos escolares implicaria na reduccedilatildeo das barreiras
anteriormente citadas no entorno e no interior da escola tornando seus espaccedilos
paulatinamente acessiacuteveis e adequados para receber os estudantes considerados
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Essa prerrogativa tambeacutem estaacute contida na
Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva
(BRASIL 2008) a qual prevecirc a oferta do Atendimento Educacional Especializado
112
nas escolas puacuteblicas de ensino regular com a garantia de condiccedilotildees de acesso e
permanecircncia aos estudantes puacuteblico-alvo da EE Essa ―garantia contudo estaacute
longe de ser assegurada somente pela existecircncia de tal poliacutetica Conforme explicou
Garcia (2013 p 104) ―[] o acesso e permanecircncia dos estudantes da educaccedilatildeo
especial natildeo tem se configurado em garantia de sucesso da poliacutetica educacional
Ressalta-se ainda que embora as condiccedilotildees de acessibilidade possam ser
asseguradas elas sozinhas natildeo proporcionam o acesso e a permanecircncia do
estudante na escola Para isso eacute preciso considerar um conjunto de accedilotildees
educacionais intencionais planejadas e articuladas entre si por parte da equipe
diretiva escolar em conjunto com os demais profissionais da escola e pais Um
exemplo de accedilatildeo nesse sentido seria a sistematizaccedilatildeo de espaccedilos e tempos
permanentes de discussotildees e reflexotildees ―acerca das estrateacutegias pedagoacutegicas a
serem utilizadas tomando como referecircncia o processo de desenvolvimento escolar
dos estudantes (GARCIA 2013 108) envolvendo todos os profissionais e
comunidade escolar
Com esses conceitos definidos adentra-se agora nas discussotildees sobre a
acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas A comeccedilar pela
acessibilidade arquitetocircnica foi possiacutevel observar que do total de 22 participantes
14 responderam que haacute acessibilidade na escola em que atuam enquanto 8
informaram que natildeo O Graacutefico 9 a seguir especifica as respostas por integrante das
equipes diretivas
Graacutefico 9 Sobre a acessibilidade arquitetocircnica nas escolas pesquisadas
Fonte Primaacuteria (2016)
113
Percebeu-se que os 14 integrantes que mencionaram haver acessibilidade
em sua escola associaram-na agrave existecircncia de rampas banheiros corrimatildeos
elevadores e placas em braile Pode-se dizer que as associaccedilotildees feitas pelos
participantes foram em parte devidas agrave maneira como a pergunta estava formulada
no questionaacuterio que citava rampa e corrimatildeo como exemplos de indiacutecios de
acessibilidade arquitetocircnica
Contudo ao mesmo tempo que afirmaram haver acessibilidade apontaram
alguns aspectos reveladores de que essa acessibilidade natildeo eacute de fato contemplada
de forma adequada nas escolas ―[acessibilidade] somente no teacuterreo (ED1) ―falta
corrimatildeo e elevadores (ED2) ―[acessibilidade] em alguns pontos do banheiro
(ED6) O Quadro 10 abaixo apresenta um detalhamento de suas respostas
Quadro 10 Condiccedilotildees de acessibilidade arquitetocircnica e pedagoacutegica nas escolas pesquisadas
ED Acessibilidade arquitetocircnica
ED1d Sim somente no teacuterreo
ED1o Sim somente no teacuterreo
ED1s Natildeo
ED2d Sim Rampa e banheiros Falta corrimatildeo e elevadores
ED2o Natildeo
ED2s Sim Rampa e banheiros Falta corrimatildeo e elevadores
ED3d Sim rampa
ED3o Sim rampa
ED3s Natildeo
ED4d Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4o Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4s Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED4s Sim rampa banheiros corrimatildeo placas em braile etc
ED5d Sim rampa banheiros
ED5o Sim rampa banheiros
ED5s Sim rampa banheiros
ED6d Sim em alguns pontos como banheiros
ED6o Natildeo
ED6s Natildeo
ED7d Natildeo
ED7o Natildeo
ED7s Natildeo
Fonte Primaacuteria (2016)
Evidencia-se por meio do Quadro 10 que na visatildeo das equipes diretivas os
espaccedilos escolares parecem inacessiacuteveis ou parcialmente acessiacuteveis aos estudantes
puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Tal situaccedilatildeo por sua vez se apresenta como
barreiras que podem limitar a circulaccedilatildeo desses estudantes nos espaccedilos escolares
e por conseguinte reduzir suas possibilidades de constituir relaccedilotildees e outras redes
114
de aprendizagens Redes essas entendidas como situaccedilotildees de interaccedilatildeo entre
pessoas as quais favoreccedilam apropriaccedilotildees dos conhecimentos produzidos
historicamente seja dentro da sala de aula com professores ou fora dela com seus
pares Essas situaccedilotildees se mostram como oportunidades para elaborar
contextualizar eou ressignificar os conhecimentos apreendidos
A acessibilidade nos espaccedilos escolares como jaacute discutido eacute importante mas
precisa ser concebida como parte da estrutura da escola que tambeacutem compotildee o
AEE ou seja de forma contextualizado considerando os demais fatores imbricados
pois quando compreendida de forma isolada pode-se incorrer no risco de um
entendimento que pouco pode contribuir com o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE
De acordo com o art 28 da Lei no 131462015 prover a acessibilidade nos
espaccedilos escolares eacute uma incumbecircncia da Uniatildeo juntamente com o poder puacuteblico
municipal Nesse sentido eacute possiacutevel constatar uma ecircnfase conferida ao poder
puacuteblico no provimento de acessibilidade aos sistemas de ensino
[] art 28 Incumbe ao poder puacuteblico assegurar criar desenvolver implementar incentivar acompanhar e avaliar I - sistema educacional inclusivo em todos os niacuteveis e modalidades bem como o aprendizado ao longo de toda a vida II - aprimoramento dos sistemas educacionais visando a garantir condiccedilotildees de acesso permanecircncia participaccedilatildeo e aprendizagem por meio da oferta de serviccedilos e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusatildeo plena [] XV - acesso da pessoa com deficiecircncia em igualdade de condiccedilotildees a jogos e a atividades recreativas esportivas e de lazer no sistema escolar XVI - acessibilidade para todos os estudantes trabalhadores da educaccedilatildeo e demais integrantes da comunidade escolar agraves edificaccedilotildees aos ambientes e agraves atividades concernentes a todas as modalidades etapas e niacuteveis de ensino XVII - oferta de profissionais de apoio escolar XVIII - articulaccedilatildeo Intersetorial na implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas (BRASIL 2015 sp grifos nossos)
O Decreto nordm 76112011 (BRASIL 2011) por sua vez enfatiza o papel do
Ministeacuterio da Educaccedilatildeo no apoio teacutecnico e financeiro para adequaccedilotildees
arquitetocircnicas de preacutedios escolares bem como para elaboraccedilatildeo produccedilatildeo e
distribuiccedilatildeo de recursos educacionais para a acessibilidade com o intuito de prover
condiccedilotildees de acesso participaccedilatildeo e aprendizagem no ensino regular aos
estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo especial
115
Destaca-se tambeacutem o Programa Escola Acessiacutevel criado a partir do Decreto
ndeg60942007 (BRASIL 2007) que pode disponibilizar recursos financeiros por meio
do Programa Dinheiro Direto Escola ndash PDDE (BRASIL 2013) para escolas puacuteblicas
das redes municipal estadual e do Distrito Federal que informaram no Censo
Escolar possuir matriacuteculas de estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial no
intuito de assegurar a acessibilidade arquitetocircnica nos preacutedios escolares e
possibilitar a compra de materiais e equipamentos de tecnologia assistiva
Pode-se perceber que ao poder puacuteblico compete o repasse de recursos
financeiros que por sua vez seratildeo geridos e planejados pelas escolas Essa forma
de gestatildeo parece estar intimamente conectada com as reformas no aparelho do
Estado durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso consolidada
com a publicaccedilatildeo do Plano Diretor no ano de 1995 (BRASIL 1995)Tais reformas
redefiniram e delimitaram as funccedilotildees do Estado transformando-o em um Estado
miacutenimo para prover mas ampliado para normatizar criando mecanismos
regulatoacuterios de maior controle da aprendizagem e a construccedilatildeo de consensos os
quais ―[] tornam-se fundamentais para a introduccedilatildeo de uma nova racionalidade na
gestatildeo escolar e no sistema educacional capaz de envolver professores equipe
pedagoacutegica e pais em torno de um uacutenico projeto (SANTOS 2012 p 36)
Ainda sobre estas reformas Michels (2006 p408) enfatizou que
[] em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo e especificamente sobre o trabalho na escola a mudanccedila no papel do Estado pode ser pensada por no miacutenimo dois pontos a) o Estado retrai-se na provisatildeo destacando o papel da unidade escolar como responsaacutevel pela educaccedilatildeo das crianccedilas jovens e adultos mas mantendo o controle do que eacute feito pela escola por meio da avaliaccedilatildeo (SAEB ndash Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica ENEM ndash Exame Nacional do Ensino Meacutedio ENC ndash Exame Nacional de Cursos) b) a retirada do Estado como provedor se daacute mediante a entrada da sociedade civil nas unidades escolares para auxiliar na resoluccedilatildeo de problemas principalmente por meio de programas como por exemplo o Programa Amigos da Escola e o Programa Adote um Aluno (MICHELS 2006)
As colocaccedilotildees de Michels (2006) concordam com o que Freitas (2011)
discutiu a respeito do contexto neotecnicista que se apresenta sob a forma da
―responsabilizaccedilatildeo31 e ―meritocracia enfatizando o gerenciamento da forccedila de
31 Segundo Freitas (2011 p338) ―[] responsabilizaccedilatildeo envolve trecircs elementos testes para os estudantes divulgaccedilatildeo puacuteblica do desempenho da escola e recompensas e sanccedilotildees [] As recompensas e sanccedilotildees compotildeem o caraacuteter meritocraacutetico do sistema mas natildeo soacute jaacute que a proacutepria divulgaccedilatildeo puacuteblica dos resultados da escola constitui em si mesma uma exposiccedilatildeo puacuteblica que
116
trabalho da escola por meio de bocircnus puniccedilotildees e controle pelo processo pautado
em teorias da ciecircncia da informaccedilatildeo e sistemas econometria e psicologia
behaviorista
Nesse contexto pode-se identificar que a forma de gestatildeo proposta nessa
reforma engloba por um lado a expressatildeo de uma agenda de governo que delega
responsabilidades estatais ao mesmo tempo em que intensifica sua forccedila
normatizadora Por outro lado pode tambeacutem se estabelecer como uma oportunidade
para que a equipe diretiva consolide forccedilas no interior da escola a fim de reivindicar
ao poder puacuteblico as condiccedilotildees necessaacuterias para prover o acesso e permanecircncia no
ensino regular a todos os estudantes Isso porque inspirando-se em Paro (2016)
pode-se dizer que o coletivo escolar organizado a partir da accedilatildeo das equipes
diretivas constitui uma espeacutecie de ―mola propulsora para reinvindicaccedilatildeo das
referidas condiccedilotildees
Nesse sentido pode-se dizer que assegurar a acessibilidade em termos
como por exemplo de provimento de recursos eacute uma responsabilidade que
compete ao poder puacuteblico Como pontuou Alves (2010)
[] sugere-se que cada um assuma sua responsabilidade em relaccedilatildeo agrave efetivaccedilatildeo da educaccedilatildeo inclusiva cabendo ao poder puacuteblico garantir as condiccedilotildees adequadas agrave sua implementaccedilatildeo entre as quais estatildeo as adaptaccedilotildees na estrutura fiacutesica material didaacutetico adequado e condiccedilotildees reais de formaccedilatildeo docente para atuar na diversidade (ALVES 2010 p4)
Contudo haacute que se reconhecer como fez Santos (2016) que a existecircncia de
leis e diretrizes com vistas a uma educaccedilatildeo para todos e ateacute mesmo o
direcionamento de recursos financeiros natildeo garante a efetivaccedilatildeo das poliacuteticas em si
Eacute a partir desse reconhecimento que se pode vislumbrar o papel da gestatildeo escolar
(equipe diretiva em conjunto com os demais envolvidos no processo de
escolarizaccedilatildeo) no que se refere agrave organizaccedilatildeo das condiccedilotildees necessaacuterias para a
realizaccedilatildeo do AEE Esse papel estaacute relacionado tanto com a reivindicaccedilatildeo de
recursos quando faltantes quanto com o planejamento coletivo de como esses
seratildeo utilizados quando recebidos
Nesse sentido quando se pensa em uma forma de gestatildeo escolar que
perpassa a construccedilatildeo coletiva envolvendo a equipe diretiva em conjunto com os
demais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo eacute possiacutevel se remeter a um tipo
envolve alguma recompensa ou sanccedilatildeo puacuteblicas A meritocracia eacute uma categoria portanto que perpassa a responsabilizaccedilatildeo
117
especiacutefico de gestatildeo a gestatildeo democraacutetica-participativa Sobre isso Paro (2016a p
13) ressaltou que ―[] toda vez que se propotildee uma gestatildeo democraacutetica da escola
puacuteblica baacutesica que tenha efetiva participaccedilatildeo de pais educadores alunos e
funcionaacuterios da escola isso acaba sendo considerado como coisa utoacutepica O autor
realccedila ainda que utopia natildeo se trata de um horizonte inalcanccedilaacutevel mas de um
resultado desejaacutevel que pressupotildee um processo e por isso pode vir a existir a partir
de um movimento de busca Em consonacircncia com essa discussatildeo Freire (1979b
p16) salienta que para ele o utoacutepico natildeo eacute o ―irrealizaacutevel a utopia natildeo eacute o idealismo
eacute a dialetizaccedilatildeo dos atos de denunciar e anunciar o ato de denunciar a estrutura
desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante Por essa razatildeo a utopia eacute
tambeacutem um compromisso histoacuterico
Nessa perspectiva Cury (2005) Oliveira (2008) e Paro (2016a) revelam que a
gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas eacute um processo em constituiccedilatildeo Oliveira
(2008 p95) salienta por sua vez que ―a garantia de um artigo constitucional que
estabelece a gestatildeo democraacutetica natildeo eacute suficiente para a sua efetivaccedilatildeo
Nessa direccedilatildeo Libacircneo (2015) ressalta que a reorganizaccedilatildeo da escola
implica a compreensatildeo de dois aspectos a participaccedilatildeo na gestatildeo enquanto
princiacutepio democraacutetico e a gestatildeo da participaccedilatildeo como princiacutepio teacutecnico De acordo
com o autor as escolas precisam desenvolver processos democraacuteticos e
colaborativos de trabalho e tomadas de decisotildees Por outro lado precisam funcionar
bem tecnicamente a fim de conseguir alcanccedilar seus objetivos o que requer a gestatildeo
da participaccedilatildeo Ainda segundo o autor a gestatildeo da participaccedilatildeo significa
[] alcanccedilar democraticamente os objetivos da escola A participaccedilatildeo eacute o principal meio de tomar decisotildees de mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos os conteuacutedos as formas de organizaccedilatildeo do trabalho e que ambiente de trabalho desejam para si proacuteprios e para os outros A participaccedilatildeo se viabiliza por interaccedilatildeo e participaccedilatildeo diaacutelogo [] Nesse sentido a melhor forma de gestatildeo eacute aquela que cria um sistema de praacuteticas interativas e colaborativas para trocas de ideias e experiecircncias [reflexotildees estudos][] (LIBAcircNEO 2015 p281)
Ante o exposto entende-se que embora existam tensotildees e contradiccedilotildees
quando se fala em gestatildeo democraacutetica nas escolas puacuteblicas assim mesmo essa
pode ser concebida como uma possiacutevel forma de gestatildeo escolar de modo a
