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    Porto Alegre, 26 a 30 de julho de 2009,

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     TEORIAS ORGANIZACIONAIS E A NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL:

    UMA DISCUSSÃO ACERCA DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DASORGANIZAÇÕES 

    [email protected] 

     Apresentação Oral-Economia e Gestão no Agronegócio RAQUEL BREITENBACH; JANAÍNA BALK BRANDÃO; RENATO SANTOS DE

    SOUZA.UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA, SANTA MARIA - RS - BRASIL. 

    Teorias Organizacionais e a Nova Economia Institucional: uma discussão

    acerca dos elementos constitutivos das organizaçõesGrupo de Pesquisa: Economia e Gestão no Agronegócio.

    ResumoAlém da complexidade em torno da definição de organizações, também se estabeleceu, aolongo da história, diferentes perspectivas e paradigmas em teorias organizacionais, os quaisse somam num processo de construção histórica. Este artigo buscou resgatar parte dessahistória, destacando algumas das principais transformações e, posteriormente, focar naperspectiva organizacional contemporânea denominada Nova Economia Institucional.Também foram identificadas as principais limitações da NEI e da Economia dos Custos de

    Transação e, a partir delas, buscou-se demais elementos constitutivos das organizações quecomplementassem a teoria em questão. Os principais elementos discutidos foram a cultura,o poder e o capital social. Estes se relacionam diretamente com o comportamento e asubjetividade humana, permitindo considerar as organizações como processos sociais e/ousocialmente construídas.Palavras-chave:  teorias organizacionais, pressupostos comportamentais, economia doscustos de transação.

    Organizational Theories and the New Institutional Economy: a discussionabout the constituents of the organizations 

    AbstractBesides the complexity around the definition of organizations, also established, throughouthistory, different perspectives and paradigms in organizational theories, which are added ina historic building process. This article sought to redeem part of that history, highlightingsome of the major transformations and, subsequently, focused on contemporaryorganizational perspective called New Institutional Economics. Also were identified themain limitations of the NIS and of the Economy of Transaction Costs, and from them, itwere searched other components of organizations that complement the theory in question.The main points discussed were the culture, the power and the social capital. Those arerelates directly to the behavior and human subjectivity, enabling organizations to considerthe social processes and / or socially constructed.

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    Keywords: organizational theories, behavioral assumptions, economy of transaction costs.

    1- IntroduçãoO termo organizações apresenta-se como de difícil definição, recebendo, ao longoda história, olhares e preocupações diferenciadas. Além disso, destaca-se a existência devariados tipos de organizações, podendo ser sem fins lucrativos, públicas, privadas,filantrópicas, ONG’s (organizações não-governamentais). Os tipos de organizaçõesdiferenciam-se um dos outros, bem como se diferenciam as organizações pertencentes auma mesma categoria, visto que cada uma delas possui características específicas.

    Clegg e Hardy (1999) chamam a atenção para a complexidade que envolve adefinição de organizações. São consideradas, por estes autores, objetos empíricos e que, aoserem observadas, permitem que cada observador possa ver nelas algo diferente, ou seja, sereconhece o individuo com suas subjetividades e não como um observador neutro. Nesse

    caso, as organizações são vistas como processos sociais e como construídas socialmente,suas características estão enraizadas na maneira de ser e de se organizar dos indivíduos queas compõe.

    Dentre as transformações históricas ocorridas nos estudos organizacionais,destacam-se as mudanças nas delimitações das organizações. Estas ocorrem à medida queas entidades se fundem, se descaracterizam, ocorrendo a formação de cadeias, redes,conglomerados e alianças estratégicas, na busca de colaboração entre organizações pararesolver problemas empresariais. Essas mudanças abrem espaço para a necessidade de umamudança de foco (nível) das análises organizacionais (ex: agronegócio, cadeias produtivas,cadeias de suprimentos). 

    No que se refere à teoria das organizações, constata-se que tem evoluídoconsideravelmente desde os primeiros estudiosos de análise organizacional. De um modogeral, a mudança mais significativa envolve a passagem do uso de métodos da ciêncianormal (preocupada unicamente com a estrutura das organizações e utilizando métodoscomparados aos utilizados para estudar a natureza) para análises que consideram tambémas variáveis humanas, traços de personalidade e comportamento, bem como consideramquestões culturais e de poder dentro das organizações.

    Porém, esse período de transformação das teorias envolveu diferentes perspectivas1 e diversos paradigmas2. Também ocasionou uma aproximação de diferentes áreas para oestudo organizacional, tais como a economia, administração, psicologia e demais ciênciassociais.

    Dessa forma, percebe-se que as dicotomias entre diferentes áreas de estudo ediferentes teorias vem sendo eliminadas aos poucos, principalmente ao observarmos aassociação destas na busca de entender as organizações e o porquê de serem de uma ou deoutra forma. Porém, esse processo de integração teórica aponta a necessidade de avanços,seja a partir de construções teóricas e/ou aplicações em estudos empíricos. 

    A Nova Economia Institucional apresenta-se como uma perspectiva teóricacontemporânea em análise organizacional e tenta construir, internamente à teoria, umaponte entre as perspectivas econômicas e sociológicas. Afirma-se isso visto que ela

    1 Perspectivas são aqui entendidas como a forma de enxergar as coisas.2 Paradigma estabelece limites, tem um modo próprio de teorizar e é dependente de um grupo de perspectivascomuns.

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    considera, a partir de sua principal teoria (a Economia dos Custos de Transação - ECT), oambiente institucional  como importante fator de contingência das organizações. Esse

    ambiente institucional seria composto por regras informais como sanções, tabus, costumes,tradições e códigos de conduta, e pelas regras formais, tendo como principais asconstituições, as leis e os direitos de propriedade. 

    Todavia, os estudos empíricos que visam a aplicação dessa teoria, especialmenteligados ao agronegócio, cadeias produtivas, cadeias de suprimento3, apresentam algumaslimitações nas análises organizacionais, principalmente por não considerar fatoresimportantes relacionados ao comportamento humano. Apesar de constarem no arcabouçoteórico, estas análises acabam limitando-se a racionalidade limitada e ao oportunismo(pressupostos comportamentais da ECT) e não exploram outros elementos constitutivos econdicionantes das organizações, como é o caso dos aspectos culturais e das questões depoder.

    O que este artigo se propõe é buscar estabelecer uma relação entre a Economia dosCustos de Transação e demais condicionantes organizacionais relacionados aocomportamento humano, especificamente as questões culturais, de poder e capital social,indo além do oportunismo e da racionalidade limitada tratados pela ECT. Estes sãoconsiderados como importantes fatores que interferem nas formas organizacionais, naescolha de uma ou de outra organização ou governança.

    O artigo organiza-se da seguinte forma: inicialmente descreve-se algumas questõesconsideradas essenciais para o entendimento da evolução das teorias organizacionais,tendo como base os trabalhos de Marsden e Townley (2001), Hatch e Cunliffe (2006),Reed (1999) e Burrel e Morgan (2005); posteriormente, descreve-se os principais alicercesda Nova Economia Institucional e da Economia dos Custos de Transação, bem como seusobjetivos e objetos de estudo. Nesse caso, os estudiosos de base e que deram forma à teoriasão Coase (1937) e Williamson (1975, 1981 e 1985). Por fim, a partir das principaiscríticas à ECT, busca-se desenvolver uma discussão acerca de poder, cultura e capitalsocial, considerando esses fatores (além dos já trabalhados pela ECT), como elementosconstitutivos e condicionantes das organizações. Nesse caso, estes condicionantes sãoapontados como fatores importantes a serem considerados pelos estudos empíricos queutilizam como base de análise a ECT.

