Texto Para Qualificação - Danilo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO FACULDADE DE EDUCAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAÇÃO CURRÍCULO, LINGUAGENS E INOVAÇÕES PEDAGÓGICAS DO CHÃO SECO E DO SOL FORTE ÀS FLORES DA BARRIGUDA: TECENDO FIOS DE UMA REDE DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOS MUNICÍPIOS DE IBITITÁ, IRECÊ E LAPÃO BA DANILO PEREIRA DA ROCHA SALVADOR ABRIL DE 2015

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Texto de Qualificação para Mestrado

Transcript of Texto Para Qualificação - Danilo

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

    PR-REITORIA DE PESQUISA E PS-GRADUAO

    FACULDADE DE EDUCAO

    MESTRADO PROFISSIONAL EM EDUCAO

    CURRCULO, LINGUAGENS E INOVAES PEDAGGICAS

    DO CHO SECO E DO SOL FORTE S FLORES DA

    BARRIGUDA: TECENDO FIOS DE UMA REDE DE

    EDUCAO AMBIENTAL NOS MUNICPIOS DE IBITIT,

    IREC E LAPO BA

    DANILO PEREIRA DA ROCHA

    SALVADOR

    ABRIL DE 2015

  • DANILO PEREIRA DA ROCHA

    DO CHO SECO E DO SOL FORTE S FLORES DA

    BARRIGUDA: TECENDO FIOS DE UMA REDE DE

    EDUCAO AMBIENTAL NOS MUNICPIOS DE IBITIT,

    IREC E LAPO BA

    Trabalho de qualificao apresentado ao Mestrado

    Profissional em Educao: currculo, linguagens e

    inovaes pedaggicas, como requisito parcial para

    obteno do grau de Mestre em Educao

    Orientadora: Prof.. Dr. Rosilia Oliveira de Almeida

  • LISTA DE ILUSTRAES

    FIGURA 1 Quixabeira sob a qual os primeiros habitantes de Irec se abrigaram ................. 8

    FIGURA 2 Rochedos localizados na sede do municpio de Ibitit ....................................... 11

    FIGURA 3 Praa na cidade de Lapo, onde se localiza a grande Lapa ................................ 15

    FIGURA 4 Mapa da vegetao de parte do Territrio de Identidade de Irec, em destaque os

    municpios de Irec, Ibitit e Lapo BA ................................................................................ 17

    FIGURA 5 Imagem de satlite do municpio de Irec .......................................................... 18

    FIGURA 6 Imagem de satlite do municpio de Ibitit ......................................................... 18

    FIGURA 7 Imagem de satlite do municpio de Lapo ........................................................ 19

    FIGURA 8 Professoras lendo os textos expostos nos banners ............................................... 23

    FIGURA 9 Banners expostos no evento.................................................................................. 24

    FIGURA 10 A instalao em processo de criao ................................................................... 24

    FIGURA 11 Participante do evento se abaixando para se mover dentro da instalao ............ 25

    FIGURA 12 Minha mesa durante a primeira rodada de conversas .......................................... 25

    FIGURA 13 Participantes se movimentando entre as rodadas de conversa ............................. 26

    FIGURA 14 O movimento da pesquisa .....................................................................................31

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social

    CETEB Associao Centro de Educao Tecnolgica do Estado da Bahia

    EA Educao Ambiental

    FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    INEMA Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hdricos

    INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira

    MEC Ministrio da Educao

    NASA National Aeronautics and Space Administration

    PCNs Parmetros Curriculares Nacionais

    ProEASE Programa de Educao Ambiental do Sistema Educacional da Bahia

    ProNEA Programa Nacional de Educao Ambiental

    REABA Rede de Educao Ambiental da Bahia

    REPEA Rede Paulista de Educao Ambiental

    SENAR Servio Nacional de Aprendizagem Rural

    UFBA Universidade Federal da Bahia

  • SUMRIO

    1 APRESENTAO ............................................................................................................... 5

    2 OS TRS ELOS: IREC, IBITIT E LAPO BA ....................................................... 7

    2.1 O NICIO EM COMUM ..................................................................................................... 7

    2.2 IREC: AS SOMBRAS DA QUIXABEIRA ...................................................................... 8

    2.2.1 Alguns aspectos educacionais ........................................................................................ 9

    2.3 IBITIT: DA SOLIDEZ DOS ROCHEDOS S INCERTEZAS DA CHUVA ............. 10

    2.3.1 Panorama da Rede de Ensino ...................................................................................... 12

    2.3.1.1 O Currculo desconhecido ............................................................................................ 13

    2. 4 LAPO: FONTE DE GUA LIMPA ............................................................................... 13

    2.4.1 Aspectos educacionais .................................................................................................... 15

    2.5 O ENTRELAAR DOS ASPECTOS ECONMICOS E AMBIENTAIS ...................... 16

    2.6 ASPECTOS DA EDUCAO AMBIENTAL NOS TRS MUNICPIOS .................... 19

    2.6.1 O que ouvi das Secretarias de Educao... ................................................................. 20

    2.6.2 O que ouvi das professoras... ....................................................................................... 22

    3 DESENHANDO O CAMINHO METODOLGICO ...................................................... 28

    3.1 CRONOGRAMA ............................................................................................................... 33

    4. FIAR, TECER, ENREDAR: UM PRLOGO .................................................................. 34

    REFERNCIAS ................................................................................................................. 39

  • 5

    1 APRESENTAO

    A Educao Ambiental (EA) teve papel importante na minha formao inicial

    como professor-pesquisador. At o terceiro semestre do curso de Pedagogia eu sentia um

    desencantamento com a realidade educacional e com as discusses sobre a profisso e

    suas possibilidades, pensava at mesmo em deixar o curso. Foi nesse momento que

    comecei meus primeiros estudos sobre a Educao Ambiental, motivado por um trabalho

    interdisciplinar que tinha como objetivo nos levar a pensar possveis temticas para a

    monografia. Como as questes sobre o meio ambiente sempre fizeram parte da minha

    vida, estudar um vis educacional que fizesse essa ligao entre meus ideais e a educao

    me motivou a continuar meus estudos em Pedagogia.

    Os caminhos percorridos nos estudos sobre Educao Ambiental me levaram, no

    stimo semestre da minha graduao, a realizar no estgio curricular um projeto em

    Educao Ambiental. O projeto intitulado Ler, escrever, contar e refletir: construindo

    aprendizagens significativas a partir da Educao Ambiental foi pensado de forma a

    tecer na interdisciplinaridade os contedos negligenciados em uma prtica educativa

    voltada exclusivamente para a leitura, a escrita e o contar, deixando de lado

    conhecimentos importantes para a formao do ser humano. Desta forma, o projeto

    articulava contedos das disciplinas de portugus, matemtica, histria, cincias,

    geografia e artes, de forma a evidenciar que as prticas de ler, escrever e contar podem

    acontecer de forma contextualizada e significativa.

    Ao final da graduao escrevi minha monografia sobre a Educao Ambiental. Na

    pesquisa que deu sustentao a esse trabalho, busquei identificar quais tipos de Educao

    Ambiental eram exercidos nas prticas dos professores das 3 e 4 sries do Ensino

    Fundamental atuais 4 e 5 anos da rede municipal de educao de Ibitit BA. Ficou

    evidente, atravs da pesquisa, que o enfoque conservacionista da Educao Ambiental

    estava mais presente. Em suas prticas os professores buscavam a transmisso de valores

    que eles acreditavam ser ecologicamente corretos, e perpetuavam a separao dos

    problemas ambientais dos sociais, polticos, econmicos e culturais.

    essa itinerncia que me traz at aqui, em um momento histrico em que a crise

    ambiental, entendida como crise de civilizao (LEFF, 2003, p. 16), chega a um estado

    ainda mais alarmante no Brasil e no Mundo. A regio Sudeste do pas passa por uma seca

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    inimaginvel, que associada a m gesto dos recursos hdricos, pode provocar um

    racionamento em So Paulo, e em outros estados. Com a forte estiagem na regio Sudeste,

    at mesmo a nascente do Rio So Francisco, considerado o Rio da Integrao Nacional,

    chegou a secar, fato que nunca tinha ocorrido.

    O ano de 2014 foi, de acordo com monitoramento realizado pela NASA Agncia

    Espacial Americana, o ano mais quente desde 1880, quando a temperatura do planeta

    comeou a ser registrada, sendo que o ltimo ms de 2014 foi considerado o ms mais

    quente da histria da Terra, um reflexo do aquecimento global, que coloca em risco o

    futuro da vida no planeta.

    nesse contexto que mais uma vez me coloco a interrogar sobre Educao

    Ambiental. Assim, como afirma Bicudo (2011), uma interrogao persiste, muitas vezes,

    ao longo da vida de um pesquisador, ou mantm-se durante muito tempo com fora que,

    como a physis, faz brotar e manter-se sendo. Persiste mesmo que a pergunta especfica

    de um determinado projeto seja abordada, dando-se conta do indagado (p. 23 e p. 24,

    grifos da autora).

