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1 Ragner Rodrigues Gomes Morais MÁSCARA DE SANGUE 1ª Edição Edição do Autor 2010

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Ragner Rodrigues Gomes Morais

MÁSCARA DE SANGUE

1ª Edição

Edição do Autor

2010

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Agradeço a Deus primeiramente;

À Linda Minha, por acompanhar diariamente a história;

Caro Daniel, pela dica privilegiada e pela orelha do

livro;

Patrícia, por iniciar uma revisão;

Bianca (“Amor da minha vida”, piada interna), por ser a

1ª a tentar passar pro PC;

Paulo Roberto, pela excelente capa;

Agradeço também à Rachel Kopit, pela oportunidade de

observar a obra e ao meu caríssimo camarada Prof.: João

Henrique Rettore Totaro, pela revisão inestimável.

Dedico à Pai (que agora me vigia do céu), Mãe e minhas

Irmãs.

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Aquilo que não me mata, me fortalece - Nietzsche

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UM

Século XV

A noite estava extraordinariamente escura. A lua

cheia não conseguia iluminar nada naquela região.

Chovia de forma torrencial por toda a Romênia, mas a

área mais castigada pela chuva era a Transilvânia –

Região central da Romênia, cercada pelas montanhas dos

Cárpatos.

O castelo de Vlad Tepes – Conde Drácula – estava

cercado por aldeões revoltados e extremamente

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assustados. Comandados por Van Helsing, aglomeravam-

se para acabar de uma vez por todas com o reinado de

terror imposto pelo conde sanguinário.

De uma de suas torres, a mais alta e sombria,

Drácula observava a massa de aldeões que se formava

nos arredores de suas terras. Desceu as escadas,

calmamente, e foi até seu salão de armas, pegou uma

espada (com a qual matou centenas de pessoas), e foi para

fora do castelo, parou de frente para o imenso portão que

o separava dos camponeses enraivecidos e aguardou. Ele

sabia que não conseguiria enfrentá-los sozinho, sabia que,

por mais poder que tivesse, a vantagem numérica contra

ele era absurdamente superior, e sabia também que seus

inimigos não desistiriam por nada, até matá-lo. Sabia que

era seu último momento de existência. Mesmo sendo

imortal, encontrariam uma maneira de exterminá-lo.

Manteve o gelo que percorria suas veias. Os rangidos nos

portões não o amedrontavam. Os barulhos

ensurdecedores dos trovões e as investidas contra seus

muros e portões não interferiam em sua serenidade.

Utilizou seus poderes telepáticos e invocou uma matilha

de lobos. Três lindas vampiras (há pelo menos 50 anos,

Drácula seqüestrou três jovens virgens de diferentes

povoados, uma ruiva, uma loura e uma morena, todas

muito claras: a morena, em especial, parecia uma gueixa -

as concubinas orientais - de tão branca; elas foram

transformadas uma semana depois de serem seqüestradas

e de ficarem presas num calabouço fétido e úmido; com o

tempo, foram esquecidas, era como se nunca tivessem

existido, e até seus pais perderam a esperança de poder

reencontrá-las) apareceram a seu lado, juntamente com

escravos transformados em zumbis. O fim estava cada

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vez mais próximo, mas ele levaria consigo o máximo

possível de pessoas para o inferno e Van Helsing seria seu

principal alvo.

Ele ainda tinha um plano.

A queda do portão aconteceria em questão de

segundos, agora. Junto com o som dos aríetes e dos lobos

que, ora uivavam, ora rosnavam, gritos de euforia e

horror se tornavam mais altos e a tempestade ficava ainda

mais forte. O lamaçal provocado pela torrente fazia com

que as pessoas escorregassem, muitas se machucavam

caindo no chão ou batendo contra os muros, mas mesmo

assim, a fúria contra o Conde era maior, e não desistiram

da investida contra os portões.

Um estrondo ecoa pela noite, os aldeões correm

para dentro do castelo sem se importarem com o que

estivesse a sua frente. Sangue e lama se misturavam com

a água da chuva. Cabeças de gente se chocavam com

cabeças de lobos. A última batalha começara.

As vampiras rasgavam, sem qualquer piedade,

pescoços a mordidas, elas lutavam enlouquecidas, cada

uma conseguia matar até quatro pessoas de uma

investida só, mas com o tempo foram mortas, com os

peitos dilacerados por estacas e depois decapitadas.

