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35 AGROALIMENTARIA. Vol. 24, Nº 46; enero-junio 2018 Velleda Caldas, Nádia; Sacco dos Anjos, Flávio; Da Silva, Fernanda Novo. Representações sociais sobre o mundo rural entre estudantes de ciências agrárias do sul do Brasil (35-50) Velleda Caldas, Nádia 1 Sacco dos Anjos, Flávio 2 Da Silva, Fernanda Novo 3 Recibido: 20-07-2017 Revisado: 21-07-2017 Aceptado: 19-02-2018 1 Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pelotas-UFPel, Brasil); M.Sc. em Ciências (UFPel, Brasil); Doutora em Agronomia (UFPel, Brasil). Professora do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial e Sistemas Agroindustriais da Universidade Federal de Pelotas. Endereço postal: Departamento de Ciências Sociais Agrárias, Universidade Federal de Pelotas, Campus Universitário, s/n. CEP 96001-970. Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Telefone:  +55-53-32757256; e-mail: [email protected] 2 Graduado em Agronomia (Universidade Federal de Pelotas-UFPel, Brasil); M.Sc. em Sociologia (Universidade Federal de Rio Grande do Sul-UFRGS, Brasil); Doutor em Sociologia (Universidad de Córdoba-UCO, España). Professor do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar e do Programa de Pós- graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pelotas; Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico-CNPq, Brasil. Endereço postal: Departamento de Ciências Sociais Agrárias, Universidade Federal de Pelotas, Campus Universitário, s/n. CEP 96001-970. Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Telefone: +55- 53-32757256; e-mail: [email protected] 3 Graduada em Agronomia (Universidade Federal de Pelotas-UFPel, Brasil); M.Sc. em Agronomia (UFPel, Brasil); Doutora em Agronomia (UFPel, Brasil). Bolsista PNPD-Capes. Endereço postal: Departamento de Ciências Sociais Agrárias, Universidade Federal de Pelotas, Campus Universitário, s/n. CEP 96001-970. Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Telefone: +55-53-32757256; e-mail: [email protected] REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O MUNDO RURAL ENTRE ESTUDANTES DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DO SUL DO BRASIL RESUMO Nas duas últimas décadas o debate sobre o futuro do mundo rural vem sendo influenciado por uma corrente sociológica que propõe uma ruptura em relação ao enfoque dicotômico, ou seja, a abordagem baseada na necessária oposição campo-cidade, ou entre o rural e o urbano como se fossem realidades socioespaciais descontínuas e necessariamente antagônicas. A ideia de uma nova ruralidade aponta em direção à necessidade de compreender os novos papéis atribuídos aos espaços rurais (ócio, entretenimento, reserva da biodiversidade, etc.), sem prejuízo da tradicional função de prover alimentos, fibras e matérias primas. Mas vale indagar: como esta realidade é capturada por jovens que anualmente ingressam nas faculdades de ciências agrárias? O objetivo do artigo é buscar respostas a tal questão, fazendo uso da teoria das representações sociais, com ênfase no aporte de Moscovici, e de uma investigação desenvolvida com 112 alunos de uma tradicional universidade brasileira. O estudo foi realizado com base em diversos instrumentos que incluem, especialmente, entrevistas com o uso de questionário estruturado (questões fechadas e abertas) e análise de conteúdo de narrativas e de palavras indicadas livremente pelos alunos como conceito de rural. A conclusão geral indica a existência de três grandes conjuntos de representações do rural. A primeira e mais importante é a que associa o rural com o mundo da produção e do trabalho (o rural agropecuário), enquanto a segunda o identifica com um mundo idealizado (rural idílico). A terceira acepção é definida como o rural ecológico- ambiental, entendido como espaço da biodiversidade e da preservação da vida natural. Palavras chave: ciências agrárias, desenvolvimento rural, imagem do rural, representações sociais, ruralidade

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Velleda Caldas, Nádia1

Sacco dos Anjos, Flávio 2

Da Silva, Fernanda Novo3

Recibido: 20-07-2017 Revisado: 21-07-2017 Aceptado: 19-02-2018

1 Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pelotas-UFPel, Brasil); M.Sc. em Ciências (UFPel,Brasil); Doutora em Agronomia (UFPel, Brasil). Professora do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de ProduçãoAgrícola Familiar e do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial e Sistemas Agroindustriais daUniversidade Federal de Pelotas. Endereço postal: Departamento de Ciências Sociais Agrárias, Universidade Federalde Pelotas, Campus Universitário, s/n. CEP 96001-970. Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Telefone: +55-53-32757256; e-mail: [email protected] Graduado em Agronomia (Universidade Federal de Pelotas-UFPel, Brasil); M.Sc. em Sociologia (UniversidadeFederal de Rio Grande do Sul-UFRGS, Brasil); Doutor em Sociologia (Universidad de Córdoba-UCO, España).Professor do Programa de Pós-Graduação em Sistemas de Produção Agrícola Familiar e do Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade Federal de Pelotas; Pesquisador do Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico-CNPq, Brasil. Endereço postal: Departamento de Ciências Sociais Agrárias, UniversidadeFederal de Pelotas, Campus Universitário, s/n. CEP 96001-970. Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Telefone: +55-53-32757256; e-mail: [email protected] Graduada em Agronomia (Universidade Federal de Pelotas-UFPel, Brasil); M.Sc. em Agronomia (UFPel, Brasil);Doutora em Agronomia (UFPel, Brasil). Bolsista PNPD-Capes. Endereço postal: Departamento de CiênciasSociais Agrárias, Universidade Federal de Pelotas, Campus Universitário, s/n. CEP 96001-970. Pelotas, Rio Grandedo Sul, Brasil. Telefone: +55-53-32757256; e-mail: [email protected]

REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE OMUNDO RURAL ENTRE ESTUDANTES DECIÊNCIAS AGRÁRIAS DO SUL DO BRASIL

RESUMO

Nas duas últimas décadas o debate sobre o futuro do mundo rural vem sendo influenciado por uma correntesociológica que propõe uma ruptura em relação ao enfoque dicotômico, ou seja, a abordagem baseada na necessáriaoposição campo-cidade, ou entre o rural e o urbano como se fossem realidades socioespaciais descontínuas enecessariamente antagônicas. A ideia de uma nova ruralidade aponta em direção à necessidade de compreender osnovos papéis atribuídos aos espaços rurais (ócio, entretenimento, reserva da biodiversidade, etc.), sem prejuízo datradicional função de prover alimentos, fibras e matérias primas. Mas vale indagar: como esta realidade é capturadapor jovens que anualmente ingressam nas faculdades de ciências agrárias? O objetivo do artigo é buscar respostas a talquestão, fazendo uso da teoria das representações sociais, com ênfase no aporte de Moscovici, e de uma investigaçãodesenvolvida com 112 alunos de uma tradicional universidade brasileira. O estudo foi realizado com base emdiversos instrumentos que incluem, especialmente, entrevistas com o uso de questionário estruturado (questõesfechadas e abertas) e análise de conteúdo de narrativas e de palavras indicadas livremente pelos alunos como conceitode rural. A conclusão geral indica a existência de três grandes conjuntos de representações do rural. A primeira e maisimportante é a que associa o rural com o mundo da produção e do trabalho (o rural agropecuário), enquanto asegunda o identifica com um mundo idealizado (rural idílico). A terceira acepção é definida como o rural ecológico-ambiental, entendido como espaço da biodiversidade e da preservação da vida natural.Palavras chave: ciências agrárias, desenvolvimento rural, imagem do rural, representações sociais, ruralidade

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sobre o mundo rural entre estudantes de ciências agrárias do sul do Brasil (35-50)

