Senso+Comum

93
| Senso comum SENSO COMUM 1

Transcript of Senso+Comum

Page 1: Senso+Comum

| Senso comum

SENSO COMUM

Compilado por Felix J Lescinskiene

1

Page 2: Senso+Comum

| Senso comum

Senso Comum

Um ato de agir e pensar de raízes culturais e sociais

2

Page 3: Senso+Comum

| Senso comum

Senso comum

Na filosofia, o senso comum (ou conhecimento vulgar) é a primeira suposta compreensão do mundo resultante da herança fecunda de um grupo social e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas. O senso comum descreve as crenças e proposições que aparecem como normal, sem depender de uma investigação detalhada para alcançar verdades mais profundas como as científicas.

Um tipo de conhecimento que se acumula no nosso cotidiano e é chamado de senso comum, baseado na tentativa e no erro. O senso comum que nos permite sentir uma realidade menos detalhada, menos profunda e imediata e vai do hábito de realizar um comportamento até a tradição que, quando instalada, passa de geração para geração.

No senso comum não há análise profunda e sim uma espontaneidade de ações relativa aos limites do conhecimento do indivíduo que vão passando por gerações; o senso comum é o que as pessoas comuns usam no seu cotidiano, o que é natural e fácil de entender, o que elas pensam que seja verdade e que lhe traga resultados práticos herdados pelos costumes.

Existem pessoas que confundem senso comum com crença, embora sejam coisas bem diferentes. Senso comum é aquilo que aprendemos em nosso dia a dia e que não precisamos aprofundar para obter resultados, como por exemplo: uma pessoa vai atravessar uma pista; ela olha para os dois lados, mas não precisa calcular a velocidade média, a distância, ou o atrito que o carro exerce sobre o solo. Ela simplesmente olha e decide se dá para atravessar ou se deve esperar. Logo, o senso comum é um ato de agir e pensar que tem raízes culturais e sociais.

3

Page 4: Senso+Comum

| Senso comum

Exemplos de Senso Comum

Quando se está com o intestino preguiçoso e alguém diz que ameixa e mamão é bom para ajudar o intestino, o que é que se faz? Comemos mamão e ameixa até dar o resultado que aprendemos como o certo.

Esfregar uma aliança de ouro até esquentar e por em cima do “ter-sol” acaba com ele.

Chá de camomila acalma

Gatos de três cores são sempre fêmeas

Cortar os cabelos na lua crescente faz com que os cabelos cresçam mais rápido

Chá de boldo cura problemas no fígado.

Manga com leite faz mal

Quebrar espelho traz sete anos de azar

4

Page 5: Senso+Comum

| Senso comum

Introdução à Filosofia

Marcello FERNANDES; Nazaré BARROS, p. 14-16

A atitude natural perante o mundo produz, a partir das experiências vividas pelos homens, um tipo particular de conhecimento geralmente designado por Senso Comum. Este é o modo comum e corrente do conhecimento humano que se adquire no contato direto com a realidade. Assim, o senso comum é este saber empírico e imediato que adquirimos espontaneamente sem nenhuma procura sistemática ou metódica e sem qualquer estudo ou reflexão prévia.

A expressão senso comum designa, também, um conjunto de saberes e opiniões que uma determinada comunidade humana acumulou no decorrer do seu desenvolvimento. Sendo produto das experiências vividas por um povo ou por um grupo social alargado, esse saber comum constitui um patrimônio que herdamos das gerações anteriores e que partilhamos com todos os indivíduos da comunidade a que pertencemos.

Esta herança cultural que constitui o senso comum manifesta-se tanto em relação aos comportamentos ligados à sobrevivência imediata, o comestível e o não comestível, o perigo e a segurança, como em relação aos sentimentos e valores que organizam e situam o desenrolar da vivência dos homens, tais como o belo e o agradável, o bem e o mal, o justo e o injusto.

Dificilmente conseguiríamos sobreviver se não pudéssemos extrair da nossa experiência do mundo e da vida este grande conjunto de conhecimentos que servem de guia para as nossas acções e decisões do quotidiano, de orientador das

5

Page 6: Senso+Comum

| Senso comum

nossas relações com os outros homens e de instrumento para a nossa adequação ao meio em que vivemos.

Assim, as nossas ações, os nossos julgamentos e as nossas preferências do quotidiano tomam como fundamento e ponto de partida esses conhecimentos que ou nos foram legados pela tradição, ou foram por nós adquiridos na nossa relação direta e espontânea com o mundo. Os primeiros, sem a necessária reflexão crítica, os segundos, sem um método e uma investigação intencionalmente pré-estabelecida.

Se, por um lado, a constância e repetição das experiências conferem ao saber comum que delas extraímos uma credibilidade e uma confiança que conduzem à generalização dos casos particulares em princípios e regras de atuação e julgamento, por outro, a ocorrência de novas e diferentes experiências, que contradizem a nossa crença e os nossos hábitos, revelam os limites que o senso comum possui como ponto de partida e fundamento para um verdadeiro conhecimento da realidade. É esta dupla condição que torna o senso comum uma realidade cultural multifacetada.

Caracterização do senso comum

O conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso comum, não se distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do "conhecer".

[...] Pode-se dizer que o conhecimento vulgar ou popular, latu sensu, é o modo comum, corrente e espontâneo de conhecer, que se adquire no trato direto com as coisas e os seres humanos: "é o saber que preenche a nossa vida diária e que se possui sem o haver procurado ou estudado, sem a aplicação de um método e

6

Page 7: Senso+Comum

| Senso comum

sem haver refletido sobre algo" [...]. O conhecimento popular caracteriza-se por ser predominantemente:

superficial, isto é, conforma-se com a aparência, com aquilo que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas: expressa-se por frases como "porque o vi", "porque o senti", "porque o disseram", "porque toda a gente o diz";

sensitivo, ou seja, referente a vivências, estados de ânimo e emoções da vida diária;

subjetivo, pois é o próprio sujeito que organiza as suas experiências e conhecimentos, tanto os que adquire por vivência própria quanto os "por ouvir dizer";

assistemático, pois esta "organização das experiências não visa uma sistematização das idéias, nem na forma de adquiri-las nem na tentativa de validá-las;

acrítico, pois, verdadeiros ou não, a pretensão de que esses conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma forma crítica.

(E. Lakatos, Metodologia Científica, São Paulo, 1986)

7

Page 8: Senso+Comum

| Senso comum

Senso comum e senso crítico

Enquanto o senso comum está associado ao conhecimento irrefletido, o senso crítico é baseado na crítica, na reflexão, na pesquisa e no pensamento. As informações são analisadas com inteligência para se tentar chegar a uma conclusão.

8

Page 9: Senso+Comum

| Senso comum

O que é Bom Senso

Bom senso é um conceito usado na argumentação ligado às noções de sabedoria e de razoabilidade que define a capacidade média que uma pessoa tem de se adequar a regras e costumes em determinados momentos, para poder fazer bons julgamentos e escolhas.

O bom senso é muitas vezes confundido com senso comum, o senso comum pode refletir muitas vezes uma opinião errônea e preconceituosa sobre determinado assunto, enquanto isso o bom senso é ligado à idéia de sensatez, a intuição de distinguir a melhor conduta em situações específicas.

Bom senso também pode ser caracterizado como a forma de filosofar espontaneamente dos indivíduos, também conhecida como filosofia de vida, onde se supõe certa capacidade de organização e independência de quem analisa a experiência de vida cotidiana e da vida alheia.

Para Aristóteles, o bom senso é "elemento central da conduta ética, uma capacidade virtuosa de achar o meio termo e distinguir a ação correta, o que é em termos mais simples, nada mais que bom senso”.

No mundo, não existe verdade absoluta em qualquer conhecimento ou atividade humana, portanto é importante que os indivíduos tenham bom senso para fazerem suas escolhas e em aprender o máximo possível sobre técnicas, ferramentas e metodologias importantes para a tomada de decisão.

9

Page 10: Senso+Comum

| Senso comum

Senso comum e conhecimento científico

SENSO COMUM No seu dia-a-dia, o homem adquire espontaneamente um modo de entender e atuar sobre a realidade. Algumas pessoas, por exemplo, não passam por baixo de escadas, porque acreditam que dá azar; se quebrarem um espelho, sete anos de azar.

Algumas confeiteiras sabem que o forno não pode ser aberto enquanto o bolo está assando, senão ele "embatuma", sabem também que a determinados pratos, feitos em banho-maria, devem-se acrescentar umas gotas de vinagre ou de limão para que a vasilha de alumínio não fique escura.

