Natal sem Jesus - agencia.ecclesia.pt · Advento/Natal não se reduza a “aspetos meramente...

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04 - Editorial Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Opinião D. Manuel Linda22 - Opinião Miguel Panão24 - Semana de... Sónia Neves26 - Dossier Postais de Natal

28 - Entrevista Custódio da Terra Santa56 - Multimédia58 - Estante60 - Agenda62 - Vaticano II64 - Por estes dias66 - Programação Religiosa67 - Minuto Positivo68 - Liturgia70 - Fundação AIS72 - LusoFonias

Foto de capa: Agência ECCLESIAFoto da contracapa: DR

AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Padre Américo AguiarPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração:Quinta do Bom PastorEstrada da Buraca, 8-121549-025 LISBOATel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

Bispos escrevempelo Natal[ver+]

À espera do Natalem Belém[ver+]

Postais de Natal[ver+] D. Manuel LInda |Cecília Vigário |Sónia Neves | Octávio Carmo |Fernando Cassola Marques |Manuel Barbosa | Tony Neves |Paulo Aido

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Natal sem Jesus

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

O crescente pluralismo da sociedade portuguesae o impacto da globalização, nas suas váriasvertentes, tendem a fazer com que semultipliquem, naturalmente, as várias formas decelebrar o Natal. Um dos casos que mais meimpressiona é aquele em que, publicamente, seimpede qualquer pessoa de assumir umareferência explícita à celebração do nascimentode Jesus como fonte de sentido para a formacomo vive esta quadra.Confesso que é estranho: a compreensão e aabertura para a cultura do outro não podem nemdevem impedir a manifestação da identidadeprópria. Não se trata de uma pretensão católicade esgotar em si todas as possibilidades decelebração natalícia, mas de assumir umimprescindível fundo cultural e religioso que éessencial para compreender a forma como hojevivemos o Natal.O que me parece faltar muitas vezes é oquestionamento sobre como apresentar a nossahistória própria a quem chega de fora, porexemplo, sem lhes esconder o que somos e oque fazemos, por um falso pudor que levaria aabdicar de categorias mentais, religiosas efilosóficas fundamentais para a compreensão darealidade em que todos vivem.Para muitos portugueses o Natal é a celebraçãodo nascimento de Jesus e tem uma dimensãoreligiosa. Tentar evitar que essa convicção tenhavisibilidade pública não é tolerância. Aliás,parece-me mais o contrário…

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Uma reportagem chocou o país ao revelar o destino que era dado aodinheiro entregue a uma associação com fins solidários.

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Nunca um país se poderá desenvolver se asinstituições funcionarem assim, controladas pelosinteresses de um grupo de pessoas, que são supostaspertencerem à elite do país, e que afinal usam osrecursos dos seus concidadãos pagos por via dosimpostos ou por solidariedade como se fossem seus epara satisfazerem os seus deslumbramentos.Helena Garrido - (Acerca do caso Raríssimas) -Observador - 14.12.2017 Como se costuma dizer, não é depois de casa roubadaque se põe trancas à porta. Temos neste momento aoportunidade — e o dever — de tornar a nossaeconomia e a nossa sociedade mais resilientes e maisrobustas. (…)Esta cimeira do euro servirá para preparar o terrenopara as decisões concretas que deverão ser tomadasem 2018. Se formos capazes de assumir a nossaresponsabilidade coletiva, estou confiante de queconseguiremos virar as costas à crise, sem ter deesperar que uma nova tragédia nos bata à porta.Jean-Claude Juncker - Público - 14.12.2017 A comunidade internacional enfrenta uma série deameaças complexas contra a sustentabilidadeambiental e a ecologia social e humana de todo oplaneta, como as ameaças à paz e à concórdia quevêm de ideologias fundamentalistas violentas econflitos regionais, que muitas vezes aparecem sob aforma de interesses e valores opostos.Papa Francisco - (Aos novos embaixadores de setepaíses junto da Santa Sé) - 14.12.2017

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Mensagens de Natalrecordam identidade cristã esolidária

As várias mensagens de bisposcatólicos portugueses têmsublinhado a dimensão cristã esolidária da celebração do Natal,que evoca o nascimento de umDeus que é “amor” e que incentiva alevar “alegria e esperança” aosoutros, a começar pelos maisnecessitados, como

assinalou D. António Marto.“Não deixemos que nos roubem oautêntico Natal celebrado e vividona fé, na alegria, na partilha, nagenerosidade e na esperança”,exorta o bispo de Leiria-Fátima.No documento, divulgado pelogabinete de comunicação daDiocese

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de Leiria-Fátima, o prelado recorreà simbologia do presépio e àsfiguras dos “pastores a quem foifeito o primeiro anúncio do Natal deJesus” e que “estão lá comorepresentantes dos mais pobres,frágeis, necessitados e descartadosda nossa sociedade”.Na Guarda, o bispo diocesanolamentou a falta da resposta àsvítimas dos incêndios de outubro,que provocaram várias mortes eelevados danos materiais na região.“Compreendemos, é certo, que sedê atenção prioritária às empresasafetadas pelos incêndios, das quaisdepende o emprego de muita gente.Mas, em contrapartida, custa-nos acompreender que serviços estatais como os que operam naagropecuária e na floresta, continuem quase indiferentes aosdramas de muitas famílias queperderam tudo”, denunciou D.Manuel Felício, em texto enviado àAgência ECCLESIA.O bispo de Viseu, por sua vez,convida a celebrar o Natal como“acontecimento feliz” que apontapara um futuro melhor para ahumanidade. “Celebrar o Natal, emcada ano, é recordar o queaconteceu, na história, e é esperar

o que há de acontecer, no futuro.Será a plenitude da salvação, decada um de nós, na nossa partidadeste mundo”, realça D. IlídioLeandro.O bispo da Diocese de Angraconvidou as comunidades católicasdos Açores a celebrar um Natal comatenção a “todos os excluídos epobres”, alertando para a exclusãoda religião na esfera pública. “Exige-se dos discípulos de Jesus Cristo,isto é, dos cristãos, que ofereçamcom gestos concretos a propostalibertadora a todos os excluídos epobres que anseiam pela redençãodas suas vidas”, escreve D. JoãoLavrador.D. Manuel Linda, bispo das ForçasArmadas e de Segurança, pede queAdvento/Natal não se reduza a“aspetos meramente evocativos oufolclóricos”. “Que a «espera»consistente do salvador noscomprometa com a instauração doReino de Deus e nos leve abalbuciar a prece ativa: “Vinde,Senhor Jesus”. A todos, bom Natal efeliz ano novo”, deseja.

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Igreja debate impacto doregulamentoda UE relativo à proteção de dadosO secretário e porta-voz daConferência Episcopal Portuguesadisse aos jornalistas que os bisposvão analisar na próxima AssembleiaPlenária o “regulamento europeu deproteção de dados”, nomeadamenteas consequências nos váriosregistos paroquiais.De acordo com o padre ManuelBarbosa, o regulamento 2016/679da União Europeia, relativo àproteção de dados pessoais e suaaplicação às Igrejas e associaçõesreligiosas tem implicações nos“registos de matrimónio, que emPortugal tem efeitos na lei civil, nosbatismos e cancelamentos debatismo na Igreja Católica”. “É umassunto muito sério e tem de setomar decisões de acordo com alegislação canónica, a concordatacom a Santa Sé e outra legislaçãoportuguesa”, afirmou o secretário daCEP, após a última reunião doConselho Permanente, esta terça-feira, em Fátima.O padre Manuel Barbosa referiuque os bispos estão a ser ajudadospor juristas, a acompanhar o debateem curso noutras conferênciasepiscopais da Europa e esperam“diretivas da Santa Sé” sobre esteregulamento.

O regulamento da União Europeiarelativo à proteção de dadospessoais é um dos assuntos emdebate na Assembleia Plenária daCEP entre os dias 9 e 12 de abril de2018, onde vão ser eleitos doisrepresentantes do episcopadoportuguês e um substituto àAssembleia Ordinária do Sínodo dosBispos em outubro de 2018, sobre ajuventude.Na reunião do ConselhoPermanente da CEP, que decorreuem Fátima, foi escolhido o tema “Osjovens e a pastoral juvenil” para aspróximas Jornadas Pastorais doEpiscopado, que vão decorrer entreos dias 18 e 20 de junho de 2018.O Conselho Permanente da CEPreconduziu ainda para o triénio2017-2020os presidentes da CáritasPortuguesa e da Comissão NacionalJustiça e Paz.

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Novo reitor do Pontifício ColégioPortuguêsO padre José Alfredo Patrício, daDiocese de Lamego, tomou hojeposse como reitor do PontifícioColégio Português, em Roma, edisse à Agência ECCLESIA que vaiter em atenção ainternacionalização esustentabilidade da instituição.“O Colégio vive para servir” quem alivive e a Igreja Católica em Portugal,que ali encontra uma casa para“manter a ligação com a Santa Sé, oSanto Padre”, juntamente com arepresentação diplomática e oInstituto Português de SantoAntónio, refere o responsável.“A questão da sustentabilidade éimportante, é relevante, porque éessa sustentabilidade que permiteque o Colégio continue a ser umserviço”, precisou o novo reitor.Além dos sacerdotes de diocesesportugueses a estudar em Roma, ainstituição acolhe ainda membros doclero de diversos países, emparticular de nações lusófonas.O padre José Alfredo Patríciosublinha que esta diversidade é “umenriquecimento” para acomunidade, mostrando a“universalidade da Igreja” epermitindo uma “visão mais ampla”em relação ao próprio ministériosacerdotal.

A cerimónia de posse do reitor e dovice-reitor, padre Jorge MiguelLopes Ferreira, nomeado emsetembro último, teve lugar napresença do secretário daCongregação para o Clero, D.Patrón Wong.O padre José Alfredo Patríciosucede na direção do PontifícioColégio Português ao padre JoséFernando Caldas, da Diocese deViana do Castelo, uma transiçãoque considerou “tranquila”.“O trabalho vai ser feito numa linhade grande continuidade em relaçãoàquilo que vem de antes, sobretudoporque o Pontifício ColégioPortuguês tem tido grandes reitores,que se dedicaram muito à causa efacilitaram muito a vida a quemchega”, refere.O sacerdote, de 38 anos, foinomeado para o cargo a 1 dedezembro, pela ConferênciaEpiscopal Portuguesa (CEP).

