Relatorio final do projeto CSPLP

44
1 Relatório final do projeto “Cientistas sociais de países de língua portuguesa: histórias-de-vida” - Processo CNPq 490721/2007-9 Pesquisadores: Celso Castro, Helena Bomeny, Karina Kuschnir e Arbel Griner (Brasil), António Firmino da Costa e Maria das Dores Guerreiro (Portugal) e Guilherme Mussane (Moçambique) Introdução O objetivo principal do projeto foi iniciar a produção de um acervo de entrevistas audiovisuais de história-de-vida com cientistas sociais dos países associados no projeto (Brasil, Portugal e Moçambique). Este objetivo foi alcançado, como se pode observar na tabela seguinte: Entrevistado (a) País Data da entrevista Duração Gláucio Soares Brasil 9/7/2008 01:32:00 Gláucio Soares Brasil 29/8/2008 00:53:00 Gláucio Soares Brasil 16/9/2009 00:54:00 Gilberto Velho Brasil 13/8/2009 01:54:00 Gilberto Velho Brasil 22/9/2009 01:19:00 Gilberto Velho Brasil 29/9/2009 01:50:00 Elisa Reis Brasil 11/7/2008 01:47:00 Elisa Reis Brasil 3/10/2008 02:03:00 Peter Fry Brasil 14/7/2008 02:32:00 Peter Fry Brasil 25/9/2008 03:32:00 Peter Fry Brasil 6/11/2008 01:13:00 Roque Laraia Brasil 28/10/2008 01:12:00 Leôncio Martins Brasil 30/10/2008 02:26:00 Renato Ortiz Brasil 13/3/2009 02:19:00 Renato Ortiz Brasil 13/3/2009 02:33:00 Yvonne Maggie Brasil 8/7/2009 03:30:00 Yvonne Maggie Brasil 28/9/2009 01:56:00 Yvonne Maggie Brasil 8/10/2009 03:14:00 Moacir Palmeira Brasil 9/7/2009 03:33:00 Moacir Palmeira Brasil 7/10/2009 03:15:00 Glaucia Villas Bôas Brasil 19/9/2008 01:31:00 Glaucia Villas Bôas Brasil 26/6/2009 01:54:00 Glaucia Villas Bôas Brasil 28/9/2009 01:39:00 Simon Schwartzman Brasil 19/6/2009 02:15:00 Simon Schwartzman Brasil 10/7/2009 01:01:00

Transcript of Relatorio final do projeto CSPLP

Page 1: Relatorio final do projeto CSPLP

1

Relatório final do projeto “Cientistas sociais de países de língua

portuguesa: histórias-de-vida” - Processo CNPq 490721/2007-9

Pesquisadores: Celso Castro, Helena Bomeny, Karina Kuschnir e Arbel Griner (Brasil), António

Firmino da Costa e Maria das Dores Guerreiro (Portugal) e Guilherme Mussane (Moçambique)

Introdução

O objetivo principal do projeto foi iniciar a produção de um acervo de entrevistas

audiovisuais de história-de-vida com cientistas sociais dos países associados no projeto (Brasil,

Portugal e Moçambique). Este objetivo foi alcançado, como se pode observar na tabela

seguinte:

Entrevistado (a) País Data da entrevista Duração

Gláucio Soares Brasil 9/7/2008 01:32:00 Gláucio Soares Brasil 29/8/2008 00:53:00 Gláucio Soares Brasil 16/9/2009 00:54:00 Gilberto Velho Brasil 13/8/2009 01:54:00 Gilberto Velho Brasil 22/9/2009 01:19:00 Gilberto Velho Brasil 29/9/2009 01:50:00

Elisa Reis Brasil 11/7/2008 01:47:00 Elisa Reis Brasil 3/10/2008 02:03:00 Peter Fry Brasil 14/7/2008 02:32:00 Peter Fry Brasil 25/9/2008 03:32:00 Peter Fry Brasil 6/11/2008 01:13:00

Roque Laraia Brasil 28/10/2008 01:12:00 Leôncio Martins Brasil 30/10/2008 02:26:00

Renato Ortiz Brasil 13/3/2009 02:19:00 Renato Ortiz Brasil 13/3/2009 02:33:00

Yvonne Maggie Brasil 8/7/2009 03:30:00 Yvonne Maggie Brasil 28/9/2009 01:56:00 Yvonne Maggie Brasil 8/10/2009 03:14:00 Moacir Palmeira Brasil 9/7/2009 03:33:00 Moacir Palmeira Brasil 7/10/2009 03:15:00

Glaucia Villas Bôas Brasil 19/9/2008 01:31:00 Glaucia Villas Bôas Brasil 26/6/2009 01:54:00 Glaucia Villas Bôas Brasil 28/9/2009 01:39:00 Simon Schwartzman Brasil 19/6/2009 02:15:00 Simon Schwartzman Brasil 10/7/2009 01:01:00

Page 2: Relatorio final do projeto CSPLP

2

Lucia Lippi de Oliveira Brasil 8/10/2009 01:21:00 Lucia Lippi de Oliveira Brasil 15/10/2009 01:39:00 Luica Lipp de Oliveira Brasil 22/10/2009 02:00:00 Luica Lipp de Oliveira Brasil 30/10/2009 02:00:00 José Augusto Pádua Brasil 24/9/2008 01:44:00

Carlos Machili Moçambique 15/8/2008 01:20:00 Luis Manuel Cerqueira de

Brito Moçambique 12/8/2009 00:55:00

Isabel Maria Alçada Casimiro Moçambique 18/8/2008 01:11:00 Janet Mondlane Moçambique 16/8/2009 01:12:00

Filipe José Couto Moçambique 27/4/2009 01:07:00 Gerhard Julius Liesegang Moçambique 12/8/2008 01:46:00

José Madureira Pinto Portugal 24/7/2008 03:10:00 João Ferreira de Almeida Portugal 28/7/2008 03:00:00

Joaquim Pais de Brito Portugal 15/12/2008 02:53:00 Joaquim Pais de Brito Portugal 13/3 /2009 01:27:00 Joaquim Pais de Brito Portugal 21/4/2009 03:52:00 Miriam Halpern Pereira Portugal 24/3/2009 01:50:00

Boaventura de Sousa Santos Portugal 22/4/2009 03:00:00 Maria de Lourdes Lima dos

Santos Portugal 24/4/2009

02:22:00

Total horas gravadas: 89:36:00

Embora a história das Ciências Sociais já tenha sido objeto de importantes estudos,

particularmente no Brasil e em Portugal,1 ao iniciar-se a pesquisa não havia disponível, em

nenhum dos países participantes, um acervo documental referente à trajetória pessoal,

profissional e acadêmica de cientistas sociais equivalente ao que nos comprometíamos a

constituir. Mais que isso, propúnhamos também realizar entrevistas filmadas (e não apenas

gravadas em áudio) e disponibilizá-las na internet, ao final do projeto. O resultado está

disponível no endereço www.fgv.br/cpdoc/cplp.

Essas características, que marcaram desde o início o caráter inovador do projeto,

também impuseram dificuldades. Neste relatório privilegiaremos a apresentação de questões

metodológicas centrais para a pesquisa, mas também estabeleceremos algumas conexões com

1 Ver por exemplo, no caso brasileiro, MICELI, Sergio (org.). 1989. História das ciências sociais no Brasil,

vol. 1. São Paulo, Vértice/Idesp e MICELI, Sergio (org.) 1995, História das ciências sociais no Brasil, vol. 2. São Paulo, Sumaré/Idesp. No caso português, PINTO, José M. (2007), “A sociologia em Portugal: formação, tendências recentes e alternativas de desenvolvimento”, in Indagação Científica, Aprendizagens Escolares, Reflexividade Social, Porto, Afrontamento: 69-114; MACHADO, Fernando L. (2009) “Meio século de investigação sociológica em Portugal: uma interpretação empiricamente ilustrada”, Sociologia, 19: 283-343.

Page 3: Relatorio final do projeto CSPLP

3

aspectos de teoria social geral, bem como com aspectos de contextos sociais específicos,

relativos ao desenvolvimento das Ciências Sociais no Brasil, em Portugal e em Moçambique.

A análise do conteúdo desse conjunto de entrevistas fica reservada para textos futuros,

mas, acima de tudo, fica estendido o convite a outros pesquisadores para que analisem e façam

uso do acervo resultante do desenvolvimento do projeto.

Gostaríamos de destacar desde logo, no entanto, o fato de que essa pesquisa tem sua

continuidade em outro projeto,2 no qual está prevista a realização de mais 60 horas de

entrevistas. Juntos, os dois acervos constituirão o marco fundador de uma ampla história

audiovisual das Ciências Sociais na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

As diferentes tradições nacionais e a seleção dos entrevistados

O perfil dos entrevistados, em cada um dos países, variou conforme características

específicas dos contextos nacionais. Em especial, foi importante levar em conta as histórias

distintas das Ciências Sociais nos países participantes.

Na década de 1980, Sergio Miceli, pesquisador do Instituto de Estudos Econômicos,

Sociais e Políticos de São Paulo (IDESP), coordenou uma pesquisa financiada pela Fundação Ford

com o objetivo de estudar a institucionalização do campo científico das Ciências Sociais no

Brasil. A pesquisa tratou dos condicionantes do desenvolvimento dessa área acadêmica,

apontando matrizes que competiam por legitimidade, instituições de maior relevo, espaços

onde reflexões sobre a vida social, a cultura, a atividade intelectual e as instituições se

desenvolviam. Os resultados, publicados em dois volumes, contaram com a colaboração de

cientistas sociais de vários estados e instituições brasileiras, apresentando um esforço de

sistematização da história deste campo que se tornou referência na área.3 As obras trataram de

temas como o nascimento dos museus, a influência de intelectuais estrangeiros (principalmente

americanos e franceses) na montagem das ciências sociais em São Paulo, a dinâmica editorial e

seus percalços, a história da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, o ambiente

2 Projeto “História audiovisual das ciências sociais no Brasil”. Edital CNPq 13/2008, Programa de

cooperação em matéria de Ciências Sociais para os países da comunidade dos países de língua portuguesa CPLP (Vigência 2009–2010). (Desenvolvido em conjunto com Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC/FGV), Laboratório de Antropologia Urbana (PPGSA/IFCS/UFRJ), Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa - ISCTE (Portugal) e Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM)) 3 Ver MICELI, nota 1.

Page 4: Relatorio final do projeto CSPLP

4

intelectual da Universidade de São Paulo (USP), a tradição mineira das ciências sociais, a

tradição antropológica e suas especificidades, a institucionalização das ciências sociais no Rio de

Janeiro, entre outros.

Este esforço de pesquisa e os debates sucessivos que alimentou em fóruns acadêmicos,

como nos encontros anuais da ANPOCS (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em

Ciências Sociais, criada em 1977), apontavam a década de 1930 como momento-chave de

instituição das ciências sociais no Brasil, com destaque para as diferenças no desenvolvimento

dos paradigmas científicos nas instituições de Rio e São Paulo.4 Considerada a periodização

proposta por Miceli (1989), temos uma distância de quatro décadas a afastar Brasil e Portugal,

país onde apenas em meados da década de 1970, com o retorno à democracia, torna-se possível

a institucionalização das Ciências Sociais. No Brasil, este é um período de ditadura política, mas

é também um momento de investimento substancial do governo federal e de agências

estrangeiras na política científica e nas instituições de pesquisa no país. As ciências sociais se

beneficiaram desse duplo investimento, do qual são tributárias instituições como o Centro

Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), o Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de

Janeiro (IUPERJ), o Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu

Nacional/UFRJ, o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil

(CPDOC) da Fundação Getulio Vargas, para citar apenas alguns. Todos esses centros de pesquisa

(e ensino, em certos casos) surgem nos últimos anos da década de 1960 ou início da década de

1970. O estímulo financeiro conjuga-se decisivamente com a ampliação dos programas de pós-

graduação no Brasil a partir do Parecer 977 da Câmara de Ensino Superior (CESu), do então

Conselho Federal de Educação, também conhecido como Parecer Sucupira, alusão ao seu

relator, Newton Sucupira, professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Votado

em 3/12/1965, o documento contém, além das definições dos diferentes tipos de pós-

graduação, informações sobre as políticas traçadas para o setor de pós-graduação no país. A

década de 1970, portanto, além da disponibilização de recursos volumosos para o

desenvolvimento da ciência contou também com a proliferação da pós-graduação, o que é,

indiscutivelmente, um ponto importante para o registro da história das ciências sociais no

Brasil.5

4 Ver hipótese distinta em SANTOS, Wanderley G. . 1967. ”A imaginação político-social brasileira”, Dados,

Rio de Janeiro, n. 2/3, p.182-193. 5 Sobre esse tema, ver Newton Sucupira e os rumos da educação superior (Brasília, Paralelo 15, 2001,

disponível em www.fgv.br/cpdoc), de Helena Bomeny, uma das integrantes da equipe deste projeto.

