Relatorio Final

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA Relatórios Técnicos do Departamento de Informática Aplicada da UNIRIO Estudos Dirigidos 2008.2 Relatório Final Lucia Castro Departamento de Informática Aplicada UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Av. Pasteur, 458, Urca - CEP 22290-240 RIO DE JANEIRO BRASIL

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Linguistic approaches to conceptual modeling

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA

Relatórios Técnicos do Departamento de Informática Aplicada

da UNIRIO

Estudos Dirigidos 2008.2 Relatório Final

Lucia Castro

Departamento de Informática Aplicada

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Av. Pasteur, 458, Urca - CEP 22290-240

RIO DE JANEIRO – BRASIL

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Relatórios Técnicos do DIA/UNIRIO, Editor: Prof. Fernanda Baião Dezembro, 2008

Estudos Dirigidos 2008.2

Relatório Final

Lucia Castro

Depto de Informática Aplicada – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO)

[email protected]

Abstract. This paper presents the final report on theoretical material read in the second term of 2008, as a basis for a graduation dissertation.

Keywords: Data, metadata, cognition, modeling, integration, semantics.

Resumo. Este trabalho apresenta um relatório das leituras teóricas realizadas no segundo período do ano de 2008, com vistas à fundamentação teórica, para a elaboração de dissertação de mestrado.

Palavras-chave: Dados, metadados, cognição, modelagem, integração, semântica.

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Sumário

1 Introdução 5

2 Dados e a Realidade 5

2.1 Entidades e Nomes 6

2.2 Relacionamentos e Atributos 7

2.3 Modelos de Dados 8

2.4 Teorias e Ferramentas 8

3 Cognição 9

3.1 Atenção, Consciência e Automatização 9

3.2 Percepção e Memória 9

3.3 Representação do Conhecimento 10

3.4 Linguagem 11

4 Fundamentos da Teoria dos Signos 13

4.1 Semiose e Semiótica 13

5 Conclusão 14

6 Referências Bibliográficas 15

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1 Introdução

A disciplina de Estudos Dirigidos II teve como foco principal o levantamento bibliográfico para a fundamentação teórica das questões a serem tratadas na pesquisa para a dissertação de mestrado. Dentre os livros pesquisados, dois mereceram destaque por descreverem os dois principais aspectos relativos à questão da modelagem conceitual. O primeiro, Data and Reality, nas palavras do próprio autor, apresenta uma discussão abrangente sobre como os seres humanos percebem e processam as informações no seu dia-a-dia, bem como de sua luta para impor sua visão às máquinas que fazem o processamento de seus dados, ou seja, com a sua necessidade de armazenar esses dados de maneira organizada. A obra data de 1998 e, por isso, fala de armazenamento em arquivos e sobre estruturas de dados, além de comentar os modelos relacional, hierárquico e de rede. Entretanto, as questões levantadas acerca das dificuldades de representação das ambiguidades e sutilezas semânticas dos dados em relação aos seus referentes reais ainda não encontraram uma solução definitiva e permanecem objetos de estudo e pesquisa, como no caso deste trabalho.

O segundo livro, Psicologia Cognitiva, é um estudo abrangente, ainda que não exaustivo, sobre os processos cognitivos humanos. Conforme exposto em sua introdução, “... a psicologia cognitiva é o estudo de como as pessoas percebem, aprendem, lembram-se de algo e pensam sobre as informações.” (Sternberg, 2008) O interesse maior nessa área de conhecimento foi compreender como os seres humanos percebem a realidade e como, em última instância, adquirem novos conceitos. Apesar de a obra apresentar, com razoável detalhamento, aspectos fisiológicos do cérebro humano que fogem completamente ao foco desta pesquisa, os processos da construção e da comunicação do conhecimento entre humanos nela descritos foram de grande valia à presente pesquisa.

Uma terceira obra lida que, embora pequena e sem muito destaque em comparação com as duas acima citadas, também forneceu matéria de conceituação teórica para a presente pesquisa foi Fundamentos da Teoria dos Signos. Nela, o autor discorre sobre semiose e semiótica, bem como suas teorias subjacentes, seus problemas e suas aplicações. O conteúdo apreendido auxiliou na conceituação de língua, seus componentes, a interação entre esses componentes e sua utilização por parte de outras ciências. Este trabalho está organizado da seguinte maneira; a seção 2 apresenta o conteúdo apreendido do livro Data and Reality, a seção 3 trata de Psicologia Cognitiva, a seção 4 de Fundamentos da Teoria dos Signos e a seção 5 apresenta um conclusão acerca do que foi exposto.

