QUALIDADE DE VIDA E ESTRESSE NO MUNDO · PDF fileGONÇALVES, L. H. T.; STEVENSON, J.S.;...

3

Click here to load reader

Transcript of QUALIDADE DE VIDA E ESTRESSE NO MUNDO · PDF fileGONÇALVES, L. H. T.; STEVENSON, J.S.;...

Page 1: QUALIDADE DE VIDA E ESTRESSE NO MUNDO · PDF fileGONÇALVES, L. H. T.; STEVENSON, J.S.; ALVAREZ, ... MARTINS, J. J. et al. Educação em saúde como suporte para a qualidade de vida

Informe-se em promoção da saúde, v.6, n.1.p.04-06, 2010.

7

QUALIDADE DE VIDA E ESTRESSE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO: COMO PROMOVER A SAÚDE?

Jorge Luiz Lima da Silva1

Monyque Évelyn dos Santos Silva2 Rodrigo Pereira Costa Taveira 3

Segundo a OMS (2004) o interesse em conceitos como "padrão de vida" e "qualidade de vida" foi inicialmente partilhado por cientistas sociais, filósofos e políticos. A preocupação com o conceito de "qualidade de vida" refere-se a um movimento dentro das ciências humanas e biológicas no sentido de valorizar parâmetros mais amplos que o controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida. Foram presenciados nos últimos dois séculos variados acontecimentos históricos e avanços científicos poder-se-ia até dizer que a humanidade prontamente deixou a Idade Contemporânea e entrou na idade tecnológica informatizada. A era da informação, onde o ser humano aos poucos desconstrói alguns hábitos saudáveis tradicionais que promoviam o bem-estar e a saúde estabelecidos pelas gerações anteriores. Os alimentos industrializados, o sedentarismo, ausência de lazer e demais fatores que não contribuem para a manutenção da saúde são assuntos populares vistos nos principais meios de vinculação de notícias. Outro assunto que recebe destaque na mídia é o estresse. Este termo foi usado inicialmente na física, para traduzir o grau de deformidade sofrido por um material quando submetido a determinado esforço ou tensão. O significado estresse foi transposto para a medicina e biologia, significando esforço de adaptação do organismo para enfrentar situações que considere ameaçadoras à sua vida e ao seu equilíbrio interno, com isso sofrendo algumas reações químicas. O estresse no ser humano aparece quando o organismo é submetido a novas situações como, por exemplo, uma cirurgia, traumatismo, infecção. Do ponto de vista psicoemocional, o estresse surge quando a pessoa se encontra diante de uma situação entendida como geradora de insegurança ou ameaça. (BALLONE; NETO; ORTOLONI, 2002). Atualmente, fala-se em estresse profissional, estresse familiar, crises de estresse, estresse bom ou ruim, enfim entre os assuntos que envolvem pontos de tensão menciona-se a palavra “estresse”. Por que tanto estresse? Estaria o ser humano se afastando de hábitos mais

ontológicos, adentrando-se para novas condutas impostas pela produção ativa que gira em torno do capital? Onde fica a qualidade de vida com estresse do mundo contemporâneo? Como o profissional deve se comportar diante desse fato? A qualidade de vida mostra-se como sendo importante quando o indivíduo se sente bem psicologicamente, possui boas condições físicas e sente-se socialmente integrado e funcionalmente competente, entende-se que “livre de qualquer estresse”. A OMS (2004) buscou um conceito que abordasse os principais aspectos abstraídos sobre qualidade de vida, já que a cultura pode influenciar no conceito para cada grupo de indivíduos. Três aspectos fundamentais referentes ao construto qualidade de vida foram obtidos através de um grupo de experts de diferentes culturas: (1) subjetividade; (2) multidimensionalidade (3) presença de dimensões positivas (p.ex. mobilidade) e negativas (p.ex. dor). Com isso, para ter qualidade de vida é preciso: ter energia e disposição, sono e repouso adequados, sentimentos positivos perante a vida; ter a capacidade de pensar, aprender, memorizar e se concentrar; auto-estima; imagem corporal e aparência positivos para si; capacidade de mobilidade; capacidade de trabalho; suporte (apoio) social de amigos e familiares; atividade sexual (no caso das pessoas sexualmente ativas); segurança física e proteção; um lar; recursos financeiros; cuidados de saúde e sociais com disponibilidade e qualidade; oportunidades de adquirir novas informações e habilidades; participação em, e recreação/lazer; transporte e espiritualidade/religião/crenças pessoais. Nota-se que os fatores supramencionados são interdependentes que, quando somados, resultam em determinado estilo de vida que está fortemente atrelado à cultura, escolaridade e valores peculiares. A qualidade de vida, portanto possui características intrínsecas de caráter objetivo (saúde, atividades físicas, condição socioeconômica) e subjetivo (satisfação com a vida e auto-estima) englobando valores culturais, étnicos e religiosos os quais não podem ser negligenciados. A análise do que é qualidade de vida é única e peculiar variando de pessoa.

