Papa lembra - agencia.ecclesia.pt · O chão de Jerusalém, o chão da nossa cidade agora”,...

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04 - Editorial Octávio Carmo06 - Foto da semana07 - Citações08 - Nacional14 - Internacional20 - Semana de... Luis Filipe Santos22 - Dossier Via-Sacra e Páscoa24 - Entrevista D. António Francisco dosSantos

72 - Estante74 - Cinema76 - Multimédia78- Agenda80 - Por estes dias82 - Programação Religiosa83 - Minuto Positivo84 - Liturgia86 - Fátima 201790 - Fundação AIS92 - LusoFonias

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AGÊNCIA ECCLESIA Diretor: Paulo Rocha | Chefe de Redação: Octávio CarmoRedação: Henrique Matos, José Carlos Patrício, Lígia Silveira,Luís Filipe Santos, Sónia NevesGrafismo: Manuel Costa | Secretariado: Ana GomesPropriedade: Secretariado Nacional das Comunicações Sociais Diretor: Padre Américo AguiarPessoa Coletiva nº 500966575, NIB: 0018 0000 10124457001 82.Redação e Administração: Quinta do Cabeço, Porta D1885-076 MOSCAVIDE.Tel.: 218855472; Fax: [email protected]; www.agencia.ecclesia.pt;

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Opinião

80 anos da RádioRenascença[ver+]

Papa lembramártiresmodernos[ver+]

Entre a Via-Sacrae a Ressurreição[ver+] Octávio Carmo| Luis Filipe Santos |Francisco Perestrello | FernandoCassola Marques | Manuel Barbosa |Paulo Aido | Tony Neves

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Vida, Verdade e Liberdade

Octávio Carmo Agência ECCLESIA

Ninguém escolhe o dia do seu aniversário efesteja-se quando ele calha, como é natural.Acontece que este ano o Papa emérito Bento XVIcelebra 90 anos de vida precisamente noDomingo de Páscoa, a festa da ressurreição,apresentada na sua obra ‘Jesus de Nazaré’ comoo elemento decisivo para decidir se “a fé cristãfica de pé ou cai”.Bento XVI considera que a ressurreição de Jesusfoi “a evasão para um género de vida totalmentenovo, para uma vida já não sujeita à lei do morrere do transformar-se, mas situada para além disso– uma vida que inaugurou uma nova dimensãode ser homem”.Outra curiosidade: o dia 16 de abril de 1927,quando Joseph Ratzinger nascia numa pequenalocalidade alemã, era um Sábado Santo. Umavida marcada, por isso, desde o seu início pelomistério pascal, pelo anúncio da vitória divinasobre a morte, do amor sobre o ódio, da bênçãosobre a maldição.A existência humana é assim resumida nestaperegrinação de fé do sábado santo para aPáscoa. Uma proposta de fé em que o amor e averdade se encontram, na liberdade.Celebrar a ressurreição de Jesus é voltar aonúcleo mais fundamental e decisivo da fé cristã.Essa essencialidade, a relevância dessa fé nummundo em profunda mutação, será, porventura,a mais preciosa e duradoura lição do teólogoJoseph Ratzinger, chamado a ser cardeal e bispode Roma, hoje Papa emérito.

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Na sua obra ‘Jesus de Nazaré. DaEntrada em Jerusalém até àRessurreição’, cuja leitura pode seruma boa companhia para ospróximos dias, Bento XVI apresentaas palavras e acontecimentosdecisivos da vida de Cristo, umDeus que sofre e um homem emluta contra o poder da sua época,que o condenaria à morte.O Cristo de Joseph Ratzinger não é

um revolucionário político ou umsimples reformador, menos aindauma personalidade religiosafalhada, como o próprio definiriaJesus de Nazaré, caso este nãotivesse ressuscitado. “Que Jesustenha existido só no passado ou,pelo contrário, exista também nopresente depende da ressurreição”,afirma. Uma reflexão para a Páscoade hoje e de sempre.

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O terrorismo voltou a tocar também o desporto, com um atentadoantes do jogo Borussia de Dortmund – Mónaco @ Martin Meissner /

Reuters

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- “O Sínodo é para todos os jovens, nenhum devesentir-se excluído. Vocês são os protagonistas. Mastambém os jovens que se sentem agnósticos? Sim!Também os que têm uma fé menos consolidada? Sim,e também os que estão mais afastados da Igreja, osque se sentem ateus”Papa Francisco, sobre o Sínodo dos Bispos que vaiser dedicado aos jovens em 2018 (08.04.2017) - “Não esvaziemos as palavras, nem desperdicemos otempo. Não nos distraiamos de Deus, não nosdistraiamos dos outros, nem, afinal, de nós. - É precisoque a Páscoa não chegue só no calendário!”D. Manuel Clemente, cardeal-patriarca de Lisboa(10.04.2017) - “No coração das relações entre os nossos doispaíses e povos estão as pessoas, estão osportugueses que descendem de cabo-verdianos,estão os cabo-verdianos que vão para Portugal. Estãoos portugueses que vêm trabalhar para Cabo Verde eos portugueses que visitam Cabo Verde. Estãotambém aqueles que sentem proximidade em relaçãoa Cabo Verde e a Portugal”Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da RepúblicaPortuguesa (11.04.2017) - “Obviamente que estou solidário com o queaconteceu na terça-feira em Dortmund, com aspessoas que ficaram assustadas. Não quero pensarmuito sobre isso e é preciso manter o foco no nossotrabalho e naquilo que temos de fazer em campo”José Mourinho, treinador português do ManchesterUnited (12.04.2017)

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Papa celebra 80 anos da RádioRenascença

O Papa Francisco enviou umamensagem à Rádio Renascença porocasião da celebração dos 80 anos,nesta segunda-feira, congratulando-se com o trabalho “de exceção” queo grupo tem desenvolvido napromoção da “entreajuda fraterna”.“O Papa Francisco saúdacordialmente a grande família da‘Rádio Renascença’ em festa pelos80 anos da sua criação,congratulando-se com o trabalho dequantos, ao longo destes anos, têmservido a Igreja através do trabalhodiário deste meio de comunicação

social”, lê-se na mensagem enviadapelo substituto da Secretaria deEstado do Vaticano, D. AngeloBecciu.Na mensagem, o Papa valoriza otrabalho da Rádio Renascença emPortugal e no “imenso mundolusófono”, onde tem levado “oEvangelho de Jesus”, “semeando nocoração da humanidade aentreajuda fraterna e a misericórdiade Deus”.Francisco afirma que, no “papel donarrador da boa notícia”, a RádioRenascença “aparece como artistade exceção” e “assegura uma prece

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pela fecundidade das suas múltiplasiniciativas evangelizadoras”.O Grupo Renascença Multimédiacelebrou 80 anos de existência,assinalados com uma emissãoconjunta das quatro rádios dogrupo, Renascença, RFM, MegaHits e Rádio SIM, pela manhã, umaeucaristia presidida pelo cardeal-patriarca de Lisboa, D. ManuelClemente, e uma sessão dehomenagem aos colaboradores há25 anos na empresa.A mensagem do Papa Francisco foilida nas instalações do GrupoRenascença Multimédia pelo núncioapostólico (embaixador da SantaSé) em Portugal, D. Rino Passigato.O presidente do Conselho deGerência da RenascençaMultimédia defendeu que o “grandedesafio" do grupo é do digital,mantendo o mesmo cariz“empreendedor e muito inovador”dos fundadores, há 80 anos.“Estamos a desenvolver umprograma de transformação digitalpara sermos capazes de encararesses desafios com a juventude queestes 80 anos nos permitemtestemunhar no mercado”, disse opadre Américo Aguiar à AgênciaECCLESIA.Em entrevista ao programa Ecclesia,

na RTP 2, o sacerdote explicou queo Grupo Renascença Multimédiaquer desenvolver a produção deconteúdos, nomeadamente emvídeo, e assinala que as redessociais são concorrentes àprodução de conteúdos clássicos. Opresidente do Conselho deGerência do Grupo RenascençaMultimédia apontou também comodesafio para o futuro “desenvolver aRenascença V+”.No sítio na internet da emissoracatólica portuguesa, acrescenta,pode ver-se uma “grandecapacidade” de conteúdos deimagem e o Grupo assume comoprioridade desenvolver mais esseproduto para “quem sabe, nofuturo”, a Renascença, para além darádio, ser “a imagem que osportugueses escolhem” para vermuitos dos acontecimentos dasociedade portuguesa.

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Projetos de inovação na Catequese O Departamento da Catequese, doSecretariado Nacional da EducaçãoCristã (SNEC), promoveu aapresentação de projetos de“inovação catequética”, de váriasdioceses, na sessão ‘Umacomunidade fraterna e missionária’no encontro nacional do setor, noSeminário de Santarém. “Juntospensemos em temáticas com que sepossam enriquecer os itinerárioscatequéticos”, foi o repto dacoordenadora do Departamento deCatequese, Cristina Sá Carvalho,que falou também sobre o percursorealizado nos últimos anos.A Diocese de Viana do Casteloapresentou o projeto ‘CatequeseFamiliar ’, que procura que “acatequese saia de si para quepossa responder à sua missão”. “Aoenvolvermos a família no processocatequético fazemos com que toda acomunidade crente interaja entre sie se torne, ela própria missionáriaporque abarcamos todas asdimensões do ser crente”, explicouo padre Vasco Gonçalves.Segundo o sacerdote, o modelo decatequese e familiar “exige epromove” um novo modelo decatequese porque estimula os

crentes “a tornarem-seprotagonistas conscientes ecomprometidos com o bem comumde toda a sociedade”, divulga oportal EDUCRIS, da ComissãoEpiscopal da Educação Cristã eDoutrina da Fé.O 56.º Encontro Nacional daCatequese foi promovido peloDepartamento da catequese doSecretariado Nacional da EducaçãoCristã (SNEC), da ConferênciaEpiscopal Portuguesa, e tem portema ‘Família - sujeito ativo deCatequese’.Do Porto foi partilhada a ‘Catequeseintergeracional’, que chega “àsperiferias”, e Isabel Oliveiraobservou que o modelo decatequese familiar “implica a todos econvoca à corresponsabilização”. “Acatequese intergeracional provocaprocessos e propõe itineráriospartindo da catequese comoiniciação”, divulga o EDUCRIS.

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É preciso que a Páscoa não chegue só no calendárioO cardeal-patriarca afirmou estedomingo, na Sé de Lisboa, que aSemana Santa não pode ser vividacom “sentimentos fugazes edistrações periféricas” e advertiupara o risco de a Páscoa chegar “sóno calendário”. “Não esvaziemos aspalavras, nem desperdicemos otempo. Não nos distraiamos deDeus, não nos distraiamos dosoutros, nem, afinal, de nós. - Épreciso que a Páscoa não cheguesó no calendário!”, disse D. ManuelClemente na homilia da Missa doDia de Ramos.Para o cardeal-patriarca de Lisboa,esta semana é “para celebrar” e“para cumprir”, com hossanas abrotar “bem de dentro do coraçãoconvertido”. “Dirijamo-los a Jesusque passa, tanto em si mesmo,constante 'Deus connosco', comonaqueles que nos esperam, outrostantos apelos de Deus”, sublinhouD. Manuel Clemente.“E quanto mais simples, comuns ecorrentes na circunstância dos diasque se seguem, mais seassemelharão a Jesus queprossegue, naquele jumentinho emque os seus pés tocavamcertamente o chão. O chão deJerusalém, o chão da nossa cidadeagora”, acrescentou.

O cardeal-patriarca de Lisboa disseque os hossanas da atualidadedevem corresponder “a maisdisponibilidade” para reparar nosoutros e “mais cuidado emcorresponder-lhes”. “Sigamos comJesus até ao Gólgota, mas como oCireneu, e ainda mais como assantas mulheres, que não Odeixaram até ao fim. Cada umadestas atitudes, nem por seremespiritualmente intensas, deixarãode ser eminentemente práticas, noque nos couber a cada um”,sublinhou D. Manuel Clemente.A Igreja Católica iniciou com oDomingo de Ramos a SemanaSanta, onde recorda os momentoscentrais da vida de Jesus Cristo,vividos em celebrações únicas aolongo do Ano Litúrgico, e tambémem expressões públicas da Paixãode Jesus, em muitas localidades.