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Vila Viçosa acolheu peregrinos na festa da «mãe, padroeira e rainha» dePortugal

Diocese do Porto lança iniciativas para reforçar sentido do «Natal cristão»

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Prudência e diálogo para evitaragravamento da violência na TerraSanta

O Papa Francisco apelou à“prudência” e ao diálogo para travara violência no Médio Oriente, nasequência dos confrontos quesurgiram após reconhecimento deJerusalém como capital de Israel,por parte dos EUA. “Ao manifestar

a sua dor pelos confrontos que nosúltimos dias provocaram vítimas, oSanto Padre renova o seu apelo àsabedoria e à prudência de todos eeleva orações para que osresponsáveis das nações, nestemomento de particular gravidade,

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se empenhem em evitar uma novaespiral de violência”, refereum comunicado divulgado pela salade imprensa da Santa Sé.A nota oficial pede que todas aspartes respondam, “com palavras eatos”, aos desejos de paz, de justiçae de segurança da “martirizadaterra” do Médio Oriente.A Santa Sé diz seguir com “grandeatenção” os últimosdesenvolvimentos na região, “comespecial referência a Jerusalém,cidade sagrada para os cristãos, osjudeus e os muçulmanos de todo omundo”.O comunicado do último domingorecorda a reunião de urgência daLiga Árabe e da Organização para aCooperação Islâmica, sublinhandoque o Vaticano é “sensível” àspreocupações com a paz no MédioOriente.A Santa Sé “reafirma a sua bemconhecida posição quanto aocaráter singular da Cidade Santa”de Jerusalém” e à necessidade derespeitar o “status quo, emconformidade com as deliberaçõesda comunidade internacional e osrepetidos pedidos das hierarquiasdas Igrejas e comunidades cristãsna Terra Santa”. “Ao mesmo tempo,reitera

a sua convicção de que só umasolução negociada entre israelitas epalestinos possa levar a uma pazestável e duradoura, garantindo acoexistência pacífica de doisEstados no seio de fronteirasinternacionalmente reconhecidas”,conclui o comunicado.A Cáritas Portuguesa denunciou,por sua vez, o “efeitodesestabilizador” da recente decisãodos EUA, ao reconhecer a cidade deJerusalém como capital de Israel,numa nota que assinala o DiaInternacional dos Direitos Humanos.“Esta decisão unilateral dos EUAtem um efeito desestabilizador naregião e já começou a provocar umaumento da violência. Este territórioe toda a região necessitam,desesperadamente, de iniciativasque promovam a paz e areconciliação, e não de ações quepossam gerar mais ódio e conflitos”,refere a organização católica, emdocumento enviado à AgênciaECCLESIA.

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Hospitais católicos sem submissãoà lógica de mercadoO Papa Francisco escreve na suamensagem para o Dia Mundial doDoente 2018, divulgada peloVaticano, que as instituiçõescatólicas da área da saúde devemevitar a submissão à lógica demercado. O texto sustenta anecessidade de “preservar oshospitais católicos do risco dumamentalidade empresarial, que emtodo o mundo quer colocar otratamento da saúde no contexto domercado, acabando por descartaros pobres”.A Igreja Católica celebra no próximodia 11 de fevereiro, festa litúrgica deNossa Senhora de Lurdes, o XXVIDia do Doente, que este ano temcomo tema: "’Eis o teu filho! (…) Eisa tua mãe!’ E, desde aquela hora, odiscípulo acolheu-A como sua” (Jo19, 26-27).O Papa sublinha que a inteligênciaorganizativa e a caridade exigemque a pessoa do doente sejarespeitada “na sua dignidade esempre colocada no centro doprocesso de tratamento”. “Estasorientações devem ser assumidastambém pelos cristãos quetrabalham nas estruturas públicas,onde são chamados a dar, atravésdo seu serviço, bom

testemunho do Evangelho”,acrescenta.A mensagem pontifícia reflete sobrea “vocação materna” de Maria esobre a figura do discípulo João,que inspiram o tema escolhido.“Como Maria, os discípulos sãochamados a cuidar uns dos outros;mas não só: eles sabem que oCoração de Jesus está aberto atodos, sem exclusão. A todos deveser anunciado o Evangelho doReino, e a caridade dos cristãosdeve estender-se a todos quantospassam necessidade, simplesmenteporque são pessoas, filhos deDeus”, realça Francisco.O Papa deixa elogios ao trabalhodesenvolvido pelas congregaçõescatólicas, as dioceses e dos seushospitais, sobretudo nos paísesonde os sistemas de saúde são“insuficientes ou inexistentes”.

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Papa sublinha importância dodomingoO Papa Francisco sublinhou noVaticano a importância do descansosemanal e da celebração cristã dodomingo, numa reflexãoapresentada na audiência públicadesta quarta-feira. “Foi o sentidocristão de viver como filhos e nãocomo escravos, animado pelaEucaristia, a fazer do domingo,quase universalmente, o dia dedescanso”, referiu, perante milharesde pessoas reunidas na sala PauloVI.Francisco alertou para o perigo deser dominado pelo “cansaço doquotidiano”, com as suaspreocupações, e o “medo doamanhã”. “A celebração daEucaristia dominical dá sentido atoda a semana e recorda-nos,também, com o descanso dasnossas ocupações, que não somosescravos, mas filhos de um Pai quenos convida constantemente acolocar a nossa esperança nele”,disse."Algumas sociedades secularizadasperderam o sentido cristão dodomingo, iluminado pela Eucaristia.É pena, isto! Nestes contextos, énecessário reavivar estaconsciência, para recuperar osignificado da festa, não perder osentido da festa, o significado daalegria, da comunidade paroquial,do descansa que restaura a alma eo corpo", acrescentou.

O Papa respondeu às objeções dequem diz que não é necessárioparticipar na Missa dominical,porque bastaria ser bom e amar opróximo. “Isso é necessário, masnão é possível sem a ajuda doSenhor, sem obter dele a força paraconsegui-lo. Na Eucaristia,recebemos do Senhor o que maisprecisamos, Ele próprio dá-se a nóscomo alimento e anima-nos acontinuar em frente”, observou.No final do encontro, o pontíficedeixou uma saudação aosperegrinos de língua portuguesa,convidando todos “a permanecerfiéis ao encontro dominical comCristo Jesus”.“Ele desafia-nos a sair do nossomundo limitado e estreito para oReino de Deus e a verdadeiraliberdade”, acrescentou.

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América Latina: Papa denuncia «colonização ideológica que quer apagar oque o território tem de melhor»

Os Conselhos do Papa para o Advento

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No presépio nasce o futuroe não a selvajaria do passado

D. Manuel Linda Bispos das Forças Armadas e Forças de Segurança

Uma das curiosidades dos palácios da Andaluziado chamado “Renascimento do Sul”, é aapresentação de uma carranca, feia que nem umbode, na porta principal, no lugar onde,habitualmente, outros colocam brasões defamília. Chamam a essa carantonha “OSelvagem”. Pelos vistos, os novos-ricos doséculo XVI, não tendo «pergaminhos» familiares,com essa figura horrenda queriam transmitir aideia de que as suas raízes se perdiam notempo. Pelo menos, eram anteriores à civilização.Embora o título de «selvagem» lhes assente quenem uma luva, diga-se de passagem que, quantoa antiguidades, não me batem aos pontos, poisas minhas origens ainda estão bem mais lá paratrás: estão em Adão e Eva. Portanto, não é a suavetustez que me impressiona; o que me perturbaé essa atracção pela selvajaria.Fácil será imaginar os seus numerosostrabalhadores, espécie de «servos da gleba»fora de tempo, quando passavam pela casa doseu senhor, acotovelar o vizinho de lado esussurrar-lhe: “Olha ali. O nosso patrão é muitofeiinho”. Na sabedoria dos simples, era feio não tantofisicamente, mas, muito mais, nas suas acções.Ainda que tivesse capela no seu palácio e lámandasse «dizer missa» todos os dias. Afealdade estava na soberba, nas frequentes rixascom quem ele imaginava que lhe poderia fazerfrente, na avareza, no uso e fruto dos outros aseu bel-prazer,

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enfim, num estilo de vida segundo oqual todos os outros não passariamde uma espécie de animais sobrequem imperava direito de vida e demorte.Vem-me isto à memória quandopenso em alguns «selvagens» donosso tempo, os quais, outrosnovos-ricos, usurparam o poder oulá chegaram por incúria do povo.Também estes, à semelhança dosandaluzes doutras eras, sãomoralmente muito feios, poissemeiam o egoísmo, abatem aspontes, levantam muros, atacam asinstituições que pretendem colocaralguma ordem na desordem domundo, espalham sementes depotencial violência, vão conta ospactos internacionais e divertem-sea soprar a brasas sempre aptas atornarem-se chamas.Para estes pirómanos,rigorosamente, a vida dos outrosnão conta. Mesmo

que digam que agem assim paradefenderem os seus. Mentira! Elessabem que ao provocar os outrosmonstros, abrem um imensopotencial de destruição. Mormente anível atómico. Por isto,desgraçadamente, parece ter razãoa presidente da CampanhaInternacional pela Abolição dasArmas Nucleares que, ao receber oNobel da Paz, alertou para aiminência de uma guerra mundial,dizendo quea morte de milhões depessoas pode estar "à distância deuma pequena birra".O Menino do presépio é o “Príncipeda paz” que vem instaurar a glóriaao Deus das alturas e a “paz naterra aos homens que o Senhorama”. As duas, em simultâneo, poisnão há glória sem paz nem paz semglória.Na sua candura, Ele faça de nósmais humanos e menos selvagens.

