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So&re ComportRmento e Coqn i,çÃO Expondo a variabilidade Organizado por Hélio José (juilhardi Noreen CampbeU de Aguirre ESETec

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So&re ComportRmentoe Coqni,çÃO

Expondo a variabilidade

Organizado por Hélio José (juilhardiNoreen CampbeU de Aguirre

ESETec

Sobre

Comportamentoe CogniçãoExpondo a Variabilidade

Volume 17

Organizado por Hélio José QuilhardíNoreen CampbeU de Aguirre

ESETecEditores Associados

2006

Copyright © desta edição:ESETec Editores Associados, Santo André, 2006.

Todos os direitos reservados

Guilhardi, Hélio José, et aI.

Sobre Comportamento e Cognição: Expondo a Variabilidade. - Org. Hélio'José Gui/hardi, Noreen Campbell de Aguirre 1" ed. Santo André, SP: ESETecEditores Associados, 2006. v.17

450 p. 24cm

I. Psicologia do Comportamento e Cognição2. Behaviorismo

3. Análise do Comportamento

CDD 155.2CDU 159.9.019.4

ISBN - 85-88303-74-6

ESETec Editores Associados

A ESETee agradece a Ana Carolina Guerios Felido pela enonne colaboração na

organização e preparação deste volume.

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Capítulo 21

A Prática Profissional sob a óptica doMétodo da Observação Direta

(jina Notêto Bueno; Fabiana Alves leite de AguiarAda Sitna Trindade Silva; Uéten Camargo dos Passos e

Ana Carolina Ferreira MouraUniversidade Católica de (joiás

o presente estudo teve por objetivo observar a interação verbal entre uma clientee uma estagiária-terapeuta nunca clínica escola de psicologia. A finalidade foi verificarcomo o comportamento verbal e não-verbal da terapeuta afetaria a, cliente e como ocomportamento verbal e não-verbal do cliente afetaria a terapeuta. Objetivou, também,investigar se a terapeuta mantinha-se atenta a tais comportamentos e se essa intervençãoconseqüenciaria mudanças no repertório comportamental por parte da cliente com oconseqüente controle dos seus comportamentos-problema.

A Observação Direta na Prática Clínica

o desenvolvimento de pesquisas na área clínica tem favorecido uma melhorcompreensão sobre o comportamento humano. De uma contingência para outra seobserva que uma pessoa apresenta um determinado tipo de comportamento. A funçãodo terapeuta é também descrever topografias e avaliar probabilidades de ocorrência aobuscar as variáveis ambientais das quais a probabilidade do comportar-se é função.

Resultados empíricos, além de favorecerem a construção de novas teorias,possibilitam a definição de estratégias consistentes que promovam a qualidade dasintervenções terapêuticas.

Expressões faciais, gestos, posturas ou fixações visuais c'onstituem tambémmaterial para o terapeuta. Tais comportamentos podem exercer funções sutis nasinterações terapeuta-cliente. Buscar conhecer a ocorrência desses aspectos dorepertório de uma pessoa trará informações úteis sobre os efeitos do meio em relaçãoao comportamento. Como adverte Meyer (2004) "A realização de pesquisas clínicas étarefa complexa com desafios a serem superados" (355). '

Diante dos inúmeros desafios propostos por essa ordem de pesquisa, autilização de registro em vídeo das sessões terapêuticas pode ser um facilitador, uma

204 Cjina N. Buenol Fabiana A. L. de Aguiar, Ada S. T. Silva, VélenC. dos Passos e Ana CarolinaF. Moura

vez que esse procedimento favorece a revisão de uma mesma gravação quantas vezesse fizerem necessárias para observar e descrever diferentes classes comporta mentais.por esse instrumento, o registro em vídeo, o pesquisador poderá alcançar afidedignidade dos dados observados, eliminando falhas. Além de possibilitar aconfrontação dos resultados registrados, através da análise desses dados por outros

pesquisadores, que terão acesso ao material gravado.Porém, o psicólogo clínico depara-se com a necessidade de técnicas para

observar e descrever os comportamentos emitidos pelo cliente. A eficácia de um processode intervenção psicológica inicia-se pela adequada e rigorosa descrição dos repertóriosde comportamentos que se pretende mudados. Estudos observacionais em contextos .clínicos desenvolvidos por Britto, Oliveira e Sousa (2003), Elias e Britto (2004) eFernandes e Britto (2005) demonstraram que a possibilidade de reprisar fitas de vídeovárias vezes tornou possível focalizar diferentes aspectos da relação terapêutica, nas

quais novas categorias próprias daquele contexto emergiram. Desse modo, ficouevidenciado que "Para a análise em contextos clínicos, o registro obtido por meio de

gravação em vídeo é o mais próximo do dado real, isto é, há uma relação entre o registroe o que ocorreu na sessão" (Britto, Oliveira & Sousa, 2003, p. 141).

Comportamento Verbal e Não-VerbalAo propor uma definição para comportamento verbal Skinner (1957/1978, p..16)

salienta ser o "(...) comportamento reforçado pela mediação de outras pessoas". Adverteque o comportamento do ouvinte, quando ocorre com a finalidade de mediar asconseqüências do falante "( ... ) não é necessariamente verbal em nenhum sentidoespecial", uma vez que não há como separá-Io do comportamento geral. Desta forma, oautor considera ser uma definição mais adequada para o comportamento verbal aquelaque compreende "( ...) os aspectos do comportamento do ouvinte necessários paraexplicar o comportamento do falante" (p. 17). Juntos, ambos os comportamentos - doouvinte e do falante - comporão o episódio verbal total.

Skinner (1957/1978) destaca que o repertório operante do ser humano - aquiloque ele faz - pode ser dividido em verbal e não-verbal. Os comportamentos verbais sãoaqueles comportamentos que não exercem uma ação direta no meio ambiente, sóocorrendo quando há uma interação entre falante e ouvinte. Assim, o que torna ocomportamento verbal efetivo, não é o fazer dele próprio, pois ele mesmo não realizacoisas, e sim a mediação de outras pessoas. O comportamento verbal é modeladopelas contingências sociais em que o ouvinte se torna falante e o falante se tornaouvinte, e o comportamento de um (falante ou ouvinte), reforça o comportamento dooutro. Dessa forma as culturas verbais são sociedades de reforço recíproco (Catania,1998/1999).