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A Agência ECCLESIA escolhe sete acontecimentos que marcaram aatualidade eclesial portuguesa nos últimos dias, sempre atualizadosem www.agencia.ecclesia.pt

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Seia: Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima visitou 28 localidadesdo arciprestado

«As sete últimas palavras de Cristo na cruz» por Luís Miguel Cintra 13

Papa evoca mártirescontemporâneos

O Papa Francisco vai rezar emRoma pelos "novos mártires" dosséculos XX e XXI, numa iniciativamarcada para 22 de abril, anunciouo Vaticano. "No sábado, 22 de abril,pelas 17h00 [menos uma emLisboa, ndr], o Santo PadreFrancisco vai deslocar-se à Basílicade São Bartolomeu, na Isola

Tiberina, para celebrar a Liturgia daPalavra com a Comunidade deSanto Egídio, em memória dos'novos mártires' dos séculos XX eXXI", refere uma nota do diretor daSala de Imprensa da Santa Sé, GregBurke.Esta terça-feira, a comunidadecatólica de Santo Egídio promoveuem Roma

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uma vigília ecuménica de oração,especialmente dedicada aos“mártires cristãos” da Igreja Coptado Egito, que foram alvo de umatentado no último domingo.O ataque a duas igrejas coptas noEgito provocou pelo menos 50mortos e dezenas de feridos.“Ao fazer memória dos nomes e dashistórias das vítimas, a Comunidadede Santo Egídio quer tambémrecordar as palavras do PapaFrancisco: Hoje, no século XXI, anossa Igreja é uma Igreja demártires”, realçou o serviçoinformativo da Santa Sé.O Papa condenou no domingo oataque contra a igreja de São Jorge,na cidade de Tanta, cerca de 100quilómetros norte do Cairo. “Ao meucaro irmão, sua santidade o PapaTawadros II, à Igreja Copta, e a todaa querida nação egípcia envio asminhas sinceras condolências. Rezopelos mortos e feridos, estoupróximo dos familiares e de toda acomunidade”,

declarou, no final da Missa a quepresidiu na Praça de São Pedro.“Que o Senhor converta o coraçãodos que semeiam terror, violência emorte, e também o coração dos quefazem e traficam as armas”, apelouFrancisco.O ataque aconteceu durante acelebração do Domingo de Ramos,que marca o início da SemanaSanta no calendário cristão. Já apósa intervenção do Papa, um ataquecontra a igreja de São Marcos, emAlexandria, provocou mais mortos eferidos.As comunidades cristãos do Egitorepresentam cerca de 10% dapopulação, com destaque para aIgreja Copta Ortodoxa, e têm sidoalvo de vários ataques deextremistas islâmicos.O Papa Francisco vai visitar o Cairode 28 a 29 de abril, numa viagempela paz que prevê um encontrocom o grande imã de al-Azhar, amais prestigiada instituição do Islãosunita.

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Páscoa como momento de esperançaO Papa Francisco disse no Vaticanoque a celebração da Páscoa, nopróximo domingo, deve reforçar amensagem de esperança e de amordo Cristianismo. “Nesta Páscoa,somos chamados a seguir oexemplo de Nosso Senhor. O maioramor é aquele de quem se entregasem reservas e dá tudo o que tem.O que se coloca ao serviço dosoutros é semente de esperança”,referiu, na audiência públicasemanal que decorreu na Praça deSão Pedro.“Quem poderia imaginar que aqueleque entrou triunfante na cidade teriasido humilhado, condenado e mortona cruz?”, questionou.A Igreja Católica começa estaquinta-feira a celebrar os dias maisimportantes do seu calendáriolitúrgico, que assinalam osmomentos da morte e ressurreiçãode Jesus, culminando na Páscoa.“Queridos irmãos e irmãs, nestesdias, dias de amor, deixemo-nosenvolver pelo mistério de Jesus que,como grão de trigo, morrendo nosdá a vida. Ele é a semente da nossaesperança”, declarou Francisco.O Papa falou de Jesus crucificado

como “fonte de esperança” e deixouaos peregrinos um “trabalho decasa” para os próximos dias. “Vaifazer-nos bem contemplar oCrucifixo - todos vós tendes um emcasa -, olhar para ele e dizer-lhe:‘Contigo nada está perdido. Contigoposso sempre esperar. Tu és aminha esperança’”, apelou.No final do encontro, Franciscosaudou os peregrinos de línguaportuguesa, com menção particulardos fiéis de Braga, aos funcionáriosda Câmara Municipal de Gondomare aos membros da UniversidadeSénior de Lousada. “Tomai comoamiga e modelo de vida a VirgemMaria, que permaneceu ao pé dacruz de Jesus, amando, também Ela,até ao fim. Quem ama passa damorte à vida: é o amor que faz aPáscoa. A todos vós e aos vossosentes queridos, desejo uma serenae santa Páscoa”, desejou.

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Via-Sacra no Coliseu de Romarecorda vítimas da violênciaAs meditações da Via-Sacra a que oPapa vai presidir esta Sexta-feiraSanta no Coliseu de Roma evocama “banalidade do mal”, numaproposta da teóloga francesa Anne-Marie Pelletier. “São inúmeros oshomens, as mulheres e até ascrianças abusadas, humilhadas,torturadas, assassinadas, sob todasas dimensões do céu e em cadamomento da história”, refere o textoda biblista, a primeira mulher a serdistinguida com o Prémio JosephRatzinger, uma espécie de Nobel daTeologia.As reflexões para as 14 estaçõesque evocam momentos dojulgamento, condenação e execuçãode Jesus Cristo apresentam-se comuma proposta diferente em relaçãoao esquema tradicional destascelebrações, para evocar apresença do mal na humanidade.“Trata-se do nosso mundo, comtodas as suas quedas e os seussofrimentos, os seus apelos e assuas revoltas, tudo aquilo que clamaa Deus, hoje, a partir das terras demiséria ou de guerra, nas famíliasdilaceradas, nas prisões, nasbarcaças sobrecarregadas demigrantes”, sustenta.Anne-Marie Pelletier cita SantaCatarina da Siena, a judia EttyHillesum, o teólogo ortodoxo

Christos Yannaras e o pastorDietrich Bonhoeffer, entre outros.A Via-Sacra do Coliseu de Romarecorda ainda os mongesassassinados em Tibhirine, setereligiosos trapistas sequestrados emortos na Argélia em 1996. “À prece«Desarmai-os!», ajuntavam asúplica: «Desarmai-nos!»”, refere aautora.Para a biblista francesa, eranecessário que “Jesus Cristotrouxesse a ternura infinita de Deusaté ao coração do pecado domundo”. “Era necessário que adoçura de Deus visitasse o nossoinferno; era a única maneira de noslivrar do mal”, acrescenta.A 14ª estação reflete sobre ‘Jesusno sepulcro e as mulheres’, rezandopelas mulheres “mulheres quehonram, neste mundo, a fragilidadedos corpos que elas circundam dedoçura e consideração”.

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Igreja vive Semana Santa

«O Sínodo será para todos os jovens, também os agnósticos e ateus»

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O homem «aumentado»

D. Manuel Linda Bispos das Forças Armadas e Forças de Segurança

A cultura ocidental, de base eminentementeeuropeia, anda há duzentos anos a «alargar» ohumano: com a Revolução francesa, a tentativade transformar toda a pessoa em cidadão; omarxismo, reconduzindo a si mesmo o indivíduo«alienado» pela propriedade privada; Nietzsche eos sistemas políticos que o seguiram, propondo aeliminação dos débeis para que apenas vingasseuma sociedade de «super-homens»; o século XX,libertando a mulher e a criança; actualmente,com a biologia molecular, as nanotecnologias e arobótica, as tentativas de prolongarindefinidamente o seu arco vital e alargar paraalém de toda e qualquer fronteira a inteligência,mesmo que recorrendo à artificial.Há que saudar as tentativas sérias de promovero humano integral, pois Deus não nos criou paraficarmos, eternamente, “homens das cavernas”.Também por aqui passa a fronteira entre apessoa e os animais: enquanto estescontinuarão na perene fidelidade ao que sempreforam, a pessoa está dotada de específicas“sementes de verdade” que a projectam parauma “imagem e semelhança” cada vez maisparecida com o ser do Criador.Evidentemente, este processo não é linear: pelomeio, registam-se imensos exageros, desvios,oscilações, erros, tropeções, hecatombes. Oxaláse aceite sempre corrigir o trajecto, aceitar asabedoria da moral, não perder de meta avocação eterna da pessoa. Doutra forma, aindaque seja notório que a história humana é, defacto, uma

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«história de salvação»,continuaríamos a topar com milhõese milhões de vítimas, como opassado regista. E porquê?Porque muitos construtivistaspretendem fazer com que, no pratoda balança, quanto mais pesa aciência, mais desapareça o peso damoral, da fé e da religião. E fica o«homem unilateral», reduzido àquímica do DNA e aos impulsoseléctricos dos seus neurónios. Oudos seus instintos.A visão religiosa, que não retiranada do processo deengrandecimento da pessoa,sublinha um outro dado: o homemnão é o mero resultado da suainteligência e projectos, mas aqueleser relacional a quem Deus

revela a sua acção salvífica e, porela e nela, compreende o sentido dasua existência. Sim, o homem é oser relacional que não se entende àmargem de Deus e do seu irmão.Fora disto, fica mero repositório dealguns elementos químicos ou umpunhado de cinza de crematório.Para mim, Jesus, o Cristo, é ohomem completo e o protótipo detodo o homem. É Aquele que semdesprezar qualquer dimensão dohumano, vive, no mais alto grau,essa relação com Deus e com osirmãos. Por isso, Deus Oressuscitou dos mortos a Ele queentregou a vida para nossasalvação.N’Ele e com Ele, Santa Páscoa.

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Na perseguição aos cristãos,a Páscoa de Jesus

José Luís Gonçalves Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti

Enquanto lê estas linhas, um grupo demissionários cristãos poderá ainda estar aaguardar a execução da pena de mortedecretada por extremistas num país do MédioOriente. A notícia recebida ontem à noitedespertou, primeiro, sentimentos de desalento ede impotência, tendo-se transformando, depois,num sentido silêncio orante. A esta distância,resta-nos denunciar mais esta atrocidade, orarpor aqueles/as homens e mulheres e reconhecer,agradecidos, o seu testemunho de fé no martírioassumido.Esta notícia toca-nos por sabermos quem integraeste grupo. No entanto, somos confrontadosdiariamente com notícias de perseguição e mortede cristãos. Só nos últimos dias, registaram-seatentados bombistas a duas igrejas coptas noEgito que provocaram, pelo menos, 50 mortos edezenas de feridos e foi noticiada a decisão dasautoridades indonésias, por receio de atentados,decretarem o encerramento temporário ao cultode três igrejas cristãs na Ilha de Java. Aperseguição e morte dos cristãos é de tal ordempreocupante que o Papa Francisco marcou para22 de abril p.f., em Roma, uma jornada deoração pelos "novos mártires" dos séculos XX eXXI.Os factos e os números não mentem: só no anode 2016, mais de 7 mil cristãos, quase o dobrodo ano anterior, foram mortos por razões de fé.As ONG de referência nesta área (Ajuda à Igrejaque Sofre;

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Portas Abertas; InternationalSociety for Human Rights, etc.)estimam que 80% da discriminaçãoreligiosa que acontece atualmenteno mundo é realizada contra oscristãos. No relatório World WatchList 2017, a “Portas Abertas” afirmaque cerca de 215 milhões decristãos no mundo sofremperseguição absoluta, extrema ousevera. Em termos absolutos, estenúmero constitui o maior de todosos tempos!As ONG apontam algumas dasrazões da perseguição e doassassínio de cristãos, hoje:fundamentalismo religiosotransformado em violênciaextremista; governos cada vez maisxenófobos que desejam contentarpovos de tradições culturais ereligiosas monolíticas; autoridadesque fecham os olhos à violência .

exercida pelas maiorias étnicassobre as minorias; donos donarcotráfico e grupos económicosque dominam governos omissos empaíses fechados ao exterior e emque tudo é permitido. Em certospaíses, a conjugação de umdeterminado conjunto de fenómenosreligiosos, sociais, culturais,económicos pode significar a mortepara muitos cristãosEsta realidade não é, infelizmente,nova. A partir de Jesus perseguido,morto e ressuscitado, a história daIgreja foi, desde a origem, umahistória de martírio, ao ponto de serconsiderada a forma de santidademais venerada: nas comunidadescristãs emergentes, os mártirestinham prioridade sobre osapóstolos. Por isso, podemosafirmar que, hoje, na perseguiçãoaos cristãos, a Páscoa de Jesuscontinua bem viva!