Page 2: QUALIDADE DE VIDA E ESTRESSE NO MUNDO · PDF fileGONÇALVES, L. H. T.; STEVENSON, J.S.; ALVAREZ, ... MARTINS, J. J. et al. Educação em saúde como suporte para a qualidade de vida

Informe-se em promoção da saúde, v.6, n.1.p.04-06, 2010.

5

A forma de resposta que cada indivíduo apresenta diante de cada mudança externa ou interna - que pode funcionar como elemento estressante - vai depender de sua percepção da vida e de suas vicissitudes. Potter e Perry (2004) comentam sobre o estilo de vida, afirmando que muitos hábitos e práticas podem envolver fatores de risco, como ocorre no estresse causado por crises e por freqüentes mudanças no estilo de vida. Torna-se muito importante o profissional promotor da saúde estar ciente de que muitas pessoas podem até possuir todos os elementos descritos na literatura relacionados à qualidade de vida, entretanto podem ser despercebidos no cotidiano. Uma das causas conhecidas seria a agitação da vida moderna. O ritmo intenso acaba impossibilitando (parcial ou totalmente) as pessoas de realizarem atos que poderiam contribuir para seu bem-estar. Alguns fatores são explanados na literatura como envolvidos na repostas das pessoas frente à situação de estresse: as características dos indivíduos envolvidos (as respostas podem ser somáticas ou psicológicas), seu ambiente físico (temperatura, umidade, ruídos), amparo social (sentimento de grupo e apoio social protegem contra o estresse), seu status econômico (desemprego, privação e pobreza são fatores potentes de estresse), origem e formação cultural (a expressão e percepção do estresse muitas vezes passa a ser reconhecível de acordo com o grau de instrução) (HELMAN, 2004). Os elementos apresentados por Helman possibilitam visualização geral sobre os fatores envolvidos na qualidade de vida e aqueles envolvidos na gênese do estresse. É imprescindível, portanto, conhecer os clientes circunscritos, pois dessa forma, conhecendo seus hábitos de vida, escolaridade e com acolhimento adequado o profissional promotor de saúde conseguirá identificar alguns hábitos ou situações inadequados à manutenção da saúde na clientela. Fatores estes ameaçadores da homeostase. O estresse ganha abordagem biopsicossocial no mundo moderno, demandando trabalho em equipe e a interdisciplinaridade é cada vez mais requerida. Com isso, torna-se importante a percepção do profissional de que o ser humano está em constante interação e construção de seu processo saúde–doença. O que é qualidade? O que é estresse? Esses conceitos são muito peculiares e subjetivos, dependem da concepção de cada cliente varia de acordo com seus valores, posição na vida, preocupações, dentre outros fatores.

Mais uma vez, a cultura se apresenta como plano de fundo que é pouco percebido, mas sim, vivenciado, demonstra-se como elemento chave incluído nas dinâmicas de vida do ser humano. Um exemplo disso: ao abordar o cliente e indagar se realiza atividades de lazer, dependendo da comunidade, alguns afirmarão que vão ao teatro ou cinema, outros expressarão rosto de dúvida face à palavra “lazer”. Alguns vão possuir informar possuir moradia de excelente qualidade, outros que residem em locais de risco social (periculosidade), físico (em terreno instável, úmido), e biológico (esgoto a céu aberto). Estes últimos podem sofrer com esses elementos estressantes resultantes da desigualdade social do país, consequentemente viverão mal. Entretanto essas mesmas pessoas podem praticar atividades em grupo como partidas de futebol nos fins de semana, churrascos, bingos... afirmando que possuem lazer. Poucos notam os elementos estressores ambientais potenciais para insalubridade. Conhecendo o ambientes e os moradores, os profissionais de saúde podem atuar de forma mais eficaz no que diz respeito a promover a qualidade de vida das pessoas, seja no aspecto pessoal ou ambiental. Através de orientações sobre os elementos não-percebidos, mas que podem afetar potencialmente a homeostase, as doenças e agravos à saúde podem ser evitados. O enfermeiro deve fornecer subsídios na atenção básica para que os clientes percebam que necessitam manter um patamar de qualidade no estilo de vida. Dessa forma, almeja-se que as pessoas obtenham uma velhice com maior expectativa de vida e aproveitamento da saúde. Juntamente com o processo de envelhecimento da população adulta no Brasil, outras tendências demográficas ambientais surgem como a prevalência de doenças crônicas, comportamento sedentário, resistência a antibióticos e a violência ameaçam a saúde e bem-estar de milhões de pessoas (BRASIL, 2002). O estresse do mundo moderno revela-se como vilão e aflige a população em geral. Qualquer indivíduo é susceptível a qualquer fator estressógeno, seja uma doença causada por uma cepa mutante de vírus, por não achar emprego, por ter sido assaltado, por morar em área de risco, por estar doente, ou por não conseguir atendimento de saúde adequado. Algumas medidas são preconizadas pelo Ministério da Saúde para que a população tenha seu ciclo de vida com

