Revista Aeronáutica Edição n° 292

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7/21/2019 Revista Aeronáutica Edição n° 292 http://slidepdf.com/reader/full/revista-aeronautica-edicao-n-292 1/27 ISSN 0486-6274 Número 292 Revista Aeronáutica 2015

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Revista Aeronáutica Edição n°292

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ISSN 0486-6274  Número 292

Revista

Aeronáutica2015

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w w w . c a e r . o r g . b r 

rev i s ta@caer .org.br

As opiniões emitidas em entrevistas e em matériasassinadas estarão sujeitas a cortes, no todo ou em parte,a critério do Conselho Editorial. As matérias são de inteiraresponsabilidade de seus autores, não representando,necessariamente, a opinião da revista. As matérias nãoserão devolvidas, mesmo que não publicadas.

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Crivelli NetoAssessoria Social - Cel Av Verner Menna Barreto Stock Financeiro - Cel Av Paulo Roberto Miranda MachadoAerodesportivo - Loreta Helena Valério Alves

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Rua Raquel de Queiroz, s/nº

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Diretor e Editor Cel Av Araken Hipolito da Costa

Conselho Editorial

Maj Brig Ar Marcus Vinícius Pinto Costa

Brig Int Helio Gonçalves

Cel Av Luís Mauro Ferreira Gomes

Cel Av Araken Hipolito da Costa

 Jornalista Responsável  J. Marcos Montebello

Pruçã etr dg Gráfc R Gutr ngur

Pruçã Gráfc Luiz Ludgerio Pereira da Silva

Revisão T C QFo drc s bríz

Secretárias Juliana Helena Abreu LimaGabriela da Hora RangelIsis Ennes Pestana SantosColaborador - Ricardo Luiz de G. Germano

2015

Conselho delibeRaTivoPrt - T brg ar P Rrt Cr vrh

Conselho FisCalPrt - Mj brg it Pr nr arúj

PResidenTe 

Maj Brig Ar Marcus Vinícius Pinto

Costa

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Brig Int Helio Gonçalves

2º Vice-Presidente

Cel Av Luís Mauro Ferreira Gomes

SUPERINTENDÊNCIAS

Sede Central Cel Av Pedro Bittencourt de Almeida

Sede Barra Brig Ar Paulo Roberto de Oliveira Pereira

Sede Lacustre 

Cel Int Antonio Teixeira Lima

ISSN 0486-6274

ot. d. 

 Aeronave deCaça Gripen

12 a CRise PolíTiCa e aFalênCia de valoResRicardo Vélez RodríguezFilósofo

íc

24 CaMinha o bRasil PaRa uM niilisMoCoMo aQuele deFinido PeloFilósoFo FRiedRiCh nieTzsChe?Jober RochaEconomista

22 o labiRinTo e o ColaPsoAfonso Farias de Souza Júnior 

Cel Int 

26 o CoMeço do FiM do bolivaRianisMoRodrigo ConstantinoEconomista

34 CaRnavais, MalandRos e heRóisJoão VictorinoJornalista

32 a ToRTuRa dos núMeRosDenis Lerrer RosenfieldFilósofo

30 a RePúbliCa dos CíniCosMarco Antonio VillaHistoriador 

11  JoRnalisMo hoJeCarlos Alberto Di FrancoAdvogado

14 Tenho CeRTeza. eu aChoMárcio Tavares d’AmaralFilósofo

41 a saGa dos GueRReiRos PolivalenTeAparecido Camazano AlaminoCel Av

38 hisTóRia da FoRçaAÉREA BRASILEIRAExpedito Carlos Stephani BastosPesquisador Assuntos Militares

Baixe um leitor de QR code em seu celular, fotografeo código ao lado e vocêpoderá ler, fazer download  ou comparti lhar estarevista pela internet.

  4 MensaGeM do PResidenTeMaj Brig Ar Marcus Vinícius Pinto Costa

  6 noTíCias do CaeRRedação

16 o iMPosTo sobReGRandes FoRTunasIves Gandra da Silva MartinsRogério Gandra da Silva MartinsJuristas

18 a MioPia GeoPolíTiCade baRaCK obaMaReis FriedeDesembargador Federal

20 o lado PeRveRso daGlobalizaçãoManuel Cambeses Júnior Cel Av

28 “o PRoTaGonisTa exaGeRadodo esPeTáCulo do TRisTe FiM

da diTaduRa PeTisTa”Luís Mauro Ferreira GomesCel Av

36 viaGeM a CaRaJásDiolásia CheriegateJornalista

44 Fab Pousou eM PoRTa-aviÕesPela PRiMeiRa vez há 50 anosThiago VinholesJornalista

46 bRinCadeiRa inGênua...Mas de Mau GosToRaul Galbarro ViannaCel Av

48 a bondade de dona MabelTen Brig Ar Sergio Pedro Bambini

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A conclusão das obras de restauração e moderni-zação do deque da Sede Central, a homologaçãoe início de construção de dois novos hangares

o aeródromo Ten Brig do Ar Waldir Vasconcelos e onício do projeto do Sistema de Clubes de Oficiais daorça Aérea-SCOFA, quando analisados, em conjunto,á-nos a sensação de que o ano de 2015, a despeito dasificuldades pelas quais nossa nação vem passando,oi bastante produtivo. Foram implementadas medidasoncretas em prol das instalações de la zer aos nossosssociados, bem como, servirão de estímulo ao ingres-o de oficiais que ainda não exerceram seus dir eitos de

e integrarem ao quadro social do Clube de Aeronáutica.O conjunto de melhorias de nossas instalações

nclui, na Sede Central, o Hotel agora dotado de TV aabo,Wi-Fi , a piscina teve seus vestiários e pátio internoeformados, uma nova academia está sendo equipada.

Na Sede Barra da Tijuca, além do incremento depoio às atividades aerodesportivas, foi aumentada área de lazer para os associados com as reformasa cozinha do restaurante, da piscina e das quadrase tênis.

O ano de 2016 traz, também, uma grande

MensaGeM do PResidenTeexpectativa com a conclusão do Ginásio Poliesportivo,dois campos de futebol/rugby, uma pista olímpicade atletismo e o término dos hangares para abrigar40 aeronaves ultraleves.

A Sede Central já possui os projetos executivosde um novo  hall  de entrada e área de recepção aoshóspedes do hotel, nova sala de convivência dos só-cios, reforma de unidade de apoio aos eventos do salãoIvo Borges e atualização das vias de circulação internas.

Ao concluirmos este relato anual gostaria de dedicaruma homenagem às administrações anteriores quesouberam enfrentar e ultrapassar grandes dificuldades

que ocorreram há cerca de 20 anos e nos legaram umasituação sólida, o que nos permitiu continuar seusesforços desta vez, atualizando e melhorando essemaravilhoso patrimônio que a Força Aérea possui.

Não poderíamos deixar de agradecer a compreen-são e o incentivo de nossos associados que muitasvezes tiveram seus momentos de lazer prejudicadoscom o desenvolvimento das obras.

Que o próximo ano possa nos permitir a conti-nuidade de nossos projetos.

Feliz Natal e próspero Ano Novo.

Da esquerda para a direita: Cel Av Araken, Ten Brig Ar Villarinho, Cel Av Luís Mauro, Cel Méd Lanna, Brig Int Gonçalves,Maj Brig Ar Cury, Ten Brig Ar Baptista, Brig Ar Athayde, Maj Brig Ar Marcus Vinícius Pinto Costa, Maj Brig Ar Carvalho Neto,

Ten Brig Ar Lacerda, Maj Brig Ar Grossi e Cel Av Cambeses

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No dia 3 de dezembro, o CentroBrasileiro de Estudos Estratégicos

CEBRES) lançou, no Clube de Aero-náutica, o livro Polícia Federal do Brasi l:50 anos de história, de autoria do Pre-sidente de Honra do CEBRES, CoronelAmerino Raposo Filho.

O livro retrata a origem e a trajet óriade sucesso daquela renomada institui-ção, com grande representatividade,principalmente, no momento atual denosso país.

Logo após o Coronel Amerino terapresentado seu livro na Sala de Con-venções do Clube, todos os presentesoram convidados para a inscrição de

dedicatória da obra e para um coquetel,no Salão de Sócios Nero Moura.

CebRes Faz lançaMenTode livRo no Clube de aeRonáuTiCa

Todos se emocionaram com as precisasmanobras das aeronaves no lendário

Campo dos Afonsos, com destaque paraas belas apresentações da EsquadrilhaCEU formada por oficiais da reserva daForça Aérea, helicópteros do 3º/8º GAv,pilotos acrobáticos civis, paraquedismoe visitação às aeronaves.

O público infantil marcou o evento,vibrando com seus pais e participandodas oficinas educativas de pintura emontagem de aviões.

O Domingo Aéreo também contou

o doMinGo aéReo

no Museu aeRoesPaCialHomenagem aos aviadores e tripulantes, aconteceu no dia 18 de outubro,com a presença de 25 mil pessoas.

com a banda de jovens EMEF Dom Paulo,de São Paulo, exposição de aeromode-los, distribuição de brindes institucionaise educativos e o contato do público c omos pilotos, interagindo lazer e cultura,contribuindo para o papel Institucionalda Força Aérea que, dentre outros, focano despertar de vocações para a aviação,mostrando ao público jovem que o sonhode voar é possível, como Santos-Dumontprotagonizou um dia.

O evento teve, uma vez mais, oapoio das Unidades de Campanha da

Intendência e de Saúde da Aeronáuticae da Patrulha Civil Resgate, garantindoconforto e segurança.

Pelas condições climáticas não foipossível o voo do Esquadrão de Demons- traç ão Aérea ( EDA), mas a pr esença d osseus A-29 perfilados impecavelmente nopátio, juntamente com o helicóptero Sea--Hawk da Marinha do Brasil e o ronco domotor do P-47 Thunderbolt concorreramainda mais para o sucesso do evento,um grande acontecimento da Históriada Aviação.

noTíCiasnoTíCias do CAERdo CAER

A  turm a inic iada e m 1962, compl etou este ano 50 anos d e sua c hegad a à Esc olade Aeronáutica (hoje AFA), no Campo dos Afonsos. A comemoração deste

Cinquentenário constou da inauguração de uma placa alusiva ao evento, no antigoCorpo de Cadetes, seguido de um belo churrasco, com um comparecimento signi-ficativo de seus integrantes.

A foto demostra bem a alegria que contagiou a comemoração.

50 anosda TuRMa

“aGoRa vai!”

Neste evento cívico-cultural tivemosa presença de diversas autoridades: oPresidente do CAER, Maj Brig MarcusVinícius, o Presidente da CEBRES e1º Vice-Presidente do Clube de Aeronáu- tica, Brig In t Helio Gon çalves, o Vic e-Pre-

sidente da CEBRES e 2º Vice-Presidentedo Clube, Cel Av Luís Mauro.

O livro foi muito elogiado na sua apre-sentação e chamou a atenção de todos jáque está diretamente ligado aos problemasque o Brasil vem enfrentando na atualidade.

Coronel do Exército Amerino Raposo Filho

Da esq. para a d ir., Cel Av Luís Mauro,Cel Amerino, Brig Int Helio Gonçalves,Maj Brig Marcus Vinícius e José Braz,do CEBRES

Desped iu -se de nós , no d i a15/12/2015, o grande piloto de

Caça Cel Av Newton da Silva AYMONE,ex-Comandante do 1º Grupo de Aviaçãode Caça, da turma de 71 da AFA. O maisvoado em aeronave F-5 com 1.750 horas.

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No dia 3 de novembro de 2015,realizou-se, na Sala de Convenções

do Clube de Aeronáutica, o encerramentodo Curso do Pensamento Brasileiro, nasua sexta edição.

Como sempre, aqueles 52 compo-nentes da Turma diplomada costumamdemonstrar com bom humor a satisfação

por mais uma etapa de conhecimentoencerrada em suas trajetórias de vida.

A composição da mesa de encer-ramento e diplomação do Curso contoucom o Presidente do CAer, Maj BrigAr Marcus Vinícius Pinto Costa; e seu1° Vice-Presidente Brig Int Helio Gon-çalves.

O Presidente agradeceu os esforçosdo Diretor Cultural, Cel Av Araken Hipólitoda Costa, pelo inegável desenvolvimentodo Grupo.

Após a entrega dos certificados dediplomação e sob a orientação do jor-nalista e membro do Grupo de Estudos,João Victorino, o nosso sempre animadoErnani Marones, Mestre em Musicologiapela UFRJ, apresentou uma seleção desucessos musicais de Orlando Silva, cujo

diPloMação do CuRso do PensaMenTo bRasileiRo viCentenário está sendo comemorado nesteperíodo. Depois, continuou com valsas,fox trotes, sambas, marchas, chorinhos evários sucessos da época.

A Srª Regina Helena de Farias Costaleu, acompanhada pela pianista e cantoralírica Jurema Fontoura, uma crônica deAfonso Romano de Sant’Anna sobre a

mulher que ama ( A mulher madura) e umacrônica de Artur da Távola sobre a mulherque perdeu o seu amor ( A mulher que per-deu o seu amor ). Além disso, interpretouValsa de uma Cidade, de Ismael Neto eAntônio Maria.

Após o evento, foi servido um belocoquetel de confraternização com umsaboroso bolo festivo.

PensaMenTo bRasileiRoPalesTRa do JuRisTa

ives GandRa MaRTinsTodas as vezes que se encontra com

o Grupo do Pensamento Brasileiro, ourista Ives Gandra Martins sempre deixa plateia extasiada. No dia 27 de outubro

ão foi diferente. Com muita propriedade saber, explicou os motivos que estavam

evando o Legislativo, Judiciário e Execu-vo a um embate pelo  impeachment daresidente Dilma.

Afirmou que um presidente não podementir. E esse é o ponto crucial do atualoverno. Considerou que as ditas pedala-as fiscais, com prejuízo para os bancosficiais, e a mentira de pátria educadora,ão fortes indícios de improbidade admi-istrativa.

Comentou que havia estado tempostrás com uma juíza da Suprema Corteos Estados Unidos. Questionada sobre problema do presidente Clinton com a

ornalista Monica, ela havia dito que poderiaer sido afastado do cargo pelos juízes, poisavia mentido para a população.

Ives apontou um cenário conturbadoara o futuro econômico do Brasil, coms grandes investidores optando pelo

Paraguai, por não confiarem no climaoli vari ano   que vem sendo apontadoomo a política primordial dos nossosovernantes.

Considerou um erro a criação dempostos e o aumento da carga tributária,em que o governo esteja empenhado emjustar a máquina administrativa. O juristaessaltou, inclusive, que soubera que nãoeriam demitidos os tais três mil comissio-ados incluídos no pacote de ajuste fiscal.

Ao concluir, Ives Gandra disse queCollor pode ser considerado uma carme-lita descalça, um monge trapista perto daDilma e do Lula.

O jurista Ives Gandra Martins traçoucinco cenários para os próximos dias dogoverno de Dilma Rousseff

O primeiro aponta a recuperação dasua credibilidade pessoal e também doseu projeto de governo. Outra hipótese é o

 impeachment da dupla eleita em outubrode 2014. Pode ser apontado como terceirocenário, a investigação das contas decampanha por parte do Tribunal SuperiorEleitoral, reaberta, por cinco votos a dois,inclusive com a concordância do MinistroJosé Antonio Dias Toffoli. Outra possibilida-de é ser aplicada a impugnação exclusiva-mente à presidente Dilma Rousseff, sendoo governo entregue ao vice, Michel Temer,para concluir o mandato. Por fim, casonenhuma dessas alternativas ocorram, Ivesaponta o Brasil se transformando numaVenezuela dos dias de hoje, bolivariana àmoda Chaves/Maduro.

noTíCiasnoTíCias do CAERdo CAER

 Jornalista João Victorino

 Jurema Fontoura

Regina Helena de Farias Costa

Ernani Marones

O público presente ao evento, incluindo o Diretor Cultural Cel Av Araken, formandos, funcionários do CAER e convidados

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MensaGeM

dos leiToRes

Algumas críticas ideológicas ao jor-nalismo, amargas e corrosivas, têm

a garra do pessimismo amargo e dosectarismo ressentido. Irritam-se, alguns,com o vigor do jornalismo de denúncia evislumbram interesses espúrios ou enga-jamentos partidários. Uma retrospectivahonesta, contudo, evidencia que os jornaisnunca tiveram uma relação amorosa comgovernos, independentemente do coloridoideológico dos poderosos de turno. E éassim que deve ser. As relações entre

jornalismo e poder devem ser pautadas porcerta tensão. O estranhamento civilizado ébom para a sociedade e essencial para ademocracia.

O jornalismo brasileiro, não obstantesuas deficiências, tem desempenhadopapel relevante. Ao lancetar os tumoresda corrupção, por exemplo, cumpre umdever ético intransferível. A mídia, num paísdominado por esquemas cartoriais e porassustadora delinquência pública, assumesignificativa parcela de responsabilidade.O Brasil, graças à varredura dos jornais,

Carlos Alberto Di Franco

Advogado e doutor em Comunicação

está mudando. Para melhor. A culturada impunidade, responsável pela rotinado acobertamento e dos panos quentes,está, aos poucos, sendo substituída peloexercício da cidadania responsável.

A  mcdonaldização  dos jornais é umrisco que convém evitar. A crescenteexploração do entretenimento e da su-perficialidade informativa, em prejuízo dainformação de qualidade, tem frustradoinúmeros consumidores de jornais. Opúblico-alvo dos jornais não se satisfaz

com o hambúrguer jornalístico. Trata-sede uma fatia qualificada do mercado. Querinformação aprofundada, analítica, precisae confiável.

É preciso investir na leveza formal eno fascinante mundo digital. Sem dúvida.O investimento em didatismo, a clareza,pautas próprias e uma agenda positivasão, entre outras, algumas das alavancasdo crescimento. O jornal precisa moldar oseu conceito de informação, ajustando-oàs necessidades do público a que se dirige.Mas nada disso, nada mesmo, supera a

É com g r a n d e s a t i s f a çã o q u ecomunicamos aos nossos Associados

ue, no dia 17 de novembro, no Salão Ma-echal Nero Moura (CAER), foi firmado umonvênio, oficializando o início do SCOFA,

om a presença do Comandante do IIICOMAR, Maj Brig Ar José Euclides da SilvaGonçalves (representando o Comandantea Aeronáutica - Ten Brig Ar Rossato), o

noTíCiasnoTíCias do CAERdo CAER

sisTeMade Clube de oFiCiais

da FoRça aéRea (sCoFa)ex-Comandante da Aeronáutica, Ten BrigAr Juniti Saito, o ex-Presidente do CAER,Ten Brig Ar Ivan Frota, do Presidente doClube de Aeronáutica, Maj Brig Ar MarcusVinícius e dos Vice-Presidentes, Brig Int

Helio Gonçalves e Cel Av Luís Mauro,o Prefeito da Prefeitura da Aeronáuticado Galeão e os Diretores do COGA e doCOGAL, que testemunharam a assinaturado citado convênio SCOFA.

