Garimpo das Artes Artesanais do RS

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Garimpo das Artes Artesanais do RS: Saberes e Fazeres é o início de uma jornada pelo artesanato tradicional e de referência cultural rio-grandense. É um projeto que vai desde a pesquisa de mapeamento – destacando os artesãos, as técnicas e as matérias-primas dos locais visitados – até uma reflexão sobre o artesanato gaúcho.

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“Feito com as mãos, o objeto artesanal con-serva, real ou metaforicamente, as impressões digitais de quem o fez. Essas impressões são a assinatura do artista, não um nome; nem uma marca. São antes um sinal: a cicatriz quase apagada que comemora a fraternidade origi-nal dos homens” (Paz, 1991, p. 51)

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Letícia de Cássia Costa de Oliveira

Porto Alegre, 2015.

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Créditos do Projeto Garimpo das Artes Artesanais do RS: Saberes e Fazeres

Letícia de Cássiaprodutora executiva, pesquisadora, capacitadora

Marly Cuestacoordenadora de produção e capacitadora

Emater/RS – Ascarapoio e logística

Airton Jordanidesigner gráfico e identidade visual

Poá Comunicaçãoassessoria de imprensa

Milton de Contocontabilidade

Créditos do Livro Garimpo das Artes Artesanais do RS: Saberes e Fazeres

Letícia de Cássia Pesquisa, entrevistas, textos e imagens

Camila Garcia KielingEdição, revisão de conteúdo e projeto gráfico

Este trabalho está publicado sob a licençaCreative Commons Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional (CC BY-SA 4.0)

RealizaçãoPangea Cultural e Bússola Cultural

ParceriaEmater/RS – Ascar

FinanciamentoPró-Cultura RS – Governo do Estado do Rio Grande do Sul

Garimpo das Artes Artesanais do RS: Saberes e Fazeres é um projeto contemplado no Edital SEDAC 11/2013 - Desenvolvimento da Economia da Cultura - Sociedade Civil, financiado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Rio Grande do Sul, em parceria com a Emater/RS – Ascar.

O48g Oliveira, Letícia de Cássia Costa deGarimpo Artes Artesanais RS: saberes & fazeres [recurso

eletrônico] / Letícia de Cássia Costa de Oliveira. – Porto Alegre: [s. ed.], 2015.

Modo de acesso: <http://www.garimpodasartes.art.br/publicacao-digital/>

1. Artesanato – Rio Grande do Sul. 2. Artesanato rural. 3. Cultura popular. 4. Mulher rural – Rio Grande do Sul. I. Título. II. Projeto Garimpo das Artes Artesanais do RS: saberes e fazeres.

CDU 331.102.342(816.5)689(816.5)

Catalogação na fonte: Paula Pêgas de Lima CRB 10/1229

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Agradecimentos

A todos os artesãos que abriram suas casas e corações para esse projeto. Foi muito gratificante poder conhecer pessoas que falam com muito carinho sobre seu ofício e buscam na identidade de artesão a força de suas vidas.

Aos colegas técnicos extensionistas rurais da Emater/RS – Ascar que dedicaram sua atenção e tempo para o projeto e especialmente aos que primeiramente acreditaram na realização do empreendimento: o Diretor Técnico, Lino Moura, e a Coordenadora das áreas de Artesanato e Idosos, Ivanir Argenta.

Aos colegas Luís Paulo Vieira Ramos, Warna Frühaufe Cesar Luis da Silva Marques.

À Prefeitura Municipal de Giruá.

À Ouro e Prata pelo apoio.

Ao Memorial do Rio Grande do Sul pelo apoio.

Às nossas famílias.

À Secretaria de Estado da Cultura do Rio Grande do Sul que financiou o projeto pelo Fundo de Apoio à Cultura do Rio Grande do Sul.

Page 6: Garimpo das Artes Artesanais do RS

O artesanato é predominantemente desen-

volvido no meio rural, principalmente em

função do cultivo da matéria-prima e da

preservação das técnicas do saber e do fazer

tradicional cultural. A Emater/RS – Ascar, há

mais de 60 anos, é executora das políticas

públicas promotoras de assistência técnica

em extensão rural social em 494 dos 497 mu-

nicípios gaúchos. O artesanato rural é uma

das áreas técnicas da Instituição que recebe

especial atenção, por se tratar de uma das

frentes para o desenvolvimento sustentável

junto ao diversificado público do meio rural,

destacando-se a atuação das mulheres.

O foco é na mulher rural e no seu protago-

nismo, porque ela pode atuar como agen-

te que transforma resultados em ações que

promovem a autonomia financeira, a gera-

ção de renda, novas divisões do trabalho fa-

miliar e oportunidades de a família trabalhar

a sucessão no meio rural.

Artesanato, cidadania e

autonomia no meio rural

Page 7: Garimpo das Artes Artesanais do RS

Exercendo sua cidadania como uma lide-

rança familiar, a mulher resgata e valoriza a

cultura local intimamente conectada à pro-

dução do artesanato tradicional e rural, por

ser uma das detentoras da memória viva dos

costumes locais e uma das mantenedoras

desses saberes e fazeres. O artesanato acaba

sendo um dos produtos desse protagonis-

mo feminino, com valor simbólico que pro-

move a identidade cultural local.

Neste trabalho a Emater/RS-Ascar se alia ao

projeto GARIMPO DAS ARTES ARTESANAIS

DO RS: SABERES E FAZERES como parceira

para fortalecer a base de desenvolvimento

de arranjos produtivos locais de artesanato,

por meio do resgate dos saberes e fazeres

dos grupos assistidos pela extensão rural no

Rio Grande do Sul.

O projeto contemplou, nesta primeira edição,

as regiões administrativas de Bagé, Pelotas,

Caxias do Sul, Santa Rosa, Soledade e Porto

Alegre. Para as atividades de pesquisa e capa-

citação do projeto, a Emater/RS–Ascar subsi-

diou informações sobre o artesanato tradicio-

nal e rural, fornecidas com o apoio da equipe

técnica extensionista e da logística dos escri-

tórios regionais e municipais da Instituição.

Ao integrar-se a esse projeto, a Emater/RS–

Ascar reforça sua missão de promover o

desenvolvimento rural sustentável através

da assistência técnica e extensionista nas

comunidades rurais do Rio Grande do Sul

para o fortalecimento da agricultura familiar,

promovendo também o pleno exercício da

cidadania e a melhoria da qualidade de vida

da população gaúcha.

Page 8: Garimpo das Artes Artesanais do RS

Sumário

Parte 1 – Garimpo das Artes

Apresentação 12

Lista das Cidades Envolvidas e Conselhos

Regionais de Desenvolvimento 14

Artesanato: o Saber e o Fazer Popular 16

Artesanato: Identidade Cultural e Cultura

Popular 18

Reflexões Sobre o Artesanato na

Contemporaneidade 22

Sobre o Artesanato no Rio Grande do Sul:

Ontem e Hoje 28

Dados da Pesquisa 34

Parte 2 – Artesanato

Artesanato de Povos e Comunidades

Tradicionais – Indígenas

O Reconhecimento do Povo Guerreiro /

Aldeia Charrua Polidoro 44

O Conhecimento Artesanal Para a

Sobrevivência na Selva De Pedra / Aldeia

Ymã Fág Nhim (Kaingang) 48

Força do Barro para a Sobrevivência

/ Aldeia Pé de Deus Ymã Tũpe Pãn

(Kaingang) 52

Bichinhos da Aldeia da Pessoa / Aldeia

Pequena Mata uu Mata Sagrada Tekoá

Ka’aguy Mirim (Guarani) 56

A Herança Indígena da Cestaria / Aldeia

da Taquara Ymã Vãn Ká (Kaingang) 60

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Artesanato de Povos e Comunidades

Tradicionais – Quilombolas

Ancestralidade de Geração em Geração /

Quilombo Peixoto dos Botinhas 64

Artesanato Tradicional e de Referência

Cultural

Os Favos que Ganharam o Mundo 68

O Caminho do Barro de Vila Flores 72

O Rústico e Artesanal que Mudou Vidas 76

Redeiras do Aviãozinho 86

A Arte das Escamas que Modifica Vidas 92

A Lonca de Cabrito e o Pelego de Ovelha

de Exportação 96

De Tento em Tento se faz a Corda 100

De Pai Para Filho: a Herança dos

Brinquedos 104

Brincadeira de Talhar e Esculpir que se

Ensina Para a Vida 108

As Mulheres de Fibra e do Butiá 112

A Palha que era Moeda de Troca Para a

Família 118

O Saber e o Fazer que foi de Filha Para

Mãe 122

O Resgate do Sorgo da Vassoura 126

A Dressa do Trigo 130

O Saber e o Fazer Precioso da Ágata e da

Ametista do RS 134

Artesãos 142

Referências 154

A autora 159

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Page 11: Garimpo das Artes Artesanais do RS

11Parte 1

Garimpo das Artes

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Apresentação

Garimpo das Artes Artesanais do RS: Sabe-

res e Fazeres é o início de uma jornada pelo

artesanato tradicional e de referência cultural

rio-grandense. É um projeto que vai desde a

pesquisa de mapeamento – destacando os

artesãos, as técnicas e as matérias-primas

dos locais visitados – até uma reflexão sobre

o artesanato gaúcho.

Este projeto tem a finalidade de ajudar a

fomentar a criação de arranjos produtivos

locais de artesanato por meio do resgate

de técnicas tradicionais e matérias-primas

naturais, que são os saberes e os fazeres

repassados entre gerações e que podem

proporcionar o desenvolvimento sutentá-

vel das comunidades envolvidas com essa

produção. São mestres, artesãos individuais,

grupos e coletivos da cultura popular que

vivem do ofício artesanal e cultivam os re-

cursos naturais que são a base da produção

do artesanato tradicional. Através da alma,

do coração e das mãos, transmitem o co-

nhecimento do ofício artesão para os jo-

vens de suas comunidades.

O projeto foi idealizado a partir da percep-

ção de que o artesanato gaúcho é diverso

e difuso, congregando características das

comunidades e povos tradicionais da região,

como os indígenas e os quilombolas, bem

como dos povos colonizadores e imigrantes

da região. Este universo cultural proporciona

um artesanato rico em técnicas e na utiliza-

ção de matérias-primas originárias do culti-

vo de fio e fibras naturais da terra.

A expedição cultural contou com a parceria

exitosa da EMATER/RS (Associação Rio-gran-

dense de Empreendimentos de Assis tência

Técnica e Extensão Rural) e ASCAR (Associa-

ção Sulina de Crédito e Assistência Rural) –

para o mapeamento inicial realizado de nor-

te a sul do Estado, explorando 27 municípios

em quatro meses e contemplando a visita

em dez COREDES (Conselhos Regionais de

Desenvolvimento do Rio Grande do Sul). Fo-

ram entrevistados mais de 100 artesãos que

são classificados1 pelo Programa Brasileiro de

Artesanato como artesanato indígena, tradi-

cional e de referência cultural.

“O artesanato não nos conquista somente por sua utilidade. Vive em cumplicidade com os nossos

sentidos, e daí ser tão difícil desprender-nos dele. É como jogar um amigo na rua.”

(Paz, 1991, p. 50)

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Esta publicação está dividida em duas par-

tes: 1) reflexões sobre conceitos do artesa-

nato, dados do mapeamento e 2) relatos so-

bre mestres artesãos e artesãos gaúchos.

Garimpo das Artes é um caminho inicial para

a identificação e promoção do artesanato

tradicional no Rio Grande do Sul. É a primei-

ra edição que contou com a parceria desses

artesãos que trabalham com a alma e buscam,

além da sobrevivência com seu ofício, um

estímulo para entendimento do seu trabalho

como catalisador de mudanças em suas vidas.

