Rela to Rio Esta Gio

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Relatório de Estágio Mestrado Integrado em Medicina PSICOPATOLOGIA: DA TEORIA À PRÁTICA CLÍNICA Isabel Teixeira Orientador Dr. António Leuschner Porto 2009

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  • Relatrio de Estgio Mestrado Integrado em Medicina

    PSICOPATOLOGIA: DA TEORIA PRTICA CLNICA Isabel Teixeira

    Orientador Dr. Antnio Leuschner

    Porto 2009

  • I

    1. Resumo

    Dado o meu crescente interesse pela especialidade de Psiquiatria ao longo do Mestrado

    Integrado em Medicina, propus basear o meu trabalho num relatrio de estgio, de carcter

    extra-curricular, desenvolvido sob a orientao do Dr. Antnio Leuschner. Dada a ampla

    variedade de subespecialidades dentro da referida, neste estgio propus-me a acompanhar um

    mdico psiquiatra e sua respectiva equipa, nas actividades clnicas dirias, tendo seguido a

    Dra.Cristina Paz e o Dr.Joo Freitas em Psicogeriatria (especializada no atendimento de

    problemas da terceira idade, como Doena de Alzheimer ou manifestaes psquicas da

    Sndrome de Parkinson), no perodo de 24/11/2008 a 05/12/2008, e a Dra. Ana Maria Soares

    na rea de Psiquiatria Geral (estudo e atendimento de casos psiquitricos em adultos), de

    16/02/2009 a 27/02/2009.

    Desenvolvi este trabalho tanto em regime de ambulatrio e internamento, nas

    instalaes do Hospital Magalhes Lemos, como na rea da Emergncia Psiquitrica, no

    Servio de Urgncia do Hospital de S. Joo. Com a durao de aproximadamente cem horas, a

    realizao deste estgio teve como principais objectivos a aquisio de conhecimentos tericos

    e prticos na rea da Sade mental, desde o reconhecimento e consequente diagnstico de

    psicopatologias, ao seu tratamento e posterior acompanhamento. Procedi, de igual modo,

    elaborao de um trabalho, em formato poster, baseado num caso clnico por mim observado,

    tendo em vista a sua descrio e discusso clnicas. Para alm disso, a nvel pessoal, penso

    que foi fundamental ter um contacto prximo com a prtica clnica diria na Psiquiatria, de

    modo a melhor poder reflectir acerca da escolha da minha especialidade, como futura mdica.

    O presente relatrio de estgio apresenta uma descrio das actividades desenvolvidas,

    nomeadamente do tipo de patologias observadas, bem como uma fundamentao terica para

    as opes teraputicas tomadas, no negligenciando as vivncias e emoes experimentadas

    durante o referido perodo.

  • II

    2. Agradecimentos

    Gostaria de agradecer a tutela do Dr. Antnio Leuschner, por toda a disponibilidade e o

    apoio prestado no Hospital Magalhes Lemos, bem como agradecer aos mdicos psiquiatras

    que acompanhei durante o estgio, Dra. Cristina Paz, Dr. Joo Freitas e Dra. Ana Maria

    Soares, por toda a aprendizagem que me proporcionaram, quer a nvel clnico quer a nvel

    pessoal.

    Ao Miguel, pelo apoio incondicional.

  • III

    ndice Geral

    1. Resumo .... I

    2. Agradecimentos ..... II

    3. Introduo ...... 1

    4. Discusso ... 4

    4.1 Perturbaes da Personalidade ...... 4

    4.2 Distrbio de Ansiedade ............................................................................................... 6

    4.3 Sndrome Depressivo ....... 8

    4.4 Perturbao Afectiva Bipolar ......... 12

    4.5 Psicose ...... 14

    4.6 Demncias ........... 18

    4.6.1 Doena de Alzheimer ..... 19

    4.6.2 Demncia Vascular ..... 20

    4.6.3 Demncia Fronto-Temporal ... 21

    4.7 Debilidade Intelectual ...... 22

    4.8 Disfuno Erctil ...... 24

    5. Concluso ............ 26

    6. Bibliografia .... 27

    7. Anexos ...... 28

    A. Farmacologia

    B. Classificao das Perturbaes da Personalidade

    C. Classificao e Distribuio por tipos de Demncia

    D. Critrios Diagnsticos do DSM.IV para Demncia do Tipo Alzheimer

    E. Critrios Diagnsticos do DSM.IV para Demncia Vascular

    F. Caracterizao da Demncia Fronto-Temporal

    G. Efeitos de alguns antidepressivos sobre a sexualidade

    H. Classificao do QI segundo a Organizao Mundial de Sade (OMS)

    I. Sndrome de Ekbom em idosa: do problema ao diagnstico Caso Clnico

  • 1

    3. Introduo

    A palavra psiquiatria deriva do grego e significa arte de curar a alma. Especialidade

    da medicina que lida com a preveno, diagnstico, tratamento e reabilitao das doenas

    mentais, de foro orgnico ou funcional, tem como meta o alvio do sofrimento e o bem-estar

    psquicos. Para tal, requer uma avaliao global do paciente, sob as perspectivas biolgica,

    psicolgica e social, envolvendo a histria clnica e o exame do estado mental, bem como a

    complementao deste com testes psicolgicos, neurolgicos e exames de imagem. A

    teraputica psiquitrica distingue-se como outra caracterstica nica desta especialidade, uma

    vez que assenta na administrao de frmacos bem como em vrias formas de psicoterapia e

    a electroconvulsivoterapia. Tanto a clnica quanto a pesquisa em psiquiatria so realizadas de

    forma interdisciplinar. Em anexo (A) encontra-se uma caracterizao de todos os frmacos

    mencionados na terapia dos casos clnicos apresentados.

    Aparentemente, a Psiquiatria teve origem no sculo V a.C., tendo sido criados os

    primeiros hospitais para doentes mentais na Idade Mdia. Durante o sculo XVIII a psiquiatria

    evoluiu como rea mdica e as instituies para este tipo de pacientes passaram a utilizar

    tratamentos mais elaborados e eticamente mais aceitveis. No sculo XIX houve um aumento

    importante no nmero de pacientes, e no sculo seguinte assistiu-se ao renascimento da

    compreenso biolgica das doenas mentais, introduo de novas classificaes e frmacos

    para os transtornos psiquitricos. A antipsiquiatria ou movimento anti-psiquitrico surgiu na

    dcada de 1960 e conduziu desinstitucionalizao e estabelecimento do conceito de insero

    na comunidade e tratamento em simultneo do paciente psiquitrico.

    A Psicopatologia, cincia que estuda os comportamentos considerados anormais, um

    ramo descritivo da Psiquiatria. As doenas psiquitricas so descritas pelas suas

    caractersticas patolgicas, sendo importante realar que muitas ainda no tm cura. Enquanto

    algumas apresentam um curso breve e pouco sintomtico, outras so condies crnicas que

    tm um importante impacto na qualidade de vida do paciente, requerendo tratamento a longo

    prazo ou mesmo por toda a vida.

    A Psiquiatria engloba vrias subespecialidades: Pedopsiquiatria (psiquiatria da infncia

    e adolescncia), Psiquiatria Forense (psiquiatria criminal ou em pacientes que possam revelar-

    se perigosos para a sociedade), Psicogeriatria (psiquiatria especializada nos problemas da

    terceira idade), Psiquiatria de Ligao (tratamento de sintomas psquicos em doentes

    internados em hospitais gerais), Psiquiatria Geral (psiquiatria de adultos), Toxicodependncia,

    Epidemiologia Psiquitrica (estuda o risco e prevalncia de doenas psiquitricas), Psiquiatria

    Transcultural (estudo das diversas manifestaes da doena psquica nas diferentes culturas),

    Emergncia Psiquitrica (atendimento de casos crticos, como doentes em crise) e

    Psicoterapia. Alm destas, na formao do psiquiatra so igualmente fundamentais

  • 2

    conhecimentos de medicina interna, neurologia, radiologia, psicologia, sociologia, farmacologia

    e psicofarmacologia.

    A teraputica psiquitrica apresentou uma evoluo enorme nas ltimas dcadas; se,

    no passado, os pacientes psiquitricos eram hospitalizados em hospitais psiquitricos por

    muitos meses ou mesmo por toda a vida, nos dias de hoje a maioria atendida em ambulatrio

    (consultas externas) e se a hospitalizao se torna necessria, em geral por um curto perodo

    de tempo. Mais comumente os pacientes so encaminhados a cuidados psiquitricos por

    vontade do prprio; ocasionalmente, podem ser encaminhados por solicitao de uma equipa

    mdica, internamento psiquitrico involuntrio ou solicitao judicial.

    Qualquer que seja o motivo da consulta, o psiquiatra avalia a condio fsica e mental

    do paciente. Para tal, realizada uma entrevista clnica para obter informao e, se necessrio,

    outras fontes so consultadas, como familiares, profissionais de sade, assistentes sociais e

    relatrios judiciais. O exame fsico exclui ou confirma a existncia de doenas orgnicas, como

    tumores cerebrais, patologia tiroideia, ou identifica sinais de auto-agressividade. O exame do

    estado mental parte fundamental da consulta e atravs dele que se define o quadro e a

    capacidade auto-crtica. A terapia psiquitrica, como as demais terapias, apresenta efeitos

    colaterais e requer monitorizao frequente de substncias, como por exemplo, hemograma e

    litemia. Electroconvulsoterapia por vezes pode ser utilizada, restrita a condies graves que

    no respondem farmacoterapia.

    Os Servios Psiquitricos fornecem atendimento sob a forma de ambulatrio ou

    internamento. No primeiro, os pacientes so seguidos em consultas externas, geralmente

    marcadas antecipadamente, com durao varivel, geralmente de trinta a sessenta minutos.

    Nestas o psiquiatra entrevista o doente para actualizar a avaliao do seu estado mental, rev

    a teraputica e pode realizar psicoterapia. A frequncia das consultas varia de acordo com a

    gravidade e o tipo de doena. Os pacientes podem ser internados voluntariamente (quando

    procuram ajuda no hospital por um quadro grave psiquitrico e aceitam o internamento) ou

    involuntariamente (os critrios para o internamento compulsivo so a presena de perturbao

    mental e risco imediato de perigo para si prprio ou para os outros). Uma vez hospitalizados,

    os pacientes so avaliados, monitorizados e medicados por uma equipa multidisciplinar, que

    inclui psiquiatras, enfermeiros, psiclogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e

    outros profissionais de sade. A Emergncia Psiquitrica ocupa-se do atendimento de casos

    crticos, como doentes em crise, estando integrada nos Servios de Urgncia dos Hospitais

    Centrais.

    Os procedimentos diagnsticos podem variar, mas os critrios oficiais encontram-se

    descritos em manuais. A CID-10 (Classificao Internacional de Doenas, 10. Reviso)

    publicada pela Organizao Mundial de Sade (OMS) e utilizada a nvel mundial; porm, nos

    Estados Unidos o sistema diagnstico padro o DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of

  • 3

    Mental Disorders, 4. reviso), publicado pela American Psychiatric Association. So sistemas

    igualmente eficazes no estabelecimento dos diagnsticos e em parte sobreponveis, com

    excepo de certas categorias, devido a diferenas culturais nos diversos pases. A inteno

    tem sido criar critrios diagnsticos que sejam replicveis e objectivos, embora muitas

    categorias sejam amplas e muitos sintomas apaream em diversas patologias.

