Texto Qualificação 20-05

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FLÁVIA DA CRUZ SANTOS UMA HISTÓRIA DO CONCEITO DE DIVERTIMENTO NA CIDADE DE SÃO PAULO (1828-1867) Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional 2015

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História do Lazer

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FLVIA DA CRUZ SANTOS UMA HISTRIA DO CONCEITO DE DIVERTIMENTO NA CIDADE DE SO PAULO (1828-1867) Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Educao Fsica, Fisioterapia e Terapia Ocupacional 2015 FLVIA DA CRUZ SANTOS UMA HISTRIA DO CONCEITO DE DIVERTIMENTO NA CIDADE DE SO PAULO (1828-1867) Trabalhoaserapresentadobancade qualificaocomorequisitoparcialparaa obtenodottulodeDoutoraemEstudosdo Lazer. Orientador: Dr. Victor Andrade de Melo Belo Horizonte Universidade Federal de Minas Gerais Escola de Educao Fsica, Fisioterapia e Terapia Ocupacional2015 SUMRIO APRESENTAO - POR UMA HISTRIA DO CONCEITO DE DIVERTIMENTO ..................................................................................................................................... 4 CAPTULO 1 - OS DIVERTIMENTOS PAULISTANOS ENTRE 1828 e 1867 ... 12 1.1 O que faziam os paulistanos para se divertir: as prticas de divertimento ........... 12 1.2 preciso distrair ou educar o povo: a funo dos divertimentos ......................... 22 1.3 Uma capital que se queria civilizada: a nova moral daqueles tempos.................. 26 Concluso Os usos da palavra divertimento e a utilidade dos divertimentos .......... 31 FONTES .................................................................................................................... 32 REFERNCIAS ........................................................................................................ 33 4 APRESENTAO POR UMA HISTRIA DO CONCEITO DE DIVERTIMENTO ... as mudanas das coisas esto longe de acarretar sempre mudanas paralelas em seus nomes.(...) Acontecede,reciprocamente,osnomesvariarem,notempoenoespao, independentemente de qualquer variao nas coisas. (BLOCH, 2001, p. 136) A palavra divertimento est presente no primeiro dicionrio portugus (BLUTEAU, 1716), do sculo XVIII, mas isso no significa que ela tenha sido usada no Brasil desde ento. E ao longo do tempo em que esse uso tem se dado no sabemos se o seu contedo, ou seja, o que essa palavra designa, tem sido sempre a mesma coisa ou passou por alteraes. Por outro lado, no sabemos tambm sej houve ou se huma outra palavra que designasse omesmo contedoqueapalavradivertimentodesigna,ousehouvealgumcontedocorrelatoao divertimento em tempos passados, ainda que denominado de outra forma.Umapalavra,dopontodevistalingustico,constitudapelonome,queo significanteepeloseucontedoqueosignificado.Masdivertimentonoapenasuma palavra,umconceito,poisatotalidadedecircunstnciaspoltico-sociaiseempricas,nas quais e para as quais essa palavra usada, se agrega a ela (KOSELLECK, 2006, p. 109). Uma palavrapodepossuirdiferentessignificados,assimcomoumconceito,noentantocada significado de uma palavra empregado de modo particular, de acordo com o contexto em que ela usada; j os significados de um conceito esto sempre, todos, presentes quando ele usado, no importa a situao de seu emprego, ele sempre polissmico.Assim, as palavras expressam os conceitos, mas no se confundem com eles: Osconceitosso,portanto,vocbulosnosquaisseconcentrauma multiplicidade de significados. O significado e o significante de uma palavra podemserpensadosseparadamente.Noconceito,significadoesignificante coincidemnamesmamedidaemqueamultiplicidadedarealidadeeda experinciahistricaseagregacapacidadedeplurissignificaodeuma palavra, de forma que seu significado s possa ser conservado e compreendido pormeiodessapalavra.Umapalavracontmpossibilidadesdesignificado, umconceitoreuniemsidiferentestotalidadesdesentido.(KOSELLECK, 2006, p. 109) Uma palavra pode perdurar por sculos e pode existir em contextos distintos, mas nem sempre da mesma forma. Os significados dos conceitos quase sempre mudam ao longo do tempo, pois asmudanas de contexto podemimplicarmudanas desses significados. Isso a 5 variao temporal dos conceitos, que confere a eles um carter nico, visto que seu significado especficoaocontextodesuautilizao.Daaimportnciadasemnticahistrica,da compreenso do sentido histrico do conceito, que no prescinde a dimenso lingustica, mas a ultrapassa, e se d tambm a partir da histria social (KOSELLECK, 2006, p. 103), pois Todo conceitonoapenasefetivoenquantofenmenolingustico;eletambmimediatamente indicativo de algo que se situa para alm da lngua. (KOSELLECK, 1992, p. 3).Destemodo,osconceitospossuemumacapacidadesemntica[que]seestende paraalmdaquelapeculiarsmeraspalavrasutilizadascomumentenocampopolticoe social (KOSELLECK, 2006, p. 98).Eles articulam-se ao contexto que os produziu e sobre os quaiselespodematuar,eotornaminteligvel.Assim,compreenderumconceitotambm compreender o contexto que o produziu e sobre o qual ele atuou.Soconhecidas,porexemplo,ascompreensesdepovoqueestiverampresentes emcontextosdiferentesdonosso,comoaAntiguidadeClssicaeaIlustraoFrancesa. sabido que essa palavra existia, bem como seus usos nesses contextos (PEREIRA, 2011), o que nospermitecompreendermelhortaiscontextosaluzdopresente,nospermiteperceberas mudanasnasformasdecompreendertalconceitoaolongodossculos,evitandoassimseu uso em momentos passados de forma anacrnica.Jsobreascompreensesdedivertimentoaolongodotempo,poucosabemos. Nossosconhecimentosserestringemaoquepareceserdigo,pareceser,porquenoh pesquisas que o comprovem , um formato do divertimento, sua variao temporal, o lazer. E ainda assim, esses conhecimentos se referem a um perodo bastante restrito, que vai da segunda metade do sculo XX at o momento atual. Conhecimentos esses, no sistematizados.O que tem prevalecido so, em geral, duas posturas, que no excluem uma outra. Uma delas apela etimologia da palavra lazer, como se ela, sozinha, fosse capaz de dizer dos significadoshistricosdetalconceito,dasexperinciasqueoconstituiu.Aoutratenta compreenderopercursodolazernotempoatravsdarealizaodeinfernciastericas,de pressuposies que partem do princpio de que as mudanas desencadeadas pelo processo de industrializao geraram um fenmeno completamente novo, denominado lazer.Parecefazersentidoaconstruodetalraciocnio,lgicoelinear,poisa industrializao inaugurou um novo tempo, novos modos de vida, levou perda de hbitos e construo de outros. Ento, pressupor que o lazer tenha sido nesse contexto engendrado parece pertinente.Essahiptese,quetemsidotidacomocertezanosestudosdolazernoBrasil, corroborada ainda pela coincidncia entre o apogeu da industrializao e o uso sistemtico do termo lazer, que se deu a partir da dcada de 1970.6 Apesar de essa inferncia terica possuir sentido, devemos considerar que a histria no feita s de avanos e linearidade, a realidade mais complexa. H tambm retrocessos e permanncias. Essa complexidade do curso da histria faz com que seja necessrio mais do que umapressuposioparacompreendermosumfenmenodiacronicamente.Precisamosassim, matizar esse processo, compreendendo como e porque se deu esse uso lexical, para a melhor compreenso do lazer, pois um neologismo nem sempre significa a concomitante inaugurao de um fenmeno e, alm disso, por mais significativo que seja o fenmeno lingustico, ele no suficiente para explicar um fato social. possvel registrar continuamente a existncia de um hiato entre fatos sociais eo usolingustico a ele associado. Asalteraesde sentido lingusticoe as alteraesdosfatos,asalteraesdassituaespolticasehistricaseo impulso para a criao de neologismos que a elas correspondam relacionam-se entre si das mais diversas maneiras. (KOSELLECK, 2006, p. 111).

