Raio-X, nº 13

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Edição 13 www.damufes.com/raiox SEGURANÇA CCS enfrenta forte onda de violência ESTUDANTES Transtornos mentais são frequentes Dr a . Valéria Valim nos concedeu uma entrevista imperdível! NDE NÚCLEO DOCENTE ESTRUTURANTE O que é? Por que foi criado? Quais suas funções? Entenda como esse grupo de professores está mudando o curso de Medicina da UFES EMÉRITOS Professores do CCS recebem homenagem Servidores em greve... Medicamentos em falta... Elevadores em manutenção... HUCAM passa por contratempos GALERIA PAD atende pacientes em Afonso Cláudio

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES. Edição 13: Mar/Abr/Mai 2014

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O Jornal dos Estudantes de Medicina da UFES Edição 13

www.damufes.com/raiox

SEGURANÇACCS enfrenta forte onda de violência

ESTUDANTESTranstornos mentais são frequentes

Dra. Valéria Valim nos concedeu uma entrevista imperdível!

NDENÚCLEO DOCENTE ESTRUTURANTE

O que é? Por que foi criado?Quais suas funções? Entenda como esse grupo de professores está mudando o curso de Medicina da UFES

EMÉRITOSProfessores do CCS recebem homenagem

Servidores em greve...Medicamentos em falta...Elevadores em manutenção...

HUCAM passa por contratempos

GALERIAPAD atende pacientes em Afonso Cláudio

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Caro LeitorA palavra do editor

Um dia desses, pediram-me que escrevesse sobre o desa-fio de ser mulher e médica. Na hora descartei a possibi-lidade, por achar complexa demais a tarefa de ser mãe, esposa e ainda dedicar-se à medicina. Há pouco tempo estive na solenidade de en-trega de título de “Professor Emérito” a grandes docen-tes da UFES, e lá vi muitos professores agradecerem às suas famílias por apoiá-los em suas loucuras e compre-endê-los em suas ausências. A imensa maioria dos home-nageados: homens. Concluí então, mais uma vez, que é impossível ser excepcional na carreira e cuidar bem de uma família. Ou seja, como mulher, foi-me dada uma es-colha ao nascer – ou isto ou aquilo (como bem escreveu Cecília Meirelles, mulher).Mas e se fosse o contrário? E se estivéssemos ouvindo, ali, uma dezena de mulhe-res agradecerem a seus ma-ridos por terem ficado em casa durante anos, cuidando das crianças nos horários de folga? Se fossem elas que

estivessem agradecendo aos “homens da família” por te-rem se submetido a tal “jor-nada dupla”, por trocarem fraldas, buscarem os filhos na escola, tudo isso entre 18 e 24h, quando chegassem do serviço exaustos após desfru-tarem do maravilhoso espa-ço conquistado no mercado de trabalho? Será que essas mulheres não se sentiriam, no fundo, culpadas por terem deixado os filhos com os ma-ridos sustentadas pela vonta-de de realizarem um sonho profissional? Será que não ganhariam um olhar de re-provação das colegas por não serem “boas mães”? Penso nisso e me vêm à mente as centenas de vezes que ouvi longos comentários de pro-fessores dizendo “vocês mu-lheres vão ver como é sofrido ser médica, mãe e esposa. Um grande desafio!”. E tan-tas vezes me submeti a essas sentenças, ao limitar meus sonhos e planos à tarefa de ser uma “boa mulher”. Adélia ousou ao provocar Drummond e seu anjo tor-to, fazendo da mulher a

protagonista de sua poesia. Eu ousaria provocar a to-dos nós, indagando por que não começamos a dividir, de fato, os papéis em um cená-rio diferente do ambiente de trabalho? Será mesmo tão difícil encarar com naturali-dade a inserção do homem no ambiente doméstico/fami-liar? Afinal, não há evidência científica que comprove que a capacidade masculina seja inferior à da mulher ao cuidar da prole ou da pia. Há apenas evidências socioculturais que precisam ser superadas. Mes-mo Adélia Prado, uma poetisa renomada, menciona em sua obra o que tantas mulheres dizem a si mesmas ao olha-rem-se no espelho, preocu-padas: “não sou tão feia que não possa casar” – e então respiram em paz à espera de alguém que lhes “complete”. Atribuem-nos carências emo-cionais, falam-nos de instinto materno e, assim, são poucas as mulheres que se sentiriam plenas fora do padrão de nú-cleo familiar. Desconfio que a incapacida-de das mulheres em optarem por uma vida independen-te, dedicada exclusivamente à carreira – ou a qualquer outra coisa que lhes pareça aprazível – tem mais a ver com nossa sociedade machis-ta do que com nossa nature-za feminina. Ser feminina vai muito além do charme e da amamentação. Nossa femi-nilidade se expressa na de-terminação no trabalho, na preguiça de arrumar a casa, no empenho com nossos pro-jetos, nas noites em claro estudando para uma prova – olheiras e cabelos despente-ados também são femininos! Ainda estamos por descobrir o quão desdobrável somos. Só precisamos de espaço. No mundo, em casa e dentro das nossas próprias cabeças.

COLUNA VERTEBRALA opinião de quem escreve o jornal

Feminilidade que se desdobrapor Paula Peçanha

EXPEDIENTE:RAIO-X é o Jornal dos Estudan-tes do Diretório Acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo (DAMUFES).Editor Paulo Victor Ferreira MaiEquipe Eduardo Pandini, Thaísa Malbar, Pâmela Hombre, Raquel Monico, Cassio Borghi, Érico Indu-zzi, Paula Peçanha, Aryellen Costa, Juliana Akemi e Hana Higa.Revisão Aline CastelanDiagramação LF DiagramaçãoImpressão Gráfica UFESTiragem 400 exemplaresContato [email protected] www.damufes.br/raiox

Com licença poéticaAdélia Prado

Quando nasci um anjo esbelto,desses que tocam trombeta, anunciou:vai carregar bandeira.Cargo muito pesado pra mulher,esta espécie ainda envergonhada.Aceito os subterfúgios que me cabem,sem precisar mentir.Não sou tão feia que não possa casar,acho o Rio de Janeiro uma beleza eora sim, ora não, creio em parto sem dor.Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.Inauguro linhagens, fundo reinos- dor não é amargura.Minha tristeza não tem pedigree,já a minha vontade da alegria,sua raiz vai ao meu mil avô.Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.Mulher é desdobrável. Eu sou.

Reportagens escolhidas a dedo

Escolher quais temas serão abordados em uma edi-ção é sempre difícil. Dessa vez, porém, os assuntos em voga eram tantos que a di-ficuldade foi escolher quais deles não seriam transfor-mados em reportagem. A presente edição de RAIO- X traz como tema da repor-tagem principal o Núcleo Docente Estruturante. O NDE, como é conhecido, vem trabalhando na rees-truturação do currículo do curso de Medicina, mas, apesar de sua importância, muitos ainda desconhecem sua existência. Também tra-zemos para o nosso leitor um panorama completo so-bre a greve dos servidores, que afetou diretamente o funcionamento do Hospital Universitário.Com a aproximação da for-matura da Turma 83, come-çamos a nos despedir de no-mes ilustres no nosso curso. O grande “Dudu” Pandini contribuiu nessa edição com uma incrível reportagem so-bre transtornos mentais nos estudantes de Medicina, en-quanto o eterno represen-tante do DAMUFES, Renan Muniz, nos presenteou com dois textos: uma matéria sobre o PAD e a Verborragia da edição. Cada linha vale a pena.

Boa leitura!

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ESTADO GERALUm giro de notícias diversas

HUMAN BODIESEm curta temporada, a expo-sição internacional “Human Bodies” chegou ao ES com o convite para uma jornada fascinante através dos corpos humanos. Localizado no Sho-pping Mestre Álvaro, a amos-tra faz um mergulho tridimen-sional para o interior do ser humano e de outros animais. É uma excelente oportunida-de de conhecer os detalhes do nosso corpo como pele, músculos e ossos, dos pés a cabeça. A exposição propõe aos visitantes uma visão mais real do Homem, impactando em reflexões sobre cuidados com a saúde e com o estilo de vida. E o mais interessan-te é que muitos dos corpos

estão em posições semelhan-tes a de pessoas praticando esportes. As peças da amos-tra foram tratadas pelo méto-do de plastinação, possuindo uma conservação permanen-te da textura e da coloração e oferecendo uma beleza visual incrível aos visitantes.

Funcionamento: de Segun-da a Sábado das 14h às 21h (R$20,00 meia entrada*); Domingos das 12h ás 19h (R$25,00 meia entrada*) Informações: www.patrickri-beiroproducoes.com.br

VACINA CONRA HPV NO CALENDÁRIOEm março houve a incorpora-ção da vacina contra o vírus

HPV ao calendário de vacina-ção para meninas de 11 a 13 anos. A vacina tem eficácia comprovada para proteger mulheres que ainda não ini-ciaram a vida sexual e, por isso, não tiveram nenhum contato com o vírus. A inten-ção é reduzir a ocorrência de câncer de colo do útero uma vez que as estimativas apon-tam que 270 mil mulheres morrem, no mundo, devido à doença, que corresponde ao terceiro câncer que mais atinge as mulheres. Cada adolescente deverá to-mar três doses para comple-tar a proteção, sendo a se-gunda, seis meses depois, e a terceira, cinco anos após a primeira dose. Vale ressaltar que a vacina não substitui a realização do exame preven-tivo e nem o uso de preserva-tivo nas relações sexuais.

NOVOS PROFESSORES EFETIVOS EM MARUÍPEA Ufes abriu no dia 24 de março inscrições para o qua-dro permanente e substituto de professores. No câmpus de Maruípe, 3 vagas foram distribuídas entre os Depar-tamentos de Clínica Cirúrgica e Clínica Médica sendo uma vaga para Cirurgia Gastroen-terológica, uma para Cirur-gia Proctológica e outra para Gastroenterologia, todas em regime de trabalho de 20h. As inscrições terminaram no dia 7 de abril.

NOVO CURSO DE MEDI-CINA EM CACHOEIRO?A cidade de Cachoeiro foi uma das pré-selecionadas pelo Mi-nistério da Educação (MEC) para a abertura do curso de Medicina em instituições pri-vadas e recebeu em março a visita de representantes do (MEC) para avaliação. Depois das visitas aos mu-nicípios em todo o Brasil, o MEC publicará um edital com a seleção de faculdades inte-ressadas em oferecer a gra-

duação. Diante disso, o jeito é aguardar o desfecho! GRIPE: CAMPANHA DE VACINAÇÃO A campanha foi do dia 22 de abril ao dia 9 de maio e, com o tema “Vacinação contra a gripe: você não pode fal-tar”, priorizou os grupos mais suscetíveis ao agravamento de doenças respiratórias. O objetivo foi vacinar crianças de seis meses a menores de cinco anos e pessoas com 60 anos ou mais. Foram prio-rizados os grupos mais sus-cetíveis ao agravamento de doenças respiratórias. Além desses, tiveram indica-ção para a vacina os traba-lhadores da área da saúde, povos indígenas, gestantes, puérperas (até 45 dias após o parto), população privada de liberdade e os funcioná-rios do sistema prisional e portadoras de doenças crô-nicas não-transmissíveis ou com outras condições clínicas especiais.