1 A classificação do produto artesanal está definida con-forme a origem, natureza de criação e de produção do artesanato e expressa os valores decorrentes dos modos de produção, das peculiaridades de quem produz e do que o produto potencialmente representa. A classificação do artesanato também determina os valores históricos e culturais do artesanato no tempo e no espaço onde é produzido. Artesanato indígena: resultado do trabalho produzido no seio de comunidades e etnias indígenas, onde se identifica o valor de uso, a relação social e cul-tural da comunidade. Os produtos, em sua maioria, são resultantes de trabalhos coletivos, incorporados ao coti-diano da vida tribal. Artesanato tradicional: conjunto de artefatos mais expressivos da cultura de um determinado grupo, representativo de suas tradições e incorporados à vida cotidiana, sendo parte integrante e indissociável dos seus usos e costumes. A produção, geralmente de

origem familiar ou comunitária, possibilita e favorece a transferência de conhecimentos de técnicas, processos e desenhos originais. Sua importancia e valor cultural de-correm do fato de preservar a memória cultural de uma comunidade, transmitida de geração em geração. Arte-sanato de referência cultural: sua principal característica é o resgate ou releitura de elementos culturais tradicionais da região onde é produzido. Os produtos, em geral, são resultantes de uma intervenção planejada com o obje-tivo de diversificar os produtos, dinamizar a produção, agregar valor e otimizar custos, preservando os traços culturais com o objetivo de adaptá-lo às exigências do mercado e necessidades do comprador. Os produtos são concebidos a partir de estudos de tendências e de de-mandas de mercado, revelando-se como um dos mais competitivos do artesanato brasileiro e favorecendo a ampliação da atividade. (PAB, 2010)

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Lista das cidades envolvidas e Conselhos Regionais de Desenvolvimento

Metropolitano do Delta do JacuíPorto AlegreViamão

LitoralTramandaíImbéTorres

SerraBento GonçalvesGaribaldiProtásio AlvesVila FloresPinto Bandeira

CampanhaBagé

Fronteira OesteSão BorjaSão GabrielSantana Do LivramentoItaquiBarra do Quaraí

São Borja

Itaqui

Barra do Quaraí

MissõesGiruáSanto Ângelo

Vale Do Rio PardoEncruzilhada Do SulRio PardoSanta Cruz Do SulRiopardinhoSobradinho

SulPelotasRio Grande

Alto da Serra do BotucaraíSoledade

Centro-SulTapes

Page 15: Garimpo das Artes Artesanais do RS

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Tapes

Tramandaí

Bagé

São Gabriel

Santana do Livramento

Imbé

Torres

Bento Gonçalves Pinto Bandeira

Garibaldi

Rio Pardo

Santa Cruz do Sul / Rio Pardinho

Sobradinho

Soledade

Encruzilhada do Sul

Pelotas

Rio Grande

Vila FloresProtásio Alves

Viamão

São Borja

Giruá

Santo Ângelo

Porto Alegre

Page 16: Garimpo das Artes Artesanais do RS

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O artesanato possui valor cultural e faz parte

do repertório individual ou coletivo dos ho-

mens. É a “invenção do homem e sua cria-

ção” como patrimônio cultural (Magalhães,

1997). O patrimônio cultural de um povo é

formado pelos saberes e fazeres que tradu-

zem a história e a sua memória coletiva. Isso

faz com que o individuo se sinta parte de

um contexto social que o identifica por suas

semelhanças em referências culturais.

Essas referências são os bens culturais, os

quais podem ser divididos em materiais e

imateriais. Os materiais são as referências

tangíveis do patrimônio, como edificações,

monumentos e paisagens naturais. Os ima-

teriais são as referências intangíveis, que se

relacionam com os saberes e fazeres, abar-

cando os costumes e as crenças das pesso-

as. O artesanato tem sua natureza como um

bem cultural imaterial, por se caracterizar pe-

las práticas do conhecimento do indivíduo.

Para um entendimento melhor do que é o ar-

tesanato pode-se registrar a definição do PAB

(Programa do Artesanato Brasileiro) na publi-

cação Base Conceitual do Artesanato Brasi-

leiro – 2012: o artesanato “compreende toda

a produção resultante da transformação das

matérias-primas, com predominancia manu-

al, por indivíduo que detenha o domínio inte-

gral de uma ou mais técnicas, aliando criativi-

dade, habilidade e valor cultural (possui valor

simbólico e identidade cultural), podendo no

Artesanato: o Saber e o Fazer Popular

“[O artesanato] não quer durar milênios nem está possuído pela pressa de morrer logo. Transcorre com

os dias, flui conosco, desgasta-se pouco a pouco, não busca a morte nem nega: aceita-a. [...] Entre o

tempo sem tempo do museu e o tempo acelerado da técnica, o artesanato é a palpitação do tempo

humano. É um objeto útil, mas também belo; um objeto que dura, mas que acaba e se resigna a acabar;

um objeto parecido mas não idêntico. O artesanato nos ensina a morrer e, assim, nos ensina a viver.”

(Paz, 1991, p. 57)

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processo de sua atividade ocorrer o auxílio

limitado de máquinas, ferramentas, artefatos

e utensílios (p. 12)”. Assim, o artesanato é um

produto do saber e fazer humano com o em-

prego das mãos.

Para Aloísio Magalhães (1997, p. 179) o “artesa-

nato é a tecnologia de ponta” dentro de um

contexto característico do processo histórico,

sempre buscando uma maior complexidade.

Ele trata o artesanato como um “monumen-

to da trajetória humana”, dinamico:

A política paternalista de dizer que o arte-sanato deve permanecer como tal é uma política errada; culturalmente é impositiva porque somos nós, de um nível cultural, que apreciamos aquele objeto pelas suas características, gostaríamos que ele ficasse ali. Então é uma coisa insuportável, errada e de certo modo totalitária você impor a uma coletividade, a um grupo, que permaneça naquele ponto. O remédio, a coisa que se ofere, é a ideia de que ele repita mais. (..) E isso é inadequado porque você corta o fio da trajetória, o fio da invenção, da evolução, da invenção, para que ele permaneça para-do no tempo (Magalhães, 1997, p.180).

De acordo com Aloísio, o artesanato não

é um processo estático que vai se encer-

rar em si como um produto industrializa-

do. É um produto fruto da invenção e cria-

ção humana que precisa de incentivo para

continuar sua evolução e não perder sua

dinamica. Pensar no artesanato como um

produto industrial, com estética, produção

e comercialização dos produtos conven-

cionais, é dilacerar seu valor cultural e fazer

com que permaneça estagnado no tempo.

Page 18: Garimpo das Artes Artesanais do RS

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O artesanato, como trabalho manual, pode

ser pensado como desassociado do traba-

lho intelectual nas sociedades industriais.

Em decorrência do capitalismo, existe uma

concepção de que o trabalho intelectual é

de certa forma superior ao trabalho manu-

al. São questões, por exemplo, embasadas

nas diferenças entre os salários e no pres-

tígio das profissões. Na nossa sociedade o

“fazer” é visto como algo feito naturalmente

e separado do “saber”. É uma separação falsa,

mas é a base para a manutenção das clas-

ses sociais, justificando o poder de uns sobre

outros (arantes, 2006, p. 13). Assim, o que é

popular é muitas vezes associado ao “fazer”

e o que é culto é associado ao “saber”. Mas é

exatamente através desse popular que ocor-

re a expressão do indivíduo e a reafirmação

de sua identidade. É o simplório que repro-

duzimos em nossa língua, costumes, cren-

ças e celebrações que nos levam ao nosso

reconhecimento, à nossa identidade.

Isso é a cultura que se conceitua pelo meio

ambiente onde se vive e pelos saberes e fa-

zeres da expressão humana. Tem seus co-

nhecimentos transmitidos de geração em

geração. O homem é herdeiro deste meio

cultural, o qual foi socializado e reage ao

mundo de acordo com seus “padrões cultu-

rais” (laraia, 2004, p. 48). Ele acumula experi-

ências de gerações anteriores que formam o

seu patrimônio cultural.

Artesanato: Identidade Cultural e Cultura Popular

“A beleza lhes vem por acréscimo, como o perfume e a cor das flores. Sua beleza é inseparável de sua

função: são bonitas porque são úteis. Os objetos de artesanato pertencem a um mundo anterior à

separação entre o útil e o belo. (…) A sociedade se dividia em dois grandes territórios, o profano e o

sagrado. Em ambos a beleza estava subordinada, num caso, à utilidade e, no outro, à eficácia mágica.“

(Paz, 1991, p. 45-46)

Page 19: Garimpo das Artes Artesanais do RS

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A relação entre os indivíduos nesse meio

é que define suas identidades de uma ma-

neira histórica e não biológica (hall, 2011).

As pessoas controem suas identidades du-

rante sua vida inteira, através desses rela-

cionamentos que podem ser familiares ou

sociais, de sua linguagem, de seus costu-

mes, de suas crenças, do lugar onde vivem

e daquilo que sabem ou como fazem para

pôr em prática suas expressões culturais.

Assim, a identidade cultural aflora no indiví-

duo ou nos grupos quando são divididas as

mesmas expressões culturais.

Mas não é porque ocorre uma identificação

com o outro que existe um padrão a ser segui-

do. Nós todos nos expressamos diferentemente

uns dos outros e temos diferentes identidades

culturais. Assim, o que é válido é reconhecer-

mos que na sociedade atual temos uma gran-

de diversidade cultural que não descaracteriza

culturas como mais importantes umas das ou-

tras. A diferença está em fragmentos dos sabe-

res e fazeres que cada um realiza, o que pode

ser apreciado, por exemplo, no artesanato.

O artesanato entra na definição da cultura

tradicional e popular, segundo a Recomen-

dação sobre a Salvaguarda da Cultura Tra-

dicional e Popular, elaborada em 1989, pela

UNESCO:

Definição da cultura tradicional e popular:

Atendendo à presente Recomendação: a cultura tradicional e popular é o conjunto de criações que emanam de uma comuni-dade cultural, fundadas na tradição, expres-sas por um grupo ou por indivíduos e que reconhecidamente respondem às expecta-tivas da comunidade enquanto expressão de sua identidade cultural e social; as nor-mas e os valores se transmitem oralmen-te, por imitação ou de outras maneiras. Suas formas compreendem, entre outras, a língua, a literatura, a música, a dança, os jogos, a mitologia, os rituais, os costumes, o artesanato, a arquitetura e outras artes.

A cultura popular é a seara para estas mani-

festações, porque é nesse campo que ocor-

re a expressão e a reafirmação da identidade

do ser. Mas é importante destacar que não

devemos pensar a cultura popular como algo

estanque, o tradicional que ficou no passa-

do. Texeira Coelho aborda a cultura popular

como parte de um “sistema cultural maior”

que terá diferentes perspectivas e produtos

culturais com características próprias, tendo

origem tanto no passado como na aquisição

Page 20: Garimpo das Artes Artesanais do RS

20

de características modernas, que se corres-

pondem com as necessidades dos que pro-

duzem e se alimentam dela (texeira, 2004, p.

120). É impossível não agregar valores ao que

se traz para a atualidade. Festas, celebrações

e o próprio artesanato de referência cultural

não podem ser fiéis à tradição, ao que já foi.

A cultura popular é definida por sua consci-

ência de que “tanto pode ser um instrumen-

to de conservação, como de transformação

social” (arantes, 2006, p. 54). Será sempre

dinamica, pois agrega valores nos diferentes

contextos e não pode cristalizar a tradição.

O patrimônio cultural caracteriza esses va-

lores atribuídos pelos indivíduos e reconhe-

cidos pela coletividade aos bens culturais

como saberes e fazeres do cotidiano. Para

Canclini, o “patrimônio cultural” é como um

recurso para as classes dominantes:

O patrimônio cultural funciona como re-curso para reproduzir as diferenças entre os grupos sociais e a hegemonia de quem almeja o acesso à produção e distribuição de bens. Para configurar o culto tradicional, os setores dominantes definem quais bens são superiores e merecem ser conservados como também dispõe de meios econômi-cos e intelectuais, o tempo de trabalho e de

ócio, para imprimir a esses bens maior qua-lidade e refinamento. (CanClini, 2005, p. 187)

Os produtos oriundos da cultura popular são

mais representativos na história local das co-

munidades do que são produzidos em fábri-

cas, devido ao valor agregado e serem, neste

caso, o patrimônio cultural próprio daquele

grupo. Isso se dá, por exemplo, na produção

das ceramica Kaingang do Morro do Osso,

onde se produziam panelas que viravam

pratos de barro para o consumo de alimen-

tos. Com o tempo, o índio teve o contato

com as panelas de alumínio e o costume

da produção de ceramica indígena foi dimi-

nuindo, comenta a artesã indígena Erondina

dos Santos Vergueiro:

Os índios que fabricaram as primeiras pa-nelas e então lhe davam com esses tipos de panelas que servem para fazer comida e de prato de comer. E estas de barro fica-ram para guardar sementes e outras coisas. A gente foi aprendendo com os não índios a usar a panela de alumínio. (Vergueiro, 2015, depoimento ao projeto Garimpo das Artes)

Hoje ocorre o resgate nesta aldeia indígena

para que a ceramica não fique como uma

Page 21: Garimpo das Artes Artesanais do RS

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referência cultural no passado, como algo

que não foi repassado através das gerações.

Embora a técnica da ceramica indígena

seja ancestral, outros significados podem

ser agregados às práticas desse artesanato,

como é o caso da funcionalidade da cera-

mica, que, hoje, pode ser somente peça de

decoração. A cestaria indígena também é

uma referência nesse caso de mudança de

valores atribuídos, sendo que muitos cestos

de fibra de taquara eram utilizados para car-

regar alimentos e hoje servem para o arma-

zenamento de roupas ou como cestos de

lixo. Isto foi a maneira através da qual o índio

percebeu uma nova finalidade para poder

trabalhar a comercialização de seus produ-

tos para o homem branco. Os significados e

as práticas do patrimônio cultural podem se

modificar com o tempo e o repasse desse

conhecimento pode ser diferente de uma

pessoa para a outra. O que importa nesse

caso é a realização de uma técnica, de um

saber cultural e o repasse do valor cultural

desse bem imaterial.

Page 22: Garimpo das Artes Artesanais do RS

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O antropólogo e professor Ricado Lima1, no

artigo “Artesanato de tradição: cinco pontos

de discussão”, destaca cinco questões para

se pensar o artesanato na contemporainei-

dade: o valor agregado da história no artesa-

nato; a estética manual do objeto artesanal;

a renovação do artesanato respeitando sua

identidade cultural; o tempo de produção;

os direitos de autor do artesão.