Como aprenderam estas informações? Elas foram sendo passadas de geração a geração. Elas não só foram assimiladas mas também transformadas, contribuindo assim para a compreensão da realidade. Assim, se o conhecimento é produto de uma prática que se faz social e historicamente, todas as explicações para a vida, para as regras de comportamento social, para o trabalho, para os fenômenos da natureza, etc., passam a fazer parte das explicações para tudo o que observamos e experienciamos.

Todos estes elementos são assimilados ou transformados de forma espontânea. Por isso, raramente há questionamentos sobre outras possibilidades de explicações para a realidade. Acostumamo-nos a uma determinada compreensão de mundo e não mais questionamos; tornamo-nos "conformistas de algum conformismo".

São inúmeros os exemplos presentes na vida social, construídos pelo "ouvi dizer", que formam uma visão de mundo fragmentada e assistemática. Mesmo assim, é uma forma usada

10

Page 11: Senso+Comum

| Senso comum

pelo homem para tentar resolver seus problemas da vida cotidiana.

Isso tudo é denominado de senso comum ou conhecimento espontâneo. Portanto, podemos dizer que o senso comum é o conhecimento acumulado pelos homens, de forma empírica, porque se baseia apenas na experiência cotidiana, sem se preocupar com o rigor que a experiência científica exige e sem questionar os problemas colocados justamente pelo cotidiano.

Portanto, é também um saber ingênuo uma vez que não possui uma postura crítica. "Em geral, as pessoas percebem que existe uma diferença entre o conhecimento do homem do povo, às vezes até cheio de experiências, mas que não estudou, e o conhecimento daquele que estudou determinado assunto. E a diferença é que o conhecimento do homem do povo foi adquirido espontaneamente, sem muita preocupação com método, com crítica ou com sistematização. Ao passo que o conhecimento daquele que estudou algo foi obtido com esforço, usando-se um método, uma crítica mais pensada e uma organização mais elaborada dos conhecimentos.” (LARA, p 56, 1983).

Porém, é importante destacar que o senso comum é uma forma válida de conhecimento, pois o homem precisa dele para encaminhar, resolver ou superar suas necessidades do dia-a-dia. Os pais, por exemplo, educam seus filhos mesmo não sendo psicólogos ou pedagogos, e nem sempre os filhos de pedagogos ou psicólogos são mais bem educados.

O senso comum é ainda subjetivo ao permitir a expressão de sentimentos, opiniões e de valores pessoais quando observamos as coisas à nossa volta. Por exemplo:

11

Page 12: Senso+Comum

| Senso comum

a) se uma determinada pessoa não nos agrada, mesmo que ela tenha um grande valor profissional, torna-se difícil reconhecer este valor. Neste caso, a antipatia por esta determinada pessoa nos impede de reconhecer a sua capacidade;

b) os hindus consideram a vaca um animal sagrado, enquanto nós, ocidentais, concebemos este animal apenas como um fornecedor de carne, leite, etc. Por essa razão os consideramos ignorantes e ridículos, pois tendemos a julgar os povos, que possuem uma cultura diferente da nossa, a partir do nosso entendimento valorativo.

Levando-se em conta a reflexão feita até aqui, podemos considerar o senso comum como sendo uma visão de mundo precária e fragmentada. Mesmo possuindo o seu valor enquanto processo de construção do conhecimento, ele deve ser superado por um conhecimento que o incorpore, que se estenda a uma concepção crítica e coerente4 e que possibilite, até mesmo, o acesso a um saber mais elaborado, como as ciências sociais.

Conhecimento científico

Os Gregos, na antigüidade, buscavam através do uso da razão, a superação do mito ou do saber comum. O avanço na produção do conhecimento, conseguido por esses pensadores, foi estabelecer vínculo entre ciência e pensamento sistematizado (filosofia, sociologia...), que perdurou até o início da Idade Moderna. A partir daí, as relações dos homens tornaram-se mais complexas bem como toda a forma de produzir a sua sobrevivência.

Gradativamente, houve um avanço técnico e científico, como a utilização da pólvora, a invenção da imprensa, a Física de Newton, a Astronomia de Galileu, etc. Foi no início do século XVII, quando o mundo europeu passava por profundas

12

Page 13: Senso+Comum

| Senso comum

transformações, que o homem se tornou o centro da natureza (antropocentrismo).

Acompanhando o movimento histórico, ele mudou toda a estrutura do pensamento e rompeu com as concepções de Aristóteles, ainda vigentes e defendidas pela Igreja, segundo as quais tudo era hierarquizado e imóvel, desde as instituições e até mesmo o planeta Terra. O homem passou, então, a ver a natureza como objeto de sua ação e de seu conhecimento, podendo nela interferir. Portanto, podia formular hipóteses e experimentá-las para verificar a sua veracidade, superando assim as explicações metafísicas e teológicas que até então predominavam.

O mundo imóvel foi substituído por um universo aberto e infinito, ligado a uma unidade de leis. Era o nascimento da ciência enquanto um objeto específico de investigação, com um método próprio para o controle da produção do conhecimento. Portanto, podemos afirmar que o conhecimento científico é uma conquista recente da humanidade, pois tem apenas trezentos anos. Ele transformou-se numa prática constante, procurando afastar crenças supersticiosas e ignorância, através de métodos rigorosos, para produzir um conhecimento sistemático, preciso e objetivo que garanta prever acontecimento e agir de forma mais segura.

Sendo assim, o que diferencia o senso comum do conhecimento científico é o rigor. Enquanto o senso comum é acrítico, fragmentado, preso a preconceitos e a tradições conservadoras, a ciência preocupa-se com as pesquisas sistemáticas que produzam teorias que revelem a verdade sobre a realidade, uma vez que a ciência produz o conhecimento a partir da razão.

Desta forma, o cientista, para realizar uma pesquisa e torná-la científica, deve seguir determinados passos. Em primeiro lugar, o pesquisador deve estar motivado a resolver

13

Page 14: Senso+Comum

| Senso comum

uma determinada situação-problema que, normalmente, é seguida, por algumas hipóteses.

Usando sua criatividade, o pesquisador deve observar os fatos, coletar dados e então testar suas hipóteses, que poderão se transformar em leis e, posteriormente, ser incorporadas às teorias que possam explicar e prever os fenômenos. Porém, é fundamental registrar que a ciência não é somente acumulação de verdades prontas e acabadas. Neste caso, estaríamos refletindo sobre cientificismo e não ciência, mas tê-la como um campo sempre aberto às novas concepções e contestações sem perder de vista os dados, o rigor e a coerência e aceitando, que, o que prova que uma teoria é científica é o fato de ela ser falível e aceitar ser refutada.

O conhecimento científico para Auguste Comte

Para Comte, o conhecimento científico é, baseado na observação dos fatos e nas relações entre fatos que são estabelecidas pelo raciocínio. Estas relações excluem tentativas de descobrir a origem, ou uma causa subjacente aos fenômenos, e são, na verdade, a descrição das leis que os regem.

Comte afirma: "Nossas pesquisas positivas devem essencialmente reduzir-se, em todos os gêneros, à apreciação sistemática daquilo que é, renunciando a descobrir sua primeira origem e seu destino final".

O conhecimento científico positivo, que estabelece as leis que regem os fenômenos de forma a refletir o modo como tais leis operam na natureza, tem, para Comte, ainda, duas características: é um conhecimento sempre certo, não se admitindo conjecturas, e é um conhecimento que sempre tem algum grau de precisão.

14

Page 15: Senso+Comum

| Senso comum

Assim, Comte reforça a noção de que o conhecimento científico é um conhecimento que não admite dúvidas e indeterminações e desvincula-o de todo conhecimento especulativo. "Se, conforme a explicação precedente, as diversas ciências devem necessariamente apresentar uma precisão muito desigual, não resulta daí, de modo algum, sua certeza.

Cada uma pode oferecer resultados tão certos como qualquer outra, desde que saiba encerrar suas conclusões no grau de precisão que os fenômenos correspondentes comportam condição nem sempre fácil de cumprir. Numa ciência qualquer, tudo o que é simplesmente conjectural é apenas mais ou menos provável, não está aí seu domínio essencial; tudo o que é positivo. isto é, fundado em fatos bem constatados, é certo - não há distinção a esse respeito".

Ciência e vida

O termo ciência vem do latim, scientia, de sciens, conhecimento, sabedoria. É um corpo de doutrina, organizado metodicamente que constitui uma área do saber e é relativo a determinado objeto.