    2 - Teorias Organizacionais (TO)A evolução a seguir apresentada, busca demonstrar que as perspectivas atuais de

    análises organizacionais são fruto de um processo de construção histórico e, por mais quebusquem novas formas de estudos empíricos, não se desprendem totalmente decaracterísticas de outras teorias (como características da ciência normal, por exemplo).Muitas vezes têm nomes e caras novas, mas a essência permanece a mesma, reproduzindoantigos modelos que não levam em conta, ou não de forma satisfatória, a subjetividadehumana, presente e condicionante das organizações.

    A diferença básica entre a teoria do senso comum e a teoria dos estudiososorganizacionais é que a este se adiciona a tarefa de especificar as suas práticas, corrigir osseus erros e partilhar as suas teorias com os outros, contribuindo assim para os esforços deconstrução de conhecimento sistemático. Hatch e Cunliffe (2006) entendem a teoria como

    3 Pode-se perceber essas limitações em Breitenbach (2008).

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    uma explicação enraizada na especificação dos relacionamentos entre um conjunto deconceitos. A partir disso, os autores fazem o alerta de que a teoria deve ser usada como

    uma ferramenta para ajudar a razão através de situações complexas, mas não como umagarantia de sucesso.A Teoria das Organizações (TO) contribui para a análise de situações complexas

    nas organizações, descobre ou inventa meios eficazes e criativos para lidar com elas, alémde abrir a mente para aspectos da vida, dentro e fora das organizações. Quando Hatch eCunliffe (2006a) se referem à teoria das organizações, destacam que esta sempre iráabraçar múltiplas perspectivas, porque dá inspiração a uma ampla variedade de outrasáreas de estudo, e porque organizações sempre permanecerão complexas e flexíveis,dificultando que sejam resumidas por uma única teoria. 

    Uma expressiva parte da riqueza dos estudos organizacionais é apresentada nostrabalhos de Clegg e Hardy (1999), Marsden e Townley (2001), Hatch e Cunliffe (2006),

    Reed (1999), Burrel e Morgan (2005), considerados, aqui, como importantes referenciaisteóricos. Clegg e Hardy (1999) relatam o predomínio das abordagens da ciência normal porum grande período nos estudos organizacionais. Marsden e Townley (2001) desenvolvemum debate acerca de diferentes abordagens das teorias das organizações. Destacam quemuitas das discussões existentes nesse meio foram baseadas na questão da possibilidade ounão das organizações serem estudadas da mesma forma que a natureza. Já para Hatch eCunliffe (2006), a teoria organizacional tem sua evolução em quatro grandes perspectivas:clássica, moderna, simbólica interpretativa e pós-moderna. Reed (1999) concentra suasdiscussões em temas como racionalidade, integração, mercado, poder, conhecimento e

     justiça. Por fim, Burrel e Morgan (2005) entendem a análise organizacional por meio dequatro paradigmas: funcionalista, interpretativo, humanismo radical e estruturalismoradical.

    Na evolução histórica da Teoria Organizacional, as abordagens da ciência normalpredominaram por um longo período. Clegg e Hardy (1999) usam o termo protecionismoe/ou isolacionismo para denominar as estratégias utilizadas pela maioria dos adeptos dasabordagens da “ciência normal”, na busca da “defesa das fronteiras” dos seusconhecimentos. Nesse caso, os autores fazem analogia com os termos utilizados naeconomia, como é o caso do protecionismo em oposição ao livre comércio. Oprotecionismo ocorre a partir do momento que autores consagrados da área acabam criandobarreiras a entrada de novas idéias e/ou novos conhecimentos na “sua” comunidadecientífica. Assim, nega-se a realidade e a legitimidade das aspirações dos demais

    pesquisadores que são por eles considerados entrusos.Para Marsden e Townley (2001) a ciência organizacional normal desenvolveu-sena crença de que as organizações são coisas duras, empíricas e capazes de serem estudadasusando-se técnicas científicas. Justificaria-se isso por uma história teológica e,conjuntamente a ela, a noção de que as coisas simplesmente não poderiam ser diferentes.Daí decorre a idéia de racionalização e a crença que a burocracia formal é um dos meiosmais eficazes de atingir os objetivos organizacionais. Por esse motivo, os métodos depesquisa semelhantes aos utilizados nas ciências naturais foram por muito tempoempregados na teoria organizacional. O modelo da ciência natural era considerado comoexemplo de boa pesquisa.

    Acerca do conceito positivista de ciência, institucionalizado pela Escola de Aston,

    os autores destacam que acaba por cortar a conexão entre teoria e prática organizacional.

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    Os motivos apontados por Marsden e Townley (2001) para que isso ocorra são: a ênfasenos testes; leis gerais são deduzidas da manipulação estatística; os cientistas

    organizacionais estão tão envolvidos na ciência de testes e hipóteses que, muitas vezes,perdem de vista a utilidade prática da teorização.Já a ciência organizacional contra-normal, desenvolvida durante a década de 70,

    reduziu as forças da concepção positivista prevalecente na prática da ciência. A tentativaera restabelecer o que a racionalização tentou remover de forma prática e o que a ciêncianormal tenta obscurecer de forma teórica, que são as características humanas daorganização que escapam aos cálculos; ou seja, a afetividade humana. A abordagem daciência organizacional contra-normal está baseada na convicção de que as organizaçõessão distintas dos fenômenos naturais, são socialmente construídas e devem ser explicadaspelo conhecimento das intenções que fazem as pessoas agirem. Para isso, é necessário umconjunto de técnicas completamente diferentes das utilizadas pelos pesquisadores

    organizacionais positivistas.Marsden e Townley (2001), ao se referirem ao pós-modernismo, destacam que ele

    questionou a validade da ciência moderna e a noção de conhecimento objetivo ou verdade.Surgiu do reconhecimento da impossibilidade de uma observação teoricamente neutra, epassou a enfatizar as diferenças, ambivalências, contradições internas e dependênciamútua.

    A contribuição de Hatch e Cunliffe (2006) reside nas suas reflexões acerca doconhecimento geral e do conhecimento em teorias organizacionais. Para os autores, oconhecimento se baseia em diferentes paradigmas, cada um com seus própriospressupostos sobre a palavra. Paradigmas incentivam os pesquisadores a estudarem osfenômenos em diferentes viézes. É com base nessa idéia, que os autores descrevem as trêsperspectivas (moderno, simbólico-interpretativo e pós-moderno), baseadas em diferentespressupostos sobre o mundo organizacional.

    Para os autores, a perspectiva modernista considera como conhecimento o que vocêpode saber através de seus cinco sentidos; a perspectiva simbólica-interpretativa se dispõea alargar a definição da realidade empírica para incluir formas de experiências que estãofora do alcance dos cinco sentidos, tal como acontece com as emoções e intuição. Já ospós-modernistas parecem variar entre posições filosóficas. Muitas vezes recusam-se atomar uma posição porque acreditam que ao fazê-lo privilegiam algumas formas deconhecimento em detrimento de outras. Cada conjunto de pressupostos ontológicos eepistemológicos exercerá uma influência diferente sobre a maneira de conceber e gerir a

    organização. Os autores destacam que seria um erro pensar que novas perspectivas têmsubstituído as mais antigas. Nesse caso, as perspectivas acumulam-se na teoria daorganização ao longo do tempo e influenciam-se mutuamente.