Almdomais,fatoscujaalteraosedlentamente,alongoprazo,podemser compreendidospormeiodeexpressesbastantevariadas.(KOSELLECK,2006,p.114).O quenosindicaquepodemoscompreenderolazeremtempospassadosapartirdeoutras denominaes, e que o incio do uso sistemtico da palavra lazer no suficiente para indicar uma alterao no quadro social, a emergncia de um fenmeno completamente novo.Sabemos que a palavra lazer comea a ser utilizada de modo sistemtico no Brasil a partir da dcada de 1970, principalmente no meio acadmico1, com sentidos mais ou menos homogneos. Mas no conhecemos os primrdios do processo que culminou nesses usos, e to poucooprocessodecunhagemdapalavralazer,ouseja,nosabemossetrata-sedeuma transio conceitual que culminou na constituio de um novo fenmeno e nesse caso, o lazer no seria um novo formato do divertimento , ou se trata-se apenas de uma nova denominao paraumfatosocialjexistente,odivertimento.Quandooscontextosabordadosestomais distantes no tempo, sculo XIX e anteriores, nossos conhecimentos se restringem etimologia da palavra lazer. Sobre tal postura Koselleck nos diz: (...)consideroteoricamenteerrneatodaposturaquereduzahistriaaum fenmenodelinguagem,comosealnguaviesseaseconstituirnaltima instnciadaexperinciahistrica.Seassumssemossemelhantepostura, teramos que admitir que o trabalho do historiador se localiza no puro campo da hermenutica. 1 Cf. MELO, 2013a, p. 20. Enquanto a trajetria institucional de tal termo conhecida nesse pequeno perodo, o termoqueapopulao,nassuasdiferentescamadassociais,utilizavaparadenominaromesmofenmeno desconhecido.7 Nesse sentido, Uma palavra valemenos por sua etimologia do que pelo uso que dela feito, como nos disse Marc Bloch (2001, p. 143), justamente por que uma palavra pode ser usada de diferentes formas em diferentes contextos e por diferentes sujeitos. Significados e estruturas de sentimentos podem ser a ela atribudos de acordo com o grupo social, momento histrico e lugar em que ela usada. Sendo, assim, esse uso da palavra mais significativo para a compresso de seu significado do que sua etimologia, pois o significado etimolgico de uma palavra pode ser o mesmo em toda uma comunidade lingustica, mas seus usos, que podem lhe conferir significados outros, so diversos: os significados das palavras so os usos, como as usamos na cotidianidade. (SEBASTIN, 2013, p. 57). Portanto,oestudodiacrnicodosusosesignificadosdepalavrascomo divertimento, recreao, passatempo, diverso, cio, lazer pode oferecer contribuies para a compreenso do lazer e do divertimento, pode esclarecer se eles se referem a ummesmo fato socialcomvariaestemporais,ousereferemafatossociaisdistintos.Oquenospermitir conhecer se houve uma transio conceitual ou a nomeao de ummesmofato por um outro termo, o que evidencia a relevncia da realizao de uma histria do conceito de divertimento. Captar e compreender o significado de um conceito e as alteraes pelas quais ele passou ao longo do tempo, tem sido a tarefa da histria conceitual. Esse mtodo da Histria se ocupa de investigar o uso que os protagonistas de um tempo e de um espao especficos deram spalavras,nospermitindoassim,evitaranacronismos,poissaberemosajustamedidadas diferenas e semelhanas entre conceitos de ontem e de hoje.Nosetratadedefiniroconceito,massimdereconstituirumamostradeseus significados em um dado tempo e lugar, de reconstituir os usos do conceito pelos atores de um determinado contexto (SEBASTAN, 2009, p. 18). Assim, saberemos se podemos ou no usar o conceito atual, com seus significados, quando nos referirmos a um determinado passado. UmdosprincipaisrepresentantesdahistriaconceitualoalemoReinhart Koselleck, j citado em pginas anteriores. Ele esclarece que: Talprocedimento[dahistriaconceitual]partedoprincpiodetraduzir significadoslexicaisemusonopassadoparaanossa compreensoatual.A partirdainvestigaodesignificadospassados,tantoahistriadostermos quantoadosconceitosconduzfixaodessessignificadossobanossa perspectivacontempornea.Enquantoesseprocedimentodahistriados conceitosrefletidometodologicamente,aanlisesincrnicadopassado contempladadeformadiacrnica.Aredefiniocientficadesignificados lexicaisanterioresumdosmandamentosbsicosdosestudosdiacrnicos. (KOSELLECK, 2006, p. 104)8 Destemodo,ahistriaconceitualnospermiteconhecerapartirdequandoos conceitospassamapoderserempregadosdeformatorigorosacomoindicadoresde transformaespolticasesociaisdeprofundidadehistrica.Issosignificaqueeladeve registrarasdiferentesdesignaesparaosfatos(idnticos?),deformaquelhesejapossvel explicaroprocessodecunhagemdessasdesignaesemconceito.(SEBASTAN,2009,p. 101 e 111, respectivamente). Koselleck ainda adverte: evidente que uma anlise histrica dos conceitos deve remeter no s histria da lngua, mas tambm a dados da histria social, pois toda semntica serelacionaacontedosqueultrapassamadimensolingustica.(KOSELLECK,2006,p. 103). E necessrio ampliar os campos semnticos investigados: Os antnimos de cada termo devem ser tambm investigados, de modo que se possa evidenciar os antagonismosdo ponto de vista poltico, assim como os agrupamentosreligiososousociais(...)precisoaindainterpretaros neologismos;(...)Nopossvelverificarovalordeumtermocomo conceito vlido para o complexo social ou para asconfrontaespolticas semincluirosconceitosparalelosoucontrrios,semsereportaraumaou outra noo geral ou particular e sem se registrar a interseco entre as duas expresses. (KOSELLECK, 2006, p. 113) o percurso que inclui a cunhagem de um termo, ou a ressignificao de um termo j existente, e os usos a ele atribudos que constitui um conceito e que deve ser investigado. A constituio de um conceito, que inclui mudanas e permanncias, pode indicarpermanncias estruturais na realidade social (PEREIRA, 2005, p. 49). Sobre isso Koselleck nos diz: ...damesmapalavraumnovoconceito[podeser]forjado,eportantoele nico a partir de uma nova situao histrica que no s engendra essa nova formulao conceitual, como tambm poder se tornar atravs dela inteligvel. (KOSELLECK, 1992, p. 7) A relevncia da histria dos conceitos pode ser assim resumida: ...ahistriadosconceitosevidenciaadiferenaquepredominaentreum ncleoconceitualdopassadoeumncleoconceitualcontemporneo,seja porque ela traduz o antigo uso lingustico, ligado s fontes, de modo a defini-lo para a investigao contempornea, seja porqueela verifica a capacidade derendimentodasdefiniescontemporneasdosconceitoscientficos.A histria dos conceitos abrange aquela zona de convergncia na qual o passado, com todos os seus conceitos, adentra os conceitos atuais. 9 Destemodo,ainvestigaodoconceitodedivertimentopodenospermitir compreendermelhoressefenmenoaolongodotempo,possibilitando-nosconhecersua variao temporal e, assim, defini-lo melhor nas investigaes contemporneas que realizamos do passado.justamenteesseointuitodessapesquisa,discutirosusosdoconceitode divertimentopelosatoresdeumcontextodeterminado,qualseja,acidadedeSoPaulono perodo 1828-1867. Mas fiquemos atentos, estou procura do conceito de divertimento, de seu significado. A palavra capaz de cont-lo, pode, no entanto, ser outra, ou at mesmo outras, o que descobriremos.Oanoinicialdorecortetemporaldapesquisa1828,porquenenhum acontecimento, nemmesmo a Independncia e suas consequncias,foi to importante para a cidadedeSoPauloeseusdivertimentosnaprimeirametadedosculoXIX,quantoa inaugurao da Faculdade de Direito em maro deste ano. At ento, a vida da cidade era pacata, com ruas vazias, comrcio apenas de bens essenciais, vida intelectual modesta, divertimentos escassos.Apartirdoinciodofuncionamentodocursojurdiconacidade,essequadrose modificouemgrandemedida.Asruassetornarammaismovimentadas,assimcomoo comrcio, que foi diversificado, vrios jornais com durao mais larga do que a que teve o nico jornalqueatentohaviaexistidocomearamaserpublicados2,maisdivertimentosforam promovidos, como a msica, o teatro, os cafs, as livrarias, os bailes, passeios e jantares.E a cidade passou a ser habitada, mais do que era at ento, por homens3 de vrios lugares do pas, que levavam seus hbitos e valores, diversos dos existentes na cidade que os acolhia, e que geraram conflitos e expectativas, desejos de uma outra cidade, que eles acabaram ajudando a construir. Em seus primeiros vinte e cinco anos de funcionamento, a Faculdade de Direitoformou138bacharispaulistas(dacapitaledointerior),e405bacharisdeoutras provncias do pas (BRUNO, 1954, p. 809).Portanto,ainauguraodaFaculdadedeDireitoimprimiuumanovadinmica cidade, que se tornou mais agitada e com mais oportunidades de sociabilidade, sejam pblicas ouprivadas.Esse,digamos,ciclodacidade,fechadoem1867comainauguraodesua primeira linha de trem, que a ligava ao litoral, a So Paulo Railway. A partir da a face da cidade 2 At ento, tinha havido dois jornais na cidade. Um, manuscrito, institudo e extinto em 1823, com durao de aproximadamentetrsmeses;eoutro, impresso,fundado nomesmoanoda instalaodafaculdadedeDireito, 1827 e que foi publicado at 1831. 