BALANÇO NEGATIVO: APENAS 6% DAS AÇÕES PREVISTAS PARA A SAÚ-DE FORAM CONCLUÍDASDe acordo com o Programa de Aceleração do Crescimen-to (PAC 2) para a área da saúde no Espírito Santo, dos 303 projetos selecionados no programa para o Estado, to-dos sob responsabilidade do Ministério da Saúde ou da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), apenas 18 foram concluídos até dezembro do ano passado. Ainda, em 2011, foram pro-metidas a construção ou ampliação de 159 UBSs (Uni-dade Básica de Saúde), das quais apenas 11 (7%) foram concluídas. Também estavam previstas oito UPAs (Unida-des de Pronto Atendimento), mas, até dezembro de 2013, nenhuma havia sido concluí-da.

por Raquel Monico Cavedo

No dia 11 de março, em solenidade realizada no Te-atro Universitário, catorze professores aposentados da UFES receberam o título de Professor Emérito. Entre eles, renomados docentes do Centro de Ciências da Saúde, como Dr. Dalton Va-lentin Vassallo, Dr. Elisardo Corral Vasquez , Dr. Fausto Edmundo Lima Pereira e Dr. Henrique de Azevedo Futu-ro Neto.Esse título honorífico é con-ferido a professores aposen-tados que se destacaram durante a vida acadêmica pela relevância de serviços

prestados à produção cien-tifica e às instituições em que lecionaram.“Recebi o título por ter aju-dado a implementar o curso e a Pós-Graduação em Ciên-cias Fisiológicas na UFES e por sempre tentar contribuir para a Universidade, mas sei que muitos fizeram até mais do que eu”, afirmou com modéstia Dr. Fausto. “É uma honra ser home-nageado junto de amigos”, acrescentou. Fazendo jus à homenagem recebida, ele revelou, ainda, que já está trabalhando na nona edição do livro Bogliolo Patologia.

por Thaísa Malbar Rodrigues

UFES concede título de professor emérito a docentes do CCS

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Após cursar Odontologia por quase um ano na Universida-de Federal do Espírito Santo e perceber seu interesse mais abrangente pelo corpo huma-no, Dr. Valéria iniciou o curso de Medicina na mesma insti-tuição e graduou-se em 1994. Fez residência em Clínica Mé-dica e em Reumatologia na Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, e continuou sua formação com mestrado e doutorado na Es-cola Paulista de Medicina.

“Mais médicos não resolverão o proble-ma, sabemos disso. Foi jogada política”.

“Dentro da medicina sempre sonhei em ser professora. Queria fazer pesquisa e dar aula. E isso é o mais impor-tante para mim: sou movida pela paixão pelas coisas.”Retornou para a UFES em 2000, como professora subs-tituta, e dois anos depois ingressou como médica no Hospital Universitário Cassia-no Antônio Moraes (HUCAM), assumindo a chefia do Servi-ço de Reumatologia em 2009. Após um período como pro-fessora voluntária, tornou-se professora efetiva em 2010. Só então o conteúdo de reu-matologia foi oficialmente incorporado ao currículo da graduação de Medicina da Universidade. RAIO-X: Por que escolheu a reumatologia?Dra. Valéria: A reumatologia também foi uma descoberta. Fiz iniciação científica em Pa-

tologia Geral, quando estudei inflamação com o Dr. Fausto Edmundo Lima Pereira, que foi meu primeiro orientador; depois em fisiologia, com o Dr. Elisardo Vásquez; e no Núcleo de Doenças Infeccio-sas (NDI) com o Dr. Aloísio Falqueto e o Dr. Reinaldo Dietze. Pensei que iria fazer cardiologia, talvez nefrologia. Então escolhi Ribeirão, por-que lá há uma linha de pes-quisa muito forte na área car-diovascular. Quando passei pela imunologia, e lá a reu-matologia é dada junto com a imunologia, me apaixonei, porque achei muito interes-sante cuidar de um paciente que apresenta sintomas sis-têmicos, que exige raciocínio clínico e cujo diagnóstico é desafiador. Redescobri-me ali e escolhi a Reumatologia exa-tamente porque é uma área que integra conhecimentos e habilidades.

RX: Nos tempos de facul-dade, a senhora partici-pava do movimento estu-dantil? Em que atuava no Diretório? V: Participava. Comecei au-xiliando na organização do arquivo, fui representante estudantil, participei de uma chapa e depois montei uma. No final das contas acho que participei todos os anos; fi-quei um tempo no DCE e outro no DA. Liderei o DA por duas gestões, se não me engano. Nós reativamos um jornal que se chamava “Não deixe passar em branco”.

RX: Que sonhos a senhora tinha dentro da Medicina? V: Dentro da Medicina sem-pre sonhei em ser professora.

Queria fazer pesquisa e que-ria dar aula. Sou bem realiza-da porque faço isso hoje. E isso é a coisa mais importan-te para mim: sou movida pela paixão pelas coisas. Então, o que tive de retorno financei-ro foi consequência, pois não sei fazer uma escolha focada no que remunera mais. Acho que é um direito legítimo do médico querer ser bem re-munerado e eu sou bem re-munerada no meu consultó-rio, mas não escolheria ficar só no consultório, mesmo que aqui eu ganhe menos de dois mil reais como profes-sora. Porém, costumo dizer que meu consultório subsi-dia o meu sonho de continu-ar na universidade. Por isso, uma discussão que deve ser levada adiante é sobre a de-dicação exclusiva dos profes-sores. Na minha opinião, o profissional que está no mer-cado consegue trazer muito mais para o ensino compara-do àquele que fica apenas na ilha da universidade.

RX: A senhora se imagi-nava como chefe? V: Sempre tive um perfil de li-derança, mas chegar à chefia não era uma meta. Vocês vão dizer que sou machista, mas com o tempo fui aprendendo que a biologia feminina e as funções sociais que a mulher exerce limitam um pouco os cargos de chefia. Não é por acaso que temos menos mu-lheres nesses cargos e, sim, porque existe uma vocação importante que é a materni-dade, a família. Assim, o fato de precisar ocupar a chefia - não por um objetivo pessoal, mas para que o serviço fun-cione melhor - sacrifica muito

o lado pessoal.

RX: E como essa chefia foi construída?V: Quando voltei para o HU-CAM, o serviço de reumato-logia tinha dois médicos. Por isso, cheguei respeitando o que já existia. E isso foi muito importante para a harmonia posteriormente, pois hoje te-mos um serviço que tem uma unidade, há respeito pelas pessoas. Então a chefia foi construída aos poucos: fiquei de 2000 a 2009 colaborando e tornei-me chefe como or-dem natural das coisas.

RX: A senhora falou da paixão por ser professo-ra. A participação dos alu-nos acrescenta algo a seu trabalho? V: Sem dúvidas. O aluno é tudo! Acho ótimo o con-tato com os alunos porque isso me motiva a estudar, e o retorno do aprendizado é muito legal. Ver a caminhada do aluno se formando, se ti-tulando e até voltando para a Reumatologia... é muito le-gal mesmo! Na UFES temos ótimos alunos, é muito bom trabalhar aqui.

RX: O que a senhora tem observado no empenho dos acadêmicos hoje em dia, na busca de uma for-mação de qualidade?V: De um modo geral, os alu-nos jovens querem o melhor, eles se posicionam. Isso é muito importante. As peque-nas mudanças dependem, em grande parte, do posicio-namento do aluno em todas as instâncias que ele tem di-reito a participar ou naquelas em que ele se faz presente.

ANAMNESEUm bate-papo com os mestres

Dra. Valéria, muito além da chefia.Valéria Valim Cristo, 43 anos, mãe de dois filhos, pesquisadora, professora e chefe do Servi-ço de Reumatologia do HUCAM. Mulher de fala confiante, concedeu ao RAIO-X a opinião de quem está no caminho para ser um ícone da medicina no ES.

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RX: Que diferenças a se-nhora percebe entre o en-sino médico da sua época de estudante e o atual? V: Tenho observado que te-mos menos modelos de mé-dicos clínicos gerais e isso afeta muito a formação aca-dêmica. A importância do especialista é inegável, mas é preciso ter a mistura dos dois. Precisamos de mais mo-delos de clínicos gerais, mas não temos isso no mercado, esse é o problema. Por isso devemos manter e valorizar aqueles que temos. O ensino centrado no modelo aconte-ce desde Hipócrates e acho que é o que mais funciona: aquele ensino de pessoa para pessoa, no qual ensinamos conteúdo e atitude. Precisa-mos de professores envolvi-dos para isso ocorrer bem e, ao longo do tempo, também tenho percebido que eles es-tão menos envolvidos, seja porque a remuneração está ruim, seja porque está difícil ser da área da saúde e se en-volver.

RX: Essa é a chave para um ensino melhor? V: Sim. E precisamos ter es-tratégias para trazer clínicos gerais, seja para professor, seja para preceptor. Agora com a EBSERH, precisamos reservar algumas vagas para preceptores CCS/UFES, não HUCAM. Porque esse pre-ceptor é apoio de ensino, ele pode ir para o Hospital Dr. Jayme [dos Santos Neves] e para a UBS, por exemplo. Isso é muito importante e a hora é agora, porque está deixando de existir esse “car-go UFES”. Já falei com muita

gente e agora estou falando com o DAMUFES: precisamos segurar 10 a 20 vagas para médicos da UFES que serão concursados para a precepto-ria. Talvez não precisemos ter dez médicos clínicos gerais professores, mas precisamos ter dez clínicos gerais pre-ceptores. Quem vai fazer o ambulatório de clínica geral? Temos alguns médicos daqui fazendo, mas esse ambulató-rio deveria funcionar todos os dias – isso poderia ser a ativi-dade prática da Clínica Médi-ca I, II e III. Então teríamos o especialista, mas também um corpo clínico diariamente.

RX: Estamos passando por tempos turbulentos no que diz respeito à im-plantação da EBSERH e à sucessão da direção do HUCAM. Qual sua opinião sobre tais assuntos? V: Se você me perguntar: “A EBSERH foi uma boa ideia?”, eu vou responder: “Não. Mas foi a única opção que o go-verno federal nos deu.” Há dez anos não ocorria con-curso público; estávamos usando 80% do custeio para pagamento de recursos hu-manos e essa é uma situação insustentável. Acho que se o governo quisesse fazer ges-tão profissional não precisa-ria de uma empresa. Apesar disso, quero que dê certo e o que eu puder fazer para cola-borar, irei fazer. Mas, olhando todo o processo politico, vejo que o governo federal nos encurralou.