    Hatch e Cunliffe (2006) definem duas fontes principais de pensamento que deramforma à pré-história da teoria da organização, uma sociológica e outra administrativa. Afonte sociológica é representada por Emile Durkheim, Weber e Karl Marx, focada nasformas, nos papéis e mudanças das organizações formais dentro da sociedade e nasinfluências da industrialização na natureza do trabalho e dos seus trabalhadores. A teoriada gerência clássica tomou forma com Frederick Taylor, Mary Parker Follett, Henri Fayol,Luther Gulick, Chester Barnard, e por outros executivos/conselheiros em administração,centrados sobre problemas práticos enfrentados por gerentes de organizações do setor

    público e privado.

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    Adam Smith foi o primeiro a articular uma teoria para explicar a produção eficienteem práticas sistematicamente organizadas do trabalho. Muitos teóricos da organização dão

    ao político-economista escocês Adam Smith o lugar de honra em suas históriasintelectuais. Já a teoria de Karl Marx dizia que o trabalho vem ser definido como umproduto a ser comprado e vendido em um mercado de troca. Este conceito do trabalho dáaos seres humanos um relacionamento puramente instrumental uns com os outros, baseadono valor econômico de seu potencial de fazer o trabalho. Durkheim defendia a idéia que adistinção entre a organização formal e informal expõe uma tensão entre o humanismo e osaspetos econômicos da organização, sendo que estes desafiam gerentes. Durkheim ajudoufundações metodológicas positivistas.

    Weber propôs que a burocracia poderia racionalizar a ordem social numa maneirasimilar à influência de racionalização da tecnologia na ordem econômica. Tais sentimentosposicionam Weber perto daqueles que criticam a teoria da organização modernista e

    tentam livrar a humanidade das práticas freqüentemente restritivas da gerência.  Taylor éconsiderado o fundador da ciência da gerência administrativa. Integrou elementos nossistemas de gestão com a filosofia de que, ao aplicar métodos científicos para trabalhar,maximizaria os benefícios da fábrica à sociedade e conseguiria altos níveis de cooperaçãoentre a gerência e o trabalho. Lenin, Stalin, e Henry Ford executaram as idéias de Taylor,cada um de sua própria maneira.  A gerência científica foi considerada por muitostrabalhadores e proprietários empresariais como perigosa e subversiva, gerando resistência.Aqueles que resistem a gerência científica, consideram que o trabalho estrito aliena amaioria dos trabalhadores, que perdem o controle sobre suas práticas.

    Seguindo com o resgate histórico dos principais teóricos organizacionais, realizadopor Hatch e Cunliffe (2006), temos Mary Parker Follet. Follet desenvolveu a idéia de queos mesmos princípios que contribuem para a fortificação de comunidades sociais poderiamser aplicados para a criação de organizações bem sucedidas. Já Fayol, após a suaaposentadoria, estabeleceu um centro para o estudo de administração, em um esforço paracodificar e transmitir a sabedoria que ele tinha ganho. Os princípios que ele própriodesenvolveu envolvem questões tais como: o número máximo de subordinados que podemser supervisionados por um gestor; exceções à rotina (subordinados devem lidar comquestões rotineiras, deixando livres gestores para lidar com exceções às regras eprocedimentos operacionais padrão); departamentalização (departamentos formados aoredor do agrupamento de atividades similares); unidade de comando (cada relatório deveestar subordinado a apenas um patrão), e hierarquia. Argumentou que sentimento de

    unidade e harmonia contribui para o bom funcionamento de uma organização. Fayoltambém especificou as responsabilidades do gerente como: planejamento, organização,comando, coordenação e controle. 

    Luther Gulick considerava os técnicos especializados como cruciais para o bomfuncionamento do governo, e a eficiência como algo positivo para os homens, além detornar a vida mais rica e mais segura. Gulick concebeu a definição do trabalho do Chefe doExecutivo: Planejamento, Organização, Efetivos, Diretor , Coordenador, Relato,Orçamentação. Por fim, Chester Barnard enfatizou as formas como os executivos podemdesenvolver as suas organizações cooperativas em sistemas sociais, incidindo sobre aintegração do trabalho através de esforços de comunicação e metas, a atenção paratrabalhar a motivação.

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    As contribuições de Reed (1999) podem ser consideradas importantes no contextodesse trabalho. Apesar de destacar algumas teorias e evoluções teóricas acerca das

    organizações, o autor chama a atenção para a importância da rejeição a extremismosteóricos, especialmente quando debate temas opostos como: atuação e estrutura;construtivista e positivista; local e global; individualista e coletivista. O autor faz aindaimportante contribuição ao apontar temas que deveriam constar nas agendas das análisesorganizacionais: a questão de gênero (reconhecimento que os processos organizacionaissão permeados por relações e práticas de poder baseadas no gênero); de raça e etnicidade(conjunto de práticas e identidades, resultantes de interações entre geografia, história epoder – não simplesmente terminologias biológicas); da tecnociência (interação entrecultura e tecnologia, entre natural e artificial, ex: cibercultura citada no trabalho deEscobar, 1994); e desenvolvimento global e subdesenvolvimento (práticas culturais eformas políticas condicionadas pelo relacionamento de exploração e dependência entre

    países).Burrel e Morgan (2005) também contribuem para a delimitação de teorias

    organizacionais. Apresentam o que consideram ser os quatro paradigmas na teoria social:o Paradigma Funcionalista, o Interpretativo, o Humanista Radical e o ParadigmaEstruturalista Radical.

    Partindo desse resgate dos paradigmas, destacam-se como perspectivas teóricascontemporâneas em análise organizacional a Dependência de Recursos, Ecologiapopulacional, Contingência Estrutural, Nova Economia Institucional e NovoInstitucionalismo.

    Essas perspectivas utilizam diferentes variáveis, conforme seus respectivospressupostos e tradições metodológicas. A Dependência de Recursos trabalha no nível dasinterações ambientais e dos controles interorganizacionais; a Ecologia das Populações focaa população de organizações e os nichos ecológicos; a Contingência Estrutural dedica-seaos fatores ambientais que condicionam a forma organizacional; a Nova EconomiaInstitucional salienta os custos de transação e as formas de governança; e o NovoInstitucionalismo trata de como as organizações surgem, tornam-se estáveis e como sãotransformadas (Sacomano Neto e Truzzi, 2002).

    Como o objetivo central desse trabalho é o foco na NEI, nas suas limitações e nassupostas formas de superá-las, a seguir serão descritas as características e os objetivos daNova Economia Institucional e da Economia dos Custos de Transação. Também serãoapresentadas algumas de suas limitações e as possibilidades de superá-las, supostamente a

    partir da consideração de outras variáveis contingenciais das organizações, como é o casoda cultura, do poder e do capital social.

    3 - A Nova Economia Institucional (NEI) e a Economia dos Custos de Transação(ECT)

    A Nova Economia Institucional teve as primeiras contribuições em The Nature ofthe Firm  de Coase (1937), e desenvolveu-se a partir de duas ciências complementares, asociologia econômica e a teoria econômica. A primeira aborda questões como contratos,leis, normas, costumes, convenções, etc (denominado de ambiente institucional), enquantoque a segunda trata dos mecanismos de governança  (Willianson, 1995). Essa abordagemvem sendo utilizada para explicar as organizações e as formas organizacionais.