Page 5: Relatorio final do projeto CSPLP

5

No caso brasileiro, a seleção dos entrevistados teve como base a organização de uma

matriz de dados sobre as Ciências Sociais no Brasil que compreendia o ano de nascimento e de

conclusão do doutorado de antropólogos, cientistas políticos e sociólogos participantes da

criação dos primeiros programas de pós-graduação na área ou que participaram da fundação de

instituições como ANPOCS, CEBRAP, IUPERJ e CPDOC. Obtivemos, assim, uma disposição de

cientistas sociais por diferentes áreas do conhecimento e por gerações – aqui entendidas menos

em seu sentido etário do que pelo compartilhamento de experiências acadêmicas e profissionais

e pela vivência de um mesmo contexto histórico.

Em sua configuração contemporânea, as Ciências Sociais desenvolveram-se e

institucionalizaram-se em Portugal, como dissemos, apenas em meados da década de 1970, e o

impacto do salazarismo parece ser um elemento fundamental para explicar esse

desenvolvimento tardio. As personalidades selecionadas e entrevistadas em Portugal são, de

algum modo, fundadoras no país das respectivas áreas disciplinares, dos primeiros cursos de

graduação (licenciaturas) e, em certos casos, das próprias instituições universitárias em que

essas áreas se desenvolveram. Foram também protagonistas de uma primeira série de pesquisas

realizadas segundo os padrões acadêmicos reconhecidos atualmente nas Ciências Sociais e

autores de trabalhos empíricos, teóricos e metodológicos de referência para os estudantes da

área. Foram ainda os orientadores de doutorado das gerações seguintes de cientistas sociais, as

quais já construíram as suas carreiras acadêmicas em moldes mais institucionalizados.

A situação é tipicamente essa no que diz respeito à Sociologia portuguesa, área na qual

se entrevistaram vários protagonistas fundadores vivos mais importantes: José Madureira Pinto,

João Ferreira de Almeida e Boaventura de Sousa Santos. Em relação à antropologia em Portugal,

houve como que uma fratura temporal entre, por um lado, as tradições anteriores de estudos

etnológicos europeus e coloniais e, por outro lado, a antropologia no seu sentido atual. O único

antropólogo português entrevistado nesta primeira etapa da pesquisa, Joaquim Pais de Brito, é

a personalidade-chave entre essas duas eras e o protagonista decisivo na fundação e/ou

reativação de algumas das mais importantes instituições e dinâmicas da antropologia no país.

Quanto à Ciência Política, enquanto área de conhecimento autônoma em relação aos estudos

jurídicos, os desenvolvimentos são ainda mais recentes e só há pouco tempo começa a ter

presença significativa e assumida no universo institucionalizado das ciências sociais portuguesas.

Page 6: Relatorio final do projeto CSPLP

6

Outra manifestação importante das diferenças da situação portuguesa face ao caso

brasileiro é a maior fluidez que a própria categoria “Ciências Sociais” parece ter em Portugal.

Com efeito, não há em Portugal uma institucionalização nítida do conceito de Ciências Sociais,

pelo menos não no sentido que no Brasil tem, por exemplo, a ANPOCS e os comitês do CNPq e

da CAPES. No contexto luso praticamente não há cursos superiores com a designação de

Ciências Sociais, embora esta seja uma terminologia muito frequente na pesquisa e na

argumentação teórica e metodológica, situações em que é usada habitualmente em sentido

muito abrangente. A Sociologia, a Antropologia e a Ciência Política são consideradas

habitualmente como ciências sociais, mas outras áreas também são com frequência nelas

incluídas, desde a demografia e a geografia (humana ou social) até a economia e a psicologia

(social), entre outras. A história, sobretudo a história moderna e contemporânea, também é

associada com frequência às Ciências Sociais, embora neste caso as classificações sejam mais

ambíguas e controversas, quer nas concepções dos seus especialistas, quer nas

compartimentações institucionais. Na verdade, tudo depende bastante dos contextos

classificatórios.

A seleção dos entrevistados em Portugal obedeceu, nesse primeiro projeto, a critérios

de centralidade no campo das Ciências Sociais, protagonismo fundador inequívoco e

senioridade de referência. A dimensão geracional foi importante, na medida em que casos mais

ou menos isolados de antiguidade muito grande sem conexão profunda com as dinâmicas atuais

de desenvolvimento das Ciências Sociais ou casos de novos protagonismos emergentes de idade

bastante mais jovem parecem ambos sair do perfil genérico focado pelo projeto e ser menos

comparáveis com os casos brasileiros.

No caso de Moçambique, as primeiras pessoas procuradas, aquelas que foram indicadas

por entrevistados brasileiros ou que eram incontestavelmente pioneiras na institucionalização

das Ciências Sociais no país, recusaram-se, direta ou indiretamente, a conceder entrevistas.

Alegaram timidez, desconforto frente à câmera, ou falta de disponibilidade. Colaborou com o

projeto, entre outros, Janet Rae Mondlane, da Fundação que leva o nome de seu falecido

marido, Eduardo Chivambo Mondlane, antigo presidente da Frente de Libertação de

Moçambique (Frelimo) morto em 1969, doutorado em Sociologia pela Northwestern University,

de Evanston, Illinois.

Eduardo Mondlane dá nome à principal universidade moçambicana dos tempos atuais, a

UEM. A instituição nasceu como Estudos Gerais Universitários de Moçambique (EGUM),

Page 7: Relatorio final do projeto CSPLP

7

fundada pelo governo colonial português em 1962. Marcou a inauguração relativamente tardia

da educação superior em Moçambique, e, em fins da década de 1960, passou a se chamar

Universidade de Lourenço Marques.

O colonialismo delineou o modo de se fazer ciências sociais e humanas em

Moçambique. Desenhadas enquanto instrumento de legitimação do sistema vigente, de acordo

com Tereza Cruz e Silva6, as ciências sociais moçambicanas da década de 1960 eram feitas

sobretudo em forma de descrições etnográficas, cálculos estatísticos e estudos sobre questões

de diplomacia portuguesa nos seus territórios ultramarinos.

O quadro muda lentamente após a independência de Moçambique, conquistada em

1975. À época, quadros competentes ainda tinham de ser formados para assumir as cadeiras

das Ciências Sociais e para redesenhá-las. A produção científica é lentamente impulsionada,

programas e métodos de ensino no campo das Ciências Socias são instituídos e reformulados.

Neste contexto, desempenha forte papel a Fundação Ford, que no Brasil, sob direção do

antropólogo Peter Fry, estabelece um programa de formação de quadros profissionais

moçambicanos na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Nesse processo, e no domínio das Ciências Sociais, jogou um papel vital o

Centro de Estudos Africanos (CEA), particularmente no campo da investigação

científica, e a Faculdade de Letras (ambos na Universidade Eduardo Mondlane),

que através de debates, reformas curriculares e produção científica, introduziram

no país novos moldes de abordagem dos problemas. (CRUZ E SILVA7)

Proliferam-se, sobretudo nas duas últimas décadas do século XX, centros que

implementam novos métodos de investigação multidisciplinar. Desenvolvem-se aí temáticas que

refletem o cenário pós-colonial, e que enfatizam as implicações do processo de paz e da

transição para o sistema político democrático; a pobreza, a questão da terra; as questões de

6 In: CRUZ E SILVA, T.; ARAÚJO, M. & CARDOSO, C (orgs). Lusofonia em África: história, democracia e integração africana. Dakar: CODESRIA, 2005. 7 Disponível em: http://64.233.163.132/search?q=cache:Dba0LUju8XAJ:www.ufpel.tche.br/isp/ppgcs/downloads/2009/cruz_e_silva/CRUZ_E_SILVA_Ensino_Superior_em_Mocambique.doc+Na+%C3%A1rea+da+pesquisa,+apesar+do+reduzido+n%C3%BAmero+de+indiv%C3%ADduos+com+forma%C3%A7%C3%A3o+superior+no+pa%C3%ADs,+%C3%A0+data+da+independ%C3%AAncia+nacional,+uma+gera%C3%A7%C3%A3o+de+jovens+intelectuais+mo%C3%A7ambicanos&cd=1&hl=en&ct=clnk&client=firefox-a

Page 8: Relatorio final do projeto CSPLP

8

gênero; as línguas moçambicanas e, mais recentemetne, os desdobramentos da disseminação

da AIDS.

Além da americana Janet Mondlane, viúva de Eduardo Mondlane, foram por nós

entrevistados Carlos Machili, da Direcção Nacional dos Assuntos Religiosos, uma instituição

subordinada ao Ministério da Justiça; Luis de Brito, antropólogo do Instituto de Estudos

Económicos e Sociais [IESE], uma instituição privada de pesquisa; Isabel Casimiro, historiadora

do Centro de Estudos Africanos; e Filipe Couto, padre e sociólogo, reitor da UEM. Destes, a

maioria foi militante na Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).

A especificidade dos entrevistados: relação entre entrevista, status social e poder

simbólico

A entrevista de pesquisa social não consiste apenas num procedimento metodológico.

Produz-se através de uma relação social, mas não de uma relação social “habitual”. A realização

da entrevista implica a criação de uma relação social de características muito específicas que, de

certo modo, instituem um tipo próprio.8 Do ponto de vista situacional, a entrevista praticada na

pesquisa social funciona como uma “moldura” de sentido9, organizadora da experiência narrada

– neste caso, narrada em registro biográfico.

Por outro lado, do ponto de vista institucional, a entrevista transporta consigo as

assimetrias estruturais do contexto social em que ocorre e, em particular, as posições de poder

desiguais dos atores sociais envolvidos. Nesta perspectiva, um problema fundamental é o da

dominação simbólica do entrevistador sobre o entrevistado, com os riscos de imposição de

significados que essa dominação simbólica transporta consigo, e com os consequentes

equívocos analíticos que pode originar. Uma referência importante desta abordagem é o

trabalho dirigido por Pierre Bourdieu, La misère du monde (1993). O pressuposto desta

argumentação é o de que o entrevistador/pesquisador ocupa uma posição social de dominação

face ao entrevistado, por ter um status mais elevado do que ele.

8 Tal como as entrevistas jornalística, psicológica, confessional, policial etc., constituem outros tipos

próprios de relação social, com algumas características análogas às da pesquisa social, mas também com outras características bastante diferentes.

9 Nos termos da frame analysis, de Erving Goffman (Frame Analysis: An Essay on the Organization of

Experience. Nova York: Harper and Row, 1974.)

Page 9: Relatorio final do projeto CSPLP

9

Ora, no caso deste projeto – e, de maneira geral, sempre que a pesquisa tem por objeto

integrantes de setores de elite –, isso não ocorre. A própria definição de partida do objeto de

estudo a isso conduz. Os entrevistados participam da elite acadêmica de seus países. Foram

personagens marcantes da institucionalização e desenvolvimento das Ciências Sociais nos

respectivos países, com posição central nas suas áreas de conhecimento e elevada reputação. O

que é que se aplica ou não da teorização de Bourdieu quando os entrevistados ocupam posições

sociais mais elevadas e têm maior poder simbólico do que os entrevistadores/pesquisadores nos

campos específicos de atividade científica em que uns e outros se inserem, neste caso nas

Ciências Sociais? Prevalecem os efeitos relativos ao papel social dos entrevistadores ou os

relativos à posição social dos entrevistados?

Por outro lado, se lidávamos com uma elite acadêmica, a própria equipe de

entrevistadores/pesquisadores não era, de maneira alguma, despossuída de poder simbólico

perante os entrevistados. Entrevistamos pessoas que, como nós, também eram cientistas sociais

– “colegas” de um mesmo “mundo acadêmico”, embora em geral mais seniores. Além disso,

valorizavam como importante o tipo e a natureza institucional do projeto que conduzíamos, que

registraria e tornaria públicos seus depoimentos para outros pesquisadores, presentes e

futuros.