RX: Qual a sua análise da medicina a nível nacional e estadual?

V: Tem ocorrido um processo histórico de desvalorização do médico e, infelizmente, o governo fez isso. O Programa “Mais Médicos” foi um grande desrespeito ao Conselho Fe-deral de Medicina e aos médi-cos. Não digo o programa em si, pois ele pode ser discuti-do, mas o fato de ele ter sido empurrado goela abaixo. E mais médicos não resolverão o problema, sabemos disso. Foi uma jogada política.

RX: Em quais trabalhos a senhora está envolvida atualmente? V: Como pesquisadora é mui-to importante ter uma linha de pesquisa. O assunto que eu escolhi foi Síndrome de Sjögren, então esse é meu principal foco de estudo e é uma área de interface com a oftalmologia e com a patolo-gia. Além disso, estou estu-dando imagem em reumato-logia e há uma boa parceria com a radiologia para isso.

RX: Tem ideia de quantos trabalhos científicos já publicou na área de reu-matologia? V: Tenho vinte trabalhos pu-blicados, não é muito. Estou indo fazer um pós-doutorado e o professor que vai me re-ceber tem trezentas publica-ções, então tudo é relativo, não é? Estou no início da minha caminhada, especial-mente porque a minha es-colha foi sair do eixo RJ-SP e é muito mais difícil manter o tônus aqui. Como pesquisa-dora, sou uma jovem ainda.

RX: Conte-nos sobre o pós-doutorado que irá

fazer. Ficará na Noruega por quanto tempo? V: Por um ano, e é um proje-to em família. Vamos em ju-nho. Resolvi ir porque o pes-quisador clínico precisa fazer uma pesquisa translacional. Vou estudar imunologia das mucosas em um Laboratório de Sjögren, na Universidade de Bergen. Será muito bom porque poderei voltar am-pliando a linha de estudo e fazer mais pesquisas experi-mentais junto com a clínica. RX: E como é lidar com a relação entre vida profis-sional e vida pessoal? V: Não é fácil, mas sou muito apaixonada pelo que faço. E eu casei com uma pessoa que é muito apaixonada pelo que faz também (fotografia). En-tão nós nos compreendemos. Porém estou no momento de dosar um pouquinho mais a dedicação à família, porque os filhos exigem mais. Eu acho que se eu fosse homem eu produziria muito mais! (ri-sos). Mas não dá, faz parte da minha felicidade também dar atenção a eles.

RX: A senhora é vaidosa? V: Sou. Mas preciso dedicar mais tempo para mim e es-tou nesse processo analítico de reduzir um pouco minha imersão política nas coisas, porque isso gasta energia. A gente tenta ser a Mulher Ma-ravilha, mas não dá. Alguma coisa tem que dançar... Então eu não tenho nenhuma pre-tensão de cargo político na Universidade. Quero ser pes-quisadora e professora.

por Pâmela Mazzini Hombree Cássio Borghi

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

Dra. Valéria (à esquerda) com as duas primeiras residentes da Reumatologia (fundo) e duas médicas do serviço (frente).

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Médicos no divãMuito comuns entre médicos e estudantes de Medicina, os pro-blemas psicológicos ainda não recebem a devida importância.

No ciclo básico, muitas disci-plinas e pouco tempo. No clí-nico, ao extenso conteúdo se soma a insegurança gerada pelo primeiro contato com os pacientes. No internato, res-ponsabilidades profissionais e estudos para as disputadas provas de residência. Depois de formado, a sobrecarga de trabalho, o estresse, a pres-são para não cometer erros e os muitos problemas de nos-sa saúde pública e dos planos privados.Frente a tantos afazeres e obstáculos, não é difícil ima-ginar a enorme carga de es-tresse à qual o médico é sub-metido desde sua formação. Embora esse não seja um as-sunto muito comentado entre os médicos, estudos recentes apontam que a prevalência de distúrbios psiquiátricos é até quatro vezes mais alta do que na população em geral, e a síndrome de burn-out (cau-sada por estresse prolongado

Na faculdade, o as-pecto psicológico tende a ser despre-zado tanto pelos preceptores quanto pelas próprias ins-tituições e, por que não, pelos próprios alunos.

e intenso, caracterizada por exaustão emocional, distan-ciamento afetivo e baixa re-alização profissional) pode chegar a 40% dos médicos e de outros profissionais de saúde.A maior parte dos trabalhos sobre o assunto aborda es-tudantes de Medicina e mos-tra que a erosão da saúde mental começa bem cedo. Um estudo feito na UFES em 2007, pela professora Angé-

lica Espinosa (veja quadro a seguir), indicou uma pre-valência de 37,1% de trans-tornos psiquiátricos menores (categoria que inclui os trans-tornos somatoformes, de an-siedade e de depressão), um resultado similar ao de outros estudos em outras faculda-des de Medicina no Brasil. No caso dos estudantes, fatores relacionados à personalidade do indivíduo (como individu-alismo e competitividade), a mudança de hábitos com a vida universitária (inclusive com o afastamento do anti-go círculo de amigos e, em alguns casos, da família), a cobrança dos professores, dos familiares e deles pró-prios e o grande volume de matéria a ser estudada pare-cem ser os fatores que mais influenciam a saúde mental. Muitos não sabem que têm algum problema psicológico ou psiquiátrico, e a maioria negligencia a própria saúde

mental como o faz com a alimentação e o sono. O re-sultado disso é um pior ren-dimento na faculdade, com esquecimentos e dificuldade de concentração. Dependen-do da reação do indivíduo a essas condições, ele pode apresentar até mesmo com-portamentos autodestruti-vos - segundo pesquisas nos EUA e no Canadá, a segunda causa de morte mais comum entre estudantes de Medicina é o suicídio, perdendo apenas para acidentes.Muitos consideram esse ex-tenuante nível de estresse e seus efeitos colaterais carac-terísticas inerentes à rotina médica. Assim, não haveria nada a se fazer, senão cum-prir essas demandas. Pensar dessa forma só contribui para que a saúde mental do mé-dico se deteriore ainda mais. Na faculdade, o aspecto psi-cológico tende a ser despre-zado tanto pelos preceptores

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quanto pelas próprias insti-tuições e porque não, pelos próprios alunos. Ninguém se importa se o aluno passa por um problema pessoal ou de saúde, se algum fator exter-no dificulta seu aprendizado ou se ele não progride no curso como esperado. Como se não bastasse, muitos pro-fessores ainda acham que a bronca e a grosseria são um bom método de incentivo. O aluno é desestimulado a admitir seus problemas psico-lógicos, pois eles costumam ser encarados como fraque-za. Não é possível fazer nada a respeito? É claro que não se pode reduzir a quantidade de matéria do curso, nem im-pedir a mudança de hábitos e a cobrança ou tornar a pro-fissão médica menos estres-sante, mas é possível ajudar o aluno a lidar com todos es-ses fatores de uma maneira menos prejudicial e autodes-trutiva.

SOLUÇÕESApoio institucional até existe. O Núcleo de Psicologia Apli-cada, localizado no campus Goiabeiras em frente ao Cine Metrópolis, oferece atendi-mento psicológico gratuito realizado pelos estagiários do curso de Psicologia da UFES. Mas quase ninguém o conhece. E por atender tanto estudantes da UFES quanto pessoas da comunidade ex-terna, nem sempre há vagas disponíveis para todos. Além disso, como a proposta do atendimento é mais geral e inespecífica, ele nem sempre é capaz de contemplar as de-mandas e as particularidades do estudante de Medicina – embora seja um bom recurso para quem necessita de aten-dimento psicológico geral. A fim de preencher esta lacu-na, é necessário se inspirar em projetos como o GRAPAL (Grupo de Assistência Psico-lógica ao Aluno de Medicina da USP), em atividade des-de 1986. A cada semestre, o Grupo convida os primeira-nistas a um atendimento in-dividual para que conheçam o funcionamento do projeto.

A partir disso, a procura pode ser espontânea ou por suges-tão de algum docente, sendo oferecidos atendimentos psi-quiátricos, sessões de psico-terapia, orientação familiar e grupos de reflexão sobre identidade médica e relação médico-paciente. Além disso, o Grupo também participa de discussões sobre a estrutura curricular do curso de Medici-na da USP. Um projeto como esse é essencial tanto para desmistificar ideias pejorati-vas a respeito dos tratamen-tos psicológicos, quanto para promover saúde àqueles que dedicarão sua vida inteira a cuidar do outro.Dentro do curso de Medicina da UFES, infelizmente o estu-dante não encontra ninguém que possa orientá-lo ou for-necer esse apoio psicológico e pedagógico de que neces-sita, embora a demanda seja grande. Ensiná-lo a equilibrar carreira e vida pessoal, re-muneração e tempo livre, e a encarar melhor o estres-se, as cobranças e a morte - são muitas questões, mui-tos problemas, e nem sem-pre o aluno é capaz de lidar com tudo isso sozinho. Ou, muitas vezes, precisa apren-der a administrar melhor seu tempo, mas não tem ideia de como pode fazer isso. Aí deve entrar em ação o apoio psi-copedagógico institucional. Orientar rotinas de estudo e atividades extracurriculares, auxiliar a por vezes difícil escolha da especialidade e fornecer apoio ao estudante, levando em consideração as particularidades da Medicina e os problemas que os futu-ros médicos encontram na fa-culdade e encontrarão depois de formados, tudo isso pode melhorar muito o aproveita-mento dos estudantes e fazer com que eles se tornem me-lhores médicos. A atenção à saúde mental deve começar cedo, ou a frustração e o es-tresse podem consumir o in-divíduo e jamais permitir que ele se torne o bom médico que planejava e poderia ser.

por Eduardo Toffoli Pandini e Thaísa Malbar Rodrigues

229 estudantes de todos os períodos do curso de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo participaram do estudo realizado pela professora Angélica Espinosa em 2007. A prevalência de transtornos mentais comuns (TMC) encon-trada foi de 37,1%, mas alguns subgrupos se destacaram:

- A faixa etária com maior prevalência foi de 20 a 23 anos: 43,3%, contra 33,3% até 19 anos e 21,3% com 24 ou mais.

- Os alunos do ciclo básico apresentaram uma prevalência de TMC de 43,6%, contra 40,3% no ciclo clínico e 27% no internato. Entre os anos do curso, os de maior prevalência foram o segundo (52,6%) e o quarto (53,8%).

- 43% dos alunos sem renda própria apresentaram TMC, contra 27,7% dos que possuíam alguma renda.

- Não houve diferença estatisticamente significante entre ho-mens e mulheres, embora 40% delas apresentassem TMC, contra 34,2% deles. Renda familiar e desempenho acadê-mico também não tiveram significado estatístico segundo a pesquisa.

- Por alguma razão, 66,7% dos alunos que professavam o espiritismo apresentaram TMC, contra 35,2% entre o restan-te dos estudantes.

- Dentre os que não praticavam atividades extracurriculares como esporte ou música, 40% apresentaram TMC.

