Tema 2 - 1º Lugar - Rodrigo Octávio Orair - 072
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XVII PRÊMIO TESOURO NACIONAL – 2012 Tema: 2 - Economia e Contabilidade do Setor Público
Inscrição: 72
CLASSIFICAÇÃO: 1º LUGAR Título da Monografia: ♦ Carga Tributária Brasileira – 2002/2012: estimação e análise dos determinantes da
evolução recente.
RODRIGO OCTÁVIO ORAIR (32 anos)
Brasília - DF
Mestre em Teoria Econômica – Unicamp (2006)
Técnico de Planejamento e Pesquisa - Ipea
XVII PRÊMIO TESOURO NACIONAL 2012 TÍTULO:CARGA TRIBUTÁRIA BRASILEIRA – 2002/2012: ESTIMAÇÃO E ANÁLISE DOS DETERMINANTES DA EVOLUÇÃO RECENTE TEMA 2: ECONOMIA E CONTABILIDADE DO SETOR PÚBLICO
RESUMO A monografia apresenta um arcabouço metodológico para estimação da carga
tributária,que se diferencia das demais apurações por fornecer um indicador
com menor defasagem (atualizado até junho de 2012), em frequência mensal e
elevada precisão dos componentes dos governos regionais.Os esforços foram
consideráveis e exigiram um conjunto de procedimentos computacionais não
triviais para estruturação de um banco de dados com séries mensais da
arrecadação do governo federal, governos estaduais e 2.374 prefeituras, além
de procedimentos estatísticos para estimação das séries relevantes. Também
são realizados inúmeros esforços para corrigir as inconsistências dos dados
primárias e incorporar algumas das mais recentes recomendações para
compilação das estatísticas fiscais. Trata-se de um instrumental útil para
subsidiar o acompanhamento conjuntural e pesquisas mais aprofundadas das
finanças públicas.
Na segunda parte do trabalho, as séries mensais inéditas da carga tributária no
período 2002-20012 são utilizadas para subsidiar um estudosobre os
determinantes da sua evolução recente, incluindo uma análise descritiva e uma
modelagem econométrica por modelos de parâmetros variáveis. Dedica-se a
um aparente paradoxo: Por que a carga tributária tem crescido em meio a
significativas desonerações? Os resultados indicam que os determinantes
fundamentais da dinâmica carga tributária nos últimos anos estão relacionados
às características do padrão de crescimento econômico - expansão simultânea
da massa salarial e do grau de formalização do mercado de trabalho - e,
durante os anos 2005-2008, a um possível boom financeiro sobre os lucros das
empresas. Segundo este diagnóstico, a elevação da carga tributária vem
ocorrendo mesmo diante do predomínio das desonerações.
XVII PRÊMIO TESOURO NACIONAL 2012
Carga Tributária Brasileira – 2002/2012: estimação e análise dos determinantes da evolução recente
TEMA 2: ECONOMIA E CONTABILIDADE DO SETOR PÚBLICO
2.5 NOVOS PADRÕES DE CONTABILIDADE E ESTATÍSTICAS FISCAIS
1
Sumário 1. Introdução.............................................................................................................................2
2. Metodologia de estimação .................................................................................................5
2.1 Fontes de dados ..........................................................................................................10
2.2 Conceitos básicos e critérios de classificação das receitas.............................13
2.3 Estimação da carga tributária: Governo federal.................................................17
2.4 Estimação da carga tributária: Governo estadual..............................................21
2.5 Estimação da carga tributária: Governo municipal ............................................27
3. Determinantes da evolução recente da carga tributária na economia brasileira ....31
3.1 Considerações sobre a trajetória recente da carga tributária brasileira.........31
3.2 Componentes da carga tributária e suas bases de incidência ........................38
3.3 Modelagem de parâmetros variáveis para a carga tributária...........................48
3. Considerações Finais .......................................................................................................58
ANEXO 1 – Procedimentos sobre as fontes primárias....................................................61
ANEXO 2 – Tradutor para a carga tributária .....................................................................62
ANEXO 3 - Indicadores mensais dos governos estaduais .............................................68
ANEXO 4 – Resultados dos modelos econométricos .....................................................70
2
1. Introdução
Os últimos anos estão se caracterizando por melhorias consideráveis na
qualidade e no acesso às informações de finanças públicas dos três entes federados
no Brasil. A prática de se disponibilizar prestações de contas, relatórios
orçamentários e consultas em tempo real das finanças públicas pormeios eletrônicos
de livre acesso ao público tem se tornado cada vez mais disseminada, sobretudo
após mudanças recentes na legislação que estabeleceram a obrigatoriedade para
ampla divulgaçãodestesinstrumentos de transparência da gestão fiscal.1Nos dias
atuais, é possível dispor de informações atualizadas da execução orçamentária da
União, do Distrito Federal, dos 26 estados e milhares de municípios por meio de
consultas nos sítios eletrônicos da Secretaria do Tesouro Nacional (STN),
secretarias estaduais e municipais de fazenda e portais de transparência fiscal, entre
outros. Configurando-se uma situação bastante distinta da que prevaleceu até a
década de 1990 de escassez de fontes mensais e atualizadas da execução dos
orçamentos públicos, sobretudo nos governos regionais.
A atual profusão de informações - ao viabilizar a apuração de estatísticas
fiscais mais atualizadas, detalhadas ecom visão integrada dos governos regionais -
abre grandes perspectivas para acompanhamento conjuntural e análises mais
aprofundadas das finanças públicas. Diante deste quadro, os obstáculos à
compilação das estatísticas fiscais estão cada vez menos relacionados à carência
de dados e se deslocaram crescentemente para a necessidade de desenvolver
procedimentos para obtenção e estruturação das múltiplas fontes e para lidar com a
1 Destacando-se a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF - Lei Complementar 101\2000) e a Lei de Transparência Fiscal (Lei Complementar 131\2009).
3
suas irregularidades que ainda são bastante frequentes (inconsistências, cobertura
incompleta, informações ausentes, procedimentos contábeis não padronizados entre
os entes federados, etc.).
A presente monografiacaminha nesta direção por apresentar um arcabouço
metodológico para estimação da carga tributária brasileira durante o período 2002-
2012, que se distingue da maior parte das demais apurações por fornecer um
indicador conjuntural com menor defasagem (atualizado até junho de 2012), em
frequência mensal e elevada precisão dos componentes dos governos regionais.Por
enquanto, não se desejaentrar em detalhes sobre a metodologia de estimação, mas
apenas destacar alguns aspectos. Em primeiro lugar, o processo de estimação
exigiu o recurso a uma série de procedimentos computacionais e estatísticos não
triviais para estruturação de um banco de dados com informações mensais das
receitas do governo federal, Distrito Federal, 26 estados e 2.374 Municípios, além de
técnicas como a desagregação temporal e a previsão contemporânea por modelos
econométricos de espaço de estados para estimação das séries relevantes.
Adicionalmente, foi realizado um minucioso trabalho para correção de
inconsistências e uniformização de procedimentos contábeis nas informações
primárias dos diversos entes federados. Por fim, a monografia realiza um esforço
para incorporar algumas das mais recentes recomendações para compilação das
estatísticas fiscais, como a harmonização aos conceitos das contas nacionais e a
classificação das receitas referenciadas no novo sistema de estatísticas fiscais, que
está desenhado de maneira apropriada para subsidiar a análise fiscal(FMI, 2001;
STN, 2012). Uma das maiores vantagens desta classificação é que se estrutura
sobre as bases de incidência dos tributos (e não sua vinculação), o que possibilita
4
explorar de maneira mais direta as relações entre os componentes da carga
tributária e suas bases econômicas.
A próxima seção desta monografia possui um caráter mais metodológico e
apresenta o arcabouço utilizado na estimação das sériesdos componentes da carga
tributária atualizadas até junho de 2012. A seção 3 explora os determinantes da
evolução recente da carga tributária na economia brasileira. O tema da carga
tributária bruta (doravante CTB) é notoriamente controverso e, em função do seu
movimento de ascensão progressiva, tem adquirido crescente relevância no debate
sobre a política fiscal. Cumpre notar que a CTB aumentou sua participação no PIB
em maisde 12 pontos percentuais desde a Constituição Federal de 1988; quando
saiu de um patamar próximo a 23% e, segundo estimativas preliminares deste
trabalho, alcançou novo recorde histórico de 35,5% do PIB em meados de 2012.
Sem dúvida, trata-se de um fenômeno bastante particular e analisado em
diversos estudos,que, em comum, enfatizam o papel desempenhado neste processo
pela criação de novos tributos e/ou ampliação de alíquotas e bases de incidência,
sobretudo das contribuições sociais(Afonso; Araujo; Khair, 2005; Giambiagi, 2008;
Rezende; Oliveira, de; Araujo, 2008; Santos; Gentil, 2009). Entretanto, deve-se
observar que o período no qual predominavam as medidas de onerações tributárias
se encerrou em 2004 e o período mais recente vem se caracterizando por um
crescente volume de desonerações tributárias, conforme será tratado na subseção
3.1 desta monografia. Por isto, o trabalho se dedicará a analisarum aparente
paradoxo pouco explorado na literatura: Por que a carga tributária tem crescido em
meio a significativas desonerações?
O objetivo da seção 3 é exatamente analisar os determinantes desta evolução
recente da carga tributária na economia brasileira.A subseção 3.2 realiza uma
5
análise descritiva para identificar os principais componentes responsáveis pela
expansão do período 2002-2012 e, em seguida, avaliar as relações com suas bases
tributáveis.Na subseção 3.3, as séries mensais servirão de insumos para uma
modelagem econométrica de parâmetros variáveis dos componentes da carga
tributária. Esta modelagem se mostra particularmente útil para o caso brasileiro por
considerar explicitamente a possibilidade de alterações na relação entre a
arrecadação e as bases tributáveis ou as influências de outros fatores não
observáveis.
Antecipando alguns resultados, o estudo sugere que os determinantes
fundamentais da dinâmica carga tributária nos últimos anos estão relacionados às
características do padrão de crescimento econômico que favorecem a arrecadação
dos rendimentos do trabalho (expansão simultânea da massa salarial e do grau de
formalização do mercado de trabalho) e, durante os anos 2005-2008, aos possíveis
efeitos dos ciclos econômico e do mercado financeiro que ocasionaram um boom na
arrecadação de impostos sobre os lucros das empresas. Segundo este diagnóstico,
a elevação da carga tributária vem ocorrendo mesmo diante do predomínio das
desonerações.
2. Metodologia de estimação
Estimar aCTB no Brasil não é um procedimento simples. O país se destaca
como uma das federações de mais elevados níveis de complexidade da legislação e
descentralização das competências tributárias.Basta notar que o principal imposto
do paísé de competência dos governos estaduais, o imposto sobre circulação de
mercadorias e prestação de serviços (ICMS), e que existem cerca de duzentos itens
que fazem parte da CTB e são arrecadados pelo governo federal e pelos governos
6
de 26 estados, Distrito Federal e 5.564 municípios, além de entidades públicas de
caráter parafiscal(Sistema S e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS).
Não surpreende, assim, que atualmente existam vários números divergentes para a
CTB brasileira, desde as fontes oficiais do sistema de contas nacionais (SCN) do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e das publicações anuais da
Secretaria da Receita Federal (SRFB, 2011), até as apurações paralelas de Afonso
e Castro (2010), Amaral et al. (2011) e Khair(2011).
O grau de complexidade será ainda maior quando se deseja estimar séries da
CTB em alta frequência (por exemplo, mensal ou trimestral) porque as informações
mais acessíveis ao público cobrem apenas uma parcela da arrecadação dos
governos regionais e apresentam várias inconsistências em relação às fontes de
dados anuais. As complexidades envolvidas contribuem para a relativa escassez de
trabalhos que realizam apurações da CTB em alta frequência, podendo-se identificar
poucas exceções como Santos e Costa (2008).2As divergências entre as múltiplas
apurações da CTB, algumas das quais sem sequer precisar sua metodologia de
estimação, tornam o tema da CTB ainda mais polêmico.
A metodologia utilizada neste trabalho toma como referência os
procedimentos adotados pelo IBGE, que são uma adaptação para o Brasil
dasrecomendações dos órgãos multilaterais para as compilações das contas
nacionais(SNA, 1993).Esta opção se justifica não somente pela importância de se
ancorar o processo de estimação sobre metodologia bem definida, como também
por se enquadrar no esforço atualmente em curso de promover harmonização entre
2 Mesmo estes trabalhos fazem hipóteses simplificadoras ou simplesmente omitem a arrecadação de alguns componentes dos governos regionais. O mais comum é utilizar as séries mensais apenas dos principais tributos estaduais, disponíveis no sítio do Conselho Nacional de Política Fazendária, e que incluem componentes como multas e juros que não compõem a carga tributária.
7
as estatísticas fiscais e o sistema de contas nacionais.3O trabalho avança em
relação à apuração do IBGE em dois aspectos: propõe-se estimar todos os
componentes da CTB em frequência mensal e menor grau de defasagem. Mais
concretamente, as informações da CTB do IBGE são divulgadas nas contas
nacionais anuais e com defasagem superior a dois anos.4 Em contrapartida,
apresenta-se um arcabouço metodológico para estimação dos componentes da CTB
arrecadados pelos três entes federados em frequência mensal e com defasagem de
cerca de três meses.
Os procedimentos adotados não são triviais e envolvem lidar com um
conjunto de dificuldades relacionadas às informações primárias. Em primeiro lugar,
os conceitos que subsidiam a classificação das receitas nos principais relatórios e
demonstrativos da contabilidade pública brasileiranão se encontram harmonizados
às contas nacionais. Por isto, a estimação da CTB exige que os relatórios contábeis
do setor público apresentem informações bastante detalhadas das receitas públicas
para umacriteriosa seleção dos itens. O procedimento utilizado para operacionalizar
esta seleção foi através de um tradutor que identifica cada um dos cerca de
duzentos itens que compõe a CTB e sua classificação correspondente sob a
terminologia das contas nacionais.
A necessidade de lidar com inúmeras irregularidadesnas informações
primárias (valores faltantes, cobertura incompleta, inconsistências, procedimentos
contábeis não padronizados entre os entes federados, etc.) também torna o
procedimento de estimação mais complexo. A opção desta monografia é recorrer a
umconjunto de fontes de dados complementarespara minimizar tais problemas, já
3 Este aspecto será discutido com mais detalhes na subseção 2.2. 4 A CTB do IBGE é divulgada na tabela sinótica 20 do sistema de contas anuais, sendo que a última informação disponível é referente ao ano de 2009 e foi divulgada em novembro de 2011.
8
que fornecem informações mais detalhadas e/ou mensais e permitem um trabalho
minucioso de checagemde consistênciae correção das informações.
Destaquem-se ainda as dificuldades deobtenção e estruturação das múltiplas
fontes de dados. As informaçõesde cada ente federado são extraídas
individualmente dos sítios eletrônicos, seguindo-se formatos não
necessariamentepadronizados e\ou estruturados. Dois exemplos podem esclarecer
estes argumentos.Écomum que a construção das séries mensais dos componentes
da CTB exija milhares de consultas aos sítios de transparência fiscal porque as
informações são disponibilizadas para cada mês por unidade que compõe a
administração pública direta e indireta.Outro exemplo mais problemático são os
Relatórios Resumidos de Execução Orçamentária (RREOs) que constituem a fonte
de informações em alta frequência com cobertura mais ampla nos governos
regionais. Os relatórios são disponibilizados bimestralmentepara cada ente federado
em formato não estruturado (formato portável de documento ou pdf) que inviabiliza a
manipulação direta das informações das literalmente dezenas de milhares de
arquivos.5
Um dos maiores méritos deste trabalho é por ter desenvolvido um conjunto de
procedimentos computacionais para obtenção automática dos arquivosnos diversos
sítios eletrônicos, conversão para formatos manipuláveis (estruturados) e análise de
consistência das informações primárias. Estes procedimentos viabilizaram a
construção de um banco de dados com séries mensais atualizadasdos principais
componentes das receitas correntese ampla cobertura dos governos regionais.
5 Os arquivos são extraídos do sítio eletrônico da STN que disponibiliza um caminho para as informações do Sistema de Coleta de Dados Contábeis para Estados e Municípios (SISTN). Levantamento realizado no final do mês de agosto de 2012 mostrou 151.672 arquivos disponíveis dos governos estaduais e 4.490 prefeituras para os bimestres entre 2006 e junho de 2012.
9
Feitas estas considerações, pode-se aqui esclarecer a estratégia para
estimação mensal da CTB no período 2002-2012. Em primeiro lugar, procurou-se
utilizar os mesmos procedimentos e fontes de dados do IBGE e, quando somente
disponíveis em frequência anual, realizou-se um esforço para obtenção de séries
mensais compatíveis. As informações primárias são então submetidas a uma série
de operaçõespara eliminar inconsistências e um tradutor é utilizado classificar os
itens que compõem a carga tributária brasileira.6Estes procedimentos fornecem
diretamente as estimativas mensais de pouco mais de 80% da CTB no período
considerado, que cobre a arrecadação na esfera federal, no Distrito Federal e em
alguns dos maiores estados do país.
Nos demais entes federados, representados por 21 estados e 5.565
municípios, os valores de referência para a apuração da CTB terão frequência anual
no período 2002-2011, devido à indisponibilidade de séries mensais compatíveis
com estes valores ou elevados requisitos para estruturação das séries. As séries
mensais constituem apenas indicadores relacionados, que são construídos das
informações dos RREOs dos estados e amostras de municípios.
