Roma, Lisboa e o mundo - agencia.ecclesia.pt · 14 - Biografia do patriarca de Lisboa 16 -...

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04 - Editorial: Octávio Carmo 06 - Anúncio do Consistório 09 - Carta aos novos cardeais 10 - Origens do Colégio Cardinalício 14 - Biografia do patriarca de Lisboa 16 - Entrevista: D. Manuel Clemente

28 - Consistório: o rito 30- Radiografia do Colégio deCardeais 48 - Saudações a D. ManuelClemente 52 - D. Arlindo Furtado, Cabo Verde 55 - D. Júlio Langa, Moçambique 56 - Cardeais portugueses: história 70 - Reforma da Cúria Romana

Foto da capa: D.R.Foto da contracapa: Agência ECCLESIA

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,.Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Cónego João Aguiar CamposPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Roma, Lisboa e o mundo

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

O segundo consistório do atual pontificadoreveste-se de uma importância particular para aIgreja Católica em Portugal, ao confirmar a jásecular tradição da criação cardinalícia dopatriarca de Lisboa. A missão agora confiada aD. Manuel Clemente pelo Papa Francisco vaipara além, no entanto, de um gesto mecânico, epode ser lida à luz da preocupação com asperiferias geográficas e existenciais que o atualpontífice tem vindo, repetidamente, a manifestar.Ao criar 15 cardeais eleitores de 14 países doscinco continentes, Francisco reforça a suaintenção de universalizar o Colégio Cardinalício -embora ainda existam mais eleitores italianos doque de toda a América Latina e Caraíbas - econfirma que o seu modelo de governo não é ode uma multinacional, que procura centralizarpoderes e espaços de decisão: pelo contrário,são os que estão na linha da frente da ação daIgreja Católica, em todas as culturas e nos maisvariados pontos do globo, que têm a missão deapresentar caminhos, experiências, para que asdecisões não nasçam sem referência à realidadeconcreta. Para o Papa, o verdadeiro poder éserviço e, nesse contexto, o cardinalato não é,obviamente, um prémio, mas uma ‘vocação’, umchamamento para contribuir mais de perto noserviço de unidade que o Bispo de Romadesempenha.A nomeação do patriarca de Lisboa não foge aesta lógica, pelo contrário: Portugal é uma dasperiferias da Europa e sofre, ainda hoje, comessa

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circunstância. A presença históricado catolicismo no nosso país revela,por outro lado, o ‘poder dasperiferias’: este pequeno país foicapaz de ultrapassar aquilo que assuas forças poderiam fazer supor,levando o Evangelho a milhões depessoas, em muitos casos pelaprimeira vez.Simbolicamente, o Papa escolheainda como cardeal um bispo deCabo Verde, D. Arlindo Furtado,vindo do que poderíamos designarcomo “periferia das periferias”,

confirmando o dinamismo destelegado lusófono nos várioscontinentes, a que se soma acriação cardinalícia de D. JúlioLanga, bispo emérito de Xai-Xai, emMoçambique.Francisco mostra, cada vez mais,que a renovação em curso não sequer limitar a operações cosméticas,mas é interior, de atitude,questionando toda a Igreja Católicasobre o que deve ser e como deveestar no século XXI, fiel à suaidentidade.

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Anúncio do Consistório

Como já foi anunciado, no próximodia 14 de Fevereiro terei a alegriade realizar um Consistório, duranteo qual nomearei 15 novos Cardeaisque, provenientes de 13 nações detodos os continentes, manifestam ovínculo inseparável entre a Igreja deRoma e as Igrejas particularespresentes no mundo.

No domingo 15 de Fevereiropresidirei a uma soleneconcelebração com os novosCardeais, e nos dias 12 e 13realizarei um Consistório com todosos Purpurados para ponderar sobreas orientações e as propostas paraa reforma da Cúria Romana.

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Os novos Cardeais são: 1 – D. Dominique Mamberti,Arcebispo Titular de Sagone,Prefeito do Supremo Tribunal daAssinatura Apostólica. 2 – D. Manuel José Macário doNascimento Clemente, Patriarca deLisboa (Portugal). 3 – D. Berhaneyesus DemerewSouraphiel, C.M., Arcebispo de AdisAbeba (Etiópia). 4 – D. John Atcherley Dew,Arcebispo de Wellington (NovaZelândia). 5 – D. Edoardo Menichelli,Arcebispo de Ancona-Osimo (Itália). 6 – D. Pierre Nguyên V?n Nhon,Arcebispo de Hà Nôi (Vietname). 7 – D. Alberto Suárez Inda,Arcebispo de Morelia (México). 8 – D. Charles Maung Bo, S.D.B,Arcebispo de Yangon (Myanmar). 9 – D. Francis Xavier KriengsakKovithavanij, Arcebispo de Bangkok(Tailândia).

10 – D. Francesco Montenegro,Arcebispo de Agrigento (Itália). 11 – D. Daniel Fernando SturlaBerhouet, S.D.B., Arcebispo deMontevideu (Uruguai). 12 – D. Ricardo Blázquez Pérez,Arcebispo de Valladolid (Espanha). 13 – D. José Luis LacunzaMaestrojuán, O.A.R., Bispo de David(Panamá). 14 – D. Arlindo Gomes Furtado,Bispo de Santiago de Cabo Verde(Arquipélago de Cabo Verde). 15 – D. Soane Patita Paini Mafi,Bispo de Tonga (Ilhas Tonga).

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Além disso, unirei aos Membros doColégio Cardinalício 5 Arcebispos eBispos Eméritos, que sedistinguiram pela sua caridadepastoral no serviço à Santa Sé e àIgreja. Eles representam muitosBispos que, com a mesma solicitudede pastores, deram testemunho deamor a Cristo e ao Povo de Deusquer nas Igrejas particulares, querna Cúria Romana, quer no Serviçodiplomático da Santa Sé. Eles são: 1 – D. José de Jesús PimientoRodríguez, Arcebispo Emérito deManizales. 2 – D. Luigi De Magistris, ArcebispoTitular de Nova, Pró-Penitenciário-Mor Emérito. 3 – D. Karl-Joseph Rauber,Arcebispo Titular de Iubaltiana,Núncio Apostólico. 4 – D. Luis Héctor Villalba,Arcebispo Emérito de Tucumán.

5 – D. Júlio Duarte Langa, BispoEmérito de Xai-Xai. Oremos pelos novos Cardeais a fimde que, renovando o seu amor aCristo, sejam testemunhas do seuEvangelho na Cidade de Roma e nomundo e, com a sua experiênciapastoral, me assistam maisintensamente no meu serviçoapostólico. Vaticano, 4 de janeiro de 2015

Papa Francisco

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Carta do Papa aos novos CardeaisQuerido irmão!Hoje foi publicada a tua designaçãocomo Cardeal da Santa IgrejaRomana. Chegue a ti a minhasaudação com a garantia da minhaoração. Peço ao Senhor que teacompanhe neste novo serviço, queé um serviço de ajuda, apoio eproximidade especial à pessoa doPapa e para o bem da Igreja.E precisamente em vista de exerceresta dimensão de serviço ocardinalato é uma vocação. OSenhor, através da Igreja, chama-temais uma vez a servir; e far-te-ábem ao coração repetir na oração aexpressão que o próprio Jesussugeriu aos seus discípulos paraque se mantivessem em humildade:«Dizei: “Somos servos inúteis”», enão como fórmula de boa educaçãomas como verdade depois dotrabalho, «quando terminastes tudoo que vos foi ordenado» (Lc 17, 10).Manter-se em humildade no serviçonão é fácil quando se considera ocardinalato como um prémio, oápice de uma carreira, umadignidade de poder ou de distinçãosuperior. Eis o teu compromissodiário para manter longe estasconsiderações e,

sobretudo, para recordar que serCardeal significa incardinar-se naDiocese de Roma para dartestemunho da Ressurreição doSenhor e dá-lo totalmente, até aosangue se necessário.Muitos alegrar-se-ão por esta tuanova vocação e, como bonscristãos, festejarão (porque épróprio do cristão rejubilar efestejar). Aceita-o com humildade.Faz só de modo que, nessas festas,não se insinue o espírito demundanidade que embriaga mais doque a aguardente em jejum,desorienta e separa da cruz deCristo.Então, ver-nos-emos a 14 defevereiro. Prepara-te com a oraçãoe um pouco de penitência. Temmuita paz e alegria. E, por favor,peço-te que não te esqueças derezar por mim.Jesus te abençoe e a Virgem Mariate proteja.Fraternalmente, Vaticano, 4 de janeiro de 2015

Francisco

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Nas origens do Colégio CardinalícioA História dos cardeais começa porestar ligar ao clero de Roma e jávem de longe: o título de cardeal foireconhecido pela primeira vezdurante o pontificado de Silvestre I(314-335). O termo vem da palavralatina cardo/cardinis, que significa"eixo".Inicialmente o título de cardeal eraatribuído genericamente a pessoasao serviço de uma igreja oudiaconia, reservando-se mais tardeaos responsáveis das igrejastitulares de Roma e das igrejas maisimportantes da Itália e do mundo.Os cardeais nascem do grupo de 25presbíteros das comunidadeseclesiais primitivas (títulos) emRoma, nomeados pelo Papa Cleto(séc. I), e dos 7 (posteriormente 14)diáconos que cuidavam dos pobresnas várias regiões da cidade; dos 6diáconos palatinos (responsáveispela administração dos seisdepartamentos do palácio deLatrão, em Roma) e dos 7 bispossuburbicários (as sete diocesesmais próximas de Roma), todos elesconselheiros e colaboradores doPapa.Segundo as notas históricas do“Anuário Pontifício”, a partir do ano

1150 formaram o ColégioCardinalício com um decano, que éo bispo de Ostia (localidade próximade Roma), e um Camerlengo, naqualidade de administrador dosbens.O decano é eleito, como se refereno Código de Direito Canónico(CDC, Cân. 352, § 2), peloscardeais com o título de uma Igrejasuburbicária (Albano, Frascati,Ostia, Palestrina, Porto-SantaRuffina e Velletri-Segni).É no século XI que os Cardeaispassam a ter uma função maispróxima do que são hoje: em 1050,para contrariar as disputas entrevárias famílias de Roma quequeriam dominar o papado, o PapaLeão IX (1049-54) chama várioshomens que considera capazes de oajudar a reformar a Igreja. Noveanos depois, Nicolau II decide que oPapa passaria a ser eleito apenaspelos cardeais.No século XII, começaram a sernomeados cardeais também osprelados que residiam fora deRoma: primeiro os bispos earcebispos; desde o século XV,também os patriarcas (Bula “Nonmediocri” de Eugénio IV, ano 1439);mesmo quando eram padres, oscardeais tinham voto nos Concílios.