- Ter dificuldade para fazer amigos foi uma queixa presente 1,7 vezes mais em alunos com TMC do que nos outros estu-dantes, enquanto o sentimento de rejeição teve uma preva-lência 1,8 vezes maior entre os alunos com TMC.

- O relato de ausência de apoio emocional necessário foi 2,7 vezes mais presente entre os alunos com TMC do que entre os outros, bem como história prévia de tratamento psiquiátrico medicamentoso (1,6 vezes mais presente) ou psicoterapêutico (1,5 vezes mais presente).

Resultados da pesquisa com acadêmicos da UFES

MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O NPAO Núcleo de Psicologia Aplicada funciona no câmpus de Goiabeiras, no CEMUNI IV, em frente ao Cine Metrópolis. Todo início de semestre são abertas inscrições para atendi-mento ao público – as últimas foram no dia 24 de abril.

MAIORES INFORMAÇÕES: Telefone: (27) 4009-2509 Site: http://www.ufes.br/node/80

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A Universidade Federal do Es-pírito Santo está entre as me-lhores instituições públicas e privadas do país. Mas apesar dos dezessete mil estudantes matriculados nos cursos de graduação e distribuídos pe-los seus quatro câmpus uni-

versitários, a excelência da UFES passa longe quando o assunto é segurança. Os cursos da universidade es-tão divididos em quatro áreas ou regiões. Há o câmpus de Goiabeiras, o maior deles e onde se localiza o Centro Administrativo; o câmpus de Maruípe, em Vitória, onde se encontra o hospital-es-cola “Hospital Universitário Cassiano Antônio de Mora-es” (Hucam); o de Alegre, no sul do Estado (Centro de Ciências Agrárias – CCA); e o câmpus de São Mateus, si-tuado ao norte (Centro Uni-versitário Norte do Espírito Santo – CEUNES). Em especial no Centro de Ci-ências da Saúde (CCS), aqui retratado, vandalismos vêm ocorrendo com frequência, gerando medo e vulnerabili-dade. Arrombamentos, furtos de carros e equipamentos e roubos ocorrem tanto à luz do dia quanto durante a noite. O fácil acesso às salas de aula, aos laboratórios e aos ambu-latórios, onde se encontram materiais importantes para o trabalho, acaba tornando

A escuridão gera medo e encobre a violência, sendo fundamental que um projeto de ilu-minação seja feito em todo o câmpus.

estes locais alvos frequentes dos furtos.No final de março, houve uma ocorrência com repercussão na mídia local, em que uma bala perdida atingiu o ombro de uma senhora de 79 anos no pátio dos ambulatórios do Hucam. A paciente atingi-da era de Linhares, norte do Espírito Santo, e aguardava atendimento oftalmológico no momento do incidente. Apesar de este fato ter sido inédito no hospital, não se pode excluir a gravidade da situação vivida pelos pacien-tes e funcionários presentes durante o ocorrido.A implementação de um es-

quema de segurança mais efetivo na área do CCS contra furtos e roubos é uma solici-tação unânime da comunida-de acadêmica e dos usuários do sistema de assistência à saúde no Centro. A existência de problemas gerais e focais contribui grandemente para o aumento da violência no câmpus. A iluminação é o fa-tor chave e está presente nas reclamações dos circulantes entrevistados. Após o pôr do sol, a escuridão toma conta da localidade tanto nas áre-as dos prédios de ensino do ciclo básico quanto na área do Hospital e de seus prédios anexos, como o prédio da Patologia e as salas de aula para a graduação, no prédio do Elefante Branco.Assim, quando as aulas ul-trapassam as dezoito horas, os alunos ficam com medo e precisam sair em grupo por receio da violência. Após esse horário, ir para os pon-tos de ônibus, que ficam na área externa ao câmpus, já se tornou uma árdua e temi-da tarefa para os alunos, que se veem obrigados a se expor

Insegurança assusta o CCSO Centro de Ciências da Saúde enfrenta uma onda crescente de violência, que tem atingido alunos, professores e pacientes.

RETROSPECTIVA:Em 2012, uma enfermeira do Hospital das Clínicas foi vítima de um assalto ao sair do plantão. Ela teve o ce-lular tomado e foi obrigada a manter-se junto ao assal-tante durante toda a ação. Como não possuía dinheiro naquele momento, a vítima foi obrigada a sacar uma quantia do seu saldo, no banco do próprio câmpus de Maruípe, e sentar-se em um dos bancos do pátio, aparentando conhecer o assaltante para evitar que o crime fosse percebido por outras pessoas. O fato intri-gante desse caso é que o autor do roubo devolveu o celular e R$ 50,00, dinheiro que deveria ser usado para pagar o táxi da enfermeira.

Breu. Diversos pontos do Centro de Ciências da Saúde não têm ilu-minação à noite.

FOTOS: RAIO-X

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ao perigo devido à falta de segurança. Recentemente, uma aluna de Mestrado foi assaltada ao sair do prédio do Básico, enquan-to se deslocava para o ponto de ônibus em frente ao pátio. Ela relatou ao Jornal RAIO-X que teve o celular roubado e sente medo ao passar pelas áreas sem iluminação e sem vigilância ao anoitecer. Infe-lizmente, casos assim repe-tem-se rotineiramente. Alu-nos dos diversos cursos da área da saúde vêm sofrendo com a insegurança do CCS. Apesar da recente greve que levou ao fechamento da Bi-blioteca Setorial de Maruípe, quando seu funcionamento é normal, os alunos têm evita-do exceder o horário de estu-do devido às condições de in-segurança. A escuridão gera medo e encobre a violência, sendo fundamental que um projeto de iluminação seja feito em todo o câmpus, dan-do ao Centro a iluminação adequada.O retrato da violência tam-bém pode ser evidenciado na depredação das estruturas e do espaço físico. Há várias basculantes com problemas, faltam vidros em janelas de alguns banheiros dos prédios com salas de aula, o que gera certo mal estar aos que ne-cessitam utilizar esses locais. O famoso buraco no muro externo da universidade (foto), localizado nos fundos dos laboratórios utilizados pelo curso de Odontologia, é um exemplo dessa depreda-ção. Durante todo o dia usu-ários de drogas podem ser facilmente vistos utilizando a entrada para acessar o câm-pus, onde fazem uso de subs-tâncias ilícitas. Recentemente uma professora do Departa-mento de Odontologia foi as-saltada próximo ao local.O Centro de Ciências da Saú-de mostra-se em estado pre-cário no que diz respeito aos sistemas de contenção da violência. O breu existente põe em risco todos que cir-culam no câmpus, e isso per-passa os discentes, docentes, funcionários do Hucam e do

CCS, além dos próprios pa-cientes e visitantes do Hospi-tal das Clínicas.É notável que o complexo uni-versitário está desprotegido. Automóveis entram nas áre-as do câmpus sem qualquer sistema de controle de fluxo. Infelizmente, existe uma li-mitação operacional que não permite identificar o número de carros que entram e saem do CCS, tornando o câmpus mais susceptível aos furtos, e não são incomuns queixas de arrombamento de carros nas áreas de estacionamento. Segundo a vice-diretora do CCS, Liliana Aparecida Pi-menta de Barros, todos os ocorridos foram reportados à reitoria, para que se provi-dencie um aumento quantita-tivo na segurança do câmpus. Apesar de serem guardas patrimoniais, seguranças em maior número não deixariam de inibir a ação dos melian-tes. Ainda de acordo com a professora Liliana, a instala-ção de câmeras de seguran-ça, uma aquisição recente da atual direção, também visa a reduzir a ocorrência de furtos nas dependências do CCS. Com relação à iluminação, o planejamento urbano do Cen-tro, apresentado como uma das propostas da atual dire-toria, contempla não apenas sua melhoria, mas também a urbanização e a construção de estacionamentos e cance-las nas entradas do câmpus. No entanto, ainda não há um prazo definido para colocar o plano em prática. Um dos grandes empecilhos seria a sobrecarga da Prefeitura Uni-versitária, responsável pela maioria das obras realizadas na UFES. Uma das propostas da direção do CCS é trazer alguns setores da Prefeitura, como o de compras, para o câmpus de Maruípe, o que agilizaria substancialmente alguns processos.

por Raquel Monico Cavedo

Vista externa do buraco no muro da universidade, localizado atrás dos laboratórios do curso de Odontologia.

As faces da insegurança

Assim ficou o ombro da paciente atingida de raspão por uma bala perdida, em março. O Centro de Ciências da Saúde está localizado em uma região com índices de violência elevados.

Uma das calotas do carro de um acadêmico do curso de Me-dicina foi roubada. O crime aconteceu nos fundos do prédio do Colegiado/NDI, área muito utilizada como estacionamen-to e onde não há vigias ou sistema de segurança.

Sistema de video-monitoramento foi instalado recentemen-te, mas apenas nos prédios do câmpus. Muitos locais onde há circulação de pessoas continuam desprotegidos.

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Este e outros assuntos fo-ram discutidos nas reuniões do DAMUFES, que ocorrem todas as quartas-feiras, às 12:30. Participe!

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NDECONHEÇA O

O Núcleo Docente Estruturante surge com a proposta de adequar o currículo do curso de Medicina da UFES às Diretrizes Curriculares Nacionais do Ministério da Educação.

O Núcleo Docente Estruturan-te (NDE) é definido como um grupo permanente de profes-sores que têm as atribuições de formular e acompanhar o curso a que pertencem, conforme resolve o parecer nº 4 da Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior (CONAES), de 17 de Junho de 2010. O núcleo deve ser constituído por pelo menos cinco professores do corpo docente do curso, que devem possuir liderança aca-dêmica e presença efetiva em seu desenvolvimento. Assim, o NDE deve ser atuante no processo de concepção, con-solidação e atualização do projeto pedagógico do curso.É função do Colegiado Su-perior definir a constituição do NDE, de acordo com os critérios (composição, titula-ção dos membros, tempo de dedicação e de permanência sem interrupção, etc.) esta-belecidos nos instrumentos aplicados pelo Instituto Na-cional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) para avaliação dos

cursos de graduação. A Insti-tuição de Educação Superior deve definir as atribuições do NDE, de forma que estas não se confundam com as do Co-legiado do Curso. Ainda con-forme o parecer da CONA-ES, sendo o NDE um grupo de acompanhamento, seus membros devem permanecer em suas funções por, no míni-mo, três anos, devendo tam-bém ser adotadas estratégias de renovações parciais, de modo a haver “continuidade no pensar do curso”.Como já citado, a CONAES, órgão colegiado de coorde-nação e supervisão do Siste-ma Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), estabeleceu, em 2010, o NDE para as Instituições de Edu-cação Superior. Nessa época, um Núcleo chegou a ser for-mado para o curso de Medici-na da UFES. No entanto, não ocorriam reuniões periódicas e o antigo NDE acabou se de-sintegrando. Em 2013, após a visita dos avaliadores do INEP que resultou em nota três para o curso, o Núcleo

Docente Estruturante foi re-formulado com novos mem-bros e, no dia 17 de outubro

de 2013, ocorreu a primeira reunião do novo NDE. Des-de então, os encontros têm

QUAIS AS FUNÇÕES DO NDE?As atribuições do Núcleo Docente Estruturante foram publi-cadas em Portaria pelo Reitor e compreendem:1. Realizar contínua atualização do Projeto Pedagógico do Curso, redefinindo seus fundamentos;2. Contribuir para a consolidação do perfil profissional do egresso do curso;3. Conduzir os trabalhos de reestruturação curricular, enca-minhando as proposições ao Colegiado do Curso;4. Avaliar e propor, se necessário, alteração e/ou atualização das ementas e das bibliografias;5. Estimular e promover a integração vertical e horizontal do curso, respeitando os eixos estabelecidos pelo Projeto Pedagógico;6. Estabelecer junto aos órgãos competentes, mediante au-torização ou convênio, a política de estágios, atividades prá-ticas e visitas técnicas;7. Supervisionar e acompanhar, juntamente com o Colegia-do, o processo de avaliação do curso;8. Acompanhar as atividades do corpo docente, recomen-dando aos Departamentos a indicação de perfil do docente a ser contratado ou a substituição de docentes, quando ne-cessário;9. Incentivar o desenvolvimento de linhas de pesquisa e ex-tensão, oriundas de necessidades da graduação e de exigên-cias do mercado de trabalho;10. Zelar pelo cumprimento das Diretrizes Curriculares Na-cionais para os cursos de graduação.