    De tal modo, a interrogao que direciona este trabalho me move nesse processo

    de ser sendo, me move nessa minha itinerncia pelo mundo, e interroga mais uma vez

    sobre a Educao Ambiental. A pergunta que guia esta pesquisa pode ser expressa da

    seguinte forma: como a Educao Ambiental tecida nas experincias do mundo vivido

    pelos professores das redes de educao dos municpios de Irec, Ibitit e Lapo BA?

    interessante neste momento, antes de ser explicitado qualquer objetivo para o

    estudo, compreender as especificidades do Mestrado Profissional em Educao da

    Universidade Federal da Bahia UFBA. Diferentemente dos Mestrados Acadmicos, nos

    quais ao final do curso elaborado uma dissertao, O Mestrado Profissional em

    Educao UFBA tem como trabalho de concluso de curso a elaborao de um Projeto

    de Interveno. Desta forma, a pesquisa dentro deste mestrado profissional visa fornecer

    elementos sobre a realidade que se pretende intervir, dando sustentao para a elaborao

    do projeto de interveno.

    Assim, o objetivo desse estudo compreender a Educao Ambiental tecida no

    mundo vivido pelos professores das trs redes que fazem parte do Mestrado Profissional

    em Educao UFBA, a fim de fornecer os fios que sero utilizados na tessitura do

    Projeto de Interveno.

  • 7

    2. OS TRS ELOS: IREC, IBITIT E LAPO- BA

    A histria tecida por acontecimentos que ns humanos contamos a partir da

    nossa viso, nos colocamos quase sempre, como estopins das exploses que vo

    enredando os fatos e constituindo a histria. Mas esquecemos que o homem est na

    natureza, e que a natureza est no homem (MORIN apud PENA-VEGA, 2010, p. 71),

    e que nessa relao complexa, quase de hibridao, que os acontecimentos vo tecendo

    a histria.

    Os trs municpios Irec, Ibitit e Lapo BA, nos quais este estudo se realiza,

    tiveram suas histrias tecidas pela relao ser humano-natureza, quer seja pela forte

    estiagem que deu incio a tudo, a qual deixou o cho seco para que os ps e patas o

    transmutassem em poeira a ser levantada pelos passos que seguiam por caminhos

    incertos, quer pelo abrigo da primeira morada feita embaixo de uma quixabeira. Assim,

    este capitulo pretende resgatar aspectos histricos, educacionais, econmicos e

    ambientais dos trs municpios, enfatizando a forte ligao que possuem com o meio

    ambiente que os cerca.

    2.1 O INCIO EM COMUM

    Em 1663, Antnio Guedes de Brito ganhou as terras onde atualmente se localiza

    grande parte das cidades da microrregio de Irec. Logo aps obter a propriedade,

    Antnio organizou uma comitiva com aproximadamente duzentos homens para que

    pudesse conhecer suas terras. Depois de muito andar pela caatinga, tentando escolher os

    melhores locais para a criao de gado, dando preferncia queles nos quais havia gua

    em abundncia, a comitiva chegou ento a um local que parecia ser ideal para a pecuria.

    Nesse local seria estabelecida a primeira fazenda do Senhor Antnio naquelas terras.

    A primeira de suas fazendas nesta regio foi construda no lugar denominado por

    ele de Lagoa das Carabas ou Brejo das Carabas, atual Irec (RUBEM, 2001, p. 31,

    grifo do autor). Esse nome foi dado devido ao grande nmero de ps de Carabas que

    havia na localidade. Contudo, a regio da fazenda no chegou a ser povoada, e no se

    sabe precisar quando a criao de gado foi abandonada em suas terras.

  • 8

    Em 1877, 224 anos aps as primeiras comitivas passarem pela Lagoa das

    Carabas, centenas de famlias migravam de um lugar para o outro fugindo da seca que

    assolava parte do estado. Uma dessas comitivas trazia os homens que fundariam a cidade

    de Irec e dariam incio ao povoamento das terras onde seriam construdas as outras

    cidades dessa regio.

    2.2 IREC: AS SOMBRAS DA QUIXABEIRA

    Como foi dito anteriormente, em 1877 uma grande seca assolava boa parte do

    estado da Bahia. Devido a isso centenas de famlias migravam de um lugar para o outro

    em busca de gua e de melhoria de vida. Uma dessas comitivas era composta por Antnio

    Alves de Andrade, Hermgenes Jos Santana, Sabino Badar, Joaquim Jos de Sena,

    Deoclides Jos de Sena, Jos Alves de Andrade e Benigno Andrade, que ao chegarem

    Lagoa das Carabas descobriram um bom lugar para permanecer, pois havia muita caa,

    gua em abundncia e um solo frtil para plantar. Eles no possuam barracas ou outra

    forma de proteo para se abrigarem, e encontraram embaixo dos galhos de um p de

    quixabeira a primeira morada nessas terras.

    Foi assim que Irec surgiu, s sombras da quixabeira-me, que abraa e protege,

    que nina os homens para que sonhem os sonhos de crianas de uma vida melhor. E mesmo

    Figura 1 - Quixabeira sob a qual os primeiros habitantes de Irec se abrigaram. Fonte: Blog A histria da agricultura de Irec e os impactos ambientais (2015).

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    depois de muitos anos, a quixabeira-me ainda resiste, talvez como forma de mostrar o

    incio simples de uma cidade que se faz to grande.

    Irec tornou-se efetivamente municpio, deixando de ser distrito da cidade de

    Morro do Chapu em 31 de maio de 1933, pelo decreto estadual 8.452. Atualmente o

    municpio possui uma populao estimada de 72.730 habitantes (IBGE, 2015), e uma rea

    de 319 km.

    2.2.1 Alguns aspectos educacionais

    Do incio simples, de uma educao realizada em pequenos prdios muitas vezes

    improvisados, e com professores particulares, que eram em sua maioria leigos, a educao

    de Irec atualmente reconhecida na microrregio pelo esforo na busca da qualidade,

    visando sempre a construo de parcerias para uma melhor formao dos professores de

    sua rede.

    Contudo no comeo da dcada de 1990, a educao em Irec ainda possua traos

    de seus primrdios: professores leigos, ensino feito em lugares improvisados, como

    acontecia em determinadas escolas, que devido falta de espao fsico utilizavam locais

    como igrejas para que o ensino em algumas turmas pudesse acontecer. Essa problemtica

    de ausncia de espao adequado para o ensino afetava pelo menos cinco escolas da sede

    do municpio. E devido a isso, a carga horria do ensino era reduzida para trs horas

    dirias. Juntam-se a esses outros problemas, como o grande nmero de crianas fora das

    escolas, atrasos salariais, entre outros, que contribuam para a baixa qualidade do ensino

    no municpio.

    A partir de 1997 algumas mudanas significativas comearam a acontecer na Rede

    de Ensino de Irec. Vrias parcerias com instituies foram firmadas visando a melhoria

    da qualidade do ensino, entre essas instituies esto: Instituto Ayrton Senna, CETEB,

    Petrobras, BNDES, FNDE, MEC, CAPACITAR e AVANTE. Da parceira com a

    AVANTE nasceu o primeiro Currculo da Rede Municipal de Ensino de Irec para a

    Educao Infantil, Ensino Fundamental I e Educao de Jovens e Adultos.

    O currculo foi implementado no ano de 1999, sendo que a partir dele a educao

    de Irec passou a adotar o sistema de Ciclos de Aprendizagens. A implementao do

    currculo passou por inmeros problemas, principalmente pela falta de compreenso da

    proposta de Ciclo de Aprendizagem e do processo avaliativo proposto.

  • 10

    Em 2013, um novo currculo foi construdo para a Rede de Ensino de Irec, desta

    vez por meio de uma parceria com a Universidade Federal da Bahia UFBA. Atravs

    dessa parceria foi oferecido o curso de Ps-Graduao em Currculo, e os cursistas, aps

    muitas tentativas de dilogos com os professores da rede, em busca de opinies,

    apresentaram o currculo com uma proposta inovadora com um sistema de ensino baseado

    nos Ciclos de Formao Humana. Contudo, este currculo ainda no foi implementado,

    ficando a Rede de Ensino de Irec com um currculo antigo em quase completo desuso, e

    um novo currculo engavetado.

    A Rede de Ensino de Irec possua em 2013 segundo dados do INEP (2015), 34

    escolas em atividade, sendo 20 escolas na Zona Urbana, atendendo na Educao Infantil

    1.225 crianas; no Ensino Fundamental Anos Iniciais, 3.283 alunos; Ensino Fundamental

    Anos Finais, 2.546 alunos; e na Educao de Jovens e Adultos EJA, 766 alunos; e 14

    escolas na Zona Rural, que atendem: na Educao Infantil, 222 crianas; no Ensino

    Fundamental Anos Iniciais, 521 alunos; Ensino Fundamental Anos Finais, 218 anos; e na

    EJA, 112 alunos.