RÉSUMÉ

ABSTRACT

RESUMENEn las dos últimas décadas el debate sobre el futuro del mundo rural ha estado influenciado por una corrientesociológica que propone una ruptura en relación con el enfoque dicotómico –o sea, el abordaje que se basa en lanecesaria oposición campo-ciudad, o entre el rural y el urbano–, como si fueran realidades socioespaciales discontinuasy necesariamente antagónicas. La idea de una nueva ruralidad apunta hacia la necesidad de comprender los nuevosroles asignados a los espacios rurales (ocio, entretenimiento, reserva de la biodiversidad, entre otros), sin menoscabode la tradicional función de productor de alimentos, fibras y materias primas. Pero ¿cómo tal realidad es capturadapor jóvenes que anualmente ingresan en las facultades de ciencias agrarias? El objetivo del artículo es buscarrespuestas a dicha interrogante, empleando para ello la teoría de las representaciones sociales, con énfasis en elaporte de Moscovici, así como de una investigación desarrollada con 112 alumnos de una tradicional universidadde Brasil. El estudio fue realizado con base en diversos instrumentos que incluyen, especialmente, entrevistas conel uso de cuestionario estructurado (preguntas cerradas y abiertas) y análisis de contenido de narrativas y de palabrasindicadas libremente por los alumnos en cuanto concepto del rural. La conclusión general apunta hacia laexistencia de tres grandes conjuntos de representaciones sociales del rural. La primera y más importante es la queasocia lo rural con el mundo de la producción y/o del trabajo (lo rural agropecuario), mientras la segunda loidentifica con un mundo idealizado –lo rural idílico–. La tercera acepción se define como el rural ecológico-ambiental, es decir, el espacio de la biodiversidad y con los objetivos de preservación de la vida natural.

In the last two decades the debate about the future of the rural world has been influenced by a sociological currentthat proposes a rupture in relation to the dichotomous approach, that is, the approach that is based on the necessaryfield-city opposition, or between the Rural and urban, as if they were discontinuous and necessarily antagonisticsocio-spatial realities. The idea of a new rurality points to the need to understand the new roles assigned to ruralareas (leisure, entertainment, biodiversity reserve, etc.), without undermining the traditional role of producer offood, fiber and raw materials. Nevertheless, how this reality is captured by young people who annually enter in thefaculties of agrarian sciences? The aim of the article is to find answers to this question, using the theory of socialrepresentations, with emphasis on the contribution of Moscovici and a research developed with 112 students of atraditional Brazilian university. The study was based on a variety of instruments, including interviews with the useof structured questionnaires (closed and open questions) and content analysis of narratives and words freelyindicated by the students as a rural concept. The general conclusion points to the existence of three large sets ofsocial representations of the rural. The first and most important is the one that associates the rural with the worldof production and / or labor (the rural agricultural), while the second identifies it with an idealized world - idyllicrural. The third meaning is defined as the ecological-environmental rural, that is, the space of biodiversity and theobjectives of preservation of natural life.Key words: Agrarian sciences, image of rural, rurality, rural development, social representations

Au cours des deux dernières décennies, le débat sur l’avenir du monde rural a été influencée par un courantsociologique qui a proposé une rupture par rapport à l’approche dichotomique, qui est, l’approche basée surl’opposition nécessaire rural, ou entre le rural et urbain, comme discontinus socio-spatiales et nécessairement desréalités antagonistes. L’idée d’un nouveau point de ruralité à la nécessité de comprendre les nouveaux rôles assignésaux zones rurales (loisirs, divertissement, réserve de biodiversité, etc.), sans remettre en cause le rôle traditionnel dela production d’aliments, de fibres et de matières premières. Mais comment une telle réalité est capturée par lesjeunes qui entrent chaque année les facultés des sciences agricoles? L’objectif de cet article est de chercher desréponses à cette enquête, en utilisant la théorie des représentations sociales, en mettant l’accent sur la contributionde Moscovici, et de la recherche menée auprès de 112 étudiants dans une université traditionnelle au Brésil. L’étudea été réalisée à divers instruments, y compris, en particulier, des entrevues à l’aide d’un questionnaire structuré(fermé et questions ouvertes) et l’analyse du contenu des récits et des mots librement donnés par les étudiantscomme un concept de base en milieu rural. La conclusion générale souligne l’existence de trois grandes séries de

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1. INTRODUCCIÓNOs estudos sobre a realidade da agricultura e domeio rural brasileiro experimentaram umarenovação temática importante no transcurso dasduas últimas décadas. Novas questões foram sendoincorporadas a uma agenda de investigação queemerge especialmente a partir da ação de grupossociais organizados, sejam aqueles ligados aosinteresses eminentemente agrícolas (movimentossociais, cooperativas, associações, etc.) e corporativos,sejam aqueles cujas ações se originam de demandasessencialmente urbanas (associações deconsumidores, ecologistas, ambientalistas, etc.).Fazendo um esforço de síntese, é possível indicartrês grandes eixos temáticos no campo dos estudosrurais e agrários da nova agenda da pesquisa.

O primeiro deles tem a ver com a consolidaçãoda agricultura familiar como campo de observaçãoe objeto de políticas públicas. As alusões a essacategoria não se limitam à ideia do agricultorfamiliar integrado aos mercados regionais e inclusiveinternacionais, mas a um amplo leque de atoressociais (comunidades remanescentes de quilombos,assentados da reforma agrária, pescadores artesanais,mulheres e jovens rurais, etc.) cuja existência sempreesteve imersa no manto da ‘invisibilidade oficial’que convencionalmente marca o quadro socialbrasileiro. E de uma intervenção centradafundamentalmente em assegurar o acesso ao créditoagrícola aos produtores familiares do país, algumasações do Estado se deslocam para a necessáriaconexão desse setor com os objetivos de combate àfome e à pobreza que desde tempos imemoráveisassolam o espaço rural brasileiro.

O segundo eixo temático guarda estreitosvínculos com a questão da sustentabilidade,especialmente no que tange ao reconhecimento dosproblemas advindos do modelo intensivo deagricultura praticado no Brasil desde a segundametade dos anos 1960. Nesse plano constam estudos

représentations sociales des régions rurales. La première et la plus importante est celle associée au monde rural dela production et / ou de travail (rural), tandis que le second identifie avec un monde idéalisé - rural idyllique. Latroisième signification est définie comme rural éco-environnement, à savoir l’espace de la biodiversité et lesobjectifs de préservation de la vie naturelle.

e programas de investigação dedicados ao tema dageração de energias alternativas, serviços ambientaise seus desdobramentos. A ideia de sustentabilidadehá que ser vista dentro de uma perspectivamultifacetada e pluridimensional (ambiental,social, ética, política, econômica, etc.).

O terceiro eixo temático está ligado às pesquisassobre o que se veio a chamar ‘novo rural brasileiro’,onde a ênfase dos estudos recai na análise dasmudanças ocorridas na ocupação da população aliresidente, bem como nas novas vocações atribuídasaos espaços não densamente urbanizados do país.No primeiro caso constam situações típicas de‘pluriatividade’ (Sacco dos Anjos, 1995; Schneider,1999), qual seja, o fenômeno no qual as famíliasrurais conciliam a exploração de suas propriedadesrurais com ofícios e atividades totalmentedesvinculadas da agropecuária, bem como desituações em que os moradores rurais passam adepender de rendas que pouco ou nada tem a vercom a agricultura.