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O número de Cardeais, que pornorma nos séculos XIII-XV não erasuperior a 30, foi fixado em 70 porSisto V: 6 cardeais-bispos, 50cardeais-presbíteros, 14 cardeais-diáconos (Constituição “Postquamverus”, de 3 de Dezembro de 1586).No Consistório Secreto de 15 dedezembro de 1958, João XXIIIderrogou o número de cardeaisestabelecidos por Sisto V. O mesmoSão João XXIII, com o Motu Próprio“Cum gravissima”, de 15 de abril de1962, estabeleceu que todos oscardeais fossem “honrados com adignidade episcopal”.

O Beato Paulo VI, com o MotuPróprio “Ad Purpuratorum Patrum”,de 11 de fevereiro de 1965,determinou o lugar dos patriarcasorientais no Colégio Cardinalício. Omesmo Papa, com o Motu Próprio“Ingravescentem aetatem”, de 21 denovembro de 1970, dispôs que aocompletarem 80 anos de idade, oscardeais deixam de ser membrosdos Dicastérios da Cúria Romana ede todos os OrganismosPermanentes da Santa Sé e doEstado da Cidade do Vaticano. Alémdisso perdem o direito de eleger oPapa e, portanto, também o direitode entrar em Conclave.

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No Consistório secreto de 5 denovembro de 1973, Paulo VIestabeleceu que o número máximode cardeais com a faculdade deeleger o Papa se fixasse em 120;São João Paulo II, na ConstituiçãoApostólica “Universi DominiciGregis”, de 22 de fevereiro de 1996,reiterou estas disposições.Os requisitos para serem eleitossão, basicamente, os mesmos queestabeleceu o Concílio de Trento nasua sessão XXIV de 11 de novembrode 1563: homens que receberam aordenação sacerdotal e sedistinguem pela sua doutrina,piedade e prudência nodesempenho dos seus deveres.Hoje, os cardeais "constituem umcolégio peculiar, ao qual competeprovidenciar à eleição do RomanoPontífice", como refere o CDC(cânone 349). As funções dosmembros do Colégio Cardinalíciovão, contudo, para além da eleiçãodo Papa. Qualquer cardeal é, acimade tudo, um conselheiro específicoque pode ser consultado emdeterminados assuntos quando oPapa o desejar, pessoal oucolegialmente.Como conselheiros do Papa, oscardeais atuam colegialmente comele através dos consistóriosordinários ou

extraordinários, com a finalidade defazer uma consulta importante outratar de outros assuntos de relevo.Durante o período de "Sé vacante",após a morte ou renúncia do Papa,o Colégio Cardinalício desempenhauma função central no governogeral da Igreja e no do Estado daCidade do Vaticano.Os cardeais são considerados“príncipes de sangue” e sãotratados com o título de “eminência”;segundo os Tratados de Latrão,todos os cardeais que residem emRoma são cidadãos do Estado daCidade do Vaticano (art. 21).

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Lista dos 25 «títulos» originários(designação em italiano)San SistoSanti Giovanni e PaoloSanti Quattro CoronatiSan ClementeSanti Marcellino e PietroSan Pietro in VincoliSanti Silvestro e Martino ai MontiSanta PrassedeSanta PudenzianaSant'EusebioSanti Vitale, Valeria, Gervasio eProtasio

Santa SusannaSan Ciriaco alle Terme DioclezianeSan MarcelloSan Lorenzo in LucinaSan Lorenzo in DamasoSan MarcoSant'AnastasiaSanti Nereo e AchilleoSanta BalbinaSanta SabinaSanta PriscaSanta Maria in TrastevereSanta CeciliaSan Crisogono. Lista das sete diaconias origináriasSanta Lucia in SiliceSanta Maria della ScalaSanti Sergio e BaccoSan TeodoroSanta Lucia in septem SoliisSanti Nereo e AchilleoSan Bonifacio ou Sant'Alessio.

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D. Manuel ClementeD. Manuel José Macário doNascimento Clemente nasceu a 16de julho de 1948 (66 anos), nafreguesia de São Pedro e SãoTiago, concelho de Torres Vedras,distrito de Lisboa. Depois deformado em História, ingressou noSeminário Maior dos Olivais em1973, tendo-se licenciado emTeologia, em 1979, pelaUniversidade Católica Portuguesa edoutorando-se em Teologia Históricaem 1992.Ordenado sacerdote a 29 de junhode 1979, o Patriarca de Lisboa foicoadjutor das paróquias de TorresVedras e Runa, em 1980, e membroda equipa formadora do SeminárioMaior dos Olivais, entre 1980 e1989. Nesse mesmo ano, foinomeado vice-reitor do SeminárioMaior dos Olivais, até 1997, data emque se tornou reitor. A 6 denovembro de 1999, então com 51anos, é nomeado Bispo Titular dePinhel e Auxiliar do Patriarcado deLisboa, cuja Ordenação Episcopalaconteceu a 22 de janeiro de 2000,no Mosteiro dos Jerónimos.Nomeado Bispo do Porto em 2007,foi presidente da ComissãoEpiscopal da Cultura, Bens Culturaise Comunicações Sociais

entre 2005 e 2011, e é atualmentepresidente da ConferênciaEpiscopal Portuguesa e membro doConselho Pontifício para asComunicações Sociais. Tempublicados diversos livros e estudossobre História, Teologia e Pastoral, ecolaborou ainda com diversosprogramas de televisão e rádio.Recebeu a “Grã-Cruz da Ordem deCristo”, o “Prémio Pessoa 2009” efoi agraciado com a “MedalhaMunicipal de Honra da Cidade doPorto”, em 25 de abril de 2011.O Papa Francisco nomeou D.Manuel Clemente como novoPatriarca de Lisboa no dia 18 demaio de 2013. D. Manuel Clemente,então com 64 anos, sucedeu a D.José Policarpo, tornando-se, assim,no 17.º Patriarca de Lisboa. Nopassado dia 4 de janeiro, durante aoração do Ângelus, o PapaFrancisco anunciou a criação de D.Manuel Clemente como Cardeal, noConsistório público, marcado para odia 14 de fevereiro de 2015, emRoma. Fonte:Patriarcado de Lisboa

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Um cardeal sem pompae para algumascircunstâncias

D. Manuel Clemente é o 44º cardeal português,criado no segundo Consistório do Papa Francisco.

Vai integrar o Colégio Cardinalício numa ocasiãoem que a opção por representantes de países

periféricos é cada vez mais notória e aparticipação prioritária aos primeiros

colaboradores do Papa inscreve-se nadefinição de reformas em curso.

Desafios para o patriarca de Lisboa,que encara como um serviço,

não como prémio

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Agência Ecclesia – Na carta que oPapa lhe enviou, a si e a todos osnovos cardeais, Francisco diz queser cardeal é uma vocação. Porquê?D. Manuel Clemente – Porque é umchamamento. É isso que a palavravocação quer dizer, neste caso feitopor ele próprio, pelo PapaFrancisco, que me chamou comoaos outros, para sermos seuscolaboradores especiais.A Palavra cardeal também tem estesignificado de apoio, desustentáculo. Ajudamos o Papa noseu trabalho da Igreja Universal,embora estejamos a maioria de nósa trabalhar em dioceses, em igrejaslocais concretas, como é o meucaso em Lisboa, agora com estetrabalho complementar ou mesmobásico de acompanhar o bispo deRoma, o sucessor de Pedro, noserviço da Igreja Universal.É uma vocação porque é ele quechama. AE – Como tomou conhecimentodessa “vocação”?CMC – Da maneira mais furtuita…(Os leitores vão achar graça...) Euestava numa estação de serviço atratar do carro quando toca otelemóvel e era uma amiga minha adizer: ’olhe, eu

estou aqui a ouvir o Papa em Romaa dizer que o senhor é cardeal, osmeus parabéns!’ – ‘Ah sim! Estábem, então vamos a isso!’ AE – Numa manhã de domingo, dia4 de janeiro…DMC – Em qualquer lado se podeser chamado… AE – Na mesma carta, o Papa dizque ser cardeal refere-se à diocesede Roma, não às de origem de cadaum…DMC – Nós somos incardinados nadiocese de Roma, o que significaestar vinculados juridicamente àdiocese de Roma. Por issorecebemos uma igreja de Roma,que no meu caso é a Igreja deSanto António dos Portugueses, ouIgreja do Campo de Marte, como sechamava no tempo dos romanos.Isso significa que estamos com oPapa, que é o bispo de Roma, estáà frente dessa comunidade dotempo dos apóstolos e, por isso, ésucessor de Pedro.É enquanto colaboradores do bispode Roma que somos colaboradoresdo Papa, que é deve ser umacomunidade de referência para asigrejas de todo o mundo no que dizrespeito à fé.O Papa refere, na carta, que osfuturos

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cardeais ficam incardinados naigreja de Roma para dartestemunho do Evangelho se forpreciso com o próprio sangue,vestindo-se por isso de encarnado,da cor do sangue. É por isso que asvestes dos cardeais são vermelhas.

AE – O ser cardeal, também porcausa das vestes, relaciona-se porvezes com circunstânciashonoríficas, que o Papa refere nestacarta, de forma muito sugestiva,comparando-as quem bebeaguardente em jejum…DMC – Para que não nos suba àcabeça, diz ele de forma muitoexpressiva.

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Ligo relativamente a essas coisas…É bom que o Papa lembre, porquese trata de um serviço ao ministériodo Papa, que é hoje em diamundialmente importante. Franciscoestá a ser uma referência quaseimediata para a resolução deconflitos, como ainda recentementeaconteceu na reaproximação entreCuba e os Estados Unidos e o fimdo

embargo. E outras coisas que nãose sabem, porque levam o seutempo a saber-se para que seconsigam atingir grandes objetivospara a paz. É para aí que oscardeais são chamados, ajudando oPapa neste serviço à IgrejaUniversal.Não digo que seja uma honra. Há deser o proveito de muitos.