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    A consideração e preocupação com o ambiente institucional são um diferencial daNEI e da ECT. O ambiente institucional é o conjunto dos direitos políticos, sociais e

     jurídicos, e das regras que estabelecem a base para a produção, troca e distribuição (Davise North, 1971, apud Willianson, 1995). As instituições são constituídas das regrasinformais (sanções, tabus, costumes, tradições e códigos de conduta) e das regras formais(constituições, a lei, o direito de propriedade) (North, 1991 apud Willianson, 1995). Sãocompostas por um conjunto de restrições sobre o comportamento, na forma de regras eregulamentos; um conjunto de questões para detectar desvios em relação às regras eregulamentos; e, finalmente, um conjunto de moral, ética comportamental e normas quedefinem os contornos e que condicionam a forma como as regras e regulamentos sãoespecificados e executados (North 1984 apud Willianson, 1995).

    A Teoria dos Custos de Transação, a principal teoria da NEI, foi desenvolvida porWilliamson (1975, 1981 e 1985) a partir do trabalho pioneiro de Coase (1937). Essa

    abordagem sugere que os formatos organizacionais ou estruturas de governança (firma,mercado ou redes, por exemplo) são resultado da busca de minimização dos custos detransação por parte dos agentes econômicos.

    A teoria dos custos de transação tem como pressupostos comportamentais básicos aracionalidade limitada e o oportunismo (busca do interesse próprio com malícia), ambospresentes nas ações dos agentes econômicos. São estes pressupostos a respeito dacompetência cognitiva dos agentes e das suas motivações que provocam o surgimento decustos de transações. É devido à limitação de racionalidade que os agentes econômicos sãoincapazes de prever de forma antecipada e estabelecer medidas corretivas para qualquerevento que possa ocorrer acerca da futura realização da transação. Portanto, as partesenvolvidas devem levar em conta as dificuldades derivadas da compatibilização das suascondutas futuras e de garantir que os compromissos sejam honrados dentro da continuidadeda sua interação.

    Quando há presença de assimetria de informações - caracterizada por um agentedeter um conhecimento a respeito de informações não disponíveis para os outrosparticipantes da transação - surge a possibilidade de que não existam incentivos suficientespara que a parte detentora da informação privilegiada se comporte de modo eficiente.

    O oportunismo pré-contratual é outro problema associado à presença de assimetriade informações. Surge como conseqüência do fato de alguns agentes econômicos detereminformação privada antes de se decidirem pela realização de um contrato com um outroagente, sendo que tal informação é do interesse desse agente. Neste contexto, a presença de

    oportunismo e de racionalidade limitada pode gerar custos de transação. A ausência dooportunismo determinaria que as condutas dos agentes fossem consideradas confiáveis apartir da simples promessa de que a distribuição de ganhos prevista nos contratos seriamantida no futuro diante do eventual surgimento de eventos inesperados.

    Já a existência da racionalidade limitada provoca, conseqüentemente, aincapacidade de coletar e processar todas as informações necessárias à elaboração decontratos completos. Se os agentes tivessem a capacidade de prever os eventos futuros, oscontratos seriam desenvolvidos sempre perfeitamente. Isso demonstra que essas duasimplicações (oportunismo e racionalidade limitada) são condições necessárias para osurgimento de custos de transação.

    Nas transações, se um dos agentes possui um conhecimento a respeito de

    informações que não estão disponíveis para os outros agentes participantes da transação,

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    pode não existir incentivos suficientes para que a parte detentora da informaçãoprivilegiada se comporte de modo eficiente. Essa ausência de incentivos dá origem ao

    chamado moral hazard (risco moral).O risco moral é observado nas situações em que um participante do mercado nãopode observar as ações do outro, de modo que esse último pode tentar maximizar suautilidade valendo-se de falhas ou omissões contratuais. Com a presença do risco moral,uma das partes da transação pode adotar atitudes que afetam a avaliação do valor donegócio por parte dos outros agentes envolvidos (Possas, Fagundes e Pondé, 1998).

    Três atributos básicos, relatados por Azevedo (2000), definem a transação: a)freqüência; b) incerteza; e c) especificidade dos ativos envolvidos, sendo este último oprincipal elemento, na visão de Williamson, responsável pela determinação do tipo decoordenação (mercado, firma, etc.) a ser realizada no ambiente econômico. Neste caso,quanto maior for a especificidades do ativo mais provável será a opção de internalização da

    transação dentro da firma, através da coordenação via hierarquia ou através de redes(formas híbridas via contratos de longo prazo), ao invés do emprego do mercado comomeio de coordenação.

    A teoria desenvolvida por Williamsom (1885) traz quatro fatores comodeterminantes do surgimento de ativos específicos: a) especificidade de naturezalocacional; b) especificidades derivadas da presença de ativos dedicados; c) especificidadesde natureza física; d) e especificidades do capital humano.

    A freqüência de ocorrência de um certo tipo de transação deve ser analisada, poispode determinar surgimento de instituições especificamente desenhadas para suacoordenação e a sua gestão. Quanto maior for a freqüência de realização da transação,maiores serão os incentivos para o desenvolvimento de instituições estruturadas com ointuito de geri-las de modo eficaz.

    A incerteza é uma propriedade das transações que exerce influência sobre ascaracterísticas das organizações. Para Kupfer (1992), a incerteza, na economia neoclássica,é considerada como informação incompleta ou imperfeita, o que faz com que os agentes secomportem de forma racional. Na incerteza não existem bases válidas que permitamcalculá-la ou antecipá-la, pois não existem regras que façam o passado se repetir no futuro.Esta questão dificulta agir com racionalidade frente ao futuro, pois os agentes econômicosformam expectativas de longo prazo subordinados à vigência de um estado de confiançaque é subjetivo e volátil.

    Além disso, Buckley e Chapman (1997) complementam que os custos de transação

    são compostos de elementos difíceis de “colocar em figuras”, ou seja, geralmente descarta-se a possibilidade de quantificá-los, pois muitas vezes estão entrelaçados com custosnormais, enumerados como custos de produção.

    Quanto menor a especificidade dos ativos, menor a incerteza e menor a freqüênciadas transações, menores serão os custos associados à utilização do mercado como formaorganizacional que coordene as interações mercantis entre os agentes econômicos. Nestescasos, a transação se refere à simples transferência da propriedade de um bem ou serviçoem troca de uma determinada quantia de moeda, acompanhada de uma negociação préviado preço e das condições de pagamento.

    A questão, portanto, está na busca de formas de minimizar os custos de transação,através da procura de mecanismos contratuais - formais ou não - que desestimulem

    conflitos e, caso estes surjam, os resolvam rapidamente. Uma das alternativas é evitar a

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    dependência de fontes externas de fornecimento do insumo ou serviço em questão,realizando, por exemplo, movimentos de integração vertical (Loader, 1992).

    Em outras palavras, para diminuir os custos de transação, busca- se criar "estruturasde gestão" (governance structures) apropriadas, entendidas como estruturas contratuais -explícitas ou implícitas - dentro das quais a transação é realizada: relações de compra evenda simples (mercado), organizações internas às firmas ("hierarquias") e formas mistasconstituem exemplos de estruturas de gestão distintas.