O grande mérito do Projeto Rurbano foijustamente desvelar a face ‘não-agrícola’ do ruralbrasileiro. Trata-se de programa de pesquisas queteve início no final dos anos 1990, sendo lideradopela Universidade de Campinas e levado a cabopor pesquisadores de onze estados da federação.Segundo Graziano da Silva (2001), as pesquisas doRurbano produziram diversos desdobramentos,entre os quais, a derrubada de alguns mitos. Paraos efeitos que persegue esse artigo, importasublinhar alguns deles.

O primeiro é aquele que situa o rural comosinônimo de atraso. É verdade que problemas secularescomo a fome, a violência e a injustiça social aindapersistem como chagas abertas na realidade socialbrasileira, mas também é certo afirmar a aparição denovos atores sociais que exploram nichos de mercadose outras vocações dos espaços rurais (turismo, ócio,etc.) na geração de renda e ocupação.

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Nesse sentido, vale repisar a grande diferençaentre êxodo agrícola (redução na populaçãoocupada nas atividades agropecuárias) e êxodo rural(saída definitiva do espaço rural de famílias e deindivíduos para os espaços urbanos de médias egrandes cidades em busca de empregos,oportunidades e melhores condições de vida), comosublinham vários estudos (Abramovay, 1992; Saccodos Anjos, 2003). A constatação das diferenças entreambas as noções evidencia uma mudança conceitualrelevante dentro do entendimento dastransformações que incidem sobre a realidadecontemporânea do ponto de vista das escolhas dosindivíduos em termos de renda e ocupação laboral.

É precisamente no âmbito desse terceiro eixotemático que se situa o argumento do presentetrabalho. Mas não se trata aqui de examinar novasevidências do crescimento na importância dasocupações e rendas não-agrícolas ou as nuances doque se veio a chamar de um rural «para além daprodução agropecuária» (Carneiro & Maluf, 2003).A questão que aqui se impõe é saber se, e como, taismudanças vêm sendo assimiladas pela populaçãoem geral. Trata-se de examinar em que medida,houve mudanças efetivas na percepção acerca dasnovas vocações atribuídas aos espaços rurais. O focodo estudo recai, objetivamente, sobre a perspectivade um grupo social específico, qual seja, o dosestudantes de ciências agrárias (Agronomia,Veterinária e Zootecnia) de uma universidadepública brasileira. A intenção foi no sentido deavaliar o grau de discernimento dos futurosprofissionais do agro brasileiro acerca das mutaçõesaludidas anteriormente a partir do ponto de vistada teoria das representações sociais.

Além da introdução, o artigo inclui outrasquatro seções. A primeira delas (epígrafe 2) expõeo problema de pesquisa, enquanto a segunda(epígrafe 3) apresenta e discute o marco teórico emetodológico da investigação. É na terceira seção(epígrafe 4) que os resultados são debatidos e seretomam as indagações que ensejaram a realizaçãodesse estudo. A quarta e última seção (epígrafe 5)reúne as considerações finais, algumas conclusões eas possibilidades de novas pesquisas sobre o assunto.

2. O PROBLEMA DE PESQUISAAté a década de 1940 o Brasil era um paíseminentemente rural. Nada menos que 68,8% dos41,2 milhões de brasileiros viviam no campo. Nasduas décadas seguintes o ritmo do êxodo em direção

às cidades se intensifica, mas ainda assim, 55,3%dos habitantes seguiam vivendo nas áreas rurais.Posteriormente, em 1970 o censo demográfico doIBGE (vários anos) contabilizava 93,1 milhões debrasileiros, momento em que, pela primeira vez nahistória nacional, a parcela de gente vivendo nascidades (55,9%) supera a dos que seguiam morandono campo.

Mas os anos 1970 são igualmente decisivosporque marcam um ponto de inflexão importantena medida em que até essa data tratava-se de umatrajetória de redução percentual ou relativa dapopulação rural em relação à população total.Entrementes, os censos demográficos subsequentesindicam um ininterrupto descenso absoluto nonúmero de moradores rurais, que, nessa data,alcançava 41 milhões de indivíduos. Em 1980, 1991e 1996 esse montante atinge, respectivamente, 38,5;35,8 e 33,9 milhões de habitantes. Não obstante, osdois últimos censos demográficos (2000 e 2010)indicam que se manteve a trajetória de quedaabsoluta na população rural, que passa de 31,8 para29,8 milhões de pessoas.

Parte-se da premissa de que existe amplacontrovérsia em torno aos critérios de definiçãodo que é rural ou urbano. Estudos como os deVeiga (2002; 2004) insistem na tese de que se deveriaabandonar a visão administrativa ou burocráticade rural, adotada pelo IBGE, em favor de variáveisde natureza eminentemente demográfica. Nos paíseseuropeus a delimitação maniqueísta de rural-urbanofoi substituída por uma definição bastante maisampla (regiões essencialmente rurais, relativamenterurais e essencialmente urbanas) que leva em contaa densidade populacional. Regiões rurais seriamaquelas mais rarefeitas em termos populacionais, secomparadas com as metrópoles existentes tanto nospaíses centrais quanto periféricos e nãonecessariamente o espaço onde se pratica aagricultura.

Por outro lado, uma das grandes contribuiçõestrazidas pelo aludido Projeto Rurbano foijustamente mostrar a necessidade de romper comas armadilhas que explicam o rural pelo prismaúnico e exclusivo do agrícola. Fruto desse debateo Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE)introduziu algumas mudanças nos instrumentos decoleta de dados naquela que é a maior fonte deinformação sobre a agricultura e o mundo ruraldo Brasil. Realizado a cada dez anos, o censo

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agropecuário mostrava-se absolutamente refratárioàs transformações mencionadas anteriormente,desconhecendo totalmente o peso das ocupaçõesnão-agrícolas dos habitantes rurais.

A reiterada precariedade dos critérios dedefinição sinaliza para o abandono do pragmatismodicotômico e de definições excessivamentenormativas. Autoras como Wanderley (2001) eCarneiro (1998) adotam o termo ‘ruralidade’,admitindo, de forma peremptória, o caráter difusodessa noção. Nesse sentido, coincidimos comCarneiro (1998, p. 72) quando advoga a necessidadede «considerar a ruralidade não mais como uma realidadeempiricamente observável, mas como uma representaçãosocial, definida culturalmente por atores sociais quedesempenham atividades não homogêneas e que não estãonecessariamente remetidas à produção agrícola» (grifosnossos).

Essa ampliação dos horizontes conceituais foiacolhida, nas duas últimas décadas, de formaentusiástica pelas agências latino-americanas dedesenvolvimento (FAO, IICA, CEPAL). Estasidentificam o potencial dessa ruralidaderessignificada como instrumento de redução dapobreza rural, como via de ocupação para ocontingente de pessoas que a agricultura intensivaexpulsa de forma ininterrupta, bem como para aformação de tecido social em zonas deprimidas dageografia dos países do continente.

Mas como essas visões ampliadas de rural têmsido capturadas por centenas de jovens queanualmente ingressam nos cursos da área de ciênciasagrárias? Estudos realizados no Brasil indicam queo perfil dos estudantes desse campo profissional épredominantemente urbano, tanto no caso deescolas técnicas (Oliveira, 2011) quanto no ensinosuperior (Callou, Pires, Leitão & Tauk Santos, 2008).Destarte, uma parcela cada vez mais reduzida éformada de filhos de produtores ou de pessoasque vivem exclusivamente das atividadesagropecuárias.

