SLADE 4 - Questao indígena no acre

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O SEPULCRO DA EPOPÉIA:

A MILENAR PRESENÇA

INDÍGENA E O GENOCÍDIO

“Os índios padeceram e padecem – síntese

do drama de toda a América Latina – a

maldição de sua própria riqueza (...) As

matanças dos indígenas começaram com

Colombo e nunca cessaram”.

Eduardo Galeano.

As veias abertas da América Latina.

“Se a colonização destrói o colonizado, ela

apodrece o colonizador [...]

Se o colonizador defende o sistema colonial com

tanta firmeza, é porque é mais ou menos

beneficiário dele. A mitificação reside no fato

de que, para defender seus interesses, ele

defende outros infinitamente mais

significativos”

MEMMI, Albert. Retrato do Colonizado precedido do

Retrato do colonizador.

Nativo como

agressor: essa foi a

imagem inaugural que

a minissérie Amazônia:

de Galvez a Chico

Mendes passou para o

Brasil a respeito sobre

dezenas de povos que

milenarmente

habitavam a região.

Ironicamente o nativo

aparece sozinho.

O Genocídio foi um

ato defensivo do

civilizado?

“Não se salvam, atualmente, nem mesmo os índios

que vivem isolados no fundo das selvas. No começo

deste século, sobreviviam ainda 230 tribos no Brasil;

desde então desapareceram 90, aniquiladas por obra e

graça das armas de fogo e micróbios. Violência e

doenças, pontas de lança da civilização: o contato

com o homem branco continua sendo, para os

indígenas, o contato com a morte”.

Eduardo Galeano.

As veias abertas da América Latina.

“Com a chegada dos seringueiros, os povos sem

história se tornaram apenas objeto de uma

história que se constrói sem eles ou sobre eles,

raramente com eles. Mal inevitável mas

superável, o destino do índio é a civilização ou o

extermínio [...] após serem massacrado e

perder suas terras são integrados à cultura

local como folclore ou símbolo da gloriosa

conquista do povo seringueiro”

José Pimenta. A história oculta da floresta

“Para o índio, o seringal e toda indústria

extrativista tem representado a morte pela

negação de tudo o que ele necessita para

viver: ocupa-lhe as terras, dissocia sua

família, dispersando os homens e tomando as

mulheres, destrói a unidade tribal [...]

submete o índio a um regime de exploração,

ao qual nenhum povo poderia sobreviver [...]

só resta ao índio resistir”

Darcy Ribeiro. Os índios e a civilização.

“Durante a maior parte do século XX, os povos

indígenas acreanos desapareceram de uma história

oficial que nunca os considerou como atores. Símbolo

dessa invisibilidade da questão indígena, a FUNAI

começa a atuar realmente na região apenas em 1975.”

Profº. Dr. José Pimenta. A história oculta da floresta.

“O cearense, o paraibano, os sertanejos

nortistas, em geral, ali estacionam,

cumprindo, sem o saberem, uma das

maiores empresas destes tempos. Estão

amansando o deserto”.

“A última página do gênese a ser

Escrita”

Euclides da Cunha.

GENOCÍDIO: Crime contra a

humanidade, que consiste em,

com o intuito de destruir, total

ou parcialmente, um grupo

nacional, étnico, racial ou

religioso, cometer contra ele

qualquer dos atos seguintes:

matar membros seus; causar-

lhes grave lesão à integridade

física ou mental;

submeter o grupo a

condições de vida capazes

de o destruir fisicamente, no

todo ou em parte.

“É impossível entender os grupos que atualmente

ocupam o atual território do Acre sem nos remetermos

à questão da origem e distribuição dos povos

indígenas no Continente Americano [...] Os primeiros

habitantes da Amazônia chegaram pelo norte, sudoeste

e pelos Andes. Pertenciam às famílias Carib, Aruak e

Tupi-Guarani. Estes grupos foram se disseminando ao

longo da floresta tropical de forma sucessiva, por volta

de 1.500 a.C [...] é impossível compreender

claramente as sociedades tribais pré-colombianas”

Valdir Calixto. Acre: uma história em construção.

“A invasão da Amazônia aconteceu

com tanta violência que, em pouco

tempo, a população indígena

diminuiu. Nosso povo, tempos atrás,

vivia nessas terras, antes dela receber

o nome de Brasil, antes de ser Acre

[...] mas, em meados do século XIX,

começou a invasão [...] se os

nordestinos atacavam, os índios

corriam para as cabeceiras dos rios

[...] corriam, corriam, para outra

direção [...] a esse „corre corre’ dos

índios deram o nome de correrias”

“Milhões de índios foram

exterminados pelos invasores

que cobiçavam a América [...]