Se a proximidade profissional acarretou em alguns momentos dificuldades de

distanciamento em relação ao nosso “objeto”, por outro lado gerou grande interesse, na

medida em que também nos vimos, em alguma medida, através das trajetórias de nossos

entrevistados. Em particular, a participação conjunta de pesquisadores de diferentes países no

mesmo projeto (e, em vários casos, nas mesmas entrevistas) enriqueceu sobremaneira essa

experiência.10 Em mais de um caso, um entrevistador de outro país, justamente por sua

condição de “estrangeiro” em relação ao mundo acadêmico do entrevistado permitia-se tomar

liberdades ou manifestar ingenuidades que seriam mais problemáticas no caso dos

pesquisadores/entrevistadores conterrâneos. Em algumas entrevistas, por outro lado,

pesquisadores de países em que o entrevistado havia feito sua investigação proporcionaram

contraponto de olhar a respeito de temas próprios à sua realidade, observada outrora pelo

cientista estrangeiro.

10

Exceto no caso de nosso colega Guilherme Mussane que realizou isoladamente diversas entrevistas em Maputo (Moçambique). Num próximo projeto, esperamos sanar essa situação, mobilizando recursos para maior investimento técnico e de pesquisa no caso moçambicano em comparação com os demais países envolvidos.

Page 10: Relatorio final do projeto CSPLP

10

A reflexão metodológica sobre as entrevistas realizadas neste projeto sugere que as

questões acima levantadas não podem ser respondidas de forma redutora. Em vez disso, para a

análise da metodologia destas entrevistas biográficas e das histórias de vida que delas

decorrem, importa tomar em conta, de maneira mais completa e sutil, um conjunto de

parâmetros, tais como:

a) O foco principal da entrevista (história de vida centrada no percurso

científico/profissional, embora com outros elementos biográficos e opinativos);

b) O roteiro da entrevista (do ponto de vista do conteúdo: focado na biografia e no

currículo; do ponto de vista da forma: roteiro de caráter estruturado mas genérico,

deixando grande abertura à auto-organização dos conteúdos discursivos pelo

entrevistado);

c) O estilo pouco impositivo da condução da entrevista (assegurando a dinâmica

da narrativa biográfica e o tratamento dos seus temas principais, mas deixando a

grande margem acima referida à auto-organização discursiva do entrevistado);

d) Os produtos da entrevista (arquivo de acesso público; análises comparativas;

âmbito internacional do projeto);

e) Os entrevistadores e as suas instituições de pertença (reputação,

interconhecimento, equipe internacional).

Os pontos seguintes abordam alguns destes parâmetros.

O roteiro das entrevistas

Sempre foi evidente para a equipe que os roteiros e a entrevista em si não dariam conta

de todas as facetas da trajetória acadêmica e intelectual dos entrevistados. Essa característica é

geral a qualquer projeto que envolva entrevistas. No entanto, diferentemente do que fica

registrado quando uma pessoa escreve sua autobiografia, ou daquilo que resulta quando se faz

Page 11: Relatorio final do projeto CSPLP

11

uma biografia, a entrevista representa um diálogo entre entrevistados e entrevistadores. Ela é

resultado de uma interação social. Evidentemente, não é simétrica, no sentido de que queremos

ouvir mais do que falar, mas o que falamos, e a forma pela qual falamos, são constitutivas da

fonte documental que se produz.

A inspiração para o roteiro geral das entrevistas veio da estrutura do livro Comment je

suis devenu ethnologue, organizado pela jornalista Anne Dhoquois,11 que apresenta o resultado

de entrevistas com doze etnólogos franceses contemporâneos. Não há, no livro, nenhuma

reflexão explícita sobre as entrevistas ou sobre sua edição, mas a autora segue, em cada

capítulo (que corresponde a cada um dos entrevistados) uma mesma subdivisão: “La vocation”,

“Le cursus”, “L’apport à l’ethnologie”, “Les figures marquantes”, “Regard sur l’ethnologie

actuelle”. Há também, em cada capítulo, comentários feitos pelos entrevistados sobre um livro

ou um filme que consideram marcantes, e sobre o espaço institucional no qual atuam.

Embora esse roteiro tenha sido adaptado para nossa pesquisa, e cada item tenha ganho

maior ou menor espaço ou importância conforme o entrevistado, a estrutura geral das

entrevistas buscou seguir um mesmo roteiro geral.12 Com esse procedimento, buscávamos

principalmente obter pontos comparáveis entre as diversas entrevistas. A preocupação de não

perdermos de vista a importância do conjunto das entrevistas sempre esteve presente.

Mas qual terá sido a influência do roteiro utilizado na maneira como decorreram as

entrevistas?

O roteiro geral tomou como centro de gravidade a “história intelectual” do entrevistado:

seu currículo acadêmico, sua obra científica e sua ação institucional nas Ciências Sociais do

respectivo país. Trata-se de temas que, evidentemente, os entrevistados conhecem muito bem.

Além disso, a elaboração curricular é uma atividade central e permanente na vida destas

pessoas.

As entrevistas realizadas, e a respectiva confrontação com documentos de outro tipo

recolhida (como entrevistas publicadas em revistas ou escritos autobiográficos dos

entrevistados), bem como conhecimento pessoal anterior, tornam evidente que cada um desses

entrevistados tem uma gama muito grande de temas biográfico-curriculares suscetíveis de

serem convocados para entrevistas como as que realizamos. Em consequência, podem agenciá-

los de maneiras bastante variáveis, mantendo a “consistência biográfica”. Possuem um “capital

11

Paris, Editions Le Cavalier Bleu, 2008. 12

Ver roteiro geral em anexo.

Page 12: Relatorio final do projeto CSPLP

12

curricular” muito vasto, que pode ser apresentado de diversas maneiras, com variabilidade nos

exemplos, nos destaques, nos encadeamentos, nas considerações interpretativas.

Na condução das entrevistas buscamos fazer perguntas predominantemente de índole

geral e indicativa, posicionando os entrevistados nas grandes fases da sua carreira, mas

deixando-lhes larga margem para elaborarem as suas próprias narrativas autobiográficas. O

caminho narrativo dependeu bastante, portanto, da estratégia expositiva genérica do

entrevistado acerca da sua biografia intelectual e acadêmica, temperada pela dinâmica

interativa estabelecida com os entrevistadores.

Este registro tem vantagens e inconvenientes. Tudo ponderado, parece bastante

adequado ao perfil dos entrevistados (devido à riqueza do respectivo “capital curricular”) e aos

objetivos de comparação e de constituição de um acervo documental a que o projeto se propôs.

Em todo o caso, não deixou de haver algumas incursões a aspectos mais pessoais,

sobretudo por iniciativa dos entrevistadores. Alguns entrevistados mostraram-se mais contidos

a respeito da vertente “história pessoal”. O que terá concorrido para isso? Alguns possíveis

fatores: o foco maior colocado pelo roteiro e pelos entrevistadores na “história de vida

intelectual”; o tempo da entrevista, necessariamente limitado; a manifestação de um ethos

acadêmico “clássico”, avesso à exposição pessoal ou à mistura entre esfera pública (vida

profissional) e a esfera privada (vida pessoal). Em outros casos, chamou atenção a relativa

exiguidade de referências de alguns entrevistados ao contexto social e suas mudanças, e às

respectivas repercussões na trajetória intelectual de cada um. Algumas interpelações por parte

dos entrevistadores dirigidas a estes aspectos não obtiveram respostas muito desenvolvidas.

Evidentemente, diferenças no processo de institucionalização das Ciências Sociais (em

seu sentido amplo) nos países participantes do projeto explicam diferenças na constituição de

diferentes “mundos” acadêmicos e, eventualmente, responde a algumas das questões acima

colocadas. Há que se avaliar também o peso diferencial que contextos políticos dos diferentes

países tiveram sobre as Ciências Sociais.

Apesar da variabilidade individual, praticamente todos os entrevistados convergiram

numa exposição mais “descritiva” do que “explicativa”. É certo que todos eles exprimiram,

nalgumas passagens, considerações interpretativas ou explicativas. Mas de maneira pontual e

contida, e mais nuns casos do que noutros. Dito de outro modo, em geral “teorizaram” pouco

sobre os seus percursos intelectuais e profissionais.

Page 13: Relatorio final do projeto CSPLP

13

Será isso, afinal, uma virtude destas entrevistas? Será melhor assim, para proporcionar

matéria-prima informativa a quem procurar no futuro elaborar histórias de vida ou consultá-las

e trabalhar analiticamente sobre elas? Ou deveria ter havido interpelação mais insistente a este

respeito por parte dos entrevistadores, procurando levar os entrevistados a pronunciarem-se

mais em termos interpretativos e explicativos sobre as suas trajetórias pessoais e a sua obra

como cientistas sociais? Poderia isso, por sua vez, gerar contrapartidas menos positivas?

Decidimos privilegiar a constituição de fontes de caráter mais geral – isto é, mais independentes

e autônomas em relação a nossos interesses particulares como pesquisadores/entrevistadores –

e deixar as interpretações de “segundo grau” para outros momentos e para outros

pesquisadores interessados no exame e na análise desse acervo.

A marcação das entrevistas

Um aspecto que neste projeto se distinguiu de outras experiências de abordagem aos

entrevistados, ao menos em Brasil e Portugal, foi o fato de se ter obtido, em praticamente todos

os casos, uma anuência imediata ao convite que lhes foi dirigido para concessão de entrevista.

Se em muitas outras pesquisas se têm experimentado dificuldades que obstaculizam a

estabilização do número de entrevistados e a concretização das entrevistas nos prazos

desejáveis, obtivemos prontamente uma aceitação generalizada, em Brasil e Portugal, e

disponibilização de datas não muito longínquas para realização da entrevista. Mais uma vez

podem ser avançadas diversas possíveis interpretações para a pronta adesão que o projeto em

geral suscitou, tais como:

a) o caráter internacional do projeto, que reunindo testemunhos biográficos de

cientistas de três países de língua portuguesa, projetam além-fronteiras a trajetória

científica dos eleitos como protagonistas de excelência e representantes legítimos das

respectivas áreas disciplinares;

b) a importância do projeto, pelas suas características pioneiras quanto a

procedimentos técnicos mobilizados para a recolha e tratamento da informação; pela

Page 14: Relatorio final do projeto CSPLP

14

diversidade de utilizações e públicos que irão aceder à informação; pela análise

comparativa que propicia sobre as ciências sociais em países de língua portuguesa;

c) a valorização do reconhecimento conferido aos entrevistados pela equipe de

pesquisa que procedeu à seleção dos respectivos nomes;

d) as diferentes formas de proximidade e relacionamento com os entrevistadores;

e) a consideração de que a concessão de uma entrevista acarretaria sua

publicização em curto espaço de tempo.

As entrevistas foram planejadas tendo em conta os prazos do projeto e, no caso de boa

parte das entrevistas realizadas em Portugal, as visitas previstas para trabalho conjunto das

equipes brasileira e portuguesa. Procurou-se tanto quanto possível partilhar a experiência de

realização de algumas das entrevistas entre as duas equipes, enquanto outras, atendendo às

disponibilidades dos entrevistados e, também, dos entrevistadores, foram realizadas apenas

pelas equipes de cada país.

No caso de Moçambique, conforme relatado anteriormente, houve resistência por parte

dos primeiros cientistas sociais contatados. Alguns recusaram alegando indisponibilidade.

Outros, desconforto em relação à ideia de as entrevistas serem realizadas em registro

audiovisual. Sob perspectiva analítica, e considerando-se os pontos acima listados, é possível

arriscar que sendo a equipe moçambicana composta por apenas uma pessoa, engajada

academicamente no Brasil, tenhamos perdido em termos de representatividade e de inserção

na rede composta por cientistas sociais moçambicanos.

Em Brasil e Portugal, a equipe de entrevistadores era formada, em grande parte, por ex-

alunos e colegas dos entrevistados. Os pesquisadores ligados ao projeto nesses dois países foi

formada por parte dos entrevistados; representam, hoje, instituições às quais os entrevistados

são, foram vinculados, ou ajudaram a fundar. Ao longo de parte considerável do andamento do

projeto, o representante moçambicano do Cientistas Sociais de Países de Língua Portuguesa:

Histórias de Vida esteve no Brasil, em formação. Assim, além de não cultivar o tipo de vínculo

que os membros das equipes brasileira e portuguesa já vêm solidificando há anos com seus

Page 15: Relatorio final do projeto CSPLP

15

mestres e colegas, que agora tornavam-se seus entrevistados, as entrevistas ficaram

condicionadas aos momentos em que a equipe moçambicana de um homem só regressava ao

pais de origem para fazer pesquisa para o mestrado que cursava no Brasil.

