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    REVISO DE ECONOMIA MONETARIA

    1. A moeda: conceito, importncia e funes

    1.1 O sistema de escambo (trocas diretas)

    sabido que desde os primrdios da humanidade, nos primeiros agrupamentos

    humanos, que foram designados de nmades, estes teriam sobrevivido das seguintes

    atividades econmicas: caa, pesca, colheita de produtos silvestres. Tais grupos no

    conheciam a moeda, e quando recorriam s atividades de troca, realizavam trocas diretas

    em espcie, denominadas escambo.

    Por muitos sculos e at hoje encontramos esta forma rudimentar de comrcio,entre povos de economia primitiva, em regies cujo acesso muito difcil, pois h escassez

    de meio circulante, e ainda hoje, observa-se que algumas pessoas efetuam permuta de

    objetos sem a preocupao de sua equivalncia de valor.

    As mercadorias utilizadas para escambo geralmente se apresentam em estado

    natural, variando conforme as condies de meio ambiente e as atividades desenvolvidas

    pelo grupo, correspondendo a necessidades fundamentais de seus membros. A troca dita

    direta, quando a transao realizada sem o auxlio de um instrumento intermedirio de

    troca. Apesar de muito utilizada no incio da civilizao at os dias atuais, a economia das

    trocas, ou seja, o escambo possui custos envolvendo pessoas, servios e objetos, tais como:

    (i) necessidade de dupla coincidncia a necessidade de que ambos os negociadores

    desejem o que cada um deseje oferecer a um preo acordado por ambos; e, (ii) para cada

    bem transacionado, deve ser estabelecido um preo em termos de outro bem.

    A primeira revoluo agrcola traduziu-se na fixao de certos grupos humanos

    em determinadas reas, como os deltas dos rios Nilo, Tigre, Eufrates. Pratica-se a

    agricultura organizada e a domesticao de animais. O nomadismo vai, gradualmente

    cedendo lugar a uma forma de vida mais sedentria, o que aumenta a complexidade das

    relaes sociais. A produo se diversifica.

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    Manifesta-se uma pequena especializao e diviso social do trabalho: guerreiros,

    agricultores, pastores, arteso, sacerdotes. Os meios de se obter benefcios da especializao

    so as trocas, nas quais cada indivduo troca o seu produto diretamente com outro

    indivduo.

    O abandono do sistema de escambo (trocas diretas) e a criao da moeda

    Quando a diviso do trabalho se tornou mais complexa, aumentou o nmero de bens e

    servios exigidos para satisfao das necessidades humanas estimuladas pelo carter

    sedentrio da vida; a dupla coincidncia dos desejos de modo que fica mais difcil e

    dispendiosa em termos de tempo e recursos, logo, as trocas, que antes eram acessrias nos

    agrupamentos primitivos, torna-se agora fundamental para o desenvolvimento e para a

    sobrevivncia do grupo.

    Um importante problema num sistema de escambo (ou de trocas diretas) que

    qualquer indivduo que deseja realizar uma troca deve encontrar outro indivduo com os

    bens que deseja vender. Para permitir o desenvolvimento das trocas, o escambo foi sendo

    substitudo por processos indiretos de pagamento. Inicialmente, determinados produtos,

    que eram recebidos em pagamentos referentes s transaes econmicas configura a

    origem da moeda.

    Determinados produtos iro desempenhar a funo de intermedirios de trocas,

    mesmo que eles no tenham valor de uso ou no sejam desejados pelos que os recebam,

    mas so amplamente aceitos por todos os membros do grupo para a finalidade de

    intermediar trocas. As trocas agora passam a ser indiretas, isto , utiliza-se um

    intermedirioa moeda.

    As operaes de compra e venda de mercadorias so agora intermediadas por

    produtos que possuem aceitao geral e atual como moeda. De agora em diante, o valor detodos os bens passa a ser medido em relao aos produtos-padro.

    Desde o seu estgio mais primitivo, a moeda usada para intermediar processos

    rudimentares de troca, pode ser conceituada como um bem econmico qualquer que

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    desempenha as funes bsicas de intermediria de trocas, que serve como medida de valor

    e que tem aceitao geral.

    1.2 Conceito, funes e formas assumidas pela moeda

    A moeda como conhecemos hoje representa o conjunto de meios de pagamento

    uma instituio que responde a uma necessidade social decorrente da diviso do trabalho.

    Consiste na totalidade dos ativos financeiros (papel moeda, depsitos bancrios, cheques de

    viagens) possudos pelo pblico que pode ser utilizada a qualquer momento para

    liquidao de qualquer compromisso futuro ou vista.

    Moeda o conjunto de ativos da economia usados regularmente pelos agentes

    econmicos para comprar bens e servios uns dos outros. Sendo assim, a moeda inclui

    apenas os poucos tipos de ativos que so regularmente aceitos por vendedores e

    compradores em suas transaes. O que diferencia a moeda dos outros ativos da economia

    a sua liquidez, ou seja, a facilidade que esse ativo tem de ser trocado por outros bens e

    servios. Por exemplo, deveras complicado trocar televisores de 60 polegadas por sacos de

    arroz ou por imveis residenciais. J a moeda, seja a moeda bancria ou o papel-moeda,

    pode ser trocado facilmente por qualquer um dos dois.

    A moeda possui trs funes que a distinguem dos outros tipos de ativos da

    economia:

    (1) Funo de instrumento ou meio de troca. - A principal funo da moeda a de

    ser meio de pagamento. Logo, a moeda um ativo que pode ser usado na troca de bens e

    servios e em operaes de compra ou venda. No entanto, para ser meio de pagamento

    fundamental que a moeda seja amplamente aceita e que toda a sociedade tenha confiana

    nela. A utilizao da moeda como uma intermediria de trocas possibilita a sensvelreduo do tempo empregado em transaes, reduzindo sensivelmente os custos de

    transao. A moeda como meio de troca torna desnecessria que exista uma dupla

    coincidncia de necessidades nas trocas e promove a eficincia, reduzindo o tempo gasto no

    intercmbio dos bens.

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    (2) Funo de unidade de conta. funo, a moeda tida como o denominador

    comum nos quais todos os bens e servios so medidos. Ela possibilita, portanto, que os

    valores de todos os bens ou servios na economia sejam expressos em moeda nacional. A

    moeda usada com unidade de conta reduz os custos de transao numa economia

    reduzindo o nmero de preos que se necessita considerar numa troca.

    Os benefcios desta funo crescem medida em que a economia se torna mais

    complexa. A introduo de uma unidade de conta na qual so expressas e comparadas os

    valores de diferentes bens e servios importante para a eficincia econmica, pois isto

    reduz o nmero de clculos requeridos para se alcanar a valorao dos bens quando estes

    crescem. Esta funo a de evitar clculos desnecessrios, adotando uma determinada

    linguagem na qual se possa expressar o valor dos bens e servios.

    (3) Funo de reserva de valor. - Quando as pessoas recebem moeda em troca de

    bens ou servios, no h a necessidade imediata de gast-la, pois a moeda pode manter o

    seu valor, isto , pode ser usada como reserva de valor. A moeda uma reserva por

    excelncia do poder de compra, devido a sua liquidez e pelos graus de incerteza quanto as

    possibilidades futuras de converso das outras formas de ativo (ttulos, aes, terra, obras

    de arte, joias, carros, bnus,etc).

    1.3 Formas assumidas pela Moeda - A moeda pode assumir trs tipos de formas na

    sociedade:

    1. Moedas metlicas - Estas constituem pequena parcela dos meios de pagamento na

    economia e visam facilitar as operaes de pequeno valor. So emitidas pelo Banco Central.

    2. Papel-moeda em poder do pblico (PMPP) - Esta representa parcela significativa da

    quantidade de dinheiro em poder do pblico, e tambm so emitidas pelo Banco Central. Opapel moeda e as moedas metlicas em poder do pblico so denominados moedas

    manuais.

    3. Moeda escritural ou bancria (DVbc) - representada pelos depsitos vista nos bancos

    comerciais (depsitos em conta corrente).

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    1.4 Meios de Pagamento: Conceito e Composio

    A moeda, assim como qualquer outro bem ou servio tem seu preo e quantidade

    determinados pela oferta e demanda. A oferta de moeda constitui-se nos recursos

    financeiros colocados disposio do pblico pelas autoridades monetrias e pelos bancos

    comerciais para atender s necessidades da sociedade.

    O pblico a includos os indivduos e as empresas possui, de uma forma geral,

    diversos ativos ou haveres isto , coisas que tm valor econmico e que constituem seu

    patrimnio, podendo ser citados entre estes os imveis, fazendas, carros, depsitos de

    poupana, aplicaes financeiras em bancos, ttulos do governo, depsitos vista nos

    bancos comerciais, papel-moeda em espcie em seu poder, aes e outros tantos.

    Cada ativo deste possui um grau diferente de liquidezmedido este pela capacidade

    de o ativo se transformar em moeda ou em dinheiro propriamente dito. Assim, quanto mais

    fcil for transformar um ativo em dinheiro, maior se diria que o seu grau de liquidez.

    A oferta de moeda tambm chamada de meios de pagamento. Os meios de pagamento

    (MP) no sistema econmico so dados pela soma da moeda manual com a moeda escritural,

    ou seja: MP = PMPP + DVbc.

    Quando nos referimos moeda como o ativo mais lquido na economia, queremos

    enfatizar com isso, sua capacidade e disponibilidade de ser prontamente aceita para ser

    usada nas mais diversas transaes econmicas. Aos meios de pagamento conceituados

    como moeda de liquidez imediata na literatura econmica chamamos de M ou ativos

    monetrios: M1 = MP = PMPP + DVbc.

    Dessa forma, os meios de pagamento no conceito de M1 - correspondem soma de

    duas formas da moeda: moeda em poder do pblico mais os depsitos vista nos bancoscomerciais.

    possvel tambm conceituarmos outros ativos ou haveres no monetrios de alta

    liquidez (embora no to imediata) que rendem juros denominados de quase-moedas, tais

    como: M1 = papel moeda em poder do pblico + depsitos vista

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    M2 = M1 + depsitos especiais remunerados + depsitos de poupana+ ttulos

    emitidos por instituies depositrias.

    M3 = M2 + quotas de fundos de renda fixa + operaes compromissadas (Selic)

    M4 = M3 + ttulos pblicos de alta liquidez.

    1.5 Quais so os instrumentos que servem como moeda, isto , que desempenham as

    funes da moeda na economia Brasileira?

    Os meios de pagamentos so aqueles vrios ativos em poder dos agentes pblicos e

    privados que podem ser utilizados para o pagamento de compromissos (dvidas) assumidas

    e/ou para pagamentos vista. Os meios de pagamento, em conceito restrito (M1), envolve opapel-moeda em poder do pblico (moeda manual) e os depsitos vista (moeda escritural)

    nos bancos comerciais.