O SCOFA é um convênio de naturezaespecial, sem fins lucrativos e sem repas-se de verbas públicas, que o Comandoda Aeronáutica, inicialmente, por meiodo Terceiro Comando Aéreo Regional –III COMAR – e do Clube de Aeronáutica(CAER), entre si celebram, objetivandopromover o intercâmbio de atividadessocioculturais, esportivas e similares, noâmbito dos Clubes e Centros Sociais doCOMAR, situados na área de jurisdiçãodo III COMAR.

 Autoridades presentes

Maj Brig Euclides e Maj Brig Viníciusna assinatura do convênio

Ricardo Lewandowski – Presidente do STF -  

Acusando o recebimento e agradecendo o gentilenvio da Revista Aeronáutica nº 291. Cumpri-menta o Diretor do Departamento Cultural.Gen Ex Luis Carlos Gomes Mattos – Ministrodo STM - Agradecendo sensibilizado ao PrezadoCel Av Araken Hipolito da Costa, Diretor do DepCultural do CAER a remessa da revista de nº291, cumprimentando-o pelo excelente trabalho.Alvaro Luiz Pinto – Almirante de Esquadra - Aoprezado Diretor do Dep. Cultural, com cordialagradecimento, acusa o recebimento da ediçãonº 291. Parabeniza pelo empenho e esmero de

 todos os envolvidos em sua publicação, tendo,como resultado, o sucesso de sempre.Artur Vidigal de Oliveira  – Ministro do STM - Agradecendo a V.S. o gentil oferecimento doexemplar da revista nº 291, cumprimentando-opela feliz iniciativa e pela qualidade das maté-rias nela publicadas.Gen Ex Odilon Sampaio Benzi – Ministro doSTM  – Agradecendo a gentileza de envio doexemplar nº 291, desejando êxito continuadona sua relevante e exigente missão.Ozires Silva – Reitor UNIMONTE – PresidenteConselho de Administração – Grupo Anima de Educação e Cultura - Agradecendo a gentilezade ter aceito a publicação e remet ido o exem-plar da Revista Aeronáutica que espelha o seuartigo, externando sua frustração com o nossopaís de hoje. Afirma, ainda, que a FAB lutoumuito pelo seu sucesso, citando que, entremuitas iniciativas importantes, destaca-sea criação do ITA, do qual pode ele próprioser aluno (graças a uma Bolsa de Estudos,

 também concedida pela FAB, a qual foi o maiorpresente que ele recebeu na sua vida). E entreos inúmeros resultados colhidos até agora,destaca a criação da EMBRAER que, sem ainiciativa dos nossos velhos Comandantes da

Força Aérea não teria ocorrido.Também podemos destacar muitas coisascomo o CAN, uma parcela de uma somaimensa. Termina com abraços agradecendo edesejando sucesso sempre.Nilton Lanna - Cel Méd   - Leitor do Arautoe sócio do CAER, elogia mensagem do1º Vice-Presidente publicada na edição dedezembro.

NOTA DO EDITOR

Agradecemos as manifestações dosleitores, estendendo nossa gratidão aoscolaboradores, que valorizam as nossasedições, deixando-lhes espaço aberto parao envio de textos.

 JoRnalisMo hoJequalidade do conteúdo. É aí que se travaa verdadeira batalha. Só um produtoconsistente tem a marca da permanência.O The New York Times  sabe disso comonenhum outro: produzir jornalismo de qua-

 lidade e matérias sérias de maneira mais atraente. Qualidade e bom humor. É isso.

Apostar em boas pautas (não muitas,mas relevantes) é outra saída. É melhorcobrir magnificamente alguns temas doque atirar em todas as direções. O leitorpede, em todas as pesquisas, reportagem.

Quando jornalistas, entrincheirados e hip-notizados pelas telas dos computadores,não saem à luta, as redações se convertemem centros de informação pasteurizada.O lugar do repórter é a rua, garimpando ainformação, prestando serviço ao leitor econtando boas histórias. Elas existem. Es- tão em cada esquina das no ssas cidades.É só procurar.

O jornalismo moderno, mais do quequalquer outra atividade humana, reclamarigor, curiosidade, ética e paixão. É issoque faz a diferença n   F

  o  n   t  e  :   O   G   l  o   b  o

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Do livro A Grande MentiraLula e o Patrimonialismo Petista

Omodelo de sociedade pautada porum Estado patrimonialista está emcrise. Mas não apenas pela ação

dos políticos larápios e dos empresárioscooptados por eles. O nosso modelosocial entrou em parafuso por falta desustentação axiológica. A crise vem debaixo, da grande massa das famílias. Issoficou evidente em pesquisa recente efe- tuada pel a Organização para Coo peraçãoe Desenvolvimento (OCDE), segundo aqual o Brasil é campeão mundial em mau

comportamento em sala de aula, o que levaa que os professores gastem 15% do seu tempo tentand o manter a disciplina.

Essa lamentável realidade levou a pre-sidente da Federação Nacional das EscolasParticulares (FENEP), Amábile Palacios, acontestar o lema do governo federal queno voluntarismo que o caracteriza tentouerguer o bordão: Brasil, Pátria Educadora,ao mesmo tempo em que a presidente Dil-ma tenta acobertar os corruptores do PT nocaso do Petrolão. E ao mesmo tempo emque o PT, na sua reunião para comemorar  os 35 anos de fundação, se solidarizoucom os larápios petralhas, ignorando omal-estar que a sociedade brasileira vive aoensejo da pior onda corruptora do país, queconseguiu fazer naufragar a nossa maiorempresa estatal, a Petrobras.

Para Amábile Palacios, o slogan “Bra-

sil, Pátria Educadora” constitui, apenas,mais um jingle político bolado por marque- teiros. “Eu percebo - frisou a presidente daFENEP - que esse desrespeito vem muitodo modelo de sociedade que a gente está tendo e pelo model o de família e diz res-peito à falta de valores que a gente estáimpondo à sociedade”. A mesma opiniãofoi externada pelo presidente do Sindicatodos Profissionais em Educação do EnsinoMunicipal de São Paulo, que representa1.400 escolas.

Ora, a crise vivida pelo ensino nos

a CRise PolíTiCa e aFalênCia de valoRes

Ricardo Vélez Rodríguez

Mestre em Filosoa (PUC/RJ). Doutor em Filosoa

(UGF). Professor da Universidade Federal de Juiz

de Fora. Coordenador do Centro de Pesquisas

Estratégicas “Paulino Soares de Sousa”.

Coordenador do Núcleo de Estudos Ibéricos e

Ibero-Americanos. Professor Emérito na Escola

de Comando e Estado-Maior do Exército.

[email protected]

seus níveis primário e secundário estende--se também às universidades e faculdades.Antigas ilhas de excelência como a USP

 têm assi sti do a cena s de vand alis moe de longa perturbação da ordem, emintermináveis greves de caráter políticoque têm como prato forte a destruiçãodo patrimônio, o consumo de tóxicos eo desrespeito para com a sociedade. Omodelo anarquista de greves generalizadasdo ensino superior estendeu-se pelo Brasilafora e reforça a convicção de que o nossopaís perdeu o rumo.

Duas vias apresentam-se neste con- turb ado cenár io: do pont o de vist a da

sociedade, uma tomada de consciência dagravidade do problema, acompanhada damudança de comportamento, de forma adar ensejo à nova atitude que leve a gerarresponsabilidade nos educandos e educa-dores. Do ponto de vista político, a urgênciade colocar sobre o tapete soluções nareformulação da nossa política, que en-veredou por esse caminho de privatizaçãodo Estado por clãs, como se o único nortefosse beneficiar amigos e apaniguados.

Difícil tarefa, quando o caminho parasolucionar os conflitos passa por algo queas pessoas se recusam a observar: osvalores que as movem. Sem isso, a revi-são dos mesmos e a mudança de atitudes tornam-se tar efas impossíveis.

Mas as coisas não param aí. É ne-cessário, também, reformular as nossasinstituições, a fim de que o Estado passe

a servir a sociedade e não continue a sero balcão de negócios gerido por esper- talhões, que privatiz aram o governo embenefício próprio. Aqui a via necessária éa da reforma política, que deve partir parareestruturar o nexo de responsabilidade en- tre eleito e eleitor, impedindo a proliferaçãode partidos nanicos e adotando um modelode voto, como o distrital, que atrele o eleitoàs responsabilidades decorrentes da re-presentação de interesses dos cidadãos.

De outro lado, faz-se necessário,na reforma apontada, colocar freio ao

excessivo poder acumulado pelo Execu- tivo, capaz de corr omper o Legisl ativomediante o oferecimento de vantagenspecuniárias. O caminho da reforma,neste ponto específico, seria, em pri-meiro lugar, o da responsabilização daatual presidente pelas decisões erradasem face da Petrobras, que de formacriminosa tiraram desta a sustentaçãode credibilidade no cenário.

Em segundo lugar, a reforma políticadeveria contemplar a punição exemplardaqueles que colocaram as instituições doEstado a serviço de políticas populistas que terminaram esvaziando os cofres públicos.

É necessário deixar claro as obscuras de-cisões tomadas pelos governos de Lula eDilma no caso do BNDES, para beneficiaramigos no cenário internacional, sem queaparecessem as vantagens que daí advi-riam para o Brasil. Refiro-me sobretudo aomilionário financiamento para a construçãodo porto de Mariel em Cuba. Isso para nãofalar da falida aventura da construção darefinaria Abreu e Lima em Pernambuco, daqual participaria com recursos o governovenezuelano, sem que, até agora, o Brasil tenha recebido um só to stão.

Uma providência necessária seria também acabar com a pr ática das emen-das parlamentares  que só corrompem arepresentação e colocam o Legislativo emmãos das negociatas inescrupulosas doExecutivo.

O cenário, como se vê, é complicado e

não sairemos dele sem um grande esforçopessoal e coletivo. Escrevia recentemente oprêmio Nobel Mário Vargas Llosa (Suicídio

 político em voga , no  Estado de S.  Paulodo dia 8 de fevereiro de 2015, p. A14) queas nações optam, às vezes, pelo haraquiripolítico, tomando decisões erradas quecomprometem o bem-estar de futurasgerações. O Brasil, infelizmente, está nessecaminho, e não será fácil sair dele. Mas não temos outra escolha se quiser mos legaraos nossos filhos um país habitável e nãoum cenário de conflito e destruição n

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Tenho CeRTeza. eu aCho

   F  o  n   t  e  :   O   G   l  o   b  o

Marcio Tavares d’Amaral

Filósofo

[email protected]

A coragem da verdade é necessáriapara derrubar aparências, precon-ceitos, pré-julgamentos.

Digo aos meus alunos que começamma frase com eu acho que refaçam a

uestão quando puderem dizer eu penso.Porque, na filosofia, é da verdade que serata. Não de op iniões. Opiniões desgar-am, ancoram-se nas manias do sujeito. Aerdade pede muita amorosidade e muitorabalho. Porque está escondida debaixo dema montanha de opiniões achadas. Fica alierdida. Até que o trabalho seja feito, comalma, demora e alegria, e ela possa apa -ecer. Às vezes nem é grande coisa: sabernde está a razão numa briga de vizinhos.

Às vezes é uma coisa enorme: o bóson deHiggs, o vírus da AIDS. Não sabemos dentemão. É preciso paciência. Foucaulteu ao seu último curso o lindo título de Aoragem da verdade. Pois é isso mesmo.

E é uma procura alegre. Não há verda-e raivosa. Há uso raivoso da verdade. Umaristeza. Coisa tão delicada não merece odio. Nem a indiferença.  Eu ach o  é umome para a indiferença. Quando vem co-

ado num tenho certeza é uma calamidaderrogante. Não é possível ter certeza sobreada cuja verdade não tenha sido amoro-amente buscada. Limpada do entulho ques nossas opiniões e covardias moraisolaram nela. Só então pode ser mostra-a. Não sendo assim, não se diga tenhoerteza. Noel Rosa, que sabia das coisas,em uma canção que começa assim: Quemcha vive se perdendo. Chama-se  Feitio

de oração. É isso mesmo: a procura daerdade tem feitio de oração. E gosto de

 transcendência. É m aior do que nós. E namaré de citações, vá mais esta, que estálá na Bíblia: A verdade vos libertará. Não aopinião. O mercado de opiniões é numero-so e barulhento. A verdade é silenciosa ehumilde. E é a coisa mais radical que há.

A coragem da verdade é necessáriapara derrubar aparências, preconceitos,pré-julgamentos. E leviandades e ódios,

com que, por má-fé ou preguiça, a vamossobrecarregando. A menor distância entredois pontos é uma reta, é o que os geôme- tras nos ensinam. E a menor dis tância é amais fácil. Uma opinião é fácil, um precon-ceito leva em linha reta a outro. E de retaem reta nos afastamos da verdade peloscaminhos mais curtos. Como a covardiada opinião arrogante acaba sendo des-confortável, saímo-nos com esta: Tenhocerteza. Eu acho. E pronto. Podemos fazeracordos em torno dessas certezas meia--sola e ir adiante. Mas a verdade não admiteacordos. Quem só acha não descobre nada.Vive se perdendo.

Atualmente, neste país crivado deódios assustadores, a tentação do caminhocurto se tornou como que a essência danossa alma política. Em relação a quase tudo, temos certeza daquilo que apenasachamos. Se achamos, se para nós está nacara, só pode ser verdadeiro. Vai-se ver, emalguns casos é mesmo. Só não podemossaber antes de procurar. A honesta procurada verdade, dizia-se muito antigamente,quando honestidade era requisito trivial.Hoje são malvistos os que procuram eesmiúçam, não veem de saída o que estána cara, logo, é verdade. Pode ser. Claro.Mas, honestamente, não sabemos. Pá elupa são requeridas. Mas teimamos em tercertezas a olho nu.

Exigimos ética na política. Devia

ser obrigação. Virou bandeira. Nós, osvirtuosos, apontamos o dedo contra aspodridões do poder. As corrupções. Osautobeneficiamentos. A ladroagem. Tudoque desmoraliza a política, que a torna suja,que afasta dela as pessoas de bem. Essessão atos, e são imorais. Os políticos queos praticam, além de imorais são antiéticospor se desconectarem do compromisso

com a verdade. E nós também somosantiéticos, quando, na fúria dos nossosjulgamentos, nos pomos na arrogância doeu tenho certeza – eu acho, sem termosantes ido verificar. Entramos demais, àsvezes com boa fé, no pântano das opiniõesincertas. Mas ficamos orgulhosos, porquesabemos. Quer dizer, achamos. Quer dizer, temos certeza .

O país está partido. Cada grupo deopinião tem hoje 100% de certeza. No fimda conta, há uns 700% de convicções par auma verdade só, à qual bastam 100%. Oresto vira fumaça, quando a verdade apare-ce. Estaríamos certamente mais felizes se tivéssemos menos certezas automáticas,disparadas pelo botão do ressentimento. Emais um pouco da serena, difícil, coragemda verdade. Seríamos com certamentemais fraternos. E desentupiríamos oscanais do ódio.

Isso vale, é claro, para todos. Todos,sem exceção de ideologias ou posiçõesrelativas de governo e oposição. E igual-mente vale para nós, que assistimos aoespetáculo deplorável da política hoje,aqui, e tornamo-nos deploráveis também,porque, afetados de descompromisso coma verdade, nos precipitamos pelo fígadopara a opinião condenatória mais próxi-ma. Cegamente. E aí, como haveremosde procurar? Aliás, para quê? Já temoscerteza – achamos n

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Ives Gandra da Silva Martinse Rogério Gandra da Silva Martins

são, respectivamente, presidente do Conselho

Superior de Direito da Fecomercio-SP

e conselheiro do Conselho Superior de Direito

da mesma entidade.

[email protected]

Volta-se a falar na introdução doImposto sobre Grandes Fortunas(IGF) no esclerosado sistema

 trib utár io br asile iro.O IGF, previsto no art igo 153, inciso VII,

da Constituição Federal, é da competênciaimpositiva da União, sendo o único quenunca foi instituído.

Do ponto de vista técnico, o tributoé obsoleto e ineficaz. Surgiu no calor dos

debates da Assembleia Nacional Consti- tuinte (1987/1988). Foi o tributo espelhadono modelo francês, que já o tinha desde1982 ( Impôt sur Les Grandes Fortunes).Naquela ocasião, a França era governadapor François Mitterrand, membro do PartidoSocialista Francês. Adotando a ideologiade seu partido, nada mais  normal  do quea introdução de um tributo que taxasse osricos. Mas é bom fr isar que seu antecessor,Valéry Giscard d’Estaing, juntamente como então Primeiro-Ministro Barre, em cum-primento a uma promessa de campanha, jáhaviam estabelecido uma Comissão paraestudar a viabilidade de sua imposiçãosobre grandes fortunas e, depois de por-menorizado estudo, apresentou em 1978,relatório no qual refutou a ideia de se criaro tributo, já que os inconvenientes e ascomplexidades que a exação fiscal gerariaseriam maiores do que as vantagens de

sua instituição.Essa modalidade de tributação afigu-

ra-se como técnica fiscal em pleno desuso

na grande maioria dos países.

Mesmo assim, a ideia de se tributaras grandes fortunas voltou à ordem dodia na corrida presidencial de 1981, comouma promessa de criação de um tributosocialmente justo, economicamente razo-ável, com técnica simples, clara e precisa,como se pregava!

Ora, pelo próprio discurso percebe-seo caráter demagógico e eleitoral, uma vez

o iMPosTo sobReGRandes FoRTunas

que de todas as características apontadasnenhuma se condiz com o tributo.

Um tributo que recaia sobre riquezaacumulada sob o argumento de que os

 ricos devem pagar mais do que os pobres  termina mais por afastar do que atrair inves- timentos, visto que já existem imposiçõesnessa direção, sendo o imposto progressivosobre a renda o mais clássico exemplo.

A própria prática mostrou que não sóna França, mas em todos os países em queo IGF foi adotado, a parcela dos contribuin- tes de menor capacidade econômica nãofoi beneficiada, já que o IGF pouco rendee o Estado é sempre ineficiente nesta falsa

 redistribuição de riqueza.Entendemos ser falsa a redistribuição

de riqueza, pois é a sociedade e não o Es-

 tado quem a redistribui, pois a produz naforma de bens, serviços, emprego, renda,consumo e patrimônio. Será a sociedade,se não atrapalhada pelo governo, que geraráo círculo virtuoso da economia.