O membro moçambicano do projeto atribui a relutância de alguns convidados, ainda, a

um aspecto cultural. Diz que, em Moçambique, quanto mais esclarecidas e educadas, mais

reservadas as pessoas.

Na sua maioria as entrevistas portuguesas foram realizadas no ISCTE-IUL, onde se

procurou encontrar instalações apropriadas e onde foi possível preparar com mais tempo e

cuidado o equipamento audiovisual. No entanto, não havendo um estúdio permanentemente

montado, o processo decorreu com alguns problemas técnicos, precisando este conjunto de

condições de ser futuramente melhorado. Duas entrevistas, porém, foram realizadas noutros

locais: a de Joaquim Pais de Brito, que propôs ser entrevistado no Museu de Etnologia, de que é

diretor, e a de Boaventura de Sousa Santos, a quem a equipe, quando do convite, propôs

entrevistá-lo no Centro de Estudos Sociais, que ele dirige, na Universidade de Coimbra. O tempo

de duração das entrevistas foi variável, atingindo perto das três horas em vários casos. Noutros,

foi pouco além de hora e meia. Noutro, ainda, suscitou continuação num dia posterior,

perfazendo perto de cinco horas de gravação.

No Brasil, a maioria das entrevistas foi realizada no CPDOC, quer em sua “sala de

entrevistas”, quer em salas de aula. Foram também realizadas diversas filmagens

“complementares”, na casa ou no local de trabalho dos entrevistados, sobre as quais falaremos

mais adiante.

As entrevistas de Moçambique foram todas realizadas nos gabinetes de trabalho dos

respectivos entrevistados.

Conversando entre si: questões de tradução entre a equipe/equipa do projeto

O desenvolvimento do projeto, envolvendo pesquisadores de diferentes países, levou ao

surgimento de algumas questões de “tradução”. No sentido mais literal, foi necessário

compreender diferenças no português usado nos diferentes países. A maior parte delas era

pitoresca e objeto de freqüentes brincadeiras entre os integrantes da equipe (ou “equipa”, em

Portugal): roteiro/guião, arquivos/ficheiros, graduação/licenciatura, os significados opostos do

Page 16: Relatorio final do projeto CSPLP

16

“jubilamento” em um e outro país. Vale registrar o caso mais pitoresco de todos, ocorrido na

“investigação” que Boaventura de Sousa Santos tentou realizar na favela da Maré, no início dos

anos 1970, e que quase resultou em tragédia, ao ver seus termos acadêmicos portugueses

confundidos, pelo presidente da associação de moradores, com o linguajar policial em um

momento de extremo fechamento político e exercício arbitrário do poder autoritário.

Num plano mais geral, enquanto a pesquisa se desenvolvia, entrou em vigor o Acordo

Ortográfico na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que gerou longas discussões entre

especialistas e que nunca atingiu consenso. No cotidiano mais prosaico da pesquisa, surgiam

dificuldades quando assistentes de pesquisa brasileiros tentavam fazer a conferência de

fidelidade das transcrições feitas em Portugal ou Moçambique, e a dúvida, ainda não resolvida

pela equipe brasileira, sobre se devemos legendar algumas entrevistas feitas nos outros países

em produtos que pretendam difundir o material do projeto junto ao público brasileiro. A

despeito da facilidade maior na compreensão da escrita, os momentos de entrevista

apresentam mais dificuldade pela oralidade, o que vem alimentando a convicção na equipe

brasileira a respeito da conveniência da legenda, permitindo melhor alcance em todos os países

envolvidos. Finalmente, em outro plano, deve-se registrar também questões de “tradução

tecnológica”, isto é, entre os diferentes equipamentos e padrões tecnológicos utilizados nos

diferentes países, como veremos adiante.

Algumas diferenças mais substantivas dizem respeito ao que se entende por “Ciências

Sociais” nos três países, como já ficou evidente na breve menção que fizemos às diferentes

tradições nacionais. No Brasil, temos o tradicional triunvirato Antropologia - Ciência Política -

Sociologia. Vale observar que o edital pelo qual o projeto foi aprovado (Programa de

Cooperação em Matéria de Ciências Sociais para a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

- PCS/CPLP), lançado por uma agência brasileira de fomento à pesquisa – o CNPq –, especificava

essas três como as “áreas do conhecimento” abrangidas pelo Programa. Não entravam nessa

lista, portanto, “áreas” afins como História, Estudos Culturais, Geografia Humana, Arqueologia

ou mesmo Relações Internacionais (embora esta última, que divide o comitê assessor do CNPq

com a área de Ciência Política, pudesse ser sem dificuldade subentendida como incluída no

escopo do Programa).

Essas dissonâncias, desencontros e diferenças de traduções e de tradições, no entanto,

de forma alguma prejudicaram o desenvolvimento da pesquisa. Os pontos de encontro foram

muito maiores. Foi muito comum, em nossas conversas, trocarmos opiniões sobre questões

Page 17: Relatorio final do projeto CSPLP

17

semelhantes envolvendo o ritmo da vida acadêmica, com seus prazos, financiamentos e

relatórios, o relacionamento com alunos e orientandos, a prática profissional do cientista social

etc. Em muitos casos, como já nos referimos, os pesquisadores/entrevistadores "estrangeiros"

em determinada entrevista sentiram-se mais à vontade que os “locais” para formular perguntas

sobre temas delicados ou mesmo perguntas que evidenciam uma naturalização de certas

compreensões entre a equipe local e o entrevistado (acerca de nomes, instituições, contextos e

abordagens tipicamente "locais").

Não vemos problema em afirmar que o projeto de pesquisa nasceu mais da intenção de

estimular a cooperação acadêmica e pessoal entre os membros da equipe e suas instituições do

que em responder a uma agenda prévia de pesquisa. Estamos convencidos, no entanto, de que

isso não representa um “pecado original” do projeto. Primeiro, porque o edital do Programa

estimulava, literalmente, apoiar “atividades de cooperação em projetos conjuntos”, o que foi

sobejamente alcançado. Ademais, a diversidade das trajetórias e das preocupações acadêmicas

dos integrantes da equipe produziu uma salutar troca de experiências, às vezes

complementares, às vezes contrastivas, que enriqueceu o produto final.

Filmando as entrevistas

“Quando eu falo da riqueza oral do cinema, não se trata

da palavra, mas do audiovisual – é a palavra e a imagem. Uma

pessoa que fala para a câmera é de uma beleza...”13

Eduardo Coutinho

As entrevistas do projeto tiveram duas características relacionadas entre si porém pouco

habituais em relação ao que normalmente se costuma fazer em entrevistas gravadas somente

em áudio, e que importa registrar e ponderar: a utilização de tecnologias de gravação

audiovisual e a presença na sessão de um número considerável de entrevistadores e técnicos.

13

Eduardo Coutinho, documentarista, em depoimento a José Carlos Avellar. A frase foi retirada de um livreto distribuído pelo Instituto Moreira Salles, no Rio de Janeiro, com textos que explicam a opção pela programação de cinema de agosto de 2009 do Instituto, que apresentava filmes de Jean Rouch e Eduardo Coutinho. A citação faz parte da introdução que escreve José Carlos Avellar e que antecede a transcrição de parte do depoimento que extraiu de Eduardo Coutinho no fim da década de 1990.

Page 18: Relatorio final do projeto CSPLP

18

Ambos os aspectos remetem a um tópico central da metodologia da pesquisa social: o

“problema da interferência”. Ultrapassadas as concepções epistemologicamente ingênuas a

este respeito, em geral de feição positivista, está hoje bem estabelecido nas Ciências Sociais

que, na pesquisa sobre fenômenos sociais não se pode não interferir. Mais ainda, a interferência

não é um obstáculo à recolha de informação, e sim justamente um meio de a concretizar – em

consonância, aliás, com a experiência interacional que constitui a base quotidiana dos

fenômenos sociais. Dito isto, a interferência na pesquisa social precisa ser cuidadosamente

regulada, nos atos de registro de informação, e não menos cuidadosamente sujeita a exame

reflexivo, nas fases de interpretação e análise dessa informação.

Uma característica não trivial das entrevistas que fizemos é que elas foram filmadas, e

não apenas gravadas. Mesmo no caso do CPDOC, com sua tradição em História Oral, o recurso

ao vídeo constitui uma novidade, na extensão e com a centralidade que teve neste projeto.

Como toda inovação, as entrevistas filmadas provocaram dificuldades, levaram a improvisos e

resultaram em soluções mais ou menos bem-sucedidas.

A questão da “interferência” do equipamento na produção da entrevista filmada

também não deve ser tratada de forma ingênua. Como destacamos há pouco, é óbvio que há

interferência. É menos óbvio, no entanto, se ela é maior ou menor, melhor ou pior, ou apenas

diferente, em relação à entrevista apenas gravada – e se sim, em que sentido e para que

finalidade?

Discussões sobre interferências devidas ao uso de equipamento em entrevistas de

pesquisa social sempre existiram. A simples tomada de anotações escritas pelo entrevistador

durante a entrevista já provoca uma interferência entre o diálogo não mediado pelo registro

documental. As primeiras entrevistas realizadas com o uso de gravadores originaram discussões

sobre a interferência do aparato tecnológico no processo de entrevista. Aparelhos inicialmente

enormes, no entanto, foram dando lugar a gravadores cada vez menores, e a discussão sobre a

questão da interferência parece ter igualmente diminuído. Além disso, é importante perceber

que o uso social desses aparelhos tornou-se cada vez mais difundido e “naturalizado”. No

entanto, eles sempre estavam lá, presentes na entrevista, como aparatos mediadores mais ou

menos visíveis. No caso do registro audiovisual, a exemplo do que ocorreu com o gravador,

câmeras enormes e de difícil manejo também foram dando lugar a equipamentos de vídeo,

primeiro analógicos, depois digitais, cada vez menores, mais baratos e de uso mais fácil.

Page 19: Relatorio final do projeto CSPLP

19

Não é óbvio o resultado final da interferência de uma câmera em relação ao uso apenas

de um gravador de áudio.14 O entrevistado ou os entrevistadores ficam menos “à vontade”? Se

sim, em que sentido, e como isso afeta o resultado final? Questões como essas não podem ser

respondidas a priori, sem que se façam reflexões sobre experiências concretas. Toda inovação

exige experimentação, e cremos que a pesquisa foi, a esse respeito, um laboratório privilegiado

de experimentação e, acima de tudo, de aprendizado. A partir do que foi realizado, podemos

fazer algumas observações e propor algumas questões:

a) Se tínhamos recursos que permitiam filmar as entrevistas, por que não fazê-lo?

O gravador produziria uma maior “intimidade”? O entrevistado ou os entrevistadores

ficariam mais “à vontade”? Para quê? Para revelar uma suposta “intimidade”, mais

“verdadeira”, “real” ou “autêntica”? Se sim, em que reflexão concreta essa interdição

estaria fundamentada? Ela se aplicaria ao nosso objeto de pesquisa?

b) Poder-se-ia também levantar o argumento ético-legal de que o vídeo permite

utilizações que o entrevistado pode não ter conscientes, e vir a ser prejudicado pelo

uso futuro de sua imagem (no sentido visual do termo), por não compreender ao certo

como essa “linguagem” visual funcionaria. A partir de nossa experiência, poderíamos

contra-argumentar que o registro de expressões faciais, de posturas corporais e do

contexto da entrevista permite justamente preservar melhor o cenário original de uma

situação – de uma interação. Com a entrevista exclusivametne ouvida ou transcrita (e

eventualmente editada e impressa), tal contexto seria perdido ou utilizado com mais

facilidade de modo pouco fidedigno em relação à sua situação de produção. Além do

mais, esse argumento pressupõe uma certa ingenuidade do entrevistado em relação à

“linguagem audiovisual” que é bastante questionável, ao menos em relação ao perfil

de nossos entrevistados. Em tempos de disseminação de televisão, internet, jornais

online, You Tube e veículos assemelhados, bem como a banalização de filmadoras

portáteis, câmeras fotográficas e celulares que filmam, ingenuidade seria imaginar que

nossos entrevistados não têm noção do que significa ter a imagem registrada em

14

O uso de câmeras de vídeo não aboliu, no projeto, a utilização também de gravadores digitais, que faziam registros sonoros por questões de segurança (backup) em caso de problemas com a captação de som pela câmera.