A estratégia de estimação faz uso das técnicas de desagregação temporal e
previsão contemporânea (nowcasting) por modelos de espaço de estados, seguindo-
se uma abordagem já consagrada na literatura de finanças públicas.7 O objetivo
destas técnicas é estimar as informações intraperíodo da série de referência anual
(desagregação temporal) ou atualizá-la (previsão contemporânea), de modo a
preservar o máximo possível os movimentos de curto prazo nos indicadores
mensais. Tais técnicas serão utilizadas na estimação de séries mensais e
6 Uma mais detalhada destas operações e o tradutor estão apresentados nos anexos 1 e 2. 7 O recurso a estas técnicas para construção de séries de alta frequência das finanças públicas, com indicadores obtidos de séries assemelhadas ou de uma amostra, tem sido frequente na literatura(Dias; Issler; Rodrigues, 2010; Orair; Silva, 2012; Orair et al. ., 2011).
10
atualizadas até junho de 2012 para a parcela restante da CTB dos governos
regionais. Na sequência, são detalhadas as fontes de dados, conceitos e
procedimentos utilizados na estimação.
2.1 Fontes de dados
O objetivo desta primeira parte do trabalho é estimar a CTB em frequência
mensal tomando-se como referência a metodologia utilizada pelo IBGE na apuração
da CTB anual. Por isto, procurou-se utilizar as mesmas fontes de dados do IBGE e,
quando somente disponíveis em frequência anual, recorreu-se às séries mensais
compatíveis que estão listadas no quadro 1.Estas séries mensais cobrem a
arrecadação federal e uma parcela considerável da CTB dos governos
regionais.Infelizmente, não foi possível dispor de séries mensais compatíveis com as
fontes de referência do IBGE para os demais entes federados, seja devido à
indisponibilidade de informações ou aos elevados requisitos operacionais para
construção destas séries que são extraídas individualmente nos respectivos sítios
eletrônicos.8
8 O grau de dificuldade para obtenção das séries é variável. Um exemplo acessível é o Rio de Janeiro que disponibiliza uma única planilha (em formato estruturado) das receitas de todos os meses do período 2002-2012. Por outro lado, o Rio Grande do Sul disponibiliza as informações desagregadas para cada item da receita em cada mês e por unidade da administração direta e indireta, tendo sido necessário desenvolver um coletor de informações automático, programado em linguagem java, para realizar as milhares de consultas. Também existem estados que não disponibilizam consultas apropriadas para os propósitos deste trabalho (restritas aos anos mais recentes, sem valores mensais, não desagregadas pela classificação econômica, etc.).
11
Quadro 1. Fontes de Dados Séries mensais compatíveis com as fontes de referência do IBGE
• Governo Federal - Arquivos das receitas correntes mensais classificadas por natureza econômica da STN. Disponíveis em: http://www.tesouro.gov.br/estatistica/est_contabil.asp.
• Arrecadação bruta do FGTS: https://webp.caixa.gov.br/portal/Relatorio_asp/arrecadacoes.asp. • Sistema S - Transferências a terceiros dos Boletins Estatísticos da Previdência Social:
www.mpas.gov.br/conteudoDinamico.php?id=482.
• São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul - Consultas nas plataformas eletrônicas de acompanhamento das finanças públicas em tempo real nos estados: http://www.fazenda.sp.gov.br/cge2/balanco.asp?tipo=0,http://www.gestaodinheiropublico.pr.gov.br/Gestao/lei131/formreceita.jspehttps://www.sefaz.rs.gov.br/AFE/REC-CON_1.aspx.
• Rio de Janeiro, Distrito Federal e Santa Catarina- Arquivos das receitas correntes nos sítios das secretarias estaduais de fazenda: www.fazenda.rj.gov.br, www.fazenda.df.gov.br e www.sef.sc.gov.br.
Séries anuais compatíveis com as fontes de referência do IBGE • Demais governos estaduais - Execução Orçamentária dos Estados (EOE). • Governos municipais - Finanças do Brasil Dados Contábeis dos Municípios
(Finbra).Disponíveis em: http://www.stn.gov.br/estatistica/est_estados.asp. Indicadores mensais dos componentes da carga tributária
• Demais governos estaduais– séries mensais extraídas do demonstrativo da Receita Corrente Líquida dos Relatórios Resumidos de Execução Orçamentária (RCL/RREOs): http://www.tesouro.fazenda.gov.br/estados_municipios/sistn.asp
• Governos municipais – séries mensais extraídas do demonstrativo da RCL/RREOs com uma amostra de 78 municípios de grande porte no período 2002-2005, 2.374 municípios no período 2006-2011 e 1.390 no primeiro semestre de 2012. Disponíveis em: http://www.tesouro.fazenda.gov.br/estados_municipios/sistn.asp.
Fontes complementares • Balanços Gerais Anuais e prestações de contas dos governos estaduais disponíveis nos sítios
eletrônicos das secretarias estaduais de fazenda. • Portais de transparência fiscal dos estados e municípios. • Demonstrativo de Receitas e Despesas Previdenciárias do regime próprio de previdência social
(RPPS) dos REEOs dos estados e municípios. • Séries bimestrais das receitas extraídas do Balanço Orçamentário dos RREOs dos estados e
municípios.
Nos demais estados e municípios, as principais fontes de dados são as fontes
de referência com informações anuais, que são arquivos disponibilizados pela STN
com cerca de oito meses de defasagem em relação ao encerramento do exercício
fiscal, e os indicadores mais atualizados com informações advindas dos RREOs que
possuem frequência bimestral e, segundo a legislação, devem ser disponibilizados
em até trinta dias após o encerramento do bimestre. Para fins de apuração da CTB,
um dos demonstrativos que consta nos RREOs é particularmente útil: o
demonstrativo da Receita Corrente Líquida (RCL) que mostra a evolução dos
12
principais componentes da receita realizada nos últimos doze meses, isto é, em
cada mês do bimestre de referência e nos dez meses anteriores.
A princípio, portanto, é possível construir um banco de dados deséries
mensais com cobertura bastante ampla dos governos regionais, inclusive
complementando informações de determinados entes que não divulgam relatórios
em todos bimestres.A estruturação do banco de dados exigiu o desenvolvimento de
uma série de procedimentos computacionais para extração dos 151.672 relatórios
disponíveis em formato não estruturado (pdf),conversão para formatos passíveis de
manipulação e, devido ás frequentes irregularidades nas informações primárias,
seleção de séries completas e consistentes dos estados e milhares de municípios no
período 2006-2012.9O maior problema está relacionado ao período 2002-2005 para
o qual não foi possível operacionalizar rotinas semelhantes, devido a uma mudança
no sistema de coleta de dados (SISTN). As séries mensais dos RREOs foram
obtidas individualmente e estão restritas aos governos estaduais e 78 municípios de
grande porte.
Por fim, o quadro 1lista as principais bases de dados complementares que
provêm informações mais específicas ou detalhadase queviabilizaram uma série de
operações para lidar com irregularidades presentes nas demais fontes de dados
(detalhamento e inclusão de informações, correção de erros e procedimentos
contábeis não uniformes, etc.). Estas operações são importantes porque permitem
corrigir inconsistências e complementar as informações das fontes primárias e, por
conseguinte, aumentar o grau de precisão das estimativas da CTB.10
9 Entre os procedimentos, destacam-se o desenvolvimento de: i) aplicativo para extração dos RREOs disponíveis no SISTN, por meio da linguagem de programação php (Hypertext Processor); ii) rotinas no programa computacional StatisticalAnalysis System (SAS) de conversão automática dos arquivos para formatos manipuláveis (estruturados); e iii) checagem dos totais anuais com os montantes do Finbra para seleção de séries consistentes. 10 Ver o anexo 1 para mais detalhes.
13
2.2 Conceitos básicos e critérios de classificação das receitas
Antes de prosseguir, cabe esclarecer alguns conceitos e classificações das
receitas que serão utilizados. O trabalho toma como referência a metodologia do
IBGE na apuração da CTB anual, que é uma adaptação para o Brasil das
recomendações dos órgãos multilaterais para as compilações das contas nacionais
(SNA, 1993).Esta opção se justifica porque a metodologia está bem documentada
nas publicações do instituto (IBGE, 2008) e, principalmente, por se articular a um
esforço mais geral que está em curso no país para promover a integração entre as
estatísticas fiscais e o sistema de contas nacionais.
Este esforço vem se materializando por inúmeras medidas com intuito de
adequar o arcabouço conceitual da contabilidade pública brasileira ao marco
analítico da 2ª edição do Manual de Estatísticas Fiscais (MEF ou GSFM, na sigla em
inglês), editado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI, 2001), e que está
harmonizado com os parâmetros do Sistema de Contas Nacionais de 1993 da
Organização das Nações Unidas (SNA, 1993).O objetivo futuro é estabelecer um
sistema de estatísticas fiscais (SEF) especializado para análise e avaliação do
desempenho do setor público, alinhado às normas internacionais de contabilidade
pública e harmonizado com os demais sistemas estatísticos macroeconômicos,
sobretudo ao sistema de contas nacionais (SCN), conforme explicitado na mais
recente versão do manual de contabilidade pública da STN que dedica um volume
específico sobre este tema(STN, 2012).
Não se deseja aqui realizar uma análise detalhada sobre as consideráveis
revisões necessárias nas práticas contábeis hoje adotadas no setor público ou sobre
os aspectos mais gerais do novo sistema de estatísticas fiscais. Para os propósitos
mais imediatos do trabalho, cumpre apenas destacar a relevância de se ancorar o
14
processo de estimação e a classificação dos componentes da CTB numa
metodologia harmonizada ao SCN e desenhado de maneira mais apropriada para
análise da política fiscal.
Uma primeira limitação neste sentido advém do fato de que os critérios que
subsidiam a classificação por natureza econômica das receitas públicasnão se
encontram harmonizados. Sendo necessário que os relatórios e demonstrativos
contábeis disponham de informações bastante detalhadas para viabilizar a
compatibilização (ou ao menos uma aproximação razoável) com as classificações
correspondentes nas contas nacionais. O recurso utilizado para operacionalizar esta
compatibilização foi através da construção de um tradutor que está apresentado no
anexo 2, que identifica a classificação sob a terminologia das contas nacionais dos
cerca de duzentos itens que compõe a CTB.
Em termos mais gerais, vale esclarecer que a ênfase da classificação das
receitas no SCN é sobre a base de incidência dos tributos, havendo pouca relação
com suas vinculações. A receita de impostos é definida como uma transferência
compulsóriaà administração pública pelos demais setores institucionais da economia
e subdivida principalmente entre impostos sobre a renda e a propriedade e impostos
ligados à produção, que incluem impostos sobre produtoseimpostos sobre a folha de
pagamento, entre outros. A principal exceção são as contribuições sociais que são
caracterizadas por sua vinculação com as despesas de seguridade social, sobretudo
os regimes previdenciários, e por incidirem principalmente sobre a folha de
pagamento. Por este motivo, uma adequação importante é reclassificar como
impostos aquelastaxas, contribuições sociais e contribuições econômicas da
15
classificação por natureza econômica da contabilidade pública que constituem
transferências compulsórias e não estão vinculadas à seguridade social.11
O conceito de carga tributária está definidono glossário do sistema de contas
nacionais do Brasil como o quociente entre o somatório das arrecadações de
impostos, taxas e contribuiçõespelas três esferas de governo (federal, estadual e
municipal) e o produto interno bruto (IBGE, 2008). É importante destacar que,
mesmo sendo utilizado amplamente nas análises fiscais, este conceito não integra a
classificação das receitas no SCN e tampouco faz parte do marco conceitual do
SEF, ainda que possa ser facilmente aproximado a partir destes. A carga tributária
pode, assim, ser definida como a participação no produto interno bruto do total de
impostos e contribuições sociais, segundo a classificação do SCN (ou do SEF que
está harmonizado às contas nacionais), após a exclusão das multas e juros devidos
pelo não pagamento dos tributos que, assim como as demais multas, são
consideradas transferências compulsórias que não integram a carga tributária.
Destaque-se ainda que a classificação das receitas atualmente adotada pelo
IBGE no SCN não se adequa inteiramente aos critérios classificatórios do SEF, que
seguem os parâmetros de FMI (2001) e estão adaptados para o marco institucional
e legal brasileiros no demonstrativo de estatísticas e finanças públicas em STN
(2012).12Ainda assim, há uma forte correspondência e, a partir de um pequeno
número de ajustes na classificação das receitas do SCN, é possível encontrar
aproximações bastante razoáveis dos componentes da carga tributária classificados
11 No caso específico das taxas, devem ser incluídas somente as de caráter compulsório. As facultativas são consideradas taxas administrativas que compõe a receita de bens e serviços da administração pública. Outra adequação importante é reclassificar a receita da dívida ativa tributária e das contribuições, que aparecem nas outras receitas correntes da classificação por natureza econômica da receita. Mais detalhes no tradutor do anexo 2. 12Isto porque as revisões das classificações do IBGE ocorrem apenas periodicamente (a próxima está programada para 2014), além das limitações da contabilidade pública brasileira para promover a convergência ou das próprias distinções entre o SEF, que se concentra sobre as atividades financeiras do governo, e o SCN, cujo foco é sobre as atividades produtivas (não mercantis).
16
sob os critérios do SEF. O quadro 2 mostra os ajustes adotados nesta monografia,
sobre os itens da carga tributária que compõem a atual classificação do SCN do
IBGE (e que estão listados no anexo 2), com intuito de obter aproximações
correspondentes às principais classes do SEF.13
Quadro 2. Aproximaçõesda classificação do sistema de estatísticas fiscais (SEF) a partir da classificação do sistema de contas nacionais do Brasil (SCN-IBGE). Classes de receitas do SEF Ajustes na classificação do SCN-IBGE
Impostos sobre renda, lucros e ganhos de capital
Impostos sobre a renda acrescidos da CSLL, que está classificada entre outros impostos correntes sobre a renda e propriedade. Subdivide-se entre Pessoas Físicas (IRPF e IRRF sobre o trabalho), Pessoas Jurídicas (IRPJ e CSLL) e Não classificáveis.
Impostos sobre a folha de pagamento e a força de trabalho
Impostos sobre a folha de pagamento acrescido da arrecadação do FGTS, que está classificado entre as contribuições sociais.
Contribuições sociais
Contribuições oficiais aos institutos de previdência e contribuições previdenciárias do funcionalismo público, acrescidas das contribuições sociais estaduais e municipais que são formadas quase exclusivamente por contribuições a planos de assistência médica aos servidores públicos.
Impostos sobre a propriedade
Outros impostos sobre a renda e a propriedade (exclusive a CSLL) e impostos de capital. Há uma subdivisão explícita na classificação do SEF para os Impostos sobre transações financeiras e de capital que serão formados pelo somatório do IOF e da CPMF.
Impostos sobre o comércio e as transações Internacionais
Total das arrecadações do II, IE, IPI vinculado à Importação e da COFINS, PIS e PASEP incidentes sobre importações.
Impostos sobre bens e serviços
Impostos sobre produtos, acrescidos do PIS/PASEP, das contribuições econômicas e outras contribuições sociais; e excluídos os impostos sobre o comércio e as transações internacionais e o IOF.
Taxas administrativas Taxas de serviços e de polícia (compulsórias) classificadas pelo IBGE entre os outros impostos e taxas sobre a produção.
As próximas subseções serão dedicadas a apresentar os procedimentos e os
resultados da metodologia de estimação da CTB mensal no período 2002-2012 para
as três esferas de governo sob a classificação das contas nacionais. Esta
classificação possibilitará uma avaliação prévia das estimativas próprias pela
comparação com os montantes anuais apurados pelo IBGE no período 2002-2009.
13 Os ajustes do quadro 2 tomaram como base as classificações e exemplos apresentados em FMI (2001) e STN (2012). Vale enfatizar que são apenas primeiras aproximações, sendo necessário um trabalho minucioso de classificação por item que ora está em curso pelos órgãos competentes segundo STN (2012), e inclusive de revisão dos itens que hoje compõem a CTB.
17
Uma vez assegurada a precisão das estimativas próprias, o passo seguinte será
explorar os determinantes da dinâmica da CTB tomando como base a classificação
referenciada no SEF, que está apresentada no quadro 2.
2.3 Estimação da carga tributária: Governo federal
A estimação da CTB no governo federal é realizada de maneira direta,
aplicando-se o tradutor do anexo 2às séries mensais descritas no quadro 1 e que
cobrem o período 2002-2012. A tabela 1 permite comparar os agregados anuais das
estimativas próprias com os valores do IBGEdisponíveis até 2009. Asestimativas se
mostraram muito próximas, com discrepâncias quase sempre inferiores a 0,5% (em
valor absoluto). As únicas exceções são as superestimações de R$ 4,3 bilhões no
ano de 2005 e de R$ 4,0 bilhões em 2009 que são explicadas principalmente por
correções nas informações primárias. A primeira deriva de uma descontinuidade na
série das contribuições patronais ao regime próprio de previdência social (RPPS)
que foi corrigida na apuração própria da CTB.
A segunda correção corresponde à reclassificação de receitas do
parcelamento de tributos conhecido como Refis da crise (Lei 11.941/09). Estes
pagamentos foram classificados como outras receitas administradasentreagosto de
2009 a junho de 2012 e a identificação por tributo ocorreu para o estoque acumulado
de R$ 32,5 bilhões no mês de julho de 2012(SRFB, 2012). Ocasionando-se uma
subestimação temporária da arrecadação tributária no período de agosto de 2009 a
junho de 2012, compensada posteriormente pela superestimação no mês de julho
de 2012. Por isto, optou-se por identificar os valores por tributo referentesao Refis da
Crise em julho de 2012 e redistribuí-los para o período passado quando de fato
foram arrecadados.14
14 Os montantes acrescentados foram de R$ 6,2 bilhões no ano de 2005 para a contribuição ao RPPS e R$ 2,3 bilhões em 2009 do Refis da crise. Ver o anexo 1 para mais detalhes.