    2. 3 IBITIT: DA SOLIDEZ DOS ROCHEDOS S INCERTEZAS DA CHUVA

    Em 1887, a notcia de que uma comitiva havia encontrado solo frtil e bastante

    gua nas terras da Lagoa da Carabas, atual Irec, se espalhou aos quatro ventos, e outras

    pessoas partiram rumo localidade a fim de se apossarem de um bom pedao de terra

    para plantar, e assim continuarem suas vidas com um pouco mais de tranquilidade. Com

    o tempo, no se sabe precisar como, alguns dos moradores da nova localidade

    descobriram que as terras tinham herdeiros e resolveram avis-los que centenas de

    pessoas estavam tomando posse delas.

    Aps serem avisados, os irmos Martiniano, Clemente e Benigno Marques

    Dourado partiram do municpio de Brotas de Macabas, a fim de tomarem posse do que

    havia restado de suas terras, e fugir da seca que assolava seu municpio. Ao chegarem em

    um pedao de terra coberta de vastos rochedos, mas tambm de solo frtil, os irmos

    perceberam na fertilidade da terra a possibilidade de cultivo de feijo, milho, cana e outros

    produtos. E decidiram fixar moradia no local, nomeando-o, ento, de Rochedo.

    Aps 40 anos da excurso dos irmos Dourado, mais precisamente em 1927,

    Rochedo tornou-se distrito do municpio de Irec. Mas devido forte agricultura que

  • 11

    crescia no distrito, e a grande extenso de terras ainda virgens, mais moradores chegavam

    localidade buscando trabalho, um pedao de terra para plantar e a possibilidade de um

    futuro promissor. O desenvolvimento do distrito culminou na sua emancipao poltica,

    que ocorreu em 17 de outubro 1961, por meio do Decreto Lei n. 1518. Rochedo passou

    ento a ser cidade, de nome Ibitit.

    Contudo, mesmo aps 52 anos de emancipao poltica, e de ter tido seu nome

    modificado, boa parte da populao ainda se refere ao municpio de Ibitit como Rochedo,

    o que pode evidenciar um sentimento de pertencimento e identificao dos habitantes do

    municpio com o meio ambiente que os cerca.

    Atualmente, Ibitit possui uma rea territorial de aproximadamente 623 km, e

    uma populao estimada em 18.752 habitantes (IBGE, 2015). A atividade econmica

    principal ainda a agricultura, mas devido seca que tem assolado o semirido baiano

    nos ltimos anos, a produo agrcola tem sido nfima. Devido a esse fato, parte da

    populao mais carente do muncipio vive do dinheiro obtido atravs dos programas

    federais de transferncia de renda e das aposentadorias dos idosos das famlias.

    Assim, todo nascido em Ibitit - como eu sou, cresce compreendendo as

    incertezas das chuvas, cresce desejando que ela venha forte, farta e constante, para que,

    em uma relao quase carnal, fecunde a terra e germine em seu solo a nova vida que

    renasce. Como uma fnix, que ressuscita das cinzas, a caatinga desse serto revive atravs

    Figura 2 - Rochedos localizados na sede do municpio de Ibitit. Fonte: Blog Conhecer para preservar (2015).

  • 12

    das guas da chuva. Mas no somente a vegetao que ressuscita, a nossa esperana dos

    seres que habitam essas terras tambm ganha nova vida com as chuvas. E nesse eterno

    (re)viver que alimentamos a esperana - qui utpica, que como diria Eduardo Galeano,

    nos move, para assim continuar construindo a nossa histria.

    2.3.1 Panorama da Rede de Ensino

    Com a cidade crescendo e o aumento de sua populao, constatouse a

    necessidade de investimentos em educao. Um dos primeiros prdios escolares

    construdos exclusivamente para finalidade do ensino em Ibitit foi a Escola Hermano

    Marques Dourado, precisamente em 1969. A escola atendia turmas de 1 4 srie do

    Ensino Fundamental, e em meados dos anos 80, passou a atender tambm as turmas de

    Pr-Escola. Foi a primeira escola no muncipio a fornecer educao para as crianas dessa

    faixa etria.

    Essa inciativa de atender as crianas em idade pr-escolar foi importante conquista

    para o muncipio. As salas de aula no possuam uma infraestrutura adequada para

    atender crianas de 4 a 6 anos. Porm, as professoras possuam curso de magistrio e

    desenvoltura para trabalhar com crianas dessa faixa etria. (COLPO, 2008, p. 40)

    A primeira creche do muncipio foi fundada em 1985, funcionava em um galpo

    improvisado e era mantida pela prefeitura. A Creche Me Nna no possua nenhum

    registro legal e no atendia adequadamente as crianas. Pouco tempo depois a creche foi

    instalada em uma casa alugada, funcionando das 8h s 14h, oferecendo refeies para as

    crianas, que eram em sua maioria de famlias carentes.

    Em 1993 houve uma mudana significativa na infraestrutura da creche, passando

    a ter instalao prpria e mais adequada faixa etria das crianas. Outra mudana foi o

    nome da instituio, que passou a se chamar Creche Me Du, em homenagem a uma

    parteira que trabalhou gratuitamente na cidade dos anos 1950 at os anos 1980.

    Segundo dados do INEP (2015), a Rede de Ensino de Ibitit possui 33 escolas em

    atividade, sendo que a maioria est localizada na Zona Rural, mais precisamente 28

    escolas. Em 2013 foram atendidos 3.160 alunos, sendo: 582 alunos de Educao Infantil;

    2.468 alunos de Ensino Fundamental; e 110 alunos de Educao de Jovens e Adultos.

  • 13

    2.3.1.1 O Currculo desconhecido

    A Proposta Curricular no municpio de Ibitit foi elaborada entre os anos de 1997

    e 2000, mas no se pode precisar o ano de sua implementao. Embora no seu texto seja

    afirmado que a Proposta Curricular foi elaborada com a colaborao dos diretores,

    professores e funcionrios, seu contedo desconhecido pela maioria dos educadores,

    apesar de ainda vigorar oficialmente.

    No documento so traados dois compromissos do Pode Municipal para com a

    sociedade ibititaense: o primeiro afirma que nenhuma criana dever permanecer fora da

    escola, por falta de vagas, de alimentao ou vesturio; o segundo afirma o compromisso

    de oferecer educao de jovens e adultos para as pessoas que no tiveram oportunidade

    de frequentar a escola na idade certa. (IBITIT, [2002])

    Dentre os objetivos estabelecidos no currculo podem ser destacados os seguintes:

    compreenso do mundo em que vive; conquista da autonomia; criao de vnculos para

    uma interao social; acesso ao saber historicamente construdo pela humanidade;

    ampliao do conhecimento (IBITIT, [2002]).

    Outro ponto abordado no documento que os conhecimentos sejam funcionais,

    ou seja, que possam ser efetivamente utilizados, quando as circunstncias em que se

    encontra o aluno exijam essa ao. Para que isso possa acontecer so estabelecidos no

    currculo critrios para escolha dos contedos a serem ensinados, so eles: ser relevante

    para a sociedade; ser relevante para o desenvolvimento dos alunos; precisar de uma ajuda

    especifica para ser aprendido (IBITIT, [2002]).

    No documento o sistema escolar organizado em ciclos: Educao Infantil, de 0

    a 3 anos; creche, de 04 a 06 anos; pr-escola; Ensino fundamental 1, 2, 3 e 4 ciclos.

    Essa organizao no chegou a ser implementada, e atualmente o Ensino Fundamental

    organizado em Anos, atendendo a regulamentao da Lei 11.274/2006, que institui o

    Ensino Fundamental de Nove Anos.

    2. 4 LAPO: FONTE DE GUA LIMPA

    A histria dos trs municpios, Irec, Ibitit e Lapo, sempre esteve conectada.

    Em uma dessas comitivas que vieram para essas terras estava Herculano Dourado, que

    fixou moradia em lugar denominado Fazenda Boi, que ficava perto da Lagoa das

  • 14

    Carabas. Herculano era dono de muitas terras, tantas que no conhecia as riquezas de sua

    propriedade.

    Em 1900 era comum os homens sarem para caar e procurar mel, que servia tanto

    para consumo de suas famlias, como tambm para comercializao nas feiras de cidades

    vizinhas. Sair para caar era rotina de Pedrinho, Joo e Antnio Nenm de Matos, que na

    poca moravam em Rochedo (RUBEM, 2010, p. 34), atual Ibitit. Eles sempre caavam

    juntos, mas um dia Pedrinho decidiu se aventurar por outras partes daquela imensa terra,

    e chamou seus companheiros para procurar um lugar diferente para caar.

    Acostumados com a certeza de conseguir caa, seus companheiros no aceitaram

    partir em busca de uma incerteza. No intimidado pela recusa dos companheiros,

    Pedrinho partiu sozinho, andou um bocado at avistar um p de gameleira, rvore que

    chamava a ateno por ser mais alta que as demais. Caador experiente, ele sabia que as

    gameleiras cresciam perto de rochedos, onde poderiam ser encontrados animais em busca

    de gua.