    O Banco Central emite o papel-moeda (PME) legal de curso forado. Uma parte

    desse papel-moeda emitido pelo Banco Central retida pelos bancos comerciais na forma

    de encaixes ou reservas bancrias. O restante se torna papel moeda em poder do pblico

    no bancrio (PMPP).

    Os Bancos Comerciais so os agentes responsveis/autorizados a receber depsitos

    vista. Ao conjunto de instituies responsveis pela criao de M1 denomina-se Sistema

    Monetrio ou Bancrio e constitudo, no Brasil, pelo Banco Central e pelos Bancos

    Comerciais.

    Os demais ativos financeiros, M2, M3, M4, so considerados ativos no monetrios

    assim como as instituies que os emitem so chamadas instituies no bancrias. Essas

    definies so, em certo sentido, bastante arbitrrias uma vez que muitos dos ativos no-monetrios so utilizados e aceitos como meios de pagamentos.

    Por exemplo, em algumas transaes o governo aceita ttulos pblicos em poder do

    comprador como meio de pagamento. Outro exemplo: ttulos privados, como depsitos a

    prazo, so altamente lquidos, isto , podem ser convertidos em M1 instantaneamente sem

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    perda de valor (ainda que o aplicador possa perder o rendimento a que tinha direito).

    A questo da definio do que meio de pagamento est relacionada com as regras de

    converso dos vrios ativos em moeda do governo (isto , moeda aceita pelo governo no

    pagamento de tributos) e a moeda dos bancos comerciais (os depsitos vista).

    As regras de converso dos meios de pagamentos em M1 esto, por seu turno,

    relacionadas ao grau de organizao dos mercados e a regras de converso dos demais

    agregados monetrios estabelecidas pelo governo para sua moeda. Por exemplo, os

    prprios depsitos vista so considerados moeda porque o Estado garante que os mesmos

    sejam plenamente conversveis na moeda do Estado.

    1.6 O Sistema Monetrio

    O sistema financeiro nacional constitudo de dois grupos de instituies: o

    chamado sistema monetrio e o sistema no monetrio. O sistema-monetrio constitudo

    pelas instituies financeiras que criam moeda, ou seja, constitudo de apenas o Banco

    Centralque emite moedae dos bancos comerciaisque recebem depsitos vista.

    J o sistema no-monetrio constitudo de todas as demais instituies financeiras

    (as que no criam meios de pagamento), a compreendidos os bancos de investimento, os

    bancos de desenvolvimento, as sociedades de crdito, financiamento e investimento

    (financeiras), o sistema brasileiro de poupana e emprstimo (cadernetas de poupana), as

    distribuidoras, as corretoras e tantas outras.

    Os bancos comerciais so agentes especiais dentro do sistema porque seus passivos

    (depsitos vista) so reconhecidos pelo estado como plenamente conversveis em moeda

    do estado (meio de pagamentos aceitos na liquidao de tributos). Por isso mesmo, essas

    instituies recebem regulao especfica do Banco Central. Assim, os bancos comerciaisso obrigados a manterem uma reserva compulsria que estabelecida e recolhida pelo

    Banco Central e que serve para mostrar a solvabilidade dos bancos comerciais na forma de

    moeda do estado.

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    Entretanto, os prprios bancos comerciais tm interesse em manter a estabilidade

    de seus balanos de forma que eles mesmos mantm uma reserva voluntria em seus ativos.

    Dessa forma, se em um determinado dia um banco recebe mais saques do que depsitos, o

    banco poder fazer os pagamentos sem ter de recorrer ao mercado ou ao Banco Central.

    Os bancos comerciais agentes no sistema monetrio autorizados a receberem

    depsitos vista, e por esta razo, so importantes fontes de criao de moeda. As pessoas

    preferem manejar a moeda escritural, isto , moeda bancria comparativamente ao uso da

    moeda manual, para a liquidao de suas transaes. As razes que explicam essa

    preferncia so, em sntese, as seguintes:

    a) Os depsitos bancrios vista so mais seguros e oferecem maiores garantias aos

    seus detentores. Comparativamente com a moeda manual, so menos passveis

    de perdas e roubo.

    b) O manejo de cheques, para efetuar pagamentos, mais fcil, principalmente

    quando se trata de transaes de grande vulto.

    c) A manuteno de saldos monetrios nos bancos comerciais facilita a obteno de

    emprstimos, quer por parte das empresas (para o financiamento do processo de

    produo), quer por parte das unidades familiares (para o financiamento do consumo de

    bens e servios, em antecipao a rendimentos que estas esperam auferir no futuro).

    d) Os pagamentos por intermdio de cheques permitem o melhor controle e a

    melhor contabilizao das despesas, ao mesmo tempo em que podem servir de

    comprovante para determinadas finalidades legais, especialmente quando nominais e

    cruzados.

    e) A concesso de aberturas automticas e limitadas de crdito, superiores aos

    saldos existentes, de que so exemplos os cheques especiais, levam os agentes econmicos a

    se utilizarem, de forma generalizada, dos bancos comerciais como depositrios de suas

    reservas monetrias.

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    1.7 Conceitos de base monetria e multiplicador dos meios de pagamento

    O Banco Central- a principal autoridade monetria de um pas - influencia a oferta

    de moeda, mas no o nico no sistema econmico, pois, tanto os bancos comerciais quanto

    os indivduos podem afetar tambm, a oferta de moeda. Qual a relao entre oferta de

    moeda e base monetria?

    O banco comercial capta recursos diretamente do pblico - os depsitos - e faz

    emprstimos a partir desses recursos. Para evitar prejuzos aos depositantes, o governo

    obriga os bancos a manterem reservas: uma percentagem (frao) determinada dos

    depsitos vista fica retida no BACEN. Os bancos tambm detm uma parcela de seus

    recursos denominada de reservas voluntrias no banco, para sua prpria segurana.

    O papelmoeda emitido (PME) pelo Banco Central menos o caixa do Banco Central

    (CBC) igual ao montante de papel-moeda em circulao (PMC), ou meio circulante.

    Dessa forma, PME menos CBC = PMC.

    Os bancos comerciais retm parte do PMC, para fazer seu caixa. Assim, o PMC

    menos o encaixe (reserva) total dos bancos comerciais (Et) igual ao PMPP (papel - moeda

    em poder do pblico).

    As Reservas Bancrias: Ets so constitudas pelos depsitos compulsrios dos

    bancos comerciais e outras instituies includas no conceito convencional de meios de

    pagamento junto ao Banco Central, DBCAM, mais o papel-moeda em caixa dos bancos

    comerciais, PMBC, Et = DBCAM + PMBC.

    Logo, PMC menos Et = PMPP. Portanto, o papel-moeda emitido igual caixa do

    BACEN mais reservas bancrias mais papel-moeda em poder do pblico, ou PME = CBC

    + Et + PMPP.

    A base monetria chamada de emisso primria de moeda e constitui-se na

    principal varivel de poltica monetria do governo cuja soma compreende dois

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    componentes: o papel-moeda em poder do pblico (PMPP) com o total de reservas (ou

    encaixes) dos bancos comerciais (Et), ou, B = PMPP+ Et = PMC.

    A base monetria , portanto, igual ao total da moeda colocada em circulao pelo

    Banco Central. Se o PMPP = MP menos DVbc.

    Ento, a base monetria pode ser redefinida da seguinte forma: base monetria(B)

    igual aos meios de pagamento MP - menos os depsitos vista nos bancos comerciais -

    DVbc mais as reservas dos bancos comerciaisEt, ou B = MP - DVbc + Et.

    Deve-se destacar que o Banco Central tem controle da base monetria, pois ele pode

    expandir (ou contrair) a mesma ao decidir aumentar (ou reduzir) o seu estoque de ativos

    ou pode ainda reduzir (ou aumentar) o seu passivo no monetrio.

    1.8 Criao e Destruio de Base e de Meios de Pagamento

    Deve-se entender a criao ou destruio de moeda como a mesma coisa que a

    criao ou destruio de meios de pagamentos. Sabendo que este ltimo constitudo por

    todos os ativos de liquidez imediata possudos pelo setor no bancrio da economia,

    conclui-se que a criao ou destruio de moeda envolve uma transao entre o setor

    bancrio e setor no bancrio da economia.

    Diariamente, o pblico - isto , os indivduos e as empresas, realiza operaes com o

    setor bancrio comercial, operaes estas traduzidas em depsitos, saques, pagamentos

    diversos (luz, telefone), tomada ou quitao de emprstimos, etc. Dependendo da natureza

    dessas operaes, o total de ativos monetrios da economia isto , os meios de pagamento

    (M1)poder se reduzir ou aumentar.

    Se o resultado for um aumento dos meios de pagamento, tem-se a uma criao demoeda; se ocorrer uma reduo dos meios de pagamento, tem-se uma destruio de moeda.

    Ento, o que se tem de verificar, aps a operao bancria, se o total de meios de

    pagamento se alterou para mais ou para menos.

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    Para um melhor entendimento da explicao a seguir, interessante que voc

    conhea dois conceitos novos: primeiro, o conceito de haver monetrio; segundo, o de haver

    no-monetrio. Haver ou ativo monetrio corresponde a um dos componentes dos meios de

    pagamento (M1), ou seja, ou o papel-moeda em poder do pblico ou o depsito vista.

    J haver no-monetrio todo ativo possudo pelo pblico que no seja meio de pagamento

    (M1), como, por exemplo, aes, promissrias, ttulos do governo, carro, lote, imveis, etc.

    Isto posto, exemplificamos agora o que se entende por criao e a destruio de

    moeda. Ocorrer cr iao de moeda quando ocorrer uma troca entre um ativo no

    monetrio (de liquidez no imediata) do setor no bancrio por um ativo monetrio do

    setor bancrio. Ocorrer destruio de moeda se a troca for entre um entre um ativo

    monetrio do setor no bancrio por um ativo no monetrio do setor bancrio.

    Exemplos:

    a. um indivduo efetua um depsito a vista em um banco comercial em moeda

    corrente ou cheque: no h criao ou destruio de moeda pois nos depsitos a vista ser

    compensado pelo decrscimo no PMPP.

    b. desconto de duplicata cria meios de pagamentos: troca de um haver no

    monetrio por moeda.

    c. depsito nas cadernetas de poupana: reduzem o M1 (aumenta o passivo no

    monetrio das instituies financeiras).

    Portanto:

    (i) h criao ou destruio de base sempre que houver uma operao ativa do

    Banco Central no compensada por uma operao de passivo no monetrio;

    (ii) h criao de meios de pagamento sempre que o setor bancrio adquirir algum

    haver no monetrio do setor no bancrio da economia com M1;

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    (iii) Meios de pagamentos so destrudos quando vendem ao pblico quaisquer

    haveres no monetrios em troca do recebimento de moeda.

    Fica claro que para haver criao de meios de pagamento necessrio haver

    transaes entre o setor no bancrio com o setor bancrio.