O artesanato de referência cultural no Brasil

se configura como um bem cultural ima-

terial para que se reconheça seus valores e

sejam fortalecidas as identidades culturais

de tal comunidade. Hoje, no Brasil, cada

vez mais se estabelece um diálogo sobre de

duas questões: a preservação do artesanato

sob as condições de que ele foi produzido

como se fosse uma espécie de registro do

que foi o passado e a adequação contem-

poranea do artesanato, modificando sua

forma com o desenvolvimento de um novo

design como premissa para conquista de

mercados (liMa, 2005). Pode-se analisar o

objeto artesanal em dois sentidos como o

seu processo de produção ser de natureza

manual e a liberdade do artesão em todo o

processo de produção. Esses dois fatores é

que ajudam na determinação de como será

o artesanato.

Reflexões Sobre o Artesanato na Contemporaneidade

1 Ricado Lima, antropólogo e professor. Foi pesquisador do Centro Nacional de Cultura Popular/IPHAN/MINC e atualmente coordena o Núcleo de Cultura e Arte Popu-lares do Instituto de Artes/UERJ e é coeditor da revista Textos Escolhidos de Cultura e Arte Populares.

“O ideal do desenho industrial é a invisibilidade: os objetos funcionais são tanto mais bonitos quanto menos visíveis. Curiosa transposição dos contos

de fadas e das lendas árabes para um mundo governado pela ciência e pelas noções de utilidade e rendimento máximo: o designer sonha com objetos que, como os gênios, sejam servidores intangíveis. Ao contrário do artesanato, cuja presença física nos entra pelos sentidos e no qual o

princípio da continuidade é constantemente violado em benefício da tradição, da fantasia e mesmo do capricho.“

(Paz, 1991, p. 49)

Page 23: Garimpo das Artes Artesanais do RS

23

No caso do artesanato tradicional e de refe-

rência cultural, sua condição de expressão e

reafirmação da identidade cultural o valoriza

diante de outros produtos e dá vantagem na

abertura de novos mercados. O valor agre-

gado comporta as origens e crenças de uma

cultura. É o caso do trabalho com a lã crua

no Rio Grande do Sul, atividade que traz uma

rica carga histórica da cultura do gaúcho, en-

volvendo desde a criação das ovelhas, pas-

sando pela esquila até a preparação do fio e

da tecelagem manual dos descendentes de

imigrantes colonizadores.

O artesanato é feito à mão e, por isso, deve

ser valorizado mesmo em suas imperfei-

ções. Sua estética é rústica e deve-se ter a

consciência que nenhum objeto artesanal

será igual ao outro. Objeto industrial é algo

limitado, padronizado, e o artesanato não

deve ser comparado a isso. Podemos nos

referir ao exemplo da produção de cestarias

em palha de milho, as quais são produzidas

deixando aparente a matéria-prima que é

a palha. Nenhuma palha será igual a outra,

porque nenhuma espiga de milho é igual a

outra. Também o modo do trançado é dife-

rente, então haverá cestas diversificadas, po-

rém do mesmo tamanho. A integridade da

matéria-prima tem de ser respeitada. Lima

(2005) é a favor da preservação do artesana-

to dentro de um processo de mudança. Co-

menta que a atenção do designer brasileiro

ao artesanato geralmente não respeita a tra-

dição da sua produção, sobrepujada frente

aos padrões do sucesso mercadológico:

Então, quando eu falo em preservar, signifi-ca preservar dentro de um processo de mu-dança. Mas um processo de mudança que pressupõe o reconhecimento de formas do passado e o respeito e o reconhecimento pelos saberes de que os artesãos são porta-dores. Não entendo por que o designer, no Brasil, se recusa tanto a assumir a tradição, por que sempre condiciona o sucesso mer-cadológico do produto artesanal à criação do novo. (liMa, 2005, p. 20)

Em muitos casos, o designer interfere no

objeto artesanal de forma a criar um novo

objeto, deixando os valores tradicionais de

lado. O próprio artesão, muitas vezes, fica

submetido ao designer, por ele ser o conhe-

cedor das tendências do mercado, comenta

Lima. Isso reflete claramente a dita superiori-

dade do trabalho intelectual sobre o manual.

É importante também pensar na mudança

de uma maneira a preservar as origens, sem

ferir o saber e o fazer cultural. O artesanato

Page 24: Garimpo das Artes Artesanais do RS

24

pode ser resgatado e readaptado, principal-

mente em comunidades que já não estão

motivadas, seja devido ao pouco ganho ou

à dificuldade de comercialização de produ-

tos. Muitos grupos de artesãos estão domi-

nados por atravessadores que compram os

produtos a preços irrisórios e vendem a um

preço exorbitante para o público final e que,

na maioria das vezes, não sabem do valor

agregado na produção do objeto artesanal. É

necessário buscar uma mudança para moti-

var, renovar a autoestima e, principalmente,

empoderar esses artesãos para serem sobe-

ranos no processo de venda dos produtos.

Isso passa pelo entendimento e domínio

de sua cultura, uma reciclagem em oficinas

para melhorar o acesso à matéria-prima e às

novas tecnologias manuais.

Na cidade de São Borja fica a Cooperativa de

Artesãs Favos do Sul. A cooperativa é com-

posta por mulheres artesãs que trabalham

com o conceito de favos de mel2, bordados

feitos à mão que ornamentam a indumen-

tária gaúcha, como bombacha e camisas,

técnica que passa de geração em geração. A

cooperativa iniciou há mais de 15 anos com

30 mulheres e de lá para cá foram muitos

os percalços para que se mantivesse ativa.

Depois de muito sucesso nacional e inter-

nacional em parceria com entidades que

deram visibilidade à cooperativa, o grupo foi

praticamente esquecido e quase encerrou.

“Quando todos pensávamos que íamos cair,

2 Favos de mel: tipo de bordado feito à mão que remete ao traçado geométrico das colmeias. Existem vários tipos de favos, porém os mais usados são o camoatim e lichigua-na, que são duas definições de espécies de abelhas.

Page 25: Garimpo das Artes Artesanais do RS

25

levantamos, mas sempre preservando, e é o

que basta. Muitos deram as costas para nós

e dissemos que não íamos acabar. Nós cria-

mos peças como bolsas quando estávamos

parados. Também criamos estojos para a fa-

culdade […]”, comenta Maria Solange Carva-

lho, uma das artesãs cooperativadas. E com

a necessidade e a força de vontade e do tra-

balho, as artesãs buscaram apoio em enti-

dades que trabalham o extensionismo rural,

como a EMATER/RS – ASCAR, e mudaram

o jogo. Motivadas, hoje as artesãs aprende-

ram novas tecnologias e de uma maneira

consciente, com ajuda de técnicos que en-

tendem a valorização do artesanato, criaram

mais produtos com a aplicação dos favos.

O artesão é que coordena o seu tempo de

produção e cria sua organização para o tra-

balho. Segundo Lima (2005), esta é a grande

questão da comercialização do artesanato,

e que coloca frente a frente o artesanato

e o mercado. O artesanato é um trabalho

manual e, por isso, tem um tempo próprio

para ser produzido. Durante essa produção

humana, organica, podem ocorrer variações

e intempéries, principalmente no artesanto

produzido na zona rural, devido às questões

climáticas para acesso à matéria-prima e aos

deslocamentos para entrega, por exemplo.

Lima (2005) propõe um ponto muito impor-

tante para a formação de público consumi-

dor: a educação patrimonial. Isso vale para

que o público entenda a origem do artesa-

nato, o local, a cultura do artesão, a história

que existe por trás de cada objeto artesanal.

Essas estratégias podem vir como informa-

ção na própria embalagem, no discurso de

Page 26: Garimpo das Artes Artesanais do RS

26

venda ou em outras peças de divulgação,

além de estratégias de formação que visam

promover o artesanato.

Uma das questões de referência para pen-

sarmos o futuro da área é a dos direitos de

autor no artesanato. Da produção à comer-

cialização é fácil encontrarmos objetos ar-

tesanais reconhecidos de certa região e que

acabam sendo copiados ou adotados por

outras comunidades sem trabalhar o crédi-

to apontando o valor cultural do produto.

O direito patrimonial3 pontua diretamente

a questão da comercialização do produto

e, se reconhecido, poderá dar ênfase ao ar-

tesão e ao local do qual é oriundo aquele

artesanato.

Na região noroeste do Rio Grande do Sul fica

a cidade de Soledade, rica na produção de

pedras e artigos de ágata. Claudinei Ianzer,

o Ney, é um artesão local que trabalha com

ágata e com a ametista, também encontrada

somente no RS. Ele comenta a dificuldade

de se produzir artigos artesanais devido à

expansão do mercado chinês na área:

“Os pequenos estão numa baita dificuldade porque o mercado chinês é muito forte na produção de joias e a concorrência é muito forte com eles. É muito difícil de trabalhar. Ainda se sobrevive com o trabalho artesa-nal, só o que acontece, é que não se tem mais mão-de-obra para isso. Aquele rapaz que trabalhava dentro da fábrica serrando uma pedra, formando, lixando e polindo ele já não quer mais fazer isso, porque não é muito bem remunerado é um trabalho muito sujo e complicado.”

Garantir os direitos patrimoniais dos produ-

tos artesanais trabalhados no Estado pode

ser uma via para a valorização do mercado

de pedras na região. Hoje, a pedra bruta é

vendida para fora sem a promoção do local;

o mesmo ocorre com os produtos. Os direi-

tos patrimoniais, nesse caso, poderão refe-

renciar os artesãos e a região em relação à

matéria-prima e ao objeto artesanal.

Enfim, estas são questões que estão direta-

mente conectadas ao saber e fazer artesanal

e que podem ajudar a focalizar o campo do

artesanato como um todo.

3 Direitos patrimoniais: são aqueles que se referem prin-cipalmente à utilização econômica da obra intelectual. É direito exclusivo do autor utilizar sua obra criativa da maneira que quiser, bem como permitir que terceiros a utilizem, total ou parcialmente.

Page 27: Garimpo das Artes Artesanais do RS

27

Page 28: Garimpo das Artes Artesanais do RS

28

O Artesanato do Povo da Terra

As etnias indígenas Guarani, Kaingang e

Pampeana habitavam o Rio Grande do Sul

e tinham na sua língua, costumes e crenças

a configuração das suas identidades cultu-

rais. É na natureza que buscavam a maté-

ria-prima para sua sobrevivência e por meio

do artesanato feito com barro, sementes,

cipó, fibra de taquara, butiazeiro, curupi (pau

-leiteiro), porongo, couro, osso, algodão é

que produziam objetos de uso diário, or-

namentos e instrumentos para rituais. São

costumes que foram passados, pela prática

e oralmente, pelos mais velhos para os mais

novos. Hoje, são exemplos de preservação

dos saberes e fazeres de um povo.

Sobre o Artesanato no Rio Grande do Sul: Ontem e Hoje

“O artesanato é um signo que expressa a sociedade não como trabalho (técnica) nem como símbolo (arte,

religião) mas como vida física compartilhada.”(Paz, 1991, p. 52)

“O objeto artesanal satisfaz uma necessidade menos imperiosa que a sede e a fome: a necessidade de

recrear-nos com as coisas que vemos etocamos, quaisquer que sejam seus usos diários.”

(Paz, 1991, p. 51)

Page 29: Garimpo das Artes Artesanais do RS

29

O Artesanato de Religiosidade

Os negros também buscavam na natureza a

matéria-prima para a confecção dos objetos

do cotidiano e de suas crenças. Encontravam

nas fibras naturais como bananeira, butiazei-

ro, coqueiro, palha de milho, capim santa-fé,

cipó, bambu e madeira uma maneira de ex-

pressar sua identidade cultural. Nas religiões

africanas, vemos uma infinidade de trabalhos

feitos à mão realizados por inúmeros arte-

sãos em defesa de suas crenças. A cidade de

Porto Alegre concentra a maior quantidade

de terreiros religiosos do Brasil. No total, são

mais de 1.300 casas, onde vivem comunida-

des tradicionais que preservam as religiões de

1. Segundo levantamento de 2011 realizado pelo Ministé-rio do Desenvolimento Social e Combate à Fome (MDS), Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualda-de Racial (Seppir) e Fundação Cultural Palmares.

matriz africana, afro-brasileiras e afro-indíge-

nas1. Esse número evidencia que existe uma

grande necessidade de produção artesanal

de artigos religiosos para suprir a demanda

dos envolvidos. São inúmeras casas na cida-

de que vendem artesanato religioso, como

instrumentos musicais, afoxé e tambores, ob-

jetos para depósito de oferendas, como ga-

melas e barcos de madeira, cestarias, fio de

contas ou cordão de santo e vestimentas de

representações religiosas. Até hoje este arte-

sanato é uma das referências culturais para

as comunidades tradicionais e é preservado

como patrimônio da sua identidade.

Page 30: Garimpo das Artes Artesanais do RS

30

O Artesanato da Colonização

A herança espanhola e portuguesa da co-

lonização também nos deixou a cultura do

manuseio com o gado e a técnica do curti-

mento da pele animal que serviu para a pe-

cuária do gado que pastava livremente nos

campos do pampa gaúcho. O couro cru era

aproveitado para tudo: casas, móveis, arreios

de cavalos, utensílios domésticos e vesti-

mentas. O gaúcho, que antes era chamado

de guasca – na língua indígena quéchua, “tira

de couro” –, era o responsável pela técnica

da guasqueria, trabalho em couro cru. Deste

artesanato são produzidas peças como bo-

leadeiras, bainhas para facas, cintos e aces-

sórios para encilhar cavalos. Atualmente,

existem poucos guasqueiros no Estado e é

um ofício em extinção devido ao desinteres-

se dos mais jovens pela profissão.