Atualmente esse fato denota escasso interesse doponto de vista geral, mais além de mera constataçãode uma mudança própria do processo deurbanização a que anteriormente fizemos menção.Mas vale aqui frisar que, no auge da ditadura militarbrasileira (1968), a condição de ser filho deprodutor rural era um fator decisivo para o ingressonas universidades públicas. Pela primeira vez nahistória desse país se institui uma política de cotascom essas características. Referimo-nos,

concretamente, à Lei nº 5465, também conhecidacomo «Lei do Boi», assinada pelo então presidenteCosta e Silva, a qual

[. ..] fixava em seu artigo 1º que osestabelecimentos de ensino médio agrícola e asescolas superiores de agricultura e veterináriamantidos pela União, reservariampreferencialmente, cada ano, para matrícula naprimeira série, 50% de suas vagas a candidatosagricultores ou filhos destes, proprietários ounão de terras, que residissem com suas famíliasna zona rural. E, mais, nos estabelecimentos deensino médio mantidos pela União, 30% dasvagas restantes seriam reservadas,preferencialmente, para os agricultores ou filhosdestes, proprietários ou não de terras, queresidissem em cidades ou vilas que não possuíamestabelecimentos de ensino médio. Para suaaplicação, bastaria ao candidato apresentar umcertificado fornecido pelo Instituto Nacionalde Colonização e Reforma Agrária (Incra),atestando que residia em área rural. (Assad,2013, p. 7)

Em 1985 a Lei do Boi foi revogada,especialmente em virtude da pressão exercida porestudantes de Agronomia de universidades públicasdo Rio Grande do Sul (Assad, 2013), os quaisquestionavam a legalidade de um instrumentojurídico responsável por favorecer setores da eliterural, bem como por ser uma política que era alvode inúmeras fraudes documentais na comprovaçãoda condição de filho ou filha de produtor rural,dado que muitos dos beneficiários eram residentesem médias e grandes cidades e que pouca ounenhuma relação tinham com a agricultura ou como meio rural.

No atual contexto a falta de vínculos com arealidade do campo tem sido vista como uma dasdificuldades na formação dos profissionais, aliadaà ênfase no padrão tecnicista e de uma concepçãofragmentada do conhecimento (Callou et al., 2008).Outros estudos realizados no país (Naiff, Monteiro& Froehlich, 2012; Godinho & Carvalho, 2010;Pimentel, Pinto, Crusciol, Simon & Carmo, 2008)destacam esse mesmo aspecto. Parece claro que aimportância econômica e política do agribusinessbrasileiro tem sido vista como um poderoso apelopublicitário que atrai muitos jovens em busca dasoportunidades de ascensão social, incluindo aqueles que

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pouca ou nenhuma afinidade possuem com a agriculturaenquanto profissão, modo ou estilo de vida.

O objetivo central da pesquisa foi buscarrespostas às questões propostas a partir da análisedas representações sociais do rural dos estudantesde ciências agrárias de uma universidade públicabrasileira. Os dados que serão apresentados dãomostras das contradições que se ocultam napercepção dos jovens sobre temas e questões queimpactam diretamente na sua formação, nas suasescolhas profissionais e no modo constroem suavisão de mundo.

3. MARCO TEÓRICO E METODOLÓGICODA PESQUISAA obra seminal de Durkheim exerceu forte influêncianas ciências humanas e na consolidação da sociologiacomo disciplina e campo do conhecimento. É nelaque encontraremos as primeiras alusões a respeito daquestão das representações, mais especificamente em«As regras do método sociológico». Todavia,Durkheim (1968) opta pelo termo representaçõescoletivas para designar fatos sociais entendidos como«crenças, ideias, valores, símbolos e perspectivas formadores dosmodos de pensamento e sentimentos que são gerais e permanentesnuma sociedade ou grupo social particular e que sãocompartilhados como sua propriedade coletiva» (Scott, 2006,pp. 175-176).

Nesse contexto, é através do processo desocialização que os indivíduos assimilam umcompromisso moral em relação ao mundo do qualfazem parte, especialmente no âmbito da família e daformação educacional. As instituições sociais sãoforjadas a partir do sistema de representações de umadada coletividade ou grupo social. Mas como advertiuDuveen (2010, p. 15), o sociólogo francês consideravaas representações coletivas como formas estáveis decompreensão coletiva, enquanto autorescontemporâneos, ligados especialmente ao campo dapsicologia social, admitem tratar-se de um fenômenosocial, concentrando a atenção no sentido de explorara variação e a diversidade das ideais coletivas nassociedades modernas.

Esse é o caso de Serge Moscovici. Segundo essepensador romeno, radicado na França, asrepresentações não são obra da criação de indivíduosisolados. Entretanto, faz uma ressalva que se consideraimportante para o objeto do presente estudo:

Uma vez criadas, contudo, elas adquirem umavida própria, circulam, se encontram, se atraem ese repelem e dão oportunidade ao nascimento denovas representações, enquanto velhasrepresentações morrem. Como consequênciadisso, para se compreender e explicar uma

representação, é necessário começar com aquela,ou aquelas, das quais ela nasceu (Moscovici, 2010,p. 41).

Da contribuição de Moscovici importa sublinharo seu entendimento sobre o modo como as pessoascompartilham um conhecimento, constituem umarealidade comum e a forma transversal, através daqual, transformam ideias em práticas. Em termosobjetivos, as representações sociais atendem,precisamente, a duas funções. De um lado, elasconvencionalizam os objetos, pessoas ouacontecimentos. Em segundo lugar, elas «são prescritivas,isto é, elas se impõem sobre nós com uma forçairresistível. Essa força é uma combinação de umaestrutura que está presente antes mesmo que nóscomecemos a pensar e de uma tradição que decreta oque deve ser pensado» (Moscovici, 2010, p. 36; cursivasno original).

Não é por obra do acaso que a teoria dasrepresentações sociais vem sendo deslocada para alémdas fronteiras da psicologia social, como no caso daantropologia, sociologia e de outros campos doconhecimento. Mais especificamente poder-se-iamencionar os estudos que abordam as representaçõessociais do rural, como a instigante pesquisa realizadapor Rye (2006) que analisa as visões do rural quehabitam o imaginário de adolescentes rurais daNoruega. As conclusões a que chega apontam para odomínio de duas imagens do rural aparentementecontraditórias: a ideia do idílio e a do tédio, aindaque guardem, entre si, fortes complementariedades.

Seguindo nessa vertente, ao rural se liga a ideiade um lugar para uma vida boa (Jones, 1995;Halfacree, 1993), assim como ao tédio ou «rural dull»(Haugen & Villa, 2005; Berg & Lysgard, 2004;Laegran, 2002). O rural é visto como sinônimo deambiente natural, pela existência de uma estruturasocial peculiar, onde todos geralmente se conhecem,mas também de um lugar monótono onde as pessoastrabalham muito e ganham pouco (o que vulgarmentedenominam rednecks ou pescoços vermelhos).

No Brasil não são poucos os estudos que abordamo rural sob o prisma das representações sociais(Carneiro & Teixeira, 2012; Sacco dos Anjos &Caldas, 2014), havendo inclusive os que analisam aquestão do ponto de vista da percepção dos estudantesligados ao campo das ciências agrárias (Oliveira, 2011;

4 A Universidade Federal de Pelotas possui uma das maistradicionais escolas agrárias do Brasil, qual seja, aFaculdade de Agronomia Eliseu Maciel, a qual foifundada, em 1883, ainda em tempos do período imperial(monarquia) do país, o que significa 135 anos deatividade intensa e ininterrupta desde a sua criação.

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foi montado um banco de dados (IBM SPSS5) parapropiciar os cruzamentos relativos ao escopo dainvestigação. Ao longo do período se acumulouum volume considerável de registros, assim comode inquietações que estiveram na origem de umareflexão que se conecta com diversos temas daatualidade, tanto os que afetam ao âmbito estritoda universidade, no sentido de preparar indivíduossintonizados com as mudanças de nosso tempo,quanto os relacionados às dinâmicascontemporâneas da agricultura e dos espaços rurais.