A loucura que se seguia era descomunal. A

barbárie era proporcional ao ódio que cada grupo sentia

pelo outro. Drácula matava com uma ferocidade nunca

vista antes, seus inimigos tombavam ao seu lado sem

reação aos seus golpes. Como um guerreiro sanguinário,

ele se banqueteava com o sangue que jorrava a sua frente.

Ele se viu cercado por 20 aldeões, mas conseguiu matar a

todos com sua espada e com mordidas. Com a boca

ensopada de sangue, ele grita de prazer. O sangue

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alimentava ainda mais sua força e saciava sua sede. Sua

fúria parecia não ter limite. Com os olhos em chamas, ele

procura por Van Helsing, e cada pessoa que encontrava

pela frente era assassinada violentamente, cortada ao

meio ou decapitada.

Os lobos aos poucos foram exterminados, os

zumbis também. Os aldeões que ainda restavam

rodearam Drácula. Van Helsing aparece no meio da

multidão todo ensangüentado. Joga aos pés do conde a

cabeça de um zumbi, olha para ele e segura uma estaca

em cada mão. Os dois se encaram e rapidamente se

atacam. Drácula consegue morder o pescoço de Van

Helsing, que também consegue acertá-lo, cravando-lhe as

duas estacas no peito.

DOIS

Século XXI

AAAAAAHHHHHHHH!!!!!!!!!!!!!

Um grito ecoa pela noite de lua crescente, em um

pequeno vilarejo nos arredores de Bangkok. Enquanto

isso, do outro lado do mundo, mais precisamente no

Brasil, um jovem arqueólogo chamado Dionísio navega

pela Internet, pesquisando sites sobre Krav Magá (uma

luta israelense). Dionísio tem 30 anos, 1,80m, 75kg bem

distribuídos por anos de prática em artes marciais (é

mestre em Kung Fu, Muay Thai, Aikidô e Tai Chi Chuan,

possui um grande acervo de vídeos, revistas e pastas

sobre tais assuntos), adepto ao montanhismo e pára-

quedismo, praticante de Highliner (corda bamba em

lugares altos), Parkour e skate, possui a pele morena,

cabelos negros cortados em estilo surfista (hábito que

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mantêm desde os 15 anos) e duas tattos (um tubarão

tribal na panturrilha esquerda, um curinga com o lema da

revolução francesa – Liberte, Egalite, Fraternite – no

tríceps do braço direito.

Um e-mail acaba de chegar com o seguinte

assunto: “Encontramos uma máscara”. Com a mensagem:

“Encontramos uma máscara e acreditamos que é a que o senhor

está procurando”. Uma foto estava anexada. Ao visualizá-

la, uma expressão de contentamento, seguida de outra de

preocupação e horror se forma em seu rosto.

Imediatamente Dionísio coloca algumas roupas

em uma pequena bolsa de viagem, liga para o aeroporto e

consegue uma passagem para Nova Deli. Ele vai se

encontrar com seu ex-professor de história medieval e

moderna do Leste europeu e dos Bálcãs - e também seu

maior fornecedor em artefatos arqueológicos -, que

atualmente mora na capital indiana.

Chegando à Índia, Aurélio já o aguardava no

aeroporto.

- Precisamos ir depressa para a Tailândia.

- Como foi de viagem? Como você está? Há

quanto tempo não nos vemos?

- Desculpe-me minha falta de educação

momentânea – Dionísio abraça Aurélio e os dois sorriem.

- Desculpado. – os dois andam pelo saguão do

aeroporto. – Os vôos internacionais não são assim fáceis

de conseguir tão rápido por aqui.

- Estou por dentro. Tentei uma passagem direta

com ponte aérea aqui, mas consegui apenas uma

passagem para cá, já que tinha intenção de chamá-lo para

viajar comigo, e agora é tentar conseguir passagens aqui.

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- Eu já acertei isso, e nosso vôo sairá em duas

horas.

- Duas horas? Vai demorar!...

- Você está mesmo com pressa!

- Você também vai ficar, depois que eu lhe contar

tudo...

Dionísio e Aurélio vão até um restaurante

próximo. Cada um pede um refrigerante e se sentam em

uma mesa na calçada.

- O que de tão importante ou incrível te trouxe até

aqui?

- A máscara.

- Que máscara?

- Vou tentar com maior dramaticidade: - Dionísio

se aproxima de Aurélio, cerra um pouco as sobrancelhas e

o encara. - A máscara.

Como se um raio tivesse passado pelo corpo de

Aurélio, ele entende.