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Deus que nasce bebé - arrojado, nãoachas?

Miguel Oliveira Panão Professor Universitário Professor| Blog | Autor

Ninguém fica indiferente perante o nascimento deuma criança. Essa é uma das experiências maistransformativas de sempre.Não há mãe ou pai que não se lembre de como asua vida mudou completamente depois donascimento do seu filho. Quando vi cada um dosmeus filhos pela primeira vez, não pensei se erapequeno ou grande, belo ou não, na despesaque iria dar, na logística que iria exigir, nada. Verum filho bebé pela primeira vez é um acto decontemplação que altera radicalmente apercepção do mundo.Em Jesus, Deus nasceu bebé.Será hoje ainda uma experiência transformativa?A tentativa de desalojar Jesus do Natal éconstante. Substitui-se por um pai natal, pelaárvore de natal, por renas, mas esses nãoproduzem experiências que transformamprofundamente a nossa vida e visão do mundo.Depois, começou-se a falar do Natal como afesta da família. Uma ideia mais universal e queabrange mais realidades entre crentes e não-crentes. É uma ideia mais transformativa epertinente, mas não é tão radical como a deDeus nascer criança.A própria ideia de Deus fazer-se humano pareceabsurda. Desinstala-nos do convencional e talvezpor ser uma ideia demasiado arrojada, muitostenham dificuldade em reconhecê-la comoexperiência e deixar-se transformar por essa.Num mundo em que tudo se move na direcção deum realismo cada vez maior, há que reconhecero Natal como a festa de uma criança chamadaJesus. Nada mais. Nada menos.

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Alojar de novo Jesus no Natal decada pessoa e família é perceberque as luzes na rua expressam aLuz que Jesus é para nós; ospresentes que trocamos entre nóssão gestos de amor em quereconhecemos Jesus no outro; osorriso e a alegria que procuramostransmitir ao nosso redor, onde querque estejamos e a fazer seja o quefor, são expressão da alegria pelonascimento de uma criançachamada Jesus. No pobre,abandonado, triste, stressado estáJesus-Menino que chora e nosconvida a consolar com alimento,companhia, alegria e serenidade.Reconhecer cada vez mais acelebração do nascimento de umacriança - Jesus - no Natal é umaoportunidade que se abre de

promovermos experiênciastransformativas que mudem oambiente humano que nos rodeia e,na reciprocidade, sermostransformados também por essasexperiências.Por fim, o maior presente de todos adar a essa criança que nasce,Jesus, será estarmos inteiramentepresentes para nos dedicarmosexclusivamente aos outros. Partilhoisto porque é mais fácil voltarmos onosso rosto para um écran detelemóvel do que para o rosto dosoutros. Por isso, esse é o desafioque lanço a mim próprio neste Natale também a ti que lês estaspalavras. O desafio de nosdesligarmos do virtual para acolhero nascimento de uma criançaatravés do humano real diante denós.

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“Levar pessoas”

Sónia Neves Agência ECCLESIA

“Levar pessoas a pessoas" foi uma frase que umdia me disseram para resumir ou definir a vida dejornalismo. Na altura gostei da expressão e aliterá ficado na minha base de dados da memória.Com este tempo próximo do Natal veio-me àcabeça pois define o que faço, ou tento fazer,todos os dias. Levar pessoas a outras pessoas,testemunhos, vivências, maneiras de estar eviver a fé, vidas felizes. É assim que gosto depensar. Também este tempo de advento não éisso?Passam-se os dias em almoços, lanches ejantares de família, amigos de sempre, deinfância, do trabalho, colegas de ginásio,padrinhos de filhos e até vizinhos. Parece que,com as ruas iluminadas e as árvores a piscar najanela se ‘ganha estofo’ para estar com aquelesde quem não fomos companhia o resto do anoou se nos cruzamos a cada dia simplesmenteserve para festejar.Nós, os que acreditamos, temos muitas razõespara festejar e celebrar. Os outros também,talvez de outras formas.A questão de proximidade cada vez mais se vaiperdendo para dar espaço aos gadgets da modaque nos deixam ‘online’ a todos os minutos. Faz-nos falta ser próximos, falarmos e relacionarmoscom outros.Oxalá as gerações futuras continuem a saberfalar uns com os outros, comentar a atualidade,sonharem com cartas de amor ou escreverem umpostal de natal para o outro lado do Mundo.Ser ponte e levar as pessoas a outras pessoas.

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O ato de pensar é muito interior efica para cada um. Quando seescreve pensamos sempre emalguém que irá ler, poderá gostar ounão, identificar-se ou pensar mesmoo oposto. Mas o ato de escreverleva a que cada um organize o seupensamento para esta ponte delevar alguma coisa ou alguém possasurgir algum efeito no outro. Algumareação. Já repararam na expressãode alguém a ler uma carta oupostal? Há sempre um efeito desurpresa, de novidade.Também neste tempo de Natal

queremos dar a novidade, aquelaque nasceu numa manjedoura, foicomunicado pelos pastores eanunciada pelos Magos. Muitaspessoas foram atraídas por aquelanovidade, um Menino recém-nascido. E nós neste tempo deadvento será que conseguimos iraté lá? Ainda nos conseguimossurpreender? De que formaescrevemos e anunciamos estanovidade?Que continuemos a levar pessoas apessoas e assim concretizarmos oanúncio.

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Ainda se escrevem postais de Natal. Foi com esta ideia que nasceu odossier que hoje lhe apresentamos no Semanário ECCLESIA, comtestemunhos na 1ª pessoa, como o da escritora Alice Vieira, e muitasimagens, incluindo os postais natalícios do pontificado de Francisco.Muitas mensagens chegam também a Belém, onde o Custódio daTerra Santa, frei Patton, vai passar o Natal pela segunda vez. Ementrevista, fala dos desafios para a paz e o futuro da presença cristãna região.Neste pequeno texto, fica ainda uma sugestão do Plano Nacional deLeitura: “O Verdadeiro Pai Natal”, de Helena Oliveira - O Pai Natalestá muito atarefado a fazer a lista das pessoas que se portaram bemdurante o ano, de acordo com as instruções do Menino Jesus. E, aocontrário do que costuma acontecer, sente-se triste, porque háquem pense que é dele a culpa de muita gente se esquecer deJesus durante o Natal. Mas um encontro inesperado irá fazê-lo ver ascoisas de outra maneira...

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As cartas ao Menino Jesus e as dores

da Terra Santa no Natal de Belém

O franciscano italiano Francesco Patton édesde 2016 o responsável pela Custódiada Terra Santa, que tem como missãodinamizar e zelar pelos lugares santos emJerusalém. Prestes a passar o seusegundo Natal em Belém, esteve emLisboa à conversa com a AgênciaECCLESIA, para falar da realidade que sevive na terra que viu Jesus nascer e ondetantos cristãos vão em busca dos locaismais simbólicos para a sua fé.O religioso nasceu em Vigo Meano, nadiocese italiana de Trento, a 23 dedezembro de 1963. O Custódio da TerraSanta é nomeado pela Ordem dos FradesMenores, com a aprovação da Santa Sé,segundo os Estatutos Pontifícios queregulamentam esta entidade.Centenas de religiosos de váriasnacionalidades trabalham atualmente emIsrael, na Jordânia, no Egipto, Líbano,Chipre e na Síria, zelando por mais de 70santuários e lugares santos.A função principal do Custódio, além deanimar a vida dos frades, é a decoordenar e encaminhar o acolhimentodos peregrinos que chegam a Terra Santaem peregrinação, nas pegadas de SãoFrancisco de Assis. Uma presença que játem 800 anos.

Entrevista conduzida por Paulo Rocha

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Agência ECCLESIA (AE) – Quaissão as suas memórias do Natal emBelém?Frei Francesco Patton – Este é omeu segundo Natal na Terra Santae ali o Natal é especial, tanto pelofacto de ser celebrado onde opróprio Natal começou, sobretudoem Belém, e é especial também pelapresença dos peregrinos queacorreram com um grande desejode poder ver o lugar onde Jesusnasceu, de o tocar, fisicamente, pôra mão na estrela que marca o lugardo nascimento.Para mim, é sempre comoventepoder ver a manjedoura, isto é, apequena capela no interior da Grutada Natividade, onde está amanjedoura e diante do altar dosReis Magos. Poder celebrar ali éalgo muito significativo, porquerecorda como Jesus, que se fezdepois nosso alimento, naEucaristia, desde pequenino éindicado quase como nossoalimento, ao ser colocado namanjedoura.Por isso, o Natal em Belém é algode especial, é algo de particular. Ocontexto, depois, é muito realistas:Jesus nasceu num contexto muitodifícil, num período de grave crisepolítica para a Terra Santa, deentão; ainda hoje, é um momentodifícil para a Terra Santa e,portanto, quem vem e celebra ali oNatal não o celebra de formaartificial, mas celebra-o, de

algum forma, revivendo adificuldade, os desconfortos que opróprio Menino Jesus experimentou? AE – É a dificuldade de um povoque não tem terra para o seu país,a mesma de Jesus, que não tinhaum lugar para nascer?FP – De certa forma sim, é umadificuldade semelhante, mas temosde pensar na dificuldade maior, queé a dificuldade da minoria cristã, quemuitas vezes é apanhada no meio,quando há tensões e dificuldadesentre as duas realidadesmaioritárias. A pequena comunidadecristã, de algum modo, faz realmentea experiência do que significacontinuar, na história, o mistério dapequenez de Deus que se fez carnee que assumiu a nossa fragilidade,todo o risco que está ligado àfragilidade de uma criança. Acomunidade cristã na Terra Santa éum pouco como o Menino Jesus,pequena, frágil, tem certamentenecessidade de ajuda e deproteção. AE – Neste Natal, em particular, tema expectativa de muitos peregrinosnas celebrações em Belém?FP – Nós esperamos que muitosperegrinos venham a Belém. Estivelá no primeiro domingo de Advento ea cidade estava cheia de cristãoslocais