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Diálogos e cumplicidades comBernini

Luis Filipe Santos Agência ECCLESIA

Quem entra na grandiosidade da capital italianae no minúsculo Estado do Vaticano não podeficar indiferente com a expressividade escultóricade Bernini ou com a luz inconfundível das telasde Caravaggio.Quando se calcorreia – qual andarilhoesfomeado – as ruas, pontes e praças de Romaestamos sujeitos a tropeçar na beleza ondulantedas pedras modeladas pelo artista barroco. Oolhar atento obriga-nos a respirar as fragânciasdo perfume esculpido. O estático tem movimento.Toda a escultura de Bernini apresentapanejamentos volumosos, agitados edescompostos. A expressividade daspersonagens e a representação das figuras emmovimento confere-lhe um dinamismo único.Cada obra do artista italiano é um autênticopalco cénico. Quando se chega à Praça de SãoPedro ficamos deslumbrados com o trabalhorealizado por Bernini (1598-1680). Estando nolocal sentimos um espaço circular com umavanço retangular que nos conduz à basílica deSão Pedro. Todavia, estamos perante uma ilusãoperspética. O espaço circular que visualizamos éelítico e o espaço retangular é um trapézio.Através de uma foto aérea, as duas formasjuntas assemelham-se a uma fechadura.Quando o Papa Francisco percorre – às quartas-feiras – aquela «fechadura» dá sinais à Igreja.Quer as portas abertas… Quer uma Igreja empermanente saída… Quase me apetecia dizer:Francisco foi esculpido por Bernini e fugiu dopedestal. O calor gestual do Papa Francisco é real, noentanto

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é pena que as palmas, bandeiras emáquinas fotográficas absorvam achama daquela fogueira andante.Naquele «argentino» tudo nasce deforma e brilho natural. O escritorfrancês, Paul Claudel (1866-1955),escreve que «As grandes verdadessó se comunicam através dosilêncio» e o Papa Francisco com asua linguagem gestual e sorridentedeixa marcas pictóricas no silênciodos dias.Descemos a Via dellaConciliazione… Mais uns passos eencontramos, na ponte deSant’Angelo, autênticas obras-primas do artista barroco. Anjos que abençoam os transeuntese

as águas do rio Tibre. O caminhanteolha deslumbrado… Sabendo quepassado algum tempo vaidesembocar na Praça Navona. Bemno centro daquele local turístico, afamosa fonte dos quatro rios, daautoria do escultor italiano, bloqueiao pensamento. A fonte representaos quatro grandes rios do mundo, orio Danúbio (Europa), rio Nilo(África), rio Ganges (Ásia) e o rioPrata (América). Representaçõesdramáticas, tipicamente do barroco,que se apoiam na rocha central detravertino.Lorenzo Bernini persegue ocaminhante na capital italiana.

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A Igreja Católica prepara-se para celebrar os momentos centrais docalendário litúrgico, evocando os mistérios da morte e ressurreição de Jesus

Cristo, o núcleo fundamental da fé proposta aos homens e mulheres detodos os tempos. O Semanário ECCLESIA apresenta nesta edição uma

entrevista ao bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, numaconversa em torno da ressurreição que se alarga ao missionário redentorista

Rui Santiago. Antes, evocando o caminho da Paixão, uma série de 14situações que dão rosto às Vias-Sacras da humanidade de hoje em todo o

mundo.

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FOTOS: João Lopes Cardoso

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«Páscoa é um acontecimento que secelebra na transformação do mundo» Falar de ressurreição num mundo em guerra, numa sociedade em crise, fazmais sentido do que nunca. A convicção é do bispo do Porto, D. AntónioFrancisco dos Santos, que em entrevista à Agência ECCLESIA perspetiva acelebração da Páscoa como festa de misericórdia, de bondade, de bem-aventurança para todos os que sofrem.

Entrevista conduzida por Paulo Rocha Agência ECCLESIA (AE) – Como seresolve o aparente conflito entre oque se inaugurou há dois mil anos eque tarda em se concretizarsobretudo pelos constantes conflitose atentados que vamos observandoe, paradoxalmente, até nestes diasde Semana Santa e Páscoa?D. António Francisco (AFS) – APáscoa é, se o pudéssemos dizerdesta forma simples, o apelo divinoque bate à porta do humano. Essaporta do humano é a porta domundo, mas também do nossocoração, da vida das famílias, daexistência das comunidades e é aporta dos desafios da história e dospovos.Por isso, este aparentecontrassenso de proclamarmos avida e cantarmos a vitória da alegriada Páscoa, nesta manhã de vitóriaem que Cristo ressuscitou dosmortos e nos reconduz à vidaperante um mundo

que tantas vezes vive envolvido emtragédias e em morte. É por issomesmo que Deus continua a bater ànossa porta.A Páscoa é esse apelo insistente aque saibamos celebrar a vida esaibamos contruí-la, que saibamosdefendê-la, que saibamos promovê-la e saibamos salvaguardar tambéma paz. AE – Apesar de todos os cenáriosde morte que temos diante de nós?AFS – O Papa Francisco tem-nosajudado, cada vez mais, acompreender que mesmo nas horasem que os sinais da morte afligem eatormentam o mundo, é necessárioproclamar o sentido e o horizonte davida e da esperança.Ele dizia isso mesmo aos jovens, aprimavera é a estação da juventude.Penso que a vida é também amelhor forma de celebrar a Páscoa.

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AE – Basta essa proclamação?AFS – Basta a proclamação se fordepois coerente e consequente. AIgreja tem hoje esse desafio: saberouvir o apelo de Deus e traduzi-lona vida e nas obras do seu dia-a-dia. Fazer que as obras, o trabalho,o testemunho da vida de cada umde nós e da vida das nossascomunidades seja consequente como que proclamamos na fé. A Páscoaé essa oportunidade.A Páscoa acontece depois determos feito um longo itinerário, emque na celebração, por exemplo, daCeia Pascal, acreditamos natransformação que a Eucaristiaproduz. E isso leva-nos também apreocuparmo-nos, a construirmosum mundo em que haja pão eacolhimento para todos.Na Sexta-feira Santa vivemos passoa passo o caminho de Jesus esabemos que não há caminhohumano se não for vinculado aosofrimento da Cruz. Mas a vida nãoacaba ai. A vida não acabou com amorte.E, depois, no silêncio, nesse silênciointerior que tantas vezes a Igrejanos oferece, concretamente nesteCentenário das Aparições deFátima. É a voz interior dasimplicidade das

crianças e a voz da mãe de Deusque vem acordar o mundo para queo caminho da paz tenha de seconstruir.Agora, dando passos nessecaminho, podemos ver para lá dohorizonte da morte. A Páscoa traz-nos essa porta aberta ao anúnciofeliz da ressurreição e é isso que seproclama na tarde do Domingo dePáscoa, batendo a todas as portas,procurando abrir todos os coraçõese anunciando que Cristo ressuscitoue, por isso, não há razão para omedo, não há razão para o terror,não há razão para a violência. Nãohá mais campo, nem devia havermais tempo para a injustiça e para adestruição e para a morte. AE – Esse é o problema:infelizmente, continua a injustiça e amorte. Apesar de tudo crentes e nãocrentes podem estar certos queesse desígnio de vida acontece nahistória, no percurso de cada um?AFS – Penso que sim. E esse é umgrande anúncio que a Páscoa notraz: A Páscoa é anúncio feliz doscristãos para construírem um mundofeliz. É o anúncio das bem-aventuranças que tiveram em Cristoa voz mas também o testemunho e aressonância. Aquele

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que anunciou que ‘felizes são ospobres, os mansos, os humildes, ospacíficos, os construtores da paz, osque se empenham no campo dajustiça’ é aquele que ressuscita e,com a sua vida, diz-nos que épossível contruímos uma vida novae

transformarmos o mundo.A Páscoa não é apenas umacontecimento que se celebra noíntimo das igrejas, tem de ser umacontecimento que se celebra natransformação no mundo que aIgreja está empenhada em realizar.

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A prepotência e as razõespara as guerrasAE – Nessa convicção que atitudeter diante de atentados que vãopovoando, cada vez mais, ascidades da Europa, por exemplo?AFS – Temos de ter a capacidadede dizer não à violência, de dizerque é tempo de construir a paz,como já (Papa) Paulo VI oproclamava na ONU, em outubro de1964. AE – E isso depende?AFS – Isso depende de cada um denós. E é tempo também de

trabalharmos mais pela liberdadereligiosa para que o respeito portodos seja capaz de abrir campo aque nos sintamos mais próximos emais irmãos.É tempo de dizer aos nossosgovernantes que deve terminar aconstrução, a proliferação dasarmas, que devemos, sobretudo,salvaguardar o direito à vida detodos e promover os que maissofrem, aqueles que não têmcondições de justiça. Porque oclamor dos povos é, muitas vezes, arazão para que se sinta estainstabilidade no mundo.A prepotência não tem sentido, não

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tem valor, não tem lugar e não podeser a razão determinante dasinjustiças e das guerras.Creio que aquilo que está aacontecer hoje no mundo é muitotambém por um deficit de educação,de acolhimento e de integração depovos, de grupos e de etnias queforam rejeitados durante muitotempo, que depois se transmitemaos filhos e aos netos estarepresália pelas atitudes queaconteceram aos seus pais e avós. AE – Acha que grupos de tradiçãoislâmica, aos quais muitas vezes seatribuem atos suicidas, têm na suaorigem essa falta de educação massobretudo a afirmação daprepotência.AFS – Quando fragilizamos aeducação para os valores, para orespeito, não apenas para atolerância, mas para a construçãoda fraternidade, que é muito maisdo que tolerância, para o respeitopelas diferenças e pelasdiversidades, abrirmos os horizontesa um mundo complexo mas ummundo completo.O que determina muitas vezes estasdecisões incompreensíveis é quedispensamos os outros, recusamosos outros, marginalizamos os outrosquando todos somos necessáriospara construir este mundocomplexo,

mas completo e belo na diversidadee na diferença. Na capacidade denos sentirmos mais próximos masmais irmãos.O Papa Franciscos diz-nos nãosejamos alfândegas onde aspessoas ficam nas fronteiras, dooutro lado, ficam barradas de trásdos muros que construímos, massejamos uma casa paterna onde seacolhem os filhos e os irmãos,sendo diferentes mas respeitando-os. Essa é a beleza da família e éassim que se tem de construir ediversidade e beleza dos povos.A Páscoa diz isso: saímos para foradas igrejas a anunciar a todos nãopara pretendermos sermos osúnicos, mas para dizer que temosum contributo a dar. A Igreja é essecontributo que quer dar, é essaresposta de Deus traduzida emlinguagem humana num rostoatento, num cuidado para com osmais pobres, os mais simples, paracom os que mais precisam. Antes dejulgarmos seja quem for devemosestender a mão aqueles que maisprecisam de ser recebidos, de seracolhidos.A situação dramática desta guerraaos pedaços, como diz o PapaFrancisco, só pode ser resolvida poresta capacidade de misericórdia, debondade, de bem-aventurança…

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AE – É para gerações?AFS – É para gerações. Mas aeducação começa em criança, e sequeremos construir um mundomelhor amanhã, comecemos já hoje.E a Páscoa é hoje para que possaser todos os dias e acontecersempre! AE – Que receio lhe causa o conflitosírio e afirmação progressiva deduas potencias em conflito?AFS – Um grande receio. Primeiroque possa ser contágio para outrospovos, para outras situações emque a violência e a guerra e osconfrontos

mesmo entre grupos. Dasguerras mais dolorosas são asguerras civis no interior do coraçãode cada um, de cada família ou decada comunidade, ou cada povo.Este atentado das armas químicas éincompreensível em todos ostempos da história mas é muito maisincompreensível hoje, fazendo doavanço da ciência momentos dedestruição de crianças, de jovens,de famílias inteiras.Não podemos deixar chorar estaslágrimas sem as chorarmos tambémnós.