favorecer e contribuir para a realizaccedilatildeo do AEE na escola e por conseguinte com o
processo de escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes se levar em conta como
explicou Paro (2003) que
118
[] a possibilidade de uma administraccedilatildeo [gestatildeo] democraacutetica no sentido de sua articulaccedilatildeo [] com os interesses da sociedade como um todo tem a ver com os fins e a natureza da coisa administrada No caso da administraccedilatildeo [gestatildeo] escolar sua especificidade deriva pois a) dos objetivos que se buscam alcanccedilar com a escola b) da natureza do processo que envolve essa busca Esses dois aspectos natildeo estatildeo de modo nenhum desvinculados um do outro A apropriaccedilatildeo do saber e o desenvolvimento da consciecircncia criacutetica como objetivos de uma educaccedilatildeo transformadora determinam () a proacutepria natureza peculiar do processo pedagoacutegico escolar ou seja esse processo natildeo se constitui em mera diferenciaccedilatildeo do processo de produccedilatildeo material que tem lugar na empresa mas deriva sua especificidade de objetivos (educacionais) peculiares objetivos estes articulados com os interesses sociais mais amplos e que satildeo por isso antagocircnicos aos objetivos de dominaccedilatildeo subjacentes agrave atividade produtiva capitalista (PARO 2003 p151)
Considerando os princiacutepios de uma gestatildeo democraacutetica retorna-se agraves
discussotildees sobre a acessibilidade refletindo o que se pretende propiciar para quem
e com que objetivos Dessa forma refletir sobre barreiras arquitetocircnicas e atitudinais
compotildee o cenaacuterio de discussatildeo sobre qual a finalidade da Educaccedilatildeo na escola
puacuteblica brasileira hoje
A partir dessas reflexotildees retoma-se agrave questatildeo da acessibilidade
arquitetocircnica Observou-se que para cada instacircncia (poder puacuteblico e gestatildeo escolar)
haacute uma responsabilidade no que tange agrave acessibilidade e que existe no Brasil um
programa especiacutefico para destinaccedilatildeo de recursos puacuteblicos a fim de asseguraacute-la
(Programa Escola Acessiacutevel) Procurou-se nesse sentido investigar se as escolas
da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute haviam sido contempladas pelo
Programa Escola Acessiacutevel
No site do MEC (BRASIL 2016) foi possiacutevel localizar duas listagens nominais
das escolas a serem contempladas nos anos de 2012 e 2013 (Resoluccedilatildeo FNDE nordm
272012 e nordm192013) constatando que dentre as escolas a serem contempladas
em 2012 encontravam-se 3 escolas que fazem parte desta pesquisa Jaacute no ano de
2013 percebeu-se um incremento nesse nuacutemero que passou a totalizar 10 escolas
dentre as quais 5 compotildeem esta pesquisa conforme pode-se conferir no Quadro 11
a seguir
119
Quadro11 Escolas pesquisadas a serem contempladas pelo Programa Escola Acessiacutevel por meio do PDDE no ano de 2012 e 2013
2012 2013
E1 E1
E4 E2
E7 E4
E5
E7
Fonte Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 2016a)
Continuando a pesquisa na base de dados do MEC denominada Sistema
Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle ndash SIMEC32 (BRASIL 2016b) foi
possiacutevel identificar que a Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute recebeu o repasse
desse recurso financeiro somente no ano de 2013 conforme eacute possiacutevel conferir no
Graacutefico 10
Graacutefico10 Recursos financeiros transferidos pelo PDDEEscola Acessiacutevel agraves Redes Estadual e Municipal de Ensino de Camboriuacute
Fonte Dados extraiacutedos do Sistema Integrado de Monitoramento Execuccedilatildeo e Controle ndash SIMEC do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo (BRASIL 2016b)
32
Para aprofundar o conhecimento sobre o assunto pode-se acessar o site do Ministeacuterio da
Educaccedilatildeo Disponiacutevel em
lthttppainelmecgovbrpainelphpmodulo=principaldetalhamentoIndicadorampacao=Aampdetalhes=mu
nicipioampmuncod=4203204gt Acesso em 17102016b
120
Evidenciou-se nesse sentido que o recebimento de tal recurso natildeo eacute
imediato agrave publicaccedilatildeo da listagem de escolas que podem ser contempladas Para
fazer parte da listagem em primeiro lugar eacute necessaacuterio que as escolas tenham
aderido ao Programa de Implementaccedilatildeo de Salas de Recursos Multifuncionais e
informado no Censo Escolar a quantidade de matriacuteculas de estudantes puacuteblico-alvo
da Educaccedilatildeo Especial Uma vez que a listagem eacute divulgada e a escola se vecirc
contemplada cabe agrave equipe diretiva proceder com a realizaccedilatildeo de seu cadastro no
SIMEC onde deve inserir o Plano de Atendimento um documento que expressa seu
planejamento para utilizaccedilatildeo dos recursos a serem recebidos (BRASIL 2013)
Sob uma oacutetica superficial poder-se-ia inferir que a equipe diretiva em
especial precisa estar atenta e atualizada sobre os prazos e procedimentos
relacionados aos programas de repasse de recursos existentes para garantir que a
transferecircncia do recurso aconteccedila Contudo haacute um importante papel a ser
desenvolvido nesse acircmbito pelas Secretarias de Educaccedilatildeo que podem atuar como
elo entre o poder puacuteblico e as equipes diretivas escolares mantendo-as informadas
a respeito dos programas de repasse de recursos bem como acompanhando e
auxiliando no processo de execuccedilatildeo desses programas uma vez que de acordo
com o art 5ordm da ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 inciso I as prefeituras municipais
e secretarias distritais e estaduais satildeo responsaacuteveis
[] pela formalizaccedilatildeo dos procedimentos necessaacuterios ao recebimento execuccedilatildeo e prestaccedilatildeo de contas dos recursos do programa destinados agraves escolas de suas redes de ensino que natildeo possuem UEx [Unidade Executora] bem como pelo recebimento anaacutelise e emissatildeo de parecer das prestaccedilotildees de contas das UEx [Unidade Executora] representativas de suas escolas ou dos polos presenciais da UAB [Universidade Aberta do Brasil] a ela vinculados [] (BRASIL 2013 sp)
Considera-se relevante destacar ainda de acordo com a mesma
ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 que somente 20 do valor dos recursos
transferidos por meio do PDDE podem ser utilizados para aquisiccedilatildeo de itens de
capital33 Ou seja algumas necessidades de investimento para acessibilidade como
33
ResoluccedilatildeoCDFNDE nordm 102013 ―[] art 4ordm Os recursos financeiros seratildeo destinados agraves escolas referidas no art 1deg na proporccedilatildeo de 80 (oitenta por cento) para cobertura de despesas de custeio e 20 (vinte por cento) para cobertura de despesas de capital de acordo com o nuacutemero de estudantes da educaccedilatildeo baacutesica matriculados na unidade educacional extraiacutedo do censo escolar do ano anterior ao do repasse e tomando como paracircmetros os intervalos de nuacutemero de alunos e os correspondentes valores [] (BRASIL 2013)
121
o elevador mencionado pela equipe diretiva ED2 excederiam o valor estipulado com
itens de capital Nesse caso entende-se que uma alternativa eacute a instacircncia municipal
em seu planejamento orccedilamentaacuterio anual contemplar essa aquisiccedilatildeo para as
unidades de ensino
Pode-se perceber que as escolas em que atuam as equipes diretivas
pesquisadas ainda natildeo contam com acessibilidade em todos os seus espaccedilos
internos e externos Entretanto ao analisar os dados do Censo Escolar de 2015
(INEP 2015) sobre a situaccedilatildeo da acessibilidade nas escolas municipais brasileiras
de ensino fundamental constatou-se que a acessibilidade estaacute longe de ser um
problema pontual do municiacutepio pesquisado
No que se refere agraves questotildees de acessibilidade arquitetocircnica os achados
apontaram que 60 das escolas municipais de ensino fundamental de Camboriuacute
contam com dependecircncias acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo
especial enquanto Santa Catarina apresenta 40 e o Brasil como um todo apenas
20 revelando que a acessibilidade nas escolas eacute uma problemaacutetica nacional O
Quadro 12 que segue apresenta essa informaccedilatildeo bem como a situaccedilatildeo de
acessibilidade dos sanitaacuterios das escolas
Quadro 12 Acessibilidades nas escolas municipais de ensino fundamental no Brasil SC e em Camboriuacute
Questotildees sobre acessibilidade arquitetocircnica
Brasil Santa Catarina Camboriuacute
Escolas com dependecircncias acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico - alvo da Educaccedilatildeo
Especial
(20) 17572 escolas (40) 765 escolas (60) 9 escolas
Escolas com sanitaacuterios acessiacuteveis aos estudantes puacuteblico - alvo da Educaccedilatildeo
Especial
(26) 23232 escolas (48) 920 escolas (87) 13 escolas
Fonte Censo Escolar INEP (2015)
Ademais como salientaram Glat Pletsch e Fontes (2007) a acessibilidade
compreende um dos aspectos que compotildee a estrutura da proposta de Educaccedilatildeo
Inclusiva contida na Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial (BRASIL 2008)
122
Portanto constatar sua ausecircncia ou presenccedila parcial nas escolas brasileiras natildeo
basta eacute necessaacuteria analisaacute-la articulada aos demais aspectos que a compotildeem
como recursos pedagoacutegicoshumanos formaccedilatildeo dos profissionais da escola
participaccedilatildeo de todos os profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE bem como na construccedilatildeo discussatildeo reflexatildeo e
execuccedilatildeo da proposta de AEE dentre outros
Nesse sentido Glat Pletsch e Fontes (2007 345) apoiadas em Ainscow
(2004) ressaltam ainda que
[] a inclusatildeo escolar deve ser ancorada em trecircs aspectos inter-relacionados a saber a) a presenccedila do aluno na escola substituindo o isolamento do ambiente privado familiar pela sua inserccedilatildeo num espaccedilo puacuteblico de socializaccedilatildeo e aprendizagem b) a sua participaccedilatildeo efetiva em todas as atividades escolares a qual natildeo depende apenas de estiacutemuloslsquo de colegas e professores mas do oferecimento de condiccedilotildees de acessibilidade e adaptaccedilotildees curriculares que se faccedilam necessaacuterias e c) a construccedilatildeo de conhecimentos funccedilatildeo primordial da escola e meta a ser perseguida durante o processo de inclusatildeo
Observa-se que os desafios postos para a constituiccedilatildeo de uma escola para
todos os estudantes satildeo muitos Sabendo que a acessibilidade eacute um deles
compreende-se que haacute um papel essencial do poder puacuteblico quanto agrave
disponibilizaccedilatildeo de recursos para provecirc-los agraves escolas bem como um papel
importante da gestatildeo escolar (equipes diretivas escolares articuladas ao coletivo
escolar) no planejamento para a aplicaccedilatildeo do referido investimento Evidencia-se
contudo que o atual cenaacuterio poliacutetico econocircmico e social brasileiro tem sido
vivenciado como um momento de grande instabilidade e muitas incertezas com
indiacutecios de que os investimentos para a aacuterea da educaccedilatildeo tendem ao encolhimento
Nesse sentido Prieto (2015) expotildee que os movimentos sociais em prol da educaccedilatildeo
podem figurar como uma alternativa para se reivindicar condiccedilotildees necessaacuterias para
assegurar a educaccedilatildeo como direito fundamental e de todos
[] eacute necessaacuterio insistir na mudanccedila do patamar de participaccedilatildeo dos profissionais da educaccedilatildeo na formulaccedilatildeo e execuccedilatildeo das poliacuteticas de educaccedilatildeo bem como na avaliaccedilatildeo de seus impactos O que se espera eacute criar movimentos de resistecircncia aos ditames externos e agraves propostas internas que ameacem direitos adquiridos ou destruam as possibilidades de intervenccedilatildeo social na direccedilatildeo de novas conquistas no campo da educaccedilatildeo (PRIETO 2015 p 34)
123
Seguindo com as anaacutelises ao perguntar agraves equipes diretivas sobre os
recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis na escola em que atuam foi possiacutevel constatar
que a maioria (16 dos 22 integrantes pesquisados) apresentou uma resposta
positiva informando que a escola os possui Os seis demais participantes que
integram a ED3 e a ED6 informaram que a escola natildeo dispotildee de recursos
pedagoacutegicos que possam contribuir paracom o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial Essas informaccedilotildees estatildeo ilustradas
no Graacutefico 11 a seguir
Graacutefico - 11 - Recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis nas escolas pesquisadas
Fonte Primaacuteria (2016) Ao observar os relatos dos integrantes das equipes diretivas que informaram
possuir recursos pedagoacutegicos na escola em que atuam (ED1 ED2 ED4 ED5 e
ED7) foi possiacutevel notar menccedilotildees recorrentes a equipamentos de informaacutetica (em
especial computador e notebook) e jogos pedagoacutegicos Vejamos no Quadro 13
quais foram os entendimentos apresentados por esses participantes acerca dos
recursos pedagoacutegicos disponibilizados pelas escolas
Quadro 13 O que se entende por ―recurso pedagoacutegico nos dizeres das equipes diretivas que informaram possuiacute-los nas escolas em que atuam
Recursos Recorrecircncia
ComputadorNotebook 12
Jogos Pedagoacutegicos 12
Lupa 6
Dominoacute taacutetil 3
Maacutequina de Braile 3
124
Reacutegua 3
Materiais DidaacuteticosAlternativos 3
Livros 3
Sala de Recursos Multifuncionais 2
Scanner de voz 1
Mobiliaacuterio 1
Maacutequina de Libras 1
Internet 1
Natildeo especificou 1
Total 52
Fonte Primaacuteria (2016)
Eacute possiacutevel constatar a partir do Quadro 13 que as respostas dos integrantes
das equipes diretivas acerca dos recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis para o trabalho
com os estudantes puacuteblico-alvo da EE se restringiram aos itens disponibilizados
pelo MEC por meio do programa de implantaccedilatildeo de SRM (BRASIL 2013) O
referido programa prevecirc a doaccedilatildeo de equipamentos mobiliaacuterios e materiais
didaacuteticos pedagoacutegicos agraves escolas que a ele aderiram conforme detalhado no
Quadro 14 a seguir
Quadro 14 Composiccedilatildeo das Salas de Recursos Multifuncionais ndash 20112012
Fonte Extraiacutedo do documento Orientador do Programa de Implantaccedilatildeo de Salas de Recursos Multifuncionais (BRASIL 2013 p15)
125
Contemplar a forma como as equipes diretivas demonstraram compreender o
que satildeo ―recursos pedagoacutegicos instiga a uma reflexatildeo conceitual acerca do termo
que vem sendo largamente utilizado em documentos legais e produccedilotildees cientiacuteficas
sem por vezes discutir sobre o seu significado Nesse sentido concorda-se com
Eiterer e Medeiros (2010 p01) quando explicaram que
[] ao falar de recursos pedagoacutegicos somos atualmente levados a pensar de modo restritivo em tecnologias digitais e recursos multimiacutedia websites infovias e outras possibilidades dessa mesma natureza Ou ainda em materiais educativos tais como jogos e brinquedos pedagoacutegicos materiais didaacuteticos e mesmo livros didaacuteticos []
As referidas autoras realizaram uma pertinente reflexatildeo acerca do significado
da expressatildeo ―recurso pedagoacutegico procurando vislumbrar aleacutem de seu aspecto
material e distinguir o que poderia conferir a um recurso o caraacuteter de pedagoacutegico
Avanccedilando nas discussotildees chegaram a um entendimento de que o recurso
pedagoacutegico
[] eacute o que auxilia a aprendizagem de quaisquer conteuacutedos intermediando os processos de ensino-aprendizagem intencionalmente organizados por educadores na escola ou fora dela Delimitando melhor os contornos de um conceito o que apresentamos como elemento que permite distinguir um recurso pedagoacutegico de outro qualquer estaacute na accedilatildeo do educador que a partir de uma atuaccedilatildeo planejada mobiliza determinados meios de maneira consciente com vistas a alcanccedilar um objetivo educacional (EITERER e MEDEIROS 2010 p 1 grifo nosso)