    Ao chegar perto, percebeu uma grande lapa na qual parecia haver uma espcie de

    rio subterrneo e inmeros animais que estavam ali para saciarem a sede. Pedrinho no

    contou aos amigos sobre a descoberta e no quis mais caar com eles. Depois de muitos

    dias, e de muita desconfiana com a recusa do amigo em lhes acompanhar, Joo e Antnio

    resolveram seguir Pedrinho e o encontraram deitado s margens da grande lapa, s

    sombras da gameleira.

    Os dois lembraram Pedrinho que as terras pertenciam a Herculano, e o correto

    seria avis-lo da descoberta em sua propriedade. Mas Pedrinho no quis ouvir os

    conselhos, afirmava que ele havia descoberto o local e, sendo assim, lhe pertencia. Mesmo

    assim os amigos foram at Herculano e lhe contaram da grande lapa.

    Herculano mandou chamar Pedrinho para uma conversa, com medo, ele no foi.

    Herculano ento ordenou aos seus capangas que buscassem ele. Depois de muita conversa

    o dono das terras autorizou Pedrinho a continuar a caa e tambm lhe ofertou um pedao

    de terra para que pudesse cultivar perto da grande lapa.

  • 15

    No foi s a Pedrinho que Herculano doou um pedao de terra. Decidido a povoar

    a regio da grande lapa e a fundar um povoado, ele comeou a doar pequenas

    propriedades para quem decidisse fixar moradia naquela localidade. Dezenas de pessoas

    se mudaram ento para aquelas terras, e assim se deu o surgimento do municpio de

    Lapo. A grande gameleira, em cuja sombra Pedrinho aproveitava para descansar, foi

    derrubada em 1962, porm uma nova rvore da mesma espcie foi plantada no seu lugar

    no ano de 1999.

    2.4.1 Aspectos educacionais

    Por volta do ano de 1926, o atual municpio de Lapo ainda era um

    pequeno povoado, mas j possua uma escola pblica, o que era um diferencial em relao

    a outras localidades da regio. A escola funcionava em um amplo salo, como eram

    chamados naquela poca os espaos utilizados para o ensino, e tinha apenas uma

    professora, Ana Guanaes de Lima, que lecionou nessa escola at 1930, sendo substituda

    por sua irm.

    Sabe-se que at o ano de 1996, antes da publicao da Lei de Diretrizes e Bases

    da Educao, Lei n. 9394, a educao do municpio de Lapo, como de outros da

    microrregio, passou por uma srie de problemas. Quase todos os professores eram

    contratados, e em sua grande maioria eram leigos, muitos com baixa escolaridade. O

    Figura 3 - Praa na cidade de Lapo, onde se localiza a grande Lapa. Fonte: Site Cidades do meu Brasil (2015).

  • 16

    ensino pblico somente era ofertado at a 4 srie do Ensino Fundamental. Do incio

    ousado, com a fundao de uma escola pblica ainda enquanto era povoado, a educao

    do municpio de Lapo tinha ficado parada no tempo.

    A partir de 1997, o ensino pblico do municpio comea a ser estruturado, no

    mesmo ano foi realizado concurso pblico para professores, iniciou-se uma discusso

    sobre melhoria salarial, ocorreu a construo de um Plano de Carreira para o Magistrio,

    iniciou-se a utilizao de TVs e Vdeos Cassetes durante as aulas, e principalmente,

    ocorreu a ampliao da oferta de ensino at a 8 srie do Ensino Fundamental.

    Atualmente o municpio de Lapo, segundo dados do INEP (2015), possui 26

    escolas em funcionamento, a grande maioria na Zona Rural, sendo 18 no total, atendendo

    1.020 crianas na Educao Infantil; 2.270 alunos no Ensino Fundamental Anos Iniciais;

    e 1.631 alunos no Ensino Fundamental Anos Finais.

    2.5 O ENTRELAAR DOS ASPECTOS ECONMICOS E AMBIENTAIS

    Durante muitos anos a principal atividade econmica dos municpios de Irec,

    Ibitit e Lapo foi quase que exclusivamente a agricultura. Isso se deu principalmente nas

    dcadas de 1970 e 1980, quando o governo federal intensificou o financiamento do

    plantio e colheita nesses municpios. A agricultura era centrada basicamente na produo

    do chamado tri consrcio, feijo milho mamona.

    Os produtores recorriam agricultura no apenas como forma de sustento de suas

    famlias, mas tambm como forma de buscar o enriquecimento, tentando a cada ano

    aumentar a produo, o que consequentemente aumentou a extenso das reas plantadas

    e a intensificao do desmatamento na regio. Foi durante esse perodo que a regio de

    Irec recebeu o ttulo de Capital Mundial do Feijo, quando cerca de 400 mil hectares do

    produto foram plantados, rendendo uma safra de aproximadamente 11 sacos por hectare.

    A ltima grande safra de feijo na regio foi em 2000, quando obteve-se uma produo

    de 5 milhes de toneladas do gro. Mas devido s questes climticas e degradao do

    solo, a produo no tem mais o mesmo rendimento. Dos 400 mil hectares plantados nos

    anos de 1980, atualmente o plantio de feijo no passa de 30 mil hectares. Irec, depois

    de quase 30 anos, perdeu o ttulo de Capital Mundial do Feijo.

    Lopes (2010) afirma que o intensivo financiamento feito pelo governo federal e o

    sistema de produo utilizado configuraram-se como um elemento de forte presso sobre

  • 17

    o ambiente e de fragilizao dos mecanismos de convivncia da populao com os

    recursos naturais. Na figura 4 podemos ver o atual estado da vegetao na regio.

    Figura 4 - Mapa da vegetao de parte do Territrio de Identidade de Irec, em destaque os municpios de Irec,

    Ibitit e Lapo - BA.

    Fonte: Inema (2014).

    Nota: modificado pelo autor.

    Como podemos ver no mapa, a parte de cor mais clara, que cobre praticamente

    toda a extenso dos municpios de Irec, Ibitit e Lapo, mostra o alto grau de derivao

    antrpica1 em que esto essas localidades, principalmente no municpio de Ibitit.

    Para Lopes (2010), o atual estgio de derivao antrpica pode ser sentido no alto

    nvel de poluio e degradao das margens dos rios na regio de Irec, na salinizao

    das reas de produo, na destruio da vegetao e no comprometimento dos lenis

    freticos, associado contaminao pelo uso de agrotxicos e ao uso intenso dos recursos

    1 Derivao antrpica a alterao direta ou indireta do meio ambiente resultante das aes humanas (Monteiro, 2001 apud SANTOS, 2014, p. 279).

  • 18

    hdricos para irrigao, pela abertura de grande nmero de poos tubulares de [...] forma

    descontrolada, sem a existncia de fiscalizao e de um monitoramento do uso da gua.

    As imagens de satlite a seguir mostram de forma mais evidente o nvel de

    desmatamento e degradao ambiental nos trs municpios.

    Figura 5 - Imagem de satlite do municpio de Irec. Fonte: Google Earth (2015).

    Figura 6 - Imagem de satlite do municpio de Ibitit. Fonte: Google Earth (2015).

  • 19

    Embora tenha tentado buscar dados oficiais sobre o desmatamento nos trs

    municpios, atravs de mensagens eletrnicas, telefonemas e indo diversas vezes ao Posto

    Avanado do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hdricos (Inema) em Irec, tais

    dados no foram disponibilizados pelo rgo. Contudo, atravs do Mapa da Vegetao,

    mostrando o grau de derivao antrpica, e das imagens de satlite, pode-se constatar que

    a situao ambiental dos trs municpios nos quais este estudo realizado, bem como de

    outros municpios do Territrio de Identidade de Irec, cada vez mais crtica e j pode

    ser sentida por toda a populao dos municpios.

    2. 6 ASPECTOS DA EDUCAO AMBIENTAL NOS TRS MUNICPIOS

    Durante os dois primeiros ciclos do Mestrado Profissional em Educao,

    realizados entre outubro de 2013 e agosto de 2014, fomos convidados pelas Oficinas:

    Descobrindo a rede; e, Compreendendo espaos especficos da rede, a adentrar nos

    espaos educativos a fim de aprofundar nosso conhecimento sobre as redes municipais

    de educao e diagnosticar a realidade. Assim, as informaes contidas nessa seo do

    trabalho so frutos dessas visitas a esses espaos educativos, da escuta dos professores na

    Desconferncia: intervenes do/no cotidiano e da busca de informaes junto s

    Secretarias de Educao dos municpios de Irec, Ibitit e Lapo.

    Figura 7 Imagem de satlite do municpio de Lapo. Fonte: Google Earth (2015)

  • 20

    2. 6. 1 O que ouvi das Secretarias de Educao...