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AE – São sinais que a humanidadeestá a colapsar?AFS – São sinais que a humanidadepor este caminho não tem futuro etemos razão para acordar de umavez por todas e 100 anos depoisdas grandes guerras europeias, quenada disseram bem da Europa enada fizeram bem para a Europa anão ser a lição para nunca mais serepetirem, não podem ser tambémelas hoje vividas noutros lugares domundo e noutros espaços da terra.Temos de clamar bem alto que avida é o valor maior da humanidadee que a paz é um direito que todosdevem ter acesso e é possível. Oque me impressiona mais, ediariamente coloco no coração deDeus na minha oração, é fazercompreender todas as pessoas,todos os povos, todos osgovernantes, e precisamos de tergovernantes corajosos, para odizerem também em vez degastarmos tanto tempo a decidirmosas intervenções de guerra, dizermosuns aos outros que estamossolidários e conscientes emconstruir a paz. A paz que queremospara os outros é também o direitoque reclamamos para o nosso povo.Vivemos num país que temosexperiência de confrontos econflitos, mas vivemos num paíslivre em democracia e em paz,podemos ser também escola eprotagonistas deste

contributo para a construção de ummundo melhor. AE – Recordamos alguns cenáriosmais notórios onde emergemconflitos mas muitos mais existem emostram que há muitas maisestações da Via-Sacra.AFS – Há muito mais estações daVia-Sacra, há muito passos dadoscom pés magoados a sangrar, e hámuitas famílias que ficam doridas emagoadas para sempre. Estesofrimento humano é também paranos dizer que não chegamos àPáscoa sem levarmos connosco acruz que pesa aos ombros dosoutros.A nossa Páscoa não pode serapenas o brilho no olhar feliz dealguém para quem estes conflitosestão longe mas tem de ser o brilhonesse olhar transformador domundo, para todos e cada um denós, que querem com o seucontributo ajudar a transformar omundo. Chegamos à Páscoaquando formos capazes de assumir,e de levar connosco e trazerconnosco, a cruz redentora asangrar de sofrimento e de dor detanta gente e que na manhã dePáscoa se tem de tornar a cruzflorida da vitória. Mas, para isso,devemos de ser capazes de ir aoencontro das pessoas que sofrem.Não as podemos deixar no caminhoe pensar que a sexta-feira acaboupara nós e estamos só voltadospara o tempo pascal.

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Desafios e esperanças emPortugalAE – Que análise faz do período datroika, do período que se seguiu.Que ciclo foi este ou é este quePortugal está a viver?AFS – É um ciclo de continuidade ede diferença. Temos sido emPortugal muito capazes e atentos asabermos, desde a revolução deabril (1974), desde o regresso àliberdade e à democracia, desde aautonomia e independência dadaaos povos da África, desde aconstrução de um mundo diferenteno nosso tempo, temos sidocapazes de responder aos desafiosde cada momento comdiscernimento, com lucidez, comcoragem, com diversidade e muitasvezes nem sempre com o acordo detodos. A unanimidade não é ocaminho da verdade, muitas vezes,mas temos sido capazes deresponder a grandes desafios. Mashá outros que ainda nãorespondemos.Nestes momentos, depois de termospassado um tempo de austeridadeque não está ainda ultrapassada,há necessidade de criarmos novoscaminhos e, certamente, queestamos a procurar fazer. Mas háainda grandes desafios nohorizonte, como o do

desemprego, de uma emigração nãodesejada e não querida e que levapara o estrangeiro aqueles quegostariam de ficar e capacidade daretoma da economia mais rápida,mais forte. Mas vivemos num climade tranquilidade, um clima deesperança.Creio que quando os governantessão capazes de nos dar razões paraconfiar, para esperar e para ver ofuturo construído com a ajuda detodos, devemos estar empenhadosem fazê-lo. AE – Esse fator de esperança éproporcionado sobretudo pelaatitude do presidente da República?AFS – Muito, muito. Sem quererpersonalizar, trouxe também esteacrescido vigor de dizer que os Creio que quando osgovernantes são capazesde nos dar razões paraconfiar, para esperar epara ver o futuroconstruído com a ajudade todos, devemos estarempenhados em fazê-lo.

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portugueses soubemos sempreestar à altura dos momentos danossa história. E saberemos fazê-lo agoraem cenários diferentes com desafiospor ventura muitos estranhos emrelação aquilo que foi acontinuidade do tempo mas comuma capacidade interior de nossabermos sempre renovar etransformar. E darmos ao mundoalgumas referências sem vã glória,que seria muito efémera e muitosem sentido mas com a nossacapacidade, a nossa identidadenacional construída em oito séculose os valores dos portugueses queos manifestaram em todo o mundo.Manifestam no território nacional emanifestam no estrangeiro ondeestão os emigrantes.Esta valorização da diáspora, paranão referir mais outras iniciativas, ocelebrar o dia de Portugal emPortugal e no mundo portuguêsonde estão milhões de portuguesesé uma afirmação que devemos sercapazes de pegar nas mãos onosso futuro e contribuir para umfuturo do mundo que seja melhor. AE – Há um aspeto da humanizaçãoda política que é importante?AFS – É muito importante sobretudopara dar aos mais novos e às

gerações vindouras, a capacidadede se disponibilizarem pelo bem-comum. Esta humanização dapolítica como um valor elevado e umvalor nobre, e como um valor digno,de autenticidade, e como umacapacidade de serviço dos outros,não de si próprios, é, certamente,um contributo valioso, é talvezaquele que hoje mais pediria aosnossos governantes.

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AE – Ainda no ambiente político, aatitude humanista, afetuosa até, temnoutro prato da balança umequilíbrio entre forças políticas paraconseguir a estabilidade noparlamento português.AFS – Penso que o equilíbrioquanto mais amplo for, melhor é. Eaqui sem excluir ninguém e semideologizar grupos, quanto maisamplo for o equilíbrio, a união e aconjugação de forças políticas paranos ajudar a governar, no sentidode nos ajudar a servir, melhor é.Entretanto, há balizas que nãodevemos ultrapassar, há fronteirasque devemos saber respeitar evalores que nunca devemoshipotecar. E,

neste sentido, há franjas dapopulação portuguesa que precisamde ser mais atendida, como sejamos mais pobres, as instituiçõessociais que estão a passar pordificuldade múltiplas, como sejamcasais e famílias em desemprego.Não devemos perder tempo emgladiar-nos e confrontar-nos,embora seja legítima e muito justa aafirmação política das nossasconvicções para os políticos que asfaçam livremente, com respeito ecom a capacidade de contribuírempara o bem-comum mas todosdevíamos estar unidos cada vezmais. Num âmbito alargado hádecisões que têm de ser, como se

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diz em linguagem própria, decisõesde regime. Uma dessas decisões, aeducação, a saúde, o respeitopela vida, o respeito pelos valoresque constroem esta nossa cultura eesta alma de Portugal, naquilo queela pode contribuir para revigorar aalma do mundo, ai não podemosabdicar e não podemos ceder.A Igreja tem de ter esse contributohumilde, às vezes discreto, mastambém muito corajoso. Sobretudo,temos de saber juntar a humildade àprofecia. A coragem de servirdiscretamente no meio do mundoaqueles que mais precisam e aprofecia ousada, e neste lugar temsentido fazê-lo. Temosextraordinários exemplos dos meusantecessores que

fizeram essa afirmação ao serviçoda Igreja no Porto contribuindo parao bem da Igreja em Portugal e obem do povo português.Temos obrigação de o fazer. Como ofazem os sacerdotes, os religiosos eos leigos às vezes nas povoaçõesmais discretas e simples porquearduamente trabalham pelo bem dopovo e salvaguardam estagenerosidade da alma humana. Estadignidade do valor cristão que estáemerso e presentes em todos oscaminhos que percorremos, emtodas as terras que visitamos, emtodas as comunidades ondecelebramos a alegria da fé e ondevemos tanta gente disponível,generosa, voluntária a trabalharapaixonadamente pelo bem dosoutros.

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AE – Nesse equilíbrio político aIgreja pode deparar-se comsituações que colocam em causavalores inalienáveis, como o da vidahumana. É uma estabilidade políticaque permite pôr em causa essesvalores. Que atitude ter ai noenquadramento profético que falou?AFS – À Igreja não pertencesubstituir-se aos legisladores, mastem de advertir num trabalhopedagógico de quem salvaguardavalores de que não abdica, não porteimosia, mas por saber que elessão essenciais para avida humana epara o futuro do nosso país. Emesmo que as leis

possam ou venham a ser contráriasnós não nos podemos cansar.A Igreja nunca se cansará de dizer,por exemplo, que a velhice, adoença são momentos que nosobrigam a um respeito maior e que,por exemplo, a vida não fomos nósque a demos a nós próprios, foi-nosdada a nós os crentes por Deus. Avida não somos nós que a podemostirar.Nós nunca podemos alienar estesvalores sagrados que fazem parteda construção da humanidade e quefazem parte também do rumo e dostrilhos do nosso futuro como país. Aidevemos valorizar muito mais

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o serviço que prestamos aos idosose aos doentes, mas também saberdescobrir e agradecer o serviço queeles prestam à humanidade.Muitas vezes lamentamos os casosdas crianças e dos jovens a quemfalta a sensibilidade num caso ounoutro perguntemo-nos sepermitimos que eles ouvissem osconselhos, os ensinamentos, asexperiências que os seus pais eavós viveram para lhes dar a vida.Para lhes transmitirem o que têm,para lhe legarem a herança, nãoapenas materiais, mas umpatrimónio incomensurável devalores que não desaparecem coma morte, que continuam para lá davida, na memória abençoadadaqueles que nos falaram dosnossos antepassados porque nãochegamos aqui hoje sem umpassado de genteque lutou até à

morte. E que venceu a morte e seperpétua na vida através daquelesque continuam a sua vida. AE – É esse o enquadramento detemas como a legalização daeutanásia devem ter? Acaba por sercurioso no contexto da Páscoa falarsobre a prática da eutanásia, éoutra contradição.AFS – Sim, é outra contradição.Acreditamos que a vida e o temponão terminaram na Sexta-feira Santapara Jesus Cristo e, por isso,celebramos a Páscoa. A vida e otempo da história de cada um denós não termina com a antecipaçãode uns momentos, de uma horas oude uns dias de morte. Nós nãopodemos dar a morte a ninguém,nem temos o direito de dar a mortea nós próprios.

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Bispo do Porto há trêsanosAE – O Sr. D. António está naDiocese do Porto há três anos. Temencontrado mais sinais de cruz oude Páscoa?AFS – Tenho encontrado sinais dePáscoa e tenho encontrado,sobretudo, muito cireneus que meajudam a levar a minha cruz. AE – É real…AFS – É real, é real. Na vidaconcreta da missão dos servidoresde Deus e dos servidores da Igrejanunca se podem sonhar tempossem cruz porque então não iamdesaguar, os nossos caminhos, aotempo da Páscoa. E, é essa alegriae gratidão para tantos cireneus quetenho encontrado que me ajudam asaborear ainda mais a alegria daPáscoa e a dizer que sozinhosnenhum de nós conseguia levar asua cruz.A minha missão é também sercireneu da cruz de tanta gente epenso que concretamente a missãodos bispos é de ajudar neste mundoem que vivemos. É estaproximidade, esta compreensão,este sentido do amor de Deus queclama no intimo de cada coração ea nossa missão é de anunciar, comopropus no primeiro ano, a alegria doEvangelho.

E depois a construir com a ajuda,concretamente, este ano com aajuda de Nossa Senhora. Faz umano que estávamos a peregrinarcom a imagem de Maria, a Senhorade Fátima, e permitiu-me tambémver lágrimas em tantos olhos edesafia-me, interiormente, todos osdias a estar próximo daqueles quesofrem. E a ter iniciativas que vãoao encontro de respostas, porqueesta proximidade não pode serapenas interior e de afeto mas temde ser uma proximidade de prática,de iniciativas e de criatividade.A Páscoa traz-nos outro valorextraordinário que é dizer à Igrejaque o caminho da sua ação pastoraltem de ser de criatividade e deousadia profética. Por isso, aquiestamos para agradecer os cireneusdas cruzes que diariamente surgeme levamos aos nossos ombros paraensinarmos a serem cireneus dascruzes dos outros e para proclamarna alegria da Páscoa que a Igrejatem este dom da criatividade, daousadia, da profecia e de ajudar aconstruir um mundo melhor, feliz eque é um mundo pascal.

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AE – Para que aconteça Páscoa, para que aconteça ressurreição oque é necessário neste contexto em que vivemos?AFS – Que saibamos abrir a porta do nosso coração, do nosso país e aporta do mundo aos apelos de Deus que a Páscoa da ressurreição deCristo nos traz. E nisso ajuda-nos a voz das mães que quando batem ànossa porta encontram sempre o coração dos filhos atentos edisponíveis como reciprocamente quando batemos à porta da mãe dosentimos. É esta Igreja-mãe que nos anuncia a Páscoa e é estaexperiência de filhos de uma Igreja pascal que queremos fazer e é esseanúncio do Aleluia, do hossana e do cântico de glória que queremosdizer. Sabendo que muitas vezes esse cântico e esses hossanas estãotambém eles mergulhados nas lágrimas de tanta gente que sofre e paraquem esta Páscoa é mais difícil de entender mas é mais necessáriaainda como presença de todos nós.