    Vale repetir que a cr iaoou destruio de moedas ocorre se, da operao entre o

    pblico e o banco, resultar uma alterao do total de meios de pagamento do pblico. Isto

    significa dizer que, se um indivduo paga sua conta de luz com um cheque de sua conta

    corrente no haver nem criao nem destruio de moeda, pois a queda de seus depsitos

    vista compensada pelo aumento dos depsitos da companhia de eletricidade que

    tambm pblico.

    Da mesma forma, se um correntista vai ao banco e saca de sua conta corrente, com

    um cheque seu, nada ocorre, de vez que ele trocou um ativo monetrio (depsito vista)

    por outro (dinheiro em espcie). Mas, claro, se ele saca de sua conta de poupana, h

    criao de meios de pagamento, pois os depsitos de poupana so considerados haveres

    no monetrios.

    1.9 Multiplicador Bancrio ou Monetrio

    De uma forma simplificada, o processo se d da seguinte maneira: as autoridades

    monetrias injetam dinheiro no sistema econmico, ou seja, h um aumento dos meios de

    pagamento. Por exemplo: vamos supor que o BACEN compra ttulos da dvida de um

    agente no valor de 200 mil reais. O agente econmico deposita este dinheiro em um banco

    comercial. Por simplicidade, consideraremos que o agente deposita todo o dinheiro no

    banco comercial. O banco comercial no mantm a totalidade do depsito em caixa, mas

    empresta este dinheiro a outro agente. No final, a moeda criada pelos bancos comerciaisser dada pelo depsito inicial no sistema bancrio multiplicado por uma constante, que se

    chama Multiplicador dos Meios de Pagamento.

    Como os bancos mantm um volume de reservas muito inferior ao volume de

    depsitos vista, segue-se que eles criam meios de pagamento. O multiplicador

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    monetrio mostra qual ser o acrscimo no volume de meios de pagamento decorrente de

    um determinado acrscimo no volume de base monetria.

    PMPP/M1 = c = Expressa o comportamento do pblico em relao ao papel moeda

    que deseja manter;

    DVBC/M1 = d = Expressa o quanto o pblico tem de depsitos nos bancos;

    r = RdM1= Expressa o quanto os bancos mantero de reservas como proporo dos

    depsitos;

    Podemos escrever a Base Monetria, agora, como segue:

    B = PMPP + Reservas bancrias = cM1 + RdM1,

    E Sabemos que c = 1d

    Assim temos: B = (1 - d)M1 + RdM1 = M1d(1R)M1

    Ou M1/B = 1/ 1 - d( 1R)

    Exemplo 1: Mostraremos a seguir atravs de uma situao hipottica o conceito de

    multiplicador monetrio em termos prticos. Primeiro, faremos algumas suposies:

    (1) A emisso primria da moeda pelo BACEN seja R$ 100.000, sendo essa quantidade de

    moeda entregue ao pblico;

    (2) As pessoas depositaro todo o dinheiro nos bancos comerciais para moviment-lo

    atravs de cheques (moeda em poder do pblico nula);

    (3) Os bancos precisam manter em reservas tcnicas, compulsrias e voluntrias 40% dos

    depsitos; e

    (4) Os bancos iro reter apenas o necessrio para cobrir as reservas e emprestaro os

    recursos remanescentes.

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    Afinal, quanto deve ter sido o montante de dinheiro criado pelo sistema bancrio na

    economia? O aumento da oferta de moeda na economia deve ser igual ao valor

    acrescentado inicial dividido pelas reservas dos bancos. Logo, o aumento da Oferta

    Monetria = R$ 60.000/R$ 0,40 = R$150.000

    2. A Teoria Quantitativa da Moeda

    Os assuntos a serem abordados nesta unidade referem-se s temticas: Breve

    Histrico de um Longo Debate: A Controvrsia Bulhonista: 1797-1821; A Controvrsia

    Continua: 1821 em diante e A Teoria Quantitativa da Moeda: a herdeira da posio

    Bulhonista.

    2.1 A Teoria Quantitativa da Moeda de Fisher teoria da demanda por moeda de

    Friedman

    A Teoria Quantitativa da Moeda estabelece que o estoque de moeda, M, o

    principal determinante do nvel geral de preos, P. Os economistas clssicos/neoclssicos

    chegaram a esta concluso, a partir da hiptese de que o produto real a preos constantes

    de qualquer economia depende exclusivamente de variveis reais (fatores de produo e

    funo de produo agregada) e que a velocidade de circulao da moeda varia de forma

    lenta e previsvel a longo prazo (dependendo de fatores como o grau de desenvolvimento do

    setor bancrio, frequncia de pagamentos e recebimentos, rapidez de transporte e

    comunicaes), podendo ser considerada uma constante no curto prazo.

    A concluso de que o produto real a preos constantes depende somente de fatores

    reais obtida a partir da hiptese de flexibilidade de preos, tanto no mercado de bens e

    servios quanto no mercado de trabalho, tornando-se conhecida na literatura como

    equilbrio clssico de pleno emprego (Ackley 1978, cap. VI). Em meados do sculo XVIII,

    David Hume em seu ensaio Of Money, de 1752, foi o primeiro pensador a analisar de modo

    mais rigoroso a relao entre variveis monetrias e variveis reais.

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    A primeira verso da Teoria Quantitativa da Moeda apareceu na literatura

    econmica como Equao Quantitativa na forma de transaes, sendo formulada por

    Simon Newcomb, em 1885 (Spiegel, 1992, p. 617) mas foi Irving Fisher, em 1911, em The

    Purchasing Power of Money, quem popularizou esta teoria.

    A TQM desenvolve a Equao Quantitativa cujo objetivo mostrar a identidade

    existente entre o total de pagamentos em moeda e o total de bens e servios transacionados.

    Note-se que, em cada ato de compra e venda de um bem ou servio qualquer, os

    pagamentos em moeda e o valor monetrio dos bens e servios trocados so iguais. Logo, o

    total de moeda paga nas transaes igual ao valor monetrio total dos bens e servios

    comprados. Antes de descrever esta teoria vejamos alguns eventos histricos que

    influenciaram a teoria supracitada.

    2.2 A Demanda de Moeda

    A moeda formada por uma srie de ativos financeiros (incluindo dinheiro, saldos

    bancrios, cheques de viagem e outros instrumentos) com caractersticas especiais, que os

    distinguem dos outros tipos de direitos financeiros. Quando uma pessoa vai ao cinema,

    compra legumes ou um carro, nunca vai tentar fazer a compra com ttulos ou aes, mas

    com algum tipo de dinheiro. Esta caracterstica - a de ser um meio de troca aceitvel - um

    motivo importante pelo qual a moeda um meio de troca to til que, de acordo com alei, ningum pode recusar-se a receber um pagamento em dinheiro. Na realidade, a moeda

    exerce trs papis fundamentais.

    1. Em primeiro lugar, um meio de troca, isto , as pessoas esto dispostas a

    aceit-la em troca de bens e servios e, portanto, no h necessidade de haver

    coincidncia mtua de desejos para que uma transao ocorra.

    2. Em segundo lugar, serve como unidade de conta, e como tal os preos so

    cotados em unidades monetrias e no em relao a outros bens e servios.

    Nestes dois papis a moeda facilita o processo de troca.

    3. Em terceiro lugar, a moeda uma reserva de valor e, neste papel, igual aos

    demais ativos financeiros. Quando as pessoas recebem dinheiro em troca de bens

    e servios, no precisam gast-lo imediatamente, porque ele mantm seu valor

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    (exceto em perodos de inflao, quando deixa de ser usado como reserva de

    valor).

    2.3 A Teoria Quantitativa da Moeda

    A abordagem clssica baseada na teoria quantitativa da moeda, teoria que afirma

    que a quantidade de moeda nominal determina o nvel da renda nominal. A ideia de que a

    quantidade de moeda em circulao afeta o nvel geral de preos bastante antiga em

    anlise econmica, e encontra um marco histrico notvel na controvrsia entre Jean

    Bodin e Mallestroit sobre as causas da inflao na Frana de 1570. Durante cerca de trs

    sculos, a teoria quantitativa foi aceita como lei de proporcionalidade entre a quantidade

    de moeda em circulao e o nvel geral de preos. As verses mais refinadas datam do final

    do sculo XIX e princpio do XX, devendo-se, principalmente, a Marshall, Wicksell e

    Fisher. (Simonsen & Cysne, p.319)

    2.3.1 A Equao de Fisher e a Velocidade de Transaes da Moeda

    Uma primeira expresso da teoria quantitativa da moeda foi a chamada de

    "equao de Fisher", em homenagem a Irving Fisher (1867 - 1947), seu principal

    proponente. Ela : MV = PT

    onde: M = moeda;

    T = todas as transaes realizadas com moeda;

    P = preo mdio de todos os itens includos em T;

    V = velocidade de transaes e representa o nmero de vezes que uma unidade

    monetria se torna receita para algum, ainda que no se torne renda.

    Assim, (T) no abrange apenas os itens includos no PIB, mas tambm os produtos

    intermedirios, compras de artigos de 2a. mo e servios de fatores. Chega at a incluir

    transaes financeiras, como, por exemplo, transferncias de fundos de uma conta dedepsito vista para um fundo do mercado monetrio. As dificuldades de manuseio

    operacional desta verso da teoria quantitativa da moeda levou Fisher e outros economistas

    clssicos, como Marshall e Pigou, a evolurem para o conceito da equao de trocas e da

    velocidade-renda da moeda.

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    2.3.2 A Equao de Trocas e a Velocidade-Renda da Moeda

    Suponha que voc queira relacionar a renda nominal (PY) quantidade de moeda

    (M). A maneira mais simples seria dizer que elas so a mesma coisa e escrever: M = PY.

    Isto simples, mas est errado. As notas de dinheiro ou os depsitos em conta corrente no

    se limitam a comprar um determinado bem ou servio e depois morrerem. Em vez disso,

    quem os recebe torna a gast-los, de modo que se tornam renda uma segunda vez, e assim

    por diante.