2 Dados e a Realidade

“A message to mapmakers: highways are not painted red, rivers don’t have county lines run-ning down the middle, and you can’t contour lines on a mountain.” Com esta frase Kent (1998) abre o prefácio de sua obra de discussão sobre dados, informações, modelos conceituais e realidade, intitulada Data and Reality. Ainda no prefácio, os leitores são informados de que a obra trata de organização de arquivos, de índices, estruturas hierárquicas, estruturas em rede e modelos relacionais, que o autor afirma serem somente mapas, ou aproximações pobres da geografia que pretendem representar.

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Como mapas, as estruturas de dados apresentadas podem ser úteis para lidar com as informações mas são pobres, são formalismos artificiais que diferem das informações da mesma maneira em que um mapa difere do terreno que representa. Indo mais além, o autor afirma que a informação real é, provavelmente, amorfa, subjetiva e ambígua demais para ser representada de maneira precisa pelos processos objetivos e determinísticos de um computador; de fato, ao longo da obra o autor não oferece uma solução para as questões levantadas.

2.1 Entidades e Nomes

O livro não tem como foco a definição do que são entidades mas sim mostrar a importância de se compreender o que exatamente se deseja representar. Usando de exemplos reais clássicos, como o de uma fábrica de peças, o autor mostra como a diferença entre contextos de um mesmo domínio pode causar diferenças semânticas e gerar empecilhos a uma possível integração. Em um desses exemplos, para a base de dados do depósito, uma peça é, na verdade, um tipo de peça; para a base de dados do setor de controle de qualidade, ao contrário, uma peça é, efetivamente, uma peça. A grosso modo, no primeiro banco de dados, uma peça é uma entidade tipo e no segundo uma peça é uma entidade ou instância. O que ocorre aqui é um exemplo das ambiguidades naturais que os humanos, em especial os expertos em um determinado contexto, resolvem de maneira automática e, praticamente, sem perceber mas que devem ser tratadas nos modelos conceituais e, principalmente, nos modelos físicos.

Um outro aspecto concernente às entidades é o da mudança: quanto uma entidade pode mudar antes de perder sua identidade? Qual o momento em que uma nova entidade deve ser criada? Um dos exemplos é o dos carros: o que identifica um carro? A resposta é, provavelmente, o seu chassis, cujo número o identifica; tomando-se isso como verdade, um carro que perca o chassis perde sua identidade, ou seja, deixa de existir como a entidade que era antes. Por outro lado, um carro pode ter seu motor inteiramente substituído e continuar sendo a mesma entidade. Outro questionamento aqui é o do início e do fim. Uma pessoa pode existir em um banco de dados antes de nascer? Isso é possível, por exemplo, em registros médicos, visto que vários procedimentos são realizados em fetos. Por outro lado, a morte de uma pessoa determina o fim de seus registros? Em algumas bases de dados não, como no caso dos registros de um cemitérios ou de medicinal legal. Esses detalhes devem ser endereçados com muito cuidado; não há uma maneira padrão para resolver tais questões e o caminho é mesmo analisar caso a caso. Entretanto, tudo deve constar com clareza dos modelos conceituais de dados.

Se o propósito de um sistema de informação é, em última instância, permitir que seus usuários armazenem e extraiam informações sobre entidades. Para que isso seja possível, as transações entre usuário e sistema exigem algum meio de designar as entidades de interesse. A maneira mais natural de se designar entidades seria pelo nome. Entretanto, nomes são ambíguos: nomes de pessoas não são únicos e a designação que se use para identificar uma entidade tende a não ser constante – a mesma identificação pode estar relacionada entidades diferentes (homonímia); bem como a mesma entidade pode ser identificada por mais de uma designação (sinonímia). O fato de que uma entidade representada em um sistema tem que ter um identificador único, por mais útil que isso seja, é uma imposição do modelo e não uma condição inerente às características das informações.

A qualificação, ou seja, a especificação de termos adicionais em um nome de modo a eliminar ambiguidades de identificadores, é uma delimitação do escopo em que esse

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identificador refere-se à determinada entidade. Um exemplo comum é o do código de área dos telefones: eles determinam em que localidade, ou o escopo geográfico, aquele número (ou identificador) é único. Por outro lado, uma mesma “coisa” pode ter nomes diversos quando referenciada a partir de diferentes escopo. A imposição de que uma entidade deve ter uma identificação única é, na verdade, imposta por um determinado modelo de dados e não uma característica inerente à informação. Os escopos não têm que ter essa conotação intuitivamente, sendo, na verdade, um conjunto de coisas que têm um relacionamento particular com um determinado objeto. Voltando ao exemplo do código de área, ao digitarmos 21 antes de um número de telefone estamos, de fato, afirmando que esse número pertence ao conjunto dos números de telefone relacionados a uma determinada localidade.