O que caracteriza cada ciência é seu objeto formal, ou seja, a coisa observada, porém, o desdobramento dos objetos do saber científico caminhou progressivamente para a especialização das ciências (ato que marcou sobremaneira o século XIX com o advento da técnica e da industrialização). Isto culminaria na perda da visão totalitária do ser e na sua conseqüente fragmentação.

O saber científico necessita de objetividade, na busca da verdade, e também deve possuir método próprio, responsável pelo cumprimento de um plano para a observação e a verificação de qualquer matéria. Entretanto, esse caráter objetivo da ciência, que corresponde aos dados e variáveis coletados, traz consigo

15

Page 16: Senso+Comum

| Senso comum

uma gama irrestrita de pensamentos, teorias e paradigmas que nos remete para a reflexão bioantropológica do conhecimento, bem como para a reflexão das teorias nos aspectos culturais, sociais e históricos.

Não se pode perder de vista que o cientista que investiga as ciências é um ser humano falível e é preciso que as ciências se questionem acerca de suas estruturas ideológicas. Nesse contexto, a questão "O que é ciência?" ainda não conta com uma resposta científica, considerando que todas as ciências, incluindo as físicas e biológicas, são também sociais.

Portanto, têm origem, enraizamento e componente biofísico, o que seu campo de estudo procura renegar, na tentativa de expressar, através de sua especialização, a estrutura do pensamento linear do conhecimento científico. Ou seja, a ciência, com suas teorias e metodologias "salvadoras", não dispõe da habilidade de refletir-se para o autoconhecimento.

Dessa forma, não é científico tentar definir as fronteiras da ciência. Não é científico, porque não é seguro, e qualquer pretensão em fazê-lo tornar-se-ia irresponsável.

16

Page 17: Senso+Comum

| Senso comum

ATIVIDADE

1. Fale sobre a importância do senso comum.

2. Como os Gregos na Antiguidade buscavam explicações para seus questionamentos?

3. Explique Antropocêntrismo.

4. Segundo o texto, qual era a visão de Aristóteles?

5. Descreva o nascimento da Ciência, baseado na leitura do texto.

6. Cite diferenças básicas entre senso comum e ciência.

7. Quais são os passos que o cientista deve seguir para tornar uma pesquisa científica?

8. A ciência é um acumulo de "verdades absolutas"? Explique sua resposta.

9. Para você, o que é ciência?

10. Procure no senso comum e na ciência as causas e os tratamentos para as seguintes enfermidades:

Gripe; Gastrite; Pedra nos rins; Frieira.

17

Page 18: Senso+Comum

| Senso comum

Equívocos acerca do senso comum

A caracterização do senso comum como sendo um conhecimento prático é freqüente. Consta de muitos livros de Filosofia (e de Sociologia). Contudo, essa caracterização não é rigorosa.

Um conhecimento prático é um saber-fazer, consiste no conhecimento de uma atividade. É verdade que o senso comum inclui inúmeros conhecimentos práticos, tais como saber cozinhar ou saber andar de bicicleta. No entanto, incluem também conhecimentos proposicionais, conhecimentos por contato, superstições e outras crenças, que não são saberes prático.

O conhecimento proposicional é tal como o nome indica: “o conhecimento de proposições”. Também é conhecido por “saber que”.

Por exemplo:

Saber que a lixívia desbota a roupa (Portugal);

Saber que (em Portugal) a pena máxima é 25 anos de prisão;

Saber que a cor do luto (em Portugal) é o preto, etc.

O senso comum inclui inúmeros conhecimentos desse gênero, que não têm manifestamente um caráter prático.

O conhecimento por contato é o conhecimento que temos de coisas, lugares, pessoas, etc. É um conhecimento direto e presencial.

Por exemplo:

18

Page 19: Senso+Comum

| Senso comum

Conhecer as divisões de uma casa;

Conhecer pessoalmente um indivíduo, etc.

O senso comum inclui inúmeros conhecimentos desse gênero, que não têm manifestamente um caráter prático.

Uma superstição é uma crença falsa e sem justificação plausível.

Por exemplo:

Acreditar que as doenças são provocadas por espíritos malignos,

Acreditar que ver gatos pretos traz azar, etc.

O senso comum de muitas pessoas (mas talvez não de todas) inclui superstições. Tais crenças supersticiosas não têm obviamente caráter prático.

Por outro lado, o senso comum inclui também crenças que seria errado considerar superstições (convições morais, políticas, sociais, etc., tais como: acreditar que se deve pagar as dívidas, acreditar que não se deve matar pessoas inocentes, etc.). Todavia, tais crenças também não são saberes prático.

Por isso, o conhecimento prático é apenas uma parte do senso comum.

É igualmente freqüente chamar-se conhecimento vulgar ao senso comum. Todavia, essa denominação não é rigorosa.

Os conhecimentos práticos, proposicionais e por contato que fazem parte do senso comum podem ser designados de

19

Page 20: Senso+Comum

| Senso comum

vulgares, uma vez que a sua aquisição não implica aprendizagens formais e elaboradas.

Contudo, as superstições que fazem parte do senso comum não constituem conhecimentos vulgares. Não por não serem “vulgares” e implicarem aprendizagens formais e elaboradas, mas porque, sendo crenças falsas e injustificadas, não são sequer conhecimentos.

É duvidoso que muitas crenças do senso comum que não são supersticiosas constituam, ainda assim, conhecimentos, pois, embora não sejam falsas, a sua justificação adequada não se faz no âmbito do senso comum – mas sim da Filosofia e de ciências como a Psicologia ou a Economia.

A teoria filosófica que define o conhecimento como sendo uma crença verdadeira justificada presta-se a algumas objeções, pois provavelmente essas três condições não são suficientes para haver conhecimento e é necessário acrescentar uma ou mais condições para haver conhecimento. No entanto, não parece haver dúvidas que são condições necessárias. Pelo que as crenças do senso comum que são falsas ou injustificadas não são conhecimentos.

(Se as crenças do senso comum que são falsas ou injustificadas não fossem falsas nem injustificadas e pudessem ser considerado conhecimento, não seriam conhecimentos práticos, mas sim conhecimentos proposicionais.)

Por isso, apenas uma parte do senso comum constitui conhecimento.

20

Page 21: Senso+Comum

| Senso comum

Algumas diferenças entre o senso comum e a ciência

Do senso comum fazem parte conhecimentos vulgares, mas muito úteis na vida quotidiana (saber cozinhar, conhecer a cidade onde se vive saber que no Verão há mais calor que na Primavera, etc.).

Pode também incluir superstições, isto é, crenças falsas ou injustificadas (acreditar que o número 13 dá azar, acreditar que uma mulher durante o período menstrual não deve fazer bolos, pois estes não ficarão bons, etc.).

Vejamos algumas das características distintivas entre senso comum e ciência.

As crenças que fazem parte do senso comum adquirem-se com base na experiência quotidiana das pessoas, na chamada experiência de vida (que se distingue da experiência científica por ser feita sem um planejamento rigoroso, sem método). Em alguns casos trata-se de experiências pessoais, em outros casos são experiências partilhadas pelos membros da comunidade – no decurso do processo de socialização. Em suma, é um conhecimento que se adquire sem estudos, sem investigações.

Por exemplo: para aprender onde fica a padaria mais próxima de casa ou para aprender a atar os sapatos não é preciso realizar uma investigação metódica, basta para a experiência de vida.

Pelo contrário, a ciência implica investigações, estudos realizados metodicamente.

Por exemplo: De outra forma, como se poderia descobrir a temperatura média de um planeta tão distante como Mercúrio?

21

Page 22: Senso+Comum

| Senso comum

Como é que a simples experiência de vida podia permitir a descoberta de que a luz do Sol leva 8,33 minutos a chegar à Terra?

O senso comum é assistemático, na medida em que constitui um conjunto disperso e desorganizado de crenças (algumas constituem conhecimentos e outras não), não implicando por parte dos seus detentores um esforço de organização. Por isso, algumas das crenças podem ser contraditórias.

Por exemplo: as mesmas pessoas podem acreditar que “Quem espera desespera” e “Quem espera sempre alcança”.

Ciência é um saber sistemático na medida em constitui um conjunto organizado de conhecimentos, havendo da parte dos cientistas um esforço para que as diversas teorias se articulem entre si e sejam coerentes.