    O que precisa ser feito mudar o absurdo M = PY para MV = PY, mediante o

    acrscimo de um termo, V, para indicar a velocidade-renda da moeda. Esse termo mede o

    nmero de vezes que uma unidade de moeda se torna renda para algum num determinado

    perodo. V mede no o nmero de vezes que um dlar ou real gasto, mas o nmero de

    vezes que ele se torna renda durante o ano. Por definio, portanto, a velocidade decirculao a renda nominal agregada dividida pela quantidade de moeda e representa o

    giro da moeda, ou seja, o nmero de vezes por perodo que uma unidade monetria

    gasta para adquirir o total de bens e servios produzidos na economia. (Hillbrecht, 1999)

    MV = PY Equao de trocas (identidade representativa da TQM)

    V = PY / M Velocidade-renda da moeda

    A Hiptese da Velocidade ConstanteSegundo Irving Fisher, so fatores tecnolgicos e institucionais que determinam a

    velocidade de circulao da moeda. Quanto menos moeda for demandada, maior ser a

    velocidade-renda da moeda. Se, por exemplo, os indivduos usam cartes de crdito para

    fazer compras, eles precisam manter menos moeda para efetuar determinado volume de

    transaes e, portanto, a velocidade-renda maior do quando dinheiro ou cheques so

    utilizados (que se constituem em moeda). Fisher considerou que esses fatores tecnolgicos e

    institucionais mudam lentamente ao longo do tempo, de maneira que a velocidade de

    circulao da moeda poderia ser considerada constante no curto prazo. (Hillbrecht, 1999)

    Uma vez considerada a velocidade (V) constante, a equao quantitativa (MV=PY)

    pode ser considerada uma teoria do PNB nominal, que diz que a renda nominal (PY)

    determinada por movimentos da oferta de moeda (M). Em outras palavras, uma variao

    na quantidade de moeda (M) deve provocar uma mudana proporcional no PIB nominal

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    (PY). Isto , a quantidade de moeda determina o valor em unidades monetrias do produto

    da economia.

    Fisher, como os economistas clssicos de sua poca, acreditava que preos e salrios

    eram perfeitamente flexveis, de maneira que o produto real (Y), sob condies normais,

    estaria em seu nvel de pleno emprego e poderia tambm ser considerado como constante

    no curto prazo. Portanto, pela teoria quantitativa, como V e Y so considerados constantes,

    todos os movimentos do nvel de preos so determinados por mudanas proporcionais na

    quantidade de moeda. (Hillbrecht, 1999)

    2.4 A Equao e a Abordagem de Cambridge

    A hiptese central da teoria quantitativa uma concepo dicotmica dos mercados.

    Como aplicao duradoura de patrimnio, a moeda se considera absolutamenteindesejvel, por no render juros. Mas os agentes econmicos precisam de uma reserva

    transitria de valor, pois os seus pagamentos e recebimentos no se sincronizam nas

    mesmas datas. E, como instrumento de compensao dessas defasagens entre recebimentos

    e pagamentos, considera-se a moeda absolutamente insubstituvel. Dentro dessa concepo,

    a equao de Cambridge postulava que a procura de moeda era proporcional ao produto

    nominal (PY). (Simonsen & Cysne, p.319).

    A equao de Cambridge uma formulao alternativa equao quantitativa MV= PY, em homenagem Universidade de Cambridge, onde foi desenvolvida por Alfred

    Marshall e A. C. Pigou. Ela : Md = kPY. Onde k era denominada constante marshalliana.

    Supondo-se equilbrio entre oferta (M) e demanda no mercado monetrio, M = Md, o

    produto nominal ficaria determinado pela oferta de moeda, M, de acordo com a equao:

    M = kPY.

    Note-se que, em qualquer das equaes anteriores, M ou Md representa um estoque

    (unidades monetrias), e PY um fluxo (unidades monetrias por unidade de tempo).

    Como MV = PY e M = k.PY, ento: k = 1 / V. Isto , se as pessoas mantiverem a

    renda de um ms em moeda, de modo que k = 1/12, ento, em mdia, um dlar ou real de

    moeda entra na renda de algum doze vezes ao ano. Quando usamos a equao

    quantitativa estamos supondo que a oferta de saldos monetrios reais seja igual demanda

    de saldos monetrios reais, e esta, proporcional renda.

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    2.5 A Demanda Individual de Moeda

    A falta de sincronizao entre recebimentos e pagamentos, aliada

    imprevisibilidade de certas despesas, so os dois motivos essenciais que, segundo os

    economistas clssicos, conduzem reteno de moeda pelos indivduos.

    2.5.1 Os Determinantes da Demanda Individual

    Quais os fatores que explicam a maior ou menor proporo de moeda retida pelo

    pblico em relao a um dado nvel de renda? Em outras palavras: que fatores

    determinam a maior ou menor magnitude da proporo k? Em sntese, admite-se que os

    principais fatores sejam: 1. a forma como os indivduos e as empresas distribuem, no

    tempo, as suas despesas; 2. os intervalos entre os pagamentos e os recebimentos, dados por

    hbitos e prticas econmicas que tendem a se institucionalizar; 3. as facilidades bancriaspara a concesso de crdito; 4. a eficincia do sistema de compensao e dos processos de

    comunicao, que dificultam os sistemas de dbito e de crdito de ordens de pagamento,

    ampliando as margens de ociosidade da moeda escritural; 5. a maior ou menor integrao

    vertical do sistema econmico, medida que influencia o nmero de transaes

    intermedirias, reduzindo-as ou ampliando-as, e, assim, exigindo maiores ou menores

    saldos monetrios disponveis; 6. a existncia ou no de substitutos prximos da moeda,

    geralmente denominados quase-moeda, pelo seu elevado grau de liquidez e por seconstiturem em reservatrios rentveis de poder aquisitivo; 7. o nvel em que se encontra a

    taxa real de juros, aqui considerada como o custo de oportunidade de reteno de moeda;

    8. a taxa de inflao, medida que provoca a diminuio da riqueza retida sob forma

    monetria.

    Como a quase totalidade desses fatores determinada institucionalmente e, a curto

    prazo e sob clima no inflacionrio, se mantm inalterada, os economistas clssicos

    consideravam a proporo "k" como uma constante. Isto , com algumas qualificaes, eles

    consideravam irrelevantes as variaes de k a curto prazo. (Lopes & Rossetti, p. 49-50)

    Particularmente, os economistas de Cambridge consideraram que a moeda tem

    duas propriedades importantes, que levam os indivduos a demand-la. Em primeiro lugar,

    a moeda serve como meio de trocas, que os indivduos usam para efetuar transaes. Esta

    parte da demanda por moeda proporcional renda nominal. Em segundo lugar, a moeda

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    tambm pode servir como estoque de riqueza, ou seja, quanto maior fosse a riqueza dos

    indivduos, maior seria o seu estoque de ativos, entre estes a moeda.

    Na medida em que a riqueza dos indivduos proporcional renda, a demanda por

    moeda por este motivo tambm seria proporcional renda. M = f(Y).

    De acordo com os economistas clssicos, a demanda por moeda uma funo da

    renda dos indivduos (ou famlias). Entretanto, embora eles considerassem frequentemente

    que o coeficiente de proporcionalidade k fosse constante no curto prazo, ele poderia

    experimentar mudanas decorrentes das decises dos indivduos. Por exemplo, como a

    moeda poderia ser demandada como estoque de riqueza, essa deciso dependeria dos

    retornos esperados dos outros ativos que compem o estoque de riqueza. Se esses retornos

    subissem em relao ao da moeda, os indivduos demandariam menos moeda por esse

    motivo. Dessa maneira, k se reduziria e a velocidade de circulao da moeda aumentaria.Portanto, a abordagem de Cambr idge dif ere da teoria quantitativa estr i ta da moeda

    pelo fato de que a taxa de jur os (por meio do retorno esperado sobre os ativos que compem a

    r iqueza dos indi vduos) pode afetar a velocidade de cir cul ao da moeda, enquan to na teoria

    quanti tati va a demanda por moeda no guarda nenhuma relao com a taxa de juros.

    (Hillbrecht, 1999)

    2.6 A Verso Keynesiana da Demanda de Moeda (A Teoria da Preferncia pela Liquidez)Na verso Keynesiana, contrariando a verso clssica, a moeda deixou de ser vista

    apenas como um instrumento de intermediao de trocas, que no afetava

    significativamente outras variveis econmicas, como a taxa de juros e o volume global de

    emprego. Enfocando-a tambm como uma reserva de valor, mantida no apenas para fins

    transacionais, mas tambm para atender a oportunidades de especulao, Keynes deixou

    de ver a moeda como componente neutro.

    Em sua verso, uma significativa parcela da demanda de moeda afetada pelas

    expectativas sobre o comportamento da taxa de juros, ao mesmo tempo em que o nvel do

    emprego e, consequentemente, outras variveis do setor real da economia, experimentam a

    influncia de variaes situadas no setor monetrio. Ademais, Keynes incorporou na sua

    verso da demanda de moeda a incerteza acerca das variaes futuras na taxa de juros,

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    assinalando ser esta "a nica explicao inteligvel que justifica a conservao de recursos

    lquidos para fins de especulao". (Lopes & Rossetti, p. 54)

    2.6.1 Os Motivos da Demanda de Moeda em Keynes

    A Teoria da Preferncia pela Liquidez, de John Maynard Keynes, surgiu em 1936,

    em seu famoso livro A Teori a Geral do Emprego, Juros e Moeda. Keynes rompeu com a

    teoria clssica ao considerar explicitamente que a demanda por moeda depende da taxa de

    juros. Segundo Keynes, h trs motivos para a procura de moeda: as transaes, a

    precauo e a especulao.

    1. Motivo Transao - Esse motivo foi desdobrado em dois. Keynes denominou-os

    motivos-renda e giro de negcios. Quanto renda, trata-se da necessidade de

    conservar recursos lquidos para garantir a transio entre os recebimentos e osdesembolsos; a fora deste motivo para induzir os agentes econmicos deciso

    de reter ativos monetrios depende, segundo Keynes, principalmente do

    montante da renda regularmente recebida e da durao normal do intervalo

    entre o seu recebimento e os gastos. Quanto ao giro de negcios, incluiu-se sob

    este motivo a moeda retida pelas empresas para garantir os pagamentos que se

    efetuam no intervalo entre as compras de insumos e remuneraes dos fatores e

    as entradas de caixa resultantes da realizao das vendas; a fora deste motivopara induzir as empresas a manter maiores ou menores saldos lquidos em caixa

    depende, segundo Keynes, sobretudo do montante da produo corrente (e,

    portanto da renda corrente) e do nmero de mos atravs das quais ela passa.

    (Lopes & Rossetti, p. 55). A procura de moeda para transaes era identificada

    pelos economistas clssicos: o estoque necessrio para compensar as defasagens

    entre recebimentos e pagamentos. At a, Keynes s inventou uma denominao.

    2. Motivo Precauo - Enquanto o motivo transao se refere ao atendimento de

    despesas ordinrias e certas, o motivo precauo decorre da necessidade de se

    fazer frente a despesas extraordinrias e incertas. H, assim, motivos que levam

    os agentes a se precaverem quanto s contingncias inesperadas. A fora deste

    segundo motivo depende, em grande parte, ainda segundo a verso de Keynes,

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    do custo e da segurana dos mtodos para obter moeda em caso de necessidades

    imprevistas. No Brasil, atualmente, a concesso de limites para movimentao de

    contas correntes, em aberto nos bancos comerciais, franqueada aos detentores de

    cheques especiais, tende a reduzir a demanda de moeda por precauo a nveis

    prximos de zero. (Lopes & Rossetti, p. 56) Na boa linha clssica, Keynes

    admitiu que no apenas a procura de moeda por transaes, mas tambm a por

    precauo, fossem proporcionais renda nominal, na forma marshalliana kPY,

    sendo k uma constante.