Os egressos das universidades são portadoresde visões de ruralidade que necessariamente fogema um padrão ou um esquema pré-concebido.Diversos são os elementos que interferem no modocomo veem a si próprios dentro da sociedade, dasfaces e interfaces do rural e da área precisa em queirão atuar (pesquisa, ensino, assistência técnica,extensão rural, etc.). Trata-se de exercer umaprofissão cujas conexões são amplas com diversossetores e esferas da vida social (produção,transformação, beneficiamento, transporte deprodutos agropecuário, cuidado e tratamento deanimais, apenas por citar alguns exemplos).

Cabe acrescentar que as duas últimas ediçõesdo projeto coincidiram com uma robustacampanha publicitária, realizada por setores ligadosao agronegócio nacional e veiculada na grandemídia televisiva. Com o incisivo slogan «O agro étudo, o agro é tech, o agro é pop», os grandes complexosagroindustriais do Brasil exaltam a contribuiçãodo setor agropecuário à formação da riquezanacional6. Nesse sentido, ao longo da pesquisa haviasempre a expectativa de que esse aspecto midiáticopudesse influenciar o pensamento dos alunos, nosentido de fazer com que as inovações técnicas e ossinais visíveis de pujança que a campanha buscouressaltar, pudessem influenciar, em maior ou menormedida, a ideia de ruralidade que habita oimaginário dos discentes. Como oportunamenteserá mostrado, tal influência não pode sercomprovada. Em verdade, a aproximação aquirealizada identificou outros aspectos que reclamamnossa atenção. Cabe agora apresentar e debater osdados e informações reunidas ao longo do períodode realização desse estudo.

5 Lançado em 1968, o IBM SPSS (Statistical Package forthe Social Sciences) é um dos programas mais utilizadosem estudos no âmbito das ciências sociais e humanas,bem como em outros campos do conhecimento.

6 Ironicamente, boa parte das grandes empresaspatrocinadoras da campanha estiveram no centro do maisrecente escândalo nacional deflagrado na operação «CarneFraca», levada a efeito pela Polícia Federal, e que apuroucasos de corrupção na atuação de fiscais do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento na liberação deprodutos derivados de carne destinados ao mercadointerno e externo.

Paula & Doula, 2016) ou mesmo de alunos quefrequentam escolas rurais (Sacco dos Anjos & Caldas,2015). A presente pesquisa se insere no centro dessadiscussão, valendo-se de dados e informações queforam levantados de acordo com procedimentos quea seguir serão expostos.

3.1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOSDesde 2013 se leva a cabo um projeto de ensinojunto a estudantes de ciências agrárias deuniversidade pública brasileira4, cuja ênfase recaino esforço de trazer à tona as percepções dosdiscentes sobre o modocomo hoje se apresenta omundo rural. As atividades se desenvolveram emtrês momentos. No primeiro deles, os alunos deAgronomia, Veterinária e Zootecnia elaboraram,através do recurso fotográfico, e, segundo suasrespectivas preferências, uma imagem de rural queconsiderassem mais representativa, refletindo a suaacepção desta noção ou conceito. Paralelamentedeveriam redigir, por escrito, uma narrativa daprópria foto, explicando as razões ou justificativaspara a imagem ou cenário escolhido. Posteriormentehouve a realização de uma aula especial em que asimagens digitalizadas das fotos foram apresentadase comentadas verbalmente por cada um dos alunos.No final do semestre houve uma exposição, nosaguão da universidade, do registro fotográfico detodos os alunos participantes. O objetivo principalfoi divulgar a iniciativa, valorizando o esforçoenvidado pelos discentes, bem como as diferentesvisões em relação ao mundo rural.

O segundo momento da pesquisa envolveu umadinâmica em que os alunos indicaram uma palavraou expressão que considerassem mais representativado que vem a ser o rural. Encontramo-nos diantede um conceito que se mostra umbilicalmenteatrelado a um espaço geográfico e social singular,mas também ao campo de atuação futura daquelesque estão às vésperas de deixarem a universidadepara, assim, encarar os desafios da vida profissional.Nesse mesmo encontro os discentes preencheramum questionário com perguntas fechadas e abertascujo objetivo central era obter informações sobreos vínculos objetivos e subjetivos com o rural, mastambém com as atividades agropecuárias stricto sensu.

Essa aproximação se ampliou com os dadosrelativos ao município e o estado de origem dodiscente, além da localização do domicílio (ruralou urbano) e a profissão dos pais. Após essa etapa

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sobre o mundo rural entre estudantes de ciências agrárias do sul do Brasil (35-50)

Quadro 1. Distribuição do conjunto deestudantes investigados segundo intervalos deidade

Fonte: pesquisa de campo (2016)

Quadro 2. Distribuição dos discentesentrevistados segundo a unidade federativa denascimento

Fonte: pesquisa de campo (2016)

O conjunto de alunos se acha rigorosamentedividido entre os gêneros feminino (50%) emasculino (50%). Mas quando se analisa os cursosseparadamente (Quadro Nª 3) há diferenças dignasde nota. O curso de Zootecnia é o que apresenta amaior proporção de mulheres (68,4%), seguidode perto pela Veterinária (65,2%). Já na Agronomiaa participação de mulheres é consideravelmentemais baixa (27,7%). A presença feminina em espaçosaté bem pouco tempo dominados pelos homensreveste importância, tratando-se de fenômeno quedesvela uma revolução silenciosa operada no paíse no mundo, de uma forma geral, nas quatroúltimas décadas.

Quadro 3. Distribuição dos estudantesentrevistados segundo gênero e respectivo cursofrequentado

Fonte: pesquisa de campo (2016)

Nesse sentido, estudo realizado por Guedesmostra que em 1970 as mulheres representavam,respectivamente, apenas 3% e 4% dos agrônomos eveterinários formados no país. Mas nos anos 2000essa participação sobe para 12% no caso daAgronomia e a 30% no caso da Veterinária (Guedes,2008, p. 126). Mas, segundo a mesma fonte, quandose analisa esse dado com a questão da idade, oprotagonismo feminino se amplia sensivelmente.Assim, na faixa etária dos 20 a 29 anos as agrônomase veterinárias somam 23% e 50%, muito acima doque se constata em termos gerais.

Os dados aqui reunidos só fazem confirmarque essa tendência não somente se manteve, masinclusive se fortalece na última década. No caso daVeterinária há que sopesar o fato de que muitosdos jovens optam por esse curso para dedicarem-seaos cuidados de pequenos animais e, nãonecessariamente, às atividades agropecuáriaspropriamente ditas. Esse espaço vem sendo ocupadopelo curso de Zootecnia, onde, como ficoudemonstrado, as moças ampliam sua presença. Estasjovens encaram um mundo onde o machismo nãopode ser visto como algo insignificante na dinâmicade pequenas, médias e grandes fazendas de produçãoanimal, bem como nas empresas ligadas ao setoragropecuário.

Esta tendência, ao que tudo indica, se assemelhacom a realidade de outros países latino-americanos.No caso do México, estudo realizado por RazoGodínez (2008), fazendo uso de dados de fontesoficiais daquele país (os Anuarios Estadísticos deEducación Superior), analisou a participação femininaem diversos âmbitos de formação profissional,levando em conta as matrículas universitárias porárea de conhecimento. Decididamente o âmbitodas ciências agropecuárias, no México, ainda é umespaço predominantemente masculino, sendo a área

Unidade Federativa Frequência PercentualRio Grande do Sul 101 90,2São Paulo 6 5,4Santa Catarina 4 3,6Piauí 1 0,8Total 112 100,0

4. O CONTEXTO EMPÍRICO E OSRESULTADOS DA PESQUISAA pesquisa foi realizada com base nas informaçõeslevantadas com a totalidade dos alunos regularmentematriculados, no ano 2016, nos cursos deAgronomia (47), Veterinária (46) e Zootecnia (19),enquanto participantes de uma disciplinaobrigatória (Extensão Rural) ministrada sempre nosúltimos semestres dos três cursos mencionados.