O Artesanato das Imigrações

A cultura da imigração luso-açoriana, alemã

e italiana no Rio Grande do Sul estreitou la-

ços com os habitantes da terra, os índios, e

com os negros que já viviam na região. Do

barro, da semente, da palha da terra dos ín-

dios e dos negros, do couro dos imigran-

tes espanhóis e portugueses, os imigrantes

luso-açorianos desenvolveram a habilidade

do manuseio do algodão e da lã nos teares.

Os luso-açorianos que vieram para o Rio

Grande do Sul eram hábeis tecelãos com o

trabalho com o linho e lã. A região que vi-

viam nos Açores tinha abundancia de ma-

deira, usada na construção de teares para

confecção caseira. Quando chegaram no

Estado, começaram a trabalhar com a te-

celagem em lã, que era a matéria-prima de

mais fácil acesso. O trabalho manual resul-

tou em um legado na produção de coberto-

res, tapetes de lã, colchas e mantas.

Com o passar do tempo, os imigrantes ale-

mãos e italianos, que em sua maioria eram

artesãos, somaram a esta terra seus conhe-

cimentos em tecelagem manual e contri-

buíram para desenvolver a indústria téxtil

Page 31: Garimpo das Artes Artesanais do RS

31

do Estado (Castro; BeCker; eggert, 2010). As

mulheres imigrantes trabalhavam no arte-

sanato para suprir as necessidades fami-

liares, como a vestimenta e a produção de

utensílios domésticos.

Além da tecelagem, técnicas como o borda-

do e a costura eram muito usadas no dia a

dia. O bordado era aplicado nas roupas e na

confecção dos chamados de wandschoner

ou panos protetores de parede. São peças

que eram confeccionadas pelos imigrantes

alemães e italianos em algodão ou linho,

bordadas a mão que serviam de decoração

e para transmitir mensagens de sabedoria e

de proteção. O local de instalação das pe-

ças era na cozinha, espaço preferido para as

reuniões familiares, e ficavam em cima dos

fogões a lenha ou escondendo frestas na

parede. Com o passar do tempo, esta peça

começou a ser produzida em conjuntos

com outras peças para proteção de objetos

da cozinha, mas sem as mensagens. Geral-

mente encontramos esses trabalhos nos es-

paços de venda de artesanato do Rio Grande

do Sul.

O artesanato e a vida na região rural, no Es-

tado, sempre tiveram conectados. Os imi-

grantes foram levados para regiões remotas

e lá só tinham algumas ferramentas e suas

mãos para sobreviver. Assim, os costumes

da lida rural tomaram o tempo desses colo-

nos, a oferta de matéria-prima era abundante,

tanto de alimentos como para produção de

utilitários. Da produção caseira veio a comer-

cialização dos produtos artesanais. Conforme

Tedesco (2006, p. 234-235) argumenta:

Page 32: Garimpo das Artes Artesanais do RS

32

Não se pode esquecer também que a “pe-quena indústria doméstica” tem profunda relação com a cultura popular camponesa, o citadino migrante a carrega consigo, ain-da que readaptada. O ethos camponês do colono imigrante, em sua cultura redefini-da a partir das condições que o cenário das migrações lhe reservou, constitui-se tam-bém pelas práticas artesanais.

O trabalho com a lã é um bom exemplo

de matéria-prima explorada na produção

artesanal caseira no meio rural. Até hoje

o Rio Grande do Sul é o maior produtor de

ovelha, cabrito e cordeiro do Brasil, assim

a produção contínua de lã é consequência

da abundancia da matéria-prima local. As

mulheres realizavam a confecção dos ba-

cheiros ou xergãos2 e também produziam

ponchos e cobertores para a proteção do

frio da região. É muito difícil trabalhar com

a lã, sendo necessário cardar e pentear,

fiar em roca para produzir o fio e tecer

em tear de pente liço, vertical ou com pe-

dal. Como esse processo demanda muito

tempo, poucos resistem em realizar todo

o processo, mas mesmo assim ainda exis-

tem artesãos que conservam a tecelagem

rudimentar no tear de taquara ou prego

para a confecção de peças.

O crochê e o tricô também são técnicas

muito utilizadas para fios de lã ou algo-

dão no artesanato. Necessariamente não

se precisa de muitos equipamentos para

produção e é possível trabalhar em pratica-

mente qualquer local com uso de agulhar

e novelos de fios. É costumeiro encontrar-

mos em feiras de artesanato uma grande

quantidade de artesãs que fazem este tra-

balho manual e que aprenderam com suas

mães e avós. Com a técnica do crochê e

fio de algodão, os produtos mais comer-

cializados no Estado são acessórios para a

cozinha como panos de pratos, capas para

utensílios e o campeão de vendas que é a

capa para garrafa térmica para chimarrão,

bebida popular no Estado. Em crochê e tri-

cô são produzidas vestimentas em lã como 2 Bacheiro ou xergão: manta de lã que se coloca no lom-

bo do cavalo para a montaria, em tecelagem manual..

Page 33: Garimpo das Artes Artesanais do RS

33

mantas, chales, casacos, blusões e acessó-

rios como luvas, gorros e cachecóis.

O Rio Grande do Sul tem uma grande di-

versidade de artesanato devido à mescla de

grupos étnicos que viveram e vivem na re-

gião, os quais atravessaram continentes em

busca de um futuro melhor. A relação desses

povos imigrantes com os povos tradicionais

habitantes da terra proporcionou uma rica

cultura viva que hoje compreende a cultura

rio-grandense. A possibilidade de cultivar a

terra e explorar a matéria-prima local extra-

ída da natureza deu mais força ao trabalho

artesanal que, primeiramente, era destinado

às utilidades domésticas e, posteriormente,

estendeu-se para o comércio e a sobrevi-

vência desses grupos. Do passado para o

presente foram grandes transformações,

indo do rudimentar ao contemporaneo e o

que devemos buscar para o futuro é, talvez,

o reconhecimento desse trabalho artesanal

como base da cultura gaúcha.

Page 34: Garimpo das Artes Artesanais do RS

34

Dados da Pesquisa

Foram envolvidos mais de 300 artesãos no

projeto. O perfil dos entrevistados é de ar-

tesãos que trabalham com o artesanato tra-

dicional, de referência cultural e de povos e

comunidades tradicionais (PCTs), indígenas

e quilombolas.

IdadeAcima dos 35 anos

68%

32%

LocalidadeZona Rural Zona Urbana

83%

17%

GêneroFeminino Masculino

Page 35: Garimpo das Artes Artesanais do RS

35

40%

10%8%

24%

5%

13%

Escolaridade

Fundamental - incompleto

Fundamental - completo

Médio - incompleto

Médio - completo

Superior - incompleto

Superior - completo

35%

50%

15%

Categorias

Artesão individual sem carteira – cadastro em programas de políticas públicas

Artesão individual com carteira – cadastro em programas de políticas públicas

Microempreendedorindividual

Page 36: Garimpo das Artes Artesanais do RS

36

97%

3%

Política Pública Cultural - Cadastro

PGA - Programa Gaúchodo Artesanato

PBA - Programa deArtesanato Brasileiro

Técnicas Mais Usadas

1 Tecelagem

2 Cestaria

3 Crochê

4 Tricô

5 Costura

6 Renda (Macramê)

7 Bordado

8 Trançado

* Segundo o relatório do PGA de 2013, existem 80.873 artesãos cadastrados no Estado.

Page 37: Garimpo das Artes Artesanais do RS

37

68%

12%

6%

6%

3%

2% 1% 1%1%

Matéria-prima Principal

Fios e tecidos – lã crua, algodão, couro (pelego ovelha, lonca de cabrito, couro cru de boi e couro de peixe)

Fibras Naturais (taboa, cipó, bananeira, butiá, folhas, resíduos café, sisal, rami, palha milho, trigo, taquara, sorgovassoura)

Elementos naturais (sementes, caroços, escamas, ossos, marfim, penas, vime, conchas, porongo, caroço de uva-do-Japão, butiá, coquinho, lágrima de nossa senhora, olho de boi, yvá kü, amendoeira, aguaí, olho de pomba, olho decabra, juerana, pena da galinha

Pedra

Madeira

Barro

Papel

Elementos naturais (sementes, caroços, escamas, ossos, marfim, penas, vime, conchas, porongo, caroço de uva-do-Japão, butiá, coquinho, lágrima de nossa senhora, olho de boi, yvá kü, amendoeira, aguaí, olho de pomba, olho de cabra, juerana, pena da galinha da angola, escamas da tainha e tilápia, pedras e druzas de ágata e ametista)

*Classificação de acordo com o PAB (Programa Brasileiro de Artesanato)

Page 38: Garimpo das Artes Artesanais do RS

38

71%

17%

12%

Tempo Diário de Dedicação4h a 6h/dia 7h a 8h/dia Mais de 12h/dia

54%

46%

Participação da FamíliaSim Não

3%

97%

FuncionáriosSim Não

Page 39: Garimpo das Artes Artesanais do RS

39

50%

40%

10%

ComercializaçãoFeiras Ponto de Vendas Encomendas

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

Percentual de famílias

Fonte de Renda Familiar

10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Page 40: Garimpo das Artes Artesanais do RS

40

O levantamento de dados sobre o artesana-

to no Rio Grande do Sul utilizou a metodo-

logia de observação participante, entrevistas,

narrativas de histórias de vida e grupos de

discussões. Foram envolvidos mais de 300

artesãos no projeto e o questionário da en-

trevista foi aplicado em mais de 100 partici-

pantes com o perfil de artesãos dos povos

e comunidades tradicionais (PCTs), indíge-

nas e quilombolas e artesãos que trabalham

com o artesanato tradicional e de referência

cultural.

Nesta primeira edição do projeto foram en-

volvidos 27 municípios do Rio Grande do Sul

em 4 meses de expedição cultural e vista-

dos 10 Coredes – Conselhos Regionais de

Desenvolvimento do Rio Grande do Sul: Me-

tropolitano do Delta do Jacuí, Litoral , Serra,

Campanha, Fronteira Oeste, Missões, Vale

do Rio Pardo, Sul, Alto da Serra do Botucaraí,

Centro-Sul. Ocorreram 6 oficinas de forma-

ção no formato de rodas de conversas nas

cidades de Protásio Alves, Bento Gonçalves,

São Gabriel, Rio Pardo, Giruá e São Borja,

abordando as temáticas de cidadania, iden-

tidade cultural e empreendedorismo cultu-

ral sustentável. Nestas formações e visitas às

propriedades foram realizadas a observação

participante, a aplicação do questionário e a

captação das narrativas em audiovisual, indi-

viduais e em grupos.

Análise dos Dados Sobre o Artesanato no Rio Grande do Sul

Page 41: Garimpo das Artes Artesanais do RS

41

• mais da metade dos artesãos que traba-

lham com o artesanato tradicional e de

referência cultural estão em regiões ru-

rais do Estado;

• a grande maioria são mulheres com ida-

de acima de 35 anos que aprenderam o

ofício por meio da oralidade e prática dos

mais antigos e agora transmitem seus

conhecimentos para os mais novos;

• quase a metade dos artesãos entrevista-

dos têm ensino fundamental incomple-

to até as séries iniciais, devido ao fato de

a grande maioria viver em região rural,

onde havia somente escolas primárias

e até o ano de 1971, no Brasil, o ensino

deste período era somente até a 4ª série;

• metade dos entrevistados tem contato

com as políticas públicas do artesanato no

Rio Grande do Sul através do acesso ao

Programa Gaúcho do Artesanato, porque

fez cadastro e tem a carteira da FGTAS;

• a grande maioria trabalha com matéria

-prima de fios e fibras naturais que eles

mesmo cultivam;

• tecelagem, cestaria, tricô e crochê são as

técnicas mais utilizadas;

• a maioria tem o artesanato como com-

plementação da renda da familiar;

• a grande maioria dedica em torno de 4h

a 6h/dia para trabalhar com o artesanato;

• praticamente a metade dos entrevista-

dos tem a família participando da pro-

dução como ajudante, apoio na criação,

apoio logístico, entre outros;

• quase todos os entrevistados não têm

funcionários;

• a maior parte das vendas é realizada em

feiras e pontos de venda. A comercializa-

ção por encomendas ainda é pequena,

devido à necessidade de se trabalhar mais

a divulgação. Estes artesãos vivem muitas

vezes em localidades sem muito recursos

tecnológicos e acabam tendo oportuni-

dades de contato somente nas feiras;

Page 42: Garimpo das Artes Artesanais do RS

42

Page 43: Garimpo das Artes Artesanais do RS

43Parte 2

Artesanato

Page 44: Garimpo das Artes Artesanais do RS

44

Page 45: Garimpo das Artes Artesanais do RS

45

Parte 2 >> Artesanato >> Povos e Comunidades Tradicionais >> Indígenas

O Reconhecimento do Povo Guerreiro

Técnica: Montagem de BiojóiasMatérias-primas: Sementes e Ossos

Local: Aldeia Charrua Polidoro, Porto Alegre

Page 46: Garimpo das Artes Artesanais do RS

46

O povo Charrua, diferente de outros povos in-

dígenas, não foi submisso à colonização. Pro-

curou sempre cultivar seu modo de vida ca-

çando, fazendo sua roupa típica do couro ani-

mal e colhendo frutos para sua alimentação.