    Nesse processo de descobrimento e compreenso das redes, visando sempre um

    maior entendimento do acontecer da Educao Ambiental, busquei junto s Secretarias

    de Educao, atravs de conversas com os coordenadores responsveis pela EA, e/ou dos

    coordenadores tcnicos, informaes e documentos que me ajudassem a compreender

    como a Educao Ambiental tratada institucionalmente pelos municpios pesquisados.

    Em conversa com os coordenadores, pude perceber que em nenhuma das redes h uma

    regulamentao para a Educao Ambiental, a temtica nem mesmo tratada nos textos

    curriculares. Entretanto, no municpio de Lapo j existe uma tentativa de

    institucionalizar a EA como poltica pblica na rede de educao. Para isso, o municpio

    criou em 2011, a Proposta de Educao Ambiental, com o ttulo Educando para a

    cidadania: a Participao do sujeito na valorizao do seu espao ambiental. De acordo

    com o documento, a proposta deve servir como referncia para a elaborao de programas

    setoriais e projetos pedaggicos e sociais em todo o territrio do municpio, e tem como

    objetivo principal:

    Desenvolver uma compreenso integrada do Meio Ambiente e suas mltiplas

    e complexas relaes, envolvendo aspectos ecolgicos, psicolgicos, legais,

    polticos, sociais, econmicos, cientficos, histricos, culturais, tecnolgicos,

    ticos e pedaggicos, contribuindo para estimular a capacidade de

    representatividade poltica e tcnica das pessoas em todos os segmentos de

    sociedade lapoense (LAPO, 2011, p. 6).

    A proposta ainda traz orientaes didticas para as prticas pedaggicas em

    Educao Ambiental, visando dar suporte aos educadores em suas prticas. As

    orientaes so baseadas no Programa de Educao Ambiental do Sistema Educacional

    da Bahia (ProEASE BA) e no Programa Nacional de Educao Ambiental (ProNEA).

    Entre as orientaes didticas podem ser destacadas as seguintes:

    Projetos atividade flexvel que permite a realizao de trabalhos com

    temticas adequadas realidade escolar e sua problematizao, envolvendo as

    etapas de identificao do tema, elaborao de objetivos e metas, seleo de

    atividades, execuo, acompanhamento e avaliao com definio de critrios;

    [...]

    Teatro ou dramatizaes atividades pedaggicas que envolvem componentes

    cognitivos, corporais, afetivos, e simblicas facilitando o entendimento dos

    problemas ambientais;

  • 21

    Pesquisas sobre conflitos e problemas ambientais atuais em fontes

    diversificadas, considerando os atores sociais envolvidos, os documentos de

    instituies pblicas e privadas, bem como de associaes, sindicatos e ONGs,

    dando concretude aos temas abordados;

    Elaborao/encaminhamento de documentos cartas e manifestos produzidos

    na escola, que expressam denncias e aes de interveno diante da

    degradao socioambiental;

    [...]

    Palestras envolvendo a comunidade escolar e profissional da rea e a

    comunidade como um todo nos processos de reflexo, interveno e

    construo coletiva;

    Produo coletiva e divulgao de materiais contextualizados cartilhas,

    livretos, vdeos e similares feitos autonomamente nas escolas, facilitando o

    acesso comunicao e o dilogo entre reas de conhecimento (LAPO, 211,

    p. 14).

    Contudo, conforme explicitado no documento, as escolas tm autonomia na

    criao e consolidao da educao ambiental, podendo desenvolver suas estratgias

    didticas, escolhas de temas, porm sempre em consonncia com os princpios e diretrizes

    destacados na proposta.

    J em relao ao municpio de Ibitit, a nica meno em documento oficial sobre

    a Educao Ambiental no Plano Municipal de Educao, Lei n 650, de 14 de maro de

    2011. No documento afirmado como um dos objetivos do Plano a oferta de cursos de

    formao continuada em Educao Ambiental para professores e gestores que atuam no

    Ensino Fundamental. As formaes, segundo o texto, deveriam ter comeado no primeiro

    semestre de 2011. Porm, nenhuma formao nesse sentido foi iniciada.

    No municpio de Irec, h uma iniciativa a ser iniciada em parceria com o Servio

    Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-AR/BA), o Programa Despertar. A iniciativa

    atender somente escolas das comunidades rurais do municpio e visa formar cidados

    rurais conscientes, aptos a exercer a cidadania e a participar de um processo de

    desenvolvimento mais prximo da sustentabilidade. Entre os objetivos do Programa

    Despertar, esto: formar cidados capazes de valorizar e preservar o meio ambiente em

    que vivem e habilitar educadores para desenvolver aes estratgicas sobre os temas

    transversais, com atividades pedaggicas significativas, a partir de projetos

    interdisciplinares.

    Embora os municpios de Ibitit e Irec no possuam programas ou propostas

    especficas para a Educao Ambiental, as escolas e principalmente os professores

    afirmam realizar aes e atividades em EA no seu cotidiano, contudo em nenhuma das

  • 22

    visitas foi possvel observar atividades em EA acontecendo. As visitas foram realizadas

    na Escola Hermano Marques Dourado, no municpio de Ibitit, e na Escola Municipal

    Tenente Wilson Marques Moitinho, no municpio de Irec, sendo realizada duas visitas

    em cada unidade de ensino.

    Em uma das visitas Escola Hermano Marques Dourado, localizada no municpio

    de Ibitit, a coordenadora da escola, Jurema Oliveira, me disse que o trabalho com EA

    difcil, porque, embora os professores tenham conscincia de sua importncia, no

    conseguem trabalhar com as temticas dentro de suas aulas. O mesmo ocorre na Escola

    Municipal Tenente Wilson Marques Moitinho, segundo a coordenadora da instituio,

    Andria Rodrigues de Oliveira, as atividades de Educao Ambiental ficam praticamente

    restritas as Oficinas de Jardinagem e Artes do Programa Mais Educao. Mesmo com

    essa dificuldade, segundo as coordenadoras, alguns professores costumam inserir

    atividades de Educao Ambiental em suas prticas atravs de projetos, que na maioria

    das vezes no atingem toda a escola, tendo carter bastante especfico e pontuais, voltados

    para datas comemorativas.

    Alguns projetos apesar de serem pontuais, atingem toda a escola e/ou o

    municpio, como o projeto do desfile cvico de 7 de setembro, realizado em 2013 pelo

    municpio de Lapo. Intitulado Lapo: a caminho do desenvolvimento sustentvel, o

    projeto visava promover a apropriao de novas concepes e prticas educacionais que

    incorporem a dimenso ambiental e promovam o iderio da sustentabilidade, garantindo

    assim uma nova postura tica diante do mundo (LAPO, 2013, p. 01).

    Contudo, apesar dessas raras iniciativas de projetos em comum, as prticas em

    Educao ambiental ainda so realizadas de forma bastante solitria, seja pelas escolas,

    seja pelos professores, sem um dilogo entre professores, entre escolas, entre escolas e

    secretarias, e principalmente, sem apoio formativo por parte das secretarias de educao.

    2. 6. 2 O que ouvi das professoras...

    A Desconferncia: intervenes do/no cotidiano, foi realizada no dia 22 de abril

    de 2014, no Parque da Cidade localizado no municpio de Lapo, tendo como objetivo

    levantar discusses sobre as temtica das pesquisas que esto sendo realizadas pelos

    mestrandos do programa, bem como atravs de dilogos colaborativos com os membros

    professores, gestores, coordenadores, das trs redes que compem o Mestrado

  • 23

    Profissional em Educao - UFBA, discutindo possibilidades para a construo dos

    projeto de intervenes.

    O evento foi organizado pelos 20 mestrandos do programa, sob a orientao da

    Professora Inez Carvalho, e foi pensado visando romper a lgica comum de uma

    conferncia ou palestra, nas quais geralmente os participantes so meramente ouvintes,

    ou quando tem a possibilidade de se expressar permanecem sentados em lugares fixos

    durante todo o evento. Desta forma, decidimos adotar o termo Desconferncia, que vem

    sendo utilizada em eventos principalmente nas reas de tecnologias como uma sada para

    romper com um ou mais aspectos de um conferncia convencional.

    Assim, a organizao da Desconferncia: intervenes do/no cotidiano foi

    pensada na perspectiva de fuga do convencional, os membros das trs redes que

    participaram do evento foram convidados a conversarem, a serem coautores, e no apenas

    meros figurantes ou ouvintes de uma preleo. Neste sentido, a Desconferncia foi

    organizada em trs espaos/momentos:

    1 Alameda: espao de entrada dos participantes, onde ficaram expostos os banners com

    indagaes e provocaes sobre as temticas das pesquisas realizadas pelos mestrandos.

    Figura 8 Professoras lendo os textos expostos nos banners. Fonte: Vera Cavalcante

  • 24

    2 Instalao: espao criado com objetos que remetessem as temticas da pesquisa, com

    objetivo de sensibilizao e provocao. A instalao era composta por uma cama de

    gato, que tinha como objetivo que os participantes se desequilibrassem e equilibrassem

    ao todo o momento, como acontecem na tentativa de soluo de problemas, como os que

    ocorrem no cotidiano escolar.