Até 1980 não havia no Estado

do Acre nenhuma terra

indígena demarcada. Hoje são

vinte e oito [...] Essa revista se

destina a mostrar ao povo não-

índio das cidades acreanas um

pouco da história de cada uma

das etnias presentes na vasta

região da Amazônia Ocidental”APRESENTAÇÃO

“A Amazônia sul-ocidental

é habitada há milhares de

anos por diferentes povos

nativos que fizeram da

grande região dos altos

rios acreanos o seu

território de viver [...]

Muitos desses povos

foram engolidos pela

floresta imensa sem

deixar vestígios”

Marcos Vinícios

A PRÉ-HISTÓRIA DO ACRE?!!!

A História começa com “brancos”?

Uma história que preexiste a História do Acre?

Seria a história do Acre antes do Acre?

Estado primitivo de humanidade? Estado

Selvagem? Atraso?

Período irrelevante? Carente de progresso?

Os povos indígenas não fazem parte da invenção

do Acre. É a parte sacrificada dele... A pré-hist?

O Acre foi palco de uma dizimação.

“Geoglifos são sítios

arqueológicos em estrutura de

terra construídos há cerca de

2.000 anos e que pela

complexidade remontam à

civilizações pré-colombianas

de elevado grau de

conhecimento em várias áreas

e domínio de avançadas

técnicas de movimentação de

terra e água”.

Troncos Lingüísticos na

região do Acre

PANO: Kawinawá; jaminawá;

yawanawá; poyanawa; nukini; arara;

shanenawa; katurina; Nawas, etc.

ARUAK: kulina; ashaninka, etc.

ACRE - final do século XIX:

150 mil indígenas;

50 grupos tribais;

60% da população regional.

ACRE – início do século XXI:

8 mil indígena;

11 grupos tribais.

3% da população regional.

Devo me

orgulhar

da

“gloriosa

conquista

do Acre”?

Os povos indígenas, mais uma vez se tornam vítimas

da ganância dos civilizados.

RUMO À CIVILIZAÇÃO

“Os povos indígenas

ocuparam um lugar

marginal na histografia

do Acre [...] meu

interesse é discutir o

lugar atribuído aos

povos indígenas pela

historiografia

oficial da região,

desvendando alguns

mitos fundadores da

invenção do Acre”.

Profº. Dr. José Pimenta. A

história oculta da floresta.

“O processo de conquista e ocupação

extrativista do juruá-purus foi marcado por

uma série de correrias [...] nesse período as

correrias foram amplamente praticadas,

tanto em território brasileiro, como no

peruano e boliviano”

Jacó Cesar Piccoli. Sociedades Tribais e a

Expansão da Economia da Borracha na

área juruá-purus.

As “guerras justas” eram guerras de

extermínio que os portugueses podiam

mover contra os nativos sempre que estes

atacassem ou roubassem os colonos, se

recusassem a auxiliá-los na luta contra

outras tribos e na defesa de suas vidas e

propriedades, se opusessem á catequese ou

ajudassem os franceses, ingleses e

holandeses, inimigos de Portugal.

“As correrias apresentavam como

objetivos: a) o extermínio de grupos hostis

e arredios; b) a expulsão das sociedades

indígenas; c) utilização das terras em prol

da expansão do extrativismo; d) a

escravidão; a assimilação; e) o seqüestro de

mulheres para servirem de esposas; etc.”

Jacó Cesar Piccoli. Sociedades Tribais e a Expansão da

Economia da Borracha na área juruá-purus.

“As correrias representam materializações históricas

resultantes de um conjunto de relações assimétricas

sócio-econômicas próprias do extrativismo gomífero

[...] De outro lado, representam uma tipologia de

relações marcadas pelo extermínio, genocídio,

redução, escravização, expropriação, assimilação e

integração das populações indígenas. De outro lado,

supõem relações de resistência e luta, oferecidas

pelos grupos nativos ao projeto de ocupação

extrativista”.

Jacó Cesar Piccoli. Sociedades Tribais e a Expansão

da Economia da Borracha na área juruá-purus.

“O próprio surgimento do termo

CORRERIAS está historicamente associado

as regiões do extrativismo gomífero. Poucas

são as evidências de seu uso encontradas

fora desse contexto ”

Jacó Cesar Piccoli. Sociedades Tribais e a

Expansão da Economia da Borracha na

área juruá-purus.

“Quanto a estrutura e organização as correrias

constituíam expedições de iniciativa privada,

organizadas e financiadas pela empresa extrativista,

com a aprovação tácita dos governos regionais.