A Cacica Acuab é pajé, xamã e artesã indíge-

na. É a primeira mulher cacica geral do povo

Charrua. Ela comenta que seu povo utilizava

muito o couro para confeccionar brincos e

outros artefatos de rituais e dança. Além do

couro, utilizavam frutos como o coquinho e

nozes do mato, côco do pará, semente olho

de boi, casca de cobra, madeira, bambu, ca-

pim santa-fé, porongo, pedra polida e osso

animal. Também trabalhavam com os fios de

algodão na produção de peças no tear.

Hoje, confeccionam colares, pulseiras, brin-

cos e utilitários para cozinha. Acuab comen-

ta que todos da aldeiam trabalham com o

artesanato, desde as crianças, os jovens e

os mais velhos, e o artesanato representa a

preservação de sua cultura.

“O artesanato não deixa o índio rico, mas é importante cada etnia preservar sua cultura.”

Page 47: Garimpo das Artes Artesanais do RS

47

Atualmente, são poucos Charrua no país e,

após 172 anos de luta, foram reconhecidos

pela FUNAI em 2007.

“As pessoas falam coisas muito estranhas…tipo: não vamos

ajudar os Charrua porque são pouquinhos. Eu digo,

pouquinhos mas somos fortes. Cada um de nós somos fortes.

Porque se não fóssemos fortes, junto comigo, não teríamos

lutado pelo reconhecimento.”

Page 48: Garimpo das Artes Artesanais do RS

48

Page 49: Garimpo das Artes Artesanais do RS

49

Parte 2 >> Artesanato >> Povos e Comunidades Tradicionais >> Indígenas

O Conhecimento Artesanal para a Sobrevivência na Selva de Pedra

Técnicas: Montagem de Biojóias e CestariaMatérias-primas: Sementes e Fibras Naturais

Local: Aldeia Ymã Fág Nhim Kaingang, Porto Alegre

Page 50: Garimpo das Artes Artesanais do RS

50

A artesã indígena Terezinha de Paula Ribei-

ro, a Terê, dedica o seu tempo para a con-

fecção de colares com variadas sementes.

“Eu faço tudo quanto é modelo de colar. Se

eu olhava na novela um colar de metal eu já

fazia em sementes.”

Para Terê, o artesanato representa a cultura

que ela quer passar para suas netas.

“Não é porque estamos na cidade que a gente tem que querer só o que é da cidade.

A gente tem que continuar a geração de onde a gente

veio, a cultura de lidar com sementes e com os balaios.”

O artesanato para o Kaingang é sua identi-

dade cultural e uma forma de sobrevivência.

Utilizam o artesanato como uma moeda

de troca nos grandes centros urbanos sem

competir com o comércio local. Para eles,

é uma sobrevivência sem a mata. As famí-

lias incentivam as crianças a estudar, porque

acreditam que esse é um caminho melhor

para a sobrevivência na cidade. Os pais tam-

bém ensinam os filhos a comercializar e a

trabalharem as relações sociais com os não

índios.

Na Aldeia Fág Nhim também se trabalha

com a cestaria em cipó e taquara para con-

fecção dos balaios e pinheiros de Páscoa e

Natal. A comercialização ocorre na feira do

Brique da Redenção, em Porto Alegre.

Page 51: Garimpo das Artes Artesanais do RS

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Page 52: Garimpo das Artes Artesanais do RS

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Page 53: Garimpo das Artes Artesanais do RS

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Parte 2 >> Artesanato >> Povos e Comunidades Tradicionais >> Indígenas

Força do Barro para a Sobrevivência

Técnicas: Ceramica e CestariaMatérias-primas: Barro e Fibras Naturais Local: Aldeia Pé de Deus Ymã Tũpe Pãn

Comunidade Kaingang do Morro do Osso, Porto Alegre

Page 54: Garimpo das Artes Artesanais do RS

54

A artesã Erondina dos Santos Vergueiro tem

no seu nome indígena – Vég – a tradição

Kaingang das rezas e do cuidado. Ela é uma

péin, pertecente a uma categoria cerimonial

que significa “os que rezam”, os responsáveis

por cuidar das pessoas que morrem.

Os Kaingang são exímios artesãos de cestaria

em taquara e cipó, que é o artesanato mais

visto hoje em dia nas tribos de Porto Alegre.

Erondina é uma das poucas ceramistas indí-

genas na região que cultiva a técnica de mo-

delar panelas de barro. Aprendeu a trabalhar

com o barro aos 6 anos, com o pai. “A ce-

ramica eu aprendi com o meu pai. Quando

eu já me conhecia por gente ele guardava as

panelas e me deu.”

“Este trabalho é desde o desco-brimento do Brasil, porque na-quela época não se tinha onde cozinhar. Os índios que fabrica-ram as primeiras panelas e então lidavam com esses tipos de pane-las de barro que serve para fazer comida e de prato de comer. E estes de barro ficou para guardar sementes e outras coisas. A gen-te foi aprendendo os com não ín-dios a usar a panela de alumínio.”

Page 55: Garimpo das Artes Artesanais do RS

55

Na aldeia Kaingang do Morro do Osso se

buscou fazer um resgate da cultura tradi-

cional das panelas de barro através de um

projeto solicitado pelos índios para a FUNAI.

Sazonalmente, a FUNAI envia o barro e o pó

para vidrado para a produção artesanal das

panelas. O forno a gás também foi adquirido

pelo projeto.

Erondina ensina as crianças da aldeia a fazer

panelinhas de barro no turno inverso ao da

escolinha. A relação dos Kaingang com suas

crianças é de educação para sobrevivência.

Além de ensinar o artesanato, também ensi-

nam como podem sobreviver dele e levam

as crianças para vender com a mãe. “Tem

criança que vai na aula pela manhã sai para

vender a tarde. E quem vem a tarde para a

aula sai pela manhã para vender. Tem que

aprender desde pequeno.”

“Nós temos que passar para o filho, para o neto e para o

bisneto para nunca terminar nossa cultura.”

O povo Kaingang da Aldeia Morro do Osso

também trabalha com cestaria em cipó e ta-

quara e comercializa seus produtos na feira

do Brique da Redenção, em Porto Alegre.

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Parte 2 >> Artesanato >> Povos e Comunidades Tradicionais >> Indígenas

Bichinhos da Aldeia da Pessoa

Técnicas: Entalhamento e CestariaMatérias-primas: Madeira e Sementes

Local: Aldeia Pequena Mata uu Mata Sagrada Tekoá Ka’aguy Mirim Comunidade Mbyá Guarani do Morro da Aracuã (Arakuã), Porto Alegre

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“Nós Guarani sabemos que não temos o direito de vender a natureza. A gente eterniza o bichinho. É o que eu penso e

passo para as crianças. A gente explica as histórias através

do artesanato. O artesanato Guarani tem uma relação forte

para entender a natureza.”

É o que explica o Cacique Maurício, artesão

indígena que passa para as novas gerações

a filosofia de que o artesanato faz parte da

cultura e faz parte do ser Guarani. Antes esse

artesanato era feito somente para dentro da

aldeia e os bichinhos entalhados expressa-

vam o modo de viver na natureza. Hoje, as

crianças guarani começam a ter interesse

pelo entalhe aos 10 ou 12 anos. Eles estudam

pela manhã e pela tarde se dedicam para o

artesanato sem um método específico.

“Não temos um ensinamento…vão fazendo….vem na aldeia da

pessoa. O Guarani foi nascido civilizado também. Então já

tinham conhecimentos do que deviam usar, por isso até agora

estamos usando.”

A comercialização do artesanato veio da con-

sequência dos distanciamento dos Guarani

das matas fechadas, locais onde caçavam,

pescavam e cultivavam para a sobrevivência.

Assim, não dependiam da compra de supri-

mentos para viver. Quando saem para vender

o artesanato não se separam da família, pois

acreditam que é o momento de vivenciar a

cultura e mostrar para as crianças como po-

derão se relacionar com os não índios.

Tanto o homem quanto a mulher trabalham

no artesanato e na roça. O trabalho é sempre

dividido. Além do entalhe dos bichinhos, os

Guarani de Aracua também trabalham com

a confecção de colares, que são uma espé-

cie de identificação dos Guarani da “aldeia”;

pulseiras, que servem de proteção; e choca-

lhos para os rituais e para a comercialização,

além de cestos de cipó e taquara.

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Parte 2 >> Artesanato >> Povos e Comunidades Tradicionais >> Indígenas

A Herança Indígena da Cestaria

Técnica: CestariaMatéria-prima: Fibras Naturais

Local: Aldeia da Taquara Ymã Vãn Ká Comunidade Kaingang do Lami, Porto Alegre

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O aprendizado do trançado para os índios

Kaingang vem da sua origem ancestral. Rosa

Sales é artesã indígena e aprendeu desde pe-

quena o trançado de cestos de taquara e cipó

para o armazenamento de milho, arroz e fei-

jão. Hoje, ela confecciona os cestos para sua

sobrevivência e para não perder sua cultura.

“O artesanato representa a cultura da gente. Desde

pequena a gente já sabe e eu vou passar para o meu netinho

pequeno. A gente não pode perder a nossa cultura.”

O trabalho inicia com a coleta da taqua-

ra verde, que a seguir é destalada. Os talos

são colocados para secar e murchar. Após

o período de secagem pode-se fazer o tin-

gimento ou começar a trançar. No caso das

cestarias de cipó, a matéria-prima é colhida

no período anterior às festas de Natal e uti-

lizada para confeccionar árvores pequenas

e cestos. A artesã comenta que está muito

difícil o acesso à taquara e ao cipo devido à

escassez de matos para a sua coleta e, por

isso, o artesanato de cipó, por exemplo, fica

restrito a um período específico do ano.

“Para nós, já que o índio não tem como vou dizer herança

que vocês deixam para os filhos, é essa a herança que

a gente deixa. Vocês deixam dinheiro, deixam isso, deixam

aquilo e nós deixamos a sabedoria do artesanato para

nossos filhos. Para nós, é uma grande riqueza.”

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Ancestralidade de Geração em Geração

Técnica: TrançadoMatérias-primas: Palha, Tecido

Local: Quilombo Peixoto dos Botinhas, Viamão

Parte 2 >> Artesanato >> Povos e Comunidades Tradicionais >> Quilombolas

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A artesã Edegi Maria Gomes da Silva, conhe-

cida como Deginha, é a líder comunitária do

Quilombo Peixoto dos Botinhas. Trabalha no

resgate da tradição quilombola a partir das

lembranças de sua avó. Ela chama a sua arte

de “as raízes de um povo negro” e, através da

confecção de bonequinhas de nós (Abayo-

mi, da tradição africana) e do artesanato com

palha de bananeira, ela tenta materializar a

memória oral da cultura quilombola. Abayo-

mi vem da língua africana iorubá e significa

“encontro precioso”: abay = encontro e omi

= precioso, “aquela que traz felicidade, que

acalenta”. Deginha conta que sua avó fazia as

bonequinhas com retalhos de tecidos e sem

costura. Ela fazia, mas como estava bem ve-

lhinha, não recordava mais o nome. A artesã

tinha o registro dessa lembrança e, ao reviver

as histórias do quilombo, trouxe o resgate.

“Eu fui resgatar essa história, porque achei muito interessante. Porque a nossa

história não é escrita, é apenas contada. Hoje já se escreve

alguma coisa.”

A palha da bananeira também é resultado

desse resgate. Deginha conta que suas tias

e vizinhas, quando tinham bebês, faziam as

cestinhas para colocar as crianças dentro, o

que hoje é chamado de bebê conforto. Elas

também confeccionavam bolsas com a pa-

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lha, entre outros objetos. Hoje, ela trabalha

reciclando garrafas de vidro e revestindo-as

com a palha. No quilombo, algumas des-

sas garrafas eram utilizadas como lampa-

rinas e outras para armazenar bebidas. Em

algumas peças, a palha passa por um pro-

cesso de tingimento natural com o uso de

sementes de urucum, caqui, butiá, pêssego,

casca de cebola e chás de marcela, boldo e

erva-mate.

Para Deginha, ser artesã é realizar uma ho-

menagem aos seus antepassados que tra-

balharam tanto, assim dando valor para isso.

“Eu sinto que estou representando o negro, por

isso o nome que coloquei: “raízes de um povo negro”. Eu tenho a certeza de que

onde eles estão, estão felizes com a minha homenagem. Eu

me sinto muito bem fazendo artesanato. Eu esqueço da vida

parece que não existe outro mundo naquele momento. Sou

eu e a palha e só.”

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Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

Os Favos que Ganharam o Mundo

Técnica: BordadoMatéria-prima: Tecido

Local: São Borja

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Desde pequena a artesã Maria Solange gos-

ta de artesanato. Nascida em Restinga Seca,

foi ainda criança para a cidade de São Borja.

Lembra que nas aulas de arte na escola fazia

crochê e desfilava com as peças. “E eu sem-

pre gostei, o artesanato para mim é tudo.”

