resenha Posey

4
Escola de Sociologia e Política Meio Ambiente e Sociedade Nome: Caio Cobucci Leite Fichamento POSEY, D. A. Interpretando e Utilizando a “Realidade” dos Conceitos Indígenas: o que é preciso aprender dos nativos? Distinções entre o Êmico e o Ético De acordo com o autor, antropólogos e etnobiológos adotaram uma distinção entre os termos êmico e ético na tentativa de separar interpretações culturais elaboradas pelos pesquisadores de explicações apresentadas pelos indígenas. Dessa forma, interpretações êmicas refletem categorias cognitivas e linguísticas dos indígenas, enquanto interpretações éticas são as desenvolvidas pelos pesquisadores com propósitos analíticos (p. 1). Ressalta também que essa distinção, na prática, não é tão clara. Compartilhando Realidades Posey mostra a partir de sua pesquisa, e de uma crítica a ela escrita por um jovem cacique da etnia objeto dela, alguns exemplos de como a distinção proposta acima nem sempre é clara. Mesmo identificando diferenças entre a interpretação do conceito em questão, “cultivo”, o autor afirma que para fins de análise, manterá sua interpretação, mais abrangente, e que para entender a visão êmica do assunto, teria que se voltar à análise cognitiva dos termos e expressões Kayapó relativos a dispersão de sementes, transplante de tubérculos, propagação de epífitas e a um campo potencial de várias categorias adicionais para ele desconhecidas, anônimas ou inimagináveis. (p. 3) Consciência da Realidade Segundo Posey, a “consciência” do conhecimento é apenas um modo de se rotular abstratamente um fenômeno já conhecido mas inconsciente e não verbalizado. Traz o destaque sobre como percepções espaciais culturalmente distintas influenciam interações sociais, de Edward T. Hall, utilizando como exemplo a questão dos espaços íntimos compartilhados para as culturas latinas comparadas as da Europa do Norte. Ainda de acordo com

description

resenha Posey interpretando e utilizando a realidade dos conceitos indígenas

Transcript of resenha Posey

Escola de Sociologia e PolticaMeio Ambiente e SociedadeNome: Caio Cobucci LeiteFichamentoPOSEY, D. A. Interpretando e Utilizando a Realidade dos Conceitos Indgenas: o que preciso aprender dos nativos?