Por exemplo: Os historiadores ficariam preocupados se descobrissem que, nas suas análises de um fenômeno do passado como a batalha de Aljubarrota, havia afirmações sobre o relevo da zona incompatíveis com as informações fornecidas pela Geografia.

O senso comum é impreciso, na medida em que normalmente não se exprime de modo rigoroso e quantificado.

A ciência é um saber mais preciso que o senso comum. As diversas ciências, naturais ou sociais, recorrem sempre que possível à Matemática, na tentativa de apresentar resultados rigorosos. Mesmo nas investigações em que não é possível quantificar (a observação psicológica de certa pessoa, por exemplo) existe essa procura do rigor.

22

Page 23: Senso+Comum

| Senso comum

Por exemplo: É de conhecimento geral que no Norte de Portugal chove mais do que no Sul. O conhecimento científico desse fenômeno é muito mais exato: no mês de Janeiro de 2003 a precipitação em Faro situou-se entre os 20 e os 40 mm, enquanto no mesmo período no Porto situou-se entre os 350 e os 400 mm (de acordo com o Instituto de Meteorologia).

O senso comum é acrítico. Acrítico significa não refletido, não examinado. É compreensível que assim seja, pois se trata de crenças cuja aprendizagem é informal: aprende-se à medida que se vai vivendo e tendo experiências, aprende-se vendo, ouvindo e imitando os outros. Muitas vezes essa aprendizagem é inconsciente: as pessoas não têm noção de que estão a aprender, mas vai interiorizando tradições, costumes, saberes práticos, etc. Tanto podem aprender crenças verdadeiras como crenças falsas e injustificadas (superstições).

Por exemplo: Algumas crianças portuguesas, ao observarem muitas vezes os pais e outros adultos deitarem lixo para o chão, aprendem a fazer o mesmo e interiorizam a idéia de que esse comportamento é correto. Outras crianças portuguesas – talvez em menor número – ao observarem muitas vezes os pais e outros adultos deitarem o lixo para o caixote aprendem a fazer o mesmo e interiorizam a idéia de que esse comportamento é correto. Na maior parte dos casos, tanto umas como outras realizam essas aprendizagens sem refletir, sem discutir: limitam-se a imitar. Ou seja: aprendem acriticamente.

A ciência não pode ser acrítica como o senso comum. Pelo contrário, implica uma atitude crítica por parte dos cientistas. Ou seja: para fazer ciência é preciso refletir, pensar pela própria cabeça, e ter uma preocupação permanente com a fundamentação das idéias. Os cientistas devem ter essa atitude crítica relativamente às suas próprias idéias e relativamente às idéias dos outros.

23

Page 24: Senso+Comum

| Senso comum

Por exemplo: um cientista que queira publicar um artigo científico numa revista tem de submetê-lo a um processo de avaliação que costuma ser chamado “refereeing”: o artigo tem de ser lido primeiro por especialistas da área; o nome destes não é divulgado e estes também não sabem quem é o autor do artigo, para que a crítica possa ser mais livre e imparcial.

24

Page 25: Senso+Comum

| Senso comum

O senso comum não basta para compreender o mundo

A Gente Não Lê

(Composição: Carlos Tê / Rui Veloso)

Ai Senhor das Furnas Que escuro vai dentro de nós, Rezar o terço ao fim da tarde, Só p´ra espantar a solidão, Rogar a Deus que nos guarde, Confiar-lhe o destino na mão.

Que adianta saber as marés, Os frutos e as sementeiras, Tratar por tu os ofícios, Entender o suão e os animais, Falar o dialeto da terra, Conhecer-lhe o corpo pelos sinais.

E do resto entender mal, Soletrar assinar em cruz, Não ver os vultos furtivos, Que nos tramam por trás da luz.

Ai Senhor das Furnas, Que escuro vai dentro de nós, A gente morre logo ao nascer, Com olhos rasos de lezíria, De boca em boca passando o saber, Com os provérbios que ficam na gíria.

De que nos vale esta pureza, Sem ler fica-se pederneira,

25

Page 26: Senso+Comum

| Senso comum

Agita-se a solidão cá no fundo, Fica-se sentado à soleira, A ouvir os ruídos do mundo, E a entendê-los à nossa maneira.

Carregar a superstição, De ser pequeno ser ninguém, E não quebrar a tradição, Que dos nossos avôs já vem.

O poema expressa o ponto de vista de alguém que vivendo apenas com o senso comum tem consciência das suas limitações, ou seja, da sua incapacidade de compreender o mundo a partir deste tipo de crenças. Contudo, há uma valorização do saber e certa consciência da ignorância que, muitas vezes, não encontramos naqueles que detêm conhecimentos de natureza científica ou filosófica. É curioso que assim seja e dá que pensar.

26

Page 27: Senso+Comum

| Senso comum

Fuja do senso comum!

Nossa experiência nos tem mostrado que há um perigo muito grande que ronda as redações: o senso comum. Esse termo não tem nada de técnico, mas é um fator que pode fazer a diferença entre você ficar apenas na média ou se destacar de verdade na sua redação.

Os assuntos abordados nas provas de redação do vestibular são muito variados, mas a grande maioria deles não tem nada de inédito. São assuntos que já foram discutidos e rediscutidos pela sociedade. Ao mesmo tempo em que isso pode ser bom pelo fato de termos mais argumentos para elaborar nossos textos, é preciso também tomar cuidado para não nos tornarmos repetidores de um conhecimento que está no senso comum. Mas o que exatamente isso significa?

O senso comum pode se apresentar de diversas formas em um texto. Antes de darmos alguns exemplos concretos, é importante ressaltar que, na grande maioria das vezes, o senso comum serve como um apoio para aquele candidato que não está muito seguro daquilo que está escrevendo. O candidato que se apóia no senso comum geralmente está tentando disfarçar uma dificuldade em conseguir emitir uma opinião pessoal sobre um assunto, então ele lê a proposta, interpreta a coletânea de textos e o tema de forma superficial e não consegue, portanto, ir além do senso comum em sua redação.

Um exemplo de senso comum em redação é o uso de certas frases e citações de autores famosos, como “os fins justificam os meios”, “o homem é o lobo do homem” ou ainda “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. O uso de citações assim empobrece o seu texto, principalmente porque você pode dizer algo parecido com suas próprias palavras. Você deve confiar mais no seu poder de argumentação

27

Page 28: Senso+Comum

| Senso comum

e não deixa para outros “autores” a tarefa de convencer e conduzir o leitor pela leitura.

Outro exemplo interessante de senso comum são conclusões que terminam com “o governo deve agir”, “as autoridades devem tomar providências” ou ainda “a população deve se conscientizar”. Tudo isso, se for bem trabalhado pode até servir como uma boa conclusão, mas só isso é muito pouco. Se formos pensar, a grande maioria dos problemas apresentados nas propostas de redação pode ser resolvida com frases assim. Essas “fórmulas” se transformam em soluções genéricas que se tornam cada vez mais vazias de significado.

Podemos lembrar ainda do velho e bom capitalismo e da famosíssima globalização, que de tanto virarem vilões nas redações, se tornaram parte de um senso comum. A impressão que se tem é que a maioria dos problemas do mundo é causada por eles. Por mais que possa ser verdade, parece que os candidatos acabam nem pensando direito sobre o tema, já que, desde o início, estão determinados a colocar a culpa no capitalismo e na globalização. E o pior é que na maior parte das vezes isso é feito de uma forma bem rasa, o que piora ainda mais o uso de algo que está tão presente no senso comum.

Para encerrar nossos exemplos de senso comum nas redações, vamos lembrar a clássica auto-ajuda. Alguns candidatos acham que são o Augusto Cury e resolvem dar conselhos para os leitores do tipo “o que importa é ser feliz”, “dinheiro não compra felicidade”. Além do problema disso cair no senso comum, ao dar conselhos, você corre o risco de prejudicar a caracterização do gênero dissertativo, por exemplo.

Para fazer uma redação acima da média, você precisa ficar acima do senso comum, lendo e interpretando os textos da coletânea de forma madura e seguindo a proposta à risca. Essa pode ser a diferença entre você ficar na média, como a grande

28

Page 29: Senso+Comum

| Senso comum

maioria das pessoas ou se destacar ficando com a tão sonhada vaga na universidade da sua escolha.