3 Digo homens, porque no havia mulheres entre os alunos da Faculdade de Direito nesse momento. Somente em 1898 a Faculdade de Direito matriculou a sua primeira aluna. 10 se modificou enormemente, se modernizou, tendo os trilhos da estrada de ferro como o primeiro smbolo desse processo, que exibia orgulhosamente. O desenvolvimento da economia cafeeira acelerou-se, levando mais dinheiro para a cidade e fazendo-a se expandir em ritmo acelerado. Asopesdedivertimentodiversificaram-seumavezmaiscomasnovidadeslevadasem maioresvelocidadeevolumepelaferrovia,quefacilitouoacessosnovidadeseuropeias, atravs da ligao da cidade ao porto de Santos. A dinmica da cidade foi novamente alterada, mas agora de forma brutal pelo binmio caf-ferrovia.Destemodo,oqueproponhoumrecortetemporaltemtico,queconsideraos recortesmaisconvencionais,masquedeterminadopelaespecificidadedo objetoestudado, por marcos que repercutiram mais diretamente sobre os divertimentos dos paulistanos.Ocorpusdocumentaldapesquisaconstitudoporperidicosimpressosda chamadagrandeimprensa,publicadosnacidadedeSoPaulonesseperodo.Osjornais possuamafunodemediarasrelaesentrea cultura oraleaculturaletradanoBrasildo sculoXIX(PINA,2004),eemSoPaulo,maisespecificamente,elespossuamuma importante funo social. Eles eram formadores e divulgadores de opinio, comunicadores de acontecimentos,divulgadoresdosserviosexistentesnacidade,edifusoresdaliteratura.No entanto, que opinies, que acontecimentos e que literatura eles comunicavam dependia de suas filiaes polticas, de sua fonte de financiamento e de seus interesses. A diversidade de jornais estudados, como se ver ao longo do trabalho, quando eles sero melhor matizados, possibilitar uma leitura multifacetada da cidade. O trabalho est organizado a partir de seu objetivo, e fugir ao modelo de possuir um captulo introdutrio dizendo das escolhas tericas e metodolgicas realizadas. Procurarei tratardetudoissodemodoindissociado,emconjuntocomasfontesqueconstituema substancia desse trabalho.Destemodo,oprimeirocaptulotercomofimmostrarcomoospaulistanosse divertiam entre os anos de 1828 e 1867. Nesse processo, veremos como os estudantes de Direito provocarammudanasnacidadeenoshbitosdedivertimentodeseushabitantes.Sero focalizadas as prticas que eram denominadas de divertimento pelos paulistanos, a funo dos divertimentos na cidade e a escala de valores, as sensibilidades e a moral existentes em torno deles.Emseguida,osegundocaptulotratadadimensodalinguagem,identificando quais palavras eram usadas para nomear o que os paulistanos faziam para se divertir, as palavras que eram usadascom omesmo significado da palavra divertimento.A relao divertimento-trabalhotambmserdiscutida.Situareiolugarocupadopelodivertimentonavidados 11 habitantes da cidade, a partir daidentificao dosmomentos que eram a ele destinados, e da funo que lhe era atribuda.Oterceiroeltimocaptulo,umatentativadecompreenderosignificado,os sentidos do divertir-se na cidade. Veremos que alm de reunir atividades, essa palavra possua outros usos, que contribuam para a construo de seu significado.As normatizaes estatais que existiam em torno dos divertimentos, e o incio da formao de um mercado em torno deles tambm sero focalizados. Aolongo de todos esses captulosa dinmicasocial da cidade de So Paulo ir sendo localizada em relao com os divertimentos. 12 CAPTULO 1 OS DIVERTIMENTOS PAULISTANOS ENTRE 1828 e 1867 AolerosjornaispaulistanosdosculoXIXpossvelencontrarinmeros anncios,matrias,comentriossobrevriasprticasdedivertimentoocorridasnacidade. Dana, teatro, passeios, festas, reunies, jantares, apresentaes circenses, concertos, bandas de msica,bailes,jogos, carnaval, entrudo, enfim, so muitos os exemplos. No entanto, no me ative a todas essas prticas, na verdade sequer tive acesso a todas elas, a todas as suas presenas nos jornais. Pois a metodologia adotada, a histria conceitual, direcionou o meu olhar, me levou a estabelecer um critrio de seleo de fontes que no incluiu todas essas prticas. Foiobjetodeminhaanlisenessecaptulo,apenasasprticasqueforam deliberadamentenomeadasdedivertimentonosjornais.Assim,noseespanteoleitorao encontrar poucas referncias a algumas prticas e nenhuma referncia a outras. Isso no quer dizer, absolutamente, que os paulistanos no as experimentassem, no a vivessem, quer dizer apenas, e to somente, que elas no foram denominadas de divertimento pelos jornais da cidade, e que, por isso, no foram objeto dessa parte do texto.Este primeiro captulo aborda o contedo da palavra divertimento, os usos que eram dela feitos pelos paulistanos entre 1828 e 1867. Focaliza as prticas que eram denominadas de divertimento, as funes atribudas a ele, e a moral e a sensibilidade que em torno dele existiam. Essa tentativa de reconstruo de alguns aspectos essenciais do conceito de divertimento, acaba porrevelarumpoucodadinmicadacidadedeSo Paulonoperodoemtela.Destaca-sea disputa existente em torno dos divertimentos e a tentativa de controla-los para, ento, controlar a populao atravs deles, e as mudanas de sensibilidade pelas quais a cidade passava. 1.1 O que faziam os paulistanos para se divertir: as prticas de divertimento Segunda-feira,setededezembrode1829.OpovodacidadedeSoPaulo compareceu Praa do Palcio do Governo para participar da primeira noite de encamisadas4, das trs, que ali seriam realizadas. A praa foi iluminada, assim como as casas da cidade, a essa altura a iluminao era de lampies alimentados por azeite de peixe (TOLEDO, 2003, p. 337), fogos subiram ao cu, e duas bandas de msica executaram variadas peas que muito agradou 4 De acordo com Campos (2008), as encamisadas so uma "manifestao popular em que grupos de mascarados saam s ruas, empunhando archotes e trajando amplos e compridos camisoles. 13 o grande nmero de povo que ali compareceu. Em seguida, o presidente da provncia, Jos CarlosPereiradeAlmeidaTorres5,recebeuseusconvidados,todasassenhorasdistintas, autoridades e cidados, com afabilidade em seu palcio para um baile, e os serviu refrescos e ch.No dia seguinte, segundo dia de festas, houve uma celebrao religiosa seguida pelo discursodopadreeprofessordeliteratura,FranciscodePaulaeOliveira.Logodepoisfoi realizado no Palcio do Governo, com a presena de todas as autoridades da cidade, o cortejo ao retrato do imperador D. Pedro I que se encontrava na principal sala do palcio. Os militares participaramprestandocontinnciaaoretrato,erealizandoemfrenteaopalcioumaparada com a descarga de 101 tiros. Como encerramento dos festejos houve teatro noite6. Todosessesfestejosforamdenominadosdedivertimentospeloprimeirojornal impresso da cidade e da provncia de So Paulo, O Farol Paulistano. E eles foram realizados em comemorao ao casamento de D. Pedro I com a princesaAmelia de Leuchtemberg. Era um hbito no Brasil daqueles tempos, a realizao de festejos para celebrar datas importantes para a famlia real,como continuao do costume j existente antes da independncia.O que era uma estratgia de difuso de smbolos dahierarquiametropolitanae tambm de controle (MELO, 2013b).OFarolPaulistanocomeouacircularemfevereirode1827,comachegadada tipografia em So Paulo. Inicialmente ele era publicado semanalmente, se tornando bissemanal em junho do ano de sua criao, e trissemanal em outubro de 1829. Seu editor era o magistrado liberalJosdaCostaCarvalho,que,comaabdicaodeD.Pedro,tornou-semembroda Regncia Trina Permanente em 17 de junho de 1831. Dias depois, em 30 de junho, foi publicada altimaediodOFarolPaulistano,queeraliberaledefensordamonarquiaconstitucional (OLIVEIRA, 2010).A essa altura, So Paulo havia deixado a condio de arraial de sertanistas e se tornado centro de estudantes com a inaugurao da Faculdade de Direito (BRUNO, 1954, p. 71 e TOLEDO, 2003, p. 309, respectivamente). Mas ainda era uma cidade modesta, com suas ruas atravancadas pelos carros de boi e pelas tropas de burros (TOLEDO, 2003, p. 335). No tinha aspecto de cidade, era uma povoao pobre, apesar de j ser a capital da provncia. 