  • 4

    4. Discusso

    4.1 Perturbaes da Personalidade

    P.V.J., sexo feminino, 25 anos

    16/02/2009, consulta externa Hospital Magalhes Lemos (HML)

    Internada na Unidade de Cuidados Especiais do HML de 14/01/09 a 10/02/09. Histria

    pregressa de sndrome depressivo (2005). Recidiva em 2006, tendo sido tratada com

    Fluoxetina, que mantm at hoje. Sem antecedentes de crises hipomanacas. Nesta altura fez

    psicodrama, tendo abandonado quando casou, em 2007, segundo tradio indiana (que,

    segundo a prpria, foi um erro). O namorado que tinha antes do casamento suicidou-se

    quando soube do casamento por arranjo, tendo este evento tido um grande impacto na vida

    psquica da paciente.

    Em 25/10/08 recorre ao SU do HSJ por manuteno dos sintomas depressivos, com

    ideias de morte muito frequentes e sintomas de ansiedade.

    A 03/11/08 internada no HML, com um quadro de depresso major e ideao suicida

    marcada. Fez perfuso com Clomipramina, com evoluo favorvel do humor no internamento,

    j sem ideao suicida. Teve e mantm anemia e trombocitose por alimentao vegetariana,

    devido religio hindu.

    Histria familiar: pai com quadro compatvel com delrio paranide e de cime,

    acompanhado em psiquiatra particular.

    Hbitos: tabgicos 10 cigarros/dia; consumos ocasionais de bebidas alcolicas e

    substncias canabinides.

    Vive com os pais (moambicanos, de origem indiana) e irmo, de 29 anos, de

    naturalidade portuguesa. Divorciada em Maio de 2008, frequenta o 3 ano de Cincias da

    Educao.

    Terapia actual: Topiramato 25 mg, Fluoxetina 20 mg, trazodona 150 mg. Inicia

    Psicoterapia a 26/02/09. Prxima consulta a 23/03/09.

    Diagnstico: Perturbao da Personalidade NCOP (perturbao no especificada da

    personalidade).

    As Perturbaes da Personalidade caracterizam indivduos que no tm uma forma

    absolutamente normal de viver (do ponto de vista estatstico e comparando com a mdia das

    outras pessoas) mas que no preenchem os critrios para uma perturbao mental grave,

    apesar das alteraes patolgicas serem permanentes.

    Em psicopatologia, as anormalidades da personalidade referem-se, principalmente,

    possibilidade que se tem de classificar determinada personalidade como sendo desta ou

  • 5

    daquela maneira de existir, enquanto o normal seria a pessoa ser "um pouco de tudo", ou seja,

    ter um pouco de cada caracterstica humana sem prevalecer patologicamente nenhuma delas.

    Desta forma, diante da possibilidade de se destacar um trao marcante, especfico e

    caracterstico numa determinada pessoa, ou seja, diante do facto desta personalidade ser

    caracterizada por um determinado trao, torna-se possvel a sua classificao.

    Segundo Karl Jaspers, consideram-se anormais as personalidades que fazem sofrer

    tanto o indivduo quanto aqueles que o rodeiam. Para este autor, as personalidades anormais

    representam variaes no-normais da natureza humana e que, na eventualidade de sobrepor-

    se a elas algum processo, tornar-se-iam personalidades gravemente patolgicas. Jaspers

    aborda o tema sob a ptica das variaes do existir humano de origem constitucional (que

    fazem parte da pessoa). Assim sendo, pode-se considerar a maneira prpria das

    Personalidades Anormais de ser no mundo como uma apresentao do indivduo diante da

    vida situada nas extremidades da faixa de tolerncia de sanidade pelo sistema cultural. Estas

    personalidades anormais seriam alteraes permanentes do carcter, caracterizando no

    apenas a maneira de estar no mundo mas, sobretudo, a maneira do indivduo ser no mundo.

    A Organizao Mundial de Sade (OMS) trata o assunto sob o ttulo de Perturbaes da

    Personalidade e de Comportamentos, descrevendo-os da seguinte forma: Estes tipos de

    condio abrangem padres de comportamento profundamente enraizados e permanentes,

    manifestando-se como respostas inflexveis a uma ampla srie de situaes pessoais e sociais.

    Eles representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivduo mdio, em uma

    dada cultura, percebe, pensa, sente e, particularmente, se relaciona com os outros. Tais

    padres de comportamento tendem a ser estveis e a abranger mltiplos domnios de

    comportamento e funcionamento psicolgico. Eles esto frequentemente, mas no sempre,

    associados a graus variados de angstia subjectiva e a problemas no funcionamento e

    desempenho sociais.

    Segundo a CID-10, as Perturbaes da Personalidade so condies do

    desenvolvimento desta que aparecem na infncia ou adolescncia e continuam na vida adulta.

    Esta situao , portanto, distinta da Perturbao da Alterao da Personalidade, que sucede

    durante a vida como consequncia de algum outro transtorno emocional. As Perturbaes da

    Personalidade constituem, assim, modalidades incomuns do indivduo interagir com a sua vida,

    de se manifestar socialmente, de experimentar (ou no) sentimentos. A OMS apresenta, entre

    os ttulos F60 e F69 da CID-10, vrios subtipos de Perturbaes da Personalidade. Procurarei

    aqui compatibiliz-los com outras classificaes, de forma a abordar as patologias com a

    mesma descrio. Deste modo, o DSM-IV refere-se s Perturbaes da Personalidade da

    seguinte forma: "Um Transtorno da Personalidade um padro persistente de vivncia ntima

    ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivduo,

  • 6

    invasivo e inflexvel, tem incio na adolescncia ou comeo da idade adulta, estvel ao longo

    do tempo e provoca sofrimento ou prejuzo".

    Em anexo mostrada a classificao das Perturbaes da Personalidade (B), bem

    como as principais caractersticas de cada uma, e uma referncia farmacoterapia

    mencionada nos casos clnicos (A).

    A Perturbao da Personalidade NCOP (F60.8 do CID-10) considerada um distrbio

    no especificado da personalidade. Tambm conhecido como Personalidade Patolgica SOE,

    constitui um dos principais desvios dos padres normais de comportamento. um distrbio de

    personalidade cuja caracterstica essencial um padro de desrespeito ou violao dos

    direitos dos outros indivduos, que comea na infncia ou adolescncia e permanece na vida

    adulta. Para se estabelecer este diagnstico, o indivduo deve ter, pelo menos, dezoito anos e

    antecedentes de sintomas de desordem da conduta antes dos quinze anos de idade.

    4.2 Distrbio de Ansiedade

    A.J.P.P., sexo masculino, 68 anos

    04/12/08, consulta externa de psicogeriatria, HML

    Diagnstico: distrbio de ansiedade.

    Paciente seguido em psicogeriatria, mantm as queixas de humor deprimido, ansiedade

    marcada e queixas gastrointestinais. Mantm-se a teraputica j instituda e marca-se consulta

    para reavaliao em breve.

    Terapia: Lexotan, Cymbalta, Topiramato.

    M.G.P., sexo feminino, 68 anos

    02/12/08, consulta externa de psicogeriatria, HML

    Diagnstico: distrbio de ansiedade.

    Paciente seguida no HML por distrbio de ansiedade, associada a histria de distrbios

    gastrointestinais, que poderiam contribuir para o estado de apreenso da doente. Foi prescrita,

    no passado, terapia antidepressiva; neste momento, mantm apenas a medicao GI e

    Lorazepam. Encontra-se assintomtica, pelo que se mantm a medicao referida e marca-se

    consulta de reavaliao para breve.

    A ansiedade um sentimento de apreenso desagradvel, vago, acompanhado de

    sensaes fsicas como vazio no estmago, presso no trax, palpitaes, sudorese, cefaleia e

    dispneia. um sinal de alerta, que adverte sobre perigos iminentes e capacita o indivduo a

    tomar medidas para enfrentar ameaas. O medo a resposta a uma ameaa definida;

  • 7

    At um pontoa ansiedade melhoraa adaptao.

    Adapta

    o

    Depois de umdeterminado ponto,quanto mais ansioso

    menos adaptada esta pessoa.

    Ansiedade

    ansiedade uma resposta a uma ameaa desconhecida, vaga. Desta forma, a ansiedade

    prepara o organismo a tomar as medidas necessrias para impedir a concretizao de

    possveis danos, ou para diminuir as suas consequncias, constituindo uma reaco natural e

    necessria para a auto-preservao. As reaces de ansiedade normais no requerem

    tratamento, pois so auto-limitadas. Os estados de ansiedade anormais, que constituem

    sndromes de ansiedade, so patolgicos e requerem tratamento especfico. A ansiedade um

    acompanhamento normal do crescimento, da experincia de algo novo para o indivduo. A

    ansiedade patolgica, por outro lado, caracteriza-se pela excessiva intensidade e prolongada

    durao proporcionalmente situao precipitante, dificultando ou impossibilitando a

    adaptao (grfico 4).

    Grfico 4. Embora a Ansiedade favorea a performance e a adaptao, s o faz at que o organismo atinja um

    mximo de eficincia. A partir de um ponto excedente, a ansiedade concorrer para a falncia da capacidade

    adaptativa.

    A caracterstica essencial do Transtorno de Ansiedade Generalizada, segundo o

    DSM.IV, uma expectativa apreensiva ou preocupao excessiva, ocorrendo na maioria dos

    dias e com durao de, pelo menos, 6 meses. O paciente considera difcil controlar essa

    preocupao excessiva, a qual acompanhada de pelo menos trs dos seguintes sintomas:

    inquietao, fadiga, dificuldade de concentrao, irritabilidade, tenso muscular e perturbao

    do sono. Embora no sejam capazes de identificar as suas preocupaes como "excessivas",

    os pacientes referem um sofrimento subjectivo por causa destas ou experimentam

    comprometimento social ou ocupacional. A intensidade, durao ou frequncia da ansiedade

    ou preocupao excessivas so claramente desproporcionais ao evento stressante e a pessoa

    considera difcil evitar que essas preocupaes interfiram na ateno e nas tarefas que

    necessitam ser realizadas.

  • 8

    4.3 Sndrome Depressivo

    G.S.C, sexo feminino, 34 anos

    16/02/09, consulta externa psiquiatria geral, HML

    Sndrome depressivo, tendo sido internada anteriormente no HML com este diagnstico.

    Interrompeu farmacoterapia em Agosto 2008, tem-se sentido bem. Neste momento encontra-se

    grvida, com humor lbil e dificuldades em dormir. Inicia Alprazolam (meio a um comprimido,

    noite) e avalia-se a necessidade de reiniciar antidepressivo em breve. Caso se torne

    necessrio, recomenda-se o uso de Fluoxetina, teraputica mais indicada para a gravidez.

    Contacta-se o ginecologista/obstetra, a fim de pedir opinio acerca do estado fsico da paciente

    e troca de informaes clnicas.