Os dados indicam (Quadro Nª 1) que 74,1%dos estudantes têm idade inferior a 25 anos e queapenas 6,3% deles superam os trinta anos de idade,mostrando um perfil bastante jovem. Já os dadosdo Quadro Nª 2 indicam que uma proporçãobastante alta dos discentes nasceu no Rio Grande doSul, estado situado no extremo meridional do Brasil.

Faixa etária (anos) Frequência %Até 22 37 3323 a 25 46 41,126 a 30 21 18,831 e acima 7 6,3Sem informação 1 0,9Total 112 100

Masculino Feminino

Agronomia 72,3 27,7

Veterinária 34,8 65,2

Zootecnia 31,6 68,4

Proporção de gênero (%)Curso

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com a mais baixa presença de mulheres. Ainda assim,segundo a mesma fonte (Razo Godínez, 2008, p.69), houve um incremento substancial,acompanhando a trajetória constatada no caso doBrasil. Com efeito, se em 1980 a proporção dematrículas de mulheres mexicanas nas ciênciasagropecuárias era de apenas 8,4%, essa percentagemcresce ininterruptamente nos anos subsequentes, aexemplo de 1986 (13,5%), 1990 (14,5%), 1995(23,7%), 2000 (25,7%) e 2004 (30,5%)7.

Esse processo se deu de forma similar ao ocorridoem outras nações latino-americanas, como é o casoda Venezuela e da Colômbia, como assim odemonstra estudo realizado por Pacheco Troconis(2015). Em ambos os países, segundo suas própriaspalavras,

El ingreso a los estudios universitarios agrícolasfue lento por ser carreras muy masculinizadas,que en el ideario de la sociedad no secorrespondían con la considerada naturaleza dela mujer «delicada y maternal», hecha para tareaspoco exigentes en esfuerzos […]. En Venezuelalas políticas de modernización de la agriculturavalorizaron la carrera y abrieron oportunidadesa las mujeres. En Colombia las demandas deorganismos como el ICA8 y las sociedades deagricultores estimularon su estudio. (PachecoTroconis, 2015, p. 76; aspas no original)

Vejamos agora outros elementos que nosinteressam sublinhar para delimitar o campo deobservação dessa investigação. Nesse contexto, apesquisa em tela mostrou que apenas 35% dosentrevistados se declaram como sendo de origem rural.Esse dado é consoante com a informação relativa àresidência dos progenitores (Quadro Nª 4),mostrando que o domicílio rural foi indicado para36% no caso do pai e de 25,9% no caso da mãe.

7 Ainda tomando como base o caso mexicano, o estudode Bustos Romero (2004) indica que áreas consideradascomo tradicionais espaços femininos ou próprias dasmulheres correspondem à pedagogia, psicologia etrabalho social.8 O autor se refere ao Instituto Colombiano Agropecuário.

Partiu-se do pressuposto de que asrepresentações sociais dos jovens acerca do ruralsão influenciadas por diversos fatores. Isso fez comque se buscasse explorar outros elementos quepudessem influenciar as escolhas, como no caso daprofissão ou ocupação exercida pelos pais. No casodo progenitor foram contabilizadas nada menosque 42 profissões ou ofícios diferentes, ainda que amais expressiva delas corresponda a de ‘produtorrural’ (25,9%). No caso das mães a diversidade deprofissões elencadas é menor (33 tipos de ofícios),com destaque para a condição de dona de casa(22,3%), professora (14,3%) e apenas 9,8% como‘produtora rural’.

Um dos tópicos que despertava interesse erajustamente aprofundar essa ligação do estudantadocom o rural. Quando perguntados se possuíamalgum vínculo com o rural, 75% responderamafirmativamente e 25% negativamente. Do grupoque revelou a ausência de vínculos com o rural,75% pertencem ao curso de veterinária, situaçãoque decorre do fato de ser este o subgrupoconstituído por aqueles que futuramente irão sededicar ao cuidado de pequenos animais.Sabidamente trata-se aqui de um ramo da economiaque cresce a olhos vistos na profusão de pet shopsque colorem a paisagem urbana atual de médios egrandes municípios brasileiros e do mundo emgeral.

Não obstante, essa suposta ligação foi tomadana pesquisa como um ponto de partida no sentidode explorar os meandros da questão. Com efeito,ao se examinar a narrativa construída pelosentrevistados, percebem-se laços objetivos com orural, como no caso de pais que são produtores,assentados da reforma agrária, técnicos agrícolas,trabalhadores do campo. Não obstante, constamtambém vínculos que são muito frágeis e claramentesubjetivos. Alguns depoimentos ilustram situaçõesque remetem à infância dos alunos ou à origemdos pais e avós:

Durante a infância eu passava os dias nacampanha.Fui criada no campo de meus avós, em Herval.Além disso, atualmente, convivo com meunamorado na cabanha da família dele.Meu pai e seus irmãos sempre trabalharamproduzindo arroz irrigado em Santa Vitória. Tivecontato, porém, de longe, por exemplo, nasférias e finais de semana.

Quadro 4. Situação de domicílio ou residênciado pai e da mãe dos estudantes entrevistados

Fonte: pesquisa de campo (2016)

Residência rural (%)

Pai do estudante 36,0Mãe do estudante 25,9

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sobre o mundo rural entre estudantes de ciências agrárias do sul do Brasil (35-50)

Meus avós maternos nasceram e se criaramem fazendas no interior de São Paulo, assimcomo meu avô paterno.

Muitos dos que informaram tal ligação com orural são filhos de profissionais liberais (advogados,dentistas, médicos, etc.) residentes na cidade, os quaispossuem estabelecimentos rurais exploradosmediante contratos de arrendamento firmados comterceiros. Essa vinculação dá-se, portanto, de formabastante indireta ou difusa. Em outros casos, a ligaçãocom o rural dá-se em virtude das novas vocações a eleatribuídas, segundo o que vimos anteriormente:

Possuímos uma casa de campo na Cascata[distrito rural], mas apenas para lazer. Orendimento do lar não advém da propriedade.

As respostas dos estudantes demandam a análisedessa vinculação como o rural fazendo uso deoutros pontos de vista, como no caso da condiçãode residência e profissão dos pais, se a família éproprietária de estabelecimento rural e se viveintegral ou parcialmente da renda auferida atravésdo exercício de atividades agropecuárias. Nesse caso,a ênfase se orienta para aquela que é considerada comoa vocação precípua (produção animal e vegetal), mas,obviamente, não exclusiva, dos espaços rurais.

Com base nestes critérios, a vinculação com orural foi mensurada segundo quatro níveis ouescalas (forte, médio, fraca e nenhum vínculo). Noprimeiro caso, trata-se de jovens cujos pais vivemda agricultura ou são agricultores e/ou criadores,os quais residem no meio rural ou no próprioestabelecimento. Já no caso do nível médio taiscritérios são atendidos apenas parcialmente,enquanto no nível fraco esse atendimento é mínimo.No último nível (nenhum vínculo) os alunosafirmaram categoricamente não possuir qualquertipo de vínculo ou ligação com o meio rural.