18
Tabela 1. Carga tributária federal – Valores nominais em bilhões de R$. Classes de Tributos 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Cálculos do IBGE Impostos ligados à produção e à importação 102,1 110,8 137,6 153,4 162,9 186,5 230,5 216,8 - - Impostos sobre produtos 92,8 100,8 125,9 139,0 146,6 168,3 208,5 193,6 - - Impostos sobre o valor adicionado 18,5 17,9 21,1 24,1 26,9 31,3 36,9 27,7 - - Imposto sobre importação 7,9 8,1 9,1 8,9 9,8 12,2 17,1 15,8 - - Outros impostos sobre produtos 66,4 74,8 95,7 106,0 109,9 124,8 154,5 150,1 - - Outros impostos ligados à produção 9,3 10,0 11,7 14,4 16,3 18,2 22,0 23,2 - - Impostos sobre a folha de pagamento 7,8 8,2 9,5 11,4 13,1 14,7 17,7 18,8 - - Outros impostos e taxas sobre a produção
1,5 1,8 2,2 3,0 3,2 3,5 4,3 4,4 Impostos sobre a renda e a propriedade 108,9 121,5 136,6 167,5 181,8 215,9 218,1 216,5 - - Impostos sobre a renda 76,0 82,6 90,5 112,9 122,6 144,4 175,8 174,4 - - Outros impostos sobre a renda e a propriedade 32,9 39,0 46,1 54,6 59,2 71,5 42,3 42,1 - - Contribuições aos institutos oficiais de previdência, FGTS e PIS/PASEP 107,1 124,2 145,1 164,8 186,9 207,7 238,9 266,7
- - Contribuições previdenciárias do funcionalismo público 5,4 5,5 8,4 5,6 13,1 15,2 17,4 19,9 - - Impostos sobre o capital - 0,02 0,03 0,05 0,04 0,04 0,04 0,05 - -CTB Federal (I) 323,6 362,0 427,7 491,3 544,8 625,3 705,0 719,9 - -
Cálculos próprios Impostos ligados à produção e à importação 101,8 111,1 138,5 153,0 163,3 186,7 230,7 218,6 272,4 318,3 Impostos sobre produtos 92,8 100,8 125,9 139,0 146,6 168,3 208,5 194,8 245,0 285,9 Impostos sobre o valor adicionado 18,5 17,9 21,1 24,1 26,9 31,3 36,9 27,9 37,5 41,9 Imposto sobre importação 7,9 8,1 9,1 8,9 9,8 12,2 17,1 15,8 21,1 26,7 Outros impostos sobre produtos 66,4 74,8 95,7 106,0 109,9 124,8 154,5 151,1 186,4 217,3 Outros impostos ligados à produção 9,1 10,3 12,6 14,0 16,7 18,4 22,2 23,7 27,5 32,4 Impostos sobre a folha de pagamento 7,5 8,5 10,4 11,0 13,4 14,9 17,9 19,4 22,4 26,5
Outros impostos e taxas sobre a produção 1,6 1,8 2,2 3,0 3,2 3,5 4,3 4,3 5,1 5,9
Impostos sobre a renda e a propriedade 108,8 121,5 136,5 167,2 181,5 214,4 219,2 218,7 237,8 292,8 Impostos sobre a renda 75,9 82,6 90,5 112,9 122,6 144,4 175,8 174,9 191,6 234,0 Outros impostos sobre a renda e a propriedade 32,9 38,9 46,0 54,3 58,9 70,0 43,3 43,8 46,2 58,8 Contribuições aos institutos oficiais de previdência, FGTS e PIS/PASEP 106,0 122,8 142,3 163,1 183,7 207,3 240,0 267,0 315,5 361,0 Contribuições previdenciárias do funcionalismo público 5,4 5,5 8,4 12,0 13,8 15,9 18,2 21,0 23,6 25,6 Impostos sobre o capital - 0,02 0,03 0,05 0,04 0,04 0,04 0,05 0,05 0,05
Outros impostos 0,5 0,1 0,1 0,3 0,3 1,6 (1,0)
(1,3) 0,2 0,3
CTB Federal (II) 322,6 361,0 425,8 495,6 542,6 625,8 707,1 723,9 849,5 998,1 Discrepância
Valores absolutos (III) = (II) - (I) (1,0)
(1,0)
(1,9) 4,3
(2,2) 0,5 2,1 4,0 - -
Valores relativos (IV) = (II)/(I) - 1 -0,3% -0,3% -0,4% 0,9% -0,4% 0,1% 0,3% 0,6% - - Fonte: Tabela Sinótica 20 do sistema de contas nacionais do IBGE e cálculos próprios.
19
Uma análise mais minuciosa indica pelo menos outras três divergências
dignas de nota. Primeiramente, o IBGE classifica, entre os impostos,algumas
categorias residuais da arrecadação da dívida ativaque estão sujeitas a grandes
descontinuidades. Para evitar suasdistorções,ainda mais evidentes nas séries
mensais, optou-se por criar uma classificação separada que aparece na tabela 1
como outros impostos, que altera os montantes de alguns componentes da CTB e
não o seu agregado. Em segundo lugar, foram encontradas divergências nas séries
do Sistema S que possivelmente se originam das informações primárias. Por fim,
houve uma correção nos valores do imposto de renda em 2002 que foram
divulgados com um erro pela STN.15Pode-se, assim, afirmar que a metodologia
utilizada forneceu estimativas da CTB federal próximas às do IBGE, com as
vantagens de estarem na frequência mensal e atualizadas até junho de 2012,
conforme se pode observar no gráfico 1.
15 O anexo 1 apresenta mais detalhes sobre os ajustes nas informações primárias e classificações.
20
Gráfico 1. Séries mensais da carga tributária federal – janeiro de 2002 a junho de 2012. Valores nominais em milhões de R$.
Fonte: Elaboração própria.
21
2.4 Estimação da carga tributária: Governo estadual
As estimativas próprias da CTB estadual no período 2002-2011 estão
apresentadas na tabela 2. Estes valores anuais de referência são obtidos por dois
procedimentos: i) as fontes primárias do quadro 1 são submetidas às operações de
detalhamento, complementação e correção de inconsistências descritas no anexo 1;
e ii) aplicação do tradutor do anexo 2 para seleção e classificação dos itens que
compõem a CTB.
Pode-se observar que as discrepâncias apresentadas na tabela 1foram
relativamente pequenas no período 2002-2005 (sempre inferiores a 1% em valor
absoluto) e passaram a ser cada vez mais significativas no período subsequente,
devido a descontinuidades nas contribuições previdenciárias do funcionalismo
público que serão abordadas mais adiante. Desconsiderando-se as contribuições
previdenciárias, os valores apurados para a CTB estadual mostraram bastante
aderência aos números do IBGE, com discrepâncias quase sempre inferiores a
1%.As duas únicas exceçõessão as superestimações de R$ 2,7 bilhões em 2007 e
R$ 4,5 bilhões no ano de 2008 que foram ocasionadas essencialmente por
correções nas informações primárias devido à adoção de procedimentos contábeis
não padronizados pelos estados.16
16 Nos anos de 2007 e 2008 foram incluídos os montantes de R$ 2,3 bilhões e R$ 2,7 bilhões da cota-parte municipal da arrecadação do ICMS e do IPVA em Santa Catarina e no Piauí (que foram declarados líquidos) e de R$ 2,6 e R$ 3,1 bilhões do IRRF sobre a folha dos funcionários públicos do estado de São Paulo (contabilizada como transferência da União). Mais detalhes no anexo 1.
22
Tabela 2. Carga tributária estadual – Valores nominais em bilhões de R$. Classes de Tributos 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Cálculos do IBGE
Impostos ligados à produção e à importação 108,0 124,3 144,4 161,4 179,8 198,0 232,9 244,8 - - Impostos sobre produtos 103,8 119,2 138,1 154,1 171,9 185,0 219,5 227,7 - - Impostos sobre o valor adicionado 103,5 118,8 137,7 153,5 171,3 184,4 218,8 226,9 - - Outros impostos sobre produtos 0,3 0,4 0,5 0,6 0,6 0,7 0,7 0,8 - - Outros impostos ligados à produção 4,2 5,1 6,2 7,3 7,9 12,9 13,4 17,0 - -
Outros impostos e taxas sobre a produção 4,2 5,1 6,2 7,3 7,9 12,9 13,4 17,0 - -
Impostos sobre a renda e a propriedade 12,7 14,6 16,4 19,0 22,5 23,3 27,2 30,8 - - Impostos sobre a renda 5,6 6,8 7,4 8,3 9,9 8,7 10,2 10,2 - - Outros impostos sobre a renda e a propriedade 7,1 7,9 9,1 10,7 12,6 14,6 17,0 20,6 - - Contribuições previdenciárias do funcionalismo público 8,4 9,8 12,5 13,8 15,7 18,8 24,4 24,6 - - Impostos sobre o capital 0,6 0,9 0,8 0,9 1,1 1,3 1,6 1,9 - - CTB Estadual (I) 129,7 149,6 174,1 195,1 219,1 241,4 286,1 302,0 - -
Cálculos próprios
Impostos ligados à produção e à importação 109,0 124,8 145,3 162,7 179,9 197,7 233,9 242,1 283,9 315,6 Impostos sobre produtos 104,5 118,8 138,5 154,7 170,7 187,3 221,9 228,3 268,9 298,3 Impostos sobre o valor adicionado 104,2 118,4 138,0 154,1 170,0 186,7 221,2 227,6 268,0 297,3 Outros impostos sobre produtos 0,3 0,4 0,5 0,6 0,6 0,7 0,7 0,8 0,9 1,0 Outros impostos ligados à produção 4,5 6,0 6,9 8,0 9,2 10,4 12,0 13,7 15,1 17,3
Outros impostos e taxas sobre a produção 4,5 6,0 6,9 8,0 9,2 10,4 12,0 13,7 15,1 17,3
Impostos sobre a renda e a propriedade 12,9 14,6 16,4 19,0 22,5 26,3 30,7 33,4 38,3 42,8 Impostos sobre a renda 5,8 6,8 7,4 8,3 9,9 11,3 13,3 12,9 16,5 18,2 Outros impostos sobre a renda e a propriedade 7,1 7,9 9,1 10,7 12,6 14,9 17,4 20,5 21,8 24,6 Contribuições previdenciárias do funcionalismo público 7,3 8,3 11,0 12,1 12,6 13,5 12,7 11,9 13,3 14,3 Patronal 3,1 3,5 4,6 5,3 4,3 4,0 2,4 1,2 1,2 0,8 Servidor 4,2 4,8 6,4 6,8 8,3 9,4 10,3 10,7 12,1 13,5 Impostos sobre o capital 0,6 0,9 0,8 0,9 1,1 1,3 1,6 1,8 2,7 3,0 CTB Estadual (II) 129,8 148,6 173,6 194,6 216,0 238,8 278,9 289,2 338,3 375,7
Discrepância
Valores absolutos (III) =(II) - (I) 0,1 (1,0)
(0,6)
(0,5)
(3,1)
(2,6)
(7,2)
(12,8) - -
Valores relativos (IV) = (I)/(II) - 1 0,1% -0,7% -0,3% -0,2% -1,4% -1,1% -2,5% -4,2% - -Discrepância (exclusive contribuições previdenciárias)
Valores absolutos 1,1 0,5 1,0 1,3 0,0 2,7 4,5 (0,1) - -
Valores relativos 0,9% 0,3% 0,6% 0,7% 0,0% 1,2% 1,7% 0,0% - -Fonte: Tabela Sinótica 20 do sistema de contas nacionais do IBGE e cálculos próprios.
A estimação das contribuições previdenciárias do funcionalismo público é
particularmente problemática devido às descontinuidades ocasionadas pormudanças
23
nos marcos institucionais e práticas contábeis nos últimos anos. Sem entrar em
pormenores, cumpre notar que o período recente vem se caracterizando pela
institucionalização de fundos para gerir os regimes próprios de previdência dos
servidores (RPPS), sob a orientação de que sejam financiados por contribuições
previdenciárias e voltados para o equilíbrio financeiro-atuarial.17
Diante disto, a responsabilidade pelo pagamento das despesas de
aposentadorias e pensões vem sendo progressivamente transferida para as
instituições previdenciárias que passam a compor a administração indireta. O
Tesouro estadual fica encarregado de repassar as contribuições previdenciárias –
tanto a parcela que cabe aos servidores quanto a contrapartida patronal de
responsabilidade da própria administração pública – e os recursos complementares
que, cada vez mais frequentemente, estão restritos acobrir eventuais insuficiências
do fundo previdenciário.Daí a origem de um fluxo simultâneo de receitas e despesas
interno à própria administração pública (intraorçamentário): uma parcela da despesa
com a folha salarial do Tesouro estadual, a obrigação patronal ao RPPS, será uma
receita de contribuição para o fundo previdenciário que integra a administração
indireta.
O maior problema é que as mudanças nos marcos institucionais e contábeis
não ocorreram de maneira uniforme entre os estados, tendo sido operacionalizadas
em momentos distintos, segundo critérios específicos e em muitos casos
parcialmente.Este problema é ainda agravado pela carência de informações
detalhadas das contribuições previdenciárias e por uma mudança nos
procedimentos contábeis que criou uma descontinuidade nestas séries a partir de
17 Com destaque para as modificações na legislação após as Emendas Constitucionais 20/98, 41/03 e 47/05 com intuito de estabelecer regras do regime contributivo nos RPPS e aproximá-los dos princípios que norteiam o regime geral.
24
2006.18Diante deste quadro, fica bastante difícil construir séries mensais
consistentes das contribuições aos RPPS devido às descontinuidades que
aparecem tanto ao longo do período 2002-2012 quanto entre os próprios estados.19
A opção deste trabalho para minimizar tais problemas foiutilizar fontes de
dados complementares para identificar os itens contabilizadose agregar
acontribuição previdenciária patronal e as demais receitas intraorçamentáriasnuma
única categoria que concentra as principais descontinuidades do período.20Tais
descontinuidades e o comportamento diferenciado das contribuições previdenciárias
patronais, que mostraram sucessivas quedas nominais após 2005, estão
evidenciados na tabela 2. Note-se que, ao concentrar as descontinuidades em uma
única categoria, foi possível construir séries mais consistentes para as contribuições
previdenciárias dos empregados e demais contribuições sociais.
No restante do texto,os valores da contribuição previdenciária patronalserão
desconsiderados, seja pelaspossíveis distorções na estimação das séries mensais
ou sua própria naturezaintraorçamentária. Trata-se de receitas arrecadadasda
própria administração pública que refletem uma mudança de caráter formal e não
um volume de recursos arrecadado compulsoriamente do setor privado.21
18 A Portaria Interministerial STN/SOF 388/2006 estabeleceu uma classificação própria para as receitas intraorçamentárias, que antes estavam embutidas entre as demais receitas, e os balanços anuais somente passaram a apresentar campos com o detalhamento das contribuições sociais a partir de 2009. 19Existe uma variedade de situações particulares desde estados nos quais as contribuições previdenciárias somente aparecem como despesa pública (Alagoas e Amazonas em 2011), aqueles que declaram uma parcela das contribuições dos servidores (Paraná) e os que não discriminam as receitas intraorçamentárias das demais receitas previdenciárias (Ceará). 20 As receitas correntes intraorçamentárias são formadas quase exclusivamente por contribuições patronais aos RPPS ou aos planos de assistência médica dos servidores. Além destas, foram incorporadas as compensações entre o RGPS e o RPPS que são fluxos internos aos regimes previdenciários que também geram descontinuidades. 21 Note-se que a contribuição patronal é distinta da contribuição do servidor. Esta última é arcada pelos servidores públicos, enquanto a primeira reflete uma mudança formal na qual o Tesouro estadual deixa de realizar o pagamento direto dos benefícios previdenciários ou cobrir integralmente as insuficiências financeiras dos fundos previdenciários por repasses e passa a triangular recursos intraorçamentáriospara estes fins que são contabilizados como contribuições patronais.
25
Uma parcela de aproximadamente 60% dos montantes apresentados na
tabela 2corresponde a agregados das séries mensais do Distrito Federal, São Paulo,
Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. As séries mensais
deste primeiro grupo de estados (GE1),atualizadas até junho de 2012,podem ser
visualizadas no gráfico 2.As maiores dificuldades residem na estimação da CTB dos
21 estados restantes (GE2), nos quais os valores de referência estão em frequência
anual.
A metodologia de estimação fez uso de técnicas como a desagregação
temporal e a previsão contemporânea estimação mensal da CTB, a partir dos
indicadores relacionados que são construídos principalmente das informações
mensais dos RREOs. Asestimativas mensais desta parcela da CTB estadual e os
respectivos indicadores estão apresentados no gráfico 2 como GE2. Pode-se
observar que, de maneira geral, as séries se mostraram muito próximas, sugerindo
elevado grau de precisão dos indicadoresnos governos estaduais.22
22 Diferentemente dos indicadores do governo municipal que serão analisados na próxima seção. A principal exceção ocorre no indicador das contribuições sociais no período anterior a 2009, que devido às descontinuidades nas contribuições previdenciárias patronais. Ver o anexo 3para mais detalhes sobre os indicadores mensais.
26
Gráfico 2. Séries mensais da carga tributária estadual – janeiro de 2002 a junho de 2012. Valores nominais em milhões de R$.
27
Gráfico 2. Cont.
Fonte: Elaboração própria.
2.5 Estimação da carga tributária: Governo municipal
A fonte básica para apuração da CTB municipal é o banco de dados
Finbra,disponibilizado pela STN com informações anuais e uma cobertura queoscila
ao redor de 5.200 municípios. As informações primárias são submetidas às
operações listadas no anexo 1 para correção de inconsistências, complementação
de informações e imputação de valores faltantes. Segue-se a metodologia
apresentada em Orair et al. (2011)paraimputação de valores faltantes de acordo
28
com o comportamento da variável em grupos homogêneos de municípios em termos
de nível de renda, tamanho e localização geográfica. O tradutor do anexo 2 é então
utilizado para classificar os itens da carga tributária e fornecer os valores anuais de
referência que estão dispostos na tabela 3.