    M.J.S.M, sexo feminino, 55 anos

    16/02/09, consulta externa psiquiatria geral, HML

    Vive com o marido e filho de 21 anos. Reformada desde Fevereiro 2008 por doena

    psiquitrica, trabalhava como empregada de limpeza. Histria de mltiplos internamentos por

    descompensao depressiva e seguimento em consulta externa no HML. ltima

    descompensao no dia 15/09, internada por curto perodo de tempo, para interveno

    teraputica. Apresenta-se desanimada, com humor depressivo, adinamia, dificuldades em

    adormecer.

    Antecedentes familiares: me falecida em Fevereiro de 2008, com histria de sndrome

    depressivo, assim como trs tias maternas.

    Diagnstico: Depresso major em doente com personalidade distmica.

    Terapia: Tercian, Lorazepam 2,5 mg, Topiramato 25 mg, Clonazepam 2 mg e

    Fluoxetina.

    I.F.R.F., sexo feminino, 36 anos

    17/02/09, Unidade de Cuidados Especiais, HML

    Diagnstico: Depresso major com sintomas psicticos.

    Casada, com trs filhos, residente no Porto. No trabalha desde 27 Dezembro, por

    incapacidade. Sem antecedentes revelantes. Desde o incio de Dezembro de 2008, apresenta

    humor depressivo, irritabilidade, choro fcil. Recorreu ao mdico de famlia, que prescreveu

    Trazodona, Victan e Forticol. Observada por psiquiatria a 19/01/09, com agravamento da

    sintomatologia depressiva, tendo referido alucinaes nocturnas auditivas (vozes do pai,

    dizendo que est gente em casa e que deve matar-se) e visuais (sombras). Conflitos com o

    marido, ex-toxicodependente.

  • 9

    Histria familiar: irmo com esquizofrenia, seguido no HSJ. O av paterno sofria de

    doena psiquitrica que no sabe especificar.

    Neste momento, encontra-se nos Cuidados Especiais, referindo melhoria da

    sintomatologia depressiva, ausncia de alucinaes de qualquer tipo e incio de tonturas.

    Terapia actual: Clomipramina, Trazodona, Venlafaxina, Quetiapina em SOS.

    P.B., sexo masculino, 30 anos

    01/12/08, SU do Hospital de S.Joo

    Diagnstico: depresso.

    Solteiro, natural e residente no Porto, com os pais. Engenheiro informtico a trabalhar

    na rea de telecomunicaes, com antecedentes de depresso (diagnosticada aos 24 anos),

    para a qual fez tratamento com Fluoxetina, Alprazolam e Trazodona. Apresentou melhoria

    sintomtica, tendo completado a terapia prescrita. Desde h dois meses quem vem a

    apresentar sintomatologia gastrointestinal, com nuseas e diarreia, ansiedade e azia. Alimenta-

    se pior, apresenta perda de peso (5kgs). Distrbios do sono (acorda vrias vezes), humor

    deprimido e choro fcil. Tem tido pensamentos de morte, os quais abandona (sem planos

    suicidas). A sintomatologia de ansiedade/pnico torna-se mais evidente e difcil de controlar em

    locais fechados e no trnsito, com tremores e nervosismo.

    Terapia: Alprazolam, Trazodona, Paroxetina.

    marcada consulta externa de psiquiatria.

    Segundo o ltimo relatrio da OMS, a Depresso mais comum no sexo feminino,

    estimando-se uma prevalncia de 1,9% no sexo masculino e 3,2% no feminino.

    A Depresso, genericamente considerada, est classificada dentro dos Transtornos

    Afectivos. Segundo a CID-10, Transtornos Afectivos so aqueles nos quais a perturbao

    fundamental uma alterao do humor ou afecto, como uma Depresso (com ou sem

    ansiedade associada) ou uma Euforia. Esta alterao do humor em geral acompanhada de

    uma modificao do nvel global de actividade, e a maioria dos episdios destes transtornos

    tendem a ser recorrentes e desencadeados por determinados factores. Assim, segundo a CID-

    10, os Transtornos Depressivos so classificados em Transtorno Afectivo Bipolar, Episdios

    Depressivos, Transtorno Depressivo Recorrente, Distimia e Ciclotimia.

    O DSM.IV classifica a Depresso dentro dos Transtornos do Humor e tambm baseia a

    classificao nos episdios depressivos. Na prtica clnica sugere-se, didacticamente, que a

    Depresso seja considerada de duas maneiras: Tpica e Atpica. As primeiras seriam aquelas

    que se apresentam atravs dos Episdios Depressivos, consoante as classificaes

    internacionais (DSM.IV e CID-10) e Depresses Atpicas aquelas que se manifestam

    predominantemente atravs de sintomas ansiosos (Pnico, Fobia...) e somticos.

  • 10

    Episdio Depressivo

    Transt. Depressivo Recorrente

    Transt. Bipolar do Humor-Tipo I

    Transt. Bipolar do Humor-Tipo II

    Grfico 1. Tipos de transtornos Afectivos DSM.IV

    Define-se Depresso Endgena quando devida a factores constitucionais, de origem

    biolgica e/ou predisposio hereditria. Tem uma causa fundamentalmente biolgica e no

    existe relao entre o momento depressivo e as eventuais vivncias causadoras. Por outro

    lado, a Depresso Exgena ou Reactiva devida a factores ambientais externos, como o

    stress, circunstncias adversas, problemas profissionais ou familiares, momentos de perda ou

    de ruptura.

    Nos episdios depressivos tpicos o paciente apresenta um abaixamento do humor,

    reduo da energia e da actividade. Existe alterao da capacidade de experimentar prazer,

    perda de interesse, diminuio da capacidade de concentrao, associadas a fadiga.

    Observam-se, igualmente, perturbaes do sono e diminuio do apetite. Existe uma

    diminuio da auto-estima e da autoconfiana e frequentemente ideias de culpa. O humor

    depressivo relativamente constante e pode-se acompanhar de sintomas somticos, como

    perda de prazer, despertar matinal precoce, agravamento matinal da depresso, lentido

    psicomotora, agitao, anorexia, perda de peso e da libido. O nmero e a gravidade dos

    sintomas permitem determinar trs graus de um episdio depressivo: leve, moderado e grave,

    que podem manifestar-se como uma ocorrncia nica ou repetir-se com determinada

    frequncia. Deste modo, o que define o tipo de depresso so as caractersticas dos Episdios

    Depressivos.

    A durao de um Episdio Depressivo Major varivel. Aproximadamente 50% dos

    pacientes tm o seu primeiro Episdio Depressivo antes dos 40 anos e a maioria destes surtos,

    quando no tratados duram de 6 a 13 meses e cerca de 3 meses, se tratados.

  • 11

    70

    60

    50

    40

    30

    20

    10

    0

    35%

    60%

    2 anos 12 anos

    100

    90

    80

    70

    60

    50

    40

    30

    20

    10

    0

    hiptese do 2. hiptese do 3. hiptese do 4.

    Possibilidade de Recadas de Episdios Depressivos

    Grfico 2. Taxa de recada do 1. Episdio Depressivo

    Grfico 3. Possibilidade de Recadas de Episdios Depressivos

    A taxa de recorrncia para aqueles que recuperam do primeiro episdio cerca de

    35%, dentro de 2 anos, e cerca de 60% dentro de 12 anos, sendo mais elevada nos indivduos

    com mais de 45 anos de idade (grficos 2 e 3). Cerca de 15 a 20% dos pacientes com

    Depresso Major cometem suicdio. A pessoa pode, com 50% de hiptese, apresentar apenas

    um Episdio Depressivo durante a vida. Trata-se de uma ocorrncia geralmente

    relacionada com alguma vivncia traumtica ou com alguma condio mdica geral. No

    entanto, o Episdio Depressivo pode-se repetir periodicamente, caracterizando assim o

    Transtorno Depressivo Recorrente, que pode comportar breves episdios caracterizados por

    um ligeiro aumento de humor e da actividade (hipomania), sucedendo imediatamente a um

    Episdio Depressivo, podendo igualmente ser precipitado por um tratamento com terapia

    antidepressiva. O primeiro Episdio Depressivo do Transtorno Depressivo Recorrente pode

    ocorrer em qualquer idade, podendo ter um incio agudo ou insidioso, durando de algumas

    semanas a alguns meses. Depois da manifestao de um segundo episdio, a hiptese de um

    terceiro cerca de 90%.

    A Distimia define-se como uma depresso crnica, com sintomatologia no

    suficientemente grave para ser classificada como Episdio Depressivo ou Transtorno

    Depressivo Recorrente. A caracterstica essencial um humor cronicamente deprimido que

    ocorre na maior parte do dia, na maioria dos dias e, pelo menos, por 2 anos. O Transtorno

  • 12

    Distmico mais comum entre os parentes biolgicos em primeiro grau de pessoas com

    Transtorno Depressivo Major do que na populao geral. Apresenta um curso crnico, insidioso

    e precoce, iniciando-se na infncia, adolescncia ou incio da idade adulta.

    O tratamento da depresso baseia-se em frmacos antidepressivos de vrias classes,

    referidos no anexo A. De modo geral, parecem ser igualmente eficazes, mas os inibidores

    selectivos da recaptao da serotonina (ISRS) so os mais utilizados, devido sua segurana

    e aos efeitos colaterais menos incmodos (Majeroni, 1998). As precaues em relao

    framacoterapia em grvidas devem-se ao facto destas substncias cruzarem a barreira

    placentria, podendo causar eventuais implicaes para o feto. Porm, tendo em considerao

    os efeitos dos transtornos da ansiedade e da depresso no tratadas me e ao feto, a

    deciso para este tipo de tratamento deve ser muito bem ponderada pelos mdicos que

    assistem gravidez.

    4.4 Perturbao Afectiva Bipolar

    A.S.O.B., sexo feminino, 53 anos

    18/02/09, Unidade de Internamento Porto, HML

    Diagnstico: Perturbao Afectiva Bipolar

    Casada, vive com marido reformado e 4 filhas estudantes (de 20, 19, 17 e 16 anos) em

    Foz do Douro. 9 ano de escolaridade, reformada. Natural de Marco de Canavezes, comeou a

    trabalhar aos 14 anos como empregada domstica. Emigrada na Sua durante dois anos,

    antes de casar, aos 28 anos; foi tambm operria fabril. Reformada h 12 anos por invalidez

    (doena psiquitrica). Mais recentemente, trabalhava como cuidadora de duas idosas.

    Antecedentes Mdicos: insuficincia venosa crnica e alergia a produtos de limpeza

    (lixvia). Nega hbitos tabgicos, alcolicos e toxicoflicos. Sem antecedentes familiares

    psiquitricos. a oitava filha de uma fratria de nove.

    Antecedentes psiquitricos: o marido refere ter notado alteraes na doente aps o

    parto da ltima filha, sugerindo irritabilidade fcil. Ter estado internada, por curto perodo de

    tempo, no Hospital psiquitrico Conde Ferreira. Seguimento em consulta de Psiquiatria desde

    1990, no HSJ, com vrios internamentos por sintomatologia compatvel com episdio manaco.