Page 20: Relatorio final do projeto CSPLP

20

vídeo. Muito pelo contrário, vários deles tinham uma larga experiência de participação

em programas de TV ou em entrevistas filmadas.

c) O registro audiovisual permite que o material seja disponibilizado em áudio,

texto e vídeo. Esta última dimensão é perdida no caso da entrevista apenas gravada

em áudio. Num balanço feito em 2003 sobre o acervo audiovisual do CPDOC, o

cineasta documentarista Eduardo Escorel, que dois anos depois se tornaria

coordenador da Pós-Graduação em Cinema Documentário do CPDOC, escreveu que,

ao lado da notável contribuição dada pela constituição de nosso grande acervo de

entrevistas:

“[...] é uma lástima que o registro, filmado ou gravado em vídeo, da imagem dos

depoentes não tenha sido incluído no programa de História Oral, transformando-o num

Programa de História Oral & Visual. Considerando a penúria do acervo brasileiro de

imagens em movimento, o registro visual das centenas de testemunhos colhidos teria

constituído um acervo de valor inestimável. [...] Fomos impedidos, por exemplo, de

examinar a expressão do rosto do general Carlos Alberto da Fontoura, chefe do Serviço

Nacional de Informações de 1969 a 1974, no momento que afirmou nunca ter tido

‘uma prova de tortura’. [...] Terá sido apenas por falta de recursos que não foram feitas

essas filmagens ou gravações em vídeo? Essa possibilidade terá sido considerada? Ou

terá predominado um certo menosprezo pelo valor do documento visual que parece

haver por parte de alguns historiadores?”15

Institucionalmente, poderíamos responder, por exemplo, que na época tal registro

audiovisual das entrevistas seria muito caro. No entanto, se isso era verdade para equipamentos

e profissionais de cinema, não o teria sido para aparelhos de vídeo mais caseiros. O que fizemos,

em alguns poucos casos, foi uma curta filmagem a posteriori de algumas entrevistas,

contratando profissionais de filmagem, quando entrevistadores e entrevistado faziam um breve

registro de algumas passagens de uma entrevista anterior. O caráter de “encenação” controlada

desses curtos registros era, portanto, muito evidente.

15

“Vestígios do passado: acervo audiovisual e documentário histórico”, in: CPDOC 30 anos (Ed. FGV. 2003), p. 49-50.

Page 21: Relatorio final do projeto CSPLP

21

Se é evidente que nem “tudo” se pode registrar, a crítica de Escorel menciona uma

importante dimensão que se perde no registro exclusivamente sonoro: a expressão do rosto.

Poderíamos mencionar outras, relativas ao que chamamos de contexto da entrevista, que ficam

melhor registradas em vídeo: as expressões faciais e corporais do entrevistado, o ambiente

onde foi feita a entrevista e um certo “clima” do encontro, para usar uma expressão

evidentemente imprecisa, porém absolutamente presente em nossa experiência.

Essa preocupação com o contexto da entrevista – no qual ocorre a interação social em

que consiste a entrevista e que dá origem à fonte documental então criada – desdobrou-se na

preocupação em filmar (e também fotografar) um pouco da preparação da entrevista, da

interação entre entrevistados, entrevistadores e equipe técnica, o final da entrevista. Ela

estendeu-se ao registro audiovisual daquilo que chamamos de “filmagens complementares”,

realizadas na casa ou no local de trabalho do entrevistado, facilitadas pela portabilidade do

equipamento. Voltaremos a esse ponto mais adiante.

Não queremos de forma alguma transmitir a idéia de que pensamos que em todas as

situações a entrevista filmada seja melhor que a registrada apenas em áudio. Tudo depende do

objetivo da pesquisa. Alguns entrevistados, ou algum tipo social que representem, podem se

sentir incomodados ou explicitamente recusar o registro visual, embora isso não tenha

acontecido em nossa pesquisa. Há, além disso, questões práticas relacionadas à disponibilidade

de equipamentos, recursos e pessoal qualificado para produzir o registro. Finalmente, temos

claro, a partir de nossa experiência, que a entrevista audiovisual demanda um aprendizado por

parte tanto de entrevistados e entrevistadores. Mas, em nenhum caso, notamos

comprometimento da qualidade da entrevista pelo fato de terem sido filmadas. Pelo contrário:

num primeiro balanço, o formato que utilizamos acabou por se revelar muito favorável.

Durante a realização das entrevistas, estiveram em relação direta com o cientista social

entrevistado de três a oito membros da equipe de pesquisa, dentre

pesquisadores/entrevistadores, estagiários e técnicos. No Brasil, algumas sessões de entrevistas

contaram também com a assistência de alunos de graduação ou pós-graduação. Em várias

entrevistas, principalmente as realizadas em Portugal, a composição nacional foi de caráter

combinado: pesquisadores brasileiros e portugueses.

Tanto quanto foi possível aferir, pelo comportamento e pelas declarações dos

entrevistados, a presença de um conjunto alargado de entrevistadores não produziu neles

efeitos de inibição ou perturbação declarativa. Essa característica ajudou a situar os

Page 22: Relatorio final do projeto CSPLP

22

entrevistados no universo potencial de destinatários do discurso. Ao mesmo tempo, diversificou

as falas na condução da entrevista, o que possibilitou maior abrangência e acuidade das

interpelações (embora sempre enquadradas no estilo geral de contenção já assinalado). Teve

ainda a virtualidade de diminuir a saturação ou monotonia potenciais decorrentes do tempo

longo das entrevistas. Os bons resultados desta prática de entrevista de algum modo

heterodoxa em relação às experiências mais comuns no campo das Ciências Sociais – embora

não do Cinema Documentário, é importante lembrar – parecem dever-se principalmente à

conjugação dos seguintes fatores:

a) à coerência entre a situação de entrevista criada, por um lado, e a natureza da

pesquisa e os objetivos destas entrevistas, por outro – o que foi perfeitamente

compreendido pelos entrevistados;

b) à preparação cuidadosa da situação de entrevista, incluindo o local, a disposição

espacial e os equipamentos, e incluindo também a explicação prévia aos futuros

entrevistados da razão de ser do dispositivo adotado; sendo eles próprios cientistas

sociais, não ficaram insensíveis à dimensão inovadora que este formato representa nas

práticas de pesquisa;

c) ao fato de os entrevistados serem pessoas com grande maturidade, com muita

experiência de expressão de ideias perante audiências alargadas e de diálogo

elaborado, – inclusive alguns com muita experiência “midiática” – e, ainda, ao fato de

o tema lhes ser por inerência muito familiar.

Talvez também por esses motivos o comportamento dos entrevistados não parece ter

sido muito diferente do que provavelmente ocorreria em entrevistas que não

recorressem a meios audiovisuais de registro.

Page 23: Relatorio final do projeto CSPLP

23

A logística das filmagens: procedimentos para o registro audiovisual

O processo de entrevistas utilizado na pesquisa obrigou a um dispositivo tecnológico

relativamente complexo (gravadores de áudio, câmaras vídeo, preocupações com a iluminação

e disposição de mobiliário e objetos), assim como à presença na sala de mais pessoas da equipe,

com funções técnicas neste domínio.

As condições logísticas e os equipamentos nem sempre estiveram sem problemas. Por

vezes surgiram falhas técnicas. É um domínio em que é preciso adquirir mais segurança e rotina,

tanto em relação ao uso dos equipamentos quanto aos procedimentos a serem adotados. Seja

como for, as precauções tomadas em termos de redundância planejada de meios técnicos

permitiram que algumas pequenas falhas ocorridas na gravação em vídeo não perturbassem

significativamente o processo de entrevista, possibilitando também a reconstituição das

gravações nas passagens afetadas.

Uma dimensão importante em nossa experiência foi que a equipe de

pesquisadores/entrevistadores se tornou, em alguns momentos da entrevista, em certa

dimensão "hierarquicamente submetida" à equipe técnica que "comanda" a realização da

entrevista. Isso ocorre em especial na fase preparatória da entrevista, quando entram em

discussão questões como cenário, posicionamento das pessoas e dos objetos, enquadramento

da câmera e iluminação, prevenção de ruídos e interferências.

A gravação de entrevistas, mesmo apenas em áudio, requer planejamento e cuidados

técnicos. No caso de nossas entrevistas filmadas, havia um conjunto maior de equipamentos

que deveriam estar presentes: câmera, tripé, estoque de fitas mini-DV, microfone direcional

para a câmera (para capturar de modo amplificado o áudio ambiente), microfones de lapela

para filtrar o áudio do entrevistado e dos entrevistadores e garantir sua qualidade e distinção

em relação aos demais sons captados, bateria para a câmera e cabos para os microfones, um

gravador digital de áudio com cartões de memória e conjuntos de pilhas reserva para captura

em backup do som da entrevista.

Estabeleceu-se ainda uma lista de cuidados que se devia tomar durante as gravações. A

maioria delas é comum a entrevistas com gravações apenas em áudio, tais como: desligar

telefones celulares (mesmo em modo silencioso, interferem na gravação); evitar que o

entrevistado “batuque” na mesa com pulseiras, anéis ou outros acessórios que causem ruídos

Page 24: Relatorio final do projeto CSPLP

24

no áudio; e certificar-se de que haja água à disposição dos presentes, desde o início da

entrevista.

Outras precauções, de ordem mais geral e também comuns a qualquer entrevista, mas

que talvez assumam uma importância maior no caso de registros audiovisuais, são: tentar

moderar reações às respostas do entrevistado com “sinais sonoros” (como “hã, hã” e afins,

incluindo movimentos de concordância com a cabeça), bem como complementações ou

antecipações às suas respostas; respeitar o tempo de resposta do entrevistado, mesmo em seus

momentos de aparente “suspensão” silenciosa. Por outro lado, estar atento para “reconduzir” o

entrevistado ao foco da entrevista caso ele se perca ou peça ajuda para ao entrevistador.

Esses cuidados, se demandam um grau de atenção e cuidado por parte dos

entrevistadores, não devem, no entanto, ser rígidos a ponto de “engessarem” a entrevista.

Pequenas “falhas” e interferências são inevitáveis, porém não comprometem o resultado final.

Já o enquadramento das filmagens foi objeto de mudanças ao longo do projeto.

Inicialmente filmávamos exclusivamente o entrevistado, num único plano, e nenhum outro

participante. Isso criou contextos visuais estranhos, em que vozes de entrevistadores figuram

sem rostos. Passamos então a registrar, mesmo que em um só plano geral e inicial, imagens dos

pesquisadores presentes; igualmente, continuávamos filmando alguns momentos posteriores à

finalização formal da entrevista. Também procuramos registrar, inclusive por meio de

fotografias, toda a equipe que participa das entrevistas, incluindo os técnicos e assistentes ou

estudantes. Em alguns casos utilizamos duas câmeras, para termos dois planos de filmagem,

mas optamos por não continuar esse procedimento ao longo de toda a entrevista, devido à

redundância do material e ao custo posterior de processamento e armazenagem. Havendo

disponibilidade de equipe, no entanto, tentamos fazer um segundo registro, durante algumas

fases da conversa e em plano diferente do principal, que será especialmente importante no caso

de uma edição futura em forma de documentário.

Fomos também aprendendo à medida que o material produzido era revisitado,

transformado em DVD para transcrição ou transferido para edição no computador. Nestes

momentos, percebíamos planos que não funcionavam bem e cuidados que deviam ser tomados

em relação a som, luz e enquadramentos.

Quando começamos a juntar os três empreendimentos distintos – o brasileiro, o

português e o moçambicano –, descobrimos na prática as incompatibilidades técnicas que

existem em termos tecnológicos, e fomos levados a pesquisar sobre novas tecnologias e sobre

Page 25: Relatorio final do projeto CSPLP

25

programas que possibilitam a convergência e compatibilidade dos materiais gerados. Os

formatos de exibição – e, portanto, de gravação – diferem nos três países, entre os sistemas PAL

e NTSC. Em Moçambique, o projeto contou com uma estrutura de apoio muito mais precária do

que a de que dispúnhamos em Portugal e, principalmente, no Brasil. Além de apenas um

pesquisador, as entrevistas feitas em Moçambique foram registradas com câmeras emprestadas

por amigos e o backup de áudio foi feito em fitas cassete (formato analógico).

A questão da compatibilização de formatos, imprescindível para que seja possível a

concentração das edições em um único lugar – no caso, o CPDOC – e a padronização dos

produtos finais, foi resolvida com a compra de um HD externo em que pode ser gravado sem

compressão e em arquivos de formatos ”universais” todo o material audiovisual produzido. Isso

implica, no entanto, o trânsito do HD externo entre Brasil, Portugal e Moçambique.