    As estruturas de governança e as formas organizacionais, segundo a ECT, sãocondicionadas pelo ambiente institucional vigente, especificamente no que se refere àsregras formais e informais às quais estão sujeitos os agentes envolvidos em uma transação.Estas regras influenciam na formação das estruturas de governança na medida em queregulam e regem a interação entre os agentes, por meio de leis, regulamentações, regras deconduta, hábitos culturais, entre outros. Com isso, busca-se a redução de incerteza entre os

    agentes e, também, a limitação dos termos da negociação, tais como quantidade, preço eforma de entrega do produto. Além disso, a confiança estabelecida entre as partes bemcomo a assimetria de poder na relação, são importantes determinantes das estruturas degovernança (Zylbersztajn, 2005).

    3.1 - Críticas e limitações da Economia dos Custos de Transação para AnáliseOrganizacional

    A ECT é considerada como uma importante ferramenta para análise organizacionale para explicar as formas organizacionais ou, como destacado por Barney e Hesterly(2004), para responder a questão de “por que as organizações existem?”. A resposta paraessa questão estaria, segundo os autores, no trabalho de Coase (1937) “The Nature of theFirm”, e é exposta a seguir: “...a razão de as organizações existirem é que, às vezes, o custode gerenciar transações econômicas por meio de mercado é maior do que o custo degerenciar as transações econômicas dentro dos limites de uma organização” (Barney eHesterly, 2004, p. 132).

    Williamson (1989), o principal artífice da ECT, em um dos seus trabalhos (Asinstituições econômicas do capitalismo), compara essa teoria com outros enfoques deestudo organizacional e destaca que a ECT é mais microanalítica, está mais consciente deseus supostos de conduta, introduz e desenvolve a importância econômica dos ativosespecíficos, recorre mais a análises institucionais comparadas, considera a empresa comouma estrutura de governança antes que uma função de produção e atribui um peso maior

    para as instituições contratuais ex post , especialmente no ordenamento privado (emoposição ao ordenamento judicial).Porém, a ECT aplicada à análise organizacional possui algumas limitações, como

    as destacadas por Reed (1999), Hall (1990), Barney e Hesterly (2004) e por Garcia eBronzo (2008), e descritas a seguir.

    Para Reed (1999) a teoria dos custos de transação se preocupa com ajustesadaptativos que as organizações realizam para enfrentar as pressões de maximização daeficiência em suas transações (internas e externas). O autor critica essa abordagemafirmando que trata a organização como constituída de uma “ordem social e moral na qualos interesses e valores individuais e grupais são simplesmente derivados de uma estruturade ‘interesses e valores do sistema’, que não se contaminam por conflitos setoriais e lutas

    de poder” (p. 74). Hall (1984) complementa essa crítica ao dizer que a perspectiva dos

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    custos de transação não tem condições de dar respostas completas a todas as análisesorganizacionais.

    Já Barney e Hesterly (2004) desenvolvem de forma mais intensa as críticas a essaabordagem. Segundo os autores as críticas são muitas, porém três são mais importantes: ofoco na minimização de custos; atenua os custos de organização; negligencia o papel dasrelações sociais nas transações econômicas. Ao focar na minimização de custos como algoimprescindível para as organizações, a ECT acaba considerando as estratégias como algosecundário. Ao subestimar os custos de organizar as transações dentro da firma,desconsidera, muitas vezes, longas e custosas negociações que tendem a ser mais difíceisdentro da firma do que entre as firmas. Por fim, ao subestimar o papel das forças sociais eculturais na atividade econômica, não as considera como fortes elementos condicionantes econtingenciais das organizações.

    Garcia e Bronzo (2008), após descrever os principais objetivos e métodos da ECT,

    também apontam algumas limitações desta teoria quando utilizada isoladamente paraanálise de organizações. Para esses autores, a decisão da firma em produzir ou mandarfazer - o dilema mercado/hierarquia - depende não só da preocupação com os custos detransação. A escolha por internalizar a produção, por exemplo, pode ser devida aestratégias que buscam o aproveitamento de competências distintivas. “Fica claro,portanto, que investigar o problema de coordenação das atividades econômicas tomandocomo unidade básica de análise os custos de transação significa limitar a compreensão dasfirmas à análise de suas transações, em uma perspectiva fundamentalmente de eficiênciaestática” (Garcia e Bronzo, 2008, p. 13).

    Diante dessas limitações, claramente apontadas pelos autores e aqui resgatadas, ficaevidente a necessidade de conversações teóricas entre a ECT e outras teorias econômicase/ou sociais, na busca de maior eficiência e eficácia nas análises organizacionais. Entende-se que a Teoria dos Custos de Transação, que tem sua origem na Nova EconomiaInstitucional, leva em consideração o ambiente institucional e as questões subjetivasrelacionadas ao comportamento humano. Porém, a sua utilização para estudos empíricostem limitado sua análise para fatores de incerteza comportamental, mais especificamente ooportunismo e racionalidade limitada dos agentes envolvidos na transação. Para uma maiorexploração das questões institucionais como condicionantes das organizações, buscou-seelementos do Novo Institucionalismo, bem como o desenvolvimento de fatoresconsiderados contigenciais das organizações, como é o caso do poder, do capital social edos fatores culturais.

    4 – Para além do oportunismo e da racionalidade limitada: poder, cultura e capitalsocial como elementos constitutivos da organização.

    Os pressupostos comportamentais da Economia dos Custos de Transação(racionalidade limitada e oportunismo) são, segundo Williamson (1995), os mais óbviosexemplos de como a ECT foi moldada pela teoria das organizações. Porém, essa teoriapode ser enriquecida se tiver uma maior interação com as teorias organizacionais. A seguir,são desenvolvidos elementos considerados importantes para a análise organizacional e quepodem ser utilizados em concomitância com a ECT, na busca de torná-la mais eficaz paraestudos empíricos, aumentando sua capacidade analítica.

    4.1 - O Novo Institucionalismo

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    O Novo Institucionalismo (NI) tenta esclarecer por que as organizações surgem,tornam-se estáveis ou são transformadas, além de discutir as formas como a ação e a

    cultura são estruturadas nas organizações. Ou seja, o NI parte do princípio de que asinstituições interferem no comportamento dos atores sociais. Embora o NovoInstitucionalismo tenha influenciado a ECT, esta não utilizou-se de muitos de seuspressupostos potencialmente contribuintes para análises organizacionais.

    Cabe ressaltar que o Novo Institucionalismo é composto por diferentes perspectivasanalíticas, sendo elas o institucionalismo histórico, o institucionalismo da escolha racionale o institucionalismo sociológico. Os institucionalistas históricos não consideram asinstituições como o único fator de influência, já que estas fazem parte de uma cadeia decausas e efeitos, porém levam em consideração outros fatores, como a difusão de idéias e odesenvolvimento sócio-econômico. Já os seguidores do institucionalismo da escolharacional, da qual faz parte a ECT, advertem para a importância dos direitos de propriedade

    e dos custos de transação para o desenvolvimento econômico, tendo como pressuposto queos indivíduos se comportam de modo objetivo na maximização de suas preferências. Nessecaso, as instituições servem para redução das incertezas, estabelecendo uma estruturaestável para a interação dos agentes que, consequentemente, reduz os custos de transação,influenciando o desempenho econômico. No que se refere aos institucionalistassociológicos, estes definem as instituições de maneira ampla, incluindo as regras,procedimentos e normas, os símbolos, esquemas cognitivos e modelos morais que guiam aação humana. Dessa forma estabelecem uma relação sistêmica entre indivíduos einstituições (Hall e Taylor, 1996 apud Sacomano Neto e Truzzi, 2002).