O que possibilita classificar um recurso como pedagoacutegico natildeo eacute portanto o
recurso em si mas sim a intencionalidade e a accedilatildeo do educador Assim natildeo
existe recurso pedagoacutegico a priori ainda que a sua finalidade seja educativa Um
recurso torna-se pedagoacutegico na medida em que o educador lhe coloque esse
objetivo e dirija sua accedilatildeo para a construccedilatildeo de um conhecimento especiacutefico
(EITERER e MEDEIROS 2010)
Ainda que a maioria das equipes diretivas escolares entenda que haacute recursos
pedagoacutegicos em suas escolas o modo como se expressaram foi indicativo de uma
compreensatildeo restrita agravequeles que satildeo disponibilizados na SRM Nesse sentido
considera-se que uma ampliaccedilatildeo do conceito de ―recurso pedagoacutegico por parte
das equipes diretivas poderia auxiliaacute-las a ressiginificar suas compreensotildees e com
isso talvez identificar outros recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis em suas escolas
126
Compreende-se que os proacuteprios documentos relacionados ao AEE apontam
para essa interpretaccedilatildeo mais restrita do que significa um ―recurso pedagoacutegico
Assim a ressignificaccedilatildeo desse conceito por meio de estudos e processos de
formaccedilatildeo continuada constitui uma forma possiacutevel natildeo apenas de identificaccedilatildeo de
recursos como mencionado anteriormente Pode favorecer tambeacutem que o proacuteprio
papel da equipe diretiva em relaccedilatildeo ao AEE e ao processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes puacuteblico-alvo da EE possa se transformar de modo a contribuir para que
o cotidiano escolar seja organizado de forma a ampliar as possibilidades
pedagoacutegicas do espaccedilo escolar Entende-se que uma maneira possiacutevel de fazecirc-lo
eacute por meio de planejamento de formaccedilatildeo junto a todos os professores
Nessa direccedilatildeo eacute necessaacuterio ainda desconstruir a loacutegica de formaccedilatildeo
separada para o professor especializado professores da sala comum e equipe
diretiva que vem se constituindo como norma nos sistemas de ensino e nos
espaccedilos escolares brasileiros e que pouco pode contribuir com o processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Sobre isso Garcia (2011 p 67)
explicou que
[] a loacutegica de formaccedilatildeo proposta e realizada tende a influenciar a organizaccedilatildeo escolar alimentando a caracteriacutestica de pouca ou nenhuma organicidade entre o trabalho especializado e o trabalho pedagoacutegico desenvolvido em sala de aula A formaccedilatildeo de professores nos moldes propostos mediante uma poliacutetica de Educaccedilatildeo Inclusiva tem enfrentado a realidade excludente da Educaccedilatildeo escolar brasileira Ou estamos lidando com um enfoque de justaposiccedilatildeo de um conjunto de praacuteticas especializadas metodologias e recursos especializados como imagem de inclusatildeo escolar
Seguindo com as anaacutelises foi possiacutevel perceber que a Sala de Recursos
Multifuncionais se constitui como um espaccedilo de referecircncia para pensar os recursos
pedagoacutegicos e de acessibilidade natildeo apenas nos dizeres das equipes diretivas
citadas mas na proacutepria proposta do Atendimento Educacional Especializado que
apresenta a SRM como um espaccedilo fiacutesico privilegiado para a realizaccedilatildeo de tal
atendimento que conta com mobiliaacuterio materiais didaacuteticos recursos pedagoacutegicos
e de acessibilidade e equipamentos especiacuteficos para complementarsuplementar o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE (BRASIL 2009)
Sem duacutevida esses recursos disponibilizados pelo MEC satildeo importantes e
precisam estar disponiacuteveis para a utilizaccedilatildeo do professor da sala comum no
trabalho com os estudantes puacuteblico-alvo da EE Entretanto esses recursos natildeo
127
satildeo os uacutenicos que podem ser utilizados ao se considerar que em seu trabalho
cotidiano junto aos estudantes puacuteblico-alvo da EE o professor seja na sala comum
ou na SRM pode se utilizar de outros recursos como meio para atingir seu objetivo
de aprendizagem bem como construiacute-los com os estudantes no intuito de
propiciar a adaptaccedilatildeo de um determinado conteuacutedo o que natildeo deixa de conferir a
esses recursos um caraacuteter pedagoacutegico e acessiacutevel
Convergindo com a discussatildeo Fuck e Cordeiro (2015 p398) salientaram
que
[] os recursos e adaptaccedilotildees devem ser ajustados agraves necessidades dos estudantes oportunizando-os desenvolver suas potencialidades portanto natildeo existe um padratildeo uacutenico para seu uso assim como natildeo significa que toda pessoa com deficiecircncia necessariamente necessite deles ou ainda que tudo deva ser adaptado mas que estes devem ser personalizados visando agrave autonomia da pessoa Para aleacutem desta autonomia entender que os recursos e adaptaccedilotildees constituem-se em meios pois o que deve ser fundamentalmente garantido ao aluno com deficiecircncia eacute o seu direito de acesso aos conteuacutedos escolares
Nessa direccedilatildeo Paro (2012) enfatizou que o objetivo primeiro da escola eacute a
apropriaccedilatildeo por todos os estudantes dos conhecimentos das ciecircncias da arte da
tecnologia da filosofia enfim de todas as conquistas culturais historicamente
produzidas pelos homens Apropriaccedilatildeo essa ―[] que se cumpre pelas atividades
pedagoacutegicas curriculares e docentes estas por sua vez viabilizadas pelas formas
de organizaccedilatildeo escolar e de gestatildeo (LIBAcircNEO 2007 p155)34 realizada pela
equipe diretiva em conjunto com os demais profissionais e comunidade escolar
Ainda sobre a disponibilidade de recursos pedagoacutegicos nas escolas um outro
ponto de atenccedilatildeo que surgiu refere-se a duas equipes diretivas (ED3 e ED6) que
explicitaram natildeo dispor de recursos pedagoacutegicos nos espaccedilos escolares em que
atuam A esse respeito uma primeira consideraccedilatildeo que se faz pertinente eacute a de
que essas equipes diretivas que consideraram natildeo possuir recursos pedagoacutegicos
acessiacuteveis atuam em escolas que natildeo dispotildeem de Salas de Recursos
Multifuncionais e nesse sentido tambeacutem apontaram para uma compreensatildeo de
―recursos pedagoacutegicos reduzidos aqueles que deveriam compor tal espaccedilo e natildeo
a accedilatildeo do educador que pode transformar diversos materiais espaccedilos e situaccedilotildees
34
Texto original escrito em espanhol Traduccedilatildeo livre ―que se obtiene a traveacutes de las atividades pedagoacutegicas curriculares y docentes Eacutestas a su vez son viabilizadas por las formas de organizacioacuten escolar y de gestioacuten (LIBAcircNEO 2007 p155)
128
em meios para favorecer o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo
da EE
Pode-se inferir que nas escolas em que atuam as equipes diretivas ED3 e
ED6 a ausecircncia de um espaccedilo fiacutesico como a SRM dotado de ―[] diferentes
ferramentas desde tecnoloacutegicas ateacute adaptaccedilotildees em materiais escolares
(PLETSCH 2009 p 36) parece ser evidenciada pelas equipes diretivas como
determinante para a inacessibilidade dos conteuacutedos escolares Percepccedilatildeo essa
que por sua vez pode destituir a potecircncia dos saberes e das accedilotildees docentes para
converter uma seacuterie de materiais em recursos pedagoacutegicos acessiacuteveis Contudo
os equipamentos mobiliaacuterios e materiais didaacuteticos pedagoacutegicos que compotildeem a
SRM satildeo ferramentas importantes entendidas por Pletsch (2009 p 36) como
recursos imprescindiacuteveis ―[] para o processo de ensino-aprendizagem de crianccedilas
com necessidades educacionais especiais35 incluiacutedas no ensino regular sobretudo
aquelas com comprometimentos mais severos Assim dispor de tais meios pode
favorecer o trabalho docente junto aos estudantes puacuteblico-alvo da EE ainda que
natildeo determinem por si mesmas a acessibilidade dos conteuacutedos a serem
aprendidos
Considerando tais colocaccedilotildees pode-se dizer que compreender a importacircncia
dos meacutetodos de ensino e dos recursos pedagoacutegicos como meios que possibilitam
aos estudantes puacuteblico-alvo da EE se apropriarem dos conhecimentos
sistematizados eacute uma forma de considerar as suas singularidades e dar um passo
na direccedilatildeo de uma educaccedilatildeo para todos Nessa perspectiva concorda-se com
Sanches e Teodoro (2006) quando salientam que
[] para que as escolas se tornem mais inclusivas eacute necessaacuterio que assumam e valorizem os seus conhecimentos e as suas praacuteticas que considerem a diferenccedila um desafio e uma oportunidade para a criaccedilatildeo de novas situaccedilotildees de aprendizagem que sejam capazes de inventariar o que estaacute a impedir a participaccedilatildeo de todos que se disponibilizem para utilizar os recursos disponiacuteveis e para gerar outros que utilizem uma linguagem acessiacutevel a todos e que tenham a coragem de correr riscos (SANCHES amp TEODORO 2006 p71)
Evidencia-se tambeacutem que para um espaccedilo escolar tornar-se acessiacutevel eacute
fundamental o papel da equipe diretiva escolar para inventariar junto aos demais
profissionais da educaccedilatildeo o que a escola possui em relaccedilatildeo agrave acessibilidade de
35
O que Pletsch (2009) enfatiza como recursos imprescindiacuteveis para crianccedilas com necessidades educacionais especiais satildeo entendidos no contexto deste estudo como aplicaacuteveis a todos os estudantes puacuteblico-alvo da EE independentemente da faixa-etaacuteria modalidade e niacutevel de ensino
129
suas estruturas internas e externas equipamentos mobiliaacuterios e materiais
didaacuteticos pedagoacutegicos bem como levantar uma relaccedilatildeo daqueles que precisam ser
providenciados e apresentaacute-la aos oacutergatildeos competentes ensejando que sejam
incluiacutedas no planejamento orccedilamentaacuterio anual
Adicionalmente agraves equipes diretivas e demais profissionais da educaccedilatildeo eacute
posto o desafio de instituir e sistematizar momentos de discussatildeo e reflexatildeo sobre
o processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Considera-se
aqui no entanto a instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos de formaccedilatildeo em que seja
possiacutevel por exemplo repensar as concepccedilotildees construiacutedas acerca da Educaccedilatildeo
Especial ponderar sobre suas accedilotildees pedagoacutegicas e de gestatildeo e perceber a forma
como a escola estaacute organizada para receber esses estudantes Isso sem deixar de
atentar para os obstaacuteculos dificuldades e resistecircncias que fazem parte de qualquer
processo de reflexatildeo eou mudanccedila e que precisam ser acolhidos compreendidos
e trabalhados Tais momentos de reflexatildeo e discussatildeo natildeo se restringem como
explicaram Placco Souza e Almeida (2012) a cursos e palestras mas remetem a
muacuteltiplos espaccedilos e atividades que favorecem a construccedilatildeo de saberes estimulem
a busca por outros conhecimentos e introduzem uma inquietaccedilatildeo fecunda e
contiacutenua com o que jaacute se conhece
Prosseguindo com as reflexotildees passa-se agora para a apresentaccedilatildeo e
discussatildeo dos dados que emergiram do questionamento realizado agraves equipes
diretivas acerca das accedilotildees36 que essas consideram de sua responsabilidade para
viabilizar o AEE Cada participante respondeu agrave questatildeo considerando sua funccedilatildeo
especiacutefica isto eacute diretores(as) relataram a respeito do papel do(a) diretor(a)
supervisores(as) sobre o papel do(a) supervisor(a) e orientadores(as) a respeito
do papel de orientador(a)
Considerando poreacutem que essa investigaccedilatildeo pretende se debruccedilar sobre a
anaacutelise do papel da equipe diretiva como um todo apresenta-se a seguir um
agrupamento dos dizeres dos participantes da pesquisa formando um conjunto de
papeacuteis que remete agrave equipe diretiva exposto no Quadro 15 Optou-se por
organizar seus dizeres por recorrecircncia em toacutepicos indicativos do modo como
demonstraram entender seu papel no que tange agrave viabilizaccedilatildeo do AEE
36
No contexto deste estudo os termos accedilatildeo papel e funccedilatildeo satildeo entendidos como expressotildees semelhantes que remetem a atividades consideradas de responsabilidade das equipes diretivas em prol da viabilizaccedilatildeo do AEE
130
Quadro 15 Accedilotildees que as equipes diretivas escolares consideram que sejam de suas responsabilidades para viabilizar o AEE
Papel da Equipe Diretiva Escolar na Viabilizaccedilatildeo do AEE Recorrecircncia
Orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores)
9
Orientar Orientar accedilotildees educativas Ajudar o professor na qualidade de suas aulas Orientaccedilotildees educativas aos professores ajudando a qualificar suas aulas Resolver auxiliar orientar os estudantes e pais em suas limitaccedilotildees e anguacutestias Orientaccedilatildeo aos professores Acompanhar a professora especializada Orientar professores Atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eou seus pais
7 Realizar atendimento a esses alunos e pais informando sua vida escolar Ajudar no atendimento aos alunos no refeitoacuterio Encaminhar alunos (2) Adequar horaacuterios dos alunos (2) Viabilizar conversas com os pais
Provimento de condiccedilotildees materiais e pedagoacutegicas
5
Dar condiccedilotildees (materiais jogos ambiente etc) para que os profissionais possam atender aos alunos Viabilizar materiais para as atividades Suprir as necessidades quanto a materiais para que os professores possam desenvolver seu trabalho Participaccedilatildeo no trabalho pedagoacutegico Proporcionar acesso ao conhecimento das diferentes siacutendromes e deficiecircncias para que o professor planeje atividades compatiacuteveis as suas possibilidades
Apuraccedilatildeorepasse de informaccedilotildees e mediaccedilatildeo entre escola e Secretaria da Educaccedilatildeo
4 Levantamento dos alunos com deficiecircncia Solicitar para a Secretaria da Educaccedilatildeo esse atendimento (AEE) aos alunos (2) Repassar informaccedilotildees relevantes
Promoccedilatildeo da aprendizagemdesenvolvimento dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
2 Promover a aprendizagem dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Acompanhar o desenvolvimento desse estudante
Natildeo responderam 5
Total 32
Fonte Primaacuteria (2016)
Identificou-se que os toacutepicos mais recorrentes nos dizeres dos integrantes
das equipes diretivas para descreverem suas accedilotildees a fim de viabilizar o AEE foram
relativos a orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores) atendimento a
estudantes puacuteblico-alvo da EE eou seus pais e ao provimento de condiccedilotildees
materiais para realizaccedilatildeo desse atendimento
No tocante ao papel de orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores)
observou-se que a maior parte dos integrantes que citou essa accedilatildeo foram
supervisores educacionais aos quais de fato eacute conferida a atribuiccedilatildeo de atender e
acompanhar os docentes focalizando o processo pedagoacutegico (CAMBORIUacute 2008)
Tambeacutem foi possiacutevel perceber que a maneira como os respondentes se
expressaram foi em alguns momentos geneacuterica imprecisa ou vaga Um deles por
131
exemplo resumiu seu papel a ―orientar o que conduziu a alguns
questionamentos orientar a quem como porque quando Do mesmo modo outro
participante ao expor que seu papel diz respeito a ―orientar accedilotildees educativas natildeo