Alegar, outrossim, que o IGF seriaeconomicamente razoável   não condizcom o que vem comprovando o direito e aeconomia. É sofisma concluir ser razoável   tributar o patrimônio global dos que maiso detêm. Na tributação patrimonial global,os bens e direitos já foram tributados poroutros impostos (no caso brasileiro, oimóvel pelo IPTU, o automóvel pelo IPVA,bens e direitos por impostos indiretos eaté a compra desses se deu por renda já tributada). Neste caso, fere-se o princípioda igualdade horizontal, pois tributando oconjunto total dos bens e direitos individu-almente já tributados segundo a regra dotratamento desigual a situações desiguais 

cria-se uma bitributação que alcança tãosomente as universalidades de bens edireitos que em sua soma total perfazemaltos valores. À evidência, o IGF carece dequalquer critério de adequação e razoabili-dade econômico-jurídica.

Por fim, a justificativa de que o IGFseria simples, claro e preciso cai por terrapela própria experiência francesa e mundiallidando com o tributo.

Assim é que o IGF mostrou-se incapazde atender às necessidades prometidase esperadas na França, e, em 1986, foi

revogado. Mas no ano seguinte, FrançoisMitterrand buscou a reeleição presidencialdefendendo a taxação redistributiva. A nova

 máscara eleitoral   do imposto lastreou-seno princí  pio da solidariedade visando dar o

 mínimo existencial aos mais pobres.Assim, em seu segundo mandato, o

imposto volta, mas sob a denominação de Impôt de Solidarité sur La Fortune - ISF .Foi este modelo de imposição francesaque inspirou os constituintes brasileirosde 1987-1988, pouco afeitos à verdadeirapolítica tributária.

A experiência mundial tem mostradoque em matéria de IGF:(1) muitos foram ospaíses que o estudaram, mas poucos osque o implementaram e parte dos que ointroduziram terminaram por revogá-lo, já

que os efeitos positivos foram aquém dosesperados e os efeitos desfavoráveis alémdos imaginados; e o tributo sempre foi atre-lado a um caráter ideológico e eleitoreiro.

Como exemplos no mundo, podemoscitar a França (já analisada); a Alemanha(criado em 1922, mas declarado inconsti- tucional, em 1995); os Estados Unidos, oCanadá, a Inglaterra e a Austrália, que es- tudaram a viabilidade, mas concluíram pornão instituir pelo baixo volume de arrecada-ção, alto custo na cobrança/administração,mesmas razões que levaram Itália, Irlandae Japão a instituir o tributo, mas revogá-loposteriormente; a Espanha adotou o tributoem 1977. Em 2008, o tributo é suprimido,pois não alcança os objetivos, mas devidoà profunda crise europeia é restabelecidocomo fonte arrecadatória provisória paraos anos de 2011-2015; a Suíça: alíquotasextremamente baixas, não passando de 1%

e não representando significativo impacto tributário na carga fiscal globa l.

Percebe-se, desta forma, que essamodalidade de tributação afigura-se como técnica fiscal em pleno desuso na grandemaioria dos países, demonstrando queseus resultados em prol da sociedade sãomínimos ou inexistentes.

Tendo em vista os argumentos retroapresentados, entendemos que, no tocanteao IGF, a melhor solução seria expurgá-lo daConstituição Federal por meio de EmendaConstitucional n

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A MIOPIA GEOPOLÍTICADE BARACK OBAMA

A repetição dos erros históricos quantoà celebração de maus acordos

Reis Friede

Desembargador Federal, Vice-Presidente do TRF2

e Professor Emérito da Escola de Comando e Estado -Maior do Exército (ECEME)

[email protected]

“Na minha frente existiam dois caminhos (...) e eu trilhei porum deles (...) e isto fez enorme diferença (...)”

 Robert Frost (in “O Caminho que não Escolhi”)

Uma inicial e aparente “ negligênci a be- nigna” e, posterior e efetiva, “ ingenui-dade irresponsável” de Barack Obama

parece, lamentavelmente, ter cedido lugar auma verdadeira e extremamente perigosa“miopia geopolítica” no que concerne à ce-lebração do acordo nuclear com o Irã, e comas correspondentes consequências para aestabilidade do Oriente Médio, de modo geral.

Para qualquer estudioso minimamenteatento à dinâmica política global, não restaqualquer dúvida razoável que indique que oIrã não está desenvolvendo um  arsenal nu-clear  com capacidade estratégica. Muito pelocontrário, todos os fatos indicam justamenteo contrário, porquanto este país islâmico, denítida feição radical xiita (amplamente mino-ritária, representando menos de 20% do uni-verso islâmico), simplesmente não vislumbraalternativa para a sua própria sobrevivênciacomo grande potência que outrora foi e queaspira voltar a ser. Não é por outra razão que

seu ambicioso programa nuclear já testou eincorporou, ao seu arsenal, Mísseis Balísticosde Alcance Intermediário (IRBM’s), como tam-bém já adquiriu, de seus parceiros comerciaisrussos (antes das sanções), submarinos, mo-vidos a diesel, classe Kilo (SSK), com possívelcapacidade adaptada (em desenvolvimento)de lançar Mísseis Balísticos ou de Cruzeiro(SLBM/SLCM’s) – a exemplo do que fez Israelcom os submarinos alemães classe Dolphin(já operacionais) – e avança, à luz de todas asevidências, para o rápido desenvolvimento deMísseis Balísticos Intercontinent ais (ICBM’s),com reconhecido auxílio técnico norte--coreano, todos estes a serem futuramentedotados de ogivas nucleares.

Não se trata, portanto, da existênciade dúvida quanto às evidentes intençõesbelicistas iranianas, mas, ao reverso, dequando esta Nação terá todo o seu sistemaestratégico-nuclear plenamente operacional,com capacidade de atingir, inclusive, o ter-ritório dos EUA (paralisando, em estratégianitidamente dissuasiva, o potencial militarestadunidense), e, mais do que isto, doelevadíssimo risco dessas armas, em ver-

sões portáteis e simplificadas, caírem emmãos de terroristas fanáticos, fomentadose orientados (direta ou indiretamente) pelaslideranças (ou parte delas) iranianas, comconsequências inimagináveis para a seguran-ça da sociedade americana e da própria so-brevivência futura da democracia ocidental.

Não há como deixar de reconhecer queas lideranças iranianas têm sido extrema-mente hábeis em ganhar precioso tempo parao desenvolvimento de tecnologia atômica

 bélica , enquanto simula, com notável ma-estria, o desejo de negociar com o Ocidenteum suposto e irreal ista (até porque tambémdesnecessário)  programa n uclear c om fins

 pacífic os  para a produção de energia, eis

que reconhecido possuidor, em flagrantecontraposição, da segunda maior reservade petróleo e gás do mundo. Salta aos olhos,portanto, que detentores de fontes energé- ticas baratas e p raticame nte inesgotá veis tenham de in vestir somas incalculáveis derecursos em uma fonte energética tão contro-vertida, além de pouco eficiente e perigosa.

É importante ressaltar que, mesmosob intensa pressão externa, e sofrendograndes sanções econômicas, o Irã não tem sinalizado qu alquer desejo de se curvaràs propostas do Ocidente, o que por si sóseria motivo suficiente para os EUA e seusaliados iniciarem estudos em direção a umanova abordagem para com estas liderançashostis. Entretanto a miopia de Barack Obamaoptou ao reverso de todas as evidências,pela assinatura de um controvertido acordoque reduz  (porém não elimina) sua almejadacapacidade de produzir armas nucleares, aoprever textualmente que Teerã apenas tenha

de desligar  (e não destruir ) dois terços desuas centrífugas, que enriquecem o urânionecessário para a obtenção de um  artefato

 nuclear , e enviar para o exterior (ou, a critériodo Irã, simplesmente diluir ) 98% do materialjá processado (a uma perigosíssima taxa de20% de enriquecimento) em troca de poderresgatar, quase que de imediato, US$100 bi-lhões congelados no exterior e, em um curtoprazo, poder dobrar as suas exportações depetróleo, além de ter as sanções econômicas gradualmente levantadas, o que permitirárapidamente se reerguer como importantepotência regional, desestabilizando a frágilcostura geopolítica estabelecida, a duraspenas, no Oriente Médio.

Como muito bem já advertia no passadorecente Meir Litrak sobre o rascunho do acor-do celebrado, “(...) este se encontra distantede ser o melhor compromisso, porque os

 iranianos poderão continuar a produzir urânio(...); e o problema apenas seria adiado”, aopasso que o mesmo, sob a ótica dos reaisinteresses (escusos) dos Aiatolás, consoantepreleciona Yossi Melman, “acabaria por re-

 mover qualqu er justificati va para um ataque

 imedi ato aos locais nuclea res irania nos”,como, em essência, deseja Teerã.Nesse contexto analítico, parece-nos,

portanto, obrigatório concluir que o acordo celebrado ficou muito distante daquele que,por meio de termos e compromissos ine-quívocos (e perfeitamente comprováveis),encerrasse, em definitivo, o programa nu-clear iraniano, com todas as suas inevitáveisconsequências, considerando que qualqueroutro tipo de ajuste, como o que foi celebra-do, sempre permitirá um programa paral elo

 secreto que inevitavelmente conduzirá, maiscedo ou mais tarde, ao desenvolvimento e àaquisição de armas nucleares por parte dorenascido Império Persa.

Com o propósito de se construir umamelhor cognição contextualizante, cumpre,ainda, destacar pronunciamento do ex--Secretário de Defesa Robert Gates (mentorinicial da equivocada tese de se estabelecerum acordo nuclear com o Irã), para quem “oúnico meio de não ter um Irã nuclear é fazero governo iraniano entender que sua segu-

 rança diminui ao po ssuir tais armas, em vezde reforçá-la”, o que, convenhamos, é umaafirmativa surpreendente em seu âmago, àluz de todas as evidências, não apenas nosentido de ser esdrúxula e absolutamente

 incorreta , mas, com toda certeza, totalmentedesconectada com qualquer lógica argumen- tativa razo ável.

É por demais evidente que as lideran-ças iranianas, infladas de extremistas (ousimpatizantes), sabem muito bem que, aocontrário desta percepção ingênua, o pesorelativo (e a própria estabilidade política) doregime xiita (e seu correspondente prestígio

regional e mesmo internacional) aumentaráimensamente com a posse de armas ter-monucleares e seus respectivos meios delançamento estratégicos.

Pensar de modo diverso, expressa nãosomente uma autêntica e preocupante dis-

 sonância cognitiva , como ainda materializaum absurdo hiato entre o desejo projetativoe a  realidade observável , posto que não háqualquer divergência significativa entre osmais sérios e respeitados especialistas emsegurança internacional, no sentido de que aúnica forma efetiva de não ter um Irã nuclearé impedir – inclusive, se necessário, como emprego do poderio militar aeroespacialnorte-americano – que este país obtenha tais armas.

O acordo obtido e tão festejado pelamiopia cegante de Barack Obama chegaa beirar o absurdo do inacreditável, umavez que não prevê sequer a destruição da

 infraes trutura construí da clande stinamen -te, o que permitirá ao Irã, em 10 anos, secumprir os exatos termos do ajuste, ou emmuito menos tempo, se o fizer ao arrepio dosseus termos, a obtenção da bomba atômica.

E, pior, os recursos econômicos para tanto(que outrora inexistiam) vão ser liberados,segundo os termos do pacto celebrado,imediatamente.

Por outro lado, muito embora o cerne doacordo, segundo Barack Obama, tenha sido averificação e não a confiança, o texto de Vienaestabelece que uma comissão conjunta (enão a AIEA) deve analisar os pedidos de visitaàs instalações mais sensíveis, e que o prazode análise (para eventual e posterior aprova-ção) deverá ter duração de 24 dias. Só entãoserão abertas as portas para os inspetoresda AIEA, o que, como bem adverte DAVIDMILLER (ex-assessor do Departamento deEstado/EUA) “é tempo suficiente para realizar

 manobras suspeitas e ocultar rastros” (Veja,22/7/2015, p. 65).

Não obstante seja cediço reconhecerque todo erro de política externa norte--americana enseje, tenha ensejado e venhaa ensejar consequências irreversíveis paraesta Nação – não somente em termos deprojeção do poderio militar, mas também (efundamentalmente) de credibilidade políticafrente à Comunidade Internacional – cumpredestacar, neste diapasão analítico, que tererrado no  Iraque (quando se acreditou, em2003, equivocadamente existirem armas dedestruição em massa com potencial nuclear)– mesmo com o preço da perda de quase5.000 soldados – foi (e continua sendo)muito menos gravoso do que ter errado,alguns anos antes (1998), no muçulmano einstável Paquistão (onde absolutamente nadase fez para impedir o acesso à tecnologia e aincorporação, em seus arsenais, de mísseisbalísticos dotados de ogivas nucleares, com

graves riscos de serem os mesmos, diretaou indiretamente, desviados para os maisdiversos “terroristas de plantão”) e, maisrecentemente, na Coreia do Norte (2008),com riscos assemelhados.

Ainda que se possa afirmar, em con- traposição crítica, que est as ques tões, emgrande medida, pertençam ao “passado”,elas correspondem necessariamente aimportantes lições que jamais podem seresquecidas e, neste sentido, resta imperativoregistrar – com toda necessária ênfase – que,simplesmente, não há espaço,  ipso facto,para errar no Irã.

Por efeito consequente, o dilema  quesupostamente se apresentou (e que, ao que tudo indica, paralis ou as ações estaduni -denses e, especialmente, seu gigantescopoderio militar) não pode ingenuamenteincluir, no presente momento, uma pseudo tranquilidade em relação à nuclearização doOriente Médio. Muito pelo contrário, a diplo-macia norte-americana terá de ser muito hábilpara convencer os sauditas  a não buscarema tecnologia nuclear bélica (inclusive a seradquirida diretamente do sunita Paquistão,

que necessita urgentemente de muitosrecursos econômicos para prover estabili-dade política) e os israelenses de verem, debraços cruzados, a nuclearização de todo oOriente Médio.

Aliás, não se pode deixar de considerarque, no campo militar, a hipótese de não agirmuitas vezes não pode ser considerada e,sim, apenas (e restritivamente), a de como

 agir , seguindo, neste sentido e sem maisespaços para a presença de verdadeiras

 incongruências geopol íticas, os importantes– e sempre atuais – mandamentos do GeneralGeorge Patton, para quem “a passividade

 sempre foi, ao longo da histó ria, uma pre s-crição para a derrota”n

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o lado PeRveRso da GlobalizaçãoManuel Cambeses Júnior

Cel Av

Membro emérito do Instituto de Geograa

e História Militar do Brasil, membro

da Academia de História Militar Terrestre

do Brasil, pesquisador associado do Centro

de Estudos e Pesquisas de História Militar

do Exército e Conselheiro do Instituto

Histórico-Cultural da Aeronáutica.

[email protected]

O sociólogo francês Henri Men-dras (1927-2003) batizou o termocontra-sociedade para referir-se a

 todos os int egrantes de um determinadogrupo social que não podem ou não queremseguir o ritmo e as exigências que estelhes impõe. Seu expoente natural seriaaquele indivíduo que por impossibilidade,ou simples falta de desejo, não conseguese adaptar à velocidade com que se moveo seu entorno social, transformando-se,

consequentemente, em um verdadeiropária dentro da sociedade a que pertence,ou seja, um deslocado, um ser excluído,um autêntico homo sacer .

Nos dias atuais, bem poderíamosfalar de uma contra-sociedade mundial.A mesma estaria composta por todosaqueles que não conseguiram assimilaro ritmo evolutivo da sociedade globali-zada. O número de desadaptados podecontabilizar-se em dezenas de milhões. Emais ainda, dia a dia aumenta o númerode pessoas que, em todas as regiões doplaneta, albergam o temor e a angústiade sentirem-se excluídas das filas dos

seres produtivos. São pessoas comunsque vivem atormentadas e sob a ameaçapermanente da exclusão social.

Os números desta contra-sociedade têm sidos manejados com bastante frequ-ência. Michel Rocard, ex-primeiro ministroda França, aponta os seguintes dados: 30%da população ativa dos Estados Unidos, ouseja, quarenta milhões de pessoas vivemem situação de pobreza ou precariedadesocial, ao passo que 30% da populaçãoativa nas três grandes regiões do mundoindustrializado pode qualificar-se como de-socupada ou marginalizada. Por sua parte,Jacques Chirac, ex-presidente da França,assinala que os países que compõema União Europeia contam com dezoitomilhões de desempregados e cinquentamilhões de cidadãos sob a ameaça deexclusão social. Os países integrantes daOCDE, o clube dos estados mais ricos do

planeta, contam hoje com trinta e cincomilhões de desempregados. E o que dizerdos países em vias de desenvolvimento?

A conjunção entre um desenvolvi-mento técnico acelerado, sustentado naautomação e associado à ausência ouabandono generalizado das normas deproteção social estão fazendo aumentar,assustadoramente, o número de desem-pregados e de subempregados. O Brasil,lamentavelmente, em face da atual crise

que o assola, é um bom exemplo de paísque tem aumentado substancialmente suacompetitividade e inserção na economiaglobal à custa de um notável incrementodas filas de desempregados.

A lógica deste perverso processoé simples. Sob o impacto de uma com-petição produtiva sem fronteiras e semmesuras, em que a redução de custos transfor mou-se em dogma, não há espa-ços para considerações sociais. Existe a tendência, por ess a via, de uma nivelaçãopor baixo, na qual a mão-de-obra maisbarata, ou a substituição desta pela tec-nologia, determinam a sobrevivência dosprodutos no mercado. A tecnologia e aredução de custos laborais são os gran-des dinamizadores do novo crescimentoeconômico. Como bem assinala a revista

 Fortune, em sua edição de abril de 1996:“Os avanços tecnológicos unidos aosimplacáveis desempregos em massa, dis-pararam a produtividade e elevaram, con-sideravelmente, os ganhos da indústria”.

Frente a esta dura realidade, os paísesapresentam a tendência de se transforma-rem em um autêntico bazar persa, com-petindo entre si para fazer maiores con-cessões ao grande capital, como via paracaptar inversões e garantir o crescimentoeconômico. O resultado desta postura éque se observa o abandono do sentidodo coletivo e do imprescindível papel doEstado em matéria de arbitragem e deobservância da regulamentação social. Que

outra coisa poderia fazer o Estado? Este sevê incapacitado para fazer frente ao volumee à dinâmica dos capitais privados. Os t rêsmaiores fundos de pensão estadunidenses,

 Fidelity Investments , Vanguard Group eCapital Research & Managements contro-lam em torno de quinhentos bilhões de dóla-res. Impotente, o Estado teve de se adaptaràs exigências do grande capital, sem poderevitar que o homem se transforme, cada vezmais, no lobo do próprio homem.