Provérbios populares:

Dai a César o que de César e a Deus o que de Deus. Quem com ferro fere, com ferro será ferido. Mais vale um pássaro na mão do que dois voando. A pressa é a inimiga da perfeição. Cavalo dado não se olha os dentes. A ocasião faz o ladrão. Quando um não quer dois não brigam. Antes calar que mal falar. Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Cada cabeça, cada sentença. Caiu na rede é peixe. Casa de ferreiro, espeto de pau. O seguro morreu de velho. Cada macaco no seu galho. Quem tudo quer nada tem. Devagar se vai ao longe. De grão em grão a galinha enche o papo. Errar é humano. Falar é fácil, fazer é que é difícil. Filho de peixe, peixinho é. Nada como um dia depois do outro. Não há rosas sem espinhos. Não se faz uma omelete sem quebrar os ovos. Nunca digas que desta água não bebereis. O barato sai caro. Onde há fumaça, há fogo. Pela boca morre o peixe. Quem espera sempre alcança. Tudo acaba em pizza

29

Page 30: Senso+Comum

| Senso comum

30 Ditos Populares e seus Significados Descascando o abacaxi.

Os Ditos Populares ou Provérbios são expressões usadas ao longo dos anos e que em frases curtas definem uma realidade que é de consenso comum e se torna parte de uma determinada cultura. Autores já tentaram encontrar a origem, o nascimento (de onde surgiu) os ditados mas é uma busca muito difícil devido ao fato dos mesmos serem repassados boca-a-boca ao longo dos anos.

Os conceitos citados abaixo servem de base, alicerce, limitam ou facilitam as ações e atitudes de líderes natos ou daqueles que exercem a função de liderança. Ás vezes ouvimos ou falamos alguns deles, mas não sabemos o significado dos mesmos.

1Água mole em pedra dura tanto bate até que fura

Persistência

2 Quem quer, faz; quem não quer, manda Persistência

3Quem com ferro fere, com ferro será ferido

Justiça/Vingança

4 Santo de casa não faz milagre Estrangeirismo

5 Papagaio velho não aprende a falar

Comodismo, cristalização, descrença na mudança

6 Costume de casa vai à praça Hábito, Vício7 Nem só de pão vive o homem Fé, Inovação

8Quem não quer ver lobo não lhe vista a pele

Conduta

9Quem com os porcos se mistura, farelos come

Influência

30

Page 31: Senso+Comum

| Senso comum

10 Pau que nasce torto nunca se endireitaRigidez Inflexibilidade

11Diz-me com quem andas que te direi quem és

Influência

12 Macaco velho não mão em cumbucaPrudência, Precaução, Cautela

13O perigo que corre o pau corre o machado

Igualdade

14 Quem foi rei nunca a majestadeExperiência, Hábito

15Panela que muitos mexem, ou sai insossa ou salgada

Falta de Unidade de Comando, Desorganização

16 Quem não arrisca não petiscaRisco, Ousadia, Ação

17 Quem vai ao vento, perde o assento Risco

18 Em boca fechada não entra mosquitoDiscrição ao falar

19 Todos os caminhos levam a Roma Escolha20 Palavra de rei não volta atrás Firmeza21 Casa de ferreiro, espeto de pau Incoerência

22Em terra de cego, quem tem um olho é rei

Poder, Destaque

23 Quem não tem cão, caça como gatoFlexibilidade, Adaptabilidade

24 Mais vale prevenir do que remediar Prudência

25 Quem tem boca vai a RomaComunicação, Persistência

26 Deus ajuda a quem cedo madruga Ação, Esforço27 Caititu fora da manada é papa de onça União, Sinergia

28Manda quem pode, obedece quem tem juízo

Subordinação ao poder

29 Faça o que digo, e não o que eu faço Incoerência30 Quando um não quer, dois não brigam Sensatez

31

Page 32: Senso+Comum

| Senso comum

O que é, realmente, o senso comum?

Em livros e sites de Sociologia (e de Filosofia) encontra-se muitas vezes a afirmação de que o senso comum é um conhecimento prático e a afirmação de que o senso comum é o mesmo que o conhecimento vulgar. No entanto, ambas as afirmações são incorretas.

Sem entrar em detalhes filosóficos (desnecessários no estudo da Sociologia), vou explicar porque é que as afirmações referidas são incorretas.

O senso comum inclui conhecimentos práticos (aquilo que se chama saber-fazer, como por exemplo saber cozinhar um ovo ou saber costurar um botão), mas estes são apenas uma parte e não a totalidade do senso comum.

O senso comum inclui também conhecimentos que não são práticos. Nomeadamente, conhecimentos (embora pouco elaborados) de idéias – aquilo que em Filosofia se chama conhecimento proposicional ou “saber que”.

Por exemplo:

saber que (em Portugal) só se pode votar a partir dos 18 anos;

saber que a lixívia desbota a roupa, etc.

Por outro lado, o senso comum inclui também superstições (crenças falsas e sem qualquer justificação plausível, como por exemplo, acreditar que ver gatos pretos traz azar) e crenças não supersticiosas sobre os mais diversos aspectos da vida (convicções morais, políticas, sociais, etc., como por exemplo acreditar que se deve pagar as dívidas, acreditar que não se deve matar pessoas inocentes, etc.), que não têm um caráter prático.

32

Page 33: Senso+Comum

| Senso comum

Não se pode também dizer que o senso comum é o mesmo que o conhecimento vulgar. Os conhecimentos que fazem parte do senso comum são, sem dúvida, “vulgares”: são saberes simples, pouco elaborados e resultam da experiência de vida e não de investigações.

Todavia, e como já foi dito, o senso comum inclui também superstições. Estas, sendo crenças falsas e sem justificação, não são conhecimentos. O problema não está, portanto, na palavra “vulgar”, mas na palavra “conhecimento”. Não se pode identificar senso comum e conhecimento vulgar, pois alguns conteúdos do senso comum não são conhecimentos.

As distinções que fiz entre senso comum e conhecimento prático e senso comum e conhecimento vulgar estão de acordo com a compreensão que os sociólogos habitualmente têm da natureza e do papel da Sociologia.

A segunda distinção é, nesse contexto, particularmente relevante. Os sociólogos reconhecem que têm de se precaver contra o senso comum. Alguns utilizam a esse respeito a expressão “ruptura com o senso comum”. O que tal expressão significa é que, para constituir conhecimentos sociológicos de caráter científico, o sociólogo não se deve deixar influenciar pelas crenças falsas que adquiriu no seio da sua comunidade ao longo do processo de socialização e não se deve contentar com as crenças verdadeiras que adquiriu do mesmo modo, pois aquelas são superstições enganadoras e estas não passam de conhecimentos vulgares e superficiais que precisam de ser aprofundados.

33

Page 34: Senso+Comum

| Senso comum

Senso comum nos ditos populares

Diariamente nos pegamos usando ditos populares, mas poucas pessoas sabem o significado deles. Grande parte é derivada de expressões que, com o passar dos tempos, acabaram se modificando. Você conhece as origens?

Dito Popular: “Quem tem boca vai a Roma”.

O correto seria: “Quem tem boca vaia Roma”. (do verbo vaiar).

Dito Popular: “Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho carpinteiro”.

O correto seria: “Esse menino não pára quieto, parece que tem bicho no corpo inteiro”.

Dito Popular: “Batatinha quando nasce, esparrama pelo chão”.

O correto seria: “Batatinha quando nasce, espalha a rama pelo chão”.

Dito Popular: “Cor de burro quando foge”.

O correto seria: “Corro de burro quando foge!”

Dito Popular: “Cuspido e escarrado”. (alguém muito parecido com oura pessoa).

O correto seria: “Esculpido em carraro”. (tipo de mármore).

Dito Popular: “Quem não tem cão, caça com gato”.

34

Page 35: Senso+Comum

| Senso comum

O correto seria: “Quem não tem cão, caça como gato”. (ou seja, esgueirando, astutamente, traiçoeiramente).

Veja também como surgiram esses:

O pior cego é o que não quer ver

Significado: Diz-se da pessoa que não quer ver o que está bem na sua frente. Nega-se a ver a verdade.

Histórico: Em 1647, em Nimes, na França, na universidade local, o doutor Vicent de Paul D’Argenrt fez o primeiro transplante de córnea em um aldeão de nome Angel. Foi um sucesso da medicina da época, menos para Angel, que assim que passou a enxergar ficou horrorizado com o mundo que via. Disse que o mundo que ele imagina era muito melhor. Pediu ao cirurgião que arrancasse seus olhos. O caso foi acabar no tribunal de Paris e no Vaticano. Angel ganhou a causa e entrou para a história como o cego que não quis ver.

Andar à toa

Significado: Andar sem destino, despreocupado, passando o tempo.