5JosCarlosPereiradeAlmeidaTorreseraadvogado,tendosetornadovisconde.Durantesuavidaocupou diversoscargosdeimportncianoImprio,dentreosquaisdestaca-seocargodepresidentedoConselhode Ministros do Imprio do Brasil. Foi presidente da provncia de So Paulo por duas vezes, e de So Pedro do Rio Grande do Sul uma vez.6 O Farol Paulistano, 2 de janeiro de 1830, pp. 2, 3. Ao longo do texto, os documentos so transcritos respeitando-se a gramtica e a pontuao originais, mas atualizando-se a ortografia das palavras. 14 O Palcio do Governo, onde foram realizadas as festividades pelo casamento de D. Pedro,era omodestoedifcioondefoiocolgioeoconventodosjesutas,ondefuncionava tambmamaiorpartedasdemaisinstituiespblicas,comoaAssembleiaProvincial,o Tesouro,oCorreioeaBibliotecaPblica,fundadaem1825.Foinessemesmoconvento, primeira edificao da cidade, que a Faculdade de Direito foi instalada em 1827, por ser ele o melhor edifcio da cidade ainda naqueles tempos. E a praa do Palcio do Governo, era o ptio do convento, tambm conhecido como Largo de So Francisco. Assim, fica evidente como no final dos anos 1820 a cidade ainda no havia se desenvolvido fisicamente. Ptio do Colgio em 1824. Pintura de Jean Baptiste Debret. Orelatodojornalnosdizdoshbitosdedivertimentodospaulistanosnaquele momento. Havia como que uma programao, mais oumenosfixa, de divertimentos que era realizada quando de momentos festivos como esse, do segundo casamento de D. Pedro I. Uma atividade religiosa, o Te-Deum, sempre compunha a programao, assim como apresentaes deteatroedebandasdemsica.Acidadetambmprecisavaestarbonita,adornada,eeraa iluminao das casas, de responsabilidade de seus prprios moradores, que cumpria esse papel de embelezamento.Osgovernosmunicipaleprovincialincentivavamaparticipaodapopulao paulistanaeorganizavamosdivertimentos,dandoorientaeseindicandooquedeveriaser feito,comoformadedemonstrarregozijocomoqueeraimportanteparaafamliareal.No entanto, se festividades dessa natureza se deram na cidade de So Paulo para comemorar datas 15 importantes para a famlia real ou por qualquer outro motivo, depois do casamento de D. Pedro I,elasnoforamnoticiadas.Noencontrei,emnenhumdosjornaisdacidadeentre1828e 1867, qualquer notcia sobre a realizao de festejos dessa magnitude por ocasio da maioridade de D. Pedro II ou de seu casamento, por exemplo.Aatividademaiscomumentechamadadedivertimentonosjornaisfoioteatro, seguido pelo circo e pelos bailes, sejam eles de mscaras ou no. No entanto, apenas o teatro aparece de modo constante ao longo de todo o perodo estudado. As presenas do circo com a denominaodedivertimentoseconcentraramnoanode1862,comachegadadoCircode Nova York cidade, e os bailes comeam a ser chamados de divertimento em 1834.O teatro era o nico meio de comunicao de massa do sculo XIX j que saber ler era um privilgio reservado a poucos7 , tinha funo moral e cvica, e era frequentado por todos. Os estudantes de Direito formavam a maior parte de sua plateia, mas o governador da provncia,famlias,escravos,padresdisfarados,crianasdecolo,prostitutastambmo frequentavam (AZEVEDO, 2000, p. 178).Desde 1765 a cidade possua uma casa destinada a receber apresentaes teatrais. E entre 1828 e 1867 a cidade possuiu quatro teatros, nem sempre de modo simultneo: a Casa dapera,chamadadeTeatroSoPauloapartirde1840,queficavanoptiodocolgioe funcionou entre 1770 e 1870; o Teatro do Palcio que funcionou entre 1813 e 1860 no poro doPalciodoGoverno,equeem1832passouasechamarTeatroHarmoniaPaulistana;o Teatro Batura que teve menor perodo de funcionamento, entre 1860 e 1870 e localizava-se na Rua da Cruz Preta, antiga rua do Prncipe, e o Teatro So Jos (1858-1898) que ficava no Ptio So Gonalo (SILVA, 2008). Todos esses teatros ficavam dentro dos limites do tringulo,da chamada colina histrica8, que era a parte urbanizada da cidade, indicando a sua concentrao nesse espao, onde ela teve origem.OTeatroSoJosfoiamaiorobra,amaiorconstruodeSoPaulonosculo XIX, at a construo das ferrovias. Mas ele era pouco espaoso, com acstica e acomodaes dos artistas ruins e o espao da plateia era de cho batido, tendo seus espectadores que levar cadeirasdecasa,duranteosprimeirostemposdeseufuncionamento(SILVA,2008,p.37). 7 Por exemplo, em 1836 a cidade de So Paulo, com suas zonas rurais, possua 21.933 habitantes, dos quais apenas 1009 sabiam ler e escrever (MORSE, 1970, p. 106), o que representava 4,6% da populao. 8Tringulooespao,umaelevaodeterra,limitadopelosriosTamanduateeAnhangabaepelaVrzea Grande, que ficava 25 a 30 metros acima dos terrenos que estavam a sua volta. Foi a que teve incio a cidade, foi onde os jesutas se instalaram, e onde se concentrou por muito tempo sua populao, as instituies pblicas e o comrcio. Foi somente a partir de 1870 que esses limites foram expandidos pelo crescimento da cidade urbanizada.16 Assim,erabemmodestaamaiorconstruodacidade,oquedizer,ento,dasmenores construes que a cidade possua? Teatro So Jos em 1862. Foto de Milito Augusto de Azevedo. A existncia de quatro teatros em So Paulo, sendo um deles sua maior obra,num perodo em que a cidade era pobre, pequena, com aproximadamente 25 mil habitantes9, indica aimportnciadoteatro,olugarprivilegiadoqueeleocupava,aindaqueessesteatros possussem estruturas fsicas deficientes. L-se no Correio Paulistano de 28 de junho de 1862: Teatro: Hoje representa-se os dramas Os homens srios e O fidalgo pobre. Por qualquer destesdoisdramaspodeo pblico ter algumashorasde utilssimo divertimento. Os homens srios merece a ateno de todos que conhecem a vidapartedenossasociedademoderna;ahistriadessesespeculadores que vo ao casamento procurar na mulher um degrau para sua fortuna, e como degrau fazem da mulher uma manivela; no tudo isso. Os homens srios a verdade sem rebuos do homem hipcrita, que no salo, entre os cortesos ou seus parasitas trata a mulher como um anjo, e atrs do reposteiro faz dela um simulacro. Nos grandes lances dramticos, aparecem para os sustentar os artistas que se incumbiro dos principais papeis. Se, porm, no estivesse no 9 Nos trs primeiros quartos do sculo XIX, a cidade de So Paulo, com suas reas rurais, possua entre 20 e 25 mil habitantes (MORSE, 1970, p. 171). 17 gostodopblicoessedrama,recorrer-se-aoFidalgoPobre,assunto inteiramente novo em nossa cena. Estamos com um teatro semelhante ao Gymnasio; temos tido de semanaasemanacomposiesnovas.Cumpreaopblicoafluiraoteatroe no esquecer-se que nenhuma noite perdida. O anncio, da primeira pgina do jornal, um exemplo de como as peas teatrais tinham uma funo moralizadora. Os homens srios, segundo a descrio do jornal, diz de uma sociedade no moderna, que era exatamente o que So Paulo no queria ser a essa altura, cujos homens aproveitavam-se de mulheres para construrem fortunas, e que so, por isso, chamados de hipcritas e de especuladores. Portanto, o enredo trazia tudo o que a cidade, ou melhor, o seupoderinstitucional,noqueriaqueelafosseetivesse.Contavaahistriadeummal exemplo, que no deveria ser seguido. Era a evidenciao do mal, justamente para dizer que ele era mal e no devia ser copiado. O ttulo do drama que parece revelar o tipo de homem que a sociedade paulistana queria ter, e no o seu enredo. Por tudo isso que podemos compreender ofatodeapeaserconsideradaumutilssimodivertimentopelojornal.Noerao divertimentopelodivertimentoapenas,maseraoaprendizado,ainculcaodevalores,de sentimentos, de uma certa moralidade. O Correio Paulistano, neste momento, estava vinculadoao Partido Conservador e aogovernoprovincial10,aqueminteressavaamanutenodaordem,oqueincluaa manuteno dos valoresmorais.Assim, talvezseja tambm porisso que o jornal tenha dado destaque pea Os homens srios, e no O fidalgo pobre, cujo enredo no nos foi permitido conhecer.Os estudantes de Direito tiveram um papelprimordialno teatro da cidade de So Paulo, eles foram, alm de pblico assduo, autores e atores das peas, fazendo at mesmo papel de mulheres. Tanto que os espetculos eram realizados sempre as vsperas dos dias em que no havia aula, para no atrapalhar os estudos (SILVA, 2008, p. 30). Mas tal medida parece no ter sido suficiente, pois com o mesmo objetivo, em 1830, o governo proibiu o teatro durante o ano acadmico, oquenofoiobedecidopelosestudantes(MORSE,1970,p.170).Eem1860o governo proibiu que os estudantes representam no teatro oficial, com o argumento de que era para manter a boa ordem no meio teatral (SILVA, 2008, p. 29, 30). 