Já os "(...) comportamentos não-verbais operam diretamente sobre o ambiente,produzindo conseqüências; suas propriedades ou dimensões são relacionadas aosseus efeitos mecânicos produzidos em contingências mantidas pelo ambiente físico(...)" (Borloti, 2004, pp. 222 - 223).

"A diferença básica entre o comportamento verbal e os outros operantes (não­verbais) está no fato de que o comportamento verbal é um operante cuja asconseqüências não guardam relações mecânicas com a resposta a que sãocontingentes" (Barros, 2003, p. 75).

Mas não há como negar, na concepção skínneriana, o controle do comportamentoverbal sobre o comportamento não-verbal. Posto isto, uma mudança no comportamento

Sobre Comportamento e Cognição 205

verbal do indivíduo poderá facilitar a mudança do comportamento não-verbalcorrespondente (Catania, 1998/1999). Knapp e Hall (1992/1999) pontuam ocomportamento verbal como sendo narrativo e conceitual, enquanto o não-verbal écomunicador de emoções, atribuindo significados ao sinal manifestado pelo indivíduo.

Uma das queixas mais prevalentes rio processo terapêutico trazida pelo clienteé a de que suas emoções estão em "desequilíbrio". A posição skinneriana é a de queemoção é uma ação sensorial semelhante ao ver e ao ouvir. A discriminação do sentir ea descrição do mesmo, só são possíveis via comunidade verbal, através dascontingências por ela mediadas (Meyer, 2001). Essa ação sensorial tem alta ocorrênciadurante o processo terapêutico.

O comportamento verbal e não-verbal são, essencialmente, os comportamentosque mais ocorrem na relação terapêutica. Por isso mesmo, a motivação de terapeutase estudiosos em melhor conhecê-Ios: "Este é o novo estágio em pesquisa clínica:estudar o comportamento verbal do terapeuta e cliente durante a sessão e investigarquais variáveis são priorizadas durante as sessões terapêuticas" (Kerbauy,1999, p. 64).

Esses esforços justificam-se, pois como salienta Skinner (1989/1991) "Todo ocomportamento, seja ele humano ou não humano, é inconsciente; ele se torna'consciente' quando os ambientes verbais fornecem as contingências necessárias àauto-observação" (p. 88).

Processo Terapêutico

Independente da abordagem teórica sabe-se que o processo terapêutico sedestaca pelo seu papel de ensinar, de criar condições que permitam ao cliente aprendera observar, a descrever e a controlar seu próprio comportamento, através daautomonitoração. Desta forma, de acordo com Kuhn (1962/1977), o conhecimento peladescrição necessita do amparo do conhecimento por meio da prática. Porém, Guilhardi(1997) garante que o autoconhecimento - que será favorecido pelo automonitoramento- só acontece de forma concreta através de questões feitas pelo terapeuta. Mas, comosugere Skinner (1957/1978), no início da terapia o terapeuta não tem muita "força"perante o cliente, pois ainda não há laços suficientes para tal progresso. Esses laçosserão construídos à medida que o processo de cooperação entre essa díade - terapeutae cliente - for estabelecido. Isto implicará, necessariamente, na adesão terapêutica quetem caráter decisivo no alcance dos objetivos propostos a essa ordem de tratamento: oautocontrole. Pois, como salientam Vázquez, Rodríguez e Álvarez (1998), a adesão éassunto comporta mental, uma vez que sua ocorrência dependerá do comportamentodo cliente e do comportamento do terapeuta.

Método

Participantes

Os sujeitos deste estudo compreenderam a díade estagiária-terapeuta e cliente:(a) cliente de 63 anos, à época deste estudo, sexo feminino, aposentada, divorciada,classe social baixa, primeiro grau incompleto, com diagnóstico de depressão e transtornode estresse pós-traumático. Queixa principal: tristeza contínua e persistente, agravadaapós sua aposentadoria e preocupação exacerbada com a possibilidade de seu filho vira' suicidar-se, por não conseguir suportar a perda do cunhado (e genro da cliente),ocorrida por suicídio, a um mês do início desta pesquisa; (b) estagiária-terapeuta, de 41anos, sexo feminino, cursando o estágio supervisionado em psicologia clínica.

206 qina N. Rueno; Fabiana A. L. de Aguiar! Ada 5. T. Silva; VélenC. dos Passos e Ana CarolinaF. Moura

Ambiente e MateriaisAs observações e sessões terapêuticas da cliente ocorreram em um dos

consultórios-padrão de uma clinica escola de psicologia, vinculada a uma instituição deensino superior.

As sessões foram registradas por uma câmera filmadora em VHSC. Para sua

análise houve a utilização de aparelhos de televisão, de vídeo cassete e cronômetro.

procedimentoForam registradas em vídeo 10 sessões iniciais do processo terapêutico: da 2~

a 113 sessões. Não houve o registro em video da primeira sessão entre a díade, poisserviu para orientação à participante-cliente de como seria a coleta de dados, bemcomo assinatura da documentação de autorização e procedimentos normais da terapiacomportamental-cogn itiva.

O registro das sessões em vídeo ocorreu em seu tempo total de realização,segundo contrato terapêutica. dentro do radrÃo normal de tempo: 50 minutos, cada. Oconsultório sempre foi preparado antes que a díade nele entrasse: (a) poltronasorganizadas de forma transversal, gerando a perspectiva de cliente e terapeuta de frenteuma para outra; (b) mesinha de apoio lateral à terapeuta; (c) janelas fechadas, parainibirem os ruídos externos; (d) luzes do consultório acesas; (e) filmadora ligada, sendoposicionada sempre mais lateralmente à terapeuta e de frente à cliente; posição estamantida em todas as sessões.

Transcrição das Sessões - Foi estabelecido, após o registro em vídeo das 10sessões, motivado inclusive pela variabilidade de tempo total das sessões ­conseqüenciada por atrasos da cliente - que a transcrição ocorreria dentro dos 10minutos iniciais de cada sessão.

A transcrição ocorreu em dois momentos distintos: (1) no primeiro momento,foram transcritos apenas os comportamentos verbais da díade, de forma contínua; (2)no segundo momento, foram transcritos os comportamentos não-verbais de ambas,também de forma contínua.