- O quê?! – Aurélio se levanta da cadeira e coloca

as mãos na boca – Você está dizendo que encontrou a

Máscara da Morte?!?

- Uma das expedições em Bangkok, que eu

supervisionava, encontrou a máscara.

- Você encontrou a Máscara da Morte?!

- Sim. – Dionísio segura o braço do companheiro e

pede para que ele se sente. – Em uma de suas aulas, você

disse que ela tinha o poder de transformar em vampiro

qualquer pessoa que a usasse.

- Exato! Com todos os poderes que as lendas

vampíricas podem reservar! As fraquezas também estão

incluídas. A máscara é um conto popular, uma lenda...

Nunca imaginei que existisse de verdade e muito menos

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que alguém poderia encontrá-la!... – Ele se debruça na

mesa e se aproxima de Dionísio: – Vampiros não existem.

- Uma parte de mim sempre acreditou, e parece,

agora, que você está equivocado: ela existe, não é apenas

uma lenda. Há alguns meses, eu estava na Tailândia e

encontrei uma espada com uma inscrição em romeno:

“DRÁCULA” (filho do dragão). Em meus registros,

durante a última batalha entre Van Helsing e Vlad Tepes,

os dois morreram. Vlad teve seu corpo enviado para

algum lugar distante, onde nunca mais seria encontrado,

mas existe também a idéia de que seu corpo teria sido

esquartejado. Como tinha encontrado a espada, pensei em

começar uma busca pelos seus restos.

- Em momento algum, não pensou que seria

melhor deixar o que estava perdido continuar perdido?

- Esse é nosso dever: encontrar o que está perdido.

- Eu sei, mas não achou que, nesse caso,

especificamente, poderia abrir uma exceção?

- Fiquei entusiasmado e não pensei no perigo que

isso representava.

- A máscara, já que existe, dará poderes

sobrenaturais àquele que a usar. Com um corpo humano,

um corpo vivo, o vampiro teria seus poderes, já

surpreendentes, aumentados substancialmente a um nível

inimaginável. Sua normal sede de sangue é para se

manter existindo, para manter sua força, pois seu corpo é

fraco; como o transformado está vivo, já possui um corpo

forte, o sangue passaria a dar-lhe mais força, e seus

poderes seriam grandiosos.

- Assim você me assusta! Então, se ela cair nas

mãos de um louco, o mundo poderia não ser um local

seguro...

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- A não ser que a destruíssemos.

- E se alguém a usasse?

- Somente um ser humano sem medo da morte

conseguiria destruir o vampiro.

- Ser humano sem medo? Parece revista em

quadrinhos do Demolidor!

Os dois se olham e sorriem.

- Criaturas das trevas pressentem o medo,

fortalecendo-se ainda mais, e isso também se aplica à

máscara. Um ser humano sem medo da morte faria com

que a criatura sentisse medo dele. Entende?

- Sim. Rezemos então para que ela não seja usada

para isso. Teremos que destruí-la quando chegarmos lá!

- Você não deveria tê-la procurado.

- Eu sei...

Os dois voltam para o aeroporto e seguem para a

Tailândia.

TRÊS

Três horas atrás, no Japão, Irina Minarovna,

modelo russa e namorada de Dionísio, gravava um

comercial para um canal da televisão japonesa.

Recrutada pelo serviço secreto russo - na época,

soviético - quando ainda era jovem, é uma espiã

experiente (nem mesmo Dionísio sabe dessa sua outra

vida). Nascida em 02 de julho de 1972 em Ulyanovsk, às

margens do Volga, mudou-se para Berlim quando

completou quatro anos de idade. Viajou por toda Europa

com os pais, um diplomata alemão e uma enfermeira

russa, e fala fluentemente seis idiomas: russo, alemão,

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inglês, mandarim, espanhol e português. Aos dezesseis

anos, começou sua carreira de modelo em Madri, e aos

dezenove, seus pais foram assassinados violentamente

por um delinqüente que estava alcoolizado e drogado.

Durante essa época, começou a estudar Direito e

mostrou-se extremamente disposta a levar o culpado a

julgamento, mas ao ver que as leis se mostravam muito

clementes, aprendeu a atirar, conseguiu porte de armas e

aprendeu defesa pessoal. Arquitetou então um plano para

fazer justiça contra aquele que destruiu parte de sua vida,

quando um oficial do exército russo apareceu em seu

caminho: não deixou que ela tirasse a vida do assassino,

mas julgou-o e o executou na frente dela e então a

recrutou para servir a seu país.