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AE – O Papa diz que não se tratade um prémio.DMC – Não é um prémio, é umserviço. Mas nós herdamos naIgreja referências de muitos séculos.E concretamente dos séculos quena Europa se chamaram barrocos,que davam muita importância aoexterior, ao cerimonial, às pompas ecircunstâncias… Nós hoje só temoscircunstâncias. A pompa temos de arelativizar! AE – Como lida com o impactosocial que este acontecimento estáa merecer?DMC – Com a naturalidade possível.Nós temos uma certa concentraçãosimbólica. Os bispos nas dioceses,os cardeais com o Papa em Roma,e o próprio Papa, têm umaconcentração simbólica muito forte.Olham para nós e pensam: é aIgreja. O que nos dá granderesponsabilidade porque nãoestamos só por nós, mas pormuitos, por uma tradição, umagrande comunidade de crentes. Éuma responsabilidade a que nosvamos habituando, mas nuncasuficientemente.

Internacionalização doColégio dos CardeaisAE – Há sinais na escolha doscardeais, por parte do PapaFrancisco, da reforma que querimprimir no governo da Igreja?MC – Julgo que - e não falo de mim,mas dos outros que foramescolhidos e pelo que conheço dasua proveniência e até do percursode um ou outro - são bispos dosvários continentes que seaproximam muito do PapaFrancisco, num estilo pastoralsimples, direto, muito próximo dassuas populações, muito evangélico.Aspetos que Francisco tem trazidopara o centro da vida da Igreja eque já estavam presentes no PapaBento e João Paulo. À sua maneira,sul-americana, como que tem deimediatismo, de simplicidade e atéespontaneidade, provocandoperplexidades, o Papa Franciscotem sido muito refrescante.Na Europa, não só porque apopulação está muito maisenvelhecida do que noutroscontinentes, mas porque somosherdeiros de muitas coisas quefuncionaram bem e outras nemtanto, não estávamos habituados aesse arejo. Mas acho que nos fazmuito bem!

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AE – Escolher um bispo de CaboVerde, Monarquia de Tonga, porexemplo, de latitudes maisinesperadas, é uma afirmaçãoefetiva das periferias e vontade deas colocar no centro?MC – É uma afirmação dacentralização das periferias.Quando o Papa foi eleito eapareceu na Varanda da Basílica deS. Pedro e disse que os cardeais oforam buscar ao fim do mundo,temos de considerar o fim do mundoem relação à Europa, mas oprincípio para quem lá está. NaAmérica Latina está umagrandíssima percentagemdo catolicismo mundial. Assim, o queé hoje periférico em relação aocatolicismo, a Europa ou a AméricaLatina?Com esta eleição colocou-se aperiferia no centro. E acho que ficoumuito bem! AE – Escolhendo cardeais querepresentam um leque mais vastode igrejas locais, que informaçãopoderá chegar ao centro?MC – Muito mais direta... Não é paralerem relatórios em Roma…. AE – Estamos diante de uma novaestratégia?MC – Se quisermos chamarestratégia,

com certeza. Mas estamossobretudo diante da realidade daIgreja.A Igreja Universal está hoje presenteem Roma, também através doscardeais provenientes dos cincocontinentes e do próprio Papa sul-americano, com muito maisexpressão e coincidência do queestava até aqui com aquilo que ela érealmente, hoje, e onde está acrescer.Durante séculos só tivemos papasitalianos: desde o Papa Adriano VI,nos anos 20 do séc. XVI, até aoPapa João Paulo, que veio daPolónia nos anos 70 do séc. XX,tivemos Papas italianos. Até por umarazão geoestratégica: seria difícilnuma Europa de blocos escolher umpapa alemão, porque os francesespoderiam não gostar, por exemplo. AItália, como só foi um país unificadonos finais do séc. XIX, era umconjunto de pequenos principadosque não fazia sombra a ninguém. Eisso talvez tenha ajudado a que ospapas fossem escolhidos de Itália,também porque os cardeais erammaioritariamente italianos.Hoje, no mundo globalizado tambémcatolicamente, o Papa Franciscocoincide muito mais com a realidadeda Igreja com a criação de cardeaisdos cinco continentes. E está muitobem assim!

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AE – No dia em que foramconhecidos os cardeais, o diretor daSala de Imprensa da Santa Sé disseque a escolha do Papa era pessoale não estava tanto ligada atradições ou sedes cardinalícias. Noseu caso, acha que o Papa oescolheu porque normalmente opatriarca de Lisboa é feito cardealou porque Portugal é um paísperiférico?MC – Isso não sei responder,porque não falamos diretamentesobre o assunto.

Acho que é normal e que tenha tidoo seu peso o facto dos bispos deLisboa serem patriarcas desde oséc. XVIII e o facto do PapaClemente XII ter dito numa bula queo patriarca de Lisboa seja feitocardeal no primeiro consistório apósa sua eleição. Claro que o PapaFrancisco não estava obrigado aseguir uma bula de um seuantecessor do séc. XVIII. Mascertamente, no caso de não saber,

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alguém lhe lembrou que havia estatradição.Da minha parte só háresponsabilidade para corresponderàs expectativas que tenha em mim. AE – Achou por isso normal estanomeação…?MC – Mas devo dizer também queconstituiu uma certa surpresa. Deacordo com o que tem sido aatuação do Papa Francisco e aliberdade que ele tem em relação ausos e costumes anteriores, admitiajá que também isto fosse coisa dopassado, devo confessar… AE – Por isso, sobretudo umaescolha pessoal…MC – Ela pessoal é sempre, mesmotendo em conta outras razões… AE – O Papa Francisco escolheupara cardeais muitos dosparticipantes no Sínodo dos Bispossobre a Família, nomeadamente D.Manuel Clemente. O que podesignificar esse critério?MC – Na Assembleia de Outubro

último, extraordinária,participaram os presidentes dasconferências episcopais, o que jáimplica uma certa seleção, porquesão eleitos pelos seus pares,dando-lhes uma certa marca que oPapa pode ter tido em conta. Masnão sei dizer muito mais, em relaçãoà escolha do Papa e aos critérios.Constato! AE – E que repercussões tem naconstituição do Colégio Cardinalício,com uma representatividade muitomais alargada?MC – Como disse, correspondemuito mais do que antes ao que é aIgreja em todo o mundo, nos cincocontinentes.A internacionalização do ColégioCardinalício e da Cúria Romana éum processo que tem feito o seucaminho. Tem-se andando muitonesse sentido, até porque hoje épossível: as viagens sãorelativamente fáceis. Os patriarcasde Lisboa anteriores ao século XXpoucas vezes foram a Roma, atépara receber o barrete cardinalício.Hoje é tudo perto, como nunca foi!

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Cardeais para reformasAE – E no quotidiano da Igreja, queconsequências podem verificar-se?MC – Hoje a Igreja, nas suasdeterminações centrais e nareflexão que vai fazendo pelos seusmembros mais responsabilizados, jánão é uma Igreja Europeia, maslatino-americana e de outroscontinentes. Temos vistosucederem-se à frente dedicastérios romanos cardeaisafricanos, asiáticos e isso é umprocesso agora verdadeiramenteem curso e muito certo. Porqueassim é que deve ser, tratando-sede um serviço à Igreja Universal.O Papa tem duas dimensões: comobispo de Roma é como todos osoutros nas suas dioceses, emboratenha um cardeal vigário queefetivamente exerce as funções dadiocese de Roma; mas por ser bispode Roma é sucessor de Pedro etem, no conjunto da Igreja emrelação aos outros bispos, o papelprimacial de os confirmar na fé, servínculo da unidade. É a esseserviço que os cardeais e osserviços romanos se destinam:apoiar o que a Igreja faz nas váriasdioceses e nos vários continentes. Etendo uma proveniência assim tãovariada, mais facilmente fazem esseserviço.

Uma coisa é ser protagonista dealgo que lhe é próprio; outra é sê-lode algo que só sabe porque lhedisseram. AE – Será um dos colaboradoresmais próximos do Papa Francisco eum dos trabalhos em curso será areforma da Cúria Romana, queaponta para diminuição deorganismos de governo, juntando,por exemplo, os setores daeducação, cultura e património, porum lado, ou caridade, justiça e paz eainda leigos, família e vida. Qual asua opinião sobre este processo dereforma?MC – É uma simplificação que épositiva! Aos níveis dasconferências episcopais diminuímoso número de Comissões Episcopaispara potencializar serviços que sãomuito coincidentes e que não podemfuncionar uns sobre os outros. AE – É uma desburocratização queestá em curso?MC – Acaba por ser umadesburocratização porque é umasimplificação! Ter responsáveis pororganismos que trabalham emcomum e que possam fazer numavez o que se tinha de fazer em duasou três é ótimo! Poupam-serecursos, dinheiro, o que é muitobom! Não podemos

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esquecer que isto começou comJesus e uns apóstolos… Depois foicrescendo, mas é bom que nãocresça demais enquanto serviço,porque o que interessa é o serviço. AE – Sente a Cúria Romana é cadavez menos pesada?MC – Conheço mal tudo o que sepassa em Roma. Vou lá como bispo,e como padre já ia, mas conheçomal. Quando preciso tratar qualquerassunto faço-o por carta, mail ouaté por telefone, porque hoje em diaé tudo muito simples.É natural que a máquina fique mais“enxuta”, mais simplificada, até parafuncionar melhor, de uma maneiramais evangélica, não estando acomplicar o que pode ser simples.

Sem obviar os problemas erequerendo competências,mas simples tanto quanto possa ser.Na vida da Igreja a palavra reformaé sempre um apelo a retomar aforma inicial das coisas. Passaramdois mil anos, mas essa forma inicialnão pode ficar obnubilada pormuitas outras coisas que seacrescentaram. Tem de se perceberque hoje, à volta do Papa e dosBispos, e com aqueles bispos queestão mais perto dele, por seremcardeais no serviço da IgrejaUniversal, continua exatamente oque aconteceu há dois mil anos nogrupo de Jesus e os seus apóstolos.É preciso que isto fique claro parapercebermos que, mesmo tratando-se de uma grande instituição, é aque Cristo fez.