Em 2002, apareceu a oportunidade de se

profissionalizar. Por intermédio de um cha-

mamento no rádio para convocar artesãs

que gostassem de fazer trabalhos de favos

(tipo de bordado) em bombacha, Solange

participou da seleção que durou seis meses

de curso com mais de cem mulheres. Com

o passar dos meses, o grupo se reduziu. As

artesãs produziam bolsas, sacolas, cortinas e

almofadas. Diz ela: “Foi um estou só. O pri-

meiro pedido foi de 400 almofadas.” Quando

criaram a Cooperativa Favos do Sul já eram

30 artesãs. De lá para cá, faz 15 anos que o

empreendimento se mantém com dificulda-

des, mas com perseverança. Foram de São

Borja para a Itália participar de feiras. As arte-

sãs criam técnicas e desenvolvem variados

tipos de favos para suas peças.

“O artesanato é tudo, é uma terapia para mim e é um

alívio.”

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Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

O Caminho do Barro de Vila Flores

Técnica: CeramicaMatéria-prima: Barro

Local: Vila Flores

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A família Ceccato é de imigrantes italianos

que chegaram ao Rio Grande do Sul há 140

anos, precisamente na cidade de Vila Flores,

no interior do Estado. Lá se estabeleceram

em cima de uma jazida de barro que se tor-

nou o sustento da família até hoje. O barro

de várzea serviu para a comunidade produ-

zir, à mão, os primeiros tijolos.

“E eles já sabiam trabalhar a ceramica lá na

Itália. Chegando aqui, eles não tinham nada a

não ser as mãos, o facão e uma enxada e para

fazer os primeiros tijolos, o bisavô arrancou o

barro com um facão no banhado e a avó o

carregou em um avental até perto do case-

bre deles. Começaram a pisar o barro como

sabiam e assim moldaram os primeiros tijolos

sem nada, à mão livre”, explica Benedita.

Benedita Ceccato é artesã e cultiva sua tra-

dição. Lembra que os imigrantes da região

trouxeram da Itália a crença em São Francis-

co de Assis que foi o primeiro a materializar o

presépio. “(…) a gente não podia comprar as

imagens do presépio que vieram com toda a

tradição de Natal (…)”. Seu pai procurava um

tipo de batinga, barro moldável que tem nos

barrancos, levava para casa e todos molda-

vam as peças do presépio. Frequentemente,

voltavam ao barranco com uma enxada ou

colher para retirar mais barro e fazer as es-

culturas. Assim nasceu seu conhecimento

em ceramica, que até hoje é referência na

região. São peças que vão desde mimos para

os turistas até imagens de São Francisco de

Assis e dos primeiros imigrantes italianos.

“Um dia eu disse assim: eu não quero ser mais política,

nem professora, mais nada, eu quero fazer o que eu quero.

Vou fazer artesanato para tudo quanto é gosto.”

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Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

O Rústico e Artesanal que Mudou Vidas

Técnica: Tecelagem, Tricô e CrochêMatéria-prima: Lã Crua

Local: Bagé

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O pampa – ou campanha gaúcha – é o local

de destaque para a produção de lã do país:

90% da produção é do RS e, desse percentu-

al, apenas 20% é para o consumo interno do

país. A cadeia produtiva da lã busca mudar

alguns conceitos para a venda do produto,

como por exemplo o incentivo ao uso da lã

no ano inteiro, já que ainda é vendida so-

mente para consumo no inverno.

Com essa preocupação é que os artesãos

Manuel e Goretti começaram seu trabalho,

há mais de 10 anos, focando no rústico e no

moderno da lã. Manuel sugeriu para a esposa

Goretti que deveriam trabalhar em um pro-

duto diferenciado produzindo manualmen-

te peças mais rústicas, mas também apos-

tar na qualidade da lã e com um desenho

mais moderno. Foi assim que o casal uniu a

tecelagem de Manuel e as agulhas de tricô

de Goretti, resultando em ponchos, blusões,

casacos, chales e toucas de lã crua que são

peças tradicionais do vestuário gaúcho, mas

com a leveza do fio mais fino e macio.

Manuel e Goretti ainda eram universitários

quando o primeiro filho nasceu. As finanças

estavam difíceis e o trabalho no comércio

tirou o lugar dos estudos de Manuel, que

ainda estava no meio da graduação. Como

vendedor no comércio, estruturou a família

e adquiriu uma pequena propriedade em

Hulha Negra, onde criam ovelhas. Quando

começou a trabalhar com a lã aprendeu a

manusear o tear sozinho, até a oportunida-

de de fazer um curso com a Dona Elenita,

uma artesã de mão cheia da região que lhe

ensinou todo o processo da matéria-prima:

esquilar, cardar, fazer o fio e tecer. Ela di-

zia que os artesãos da lã iriam desaparecer,

porque os mais jovens não tinham interesse,

comenta Manuel.

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“A lã é muito difícil…tem que se ter muita força de vontade. A lã

tu tem que te doar para ela”.

Natural de Bagé, Goretti cresceu com a cul-

tura da lã. Sempre gostou do artesanato,

mas com a lã ela se identificou. Gosta mui-

to de criar e produzir as peças. Sobrevive da

lã desde quando iniciaram. “A ovelha é tudo

para nós”, comenta.

“Eu amo o que eu faço. Eu gosto, porque é um trabalho

muito puxado, mas eu faço com dedicação e com amor”.

O casal vive somente da lã. Produz no verão

para vender no inverno e participa de feiras

regionais e nacionais, além de venderem por

encomenda e na sua loja em Bagé. Explican-

do a representatividade da lã culturalmente,

Manuel afirma que ela representa muito bem

seu trabalho de artesão rio-grandense na

região e no país. Nas feiras que participam,

vendem praticamente todo o estoque para

turistas que, mesmo oriundos de regiões de

clima quente, experimentam ponchos e ou-

tras peças. Comenta que eles adoram a lã,

querem senti-la e cheirá-la.

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A artesã Eva Eli Kupffer, Dona Eva, natural de

São Pedro do Sul, escolheu São Borja para vi-

ver há 35 anos. Com 7 anos de idade já tra-

balhava com artesanato com flores, palha de

milho, trigo, bordado, bonecas. Quando ela

encontrou a lã logo se identificou e come-

çou a fazer pesquisas, cursos e a se dedicar

para entender o processo. Sua inspiração foi

sua bisavó alemã, que via trabalhando com

o fio da lã no fuso. “…Eu não aprendi com ela

porque ela não falava brasileiro. Eu era bem

pequena quando ela se foi e eu não aprendi,

mas eu tinha na minha cabeça que um dia

iria aprender. Hoje eu faço o fio no fuso como

ela fazia.” Para ter mais tempo produzindo, ela

faz o fio na roca elétrica e argumenta que é

preciso procurar facilitar o trabalho, mas sem-

pre saber fazê-lo do início ao fim.

No começo tudo foi muito difícil, ela explica.

Para trabalhar com a lã tinha que lidar com

os homens, porque eram eles que traziam as

lãs tosadas, os chamados “mãos sujas”, eles

é que encomendavam os bacheiros e pon-

chos. Em casa não tinha o apoio do marido,

somente do filho que ajudava a contornar

a situação. Mas se orgulha e diz que tudo

valeu a pena.

“Fui crescendo e crescendo e até em Paris eu estive. ….Foi

uma experiência muito boa e um crescimento pessoal muito

grande.”

No trabalho com a lã, dedica-se a fazer o fio,

o tingimento natural, a feltragem e a tece-

lagem. Através de suas pesquisas e experi-

mentos, chegou em uma variada cartela de

cores. Quem comprar um cobertor da arte-

sã vai ficar com uma peça exclusiva para o

resto da vida, pois sua tecelagem e colorido

são únicos. Sua produção se concentra nas

peças rústicas, como cobertores, bacheiros,

ponchos até peças com novas leituras como

o chale, mantas, blusas e vestidos para inver-

no e verão com aplicação de feltro.

Page 81: Garimpo das Artes Artesanais do RS

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“Ser artesão para mim é minha vida. O dia que eu não puder fazer o meu artesanato eu sei que estou no fim, porque eu

amo o artesanato. Acredito que eu nasci artesã.”

Dona Eva é uma das precursoras do grupo

Lã Pura, hoje formado por artesãs das regi-

ões de São Borja e Uruguaiana. O artesanato

dessas mulheres transformou suas vidas e as

fez ganhar o mundo, a ponto de participarem

de feiras nacionais e em Paris, Milão, Portugal

e Argentina. Em 2008, através de uma ação

federal com o projeto “Talentos do Brasil”, Eva

e outras artesãs foram convidadas a participar

da semana prêt-à-porter, em Paris.

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A artesã é natural de São Borja e vive em

uma propriedade rural no interior do municí-

pio na localidade de Caçacã. No começo foi

difícil trabalhar com a lã. Sua família também

não acreditava muito. Pensava no artesanato

como uma maneira de ter sua própria renda

sem sair de casa e não ter a necessidade de

deixar seus filhos com outra pessoa. Mas foi

graças ao artesanato que ela consegui finan-

ciar sua casa e a ajudar a pagar a faculdade

de seu filho. Seu processo com o artesanato

começou com o apoio da EMATER - (….) há

7 anos quando deram uma oficina dentro da

sua comunidade. Muitas mulheres começa-

ram, mas pelas dificuldades de se trabalhar

com a lã, poucas concluíram o curso e hoje

quem trabalha com ela é seu marido.

“Eu costumo dizer que o meu trabalho é um resgate, principalmente para nós da fronteira que tinha bastante

isso e hoje praticamente tu não vê mais. É uma coisa que está

se perdendo.”

Ernestina Martins da Silva, mais conhecida

como Mana, é uma artesã que tem apreço

pelo rústico e trabalha com a lã crua, sem tin-

gimento em tear simples, primitivo, feito de ta-

quara ou de pregos. Sua filosofia para trabalhar

com a lã é pouco investimento no equipa-

mento para obter um trabalho o mais campei-

ro possível. Seu produto artesanal é o bacheiro

ou xergão e o cobertor, tudo sob encomenda.

Page 83: Garimpo das Artes Artesanais do RS

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Para ela, ser artesã é uma satisfação, princi-

palmente quando imagina uma peça, traba-

lha no tear e a vê pronta: algo que ela mes-

ma criou e deu certo – afirma que é uma

satisfação inexplicável. O artesanato ajudou

com sua autoestima e ajudou com que ela

voltasse a estudar.

“A autoestima, foi um incentivo até para eu voltar a estudar.

Hoje estou com uma faculdade foi com a necessidade que eu

me vi no artesanato de crescer. Foi o que me encorajou a

voltar a estudar depois de um bom tempo. Eu estou muito

feliz, tanto com o meu trabalho como com a faculdade.”

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Ana Mari Nunes é artesã rural e trabalha com

a lã há 8 anos, em São Gabriel. Ela faz parte

de um grupo de artesã que movimentam a

AFARTI – Associação Agricultores Familiares

e Artesãos de Faxinal, Rincão Santa Catari-

na e Timbaúva (São Gabriel, RS). A associa-

ção tem uma loja e realiza projetos com as

crianças da região ensinando o artesanato

em lã crua para que não se perda este saber

e fazer cultural. O projeto “Arte Local” ensi-

na crianças do ensino fundamental a fazer

o feltro, biojoias, palas e tapetes. Segundo

Nilza Rozane Pires, supervisora do progra-

ma na Escola Paula Mascarenhas de Moraes,

as crianças gostam muito de fazer as peças

e mostrar o que produziram. O resultado é

uma técnica pedagógica muito interessante

que ensina, estimula e ajuda a preservar um

saber da cultura local.

“Daqui a pouco as artesãs vão ficando velhas e param de

trabalhar e termina também.”

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Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

Redeiras do Aviãozinho

Técnica: Tecelagem, BiojoiasMatérias-primas: Couro de Peixe, Rede de Pescador

Local: Pelotas

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Karine Portela Soares é artesã da pesca. Nas-

cida em São Leopoldo, foi morar em Pelotas

na Colônia Z-3 há 23 anos, quando se ca-

sou. Acostumada a limpar peixe para as fa-

zer feiras, Karine não imaginava que aquela

atividade poderia mudar sua vida e de sua

família com protagonismo, reconhecimento

e melhor renda financeira.

“Sou esposa de pescador e tenho uma relação muito forte

com a pesca. Eu fazia feira há muitos anos vendendo peixe e sem passar na cabeça que

a gente podia fazer algo mais além de simplesmente limpar

peixe e vender na feira.”

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Mãe de três filhas, trabalha em casa na com-

panhia da mais nova, de três aninhos, que já

adora mexer no tear.

Há mais de 10 anos conheceu o artesana-

to com escamas e couro de peixe em um

curso da EMATER. “Eu me apaixonei e não

parei mais de trabalhar.” O grupo do curso se

chamava “Pescando Arte” e era constituído

basicamente por mulheres da Colônia Z-3.

A produção era de biojoias utilizando como

matéria-prima as escamas.

O trabalho com fio de rede veio logo em

seguida, quando uma das artesãs do grupo

trouxe a ideia, indicada por um dos pesca-

dores locais. Ele a recomendou a reciclar o

“aviãozinho”, redes de pesca do camarão da

Lagoa dos Patos, abandonadas na praia de-

pois de muito uso.

“Aviãozinho é o nome da rede que pesca camarão na Lagoa

dos Patos….acredito que é por causa do formato dela que tem

uma cauda longa… a gente aprendeu assim, conhece

assim.”

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Este incremento de matéria-prima ajudou a

modificar a produção das peças e logo pas-

saram a confeccionar bolsas e carteiras.