esclareceu quais accedilotildees seriam essas Ainda um dos integrantes mencionou que
sua funccedilatildeo remete a ―ajudar o professor na qualidade de suas accedilotildees o que por
sua vez leva a questionar o que se entende por uma ―accedilatildeo de qualidade e de que
forma a equipe diretiva escolar pode ajudar a qualificar a accedilatildeo de um professor
Essa forma aqui compreendida como geneacuterica imprecisa ou vaga de falar a
respeito do papel da equipe diretiva escolar frente agrave viabilizaccedilatildeo do AEE pode ser
explicada a partir de perspectivas distintas dentre as quais duas parecem se
destacar A primeira se refere agrave possiacutevel falta de clareza por parte dos integrantes
das equipes diretivas acerca de seus papeacuteis Isto eacute a imprecisatildeo que foi percebida
na forma como se expressaram pode ser indicativa de que natildeo estaacute claro para
eles proacuteprios qual eacute a funccedilatildeo que lhes compete para viabilizar o AEE no acircmbito
escolar
Sabendo que a maneira como as equipes diretivas falam a respeito de seu
papel frente ao processo de viabilizaccedilatildeo do AEE revela tambeacutem o que pensam
sobre o proacuteprio AEE Supotildee-se que essa falta de clareza quanto ao seu papel pode
estar ancorada em uma concepccedilatildeo de AEE como um serviccedilo agrave parte cuja ―gestatildeo
seria de responsabilidade do professor especializado e natildeo da escola como um
todo Nesse sentido assim como Pletsch (2009) afirmou que a inclusatildeo eacute ainda
vista como uma responsabilidade setorizada da Educaccedilatildeo Especial o professor
atuante na SRM parece ser percebido em casos como esse como o principal
responsaacutevel pelo AEE Essa concepccedilatildeo parece ter sido evidenciada tambeacutem em
outras pesquisas como a empreendida por Fuck (2014 p148-149) com
professores da sala comum em que a autora observou
[] que o professor da Sala Comum espera do professor especializado soluccedilotildees que natildeo dependem exclusivamente do AEE na SRM mas que implicam a proacutepria organizaccedilatildeo estrutural poliacutetica cultural e pedagoacutegica da escola
A segunda perspectiva que pode ser apontada diz respeito ao tempo
que os participantes puderam destinar agrave resposta dos questionaacuterios dessa
pesquisa considerando que a coleta de dados ocorreu nos meses de outubro e
132
novembro de 2015 convergindo em algumas escolas com o periacuteodo de aplicaccedilatildeo
da Prova Brasil37 teacutermino de semestre e outras demandas de final de ano que
podem ter levado os integrantes das equipes diretivas a responderem de forma
sucinta agraves questotildees do referido instrumento de coleta de dados
Ainda que orientaccedilatildeoajuda em especial aos docentes tenha emergido como
o papel mais citado pelas equipes diretivas ao pensarem em suas accedilotildees em prol
da viabilizaccedilatildeo do AEE Macedo Carvalho e Pletsch (2011) esclareceram que
esse serviccedilo vai muito aleacutem da orientaccedilatildeo aos professores uma vez que requer
[] mudanccedilas estruturais e pedagoacutegicas no funcionamento das escolas como por exemplo entre outras dimensotildees na estrutura curricular riacutegida presente nos objetivos conteuacutedos nas metodologias na organizaccedilatildeo didaacutetica do tempo na estrateacutegia de avaliaccedilatildeo para atender a diversidade e especificidades dos alunos que a frequentam Flexibilizar o curriacuteculo para atender a todos os alunos eacute urgente A sua transformaccedilatildeo implica na diminuiccedilatildeo do nuacutemero de alunos por sala de aula o trabalho cooperativo ou colaborativo entre professores do AEE e da sala comum entre outros aspectos (MACEDO CARVALHO e PLETSCH 2011 p7)
Foi possiacutevel perceber que os aspectos relatados pelas autoras natildeo
apareceram nas falas das equipes diretivas como accedilotildees que poderiam realizar a
fim de viabilizar o AEE Do mesmo modo momentos coletivos de reflexatildeo e
diaacutelogo citados ao longo desta pesquisa como uma das principais accedilotildees a serem
empreendidas pelas equipes diretivas visando uma gestatildeo democraacutetica-
participativa tambeacutem natildeo surgiram nos dizeres dos participantes como uma
possibilidade para contribuiacuterem com o processo de viabilizaccedilatildeo do AEE
A criaccedilatildeo e organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo de reflexatildeo e diaacutelogo acerca de
assuntos educacionais com o coletivo escolar dentre os quais inclui-se a
elaboraccedilatildeo do Projeto Poliacutetico Pedagoacutegico (PPP) satildeo entendidos como formativos
e requerem uma accedilatildeo intencional e planejada por parte das equipes diretivas
combinada agrave existecircncia de condiccedilotildees adequadas para sua execuccedilatildeo (estrutura
fiacutesica tempo etc) O fato de natildeo terem sido mencionados pelos participantes
como parte de seu papel frente ao AEE pode levar agrave inferecircncia de que tal criaccedilatildeo
37 Avaliaccedilatildeo Nacional do Rendimento Escolar - Anresc (tambeacutem denominada Prova Brasil) trata-se de uma avaliaccedilatildeo censitaacuteria envolvendo os alunos da 4ordf seacuterie5ordmano e 8ordfseacuterie9ordmano do Ensino Fundamental das escolas puacuteblicas das redes municipais estaduais e federal com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino ministrado nas escolas puacuteblicas Participam dessa avaliaccedilatildeo as escolas que possuem no miacutenimo 20 alunos matriculados nas seacuteriesanos avaliados sendo os resultados disponibilizados por escola e por ente federativo (BRASIL 2016 sp)
133
e organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo para discutir e refletir com o coletivo escolar natildeo
seja uma accedilatildeo desenvolvida nas escolas pesquisadas
Um dado que reforccedila essa hipoacutetese diz respeito ao fato de que dos 22
participantes da pesquisa apenas 3 (ED2o ED2s e ED4o) informaram que o AEE eacute
contemplado no PPP da escola Dentre os demais 9 justificaram a ausecircncia do
AEE no PPP da escola pelo fato de natildeo contarem com esse serviccedilo em seus
espaccedilos escolares e 7 natildeo justificaram tal ausecircncia sendo que 03 natildeo
responderam a essa questatildeo Pode-se evidenciar ainda que na escola ED4 apesar
de ofertar o AEE na proacutepria escola 03 de seus integrantes (ED4o ED4s ED4s)
informaram que o AEE natildeo consta no PPP Tal resposta se repetiu nas demais
escolas pesquisadas com exceccedilatildeo da equipe diretiva ED2 em que a maioria de
seus integrantes responderam (ED2d e ED2s) que o AEE estaacute incluso no PPP da
escola Parece haver nesse sentido um entendimento por parte das equipes
diretivas de que o AEE se restringe ao espaccedilo da SRM contudo esse serviccedilo faz
parte dos apoios que a escola promove aos estudantes e aos professores entatildeo
independente de haver ou natildeo a sala recursos multifuncionais no espaccedilo escolar
compreende-se que o atendimento especializado deveria fazer parte das diretrizes
da escola
Embora a constituiccedilatildeo coletiva do PPP na escola seja um espaccedilo e tempo
privilegiado de reflexatildeo e planejamento coletivo natildeo pode como sugeriu Carneiro
(2006 p32) se ―constituir como um fim em si mesmo pois precisa ainda ser
constantemente revisitado acompanhado e avaliado identificando as alteraccedilotildees
necessaacuterias a serem feitas Ele eacute verdadeiramente o iniacutecio de um processo de
trabalho A partir do projeto pedagoacutegico a escola vai estruturando seu trabalho
avaliando e reorganizando suas praacuteticas oportunizando que todos os envolvidos
nesse processo identifiquem suas responsabilidades individuais e coletivas no que
concerne agrave viabilizaccedilatildeo do AEE Libacircneo (2015 p127 grifo do autor) complementa
a discussatildeo ao enfatizar que
[] o projeto pedagoacutegico deve ser compreendido como instrumento e processo de organizaccedilatildeo da escola Considera o que jaacute estaacute instituiacutedo (legislaccedilatildeo curriacuteculos conteuacutedos meacutetodos formas organizativas da escola etc) mas tem tambeacutem uma caracteriacutestica de instituinte[] que significa que o projeto institui estabelece cria objetivos procedimentos instrumentos modos de agir estruturas haacutebitos valores ou seja institui uma cultura organizacional Neste sentido ele [PPP] sintetiza os interesses os desejos as propostas dos educadores [do coletivo escolar] que trabalham na escola [ao responderem] as seguintes perguntas a) Que tipo de escola noacutes
134
profissionais desta escola queremos b) Que objetivos e metas correspondem agraves necessidades e expectativas desta comunidade escolar c) Que necessidades precisamos atender em termos de formaccedilatildeo dos alunos e alunas para a autonomia cidadania participaccedilatildeo d) Como faremos para colocar o projeto em permanente avaliaccedilatildeo dentro da praacutetica da accedilatildeo-reflexatildeo-accedilatildeo Considerando o caraacuteter processual do planejamento o projeto eacute avaliado ao longo do ano letivo para verificar se as accedilotildees estatildeo correspondendo ao que foi previsto se as metas precisam ser alteradas em funccedilatildeo de fatos inesperados de forma a corrigir os desvios tomar novas decisotildees e replanejar o rumo do trabalho
Nesse sentido considerando a importacircncia do processo de construccedilatildeo de tal
documento eacute possiacutevel constatar que se torna imprescindiacutevel discutir a proposta de
AEE na elaboraccedilatildeo do PPP uma vez que essa natildeo pode ser considerada como um
apecircndice incorrendo no risco de responsabilizar somente o professor de AEE na
sua elaboraccedilatildeo e execuccedilatildeo Sugere-se outrossim que o AEE seja pensado e
realizado a partir do envolvimento de todos como uma proposta delineadora do
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial A
equipe diretiva aparece nesse contexto com um papel de destaque na promoccedilatildeo
desse envolvimento do coletivo escolar Como explicou Tezani (2009) apoiada em
Sage (2008) a equipe diretiva pode abrir espaccedilos e promover trocas de
experiecircncias importantes entre os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo e
conforme suas possibilidades e o contexto em que atua desenvolver uma gestatildeo
democraacutetica-participativa que favoreccedila a formaccedilatildeo e a consolidaccedilatildeo de equipes de
trabalho
Ratifica-se portanto que a discussatildeo coletiva da proposta de AEE eacute
fundamental uma vez que se mostra como uma forma de articular as accedilotildees dentro
da escola por meio de um processo de construccedilatildeo dialoacutegico possibilitando aos
profissionais da educaccedilatildeo pais e estudantes reconhecerem e compreenderem o
AEE como uma accedilatildeo que para ser efetiva requer o envolvimento de todos Esse
clima organizacional que se procura constituir nessa construccedilatildeo coletiva Aguiar
(2012 p 152) denominou de responsabilidade partilhada em que todos
―reconhecem seus papeacuteis e limitaccedilotildees e buscam em conjunto sanar as dificuldades
e avanccedilar sobre novos desafios
Em meio a essas reflexotildees Catani e Gutierrez (2008) advertem que
[] toda e qualquer organizaccedilatildeo que tente implantar e desenvolver praacuteticas de natureza participativa vive sob a constante ameaccedila da reconversatildeo burocraacutetica e autoritaacuteria dos seus melhores esforccedilos As razotildees para isto satildeo diversas histoacuteria de vida de seus membros supervalorizaccedilatildeo
135
ideoloacutegica das formas tradicionais de gestatildeo demandas especiacuteficas difiacuteceis de conciliar etc De tudo isso contudo um ponto deve ser destacado a participaccedilatildeo se funda no exerciacutecio do diaacutelogo entre as partes Essa comunicaccedilatildeo ocorre em geral entre pessoas com diferentes formaccedilotildees e habilidades ou seja entre agentes dotados de distintas competecircncias para a construccedilatildeo de um plano coletivo e consensual de accedilatildeo Na praacutetica da gestatildeo escolar esta diferenccedila que em si natildeo eacute original nem uacutenica assume uma dimensatildeo muito maior do que a grande maioria das propostas de gestatildeo participativa e autogestatildeo que pode ser observada (CATANI amp GUTIERREZ 2008 p71 grifo nosso)
Desse modo pode-se dizer que o processo de elaboraccedilatildeo coletiva do projeto
poliacutetico pedagoacutegico eacute permeado por aspectos culturais sociais e poliacuteticos de seus
participantes pelas poliacuteticas puacuteblicas e pelas condiccedilotildees disponiacuteveis na escola para
sua realizaccedilatildeo figurando assim as tensotildees e contradiccedilotildees que perpassam essa
construccedilatildeo coletiva
Dentre outros possiacuteveis motivos que poderiam inviabilizar a existecircncia de
momentos formativos de reflexatildeo e diaacutelogo nas escolas pode-se citar a
precariedade das condiccedilotildees para que tal accedilatildeo aconteccedila como por exemplo a
indisponibilidade de tempo como jaacute discutido anteriormente Outro ponto que
merece atenccedilatildeo eacute a possibilidade de que as equipes diretivas natildeo reconheccedilam que
criar estrateacutegias de organizaccedilatildeo de espaccedilo e tempo que assegure encontros de
formaccedilatildeo coletiva com os profissionais da escola como accedilotildees que podem ser
feitas por elas para viabilizar o AEE
Nesse sentido vislumbra-se que esse reconhecimento por parte das equipes
diretivas pode se mostrar uma oportunidade para que se possa identificar suas
possibilidades de accedilatildeo frente ao AEE Em momentos de reflexatildeo e accedilatildeo conjunta
pode-se refletir sobre a realidade poliacutetica econocircmica e social em que a escola estaacute
inserida percebendo a incontestaacutevel imbricaccedilatildeo dessa realidade agraves questotildees
pedagoacutegicas e do cotidiano escolar Nesses momentos tambeacutem eacute possiacutevel pensar
sobre e esclarecer as responsabilidades individuais e coletivas dos envolvidos no
processo de viabilizaccedilatildeo do AEE considerando a responsabilidade do Estado em
prover as condiccedilotildees necessaacuterias (estruturais recursos pedagoacutegicos e humanos)
para a efetivaccedilatildeo desse serviccedilo Pensar o AEE da forma que parece estar posta
nas escolas pesquisadas como sendo um serviccedilo individualizado setorizado e com
uma escassa interaccedilatildeo entre os profissionais pouco pode contribuir com o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Nesse sentido
concorda-se com Jesus Almeida e Sobrinho (2005 p1) quando explicam que
136
[] se quisermos uma escola que atenda agrave diversidade ou seja uma escola inclusiva precisamos pensar com o outro precisamos de um processo longo e constante de reflexatildeo-accedilatildeo-criacutetica com [todos] os profissionais que fazem o ato educativo acontecer []
Com relaccedilatildeo ao papel de atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial eou seus pais observou-se que a maioria dos integrantes
que fez referecircncia a esse papel foram orientadores educacionais o que pode ter
seu fundamento em parte nas proacuteprias atribuiccedilotildees das funccedilotildees desse profissional
contidas na Lei Municipal Complementar nordm 192008 (CAMBORIUacute 2008 sp)
Na referida lei ao orientador eacute atribuiacutedo um papel mais voltado ao
atendimento de estudantes e suas famiacutelias promovendo uma articulaccedilatildeo entre
escola famiacutelia e comunidade e envolvendo os estudantes e seus responsaacuteveis na
elaboraccedilatildeo do Plano Poliacutetico Pedagoacutegico da escola Enquanto isso o supervisor
educacional aparece como aquele que acompanha e daacute suporte aos professores
com foco na dimensatildeo pedagoacutegica do processo de escolarizaccedilatildeo O diretor por
sua vez parece ter uma atuaccedilatildeo direcionada a aspectos administrativos
(CAMBORIUacute 2008)