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O rito do ConsistórioO rito de entrega do barrete e doanel cardinalícios vai decorrer a 14de fevereiro, na Basílica de SãoPedro, a partir das 11h00 (horalocal, menos uma em Lisboa).A celebração começa com umasaudação ao Papa do primeiro dosnovos cardeais, D. DominiqueMamberti, em nome de todos ospresentes, seguindo-se uma oraçãoproferida por Francisco, a leitura doEvangelho e a homilia.Após esta intervenção, o Papa vailer a fórmula de criação e proclamaem latim os nomes dos cardeais,para os unir com “um vínculo maisestreito” à sua missão. Criação dos novoscardeais“Irmãos caríssimos, preparamo-nospara cumprir um ato grato e gravedo nosso sagrado ministério. Ele dizrespeito em primeiro lugar à cidadede Roma, mas interessa a toda acomunidade eclesial. Vamos chamara fazer parte do colégio doscardeais alguns dos nossos irmãos,para que sejam unidos à Sé dePedro com um vínculo mais estreito.Eles, marcados pela púrpurasagrada, deverão ser

intrépidas testemunhas de Cristo edo seu Evangelho na cidade deRoma e nas regiões maislongínquas. Por isso, com aautoridade de Deus omnipotente,dos santos apóstolos Pedro e Pauloe a nossa, criamos e proclamamossolenemente cardeais da SantaIgreja Romana estes nossos irmãos”. Depois tem lugar a profissão de fé eo juramento dos novos cardeais, defidelidade e obediência ao Papa eseus sucessores. Juramento“Eu (), Cardeal da Santa IgrejaRomana, prometo e juro ser fiel,desde agora e para sempre,enquanto viva, a Cristo e ao seuEvangelho, sendo constantementeobediente à Santa Igreja ApostólicaRomana, ao bem-aventurado Pedrona pessoa do Sumo PontíficeFrancisco e dos seus sucessorescanonicamente eleitos; mantersempre com palavras e obras acomunhão com a Igreja Católica;não revelar a ninguém o que me forconfiado em segredo nem divulgaraquilo que poderá acarretar danoou

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desonra à Santa Igreja;desempenhar com grande diligênciae fidelidade as tarefas para as quaisestou chamado no meu serviço àIgreja, segundo as normas doDireito. Que assim me ajude Deusomnipotente”. Imposição do barrete,entrega do anel eatribuição do título “Para a maior glória de Deusomnipotente e o bem da Santa Sé,

recebei este barrete púrpura comosinal da dignidade cardinalícia,simbolizando que deveis estarprontos a comporta-vos comcoragem, até à efusão do sangue,pelo incremento da fé cristã, da paze do bem do povo cristão, e pelaliberdade e a expansão da SantaIgreja Romana”.Cada um dos novos cardeaisajoelha-se, depois, para receber obarrete cardinalício, segundo aordem de criação. D. ManuelClemente, patriarca de Lisboa, seráo segundo.

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O Papa entrega ainda um anel aoscardeais para que se “reforce oamor pela Igreja”, seguindo-se aatribuição a cada cardeal uma igrejade Roma – que simboliza a“participação na solicitude pastoraldo Papa” na cidade -, bem como aentrega da bula de criaçãocardinalícia, momento selado porum abraço de paz.No anel cardinalício são evocadasas colunas da Basílica de SãoPedro, a cruz e os apóstolos Pedro ePaulo.Cada cardeal é inserido narespetiva ordem (episcopal,presbiteral ou diaconal), umatradição que remonta aos temposdas primeiras comunidades cristãsde Roma,

em que os cardeais eram bispos dasigrejas criadas à volta da cidade(suburbicárias) ou representavamos párocos e os diáconos dasigrejas locais.Entre os novos cardeais constam osdois membros mais jovens doColégio Cardinalício: D. SoanePatita Paini Mafi, bispo de Tonga,com 53 anos de idade, e D. DanielFernando Sturla Berhouet,arcebispo de Montevideu (Uruguai),de 55 anos. A idade média dos 15 cardeaiseleitores nomeados pelo Papa é de67,3 anos.

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Causas de canonizaçãoO Consistório público ordinárioprossegue com a aprovação dealgumas causas de canonização. Nofinal da cerimónia, presidida peloPapa, a reunião de cardeais vaiproceder à votação de três causasde canonização, relativas às beatasJeanne Émilie de Villeneuve(França, 1811-1854), Maria deJesus crucificado (Palestina, 1846-1878) e Maria Alfonsina DanilGhattas (Palestina, 1843-1927. Visita de CortesiaAinda no sábado, vão ter lugar assessões de cumprimentos aosnovos cardeais, no Vaticano. A

chamada ‘visita de cortesia’ vaidecorrer entre as 16h30 e as 18h30de Roma (menos uma em Lisboa) eno caso do cardeal português terálugar no átrio da sala de audiênciasPaulo VI, junto à Basílica de SãoPedro.Na mesma sala vai acontecer asessão do cardeal cabo-verdiano D.Arlindo Gomes Furtado; D. JúlioDuarte Langa, bispo emérito de Xai-Xai (Moçambique) vai receber oscumprimentos de todos os que odesejarem fazer na sala ducal doPalácio Apostólico.No domingo, na Basílica de SãoPedro, o Papa vai presidir a umaMissa com os novos cardeais, apartir das 10h00 locais.

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Papa reforça papel das «periferias»

O Papa vai incluir no lote decardeais eleitores prelados de novepaíses que não se encontravamrepresentados até agora: NovaZelândia, Tailândia e Vietname(presentes no atual ColégioCardinalício com cardeais acima dos80 anos); Cabo Verde, Etiópia,Mianmar, Panamá, Uruguai e Tonga.À imagem do que aconteceu em2014, no primeiro consistório dopontificado, Francisco reforça apresença das ‘periferias’ da IgrejaCatólica no Colégio Cardinalício,

no qual vai diminuindo o predomínioda Europa e da Cúria Romana.Dos novos cardeais, apenas umintegra a Cúria Romana: D.Dominique Mamberti, antigosecretário do Vaticano para asrelações com os Estados e atualprefeito do Supremo Tribunal daAssinatura Apostólica.D. Manuel Clemente foi o segundonome a ser anunciado e um dosquatro prelados de dioceseseuropeias, somando-se a D. RicardoBlázquez Pérez, arcebispo de

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Valladolid (Espanha) e aos italianosD. Francesco Montenegro,arcebispo de Agrigento(responsável pelo território deLampedusa), e D. EdoardoMenichelli, arcebispo de Ancona,conhecido por percorrer a diocesenum velho Fiat Panda.Neste momento, há 110 cardeaiseleitores, número que vai subir para125 após o consistório de fevereiro,31 dos quais criados pelo PapaFrancisco.

A partir do próximo consistório –reunião de cardeais para debaterassuntos importantes da vida daIgreja, convocada pelo Papa – adistribuição geográfica dos cardeaiseleitores num eventual Conclaveserá a seguinte: Europa – 57;América – 36 (17 do Norte e 19latino-americanos); África – 15; Ásia– 14; Oceânia – 3.Até final de 2015, quatro cardeaisvão completar 80 anos de idade.

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300 pessoas vão acompanharpatriarca de LisboaO Patriarcado de Lisboa revelouque 300 pessoas da capitalportuguesa e do Porto vãoacompanhar no Vaticano oconsistório de criação de cardeal deD. Manuel Clemente. O número foiadiantado em conferência deimprensa pelo diretor do Serviço deTurismo do Patriarcado, padre MárioRui Pedras, dando conta doprograma que prevê a presença naPraça de São Pedro, paraacompanhar o consistório público, a14 de fevereiro (11h00, menos umaem Lisboa), a visita de cortesia aosnovos cardeais, nessa tarde, e aparticipação na Missa presidida peloPapa, no dia seguinte, na Basílicade São Pedro.No dia 16, D. Manuel Clemente,patriarca de Lisboa, vai presidir auma Missa na igreja de SantoAntónio dos Portugueses, em Roma,pelas 11h30, a que se segue umalmoço com o novo cardeal. "Vamosmanifestar o nosso afeto, a nossaamizade, a nossa alegria”, disse opadre Mário Rui Pedras.D. Joaquim Mendes, bispo auxiliar,referiu por sua vez que estanomeação cardinalícia é ummomento de festa para a Igreja deLisboa, que

assim se sente mais “vinculada aoSanto Padre”. "Através do SenhorD. Manuel nós, Igreja de Lisboa,sentimo-nos mais vinculados àpessoa do Santo Padre e à Igrejauniversal; alegrámo-nos e damosgraças a Deus pela sua eleição, eacompanhamo-lo não só nestaocasião, mas sempre, estando comele neste serviço à Igreja universalcom o nosso afeto, a nossacomunhão e a nossa oração",referiu.Segundo o prelado, este é ummomento "muito significativo, não sópara a Igreja de Lisboa, mas para aIgreja de Portugal e para osportugueses, que se sentemhonrados" com esta nomeaçãocardinalícia.De regresso a Portugal, a primeiracelebração do novo cardeal vaidecorrer na Sé de Lisboa, a 18 defevereiro, com a Missa de Quarta-feira de Cinzas (19h00). A 22 defevereiro, D. Manuel Clemente vaiproferir a primeira catequesequaresmal, no Mosteiro dosJerónimos, às 16h30, a que sesegue uma sessão de apresentaçãode cumprimentos, aberta a todos osque desejarem participar.

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A Embaixada Portuguesa junto daSanta Sé vai promover uma receçãooficial ao novo cardeal e àsdelegações oficiais que vãoacompanhar estas celebrações, às19h00 do dia 14 de fevereiro.

O Governo português vai estarrepresentado pelo vice-primeiro-ministro e o ministro dos NegóciosEstrangeiros, respetivamente PauloPortas e Rui Machete.

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Presidente e vice-primeiro-ministrode Portugal saúdam D. ManuelClementeO presidente da RepúblicaPortuguesa felicitou o patriarca deLisboa, D. Manuel Clemente, pelasua nomeação como cardeal peloPapa Francisco.“O anúncio da nomeação dopatriarca de Lisboa, D. ManuelClemente, como cardeal confirma asingularidade do relacionamentohistórico entre Portugal e a IgrejaCatólica”, refere o texto, divulgadopelo site da Presidência.Aníbal Cavaco Silva destaca a“dimensão humana” do novocardeal português, dirigindo-lhe“respeitosas felicitações por estamarca de distinção e apreço” doPapa Francisco. “O seu contributonos domínios da ciência e dacultura, e a sua experiência noexercício do magistério episcopaldão pública e inequívoca prova deque estamos perante umapersonalidade que se distinguenotavelmente pela doutrina, pelapiedade e pela prudência”, conclui otexto.Também o vice-primeiro-ministroPaulo Portas felicitou a nomeaçãocomo cardeal de D. ManuelClemente, que apresenta como"homem de Fé e Cultura, voz decompaixão e razão".

