União é ingrediente essencial para conquistar uma vida melhor no campo

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União é ingrediente essencial para conquistar uma vida melhor no campo Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1909 Junho/2014 Jacobina Na comunidade de Várzea Nova, no município de Jacobina, na Bahia, a união das famílias faz a diferença em suas lutas e atividades diárias para conquistar melhores condições de vida e permanecer no campo. Essa prática de união e organização na comunidade, segundo Damásio (membro de Várzea Nova), faz parte da herança de seus pais e avós, que viviam ajudando uns aos outros. Uma forte marca na comunidade, deixada pelos seus antepassados, é a cultura do Reisado (Festa popular e folclórica, onde há encenação do nascimento de Jesus Cristo até a chegada dos três reis magos). E os festejos juninos, ressaltados como momentos de diversão em Várzea Nova. “Mesmo que de forma um pouco tímida, essas culturas ainda fazem parte de nossa comunidade”, frisa Damásio. As famílias da comunidade Várzea Nova enfrentaram grandes desafios, um deles foi o acesso à água. “A gente usava água de barreiros, que ficava lá embaixo. Consumia e dava para os animais”, ressalta dona Lindalva. “E quando os barreiros secavam éramos muitas vezes massacrados pelos carros pipas”, diz Damásio. Por essa dificuldade, além de outras carências que existiam na comunidade, muitas famílias migraram para Rondônia e São Paulo. Porém, após alguns anos retornaram, por entender que em qualquer lugar precisariam lutar e superar desafios. Esse é o exemplo da família de seu Raulino e da família de dona Lindalva, que por algum tempo viveram lá fora. “Já que temos que lutar, que seja na nossa terra”. Com muita garra, as famílias começaram a conquistar melhoras para suas vidas, a primeira delas foram as cisternas de consumo, que começaram a ser construídas há 10 anos. “A gente foi conquistando essas lutas de água, fomos construindo cisternas. Aí veio esse programa da ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), e ai foi melhorando nosso meio de vida, fomos tendo água de qualidade para beber”, lembra a agricultora Lindalva, com expressão de alivio. O plantio da mandioca é a principal atividade desenvolvida na comunidade pelas famílias. Por ser uma plantação mais resistente. Mas, que em tempo de longa estiagem, a produção da mandioca é perdida, pois Casa de Farinha Comunidade reunida

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Na comunidade de Várzea Nova, no município de Jacobina, na Bahia, a união das famílias faz a diferença em suas lutas e atividades diárias para conquistar melhores condições de vida e permanecer no campo. Essa prática de união e organização na comunidade, segundo Damásio (membro de Várzea Nova), faz parte da herança de seus pais e avós, que viviam ajudando uns aos outros.

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União é ingrediente essencial para conquistar uma vida melhor no campo

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1909

Junho/2014

Jacobina

Na comunidade de Várzea Nova, no município de Jacobina, na Bahia, a união das famílias faz a diferença em suas lutas e atividades diárias para conquistar melhores condições de vida e permanecer no campo. Essa prática de união e organização na comunidade, segundo Damásio (membro de Várzea Nova), faz parte da herança de seus pais e avós, que viviam ajudando uns aos outros. Uma forte marca na comunidade, deixada pelos seus antepassados, é a cultura do Reisado (Festa popular e folclórica, onde há encenação do nascimento de Jesus Cristo até a chegada dos três reis magos). E os festejos juninos, ressaltados como momentos de diversão em Várzea Nova. “Mesmo que de forma um pouco tímida, essas culturas ainda fazem parte de nossa comunidade”, frisa Damásio.