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ocorrido mensalmente e em caráter extraordinário sem-pre que necessário.É importante ressaltar que, embora o regimento dos NDEs não contemple a parti-cipação e o direito a voto de discentes nas reuniões, o nú-cleo do curso de Medicina da UFES decidiu permitir a parti-cipação acadêmica, inclusive com direito a voz. Atualmen-te, o representante discente no NDE é o acadêmico Renan Torres, do 9º período.

Na UFES, o NDE pretende atualizar o currículo do cur-so e fiscalizar se as mudanças estão sendo devidamente aplicadas.

Especificamente para a rea-lidade da graduação médica da UFES, o NDE tem o in-tuito de atualizar o currículo do curso e de fiscalizar se as mudanças estão sendo devidamente aplicadas pela direção do Centro, pelo Co-legiado ou pelos professores e seus departamentos. Outra atribuição do NDE é atualizar constantemente o Projeto Pe-dagógico do curso, propondo melhorias nas ementas e nas bibliografias adotadas, pro-movendo a integração dos ciclos básico e clínico e es-timulando atividades extra-curriculares, como iniciação científica e projetos de exten-são.

DIRETRIZES CURRICU-LARES NACIONAISUma atualização das Dire-trizes Curriculares Nacionais (DCN; leia mais ao lado) para os cursos de Medicina está em tramitação no Congres-so e no Senado Nacional. Enquanto a promulgação do novo documento não ocor-re, as atuais DCNs, vigentes desde 2001, são o modelo para as mudanças que serão propostas pelo NDE. Sobre as alterações curriculares que estão sendo estudadas pelo

núcleo, a presidente, pro-fessora Maria Carmem Silva Santos, comenta: “Acho im-provável uma mudança com-pleta do método de ensino. A UFES é uma escola tradi-cional, de forma que nem os professores, nem a estrutura física da escola estão prepa-rados para receber uma nova metodologia”. Assim, o que o grupo docente pretende é incluir no currículo tradicional algumas diretrizes que sejam fundamentais para um cur-

so moderno, com a inserção precoce do estudante no sis-tema de saúde, conforme as sugestões das DCNs.

O QUE JÁ FOI FEITO?Sobre a inserção precoce dos acadêmicos na prática médica, a professora Maria Carmem conta que o pro-fessor Crispim Cerutti é o responsável por tentar viabi-lizar a participação dos alu-nos do primeiro ano do cur-so em Unidades de Saúde,

por meio das disciplinas do departamento de Medicina Social. O processo encon-tra-se na etapa de negocia-ção entre a Universidade e o SUS. Quanto à integração básico-clínico, outro ponto importante abordado pelas DCNs, o NDE está recebendo e discutindo sugestões para, então, elaborar propostas que serão levadas ao Cole-giado. No dia 27 de fevereiro deste ano, foi realizada uma reunião com alunos do ciclo

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) são elabo-radas pela Câmara de Edu-cação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE) e têm o objetivo de orientar as Instituições de Ensino Su-perior na elaboração de seus Projetos Pedagógicos. Se-gundo as próprias diretrizes, os cursos de Medicina devem “constituir o Núcleo Docente Estruturante, atuante no pro-cesso de concepção, consoli-dação e contínua atualização e aprimoramento do Projeto Pedagógico do Curso”. As DCNs em vigor para o cur-so de Medicina foram formu-ladas em 2001. Desde então, muitas universidades ainda não conseguiram colocá-las totalmente em prática, prin-cipalmente no que se refere à inserção precoce do aca-dêmico na prática médica. Após a promulgação da Lei nº 12.871/2013, que instituiu o Programa “Mais Médicos”, fez-se necessária a reformu-

lação dessas diretrizes.O CNE apresentou a proposta de modificação em uma au-diência pública no dia 26 de fevereiro de 2014, antes da votação definitiva. A audiên-cia contou com a participação de representantes discentes do curso de Medicina, de mé-dicos e de instituições de en-sino, assim como integrantes dos Ministérios da Saúde e da Educação.As novas Diretrizes Curricu-lares Nacionais para os cur-sos de Medicina foram final-mente aprovadas pelo CNE no dia 3 de abril deste ano. O novo documento é muito mais específico que o ante-rior, facilitando reformas cur-riculares, como deve ocorrer na UFES, e possibilitando a comparação entre currículos. Outra mudança importante é a obrigação de que 30% da carga horária do internato seja realizada no SUS, tanto na Atenção Básica quanto em Serviços de Urgência e Emer-

gência. O artigo 36 das novas DCNs traz outro ponto rele-vante: os alunos deverão ser avaliados a cada dois anos, sendo essa avaliação, apli-cada pelo INEP, obrigatória e classificatória para progra-mas de Residência Médica.Merece ainda destaque a con-firmação do tempo do curso de Medicina em seis anos, e não oito, como cogitado à época da aprovação da Lei do programa “Mais Médicos”, e o aumento do número de va-gas de residência médica até uma quantidade equivalente à de egressos da graduação, num prazo de quatro anos.As novas DCNs seguem agora para o Ministério da Educa-ção, que deverá analisá-las e homologá-las. As escolas mé-dicas terão, então, um prazo de um ano para se adequa-rem ao novo texto, que de-verá ser aplicado às turmas abertas após o início de sua vigência.

Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Me-dicina são aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação

Docente DepartamentoProfª Drª Maria Carmem L. F. Silva Santos (Presidente) PatologiaProfª MsC Filomena Alencar PediatriaProfª Drª Rosana Alves PediatriaProfº MsC Thiago Sarti Medicina SocialProfº Drº Luis Claudio França Ginecologia e ObstetríciaProfª Drª Mônica Leal Alcure MorfologiaProfº MsC Cláudio Borges Clínica CirúrgicaProfª Drª Eliana B. Caser Clínica MédicaProfº Drº Henrique Ramos Medicina EspecializadaProfº Drº Joselito Nardy Ribeiro Fisiologia

Todos os Departamentos possuem representação no NDE:

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básico, tendo por finalidade catalogar as principais difi-culdades dos dois primeiros anos do curso de Medicina. Outro problema do curso, também ressaltado na avalia-ção do INEP, é a inexistência de um laboratório de habili-dades. No entanto, o labora-

tório é uma responsabilidade principalmente do Centro de Ciências da Saúde. O NDE in-terfere solicitando, adequan-do e cobrando a construção do laboratório (leia abaixo). Nenhuma mudança curricu-lar foi levada ao Colegiado até o momento. O NDE faz,

atualmente, o Planejamento de Capacitação de Docentes, que tem a finalidade de pro-mover cursos de capacitação e desenvolvimento docentes, atuando, por exemplo, na in-teração docente-aluno e na elaboração de provas e de avaliações. Outro foco dos

cursos será a capacitação da preceptoria que, comumen-te, não faz parte do grupo docente. A primeira oficina ocorreu nos dias 16 e 17 de maio deste ano e contou com a participação da professora Rosa Malena, da Universida-de Federal de São Paulo (Uni-

O NDE recebe e discute sugestões para, então, elabo-rar propostas que serão levadas ao Colegiado.

fesp). Os professores serão convocados para uma pri-meira tentativa de mostrar o panorama do ensino médico, com o objetivo de começar a estruturar na UFES um curso de Medicina que esteja de acordo com as DCNs.Para visualizar os pontos fra-cos e fortes do curso de Medi-cina da UFES, o NDE também realizou um teste diagnóstico elaborado pela Comissão de Avaliação das Escolas Médi-cas (CAEM). Nessa avaliação uma escola excelente deve obter 100% de pontuação. A UFES obteve 50,8% (veja no diagrama ao lado).

DIFICULDADESApesar do empenho de seus membros, o NDE tem enfren-tado algumas dificuldades no exercício de suas funções. Não há estrutura física, falta uma sala adequada e pessoal capacitado em secretariado. Quanto ao relacionamento com o Colegiado e os depar-tamentos, não há nenhuma queixa. O núcleo tem traba-lhado em consonância com o Colegiado, que, por sua vez, tem dado o suporte necessá-rio. Entretanto, a presidente do NDE prevê que alguns atritos surjam com o tempo, já que o núcleo deverá refor-mular o Projeto Pedagógico e fiscalizar de perto os departa-mentos para que o currículo e suas futuras alterações não fiquem apenas no papel.

por Paulo Victor Ferreira Maie Aryellen Costa Lebarch

Teste diagnóstico elaborado pela Comissão de Avalia-ção das Escolas Médicas mostra o resultado da UFES