A força emergente após o ocaso doEstado é, obviamente, o grande capitalprivado transnacional. Este governa aeconomia globalizada, passando porcima de fronteiras e atropelando gover-nos, impondo leis à sua conveniência epromovendo uma acirrada e desumanacompetição entre países, a serviço deseus interesses. Prova inconteste disso,encontramos no acordo multilateral sobreinversões que está sendo negociado naOrganização Mundial de Comércio, quesubmeteria as leis regulatórias dos países

membros às objeções internacionais, res- tringindo a capacidad e dos Estados pa raditar políticas econômicas de interessenacional. A pergunta a fazer, nesse caso,é a seguinte: que lógica domina o grandecapital transnacional? Esta se sintetizaem uma consideração fundamental: arentabilidade imediata. A necessidade dedar resposta às exigências de curto prazo,de um gigantesco número de acionistasanônimos, tem se transformado, efetiva-

mente, na razão de ser fundamental doprocesso econômico em curso. Dentrodesse contexto, as grandes corporaçõescompetem ferozmente entre si para captaras preferências dos acionistas, livrando-sede tudo aquilo que possa significar um pesona busca por maiores rendimentos.

Entretanto quem é esse acionista anô-nimo que sustenta a engrenagem e dita asregras da economia globalizada? Este não éoutro, senão o homem comum: o operário,o gerente médio, o funcionário público,o profissional liberal, a dona-de-casa,ou seja, o mesmo homem comum que viveatormentado pelo fantasma do desempre-go e com medo de vir a engrossar, comsua presença, as filas da grande contra--sociedade dos dias atuais. Por meio desua cotização e na busca de máximo ren-dimento para as suas economias, investeem fundos de pensões e fundos mutuaisou, por intermédio de pequenas inversõesde capitais, nas Bolsas de Valores. Destamaneira, paradoxalmente, ele tem se tran sfor mado em atuan te prot agoni stadeste perverso processo econômico queo atemoriza e o encurrala.

Segundo um curioso processo circularimposto por esta globalização perversaem que vivemos na atualidade, o ho-mem comum tem se transformado emseu próprio inimigo, erigindo-se feroz edesapiedadamente frente a si mesmo n

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O LABIRINTO E O COLAPSOAfonso Farias de Souza Júnior

Cel Int e Prof Dr

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Muitos ainda estavam desavisadose a crise irrompia silenciosamen- te. O ano de 2014 foi decisivo. O

crescimento negativo do PIB (– 0,59%),em 2014, não foi suficiente para mostrar adesorientação na qual caminhava o Brasil.

Em 2015, parece que tudo ficou claro,mas muitos ainda afirmavam não haverproblemas ou crise... Tudo era conspira-ção. O governo não estava tão mal assim,falavam. Impressionou a forma como aimprensa tratou o assunto, sempre mini-mizando o problema. A crise instalou-se e todos passaram a m ostrá-la a seu m odo.

O Panorama Econômico Regional,relatório do Fundo Monetário Internacio-nal (FMI) divulgado em outubro de 2015,

abordou os escândalos, a corrupção, asinvestigações, as possíveis irregularidadesda campanha presidencial e, também,sobre as questões políticas que envolvema presidente do Brasil.

O FMI deixa claro que a origem da crisebrasileira é principalmente interna, mas oalcance dos erros e desmandos mistura-dos à bandalheira política é internacional.A degradação da Petrobrás, as propinasmonstruosas, a compra da refinaria emPasadena, a ingerência nos preços decombustíveis, projetos inacabados e malconcebidos (caso Abreu e Lima) etc. foramcriações políticas oriundas de um processodecisório planejado e a execução dessasações determinou a desgraça institucionalda estatal.

Hoje, tem-se uma crise em trêsdimensões: gestão, economia e política.O espaço da gestão é o menos intenso,embora não menos importante. De nadaadiante trabalhar eficiência do gasto pú-blico neste momento, pois praticamente91% do orçamento federal compõem-sede despesas obrigatórias ou vinculadas.Sobram menos de 10% para manobrarprocedimentos. A questão orçamentáriadeve ser revista e modificadas as amar-ras que condicionam a Lei OrçamentáriaAnual. Reduzir ministérios e órgãos poucosignifica, pois, intrinsecamente, o inchaçocontinua. As defasagens salariais entre

cargos públicos e privados são alarmantes,o país não aguentará essa demanda. Osempregos na máquina pública cresceramdemais e a função ideológica é responsáveldireta por essa questão. Mérito, profissio-nalismo e carreira foram desestimulados.Qualquer um pode ser qualquer coisa,ocupar qualquer cargo.

A economia vem a reboque da questãopolítica. Autoridades econômicas, antes de2015, discursavam que as contas públicasestavam sob controle e que os númerospouco diziam da real situação que o Brasilse encontrava. Esgotaram o vocabulárioe a realidade evidenciou-se com clareza:crescimento negativo, inflação alta (esubindo), aumento da dívida pública, cre-

dibilidade abalada, dólar batendo recordes,desemprego crescente etc. A Standard &Poor’s (S&P), agência de classificação derisco, rebaixou o país e o colocou em nível

 junk , isto é, perdeu o selo de bom pagadore foi incluído como espaço especulativo. AS&P espera o crescimento da dívida geraldo governo para 53% do PIB, em 2015, e59%, para 2016. Em 2014, era 47%. Esseconjunto de fatores conspira para animarum desastre econômico maior, um colapsosinérgico.

A questão política é central e extre-mamente relevante. Havia um governo decoalizão que foi perdendo força e a rupturaaconteceu com a eleição do presidenteda Câmara dos Deputados, no início de2015, e intensificação das investigaçõesna Petrobrás. A forma de tratar o Execu- tivo mudou e m odificaram-se as relaçõesentre os poderes da República. Há temposque análises específicas apontavam paraas  pedaladas   e outras incorreções go-vernamentais, mas pouco era levado emconsideração. Havia também a questão dosrecursos de campanha e até se duvidavadas urnas eletrônicas. As suspeições foram tomando corpo e, recentem ente, o TCUresolveu rejeitar as Contas do governo rela- tivas a 2014. Agora, diferentemente do quealegam, há uma peça oficial para incriminardiretamente o governo. Aliado a tudo isso,espera-se ainda por outra decisão oficial,

que se refere à arrecadação/aplicaçãodos recursos financeiros da campanhada presidente. Caso a decisão do TribunalSuperior Eleitoral (TSE) seja desfavorávelao governo, vagará o cargo de presidenteda República.

A relação do partido do governo e dopróprio governo com as outras legendas,segundo a opinião de parlamentares,sempre foi confusa e pouco confiável.Desde 2003 que o pagamento das emen-das individuais ao orçamento nacionalfoi condicionado ao voto alinhado com aorientação da presidência da República.Essa obrigação, aos poucos, foi corroendoa confiança, pois o governo não liberavaessas emendas mesmo obtendo os votos

dos parlamentares.Assim, a caminhada governamental

não está fácil, a verdade aflora com firmezae a vida dos cidadãos só piora. Com cer- teza, mais impostos serão aplic ados, masantes, para acalmar a opinião pública efacilitar os processos e procedimentos queserão adotados, a crise poderá ser mit igadapela saída do governante mor de plantão.

Como diz Gabeira (Revista Veja/10Out. 2015): o momento é uma encruzilhadaentre a ira popular e a enrolação institu-cional. Com todos os seus condenáveisexcessos, a raiva nas ruas é que tem mais

 potencial transformador .Na beirada do precipício, o discurso

governamental é que se deve respeitar opluralismo democrático e a necessidade

de união em torno dos superiores interes-ses nacionais. Até pouco tempo, tudo issoera rechaçado.

Pelo exposto, o governo está em umlabirinto em que a saída poderá acontecerexatamente pelo iminente colapso político eeconômico, caso as coisas não aconteçampor vias racionais, legais e com sabedoria.A ausência de lideranças responde pordiversos defeitos desta democracia, assimcomo a baixa credibilidade de autoridadese instituições. O somatório desses fatoresrepresenta o caos nacional, que se agravarápela baixa velocidade de resolução dosconflitos e falta de bússola dos dirigentesn

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Caminha o Brasil para um Niilismo como aquele definido pelo filósofo Friedrich Nietzsche?Jober Rocha

Economista

MS UFV/MG, Doutor pela Universidade Autônoma

de Madrid

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A palavra niilismo traduz um conceitoque, por estar relacionado à Ética e àMoral, além de abranger restritamente

Filosofia e a Literatura, passou a alcançarambém diferentes áreas d o conhecimen toumano, como a Ciência, a Arte, a Política, as

Teorias Sociais etc. Trata-se de um sentimentoou de uma percepção) que acomete o indiv í-uo com relação à ausência de finalidade e deespostas sobre o porquê da sua existência;sto é, refere-se à própria desvalorização domotivo de exist ir. Tal sentimento faz com ques valores humanos sejam depreciados e osrincípios que no rteiam a vida social se dis-olvam. Como já dito, por alguém, em algumugar: “A superfície, antes congelada, das ver-dades e dos valores tradicionais encontra-sedespedaçada, o que torna difícil ao indivíduorosseguir em seu caminho ou, então, permitir

que ele aviste um ancoradouro”.Um dos principais filósofos a estudar

niilismo foi o alemão Friedrich Nietzsche,mbora depois dele outros tantos tenhame ocupado deste tema (Spengler, Max

Weber, Heidegger, Sartre e Albert Camus,or exemplo). A origem do conceito podeer encontrada em Platão e no Cristianismo;

muito embora, uma das primeiras mençõeso niilismo tenha sido feita durante a Revolu-ão Francesa, para se referir àqueles q ue nãoram nem a favor nem contra a revolução.

Nietzsche, segundo alguns autores,

istinguia dois tipos de niilismo: o passivoo ativo. O primeiro ele considerava umavolução do indivíduo, quando, demolindontigos valores, dava lugar a novos valoresue, por sua vez, não seriam fixos; pois taleterminação era considerada como umatitude negativa, conforme pensava o filó-ofo. O segundo tipo propunha uma atitude

mais ativa, renegando valores metafísicosradicionais e redirecionan do a força vital dondivíduo para a destruição da moral vigente.Após esta destruição tudo cairia no vazio,endo a vida desprovida de qualquer sentido, na falta de quaisquer valores, restaria aste apenas esperar pela morte.

Em algumas épocas e em algumasregiões, o niilismo já teve, no passado, suaocorrência verificada como um fenômenocaracterístico da vida social: na França,durante a Revolução Francesa, conformejá mencionado, e na Rússia Czarista deAlexandre II, no período de 1881 a 1885.Condições diversas (de ordem política e eco-nômica, mas também cultural e ideológica)proporcionaram ambiente propício ao seudesenvolvimento, que se apresentou comouma reação popular às antigas concepçõesreligiosas, metafísicas e idealistas, até entãovigentes. Uma atitude negativa e de desprezocaracterizou o movimento niilista na Rússiadaquela época; todavia, isto tudo estava maisligado a valores pessoais dos indivíduos doque, propriamente, a uma atividade política.

Voltando ao filósofo, vemos que Nietzs-che destacava três momentos na vida do in-divíduo, para que o niilismo nele se instalasse.O primeiro deles se apresentaria quando dacrise na denominada categoria meta; ou seja,quando o ser humano tomasse consciênciada agonia do em vão, isto é, quando se desi-ludisse com relação à existência de uma metaem sua vida ou quando compreendesse que,mesmo no futuro, nada seria obtido ou alcan-çado por ele, rompendo, assim, uma das vigasde sustentação dos seus valores tradicionais.O segundo momento estaria relacionado àdenominada categoria unidade e se dariaquando o indivíduo perdesse a crença em umsentimento universal, isto é, em uma unidadede sentimentos que abrangesse todos osseus iguais. Esta totalidade ou universalidade,sustentada pela unidade, teria por finalidadeúltima a crença no seu próprio valor individual.

A descrença no sentimento de universalidadede sentimentos derrubaria, assim, a segundaviga de sustentação dos valores tradicionais.O terceiro momento ocorreria quando o indi-víduo vislumbrasse estar localizada em suaspróprias carências psicológicas, a verdadeirarazão que deu origem à criação de todo umarcabouço metafísico para orientar e susten- tar seus valo res éticos e morais. O niilismoque acometeria o indivíduo, neste terceiromomento, seria, assim, a resposta dele ao secontrapor (por total descrença) a crença naexistência de um mundo real (e metafísico)que pudesse verdadeiramente nortear o seufuturo e, certamente, melhorá-lo.

Fazendo, agora, uma ilação, entre tudoaquilo dito anteriormente e a situação vividapor grande parte dos cidadãos brasileiros, naatualidade, encontramos motivos para pensarna possibilidade de estar sendo, aos poucos,instalado entre a nossa gente um sentimentoniilista como aquele definido por Nietzsche,sentimento este que tenderia a se generalizar.Explico-me melhor: o primeiro momento (criseda categoria meta), salientado por Nietzsche,já ocorre há algum tempo. Em qualquer dosquatro campos do Poder Nacional (Econômi-co, Político, Militar e Psicossocial), por maisque a sociedade se dedique e que os anospassem, sempre ficamos no mesmo lugarou até mesmo caminhamos para trás. Se istoé notado no nível macro, o mesmo pode ser também percebido no nível de micro unida-des; isto é, entre as famílias e as pequenasempresas, notadamente, em decorrênciado alto custo de vida, das carências de todaordem nos vários setores da vida nacional,da recessão econômica que a todos atingee da elevadíssima carga tributária incidentesobre preços, serviços, salários e rendas.Em raríssimos casos, ao final de uma exis- tência toda dedicada ao trabalho, o brasileiropode gozar de uma velhice tranquila, sempreocupações de ordem financeira. Em razãoda estrutura política montada no país e doaparelhamento político partidário das institui-ções dos três poderes, constata-se a quase total impossibilidade f utura de uma eventualmudança no quadro vigente, em que pesemas manifestações públicas clamando por taismudanças já realizadas por todo o país. Empleno século XXI, restam reformas por fazer naEducação, na Política, no Sistema Financeiro,

no Sistema Fiscal, na Saúde, na SegurançaPública, na Agricultura, na Estrutura Fundiá-ria etc. A primeira viga, portando, já estaria,assim, comprometida. O segundo momento(crise da categoria unidade) também já estariaocorrendo, com a nossa população divididaem categoria ou classes: ricos, remediados epobres; negros, pardos e brancos; comunis- tas, s ocialistas e capi talistas; democratas,progressistas, conservadores, liberais editatoriais; heterossexuais, bissexuais, transe- xuais e homossexuais; católicos, protestantes,espíritas, ateus etc. O estabelecimento de todas estas diversidades, que separariam osindivíduos ao invés de os unirem, estaria aca-

bando com o sentimento de unidade e dandoensejo ao surgimento do sentimento do Eu edo Eles e ao salve-se quem puder . A segundaviga, portanto, também já poderia estar carco-mida. O terceiro momento, embora de carátermais intelectualizado, poderia também servivenciado pelo homem comum, desde quehouvesse uma transvaloração de seus valores(isto é, em que acreditasse que o mal é bom,que o vício é a virtude e vice-versa); o que, semdúvida, já vem ocorrendo desde algum tempo,proporcionado pela mídia nativa, por meio dadivulgação do comportamento denominado

 politicamente correto, comportamento este

que tenderia a substituir a moral tradicional,estabelecida pela Religião, por uma nova morala ser estabelecida pela Política.

Voltando ao niilismo russo, podemosconstatar que o mesmo, na ocasião emque ocorreu, não possuía qualquer intençãorevolucionária ou um ideal de reconstruçãosocial; todavia, tendo sido reprimido violen- tamente pela políci a do Czar (que prendeu ematou suas principais personalidades), fezrecrudescer as ações de ambos os ladose acabou no assassinato do próprio CzarAlexandre II, avô de Nicolau II que, por suavez, destronado e morto pela Revolução de1917, ensejou o fim da dinas tia dos Romanov.

Dentro dos marcos traçados anterior-mente, da mesma forma que aquele niilismorusso, o nosso eventual niilismo tambémnão possuiria uma intenção revolucionária,muito pelo contrário. Sua motivação principalseria mais ligada a valores pessoais do quea quaisquer conotações de cunho político--partidário ou mesmo ideológica. Tratar-se--ia tão-somente de cidadãos pacíficos quecontrários ao desvio de recursos públicose à corrupção generalizada (praticadosestes sem nenhum constrangimento pelosdetentores do poder, integrantes dos trêspoderes da República e do meio empresarial),

influenciados pelo novo comportamento po- liticamente correto   divulgado e incentivadopela mídia, passariam a descrer dos valoreséticos e morais tradicionalmente vigentes;bem como, da possibilidade de um futuromelhor para si mesmo, seus familiares eseus negócios, por não acreditarem maisneste futuro. Muitos brasileiros pensam eproclamam o desejo de mudar-se do país,só não o fazendo em grandes proporções pordificuldades várias (de ordem financeira; de transporte, em razão d e nossas di mensõescontinentais; de avançada idade cronológica;de restrições externas par a a imigração etc.).Muitos pensadores, jornalistas, escritores,

cientistas sociais, economistas etc. falam emdécadas perdidas; ou seja, períodos recentesem que deixamos de crescer e nos desenvol-ver econômica e socialmente ou, mesmo, emque regredimos para níveis bastante inferio-res para aqueles já alcançados no passado.Estas décadas perdidas nada têm a ver coma conjuntura internacional e foram perdidas,exclusivamente, por um mau planejamento epela má gestão da coisa pública.

 – Nada parece dar certo em nosso país.Tudo é feito de maneira errada e na contra-

 mão da História e daquil o que faz o resto do mundo! – são frases ditas, com frequência,por gente do povo e por profissionais devárias áreas.

Pelo exposto até o momento, as pré--condições para o estabelecimento genera-lizado do niilismo em nosso país, da formacomo definida por Nietzsche, eu creio quejá existem. Se ele vai ou não se instalar,definitivamente, nos corações e nas mentesdos nossos cidadãos dependerá, em muito,da futura ação de alguns poucos juízes,promotores, militares e políticos com visãode futuro, patriotas e compromissados como combate à corrupção (e ao crime de umamaneira geral) e com a manutenção da Ética

e da Moral tradicionais n

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Rodrigo Constantino

Economista e presidente do Instituto Liberal

    F   o   n   t   e   :    O

     G    l   o    b   o

Ovéu populista caiu e expôs a car-ranca feia do socialismo que sósabe dividir, jamais criar riquezas.

A vitória de Macri na Argentina repre-senta o começo do fim do bolivarianismona América Latina. É um marco importantea oposição mais à direita ter derrotado ocandidato kirchnerista, mesmo com todo

o abuso da máquina estatal após tantosanos. Maduro cambaleia na Venezuela também , que já está mais perto de umregime ditatorial completo. No Brasil, o PTanda na corda bamba, lutando para evitaro impeachment  de Dilma.

Todos eles são chavistas na essência,uma mistura de caudilhismo populista como “socialismo do século XXI”. Agem emconjunto, desde que decidiram fundar oForo de SP no começ o da década de 1990,para “resgatar na região o que havia se

 perdido no Leste Europeu” após a quedado Muro de Berlim. Quase conseguiram.