Num comunicado divulgado no sitedo CDS-PP, o presidente do partidosaúda também a nomeação de D.Arlindo Furtado, bispo de Santiago,primeiro cardeal de Cabo Verde, edo bispo emérito de Xai Xai, no sulde Moçambique, D. Júlio DuarteLanga (este com mais de 80 anos)."Para os portugueses e todos ospovos de expressão lusófona,crentes ou não crentes, esteanúncio é acolhido com especialsignificado: vários destes nomes,que vêm de todo o mundo, sãofalados e vividos em português",considera o vice-primeiro-ministrode Portugal."Em particular, alegramo-nos com anomeação e reconhecimento doPatriarca de Lisboa – seja por umatradição antiga, que honra uma bulae uma ligação secular, seja pelosméritos de D. Manuel Clemente, quehonram o pastor e a diocese deLisboa -, que o elevam a uma maiore mais próxima colaboração com oPapa Francisco”, acrescenta o texto.Este vai ser o segundo consistóriodo atual pontificado, após a criaçãode 19 cardeais, entre os quais 16eleitores, a 22 de fevereiro de 2014.

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Portugal estava representado atéagora no Colégio Cardinalício por D.José Saraiva Martins, prefeitoemérito da Congregação para asCausas

dos Santos (com mais de 80 anos) eD. Manuel Monteiro de Castro,penitenciário-mor emérito.

O primeiro-ministro português Pedro Passos Coelho felicitou o patriarcade Lisboa D. Manuel Clemente, nomeado cardeal pelo Papa Francisco."Trata-se de um gesto com elevado significado para o nosso país, e emespecial para a Igreja e a comunidade cristã, dando continuidade àtradição histórica de o patriarca de Lisboa ser também nomeadocardeal", salienta o gabinete do primeiro-ministro, numa nota deimprensa.

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Cabo Verde: D. Arlindo Furtadovai ser o primeiro cardeal do paísCabo Verde vai ter pela primeira vezum cardeal, D. Arlindo Furtado,bispo de Santiago, que vê a decisãodo Papa como um reconhecimentopela história da Igreja Católica nopaís lusófono. "É a história destaIgreja, que está a ser reconhecidapelo Papa", afirmou o prelado, emconferência de imprensa.A Diocese de Santiago foi erigidapor desmembramento da entãoArquidiocese do Funchal, a 31 dejaneiro de 1533.D. Arlindo Furtado considerou a suanomeação como um gesto de"reconhecimento e apreço pelahistória da Igreja em Cabo Verdeque tem vindo a ser construída hámuito tempo".Numa mensagem divulgada pelocanal de partilha de vídeosYouTube, o primeiro cardeal deCabo Verde fala numa surpresa"total" pela nomeação do PapaFrancisco, que considera umahomenagem à Igreja nestearquipélago africano. "Cabo Verdeestá de parabéns", assinalou,elogiando o bom relacionamentoentre as autoridades do país e aSanta Sé.

A Diocese de Santiago reagiu ànomeação de D. Arlindo Furtado,salientando que a decisão do PapaFrancisco "coloca Cabo Verde pelaprimeira vez na sua história entre asnações católicas do continenteafricano com representante nocolégio dos cardeais". "Entendemosisto como sinal de uma especialatenção do Santo Padre àcaminhada da Igreja em CaboVerde", assinala a nota de imprensa.O comunicado frisa ainda que,"como cardeal, D. Arlindo Furtadoestará à disposição do Papa queragindo colegialmente, sempre quefor chamado a decidir em conjuntosobre as questões de relevância nogoverno da Igreja, quer agindoindividualmente como conselheirode Francisco".Numa mensagem enviada à AgênciaECCLESIA, D. Ildo Fortes, bispo doMindelo - a outra diocese católicaem Cabo Verde - saúda a“confiança” que o Papa Franciscodepositou na Igreja Católica local,no povo cabo-verdiano "queconhece e ama" e no bispo deSantiago, "ao contemplá-lo com estanomeação”. “Que este gesto setraduza em maiores bênçãos para

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a nossa Igreja e para a Glória deDeus”, refere D. Ildo Fortes.D. Arlindo Furtado, de 65 anos, foi oprimeiro bispo da Diocese doMindelo, criada no pontificado deSão João Paulo II, missão quedesempenhou entre 2004 e 2009.Na sua mensagem, D. Ildo Fortesfaz votos de que os novos cardeaisque vão ser criados no dia 14 defevereiro, incluindo D. ManuelClemente, patriarca de Lisboa,possam desempenhar o seutrabalho de forma “muito fecunda” e“contribuir amplamente para adesejada renovação da vida daIgreja”. Algo “que o Papa Franciscotanto preconiza e se temempenhado com muito zelo proféticoe apostólico”, frisa o responsávelcatólico.Natural de Figueira das Naus, naIlha

de Santiago, em Cabo Verde, D.Arlindo Gomes Furtado foi nomeadobispo há 10 anos pelo Papa JoãoPaulo II. Depois de servir ascomunidades católicas do Mindelo,tomou posse em 2009 como bispode Santiago.O primeiro-ministro de Cabo Verde,José Maria Neves, felicitou D. ArlindoFurtado, considerando que a suanomeação como cardeal é um ato“histórico” e de grande importânciapara Cabo Verde e “ motivo degrande júbilo”. “É com enormesatisfação que tenho a honra de, emnome do Governo da República deCabo Verde e em meu nomepróprio, lhe transmitir as nossasmais vivas e calorosas felicitações,extensivas à Igreja de Cabo Verde,uma das mais antigas diocesesafricanas”, assinala a nota oficial,divulgada pela página do Governocabo-verdiano na internet.

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Portugal ganha «presença maispróxima junto do Papa Francisco»O secretário da ConferênciaEpiscopal Portuguesa (CEP) disse àAgência ECCLESIA que a escolhade D. Manuel Clemente paracardeal constituirá uma “mais-valia”para a Santa Sé pelo “serviçoqualificado e competente” que iráprestar.Para o padre Manuel Barbosa opatriarca de Lisboa vai ser “umapresença mais próxima junto doPapa Francisco”. “Quer nosmomentos de reunião, deconsistório quando for convocadopara isso, quer também quando forconsultado e o Papa pedir algumasugestão ou colaboração, mesmoindividualmente pois pode fazê-lotambém”, acrescentou.No campo da relação da hierarquiacatólica em Portugal com o poderpolítico e a sociedade civil, osecretário da CEP mostra-seconvicto de que D. ManuelClemente irá prosseguir o diálogo ea colaboração com aquelasinstâncias, “como sempre o fez, comhumildade, simplicidade e muitaqualidade”.“Esta abertura da Igreja Católicacontinuará e o facto de ser cardealé naturalmente um reforçar desta

presença” e permitirá “levar ao PapaFrancisco o que nós somos, aqui emPortugal, como Igreja”, reforçou.O padre Manuel Barbosa enaltece ofacto de as últimas nomeaçõescardinalícias, a exemplo de outrasanteriores, “atenderem Igrejas locaisque estão mais distantes, de outroscontinentes, de África, da Ásia” porexemplo. “Há um crescendo emnúmero também dessas presenças,como vimos agora. A Europa temtido menos porque a Igreja Católicatem tido uma vitalidade, umaexpansão maior agora nessescontinentes”, concluiu.

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Moçambique: Novo cardeal lembra«tempo difícil» da revoluçãoD. Júlio Duarte Langa, bispo eméritode Xai-Xai, no sul de Moçambique,manifestou a sua surpresa após anomeação como cardeal pelo PapaFrancisco. “Leio a nomeação naatitude do próprio Papa Francisco,em ver a Igreja humilde e pobrecomo o seu fundador”, declarou àRádio Vaticano.O prelado nasceu em 1927 emMangunze, na atual Diocese de Xai-Xai (antiga João Belo), e foiordenado sacerdote na Catedral deMaputo, em 1957; a 31 de maio de1976 foi escolhido por Paulo VIcomo bispo da sua diocese deorigem, cargo que ocupou até 2004.O novo cardeal moçambicanorecorda o seu serviço numa Igreja“perseguida” após a independênciado país, num “momento muitodifícil”. “O trabalho que fiz nadiocese foi centrado no clero,porque não tinha clero diocesano”,recorda.Numa diocese de 76 mil quilómetrosquadrados, D. Júlio Duarte Langasublinha que a prioridade foi“manter a Igreja, para que nãomorresse neste país”, algo que“felizmente” foi conseguido emMoçambique.

O Papa Francisco vai criar e cincocardeais com mais de 80 anos deidade, reconhecendo “a suacaridade pastoral no serviço à SantaSé e à Igreja”.D. Júlio Duarte Langa contribuiupara a tradução dos documentos doConcílio Vaticano II para váriaslínguas moçambicanas.A Igreja Católica em Moçambiquetinha como cardeal o arcebispoemérito de Maputo, D. Alexandredos Santos.

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Os cardeais portugueses na históriaO patriarca de Lisboa, D. ManuelClemente, vai tornar-se a 14 defevereiro no quarto cardealportuguês do século XXI e primeiro aser designado no atual pontificado,mas o país já teve mais de 40cardeais ao longo da sua história. 1 - MESTRE GILFilho do chanceler Julião, do tempode D. Afonso Henriques. Mestre Gil(também aparece com o nome deEgídio), foi tesoureiro da Sé deCoimbra e Cónego de Viseu. Foieste o primeiro Cardeal português,criado pelo Papa Urbano IV (1195-1264). 2 - D. PAIO GALVÃONasceu em Guimarães. SendoMestre de Teologia em Paris, D.Sancho I mandou-o a Roma comoembaixador de obediência, tendosido feito Cardeal, em 1206, porInocêncio III, com o título de SantaMaria in Septisolio. 3. D. PEDRO JULIÃO OUPEDRO HISPANOO único português que foi Papa.Natural de Lisboa, era designado,

no seu tempo, como filósofo,teólogo, cientista e médico, e autorde várias obras científicas. Estandoem Roma, depois de participar noconcílio ecuménico de Lião, tratou oPapa Gregório X de uma doençados olhos, sendo elevado a Cardealem 1274. Foi Papa com o nome deJoão XXI, desde setembro de 1276 amaio de 1277. A importância do seutalento de homem de ciênciamereceu-lhe ser referido por Dante,na Divina Comédia (Paraíso, cantoXII). A sua morte deveu-se a umdesastre na Catedral de Viterbo,cujas obras acompanhava. Ficou alisepultado. Em março de 2000, porum especial empenho do Presidenteda Câmara de Lisboa, João Soares,foi-lhe concedido um lugar maishonroso dentro da catedral, sendoentão transladado para a navecentral. 4. D. ORDONHO ALVAREZAbade fonselense, nascido emPortugal foi Bispo de Salamanca(1272), passando, depois, para oarcebispado de Braga por vontadede Gregório X, em substituição dePedro Hispano, depois da elevaçãodeste ao cardinalato. Em 1278, oPapa Nicolau III elevou-o também aCardeal-Bispo.