10OCorreioPaulistanosealiouadiferentespoderespolticosepartidospolticosaolongodesuahistria,de acordo com suas necessidades financeiras. Nesse momento, 1862, ele estava vinculado ao Partido Conservador e recebia subveno do governo provincial. Seu proprietrio, Jos Roberto de Azevedo Marques, havia anunciado quetrocariaalinhaliberalpelaconservadoraporcircunstanciadecarterfinanceiro,jqueojornalqueera dirio at 1855 passou a ser bissemanal por falta de recursos (THALASSA, 2007, p. 26). 18 Essas medidas evidenciam como era grande a participao dos estudantes na vida teatraldacidade.Vidateatralessa,queat1820eracompostaporproduesocasionaise folclricas (MORSE, 1970, p. 140), e que a partir de 1870, quando os estudantes passaram a se dedicarmaisaos trabalhosacadmicosemenosaosliterrios,enfraqueceu,ficandoacidade por algum tempo sem companhia prpria e vivendo da visita de companhias de fora da cidade (AZEVEDO, 2000, p. 179). E pensar que um dos motivos, um dos argumentos usados pelos deputados paulistas paraqueaFaculdadedeDireitofosseinstaladaemSoPauloquandodadecisodeonde deveriamserinstalados os primeiros cursos jurdicos do Brasil, foi o de que o ambiente da cidadecareciademaiorvivacidadeedistraes,porissomesmoeramaispropcioaos estudos do que a Bahia, por exemplo, que a segunda Babilnia do Brasil, as distraes so infinitas e tambm os caminhos da corrupo. uma cloaca devcios. (TOLEDO, 2003, p. 312).Nocontavamossenhoresdeputados,queosestudantesmesmosiriamproduzir divertimentos e tornar a cidade mais dinmica.Em 1829 os estudantes formaram a companhia Teatro Acadmico e arrendaram o Teatro da pera por cinco anos, e em 1832 fundaram o Teatro Harmonia Paulistana, que era o antigo Teatro do Palcio (SILVA, 2008, p. 25; MORSE, 1970, p. 140). Em meados do sculo, elesdominavamoteatronacidade,quetevecomoseumaiornomelvaresdeAzevedo. Paulistano de nascimento, mas carioca de criao, ele passou todo o tempo queviveu em So Paulo, se lamuriando da cidade, de sua falta de divertimentos, e sentindo saudades do Rio.Noque SoPaulono tivessedivertimentos,comodisselvaresdeAzevedo tantasvezes,quequandocomparadacidadedoRiodeJaneirorealmenteSoPauloera reduzida a uma tediosa cidade. Mas at mesmo o Rio foi considerado uma cidade provinciana devido aos seus poucos divertimentos, quando comparada Inglaterra (MELO, 2010, p. 51). Assim, ser considerada uma cidade sem opes de divertimento, tediosa, ou efervescente com mltiplas opes, dependia da referncia adotada.Duranteoanode1862ocircofoidenominadodedivertimentonosjornaisna mesma medida em que o teatro o foi: ambos foram chamados de divertimento nove vezes. No entanto, o circo foi assim denominado apenas entre os meses de setembro e outubro, todas as nove ocorrncias dessa relao circo-divertimento ocorreram nesse curto espao temporal.Um leitor do Correio Paulistano escreve: Sr.redator-Estouencantado!Nuncavicoisamelhor,tendo viajado seca e meca, e ainda no vi divertimento igual ao que d o circo norte-19 americano.degraa2$rs,porbancoduro,mascomtapetemole:sobre camarote, ento nem falemos, mais que de graa 12$rs por um camarote. Aquela passagem da tranca at me pareceu feitiaria; como que aquelediachodaquelemeninonosequeimounaocasiodefazervirara tranca? E a cena de Mr. e Mme. Denie!!! Oh, sr. Aquilo sim, estou com doresdebarrigaatagora;ri-mequemetorebentandoastripas.Que engenho, que espirito. verdade que pouca gente atendeu ao enredo; mas a que est a coisa, para entender aquilo preciso ter miolo. Aparece um engraado querendo alugar um cavalo. Regateia por muito tempo, e o jovem Carlos d por 5$rs. Monta (no cavalo alugado) Mr. e Mme.Denie.Comeaavariedadedecorrernocirco.Mme.Grita;tem7 ataques; o palhao sofre 14 bofetes; segue-se 28 quedas, e cada um se recolhe para a sua casa. Consta queh um abaixo assinado pedindo a repetio daquela obraprima,queaindamilvezesmelhordoqueaquelaqueumestudante ofereceu ao jovem Martinho, e foi por ele executada. No sei como h de ser, quando estes estrangeiros forem embora: que divertimento, que barateza! Cheguem, meu povo, que seno se acaba. Estes estrangeiros fazem as delicias da gente. Olhem que sabem coisas! O Marimbondo.11 A descrio detalhada realizada pelo Marimbondo12, tanto do espetculo quanto de suas prprias sensaes diante das peripcias dos artistas, no deixa dvida de como ele gostou esedivertiunoespetculodosestrangeiros.Masaminuciadadescriotanta,indicando inclusive o nmero de ataques, bofetes e quedas ocorridas em uma cena, que somada nfase dada barateza dos preos dos ingressos faz-me perguntar se esse o relato de um espectador oudaprpriacompanhiacircense,fazendopropagandadeseuespetculo.Masoquenos interessa mais diretamente aqui que o circo foi chamado de divertimento, foi entendido como tal. NastrssemanassubsequentesmatriasobreoGrandeCircodeNovaYork escrita pelo Marimbondo, o Correio Paulistano publicou anncios bissemanais de seus eventos, todos ilustrados, em que o espetculo chamado de divertimento. Na edio de domingo, 28 de setembro13, dia do espetculo, foi publicado o mesmo anuncio que havia sido publicado na sexta-feira14, em que o destaque foi um nmero de equilibrismo executado sobre mesa, cadeiras e garrafas: 11 Correio Paulistano, 10 de setembro de 1862, p. 3. 12 Apesar das tentativas, ainda no consegui identificar quem se protegia atravs do uso de tal codinome. 13 Correio Paulistano, 28 de setembro de 1862, p. 4. 14 Correio Paulistano, 26 de setembro de 1862, p. 4. 20 21 Maiordivertimento,poucoforaparaofertaraumpovotopolido.Essasso algumasdaspalavrascomasquaisoanunciofoifinalizado.Anunciodoqueeraparasero ltimoespetculodacompanhianacidade.Oespetculo,apesardeserummaior divertimento, foi pouco para um povo to polido, merecedor de muito mais, como o povo paulistano.Boaestratgia,oelogio,paraconquistar opblicoparaumaprximatemporada, para deixar laos de afeto, e assim, conseguir o retorno do pblico ao circo. No entanto, houve aindamaisumespetculo,tambmchamadodedivertimento,depoisdaseododia28de setembro.Elefoirealizadonosbado,dia4deoutubro.Depoisdisso,ocircopareceterse despedido da cidade. Entre julho e agosto de 1855, ocorreram trs bailes mascarados na cidade de So Paulo, todos chamados de divertimento. Dois deles ocorreram no Hotel do Universo, que ficava noptiodocolgio.Essesbaileserampagos,excetopelassenhorasquetinhamaentrada grtis,eforamorganizadosporumempresrioquedesejavarealiza-losmensalmente,no ltimo sbado de cada ms15. O terceiro baile mascarado foi realizado por ocasio da festa do Espirito Santo, emlugar que nomefoipermitido conhecer,j que o anuncio apenaspedia spessoasqueaindatememseupoderosobjetosqueserviramparaodivertimentode mscaras que os devolvam pessoa de quem os receberam16. No entanto, asmascaradasaconteciamna cidadepelomenos desde 1834, e eram desdeentodenominadasdedivertimento.Asposturasmunicipaisdejaneirodesteanoj dispunhamsobreoassunto,assimcomoasde1842.Masentreasduasposturashouveuma portariapublicadapelaCmaraMunicipal,quediziaexclusivamentedasmascaradas.Ela determinava: A disposio do art. 2 das Posturas de 30 de janeiro de 1834 no compreende o divertimento de mscaras por ocasio de Festas Nacionais.17 Assim, essa disposio tornava maisbrandaasposturas,jqueasmesmassimplesmenteproibiamasmascaradas,no importando o momento e o motivo de sua realizao. Alm do Hotel do Universo, uma outra instituio promovia bailes mensais em So Paulo, que tambmeramchamados de divertimento. De 1837 a 1863, pelomenos,houvena cidade uma associao, a Concrdia Paulistana que tem por fim ajuntar em uma noite de cada ms as famlias mais respeitveis desta cidade em um divertimento de baile.18 Quando ainda 15CorreioPaulistano,24dejulhode1855,p.4;CorreioPaulistano,27dejulhode1855,p.4;Correio Paulistano, 21 de agosto de 1855, p. 4.16 Correio Paulistano, 13 de julho de 1855, p. 4. 