    Fez vrias teraputicas, inclusivamente Haldol decanoato, mas sempre com cumprimento

    irregular. O marido conta que a paciente se incompatibilizou com a psiquiatra assistente, por

    recusar fazer o injectvel prescrito, tendo abandonado a consulta h dois anos. O marido refere

    que teria sido feito o diagnstico de Perturbao Esquizoafectiva.

    ltimo internamento no HML em Julho 2008, em contexto de perodo de agitao,

    insnia e comportamento desinibido. Teve alta com diagnstico de Perturbao Bipolar, fase

  • 13

    manaca, orientada para consulta externa e medicada com Lamictal 25, Diplexil R 500mg,

    Lorenin 2,5 mg e Risperidona. O marido refere que a doente tomou a medicao oral nos dez

    dias aps a alta, aps o qual abandonou a medicao e no compareceu mais consulta. Foi

    conduzida ao SU do HSJ no dia 07/02/09 pela PSP, por alteraes do comportamento num

    hipermercado. Apresentava-se com marcada agitao psicomotora, humor irritvel, eufrica.

    Verborreica, com discurso ilgico e hostilidade marcada. Sem juzo crtico. O marido refere

    que nos ltimos seis meses a doente apresentava instabilidade do humor, impacincia e

    provvel delrio de cime. Desde a semana anterior ida ao SU iniciou quadro de: insnia,

    verborreia, discurso ilgico, juno de palavras em francs e portugus, ideias megalmanas

    (l os lbios das pessoas) e provveis alucinaes auditivas (assobios). No SU fez anlises

    gerais, em que de salientar litmia 0,81 mmol/L. Depois de alguma negociao, aceitou o

    internamento no HML, para compensao clnica.

    Terapia actual: Ltio 200mg, Olanzapina 5mg em SOS, Lorazepam 2,5mg, cido

    valprico, Quetiapina 100mg, Lamotrigina 25mg, Risperidona 25mg

    A Perturbao Afectiva Bipolar era anteriormente denominada psicose manaco-

    depressiva; no entanto, essa designao foi modificada, uma vez que esta no apresenta

    necessariamente sintomas psicticos. Assim, deixou de ser considerada uma perturbao

    psictica para ser considerada afectiva. A alternncia de estados depressivos com manacos

    caracterstica desta patologia e razo porque, por vezes, o diagnstico correcto s feito

    depois de muitos anos de patologia.

    O incio geralmente ocorre por volta dos 20 a 30 anos de idade, mas pode comear

    mesmo aps os 70 anos. O incio pode ser tanto pela fase depressiva como pela fase manaca,

    iniciando-se gradualmente ao longo de semanas ou meses, ou abruptamente em poucos dias,

    j com sintomas psicticos, o que muitas vezes torna dficil a distino com sndromes

    psicticas. Alm dos quadros depressivos e manacos, existem igualmente os quadros mistos

    (sintomas depressivos simultneos aos manacos), o que frequentemente retarda o diagnstico

    da fase em atividade.

    O transtorno afectivo bipolar divide-se em tipo I e II. O primeiro a forma clssica, em

    que o paciente apresenta episdios de mania alternados com depressivos. Porm, as fases

    manacas no precisam necessariamente ser seguidas por fases depressivas, nem as

    depressivas por manacas. Na prtica, observa-se frequentemente uma tendncia dos

    pacientes a apresentar vrias crises de um tipo e poucas do outro. O tipo II caracteriza-se por

    no apresentar episdios de mania, mas de hipomania com depresso.

    A fase manaca tipicamente leva uma a duas semanas para comear e, quando no

    tratada, pode durar meses. O estado de humor est elevado, podendo manifestar-se como

    uma alegria contagiante ou uma irritao agressiva. Para alm disso, encontram-se outros

  • 14

    sintomas, como elevao da auto-estima e sentimentos de grandiosidade, podendo manifestar-

    se como delrio de grandeza, em que o paciente se considera uma pessoa especial, dotada de

    poderes e capacidades nicas. Verifica-se um aumento da actividade motora, apresentando

    grande vigor fsico e, apesar disso, uma diminuio da necessidade de sono. O paciente

    apresenta uma forte presso para falar ininterruptamente e os pensamentos correm

    rapidamente, a ponto de no concluir o que comeou (fuga de pensamento). O paciente

    apresenta uma elevao da percepo de estmulos externos, levando-o a distrair-se

    constantemente com insignificantes acontecimentos alheios conversa em curso. Verifica-se

    ainda um aumento do interesse e da actividade sexual, bem como perda da conscincia a

    respeito da sua prpria condio patolgica, tornando-se socialmente inconveniente. Para alm

    disso, h um envolvimento em actividades potencialmente perigosas, sem manifestar qualquer

    tipo de receio. Podem ainda surgir sintomas psicticos tpicos da esquizofrenia, o que no

    significa uma mudana de diagnstico, mas um quadro de maior gravidade.

    A fase depressiva , de certa forma, o oposto da fase manaca e, quando no tratada,

    pode durar meses. O humor est deprimido e a auto-estima em baixo, com sentimentos de

    inferioridade; a capacidade fsica mostra-se comprometida, pois a sensao de cansao

    constante. As ideias fluem com lentido e dificuldade, a ateno difcil de ser mantida e o

    interesse em geral perdido, bem como o prazer na realizao daquilo que antes era

    agradvel. Nesta fase o sono tambm est diminudo e no considerado como repousante.

    A causa propriamente dita desconhecida, mas existem factores que influenciam ou

    que precipitam o seu aparecimento, como parentes com esta patologia (80 a 90% dos casos),

    traumas, incidentes ou acontecimentos significativos, profissionais ou familiares.

    4.5 Psicose

    J.F., sexo masculino, 21 anos

    01/12/08, SU do Hospital de S.Joo

    Solteiro, natural de Felgueiras, estudante universitrio do 3 ano de Engenharia

    Informtica. o irmo mais novo de uma fratria de trs. Na ltima semana teve 3 dias sem

    dormir, com pensamento muito acelerado, querendo que todos o acompanhem. Discurso de

    teor delirante, messinico, de grandeza, provvel actividade alucinatria na forma de vozes

    que comentam. Foi transferido de Felgueiras e tinha sido injectado com Haloperidol; entrada

    apresentava-se com contractura e tenso musculares, ansiedade marcada e receio de no ser

    compreendido. Segundo o cunhado, nunca teve problemas psiquitricos e no haver

  • 15

    antecedentes psiquitricos na famlia. No SU, tomou Diazepam (2 comprimidos), ficando mais

    calmo. Colheu sangue e urina para anlises gerais e despiste de drogas de abuso e fez TC.

    Quadro de psicose aguda, com as seguintes hipteses de diagnstico: Psicose

    manaca, Distrbio Bipolar, Esquizofrenia.

    Terapia: Olanzapina 10mg. Optou-se por no internar; paciente a ser seguido em

    consulta externa de Psiquiatria.

    C.J.C.S., sexo masculino, 28 anos

    19/02/09, unidade de internamento Porto, HML

    Diagnstico: quadro psictico orgnico

    Vive com os pais em Gondomar, tem o 9 ano de escolaridade, reformado (o pai o seu

    tutor legal).

    Antecedentes pessoais: tumor cerebral congnito com epilepsia associada, seguido no

    HGSA; aos 16 anos foi necessria lobotomia, com posterior alta. Seguido em consulta externa

    no HML desde 2003, por alteraes do comportamento, com heteroagressividade e

    dificuldades no controlo de impulsos. Relao conflituosa com os pais, com possibilidade de

    passagem ao acto agressivo quando sujeito a frustraes. Tem tido necessidade de vrios

    internamentos (o ltimo em Abril de 2008), numa tentativa de diluir esses conflitos.

    Nega alergias, hbitos tabgicos, alcolicos ou toxicoflicos, com consumo espordico

    de cafena. Medicao habitual: Lorazepam 2,5mg, Topiramato 100mg, Carbamazepina

    400mg, Risperidona 3mg, Haldol decanoato 100mg quinzenal.

    No contexto de conflitualidade e tenso familiar crescente, com agressividade verbal

    para com a irm, reuniu-se a equipa multidisciplinar, em que se considerou como melhor

    medida um internamento curto, para interveno de crise e estabilizao psicopatolgica.

    Paciente consciente, colaborante, orientado no espao e tempo, sem, no entanto,

    compreender o motivo do internamento. Procedeu-se a reunio com a presena do paciente,

    pais e irm.

    Terapia actual: Lorazepam 2,5mg, Topiramato 100mg, Carbamazepina 400mg,

    Risperidona 3mg, Paracetamol 1000mg em SOS, Haloperidol decanoato 100mg/ml IM

    quinzenal. Frequentava a Terapia Ocupacional no HML, que abandonou; ir ser reintegrado..

    A Psicose Esquizofrnica uma doena da Personalidade total que afecta a zona

    central do eu e altera toda a estrutura vivencial. Culturalmente, o esquizofrnico representa o

    esteretipo do "louco", um indivduo que produz grande estranheza social devido ao seu

    desprezo para com a realidade reconhecida.

    Segundo Kaplan, aproximadamente 1% da populao atingida pela doena,

    geralmente iniciada antes dos 25 anos e sem predileco por qualquer estrato scio-cultural. O

  • 16

    diagnstico baseia-se exclusivamente na histria psiquitrica e no exame do estado mental.

    extremamente raro o aparecimento de esquizofrenia antes dos 10 ou depois dos 50 anos de

    idade e parece no haver nenhuma diferena na prevalncia entre homens e mulheres.

    O principal modelo para a integrao dos factores etiolgicos da esquizofrenia o

    modelo stress-ditese, o qual supe o indivduo portador de uma vulnerabilidade especfica

    colocada sob a influncia de factores ambientais stressantes. Considera-se que, em

    determinadas circunstncias, o binmio ditese-stress proporciona condies para o

    desenvolvimento da esquizofrenia. Atravs da CID-10 foi includa na classificao das

    esquizofrenias o Transtorno Esquizotpico. Na realidade, no considerado mais um tipo de

    doena, mas um estgio da mesma. Conhecendo-se os sintomas gerais, bsicos e de primeira

    ordem das esquizofrenias, pode-se entender o Transtorno Esquizotpico como sendo uma fase

    pr-mrbida da psicose: mais grave do que o Transtorno Esquizide de Personalidade e

    menos do que a Esquizofrenia franca.

    Os sintomas caractersticos da esquizofrenia podem ser agrupados, genericamente, em

    2 tipos: positivos e negativos. Os sintomas positivos so os mais floridos e exuberantes, tais

    como as alucinaes (mais frequentemente, as auditivas e visuais e, com menor frequncia, as

    tcteis e olfativas), os delrios (persecutrios, de grandeza, de cime, somticos, msticos,

    fantsticos), perturbaes da forma e do curso do pensamento (como incoerncia e

    desagregao), comportamento desorganizado, bizarro, agitao psicomotora e negligncia

    dos cuidados pessoais.