Tabela 3. Carga tributária municipal – Valores nominais em bilhões de R$. Classes de tributos 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Cálculos do IBGE
Impostos ligados à produção e à importação 12,9 15,8 19,1 19,7 24,3 27,2 31,7 34,4 - - Impostos sobre produtos 8,4 9,7 12,1 13,4 18,0 21,4 25,1 27,0 - - Outros impostos ligados à produção 4,5 6,2 7,0 6,3 6,3 5,8 6,6 7,4 - - Impostos sobre a renda e a propriedade 8,6 11,1 12,8 16,0 16,6 17,6 20,1 20,3 - - Impostos sobre a renda 1,6 2,2 2,5 3,1 3,6 4,5 5,0 5,2 - - Outros impostos sobre a renda e a propriedade 7,1 8,9 10,3 12,9 13,0 13,1 15,1 15,0 - - Contribuições previdenciárias do funcionalismo público 2,6 3,3 3,8 4,0 4,2 9,1 10,1 10,6 - - Impostos sobre o capital 1,6 1,7 1,9 2,3 2,8 3,6 4,1 4,6 - -
CTB municipal (I) 25,7 32,0 37,6 42,0 47,8 57,4 65,9 69,8 - - Cálculos próprios
Impostos ligados à produção e à importação 12,1 14,2 17,5 20,1 23,7 27,3 31,9 35,0 41,5 48,0 Impostos sobre produtos 9,0 10,2 12,5 14,8 17,8 20,8 25,0 27,4 32,8 38,5 Outros impostos ligados à produção 3,1 4,0 5,0 5,4 5,9 6,5 6,9 7,6 8,6 9,5 Impostos sobre a renda e a propriedade 9,3 10,9 12,2 13,4 14,9 16,7 18,5 19,8 22,7 26,2 Impostos sobre a renda 1,8 2,2 2,5 2,9 3,3 4,0 5,0 4,9 5,6 6,8 Outros impostos sobre a renda e a propriedade 7,5 8,7 9,7 10,5 11,6 12,6 13,5 14,9 17,2 19,3 Contribuições previdenciárias do funcionalismo público 1,8 2,3 2,9 2,7 3,0 3,8 3,9 4,3 5,1 6,0 Impostos sobre o capital 1,7 1,8 2,0 2,3 2,7 3,5 4,3 4,5 5,9 7,4
CTB municipal (II) 24,9 29,2 34,6 38,6 44,3 51,2 58,7 63,7 75,2 87,6 Discrepância
Valores absolutos (III) =(II) - (I) (0,7)
(2,8)
(3,1)
(3,4)
(3,6)
(6,2)
(7,3)
(6,2) - -
Valores relativos (IV) = (I)/(II) - 1 -2,9% -8,7% -8,1% -8,2% -7,5%-
10,8% -
11,0% -8,8% - - Discrepância (exclusive contribuições previdenciárias)
Valores absolutos 0,1 (1,8)
(2,1)
(2,2)
(2,4)
(0,9)
(1,0) 0,1 - -
Valores relativos 0,2% -6,3% -6,2% -5,8% -5,4% -1,8% -1,8% 0,1% - - Fonte: Tabela Sinótica 20 do sistema de contas nacionais do IBGE e cálculos próprios.
Pode-se observar na tabela que os cálculos próprios, em média,
subestimaram a CTB municipal em 8,2% e queas divergências se concentram nas
contribuições previdenciárias do funcionalismo público, que estão sujeitas às
29
mesmas descontinuidades abordadas na subseção 2.4. Após a exclusão das
contribuições previdenciárias, as divergências encontradas na CTB municipal ainda
são mais significativas do que nas demais esferas de governo.As estimativas são
próximas às do IBGE em 2002 e nos anos 2007 a 2009, mas apresentaram
diferenças mais significativas no período 2003-2006. Aparentemente, a raiz destas
divergências está nas operações de correção e de imputação dos valores
ausentes,implementadascom intuito deaumentar o grau de precisão das estimativas,
mas que, por alterarem as informações primárias, podem ocasionar distanciamento
em relação aos números apurados pelo IBGE.23De todo modo, vale destacar que as
divergências se reduziram bastante após 2006.
A estratégia para estimação mensal da CTB municipal é semelhante à
adotadanos estados para os quais não se dispunha de séries mensais diretamente
compatíveis aos valores anuais de referência. Os valores anuais são provenientes
da tabela 3 e os indicadores mensais das receitas correntes são construídos
principalmente dos relatórios orçamentários de2.374 municípios com informações
disponíveis até dezembro 2011 e que respondem por cerca de três quartos da CTB
municipal. A técnica de desagregação temporal por modelo de espaço de estados é
utilizada para compatibilizar valores anuais de referência e indicadores relacionados.
Para obtenção de um indicador conjuntural da CTB municipal atualizado até
junho de 2012, utilizam-se indicadores relacionados de uma subamostra mais
restrita de 1.390 municípios com informações disponíveis e a técnica de previsão
contemporânea por um modelo bivariado de espaço de estado.As estimativas
23 Por exemplo, foi feito um ajuste para reclassificar a cota-parte das compensações financeiras (royalties) que são contabilizadas por determinados municípios como contribuições econômicas e não transferências da União. Esta correção alcançou valores expressivos de R$ 904,4 milhões em 2003 e R$ 985,0 milhões em 2004 e explica grande parte das divergências. Os distintos procedimentos de imputação também parecem explicar diferenças significativas nos valores do IPTU apurados pelo IBGE que mostrou valores muito elevados no período 2005-2008. Para uma discussão sobre os procedimentos de imputação, ver Orair et al. . (2011).
30
mensais dos componentes da CTB municipal no período 2002-2012 podem ser
visualizadas no gráfico 3, juntamente com os respectivos indicadores relacionados.24
Gráfico 3. Séries mensais da carga tributária municipal – janeiro de 2002 a junho de 2012. Valores nominais em milhões de R$.
Fonte: Elaboração própria. Nota: O indicador 1 considera as informações da amostra de 2.374 municípios com informações disponíveis até dezembro 2011 e o indicador 2 da amostra mais restrita de 1.390 municípios com informações até junho de 2012.
Resumindo-se os principais argumentos desta seção, pode-se concluir que o
arcabouço metodológico forneceu estimativas com um elevado grau de aderência
aos números do IBGE.As principais divergências ocorreram nas séries das 24Ver o anexo 3para mais detalhes.
31
contribuições aos RPPS, as quais apresentam nítidas descontinuidades em
decorrência de mudanças meramente contábeis referentes à parcela patronal e que
serão desconsideradas no restante do texto. As demais divergências podem ser
atribuídas principalmente às correções nas informações primárias, com intuito de
prover estatísticas mais precisas, mas que ocasionaram distanciamentos em relação
aos números do IBGE.Estas séries mensais e atualizadas até junho de 2012 serão
analisadas ao longo da próxima seção.
3. Determinantes da evolução recente da carga tributária na economia brasileira
3.1 Considerações sobre a trajetória recente da carga tributária
O tema da carga tributária bruta é notoriamente controverso e, em função do
seu movimento de ascensão progressiva, tem adquirido crescente relevância no
debate sobre a política fiscal brasileira. O gráfico 4permite visualizar a trajetória de
crescimento quase progressivo da carga tributária que aumentou sua participação
no PIB em mais de 12 pontos percentuais desde a Constituição Federal de 1988,
quando saiu de níveis próximos a 23% e, segundo as estimativas deste trabalho,
superou o patamar de 35% do PIB em 2011.Em termos históricos, uma expansão
desta magnitude somente encontra paralelo com o período 1963-1970 do regime
autoritário, no qual a CTB cresceu cerca de 10 p.p. no PIB, ao passar do patamar
próximo a 16% para pouco mais de 26% do PIB.
32
Gráfico 4. Carga tributária bruta – 1988/2011.Valores anuais em participação (%) no PIB.
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das contas nacionais, das Estatísticas do Século XX do Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística (IBGE) nos anos 1988 a 1994, Santos et al.(2008) nos anos 1995 a 2001 e cálculos próprios de 1995 a 2011.
Este fenômeno é bastante particular e foi abordado em diversos estudos
comoAfonsoet al. (2005), Giambiagi (2008), Rezendeet al. (2008) e Santos e Gentil
(2009), entre vários outros. De maneira geral, tais análises parecem convergir ao
enfatizarem o papel desempenhado pelas medidas de onerações tributárias,
principalmente das contribuições sociais, no processo de evolução da carga
tributária bruta após a Constituição Federal de 1988.25 Contudo, pode-se identificar
uma reorientação do móvel por trás destas medidas ao longo do tempo.
De início, a elevação da CTB se processou principalmente pelas sucessivas
regulamentações de contribuições sociais cuja vinculação tem como objetivo custear
as despesas com seguridade social estabelecidas no âmbito da Constituição Federal
25 Ao longo deste trabalho, o termo oneração tributária será utilizado para se referir às modificações na legislação responsáveis pela criação ou majoração de alíquotas e de bases de incidência dos tributos. Por oposição, o termo desoneração tributária corresponderá às eliminações ou reduções de alíquotas e bases de incidência dos tributos.
33
de (isto é, as despesas públicas com saúde, previdência e assistência social),
conforme abordado porRezendeet al. (2008).Contudo, há uma inflexão na medida
em que o ajuste das contas públicas se tornou um imperativo, mais notavelmente
após o programa de ajuste fiscal negociado pelo governo com o FMI em 1999 e a
adoção do regime de metas fiscais formais de superávit primário que está vigente
até os dias atuais. A política fiscal passa por uma profunda modificação sob este
novo regime, quando o superávit primário das administrações públicas sai de um
patamar próximo a zero no final de 1998 para superar 3% do PIB em 2003.26
As análises passam então a destacar o padrão de ajuste fiscal do período,
que ocorreuprimordialmente pela expansão das receitas e não via contenção de
despesas, e o recurso aos aumentos legislados da carga tributáriapara tal
finalidade(Rezendeet al., 2008; Santos; Gentil, 2009). Neste contexto, aevolução da
CTB é explicada principalmente pelas onerações das contribuições sociais – em
função de suas características excepcionais e dos instrumentos de desvinculação
das receitas –, que constituíram o alvo preferencial dos administradores tributários
para atender o duplo objetivo de financiar as despesas da seguridade social e
propiciar receitas adicionais para sustentar o ajuste fiscal(Rezende et al., 2008).
Santos e Gentil (2009) observam ainda que os aumentoslegislados na carga
tributária não ocorreram de maneira progressiva,mas principalmente em meio às
crises cambiais de 1999 e 2002-2003. Os autoresidentificam um caráter prócíclico
26 Não se deve negligenciar o movimento compensatório de expansão das transferências de assistência e previdência no período após a Constituição Federal de 1988, que saíram de algo próximo a 9% para os atuais patamares de 16% do PIB, diferentemente do período do governo militar quando tais transferências que retornam diretamente às famílias eram pouco expressivas. Daí que a magnitude da expansão da carga tributária líquida (CTL) – que corresponde ao montante da CTB após serem deduzidas as transferências – foi muito inferior, mantendo-se inclusive relativamente estabilizada em torno de 14% do PIB até 1998, que coincide com o período anterior à mudança no regime da política fiscal. Por sua vez, o ano de 1999 marca a inflexão da CTL para uma tendência de crescimento, até alcançar os atuais níveis que superam 18% do PIB, quando passou a acompanhar a escalada da CTB e que guarda forte correlação com a elevação do superávit primário.
34
do padrão de ajuste fiscal, segundo o qual as onerações tributárias são
propostasmais frequentemente em situações emergenciais,quando se deseja
ampliar o resultado primário em resposta aos desequilíbrios patrimoniais na dívida
pública e com repercussões negativas no nível de atividade econômica.
Em resumo, as principais análises são unânimes em atribuir a escalada da
CTB aos aumentos legislados dos tributos (e principalmente dascontribuições
sociais), sejam estes orientados ao financiamento da seguridade social ou para
sustentar o ajuste fiscal.27Esta linha de argumentação parece bastante razoável para
explicar as inúmeras modificações na legislação tributária (onerações tributárias) nos
anos 2002 e 2003, mas cujos principais efeitos somente se fizeram sentir a partir de
2004, e que contribuíram para a elevação da CTB no período. Sem realizar uma lista
extensa, vale destacar as mudanças no regime de tributação do Pis/Pasep-Confins,
sobretudo com a instituição da tributação de valor adicionado sobre a importação;
nas contribuições previdenciárias do funcionalismo público e a ampliação da base de
incidência e mudança no regime de tributação do ISS. Entre os principais objetivos
das onerações tributárias do período 2002-2004 ainda se pode identificar a
necessidade de ampliar a arrecadação e o resultado primário em resposta aos
desajustes patrimoniais na dívida pública após a crise cambial de 2002, a exemplo
do que ocorreu durante a crise cambial de 1998-1999.
Ressalte-se, entretanto, que a CTB manteve sua escalada ascendente
mesmo após este período de predomínio das onerações tributárias. Como se pode
27 O que não implica negar algumas controvérsias sobre as consequências deste processo. Por exemplo, Rezende et al. (2008)enfatiza as distorções, custos de eficiência econômica, caráter temporário do ajuste fiscal (“efeito cremalheira”) e impactos anticrescimento do processo de elevações sucessivas das contribuições cumulativas. Por outro lado, Santos e Gentil (2009) destacam que o mesmo processo foi crucial na manutenção da estabilidade macroeconômica e na melhoria na distribuição da renda, ao viabilizar o aumento das transferências públicas de recursos aos brasileiros mais pobres.
35
visualizar de maneira mais clara nas séries mensais dográfico 5, a CTB mostrou
uma elevação significativa entre 2004 e meados de 2008, quando aumentou de
31,4% para 34,4% do PIB.28Este movimento foi interrompido temporariamente pelos
impactos da desaceleração econômica com o contágio da crise internacional e do
pacote de desonerações tributárias adotado pelo governo. Uma vez superados os
efeitos mais severos da crise e iniciado o desmonte do pacote de desonerações
tributárias anticíclicas, a série da CTB respondeu rapidamente desde o último
trimestre de 2010 até alcançar o novo recorde histórico de 35,5% do PIB em meados
de 2012, segundo o indicador conjuntural estimado neste trabalho.29
Gráfico 5. Carga tributária bruta em frequência mensal - 2002/2011. Valores anualizados em participação (%) no PIB.
28 Conforme observado na seção 2, o indicador mensal da CTB não inclui as contribuições patronais ao RPPS, que estão sujeitas a descontinuidades e não refletem um maior volume de recursos arrecadados compulsoriamente do setor privado. Por isto, as informações do gráfico 5 e do restante deste trabalho são ligeiramente inferiores às do gráfico 4. 29 A oscilação da CTB nos anos 2009-2011 também foi influenciada pelo Refis da crise (Lei 11.941/2009), que alterou a legislação para prover melhores condições de pagamento de débitos tributários (isenções, descontos e/ou parcelamentos). As condições favoráveis levaram muitas empresas a aderirem ao plano de refinanciamento e/ou saldarem suas dívidas tributárias, inclusive elevando extraordinariamente a arrecadação no final de 2009 em cerca de R$ 3,0 bilhões. Por outro lado, as dívidas tributárias do refinanciamento foram consolidadas apenas em 2011. Isto fez com que os pagamentos de 2010 ficassem em patamares mínimos e que ocorresse forte recuperação em 2011, diante da arrecadação extraordinária dos débitos consolidados (cerca de R$ 6,8 bilhões) e restabelecimento do fluxo normal de pagamentos.
36
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados do indicador mensal do PIB do Banco Central do Brasil (BCB) e cálculos próprios da carga tributária. Nota: Não inclui as contribuições patronais aos RPPS.
O aspecto central a ser destacado aqui é que os fatores por trás da elevação
da CTB desde 2004 parecem ter um caráter distinto daqueles que prevaleceram no
período anterior. A resposta à crise cambial de 2008 ocorreu pela adoção de um
pacote de desonerações tributárias – principalmente a redução das alíquotas do IOF
sobre o crédito e o IPI sobre automóveis, eletrodomésticos e materiais de
construção – e pela redução do superávit primário do setor público no ano de 2009,
ainda que tenham sido revertidos no ano seguinte. É claro que ocorreram medidas
pontuais de onerações tributárias desde 2004, como é o caso dos aumentos das
alíquotas do IOF – no final de 2007 com intuito de compensar parcialmente o fim da
CPMF e, mais recentemente, sucessivas medidas com intuito de reorientar as
operações financeiras para um perfil de maior maturidade – e da CSLL cobrada das
instituições financeiras que aumentou de 9% para 15% no ano de 2009.30
Em contrapartida, podem-se apontar inúmeras medidas em sentido contrário
(ou desonerações tributárias). As desonerações tributárias foram particularmente
importantes durante o enfrentamento da crise internacional no Brasil 2008-2009,
mas não se esgotaram neste período. O período após 2004 tem sido caracterizado
por desonerações tributárias sobre investimentos em bens de capital, inovação,
exportações e sobre folha de salários de setores específicos, além das reduções de
alíquotas da CIDE e do fim de uma contribuição (CPMF).Evitando-se entrar em
pormenores, cabe apenas observar que os mais recentes mecanismos de
desonerações tributárias anunciados pelo governo federal estão se caracterizando
30 Estimativas próprias indicam que o efeito da instituição do Pis/Pasep-Confins sobre importações em 2004 elevou a CTB em aproximadamente 0,7% do PIB e as elevações das alíquotas do IOF em cerca de 0,5% do PIB entre 2008 e 2011, majorações que foram insuficientes para compensar a perda de arrecadação pelo fim da CPMF de 1,3% do PIB em 2008.