Irina recebe uma mensagem de um informante

que está na Tailândia: “Uma máscara foi encontrada, e

acreditamos que possa ser a que a camarada está procurando”.

Ela entra em contato com seus superiores, negocia com

seus produtores uma possível pausa e adiamento na

finalização das gravações e vai para Bangkok.

Dionísio e Aurélio também chegam a Bangkok e

hospedam-se em um hotel nos subúrbios da cidade;

Dionísio envia imediatamente uma mensagem para que

seus arqueólogos o encontrem no hotel. Como a viagem

foi longa e a comida no avião não era muito interessante,

eles saem para almoçar em um restaurante próximo.

- Estou muito ansioso para vê-la! – disse Dionísio.

- Eu não estou nem um pouco, e lembre-se:

quando a tivermos em mãos, vamos destruí-la!

- Eu não vou me esquecer disso, pode ter certeza.

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Nesse exato momento, Irina chega ao aeroporto e

se encontra com um de seus informantes.

- Bom te ver, Dimitri! Onde está a máscara?

- Micael a roubou.

- Como assim? O que você quer dizer com isso?

- Fomos traídos. Micael está com ela.

- Temos que encontrá-lo urgentemente; se ele a

usar, teremos sérios problemas! – Os dois saem do

aeroporto e entram num táxi. – Já fez reservas no hotel?

- Já está tudo arrumado.

- Vamos almoçar primeiro, porque estou faminta;

aí você me conta tudo o que tem acontecido. Conhece

algum restaurante bom por aqui?

- Sim, camarada Irina.

Dionísio e Aurélio sentam-se a uma mesa de canto

no restaurante, pedem comida e conversam sobre o

tempo durante o qual não se viram.

- O que você tem feito na Índia?

- Desde que saí do Brasil, viajei por vários lugares

pelo mundo. Em uma dessas viagens, tive que parar em

Nova Deli, pois o avião teve que fazer uma escala na

cidade para abastecimento. Nunca mais sai de lá.

Apaixonei-me pelo povo, converti-me ao Budismo, que é

a segunda maior religião do país - atrás do Hinduísmo -, e

comecei a lecionar história em uma escola para crianças

carentes. A maioria da população é desprovida de

educação, não cobro para ensinar, escrevo livros e é assim

que me mantenho, assim que pago minhas contas.

- É difícil viver como escritor num país como a

Índia?

- Em parte, sim. Nossa visão da Índia é um pouco

distorcida. O povo não é de todo carente, pobre, existem

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também lugares prósperos e pessoas abastadas, existe o

povo que tem educação, mas tudo isso é mal distribuído,

existe muita desigualdade devido à diferenciação exigida

pelas castas. A comercialização da maioria de meus livros

está mais voltada para o mercado internacional. Vivo

muito bem para os padrões indianos.

Nesse exato momento, Irina e Dimitri entram no

restaurante e Aurélio os vê.

- Aquela é Irina?!

Dionísio se vira ao mesmo tempo em que Irina

olha para ele. Os dois se encaram por alguns segundos,

seus corações batem mais forte, mas nenhum dos dois

esboça reação. Aurélio, ao perceber o estarrecimento dos

dois, dá uma tossida forte, que faz Dionísio acordar e

Irina reagir também, quebrando assim a paralisia dos

dois. Dionísio se levanta e Irina vai ao encontro dos dois,

deixando seu companheiro parado na porta.

- Senti muito a sua falta!... – Dionísio segura as mãos

de Irina. – Pensei em você todos os dias nesses quatro

meses!

- Foram quatro meses difíceis para mim também,

mesmo conversando contigo toda semana por telefone!...

Os dois se olharam por mais alguns segundos e se

abraçaram.

- O que você faz em Bangkok?

- Estamos fotografando para uma revista local.

- Por favor, não fiquem de pé assim, sente-se,

almoce conosco! – disse Aurélio.

- Claro! – Irina chama Dimitri para perto deles e o

apresenta: – Este é meu produtor, maquiador, roupeiro,

enfim, é meu faz-tudo.

- Prazer, senhor?... – Dionísio pergunta.

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- Senhor, não, somente Dimitri. É um prazer

conhecê-los. Irina falava muito de você.

- Isso é bom! – Dionísio sorri para Irina, que o

retribui.

Os quatro almoçam, Dionísio e Irina conversam

sobre tudo o que fizeram durante o tempo em que

estiveram separados.

- Venha conosco para o hotel em que estamos

hospedados. Quero que fique comigo!