Histórico: Toa é a corda com que uma embarcação reboca a outra. Um navio que está “à toa” é o que não tem leme nem rumo, indo para onde o navio que o reboca determinar. Uma mulher à toa, por exemplo, é aquela que é comandada pelos outros. Jorge Ferreira de Vasconcelos já escrevia, em 1619: Cuidou de levar à toa sua dama.

Casa de mãe Joana

35

Page 36: Senso+Comum

| Senso comum

Significado: Onde vale tudo, todo mundo pode entrar, mandar, etc.

Histórico: Esta vem da Itália. Joana, rainha de Nápoles e condessa de Provença (1326-1382), liberou os bordéis em Avignon, onde estava refugiada, e mandou escrever nos estatutos: “que tenha uma porta por onde todos entrarão”. O lugar ficou conhecido como Paço de Mãe Joana, em Portugal. Ao vir para o Brasil a expressão virou “Casa da Mãe Joana”. A outra expressão envolvendo Mãe Joana, um tanto chula, tem a mesma origem, naturalmente.

Onde Judas perdeu as botas

Significado: Lugar longe, distante, inacessível.

Histórico: Como todos sabem, depois de trair Jesus e receber 30 dinheiros, Judas caiu em depressão e culpa vindo a se suicidar enforcando-se numa árvore. Acontece que ele se matou sem as botas. E os 30 dinheiros não foram encontrados com ele. Logo os soldados partiram em busca das botas de Judas, onde, provavelmente, estaria o dinheiro. A história é omissa daí pra frente. Nunca saberemos se acharam ou não as botas e o dinheiro. Mas a expressão atravessou vinte séculos.

Da pá virada

Significado: Um sujeito da pá virada pode tanto ser um aventureiro corajoso como um vadio.

Histórico: Mas a origem da palavra é em relação ao instrumento, a pá. Quando a pá está virada para baixo, voltada para o solo, está inútil, abandonada decorrentemente pelo homem vagabundo, irresponsável,

36

Page 37: Senso+Comum

| Senso comum

parasita. Hoje em dia, o sujeito da “pá virada”, parece-me, tem outro sentido. Ele é O “bom”. O significado das expressões mudam muito no Brasil com o passar do tempo.

Nhenhenhém

Significado: Conversa interminável em tom de lamúria, irritante, monótona. Resmungo, rezinga.

Histórico: Nheë, em tupi, quer dizer falar. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles não entendiam aquela falação estranha e diziam que os portugueses ficavam a dizer “nhen-nhen-nhen”.

Estar de paquete

Significado: Situação das mulheres quando estão menstruadas.

Histórico: Paquete, já nos ensina o Aurélio, é um das denominações de navio. A partir de 1810, chegava um paquete mensalmente, no mesmo dia, no Rio de Janeiro. E a bandeira vermelha da Inglaterra tremulava. Daí logo se vulgarizou a expressão sobre o ciclo menstrual das mulheres. Foi até escrita uma “Convenção Sobre o Estabelecimento dos Paquetes”, referindo-se, é claro, aos navios mensais.

Pensando na morte da bezerra

Significado: Estar distante, pensativo, alheio a tudo.

Histórico: Esta é bíblica. Como vocês sabem, o bezerro era adorado pelos hebreus e sacrificados para Deus num altar. Quando Absalão, por não ter mais bezerros,

37

Page 38: Senso+Comum

| Senso comum

resolveu sacrificar uma bezerra, seu filho menor, que tinha grande carinho pelo animal, se opôs. Em vão. A bezerra foi oferecida aos céus e o garoto passou o resto da vida sentado do lado do altar “pensando na morte da bezerra”. Consta que meses depois veio a falecer.

Não entender patavina

Significado: Não saber nada sobre determinado assunto. Nada mesmo.

Histórico: Tito Lívio, natural de Patavium (hoje Pádova, na Itália), usava um latim horroroso, originário de sua região. Nem todos entendiam. Daí surgiu i Patavinismo, que originariamente significava não entender Tito Lívio, não entender patavina.

Santinha do pau oco

Significado: Pessoa que se faz de boazinha, mas não é.

Histórico: Nos século XVIII e XIX os contrabandistas de ouro em pó, moedas e pedras preciosas utilizavam estátuas de santos ocas por dentro. O santo era “recheado” com preciosidades roubadas e enviado para Portugal.

Sem eira nem beira

Significado: Pessoas sem bens, sem posses.

Histórico: Eira é um terreno de terra batida ou cimento onde grãos ficam ao ar livre para secar. Beira é a beirada da eira. Quando uma eira não tem beira, o vento leva os grãos e o proprietário fica sem nada.

38

Page 39: Senso+Comum

| Senso comum

Aqui na região nordeste este ditado tem o mesmo significado, mas outra explicação. Dizem que antigamente as casas das pessoas ricas tinham um telhado triplo: a eira, a beira e a tribeira como era chamada a parte mais alta do telhado. As pessoas mais pobres não tinham condições de fazer este telhado triplo, então construíam somente a tribeira ficando assim “sem eira nem beira”.

Vá se queixar ao bispo

Significado: Como quem manda ir se queixar de algum problema a outra pessoa.

Histórico: No tempo do Brasil colônia, por causa da necessidade de povoar as novas terras, a fertilidade na mulher era um predicado fundamental. Em função disso, elas eram autorizadas pela igreja a transar antes do casamento, única maneira de o noivo verificar se elas eram realmente férteis. Ocorre que muitos noivinhos fugiam depois do negócio feito. As mulheres iam queixar-se ao bispo, que mandava homens atrás do fujão.

Cair no conto do vigário

Significado: Ser enganado por algum vigarista.

Histórico: Duas igrejas em Ouro Preto receberam um presente: uma imagem de santa. Para verificar qual da paróquias ficaria com o presente, os vigários resolveram deixar por conta da mão divina, ou melhor, das patas de um burro. Exatamente no meio do caminho entre as duas igrejas, colocaram o tal burro, para onde ele se dirigisse, teríamos a igreja felizarda. Assim foi feito, e o vigário vencedor saiu satisfeito com a imagem de sua santa. Mas

39

Page 40: Senso+Comum

| Senso comum

ficou-se sabendo mais tarde que o burro havia sido treinado para seguir o caminho da igreja vencedora.

Ficar a ver navios

Significado: Esperando algo que não aconteceu ou não apareceu. Esperar em vão.

Histórico: O rei de Portugal, Dom Sebastião, morreu na batalha de Alcácer-Quibir, mas o corpo não foi encontrado. A partir de então (1578), o povo português esperava sempre o sonhado retorno do monarca salvador. Lembremos que, em 1580, em função da morte de Dom Sebastião, abre-se uma crise sucessória no trono vago de Portugal. A conseqüência dessa crise foi a anexação de Portugal à Espanha (1580 a 1640), governada por Felipe II. Evidentemente, os portugueses sonhavam com o retorno do rei, como forma salvadora de resgatar o orgulho e a dignidade da pátria lusa. Em função disso, o povo passou a visitar com freqüência o Alto de Santa Catarina, em Lisboa, esperando, ansiosamente, o retorno do dito rei. Como ele não voltou, o povo ficava apenas a ver navios.

Dourar a pílula

Significado: Melhorar a aparência de algo.

Histórico: Vem das farmácias que, antigamente, embrulhavam as pílulas em requintados papéis, para dar melhor aparência ao amargo remédio.

Chegar de mãos abanando

Significado: Chegar em algum lugar sem levar nada, de mãos fazias.

40

Page 41: Senso+Comum

| Senso comum

Histórico: Os imigrantes, no século passado, deveriam trazer as ferramentas para o trabalho na terra. Aqueles que chegassem sem elas, ou seja, de mãos abanando, davam um indicativo de que não vinham dispostos ao trabalho árduo da terra virgem.

A voz do povo, a voz de Deus

Significado: Essa está obvia. Quem realmente sabe das coisas é o povo.

Histórico: As pessoas consultavam o deus Hermes, na cidade grega de Acaia, e faziam uma pergunta ao ouvido do ídolo. Depois o crente cobria a cabeça com um manto e saía à rua. As primeiras palavras que ele ouvisse eram a resposta a sua dúvida.

Chato de galocha

Significado: Pessoas muito chatas, resistente e insistente.