Essa divisatildeo de responsabilidades apareceu tambeacutem nas respostas dos
participantes uma vez que as trecircs accedilotildees mais citadas como aquelas que satildeo de
responsabilidade da equipe diretiva a fim de viabilizar o AEE tiveram cada uma a
marca de uma funccedilatildeo especiacutefica papel de orientaccedilatildeoajuda (em especial aos
professores) foi mais mencionado por supervisores escolares papel de
atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial eou pais apareceu
com mais frequecircncia nas falas de orientadores educacionais e por fim o papel de
provimento de condiccedilotildees materiais e pedagoacutegicas foi mais constante nas respostas
de diretores escolares Contudo por mais que cada um dos integrantes da equipe
diretiva escolar tenha sua responsabilidade e um trabalho especiacutefico haacute um
imbricamento entre vaacuterias de suas funccedilotildees as quais podem uni-los enquanto
equipe com o intuito de contribuir e potencializar o processo de escolarizaccedilatildeo dos
estudantes juntamente com o coletivo escolar
Outra accedilatildeo considerada pelas equipes diretivas como sendo de sua
responsabilidade na viabilizaccedilatildeo do AEE eacute o provimento de condiccedilotildees materiais
e pedagoacutegicas citado majoritariamente por diretores(as) escolares Foi possiacutevel
137
notar que esses dois aspectosndash administrativo e pedagoacutegico ndash estatildeo de fato
imbricados no fazer cotidiano do diretor Sobre essa questatildeo Paro (2010)
esclareceu que tradicionalmente a atuaccedilatildeo do diretor escolar privilegiava os
aspectos administrativosburocraacuteticos em detrimento dos pedagoacutegicos Assim a
funccedilatildeo dos diretores se restringia apenas agraves atividades-meio (prover recursos
controlar sua utilizaccedilatildeo) dicotomizando-as das atividades-fim (pedagoacutegicas)
Dessa forma a gestatildeo escolar pareceu absorver princiacutepios semelhantes aos
empresariais culminando em uma concepccedilatildeo de diretor ―[] cuja formaccedilatildeo
atribuiccedilotildees e atuaccedilatildeo praacutetica eacute de simples gerente sem explicitaccedilatildeo nem reflexatildeo
a respeito de sua caracteriacutestica de agente poliacutetico diante do ofiacutecio de administrar
uma instituiccedilatildeo cujo fim eacute prover educaccedilatildeo (PARO 2010 p 776)
Entretanto o que se enseja e se coloca como horizonte de transformaccedilatildeo
quando se pensa na gestatildeo escolar eacute justamente a desconstruccedilatildeo dessa loacutegica
gerencial e a constituiccedilatildeo de uma outra que pense a educaccedilatildeo a partir dela
mesma e natildeo de modelos industriaisempresariais Eacute importante que se considere
a especificidade poliacutetico-pedagoacutegica da escola que se valorizem os profissionais
da educaccedilatildeo e que se atue a partir da heterogeneidade que se expressa nos
espaccedilos escolares favorecendo a participaccedilatildeo de todos os envolvidos no processo
de escolarizaccedilatildeo Nesse sentido Paro (2010) enfatizou que ao pensar em novas
alternativas para a atuaccedilatildeo do diretor escolar eacute preciso considerar
[] maneiras de conceber a direccedilatildeo escolar que transcendam a forma usual de concentraacute-la nas matildeos de apenas um indiviacuteduo que se constitui o chefe geral de todos Natildeo que a hierarquia seja nociva em si pois aquele que se coloca no escalatildeo hieraacuterquico superior pode muito bem estar investido de um tipo de autoridade democraacutetica [] aquela que supotildee a concordacircncia livre e consciente daqueles que obedecem agraves ordens que tecircm sua subjetividade preservada e mesmo afirmada na relaccedilatildeo (PARO 2010 p 776)
Ainda que haja uma delimitaccedilatildeo entre as funccedilotildees de cada integrante da
equipe diretiva para que essa possa atuar de fato de forma coletiva eacute preciso
constituir um trabalho articuladoem parceria uma vez que natildeo haacute como discutir o
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes sem abordar as estrateacutegias de ensino
que favoreccedilam a aprendizagem e o desenvolvimento Do mesmo modo para que
tais estrateacutegias possam ser elaboradas e praticadas eacute necessaacuterio que haja
condiccedilotildees desde processos sistematizados de formaccedilatildeo continuada para os
profissionais da escola ateacute equipamentos mobiliaacuterio e materiais didaacuteticos
138
pedagoacutegicos adequados Conclui-se portanto que o foco conferido agrave cada funccedilatildeo
e que diferencia um profissional do outro pode fortalececirc-los como grupo em vez de
constituir uma barreira que fragmenta suas accedilotildees
Nessa perspectiva Rangel (2013) salienta que constituir no cotidiano das
escolas um trabalho de parceria entre o orientador e supervisor educacional (e aqui
se adiciona tambeacutem o diretor escolar) se mostra profiacutecuo pois favorece uma
accedilatildeo-reflexatildeo-accedilatildeo conjunta aproximando-os em torno de um objetivo comum a
escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes de modo a possibilitar-lhes o direito agrave
educaccedilatildeo escolar
Nessa direccedilatildeo foi possiacutevel identificar nas escolas pesquisadas uma
delimitaccedilatildeo entre as funccedilotildees de cada integrante da equipe diretiva para a atuaccedilatildeo
na escola a qual tem seu fundamento na Lei Complementar no 192008
(CAMBORIUacute 2008) Apesar dessas delimitaccedilotildees pode-se observar agrave luz da
referida lei alguns pontos de intersecccedilotildees entre as funccedilotildees das equipes diretivas
uma vez que vaacuterias de suas atribuiccedilotildees estatildeo interligadas o que poderia ser
concebida nesse sentido como uma oportunidade para aproximaacute-las e consolidaacute-
las enquanto equipes diretivas
Entretanto no decorrer das anaacutelises as accedilotildees das equipes diretivas no que
concerne agrave compreensatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos escolares apontaram
indiacutecios de uma accedilatildeo desarticulada entre os integrantes da proacutepria equipe diretiva
o que pode culminar em parte em um trabalho mais isolado entre os profissionais
da escola Ante o exposto concorda-se com Paro (2001 p114) quando afirma
que
[] eacute preciso que se coloque no centro das discussotildees (e das praacuteticas) a funccedilatildeo educativa global da escola Assim se entendemos que educaccedilatildeo eacute atualizaccedilatildeo histoacuterico-cultural dos indiviacuteduos e se estamos comprometidos com a superaccedilatildeo do estado geral da injusticcedila social que em lugar do bem viver reserva para a maioria o trabalho alienado entatildeo eacute preciso que nossa escola concorra para a formaccedilatildeo de cidadatildeos atualizados capazes de participar politicamente usufruindo daquilo que o homem historicamente produziu mas ao mesmo tempo dando sua contribuiccedilatildeo criadora e transformando a sociedade Soacute assim a escola estaraacute participando de forma efetiva []
De acordo com a exposiccedilatildeo do autor pode-se dizer que embora as parcerias
constituiacutedas no interior da escola sejam importantes elas natildeo encerram as
relaccedilotildees necessaacuterias para o desenvolvimento do trabalho da equipe diretiva e
demais profissionais da educaccedilatildeo frente ao AEE Eacute a partir dessa constataccedilatildeo que
139
se adentra na uacuteltima questatildeo a ser abordada neste subcapiacutetulo os desafios
encontrados pelas equipes diretivas pesquisadas na viabilizaccedilatildeo do AEE nos
espaccedilos escolares em que atuam A seguir no Quadro 16 buscou-se reunir por
toacutepicos os dizeres mais recorrentes nas respostas dos integrantes das equipes
diretivas quanto aos desafios encontrados no processo de viabilizar o AEE na
escola
Quadro 16 - Desafios encontrados pelas equipes diretivas escolares para viabilizar o AEE
Desafios encontrados pela equipe diretiva para a viabilizar o AEE Recorrecircncia
Estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos
6 Natildeo possuir a sala de AEE Tornar viaacutevel o atendimento na unidade escolar (3) A falta de espaccedilo fiacutesico A falta do profissional especializado (2) Apoio por parte da Secretaria de Educaccedilatildeo
5
A escola depende da Secretaria de Educaccedilatildeo para montagem da sala de AEE A secretaria de educaccedilatildeo atender a solicitaccedilatildeo da escola de contratar monitores de inclusatildeo Continua-se solicitando junto aos governantes esse professor Para superar tal desafio estamos solicitando a Sec de Educaccedilatildeo o profissional especializado (2) Dificuldade em constituir parcerias entre os profissionais da escola e com a comunidade escolar
5 No momento natildeo estamos fazendo parcerias com os demais membros escolares Parcerias com psicoacutelogos pais Maior interesse por parte da direccedilatildeo da professora pais e alunos Dificuldades de parcerias (2)
Efetivar a educaccedilatildeo como direito fundamental e de todos
4 O desafio eacute incluir todos no processo de escolarizaccedilatildeo Atender todos Muitos estudantes natildeo satildeo alfabetizados surdos ou ateacute de baixa visatildeo Garantia do atendimento de nossos alunos em alguma sala de recursos multifuncionais do municiacutepio
Resistecircncia de professores a novas estrateacutegias de ensino
2 Por sermos uma escola de sexto ao nono ano eacute muito difiacutecil fazer o professor das diferentes aacutereas do conhecimento planejar atividades adequadas O desafio eacute convencer (o professor) a criar novas possibilidades de aprendizagem
Formaccedilatildeo de profissionais atuantes na Educaccedilatildeo Especial
2 Falta informaccedilatildeo adequada para esses profissionais Faltam profissionais adequados e capacitados para atuarem nessa aacuterea
Ausecircncia de planejamento 1
Ainda natildeo temos um planejamento apropriado
Natildeo responderam 4
Total 29
Fonte Primaacuteria 2016
Observa-se que na perspectiva das equipes diretivas escolares os trecircs
desafios mais recorrentes no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE relacionam-se agrave
disponibilizaccedilatildeo de ―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola ao
―apoio por parte da Secretaria de Educaccedilatildeo e agrave constituiccedilatildeo de ―parcerias entre os
140
profissionais da escola e com a comunidade escolar Compreende-se que esses
trecircs aspectos estatildeo imbricados de tal forma que pensaacute-los isoladamente pouco
contribuiria para entender como o Atendimento Educacional Especializado tem sido
viabilizado nos espaccedilos escolares
Percebe-se nesse caso que para viabilizar um serviccedilo de AEE que disponha
de estrutura fiacutesica e conte com uma rede de apoio dentro da escola e tambeacutem fora
dela (com a comunidade os oacutergatildeos governamentais e as entidades eou instituiccedilotildees
a eles relacionadas) eacute necessaacuterio constituir uma rede articulada de accedilotildees entre os
profissionais atuantes na escola (professores equipe diretiva psicoacutelogos etc) pais
estudantes e o Estado Com relaccedilatildeo a esse uacuteltimo eacute incontestaacutevel que cabe agrave Uniatildeo
e o Municiacutepio a responsabilidade em prover recursos financeiros para que o espaccedilo
escolar possa se adequar em termos de acessibilidade equipamentos mobiliaacuterio
materiais didaacuteticos pedagoacutegicos e recursos humanos a fim de oferecer o serviccedilo de
AEE
No entanto o planejamento para a utilizaccedilatildeo e a efetiva aplicaccedilatildeo desses
recursos financeiros uma vez concedidos satildeo atividades que pertencem ao rol de
funccedilotildees da equipe diretiva escolar em conjunto com os demais profissionais e
comunidade escolar Logo os desafios percebidos pelos participantes da pesquisa
natildeo satildeo apenas dessas equipes Satildeo desafios de uma rede de profissionais que
precisam estar articulados para que a estrutura e os recursos necessaacuterios possam
se alinhar a outros pontos fundamentais no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE como
a formaccedilatildeo continuada dos profissionais da escola a construccedilatildeo coletiva do projeto
poliacutetico pedagoacutegico da escola e o engajamento poliacutetico no sentido de pleitear a
diminuiccedilatildeo de estudantes por turmas dentre outros Isto porque como enfatizaram
Glat e Blanco (2007 p 33) ―o sucesso da poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial depende
diretamente da continuidade da existecircncia da rede de suportes especializados
incluindo-se a formaccedilatildeo de todos os profissionais atuante na escola e o
estabelecimento de parcerias entre estes profissionais pais estudantes e o Estado
Ainda que todos esses profissionais e comunidade escolar tenham parte no
processo de viabilizaccedilatildeo do AEE eacute importante ressaltar que
[] na definiccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas educacionais eacute fundamental natildeo se confundir as responsabilidades da escola [] com as responsabilidades do Estado Entendo que o Estado eacute responsaacutevel por viabilizar a prestaccedilatildeo de todos os serviccedilos organizados na sociedade para atender a todos (MAZZOTA 2010 p 86)
141
Nesse sentido para esclarecer essas responsabilidades e compor um todo
organizado em torno de um objetivo comum ndash a viabilizaccedilatildeo do AEE ndash vislumbra-se
que a equipe diretiva pode como se vem reforccedilando neste estudo analisar a
possibilidade de instituir na escola espaccedilos e tempos de discussatildeo e reflexatildeo com
todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da
EE se permitindo juntamente com o coletivo escolar inventariar o que a escola
disponibiliza de adequaccedilotildees estruturais recursos pedagoacutegicos e humanos bem
como os que natildeo disponibiliza Uma vez documentado esse levantamento pode-se
apresentaacute-lo agrave Secretaria de Educaccedilatildeo e junto a ela acompanhar sistematicamente
o processo de solicitaccedilatildeo de adequaccedilotildees e recursos aos oacutergatildeos competentes
A gestatildeo escolar nesse sentido pode contribuir para instituir a rede de
parceria que hoje vivencia como um desafio Como ressaltou Tezani (2009 p 3)
apoiada em Sage (1999) ―o gestor escolar pode colaborar com o estabelecimento
da colaboraccedilatildeo no ambiente escolar com o aprimoramento do contato e da
interaccedilatildeo entre os professores e demais funcionaacuterios e uma das maneiras de
fazecirc-lo eacute por meio da instituiccedilatildeo de espaccedilos e tempos em que os envolvidos no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial
possam dialogar sobre esse processo e compreender os avanccedilos e recuos que o
marcam fomentando a troca de informaccedilotildees e experiecircncias entre os profissionais
que atuam na escola e estabelecendo a partir desse entendimento os pontos de
partida que se fazem necessaacuterios para viabilizar o serviccedilo de AEE
Compreende-se que esses momentos coletivos podem contribuir com a accedilatildeo
individual de cada profissional da educaccedilatildeo No entanto Goacutees (1997) ajuda a
compreender que no diaacutelogo com o outro se revela o contraditoacuterio Natildeo se trata de
uma construccedilatildeo imune agrave diversidade de pontos de vista e ao embate uma vez que
[] o jogo dialoacutegico entre sujeitos natildeo tende a uma soacute direccedilatildeo ao contraacuterio envolve circunscriccedilatildeo ampliaccedilatildeo dispersatildeo e estabilizaccedilatildeo de sentidos Um determinado conhecimento (pretendido na intencionalidade do outro ou previsto na perspectiva de um observador) pode ou natildeo ser construiacutedo pelo indiviacuteduo (GOacuteES 1997 p 27)
Essa multiplicidade de sentidos que marcam e tensionam o jogo dialoacutegico
consiste em um terreno feacutertil para que o AEE no acircmbito escolar possa ser
constantemente ressignificado de modo a acolher a diversidade e focalizar o direito
142