    O argumento utilizado por Meyer e Rowan (1991) é que as regras institucionaispodem ter efeitos nas estruturas organizacionais. Sua implementação efetiva em trabalhostécnicos pode ser muito diferente dos efeitos gerados pelas redes de relações sociais e docomportamento que compõem uma determinada organização.

    As estruturas organizacionais formais surgem em contextos altamenteinstitucionalizados. Produtos, serviços, técnicas, políticas e programas institucionalizados,funcionam como poderosos mitos e muitas organizações os adotam de forma“cerimoniosa”. Para tanto, as estruturas formais de muitas organizações na sociedade pós-industrial, refletem dramaticamente os mitos dos seus ambientes institucionais, em vez derefletir as demandas das suas atividades (Meyer e Rowan, 1991).

    Combinando as idéias acima com a teoria das organizações, fica evidente que associedades modernas estão compostas por burocracias racionalizadas. Isso ocorre pela

    complexidade das redes relacionais, as quais aumentam com a modernização, bem comopelo fato de que as sociedades modernas estão cheias de regras institucionais quefuncionam como mitos, representando várias estruturas formais racionais como meio paraa consecução dos fins desejáveis. Uma vez institucionalizada, a racionalidade torna-se ummito com alto potencial para “organizar” (Meyer e Rowan, 1991).

    Instituição representa um padrão de ordem social ou que tenha atingido umdeterminado estado ou propriedade; designa o processo de institucionalização dessarealização. Uma instituição é, portanto, um modelo social que revela um determinadoprocesso de reprodução. Já o padrão institucionalizado se dá quando os desvios padrões(socialmente construídos), por serem repetitivos, são regulamentados em uma moda e sãocontrolados por algum conjunto de sanções e recompensas. Ou seja, as instituições sociais

    são os padrões que, quando cronicamente reproduzidas, devem a sua sobrevivência

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    relativamente aos processos socialmente desenvolvidos (ativados). Todas as instituiçõessão programas ou quadros de identidades e de atividades que estabelecem regras para estes

    (Jepperson, 1991).Nesse sentido, as instituições utilizam-se de “ações programáticas” (Berger eLuckmann 1967 apud Jepperson, 1991) ou de respostas para situações comuns. As pessoaspodem não compreender bem uma instituição, mas normalmente têm acesso fácil a algumprocesso histórico que justifica a razão pela qual a prática existe.

    Há uma série de tipos distintos e de processos de mudança institucional, sendo queas instituições podem desenvolver contradições com o ambiente (como ilustrado nopensamento ecológico), com outras instituições (como imaginado por Marx), ou com ocomportamento social elementar. Essas contradições ou “choques exógenos ambientais”podem forçar a mudança institucional, bloqueando a ativação de processos reprodutivos outravando a conclusão bem sucedida destes, assim, pode modificar ou destruir a instituição.

    Os autores Meyer e Rowan (1991) acrescentam a isso a idéia de que asorganizações estão estruturadas por fenômenos em seus ambientes e tendem a tornarem-seisomórficas com eles. Assim, ao contrário do que advoga a ECT, que foca na busca deeficiência organizacional (minimização de custos), independente de sua eficiênciaprodutiva, as organizações que existem em ambientes institucionais altamente elaboradospodem ser bem sucedidas ao se tornarem isomórficas, visto que com estes ambientesganham legitimidade e os recursos necessários para sobreviver.

    Estes autores, assim como os demais pertencentes ao Novo InstitucionalismoOrganizacional, entendem que as organizações moldam suas estruturas não apenas emrazão da eficiência, mas também da legitimidade. As organizações, desta forma, aobuscarem conformidade com o ambiente institucional (isomorfismo), o fazem para obterlegitimidade e não eficiência. Assim, pode-se inferir que nem sempre a estrutura desuprimento ou comercialização adotada por uma organização (coordenação a montante e a

     jusante) deve-se à busca de eficiência (redução de custos de transação), pois pode simrepresentar uma estratégia de legitimação, ou pode combinar as duas (como ocorre no setorflorestal brasileiro).

    As mudanças estruturais nas organizações parecem cada vez menos impulsionadaspela concorrência ou pela necessidade de eficiência. Ao invés disso, supõe-se que aburocratização e outras formas de mudança organizacional ocorrem como resultado deprocessos que tornam as organizações mais similares, sem necessariamente torná-las maiseficientes (Dimaggio e Powell, 1991).

    Campos organizacionais altamente estruturados proporcionam um contexto no qualos esforços individuais, para lidar com a racionalidade e com a incerteza, muitas vezesconduzem à homogeneidade na estrutura, cultura e resultados. Com isso, Dimaggio ePowell (1991) afirmam que há uma homogeneidade de formas e práticas organizacionais.Nas fases iniciais do seu ciclo de vida, os campos organizacionais exibem uma diversidadeconsiderável na abordagem e na forma. Depois que um campo torna-se bem estabelecido,há um inexorável impulso à homogeneização.

    Depois que organizações díspares, na mesma linha de negócios, são estruturadasem um campo real (pela competição, o Estado, ou as profissões liberais), emergem forçaspoderosas que as levam a se tornarem mais semelhantes umas às outras. As organizaçõespodem mudar suas metas ou desenvolver novas práticas, além de novas organizações

    entrarem no campo. Mas, a longo prazo, atores organizacionais tomam decisões racionais

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    em torno de um ambiente que limita a sua capacidade de alterar novamente nos anosposteriores.

    4.2 - CulturaA cultura organizacional, além de envolver elementos complexos, recebeu e recebe

    um amplo número de definições. Consideram-se aqui como essenciais para análise dacultura organizacional os componentes culturais formais: missão, visão, políticas, regras enormas e os componentes informais, que são manifestações tangíveis ou intangíveis devalores compartilhados pelos membros da organização, como é o caso dos artefatos,símbolos, cerimônias, histórias e mitos (Seldin; Rainho e Caulliraux, 2003).

    Uma visão mais veemente da cultura nas organizações foi articulada peloantropólogo cultural americano Clifford Geertz, constatada no seu livro influente  Ainterpretação das Culturas, publicado em 1973. Geertz trouxe idéias acerca do contexto

    das organizações e fez descrições, dedicadas a teóricos das organizações, de como aplicarmétodos de interpretação etnográfica nas organizações. Por fim, criticou aos gestores einvestigadores com o argumento de que eles agiram como colonizadores dentro de suaspróprias organizações (Hatch e Cunliffe, 2006).

    Hatch e Cunliffe (2006) argumentam que em meio à euforia em torno da crise darepresentação, a cultura passou a ser um tema de interesse quase universal. Em teoria dasorganizações este debate abriu o caminho para estudar as culturas organizacionais, as teiasde significado socialmente construído pelos seus membros. Bryman (2004), ao descrever emapear a evolução dos estudos acerca de liderança nas organizações, chama atenção paratrabalhos que, na década de 1990, passaram a considerar os membros das organizações nãocomo meros receptáculos passivos, mas como consumidores imaginativos da visão e damanipulação dos artefatos culturais por parte dos líderes. A visão dos líderes comoconstrutores de culturas e como impactantes no pensamento e no comportamento dosmembros da organização foi repensada.