37
não somente pelas medidas anticíclicas temporárias com intuito de reativar o nível
de atividade econômica, que se desacelerou novamente após 2010, mas
principalmente por medidas de caráter estrutural,voltadas para desoneração de
setores econômicos específicos e promoção dos investimentos.31A tabela 1 mostra o
volume significativo das estimativas de desonerações tributárias instituídas desde
2007 que, apesar da redução ocorrida no seu volume após 2009, continuam em
patamares bastante elevados e estimados em R$ 27,9 bilhões no ano de 2012.
Tabela 4. Estimativas de desonerações tributárias do Governo federal - Valores em R$ bilhões. Estimativas SRFB 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Instituídas em 2007 2,5 4,9 5,6
Instituídas em 2008 5,8 23,5 17,6 9,0 7,9
Instituídas em 2009 5,0 7,6 5,6 7,4
Instituídas em 2010 2,3 7,1 3,9 2,7
Instituídas em 2011 1,9 2,8 3,0
Instituídas em 2012 5,9 12,5 13,0
Total 2,5 10,7 34,1 27,5 23,6 27,9 18,2 13,0Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da Secretaria da Receita Federal do Brasil (SRFB).
Do exposto até aqui, não parece correto concluir que a política tributária do
período desde 2004 tenha se caracterizado pelo predomínio das onerações
tributárias ou mesmo que estas tenham sido as principais responsáveis pela
elevação da CTB. A análise sugere que as medidas pontuais de onerações
tributárias foram ao menos neutralizadas (e até mesmo superadas no período mais
recente) pelas medidas adotadas no sentido contrário e que o período no qual
predominavam aumentos da CTB por onerações tributárias se encerrou em 2004.
Este panorama geral da política tributária desde 2004 sugere uma inflexão em
relação aos fatores determinantes da elevação da carga tributária e que torna
31 Por exemplo, as medidas previstas na Lei 12.546/2011 e na Medida Provisória 582/2012 que incluem depreciação acelerada para bens de capital, regimes especiais e outras isenções para investimentos em bens de capital e inovação e para exportações; e as desonerações da folha de pagamento de setores da indústria, entre outras.
38
incompleto o argumento básico dos analistas da política fiscal – segundo o qual a
escalada da CTB se processou principalmente por aumentos legislados dos tributos,
sob o duplo propósito de financiar a seguridade social e, principalmente nos
momentos de crise, o ajuste fiscal de caráter prócíclico.32Esta possível inflexão tem
sido pouco explorada na literatura sobre o tema, com a principal exceção de Santos
et al. (2008)que identifica uma mudança de regime no período 2004-2007, no qual
sugerem que a elevação da CTB possa estar mais relacionada ao aumento da
lucratividade das empresas e da formalização da economia.
A presente monografia aprofunda esta análise nas próximas subseções,
buscando-se avaliar de maneira mais precisa a relação entre os componentes
responsáveis pela elevação da CTB e o comportamento de suas bases tributáveis.
Dedicando-se, assim, a um aparente paradoxo pouco tratado na literatura: Por que a
carga tributária tem crescido em meio a significativas desonerações?
3.2 Componentes da carga tributária e suas bases de incidência
Esta seção da monografia analisa a evolução recente dos componentes da
CTB de acordo com a classificação apresentada na subseção 2.2, que está
referenciada no novo sistema de estatísticas fiscais (FMI, 2001; STN, 2012),
desenhado para a análise fiscal e cuja classificação se aproxima das bases
econômicas de incidência dos tributos.33As estimativas apresentadas na tabela
5indicam que os impostos sobre os bens e serviços constituem o principal
componente da CTB, que representa cerca de dois quintos do total (ou 13,5% do
PIB em meados de 2012). Contudo, estes impostos são pouco úteis para explicar
aelevação recente da CTB porque apresentaram uma queda de 0,2pontos 32 O que não invalida esta argumentação para a análise da CTB no período desde a Constituição Federal de 1988, mas apenas requer a inclusão de elementos adicionais para o período mais recente. 33 As classes de receitas são as mesmas do quadro 2, com exceção da contribuições sociais que aparecem desagregadas entre RGPS e RPPS.
39
percentuais (p.p.) do PIB no período considerado, que inclusive é compatível com a
hipótese de predomínio das desonerações tributárias.
Tabela 5. Carga tributária bruta por bases de incidência – 2002-2012. 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2002-
2012 2007-2012
Participação no PIB (%) Variação
Impostos sobre renda, lucros e ganhos de capital - Pessoas físicas
1,90
1,96
2,02
2,18
2,16
2,27
2,43
2,28
2,33
2,52
2,58 0,68 0,32
Impostos sobre renda, lucros e ganhos de capital - Pessoas jurídicas
2,94
2,75
2,81
3,37
3,32
3,72
4,01
3,78
3,42
3,78
3,80 0,85 0,07
Impostos sobre renda, lucros e ganhos de capital - Não classificáveis
1,65
1,60
1,33
1,39
1,38
1,27
1,35
1,23
1,13
1,36
1,36 -0,29 0,09
Impostos sobre a folha de pagamento
2,12
2,09
2,07
2,15
2,23
2,20
2,26
2,37
2,30
2,45
2,55 0,43 0,35
Contribuições sociais – RGPS
4,71
4,67
4,80
4,96
5,10
5,18
5,24
5,52
5,59
5,88
6,08 1,37 0,90
Contribuições sociais – RPPS
0,81
0,78
0,85
0,86
0,91
0,93
0,90
0,93
0,90
0,92
0,94 0,12 0,01
Impostos sobre a propriedade - Transações financeiras e de capital
1,64
1,61
1,63
1,63
1,63
1,66
0,70
0,59
0,70
0,77
0,77 -0,87 -0,88
Impostos sobre a propriedade - Demais
1,16
1,15
1,13
1,15
1,19
1,23
1,23
1,30
1,28
1,33
1,39 0,23 0,16
Impostos sobre o comércio e as transações internacionais
0,86
0,75
1,36
1,45
1,47
1,57
1,89
1,52
1,72
1,89
1,98 1,12 0,41
Impostos sobre bens e serviços
13,7
13,5
13,7
13,7
13,5
13,4
13,6
12,8
13,2
13,5
13,5 -0,20 0,14
Taxas administrativas 0,49
0,48
0,49
0,52
0,53
0,52
0,53
0,55
0,53
0,55
0,56 0,08 0,04
CTB 32,0
31,4
32,2
33,4
33,4
33,9
34,1
32,9
33,1
34,9
35,5 3,53 1,61
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados das contas nacionais do IBGE e cálculos próprios da CTB. Obs.: Os valores indicados como 2012 são acumulados em quatro trimestres até junho de 2012.
40
Gráfico 6. Componentes da Carga tributária bruta – dezembro de 2002 a junho de 2012.Valores anualizados em participação (%) no PIB.
Fonte: Elaboração própria a partir do indicador mensal do PIBdo Banco Central do Brasil (BCB)e das estimativas próprias da CTB.
Dois grupos merecem destaque na tabela 5e no gráfico 6por mostrarem
mudanças bastante expressivas nos montantes arrecadados: impostos sobre o
comércio e as transações internacionais e impostos sobre transações financeiras e
de capital. Estes dois agrupamentos também são relevantesporque concentram as
modificações na legislação tributária com maiores impactos sobre a arrecadação
(instituição daCOFINS/PIS-PASEP sobre importações entre 2002 e 2004, fim da
CPMF e elevações recentes de alíquotas do IOF), conforme destacado na subseção
anterior. Os números sugerem que estas medidas tiveram efeitos compensatórios,
mas sem ocasionar impactos substanciais no agregado da CTB. A queda líquida da
arrecadação dos impostos sobre transações financeiras (-0,9 p.p. no PIB) foi
compensada pelo redirecionamento da tributação sobre os importados (+1,1 p.p) e,
41
apesar das oscilações intermediárias, o agregado destes tributos permaneceu
relativamente estabilizado em pouco mais de 2,5% do PIB entre o final de 2002 e
meados de 2012.
Os principais responsáveis pela expansão recente da CTB estão classificados
na tabela 5como: impostos sobre a renda, lucro e ganhos de capital(aumento de 1,2
p,p entre 2002 e 2012), impostos sobre a folha de pagamento(+0,4 p.p.) e
contribuições sociais(+1,5p.p.). O total dos impostos sobre a renda, lucro e ganhos
de capitalrepresentapouco mais de um quinto da CTB (ou 7,7% do PIB em junho de
2012) e seus subgrupos observaram trajetórias bastante diferenciadas. O
crescimento dos impostos sobre pessoas jurídicasfoi bastante concentrado no
período 2004-2008, quando saíram de aproximadamente 2,8% no final de 2004 até
superar 4% do PIB em meados de 2008. Estes tributos que incidem essencialmente
sobre o lucro das empresas sofreram uma queda mais intensa durante a crise
internacional e a recuperação ocorrida em 2011 foi insuficiente para retomar os
patamares anteriores. Desde meados de 2011, os impostos sobre a renda das
pessoas jurídicas estão relativamente estabilizados em 3,8% do PIB, que
corresponde a um patamar semelhante ao verificado em 2007.
Em contrapartida, a expansão doimposto sobrea renda das pessoas
físicasocorreu em quase todos os anos (com única exceção de 2009),tendo
mostrado acréscimos de 0,4 p.p. no PIB durante 2002-2007 e 0,3 p.p. em 2007-
2012.34 Esta trajetória se assemelha bastante às observadasentre os impostos sobre
a folha de pagamento e as contribuições sociais, que possuema caraterística comum
de incidirem principalmente sobre os rendimentos do trabalho. Osimpostos sobre a
34 Há ainda os impostos sobre a renda não classificados que mostraram uma queda entre 2002-2004 (-0,3 p.p.), explicada principalmente por uma mudança na tributação do IRRF sobre o capital de fundos de renda fixa, para depois se estabilizarem em aproximadamente 1,3% do PIB.
42
folhade pagamentoavançaram sua participação no PIB em 0,4 p.p. no período 2002-
2012, as contribuições sociais do RGPS em 1,4 p.p. e ascontribuições sociais do
RPSS em 0,1p.p., que totaliza um acréscimo de quase 2p.p. em pouco mais de dez
anos.
No agregado, os tributos que incidem principalmente sobre a renda do
trabalho (impostos sobre a renda da pessoa física, impostos sobre a folha de
pagamento e contribuições sociais) aumentaram sua participação no PIB de 9,5%
em 2002 para 10,6% em 2007 e, após a breve desaceleração, retomaram a marcha
ascendente até alcançar 12,2% em meados de 2012. Os acréscimos ocasionados
por estes tributos contribuem com quase três quartos da elevação total da CTB no
período 2002-2012 (2,6 p.p. do total de 3,5p.p.) e respondem quase integralmente
pela expansão na CTB entre 2007-2012 (1,6 p.p. do total de 1,6 p.p.).
Pode-se, assim, concluir que a principal causa da elevação da CTB no
período considerado está ligada aos impostos (e contribuições sociais) que incidem
principalmente sobre a renda do trabalho. Em caráter secundário, os impostos sobre
o lucro das empresasexplicam uma parcela importante da elevação da CTB no
período 2005-2008, mas se tornaram menos importantes no período mais
recente.Segundo as estimativas deste trabalho, a CTB aumentou 3,5 p.p. no período
2002-2012, sendo que 2,6 p.p. ocorreram entre os tributos que incidem
principalmente sobre a renda do trabalho e 0,9 p.p. nos impostos sobre o lucro.35
Neste contexto, um aspecto relevante a ser explorado diz respeito à relação
entre a arrecadação e o comportamento da renda do trabalho e dos lucros na 35 Claro está que existem outros impostos com mudanças importantes, mas não tiveram impactos consideráveis na arrecadação agregada seja devido à sua pequena magnitude, como é o caso de alguns impostos sobre a propriedade, ou porque resultaram de mudanças na legislação que foram compensadas por outras medidas equivalentes, como é o caso do redirecionamento da tributação sobre as transações financeiras para as importações.
43
economia brasileira. Cumpre notar que o período recente se caracterizou por uma
inflexão na participação da renda dos empregados no PIB que, segundo os dados
das contas nacionais disponíveis até 2009,aumentou 4,3 p.p. entre 2004 e 2009
(passando de 39,3% para 43,6% do total do PIB); diferentemente do período anterior
quando a remuneração dos empregados perdia participação no total da renda, como
se pode observar na tabela 6.De maneira associada, é possível observar na mesma
tabela o aumento gradual da parcela de ocupações com vínculos formais, que
ampliou de 40,8% para 47% do total das ocupações durante os anos 2004-2009.
Sem dúvida, o crescimento da arrecadação dos impostos sobre o trabalho a
uma taxa anual de 13,7% ao ano (a.a.) no período 2004-2009 mostrado na tabela 6
é digno de nota, mas não parece tão distante da taxa de crescimento dos salários de
13,2% a.a. Sobretudo quando se considera que houve uma expansão mais que
proporcional das ocupações com vínculo formal, o que pode ser um indicativo de
que a massa de rendimentos do trabalho passível de tributação tenha ampliado seu
peso em relação aos rendimentos dos trabalhadores não formalizados e menos
sujeitos à tributação.
44
TABELA 6. Arrecadação dos tributos que incidem principalmente sobre a renda do trabalho, componentes do PIB pela ótica da renda e natureza dos vínculos de ocupações das contas nacionais – 2002-2009. 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2004-2009
Valores nominais (bilhões de R$) Tax. cresc. (a.a.)
Impostos sobre renda - Pessoas Físicas 28,1 33,3 39,3 46,8 51,1 60,3 73,8 73,9 13,5%
Impostos sobre a folha de pagamento 31,3 35,5 40,2 46,2 52,8 58,5 68,4 76,6 13,7%
Contribuições sociais – RGPS 69,7 79,3 93,2 106,6 120,9 137,8 158,9 178,7 13,9%
Contribuições sociais – RPPS 12,0 13,2 16,5 18,4 21,5 24,8 27,4 30,0 12,6%
Total 141,1 161,3 189,2 217,9 246,2 281,3 328,6 359,2 13,7%
Valores nominais (bilhões de R$) Tax. cresc. (a.a.)
PIB 1.478 1.700 1.941 2.147 2.369 2.661 3.032 3.239 10,8%
Remuneração dos empregados 588 672 763 861 969 1.100 1.268 1.413 13,1%
Salários 465 529 598 681 771 870 1.002 1.114 13,2%
Contribuições sociais 124 143 165 180 198 230 266 299 12,6%
Rendimento misto 162 180 189 201 213 241 265 260 6,6%
Remuneração dos ocupados 626 709 788 882 984 1.111 1.267 1.375 11,8%
Participação no PIB (%) Variação
Remuneração dos empregados 39,8 39,5 39,3 40,1 40,9 41,3 41,8 43,6 4,3
Salários 31,4 31,1 30,8 31,7 32,5 32,7 33,0 34,4 3,6
Contribuições sociais 8,4 8,4 8,5 8,4 8,4 8,6 8,8 9,2 0,7
Rendimento misto 10,9 10,6 9,7 9,4 9,0 9,0 8,7 8,0 -1,7
Remuneração dos ocupados 42,4 41,7 40,6 41,1 41,5 41,7 41,8 42,4 1,9
Número de ocupações (milhares) Variação
N. de ocupações 82,6 84,0 88,3 90,9 93,2 94,7 96,2 96,6 8,4
Com vínculo formal 32,9 34,1 36,0 37,4 39,5 41,2 43,6 45,4 9,4
Sem carteira 19,3 19,0 20,4 20,5 20,9 20,7 21,0 20,7 0,3
Autônoma 30,4 30,9 31,9 32,9 32,8 32,8 31,7 30,6 -1,3
Participação de ocupações no total (%) Variação
Com vínculo formal 39,9 40,6 40,8 41,2 42,4 43,5 45,3 47,0 6,2
Sem carteira 23,3 22,6 23,1 22,6 22,5 21,8 21,8 21,4 -1,7
Autônoma 36,8 36,8 36,1 36,2 35,1 34,6 32,9 31,6 -4,5
Fonte: Elaboração própria com os dados das contas nacionais e cálculos próprios da arrecadação de impostos e contribuições.
45
Gráfico 7. Taxas reais de crescimento da arrecadação dos tributos que incidem principalmente sobre a renda do trabalho e daremuneração dos ocupados e participação das ocupações com vínculo formal no total.
Fonte: Elaboração própria com os dados da Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE e cálculos próprios da arrecadação de impostos e contribuições. Nota: Consideram-se as taxas de crescimento dos valores acumulados no semestre em relação ao mesmo período do ano anterior, deflacionados pelo IPCA. As ocupações com vínculo formal não incluem os empregadores. As informações do gráfico 7 também sugerem uma relação estreita entre a
arrecadação dos impostos que incidem principalmente sobre a renda do trabalho e o
comportamento da sua base tributável.36 O gráfico mostra trajetórias fortemente
correlacionadas para as taxas de crescimento dos rendimentos dos ocupados e da
arrecadação e, mesmo que esta última tenha crescido a taxas superiores, há que se
considerar a expansão gradual do peso das ocupações com vínculos formais desde
o início de 2004.37É natural, portanto, que, diante das características do padrão de
crescimento econômico dos últimos anos – no qual a renda do trabalho cresce mais
rapidamente e coincide com o aumento do grau de formalização das ocupações–, a
base de incidência dos tributos sobre a renda do trabalho cresça mais rapidamente
36As informações mais atualizadas do gráfico 7 são advindas da Pesquisa Mensal do Emprego, restritas a seis regiões metropolitanas e à renda do trabalho principal (e não outras fontes de renda). 37Há que se considerar ainda que impostos como o IRPF possuem alíquotas progressivas que, tudo mais constante, crescem mais que proporcionalmente com a expansão dos rendimentos médios (já que seus limites de isenção apenas repuseram a inflação nos últimos anos).