de aprender dos estudantes O AEE nesse sentido precisa ser entendido como um
serviccedilo de apoio e interlocuccedilatildeo com a sala de aula comum de modo a atender agraves
singularidades dos estudantes puacuteblico-alvo da EE o que requer a participaccedilatildeo de
todos os envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo desses estudantes Isso no
entanto implica em uma accedilatildeo da equipe diretiva que eacute a constituiccedilatildeo de espaccedilos e
tempos permanentes de discussatildeo e reflexatildeo sobre os assuntos educacionais
assim como a elaboraccedilatildeo de estrateacutegias metodologias e praacuteticas pedagoacutegicas que
busquem potencializar as condiccedilotildees de permanecircncia e o processo de escolarizaccedilatildeo
dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Nesse sentido concorda-se com Pereira
Damasceno e Andrade (2013 p1439) quando explicam que
[] o Atendimento Educacional Especializado hoje representa uma possibilidade assumida como escolha poliacutetico-pedagoacutegica para a inclusatildeo de estudantes [] [puacuteblico-alvo da EE] sobretudo na superaccedilatildeo das velhaspresentes chagaslsquo da escola a dissociaccedilatildeo entre teoria e praacutetica o trabalho individualizado a idealizaccedilatildeo da homogeneidade de aluno a negaccedilatildeo dos diferentes ritmos e estilos de aprendizagem a afirmaccedilatildeo de meacutetodos e estrateacutegias uacutenicas para se ensinar a justificativa do insucesso da aprendizagem associada exclusivamente ao aluno entre outras [] Embora os desafios agrave implementaccedilatildeo do AEE estejam postos para a escola contemporacircnea e seus profissionais o serviccedilo se configura um avanccedilo em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da educaccedilatildeo especial considerando o isolamento que historicamente foi vivido por estes sujeitos nas classesescolas especiais
Nessa perspectiva considera-se que eacute por meio do diaacutelogo que as
equipes diretivas escolares podem identificar as necessidades formativas dos
profissionais que compotildeem o coletivo escolar (incluindo suas proacuteprias demandas de
formaccedilatildeo) Nesse sentido tais momentos dialoacutegicos podem favorecer reflexotildees
acerca da Educaccedilatildeo Especial e o AEE aprofundamentos teoacutericos trocas de
experiecircncias e a discussatildeo das dificuldades encontradas pelos envolvidos no
processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE Tambeacutem podem
ensejar o debate das accedilotildees pedagoacutegicas e fortalecer a interaccedilatildeo e parceria entre os
profissionais
Ademais eacute fundamental natildeo cair na armadilha de uma compreensatildeo
reduzida de AEE que leve a pensar que para viabilizaacute-lo eacute necessaacuterio somente
―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola Como jaacute discutido
esses aspectos satildeo importantes e compotildeem a estrutura necessaacuteria para realizaacute-los
poreacutem haacute outros aspectos que precisam ser considerados pois um pensamento
reduzido pode culminar no risco de departamentalizar o AEE na escola restringindo
143
esse serviccedilo agrave SRM e ao professor especializado Tambeacutem pode levar ao equiacutevoco
de pensar que natildeo haacute nada a ser feito pelos estudantes puacuteblico-alvo da EE quando
natildeo haacute em seu espaccedilo a SRM e o profissional especializado Kassar (2011)
apresenta um relato elucidativo de que a viabilizaccedilatildeo do AEE transcende o desafio
da disponibilidade de ―estrutura fiacutesica e recursos humanospedagoacutegicos na escola
[] escolhemos propositadamente um caso considerado ―de sucesso frente agrave escola o aluno de 3ordm ano (Rodrigo que eacute cego) natildeo apresenta problema de interaccedilatildeo eacute bem acolhido pela turma e eacute considerado bastante inteligente[] Sua professora de sala comum leciona haacute 15 anos eacute graduada em Pedagogia e tem Poacutes-Graduaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Inclusiva Participa quando possiacutevel das formaccedilotildees propostas pelo Programa Educaccedilatildeo Inclusiva Direto agrave Diversidade dentre outras oferecidas pelo municiacutepio A professora da sala de recursos trabalha haacute 11 anos em sala de recurso e tem especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo Baacutesica na perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva e formaccedilatildeo especiacutefica na aacuterea da Deficiecircncia Visual Vamos ao diaacuterio de Campo [] quando cheguei nesse dia Rodrigo ainda estava fora da carteira sem nenhum material para trabalhar [] A professora pega o livro de Histoacuteria de um colega resume riscando com caneta algumas partes do texto e comeccedila a ditar para que Rodrigo escreva em Braille[] Ele continua a escrever e comeccedila a ―negociar com a professora para terminar em sua casa o resto do texto A professora natildeo concorda e diz para ele copiar todo o texto independente de quantas folhas fossem Rodrigo a partir desse momento se indigna e diz - ―Eu natildeo vou terminar o texto minha matildeo estaacute doendo nem adianta Ningueacutem vai me obrigar [] Eu natildeo vou ficar aqui me matando escrevendo se tem uma maacutequina aqui A professora me disse que ia regular [a maacutequina] e ateacute hoje natildeo fez isso Eu natildeo vou escrever em Braille no reglete Soacute se for na maacutequina [] A professora nesse momento vai ateacute a coordenaccedilatildeo e volta dizendo ao Rodrigo que havia conversado com a coordenadora para a aquisiccedilatildeo de uma maacutequina Rodrigo responde dizendo que jaacute existe a maacutequina e a professora da sala de recurso havia falado que iria regular mas ele mesmo ―natildeo havia nem visto a cor dela A professora sai novamente procura a professora da sala de recurso para confirmar a existecircncia da maacutequina Nesse momento a professora viu na sala muitos materiais que ela nunca havia visto e tampouco em uso na escola Entre eles ela citou a bola de futebol com guiso e a proacutepria maacutequina Apoacutes todos esses acontecimentos e a partir da mobilizaccedilatildeo que o Rodrigo causou a professora da sala de recurso afirmou que o Rodrigo iraacute comeccedilar a aprender a escrever na maacutequina de escrever em Braille no dia seguinte (REGISTRO DIAacuteRIO DE CAMPO abr 2009) (KASSAR 2011 p74)
Ao contemplar o relato supracitado pela autora eacute possiacutevel perceber as
tensotildees no processo de viabilizaccedilatildeo do AEE na escola Pode-se inferir desse modo
que apesar de uma escola contar com SRM professor especializado com formaccedilatildeo
na aacuterea de educaccedilatildeo especial recursos pedagoacutegicos e humanos esses por si soacute
natildeo satildeo suficientes para promover maior interaccedilatildeo participaccedilatildeo e reflexatildeo por parte
dos profissionais envolvidos no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes na
identificaccedilatildeo das barreiras educacionais minimizando-as ou ateacute mesmo eliminando-
144
as com o intuito de assegurar as condiccedilotildees necessaacuterias para que o estudante
puacuteblico-alvo da AEE tenha o seu direito de aprender garantido
Os dados apresentados e analisados neste capiacutetulo indicam que a
implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE nas escolas pesquisadas eacute enfocada a partir
de aspectos como adequaccedilotildees estruturais SRM recursos pedagoacutegicos e humanos
especiacuteficos Certamente esses aspectos satildeo importantes pois compotildeem a estrutura
do AEE e satildeo exigidos nas diretrizes da EE contudo outros fatores precisam ser
considerados
Uma das questotildees que se evidencia pelo seu silenciamento eacute a
fundamentaccedilatildeo teoacuterica e as discussotildees embasadas em teoacutericos da aprendizagem e
do desenvolvimento Da mesma forma destaca-se o trabalho isolado e segregado
desenvolvido no AEE mas tambeacutem a pouca interaccedilatildeo entre os profissionais que
responderam ao questionaacuterio e o AEE Tal constataccedilatildeo eacute percebida tambeacutem em
outros estudos da aacuterea e remete a uma tendecircncia quando se discute a Educaccedilatildeo
Especial
Compreende-se que os principais desafios das equipes diretivas
investigadas no que tange o processo de viabilizaccedilatildeo do AEE residem sobre trecircs
aspectos O primeiro diz respeito agrave necessidade de uma maior discussatildeo e reflexatildeo
acerca da importacircncia das equipes diretivas pesquisadas na implementaccedilatildeo e
viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos em que atuam Como explicou Tezani (2010 p
290) ―a construccedilatildeo de um sistema educacional inclusivo eacute uma opccedilatildeo poliacutetica que
necessita de accedilotildees poliacutetico-administrativas e teacutecnico-cientiacuteficas A autora afirma
ainda que agrave gestatildeo escolar compete incentivar a troca de ideias a discussatildeo a
reflexatildeo acerca do processo ensino-aprendizagem tendo em vista que
[] a participaccedilatildeo em educaccedilatildeo vai aleacutem do dialogar eacute um processo lento conflituoso em que conhecer os conflitos e saber mediaacute-los torna-se fonte preciacutepua Por isso eacute necessaacuterio ouvir [os profissionais da escola] pais comunidade e oacutergatildeos de representaccedilatildeo Esses satildeo caminhos que devem ser trilhados para a construccedilatildeo da educaccedilatildeo inclusiva (TEZANI 2010 p291)
O segundo desafio se refere agraves questotildees que satildeo estruturais e demandam
uma accedilatildeo conjunta da equipe diretiva com o Estado (Uniatildeo e Municiacutepio) na busca de
recursos financeiros que possibilitem a adequaccedilatildeo dos espaccedilos escolares quanto a
recursos humanos a equipamentos mobiliaacuterios e materiais didaacuteticos pedagoacutegicos
necessaacuterios para o serviccedilo do AEE
145
Jaacute o terceiro desafio corresponde agrave implementaccedilatildeo de uma gestatildeo
democraacutetica-participativa o que implica dentre os diversos fatores segundo Paro
(2010) repensar a forma de ingresso no cargo do diretor Nesse sentido o autor
ressalta que pela singularidade democraacutetica e puacuteblica que caracteriza o cargo de
diretor(a) esse necessita ―ser democraacutetico no sentido pleno do conceito ou seja
sua legitimidade adveacutem precipuamente da vontade livre daqueles que se submetem
agrave sua direccedilatildeo (PARO 2010 p776) O mesmo autor considera ainda que quando a
permanecircncia do diretor no cargo natildeo depende somente do Estado e sim dos
profissionais da escola estudantes e pais eacute possiacutevel avistar maior probabilidade de
que ele propicie uma gestatildeo mais democraacutetica envolvendo a participaccedilatildeo da
comunidade escolar nos processos de tomadas de decisotildees como por exemplo na
implementaccedilatildeo de poliacuteticas educacionais Aleacutem disso essa forma de ingresso no
cargo pode contribuir ainda para inibir a substituiccedilatildeo de diretores escolares a
qualquer tempo principalmente em periacuteodo de mudanccedila de governo uma vez que
tal substituiccedilatildeo pode fragilizar a continuidade dos trabalhos iniciados pela equipe
diretiva junto aos profissionais da escola estudantes e pais Paro (2001) reiterou
ainda que
[] eacute no conjunto dos fatores constitutivos das praacuteticas presentes no interior da escola que devem ser buscadas as causas de seus problemas e as fontes de suas soluccedilotildees no montante e na utilizaccedilatildeo dos recursos materiais e financeiros na organizaccedilatildeo do trabalho nos meacutetodos de ensino na formaccedilatildeo desempenho e satisfaccedilatildeo do pessoal da escolar nos curriacuteculos e nos programa no tamanho das turmas nas adequaccedilotildees estruturais do edifiacutecio na utilizaccedilatildeo dos tempos e espaccedilos na distribuiccedilatildeo da autoridade e do poder na instituiccedilatildeo na relaccedilatildeo com os membros da comunidade e na importacircncia que se decirc a seu papel como cidadatildeossujeitos no planejamento na avaliaccedilatildeo e no acompanhamento constante das praacuteticas escolares enfim em tudo que diz respeito agrave estrutura e ao funcionamento da escola (PARO 2001 p99)
Percebe-se que o ingresso na funccedilatildeo de direccedilatildeo se dar por meio de indicaccedilatildeo
pode corroborar para fragilizar a constituiccedilatildeo de trabalhos conjuntos dado que haacute
entre outros aspectos uma rotatividade nessa funccedilatildeo bem como uma inseguranccedila
na permanecircncia do cargo
O trabalho coletivo deve estar pautado na premissa de que todos possam se
engajar em diaacutelogos em que a troca de saberes vivecircncias e perspectivas possam
lanccedilar luz sobre o processo de escolarizaccedilatildeo de todos os estudantes bem como
daqueles que satildeo puacuteblico-alvo da Educaccedilatildeo Especial de modo a lhes possibilitar o
direito de aprender
146
A seguir satildeo apresentadas as consideraccedilotildees finais decorrentes desta
pesquisa com destaque aos principais resultados assim como sugestotildees de
contribuiccedilotildees para o AEE na Rede de Ensino pesquisada
147
CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
O presente estudo situado no campo de estudos sobre Educaccedilatildeo Especial e
focalizando discussotildees acerca do serviccedilo de Atendimento Educacional
Especializado preconizado na Poliacutetica Nacional de Educaccedilatildeo Especial na
Perspectiva da Educaccedilatildeo Inclusiva (BRASIL 2008) teve por objetivo investigar as
compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional
Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo Para isso a pesquisa foi desenvolvida
em sete escolas da Rede Municipal de Ensino de Camboriuacute contando com a
participaccedilatildeo de sete equipes diretivas formadas por trecircs profissionais o diretor(a)
escolar o orientador(a) e o supervisor(a) educacional
A anaacutelise dos dados revelou que dos 22 profissionais que compotildeem as
equipes diretivas escolares participantes da pesquisa 17 identificaram-se como do
sexo feminino e 5 do masculino Em relaccedilatildeo agrave carga horaacuteria todos responderam que
trabalham 40 horas semanais nas escolas em que atuam
Em relaccedilatildeo ao tempo de atuaccedilatildeo na funccedilatildeo percebeu-se que a maioria se
encontra em um momento inicial no cargo ocupado na escola em que hoje trabalha
se configurando em um dos desafios postos agraves equipes diretivas na implementaccedilatildeo
do AEE visto que em cada escola haacute uma cultura organizativa instituiacuteda que
precisa ser conhecida e debatida para entatildeo ser mantida ou se necessaacuterio
transformada Entende-se que para atuar nessas funccedilotildees eacute necessaacuterio um
aprofundamento teoacuterico que permita uma leitura criacutetica acerca das poliacuteticas e
normativas educacionais vigentes de modo que se possa discuti-las junto ao
coletivo escolar antes de sua implementaccedilatildeo
Entretanto a ausecircncia de forma geral desse adensamento teoacuterico que
permite ao profissional da educaccedilatildeo compreender as bases epistemoloacutegicas que
sustentam determinadas praacuteticas orientaccedilotildees normativas e legislaccedilotildees na aacuterea da
educaccedilatildeo especial eacute ainda bastante recorrente Considera-se que a formaccedilatildeo inicial
e continuada ao seguir a loacutegica do sistema capitalista vem fomentando formaccedilotildees
cada vez mais aligeiradas com baixa carga horaacuteria para discussatildeo dos
pressupostos da educaccedilatildeo especial e inibindo aprofundar discussotildees que
possibilitem accedilotildees pedagoacutegicas e organizativas da escola que favoreccedilam o
aprendizado escolarizado do estudante puacuteblico-alvo da EE
148
Assim quando se questiona na Rede pesquisada sobre o AEE eacute possiacutevel
perceber a necessidade de um maior aprofundamento teoacuterico e uma formaccedilatildeo