Os nomes são apenas símbolos que representam uma idéia. A linguística convencional vê na comunicação verbal, seja ela escrita ou falada, a utilização de cadeia de caracteres para representar as coisas sobre que se discute. Entretanto, na vida real os nomes podem mudar. Quando se traz essa realidade para os sistemas de informação, e é necessário tratar questões de sinonímia e de homonímia, pode-se até mesmo criar um mundo virtual onde a mudança de nomes não seja permitida, ou onde um novo sistema de nomes seja criado na eventual necessidade de integrar dados e informações. Essas soluções têm um custo para esses sistemas. Uma alternativa a elas, que é possível no universo dos sistemas de informação, é a criação de identificadores “artificiais”, ou surrogate, que represente univocamente uma determinada entidade. Pensando bem, isso também ocorre no dia-a-dia real: não se usam imagens e outros símbolos não verbais para comunicação?

2.2 Relacionamentos e Atributos

Os relacionamentos são a matéria de que é feita a informação. Um relacionamento é, então, uma associação entres coisas, associação essa que tem um significado particular. Tal significado é denominado pelo autor como sua “razão”; por exemplo, há uma associação entre um carro e seu dono e a razão dessa associação é a posse do veículo por parte do dono. Um relacionamento pode, por sua vez, ter um nome que é, em geral, uma referência à sua razão – identificar somente os objetos envolvidos em um relacionamento não é suficiente, visto que diversos tipos de associação podem existir entre os mesmos objetos. Um exemplo citado é o de que uma mesma pessoa pode ser irmã, gerente e professora de uma outra; nesse caso, entre essas pessoas há três relacionamentos diferentes, visto que elas associam-se por três diferentes razões.

O termo “atributo” é usado certas vezes fazendo referência a um valor, como “azul”, por exemplo, ou em outras vezes fazendo referência ao link entre dois conceitos, como por exemplo, “cor do carro”. Entretanto, essas ambiguidades não chegam a ser uma preocupação; na verdade a questão mais importante é determinar a necessidade de um construto como “atributo”. Segundo o autor, não há uma diferença estrutural entre, por exemplo, “Henrique trabalha na contabilidade.” e “Henrique pesa 80 quilos.”; atributos não são estruturalmente diferentes de relacionamentos. Além disso, uma modelagem de dados tende a incluir diversas inconsistências, tais como: a cor do cabelo tende a ser um atributo de pessoa, embora na verdade a cor é do cabelo que, por sua vez, é uma entidade relacionada a essa pessoa; ou a data de contratação, que quase sempre é um atributo de uma pessoa em um arquivo de pessoal, quando na verdade essa data significa o início do relacionamento entre uma empresa e um funcionário.

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2.3 Modelos de Dados

Um modelo é, basicamente, um sistema de construtos usados para descrever a realidade, ou aquilo que poderia ser a realidade. Um modelo de dados reflete, então, a percepção de uma pessoa sobre a essência das coisas e pode ser chamado de “visão de mundo”. Entretanto, um modelo é mais que um meio de retratar a realidade; um modelo dá forma à realidade e limita a visão dessa mesma realidade. Se uma pessoa tem experiência com um determinado tipo de modelo, ela será capaz de “torcer” as coisas de modo a poder estruturar a realidade de acordo com esse modelo, durante um processo de modelagem, deixando de ver coisas que não se encaixam na estrutura conhecida.

Um outro aspecto abordado é o de que um modelo de dados é uma técnica para a representação da informação, construídos de maneira estruturada mas ao mesmo tempo simplista, de modo a se adequar à tecnologia de computação. Ainda assim, a elaboração de um modelo como esse envolve um considerável investimento de recursos, tanto humanos quanto financeiros; consequentemente, as empresas não se mostram dispostas a corrigir modelos ou de construir modelos novos. A necessidade de modelos mais sofisticados e semanticamente mais ricos será gradualmente reconhecida; e isso acontecerá à medida que crescerem as necessidades de integração e de interoperabilidade.