Tinha nos seringalistas os seus verdadeiros

responsáveis; e nos seringueiros, os executores”

Jacó Cesar Piccoli. Sociedades Tribais e a

Expansão da Economia da Borracha na área

juruá-purus.

OS HERÓIS DA PÁTRIA

ATOS HERÓICOS

“Acossados pela bala dos rifles defenderam caramente

sua liberdade, contra o jugo selvagem do homem,

que se dizia civilizado. Organizaram-se verdadeiras

caçadas humanas [...] traziam as moças e matavam

os do século masculino, vítimas da sua cobiça e

libidinagem [...] e assim foi diminuindo, ano a ano, a

população aborígene, sem proveito para a

civilização”

Cândido José Mariano,

prefeito de Alto Purus, Relatório de Governo, 1906.

ATOS HERÓICOS

“Um seringueiro criava dois meninos dessa tribo,

tirados violentamente dos pais [...] uma noite

conseguiram libertá-las [...] a vingança do

seringueiro foi um ataque a maloca, realizado numa

madrugada. Os índios correram, quatro mulheres

foram mortas, duas crianças foram jogadas no

igarapé. Foi embora, deixando tudo destruído”

Relatório da Inspetoria do Serviço de Proteção aos

índios do Amazonas e do Acre (1912).

ATOS HERÓICOS

“Um dos objetivos mais perseguidos pelas

correrias era o da escravidão de nativos”

Jacó Cesar Piccoli. Sociedades Tribais e a

Expansão da Economia da Borracha na

área juruá-purus.

“O contato resultante da penetração

extrativista produziram alterações nas

formas de subsistência. A maioria dos

grupos juruá-purus viram-se obrigados a

alterar seus hábitos de coleta [...] uma das

conseqüências foi o declínio da produção

artesanal de artefatos”

Jacó Cesar Piccoli. Sociedades Tribais e a

Expansão da Economia da Borracha na

área juruá-purus.

“Após o impacto causado pelas primeiras frentes

extrativistas, que redundou na rápida depopulação

indígena através de métodos violentos e do

contágio edênico, as sociedades indígenas foram

objeto de um novo tipo de correrias, cujo objetivo

era aprisionar, amansar, catequizar, civilizar e

integrar [...] o extrativismo entra em crise em

1912, perdendo grande parte do contingente de

mão-de-obra nordestina”

Jacó Cesar Piccoli. Sociedades Tribais e a

Expansão da Economia da Borracha na área

juruá-purus.

“As hostilidades e animosidades

entre os nativos foram

transformados pelo extrativismo

num tipo particular de correrias”

Jacó Cesar Piccoli. Sociedades Tribais e a

Expansão da Economia da Borracha na

área juruá-purus.

“Vencidos nos primeiros embates, tinham

como única saída de sobrevivência a

integração, estrategicamente assumida

[...] não tinham outra alternativa senão

escamotear sua identidade étnica como

forma de resistir”

Jacó Cesar Piccoli. Sociedades Tribais e a

Expansão da Economia da Borracha na área

juruá-purus.

“Apesar do declínio do extrativismo da borracha, os

índios acreanos viveram geralmente sob o domínio dos

patrões brancos até a década de 1980”

José Pimenta. Índios não são todos iguais.

“Ao lermos os jornais acreanos, tudo se passa como se

o que estivesse hoje em jogo no Alto Juruá fossem

iniciativas desarticuladas: o asfaltamento da BR-364

até Cruzeiro, o intercâmbio comercial com Pucallpa, o

anúncio da exploração petrolífera (sem especificar

trajetos possíveis para o seu escoamento) e, em letra

miúda, as discussões sobre ações binacionais para a

integração aérea e viária”.

PAPO DE ÍNDIO

Publicado no Página 20, Rio Branco, 29/04/2007.

http://maryallegretti.blogspot.com/2007/04/papo-de-ndio-

como-analisar-o-impacto-de.html

“É ingenuidade supor, pelo exposto acima, que a

exploração de petróleo e gás se resuma a aumentar as

arrecadações estadual e municipais para uso em fins

sociais e ecológicos. Custa crer, ainda, que essa

agenda da ligação viária e energética esteja em

construção ante nossos olhos, sem que a sociedade

acreana e brasileira esteja discutindo os efeitos

previsíveis das obras de infra-estrutura, dos fluxos de

capitais, pessoas e mercadorias que serão iniciados,

dos deslocamentos migratórios para os já precários

centros urbanos e, ainda, dos impactos sobre a floresta

e as populações tradicionais que nela habitam”

Foi sancionada desde o dia 10/3/2008, pelo

presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Lei

11.465/08, que inclui no currículo oficial da

rede de ensino a obrigatoriedade da

temática “História e Cultura Afro-Brasileira

e Indígena”.