Laboratórios de Habilidades são ambientes adaptados ao treinamento de cuidados em saúde e de procedimentos médicos, através da simula-ção de diferentes cenários, como Enfermaria, Centro Ci-rúrgico e UTI. O objetivo é permitir que os alunos apren-dam a lidar com situações di-fíceis que surgirão durante e após sua formação profissio-nal, sendo uma etapa impor-tante entre a teoria e a práti-ca. Para isso, os laboratórios contam com manequins de alta fidelidade, que intera-gem com os acadêmicos, si-mulando reações, e que são controlados à distância de acordo com a situação pro-posta.No Centro de Ciências da Saú-de, os cursos de Odontologia e Enfermagem já possuem Laboratórios de Habilidades próprios. O curso de Medici-na, por sua vez, é deficiente nesse ponto. A ausência de um laboratório foi, inclusive, um dos quesitos que mais contribuiu para a nota baixa

dada pelo INEP na avaliação do curso, realizada em 2012, já que a presença desse es-paço tem grande importância nas novas Diretrizes Curricu-lares Nacionais. Para superar essa deficiência, o NDE vem estudando, desde suas pri-meiras reuniões, a criação de um Laboratório de Habilida-des para o curso de Medicina. A diretora do CCS, professora Gláucia Rodrigues de Abreu, trabalha em parceria com o NDE nesse sentido. Segundo a diretora, nas compras do ano passado a direção prio-rizou os equipamentos solici-tados pelo curso de Medicina para o Laboratório. Os depar-tamentos de Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Ginecologia e Obstetrícia e Pediatria fo-ram contemplados, e grande parte do material solicitado já se encontra no Centro. O próximo passo é a cons-trução do espaço físico que receberá o Laboratório de Habilidades. Ainda segundo a professora Gláucia, a prio-ridade para o ano de 2014 é

a construção de um bloco de salas de aula e de laborató-rios para suprir a demanda crescente do Centro. Com três ou quatro andares, a obra deve ser estruturada próximo à divisa com o Hos-pital Santa Rita e a licitação deve ser aberta até a metade desse ano. A intenção é que um andar desse prédio seja ocupado pelo Laboratório. Enquanto a construção não sai do papel, a direção do CCS tem estudado, junto com o departamento de Clínica Ci-rúrgica, a instalação provisó-ria do Laboratório de Habili-dades no espaço da Técnica Operatória, que deverá ser utilizado também por outras disciplinas. No início de 2015, a comissão do INEP fará uma nova avaliação do curso de Medicina e a ideia é que os examinadores vejam essas instalações provisórias do La-boratório, assim como o pro-jeto de suas instalações defi-nitivas, permitido que a nota do curso seja melhor nessa avaliação.

NDE estuda a criação de um Laboratório de Habilidades para o curso de Medicina

Profa. Maria Carmem, presidente do NDE

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Hucam enfrenta nova onda de problemasFalta de medicamentos, greve de servidores e redução do número de leitos de UTI marcaram as últimas semanas do Hospital Universitário.

O Hospital Universitário Cas-siano Antônio Moraes (HU-CAM) passou, nas últimas semanas, por momentos difí-ceis. A falta de medicamentos e de insumos básicos, asso-ciada à greve dos servidores técnico-administrativos, exi-giu uma redução do número de leitos funcionantes de UTI e o fechamento de algumas enfermarias do hospital.No entanto, essa situação não é recente. Segundo o professor Reinaldo Dietze, Gerente de Ensino e Pesqui-sa do HUCAM pela Empresa Brasileira de Serviços Hospi-talares (EBSERH), o caos que se instalou nos últimos meses é resultado de uma história de más administrações e de dificuldades na obtenção de recursos e na contratação de profissionais. Um exemplo disso foi a ameaça de fecha-mento do Hospital Universitá-rio no início de 2012 devido ao término de um contrato que desfalcou o hospital em cerca de 300 funcionários. Ainda segundo Dietze, a atu-al gestão, em exercício desde julho de 2013, está traba-lhando para sanar todos os problemas, mas reconhece que esse é um processo len-to e que ainda está longe de terminar.

AGRAVAMENTO DA CRISEUm dos principais problemas ressaltados pela comunidade acadêmica foi a falta de medi-camentos básicos para o tra-tamento dos pacientes. Se-gundo um levantamento feito pelo Diretório Acadêmico de Medicina da UFES (DAMU-

A situação piorou ainda mais com a greve dos servi-dores técnico-ad-ministrativos, que desfalcou o hos-pital também de funcionários.

FES), em novembro de 2013 faltavam analgésicos, an-tibióticos e outros medica-mentos, além de materiais para cirurgias. A situação se agravou e, em abril, faltavam também cateteres de punção venosa profunda, materiais para diálise, tubos orotraque-ais, bombas de infusão, anti--hipertensivos, entre outros.A condição piorou ainda mais após o dia 17 de março, quan-do foi deflagrada a greve dos servidores técnico-adminis-trativos (leia a seguir), des-falcando o hospital também de funcionários. Com isso, o número de leitos de UTI em funcionamento teve de ser reduzido de dez para seis e muitas enfermarias deixaram de aceitar novas internações. Temerosos com a situação precária a que estavam ex-postos seus pacientes, os professores e médicos-assis-tentes do HUCAM protocola-ram uma representação no CRM-ES expondo a situação. Os estudantes de Medicina e os residentes, representados pelo DAMUFES, também ela-boraram um documento de-nunciando a situação crítica

Problemas antigos, ainda sem solução

Elevadores em situação precária passam a maior parte do tempo em manutenção. Quando os quatro elevadores do hospital ficam parados ao mesmo tempo, pacientes e acom-panhantes precisam usar as escadas e a realização de exa-mes, que ocorre no térreo, fica comprometida.

Encanamentos e fiações ficam à mostra em diversos pontos do hospital. Em outros locais, o revestimento de gesso corre risco de cair a qualquer momento.

Muitos leitos vazios ainda são vistos nas enfermarias. Parte deve-se ao déficit histórico de profissionais e parte à greve de servidores, que piorou esse cenário. Com a contratação de funcionários pela Ebserh, mais leitos devem ser ocupados.

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do Hospital das Clínicas. O texto foi enviado ao Ministé-rio Público Federal (MPF), co-brando urgência na resolução dos problemas enumerados.

Segundo Sobral, o abastecimento de medicamentos do Hucam já se en-contra na faixa de 95%.

No dia 10 de abril, o CRM-ES realizou uma fiscalização no interior do Hucam e confir-mou os problemas denun-ciados pelos médicos e aca-dêmicos. Além disso, o MPF emitiu uma recomendação para que a UFES cortasse o ponto dos servidores grevis-tas, “em decorrência da não contraprestação do serviço público durante o período de paralisação”.

LUZ NO FIM DO TÚNELNo início de abril, o Diretor Superintendente do Hucam, Luiz Alberto Sobral Vieira Jú-nior, garantiu à comunidade acadêmica que a compra de antibióticos já havia sido rea-lizada e que a carga seria en-tregue em alguns dias. Além

disso, a EBSERH informou por nota que já havia identificado as necessidades do hospital, cobrado seus fornecedores e feito empréstimos com ou-tras de suas filiais para aten-dimento emergencial.Entrevistado no dia 24 de abril, Sobral contou ao Jornal RAIO-X que o abastecimento atual de medicamentos do hospital está na faixa de 95% e que os problemas enfrenta-dos não foram apenas locais, mas aconteceram também em outros hospitais do país. O diretor ressaltou ainda que, mesmo com esse ocorrido, a situação do Hucam já é muito melhor do que era na época em que assumiu seu cargo. Hoje o hospital realiza proce-dimentos de hemodinâmica e um número muito maior de cirurgias cardíacas, dispõe de um pronto-socorro em fun-cionamento e de mais leitos de UTI. Além disso, o déficit orçamentário devido a con-tratos terceirizados já é muito menor, tendendo a diminuir ainda mais após a contrata-ção dos novos funcionários pelo concurso da EBSERH. Os 737 aprovados devem assumir seus postos gradu-almente a partir de maio, de forma que a situação deve se aproximar da normalidade nas próximas semanas.

por Paulo Victor Ferreira Mai e Érico Induzzi Borges

No dia 29 de outubro de 2013, a Empresa Brasilei-ra de Serviços Hospitalares (Ebserh), por meio de edital publicado no Diário Oficial da União, abriu concurso público com 737 vagas para o Hucam. Dessas, 139 eram destinadas à área médica em 66 especialidades, 526 à área assistencial e 72 à área administrativa.O concurso visava, além da contratação de profissionais, à formação de cadastro de reserva. Segundo matéria publicada no site da UFES, as contratações permitirão ao HUCAM a “reativação de leitos que atualmente en-

contram-se desativados em decorrência da falta de pes-soal e a ampliação dos ser-viços de saúde prestados à população”.Os resultados da prova de títulos e experiência profis-sional e da perícia médica, para candidatos portadores de deficiência, foram divul-gados em 16 de abril no site da EBSERH. Ainda segundo o site oficial da empresa, as convocações serão feitas de acordo com o cronograma de ampliação dos serviços do hospital, de forma pro-gressiva para o atendimento de qualidade à saúde da po-pulação.

SAI RESULTADO DO CONCURSO DA EBSERH Greve de servidores compromete ainda mais a situação do Hospital UniversitárioA EBSERH está sujeita ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obriga-ções civis, comerciais, traba-lhistas e tributárias. Nesses aspectos, o contrato dos fun-cionários pela CLT, e não pelo Regime Jurídico Único, típico dos servidores federais, tem gerado manifestações con-trárias desde a sua implan-tação.No dia 17 de março desse ano, trabalhadores técnico--administrativos deflagraram greve nacional. A pauta das reivindicações é uma retoma-da de pontos da greve ocor-rida em 2012, além de outras estratégias de luta e mobili-zação. A categoria se prepara para mais um ano de emba-tes com o governo em torno da reestruturação da carrei-ra, valorização salarial, con-dições de trabalho e garantia da autonomia universitária. Em maio de 2013, após uma semana de greve, o reitor da UFES assinou acordo garan-tindo a não subordinação dos trabalhadores do HUCAM/UFES à EBSERH. Entretanto, nesse ano, os trabalhadores foram surpreendidos com um ofício do MEC/EBSERH deter-minando a cessão de mais de 800 técnico-administrativos – concursados pela UFES e que trabalham no hospital – para a EBSERH, fato que gerou enorme descontentamento.Segundo informações do Sin-dicato dos Trabalhadores da

Universidade Federal do Es-pírito Santo (SINTUFES), du-rante a greve os programas especiais do HUCAM não es-tão sendo afetados e 30% do efetivo normal está mantido nos outros serviços. No entanto, nos primeiros dias de paralisação, o desa-parecimento de prontuários foi atribuído aos servidores em greve. Também há rela-tos de que os grevistas este-jam coibindo o atendimento a pacientes ambulatoriais. A direção do Hospital Universi-tário divulgou nota posicio-nando-se a favor do direito de greve, mas informando que tomará as atitudes pre-vistas em lei para garantir que os pacientes e usuários do SUS sejam devidamente atendidos. Como se não bastasse, outro fato que gerou revolta foi a entrevista cedida ao jornal local pela representante do movimento grevista, a qual afirmou que os médicos do HUCAM também estariam em greve, o que não é verdade. O saldo da paralisação para a comunidade acadêmica e para a população atendida no hospital não é bom: o núme-ro reduzido de profissionais agravou a condição já precá-ria do Hospital Universitário e foi um dos fatores contribuin-tes para a redução do núme-ro de leitos de UTI funcionan-tes, de dez para seis leitos. Ainda assim, não há previsão para o término da greve.

Servidores encenam com caixões em frente ao PS.