    Os sintomas negativos correspondem, geralmente, a dfices, ou seja, a pobreza do

    contedo do pensamento e da fala, rigidez afectiva, prejuzo do pragmatismo, incapacidade de

    sentir emoes e prazer, isolamento social, diminuio da iniciativa e da vontade. Para alm

    disso, alguns sintomas, embora no sejam especficos da Esquizofrenia, so de grande valor

    para o diagnstico, tais como a audio dos prprios pensamentos (sob a forma de vozes),

    alucinaes auditivas que comentam o comportamento do paciente, alucinaes somticas,

    sensao de ter os prprios pensamentos controlados e irradiao destes pensamentos, e

    sensao de ter as aces controladas e influenciadas por alguma coisa do exterior.

    Tentando agrupar a sintomatologia da esquizofrenia, destacam-se trs atributos da

    actividade psquica: comportamento, afectividade e pensamento. Os delrios surgem como

    alteraes do contedo do pensamento esquizofrnico e as alucinaes como pertencentes

    percepo sensorial, sendo ambos causa e/ou consequncia das alteraes nas trs reas

    atingidas pela doena.

    Os delrios so crenas erradas, habitualmente envolvendo a interpretao falsa de

    percepes ou experincias. O seu contedo pode incluir uma variedade de temas, como a

    perseguio (persecutrios, sendo os mais comuns), referenciais, somticos, religiosos, ou

    grandiosos. Os delrios podem sugerir ainda uma interpretao falsa da realidade percebida.

  • 17

    o caso, por exemplo, do paciente que sente algo sendo planeado contra ele pelo facto de ver

    duas pessoas simplesmente em dilogo. Trata-se, neste caso, de uma Percepo Delirante.

    Outras vezes no h necessidade de nenhum estmulo para ser interpretado, como por

    exemplo, julgar-se Deus. Neste caso trata-se de uma Ocorrncia Delirante. O tipo de Delrio

    mais frequentemente encontrado na Esquizofrenia do tipo Paranide ou de Referncia, ou

    seja, com temtica de perseguio ou prejuzo no primeiro caso e de que todos se referem ao

    paciente (rdios, vizinhos, televiso) no segundo caso. Os delrios que expressam uma perda

    de controlo sobre a mente ou o corpo geralmente so considerados bizarros; incluem a crena

    da pessoa de que os seus pensamentos foram retirados por alguma fora externa (extrao de

    pensamento), que pensamentos estranhos foram colocados em sua mente (insero de

    pensamento) ou que o seu corpo ou aces esto a ser manipulados por alguma fora externa

    (delrios de controle).

    As alucinaes, outro sintoma tpico (mas no exclusivo) da Esquizofrenia, podem

    ocorrer em qualquer modalidade sensorial, classificando-se em auditivas, visuais, olfativas,

    gustativas e tcteis. As alucinaes auditivas so as mais comuns e caractersticas da

    Esquizofrenia, sendo geralmente experimentadas como vozes conhecidas ou estranhas, que

    so percebidas como distintas dos pensamentos da prpria pessoa. O contedo pode ser

    bastante varivel, embora as vozes perjurativas ou ameaadoras sejam especialmente

    comuns.

    A desorganizao do pensamento defendida por alguns autores como o aspecto mais

    importante da Esquizofrenia. Pela dificuldade inerente ao exame do pensamento, este feito

    pela qualidade do discurso do paciente.

    Habitualmente, a irrupo da esquizofrenia relatada quando a famlia e os amigos

    detectam alteraes de comportamento em determinado indivduo. A pessoa passa a funcionar

    mal em reas significativas da vida quotidiana, como na escola ou trabalho, nas relaes

    sociais e familiares. Frequentemente, h uma notvel falta de interesse por cuidados consigo

    prprio. Os pacientes experimentam perplexidade (sentimento de estranheza sobre a

    experincia, alguma confuso sobre de onde vem os sintomas), isolamento social e

    ansiedade. Todas as restantes alucinaes, visuais, tcteis, olfatrias, gustativas e

    cinestsicas, embora sejam consideradas sintomas acessrios, aparecem na esquizofrenia

    com frequncia significativa; normalmente as auditivas so as primeiras a aparecer e as

    ltimas a desaparecer.

    O Transtorno Psictico Breve pode ter um quadro clnico semelhante Esquizofrenia,

    apresentando delrios, alucinaes, linguagem ou comportamento desorganizado ou com

    transtorno delirante. No entanto, estes sintomas devero estar presentes por um curto espao

    de tempo, persistindo no mnimo por um dia e no mximo por 1 ms, melhorando

    completamente aps este perodo. Geralmente encontram-se factores desencadeantes que

  • 18

    precipitam o quadro e o tratamento deve basear-se em terapia antipsictica, eventualmente

    necessitando de internamento. A evoluo costuma ser benigna,com total remisso dos

    sintomas.

    4.6 Demncias

    A Demncia, para alm de um tipo de doena, tambm considerada um sndrome, ou

    seja, constitui um grupo de sinais fsicos e sintomas, presente em vrias doenas distintas.

    Deste modo, a demncia apresenta trs caractersticas principais: prejuzo da memria,

    problemas de comportamento (agitao, insnia, choro fcil, comportamentos inadequados,

    perda da inibio social normal, alteraes de personalidade) e perda de habilidades (perda da

    autonomia nos cuidados pessoais e na organizao da vida social). Assim, os sintomas mais

    comuns que aparecem so dfice de memria de curto prazo, dificuldades em executar tarefas

    domsticas, problemas com o vocabulrio, desorientao no tempo e espao, incapacidade de

    julgar situaes, problemas com o raciocnio abstracto, alteraes de humor, comportamento e

    personalidade, bem como perda da iniciativa.

    Existem vrias alteraes orgnicas capazes de conduzir a um quadro demencial.

    Muitas dessas causas so reversveis, principalmente o uso prolongado de frmacos, como

    antihipertensores, diurticos e hipnticos. A depresso tambm pode estar associada

    demncia, pelo que a distino entre estas duas patologias importante, apesar de difcil.

    Outras doenas relacionadas so doenas vasculares do sistema nervoso central, doenas

    infecciosas, hipotireoidismo, deficincia de vitamina B12, sfilis e HIV.

    Actualmente cerca de 18 milhes, o nmero de indivduos afectados tem vindo a

    crescer significativamente com o envelhecimento da populao mundial e estima-se que em

    2025 o nmero de pessoas demenciadas no mundo seja de 34 milhes.

    Para alm do comprometimento da memria, para o diagnstico de Demncia deve-se

    verificar um comprometimento de pelo menos mais uma funo cognitiva, como por exemplo, a

    afasia, apraxia, agnosia e perturbao do funcionamento executivo. Esse prejuzo das funes

    mentais deve levar a um comprometimento social e/ou ocupacional, sendo portanto, a

    demncia um sndrome de declnio cognitivo, geralmente progressiva, que apresenta uma

    variedade de causas.

    Assim, uma das formas de se classificar as Demncias quanto sua causa. De

    acordo com Galton, as frequncias relativas das causas de demncia diferem dependendo da

    idade mas a Doena de Alzheimer a causa mais comum, tanto no grupo com idade menor

    que 65 anos, quanto no grupo etrio mais velho (Galton 1999). A causa gentica das

    demncias, como por exemplo, a doena de Alzheimer, juntamente com outras causas mais

  • 19

    raras, mais frequente no grupo etrio mais jovem. Em anexos (C) so mostradas a

    classificao e a distribuio relativa das demncias.

    Tabela 1. Frequncia dos tipos de demncia

    Frequncia dos tipos de demncia

    - de 65 anos + de 65 anos

    Doena de Alzheimer 34% 55%

    Demncia Vascular 18% 20%

    Demncia Fronto-Temporal 12% --

    Demncia corpos de Lewy 7% 20%

    Outros 29% 5%

    Henry Brodaty (2004)

    4.6.1 Doena de Alzheimer

    M.L.T.J., sexo feminino, 80 anos

    28/11/08, unidade de internamento de psicogeriatria, HML

    Viva, residente no Porto, reformada. Seguida em Psiquiatria h vrios anos, com

    diagnstico, desde Setembro de 2007, de Doena de Alzheimer. Teste do Mini-Mental State

    (MMSE -Mini-Mental State Examination) de 19 pontos em 2008. Relatado comportamento de

    arrecadao (leva para casa tudo o que encontra na rua), a paciente revela falhas de

    memria para acontecimentos recentes. Confabula frequentemente, possivelmente quando se

    apercebe da incapacidade de se recordar de certos aspectos passados. No entanto, apresenta

    humor eutmico e uma paciente muito relacionvel com os restantes.

    Terapia: Indapamida e Losartan (antihipertensores), rivastigmina.

    M.A.C.C., sexo feminino, 78 anos

    03/12/08, visita domiciliria de psicogeriatria, Pvoa de Varzim

    Paciente com diagnstico de doena de Alzheimer desde 2005, apresentando

    sintomatologia caracterstica desde alguns anos antes. Neste momento, apresenta um grande

    dfice de memria, no reconhecendo a equipa mdica nem a filha. Dorme bem, mas revela-se

    bastante inquieta durante a maior parte do dia. Mantm-se a teraputica com Axura e

    prescreve-se Lexotan (ao almoo e final da tarde).

    P.O.F., sexo feminino, 79 anos

    03/12/08, visita domiciliria de psicogeriatria, Vila do Conde

  • 20

    A paciente foi inicialmente avaliada em 26/04/2005, por deteriorao cognitiva. Desde

    ento, tem histria, quadro clnico, evoluo, exame neuropsicolgico e exames

    complementares (TC cerebral) compatveis com o diagnstico de Doena de Alzheimer.

    Neste momento, apresenta-se com humor deprimido e anorexia. Doente dependente na

    toma da medicao e na lida com dinheiro, mas autnoma nas restantes actividades. MMSE de

    16 pontos.

    Terapia: Axura, Remeron 15mg, Risperdal 2mg.

    Os indivduos com algum tipo de prejuzo cognitivo representam 5-10% da populao

    com 65 anos ou mais, e entre estes, mais de 50% dos casos so devidos Doena de

    Alzheimer, o tipo mais comum de demncia (Jellinger 1990). Trata-se de uma patologia

    progressiva que conduz ao desenvolvimento de mltiplos dfices cognitivos, manifestados por

    um comprometimento da memria, afasia, apraxia, agnosia ou perturbao do funcionamento

    executivo (planeamento, organizao, abstraco). Em anexo (D) so referidos os critrios de

    diagnstico desta patologia.

    4.6.2 Demncia Vascular

    A.A., sexo masculino, 75 anos

    03/12/08, visita domiciliria de psicogeriatria, Matosinhos

    Diagnstico: perdas cognitivas ps-AVC.

    Vive com a filha. Sndrome confusional devido a descompensao orgnica, no contexto

    de um quadro infeccioso, um ms antes. Actualmente, apresenta humor deprimido e mantm

    perdas cognitivas na sequncia de AVC. MMSE 22 pontos.