Distines entre o mico e o ticoDe acordo com o autor, antroplogos e etnobiolgos adotaram uma distino entre os termos mico e tico na tentativa de separar interpretaes culturais elaboradas pelos pesquisadores de explicaes apresentadas pelos indgenas. Dessa forma, interpretaes micas refletem categorias cognitivas e lingusticas dos indgenas, enquanto interpretaes ticas so as desenvolvidas pelos pesquisadores com propsitos analticos (p. 1). Ressalta tambm que essa distino, na prtica, no to clara.Compartilhando RealidadesPosey mostra a partir de sua pesquisa, e de uma crtica a ela escrita por um jovem cacique da etnia objeto dela, alguns exemplos de como a distino proposta acima nem sempre clara. Mesmo identificando diferenas entre a interpretao do conceito em questo, cultivo, o autor afirma que para fins de anlise, manter sua interpretao, mais abrangente, e que para entender a viso mica do assunto, teria que se voltar anlise cognitiva dos termos e expresses Kayap relativos a disperso de sementes, transplante de tubrculos, propagao de epfitas e a um campo potencial de vrias categorias adicionais para ele desconhecidas, annimas ou inimaginveis. (p. 3)Conscincia da RealidadeSegundo Posey, a conscincia do conhecimento apenas um modo de se rotular abstratamente um fenmeno j conhecido mas inconsciente e no verbalizado. Traz o destaque sobre como percepes espaciais culturalmente distintas influenciam interaes sociais, de Edward T. Hall, utilizando como exemplo a questo dos espaos ntimos compartilhados para as culturas latinas comparadas as da Europa do Norte. Ainda de acordo com ele, os observadores de elevadores que constatam a questo do comportamento exemplificado, se entrassem em contato com o livro de Hall, se tornariam sensveis ao conhecido, mas normalmente negligenciado, comportamento das pessoas em elevadores.Assim, passa a afirmao de que o mesmo ocorre em relao conscincia de povos nativos e suas prticas de manejo. Ou seja, os nativos podem se tornar conscientes de alguns atos comuns de manejo quando alertados ao fenmeno pelo pesquisador, mesmo se as terminologias mica e tica forem diferentes. Mas o informante tambm aprende as categorias utilizadas pelo pesquisador e pode modificar a maneira como olha para sua prpria cultura. (p. 3)Aps uma breve exposio sobre alguns aspectos dos Kayap, o autor retorna ao problema inicial de interpretao da realidade dos povos nativos, ressaltando que o embate entre a anlise mica e a tica que distancia bilogos e eclogos da antropologia, a qual no consideram cientfica. Afirma que h um intenso debate entre antroplogos sobre a possibilidade da interpretao cultural poder se tornar cientfica, e que para etnobilogos, este debate etreo. (p. 4)A ponte do Teste de HipteseAps apresentar problemas de mtodo em tais pesquisas, o autor afirma que pode-se lidar com esses atravs da concepo de mtodos analticos e de levantamento estaticamente significativos, mas que esses esforos so pesadelos dos pesquisadores de campo e resultam em benefcios questionveis. Para ele, a maioria dos estudos etnobiolgicos tende a levantar o conhecimento nativo somente em relao ao que previamente conhecido pela cincia. J com a utilizao de conceito indgenas, de acordo com o autor, atalhos ou mesmo revolues na investigao cientfica podem ocorrer atravs do apropriado mtodo cientfico de gerao e teste de hipteses. Ressalta porm, que muitas vezes os pesquisadores excluem elementos considerados improvveis e inacreditveis, e que, em geral, esses conceitos refletem a inabilidade dos pesquisadores em reconhecer a realidade indgena do que qualquer critrio cientfico real. (p. 6)Avanos Contra Dicotomias ArcaicasPosey afirma que, mesmo com os diversos problemas que dificultam o estudo e o uso do conhecimento tradicional, alguns progressos significativos tm sido atingidos, e que, a maioria desses progressos continua a ser ignorada na literatura cientfica principal, o que faz com que os leitores continuem a ser contaminados por dicotomias arcaicas. (p. 7)Pesquisas Futuras e a Descoberta da HistriaO autor chama ateno para o fato de que muitos bilogos e eclogos ainda conceberem sistemas ecolgicos como naturais, desconsiderando atividades humanas histricas e pr-histricas da regio. E que no futuro, bilogos tero que conhecer pesquisas em antropologia, arqueologia, etnobiologia e histria para obterem resultados significativos (p. 7)Sugestes para o FuturoPosey traz diretrizes para pesquisas futuras sobre tcnicas tradicionais de manejo de recursos naturais e suas aplicaes.Aplicao do Conhecimento TradicionalO autor sugere que devem ocorrer alteraes nas polticas internacionais de instituies interessas em pesquisas, pblicas ou privadas, com a criao de reas experimentais, laboratrios de anlise e estaes de pesquisa de campo que possam investigar mtodos de manejo sustentvel de recursos baseados em modelos indgenas. Ressalta a importncia de se associar valor econmico mirade de produtos naturais, e aos povos que sabem como propaga-los, prepara-los e utiliz-los, pois sem tal associao, haver pouca chance de salvar os remanescentes dos ecossistemas e dos povos indgenas do planeta.Direitos de Propriedade IntelectualAvanos tm sido feitos em convencer o mundo de que os povos indgenas tm muito a nos ensinar sobre a diversidade biolgica e ecolgica do planeta. At que vigorem acordos internacionais voltados proteo dos direitos de propriedade intelectual dos povos indgenas e a compens-los pelo seu conhecimento, entretanto, em termos ticos ser difcil avanar ainda mais na aplicao do saber tradicional. O desenvolvimento de tais polticas e procedimentos deve receber a mais alta prioridade. (p. 9)O Perigo do RomantismoPosey afirma que o romantismo quanto aos povos indgenas reais traz noes incorretas e perigosas, e que mesmo entre sociedade mais aculturadas e degradadas pode-se encontrar valiosos conhecimentos. E termina: Finalmente, aqueles que estudam o conhecimento tradicional e tentam encontrar aplicaes modernas do mesmo no propem que o mundo reverta ao estado de existncia tribal. Estamos meramente fazendo um chamado a todos para que auxiliem a brecar a destruio insensata dos recursos naturais do planeta e dos povos nativos que melhor os conhecem. Existem opes para a sobrevivncia da humanidade na biosfera, e muitas dessas esto codificadas nas realidades dos povos indgenas.