    Figura 10 A instalao em processo de criao. Fonte: Hebe de Jesus

    Figura 9 Banners expostos no evento. Fonte: Autoria prpria.

  • 25

    3 World Caf: essa metodologia foi utilizada para propor dilogos colaborativos entre

    os participantes do evento. O World Caf organizado em rodas de conversas durante um

    tempo limitado, aps esse tempo, os participantes devem se levantarem e escolher outra

    mesa, com outra temtica para que possa construir um novo dilogo. Na Desconferncia

    essa metodologia foi composta por quatro rodas de conversas com 10 participantes, que

    teve uma durao de 20 minutos cada. O papel dos mestrandos durante o World Caf de

    instigar as conversas entre os participantes.2

    2 No World Caf foram utilizados copos descartveis devido ao alto custo que seria fornecer copos reutilizveis, contudo, os participantes do evento foram orientados a utilizarem apenas um copo.

    Figura 11 Participantes do evento se abaixando para se mover dentro da instalao. Fonte: Jucileide Lima

    Figura 12 Minha mesa durante a primeira rodada de conversas. Fonte: Hilma Souza.

  • 26

    As conversas tecidas durante o World Caf foram gravadas atravs de um

    aplicativo no meu celular, contudo, infelizmente apenas os udios das duas primeiras

    rodadas de conversas ficaram registrados. E devido a dinmica do evento algumas pessoas

    no calor da conversa no se apresentavam, impossibilitando sua identificao, assim, os

    participantes sero identificados apenas como professoras. Para desencadear os dilogos

    iniciais, lancei a pergunta: como a Educao Ambiental acontece nas escolas?

    Professora A: uma questo curricular, ela como disciplina. Cobrado realmente

    para ser realizado.

    Professora B: Eu vou mais alm da cobrana disciplinar, eu vou mais para o olhar

    do prprio professor.

    Professora D: Se o professor no tiver esse olhar ambiental....

    Professora B: Porque j tem tanta coisa que cobrada no currculo mas no

    acontece.

    Professora C: Porque uma questo transversal, a prpria lei diz que

    transversal.

    Professora B:

    Os PCNs j trazem isso. Mas falta esse olhar ambiental. Quando a

    gente faz um evento na escola, ou que vai trabalhar mesmo o Dia do Meio

    Figura 13 Participantes se movimentando entre as rodadas de conversa. Fonte: Vera Cavalcante.

  • 27

    Ambiente, a a gente v muitos professores cortando galhos verdes para

    decorar o espao. Eu posso decorar com galhos secos, com folhas secas. Eu

    tenho outras opes, mas eu s tenho isso se eu parar para refletir que se eu

    tiver quebrando o galho, eu estou no dia do meio ambiente agredindo o meio

    ambiente.

    Professora C: Ou faz a passeata pela conscientizao para produzir menos lixo,

    e distribui panfleto de papel!.

    Professora B:

    E outras coisas, diversas coisas que acontecem. No Dia da Criana,

    muitas escolas fazendo banho de mangueira, e ns estamos passando por

    racionamento de gua, a gente no sai do racionamento j a uns trs anos. Mas

    toda escola fez o banho de mangueira. Eu estou incentivando meu aluno a

    chegar em casa e a fazer o banho de mangueira qualquer dia que ele quiser. A

    em minha aula eu falo: usar o balde para limpar a casa ou carro, usar o balde,

    no usar a mangueira, a eu vou e fao banho de mangueira na escola. Ento

    so pequenas coisas que a gente faz na escola que reflete muito na vida das

    crianas.

    A conversa iniciada por uma fala da Professora A que expe um debate histrico

    da Educao Ambiental, a questo de torn-la disciplina especifica. Contudo no tecer da

    conversa as falas de outras professoras demonstram que essa questo j foi superada, e a

    prpria legislao vigente que dispe sobre a Educao Ambiental, a Lei n 9.795, de 27

    de abril de 1999, institui com um dos princpios da Educao Ambiental a perspectiva

    inter, pluri, multi e transdisciplinar, e o Parmetros Curriculares Nacionais PCNs tratam

    o Meio Ambiente como tema transversal. Um aspecto bastante importante revelado nos

    fios da conversa, a falta de coerncia das prticas educativas, ou a no contextualizao

    dessas prticas com os problemas ambientais da regio, que devido a uma forte seca, e a

    problemas de gesto hdrica, passa por um racionamento de gua.

    Transcrevo agora um trecho de outra conversa que foi iniciada com a mesma

    pergunta da anterior:

    Professora 1: Assim, tem que trabalhar mais na escola a questo ambiental, tem

    ficado muito a desejar. Geralmente trabalha apenas um dia, no Dia do Meio Ambiente.

    Professora 2:

    Conscientizao um processo lento, mas o que acontece o

    professor trabalhar apenas o ms de junho com o meio ambiente, depois fica

    esquecido o resto do ano todo. Ento, no vai conscientizar o aluno num

    projeto de 15 dias. Isso precisa ser trabalhado diariamente. Outro problema

  • 28

    que a gente no tem formao para trabalhar com Educao Ambiental. No

    tem nenhum material da Secretaria, o currculo no tem.

    Professora 3: Quando vem algo para trabalhar com reciclagem, a voc vai

    trabalhar com o que? Com garrafa PET, essas coisas.

    Professora 4: Gasta EVA para fazer uma bordinha ali.

    Professora 5: Voc acaba produzindo mais lixo ainda, por que produz um enfeite

    que no vai ser utilizado.

    Atravs desse trecho da conversa tecida pelas professoras podemos perceber que

    a Educao Ambiental tem acontecido de maneira bastante pontual nas escolas, e est

    ligada principalmente a datas comemorativas, como o dia do Meio Ambiente 5 de junho,

    que citado no dilogo. No relato tambm pode ser percebido que as professoras tem

    conhecimento da importncia da conscientizao dos alunos em relao a questes

    ambientais, contudo as falas deixam transparece que no existe um aprofundamento do

    debate dessas questes no processo de ensino-aprendizagem, o que pode ser reflexo de

    uma carncia de formaes para o trabalho com a Educao Ambiental. Outro ponto

    importante levantado na conversa se trata da no existncia de polticas pblicas

    municipais relacionadas a Educao Ambiental, como o no aparecimento nos currculos

    de orientaes para o trabalho nas escolas, ou a produo de materiais que deem suporte

    para as aes dos professores.

    3. DESENHANDO O CAMINHO METODOLGICO

    (...) Temos um esplendido passado pela frente?

    Para os navegantes com desejo de vento,

    a memria um ponto de partida.

    (Eduardo Galeano Janelas para a memria II)

    A palavra fenomenologia se forma atravs da ligadura dos termos fenmeno mais

    lgos, e significa etimologicamente o estudo ou a cincia do fenmeno. Compreende-se

    fenmeno como aquilo que se mostra na intuio ou percepo, que se mostra em si

  • 29

    mesmo, e lgos como sendo discurso esclarecedor. Pode-se, ento, compreender

    fenomenologia como sendo o discurso esclarecedor daquilo que se mostra por si mesmo,

    buscando captar sua essncia (BICUDO, 2011; MARTINS, 1992; PEIXOTO, 2003). Para

    Masini (1989), a pesquisa de enfoque fenomenolgico caracteriza-se pela nfase no

    mundo cotidiano, pelo retorno quilo que ficou esquecido, encoberto pela familiaridade

    (pelos usos, hbitos e linguagem do senso comum).

    Merleau-Ponty (2004) afirma que sempre somos tentados a esquecer parte do

    mundo em que vivemos, ignorando-o na postura prtica do dia-a-dia. Essa familiaridade

    citada por Masini, e revelada por Merleau-Ponty, nos faz ignorar, ou esquecer o mundo

    vivido. ento tarefa de uma pesquisa de enfoque fenomenolgico a procura por

    compreender a experincia do mundo vida dos sujeitos coautores da pesquisa.

    Desta forma, no enfoque fenomenolgico que este estudo se realiza, e como

    explicitado na apresentao desse trabalho, esta pesquisa busca compreender como a

    Educao Ambiental e Meio Ambiente tecida nas experincias do mundo vivido pelos

    professores das redes de educao dos municpios de Irec, Ibitit e Lapo BA, visando

    obter elementos para a elaborao do Projeto de Interveno.

    A busca pelas coisas mesmas, pela compreenso do mundo vida dos sujeitos da

    pesquisa nos leva vivncia da experincia do dilogo, que constitui

    um terreno comum entre outrem e mim, meu pensamento e o seu formam um

    s tecido, meus ditos e aqueles do interlocutor so reclamados pelo estado da

    discusso, eles se inserem em uma operao comum da qual nenhum de ns

    o criador. Existe ali um ser a dois, e agora outrem no mais para mim um

    simples comportamento em meu campo transcendental, alis nem eu no seu,

    ns somos, um para o outro, colaboradores em uma reciprocidade perfeita,

    nossas perspectivas escorregam uma na outra, ns coexistimos atravs de um

    mesmo mundo (MERLEAU-PONTY, 2014, p. 475).