Após a transcrição das sessões foi feita a categorização dos comportamentos demaior ocorrência ao longo das 10 sessões gravadas. Foram selecionadas duas classes

de comportamentos igualmente apresentadas pela díade: (1) comportamentos motoresrepetitivos: (a) das mãos; (b) dos braços; (c) da cabeça; e (d) dos pés; e (2) relaçãodiádica: (a) olhar da cliente à terapeuta; (b) olhar da terapeuta à cliente; (c) expressõesfaciais da cliente; (d) expressão facial e mudança na postura da terapeuta; (e) e relatos dacliente à terapeuta sobre dificuldades corporais, financeiras e domésticas; perdas edoenças. Houve a seleção, também, de uma classe de comportamentos relacionada àterapeuta: (1) comportamentos reforçadores e punitivos da terapeuta à cliente,compreendida por (a) mudar do foco da intervenção, sem considerar o verbal da cliente;(b) ignorar o relato da cliente; (c) interromper fala da cliente; (d) sugerir respostas verbaisà cliente; (e) verbalização de sons afirmativos; (D verbalizar reforços positivos à cliente.

As classes de comportamentos, com suas respectivas categorias, tanto da clientequanto da terapeuta foram anotadas em folhas de registros, previamente padronizadas:(a) título, definindo se apresentava comportamentos verbais ou não-verbais; (b) data dasessão; (c) número da sessão gravada; (d) coluna para as categorias de comportamentosdiscriminadas na sessão; (e) coluna especificativa da sessão gravada, onde foi colocadoo número de vezes de ocorrência do referido comportamento categorizado.

Sobre Comportamento c Cogniíão 207

Das Classes de Comportamentos e suas categorias

(a) 'Movimentar das Mãos da Cliente', buscou mensurar a ordem de movime~tosempreendidos pelas mãos da cliente ao longo das sessões, estando ela como ouvmteou como falante da interação clínica, com a finalidade de observar os comportamentosmotores que realizava com maior freqüência.

(b) 'Movimentar das Mãos da Terapeuta'. Esta categoria buscou selecionar oscomportamentos motores mais freqüentes na terapeuta, tais como: (a) apontar o dedoindicativo à cliente; (b) apontar a caneta à cliente, como sinal indicativo; (c) apoiar as

mãos no queixo; (d) apoiar mãos na coxa; (e) passar mãos nos cabelos; (f) coçar o nariz;e (g) manusear canetas nas mãos.

(c) 'Movimentar dos Braços da Cliente' e (d) 'Movimentar dos Braços daTerapeuta', tiveram como objetivo identificar o tipo de topografia que ambas apresentaramao longo da coleta de dados, com sua respectiva freqüência.

(e) 'Movimentar da Cabeça da Cliente' objetivou medir a ocorrência destescomportamentos verbais não-vocais na contextualização da ocorrência da sessão,sugestivos de: reforço à condução do procedimento terapêutico; opositivo a esseprocedimento; fadiga e até mesmo fuga.

(f) 'Movimentar da Cabeça da Terapeuta', buscou observar as respostas deconfirmação (balançar a cabeça afirmativa) e não confirmação (balançar a cabeçanegativamente) que a terapeuta apresentava nos momentos em que a cliente estavaverbalizando eventos sobre sua vida.

(g) 'Movimentar dos Pés da Cliente'. Esta classe procurou observarcomportamentos motores que não geraram intervenções específicas, tais como cruzare descruzar os pés, balançar os pés suspensos do chão, ou mesmo flexionar pés parao alto, como ocorreu com a terapeuta e que compreende a classe (h) nomeada de'Movimentar dos Pés da Terapeuta'.

(i) 'Olhar da Cliente à Terapeuta' e (j) 'Olhar da Terapeuta à Cliente' objetivaramdescrever a topografia das expressões faciais no contexto clínico. Nela foramseleciona das as categorias (a) olhares e (b) desvio de olhares de ambas.

(k) 'Expressões Faciais da Cliente' e (I) 'Expressão Facial e Mudanças na Postura

da Terapeuta', buscaram observar respostas não-verbais sugestivas de 'empatia','surpresa', 'apreensão' e 'desconforto' da cliente em relação à terapeuta e vice-versacomo: sorrir; franzir as sobrancelhas; arregalar os olhos; recostar-se e afastar-se dapoltrona; cruzar e descruzar as pernas, enquanto ouvinte na relação diádica.

(m) 'Relatos da Cliente à Terapeuta de Dificuldades Corporais, Financeiras eDomésticas; Perdas e Doenças', observou relatos de sensações corporais e emocionaiscompatíveis aos critérios para o Transtorno Depressivo Maior e Transtorno de EstressePós-Traumático, segundo o DSM-IV-TR (APA, 2000/2003). Nesta categoria foramselecionados os relatos verbais da cliente à terapeuta expressando conteúdos deimpotência, perdas por morte, choro, dores físicas, estados emocionais negativos epositivos, dificuldades para identificar e expressar eventos emocionais internos, relatossobre doença, além de dificuldades financeiras e de realização da rotina doméstica.

(n) 'Freqüência de Comportamentos Passíveis de Punição Social e/ou Emissãode Aprovação Social da Terapeuta à Cliente'. Esta categoria apresenta o padrão decomportamento da terapeuta: por vezes pune a cliente - quando muda o foca daintervenção, sem considerar a fala da cliente; ignora relatos verbais da cliente; interrompefala da cliente; enquanto noutros momentos das sessões sugere à cliente as respostas

208 Ciina N. Bucno; Fabiana I\. L. dc I\guiar; Ada S. T. Silva; Vé!cl1C. dos Passos e Ana CarolinaF. Moura

verbais que deve apresentar; e num terceiro momento verbaliza sons afirmativos àcliente bem como frases reforçadoras positivas da ordem: (a) "Isto!"; (b) "Certo!"; (c)"Você tá bonita hoje!".

A seleção e definição das classes de comportamentos e suas respectivascategorias/subcategorias foram obtidas no intervalo de tempo de 10 minutos iniciais decada sessão, através de observação/descrição direta e ininterrupta, com aproveitamentode 100% das gravações.

Resultados

Os resultados alcançados são apresentados por classes de comportamentose suas categorias/subcategorias mensuradas em forma de freqüência e percentagem.