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Rui Santiago. MissionárioRedentorista que “visita” a TerraSanta todos os dias, os locais ondeJesus viveu, através dos textos daBíblia. Nesta semana Santa, “visita”o calvário para dizer o que significaa cruz de Jesus e o que provocanaqueles que O seguem

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A cruz é esta hora em que Jesus de Nazaré faz aquilo a que veio, mas deuma maneira que não tinha de ser assim

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Antes de Jesus ter sido posto em cima da cruz, já tinham posto uma cruz emcima de Jesus há muito e estavam à procura da melhor oportunidade

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Com a desculpa de salvar pecados,engendrar o maior pecado da históriado mundo, assassinar Jesus?Só podemos ser salvos porquem não se queira salvara si mesmo.

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A cruz ganha portas abertas e torna-se cruzamento,

Lugar em que Deus cruza a sua vida connoscoe a nossa vida fica cruzada com Ele.

E percebemos que nos cruzamosna dor máxima, na infidelidade máxima.

Torna-se impossível que Deusnão cruze a vida com todos.

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Não basta estar no Evangelho de ‘alma e coração’, nos preceitos e nasrotinas, temos de estar de ‘agenda e carteira’. Entrevista ao padre Rui Santiagoé emitida no programa Ecclesiade Sexta-feira Santa e publicadaintegralmente emagencia.ecclesia.pt

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I - Egito Dois ataques terroristas no Domingo de Ramos, reivindicados pelo EstadoIslâmico, a igrejas cristãs nas regiões de Alexandria e Tanta, provocaramcerca de 50 mortos e mais de uma centena de feridos

A comunidade cristã copta, que temestado sob ataque por parte degrupos radicais islâmicos,representa cerca de 10 por centoda população do Egipto.

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“Todos os coptas, os cristãos do Egito, dão muito valor a sua fée à Igreja. Portanto, logo após o atentado, as pessoas vieram àIgreja, as igrejas estão ainda lotadas! Porque eles levam muitoem consideração o fato de que estas vítimas inocentes sãoreconhecidas como mártires, como testemunhas do CristoRessuscitado.”.

Patriarca católico de Alexandria, D. Ibrahim Sedrak, emdeclarações à Rádio Vaticano

“Ao meu caro irmão, sua santidade o Papa Tawadros II, à IgrejaCopta, e a toda a querida nação egípcia, envio as minhassinceras condolências. Rezo pelos mortos e feridos, estoupróximo dos familiares e de toda a comunidade”.Papa Francisco

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II - Rússia No dia 03 de abril, uma bomba acionada por um homem suicida junto aoMetropolitano da cidade de São Petersburgo, na Rússia, matou 14 pessoase causou dezenas de feridos

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“Não há nenhuma justificativa para este crime: a IgrejaOrtodoxa Russa condena com veemência a ação agressivacontra os civis e convida a sociedade a opor-se a todamanifestação de violência”.

Patriarca ortodoxo de Moscovo, Cirilo

“O meu pensamento vai, neste momento, ao grave atentado,nos dias passados, no metro de São Petersburgo, queprovocou vítimas e tristeza entre o povo. Enquanto confio àmisericórdia de Deus os que faleceram tragicamente,manifesto a minha proximidade aos familiares e a todos osque sofrem por causa deste dramático acontecimento”.Papa Francisco

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III - Londres No dia 22 de março, em Londres, no Reino Unido, um homem matouquatro pessoas e deixou dezenas de feridos antes de ser abatido,em frente ao Parlamento britânico.

“O ataque em Westminster chocou-nos a todos. Este tipo deviolência, que infelizmente víamos tão frequentemente emoutras partes do globo, trouxe de novo o horror e a morte aesta cidade”

Cardeal Vincent Nichols, arcebispo de Westminster epresidente da Conferência Episcopal de Inglaterra e Gales

“Expresso a minha solidariedade e oração a todos que foramatingidos nesta tragédia. Peço misericórdia a Deus pelosmortos e invoco a força divina e a paz para as famílias”.Papa Francisco

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IV - Síria Um ataque com armas químicas na cidade de Idlib, região controlada porforças rebeldes contrárias ao regime de Bashar al-Assad, fez no dia 04 deabril cerca de uma centena de vítimas civis, entre as quais dezenas decrianças

A guerra civil na Síria, entre as tropas do Governo de Bashar al-Assad eforças contrárias ao regime, já provocou “mais de 300 mil mortos, 1,5milhões de feridos, além de 13 milhões de deslocados dentro do país e de 5milhões de sírios refugiados em diversos países”, alerta a OrganizaçãoMundial de SaúdeDe acordo com a OMS, estamos perante uma “catástrofe humana” comproporções ainda indeterminadas, pois o conflito está também a afetar ofornecimento de água potável e de alimentos às pessoas, e os surtos dedoenças são cada vez mais frequentes.

História:“É preciso ter coragem para sorrir até debaixo das bombas”, diz a Irmã CarolTahhan Fachakh, religiosa de Maria Auxiliadora, que está em missão nacidade mártir de Alepo, onde serve vários projetos, entre hospitais e escolas,no apoio sobretudo a crianças e jovens.“Recebemos todos de braços abertos, como uma grande família segundo oestilo salesiano, e procuramos antes de tudo vencer juntos os temoresprovocados pelos mísseis e pelas bombas”, frisa a consagrada de origemarménia e formada em química.Nesta quarta-feira, dia 12 de abril, a religiosa de 46 anos teve oportunidadede partilhar a sua experiência com o Papa Francisco, depois da audiênciapública com os peregrinos, na Praça de São Pedro.

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“Há um projeto de divisão da Síria. Pensávamos que as coisasocorridas no Iraque não poderiam acontecer na Síria, mas agoraestamos a assistir a isto. Interesses a nível internacional,sobretudo económicos, que giram sobretudo em torno do controlodas reservas de gás e petróleo. E depois a nível do mundoislâmico, do Médio Oriente, toda a luta entre xiitas e sunitas estaráa ser usada para manter em andamento a guerra e perpetuar ocomércio de armas. Dentro do país, a fragilidade da Síria estátambém no desequilíbrio entre minorias e maiorias”.

D. Antoine Audo, bispo de Alepo e presidente da Cáritas Síria

“Apelo à consciênciadaqueles que têmresponsabilidades políticas,a nível local ou internacional,para que coloquem um fim aesta tragédia e que tragamalívio às populações que hátanto tempo - e tãoduramente - têm vindo a sertestadas pela guerra”.

Papa Francisco

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V - IraqueMais de seis mil corpos de pessoas foram descobertos numa vala comum,nos arredores de Mossul, a capital da Planície de Nínive, durante umaofensiva das tropas iraquianas contra grupos armados do autoproclamadoEstado Islâmico Contexto:Numa investida para controlar o território da Planície de Nínive, no Iraque, oEstado Islâmico destruiu ou danificou mais de 12 mil casas, de acordo comnúmeros recentes divulgados pela Fundação Ajuda a Igreja que SofreGrande parte das pessoas e famílias em causa estão atualmente refugiadasna cidade de Erbil, uma localidade situada no norte do país, no CurdistãoIraquiano.De acordo com um relatório da Organização das Nações Unidas, em cercade dois anos de conflito com o Estado Islâmico, “pelo menos 18.802 civismorreram e outros 36.245 ficaram feridos.

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“No Iraque havia muitos cristãos, mas todos tiveram de fugir e osque não o fizeram acabaram raptados ou mortos pelas milícias.Elas raptam, matam, violam todos os que se lhes opõem”“Estamos cansados da guerra. Não apenas no Iraque, mas naPalestina, Síria, todos esses países sofrem por estas situações.Gostava que isto acabasse”

Testemunhos de dois refugiados iraquianos,recolhidos pela Agência ECCLESIA na Grécia

“Ao exprimir profunda dor pelas vítimas do sangrento conflito,renovo a todos o apelo para que se empenhem com todas assuas forças na proteção dos civis, como obrigação imperativa eurgente”.Papa Francisco

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VI - RefugiadosGréciaA Grécia já acolheu mais de 62 mil pessoas, no contexto da crise derefugiados que chegou à Europa, sendo apenas suplantada por naçõescomo a Turquia e Itália.Muitos chegaram com risco da própria vida, vindos de países em guerracomo a Síria e o Iraque, atravessando o Mar Mediterrâneo confiados àsmãos de traficantes e em embarcações sobrelotadas Contexto:O acordo entre a Turquia e a União Europeia tem feito com que inúmerosrefugiados tenham agora que esperar indefinidamente por uma solução noscampos de acolhimento gregos.

“Eles querem muito regressaraos seus países, quando voltara paz, estão ansiosos por isso.Mas por agora eles e os seusfilhos vivem um futuro que nãoescolheram”Christos Ananiadis, responsável

de projetos na Cáritas Grécia

“Não basta gerir a grave crisemigratória destes anos como sefosse apenas um problemanumérico, económico e desegurança. A questão migratóriacoloca uma questão maisprofunda, que é antes de maiscultural”.

Papa Francisco

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PortugalO nosso país tem estado na primeira linha de resposta ao desafio dosrefugiados, já tendo acolhido centenas de pessoas ao longo dos últimosmeses Contexto:Um dos grandes desafios que se têm colocado é a segurança das crianças ejovens que chegam desacompanhadas, sem família, dos seus países deorigem.E que muitas vezes ficam à mercê de grupos que se dedicam ao tráficohumano ou entregam os mais novos à escravatura laboral e sexual.Nesse sentido, a Confederação Nacional das Instituições de Solidariedadeestá a procurar dar respostas de acolhimento para crianças refugiadas, emulheres em situação vulnerável, através da mobilização da sua rede devalências.

“A CNIS deslocou-se até àGrécia durante uma semana,identificando a situação. Hámuitos casos de crianças emulheres que precisam de seracolhidas e em Portugal há umaboa capacidade de resposta”“Ao lançarmos a iniciativarecebemos logo cincoinstituições - e estão a aparecermais - com possibilidades decerca de 60 lugares paracrianças, e temos já umainstituição com capacidade paraacolher mulheres em situaçãovulnerável. Outras certamentevão aparecer”Padre Lino Maia, presidente daConfederação Nacional dasInstituições de Solidariedade

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VII - Sudão do Sul A mais jovem nação do continente africano, fundada em 2011 depois daseparação da República do Sudão, está hoje à beira do colapso, commilhões de pessoas a enfrentarem a pobreza e a fome.

Contexto:No centro deste drama está aguerra civil que continua a devastaro país, pois a independênciachegou mas não apagou décadasde conflitos tribais, étnicos ereligiosos.De acordo com dados divulgadospelas Nações Unidas, cerca de 800mil refugiados oriundos do Sudãodo Sul estão atualmente a viver noUganda.Destes, quase 200 mil chegaramapenas desde o início do correnteano, sendo que seis em cada 10destes refugiados são crianças

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“As pessoas estão a ser atacadas indiscriminadamente, nassuas casas, nas ruas, quando vão em busca de comida, emesmo nos campos de cultivo. Se elas quiserem fazer ascolheitas, são consideradas rebeldes ou simpatizantes dosrebeldes e eliminadas. Há civis a morrer e muitas pessoasdesaparecidas”.

D. Erkolano Tombe, presidente da Cáritas do Sudão do Sul

“É mais necessário do que nunca o empenho de todos, não ficarsomente nas declarações, mas tornar concretas as ajudasalimentares e permitir que possam chegar às populaçõessofredoras”Papa Francisco

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VIII - VenezuelaUm país mergulhado numa crise económica sem precedentes, que aFundação Ajuda a Igreja que Sofre estima atingir pelo menos 82 por centoda população.E a enfrentar igualmente uma grave situação política, que a Igreja Católicalocal já classificou de “ditadura”, na vigência do presidente Nicolás Maduro,que tem estado sob forte contestação. Contexto:Desde que a instabilidade financeira tomou conta do país, há cerca de doisanos, Nicolás Maduro passou a enfrentar uma forte oposição, com asestatísticas a apontarem para uma taxa de reprovação por parte do povo,superior a 70 por cento.Recentemente, o presidente tentou controlar essa oposição, com a retiradade poderes ao Parlamento, quase todo controlado por partidos contrários aoregime.

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“O sofrimento de milhões de venezuelanos requer que o governoresolva a gravíssima crise alimentar e de medicamentos,causada pela aplicação de um sistema económico errado, ototalitarismo socialista que concede ao Estado o controlo total daeconomia”.

Cardeal Jorge Savino, arcebispo de Caracas

“Recentemente encontrei um homem que procurava comida nolixo e, conversando com ele, disse-me que trabalha, mas que,com o salário que recebe não consegue alimentar os filhos e tempor isso de procurar a comida no lixo”.