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e de peregrinos. Esperamos que astensões dos últimos tempos nãoarruínem o Natal, de alguma forma,que não haja tensões quedesencorajem os peregrinos de ir,que desencorajem os cristãos acelebrar o nascimento do Filho deDeus na nossa história, na carne.Nós esperamos que as pessoasvenham, pelo Natal, e que essavinda a Belém no Natal ajude amanter o olhar fixo sobre esta terra,este lugar, e de alguma formaajudar, com a presença e a oraçãodos peregrinos, a percorrer ocaminho da paz. AE – Como foi para si passar oNatal em Belém, pela primeira vez?FP – Foi um Natal muito particular,já como Custódio, em 2016. Nestaocasião, como em todos os anos,janta com a nossa comunidadefranciscana de Belém o presidenteda Autoridade Palestina, Abu Mazen,e celebrou-se a Missa de formamuito solene, à meia-noite. Depois,o Natal ali prolonga-se, e omomento em que ele se sente aindamais é na Epifania, porque sesomam as celebrações das váriascomunidades cristãs [segundo oscalendários juliano e gregoriano,ndr] e, portanto, vê-se em toda avolta da gruta de Belém os cristãosque chegam da Ásia, da África, daEuropa… Há a nossa procissão,que somos os latinos, os maiseuropeus; há a

procissão das várias IgrejasOrientais: os coptas, que claramentechegam da África, e depois asIgrejas Ortodoxas, da Ásia. Portanto,no meio de uma aparente, grandeconfusão, na realidade vê-se todo omundo, toda a humanidade que secolocou a caminho para adorar oMenino em quem reconhecemos oSalvador. Eis, esta confusão, porassim dizer, do meu ponto de vista,é muito bonita e muito sugestiva,porque manifesta de forma realaquela que é a busca dahumanidade, o desejo que tem depoder encontrar-se com aqueleMenino.

Nós esperamos que aspessoas venham, pelo

Natal, e que essa vinda aBelém no Natal ajude a

manter o olhar fixo sobreesta terra, este lugar, e dealguma forma ajudar, coma presença e a oração dosperegrinos, a percorrer o

caminho da paz.

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AE – E de que forma é que os aspopulações muçulmanas e judaicasolham para os cristãos nacelebração do Natal?FP – Depende dos vários locais: porexemplo, muitos dos muçulmanostêm devoção ao Menino Jesus, emBelém. De forma especial, asmulheres muçulmanas têm devoçãoà Virgem Maria, vêm visitar a Grutada Natividade e também outrosantuário, pequeno, que é a Grutado Leite,

também ali em Belém, a poucascentenas de metros da Basílica daNatividade, onde se recordaMaria que amamenta o MeninoJesus. Há esta devoção, tambémpor parte dos muçulmanos locais,dos que conhecem a tradição cristã,bem como há uma participação porparte do mundo judaico no que sãoas celebrações nalguns outroslugares, como o santuário de SãoJoão Batista, em Ain Karem, ouNazaré, onde está

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o Santuário da Anunciação. Porocasião da Missa da Noite de Natal,estas pessoas vêm sobretudoporque são atraídas pela beleza doscânticos.Depois, naturalmente, há as nossascomunidades cristãs locais, que sãoas comunidades cristãs de línguaárabe, na sua maior parte, nacontinuidade das comunidadescristãs palestinas. Há tambémpequenas comunidades cristãs delíngua hebraica e comunidades quejá não são assim tão pequenas, asdos trabalhadores migrantes,estrangeiros, que vivem sobretudoem Israel e que vivem e celebram oNatal em Telavive, Jafa, Jerusalémou na Galileia: Nazaré, Haifa,noutros lugares. Isto dá um pouco aideia desta Terra Santa como umlocal que, no Natal, podeverdadeiramente atrair todos.A Custódia é muito mais ampla,também se celebra o Natal noLíbano e na Síria. Em 2016, porexemplo, em Alepo, pela primeiravez, os nossos frades puderamcelebrar o Natal na nossa paróquialatina, sem terem como fundo obarulho das bombas, após cerca de5 anos de guerra na cidade. Esta foiuma experiência muito importantepara os cristãos de Alepo, um sinalde esperança para o futuro.

AE – No Natal celebra-se a vinda doPríncipe da Paz num ambiente quetarda em deixar a guerra…FP – Não seria precisa a vinda doPríncipe da Paz se já existisse apaz… Se reconhecemos em Jesus oPríncipe da Paz, o autor da paz –São Paulo disse “Ele que fez a Paz”– é porque temos a consciência deque a humanidade tem necessidadede paz. E não só na Terra Santa,sabemos muito bem quantosconflitos estão presentes, quantosconflitos subterrâneos existem,quantos conflitos são continuamentealimentados. Esta é a história dopecado da humanidade, o temainimizade, guerra, ódio e pecado éum tema único. Da mesma formacomo o tema paz, perdão,reconciliação, através do dom de sique Jesus fez na cruz.Depois, claramente, existe a paz doshomens, aquele equilíbrio muitofrágil que periodicamente,poderíamos dizer, acalma osconflitos; e há a paz entendida numsentido bem mais profundo, que é apaz no sentido bíblico, a plenarealização do bem que Deus querpara toda a humanidade.

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AE – Nesta celebração do Natal,sentem que todo o mundo olha paraBelém como o local do nascimento,do início da era cristã?FP – Sim. Belém é o início, SãoFrancisco, numa das suas frasesgeniais, disse que em Belém, aonascer, Jesus Cristo começa asalvar-nos. E diz que, por estemotivo, temos de fazer festa demodo extraordinariamente solene,fazer festa não só do ponto de vistareligioso mas também que envolva

todas as criaturas. Por ocasião doNatal, dia do nascimento, dia emque celebramos o nascimento deJesus, São Francisco diz quedevemos dar de comer mesmo aospassarinhos, a todos os animais: aideia de que este nascimento é maisdo que uma data na história, é umamudança profunda na história. ASalvação realiza-se dentro dahistória, dando-lhe um sentido, efazer festa é muito importante. Épreciso que a festa seja plena,completa, total, que seja

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festa religiosa, que voltemos aescutar a Palavra de Deus, que nosconta esse nascimento; que sejaviver o mistério, celebrar; e que sejatambém uma festa que toca arealidade diária, o nosso viver emfamília, para nos fazer percebercomo esse nascimento reconcilioutodo o universo. Eis porque éimportante e bonito fazer festamesmo com os animais, que estãonas nossas casas ou nos jardins. AE – Apesar de tudo, nos últimosanos, nos últimos meses, temaumentado o número deperegrinos?FP – No último ano, aumentou deforma significativa. Desde setembrode 2016 até o início de dezembrodeste ano, os peregrinos forammuito, muito numerosos, podemosdizer com números recorde. Antes,houve um período prolongado desofrimento, de falta de peregrinos eisso para nós é um problema. Aindamais, para nós é um problema paraa pequena comunidade cristã local,porque muitos vivem do seu própriotrabalho, por exemplo em Belém,quando há peregrinos: muitos delestrabalham no artesanato em funçãodos peregrinos. Quem adquireobjetos artesanais em madeira deoliveira, em madrepérola, os terços,as recordações? São os peregrinos.Se

eles faltam, os artesãos locais nãotêm trabalho. Da mesma maneira, oacolhimento dos peregrinos dátrabalho aos cristãos locais, noshotéis, nas pensões, muitas vezescomo guias dos próprios peregrinos.Por isso, quando há peregrinos, hámaior possibilidade de viver dopróprio trabalho para a minoriacristã local, de viver com dignidade.Quando faltam os peregrinos, tudoisto é mais difícil.

Desde setembro de 2016até o início de dezembrodeste ano, os peregrinos

foram muito, muitonumerosos, podemos

dizer com númerosrecorde. Antes, houve um

período prolongado desofrimento, de falta deperegrinos e isso para

nós é um problema.

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AE – Olhando para a atualidade,que consequências terá adeterminação de Donald Trump decolocar a embaixada norte-americana em Israel na cidade deJerusalém?FP – O Papa Francisco já fez umcomentário extremamentesignificativo, usando duas palavrasde convite: sabedoria e prudência.Não tenho nada a acrescentar. Háuma oração muito bonita, no Livroda Sabedoria, no AntigoTestamento, que é a oração deSalomão. Chamado a governar,jovem e com pouca experiência,Salomão reza e diz a Deus: “Dá-mea sabedoria que se senta junto a ti,no trono, para que eu saiba aquiloque te é agradável”.A sabedoria serve para evitardecisões e também palavras poucosprudentes. O dom da prudência, porsua vez, não é o medo de fazeralgo, é uma coisa bem maisprofunda, é uma das virtudescardeais: é precisamente acapacidade de saber avaliar muitobem qual é a palavra dizer, a coisa afazer, o caminho a seguir.Penso que quando o Papa convidouà sabedoria e à prudência, fez umconvite que todos podemos retomare voltar a propor.Todos nós podemos modificardecisões tomadas e mudar

palavras ditas. É preciso procurarsempre ajudar neste percurso eprocesso que é já de si muito frágil,muito difícil, que é o percurso, oprocesso da paz em todo o MédioOriente. Não é só uma questãoIsrael-Palestina, diz respeito aoMédio Oriente e, em perspetiva, atodo o mundo. AE – Acredita que é possível voltaratrás, nesta decisão?FP – Veremos. Não sou um profeta.É muito difícil fazer previsões naTerra Santa, seria um exercíciomeramente teórico. AE – O processo de paz está emcausa, com esta decisão?FP – O processo de paz é semprefrágil, é preciso que seja sempreencorajado, com a consciência deque, sempre que se promove umprocesso de paz, é preciso quecada uma das partes envolvidasperceba que poder chegar a umacordo justo, digno, que nãohumilhe, no fundo, é uma vantagempara todos. Todos os que estãoenvolvidos devem perceber que apaz é conveniente, isto é, que a pazé a que pode garantir um futuro àsduas partes, às crianças quenasceram e que vão nascer.