O intervalo para observação/descrição e análise dos dados, ocorreu entre a zae 11a sessões iniciais do processo terapêutico da participante deste estudo.

Tabela 1 - Freqüência e porcentagem das categorias dos comportamentos motoresrepetitivos da cliente e terapeuta

4

O

8

3 2

60 12.5

10

31 6.5

85 17.5

O O

6 4 O O

27 5 O 23 134 27.85

9 O 20 O O 3

8 O 2 1 O 6

1 O

4 45

3

8 9 8 28 10 O 6 163 33.65

o 43 O

O

o

Sessões Gravadas4a sa 6a 7a sa ga 10a Total %

3

o

o

73

11

o

o

o

13

42

13

Categoriassobre

MovimentosMovimentos

das mãosda Cliente:

Mãos

entrelaçadas Ji

apoiadas naregião

anterior do Itronco 29

Mãos tocam I

a face I

Mãos

entrelaçadas Iem .movimentoMãos tocamos cabelosMãos tocam

objetossobre ascoxasFechar asmãoscerrando os

punhos

Total I 57 56 88 15 115 9 84 21 O 38 483 100

% 11.8 11.6 18.2 3.1 23.8 1.9 17.4 4.3 O 7.9 100

Sobre Comportamento e Cognição 209

..Tabela 1 - Continuação (a)Categorias

Sessões Gravadassobre

132333435363738393 103 Total%Movimentos Movimentosdas mãos daterapeuta:Apontar dedoindicativo àcliente

I1 O3O2O O2OO 84.3I Apontar acaneta àcliente

I1 O1O 6O OOO O 84.3IApoiar mãos

no queixoI3 9711 5O4OO34222.7

Apoiar mãos nas coxas

318O41O21O 25831.4Passar mãos nos cabelos

O2O38865O63820.5Coçar nariz com mãos

IO 1124242O 1179.2Manusear caneta nasmãos

51OO OO O4O4147.6

Total

1314201666101614O16185100

o;.

77.6 10.8 8.6 35.7 5.58.6 7.6O 8.6 100-.!!__ ..JMovimentar I

dos braços Ida cliente:Alongar osbraços parafrente

I3 O1O13 14OO137.2Apoiar os braços napoltrona

I7 939OO3451O911363.2Levantar o

braçoesquerdoI6 264O 1O 410O25329.6

Total 16 35 44 O 2 6 50 15 O 11 179 100

% 8.9 19.6 24.6 O 1.1 3.4 27.9 8.4 O 6.1 100

210 (jina N. Bueno; Fabiana A. L. de Aguiar; Ada S. T. Silva; VélenC. dos Passos c Ana CarolinaF. Moura

Tabela 1 - Continua -Categorias Sessões Gravadas

sobre 2a 3a 4a sa 6a 7a aa ga 10a Total %Movimentos

Movimentardos braçosda Terapeuta: IApoiar braços Ina poltrona I

59872O118OO10105 53.6

Apoiar os braços nascoxasI23 2217O8217OO291 46.4

Total 82 30 24 2 8 3 35 O O 12 . 196 100

41.8 15.3 12.2 1.1 4.1 1.5 17.8

4

3

21

100

54 14.2

68 17.8

87 22.7

10 2.6

163 42.7

O

O

O

O O 6.2

O O 14

o O

6 OO

2

5 14 O

2

12 11 O 14

2

o

o2

8

9

30 15

26 10

4

3

8

33

15

7

o

10

23

20O

7

4

O

o

15

%._-Movimentar

da cabeça da .

cliente: IBalançar acabeçapositivamenteBalançar acabeça

negativamente ILevantar a Icabeça IInclinar a I

cabeça para 'Ium dos lados 23Apoiar cabeçaem uma dasmãos

Total I 66 11 60 63 75 27 21 31 O 28 382 100

% 17.3 2.9 15.7 16;5 19.6 7.1 5.5 8.1 O 7.3 100

Sobre Comportamento e Cognição 211

Tabela 1 - Continua ão c

Categorias

Sessões Gravadassobre

2333435363738393 103 Total%Movimentos Movimentarda cabeça daterapeuta:Balançar

acabeça

positivamente I

2573494882412O1418185.8Balançar a I

cabeça Inegativamente

711031311O 33014.2

Total 32844 12491125 13O17211100

%

15.23.8 20.9 5.7 23.25.2 11.8 6.1O 8.1100Movimentos dos pés dacliente:Pé direitocruzado sobreo esquerdo

!45 20206406451O218549.5Descruzar os pés direito eesquerdo

I9 44332391O46918.5IBalançar os pés direito eesquerdo

IO27144381191O1612032

Total

I 54 51 38 13 11010733O 22374100%

! 14.4 13.6 10.2 3.5 29.42.7 19.5 0.8 O 5.9100Movimentar dos pés daterapeuta:Flexionar o pédireito para oalto

11OOO20631O344100

Total

11OOO20631O344100

%

25OOO 45.5 13.66.8 2.3 O 6.8100

212 Ciina N. Bueno; Fabiana A. L de Aguiar; Ada 5. T. SilV(1;VélenC. dos Passos e Ana CarolinaF. Moura

Através da Tabela 1 observa-se que a categoria 'Movimentos das Mãos da

Cliente', composta por seis subcategorias, apresenta maiores freqüências nas 3", _5" e8" sessões gravadas, com 18.2%, 23.8% e 17.4% respectivamente. Na 3a sessao.aarticipante deteve-se a descrever, pormenorizadamente, o suicídio.do genro e o.recelo

~e que seu filho viesse a fazer o mesmo ato. Na 5a sessã.o o foco fOi o d~sapare?l~entodOfilho e o receio de que ele tivesse atentado contra sua Vida. Na 8a sessao a pa,"!lcl~anteverbalizava seu conflito: alegria e tristeza por seu filho ter sido localizado e.hospitalizadoem uma clínica para desintoxicação alcoólica. Alegria por ele estar vivo e tnst~za porqueele passaria a semana sem receber visitas: "E se ele se matar, nesse Isolamentotoda?", observava. Ainda nesta categoria de comportamentos é possivel perceber quenas duas primeiras sessões gravadas a freqüência de ocorrência foi superior a casados 11%, momento do processo terapêutico para investigação das queixas explícitas eimplícitas da cliente.