- Vou até o hotel em que Dimitri nos registrou,

pego minhas coisas e me encontro com vocês depois.

- Encontre-nos neste endereço. – Dionísio escreve

o endereço do hotel num guardanapo e o entrega a ela.

- Tudo bem, vejo vocês mais tarde! – Irina abraça

Dionísio e os dois se beijam. – Te amo.

- Idem.

Irina e Dimitri esperam os dois saírem do

restaurante.

- Parece que eles ainda não sabem que a máscara

foi roubada.

- Por que acredita nisso?

- Dionísio está muito tranqüilo, como se nada

tivesse acontecido.

- Você o conhece tanto assim?

- Pode ter certeza! Vá para o local das escavações e

me mantenha informada de tudo o que acontecer.

Ao chegar ao hotel, Dionísio se encontra com um

dos arqueólogos de sua equipe e fica sabendo que a

máscara foi roubada. Sua primeira reação foi de tensão e

de arrependimento; Aurélio tenta acalmá-lo, mas percebe

que nada que fizer pode deixar seu amigo menos agitado.

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Minutos depois, Irina chega ao hotel, sobe até o

quarto onde está Dionísio e percebe que ele acabou de

saber sobre o roubo da máscara.

- Ainda bem que chegou. Lembra-se de que lhe

falei sobre minha escavação aqui na Tailândia?

- Sim, você me contou sobre isso, um mês antes de

eu ir para o Japão.

- Pois então: a máscara que eu procurava –

Dionísio vai até a janela e se debruça no parapeito – foi

roubada! – ele se vira para Irina. – Não sei o que fazer

agora!...

- Vamos dar uma volta. Já está anoitecendo, vamos

tentar colocar os pensamentos em ordem. Quem sabe,

assim, não fica mais fácil você encontrar uma forma de

resolver esse assunto?

- Não estamos envolvidos num roubo comum; não

podemos simplesmente ir a uma delegacia, dar queixa,

precisamos mesmo pensar! – diz Aurélio, e Dionísio sai

com Irina.

QUATRO

A lua aparece cheia, Dionísio e Irina caminham de

mãos dadas pelas ruas da cidade.

- Estava com muita saudade de você, senti muito a

sua falta! Nem sei como aproveitar esse momento com

você direito... Você está simplesmente aqui, na minha

frente, depois de passados quatro meses! Não sei se te

abraço, se fico te beijando, sinceramente não sei o que é

mais importante agora: chorar, te beijar, te abraçar, ou se

falo como foram as gravações em Okinawa. Apenas não

sei...

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- Que excelente escutar tudo isso! – ambos

sorriem. – A primeira coisa a fazer é me beijar, e a

segunda é não pensar em como gastar seu tempo, porque

aí você terá um motivo para que o tempo passe. Ele vai

passar de qualquer jeito, mas dessa forma você irá apenas

presenciá-lo, irá apenas contemplá-lo passando, sem

motivos a mais. Deixe que as coisas aconteçam sem que

você as planeje.

- Filosofando, como sempre?

- Não é filosofia, é carpe diem! – Os dois voltam a

sorrir.

Passam a noite acordados conversando sobre as

novas descobertas arqueológicas de Dionísio e a agenda

publicitária de Irina. Ele conta algumas piadas sem graça

e Irina acaba rindo, ela sabe que ele prefere as sem graça,

mas acaba gostando da forma como elas são contadas.

Ele olha profundamente para os olhos verdes dela,

despe-a, carrega-a em seus braços e a leva até a cama.

Vai-lhe acariciando os pés, as coxas e as nádegas, beija-a

desde a cintura até a nuca, dá leves mordidas em sua

orelha e sussurra o quanto a ama. A transa se seguiu por

horas de um modo que pareceu insaciável, ambos

estavam bastante excitados, e o que começou de maneira

romântica consumiu a noite inteira de forma

intensamente viril, aparentando um instinto animal um

tanto quanto reprimido.

Quando os dois saem do quarto, já de manhã, eles

se encontram com Aurélio no bar do hotel para tomarem

o café da manhã. Enquanto Irina vai até um canto para

pegar dois pratos, Aurélio comenta com Dionísio.

- Da próxima vez que passarem a noite juntos, em

claro, vejam se fazem menos barulho!

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- Pode deixar, prometo tentar ser menos

barulhento!...

- Eu não fui o único a perceber o fogo que estava

no quarto de vocês, escutei alguns hóspedes comentando!