____________________ Qualidade de vida e estresse no mundo contemporâneo: como promover a saúde?

Page 3: QUALIDADE DE VIDA E ESTRESSE NO MUNDO · PDF fileGONÇALVES, L. H. T.; STEVENSON, J.S.; ALVAREZ, ... MARTINS, J. J. et al. Educação em saúde como suporte para a qualidade de vida

Informe-se em promoção da saúde, v.6, n.1.p.04-06, 2010.

6

qualidade, dentre elas pode-se citar: cumprimento do calendário básico de vacinação ― em todas as fases da vida―, controle da pressão arterial, colesterol, glicemia, pressão intra-ocular através de exames anuais, assim como os exames de próstata ou ginecológico e de urina. O que vai fornecer pista sobre várias doenças e proporcionar a detecção precoce. Soma-se a isso alimentação equilibrada e manutenção do peso ideal. O lazer também se mostra como peça-chave, promovendo a socialização e integração. A questão que se levanta agora é: será que todos têm acesso a esses serviços? Estaria a equidade do Sistema Único de

Saúde funcionando a todo vapor? O importante é que cada profissional faça sua parte, com isso, pode-se contribuir para a saúde de um indivíduo, de uma família ou comunidade de forma a integrar as necessidades individuais às possibilidades e realidades sociais e ambientais. O cidadão se estressa e busca condições e de atendimento de saúde, busca seus direitos e, a partir desse ponto, o promotor de sua saúde deve entender que qualidade de vida bem como os fatores de estresse da vida moderna são aspectos subjetivos e multidimensionais, a partir disso traçar suas ações.

REFERÊNCIAS

CALDAS, C. P. Envelhecimento com dependência: responsabilidade e demandas da família. Cadernos de Saúde Pública, v. 19, n. 3, p. 773-781, 1999.

CARVALHO C. M. R. G et al. Educação para a saúde em osteoporose com idosos de um programa universitário: repercussões. Cadernos de Saúde Pública, v.20, n.3, p.719-726, mai-jun, 2004.

DAGMAR E. et al. Você aprende. A gente ensina? Interrogando relações entre educação e saúde desde a perspectiva da vulnerabilidade. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.22, n.6, p.1335-1342, jun, 2006.

GONÇALVES, L. H. T.; STEVENSON, J.S.; ALVAREZ, A.M. O cuidado e a Especificidade da enfermagem geriátrica e gerontológica. Texto e Contexto - Enfermagem UFSC. v.6, n. 2, mai/ago 1997.

LEVY, S. N. et al. Educação em saúde - histórico, conceitos e propostas. Brasília: MS, 2006.

MARTINS, J. J. et al. Educação em saúde como suporte para a qualidade de vida de grupos de terceira idade. Revista Eletrônica de Enfermagem, v.9, n.2, p. 443-456, 2007.

SOUZA, L. M.; WEGNER W.; GORINI M. I. P. C. I. Educação em saúde: uma estratégia de cuidado ao cuidador leigo. Revista Latino Americana de Enfermagem, v.15, n.2, p.72, 2007.

REFERÊNCIA DESTE TEXTO SILVA. J. L. L.; SILVA, M. E. S.; TAVEIRA, R.P.C. Qualidade de vida e estresse no mundo contemporâneo: Como promover a saúde? Informe-se em promoção da saúde. v.6, n.1.p.04-06, 2010. 1 Enfermeiro. Mestre em enfermagem (Unirio). Professor da disciplina saúde coletiva 1. Escola de enfermagem Aurora de Afonso Costa/ UFF. 2 Acadêmica do 5° período de enfermagem. Escola de enfermagem Aurora de Afonso Costa/ Uff. 3 Acadêmico do 8° período de enfermagem. Escola de enfermagem Aurora de Afonso Costa/ Uff.

____________________ Qualidade de vida e estresse no mundo contemporâneo: como promover a saúde?