46
do que o PIB e impulsione a arrecadação. A próxima subseção irá explorar esta
hipótese de maneira mais rigorosa por meio de um modelo econométrico.
Uma análise de caráter semelhante pode ser estendida para os impostos
sobre o lucro. A dificuldade adicional é que inexistem informações sobre o montante
de lucros na economia brasileira, sendo possível obter no máximo uma aproximação
pelo saldo das rendas primárias dos setores institucionais empresas (financeiras e
não financeiras) nas contas nacionais. Os dados da tabela 7 mostram uma taxa
média de crescimento de 13,8% nos anos 2004-2007 para o indicador de lucros das
empresas, que foi superior à taxa média de crescimento do PIB de 11,9%, até ser
impactado pela crise internacional e mostrar rápida desaceleração para uma taxa de
8,3% em 2008 e 2,8% em 2009,muito inferioresao crescimento do PIB nos mesmos
anos.A volatilidade da arrecadação dos impostos sobre o lucrofoi ainda maior, com
um crescimento médio mais elevado nos anos 2004-2008(21,3%) e uma taxa mais
reduzida em 2009 (0,7%).
Tabela 7. Produto interno bruto (PIB), saldo das rendas primárias das empresas (financeiras e não financeiras) e arrecadação dos impostos sobre os lucros das pessoas jurídicas – 2003-2012. 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012*
Valores nominais (R$ bilhões)
PIB 1.700 1.941 2.147 2.369 2.661 3.032 3.239 3.770 4.143 2.143
Saldo das rendas primárias 354,3 400,4 453,1 522 593,9 642,9 661,1 - - -
Impostos sobre o lucro 46,8 54,5 72,4 78,6 99,1 121,5 122,4 128,9 156,6 84,9
Taxa de crescimento (%) em relação ao ano anterior
PIB - 14,2 10,6 10,4 12,3 13,9 6,8 16,4 9,9 6,8
Saldo das rendas primárias - 13,0 13,2 15,2 13,8 8,3 2,8 - - -
Impostos sobre o lucro - 16,6 32,8 8,6 26,0 22,6 0,7 5,4 21,5 7,5
Fonte: Elaboração própria com os dados das contas nacionais do IBGE e cálculos próprios da arrecadação de impostos. Obs.: Os montantes referentes a 2012 são acumulados no primeiro semestre a as taxas de crescimento consideram o mesmo período de 2011.
47
Gráfico 8. Taxas reais de crescimento da arrecadação dos impostos sobre os lucros das pessoas jurídicas e do produto interno bruto (PIB) no ano anterior.
Fonte: Elaboração própria com os dados das contas nacionais trimestrais do IBGE e cálculos próprios da arrecadação de impostos e contribuições. Nota: Consideram-se as taxas de crescimento dos valores acumulados no semestre em relação ao mesmo período do ano anterior, deflacionados pelo IPCA.
A arrecadação nos anos 2010 e 2011 mostrou grande oscilação, influenciada
por eventos atípicos e pelos efeitos defasados do período de crise econômica, mas
voltou a crescer a uma taxa mais próxima ao PIB na primeira metade de 2012.38As
informações do gráfico 8 permitem visualizar de maneira mais evidente as relações
entre as trajetórias da arrecadação sobre o lucro e o crescimento da economia. O
gráfico indica que, de maneira geral, a arrecadação sobre os lucros responde com
uma defasagem de aproximadamente um ano e de maneira elástica ao crescimento
do PIB, ampliando-se proporcionalmente mais nos períodos de aceleração
econômica e mostrando queda mais que proporcional durante as desacelerações.
38 A arrecadação sobre o lucro reflete a base tributável com certa defasagem porque uma parcela considerável tem como referência o exercício-fiscal do ano anterior e/ou está sujeita aos ajustes anuais dos balanços das empresas. Entre os eventos atípicos, destacam-se os pagamentos extraordinários por uma grande empresa mineradora decorrente de ação judicial, cerca de R$ 5,8 bilhões em 2011, e o Refis da crise que, em função de um pagamento extraordinário com a consolidação das dívidas tributárias e restabelecimento do fluxo normal de pagamentos em 2011 (que estavam nos patamares mínimos no ano anterior), gerou um aumento na arrecadação de R$ 5,6 bilhões em 2010 para R$ 17,1 bilhões em 2011 (concentrados principalmente nos tributos sobre o lucro e faturamento das empresas).
48
Contudo, esta relação parece não ser linear e ocorreram momentos
específicos de descolamento que ampliam a volatilidade da arrecadação sobre o
lucro, seja durante o período de aceleração do crescimento entre os anos 2005-2008
ou na queda bastante acentuada da arrecadação após o contágio da economia
brasileira pela crise internacional em 2008-2009.Vale destacar que a arrecadação
sobre o lucro mostroumaior volatilidade do que o próprio indicador dos lucros
macroeconômicos durante os anos 2004-2009. Esta hipótese de uma relação não
linear entre crescimento do produto e arrecadação sobre os lucros será analisada
com mais rigor na próxima seção.
3.3 Modelagem de parâmetros variáveis para a carga tributária
A seção anterior procurou mostrar que a CTB vem sendo impulsionada pela
tributação que incide principalmente sobre a renda do trabalho e, secundariamente,
pelos impostos sobre os lucros. A análise descritiva indicou que a dinâmica dos
tributos sobre a renda do trabalho não parece dissociada do comportamento da sua
base tributável, em função das características do padrão de crescimento econômico
do período recente que combina expansão mais acelerada da massa salarial e
aumento do grau de formalização do mercado de trabalho.Em relação aos impostos
sobre os lucros, a mesma análise sugeriu que a arrecadação é elástica em relação
ao crescimento do produto, mas que a natureza desta relação não é linear, em
função de descolamentos em momentos específicos do período 2005-2009.
Esta seção aprofunda a análise ao apresentar os resultados de um modelo de
parâmetros variáveis para cada um dos principais componentes da carga tributária
no Brasil. Segue-se, assim, a pouco extensa literatura econométrica brasileira que
considera a possibilidade de inconstância paramétrica nos modelos de arrecadação
49
das receitas públicas(Hernández, 1998; Medrano; Mendonça; Santos, 2009;
Portugal; Portugal, 2001; Santos; Ribeiro; Gobetti, 2008).39
Admite-se, sob esta formulação, que a arrecadação é uma função de sua
base tributável, eventuais variáveis explicativas adicionais ou de intervenção, um
termo autônomo que capta a influência de fatores independentes e um termo de
resíduo que pode ser interpretado como a soma dos fatores individualmente
insignificantes.O caráter distintivo da abordagem de parâmetros variáveis é que se
considera explicitamente a possibilidade de alterações tanto nas relações entre a
arrecadação e as variáveis explicativas quanto no próprio termo autônomo que capta
a influência de fatores não observáveis ao longo do tempo. Esta abordagem se
mostra bastante apropriada para o caso brasileiro por captar mudanças nas
elasticidades-renda da arrecadação, por exemplo ocasionadas pelas constantes
majorações das alíquotas, ou de outros fatores como as melhorias no aparelho de
arrecadação e fiscalização eo aumento no grau de formalização da
economia(Medrano; Mendonça; Santos, 2009).
Esta monografia apresenta uma modelagem de parâmetros variáveis para as
séries mensais dos principais componentes da CTB, a saber: o total dos tributos que
incidem principalmente sobre a renda do trabalho (impostos sobre a renda das
pessoas físicas, impostos sobre a folha de pagamento e contribuições sociais);
impostos que incidem principalmente sobre o lucro das empresas (impostos sobre a
renda, lucro e ganhos de capital das empresas jurídicas) e o agregado dos demais
impostos.No caso específico dos tributos sobre a renda do trabalho é possível dispor
da remuneração dos ocupados que, conforme abordado na subseção anterior,
39 Santos et al. (2008) apresenta uma resenha da literatura econométrica sobre a modelagem das receitas públicas brasileiras.
50
reflete melhor a base de incidência destes tributos. Também se pode incluir como
variável explicativa a participação das ocupações com vínculo formal no total das
ocupações, objetivando-se avaliar a influência do grau de formalização do mercado
de trabalho. Em contrapartida, os modelos dos impostos sobre o lucro das empresas
e demais impostos utilizam o PIB como uma aproximação para as múltiplas bases
de incidência dos tributos, o que é bastante usual na literatura.
Optou-se previamente por ajustar um modelo estrutural básico para decompor
a série do PIB entre seu componente cíclico, relacionadoàs oscilações cíclicas do
nível de atividade econômica, e o componente tendencial, que capta os movimentos
de médio e longo prazo na tendência da série (Harvey, 1990). Os resultados da
decomposição pelo modelo estrutural básico para o indicador do PIB mensal estão
apresentados no gráfico 9, que indica a existência de quatro ciclos de
aproximadamente 2,7 anos durante o período considerado. Permitindo-se estimar
separadamente a elasticidade da arrecadação em relação ao componente
tendencial do PIB (elasticidade-PIB) e também sua sensibilidade aos movimentos
cíclicos da economia.
51
Gráfico 9. Componentes estruturais do PIB – 2002-2012. Séries em logaritmos em milhões de R$ de dezembro de 2011, deflacionados pelo IPCA.
PIB (logaritmo) Tendência
2005 2010
12.4
12.6
12.8 PIB (logaritmo) Tendência Sazonal
2005 2010
-0.050
-0.025
0.000
0.025
0.050Sazonal
Cíclico
2005 2010
-0.025
0.000
0.025
Cíclico Irregular
2005 2010
-0.025
0.000
0.025
Irregular
Fonte: Elaboração própria a partir do indicador mensal do PIB do BCB.
Serão estimados três modelos para os componentes da carga tributária. O
primeiro modelo para os tributos sobre a renda do trabalho será formado por um
termo autônomo e por variáveis explicativas correspondentes à remuneração dos
ocupados e peso das ocupações com vínculos formais. Os outros dois modelos para
os impostos sobre o lucro e demais impostos conterão um termo autônomo e
variáveis explicativas para os componentes cíclico e tendencial do PIB.
Os parâmetros de nível e os parâmetros relacionados às variáveis
explicativas são modelados na forma de um passeio aleatório, permitindo-
sevariações ao longo do tempo. Os modelos incluem um componente sazonal e são
52
estimados via processo recursivo do filtro de Kalman. As séries são logaritmos dos
valores mensais para o período de janeiro de 2002 a junho de 2012, convertidos
para reais de dezembro de 2011 pelo IPCA.40
Os principais parâmetros estimados podem ser visualizados nas figuras 10 a
12, enquanto os demais parâmetros e estatísticas de diagnóstico estão
apresentados no anexo 4. O modelo dos tributos sobre a renda do trabalho
apresentou um elevado poder explicativo e parâmetros relativamente fixos ao longo
do tempo que estão mostrados na figura 10, com exceção da sensibilidade ao grau
de formalização do mercado de trabalho (peso das ocupações com vínculos formais)
que cresceu ligeiramente durante o período. Conforme esperado, as relações da
arrecadação com suas variáveis explicativas são significativas e bastante estáveis.
Provendo-se evidências empíricas da relação estreita entre os tributos sobre a renda
do trabalho e sua base tributável, tal qual abordada na seção anterior.
O modelo dos demais impostos apresentado na figura 12 estimou uma
elasticidade-renda variável ao longo do tempo. Esta elasticidade apresentou
patamares próximos a 1,047 no início do período e, principalmente após meados de
2008, mostrou uma redução gradual até alcançar 1,039 no terceiro trimestre de
2009. Uma possível interpretação é que esta redução reflete o pacote anticíclico de
desonerações tributárias, que modificou a relação entre a arrecadação e o PIB,
mesmo após controlar pelo efeito das oscilações cíclicas que também foi
significativo no modelo estimado. Durante o período que coincide com o desmonte
do pacote anticíclico, a elasticidade-produto voltou a crescer até se estabilizar em
um patamar próximo a 1,045. Ainda assim, é importante ressaltar que a arrecadação
40 Exceto a série da participação das ocupações com vínculo sobre o total das ocupações que está em taxa percentual (e não inclui os empregadores). Esta série, juntamente com a série das remunerações dos ocupados, são advindasda Pesquisa Mensal do Emprego do IBGE e foram apresentadas no gráfico 7 da subseção 3.2. Além disto, estão restritas aos meses após fevereiro de 2002 devido a uma mudança na metodologia da pesquisa.
53
se mostrou pouco sensível ao produto (elasticidade próxima à unidade), o que é
coerente com a análise descritiva da seção 3.2 que sugeriu pequena contribuição
destes tributos na elevação da CTB, e ainda mostrou redução no período como um
todo, que é compatível com a hipótese de predomínio das desonerações.
Em contrapartida, o modelo dos impostos sobre o lucro encontrou uma
elasticidade-produto mais elevada de aproximadamente 1,252 e que permaneceu
estável durante todo o período, o que explica parcialmente o crescimento
proporcionalmente maior destes tributos em relação à tendência do PIB e, por
conseguinte, a elevação da carga tributária. O parâmetro relacionado ao
componente cíclico do PIB também se mostrou positivo e significativo, a exemplo do
ocorrido no modelo dos demais impostos.
Contudo, o aspecto que mais chama atenção no modelo dos impostos sobre
o lucro está relacionado às mudanças no componente de nível, como se pode
observar no gráfico 11. Este componente, que capta a influência de fatores não
relacionados ao PIB, mostrou uma expansão quase gradual entre o início de 2003 e
meados de 2008, quando passou a se reduzir até atingirem 2012 patamares
semelhantes aos vigentes no início do período.Tais resultados também são
coerentes com a análise descritiva que sugeriu uma maior volatilidade dos impostos
sobre o lucro em relação ao crescimento do PIB e a existência de momentos
específicos de descolamento, que parecem estar sendo captados pelas mudanças
no componente não observável do modelo.
É possível identificar duas hipóteses explicativas para este descolamento da
arrecadação dos impostos sobre o lucro. Uma primeira hipótese está relacionada
aos efeitos dosciclos de crescimento econômico no Brasil e dos mercados
financeiros internacionais, que ensejou um movimento de valorização de ativos (e
54
ampliação do volume de negociações) e de reestruturação de empresas que
ampliou as bases tributáveis de maneira mais que proporcional em relação ao PIB,
tanto diretamente via ampliação dos ganhos de capital quanto indiretamente através
da ampliação dos lucros não operacionais das empresas.41 Este aspecto foi
particularmente importante no período anterior à crise internacional de 2008, ao
propiciar receitas extraordinárias nos impostos que incidem sobre o lucro das
empresas e um boom financeiro de arrecadação, que pode explicar o descolamento
entre a arrecadação e os fluxos correntes de renda e produção.
Uma hipótese adicional diz respeito ao caráter prócíclico dos débitos
tributários, já que durante os períodos de acelerações econômicas e melhoria das
condições de liquidez tende a ocorrer um maior volume de quitação pelas empresas,
ao mesmo tempo que tendem a ser postergados nos períodos de reversão.Note-se
que estas são apenas hipóteses explicativas a serem exploradas em
aprofundamentos ulteriores deste trabalho.Por hora, cumpreapenas notar que o
período no qual os impostos sobre os lucros responderam por parcela relevante da
expansão da carga tributária (2004-2008) coincide a evolução ascendente do
componente de nível do modelo(gráfico 11).
41 Por exemplo, em decorrência das ofertas públicas iniciais de ações ou IPO´s na sigla em inglês de 2007 e 2008.
55
Gráfico 10.Parâmetros do modelo dos tributos sobre a renda do trabalho – 2002-2012.
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados dos modelos apresentados no anexo 4.
56
Gráfico 11.Parâmetros do modelo dos impostos sobre o lucro – 2002-2012.
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados dos modelos apresentados no anexo 4.
57
Gráfico 12. Parâmetros do modelo dos demais impostos – 2002-2012.
Fonte: Elaboração própria a partir dos resultados dos modelos apresentados no anexo 4.
58
4. Considerações Finais
Esta monografia não somente apresentou um arcabouço metodológico para
estimação dos componentes mensais da carga tributária brasileira, como também se
dedicou a analisar os principais determinantes da sua evolução desde 2002.
Procurou-se argumentar que esta evolução se processou, na maior parte do
período, sobre predomínio das desonerações tributárias e que seu principal
determinante está ligado ao comportamento dos tributos que incidem sobre os
rendimentos do trabalho e, apenas secundariamente, aos impostos sobre o lucro
das empresas.
As análises descritivas e econométricas mostraram, em primeiro lugar,
indícios de que a arrecadação sobre os rendimentos do trabalho vem mostrando
uma relação bastante estreita com sua base tributável, que vem crescendo mais do
que o PIB devido às características do padrão de crescimento econômico do período
recente, o qual combina expansão mais acelerada da massa salarial e aumento do
grau de formalização do mercado de trabalho. Os impostos sobre o lucro se
mostraram elásticos em relação ao componente tendencial do PIB, o que contribui
parcialmente para explicar o crescimento da carga tributária.
Contudo, os principais movimentos dos impostos sobre o lucro parecem estar
relacionados a um componente cíclico não observável, que ocasionou uma
expansão autônoma na carga tributária durante os anos 2004-2008 e que deixou de
exercer este mesmo efeito após sua reversão em meados de 2008, quando os
impostos sobre o lucro passam a ser pouco relevantes para explicar a elevação da
carga tributária. A principal hipótese para este descolamento temporário entre a
59
arrecadação e os fluxos correntes de renda e produção está relacionada a um
provável boom financeiro das receitas, vinculado aos ciclos de crescimento
econômico no Brasil e dos mercados financeiros. A avaliação mais rigorosa desta
hipótese será uma importante linha de avanços futuros desta pesquisa. Por fim, o
agregado dos demais impostos não somente se mostrou pouco elástico em relação
ao produto, como também houve uma redução nesta relação que é compatível com
a hipótese de predomínio das desonerações tributárias no período considerado.