17 A Phenix, 12 de setembro de 1840, p. 1.18 A Phenix, 20 de maio de 1840, p. 2.22 estava em seu terceiro ano de existncia, a Concrdia j provocava admirao, j que a cidade tinha fama de no possuir muitas opes de divertimento duradouras: Estaassociaotemjseguramentemaisdetrsanosdeexistncia,etem regularmenteecomtodaadecnciafeitoseusdivertimentos.issoum fenmeno em So Paulo, onde perece quase sempre logo ao nascer, ou vegeta poralgumtempoeacabaporfraquezaedesuniotodainstituiode sociabilidade.Aindaassimestasociedadenotemdeixadoderessentir-se destasortegeral,eaprincpiomuitoprocurada,temporltimocadoem resfriamentoapontodetertidoporvezesincompletoonmerodeseus associados.19 Oautorannimodamatriaenganou-seenormemente.AConcrdiaPaulistana aindaem1863existia,econtinuavadandoseusbailesmensais.Masofatodealguns divertimentos,comoosbaileseoteatro,noestaremsemprecomsualotaomxima preenchida, parecia gerar umincomodo, uma certa preocupao, j que era umindicativo da no adeso da populao a hbitos civilizados. O gosto do pblico tendeu para importaes de companhiasdramticasinspidas,pastichosmusicais,espetculosdecirco,malabaristase acrobatas. (MORSE, 1970, p. 197), o que causavaincomodo, como expressa amatria, no assinada, ao reclamar do no comparecimento das famlias ao teatro: No h gosto para essas coisas: se se tratasse de uma companhia de cavalinhos, de ver saltimbancos pendurados em cordas, trapaas, haveria um entusiasmo louco,camarotes,plateia,tudoregurgitaria;irver,porm,osgrandes sentimentos do corao traduzidos por um talento chamado Joaquim Augusto, ou Julia Azevedo, ora isso maada, por tais insignificncias no vale a pena apertar um vestido, deixar de ouvir mexericos de uma comadre copote, beber o ch s 8 horas da noite e dormir s 9.20 Alm do teatro, do circo e dos bailes, foram tambm chamados de divertimento o carnaval,amsica,osjogos,adana,ascompanhiasginsticaseequestres,asreuniesem casas de particulares e as festas religiosas. Esses foram os contedos da palavra divertimento, os usos que os paulistanos deram a essa palavra. 1.2 preciso distrair ou educar o povo?: a funo dos divertimentos Numpas,ondeestoconsagradospeloPactoFundamental,todosos princpiosrepublicanos;numpasondealeiigualparatodos,ondeesto proscritostodososprivilgiospessoais, ondeningum nascemelhor queos outros,senoquandoanatureza,assimoquer;numpas,cujoPacto 19 A Phenix, 20 de maio de 1840, p. 2. 20 Correio Paulistano, 17 de maio de 1863, p. 1. 23 Fundamental s necessita de ligeiras alteraes para todo ele ficar em perfeita harmoniacomasteses(...)consagradasnoTit.8;numpastal,dizemos, indispensvelqueoshbitos,queamoralpblica,queosgostos,queat mesmo os brincos e festejos, tenham alguma coisa da majestade e severidade Republicana,indispensvelquetudoquantofatuidade,imposturae palavreadoxoxocedaoterrenoaadooprticadoseternosprincpiosda razo universal. As palavras acima foram publicadas no Farol Paulistano de 21 de maio de 1831, e escritas por um autor que no se identifica. Esse autor annimo defende a adoo de hbitos e aconstruodegostosqueestivessemligadosaosvaloresrepublicanos,aindaquenumpas monrquico, pois segundo ele no seria a mudana de nome da forma de governo, de monarquia para repblica, ento reivindicada no pas, que faria dele uma repblica de fato. Para que isso acontecesseeledizqueseriamnecessriasmudanasnoshbitos,nomododeserdos brasileiros, em sua cultura: Brasileiros, quereis ser republicanos de fato? Sede, porque isso muito fcil, e s de vs depende. Sede virtuosos, sede bem livres, bem independentesde carter;noaduleisopoder;noligueisvaloralgumafrioleiras;prezaia justia, a liberdade, a igualdade; prezai acima de tudo a qualidade de cidado brasileiro; respeitai-a tambm nos outros; e desafiai depois a um dspota, ou amuitosdspotas(porqueodespotismopodepartirtantodeum,comode muitos,) para que calquem aos ps, se forem capazes, a Nao Brasileira livre e independente. Brasileiros, trabalhemospor desmonarquisar tudo de fato,e no de nome. Portanto, oshbitos,amoralpblica,osgostos, ovocabulrioeatmesmoas brincadeiras e festejos deviam se adequar a novos princpios, e assim substituir tudo o que fosse insensatoenoadequadomoralrepublicana.Oautorevidenciaodesejodeformatarou enquadrar tambm os divertimentos que como ele deixa perceber atravs da expressoat mesmo,noeramcomumenteassociadosnormatizaesumacertamoraleumacerta razo.Atmesmoasbrincadeiraseosfestejos,dizoautor,precisavam,demodo indispensvel, ter alguma coisa da majestade e severidade republicanas. Nem mesmo elas, as brincadeiras e os festejos, podiam escapar esse novo ordenamento do pas. E o annimo prossegue: Osfoguetes,asluminrias,asfarsas,emascaradas, servemparadivertira multidopormomentos;servemparadesviaropovodoestudodeseus direitos, e de seus verdadeiros interesses; servem para acostuma-lo a ver num trono um altar ocupado por um dolo a quem deve incensar, ou (o que mil vezes pior) uma Divindade tremenda prestes a despejar raios sobre aquele que desobedecer ao mnimo aceno seu. 24 Em 1820, quando j se temia que lavrassem pelo Brasil todo, as ideiasliberais,queconseguiriamregener-lo,umBachmandadoparaSo Paulo pela corte de D. Joo VI, expressamente para sufocar o nascente esprito de liberdade, explicava desta maneira aos seus amigos o motivo de umas festas muito extemporneas, de umas cavalhadas e de uns combates de touros, que mandava fazer: preciso,diziaele,distrairopovodessasideias revolucionrias, e o meio fazer festas. Verdade seja, que apesar das festas proclamou-seaConstituio,fez-seaIndependncia:mascoma Independnciamisturou-seaAclamao,eosbailes,asluminrias,os foguetes, as farsas, e poesias muito servis, encheram meses em todo o Brasil; ningum se lembrou ento, que um ato de beneficncia podia ser um festejo. O resultadofoimanter-seoespiritodefrivolidade,eosmesmosbrasileiros tomarem gosto pelas guardas de honra, pelas fitas, pelas chaves, pelas casacas bordadas, e por todas as mais ridculas pavonadas, que tanto contrastam com a modesta juventudedo solo americano.O resultado foi, queno fimdedez anosde liberdade a causa da verdadeira civilizao pouco avanou; nada de slido se estudou; quer-se sim repblica, democracia, federao, mas no se sabe o que estas palavras significam; responde-se a todos os vivas, a todos os morras, tudo por funo, tudo por festejo, e das funes e festejos sai-se com disposio para atacar os mais preciososdireitos, as mais sagradas garantias dos cidados, para pregar a guerra civil e os massacres;21 Assim,segundoesseautorosdivertimentostiravamofocodoquerealmente importava e, por isso, serviam aos governantes como forma de distrair o povo de objetivos mais srios,ligadosconstruodeumpasrepublicano.Atravsdosdivertimentosseconstrua gostos e preferencias muito frvolos, que em nada contribuam para a construo da repblica, e se imbecilizava a populao, que sem saber diferir princpios republicanos de monrquicos, dava vivas e apoiava tudo que lhe fosse colocado. O autor demonstra ter conscincia de que a famlia real usava os divertimentos como forma de difundir seus smbolos, e de atualizar sua importncia. Ele alertava para o perigo de tais prticas que eram usadas como umaforma de controle do povo pelo governo. E foifazendo talusodessas prticas que, segundo ele, quase dez anos aps a emancipao poltica, o pas pouco havia avanado. Para que os divertimentos nocontinuassemaserusadosdetalmodo,edeixassemdeservirmonarquia,queeles deviam ser moralizados, a partir de princpios republicanos.Mas ora, o que queria tal autor ao prescrever que era indispensveladequar as brincadeiras e osfestejos moral republicana? No seria tambm usar os divertimentos para alcanar objetivos que ele tinha como caros, a construo de uma nova ordem? Percebe-se a queoproblemanoeraousodosdivertimentosparaoalcancedeobjetivos,massimque objetivoseramesses.Soduasescalasdiferentes,senoopostas,devaloresemtornodos divertimentos. Uma que os tinha como no importantes para a construo de uma nova ordem, 21 O Farol Paulistano, 21 de maio de 1831, pp. 1, 2, grifos meus.25 equeporissomesmoosincentivava;eoutraqueostinhacomoalgoimportanteparaa construodeumanovaordem, toimportantequedevia tambmseadequarsnormasdos novos tempos, no ficando s margens das mesmas, e deste modo contribuindo para a fixao dessas normas.Havia prescries realizadas por ambas essas formas de compreender e usar os divertimentos, presentes ao longo de todo o perodo estudado. Cada uma delas indicava o que melhor lhe convinha, prescrevia os divertimentos que deviam ser vividos e os que deviam ser abandonadospelospaulistanos.Alinhadoposturaquetinhaosdivertimentoscomo