O êxi to do avanço socialista nocontinente é inegável. Bolívia, Equador,Venezuela, Argentina, Brasil: todos domi-nados por partidos intervencionistas deextrema-esquerda, que foram asfixiandoas liberdades individuais e estendendoos tentáculos do Leviatã estatal por todolugar. Instituições republicanas foramcedendo espaço para o poder arbitrário docaudilho, visto como “messias salvador” erepresentante direto dos pobres.

Os petrodólares e a bonança produ-zida pelo cenário externo permitiram afartura nos cofres públicos, viabilizandoo populismo escancarado, a compra devotos disfarçada de “conquistas sociais”.Esmolas estatais insustentáveis seduziamdos mais pobres às elites, todos fazendovista grossa aos abusos de po der e escân-

o CoMeço do FiM do bolivaRianisModalos de corrupção, pois parte do mesmosistema podre.

Mas o que era doce se acabou. Ocenário externo piorou para os emer-gentes, o preço do petróleo caiu, e airresponsabilidade fiscal desses governosperdulários cobrou seu preço. A inflaçãodisparou, a atividade econômica despen-

cou, o desemprego aumentou. E com elea insatisfação popular, o cansaço dos quenão aguentavam mais pagar a fatura e arevolta dos que perderam as mamatas. Ovéu populista caiu e expôs a carranca feiado socialismo que só sabe dividir, jamaiscriar riquezas.

A imprensa fora controlada quase toda nesses países, mas o pouco querestou independente foi capaz de mostraros escândalos infindáveis de corrupção eas mazelas econômicas e sociais que osgovernantes tentavam esconder. Culparsempre fantasmas estrangeiros, como ocapitalismo, ficava simplesmente ridículona era das redes sociais. Mesmo os maisignorantes percebiam que os socialistas tentavam apenas c riar bo des ex piatóriospara seus próprios erros.

A comparação com os países que nãomergulharam no mesmo modelo esquer-dista era inevitável e também esfregavana cara de pau dos bolivarianos suasmentiras. Os países da Aliança do Pacíficoavançavam com mais crescimento, menosinflação e estabilidade social, enquantoos membros do fracassado Mercosulafundavam na lama vermelha. Não se tratava de uma conspiração da CI A, d osjudeus ou americanos capitalistas, e simde uma desgraça causada pelo esquer-dismo mesmo.

Os desmandos autoritários dos go-

vernantes, os escândalos de corrupção,o fracasso econômico, tudo isso serviupara arranhar bastante a imagem da es-querda populista na região, permitindo ocrescimento espontâneo de movimentospopulares liberais. O discurso em proldos mais pobres conquistava apenas umaminoria muito ignorante, e tinha a adesão

dos artistas engajados e “intelectuais”com ódio patológico do capitalismo liberal.

A mobilização foi grande, unindopessoas de vertentes ideológicas dife-rentes, que perceberam a necessidadeurgente de se resgatar uma Repúblicademocrática. Sempre haverá terreno fértilpara populistas com mensagens igualitá-rias na América Latina, onde ainda existemuita ignorância e miséria. Mas surgia aoportunidade para uma reação, uma vezque o fracasso socialista ficara evidentedemais para ser ignorado.

É nesse contexto que devemoscelebrar a vitória de Macri, e encará-lacomo apenas um primeiro passo rumoà reconstrução latino-americana. Aindanão é o candidato ideal, mas a prioridadeé interromper o avanço socialista. Ele vaienfrentar uma pedreira e descascar umenorme abacaxi, pois o legado socialistaé sempre um rastro de destruição. Masquanto antes se começar a remar nadireção certa, melhor.

No Brasil, ainda precisamos noslivrar do PT, o representante chavista nopoder. Não será fácil e se engana quem jádecreta sua morte. Não podemos jamaissubestimar o inimigo. Mas raiou um feixede luz e esperança: se nossos  hermanosconseguiram colocar Kirchner para correr,então também podemos dar um pé nabunda do lulopetismo n

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“O Protagonista Exagerado do Espetáculo Do Triste Fim da Ditadura Petista”Luís Mauro Ferreira Gomes

Cel Av

2º Vice-Presidente do Clube de Aeronáutica

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Como era esperado e, mais do queisso, como toda a Nação sabia queaconteceria, diante das evidências

do conchavo conhecido como acórdão,

o procurador-geral da República tevesua recondução ao cargo aprovada peloSenado.

Falta de visão ou interesses incon-fessáveis teriam levado senadores a fingiracreditar em tantas mentiras contadaspelo sabatinado.

Acusado de vazar seletivamente os nomes dos parlamentares investigados,o procurador cometeu um ato falho:afirmou, enfaticamente, que não era umvazador contumaz de informações sigi-

 losas, o que não afasta a possibilidadede ser um vazador  eventual ou, mesmo,seletivo, como lhe fora imputado(1). E asevidências apontam nesse sentido, jáque, ao contrário do que disse, não houveespeculação por parte da imprensa, masa difusão antecipada da lista por quase

 todos os meios de comunicação.Mais uma vez, confundiu-se ou pre-

 tendeu co nfundir os senadores quandose esquivou de responder à acusaçãode que tinha dado guarida a um irmão,já mortos, e a seu suposto cúmplice,procurados pela Interpol, sob a alegaçãode que não participaria dessa exumação

 pública de um homem que nem sequer poderia defender-se. A verdade é quenão era seu irmão que estava sendoacusado e que deveria defender-se, masele, da acusação de abrigar uma duplade contraventores(1).

Durante a sessão, disse, ainda,contrariando tudo o que se pôde ver eler na televisão e nos jornais, que nãoparticipara do  acó rdão para poupar ossenadores investigados, acórdão quepermitiria o apoio do presidente doSenado à presidente da República e suarecondução ao cargo de procurador-geralda República(1).

Grande novidade! Isso nem sequerdeveria ser considerado. Alguém seriacapaz de imaginá-lo confessar: Sim,

 nós fizemos o acó rdão, e, no encontro reser vado que tive com o P residen tedo Senado, garantimos que nem ele

 nem mais nenhum outro senador seriadenunciado (pelo menos até sermos

 reconduzidos como Procurador-Geral...).Negar,veementemente, não tem qualquervalor sem provas ou, pelo menos, fortesindícios que reforcem a negação, masque não foram apresentados.

Até políticos e eleitores anencefá-licos, que tenham escapado do abortodefendido pelo PT, perceberiam que oprocurador-geral da República jamais te-ria sido reconduzido se ele e a presidentenão tivessem dado razoáveis garantias deque o presidente do Senado e os outros

senadores investigados seriam poupa-dos. Se o “acórdão” será cumprido ounão, é outra questão.

No artigo  Dois Pesos e Duas Me-didas, de 23 de agosto de 2015 (jornal

 Inconfidência nº 2018), dissemos: Contu-do, esse “acó rdão” deverá durar pouco,

 pois nenhum a das parte s envolv idascaracteriza-se por cumprir a palavraempenhada. Isso, porém, é irrelevante.

O conluio, porém,  já terá cumpridosua finalidade: reconduzir ao cargo o

 Procurador-Geral da República e afastaro Senado da Câmara, para isolar o De-

 putado Presidente da Casa que se opõe ao Governo e, em seguida, livrar-se dele.

Esses, como muitos outros ques- tio name nto s, fic ara m sem res post aminimamente satisfatória, mas isso não

 tem importância, tudo já estava acertadono “acórdão” e a sabatina não passou de

uma encenação para contestar o proces-so de recondução.

Esta é a parte exposta do concha-vo, que, a nosso ver, começou muitoantes, quando o procurador-geral deusucessivas provas de estar a serviçoda presidente e, provavelmente, assu-miu o compromisso formal de usar ocargo para defendê-la, assim como oseu mandato, sempre que necessário.Autoriza-nos a pensar assim o fato de queo procurador-geral da República, muitomal disfarça sua simpatia pelas causasdo governo.

Entre os muitos exemplos disso,citaremos apenas um, por ser antoló-gico(2): justamente na semana seguinteà sua indicação à recondução ao cargode procurador-geral da República, talvezcomo prova de reconhecimento, deu

parecer pelo arquivamento do pedido doministro Gilmar Mendes,vice-presidentedo Tribunal Superior Eleitoral, para quese investigasse uma das fornecedorasda campanha da presidente. No parecer,de forma irônica e arrogante, procuroumais desmerecer a Justiça e o ministro,do que se ater aos fundamentos jurídicosrelativos ao caso. Empregou ainda noparecer, chavões ideológicos usadospelo PT, para tentar desqualificar asacusações que pairam sobre a presidentee a campanha de sua chapa:

Não interessa à sociedade que ascontrovérsias sobre a eleição se per-petuem;

Os eleitos devem poder usufruir dasprerrogativas de seus cargos;

Os derrotados devem conhecer sua si- tuação e se preparar para o próximo pleito.

O ministro Gilmar Mendes não tratoude impedir a presidente de governar, nem

da inconformidade de derrotados com oresultado das eleições, mas, simples-mente, de saber se houve contrataçãode empresas de fachada para falsaprestação de serviços, falsidade ideo-lógica, lavagem de dinheiro ou a práticade outros crimes que possam caçar achapa até agora considerada vitoriosanas eleições de 2014.

O procurador-geral disse que suapostulação à recondução não tem comoobjetivo a sat isfação de seu ego ou a

 sofreguidão do poder . Talvez não tenhasomente esses dois objetivos. Parececlaro que também quer continuar a servira seu governo em vez de servir à sua Na-ção, como disse na sabatina (1), e, no afãde fazê-lo, apontou a inconveniência dea Justiça e o Ministério Público Eleitoralse tornarem protagonistas exagerados

do espetáculo da democracia(2)

, masparece que ele mesmo não se incomodade se prestar ao ridículo papel de prota-

 gonista exagerado no espetácul o do

triste fim da ditadura petista n

1- http://g1.globo.com/politica/  noticia/2015/08/collor-faz-acusacoes-em-sabatina-contra-gestao-de-janot-na-

 pgr.html  2- http://politica.estadao.com.br/noticias/  geral,ao-arquivar-nova-acao-contra-dilma--janot-aponta-inconveniencia-do-tse,1753012

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7/21/2019 Revista Aeronáutica Edição n° 292

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A REPÚBLICA DOS CÍNICOSMarco Antonio Villa

Historiador

Só sairemos da crise econômica quando resolvermos as crises, éticae política. É uma tarefa de sobrevivência nacional.

   F  o  n   t  e  :   O   G   l  o   b  o

Lembra o Conselheiro Aires, célebrepersonagem de Machado de Assis,que o inesperado tem sempre voto

decisivo nos acontecimentos? O anoparecia caminhar para o encerramento.E em tons inglórios. O enfrentamento dacrise política estava sendo empurradopara 2016. Tudo indicava que o impasse– produto em grande parte da inoperânciadas forças políticas de oposição ao projetocriminoso de poder – iria se prolongar,até porque o calendário político do Con-gresso não é o mesmo que vigora paraos brasileiros comuns. Na Praça dos Três

Poderes, 2015 termina por volta do dia 11de dezembro, e o ano vindouro só começadepois do carnaval – e para al guns somenteem março.

Os acontecimentos de 25 de novem-bro, porém, vieram para atrapalhar – aindabem! No dia anterior foi preso José CarlosBumlai, considerado um dos melhoresamigos de Lula. Bumlai conseguiu em-préstimos privilegiados do BNDES. Aca-bou falindo. Contudo, a família está emexcelentes condições financeiras. Um dosseus filhos, segundo noticiou O GLOBO, éum rapaz de sorte. Tinha um patrimônioavaliado em R$3,8 milhões em 2004. Seisanos depois, saltou para R$95,3 milhões,um crescimento de 25 vezes, algo digno deum livro de como prosperar rapidamentena vida. Mas o mais fantástico é que em2012 o filho prodígio mais que duplicou o

patrimônio: R$ 273,8 milhões.O amigão de Lula vendeu uma de suasfazendas – a Cristo Redentor – para o ban-queiro André Esteves por R$195 milhões,valor considerado muito acima do preço demercado. O mesmo banqueiro, também nodia 25, foi preso, envolvido em transaçõespouco republicanas. É um dos represen- tant es de uma nova classe criada pelopetismo: a burguesia do capital público.

Nesta teia de relações foi incluído osenador Delcídio Amaral, líder do governono Senado. O senador, além de vínculos com

Estevão e Bumlai, nos últimos anos estevemuito próximo de Lula. E todos eles estãorelacionados com o Petrolão, alguns já pre-sos; outros, ainda não. A camarilha tinha naPetrobras o instrumento principal de saque.De acordo com perícia da Polícia Federal, odesvio do Petrolão foi de R$42 bilhões, algodesconhecido na história do mundo.

Mesmo assim, os cínicos que nosgovernam continuam agindo como se nada tivesse acontecido – isso para não falar dasobras da Copa, da Ferrovia Norte-Sul, daUsina de Belo Monte e de Angra-3. E a con-junção da corrupção com a irresponsável

gestão econômica acabou jogando o paísna crise mais grave da história republica-na. Teremos dois anos consecutivos derecessão – sem esquecer que em 2014 ocrescimento foi zero. E caminhamos paraa depressão.

O significado mais perverso do projetocriminoso de poder e da crise econômicaé a destruição dos projetos de vida demilhões de brasileiros. São projetos aca-lentados anos e anos e que a discussãoda macropolítica acaba deixando de lado:os sonhos da casa própria, de obter umdiploma universitário, de se casar, entre tantos outros, que, subitamen te são in-viabilizados. E os maiores atingidos sãoos mais pobres, que não têm condiçõesde sequer vocalizar suas queixas, seusprotestos.

A velocidade da crise não pode mais

ser controlada. Quando o governo aparentaviabilizar um acórdão negociado com oque há de pior na política brasileira, vema Operação Lava-Jato para atrapalhar onegócio – pois não passa de um negócio.A ação do juiz Sérgio Moro é histórica. Agedentro dos estritos termos da lei e já obtevegrandes vitórias. Até o momento, foram75 condenações, 35 acordos de delaçõespremiadas, 116 mandados de prisão eR$1,8 bilhão recuperados. E a 21ª fase daLava-Jato acabou impedindo o acórdão.Não é que a Justiça age na po lítica. Não. É

a política – entenda-se, os partidos e parla-mentares de oposição – que não consegueestar à altura do grave momento históricoque vivemos. A oposição não faz a suaparte. Evita o confronto como se a omissãona luta fosse uma qualidade. Se estivesseno Parlamento inglês, em maio de 1940,defenderia negociar a paz com Adolf Hitler. Ogoverno Dilma caminha para o fim sem quea oposição seja o elemento determinante.

Há uma fratura entre o povo brasileiroe a Praça dos Três Poderes. O poder é sur-do aos clamores populares. Não é hora derecesso parlamentar. Recesso para quê?

Em meio a esta crise? É justamente nestahora que o país precisa dos seus represen- tantes no Congresso Nacional. Tambémnão cabe a quem é responsável no STFpela Operação Lava-Jato – ou ao conjuntoda Segunda Turma – gozar as intermináveisférias forenses. Há momentos na Históriade um país que férias ou recesso nãopassam de subterfúgios para escondero desinteresse pelos destinos nacionais.

Só sairemos da crise econômica quan-do resolvermos as crises – ética e política.É uma tarefa de sobrevivência nacional.Não é apenas um caso de corrupção deenormes proporções. É mais, muito mais.O conjunto da estrutura de Estado estácarcomido pelo projeto criminoso depoder. A punição exemplar dos envolvidosno Petrolão abre caminho para enfrentar acorrupção em todos os setores do Estado

– pensando Estado no sentido mais amplo,incluindo o conjunto dos Três Poderes.É indispensável retomar a legitimidade.

E só há legitimidade com o combateimplacável à corrupção. A impunidadeestá solapando as bases do EstadoDemocrático de Direito. A democracianão é instrumento para roubar o erário eos nossos sonhos. Pelo contrário, é pormeio dela que podemos exercer o controleefetivo da coisa pública. É somente pormeio da democracia que construiremos oBrasil que sonhamos n

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Denis Lerrer Roseneld

Professor de Filosoa da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul

a ToRTuRados núMeRos

Índios querem médicos, televisão,automóveis e instrumentos de trabalho,e não a volta do xamã.

Os números, por mais que sejam tortur ados, não permitem que se diga algodiferente do que expressam. Distorçõespossuem racionalmente limites, salvopara os que se contentam com imposturasideológicas. Um dos casos desta imposturaestá presente no Mato Grosso do Sul, a pro-pósito da atuação do Conselho IndigenistaMissionário (CIMI), órgão da ConfederaçãoNacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Estaentidade da Igreja entrou na luta propria-mente política, denunciando um suposto

 genocídio da etnia guarani naquele estado.Procuram, com isso, prejudicar os

empreendedores rurais, como se fossem

responsáveis por tal situação. Vão, mesmo,mais longe, apregoando um boicote inter-nacional aos seus produtos. A imposturanão conhece fronteiras!

Os números da Superintendência daInteligência de Segurança Pública do esta-do do Mato Grosso do Sul são eloquentes.Eles mapeiam os casos de homicídio dolo-so tendo como vítimas indígenas. Eles co-brem os anos de 2008 até 2015, totalizando229 casos, com os respectivos Boletinsde Ocorrência e Inquéritos Policiais ins- taurados. Os inquérit os permitiram apur ara definição de autoria de 167 casos, per-fazendo um percentual de esclarecimentode 72,9%. Nestes, 85 são de adolescenteinfrator indígena, totalizando mais de 50%dos casos apurados.

Os autores indígenas perfazem um total de 155 dos casos apurados, enquantoautores não indígenas apenas nove casos,

ou seja, a violência é de indígena contraindígena, e não de branco contra indíge-na, como os agentes ideológicos não secansam de apregoar. Criaram o conceitode  geno cídi o  em completo desapegoaos fatos. Buscam a plateia das ONGsnacionais e internacionais, que estão maispreocupadas em denegrir a imagem do paísdo que em ajudar os indígenas.

Se atentarmos para a motivaçãodos crimes, os oriundos do consumo debebidas e drogas totalizam 88 casos,restando quatro por vingança, 44 por de-

sentendimento interpessoal/ciúmes e pormotivos fúteis 47 casos. Não figuram aquios conflitos agrários que estão em causa,mas sim o abandono, a falta de políticaspúblicas e uma maior integração social eeconômica.

A tendência do CIMI e da FUNAI, alémde ONGs nacionais e internacionais, consis- te em tudo reduzir a um conflito fundiário,na verdade, na luta que representam contrao lucro, o agronegócio e o capitalismo emgeral. A sua posição esquerdizante lhesimpede de perceber as mudanças culturaisprofundas que essas tribos sofreram. Cla-mam isto sim, por melhores condições desaúde, de educação e de políticas públicasque reduzam e eliminem os preconceitosdos quais são ainda objeto.