Em 2008 veio a proposta para a produ-

ção de uma coleção, a qual chamaram

de Redeiras. O nome da coleção ajudou

o grupo a ser mais conhecido e passaram

a se chamar de Redeiras – Associação de

Mulheres Artesãs Redeiras do Extremo Sul.

Com a ajuda do Sebrae, a variedade de

produtos aumentou e começaram a uti-

lizar a técnica do tear para a confecção

das peças. Hoje, o grupo participa de feiras

regionais e no resto do país, além de ter

uma loja no centro de Pelotas chamada

Artesanato da Costa Doce que une as Re-

deiras e mais dois grupos: Bixos do Mar de

Dentro e Ladrilã.

Para Karine, ser artesão é mais que uma ren-

da: é também a possibilidade de ter conhe-

cimento diferenciado que possa ser transmi-

tido para outras gerações.

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“Ser artesão é tudo para mim. É o que eu gosto. Eu tenho

vontade de aprender outras coisas… fazer de tudo um

pouco. Tenho muita vontade de fazer trabalho social

como artesã e poder ensinar alguma coisa. Penso muito

nas crianças… onde eu moro as crianças não têm o que fazer. Eu tenho vontade de

ter um espaço… eu ainda vou correr atrás disso com o

meu conhecimento que não é muito, mas tenho vontade de

dividir. “

Nascida em Pelotas e moradora da Colônia

Z-3, a artesã Viviane Ramos foi introduzida

no grupo por uma amiga. Por saber costurar,

é responsável, principalmentem pela produ-

ção das bolsas de rede e carteiras de couro.

O couro que trabalham vem da colaboração

dos parentes e vizinhos que, quando encon-

tram uma pele mais bonita, a salgam e as

artesãs enviam para o curtume que é a parte

do trabalho que mais gastam.

Para a artesã, o trabalho é uma comodidade,

porque é feito em casa e possibilita cuidar

do filho pequeno. Com a estruturação em

uma associação foi possível todas terem

uma renda e a gerenciar seu dinheiro.

“É uma comodidade para mim, porque a gente faz em casa

e só sai para as feiras. É bom, uma terapia. Eu tenho filho

pequeno e não preciso sair de casa. Agora deu uma mudada

boa, porque temos uma renda e podemos comprar as

coisinhas para a gente.”

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Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

A Arte das Escamas que Modifica Vidas

Técnica: BiojoiasMatérias-primas: Couro de Peixe e Escamas

Local: Porto Alegre

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Elisabete Araújo nasceu em Charqueadas

e logo veio morar em Porto Alegre, ainda

bebê. Casou e teve 5 filhos e se estabeleceu

na região das ilhas no município. Depois

que todos estavam criados e a mais moça

começou a estudar, foi trabalhar na associa-

ção local onde conheceu a Irmã Marinês,

que a ensinou crochê, tricô e pintura. Em

1998, ela teve uma oportunidade que mu-

dou sua vida. Lisa, como é conhecida, e ou-

tras mulheres foram convidadas a participar

de um curso de artesanato com escamas

de peixe, no qual aprenderam a confeccio-

nar flores de escamas. No final do curso, o

professor solicitou que todas trouxessem

ideias para produzir outros produtos com

a matéria-prima. Foi aí que as colegas de

Lisa apresentaram a ideia de confeccionar

brincos de escamas, produto que até hoje

é o carro-chefe da Art’Escamas (Associação

de Artesãos da Ilha da Pintada Bairro Arqui-

pélago). Com o tempo, fizeram outro curso

para aprender todo o processo do curtume

de couro de peixe e, atualmente, criam pe-

ças como carteiras e bolsas em couro de

tilápia, diversificando a produção.

Todas criam e fazem desenhos das peças.

“Nós é que criamos, cada uma faz o que

gosta.” Em projetos distintos, trabalham com

designers que incentivam a criação de peças

diferenciadas.

Lisa comenta que não poderia viver sem o

artesanato. Gosta muito de ter o compro-

misso de se reunir para trabalhar e conversar

com as outras colegas. Foi uma maneira de

ela sair de casa e se sociabilizar, porque fica-

va muito tempo sozinha.

“O artesanato para mim é muito bom e eu gosto. (…) Sem isso hoje eu não sei o que é da

minha vida.”

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Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

A Lonca de Cabrito e o Pelego de Ovelha de Exportação

Técnica: CosturaMatérias-Primas: Couro de Cabrito, Pelego e Lã Crua

Local: Bagé

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“Comecei a fazer artesanato com o couro do cabrito,

lonca de cabrito. O pessoal tinha interesse para fazer costura em cela, corda e

rédeas. E nós criamos cabrito e naquela época não valia nada, centavos. Daí eu fui

fazer lonca. Eu não sabia nada, fui atrás dos vizinhos para

apreender e saiu melhorzinho e hoje estou até exportando

para São Paulo, Santa Catarina, Estados Unidos e Alemanha.”

Dona Rô – como é conhecida por suas cria-

ções – confecciona artigos de lonca de ca-

brito e pelego de ovelha. Rozangele Soares

Scholante mora em Palmas, interior de Bagé,

região da Campanha do Rio Grande do Sul.

Vive com seu marido, Edgard Scholante, par-

ceiro na produção, e com seus dois filhos,

que também ajudam na propriedade rural.

Nascida e criada na Campanha, começou

a trabalhar com o artesanato depois que se

aposentou da docência.

Rô também confecciona pelegos de ovelha

criadas na sua propriedade e faz o processo

com a matéria-prima por completo. O re-

sultado é um pelego de primeira, macio e

brilhoso, que pode ser usado para a confec-

ção de chinelos, golas, tapetes e também de

suas ovelhinhas, que fazem muito sucesso

nas feiras.

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Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

De Tento em Tento se faz a Corda

Técnica: Guasqueria Matéria-prima: Couro Cru

Local: São Borja

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“Sempre fui curioso para fazer corda. A curio-

sidade é que me fez aprender desde guri.”

Mauro, artesão guasqueiro, se criou traba-

lhando em fazendas onde aprendeu com

os mais velhos a fazer corda. Natural de São

Borja, hoje vive com a esposa e com os fi-

lhos em uma propriedade rural em Maçam-

bará, na divisa dos municípios de Itaqui e

São Borja. Lá, Mauro tem um “galpão véio”: é

como denomina seu local de trabalho, onde

trabalha com o couro cru.

A produção é inteiramente artesanal. No

quintal da sua propriedade, trabalha o curti-

mento do couro estaqueado e seco ao sol.

Depois, corta, faz as tiras de pedaços maiores

e tira o tento da lonca. Seu sonho é aumen-

tar o espaço e os equipamentos de trabalho

para atender à demanda de outras regiões

em um menor tempo. “A minha renda hoje

em dia é 100% desse trabalho e não tenho

hora para trabalhar…. todo o dia. A vantagem

de fazer corda é essa.”

“Ser guasqueiro é saber fazer corda, vários tipos de corda,

trançada, chata, qualquer tipo de corda. É um sentimento bom

de saber fazer e não depender de outros. A sabedoria de eu

saber fazer. Entro aqui no galpão e faço. Eu sou artesão

guasqueiro porque eu aprendi a fazer corda. A gente está

sempre aprendendo. Não vou dizer que a gente sabe fazer

tudo, porque sempre tem gente que sabe fazer mais do que a gente. Mas eu me defendo na

parte de fazer corda.”

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Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

De Pai Para Filho: a Herança dos Brinquedos

Técnica: MarcenariaMatéria-prima: Madeira

Local: Sobradinho

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O artesão José Geraldo de Oliveira é natural

de Cachoeira do Sul e hoje vive em Sobra-

dinho, região do Vale do Rio Pardo. Trabalha

há 30 anos com artesanato e aprendeu o

saber e o fazer com seu pai, que era marce-

neiro. À medida que o tempo foi passando,

ele foi se aperfeiçoando, buscando mais co-

nhecimento até que conseguiu adquirir um

galpão onde ampliou a fábrica que funcio-

nava no fundo do quintal de sua casa. “(…)

Estou me sentindo muito bem, adoro o que

eu faço. Tive bastante apoio da EMATER para

várias feiras aqui no RS e é sempre bom a

gente contar com alguém que tem uma vi-

são além do que a gente está fazendo.”

José confecciona brinquedos de madeira

coloridos: carrinhos, caminhões, aviões, ca-

sinhas de bonecas, mobílias para bonecas

e jogos pedagógicos. Comercializa, princi-

palmente, nas feiras e no pós-feira, através

da propaganda boca-a-boca, que considera

melhor que comercial de televisão. Acredita

que a tendência do seu negócio é só crescer,

sempre com transparência, lealdade, sinceri-

dade, honestidade, preço justo e qualidade

no material, na pintura e no acabamento.

“Eu acredito que quando a gente gosta do que faz é

metade do caminho para se seguir em frente.”

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Brincadeira de Talhar e Esculpir que se Ensina Para a Vida

Técnica: EntalheMatéria-prima: Madeira

Local: Tramandaí

Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

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Mauro de Oliveira é artesão natural de São

Leopoldo e adotou a cidade litoranea de

Tramandaí para viver. Trabalha com madeira

desde a infancia, quando aprendeu com o

seu irmão mais velho a fazer brinquedos de

madeira. “Eu tenho um bilboquê de brinque-

do de quando criança e carranca com toqui-

nhos de madeira. Até hoje é muito divertido

fazer.” Lembra que a brincadeira de quando

ele era criança era talhar e esculpir.

Hoje ensina o ofício para seus filhos, que já

confeccionam algumas peças. O mais novo,

com cinco anos, já entalha plaquinhas com

motivos de bichos.

O artesão também ensina as crianças do

ensino fundamental, alunos das escolas da

região e da Serra gaúcha desenvolvendo o

projeto “Talhando a Cidadania”. São oficinas

de um dia com agendamento direto com as

escolas, nas quais crianças acima de 10 anos

aprendem sobre o resgate do entalhe e a es-

culpir madeira.

Ser artesão para Mauro é um tipo de filosofia

de vida em que se aprende a viver com o

essencial, com o que precisa.

“É um estado de espírito, uma benção. Não é só o resultado

do teu trabalho. Acho que quem é artesão de verdade,

de sangue, tem a filosofia do artesão e vive como artesão.

Enxerga a realidade um pouco diferente.”

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As Mulheres de Fibra e do Butiá

Técnica: Trançado, Crochê e BiojoiasMatérias-primas: Caroço e Fibra de Butiá

Local: Giruá

Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

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O butiazeiro é um tipo de palmeira com mais

de 20 espécies encontradas entre o Brasil, a

Argentina, o Uruguai e o Paraguai. No Brasil,

localizam-se em maior quantidade nas regi-

ões planas de Minas Gerais e do Rio Grande

do Sul. No Estado existe uma concentração

da cultura do artesanato do butiá no Litoral

Norte, em Torres, no Noroeste, em Giruá, no

Sudoeste, em Quaraí e no Sudeste, em San-

ta Vitória do Palmar. Constituída de grandes

folhas e de fruto carnoso, o butiazeiro serve

como alimento – o fruto butiá é rico em vi-

tamina C, carotenoides e potássio – e tam-

bém para o artesanato, feito principalmente

das folhas e do caroço do fruto.

A cidade de Giruá fica no Noroeste do Rio

Grande do Sul. Originalmente, era território

dos Guarani e das matas da peculiar palmei-

ra chamada butiazeiro. A cultura do butia-

zeiro na região se mistura com a história de

vida de três giruaenses de coração: Iolanda

Stasiak, Normili Santana Scherer e Araci Vito-

ria Perez (Vick).

Natural de Três de Maio (RS), Iolanda mora

há 20 anos em Giruá e levou seus conhe-

cimentos técnicos da alta costura para o ar-

tesanato com fibra de butiá. Transformou a

trama com a fibra em um tecido resistente

com o qual confecciona bolsas, carteiras e

chapéus com grande estilo. Toda a criação

das peças é feita por ela. Seu trabalho já é re-

conhecido internacionalmente, o que possi-

bilita planejar a comercialização dos produ-

tos para Europa. Ela comenta que as pessoas

reconhecem os produtos de fibra de butiá

como originários do município. “Fico feliz

por ter atingido o objetivo de desenvolver

um artesanato com identidade cultural.”

Para a engenheira agrônoma e artesã Nor-

mili, o artesanato sempre a acompanhou.

Autodidata, gostava de criar coisas dife-

rentes. Aprendeu a tricotar e crochetar ob-

servando a avó. Um dia, veio da sua granja

uma quantidade grande de butiás para fazer

suco, sobrando os caroços. Olhando para

as sobras veio a necessidade de criar algo

com aquela matéria-prima. Com a filha mais

velha, pesquisou na internet e, juntas, des-

cobriram a técnica de crochetar utilizando

pedrarias. Elas logo pensaram: por que não

utilizar os caroços para crochetar também?

Aí começou o processo, que tinha como de-

safios pensar de que maneira se poderia tra-

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tar o caroço para não “carunchar” e encon-

trar uma resina que pudesse dar um bom

acabamento aos produtos. Foram dois anos

de experiências e hoje a artesã tem como

carro-chefe luminárias que traduzem muito

sua história.

“Tu pegares uma peça e fazer o trabalho de criar e ver as

pessoas olharem e admirarem, para mim não tem preço. E geralmente quem tem esse

dom já gosta e vai para o lado artístico da coisa de criar

coisas diferentes…só falta ser explorado.”