importantes para a construo de nova ordem, o Correio Paulistano publicou: o fato uma pequena festa que houve no colgio, dirigido pelo Rev. Padre Mamede, em a noite de quinta-feira, dia de S. Pedro. Todos conhecem mui bem como se festeja o dia de certos Santos, protetores dos prazeres e das folias. Reunies em chcaras, muito fogo queimado, e as vezesmuitas pessoas queimadas, descuidosos no meio do furor da foguetaria, bailes, sortes, ceias, muito rir e folgar, brincos e jogos de toda a sorte eis em que, as mais das vezes, consiste a santificao desses dias. Emumcolgio,emumareunionumerosa,compostade meninoserapazes,esquentadospelosbrincos,svendooprazerquedeles resulta, e nunca o mal que infelizmente quase sempre da lhes provm, no h por certo meio mais til, mais cmodo e mais proveitoso por mil lados do que uma pequena representao, um teatrinho em que possam aparecer o talento e a habilidade desses mancebos. Seriabemescusadoabrirmosaquiportaparalongas consideraessobreautilidadedoteatroedasrepresentaesnoscolgios, consideraes mais escusadas ainda porque no so novidade para nenhum dos nossos leitores.Em toda a parte onde se presa a boa educaoe amorigerao dos mancebos, e onde se procura o desenvolvimento intelectual, o cultivo da memria, o exerccio da declamao, oestudoda eloquncia prtica, para o trato do mundo e mesmo para as smplices conversaes, a se no despreza essa sorte de divertimento.22 Amatriaprovavelmentedoredatordojornal,queindicaasubstituiodas festas de junho realizadas pelas escolas em comemorao aos dias de santos da igreja catlica, como So Joo e So Pedro, pelo teatro, por ser ele um divertimento mais til, mais cmodo e mais proveitoso. As festas, com suas brincadeiras, fogos e jogos traziam prazer aos alunos da escola, mas traziam tambm o mal que infelizmente quase sempre da provm. J o teatro, Queestmulopara oamordasletras,queestimulopara oprogressoedesenvolvimentodos estudos!inegavelmenteumabasebemsolidaparaofuturoesplendordosoradores,dos 22 Correio Paulistano, 4 de julho de 1854, p. 2.26 escritores, e dos dramaturgos. Em toda a parte onde se presa a boa educao (...) ano se despreza essa sorte de divertimento. 1.3 Uma capital que se queria civilizada: a nova moral daqueles tempos Nofinaldadcadade1840,acapitalpaulistaviviatransformaesnos comportamentos, valores e mentalidade de seus habitantes, embora elas ainda no se fizessem sentirnamaterialidadedacidade.Assim,apartirdajsefaziampresentesnacidade,a europeizao,orefinamento,oscdigosdeurbanidade,eaeducaocavalheirescacomo valores (MORSE, 1970, p. 120). E foi nesse contexto que o incgnito A. L. pediu o fim do jogo dgua durante o entrudo em matria que escreve para o Correio Paulistano de 22 de janeiro de 1856: Seria pois uma tirania proibir-se toda e qualquer distrao que o povodesejassenosnicosdiasemqueseacorda.O queanhelamos23ver extinto esse uso mal fadado do jogo dgua, cujos resultados calamitosos esto ao alcance de todos, mas que todos olvidam nessas estaes de loucura.(...) Mastempodeextinguir-setalcostume.Emtodosospases civilizados,hmuitotempoqueasmascaradas,ascavalgadas,asdanas, cantorias, flores, e confeitos tem sido os variados meios de que se ho servido para dizerem o ltimo adeus aos dias gordos. Tal jogo era uma brincadeira em que as pessoas atiravam, umas nas outras, frutas feitasdeceracheiasdeguaperfumadaequeera,paraoautordamatria,umestlidoe funesto divertimento que j havia sido substitudo na corte pelas mascaradas, aos moldes do queacontecianospasescivilizados.Elerecomendapolcia,noentanto,quenosedeve tambm opor a outro modo derecreao, qualquer que ela seja, poisisso s exasperaria a populao.Deste modo, o autor no era contra todo e qualquer divertimento no carnaval, mas apenas,especificamente,contra ojogodgua,que,segundoele,traziamsconsequnciase no era adequado idade em quevivemos e uma cidade civilizada.Mas eleno diz que ms consequncias eram essas, trazidas pelojogo dgua.Ele at intercede polcia que no oponha-seaoutromododerecreao,eacabademonstrandoassim,ousosinnimodas palavras divertimento e recreao. E continua: 23 Do espanhol, anhelar significa almejar, ansiar.27 Porque nossos jovens patrcios, requisitando uma fora policial, que os defenda da injuria e das guas, no percorreram as ruas de nossa capital trajando a fantasia e servindo-se de pequeninos ramalhetes de flores, em vez de reprovados limes? O divertimento ser dessa maneira menos prejudicial, e at mais potico;abatalhadar-se-frenteafrente,eareciprocidadedeflores conservar lembranas mais agradveis, do que as consequncias desastrosas que formam o squito do entrudo portugus.Solcitosemprocurarobemdenossaterra,oferecemosessas linhas aos nossos patrcios e polcia. Substitua-se o jogo dagua por qualquer outro divertimento pblico decente, e nosso apoio ser franco. Haumatentativadeconstruodeumanovasensibilidadeemtornodos divertimentos.Sensibilidadeessaqueseincomodavacomojogodgua,queoconsiderava brbaro,equetinhanasmascaradas,nastrocasdefloresumdivertimentoagradvel.o delineamento de uma nova moral e de uma nova sensibilidade em torno dos divertimentos.O queevidenciaqueamoraleasensibilidadenosoalgofixoeeterno,elassedelineiamno tempo. E nesse tempo a moral dos pases tidos como civilizados adentrava So Paulo, levando seushabitantesaquestionaremseushbitos,suacultura.Noeranecessrianenhuma explicao, bastava dizer que tal hbito era comum num pas civilizado, para que ele se tornasse bom e necessrio imediatamente.A Europa era a baliza, era de l que vinham os padres de civilidade. Mas no de toda a Europa: Apenas encontramos em Portugal o costume altamente revoltante de se bombardearem as casas, ferindo-se muitas vezes, matando-se os pobres habitantes com centenas de ovos arremessados pelos pulsos bem conhecidos dos filhos daquele pas.Descendentesdosportuguesesnopodamosfurtar-nosao recebimento das usanas a que nos instigavam; mas o carter brasileiro, menos speroqueodosnossoscolonizadores,apenascontentou-secomlimesde cheiro, apesar de todas as ameaas da medicina. (...) Ousodasmascaradas,hojeadmitidasnospasescivilizados, remonta sia, aos judeus. Passando Europa vemo-la nos primeiros sculos da era crist em Constantinopla. Oscarnavaisde Roma, Venezae Parisso bem conhecidos. Na tentativa de convencer seusleitores e a polcia, a quemintercedia pelo fim dojogodgua,nossopretensocivilizadoA.L.foibuscaraorigemdoentrudoedas mascaradas.E osimplesfatode oentrudoserumaprticaportuguesa,easmascaradasuma prtica de divertimento presente no carnaval de Paris e de Veneza isso segundo a pesquisa de nosso A. L. , indicava que o primeiro devia ser substitudo pela segunda.28 Oolhardeumestrangeiro,vindodeumpascivilizado,sobreojogodgua praticado no carnaval paulistano coincide com o sentimento de inadequao do mesmo, com a forma civilizada de compreender e sentir tal divertimento demonstrada pelo annimo autor da matria do Correio Paulistano. O ingls John Mawe, que esteve em So Paulo entre o final de 1807eoinciode1808,imbudodeseusvaloresmoraisesensibilidades,assimdescreveo carnaval em que ele esteve em So Paulo provavelmente em 1808: Costumesingularnodevoomitir,odeatirarfrutasartificiais,taiscomo limeselaranjas,feitasdecera,comgrandehabilidadeecheiasdegua perfumada.Nosprimeirosdiasdaquaresma,comemoradoscomgrandes festividades, pessoas de ambosos sexosdivertem-se jogando, uma sobre as outras,essasbolas;assenhoras,emgeral,comeamobrinquedo,os cavalheirosrevidamcomtantaanimao,queraramenteparamantesde trocarem dzias, e ambas as partes ficam to molhadas como se tivessem sido pescadas de um rio. Nestes dias de carnaval, os habitantes percorrem as ruas mascarados, e a brincadeira de atirar frutas praticada por pessoas de todas as idades. Considera-se degrande impropriedade um cavalheiro atira-lassobre outro. (...) O costume (posso garantir) muito desagradvel aos estrangeiros, e no raro provoca brigas, de consequncias graves.24 Adescriodovisitanteingls,comerciantequeveiotentarfazerfortunano Brasil,evidenciaogostodospaulistanosportalbrinquedo.Aanimaodaspessoas,a participao de todos, homens e mulheres de todas as idades evidencia que o jogo dgua no era tido como inadequado ou imprprio pelos paulistanos na primeira dcada do sculo XIX. J para ele, estrangeiro, vindo de uma outra sociedade, e no de qualquer outra, mas da inglesa, smbolo de refinamento e de educao cavalheiresca, o jogo era desagradvel, pois no estava deacordocomsuamoral,comsuasensibilidade.Sesuanacionalidadefosseoutra,russa, japonesa, argentina, talvez seu olhar fosse diferente, no sabemos.Assim,dcadasantesdobrasileiroA.L.terdemonstrado,nojornal,seu descontentamento com o jogo dgua e sua inadequao a um pas civilizado, um estrangeiro j havia feito a mesma constatao. No entanto, da constatao de John Mawe at a matria no jornal se passaram quarenta e oito anos, durante os quais o jogo dgua esteve l, no carnaval paulistano. Isso porque nesse perodo no havia ainda o mesmo desejo de civilidade que havia emmeados do sculo. A cidade ainda no vivia a mudana de seusvaloresmorais com base nos pases europeus civilizados. 