As famílias da comunidade Várzea Nova enfrentaram grandes desafios, um deles foi o acesso à água. “A gente usava água de barreiros, que ficava lá embaixo. Consumia e dava para os animais”, ressalta dona Lindalva. “E quando os barreiros secavam éramos muitas vezes massacrados pelos carros pipas”, diz Damásio. Por essa dificuldade, além de outras carências que existiam na comunidade, muitas famílias migraram para Rondônia e São Paulo. Porém, após alguns anos retornaram, por entender que em qualquer lugar precisariam lutar e superar desafios. Esse é o exemplo da família de seu Raulino e da família de dona

Lindalva, que por algum tempo viveram lá fora. “Já que temos que lutar, que seja na nossa terra”. Com muita garra, as famílias começaram a conquistar melhoras para suas vidas, a primeira delas foram as cisternas de consumo, que começaram a ser construídas há 10 anos. “A gente foi conquistando essas lutas de água, fomos construindo cisternas. Aí veio esse programa da ASA (Articulação Semiárido Brasileiro), e ai foi melhorando nosso meio de vida, fomos tendo água de qualidade para beber”, lembra a agricultora Lindalva, com expressão de alivio. O plantio da mandioca é a principal atividade desenvolvida na comunidade pelas famílias. Por ser uma plantação mais resistente. Mas, que em tempo de longa estiagem, a produção da mandioca é perdida, pois

Casa de Farinha

Comunidade reunida

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Bahia

precisa da água da chuva para vingar. Quando conseguem fazer a colheita, a mandioca passa pelo processo de beneficiamento. No momento da raspa, a vizinhança ajuda uns aos outros, a família conclui o processo fazendo a farinha e o beiju, que serve para o consumo de casa e comercializar o excedente. A partir da fundação da Associação dos Pequenos Agricultores de Várzea Nova, em 1994, foi possível vencer mais lutas para melhorar a vida das famílias da comunidade. Como a conquista da Energia Elétrica e o acesso à água da Rede EMBASA (Empresa Baiana de Águas e Saneamento). Em 2011, outra conquista importante para a comunidade, foi a vinda da cisterna-calçadão e cisterna-enxurrada. Pois, a produção de hortaliças era limitada com a água da EMBASA, por não ter qualidade para produzir e o custo ser alto. Reforça dona Lindalva, “só a partir da cisterna-calçadão e enxurrada que tornou realidade o

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sonho de poder plantar mais essas hortaliças nos nossos quintais. E ter alimento e tempero mais gostosos e naturais. Livrando também de comprar na feira. Trazendo outros alimentos que não produzimos”. Com o acesso às tecnologias de captação e armazenamento de água da chuva, as possibilidades de produzir aumentaram. Assim, com a organização da comunidade, nasce mais uma ação importante, o interesse de comercializar excedente desses alimentos. Daí juntou a sobra da produção de 8 famílias para montar uma barraca, uma vez por semana e vender no povoado do Junco, que fica ao lado da comunidade de Várzea Nova. “No começo, a prioridade era produzir esses alimentos orgânicos para o consumo. Mas, como tava tendo o excedente de cada família um pouco, veio a ideia de comercializar. E deu certo!”. Conta Damásio. “Se não fosse nossa união não teríamos nada aqui”, completa dona Lindalva. Para Seu Carlito, a produção é bem variada e só foi possível juntando um pouco de cada família. “Temos, alface, coentro, cebolinha, pimentão, quiabo, beterraba, cenoura, abóbora, maracujá. E muito mais”. Da venda desses produtos, segundo Rivaneide, 20% vão para um “caixa”, para na hora da necessidade ter de onde tirar, como por exemplo o conserto da barraca ou se alguém da comunidade precisar pode pegar emprestado. Toda sexta, as famílias se reúnem para discutir sobre a produção. Qual a quantidade de produtos tem para levar para a feira no domingo. E faz também, a prestação de conta do que foi vendido na feira anterior. A vontade de aumentar a variedade e a quantidade da produção de hortaliças e verduras faz parte dos principais desejos das famílias da comunidade de Várzea Nova. Com objetivo de melhorar a barraca e poder comercializar para o PNAE e PAA. Na caminhada por mais conquista tem ainda a ativação da casa de sementes e do ponto de leitura, além de poder trazer outros projetos que desenvolva atividades para a juventude. Fortalecendo assim, a permanência das famílias no campo.

A gente trabalha pra gente, sabe o que tá levando para casa. Diz Givalda.

Muito importante produzir de forma natural. Expressa Neide.