Sintetizando os principais pontos, a análise sugere que os determinantes
fundamentais da dinâmica carga tributária nos últimos anos estão relacionados às
características do padrão de crescimento econômico que favorecem a arrecadação
dos rendimentos do trabalho (expansão simultânea da massa salarial e do grau de
formalização do mercado de trabalho) e, durante os anos 2005-2008, aos possíveis
efeitos dos ciclos econômico e do mercado financeiro que ocasionaram um boom na
arrecadação dos lucros das empresas. Este diagnóstico é compatível com o fato de
que as onerações tributárias nos últimos anos foram bastante pontuais, restritas a
setores específicos, explicam apenas parcialmente o aumento da arrecadação nos
mesmos, e, além disto, tiveram como contrapartida inúmeras medidas contrárias.
60
REFERÊNCIAS AFONSO, J. R. R.; ARAUJO, E. A.; KHAIR, A. Carga tributária - mensuração e impacto sobre o crescimento. Revista de Economia & Relações Internacionais, S. Paulo: Fundação Armando Álvares Penteado FAAP. v. 4, n. 7, p. 27-42, jul. 2005. AFONSO, J. R. R.; CASTRO, K. Carga Tributária Global do Brasil 20102010. (Nota técnica). AMARAL, G. L.; OLENIKE, J. E.; STEINBRUCH, F. Carga Tributária Brasileira de 2010. Curitiba: Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário - IBPT, 2011. (Nota técnica). DIAS, V. P.; ISSLER, J. V.; RODRIGUES, C. Interpolação de variáveis fiscais brasileiras usando representação de espaço de estados. In: ENCONTRO BRASILEIRO DE ECONOMETRIA. Salvador: Anais eletrônicos..., 2010. v. 38. FMI. Government Finance Statistics Manual 2001 (GFSM 2001). 2. ed. [S.l.] Fundo Monetário Internacional - FMI, 2001. GIAMBIAGI, F. 18 anos de política fiscal no Brasil: 1991/2008. Economia Aplicada, v. 12, n. 4, p. 535–580, 2008. HARVEY, A. C. Forecasting, structural time series models and the Kalman filter. Cambridge; New York: Cambridge University Press, 1990. HERNÁNDEZ, B. C. M. Um modelo econométrico da conta corrente do governo no Brasil-1951/95. [S.l.] Ipea, 1998. (Texto para discussao, n. 543). IBGE. Sistema de contas nacionais�: Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2008. KHAIR, A. Estimativa da Carga Tributária 2011. São Paulo: FGV-SP, 2011. (Nota técnica). MEDRANO, L. A.; MENDONÇA, M. J.; SANTOS, C. H. M. Um Modelo Econométrico com Parâmetros Variáveis para a Carga Tributária Bruta Brasileira Trimestral. Brasília-DF: IPEA, 2009. (Texto para discussao, n. 1439). ORAIR, R. O. et al. Uma metodologia de construção de séries de alta frequência das finanças municipais no Brasil com aplicação para o IPTU e o ISS: 2004-2010. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 41, n. 3, 2011. ORAIR, R. O.; SILVA, W. J. Investimentos dos governos subnacionais no Brasil: estimação e análise por modelos de espaço de estado. Brasília: IPEA, 2012. (Texto para discussao, n. 1771). PORTUGAL, C.; PORTUGAL, M. Os efeitos da inflção sobre o orçamento do governo: uma análise empírica. Estudos Econômicos, v. 31, n. 2, p. 239–283, 2001. REZENDE, F.; OLIVEIRA, F. A. DE; ARAUJO, E. A. O dilema fiscal: remendar ou reformar? Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008. SANTOS, C. H. M.; COSTA, F. R. Uma metodologia de estimação da carga tributária bruta brasileira em bases trimestrais. Economia Aplicada, v. 12, n. 4, dez. 2008. SANTOS, C. H. M.; GENTIL, D. L. A CF/88 e as finanças públicas brasileiras. In: CARDOSO JR., J. C. A Constituição brasileira de 1988 revisitada: recuperação histórica e desafi os atuais das políticas públicas nas áreas econômica e social. Brasília-DF: IPEA, 2009. . SANTOS, C. H. M.; RIBEIRO, M. B.; GOBETTI, S. W. A Evolução da Carga Tributária Bruta Brasileira no Período 1995-2007: Tamanho, Composição e Especificações Econométricas Agregadas. Brasília-DF: IPEA, 2008. (Texto para discussao, n. 1350). SNA. System of national accounts. Nova Iorque: ONU, Banco Mundial, FMI, União Européia, OCDE, 1993. SRFB. Carga Tributária no Brasil 2010. Brasília - DF: Secretaria da Receita Federal do Brasil - SRFB, 2011. (Nota técnica). SRFB. Análise da Arrecadação das Receitas Federais – Julho de 2012. Brasília-DF: Secretaria da Receita Federal do Brasil - SRFB, 2012. (Nota técnica). STN. Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (Parte VIII - Demonstrativo de Estatísticas de Finanças Públicas). 5. ed. Brasília-DF: Secretaria do Tesouro Nacional - STN, 2012.
61
ANEXO 1 – Procedimentos sobre as fontes primárias Quadro 3. Principais procedimentos adotados para eliminar inconsistências, complementar e detalhar as fontes de informações primárias.
Principais procedimentos adotados nas bases primárias do governo federal
Correção das informações do imposto de renda no arquivo primário da STN, pela reclassificação de R$ 8,7 bilhões contabilizados como IRRF Trabalho para IRPJ.
Inclusão da parcela intraorçamentária da contribuição patronal ao RPPS de R$ 6,2 bilhões no governo federal em 2005 e nos demais anos do período 2006-2012. Aparentemente, o IBGE somente considerou esta parcela a partir de 2006.
Inclusão de uma classificação própria (outros impostos) para as categorias residuais da arrecadação da dívida ativa que são classificadas pelo IBGE entre os impostos sobre a folha de pagamento e os outros impostos sobre a renda e a propriedade.
Distribuição das receitas relativas ao Refis da crise (Lei 11.941/09) para o período de agosto de 2009 a junho de 2012 que aparecem classificadas como outras receitas administradas e somente houve reclassificação do estoque em julho de 2012. O montante total dos parcelamentos por tributo que compõem a carga tributária foram obtidos diretamente no SIAFI, correspondentes aos montantes de R$ 2,3, R$ 3,2, R$ 9,9 e R$ 3,8 bilhões nos anos de 2009 a 2012, respectivamente. Os montantes por tributos foram distribuídos de acordo com o peso da arrecadação do Refis no mês considerado, que é divulgada nos relatórios mensais de análise da arrecadação da SRFB.
Principais procedimentos adotados nas bases primárias do governo estadual
Inclusão das contribuições previdenciárias, a partir das informações demonstrativos previdenciários dos RREOs, não declaradas principalmente nos estados que instituíram fundos de natureza privada, como Amapá (2002 e 2003), Piauí (2003 e 2004), Alagoas (2010 e 2011) e Amazonas (2002 a 2011).
Inclusão dos valores da cota-parte municipal do ICMS e do IPVA, em Santa Catarina (2006, 2007 e 2008) e Piauí (2007 e 2008), declarados líquidos, a partir das informações dos balanços gerais.
Reclassificação de procedimentos contábeis não uniformes adotados pelos estados como:
• Contribuições sociais de assistência aos servidores do estado de São Paulo (2002) de contribuições econômicas para contribuições sociais.
• IRRF de transferência da União para imposto em São Paulo (2002 a 2012) e Rio Grande do Sul (2002).
• Cota-parte das compensações financeiras pela exploração de recursos naturais (hídricos, minerais e petróleo) de contribuições econômicas para transferências da União nos estados de Minas Gerais (2002 a 2005), Paraná (2003), Amazonas (2003 e 2004), Sergipe (2003 e 2004), Bahia (2002 e 2003), Goiás (2004), Acre (2002 e 2003) e Alagoas (2002, 2003 e 2004).
• Fundos estaduais, criados por alíquota adicional ou créditos do ICMS, de contribuições econômicas para ICMS no Rio de Janeiro (2005) e Mato Grosso (2002 a 2010).
• Repasses para RPPS de contribuições econômicas para contribuições previdenciárias no Espírito Santo (2002 a 2008 e 2010 a 2011).
Detalhamento de informações agregadas nas fontes primárias:
• Distribuição da arrecadação da dívida ativa entre as parcelas referentes ao ICMS, IPVA, ITCD e outros tributos. Foram utilizadas as informações das séries mensais desagregadas ou dos balanços gerais para os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Bahia. Para os demais estados, a distribuição aplicou proporções, que são aproximadamente as médias dos estados com informações disponíveis, de 98% para o ICMS, 1% IPVA e 1% em outros tributos.
• Desagregação das contribuições sociais entre as contribuições previdenciárias do empregado, patronal (e demais intraorçamentárias) e demais contribuições sociais. Fez-se uso das informações complementares das séries mensais mais detalhadas (São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul), balanços gerais, prestações de contas, demonstrativos da receita do RPPS nos RREOs e deduções das contribuições previdenciárias da receita corrente líquida dos RREOs. Também foram efetuadas reclassificações e inserções de informações ausentes..
62
Principais procedimentos adotados nas bases primárias dos governos municipais
Exclusão da cota-parte das compensações financeiras pela exploração de recursos naturais (hídricos, minerais e petróleo) das contribuições econômicas e sua reclassificação para transferências da União. Principalmente nos anos 2002, 2003 e 2004, quando a parcela excluída totalizou R$ 291,2 milhões, R$ 904,4 milhões em 2003 e R$ 985,0 milhões, respectivamente. Esta contabilização foi identificada em 65 municípios – a partir dos montantes divulgados pelas fontes pagadoras (ANP, ANEEL, etc.) –, com destaque para Campos dos Goytacazes/RJ (R$ 552,4 milhões em 2004), Macaé/RJ (R$ 260,3 milhões em 2003 e R$ 288,9 milhões em 2004) e Rio das Ostras/RJ (R$ 160,3 em 2002 e R$ 209,2 milhões 2003).
Exclusão dos itens da CTB de municípios que, em determinado ano, declaram toda a receita tributária em um único componente e valores nulos em todos os demais.
Complementação de informações ausentes na base Finbra com os montantes anuais correspondentes no demonstrativo da receita corrente líquida dos RREOs.
Correção de informações inconsistentes, por exemplo: erros de casas decimais em que milhares aparecem como milhões e outros identificáveis de digitação, reclassificação da contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública de contribuições sociais para contribuições econômicas (Rio de Janeiro em 2011), etc.
Imputação de valores faltantes para complementar as séries do ISS, IPTU, IRRF, ITBI, Taxas, Contribuições sociais e Dívida ativa tributária. Segue-se a metodologia apresentada em Orair et al. . (2011) que considera o comportamento da variável em grupos homogêneos de municípios em termos de nível de renda, tamanho e localização geográfica. Optou-se por não imputar as contribuições econômicas e a contribuição de melhoria, devido ao caráter volátil e presença predominante de valores nulos nos municípios.
Distribuição da dívida ativa tributária (entre ISS, IPTU, ITBI, taxas e contribuição de melhoria) de acordo com a participação de cada tributo no total. Nos anos 2002-2008, o montante de dívida ativa tributária foi obtido aplicando o fator de 90% ao total da dívida ativa, que corresponde a aproximadamente a média observada nos anos 2009-2011.
Distribuição das contribuições sociais do FINBRA entre a parcela previdenciária e as outras contribuições sociais nos anos de 2002-2008. Foi aplicado o fator de 85% para obter as contribuições previdenciárias, que é aproximadamente a média, para uma amostra de 2.374 munícipios no período 2006-2011, da razão entre as contribuições aos planos de seguridade do servidor deduzida da receita corrente líquida e o total das contribuições sociais dos balanços orçamentários dos RREOs
ANEXO 2 – Tradutor para a carga tributária Quadro 4. Tradutor da classificação por natureza econômica das receitas do governo federal (GF), governo estadual (GE) e governo municipal (GM) para a terminologia das contas nacionais. Sigla Descrição Sigla Descrição
Contribuições sociais - Contribuições sociais dos empregadores
GF FGTS Contribuição Relativa à Despedida de Empregado sem Justa Causa GF CS - RGPS
Receita de ParcelamentosContribuição dos Empregadores e Trabalhadores para a Seguridade Social
GF FGTS Contribuição sobre a Remuneração Devida ao Trabalhador GF CS - RGPS
Contrbiuição previdenciária da Empresa sobre Segurado sobre receita bruta
GF FGTS Arrecadação bruta do FGTS GF CS - RGPS Outras Contribuições Previdenciárias
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária da Empresa sobre Segurado Assalariado GF CS - RGPS Receita da Dívida Ativa das
Contribuições Previdenciárias - RGPS
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária da Empresa Optante pelo SIMPLES GF CS - RGPS
Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária da Empresa sobre Segurado Assalariado
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária sobre Espetáculo Desportivo GF CS - RGPS
Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária da Empresa Optante pelo SIMPLES
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária sobre a Produção Rural GF CS - RGPS
Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária sobre Espetáculo Desportivo
63
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária em Regime de Parcelamento de Débitos GF CS - RGPS
Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária em Regime de Parcelamento de Débitos
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária para o Seguro de Acidente do Trabalho GF CS - RGPS
Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária para o Seguro de Acidente do Trabalho
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária sobre Reclamatória Trabalhista GF CS - RGPS
Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária do Segurado ObrigatórioEmpresário
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária em Regime de Parcelamento de Débitos dos Municípios
GF CS - RGPS Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária do Segurado Especial
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária do Segurado ObrigatórioEmpresário GF CS - RGPS
Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária na Forma de Depósito Judicial, Recursal e Custas Judiciais
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária do Segurado Especial GF CS - RGPS
Receita da Dívida AtivaReceita de Parcelamentos Contribuição dos Empregadores e Trabalhadores para a Seguridade Social
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária das Entidades Filantrópicas GF CS - RGPS Receita da Dívida Ativa de Outras
Contribuições Previdenciárias
GF CS - RGPS Contribuição PrevidenciáriaRetenção sobre Nota Fiscal SubRogação GF CS - RPPS Contribuição Patronal - RPPS
GF CS - RGPS Arrecadação FIESCertificados Financeiros do Tesouro Nacional GF PIS/Pasep Pis/Pasep
GF CS - RGPS Arrecadação FNSCertificados Financeiros do Tesouro Nacional GF PIS/Pasep Receita de Parcelamentos- Pis/Pasep
GF CS - RGPS Certificados da Dívida PúblicaCDP GF PIS/Pasep Receita da Dívida Ativa - PIS/PASEP
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária na Forma de Depósito Judicial, Recursal e Custas Judiciais
GF PIS/Pasep Receita de ParcelamentosDívida Ativa - PIS/PASEP
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária das Cooperativas de Trabalho Descontada do Cooperado
GE CS - RPPS Cont. Previdenciárias - Patronal
Contribuições sociais - Contribuições sociais dos empregados
GE CS - RPPS Contribuição do Servidor - RPPS GF CS - RGPS Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária dos Órgãos do Poder Público
GM CS - RPPS Cont. Previdenciárias GF CS - RPPS Contribuição para o Custeio das Pensões Militares
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária do Segurado Assalariado GF CS - RPPS Contribuições para o RPPS
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária do Segurado Facultativo GF CS - RPPS Contribuição do Servidor - RPPS
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária do Segurado ObrigatórioEmpregado Doméstico
GF CS - RPPS Contribuição para o Fundo de Saúde - PMDF/BMDF
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária dos Órgãos do Poder Público GF CS - RPPS Contribuição para o Fundo de Saúde
das Forças Armadas
GF CS - RGPS Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária do Segurado Assalariado
GF CS - RPPS Recolhimento do Beneficiário ao Fundo de Saúde Militar
GF CS - RGPS Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária do Segurado Facultativo
GF CS - RPPS Contribuição VoluntáriaMontepio Civil
64
GF CS - RGPS
Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária do Segurado ObrigatórioEmpregado Doméstico