24 MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. Prefcio de Mrio Guimares Ferri. Introduo e notas de Clado Ribeiro Lessa. Traduo de Selena Benevides Viana. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; So Paulo: Ed. Universidade de So Paulo, 1978, p. 73. 29 Aindaaliadoaforasconservadoraseaogovernodaprovncia,em1863o Correio Paulistano publicou matria assinada por Um velho, em que alguns dos divertimentos existentesnacidadeforamfocalizados.Oautorrealizaumaanlisedamoralidadedesses divertimentos e da adequao dos mesmos: Divertimentos pblicos A nossa capital acha-se atualmente invadida por uma multido dedivertimentos:AlcazarLyrico,Companhiaequestreegymnastica, Caador Paulistano e Teatro. Tantodivertimentodlugaraque,cadaapetiteencontre quituteprprioaoseupaladar,masemresultadonenhumdosempresrios, realiza o que necessita para manter-se, isto , enchentes, seno repetidas, ao menos intermedirias. Os que apreciam a arte vo ao teatro, so estes os que atestam melhorgosto,maisrgidoeseveropensar,queaprimoramoscostumese dispensam menos dinheiro. Oteatro,quasereuniofamiliar,exigemaneirasurbanase cavalheirescasosseusfrequentadores,nogeral,possuem-naseporisso essa bendita instituio floresce sempre, animada pela melhor sociedade dos lugares onde ela se estabelece. O teatro deve sempre ser o divertimento predileto do povo. O teatro ilustra, moraliza e instrui; recebe a educao nas obras concebidas pelas inteligncias privilegiadas e transmite-as cheias de vida aos seus espectadores. D nome ao escritor, celebriza o artista, educa e regenera o povo. Eu te sado, oh arte sublime! Tu s a nica distrao, que outorgas aos que te confiam o seu tempo, os frutos benditos do aproveitamento intelectual! Vejamosagoraoquesoascompanhiasequestres:alutada agilidadeedafora,osequilbriosarriscados,ossaltosimpossveisa desgraa a cada instante em frente do espectador, que sente confranger-se lhe ocorao.Consomem-sealgumashorasnaquasesempredolorosa expectativa: interrogam-se asconscinciasem busca da moralidade colhida: tempo perdido, dinheiro inutilizado, e a sensibilidade afetada. Vejamosainda oAlcazar: a msica, partemaisnotvel deste divertimento,deleitaosouvidosmasnoseduzossentidos:aspeasa exibidassoligeirascanes;agradamnomomentosemdeixaremuma recordao. A prestidigitao, sempre velha, sem um elemento de interesse, serve,quandomuito,paradartratossimaginaesmaisfracas,quese extasiam ante o portento das maquinas. O Caador Paulistano,o que ser? Uma rede de imoralidade, onde ostentam a desregrada leviandade os j pervertidos, e onde vo perverter-se os que ainda conservam qualquer dose de pundonor: mercado ostensivo da devassido:vergonhadosqueosassistemeorigemdemalesquetodos conhecem! Eiscomasverdadeirascores,oquadrodosdivertimentos pblicos em S. Paulo!Quedigamoshomenssensatosqualdeveseropreferido,e felizmente , seno o teatro? Entretanto, como j o dissemos h divergncia de paladares e o povodissemina-sesempre,pelosdiferentesdivertimentosquesematam mutuamente. 30 Qual subsistir a invaso? Qual abandonar o campo em primeiro lugar? No o avanamos. Mas cremos que o teatro ser o No que escapar do inevitvel cataclismo que se prepara.Um velho.25

Tanto a bibliografia que tem So Paulo como tema (AZEVEDO, 2000; ARAJO, 1981; BRUNO, 1954; TOLEDO, 2003), quanto os relatos de viajantes que estiveram na cidade nostrsprimeirosquarteisdosculoXIX(RUGENDAS,1972;SAINT-HILAIRE,1976; MAWE, 1978), afirmam justamente o contrrio do que diz a matria acima, sobre a abundncia dedivertimentosnacidade.Deacordocomessasfontesecomessabibliografia,os divertimentos eram raros em So Paulo no sculo XIX. Mas uma ressalva deve aqui ser feita. Os relatos de viajantes dizem respeito primeira metade do sculo XIX, e na bibliografia no h nenhum trabalho sobre os divertimentos da cidade, especificamente, nesse perodo. O que h so trabalhos sobre o cotidiano da cidade, que incluem os divertimentos, e esses trabalhos esto concentrados no quartel final do sculo XIX e na transio desse sculo.Assim, a afirmao com a qual a matria do Correio Paulistano iniciada, de que A nossa capital acha-se atualmente invadida por uma multido de divertimentos, um indcio deque taistrabalhosefontesprecisamserconsideradoscomvagarquandooassuntoso os divertimentosdaSoPaulodosculoXIX.umindciotambmdequenoapenasos divertimentos,mastodaadinmicadacidadenesseperodoprecisamsermelhor compreendidos. Amatriamaisumaprescriodosdivertimentos,quedemonstraumacerta moralidade, que indica o que bom e feito pelos que so bons, pela melhor sociedade, pelos quetemmelhorgostoemaisrgidoeseveropensar,eindicaoqueimoral,origemde males, que traz como consequncia a sensibilidade afetada, e que se destina a imaginaes maisfracaseaospervertidos.Depoisdeassociardivertimentosbonsapessoasboas,e divertimentosruinsapessoastambmruins,oautorinterrogaseusleitores:Quedigamos homens sensatos qual deve ser o preferido, e felizmente , seno o teatro? O autor sabe, no entanto,queosgostos,aspreferenciassovariadas,queospaulistanosescolhemos divertimentos que melhor lhes convm, que lhes agrada, e ento ele diz:Entretanto, como j odissemoshdivergnciadepaladareseopovodissemina-sesempre,pelosdiferentes divertimentosquesematammutuamente.Masaindaassim,elecrqueoteatroo divertimento que prevalecer, pois ele o melhor. O teatro ilustra, moraliza e instrui; recebe 25 Correio Paulistano, 29 de julho de 1863, p. 3, grifos meus. 31 a educao nas obras concebidas pelas inteligncias privilegiadas e transmite-as cheias de vida aos seus espectadores. Concluso Os usos da palavra divertimento e a utilidade dos divertimentos EramchamadosdedivertimentosemSoPaulooteatro,ocircoeosbailes, principalmente.Apalavradivertimentoerausada paradizerdessasprticas,paranome-las. Quando essa palavra era evocada, a qualquer dessas prticas podia se estar referindo. Prticas que podiamser consideradasboas e adequadas ou inadequadas e desagradveis, dependia do olharedoprojetodemundodequemasavaliava.Divertimentosqueeramteisaalguns projetos de cidade e de pas eram, por isso, indesejveis a outros.Osdivertimentosforamdisputadosporessesprojetosdemundonacidadede SoPaulo,foramentendidoscomodimensoimportantedaconstituiodaordemeda dinmicadacidadeportodoseles,demodosdiferentes.Sesequeriaumacidadeeumpas republicanos,algunsdivertimentoseramadequadosenquanto outroseraminadequados;seo projeto era a manuteno da monarquia, o mesmo se aplica; se o projeto era o deuma cidade civilizada,tambmhaviadivertimentosqueeramapropriadosedivertimentosqueeram inapropriados.Tudodependiadeondesequeriachegaredoolharquesetinhasobreos divertimentos. So Paulo passava por uma mudana de sensibilidade frente aos divertimentos, mudanadevidabuscapelacivilizao.Essamaravilhaeuropeiaorientavaosgostos,e determinava quais divertimentos deviam ser abolidos do cotidiano paulistano e quais deviam dele fazer parte. E nessa disputa entre o inadequado e o civilizado, o teatro era a unanimidade. Eleeraodivertimentosupremo,omelhor,omaistil,omaiscivilizado,oqueinstruaa populao. No havia quem contra ele se colocasse. Pelo contrrio, a ele, s elogios. 32 FONTES A Phenix, 12 de setembro de 1840. A Phenix, 20 de maio de 1840. Correio Paulistano, 22 de janeiro de 1856. Correio Paulistano, 12 de maio de 1864. Correio Paulistano, 10 de setembro de 1862. Correio Paulistano, 28 de setembro de 1862. Correio Paulistano, 26 de setembro de 1862. Correio Paulistano, 24 de julho de 1855. Correio Paulistano, 27 de julho de 1855. Correio Paulistano, 21 de agosto de 1855. Correio Paulistano, 13 de julho de 1855. Correio Paulistano, 4 de julho de 1854. 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