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O Programa de Assistência Dermatológica aos Lavrado-res Pomeranos na Prevenção e Tratamento do Câncer de Pele no Espírito Santo (PAD) é o projeto de extensão mais antigo da UFES. Consolida-do pela parceria entre UFES, Associação Albergue Martim Lutero, Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil, Secretarias Municipais e Es-tadual de Saúde, o programa leva atendimento dermatoló-gico clínico e cirúrgico a 11 municípios do interior do Es-pírito Santo.Fundado em 1987 pelo Der-matologista Carlos Cley jun-tamente com o Cirurgião Plástico Luiz Fernando Soares de Barros, o programa obser-

Extensão Universitária: Programa de Combate ao Câncer de PeleDesde 1987 o projeto leva acadêmicos ao interior do Estado.

MUNICÍPIO - 2013 Atendi-mentos

Criotera-pias

Eletrocauté-rios Cirurgias

Iguaguaçu (Palmeira Sta Joana) 299 110 5 65Afonso Cláudio (Serra Pelada) 237 78 13 30Itarana 270 158 17 43Vila Valério 190 188 4 36Pancas (Lanjinha) 194 109 12 37Laranja da Terra (Crisciúma) 216 127 0 44Baixo Guandu 254 118 5 40São Gabriel da Palha 287 156 12 73Vila Pavão 132 97 0 44Santa Maria de Jetibá 281 185 16 47Domingos Martins 330 218 3 54TOTAL 2690 1544 87 513Média por viagem 244 140 8 46

Número de atendimentos e procedimentos realizados em 2013 por município.

Os alunos saem do HUCAM com destino ao município. Na sexta-feira sai o ônibus com a equipe de Dermatologia e Enfermagem. Na madrugada de sábado saem os alunos da cirúrgica.

Os pacientes possuem pron-tuários, guardados pelo Al-bergue Martim Lutero desde o início do projeto, em 1987. Na chegada ao local de aten-dimento, recebem seus res-pectivos prontuários.

Pacientes aguardam o aten-dimento. De acordo com a cidade, a estrutura é monta-da ou em uma sede da Igreja Luterana, ou em uma escola municipal, ou em uma unida-de de saúde.

No início do dia de atendi-mento, uma triagem é rea-lizada pela equipe cirúrgica, de forma que os pacientes com tumores cirúrgicos rece-bam prioridade para o aten-dimento dermatológico.

GALERIA: Veja como foi o atendimento à população de Afonso Cláudio, em abril.

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vou a alta incidência de tu-mores de pele nos lavrado-res pomeranos, que povoam municípios capixabas. Com viagens mensais, os alunos de Medicina são divididos na equipe da dermatologia e da Cirurgia Plástica. Segundo o Dr Luiz Fernando, hoje as lesões são diagnosticadas em um estágio mais precoce – “Antigamente encontráva-mos muitos tumores gran-des, altamente deformantes”. Melanomas, tumores de pior prognóstico, ainda são fre-quentemente diagnosticados. As viagens ocorrem em um

final de semana por mês. RAIO-X traz fotos mostran-do o atendimento em Afonso Cláudio, em abril deste ano.

Por Renan Rosetti Muniz

Local Data - 2014Itaguaçu (Palmeira Sta Joana) 15 e 16 de MarçoAfonso Cláudio (Serra Pelada) 05 e 06 de AbrilSta Maria de Jetibá (Garrafão) 24 e 25 de MaioVila Valério 07 e 08 de JunhoPancas (Lajinha) 05 de JulhoLaranja da Terra (Crisciúma) 02 e 03 de AgostoBaixo Guandu 30 de AgostoSão Gabriel da Palha 14 e 15 de SetembroVila Pavão 18 e 19 de OutubroSta Maria de Jetibá 08 e 09 de NovembroDomingos Martins 06 e 07 de Dezembro

Calendário Viagens 2014 – Programe-se!

FIQUE ATENTO:Na semana anterior a cada viagem, é enviado um e-mail ao grupo med_ufes convo-cando os alunos a partir do sexto período interessados em viajar pela Dermatolo-gia. Após 4 viagens, o aluno tem direito ao certificado do projeto de extensão, e pode compor a equipe cirúrgica.

Alunos da equipe da Dermatologia iniciando o atendimento aos pacientes.

Após anamnese e exame inicial, os alunos seguem com os pacientes para discutirem com os médicos dermatologistas o diagnóstico/conduta.

Com o diagnóstico , as orientações e encaminhamentos são repassados pelo estudante ao paciente. Prevenção primária é um ponto forte do programa.

Paciente sendo submetida à crioterapia com nitrogênio para retirada de lesões de pele.

Aqueles com indicação cirúrgica são encaminhados para exé-rese imediata. Mas antes recebem atendimento pela equipe de Enfermagem.

Os pacientes cirúrgicos são cadastrados, o que permite a for-mação de um banco de dados para estudos.

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Sala cirúrgica – em cada cidade é montada uma sala para a realização das cirurgias.

Dr Luiz Fernando e Dra Patrícia Lyra orientam os alunos nas cirurgias.

Os alunos da equipe cirúrgica realizam acompanhamento re-gular das atividades do ambulatório de Cirurgia Plástica do HUCAM, durante todo o ano.

Os procedimentos realizados são registrados e a lesão é enca-minhada ao Serviço de Anatomia Patológica do HUCAM para o exame histopatológico e diagnóstico definitivo. Os laudos são entregues aos pacientes na viagem do ano seguinte, exceto se houver sinal de gravidade, em que o paciente é contactado.

37 estudantes da UFES (18 alunos de medicina pela derma-tologia, 12 pela Cirurgia Plástica, 3 em projeto de pesquisa e 4 de enfermagem) foram a Afonso Cláudio em abril. Orientan-do, foram 3 médicos dermatologistas, 2 cirurgiões plásticos, 2 enfermeiras e um técnico em enfermagem.

O projeto conta ainda com o apoio dos servidores da secreta-ria de saúde do município e dos membros da igreja Luterana e Albergue. A Secretaria Estadual de Saúde fornece apoio lo-gístico.

Ver um projeto de extensão tão tradicional da UFES em pleno funcionamento até hoje é, no mínimo, louvável. O PAD aproxima a comunida-de acadêmica da população, com benefícios inquestio-náveis para ambos: para os médicos em formação, pro-

move o contato direto com o paciente, a prática do exa-me clínico e o raciocínio em relação ao diagnóstico e ao tratamento de doenças pre-valentes em nosso Estado, sendo que as doenças neo-plásicas da pele são o foco principal. Além disso, ressal-

to a atuação da equipe de Cirurgia Plástica, através da qual temos a oportunidade de aprendizado prático da técnica cirúrgica, aprimoran-do habilidades não só no ato cirúrgico em si, mas também no seguimento pós-operató-rio dos pacientes assistidos.

Por fim, para a população, o PAD proporciona diagnóstico e tratamento das neoplasias em fases precoces, nos casos mais avançados promove o acompanhamento apropria-do e atinge pessoas que de outra forma não buscariam atendimento de saúde.

OPINIÃO: o PAD, os estudantes e a população atendidapor Willânia Cristine Damm Lourenço

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MEDICINA SOCIALA coluna social do Jornal RAIO-X

O dia 1 de Abril marcou o início das aulas da Turma 94, que foi aprovada no ves-tibular mais concorrido da história da UFES, com uma disputa de quase 100 candi-datos por vaga. As provas da segunda etapa aconteceram nos dia 19, 20 e 21 de janeiro e o resultado foi divulgado no dia 24 de fevereiro. Segundo a Comissão Coordenadora do Vestibular (CCV), foram apro-vados 3.770 candidatos no VestUfes 2014, para um total de 4.162 vagas. A matrícula dos calouros aconteceu no dia 13 de mar-ço, quando foram recepciona-dos pela turma 93 com muita tinta. Em seguida, nos dias 27 e 28 de março, aconteceu a tradicional Visita dos Calou-ros. Como de costume, ocor-reram palestras na manhã do primeiro dia, seguidas de um passeio pela área do ci-

clo básico, na parte da tarde. Já na tarde do dia seguinte, os futuros médicos visitaram as dependências do Hospi-tal Universitário e assistiram à esperada palestra com o professor Paulo Merçon. Para encerrar os eventos, um churrasco de integração mo-vimentou a área externa do Diretório Acadêmico de Me-dicina da Ufes (DAMUFES), mesmo sob chuva leve. A Vi-sita dos Calouros é uma rea-lização da Assessoria de Cul-tura e Eventos do Diretório.A turma 94 traz algumas his-tórias curiosas para o Centro de Ciências da Saúde (CCS). A principal é a dos gême-os Jordan e Jorlan Souza de Andrade, de 18 anos, que inclusive foram destaque nos jornais locais. Ambos estuda-ram juntos desde a infância e agora têm a oportunidade de permanecerem juntos no tão

sonhado curso de Medicina. “Ficamos muito felizes e ali-viados, pois, se apenas um de nós passasse, as coisas iriam mudar muito”, conta Jordan. Outra experiência interessan-te é a da acadêmica Maithê Moraes, 19 anos, que não teve seu nome divulgado na lista de aprovados da primei-ra fase do vestibular, mesmo tendo pontuação para isso. Depois de muita preocupação

e muita correria na CCV, Mai-thê conseguiu fazer as provas da segunda etapa... Na sala reservada para deficientes, gestantes e mães com bebês de colo!Apesar das dificuldades, to-dos são agora da mesma tur-ma e aguardam ansiosamen-te pelas experiências que o curso lhes proporcionará.

por Paulo Victor Ferreira Mai

Turma 94 chega ao CCS

Turma 94 sendo recepcionada durante a matrícula

Acadêmicos participam do Dia Mundial do Rim

No dia 13 de março foi come-morado o Dia Mundial do Rim. Por meio de ações realizadas em todo o Brasil, a Sociedade Brasileira de Nefrologia obje-tivou divulgar as informações mais relevantes relacionadas às doenças renais, com foco na prevenção. Sempre no mês de março, há mais de 10 anos, essa campanha visa tornar conhecidos pela popu-lação os principais fatores de risco para as Doenças Renais Crônicas (DRCs), que afetam 10% da população adulta e de 30% a 50% dos idosos.No Espírito Santo, o Dia Mun-dial do Rim foi organizado pelo Serviço de Nefrologia do Hospital das Clínicas e duran-te todo o dia, médicos nefro-logistas, enfermeiros, assis-tentes sociais, nutricionistas, psicólogos e alunos dos cur-sos de Medicina e Nutrição atenderam, gratuitamente, a

população, distribuídos em locais como a Praia de Cam-buri, o HUCAM e o Centro de Convivência para a Terceira Idade, no Bairro Maria Ortiz. Durante a campanha, que contou com distribuição de material informativo, avalia-ção antropométrica, orien-tação nutricional e palestras sobre prevenção, houve dis-tribuição de água mineral simbolizando a importância do hábito de beber água para preservar a saúde dos rins.