    Morgan (1996) destaca que a organização é, em si mesma, um fenômeno cultural evaria de acordo com o estágio de desenvolvimento da sociedade. Porém, a cultura muda deuma sociedade para outra, e isso ajuda a compreender determinadas variações nasorganizações. Nesse caso, a cultura se desenvolve durante o curso da interação social e nãose trata de algo imposto. Pode estar representada por diferentes formas, seja o significado,compreensão e sentidos compartilhados. Ou seja, é o processo de construção da realidadeque permite às pessoas ver e compreender eventos, ações, objetos, expressões e situações

    particulares de maneiras distintas. Para o autor, devemos tentar compreender a culturacomo um processo contínuo e proativo da construção da realidade. Nesse caso, a cultura setorna mais do que uma simples variável que as sociedades ou as organizações possuem,passa a ser compreendida como um fenômeno ativo, vivo, através do qual as pessoas criame recriam os mundos dentro dos quais vivem.

    Um fenômeno relacionado a isso é quando o aumento da produtividade não estárelacionado unicamente aos incentivos salariais, mas à satisfação das necessidades deinteração, de companheirismo, de participação e contribuição para a finalidade coletiva, ouseja, as necessidades de sociabilidade dos seres humanos. Barbosa, ao fazer uma relaçãoentre modernidade, globalização e cultura, afirma que os efeitos específicos das forçasmateriais da modernização e da globalização, dependerão da cultura analisada, ou seja, não

    é um processo demográfico, social, econômico e político unilateral que conduz todas as

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    nações a uma determinada direção. Nesse caso, esses processos afetarão as organizações deformas distintas. A suposição inicial seria que estes conduziriam a uma cultura global,

    porém, as tradições locais se mesclam à fluxos globais e estes se anulam mediantemetabolismos locais (Mayo apud Barbosa, 1999).Martin e Frost (2001) abordam as pesquisas sobre cultura organizacional como

    sendo uma luta pelo poder. Comparam a inserção do conceito de cultura nos estudosorganizacionais, a evolução desse conceito e suas disputas com o jogo “Rei da Montanha”.Os autores ainda conceituam cultura organizacional em termos de: integração (conjunto deelementos compartilhados pela totalidade da organização); diferenciação (conjunto deelementos compartilhados por grupos que configuram subculturas organizacionais); efragmentação (conjunto de elementos transitoriamente compartilhados por indivíduos).

    DiMaggio (2003), ao alertar para a ausência de questões acerca da cultura na teoriaeconômica, reconhece que ela influencia a economia a nível organizacional e também a

    nível de ação individual. Nesse sentido, destaca que muitos dos comportamentos dasempresas são irracionais por não responder aos incentivos dos mercados, mas aoscaprichos de executivos ou à moda organizacional. Além disso, os gostos das pessoas porbens e serviços particulares são moldados por qualidades extrínsecas aos bens. Essesgostos refletem relacionamentos entre pessoas e atributos simbólicos de objetos concretos,sem uma relação necessária com as características técnicas dos próprios objetos.

    A cultura organizacional interfere também na identidade da organização, que éresponsável por dar o eixo necessário à união dos membros dessa sociedade em torno deobjetivos, ações e comportamentos. Cada agrupamento social, inclusive aqueles presentesnas organizações, tendem a superestimar seus padrões de comportamento e desprezaroutros, o que pode ser um elemento dificultador ou facilitador dos processos de mudança,quando estes são vistos como ameaças ou como oportunidades respectivamente (Srour,1998 apud Farias 2008).

    Esta etapa do trabalho busca ressaltar que a consideração da cultura nas análisesorganizacionais (regras e normais informais, artefatos, símbolos, cerimônias), como umdos pressupostos comportamentis, pode promover uma melhor compreensão do que estápor trás do comportamento dos indivíduos. Nesse caso, considera-se que as organizaçõestambém são condicionadas por aspectos culturais. Com isso, atenta-se ao fato que aspessoas não agem apenas de forma racional, na busca de maximização de resultados e/oulucros, mas também por questões subjetivas e intrínsecas no seu íntimo, as quais os fazembuscar outras satisfações. Julgam o certo e o errado das suas ações com base num conjunto

    de valores e crenças, os quais são construídos historicamente e se diferenciam de umaorganização para outra, de um indivíduo a outro. Analisar organizações sem considerar acultura, ou as culturas envolvidas no processo, pode gerar conclusões parciais ou errôneas.

    4.3 - PoderO significado de poder pode ser: ter a faculdade de; ter a possibilidade de, dispor de

    força, autoridade moral ou física, ter influência, valimento (Ferreira, 1986). ParaBlackbrum (1997), o poder é entendido como um instrumento social, em que o poder deum indivíduo ou instituição se reflete na capacidade deste conseguir algo, o que pode serpor direito, por controle ou por influência. O poder também se refere à capacidade de semobilizar forças econômicas, sociais ou políticas para obter um determinado resultado,

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    pode ser mensurado pela probabilidade desse resultado ser obtido em face de diversos tiposde obstáculos ou oposição enfrentada.

    Foucault (2003) alerta que não é essencial à definição de poder que o resultado sejaconscientemente procurado pelo agente. Desse modo, o poder pode ser exercido naignorância de sua existência ou efeitos, embora seja constantemente exercido de formadeliberada. Neste sentido, conclui que as relações sociais são sistemas de poder.

    Ao abordar as organizações como sistemas políticos, Morgan (1996) atenta para aimportância de reconhecê-las como tal. Dessa forma facilitaria a criação de ordem edireção entre as pessoas, as quais têm interesses potencialmente diversos e conflitantes,facilitaria o aprendizado acerca dos problemas e da legitimidade da administração comoum processo de governo, bem como o aprendizado sobre a relação entre organização esociedade. A partir do contexto de diversidade de interesses é possível buscar oentendimento de como essa diversidade origina manobras e negociações diversas, além de

    condicionar a vida organizacional.A política de uma organização se manifesta nos conflitos e jogos de poder e nas

    intrigas interpessoais, as quais modificam as atividades organizacionais. Geralmente essapolítica só é visível àqueles que estão diretamente envolvidos nos processos. Na busca desistematizar a política das organizações, Morgan (1996) destaca as relações entre conflito,interesse e poder e, com isso, demonstra que ninguém é neutro na administração dasorganizações, as quais são formadas por redes de pessoas independentes.

    É nesse contexto que Reed (1999) insere a perspectiva do poder nas análisesorganizacionais, considerando a organização como palco de interesses e valoresconflitantes e marcada pela luta de poder. O poder, quando tratado no seu sentido amplo,também engloba o conhecimento como um de seus instrumentos. Ou seja, a produção,codificação e uso dos conhecimentos relevantes para a regulação do comportamento socialtornam-se uma estratégia de poder.

    Quando se começa a aceitar a asserção de que o poder está envolvido na criação deconhecimentos, se começa a compreender e a preocupar-se com os usos do poder, porexemplo, o poder do silêncio ou de eliminar um membro a partir do conhecimento de umacomunidade (Hatch e Cunliffe, 2006). Foucault (2003) acredita que as ciências humanasforjaram um elo entre poder e conhecimento. Por outro lado, o conhecimento oriundo dedisciplinas acadêmicas é usado para classificar, controlar e, em alguns casos, encarcerar osmembros menos poderosos da sociedade. Aqueles que exercem o poder permitem quealgumas coisas possam ser ditas, por escrito ou pensadas, mas não outras.