A realização de entrevistas filmadas envolve acima de tudo, como já destacamos, mas

não é demais repetir, um processo de aprendizado. A cada entrevista a equipe aprende um

pouco mais, tornando-se mais fluente e experiente em relação aos procedimentos a serem

adotados, que se tornam assim cada vez mais “naturalizados”.

O apoio do Núcleo de Audiovisual e Documentário do CPDOC

A decisão de concentrarmos o processamento e a edição do material no CPDOC deveu-

se não apenas à maior disponibilidade de equipe e recursos técnicos como também à tradição

que esta instituição já havia consolidado com em seu Programa de História Oral – cujos

procedimentos técnicos foram seguidos e cuja tradição buscamos complementar em novo

suporte – bem como ao apoio do Núcleo de Audiovisual e Documentário.

Criado em 2006 pela Direção do CPDOC como iniciativa ligada à Escola de Ciências

Sociais, o Núcleo, em princípio, era um laboratório que pretendia proporcionar, para alunos do

curso de Ciências Sociais em formação, a familiarização e a experimentação com recursos

audiovisuais e as possibilidades que oferecem quando empregados como meio de intervenção

na realidade. A proposta inicial de criação do Núcleo nasceu de um projeto de Celso Castro que

Page 26: Relatorio final do projeto CSPLP

26

recebeu prêmio de Inovação no Ensino de Antropologia da ABA – Associação Brasileira de

Antropologia.16

A participação no laboratório pressupunha o contato com uma filmografia ligada ao

cinema documentário que, tal qual uma bibliografia em cursos acadêmicos, serve de referência

e de ponto de partida para reflexões, discussões metodológicas, análises de forma e de

conteúdo – enfim, de permanente inspiração para o trabalho do cientista social. O Núcleo

estimula a consulta a filmes das mais diversas tendências que, de alguma forma, dêem margem

a uma reflexão acerca das interações e das representações que ocorrem na sociedade.

A participação no Núcleo pressupõe ainda, e acima de tudo, realização. Os alunos são

estimulados a pensar e levantar temas (sejam eles de perspectiva mais histórica ou mais sócio-

antropológica) que exploram e analisam em campo. Esses temas devem ser investigados por

meio da produção de filmes que, além de documentar a interação entre os futuros cientistas

sociais e seu campo de investigação, fornecem, depois de prontos, material para interpretação,

ou seja, constituem-se eles mesmos matéria-prima para o exercício científico.

O estabelecimento de um tema, a pesquisa antes da filmagem, o registro audiovisual e a

interação social que pressupõe, a consulta de todo o material filmado, a decisão em relação à

forma de se expor os resultados e as conclusões da pesquisa e a seleção do material que

comporá o filme final são, sem muita dificuldade, comparáveis a etapas do trabalho do

antropólogo ou do sociólogo: a escolha do objeto de pesquisa, o levantamento de dados, a ida a

campo e a volta ao gabinete, onde o material apurado em campo é revisto, reavaliado e

selecionado para compor um trabalho final que expõe a tese do cientista por meio de uma

forma narrativa cuidadosamente elaborada.

A partir de setembro de 2008, por meio de recursos obtidos com a aprovação de um

projeto junto à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ), o Núcleo

de Audiovisual e Documentário ganhou corpo, sendo equipado com duas ilhas de edição

Macintosh e passando a contar com dois estagiários. O projeto Cientistas Sociais de Países de

Língua Portuguesa: Histórias de Vida passou a ser, então, matéria-prima para as atividades

desenvolvidas no Núcleo.17

16

Prêmio entregue durante a 25ª Reunião Brasileira de Antropologia (Goiânia, junho/2006).

17 Ver “Histórias de vida narradas em português”, matéria publicada na revista Pesquisa Rio - Faperj (n.8,

ano II, 2009) sobre o projeto (Anexos).

Page 27: Relatorio final do projeto CSPLP

27

Os dois estagiários contratados para o Núcleo, em conjunto com estagiários do

Laboratório de Antropologia Urbana do IFCS/UFRJ, parceiro no projeto, passaram a participar da

pesquisa para a elaboração das cronologias sobre a institucionalização das Ciências Sociais no

Brasil. Pesquisaram as biografias e a produção intelectual dos cientistas sociais eleitos para

serem entrevistados pelo projeto, levantaram bibliografia e montaram tabelas e arquivos de

referência que atualizavam conjuntamente e disponibilizavam em um blog criado para

armazenamento e consulta do material relativo ao projeto

(http://cientistassociais.blogspot.com). Paralelamente, passaram a participar das gravações das

entrevistas com os cientistas sociais, adquirindo não só uma compreensão mais completa do

processo de entrevista como autonomia cada vez maior no manuseio da aparelhagem. Num

segundo momento, filmaram, sob a supervisão de uma das coordenadoras do Núcleo, Arbel

Griner e Adelina Novaes e Cruz, os depoentes em seus gabinetes, casas e até mesmo em

lançamentos de livros, como foi o caso de Glaucio Soares e de Simon Schwartzman, ao

lançarem, respectivamente, Não Matarás (2008) e O sociólogo e as políticas públicas (2009).

O material produzido a partir das entrevistas gerou novas iniciativas ligadas ao trabalho

sobre o audiovisual no CPDOC/FGV. As entrevistas gravadas no CPDOC com a socióloga Elisa

Reis e com o antropólogo Peter Fry nortearam os trabalhos desenvolvidos no Laboratório de

Audiovisual e Documentário, disciplina eletiva oferecida aos alunos de Ciências Sociais da FGV

no segundo semestre de 2008.18 A turma de dez alunos, depois de se familiarizar com o passo-a-

passo da feitura de uma obra audiovisual, pesquisou a biografia de Elisa Reis e de Peter Fry,

elaborou roteiros para novas entrevistas com eles, realizou entrevistas complementares –

respectivamente, no gabinete e na casa – e elaborou filmetes de onze minutos a partir do

material disponível. Os filmetes foram entregues como trabalho de fim de curso e exibidos para

uma platéia que incluiu os cientistas sociais retratados – que ficaram, aliás, muito satisfeitos

com o resultado obtido.

A mesma disciplina foi oferecida neste segundo semestre de 2009. Desta vez, os

personagens eleitos foram a socióloga Lucia Lippi, do CPDOC/FGV, e a antropóloga Yvonne

Maggie, do IFCS/UFRJ. O programa, em sua segunda edição19, envolveu um pouco mais de teoria

e discussões metodológicas acerca da feitura de entrevistas filmadas e, a partir delas, de filmes.

18

Ver programa do curso “Laboratório de Audiovisual e Documentário”, de 2008.2 (Anexos) 19

Ver programa do curso “Laboratório de Audiovisual e Documentário”, de 2009.2 (Anexos).

Page 28: Relatorio final do projeto CSPLP

28

Os filmetes de onze minutos, além de disponibilizados no portal acima citado, relativo ao

projeto, devem ser veiculados na TV Cultura de São Paulo, no Programa Campus20.

Ainda no âmbito do projeto, foi oferecido um curso conjunto entre o IFCS e o CPDOC

pelas professoras Karina Kuschnir e Helena Bomeny. A disciplina tinha como objetivo apresentar

a bibliografia sobre a história das ciências sociais no Brasil e em Portugal, permitindo criar um

espaço de discussão sobre a temática do projeto. Além da leitura e discussão de textos, os

alunos das duas instituições puderam assistir a diversas entrevistas filmadas no âmbito do

projeto. Como trabalho final, grupos de estudantes tiveram que apresentar trabalhos sobre

cientistas sociais contemporâneos. Entre os personagens escolhidos, convidamos Simon

Schwartzman e Gláucia Villas Boas para serem entrevistados em conjunto pela turma e

professoras durante as duas aulas finais da disciplina (com filmagem realizada pela equipe

técnica do Núcleo de Audiovisual e Documentário do CPDOC). A avaliação final dessa proposta

não poderia ter sido melhor: tanto estudantes quanto as docentes consideraram a experiência

de integrar discussão de textos com assistência e produção audiovisual excelente oportunidade

didática, bem como de aprofundamento da reflexão proposta por este projeto.21

Temos, portanto, um projeto de pesquisa que também envolve a produção de

documentos e atividades de ensino e formação – característica marcante da história e da

identidade institucional do CPDOC, centro que articula pesquisa e documentação, porém

atualizada em novo contexto, agregando-se a atividade de ensino.

A constituição de um acervo documental e sua divulgação

Para além dos produtos acadêmicos que a equipe pudesse vir a produzir, individual ou

coletivamente, nosso objetivo final (e principal) na pesquisa sempre foi a constituição de um

acervo documental a ser depositado em nossas instituições e, após o tratamento do material,

aberto à consulta para outros pesquisadores, pela internet. Dessa preocupação em constituir

um acervo é que derivou, como já assinalamos, a utilização de um roteiro amplo o suficiente

20

Ainda não há data para a veiculação. Mas a Fundação Getulio Vargas possui convênio com a TV Cultura para veiculação, no Programa Campus, de produções audiovisuais realizadas na FGV. 21

Ver programa da disciplina “Trajetórias Intelectuais de Cientistas Sociais”, ministrado pelas professoras Karina Kuschnir e Helena Bomeny em 2009-1 (Anexos).

Page 29: Relatorio final do projeto CSPLP

29

para dar conta de questões que transcendessem o somatório de nossos eventuais interesses

individuais de pesquisa.

No entanto, se essa justificativa pode parecer “modesta”, no sentido em que nos coloca

acima de tudo como “meros produtores” de um acervo que será de uso coletivo, nunca fomos

ingênuos de supor, nem que nossas opções prévias, nem que nossa performance nas entrevistas

e o tratamento que daríamos ao material fossem isentas de pressupostos e de apostas mais ou

menos conscientes e certamente ambiciosas.

Tínhamos a intenção, em primeiro lugar, de produzir um acervo de grande porte, com

características técnicas e facilidade de disseminação inexistentes em relação às Ciências Sociais.

Iniciativas de outros pesquisadores ou instituições em geral apresentam limitações em termos

de abrangência temática, quantidade de material produzido e capacidade de tratamento e

acessibilidade, itens em relação aos quais estamos, comparativamente, muito bem situados.

Essa condição não decorre apenas dos recursos financeiros obtidos com a aprovação do projeto,

importante porém relativamente modestos para o custo total do empreendimento, mas

também dos recursos pessoais e institucionais que pudemos mobilizar. Assistentes, técnicos e

alunos de graduação ou pós-graduação foram engajados na pesquisa. Do CPDOC, como já

mencionamos, aproveitamos a tradição na realização de entrevistas de História Oral e os

recursos técnicos mais recentes do Núcleo de Audiovisual e Documentário. No ISCTE, contamos

também com apoio do setor técnico da instituição. Apenas em Moçambique os recursos foram

precários, e temos a intenção de sanar esse problema num próximo projeto.

A preocupação documentária amplia-se com o esforço em disponibilizar os memoriais e

outros documentos dos entrevistados que foram recolhidos durante a pesquisa para elaboração

dos roteiros ou doados e disponibilizados pelos entrevistados. Além dos memoriais, destacamos

dois filmes que foram recuperados no âmbito do projeto: Day of rest, de Peter Fry, filmado em

(1969) e filmagens no terreiro de umbanda feitas por Yvonne Maggie em sua pesquisa sobre o

tema. O primeiro já está disponível para download na página do projeto. O segundo estará em

breve, tão logo seja possível terminar de colocar na internet todo o material gerado a partir

dessa primeira fase do projeto.

O processamento e a edição do material filmado deu-se em três planos. Primeiro, temos

o tratamento do material seguindo os procedimentos habituais do Programa de História Oral do

CPDOC.

Page 30: Relatorio final do projeto CSPLP

30

A versão integral das entrevistas concedidas, em áudio e vídeo, ficará disponível para

consulta física no CPDOC. Trata-se do documento original, a ser preservado na íntegra (salvo no

caso de pedido explícito do entrevistado para suprimir algum trecho).

Em seguida, num segundo plano, e visando principalmente à disponibilização da

entrevista na internet, procedemos, ao que temos chamado, na falta de um termo melhor, de

uma edição “light”. Trata-se, de editar “limpando” alguns elementos como o “cabeçalho” da

entrevista (que registra a data, local e pessoas presentes – informação que fica, no entanto,

preservada nos créditos e na ficha técnica) e pequenas interrupções no processo de entrevista.