A posição do CIMI é particularmen- te revel ador a, pois fora m as pol ític asmissionárias da Igreja que, no passado,mudaram, senão destruíram as formasreligiosas tribais, produzindo importantesconflitos identitários, ou seja, pessoasque perdem suas identidades – no caso as tribais e religiosas – são as que se sentemabandonadas no mundo. Suicídios possuem também causas culturais, religiosas.

Ora, este órgão da CNBB está, na ver-dade, transferindo para os empreendedoresrurais uma responsabilidade que, de certamaneira, é sua. Trata-se de uma espéciede sentimento de culpa, acompanhado deuma desresponsabilização moral. No caso,operaram uma conversão, a conversão aomarxismo via Teologia da Libertação, comose assim pudessem voltar a outro tipo de trabalho missionár io.

No estágio de aculturação em que

essas tribos se encontram, o mais ade-quado seria a adoção de políticas públicasque os contemplassem como pessoas embusca de bem-estar, e não meras peçasde museu que deveriam ser preservadas.Necessitam, isto sim, de políticas públicasvoltadas para uma melhor qualidade devida. Querem médicos, televisão, auto-móveis e instrumentos de trabalho, e nãoa volta do xamã.

Em boa hora, a Assembleia Legislativado Mato Grosso do Sul criou a CPI do CIMI , tendo como presidente a deput ada Mara

Caseiro e como relator o deputado PauloCorrêa. Trata-se de um trabalho sério deinvestigação, voltado para desvelar a névoaideológica que cerca as atividades destaentidade e de ONGs correlatas.

Não estamos diante de um filme defaroeste, em que se podem discriminar

 mocinhos e bandidos. A realidade é muitomais complexa e nuançada. Ambos, naverdade, são vítimas, vítimas de políticasestatais e, mesmo, eclesiásticas, que têmcomo objetivo colocar essas duas partes,com suas expectativas de direito respec- tivas, em confro nto.

A FUNAI, por seu lado, nada faz paraequacionar os conflitos. Ela, de fato, éparte do problema, e não de sua solução,incentivando lutas e confrontos. Considera

as suas demarcações de terras  comosagradas, quando são frequentementedistorcidas, baseadas em laudos antropo-lógicos de cunho ideológico.

Ademais, aferra-se a desrespeitaras decisões do Supremo, estabelecidasquando do julgamento do caso da RaposaSerra do Sol. Ora, dentre outras condicio-nantes, estipulou a nossa Corte Máxima omarco temporal da Constituição de 1988,como linha divisória das terras indígenas evedou a ampliação de territórios indígenas.Termina, assim, por criar uma infinidade deconflitos e judicializações, reclamando, poroutro lado, desta mesma judicialização!

Na verdade, este órgão estatal procuracolocar-se acima do Estado e do STF. Seseguíssemos a sua política, os empreen-dedores rurais deveriam ser simplesmenteexpropriados de suas terras, como se não tivessem títulos de propriedade reconheci-

dos pelo Estado há décadas, anteriores àConstituição de 1988.

Logo, se há necessidade de mais ter-ritórios indígenas em algumas áreas, porrazões de explosão demográfica ou outra,não adianta insistir no conflito. A razãoexigiria apostar na solução e esta passariapela compra de terras, segundo valor demercado, com pagamento em dinheiro. Seisto ocorresse, ambas as partes poderiam ter suas expectativ as de direito atendidas.

Por que não uma aposta na negociaçãoe no reconhecimento mútuo de direitos?n   F

  o  n   t  e  :   O   G   l  o   b  o

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Logo nas primeiras linhas de Car-

 navais, M alandros e Heróis , o an- trop ólog o Rober to DaMat ta alega

que o seu intento era entender o dilemado brasileiro. Comenta que existe umagrande abundância de interpretações, queprocuram contar a História de modo linear,com um princípio, um meio e um fim; combandidos e mocinhos, partindo da geogra-fia para a família e o povo. Pretend eu sabero que faz o  brasil , Brasil. Essa é a chavepara desvendar o que existe hoje e aquilo

a que chamamos de pátria.De imediato ele procura explicar o

motivo que o levou a gra far o nome do paíscom um b minúsculo. Para ele Brasil, como B maiúsculo, é uma combinação real dasmais diversas possibilidades humanas,onde aparecem valores e um padrão quejulgam as atitudes, as ações. Esse Brasil tem mem ória, situação geográfica e per-mite uma ligação afetiva.

Por outro lado, o Brasil, com b minús-culo não apresenta essas características,sendo propenso à degeneração e à mortedo ponto de vista social e biológico. Umverdadeiro objeto sem vida, desanimado.E esse embate entre os dois  brasis   éque serviu de base para a construção deuma identidade, com pontos positivos enegativos.

A seguir, o autor se embrenha na tarefa

de mostrar como esse povo vive numacomparação com outros países. Comentaque o homem ou a mulher ficam ansiosospara retornarem ao lar tão logo terminam ajornada de trabalho, tendo a rua como elode ligação nesse ir e vir, a pé, de trem, demetrô, de ônibus ou qualquer outro meio de transporte. Assim, o lar e a rua se misturame se completam, caracterizando-se nãocomo meros espaços geográficos, mascomo uma construção de vida.

DaMatta enfatiza que a residência éum fato social totalizante, onde a pessoa

CARNAVAIS, MALANDROS  E HERÓISRoberto DaMatta

Síntese feita por João Victorino

Jornalista

[email protected]

encontra harmonia e tranquilidade. Por seulado, na rua, tem a luta, a batalha e até operigo. Enquanto no trabalho a caracterís- tica é a conco rrência e as mais diversassituações oriundas dessa labuta. Retratao trabalho no Brasil como um castigo,enquanto para os calvinistas americanospode ser o melhor caminho para chegar àsalvação.

Além da comparação com os EstadosUnidos nessa questão do trabalho diárioe também da forma como os oriundos

da raça negra são tratados, ele tambémenfoca a questão racial, a miscigenação.Ao contrário de outros autores que partemda premissa de que isso foi um fator pre-ponderante na dificuldade de se construira identidade nacional brasileira, ele deixaclaro que essa diversificação teve um fortecomponente para uma oposição à liderançado branco ocidental, não aceitando que omulato fosse a degeneração das raças.

Eis que surge o carnaval na sua his- tória, visto com o um teatro a céu aber to euma inesgotável fonte de prazer e alegria.A festa, como ocorre no Brasil, é maislivre, irreverente, criativa e popular, emrelação à de todos os demais países ondecostuma ocorrer.

Por aqui, o luxo e a riqueza abr em alaspara os pobres vivenciarem personagensoriundos da história da nobreza e totalmen-

 te distanciados da vida dura e amarga quevivem nos demais dias do ano, em que sepode notar uma total ausência fantasiosae utópica de miséria, trabalho, pecado edeveres.

DaMatta situa o carnaval como umafesta em que os foliões estão dispostosa entregar tudo de si, como o seu corpo,a sua alma, e a sua energia. Tambémretrata um encontro das mais diversascamadas da sociedade, surgindo assimuma inevitável busca de igualdade dasimposições sociais tradicionais no dia a

dia da população, quando ricos e pobres têm v ida d istin ta.

As condutas peculiares ao brasileiro,como a malandragem e o jeitinho, tambémsurgem neste livro. Retrata essa modali-dade de jeitinho como um modo pacíficode resolver os problemas. Isso pode ser

identificado com as famosas carteiradas, eo não menos célebre sabe com quem está

 falando?. É a malandragem tomando contada situação. É a opção pela desonestidadeburlando a lei.

A presença da Igreja também se fazsentir nesta obra. O autor traz referênciasbem delineadas aos caminhos para sechegar a Deus, comentando que esse pod eser um modo de ordenar o mundo, facul- tando a nossa compreensão para c oisasmuito complexas, como a ideia de eterno, tempo, perda, desaparecimento, mistériosinerentes à experiência humana.

DaMatta diz que a Igreja é uma formabásica de religião, marca do lado impessoalde nossas relações com Deus. Um lado de

 fato, onde a intimidade eventualmente podeceder lugar às regras fixas, que conduzem

 a uma impessoalidade nos cultos que legi-

timam de qualquer modo as crises da vida.O autor deixa claro que fazer umaleitura do Brasil não pode ser tão simples,como construir um livro. Sendo bem maisampla do que parece. Este Carnavais, Ma-

 landros e Heróis foi mais um passo para adescoberta de nossa identidade e a nossaformação sócio-cultural, principalmente noque se refere a uma sociedade que segueuma lógica relacional, que a faz modernae tradicional. Ao final da leitura pode-seconcluir que a sociedade brasileira não éhomogênea, mas sim heterogênea n

Para uma sociologiado dilema brasileiro

Show do passistaCelynho no desfle

da Mangueira

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Diolásia Cheriegate

Jornalista

[email protected]

Parte movidos pelo sentimento debrasilidade e parte motivados pelodesejo de melhor conhecer uma

Amazônia só vista na mídia, iniciamos arimeira etapa de nossa viagem a Carajás

o Aeroporto do Galeão (RJ), na manhã doomingo, 6 de setembro.Seguimos até São Luiz, capital do

Maranhão, onde nos hospedamos no HotelPestana e, ao longo da tarde, fizemos umour .

Localizada na Ilha de Upaon-Açu – ilhagrande em Tupi Guarani – a cidade de SãoLuiz, fundada pelos franceses (8/12/1612),nvadida pelos neerlandeses e, por fim, co-onizada pelos portugueses, está localizadantre as baías de S. Marcos e S. José de

Ribamar.

viaGeM a CaRaJás

Naquela tarde de domingo, desertopelo feriadão do Dia da Pátria, a cidadenos encantou por sua beleza natural, peloseu Centro Histórico (bairro de Praia Gran-de) e pela modernidade de seus bairrosexpandindo-se principalmente para cima,em altos edifícios. Casarões, sobrados esolares de grandes barões, hoje abrigamespaços culturais, lojas e restaurantes.

Visitamos no Centro Histórico – con-siderado pela UNESCO como PatrimônioCultural da Humanidade – o Palácio dosLeões, sede do governo maranhense; aMatriz da Sé – Catedral de Nossa Senhorada Vitória – a Feirinha de Artesanato dePraia Grande e apreciamos os tão louvadosladrilhos azuis portugueses dos antigosprédios da redondeza.

Os ludovicenses sentem orgulho deseu Guaraná Jesus, do Bumba Meu Boi,do fantasma da Anna Jensen, de teremsua cidade considerada como a capital

caribenha brasileira e, culminando, de seuPorto de Itaqui, o segundo mais profundodo mundo. Por ele é escoada grande parteda produção agrícola da Amazônia e ominério extraído de Carajás.

Deixando São Luiz por sua EstaçãoFerroviária ‘Anjo da Guarda’, seguimos no trem de passageiros da Companhia Val e,ao longo da Estrada de Ferro Carajás, até

Parauapebas, um percurso de 892 km e 16horas de viagem, passando por 25 locali-dades e municípios, tais como Santa Inês,Açailândia, Marabá, Altamira, entre outros.

A Estrada de Ferro Carajás foi desen-volvida com o objetivo de oferecer apoio aodesenvolvimento e à exploração do ProjetoGrande Carajás. Sua construção teve inícioem 1982 e, em 1985, o Presidente JoãoBatista Figueiredo a inaugurou. Por elasão transportados por volta de 350.000passageiros e 120 milhões de toneladasde cargas por ano. Grande parte das com-

posições chega a ter 330 vagões, puxadospor três locomotivas. Como combustível,os trens usam o B20 – mistura de biodieselvegetal com 80% de diesel – o que propiciaa redução de CO2 no meio ambiente. Porapresentar um raio mínimo de curva de 860m e rampa de 0,4% no sentido exportação,é possível aos trens desenvolverem veloci-dade máxima de 132 km/hora. Desde 2010,a EFC vem sendo duplicada.

Hospedamo-nos no ‘Vale dos CarajásPark Hotel’ e na manhã seguinte (terça--feira) visitamos o que restou de SerraPelada, região na Serra de Carajás que nadécada de 80 foi, literalmente, invadidapor milhares de pessoas, acalentadas pelosonho de enriquecer por meio do garimpo

do ouro.Veiculada a notícia, já no primeiro mês,

acorreram à região cerca de 5.000 pes-soas e afirma-se que esse número tenhachegado a 80.000. Muitos conseguiram osonhado enriquecimento, porém, outros tantos, não. E depois da extração de muitas toneladas do precioso minério, o montantebaixou consideravelmente (1992), fato,que, aliado a outros fatores, motivou seufechamento.

Na lista desses outros fatores incluem--se as péssimas condições de trabalhonum calor intenso, doenças as maisvariadas, dentre elas, as pulmonares, mo- tivadas pela inalação do monóxido de ferromisturado à poeira ambiente; os frequentesdesmoronamentos de barrancos – levandoà morte de 20, 30, 60 garimpeiros de umasó vez – e a violência. Apesar da proibição

da presença de mulheres e bebidas nogarimpo, a violência era grande e conta-seque assassinatos eram cometidos quaseque diariamente.

A agressão ao meio ambiente eraindescritível! Hoje, porém, passados maisde 25 anos de quietude, Serra Pelada serecupera e se reintegra à natureza.

Almoçamos, nessa terça-feira, dia8, em Curionópolis, a famosíssima cida-de do Coronel Sebastião Curió, vilarejoque se formou em função do apoio àsnecessidades básicas dos garimpeiros.

Hoje aquele antigo e efervescente vila-rejo se apresenta com aspecto de localabandonado, cuja população sobrevive àcusta do extrativismo vegetal e de umaagricultura de subsistência. Observa-se noolhar ainda esperançoso de sua bondosagente a crença a um retorno de farturae abundância. Permanece a centelha dosonho, em que a presença do ouro, muitoouro, os recompense das decepções e daespera desse retorno.

Em Serra Pelada, o dia começavacom o hasteamento da nossa Bandeira eo canto do Hino Nacional. Tal ritual diário, tão simples quanto simból ico, amalgama-va o que havia de melhor nos coraçõesdaqueles seres humanos, transpondo-os

a um elevado sentimento de brasilidade epertencimento. Foi o que observamos aoassistir um vídeo, produzido pela BBC, naCooperativa dos Garimpeiros, em Curio-nópolis.

Na quarta-feira, dia 9, visitamos a Vilade Carajás, local de residência dos funcio-nários da Vale e o Parque Zoobotânico Vale,uma área de 30 hectares, em plena FlorestaNacional de Carajás. Do total dessa área,70% são de floresta primária e, ali, fauna eflora da região são estudadas e preserva-das. O Parque abriga cerca de 300 animaisameaçados de extinção, vivendo todospróximos ao seu habitat  natural, tais comoa arara azul, a onça pintada, a suçuarana eo macaco-aranha-de-testa-branca. E aindaatua como base de apoio do Instituto ChicoMendes de Conservação da Biodiversidade.

Na quinta-feira, dia 10, foi o clímaxde nossa excursão, visitamos a Mina deFerro da Vale, a maior mina de ferro a céuaberto do mundo. O minério ali extraídoapresenta uma concentração aproximadade 65% de ferro.

A descoberta  de imensas jazidasminerais no sudeste do Pará, em fins dadécada de 60, foi fruto de sério trabalhode pesquisa que via a atuação da Vale, transfo rmou o Pará num dos principa isprodutores de minério de ferro do mundo,além de promover o desenvolvimento nosestados em torno e, por continuidade, dopaís.

Sabe-se hoje que, outra mina, dessavez localizada na cidade de Canaã dos

Carajás, apresenta minério de ferro na con-centração de 85% e está para ser ativada.Tal perspectiva soa aos brasileiros como aoportunidade de redenção econômica e deaceno a melhores dias para o nosso povo.

Na sexta-feira, dia 11, visitamos oMercado do Produtor, ao lado de nossohotel, e ali sentimos a autenticidade dosprodutos regionais com seus aromas,cores e exoticidade.

Retornamos, ao Rio de Janeiro, envai-decidos pela infinita riqueza do nosso soloe subsolo. Reflexivos – e mesmo apreensi-vos – quanto à visão, à atuação política, àresponsabilidade de nossos governantes,e ao uso desse extraordinário patrimônio.E retornamos, sobretudo, encantados coma maior riqueza de que pode dispor umaNação: seu povo!n

Membros do Grupo de Estudos do Pensamento Brasileiro

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MACTE ANIMO!GENEROSE PUER, SIC ITUR AD ASTRA

CORAGEM JOVEM!É ASSIM QUE SE ALCANÇA OS CÉUS

História da Força Aérea BrasileiraExpedito Carlos Stephani Bastos

Pesquisador de Assuntos Militares e Coordenador

do Núcleo de Estudos Estratégicos do Instituto

Histórico e Geográco de Juiz de Fora

Opoder aéreo nasceu em 1913, apóso homem adquirir o domínio dasmáquinas voadoras, um pouco

ntes do início da Primeira Guerra Mundial.No Brasil, mediante acordo governa-

mental, tivemos a presença de militaresranceses ligados ao que, naquele tempo,ão era ainda uma arma aérea, mas umaapacidade bélica de emprego dos enge-hos voadores.

Assim, no Campo dos Afonsos, Rio deaneiro, se fez presente uma missão militar,om o objetivo de treinar pilotos militares

da Marinha e do Exército, visando ao em-rego de aeronaves em objetivos militares.

Essa missão deu origem à EscolaBrasileira de Aviação, que iniciou suastividades em 2 de fevereiro de 1914,

nterrompendo- as em 18 de junho do mes-mo ano. Evidentemente, o desenvolvimentoa Aviação como arma aérea teve o seu

nício na Primeira Guerra Mundial, quandoeronaves foram empregadas em missõese Observação no campo de batalha.

A partir dessas missões de Observa-ção, passou-se a utilizar o avião tambémpara a regulagem de tiros de artilharia epara missões de interceptação de aviõesinimigos, incrementando-se a utilização dapotencialidade da arma aérea.

Surgia, assim, no cenário mundial, aAviação de Caça que, inicialmente, condu-zia atiradores de elite nas naceles traseir asdas aeronaves, atirando nos aviões incur-

sores que tentavam realizar Observação.Daí evoluiu-se para o lançamento debombas, a princípio com a mão, e, poste-riormente, com o emprego de engenhosmecânicos, seguindo-se a instalação deuma maior capacidade de tiro a bordo daaeronave e operada pelo próprio piloto.

Esses fatores serviram de estímuloe desafio para as mentes militares que,naquela ocasião, tiveram disposição eoportunidade de participar ativamente nodesenvolvimento dessa nova arma.