Nas 10 sessões gravadas a cliente apresentou um total de 483 movimentos,enquanto o total de 'Movimentos das Mãos da Terapeuta' foi de 185, considerando suassete subcategorias. Quanto à subcategoria de 'Passar mãos nos cabelos', apresentadapor ambas (participante e terapeuta) ao longo das 10 gravações. a participante repetiueste movimento 10 vezes, significando 2% do total; enquanto a terapeuta apresentou umtotal de 38 repetições, representando 20,5%.

Já nas categorias 'Movimentar dos Braços da Cliente' e 'Movimentar dos Braçosda Terapeuta' foram observadas três subcategorias para a primeira (participante): alongaros braços para frente, apoiar os braços na poltrona e levantar o braço esquerdo; e duas àterapeuta: apoiar os braços na poltrona e nas coxas. A freqüência total destes movimentosapresentados pela diade foi de 179 pela participante e 196 pela terapeuta. A participanteapresentou a maior freqüência por sessão, 27.9%, na 7a sessão, quando o filho estavadesaparecido; e 24.6% na 3a, quando relatava o suicidio do genro. Enquanto as maioresfreqüências por sessão da terapeuta foram verificadas na 1" (41.8%), quando dainvestigação das queixas e na 7" (17.8%), com o foco da sessão já mencionado. Na 2"sessão a participante levantou o braço esquerdo por 26 vezes. Este comportamento foirepetido quando explicava à terapeuta o motivo que a levou ir embora da Clínica Escolasem atendimento: "Fiquei muito incomodada de a senhora estar ali e eu indo embora.mas estava agoniada com o que podia estar acontecendo lá em casa".

Os dados observados quanto ao 'Movimentar da Cabeça da Cliente' (com cincosubcategorias: balançar a cabeça positiva e negativamente, levantá-Ia, incliná-Ia para umdos lados e apoiá-Ia em uma das mãos) e 'Movimentar da Cabeça da Terapeuta' (comapenas duas subcategorias: balançar positiva e negativamente), em seu total geral destacaque a participante apresentou 163 movimentos positivos; enquanto a terapeuta 181,representando 85.8% de todos os seus movimentos com a cabeça; sendo que sua maiorocorrência foi observada na 5" sessão. O balançar negativamente a cabeça revela osseguintes dados: a participante o fez por 68 vezes, enquanto a terapeuta o répetiu 30vezes, ou seja, 14.2% de todos os seus movimentos com a cabeça; com sua maiorocorrência verificada na 33 sessão. Os dois outros movimentos feitos pela participantecom sua cabeça, de maior freqüência foram: 'Inclinar a cabeça para um dos lados', com22.7%; e 'Apoiar a cabeça em uma das mãos', com 14.2%.

Na categoria de movimentos dos pés da participante e da terapeuta é possívelobservar três subcategorias apresentadas pela primeira e apenas uma pela segunda. Aparticipante movimentou seus pés 374 vezes, enquanto a terapeuta flexionou seus pés44 vezes. E a sessão com maior registro para ambas foi a 5": 29.4% para a participante e45.5% para a terapeuta.

Sobre Comportamento e Cogníção 213

Tabela 2 - F~üência e percentagem da relação cliente e terapeutaCategorias I Sessões G.ravadasComportamentais da Relação

I 132333435363738393 103 Total%Diádica

----Olhar da Cliente:Olhar à terapeuta I

60818062926479OO11529 53.6Desviar o olhar da terapeuta

I

29 818237915557 22O4458 46.4

Total

8916216299 183119 136 22O15987100 .%

I9 16.4 16.410 18.5 12.1 13.8 22 .. O~~&100Olhar da Terapeuta:Olhar à cliente

i65 74376478689513O1250682Desviar o olhar da cliente

181917141610645211118

Total

839354789478 10117514617100%

13.5 15.18.8 12.6 15.2 12.6 16.4 2.7 0.8 2.3100Expressões faciais da cliente:. Sorrir à terapeuta I

29511O 20OOO38 56.8Franzir sobrancelhasenquantoterapeuta fala

!O OOO18O1OOO19 28.2Arregalar olhos ante verbalizaçãoda terapeuta

IOO2O4OOOO41015

Total

I2 97123 O21OO467100%

3 13.4 10.41.5 34.3O 31.4OO6 100

ExpreSSão~e mudanças napostura daterapeuta:Sorrir à cliente

I2 2611O31OO346 15.4Recostar-se na

poltrona enquantocliente falaI6 643514OO13010

Afastar-se dapoltrona enquantocliente fala

I6 65321 O5OO147 15.6Cruzar e descruzar as~emas enquanto

214 Ciina N. Bueno, Fabiana A. L. de Aguiar, Ada S. T. Silva; VélenC. dos Passos e Ana CarolinaF. Moura

Tabela 2 - Continuação @lCategorias I

Sessões GravadasComportamentais da Relação

I 1323334353637383 93 103 Total%Diádica Relatos cliente àterapeuta -Dificuldadescorporais,financeiras edomésticas;Perdas; Doenças:Relatar estadosemocionaispositivos

IO O752422O2249.3Relatar estados emocionaisnegativos I

7 14125141345O37729.8Relatar Dor

12OO34O4O1155.8Relatar perdas por morte

I3 121O12100 O207.7Relatar eventos aos quais I

8.1paralisou-se

27318OOOOO21Relatar dificuldades paraexpressar-se

I3 33O5OO2OO166.2Relatar dificuldadesfinanceiras

IO 1OO5OOOOO 62.3Relatar dificuldades emrealizar asatividadesdomésticas I

O 55O5O27OOO4216.2Relatar doença

5OO112210O2238.8Chorar na presença daterapeuta

IO 23181OOOO155.8Total

21353514513636 23O8259100%

8.1 13.5 13.5 5.4 19.7 13.9 13.9 8.9O 3.1100

Tabela 2A Tabela 2 apresenta a freqüência e percentagem dos comportamentos que

compreendem a relação terapêutica como: olhar e desviar o olhar uma à outra;expressões faciais e mudanças na postura (sendo esta última relacionada à terapeuta);e relatos de dificuldades corporais, financeiras, domésticas, assim como relatos deperdas e sobre doenças.