Além disso, alguns blocos temáticos serão criados, eventualmente trechos separados de uma

mesma entrevista podem ser agrupados. Há uma diminuição pequena da duração total da

entrevista, tratando-se apenas de torná-la mais “leve” para a visualização online. Junto a cada

edição, separada em blocos temáticos tanto para facilitar a visualização pelos futuros usuários e

possibilitar a consulta de um assunto específico com maior rapidez quanto para tornar mais

leves os filmes que serão carregados na página, disponibilizamos o sumário da entrevista, seu

roteiro de edição “light” (que indica, entre outras coisas, todas as alterações feitas a partir do

documento original) e a transcrição integral da entrevista cedida. As pessoas que quiserem

consultar o material terão, assim, visibilidade total sobre o processo de edição do material.

Num terceiro nível, temos produtos como os filmes feitos pelos alunos ou por outras

pessoas a partir do acervo disponível. Embora esta utilização não tenha sido proposta no

projeto original, temos buscado estimulá-la através das atividades do Núcleo de Audiovisual e

Documentário do CPDOC.

A disponibilização online do material filmado oferece maior capacidade de difusão dos

resultados da pesquisa, incluindo sua utilização em sala de aula, conforme já positivamente

experimentado pela equipe do projeto em experiências narradas acima. Futuramente, a página

poderá também incluir material adicional produzido a partir do projeto: novos documentos

cedidos pelos entrevistados, filmes produzidos pelos alunos ou por terceiros etc.

Finalmente, a ambição do projeto passa pela expectativa de que o acervo produzido

possa vir a ser trabalhado sob diferentes recortes temáticos, e que, eventualmente, ajude a

iluminar questões importantes, quer das Ciências Sociais em geral, quer das trajetórias

profissionais, acadêmicas ou existenciais dos cientistas sociais nos países da CPLP selecionados

(Brasil, Portugal e Moçambique) numa perspectiva comparativa.

Page 31: Relatorio final do projeto CSPLP

31

ANEXOS

Page 32: Relatorio final do projeto CSPLP

32

Cientistas sociais de países de língua portuguesa: histórias de vida Projeto CPDOC/FGV, LAU/IFCS (Brasil), CIES/ISCTE (Portugal), INIA (Moçambique).

ENTREVISTAS – GUIA PARA ROTEIROS/GUIÕES – Versão I I – MATERIAL DE APOIO: 1 – Cronologia geral das Ciências Sociais 2 – Cronologia específica do entrevistado 3 – Relatório de Entrevista – Modelo CPDOC/FGV II – IMAGENS DE APOIO: 1 – Filmagem: o contexto da vida e atuação profissional do entrevistado

1.1 – Locais de trabalho, casa e pesquisa 1.2 – Fotos, documentos, livros que possam ser filmados/fotografados 1.3 – Documentos, objetos pessoais e/ou de pesquisa

III – REALIZAÇÃO DA ENTREVISTA (BASE PARA ELABORAÇÃO DOS ROTEIROS INDIVIDUAIS): 0 – Gravar no início da entrevista (CABEÇALHO): Local, data de realização, nome do entrevistado e dos entrevistadores. 1 – Dados biográficos, família, formação escolar e graduação. Opção pelas Ciências Sociais (vocação?). 2 – Trajetória profissional e acadêmica – Pós-Graduação, colegas de geração, vínculos profissionais, associações profissionais e atuação pública (se for o caso).

2.1 – Principais temas de pesquisa (visão de conjunto sobre sua contribuição para o seu tema). 2.2 – Produção intelectual: principais trabalhos 2.3 – Influências:

a) Personagens marcantes b) Obra: destacar um livro (ou obra artística) mais marcante.

3 – Comentário sobre as relações existentes (ou não) entre cientistas sociais da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) – leituras, locais, viagens, contatos etc. Cientistas que considera relevantes/centrais dentro das ciências sociais na CPLP. 4 – Visão geral sobre as Ciências Sociais (ou sobre seu tema de pesquisa) e sobre o ofício de cientista social na atualidade. 5 – Ao final:

a) Perguntar se gostaria de acrescentar algo que não foi abordado na entrevista. b) Conversar sobre novo encontro para gravar imagens de apoio.

Page 33: Relatorio final do projeto CSPLP

33

Cientistas sociais de países de língua portuguesa: histórias de vida Projeto CPDOC/FGV, LAU/IFCS (Brasil), CIES/ISCTE (Portugal), INIA (Moçambique).

GUIÃO DE ENTREVISTA – Versão II (Necessário acrescentar dados biográficos do entrevistado)

1. DADOS BIOGRÁFICOS E FORMAÇÃO 1.1. Origens

• Nascimento: data; local

• Família de origem

• Escolaridade pré-universitária

1.2. Opção pelas Ciências Sociais

• Como começou? 1.3. Fases da formação universitária

• Graduação • Pós-Graduação • Outras

2. TRAJECTÓRIA PROFISSIONAL E ACADÉMICA

2.1. A carreira: fases e marcos principais

• ... 2.2. A investigação

• Principais temas de pesquisa e análise

• Filiações intelectuais

• Principais contribuições

• Investigação de âmbito internacional

• Papel no desenvolvimento das ciências sociais 2.3. Produção intelectual

• Principais publicações

• Outras formas de produção intelectual 2.4. Outras actividades relevantes

• A intervenção pública, de âmbito nacional e internacional

2.5. Influências

• Contextos influentes (sociais, culturais, políticos)

• Acontecimentos-chave

• Personagens marcantes

• Obra: um livro (ou obra artística) marcante 3. A SOCIOLOGIA AS CIÊNCIAS SOCIAIS E A COMUNIDADE DE PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA (CPLP)

Page 34: Relatorio final do projeto CSPLP

34

o Qual seria, se houver, a relação do entrevistado com as ciências sociais da CPLP 4. VISÃO GERAL SOBRE A SOCIOLOGIA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS, NA ACTUALIDADE

• E/ou sobre as suas áreas de especialidade / os seus temas de pesquisa.

• Sobre o ofício de investigador nestas áreas, na atualidade. 5. FINAL

• Gostaria de acrescentar algo que não foi abordado na entrevista?

• Gravação de imagens de apoio

Page 35: Relatorio final do projeto CSPLP

35

Trajetórias Intelectuais de Cientistas Sociais Profas. Karina Kuschnir e Helena Bomeny

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS

– IFCS/UFRJ

Departamento de Antropologia Cultural

CPDOC/FGV – Curso de Ciências Sociais 2009.1

FCA634 Tóp. Esp. Antrop. I - Trajetórias Intelectua is de Cientistas Sociais

Sexta-feira, 13:40 – 17:00h – Sala 109 IFCS e Sala 421 CPDOC/FGV (Praia de Botafogo, 190)

OBJETIVOS O objetivo do curso é promover uma discussão sobre trajetórias intelectuais de cientistas sociais no Brasil e em Portugal. Ao analisar diferentes trajetos profissionais e pessoais, pretende-se aprofundar o debate acerca dos processos de construção das carreiras intelectuais e as relações entre os problemas de pesquisa e a sociedade mais abrangente onde se desenvolvem.

Serão apresentadas obras fundamentais para a história das ciências sociais no Brasil e em Portugal. Além disso, a proposta do curso prevê leitura de fontes primárias, tais como entrevistas orais, audiovisuais, bem como memoriais, documentos, cartas e outros materiais do arquivo pessoal dos próprios cientistas sociais.

REALIZAÇÃO O curso será ministrado simultaneamente pelas professoras Helena Bomeny (CPDOC/FGV) e Karina Kuschnir (DAC/IFCS/UFRJ), ambas da equipe do projeto “Cientistas Sociais de Países de Língua Portuguesa: Histórias de Vida” (CPDOC/FGV e IFCS/UFRJ). As aulas serão dadas conjuntamente para alunos das duas instituições, com alternância de local segundo um calendário que será divulgado no primeiro dia do semestre letivo.

AVALIAÇÃO A avaliação envolverá participação em seminários, realização de pesquisa empírica e trabalho final, segundo pontuação que será divulgada no início do curso.

BIBLIOGRAFIA

6/Março – Aula 1

Apresentação do curso

13/Março – Aula 2 – CPDOC/FGV

MICELI, Sergio. 1987. Condicionantes do Desenvolvimento das Ciências Sociais no Brasil (1930-1964). Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 2, n. 5, p. 5-26.

MICELI, Sergio (org.). 1989. “Por uma sociologia das Ciências Sociais”, em História das Ciências Sociais no Brasil. volume 1, São Paulo, Vértice, Editora Revista dos Tribunais, IDESP.

Page 36: Relatorio final do projeto CSPLP

36

BOURDIEU, Pierre. 1996. “A ilusão biográfica”. In: Marieta de Moraes Ferreira e Janaína Amado (orgs.), Usos & abusos da história oral. Rio de Janeiro, FGV, p. 183-191.

20/Março – Aula 3 – CPDOC/FGV

ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de. 1989. “Dilemas da Institucionalização das Ciências Sociais no Rio de Janeiro”. In: MICELI, Sérgio (org.). História das Ciências Sociais no Brasil. volume 1, São Paulo: Vértice / Editora Revista dos Tribunais / IDESP.

REIS, Elisa P. 1998. “As Ciências Sociais nos Últimos 20 Anos”, Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 12, n. 35.

REIS, Elisa P. 2008. Entrevista. Material Audiovisual – Projeto CPLP.

27/Março – Aula 4 – CPDOC/FGV

BASTOS, Elide Rugai, Fernando Abrucio, Maria Rita Loureiro e José Márcio Rêgo (orgs.). 2006. Conversas com sociólogos brasileiros. São Paulo: Ed 34.

FIGUEIREDO, Vilma. 1987. "Os 55 anos da Sociedade Brasileira de Sociologia assumidos com orgulho e muito esforço". In: BARREIRA, César (org.). A Sociologia no Tempo - memória, imaginação e utopia. São Paulo: Cortez, p. 88-92.

HUGHES, Everett C. 2006 [1971] “Ciclos, pontos de inflexão e carreiras”. Teoria & pesquisa, n. 46, janeiro, UFSCar: Universidade Federal de São Carlos. (Tradução de Celso Castro de: “Cycles, Turning Points, and Careers”. In: The sociological eye: selected papers on institutions and race. Chicago, Aldine Athernon, 1971, p. 124-131.]

3/Abril – Aula 5 – CPDOC/FGV

BECKER, Howard S. 2007. “Coincidência”, In: Segredos e truques da pesquisa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 50-58.

PEIRANO, Mariza. 1995. “Artimanhas do acaso”. In: A favor da etnografia. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, p. 119-33.

Velho, Gilberto. 1981. “Projeto, emoção e orientação em sociedades complexas”. In: Individualismo e cultura: notas para uma antropologia da sociedade contemporânea. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 13-37.

10/Abril – Feriado – Não haverá aula

17/Abril – Aula 6 – CP´DOC/FGV

CORREA, Mariza. 1995. “A Antropologia No Brasil (1960-1980)”. In: MICELI, Sérgio. (Org.). História das ciências sociais no Brasil. São Paulo: Sumaré/Fapesp, v. 2.

LARAIA, Roque de Barros. 2008. Entrevista. Material Audiovisual – Projeto CPLP.

Page 37: Relatorio final do projeto CSPLP

37

24/Abril e 1°/Maio – Feriados – Não haverá aula

8/Maio – Aula 7 – IFCS/UFRJ

VELHO, Gilberto. 1994. “Unidade e Fragmentação em Sociedades Complexas: trajetória individual e campo de possibilidades”. In: Projeto e Metamorfose: antropologia das sociedades complexas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, p. 31-41.

VELHO, Gilberto. 2001. Entrevista com Gilberto Velho, Revista de Estudos Históricos, n. 28, p. 183-210.

Homenagens - Associação Brasileira de Antropologia 50 anos, 2005.

15/Maio – Aula 8 – IFCS/UFRJ

MACHADO, Fernando L. 2008. Meio século de investigação sociológica em Portugal - uma interpretação empiricamente ilustrada.

COSTA, António Firmino da. 2004. “Será a sociologia profissionalizável?”, In: GONÇALVES, C.K., RODRIGUES, E. e AZEVEDO, N. (coords.). Sociologia no ensino superior: conteúdos, práticas pedagógicas e investigação. Faculdade de Letras da Universidade do Porto. (texto em PDF anexo)

Entrevista audio-visual - trecho de entrevista feita em Portugal

Complementar: entrevistas Ruth Cardoso, Eunice Durham, Manuela Carneiro da Cunha e Roberto DaMatta.

22/Maio – Aula 9 – IFCS/UFRJ

Aula sobre metodologia de entrevistas

DEBERT, Guita G. 1986. "Problemas relativos à utilização da história de vida e história oral", In Aventura Antropológica. Rio de Janeiro. Paz e Terra, p. 141-155.