diferenciada nos cursos de formaccedilatildeo inicial e continuada uma vez que permanece
uma visatildeo individualizada sobre as possibilidades de aprender calcada em uma
visatildeo organicista e segregada de Educaccedilatildeo Especial
Ao analisar as compreensotildees das equipes diretivas escolares acerca do
serviccedilo de AEE apresentaram-se trecircs focos de entendimentos 1) foco no puacuteblico-
alvo da EE 2) foco no local de atendimento (Sala de Recursos Multifuncionais) e 3)
foco no processo de escolarizaccedilatildeo como um todo Eacute possiacutevel perceber nesse
sentido uma visatildeo setorizada e individualizada do serviccedilo por parte das equipes
diretivas escolares
Restringir no entanto a compreensatildeo acerca do AEE ao estudante com
deficiecircncia ou agrave Sala de Recursos Multifuncionais e ao professor especializado
sinaliza um entendimento descontextualizado e desarticulado sobre o serviccedilo no
acircmbito da escola sinalizando ainda que se manteacutem nos espaccedilos escolares uma
visatildeo de segregaccedilatildeo que responsabiliza o loacutecus do AEE bem como o professor
especializado pela aprendizagem do estudante puacuteblico-alvo da EE
Contudo modificar essa abordagem se mostra uma tarefa complexa
considerando que a escola puacuteblica brasileira tem enfrentado muitos desafios quando
se trata do ensino A diversidade de estudantes eacute cada vez maior assim como as
proposiccedilotildees poliacuteticas da Educaccedilatildeo que permeiam o cotidiano das escolas as quais
parecem estar fundamentadas e organizadas em procedimentos normativos
avaliativos em que predominam a competitividade e a individualidade nas relaccedilotildees
entre os indiviacuteduos da mesma escola em detrimento de um trabalho coletivo
Ante ao exposto eacute possiacutevel constatar que essa forma de compreender o AEE
tem seu fundamento nos documentos oficiais (VAZ 2013) mas como destaca
Franccedila (2008) as poliacuteticas educacionais natildeo satildeo simplesmente incorporadas
prontamente pelos profissionais da escola ao contraacuterio disso satildeo interpretadas e
ressignificadas pelos indiviacuteduos que nela atuam Nesse mesmo sentido Kassar e
Meletti (2012 p 54) explicam apoiadas em Di Giovanni (2009) que a PNEE-PEI
(BRASIL 2008) como qualquer poliacutetica puacuteblica natildeo eacute assimilada automaticamente
Tais colocaccedilotildees endossam o questionamento de como a formaccedilatildeo dos profissionais
da escola possibilitam assumir uma postura criacutetica frente agraves politicas educacionais
149
considerando o contexto histoacuterico econocircmico poliacutetico e social em que estatildeo
inseridos
Eacute possiacutevel perceber desse modo a importacircncia de uma leitura criacutetica
reflexiva e contextualizada por parte das equipes diretivas juntamente com a
comunidade escolar no que concerne agraves poliacuteticas educacionais permitindo
identificar quais pressupostos permeiam essas poliacuteticas procurando maneiras de
constituir um fazer pedagoacutegico que assegure o direito do estudante de aprender
Isso implica planejar e instituir momentos de formaccedilatildeo na escola uma vez que a
discussatildeo e a reflexatildeo criacutetica de uma poliacutetica educacional assim como sua
implementaccedilatildeo se trata de uma accedilatildeo que precisa envolver todo o coletivo escolar
Uma possibilidade de contribuir e favorecer com o aprofundamento teoacuterico
acerca das questotildees mencionadas acima seria o planejamento por parte do sistema
municipal de ensino de uma formaccedilatildeo consistente a partir das demandas das
escolas O Sistema Municipal de Ensino por sua vez pode realizar essa formaccedilatildeo
em parceira com as Instituiccedilotildees Puacuteblicas de Ensino Superior sediadas no municiacutepio
ou em seu entorno considerando a constituiccedilatildeo e o fortalecimento de uma rede de
apoio para a realizaccedilatildeo de formaccedilotildees que contemplem os aprofundamentos teoacutericos
e praacuteticos na aacuterea da Educaccedilatildeo e da Educaccedilatildeo Especial para os profissionais da
educaccedilatildeo da Rede Compreende-se assim que essa accedilatildeo poderia contribuir para
repensar e ressignificar a PNEE-PEI e o AEE na rede municipal de ensino
A forma como a poliacutetica e as diretrizes da EE vecircm sendo interpretadas pelas
equipes diretivas e como o serviccedilo vem se materializando no contexto escolar
parecem carecer de aprofundamento teoacuterico Esse aprofundamento poderia
contribuir para a compreensatildeo de que a Educaccedilatildeo Especial estaacute contida na
Educaccedilatildeo Regular e que o AEE eacute um dos apoios para o estudante puacuteblico-alvo da
EE e tambeacutem para a comunidade escolar e dessa forma precisa estar contemplado
nas diretrizes da escola
Aleacutem das formaccedilotildees que podem ser ofertadas pela Rede Municipal observa-
se ainda o potencial das formaccedilotildees realizadas nos espaccedilos escolares Entretanto
evidencia-se que a organizaccedilatildeo dos espaccedilos e tempos das escolas agrave luz das
diretrizes educacionais brasileiras parecem natildeo colaborar com a instituiccedilatildeo de
momentos de estudos discussatildeo e reflexatildeo envolvendo todo o coletivo escolar Em
meio agraves tensotildees e contradiccedilotildees que permeiam a instituiccedilatildeo desses momentos de
formaccedilatildeo na escola evidencia-se que eles podem ser vistos como formas para
150
pensar as poliacuteticas educacionais de maneira mais articulada e criacutetica com o intuito
ainda de superar as compreensotildees individualizadas e departamentalizadas do
serviccedilo de AEE bem como do trabalho isolado do professor atuante no AEE
expresso nas falas das equipes diretivas
Questionar as equipes diretivas sobre seu entendimento acerca do trabalho
do professor de AEE possibilitou compreender as relaccedilotildees profissionais e
educacionais que envolvem a EE no municiacutepio Considerando que o AEE hoje eacute a
expressatildeo mais evidente da (des)articulaccedilatildeo entre a Educaccedilatildeo Regular e a EE
Pode-se vislumbrar tambeacutem nas respostas explicitadas no questionaacuterio a
necessidade de repensar o trabalho docente junto ao estudante puacuteblico-alvo da EE
bem como as relaccedilotildees que envolvem esse serviccedilo e a oferta de suporte a esse
professor jaacute que se evidenciou como foco do trabalho do professor de AEE na
concepccedilatildeo das equipes diretivas somente o estudante puacuteblico-alvo da EE
Sobre a viabilizaccedilatildeo do AEE observou-se nos dizeres da maioria das equipes
diretivas indiacutecios de compreensotildees que demonstram falta de clareza quanto aos
seus papeacuteis em relaccedilatildeo agrave implementaccedilatildeo e efetivaccedilatildeo desse serviccedilo assim como
apontam lacunas existentes quanto agrave acessibilidade arquitetocircnica recursos
pedagoacutegicos e humanos especiacuteficos que satildeo considerados dispositivos necessaacuterios
e que compotildeem a estrutura do AEE Suas falas sinalizam ainda as necessidades de
reorganizaccedilatildeo dos espaccedilos escolares em relaccedilatildeo agrave realizaccedilatildeo do serviccedilo os quais
compotildeem ainda os desafios das equipes diretivas frente ao AEE em suas
concepccedilotildees
No que tange a acessibilidade arquitetocircnica em sua maioria as equipes
diretivas informaram que ainda faltam realizar algumas adequaccedilotildees estruturais em
seus espaccedilos tais como elevador corrimatildeo dentre outras Pode-se dizer desse
modo que a acessibilidade arquitetocircnica eacute um aspecto relevante na objetivaccedilatildeo da
poliacutetica de EE considerando a diversidade de seu puacuteblico-alvo Entende-se nesse
sentido que haacute vaacuterias possibilidades de compreensatildeo desse aspecto desde a
simples adequaccedilatildeo meacutetrica e estrutural ateacute aquela que compreende que os espaccedilos
tambeacutem favorecem e produzem relaccedilotildees especiacuteficas de aprendizagem escolar bem
como de conviacutevio social
Quanto ao recursos pedagoacutegicos disponiacuteveis na escola evidenciou-se nas
respostas das equipes diretivas que esses se restringem aos disponiacuteveis na SRM
Essa associaccedilatildeo por sua vez tem seu fundamento nas diretrizes da Educaccedilatildeo
151
Especial Entretanto entende-se que os recursos disponiacuteveis na Sala de Recursos
Multifuncionais como os demais recursos disponiacuteveis na escola para serem
denominados como pedagoacutegicos dependem da accedilatildeo intencional e planejada dos
professores frente a esses com a finalidade de contribuir com a constituiccedilatildeo de um
conhecimento especiacutefico do estudante
Contudo essas discussotildees e reflexotildees criacuteticas acerca da EE AEE recursos
pedagoacutegicos e demais assuntos educacionais nos espaccedilos escolares seratildeo
possiacuteveis na medida em que as equipes diretivas juntamente com o coletivo
escolar conseguirem repensar a forma como a escola na qual estatildeo inseridos estaacute
organizada atualmente bem como as bases conceituais que sustentam suas accedilotildees
Desse modo seria possiacutevel identificar coletivamente se estatildeo dispondo de tempo e
espaccedilos para estudar e debater de maneira criacutetica e reflexiva as poliacuteticas e os
assuntos educacionais na escola Assim quando identificada a inexistecircncia desses
momentos questionar-se como poderiam garanti-los considerando as poliacuteticas
educacionais vigentes
Sobre isso Paro (2016a) eacute cuidadoso ao enfatizar que essas soluccedilotildees para
as questotildees identificadas residem no contexto de cada unidade escolar o que
significa que eacute nos aspectos constitutivos das accedilotildees presentes no interior da escola
que deve se empreender uma busca das causas de seus problemas assim como
suas fontes de soluccedilotildees
Pode-se portanto dizer que por mais que as 7 escolas pesquisadas
pertenccedilam agrave mesma Rede elas apresentam necessidades diferentes quanto agrave
viabilizaccedilatildeo do AEE nos espaccedilos escolares que necessitam ser levadas em conta
Entretanto em relaccedilatildeo agrave viabilizaccedilatildeo do AEE ainda identificou-se um aspecto em
comum nos dizeres da maioria das equipes diretivas que diz respeito a indiacutecios de
uma ausecircncia de aprofundamento teoacuterico acerca da Educaccedilatildeo politica PNEE-PEI e
diretrizes da Educaccedilatildeo Especial
Tal constataccedilatildeo pode ser evidenciada quando se observa que das 7 escolas
municipais pesquisadas somente duas possuem o AEE em funcionamento as
demais escolas com exceccedilatildeo a ED5 sinalizaram natildeo ofertar o serviccedilo e natildeo
encaminhar o estudante para ser atendido em outra escola Revelando-se assim
um entendimento de que o AEE se restringe agrave SRM bem como pode demostrar
uma precariedade no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico-alvo da EE
152
Nessa perspectiva eacute possiacutevel perceber que dotar as escolas de SRM
profissionais especializados acessibilidade arquitetocircnica recursos pedagoacutegicos e
humanos por si soacute natildeo eacute suficiente para possibilitar uma maior reflexatildeo e
ressiginificaccedilatildeo acerca das concepccedilotildees de Educaccedilatildeo Especial apresentadas nos
dizeres das equipes diretivas Ressalta-se que esses dispositivos satildeo importantes
necessaacuterios e estatildeo previstos na PNEE-PEI e nas diretrizes da EE e com isso
reitera-se a importacircncia e responsabilidade do Sistema Municipal de Ensino em
parceria com Uniatildeo em provecirc-los agraves escolas Mas eacute preciso compreender que haacute
outros fatores que precisam ser considerados e adicionados a esses como a
qualidade da formaccedilatildeo desses profissionais e as condiccedilotildees de trabalho
Com relaccedilatildeo agraves accedilotildees das equipes diretivas escolares frente agrave viabilizaccedilatildeo do
AEE nas escolas em que atuam foi possiacutevel perceber trecircs respostas mais
recorrentes sendo que cada uma marca uma funccedilatildeo especiacutefica a) papel de
orientaccedilatildeoajuda (em especial aos professores) foi mais mencionado por
supervisores escolares b) papel de atendimento a estudantes puacuteblico-alvo da
Educaccedilatildeo Especial eou pais apareceu com mais frequecircncia nas falas de
orientadores educacionais e por fim c) o papel de provimento de condiccedilotildees
materiais e pedagoacutegicas foi mais constante nas respostas de diretores escolares
Ter clareza sobre as funccedilotildees de cada um na escola eacute importante contudo
quando essas se constituem como um trabalho com nenhuma ou pouca articulaccedilatildeo
e interlocuccedilatildeo entre os profissionais pode culminar no desenvolvimento de um
trabalho isolado no contexto escolar
Em parte essas constataccedilotildees podem ser resultantes do pouco tempo desses
profissionais na funccedilatildeo atual na escola em que atuam assim como na rotatividade
no cargo de direccedilatildeo o que pode estar contribuindo em parte na constituiccedilatildeo de um
trabalho mais isolado entre os profissionais da escola e por conseguinte
fragilizando a implementaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais de forma contextualizada
envolvendo toda a comunidade escolar culminando na precariedade no processo de
escolarizaccedilatildeo dos estudantes
Esse eacute um dos pontos que se destacou na pesquisa e sinaliza ao sistema
municipal de ensino que essa questatildeo precisa ser discutida de forma criacutetica e
reflexiva com o intuito de aprofundar o conhecimento sobre esse assunto uma vez
que pode estar desfavorecendo a implementaccedilatildeo das poliacuteticas educacionais
153
Por fim nesse momento histoacuterico econocircmico poliacutetico e social de incertezas
que se vive atualmente avista-se que discutir o papel das equipes diretivas
escolares na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE como uma oportunidade de criar
espaccedilos e tempos de discussatildeo e reflexatildeo com o objetivo de propiciar a participaccedilatildeo
efetiva de professores demais profissionais da educaccedilatildeo e pais no planejamento
organizaccedilatildeo discussatildeo e implementaccedilatildeo das estrateacutegias e diretrizes da Educaccedilatildeo
Regular e da Educaccedilatildeo Especial de modo articulado tendo em vista um processo
efetivo de escolarizaccedilatildeo para todos os estudantes Uma vez que se continua
vislumbrando que a escola puacuteblica eacute
[] o melhor lugar e o melhor caminho para a luta poliacutetica pela igualdade e inclusatildeo social Uma visatildeo de escola democraacutetica aposta na universalidade da cultura escolar no sentido de que cabe agrave escola transmitir os saberes puacuteblicos que apresentam um valor independentemente de circunstacircncias e interesses particulares em funccedilatildeo do desenvolvimento humano Junto a isso permeando os conteuacutedos cabe tambeacutem considerar a diversidade cultural a coexistecircncia das diferenccedilas e a interaccedilatildeo entre indiviacuteduos de identidades culturais distintas Uma escola desprovida de conteuacutedos culturais substanciosos e densos reduz as possibilidades dos [estudantes] pobres de ascenderem ao mundo cultural e ao desenvolvimento das capacidades intelectuais deixando de promover desse modo a justiccedila social que pode vir da educaccedilatildeo e do ensino (LIBAcircNEO 2016 p 60)
Em meio a esses apontamentos chega-se ao final dessas consideraccedilotildees
Contudo compreende-se que esse estudo natildeo se conclui aqui mas pode possibilitar
novos caminhos e outros direcionamentos que poderatildeo ser suscitados com base no
que foi revelado a partir dos dizeres das equipes diretivas sobre suas compreensotildees
acerca do AEE e suas formas de viabilizaacute-lo Um desses caminhos eacute realizar
pesquisas de cunho etnograacutefico que possibilite observar no cotidiano das escolas