    3.

    Motivo Especul ao - Enquanto os dois motivos anteriores so comuns aos

    clssicos e a Keynes, o motivo especulao especificamente Keynesiano. Quanto

    a este terceiro motivo, Keynes procura mostrar que, ao contrrio do quepensavam os clssicos, no irracional manter ativos monetrios para satisfazer

    a oportunidades especulativas, desde que os agentes econmicos tenham razes

    para acreditar em mudanas a seu favor no preo dos ttulos e, portanto, na taxa

    de juros. A expectativa sobre mudanas futuras na taxa de juros situa-se, assim,

    atrs do motivo especulao. Sob uma expectativa generalizada de alta na taxa

    de juros ou de uma queda equivalente no preo dos ttulos, no futuro, a reteno

    de saldos monetrios para fins especulativos tende a se elevar; caso contrrio, areteno de moeda devida a esse motivo tende a diminuir. (Lopes & Rossetti, p.

    56)

    A linha de raciocnio seguida por Keynes est fundamentada nessa relao simples

    entre os preos de mercado dos ttulos de renda fixa e as correspondentes taxas de juros

    auferidas por seus detentores. Admitindo que os agentes econmicos manteriam seus

    excedentes de renda em relao as suas necessidades de consumo (isto , poupanas) sob a

    forma de ativos monetrios ou de ttulos adquiridos no mercado financeiro, Keynes

    observou que, quando os preos dos ttulos estavam altos e as taxas de juros baixas, os

    agentes econmicos revelavam, de uma forma geral, forte propenso a manter aqueles

    excedentes sob a forma de ativos monetrios, na expectativa de que os preos cassem e

    ensejassem, se adquiridos quando ento se encontrassem em queda, maiores ganhos

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    especulativos. Inversamente, estando baixos os preos dos ttulos e altas as taxas de juros, a

    manuteno de saldos monetrios para fins especulativos tendia a se reduzir, dada a

    preferncia que ento se estabelecia por aplicaes em ttulos, na expectativa de que seus

    preos se elevassem, ensejando maiores ganhos especulativos, se vendidos quando ento se

    encontrassem em alta.

    Relaes entre preos de mercado e taxas de juros de um ttulo de renda fixa

    preo de mercado do ttulo ($)

    valor nominal = $ 100.000

    rendimento fixo mensal ($)

    3% a.m. s/o valor nominal

    Taxa de juros ( i )

    %

    100.000 3.000 3.00

    105.000 3.000 2.85

    110.000 3.000 2.73

    120.000 expanso 3.000 2.50 reduo

    100.000 3.000 3.00

    95.000 3.000 3.15

    86.000 3.000 3.53

    82.000 reduo 3.000 3.66 expanso

    (Lopes & Rossetti, p.59-60)

    2.7 O Modelo Baumol-Tobin de Demanda por Moeda

    A teoria mais famosa de demanda por moeda, chamada de abordagem do estoque,

    baseada nos trabalhos isolados realizados por William Baumol e James Tobin em meados

    dos anos cinquenta (W. Baumol, "The Transactions Demanda for Cash: An Inventory

    Approach", QJE/1952, e J.Tobin, The Interest-E lasticity of the Transactions Demand

    for Cash, RES/1956). Atualmente conhecida como modelo de Baumol-Tobin. Ambos

    observaram que as pessoas mantm estoques de dinheiro da mesma forma que as empresasmantm estoques de mercadorias.

    Num certo momento, a famlia tem uma parte do seu patrimnio em forma de

    moeda para poder fazer compras. Se mantiver grande parte do seu patrimnio em forma

    de moeda, sempre ter dinheiro para realizar transaes; se for uma pequena parte, vai

    precisar obter dinheiro, por exemplo, vendendo ttulos, sempre que quiser fazer uma

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    compra. Em geral, vai haver um custo, como, por exemplo, uma taxa de corretagem, cada

    vez que vender um ativo remunerado para obter o dinheiro necessrio para as compras.

    Portanto, a famlia precisa fazer uma escolha. Se ficar com muita riqueza em forma

    de moeda em seu poder, perde os juros que ganharia se mantivesse os ttulos. Ao mesmo

    tempo, reduz o custo de transao de converter os ttulos em dinheiro cada vez que quiser

    comprar alguma coisa.

    Este problema semelhante ao da empresa que precisa definir o nvel de estoques.

    Com um estoque grande, sempre ter insumos para produzir ou vender. Mas manter

    estoques tem um custo, pois eles no rendem juros e envolvem despesas de armazenagem e

    seguro. Portanto, a empresa deve analisar se mais conveniente manter estoques maiores e

    arcar com os custos (tanto os de oportunidade quanto os diretos) ou reduz-los. A seguir

    vamos ver como Baumol e Tobin formalizaram esta ideia.Os arranjos institucionais no mercado financeiro tambm afetam significativamente

    a procura de moeda. Keynes s conseguiu engordar a procura especulativa supondo que os

    ttulos de curto prazo pouco circulassem no mercado. Uma oferta abundante de ttulos de

    prazo curto, reduzindo o risco de oscilao de suas cotaes, deve reduzir a procura de

    moeda a tal ponto que pode, inclusive, afetar a procura por transaes. Vejamos o

    diagrama de encaixes triangulares: (Simonsen & Cysne, p.343)

    YM/2

    M moeda

    M/2

    moeda

    M ttulos

    M/2

    M moeda

    tempo

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    Trabalha-se, agora, com a suposio de preos constantes (PY = Y). Implicitamente,

    ao construirmos as curvas de procura de moeda, admitimos que indivduos e empresas no

    tivessem como aplicar dinheiro em ttulos de prazo inferior a um ms. Contudo, nos

    mercados monetrios modernos, h operadores de mercado aberto que oferecem a seus

    clientes operaes por qualquer prazo, a partir de um dia. No preciso, no caso, muita

    imaginao para dividir o ms em n partes iguais dividindo por n o estoque mdio de

    moeda.

    A figura anterior mostra esta composio para um indivduo que guarda em moeda

    Y/3 e aplica no mercado aberto Y/3 por 10 dias e Y/3 por 20 dias. Com isso, o seu encaixe

    mdio ao longo do ms se reduz de M = Y/2 para M = Y/6. (Obs: Y/3 + Y/3 + Y/3 = 3Y/3 =

    Y).

    Genericamente, se decompusermos o tringulo de encaixes mensais em nsubtringulos, o encaixe mdio se reduz de M = Y/2 para M = Y/2n, custa de (n - 1)

    operaes de mercado aberto. At que ponto vale pena expandir n? Deve-se admitir que

    cada operao de mercado aberto envolva um custo fixo real b, independente do volume

    transacionado (os custos variveis se supem deduzidos da taxa de juros).

    Em geral, o saldo mdio de dinheiro (M/2) a metade da quantidade de moeda

    transferida das aplicaes de mercado aberto para a conta corrente em cada transferncia

    (M). Alternativamente, a quantia transferida para a conta corrente o dobro do saldomdio nesta conta. O nmero total de transferncias o total de consumo planejado para o

    ms, Y, dividido pelo valor de cada transferncia (valor de cada transferncia = M). O

    custo total das transferncias b vezes Y/M.

    bY/M custo total das transferncias. Mas o indivduo, ao manter um saldo mdio,

    M/2, em sua conta corrente, incorre em um custo de oportunidade no ms, que

    simplesmente i.M/2.

    O indivduo quer escolher seu saldo mdio (M/2) de forma a minimizar o total dos

    dois custos. Algebricamente, quer achar M/2 que minimize o custo total:

    CT = bY / M + i.M/2

    Este problema de minimizao resolvido da seguinte forma:

    CT/M = - bY/M2 + i/2 bY/M2= i/2 M2= 2bY/i

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    Portanto, o valor do saldo mdio em conta corrente, M/2, que minimiza o custo total

    : Md/P = M/2P = (2bY/4i)1/2= (bY/2i)1/2

    onde: b custo fixo real de cada operao de mercado aberto

    Y total do consumo planejado para o ms

    i taxa de juros (nominal) dos ttulos (custo de oportunidade de reteno de

    moeda)

    Md/P = M/2P saldo mdio em conta corrente (demanda por saldos reais)

    Isto significa que: um aumento de juros reduz a demanda por moeda;

    um aumento de renda aumenta a demanda por moeda; e

    um aumento do custo de corretagem aumenta a demanda por moeda.

    Este ltimo modelo devido a Baumol e destaca a influncia da renda real, da taxa

    de juros e dos custos de transao na procura de moeda. Ele deve ser consideradocomplementar ao de Tobin (de onde a identificao Tobin-Baumol na teoria monetria

    moderna).

    Podemos ver na equao Md/P = 1/2(2bY/i)1/2 que, se o nvel de preos duplicar

    mas todas as outras variveis (I, Y,b) permanecerem constantes, a demanda por M tambm

    vai dobrar. Em geral, podemos concluir que uma alterao do nvel de preos afeta na

    mesma proporo o valor da quantia que se deseja ter em poder, mas a demanda real por

    moeda continua inalterada. O modelo tambm capta efeitos importantes da renda, taxa dejuros e do custo fixo b sobre a demanda de moeda. Como fica claro a partir da equao

    Md/P = 1/2(2bY/i)1/2, um aumento da renda real Y aumenta o valor que se deseja manter.

    Em outras palavras, o aumento da renda faz com que uma famlia aumente suas despesas

    e, para suportar o volume maior de transaes, ela aumenta o valor mdio de dinheiro que

    mantm em seu poder. Podemos indicar o efeito quantitativo exato de um aumento de

    renda. Imagine, por exemplo, uma famlia de sorte cuja renda real aumenta 10% e,

    portanto, seu nvel de Y passa a 1,10Y. Usando a expresso Md/P = (2bY/i) 1/2 , podemos

    ver que a demanda aumenta aproximadamente 5% (mais precisamente, aumenta em 4,88).

    Em termos tcnicos, dizemos que a elasticidade da renda real da demanda por moeda ,

    ou seja, um aumento de por cento na renda real causar um aumento de /2 no valor que

    se deseja manter em moeda. Isto tem uma consequncia importante.

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    Como a variao percentual do dinheiro menor que a variao percentual na

    renda, um aumento da renda real leva a uma queda na proporo entre dinheiro e renda.

    Em outras palavras, as famlias economizam o valor que vo manter em seu poder quando

    a renda real aumenta. Usando um conceito econmico familiar, h uma economia de escala

    na manuteno da moeda.

    Um aumento na taxa de juros precipita um declnio na demanda por moeda. Este

    resultado fcil de explicar intuitivamente: a taxa de juros maior eleva o custo de

    oportunidade de manter o dinheiro, e isso faz com que as famlias reduzam o valor mantido

    em seu poder. Novamente, a equao Md/P = (2bY/i)1/2nos d a relao exata entre Md/P

    e i. Um aumento de 10% na taxa de juros gera uma reduo da demanda por moeda de

    cerca de 5%. Portanto, a elasticidade dos juros da demanda por moeda de -(1/2).