Sobre Comportamento e Cogníção

215

As duas primeiras categorias de comportamentos, nela apresentadas, são'Olhar da Cliente' e 'Olhar da Terapeuta'. sendo que ambas revelam as mesmassubcategorias: 'olhar para; e desviar o olhar da'.

Ao longo das 10 sessões a participante olhou para a terapeuta 529 vezes, istoé, 53.6% do total geral dessa ordem de comportamento. Sendo que a sessão em quemais olhou sua terapeuta foi a 53: 92 repetições. A terapeuta olhou para a participante506 vezes, ou seja, 82% do total de seus olhares. E, esse comportamento registroumaior freqüência na 73 sessão: 95 vezes.

Já o desviar do olhar da terapeuta, apresentado pela participante, foi computadoem 458 vezes (46.5% do total) e a sessão em que ele mais ocorreu foi a 53: 91. Aterapeuta desviou o olhar da participante por 111 vezes (18% do total), sendo que suaocorrência maior deu-se na 23 sessão: 19 vezes.

Na categoria 'Expressões faciais da Cliente', ela sorri à terapeuta 38 vezes,representando 56.8% do total, sendo que a maior freqüência ocorreu na 73 sessão (20vezes). Enquanto a terapeuta sorriu à cliente 46 vezes, ou seja, 15.4% de todos os seuscomportamentos de 'Expressão facial e mudanças na postura da terapeuta'. Tambémfoi na 73 sessão, a exemplo da participante,.que a terapeuta registrou a maior ocorrênciadesse comportamento (31 vezes).'

Outro comportamento com freqüência alta apresentado pela participante foi o de'Franzir sobrancelhas enquanto terapeuta fala', com um percentual total de 28.2% (19ocorrências). Esse comportamento apresentou maior freqüência na 53 sessão (18 vezes).Enquanto 'Arregalar os olhos ante verbalizações da terapeuta' alcançou índice de 15%(10 ocorrências) no geral, com a maior freqüência (4) verificada nas 53 e 103 sessões.

Tabela 3 - Freqüência dos comportamentos reforçadores e punitivos da terapeutaà cliente

CategoriaComportamentos I

reforçadores e j 12 23 33 43 53 63 73 83 93 103 Total %punitivos da

MUdat~~aio~~~a ,.....--------------.--------

intervenção semseqüenciar fala dacliente

Ignorar relato dacliente

Interromper fala dacliente

Sugerir respostasverbais à clienteVerbalizar

reforçadorespositivos à cliente

Total%

O 2 4 1 16 2 3 7 O 39 11 21 10 37 16 17 18 O 22

5.6 6.8 13 6.2 23 9.9 10.6 11.2 O 13.7

3 4

Sessões Gravadas

16.8

16.8

21.1

21.7

23.6100100

27

34

35

27

38

161

5

5

2

7

2 O

2 O

2 O

5 O

2

2

5

5

3

3

5

3

3

3

6

9

3

3

2

6

62

2

2

6

216 C;ina N. Bueno; Fabiana A. L. de Aguiar; Ada 5. T. Silva; VélenC. dos Passos e Ana CarolinaF. Moura

A terapeuta recostou-se e afastou-se da poltrona enquanto a participante falava30 (10%) e 47 (15.6%) vezes respectivamente. Além de ter cruzado e descruzado aspernas 177 vezes (59% do total de comportamentos), sendo que a maior ocorrência(36) deu-se na 5a sessão.

Com relação à categoria 'Relatos Cliente à Terapeuta - Dificuldades Corporais,Financeiras e Domésticas; Perdas; Doenças', a participante apresentou 10subcategorias, sendo que as duas de maior ocorrência foram: 'Relatar estadosemocionais negativos', com 77 ocorrências, sendo 29.8% do total geral, com maioresregistros (14) nas 2a e 5a sessões; e 'Relatar dificuldades em realizar atividadesdomésticas', com 42 ocorrências, ou seja, 16.2%; comportamento ocorrido com maiorfreqüência na 7a sessão (27). 'Relatar doença' e 'Relatar eventos aos quais paralisou­se', seu percentual foi de 8.8% e 8.1% respectivamente ao longo das 10 sessõesgravadas. Já 'Relatar perdas por morte' ocorreu 20 vezes, isto é, 7.7% do total geraldesta categoria. As demais subcategorias apresentaram ocorrências inferiores a 7%.

Pela Tabela 3 é possível observar que a categoria 'Comportamentos Reforçadorese Punitivos da Terapeuta' compreendeu-se por cinco subcategorias. 'Verbalizar reforçadorespositivos à cliente', como: "Mmmhmm!"; "Ah!"; "Hhum!", "Certo!"; "Isto!"; "Muito bom!", obteve23.6% de todos os comportamentos, sendo que sua maior ocorrência deu-se na 58sessão (16 vezes). A segunda subcategoria que mais ocorreu foi a de 'Sugerir respostasverbais à cliente', com 21.7% do total, com a maior freqüência registrada na 58 sessão: 9vezes. A seguir, veio a subcategoria 'Interromper fala da cliente' com 21.1 % do geral, commaiores freqüências nas sessões 18 e 58: 6 vezes respectivamente. Já 'Ignorar o relato dacliente' e 'Mudar o foco da intervenção sem seqüenciar fala da cliente', houve a mesmaocorrência: 16.8%, ou seja, 27 vezes, sendo que a maior freqüência foi registrada, emambas, na mesma sessão: 38, com 6 repetições do referido comportamento.

Discussão

Da coleta de dados, transcrição e análises dos resultados, este estudo ocupou12 meses. Durante as sessões gravadas (da 2a a 11a do atendimento realizado àparticipante, terapeuticamente), o consultório psicológico sempre foi o mesmo, com omobiliário disposto igualmente em todas as sessões. Mas é importante relatar queambas (participante e terapeuta) apresentaram a cada nova sessão repertóriosemocional-motivacionais diferenciados, o que de acordo com Staats (1996) foramdiretivos na apresentação de novos repertórios sensório-motores e lingüístico-cognitivos.

Apenas nas primeiras sessões e somente nos minutos inicias delas é que adíade observou a filmadora. Posteriormente, tanto a participante quanto a terapeutaagia como se não mais percebesse o equipamento. O que nos faz levantar a hipótesede que o mesmo não foi intrusivo à intervenção e a este estudo.