Os dados do Quadro Nª 5 mostram que apesarde aproximadamente 75% dos estudantes haveremindicado algum tipo de vinculação com o rural,na verdade, em apenas 29,5% dos casos, estamosdiante de uma ligação efetiva ou forte. A ligação éfraca e inexistente para respectivamente 32,1% e26,8% dos alunos de ciências agrárias em geral. Onível de vinculação forte para estudantes do cursode Agronomia alcança 53,2% do universo, enquantopara o caso da Zootecnia e Veterinária atinge,respectivamente, 26,3% e 6,5%.

Em outras palavras, quando se analisa a questãodesde um ponto de vista mais amplo, percebe-seque, não raras vezes, a conexão com o rural percorre ocaminho das reminiscências de jovens que remontamao tempo de convivência (infância) com avós efamiliares. O rural se expressa, nesses depoimentos,como um lugar ‘essencialmente divinizado’. Apesardas inovações que chegam ao campo, a vida rural émarcada pelo ritmo das estações e onde as relaçõesentre as pessoas (sobretudo com os vizinhos)funcionam com base na confiança e na reciprocidade.Essa faceta parece reproduzir as conclusões do estudonorueguês citado anteriormente. Entrementes, faz-se aqui uma pequena digressão que nos parecerelevante trazer à tona nesse momento em que seprocede à discussão dos dados.

Quando as pessoas do Rio Grande do Sulreiteram que «vivem na campanha», não somenteinformam que residem no campo, mas também quecompartilham do que se conhece como a ‘culturacampeira’, estreitamente ligada à produção animal(bovinos, equinos, ovinos, bubalinos), a qual érealizada de forma extensiva em estabelecimentosrurais conhecidos como estâncias (fazendas). É láque muitos jovens apreendem a cavalgar, encilhar

Quadro 5. Distribuição dos estudantesentrevistados segundo o nível de vinculaçãocom o rural

Fonte: pesquisa de campo (2016)

9 O chimarrão ou mate é um dos grandes marcadores dacultura do gaúcho sul-americano da Argentina, Uruguai,Brasil e Paraguai. Trata-se de bebida quente sorvida atravésde um artefato cilíndrico (bombilla) inserido dentro deum recipiente (cuia ou calabaza). A planta de erva-mate(Ilex paraguayensis) é uma árvore de porte médio de onde seextraem folhas e ramos, os quais, depois de queima emoagem, geram um produto que representa um legadodas culturas indígenas caingangue, guarani, aimará equíchua que habitavam essa parte do continente. Fazer oprimeiro mate é um rito de iniciação à cultura gaúcha oucampeira, momento em que o menino ou menina, docampo e da cidade, começa a assimilar tal condição ouforma de auto-identificar-se.

Nível de vinculação Percentual (%)Forte 29,5Médio 11,6Fraco 32,1Nenhum 26,8Total 100,0

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o cavalo ou mesmo a fazer o primeiro chimarrão9.Muitas das vezes essa iniciação à cultura campeirase dá na companhia de familiares (avô, pai, tio,etc.) e no interior do galpão, local onde osapetrechos dos equinos ficam guardados, incluindofreios, boçais, selas e montarias.

Já no caso dos alunos vinculados à chamada«colônia velha» ou à «Serra Gaúcha, os marcadoresdessa ‘identidade rural’ remetem ao modo de vidacolonial (Schneider, 1995), fruto da herança daimigração não-ibérica (germânica, italiana, austríaca,polonesa) das comunidades rurais do Sul do Brasil.Nesse caso, tem-se um universo cultural e um estilode vida ligado à pequena propriedade rural. Aindaassim, o rural idealizado expõe as reminiscênciasda vida nas colônias do sul do Brasil. Essa digressãocumpre a tentativa de situar o que aludimos como‘divinização do rural’ diante da importância que,como a seguir se analisa, emergiu com força nasrepresentações sociais dos alunos que foramentrevistados.A primeira delas é o que se podedenominar como o «rural agropecuário», refletindoescolhas que remetem ao âmbito da produção e dotrabalho agrícola. A segunda concepção remete aoque se considera como o «rural idílico». Nesse caso,

Figura 1. Nuvem de palavras a partir de indicação livre (escolha) dos estudantes sobre o queentendem por ruralFonte: pesquisa de campo (2016)

têm-se as associações feitas ao rural como lugar damemória, em boa medida ligado a uma conexãode caráter sentimental ou afetivo com esse espaço.A terceira concepção compreende o rural «ecológicoou ambiental», pressupondo uma concepção maisligada ao lugar da natureza e da biodiversidade,das plantas e dos animais silvestres.

Os dados do Quadro Nº 6 mostram adistribuição das respostas segundo as três categoriasaqui elencadas. Como é possível perceber, o ruralagropecuário (44,6%) prepondera sobre o ruralidílico (38,4%) e sobre o rural ecológico ouambiental (17,0%).

4.1. AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DORURAL DE ESTUDANTES DE CIÊNCIASAGRÁRIASNa realização da pesquisa buscou-se examinar aconcepção de rural dos discentes a partir demúltiplos pontos de vista e de instrumentos deinformação. Além dos questionários aplicados, dasfotografias que cada um deles realizou sobre aimagem, cena ou objeto que lhe parecia maisrepresentativo, do exame da defesa ou argumentaçãodessa escolha e das narrativas construídas a partir

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sobre o mundo rural entre estudantes de ciências agrárias do sul do Brasil (35-50)

Quadro 6. Distribuição das palavras quedefinem o rural segundo categorias ou famílias

das questões propostas, estabeleceu-se, também umoutro ponto de observação e de análise da questão.

Assim, na sessão em que as fotos foramapresentadas e onde se deu a exposição das razõesque guiaram a escolha da imagem representativa,pediu-se aos estudantes que elegessem uma palavraou expressão que, no seu entendimento, pudessesintetizar a respectiva ideia de rural. Na realizaçãodessa dinâmica insistiu-se no fato de que não setratava de saber o que era certo ou errado. Elegerlivremente a palavra era parte de um exercício queexpunha um sistema de preferências, uma opiniãopessoal e a influência da trajetória pessoal de cadaum dos participantes.

A nuvem de palavras (Figura Nª 1) mostra arecorrência das escolhas dos alunos, os quaisindicaram 52 palavras distintas para expressar suaideia de rural. De longe sobressai o rural ligado àideia de campo, de trabalho, de produção,diversidade, de vida, natureza e ocupação, mastambém de um espaço de tranquilidade, pureza esimplicidade. Mas quando se examina,minuciosamente, os dados reunidos nessa etapa dapesquisa, constatou-se a existência de três famíliasde palavras ou de categorias de rural.

A primeira delas é o que se pode denominarcomo o «rural agropecuário», refletindo escolhasque remetem ao âmbito da produção e do trabalhoagrícola. A segunda concepção remete ao que seconsidera como o «rural idílico». Nesse caso, têm-se as associações feitas ao rural como lugar damemória, em boa medida ligado a uma conexãode caráter sentimental ou afetivo com esse espaço.A terceira concepção compreende o rural«ecológico ou ambiental», pressupondo umaconcepção mais ligada ao lugar da natureza e dabiodiversidade, das plantas e dos animais silvestres.

Os dados do Quadro Nª 6 mostram adistribuição das respostas segundo as três categoriasaqui elencadas. Como é possível perceber, o ruralagropecuário (44,6%) prepondera sobre o rural

Fonte: pesquisa de campo (2016)

idílico (38,4%) e sobre o rural ecológico ouambiental (17,0%).Todavia, os dados do QuadroNª 7 parecem supor que a concepção de ruralagropecuário prepondera entre os rapazes (48,2%)em relação às moças (41,1%).Não obstante, a acepçãodo rural idílico supera no caso das moças (46,4%)em relação aos rapazes (30,4%). Todavia, não háelementos que permitam extrair conclusões efetivasem relação a esse aspecto.