    Sem antecedentes psiquitricos. Desde Maio 2000, aps AVC confirmado por TC

    cerebral, comeou a apresentar alteraes de comportamento, agitao, confuso e delrios

    frequentes, tendo sido acompanhado em consulta externa no HML entre 2000 e 2001. O

    primeiro contacto com o servio de Psicogeriatria deu-se a 30/05/07; apresentava, desde

    Janeiro do mesmo ano, irritabilidade fcil, agressividade verbal e dificuldade em aceitar

    medicao e alguns cuidados. Iniciou terapia com sertralina 25mg e lorazepam 1mg. Neste

    momento encontra-se colaborante, tranquilo, desorientado no tempo e espao, com discurso

    aparentemente sem actividade delirante ou alucinatria. Humor ligeiramente deprimido. Optou-

    se por manter a teraputica.

  • 21

    A Demncia Vascular a segunda causa mais comum de demncia. Tende a

    apresentar um incio mais precoce do que a Doena de Alzheimer e, ao contrrio desta, os

    homens so mais frequentemente afectados que as mulheres.

    O incio da Demncia Vascular tipicamente sbito, seguido por um curso flutuante e

    gradual, caracterizado por rpidas alteraes no funcionamento. O curso, no entanto, pode ser

    altamente varivel, e um incio insidioso com declnio gradual tambm pode ser encontrado. Os

    critrios Diagnsticos do DSM.IV para Demncia Vascular so referidos em anexo (E).

    4.6.3 Demncia Fronto-Temporal

    F.J.S.P., sexo masculino, 66 anos

    02/12/08, consulta externa de psicogeriatria, HML

    Diagnstico: demncia fronto-temporal.

    Paciente que h mais de dez anos apresenta alteraes psico-comportamentais, de

    incio precoce e evoluo progressiva, com dfices cognitivos associados. Sem sinais

    neurolgicos focais. A 10/10/2007, a TC cerebral revelou atrofia e alteraes vasculares e o

    SPECT cerebral com 99m revelou um hipodbito temporal esquerdo. Neste momento, o quadro

    mantm-se, pelo que se mantm a terapia prescrita anteriormente.

    Terapia: Depakine, Ebix, Sertralina, Alzen, Lorazepam.

    A Demncia Fronto-Temporal (DFT), ou Complexo de Pick, apresenta um quadro clnico

    de deteriorao mental progressiva com afasia grave e distrbios comportamentais associados

    a atrofia temporal esquerda ou fronto-temporal. A sua evoluo rpida, em geral deteriora

    num ano mas, por vezes, chega a 5-10 anos.

    No quadro clnico da DFT podem prevalecer distrbios de personalidade e

    comportamento, caso as leses sejam frontais ou, se forem temporais, afasia progressiva com

    demncia semntica (Hodges, 1992, Neary, 1998). Se inicialmente surgem alteraes de

    comportamento, da personalidade ou da fala, os problemas de memria aparecem mais tarde,

    tornando difcil o diagnstico de demncia. Da mesma forma, est prejudicado o diagnstico

    precoce quando se utiliza o MMSE, que pode no detectar anormalidades em pacientesncom

    DFT quando as alteraes so predominantemente frontais.

    O diagnstico por imagem pode exibir uma atrofia focal das reas frontais e/ou

    temporais, que frequentemente assimtrica. Embora possam ser necessrios testes

    neuropsicolgicos mais complexos para o diagnstico da DFT, privilegia-se uma boa entrevista

    com familiares sobre alteraes de personalidade. Em anexo (F) mostram-se as caractersticas

    principais desta patologia.

  • 22

    4.7 Debilidade Intelectual

    A.G.G.P., sexo masculino, 53 anos

    25/02/09, Unidade de internamento Porto, HML

    Solteiro, vive szinho em Matosinhos, recebe penso de invalidez. Atraso intelectual,

    ter ido escola mas sem aproveitamento, analfabeto. J ter frequentado consulta de

    Psicologia.

    Levado ao SU do HSJ dia 19/02/09 com mandado de conduo da Delegada de sade,

    para efeitos de avaliao clnico-psiquitrica, com base na informao chegada pelo centro

    social, bem como da equipa de sade comunitria, encontrando-se em descompensao.

    Referem alteraes comportamentais, como deambular n pela rua, tornando-se agressivo

    com facas, quando contrariado. No faz qualquer medicao.

    Paciente vigil, orientado no tempo e espao, colaborante, com acentuada inquietao.

    Discurso pobre e repetitivo, por vezes imperceptvel, gagueja e apresenta sialorreia. Humor

    eutmico, sem ideao suicida. Verbaliza ideias auto-referenciais de teor persecutrio,

    relacionado com uma alegada denncia na televiso de um crime de que foi testemunha, e

    portanto estariam a tentar castig-lo. No se descarta actividade alucinatria auditiva. Relato

    de sndrome de armazenamento (leva coisas da rua para casa, inclusiv lixo). Sem crtica

    para o sucedido; no consegue explicar a razo das suas alteraes comportamentais,

    referindo a minha cabea.

    Nega hbitos tabgicos ou toxicoflicos; confirma hbitos alcolicos, no os

    quantificando.

    Antecedentes psiquitricos: debilidade intelectual. Sem seguimento psiquitrico prvio.

    Internado para melhor avaliao e orientao. Aceita o internamento voluntrio.

    Terapia: Risperidona 2mg, Lorazepam 2,5mg em SOS, Biperideno IM 5mg/mL em SOS,

    Diazepam 5mg. Programa-se uma reunio com a assistente social, para orientao para um

    centro de dia aps alta hospitalar. Inicia amanh (26/02/09) injeco IM quinzenal de Haldol

    decanoato, marcando-se uma consulta de acompanhamento dentro de trs semanas.

    Segundo a OMS, 10% da populao dos pases em desenvolvimento so portadores de

    algum tipo de deficincia, sendo que metade destes so portadores de Deficincia Mental

    propriamente dita. Calcula-se que o nmero de pessoas com atraso mental tem relao com o

    grau de desenvolvimento do pas em questo e, segundo estimativas, a percentagem de

    jovens de 18 anos que apresentam atraso mental grave situa-se volta de 4,6%, nos pases

    em desenvolvimento, e entre 0,5 e 2,5% nos pases desenvolvidos.

  • 23

    Inmeras causas e factores de risco pr e ps-natais podem levar Deficincia Mental,

    mas importante salientar que muitas vezes no possvel estabelecer com clareza a causa

    da Deficincia Mental.

    Segundo a descrio do DSM.IV, a caracterstica essencial do Atraso Mental traduz-se

    por um funcionamento intelectual significativamente inferior mdia, acompanhado de

    limitaes significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes

    reas: comunicao, auto-cuidados, vida domstica, habilidades sociais, relacionamento

    interpessoal, uso de recursos comunitrios, auto-suficincia, habilidades acadmicas, trabalho,

    lazer, sade e segurana. Segundo critrios internacionais, o incio da Deficincia Mental deve

    ocorrer antes dos 18 anos, caracterizando assim um transtorno do desenvolvimento e no uma

    alterao cognitiva, como a Demncia. O funcionamento intelectual geral definido pelo

    Quociente de Inteligncia (QI ou equivalente). Em anexo (H) mostra-se a classificao do QI

    segundo a OMS. Academicamente, possvel diagnosticar o Atraso Mental em indivduos com

    QI entre 70 e 75, porm que exibam dfices significativos no comportamento adaptativo.

    Cautelosamente o DSM.IV recomenda que esta patologia no deve ser diagnosticada em um

    indivduo com um QI inferior a 70, se no existirem dfices significativos no funcionamento

    adaptativo. Teoricamente, deveriam ficar em segundo plano as questes mensurveis de QI, j

    que a unidade de observao a capacidade de adaptao. Por funcionamento adaptativo

    entende-se o modo como a pessoa enfrenta efectivamente as exigncias comuns da vida e o

    grau em que experimenta uma certa independncia pessoal compatvel com a sua faixa etria,

    bem como o nvel scio-cultural do contexto comunitrio no qual se insere. O funcionamento

    adaptativo da pessoa pode ser influenciado por vrios factores, incluindo educao, motivao,

    caractersticas de personalidade, oportunidades sociais e vocacionais, necessidades prticas e

    condies mdicas gerais.

    Baseado nos critrios adaptativos, mais do que nos ndices numricos de QI, a classificao

    actual da Deficincia Mental no aconselha que se considere o atraso leve, moderado, severo

    ou profundo, mas que seja especificado o grau de comprometimento funcional adaptativo.

  • 24

    4.8 Disfuno Erctil

    J.C.M.C., sexo masculino, 39 anos

    20/02/09, Consulta externa de Andrologia, HGSA

    Diagnstico: Disfuno erctil.

    Divorciado, residente no Porto, empregado de armazm. Recorre consulta externa por

    ansiedade marcada com dificuldade de resolver situaes de tenso. Tremores e

    hipersudorese, que se manifestam predominantemente na relao sexual (no consegue ter

    ereco nos primeiros contactos). Ansiedade de execuo, com desejo e lbido normais.

    Terapia: Buspanil, Cipralex 10, Alprazolam 0,5mg em SOS.

    C.F.N., sexo masculino, 48 anos

    20/02/09, Consulta externa de Andrologia, HGSA

    Diagnstico: Disfuno erctil.

    Casado, com dois filhos menores, marmorista. Recorreu consulta externa h trs

    semanas por apresentar sintomas depressivos e, durante a relao sexual, ejaculao precoce

    e fraca ereco, com desejo sexual mantido. Foi medicado com Cipralex 20 e Olcadil.

    Hoje, acompanhado pela esposa, apresenta uma melhoria franca do humor, apesar de

    manter os problemas de ereco. Considerando o curto tempo de medicao efectuada at ao

    momento e a influncia de vrios factores psicolgicos neste quadro, manteve-se a teraputica

    e marcou-se consulta de reavaliao para breve.

    Disfuno Sexual a incapacidade de participar no acto sexual com satisfao, devido

    a dor ou ao impedimento em uma ou mais fases do ciclo da resposta sexual (desejo-excitao-

    orgasmo-resoluo). Pode-se manifestar como uma diminuio da libido ou como uma

    alterao da excitao, retardo ou ausncia do orgasmo ou dor durante, antes ou depois do

    acto sexual. A causa variada, multifactorial, onde se incluem patologias psiquitricas,

    principalmente a depresso, e outras doenas orgnicas, como diabetes, hipertenso, abuso

    de drogas e lcool, problemas hormonais, alteraes nutricionais e efeitos colaterais de

    medicamentos. A obesidade, o colesterol alto e o tabagismo so factores de risco.

    Tendo em vista a complexidade da fisiologia sexual, pode-se afirmar que a funo

    sexual recebe influncias do Sistema Nervoso Central (SNC) e Perifrico. No SNC existem

    neurotransmissores relacionados com a funo sexual, como a Dopamina, relacionada com o

    desejo e a excitao. Tambm participam a Serotonina e a Noradrenalina. Em termos

    hormonais a prolactina est relacionada com a excitao subjectiva e a ocitocina directamente

    relacionada ao orgasmo. Com influncia na sexualidade destacam-se ainda outras hormonas,

    principalmente a progesterona, o estrognio e a testosterona, todas envolvidas no despertar do

  • 25

    desejo sexual. Portanto, inmeros factores esto directa ou indirectamente envolvidos na

    funo sexual, desempenho e satisfao do ser humano.