Skinner (1953/1994) destaca a audiência não-punitiva do terapeuta como umacondição importante para que o cliente possa emitir os repertórios que estão sob controleaversivo. Quando um indivíduo busca a terapia, essencialmente estará falando sobreeventos que lhe são aversivos, sobre suas dificuldades e, logicamente, estará entrandoem "(...) contato com o que o faz sofrer. Enquanto o contato com o sofrimento ocorre, oterapeuta continua exercendo seu papel de audiência não-punitiva, acolhendo,compreendendo e aceitando as verbalizações ou outros comportamentos apresentadospelo cliente" (Costa, 2003, p. 2).

Mensurar a emoção, o comportamento, conseqüentemente, identificar osestímulos que os eliciam, é fator central no processo terapêutico, fonte primária de sua

Sobre Comportamento e Cognição 217

ênfase. Tarefa difícil, especialmente quando ainda se está iniciando o processo deintervir clinicamente nos comportamentos-problema de uma pessoa desconhecida,como é o caso de um estagiário, dentro de uma Clínica Escola de Psicologia. Sem nosesquecermos que a matéria-prima desse acadêmico (assim como de todos osterapeutas) é o comportamento humano complexo.

Os resultados deste estudo revelam que durante as sessões iniciais a terapeutautilizou-se de técnicas de intervenção "punitivas", quando mudou o foco da intervenção,sem considerar o que falava a participante; quando ignorou o relato verbal e não-verbaldela e mesmo quando interrompeu sua verbalização.

Através da Tabela i, 'Freqüência e percentagem das categorias doscomportamentos motores repetitivos da cliente e terapeuta' percebe-se que várioscomportamentos - verbais e não-verbais - da participante ou não foram observados pelaterapeuta; ou se foram observados, parece não ter havido o reconhecimento de suaimportância em relação à queixa trazida; ou ainda: se a terapeuta os observou não conseguiuestabelecer a estratégia de intervenção. Porém, como salienta Kerbauy (1999), o terapeutanão pode ter receio de investir nos desafios proporcionados pelo processo, expressandosua maneira de ver e fazer as coisas, realizando até mesmo ensaios das situações.

Os comportamentos motores repetitivos com as mãos da participante alcançaramgrande freqüência (483 vezes, Tabela 1), tendo registrado os maiores percentuais nasseguintes sessões: 53 com 23.8%, quando o filho dela estava desaparecido e estaverbalizava o medo intenso que sentia de que o filho viesse a suicidar-se, por não estarsuportando a perda do cunhado, dizendo "Eu não pude pensar em coisa boa. Não tivejeito, porque fiquei apavorada por ele ter sumido assim sem dar notícia"; 33 com 18.2%,quando verbalizava com detalhes o falecimento, por suicídio, de seu genro, pessoa muitopróxima do filho que desaparecera; sendo superior a 11% nas duas primeiras sessões,momento também de investigação das queixas e da história de vida da participante. Estamesma categoria de comportamentos, mas relacionada à terapeuta, apresentou tambémas maiores freqüências nas mesmas sessões da participante: 53 e 33 (35.7% e 10.8%respectivamente). Apresentou, ainda, comportamentos que demonstraram a acolhida daterapeuta à participante: apoiar as mãos nas coxas, com 31.4% do total geral, tendofreqüência maior nas 53 e 3a sessões, respectivamente 41 e 8 vezes; assim como apoiarmãos no queixo, com percentual geral de 22.7%. Porém, uma subcategoria que poderiasugerir estado ansioso da terapeuta, 'Passar mãos nos cabelos', registrou um dosmaiores percentuais: 20.5%, num tolal de 38 repetições.

Durante as 10 sessões gravadas a participante movimentou seus braços deformas específicas (alongando-os para frente; apoiando-os na pollrona e levantando obraço esquerdo como se indicasse o teto do consultório), num total de 179 vezes. Na 2asessão ela levantou seu braço esquerdo por 26 vezes. Mas nenhum dessescomportamentos recebeu da terapeuta qualquer ordem de observação. Nesta mesmacategoria, a terapeuta movimentou seus braços por 196 vezes, mas nela os movimentos

pareceram apontar para o comportamento de atenção à participante. Tendo alcançado41.8% na ia sessão; 15.3%, na 2a sessão, fase de coleta de dados; e 17.8% na 7asessão, quando a participante relatava sua ansiedade pelo desaparecimento do filho.

Já com relação aos movimentos com a cabeça (Tabela 1), a participante pareceuter produzido três padrões específicos: (a) reforçar a terapeuta, com o balançarpositivamente e o levantar de sua cabeça, que juntos somaram 45.3% do total geral; (b)opor-se à terapeuta, quando balançou negativamente a cabeça, com percentual de17.8% e maior ocorrência na 5a sessão (26 vezes); e (c) demonstrar-se desconfortávelou fadigada e/ou frustrada, quando inclinou a cabeça para um dos lados ou mesmo a

218 qina N. BuenQ; Fabiana A. L. de Aguiar; Ada 5. T. Silva, VélenC. dos Passos e Ana CarolinaF. Moura

apoiou em uma das mãos, somando 36.9% do total. Enquanto a terapeuta apresentouseis vezes mais o comportamento reforçador (balançar a cabeça positivamente) àparticipante, que o de oposição, com 85.8%, para apenas 14.2% de oposição ao queverbalizava a cliente. Mas não expressou-lhe em momento algum o motivo da negativa.As sessões de maior freqüência dos comportamentos confirmativos da participante

pela terapeuta foram a 58 (48 vezes), 3" (34 vezes) e 78 (24 vezes).Outra categoria de comportamentos de alta ocorrência, como demonstra a Tabela

i, foi a de 'Movimentos dos pés da Cliente', tendo apresentado 374 movimentos, aolongo das 10 sessões, com maiores ocorrências por sessões na 58 e 78 sessões com110 e 73 movimentos, respectivamente. Também a estes comportamentos a terapeutarealizou nenhuma observação. Enquanto ela própria, terapeuta, flexionou seus péspara o alto 44 vezes, nas 10 sessões, sendo que o percentual maior, por sessão,ocorreu na 58: 45.5%. E, o segundo maior foi registrado na 18 sessão: 25%.