Os dados também não mostram qualquertendência na distribuição das respostas segundo ocurso ao qual a aluna ou aluno está vinculado. O ruralagropecuário se expressa na ideia de lócus onde sedesenvolve o mundo da produção, das relações detrabalho e de geração de riqueza, tal como sintetizamdois depoimentos de nossos entrevistados aoexplicitar tal ligação:

Meus pais são oriundos do meio rural, trabalhamem uma propriedade no interior do município,no 2º distrito.Minha família possui uma propriedade, na qualnós produzimos soja, arroz e pecuáriaResido no meio rural e minha família sesustenta da renda da comercialização da soja earroz produzidos.

Segundo se apresentou anteriormente, o númerode estudantes filhos de agricultores ou criadoresreduziu-se, consideravelmente, nas quatro últimasdécadas. Ainda assim, é sobretudo dentro dessesubgrupo que se impõe a ideia de rural como

Quadro 7. Distribuição das palavras definidoras do rural segundo categorias e gênero dosrespondentes

Fonte: pesquisa de campo (2016)

Categoria de Rural Frequência Percentual

Agropecuário 50 44,6Idílico 43 38,4

Ecológico-Ambiental 19 17,0Total 112 100,0

Gênero

Agropecuário Ecológico Idílico

Masculino 48,2 21,4 30,4 100,0Feminino 41,1 12,5 46,4 100,0

Categoria de ruralTotal

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sinônimo de trabalho e produção. Nesse sentido,nem mesmo a mudança de domicílio para umacidade universitária fez com que se rompessem,nesses casos, os laços objetivos e subjetivos com oestabelecimento rural familiar:

Por meus pais serem da zona rural, aos finais desemana desempenho ajuda, assim que possível,sem atrapalhar os meus estudos. Ajudo nacriação de gado leiteiro, gado de corte, nasculturas anuais, no manejo e criação de nãoruminantes.

O rural idílico pode assumir as mais diversasconotações, desde os elos mais amplos com umaorigem ou história familiar, como assim foimostrado na digressão realizada na seção anteriordesse artigo, até aquelas menções que exaltam a ideiade um ‘lugar de refúgio’ que supostamente está asalvo da violência e dos atropelos da vida urbana.O depoimento a seguir reforça essa faceta, o qualexprime uma visão claramente romantizada dorural:

Sempre morei na zona rural. Vim para cidadepara estudar. Hoje o rural é um refúgio, umlugar que passa tranquilidade.

Apesar de minoritária, a acepção ecológica ouambiental denota a percepção sobre a existência deoutras funções atribuídas hodiernamente ao rural,inclusive aquelas mais ligadas à fruição ou ao deleiteda paisagem natural. Nas falas desse grupo deentrevistados a questão da preservação e dosimperativos da sustentabilidade não goza daimportância esperada, fato que demanda estudosulteriores. Possivelmente, se tal aproximaçãoenvolvesse campos do conhecimento como aecologia, ciência ambiental e outras áreas pautadaspela dinâmica dos agroecossistemas, talrepresentação do rural ganharia um maior pesoespecífico. Todavia, esse não foi o foco de umainvestigação que, como até aqui sublinhamos, tevecomo foco e objeto de estudo as representaçõessociais de estudantes do âmbito das ciências agrárias.

5. CONSIDERAÇÕES FINAISNão é de hoje que a previsão do futuro entroupara o domínio da produção do conhecimento.Muitos são os que se dedicam a vaticinar sobre ofuturo do planeta a partir de indícios que, muitas

das vezes, são bastante controvertidos.Decididamente, o fim da ruralidade sempre esteveno rol das previsões catastrofistas lançadas, desdehá muito, no Brasil.

Exemplo disso pode ser visto no artigopublicado por Alves, Lopes & Contini (1999, p.7), quando estes reiteram enfaticamente: «O Brasiltem, assim, os índices de urbanização dos países avançados eaté os supera». Além de anunciar essa suposta tragédia,tais autores arriscam até mesmo um palpite sobrequando isso ocorreria: «Em 2015, até as Regiões Nortee Nordeste atingirão as marcas dos países avançados» (ídem,p. 7). As causas para tanto, no entender destesautores, parecem bastante evidentes, com efeito, a«baixa remuneração da agricultura, combinada com a atraçãodas cidades, está levando a um esvaziamento dos campos.Prevalecendo a atual situação, estamos no caminho de umaagricultura que abrigará apenas 600 mil estabelecimentosdos atuais 4,9 milhões» (ídem, p. 19).

As precariedades do Brasil rural são sobejamenteconhecidas, tratando-se de tema que fogecompletamente ao objeto do presente artigo. Oque aqui importa exaltar é que mesmo estudiososda realidade agrária e rural deste país dão mostrasde desconhecer as abissais diferenças entre oconceito de população agrícola (contingente depessoas que vivem da agricultura) e população rural(pessoas que têm domicílio rural).

Na parte inicial desse artigo a atenção esteveposta no sentido de analisar como a ideia de ruralsofre um processo de ressignificação ao longo dasduas últimas décadas. Nesse sentido, ao realizar essapesquisa, buscou-se analisar se, e em que medida,essas novas aberturas conceituais são captadas porum conjunto importante da população, qual seja,o dos futuros profissionais das ciências agrárias.Ainda que crescentemente venham da cidade e sejamcada vez menos ligados às questões do campo, nãose pode minimizar que suas atividadesprofissionais, no futuro próximo, guardamaderência, direta ou indiretamente com a realidadeagrária e rural do país.

Para muitos rapazes e moças a construção deelos de pertencimento passa por incorporar umestilo de vida marcado por ambiguidades, como ade valorizar a tradição da vida rural, mas tambémde enaltecer a importância das inovaçõestecnológicas para o presente e o futuro doagronegócio nacional. Com efeito, o estudo dasrepresentações sociais dos estudantes identificou três

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grandes famílias de concepções do rural. A primeira,e mais expressiva delas, é a do rural agropecuário,seguida do rural idílico e, em terceiro lugar, dorural ecológico ou ambiental. É mister frisar quetais concepções não podem ser vistas comonecessariamente excludentes entre si, mas comoparte da realidade que buscamos explorar.

Não foi identificado nenhum indício deinfluência, ou forma de associação, entre aorigem familiar ou mesmo da profissão exercidapelos pais com o conceito de rural escolhido.Mesmo entre os que decididamente reiteram umaforte vinculação com o rural agropecuário(29,5% do total), as opiniões se dividem entreaqueles que atribuem maior importância ao ruralcomo espaço de produção e lugar de memória,de refúgio e fruição, e aqueles que dele tiveramde se afastar, temporária ou definitivamente, apóso ingresso na universidade. A acepção ecológicaou ambiental, apesar de minoritária, já se faznotar no imaginário de uma certa parcela doestudantado.

A realidade social é dinâmica e demandanovas pesquisas, especialmente quando se temem mente a necessidade de uma formação queresponda às mudanças que atravessam associedades contemporâneas e os imperativos dasustentabilidade em suas múltiplas dimensões.E se nesse artigo ajudamos a fomentar e qualificaresse debate, damos por satisfeitos os objetivosque pautaram a sua elaboração.

6. AGRADECIMENTOSOs autores agradecem ao Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico(CNPq) do Brasil pela concessão de bolsa deprodutividade em pesquisa concedida ao segundoautor do trabalho (processo nº 303465/2015-8),assim como à Coordenação de Aperfeiçoamentode Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelaconcessão de bolsa pelo Programa Nacional dePós-doutoramento (PNPD), Edital 086/2013, aoterceiro autor; apoios estes que foram cruciaispara a realização deste trabalho.

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