    A Depresso influencia negativamente o desempenho sexual, causando desinteresse

    pela actividade sexual e consequentemente comprometendo o desejo, alm da incapacidade

    de sentir prazer, prprio do estado depressivo. No homem deprimido, a falta de excitao

    traduz-se na Disfuno Erctil. Trata-se da incapacidade de manter a ereco para se

    completar o acto sexual, facto que tambm gera frustrao e, como um ciclo vicioso, resulta no

    agravamento do estado depressivo. No sexo feminino, a excitao sexual alterada conhecida

    como frigidez, e atinge um grande nmero de mulheres deprimidas, tendo como consequncia

    a ausncia de prazer e dor durante a relao sexual. A Disfuno Sexual na Depresso pode

    ainda agravar-se devido ao tratamento antidepressivo; as alteraes sexuais por estes

    induzidas tm uma alta incidncia, motivo frequente de abandono precoce do tratamento.

    Geralmente o tratamento antidepressivo deve-se manter por seis a nove meses em pacientes

    de baixo risco de recada, devendo ir at um ano naqueles que tm antecedentes pessoais ou

    familiares de depresso e definitivo (ou por anos) para pacientes crnicos ou que tiveram mais

    de trs recadas (10% a 15% dos casos). Em anexo (H) mostra-se um quadro sobre os

    antidepressivos e os efeitos destes no tratamento desta patologia.

  • 26

    5. Concluso

    O conhecimento dos mecanismos da doena, ou seja, a possibilidade de melhor a

    prevenir e de melhor a tratar, depende da investigao clnica vrias so as patologias de

    foro psiquitrico que, actualmente, so objecto de uma convergncia de trabalhos psicolgicos

    e biolgicos, implicando a psicopatologia, a psicanlise e as neurocincias. No entanto, a

    prtica clnica constitui o essencial do trabalho quotidiano dos psiquiatras, psiclogos e

    enfermeiros, em contacto com os doentes e as suas famlias, sendo a reintegrao social dos

    pacientes psiquitricos objecto de um esforo considervel.

    A dimenso psicossomtica das afeces psiquitricas e somticas do idoso comea a

    merecer ateno no campo da medicina geritrica. O envelhecimento muitas vezes bem

    conseguido, mas este xito nunca simplesmente adquirido, sendo o resultado das

    experincias precedentes da vida, inscritas no corpo e na mente. Os tratamentos

    psicofarmacolgicos revelam-se importantes e eficazes, quando visam a ansiedade ou a

    depresso subjacentes, e a psicoterapia muitas vezes til, particularmente as tcnicas com

    mediao corporal. A atitude preventiva durante a terceira idade refere-se essencialmente a

    medidas de carcter mdico-social que se oponham a todas as formas de isolamento e

    marginalizao, visando a criao de condies favorveis ao processo normal da involuo,

    educando para a sade e possibilitando uma insero activa na comunidade. Em concluso, a

    atitude preventiva e interventiva em Sade Mental possvel e indispensvel em todas as

    fases do desenvolvimento, incluindo o envelhecimento.

    Considerei o referido estgio bastante proveitoso, importante para a aquisio de

    conhecimentos tericos e prticos na rea da Sade Mental, e fundamental para o

    reconhecimento e consequente diagnstico de psicopatologias, o seu tratamento e posterior

    acompanhamento. Deste modo, penso que foi de extrema importncia ter um contacto prximo

    com a prtica clnica diria na Psiquiatria, de modo a melhor poder reflectir acerca da escolha

    da minha especialidade, como futura mdica.

  • 27

    6. Bibliografia

    1. Feldman, HA et al., Impotence and its medical and psychosocial correlates: results of the

    Massachusetts Male Aging Study. J Urol., v.151, n.1, 1994.

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    entre stressores, stress e ansiedade - Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul, v.25 supl.1, Porto

    Alegre abr. 2003

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    Pharmacother, 2000 Jan;1(2):305-23.

    5. Franco Benazzi et al, Age of Onset of Bipolar II Depressive Mixed State, Psychiatry Research

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    Lisboa, 2002

    14. Archinard, M., et al, Medicina Psicossomtica perspectivas psicossociais, Climepsi Editores,

    Lisboa, 1998

  • 28

    7. Anexos

  • A. Farmacologia mencionada nos casos clnicos apresentados (segundo ordem de

    aparecimento):

    A Clomipramina um antidepressivo tricclico, indicado no tratamento da depresso,

    de sintomas obsessivos e das crises de pnico. Uma outra situao frequentemente usada a

    dor crnica que encontra em associao de outras medicaes com o clomipramina bons

    resultados. A principal limitao dessa medicao est nos efeitos colaterais que muitas vezes

    no so tolerados pelos pacientes (xerostomia, obstipao, aumento do apetite, diminuio da

    libido, cefaleias). A dose mdia recomentada so 100mg/dia, podendo chegar a 250mg ou

    300mg caso os efeitos colaterais sejam bem tolerados pelo paciente e os benefcios

    justifiquem essa dose.

    O Topiramato um antiepilptico com forte ao antimanaca e controlador de

    agressividade. um frmaco que apresenta forte efeito tambm sobre a capacidade de

    concentrao, devendo, por isso, ser elevado gradualmente. Quando necessrio, a elevao

    da dose pode levar trs meses ou mais para atingir a dose adequada, pois, algumas vezes,

    pode ser necessrio uma elevao lenta, dependendo de cada paciente. Recomenda-se o

    intervalo de uma semana para acrescentar 50mg da medicao, ou 25mg. A dose mxima

    recomendada de 1.600mg por dia. Como apresenta um tempo de aco longo pode ser

    administrado uma vez ao dia, ou distribudo ao longo do dia para diminuir os efeitos colaterais.

    A Fluoxetina um antidepressivo inibidor da recaptao da serotonina, sendo as suas

    principais indicaes o tratamento da depresso, da perturbao obsessiva-compulsiva e da

    bulimia nervosa. A dose geralmente usada varia entre 20 e 80mg ao dia. Os efeitos colaterais

    mais comuns so cefalia, insnia, nervosismo, tontura, nusea ou diarria. Vrias pesquisas

    confirmam a segurana do uso da fluoxetina durante a gestao (em qualquer fase da

    gestao) e amamentao, no elevando o risco de malformaes fetais, nem precipitando o

    parto, nem causando danos aos lactentes de leite materno de mes tratadas com fluoxetina.

    A Trazodona um antidepressivo diferente dos mais usados (tricclicos, IMAO ou

    inibidores da recapatao da serotonina); derivado das triazolopiridinas, o seu mecanismo de

    aco ainda no foi suficientemente esclarecido. Indicado como antidepressivo para

    depresses de longa ou curta durao, pode tambm auxiliar como indutor do sono e

    tranquilizante. A dose recomendada varia entre 50 e 150mg, podendo ser elevada at 400mg.

    A questo da combinao da Psicoterapia e da terapia farmacolgica tem sido

    polmica entre profissionais de sade mental. Devido s dificuldades de elaborar parmetros

  • cientficos para a maioria das abordagens psicoteraputicas, rgos psiquitricos oficiais dos

    EUA divergem quanto a uma postura oficial. A Associao Psiquitrica Americana reconhece

    as seguintes psicoterapias como eficazes para depresso: Cognitivo-Comportamental,

    Psicoterapia Breve e Terapia de Grupo. As principais entidades ligadas ao assunto no

    valorizam a prtica da psicoterapia para depresso severa, mas enfatizam as vantagens da

    combinao da farmacoterapia com psicoterapia.

    A Rivastigmina um inibidor da acetilcolinesterase. Os estudos feitos acerca da

    memria mostram que a acetilcolina uma substncia importante no processo de

    armazenamento da informao a nvel cerebral, pelo que a sua diminuio prejudica as

    funes da memria. Este frmaco, ao inibir a enzima que degrada a acetilcolina, permite que

    ela permanea em nveis mais elevados, melhorando a performance mental. A dose

    normalmente iniciada com 1,5 mg duas vezes ao dia, sendo lentamente elevada (intervalo de

    2 semanas) at 12mg por dia, distribudas ao longo do dia. Os efeitos colaterais mais comuns,

    relacionados com a dose, so nuseas, vmitos, dor abdominal, perda de apetite, agitao,

    insnia ou sonolncia, tonturas, cefalia.

    O Axura um frmaco que contm a substncia activa cloridrato de memantina,

    utilizado no tratamento da doena de Alzheimer moderada a grave. As causas desta patologia

    no so conhecidas, mas pensa-se que a perda de memria associada doena seja devida a

    uma perturbao da transmisso dos sinais mensageiros no crebro. O seu mecanismo de

    aco atravs do bloqueio de um tipo especial de receptores (receptores NMDA) a que

    normalmente se liga o neurotransmissor glutamato. Para evitar o aparecimento de efeitos

    secundrios, a dose deve ser aumentada gradualmente ao longo das trs primeiras semanas

    de tratamento: na primeira semana, a dose de 5 mg; na segunda semana, 10 mg; e na

    terceira semana, 15 mg. A partir da quarta semana, a posologia de manuteno recomendada

    de 20 mg uma vez ao dia.

    O princpio activo do Lexotan o bromazepam, um tranquilizante do grupo dos

    benzodiazepinas. Pode ser usado para tratar os distrbios de ansiedade de uma forma geral;

    porm, como alguns destes (como a Fobia Social e o Pnico) encontram melhor resposta a

    outros tranquilizantes, a sua indicao tem-se dirigido mais para o controlo dos estados de

    tenso decorrentes de problemas da vida pessoal do paciente, bem como sintomas

    psicossomticos dos aparelhos cardiovascular, respiratrio, genitourinrio, gastroentestinal ou

    sintomas psicognicos em geral, que se manifestam atravs de alteraes da menstruao ou

    cefaleias. A dose recomendada de 3 comp de 3 mg ao dia, podendo-se chegar a 36 mg por

    dia sob superviso mdica. No deve ser administrado crnicamente, devendo-se estabilizar a

  • dose da medicao por um perodo de 3 meses aproximadamente. Proporciona sensao de

    bem estar, aumento da sonolncia e relaxamento muscular. A dependncia qumica que pode

    induzir no costuma causar problema, ou seja, com uma lenta e contnua diminuio da dose o

    organismo geralmente no se ressente; tanto o incio como a retirada da medicao deve ser

    gradual, com intervalo de alguns dias para a reduo da dose.

    O Risperdal a risperidona, um neurolptico do grupo benzisoxazol. A sua principal

    indicao o tratamento de sintomas psicticos. As apresentaes orais de 1, 2 e 3mg

    facilitam o uso, na maioria dos casos um a dois comprimido por dia so suficientes (2 a

    6mg/dia). A dose ser definida pelos benefcios alcanados pelo paciente.Os principais efeitos

    colaterais so insnia, sedao, cefaleia, inquietao e ansiedade.