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Nascida em Giruá, Vick Perez é o tipo de

cabeça criativa inquieta. Curiosa por novas

experiências, realizou em São Borja oficinas

com a lã de ovelha, aprendendo a utilizar

esteticamente as cores e a fazer tingimento

natural. Com esta técnica e com uma gran-

de vontade de trabalhar artesanato, voltou

para sua cidade natal e começou a confec-

cionar biojóias com a palha e o caroço de

butiá. Para ela, ser artesã é uma realização

pessoal e a sustentabilidade vem com o es-

forço de cada um.

“É um prazer estar trabalhando com este material.

Dar valor as coisas que estavam indo para o lixo.”

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A Palha que era Moeda de Troca Para a Família

Técnica: CestariaMatéria-prima: palha de butiá

Local: Torres

Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

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Quando criança, a artesã Bautia Martins da

Silva trançava palha de butiá e costurava

chapéus para trocar por roupa e comida.

“Tinha as lojas que vendiam secos e mo-

lhados e a gente levava os chapéus para

comprar as fazendas para fazer roupas e

comida.” Nascida na comunidade de Itape-

va, município de Torres, Bautia é de origem

alemã e aos 11 anos aprendeu com o pai

a trabalhar com a palha de butiá. Naquele

tempo, famílias inteiras da região trabalha-

vam com esse material fazendo chapéus e

cestas. Era o que movimentava economi-

camente, a colheita de palha verde dos bu-

tiazeiros para vender para os “palhoceiros”

repassar para os engenhos de fiação de cri-

na vegetal para forros de colchões e sofás.

Quando seus filhos eram pequenos, Bautia

trançava também para comprar comida e

roupa para as crianças, mas, com a proibi-

ção da colheita da palha, tudo ficou mais

complicado. Ela tinha aprendido com seu

pai como fazer para conservar o butiazei-

ro, deixando quatro brotos em cada planta

para crescer mais forte. Hoje, voltou a ser

liberado o corte, incentivando o cultivo e o

artesanato. Para ela, ser artesã é um traba-

lho feito com muito amor.

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O Saber e o Fazer que foi de Filha Para Mãe

Técnica: Tecelagem e CestariaMatéria-prima: Palha de Milho

Local: Vila Flores/RS

Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

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Cultivado até hoje pelos imigrantes italianos,

o artesanato de palha de milho tradicional

de chapéus, cestos e bonecas está concen-

trado na região da Serra Gaúcha.

Marlene Rigo nasceu em Fagundes Varela e

adotou a cidade de Vila Flores, município da

região de Caxias do Sul, para produzir milho

e seu artesanato em palha. No primário, a

artesã aprendeu com a professora a fazer ta-

petes (capachos) de palha de milho. Quando

começou a cultivar o milho para o artesana-

to incentivou sua mãe, Dona Olinda Rigo, a

trabalhar com a palha para produzir os mais

variados tipos de peças, como cestas, bolsas,

bandejas, descanso de pratos e flores. Elas

utilizam as técnicas do nó e principalmente

do cordão para a produção no tear de prego.

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O Resgate do Sorgo da Vassoura

Técnica: CestariaMatéria-prima: Sorgo de Vassoura

Local: Riopardinho/RS

Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

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Sorgo vassoura é um tipo de sorgo em for-

mato de cacho. É muito comum a sua utili-

zação no Rio Grande do Sul para a produção

de vassouras.

Há 15 anos o artesão rural Milton Luiz Les-

sing trabalha com a produção de vassouras

de sorgo em Riopardinho, interior de Santa

Cruz do Sul. Depois da perda de uma safra

de fumo, resgatou os saberes tradicionais de

seu avô e de seu pai, ambos de origem ale-

mã, para recuperar financeiramente a família.

“Comecei a trabalhar porque eu vi meu vô fazendo

antigamente, meu pai fazia um pouco, daí gostei desse ramo

e fui ver como funcionava. Aprendi com eles e através dali

eu fui aumentando a minha produção. Antigamente, só se

vivia das palhas.”

O sorgo de vassoura é plantado de agosto

a setembro. Quando está maduro, o artesão

o colhe e deixa secar ao sol por um ou dois

dias para depois levar para casa. Com a fa-

mília, trabalha artesanalmente na palha. Faz

a limpeza, seleciona por tamanho (pequeno,

médio e grande), depois monta e costura a

vassoura, a parte final que ele mesmo sem-

pre faz manualmente.

“Eu me sinto bem fazendo uma coisa que muita gente parou

de fazer. Agora outras pessoas tão tentando entrar, só que

não é fácil. É um ramo muito disputado.”

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A Dressa do Trigo

Técnica: CestariaMatéria-prima: Palha de Trigo

Local: Bento Gonçaves

Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

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Cultivado pelos imigrantes italianos, o arte-

sanato de palha de trigo é muito comum

no Rio Grande do Sul. Mestres em produzir

a dressa (trança de palha de trigo), os imi-

grantes confeccionavam chapéus, sportas

(bolsas de palha) e cestas. Antigamente, as

mulheres iam para a roça caminhando e fa-

zendo metros de tranças (“batendo trança”).

Também produziam entre muita descon-

tração nos “Filós Italianos”, encontros que

aconteciam depois da lida na roça. Depois

de confeccionada, a dressa servia como um

tipo de moeda para troca por comida e rou-

pa nos mercados das cidades.

A artesã Ilida Casagrada, de Protásio Alves,

trabalha na roça com o marido. Ela planta o

trigo, colhe e faz as tranças para a produção

de variadas peças. Aprendeu o ofício com

seus pais e com cinco anos já fazia a tran-

ça. No colégio, trançava durante a meia hora

do recreio, depois levava a produção para o

mercado público local para trocar por mate-

rial escolar. Comenta que fazer trança fazia

parte da educação. “Você tinha que fazer um

paco de trança no dia para poder ir dormir.”

“Nunca me esqueço que, no dia em que eu casei, fui para o

mercado vender as tranças. Fui com 34 tranças e voltei com 34

quilos de açúcar.”

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Lurdes Trivelim de Toni, artesã de palha de

trigo da cidade de Pinto Bandeira, região de

Bento Gonçalves, é também produtora da

matéria-prima do seu trabalho. Aos onze

anos, atravessou o Rio das Antas no lombo

de um cavalo, junto com seu irmão, para vi-

sitar sua avó que estava doente. Lá conhe-

ceu o artesanato que ela fazia com palha de

trigo. Aos 42 anos, resolveu resgatar esse ar-

tesanato. Com a ajuda de uma vizinha, con-

seguiu as sementes que em três anos rende-

ram uma plantação em seu quintal.

“Daí que eu fiz a minha plantação, meu Deus foi daí que me realizei de começar

a fazer os trabalhos e das primeiras palhas eu fiz uma

“sporta”, cada uma para os meus três filhos. Eu dei uma cesta para cada um que eles

ainda tem, porque é o meu primeiro trabalho que eu

resgatei.”

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O Saber e o Fazer Precioso da Ágata e da Ametista do RS

Técnica: MontagemMatéria-prima: Pedras

Local: Soledade

Parte 2 >> Artesanato >> Artesanato Tradicional e de Referência Cultural

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Natural de Tenente Portela, Ediane Santana

começou a trabalhar aos 16 anos no setor

calçadista do Vale dos Sinos. Em 1999, quan-

do deu a quebradeira no setor, ela, o mari-

do e os dois filhos foram para a cidade de

Soledade, na região Noroeste do Rio Grande

do Sul. Foi lá que se iniciaram no ramo das

pedras preciosas, trabalhando com a ágata,

que é referência na extração local.

“Adoramos lidar com a pedra, é uma coisa que traz energia e, como artesão, a gente trabalha

com ela do início até o fim e agrega valor.”

O artesanato em pedra consiste em dar for-

ma à matéria-prima serrando, lavando, li-

xando e polindo. A ágata é comprada bruta

e depois é serrada para fazer o geodo* ou

uma peça diferenciada. Os geodos são for-

mações rochosas ocas nas paredes internas

e aberturas nas rochas vulcanicas ou sedi-

mentares. Apresentam formações cristalinas

na cavidade arredondada que conservam a

energia interna. Todos os cristais de quartzo

formam geodos.

A cor natural da ágata pode ser branca, cin-

za, cinza-azulada, vermelha, preta, laranja e

marrom. A pedra tem a característica de ser

mais porosa, por isso, é comum encontrar

peças coloridas nas cores rosa, roxo, verde,

azul e também em vermelho e preto.

Ediane confecciona jogos de porta-copos,

relógios, kit de abridores e joias como brin-

cos, pulseiras, anéis e pingentes. Para ela, o

artesanato representa uma realização pes-

soal, com a vantagem de ser um trabalho

revigorante por causa de sua energia.

“Eu me realizei no artesanato desde que vi a pedra. A pedra é fantástica. Ela te dá um tcham assim, é muito fantástica e te

deixa para cima. (…) Trabalhar com pedra é paixão. Você pode

fazer qualquer coisa com ela sabendo aproveitar.”

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Ney comenta que seus anéis, por exemplo,

não se encontram um igual ao outro porque

as pedras naturais que são usadas nunca são

iguais umas às outras.

“É isso que me fascina. Hoje você encontra no mercado anéis, pingentes e brincos

feitos em fundições, milhares e milhares de peças todas iguais.

A maioria do pessoal que trabalha com a pedra e gosta

e consegue sobreviver com isso, difícilmente larga, tende sempre a continuar, melhorar

e trabalhar porque é fascinante pela energia. Você pegar uma pedra bruta, fazer o trabalho todo nela e ver o resultado é

legal demais.”

Para Claudinei Ianzer, mais conhecido como

Ney, trabalhar com pedras é absorver a sua

energia. Artesão natural de Iraí, escolheu So-

ledade para trabalhar no ramo das pedras.

No início, em 1997, trabalhava com a parte

burocrática do processo das pedras e, com

o tempo, foi se apaixonando pelo fazer arte-

sanal e abriu um empresa já criando e pro-

duzindo peças como relógios, anéis, brincos

e pingentes. Como matéria-prima principal

utiliza drusas (aglomerado de cristais com

base e pontas) de ágata e ametista e flor de

ametista (o pedaço no formato natural da

pedra quando ela é extraída).

O Rio Grande do Sul tem grandes concen-

trações de ágatas e ametistas, sendo um dos

maiores produtores do país.

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“O artesão não tem pátria: são de sua aldeia. E mais: são do seu bairro e de sua família. Os artesãos não nos defendem da unificação da técnica e de seus desertos geométricos. Ao preservar as diferenças, preservam a

fecundidade da história.”(Paz, 1991, p. 54)

Artesãos

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Pedro Guarani

Cacique Maurício Guarani

Rosa SalesKaingang

Ilalia Guarani

Jaime Alves Kaingang

ErondinaKaingang

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Terezinha (Terê) Kaingang

Osvaldo Charrua

CarlosCharrua

EdegiQuilombola

ZenildaQuilombola

Cacica Acuab Charrua

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TaniaGiruá

Maria SeniKaingang

Silvia Kaingang

Nilva Quilombola

José CarlosTapes

Edegi Guarani

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Mestre ErvinGiruá

VeraImbé

MauroSão Borja

Osmar São Borja

CacildaGiruá

Mestre LilaGiruá

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Maria do CarmoImbé

IdailaBento Gonçalves

GorettiBagé

Manuel Bagé

ElianeImbé

TaniaImbé

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Paulo GilbertoSão Gabriel

Maria HelenaGiruá

Ana MariSão Gabriel

Normili Giruá

LeonorBento Gonçalves

MargaridaBento Gonçalves

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IolandaGiruá

Maria TerezinhaGiruá

AraciGiruá

IraniGiruá

TalilaGiruá

CirleiGiruá

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MiltonRio Pardinho

LeandroSão Borja

SolangeSão Borja

Eva São Borja

Santo ÂngeloJosé GeraldoSobradinho

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TerezinhaProtásio Alves

LurdesPinto Bandeira

BeneditaVila Flores

MarleneVila Flores

RozangeleBagé Protásio Alves

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EdianeSoledade

ClaudineiSoledade

MarioSoledade

Celeomar Soledade

DomingasBento Gonçalves

Ana Danieli

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CleciSão Gabriel

Irmã MarinêsPorto Alegre

JaneSão Gabriel

Maria MadalenaSão Gabriel

Paulo GilbertoSão Gabriel

GeneciSão Gabriel

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KarinePelotas

Maria do CarmoTapes

MauroTramandaí

Bautia Torres

ElisabetePorto Alegre

ErnestinaSão Borja

Page 154: Garimpo das Artes Artesanais do RS

154

Referências

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Letícia de Cássia

Gestora Cultural, professora e pesquisadora. Especialista em Gestão e Salvaguarda de Patri-

mônio Cultural Imaterial, em Gestão de Cidades e Empreendimentos Criativos e em Projetos

Sociais e Culturais. Graduada em História, Teoria e Crítica de Artes pela UFRGS. Graduada em

Comunicação Social pela PUCRS. É diretora da Pangea Cultural, escritório de gestão cultural. Foi

professora do curso de Especialização em Economia da Cultura da UFRGS, da Especialização

de Gestão Cultural e do curso de Artes Visuais: Cultura e Criação do SENAC RS, com foco na

indústria criativa. http://pangeacultural.awardspace.com

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