como se datildeo as (des)articulaccedilotildees entre Educaccedilatildeo Especial e Educaccedilatildeo regular
Seriam interessantes tambeacutem pesquisas intervencionistas que articulem formaccedilatildeo
em serviccedilo aprofundamento teoacuterico e accedilatildeo pedagoacutegica podendo se constituir em
um desdobramento deste estudo
Enseja-se ainda que esse estudo possa contribuir com as pesquisas acerca
do papel da equipe diretiva no processo de escolarizaccedilatildeo dos estudantes puacuteblico da
EE assim como ser propositiva de reflexotildees sobre a importacircncia de repensar e
reorganizar os espaccedilos e tempos das escolas com a finalidade de assegurar o
direito a todos os estudantes de aprenderem
154
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DF 2008
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Aprova o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) ___________ Ministeacuterio da Educaccedilatildeo LEI Nordm 13146 DE 6 DE JULHO DE 2015
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Educaccedilatildeo Especial Brasiacutelia 2013 ___________Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Relaccedilatildeo das escolas a serem contempladas com os recursos do PDDE Acessibilidade nos anos de 2012 e 2013 Disponiacutevel em lthttpportalmecgovbrsecretaria-de-educacao-continuada-
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de Carreira dos Profissionais do Magisteacuterio Puacuteblico Municipal De Camboriuacute ndash SC ___________ LEI Nordm 28322015 Institui o Plano Municipal de Educaccedilatildeo ndash PME em conformidade com o art 190 da Lei orgacircnica do Municiacutepio de Camboriuacute SANTA CATARINA PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMBORIUacute EDITAL DE CONCURSO PUacuteBLICO Nordm 0252013 Abre inscriccedilotildees para o concurso puacuteblico para
os cargos elencados no Anexo I parte integrante deste edital em conformidade com as Leis Complementares ndeg 0402012 ndeg 192008 ndeg 482013 e ndeg 0662013 e suas alteraccedilotildees ___________ LEI COMPLEMENTAR Nordm 49 de 24 de abril de 1992 Dispotildee sobre
o novo Plano de Cargos Carreiras e Vencimentos do Magisteacuterio Puacuteblico Estadual reformula a sistemaacutetica de Progressatildeo Funcional institui a Gratificaccedilatildeo de Permanecircncia os Precircmios Meacuterito Gerencial e de Assiduidade e daacute outras providecircncias
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Leitura de Jornais e Revistas em Sala de Aula como atividade multidisciplinar nos estabelecimentos puacuteblicos de ensino fundamental e meacutedio no Estado de Santa Catarina ___________ Poliacutetica de Educaccedilatildeo Especial do Estado de Santa Catarina Satildeo
Joseacute FCEE de 2014
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APEcircNDICES
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APEcircNDICE A ndash Carta agrave equipe diretiva escolar
CARTA Agrave EQUIPE DIRETIVA ESCOLAR
Prezados (as) Participantes
Convidamos vocecircs a participarem como voluntaacuterios(as) anocircnimos(as) da pesquisa
desenvolvida pela mestranda Neusa Denise Marques de Oliveira vinculada a linha de
pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da
Universidade da Regiatildeo de Joinville - UNIVILLE A presente pesquisa tem como objetivo
investigar as compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento
Educacional Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo
As respostas dadas por vocecirc seratildeo fundamentais para a pesquisa intitulada ―A Equipe
Diretiva Escolar e o Atendimento Educacional Especializado Interlocuccedilotildees Possiacuteveis que
estaacute sob a orientaccedilatildeo da Professora Doutora Aliciene Fusca Machado Cordeiro
Para tanto solicito seu precioso tempo para responder este questionaacuterio Sua
sinceridade seraacute fundamental para o ecircxito da pesquisa Coloco a disposiccedilatildeo meus
dados (e-mail ndmoliveirabolcombr e telefone (47) 92903131) no intuito de
sanar quaisquer duacutevidas que surgir
Desde jaacute agradeccedilo sua imprescindiacutevel colaboraccedilatildeo e informo-lhe que seratildeo assegurados sigilo de identidade e a privacidade de dados confidenciais na pesquisa
Atenciosamente Neusa Denise Marques de Oliveira
175
APEcircNDICE B ndash Instrumento de coleta de dados
QUESTIONAacuteRIO
EIXO I ndashPERFIL DA EQUIPE DIRETIVA
1 Ano de Nascimento _________________________
2 Qual sua funccedilatildeo na escola
a)( ) Diretor ( ) Diretora
b) ( ) Assessor diretor ( ) Assessora de diretora
c) ( ) Coordenador PedagoacutegicoSupervisor ( ) Coordenadora
PedagoacutegicaSupervisora
d) ( ) Orientador Educacional ( ) Orientadora Educacional
e) ( ) Outro Qual
_______________________________________________________________
3 Qual sua formaccedilatildeo acadecircmica (preencha os campos necessaacuterios)
a) ( ) Ensino Superior (especificar se Bacharelado ou Licenciatura)
Curso ________________________________ Ano que concluiu _______
Curso _________________________________Ano que concluiu _______
b) ( ) Poacutes - Graduaccedilatildeo (Especializaccedilatildeo)
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
c) ( ) Poacutes ndash Graduaccedilatildeo (Mestrado)
Curso ________________________________ Ano que concluiu ________
d) ( ) Poacutes ndash Graduaccedilatildeo (Doutorado)
Curso _______________________________ Ano que concluiu _________
4 Vocecirc jaacute atuou como professor de sala de aula
a) ( ) Sim
b) ( ) Natildeo
176
5 Quanto tempo
6 Na sua trajetoacuteria como docente teve alguma experiecircncia com
estudante com deficiecircncia
a) ( ) Sim
b) ( ) Natildeo
7 Qual sua carga horaacuteria hoje na funccedilatildeo em que atua na Rede Municipal
de Ensino _______________
8 Quanto tempo de serviccedilo vocecirc tem na funccedilatildeo em que ocupa
atualmente na Rede Municipal de ensino______________
9 Vocecirc pertence ao quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede
Municipal de Ensino
a) ( ) sim
b) ( ) Natildeo
10) Como vocecirc ingressou na funccedilatildeo em que ocupa em sua escola
a) ( ) Por Convite
b) ( ) Por Concurso puacuteblico
c) ( ) Por indicaccedilatildeo
d) ( ) Remanejado (a)
e) ( ) Eleiccedilatildeo
f) ( ) Outro Qual _____________________________________
EIXO IIndash COMPREENSAtildeO DA EQUIPE DIRETIVA SOBRE O AEE
11 Qual sua compreensatildeo sobre o atendimento educacional
especializado _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
12 Quem satildeo os estudantes puacuteblico-alvo do Atendimento Educacional Especializado
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
177
13 A escola em que vocecirc atua trabalha com Atendimento Educacional
Especializado (AEE)
a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo Por quecirc _______________________________________
14 Em caso afirmativo
a) ( ) Eacute uma escola Poacutelo o atendimento ocorre na proacutepria escola atendendo
__________ estudantes de ___________ escolas
b) ( ) Atende somente estudantes desta escola Por quecirc
_______________________________________________________________
15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos
estudantes puacuteblico alvo do AEE
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE
a) ( ) Sim Em caso afirmativo Comente quais________________
b) ( ) Natildeo
17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE
a) ( ) Sim Em caso afirmativo Comente quais______________________________________________________ ____________________________________________________________
b) ( ) Natildeo
18 Vocecirc teve alguma formaccedilatildeo com temas relacionados ao AEE
( ) Sim Comente
( ) Natildeo
EIXO III ndash CONHECIMENTO DA EQUIPE DIRETIVA SOBRE O TRABALHO DO PROFESSOR DO AEE
178
19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento
Educacional Especializado ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
21 Na escola em que vocecirc atua como se daacute a participaccedilatildeo do professor
de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros)
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE _____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
23 O professor do AEE que atende sua escola faz parte do quadro
efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino
a) ( ) sim
b) ( ) Natildeo
c) ( ) Natildeo tenho esta informaccedilatildeo
EIXO IV ndash PROJETO PEDAGOacuteGICO E O AEE
25 A escola em que vocecirc atua possui um projeto pedagoacutegico a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo
26 O atendimento educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola
a) ( ) Sim b) ( ) Natildeo
27 A escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe
179
diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
180
APEcircNDICE C ndash Matriz de referecircncia Quadro 17 Matriz de referecircncia
Objetivos da pesquisa
Categorias Questotildees a
serem abordadas
Perguntas do questionaacuterio relacionadas
- Revelar a compreensatildeo da equipe diretiva escolar acerca do serviccedilo de AEE e do puacuteblico-alvo da EE - Evidenciar o que a equipe diretiva escolar conhece sobre o trabalho do professor do AEE
O que pensam as equipes diretivas escolares sobre o Atendimento Educacional Especializado
O serviccedilo em si o puacuteblico alvo da EE e o trabalho docente
11 Qual sua compreensatildeo sobre o atendimento educacional especializado 19 Qual sua compreensatildeo sobre o trabalho do professor de AEE 21 A escola em que vocecirc atua qual a participaccedilatildeo do professor de AEE nos processos coletivos da escola (conselho de classe reuniotildees pedagoacutegicas projetos interdisciplinares entre outros) 22 Na sua escola quem acompanha e auxilia o professor de AEE 23 O professor do AEE na sua escola faz parte do quadro efetivo de servidor puacuteblico da Rede Municipal de Ensino 12 Quem satildeo os estudantes puacuteblico alvo da Educaccedilatildeo Especial 13 Na escola em que vocecirc atua trabalha com Atendimento Educacional Especializado (AEE)
14 Em caso afirmativo a) ( ) Eacute uma escola Polo b) ( ) Atende somente estudantes desta escola 15 Em caso negativo Como ocorre em sua escola o atendimento aos estudantes puacuteblico alvo do AEE
- Identificar os procedimentos que tecircm sido adotados pela equipe diretiva escolar na implementaccedilatildeo e viabilizaccedilatildeo do AEE
As condiccedilotildees de acessibilidade nos espaccedilos escolares e o papel da equipe diretiva frente a viabilizaccedilatildeo do Atendimento Educacional Especializado
O papel da equipe diretiva Acessibilidade arquitetocircnica Recursos materiais e pedagoacutegicos Se o AEE estaacute comtemplado no Projeto poliacutetico-pedagoacutegico e e
20 Que accedilotildees satildeo de sua responsabilidade para viabilizar o Atendimento Educacional Especializada 16 A escola em que vocecirc atua possui acessibilidade arquitetocircnica (rampa corrimatildeo) que atendam os estudantes puacuteblico alvo do AEE 17 A escola em que vocecirc atua possui recursos materiais e pedagoacutegicos que atendam os estudantes puacuteblico-alvo do AEE
25 A escola em que vocecirc
181
Desafios na viabilizaccedilatildeo do serviccedilo e formas de superaacute-lo
atua possui um projeto pedagoacutegico 26 O atendimento
educacional especializado estaacute contemplado no projeto pedagoacutegico de sua escola 27A escola em que vocecirc atua quais os maiores desafios da equipe diretiva relacionados ao Atendimento Educacional Especializado
Fonte Primaacuteria (2016)
182
ANEXOS
183
ANEXO I ndash Autorizaccedilatildeo da Secretaria Municipal de Educaccedilatildeo de Camboriuacute
184
ANEXO II ndash Parecer de Aprovaccedilatildeo do Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa
185
186
187
ANEXO III ndash Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UNIVERSIDADE DA REGIAtildeO DE JOINVILLE ndash UNIVILLE
PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCACcedilAtildeO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE
Vocecirc estaacute sendo convidado (a) a participar como voluntaacuterio (a) de uma
pesquisa desenvolvida pela mestranda Neusa Denise Marques de Oliveira
vinculada ao Grupo de Pesquisa Trabalho e Formaccedilatildeo Docente do Programa de
Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE As respostas dadas por vocecirc ao instrumento
de coleta de dados neste caso um questionaacuterio seratildeo fundamentais para a
construccedilatildeo da dissertaccedilatildeo intitulada ―A Equipe Diretiva Escolar e o Atendimento
Educacional Especializado Interlocuccedilotildees Possiacuteveis que estaacute sob a orientaccedilatildeo da
Professora Drordf Aliciene Fusca Machado Cordeiro Sendo seu objetivo investigar as
compreensotildees das equipes diretivas escolares sobre Atendimento Educacional
Especializado e suas formas de viabilizaacute-lo
Sua participaccedilatildeo se restringiraacute a fornecer respostas agraves indagaccedilotildees feitas no
questionaacuterio Vocecirc teraacute a liberdade de se recusar a responder perguntas que lhe
ocasionem constrangimento de alguma natureza e tambeacutem poderaacute desistir da
pesquisa a qualquer momento sem que a recusa ou a desistecircncia lhe acarrete
qualquer prejuiacutezo bem como caso seja do seu interesse e mencionado ao
pesquisador teraacute livre acesso aos resultados do estudo
Destacamos que a sua participaccedilatildeo nesta pesquisa eacute opcional e representa
riscos ou desconfortos miacutenimos Em caso de recusa ou de desistecircncia em qualquer
fase da pesquisa vocecirc natildeo seraacute penalizado (a) de forma alguma A sua participaccedilatildeo
constituiraacute de suma importacircncia para o cumprimento do objetivo da pesquisa e os
benefiacutecios seratildeo de acircmbito acadecircmico e profissional para o campo do Trabalho e
Formaccedilatildeo Docente
Vocecirc seraacute esclarecido sobre a pesquisa em qualquer aspecto que desejar e
trataremos da sua identidade com padrotildees profissionais de sigilo ou seja natildeo
haveraacute identificaccedilatildeo nominal Os questionaacuterios respondidos durante a realizaccedilatildeo da
pesquisa ficaraacute sob a guarda e a responsabilidade da pesquisadora por um periacuteodo
de cinco anos onde apoacutes esse prazo o material seraacute descartado Os resultados
deste estudo poderatildeo ser apresentados por escrito ou oralmente em congressos
perioacutedicos cientiacuteficos e eventos promovidos na aacuterea de ciecircncias humanas
Em caso de duacutevida vocecirc poderaacute procurar a pesquisadora responsaacutevel por esta
pesquisa Neusa Denise Marques de Oliveira pelo telefone (47) 92903131 Se
preferir vocecirc tambeacutem pode entrar em contato com a professora orientadora dessa
pesquisa no Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da UNIVILLE pelo telefone (47)
3461-09077 ou no seguinte endereccedilo Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash
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UNIVILLE Rua Paulo Malschitzki 10 - Zona Industrial Campus Universitaacuterio -
JoinvilleSC CEP 89219-710 Bloco A sala A 227B
Se vocecirc tiver alguma consideraccedilatildeo ou duacutevida sobre a eacutetica que envolve a referida
pesquisa entre em contato com o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa (CEP) pelo
telefone (47) 3461-9235 ou no endereccedilo Universidade da Regiatildeo de Joinville ndash
UNIVILLE Bloco B sala B 31
Apoacutes ser esclarecido sobre a pesquisa no caso de vocecirc aceitar fazer parte do estudo assine ao final deste documento que estaacute em duas vias Uma delas eacute sua e a outra eacute do pesquisador responsaacutevel
CONSENTIMENTO
Eu ________________________________________________ acredito ter sido
suficientemente informado (a) e concordo em participar como voluntaacuterio (a) da
pesquisa descrita acima
_____________________ ____ de ____________________ de 2015
_________________________ ________________________________ Participante responsaacutevel Neusa Denise Marques de Oliveira
Pesquisadora
189