Os resultados apresentados na Tabela 1 refletem a proposta skinneriana sobre

o quanto o comportamento verbal controla o comportamento não-verbal. Ao analisarmosos resultados contidos na Tabela 1 com os da Tabela 2, há a indicação de que a partir domomento em que a terapeuta passou a intervir no repertório básico de comportamentoda participante, após a 58 sessão, ainda que eventos aversivos co-ocorressem noambiente social dela, como o desaparecimento do filho, verifica-se, em todas ascategorias de comportamentos, nestas tabelas, a redução das freqüências doscomportamentos verbais e não-verbais inadequados ou de desconforto físico, comosalienta Catania (1998/1999).

A Tabela 2 destaca ainda que a empatia entre a díade parece ter favorecido aevolução da intervenção, ainda que havendo pouca maturidade profissional da terapeuta,por estar em seus primeiros momentos de prática clínica: o reforço mútuo com o olharuma para outra, com o sorrir. Mas, ao mesmo tempo, apresentaram comportamentossugestivos de punição, quando desviaram seus olhares (referentes à díade); quandofranziu as sobrancelhas, ou arregalou os olhos (referentes à participante). É exatamentepor isto que Vázquez, Rodríguez e Ávarez (1998) afirmam estar a adesão dependente docomportamento do cliente e do comportamento do terapeuta.

Ainda na Tabela 2 é possível identificar um comportamento sugestivo de intensaansiedade na terapeuta: 'Cruzar e descruzar as pernas enquanto a cliente fala', com177 ocorrências, sendo que as freqüências maiores foram registradas na 18, 78 e 58sessões respectivamente (59; 51; e 36 vezes). Esses dados nos remetem ao seguintequestionamento: as respostas ansiosas da terapeuta teriam favorecido a sua nãodiscriminação ou pelo menos não intervenção a uma série de comportamentos verbaise não-verbais da participante, mantenedores importantes de seu repertório decomportamento disfuncional?

Os relatos verbais da participante (Tabela 2 - continuação) sugerem o quantoessa ordem de comportamento gerava-lhe respostas emocionais negativas intensas,levando-a a comportamentos desadaptados em seus diversos papéis sociais.

Desta forma, o terapeuta ao considerar as expressões faciais, gestos, posturas,fixações visuais, além do repertório verbal, poderá, como indica Guilhardi (1997) criarcondições para que o cliente possa se automonitorar, o que favorecerá oautoconhecimento necessário para a decisão de mudar a si, consequentemente, aoseu meio ambiente.

A Tabela 3 apresenta a categoria de 'Comportamentos Reforçadores e Punitivos

da Terapeuta'. Talvez os comportamentos punitivos como 'Mudar o foco da intervenção

Sobrc Comportamcnto c Cognição 219

sem seqüenciar fala da cliente', 'Ignorar relato da cliente', 'Interromper fala da cliente' e'Sugerir respostas verbais à cliente', possam corroborar a hipótese de ansiedade daterapeuta quanto ao que fazer e até mesmo a busca do favorecimento do processoevolutivo da participante, dando-lhe sua própria consciência sobre os eventos. Quandoo esperado é que, com técnicas, o terapeuta possa criar condições para que seu clientepossa: (a) entrar em contato, (b) observar, (c) descrever o observado, (d) mensurarosdados descritos, (e) analisá-Ios para chegar ao (f) autoconhecimento, que favorecerá a(g) mudança necessária para o processo de evolução de um tratamento terapêutico, oque produzirá o (h) o autocontrole dos comportamentos-problema do cliente, bem comoo (i) treinamento de novas habilidades sociais.

Evidente que clínicos e pesquisadores almejem o desenvolvimento de umaterapia com forte base empírica. Mas a necessidade de técnicas de observação e registrofidedigno dos comportamentos ainda é uma realidade. Daí este estudo ter utilizado-sedo registro em video, ferramenta que possibilitou reprisar as fitas tantas vezes quantasforam necessárias para a identificação das diversas classes de comportamentos, comsuas respectivas categorias e subcategorias de comportamentos (Britto, Oliveira & Souza,2003; Elias & Britto, 2004; Fernandes & Britto, 2005). Ainda que o comportamento humanoseja o mais difícil de ser estudado pelo método científico (Skinner, 1974/1986), esteestudo enfrentou essas dificuldades para demonstrar os dados, ora evidenciados.

Diante dos resultados, aqui apresentados, este estudo sugere que, se oprofissional em formação puder analisar as imagens e o áudio das sessões que realizar,com o suporte de seu professor-supervisor, embora esteja em seus primeiros passospráticos dentro de uma clínica escola, muito provavelmente aprenderá a utilizar-se dosrecursos proporcionados pela observação direta, e sua devida transcrição, para definiruma sessão mais bem estruturada, com foco na intervenção de todos oscomportamentos-problema do cliente, verbais e não-verbais. Uma vez que a ocorrênciade um desses comportamentos favorece o reforço do outro.

Sugere ainda que a análise do comportamento em contexto de intervenção,especialmente numa clínica escola, tornar-se-á mais rica quando estagiários-terapeutase seus supervisores puderem gravar em vídeo os atendimentos clínicos. Muitoprovavelmente a supervisão de tais sessões, com o auxílio de sua projeção em vídeo,favorecerá um contexto de maior riqueza e realidade para a análise funcional doscomportamentos-problema do cliente. Poder-se-á esperar desta forma de supervisãouma maior maturidade clínica do estagiário-terapeuta e a reprodução do sucesso destaforma de intervenção a novos estagiários-terapeutas, bem como aos própriosprofessores-supervisores. Pois como sugerem Britto et ai (2003, p. 141) "(...) o registroobtido por meio de gravação em vídeo é o mais próximo do dado real (...)".

Mas é claro que esta forma de atuação na Clínica Escola de Psicologia sugere,inclusive, alteração na metodologia com que as disciplinas de Estágio Supervisionadosão ministradas. Porém, a riqueza possibilitada pela observação direta, transcrição,descrição, mensuração e análise dos dados de uma sessão filmada, nos leva a acreditarnuma maior maturidade da formação clínica de profissionais que têm como meta amelhoria da qualidade de vida das pessoas.

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