D. Ulises Reyes, arcebispo de Ciudad Bolivar “Sigo com muita preocupação o que está a acontecer naVenezuela e no Paraguai. Rezo por que estas populações, queme são muito queridas, e convido todos a perseverar sem parar,evitando qualquer violência, na busca de soluções políticas”.Papa Francisco

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IX - Nigéria A perseguição aos cristãos tem sido uma constante nos últimos anos, levadaa cabo pelo grupo fundamentalista islâmico ‘Boko Haram’.De acordo com o secretariado português da Fundação Ajuda a Igreja queSofre, só entre setembro de 2016 e janeiro deste ano foram assassinadas808 pessoas, outras 57 ficaram feridas, e no que toca a bens materiais há aassinalar a destruição de 53 aldeias, 1422 casas e 16 igrejas. Contexto:O “Boko Haram”, cujo nome na língua local significa “a educação nãoislâmica é pecado”, está empenhado em implementar um Estado islâmico nonorte da Nigéria.Para isso tem lançado sucessivos ataques contra organismos oficiais etambém sobre os cristãos e todas as minorias religiosas radicadas no norte,destruindo habitações, escolas e locais de culto.Mais números:Só na Arquidiocese de Maiduguri, no Estado de Borno, pelo menos 80 milcatólicos já foram obrigados a fugir, devido à ação do Boko Haram, 64 mildos quais para os Camarões.

“Estão a ser feitos muitos esforços para fomentar a paz, acabarcom a violência e garantir a ordem e a fraternidade emdiferentes partes da Nigéria, onde hoje os mal-entendidosbaseados em razões religiosas, étnicas ou económicas causammuitos problemas. Precisamos de um diálogo mais genuíno entreas fronteiras étnicas, religiosas e políticas”.

D. Ignatius Kaigama, presidente da Conferência Episcopal daNigéria

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X - Estados Unidos da América

Na nação norte-americana, apresidência de Donald Trump está aabrir espaço para políticas maishostis contra as comunidadesmigrantes e pessoas refugiadas. Contexto:Uma das primeiras medidas queDonald Trump aprovou, depois deeleito, foi a suspensão da entradade refugiados nos EUA durante 120dias, proibindo indeterminadamentea admissão de refugiados sírios e,durante 90 dias, de cidadãos desete países maioritariamentemuçulmanos.O novo presidente disse aindaquerer intensificar os esforços daconstrução de um muro junto àfronteira com o México, para impedira entrada de emigrantes ilegais noterritório norte-americano.

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“As ações do nosso governo devem lembrar às pessoas ahumanidade básica. Onde quer que os nossos irmãos e irmãssofram rejeição e abandono, iremos levantar a nossa voz em suadefesa”.“Os refugiados que fogem do ‘Estado Islâmico’ e de outrosextremistas estão a sacrificar tudo o que têm em nome da paz eda liberdade”.Presidente da Conferência Episcopal dos EUA, cardeal DanielDiNardo

“Num momento em que a família humana é assolada por gravescrises humanas, que exigem respostas políticas clarividentes eunidas, rezo para que as suas decisões sejam guiadas pelosricos valores espirituais que moldaram a história do povoamericano”.Papa Francisco

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XI - República Democrática doCongoA guerra civil na República Democrática do Congo continua a espalhar amorte e a destruição naquele país, não poupando igrejas, hospitais eescolas.Outro flagelo é o recurso das milícias a crianças-soldado, recrutadas à forçapara servir os intentos das forças dissidentes do regime. Contexto:Os confrontos entre forças governamentais e milícias armadas, que lutampelo poder, têm sido marcados também por uma onda de ataques contra ascomunidades cristãs, um pouco por toda a nação congolesa.A Igreja Católica já denunciou a “alarmante situação de insegurança”, quetem afetado paróquias, membros do clero e mesmo religiosos e seminaristas.

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“Estamos a ser alvo de um ataque deliberado, de modo a sesabotar a missão católica de paz e reconciliação”

Cardeal Laurent Monsengwo Pasinya, arcebispo de Kinshasa “Preocupa-me a situação difícil da juventude, de modo especial,penso com horror nas crianças e nos jovens alistados à força emmilícias e obrigados a matar os seus próprios compatriotas”.

Papa Francisco

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XII - República Popular da China

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“O mundo ocidental, o mundo oriental e aChina têm todos a capacidade de manter umequilíbrio de paz e a força para o fazer: temosde encontrar o caminho, sempre através dodiálogo”

Papa Francisco

“A fé é o que sustenta os católicos que vivem uma situaçãodifícil. Muitos deram a vida para dar testemunho da importânciada fé, da importância de Cristo. Noutros países existe maisfacilidade para viver a fé e nós queremos essa liberdade, odireito a viver dessa forma”.

Diácono chinês que esteve recentemente em Portugalpara partilhar o seu testemunho

Contexto:O regime de Pequim criou em 1957 a APC - Associação Patriótica Católicapara evitar interferências estrangeiras, em especial da Santa Sé, e paraassegurar que os católicos viviam em conformidade com as políticas doEstado – o que inclui o controlo sobre a nomeação de bispos, pretensão nãoreconhecida pelo Vaticano.“Embora a Constituição Chinesa afirme que os cidadãos têm “liberdade decrença religiosa”, apenas são autorizadas as ‘atividades religiosas normais’,ou seja, as que são controladas pela Administração Estatal dos AssuntosReligiosos e pelas Associações Patrióticas e que seguem os regulamentosnacionais. Isto significa prestar culto em locais registados, com pessoalregistado e aceitando o controlo da Associação Patriótica. Os que prestamculto fora desta estrutura são considerados ‘criminosos’ e tratados como tal”Relatório para a Liberdade Religiosa 2016, da Fundação Ajuda a Igreja queSofre

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XIII Etiópia A seca naquele país, um dos mais pobres no mundo, está a ameaçar a vidade 5,6 milhões de homens, mulheres e crianças, devido à fome generalizada. Contexto:- A Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e doCrescente Vermelho estima que serão necessários pelo menos 12,8 milhõesde euros, só nos próximos nove meses, para ajudar 320 mil pessoas emrisco.- A Etiópia é um dos países de África com maior índice de cristãos, 37, 5 porcento em cerca de 75 milhões de habitantes. Segundo a Fundação Ajuda aIgreja que Sofre, a maior parte é ortodoxa, sendo que o número de católicosnão ultrapassa as 600 mil pessoas.A grande fatia dos habitantes, 45 por cento, integra a comunidade ortodoxa

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“Mais de um ano sem água, o gado morto ao longo das estradasde barro, pessoas mortas cotidianamente por causa da cólera,sem medicamentos e médicos, sem nenhum termômetro paramediar a febre, enquanto a temperatura passa de 45 grau.”

Descrição da situação no país pela Rádio Vaticano

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XIV - IndonésiaAs comunidades cristãs estão a ser alvo da ameaçade grupos radicais islâmicos, um contexto que levou

as autoridades indonésias de Bogor, a oeste de Java,a proibir três igrejas cristãs de realizarem serviço religioso

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Contexto:- Esta decisão abrange, para já, a Igreja Metodista da Indonésia, a igrejaprotestante Huria Batak e a comunidade católica local que vinha utilizandouma casa particular para as aulas de catequese.- A Indonésia é o mais populoso país de maioria muçulmana do mundo e aregião de Java Ocidental tem vindo a registar um crescente número decasos de violência relacionados com intolerância para com minoriasreligiosas, nomeadamente os cristãos.- Só no ano passado, o Instituto Setara – uma organização de defesa dosdireitos humanos – contabilizou mais de quatro dezenas de incidentes comminorias religiosas nesta região.

“A Indonésia tem uma boa tradição de pluralismo religioso eharmonia. Embora seja o maior país muçulmano do mundo, nãoé constitucionalmente um estado muçulmano. O lema nacionaldo país é “Unidade na Diversidade”. No entanto, estes valorestêm estado cada vez mais ameaçados ao longo da última décadaou mais, à medida que grupos islamitas radicais emergiram eganharam uma influência desproporcionada“.

Fundação Ajuda a Igreja que Sofre,Relatório sobre Liberdade Religiosa 2016

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A sua oração diária online

www.lugarsagrado.com Em plena semana maior, sugiro umespaço virtual que nos convida aalimentar a fé com uma escuta maisatenta e prolongada da Palavra deDeus levando-nos a umaparticipação efetiva nosSacramentos e a crescer nacaridade - amor a Deus e aopróximo. Assim, como forma de nosintroduzirmos neste tempo preciosode reavivar a fé, esta semanaapresento um sítio de oração diáriapensado para quem, como tantosde nós, passa grande parte dotempo em frente ao computador enaturalmente tem dificuldade emarranjar um tempo para rezar.O Sacred Space (Lugar Sagrado) éum projecto lançado pelos jesuítasirlandeses na quaresma de 1997sempre com actualizações diárias ecom as leituras adequadas ao dia,encontrando-se já traduzido em 23idiomas. Apesar de necessitar deuma atualização ao nível doambiente gráfico econsequentemente uma melhorotimização para os dispositivosmóveis (smartphones,

tablets, etc.), os conteúdos eobjetivos a que se propõe estãobastante atualizados.O que é pedido a cada visitante éque tire 10 minutos do seu dia paradedicar à oração e aorelacionamento mais profundo epróximo com Deus. Desta forma,conseguimos ter consciência da Suapresença na nossa vida, através dapersecução de sete etapas (OraçãoIntrodutória, Presença de Deus,Liberdade, Tomada de consciência,A palavra de Deus, Diálogo eConclusão), pelas quais somosguiados com um simples clique dorato. Temos ainda disponível umguia nas etapas de maior dificuldadede reflexão que nos orienta e ajudapara uma oração mais conseguida eprofunda.Apesar de existirem outraspropostas de oração digital, que jáforam inclusive alvo de análise nesteespaço, fica aqui a sugestão quebem poderá ser continuada paraalém deste forte tempo litúrgico,podendo tornar-se um “vício” diário.Pois sendo verdade que nospreparamos para a festa daressurreição de Cristo, a Igreja

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através da liturgia e oração, desejaprincipalmente que nosprepararemos para o encontrodefinitivo com Ele.Como sabemos Deus está em todoo lado e o nosso escritório ouespaço onde na nossa casa temoso

computador, ou mesmo o nossodispositivo móvel, podem tambémser espaços adequados paraencontro com o nosso Pai.

Fernando Cassola Marques

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Se Deus Quiser, de Edoardo MariaFalcone Primeira longa metragem de ficção de Edoardo Maria

Falcone, «Se Deus Quiser» merece uma referênciaespecial pela sua forma e pelo seu conteúdo.No que respeita à forma Falcone desenvolve umanarrativa muito equilibrada, em que diversos toques decomédia se intercalam em situações em si mesmodramáticas, numa análise de natureza social muitoobjetiva e eficiente. Para tal conta com um par deatores de muito talento - Marco Giallini e AlessandroGassman – que personificam um confronto de ideias ede nível pessoal que sabem tornar credível.Mas o mais importante de «Se Deus Quiser» é oconteúdo do seu argumento, em que se debatem ospreconceitos comuns à sociedade contemporânea,centrados, entre outras vertentes, no confronto de umpai ateu, médico de sucesso, com a vocaçãosacerdotal do seu único filho, filho este que destinavaa ser seu sucessor na área da medicina.

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O diálogo entre um ateu e umPadre, de início falso e difícil,constrói progressivamente umaprofunda amizade que permite a ummédico de renome, materialista emais que consciente do seu valorprofissional, a encarar outrasvertentes da vida e reorientarmuitos dos conceitos que tinhacomo fundamentais. Resulta daíuma maior harmonia familiar e apossibilidade de tomar decisões,muitas vezes difíceis, de uma formaconsciente.Importante referir que todos valorestransmitidos se enquadram numa

narrativa com bom ritmo e recheadade sequências em que o melhorhumor, em geral discreto, se cruzacom situações da naturezadramática mas que nunca sãolevadas suficientemente longe pararetirar ao filme o seu ambienteligeiro.Uma obra de relevo que nos dáoportunidade de acesso ao que debom se produz no cinema italiano,tão raramente trazido aos cinemasportugueses.