O HUCAM participa desta campanha internacional des-de o ano de 2006, em virtude dos altos índices de DRC na população e em todo o mun-do. Indivíduos com diabetes, hipertensão arterial sistêmi-ca, bem como parentes de portadores de doença renal são considerados pacientes de risco elevado, cuja pro-gressão pode ser retardada quando a lesão renal é detec-tada precocemente.

por Érico Induzzi Borges

Acadêmicos em divulgação na Praia de Camburi

Mais uma calourada entra para a história

Após o sucesso da MEDFEST e, infelizmente, um semestre sem calourada, os estudantes de Medicina da UFES viram acontecer uma bela festa. O evento, organizado pela Tur-ma 93, aconteceu no dia 17 de maio, no espaço de even-tos do Recreio dos Olhos.Como atrações principais, Daniel Caon e BlocoSamba agitaram a festa, que contou também com participações especiais de Breno e Lucas e Romulo Aranttes. Bebida não faltou: cerveja, suco gummy, vodka, canelinha, catuaba e rodadas de tequila, com água e refrigerante liberados.Além disso, quebrando a linha dos tradicionais atra-tivos, a galera que chegou cedo pode se divertir no fute-bol de sabão, que funcionou até as 17h.

por Érico Induzzi Borges

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HEMOCULTURA

50%: O modelo de Ku-bler-Ross aplicado no cinema.

Você não fuma, não bebe...e até mesmo recicla. Mas pode ter uma câncer que pode mu-dar toda a sua vida. Basicamente, essse é o as-sunto abordado no filme “50%” (50/50, no título ori-ginal), lançado em 2011. O jovem Adam, protagonizado pelo ator Joseh Gordon-Le-vitt recebe a notícia de que tem um Schwannoma (tu-mor originado das células de Schwann que recobrem os nervos) na coluna, que dá ao protagonista 50% de chance de sobreviver. Apesar de todo o melodrama esperado para um filme sobre câncer, o dire-

tor e o roteirista conseguem inserir a trajetória do per-sonagem em uma comédia dramática, gênero incomum para o tema.A princípio, pode-se perce-ber que a reação do perso-nagem frente a um tumor com um prognóstico sombrio

é exageradamente apática. Mas durante o filme, é pos-sível perceber a transição do personagem pelas fases do Modelo de Kubler-Ross (ne-gação, raiva, barganha, de-pressão e aceitação) de for-ma brilhante.

por Hana Higa

Sensibilidade: o folk de Fitzsimmons!

PRESCRIÇÃOMUSICAL

William Fitzsimmons é um cantor norte-americano de folk. Compositor e dono de um talento especial, entrela-ça acordes e versos que se completam com incrível sen-sibilidade, compondo músi-cas primorosas. Na verdade, é aquele artista que quase ninguém conhece, mas quem ouve se apaixona. Fitzsimmons tem seis álbuns lançados e uma história de vida peculiar. Filho de um casal de músicos cegos, sua maior influência provavel-mente surgiu daí, sendo pro-ficiente em violão, guitarra, banjo, escaleta, cavaquinho e bandolim. Cada um desses instrumentos foi minuciosa-mente escolhido para a com-posição final de cada álbum.O mais recente trabalho de William é o CD Lions, lançado em fevereiro de 2014, que se mostra diferente dos álbuns anteriores ao dispensar al-guns dos floreios eletrônicos. O grande triunfo foi o anúncio da belíssima Centralia, cujo clipe foi gravado em duas câ-meras que se revezam entre um plano alternativo e um close em seu rosto. O belo vocal vem acompanhado pelo dedilhar no violão de uma maneira íntima e introspecti-va. Algo ímpar.

por Raquel Monico Cavedo

PRESCRIÇÃO CINEMATOGRÁFICA

Banca da Carol: boa leitura, bons filmes, boa música

Bancas vendem apenas re-vistas e jornais, certo? No máximo apostam em bes-t-sellers, chicletes e balas. Mas essa banca é bem dife-rente. Aberta há treze anos, há sete a Banca da Carol aluga filmes dos mais varia-dos gêneros. Em pastas, as capas dos DVDs se dividem nas seções de “Comédia”, “Faroeste”, “Suspense”, “Ci-nema Europeu” e outras vá-rias. Woody Allen e Charlie Chaplin têm seções rever-vadas só para eles. Com uma excelente e vasta cole-

ção de filmes “alternativos” e tipo “catálogo” (que não estão nem no Netflix, nem disponíveis para baixar), a banca também não deixa a desejar em sua lista de lan-çamentos. Além disso, os atendentes do lugar realmente conhe-cem e gostam de cinema e, por isso, sabem lhe acon-selhar quando você está em dúvida sobre qual filme locar e lhe dão dicas como “para conhecer esse diretor, deveria começar por esse filme aqui”. Também não têm medo de dizer quando o filme é ruim e sempre se dispõem a conversar sobre cinema, música ou sobre

algum fato da vida se você estiver a fim. O preço do aluguel? Menos da metade do que é cobrado em qual-quer locadora convencional. A banca também vende jor-nais, revistas, livros, CDs, DVDs e até vinis. E, para completar, geralmente a música ambiente é um bom e velho rock’n’roll.A Banca da Carol fica na Rua Francisco Eugênio Mussie-lo, Jardim da Penha (perto dos Correios), e funciona de 07:00 às 19:15 de segunda a sábado e de 7:30 às 12:15 aos domingos. O telefone é (27) 3081-6518.

Por Thaísa Malbar Rodrigues

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VERBORRAGIA

A seção Verborragia publica artigos escritos por alunos e ex-alunos de Medicina da Ufes. As opiniões aqui divulgadas não necessariamente condizem com a opinião do jornal.

A chamada ‘Comunidade Acadêmica’ da UFES é constituída por mais de 25 mil pessoas, um número superior à popu-lação de muitos municípios capixabas. É importante que se compreenda a diversidade desta comunidade, bem como os três segmentos que a constitui e suas representatividades: os docentes (professores), os servidores técnico-administrativos em educação (TAE’s), e os discentes (alunos), que possuem como entidades representativas, respectivamente, ADUFES, SINTUFES e os Centros/Diretórios Acadêmicos.A Universidade é regida em todas as suas instâncias pelos docentes e, como ambiente democrático, possui representan-tes dos outros dois segmentos em todas elas. A influência dos TAE’s e dos estudantes é determinante para que qualquer medida seja implementada. Ainda, os cargos de chefia, seja de Diretor de Centro ou Reitor, são cargos eletivos e seus ocupantes são escolhidos pela comunidade.

O trabalho sério no dia a dia é que implementará as melhorias.

Os TAE’s possuem um sindicato que muito barulho causa, com atuação sinérgica com outras universidades em nível nacional, e as greves têm sido anuais. O modelo grevista é o mesmo desde a criação da universidade. Obsoleto, traz muitos preju-ízos à comunidade acadêmica, em especial aos estudantes, e tem atingido pouco o governo federal. Vemos uma leniência por parte dos gestores universitários com o movimento pare-dista - talvez a preocupação com as próximas eleições expli-que. Claro que certas causas são mais do que justas, mas o modo de lutar por elas deve ser repensado.A remuneração dos docentes, por exemplo, chega a ser ve-xatória. É o descaso governamental com a educação. Entre-tanto, a associação da ADUFES com o SINTUFES para uma greve geral já se mostrou não ser um caminho eficaz para as reivindicações. Os estudantes possuem papel fundamental e espaço estatu-tariamente garantido nas instâncias deliberativas: é a chama-da Representação Estudantil. Para cada 4 componentes não alunos, temos o direito de ter um Representante Estudantil (RE). Os alunos de Medicina têm ocupado esses espaços nos Departamentos, Colegiado e Conselho Departamental, por meio de conscientização e orientação dos estudantes feitas pelo Diretório Acadêmico. A proximidade com os professores e as discussões nesses espaços trazem grande aprendizado e formação crítica para o aluno. Ainda, contribuímos de forma ativa para o desenvolvimento e melhoria de nosso curso.A extinção do Regimento do HUCAM com a chegada da EB-SERH decretou o fim do ‘Conselho de Deliberação Superior

do HUCAM’. Este era o espaço no qual os Departamentos e estudantes de graduação e Residência Médica vinculados ao hospital estavam representados. Representava o elo entre o CCS e a direção do HUCAM. Até o momento, não foi criada instância com composição semelhante para garantir a vincula-ção CCS-HUCAM (apesar de a atual direção ser composta por considerável número de docentes). Hoje não há espaço regi-mentalmente estabelecido para a atuação da Representação Estudantil junto à Direção do HUCAM. É necessário que este espaço seja incorporado à nova estrutura administrativa – a permanência dessa cadeira foi, inclusive, condição imprescin-dível para a adesão à EBSERH.A atuação do Diretório Acadêmico de Medicina (DAMUFES) é norteada pela cooperação com a administração da universida-de. O trabalho sério no dia a dia é que implementará as me-lhorias. No entanto, o Diretório não deixa de realizar cobran-ças e manifestar-se sempre que necessário. Como exemplo, o documento enviado ao Ministério Público em abril cobrando solução para a falta de medicamentos e insumos no HUCAM associada aos prejuízos da greve dos servidores foi a forma encontrada de buscar resolubilidade para o problema que se arrastava há cerca de seis meses. Não significa que os alunos estejam contra a Direção, muito pelo contrário, representa a busca de soluções em conjunto, objetivando o envolvimento de uma entidade cuja competência tem muito a acrescentar.Além de posicionar-se criticamente, a organização de ativida-des e eventos faz parte do escopo do DAMUFES. Marcando o ano de 2011, o Diretório promoveu as comemorações dos 50 anos de existência do curso de medicina da UFES, o Jubileu de Ouro. Foi um ano especial para nosso curso, no qual foram realizadas solenidades no Elefante Branco e na Assembleia Legislativa, um fórum médico no CRM e um Baile de Gala. A primeira turma foi homenageada e diversos ex-alunos com-pareceram. Naquele ano o professor Carlos Alberto Redins lançou o livro “Escola de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo: 50 anos de História”, leitura obrigatória para quem quiser saber a história desse curso. Congressos e fó-runs são periodicamente realizados pelos alunos. Ainda, claro, os eventos esportivos, como o intermed e as olimpíadas regio-nais dos estudantes de medicina, que promovem a integração entre as escolas médicas do Espírito Santo e Rio de Janeiro.Merece notoriedade também este jornal, o RAIO-X. Principal veículo de comunicação, é amplamente elogiado no meio aca-dêmico, mesmo que nem sempre todas as matérias sejam bem aceitas. A discussão dos assuntos extra-universidade, de âmbito médico e político, permeiam os debates no Diretório. O apartidarismo existente no DAMUFES é o principal fator de sucesso de nosso Diretório.A participação ativa dos estudantes na vida acadêmica reflete uma Universidade comprometida com o aprimoramento e a renovação, é um sinal de otimismo para o futuro.

Representatividade Acadêmicapor Renan Rosetti Muniz