    O Remeron a mirtazapina, um antidepressivo tetracclico,que apresenta uma

    elevada eficcia antidepressiva, ao aumentar os nveis cerebrais de serotonina e

    noradrenalina. A dose inicial deve ser de 15mg nos 4 primeiros dias, depois de 30mg por mais

    10 dias. Alcanando efeitos benficos com esta dose, esta poder ser mantida, mas poder

    ainda ser elevada para 75mg, caso seja necessrio. Tonturas e sedao so os efeitos

    colaterais mais frequentes, assim como xerostomia, aumento do apetite e do peso, sonolncia

    e obstipao.

    O Depakine o cido valprico, um anticonvulsivante com bom efeito

    antimanaco.Para alm de controlar as crises epilpticas indicado para prevenir e tratar as

    fases manacas do transtorno afectivo bipolar. Os principais efeitos colaterais so gstricos e

    neurolgicos: nuseas, vmitos e diarria, sonolncia, tremores e descordenao motora. A

    dose inicial pode ser 500 ou 1000mg, sendo elevada at 2000mg.

    O Ebix a memantina, um frmaco que pode reduzir a deteriorao intelectual e a

    perda de funes em pacientes que sofrem da doena de Alzheimer. A memantina um

    tratamento sintomtico para a doena de Alzheimer, produzindo um retardo na progresso da

    doena por algum tempo. Os efeitos so pequenos mas clinicamente evidentes nos pacientes

    que tomam 20 miligramas de memantina durante 28 semanas. Entre os psicofrmacos a

    memantina dos que menos efeitos colaterais produz tanto a curto quanto a longo prazo. Os

    efeitos laterais mais comuns so agitao, incontinncia urinria, diarria, insnia, tonturas e

    cefaleias.

    A Sertralina um antidepressivo inibidor especfico da recaptao da serotonina, sendo

    as suas principais indicaes o tratamento da depresso e do transtorno obsessivo-

  • compulsivo. Geralmente a dose de 50mg diria costuma ser suficiente, podendo-se elevar at

    200mg por dia. Tonturas e nusea so os principais efeitos colaterais, bem como insnia,

    cefaleia, cansao, retardo da ejaculao, tremor e hipersudorese.

    O Alzen a quetiapina, um neurolptico do grupo dibenzotiazepina. As suas

    principais indicaes so o tratamento da esquizofrenia e do transtorno do humor bipolar tanto

    em fases manacas como depressivas. A dose de incio depende da patologia psiquitrica a ser

    tratada. Os principais efeitos colaterais so xerostomia, sonolncia e tonturas; outros efeitos

    podem surgir, mas costumam diminuir ao longo do tratamento.

    O Lorazepam (Lorenin) uma benzodiazepina que possui como principal propriedade

    a inibio leve de alguns sectores do SNC, proporcionando relaxamento muscular, sedao e

    efeito tranquilizante. Est indicado principalmente como ansioltico e para o tratamento da

    insnia, assim como no distrbio bipolar, na claustrofobia e como coajuvante da terapia

    antidepressiva. Os principais efeitos colaterais so sonolncia, Ataxia, Hipotenso, Depresso

    respiratria, fadiga, cefalia e tonturas. O uso de benzodiazepinas pode causar dependncia

    fsica e psicolgica. Em estudos recentes, foi comprovado que o Lorazepam possui maior

    potencial de dependncia em relao a outros benzodiazepinas; porm, o seu ndice de

    dependncia relativamente menor em comparao a outros hipnticos e reduzido quando o

    Lorazepam utilizado na dose adequada em tratamento a curto prazo.

    O Alprazolam um tranquilizante do grupo dos benzodiazepinas, sendo bastante

    eficaz no controlo dos sintomas dos transtornos de ansiedade e no controlo dos estados

    tensionais no patolgicos e no tratamento da insnia. O seu efeito dura aproximadamente 12

    horas, por isso pode ser usado no horrio mais adequado. A dose deve seguir o resultado

    obtido, considerando sempre os benefcios e prejuzos conferidos pela medicao, ou seja,

    procurando obter o mximo de efeito tranquilizante com o mnimo de sedao diurna. A

    retirada da medicao deve ser lenta, respeitando um intervalo de alguns dias para a

    diminuio da dose, podendo verificar-se irritabilidade, insnia, tonturas, nuseas, cefaleias,

    cansao e mialgias. Os efeitos colaterais so os mesmos dos restantes tranquilizantes. Possui

    um risco considervel de induo dependncia fsica que, sob orientao mdica,

    absolutamente reversvel.

    O Tercian um antipsictico cuja substncia activa a ciamemazina. Utilizado no

    tratamento dos estados ansiosos das evolues psicticas, dos estados neurticos de

    evoluo grave e na agressividade nos psicticos e nos epilpticos. A posologia mdia de 50

    a 600 mg/dia segundo os casos, com uma mdia entre 200 e 300 mg/dia em 2 tomas. Os

  • principais efeitos colaterais so sedao, sonolncia, insnia, ansiedade, alteraes do humor,

    astenia, discinesias e cefaleias.

    O Clonazepam um tranquilizante do grupo das benzodiazepinas. Eficaz no controlo

    da Fobia Social, do Distrbio do Pnico, das formas de ansiedade generalizada e para ajudar a

    controlar os sintomas de ansiedade. A dose varia entre 0,5 e 6mg por dia, podendo chegar a

    20mg por dia em certos casos. Efeitos comuns das benzodiazepinas, como sedao, tonturas,

    perda de memria, fadiga, podem ser verificados, assim como diminuio da libido (este efeito

    colateral desaparece quando a medicao suspensa).

    O Victan (loflazepato de etilo) uma benzodiazepina, recomendada para o tratamento

    de perturbaes da ansiedade, controlo de sintomas ansiosos e para a abstinncia alcolica. A

    dose mdia diria de 2 a 4 mg em 1 a 2 administraes, podendo-se atingir os 8mg. Os

    efeitos laterais so os mesmos verificados no tratamento com outras benzodiazepinas.

    O Forticol uma composio de acetoglutamato de deanol e cloridrato de

    heptaminol. indicado no tratamento dos transtornos psquicos devido insuficincia

    circulatria cerebral e nos transtornos da memria e da ateno. Raramente, podem surgir

    cefaleias e insnias de pouca gravidade e que tendem a desaparecer com a continuao do

    tratamento. Dose mdia diria de duas a trs ampolas.

    A Venlafaxina um antidepressivo inibidor da recaptao da serotonina e da

    norepinefrina; as suas principais indicaes so para o tratamento da depresso e do

    transtorno obsessivo-compulsivo. A dose inicial pode ser de 75mg ou 37,5 de acordo com o

    peso do paciente. A dose pode ser elevada em 75mg a cada 4 dias at compor 375mg/dia, ou

    menos se o paciente obtiver bons resultados com doses menores. Os principais efeitos

    colaterais so cefaleias, sonolncia ou insnia, tonturas, nervosismo, hipersudorese, tremores,

    palpitaes e obstipao.

    A Paroxetina um antidepressivo inibidor da recaptao da serotonina, indicado para o

    tratamento da depresso, fobia social, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno do

    pnico. uma medicao segura, com baixa incidncia de efeitos colaterais. Os efeitos

    indesejveis mais comuns so insnia, nuseas e vmitos, azia, acufenos, cefaleias, retardo

    da ejaculao, hipersudorese, xerostomia e tremores. A dose recomendada de 20mg/dia

    podendo-se atingir os 60mg.

  • O Haloperidol (Haldol) um neurolptico do grupo das butirofenonas. Para alm da

    indicao para tratamento dos sintomas psicticos, pode ser usado para evitar nuseas e

    vmitos de qualquer origem e para controlar a agitao e agressividade devido a outras

    perturbaes psiquitricas. A dose varia entre 5 e 15mg por dia, podendo chegar a 100mg

    dirios. A elevao da dose deve ser gradual, respeitando intervalos de 7 dias

    aproximadamente entre uma e outra elevao. Os efeitos sobre o sistema motor, como o

    aumento da tenso muscular, a inquietao e a discinsia so os principais efeitos colaterais,

    sendo a sndrome neurolptica maligna a mais grave e rara destes.

    O Diazepam um tranquilizante do grupo dos benzodiazepnicos. A sua principal

    indicao o tratamento dos transtornos de ansiedade. Outras indicaes comuns so para as

    complicaes relacionadas ao alcoolismo como o controle da abstinncia alcolica e do

    delirium tremens. A dose deve ser ajustada de acordo com cada paciente, ou seja, a

    medicao deve promover o mximo de conforto (tranquilizao) com o mnimo de efeitos

    colaterais. Os principais efeitos colaterais so sonolncia, tonturas, perdas de memria, fadiga,

    leve queda da presso arterial; estes efeitos so referidos por menos de 10% dos pacientes.

    A Olanzapina, um neurolptico tienobenzodiazepnico, est indicada no tratamento dos

    sintomas psicticos. A dose inicial so 5 a 10mg por dia, sendo a dose mxima recomendada

    de 20mg por dia. Os principais efeitos colaterais so cefaleia, sonolncia, insnia, agitao,

    nervosismo, irritabilidade, acufenos. De forma menos comum podem surgir contraces

    musculares, tenso muscular e aumento de peso.

    A Carbamazepina um anticonvulsivante que foi originalmente usado, e continua a ser,

    no tratamento da epilepsia, mas produz bons resultados no controlo do Transtorno Afectivo

    Bipolar. Pode tambm ser usado para controlar a agressividade em pacientes com outros tipos

    de transtornos mentais, ou ser usado para tratar a sndrome das pernas inquietas, a

    abstinncia alcolica e a neuralgia do trigmio. A dose recomendada varia entre 400 e 800mg

    por dia; pela sonolncia que pode causar recomendvel dar a maior parte da dose noite.

    Como efeitos colaterais podem aparecer reaes alrgicas na pele, sedao, descoordenao

    motora, tonturas, cansao, enjoo e viso turva. No deve ser usado durante o primeiro

    trimestre da gestao, pois h evidncias de m formao fetal.

    A Risperidona um neurolptico do grupo benzisoxazol. A sua principal indicao o

    tratamento de sintomas psicticos, especialmente nos pacientes esquizofrnicos que no

    melhoraram com outros frmacos antipsicticos. As apresentaes orais de 1, 2 e 3mg

    facilitam o uso; na maioria dos casos, um a dois comprimidos por dia so suficientes (2 a

  • 6mg/dia), sendo a dose definida pelos benefcios alcanados pelo paciente. Insnia ou

    sedao, cefaleias, inquietao e ansiedade so os principais efeitos laterais. Apesar de pouco

    frequentes e de baixa intensidade, podem-se manifestar alguns efeitos motores como tremores

    e contraces involuntrias. Podem-se verificar ainda alteraes no ciclo menstrual ou no

    desejo sexual.

    O Cymbalta a duloxetina, uma antidepressivo cuja principal finalidade tratar todas

    as formas de depresso, a incontinncia urinria de esforo e a dor perifrica da neuropatia

    diabtica. A dose recomendada so 60mg por dia, no havendo necessidade de se elevar a

    dose. Recomenda-se a observao durante um ms; se no houver um efeito significativo

    recomenda-se a sua interrupo e substituio por outro frmaco. Baixa incidncia de efeitos

    colaterais; os mais encontrados so nuseas, xerostomia, obstipao, diarria, cansao,

    tonturas, son