Francisco Perestrello

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Novo livro realça dimensão pessoalda peregrinação a Fátima

As jornalistas Ana Catarina André eSara Capelo lançaram um livrointitulado ‘Peregrinos’, feito a partirde histórias de várias pessoas quetêm em comum a experiência deperegrinar a pé a Fátima.Em entrevista à Agência ECCLESIA,Ana Catarina André realçou que arealização desta obra, e asentrevistas, o diálogo com aspessoas, “mudou” um pouco a sua“visão” pessoal acerca do Santuáriode Fátima. “Ajudou a perceber adimensão do Santuário, e adiversidade de pessoas que vão a

Fátima, que eu já tinha noção masnunca tinha experimentado isso, nocontacto com elas”, salientou.A jornalista é católica e já fez váriasperegrinações rumo à Cova da Iria,por isso encontrou alguns pontos decontacto com os testemunhoscolocados no livro, como “a questãoda busca interior que se faz nocaminho, o sentido que se tentaencontrar para a vida”. “Com issohouve um paralelismo claro comaquilo que eu já tinha vivido, mascom outras coisas nem tanto, comoa

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questão do sofrimento”,exemplificou.Para Ana Catarina André, hoje“tende-se a associar Fátima àquestão do sofrimento”, algo quepara si, a nível pessoal, não diziamuito. “Ainda assim, depois de terescrito este livro e falado com estaspessoas percebi que Fátimatambém pode ser isso, que tambémhá lugar para isso em Fátima, e quenão é menos válido por isso”,salientou.Entre os testemunhos colocados nolivro, a autora destaca a história deJoão António, um peregrino de SãoJoão da Pesqueira, do Distrito deViseu, “que faz 300 quilómetrosdescalço para Fátima, emsofrimento e em dor, e que diz quedepois daqueles 9 dias, às vezesmenos dias de caminho, chega aFátima e encontra consolo eredenção”.“A essa história é impossível ficarindiferente, aquele homem tãosofredor mas ao mesmo tempo tão

tranquilo na chegada a Fátima”,realçou a jornalista.Sara Capelo, a co-autora da obra‘Peregrinos’, é agnóstica e nuncatinha ido à Cova da Iria e aoSantuário, no entanto “o temareligião é recorrente” nas conversascom a sua colega Ana CatarinaAndré. “Pensamos que, com oaproximar do Centenário dasAparições, poderia ser interessantefalarmos sobre Fátima, sobre quemsão estas pessoas que caminhamaté Fátima, o que é que as motiva.Sendo que nós temos perspetivasbastante diferentes sobre o que éFátima e o que é a religião emgeral”, frisou a jornalista.A profissional de comunicaçãoesteve pela primeira vez nosantuário mariano no dia 13 de maiode 2016, acompanhando “emsilêncio” a entrada no recinto de umdos grupos retratados no livro.

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II Concílio do Vaticano:Diálogos entre Paulo VI e JeanGuitton

De 1962 a 1965, as atenções da Igreja estavamcentradas no II Concílio do Vaticano. Esta reuniãomagna, convocada por João XXIII e continuada porPaulo VI, rasgou horizontes depois de alguns períodosturbulentos na história da humanidade.Na obra «Diálogos com Paulo VI» da autoria dofilósofo francês, Jean Guitton (1901-1999), lê-se queo cardeal Montini considerou as IV sessões conciliarescomo uma atividade “a céu aberto”. Para o PapaPaulo VI, o segredo é uma “invenção dos homens,uma medida de proteção”, mas o mistério é “coisainteiramente diferente: é a substância do que não sevê” (In: Jean Guitton; «Diálogos com Paulo VI»;Edições Livros do Brasil; página 243).O mistério do concílio não se discernirá nuncacompletamente, “enquanto navegarmos no fluxo dahistória”, escreveu o filósofo francês que foi«observador» do II Concílio do Vaticano. Aindadurante a primeira sessão desta assembleia, JeanGuitton questionou-se se poderia enviar crónicas paraos jornais, “uma vez que fizera juramento de serdiscreto?”. Dialogou com “um prelado sensato” sobreo assunto e ele respondeu-lhe com “esta máxima quedepois se me tornou preciosa: nada sobre o segredo,tudo sobre o mistério”.O concílio deveria “desenrolar-se no segredo”, masisso “era praticamente impossível, por causa dogrande número de padres, das indiscriçõesinevitáveis, dos meios modernos de informação, etambém da curiosidade”, disse o Papa Paulo VI. Este“mal inevitável teve um bem como consequência” (osinconvenientes

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têm as suas vantagens e osespinhos têm as suas rosas). Avantagem foi a de o “universointeiro” se poder manter ao correntedas deliberações dos padresconciliares, sublinhou o Papaitaliano.Neste diálogo entre o sucessor dePedro e o filósofo francês, o antigocardeal de Milão (Itália) pedia paraque se esquecesse “o acidental, asvagas, talvez a espuma” porque, talcomo a hora que soa, “o concílio éprecedido e seguido pelo silêncio”.Entrasse “no silêncio posterior em

que se ouve o eco da hora quesoou”.Ao revisitar o passado da História daIgreja e os concílios anteriores, ogrande obreiro desta assembleiamagna referiu que “muitas crises,possíveis a priori, foram evitadas”.Um dos resultados mais visíveis foique o concílio “decorreu semdemasiados abalos; não foisuspenso, interrompido, chegou aofim, e, por vezes, para além dasesperanças”. “Foi um tempo devisita divina, uma grande hora, ummomento vigoroso no tempo daIgreja”.

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Abril 2017Dia 13 abril*O Papa Francisco preside àcelebração de «lava-pés» comalguns presos na Casa de Reclusãode Paliano, na Província deFrosinone e Diocese de Palestrina,a sul de Roma. *O filme «Jacinta - O Milagre deFátima visto pelos olhos de umacriança» estreia esta nos cinemasportugueses. A obracinematográfica, com a realizaçãode Jorge Paixão da Costa, retrata “aincrível história de Jacinta, a maisnova vidente das aparições deFátima”. *Bragança – O Secretariado daPastoral Juvenil e Vocacional(SDPJV) da Diocese de Bragança-Miranda está a mobilizar os jovenspara “uma direta com Deus” nassuas comunidades (13 e 14). Dia 14 abril*Na cidade de Pinhel (Diocese daGuarda) vai ser encenada a Paixãoe Morte de Jesus, com início junto àIgreja de Santo António. Estaencenação é uma colaboração

conjunta da paróquia e do municípiode Pinhel e “constitui um marco nacomunidade, sendo considerada pormuitos como um dos eventos maisimportantes do concelho”. *Funchal - Estreito de Câmara deLobos - Encenação bíblica das«Sete Dores de Nossa Senhora»pelos jovens da Paróquia de Estreitode Câmara de Lobos. Dia 15 abril*Faro – Sé - 31 adultos recebem ossacramentos da iniciação cristã. Dia 16 abril*Tavira - Igreja do Carmo - Concertopelo «Filomúsica Ensemble», queinterpreta a peça «Stabat MaterDolorosa», do compositor italianobarroco Giovanni Battista Pergolesi. Dia 17 abril*Lisboa - Capela do Rato - Sessãodo curso «grandes correntes daética ocidental» na Capela do Rato

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Dia 18 abril*Porto - D. Carlos Azevedo,delegado do Conselho Pontifício daCultura (Santa Sé), apresenta o seulivro ‘Fátima - das Visões dosPastorinhos à Visão Cristã’, que tem“informação inédita” do ArquivoSecreto do Vaticano *Lisboa - A obra «À procura denovas palavras – Para umaEconomia Humana» de LuiginoBruni é apresentada, no Auditórioda Fundação Montepio

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13 abrilItália: O Papa Francisco vai presidir à celebração de«lava-pés» na Casa de Reclusão de Paliano, naProvíncia de Frosinone e Diocese de Palestrina.Vai ser a terceira vez que o pontífice argentino celebraeste rito com presos. Portugal: Hoje estreia nas salas de cinema o filme«Jacinta - O Milagre de Fátima visto pelos olhos deuma criança». 14 de abril - Sexta-feira SantaItália: O Papa Francisco preside hoje à Via-Sacra noColiseu de Roma.As meditações evocam a “banalidade do mal”, numaproposta da teóloga francesa Anne-Marie Pelletier. Portugal: Os jovens da Paróquia de Estreito deCâmara de Lobos, na Diocese do Funchal, vãoencenar as «Sete Dores de Nossa Senhora».Na cidade de Pinhel, Diocese da Guarda, érepresentada a encenação da Paixão e Morte deJesus, com início junto à Igreja de Santo António. 18 de abril - Porto - 18h30D. Carlos Azevedo, delegado do Conselho Pontifícioda Cultura (Santa Sé), vai apresentar o livro ‘Fátima -das Visões dos Pastorinhos à Visão Cristã’, na igrejade Nossa Senhora da Conceição. 19 de abril - Lisboa – 17h30Apresentação do livro/CD infantil ‘Querido Deus!’, daescritora Thereza Ameal, com a chancela da PaulusEditora, na Obra Social Paulo VI, Campo Grande.

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Programação religiosa nos media

Antena 1, 8h00RTP1, 10h30Transmissão damissa dominical

11h00 -Transmissão missa

Domingo:10h00 - Porta Aberta;11h00 - Eucaristia;23h30 - Entrevista deAura Miguel Segunda-feira:12h00 - Informaçãoreligiosa Diariamente18h30 - Terço

RTP2, 13h00Domingo, 16 de abril,13h30 - Celebrar a Páscoae transformar o mundo.Entrevista ao bispo do Porto, D. António Francisco. Segunda-feira, dia 17, 15h00 - Entrevista a Jacinto Jardimsobre a ressurreição noquotidiano. Terça-feira, dia 18 15h00 - Informação e entrevista a freiVitor Rafael, comissário da Terra Santa em Portugal. Quarta-feira, dia 19, 15h00 - Informação e entrevistaa José Carvalho, autor de três livros sobre Fátima Quinta-feira, dia 20, 15h00 - Informação e entrevistaa Sérgio Martins sobre o encontro nacional de alunosde EMRC do secundário Sexta-feira, dia 21, 15h00 - Entrevista. Análise àliturgia de domingo. Antena 1Domingo, 16 de abril - 90 anos do Papa EméritoBento XVI Segunda a Sexta-feira, 17 a 21 de abril – Vidascom sinais de ressurreição.

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Ano A – Domingo de Páscoa daRessurreição do Senhor Testemunhasde Cristoressuscitado

Vivemos hoje a mais importante celebração da nossafé, a Páscoa da Ressurreição do Senhor. Celebramose recebemos Cristo, Palavra e Pão, para alimentar asnossas fomes quotidianas. Páscoa é todos os dias,mas este é o Dia por excelência.Como escutamos a Palavra de Deus neste dia?A primeira leitura apresenta uma das mais belascaracterizações de Jesus Cristo: “passou fazendo obem”. Uma passagem de bem pelo mundo, que implicamorte e ressurreição, doação total de si mesmo, queexige que os discípulos entrem nesta nova dinâmica eanunciem o mesmo caminho de bem a todas aspessoas e em todos os lugares.A segunda leitura convida os cristãos, revestidos deCristo pelo Batismo, a continuarem a sua caminhadade vida nova até à transformação plena. Aspirar eafeiçoar-se às coisas do alto significa dar sentido aoque somos e fazemos à luz da presença do Senhorque está vivo em nós.O Evangelho coloca-nos diante de duas atitudes faceà ressurreição: a do discípulo obstinado, que serecusa a aceitá-la porque, na sua lógica, o amor totale a doação da vida nunca podem ser geradores devida nova; e a do discípulo ideal, que ama Jesus eque, por isso, entende o seu caminho e a suaproposta; a esse não o escandaliza nem o espantaque da Cruz tenha nascido a vida plena, a vidaverdadeira.Somos discípulos de Jesus, tal como se revela naPalavra, não à nossa maneira. Ser discípulo de JesusCristo Ressuscitado implica ser testemunha daressurreição. Nós não vimos o sepulcro vazio; masfazemos, todos os dias,

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a experiência do Senhorressuscitado, que anda connosconos caminhos da história. Mas onosso testemunho será oco e vaziose não for comprovado pelo amor epela doação, as marcas da vidanova de Jesus. São estas as marcasque devemos mostrar, poistestemunhar é mostrar, comentusiasmo e coragem, comconvicção e paixão.Celebremos a Páscoa, no coraçãoda nossa fé, nas fontes do nossoBatismo! Hoje, a Ressurreição deCristo não pode ser para nós umaespécie de vago sentimento. ARessurreição de Cristo deve ser odínamo das nossas

vidas de batizados, a energia quenos envia a testemunhar: “Cristoestá vivo! Nós encontrámo-l’O!”Somos chamados a viver apresença do Ressuscitado, diantede tantas situações em sentidocontrário. Somos levados a anunciarCristo vivo em atitudes e gestossolidários, plenos de esperança ede doação. Assim seja o nossotempo pascal, vivido e celebrado nacontinuidade do tempo quaresmal.Sempre conduzidos e orientadospela Palavra de Deus!