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AE – Receia que o número deperegrinos diminua?FP – Se houver atos de violência, éprovável que os peregrinosdiminuam. Nós, repito, esperamosque não haja atos de violência,excessivos e por um tempoprolongado. E esperamos que osperegrinos venham, que a suavinda, de alguma forma, contribuatambém para superar este tipo desituação.

AE – Na sua opinião, Jerusalémdeveria ser a capital dos doisEstados, Israel e Palestina?FP – A minha opinião é a que foimanifestada, oficialmente, pelaSanta Sé: a ideia que Jerusalém éuma cidade que pertence a doispovos e a três fés. Por isso, nãouma cidade dividida, mas partilhada,onde possam viver em paz judeus epalestinos e onde possam rezar empaz os que são da religião judaica,da religião cristã e da religiãomuçulmana.

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AE – A Custódia Franciscana daTerra Santa está a celebrar 800anos. Que desafios enfrenta, nestemomento, o que é que faz dapresença dos franciscanos umanecessidade?FP – Nós estamos ali com ummandato específico da Santa Sé,que é o mandato de guardar oslugares santos, ou seja, ossantuários cristãos. Por isso, anossa primeira missão é a deguardar, o que significa tomar conta,de muitos santuários, cerca de 70, etorná-los acessíveis aos

peregrinos, porque os santuáriossão lugares físicos que trazem amemória de uma palavra bíblica, deuma palavra evangélica, de um atodo Evangelho. Isto é evidente:Nazaré é o lugar da Anunciação,Belém é o lugar do nascimento, oCalvário é o lugar da crucifixão, oSepulcro é o lugar da ressurreição.São lugares que têm umaimportância extraordinária para anossa fé de cristãos.Além de tomar conta destes lugarese de os tornar acessíveis aosperegrinos,

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para uma experiência de fé pessoal,a nossa missão, que foi confirmadapelo Papa Francisco, é tambémcuidar da pequena comunidadecristã local. Por isso, temos aresponsabilidade pastoral de muitasparóquias, das principais paróquiascatólicas na Terra Santa – bastapensar em Nazaré, Belém eJerusalém – e temos também umcuidado pastoral com outrasrealidades, como por exemplo asescolas. Temos cerca de 15escolas, com mais de 10 milestudantes, que são um dos lugaresnos quais a convivência é possível,dado que a maior parte dos alunossão muçulmanos, mas certamente

ganham uma maior abertura dementalidade e convivência.Depois há todas as obras sociais,em favor da comunidade cristã local,como pôr ao dispor das famíliascasas, apartamentos, bem como asobras em favor dos trabalhadoresestrangeiros. Nestes anos, tambéma proximidade à população – cristã,em primeiro lugar, mas também osoutros – da Síria, durante a guerra.A nossa presença foi constante,mesmo durante estes anos, osirmãos ficaram ao lado dapopulação, mesmo colocando emrisco a sua própria vida. Os desafiossão estes, ligados a uma missãohistórica, mas também a uma missãopastoral que coincide com aquiloque as pessoas vivem no seutempo.

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AE – O que é que pede, aoscristãos de todo o mundo, nesteNatal?FP – Os meus votos para oscristãos de todo o mundo é que, dealguma forma, embora vivendo amilhares de quilómetros de Belém,consigam encontrar no interior dassuas casas pelo menos um cantoonde haja uma recordação da grutade Belém, onde haja o presépio,com aquela gruta onde Jesusnasceu. E que, sobretudo, nãofaltem as personagens principais, aspersonagens principais não são oburro e a vaca, são o Menino Jesus,Nossa Senhora e São José. Que oMenino Jesus consiga entrar emtodas as nossas famílias.O Natal lembra-nos que não bastafazer festa um dia, mas que épreciso, realmente, permitirque esta criança nos acompanheao longo de toda a vida, é precisodeixar que ela cresça.

AE – Costumam recebermensagens, das várias partes domundo, para o Menino Jesus, emBelém?FP – Sim, na verdade recebemos –mais do que mensagens em Belémpara o Menino Jesus -, recebemosmensagens por parte de famíliasque pedem o dom dos filhos,sobretudo na Gruta do Leite, estelugar que é muito próximo da Grutada Natividade. Chegam muitíssimascartas de jovens casais, de famíliasque pedem, por intercessão deMaria e do Menino Jesus, o dom depoder ter filhos. Depois são muitasas cartas que chegam a agradecer,é algo muito bonito que em Belémse peça isto, que se peça parapoder acolher a vida.

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“Demoro a escolher postais para cadapessoa”

Escrever sempre foi a vida de AliceVieira. Primeiro nos jornais depoisos livros. Desde sempre os postais.É

assim que a escritora, conhecidapelos seus livros infantis, fala daescrita de postais, iniciativa que lheocupa

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muito tempo nesta época queantecede o Natal mas que se vaiprolongando por todo o ano.Nasceu em 1943 em Lisboa, foicriada com os tios avós e o gostopela escrita veio desde criança.“Foi-me ensinado que no Natal seescrevia e mandava um ‘postalzinho’às pessoas a desejar boas festas e,desde aí, continuei sempre aenviar”, assim descreve Alice Vieiraà Agência ECCLESIA comocomeçou este gosto pela escrita depostais.“As pessoas já não sabem o que éou para que serve um postal,imagine!”, graceja e apressa-se acontar um episódio passado numbalcão dos correios onde alguémperguntava o que era parapreencher no sítio onde dizia‘remetente’.A escritora sente que se foiperdendo o significado de escreverum postal ou uma carta mas é orosto de quem contraria essatendência e tem mesmo amigos comquem ainda se corresponde duasvezes por semana. Também escrevemuitos postais a quem não conhece,só porque lhe enviam e “sente aresponsabilidade de dar resposta”.Nesta época do Natal Alice Vieiraintensifica a escrita, especialmentede postais, e “são mais pessoas aescreverem-me, muitas doestrangeiro.”

Recebe postais típicos do Natal,feitos pelos próprios autores,postais com arte aplicada e postaiscom presépios africanos enviadospelos Missionários Combonianos,com quem colabora.Apesar da quadra natalíciaacontecer todos os anos a escritoradefende que “há sempre maneirasde dizer uma frase diferente” eescolhe muito bem os postais aenviar.“Escolho muito bem os postais,passo muito tempo a escolher umpostal para cada pessoa, sei do quegostam e demoro… Ao menosnaquele bocadinho em queestivemos a escolher e a escreveraquelas linhas sabem que estivemosa pensar neles, estiveram na nossacabeça e no nosso coração, e isso émuito importante”.Apesar de demorar muito a escolheros postais, Alice Vieira contraria afrase “a imagem vale mais do quemil palavras” sublinhando que a“palavra tem muita força e às vezesas frases pequenas têm muitaimportância”. Conforme a conversa sedesenrolava Alice Vieira escreviapostais e comentava que nãogostava da sua letra, “é o que fazescrever só a computador e nestaaltura é que escrevo mais à mão”,justifica.Pertence à organizaçãoPostcrossing e alia o prazer daescrita ao envio (e receção) depostais do Mundo inteiro. Explicaque um dos conselhos dados

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é “se não sabe o que escrever nospostais fale da vida ou do tempo”,assim pode começar umacorrespondência de postais quepode durar anos.“As pessoas não sabem o que é umpostal depois nem sabem o queescrever, para mim era impensável”,desabafa a escritora que adoraescrever acerca do seu país econhecer mais de outros lugares etradições.É madrinha de uma iniciativa que“mete postais”, os PresentesSolidários, da Fundação Fé eCooperação, e farta-se de “comprarpostais e oferecer no Natal aosnetos e aos amigos, sendo estauma forma solidária”.Antes da conversa com a Ecclesiapassou pela caixa do correio e de látrouxe dois postais em tons devermelho, bem ao jeito natalício, umda Alemanha e outro da Lituânia. Édesta forma que vai conhecendooutros países e até tem acontecido“conhecer pessoalmente essaspessoas” quando vêm visitarPortugal, por sua indicação.Postais especiais? Alice Vieira temmuitos mas há dois que sedestacam. Um que está bemguardado em casa, o primeiro postalde Natal que o marido lhe escreveu(que ainda não era marido naaltura).

“Eu guardo tudo e até o podia terrasgado, não sabia que ia ser meumarido, mas depois todos os postaisque ele me enviava eram especiais;todos tinham um barco, talvez porele ser de Ílhavo”.O outro postal especial é do filho,que anda sempre na sua carteirapara onde quer que vá.“É um postal do meu filho que andasempre comigo; tinha uns 7 ou 8anos e foi a um torneio de xadrezem Coimbra, enviou um postal, ondese lê ‘Mãe, não tenho nada para tedizer’ mas ao menos escreveu”,conta a rir-se.A escritora orgulha-se ainda de terconseguido passar esta tradição deescrever postais aos netos, “elessempre me escreveram postais”mas, falta-lhe escrever um postal auma pessoa.“Ainda não escrevi um postal aoPapa Francisco mas um dia destesescrevo, é uma daquelas pessoasextraordinárias; talvez este Natal lheescreva.”Ficou o desejo de escrever, sem ternada pensado ainda, masconsiderando que poderia ser umpostal “com uma pintura talvez daJosefa de Óbidos, que tem unsMeninos muito bonitos”.Com o desafio colocado paraescrever um postal aosportugueses, Alice Vieira contou quepoderia escrever a palavra “alegria,uma palavra

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que anda tão esquecida a ver sedava alento a todos”.Adepta da escrita de postaisdurante todo o ano Alice Vieiraremata mesmo que “por mim oscorreios nunca vão à falência”.

Para a Agência ECCLESIA tambémdeixou um postal escritoenaltecendo a escuta, “um dosmelhores presentes que podemosdar (e receber) no Natal”.