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5. PEDRO DA FONSECANasceu em Olivença. Foi criadoCardeal pelo antiPapa Bento XIII(Pedro de Luna), com o título deSanto Angelo na Pescaria, em 1409.Quando os Concílios de Pisa eConstança proferiram sentençascontra o antiPapa, passou D. Pedroda Fonseca a obedecer ao Papa deRoma, Martinho V, que o fezCardeal do mesmo título em 1419. 6. D. JOÃO AFONSO DEAZAMBUJABispo de Silves, Porto e Coimbra.Foi Arcebispo de Lisboa, em 1402, eelevado ao Cardinalato em junho de1411, por Gregório XII. 7. D. ANTÃO [ANTÓNIO]MARTINS DE CHAVESNatural de Chaves, segundo uns, oudo Porto, segundo outros, foi bisponesta última cidade (1424). CriadoCardeal Presbítero do título de S.Crisógono, pelo Papa Eugénio IV,em 1439. Em Roma, foi solícitopromotor dos peregrinos pobresportugueses, fazendo ampliar ohospital (1440) a partir de umaalbergaria hospício que tinha sidofundada por uma

benemérita senhora de Lisboa, em1363, e que viria a ser o prelúdio doatual Instituto de Santo António dosPortugueses. 8. D. JAIME DE PORTUGALFilho do Infante D. Pedro, foiArcebispo de Lisboa. Depois dodesastre da batalha de Alfarrobeira,(1449), D. Jaime, com os seusirmãos, D. João e D. Beatriz,retiraram-se para Flandres. Éenviado a Roma já depois de tersido eleito arcebispo de Arras. Foicriado Cardeal-Diácono pelo PapaCalisto III, em 20 de fevereiro de1456, com o título de SantoEustáquio. 9. D. JORGE DA COSTA(Cardeal de Alpedrinha)Nasceu em 1406, na Vila beiroa deAlpedrinha. Estudou em Paris e foiprelado em várias dioceses: Bispode Évora em 1463, Arcebispo deLisboa, em 1464, Arcebispo deBraga, em 1501. Foi feito Cardealpelo Papa Xisto IV, em 1476, com otítulo dos Santos Pedro e Marcelino.Dotado de invulgares qualidades, foidiplomata, e teve o maior valimentojunto de D. Afonso V, de quem foiconselheiro

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e confessor, tendo sido tambémmestre-capelão da sua irmã, ainfanta D. Catarina. Devido aincompatibilidades com o rei D. JoãoII, foi viver para Roma, onde acaboupor passar grande parte da suavida.Deve-se a D. Jorge da Costa acriação da Santa Casa daMisericórdia de Lisboa, com todo oapoio que deu à Rainha D. Leonor,tendo, para o efeito, movidoinfluências em Roma para que anova instituição surgida em Portugaltivesse o reconhecimento do Papa.Foi também o Cardeal, que, apedido da Rainha D. Leonor,facilitou a elaboração dos estatutosdo Hospital das Caldas. 10. D. HENRIQUEFilho de D. Manuel I, nasceu emLisboa em 1512. Aos 22 anos eraeleito Arcebispo de Braga pelo PapaClemente VII. Foi feito Cardeal em16 de dezembro de 1545, com otítulo dos Santos Quatro Coroados.Tornou-se o 17.º rei de Portugal em1578, dois anos antes da sua morte. 11. INFANTE D. AFONSOEra filho de D. Manuel I, quepretendera fazê-lo nomear cardeal

aos três anos de idade. Mas, opedido foi indeferido porinconstitucionalidade. O concílio deLatrão estipulara que não podia ser«dada catedral a menores de 30anos». D. Manuel, conseguiu, noentanto, que o Infante fosseinvestido no arcebispado de Bragaaos 15 anos, e aos 18 anos voltou apropô-lo para Cardeal, embora aprerrogativa inconstitucional semantivesse. Porém, tendo o Reienviado ao Papa a famosaembaixada de Tristão da Cunha, em1514, com as primícias dosdescobrimentos e testemunho deobediência, Leão X elevou aCardeal o Infante D. Afonso (1517). 12. D. MIGUEL DA SILVANasceu em Évora em 1486. FoiBispo de Viseu em 1526. Amigopessoal de Leão X e de Rafael, foipromovido a Cardeal in pectore em1539, por Paulo III. Este o confirmouCardeal, em 1541, com o título dosDoze Apóstolos. 13. D. VERÍSSIMO DELENCASTRENasceu em 1615. Filho de D.Francisco Luís de Lencastre,comendador-mor de Avis, e de D.Filipa Vilhena, aquela

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que armou cavaleiros dois dos seusfilhos na madrugada de 1º dedezembro de 1640. Foi Arcebispode Braga em1670, mas, em 1677,renunciou ao cargo. Foi elevado aoCardinalato por Inocêncio XI, em1686. 14. D. LUÍS DE SOUSANasceu no Porto, em 1630. FoiBispo em Bona (1671) e Arcebispode Lisboa (1675). O Papa InocêncioXII elevou-o ao Cardinalato, em1697. Alcançou para todas asigrejas de Lisboa o jubileu doLausperene, e foi Provedor daMisericórdia de Lisboa de 1674 a1683. 15. D. TOMAS DEALMEIDA - 1º CardealPatriarca de LisboaNasceu em 1670, em Lisboa. FoiBispo de Lamego (1706), Bispo doPorto (1709) e o primeiro Patriarcade Lisboa (1716). O Papa ClementeXII fê-lo Cardeal em 20 dezembro de1737. 16. D. NUNO DA CUNHA EATAÍDENasceu em Lisboa, em 1664. FoiMestre de Artes em Coimbra egraduado em Direito Canónico.Cónego da Sé de Coimbra,

Conselheiro de Estado, Inquisidor-mor, e capelão de D. Pedro II.Recusou a mitra de Elvas, sendo-lheconcedido o título de Bispo deTarga. Clemente XI elevou-o aoCardinalato a 18 de maio de 1712. 17. D. JOSÉ PEREIRA DELACERDANasceu em Moura, em 1661. Bispodo Algarve (1716), foi elevado aCardeal-Presbítero, pelo PapaClemente XI, em 1719, mas sórecebeu o capéu cardinalício dasmãos de Inocêncio XIII, em cujoConclave tinha participado. 18. D. JOÃO DA MOTA ESILVANasceu em Castelo Branco em1685. Cónego magistral daColegiada de S. Tomé, foi criadoCardeal por Bento XIII no Consistóriode 2 de novembro de 1727. 19. D. PAULO DECARVALHO E MENDONÇANasceu em 1702. Irmão do Marquêsde Pombal, foi monsenhor daPatriarcal de Lisboa. O PapaClemente XIV criou-o Cardeal em 29de janeiro de 1770, mas faleceuantes de a notícia ter chegado aLisboa.

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20. D. JOÃO COSME DACUNHA (Cardeal daCunha)Nasceu em Lisboa, em 1715.Formou-se em leis, e, em 1738,tomou o hábito de Santa Cruz.Enquanto Cónego da Ordem, comoo nome de Frei João de NossaSenhora das Portas, durante oterramoto de 1755 percorreu asruas descalço, de corda ao pescoçoe com um crucifixo alçado,passando por entre os escombrosanunciando penitência aos vivos esufrágio pelos mortos. Inspetor dareedificação de Lisboa. Assumiu oarcebispado de Évora em 1760. Ainstâncias do Marquês de Pombal,

Clemente XIV criou-o Cardeal noConsistório de 1770. 21. D. JOSÉ MANUEL DACÂMARA - 2º CardealPatriarca de LisboaNasceu em Lisboa a 25 dedezembro de 1686. Bento XIV criou-o Cardeal em 10 de abril de 1747. A10 de março de 1754 foi eleitoPatriarca de Lisboa. Foi o CardealPatriarca que viveu o terramoto de1755. Agastado com a perseguiçãoque entretanto o Marquês dePombal movera contra os Jesuítas,retirou-se.

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22. D. FRANCISCOSALDANHA - 3º CardealPatriarca de LisboaNasceu em Lisboa, em 1723 eestudou na Universidade deCoimbra. Bento XIV elevou-o aCardeal em 1756. A 25 de julho de1758 era nomeado Patriarca deLisboa. 23. D. FERNANDO DESOUSA E SILVA - 4ºCardeal Patriarca deLisboaNasceu em 1712. Em dezembro de1776 era eleito Patriarca de Lisboa,mas só foi sagrado em 30 de maiode 1779, sendo, em seguida, criadoCardeal por Pio VI. 24. D. MIGUEL DENORONHA E SILVAABRANCHESPertencente à casa de Valadares,foi principal diácono da IgrejaPatriarcal. Foi criado Cardeal em 16de maio de 1803. 25. D. PEDRO DEFIGUEIREDO DA CUNHA EMELONasceu em Tavira em 1770. FoiArcebispo de Braga (1840) eelevado

a Cardeal Presbítero, com o títulode Cardeal Figueiredo, em 1850. 26. D. JOSÉ FRANCISCOMIGUEL ANTÓNIO DEMENDONÇA - 5º CardealPatriarca de LisboaNasceu em Lisboa em 2 de outubrode 1725. Da casa real dos condesde Val dos Reis, licenciou-se emcânones, foi nomeado cónego,monsenhor e principal primário daigreja patriarcal. Sucedeu a D.Francisco de Lemos comoreformador reitor da Universidadede Coimbra. Patriarca de Lisboa em1786, foi criado Cardeal em 1788,por Pio VI. 27. D. CARLOS DA CUNHAE MENEZES - 6º CardealPatriarca de LisboaNasceu em 9 de abril de 1759. Foiprincipal presbítero da Patriarcal,vindo a ser eleito Patriarca em 4 dejulho de 1818 e elevado aocardinalato em 1819. Foiconselheiro de Estado e membro daregência do reino durante aausência de João VI, até 15 desetembro de 1820.