Manuel Barbosa, scjwww.dehonianos.org

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30 dias para a visita do Papa

O bispo de Leiria-Fátima, D. AntónioMarto, disse à Agência ECCLESIAque gostaria de ver o Governoconceder tolerância de ponto nopróximo dia 12 de maio, aquando dachegada do Papa a Portugal. “Se oGoverno quiser ter um gesto decortesia, quer para com o Papa,quer para com os peregrinoscatólicos que aqui vêm, fica bem,acho eu. Mas se não o fizer, osperegrinos não deixam de vir”,referiu o responsável.

O Papa Francisco vai estar emFátima dentro de um mês, numaperegrinação que visa assinalar oCentenário das Aparições. “O 12 demaio calha numa sexta-feira, agrande celebração é à noite e, comoem todos os 12 de maio, há genteque vem só à noite, enche o recintopara o terço e a procissão de velas”,refere D. António Marto.A viagem do Papa vai começar às14h00 de Roma (menos uma emLisboa), no aeroporto de Fiumicino,

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seguindo o voo para a Base Aéreade Monte Real, onde tem chegadaprevista para as 16h20 locais.Ainda em Monte Real decorre acerimónia de boas-vindas e, às16h35, um encontro privado com opresidente da RepúblicaPortuguesa, Marcelo Rebelo deSousa.A deslocação para o Estádio deFátima, em helicóptero, tem inícioprevisto para as 17h15 e umaduração de 20 minutos,antecedendo a deslocação para oSantuário de Fátima, em viaturaaberta.O primeiro momento da agenda doPapa no Santuário será a visita àCapelinha das Aparições, às 18h15,para um momento de oração,recolhendo depois à Casa de NossaSenhora do Carmo. O PapaFrancisco vai dirigir uma saudaçãoaos peregrinos, pelas 21h30,aquando da bênção das velas, naCapelinha das Aparições, seguindo-se a recitação do Rosário.O programa de dia 13 de maio,

sábado, começa às 09h10, numencontro com o primeiro-ministro português, António Costa,na Casa de Nossa Senhora doCarmo. Pelas 09h40, o Papa vaifazer uma visita à Basílica de NossaSenhora do Rosário de Fátima,onde estão sepultados osPastorinhos de Fátima.A Missa da peregrinaçãointernacional aniversária de maio,no Centenário das Aparições, teminício previsto para as 10h00, norecinto de oração do Santuário;durante a celebração, o PapaFrancisco vai proferir a sua únicahomilia em Fátima e dirigir umasaudação aos doentes.Às 12h30 vai decorrer o almoço comos bispos de Portugal, na CasaNossa Senhora do Carmo. Acerimónia de despedida estámarcada para a Base Aérea deMonte Real, às 14h45, de ondeparte o voo papal, às 15h00, emdireção ao Aeroporto deRoma/Ciampino, com chegadaprevista para as 19h05 locais.

O grupo coral dos cadetes da Academia da Força Aérea Portuguesavai saudar o Papa com um cântico mariano, no contexto da visita deFrancisco a Portugal e ao Santuário de Fátima, nos dias 12 e 13 demaio. O Ordinariato Castrense destaca a alegria que marca osmilitares pela perspetiva da chegada do Papa argentino à Base Aéreade Monte Real, que já recebeu Paulo VI (1967) e João Paulo II (1991).

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Militares portugueses vão ligarVaticano a Fátima de bicicleta

Um grupo de militares portuguesesvai ligar o Vaticano ao Santuário deFátima de bicicleta, numa iniciativainserida na visita do Papa Franciscoà Cova da Iria, por ocasião doCentenário das Aparições. Emcomunicado publicado online, oOrdinariato Castrense refere que

“a peregrinação em bicicleta” teráinício no dia 26 de abril, na Praça deSão Pedro, em Roma, e chegadaprevista para 12 de maio,precisamente a data em queFrancisco chega a Portugal.“O objetivo é ressaltar a atualidadeda mensagem de Fátima e saudar

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o Santo Padre por também se fazerperegrino da Cova da Iria”, pode ler-se.Antes de partir, o grupo vai serrecebido e abençoado porFrancisco, no final da habitualaudiência pública de quarta-feira,com os peregrinos, conforme umasolicitação feita por D. ManuelLinda. “A Casa Pontifícia respondeupositivamente, e com a alegria, aopedido do bispo das ForçasArmadas e das Forças deSegurança para que o Papacumprimente e abençoe a comitiva”,destaca a mesma fonte.Segundo o Ordinariato Castrense,nesta peregrinação participam 10

militares, todos da Brigada deReação Rápida (Tancos) e que, debicicleta, terão de percorrer cercade três mil quilómetros em 17 dias.Nesse percurso, os participantesvão também passar pelo Santuáriode Nossa Senhora de Lourdes.Ainda em Roma, a comitiva que serárecebida pelo Papa Francisco seráconstituída, além dos 10 militares,pelo bispo das Forças Armadas edas Forças de Segurança, D.Manuel Linda, e pelo comandanteda Brigada de Reação Rápida doExército Português, o GeneralCarlos Alberto Perestrelo.

A Santa Sé avançou o horário do consistório que decidirá a data e olocal da canonização dos beatos Francisco e Jacinta Marto. Deacordo com o serviço informativo da Santa Sé, o encontro decardeais com o Papa Francisco está marcado para as 10h00 (menosuma em Lisboa) do dia 20 de abril, no Palácio Apostólico do Vaticano.No dia 23 de março a Santa Sé já havia anunciado a aprovação, porparte do Papa Francisco, do milagre necessário para a canonizaçãodos irmãos Francisco (1908-1919) e Jacinta (1910-1920). No ano 2000,Francisco e Jacinta Marto, dois irmãos que, segundo o testemunhoreconhecido pela Igreja Católica, presenciaram as aparições daVirgem Maria na Cova da Iria e arredores, entre maio e outubro de1917, tornaram-se os mais jovens beatos não-mártires da história daIgreja Católica.

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Os cristãos, da Nigéria, pedem-nos ajuda nestaQuaresma

Lágrimas de sangueNa próxima sexta-feira passamexactamente três anos desdeque 276 raparigas foramsequestradas de uma escola emChibok. Desconhece-se ainda oparadeiro da maior parte destasjovens cristãs vítimas doterrorismo islâmico neste país.Milhares de pessoas jámorreram, milhões foramforçados a fugir. Na Nigéria,muitas pessoas têm históriastrágicas para contar. Como JohnAbba. Dois meses e 10 dias. Durante todoeste tempo, John Abba esteve cego.Durante todo este tempo, foi-sementalizando que a vida nunca maisseria igual, que estaria para semprefechado numa espécie de noiteescura, aprisionado num mundosem luz nem cores. A última imagemque guardou e que recordou vezessem conta durante esses setentadias foi o padre a erguer a hóstia ea dizer: “Este é o Cordeiro deDeus…”. Depois, houve o barulhoterrível de uma explosão, a que seseguiu um clarão e uma nuvem depó. Mais nada. Abba foi projetado ecaiu inanimado no chão da Igreja. Oatentado contra a Igreja de SantaRita, no estado de Kaduna, no norteda Nigéria, ainda

hoje é recordado como uma infâmiamaior cometida contra acomunidade cristã nestemassacrado país africano. Foi emoutubro de 2012. Já passaram maisde quatro anos, mas para todos osque estavam na igreja naquelamanhã o tempo parece que parou.Oito pessoas morreram no instanteem que o carro, carregado dedinamite, explodiu. Muitas dezenasde fiéis ficaram gravemente feridos.A princípio, quando os primeirossocorristas chegaram junto de JohnAbba, julgaram que ele estavamorto, esvaindo-se em sangue. Nãomorreu, mas durante dois meses edez dias esteve completamentecego. “Não podia ver absolutamentenada. Os médicos disseram-me queo meu caso não tinha qualquersolução… Tinha de me conformar.”Apesar do cepticismo dos médicos,John sabia, no seu íntimo, quepoderia confiar em Deus. Sobreviver ao terrorE nunca desistiu. Nunca deixou derezar. John Abba foi operado trêsvezes. No final, quando já ninguémacreditava que isso seria possível,recuperou parte da visão. Se ahistória de John Abba acabou porter um

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final menos trágico, que dizer dospais das quase três centenas deraparigas, estudantes de umaescola em Chibok, quase todascristãs, que foram sequestradas porhomens armados do Boko Haram?Como é que se sobrevive a isso?Foi no dia 14 de Abril de 2014. Fezagora três anos. Desde entãocontinua a desconhecer-se oparadeiro da maior parte destasadolescentes. Muitas poderão já termorrido, algumas terão sidoviolentadas, forçadas a casar comos terroristas. Algumasengravidaram. John Abba ou asraparigas de Chibok são apenasalgumas das vítimas do reino deterror do grupo terrorista BokoHaram na Nigéria. A situação é tãograve que as próprias NaçõesUnidas consideram que esta região

é cenário da “maior crise”humanitária de todo o continenteafricano, afectando mais de 7milhões de pessoas. Em resultadodos atos terroristas do Boko Haram,já perderam a vida cerca de vinte milpessoas e quase três milhões foramforçadas a fugir de suas casas. NaNigéria, os cristãos estão na miradas armas dos terroristas islâmicos.Milhares de famílias choram todosos dias os seus ente-queridos. Sãolágrimas de sangue. Os cristãos daNigéria pedem-nos ajuda, pedem asnossas orações. Precisam de nós.Precisam de si. Vamos ajudá-losnesta Quaresma?

Paulo Aidowww.fundacao-ais.pt/africa

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Páscoa…com Angola!

Tony Neves Espiritano

Estamos às portas da Páscoa. Os Bispos deAngola publicaram uma Carta Pastoral quetermina em jeito pascal: ‘A Páscoa que estamos apreparar intensamente, é celebração da vitóriada vida sobre a morte, do amor sobre o ódio, dodiálogo sobre a intolerância, do bem sobre o mal,enfim, da reconciliação sobre a violência. Porisso, a caridade impele-nos a renovar o nossocompromisso com a verdade, a liberdade, ajustiça e a solidariedade na Igreja e na sociedadepolítica da qual somos parte integrante’. Angolavive tempos importantes pois aproximam-se aseleições que irão substituir o Presidente dasúltimas décadas. É um tempo de passagem detestemunho, com muitas luzes e sombras na linhado horizonte.Cito os Bispos: ‘continuamos a sonhar com umPaís próspero, democrático, sem corrupção,socialmente justo e economicamente sustentável.(…) Angola precisa que quem governa sejacompetente e governe para todos e não apenaspara aqueles que o elegeram e, pior ainda, parauma elite de privilegiados. Precisa igualmente deuma oposição forte que “obrigue” quem governaa dar o melhor de si em prol do bem de todos.Dizem mais adiante: ‘os verdadeiros políticos sãoaqueles que buscam, antes de tudo, o Bem-Comum do seu povo, concretamente desta nossaGrande Família chamada Angola. Este é, e deveser, o selo de autenticidade dos governantes, nopresente e no futuro, e constitui condiçãoessencial do desenvolvimento do nosso País’.

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Sobre o sentir do Povo, partilham osBispos: ‘Há muitas pessoas,principalmente entre as maisvulneráveis, que se sentemdefraudadas pela incoerência entreo conteúdo dos programas políticosescolhidos em eleições anteriores euma prática política que muitasvezes os ignora, favorecendo quemtem influência política e podereconómico ou militar ’.Os Bispos recordam: ‘Osresponsáveis políticos e partidáriosdevem assegurar a máximatransparência de todas as fases doprocesso eleitoral para que decorrade forma pacífica e a suacredibilidade não seja colocada emquestão’.Há regras a não esquecer: ‘A IgrejaCatólica não se identifica comnenhum sistema político nemendossa algum candidato. A igrejaencoraja e exorta todos os cidadãosa exercer o seu direito e dever devoto’.

Os Bispos lamentam: ‘Os órgãos deComunicação Social, sobretudo osestatais, têm sido excessivamenteunilaterais e tendenciosos. Para asua credibilidade, devemdesempenhar o seu papel,extremamente importante, ao longode todo o processo eleitoral, comrigor e isenção, garantindo o acessoà informação sobre os diferentescandidatos e programas políticos;noticiando com verdade eimparcialidade’.Os Bispos terminam com ‘umapalavra de apreço e reconhecimentoa todos os cristãos que, numcontexto tão complexo como onosso, continuam a dar testemunhoda sua fé, a participar, de formaséria e honesta, na vida partidária ea exercer o poder político como umamissão em vista à edificação do bemcomum’.Desejo uma Santa e Feliz Páscoa daRessurreição.

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