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Postais solidários

Mais de 2 mil criançasacompanhadas por instituições deapoio à infância vão ter este ano umNatal diferente, com aquelepresente que mais desejam, atravésda campanha ‘Pai Natal Solidário’dos CTT, que qualquer pessoapode apadrinhar.Em declarações à AgênciaECCLESIA,

o diretor de comunicação e demarca dos CTT, Miguel SalemaGarção, realça que se trata de umainiciativa que os CTT assumem “comgrande responsabilidade social” eum sentido de “cidadaniaempresarial”. E um projeto que querbeneficiar uma das mais delicadasáreas da sociedade,

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que é “as crianças em risco,realizando os seus desejos deNatal”.A campanha do ‘Pai NatalSolidário’ é promovida desde2009, e envolve mais de duasmil crianças, de cerca de meiacentena de instituições,públicas ou particulares, deapoio à infância.Os mais novos, com idade até12 anos, são convidados aescrever um postal de Natal,onde incluem os seus desejospara esta quadra.Depois os CTT ajudam aconcretizar esses pedidos como envolvimento da sociedadecivil, já que qualquer pessoapode consultar os postais eapadrinhar uma criança,ajudando-a a concretizar o seudesejo.O projeto vai prosseguir até dia06 de janeiro, e nesta altura jáforam apadrinhadas cerca de65 por cento das cartasenviadas pelos mais novos.Para o diretor de comunicaçãoe de marca dos CTT, esta émais uma prova de que “osportugueses são um povo

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muito solidário e que sempre que échamado a dizer presente paraajudar o próximo diz sim”. “Os CTTtêm sido um veículo, atravésdaquela que é a sua rede de lojas ede distribuição, para disponibilizaraos portugueses a possibilidade deajudar quem mais precisa. Nestecaso concreto, criançasdesfavorecidas à guarda de instituições de solidariedade”, realçaMiguel Salema Garção.Assim que os presentes sãoentregues pelos padrinhos nos CTT,“são logo enviados” para ascrianças, de forma gratuita. “Todosos anos as crianças têm tido o seudesejo de natal realizado, ou seja,as cartas são sempre apadrinhadasa 100 por cento e acreditamos queeste ano não será exceção”, realçao mesmo responsável, que adiantaainda que por razões de segurançaos mais novos “nunca sabem quemlhes dá o presente, nem quem dásabe a quem deu”.Sobre o tipo de presentes que estãoa ser oferecidos, ou que dominamosdesejos das crianças, “osbrinquedos continuam a dominar” ospedidos natalícios dos mais novos,principalmente “os que estão namoda”.

Desde “os legos aos peluches”,passando pelos “nenucos” e“colunas e auscultadores para ouvirmúsica”.Entre as cerca de 50 instituiçõespúblicas ou particulares que estãoenvolvidas na campanha ‘Pai NatalSolidário’ encontram-se váriosorganismos ligados à Igreja Católica,a dioceses e congregaçõesreligiosas.Como o Centro Comunitário daParóquia de Carcavelos; a SantaCasa da Misericórdia de TorresNovas; a Obra do Padre Américo –Casa do Gaiato de São Miguel, emPonta Delgada, nos Açores; e o LarObra do Padre Gregório, em Sintra. Os postais das crianças podemtambém ser apadrinhados numaseleção de 25 lojas CTT espalhadaspor Portugal continental e pelosarquipélagos dos Açores e daMadeira. “Por isso é que podemos dizer que oPai Natal Solidário somos todosnós”, completa Miguel SalemaGarção.

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O Papa também envia postais

O Papa Francisco prepara-se paracelebrar o seu quinto Natal noVaticano e tem mantido a tradiçãode imprimir imagens e cartões quecomeçou há 45 anos, com Paulo VI.

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Acredito em postais

Acredito em postais. Tenho 30 anose, desde que me lembro, osescrevo. Creio até que têm umaforça divina de cura etransformação.O ensino primário foi o verdadeiroculpado de tal gosto! Escrevíamospostais no Dia da Mãe, no Dia doPai, no Dia do Amigo e até no Diados

Namorados. Lembro-me que, paranão dar parte fraca, escrevi umpostal no Dia dos Namorados... àminha tia! Imenso apreço por estaarte. A magia que, ainda hoje, meenternece e fideliza encontra-se nasua elaboração, personalização eentrega.Continuei pela adolescência fora a

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perpetuar este prazer de osescrever. Produzia-os para o amigosecreto e para a família e amigos naaltura do Natal. A beleza de umcartão delicadamente dobrado,decorado com uma ilustração quefizesse sentido e, especialmente,com espaço em branco paratransformar o que vai na alma emhumildes palavras. Sem dúvida, amelhor oferta que podia dar a quemamava.Já em adulta recordo queuma blogger retomou esta tradiçãoatravés do Polar Post Crossing, amaior troca de postais de natalentre membros da blogosfera. Aí odesafio adensou-se pois a missãopassava por oferecer um postal aalguém que não conhecíamos. Foibonito e encantador. Colocar omelhor que tinha no mágico cartão edeixá-lo alegrar o dia, quiçá a vida,do meu próximo.Quem me diz que só os redijoporque tenho muito tempo livre estácompletamente enganado. Continuoa

redigir postais porque visualizomentalmente o sorriso de quem osrecebe e a alegria no seu rosto.Assim é fácil que o coração se ligueà caneta e tudo flua. Continuo apersonalizar postais porque acreditoque é a melhor forma de investir omeu tempo em quem melhora aminha vida diariamente. Continuo aentregar postais surpresa porquesei que a vida é feita de memórias eexperiências. Passe o tempo quepassar ninguém as pode roubar seforem eternizadas num mágicocartão redigido e ilustrado pela forçado amor. E o que dizer de osreceber? Uma delícia. A certeza defelicidade genuína.Tornem o vosso Natal mais intenso.Redijam postais de gratidão.Redijam postais de amor e amizade.Personalizem as vossas emoções.Perpetuem a beleza imensa de umatradição tão rica, poderosa eregeneradora. Um Santo Natal.

Cecília Vigário

Postcrossing

Este é um projeto que permite às pessoas interessadas enviar postais erecebê-los de outras pessoas, de forma aleatória, em todo o mundo.Postais físicos, não eletrónicos. Os interessados precisam de umamorada e de uma “identidade postal” para responderem às mensagensque lhe forem chegando.A iniciativa está disponível online, em https://www.postcrossing.com/

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Tavira expõe o Natal em Postal

Numa época em que muitos dizemque a tradição já não é o que era, oArquivo Municipal de Taviraorganiza e acolhe, entre 18 dedezembro e 05 de janeiro, entre as10h00 e as 13h00 e as 14h00 e as17h00, a exposição “O Natal emPostal”.Uma mostra que inclui postais deNatal do espólio da CâmaraMunicipal, assim como outros dacoleção particular de Délio Lopes.Esta procura recordar uma tradição,que embora mantida por poucaspessoas, tem vindo a ser substituídapelo uso das novas tecnologias.Símbolo de um passado recente, opostal de Natal, além de assinalaruma época religiosa e familiarespecial, representa também a obrade alguns artistas conhecidos edesconhecidos que pela sua arteprocuraram transmitir valoressempre atuais.

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Acenda uma vela virtual

http://www.acendaumavela.orgEntrados já na reta final decelebrarmos o nascimento do Deusque se fez Menino, esta semanasugiro que acenda uma vela! Narealidade o desafio não é lançadopor mim, mas pela fundação Ajuda àIgreja que Sobre (AIS). Esta ideiabaseia-se na premissa de que “avela é o símbolo de Cristo queressuscitou para iluminar o nossocaminho". Esta organizaçãodependente da Santa Sé, fundadaem 1947 pelo Padre HolandêsWerenfried van Straaten, inspiradana mensagem de Fátima, tem por“objetivo apoiar projetos de cunhopastoral em países onde a IgrejaCatólica está em dificuldades”.Ao digitarmos o endereço

www.acendaumavela.org, somosconvidados a acender uma vela poruma intenção, a rezar pelos cristãosque sofrem, a criar um grupo deoração e ainda a adquirir velas.Ao clicarmos em “acenda uma vela”,podemos acender uma vela virtualonde, além de preenchermos osdados pessoais, nos é dada apossibilidade de escrevermos umpequeno texto que é visualizado na“nossa vela”, sendo aindanecessário definir qual a suaintenção.Na opção “velas acesas”,encontramos uma fantásticaaplicação que nos permite ver todasas velas que já foram acesas,inclusive podemos aceder àmensagem que cada um colocouquando a acendeu.

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Caso pretenda saber quais osgrupos de oração que já foramcriados ou eventualmente adicionarmais um, basta clicar em “grupos deoração”. Aí descobre que já estãodisponíveis alguns gruposinteressantes, mas especialmente,existe um que está enquadrado nacampanha de Natal da AIS, quereverte a favor dos cristãosperseguidos e necessitados doIraque.Em “donativo”, somosreencaminhados para a página dafundação que nos informa dasdiferentes formas de ajudar milhõesde cristãos, que “são perseguidos eameaçados por não renunciarem à

sua fé, em 137 dos países pobresdo mundo”.Por último, outra forma de colaborarcom a AIS será na aquisição develas, desta feita reais, ou qualqueroutro produto que está disponívelna sua loja virtual, para isso acedaao espaço “loja”.Aqui fica uma sugestãocompletamente gratuita e que apelafortemente ao espírito cristão detodos nós, pois como sabemos“desde as origens da Igreja que asvelas são utilizadas como forma deoração”.