    Finalmente, podemos analisar o efeito sobre a demanda por moeda de um aumento

    no custo fixo da retirada da conta de poupana. fcil ver que, quando este custo aumenta,

    a famlia vai querer ir com menos frequncia ao banco e, portanto, o valor de cada retirada

    ser maior, assim como o valor mdio de dinheiro mantido num determinado perodo. A

    expresso Md/P = (2bY/i)1/2indica que a elasticidade da demanda por moeda com relao

    ao custo fixo b (1/2). Em resumo, podemos dizer que a demanda por moeda

    simplesmente uma funo f da taxa de juros nominal e do nvel de renda, como vemos na

    equao seguinte: Md/P = f(i,Y). (Sachs, Larrain, p.265)

    2.8 A Abordagem de Friedman

    A verso da demanda de moeda de Milton Friedman - que afinal acabou por se

    constituir numa espcie de ressurgimento, em bases tericas mais sofisticadas, da

    tradicional abordagem quantitativa de Cambridge - foi desenvolvida no final da dcada de

    50. (Lopes & Rossetti, p.83) (1956 - The Quanti ty Theory of M oney: A Restatement -

    University of Chicago Press, em Studies in the Quantity Theory of M oneye The demand formoney: Some theoretical and empir ical resul ts, publicado em 1959).

    Em certo nvel, os monetaristas se distinguem dos outros economistas destacando a

    existncia de uma funo estvel de demanda por moeda. Em outras palavras, eles

    afirmam que (M/P)D funo de algumas variveis identificveis, e sugerem que uma

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    implicao da estabilidade da demanda por moeda que a melhor forma de estabilizar a

    economia estabilizar a taxa de crescimento da oferta monetria em um nvel baixo.

    A crena na estabilidade da demanda por moeda funciona, a grosso modo, da

    seguinte forma: supondo que o produto seja determinado por fatores externos (pelas

    decises microeconmicas de oferta das famlias e das empresas), de modo que Y seja dado,

    a definio da velocidade implica que: P = MV/Y

    Se V for relativamente estvel, e Y exgeno, a equao conclui que as alteraes de

    M se traduzem em alteraes no nvel de preos. Portanto, os monetaristas afirmam que as

    variaes de M so a chave para controlar o nvel de preos, pelo menos quando as

    alteraes so consideradas num intervalo de alguns anos. Afirmam que preciso permitir

    que a moeda aumente numa taxa anual constante (a assim denominada regra de x por

    cento, que permite que a moeda aumente numa determinada taxa anual x), para darorigem a uma taxa constante de aumento nos preos ao ano. Controlar a inflao passa a

    ser simplesmente uma questo de controlar M. Os no-monetaristas discordam deste ponto

    de vista com vrios argumentos.

    Em primeiro lugar, afirmam que V no uma constante, de modo que um

    crescimento constante de M no leva necessariamente a um aumento constante (ou

    estabilidade) de P, mesmo a mdio prazo. No s V funo de i e Q, como tambm

    suscetvel aos choques por alteraes tecnolgicas e de regulamentao.Em segundo lugar, no curto prazo, a variao de M provavelmente tambm vai

    afetar Y alm de P (um ponto reconhecido por muitos monetaristas). Para os no-

    monetaristas, o provvel efeito de mudanas em M sobre Y tem duas implicaes.

    Primeiro, a tentativa de implantar uma poltica monetarista de crescimento monetrio

    estvel pode envolver uma alterao em relao s regras monetrias anteriores e provocar

    uma alterao indesejvel em Y. Segundo, a regra do crescimento monetrio fixo significa

    uma poltica monetria ativa para ajudar a estabilizar Y no curto prazo.

    A maioria dos monetaristas rejeita a noo de que a poltica monetria deve ser

    usada para a estabilizao a curto prazo. Apesar de, geralmente, reconhecerem que a

    moeda afeta o produto real no curto prazo, afirmam que as relaes entre moeda e produto

    so longas e variveis, e que na realidade no so confiveis para o propsito de

    estabilizao a curto prazo. Portanto, argumentam que a poltica monetria deve visar o

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    mdio prazo e, neste caso, sugerem que um crescimento estvel e baixo da moeda vai gerar

    uma taxa estvel e baixa de inflao. (Sachs & Larrain, p.276).

    De certa forma, Friedman tenta restaurar o prestgio da teoria quantitativa aps as

    intensas contestaes de Keynes e ps-keynesianos. verdade que isso obrigou o autor a

    desenvolver uma teoria quantitativa de tal forma modificada que, segundo os crticos mais

    cticos, pouco tem em comum com as verses dos neoclssicos.

    Contudo, o modelo de Friedman, se analiticamente muito mais sofisticado do que a

    equao M = kPY, restabelece a primazia da poltica monetria como instrumento de

    combate inflao e de ao anticclica. Tentando resumir a contribuio desse autor,

    iniciaremos pela sua abordagem dos motivos determinantes da demanda por moeda, para,

    em seguida, apresentarmos os resultados de suas pesquisas neste sentido, relativas

    economia americana entre 1870 e 1954.O primeiro ponto a ser destacado que, em sua nova verso, a equao MV = PY

    (ou M = kPY, com k = 1/V) no pretende explicar a evoluo da renda nominal, da renda

    real, ou do nvel de preos. Trata-se de uma equao de demanda por moeda, devendo ser

    interpretada da forma: Md = kPY, ou seja, com a quantidade de moeda demandada como

    varivel endgena.

    A oferta de moeda pode ser exgena, mas a demanda endgena. Friedman derivou

    a sua funo de demanda de moeda fazendo-a resultar da agregao de duas demandasdistintas: a das unidades familiares e a das empresas. Iniciemos estudando separadamente

    os motivos determinantes da demanda por moeda dos indivduos (famlias) e das empresas.

    2.8.1 A Demanda de Moeda pelas Famlias (indivduos)

    Para explicar porque as pessoas demandam moeda, Milton Friedman usou a teoria

    da demanda por ativos. Ele considerou que, por ser a moeda um ativo, a demanda por

    moeda deve ser influenciada pelos mesmos motivos que determinam a demanda por ativos.

    A teoria da demanda por ativos diz que os principais determinantes da demanda por ativos

    so a riqueza total dos indivduos e o retorno relativo esperado dos ativos. (Hillbrecht,

    1999) Na viso Friedmaniana a moeda representa, para os indivduos, uma das cinco

    formas alternativas de alocao de riqueza. As outras possibilidades seriam ttulos com

    rendimento nominal constante, ttulos com rendimento real constante (indexados), bens

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    fsicos e capital humano. Desta forma, segundo Friedman, a demanda de moeda pelas

    famlias funo das seguintes variveis:

    a Renda permanente, que representa a riqueza total das pessoas, decorrente da

    soma das riquezas humana e no humana (Yp).

    b - Proporo da riqueza humana sobre a de natureza no humana (material) (w).

    c - Custo de oportunidade de reteno de ativos monetrios, dado pelos retornos de

    ttulos de renda varivel e fixa, bem como pela taxa esperada de inflao (i, r, P*).

    d - Outros fatores econmicos e no econmicos, de natureza institucional,

    decorrentes do processo de desenvolvimento histrico das economias nacionais, ou

    meramente conjunturais, que interferem momentaneamente nas preferncias das famlias e

    das empresas quanto s diferentes formas de reteno de ativos ( ). (Lopes & Rossetti, p.

    83)

    Numa anlise equivalente determinao da demanda por bens e servios da teoria

    do consumidor, os indivduos escolheriam a quantidade de moeda a reter pela maximizao

    de uma funo de utilidade, cujos argumentos deveriam incluir as cinco diferentes formas

    de alocao de riqueza. Como, numa mudana de composio de portflio, uma unidade

    monetria alocada de determinada forma se troca sempre por uma mesma unidade

    monetria alocada de maneira alternativa, o que determinar a composio de ativos ser o

    fluxo de rendimentos esperados associados a cada possibilidade de alocao de riqueza.Outros fatores determinantes sero, obviamente, os gostos dos indivduos e, numa analogia

    restrio oramentria da teoria do consumidor, o total da riqueza.

    Aps algumas ressalvas e simplificaes, chega-se seguinte funo de demanda por

    encaixes nominais por parte dos indivduos:

    Md = f (P, i, r, P*,w, PYp, ) onde:

    P = nvel de preos

    i = taxa de juros nominal (ou seja, dos ttulos de renda nominal constante)

    r = taxa de juros real (ou seja, dos ttulos de renda real constante)

    P* = taxa de inflao esperada

    w = relao entre a riqueza aplicada sob a forma de capital no-humano e a riqueza

    alocada sob a forma de capital humano, ou, segundo Friedman, equivalentemente, a

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    relao entre os rendimentos associados ao capital no-humano e aqueles associados ao

    capital humano.

    Yp = renda real permanente, utilizada como "proxy" para a riqueza real (riqueza

    total). PYp representa a renda nominal permanente.

    = varivel relacionada aos gostos e preferncias dos indivduos.

    Se supusermos que a multiplicao de P e PYp por um determinada constante c

    implica numa multiplicao de Md pela mesma constante (ou seja, homogeneidade de

    primeiro grau da funo Md anterior em relao ao nvel de preos P e renda nominal

    PYp), temos, tomando c= 1/P:

    Md --- = f (i, r, P*,w, Yp,

    )

    P

    onde agora Md/P representa a demanda por encaixes reais (ou seja, medidos em

    termos do seu poder de aquisio de bens e servios) desejados. Considera-se, assim, que as

    pessoas demandam moeda por seu poder de compra, ou seja, elas demandam encaixes

    reais. Passa-se agora a examinar cada uma das variveis:

    a) Riqueza Total (Yp)

    Riqueza total: Riqueza humana (capital humano)Riqueza no humana: Moeda

    Ttulos de renda varivel

    Ttulos de renda fixa

    Bens fsicos: Imveis

    Outros ativos materiais

    Alm das formas conhecidas de riqueza material, a riqueza total tambm

    constituda pela riqueza humana, conceituada como o valor atual das rendas futuras

    geradas pelo capital humano. A ideia de riqueza total das famlias equivale ao mximo do

    montante em moeda que suas riquezas possam ser transformadas, adicionado do valor

    atual dos rendimentos futuros proporcionados pela aplicao da riqueza humana no

    processo produtivo.

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    Como a determinao do valor da riqueza total envolve srias dificuldades

    operacionais, Friedman sugere a adoo do conceito de renda permanente, dada pela

    mdia ponderada das rendas correntes e passadas das unidades detentoras de riqueza,

    como aproximao vlida do conceito de riqueza total.