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28. D. FREI PATRÍCIO DASILVA - 7º CardealPatriarca de LisboaNasceu em 1756. Foi Bispo deCastelo Branco (1818) e Arcebispode Évora (1819). Leão XII elevou-oa Cardeal em 1824. Tomou possecomo Patriarca de Lisboa em 1826. 29. D. FREI FRANCISCODE S. LUÍS - 8º CardealPatriarca de LisboaNasceu em 1766. Foi Bispo deCoimbra, em 1822 e Patriarca deLisboa, em 1840. Conduziu todo oprocesso de reatamento dasrelações diplomáticas entre Portugale a Santa Sé. Aceitou ser Patriarcade Lisboa por insistência de D.Maria II. Foi Criado Cardeal-Presbítero por Gregório XVI, em1843. 30. D. GUILHERMEHENRIQUES DECARVALHO - 9º CardealPatriarca de LisboaNasceu em 1793. Foi Bispo deLeiria, em 1843 e Patriarca deLisboa, em 1845. Foi vice-presidente da Câmara dos Pares eparticipou em Roma na definiçãodogmática da Imaculada

Conceição, sendo-lhe conferidasvárias distinções, entre outras, a deo Papa Pio IX lhe impôr o chapéucardinalício depois de ter sido feitoCardeal por Gregório XVI, em 1846.Obteve para os Cónegos da Sé deLisboa vários privilégios, entreoutros, o de usarem batinas emurças de cor purpúrea, e para osdignatários do Cabido o de poderemusar mitra. 31. D. MANUEL BENTORODRIGUES - 10º CardealPatriarca de LisboaNasceu em 1800. NomeadoArcebispo de Mitilene (1845), foiBispo de Coimbra (1851) e Patriarcade Lisboa (1858). Foi feito Cardeal-Presbítero em 1858. 32. D. INÁCIO DONASCIMENTO MORAISCARDOSO - 11º CardealPatriarca de LisboaNasceu em 1811. Nomeado Bispo doAlgarve em 1863 e, depois,Patriarca de Lisboa, em 1871.Recebeu a dignidade de Cardeal-Presbítero em 1873. O barretecardinalício ser-lhe-ia imposto emLisboa pelo Rei D. Luís I.

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33. D. AMÉRICO FERREIRADOS SANTOS SILVANasceu em Massarelos. Foi Cónegoda Sé Patriarcal em 1858,desembargador e juíz da relaçãopatriarcal. Em 1867 foi vogal dacomissão encarregada de propor anova circunscrição paroquial docontinente e ilhas. Nomeado Bispodo Porto, em 1871, foi elevado aoCardinalato por Leão XIII, noConsistório de 12 de maio de 1879. 34. D. JOSÉ SEBASTIÃONETO - 12º CardealPatriarca de LisboaNasceu em 1841. Foi Bispo deAngola e Congo (1879), foiescolhido para Patriarca de Lisboaem 6 de abril de 1883. Elevado aocadinalato em 1884, presidiu aocasamento do Rei D. Carlos e D.Amélia, na Igreja de S. Domingos,no dia 22 de maio de 1886. 35. D. ANTÓNIO MENDESBELO - 13º CardealPatriarca de LisboaNasceu em S. Pedro de Gouveia,em 1842. Governador do bispadode Pinhel (1874) e do bispado deAveiro (1881), foi nomeadoArcebispo de Mitilene, em 1883.Assumiu a diocese do Algarve, em1884, e o

patriarcado de Lisboa, em 1907. Foiindicado para Cardeal in pectore noConsistório de 27 de novembro de1911, por Pio X. Nesse ano seriaexpulso de Lisboa devido àsconvulsões políticas de então. Ficouexilado em Gouveia durante doisanos. Participou no Conclave emque foi eleito Bento XV, em 1914,tendo recebido das mãos deste obarrete cardinalício. 36. D. MANUELGONÇALVES CEREJEIRA -14º Cardeal Patriarca deLisboaNasceu em Lousado em 1888.Nomeado Arcebispo de Mitilene em1928, foi Patriarca de Lisboa em 18de novembro de 1929. No dia 16 domês seguinte foi elevado a Cardealda Ordem dos Presbíteros, com otítulo dos Santos Marcelino e Pedro.Era o mais novo dos purpurados,tendo recebido o barrete das mãosde Pio XI, ao mesmo tempo que oCardeal Pacelli, mais tarde Papa PioXII. Querendo apaziguar as relaçõescom o Estado, devido às convulsõessurgidas com a revoluçãorepublicana de 1910, tudo fez paraque, em 1940, o Governo assinasseuma Concordata com a SantaSé.Outro marco fundamental naação deste Patriarca foi a criação daUniversidade Católica.

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37. D. TEODÓSIOCLEMENTE DE GOUVEIANasceu na Ilha da Madeira em 1889.Foi Bispo titular de Leuce e Preladode Moçambique (1936), e em 1941,Arcebispo de Lourenço Marques.Foi elevado a Cardeal-Presbítero,por Pio XII, no Consistório de 18 defevereiro de 1946. 38. D. JOSÉ DA COSTANUNESNasceu na Ilha do Pico (Açores) a15 de março de1880. Foi Bispo deMacau (1920) e nomeado Arcebispode Goa e Damão, com o título dePatriarca das Índias Orientais, a 11de março de 1940. Em 16 dedezembro de 1953 renunciou aogoverno da diocese, mantendo,porém, o título de Patriarca eficando como arcebispo titular deOdesso, passando, então, a fazerparte da Cúria Romana, como vice-camerlengo da Santa Sé. NoConsistório de 16 de março de 1962foi elevado à dignidade cardinalícia,por João XXIII.

39. D. ANTÓNIO RIBEIRO- 15º Cardeal Patriarca deLisboaNasceu em S. Clemente (Celorico deBasto) em 21 de maio de 1928. Foinomeado Bispo titular de Tigilava eAuxiliar do Arcebispo de Braga a 8de julho de 1967. Em 13 de maio de1971 foi nomeado 15º Patriarca deLisboa. Paulo VI elevou-o àdignidade cardinalícia, com o títulode Santo António in urbe, noConsistório de 5 de março de1973.Foi o Cardeal Patriarca datransição entre a ditadura e ademocracia em Portugal. Nesteperíodo, a sua coragem pastoral emesmo lucidez política foramimportantes para definir o espaço daIgreja no novo contexto social. NaDiocese, o seu pontificado coincidecom o período de adaptação doConcílio Vaticano II: definição dacorresponsabilidade dos leigos naação pastoral da Igreja, incentivo àação social como expressãoorganizada da caridade, consciênciade que a missão é da Igrejaenquanto enviada ao mundo. Porduas vezes, foi presidente daConferência Episcopal Portuguesa.

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40. D. HUMBERTOMEDEIROSNasceu nos Arrifes, ilha de S. Miguel(Açores), a 6 de outubro de 1915.Bispo de Browsville, no Texas(1966). Arcebispo de Boston (1970).Criado Cardeal por Paulo VI, noConsistório de 5 de março de 1973. 41. D. JOSÉ SARAIVAMARTINSD. José Saraiva Martins nasceu emGagos de Jarmelo, Guarda, a 6 dejaneiro de 1932. Entrou, em 1944,no seminário claretiano das Termasde São Vicente. Cursou teologia emRoma, tendo-se licenciado naUniversidade Gregoriana. Depois devários anos de docência nosseminários maiores da ProvínciaClaretiana, doutorou-se em Romana Universidade de S. Tomás deAquino. Em 1970 é nomeadoprofessor de teologia na PontifíciaUniversidade Urbaniana. NomeadoReitor da mesma, desempenha estecargo de 1977 a 1983, e desde1986 até ser nomeado arcebispo esecretário da Congregação daEducação Cristã, a 26 de maio de1988. É ordenado bispo a 2 de julhode 1988, em Roma. Em 1998 éPrefeito da Congregação

para a Causa dos Santos. A 21 defevereiro de 2001 é criado Cardeal. 42. D. JOSÉ DA CRUZPOLICARPO – 16º CardealPatriarca de LisboaNasceu em Alvorninha, concelho dasCaldas da Rainha, no dia 26 defevereiro de 1936. Faleceu emLisboa, no dia 12 de março de 2014.

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43. D. MANUEL MONTEIRODE CASTRONasceu em Santa Eufémia dePrazins, Guimarães, a 29 de marçode 1938, e foi ordenado presbíteroem 1961, e partiu para Roma, ondeficou até 1967. Cursou DireitoCanónico, forma-se na AcademiaDiplomática e em 1967 é nomeadopara a Nunciatura Apostólica doPanamá, onde exerce

funções até 1969. A partir desseano exerce a sua missão diplomáticana Guatemala, Vietname, Cambodja,Austrália e México. Depois doatentado ao Papa João Paulo II emRoma, é enviado para Bruxelasonde acompanha a ComunidadeEconómica Europeia (CEE), e aNATO. Em 1985 é ordenado bispo eenviado como Núncio e DelegadoApostólico para as

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Caraíbas. No início dos anos 90 éenviado por dois anos para a Áfricado Sul onde inicia importantesrelações diplomáticas. Muda-sedepois para Madrid onde seestabelece até 2009, ano em que oPapa Bento XVI nomeia-o para aCongregação dos Bispos. Foi feitoCardeal em 2012 e nomeado comosecretário do Colégio

Cardinalício com o lugarde Penitenciário-Mor daPenitenciaria Apostólica. É membroda Congregação para a Causa dosSantos e do Conselho Pontifíciopara a Pastoral dos Migrantes eItinerantes.

Fonte: Patriarcado de Lisboa

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Cardeais portugueses felicitamnomeação de D. Manuel ClementeO cardeal José Saraiva Martinsdisse à Agência ECCLESIA que acriação cardinalícia de D. ManuelClemente, este sábado, representaum “momento histórico” para aIgreja Católica em Portugal.“Certamente será um ótimo cardeal,como foi um ótimo arcebispo ebispo. É um grande acontecimento,que ficará gravado com letras deouro na história da Igrejaportuguesa, em particular na Igrejade Lisboa”, declarou o prefeitoemérito da Congregação para asCausas dos Santos.O cardeal português fala de D.Manuel Clemente como um “gradepastor”, de “grande cultura históricae eclesial”, adiantando que o veriacomo um “ótimo membro” daCongregação para os Bispos ou daCongregação para a EducaçãoCatólica.Também o cardeal D. ManuelMonteiro de Castro, penitenciário-mor emérito da Santa Sé,manifestou à Agência ECCLESIA asua “grande alegria” por acolher D.Manuel Clemente, patriarca deLisboa, no Colégio Cardinalício.