2.4 Teorias e Ferramentas

A diferença entre verdade e utilidade é a base entre as teorias e as ferramentas. Uma teoria busca a completeza, analisando fenômenos, identificando todos os seus elementos e funções. Uma ferramenta, por outro lado, busca a utilidade, ou seja, a realização de uma tarefa ou de um trabalho, e, ao contrário das teorias, englobam somente os elementos necessários à realização da tarefa a que se propõe; neste aspecto, as ferramentas tendem a ser incompletas. Modelos de dados são ferramentas – eles não contêm em si mesmos a verdadeira estrutura da informação; ao ver um modelo conceitual de seus dados, um usuário não reconhece nele, de pronto, suas estruturas de dados. Para que um usuário faça uso de um modelo conceitual, ele precisa, antes de tudo, aprender a usá-lo; esse aprendizado não é necessário somente pela complexidade do modelo. Muito desse aprendizado é, de fato, um condicionamento de suas percepções, de modo que aceite como fato as premissas necessárias ao funcionamento da ferramenta, e que ignore ou rejeite, como detalhes triviais, aquilo que o modelo não puder representar.

O autor afirma, em última instância, que a vida e a realidade são amorfas, desordenadas, contraditórias, inconsistentes, não racionais e não objetivas, e, por fim, não gerenciáveis, apesar de a ciência e a filosofia ocidentais terem criado uma ilusão do contrário. As visões racionais que se tem do universo são modelos idealizados, aproximações úteis da realidade mas apenas aproximações. E elas não são únicas – o cérebro humano funciona de maneira diversa de pessoa para pessoa; da mesma forma, a modo de estruturar dados e informações é também diferente. E essa pode ser a origem das discussões sobre qual será o melhor modelo, qual o mais natural, o mais fácil de usar ou o mais independente de tecnologia; cada projetista pode defender o modelo que se adeque mais à sua maneira particular de perceber a realidade.

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3 Cognição

A psicologia cognitiva tem como foco de estudo a maneira como as pessoas percebem o mundo que as cerca, como aprendem e como pensam sobre as informações. “A ciência cognitiva é um campo transdisciplinar que usa idéias e métodos da psicologia cognitiva, psicobiologia, inteligência artificial, filosofia, lingüística e antropologia.”, como explica o autor. Alguns dos temas subjacentes ao estudo da psicologia cognitiva incluem discussões sobre conhecimento nato em oposição ao conhecimento adquirido; entre racionalismo e empirismo; entre estruturas e processos, etc. O cérebro é o órgão da cognição e a neurociência cognitiva é a ciência que vincula o cérebro, bem como outros aspectos do sistema nervoso, ao processo cognitivo.

3.1 Atenção, Consciência e Automatização

A atenção é a tomada de foco da mente humana por um dentre as diversas linhas de pensamento possíveis; é o meio pelo qual uma quantidade de informação limitada é processada, incluindo tanto processos conscientes quanto processos inconscientes. É através da atenção que o homem otimiza a utilização de seus recursos mentais limitados para lidar com os estímulos ilimitados do seu ambiente – a possibilidade de voltar o foco para estímulos de maior interesse em um determinado momento permite ignorar outros tantos, de menor importância em determinado momento, não permitindo a interferência destes no processamento de informações. A consciência é o conhecimento da própria atividade psíquica, incluindo tanto o sentimento de percepção como o conteúdo da consciência, que pode ou não estar sob o foco da atenção. A atenção consciente é importante no monitoramento das interações humanas com o meio ambiente, no relacionamento humano com as memórias e as sensações.

Os processos cognitivos podem ser divididos em processos automáticos e processos controlados; os processos automáticos são aqueles que não envolvem um controle consciente, enquanto que os controlados são os que exigem uma atenção consciente para a sua realização. A partir dos conceitos de atenção, consciência e processos automáticos e controlados, chega-se ao conceito de automatização; a automatização é maneira através da qual um processo controlado torna-se automático. De uma maneira geral, a automatização está intimamente relacionada à prática: quanto mais uma determinada tarefa é realizada, menor o grau de atenção necessário à sua realização. Outros conceitos relevantes, no que diz respeito à atenção, são o de vigilânica, que é a capacidade de manter o foco de atenção em um determinado campo de estímulos por um longo intervalo de tempo; e o de fatores de distração, que são estímulos que desviam o foco da atenção daqueles que são o alvo da atenção.