Fernando Cassola [email protected]

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Paz e Futuro da HumanidadeO ministro da Defesa Nacional, JoséAzeredo Lopes disse, esta quarta-feira, em Lisboa, no lançamento daobra ‘Paz e Futuro da Humanidade’,que a paz como virtude “estásempre presente na lógicadiscursiva da Igreja”. Mesmo emsituações que “não era nada fácilfalar em paz”, quando os “tamboresda guerra estavam a soar”, osPapas mais recentes estavam“sempre do lado da paz” e “da“resolução pacífica dos diferendos”,referiu à Agência ECCLESIA.Para o ministro da Defesa, o PapaFrancisco tem uma visão “muitopragmática” dos “deveres da Igreja”no mundo contemporâneo, no qualé fundamental “praticar os verbosacolher e integrar” em relação aosmigrantes e refugiados.Atualmente, os processosmigratórios convocam “associedades e as democracias” paraum dever que é “fundamental nãoesquecer”: a Europa “foi sempre”uma “terra de acolhimento”.Em relação à obra ‘Paz e Futuro daHumanidade’, com a chancela daPaulus Editora e prefácio dopresidente da RepúblicaPortuguesa, Marcelo Rebelo deSousa, Azeredo Lopes realça que é“um contributo

importante” sobre a temática da paz.As fronteiras da paz convocam para“desafios difíceis” e, nos tempos quecorrem “ainda é mais difícil” porqueem décadas anteriores a paz era“apenas a ausência de guerra”. “Háuma noção mais rica de paz do quea mera ausência de conflito” e queestá relacionada com “a pobreza,miséria e tragédias de ausências degovernação” sublinhou.Já o bispo das Forças Armadas e deSegurança, D. Manuel Linda,considera que é fundamental o“coração” das pessoas “saberacolher e promover” a paz. Para quea paz não seja uma utopia éessencial “eliminar a violência, fomee condições precárias”, frisou.“Uma condição humana degradantenão favorece a paz”, alertou D.Manuel Linda, sublinhando que seuma situação é “humanamentenegativa” corre-se o risco de “umaforte instabilidade”.Para este responsável, o mundo foisempre de “contínuas mutações”,por isso é fundamental “deixar atacanhez de lado” e desmontar a“mentalidade negativista”, afirmou“Alguns consideram que osmigrantes são invasoreseconómicos”, todavia

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D. Manuel Linda pede para que sedesmonte esta “visão negativa efalsa”.O livro ‘Paz e Futuro daHumanidade’ é o resultado dasintervenções de um semináriorealizado no grande auditório daAcademia Militar, no campus daAmadora, e tem a chancela daPaulus Editora.Nesta obra recolhem-se os “textospronunciados no seminário «Paz efuturo da Humanidade”», quedecorreu no grande auditório da

Academia Militar, no Campus daAmadora.Esse evento contou com aparticipação de Marcelo Rebelo deSousa, general Rovisco Duarte, D.Manuel Linda, Constança Urbano deSousa, José Alberto de AzeredoLopes, D. Rino Passigato, D.António Marto, Marcos Perestrelo,D. Jorge Pina Cabral, D. SifredoTeixeira e do coronel Nuno LemosPires, acrescenta o comunicado.

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Dezembro 201716 de dezembro. Vaticano - Concerto de Natal ajudacrianças e jovens na RepúblicaDemocrática do Congo e naArgentina . Sardoal - Centro Cultural GilVicente - No âmbito da quadranatalícia e com o intuito deenaltecer a fé e a religiosidade quecaracterizam o concelho de Sardoal,o Centro Cultural Gil Vicente terápatente, até 27 de janeiro de 2018,a exposição «Presépios de Portugal– O Imaginário Tradicional». . Lisboa - Alfragide (Igreja da DivinaMisericórdia), 06h30 - Paróquia deAlfragide prossegue com tradiçãomadeirense da Missa do Parto . Porto - Casa de Vilar, 10h00 -Encontro do Movimento deEducadores Católicos com o tema«Um sentido do Advento para osnossos dias» orientado pelo padreRui Santiago, redentorista. . Tomar - Auditório do CentroPastoral, 15h30 - Lançamento daobra «Portugal Católico - A belezana diversidade»

. Lisboa - Basílica dos Mártires,18h30 - Bênção das grávidasintegrada na iniciativa «Presépio dacidade» . Porto - Igreja de Nossa Senhorado Carmo, 21h30 - Concerto deNatal na Igreja de Nossa Senhora doCarmo . Coimbra - Igreja de São José,21h30 - Cáritas Diocesana deCoimbra promove concerto de Natalcom olhar especial para as vítimasdos incêndios 17 de dezembro. Fátima - Concerto de Natal com aBanda Sinfónica Portuguesa e CoroInfantil da Academia de Música deCosta Cabral com direção deFrancisco Ferreira. . Braga - Basílica de São Bento daPorta Aberta, 17h00 - A Basílica deSão Bento da Porta Aberta (Diocesede Braga) vai acolher um concertode Natal. . Vila Real – Poiares, 17h30 - Salesianos de Poiares fazem umPresépio Vivo

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. Viana do Castelo – Sé, 18h00 - Bênção das grávidas presidida porD. Anacleto Oliveira, bispo de Vianado Castelo 18 de dezembro. Leiria – Sé, 21h00 - A Cáritasdiocesana de Leiria e a JuntaRegional do Corpo Nacional deEscutas vão promover amanifestação pública da campanha«10 Milhões de Estrelas – Um Gestopela Paz» e a celebração da «Luzda Paz de Belém». 19 de dezembro. Lisboa - Biblioteca Nacional, 18h00- A obra «A ordem das ordensreligiosas: roteiro identitário dePortugal (séculos XII-XVIII)»,daautoria de Fernanda Maria Guedesde Campos, vai ser apresentada noauditório da Biblioteca Nacional dePortugal, em Lisboa.

20 de dezembro. Bragança, 18h00 - Lançamento daobra «Portugal Católico - A belezana diversidade» . Guarda, 21h30 - Lançamento daobra «Portugal Católico - A belezana diversidade»

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II Concílio do Vaticano: Paulo VInão queria uma Igreja fechada,imóvel e egoísta

Com a criação dos 27 novos cardeais, no consistóriode 22 de fevereiro de 1965, o Papa Paulo VIesclareceu que a sua intenção não “era tanto fazercrescer o esplendor da estrutura externa” da Igrejamas dilatar “a comunhão interna da Igreja”. Aos novoscardeais, o seguidor da obra iniciada pelo Papa JoãoXXIII realçou: “O que quisemos aumentar, não foi o seupoder falaz, mas sim o seu valor espiritual”.Devido à distância entre os vários organismos, o PapaMontini pretendeu mostrar uma maior proximidadeentre estes, tal como o espírito de “dedicação eserviço”. No fundo, foi intenção do grande construtordo II Concílio do Vaticano (1962-1965) reforçar a“unidade e a vida da Igreja através de uma autoridademais representativa”.Mais do que dar aos cardeais “novas honras eprivilégios”, Paulo VI pediu-lhe “novos serviços”porque o “peso e a complexidade” do governo centralda Igreja estavam a aumentar.50 anos depois, o Papa Francisco disse palavrassemelhantes, no último consistório (14 de fevereiro de2015), aos 20 novos cardeais, onde estava incluído obispo de Lisboa, D. Manuel Clemente. “A dignidadecardinalícia é certamente uma dignidade, mas não éhonorífica”, disse o Papa argentino na homilia. Aofalar da caridade, o Papa Bergoglio sublinha que esta“não é invejosa, não é arrogante nem orgulhosa” e as“próprias dignidades eclesiásticas não estão imunesdesta tentação”.Na alocução aos novos cardeais, o Papa Paulo VIdesenvolveu “mais claramente o seu conceito de

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autoridade, relacionando-a com oserviço de unidade” (Cf. Boletim deInformação Pastoral; nº 37-38;Março-Maio de 1965; Página 41). OPapa Montini tem consciência decomo o exercício da autoridade “é,por vezes, impopular”. Daí que aintrepidez, a coragem deva ser umadas virtudes dos cardeais: “aceitai,igualmente este dom pelo que podeter de impopular e de pesado. Quenão vos desagradem estas palavrasque vos dirigimos no decurso dascerimónias: Deveis mostrar-vosintrépidos. Hoje, o encargo degovernar os outros é acompanhadode grandes esforços espirituais”.

No discurso acutilante que serveigualmente para os dias de hoje, oPapa Paulo VI salienta que estessão “mais do que nunca necessáriose providenciais” mesmo no interiorda Igreja. O Papa que deu corpo aoII Concílio do Vaticano não quer quea Igreja seja “um redil fechado,imóvel, egoísta e exclusivo”, mas umrebanho “aberto, multiforme, comlargueza ilimitada e polivalente dacaridade”.O Papa Francisco não se cansa defazer os mesmos pedidos, mesmopara o interior da Igreja. Os novoscardeais escutaram as suaspalavras…

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A Presidência da República vai receber a partir dedomingo uma exposição de desenhos sobre a visita doPapa a Fátima, por ocasião do Centenário dasAparições, criados por crianças internadas emserviços de pediatria do país. A Cáritas diocesana de Leiria e a Junta Regional doCorpo Nacional de Escutas vão promover, dia 18 destemês, a manifestação pública da campanha «10Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz» e acelebração da «Luz da Paz de Belém». A obra «A ordem das ordens religiosas: roteiroidentitário de Portugal (séculos XII-XVIII)»,da autoria deFernanda Maria Guedes de Campos, vai serapresentada no próximo dia 19, às 18h00, no auditórioda Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa. Por estes dias, a música faz companhia e gera oambiente que marca a quadra natalícia. Veja a agendada Agência ECCLESIA, as agendas culturais deparóquias e autarquias e escolha um concerto deNatal. Vai encontrar, por certo, uma ocasião excelentepara viver o Natal

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h30Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa

Domingo:10h00 - Porta Aberta;11h00 - Eucaristia; Segunda-feira:12h00 - Informaçãoreligiosa Diariamente18h30 - Terço

RTP2, 13h00Domingo, 17 dedezembro - "O NossoNinho" - Uma Associaçãocom 50 com alternativas para mulheres em situaçãode prostituição Segunda-feira, dia 18 dedezembro 15h00 - Entrevistaa Ana Patrícia Fonseca eEugénia Quaresma sobre oDia Internacional dosMigrantes Terça-feira, dia 19 de dezembro, 15h00 -Informação e entrevista João Francisco Gomes,vencedor do prémio de jornalismo Dom Manuel Falcão Quarta-feira, dia 20 de dezembro, 15h00 -Informação e entrevista a Paulo Aido sobre o Natal doscristãos perseguidos. Quinta-feira, dia 21 de dezembro, 15h00 -Informação e comentário à atualidade Sexta-feira, dia 22 de dezembro, 15h00 - Entrevista. Comentário à liturgia do domingo pelocónego António Rego e padre Armindo Vaz Antena 1Domingo, 17 de dezembro 06h00 - III Domingo doAdvento: a Alegria no percurso do monsenhor VitorFeytor Pinto. Segunda a sexta, 18 a 22 de dezembro - Alfabetodo Advento