Na época, o Brasil recebeu umasérie de aeronaves para treinamento de

suas aviações – Militar (Exército) e Naval(Marinha) – e enfrentou o novo desafio,adestrando e preparando suas equipagens,além de, seguindo uma tradição históricainiciada no século 17, partir, pelo ar, parao desbravamento do interior do país,lançando-se na abertura de novas rotasaéreas, com o apoio do Departamentode Comunicações do então Ministériode Viação e Obras Públicas, que fazia o

controle do movimento dessas e de outrasaeronaves.Foi grande a participação das comuni-

dades municipais, que, para auxiliar a nos-sa Aviação, escreviam o nome da cidadesobre o telhado das estações ferroviárias,como forma de orientar os aviões que se-guiam para o interior do país. Nessa época,as facilidades e auxílios para a navegaçãoaérea praticamente inexistiam.

A 12 de junho de 1931, dois Tenentesda Aviação Militar – Nélson Freire Lave-nére-Wanderley e Casimiro MontenegroFilho – pilotando um Curtiss Fledgling,

saíram do Rio de Janeiro e chegaram a SãoPaulo, conduzindo uma mala postal (comduas cartas). Nascia assim o Correio AéreoMilitar (CAM).

Esse CAM, atualmente denominadoCorreio Aéreo Nacional (CAN), permanececom a missão de assegurar a presença doGoverno Federal nos mais diversos rincõesdo Brasil, o que levou o nosso Congresso, tocado por um forte espírito cívico, a exigir

da Força Aérea Brasileira a continuidadeda operação do Correio Aéreo Nacional,incluindo-o na Constituição de 1988.

Os fatos históricos abordados atéo momento permitiram que se criasseno país, no final da década de 30, umaatmosfera de questionamento sobre aarma aérea, e de que forma deveria ela seradministrada pela Nação.

Debates calorosos ocorreram, tantono Clube Militar como nos jornais da época,movidos por aviadores militares das duasAviações Militares – Ma rinha e Exército– que buscavam defender posições: se

as armas aéreas deveriam continuar noâmbito das duas Forças, ou se elas de-veriam agrupar meios aéreos de ambas econstituir uma arma única e independente,vindo a ser a única a administrar a atividadeaérea no Brasil.

A segunda corrente prevaleceu, tor-nando-se vitoriosa no dia 20 de janeirode 1941, quando foi criado o Ministério daAeronáutica, tendo como primeiro titular

da pasta um civil, o Dr. Joaquim PedroSalgado Filho. Esta foi a solução adotadapelo governo de então para manter as duasForças em harmonia.

Os anos seguintes permitiram umengrandecimento do setor aeronáutico bra-sileiro, tendo sido criada uma respeitávelinfraestrutura por todo o país, aumentandoa capacidade tecnológica e organizando toda a Aviação Civil e Milit ar.

O Ministério da Aeronáutica manteve--se atuante até 10 de junho de 1999,quando foi criado o Ministério da Defesa.A partir de então, passou a ser denominado

Comando da Aeronáutica, tendo como pri-meiro Comandante o Ten Brig do Ar WalterWerner Braüer.

FoRça aéRea bRasileiRaA criação do Ministério da Aeronáutica

e das Forças Aéreas Nacionais, após afusão do Corpo de Aviação da Marinha e aArma de Aeronáutica do Exército, ocorreuem 20 de janeiro de 1941. Quatro meses

mais tarde, em 22 de maio de 1941, as For-ças Aéreas Nacionais passam a denominar--se FORÇA AÉREA BRASILEIRA (FAB).

Inicialmente, seu acervo foi consti- tuído pe los equipa mentos existent es nasduas armas aéreas, Marinha e Exército,composto de uma variada gama de aviõesprocedentes de diversos países, comoEstados Unidos, Inglaterra, França, Itália,além de alguns aviões produzidos noBrasil em caráter experimental e algunsseriados.

A Segunda Guerra Mundial será omarco divisor para a modernização e a

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entativa d e implantação de um a indústriaeronáutica local.

Com a entrada dos Estados Unidos nauerra, em 1941, e o Brasil, em 1942, e a

mportância da costa brasileira – no norteo país – para o esforço de guerra dosliados, onde diversas bases americanasoram construídas, a FAB passa a receber

modernos aviões para as mais variadasunções, como caça, bombardeio, patrulhatc. Este é sem dúvida o seu momentoe consolidação e glória, formando nos

Estados Unidos diversos pilotos que serãos multiplicadores no seu crescimento culminando com a participação do 1º

Grupo de Aviação de Caça e a 1ª Esqua-rilha de Ligação e Observação no teatro

e operações europeu, onde participou daCampanha da Itál ia em 1944 e 1945, únicoaís da América do Sul. Vale lembrar que México participou com um Grupo de

Aviação no teatro do Pacífico ao lado dosmericanos.

Outro fator importante foi a sua par-cipação na C ampanha do Atlântico Sulo longo da costa brasileira, chegando

nclusive a afundar submarinos do Eixo aartir de 1942.

Com o fim da guerra, e a grande farturae material aeronáutico excedente, a FABassa a receber grande quantidade dos

Estados Unidos, o que de certa forma gera

o fim da indústria aeronáutica no Brasil,ficando mais cômodo e barato importardo que fabricar.

Em 1953, ela recebe seus primeirosaviões a jato. Ironicamente eles serão ingle-ses, totalizando 61 Gloster Meteor F-8 decaça e 10 TF-7 de treinamento, desativadosem 1974. A seguir, em 1956, recebe dosEstados Unidos 58 Lockheed TF-33-A para treinamento avançado e ataque, usados até1975. Em 1959, recebe 33 caças táticosLockheed F-80C, desativados em 1973. Oano de 1960 viu chegar 30 Morane SaulnierMS-760 Paris, da França, para serem usa-dos como aviões de ligação e treinamento,sendo desativados em 1974. Em 1967,recebe novamente dos Estados Unidos 65

Cessna 318A (T-37C) para treinamentoavançado e que foram usados até 1981,sendo repassados à Coreia do Sul.

No final dos anos 60 é criada aEmbraer, uma empresa brasileira que iráproduzir uma gama variada de aviões tur-boélices e jatos, entregando para a FAB, apartir de 1971, 166 EMB-326 GB Xavante,produzidos sob licença da AeronauticaMacchi, italiana, para treinamento avan-çado e emprego tático. Alguns chegarama equipar o 1º Grupo de Aviação de Caçano Rio de Janeiro, até q ue em 1975 fossemadquiridos, nos Estados Unidos, 36 caças táticos Nor throp F-5E Tiger II, e seis F -5B

para treinamento, espinha dorsal até osdias de hoje, como avião de caça da FAB,que adquire mais algumas unidades em1991, operando até hoje, principalmentenas Bases Aéreas no sul do país, sendoos mais modernos até então adquiridos.Atualmente existe um programa em an-damento repotencializando, em conjuntocom empresas nacionais e israelenses,a frota dos F-5, aumentando ainda maissua vida útil.

Em 1972, foram adquiridos na França17 caças Mirage III EBR para interceptaçãoe seis Mirage III DBR para treinamento,ainda operacionais os da versão EBR, mo-dernizados em 1988 e comprados algunspara repor perdas, que foram desativados

em dezembro de 2005 e estão sendo subs- tituídos pelo Mirage 2000C/B, adq uiridosusados da França.

O projeto mais ambicioso envolvendoa FAB foi a co-produção do AMX (A-1), umavião de ataque, desenvolvido em conjuntopelo Brasil (EMBRAER) e pela Itália (Alenia,Aermacchi), a partir de 1981, tendo sidoproduzidos 58, somente no Brasil, estandoainda em produção.

O fato mais importante em relação aoprojeto AMX foi o seu aprendizado, queproporcionou condições para o desenvol-vimento do Embraer 145 civil, um sucessomundial de vendas n

Entre os anos de 1965 e 1980,a Força Aérea Brasileira viveuuma época de profícuo período

ope raciona l e de t rans formações ,justamente para atender as imediatasnecessidades de enfrentar diversosmovimentos insurrecionais, que nasce-ram após a Revolução de 1964. Nesse

a saGa dosGueRReiRos

PolivalenTes

contexto, a utilização do veterano e jáprovado monomotor North AmericanT-6 apresentou-se como a única solu-ção viável para confrontar tal situação,sendo transformados em TF-6, rece-bendo pintura camuflada, armamento eatualizações nos seus equipamentos denavegação e de comunicação.

as esQuadRilhas deReConheCiMenTo e aTaQue

(eRa)Para receber os TF-6, surgiu a ideia

de criação das Esquadrilhas de Reco-

nhecimento e Ataque (ERA), que foraminstituídas pela Portaria nº 44/GM3, de 18de junho de 1965, as quais, além da pos-

Aparecido Camazano AlaminoCel Av

Historiador Aeroná[email protected]

   F  o   t  o  :   P  a  u   l  o

   F .

   L  a  u  x

Esquadrilha de aviõesde T-6 da ERA-41

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ibilidade de evoluírem para Esquadrões,am bém pod eria m se tra nsfo rma r emGrupos, quando as necessidades assim determinassem. Os meios aéreos e deessoal para o início de suas atividadesoram os já existentes nas Esquadrilhase Adestramento das Bases Aéreas queediariam tais Unidades.

Seus Comandantes seriam os Co-mandantes dos Esquadrões de Comandoas respectivas Bases Aéreas e a dotaçãonicial de cada Esquadrilha previa umaeronave do tipo T-6 G – para treinamentoe voo por instrumentos – e seis T-6 D,ara as missões operacionais.

A principal missão das Esquadrilhas

de Reconhecimento e Ataque era a suautilização no: “  EMPREGO EM MISSÕES

 ESPECÍFICAS DE COOPERAÇÃO N A MA- NUTENÇÃO DA SEGURANÇA INTERNA”.

Desde a criação das sete ERA (21Recife, 31 Santa Cruz, 32 Gal eão, 41 Cum-bica, 42 Campo Grande, 51 Canoas e 61Brasília), em 1965, até a sua evolução, em

março de 1970 para Esquadrões, as ERAatuaram em enorme gama de atividades,mesmo cumprindo um vasto programa deinstrução, bem como, inúmeras vezes, naexecução de missões operacionais reais.

No final de cada ano, após a cria-ção das ERA, era realizada uma grandeoperação ou manobra conjunta, com a

participação de todas as Esquadrilhas,contando, muitas vezes, com a participa-ção de outras unidades operacionais daFAB e até de forças do Exército Brasileiroe da Marinha do Brasil. Dentre essasoperações destacaram-se: OPERAÇÃOPOTI, realizada em dezembro de 1965 naRegião Nordeste do Brasil; OPERAÇÃO

CHARRUA, ocorreu de 30 de novembro a11 de dezembro de 1966, na Região Sul doBrasil e a OPERAÇÃO XAVANTE, efetuadaentre 1º e 10 de dezembro de 1967, naregião compreendida entre Campo Grande,Corumbá, Aquidauana e Forte Coimbra, noestado de Mato Grosso, atual estado deMato Grosso do Sul.

os esQuadRÕes deReConheCiMenTo e aTaQue

(eRa)Atendendo as necessidades operacio-

nais da FAB à época, em 26 de dezembrode 1969, foi publicada a Portaria nº S-005/ GM3, que estabelece a desativação de todas as ER A em 10 de março de 1970,bem como organiza, ativa e sedia, subor-dinados aos respectivos comandos dasBases Aéreas sedes, três ESQUADRÕESDE RECONHECIMENTO E ATAQUE (ERA),com sedes em Canoas (1º ERA), Cumbica(2º ERA) e Santa Cruz (3º ERA), sendosubordinados operacionalmente à 1ªForça Aerotática (1ª FAT), estabelecidaem Cumbica.

Essas novas Unidades, além de rea-

lizarem atividades operacionais, também tinham a responsab ilidade de ministrar ainstrução operacional dos pilotos recém--formados na AFA em operações aéreasespeciais. Durante a sua curta existência osERA participaram de diversas operações,de acordo com os seguintes dados: OPE-RAÇÃO JACUPIRANGA, realizada pelo 2ºERA na região de Registro (SP), entre osdias 20 de abril e 2 de junho de 1970; OPE-RAÇÃO COMENDO PÓ, executada com aparticipação dos três ERA, desenvolveu-sena região de Brasília (DF), entre os dias 10

de setembro e 16 de out ubro de 1970; OPE-RAÇÃO CARAJÁS,  teve a participação dos2º e 3º ERA, em enorme área que abr angia três estados (Goiás, Pará e Maranhão),com início em 19 de novembro e términoem 1º de dezembro de 1970; OPERAÇÃOPINGUIM, realizada em São Jerônimo (RS),constou da participação do 2º ERA emexercício de emprego no estande de tirodessa cidade entre os dias 10 e 22 de julhode 1971; e a OPERAÇÃO PAPAGAIO, exe-cutada nas cidades de Marabá e Xambioá(PA) entre os dias 18 de setembro e 8 deoutubro de 1972. Constou do emprego realde aeronaves dos 1º e 2º ERA contra forçasguerrilheiras que lá atuavam.

os esQuadRÕes MisTos de

ReConheCiMenTo e aTaQue(eMRa)A criação dos Esquadrões Mistos

de Reconhecimento e Ataque (EMRA)é o resultado da experiência adquiridapelas Esquadrilhas de Reconhecimentoe Ataque (ERA), entre os anos de 1965e 1970 e pelas Operações Catrapo I e II(ministradas pela USAF em 1965 e 1966).Sua gênese estava baseada na evoluçãopara uma Unidade que tivesse condiçõesde fazer uma operação completa com seuspróprios meios.

A reestruturação da FAB iniciada em1967, e estendida até meados dos anos1970, previa que os Comandos Operacio-nais disporiam de unidades aéreas mistasde reconhecimento e ataque, de acordocom o Decreto nº 66.314, de 13 de marçode 1970, que cria tais unidades. Os EMRAatuariam com aeronaves de ataque, heli-cópteros e aviões de ligação e observação.

Foram criados cinco EMRA nas BasesAéreas de Santa Maria (5º), Santa Cruz(3º), Belém (1º), Recife (2º) e Cumbica(4º). Essas unidades, de versatilidade a toda prova, realizaram inúmeras missõ esimportantes tanto no âmbito da FAB, comono cenário do desenvolvimento nacional,com destaque para as Operações RADAM,RADAM-Brasil e DINCART (Dinamização

da Cartografia). Os pilotos de ataque paraos EMRA eram formados sob a mesmaformalística e doutrina pelo EsquadrãoJoker, sediado no CATRE, em Natal (RN).

Em 9 de setembro de 1980, após ocumprimento de suas missões, com vistasa atender as necessidades da segurançainterna do país, os EMRA são desativadose evoluem para a atuação como unidadesde emprego de helicópteros e de ligação eobservação, porém sempre sob o mesmolema: “Nem melhores, nem piores, nem

diferentes, polivalentes!”n

UH-1H do 4º EMRA, em 1979

   F  o   t  o  :   A  u   t  o  r

Elemento de AT-26do 4º EMRA emmissão de NBA

    F  o   t  o  :

   A  u   t  o  r

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FAB POUSOU EM PORTA-AVIÕESPELA PRIMEIRA VEZ HÁ 50 ANOS

Grupo de Aviação Embarcada operou a bordode navios da Marinha entre 1965 e 1996

Thiago Vinholes

Jornalista

 As asas dos P-16 podiam ser dobradas, facilitando as operações no espaço limitado convés

O primeiro pouso de um avião da FAB abordo do porta-aviões NAe Minas Ge-rais aconteceu em 22 de jun ho de 1965.

Entre 1965 e 1996, as operações comaeronaves de asa fixa nos porta-aviões daMarinha do Brasil eram realizadas pela ForçaAérea Brasileira (FAB). O Grupo de Aviação

 Emba rcad a  da FAB realizou os serviçoscom o navio-aeródromo NAe Minas Gerais(aposentado em 2001), até passar a funçãoao Grupo de Aviação da própria Marinha, queaté então operava somente com helicópteros.

O primeiro pouso de um avião da FAB abordo do porta-aviões Minas Gerais aconteceuem 22 de junho de 1965, quando um Grum-mam P-16 conseguiu se enganchar nos cabossobre o convés e pousou com segurança. Naocasião, o avião de patrulha marítima pilotado

pelo então Major Antônio Claret Jordão, tendocomo co-piloto o Capitão Iale Renan AcciolyMartins de Freitas, sofreu uma desaceleraçãode 200 km/h a 0 km/h quase que imediata.

No dia seguinte ao primeiro pouso, a FABrealizou mais 36 pousos e decolagens com oP-16 no porta-aviões Minas Gerais.

Com alta frequência de pousos e de-colagens, o esquadrão embarcado da FABaprendeu sobre missões de patrulha marítimae guerra anti-submarino em porta-aviões.Essas operações antes eram realizadas debases em terra e o uso do navio-aeródromoaumentou o raio de ação e alcance da Mari-nha e da Força Aérea.

A bordo do NAe Minas Gerais

Primeiro porta-aviões do Brasil, o NAeMinas Gerais foi comprado da Marinha daAustrália (Royal Australian Navy) em 1956,quando ainda se chamava HMS Vengeance.

O porta-aviões Minas Gerais, antes deser incorporado à Marinha do Brasil, serviu

na Inglaterra e Austrália.O navio foi construído em 1942 pelaInglaterra, que o utilizou durante a campanhado Pacífico contra o Japão na Segunda GuerraMundial. A embarcação, inclusive, chegou aenfrentar ataques de pilotos kamikazes e, nofinal do conflito, em 30 de agosto de 1945, aoaportar em Tóquio, recebeu o comandante daMarinha japonesa Yuzo Tanno com uma cartade rendição de seu país para o Império Britânico.

Antes de ser incorporado à Marinha doBrasil, o que aconteceria somente em 1960, oMinas Gerais foi enviado para uma completareforma na Holanda. Nesse processo o navio

ganhou um convés de voo com ângulo de8,5°, como uma rampa, e um novo sistema decatapulta a vapor, para permitir o lançamentode aeronaves mais pesadas (até 13.640 kg),como o P-16.

A serviço da Inglaterra, o então Venge-ance recebeu aeronaves como o Sea Fury eFairey Firefly. Já a Austrália chegou a operarcom os jatos Sea Venom a bordo do mesmonavio. O Minas Gerais receberia um jatonovamente somente em 2001, os caça AF-1da Marinha do Brasil.

O Minas Gerais tinha um total de 211,8 mde comprimento e 36,3 m de largura, o quepermitia receber uma combinação de até 21aviões e helicópteros, além de uma tripulaçãode 1.000 homens. O primeiro porta-aviõesdo Brasil ainda era armado com canhões de20mm para autodefesa e podia navegar por até19.000 km impulsionado por turbinas a vapor.

Durante toda sua carreira na Marinhado Brasil, o Minas Gerais operou comoporta-aviões de guerra contra submarinos.Nesse mesmo tempo, a Argentina também teve dois porta -aviões, mas configu radoscomo embarcações de ataque e defesa. Aembarcação 25 de Mayo, por exemplo, foiutilizada pela Argentina contra a Inglaterra naGuerra das Malvinas e durante anos provocouo Chile em águas no Atlântico Sul.