3.2 Percepção e Memória

A percepção envolve os processos pelos quais os seres humanos reconhecem, organizam e entendem os estímulos ambientais; ela ocorre quando um objeto interno reflete propriedades do mundo externo. Um aspecto muito importante da percepção é o de reconhecimento de padrões. Uma das teorias sobre como se dá o processo de reconhecimento de padrões é a de que existem dois sistemas; o primeiro deles é especializado no reconhecimento de partes de objetos e da a posterior montagem

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dessas partes para que formem os objetos e o segundo é especializado no reconhecimento de configurações maiores. Esse segundo sistema é o mais utilizado no reconhecimento de rostos, por exemplo; entretanto, o primeiro sistema também pode ser usado para tal fim, como quando uma pessoa deixa de ver um conhecido por muito tempo e, quando o vê, começa a analisar detalhes das feições para depois lembrar de quem se trata. Outras teorias endereçam esse assunto de maneiras variadas; não há um consenso definitivo sobre o assunto, devido, principalmente, à complexidade dos processos envolvidos.

Já a memória é o meio através do qual os seres humanos mantêm e acessam experiências passadas, de modo a utilizar as informações no momento presente; os psicólogos cognitivos identificam três funções comuns da memória: codificação (transformação de dados sensoriais em uma representação mental), armazenagem (manutenção das informações codificadas na memória) e recuperação (retirada ou uso dessas informações). A codificação e a armazenagem são, emgeral, vistas como processos sequenciais; os processos, porém, são interdependentes.

Os seres humanos tendem a distorcer as memórias; há sete maneiras nas quais essas distorções ocorrem:

Transitoriedade, quando a memória perde-se rapidamente.

Distração, quando, por exemplo, uma pessoa entra em uma sala e esquece o que estava procurando.

Bloqueio, quando sabem que deveriam lembrar-se de algo mas não conseguem.

Atribuição equivocada, quando, por exemplo, uma pessoa não consegue lembrar onde leu ou ouviu alguma coisa.

Sugestionabilidade, quando, por força de uma sugestão, uma pessoa acredita lembrar-se de alguma coisa que efetivamente não aconteceu.

Viés, quando sofrem influências de vieses em sua recordação de fatos, que podem ou não ter acontecido.

Persistência, quando atribuem uma importância irreal a alguns fatos.

A recuperação da memória, bem como as suas distorções, são afetadas por emoções, humores, estados de consciência, etc. Um outro fenômeno descrito pelo autor é o denominado priming; esse fenômeno é caracterizado pela interferência de uma memória na percepção de algum estímulo. O exemplo dado é o de uma pessoa que ouve alguém descrever as vantagens de se ter uma antena parabólica: se após esse fato alguém menciona a palavra antena, muito provavelmente a imagem que essa pessoa vai recuperar da memória é a de uma antena parabólica.

3.3 Representação do Conhecimento

A representação do conhecimento é a maneira pela qual os humanos sabem, em sua mente, sobre coisas que existem fora dela; as imagens mentais são a representação mental das coisas que não estão sendo percebidas pelos sentidos em um determinado momento. Já os mapas cognitivos são representações internas do ambiente físico externo, principalmente em relações espaciais. Entretanto, não há métodos empíricos para a observação dos processos de representação do conhecimento; sua observação é feita de maneira indireta, a partir do comportamento de pessoas que desempenham

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tarefas cognitivas que dependem da representação mental de conhecimentos. O conhecimento pode ser representado tanto através de imagens (pictóricas) quanto através de palavras (simbólicas); em nenhum dos casos, porém, a representação carrega toda as características do que é representado, embora uma imagem seja análoda ao objeto representado. Os símbolos são arbitrários e seu uso requer o conhecimento e a aplicação de regras específicas.

Conforme a definição do autor, “A unidade fundamental de conhecimento simbólico é o conceito – uma idéia a respeito de algo que oferece um meio de entender o mundo [...].” (p. 264). Os conceitos são organizados em categorias, cuja função é agrupar esses conceitos a partir de aspectos de semelhança. As categorias podem ser naturais, quando acontecem naturalmente no mundo real, ou artificiais, quando são criadas por humanos. As categorias, não importa se naturais ou artificiais, tendem a ser estáveis, em oposição aos conceitos que mudam mais. De qualquer forma, os conceitos agrupados em uma categoria têm que ter uma característica em comum, uma categoria definitória.

3.4 Linguagem

A linguagem permite a comunicação; é a maneira de combinar palavras com esse objetivo. Ela possibilita ainda pensar sobre coisas e processos que não estão ao alcance imediato dos sentidos humanos; o ramo da psicologia que estuda a linguagem é a psicolinguística. A linguagem humana deve ser:

Comunicativa, ou seja, deve permitir a comunicação.