D. José Saraiva Martins recorda, poroutro lado, a criação do primeirocardeal de Cabo Verde, D. ArlindoFurtado, bispo de Santiago, e de D.Júlio Duarte Langa, Bispo Eméritode Xai-Xai (Moçambique), nestecaso entre os cardeis com mais de80 anos.O consistório público para a criaçãode 20 cardeais (15 dos quaiseleitores) vai decorrer no sábado,depois de dois dias de debate, naquinta e sexta-feira, sobre a reformada Cúria Romana, para os quais oPapa convocou todos os membrosdo Colégio Cardinalício.D. Manuel Monteiro de Castroprecisa que os debates têmabordado o conjunto dosorganismos centrais (dicastérios) degoverno da Igreja Católica: “aSecretaria de Estado, asCongregações da Curia Romana,que exercitam poder administrativo;os Tribunais, que exercitam o poderjudicial); e os Conselhos Pontifícios,que não exercitam poderadministrativo, mas têm uma funçãode estudo, conselho e elaboraçãopastoral nos vários setores da suacompetência”.“Pensa-se na possibilidade

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de um dicastério para os Leigos e aFamília: promoção da vida cristãdos fiéis leigos, matrimónio e afamília, a sua missão deles na Igrejae na sociedade civil. Fala-se tambémnum dicastério para os grandesprincípios sociais da Igreja nomundo”, precisa.D. José Saraiva Martins confirmaestas indicações, no sentido de“simplificar” a estrutura,considerando

“absolutamente necessária areforma da Cúria, que é o centro degoverno da Igreja”, algo queaconteceu sempre ao longo dahistória.Nesse sentido, admite que apublicação de uma novaConstituição “não deverá demorarmuito tempo”, dado que se trata deuma matéria “urgente”.

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Reforma da Cúria Romana

O Papa preside até quarta-feira àoitava Reunião do Conselho dosCardeais – conhecido como ‘C-9’ -que criou para o auxiliarem nareforma da Cúria Romana, ochamado ‘C9’. Os trabalhosantecedem o consistório (reunião decardeais) de quinta e sexta-feirapara “para ponderar sobre asorientações e as propostas para areforma da Cúria Romana”,convocado por Francisco, e oconsistório público para a criaçãode novos cardeais, incluindo D.Manuel Clemente, patriarca deLisboa, no sábado.O C9, organismo consultivo comrepresentantes de várias dioceses,apresentou em setembro de 2013um esboço de nova Constituiçãopara a Cúria Romana, que foidiscutido com os responsáveis dosorganismos centrais do governo daIgreja, dois meses depois.

O trabalho está mais avançado noque diz respeito às questõeseconómicas e administrativas e àsquestões relacionadas com osdepartamentos de economia, após ainstituição do Conselho e daSecretaria para a Economia,liderada pelo cardeal australiano D.George Pell.Nomeado pelo Papa em abril de2013,o Conselho de Cardeais écomposto pelo secretário de Estadodo Vaticano, D. Pietro Parolin, e porD. Oscar Rodríguez Maradiaga,arcebispo de Tegucigalpa,Honduras, presidente da CáritasInternacional; D. Giuseppe Bertello,presidente do Governatorato doEstado da Cidade do Vaticano; D.Francisco Errázuriz Ossa, arcebispo

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emérito de Santiago do Chile; D.Oswald Gracias, arcebispo deBombaím, na Índia; D. ReinhardMarx, arcebispo de Munique(Alemanha); D. Laurent MonsengwoPasinya, arcebispo de Kinshasa, naRepública Democrática do Congo;D. Sean Patrick O’Malley, arcebispode Boston, nos EUA, e D. GeorgePell; o secretário do C9 é o bispoitaliano D. Marcello Semeraro.O documento que regulamentaatualmente a Cúria Romana é aconstituição 'Pastor Bonus',assinada por São João Paulo II a 28de junho de 1988.O cardeal Oscar Maradiaga, quecoordena o ‘C9’, considera queFrancisco criou uma “nova maneirade governar a Igreja” e admitiu, nasua

recente passagem por Portugal, queé necessário “reduzir” o número deCongregações e ConselhosPontifícios.Em cima da mesa estão propostaspara criar "duas novas grandescongregações", uma para "Leigos,Família e Vida" e outra para ossetores da "Caridade, Justiça ePaz".

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Reforma da Cúriaé «transformação eclesial»O Cardeal Gianfranco Ravasi,presidente do Conselho Pontifícioda Cultura (CPC), revelou à AgênciaECCLESIA que vai propor ao Papaa criação de um novo “polo cultural”que una várias instituições da CúriaRomana. “Poderia ser um únicogrande dicastério, que se relacionacom muitas instituições: pensemosna Academia das Ciências, naAcademia das Ciências Sociais, osMuseus do Vaticano, a BibliotecaApostólica, o Arquivo Secreto, oObservatório Astronómico. Ou seja,conseguir fazer um polo cultural,que possa ser um grande serviço àscomunidades eclesiais espalhadaspelo mundo”, refere o cardealitaliano.A proposta vai ser lançada duranteo consistório (reunião de cardeais)destas quinta e sexta-feira,convocado por Francisco para“ponderar sobre as orientações e aspropostas para a reforma da CúriaRomana”, um encontro queantecede o consistório público paraa criação de novos cardeais,incluindo D. Manuel Clemente,patriarca de Lisboa, no sábado.

Segundo o cardeal GianfrancoRavasi, “cultura e educação - queatualmente são dois dicastériosvaticanos - podem muito bem tornar-se uma única entidade”.“Se olharmos bem, a palavraeducação quer dizer ‘educere’,conduzir para fora - os valores deuma pessoa, portanto, a formação.Instruir, a cultura, é por outro lado,introduzir elementos, valores”,explica.Atualmente, a Cúria Romana temuma Congregação para a EducaçãoCatólica e um Conselho Pontifício daCultura, a que está associada aComissão Pontifícia para os BensCulturais da Igreja.Segundo o presidente do CPC,existe um processo de“transformação, como aconteceucom Paulo VI quando fez a reformada Cúria”. “É uma transformaçãoeclesial, não burocrática, eclesial,porque significa que a CúriaRomana já não é autorreferencial,não só porque chegam membros deoutras nações, sem ter sempre aprevalência italiana. É concebê-lacomo uma parte do ministériopetrino, que tem a função

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de ligar na unidade as Igrejasdispersas e servi-las, ajudá-las”,precisa.A Cúria Romana - o conjunto dosdicastérios e dos organismos quecoadjuvam o Papa no exercício dasua missão – tem como instituiçõesprincipais uma Secretaria deEstado, uma Secretaria para aEconomia, nove Congregações, trêsTribunais e doze ConselhosPontifícios.“É uma reforma de método e é maisdo que apenas procurar determinarquais são os controlos da Cúria

Romana, da sede central, comoacontece na banca, nos grandesbancos: grandes centros de poderque controlam a periferia. Não, aquipelo contrário é tentar um métododiferente de diálogo, derelacionamento com as instituições,com as Igrejas, por isso, tambémcom as culturas espalhadas pelomundo”, sublinha o cardealGianfranco Ravasi.Em relação ao consistório públicodeste sábado, o presidente do CPCconsidera “interessante” que o Papa“tenha nomeado, de surpresa,tantos cardeais de culturasdiferentes”.

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Cúria RomanaA Cúria Romana - o conjunto dosdicastérios e dos organismos quecoadjuvam o Papa no exercício dasua missão – tem como instituiçõesprincipais uma Secretaria deEstado, uma Secretaria para aEconomia, nove Congregações, trêsTribunais e doze ConselhosPontifícios. Elenco completo(Indica-se o ano de nomeação parao cargo. A itálico as nomeaçõesfeitas pelo Papa Francisco) Secretaria de Estado do Vaticano(Secretário) – Cardeal Pietro Parolin(Itália) - 2013Secretaria para Economia(Secretário) - Cardeal George Pell(Austrália) -2014 Congregações(Lideradas por um prefeito)Doutrina da Fé – Cardeal GerhardLudwig Cardinal Müller (Alemanha)– 2012Igrejas Orientais – CardealLeonardo Sandri (Argentina) – 2007Culto Divino e Disciplina dosSacramentos – Cardeal RobertSarah (Guiné-Conacri) - 2014

Causas dos Santos – CardealAngelo Amato (Itália) – 2008Evangelização dos Povos – CardealFernando Filoni (Itália) – 2011Clero – Cardeal Beniamino Stella(Itália) - 2013Institutos de Vida Consagrada eSociedades de Vida Apostólica –Cardeal João Bráz de Aviz (Brasil) –2011Educação Católica (Seminários eInstitutos de Estudo) – CardealZenon Grocholewski (Polónia) -1999Bispos – Cardeal Mar Ouellet(Canadá) – 2010 TribunaisPenitenciaria Apostólica(Penitenciário-mor) – CardealMauro Piacenza (Itália) – 2013Assinatura Apostólica (Prefeito) – D.Dominique Mamberti (França) -2014Rota Romana (Decano) – Mons. PioVito Pinto (Itália) – 2012 Conselhos Pontifícios(Liderados por um presidente)Leigos – Cardeal Stanislaw Rylko(Polónia) - 2003

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Promoção da Unidade dos Cristãos– Cardeal Kurt Koch (Suíça) - 2010Família – D. Vincenzo Paglia (Itália)- 2012Justiça e Paz – Cardeal PeterTurkson (Gana) - 2009"Cor Unum" – VacantePastoral dos Migrantes e Itinerantes– Cardeal Antonio Maria Vegliò(Itália) - 2009Pastoral da Saúde – D. ZygmuntZimowski (Polónia) - 2009

Textos Legislativos – CardealFrancesco Coccopalmerio (Itália) -2007Diálogo Inter-religioso – CardealJean-Louis Tauran (França) - 2007Cultura – Cardeal GianfrancoRavasi (Itália) - 2007Comunicações Sociais – D. CláudioMaria Celli (Itália) - 2007Nova Evangelização – D. Salvatore‘Rino’ Fisichella (Itália) – 2010

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