BECKER, Howard S. 1993. "A história de vida e o mosaico científico", In: Metodologia de pesquisa em ciências socias. São Paulo, Hucite, p. 101-115.

NOGUEIRA, Oracy. 1977. "A entrevista", In: Pesquisa social. São Paulo, Cia. Editora Nacional, p. 111-119.

WHYTE, William Foote. 1984. "Interviewing Strategy and Tactics", In: Learning from the field. London, Sage, p. 97-112.

29/Maio – Aula 10 – CPDOC/FGV

Debate com a profa. Clarice Peixoto.

PEIXOTO, Clarice Ehlers ; COPQUE, B. ; MATTOS, G. M. V.; BRUNO. Etienne Samain: de um caminho a outro. 2008 (vídeo etnográfico).

Page 38: Relatorio final do projeto CSPLP

38

PEIXOTO, Clarice Ehlers . Antropologia audiovisual: sobre o fabricante de imagens. In: 26 RBA, 2008, Porto Seguro. 26 RBA: Desigualdade na diversidade, 2008. PEIXOTO, Clarice. 2001. "Caleidoscópio de imagens: o uso do vídeo e sua contribuição à análise das relações sociais". In Feldman-Bianco, Bela e Moreira Leite, Miriam Desafios da imagem. Fotografia, iconografia e vídeo nas Ciências Sociais. Ed. Papirus, p. 213-224,1998. 2ª ed. 2001.

Sugestões de consulta: http://www.inarra.com.br/ e

http://antropologiavisualaba.blogspot.com/

5/Junho – Aula 11 – IFCS/UFRJ

BASTOS, Elide Rugai, Fernando Abrucio, Maria Rita Loureiro e José Márcio Rêgo (orgs.). 2006. Conversas com sociólogos brasileiros. São Paulo: Ed 34.

ALBERTI, Verena. 2005. Manual de História Oral. Rio de Janeiro, FGV (3a. edição)

ALBERTI, Verena. 2004. "O lugar da história oral: o fascínio do vivido e as possibilidades de pesquisa", In: Ouvir Contar. Rio de Janeiro, FGV, p. 13-31.

12/Junho – Feriado – Não haverá aula

19/Junho – Aula 12 – CPDOC/FGV

Roteiro e realização de entrevista audiovisual pelos alunos.

26/Junho – Aula 13 – CPDOC/FGV

Roteiro e realização de entrevista audiovisual pelos alunos.

3/Julho – Entrega das Notas

Leituras complementares

CORRÊA, Mariza. 1987 História da antropologia no Brasil (1930-1960), testemunhos, Campinas, Vértice/Unicamp.

FORJAZ, Maria Cecília Spina. 1997. "A emergência da Ciência Política acadêmica no Brasil: aspectos institucionais". Rev. bras. Ci. Soc., Fev., vol.12, no.35.

MICELI, Sergio (org.). 1995. História das Ciências Sociais no Brasil. volume 2, São Paulo, Sumaré.

TRAJANO FILHO, W. (Org.) ; Ribeiro, Gustavo L. (Org.) . O Campo da Antropologia no Brasil. 1. ed. Rio de Janeiro: ContraCapa, 2004. v. 1. 269 p.

Page 39: Relatorio final do projeto CSPLP

39

TRINDADE, Helgio (Org.) . As Ciências Sociais na América Latina em Perspectiva Comparada 1930-2005. Porto Alegre, RS: Editora UFRGS/ANPOCS, 2006. 413 p.

VILLAS BÔAS, Glaucia K. (Org.) ; PESSANHA, Elina (Org.) . Ciências Sociais - Ensino e pesquisa na graduação. Rio de Janeiro: Jornada Cultural, 1995. 240 p.

Page 40: Relatorio final do projeto CSPLP

40

PROGRAMA

CURSO: CIÊNCIAS SOCIAIS DISCIPLINA: LABORATÓRIO DE AUDIOVISUAL E DOCUMENTÁRIO CARGA HORÁRIA: 60H PROFESSORAS: ADELINA NOVAES E CRUZ e ARBEL GRINER 2º SEMESTRE / 2008 I – APRESENTAÇÃO:

O Laboratório de Audiovisual e Documentário pretende ser um espaço de compreensão da

construção da obra audiovisual por meio da experimentação. As aulas promoverão o contato

com as diferentes etapas do processo de feitura do documentário: estabelecimento do tema,

pesquisa, filmagem, decupagem, roteirização e montagem. Além das sessões práticas, haverá

encontros expositivos com realizadores. Como trabalho final, os alunos deverão apresentar

montado o filme que produzirão no decorrer do curso.

II – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO (Aula a aula): Aula 1 (07/08): Apresentação do curso, da metodologia e da dinâmica das aulas. Análise de diferentes formas de edição de material audiovisual. Aula 2 (14/08): Aula sobre pesquisa. Exibição de “Juliu’s Bar”, de Consuelo Lins, e conversa sobre pesquisa com Geraldo Pereira. Aula 3 (20/08): Filmagem. Aula prática de apresentação da câmera, dos princípios e dos planos básicos de filmagem. Cuidados e planos básicos para entrevistas. Aula 4 (28/08): Divisão da turma em dois grupos. Projeção das horas de entrevista gravadas com dois entrevistados do projeto Cientistas Sociais de Países de Língua Portuguesa. Aula 5 (04/09): Pesquisa em sala para realização de entrevista com cientistas sociais em seus ambientes de trabalho. Aula 6: (11/09): Filmagem com os cientistas sociais em seus ambientes de trabalho (casa, escritório, “campo”). Aulas 7 (18/09): Semana de A1 – Não haverá aula. Aula 8 (25/09): Princípios da decupagem de material audiovisual. Decupagem individual. Aula 9 (02/10): Princípios da montagem (aula prática). Aula 10 (09/10): Conversa sobre roteiro para montagem a partir de material filmado. Elaboração, em sala, de roteiros para montagem de filmes sobre os cientistas sociais entrevistados.

Page 41: Relatorio final do projeto CSPLP

41

Aula 11 (16/10): Montagem em sala. Aula 12 (23/10): Montagem. Aula 13 (30/10): Montagem. Aula 14 (06/11): Montagem. Aula 15 (13/11): Montagem. Aula 16 (27/11): A2.

* Algumas aulas deverão ser realizadas em laboratório de informática. Outras, em salas com condições para projeção e outras, por fim, em salas com ilhas de edição.

III – BIBLIOGRAFIA DE APOIO: AITKEN, Ian. The Documentary film movement: an anthology. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1998. BARBOSA, Andréa & CUNHA, Edgar Teodoro da. Antropologia e Imagem. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2006. BARNOW, Eric. Documentary: a history of the non-fiction film. New York: Oxford Press University, 1993. DA-RIN, Silvio Piropo. Espelho Partido: tradição e transformação do documentário. Rio de Janeiro: Azougue, 2006 (3a.ed). GRANT, Barry Keith & SLONIOWSKI, Jeannette. Documenting the documentary: close readings of documentary film and video. Detroit: Wayne Press University State, 1998. LINS, Consuelo. O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. MOURÃO, Maria Dora & LABAKI (org). O Cinema do Real. São Paulo: Cosac & Naify, 2005. NICHOLS, Bill. Representing reality: issues and concepts in documentary. Bloomington: Indiana University Press, 1991. Na internet: portal www.nextimagem.com

Page 42: Relatorio final do projeto CSPLP

42

PROGRAMA

CURSO: CIÊNCIAS SOCIAIS DISCIPLINA: LABORATÓRIO DE AUDIOVISUAL E DOCUMENTÁRIO CARGA HORÁRIA: 60H PROFESSORAS: ADELINA NOVAES E CRUZ e ARBEL GRINER 2º SEMESTRE / 2009

I – APRESENTAÇÃO:

O Laboratório de Audiovisual e Documentário pretende ser um espaço de compreensão da

construção da obra audiovisual por meio da experimentação. As aulas promoverão o contato

com as diferentes etapas do processo de feitura do documentário: estabelecimento do tema,

pesquisa, filmagem, decupagem, roteirização e montagem. Além das sessões práticas, haverá

encontros expositivos pessoas que trabalham com cinema e televisão e discussão de textos.

Como trabalho final, os alunos deverão apresentar montado o filme que produzirão no decorrer

do curso.

II – CONTEÚDO PROGRAMÁTICO (Aula a aula): Aula 1 (13/08): Apresentação do curso, da metodologia e da dinâmica das aulas Aula 2 (20/08):

a) Projeção de trechos de entrevistas com potenciais personagens. b) Discussão em sala de ROTH, Laurent. “A Câmera DV: órgão de um corpo em mutação”

e COUTINHO, Eduardo, FURTADO, Jorge E XAVIER, Ismail. “O sujeito (extra)ordinário” In: MOURÃO, Dora & LABAKI, Amir (Orgs.). O Cinema do Real. São Paulo, CosacNaify.

Aula 3 (27/08): Filmagem. Aula prática de apresentação da câmera, dos princípios e dos planos básicos de filmagem. Cuidados e planos básicos para entrevistas. Aula 4 (03/09): Filmagem. Aula prática de apresentação da câmera, dos princípios e dos planos básicos de filmagem. Cuidados e planos básicos para entrevistas. * Texto de apoio (para os interessados – COSTA, Antonio. “El Encuadre” e “Los movimientos de Cámara”. In: Saber ver el Cine. Barcelona, Buenos Aires, México, Paidós, 1985. Aula 5 (10/09): Discussão de LINS, Consuelo e MESQUITA, Claudia. Filmar o Real – sobre o documentário brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro, Zahar, 2004 (Pp. 7 a 43). Aulas 6 (17/09): Divisão da turma em grupos e definição de tarefas práticas para produção de filme. Discussão dos materiais de pesquisa.

Aula 7 (24/09):

a) [SEMANA A1] Entrega de plano de trabalho (cronograma) e roteiro de entrevista com o personagem eleito.

Page 43: Relatorio final do projeto CSPLP

43

b) Princípios da montagem (aula prática).

Aula 8 (01/10): Entrevistas com personagens para posterior montagem de filmes. Aula 9 (08/10):

a) Discussão sobre HAMBURGER, Esther. “Introdução” e “Novela, Política e Intimidade: A Construção da Realidade”. In: O Brasil antenado – A Sociedade da Novela. Rio de Janeiro, Zahar, 2005.

b) Orientação para montagem de roteiro de filme documentário. Aula 10 (22/10): Montagem. Aula 11 (29/10): Montagem. Aula 12 (05/11): Montagem. Aula 13 (12/11): Montagem. Aula 14 (19/11): Montagem. Aula 15 (26/11): A2 – Apresentação dos trabalhos.

** Leituras Complementares: LINS, Consuelo. “Prefácio” e “A Escola da Televisão”. In: O documentário de Eduardo Coutinho – Televisão, Cinema e Vídeo. Rio de Janeiro, Zahar, 2004. COMOLLI, Jean-Louis. Ver e Poder – a Inocência Perdida. Belo Horizonte, UFMG, 2008. CHARNEY, Leo & SCHWARTZ, Vanessa (Orgs.). O Cinema e a Invenção da Vida Moderna. São Paulo, CosacNaify, 2001. XAVIER, Ismail. O Olhar e a Cena. São Paulo, CosacNaify, 2003. III – BIBLIOGRAFIA DE APOIO: AITKEN, Ian. The Documentary film movement: an anthology. Edinburgh: Edinburgh University Press, 1998. BARBOSA, Andréa & CUNHA, Edgar Teodoro da. Antropologia e Imagem. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2006. BARNOW, Eric. Documentary: a history of the non-fiction film. New York: Oxford Press University, 1993. DA-RIN, Silvio Piropo. Espelho Partido: tradição e transformação do documentário. Rio de Janeiro: Azougue, 2006 (3a.ed). GRANT, Barry Keith & SLONIOWSKI, Jeannette. Documenting the documentary: close readings of documentary film and video. Detroit: Wayne Press University State, 1998. LINS, Consuelo. O documentário de Eduardo Coutinho: televisão, cinema e vídeo. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. MOURÃO, Maria Dora & LABAKI (org). O Cinema do Real. São Paulo: CosacNaify, 2005.

Page 44: Relatorio final do projeto CSPLP

44

NICHOLS, Bill. Representing reality: issues and concepts in documentary. Bloomington: Indiana University Press, 1991. Na internet: portal www.nextimagem.com