    Deste modo: Lf = f(Yp).

    b) Proporo da Riqueza Humana sobre a No Humana (w)

    Segundo Friedman, apresentando a riqueza humana menor grau de liquidez que as

    demais formas de riqueza no humana, quanto maior for a proporo da primeira em

    relao ao total da segunda, tanto maior ser a necessidade de reteno de moeda. A

    capacidade futura de trabalho institucionalmente vista como garantia inferior que

    resulta de outras formas convencionais e imediatas de riqueza acumulada. Assim:

    Lf = f( w ) onde w = proporo riqueza humana/riq.no humanasendo que: &Lf/& w > 0

    c) Custo de Oportunidade de Reteno de Moeda (i, r, P*)

    Ao decidir reter saldos monetrios, as unidades familiares incorrem em custos de

    oportunidade representados pela taxa de retorno (r) que os ativos de renda varivel (aes)

    podem render e pela taxa de juros (i) que pode ser auferida com a aplicao em ttulos de

    renda fixa. Alm disso, se a taxa esperada de inflao (P*) for positiva, a reteno de ativos

    monetrios importar no custo adicional resultante da perda do seu poder real de compra.Se estes custos se elevarem, a demanda de outras formas de ativo aumentar e a de moeda

    declinar. Em outras palavras:

    Lf = f(r,i,P*) e: &Lf/&r < 0

    &Lf/&i < 0

    &Lf/&P* < 0

    d) Outros Fatores ( )

    - estrutura de distribuio de renda;

    - regimes de mercado prevalecentes na oferta de bens e servios e de fatores de

    produo;

    - graus de incerteza quanto ao futuro;

    - expectativas quanto ocorrncia de anormalidades, como guerras e crises

    econmicas agudas;

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    - grau de estabilidade poltico-institucional;

    - variveis localizadas no mbito da psicologia social;

    - estrutura de valores sociais e ticos predominantes.

    Assim: Lf = f()

    Em sua abordagem, Friedman admite, dadas as dificuldades de preciso dos efeitos

    dos fatores assinalados sobre a demanda de moeda, que a varivel ( ) constante,

    notadamente a curto prazo. Neste caso: &Lf/&= 0

    Em concluso, reunindo novamente em uma s funo todas as variveis

    focalizadas, a demanda de moeda pelas famlias (indivduos), segundo a verso de

    Friedman, dada por: Md = Lf = f(P, PYp, w,r,i,P*,)

    ou ento, conforme j visto: Md----- = f(i, r, P*, w, Yp, ) = Lf

    P

    Onde Md/P representa a demanda das famlias por encaixes reais (ou seja, medidos

    em termos do seu poder de aquisio de bens e servios) desejados.

    Friedman no tenta argumentar que a velocidade-renda apresente um valor

    constante no curto prazo. De fato, pelo que vimos at aqui, variaes nas taxas de juros

    implicariam em alteraes no valor de V. Nem mesmo aos clssicos ele atribui tal tese,

    citando como contra-exemplo uma passagem de Pigou que relaciona a velocidade-renda da

    moeda taxa de juros. Sua posio bsica consiste em defender a estabilidade da funo V(i, P*, w, Yp, u).

    Matematicamente, isto equivale a se admitir que a velocidade-renda (e,

    consequentemente, a demanda por moeda em termos reais) possa ser razoavelmente

    explicada tomando-se como base as variveis explicitadas nesta funo.

    A valer a teoria friedmaniana, incluindo a hiptese de estabilidade da funo V(i,

    P*, w, Yp, u) e a controlabilidade da oferta monetria, a atividade econmica seria

    extremamente sensvel a flutuaes da poltica monetria - flutuaes estas que setransmitiriam renda permanente, provocando oscilaes de muito maior amplitude na

    renda corrente. O resultado semelhante ao da teoria clssica, mas com muito maior fora

    de propagao. E a poltica monetria voltaria a ser o determinante bsico do nvel de

    atividade e dos preos.

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    Nesta linha, os friedmanianos criticam veementemente a poltica monetria

    espasmdica aplicada em muitos pases, que alterna perodos de relaxamento expansionista

    com fases de contrao monetria. A sua recomendao para uma poltica de pleno

    emprego sem inflao a manuteno de uma taxa de expanso dos meios de pagamento

    conhecida e metodicamente constante, de acordo com o crescimento do produto real e a

    elasticidade-renda da procura por moeda.

    2.8.2 A Oferta de Moeda

    A forma pela qual a oferta de moeda determinada na maioria das economias

    experimentou uma alterao fundamental no sculo XX. Nas suas primeiras dcadas a

    moeda sem lastro no era usada de forma geral, mas sim o ouro e a moeda com lastro em

    ouro. O papel-moeda, quando em uso, podia ser convertido naquele metal precioso por um

    preo fixo. Nesse sistema monetrio, as variaes na oferta de moeda eram determinadas,

    principalmente, pela produo do metal precioso (do ouro, em particular)1. Por outro lado,

    no sistema de curso forado, a oferta de moeda determinada, principalmente, pela

    poltica governamental. A diferena crucial.

    A maioria das naes tem uma instituio oficial normalmente chamada banco

    central, que possui autoridade legal para imprimir dinheiro. Nos Estados Unidos, o banco

    central o Sistema Federal de Reserva; na Inglaterra, o Banco da Inglaterra; na Unio

    Europeia, o Banco Central Europeu; no Japo, o Banco do Japo e, no Brasil, o Banco

    Central do Brasil. Contudo, h vrios pases que no tm bancos centrais ou, quando

    existem, no tm autoridade para imprimir a moeda nacional. Por exemplo, na Libria e

    no Equador o dlar a moeda e o meio de troca oficial (no Panam, o dlar tambm

    usado como moeda corrente, ao lado do dinheiro local, que existe apenas na forma de

    moedas de pequeno valor).

    Como regra geral, o banco central de cada pas, ao buscar determinar a oferta de

    moeda, usa o agregado composto pelo papel moeda e moedas metlicas em poder do

    pblico no-bancrio, mais as reservas que os bancos comerciais mantm junto a si e no

    banco central (este agregado denominado de M0, ou base monetria). Como o banco

    central a nica autoridade que pode imprimir (ou autorizar que se imprima) uma nota de

    1Outro metal precioso, a prata, deixou de ser usado como metal monetrio no final do sculo XIX.

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    dinheiro ou cunhar uma moeda, ele determina a oferta dessas notas e moedas na economia

    (que so mantidas como dinheiro pelo pblico ou como reservas bancrias). Lembra-se,

    entretanto, que esta no a nica categoria de moeda, nem mesmo uma categoria que

    considere a medio da moeda em poder do pblico (pois M 0inclui reservas bancrias). H

    categorias mais amplas - M1, M2, M3 etc. Em geral, a quantidade desses Ms maiores em

    circulao determinada pela quantidade de moeda em circulao produzida pelo banco

    central, pelas regulamentaes relativas ao sistema bancrio (geralmente determinadas

    pelo banco central, com destaque para as reservas compulsrias dos bancos comerciais

    junto a si) e pelos instrumentos financeiros que as pessoas escolhem para suas carteiras de

    investimento(Sachs; Larrain, p.283).

    Existe a hiptese de que a moeda legal um elemento institucional subordinado ao

    controle das autoridades monetrias. Sob esta hiptese, a moeda vista como uma varivelexgena, o que torna o seu controle possvel e restrito s autoridades monetrias, as quais

    administram a oferta de moeda e a taxa de juros como instrumentos de poltica monetria.

    Para alguns tericos da economia monetria (os ps-keynesianos, por exemplo), a oferta de

    moeda no se subordina, estritamente, a controles centrais, mas sim largamente

    influenciada pelo sistema financeiro, sendo gerada pela expanso do crdito ou pelo

    racionamento deste, com efeitos importantes, transformando-se assim, em grande medida,

    em varivel endgena

    2

    .

    3. Os Meios de Pagamento e outros Agregados Monetrios

    O Sistema Financeiro Monetrio (ou, equivalentemente, o Sistema Financeiro

    Bancrio) representa a parte do sistema financeiro responsvel pela gerao de meios de

    pagamento. O que incluir precisamente nesses ativos disponveis, eis uma questo que

    suscita algumas controvrsias e que no pode ser resolvida sem certa margem de

    arbitrariedade.

    A definio mais usual considera meios de pagamento numa economia moderna o

    papel-moeda em poder do pblico (que igual ao saldo do papel-moeda emitido menos os

    2 Como muitas questes em economia, a questo entre endogenia e exogenia da oferta de moeda (meios depagamento) encontra uma soluo de equilbrio, em cada sistema monetrio, entre a atuao do banco central e asoperaes de crdito das demais instituies financeiras bancrias.

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    encaixes em moeda corrente dos bancos, inclusive do Banco Central) mais os depsitos

    vista do pblico na rede bancria. Estes meios podem ser utilizados a qualquer momento

    para a remunerao de fatores da produo empregados, para o pagamento de bens ou

    servios adquiridos ou ainda para saldar dvidas contradas no passado.

    No caso do Brasil, o primeiro passo na criao de papel-moeda que a Casa da

    Moeda, rgo da Secretaria do Tesouro Nacional, produza as notas e moedas de dinheiro.

    Ela depois as transfere para o Banco Central, que paga por elas creditando o seu valor na

    conta que o Tesouro Nacional tem no Bacen (eximindo-se este, assim, do recebimento de

    receitas de senhoriagem). Depois, quando um banco precisa de dinheiro, ele chama o Banco

    Central, que lhe remete o dinheiro e debita a sua conta de reserva.

    O banco pe ento esse dinheiro em circulao, dando-o em pagamento a seus

    clientes. A essa altura, quando o dinheiro passa para a mo do pblico no-bancrio, ele se

    torna parte do meio circulante. Estes so os ativos que preenchem os atributos essenciais de

    rendimento zero, decusto de manuteno e estocagem negligenciveise demxima l iquidez.

    Portanto,os meios de pagamento, so dados por:

    papel-moeda emitido (inclusive moedas metlicas) menos: moeda em caixa forte do

    Bacen igual a: saldo do papel-moeda em circulao

    menos:caixa em moeda corrente dos bancos comerciais

    igual a:Moeda Manual (Mm) ou saldo de Papel-Moeda em Poder do Pblico (PMPP)3

    mais: Moeda Escri tur al (ou bancria): depsitos vista nos bancos comerciais

    (Dv) igual a: Meios de Pagamento

    Em resumo, os meios de pagamento se compem do papel-moeda em poder do

    pblico e da moeda escritural. Por essa definio, a criao de meios de pagamento s pode

    ser realizada: a) pelo Banco Central, que tem o poder legal de emitir papel-moeda; b) pelos

    bancos comerciais (e outras instituies bancrias), que tm depsitos vista.

    Os saldos de cartes de crdito no so includos, porque cartes de crdito so uma

    forma de diferir o pagamento. Quando se paga com carto de crdito e financia-se a

    compra realizada em mais de um pagamento, est-se recebendo um crdito, uma dvida

    que ser paga no tempo, em cheque ou dinheiro.