GF CS - RGPS Contribuição Previdenciária do Segurado ObrigatórioContribuinte Individual
Contribuições sociais - Contribuições sociais dos não-assalariados GF CS - RGPS Receita da Dívida Ativa da Contribuição Previdenciária do Segurado ObrigatórioContribuinte Individual
Impostos sobre a renda GE IRRF IRRF GF IRPJ Receita da Dívida Ativa - IRPJ
GM IRRF IRRF GF IRPJ Receita de ParcelamentosDívida Ativa - IRPJ
GF IRPF IRPF GF CE - Outras Contribuição para o Programa de Integração Nacional -PIN
GF IRPF Receita de Parcelamentos - IRPF GF CE - Outras
Contribuição para o Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e do Nordeste- PROTERRA
GF IRPF Receita da Dívida Ativa - IRPF GF IRRF IRRF - Capital
GF IRPF Receita de ParcelamentosDívida Ativa - IRPF GF IRRF IRRF - Remessa ao Exterior
GF IRRF IRRF - Trabalho GF IRRF IRRF - Outros Rendimentos GF IRPJ IRPJ- Líquida de incentivos GF IRRF Receita de Parcelamentos- IRRF GF IRPJ Receita de Parcelamentos- IRPJ GF IRRF Receita da Dívida Ativa - IRRF
GF IRPJ IRPJ - SIMPLES Federal e Nacional GF IRRF Receita de ParcelamentosDívida Ativa - IRRF
Outros impostos correntes sobre a renda e propriedade GF CSLL CSLL GF ITR Receita da Dívida Ativa - ITR
GF CSLL Receita de Parcelamentos- CSLL GF Outros impostos
Receita da Dívida Ativa de Outros Tributos
GF CSLL Receita da Dívida Ativa - CSLL GF Outros impostos
ParcelamentosReceita da Dívida Ativa de Outros Tributos
GF CSLL Receita de ParcelamentosDívida Ativa - CSLL GE IPVA IPVA
GF CPMF CPMF GE IPTU IPTU
GF CPMF Receita de Parcelamentos- CPMF GE IPVA Receita da Dívida Ativa Tributária - IPVA
GF CPMF Receita da Dívida Ativa - CPMF GE IPTU Receita da Dívida Ativa Tributária - IPTU
GF CPMF Receita de ParcelamentosDívida Ativa - CPMF GM IPTU IPTU
GF ITR Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural GM IPTU Receita da Dívida Ativa Tributária -
IPTU
Impostos de capital
GF IC- Outros Reserva Global de Reversão GE ITBI Receita da Dívida Ativa Tributária - ITBI
GE ITCD ITCD GM ITBI ITBI GE ITBI ITBI GM ContMelhoria Contribuição de melhoria
GE ContMelhoria Contribuição de melhoria GM ITBI Receita da Dívida Ativa Tributária - ITBI
GE ITCD Receita da Dívida Ativa Tributária - ITCD
Impostos sobre os produtos GE ICMS ICMS GF IPI IPI - SIMPLES Federal e Nacional GE ISS ISS GF IPI Receita da Dívida Ativa - IPI
GE ICMS Receita da Dívida Ativa Tributária - ICMS GF IPI Receita de ParcelamentosDívida Ativa
- IPI
65
GE ISS Receita da Dívida Ativa Tributária – ISS GF Cofins COFINS
GM ISS ISS GF Cofins Receita de Parcelamentos- COFINS
GM ISS Receita da Dívida Ativa Tributária – ISS GF Cofins Receita da Dívida Ativa - COFINS
GF IOF IOF - Comercialização do Ouro GF Cofins Receita de ParcelamentosDívida Ativa - COFINS
GF IOF IOF - Demais Operações GF Cide CIDE GF IOF Receita de Parcelamentos - IOF GF Cide Receita de Parcelamentos - CIDE GF IOF Receita da Dívida Ativa - IOF GF Cide Receita da Dívida Ativa - CIDE
GF IOF Receita de ParcelamentosDívida Ativa - IOF GF Cide Receita de ParcelamentosDívida Ativa
- CIDE
GF II Imposto sobre a Importação GF CS - Outras Contribuição sobre a Receita de Sorteios Realizados por Entidades Filantrópicas
GF II Receita de Parcelamentos Imposto sobre a Importação GF CS - Outras Contribuições sobre a Receita de
Concursos de Prognósticos
GF II Receita da Dívida Ativa do Imposto sobre a Importação GF CS - Outras Contribuição sobre Jogos de Bingo
GF II Receita de ParcelamentosDívida Ativa do Imposto sobre a Importação GF CE - Outras Contribuições sobre Selo Especial de
Controle
GF IE Imposto sobre a Exportação GF CE - Outras Contribuição sobre Apostas em Competições Hípicas
GF IE Receita de ParcelamentosImposto sobre a Exportação GF CE - Outras Adicional sobre as Tarifas de
Passagens Aéreas Domésticas
GF IE Receita da Dívida Ativa do Imposto sobre a Exportação GF CE - Outras CotaParte do Adicional ao Frete para
Renovação da Marinha Mercante
GF IE Receita de ParcelamentosDívida Ativa do Imposto sobre a Exportação GF CE - Outras
Contribuição sobre a Receita das Concessionárias e Permissionárias de Energia Elétrica
GF IPI IPI - Vinculados à Importação GF CE - Outras Contribuição pela Licença de Uso, Aquisição ou Transferência de Tecnologia
GF IPI Cofins Importação GF CE - Outras Contribuição sobre a Receita das Empresas Prestadoras de Serviços de Telecomunicações
GF IPI IPI - Produtos do Fumo GF CE - Outras Contribuição sobre o Faturamento das Empresas de Informática
GF IPI IPI - Bebidas GF CE - Outras Receita da Dívida Ativa da CotaParte do Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante
GF IPI IPI - Automóveis GF CE - Outras Receita da Dívida Ativa da Contribuição sobre Aposta em Competições Hípicas
GF IPI IPI - Outros Produtos GF DPVAT Receita de Participação do Seguro DPVATSistema Nacional de Trânsito
GF IPI Receita de Parcelamentos- IPI Outros impostos sobre a produção
GF SalEdu Contribuição para o Salário-Educação GF Taxas - Polícia Taxas do Departamento de Polícia Federal
GF Demais folha Cota-Parte da Contribuição Sindical GF Taxas - Polícia Taxa de Licenciamento, Controle e Fiscalização de Materiais Nucleares e Radioativos e suas Instalações
GF Demais folha Contribuição para o Ensino Aeroviário GF Taxas - Polícia Taxa de Fiscalização e Controle da Previdência Complementar- TAFIC
66
GF Demais folha Contribuição para o Desenvolvimento do Ensino Profissional Marítimo GF Taxas - Polícia
Taxa de Fiscalização dos Produtos Controlados pelo Ministério do Exército
67
GF Demais folha Contribuições Rurais GF Taxas - Polícia Taxa de Fiscalização dos Mercados de Títulos e Valores Mobiliários
GF Sistema S ABDI GF Taxas - Polícia Taxa de Fiscalização dos Mercados de Seguro, de Capitalização e da Previdência Privada Aberta
GF Sistema S APEXBRASIL GF Taxas - Polícia Taxa de Fiscalização de Serviços de Energia Elétrica
GF Sistema S INCRA GF Taxas - Polícia Taxa de Fiscalização de Vigilância Sanitária
GF Sistema S Sdr GF Taxas - Polícia Taxa de Saúde Suplementar
GF Sistema S Sebrae GF Taxas - Polícia Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental
GF Sistema S Senac GF Taxas - Polícia Taxa de Serviços Administrativos - TSA
GF Sistema S Senai GF Taxas - Polícia Taxa de Fiscalização sobre a Distribuição Gratuita de Prêmios e Sorteios
GF Sistema S Senar GF Taxas - Polícia Outras Taxas pelo Exercício do Poder de Polícia
GF Sistema S Senat GF Taxas - Polícia Receita da Dívida Ativa da Taxa de Fiscalização de Telecomunicações
GF Sistema S Sesc GF Taxas - Polícia Receita da Dívida Ativa decorrente da Taxa de Fiscalização – TAFIC
GF Sistema S Sescoop GF Taxas - Serviços Taxa de Avaliação do Ensino Superior
GF Sistema S Sesi GF Taxas - Serviços
Emolumentos e Custas Processuais Administrativas
GF Sistema S Sest GF Taxas - Serviços Taxa Militar
GE CS - Outras Outras contribuições sociais GF Taxas - Serviços
Taxa de Classificação de Produtos Vegetais
GM CS - Outras Outras contribuições sociais GF Taxas - Serviços Taxa de Serviços Cadastrais
GF CS - Outras Contribuição sobre a Arrecadação dos Fundos de Investimentos Regionais GF Taxas -
Serviços Taxa de Serviços Aqüícolas
GF CS - Outras Outras Contribuições Sociais GE Taxas - Polícia Taxas pelo Exercício do Poder de Polícia
GF CE - Outras Contribuições sobre as Lojas Francas, Entrepostos Aduaneiros e Depósitos Alfandegados
GE Taxas - Serviços Taxas pela Prestação de Serviços
GF CE - Outras Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional GE Taxas Receita da Dívida Ativa Tributária -
Outros Tributos
GF CE - Outras Outras Contribuições Econômicas GM Taxas Taxas
GE CE - Outras Contribuições econômicas GM Taxas Receita da Dívida Ativa Tributária - Outros Tributos
GM CE - Outras Contribuições econômicas GF Outros impostos
Receita da Dívida Ativa de Outras Contribuições
GF Taxas - Polícia Taxas de Fiscalização das Telecomunicações GF Outros
impostos Receita de ParcelamentosDívida Ativa de Outras Contribuições
GF Taxas - Polícia Taxa de Controle e Fiscalização de Produtos Químicos
68
ANEXO 3 - Indicadores mensais dos governos estaduais
Este anexo descreve brevemente os procedimentos utilizados para construir
os indicadores relacionados dos componentes da CTB nos governos regionais. As
informações são advindas principalmente do demonstrativo de apuração da receita
corrente líquida dos RREOs e que apresentam divergências em relação aos valores
anuais de referência.42Além disto, o grau de abertura das informações demonstrativo
da RCL foi se ampliando ao longo do tempo e somente no período mais recente
passou a mostrar o grau de abertura necessário para estimar os componentes da
carga tributária.
Nos municípios há o problema adicional de que as amostras variam ao longo
do tempo, modificando o número de municípios presentes no indicador. A amostra
referente ao período 2002-2005 é exclusiva a 78 municípios de grande porte, no
período 2006-2011 correspondem a 2.374 municípios com informações do banco de
dados das informações dos RREOs e uma amostra mais restrita com as 1.390 que
divulgaram informações até o primeiro semestre de 2012. Por isto, a construção dos
indicadores mensais para todo o período de 2002-2012 exigiu a complementação
com séries provenientes de outras fontes, imputações e cálculos por resíduos que
estão indicados no quadro 5. O que, por sua vez, introduz mais ruídos nos
indicadores mensais e eventuais discrepâncias em relação aos valores anuais de
referência.A estimação das séries mensais fará uso das técnicas de desagregação
42 Entre os motivos para divergências nas séries primárias dos RREOs, podem-se destacar o fato de somente considerarem a arrecadação do principal do tributo (não incluindo a arrecadação da dívida tributária), mais comumente apresentarem valores líquidos de deduções de receitas ou da cota-parte municipal ou mesmo inconsistências nas informações e procedimentos contábeis não padronizados. No caso dos municípios, as divergências ocorrem também porque os indicadores são formados apenas por amostras de municípios com informações disponíveis.
69
temporal e de previsão contemporânea por modelos de espaços de estado
discutidas em Orair e Silva (2012).
Quadro 5. Indicadores mensais relacionados da CTB nos governos regionais. Indicadores mensais da carga tributária estadual
2004-2012: ICMS da RCL/RREO Impostos sobre produtos 2002-2003: ICMS do CONFAZ
2004-2012: IPVA da RCL/RREO Outros impostos sobre a renda e a propriedade 2002-2003: IPVA do CONFAZ
2007-2012: ITCD da RCL/RREO Impostos sobre o capital 2002-2006: ITCD do CONFAZ
2009-2012: IRRF da RCL/RREO 2005-2008: Desagregação temporal das séries bimestrais do DRP/RREO Impostos sobre a
renda 2002-2004: Série imputada 2009-2012: Outras receitas tributárias da RCL/RREO 2007-2008: Outras receitas tributárias da RCL/RREO, deduzidas das séries do IRRF 2004-2006: Outras receitas tributárias da RCL/RREO, deduzidas das séries do IRRF e do ITCD.
Outros impostos ligados à produção
2002-2003: Receita tributária da RCL, deduzidas das séries do ICMS, IPVA, ITCD e IRRF
Contribuições sociais 2002-2012: Receitas de contribuições da RCL/RREO. Indicadores mensais da carga tributária municipal
2002-2003: Série imputada do ISS Impostos sobre produtos 2004-2012: ISS da RCL/RREO
2006-2012: Outras receitas tributárias, após dedução dos demais tributos. Outros impostos ligados à produção – Taxas
2002-2005: Resíduo das receitas tributárias imputadas a partir de uma amostra de 78 municípios, após dedução dos demais tributos 2009-2012: IRRF da RCL/RREO. 2006-2008: Série mensal desagregada a partir do resíduo dos impostos do BO/RCL e as séries do ISS, IPTU e ITBI Impostos sobre a
renda 2002-2005: Séries imputadas a partir do resíduo das receitas tributárias imputadas a partir de uma amostra de 78 municípios 2002-2003: Série imputada do IPTU Outros impostos sobre
a renda e a propriedade 2004-2012: IPTU da RCL/RREO
2002-2003: Série imputada do ITBI Outros impostos sobre a renda e a propriedade 2004-2012: ITBI da RCL/RREO
2006-2012: Série mensal desagregada das contribuições sociais do BO/RREO, a partir das informações das receitas de contribuições da RCL/RREO Contribuições sociais 2002-2005: Séries imputadas. 2006-2012: Série mensal desagregada das contribuições econômicas do BO/RREO, a partir das informações das receitas de contribuições da RCL/RREO
Outros impostos ligados à produção - Contribuições econômicas 2002-2005: Séries imputadas.
70
ANEXO 4 – Resultados dos modelos econométricos
Quadro 6. Modelo de parâmetros variáveis dos tributos sobre o trabalho. L_Trabalho T 124.00 p 2.0000 std.error 0.036774 Normality2.7388 H(36) 0.40769 DW 2.3564 r(1) -0.26174 q 24.000 r(q) -0.11195 Q(q,q-p) 41.972 Rs^2 0.67690 Variances of disturbances: Value (q-ratio) RW-coef 0.000000 ( 0.0000) RW-coef5.39965e-008 (0.0001127) Level 1.08220e-006( 0.002260) Seasonal 1.01437e-005 ( 0.02118) Irregular 0.000478932 ( 1.000) State vector analysis at period 2012(6) Value Prob Level 5.40859 [0.00422] Seasonal chi2 test 96.38069 [0.00000] Seasonal effects: Period Value Prob 1 0.08640 [0.00281] 2 -0.10341 [0.00030] 3 -0.00323 [0.90345] 4 0.08523 [0.00136] 5 0.00196 [0.93609] 6 -0.06179 [0.01285] 7 -0.07034 [0.03827] 8 -0.04484 [0.17290] 9 -0.03549 [0.26700] 10 -0.06493 [0.03824] 11 -0.05558 [0.08453] 12 0.26601 [0.00000] Goodness-of-fit based on Residuals L_Trabalho Value Prediction error variance (p.e.v) 0.0013523 Prediction error mean deviation (m.d) 0.0010257 Ratio p.e.v. / m.d in squares 1.1067 Coefficient of determination R^2 0.98418 ... based on differences Rd^2 0.95967
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... based on diff around seas mean Rs^2 0.6769 Information criterion Akaike (AIC) -6.3678 ... Bayesian Schwartz (BIC) -6.0302 Quadro 7. Modelo de parâmetros variáveis dos tributos sobre o lucro. L_Lucro T 126.00 p 2.0000 std.error0.16879 Normality 2.7222 H(37) 0.74509 DW 1.7814 r(1) 0.096203 q 24.000 r(q) 0.14037 Q(q,q-p) 19.015 Rs^2 0.45961 Variances of disturbances: Value (q-ratio) RW-coef 0.000000 ( 0.0000) RW-coef 1.17189e-005 (0.0007301) Level 0.00102350 ( 0.06377) Seasonal 5.16441e-005 ( 0.003218) Irregular 0.0160507 ( 1.000) State vector analysis at period 2012(6) Value Prob Level -6.61556 [0.42846] Seasonal chi2 test 139.65779 [0.00000] Seasonal effects: Period Value Prob 1 0.63832 [0.00000] 2 -0.18452 [0.03596] 3 0.09609 [0.26207] 4 0.25141 [0.00339] 5 -0.34799 [0.00005] 6 -0.29884 [0.00038] 7 0.36854 [0.00027] 8 -0.23143 [0.01804] 9 -0.25504 [0.00823] 10 0.32647 [0.00067] 11 -0.20545 [0.02685] 12 -0.15757 [0.08296] Goodness-of-fit based on Residuals L_Lucro Value Prediction error variance (p.e.v) 0.028491 Prediction error mean deviation (m.d) 0.022411 Ratio p.e.v. / m.d in squares 1.0289 Coefficient of determination R^2 0.8291 ... based on differences Rd^2 0.86214 ... based on diff around seas mean Rs^2 0.45961 Information criterion Akaike (AIC) -3.3201 ... Bayesian Schwartz (BIC) -2.9824
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Quadro 8. Modelo de parâmetros variáveis dos demais tributos. L_Demais T 126.00 p 2.0000 std.error 0.031629 Normality 39.533 H(37) 0.32896 DW 2.0856 r(1) -0.062598 q 24.000 r(q) 0.029511 Q(q,q-p) 14.841 Rs^2 0.59279 Variances of disturbances: Value (q-ratio) RW-coef 7.71138e-007( 0.001980) RW-coef 4.61085e-006( 0.01184) Level 4.44512e-006 ( 0.01141) Seasonal 5.44444e-006 ( 0.01398) Irregular 0.000389500 ( 1.000) State vector analysis at period 2012(6) Value Prob Level -2.20455 [0.43518] Seasonal chi2 test 64.79488 [0.00000] Seasonal effects: Period Value Prob 1 0.13054 [0.00000] 2 -0.03222 [0.12853] 3 -0.00462 [0.82066] 4 -0.01492 [0.45260] 5 -0.05120 [0.00898] 6 0.00868 [0.65227] 7 -0.04399 [0.08989] 8 -0.03763 [0.13616] 9 -0.02451 [0.31803] 10 0.00358 [0.88046] 11 -0.02340 [0.31295] 12 0.08970 [0.00011] Goodness-of-fit based on Residuals L_Demais Value Prediction error variance (p.e.v) 0.0010004 Prediction error mean deviation (m.d) 0.00073213 Ratio p.e.v. / m.d in squares 1.1886 Coefficient of determination R^2 0.97024 ... based on differences Rd^2 0.83006 ... based on diff around seas mean Rs^2 0.59279 Information criterion Akaike (AIC) -6.6693 ... Bayesian Schwartz (BIC) -6.3316
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