Histórico: Infelizmente, os chatos continuam a existir, ao contrário do acessório que deu origem a essa expressão. A galocha era um tipo de calçado de borracha colocado por cima dos sapatos para reforçá-los e protegê-los da chuva e da lama. Por isso, há uma hipótese de que a expressão tenha vindo da habilidade de reforçar o calçado. Ou seja, o chato de galocha seria um chato resistente e insistente, explica Valter Kehdi, professor de Língua Portuguesa e Filologia da Universidade de São Paulo. De acordo com Kehdi, há ainda a expressão chato de botas, calçados também resistentes, o que reafirma a idéia do chato reforçado.

Do arco-da-velha

41

Page 42: Senso+Comum

| Senso comum

Significado: Coisas do arco-da-velha são coisas inacreditáveis, absurdas.

Histórico: Arco-da-velha é como é chamado o arco-íris em Portugal, e existem muitas lendas sobre suas propriedades mágicas. Uma delas é beber a água de um lugar e devolvê-la em outro – tanto que há quem defenda que “arco-da-velha” venha de arco da bere (”de beber”, em italiano).

O senso comum

O senso comum ou conhecimento espontâneo é a primeira compreensão do mundo, baseada na opinião, que não inclui nenhuma garantia da própria validade. Para alguns filósofos, o senso comum designa as crenças tradicionais do gênero humano, aquilo em que a maioria dos homens acredita ou devem acreditar.

A mais completa tradução do senso comum talvez sejam

os ditados populares. A título de exemplo, eis alguns:

"Cada cabeça, uma sentença."

"Quem desdenha quer comprar."

"Quem ri por último ri melhor."

"A pressa é a inimiga da perfeição."

"Se conselho fosse bom, não era dado de graça."

42

Page 43: Senso+Comum

| Senso comum

Sabedoria popular e senso comum

Algumas frases e ditos populares

Quem tem telhado de vidro não ataca pedras no do vizinho.

A palavra vale prata. O silêncio vale ouro

Nem tudo que reluz é ouro.

Só percebemos o valor da água depois que a fonte seca.

Cão que ladra não morde...

Em terra de cego quem tem um olho é rei

Barco parado, não faz viagem.

Cada cabeça sua sentença.

Cada maluco com a sua mania.

Cada um por si e Deus por todos.

Cada um puxa a brasa para a sua sardinha.

Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

Amanhã é sempre o dia mais ocupado da semana.

Aquela mulher tinha mais hora de cama do que urubu de vôo.

Temos duas orelhas e uma só boca, justamente para escutar mais e falar menos.

43

Page 44: Senso+Comum

| Senso comum

Um novo ramo molda-se a qualquer curvatura que lhe seja aplicada.

Quem espera por sapatos de defunto toda vida anda descalço.

Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier.

Os olhos são a janela da alma.

Duas coisas indicam fraqueza: calar-se quando é preciso falar, e falar quando é preciso calar-se.

Se te sentares no caminho, senta-te de frente... Embora tenhas de ficar de costas para o que já percorreste.

Sorria para a vida! Ela também lhe sorrirá.

Quem não vive para servir, não serve para viver.

Pouco se aprende com a vitória, mas muito com a derrota.

Nunca é tão fácil perder-se como quando se julga conhecer o caminho.

Não declares que as estrelas estão mortas só porque o céu está nublado.

Sorria para a vida! Ela também lhe sorrirá.

Somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, é que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro.

A palavra vale prata. O silêncio vale ouro.

44

Page 45: Senso+Comum

| Senso comum

Quem espera por sapatos de defunto toda vida anda descalço.

Eu que me queixava de não ter sapatos, encontrei um homem que não tinha pés.

Cem homens podem formar um acampamento, mas é preciso de uma mulher para se formar um lar.

A vingança é um prato que se come frio.

Um coração alegre faz tão bem quanto os remédios.

Pouco se aprende com a vitória, mas muito com a derrota.

Você não pode impedir que os pássaros da tristeza voem sobre sua cabeça, mas pode, sim, impedir que façam um ninho em seu cabelo.

Há cinco degraus para se alcançar a sabedoria: calar, ouvir, lembrar, agir e estudar.

Se você cair 7 vezes, levante-te 8.

Espere o melhor, prepare-se para o pior e aceite o que vier.

Quem desdenha quer comprar.

Prepara-te para o que quiseres ser.

Um coração alegre faz tão bem quanto os remédios.

Falem bem, falem mal, mas falem de mim.

45

Page 46: Senso+Comum

| Senso comum

Herança cultural

“A convivência natural do ser humano no mundo - ações e atitudes do dia-a-dia - produzem um tipo de conhecimento particular e espontâneo, geralmente denominado “senso comum” ou “conhecimento vulgar”.

Essa herança cultural se manifesta tanto em relação aos comportamentos ligados à sobrevivência imediata, ao comestível ou não-comestível, ao perigo, à segurança, como em relação aos sentimentos e valores que organizam e situam o desenrolar da vivência, como o belo e o agradável, o bem e o mal, o justo e o injusto.

Dificilmente conseguiríamos sobreviver se não pudéssemos extrair da nossa experiência do mundo e da vida esse grande conjunto de conhecimentos que serve de guia para as nossas ações e decisões do quotidiano, de orientador das nossas relações com os outros e de instrumento para a nossa adequação ao meio em que vivemos.

Do seio desse caudal de cultura e conhecimentos vulgares, entre outros valores, brotam os ditados populares, que, grosso modo, podem ser denominados também “filosofias populares”.

A titulo de ilustração podemos observar que as ciladas da vida podem nos pegar “com as calças na mão” se não observarmos que quem “cai n’água com o corpo quente” “vê cara e não vê coração” e não atenta para o fato de que “as aparências enganam”, corre grande risco de “adquirir gato por lebre” e dessa forma cair no “conto do vigário” e somente muito tempo depois descobrir que “chapéu de otário é marreta”.

O vasto acervo de frases feitas, interpretando metaforicamente as mais variadas experiências de vida do

46

Page 47: Senso+Comum

| Senso comum

cotidiano, tenta explicar, mesmo que de forma empírica, a grande maioria das situações vividas e vivenciadas pelo homem.

Sobre mudanças de comportamento que podem ter sido

influenciadas por outrem, a sabedoria popular apresenta as seguintes interpretações:

“Diz-me com quem andas que direi quem és”,

“passarinho que se acompanha com morcego termina dormindo de cabeça para baixo”,

“tal pai, tal filho”,

“filho de peixe peixinho é”,

“pelo santo se beija o altar”,

“o hábito faz o monge”,

“costume de casa vai a praça”

e por aí vai...

Sobre a benevolência, a filosofia do senso comum, entre outras interpretações, afirma-se que:

“quem dá aos pobres empresta a Deus”,

“praticar o bem sem ver a quem”,

“é dando que se recebe”,

“quem ajuda aos necessitados, Deus dá em dobro”.

47

Page 48: Senso+Comum

| Senso comum

Um dos setores mais ricos no mundo dos ditos populares se refere à atitude de se precaver, visto que,

“macaco velho não mete a mão em cumbuca”,

“gato escaldado tem medo até de água fria”,

“cachorro mordido de cobra tem medo até de lingüiça”,

“em rio que tem piranha jacaré nada de costas”,

“mais vale um covarde vivo que um herói morto”,

“é melhor prevenir que remediar”,

“o prevenido morreu de velho e o desconfiado ainda é vivo”,

“boa ave-maria faz quem em sua casa está em paz”,

“um homem prevenido vale por dois”

“em boca fechada não entra mosca”.

Para o otimismo, é reservada também uma série de interpretações que, de alguma forma, buscam trazer conforto aos pessimistas. Exemplos:

“quem espera sempre alcança”,

“quem espera por Deus não cansa”,

“depois da tempestade vem a bonança”,

“quem não arrisca não petisca”,

“os últimos serão os primeiros”,

48

Page 49: Senso+Comum

| Senso comum

“quem corre cansa, quem anda alcança”,

“devagar se vai ao longe”

“uma longa caminhada começa pelo primeiro passo”.

Nessa linha de interpretações contemplativas dos comportamentos e ações populares, torna-se quase impossível listar os ditados populares que fazem paralelo das situações:

“casa de ferreiro, espeto de pau”,

“mais bravo que siri dentro da lata”,

“mais feio que só voz de prisão”,

“quem com ferro fere com ferro será ferido”,

“alegria de pobre dura pouco”,

“se pobre acha um ovo é goro”,

“pobre só vai pra frente quando leva um tropeção”,

entre outros.