    3Equivalente ao termo em ingls currencye ao termo em portugus dinheiro.

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    Assim, para indicar o total da oferta de meios de pagamento (oferta monetria), M1,

    pode ser empregada a seguinte expresso: M1= Mm + Dv, onde Mm = moeda manual (ou

    saldo de PMPP) e Dv = depsitos a vista nos bancos (ou moeda escritural).

    A observao desse conceito convencional de moeda leva constatao que ele

    privilegia a funo da moeda comointermediria de trocas.No entanto, se a definio de

    oferta monetria considerar, alm da funo de intermediao de trocas, a dereserva de

    valor, o conceito convencional exclui totalmente um significativo grupo de ativos

    financeiros que, pelo seu alto grau de liquidez, so considerados comoquase-moeda: as

    letras e demais obrigaes do Tesouro Nacional e do Banco Central, os depsitos a prazo

    fixo, as cadernetas de poupana, as letras imobilirias e outros ativos financeiros de

    emisso sistema de intermediao financeira. A partir de argumentos dessa ordem que se

    desenvolveram outros conceitos mais abrangentes de moeda.A definio de outros conceitos mais amplos de agregados monetrios tem gerado

    controvrsias, uma vez que o sistema financeiro cria instrumentos de alta liquidez,

    tornando-se cada vez mais difcil distinguir a moeda transacional da poupana. Dessa

    forma, procura-se classificar os meios de pagamento em ordem decrescente de liquidez, de

    tal maneira que se incluam todos os haveres financeiros em poder do pblico e que sejam

    disponveis contabilmente no contexto do Sistema Financeiro Nacional.

    O principal critrio para definir moeda a facilidade com a qual um ativo pode serusado para transaes e, em especial, sua liquidez, que a capacidade de converter

    rapidamente um ativo em dinheiro sem que haja perda de valor. O dinheiro (moedas

    metlicas e papel-moeda do banco central) o mais lquido dos ativos.

    A moeda em circulao, que o PMPP, mais as reservas em dinheiro mantidas pelos

    bancos junto a si, somadas com as reservas em dinheiro que os bancos mantm no Banco

    Central, chamada de high-powered money (Mh) ou, ainda, por base monetria (ou Mo).

    Esta uma varivel-chave, como veremos adiante, pois pode ser diretamente controlada

    pelo Banco Central4. Os depsitos a vista em bancos so o ativo mais lquido depois do

    dinheiro, pois possvel fazer retiradas das contas a vista, sem demora ou qualquer

    penalidade (Sachs, Larrain, p.250).

    4Isto porque o Banco Central a nica instituio monetria a criar a moeda legal e porque o Banco Central podealterar as regras de recolhimento compulsrio de reservas dos bancos para o Bacen.

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    O conceito de oferta monetria correspondente aos meios de pagamento, j visto,

    que inclui apenas a moeda manual e a moeda escritural, denominado de M1. Outros

    conceitos, denominados M2 e M3, abrangem outros ativos financeiros. No Brasil, o Banco

    Central adota ainda o conceito M4. Em sntese, estes conceitos so os seguintes:

    Conceito M1: Trata-se dos meios de pagamento (moeda manual e moeda escritural).

    composto pelo papel-moeda e moedas metlicas em poder do pblico (moeda manual) e

    pelos depsitos vista do pblico nos bancos comerciais e caixas econmicas (moeda

    escritural).

    Conceito M2: (M1) mais depsitos de poupana e ttulos privados em poder do

    pblico.

    Conceito M3: (M2) mais quotas de fundos de renda fixa e operaes

    compromissadas/Selic.Conceito M4: (M3) mais os ttulos federais em poder do pblico/Selic e ttulos

    estaduais e municipais em poder do pblico.

    A Base Monetria (Mo ou Mh) - Denominao dada ao conjunto de moeda em

    circulao no pas, mais os depsitos vista (reservas) dos bancos comerciais junto ao

    banco central. A atuao sobre a base monetria, visando estimular sua expanso ou

    provocar sua contrao, desempenha papel importante em qualquer poltica de combate

    inflao (Sandroni, p.25).

    3.1 A Criao de Moeda pelos Bancos Comerciais

    Normalmente registra-se uma alta participao da moeda escritural na composio

    dos meios de pagamento, em relao moeda manual. As razes para o uso de moeda

    escritural, que os agentes econmicos preferem moeda manual, so os seguintes:

    1. os depsitos bancrios vista so mais seguros;

    2. o manejo de cheques e, hoje, cartes de dbito e de crdito, para efetuar

    pagamentos, fcil, em especial quando se trata de transaes de grande vulto

    (apesar do avano da moeda digital);

    3. a manuteno de saldos mdios nos bancos comerciais facilita a obteno de

    emprstimos;

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    4. os pagamentos mediante cheques nominais e cartes permitem controle e

    contabilizao das despesas, bem como podem tambm servir de comprovante;

    O uso generalizado da moeda escritural est na origem do processo multiplicador

    dos meios de pagamento. Isto porque a moeda de alto poder de expanso (high-poweredmoney), injetada no sistema econmico por deciso das autoridades monetrias, tende a se

    transformar em depsitos bancrios, por fora das razes assinaladas, enquanto uma

    substancial parcela de tais depsitos acaba por se transformar em emprstimos concedidos

    pelos bancos, que tendem a retornar ao sistema bancrio, sob a forma de novos depsitos.

    Este processo tende a se renovar infinitamente, dado que os bancos comerciais no mantm

    em caixa a totalidade dos depsitos captados, mas apenas uma parcela deles, pois atuam

    com reservas fracionrias (Lopes & Rossetti, p.109).

    3.1.1 Sistema Bancrio com Cobertura Integral e com Reservas Fracionrias

    Em uma economia hipottica, os bancos aceitam depsitos vista, mas no fazem

    emprstimos. Os depsitos que os bancos receberam, mas no emprestaram, so chamados

    de reservas. Parte das reservas guardada no cofre dos bancos disseminados pelo pas, mas

    a maior parte fica guardada num Banco Central. Nesta economia hipottica, todos os

    depsitos so mantidos como reservas: os bancos aceitam os depsitos, guardam a moeda

    como reserva e assim a deixam, at que os depositantes faam uma retirada ou passem um

    cheque. O sistema dito de cobertura integral. Se os bancos mantm reservas de 100% de

    seus depsitos vista, o sistema bancrio no influi sobre a oferta de moeda.

    Imagine-se agora que os bancos comecem a usar parte de seus depsitos para

    conceder emprstimos a famlias que esto comprando casa prpria ou para empresas que

    esto investindo, por exemplo, em instalaes e equipamentos. Para os bancos isto significa

    que podem cobrar juros sobre os emprstimos. Os bancos precisam manter algumas

    reservas para atender s retiradas de seus correntistas sempre que estes o desejarem. Mas,

    na medida que o montante de novos depsitos for aproximadamente igual ao montante das

    retiradas, o banco no precisa manter em caixa todos os depsitos recebidos. Desta forma,

    os banqueiros so incentivados a conceder emprstimos. Quando o fazem, tem-se um

    sistema bancrio com reservas fracionrias, no qual os bancos mantm como reserva uma

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    parte de seus depsitos. Desta forma, em um sistema bancrio com reservas fracionrias, os

    bancos cri am moeda, a denominada moeda escri tural.

    3.2 A Determinao do Estoque MonetrioComeando a partir da equao seguinte, passamos a desenvolver os detalhes do

    processo pelo qual o estoque monetrio determinado.

    M = Mm + D onde: M = oferta monetria (ignorando distino entre M1 e

    M2)

    Mm = moeda manual

    D = depsitos (ignorando se a vista, a prazo ou de poupana)

    Devemos resumir o comportamento do pblico, dos bancos e do Bacen no processo

    de oferta monetria atravs de trs variveis:

    5. a proporo moeda manual / depsitos (md);

    6. a proporo de reservas / depsitos (rc); e

    7. o estoque de base monetria (B ou Mo ou Mh).

    a) A Razo Moeda Manual-Depsitos (md)

    A razo moeda manual-depsitos determinada pelo comportamento do pblico,

    que decide em que proporo quer deter moeda e depsitos. A razo moeda-depsitos

    determinada primordialmente pelos hbitos de pagamento do pblico. A razo moeda-

    depsitos aumenta quando a proporo de consumo em relao ao PNB aumenta.

    b) A Razo Reservas-Depsitos (re)

    As reservas bancrias se constituem de notas e moedas detidas pelos bancos e de

    depsitos que os bancos detm no Bacen. Os bancos devem manter reservas na forma de

    notas e moedas, porque so obrigados a prover moeda em espcie aos seus clientes, quando

    estes quiserem. Os bancos tambm mantm contas no Bacen, principalmente para efetuar

    pagamentos entre eles mesmos, bem como podem usar seus depsitos no Bacen para obter

    dinheiro. A razo reserva-depsitos determinada, portanto, por dois conjuntos de

    consideraes:

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    8. o sistema bancrio est sujeito regulamentao do Bacen, na forma de

    requerimentos mnimos de reservas, que variam conforme o tipo de depsito e o

    tamanho do banco;

    9. os bancos podem querer deter reservas em excesso, isto , acima do nvel mnimo

    de reservas requerido pelo Bacen, por razes de precauo.

    Se um banco no pode suprir as demandas por dinheiro ou por pagamentos a outros

    bancos, ele tem que pegar emprestado do Bacen ou de outros bancos que tenham reservas a

    mais. A taxa de redesconto a taxa de juros cobrada pelo Bacen de bancos que emprestam

    dele para enfrentar uma necessidade temporria de reservas, enquanto que a taxa do CDI

    a taxa de juros cobrada pelos bancos para emprstimos interbancrios.

    Existe tambm um custo para um banco deter reservas, pois estas no recebem

    juros. Detendo reservas menores, um banco est apto a investir em ativos remunerados por

    juros e aumentar seus lucros. Quanto mais reservas o banco detm, menos ele incorrer em

    custos de emprstimos. Porm, quanto mais reservas ele detiver, mais juros ele perde.

    Pode-se, portanto, escrever a razo reservas-depsitos, "re", como funo da taxa

    de juros de mercado ( i ), da taxa de redesconto (iD), da proporo de reservas obrigatrias

    (rR), e de "

    ", que indica as caractersticas de incerteza das entradas e sadas de depsitos

    dos bancos:

    re = f(i, iD, rR,

    ) onde:

    re = razo reservas-depsitos

    iD = taxa de redesconto

    rR = reservas requeridas (compulsrias)

    = incerteza na movimentao de depsitos

    re/i < 0 re/iD > 0re/rR > 0 re/> 0

    c) A Base Monetria (M0)A base monetria constituda de moeda manual (PMPP) e de reservas dos bancos

    comerciais (encaixe dos bancos e depsitos voluntrios e compulsrios destes no Bacen). O

    Bacen pode controlar a oferta de b