- Que maravilha! Assim, todos percebem o quanto

estamos felizes!

- Hahahahaha. É bom que esteja feliz, fico muito

feliz com toda essa sua felicidade. – diz em tom irônico. –

Agora podemos voltar para o mundo real e resolver

nosso pequeno problema?

Depois de comerem, os três se dirigem para o local

das escavações. Chegando lá, um dos arqueólogos diz

que, num vilarejo próximo, foi encontrado um corpo que

apresentava sinais de violência e mordidas no pescoço. O

corpo estava seco, como se todo o sangue do corpo tivesse

sido sugado. O arqueólogo disse ainda que todos os

trabalhadores estavam muito assustados e que se

negavam a continuar trabalhando.

- Imaginei que isso poderia acontecer.

- O povo daqui é um tanto quanto supersticioso. Já

era mesmo de se esperar... – Aurélio comenta.

- O que você vai fazer? – Irina pergunta.

- Vou até o vilarejo para procurar mais pistas. A

polícia já deve estar sabendo o que está acontecendo e é

questão de instantes para chegarem até mim. Vou até eles

antes. – Dionísio se vira para Irina: – Quando acabar por

aqui nos encontraremos no hotel. Tudo bem?

- Vou aproveitar para acertar com meu produtor o

que falta para fazer as fotos. Podemos nos encontrarmos à

tarde? Tentarei chegar no hotel lá pelas 15 horas.

- Certo, então! – os dois se beijam e se despedem. –

Vamos, Aurélio!

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Os dois seguem para o vilarejo e Irina se encontra

com Dimitri, que os estava observando de longe.

Chegando à delegacia do vilarejo, descobrem que

o corpo havia desaparecido.

- Quem é o encarregado de guardar o corpo? –

Dionísio pergunta ao policial mais próximo dele. – Posso

conversar com o oficial responsável?

- Eu sou o oficial responsável. – um homem de

estatura pequena, com uma certa obesidade e que

aparenta ter uns 50 anos, aparece no meio de outros

policiais. – Eu sou o delegado, Chong Thing Pó.

- O senhor poderia me dizer onde está o corpo que

foi encontrado no meio da mata, sem sangue algum?

- Poderia, mas antes gostaria de saber quem é você

e o que quer com o corpo.

- Meu nome é Dionísio, e este é meu amigo

Aurélio. Sou o arqueólogo encarregado das escavações

que estão ocorrendo próximo a Bangkok.

- O policial que designei para guardar o corpo

disse que apagou durante algumas horas e, quando

acordou, o corpo não estava mais onde foi colocado,

simplesmente sumiu.

- O policial apagou? O corpo sumiu?

- Exato! – o delegado passa por Dionísio e Aurélio

e dá a volta na mesa onde estava um policial, que se

levanta para o delegado sentar-se. – Você ainda não me

disse o que quer com o corpo. O que ele tem a ver com

suas escavações? Pode me esclarecer o que está

acontecendo aqui?

- É uma história confusa, pois o corpo pode ter

sido atacado por alguém que está usando um artefato que

foi encontrado nas escavações.

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- Adoro histórias confusas! – O delegado aponta

cadeiras para os dois. – Por favor, sentem-se! Gostaria de

saber sobre o envolvimento que você tem com o que

aconteceu.

Dionísio e Aurélio se sentam. Dionísio conta a

história sobre a máscara e o delegado parece muito

descrente, mas pede um único esclarecimento.

- Como vocês explicariam o que aconteceu com

meu policial?

Aurélio se adianta e responde a pergunta.

- Acreditamos que o morto, agora morto-vivo,

tenha-o enfeitiçado e fugiu.

Os policiais que estavam perto escutaram e

começaram a rir. O delegado olha para eles, que

imediatamente se calam e se afastam. O delegado se

debruça sobre a mesa e fala bem próximo dos dois.

- Acredito que não seja muito inteligente

começarem a contar esse tipo de história por aqui. Podem

começar a imaginar que vocês são doidos, se é que me

entendem.

- Não somos doidos, – Aurélio fala. – o artefato

roubado possui o poder de transformar um homem em

um chupador de sangue e a história que contamos a você

é a mais pura verdade.

- Vamos dizer que acredito em vocês; como

poderemos encontrar a pessoa que está com essa

máscara?

- Queremos encontrá-lo tanto quanto o senhor,

mas ainda não temos idéia de como fazê-lo, e é por isso

que estamos aqui procurando pistas. – Dionísio se

adianta.