    No dialogo eu-outrem somos autores do mesmo mundo, e como toda autoria

    co-autoria (PASSOS; SATO, 2005, p. 219), na vivncia da experincia do dilogo que

    se funda um ser a dois, e que as significaes do mundo vivido emergem.

    Nessa busca, a percepo teria um papel importante, pois atravs dela que

    compreendemos o mundo. Para Merleau-Ponty, no existe separao entre corpo e mente,

    entre pensamento e ao, sentir e compreender constituiriam ento o mesmo ato de

    significao desencadeado pela percepo. Assim, para ele,

  • 30

    a percepo no uma cincia do mundo, no nem mesmo um ato, uma

    tomada de posio deliberada; ela o fundo sobre o qual todos os atos se

    destacam e ela pressuposta por eles. O mundo no um objeto do qual possuo

    comigo a lei de constituio; ele o meio natural e o campo de todos os meus

    pensamentos e de todas as minhas percepes explicitas (2014, p. 6).

    preciso ento compreender que o ser-est-no-mundo, e no mundo que ele se

    conhece. Quando volto a mim a partir do dogmatismo do senso comum ou do dogmatismo

    da cincia, encontro no um foco de verdade intrnseca, mas um sujeito consagrado ao

    mundo (MERLEAU-PONTY, 2014, p. 6). Assim, o sujeito no pode ser separado do

    mundo, e sua significao do mundo s se d pela percepo, que implica que o ser esteja

    inserido incondicionalmente no mundo. Construmos a percepo com o percebido (...).

    Estamos presos ao mundo e no chegamos a nos destacar dele para passar conscincia

    do mundo (MERLEAU-PONTY, 2014, p. 26).

    Cabe ressaltar, como afirma Merleau-Ponty (2004, p. 65), que o mundo

    percebido no apenas um conjunto de coisas naturais, tambm os quadros, as msicas,

    os livros. necessrio, portanto, redescobrir, depois do mundo natural, o mundo social,

    no como objeto ou soma de objetos, mas como campo permanente ou dimenso de

    existncia: posso desviar-me dele, mas no deixar de estar situado em relao a ele

    (MERLEAU-PONTY, 2014, p. 485). E na busca dessa conscincia do mundo em sua

    complexidade, a arte tem um papel essencial:

    (...) esse mundo em grande medida ignorado por ns enquanto

    permanecemos numa postura prtica ou utilitria, que foram necessrios muito

    tempo, esforos e cultura para desnud-lo e que um dos mritos da arte e do

    pensamento modernos (...) o de fazer-nos redescobrir esse mundo em que

    vivemos mas que somos sempre tentados a esquecer (MERLEAU-PONTY,

    2004, p.1).

    Ferreira Gullar, considerado o maior poeta brasileiro, costuma dizer que a arte

    existe porque a vida no basta. No basta porque nos deixamos conduzir por uma postura

    prtica e utilitria, todo dia fazemos tudo sempre igual. Segundo Merleau-Ponty, a arte

    nos situa imperiosamente diante do mundo vivido, nos reconduzindo viso das prprias

    coisas.

  • 31

    Ainda segundo o filosofo, o artista aquele que fixa e torna acessvel aos mais

    humanos dos homens o espetculo de que participam sem perceber, e conclui

    afirmando que, a pintura no evoca coisa alguma (...). Ela faz coisa totalmente diferente,

    quase o inverso: d existncia quilo que a viso profana acredita invisvel, faz que no

    tenhamos necessidade de sentido muscular para termos a voluminosidade do mundo

    (MERLEAU-PONTY, 1975, p. 120; MERLEAU-PONTY, 1989, p.53). O pintor, o

    artista, aquele que torna visvel o que o dia-a-dia nos faz esquecer:

    seja qual for a civilizao em que nasa, sejam quais forem as crenas, os

    motivos, os pensamentos, as cerimnias de que se cerque, e mesmo quando

    parece fadada a outra coisa, desde Lascaux at hoje, pura ou impura, figurativa

    ou no, a pintura jamais celebra outro enigma a no ser o da visibilidade

    (MERLEAU-PONTY, 1989, p. 53)

    com base nesse referencial que o caminho metodolgico deste trabalho se

    desenha, sendo dividido em trs movimentos autnomos, mas interdependentes. O

    processo do movimento de um, alimenta o movimento do outro, catalisando assim o

    desenvolvimento da pesquisa:

    1 Movimento: de discusso e ao.

    Este movimento se subdivide em trs etapas, a primeira se constituiu nas

    observaes nas escolas, realizadas durante o Ciclo Um do curso. Essas observaes

    foram propostas inicialmente com um exerccio de implicao e suspenso, e como forma

    de realizar os primeiros diagnsticos das Redes e dilogos com os professores.

    Figura 14 - O movimento da pesquisa. Fonte: Elaborada pelo autor

  • 32

    A segunda etapa constituiu na realizao da Desconferncia: Intervenes do/no

    Cotidiano, que ocorreu no dia 22 de novembro de 2014, e teve como objetivo levantar

    discusses sobre a temtica da pesquisa, bem como atravs de dilogos colaborativos com

    os membros professores, gestores, coordenadores, das trs redes que compem o

    Mestrado Profissional em Educao - UFBA, discutindo possibilidades para a construo

    do projeto de interveno.

    A terceira etapa constituir-se- da realizao de visitas s escolas, buscando

    observar o cotidiano escolar, e identificar professores que afirmam realizarem em suas

    prticas pedaggicas a Educao Ambiental. Aps essa identificao e seleo dos

    professores, sero realizadas entrevistas narrativas com os mesmos. Sero escolhidos trs

    professores, um de cada municpio para a realizao das entrevistas narrativas.

    Como afirmam Jovchelovitch e Bauer (2014), a entrevista narrativa tem em vista

    uma situao que encoraje e estimule um entrevistado (...) a contar a histria sobre algum

    acontecimento importante de sua vida e do contexto social. A tcnica recebe seu nome da

    palavra latina narrare, relatar, contar uma histria (P. 93, grifo dos autores).

    Como afirma Dutra (2002), atravs da narrativa tem-se a possibilidade de nos

    aproximarmos da experincia, tal como ela vivida pelo narrador:

    A modalidade da narrativa mantm os valores e percepes presentes na

    experincia narrada, contidos na histria do sujeito e transmitida naquele

    momento para o pesquisador. O narrador no informa sobre a sua

    experincia, mas conta sobre ela, dando oportunidade para que o outro a escute

    e transforme de acordo com a sua interpretao, levando a experincia a uma

    maior amplitude, tal como acontece na narrativa (p. 374).

    Ainda segundo Dutra, ao contar aquilo que j ouviu o pesquisador transforma-se

    em narrador, pois nesse processo de ouvir a experincia do outro, ele a funde com as suas

    experincias, emergindo as significaes de um mundo constitudo de um ser a dois.

    Assim, buscar-se-, atravs das entrevistas narrativas, que os professores narrem

    suas experincias em Educao Ambiental, e situaes nas quais eles afirmem terem um

    contato mais prximo com o Meio Ambiente. As entrevistas sero precedidas de um

    momento no qual ser propiciado um contato com obras de arte, fomentando uma

    experincia esttica, visando que atravs desse contato, memrias sejam acionadas,

    provocando o desencadeamento das narrativas dos professores. Desta forma, conforme

  • 33

    afirma Merleau-Ponty - e que foi citado anteriormente, serem impiedosamente situados

    no mundo vivido, reconduzidos s prprias coisas.

    2 Movimento: de reflexo.

    Ser o momento em que se procurar, atravs da reflexo-interpretao,

    compreender os conceitos de Educao Ambiental e Meio Ambiente tecidos nas

    experincias do mundo vivido pelos professores das redes de educao dos municpios

    nos quais este estudo se estabelecer. Objetiva-se entender suas significaes e

    experincias compartilhadas, com vistas a ter elementos para construo do Projeto de

    Interveno.

    3 Movimento: de reflexo e ao.

    Este ltimo momento se constituir na elaborao do Projeto de Interveno,

    baseado nas compreenses e reflexes constitudas durante o caminho da pesquisa.

    3.1 CRONOGRAMA

    1 Movimento: de

    discusso e ao

    2 Movimento:

    reflexo

    3 Movimento: de

    reflexo e ao

    Maro

    Abril

    Maio

    Junho

  • 34

    Julho

    Agosto

    Setembro

    4. FIAR, TECER, ENREDAR: UM PRLOGO

    Um galo sozinho no tece uma manh:

    ele precisar sempre de outros galos.