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Ano B – 3.º Domingo do Advento Viver alegresna esperança

Os textos bíblicos deste 3.º Domingo do Adventogarantem-nos que Deus tem um projeto de salvação ede vida plena para propor aos homens e para os fazerpassar das trevas à luz.Na primeira leitura, um profeta ungido pelo Espíritoanuncia um tempo novo, de vida plena e de felicidadesem fim, um tempo de salvação que Deus vai ofereceraos pobres.Na segunda leitura, Paulo diz-nos qual a atitude que épreciso assumir enquanto se espera o Senhor quevem. O convite é bem concreto para todos nós: viveisempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todasas circunstâncias, não apagueis o Espírito, nãodesprezeis os dons proféticos, conservai tudo o quefor bom, afastai-vos de toda a espécie de mal, acolheio Deus da paz que vos santifica totalmente.O Evangelho apresenta-nos João Batista, a voz queprepara os homens para acolher Jesus, a luz domundo. Que significa isso para nós?Implica abandonar a mentira, os comportamentosegoístas, as atitudes injustas, os gestos de violência,os preconceitos, a instalação, o comodismo, aautossuficiência, tudo o que desfeia a nossa vida, nostorna escravos e nos impede de chegar à verdadeirafelicidade.Implica olhar para Jesus, pois só Ele é a luz e só Eletem uma proposta de vida verdadeira para apresentaraos homens. À nossa volta abundam propostas defelicidade que nos seduzem, manipulam e nos deixaminfelizes. Só Jesus é a luz que liberta os homens daescravidão e das trevas e lhes oferece a vidaverdadeira e definitiva.Implica pensarmos sobre a forma de Deus atuar na

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história humana e sobre asresponsabilidades que Deus nosatribui na recriação do mundo. Deusnão utiliza métodos espetaculares eassombrosos para intervir na nossahistória e para recriar o mundo; masEle vem ao nosso encontro paranos envolver no seu amor atravésde pessoas concretas, com umnome e uma história, pessoasnormais a quem Deus chama e aquem confia determinada missão. Atodos nós, seus filhos, Deus confiauma missão no mundo, dartestemunho da luz e de tornarpresente, para os nossos irmãos, aproposta libertadora de Jesus.

Levemos a Palavra para o coraçãodo nosso quotidiano, em esperançae alegria. O nosso olhar sobre osoutros e sobre o mundo devecontinuar a ser transformado nestaterceira semana de Advento: passarda contestação à bondade, procurarter uma expressão de sorriso emcada encontro, saudar o outro comoum irmão que Deus ama e desejar-lhe todo o bem que Deus quer paraele. A alegria cristã não está aonível de um otimismo simplista, mascoloca a esperança, possível ecredível pela Palavra feita carne, nocoração da vida quotidiana.

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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A comovente história de um jovem que sonhava serpadre

O santo que fazia geladosNasceu nos Camarões numafamília muito pobre. Aos cincoanos já sonhava ser missionário.Ainda criança, fazia gelados delimão para ajudar os pais asobreviver. Morreu a poucosdias de ser ordenado padre,numa cama de hospital, com ocorpo corroído com tumores.Começou logo aí a sua fama desantidade… “É um santo!” O médico, quando viuo estado em que se encontravaJean-Thierry, já amputado de umaperna e com o cancro a avançar aum ritmo alarmante, não tevedúvidas em afirmar que estavaperante alguém excepcional. “Umsanto.” Jean-Thierry nunca sequeixava das dores lancinantes quesentia. Não se queixava de terperdido a perna, não se queixavade nada. Sempre com um sorriso,só queria curar-se para poder serordenado sacerdote. Era um sonhoantigo, tão antigo como asmemórias mais longínquas queconseguia recuperar. Ainda criança,Jean-Thierry deslumbrou-se com osmissionários que passavam pelasua aldeia e sonhou ser como eles.Jean-Thierry Ebogo nasceu a 4 deFevereiro de 1982 em Bamenda,nos Camarões, no seio de umafamília cristã muito

pobre. Desde cedo sobressaltou-secom a necessidade de ajudar ospais no desafio da sobrevivência dodia-a-dia. Que poderia ele fazer?Pouco. Afinal era apenas umacriança. Apesar disso, juntavalimões, que havia por ali e faziagelados que depois ia vender para arua. Nos dias de Verão, quando opó se misturava com o calor, osgelados de Jean-Thierry faziamsucesso. Simpático, sempredisponível, amigo dos seus amigos,Jean-Thierry tornou-se popular emBamenda. Todos gostavam dele.Todos disputavam a sua amizade.Até as raparigas. Ele, porém, tinhaapenas um propósito: ajudar osseus pais e tornar-se sacerdote,imitar Jesus em todos os instantesda sua vida. Tumor malignoAos 21 anos, decidiu que erachegado o tempo de seguir a vidareligiosa. Ingressou no convento dosCarmelitas Descalços de Nkoabang.Um ano depois, foi admitido nonoviciado. Passou a ser Jean-Thierry do Menino Jesus e daPaixão de Cristo. Ele não sabia, nempoderia imaginar, mas estavaprestes a viver um calvário

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tremendo. Poucas semanas depoisde ser admitido no noviciado, foi-lhedetectado um tumor maligno naperna direita. Os médicosmostraram-se impotentes perante aviolência do tumor. Para salvarJean-Thierry foi necessárioamputar-lhe a perna. Mas nem issoestancou a doença. Era necessáriofazer algo mais e decidiram entãoenviar o jovem carmelita para Itália.Foi em 2005. Quando o viu, pelaprimeira vez, o médico não tevedúvidas de que estava perantealguém excepcional. Aquele jovem,com o corpo cheio de metástases eque nunca abandonava o sorriso norosto, que só pedia que o curassempara ser ordenado sacerdote, nãoera uma pessoa vulgar. Só queriaser ordenado sacerdote para imitarmelhor a vida de Jesus. Graças auma dispensa, fez os votosperpétuos em 8 de Dezembro de2005, na festa da ImaculadaConceição, na presença da mãe,que viajou propositadamente desdeos Camarões para assistir àquelemomento tão importante na vida dofilho. Ambos sabiam que seriaprovavelmente, muitoprovavelmente, a última vez queestariam juntos. A mãe não podiaficar mais tempo pois o visto depermanência estava prestes acaducar. Quando se despediram, Jean-Thierry agradeceu-lhe o domda vida. “Mamã: lembra-te de queme ofereceste a Deus quandonasci…”

Dias depois, morreu. As suas últimaspalavras foram: “Que belo é Jesus!”Nunca chegou a ser ordenadosacerdote mas a sua missão aindanão terminou. A forma comoassumiu todas as dores da doençae a vontade férrea de se entregar aDeus emprestaram-lhe uma fama desantidade que não tem parado decrescer. O seu processo debeatificação foi finalizado, a níveldiocesano, em 2014. Desde então,ele é um “Servo de Deus”. Naverdade, ele foi sempre um servo deDeus. Mesmo quando vendiagelados. Mesmo quando apenassorria aos outros…

Paulo Aidohttp://www.fundacao-ais.pt

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Os ganhos do acolhimento

Tony Neves Espiritano

Sábado, dia 9, em Roma, Francisco falou dostempos novos que vivem as migrações: ‘Novosrostos de homens, mulheres e crianças,marcados por tantas formas de pobreza eviolência, estão novamente diante de nossosolhos e esperam encontrar, em seu caminho,mãos estendidas e corações acolhedores’. Diriamais tarde que ‘os migrantes precisamcertamente de boas leis, de programas dedesenvolvimento e organização; mas precisamsobretudo de amor, amizade e proximidade;precisam de ser ouvidos, olhados nos olhos eacompanhados; precisam de Deus, encontradono amor gratuito de uma mulher que, com ocoração consagrado, é irmã e mãe’, apelando àpastoral do mundo migrante como algo a tomarmuito a sério.Sim, há que combater a globalização daindiferença perante os dramas alheios, tãomediatizados que o mundo fica cansado de osver nos ecrãs e perde capacidade de sair dosofá e intervir.O Dia Mundial dos Direitos Humanos, quecelebramos a 10 de Dezembro, apontou paratodas as periferias e margens da história, lá ondeas pessoas não vêem a sua dignidadereconhecida nem os seus direitos maiselementares respeitados. E, claro está, aquitambém entram os migrantes, obrigados a deixaras suas terras e partir à procura da segurança econforto que não conseguiam ter e os impedia deviver com dignidade.O Papa Francisco, na Mensagem para o DiaMundial da Paz de 2018, faz uma abordagemoriginal

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deste tema quente das migrações.Depois de reconhecer que é acto decaridade acolher migrantes erefugiados, o Papa lembra que osimigrantes são pessoas valiosasque vêm enriquecer os povosacolhedores com os talentos queDeus deu e a experiência de vidaque traz. Ora, vista deste ângulo, aimigração pode ser um ganhoenorme para os povos querecebem, sendo – como é óbvio –um enriquecimento para quem éacolhido.O Natal está à porta. O Menino que

nasce em Belém é perseguido logoa seguir, segundo contam asEscrituras Sagradas. A experiênciaque faz, com os pais, no Egipto, foide salvação para os três mas, decerteza absoluta, de enorme ganhopara quem privou lá com eles…ounão privassem com o Filho de Deus,com Maria e José!O Advento é um tempo forte deesperança, de terraplenarcaminhos, de conversão aos valoresdo Evangelho. Abrir as portas aquem bate é obra de misericórdia esinal de evidente fraternidade.Ousemos!

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