    Hardy e Clegg (2001), ao fazer um mapeamento de importantes estudos queabordam o tema poder, chamam a atenção para o poder que é exercido fora das estruturashierárquicas formais e dos canais que são ratificados por essas estruturas, chamado depoder ilegítimo. Atentam que este não se limita a episódios sociais observáveis em suascausas, mas se manifesta nas formas pelas quais, tanto indivíduos quanto gruposcoletivamente organizados, tornam-se socialmente inscritos e normalizados, por meio daspráticas de rotina das organizações. Dessa forma, o poder está presente nas bases da vidacotidiana.

    Ao serem consideradas as relações de poder nas análises organizacionais, poderiamser alcançadas importantes revelações e/ou explicações acerca do comportamento dosindivíduos que as compõe. Nesse caso, o diferencial seria a identificação de como se

    estabelecem os jogos de poder, se existe coação e como isso interfere nas organizações.

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    Além disso, a análise das relações de poder não deveria se limitar a apreciação interna dasmesmas, visto que estas interagem com o meio, com a sociedade, podendo agir de forma a

    exercer poder ou reagir a imposição de poder externo.A complexidade desse tipo de análise fica evidente, especialmente quandoreconhecido que o poder pode ser exercido de forma consciente ou não. Intrigasinterpessoais podem ser difíceis de identificar, porém não se pode negar a importância queestas têm para os arranjos, visto o reconhecimento da inexistência de neutralidade pessoal.

    O fato do poder estar presente no cotidiano, faz com que seja indispensável o seureconhecimento e a sua análise, além da busca de codificação e identificação das principaisformas com que age. Assim como a cultura, o poder é um pressuposto comportamental quepode justificar comportamentos organizacionais, bem como a constituição ou não de certasorganizações.

    4.4 - Capital SocialO termo capital social vem sendo frequentemente utilizado em trabalhos

    relacionados ao meio rural como um dos fatores que, quando presente ou não, condicionaas formas organizacionais dos agricultores (por exemplo, a opção de formar cooperativaspor produto na busca de maior poder de barganha ou a individualidade sem cooperação).

    Abramovay (2003, p.86) cita Coleman (1990) e Putnam (1993/1996), queconceituam o termo capital social como “características de organização social, comoconfiança, normas e sistemas, que contribuam para aumentar a eficiência da sociedade,facilitando as ações coordenadas”. Para Abramovay (2003, p.86), as estruturas sociaisdevem ser consideradas como recursos, “como um ativo de capital que os indivíduosdevem dispor”. Portanto, a noção de capital social relaciona-se ao fato de que os indivíduosnão agem independentemente e seus objetivos não se formam isoladamente, surgindocomo instrumento para a solução de dilemas de ação coletiva. O autor acrescenta que aacumulação de capital social é um processo de aquisição de poder (empoderamento) etambém de mudança na correlação de forças no plano local.

    Para Bourdieu (apud Milani, 2008), o capital social é o conjunto de relações e redesde ajuda mútua que podem ser mobilizadas efetivamente para beneficiar o indivíduo ou suaclasse social. Portanto, é propriedade do indivíduo e de um grupo, é simultaneamenteestoque e base de um processo de acumulação que permite às pessoas, inicialmente bemdotadas e situadas, terem mais êxito na competição social. A idéia de capital social remeteaos recursos resultantes da participação em redes de relações mais ou menos

    institucionalizadas, porém é considerada uma quase-propriedade do indivíduo,principalmente por permitir benefícios de ordem privada e individual (Bourdieu apudMilani, 2008).

    Bordieu considera o capital social como um instrumento estratégico de classe,utilizado por atores racionais com vistas a manter ou reforçar seu estatuto e seu poder nasociedade. Putnam salienta que onde existe  forte capital social, redes sociais decompromisso cívico incitam a prática geral da reciprocidade e facilitam o surgimento daconfiança mútua (Putnam apud Milani, 2008). Capital social é capital porque ele seacumula, pode produzir benefícios, tem estoques e uma série de valores. Além disso, é umrecurso que pode ser aglomerado, utilizado e/ou mantido para uso futuro.

    Identificar a existência ou não de capital social, sua intensidade e, principalmente,

    de que forma ele condiciona uma organização, é apontado aqui como uma etapa

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    indispensável nos estudos empíricos organizacionais. Esse pressuposto comportamentalpode explicar, em parte, o sucesso ou fracasso de muitas organizações, especialmente por

    condicionar os laços interpessoais e a intensidade destes. A falta de uma boa relação entreos indivíduos, ou a indisponibilidade destes em formar arranjos organizacionais, pode estarrelacionado diretamente a inexistência ou escassez de capital social.

    Destaca-se uma significativa relação entre os três fatores descritos (cultura, poder ecapital social), considerando que a busca da inserção desses pressupostos comportamentaisnas análises organizacionais que utilizam a ECT, objetiva, especialmente, explicarcomportamentos organizacionais e individuais, estruturas de governança e a própriaorganização. Justifica-se isto visto que os pressupostos comportamentais utilizados pelaECT (oportunismo e racionalidade limitada) não explicam muitas situações, como é o caso,por exemplo, das ações organizacionais em busca de legitimação. Nesse caso, incluirpoder, cultura e capital social como condicionantes organizacionais, pode contribuir para a

    compreensão de comportamentos que fogem a uma das leis da ECT que afirma que a buscada eficiência e da redução de custos de transação guiam as ações organizacionais.

    5 – Considerações FinaisA teoria das organizações passou por um processo de construção histórica, em que

    novos elementos enriquecedores foram sendo adicionados à mesma. Nesse mesmoprocesso, diferentes áreas da ciência foram sendo utilizadas para as análisesorganizacionais, como sociologia, psicologia, economia e administração. Nesse caso,consideram-se esses diferentes elementos e suas fusões como algo positivo, num processode construção e não substituição de teorias.

    Dentre o processo de evolução da teoria das organizações, têm-se como marcoalgumas perspectivas e paradigmas que estabeleceram lutas de poder dentro e entre osestudiosos organizacionais. A Nova Economia Institucional com a Economia dos Custosde Transação é o que se pode chamar de uma perspectiva contemporânea em estudosorganizacionais. Porém, utilizá-la isoladamente nas análises organizacionais não tem sidosuficiente para explicar certas formas e tipos de organizações.

    Nesse sentido, optou-se nesse artigo por fazer uma aproximação da NEI com oNovo Institucionalismo (também uma perspectiva contemporâneo) e demais elementosconsiderados constitutivos das organizações, e não destacados pela NEI, como a cultura, opoder e o capital social.

    A ECT tem como nível de análise a transação, foco nos custos desta transação e nas

    formas de governança. O Novo Institucionalismo trata de como as organizações surgem,tornam-se estáveis e como são transformadas. As questões que envolvem a cultura, jogosde poder e o capital social, contribuíram no sentido de acrescentar fatores que interferemnas formas organizacionais e que deveriam ser considerados para análise das mesmas.Destaca-se que os elementos aqui trabalhados não esgotam os fatores constitutivos dasorganizações; outros poderiam ser acrescentados, bem como poderia existir uma maiorconversação entre diferentes teorias na busca de mais subsídios para o estudoorganizacional.

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