O NAe Minas Gerais, porém, teve um f im trágico. Apesar de seu valor histórico nas trêsmarinhas em que serviu, a embarcação foidescartada em 2003 e desmontada comosucata na Índia.

A bordo do NAe São Paulo

Adquirido no ano 2000 pela quantiade US$ 15 milhões, o NAe São Paulo foi o

segundo porta-aviões da Marinha do Brasil esubstituiu o Minas Gerais em 2001. A embar-cação, desta vez sob controle total da forçanaval, é 50% mais rápida (velocidade máximade 30 nós – 55 km/h) que seu antecessor epode carregar o dobro de aeronaves.

O porta-aviões São Paulo foi construídona França entre 1957 e 1960 e serviu à Ma-rinha daquele país com o nome de FS Fosh.O navio, com bandeira da França, participoude combates no Iêmen, Líbano e na antigaIugoslávia, operando com aeronaves comoos caças F-8 Crusader e Dassault SuperÉtendard.

No Brasil, o NAe São Paulo já operoucom os caças AF-1 (designação da Marinhapara o Douglas A-4 Skyhank) e o patrulheiroS-2 Tracker, além de helicópteros Sea King,

Esquilo e o Super Puma. Diferentemente doMinas Gerais, que possui somente uma ca- tapulta, o Sã o Paulo conta com doi s pontosde lançamento, que podem ser operadossimultaneamente.

O atual navio-aeródromo do Brasil tem266 m de comprimento e 51,2 m de largura,medidas que o colocam como o maior naviode uma força naval da América Latina e oquinto maior porta-aviões do mundo, atrásapenas de embarcações da Índia, China,Rússia e Estados Unidos.

A embarcação, entretanto, encontra-separada no porto do Rio de Janeiro desde2011, devido a uma série de problemasmecânicos, o que paralisou as operaçõesaeroembarcadas da Marinha. O porta-aviõesfoi recentemente docado para uma profundareforma que tem prazo de conclusão mar-cado para 2019 n

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Brincadeira ingênua...mas de mau gosto

Raul Galbarro Vianna

Cel Av

[email protected]

Nos idos de 1963, havia uma l inha decorreio – o CAN Norte – que partiade Campo Grande e saía desbravan-

do as terras selváticas de Mato Grosso, afim de atender as missões salesianas ealdeias indígenas – mormente Xavantes eBororos – dando-lhes assistência logística

e humanitária e tudo o mais necessário,afastando-os com isso, do total isolamen- to. Eram linhas efetuadas, normalmente,por aviões bimotores Beechcraft C-45 ouT-7, os quais (apelidados de  Mata 7   pelofato de conduzirem cinco passageiros edois pilotos, não voarem monomotor e nemdisporem de passo bandeira), operávamoscom um sargento QAv como copiloto e que,eventualmente, em casos de indisponibili-dade total dessas aeronaves e/ou algumasimultânea carência urgente em outraárea, eram realizadas em aeronaves T-6,unicamente para manter acesa a chama eelevada a moral daquela gente. E era issoque valia para nós, do Destacamento deBase Aérea de Campo Grande: ver o sorrisoaberto e franco no rosto dos índios e reli-giosos, externando satisfação e profundoagradecimento.

Nossa área de atuação, nessa Linha,

abrangia fundamentalmente as regiões ba-nhadas por três rios: Araguaia, das Garçase das Mortes.

Assim, partindo de Campo Grandede T-6, atendendo a uma dessas linhas,cheguei à aldeia xavante de São Marcos –após pousar e deixar para trás Coxim, AltoAraguaia, Guiratinga, Ponte Branca, Tezou-ro, Baliza, Aragarças, Araguaiana e SantaTerezinha – devendo, após São Marcos,seguir para Meruri, Sangradouro e Cuiabá.

Por questão de empatia, sempre fuimais chegado aos Xavantes do que aos

Bororos, talvez pelo comportamento maisdesconfiado e retraído destes e, porque nãodizer, menos confiável que os primeiros emcertas circunstâncias.

Cabe aqui um pequeno, porém impor- tante detalhe, da narrativa que pretendodesenvolver. Lamentavelmente, à época,

eu era fumante.Naquela atmosfera alegre da nossa

chegada, a coisa foi aos poucos se acal-mando, com alguns xavantes se afastandodo local – além do padre Bruno, que alise encontrava e pretendia uma caronaaté Meruri, distante seis minutos de voodali – permanecendo na periferia uns dezou doze xavantes remanescentes, entreadultos e adolescentes. Os minutos forampassando e eu ali, aguardando o padreBruno. Em determinado momento, de for-ma despretensiosa, peguei um cigarro dobolso do macacão de voo. Acendi-o com oisqueiro e passei a fumar, sentado em umabanqueta rústica. Eis que, de repente, meveio à cabeça a brilhante e infeliz  ideia debrincar com os xavantes.

Aproveitei um momento em que elesestavam distraídos e dei uma tragadaprofunda, retendo bem a fumaça e, com

um aceno, consegui que o grupo se apro- ximasse e todos ficassem atentos. Com arsério e compenetrado, encostei ao ouvidodireito a extremidade apagada do cigarroe, com os olhos semicerrados, simuleiuma tragada. Passam alguns segundos eeu solto a fumaça pelo nariz e pela boca.Foi um auê! Todos gritaram e gargalharamgostosamente, ficando bastante agitados!Em fração de segundos, surge a dura rea-lidade: os xavantes me cercaram, puxandopelo macacão e pelos braços, bradando

 faz de novo!,  faz de novo!. Caiu a minha

ficha. Eu, com um  papo de camelô, ale-gando cansaço mental, pela concentração,buscava desesperadamente uma saída. Eos xavantes insistindo:  faz de novo!,  fazde novo!.

De repente, manifesta-se a presençadivina: surge o padre Bruno com seu perfil

carismático e marcante, vê a cena e, semsaber do que se trata, paga uma geral na turma e manda que todos dispers em eretornem ao dia a dia. Todos se afastamum tanto frustrados.

Decolo com o padre Bruno para Merurie, ali chegando, lhe informo o que ocorrera.Ele me tranquiliza, afirmando que se encar-regaria para que tudo fosse devidamenteexplicado e entendido. Realmente, ascoisas devem ter sido esclarecidas, já quevoltei a fazer a mesma linha várias vezes,sem qualquer anormalidade – a não serpelo olhar atravessado dos xavantes, sem-pre com o pé atrás, desconfiados, como adizer você nos enganou. A bem da verdadeera a minha consciência pegando pesado.De qualquer forma, pelo sim pelo não,fiquei um longo período sem dar a chancede ficar isolado entre eles, até que o passardo tempo fosse apagando o episódio – o

que, aliás, acabou acontecendo, graças àintervenção do padre Bruno. Mais tarde,soube que o religioso conversara com olíder dos índios, o cacique Apuena, que,além de fazer com que o relacionamentocom eles fosse restabelecido normalmente,chegou até a me presentear com uma fo to!Assim, a paz voltou a reinar entre brancos,índios e demais povos da área.

Entretanto ficou o permanente alertapara o resto da vida:

NÃO BRINQUE COM QUEM VOCÊ NÃOCONHECE BEM OU NÃO TEM INTIMIDADEn

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E

m julho de 1973, deixei o Centrode Formação de Pilotos Militares– CFPM, em Natal, fruto de minha

rans ferênci a para a Escola de Ofici aisEspecialistas e de Infantaria de Guarda –EOEIG, em Curitiba.

Na EOEIG, fui muito bem acolhido porodos. Designado comandante do Corpoe Alunos, a mim cabia conquistá-los bemomo aos demais membros do efetivo da

Escola.Reencontrei, na Unidade, velhos

onhecidos. Os Beech RT-11, utilizadosa instrução dos alunos, especialmente,os especialistas em fotografia e dos es-ecialistas em armamento. Os primeiros

a bondade de dona MabelTen Brig Ar Sergio Pedro Bambini

[email protected]

voavam fazendo pequenos recobrimentosfotográficos, simulando missões de ae-rofotogrametria, não passíveis de serem

realizadas pela deficiência do equipamento.Os alunos de armamento faziam missõesde bombardeio. Os demais alunos aero-navegantes faziam seus treinamentos noC-47 da Escola. Como em Natal eu voavao C-45, não houve necessidade de efetuaruma adaptação no RT-11. Entrei logo naescala de voo e comecei a participar dasmissões de instrução para alívio e gáudiodos oficiais mais antigos.

Fiz uma pequena readaptação, emviagem, e, também, comecei a voar o C- 47da Escola, o PP-EDL.

Embora a escala de voo da EOEIG fos-se bastante generosa, gozávamos, ainda,do privilégio de concorrer ao voo de C-47,

no 5º Esquadrão de Transporte Aéreo – 5ºETA, em Canoas. Esse voo ocorria com afrequência aproximada de uma viagem pormês. Voando essa aeronave em Curitiba eem Canoas não havia problema de conti-nuidade e de intensidade de voo.

No dia 4 de outubro de 1973, quarta--feira, decolei de Canoas, bem cedinho,para uma viagem do Correio Aéreo comdestino a Natal. Uma viagem excelente.Muitas horas de voo numa rota apreciadapor todos. O avião era o C-47 2043.

Pousamos no Aeroporto Salgado

Filho, em Porto Alegre, início da missãoe dos aborrecimentos costumeiros. A re-lação de reservas era maior do que a dos

passageiros efetivos, que estavam todospresentes. Cada pretendente constante dalista de reserva tinha necessidade urgentede viajar!

O voo era do tipo pinga-pinga e, assim,fizemos a rota até o Galeão pousando emFlorianópolis, Curitiba e São Paulo. Pernoi - tamos no Galeão e, no dia seguinte, iríamosaté Natal sem tantas escalas.

Decolamos cedo, cumprindo a NPAe, além disso, a jornada seria longa e aaeronave estava, como sempre, lotada.Próximo pouso, Salvador.

A tripulação, com exceção de mim, erado ETA 5. Apesar de ser o comandante daaeronave, minha qualificação operacional

era de 2º piloto (2P).O primeiro piloto (1P) era o Cap Av

Salles Cunha. O mecânico, 1S QAv Lauro,e o radiotelegrafista, o 2S QRTVO José.Uma tripulação, sem dúvida, experiente. Apequena vivência que eu detinha no Velho

 Dakota era compensada, creio, por quaseduas mil horas em RB-25 e B-26, alémde umas seiscentas horas em BeechcraftTC-45T, C-45, RT-11. Totalizava, à época,pouco mais de 4.000 horas de voo.

Íamos muito bem, voando a 9.000 pés.A temperatura era agradável e o consumo

de combustível, bastante econômico. Voo tranquilo sobre o litoral em dia de céu claro.

Passamos Vitória e seguimos comproa de Caravelas. Quando já tínhamosmarcações de SBCV, começamos a sentiruma pequena vibração no motor esquerdo.

Ao fazer uma inspeção visual, o 1SLauro constatou um pequeno filete de óleoescorrendo pela carenagem do motor.

Ficamos atentos e observando. Osinstrumentos não indicavam nada errado.Temperatura e pressão do motor esquerdonormais.

Alguns minutos mais tarde, sentimosa trepidação do motor aumentar. Fizemosalguns procedimentos discretamente, mo-dificando a potência, a mistura e a rotaçãoda hélice. A vibração continuou. Com muitocuidado, checamos os magnetos. Nada!

Fizemos uma pequena conferência, todos o s tripul antes, e decidimos p ousarem Caravelas e sanar a pane. Os procedi-mentos de descida, aproximação e pousoocorreram sem quaisquer problemas.

Após o pouso, pedimos aos nossospassageiros para aguardarem na pequenaEstação de Passageiros do Aeroporto deCaravelas.

O 1S Lauro descarenou o motor es-querdo e nem precisou fazer o teste paraverificar qual o cilindro que estava frio,isto é, com as velas sujas, ocasionando a trepidação do motor. O problema era outro,bem mais grave. Um dos cilindros estavarachado e precisava ser trocado.

Demos partida no motor direito para termos energia suficien te para o radio te-legrafista enviar as mensagens de pouso/pernoite, pane constatada e o pedido de

um cilindro para substituir o que estavarachado. O Sargento Lauro declarou-seapto a fazer o trabalho sozinho, desde queo Sargento José se dispusesse a trabalharcomo auxiliar de mecânico, que não era asua função. Ele, prontamente, concordou.

Após passarmos as mensagenspara o COMTA e ETA-5, Salles Cunha eeu começamos a resolver os problemasadministrativos.

Havia alojamento para a tripulação. OCabo encarregado do Posto CAN mostrou--se extremamente prestativo. Cabo Velho,

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xperiente,  safo  e cheio de recursos emacetes.

E os 27 passageiros? Homens, mulhe-es, crianças, o que fazer com eles?

Decidimos, antes de falar com eles,rocar ideias co m o Cabo.

A cidade era longe e o transporte nãoonfiável. Não havia alojamento para tantaente. A cantina do aeroporto, que nãoodia ser chamada de bar, era operadaela esposa do Cabo, dona Mabel, umanda senhora em sua bondade e simpatia.

Reunimos os passageiros. Explicamos problema e dissemos que ficaríamosm Caravelas, no mínimo três dias, pois oilindro viria do Galeão na primeira oportu-idade. Sugerimos que, se alguém tivesseecessidade, e possibilidade, deveria irara a cidade e prosseguir a viagem denibus.

Aguardamos um pouco e ninguém seabilitou a prosseguir por meios próprios.

Também ninguém pediu para ir para umotel.

Logo entendemos o porquê.Todos ficaram me olhando e aguardan-

o. Algumas crianças choravam.Perguntei, então, quem tinha dinheiro.Já que eu teria que equacionar e resol-

er o problema, que não se mostrava pe-ueno, recolhi todo o dinheiro que tinham.

O montante arrecadado, feitas as devidastualizações e utilizando uma conversãorática, foi de R$ 19,00. Uma fortuna!

Eu tinha alguma coisa, dinheiro deiagem. Naquela época, o cartão de créditostava começando a aparecer no Brasil ee nada valeria naquela hora. Salles Cunhaambé m dispunha de algum numerár io.

gualmente, os dois Sargentos se dispu-eram a cooperar.

O próximo passo era transformarosso dinheiro em comida para 31 pessoaselo prazo, mínimo, de três dias.

Falei com o Cabo que m e levou à donaMabel. Ela pronta e compreensivamententendeu a situação. Disse-me que pro-idenciaria, com seus fornecedores, umaoa quantidade de macarrão, alguns quilose farinha de mandioca, alguns peixesopulares e pão. Com isto, comporia umardápio básico de macarrão com peixe e

farinha de mandioca. O pão seria para ocafé da manhã.

Com as tradicionais almofadas ama-relas, que atenuavam, um pouco, a durezanatural dos metálicos bancos lateraisdo C-47, improvisamos camas para ascrianças e para as mulheres, e todos seacomodaram nos bancos de madeira doaeroporto. Não era um hotel três estrelas,mas ninguém ficou privado do sono.

O cilindro chegou no sábado pelamanhã. O motor estava preparado, pois oSargento Lauro, mostrando um magníficoconhecimento, como se um especialistaem motores fosse, retirou o cilindro doentecom a perfeição de cirurgião renomado. Elee o Sargento radiotelegrafista trabalharamintensamente desde o nosso pouso até omomento em que o avião ficou pronto parareceber o novo cilindro. Muitas horas de trabalho árd uo sob um sol in tenso e calorúmido de Caravelas.

Os passageiros perambulavam pelosaguão do aeroporto, seu alojamento,como se em casa estivessem.

Dona Mabel, conforme o prometido,fornecendo macarrão, com peixe e farinha,para todos, providenciou até um cardápioespecial para as crianças. Creio, até, quenossa estada naquele local foi motivo deprejuízo para o seu estabelecimento comer-cial. Se foi, em momento algum apagou osorriso de seu rosto e a boa vontade comque atendeu a todos.

No domingo de manhã, o avião ficoupronto.

Cuidadosamente, checamos o motor.Nenhuma trepidação, nenhum vazamentodetectado. O motor foi carenado, o avião

reabastecido e o plano de voo preenchido.Agradecemos ao Cabo e a dona Mabel

por todas as gentilezas que nos conce-deram e ficamos emocionados ao ver ospassageiros, todos, um a um, os cumpri-mentarem, os abraçarem e agradecerem.Percebi lágrimas nos olhos de muitosdeles. Dona Mabel chorava!

Demos partida com muita dificuldade.A bateria, fraca pelo uso intenso certamen- te carregaria na et apa para Salvador.

Decolamos e seguimos, sem qualquerproblema, para Salvador, onde pousamos

no então Aeroporto Dois de Julho. Táxi,desembarque de alguns passageiros emo-cionados, reabastecimento, plano de voo,embarque e partida. Hélice livre. Partida.

Partida? Estávamos sem bateria!Domingo à tarde, aeroporto cheio de

gente. O pátio lotado de Boeing 727, 737,Avros, Fokkers e outras aeronaves, então,modernas.

A Base Aérea não tinha uma fonte deforça disponível!

No canto do pátio de estacionamento, tentamos a partida no motor direito utilizan-do uma fita de amarração.

Convidamos oito de nossos passagei-ros a nos ajudarem. O convite foi atendidoprontamente.

O Sargento Lauro enrolou, com cuida-do, a fita de amarração no cubo da hélice.Ligamos os magnetos, e os passageiros,liderados pelo Sargento Lauro, puxaram afita com vigor. A hélice girou, o motor pi-

 pocou, mas não pegou. Nova tentativa. Fitaamarrada, magnetos ligados e, surpresa, aparte superior do aeroporto cheia de genteolhando com curiosidade para o nossoavião. Certamente uma cena inusitada,pois não deviam entender por que aqueleshomens puxavam uma fita e giravam ahélice do avião. O motor não pegou e a

 galera agitou-se com os puxadores da fitaespalhados no chão.

Nova tentativa, e o motor girou,  pi- pocou e  pegou. Os homens caíram, masvibraram.

No aeroporto, o povo aplaudiu entu-siasticamente. Não podíamos ouvir, mascertamente estavam gritando.

Os passageiros embarcaram e, com o

auxílio do gerador, demos partida no motoresquerdo. Taxiamos e decolamos.

Pernoitamos em Recife e, no diaseguinte, seguimos para Natal, de ondeiniciamos, imediatamente, a viagem deretorno.

Os passageiros, à medida que iamdesembarcando em Recife ou em Natal,faziam questão de cumprimentar cada umdos membros da tripulação. Lágrimas rola-ram de muitos rostos marcados pela vida.

O regresso da viagem ocorreu demaneira absolutamente normaln

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7/21/2019 Revista Aeronáutica Edição n° 292

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