    De um que apanhe esse grito que ele

    e o lance a outro; de um outro galo

    que apanhe o grito de um galo antes

    e o lance a outro; e de outros galos

    que com muitos outros galos se cruzem

    os fios de sol de seus gritos de galo,

    para que a manh, desde uma teia tnue,

    se v tecendo, entre todos os galos.

    E se encorpando em tela, entre todos,

    se erguendo tenda, onde entrem todos,

    se entretendendo para todos, no toldo

    (a manh) que plana livre de armao.

    A manh, toldo de um tecido to areo

    que, tecido, se eleva por si: luz balo.

    (Joo Cabral de Melo Neto, Tecendo a manh)

    Concluso, consideraes finais, observaes finais, esses so os termos mais

    comuns para nomear a ltima parte de um trabalho. Mas o fim nem sempre o fim. Muitos

    acreditam que a morte, o fim da vida, o comeo de uma nova vida, uma abertura de

    novos caminhos a serem trilhados, uma abertura a um novo mundo. Deste modo, este fim

    no um fim. A parte final deste trabalho traz em suas linhas uma abertura, so as ideias

    do que h porvir, um prlogo do Projeto de Interveno que se tece.

  • 35

    Prlogo, do grego , juno dos termos pro - antes, frente, mais lgos

    discurso, orao, um termo originalmente usado no teatro grego para se enunciar o tema

    da pea, e tem sido comumente utilizado na literatura como uma forma de expor as ideias

    preliminares sobre o assunto que se desenvolver na obra.

    E para comear a fiar este prlogo, voltamos ao poema de Joo Cabral de Melo

    Neto citado acima. No poema, a manh tecida pelos fios dos gritos dos galos. Cada

    grito, cada fio, vai se entrelaando a outros, formando pontos coloridos, e como em um

    bordado, vai compondo a imagem no pano sem vida. A manh ento poeticamente

    tecida pelas vozes de muitos um ser a dois.

    Tecer em conjunto, talvez essa seja a principal ideia do Projeto de Interveno

    que comea aqui a ser bordado. As observaes iniciais e os dilogos construdos at o

    momento, com diversos membros das trs redes pesquisadas, mostram que as prticas em

    Educao Ambiental tm sido realizadas de forma bastante solitria, por sujeitos autores

    que acreditam numa mudana de postura dos seres humanos em relao ao meio

    ambiente, e buscam a construo de uma sociedade sustentvel e justa.

    Enredar essas prticas atravs de uma Rede de Educao Ambiental articulada

    em parceria pelas secretarias de educao dos municpios de Irec, Ibitit e Lapo, e

    aberta vinculao de outras redes municipais de educao do Territrio de Identidade

    de Irec, possibilitaria que esses gritos de galos solitrios que tecem a educao ambiental

    se conectassem em muitos um ser a dois.

    A palavra rede vem do latim retis, e significa um entrelaamento de fios que

    formam uma malha, ou um conjunto de elementos interligados. Segundo Castells (1999,

    p. 566), rede um conjunto de ns interconectados, sendo n o ponto no qual uma curva

    se entrecorta. Explicando melhor, Souza e Guimares (2008) afirmam que rede a

    ramificao que une os ns e que nos direciona para um fortalecimento (formao) num

    momento virtual e finaliza com o objetivo maior, que o fazer junto (p. 114, grifos dos

    autores).

    Assim, as redes e, neste caso, as redes de Educao Ambiental, visam o

    fortalecimento das prticas educativas, o fazer junto, o dilogo e a polissemia. Como o

    exemplo da Rede Paulista de EA (REPEA), criada em 1992, que tem como finalidade

    socializar informaes, experincias e aes de EA, promovendo seu fortalecimento

    (GUERRA; LIMA; JUSTEN; GARUTTI, 2008, p. 83). Alm dessas finalidades, a

  • 36

    REPEA tem tentado romper o isolamento de educadores ambientais, enfatizando o fazer

    junto, como forma de fortalecimento das prticas educativas em EA, e da prpria rede

    (BORBA; OTERO. PINHEIRO, 2005, P. 63).

    A Rede de Educao Ambiental da Bahia Reaba tambm como objetivo geral a

    articulao dos educadores ambientais, visando o fortalecimento da implementao da

    Poltica Nacional de Educao Ambiental ProNEA. A Reaba foi instituda oficialmente

    no ano de 1992, por um grupo de educadores ambientais e ambientalista baianos que

    participaram da Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, sendo reativada em 2004 durante o

    Seminrio de Educao Ambiental promovido pela Comisso de Meio Ambiente da

    Assembleia Legislativa do Estado da Bahia.

    Alm do objetivo geral j exposto, a Reaba objetiva fomentar a troca de

    experincias e a capacitao de educadores para o fortalecimento da Educao Ambiental

    no estado da Bahia.

    Vivianne Amaral (2008, p. 20) afirma que as redes, enquanto sistemas

    organizacionais, possuem algumas caractersticas que podem ser definidas da seguinte

    maneira:

    1- So organizacionalmente fechadas, mas abertas aos fluxos de energia e

    recursos. Fechadas, porque os objetivos compartilhados, as regras, e os ritos

    definem sua identidade, criando um sentimento de pertencimento. Mas aberta

    s novas participaes, troca de comunicao e informaes.

    2- O fluxo de informao multidirecional, no-linear e tem diversas origens

    dentro do sistema. A troca, o fluxo de informao, no apenas foco de um

    dos elementos que constituem a rede, mas de todos os elementos.

    3- Os elementos que compem a rede so autnomos, mas funcionam de forma

    interdependente. As aes de uma rede podem ser de toda e de apenas parte

    da rede, contudo, as pessoas atuam de forma conjunta para a realizao de

    tarefas e para alcanar os objetivos em comum.

    4- As redes so policntricas. As redes possuem vrios centros de iniciativas, que

    funcionam como ns que estimulam novas conexes dentro da rede, e inter-

    redes.

  • 37

    5- As redes articulam diferenas. Congregando diversos setores, segmentos, e

    sujeitos com culturas diferentes, as redes criam um espao que estimula a

    escuta e fomenta o respeito s diferenas.

    A partir dessas caractersticas podemos compreender que as redes de Educao

    Ambiental so espaos de formao, de dilogo, de construo colaborativa, coautoria e,

    principalmente, de um empoderamento para fortalecimento das prticas educativas.

    Atravs das redes, as prticas solitrias em Educao Ambiental dentro do cotidiano

    escolar ganham fora e potencialidades para mudanas significativas das realidades.

    Uma outra importante caracterstica de uma rede, como afirma Martinho (2004,

    p.55), que todo processo de elaborao de seu projeto tem carter coletivo e

    participativo. Nesse sentido, pertinente deixar claro que, o que se pretende no Projeto

    de Interveno a ser elaborado no se constitui como o projeto de uma rede de Educao

    Ambiental, com seus objetivos, viso e princpios, mas sim um projeto de induo e

    fomento para construo de uma rede de Educao Ambiental articulada inicialmente em

    parceria pelas secretarias de educao dos municpios de Irec, Ibitit e Lapo.

    Desta forma, o Projeto de Interveno que aqui se comea a tecer tem inicialmente

    os seguintes objetivos:

    Discutir o conceito de rede e suas possibilidades para a Educao;

    Defender a criao de uma Rede Intermunicipal de Educao Ambiental,

    como forma de fortalecer as prticas educativas e;

    Propor etapas, movimentos e aes para o processo de construo da Rede.

    Entre as etapas pensadas inicialmente, e consideradas at o momento, essenciais

    para o desencadeamento do processo de criao da Rede, esto:

    Articulao entre os municpios para a consolidao de parceria, e

    implementao de uma comisso intermunicipal a fim de organizar as

    etapas do processo de construo da Rede;

    Realizao de reunies preparatrias com membros das redes municipais

    de educao, movimentos sociais, organizaes governamentais e no

    governamentais, para divulgao sobre o processo de implementao da

    Rede, visando a construo de parcerias e o fomento participao no

    processo, bem como a identificao de objetivos preliminares para a Rede;

  • 38

    Organizao do primeiro desenho organizacional da Rede, feito pela

    comisso intermunicipal, e baseado nos dilogos tecidos nas reunies

    preparatrias;

    Realizao de evento para apresentao do primeiro desenho

    organizacional, e definio do propsito da organizao, que servir de

    referncia para suas aes, tomadas de decises e gesto.

    Entretanto, como afirmado anteriormente, o prlogo que finda este trabalho tem

    um papel de abertura. E assim como na manh, que se tece com os primeiros gritos de

    galos, que vo se unindo aos poucos em muitos um ser a dois, os primeiros pontos do

    Projeto de Interveno comearam aqui a serem bordados, e a defesa da Rede de

    Educao Ambiental que se comea a pensar, se constitu ainda em ideias iniciais. A

    tessitura do Projeto de Interveno ser fundada nas compreenses advindas do estudo

    que se desenvolve e dos dilogos construdos com os sujeitos coautores dessa pesquisa.

  • 39

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