Arbitrariamente simbólica, ou seja, estabelece uma ligação arbitrária entre um símbolo e seu referente.

Regularmente estruturada.

Estruturada em múltiplos níveis.

Gerativa, produtiva, ou seja, dentro de sua estrutura, a linguagem deve permitir a criação de um número ilimitado de enunciados.

Dinâmica, ou seja, a linguagem humana está em constante evolução.

O léxico de uma língua é o conjunto de vocábulos válidos dessa língua; o léxico é também chamado de vocabulário de uma língua. Além do léxico, uma língua também tem uma sintaxe, que determinas as regras que os usuários de uma determinada língua têm que seguir para formar sentenças válidas. Complementar à sintaxe existe a semântica , que estuda os significados de uma língua. Os seres humanos alteram o léxico de uma língua, cunhando novos vocábulos, bem como a semântica, alterando o significado dos vocábulos existentes; a sintaxe, entretanto, tende a ser mais constante. Os seres humanos têm uma grande capacidade para a aquisição da sintaxe de sua língua, o que fica provado até mesmo quando cometem atos falhos – mesmo quando erros são cometidos inadvertidamente, a tendência é que os enunciados ainda assim sejam gramaticais. De acordo com Noam Chomsky, os seres humanos nascem com um dispositivo de aquisição da linguagem (ou Language Acquisition Device – LAD), que os torna biologicamente predispostos a adquirir a linguagem. Embora alguns animais consigam fazer uso de determinada linguagem (como no caso de chimpanzés que aprendem a linguagem de sinais e a utilizam em sua comunicação com humanos), é tido como fato praticamente certo de que o equipamento linguístico dos seres humanos é infinitamente superior. O autor cita Chomsky: “Se um animal tivesse a

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capacidade biologicamente tão vantajosa quanto a linguagem, mas, por alguma razão, não a tivesse utilizado até agora, seria um milagre evolutivo, como encontrar uma ilha com seres humanos que pudessem ser ensinados a voar.”

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4 Fundamentos da Teoria dos Signos

Nesta obra o autor trata da teoria dos signos, ou seja, da semiótica.

4.1 Semiose e Semiótica

Semiose é um termo que simboliza o processo através do qual alguma coisa funciona como um símbolo. Já a semiótica, ou semiologia, é a ciência do signo. A semiose tem uma dimensão semântica, que estuda a relação dos signos com os seus referentes reais; uma dimensão pragmática, que estuda a relação dos signos com os seus intérpretes; e, por fim, uma dimensão sintática, que estuda as regras como os signos relacionam-se entre si. A análise do signo é a determinação dessas três dimensões no seu uso. A importância da semiótica, ou semiologia, reside no fato de que toda ciência empírica empenha-se no descobrimento de dados que possam servir como signos fidedignos – os resultados das pesquisas em qualquer ciência têm que ser expressos em signos linguísicos.

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5 Conclusão

Um mapa é um modelo geográfico de uma parte da terra. Não é difícil compreender que não é possível incluir em um mapa todos os detalhes relativos à região que ele retrata; um mapa, por outro lado, contém delimitações e convenções não existentes na natureza. Mapas são ferramentas que auxiliam seus usuários a conhecer e a compreender a geografia de uma região; mapas guiam, orientam e comunicam. Entretanto, só são úteis na medida em que forem fiéis à região que retratam. De maneira análoga, um modelo conceitual, para ser útil, precisa ter uma riqueza semântica que seja suficiente para representar a realidade de maneira não ambígua; para tanto, porém, detalhes e sutilezas da cognição e da comunicação humanas não podem ser esquecidas.

O estudo da comunicação humana implica o estudo da linguagem e todas as suas dimensões. Se uma linguagem é adotada em toda forma de comunicação, seus componentes lexicais, semânticos e pragmáticos devem ser levados em consideração. O estudo da semiologia, ou semiótica, é muito relevante. A construção de modelos conceituais envolve, mesmo que de maneira inconsciente, conhecimentos das áreas da cognição humana, bem como da linguística.

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6 Referências Bibliográficas

Kent, W. (1998), Data and Reality, 1st Books Library, 2a edição.

Sternberg, R. (2008), Psicologia Cognitiva, Artmed, 4a edição.

Morris, C. W. (1976), Fundamentos da Teoria dos Signos, Editora da USP.