Para não nos alongarmos muito na interpretação das filosofias do cotidiano, ressaltamos algumas paródias desses sábios epígrafes populares, como:

“há males que vêm para pior”,

“pau que nasce torto mija fora da bacia”,

“em terra de cego, quem tem um olho é caolho”,

49

Page 50: Senso+Comum

| Senso comum

“os últimos serão desclassificados” e

“quem não tem cachorro é melhor caçar a ponto”,

“cobra que não anda não engole sapo”.

50

Page 51: Senso+Comum

| Senso comum

Conhecendo os ditados populares

Alguns ditados mais famosos como:

"de grão em grão a galinha enche o papo";

"o seguro morreu de velho";

"cavalo dado não se olha os dentes";

"cada macaco no seu galho";

"quem desdenha quer comprar".

Principais características de um ditado popular:

a) Gênero discursivo de caráter popular;

b) Composto por um texto mínimo;

c) Autor anônimo;

d) Possui um sentido pedagógico e moral

e) Baseia-se no senso comum de um dado meio cultural.

Interpretando ditados

Exemplos ditados populares:

Há remédio para tudo menos para a morte.

Há sempre um chinelo velho para um pé doente. Gato escaldado tem medo de água fria.

51

Page 52: Senso+Comum

| Senso comum

Falar é fácil, fazer é que é difícil.

Faz mais quem quer do que quem pode.

Em time que está ganhando, não se mexe.

Em terra de cego, quem tem um olho é rei.

Em lagoa com piranha, jacaré nada de costas.

Diz-me com quem tu andas que eu te direi quem tu és.

Cão que late não morde.

Cada um puxa a brasa para a sua sardinha.

Após a tempestade vem a bonança.

Aqui se faz, aqui se ganha.

A necessidade faz o sapo pular.

A meia verdade é uma grande mentira.

A melhor espiga é para o pior porco.

Quando a barriga está cheia, toda goiaba tem bicho.

Quando a esmola é demais, o santo desconfia.

Quem com ferro fere, com ferro será ferido.

Quem não tem cão, caça como gato.

52

Page 53: Senso+Comum

| Senso comum

Subvertendo ditados

Bom ConselhoChico Buarque

Ouça um bom conselhoQue eu lhe dou de graçaInútil dormir que a dor não passaEspere sentadoOu você se cansaEstá provado, quem espera nunca alcança

Venha, meu amigoDeixe esse regaçoBrinque com meu fogoVenha se queimarFaça como eu digoFaça como eu façoAja duas vezes antes de pensar

Corro atrás do tempoVim de não sei ondeDevagar é que não se vai longeEu semeio o ventoNa minha cidadeVou pra rua e bebo a tempestade

Ditados populares "subvertidos" na canção. Por exemplo:

quem espera nunca alcança" x "quem espera sempre alcança";

"aja duas vezes antes de pensar" x "pense duas vezes antes de agir";

53

Page 54: Senso+Comum

| Senso comum

"faça como eu digo, faça como eu faço" x "faça como eu digo, não faça como eu faço";

"devagar é que não se vai longe" e "devagar é que se vai ao longe";

Por que o autor considera ser um bom conselho a inversão dos ditados populares?

Tomado como uma primeira compreensão do mundo resultante das experiências e da herança cultural de um grupo social, o senso comum descreve as crenças e proposições tomadas como normais, sem depender de uma comprovação científica.

Ao dizer "ouça um bom conselho" e subverter conhecidos ditados populares, o autor pretende demonstrar que o conhecimento baseado no senso comum é falho, uma vez que, por exemplo, "está provado, quem espera nunca alcança".

Compreenda tal subversão, de modo a tomarem o senso comum que permeia os ditados populares como um saber cultural, mas sem comprovação científica.

Ditados populares

O que são ditados populares; Qual sua função social (ensinamento); Seu caráter de patrimônio cultural/oral (cultura oral);

54

Page 55: Senso+Comum

| Senso comum

Ciência e senso comum

BOCK, Ana Mercês Bahia e outros. Psicologias: Uma introdução ao estudo de psicologia (Capítulo I)13 ed. reformada e ampliada - São Paulo: Saraiva, 2002.

Cotidiano e conhecimento científico

Há uma estreita relação entre cotidiano e conhecimento científico. Essa relação existe pelo motivo que o conhecimento científico tem como objeto de estudo o real e o real faz parte do cotidiano [conhecimento cotidiano]. Porém, os dois são baseados em conhecimentos distintos.

Exemplo de uso cotidiano do conhecimento científico:

O atravessar da rua com os carros em movimento. O tempo em que o café ficará quente na garrafa.

Senso comum

É todo aquele conhecimento acumulado durante uma vida. É o conhecimento empírico que é passado de geração a geração.

Exemplo: chá de boldo faz bem ao fígado.

Visão de mundo

A visão de mundo é produzida pelo senso comum e este, mesmo com sua forma precária - que é a forma da visão de mundo -, faz parte do conhecimento humano. A visão de mundo é determinada pelo lugar onde o sujeito está inserido na sociedade, pela sua posição histórica-social-ideológica.

Apropriação da Psicologia pelo senso comum

55

Page 56: Senso+Comum

| Senso comum

Há muitos conhecimentos da Psicologia apropriados pelo senso comum. Podemos citar como exemplo de apropriação:

'rapaz complexado; 'menina histérica'; 'ficar neurótico'.

Mesmo sem sabermos definir cientificamente os termos citados, não deixamos de ser entendidos, pois estas palavras já tem seu significado no 'senso comum'.

Domínios do conhecimento humano

Arte, religião, ciência e senso comum são domínios do conhecimento humano.

A arte abrange toda a sensibilidade do homem impressa no mundo através das artes plásticas, seja pintura, desenho, literatura, música, etc...

A religião abrange o conjunto de pensamentos sobre a origem do homem, seus mistérios e princípios morais.

A filosofia preocupa-se com a origem e o significado da existência humana.

A ciência compõe-se do conjunto de conhecimento sobre os fatos, os aspectos da realidade [objeto de estudo da ciência] e é expressa por meio de uma linguagem precisa e rigorosa.

O senso comum abrange o conhecimento [não-científico] de tudo aquilo que aprendemos e apreendemos ao longo da vida.

Características atribuídas ao conhecimento científico

56

Page 57: Senso+Comum

| Senso comum

Objeto específico Linguagem rigorosa Métodos e técnicas específicas Processo cumulativo do conhecimento Objetividade

Diferença entre senso comum e conhecimento científico

Enquanto o senso comum baseia-se no conhecimento acumulado ao longo da vida, o conhecimento científico é experimentado, provado de forma científica, não apenas vivido.

Possíveis objetos da Psicologia

O homem em todas as suas expressões visíveis [de comportamento], invisíveis [nossos sentimentos], singulares [porque somos assim], genéricas [porque somos todos assim].

Enfim, é o homem-corpo, homem-pensamento, homem-afeto, homem-ação e tudo o que está inserido no termo subjetividade.

Diversidade dos objetos de estudo na Psicologia

Os motivos responsáveis pelos vários objetos da Psicologia podem ser explicados pelo fato deste campo ter-se constituído como área do conhecimento científico só muito recentemente [fins do século 19], apesar de existir a Filosofia enquanto preocupação humana.

Outro motivo que pode ser citado é que sendo o 'homem' o objeto da Psicologia, o pesquisador confunde-se com o objeto pesquisado. Portanto, a concepção de 'homem' que o pesquisador traz consigo [confunde] contamina a sua pesquisa em Psicologia.

57

Page 58: Senso+Comum

| Senso comum

Isso ocorre principalmente porque há várias concepções de 'homem' entre os cientistas.

Matéria-prima da Psicologia

O homem em todas as suas expressões e tudo o que está sintetizado no termo 'subjetividade'.

Subjetividade

Síntese singular e individual que cada um de nós constrói conforme vai vivenciando as experiências da vida social e cultural. É construída internamente a partir dos estímulos e vivências externas. Enfim, a subjetividade é a maneira de sentir, amar, pensar, fantasiar, sonhar e fazer de cada um.

Porque a subjetividade não é inata?

A subjetividade não é inata porque ela precisa da vivência do mundo externo para ser construída. E essa construção é feita aos poucos, Enquanto o indivíduo modifica o mundo exterior constrói sua subjetividade [em seu interior]. Portanto não poderia ser inata ao homem.

Práticas místicas - Podem ser comprovadas cientificamente?

Elas não podem ser comprovadas cientificamente porque tem como objeto a alma do indivíduo e não o 'homem' em sua totalidade.

58

Page 59: Senso+Comum

| Senso comum

FIM

59